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TURISMO

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ÍNDICE

pág.

9. TURISMO 191

9.1. A Importância Económica do Sector no Contexto Internacional – Breve Caracterização 191e Principais Tendências

9.2. Comércio Internacional 193

9.3. A Importância Económica do Sector no País e na Região 195

9.3.1. Dimensão Económica 195

9.3.2. Qualificações dos Recursos Humanos 197

9.4. Caracterização, Diagnóstico e Perspectivas de Evolução do Sector no Alentejo 198

9.4.1. Caracterização e Diagnóstico do Sector 198

9.4.2. Perspectivas Regionais de Evolução do Sector 201

9.5. Análise das Relações Intersectoriais numa Óptica de Cadeia de Valor 203

9.6. A Inovação no Sector: infraestruturas de suporte e identificaçãode necessidades competitivas 208

9.7. Análise SWOT do Sector: Sistematização da situação actual e configuração dos principais desafios e linhas de acção 211

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ÍNDICE DE QUADROS

pág.

Quadro 9-1: Estimativa dos Impactos Directos e Totais do Turismo: 2003 193

Quadro 9-2: Principais Destinos Turísticos na Europa por Chegadas Internacionais e Receitas: 1990 – 2001 194

Quadro 9-3: Previsão dos Impactos Directos e Totais do Turismo: 2013 195

Quadro 9-4: O Peso do Turismo nas NUTS III do Alentejo (% emprego do Sector) 194

Quadro 9-5: Estrutura de habilitações da região do Alentejo e no país 197

Quadro 9-6: Estrutura de qualificações na região do Alentejo e no país 198

Quadro 9-7: Trabalhadores e Estabelecimentos do sector do Turismo na região do Alentejo 199

Quadro 9-8: Procura e Oferta: Principais Tendências 201

Quadro 9-9: Sectores Fornecedores e Sectores Clientes do Turismo 205

Quadro 9-10: O Peso dos Produtos a Montante do Turismo (% emprego do sector) 207

Quadro 9-11: O Peso dos Ramos a Jusante do Turismo (% emprego do sector) 208

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 9-1: Pressão Demográfica do Turismo – Portugal versus Alentejo 199

Gráfico 9-2: Pressão Geográfica do Turismo – Portugal versus Alentejo 200

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Plano Regional de Inovação do Alentejo

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9. TURISMO

9.1. A Importância Económica do Sector no Contexto Internacional – Breve Caracterização e Principais Tendências

O turismo generaliza-se na Europa ao longo da segunda metade do século XX, em resultado dos grandesacréscimos de produtividade que a evolução tecnológica originou no sector industrial (permitindoreduzir os tempos de trabalho necessários) e da legitimação generalizada do direito dos trabalhadores aum período de férias remuneradas. A conjugação destes dois factores em simultâneo com odesenvolvimento e redução de custos dos transportes aéreos, cria condições para o aparecimento deactividades turísticas em larga escala, sobretudo após os anos 70, com expressão muito relevante emalgumas regiões portuguesas como o Algarve ou a Madeira.

Desde então o turismo tem ganho progressivamente uma dimensão estrutural em muitas das matrizesregionais do território nacional, não só pelo seu valor, propriamente dito, mas também pelo declínio deoutros sectores. Estas alterações de importância económica relativa derivam do facto de outras indústriastardarem em concretizar o potencial que encerram, libertando, assim, espaço para o surgimento de novasactividades, como por exemplo as actividades turísticas e de recreação, potenciadas pelo modelo debem-estar das sociedades actuais.

O turismo surge muitas vezes nos planos estratégicos como a “última solução económica” para amelhoria da qualidade de vida das populações. Este posicionamento, atractivo pela linearidade, éclaramente enviesado em termos da garantia do desenvolvimento sustentável de um espaço regional. Noâmbito do PRIA, deve assumir-se o sector do turismo como um sector integrado num contexto regionaldiversificado, onde a implementação da actividade no terreno e os efeitos multiplicadores que induz naeconomia e na sociedade, em muito dependem e interagem com os restantes sectores com que partilhao território. Por excelência, o turismo é considerado como um sector de actividade transversal pelo quea sua sustentabilidade depende do conjunto de relações que estabelece (populações, empresas, turistas,responsáveis administrativos e institucionais) e não de uma especialização monocultural de modelosimportados do exterior.

A opção turismo deve atender sempre a processos de decisão baseados em custos de oportunidadesobre outras possíveis soluções de ocupação do espaço, e não deve ser encarada apenas comoconsequência directa da “evasão” de outras actividades e da aparente atractividade de modelos deoferta padronizados vindos do exterior. Estas aparentes oportunidades são conjunturais, pelo que asestratégias e acções a desenhar, tendo em vista a sustentabilidade do turismo, devem basear-se numaestruturação horizontal e vertical da produção, onde o turismo surge integrado no espaço e no tempocom os restantes sectores de actividade.

É neste contexto que a inovação no turismo desempenha um papel crucial. A inovação é o garante darenovação constante do produto face à mutação dos perfis de procura, numa actividade cujos fluxos são

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cada vez mais globalizados mas onde paradoxalmente o sucesso de muitos destinos depende damanutenção e valorização da sua identidade regional. É a inovação que pode induzir a capacidade decriar serviços e produtos próprios, completando-os com uma gestão inovadora, apta a inserir estasespecificidades em cadeias de valor acrescentado em benefício da região, num processo onde aintegração horizontal é necessária mas onde a integração vertical (não forçosamente massificada) deveocupar um espaço privilegiado na definição de estratégias e acções futuras.

O turismo no Alentejo é muito mais que oferta primária. Dotada de um vasto leque de recursosendógenos (natureza e paisagem, arqueologia, monumentalidade e urbanismo, artesanato, tradições eeventos), e potencialmente atractivos para a actividade turística, a região deve, de forma diferenciada,conseguir valorizá-los, integrando-os com “vaidade” na sua oferta turística e complementar,nomeadamente nos meios de alojamento turístico, restauração, adegas, equipamentos desportivos,culturais e de espectáculo, aproveitando para este efeito o papel dos operadores turísticos e de animação.Depois, há ainda que atender aos efeitos indirectos do turismo, nomeadamente sobre os domínios dasactividades imobiliárias e do lazer da população residente, entre outros.

