tese de mestrado mae - cidadania.doc
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Índice
Introdução..............................................................................................................15
1. Desafios da Educação para a Cidadania..........................................................21
1.1. Cidadania, escola e Educação para a cidadania....................................................21
1.2. A LBSE e a valorização da educação como construtora de cidadania...................30
1.2.1. A Educação para a cidadania como exercício de cidadania.....................................34
1.2.2. A Educação para a cidadania como desafio à sociedade.........................................38
1.2.3. A Educação para a cidadania como desafio aos docentes.......................................42
1.2.4. A Educação para a cidadania e o protagonismo dos alunos.....................................51
1.2.5. A Educação para a Cidadania e o clima de escola/cultura escolar...........................52
1.2.6. A Educação para a Cidadania e a interacção Escola-Família...................................55
1.2.7. A Educação para a Cidadania como responsabilidade partilhada............................57
1.3. Educação para a Cidadania em Portugal: um percurso construído........................59
1.3.1. Área-Escola e DPS/EMR e do Decreto-Lei n.º 286/89..............................................60
1.3.2. A Educação para a Cidadania e a Formação Cívica no Decreto-Lei n.º 6/2001.......64
1.3.3. Avanço ou recuo da educação para a cidadania na prática docente........................70
1.3.4. Aprendizagens, competências e processos em Educação para a Cidadania...........71
1.3.5. Currículo explícito na concretização da educação para a cidadania.........................81
1.3.6. Educação para a cidadania em manuais escolares..................................................87
1.3.7. A formação para a Educação para a Cidadania em Portugal....................................96
1.4. Educação para a Cidadania na Europa: currículo, objectivos e conteúdos..........125
2. A Educação para a Cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas.....131
2.1. Objectivos e metodologia do estudo.....................................................................131
2.2. Um Agrupamento de Escolas e seu contexto.......................................................134
2.3. Apresentação e discussão dos resultados............................................................139
2.3.1. Análise comparativa da EC na Definição de problemas da turma...........................141
2.3.2. Análise comparativa da EC na Definição de prioridades.........................................147
3. Confronto de paradigmas em Educação e Educação para a Cidadania.........161
3.1. Educação para todos e Educação para cada um.................................................161
3.2. Educação para a heteronomia ou educação para a autonomia............................172
Conclusão............................................................................................................176
Bibliografia...........................................................................................................187
Anexos.................................................................................................................193
Maria Cândida Jardim
SIGLAS
1.º CEB – primeiro ciclo do ensino básico
AAE – Auxiliar de Acção Educativa
AE – Agrupamento de Escolas
AEC – Actividades de Enriquecimento Curricular
CFC – Cursos de Formação para a Cidadania
Cid-org – Cidadania organizacional
Cid-prof – Cidadania do professor
DEB – Departamento de Educação Básica
DPS – Desenvolvimento Pessoal e Social
EB1– Escola Básica do 1.º ciclo
EC – Educação para a cidadania
ECTS – Sistema de transferência de créditos europeu
EFA – Educação e Formação de Adultos
ES– Ensino Superior
ESE – Escola Superior de Educação
IDN – Instituto de Defesa Nacional
IPSS – Instituição Particular de Solidariedade Social
JI – Jardim-de-infância
LBSE – Lei de Bases do Sistema Educativo
ME – Ministério da Educação
NAC – Áreas Curriculares não Disciplinares
PCA – Percurso Curricular Alternativo
PCD – Programa de Curta Duração
PCT – Projecto Curricular de Turma
PMEA – Programa Mundial Experimental de Alfabetização
PPCS – Programa de Promoção de Competências Sociais
RDAT – Registos diários das actividades da turma
TI – Tecnologias da Informação
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Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Introdução
O título completo desta dissertação, que não pode ser usado por razões formais, seria:
As práticas no 1.º ciclo do Ensino Básico num Agrupamento de Escolas decorrentes da
Reorganização Curricular de 2001 em Portugal no âmbito da Educação para a Cidadania.
Se houvesse apenas ser e não-ser, este trabalho não teria sido começado. A educação é
uma «utopia necessária», ou seja, pela educação pretendemos construir e ajudar a
construir o que ainda não é, mas esperamos que venha a ser num mundo em constante
transformação acelerada. Os perpétuos problemas da educação estão sempre presentes
de maneira sempre renovada: O que é educar? Quem educa? Para quê a educação?
Qual o lugar da educação para a cidadania (no 1.º ciclo do ensino básico)? Ao longo do
tempo muitas respostas teóricas e práticas têm sido dadas a estas questões.
A Declaração Mundial sobre Educação para Todos não reforça a tónica da
obrigatoriedade escolar, mas muda de paradigma apontando a educação para todos
como satisfação das necessidades básicas de aprendizagem de cada um (Unesco,
1998). Mas ainda se está longe de uma cidadania mundialcidadania mundial, alicerçada em valores
fundamentais para as relações internacionais no século XXI, como a liberdade, a
igualdade, a solidariedade, a tolerância, o respeito pela natureza, a responsabilidade
comum pelo destino do planeta e pelo bem-estar de todo ser humano (Declaração do
Milénio, 2000). Estamos a caminho. E a educação pode e tem de dar o seu contributo
para que os princípios de justiça social e económica, entre as nações e dentro delas, a
tomada de decisões de maneira cooperativa a todos os níveis da sociedade, a igualdade
de género, a harmonia na pluralidade racial, étnica, nacional e religiosa, e a disposição
de se sacrificar pelo bem comum…venham a tornar-se uma realidade. A Agenda 21 no
capítulo 36.3 refere que a educação - formal, não - formal e informal é, sem dúvida, a
maneira mais eficaz de moldar os valores, atitudes, comportamentos, habilidades e
competências que capacitarão os povos do mundo a agir de acordo com os interesses de
longo prazo do planeta e da humanidade como um todo (ONU, 1992).
A Estratégia de Lisboa opta claramente pela defesa do modelo social europeu como
triângulo constituído por valor da pessoa, estado-providência e educação-formação para
que cada um encontre lugar nesta sociedade inclusiva ao longo de toda a vida onde é
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Maria Cândida Jardim
preciso garantir lugar para todos pelo desenvolvimento da cidadania activa, produtiva e
solidária (Conselho da União Europeia, 2000). A Recomendação do Parlamento Europeu
e do Conselho, de 23 de Abril de 2008, procura a instituição do Quadro Europeu de
Qualificações para a aprendizagem ao longo da vida para todos no grande espaço
europeu pela diversificação das competências de cada um (JO, n.º C 111, de 6 de Maio
de 2008), constituindo-se o referencial europeu da educação para a cidadania produtiva e
inclusiva, transposta pela Portaria n.º 782/2009 de 23 de Julho: integrando e articulando a
educação e formação formais ou não-formais; possibilitando a identificação e
comparabilidade do valor da educação e formação no mercado de trabalho e noutros
contextos da vida pessoal e social; promovendo o acesso, a evolução e a qualidade das
qualificações; definindo referenciais para os resultados de aprendizagem associados aos
diferentes níveis de qualificação; correlacionando as qualificações nacionais com o
Quadro Europeu de Qualificações. E, neste momento, discute-se a Estratégia Europa
2020 (2010) que aponta para um desenvolvimento, uma sociedade e uma cidadania com
três prioridades: inteligente-arguto, sustentável, inclusiva «– Smart (based on knowledge
and innovation); – Sustainable (more resource efficient, greener and more competitive
economy); – Inclusive (fostering a high-employment economy delivering economic, social
and territorial cohesion)…». Na União Europeia o sucesso deixa de ser apenas o
tradicional sucesso escolar medido pela própria escola, para ser a própria inclusão na
vida activa medida pela sociedade toda. Em 2000 a Estratégia de Lisboa definia como
medida que a própria escola (e os centros de formação) se transformassem «[…] em
centros locais de aprendizagem polivalentes, acessíveis a todos […]» (Conselho da
União Europeia, 2000: 10) e «[…] cada cidadão deverá estar provido das competências
necessárias para viver e trabalhar nesta nova sociedade da informação […]» (Conselho
da União Europeia, 2000: 3). A nova sociedade baseada no conhecimento proporciona
um tremendo potencial de redução da exclusão social mas também acarreta o risco de
criar um fosso cada vez maior entre os que têm acesso aos novos conhecimentos e os
que deles são excluídos. Para se evitar este risco e maximizar estas novas
potencialidades, deverão ser desenvolvidos esforços no sentido de melhorar as aptidões,
de promover um acesso mais amplo aos conhecimentos e às oportunidades e de
combater o desemprego, como é referido no ponto 32 da Estratégia de Lisboa «[…] a
melhor salvaguarda contra a exclusão social é o emprego» e o trabalho (the best
safeguard against social exclusion is a job) (Conselho da União Europeia, 2000: 13). Hoje
encontrar lugar para todos e para cada um é o desafio do desenvolvimento das
competências na Europa em competitividade dentro da Europa e com o resto do mundo.
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Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
É esta cidadania europeiacidadania europeia que é chamada a ser preparada pela educação e formação em
toda a Europa, uma educação e formação orientada para que cada um se desenvolva o
mais possível, com autonomia em liberdade e responsabilidade, mas com um «job», um
trabalho com que contribua para a coesão social entre todos na solidariedade.
Isto vem levantar muitos e novos problemas à educação na Europa e particularmente às
escolas europeias. Será critério de cidadania na Europa apenas a produtividade?
Reduzir-se-á a cidadania europeia apenas à cidadania produtiva? A educação deve
formar para a vida activa, mas deverá limitar-se a formar bons técnicos e trabalhadores
ricos que pagam muitos impostos, mas para quem não interessa, nem para si nem para
os outros, a felicidade, a liberdade, a autonomia, a solidariedade para com os mais
desfavorecidos, a paz entre todos, a melhoria do meio ambiente, a poupança de
energia…? De que cidadania estamos a falar?
Em 1998, no Reino Unido, o Relatório Crick / Crick Report (1998) recomendava um lugar
consolidado no currículo para a Educação para a Cidadania e para a Democracia nas
escolas em interacção com a Educação Pessoal, Social e para a Saúde (PSHE –
Personal, Social and Health Education) e o Desenvolvimento Espiritual, Moral, Social e
Cultural (SMSC – Spiritual, Moral, Social and Cultural Development).
Em Portugal, a Lei de Bases do Sistema Educativo de 1986 foi regulamentada na
organização curricular num primeiro período de 1989 a 2001 pelo Decreto-Lei n.º 286/89
e num segundo período desde 2001 pelo Decreto-Lei n.º 6/2001. O Decreto-Lei n.º
286/89 introduziu a «área-escola», como área curricular não disciplinar a concretizar em
actividades e projectos multidisciplinares, e a disciplina de Desenvolvimento Pessoal e
Social, onde se concretizariam de modo especial as matérias enunciadas no n.º 2 do
artigo 47.º da LBSE; previa ainda um programa de educação cívica para participação nas
instituições democráticas a concretizar na área-escola do ciclo terminal da escolaridade
obrigatória. O Decreto-Lei n.º 6/2001 prevê nos princípios orientadores a «integração,
com carácter transversal (e transdisciplinar no âmbito do ensino básico - art. 6.º-1), da
educação para a cidadaniaeducação para a cidadania em todas as áreas curriculares» (art. 3.º-d) e uma área
curricular não disciplinar de «formação cívica, como espaço privilegiado para o
desenvolvimento da educação para a cidadaniaeducação para a cidadania, visando o desenvolvimento da
consciência cívica dos alunos como elemento fundamental no processo de formação de
cidadãos responsáveis, críticos, activos e intervenientes, com recurso, nomeadamente,
ao intercâmbio de experiências vividas pelos alunos e à sua participação, individual e
colectiva, na vida da turma, da escola e da comunidade» (art. 5.º-3-c). O ponto 5 do art.
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Maria Cândida Jardim
5.º remete para a autonomia das escolasautonomia das escolas, a implementação de «outros projectos eprojectos e
actividades que contribuam para a formação pessoal e social dos alunosactividades que contribuam para a formação pessoal e social dos alunos, nas quais se
inclui, nos termos da Constituição e da lei, a Educação Moral e Religiosa, de frequência
facultativa». E, nos anexos, a matriz curricular, arruma as três áreas curriculares não
disciplinares (Área de Projecto, Estudo Acompanhado, Formação Cívica), bem como a
Educação Moral e Religiosa e as Actividades de Enriquecimento na formação pessoal e
social, que perde seu carácter transversal e transdisciplinarcarácter transversal e transdisciplinar, sendo agora atribuído esseagora atribuído esse
carácter à Educação para a cidadaniacarácter à Educação para a cidadania. Na sequência deste decreto-lei é publicado a 21
de Setembro do mesmo ano, o novo Currículo Nacional do Ensino Básico. Os dois
documentos pressupõem uma nova visão de desenvolvimento e gestão do currículo e
uma nova postura da escola e do professor face às aprendizagens e face aos saberes,
uma nova forma de encarar a profissão, exigindo novas competênciasnovas competências e um espírito mais
aberto às mudanças que, a um ritmo mais rápido que o previsto, se vão operando na
sociedade e reflectindo na instituição familiar. É neste contexto que vamos tratar da
«educação para a cidadania» no 1.º CEB.
