uma historia verde do mundo
TRANSCRIPT
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7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo
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l
r
ClivePonting
UM
HISTORI VERDE
O MUNDO
Traduo de
na
Zelma
Campos
civilizao
brasileira
-
7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo
2/42
Noventa eNovepo r ento
da
Histria Humana
Com
exceo
dos
ltimos poucos milnios
de
seus
doism i-
lhes
de anos de existncia os
seres
humanos obtiveram
sua
subsistncia
atravs de uma combinao defatores
tais
como
o acmulo de gneros alimentcios e a caa de ani-
mais.
Em
quase todos
o s
casos
as
pessoas viviam
em
grupos
pequenos
e
nmades.
Sem a
menor
dvida
esse
foi o
meio
de vida mais
flexvel
e bem -sucedido j
adotadopelos
seres
humanos
o que menos
males causou
aos ecossistemas
naturais.
O
nomadismo
deu aoshumanosapossibilidade
de se espalharem por todo s os ecossistemas terrestres e a de
sobreviverem no somente em reas
favorveis
co m
fcil
obteno
de
alimentos
m as
tambm
nas
condies rigoro-
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sobrevivem de
colheita
e caa,
forneceram
u m a
viso fas-
cinante
de
como
os
seres
humanos
viveramdurante
a
maior
parte de sua
histria
e
como estavam integrados
no
meio
ambiente.
Esses estudos enfatizaram
o
meio relativamente
fcil
pelo
qua l
poder ia
se r
extrado
o
alimento suficiente
do
que teria
sido
u m
ecossistema muito m ais produtivo
do que
os
que so
atuamente ocupados
por
esses mesmos
grupos.
Paralelamente
a
essas descobertas, houv e
um a
revoluo
no
pensamento arqueolgicoe nas tcnicasdeinvestigao do s
vestgiosdos seres humanos primitivos. Em lugar de coletar
grandes nmeros de instrum entos de pedra e tentarclassifi-
c-los
dentro de
culturas tendo como
base as
diferenas
marginais ,
na forma pela qualforam feitosoupela compara-
o
dos diferentes tipos de instrumentos encontrados em
locais diferentes, os arquelogos resolveram adotar urna
abordagem mui to mais
sofisticada.
Nesse caso, a nfase
dada
tentativa
de
compreenso,
usando
frequentemente
grupos contem porneos como exemplos, que instrumentos
lhes
seriam
apropriados,
qu e
atividades eram realizadas
nos
diferentes locais,
comoo s grupos humanos exploravams eu
meio
ambiente
de
formas
diferentes
para obter alimento
e
como
seus deslocamentos
sazonais estavam
integrados nesse
padroabsoluto.
O q ue surge dessas novas abordagens uma viso mui-
to mais positiva dos gru pos que vivem da colheita e da caa.
No
geral,
os
colhedores
e
caadores
n o
vivem
sob a
ameaa
constante
de
morrer
de
fome. Pelo
contrrio,
eles seguem
um a dieta
adequada
nutr icionalmente,
selecionada
de um
grande crculo
de
recursos alimentares disponveis.
Essa
grande variedade alimentar
,
normalmente, somente
um a
p e q u e na
proporo
da
quantidade total
d e
alimento dispo-
nvel
no
meio ambiente.
Conseguir
a
comida
e
outras
formas
de
trabalho ocupa somente
um a
pequena parte
do
dia, dei-
xando
uma grande quantidade de tem po livre para o lazer e
para asatividades cerimoniais.Am aioriad os grupos sobre-
48
vive
com
muito poucos recursos,
porque
suas necessidades
so poucas e urna
quantidade
extra desses mesm os bens seria
um estorvo para a sua forma nmade de vida. I tens como
ferramentas de
caa
e
utenslios para cozinhar no
tm o
menorvalor,porque podem
ser
facilmentesubstituveis
por
materiais
disponveis
no
local.
O
padro
de
vida variaduran-
teo
ano,
dependendoda
disponibilidade sazonal
dos dife-
rentes tipos
de
alimentos. Vivem,
na
maior parte
do
tempo,
em
pequenos grupos
de
mais
ou
menos
25 ou 30
pessoas,
juntando-se em
grupos
maiores
para
a
prtica
de rituais,
casamento
e
outras atividades sociais,
no
mo m e n to
em que
as
fon tes alimentares permitem
a
reunio
de umgrupo
maior
de
pessoas
em um
mesmo lugar. Dentro
do
grupo
no
existe
o
conceito
d e
propriedade
em
relao
ao s
alimentos,
qu e so
encarados como
disponveisatodos.N o
existe
a
estocagem
dos alimentos,
porque isso interferiria
na
mobilidade
do
gru-
po
e
porque
sua
experincia
ensina quealguns alimentos
estaro sempre disponveis, mesmo quando ocasionalmente
certos itens estejam
em
falta.
Os boximanesdo sudoeste da frica ilustrama facilida- J
de que
esses grupos
de
colheita
e
caa possuem
na
obteno
de
alimento suficiente.Opratofortede sua
dieta
a noz do
mongongo, altamente nutritiva, obtida
de uma
rvore
que
resiste muito bem s secas. uma fonte alimentcia muito
segura,
que se
mantm
por
mais
de um
ano. Contm
5
vezes
as calorias
e 10
vezes
a
quantidade
de
protena
de uma
quan-
tidade equivalente de
cereais
e
250g
(aproximadamente 300
nozes
tm a
mesma quantidade
de
calorias
de
1.250g
de
arroz cozido e as protenas de quase 500g de carne de vaca,
Alm
disso,
existem
84
espcies difere ntes
de
plantas
alimen-
tcias,
enquanto que os boximanes normalmente usam so-
mente 23delas.
Existem
54espciesde
animais comestveis
e
somente
17 so
caados regularmente. Comparada
com os
nveis recomendados
de
nutrio m oderna,
a
dieta
dos
boxi-
manes
mais
do que
adequada:
o
consumo
de
calorias
mais
49
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elevado, o deprotenas de um teroamaise noexistem
ne m sinaisdedoenas causadas po r deficincia alimentar.A
quan tidade do esforo necessrio para a obteno desses ali-
mentos no muitogrande em
mdia,
dois dias e meio
por
semana.
O
trabalho envolvido m antm-se estvel
ao
lon-
go do ano (diferentementedaagricultura)eexceto pela poca
do
auge
d a
estao
seca, a
busca
do
alimento raramente exige
viagens
d e
mais
d e
9km
po r
dia. M ulheres
e
homens devotam
a
mesma
quant idade
d e tempo para obterosalimentos, m as
asmulheres,
que so
responsveis pela colheita, coletam duas
vezes mais alimentos
do que os
homens conseguem caar.
A s
mulheres geralmente trabalham
de uma a
trs horas
por dia
epassam
o
resto
do
tempo
em atividades de
lazer.
A
caa,
qu e
realizada pelos
homens,
mais
intermitente,
envolvendo
talvez
um a
semana
de
caadas, seguida
por duas ou
trs
semanas
de
ausncia
total de atividade.
Aproximadamente
40 por
cento
do
grupo
no
representa qualquer papel
na
obteno
de
comida.
Um a
entre
de z
pessoas
te m
mais
de
sessenta anos
e
tratada como mem bro respeitado
do
grupo
e no seesperaque osjovens cacem antes de secasar,o que
acontece ao svinteanosparaasmulheres e vinte ecinco para
oshomens.O s mesmos padres foram encontrados entre os
Hadzad africaorientale o saborginesdaA ustrlia.
Todos esses grupos foram empurrados para reas de
subsistncia marginal e,portanto,podemos supor que, quan-
do grupos semelhantes podiamviveremlugaresondeexis-
tiam fo ntes mais abundantes, acolheita teria sido m uito mais
fcil.Na verdade, muitos grupos contemporneos deixam de
perceber as atraes da agricultura, com sua carga muito
maior
detrabalho.
Como disse
um boximano a um
antrop-
logo,
Por que deveramos plantar quando existem tantas
nozesd emongongo pelomundo? Otempod elazermuito
valorizado, osboximanespreferem-no a aumentar suas fon-
tes de
suprimentos (que
j so
mais
do que
suficientes)
ou em
produz ir
mais bens materiais (que
podem ser um
estorvo).
50
Noincio deste sculo,atribo SianedaNova G uin resolveu
adotar machados modernos de ao em lugar de seus tradi-
cionais instrum entos
de
pedra. Isso reduz iu
a
quant idade
de
tempo necessrio para
a
proviso
de um
nvel adequado
de
subsistncia em um tero.O novo tempo extrano foiutili-
zado para aume ntar a produo, mas dedicado s cerim-
nias, lazer e opera es militares. De forma semelhante , no
Brasildo sculo dezesseis, os portugueses descobriram que
as
tribos indgenas, se no
fossem
escravizadas, rabalhariam
somente at ganhar o
suficiente
p ara comprar ferram entas
de metal e depois queriam
usufruir
do seu lazer.