É sobre esta matriz de produção que, para além das intervenções operacionais conducentes aofortalecimento da base produtiva, são necessárias acções inovadoras que: (a) baseadas na exigência equalidade combinem factores tangíveis e intangíveis do sistema turístico (habilitações e recursoshumanos), (b) desenvolvam o capital relacional (interacção público/privado, formação de clustersregionais integrados) e (c) segmentem as necessidades de apoio à tecnologia, o que inclui oaproveitamento das externalidades proporcionadas pelo desenvolvimento de estruturas tecnológicas deapoio público e semi-público. Estes três aspectos baseiam o diagnóstico do sector do turismo no PlanoRegional de Inovação do Alentejo.

O turismo consiste num sector estratégico do desenvolvimento das sociedades, uma vez que concretizafluxos de pessoas e bens, assumindo a nível mundial e europeu, uma importância apenas ultrapassadapor sectores há muito globalizados. De facto, segundo a Organização Mundial de Turismo, o turismo éhoje reconhecido como o quarto maior sector à escala mundial quando quantificado através doindicador exportações (receitas por chegadas internacionais), sendo apenas ultrapassado pelas indústriasautomóvel, química e agro-alimentar.

Ainda de acordo com dados publicados pela Organização Mundial de Turismo, no ano de 2002, onúmero de chegadas internacionais de turistas ascendeu a 702,8 milhões em todo o mundo, as quaisgeraram receitas no valor 501,5 biliões de euros, mais 2,3 % do que no ano anterior, embora este sejamarcado pelos efeitos dos atentados de 11 de Setembro (OMT 2003). Neste contexto, a Europapermanece como o principal destino e origem do turismo internacional. Em termos de quota de mercado,cerca de 58% das chegadas internacionais acontecem na Europa. Simultaneamente, partem da Europaaproximadamente 57% dos turistas a nível mundial contabilizados por regiões de proveniência. Adistribuição em termos de receitas é relativamente proporcional.

Esta dinâmica económica compreende ao nível das regiões um conjunto de impactes nãonegligenciáveis sobre o emprego e produto, entre outras variáveis sócio-económicas, cuja dimensão erelação de proporcionalidade permite identificar níveis de especialização e produtividade, macro-

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informação essencial para o suporte dos processos de decisão inerentes à formulação de políticas etrajectórias de desenvolvimento turístico dos territórios nas diferentes escalas de actuação:internacional, nacional e regional.

QUADRO 9-1:

Estimativa dos Impactos Directos e Totais do Turismo: 2003

Fonte: WTTC (2003).

Numa primeira nota, o Quadro 9-1 demonstra a progressiva especialização das economias quandoefectuada a trajectória da situação geral do mundo para o caso particular de Portugal, onde o peso doturismo medido em termos de PIB se situa entre os 5,8%, se quantificados exclusivamente os impactosdirectos gerados pelo sector, e os 15,2% se quantificados também os impactos indirectos.

A segunda nota resulta da relação entre a contribuição do sector para o PIB e para o emprego. EmPortugal e numa perspectiva conservadora (minimalista) de análise baseada nos impactos directos,verifica-se que 6,3% do emprego gera 5,8% do PIB, evidenciando, por um lado, que o sector é trabalho-intensivo mas, por outro lado, indicia ou revela a reduzida produtividade do sector.

9.2. Comércio Internacional

A Europa assistiu entre 1990 a 2001 a uma evolução do número de chegadas internacionais de 280,6milhões para 390,8 milhões e em termos de receitas de 207,4 biliões de euros para 513,0 biliões de euros.Note-se que apesar deste crescimento, a Europa perdeu peso relativo enquanto região, passando a suaquota de mercado mundial de chegadas internacionais de 61,5% em 1990 para 57,1% em 2001, fruto daemancipação e crescimento de outras regiões, com destaque para a Ásia e Pacífico (sub-região ÁsiaOriental1), África (sub-região África Central) e a sub-região América Central do continente americano.

1 Nesta sub-região o destaque recai sobre a China, a qual em 2002 é já o 5º destino mais importante do mundo com 36,8milhões chegadas internacionais, estimando que em 2020 seja o primeiro destino mundial com 130 milhões de chegadasas quais se podem ainda adicionar 56,6 milhões de chegadas em Hong-Kong (WTO 2003).

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QUADRO 9-2:

Principais Destinos Turísticos na Europa por Chegadas Internacionais e Receitas: 1990 –2001

Nota: Os valores da Rússia e Grécia sobre Quotas de Mercado na coluna de 2001, são referentes a 2000, último ano disponibilizado pelaWorld Tourism Organization para estes destinos.

Fonte: World Tourism Organization (2002); dados trabalhados pela equipa de projecto.

Especificamente no contexto europeu, Portugal como destino contabilizado do ponto de vista daschegadas internacionais ocupa o 11º lugar do ranking dos 49 países considerados pela OrganizaçãoMundial de Turismo para esta região, com 3% de quota de mercado em 2001. Quando analisado esteranking do ponto de vista das receitas, a posição relativa de Portugal desce para o 12º posto, com apenas2,4% da quota de mercado europeia. Daqui decorre que a rentabilização da quota de mercado física estáaquém da proporção directa das chegadas, demonstrando uma menor eficiência económica do sectorface à eficácia demonstrada na atracção de turistas internacionais.

Face a esta constatação, a comparação de Portugal com os destinos concorrentes do sul da Europa –Espanha, Itália e Grécia – permite ainda identificar duas questões: por um lado, verifica-se que nestespaíses a relação entre chegadas e receitas é inversa, isto é, proporcionalmente, a quota de mercadoassociada às receitas é superior à associada às chegadas, possuindo assim uma superior rentabilizaçãodas respectivas quotas de mercado físicas.