O que é, então, a educação para a cidadania em Portugaleducação para a cidadania em Portugal? Sendo a área curricular não
disciplinar de Formação Cívica, considerada como o espaço privilegiado para a educação
para a cidadania e não existindo “programa”, que conceitos e que metodologias os
docentes utilizam nas suas práticas? Ou mais do que conteúdos constitui sobretudo a
formaforma de ser, de estar com, de motivar, de envolver, de justificar…? Que lugar atribuem
os docentes nos vários documentos configuradores do currículo à educação e formação
pessoal e social? Que lugar ocupa nas aprendizagens a realizar pelos alunos? Que
influências foram trazidas pela Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990),
pela Estratégia de Lisboa (2000) / Estratégia Europa 2020 (2010) e pela Recomendação
do Parlamento Europeu e do Conselho (2008) sobre a instituição do Quadro Europeu de
Qualificações para a aprendizagem ao longo da vida para que todos e cada um
encontrem e / ou construam o seu lugar na sociedade inteligente-arguta, sustentável,
inclusiva?
Não se pretende responder exaustivamente a todas estas questões, mas tão-somente
procurar contribuir para clarificar e esclarecer algumas delas. Na nossa perspectiva a
educação para a cidadania constitui, no momento actual em Portugal, uma possibilidade
de abertura da escola à sociedade, uma janela de oportunidade para preparar a partir da
escola o ingresso na vida (activa), a base para a educação-formação pessoal e social de
todos e de cada um para a vida numa sociedade activa, inclusiva, solidária e
democrática.
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Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Pretende-se com esta dissertação:
1. Contribuir para uma reflexão acerca da emergência da construção de uma cidadania
mundial, europeia, nacional e local, face aos novos contextos e desafios sociais,
nacionais, europeus e internacionais e as consequências em conceitos como educação,
escola, participação, autonomia, cidadania, inclusão, métodos e estratégias, modos e
formas, comportamentos, construção do saber, gestão do currículo…
2. Contribuir para uma análise da educação para a cidadania no 1.º ciclo do ensino
básico num caso concreto, um Agrupamento de escolas, a partir de alguns documentos
elaborados pelos docentes, perspectivada em três itens: aprender a viver consigo próprio,
aprender a viver com os outros e aprender a viver com o (no) meio ambiente.
3. Contribuir para um repensar da educação/formação pessoal e social numa sociedade
do conhecimento e da tecnologia, através de uma educação que, por um lado, seja para
todos mas que responda às necessidades básicas de aprendizagem de cada um, e, pelo
outro, contribua para o desenvolvimento pessoal e social dos educandos por uma
equilibração entre a autonomia e a heteronomia.
O método utilizado é a análise de caso, dividindo-se o trabalho em três partes.
Na primeira parte procura abordar-se os desafios da educação para cidadania, a partir de
interpretações actuais do conceito de cidadania. A cidadania como construção em
exercício coloca questões pertinentes que ultrapassam meramente termos, objectivos,
temas ou conteúdos aceites. As questões pertinentes que se colocam entram no âmago
do conceito e da finalidade da educação e dizem mais respeito aos valores, aos
processos e métodos valorizados por todos os membros da organização escolar e da
comunidade. Recorre-se à análise histórica comparada e à hermenêutica para melhor
compreendermos de que estamos a falar.
Na segunda parte apresenta-se um estudo de caso em que se analisa o que se fez no
domínio da educação para a cidadania através de Projectos Curriculares de Turma,
referentes ao 1.º ciclo do ensino básico, num Agrupamento de Escolas, no ano lectivo
2007/2008, estabelecendo confronto/paralelismo: – com os Registos Diários das
Actividades das Turmas dos docentes do 1.º ciclo; – com a programação na área
curricular não disciplinar de Formação Cívica, elaborada pelos Conselhos de Docentes; e
– com os resultados do questionário dirigido a todos os docentes titulares de turma do 1.º
ciclo que exerceram funções no ano lectivo 2007/2008 no Agrupamento de Escolas
objecto da investigação. Recorre-se à análise documental e de conteúdo e ao inquérito
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Maria Cândida Jardim
por questionário.
Na terceira parte procura-se um enquadramento para educação à volta de dois pares
paradigmáticos: – a educação e a cidadania são, ou devem ser, iguais para todos ou a
melhor para cada um? – a educação e a cidadania contribui, ou deve contribuir, para o
desenvolvimento pessoal e social do educando por uma equilibração entre autonomia e
heteronomia? Recorre-se à análise reflexiva dos dados tratados.
São consideradas como hipóteses a verificar ou não:
– A educação para a cidadania, que tem a ver com o desenvolvimento de competências
para inclusão na vida activa e para o trabalho, não tem sido assumida pela escola
portuguesa, mas tem-se focado sobretudo no «bom» comportamento na escola e
particularmente no desenvolvimento de projectos ligados ao ambiente (?).
– A educação para a cidadania, que deve desenvolver competências em cada aluno para
ser um cidadão autónomo, livre e responsável, ainda se apoia em formas e estratégias
mais centradas no professor do que no aluno, na heteronomia do que na autonomia (?).
– A educação para a cidadania, que devia ser a identidade de cada escola autónoma e
participada pela sua comunidade envolvente e enformar o currículo da escola toda, ainda
é tratada como se de um currículo nacional se tratasse em que o Ministério empurra para
a autonomia de cada escola e cada escola pede orientações ao Mministério por
considerar que ainda não há autonomia (?).
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Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
1. Desafios da Educação para a Cidadania
A noção de cidadania integra, desde a Declaração do Milénio (2000), como valores
fundamentais e essenciais para as relações internacionais no século XXI, a liberdade, a
igualdade, a solidariedade, a tolerância, o respeito pela natureza e a responsabilidade
comum, além dos implícitos na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Esta
noção de cidadania acarreta novos desafios que serão apresentados, através de uma
abordagem das directrizes europeias e nacionais, nomeadamente da LBSE e do Decreto-
lei n.º 6/2001.
1.1. Cidadania, escola e Educação para a cidadania
A noção de cidadania reporta-se ao tempo da democracia antiga em que nem todos eram
«cidadãos». A cidadania era um estatuto restrito concedido a alguns. O valor da
igualdade não era uma preocupação, bem pelo contrário ser escravo nada tinha de
«cidadania».
Na clássica obra grega Paideia (Jaeger, 1989: 42) o termo «cidadão», com étimo latino,
habitante da cidade, é utilizado pela primeira vez para designar o habitante da polis, a
cidade. Os sofistas ao criarem a paideia, conjunto de saberes e competências de que os
jovens deveriam ser detentores para participarem nas actividades da polis, introduziram o
embrião da cidadania, embora na altura ser cidadão fosse um estatuto negado às
mulheres, aos metecos (estrangeiros, que, por não serem cidadãos, estavam afastados
da vida política da cidade) e aos escravos (encarregados da produção dos bens materiais
e dos serviços domésticos). A ideia de cidadão conferia o estatuto selectivo a uma
minoria para exercer todos os direitos na condução dos destinos da sociedade.
No Império Romano a cidadania continuou a privilegiar apenas alguns, conferindo-lhes
certas regalias e o estatuto muito restrito de «cidadão romano». Quer nas cidades-estado
gregas quer na república romana, a cidadania, como participação na vida pública, não
era igualitária, quer dizer, resultava das condições adquiridas à nascença.
A Revolução Francesa, em 1789…, mudou completamente a perspectiva da cidadania. O
Artigo 1.º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789-08-26) proclama
«Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem
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Maria Cândida Jardim
fundar-se na utilidade comum.» Em 1791, Olympe de Gouges (1748-1793), que será
guilhotinada a 1793-11-03, escreve a proposta de «Declaração dos direitos da mulher e
da cidadã» / «Déclaration des droits de la femme et de la citoyenne», porque os direitos
do homem e do cidadão continuavam a não se aplicar às mulheres (Meireles-Coelho,
2009: 20). Apesar dos abusos da guilhotina, a cidadania passou a ser outorgada (a todos
os homens) em nome da «Liberté, Égalité, Fraternité» e o saber «ler, escrever e contar»
era uma condição de acesso à cidadania. Associada às ideias revolucionárias difundia-se
a obrigatoriedade da escolaridade. Surge a necessidade de atribuição da educação cívica
à escola, responsabilizando-a pela tarefa de instrução e socialização. Segundo
Perrenoud, incumbe à escola formar os cidadãos e essa função será «o motor do
crescimento da instituição escolar no séc. XIX» (Perrenoud, 2002: 27).
Ao longo do séc. XX a família modificou-se muito, principalmente após a Segunda Guerra
Mundial. As mulheres deixaram de ter a exclusividade do acompanhamento dos filhos ao
incorporarem-se no mercado de trabalho e passou a escassear o tempo familiar para
tudo. Nos anos de 1960 a difusão dos contraceptivos «libertou» a mulher da fatalidade da
maternidade. Como consequência disso, reduziu-se o número de filhos por família e
aumentou o número de separações e o número de filhos que vivem apenas com um dos
pais ou com outros familiares. A socialização primária passou a ser feita na escola. A
família modificou-se mais e mais rapidamente do que o modelo moderno de educação
escolar. A par disto, a evolução/invasão dos meios de comunicação social,
nomeadamente, a televisão tornou-se também uma entidade formadora e criadora de
modelos que apelam para uma felicidade instantânea e egocêntica, na perspectiva de
Bourdieu (1998) produtora de uma «representação instantaneísta e descontinuista do
mundo». A escola vive, ela própria, sobre o efeito destas pressões que tornam o seu
papel cada vez mais difícil, não conseguindo responder a estes desafios sociais que se
esperam dela. Neste novo século muitas interrogações se nos colocam. Sociólogos,
filósofos, psicólogos, pedagogos e cientistas debruçam-se, cada um na sua área, sobre
questões decorrentes do fenómeno da globalização. É generalizada a concepção que é
necessário repensar a educação, valorizando a dimensão ética e cultural, havendo novos
movimentos internacionais de opinião com o objectivo de apelar para a necessidade de
desenvolver uma ética de responsabilidade. A educação permanente ganha um novo
fôlego, o que não significa que o papel da escola e do sistema formal de educação
comece a ser posto em causa ou a diminuir de importância. Mas é necessário que as
conclusões a que se chega teoricamente sejam de facto postas em prática para que as
reformulações engendradas não sejam uma utopia sempre por concretizar. Parece que o
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Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
discurso já vem sendo o mesmo há algumas dezenas de anos, mas de facto é necessária
uma geração de professores de qualidade, atentos ao mundo, abertos à inovação,
amantes do desafio da experimentação e ousados nas pretensões. Deste modo, é
necessária uma geração de professores que tenham a coragem de lutar para que os
sonhos e as utopias se transformem em realidade. Precisamos de professores
empenhados numa educação pluralista baseada numa filosofia que encara de forma
positiva a realidade social incontornável, consequência do pluralismo cultural (Delors,
1996: 222). Cabe ao professor, aliás, à escola1, para além de transmitir ao aluno o que a
Humanidade aprendeu de si mesma e da natureza, tudo o que ela criou e inventou de
essencial, transmitir o gosto e prazer pelo aprender, pela capacidade de aprender a
aprender, pela curiosidade intelectual (Delors, 1996). É necessário que as escolas se
repensem a elas próprias e passem a funcionar como «comunidades autocríticas,
aprendentes, reflexivas […] com um projecto próprio, construído com a colaboração dos
seus membros» (Alarcão, 2005: 38).
Em Portugal, predominaram os ideais conservadores e nacionalistas: “Deus, Pátria e
Família”. A partir dos finais dos anos 1960, como no resto do mundo, a confiança na
escola, na sociedade e nas instituições foi abalada. A escola deixou de dar resposta à
integração dos jovens na vida social e profissional. A sua legitimidade é posta em causa.
O 25 de Abril de 1974 fez surgir novas concepções de sociedade e de cidadania e com
elas foram levantadas muitas interrogações. Nessa altura, defendia-se o conceito de
cidadania democrática das sociedades ocidentais da segunda metade do século XX que
era marcado «pela rejeição de todos os pressupostos relacionados com o totalitarismo,
pela liberdade de opção ideológica e por um sentido de participação activa na vida
pública». (Roldão, 1999: 48). Tal como nessa época, persistem também hoje as
preocupações sobre que valores democráticos e como educar para valores democráticos,
na medida em que se podem considerar inúmeras perspectivas e leituras. A título de
exemplo, Maria do Céu Roldão refere a prática de cantar o hino nacional. Para alguns
este acto simbólico é recusado em nome de uma atitude democrática que deve rejeitar a
doutrinação; para outros esse acto é considerado importante na formação cívica dos
alunos (Roldão, 1999: 48).