Geralmente,os grupo s de colheita e de caa vivem prin-
cipalmente da colheita. Acaa uma atividadedifcile arris-
cada, com poucas recompensas peridicas, na melhor das
hipteses. Estudos sobre os principais carnvoros em ecossis-
temas
(cujo papel o homem est tentando adotar quando
caa)demonstram que eles s conseguem mata r uma vez em
cada dez tentativas. Os seres humanos, m esmo quando tm
alguma a juda da tecnologia, esto muito menos adap tados a
essa funo do que os lees ou os tigres e tm possibilidades
ainda menores de conseguir mesmo os nveis menores de
sucesso. Nos grupos p rimitivos que sobreviviam da colheita
e
d a
caa,
q ue
operavam
co m
lanas razoavelmente primiti-
vas, alm
do s
arcos
e das
flechas,
provve l
que a
m aior parte
da carnede suadietatenhavindoderestosdeanimais caa-
dos por outros predadores. Nas regies equatoriaise tropi-
cais,
a
caa raram ente contribui
co m
mais
de um
tero
da
dieta
d o
grupo.
Os
ecossistemas
qu e
ficammaisafastados
do
equador so menos prod utivos e, conseqentemente, a plan-
tao
disponvel parasuaalimenta o precisasersuplemen-
tada frequentemen te, a travs
da
tarefa
q ue
consome
um
tem-
po muito maior, a pesca. Os grandes pastos apresen tam
prob lemasmaiores para esses grupos conseguirem achar ali-
mentos, por causa da ausncia de uma vegetao adequada
para o consumo humano, acrescida da dificuldade emcaar
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os grandes rebanhosde animais de pasto.A
caa
apresenta
um fa torp reponderantena a limentao somente na s regies
Articas com suaquase qu etotalfalta de vegetao adequada
para o consumo humano. No nada
fcil
encontrar alimen-
tos em quantidades
suficientes
nessas regiese a sobrevivn-
cia
exige muita habilidade e
esforo
para que os recursos
limitados disponveis possam s er usados.
Para
obter
a
subsistncia necessria
os
grupos
de co-
lheita e de caa
dependem
de um
conhecimento profundo
de
suas regies
e em particular de um
conhecimento
dos
tipos de alimentos qu e
estaro
disponveis em d i fe ren teslu -
gares
e
pocas
do
ano.
Seu
modo
de
vida gira
em torno das
grandes
mudanas sazonais
n os
mtodos
d e
subsistncia
e
os
padres
da
organizao social
s o
integrados
a
essas
mu-
danas .
Povos contem porneos qu e a in da vivemda colheita
e
d a caa
i lus t r am mais
um a vez
como
os
grupos histricos
teriam
se
adaptado
s
suas condies par ticulares.
Os boxi-
manes do
sudoeste
da frica
vivem
em um
meio ambiente
relat ivamente
homogneo mudando-se umas c inco
ou
seis
vezes p o r
ano
mas
nunca
viajando
alm
de
quinze
o u
vinte
quilmetros de
cada vez
fazendo
viagens mais longas
s o-
mente
e m
ocasies
sociais tais
como
os
casamentos.
Os
abo-
rginesG idjingali do
nor te
da
Austrlia
tm um
ciclo sazon al
de
explorao
ntido
e
variado.
Na
estao
mida,quandoos
pntanos
esto cheios eles
se
alimentam
de
nenfa res
o s
caules
so
comidos
crus as
sementes
s o t ransformadas em
bolosn o f e rmentados e o s bulbos so cozidos.No incio da
estao seca mudam-se para uma regio onde podem se r
encontrados grandes inhames poiso s tubrculosso fceis
de seacharnessa poca do ano
quando
asgavinhas ainda
esto
verdes Mais tarde mudam -se para
os
limites
da s
terras
midas onde os homens
caam
gansos e as mulheres arran-
ca m
espigasde milho.No auge da esta o seca asubsistncia
depende de nozes da cicadcie que apesar de
difceis
de
serem p reparadas s o muito abundantes podendo sustentar
52
grandes grupos
de
pessoas
que as
colhem ju ntasduranteesse
perodo para
os
cerimoniais
e
acontecimentos religiosos
e
sociais.
S existe um pequeno perodo de escassez real de
alimentos
o que
acontece antes
da
estao chuvosa
e
quando
a subsistncia
depende de
razes
e
plantas menos favo-
recidas. .
Um exemplo de
fo rma
extrema de adapta o a um
meio
ambien te agreste que influencia todas as form as de
vida
eco-
nmica
e social forn ecido pelos
Netsiliklnuit,
que vivem ao
norte
e a
oeste
daBaado
Hudson
no
Canad
e que
foram
estudados durante
os
anos
20,
antes
que
tivessem qualquer
contato real com a tecnologia
moderna.
Seumodode
vida
dependia
de uma
explorao cuidadosa
de
cada parte
de seu
meio ambiente. As casas e as instalaes para armaze namen -
to
eram
feitas
de neve e gelo. As roupas os caiaques os trens
e
stendas eram
feitos
com oplodosanimais caados cujos
ossos forneciam
os
instrumentos
e as
armas.
Osutensliosde
cozinha
eram feitos
depedra.O
ciclo
sazonal deatividades
relativas
subsistnciaer amuito variado. Duranteo
inverno,
os
Netsilik
eram totalmente
dependentesda
caa
da foca.U m
grande nmero
de
caadores ficava
a
postos
n os
numerosos
buracos feitos no
gelo pelas
focas
para respirar
Consequen-
temente era a
poca
do ano em que
imensos
grupos
sociais
juntavam-se emgrandes comunidadesque viviam emiglus
e que participavam das atividades religiosas e cerimoniais
mais importantes
do
ano.
Os
grandes acampamentos
de in-
verno fragmentavam-se
em
pequenos grupos
que
viviam
em
tendas a partir de junho quan do era possvel caar as
focas
no
gelo.
Em
julho
os
grupos mudavam-se para
o
interior
pescavam
e,
ocasionalmente,caavam
o
caribu.
Emagosto,
construam barreiras
de
pedras
nas
correntezas para reco-
lher
um
abundante suprimento
de
salmo
que se
movia
nessa poca
rio
acima para desovar
No
f inal
do
ms junta-
vam-se
em
grandes grupos para
a atividade
com unitr ia
de
caa em caiaques quando o caribu cruzava os rios para sua
./
53
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migrao anual.
Em
outubro, grupos menores
d e
inuit pes-
cavam novamente
o
salmo, a ntes
de
formarem grandes gru-
pos
para
acaa foca doinverno.Emcadaumadessas fases
de caa comunitria, existia ainda
a
prtica de costumes so -
ciais para garantir
qu e
todos estivessem alimentados
e que
jjingum
sofresse pela falta de sorte ou de habilidade.
Esses exemplos modernos de grupos de colheita e caa
no s
revelam muito sobre
o
modo pelo qual
os
grupos his-
tricos teriam
agido
no s diversos meios am bientais
queJia-
bitavam por todo omundo.Todos osgruposque vivem da
colheita
e da
caa, tanto contemporneos quanto
histricos,
parecem
t er tentadode
a lguma forma controlar
a
quantidade
dessas pessoas,
de
modo
a no
exigir demais
da s fontes de
seu
ecossistema. Isto
foi
realizado
atravs de uma
srie
de
procedimentos sociais aceitos
po r
todos,
O
mais difundido
deles
era o
infanticdio, envolvendo
a
matana selecionada
de
determinadas categorias, como
o s
gmeos,
os
incapazes
e
uma parte da prole feminina. (Estudos
feitos
duran te os anos
30
demonstraram que os grupos inuit matavam aproxima-
damente 40 por cento d as crianas do sexo feminino.) Alm
disso
o
desmame
prolongado dos
recm-nascidos possivel-
mente representou
um a forma de
controle
da
natalidade,
assim como
o
abandono
de
pessoas idosas,
quando
estavam
doentes passandoa ser uma
carga para
o
grupo. D essa
m a-
neira
anecessidadede alimentoe
conseqentemente
a
pres-
s o feita pelos
grupos
de colh eita e
caa sobre
se u
meio
ambiente eram reduzidas.
A s
densidades populacio nais
ge -
ralmente eram baixas (embora o s nm eros variassem segun-
do o tipo de meio ambiente e seu nvel natura l d e produtivi-
dade).A melhor estimativa da populao total do mundopo r
volta de 100.000 anos atrs, pouc o antes da adoo da agricul-
tura
em
umas
poucas regies no ia alm de
quatro
milhes
e,,em perodos anteriores, teria sido consideravelmente me-
no sdo que isso.
O
desenvolvimento gradativo
da s
sociedades hum a -
nas e a expa nso da colonizao por todo o globo terrestre,
nos diferentes m eios ambientais, podem ter traados a par-
tir de
quatro traos bsicos,
q ue
distinguem
os
seres hum a-
nos dos
out ros pr imatas .
U m
aumento
do
t a ma n h o
do c-
rebro
fo i
f u n da me n t a l
a
todo esse progresso.
U m
crebro
maior parece ter sido importante para que se conseguisse
conquistar
o
poder
do
pensamento abstrato,
t o vi tal
para
o desenvolvimento
da
tecnologia.
U m a
segunda ruptura
vital
(acontecida h trs milhese meio d e anos) foi a capa-
cidadeadquirida pelo homem de ficar
totalmente
ereto e
apoiado sobre
o s
dois ps. Isso
fo i
importante
no s
para
o
aumento da mobilidade, como tambm para l iberar as
mos ,q ue podiam realizar outras
tarefas,
tais c o mo
fazer
e
usar instrumentos.A terceira aquisio foi o uso da fala. N o
surpreendente qu e no
ha ja
evidncia algum a de qua ndo
a fala
teria
s ido adotada, m as p resume-se qu e isso tenha
acontecidoem uma
poca bastanteprecoce
e que a
capaci-
dade para s e com unicar teria aberto ocaminho para
facilitar
a cooperao do gru po e o fornec imen to de uma organi-
zao
social
mais elaborada, bem como p ara aju dar a expan-
so de
diferentes
progressos
culturais.