Por outro lado e ainda relativamente a estes países, Portugal acompanhou proporcionalmente ocrescimento do número de chegadas internacionais, tendo a sua quota de mercado nesta variável subido

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0,2% durante este período. No entanto, em oposição, Portugal verifica um desempenho relativo menospositivo em termos da evolução da quota de mercado associada ao volume de receitas, dado que sofreuma ligeira perda de 0,1% quando todos os concorrentes identificados (excepto Itália) ganham quota demercado, com relevo para a Grécia que aumenta em 2,1% a sua quota de mercado de receitas na Europa.

9.3. A Importância Económica do Sector no País e na Região

9.3.1. Dimensão Económica

A evolução previsível do sector para as três escalas consideradas, efectuada pelo World Trade & TourismCouncil, a 10 anos, destaca a tendência de especialização de Portugal no sector, com a perspectiva deganhos de peso relativo das contribuições para o PIB e para o emprego. No entanto o diferencial deprodutividade não prevê alterações significativas, facto que deverá assumir preocupação central naspolíticas de desenvolvimento do sector.

QUADRO 9-3:

Previsão dos Impactos Directos e Totais do Turismo: 2013

Fonte: WTTC (2003).

Ainda para o todo nacional e de acordo com o Plano de Desenvolvimento do Turismo (Ministério daEconomia, 2003), o turismo neste contexto de superior peso na economia nacional, mão-de-obraintensivo e necessitado de ganhos de produtividade, deve ser objecto de um conjunto de medidas paraagilizar a regulamentação e aprovação de empreendimentos turísticos, a criação de áreas de “protecçãoturística” nas quais o turismo seja não só autorizado mas incentivado e um esforço acrescido na formaçãode recursos humanos para o sector. O contributo relativo do turismo para a produção nacional, que seaproxima dos dois dígitos, obriga a esta reflexão e actuação, sob pena de se perderem oportunidadesúnicas para o seu desenvolvimento e/ou requalificação.

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Esta realidade quando especificada sobre a região do Alentejo, encontra uma actividade turística quegera anualmente um VAB na ordem dos 60 milhões de euros (cerca de 3,4% do VAB do sector a nívelnacional e de 1,6% do VAB regional). A zona de Évora é a que mais contribui para esta produção com40%, face a 24% do Norte e Litoral alentejanos e 10% do Baixo Alentejo. A hotelaria e restauração geramaproximadamente 10 mil postos de trabalho na região, o que representa 4,5% do total regional.Considerando o VAB gerado pelas actividades de alojamento e restauração do Alentejo em 1999 obtém-se um Quociente de Localização no valor de 0,7, o que é sintomático do relativo atraso da região emrelação ao país na especialização em actividades turísticas.

Para além desta menor especialização, calculada exclusivamente com base nos impactos directos doturismo, identifica-se um sector com implantação intra-regional diferenciada, mão-de-obra intensivo e dereduzida produtividade por trabalhador, em que 4,5% do emprego produz 1,6% do VAB, com asinerentes vantagens/desvantagens deste tipo de relação económica e social.

Desagregando o Alentejo ao nível das NUTS III e analisando o número de trabalhadores das CAEassociadas ao turismo, verifica-se que o sector tem uma reduzida expressão relativa na matriz económicado emprego no Alentejo e quase despercebida no todo nacional. Apenas revela expressões significativasao nível dos estabelecimentos hoteleiros e restaurantes, em particular no Alentejo Litoral.Consequentemente, eventuais alterações no sector por uma aposta estratégica no seu desenvolvimento,perspectivam no imediato margens de progressão significativas na estrutura económica regional doemprego e, a médio/longo-prazo, uma maior visibilidade e representatividade no todo nacional.

QUADRO 9-4:

O Peso do Turismo nas NUTS III do Alentejo (% emprego do Sector)

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base em dados dos Quadros de Pessoal do Ministério do Trabalho, 2001

Destaca-se ainda na análise do emprego, o reforço da noção de implantação intra-regional diferenciada,com o emprego afecto ao sector a possuir uma menor expressão no Alentejo Central, seguindo-se o Baixoe Alto Alentejo e, finalmente, o já referido Alentejo Litoral onde o turismo é responsável por 10,75% doemprego desta NUTS III.

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9.3.2. Qualificações dos Recursos Humanos

O desenvolvimento turístico da região do Alentejo arranca num momento onde o ciclo de vida de muitosprodutos e regiões turísticas procura uma substituição da massificação por uma fase derejuvenescimento, com ênfase na especialização dos destinos e na valorização das especificidadeslocais. O turismo do Alentejo, dado encontrar-se numa fase prévia de lançamento, beneficia por um ladodo não congestionamento do território e recursos mas, por outro lado, padece das dificuldadesassociadas à não existência de um processo prévio de massificação gerador da massa crítica necessáriapara haver disponibilidade de mão-de-obra qualificada ou uma rede sólida de empresas fornecedoras deserviços turísticos, o que induz dificuldades no crescimento endógeno do sector na região. A resoluçãodesta dificuldade em muito depende da fixação e atracção de massa crítica na região, função onde oensino e a formação são variáveis determinantes.

No Alentejo, as habilitações presentes no sector do turismo verificam face à estrutura da região, umamaior concentração no ensino básico (nos seus diferentes níveis). Isto é, proporcionalmente o turismo noAlentejo tende a não registar a presença de trabalhadores sem qualquer nível de formação mas,simultaneamente, está claramente afastado de profissionais habilitados com o ensino superior. Em termosrelativos a sua atracção por habilitados com o 12º ano ou equivalente é também mais reduzida face aopadrão regional.

Esta constatação obriga a uma reflexão e novas atitudes face à necessidade de atrair níveis dequalificação superior de recursos humanos para o sector. Estes constituem o factor de produção nuclearnos processos de melhoria da qualidade e sustentabilidade da oferta turística, sendo para tal necessáriouma melhor regulação do próprio mercado de emprego, com superior transparência e mobilidade dasqualificações sustentadas num conjunto de referenciais de competência.