De facto, a complexidade da vida das sociedades e a heterogeneidade crescente das
1 A adopção da substituição do termo professor por escola insere-se numa perspectiva pessoal que só concebe a acção do professor integrada num projecto de escola em que todos os seus agentes partilham a mesma sintonia de intenções educativas o que significa que faz mais sentido o termo escola do que professor.
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Maria Cândida Jardim
populações que as constituem tem trazido novos contornos aos debates sobre cidadania,
sentindo-se a necessidade de alargar o conceito de cidadania. Cada vez mais a
educação para a cidadania deve abrir-se à contextualização actual nos campos político,
económico, social e cultural, e estará marcada «pelo imperativo da pacificação de
conflitos, do alargamento dos espaços físicos e económicos e da necessidade de novos
modos de convivência de valores e identidades muito diversas» (Roldão, 1999: 48).
Como é referido no relatório final do Ggrupo Pportuguês de Acompanhamento do
pProjecto “Educação para a Cidadania Democrática” (Grupo, 2001: 23) desenvolvido
entre 1997 e 2000, a transnacionalização das relações sociais e das comunidades de
referência e as diferenças culturais e valorativas profundas, resultantes sobretudo da
formação de fortes comunidades imigrantes na periferia das grandes cidades faz
questionar o tipo de cidadania e exige a abertura a novas representações da cidadania.
Maria do Céu Roldão, num artigo sobre Cidadania e Currículo, na revista Inovação,
define cidadania como «modo de interligar o todo social, relacionar-se com os outros e
assumir competências participativas e interventoras numa dada sociedade» (1999: 9).
Um estudo feito na Grã BretanhaGrã-Bretanha sobre minorias étnicas (diversidades e
desvantagens) recomendou que era necessário o estabelecimento de um conceito claro
de cidadania multicultural respeitador da identidade de pessoas e grupos sociais
minoritários. Maiorias devem respeitar, compreender e tolerar as minorias e as minorias
devem aprender e respeitar as leis, códigos e convenções, tanto quanto a maioria, não
apenas porque é útil fazê-lo, mas porque este processo
ajuda a promover a cidadania comum (Qualifications and Curriculum Authority: 1998).
Em vários documentos internacionais da década de noventa é dadoa ênfase a novas
dimensões como a promoção ao longo da vida, o desenvolvimento de competências de
autonomia, o respeito pela diversidade e a promoção da qualidade para todos. Estas
dimensões conduzem a valores como «a tolerância e respeito pela diferença, a formação
para uma cidadania aberta, europeia e universal, correlativa da estabilização da
Comunidade Europeia na década final do século» (Roldão, 1999: 48). Os representantes
dos governos dos Estados-Mmembros da Europa, reunidos no Conselho em 23 de
Outubro de 1995, adoptaram a Resolução 95/C 312/01 pela qual é reforçada a
necessidade de fomentar uma educação baseada em valores que favoreçam atitudes de
solidariedade, tolerância e de respeito pela democracia e pelos direitos humanos.
«Ccompete aos sistemas educativos europeus continuar a esforçar-se por fomentar uma
educação baseada em valores que favoreçam atitudes de solidariedade, tolerância e de
respeito pela democracia e pelos direitos humanos» (Conselho e Representantes dos
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Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Governos dos Estados-Membros, 1995), chamando a atenção também para a articulação
e cooperação que deve existir, para a concretização destes objectivos entre a escola, a
família e a comunidade. Estes valores são também explicitados na definição de cidadania
dada por Jorge Sampaio (in apud Paixão, 2000: 3):
A cidadania é responsabilidade perante nós e perante os outros, consciência de deveres e de direitos, impulso para a solidariedade e para a participação, é sentido de comunidade e de partilha, é insatisfação perante o que é injusto ou está mal, é vontade de aperfeiçoar, de servir, de realizar, é espírito de inovação, de audácia, de risco, é pensamento que age e acção que se pensa.
Num tempo efémero, em que rapidamente tudo muda, não podemos mais agarrar-nos a
referenciais fixos e imutáveis, mas temos de ter a capacidade de ver mais além, de
construirmos esquemas mentais adaptáveis às mudanças e às características da
sociedade pluralista. Nessa perspectiva e tendo em conta a realidade social em que se
multiplicaram os fenómenos de diferenciação e assimetria, é necessário conceber a
cidadania como a capacidade global para saber relacionar-se, para “saber viver com os
outros”, para saber escutar e respeitar o outro na sua diversidade e especificidade,
assumindo uma atitude participativa e responsável, mas também tolerante e
compreensiva.
A Lei de Bases do Sistema Educativo exprime claramente no seu artigo 2.º a
necessidade de educar para o pluralismo, o que objectivamente implica o assumir de
certos valores e objectivos, inerentes à ideia de «formação de cidadãos livres,
responsáveis, autónomos e solidários» e implícitos na proposta de «promover o
desenvolvimento do espírito democrático e pluralista, respeitador do outro e das suas
ideias, formando cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo o meio
social em que se integram e de se empenharem na sua transformação progressiva».
Em Junho de 1996, na reunião de consultoria sobre educação para a cidadania
patrocinada pelo Conselho da Europa, foi identificado o respeito pelos direitos humanos
como constituindo o valor essencial da educação para a cidadania.
A educação para a cidadania surge assim a apontar para o desenvolvimento de
competências de “aprender a viver conjuntamente”, sendo este o elemento integrador dos
outros três pilares da educação definidos no Relatório Delors, Educação: um tesouro a
descobrir (1996: 2). Mendo Castro Henriques considera que esta abordagem da
educação para a cidadania é incompleta. Será necessário, face às graves lacunas quanto
a competências morais, «fazer crescer uma educação do carácter, uma educação para
os valores». Segundo o autor, o centro da educação para a cidadania é de facto a
educação do carácter, a qual apela para a capacidade de crítica e autocrítica e implica
25
Maria Cândida Jardim
uma abertura aos valores, de modo que os mesmos formem o carácter e sejam
defendidos publicamente: «valores de liberdade, resultante de autonomia pessoal,
intelectual e moral que carece de ser cultivada numa sociedade em mudança; valores de
tolerância, igualdade perante a lei, e de participação; valores para uma sociedade justa e
solidária, contra discriminações étnicas, sexuais e antieconómicas. Em suma, valores de
cidadania para uma participação social orientada para a procura do bem comum e da
justiça» (1999: 7).
Um dos objectivos últimos da educação é a formação integral da criança nas suas
diversas vertentes. Esta formação integral exige, como refere Ramiro Marques, que a
escola não ignore «a tripla dimensão da vida humana: a privada, a profissional e a
cidadania […]» (1997). O sucesso educativo de cada aluno deve abranger, na opinião do
mesmo autor, as três dimensões da pessoa e o desenvolvimento cognitivo, emocional,
social e ético. Tendo em conta o objectivo enunciado, é importante que a educação para
o século XXI não ignore as mudanças que se têm vindo a sentir no processo de
socialização das novas gerações que, segundo Campos, citado por Fragateiro, referem-
se à capacitação para a resolução dos problemas de vida, à promoção do
desenvolvimento psicológico e à educação para os valores (Campos apud Fragateiro,
1991: 11).
Menezes considera que a discussão de dilemas morais, a clarificação de valores, a
vivência da comunidade justa e a formação de carácter são algumas das estratégias no
processo de selecção, adesão e construção de valores (Menezes apud Figueiredo, 1995:
19). Estas estratégias devem partir sempre de situações surgidas no quotidiano dos
alunos, resultantes da interacção social com os pares ou até mesmo de situações vividas
na família. É importante que o professor aproveite todas as oportunidades para
questionar os alunos sobre os seus valores e propicie oportunidades de discussão de
diferentes pontos de vista. No entanto, a vivência em democracia, pressupõe a
necessidade da aprendizagem de alguns valores como a justiça, a solidariedade, a
honestidade, a tolerância. Ryan (1991) defende que existem alguns «valores que devem
ser explicitados e ensinados e que os alunos devem ver os seus professores como
modelos morais» (Ryan apud Fragateiro et al., 1993: 19).
Ives Gandra da Silva Martins Filho2, num artigo electrónico sobre o exercício da cidadania
e os valores familiares e sociais, referiu que, para se saber em que consiste o exercício
da cidadania nos tempos actuais é fundamental ter em conta os referenciais valorativos
2 Ministro do Tribunal Superior do Trabalho do Brasil, em Junho de 2004
26
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
da nossa civilização e a consciência da sua perda. Segundo o mesmo autor o exercício
da cidadania «representa a defesa dos valores fundamentais da civilização ocidental, que
se mostram indispensáveis para a optimização do convívio social» (Filho, 2004: 4).
Segundo este autor, numa sociedade civilizada e democrática, a manifestação da
cidadania passa por cada pessoa se assumir como um sujeito activo que tem consciência
que, pela sua acção influi positivamente no processo de tomada de decisão sobre a
implementação do bem-comum.
Vários autores ao reflectirem sobre os novos contextos da cidadania, remetem, explícita
ou implicitamente para a autonomia, a responsabilidade, o espírito crítico, a
solidariedade, o respeito pelo outro. Podemos afirmar que é necessário desenvolver uma
ética da responsabilidade e à escola como espaço social de organização e experiência
de valores, em articulação com a reflexão, cabe-lhe assumir e responder eficazmente a
este desafio. Manuel Ferreira Patrício (1993) afirma que a educação moral do cidadão
está no coração da própria acção educacional, como reflexão sobre os valores, pessoais
e sociais, para a formulação de juízos e tomada de decisões, enquanto ser individual e
ser em relação (Patrício, 1993)..
Importa finalmente tomar consciência da responsabilidade do professor, enquanto agente
educativo, cabendo-lhe a função de experimentar estratégias de vivência de cidadania
que permitam preparar as crianças para «as responsabilidades, oportunidades e
experiências da vida adulta, ou seja de os capacitar para o exercício responsável dos
múltiplos papéis (companheiro, pai/mãe, trabalhador, consumidor, vizinho, membro de
associações recreativas e culturais, de organizações sindicais e políticas…) nos mais
diversos contextos da sua experiência» (Menezes, 1993: 324).
Em 1974, conquistámos a democracia, mas mais de 30 anos volvidos, para alguns, ainda
estamos presos ao passado, inseguros quanto ao futuro e hesitantes na decisão de
assumir o papel principal sabendo, ao mesmo tempo, que não há outra saída. Ainda
existem vestígios de um tempo de que não gostámos mas no qual existiam referências
indiscutíveis que transmitiam segurança porque não nos eram pedidas decisões mas
unicamente execuções. Precisamos de querer aprender e precisamos inevitavelmente de
reequacionar conceitos e definir valores. A sociedade já não é a mesma e a exigência é
educar para a adaptação à mudança, valorizando não apenas a nossa cultura, mas
acolhendo e respeitando a multi/interculturalidade e a identidade dos outros povos, raças
e etnias.
De facto, a nossa democracia ainda é jovem, ainda não teve tempo de se consolidar. É
27
Maria Cândida Jardim
neste sentido que é urgente repensar o papel do professor enquanto agente educativo e
agente de mudança. Não é possível que as crianças de hoje sejam cidadãos
responsáveis e participativos, construtores de uma democracia num horizonte de quinze
anos se não lhes dermos oportunidades de vivência de experiências de participação,
autonomia e decisão. Como referem Luísa Beltrão e Helena Nascimento (2000: 4), o
fenómeno da globalização influencia as políticas económicas, sociais e mundiais e a
mobilidade social crescente a cada dia e traz consequências ao nível das políticas
educativas. Decorrente das mesmas é exigida à escola uma adaptação e
contextualização que passa pela educação para a cidadania, que está para além do
espaço nacional e se assume cada vez mais global .(Beltrão e Nascimento, 2000: 4).
Ninguém pode fugir à realidade da globalização e fechar-se na sua escola, na sua
comunidade, na sua cidade, no seu país, porque de facto, fazemos parte de uma aldeia
global onde aquilo que pensamos e o modo como agimos atinge e pode ter implicações
no cantinho mais escondido do mundo e vice-versa..
Cabe à escola enquanto instituição educativa e social por excelência, agarrar o desafio e
assumir o seu novo papel transmitindo referências culturais e promovendo a
educação/formação pessoal e social para responder às exigências de uma sociedade
cada vez mais alargada em que todos dependem de todos e se influenciam mutuamente.
