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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA UM JEITO MUITO ESPECIAL DE EDUCAR Por: José Luiz Martins de Santana Orientador: Mary Sue Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

UM JEITO MUITO ESPECIAL DE EDUCAR

Por: José Luiz Martins de Santana

Orientador: Mary Sue

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

UM JEITO MUITO ESPECIAL DE EDUCAR

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

integrada como requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Administração e Supervisão escolar.

Por: José Luiz Martins de Santana

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus e a Dom Bosco por estar

terminando esta Pós-Graduação.

Agradeço também a minha esposa, a

minha filha e aos padres Salesianos.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha querida

esposa, fiel e escudeira; a minha filha,

pela paciência nos momentos difíceis; e a

esta grande filosofia de Dom Bosco.

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RESUMO

Consta nesta monografia uma síntese do Sistema Preventivo elaborado

por Dom Bosco, que visa a ajudar na educação de nossos jovens. Nela

desenvolvemos alguns dos métodos usados por ele, relatando o quanto é eficaz

este método especial de educação e o quanto pode ser prazeroso para o

educador e para o educando usufruírem desse método.

Educar para Dom Bosco era muito mais que transmitir conhecimentos.

O amor aparece muito claro na sua prática pedagógica como: disponibilidade,

simpatia e diálogo com os jovens. Existe uma relação entre o educador e

educando que passa dos limites de um simples contato. É um olhar carinhoso,

fixar o olhar do jovem quando se fala com ele e acolhe-lo quando necessário.

Dom Bosco criou laços de família com seus jovens, criou o carisma

salesiano. Um método que é atual até hoje, criou um jeito muito especial de

educar.

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SUMÁRIO

Introdução _____________________________________________________ 7

Capítulo I – O Sistema Preventivo de Dom Bosco _______________________ 9

Capítulo II – A Presença Educativa nos Dias de Hoje ____________________ 20

Capítulo III – A Importância da Família no Sistema Preventivo _____________ 31

Conclusão _____________________________________________________ 38

Anexos ________________________________________________________39

Bibliografia _____________________________________________________45

Índice _________________________________________________________ 46

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INTRODUÇÃO

É gratificante e engrandecedor escrever sobre o Sistema Pedagógico

criado por Dom Bosco. Este trabalho aborda o sistema preventivo de Dom Bosco,

grande educador e fundador dos Salesianos, que tinha uma maneira muito

especial de educar e que desde o seu sonho aos 9 anos de idade até a sua morte

no dia 31/01/1888, pensou exclusivamente nos jovens.

Dom Bosco utilizava a palavra “Amorevolezza” para expressar unidade

de seus princípios, conteúdos e métodos educativos e o seu princípio evangélico

era o AMOR.

No Sistema Preventivo Dom Bosco existe três pilares fundamentais que

são:

• AMOR: caridade, amizade, doçura, amabilidade e capacidade de resposta

ao afeto;

• RAZÃO: compreensão dos fatos da existência, dos fundamentos, das

exigências morais;

• RELIGIÃO: forma o jovem para o convívio humano e social, e para seu

destino transcendente.

Este sistema mostra-se eficiente para a educação da juventude, que

mesmo com mais de um século da experiência, manifesta-se ainda válido e atual.

Isto se deve a verdade das crenças nas quais se fundamenta, e na força

comunicativa dos valores praticados. Com a participação ativa de todos os

envolvidos no processo, os laços de família que se criam, a renovação e

atualização constantes na medida dos jovens e dos tempos.

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O objetivo é fazer com que os jovens se sintam amados. Olha que

quando falamos de bondade não é deixar o jovem fazer bagunça desordem ou

coisas parecidas; é deixar o jovem sorrir, brincar, pular, mas tudo isso com muita

responsabilidade. Se o jovem se sente amado você pode pedir a ele o que quiser,

ele fará tudo sempre de boa vontade. Para Dom Bosco, uma palavrinha ao pé do

ouvido já resolvia muita coisa.

Segundo a pedagogia de Dom Bosco, nós educadores temos que ir ao

encontro dos jovens, não esperar que o mesmo erre para tomar posição, daí a

eficiência do Sistema Preventivo. “Educar é uma questão de coração” e no

sistema preventivo o educador tem que estar sempre alegre para os jovens, tem

que estar atento a tudo. O educador tem que se fazer amado.

Dom Bosco não elaborou um sistema pedagógico com caráter

temporário. Construiu através do trabalho, da prática, combatendo o ódio, a

agressividade, e o medo, com elementos mais eficazes: o amor, a compreensão, a

coragem e estabelecendo vínculos com os jovens que o seguiam. Dom Bosco

dizia: “Todos somos filhos de Deus, e temos em nós a semente do bem”.

É importante registrar a feliz intuição do pedagogista austríaco Hubert

Henz, que se referindo explicitamente ao sistema preventivo de Dom Bosco, assim

escreve: “O método preventivo é um modo de educar que previne a corrupção

moral do educando e a necessidade de punições. Exige do educador que esteja

constantemente com o educando, uma total dedicação a tarefa educativa, em uma

vida juvenil rica, dinâmica e completa”.

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CAPÍTULO I

O SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO

Podemos dizer que Dom Bosco criou um sistema pedagógico baseado

no cristianismo católico, que foi praticado por ele no século XIX.

A originalidade do Sistema Preventivo de Dom Bosco está na sua

personalidade. Dom Bosco dizia que seu sistema de educação consistia

simplesmente em deixar aos jovens plena liberdade de fazer as coisas que mais

lhe agradassem. A técnica está em se fazer descobrir as aptidões e procurar

desenvolvê-las. E como cada um de nós faz com prazer somente aquilo o que

sabe fazer, ele se regulava por este princípio e os seus alunos não somente

trabalhavam com entusiasmo, mas também com amor.

1.1 - Em que consiste o Sistema Preventivo e porque se deve preferir

São dois os sistemas até hoje usados na educação da juventude: O

Preventivo e o Repressivo. O Sistema Repressivo consiste em fazer com que os

educandos conheçam o merecido castigo. Nesse sistema as palavras e o olhar do

superior devem ser severos e até ameaçadores e ele próprio deve evitar toda a

familiaridade com os dependentes. O diretor, para dar mais prestígio à sua

autoridade, raro deverá achar-se entre os dependentes e quase unicamente

quando se trata de ameaçar ou punir. Esse sistema é fácil, menos trabalhoso.

O oposto é o Sistema Preventivo que consiste em tornar conhecidas as

prescrições e as regras de uma instituição, e depois vigiar de modo que os

educandos estejam sempre sob os olhares atentos do Diretor ou dos Educadores.

Estes como pais carinhosos, falem, sirvam de guia em todas as circunstâncias,

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deem conselhos e corrijam com bondade. Consiste, pois em colocar ao educando

na impossibilidade de cometerem as faltas.

O Sistema Preventivo apoia-se na razão, na religião e no carinho.

Exclui, por isso, todo o castigo violento e procura evitar até as punições leves.

Esse Sistema parece preferível pelas seguintes razões:

• O educando, previamente avisado, não fica abatido pelas faltas cometidas,

como sucede quando são levadas ao conhecimento do superior. Não se

irrita pelas correções feitas nem pelo castigo ameaçado, ou mesmo

infligido, pois a punição contém em si um aviso amigável e preventivo que o

leva a refletir e, na maioria das vezes, consegue atingir o coração. Assim o

educando reconhece a necessidade do castigo e quase o deseja.

• Quando uma voz amiga adverte a criança, dificilmente ela torna-se

merecedora de pena ou castigo, pois evita cometer faltas que possam

prejudicá-lo.