QUADRO 9-5:

Estrutura de habilitações da região do Alentejo e no país

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base nas Estatísticas dos Quadros de Pessoal do Ministério do Trabalho, 2000.

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Pese embora a introdução progressiva de operadores de maior porte na região, a prestação de serviçosturísticos é ainda maioritariamente assegurada por empresas de âmbito familiar, as quais funcionam comalguma informalidade e os seus promotores desenvolvem outras actividades profissionais. Em resultado,estas actividades são muito sensíveis à sazonalidade, têm poucos e não qualificados trabalhadores e acapacidade de resposta às solicitações (articulação a nível vertical) é muito reduzida. Este contextodificulta também o associativismo empresarial.

A análise da estrutura de qualificações dos profissionais do sector exemplifica este contexto, onde cercade 1/3 dos quadros são profissionais não qualificados ou semiqualificados. Curiosamente o peso relativodos quadros médios e superiores no sector é claramente superior ao padrão regional e nacional, cerca de19%, o que numa segunda leitura e cruzando com a informação sobre a estrutura de habilitações, indiciaque a quase generalidade destes quadros médios e superiores do sector do turismo no Alentejo nãopossui habilitações ao nível do ensino superior.

QUADRO 9-6:

Estrutura de qualificações na região do Alentejo e no país

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base nas Estatísticas dos Quadros de Pessoal dos Quadros de Pessoal do Ministério doTrabalho, 2000.

9.4. Caracterização, Diagnóstico e Perspectivas de Evolução do Sector no Alentejo

9.4.1. Caracterização e Diagnóstico do Sector

Em 2002, existiam no Alentejo 105 estabelecimentos hoteleiros, sendo mais de metade da tipologiapensões. No conjunto de todas as categorias de estabelecimentos, a distribuição é relativamenteequilibrada pelas quatro sub-regiões, embora no caso específico dos hotéis se verifique que 14 dos 17hotéis registados encontram-se nas zonas do Alto Alentejo e Alentejo Central. Este conjunto deestabelecimentos garante uma capacidade de alojamento de 7.500 camas, as quais em 2002proporcionaram cerca de 1 milhão de dormidas.

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QUADRO 9-7:

Trabalhadores e Estabelecimentos do sector do Turismo na região do Alentejo

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base nas Estatísticas dos Quadros de Pessoal do Ministério do Trabalho, 2000.

Numa confrontação Alentejo versus Portugal, as cerca de 1 milhão de dormidas no Alentejo traduzem,quer em termos absolutos quer em termos relativos, um potencial de crescimento não negligenciável,nomeadamente pela reduzida pressão demográfica que encerra (total de hóspedes/ano sobre número deresidentes), quando confrontado com o padrão nacional, isto é, cerca de 0,71 hóspedes/ano porhabitante no Alentejo versus 1,07 na média nacional, como se constata no Gráfico 9-1.

GRÁFICO 9-1:

Pressão Demográfica do Turismo – Portugal versus Alentejo

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base em dados do INE.

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A leitura deste indicador deve ter em atenção a existência de uma vasta oferta de alojamento nãoclassificado, quer integrada no conceito de turismo de vilegiatura2, quer a oferta ilegal de camasparalelas em estabelecimentos não licenciados, esta uma realidade que se verifica com maior ênfase noAlentejo Litoral. Numa amostra de eventual generalização, a Câmara Municipal de Odemira numaestimava própria para a Freguesia de Vila Nova de Milfontes, refere que a proporção entre camasclassificadas e não classificadas pode atingir a relação de 1 para 3, o que triplicará a realidade da ofertade alojamento no espaço, pese embora as assimetrias de mercado assim criadas e a falta de consolidaçãode uma imagem coerente de qualidade e segurança, insustentável a médio e longo prazo.

Quando analisada a pressão geográfica dos hóspedes sobre o espaço em si (total de hóspedes/ano sobreárea da NUTS II Alentejo), verifica-se, à semelhança do que acontece com a própria população residente,a existência de uma baixíssima densidade de ocupação turística do território, com apenas 17,5hóspedes/ano por Km2, cerca de 6,5 vezes menos que o padrão nacional o qual atinge os 114,7hóspedes/ano por Km2.

GRÁFICO 9-2:

Pressão Geográfica do Turismo – Portugal versus Alentejo

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base em dados do INE.

Este reduzido número de hóspedes apresenta uma distribuição quase linear com o tempo de permanência,isto é, o Alentejo verifica uma estada média relativamente baixa de apenas 1,6 dias. No entanto, a regiãoapresenta valores algo diferenciados no seu interior quanto à duração das visitas turísticas, de 1,4 dias noAlto e Centro do Alentejo a 2,3 dias no Litoral (tempos de permanência estes efectuados em 2002 pelos

2 O turismo de vilegiatura compreende duas modalidades: uma primeira relacionada com a estadia prolongada por váriosmeses, e, uma segunda, relacionada com a residência permanente (esta últia fora do conceito de turismo mas integradano “cluster” lazer-turismo).

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614 mil hóspedes que utilizaram estabelecimentos hoteleiros classificados na região). Esta diferenciaçãoestá desde logo associada à comercialização de dois produtos distintos, um urbano/cultural depermanências mais curtas e outro, o sol e praia, caracterizado por estadas mais longas.

9.4.2. Perspectivas Regionais de Evolução do Sector

O posicionamento e as perspectivas futuras da economia portuguesa em matéria de turismo sãoconsolidados pelo cruzamento de informação proveniente da comparação de destinos através das quotasde mercado em termos de chegadas internacionais e das quotas de mercado associadas às receitas geradaspor essas chegadas. Neste aspecto, o desempenho de Portugal enquanto destino turístico permite identificartambém alguns desafios para a sustentabilidade económica do sector, matéria onde a diversificação dodestino a nível interno e a consolidação de uma integração vertical são aspectos incontornáveis a ter emconta na definição de estratégias e acções futuras nas diferentes escalas de actuação.