Nesta tarefa é salutar que a Escola não se isole, não se feche na sua concha mas, antes
pelo contrário, colabore com a comunidade, perdendo o medo da invasão e abrindo as
portas à participação dos pais, numa perspectiva de parceiros e co-educadores e não de
rivais ou inspectores do trabalho do professor. É necessário que as escolas se repensem
a elas próprias e passem a funcionar como «comunidades autocríticas, aprendentes,
reflexivas […] com um projecto próprio, construído com a colaboração dos seus
membros» (Alarcão, 2005: 38).
Não podemos limitar a responsabilidade da educação apenas à escola. No mundo actual,
a teia de relações que as crianças estabelecem na família, na escola, na comunidade ou
no grupo desportivo é responsável por todas as suas aprendizagens e, nesse sentido, é
necessário que a escola assuma também um papel mediador, com valores referenciais
tão necessários à estabilidade emocional da criança.
Tendo como pano de fundo a incontornável globalização, a formação integral de cidadãos
responsáveis, de pessoas solidárias e adaptadas às exigências actuais, em termos de
competências, passa por uma educação ao longo da vida, e deverá ter em conta, quatro
dimensões: o aprender a conhecer, a ser, a fazer e a viver juntos, referidos no relatório
28
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Delors.
Isabel Alarcão acredita que a formação do cidadão do séc. XXI passa pela assunção de
cada escola como uma escola reflexiva, ou seja, como uma comunidade de
aprendizagem que se contextualiza na comunidade que serve, que interage com ela, que
pensa sobre a acção que desenvolve e que continuamente se avalia para construir novos
conhecimentos sobre si própria e sobre educação (Alarcão, 2005).
Ser cidadão esteve durante muito tempo ligado ao conceito de pertença e identidade,
referenciado ao país onde se nascia, crescia, trabalhava e vivia toda a vida. O sentimento
de pertença ia constituindo-se lentamente e estava intimamente ligado a uma
proximidade física e emocional com a nação, “a pátria”, que determinava a sua cultura.
Os limites da cidadania participativa restringiam-se a um espaço determinado, que
correspondiam ao país onde cada indivíduo nascia. Actualmente o conceito de Estado,
de nação, de Estado-Nação não é muito claro em termos de limites de pertença. Os
Estados, no dizer de Carla Cibele Figueiredo, são plurais, no sentido de poderem ser
constituídos por múltiplas culturas e integrarem espaços transnacionais, d. Daí ser
necessário alargar o sentimento de pertença e considerar uma nova cidadania e um novo
conceito., Coconforme refere a mesma autora, «uma ideia renovada de cidadão talvez
possa corresponder não só à adopção legal, mas também afectiva de uma soberania
política e dos valores que ela implica, qualquer que seja o seu lugar ou cultura de
origem» (Figueiredo, 2002: 42). Concebe-se assim a cidadania como participação no
espaço público pensando o espaço público, como «a nossa casa, a nossa escola, a
nossa vila ou cidade, o nosso país, mas também o nosso mundo, único, onde tudo o que
acontece a todos diz respeito». Embora teoricamente, a Democracia seja o único sistema
político que possibilita a integração de múltiplas pertenças, com respeito por valores de
igualdade, liberdade e respeito pelos direitos civis, sociais e políticos, a realidade é que o
respeito efectivo por esses valores não tem revelado a sua eficácia, conduzindo
progressivamente a alguma descrença e desilusão por parte dos cidadãos.
A cidadania hoje, não se pode já confinar à instrução cívica que era administrada na
escola em que de uma forma dócil e acrítica eram interiorizados alguns princípios morais.
A nova visão de cidadania está marcada por uma “visão idealista” que fala «de direitos
humanos, de livre-arbítrio, de espírito crítico, de direitos dos povos à auto-determinação,
de igual dignidade de raças, de culturas, de religiões e de modos de vida, que defende
uma igualdade e uma civilização planetárias» (Perrenoud, 2005: 22).
Tomás e Soares e Tomás (2004) referem que ser cidadão é assumir o estatuto de
29
Maria Cândida Jardim
protagonista em todas as esferas da vida social, na comunidade onde cada indivíduo
reside, no local de trabalho e em locais onde a sua presença não é permanente.
A época paradoxal e contraditória que vivemos, aliada ao regime democrático, não são
propícias à vivência plena da cidadania, exigindo da parte do poder político e dos agentes
educativos a capacidade de mobilização para ultrapassar o risco da indiferença cívica e o
egoísmo conformista, decorrentes da liberdade. Se por um lado vivemos numa época de
comunicação universal e instantânea, por outro constatamos, conforme refere Jorge
Sampaio no prefácio de Mendo Castro Henriques, a existência da solidão, do isolamento,
do silêncio e da incompreensão que atinge indivíduos e grupos. Se por um lado vivemos
na época da globalização em que o mundo é uma aldeia global em que o longe se torna
próximo e temos conhecimento quase instantaneamente do que acontece em qualquer
recanto do mundo, por outro, continuamos a assistir à indiferença perante catástrofes,
dramas, crimes, guerras, genocídios e inúmeras desigualdades. Estes dois lados da
evolução do homem e do mundo são uma constante ameaça às sociedades modernas,
podendo pôr em causa valores como a solidariedade, a coesão social, o sentido de
comunidade e em última análise o ser humano. É necessário assumir o ser humano em
todas as suas dimensões (Henriques, 1999)..
As escolas do 1.º ciclo são espaços privilegiados para os desafios que se colocam em
termos de cidadania. A educação para a cidadania não se pode confinar a iniciativas
isoladas de cada professor na sua sala de aula, mas antes têm de extravasar o espaço
sala de aula e ser um projecto da escola, construído, partilhado e vivido por todos os que
fazem parte dela.
1.2. A LBSE e a valorização da educação como construtora de cidadania
A valorização da educação para a cidadania a nível global foi incrementada desde 1945
particularmente pela UNESCO e com a entrada de Portugal na Comunidade Económica
Europeia em 1986, foram sendo criadas condições à sua implementação. Surgiu de
forma explícita no 1.º ciclo, atravessando todo o currículo, na reorganização curricular
ocorrida em 2001.
Em Portugal, durante a década de oitenta a “escola elitista/homogénea” vai sendo
substituída pela “escola democrática/heterogénea) e simultaneamente iniciam-se as
grandes transformações curriculares. A reforma do ensino básico teve a preocupação de
se adequar ao contexto social do momento e de alertar para a evolução imprevisível da
30
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
sociedade e do conhecimento. Esta reforma foi operacionalizada através da publicação
da LBSE em 1986, constituindo o motor de todas as mudanças que se foram operando a
partir daí, no que diz respeito à educação para a cidadania. A Lei 46/86 de 14 de Outubro
definiu os objectivos educacionais sendo decorrentes do mesmo a necessidade de
definição dos planos curriculares do Ensino Básico e Secundário (art.º 59.º). Para a
definição dos planos curriculares foram considerados os contributos da Comissão de
Reforma do Sistema Educativo, o contributo gerado pelo debate nacional e o parecer do
Conselho Nacional de Educação (CNE). A estrutura dos planos curriculares procurou
responder ao desafio da «modernização resultante da integração de Portugal na
Comunidade Europeia». Nessa perspectiva a organização curricular pretendeu: Valorizar
«o ensino da língua portuguesa como matriz de identidade e como suporte de aquisições
múltiplas», criar uma área de «formação pessoal e social», entender o currículo numa
«perspectiva interdisciplinar», reforçar as «estruturas de apoio educativo», definir o
conceito de avaliação com função formativa e incentivar a iniciativa local através da
atribuição de alguma margem de autonomia (elaboração de projectos multidisciplinares,
estabelecimento de parcerias escolas - instituições comunitárias).
Estas conquistas foram possíveis porque houve uma mudança de paradigma: a
educação fundamental prolongar-se-ia até aos 15 anos, tempo necessário para a
efectivação do desenvolvimento pessoal (cognitivo, psicológico, afectivo e relacional) de
forma a permitir graus mais elevados de autonomia e responsabilidade pessoal. Como
refere Jorge Martins aAs funções de, instrução, selecção, modelização e produção
centradas sobre os processos e os produtos, foram gradualmente substituídas pelas
funções de educação, integração e sequencialização centradas no aluno.
Sem dúvida que a LBSE foi o marco mais importante no percurso da valorização da
cidadania, pois passou a reconhecer explicitamente a responsabilidade do estado em
«promover a democratização 2 do ensino, garantindo uma justa e efectiva igualdade de
oportunidades no acesso e sucesso escolares» (LBSE, Cap. I, art. n.º2 -2) e a
reconhecer que o sistema educativo deve contribuir para o «desenvolvimento pleno e
harmonioso da personalidade dos indivíduos, incentivando a formação de cidadãos livres,
responsáveis, autónomos e solidários…» (LBSE, Cap. I, art. 2.º-4). Este reconhecimento
passou a ser extensível à educação pré-escolar que, embora não sendo de frequência
obrigatória, deveria ter como objectivos «desenvolver a formação moral da criança e o
sentido de responsabilidade, associado ao da liberdade» (LBSE, Cap. I, art.5.º-d). A
mudança de paradigma está patente num segundo princípio organizativo ao referir que o
sistema educativo deve organizar-se de forma a contribuir «para a realização do
31
Maria Cândida Jardim
educando, através do pleno desenvolvimento da personalidade, da formação do carácter
e da cidadania, preparando-o [não para uma reprodução inquestio nável de valores] para
uma reflexão consciente sobre os valores espirituais, estéticos, morais e cívicos …»
(LBSE, art.3.º b). Podemos dizer que a LBSE, no plano das intenções, integrou nos seus
objectivos a formação do cidadão, com respeito pela individualidade de cada um e
afastando-se de um determinado modelo de cidadão. No entanto quer no s princípios
gerais, quer nos objectivos, estão presentes determinados valores que devem ser
promovidos: a autonomia, a responsabilidade, a cooperação, a solidariedade, a liberdade,
o respeito e o espírito pluralista.
A efectivação das mudanças curriculares verificou-se com a publicação do Decreto-Lei
n.º 286/89 de 29 de Agosto em que foram definidos os planos curriculares do 1.º ao 9.º
ano de escolaridade. Os planos curriculares, pelo menos no plano das intenções,
pretendiam servir a construção da moderna e jovem sociedade democrática, tendo como
um dos eixos prioritários e estruturantes a criação, em todos os ciclos, de uma área de
formação pessoal e social, podendo ter como componentes «a educação ecológica, a
educação do consumidor, a educação familiar, a educação sexual, prevenção de
acidentes, a educação para a saúde e educação para a participação nas instituições,
serviços cívicos e outros do mesmo âmbito» (LBSE, Cap. VII-2). Todas estas mudanças
que se foram verificando reflectem a evolução do paradigma da educação e da
valorização da cidadania. A educação actualmente é um objectivo ao longo de toda a
vida, é uma aprendizagem permanente e contínua, pelo que a escola deixou de ser a
resposta única para essa aprendizagem. Assumimos que temos de aprender ao longo de
toda a vida, advindo daí, como é sugerido pela Comissão Internacional sobre Educação
para o séc. XXI, que a educação é este continuum educativo, co-extensivo à vida (Delors,
1996: 89). A educação ao longo da vida baseia-se em seis pilares: aprender a ser,
aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver consigo próprio, aprender a viver
com os outros e aprender a viver com o (no) ambiente e deverá ter como papel essencial
«conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento,
sentimento e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e
permanecerem tanto quanto possível, donos do seu próprio destino» (Delors, 1996: 86).
De facto a escola de hoje não é a escola de há vinte anos e aquilo que hoje a sociedade
exige à escola e ao professor acaba por ser um “fardo” muito pesado mas do qual
nenhum deles se consegue libertar. Mas não será a escola apenas o “bode expiatório”
daquilo que a sociedade e a família não têm conseguido? Mas, porque não importa
arranjar culpados mas encontrar novos caminhos para as novas realidades, tentaremos
32
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
reflectir neste capítulo sobre o conceito de educação subjacente à Lei de Bases do
Sistema Educativo e algumas perspectivas que o enquadram.
A concepção de educação que cada professor tem e a função que considera que a
Escola deve ter, condiciona a forma como o mesmo assume a prática pedagógica,
desenvolve e operacionaliza o currículo. Carlinda Leite e Manuela Terrasêca apresentam
duas visões de conceber a educação que desencadeiam duas formas diferentes de
atribuição do papel da escola. Numa visão a educação é entendida como «uma forma de
desenvolvimento da natureza humana» e em que os processos educativos visam a
«libertação, a independência e o desenvolvimento pleno do educando». O papel da
escola passa por «fornecer-lhe as verdades clássicas e consagradas cientificamente»,
valorizando a aceitação e aquisição dos saberes académicos e as tradições da
sociedade. Na outra visão a educação é concebida como «um processo social onde o
bem da sociedade se sobrepõe ao bem do indivíduo» O papel da escola passa por
«contribuir para a formação do indivíduo no contexto social». (Leite e Terrâseca,
1993:33).