• O sistema repressivo pode impedir uma desordem, mas dificilmente

melhorará os culpados. Diz à experiência que os jovens não esquecem os

castigos cometidos e geralmente conservam ressentimento acompanhado

pelo desejo de vingança. O sistema preventivo, pelo contrário deseja a

amizade da criança, que vê no educador um amigo que o adverte, quer

fazê-lo bom, livrá-lo de dissabores, castigos.

• O Sistema Preventivo predispõe e persuade de tal maneira o aluno, que o

educador poderá em qualquer lance falar-lhe com a linguagem do coração,

quer no tempo da educação, quer depois. Conquistado o ânimo do

educando, poderá exercer o educador sobre ele grande influência, avisá-lo,

aconselhá-lo, e também corrigi-lo.

Por essas e muitas outras razões, parece que o Sistema Preventivo deve preferir-se ao Repressivo.

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1.2 - As Bases do Sistema Preventivo

Amor

O educando merece, tem direito e necessidade de ser amado por quem

os colocou no mundo, por quem vive ao seu lado, por quem deve e pode fazer

alguma coisa por eles, pelo seu crescimento, pela sua felicidade. Deseja e espera

ser amado.

Esse amor era representado por Dom Bosco por amorevollezza, amor

sobrenatural, impregnado de discernimento e compreensão humana, paterna,

fraterna, que faz o educador viver a vida dos educandos. É o amor de quem quer

e sabe querer o bem deles, demonstrando atenção, compreensão, tolerância,

doçura e espontaneidade no relacionamento, trocando ternura, tratando sempre e

em todo o lugar com alegre familiaridade, com acolhimento e participação nos

gostos deles, no seu modo de vida, nos seus interesses, sabendo ajudar e

perdoar.

Razão

O amor dá força, determinação, coragem nos momentos árduos para

querer o bem. Mas o coração não sabe dizer o que é o bem. Só a razão pode

dizê-lo: o que é bem para cada idade, para cada condição da necessidade e da

capacidade, para cada condição do comportamento e da índole, da personalidade

e do desejo dos educandos.

Dom Bosco é antes de tudo racional: observa, reflete, compreende, faz

experiência e comprova, julga e retifica, adapta e desenvolve. Com razão, Dom

Bosco completa o amor com a compreensão profunda e concreta das

necessidades, das exigências, das expectativas dos educandos e o transforma em

programas completos e ao mesmo tempo concretos de vida.

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Religião

No projeto de Dom Bosco a religião é o fundamento e o coroamento

dos valores e dos compromissos educativos do amor e da razão. O amor de Dom

Bosco é o prolongamento, a atuação e a atualização do amor de Deus Pai.

Revelou e comunicou concretamente aos educandos o amor divino que é

manancial de fé, de caridade, de alegria, de oração e celebração, de festa, de

diálogo, de perdão e que ele transformou em projeto de vida.

1.3 - Aplicação do Sistema Preventivo

Para aplicação com êxito do Sistema Preventivo, o educador deve

servir-se da Razão, da Religião e do Amor. Deve praticá-los ele mesmo se quiser

ser obedecido e alcançar os resultados desejados.

A moralidade dos educadores deve ser notória. É importante que os

educandos não fiquem sozinhos. Sempre que possível os educadores devem ser

os primeiros a achar-se no lugar onde os educandos devem se reunir; envolvendo-

se com eles, nunca os deixem desocupados.

Os educandos devem ter ampla liberdade de correr, pular e gritar a

vontade. Os exercícios ginásticos e desportivos, a música, a declamação, o teatro,

os passeios são meios eficazes para alcançar a disciplina, favorecer a moralidade

e conservar a saúde. Mas há de se cuidar para que as atividades não tenham

falas nem atitudes repreensíveis.

As práticas religiosas são sustentáculo do Sistema Preventivo, porém,

os educandos devem ser estimulados de forma a quererem, espontaneamente,

cumpri-las de boa vontade.

Deve-se usar de máxima vigilância para impedir a entrada de

companheiros, livros ou pessoas que tenham más conversas nas dependências

escolares.

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Dom Bosco classifica o Pátio como ponto estratégico para observação

dos educandos de forma a conhecê-los pessoalmente e profundamente,

detectando suas necessidades e dificuldades, para que sejam orientados elevados

a pensar e agir da forma mais adequada para a resolução de seus problemas e

dessa forma guiá-los para um futuro melhor.

Para tanto, o educador deve utilizar-se de jogos e brincadeiras para que

os educandos ajam sem inibição e se manifestem espontaneamente possibilitando

ao educador estudar os hábitos, as inclinações e também as imperfeições dos

educandos que brincam despreocupadamente e não percebem que estão sendo

observados e analisados, pois consideram o educador como um amigo e não se

intimidam com sua presença.

Quando o educador se mistura com os educandos no pátio, ele percebe

tudo melhor do que qualquer observador externo. Tem ainda a vantagem de

misturar-se fisicamente no meio da confusão das brincadeiras e existe também o

fenômeno psicológico: os educandos veem o educador fisicamente, mas,

psicologicamente, o percebem de maneira diferente de todos os outros momentos.

O resultado será um comportamento igual àquele que se tem diante de um colega

de jogo, de um amigo de quem não se espera nunca uma traição e por quem não

se será nunca mal interpretado.

A amizade, além disso, ajuda ao educador a compreender o educando

de um modo mais profundo.

Quando por algum motivo os educandos não quiserem jogar, deve-se

contar histórias amenas, relatar acontecimentos do dia, cantar, declamar poesias,

desenvolver qualquer outra atividade que proporcione momentos de felicidade e

descontração aos jovens.

Para participar da vida no pátio o educador deve ser amigo, porém não

deve ser conivente com o educando. Deve falar pouco e dar oportunidade ao

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educando de manifestar seus pensamentos. Através desses diálogos o educador

terá a oportunidade de conhecer onde vive o educando, as experiências pelas

quais ele passa, seu modo de pensar, seus desejos e suas tendências, fazendo

um exame completo do indivíduo para poder guiá-lo com diálogos educativos-

espirituais.

Dom Bosco dizia que todos ou quase todos os jovens têm uma natural

inteligência para conhecer o bem que lhes é feito e ao mesmo tempo, possuem

um coração sensível, que se abre facilmente à gratidão.

Quando Dom Bosco falava aos jovens sobre a construção de sua

interioridade, se expressava com a linguagem do tempo, direcionava todas as

suas exortações para a formação do caráter e da capacidade de firmeza e

perseverança consigo mesmo e com suas obrigações. Eram realçadas as virtudes

ou características que englobavam a formação da pessoa que correspondia ao

ideal de seu sistema, enfocando os valores religiosos para influenciar e iluminar

todas as outras posturas ou valores. Fato este que incluía a completa introdução

de todos no mundo e na cultura, lhes respeitando o exercício da cidadania, o

dever de se promover profissionalmente, a perspectiva da solidariedade para com

todas as pessoas.

Verifica-se na pedagogia de Dom Bosco uma autonomia vital de todas

as dimensões da vida de um jovem. Contudo, a dimensão espiritual e

sobrenatural deve dar o sentido para as ações e para o trabalho da aquisição de

valores que qualificam a interioridade e a intimidade das pessoas. Para Dom

Bosco a vida interior das pessoas deveria expressar a radiante alegria ou

delicadeza de que ele propagava, como característica muito peculiar que adotara

como caminho espiritual. (proveniente da doutrina de São Francisco de Sales)

Dom Bosco atribuía a dois fatores que afastavam o jovem do caminho

da verdade:

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- Fazer o jovem pensar que a prática da virtude é levar uma vida triste;

- Deixar para o fim da vida a conversão para o caminho de Deus.

