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POWERPOINT DISPONIVEL NO LINK http://www.slideshare.net/JooBastos4/trabalho-teoria-do-conhecimento A teoria do conhecimento procura através de múltiplas teorias, solucionar as seguintes problemáticas: 1 | Natureza do conhecimento - o conhecimento será uma representação subjetiva criada pelo ser pensante? (Idealismo) ou uma imagem objetiva criada pelo sujeito que corresponde à realidade (Realismo). 2 | Possibilidade do conhecimento: É possível adquirir um conhecimento verdadeiro, objetivo e absoluto da realidade em geral (Dogmatismo) ou apenas um conhecimento ou realidade aproximada? Será que podemos conhecer umas coisas e outras não ou o conhecimento é impossível (Ceticismo)? 3 | Origem do conhecimento - será que o conhecimento têm origem na razão (Racionalismo) ou na experiência (Empirismo). Esta última problemática, a da origem do conhecimento será aquela que iremos explicar mais exaustivamente, com o Racionalismo em foco.TRANSCRIPT
Teoria do ConhecimentoAnálise comparativa de duas teorias explicativas do Conhecimento
Trabalho elaborado
Por:
Bruno Silva
Carlos Martins
Carlos Santos
João Almeida
FILOSOFIA | Ano Letivo 11/12
Teoria do Conhecimento Análise comparativa de duas teorias explicativas do Conhecimento
João Bastos
Índice:I - Parte Introdutória
0 | Introdução.................................................................................................3
II - Problemáticas estudadas pela gnosiologia:
1 | Natureza do Conhecimento
1.1 | Realismo..........................................................................................4
1.2 | Idealismo.........................................................................................4
2 | Possibilidade ou Validade do Conhecimento
2.1 | Dogmatismo.....................................................................................5
2.2 | Ceticismo.........................................................................................6
2.3 | Ceticismo versus Dogmatismo e Criticismo.....................................7
3 | Origem do Conhecimento
3.1 | Empirismo........................................................................................8
3.2 | Racionalismo ...................................................................................9
3.3 | Racionalismo Dogmático de René Descartes...................................10
a) O método....................................................................................11
b) A dúvida.......................................................................................12
c) O cógito “Penso, logo existo”......................................................13
d) A existência de Deus....................................................................14
e) A teoria do erro e as três substâncias..........................................16
f) Conclusão....................................................................................17
3.4 | Racionalismo versus Empirismo.......................................................18
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Teoria do Conhecimento Análise comparativa de duas teorias explicativas do Conhecimento
0 | Introdução
Desde sempre o Homem sentiu curiosidade em desmistificar o fenómeno do
conhecimento mas logo constatou que esse fenómeno constitui algo relativamente complexo
e difícil de explicar.
A problematização e a reflexão face ao real que o Homem, na qualidade de ser
racional, faz, levaram-no a questionar-se sobre qual a fonte desse conhecimento que
habilitava o homem de capacidades para pôr em causa tudo aquilo que seja passível de gerar
dúvidas ou incertezas.
Ao refletir sobre esta realidade o homem concluiu que primeiramente se conhecem
ideias tal como são na realidade, mas posteriormente constatou que quer os sentidos quer a
própria razão nos faziam induzir em erro. Isto serviu de rastilho para uma análise extensiva e
um questionamento de praticamente todo o conhecimento.
Foi a partir destas reflexões no domínio do conhecimento que nasceu a teoria do
conhecimento ou gnosiologia que tem por objeto de estudo a possibilidade do conhecimento,
a sua origem, a sua natureza, o seu valor e limites e, ainda, o problema da verdade.
O conhecimento vai muito além da descrição no que toca à complexidade e resulta da
existência conjunta de três variáveis, o sujeito ou ser pensante a quem compete conhecer o
objeto, o objeto que se deixa conhecer e a relação que se cria entre ambos. Se qualquer uma
destas variáveis não estiver presente, a adquirição do conhecimento é impossível.
A teoria do conhecimento procura através de múltiplas teorias, solucionar as seguintes
problemáticas:
1 | Natureza do conhecimento - o conhecimento será uma representação subjetiva
criada pelo ser pensante? (Idealismo) ou uma imagem objetiva criada pelo sujeito que
corresponde à realidade (Realismo).
2 | Possibilidade do conhecimento: É possível adquirir um conhecimento verdadeiro,
objetivo e absoluto da realidade em geral (Dogmatismo) ou apenas um conhecimento ou
realidade aproximada? Será que podemos conhecer umas coisas e outras não ou o
conhecimento é impossível (Ceticismo)?
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Teoria do Conhecimento Análise comparativa de duas teorias explicativas do Conhecimento
3 | Origem do conhecimento - será que o conhecimento têm origem na razão
(Racionalismo) ou na experiência (Empirismo).
Esta última problemática, a da origem do conhecimento será aquela que iremos
explicar mais exaustivamente, com o Racionalismo em foco.
1 |Natureza do Conhecimento
O que é que conhecemos afinal? Os objetos em si mesmos ou meras
representações criadas pelo sujeito ao tentar percecionar o objeto? Para responder a estas
questões surgiram duas teorias filosóficas antagónicas: de um lado o realismo que defende
que quando vemos um ser, não o vemos de facto, observamos apenas uma representação. Por
outro lado, o realismo defende que quando vemos um objeto o apreendemos em si mesmo,
ou seja, vemo-lo tal qual como ele é na realidade.