Paulo Freire concebe a educação como um “acto cognoscente” em que o indivíduo
aprende através da tomada de consciência dos problemas do mundo que o rodeia e em
que reflecte e actua sobre eles, para os modificar. Segundo este autor educar é
desenvolver consciências críticas, despertas para intervir no quotidiano. O papel do
professor é educar e ir-se educando, num processo dialógico em que educador e
educando são simultaneamente sujeito e agente do processo educativo; «o educador já
não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado em diálogo com o
educando…» (Freire, 1996: 78).
Ramiro Marques acrescenta que para educar no séc. XXI, a escola tem de considerar os
novos públicos, resultantes da crescente diversidade cultural da nossa sociedade e das
outras sociedades europeias contemporâneas, impondo-se na educação a formação do
cidadão em todas as vertentes da cidadania, formação essa que dura enquanto a pessoa
vive. Nesta perspectiva a escola deve «formar hábitos de aprendizagem, proporcionar os
meios para continuar a aprender e cultivar o gosto pelo conhecimento» (Marques, 2001:
30). É generalizada a concepção que é necessário repensar a educação, valorizando a
dimensão ética e cultural, havendo novos movimentos internacionais de opinião com o
objectivo de apelar para a necessidade de desenvolver uma ética de responsabilidade. A
educação permanente ganha um novo fôlego, entendendo-a como «uma construção
contínua da pessoa humana, dos seus saberes e aptidões, da sua capacidade de
33
Maria Cândida Jardim
discernir e agir» (Delors, 1996: 60). Para que esta finalidade se cumpra, a escola tem de
ser capaz de estimular a curiosidade intelectual, o gosto pelo aprender e as
competências necessárias aos processos de descoberta e de construção do
conhecimento. Nesta perspectiva integra-se o pensamento de Carlinda Leite e Preciosa
Fernandes ao referirem que a escola tem de deixar de estar centrada nos professores
para passar a estar centrada nos alunos, exigindo «novos processos de ensinar e de
fazer aprender, novas posturas profissionais docentes e o exercício de um trabalho
colectivo, tanto com a comunidade interna à escola como com a comunidade do território
social onde ela se situa» (in Leite e LopesFernandes, 2007: 54).
Face às dinâmicas sociais que caracterizam a nossa sociedade, a escola
necessariamente tem de deixar de ser um espaço de reprodução social e cultural e
passar a ser encarada como um espaço social, onde se vivenciam conflitos
potenciadores da aprendizagem da autonomia e da liberdade individual e geradores de
mudança e inovação, espaços de construção de cidadania. Mas para que isto aconteça é
essencial que aconteça uma constante reflexão sobre as práticas que não se coaduna
com algumas perspectivas de Escola. Nesta linha enquadra-se o pensamento de H.
Giroux, referido por Leite e Terrasêca, que considera a escola como um espaço «que
normaliza, hierarquiza, disciplina mas também desenvolve o espírito crítico, a auto-
responsabilização e a liberdade» A Escola é então encarada como «parte integrante de
uma comunidade educativa, onde, num processo de autoformação permanente, o
indivíduo se vai transformando» (in Leite, Carlinda e Terrasêca, Manuela, 1993:40).
O artigo 2.º da LBSE refere que o ensino deve responder às necessidades da realidade
social e deve contribuir para «…o desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade
dos indivíduos» e para a «…formação de cidadãos livres, responsáveis, autónomos e
solidários…». Estes princípios encerram uma perspectiva de educação que visa a
valorização de pensamentos divergentes, a estimulação da criatividade, a garantia de
uma efectiva oportunidade de sucesso educativo de todos e de cada um, a valorização
de pensamentos autónomos, a abertura ao pluralismo e ao respeito pelo outro, a aposta
no empenhamento crítico e criativo dos indivíduos na transformação progressiva da
sociedade.
Os pressupostos criados pela LBSE não são suficientes para que o ensino contribua para
a formação de cidadãos livres, responsáveis, autónomos e solidários. É necessário e
imprescindível que sejam adoptadas práticas de cidadania e que cada docente integre na
sua actividade quotidiana estratégias e metodologias que permitam o desenvolvimento de
34
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
competências de cidadania, para que, a própria aprendizagem constitua um exercício de
cidadania.
1.2.1. A Educação para a cidadania como exercício de cidadania
Ser cidadão é mais do que a simples aquisição legal dum estatuto. A cidadania, como
refere Carla Cibele Figueiredo, é um processo de construção permanente, que confere
direitos mas que também exige e gera compromissos e responsabilidades, daí ser
oportuno falarmos em exercício da cidadania. É nesta perspectiva de cidadania enquanto
processo de construção, que a educação, continua a autora, assume uma importância
decisiva, salientando, na sua função socializadora três aspectos a considerar:
A coerência entre o discurso formulado e as práticas: «os adultos têem ainda que
se percepcionar como referência, ter consciência que formam pelo que dizem e
do modo como agem»
A criação de oportunidades para aprenderem a pensar criticamente;
A criação de ocasiões, situações e «contextos de participação em que aprendam
a construir e a assumir compromissos, percebendo que a sua “voz” pode ter
influência no que acontece consigo, com os outros e com o mundo em seu redor»
(Abrantes et al, 2002: 53).
Béal apresenta a cidadania como uma «conquista permanente» que vai para além de
saberes teóricos: «só é conquistada mediante o seu exercício…para se tornar cidadão, é
preciso agir como cidadão, intervir sobre o seu ambiente…» (2002: 130). O exercício da
cidadania tem implicações na relação com o saber e exige novas metodologias e novas
formas de estar, para que cada um seja gestor da sua própria aprendizagem e tenha um
papel activo na transformação da realidade. Para isso a aprendizagem não pode estar
confinada ao espaço da sala de aula.
A escola aparece como um “locus” privilegiado para a efectivação da cidadania, na
medida em que trabalha com conteúdos, valores, crenças atitudes e possibilita o acesso
ao conhecimento sistematizado, historicamente produzido, para que o aluno se aproprie
do significado dos conteúdos, ultrapassando o senso comum de maneira crítica e criativa.
Não é possível conceber a cidadania senão a considerarmos enquanto acção em
contexto e consequentemente esta acção em contextoque exige uma forma de estar na
escola diferente, que solicitando a implicação de toda a população escolar (docentes, não
docentes, encarregados de educação e comunidade) com interferências nas relações
35
Maria Cândida Jardim
que necessariamente se estabelecem e se constroem entre todos. Faz cada vez mais
sentido dar um novo olhar às relações entre as pessoas e mostrar através das vivências
que são necessários outros paradigmas, que é necessário valorizar outras dimensões na
educação. Esta dimensão é referida no Relatório para a Unesco como uma utopia
necessária: aprender a viver juntos (adquirir e treinar competências pessoais e sociais
centradas no respeito do pluralismo, do ideal democrático e da coesão social) e
considerada como um dos quatro pilares base da educação. Os outros são: aprender a
conhecer (adquirir e treinar conhecimentos e capacidades para os pôr em prática),
aprender a fazer (aprender e adquirir competências para lidar com novas situações) e
aprender a ser (desenvolver-se harmoniosamente ao longo da vida) (Delors, 1996). Este
aprender a viver juntos enquadra-se também no novo contexto social emergente em
Portugal resultante da imigração dos países de leste, da existência de minorias étnicas e
religiosas em que se verifica a confluência de diferentes costumes, hábitos e culturas.
«Só uma educação para uma cultura realmente cívica partilhada por todos poderá
impedir que as diferenças continuem a gerar desigualdades e as particularidades a
inspirar inimizades» (Delors, 1996: 222). O desafio decorrente da mundialização torna
urgente repensar e reconstruir a cidadania enquanto relação entre direitos, deveres e
participação. A escola é o local privilegiado de participação livre e crítica dos seus
educandos. Neste desafio de reconstruir a cidadania no tempo da mundialização é
importante incluir mais dois pilares: aprender a viver consigo próprio e aprender a viver
com o (no) ambiente.
A aprendizagem da cidadania não pode, nunca, ser transformada numa disciplina como
se tentou fazer com o lançamento, a título experimental, da disciplina de
Desenvolvimento Pessoal e Social no ano lectivo 2001/2002. O exercício da cidadania
passa essencialmente pela forma como as escolas se organizam e promovem o
desenvolvimento de experiências de aprendizagem e participação e pelos métodos de
ensino, práticas educativas e relação com os saberes. «A educação para uma cidadania
participativa, crítica e activa só é possível numa escola que seja, ela mesma, cidadã,
institucionalmente e na sua prática»3 (Ferreira, 2003:. A escola como espaço de
construção da cidadania democrática tem que considerar todas as referências dos
diversos actores e potencializar essa diversidade na vontade de transformar a
organização numa micro-sociedade, promotora de liberdade, de responsabilidade, de
iniciativa e participação activa.
3 José da Silva Ferreira – Director Pedagógico do Externato Infante D. Henrique (Braga) na introdução do livro A construção de uma escola cidadã público e privado em educação.
36
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
No relatório sobre educação para a cidadania e aprendizagem da democracia realizado
no Reino Unido em 1998, é referido que devem ser consideradas três vertentes na
educação para a cidadania: a responsabilidade social e moral, um pré-requisito
essencial para a cidadania (aprendendo desde cedo a autoconfiança e um
comportamento moral e social), o envolvimento na comunidade (Os alunos devem
aprender a tornar-se prestativos envolvendo-se na vida e nas preocupações das suas
comunidades) e a literacia política («not only knowledge of political and social
institutions and ideas, but the skills, values and attitudes are needed for the practice of
good citizenship in adult life, and some experience of analogous activities whether in or
out of school»). (QCA, 1998:66). No 3.º Encontro de Investigação e Formação, realizado
em Lisboa, em Novembro de 2005, cujo tema foi Educação para a Cidadania e Culturas
de Formação, foi apresentada uma perspectiva que vai ao encontro da perspectiva
referida anteriormente concebendo a educação para a cidadania como cidadania em
exercício e não como estatuto, dando especial relevância a quatro grandes dimensões na
construção do cidadão: a formação moral, a democracia participativa e decorrente desta
a educação na cidadania (na medida em que acontece na acção) e a literacia
(englobando os conhecimentos, capacidades e atitudes) (Andrade, 2005). Esta
perspectiva de entendimento do que deve englobar a educação para a cidadania é
bastante interessante e completa, deve ser iniciada desde que a criança é integrada na
escolaridade obrigatória e talvez até no próprio Jardim-de-infância, sendo urgente
renovar a confiança e a consciência da importância do exercício dos direitos e deveres do
ser humano enquanto cidadão. O empenho e a visibilidade que cada escola decidir
imprimir às actividades e aos projectos em que se envolver e envolver os alunos poderá
ser o reflexo dereflectir-se nas gerações futuras, constituídas por cidadãos, reflexivos,
participativos e conscientes da sua importância como co-construtores de uma cultura
democrática.
No Fórum Educação para a Cidadania, o exercício da Cidadania é definido como sendo
sobretudo «um comportamento, uma atitude e uma certa forma de ser, de estar e de
fazer, em que cada um encara os problemas da sociedade em que se insere com a
mesma prioridade com que aborda as suas questões individuais, atendendo aos direitos
dos outros e em particular no respeito pela diversidade e pelas diferenças que
caracterizam as sociedades em que vivemos nesta primeira década do século XXI»
(Ministério in http://www.cidadania-educacao.pt/Somos.htm, da Educação, s/d: 9).
consultado em Julho de 2009.
Segundo Perrenoud «a educação para a cidadania […] passa por experiências de vida e
37
Maria Cândida Jardim
de relação com o saber que têm efeitos formativos. […] A cidadania aprende-se na
prática» (2005: 34). Segundo o mesmo autor a escola não pode agir à margem do
estado porque está sob a responsabilidade do mesmo, como poder organizador e
garantia de instrução de todos. No entanto cada professor tem margens de manobra que
lhe permitem proporcionar aos alunos experiências para assumir e exercer
responsabilidades. O problema está essencialmente nas práticas. A educação para a
cidadania como é preconizada por Perrenoud só se torna realidade, se: a) Envolver todos
os elementos da escola; b) Alterar a gestão pedagógica; c) Instaurar o debate sobre os
saberes; d)Todos forem chamados a assumir responsabilidades: «Uma evolução nesse
sentido exigiria dos professores novas competências, mas, acima de tudo, uma nova
identidade profissional, um engajamento diferente em seu ofício e em seu
estabelecimento de ensino, uma outra relação com o saber e com os alunos»
(Perrenoud, 2005: 42).