Este conjunto de considerações e questões devem ser tidas em atenção na gestão e planeamento dosector em Portugal e das suas regiões turísticas em particular. Procurar-se-á garantir que o actual pesoeconómico do sector e as oportunidades existentes de desenvolvimento sejam realmente aproveitadas,numa dinâmica onde a inovação sobre o sector é essencial para a diferenciação do produto/serviço epara a obtenção de ganhos de competitividade ao longo da respectiva cadeia de valor.

QUADRO 9-8:

Procura e Oferta: Principais Tendências

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Tem-se deste modo uma conjugação de factores entre procura e oferta, onde no caso específico doAlentejo existem novas sinergias que importa captar.

Constitui exemplo pelo lado da procura a crescente importância dada aos princípios de desenvolvimentosustentável, a exigência pelo turista em conhecimento e qualidade (o “lazer” acompanhado do “saber”)e a crescente procura de férias personalizadas e de short-breaks. Por sua vez, estas tendências encontramno lado da oferta turística no Alentejo um conjunto de especificidades claramente aderentes, como sejamo potencial de desenvolvimento e conjugação de novos produtos turísticos, uma inequívoca qualidadeambiental, a existência dominante de unidades de alojamento de média ou reduzida dimensão (inferiora 50 quartos) e franca interiorização de novos meios de comercialização, com destaque para o e-commerce, nomeadamente na modalidade de Turismo em Espaço Rural.

Com agentes públicos aptos a promover a sustentabilidade dos territórios e agentes privados interessadosem permanecer no negócio a médio e longo prazo, devidamente enquadrados por um quadro legalsuficientemente flexível para atrair novos investimentos3 e simultaneamente exigente para negar os nãorentáveis para o tecido económico-social da região, o Alentejo poderá de facto aproveitar um conjuntode especificidades regionais que endogenamente garantem um potencial de aproveitamento dasprincipais tendências da procura e oferta do turismo.

Um aspecto específico mas que certamente a médio longo-prazo se tornará incontornável, correspondeà progressiva consolidação do projecto Alqueva, cujo espelho de água (com cerca de 250 km2) eextensão das margens potenciam um clima de expectativas empresariais no Alentejo, cujos beneficiáriosvão muito para além da actividade agrícola, fruto da animação e diversificação de toda uma fileira deactividades económicas, onde o cluster turismo-lazer tem um importante papel a desempenhar, emtermos de imobiliária, alojamento turístico convencional e animação, entre outros. O desenvolvimentosustentável que se deseja associado ao Alqueva, para o turismo e não só, dependerá em muito daatracção de investimentos estruturais de gestão qualificada e com intenção de permanência no território.

De forma complementar, a dinamização para uso civil do aeroporto de Beja pode também revelar-se umamais valia na capacidade de atracção de fluxos turísticos, nomeadamente de turismo sénior, ou deturismo selectivo residencial proveniente de alguns países europeus.

3 A este respeito saliente-se a importância do envolvimento das Direcções Regionais de Agricultura, do Ambiente eOrdenamento e do Instituto de Conservação da Natureza (que tutela as áreas protegidas) que se considera imprescindível,por exemplo, para a agilização dos procedimentos administrativos relativos ao licenciamento de empreendimentosturísticos. Por vezes o comportamento destas instituições encerra uma importante dificuldade: são entidades que não estãodirectamente comprometidas com objectivos de desenvolvimento económico e social (ao contrário dos promotoresempresariais ou das autarquias) e que tendem a não valorizar a importância da tomada de decisões nos timings adequados.

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9.5. Análise das Relações Intersectoriais numa Óptica de Cadeia de Valor

O estudo das relações de cadeia de valor que o Turismo (considerado, para efeito desta análise, comoequivalente ao Ramo 55 - Alojamento e restauração) revela a montante da sua actividade com outrossectores (fornecedores), permite aferir a existência de uma intensidade relacional muito acentuada comactividades de fornecimentos intermédios relacionadas com alimentação – produtos de pastelaria frescos(15812), pão e outros produtos de padaria frescos (15811), carnes e produtos resultantes do abate deanimais de capoeira (1512), carnes e produtos (excepto de animais de capoeira) resultantes do abate(1511), peixe, seco, salgado ou em salmoura; peixe fumado; farinhas de peixe comestíveis (15203),crustáceos; moluscos e outros invertebrados aquáticos, congelados, secos, salgados ou em salmoura(15205) e leite e natas (15511) -, e com bebidas – cerveja de malte (1596), bebidas alcoólicas destiladas(1591), café e sucedâneos de café (15861), vinhos de qualidade produzidos em região demarcada(1593121), outras bebidas não alcoólicas, n.e. (15982), águas minerais e águas gaseificadas, sem adiçãode edulcorantes, nem de aromatizantes (15981), vinhos de mesa (1593122) – e ainda com os cortinados,atoalhados e têxtil-lar - artigos têxteis confeccionados, excepto vestuário (CAE 174). Em termosagregados, este conjunto de fornecedores intermédios é responsável por 43% das compras do Turismo.

O Turismo evidencia, também, ligações a actividades de matérias-primas tais – como 2323 (Gás -propano e butano - combustível) e 40102 (electricidade (transportada e distribuída) e respectivosserviços) –, cujo enfoque é predominantemente energético, ou seja, cerca de 10% dos produtos que osector do Turismo adquire para efeitos de incorporação na sua actividade correspondem a materiais dafileira energética que deverão estar relacionados com a operacionalização de equipamentos e com ofuncionamento e conforto dos edifícios. Para além destas, o Turismo compra matérias-primasrelacionadas com produtos alimentares não transformados que, posteriormente, incorpora naalimentação dos seus hóspedes (no caso do alojamento) e clientes (no caso da restauração), tais como:outros produtos hortícolas, frescos ou refrigerados (0112013), tomate para consumo em fresco (0112011)e peixes vivos, frescos ou refrigerados (050001). No seu conjunto, as classes de produtos de matérias-primas são responsáveis por 14,4% das compras do sector do Turismo.