A
quarta caracters-
tica fo i fundamenta l para a colonizao do m u n d o a
adoo de m eios tecnolgicos para su perar as
di f iculdades
impostas pelos meios am bientes hostis. Em bora outros ani-
mais usem ferram entas, os seres huma nos so os nicos a
faz-las.
A
fe itura
de instrumentos de pedra comeou a-
prox imad am ente h dois milhes de anos, com os primeiros
cutelos de
pedra
em
estado
natural, embora outros ins-
trumen tos m enos dur veis e que por isso no sobreviveram.
possivelmente possam
te r
existido antes .
Alm dos
instrumentos
de
pedra,
o s
artefatos
e
tecnolo-
gias
usados pelos primeiros seres humanos foram as lanas
de madeira (aproximadamente h
400,000
an os), boleadeiras
de pedra para derrubar animais (por
volta
de
80.000
anos
atrs),
a
m adeira,
as
peles
e
t ambm
o fogo.
Como
o fogo
55
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t ambm
surge naturalmente
a
poca exata
na
qual comeou
a se r
de
l ibe rada m enteproduzido um assunto qu e causa
mui t a
controvrsia Existem
a l gumas
indicaes ambgu as
de
um
stio
em Chesowanja na
frica
oriental onde
teria sido
produzido pela pr imeira
vez em
ap rox imadamen te
um mi-
lho
e meio de anos mas a primeira evidncia definitiva e
amplamen te
aceita
surge
h
500.000 anos.
O s
sinais
do uso
do
fogo
so pr imeiram ente encontrados em associao com
os locais
de
matana
de
animais sugerindo
que ele
tenha sido
levado a esses locais com a finalidade de cozinhar a carne
assim como tam bm surgem em campos onde teria sido usa-
do para aquecer e iluminar e possivelmente proteger. Nesse.
estgio inicial bastante improvvel que ele tenha sido usa-
do para encaminharo s animais ao s locaisde matana embo-
ra
essa tcnica tenha sido certamente usada em pocas pos-
teriores. Mas pelo menos durante dois milhes de anos a
tecnologia principal usada pelos seres humanos foi o ins-
t r u m e n t o
de pedra. Durante o pr imeiro milho e meio de
anos de
fei tura
de ferramentas os t ipos dominantes eram
uma machad inha feitade seixo e um m achado de mo com
uma lmina
qu e
cercava quase todo
o
permetro. Esses ins-
t rumentos eram relat ivamente fceis
d e
f aze r
e so
encontra-
dos em grandes quant idades. Po r exemplo o esqueleto de -
sart iculado
de um hipoptamo que foi encontrado em
Oluivai
Gorge
no
leste
da
frica estava rodeado
por 459
mach ados grosseiros
e
machad inhas .
Foi
com esse con jun to de ferramentas pr imit ivas que os
primeiros seres humanos puderam mudar-se
da
fr ica para
as
regies geladas do Oriente Mdio para a
ndia
o sul da
China
e
par tes
da
Indonsia apesar
de
t am bm
te r sido
necessr io que usassem os vestur ios fe i tos com peles de
an imais .
difcil
estabelecer
a
es t rutura cronolgica exata
por causa da ausncia de uma pesquisa arqueolgica em
m u i t a s
regies mas est bem claro que o
omo erectus
tenha
56
5
~
8
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se espalhado
a
partir
da fr ica h
cerca
de um
milho
e
meio de anos logo
depois
de terem
sido
encontrados os
primeiros esqueletos desse ancestral direto
dos
seres huma-
nosmodernos.Mas as
reas
ocupadas ainda
eram restritas.
Com as
habilidades
que
possuam nesse perodo
os
seres
humanos
s
poderiam mesmo adaptar-se
aos ecossistemas
encontrados
em
regies semitropicais onde havia
uma
variedade considervel
de
material vegetal
que
podia
ser
facilmente
colhidoe de uma
srie ampla
de
pequenos ani-
mais fceis de caar para complementar esse regime ali-
mentar. A s florestas tropicais equatoriais n o
fo r am
pene-
tradas e acolonizao daEuropa apresentava dificuldades
enormes.Esses problemasno foram solucionados durante
muito tempoe portanto acolonizao da Europafoi um
fenmeno comparativamente tardio na histria humana
apesar doacesso relativamente fcilqueapresentava para
o Oriente Prximo e a
frica .
Os ecossistemas europeus
tornaram muito difcil mesmo durante os perodos inter-
glaciais a extrao desubsistncia suficiente com apenas
umabase tecnolgica limitada:avida vegetaleramenos rica
e o
campo
de
ao para
a
colheita maislimitado.
Por
esse
motivo
a
caa
de
animais
de
mdio
e
grandeporte
era
vital
masmuito difcil. Mesmoseestivessem vivendoderestos
deanimais mortoseeliminandoosmembros velhosedoen-
tes do
rebanho
os
grupos ter iam
a
necessidade
de
mudar-se
para regies mais extensas quando seguiam
os
movimen-
to ssazonais do s animais eteria sido muito difcil manter
contato para
a
realizao
das
atividades sociais
e
culturais.
A primeira evidncia
da
ocupao humana data
de a-
proximadamente
uns
730.000 anos passados
e a
maior parte
das
regies
da
Europa conheceram
a
colonizao humana
por
volta
de uns
350.000 anos atrs.
Mas
essa colonizao
fo i intermitente e confinada a perodos interglaciais
quando
o
clima europeu deveria estar suficientemente uni-
fo rme
para
fornecer
a
colheita
e a
caa executadas
com um
58
estojo de instrumentos t o limitados.A s condies exis-
tentesdurante
os
perodos glaciaisdeterioraram -sequando
as
grandes geleiras
do
norte avanaram
e at
mesmo
o
clima
ameno
do sul da
Frana mudou transformando
em semi-
rticasvastas regies produzindo um tipod e tundra onde
a scondies de vida devem te rsido excepcionalmenteri-
gorosas .
Fo i
somente durante
o
longo
e
duradouro perodo
glacial
qu e teveinciop or volta d e80.000 anos passadose quedurou
at uns 12.000 anos atrsq ue ocorreu a primeira ocupao
permanente
da
Europa.
Ela
marcou
um
grande progresso
d a
capacidade do sseres humanose m adaptar-sea um ecossis-
tema agreste. Durante esse perodo toda a Escandinvia o
norteda Alemanha a Polnia onoroesteda UnioSovitica e
amaior parteda Inglaterra
estavam
cobertosde geloe no auge
do
perodo glacial
h uns
20.000anos
as
geleiras moveram-se
ainda mais paraosul.Aregioqu e
ficava
ao suldessas geleiras
era glaciale com vegetaodo tipotundra s queessas tundras
eram
mais
ricas
do que as que so
encontradas
atualmente
a o
norte da Europa po r causado sveres mais longos. Nelas
existia
um a grande variedadede
vida
animal dominada po r
grandes manadasdegamos mamutes lanosos bisesecavalos
selvagens queconviviamcom manadas menoresde rinoce-
ronteslanosos
alces
giganteseantlopes. Devidoao baixonvel
de
vida vegetal
e
portanto
do
papel limitado representado
pelo rebanhona sbasesdasubsistncia os seres humanosde-
pendiam dessas grandes manadas para
su a
existncia.Esse
ambientedesaf iador
produziu
u ma
cultura al tamentedesen-
volvidaesofisticada capazde controlar aquantidadeexistente
de
alimentos
e
estimulou
uma
integrao
social
maior
do que
qualquer outro grupo humanoj alcanara.
O quadro convencionalqu etemosdoshabitantesda era
glacialeuropeia
o de
caadores
qu e
devastavam
aleatoria-
mente
os
rebanhos
d e
gamos
e de
outros animais
de
grande
porte.
Mas a
caada pura
e
simples
uma
estratgia
de
alto
U-V
59
-
7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo
10/42
risco:
os
ndices de sucesso so muito pe quenos e a caada
contnua somente assustaosrebanhos, fazend ocom que ca-
da vez fique
mais difcil segui-los
e
atac-los.
Na
verdade
um a abordagem muito mais
sofisticada
para aobteno da
subsistncia
de umam biente hostilfoiempregada. B aseava-
seem conduzir as manadas com um mnimo de agitao. Na
Europa oriental
e
central,
isto significava
seguir manadas
durante sua migrao de inverno, no plana lto hngaro e s
margens do Mar
Negro,
at
suaspastagens
de
vero
no
Jura,
no s
planaltos
do sul da
Alemanha
e nos
Crpatos.
Locais de
moradias
humanas foram encontrados
ao
longo
das
rotas
naturais
de
migrao
em
torno
d os
locais tambm naturais
de
pastagem
dos
gamos.