1.1 | Realismo
Segundo o Realismo, o sujeito, apreende o objeto em si mesmo e como tal, consegue
sempre e de forma objetiva, conhecer a própria realidade, ou seja, a ideia que possui dos
objeto que apreende corresponde sempre à realidade. O realismo pode ser decomposto em
dois géneros: o realismo ingénuo e o realismo crítico.
O Realismo Ingénuo, atitude natural do homem que crê que as coisas são tal e qual
como as conhecemos, admite que se podem conhecer as coisas de forma absoluta e
verdadeira, podendo ser um conhecimento prático e utilitário e defende que se estabelece
uma relação de identidade entre a imagem que o sujeito capta e a realidade em si mesma.
O Realismo Crítico, por sua vez, apesar de admitir que a realidade é conhecida de
forma objetiva, distingue-se pelo facto de defender que a relação que se estabelece entre as
ideias apreendidas pelo sujeito com o próprio objeto não é uma relação de identidade, mas
sim de correspondência, isto é, a representação criada pelo sujeito com base na apreensão das
idiossincrasias do objeto não é igual ao objeto , contudo vai de encontro às especificidades que
fazem parte do objeto, isto é, limita-se a uma aproximação da realidade que torna possível a
existência de diferentes interpretações de um mesmo objeto .
1.2 | Idealismo
Inversamente ao defendido pelos realistas, os defensores do idealismo afirmam que o
objeto de conhecimento resulta exclusivamente da racionalidade e imaginação do sujeito pelo
que os fenómenos não são mais do que construtos da consciência humana, isto é, de
representações autónomas da autoria de cada indivíduo.
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É de salientar que esta perspetiva filosófica reduz toda a realidade às representações,
às ideias que o sujeito cria ao sair da sua esfera, entrar na do objeto e ingressar novamente na
sua, apreendendo as especificidades do objeto.
Assim sendo, o conhecimento assume para o idealismo um caráter subjetivamente,
contrariamente à objetividade e à existência da realidade em si mesma.
2 | Possibilidade do Conhecimento
Interrogarmo-nos acerca da possibilidade ou validade do conhecimento equivale a
questionarmo-nos se o sujeito apreende efetivamente o objeto.
Será possível conhecermos alguma coisa? Ou será que o conhecimento é impossível?
Para responder à interrogação emergiram duas perspetivas filosóficas extremadas: o
dogmatismo que responde afirmativamente à primeira questão, tese, e o ceticismo que
defendendo precisamente o contrário serve de antítese e ainda o criticismo que procura
aproximar as duas frentes e criar uma ponte entre elas, servindo, portanto, de síntese.
2.1 | Dogmatismo:
Para o dogmatismo não se pode colocar o problema do conhecimento, porque os
defensores desta teoria, não se apercebem do caráter relacional da interação sujeito- objeto,
daí que alguns filósofos lhe atribuam uma conotação pejorativa, e partem do princípio que o
sujeito apreende de facto o conhecimento. Assim sendo, para os dogmáticos o conhecimento
pode ser considerado como evidente, absoluto e necessário.
Os dogmáticos não põem em causa a possibilidade do conhecimento uma vez que
creem que os objetos nos são dados de forma absoluta e em si mesmos e que ao contactarmos
diretamente com as coisas elas não nos oferecem resistência.
O dogmatismo à semelhança do realismo ingénuo, atitude natural do homem que crê
que as coisas são tal e qual como as conhecemos, admite que se pode conhecer as coisas de
forma absoluta e verdadeira, podendo ser um conhecimento prático e utilitário e defende que
se estabelece uma relação de identidade entre a imagem que o sujeito capta e a realidade em
si mesma.
Ser dogmático é acima de tudo depositar confiança na razão sendo que, só através
dela é possível adquirir conhecimentos verdadeiros e certos (otimismo racionalista), daí que
filósofos como Descartes e Espinosa possam ser considerados defensores do dogmatismo.
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Já segundo a perspetiva Kantiana, o dogmatismo é o exercício da razão sem uma crítica
prévia da sua capacidade pelo que o dogmatismo está incumbido de investigar as questões
metafísicas sem ter previamente verificado as capacidades da razão nesse domínio.
Kant diz ainda, que não podemos conhecer as coisas em si, mas apenas os fenómenos,
isto é, a forma como elas nos são apresentadas.
2.2| Ceticismo:
Contrariamente ao defendido pelo dogmatismo, o ceticismo afirma sem qualquer
resiliência que o sujeito é incapaz de apreender o objeto de forma absoluta ou efetiva o que
implica que ninguém possua a verdade absoluta. O dogmatismo carateriza-se ainda por
duvidar da verdade das representações e por não admitir nenhum critério do
conhecimento.
Podemos distinguir três tipos de ceticismo: o ceticismo absoluto ou radical, o ceticismo
mitigado ou moderado e o ceticismo metafísico.
O ceticismo radical afirma que o conhecimento é impossível, porém um dado sujeito
ao proferir esta enunciação pressupõe a existência de um conhecimento - o conhecimento
segundo o qual nada é verdadeiro.
Para Pirron, defensor convicto do ceticismo absoluto, sendo impossível ao sujeito
apreender as idiossincrasias do sujeito, o juízo deve ser suspenso.