Tal como os autores anteriormente citados, Frederico Mayor Zaragoza4, refere que a
verdadeira cidadania, é aquela que transforma os cidadãos meros votantes em
«autênticos actores sociais», aquela que faz com que a democracia seja «uma prática
quotidiana e não só um princípio jurídico» aprende-se e experimenta-se com a família, no
trabalho, na vida associativa, na escola através do exercício dos direitos e liberdades.
(Imbernón, 2002: 17)
Neste contexto referimos a experiência/projecto levado a cabo pela Escola do primeiro
ciclo de Arroteia, em Oliveira de Azeméis, com o título “Práticas de cidadania na Escola
de Arroteia n.º 1”. Estas práticas tiveram como eixos orientadores três conceitos: o ensino
é centrado no desenvolvimento da capacidade de pensar e de agir com compreensão, a
educação na cidadania é «um modo de ser, uma implicação pessoal na construção de
uma escola de todos e para todos» e o currículo é «um projecto, isto é, algo que vai
sendo construído e reconstruído à medida que vai sendo desenvolvido e onde alunos,
professores e comunidade educativa têm um papel crucial, nomeadamente na escolha
acerca do que aprender, quando aprender, como aprender e com quem aprender».
(Campos et al, 2001: 223) De uma forma simplificada o exercício de cidadania inicia-se
na participação de todos os alunos, em Assembleia, para identificação dos conteúdos
que constituirão o Projecto Curricular de Escola e continua ao longo do ano, quer
quinzenalmente através da planificação em grande grupo, quer diariamente, na forma
como os alunos constroem as aprendizagens. Neste projecto está muito patente que o
exercício da cidadania passa essencialmente pela forma como o professor assume o seu
4 Presidente de la Fundación para la Cultura de Paz. Madrid
38
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
papel de «facilitador e colaborador nas aprendizagens, auxiliando os alunos na aquisição
de conhecimentos, abrindo-lhes caminhos, dando sugestões, escutando-os atentamente,
levando-os progressivamente a assumir responsabilidades na própria aprendizagem».
(Campos, 2001: 223). O mais importante é a estruturação do trabalho e não os caminhos
que conduzem à meta comum: «atingir as competências e destrezas consideradas
essenciais para poder viver como cidadão interventivo, participativo, crítico e reflexivo»
(Campos, 2001: 223). As aprendizagens, tendo sido objecto e resultado de negociação,
de partilha, de cooperação e reflexão permanentes constituem por si só verdadeiras
lições de cidadania.
1.2.2. A Educação para a cidadania como desafio à sociedade
A globalização, a interdependência entre todos os países e a sociedade de informação
contribuíram irreversivelmente para a concepção de uma nova sociedade e acarretaram
desafios a cada um de nós que inexoravelmente temos que tomar consciência, pois da
mudança de atitude e do nosso posicionamento depende o bem-estar no século XXI. A
educação para a cidadania surge como uma necessidade face a esta nova concepção de
sociedade civil, sociedade em que coexistem pessoas pertencentes a diferentes etnias,
culturas e nacionalidades, com valores e modos de vida diferentes. É urgente que o
Homem sr humano ‘reaprenda’ a sobreviver nos contextos que se vão desenhando e se
vão modificando de forma a superar-se a si mesmo, respeitando o pluralismo e
encontrando o seu próprio lugar na diversidade, tornando-se cidadão do mundo sem
perder as suas raízes e participando activamente, na vida do seu país, nas comunidades
onde se integra e onde constrói a sua identidade. A educação para a cidadania pode ser
o caminho para encontrar um lugar para a pluralidade das nações, culturas, identidades
étnicas e religiões pois pode permitir criar um terreno comum para a identidade entre
diferentes grupos étnicos e religiosos.
Vivemos num momento de transição, com um quadro social repleto de incongruências e
disparidades onde progresso, desenvolvimento, mudança e riqueza coexistem com
desigualdade, pobreza, exclusão e injustiça. Os progressos económicos, científicos e
tecnológicos, conduziram a uma sociedade da informação e do conhecimento, sem
dúvida, com muitos aspectos positivos mas que simultaneamente fez eclodir ou vincar
comportamentos inaceitáveis motivados por factores de distinção como o sexo, a religião,
a etnia ou os modos de vida. As desigualdades que cada vez mais a comunicação faz
evidenciar são, segundo, Manuela Silva, o resultado de uma matriz cultural «herdada do
século das Luzes e alimentada pela economia e tecnologia dominantes» (Silva in
39
Maria Cândida Jardim
Morgado, 2005: 14) em que a sedução do “ter”, o predomínio da lógica de racionalidade
assente na razão e os critérios de eficácia e eficiência arrastaram o ser humano para a
desvalorização das relações com os outros e uma preocupação exagerada com o “bem-
estar” pessoal e egoísta. Esta realidade exige de todos e de cada um uma nova forma de
ver e encarar o mundo. Urge a necessidade de criar uma nova cultura baseada numa
visão de liberdade individual mais responsável e alicerçada em valores de justiça,
igualdade, solidariedade, da fraternidade e da liberdade. A escola põe em questão as
suas finalidades, objectivos e estratégias, vendo-se confrontada com um novo mundo a
construir e com novos cidadãos a formar. A cidadania e as cidadanias tornam-se uma
referência necessária numa escola em ambiente multicultural: Mas será que a escola
tomou consciência da mudança de papel que lhe era exigida? Qual o papel da escola
actual? Estarão os professores preparados para enfrentar os novos desafios que se
colocam à escola? Que desafios se colocam aos educadores? Que esperam a sociedade
e as famílias? Estarão todos os agentes educativos conscientes de que a educação para
a cidadania é uma prioridade educativa?
De facto, a escola não conseguiu mudar e adaptar-se ao ritmo da mudança da sociedade
e como tal tem revelado alguma dificuldade em responder adequadamente. Poder-se-á
mesmo dizer que a escola “foi atirada às feras” sem armas para lutar. Mesmo que a
escola se propusesse educar tendo em conta a nova visão idealista de cidadania iria
enfrentar incoerências e contradições para as quais não teria solução. Não se pode
esperar, como refere Perrenoud (2005) que a escola salve a sociedade.
Simultaneamente não pode a realidade dos factos e a contradição flagrante com os
ideais de humanidade proclamados hoje conduzir-nos à inércia baixando os braços
convencidos que a nossa missão é impossível.
A Educação para a cidadania esteve sempre presente implicitamente no currículo
escolar, recaindo sobre a escola a responsabilidade da função na promoção de uma
sociedade democrática. John Dewey, um dos autores fundamentais do pensamento
educacional do séc. XX, já em 1916 propõe uma visão em que a educação para a
cidadania é concebida como a própria essência da educação escolar (apud Roldão,
1999:11). Este pensamento corrobora a convicção de que a educação para a cidadania
deve ser um dos objectivos principais da educação e os primeiros quatro anos de
escolaridade são essenciais e decisivos nessa missão.
Em 2002 a Educação para a cidadania foi uma prioridade do Conselho da Europa. O
Comité de Ministros dos Estados-Mmembros, preocupado «com o crescente nível de
40
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
apatia política e cívica e com a falta de confiança nas instituições democráticas, bem
como com o aumento da corrupção, de racismo, de xenofobia, de nacionalismo
agressivo, de intolerância para com as minorias e de discriminação e exclusão social, que
constituem as grandes ameaças à segurança, à estabilidade e ao desenvolvimento das
sociedades democráticas… e consciente do papel da educação na promoção da
participação activa de todos» (Comité de Ministros, 2002: 1) declarou como prioridade a
promoção de uma sociedade livre, tolerante e justa e a defesa dos valores e princípios da
liberdade e pluralismo, alcançada através de uma educação para a cidadania. Esta
prioridade é sublinhada ao declarar que «a educação para a cidadania democrática
deverá encontrar-se no âmago das reformas e da implementação das políticas
educativas» (Comité de Ministros, 2002: 2). Se já em 2002 a cidadania foi uma prioridade
do Conselho da Europa, essa prioridade foi corroborada, em 2005, quando o mesmo
Conselho da Europa declarou esse ano como o Ano Europeu da Cidadania pela
Educação5 ao referir que ele deve ser visto não como uma “campanha” que acaba no
final de 2005, mas como o início de um processo sustentável que deverá prosseguir nos
próximos anos (Comité Ad Hoc de Peritos, 2004: 58). Podemos inferir que a educação
para a cidadania está na ordem do dia não só em Portugal mas em toda a Europa e que
os educadores não podem ficar indiferentes às conclusões e orientações europeias. O
documento de orientação elaborado pelo Comité Ad Hoc de Peritos para o “Ano” refere
que se pretende chamar a atenção para «o papel fundamental da educação, tanto formal
como não formal, numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida, no
desenvolvimento de uma cidadania activa, e na promoção da cultura democrática»
(Comité Ad Hoc de Peritos, 2004: 2). Além do objectivo referido todas as iniciativas que
foram levadas a cabo durante o ano de 2005, pretenderam também consciencializar as
pessoas para o facto de a cidadania não ser apenas um conceito jurídico e político mas
um conceito global.
Apesar da constatação contínua ao longo de várias décadas do papel dos sistemas
educativos na formação de cidadãos livres e responsáveis, actuantes num mundo em
mudança, será que as políticas educativas assumiram efectivamente essa tarefa e as
escolas mudaram as suas práticas pedagógicas? Parece-nos que as respostas dadas
não têm conseguido acompanhar o ritmo das mudanças que se tem operado na
sociedade. A educação escolar não tem conseguido, de forma coesa, planificada e
intencional ir ao âmago da questão, tratando-se de dar mais atenção ao desenvolvimento
pessoal, à responsabilidade individual, às relações interpessoais, ao respeito pelo outro.
5 A partir de agora passará a referir-se a Ano Europeu da Cidadania pela Educação como “Ano”
41
Maria Cândida Jardim
Constatamos todos que já mais ninguém acredita na doutrinação e que faça o que fizer,
com os meios ao seu alcance, a escola necessita ser autêntica e coerente. Se a escola
pretender educar para a cidadania, ela própria tem de ser cidadã. Perrenoud afirma que
para educar verdadeiramente para a cidadania, é necessário que a escola proporcione «a
cada um os meios para comandar a sua vida pessoal e para participar da vida da
comunidade» (2005: 31) querendo com isto dizer que não basta ter conhecimentos; é
preciso apropriar-se deles criticamente e saber utilizá-los em situações concretas, de
forma autónoma. Não basta à escola transmitir saberes no sentido unidireccional; é
preciso que cada um adquira competências mobilizadoras de recursos e transformadoras
da realidade. Além da apropriação activa dos saberes Perrenoud insiste que a educação
para a cidadania aprende-se na prática, encarando a escola como um conjunto de
experiências de vida em que cada um tem de assumir as suas responsabilidades
individuais e no grupo de uma forma cooperativa e em que privilegia a relação crítica com
o pensamento através do debate de ideias e da problematização dos saberes. Para
Perrenoud a educação para a cidadania exige que a escola e os professores adquiram
novos conhecimentos e competências, uma auto-transformação no sentido de todos e
cada um se envolver num projecto do estabelecimento escolar (2005).
A inquietação que nos move e que conduz o nosso estudo encontra eco na perspectiva
apresentada já em 1999 por Maria do Céu Roldão, pois considera que a generalização do
acesso à educação e o alargamento da escolaridade obrigatória gerou e continua a gerar
alguns problemas para os quais a escola enquanto organização e os docentes enquanto
agentes educativos não têem conseguido responder adequadamente. Esses problemas
estão ligados às «questões de pertença socioeconómica e de diversidade de níveis
culturais dos públicos escolares […]». Segundo a mesma autora é necessário «o debate
em torno das lógicas perversas pelas quais os sistemas educativos, ao garantirem o
acesso a todos à educação, geram simultaneamente novos modos de exclusão social. O
encontro de uma solução para estes efeitos passa necessariamente por uma
aprendizagem das competências de cidadania, de aprender a viver uns com os outros.
Essas competências constroem-se com a implicação de toda a comunidade escolar e
pedem «novos modos de organização da escola que enquadrem a diversidade social e
esbatam a selectividade académica herdada de uma escola de outros públicos e tempos»
(Roldão, 1999: 68). É necessário que a escola seja uma escola para todos mas que dê
respostas às necessidades básicas de aprendizagem de cada um, no respeito pela sua
individualidade. Abordaremos de seguida alguns aspectos essenciais a considerar para
que a educação para a cidadania enquanto construção quotidiana não fique apenas no
42
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
plano das belas intenções mas seja uma realidade: os desafios ao professor, o
comportamento de cidadania do professor, o protagonismo das crianças, o clima de
escola/ a cultura escolar, o papel da família.