1.4 - Utilidade do Sistema Preventivo

O Sistema Preventivo apresenta certa dificuldade na prática, porém,

observa-se que da parte dos educandos torna-se mais fácil agradável e vantajoso.

Para o educador, essa dificuldade diminuirá se ele se dedicar com zelo em sua

missão. O educador é um indivíduo consagrado ao bem de seus alunos, por isso

deve estar sempre pronto a enfrentar qualquer incômodo e canseira para se

conseguir o fim a que se propõe, que é a educação ética,e moral e científica de

seus alunos.

Podemos ainda destacar:

O educando conservará sempre grande respeito para com o educador e

lembrará com gosto a educação recebida e considerarão ainda os seus mestres e

demais superiores como pais e irmãos. Esses educandos, para onde quer que

andem, são geralmente o consolo da família, cidadãos prestimosos e bons

cristãos.

Qualquer que seja o caráter, a índole, o estado moral do educando a

ser admitido, considere-se como certo que se alcançará sempre uma melhora.

Sem confiança não há educação. Esse é o principio que está na base

do sistema preventivo (educativo) de Dom Bosco. Só é possível se aprofundar o

conceito de autoridade através de uma relação de confiança do educando e o

educador.

O Elo afetivo, a convivência, as certezas e a confiança entusiasmam o

educando a se dedicarem com dignidade no projeto de autoconstrução. Esse

clima de felicidade e de contentamento estimula a fantasia dos jovens para que

possam projetar o seu futuro. O alto tom de dedicação, de entusiasmo, de

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grandiosidade que se vivia ao lado de Dom Bosco possibilitou a tantos jovens sem

perspectivas que pudessem sonhar com o futuro, ter certezas e confiança quanto

a seus desejos e projetos.

Assim nasceu a vitalidade da Pedagogia de Dom Bosco, da raiz do

desejo para a raiz de um futuro possível, dinamizado por sonhos generosos e

engrandecedores.

1.5 - Uma Palavra Sobre os Castigos

O Sistema Preventivo de Dom Bosco reprova a utilização de castigos

para punir os educandos. Dom Bosco deixou algumas diretrizes para auxiliarão

educando nessas ocasiões, porém lembrando sempre que o Sistema Preventivo

reprova as medidas repressivas, as quais sempre se devem preferir aos meios da

persuasão e da caridade. O educador deve evitar o uso irracional e injusto da

repreensão ou do castigo. Se tiver que castigar, que seja levado somente pelo

dever.

1.6 - Nunca apliqueis castigos senão depois de esgotados todos os outros meios

A correção deve ser feita em particular, de forma paternal. Nunca

repreender alguém em público a não ser para impedir ou reparar um escândalo.

Se depois da primeira reprimenda não se perceber nenhuma melhora é

conveniente recorrer à mediação de outro superior que tenha maior influência

sobre o culpado. Nunca se esquecer de pedir as bênçãos de Deus.

O educador deve procurar se fazer amar e respeitar por parte dos

educandos. Assim, a subtração de benevolência é um castigo que desperta

emulação, infunde coragem sem deprimir.

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Entre os educandos observa-se que um olhar não amável produz para

alguns mais efeitos que uma bofetada. O elogio quando uma ação é bem feita, a

repreensão quando há desleixo, já é um prêmio ou castigo.

1.7 - Procurai escolher o momento oportuno para a correção

Não há nada mais perigoso do que um remédio mal aplicado ou

aplicado fora do tempo.

É preciso, antes de mais nada, que estejais senhores de vós mesmos,

e não haja o mínimo de mau humor, pois perderíeis a autoridade e o castigo

tornar-se-ia nocivo. Não castigueis ninguém no próprio instante em que cometeu a

falta, para que não suceda que, não podendo ainda confessar sua culpa, vencer a

paixão e avaliar toda a importância do castigo, não se exaspere, vindo a cometer

novas e mais graves faltas ainda.

É preciso dar-lhe tempo para refletir, de entrar em si, de medir o

alcance do erro, e de sentir, então, que é justo e necessário o castigo. Só assim

lhe aproveitará.

1.8 - Afastai de vossas atitudes qualquer indício de paixão

Quando se castiga, é difícil manter a calma requerida para afastar a

suspeita de que se age sob o impulso de fazer valer ou desafogar a paixão. E

quanto mais fortemente esta se faz sentir, menos se dá por isso. O coração

paternal, que se nos pede, condena tal modo de proceder.

Bater, de qualquer modo que seja, pôr de joelhos em posição dolorosa,

puxar as orelhas e outros castigos semelhantes, devem-se banir, porque são

proibidos pelas leis civis, irritam sobremaneira os educandos e desmoralizam o

educador.

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1.9 - Procurai deixar ao culpado a esperança de perdão

Há que desfazer a angústia e o temor, motivados pelos castigos, e

dirigir uma palavra de conforto. Esquecer e fazer esquecer os dias tristes em que

se errou, é suprema arte do bom educador.

Torne o diretor bem conhecidas as regras, os prêmios e os castigos

sancionados pelas leis disciplinares, a fim de que o educando não possa

desculpar-se dizendo: “Eu não sabia que isso era proibido”.

Mas o que fazer quando a falta cometida pelo educando for realmente

grave e a necessidade exigir que se repreenda o educando?

Dom Bosco alerta que a força que pune o vício não cura o vicioso. Ele

nos fala que um dos meios mais eficazes de repreensão moral é o olhar

descontente, severo e triste do educador, que o faz sentir o culpado, por mais duro

que seja o infeliz estado em que se encontra, e pode levá-lo ao arrependimento e

à correção.

Utilizando-se o educador de correção privada e paternal, ao invés de

recriminações, façamos-lhe sentir o desgosto que dá aos pais e a recompensa

que o espera, no caso de correção. Tempo virá em que se há de mostrar

reconhecido e até generoso.

Se recair, redobremos a caridade. Passaremos então, a advertências

mais sérias e resolutas. Poderemos, dessa forma, com justiça, fazer-lhe ver a

diferença entre a nossa atitude para com ele e o modo como corresponde a tanta

condescendência, a tanta solicitude para o salvarmos da desonra e do castigo.

Sejam, porém banidas as expressões humilhantes. Devemos dar-lhe a

entender que esperamos muito dele e certificando-o de que estamos prontos a

esquecer tudo, uma vez que se decida a portar-se melhor.

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Nos castigos, até agora mencionados, tivemos unicamente em vista as

faltas contra a disciplina colegial; nos casos dolorosos em que algum educando

fosse causa de grave escândalo, seja imediatamente conduzido ao superior que,

segundo a sua prudência, adotará as medidas que lhe parecerem mais eficazes e

oportunas. Mas se alguém se mostrar surdo e continuar a dar maus exemplos e

escândalo deve ser expulso sem remissão, tendo, porém o cuidado de, tanto

quanto possível, salvar a sua honra.

Dom Bosco ainda nos alerta que a obra educativa se dirige

particularmente ao coração, sobre o qual nenhum poder teremos, se Deus não for

o nosso Mestre e não puser ao nosso dispor as chaves de acesso. Procuremos,

pois, de todos os modos, conquistar dessa cidadela cujas portas jamais se abrem

à força de rigor.

Tornemo-nos amáveis, insinuemos o sentimento do dever e do sentido

do Temor de Deus, e veremos, como por encanto, desimpedir as portas de tantos

corações, unindo-se a nós para cantar os louvores e as bênçãos daquele que quis

tornar-se nosso Modelo, nossa Vida, nosso Exemplo em tudo, mas especialmente

na educação da juventude.