As
manadas
no
eram dizimadas
ao
acaso, mas selecionadas, de
forma
a
eliminar
os
animais mais
velhos e enfermos. U m
nmero
suficiente de
animais para
suprira
necessidade
de
carne
do s
humanos durante
a
estao
er a
separado
do
grupo
principal,
conduzido para regies
comobacias
naturais
e
devidamente
mortos.No
entanto,
o
nm e r o
de seres humanos que podiam ser alimentados dessa
maneiraer a
m uito pequeno.
U ma
manada
co m
cerca
de
1.500
gamos
talvezfosse
suficiente
para
al imentar
somente umas
trsfamliasou uns
quinze indivduos.
Esses
grupos tambm
devem
te r
sido
forados
alocornover-se
muitas vezes, juntan-
do-se para
formar
grupos maiores, essenciais para
asativida-
de scerimoniaise
sociais, somente dur ante
un s
perodos mui-
to
curtos do ano.
U m
modo de vida completamente diferente desenvol-
veu-seno
sudoeste
da
Frana
e ao
norte
da
Espanha,
no
auge
da
ltima era glacial, aproximadamente h 25-20.000 anos.
Quando
o
clima
se
manifestou
de
forma
mais severa,
o
norte
da
E uropa parece
te r
sido parcialmente abandonado
e uma
populao
relativamente densa desenvolveu-se mais para
o
sul. Sua subsistncia parece ter sido retirada das grandes
mana das de gamos comuns e vermelhos, que passavam pela
regio
de
Dardanelos
e no
norte
d a
Espanha. Dentro dessa
regio, era possvel para uma pop ulao moderadam ente
densa conseguir
um
nvel razovel
de
suprimentos
sem
pre-
cisar
empreender longas migraes para seguir as manadas.
Os povos poderiam utilizar as vrias partes da rea em dife-
rentes pocas
do ano e o
alimento advindo
das
manadas
podia
ser
suplementado pela grande quantidade
de
salmo
e outros peixes
dos
rios. Nessas condies
de uma
semicolo-
nizao emergiu
uma
sociedade altamente integrada,
que
produziu
as
numerosas pinturas
na s
cavernas,
qu e
foram
encontradas
em
locais como Lascaux,
no
sudoeste
da
Frana
e em Altamira,no
norte
da
Espanha outras pinturas rudi-
mentares contemporneas
e
resqucios
de
arte
nas
pedras
tambm
foram
encontrados
na
caverna
de
Apoio,
no sul da
frica
e na Austrlia).A
funo exata
e o
significado dessas
pinturas das cavernas euro peias ainda no so mu ito claras,
mas no sepode discutirsua natureza religiosae cerimonial,
assim como quase que podemos afirmar a existncia de al-
gum elemento mgico, que buscaria o controle das ma nadas,
das quais dependia
a
subsistncia
da
com unidade.
Quando
as geleiras
foram
desaparecendo
gradativamente as
mana-
das comearam a mover-se em direo ao norte. Diminuram
em
tamanho, pois
a
faixa
da floresta
tambm crescia para
o
norte, eliminando atundra medida que o clima melhorava.
Toda
a base de subsistncia dos seres humanos da regio
entrou em colapso e foi necessrio osurgimentode uma srie
de
adaptaes importantes, p ara
a
obteno
de
alimentos
em
um
ambiente radicalmente diferente. Surgiu
uma grande
nfase
na colheita
feita
em um ecossistema m ais rico, produ-
zido
por um
clima mais ameno, assim como
na
utilizao
de
animais
de
menor porte
que
viviam
em
condies
florestais,
da pesca e dos recursos marinhos, tais como os mariscos.
A
Europa foi tambm uma das regies a assistir um
desenvolvimento significativo
da
tecnologia hum ana, envol-
vendo o surgimento
de
novas tcnicas para
a
produo
de
ferramentas,
como tambma utilizao
de
novos materiais.
-
7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo
11/42
Esse
fa to
representou uma das mudanas mais significativas
realizadas pelos sereshumanose foi a maior exploso inova-
dora antes
da
inveno
da
cermica
e do uso do
me tal. Isso
comeou
h
aproximadamente 40-30.000 anos
e
parece estar
ligado
ao
desenvolvimento
dos
seres humanos completa-
mente
modernos os
Homo
sapiens sap iens A quantidade dos
diferentes tipos
de
utenslios feitos
de
pedra cresceu
de
seis
para oi tenta
e a
natureza desses instrumentos tambm
mu-
do u significativamente. Antes de uns 40.000 anos atrs, os
instrumentos tendiam a sergrandesprincipalmente ma-
chadosde mo oulminas fe i tasde um ncleo preparado
necessitando somente
de um
mnimo
de
investimento
de
tempo
e
esforo para
sua
execuo. Depois dessa poca,
maior nfase passou
a ser
dada
produo
de
lminas muito
finas, de dupla
face,
fei tasdoncleoda srvoresemais tarde
ainda
aproximadamente
h uns
20.000 anos,
a
lminas
pe-
quenas
e
leves, usadas como pontas para projteis. Esses
novos
instrumentosexigiam tcnicas de
fabricao
diferentes
e mais complicadas, envolvendo tratamento trmicoelapi-
dao
sob
presso.
Odomnio dessas
tcnicas necessitava
no
s de habilidades motoras e coordenao mais desenvo lvi-
das, como tambm uma maior
capacidade
mentalpara
lidar
com o
grandenmero
de
diferentes estgios necessrios para
a
m anufa tura d esses a r te fa tos .
Pela primeira vez os materiais j existentes anterior-
mentecomo o osso ochifree omarfim foramtransformados
em
ferramentas, a lgumas delas
de
feitura extremamente
complexa,
como os arpes comfarpas .A s lanas foram ap er-
feioadas atravs da utilizao da s pontas feitas de osso ou
demarf imemlugardas de pedra e pelo uso do arremessador,
para aumentar seu alcance. A caa
ficou
ainda mais
fcil
e
exigindo um menor uso de fora, a partir da inveno, h
cerca de 23.000 anos, do arco e da
flecha
e do possvel uso,
nessa mesma poca,
de
armadilhas laos
e
redes
que
teriam
ampliado
a
base
dos
recursos disponveis
explorao
huma-
62
na. Embora as roupas tenfem sido feitas de pele de animais
durante centenas
de
milhares
d e
anos,
a
vida
n a
Europa ,
no
auge
d a
ltima
er a
glacial, exigiu
um
maior desenvolvimento
da s
tcnicas
de
sobrevivncia. Foram produzidos capuzes,
luvas e meias e h uns 20.000anos agulhas per furad as e
fios
finos um produto das armadilhas de peles) j eram usados.
A bo a
proteo fornecida pelas roupas quentes significava
que o nvel de inge sto de ca lorias necessrias para a sobre-
vivncia
em condies severas seria suficientemente
baixo
para poder
ser
retirado
do
meio ambiente .
O
desenvolvimen -
to de novas tcnicas possivelmente veio acompanhado de
um m aior grau de especializao entre os grupo s de colheita,
caae pastoreio e o uso de m ateriais de qualidade cada vez
mais elevada, que s poderiam ser encontrados em alguns
poucos lugares, conduziu criao de redes regionais de
trocas.
A colonizao permanente da Europa, durante um pe-
rodo de condies climticas extremamente severas, repre-
sentouu m a importante conquista humana e umsinalde um
crescimento do controle do meio ambiente p elo homem. Isso
foi possvel graas combinao da adoo de novas tecno-
logias com o domnio dos animais de maneira mais sofis-
t icada.
A colonizao da
Austrlia
no exigiu adaptaes to
elaboradas,
devido ao clima rela tivamente benigno da regio
leste
do continente e facilidade que os grup os de caadores
ecolhedorestinham paraencontraralimento. Masisso ta m-
b m
s
pdeaco ntecer aps
um a
inveno
da
maior impor-
tncia
o
barco
j que a
Austrlia, emb ora ligada
Nova
Guin dura nte o auge da Era Glacial , nunca esteve l igada ao
continente
asitico.AA ustrlia foicolonizadah cerca de
40.000
anos, durante um perodo em que o nvel do mar
estava
em seu mnimo e, para alcan-la , uma viagem de
aproximadam ente sessenta m ilhas seria necessria .A Tasm-
niaestava ligadaAustrliaat uns15.000 anos passados fo i
colonizada h uns 20.000 anos) e a Nova Guin tornou-se
63
-
7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo
12/42
um a
ilha
h uns
8.000
anos.A ocupao inicialfo i fei ta pro-
vave lmente por um grupo peque no de ta lvez umas vinte e
cinco
pessoas
mas a
populao cresceu rapidamen te de ntro
de um
ambien t e imu tve l
at
alcanar
un s300.000
hab i t an t e s
o
mesmo nvel apresentado pela Austrl ia quando
fo i
alcanada
pela primeira
ve z
pelos europeus
A
sociedade
des envolvida na Austrlia no
l evou
ao
desenvolv imen to
d e
organizaes
sociais mais
complexas como aconteceu
e m
quase
todas
a s
outras regies
d o
mundo.
O povoame nto da Amrica foi quase que o l t imo es-
tgio do mov ime nto hum ano at ravs do mundo. Is to acon-
t eceuporque esse deslocamento dependia da habi lidade que
os g rupos humanos t ivessem prime iro para sobreviver no
clima
s eve rod a Sibriae depois avan ar para oor iente na
direo
do Es tre i to de
Ber ing.