1.2.3. A Educação para a cidadania como desafio aos docentes
Face a uma sociedade continuamente em mudança é necessário um modelo educativo
que dê resposta a esta sociedade em mutação. A educação, como refere Esclaríin, é o
passaporte para um amanhã melhor. Isso implica necessariamente que o estado esteja
convencido que a educação é um instrumento de progresso e que a assuma como um
projecto nacional. Os professores são os protagonistas das mudanças educativas
necessárias e devem também assumir-se como actores sociais comprometidos com o
país, empenhados em transformar as aulas e a escola em locais de trabalho,
participação, formação e produção. «Necessitamos educadores solidamente formados
que entendam que a sua missão primordial é estimular a aprendizagem e a formação
humana e cidadã dos seus alunos e que o insucesso dos seus alunos implica o seu
próprio insucesso. A educação fracassa não só quando os alunos não adquirem as
competências essenciais mas quando não é capaz de transmitir aos alunos a motivação
e o interesse por construir um mundo e uma sociedade mais humanos, mais equitativos e
mais justos» (EsclarinEsclarín, 2004: 150-151).
Na mudança da escola que se exige, será pertinente considerar duas variáveis a que
Morgado chama o grau de autonomia curricular e o desenvolvimento profissional dos
docentes. Qualquer uma das duas noções depende da visão de educação que cada um
perfilha, do papel do professor e da forma como compreende as suas práticas
curriculares (2005: 33-34). Christopher Day, fala-nos de desenvolvimento profissional,
definindo-o como sendo um processo complexo «através do qual os professores,
enquanto agentes de mudança, revêem, renovam e ampliam, individual ou
colectivamente, o seu compromisso com os propósitos morais do ensino, adquirem e
desenvolvem de forma crítica […], o conhecimento, as destrezas e a inteligência
emocional, essenciais para uma reflexão, planificação e prática profissionais eficazes»».
(Day, 2001:21).
O professor do séc. XXI é mais do que um professor com títulos, diplomas, pedagogias, é
um professor que concebe a sua profissão como uma missão e que ajuda cada aluno a
adquirir determinadas competências, mas que ensina cada aluno a ser e isso ajuda-o
também a dar um sentido profundo à sua prática educativa. Esclarín assume
reiteradamente esta visão do professor, referindo que «a tarefa do educador é missão e
43
Maria Cândida Jardim
não simplesmente profissão. Implica não só dedicar horas, mas também dedicar alma.
Exige não só ocupação, senão vocação. O educador está disposto não só a dar tempo,
dar aulas, senão a dar-se» (2004: 152). Espera-se que o professor faça frutificar os
talentos e potencialidades criativas de cada aluno e proporcione as condições mínimas
exigíveis para que cada pessoa possa continuar a aprender ao longo de toda a sua vida.
Tornar isso possível «exige que os professores se empenhem num processo de
desenvolvimento profissional contínuo, ao longo de toda a carreira» (Day, 2001: 16). Este
desenvolvimento profissional é visto por Isabel Alarcão como uma necessidade constante
de autoformação e identificação profissional, exigindo-se que seja «um professor
reflexivo, numa comunidade profissional reflexiva» (Alarcão, 2005: 29). Para Alarcão o
grande desafio para os professores é ajudar a que os alunos desenvolvam a capacidade
de «trabalho autónomo e colaborativo e o espírito crítico», através da criação de
oportunidades que provoquem o «diálogo, o confronto de ideias e de práticas, a
capacidade de ouvir o outro e de se ouvir a si próprio e de se auto criticar» (Alarcão,
2005: 32).
Um professor do séc. XXI questiona permanentemente a sua prática pedagógica,
reconhece as suas limitações e contradições e simultaneamente encara-as como
propostas de auto-superação, de crescimento e de formação. «O desafio é conseguir um
professor que investiga e reflecte na acção e sobre a acção, para transformá-la e
transformar-se; um professor que questiona continuamente o que faz, aprende dessa
reflexão e essa aprendizagem promove mudanças qualitativas na sua acção; um
professor que submete a uma crítica severa a sua relação com o saber, com o ensinar e
com o aprender» (Esclarín, 2004: 158). Isabel Alarcão, investigadora e com bastantes
responsabilidades ao nível da formação de professores, reforça a ideia da necessidade
de formar professores reflexivos, atitude que exige o diálogo explicativo e crítico, consigo
próprio, com a situação em contexto e com os conhecimentos construídos por outros
sobre o contexto em acção. O desenvolvimento destas novas competências para o
diálogo (pensar autónoma e sistematicamente) tem sido um objectivo constante nos
últimos anos ao nível da formação inicial e contínua através de uma metodologia
baseada na pesquisa-acção. Alarcão cita Bradford e Lippitt para definir este conceito
como «uma aplicação da metodologia científica à clarificação e à resolução dos
problemas práticos.
Zabalza remete para três modelos de profissional: profissional como detentor de um
título, profissional como técnico (modelo de racionalidade técnica e instrumental) e
profissional como actor deliberativo (modelo de racionalidade prática ou modelo
44
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
humanista). (1990:19-20).
Na primeira perspectiva o profissional faz ao longo da sua carreira, a formação mínima
exigida para obter créditos e poder subir na carreira e, se possível com o menor custo
possível, sem assumir grandes compromissos ou empenhar-se substancialmente. Neste
modelo as práticas são concebidas no seu aspecto meramente formal, não sendo
preocupação a qualidade, mas o tempo de serviço é que confere o mérito. Práctica é
sinónimo de antiguidade. Na segunda perspectiva, o profissional é aquele que domina
certas técnicas próprias da sua profissão. Parte-se do pressuposto de que as regras
técnicas devem orientar a acção do sujeito. Ensinar «resume-se à mera aplicação de
normas e técnicas derivadas de um conhecimento especializado». Este modelo de
profissional, o modelo de racionalidade técnica ou modelo racional-tecnológico é segundo
Schön uma «herança do positivismo», como resultado do desenvolvimento tecnológico e
científico da época, em que, se pretendeu aplicar os conhecimentos da ciência e da
tecnologia ao bem-estar da Humanidade. (1992: 31). Em termos educativos parte-se do
pressuposto de que as regras técnicas devem orientar a acção do sujeito. A prática
profissional concebe- se sob a perspectiva de uma racionalidade técnica. O profissional é
valorizado na medida em que demonstrar maior domínio técnico na aplicação do
conhecimento prefabricado e na resolução de problemas. É valorizado o currículo
prescrito a nível oficial e definido como «um produto, uma série pré concebida de
experiências de aprendizagem a realizar pelos estudantes, organizadas pela escola em
função de um determinado programa» (Morgado, 2005: 36). O ensino é entendido como
uma tarefa dirigida para a obtenção de resultados previamente definidos, sem grande
espaço para a prática criativa. A autonomia curricular, a capacidade de deliberação e os
juízos avaliativos reduzem-se a um conjunto de destrezas e de regras que devem ser
seguidas. Neste modelo, as práticas já não são feitas de qualquer maneira como no
modelo anterior mas existe uma preocupação com a planificação adequada para
produzir, o melhor possível, o resultado previsto na mesma. A prática não é vista apenas
resultante do tempo de serviço, mas supõe o aperfeiçoamento dos conhecimentos e
habilidades profissionais do professor. Então o mérito e a experiência do professor não
sãoé sinónimo de antiguidade mas estãoá mais relacionados com o domínio das técnicas
inerentes à sua profissão. Segundo Contreras, a perspectiva técnica do modelo
referenciado «desconsidera a importância da qualidade moral e educativa da acção, ao
reduzir o seu valor a uma dimensão meramente instrumental» (apudin Morgado 2005: 39)
O último modelo, associado por alguns autores ao movimento da Escola Nova, ao que se
encontram ligados nomes como John Dewey, Décroly, Maria Montessori ou Celestin
45
Maria Cândida Jardim
Freinet, é o que consideramos o mais adequado ao contexto actual. O professor é aquele
que é capaz de reflectir sobre a sua acção e dessa reflexão retirar novas aprendizagens,
que inevitavelmente vão alterar a sua prática. É um processo dinâmico, em constante
evolução. Segundo Zabalza a prática é «un proceso de reflexión, de investigación, de
mejoría através de la auto evaluación» (1990:21). Esta concepção afasta-se em
bastantes aspectos da consideração do professor enquanto profissional como detentor de
um título. A experiência e a qualidade de um professor medem-se não pela quantidade
de anos que se ensina mas pela evolução, pela melhoria que decorreu da própria auto
reflexão, análise, auto avaliação e consequente reformulação da prática; «uno puede
pasar años en la enseñanza pero no haber mejorado nada su práctica porque no ha
trabajado sobre ella. Uno aprende de la práctica cuando la somete a análisis, se la re-
plantea, etc.» (Zabalza, 1990:21). Contreras citado por Morgado reitera a necessidade de
«resgatar a base reflexiva da actuação profissional, com o objectivo de entender a forma
como realmente se abordam as situações problemáticas da prática» (Morgado, 2005: 41).
A ideia de profissional reflexivo foi proposta e desenvolvida por Donald Schön (1992),
para tentar explicar a forma como os profissionais podem resolver situações
imprevisíveis, incertas e de conflitos de valores. O autor parte do “conhecimento na
acção” (o conhecimento está na própria acção e engloba todas as acções realizadas sem
necessidade de recorrer ao pensamento e à reflexão para as executar) para a “reflexão
na acção” (acontece quando as situações ultrapassam o quotidiano de dominância e
surge como uma necessidade). Esta reflexão pressupõe competências (autonomia,
capacidade de decisão e reflexão sobre a própria prática) que eram excluídas do modelo
de profissional como técnico.
Já Lauwrence Stenhouse concebe o ensino como prática reflexiva e a classe docente
como colectivo profissional reflexivo, valorizando a capacidade crítica da classe docente
e a necessidade da mesma assumir um papel de protagonismo no desenvolvimento
curricular (Morgado, 2005: 43). De facto, não é possível aplicar indiscriminadamente um
conhecimento predeterminado a todas as situações porque cada situação educativa é
única e está impregnada de determinadas características únicas e singulares. Em relação
ao currículo, Shirley Grundy, referida por Morgado, sublinha, neste processo, a
necessidade de “deliberação prática”, em função de cada contexto específico. É oportuno
fazermos a distinção, entre currículo prescrito (o que desejamos que aconteça) e
currículo real (o que acontece de facto), pois muitas vezes a prática não corresponde ao
que foi planificado, provocando a ansiedade e a frustração do professor, havendo
necessidade do mesmo adoptar uma atitude investigativa (individual e colectiva) e de
46
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
desenvolvimento em relação à sua acção, sempre na perspectiva de criar as melhores
condições para que os alunos possam desenvolver-se. Neste sentido o currículo deve ser
visto não como um produto mas como um processo dialéctico e de reinterpretação. Esta
forma de perspectivar o ensino e a acção docente é bastante exigente e implica uma
intervenção e uma alteração ao nível dos processos de formação inicial e contínua dos
professores, para que os professores passem de meros receptores a investigadores, de
usuários a descobridores, de objectos a participantes.
Enquanto Zabalza considera três modelos de profissional, exigindo-se que o professor no
contexto actual seja um professor reflexivo, Le Boterf aponta para apenas um modelo,
definindo profissional como «aquele que sabe administrar uma situação profissional
complexa». Segundo o mesmo autor o saber administrar, envolve seis saberes: a) saber
agir com pertinência; b) saber mobilizar saberes e conhecimentos num contexto
profissional; c) saber integrar ou combinar saberes múltiplos e heterogéneos; d) saber
transpor; e)saber aprender e aprender a aprender; f) saber envolver-se (2003: 37-38).
Estes saberes vão permitir o desenvolvimento de algumas competências que
consideramos fundamentais que o professor detenha: assumir o diálogo aberto e
questionador como forma principal de intervenção; criar oportunidades de comunicação,
privilegiando as interacções horizontais na sala de aula; propiciar o debate, pondo em
evidência as diferentes opiniões em presença; encorajar a problematização de ideias, o
desenvolvimento do espírito crítico e a tomada de decisões; estimular os alunos a
tomarem consciência de si próprios e a reflectirem sobre as suas acções, ideias e
sentimentos; exercer uma função essencialmente facilitadora do debate de opiniões sem
contudo deixar de expor as suas próprias razões.
A aprendizagem da cidadania exige que o professor tome uma atitude mais crítica e
autónoma face ao saber, às aprendizagens e aos conteúdos dos programas. Isto
não quer dizer que os desvalorize mas é preciso uma grande dose de criatividade para
que a escola seja o espaço adequado em termos de situações de aprendizagem que
permitam a aquisição de competências não só cognitivas mas também sociais,
relacionais. É essencial que a cidadania seja encarada, pelo professor, como uma
necessidade que diz respeito a todos e que todos se sintam responsáveis e envolvidos.