O Turismo revela apenas uma ligação, a montante, com fornecedores de equipamento, maisprecisamente com a CAE 315 (lâmpadas eléctricas e outro material de iluminação), a qual advém doestreito dependência que as actividades de alojamento e restauração têm deste tipo de produtos,principalmente pelo elevado tempo de utilização diária dos espaços contemplados na sua actividade.Em termos de serviços de comercialização, verifica-se também uma ligação única ao nível dos serviçosde manutenção e reparação de veículos automóveis e de motociclos (50012), os quais respondem porcerca de 2% das compras do Turismo e que se devem relacionar, ao nível dos hotéis com serviços derent-a-car e de transporte de passageiros para os centros populacionais, para excursões, de/para osportos e aeroportos.

Do ponto de vista dos serviços complementares prestados na cadeia de fornecimentos do Turismo,regista-se a importância da CAE 93 (outras actividades de serviços), a qual contempla, entre outras,

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actividades de cabeleireiros e de health clubs, as quais prestam serviços aos hóspedes dos hotéis,representando 2% das compras do sector do turismo.

O Turismo estabelece, ainda, relações de cadeia de valor com determinadas actividades prestadoras deserviços de suporte empresariais, tais como a classe 741 (serviços jurídicos, contabilísticos, de auditoria,de consultoria fiscal, de estudos de mercado), 7020012 (serviços de arrendamento de terrenos e outrosbens imóveis, não residenciais, por conta própria) e 748 (outros serviços prestados principalmente àsempresas). A primeira está associada a aspectos administrativos e legais, transversais à actividadeempresarial; a segunda está associada ao aluguer de espaços comerciais (por parte da restauração) e deterrenos para actividades de desporto e lazer (por parte dos hotéis); a terceira está associada a actividadesde fotografia e a serviços de tradução, que se verificam, principalmente no âmbito da actividade hoteleira.

Se atentarmos às relações intra-sectoriais que o sector do turismo exibe, constatamos, que a montante,não se verificam fluxos e a jusante, o peso das vendas intra-sectoriais é muito diminuto (1,3%).

A jusante, o Turismo vende às seguintes CAE, por ordem decrescente de importância: 51 (comércio porgrosso e agentes do comércio, excepto de veículos automóveis e motociclos), 74 (outras actividades deserviços prestados principalmente às empresas), 75 (administração pública, defesa e segurança socialobrigatória), 45 (construção), 52 (comércio a retalho, excepto de veículos automóveis, motociclos ecombustíveis para veículos; reparação de bens pessoais e domésticos), 65 (intermediação financeira,excepto seguros e fundos de pensões), 63 (actividades anexas e auxiliares dos transportes: actividades deviagem e turismo), 80 (educação), 85 (saúde e acção social), 50 (comércio, manutenção e reparação deveículos automóveis e motociclos; comércio a retalho de combustíveis para veículos automóveis), 70(actividades Imobiliárias), 28 (fabricação de produtos metálicos, excepto máquinas e equipamento), 15(indústrias alimentares e das bebidas), 29 (fabricação de máquinas e equipamentos, n.e), 66 (seguros,fundos de pensões e outras actividades complementares de segurança social), 24 (fabricação de produtosquímicos) e 22 (edição, impressão e reprodução de suportes de informação gravados).

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QUADRO 9-9:

Sectores Fornecedores e Sectores Clientes do Turismo

Fonte: Augusto Mateus & Associados, com base em dados do QRE

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Tendo como universo de referência os produtos que, de acordo com as relações identificadas pelo QRE,se situam a montante do Turismo, constata-se que nenhum deles cumpre simultaneamente os trêscritérios definidos – especialização, relevância regional e relevância nacional – em qualquer das regiõesNUTS III do Alentejo. Verifica-se ainda que a CAE 15811 (pão e outros produtos de padaria frescos) é aúnica CAE que cumpre, nas quatro NUTS III alentejanas, dois dos critérios (especialização e relevânciaregional). Para além destas, apenas 4 classes de produtos cumprem, em simultâneo, estes dois critérios,designadamente, o gás (propano e butano) combustível (2323), outros produtos hortícolas, frescos ourefrigerados (0112013) e tomate para consumo em fresco (0112011), no Alentejo Litoral; café esucedâneos de café (15861) e crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos, congelados, secos,salgados ou em salmoura (15511), no Alto Alentejo.

De salientar também que somente a classe de produtos 15812 (produtos de pastelaria frescos) cumprempelo menos um dos critérios na totalidade das quatro NUTS III alentejanas, sendo seguida, em termos degrau de abrangência, pela electricidade, transportada e distribuída, e respectivos serviços (40102) – quecumpre um dos critérios nas regiões do Alto Alentejo, Alentejo Central e Baixo Alentejo.

No que se refere aos ramos, que segundo o QRE, se situam a jusante do Turismo, é possível aferir queapenas o Ramo 45 (construção) cumpre os três critérios nas quatro NUTS III do Alentejo. Saliente-se,igualmente que o ramo 52 (Comércio a retalho, excepto de veículos automóveis, motociclos ecombustíveis para veículos; reparação de bens pessoais e domésticos), 55 (alojamento e restauração) e oramo 85 (saúde e acção social) cumprem os três critérios, no Alentejo Litoral, Alto Alentejo e BaixoAlentejo, no primeiro caso e terceiro casos, no Alto Alentejo, Alentejo Central e Baixo Alentejo, nosegundo caso.

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QUADRO 9-10:

O Peso dos Produtos a Montante do Turismo (% emprego do sector)

Fonte: Augusto Mateus & Associados, com base em dados do QRE

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QUADRO 9-11:

O Peso dos Ramos a Jusante do Turismo (% emprego do sector)

Fonte: Augusto Mateus & Associados, com base em dados do QRE

9.6. A Inovação no Sector: infraestruturas de suporte e identificação de necessidades competitivas

O turismo no Alentejo apresenta face a outros destinos uma significativa margem de obtenção depotenciais ganhos. De facto, os 2,3 dias de permanência no Alentejo Litoral estão muito aquém de, porexemplo, os 5,8 dias que se registaram, em idêntico período do ano de 2001, no destino balnear Algarve

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e, por sua vez, os 1,4 dias no Alto e Centro Alentejo estão também ligeiramente aquém dos 1,6 dias quese verificam na região de Lisboa e Vale do Tejo (INE). Ambos os produtos têm assim um previsível espaçode expansão pelo prolongamento da estada dos turistas.