A
t ravessia para
o
Alasca
fo i
realizada no auge da l t ima E ra
Glacial
quando os nveis
reduzidos
da
gua
do mar
t ransformaram
o
Estre i to
de Be-
ring
e m
um a
ponte
de
t erra .
O clima da
regio muito possi-
velmente ser ia menos severo do que
a t u a l m e n t e
apresen-
tando opor tu nidade s razoveis para
a caae
apr i s ionamen to
dos grandes animais da regio. Mas o movimento em direo
ao
sul do Alasca s
poder ia acontecer durante
um
estgio
l ige i ramente mais quente quando as duas placas de gelo
maisimpor t an t e s
da Am ricado
Norte centradas
na s
Monta-
n h a s
Rochosas
e no
Planal toL aurenciano afastaram-se
e
s epararam-s e
o suficiente
para abrir
um a
passagem para
o
s udes te .
Isso pode
te r
acontecido durante dois perodos
ou 30-23.000
anos
a t rs
ou aprox imadamen t e h 13.000 anos.
Embora
es te seja um tpico bastan te controver t ido da ar-
queologia
ame ricana
a
l t ima data parece
ser a
mais prov-
vel .
A par t i rdo m o m e n t oem que os primeiros exploradores
p u d e r a m
a t r avessa r
as
passagens
na
direo
do sul
encon-
traram
u m
m e io ambien t e mui to
r ico que
dava plenas opor-
tunidades para um a
subsistncia
re la t ivame nte fcil.A popu-
lao
humana mul t ipl icou-se rapidamente e dentro de
64
alguns milhares
de
anos espalhava-se
at o
alto
da
Am rica
do
Sul.
Foi
nece ssria
uma
srie
de
adaptaes para
que o ser
hum ano pudesse extrair a l imento
da
enorme var iedade
de
ecoss is temas
encontrados
nas
Amrcas.
Nos
vales
da
Am-
rica
do Norte
devido
ausncia
devariedadesde
vegetao
para a colheita a subsistncia depen dia da explorao das
grandes
manadas
de bises e de outros animais . De form a
geral eram abat idosde um maneira mui to violenta e des-
truidora
sendo
conduzidos sestreitas gargantasou por so-
br e os penhascos. E m G aspar Wyoming h mais ou menos
10.000
anos
uma simples matana envolvia pelo menos se-
t en ta
e qua t ro an imais e em uma ma tana con t empornea
no sudeste
do
Colorado pare ce
que os
caadores provo caram
um estouro
dos
animais
na
direo
de um
canyon t e rminan-
do com
aproximadamente
200cadveres
cuja maioria
difi-
ci lmente
poderia ser
aproveita da pois teria sido esmaga da
so b uma
pilha
de
corpos.
Na
regio leste
da
Amrica
do
iNorte
o
avano
da
floresta
depois do
recuo
das
placas
de
gelo houve uma
mudana
no ecossis tema
el iminando
a
maior
par te
dos
animais
degrande
por te apropriados para
a caa.A s
sociedades adaptaram -se
a
essas condies mu ito
s erne lhantes
s existentes na E uropa
ps-glacial
caando
animais
mui to menores como
o gamo
pescando
e
dedican-
do-se mais colheita. Mais ao norte nas regies rticas os
colonizadores
sent i ram-se a t rados pela carne abunda nte
dos
caribus
raposas r t icas e lebres e s bem m ais tarde come a-
ram a
explorar
os
recursos marinhos especialmente
as focas.
Os deser tos do sudoeste exigiam uma ad aptao difere nte
co m
a nfase
sendo
dada mobilidade capacitando um a
explorao
de uma
grande
var iedade
de
recursos vegetais
e
animais
eiri um
ambiente difcil .
N as
regies tropicais
da s
Amricas
Central
e do Sul foi
possvel
um
modo
de
vida
baseado
nos
variados recursos vegetais
disponveis
suple-
men tado
por uma
p e q u e n a
at ividade de
caa.
65
-
7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo
13/42
Mas talvez o desenvolvimento mais extraordinrio te^
nhacontecido
na
costa noroeste
do
Pacfico,
c om
seus abun-
dantes recursos
marinhos,
constitudos
po r
focas, lees-ma-
rinhos, lontra-do-mar
e,
em
particular,
o
salmo
qu e
vinha
desovar
no s
r ios. Esse suprimen to relativamente abundan te
possivelmente exigia mais esforo para a estocagem do que
para a p rocura . O s vrios tipos d e anim ais eram ento secos
durante o
vero
o u
d e fum ados
n o
outono
e sua
gordura
e ra
t ransformada em leo, o que fornecia alimento suficiente
para o
inverno. Apesar
de
existirem naturalmente
f lutua-
es, esse suprimento alimentar era suficientemente confi-
ve lpara que no houvesse a necessidade de deslocamento
da s pessoas e essa regio produziu, ento, um dos poucos
exemplos
de uma
sociedade estabelecida,
n o
baseada
na
agricultura. Os povos, ento, desenvolveram aldeias, cada
uma com uma populao de aproximadamente 1.000 pes-
soas, q ue viviam em grandes casas comu nitrias, cad a aldeia
tendo se u chefe, um a estratificao social e uma especia-
lizao d o t rabalho, juntamen te c om mecanismos complexos
de
permuta
e doao de alimentos como
forma
de obter
prestgio e a subsistncia
segura
e adequada
disponvel
a
todos.Essa sociedade complexa chegou a produzir um a casta
hereditria
de
escravos.
T er
grande quantidade
de
alimento
estocado significava
que o
inverno passou
a ser uma
poca
durante
a
qual
o
esforo exigido
em
prol
da
subsistncia
era
mnimo
e as atividades
cerimoniais elaboradas passaram
a
ocupar
a
maior parte
do
tempo livre. Esse modo
de
vida
provou ser altamenteestvel esobreviveu at achegada dos
europ eus regio.
Aproximadamente
h
10.000
anos, com o
deslocamento
da fronteira humana atravs da s Amricas, quase todas as
regies da Terra t inham sido povoadas. A
fase final
da colo-
nizao mundial aconteceu relativamente tarde no s Ocea-
no s
Pacfico
e
ndico. Esse povoamento
fo i
realizado
no
s
po r
colhedores
e caadores, mas por
grupos
qu e obtinham
66
seu sustento atravs de uma fo rma primitiva de agricultura,
apesar d e ainda se utilizarem de ferramentas de pedras e de
suplementarem
se u
regime alimentar
co m
caadas ocasio-
nais.
No P acfico, os habitantes da M icronsia pov oara m ilhas
como as
Marshall
e as Carolinas, mas
foram
o s
polinsios
qu e
empreenderam viagens mais longas.
P or
volta
do ano
1000
a.C,
partiram da Nova Guin e alcanaram Tonga e
Samoa e
aproximadam ente
em 300
d.C. avanaram mais para
oleste, chegando s Marque sas. Dali, nav ega ram para a Ilha
da Pscoa e para o Hava, cerca de um ou do is sculos mais
tarde.As duas ltimas maiores i lhas do mu ndo nos Oceanos
Pacfico
e
ndico foram colonizadas
por
volta
de 800
d.C.,
n a
mesma poca em que o imprio de Carlos Magno e stava em
seu apogeu na Europa Oriental e os vikings iniciavam suas
viagens
picas, na poca e m que o Isl do minav a o Mediter-
rneo e o Oriente Prximo, e a China era governada pela
dinastia T ang. O s polinsios alcanaram a No va Zelndia e
os povos
qu e
partiam
da
Indonsia, dirigindo -se para
o
oeste,
povoaram os pequenos grupos de ilhas do Oceano ndico,
juntam ente com Madagscar.
Nesse momento, todas as regies mais importan tes do m un-
do
(exceto
a An trtica) j
estavam povoadas. Durante cen-
tenas de milhares de anos, os grupos de colhedores e de
caadoresadaptaram-se
a
todos
os
amb ientes possveis, des-
de as reas semitropicais da frica at a Eu rop a qu e a inda se
encontrava
na era
glacial,
do
rtico
ao s
desertos
do
sudoeste
da
frica.
A s
tcnicas
de
subsistncia emprega das nesses
am -
bientes, to diversas, variava m desde a dependncia caa
de
pequenos animais,
criao
de
gamos,
caa
do
biso,
at
um a mistura bastante complexa de todas essas estratgias,
que era
necessria
no
rtico. Acredita-se, geralmente,
qu e
esses grupos viviam
em
estreita harmo nia
com o
meio
am-
biente, provocando danos mnimos ao s ecossistemas
naturais.
A
colheita
de
alimentos exigia
u m
conhecimento
67
-
7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo
14/42
mui todetalhado e uma compreenso considervel dos locais
onde esses alimentos poderiam ser
encontrados,
nas diferen-
tespocas do ano, para que o
ciclo
anual das atividades de
subsistncia
fosseorganizadodeacordo.Damesma
forma,
a
criao
e
caa
dos
animais exigiam
um
estudoapurado
de
seus hbitos
e
m ovimentos. Encontramos tam bm evidncias
de que alguns desses grupos chegaram a tentar conservar
essas
fontes
d e
subsistncia,
com o
interesse
de
m ante- las
po r
longosperodos. Restries
tot micas sobre
a
caa
de
deter-
minadas
espcies du ran te certos perodos do
ano,
ou a regra
de
caar
emdeterminada
rea
somente
durante
uns
poucos
anos, teria
a judado
a
mante r
o
nvel existente
d os
animais
caados.