O ceticismo mitigado, por sua vez, trata-se de uma forma de ceticismo mais contida do
que o ceticismo radical dado que defende que não há conhecimentos ou verdades absolutas e
rigorosas, considerando que os conhecimentos são avaliados segundo a sua aceitação ou
plausibilidade, ficando a veracidade ou falsidade reduzidas a um papel secundário.
O ceticismo mitigado destaca-se ainda por impossibilitar a imposição da veracidade e
validade de uma tese uma vez que nada se pode conhecer em profundidade.
Por último, o ceticismo metafísico diz que podemos conhecer tudo aquilo que
podemos experienciar, tudo aquilo que possa ser definido no espaço e no tempo e que ocupe
espaço, ou seja, os fenómenos.
Deus e a alma sendo númenos constituem realidades impassíveis de serem
experienciadas, pois não ocupam espaço nem estão definidos num determinado contexto
espácio-temporal, pelo que não são suscetíveis de serem conhecidos. Daqui podemos concluir
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que a essência do ceticismo metafísico assenta no impossibilidade de conhecer realidades
abstratas limitando o nosso conhecimento a tudo aquilo passível de ser experienciado.
Os princípios da vida quotidiana são também muito “contrariados” pelo cepticismo,
senão vejamos: cada sociedade tem as suas regras, as suas leis, punições, condutas (…) e estas
são por isso muito relativas. Seguindo o exemplo do apedrejamento de mulheres até à morte,
este é visto em Portugal como desumano e imoral até, enquanto em várias sociedades/ países
ainda continua hoje em dia a ser praticado quando a mulher trai o marido.
2.3 | Ceticismo vs Dogmatismo e Criticismo
Problema Tese/Teoria Argumentos Representantes
Possibilidade de
conhecimento
(poderá o Homem
conhecer o
objeto?)
CETICISMO
Dúvida em conhecer a
verdade e a realidade:
Procurar saber, não se
contendo com a ignorância
fornecida atualmente,
através da DÚVIDA
Nada podemos conhecer com
certezas, pois não existe nenhum
critério seguro da verdade:
Suspender todos os juízos, pois todos
os saberes dependem de verdades
que não conhecemos com certezas
Pirro de Elis (grego,
a.C.)
Arcesilaos,
Carnéades,
Empiricus, etc.
Possibilidade de
conhecimento
DOGMATISMO
Possibilidade de conhecer
com certeza: atitude
natural e espontânea
(desde que somos crianças)
Atitude em que se afirmam
absolutamente certas posições sem as
justificar, por razões intrínsecas
(recorrendo ao princípio da
autoridade);
Crença de que o mundo é exatamente
da forma como o percebermos
Immanuel Kant in
Crítica da Razão Pura
O criticismo que serve de síntese entre ceticismo e dogmatismo reconhece que há
ideias a priori, que brotam da razão, e ideias à posteriori, nas quais o conhecimento surge após
a experiência.
O empirista David Hume ao reduzir o conhecimento possível aos limites daquilo que é
passível de ser observado e analisado (ceticismo metafisico) e impossibilitando as idades
inatas, evidentes (claras e distintas) e absolutas, reduz o conhecimento ao domínio da
probabilidade e plausibilidade fazendo que o empirismo possa ser encontrado no ceticismo
mitigado.
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René Descartes, representante da corrente Racionalista, irá basear-se no ceticismo
metódico que põe em cheque tudo aquilo que levante dúvidas ou incerteza para formular a
dúvida metódica.
3 | Origem do Conhecimento
Será que, para um conhecimento ser considerado autêntico, necessita de ser
imperiosamente universal e necessário ou um conhecimento que corresponda exatamente à
realidade? Ou será necessário que estas condições coabitem de forma a complementar-se?
Recorrendo à experiência somos capazes de verificar a autenticidade de uma dada verdade se
ela corresponder à realidade, se constituir um fenómeno. Assim sendo, fica apenas em aberto
a questão que se interroga-se acerca de qual a origem da qual provém os conhecimentos, que
nos permitem compreender a realidade na qual estamos inseridos e nos modifica enquanto
seres dialógicos?
3.1 | Empirismo
O empirismo é uma das possíveis respostas da origem do conhecimento.
O empirismo embora se tenha baseado no cartesianismo de René Descartes, afirma
que o conhecimento provém exclusivamente da experiência, à posteriori, estando, portanto,
limitado às experiências vivenciadas, cuja aprendizagem pode ocorrer por via de tentativas
pressupondo o erro.
Assim, o empirismo vai repudiar os conhecimentos que emanam da razão, as ideias
inatas, defendidas cabalmente por Descartes. O empirismo diz que o homem quando nasce
está vazio de conhecimento, que não conhece nada, é como que uma Tábua Rasa ou uma
folha em branco.
O empirismo é alicerçado pelo princípio da cópia, segundo o qual Todas as nossas
ideias são cópias das nossas impressões. Hume nega a existência de ideias inatas dado que
todas as nossas ideias têm uma origem empírica, isto é, em impressões externas (dados dos
sentidos) ou internas (sentimentos e desejos).
O conhecimento encontra-se duplamente limitado pela experiência, ao nível da sua
extensão (o entendimento é incapaz de ultrapassar os limites impostos pela experiência, que é
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a fonte do conhecimento) e a certeza (as certezas que possuímos referem-se apenas aos
números, ao ser, tudo aquilo que existe).