Diferenciar pela inovação o turismo balnear e o turismo urbano/cultural do Alentejo dos produtoshomólogos do Algarve e Lisboa, pode ser uma via para a afirmação do turismo na região, numa ópticade complementaridade de recursos e não de substituição.

Este tipo de relação com o produto comercializado também tem reflexos sobre o gasto médio diário dosturistas. Numa análise até 2001 (último ano de informação sobre esta variável disponibilizado pela DGT),o Alentejo encontra-se numa primeira observação em situação privilegiada a nível nacional, com gastossuperiores à média nacional. No entanto, importa salientar, que a rentabilidade total pela permanênciado hóspede é afectada pela curta duração da estada.

Neste contexto de procura, Portugal é o principal mercado emissor de turistas para o Alentejo,assegurando mais de dois terços das dormidas (675 mil) e dos hóspedes (397 mil). Alemanha, Espanha eFrança contribuíram com cerca de 20 mil hóspedes e 30 mil dormidas cada um. Itália, Holanda e ReinoUnido também foram em 2002 mercados relevantes, com mais de 10 mil hóspedes e quase 20 mildormidas de cada país. Estes últimos mercados, particularmente pela atracção de que já são objecto emregiões adjacentes (Algarve e Lisboa), podem constituir um segmento, por nacionalidades, a considerarem desenvolvimentos de circuitos ou estadas mais longas na região.

Ainda nesta análise, note-se também que o mercado espanhol deve ser tido em especial atenção, pois,por exemplo, tomando como referência a região fronteiriça de Espanha, residem nas duas provínciasadjacentes, Cáceres e Badajoz, cerca de 1 milhão de habitantes (INE-Espanha) cujo potencial de procuraturística não deve ser descurado para o turismo no Alentejo, numa atracção em dois momentos, visitantese turistas. Obviamente o património histórico e cultural têm aqui especial destaque, mas importa nãoesquecer que, por exemplo, o litoral alentejano constitui a zona balnear mais próxima destas provínciasda Estremadura, entre 250 a 300km de distância em média.

Na recepção destas dormidas, o Alentejo dispõe de uma rede de equipamentos e infraestruturas turísticasexaustivamente descrita no PDTA4, onde se incluem 16 pousadas da rede ENATUR, dois hotéis de 4estrelas, um aparthotel de 4 estrelas e 11 hotéis de 3 estrelas. Uma nota de destaque para os 42 parquesde campismo registados em 1998, os quais asseguram alojamento para mais de 20 mil pessoas e revelamum dinamismo regional significativo, traduzido no elevado peso da região no emprego no designadocampismo e alojamento de curta duração, com 17,1% do total nacional de emprego neste sector, 15,1%do investimento e 18,4% do VAB.

4 Plano de Desenvolvimento Turístico do Alentejo, Região de Turismo de Évora - CEDRU 2001.

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O Turismo em Espaço Rural (TER) é um segmento emergente da oferta turística, no qual a região assumeparticular relevância a nível nacional. De facto o Alentejo possui aqui uma posição de destaque, ondeos 113 estabelecimentos nele localizados representam 7,8% dos estabelecimentos do país, com um totalde 643 quartos (6,8%) e 1.263 camas (6,8%). Dentro das várias modalidades de TER, o turismo rural e oagro-turismo assumem no Alentejo preponderância (mais de 80% dos estabelecimentos), enquanto queas sub-regiões do Alto e Centro Alentejo asseguram cerca de 75% dos estabelecimentos regionais,quartos e camas em estabelecimentos enquadrados no TER. Neste evidente ponto forte da regiãoclaramente aderente a espaços de baixa densidade, o papel inovador passará em muito pela sua inserçãoem circuitos comerciais consolidados.

A região oferece ainda mais de 900 unidades de restauração, com cerca de 50 estabelecimentosreferenciados nos principais roteiros gastronómicos nacionais. No entanto, em 1999, o VAB gerado pelasempresas dos sectores do alojamento e restauração do Alentejo permite obter o valor de 0,7 para oquociente de localização destas actividades na região, revelando uma especialização produtiva inferiorà média nacional.

A oferta turística do Alentejo é ainda completada por cerca de 5 centenas de zonas de caça - as quaisocupam quase meio milhão de hectares e representam 72% do total do país, embora de acordo com oPDTA (2001) possuam deficiências de funcionamento e de inserção no mercado turístico - 25 adegasintegradas em três circuitos de enoturismo, 3 centros termais, 1 parque temático, cerca de 50 empresasde animação turística (a maioria orientada para passeios a pé, cavalo ou todo-o-terreno), 2 campos degolfe e várias dezenas de equipamentos desportivos de interesse para o turismo.

A existência de 2 aeródromos permite a realização de actividades aeronáuticas recreativas. Destaqueainda a nível cultural a disponibilidade na região de cerca de 60 museus ou núcleos museológicos e de15 salas de reuniões e conferências, com capacidade global de cinco mil lugares.

Num diagnóstico onde se assume a existência de uma relativa coordenação inter-institucional e níveis decomunicação aceitáveis entre operadores privados e organismos públicos (PDTA 2003), os principaiselementos de atractividade a assumir para o desenvolvimento turístico do Alentejo e onde a inovaçãosobre toda a cadeia de valor associada a estes elementos tem um papel decisivo, incluem oaproveitamento de potencialidades associadas a:

lazeres de sol e praia (litoral);

lazeres culturais e urbanos;

descoberta cultural e patrimonial;

ambiente rural;

natureza e paisagem;

lazeres activos e actividades de ar livre;

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enologia e gastronomia;

logística do sistema turístico.

