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Uma resumida memória da História dos Chineses em Moçambique, um legado para que não esqueçamos de nossas origens e como chegamos até Portugal e Brasil. São Paulo, 2010 Helder Leong A Fênix e o Dragão 1

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Page 1: Uma resumida memória da História dos Chineses em Moçambique, um legado para que não esqueçamos de nossas origens e como chegamos até Portugal e Brasil

Uma resumida memória da História dos Chineses em Moçambique, um legado para que não esqueçamos de nossas origens e como chegamos até Portugal e

Brasil.São Paulo, 2010 Helder Leong

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Page 2: Uma resumida memória da História dos Chineses em Moçambique, um legado para que não esqueçamos de nossas origens e como chegamos até Portugal e Brasil

Epílogo Numa viagem a Hong-Kong descobri por acaso o livro “Colour,

Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, de Melanie Yap e Dianne Leong Man. Foi com base neste fantástico documento que me interessei por escrever algo que contribuísse para descrever a História dos Chineses em Moçambique.

Dedicamos este pequeno relato às gerações de nossos bisavôs, avós e pais, que com o seu espírito batalhador de trabalhadores e comerciantes, saíram da China e lutaram em suas vidas emigrando para África e depois para Europa/América, para que cada nova geração usufruísse de melhores condições de vida.

Este documento foi escrito com base em pesquisa de artigos encontrados na Internet e no livro acima mencionado, havendo margem para erros. Agradeço se tiver algum comentário de correção ou alguma história e fotos que possa enriquecê-lo, que envie para [email protected].

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Page 3: Uma resumida memória da História dos Chineses em Moçambique, um legado para que não esqueçamos de nossas origens e como chegamos até Portugal e Brasil

A causa da emigração Na China do século 19,

a decadente Dinastia Qing, a dominação estrangeira e calamidades naturais, levou os Chineses da província de Cantão (Guangdong) a procurar oportunidades fora após o Governo Chinês permitir a emigração a partir do primeiro quarto do Século 19.

* Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man

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De onde viemos? A maioria dos

emigrantes Cantoneses se dispersaram por Hong-Kong, Estados Unidos, Canadá e Austrália.

Os que emigraram para a África do Sul e Moçambique eram originários das regiões:

Namhoi (Nanhai) Suntak (Shunde) Punyi (Panyu)

* Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man

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Page 5: Uma resumida memória da História dos Chineses em Moçambique, um legado para que não esqueçamos de nossas origens e como chegamos até Portugal e Brasil

Porquê Sul da África? O objetivo principal era

emigrar para São Francisco, “Gam Saan” ou Montanha Dourada na América, mas acidentalmente se confundiam com a África do Sul e Austrália, chamadas Nova Montanha Dourada, que também possuiam Minas de Ouro.

As Ilhas Mauricio foram importantes porque eram um destino temporário dos Chineses que esperavam para obter visto para a África do Sul.

* Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man

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Page 6: Uma resumida memória da História dos Chineses em Moçambique, um legado para que não esqueçamos de nossas origens e como chegamos até Portugal e Brasil

Porquê Moçambique? Lourenço Marques, a atual

Maputo, era a Capital de Moçambique, ficava na rota comercial vinda da China e Índia. Era o Porto mais próximo da Província do Transvaal (Johannesburg) na África do Sul onde ficavam as Minas de Ouro.

A maioria dos emigrantes com destino ao Transvaal, desembarcava ou embarcava pelo Porto de Lourenço Marques, alguns acabavam por ficar em Moçambique.

* Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man

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Os primeiros emigrantes No último quarto do Século 19, os

primeiros emigrantes começaram a se assentar em Lourenço Marques e Beira. Em 1858 um navio português trouxe 30 operários Chineses, entre carpinteiros, pedreiros e ferreiros.

Em 1893 eram 57 e em 1903 eram 287, surgindo artesãos, pintores, trabalhadores nas fazendas de cana de açúcar e construção dos caminhos de ferro.

No auge a comunidade chegou a ter 3500 pessoas em Lourenço Marques e 4000 na Beira.

* Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man

Na foto acima, o Consul-Geral e sua filha em 1907, junto com alguns comerciantes.