As ideias podem ser simples (como quente, dourado, salgado, agudo, leve) , se forem
captadas pelos órgãos dos sentidos, já Locke o defendia ao afirmar que , “nada pode existir na
mente que não tenha passado antes pelos sentidos”, ou complexas ( tais como a beleza, o
cheiro, universo, tulipa, casa, doenças) sendo que estas derivam da associação de ideias
simples.
Dado que Hume e os restantes defensores do empirismo negam a existência de ideias
inatas, é importante averiguar qual a origem empírica das ideias sendo que para tal
necessitamos de mostrar como as ideias mais complexas podem ser decompostas em ideias
simples e como estas se combinam de forma a formular ideias com maior complexidade.
O empirismo causou uma grande revolução na ciência, pois graças à valorização das
experiências e do conhecimento científico, o homem passou a buscar resultados práticos,
buscando o domínio da natureza. A partir do empirismo surgiu a metodologia científica.
Em suma, o empirismo baseia-se em três pilares:
- a experiência é a origem de todo o conhecimento;
- todas as ideias têm uma base empírica desde as mais simples até às mais complexas;
- refuta as ideias inatas;
- o objeto opõem-se ao sujeito.
3.2 | Racionalismo
O racionalismo considera a razão a fonte do conhecimento verdadeiro e que só através
dela se pode encontrar um conhecimento absoluto, imutável e universal sendo que este tipo
de conhecimento só existe quando é logicamente necessário e universalmente válido.
As demonstrações matemáticas constituem conhecimentos à priori, que são
logicamente necessários e universalmente válidos, o que faz com que negar essas
demonstrações seja cair em contradição. Contudo os racionalistas não negavam a existência
de conhecimentos à posteriori, resultantes da experiência, no entanto, não consideravam esse
conhecimento verdadeiro pelo facto de não ser um constructo da racionalidade humana
No racionalismo o sujeito impõe-se ao objeto através das noções que traz em si e
apreende-o socorrendo-se das quadros mentais humanos (observação, análise, distinção e
capacidade de problematização).
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O racionalista Platão admitiu a existência de dois mundos: o mundo sensível, ao qual
acedemos através dos sentidos e que é imperfeito e o mundo inteligível, com o qual
contactamos por via racional e que é absoluto. Considerando que a alma é imortal e que se
encontra no nosso corpo, Platão diz que nós enquanto seres pensantes podemos contemplar
as ideias imutáveis. Descartes foi outro filósofo que enveredou pela corrente racionalista e que
reconheceu a existência de ideias inatas , postas por Deus na mente humana e que só através
dessas ideias poderíamos atingir um verdadeiro conhecimento da realidade.
3.3 | René Descartes: o Racionalismo Dogmático
Para René Descartes e os restantes partidários da corrente filosófica comummente
designada por Racionalismo, segundo o qual é possível conhecer a origem de todo o
conhecimento e não apenas a daquele que se efetiva e interioriza experienciando, a razão é a
fonte primordial do conhecimento. É dela que brota o conhecimento verdadeiro, que se
denota por ser logicamente necessário e universalmente válido.
Partindo da aceção filosófica do termo lógico que nos remete para uma relação
preposicional fixa na qual S é imperiosamente P, facilmente nos consciencializamos de que
este tipo de conhecimento por não abrir espaço para a problemática, para o questionamento e
para a discussão de ideias, não permite exercitar a racionalidade humana, não permite
expandir os seus conhecimentos enquanto ser racional que reflete e que servindo-se do seu
livre-arbítrio assume uma dada posição mesmo que para tal tenha de se autoincumbir de por
em causa algo que é aceite e dado por adquirido pela generalidade. Em relação à aceção literal
do termo necessário, esta indica-nos que negar este tipo de conhecimento é cair em
contradição.
Assim e centrando-se na razão, o notável filósofo gaulês, procurou alcançar para além
dos fundamentos físicos ou terrenos, já enraizados na cultura e estrutura governativa da época
e suscetíveis de ser questionados e até mesmo refutados, os fundamentos metafísicos do
conhecimento que se destacaram por serem amplamente "inovadores", pois contrariamente a
todos os outros conhecimentos, estes são justificados como verdadeiros e absolutos porque
pressupõe a existência de uma Entidade Divina, procuram certezas e não permitem a assunção
de posições distintas, isto é, nos fundamentos metafísicos a divergência de posicionamentos
não é possível, o caminho proposto é o único pelo qual podemos enveredar, dizendo-se,
portanto, que o conhecimento metafísico é unívoco.
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Teoria do Conhecimento Análise comparativa de duas teorias explicativas do Conhecimento
Ao procurar justificar a verdade e a natureza absoluta do conhecimento alicerçando-se
em fundamentos que implicam a existência de algo transcendente , Deus, Descartes deitou por
terra o conjunto de argumentos reiterados pelos defensores do Ceticismo, que desconfiavam
da razão e dos sentidos e para quem não existiam verdades absolutas.