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CAPÍTULO II

A PRESENÇA EDUCATIVA NOS DIAS DE HOJE

A juventude atual é resultado do ambiente econômico, cultural e social

do seu tempo e das relações pessoais e sociais que estabelecem nessa fase da

vida. Nos dias atuais, devido ao constante crescimento da violência em nossa

sociedade, as pessoas estão sofrendo um processo de medo e de solidão, pois

estão saindo menos de suas casas e muitas delas se comunicam com outras

pessoas somente através da Internet.

A educação, na era industrial, foi um fator de crescimento individual e

de ascensão social. Atualmente está se tornando cada vez mais um fator de

inclusão social. Sem uma educação de qualidade as pessoas não terão condições

de competir no novo mercado de trabalho transformado pelas novas tecnologias e

pelas novas formas de organização da produção.

Uma grande preocupação para pais e educadores, consiste em

encontrar essa educação de qualidade que ajude as crianças, os adolescentes e

os jovens a serem felizes, viverem motivados, desenvolvendo todo potencial

humano e espiritual de que são portadores, configurando os requisitos mínimos

para se trabalhar e viver numa sociedade moderna.

Com a finalidade de trabalhar a educação preventiva com as crianças,

algumas questões devem ser refletidas e colocadas em prática.

Primeiramente, a educação preventiva visa estabelecer valores de

forma consciente e planejada, desafio contemporâneo para pais e educadores que

precisa ser assumido. Além disso, tal conduta levará crianças e jovens a adquirir

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noções significativas, como justiça, responsabilidade, autonomia, respeito a si e ao

outro, influenciando na construção de uma sociedade melhor.

Tendo como pressuposto a importância dos pais e professores estarem

atentos aos valores que transmitem, sejam eles através de atos ou palavras,

algumas questões podem e devem ser abordadas pelos professores em conjunto

com seus alunos e pelos pais com seus filhos nas relações familiares:

Para o jovem de classe média e alta, a escola é tudo na vida. Os pais

em troca de tudo o que lhes dão, exigem deles apenas o sucesso escolar. A

escola torna-se assim, o grande centro das atividades desses jovens, dentro e fora

do ambiente familiar. O desempenho escolar torna-se a grande medida de seu

desenvolvimento.

Para os jovens do meio popular, a escola costuma a ser algo que ele

frequenta a noite, depois de uma jornada frequentemente dura e cansativa de

trabalho. Em alguns casos, quando o jovem não é capaz de conciliar as duas

coisas, a escola é sacrificada e o jovem torna-se excluído.

A escola continua a ser um espaço peculiar de socialização, para

aqueles que nela conseguem permanecer por mais tempo.

A partir da escola, da comunidade em que vivem, ou do trabalho que

são chamados a realizar para sobreviverem, esses jovens se organizam em

grupos fortemente coesos. Esta forma de inserção é a sua resposta a

determinação das condições de vida, aos processos de exclusão social, às

carências do lar, e as deficiências da educação escolar. São nesses grupos que

eles expressam sua afetividade, constroem sua identidade e desenvolvem sua

personalidade.

Para atuar de forma coerente dentro desta situação complexa, o

educador deve entender que essas juventudes nos trazem desafios diferentes que

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implicam na estruturação de oportunidades educativas distintas para cada uma

delas.

É necessário que o educador tenha diante desses jovens uma postura

inspirada nos mesmos princípios, nos mesmos ideais, nas mesmas concepções

sustentadoras, para que os jovens considerados excluídos ou ameaçados de

exclusão também tenham oportunidade de mudar sua realidade e tornar-se um

cidadão de bem.

Dom Bosco, através de seu amor paterno que é evidenciado através de

suas palavras “Atendei bem, não espere que os jovens venham a vós. Ide a eles,

dai o primeiro passo. E para serdes aceitos por eles, descei a vossa altura, melhor

ainda, do seu lado. Procurai compreendê-los, gostar daqueles que eles gostam,

perder vossa vida na deles... Assim serão estimulados a amar-vos e vós os

podereis levar a Deus.”, ensina-nos que com amor e confiança recíprocos, o amor

paternal recebe em troca o amor filial.

O caminho de santidade que D. Bosco propunha aos jovens

fundamentava-se na relação de amor entre Deus e o homem.

Atualmente a maioria dos jovens está indiferente ou fechada para

qualquer valor de ordem religiosa. Há, porém os que aceitam a religião, embora

sua sensibilidade religiosa não seja uniforme.

Os jovens então, com base em suas experiências positivas e negativas,

procuram um sentido em sua vida. D. Bosco oferece aos jovens uma proposta

caracterizada essencialmente por dois traços:

1. Dirigir-se a promoção do homem, ao desenvolvimento do indivíduo e dos

grupos. Ou seja, realizar um serviço que envolve todas as verdadeiras

exigências e necessidades reais dos jovens em seu corpo, espírito e

coração. Ter como objetivo o bem total dos jovens.

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2. Afirmar com absoluta convicção, que somente Cristo é o único e definitivo

salvador do homem, que só quem vive de acordo com o Evangelho

caminha realmente na verdade e tem o caminho aberto para máximo

desenvolvimento a que o homem pode aspirar a chegar.

Em vista disso, aos jovens que procuram um sentido total para sua

vida, por uma pluralidade de caminhos e em graus diversos, a sociedade oferece

uma grande gama de propostas totalizantes e significativas.

A proposta educativa de D. Bosco é atual e significativa para os jovens

porque lhes anuncia Cristo dentro de um projeto que visa a promoção do homem.

Propõe como objetivo educar sempre a fé em favor da vida e promover a vida em

favor da fé, de maneira que todo crescimento na fé seja verdadeiramente um

crescimento em humanidade, e todo o desenvolvimento humano seja um

crescimento em Cristo.

Será uma proposta atual e significativa para os jovens se der um

conteúdo concreto, renovado e alternativo às categorias de homem, da sociedade,

família, felicidade, sucesso, promoção, fé, sacramento, oração, Igreja, Deus; e se

integrar na proposta de forma unitária e proporcionada, o pessoal e o comunitário,

a razão e o amor, a celebração e a ação.

Trabalho, Alegria e Amor pela juventude. Esses três pilares são sementes do sistema preventivo de Dom Bosco. Plantadas florescem em escolas e comunidades espalhadas por cantos e recantos. Onde há um jovem aí está o desafio de transformá-lo em águia capaz de conquistar o voo altaneiro da felicidade. (Gabriel Chalita).

Para que isso ocorra, a Educação deve ater-se a quatro aprendizagens,

fundamentais, que serão para cada indivíduo, os pilares do conhecimento:

- Aprender a conhecer → Consiste no prazer de compreender de conhecer e

descobrir: À Educação cumpre garantir que o aluno tenha acesso, de forma

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adequada, às metodologias científicas – fator imprescindível para que nela

germine a semente da curiosidade e do desejo de descobrir. Na fase secundária e

superior de estudos, a semente será adubada com instrumentos, conceitos e

referências resultantes, espiritualidade. Todos os seres humanos deverão ser

preparados para um agir coerente nas diferentes circunstâncias de vida.

- Aprender a fazer → Saber ler, compreender, interpretar o mundo e ser agente

nele garante ao homem uma maior realização enquanto individuo membro familiar

e social, profissional e cidadão.

A missão fundamental da escola atualmente é fazer com que o aluno

aprenda a aprender.

A figura do professor que detém o conhecimento e transmite ao aluno

faz parte do passado. É necessário trilhar novos paradigmas, caminhando para

uma nova forma de ensinar.