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Page 8: Uma resumida memória da História dos Chineses em Moçambique, um legado para que não esqueçamos de nossas origens e como chegamos até Portugal e Brasil

A contrução da comunidade Após assegurarem condições

financeiras para constituir e sustentar uma família, os homens regressavam à China para buscarem as suas esposas mediante casamentos arranjados.

As esposas muitas vezes tinha de esperar anos até poderam se juntar a seus maridos, enfrentando uma viagem de barco muitas vezes em condições muito difíceis.

Com a vinda das mulheres foi crescendo a Comunidade Chinesa com os casamentos e o nascimento da segunda geração.

* Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man

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Page 9: Uma resumida memória da História dos Chineses em Moçambique, um legado para que não esqueçamos de nossas origens e como chegamos até Portugal e Brasil

O comércio Em terra desconhecida e sem falar a

língua local, apenas munidos de sua determinação, pouco a pouco foram assentando suas vidas e melhorando as condições de vida, abrindo pequenos lojas de comércio local, alguns se tornando fazendeiros (“machambeiros”).

A capacidade de comércio dos Chineses se desenvolve em Moçambique como os outros Chineses emigrados em qualquer parte do Mundo, se adaptando a qualquer cultura e ultrapassando todas a dificuldades.

* Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man

* Retirado de Kuan Ti, o protector, Paola Rolleta

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A associação cultural O primeiro Pagode Chinês da

Associação Chinesa de Lourenço Marques foi fundado em 1903 por Ja Assam, um carpinteiro-arquiteto, em um terreno por ele doado.

O Pagode Chinês tinha como objetivos promover o bem-estar da comunidade através da educação, da organização de festas, bailes, jogos e a assistência social aos membros necessitados em caso de desemprego, doença, invalidez e morte.

Na Beira em 1922 foi construido o Clube Chinês (Chee Kung Tong).

* Fotos cedidas por António Leong, Maputo

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A Escola Chinesa À medida que a comunidade foi

crescendo, em 1938 foi criada a nova Escola Chinesa de Lourenço Marques, que sobreviveu até aos dias de hoje. Na foto abaixo, a inauguração liderada por Ja Assam.

Professores eram trazidos da China para o ensino do Chinês Mandarim, várias turmas permanentes foram criadas.

Na Beira, a Escola Chinesa foi inaugurada em 1950.

* Fotos cedidas por António Leong, Maputo

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Educação Chinesa A Escola Chinesa funcionou como

escola permanente permitindo que as novas gerações mantivessem a educação e a cultura Chinesa (era ensinado o Mandarim).

Com o passar do tempo as novas gerações sentiram dificuldades em progredir com suas vidas pela falta de aprendizagem do Português, pelo que as as familias começaram desistir da educação Chinesa e a optar pelo ensino Português para garantir que as os seus filhos pudessem desenvolver as suas atividades profissionais e negócios. * Fotos cedidas por António Leong, Maputo

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Atividades Culturais Na Escola Chinesa eram

apresentadas espetáculos de dança e música, peças de teatro, artes marciais e projeção de filmes de ópera chinesa.

Os casamentos entre membros da comunidade eram realizados na Escola Chinesa, normalmente convidados praticamente toda a comunidade. Além dos comes e bebes, havia bandas de música ao vivo e projeção de filmes de Ópera Chinesa.

* Fotos cedidas por António Leong, Maputo 13

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Esportes O Basquete era muito popular

entre as comunidades Chinesas. Em 1954 uma Equipe de

Lourenço Marques chamada Tje-Lig (força própria) foi vencedora no Torneio de Johannesburg, tinha um estilo de jogar moderno e preciso.

Na foto abaixo, jogadoras do Sporting de Lourenço Marques em 1958.

* Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man

* Retirado de Gazeta da Comunidade Chinesa de Moçambique, 1858 – 197 5, No 2 Verão 2003

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Lourenço Marques antes de 1975Praça Mouzinho de Albuquerque,

e a CatedralCâmara Municipal

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Lourenço Marques antes de 1975Estação dos Caminhos de Ferro A Marginal, estrada para a praia.

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Lourenço Marques antes de 1975Avenida da República

Restaurante Piri-Piri, camarões grelhados e galinha à cafrial

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A Beira antes de 1975O Centro O Grande Hotel

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A Beira antes de 1975Aeroporto Estação dos Caminhos de Ferro

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A Independência de Moçambique Em 1964 a Frelimo (Frente de

Libertação de Moçambique) iniciou uma guerra de guerrilha que se culminou na Independência de Moçambique em 25 de Junho de 1975, em seqüência à queda da Ditadura em Portugal em 25 de Abril de 1975.