Partindo do principio de que a razão é a origem do conhecimento verdadeiro
(universal e necessário), as proposições da matemática assumem um caráter evidente, pois
não só não são suscetiveis de ser questionadas ou refutadas como também refletem a ação
conjunta de processos indutivos e dedutivos por parte da mente humana, já que têm origem
exclusiva na razão.
a) Método
René ao aperceber se da índole do conhecimento matemático, questionou-se acerca da
criação de um método inspirado nesta ciência exata para conquistar a verdade, método esse que
acabou por formular apoiado por um conjunto de quatro regras que ficariam vulgarmente
conhecidas por regras da evidência, da análise, da síntese e da enumeração, respetivamente,
permitindo orientar a razão e as operações fundamentais do espírito, intuição e dedução.
A primeira regra, a evidência reside na não aceitação de forma branda e irrefletida de
uma coisa como verdadeira sem a conhecer de facto, evitando a precipitação e dessa forma
limitar a aparição de dúvidas ou erros de qualquer espécie e a aceitar unicamente aquilo que seja
apresentado sobre a forma de um juízo claro e distinto.
A segunda regra, a da análise, comporta a divisão de cada uma das dificuldades com que
nos deparemos em tantas parcelas quantas fosse possível e necessário, em prol da obtenção de
melhores resultados para as colmatar.
A terceira regressa, da síntese não é mais do que uma ordenação dos pensamentos
partindo dos mais simples e terminando nos mais complexos.
A quarta e última regra, a da enumeração, elucida-nos para o facto de devermos fazer
enumerações tão completas e gerais, que não permitissem a omissão.
A intuição corresponde a atos de apreensão direta e imediata de noções simples,
evidentes e indubitáveis, no fundo do particular para o geral e a dedução, por sua vez, carateriza-
se pelo encadeamento das intuições, envolvendo um exercício mental, desde aquilo que é
evidente até às consequências necessárias, grosso modo, do geral para o particular.
A título meramente exemplificativos debrucemo-nos sobre o polígono que desde sempre
classificamos como sendo um triângulo: intuitivamente é fácil percebermos que é delimitados por
três arestas. A partir daí podemos deduzir que a aresta maior tem que ser menor do que a soma
das duas mais pequenas, um facto que é logicamente necessário.
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Teoria do Conhecimento Análise comparativa de duas teorias explicativas do Conhecimento
A necessidade da existência de uma ordem entre os vários pensamentos, prende-se com
o facto de a sabedoria humana permanecer una e idêntica e, por isso, o conhecimento assume
um cariz absoluto. Todas as ciências se reduzem à racionalidade humana, pelo que é
imprescindível procurar os fundamentos das ciências.
A filosofia enquanto ciência pode ser equiparada metaforicamente a uma árvore na qual a
raiz seria a metafísica, a ideia de Deus perfeito que sustenta o conhecimento, tão querida a
Descartes, o tronco seria a física, ou seja, os fundamentos colocados pela entidade divina na
consciência dos seres pensantes a fim de provar a ciência, e os ramos seriam as restantes ciências,
isto é, os conhecimentos que se procuraram alicerçar ou colher aceitação ou validade.
b) A dúvida
A dúvida traduz uma das etapas cruciais do método e é através dela que repudiamos
tudo aquilo que nos levante a mínima suspeita de incerteza. É de realçar o facto de a dúvida
ser um sentimento terreno, que afeta somente as verdades que servem os homens concretos,
os seres finitos e nunca as verdades da Revelação Divina, uma vez que Deus sendo o expoente
máximo da perfeição, não levanta qualquer tipo de incerteza e consequentemente quaisquer
dúvidas. A dúvida pode ser definida como um instrumento da razão que serve a verdade e
justifica-se ou desencadeia-se na sequência de:
- preconceitos, ideias pré-definidas e dos juízos precipitados que formulamos na
infância e que interiorizamos;
- do caráter enganador dos sentidos daí que seja imprudente confiar demasiado neles;
- não termos um critério que nos permite diferenciar o sonho da vigília, isto é, pelo
facto de sermos seres finitos e limitados, por vezes, não conseguimos discernir o sonho da
realidade, nem o sonho de um sono profundo.
- erros na formulação de demonstrações matemáticas.
- A existência de um deus enganador ou um génio maligno que nos engana no que se
refere à verdade, fazendo com que estejamos sempre enganados a respeito da verdade, das
demonstrações matemática e da existência das coisas.
Porém esta última hipótese, de Deus enganador parece conduzir-nos a um beco sem
saída e enveredar por ela seria deturpar a estrutura basilar do racionalismo, pois se para
Descartes, Deus é perfeito, não pode ser paralelamente enganador.
Por conseguinte, a duvida cartesiana pode ser sucintamente caraterizada por ser:
- Metódica: dado que é utilizada como um meio para atingir a verdade absoluta e
unívoca;
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Teoria do Conhecimento Análise comparativa de duas teorias explicativas do Conhecimento
- Provisória: não constitui um fim em si mesma (postura defendia pelos céticos)
- Hiperbólica: uma vez que rejeita tudo que gera a incerteza (dúvida);
- Universal: abrange sobre o conhecimento em geral;
- Radical: recai sobre as origens do conhecimento – os seus fundamentos;
A dúvida é uma suspensão do juízo uma vez que o juízo procura essencialmente a
certeza, tem uma função catártica ou purificadora, dado que tem como finalidade libertar o
espírito dos erros com vista a alcançar o conhecimento absoluto e a verdade inquestionável e
indubitavel. A dúvida denota-te por ser um exercício autónomo, que permite que nos
libertemos de preconceitos e falsos ideias a fim de ser possível de alcançarmos fundamentos
sólidos sobre o conhecimento.