Uma nota absolutamente necessária para o facto do aproveitamento destas potencialidades dependeremem muito da correcta utilização de factores intangíveis do sistema turístico, com destaque para ashabilitações e recursos humanos, quer endógenos quer por atracção de exógenos. Nesta óptica e segundodados divulgados pelo Observatório do Turismo5 – Unidade de Observação Regional do Alentejo (2003)6

, destaque-se a existência de 6 Escolas Profissionais na região com cursos referenciados na área do turismo(embora com domínio para a hotelaria), 22 cursos e acções de formação anualmente ministradas peloInstituto de Emprego e Formação Profissional centrados neste sector de actividade, para além de outros 5da iniciativa de Associações de Desenvolvimento Local e de Regiões de Turismo, numa abrangência queinclui desde a citada hotelaria à manutenção de campos de golfe, animação e turismo de natureza.

Acresce ainda, ao nível da formação superior, o facto da Universidade de Évora, Instituto Politécnico deBeja e o Instituto Politécnico de Portalegre possuírem cursos na área científica do turismo, com formaçõesrespectivamente designadas “turismo e desenvolvimento”, “estratégia e gestão turísticas” e ”turismo etermalismo”, onde anualmente qualificam cerca de 80 jovens a nível superior para este sector em particular.

Todo este quadro de infraestruturas de suporte e necessidades competitivas associadas à inovação etendências de evolução do sector, deve ter em conta que o Alentejo é uma região onde 5,8% do seu

território está integrado na Rede Nacional de Áreas Protegidas (equivalente a 156.328 km2), percentagemque se eleva consideravelmente se incluirmos também a Rede Natura 2000 e a Reserva Ecológica Nacional.

9.7. Análise SWOT do Sector: Sistematização da situação actual e configuração dos principais desafios

A matriz SWOT que seguidamente se apresenta resume as principais oportunidades e ameaças que secolocam ao sector do Turismo do Alentejo7, distinguindo entre os elementos operacionais conducentesao fortalecimento da base produtiva e as acções inovadoras que garantam a elasticidade em tempo útildessa base produtiva face a novas exigências e perfis de procura, numa atitude de mudança proactiva enão meramente reactiva a espaços e impulsos exteriores.

5 E-letter nº 2 do Observatório do Turismo.6 Estrutura de projecto do Ministério da Economia, extinta a nível nacional em Setembro de 2003. 7 A matriz SWOT do sector foi construída obedecendo aos seguintes passos metodológicos:1- Identificação por parte da equipa de projecto de factores que constituem forças, fraquezas, oportunidades e ameaças do sector na região;2- Apresentação dos factores identificados aos membros da sessão temática no workshop realizado em 15 de Novembro de 2004;3- Registo de eventuais sugestões sobre os factores apresentados (com possibilidade de introduzir alterações e propor

eventuais correcções);4- Ponderação da importância relativa dos diversos factores;5- Análise e tratamento final, por parte da equipa de projecto, dos factores que integram as forças, fraquezas, oportunidades

e ameaças do sector na região do Alentejo

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Quanto à proposta de linhas de acção inovadoras, apresenta-se em seguida um conjunto de possíveisexecuções, agrupadas de acordo com as três grandes áreas de inovação:

a) Combinação de factores tangíveis e intangíveis do sistema turístico (habilitações e recursos humanos):

Definição de Plano de Formação para o Turismo do Alentejo, plurianual, mobilizando promotoresempresariais dos projectos-âncora, entidades formadoras (IEFP, Universidades, Politécnicos) epromovendo a implementação de Escolas de Hotelaria e Turismo8 ;

Promoção da formação contínua, eventualmente nos locais de trabalho, em áreas específicas dosserviços turísticos ou em áreas mais generalistas (línguas, software, telecomunicações).

b) Desenvolvimento do capital relacional (interacção público/privado, formação de clusters regionais):

8 A SONAE tem uma experiência semelhante na zona do Alentejo, com o Plano de Formação para a Península de Tróia

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Criação de organismo com decisão sobre a aprovação de empreendimentos turísticos, englobandoas entidades com tutela sobre o ordenamento do território (direcções Regionais da Agricultura eAmbiente e Ordenamento, ICN, Câmaras Municipais, Ministério do Turismo, IPPAR) e definindocom clareza objectivos de desenvolvimento turístico e restrições à sua implementação;

Definição de produtos turísticos e de estratégia promocional partilhada por Regiões de Turismo epromotores de projectos-âncora;

Partilha de responsabilidades na manutenção e sinalização da rede viária (envolvendo o governocentral, autarquias, promotores de projectos-âncora, Regiões de Turismo, ICN);

Dinamização do Aeroporto de Beja, envolvendo o governo central, CCDR e promotores deprojectos-âncora de múltiplos sectores e não apenas turísticos;

Promoção da aproximação entre promotores de projectos-âncora multifuncionais e pequenasempresas prestadoras de serviços complementares do turismo (percursos, animação, informação,entre outros);

Identificação e atracção de actividades relevantes para a consolidação do cluster regional deturismo e lazer;

Consolidação de estrutura associativa empresarial forte.

c) Segmentação das necessidades de apoio à tecnologia, o que inclui o aproveitamento deexternalidades proporcionadas pelo desenvolvimento de estruturas tecnológicas de apoio público esemi-público:

Definição de áreas de desenvolvimento tecnológico com relevância para os serviços turísticos:

biologia (levantamento e divulgação de recursos ambientais);

geologia (caracterização, levantamentos topográficos de percursos para passeio a pé, cavalo,bicicleta ou viaturas todo-o-terreno);

tecnologias da informação (software para gestão de serviços, centrais de reservas ou portaisinformativos interactivos; videotexto e aplicações dirigidas para o entretenimento emestabelecimentos hoteleiros; produção de conteúdos multimédia adequados à informação adisponibilizar - mapas, fotografia, vídeo, texto - e aos suportes utilizados - Internet, folhetos,imprensa, telemóveis);

telecomunicações (aplicações para disponibilização de informação territorial ou de serviçosacessíveis por telemóvel e outros dispositivos portáteis).

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