transportes e comunicações no início do século xix, a população portuguesa vivia de certo modo...
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AULA N.º 29
PORTUGAL NA 2.ª METADE DO SÉCULO XIX
- TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES- OS MOVIMENTOS DA POPULAÇÃO
Transportes e Comunicações
No início do século XIX, a população portuguesa vivia de certo modo isolada. As más estradas e os antiquados transportes assustavam o mais ousado viajantes.
O tempo gasto em qualquer deslocação era enorme. Uma viagem Lisboa-Porto, por exemplo, que hoje se faz em menos de três horas, demorava, há cerca de 150 anos, mais de 7 dias.
Em Portugal, só na segunda metade do século XIX é que se deram os grandes melhoramentos e a modernização das vias de comunicação e dos meios de transportes.
Fontes Pereira de Melo, ministro de D. Maria II, D. Pedro V e D. Luís I, foi o maior impulsionador dessa modernização.
Durante o seu governo construíram-se muitos quilómetros de novas estradas.
Passou-se, então, a viajar com mais rapidez. Já em 1859, a “Diligência” ou “Mala-Posta”, através da nova estrada, fazia a carreia Lisboa-Porto em apenas 34 horas.
A “Mala-Posta” ou “Diligência” era uma carruagem puxada por duas parelhas de cavalos. No percurso Lisboa-Porto, os cavalos eram mudados várias vezes. Nestas carruagens seguiam alguns passageiros e a mala do correio.
Ao mesmo tempo que surgiram novas estradas também se construíram “linhas de caminho-de-ferro” necessárias à circulação de comboios.
O comboio, considerado “uma das maravilhas do século”, tornou-se rapidamente no mais importante meio de transporte da época.
A primeira viagem de comboio fez-se em 28 de Outubro de 1856 na linha que ligava Lisboa ao Carregado.
Em 1877, a viagem de comboio Lisboa-Porto demorava cerca de 14 horas.
Pouco a pouco as “linhas de caminho-de-ferro” espalharam-se pelo país e, no final do século XIX, já existiam 2070 km de “via-férrea” em território português.
Em 1887 iniciou-se o serviço internacional do “Sud-Express”, que fazia a ligação directa entre Paris-Madrid-Lisboa. Era um comboio de luxo, com três carruagens e uma carruagem-restaurante.
Com este serviço de comboios, Portugal ficou mais perto do centro da Europa. Nele viajaram muitos jornalistas, turistas, artistas e escritores. A divulgação de ideias, jornais, revistas, tornou-se assim mais rápida.
Para servir quer a “rede viária” quer a “rede ferroviária” fizeram-se túneis, viadutos e novas pontes, quase todas em ferro.
Ponte rodoviária de D. Luís I, no Porto. Esta ponte foi inaugurada em 1886 e, tal como outras pontes da mesma época, é construída em ferro.
Durante este período também se construíram faróis ao longo da costa com o fim de orientar os barcos. E para se poder receber os grandes navios que atravessaram o Atlântico, construiu-se o porto artificial de Leixões e aumentou-se o porto de Lisboa.
Foi ainda no final do século XIX (1895) que começaram a circular em Portugal os primeiros automóveis (utilizando o petróleo como fonte de energia).
Cartaz publicitário. João Garrido foi um dos primeiros importadores de
automóveis.
Outras Formas de Comunicação
Ao longo do século XIX começou a vulgarizar-se em Portugal o gosto pela leitura de jornais diários. Alguns, como O Século, O Primeiro de Janeiro, O Diário de Notícias, O Comércio do Porto, tinham já tiragens consideráveis.
Reorganizaram-se os correios, surgindo, em 1853, o selo e os marcos postais.
Em 1857 entrou em funcionamento telégrafo eléctrico com o qual se recebiam telegramas com notícias vindas de outros países europeus.
E em 1882 foi finamente inaugurada a rede de telefones de Lisboa.
Os Movimentos da População
No século XIX, principalmente na segunda metade, verificou-se que houve em Portugal um crescimento populacional maior do que nas épocas anteriores.
Razões do crescimento da população no século XIX:
1. Melhor alimentação maior consumo de milho e de batata
2. Desenvolvimento da medicina uso de vacinas e de novos medicamentos;
3. Melhores condições de saúde e de higiene das cidades construção de novos hospitais e de esgotos,
distribuição de água e calcetamento de ruas.