c) O cogito (Penso, logo existo)
Sendo um ato livre da vontade, isto é, algo que advém a partir do exercício do livre-
arbítrio, a dúvida acabará por nos conduzir uma verdade incontestável: a afirmação da nossa
existência, enquanto seres que pensam e que duvidam. Enquanto seres pensantes não haverá
ninguém capaz de nos convencer de que não existimos, pois é um facto que constitui algo de
evidente, de certo, de inabalável. É deste registo que decorre a natureza absoluta da afirmação
Penso, logo existo (Cogito ergo sum) que é indubitavelmente e imperiosamente uma
afirmação evidente e indubitável, de uma certeza inatingível e inabalável, obtida por intuição,
e que servirá de molde para as várias afirmações verdadeiras.
Para o racionalismo o critério de verdade consiste na evidência que depende
fundamentalmente da clareza e da distinção das ideias.
A clareza do conhecimento manifesta-se quando perante uma análise de uma fração
do real, que se destaca para facilitar a apreensão das suas idiossincrasias por parte do sujeito.
Contudo para que este as apreenda efetivamente é imprescindível que esteja atento.
A distinção consiste na separação de uma ideia relativamente a outras, de tal modo
que a ela só se associem os elementos que a componham de facto.
Na qualidade de primeira verdade, que serve de paradigma para as várias enunciações
verdadeiras, o cogito apresenta, a condição da dúvida hiperbólica, já que existir é a condição
para se poder duvidar e ao mesmo tempo, impõe-se como uma exceção à universalidade da
dúvida .
O cogito é a única realidade da qual não podemos duvidar, realidade essa que é a
nossa própria existência.
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Teoria do Conhecimento Análise comparativa de duas teorias explicativas do Conhecimento
Ao apreendermos intuitivamente a existência constatamos que ela é indissociável do
próprio pensamento e , assim, a natureza do sujeito consiste no pensamento.
O pensamento refere-se, a toda atividade racional e é equivalente à alma, que é
conhecida à priori e de forma bem mais simples do que aquilo que os preconceitos nos fazem
crer. Se hipoteticamente não nos abstivéssemos de quaisquer preconceitos , a alma seria à
posteriori pois não seria mais do que uma avaliação ou opinião subjetiva por parte do Homem.
Contudo ainda não afastamos a hipótese do deus enganador, responsável por
eventuais percalços que possam originar erros nas demonstrações . Para tal necessitamos de
comprovar a existência de um deus que só não nos engane como sirva de fundamento do ser e
do conhecimento que só assim nos trará segurança e nos permitirá garantir as verdades
afastando os fantasmas do ceticismo, segundo o qual a certeza não constitui um fim em si
mesma.
d) Existência de Deus
Apesar de evidente, o cogito por si só , é insuficiente para fundamentar o
conhecimento. A certeza Penso, Logo Existo é uma certeza subjetiva uma vez que para
conseguirmos alcançar uma efetiva fundamentação do conhecimento necessitamos não só de
ter bem presente o cógito como descobrir a origem da qual emana o conhecimento e da qual
advém a existência do sujeito pensante.
Começando pelas ideias que estão presentes no sujeito e possuem um conteúdo que
representa algo . Essas ideias podem ser adventícias, factícias ou inatas.
As ideias adventícias têm origem nas experiências sensíveis. São exemplos destas
ideias a cor, a textura, o sabor de um determinado alimento.
As ideias factícias, por sua vez, brotam da imaginação do sujeito. São exemplos de
ideias factícias as personagens mitológicas como os deuses e fictícias como as carateres do
mundo das séries de animação.
Por último, as ideias inatas são aquelas que advém da razão sendo parte integrante
dela. As ideias de pensamento, de existência bem como os procedimentos matemáticos são
exemplos de inatas intrínsecas à razão.
As ideias inatas são, à semelhança do que já vimos no cógito, todas aquelas que sendo
evidentes são inequivocamente claras e distintas pois a evidência é como já referimos uma
consequência da conjugação da clareza e distinção de todo e qualquer conhecimento. Para
além de seres evidentes, estas noções denotam-se por serem eternas, verdadeiras e imutáveis,
puramente inteligíveis e independentes, quer isto dizer que a sua compreensão depende
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Teoria do Conhecimento Análise comparativa de duas teorias explicativas do Conhecimento
essencialmente da racionalidade, não sofrendo qualquer metamorfismo passível de ser
despoletado pelo universo sensível que sendo do domínio do erro nos pode atraiçoar, na
medida em que contribui para que dúvidas e incertezas se levantem daí a necessidade de uma
ascese da duvida, que percorrerá um percurso até atingir o mundo inteligível ou razão que
para Descartes é um sinónimo de alma.
O mundo inteligível é um domínio no qual não há espaço para a mais diminuta dúvida
ou incerteza nem o erro é admissível e só após o percorrimento de todo o percurso desde os
sentidos até à razão, é que finda a ascensão da dúvida.