Diagnóstico, planejamento, inovação, desenvolvimento são caminhos

para uma escola com sentido de organização social, onde o isolamento e a ação

individual encontram dificuldades de prosperar.

- Aprender a ser → Tem como postulado: “O desenvolvimento tem por objeto a

realização completa do homem, em toda a sua riqueza e na complexidade das

suas expressões e dos seus compromissos: indivíduo, membro de uma família e

de uma coletividade, cidadão e produtor, inventor de técnicas e criador de

sonhos”.

A moderna Educação transcende ao conhecimento pronto e acabado,

direcionando-o para novas aprendizagens, traduzidas em habilidades e

competências cada vez mais exigidas para caminharem na velocidade que o

mundo moderno avança e vai superando conhecimentos que podem parecer

duradouros.

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Dom Bosco foi radicalmente contra a educação motivada pelo temor.

Fez tremular a bandeira de uma educação motivada pelo amor, pela caridade,

pela alegria. Como Dom Bosco não foi homem de um só tempo, continua presente

com os pilares que sustentam as teorias que periodicamente são atualizadas, na

linguagem e posturas de hoje, sem perder o espírito inovador e empreender da

qual sua pedagogia é portadora.

A primeira atitude que um educador deve ter para utilizar com sucesso

a filosofia de Dom Bosco é desenvolver em si mesmo e em seus companheiros de

trabalho, uma visão compreensiva da questão juvenil e dos múltiplos desafios com

que ela os defronta no seu dia-a-dia do trabalho social e educativo, dirigido

àqueles que são a fonte do sentido e o suporte da significação de seus trabalhos

enquanto educadores.

O desenvolvimento desta visão implica em uma presença ativa,

solidária, construtiva e criativa na vida dos educandos.

Para tanto, precisa aprender a se posicionar como quem tem diante de

si, um jovem e não um ser humano incluído, excluído ou ameaçado de exclusão.

Não pode jamais esquecer que sempre terá diante de si um ser que se

procura e se experimenta num esforço de construção de identidade e de projeto

de vida.

Nas camadas populares, além de educar aos jovens, é necessário

ajudá-los a viabilizar-se econômica e socialmente, no quadro maior de

desenvolvimento hostil à promoção social das massas espoliadas e à sua

libertação cultural.

A ação básica a ser desenvolvida frente a esse enorme desafio é

capacitação cada vez maior em serviço e fora dele, para o desempenho deste

papel complexo e exigente.

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Atualmente os jovens não se preocupam mais em contestar os valores

do mundo do adulto, preferindo viver no seu próprio mundo, evitando tomar a

iniciativa de entrar em conflito com seus educadores, o que não quer dizer que os

jovens não reajam, muitas vezes de forma negativa, às normas do mundo adulto.

A conduta mais comum adotada por eles no processo de construir uma

identidade e de um projeto, é buscar mais coletiva que individual. O jovem passa

a adotar posturas, visões, modismos, gostos e atividades do grupo a que

pertence, evitando, assim, conflitos existenciais para os quais ainda não se sente

devidamente amadurecido e preparado.

Então se torna importante para os educadores conhecer as diversas

culturas juvenis. Para tanto, o educador deve analisá-los sob o ponto de vista dos

valores básicos que os estruturam. São esses valores que vão, nesta fase da

vida, ser determinantes nas maneiras de ver, entender e agir dos educandos.

No Brasil existem hoje várias culturas juvenis: os mauricinhos e as

patricinhas de shopping centers, a juventude popular urbana, ligada ao rap, ao

funk, ao hip-hop, os meninos de rua e os jovens envolvidos com atos infracionais,

entre outros. O desafio do educador diante dessas culturas será sempre de

compreendê-los e não, como pensam alguns, o de aderir a elas. Compreendê-las

é fundamental para a criação de pontos entre o mundo jovem e o mundo adulto.

Sem estas pontes a comunicação se interrompe e a possibilidade de exercermos

uma influência construtiva sobre a vida desses jovens torna-se uma possibilidade

cada vez mais remota.

A primeira atitude básica a ser adotada pelo educador é a observação

atenta da realidade. Depois, a grande habilidade a ser desenvolvida é a de ouvir.

Na integração cotidiana com os jovens, o educador deve estar sempre atento e

empenhado em escutar e decifrar, por trás das suas palavras, o que eles

realmente estão querendo comunicar.

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O diálogo deve ser uma consequência, um resultado do trabalho

educativo. O educador deve interagir com o educando sem julgá-lo pelo seu

passado, sem censurá-lo pelo seu presente e sem tentar emoldurar o seu futuro.

O diálogo consiste no exercício pleno da presença educativa.

O educador torna-se uma presença educativa quando sua interação

com o educando se mostra capaz de ajudá-lo a desenvolver o seu potencial, ou

seja, as promessas que ele trouxe consigo ao vir a este mundo.

A presença educativa é, portanto, algo muito maior e mais complexo do

que a simples transmissão de conhecimentos e habilidades. Ela ocorre quando o

educador exerce uma influência construtiva, criativa e solidária sobre o ser do

educando, isto é, sua maneira de ser, vestir, sentir e agir em seu relacionamento

consigo mesmo, com os outros, com a natureza e com a dimensão transcendente

da vida.

Os três corações da verdadeira presença educativa são: a abertura, a

reciprocidade e o compromisso.

Estar aberto é permitir que a sua experiência de vida seja penetrada

pela experiência de vida do educando. È necessário também que o educador

tenha curiosidade sadia de penetrar na experiência de vida do educando,

principalmente nos momentos em que percebe que o educando está passando por

uma situação difícil. Curiosidade sadia é aquela que vem animada pelo espírito de

servir.

A reciprocidade ocorre quando duas presenças se encontram e entram

em uma relação de intercâmbio de crenças, valores, significados, sentidos,

medos, ansiedades, angústias, sonhos, esperanças, anseios e expectativas. Pode

ser manifestada através de um olhar, um sorriso, um cumprimento

verdadeiramente cordial, um abraço, uma pergunta, um conselho, qualquer outra

atitude que se revela capaz de quebrar a distância e a diferença entre as pessoas.

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Compromisso é nos sentirmos corresponsáveis pelo bem do educando,

colocando-nos numa postura solidária que o faça sentir que assumimos diante do

que acontece com ele, uma atitude de não indiferença. Sentir-se co-responsável

pelo outro é um traço distintivo essencial da presença educativa. È preferível não

manifestar-se neste sentido a fazê-lo de forma superficial e inautêntica.

Sob o ponto de vista de Dom Bosco, Os educadores são os assistentes

do processo educativo. A assistência resume para Dom Bosco o papel do

educador que pratica a razão, a religião e a amorevolezza. A ele cabe criar

ambientes, condições, experiências educativas, mas principalmente estar presente

junto aos jovens.

A assistência significa presença educativa ininterrupta de todos os

educadores. Presença ativa e eficaz de direção, de orientação, de influxo

contínuo e persistente, de estímulo, motivação e convivência. A assistência

educativa assume aspectos, funções e características variadas e complexas.

Existem algumas dificuldades para a prática da assistência nos dias de

hoje. O papel social do magistério mudou com o passar dos anos. Antes, o

mestre ou pedagogo era figura de prestígio moral e social entre os educandos e

considerado fator proeminente para a socialização e a educação das novas

gerações. Atualmente esta função social está em perigo de diluir-se na

consciência de quem a exerce e na apreciação da comunidade. Há o risco de

considerar-se o educador um mero executor profissional da tarefa de transmissão

de conhecimentos, técnicas e hábitos.