A população portuguesa concentrava-se à volta das cidades mais importantes, entre as quais se destacavam as cidades do Porto e de Lisboa.
E, tal como em séculos anteriores, em meados do século XIX o litoral norte de Portugal era mais povoado do que o interior sul do país.
Esta desigual distribuição da população devia-se a vários factores. As zonas do litoral norte com clima ameno, solo férteis, bons portos de pesca ou com indústrias, apresentavam melhores condições de vida e, por isso, eram mais favoráveis à concentração de pessoas.
O aumento da população no século XIX fez com que nas áreas rurais existissem muitos trabalhadores do campo sem trabalho, ou muito mal pagos.
Vivendo uma vida de miséria e sempre na dependência dos donos de terra, muitos desses trabalhadores fugiram as suas aldeias e foram viver para outros locais.
Deu-se assim um grande “êxodo rural” (fuga do campo).
Uns fixaram-se nas cidades, sobretudo em Lisboa e no Porto, na ânsia de aí encontrarem um novo emprego e melhores condições de vida.
Outros emigraram, principalmente para o Brasil, na esperança de poderem construir uma nova vida do lado de lá do Atlântico.
Os emigrantes que seguiram para o Brasil eram, na sua maioria, naturais do Minho, Douro, Trás-os-Montes, Açores e Madeira.
Alguns emigrantes “brasileiros” conseguiram regressar com verdadeiras fortunas. E a primeira preocupação desses “brasileiros” era comprar terrenos e construir uma casa luxuosa.
Pelas casa que habitavam, pela maneira de vestir e pelas ofertas que faziam à Igreja, tornaram-se pessoas influentes na vida das suas terras.
A Contagem da População
Nos séculos XIV e XV, em determinadas zonas de Portugal, fizeram-se numeramentos (contagens) com o fim de recolher dados para lançar impostos ou recrutar militares.
Nesses numeramentos só se contava o número de fogos (casas) e não de pessoas.
No século XVI, em 1527, D. João III ordenou que se fizesse um numeramento em todas as cidades, vilas e lugares existentes em Portugal. Com esse numeramento chegou-se à conclusão que a população era cerda de 1 100 000 ou 1 400 000 habitantes.
No início do século XIX não havia ainda qualquer registo correcto do número de habitantes existentes em Portugal.
Só em 1864 se fez, finalmente, o primeiro “recenseamento” da população portuguesa e, com ele, a contagem de todos os habitantes .
Utilizaram-se para isso boletins próprios, nos quais cada habitante era obrigado a declarar o nome, sexo, idade, estado civil e profissão.
A contagem demorou 2 anos e pôde concluir-se que Portugal tinha por essa altura cerca de 3 829 619 habitantes.
A partir de 1890 os recenseamentos ou censos passaram a fazer-se de 10 em 10 anos.
Quadro da População PortuguesaAnos Continente Açores e
Madeira
1864 3 829 618 358 792
1878 4 160 315 390 384
1890 4 660 095 389 634
1900 5 016 267 406 865
Educação
Durante este período, os vários governos da Monarquia Constitucional fizeram importantes reformas no ensino:
-tornaram o “ensino primário” obrigatório e gratuito e aumentaram o número de escolas primárias (algumas das quais do sexo feminino);
-alargaram o “ensino liceal” criando um liceu em todas as cidades capitais de distrito;
-fundaram as primeiras “escolas técnicas” (escolas comerciais, industriais e agrícolas).
Com estas reformas, pretendiam-se dar aos estudantes conhecimentos práticos e úteis que os preparassem para colaborar no desenvolvimento do país.
Mas, apesar de todas estas medidas, nos finais do século XIX, grande parte da população continuava analfabeta (sobretudo as mulheres) e só uma minoria tinha acesso ao ensino superior.
Quadro – n.º de Analfabetos
Anos Analfabetos
1878 84,4%
1890 79,2%
1900 78,6%
Entretanto, de acordo com os princípios liberais, o governo português publicou leis para acabar com algumas situações consideradas degradantes e desumanas.
Cronologia
1852 Abolição da pena de morte para os crimes políticos.
1867 Abolição da pena de morte para os crimes civis.
1867 Extinção das rodas dos enjeitados e sua substituição pelos hospícios.
1860 Abolição da escravatura em todos os domínios portugueses.