De entre todas as idades inatas que estão contempladas no pacote-base do ser
humano, a que merece mais pompa e destaque é a noção de um ser omnisciente (que tudo
sabe), omnipotente (a quem tudo é possível) e sumamente perfeito e , por conseguinte,
incapaz de ser passível de ser interrogado, considerado incerto ou duvidoso porque é do
domínio da evidência.
A ideia de ser perfeito servirá de mote para a investigação relativa à existência da
divindade vulgarmente reconhecida por Deus sendo que Descartes comprova a sua existência
invocando três provas:
- A primeira prova parte da constatação de que na ideia de ser perfeito estão contidas
todas as perfeições sendo a existência uma dessas certezas. Por consequência podemos
deduzir que Deus existe, uma vez que não levanta quaisquer erros ou dúvidas pelo simples
facto de ser perfeito. O facto de existir é inerente à essência de Deus e , por isso, apresenta um
caráter necessário e eterno. Esta prova é designada por argumento ontológico, já que prova a
existência de Deus a partir da sua essência, sendo desenvolvida à priori, sem recorrer à
causalidade ou à experiência.
- A segunda prova parte igualmente da ideia de ser perfeito. Podemos procurar a causa
que faz com que essa ideia faça parte de nós sendo que essa causa não poderá ser o sujeito
pensante pela razão de ser finito, imperfeito, e é ele próprio causado por algo e de essa causa
representar uma substância eterna. Daqui podemos deduzir que nem o sujeito pensante, nem
o nada nem qualquer outro ser imperfeito pode ser a causa de Deus dado que ele é a causa
incausável, não tem origem em nada contudo ele é a origem de tudo (principio da
causalidade), ele é o ser perfeito e a causa primordial de todas as outras perfeições.
- A terceira prova baseia-se também no principio da causalidade e procura
desmistificar qual a causa por detrás da existência do ser pensante que é finito, limitado,
imperfeito sendo que a causa não será ele pela razão de não constituir algo de perfeito. A
perfeição encontra-se sim na entidade divina.
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Em suma podemos dizer que Deus, sendo o expoente máximo da perfeição não é um
ser enganador, pelo que nos encontramos libertos da dimensão hiperbólica e mais corrosiva
da dúvida que fazia com que se refutasse tudo aquilo que levantasse incertezas. Deus é a
garantia da verdade objetiva e evidente das ideias claras e distintas. Sendo o obreiro
responsável pela conceção das verdades eternas, a origem do ser e o fundamento da certeza,
Deus garante a adequação entre a evidência racional e a realidade legitimando o poder da
ciência pois se o homem prova a ciência através de um rol de fundamentos que se são
colocados na sua mente por Deus, constatamos que a ele pertence o papel de provar a ciência.
Deus é o fundamento do ser (tudo o que existe) e do conhecimento uma vez que garante que
tudo o que existe, o cógito, é a base do conhecimento científico da realidade, das verdades
absolutas, imutáveis, eternas, universais e necessários. É ainda de realçar que sendo perfeito,
Deus não pode ser responsabilizado pelos nossos erros.
e) A teoria do erro e as três substâncias
Relativamente ao erro, é importante enfatizar que na formação de juízos, quer o
entendimento quer a vontade, necessária para darmos o consentimento aos juízos que o
entendimento enuncia assentindo ou refutando esses mesmos juízos, são cruciais.
Seria imprudente da nossa parte não explicar donde ele advém . O erro surge como
reflexo da imperfeição humana. Quando a vontade humana é precipitada, isto é, quando a
vontade do ser pensante se sustenta em demasia no livre-arbítrio, estamos mais suscetíveis a
errar nas demonstrações matemáticas e ao levantamento de dúvidas ou incertezas aquando
da análise de uma fração da realidade. De forma a combater ou pelo menos decrescer a
ocorrência de erros, o nosso pensamento deve respeitar todas as regras metódicas do
racionalismo: evidência, análise, síntese e enumeração.
No que diz respeito à fração do real que são os corpos, só o conceito de extensão
(comprimento, largura e altura) nos fornece um conhecimento claro e distinto, já que um
determinado corpo para existir ocupa espaço sendo que para tal necessita de ser
tridimensional tendo um determinado comprimento, largura e altura.
Qualidades objetivas como a grandeza, a duração, a estrutura... contrastam com as
qualidades subjetivas de que são exemplo a cor, o sabor, a cor, o som, etc, que devido ao
caráter relativo não estão presentes nos corpos.
Para Descartes, podemos assim, ter ideias claras e distintas dos atributos dos três tipos
de substâncias: a substância pensante, a substância extensa e a substância divina.
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- A substância pensante (res cogitans) está relacionada com o cogito "Penso, logo
existo" e o seu atributo essencial é o pensamento.
- A substância extensa (res extensa) pretende-se com o espaço ocupado por um corpo
ao existir e seu atributo mais caraterístico é, portanto, a extensão.
- A substância divina (res divina), cujo atributo essencial é como já vimos, a perfeição,
que advém em virtude da simplicidade divina e que confere a Deus vários atributos:
omnisciência, omnipotência e suma perfeição.
Daqui podemos inferir que o ser humano é o produto da reação entre a alma ou razão
(substância pensante) e o corpo (substância extensa).
f) Conclusão
Descartes usou um método que lhe permitiu fundamentar o conhecimento humano
dado que através de Deus podemos justificar a existência e as causas por detrás da presença
dos seres bem como o próprio conhecimento uma vez que ele garante que tudo o que existe.