Numa sociedade pluricultural, as expectativas dos jovens, dos pais, das

instituições são diferenciadas, gerando conflitos na prática educativa e na

identidade do profissional. Alguns chegam a duvidar da possibilidade de influir

positivamente sobre a orientação dos jovens.

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Mas existem valores na pedagogia atual que tornam possível a

redescoberta da função do educador:

• A alternativa de educação paternalista favorece a construção de um novo

tipo de presença que responda aos anseios e às necessidades dos

educandos, ajudando-os a se tornarem protagonistas de sua formação.

• A função do educador passa a ser concebida não mais como transmissão

de conhecimentos mas como um processo de construção de conhecimento

junto com o educando. Recupera-se o sentido original da educação

estimulando o desenvolvimento das potencialidades de cada pessoa.

• A relação dialógica que se estabelece anula, de certa forma, a distinção

educador-educando, pois ambos se educam no processo.

• A redescoberta do significado político da ação educativa. Um novo projeto

social começa a nascer na instância da relação educativa. O educador que

tem visão dessa dimensão está apto para ajudar o jovem a atuar na

transformação da sociedade, e não apenas para prepará-lo para enfrentar a

concorrência da vida moderna.

A prática do Sistema Preventivo exige a presença do educador junto ao

jovem, mas não é qualquer tipo de presença: ela exige motivação e qualificação

específicas.

- Assistência como presença gratuita:

O êxito da comunicação educativa depende principalmente das

motivações e intenções que transparecem na relação que se estabelece.

A prática da Assistência Preventiva de Dom Bosco supõe uma

motivação espiritual e disponibilidade para fazer-se “presente” aos jovens, atitude

de busca, dar o primeiro passo. A presença espontânea no lazer, na recreação, e

em momentos não formais exprime em linguagem de gestos a gratuidade que é

fruto dessa motivação.

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- Assistência como presença ativa:

A presença do educador não deve ser centralizadora, impositiva e

controladora. Também não deve ser de mero expectador da atividade do jovem.

Presença ativa significa atuar junto com o jovem, intervindo de forma discreta,

envolvente, amorosa, estimulando e facilitando seu protagonismo. Um tipo de

presença que favoreça o exercício da liberdade e da responsabilidade.

- Assistência Individualizada:

A assistência do Sistema Preventivo é um processo que se desenvolve

em comunidade, mas que implica atenção individualizada. Está centrada nas

situações particulares dos jovens. É diferenciada de acordo com a idade e

características pessoais de cada um.

O educador do Sistema Preventivo convive com os alunos, participando

de sua vida em todos os momentos, e de modo especial nos mais espontâneos,

como no pátio. Participando dos jogos e nas conversas dos jovens, demonstra

interesse pelos problemas de cada um. Nestes momentos também pode intervir

positiva e eficazmente, questionando ideias de maneira racional e afável,

oferecendo conceitos e juízos de valor, segundo os princípios da educação cristã.

O objetivo da atenção do educador é permitir o emprego positivo das energias

juvenis, e estimulá-los em seu crescimento, não vigiando ou tolhendo suas

iniciativas.

A assistência é fundamental no Sistema Preventivo de Dom Bosco. O

relacionamento de ajuda não pode criar potencialidades nas pessoas, porque

estas dependem da natureza de cada um. Mas pode oferecer condições propícias

para que as pessoas estejam atentas às ocasiões e saibam utilizá-las, de modo a

descobrir e a efetivar suas capacidades, construindo dessa maneira a si próprios.

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CAPÍTULO III

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO SISTEMA PREVENTIVO

A família é um núcleo de convivência, onde pessoas unidas por laços

afetivos, costumam compartilhar o mesmo teto. Entretanto, esta convivência pode

ser feliz ou insuportável, pois seus laços afetivos podem experimentar o encanto

do amor e a tristeza do ódio. Deve ser a principal responsável pela formação da

consciência cidadã do jovem e também apoio importante no processo de

adaptação das crianças para a vida em sociedade.

Uma boa educação dentro de casa garante uma base mais sólida e

segura no contato com as adversidades culturais e sociais, características do

período de amadurecimento. A ausência familiar gera graves consequências na

formação, alimentando valores egocêntricos, que levam os mais jovens ao mundo

do vício e das futilidades.

No entanto, desde o início do processo de industrialização, a sociedade

passa por transformações que resultam em uma postura cada vez mais

individualista por parte da maioria da população jovem. O ingresso da mulher no

mercado de trabalho diminuiu o tempo disponível para a dedicação aos filhos

daquela que, antes, só se dedicava quase que exclusivamente à formação das

crianças.

Existem muitos pais que ocupam seus filhos mantendo uma agenda

cheia de atividades como: aula de natação, balé, lutas, esportes, etc., tentando em

vão preencher o vazio de sua presença concreta, real e afetiva junto a eles.

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Com a introdução do divórcio no Brasil, a disponibilidade de tempo dos

pais para com os filhos ficou ainda menor, e a dificuldade para educá-los

aumentou, pois quando estão com o pai, sentem a ausência materna e quando

estão com a mãe, sentem a ausência paterna. Nestes casos, na maioria das

vezes a responsabilidade pela educação das crianças passou a ser transferida

para os avós, pois a mãe precisa trabalhar para sustentar a si e a seus filhos, pois

geralmente a pensão recebida não é suficiente para garantir as necessidades

básicas da criança.

O educador Antônio Carlos Gomes da Costa, um dos idealizadores do

Estatuto da Criança e do Adolescente, declara que a partir do momento em que as

crianças ficam soltas na comunidade e entregues às diversões eletrônicas, há

uma perda de referência em relação aos valores considerados importantes para o

desenvolvimento de uma base sólida. Porém, segundo ele, não basta apenas

estar presente, é preciso saber educar de forma correta. “O problema, a meu ver,

não é o tempo que os pais passam com os filhos. O desafio está na qualidade

dessa convivência, que deve ser marcada por um forte componente de presença

educativa”, diz Antônio Carlos.

É na família que os filhos desenvolverão sua personalidade. Nela

crescerão, encontrarão o sentido de sua existência e amadurecerão, até que um

dia também eles partirão para realizar seus próprios projetos.

Nos primeiros anos de vida, os de formação, cada indivíduo está sujeito

à interação social com pais e irmãos, que desempenham papel importante em sua

vida. Suas experiências e sua interpretação subjetiva deles leva-os à formação

dos princípios diretores que governarão suas atitudes através da vida.

Saber-se como uma criança se sente sobre determinada experiência é

mais importante que conhecer a experiência objetivamente.

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No estabelecimento de um estilo de vida específico, a criança está

constantemente à procura de princípios diretores nos quais possa basear suas

reações características.

A família é então, para a criança, um grupo significativo de pessoas, de

apoio, como os pais, os pais adotivos, os tutores, os irmãos, entre outros. Assim, a

criança assume um lugar relevante na unidade familiar, onde se sente segura.

No nível do processo de socialização a família assume, igualmente, um

papel muito importante, já que é ela que modela e programa o comportamento e o

sentido de identidade da criança. Ao crescerem juntas, família e criança,

promovem a acomodação da família às necessidades da criança, delimitando

áreas de autonomia, que a criança experiencia como separação.

A família tem também, um papel essencial para com a criança, que é o

da afetividade, pois é através da afetividade de um adulto que a criança

desenvolve sua capacidade de confiar e de se relacionar com o outro.

O estilo de vida vai determinar as decisões da criança mesmo que elas

sejam baseadas em suposições distorcidas ou opiniões erradas, não mais

aplicáveis à sua atual situação.