Alguns grupos mantinham reas
sagradas,-onde
a
caa
era
proibida
e outros,
como
os
Cree
do Canad, em -
pregavam a
tcnica
da
caa rotativa,
s
voltando
a um
deter-
minado
local depois
de um
perodo considervel
d e
tempo,
o que permitia uma recuperao do nvel da vida animal
depois da matana. Independentemente das restries cul-
turais
especficas,
um dos
m otivos principais pelos quais
os
grupos de colheitae
caa
evitavamaexplorao abusivado s
recursos
natur ais disponveisera o de queeles existiamem
n m ero s muito pequenos e, consequentemente, a presso
exercidapo r eles sobreu m de te rminadoambiente era limi-
tada.
No entanto, colhedores e caadores no so absoluta-
mente
passivos
em sua
aceitao
do s
ecossistemas
e
mui tas
de suas atividades
alteram
consideravelmente o meio am-
biente,causando m uitos danos. Tem-se conhecimento
de que
os
modernos Hadza,
do
leste
d a frica,
destroem enxames
de
abelhas nativas para obter
u m a
pequena quantidade
de
mel e queou tros grupos destroemcomfrequnciaavegeta-
onativa
d a qual
dependem,
po r
colher
as
plantas
sem o
m eno r
cuidado e em grandes quantidades. Alm
disso,
os
grupos de
colheita
ecaa
alteram
as
condies
de
crescimento
das plantaes selvagens, intervindo emfavorde algumas
68
espcies de plantas em detrimento de outras de que no
necessitavam no mo mento. Um a das maneira s mais eficazes
de
conseguir esse pssimo resu ltado
atravs
das
queimadas
eessa prtica foi muito difun dida entre esses grupos. O fogo
altera
significativamente
o habitat,
favorecendo
o
crescimen-
to
de plantas anuais que se desenvolvem bem em terrenos
novose
aumentando
a
reciclagem
dos
nutrientes.
Os
abor-
gines usavam regularmente o fogo para estimular o cres-
cimento
de uma samambaia comestvel na
Tasmnia
e os
Maoris,da
Nova Zelndia, usavam
a
mesmalecnlcTcom
a
mesma'finalidade de facilitaro crescimento da samambaia,
cujosrizomas representam
um a
parte substancial
de sua
die-
ta
alimentar.
Na Nova
Guin,
h
aproximadamente
uns
30.000
anos,
no muito tempo depois de ter sido povoada
pela
primeira vez, temos m uitas evidncias
de
desmatamen-
toatravsde derrubadas, retirada da cortia das rvores e
queimadas. Essa abertura de clareiras nas florestas tinha a
finalidadede estimular o crescimento de plantas alimentcias,
como
o
inhame,
a banana e a taioba, e para abrir espao para
arvore do
sagueiro.
Na eraps-glacial da Inglaterra, gran-
de s extenses
d e
florestasforam destrudas pelo
fogo,
para
encorajar
o cultivo de pasto para os cervos. A maioria dos
grupos tambm conservou as plantas nativas atravs do
t ransplante
e da semeadu ra em seus hbitats naturais e pela
remoo
das plantas que no interessavam e
poderiam
atra-
palhar
o
crescimento
da s
outras. Alguns chegavam
a
usar
tcnicas
comoairrigao
ern
pequena escala, para favorecer
o
crescimento das plantas eleitas. Embora essas intervenes
em
um ecossistema natural estejam muitolongeda agricul-
tura,
que imp lica na
su stituio
do sis tema natural por outro
artificial,
elas revelam o homem modificando o ambiente,
mesmo
que em p equen a escala e em locais limitados.
No
entanto,
o
impacto mais dramtico causado
em seu
meio
ambiente pelos
grupos
de colheita e caa foi atravs da
caa
de animais. muito m aisfcild anificar essa
parte
de um
-
7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo
15/42
ecossistema, porque
os
animais existem
e m
menor nmero
e
alguns deles
principalmente
os
animais m aiores
o u
carnvo-
ros, que se
encontram
no
topo
da
cadeia alimentar, levam
muito
tem po para
se
recuperar
de uma
caada
em
grandes
propores.Mesmo com as evidncias enco ntradas de tenta-
tivas feitas p or alguns grupos para n o caar indiscrimina-
damente ,existem muito mais sinais
d e
caa descontrolada
e
at mesmo extino de espcies. J vimos como as grandes
caadas do biso nasplamcJSJaAniMca_do^Norte_podiam
matar centenas de animais de uma s
vez,
apesar de somente
alguns serem aproveitados como alimento. A quantidade de
bises er a enorme (perto de 50-60 milhes) e, portanto, mes-
m o
havendovrias matanas
por ano
nessa mesma escala,
no
reduzia significativamente
s eu
nmero. Porm,
as
mana-
da s
meno res podiam
se r
t remendamente afetadas.
Os
efeitos
da s caadas tornaram-se piores devido tendncia do s caa-
dores
de
concentrar-se
em um a
espcie
em
detrimento
de
outras.
N as
Ilhas Aleutas^
no
norte
do
Pacfico,
a
populao
concentrou-se
na
matana
de
lontra marinha durante
m i-
lhares
d e
anos,
desde
a colonizao das
ilhas,
feita
por volta
do an o 5 00 a.C., at que o
animal
f oi
virtualm ente extinto
e a
base
da
subsistncia
da
comunidade, destruda. Como con-
sequncia desse fato,
os
ilhotas tiveram
que
mudar subs-
tancialmente
se u
modo
de
vida
e
aceitar
um nvel
mais baixo
de
subsistncia,
a
partir
do s parcos
recursos
q ue
sobraram.
O
impacto
que o
homem
pode
causar
n a
quantidade
de
animais existentes est
bem
ilustrado
pelos
exemplos dados
por
Madagscar, Hava
e
Nova Zelndia,
que
inicialmente
eram ilhasisoladas, com uma fau na nica e que subitamente
fo i submetida a u m stress Comonenhumdo s grandes mam-
feros
podia alcanar aqueles locais t o isolados, grandes ps-
saros n o voadores puderam evoluir , devido ausncia de
grandes predadores, tornando-se os animais dominantes
M as eles eram indefesos contra a predao humana.
Depoi:
de
algumas centenas de anos
d a
colonizao
de
M adagscar,
muitos dos animais de m aior porte,
inclusive
uma gran de ave
no voadora e um hipoptamo pigmeu,
foram
extintos. No
Hava, depois
de
milhares
de
anos
de sua
colonizao, trinta
e
nove espcies de aves terrestres tambm estavam extintas.
N a
Nova Zelndia,
o s
Maoris encontraram
um
ambiente tem-
perado, onde no podiam crescer muitas de suas cul turas
tradicionais, como
a
banana ,
a
fruta-po
e o
coco, oriundos
da s ilhas subtropicais da Po linsia, e at mesmo o i nhame e a
taioba s podia m ser cultivados na Ilha do Norte . Isso levou-
os
a uma
t ransformao radical
de seu
padro
de
subsistncia
normal , fazendo
com que
passassem
a
al imentar-se
de
plan-
ta s silvestres como a s amambaia e as folhas do palmito, acres-
cido do s recursos marinhos. A caa tornou-se tam bm mais
importante para eles. Os numeroso s pssaros no voadores
como o kiwi, o weka e as m uitas espcies de moa (a maior ia
deles com mais de
,8m
de altura, sendo que algumas es-
pcieschegavam a a lcanar 3,60m de altura) comearam a ser
caados
de mane ira selvagem, comendo inclusive seus ovos.
Depois de 600 anos da colonizao inicial, vinte e quatro
espcies de
.gamos
havia m sido aniquiladas extino, ju n-
tamente com outras v inte espcies de aves.
Os
grupos
de
colhedores
e
caadores chegaram
a
pro-
vocar impacto na populao animal , at mesmo em uma
escala
continentalVrias
espcies
foram
extintas
por
volta
d a
ltima
era glacial, em um perodo em que as mudanas cli-
mticas
e consequente variao dos tipos de vegetao, afe-
taram
de forma adversa os mamferos de grande porte, que
habitavam
as tundras do norte e do centro da Europa. Na
Eursia, cinco grandes animais o mamute lanoso, o rino-
ceronte peludo, o
alce
irland s gigante, o boi almiscarado e o
biso das estepes
j u n t a m e n t e
com um grande nmero de
carnvoros foram extintos
em um
perodo
de
poucos milhares
de
anos,
medida
que as
camadas
de
gelo retraam-se
e a
tundra er a substituda pela
floresta. Essa
m u d a n a no am-
biente ameaou grandem ente esses animais de grande porte,
-
7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo
16/42
mas a caa
p ra t i cada pe lo homem te ri a p rovocado
u m
impac-
to
devas tador sobre uma popula o j em decl nio e
pode
t er
infludo no
equilbrio entre
a
sobrevivncia
e a
ext ino.