O abandono das Tropas Portugueses e a imposição de um regime Marxista-Leninista do Governo da Frelimo, fez com que a vida se tornasse impraticável para Comunidade Chinesa em Lourenço Marque e Beira e fugisse para Portugal e Brasil.

* Centro de Documentação 25 de Abril Universidade de Coimbra 20

Page 21: Uma resumida memória da História dos Chineses em Moçambique, um legado para que não esqueçamos de nossas origens e como chegamos até Portugal e Brasil

O fim de uma era O país próspero que permitiu a segunda e a terceira gerações de

Chineses obterem a sua estabilidade e sucesso de suas vidas , se transformou em um pesadelo de regime comunista, destruindo a liberdade e a economia.

Sem nenhuma perspectiva de continuação da vida em Moçambique após a perda de seus bens perante a nacionalização executada pelo regime da Frelimo, a partir de 1975 a maioria dos membros da comunidade Chinesa de Lourenço Marques fugiram do país se refugiaram em Portugal e no Brasil. Alguns foram para Macau e América do Norte. Algumas dezenas de famílias chegaram a pedir asilo na África do Sul, mas o regime do Apartheid rejeitou.

Apenas algumas famílias decidiram ficar em Lourenço Marques, num total de menos cem pessoas. Na Beira quase a totalidade da comunidade fugiu restando apenas alguns indivíduos.

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O Recomeço As vidas tiveram de ser reconstruídas do zero em países

desconhecidos: No Brasil, os Chineses de Lourenço Marques escolheram São

Paulo como sua nova residência, enquanto que os da Beira foram para Curitiba. O Brasil oferecia muitas oportunidades e tiveram sucesso em negócios de lanchonetes e restaurantes.

Em Portugal a maioria se concentrou em Lisboa, salvo algumas exceções que escolheram outras cidades. Embora algumas famílias fossem bem sucedidas em negócios de restaurantes e lojas, muitos com a educação e o domínio da língua portuguesa conseguiram exercer atividades com sucesso como engenheiros, médicos, etc. As novas gerações se integraram completamente na sociedade portuguesa.

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Moçambique Hoje De 1975 até hoje, Moçambique

percorreu um percurso penoso de 35 anos com uma longa guerra civil, vendo o país destruído e deixado na miséria, chegando a se tornar um dos países mais pobres do Mundo.

A paz trouxe de volta o país no caminho do desenvolvimento e trouxe o Turismo de volta para mostrar ao Mundo a sua beleza.

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Moçambique Hoje Os Chineses que permaneceram

em Maputo (ex-Lourenço Marques) desde a década de 70, hoje convivem com os Chineses vindos da China, que ao longo dos últimos anos constituem uma nova vaga de emigração.

Em 2004 a Escola Chinesa foi devolvida à Comunidade Chinesa, desde então ela tem reativado as confraternizações e eventos.

Nas fotos ao lado, a Festa Comemorati va do 5º Ano de Devolução do Pagode Chinês.

* Fotos cedidas por António Leong, Maputo

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Lourenço Marques HojeA Catedral e o Hotel Rovuma

(antigo Prédio Funchal)Câmara Municipal

* Fotos encontradas na internet, de Vitor Passos, Tony Nabais, Zêbê e Aníbal (2004).25

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Lourenço Marques HojeEstação dos Caminhos de

FerroEstrada para a praia. Ao fundo

o Viaduto

* Fotos encontradas na internet, de Vitor Passos, Tony Nabais, Zêbê e Aníbal (2004).26

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Lourenço Marques HojeRestaurante da Costa do Sol Caranguejo de Moçambique

* Fotos encontradas na internet, de Vitor Passos, Tony Nabais, Zêbê e Aníbal (2004).27

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Referências Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in

South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man Kuan Ti, o protector, Paola Rolleta Gazeta da Comunidade Chinesa de Moçambique, 1858 – 197 5, No

1 Verão 2003 Gazeta da Comunidade Chinesa de Moçambique, 1858 – 197 5, No

2 Verão 2003 Gazeta da Comunidade Chinesa de Moçambique, 1858 – 197 5, No

3 Verão 2003

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