As ideias fundamentais são inatas, opondo-se à postura empirista segundo a qual as
ideias deviam ora da experimentação ora da imaginação.
O sujeito impõe-se ao objeto através das noções que trás consigo, das tais ideias
inatas, que emanam da razão. A razão, desde que devidamente ordenada, isto é, desde que
siga as regras metódicas, é capaz de alcançar verdades universais, imutáveis e necessárias,
traduzidas num conhecimento que sendo claro e distinto se afirma como evidente.
Desde modo, os princípios ou fundamentos do conhecimento podem ser sintetizados
em algumas verdades essenciais, que servirão de molde para a compreensão das restantes
verdades quotidianas. São elas:
- a existência do pensamento ou alma;
- a existência de Deus e a consideração dos seus atributos: omnisciente (que tudo
conhece), omnipotente (com poder que lhe permite tudo), sumamente perfeito (não levanta
quaisquer duvidas e incertezas), constitui uma causa em si mesma;
- a existência de corpos extensos, isto é que ao existir ocupam espaço (comprimento,
largura e altura).
Contudo e como acabou de ser dito, o fundamento último do conhecimento e de toda
a realidade é a Entidade Divina, que não só não pode ser responsabilizado pelos erros
humanos, que se devem a uma precipitação causada por uma sustentação incomportável e
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exagerada da vontade sobre o livre-arbítrio, como legitima o poder da ciência e torna o
conhecimento válido e objetivo.
Servindo-se da dúvida metódica , caraterizada por obedecer às regras da evidência, da
análise, da síntese e da enumeração e por ser metódica, provisória, hiperbólica, universal e
radical, Descartes procurou combater o dogmatismo do realismo ingénuo, no qual as causas
são tal qual como aparecem, assim como a submissão inconsciente e irrefletida a qualquer tipo
de autoridade. No entanto, ao depositar grande confiança na razão e ao considerar ser
possível alcançar a certeza e a verdade, a sua filosofia acaba por se enquadrar no âmbito do
dogmatismo segundo o qual o sujeito apreende efetivamente as caraterísticas do objeto,
opondo-se assim ao ceticismo.
3.4| Racionalismo (R) versus Empirismo (E)
E - admite a existência de duas fontes de conhecimento, a experiência e a razão
(pensamento), mas considera a experiência a fonte fundamental do conhecimento;
R - admite a existência de duas fontes de conhecimento, a experiência e a razão
(pensamento), mas considera a razão ou o pensamento a fonte fundamental de
conhecimento;
E - o conhecimento de facto (questões de facto) é adquirido pela experiência (a
posteriori) dado que a razão nada nos diz sobre o mundo exterior. Hume defende que as
crenças básicas não têm um carácter racional (a priori);
R - a justificação do conhecimento é dada pela razão ou pelo pensamento. A primeira
certeza cartesiana, motor de todo o conhecimento, o cogito (penso, logo existo), é adquirida
pela razão. Descartes defende que as crenças básicas têm um carácter racional(a priori);
E - a razão nada nos diz sobre o mundo: os conhecimentos sobre o mundo dos factos
têm o seu fundamento na experiência;
R - os sentidos nâo merecem confiança (enganadores);
E - nega a existência de ideias inatas. O conhecimento tem origem nas impressôes.
R - reconhece um papel fulcral às ideias inatas consideradas como o princípio do
conhecimento;
E - todas as nossas ideias têm origem nas impressões, isto é, são cópias das nossas
impressões, externas (dados dos sentidos) ou internas (desejos, sentimentos, etc). As ideias
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simples são cópias directas das impressões e as ideias complexas são combinações de ideias
simples geradas pela imaginação;
R - as ideias inatas são ideias provenientes da razão, claras e distintas, que não têm
origem nos sentidos, garantindo a certeza e a universalidade do conhecimento. Por sua vez,
descartes considera que as ideias adventícias, provenientes dos sentidos, como ideias falíveis,
incertas e confusas, que não conduzem ao conhecimento verdadeiro;
E - limites do conhecimento: a experiência (impressões).
R - problema dos limites do conhecimento: crença na certeza inabalável do
conhecimento e no conhecimento universal (fundamentado na existência de deus).
E - defende um cepticismo moderado ou mitigado com base nos seguintes
argumentos:
1. Ausência de justificações para as crenças na existência do mundo exterior e na
uniformidade da natureza;
2- consciência dos limites do entendimento humano. Apesar do princípio de
causalidade não ser mais do que uma crença subjectiva, o produto de um hábito, sem essa
crença, não existiria.
R - para decidirmos quais as crenças que podemos aceitar como verdadeiras, temos de
rejeitar como falso tudo o que não seja indubitável (dogmatismo).
Ora há um conhecimento que resiste a todas as dúvidas cépticas: o cógito (penso, logo
existo) que é justificado pelo ninguém ser capaz de nos convencer de que não existimos, pois
esta aceção ou visão constitui algo de evidente, de certo, de inabalável.
Bibliografia:
Paiva, Marta; Tavares, Orlanda; Borges, João Ferreira; Contextos, Porto Editora, 2012
A Arte de Pensar, Filosofia 11º Ano,
Lopes, António. Galvão, Pedro, Preparação para o exame Nacional 2012, Porto editora, 2012.
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