A ext ino da s espcies da Eurs ia acon teceu em escala
re lat ivamente pequena . Em todas as ou t ras par te s do m undo
foi maciaf N a Aus tr lia , d u r a n t e o s ltim os 10.000 anos, fo -
ra m ex t intos 86 por cento dos animais de g rande porte, em
um a
rea onde
o
imp acto cl imtico
f o i
mnimo, conseqen-
tementen o a f e t a n d o os hbitos animais d as eras glaciais. A
explicao mais plausvel para esse aco ntecimento
f o ram
as
c aadas feitas pelos grupos aborgines,
no s
ltimos 40.000
anos. Mesmo que os anim ais ma iores no tenha m sido caa-
dos em
grandes
escalas,
o
desequilbrio
do
ecossistema com o
resul tado da in terveno human a dest ru indo habitais, o u
matando os pequenos herbvoros, dos quais os carnvoros
dependiam poderia
fac i lmente
te r levado ext ino.
Igualm ente surpreen dente a perda de 80 por cento dos
animai sde grand e porte da A mrica do Sul e de 73 por cento
ofrida
no norte do continente. Diferentem ente do que acon-
teceu na Eursia, onde s omente os animais das estepes de
t undra foram afetados ,
a s extines nas Amricas a f e taram
todos os t ipos de ecossistemas. A pesar de terem ocorrido no
f inal
d a
l t ima
e ra glacial, as m udan as c l im ti casn o p rovo-
caram tal ext ino em massa no passado e restam poucas
dvidas de que t enham surg ido em v i r tude da in te rveno
do homem . Como os p r imei ros
colonizadores
da Amr ica
pa r t i ra m para
o sul, do Alasca e das
M ontanhas Rochosas ,
teriam encon t rado
u m
a m b i e n te
r ico e
intocado
e seu
nmero
deve ter aumentado rapidamente, graas aos recursos to
facilmente
obt idos. Esses primeiros colonizadores
d a
Am r i-
ca
deixaram atrs de si um rastro de destruio atravs do
continente. Dois teros dos mam feros de grande p orte exis-
tentes
por ocasio da chegada dos primeiros homens foram
conden ados extino. A lguns deles eram de t ipo arcaico,
como o cam elo das plancies (encontrados som ente na
A m -
72
rica do Norte , devido ao seu isolamento), outros eram de
espcies gigantes, particularmente sensveis
s
mud anas c l i-
mticas e caa predatria. A s extines atingiram ao todo
trs gneros
de
elefantes, seis
de
desdentados gigantes (ar-
madi lhos , t am andus e preguias), quinze de ungulados e
um granden m e r o
de
roedores
e
carnvoros gigantes.
Po rvolta
de
10.000 anos atrs,
os
seres humanos haviam
se
espalhado
por um
perodo aproximado
de
dois milhes
de
anos part indo de sua regio original do sul e do leste da
frica para todos os continentes. A lenta expanso da coloni-
zao humana dependeu d e vrios desenvolvimentos inter-
ligados.Oc rescimento dot amanho doc rebro possibilitou o
aumento da capacidade para o pensamento abstrato a con-
ceitualizao e uma habilitao crescente para encontrar,
cada vez mais, solues cu lturais e tecnolgicas sofisticadas
para o s desafios impostos por uma srie d e d i f iculdades e at
me sm o pelos ambientes hostis. Essas solues incluam o uso
do
fogo
e do
vesturio
o que
pos sibilitava
ao
homem
viver
em climas mais severos e a adotar estratgias de subsistncia
cadav ez mais elaboradas. N as regies subtropicais
benignas
os
grupos de colheita e caa podiam contar c o m um a grande
quan t idaded e plantas comestveis sua disposio, comple-
mentada somente
c o m u m a
pequena
quantidaded e
caa .
medida
que o
h o m e m
foi se
a f a s t a n d o
do s
trpicos, esse
modo de vida teve que ser modif icado drast icamente,
sendo
adotadas tcnicas completamente diferentes. Isso englobou
desde a caa mais intensa criao de animais de
grande
porte, at os ciclos de a tividades sazonais al tamente com-
plexas,
prat icadas pelos inuit
do rtico.
Mudanas tecno-
lgicas seriam vitais para p erm itir a colonizao do globo
terrestre pelos seres hum anos
e
e las aconteceram
e m
diversas
frentes, iniciando
c o m a
produo
de
instrumentos
de
pedra
cada
ve z mais sofisticados e a introduo de novas armas,
como o
arco
e a
f lecha,
mas que
inclua tambm
o
emprego
-
7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo
17/42
das pelese courosdos animais para a feituradevesturios a
construo deabrigos a partirde uma grande variedade de
materiais
e a
adoo
de
tcnicas
de
processamento
d e
alimen-
tos mais apuradas cozimento em buracos feitosna terra ao
invs de em
fogueiras
ao ar
livre
e a
moagem
de nozes e
sementes.
O
ritmo
d o
desenvolvimento
foi
naturalmente lento
e
tambm muito fragmentado. Somente quando chegamos
40.000 anos atrs
o
passo
da
mud ana tecnolgica comeou
a
crescer rapidamente pelo menos
e m
comparao
com ou-
tros perodos anteriores. Mas vistos como
um
todo esses
desenvolvimentos
foram
de importncia fundamental para
a
continuao da histria da hu ma nidad e e o
futuro
da
Terra.
Os seres huma nos tornaram -se os nicos animais a dom inar
e
explorar todos
os
ecossistemas terrestres. Mas mesmo nes-
se
estgio o impacto sobre o ambiente provocad o pelos gru-
pos de
colhedores
e caadores foi pequeno porque a disse-
minao d a pop ulao foi lenta escassa e sua tecnologia
ainda era limitada. Mesmo assim j faziam com que sua
presena
fosse
sentida pelo nmero de animais caados at
a
extino e a modificao de
forma
sutil do meio ambiente.
O modo de vida baseadonacaae n a colheitae ra altamente
estvele d elonga durao. Durante centenas de m ilhares de
anos essa foi a nica m aneira atravs da qual os seres hum a-
no s
podiam extrair
a
subsistncia necessria
do
m eio ambien-
te. O nmero d epessoasqu epoderia sobreviver em qualquer
regio er a
restrito devido
sua
posio
no
alto
da
cadeia
alimentar. Somente
em
casos excepcionais como
na
costa
d o
Pacfico
d a
Amrica
do
Norte
os
recursos e ram
to abundan-
tes que as colnias podiam se desenvolver em aldeias de
tamanho
razovel.
Ento
h
cerca
d e
10.000
anos
depois
de
dois milhes
de anos de uma
vida estvel
e bem
ajustada
os
mtodos
usados pelo homem para a obteno de alimentos comea-
ram
a
mu d a r
em
diversas partes
do
mundo.
O
ritmo
das
mudanas ainda
e ra lento m as
m uito mais rpido
do que no
passado.
E as
consequncias
foram
muito mais radicais
do
que
qualquer outro
fato
ocorrido
no
passado
e
provocou
a
alterao
mais
fundamenta l da
histria humana
aquela
que tornou possvel todos os desenvolvimentos subsequen-
te s
da sociedade humana.
-
7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo
18/42
Prime ira Grande Transio
Durante
aproxim adam ente dois milhes de anos, os seres
h u ma n o sviveramda
colheita,
do
pastoreio
e dacaa.
Depois,
no espa o de tempo de alguns milhares de anos, emergiram
para um modod evida radicalmentediferente, baseadoe m
importante alteraode ecossistemasnaturais,objetivando a
produo de grose depasto paraosanimais. Esse sistema
de produode alimentos mais intensivaf oi desenvolvido
separadamente
em
trs regies importan tes
do
mundo
o
sudoesteda sia,aChinae aAmricaCentra l emarcoua
t ransio mais importanteda histria hum ana. Como esse
sistema oferecia
quantidades muito maiores
de
alimentos
tornoupossvelaevoluodesociedades
estabelecidas,
com-
plexas
e
hierarquizadas
e um
ri tmo
de
crescimento muito
mais aceleradoda populao humana.H cerca de 10.000
anos,antesdaevoluodaagricultura,apopulao mundial
76
er adeaproximad amente quatro milhesde
habitantes,
au-
men tando m uito lentamente at chegar a cinco milhes por
volta de 5.000 a.C, Depois/ no perodo crucial em que as
sociedades estabelecidas desenvolve ram-se e m escalas acele-
radas
depois de5.000a.C., comeou a dobrar a cada milnio,
at alcan ar 50 milhes em 1.000
a.C,,
passando a 100milhes
nos 500 anos segu intes e a 200
milhes
no ano 200 d.C, Essa
tendncia ascendente continuou
a
partir
de
ento, embora
no acontecesse em um ritmo estvel, sendo frequ ente men te
interrompida pelas
consequncias da
fome
e de
doenas,
sendo que,
atualmente, a
agricultura sustenta
uma popu-
laomundial
de
mais
de
cinco bilhes
de
habitantes.
A
combinao de fenme nos como o da transio para
aagricultura,
o
crescimento
das
sociedadesestveis,
a
emer-
gnciade
cidades
e de
trab alho especializado
e do
surgimen-
to
de
elites religiosas
e
polticas poderosa s,
frequentemente
chamadade Revo luo Neoltica . No
entanto,
embora as
consequncias de todas essas mudanasfossem claramente
revolucionrias
por seu
impacto, tanto
no
modo
de
vida
comono meio ambiente um erro descrever-se esse pro-
cessocomoumarevoluo.Operodode tempo duranteo
qual essas mudanas aconteceram foilongo, de pelo menos
uns quatroacincomilanos,e acontribuiode cada gerao
foi provavelmente muito pequena. Alm
disso,
a ideia de
um a
revoluo implica em uma ao execu tada com a finali-
dadedepromoverumamudana e o quevemosem retros-
pectocomoum processo no teria sido executadode ma-
neira deliberada e autoconsciente. A s sociedades hum ana s
nopartiram para inventar del iberadamente
a
agricultura
e
produzir colonizaes permanentes.