Os pais proporcionam o ambiente no qual a criança vai fazer suas

primeiras experiências de vida social. Seus conceitos de gente e sociedade

surgem dessa relação com seus pais. Ela desenvolve atitudes definidas em

relação a convenções dentro da família.

Os pais trazem à criança as influências da comunidade, exemplificando

as relações humanas. É a partir deles que ela observa como as pessoas lidam

umas com as outras, fixando um padrão para todas as relações interpessoais da

família.

Cada criança tem uma posição diferente na família e, como resultado,

percebe os acontecimentos familiares de uma maneira própria.

O lugar da criança entre os irmãos desempenha papel importante no

desenvolvimento do seu caráter. A competição entre irmãos leva a diferenças

pessoais fundamentais.

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O Sistema Preventivo traz a possibilidade de um novo horizonte, que

permite às pessoas conhecer caminhos em direção à felicidade a partir de um

caminho pessoal e comunitário de vida. O tesouro do carisma e da experiência de

Dom Bosco é oferecido hoje com a mesma confiabilidade para o êxito educativo

do jovem, como na época de sua idealização, através de educadores que tem o

coração aberto para acolher e orientar, para conviver e entender, para mostrar o

caminho da interioridade pessoal e da alegria possível quando se conquista um

sentido para a própria vida.

Nas relações familiares, é necessário explicitar, falar, corrigir, inventar

expressões que mostrem aos filhos os valores que sustentam e dinamizam as

relações que dão segurança e alegria, para que todos se amem em paz. Assim,

fugirão os medos e a tentação de adequações aos modelos estereotipados pela

busca de um sucesso vazio, portador de verdadeiro desespero.

Alguns valores propostos pelo Sistema Preventivo integrar o ambiente

relacional da família.

Com amorevolezza, o clima de afeto, da alegria, de segurança e de

confiança constitui a parte do alicerce relacional que qualifica o todo da família. A

amorevolezza rege a intensidade das relações e transcende para o sobrenatural

reportando a Deus a segurança de que todo afeto dado e recebido está

impregnado por um afeto maior, que é a presença de Deus como inspiração e

sustentação. Se houver uma intensificação dessa vivência, é quase impossível

que o clima relacional familiar não se expanda e contamine outras pessoas pela

sua capacidade exemplar.

Da religião, a família deve expressar a capacidade de se deixar motivar

pela presença de Deus nas ações cotidianas, bem a exemplo de Dom Bosco. A

vida da família se alimenta da oração. Todos devem reportar-se a Deus, como

expressão de gratidão e de união com Ele. A casa deve ser um ambiente

silencioso e acolhedor que proporcione um estado de recolhimento e de silêncio.

O silêncio ativo está impregnado de reflexão, de vitalidade e de comunicação com

o próprio interior, se torna a base da criatividade e da alegria.

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Deve-se ter a preocupação pelo estudo, o aprendizado da leitura como

fonte de aquisição do saber sobre o mundo e sobre a vida. Para isso, são

necessários hábitos de concentração e dedicação, de iniciação ao pensar, ao

refletir, e na aquisição de uma metodologia lógica para olhar criticamente o

mundo. Uma educação empreendedora estimula a imaginação, cria o gosto pela

inventividade e encoraja a propostas desafiadoras. Nesse sentido, a postura

educativa deve suscitar a resistência ao sofrimento e às frustrações, incentivar a

superação das perdas e ultrapassar as decepções dos possíveis fracassos.

Os pais devem conversar com os filhos para que eles saibam buscar a

amizade de jovens simples e saudáveis que conseguem vivenciar uma vasta

gama de valores que os tornam verdadeiros exemplos de uma vida que

transparece a graça de Deus com muita naturalidade e ensiná-los a evitar a

presença daqueles que nada vão acrescentar à sua vida.

O relacionamento entre os membros da família deve ser aberto, com

confiança, honestidade e respeito. As relações de amizade da família com outras

pessoas deverão, sem discriminação, ser realizadas somente com pessoas que

aceitem os valores adotados pela família, seja em qualquer setor da vida,

principalmente nos freqüentados pelos filhos, tais como: diversão, trabalhos

escolares em grupo, viagens, visitas, lugares freqüentados por colegas, etc. .

O jovem que descobre o seu lugar e o vivencia com entusiasmo, se

torna uma pessoa simpática, atraente e desejável por todos como companhia.

Faz parte desse conjunto de valores o exercício do reconhecimento sábio da

autoridade. Saber evitar confrontos inúteis já demonstra muita esperteza e

sabedoria.

As virtudes salesianas devem ser propostas pelas famílias a seus filhos

como caminho de auto realização, como conquista que permite uma situação

coerente perante qualquer pessoa. Pela busca de santidade, gosto pelo trabalho,

simplicidade, alegria contagiante diante de tudo, pureza de alma para olhar o

mundo com reta intenção, vivacidade juvenil como expressão da vida a ser

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conquistada, delicadeza com os outros, tudo isso deve conduzir a uma postura de

equilíbrio como expressão da presença de Deus.

Infelizmente na sociedade brasileira existem jovens provenientes de

famílias desestruturadas, normalmente com filhos numerosos, onde normalmente

as crianças são obrigadas a conviver com o vício, com a violência, com a extrema

pobreza. Nestes casos, a ação junto a eles não deve limitar-se puramente a ação

educativa. Essa ação educativa deve estar fortemente entrelaçada com

elementos capazes de lhes promover as oportunidades de desenvolvimento

social, econômico e pessoal

No trabalho junto a estes jovens, deve-se saber balancear de forma

adequada as oportunidades sociais e educativas, de forma a viabilizá-los como

pessoas, cidadãos e futuros trabalhadores, sem jamais perder de vista a

necessidade de dotá-los de bons critérios para avaliar as situações e tomar

decisões diante delas.

Para os jovens de classe social mais favorecida, os trabalhos devem

ser efetuados de forma e dimensões fortemente educativos, no sentido de

despertar neles um compromisso de solidariedade ativa e construtiva, agora e no

futuro, junto à população de jovens mais desfavorecidos da população.

Um jovem deve adquirir uma postura de perseverança para poder

cultivar a auto confiabilidade e as certezas de que ele necessita para poder se

desenvolver com alegria e entusiasmo.

Quando desenvolveu o Sistema Preventivo, Dom Bosco tinha sempre

em mente a idéia de família. Acolhia crianças do povo, escolhia família do povo.

Sem etiquetas, com laços de bondade, simplicidade, de presença, de respeito,

humildade da parte dos filhos, de sacrifícios da parte dos pais; a família onde reina

o carinho que impregna toda a atividade educativa, e todos os ambientes.

Acolhia as crianças que não tinham lar num internato. Lá o aluno

aprendia a submeter-se à disciplina pessoal. Adquiria hábitos de ordem. Entrava

em contato com os outros em pé de igualdade, sentindo que era um no meio de

muitos. Entrava desde cedo em convívio com outros dos mais diversos

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temperamentos, índoles, graus de inteligência, tendência e gostos, e assim se

habituavam a um ambiente que era amostra do mundo social real em que teriam

que viver.

Dom Bosco exigia a disciplina necessária como um pai, por meio de

raciocínio simples. Era uma disciplina a serviço do próprio educando e não do

educador. A vida em família pede espontaneidade, e assim se vivia no internato.

Certa vez Dom Bosco disse: “O estarem vocês aqui reunidos, ajuda

muito a se fabricar o mel da alegria, piedade e estudo. Estarem juntos aumenta a

alegria dos recreios, afasta a tristeza quando esta triste conselheira quer agir em

vossos corações. O estarem juntos ajuda a suportar as fadigas do estudo, e se

tem um estímulo a ver o progresso do próximo. O estar entre muitos faz bem e

anima sem a gente perceber.”