Na
verdade,
o que
aconteceu foi uma srie de mudanas marginais, que foram
surgindo gradualmente, nos meios empregados para obter
alimentos/
como resu ltado das circunstncias locais particu-
lares,
O efeito cumulativo das vrias alteraes foi muito
importante,
porque agiu como um freio. Os ajustes
feitos
no s
-
7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo
19/42
mtodos deobtenoda subsistncia, tornando-os maism-
tensivos, permitiram
que
populaes maiores pudessem
ser
atendidas masesses ajustamentos levaramimpossibilidade
de
retornar
ao
modo
de
vida anterior, baseado
na
caa
e na
coleta porque, como
a
populaotinha aumentado tornava-
se impossvel aliment-la. Durante esse longo perodo no
houve
um a
linha definida
d e
desenvolvimento
q uepassasse
4a
"caa
e
coleta" para
a
"agricultura". Devem
ter
sido tenta-
dos muitos meios diferentes paraaobtenodealimentosa
partir
de
plantas
e
animais
atravs
de
vrias permutas
e com
alteraesdeequilbrio entreosalimentos vegetaiseanimais.
Algumasdessas estratgias
no
teriam dado certo
e
outras
podem te rsido parcialmente
bem-sucedidas.
Mas umasolu-
oradicalmente nova emergiu
de uma forma
lenta
e
cons-
ciente, para
o
problema humano
de
extrair alimento
dos di-
ferentes
ecossistemas.
Essa longa transio poder
ser
melhor entendida
se
abandonarmos qualquer ideia
de uma
distino ntida
entre
a
colheita
e a
caa
de um
lado
e a
agricultura
de
outro.
Elas
devem
se r
consideradas como parte
de um spe trum das
ati-
vidades
humanas
com
diferentes
graus
de
intensidade
des-
tinadasexploraodosecossistemas.Osgruposdecaado-
res
e
colhedores
no
eram passivos
em sua
aceitao
do
meio
ambiente: eles executavamuma grande variedadede
ativi-
dades que
implicavam
na
interferncia
nos
ecossistemas
na-
turais em benefciodo homem;Emtermosda explorao
animal h uma clara gradao entre acaa aleatria das
manadas
a
predao
controlada o
seguir
a
manada
por
onde
ela for,as manadas livres, asmanadas controladas e,
final-
mente,
a
criao intensiva moderna
do
gado como indstria.
Os
grupos
de
caa
e
coleta desenvolveram
os
primeiros trs
ou
quatro processos
mas no os
dois
ltimos. Aoutilizaras
plantas existe
uma
ordem
de
intensidade
a
partir
do pasto
em estado silvestre,
das
plantas silvestres cultivadas,
dado-
mesticao de
gros geneticamente distintos, alguns
78
quais
s
podem propagar-se atravs
dainterveno
humana
e,
finalmente,
d a
engenharia gentica para
criar
novas
es-
pciesdesconhecidas pela natureza.
Os
grupos
d e
colheita
e
caa
chegaram
a
praticar certas
formas de
cultivo
e
alguns
ainda o
fazem):
alteramoshbitats, queimando para limpar
o terreno e estimulara reciclagemd osnutrientes, empe-
nhando-se
em
replantar
e
semear plantas
em
regies deser-
tas, arrancando
a servas
daninhas
e at
praticando
um a irri-
gao
em
pequena
escala.
Preparar
hbitats
artificiais
especificamente
para
ocultivoe a
manuteno
das
plantas
e
paragradualmente selecionaredomesticar certasespcies,
somente
u m a
intensificaodesse processo
de
interveno.
Osgruposdecoletae d ecaajhaviamdemonstrado,
na
Europa glacial,u m a aptido para utilizar rebanhos de
renas ecervosd e
formas
bastantesofisticadas,com a finali-
dadedaextraodasubsistnciade umambiente hostil.Ta l
exploraorelativamente intensad osanimaisn oexigeco-
munidadesagrcolasestabelecidas como demonstrado pe-
los grupos atuais
d e
pastores nmades,
tais
como
os
sami
gamos), os
masai
(gado),ou vrios povosda siacentral
cavalos). Existemoutrosexemplosde variedad es das tcni-
cas
de explorao, que adotam alguns, mas no todos os
processos q uepodemserencontradosnaagricultura moder-
na. No Levante, j em 18.000a.C os
seres
humanos pas-
toreavam
gazelas
em um
meio ambientesemidomesticado:
em
locais como
Ab u
Hureyra,
na
Sria
e em
NahalOren,
e m
Israel,maisde 80 porcentodosossosdosanimais recupera-
dos eramdegazelas, embora muitas
outras
espcies
fossem
disponveis tanto para
o
pastoreio quanto para
a caa.A o
mesmo tempo, esses grupos tambm colheram
formasselva-
gens deplantas, tais comootrigo mais primitivode um s
ncleo,otrigo vermelho durocomdois ncleose acevada,
que
viriam
a ser
domesticados 10.000 anos mais tarde.
O uso
degros silvestresnoera, necessariamente,um a
forma
in-
ferior deobter alimentos. Experincias recentes, usando
f o i
79
-
7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo
20/42
cs
de pedra para colher grandes plantaes de ancestrais
silvestres
dos gros que existem na
atualidade
e que ainda
crescem
no Oriente Prximo, demon straram que tais tcnicas
poderiam ser altamente produtivas e que os gros silvestres
so, frequentem ente, muito m ais nutritivosdo que asvarie-
dades domesticadas,
O
trigo vermelho selvagem,
em
Israel,
produziu camposde l .lOOkga l.SOOkgporacre,um a mdia
to
bo aquantoa dotrigonaInglaterra medieval.No Mxico,
o
teosinto,um a
forma
primitivade milho, mostrou-se alta-
mente
produtivo,
pois,
co m
trs horas
e
meia
de
colheita,
fornecia alimentosuficiente para um a pessoa durante de z
dias, O esforo necessrio para a obteno de alimento a
partir desses "gros" selvagens , tambm, m uito menor do
que
com osgros domesticados,
pois
no so
necessrios
a
semeadura, acapinagememaiores cuidados.
A identificao de plantas e animais domesticados a
partird evestgios arqueolgicosmuito
difcil.
E , porexem-
plo, impossvel dizer quais
as
diferenas existentes entre
os
vestgios
de
plantas
e
gros colhidos
em sua
forma
selvagem
e
as mesmas
plantas
e gros de campos onde teriam sido
plantados e
cultivados pelo homem. Geralmente,
possvel
distinguir as
caracterstic as
das plantas durante o processo de
domesticao,
na
medida
em que
elas
se
diferenciam,
grada-
tivamente,
de
seus precursores selvagens
at
atingir, plena-
mente,
variedades completamente
domesticadas,
mas as mu-
danas
acontecem ao longo de um considervel perodo de
tempo . Asdificuldades
encontradas pelos arquelogos
so
constitudas
p elos problem as associados a locais tropicais e
semitropicais,
onde
raramente
os
vestgios
das plantas so
be m
conservados,
po r
causa
doclima
quente
e
mido. Muitas
plantas , particularmente
as
razes
e
tubrculos, como
o
inha-
me e abatata,e
tambm rvores como
o
coqueiro
e a
palmei-
ra ,quase
no
apresentam mudanas quando domesticadas;
assim,
apresentam
problemas
enormes
quando se tenta de-
terminar adatad asmudanasn as tcnicasd e subsistncia.
Problemas similares surgem nas pesquisas feitas com ossos
de animais. quase impossvel identificar diretamente do
registro arqueolgico
se os
animais selvagens estavam sendo
pastoreados,
O
melhor mtodo indireto
procurar vestgios,
comouma
grande porcentagem
de
ossos
de
animais jovens,
qu e
sugere quais
as
tcnicas
de
predao altamente
seletivas
estavam sendo usadas. A s alteraes morfolgicas que acon-
teceram
durante a domesticao esto sujeitas a discusses,
embora
seja
geralmente aceito
que os
animais
se
tornaram
menorese quec onservaram mais suas c aractersticas juvenis.
Mas esse processo, maisum a vez, s ocorre durantelongos
perodosde tempo,o quetorna muitodifcilautilizaodas
mudanas ocasionadasnascaractersticas
fsicas
paraidenti-
ficarasmodificaes nas tcnicas de domesticao
animal
a
curtoprazo.
Tambm
no
existe
uma
distino ntida
e uma
grande
quantidade
de
continuidade entre
os
conjuntos
de
ferramen-
tas e artefatos dos grupos de coleta e caa e as primeiras
comunidades
agriculturais,
particularmente
no sudoeste da
sia
(regio onde tiveram lug ar os movim entos relacionados
coma agricultura mais antigos). As primeiras placas e pedras
de
moer foram encontradas
no
Oriente Prximo, possivel-
mente
de
15.000
a.C,e
seriam provavelmente usadas para
moer nozes (principalmente
os
frutos
do
carvalho)
emoran-
gos,
mas
possivelmente tambm serviam