Dom Bosco escreveu suas biografias dedicadas unicamente aos seus

jovens, com a finalidade de criarem, com aqueles exemplos uma atmosfera de

família. Era comum em suas conversas e mesmo nos seus escritos aos jovens

empregar com freqüência a palavra filhos para expressar o relacionamento de

família.

“Educar é coisa do coração.”

(Dom Bosco)

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CONCLUSÃO

A pedagogia de Dom Bosco é baseada no amor de Cristo. Um amor

carismático, que é paternal, que não julga, não descrimina, que perdoa, não

castiga. É um amor fraterno e incondicional que vê nos jovens a plena capacidade

de realização de cada um como grandes cidadãos em formação.

Não importa a classe social em que vivem esses jovens, mas

simplesmente seu potencial e a capacidade de realização para a vida, para a

felicidade.

Dom Bosco, através do Sistema Preventivo, defende a criação de

oportunidades de ação ou de atividades que permitam que o jovem compreenda o

sentido do que ele está fazendo, e ao mesmo tempo que ofereçam satisfação em

seu íntimo, que lhe proporcionem a confiabilidade deque ele é capaz de viver

contente e satisfeito.

Essa pedagogia persiste até os dias de hoje, como base da formação e

auxilio de muitos jovens no mundo todo, apesar das transformações ocorridas com

o passar dos anos. O educador que trabalha com o método de Dom Bosco tem a

certeza do sucesso na realização do seu trabalho, pois ele vê a essência de cada

jovem e trabalha de forma a fazê-lo se conhecer e desenvolver dentro de suas

potencialidades com a certeza de que é amado, capaz e de que a fé em Deus é o

suporte de carinho e amor que ele necessita para reger as condutas de sua vida.

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ANEXOS

Salesianos

A congregação dos Salesianos é uma congregação religiosa da Igreja

Católica Apostólica Romana fundada em 1855 em Turim na Itália, por São João

Bosco e aprovada em 1874 pelo Papa Pio XII. Seu nome oficial é Pia Sociedade

São Francisco de Sales (origem do nome Salesiano), em homenagem a São

Francisco de Sales, são conhecidos popularmente como Salesianos de Dom

Bosco (em latim Salesiani Domini Bosci) o que determina sua sigla SDB.

A congregação é composta por irmãos de consagração que fazem

votos simples de castidade, pobreza e obediência. Os salesianos podem optar

pelo sacerdócio, de modo que existem padres e irmãos salesianos. Que se

encontram espalhados em grande parte do mundo, evangelizando e educando.

A história dos salesianos no Brasil começou em 14 de Julho de 1883,

quando um grupo de religiosos vindo da Itália encaminhados por Dom Bosco,

chegou para colocar em prática seu carisma e pedagogia baseados na razão, na

religião, no carinho para atender as necessidades de uma população jovem e

carente. Em principio, se dedicaram ao ensino primário e das artes.

Posteriormente o ensino secundário.

Naquela época, a congregação salesiana tinha fama de ser um símbolo

de renovação na área da educação e era bem vista por dedicar-se aos jovens

carentes, filhos de escravos beneficiados com a Lei do Ventre Livre e jovens

imigrantes italianos que vinham tentar a sorte no Brasil, independentemente do

regime monarquista no Brasil ser contra a igreja e esta por sua vez, passar por

uma crise institucional.

Inicialmente os salesianos no Brasil tinham a proteção de Dom Pedro II

que, mesmo com restrições quanto ao desempenho das antigas ordens religiosas

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de origem medieval, não criou nenhuma dificuldade em relação a presença dos

salesianos, contando também com o apoio explicito da Princesa Isabel. A primeira

obra dos salesianos no Brasil foi à cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Hoje

atuam em todo o território nacional, por meio da Inspetoria Salesiana com sede

em Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), Manaus

(AM) e Campo Grande (MS). As obras salesianas se dividem em casas de

formação religiosa, paróquias, retiros, missões entre indígenas, oratórios festivos e

diários, obras sociais, escolas do nível infantil ao universitário, rádios comunitárias,

editora, centro audiovisual, centro de videocomunicação, e centro de

documentação e pesquisa, e se constituem na missão proposta por Dom Bosco.

Nossa Senhora Auxiliadora e Dom Bosco

Fonte: http://www.diocesejlle.com.br/paroquia-noticias-

Lista.php?id_catp=1&id_par=29&id_notp=747

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Dom Bosco e seus jovens (1861): um pai entre seus filhos.

Fonte: www.sdb.org

Dom Bosco e sua banda: “Um oratório sem banda é como um corpo sem alma”

(Dom Bosco). Fonte: www.sbd.org

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Dom Bosco abençoando seus jovens. Fonte: www.sdb.org

São João Bosco – O espírito salesiano.

Fonte: www.sdb.org

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Sacramento de Reconciliação (penitencia). Fonte: www.sdb.org

Os Primeiros Salesianos (1870). Fonte: www.sdb.org

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São João Bosco

Fonte: www.sdb.org

Dom Bosco, São Domingos Sávio e Laura Vicuña

Fonte: www.sdb.org

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BIBLIOGRAFIA

COSTA, Antonio Carlos Gomes da. Presença educativa. São Paulo: Editora

Salesiana, 2001.

FERREIRA, Antônio da Silva. De olho na cidade: O Sistema Preventivo de Dom

Bosco e o novo contexto urbano. São Paulo: Editora Salesiana, 2000.

FISTAROL, Pe. Orestes Carlinhos. Sistema Preventivo e Direitos Humanos.

Brasília: Cisbrasil-CIB, 2009.

PAULA, Antonio Pacheco de. Inspetoria São João Bosco: Salesianos e

colaboradores realizando a missão do Fundador. Belo Horizonte: CESAP, 2003.

PAULA, Antonio Pacheco de. Manual do Colaborador Salesiano. Brasília:

Cisbrasil-CIB, 2008.

SILVA FILHO, Genésio de., COSTA, Antonio Carlos Gomes da. A educação

salesiana em tempos de travessias. Belo Horizonte: CESAP, 2002.

UCHOAS, Ermelinda Gonçalves. Presença Construtiva: a relação educador-

educando nos programas socioeducativos. São Paulo: Editora Salesiana, 2000.

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ÍNDICE

Folha de Rosto ___________________________________________________ 2

Agradecimentos ___________________________________________________ 3

Dedicatória _______________________________________________________ 4

Resumo _________________________________________________________ 5

Sumário _________________________________________________________ 6

Introdução _______________________________________________________ 7

Capítulo I ________________________________________________________ 9

1.1 – Em que consiste o Sistema Preventivo e porque se deve preferir ______ 9

1.2 - As bases do Sistema Preventivo ______________________________ 11

1.3 - Aplicação do Sistema Preventivo ______________________________ 12

1.4 - Utilidade do Sistema Preventivo ______________________________ 15

1.5 - Uma Palavra sobre os Castigos _______________________________ 16

1.6 - Nunca apliqueis castigos senão depois de esgotados todos os outros

meios _____________________________________________________ 16

1.7 - Procurai escolher o momento oportuno para a correção ____________ 17

1.8 - Afastai de vossas atitudes qualquer indício de paixão _____________ 17

1.9 - Procurai deixar ao culpado a esperança de perdão ________________ 18

Capítulo II ______________________________________________________ 20

Capítulo III ______________________________________________________ 31

Conclusão ______________________________________________________ 38

Anexos _________________________________________________________ 39

Bibliografia ______________________________________________________45