Além dos aspectos referidos, Perrenoud insiste em dois pontos fundamentais: a
transformação da «relação pedagógica e a gestão da classe» (2005: 41). É peremptório
em afirmar que o cerne da questão da cidadania além de exigir novas competências,
exige «uma nova identidade profissional, um engajamento diferente em seu ofício e
47
Maria Cândida Jardim
em seu estabelecimento de ensino, uma outra relação com o saber e com os alunos»
(2005: 42).
Francisco Mayor Zaragoza aborda a questão da responsabilidade do professor na
educação para a cidadania, concebendo-a como exercício quotidiano, salientando que a
educação deve ser orientada para formar «cidadãos do mundo, capazes de reflectir sobre
as grandes questões externas e as pessoais, que são essenciais e possuir argumentos
próprios para expor e defender com um léxico abundante, capaz de traduzir com toda a
intensidade o que se pensa ou sente» [tradução pessoal] (in Imbernón, org. 2002: 24). Se
um dos objectivos da educação é a formação de cidadãos autónomos e capazes de
reflectir sobre múltiplas questões, ter uma atitude autónoma e que saibam relacionar-se
com todos, aceitando e respeitando cada ser humano, não podemos conceber um
professor que não seja capaz de, ele próprio, reflectir sobre a sua acção e valorizar o
trabalho colaborativo do colectivo docente.
O comportamento de cidadania do professor e o papel do currículo oculto
Independentemente da filosofia educativa implícita na actuação de cada professor e que
reflecte a forma como concebe a vida, o ensino e a aprendizagem, existem teias de
relações que se constroem e que sem serem planificadas exercem influência
incontornável nos esquemas comportamentais que a criança vai desenvolvendo
enquanto cidadão e também, como refere Torres, citado por Morgado na «configuração
de significados e valores dos quais a comunidade docente, e mesmo a discente, não
costuma estar plenamente conscientes». (2005: 40). Estamos a referir-nos à importância
do currículo oculto no próprio exercício da cidadania. Este conceito foi utilizado pela
primeira vez, em 1968, por Philip Jackson, sendo definido por Jurjo Torres como um
conjunto de «aspectos que se presta menos atenção da vida quotidiana das escolas e
das salas de aula», uma série de «efeitos não previstos das experiências escolares nas
quais se vêem envolvidos os alunos e alunas e o próprio professorado» (1995: 10).
Arménio Rego6 num artigo da Revista de Educação, do Departamento de Educação da
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, salienta o papel do professor como
modelador de comportamentos de cidadania na medida em que o professor, «pela sua
conduta de empenhamento cívico exemplar, induz nos alunos uma compreensão mais
clara do significado humano e social da construção, utilização e desenvolvimento dessas
competências de cidadania» (1999:57). Estamos então a falar de tudo o que passa para
6 Professor do Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial da Universidade de Aveiro.
48
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
o aluno de uma forma não intencional, não planeada, o currículo oculto, englobando este
«a estrutura sócio-organizacional da escola e do ensino, o sistema e clima de relações
sociais na escola e na classe, os padrões de autoridade e exercício de liberdade em
situações formais de ensino, assim como todos os sinais comportamentais emitidos pelos
docentes» (Rego, 1999: 58). Perrenoud aborda o problema da importância do
comportamento do professor ao reforçar o seu papel como mediador intercultural «Os
professores devem saber instaurar o diálogo e o respeito mútuo, não com belos
discursos, mas pela prática, com a esperança de que esta coexistência pacífica e esta
compreensão do outro, se se manifestarem ao longo do percurso escolar, sejam
progressivamente interiorizadas e se propaguem a outros espaços da vida» (2002: 128).
Robert Connell, citado por Morgado, acredita que para construir um mundo melhor é
necessário que se alcance o sucesso ao nível dos sentimentos e da dignidade da
pessoa, estando nesse campo implícita a valorização da relação pedagógica, o
empenhamento afectivo que se estabelece entre o professor e os alunos, advogando que
para ser professor é muito importante «estabelecer relações humanas com as pessoas a
quem se ensina» (2005: 11). De facto, qualquer um de nós recorda-se de um professor
que o marcou, não tanto por aquilo que aprendeu mas por aquilo que foi, pelas relações
afectivas que criou. Falamos então dos valores que vão sendo interiorizados de forma
não planeada, pelos alunos quer nos espaços da sala de aula, quer noutros espaços da
escola ou fora da escola: a integridade, o respeito pelo outro, a compreensão, o sentido
de responsabilidade.
O currículo oculto permite a aprendizagem de coisas desejáveis e indesejáveis daí que
seja oportuno salientar, no contexto do nosso estudo, que não basta ensinar cidadania,
seguindo as propostas do currículo manifesto mas que é muito importante que os
professores «se comportem como cidadãos» (Rego, 1999: 58). Esta concepção encontra
suporte na teoria da aprendizagem social de Bandura e McDonald que demonstram que
uma das formas de aprendizagem é através da imitação de modelos valorizados por
quem os observa. A importância do currículo oculto na forma como cada indivíduo se
desenvolve é reforçada por Jurjo Torres, citado por Morgado quando refere que o
currículo oculto «desempenha um papel de destaque na configuração de significados e
valores dos quais, a comunidade docente e mesmo discente, não costumam estar
plenamente conscientes» (2005: 40).
Arménio Rego aborda esta questão através daquilo que chama comportamento de
cidadania do professor (Cid-prof), fazendo uma analogia com o conceito de
49
Maria Cândida Jardim
Comportamento de Cidadania Organizacional (Cid-org) (Organ, 1988; 1997; Smith, Organ
e Near, 1983 ) (apud Rego, 1999: 58). Este conceito tem sido objecto de alguns estudos
e pesquisas e de novas reconceptualizações. Rego define-o como «o conjunto de acções
dos membros organizacionais que ajudam a modelar o contexto organizacional, social e
psicológico em que as tarefas são levadas a cabo» (Rego, 1999: 58).
Por analogia e porque uma escola é também uma organização, Cid- prof pode então ser
entendido como o conjunto de acções do professor que ajudam a modelar o contexto
organizacional, social e psicológico em que as tarefas formais dos agentes escolares se
desenrolam (Borman e Motowidlo in Rego, 1999: 58).
Arménio Rego faz uma categorização dos comportamentos de cidadania do professor.
O que é Como se comporta
É consciencioso
É pontual e assíduo. Ocupa todo o tempo da aula para leccionar (e não para abordar assuntos triviais).
Não se limita a “despejar matéria”, preocupa-se com a forma como os alunos aprendem. Não se serve dos recursos da escola (fotocopiadora, computadores, telefone, recursos
humanos…) para uso pessoal. Cumpre as regras e regulamentos (mesmo que ninguém veja). Não se esquiva ao trabalho. Não se serve da lei e dos regulamentos para não leccionar ou
faltar a reuniões. Não se limita a “cumprir horário” e a “dar o programa”. Não passa a “batata quente” aos outros. Aceita atender os pais, fora do horário previsto. Procura o seu auto-desenvolvimento (lê, frequenta cursos a expensas suas, participa em
congressos…) para melhor exercer a sua profissão.
É altruísta
Ajuda os alunos, fornece-lhes informação e documentação para além do obrigatório. Ajuda nos períodos extra-aula. Disponibiliza-se para acolher/inserir os novos professores. Ajuda um colega que faltou. Apoia o conselho directivo [executivo], mesmo que não seja obrigado. Ajuda os alunos com mais dificuldades ou vítimas de segregação. Encoraja os colegas, alunos e funcionários. Apoia os outros em assuntos pessoais (quando estão “em baixo”).
É civicamente
Virtuoso
Participa em reuniões/sessões informativas, mesmo sem obrigação. Está ao corrente do que acontece na sua escola (normas, regulamentos, medidas,
projectos, eventos culturais, sociais…). Participa e empenha-se nas actividades extra-curriculares (jornal-escolar, actividades
culturais, desportivas, de solidariedade…). Fornece sugestões para a melhoria do funcionamento da sua escola. Defende a reputação da sua escola pois, identifica-se com ela.
É cortês Preocupa-se com o efeito das suas acções no trabalho dos outros. Não fala dos outros nas suas “costas”. Não abusa dos direitos dos colegas, alunos e funcionários. Atende os pais com educação, respeito e disponibilidade. É cortês com todos, independentemente da categoria profissional. Não procura “brilhar” à custa dos alunos. Respeita os alunos, é simpático com eles, fá-los sentirem-se capazes.
50
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Toma medidas e é cauteloso para evitar problemas com docentes e discentes.
É pacificador
É uma força estabilizadora da escola quando ocorrem conflitos. Promove o entendimento na sala de aula, não se esquivando a mediar e dirimir um conflito
entre alunos. Ajuda a resolver conflitos entre discentes e/ou docentes. Actua como moderador quando ocorrem problemas disciplinares Procura soluções benéficas para ambas as partes do conflito. Sabe assumir a postura adequada quando entra em desavença.
É desportivista
Não faz dum pequeno problema um grande “sarilho”. Olha mais para o lado positivo dos problemas, do que para o negativo, aceita com naturalidade as mudanças necessárias.
Não se queixa “por tudo e por nada”, dos colegas, alunos e funcionários. Vê mais as características positivas.
Não se queixa persistentemente das condições de trabalho. Não se lamenta de assuntos triviais. Não é “queixinhas”.
Quando as coisas correm mal, não ameaça deixar a escola e o ensino. Limpa o quadro…em vez de ficar à espera que chegue o auxiliar. Procura resolver os problemas…antes de os levar ao Conselho Directivo [Executivo]
Fonte: Rego, 1999: 60
Quadro 1- Características Comportamentais do "Bom" Professor-Cidadão
1.2.4. A Educação para a cidadania e o protagonismo dos alunos
Os estudos sociológicos recentes sobre direitos da criança têm analisado a necessidade
de considerar a infância como uma construção social e as crianças como actores sociais,
competentes, activos e com voz, fazendo repensar os conceitos de cidadania na medida
em que é necessário incorporar «as novas formas de organização social e familiar, as
alterações na estrutura das desigualdades sociais, as alterações nas relações de género,
nas relações inter-geracionais e mesmo nas relações entre pares» (Soares e Tomás,
2004: 148) É através do protagonismo das crianças que se irá conseguir passar dos
discursos dos direitos das crianças (Convenção dos Direitos da Criança)7 para a prática
quotidiana dos mesmos direitos. Apesar do reconhecimento, quer por parte dos teóricos
dos direitos da criança, quer por parte dos dinamizadores de intervenções dinâmicas no
terreno, da importância de tal protagonismo, são os mesmos a admitir que a participação
que concretiza esse protagonismo colide com as práticas sociais, havendo uma rotura
entre teoria e prática, verificando-se segundo Leach, referido por Soares e Tomás (2004:
151) um autoritarismo benevolente por parte dos adultos em que a criança, em nome da
pseudo defesa do seu interesse, «é excluída de situações e contextos onde são tomadas
decisões sobre os seus projectos de vida». Podendo ser esgrimidas variadas razões para
a situação apresentada, é relevante registar que a própria Convenção é ambígua e abre
7 Foi adoptada por consenso na Assembleia-Geral das Nações Unidas, a 20 de Novembro de 1989, através da Resolução 44/25.
51
Maria Cândida Jardim
uma brecha no que se refere à participação da criança, pois o artigo 12.º refere que todas
as crianças, ‘capazes de formular um juízo próprio’ têem direito a expressar a sua opinião
nos assuntos que as afectam. Este artigo faz depender a competência para a
participação da criança da avaliação de um adulto, em função dos seus objectivos,
desvirtuando-o.
Alguns investigadores referidos por Soares e Tomás (2004: 152) enquadram a
competência para a participação num paradigma «que defende a infância como uma
arena dinâmica de actividade social envolvendo lutas de poder, significados contestados
e relações negociadas, onde as crianças são consideradas agentes sociais no seu
próprio direito e onde as próprias construções da infância são estruturantes e
estruturadas pela acção». Concluímos então que as competências para a participação
constroem-se na própria acção. Para o Comité dos Direitos da Criança a promoção dos
direitos de participação (a acção) permite assegurar o cumprimento de todos os outros
direitos e é condição para concretizar o discurso da cidadania da infância. Essa
promoção é feita quando a acção da criança é valorizada, como refere Castro, citado por
Soares e Tomás «Um sujeito de direitos só o é na medida em que a sua acção é, à priori,
considerada válida e manifestação singular do seu ser» (2004: 153).
Para que a consolidação da cidadania das crianças se realize tem de haver uma
mudança na atitude dos adultos, discutindo as questões de competências, sentimentos
de pertença e implicação na comunidade, participação, etc., em vez de continuar a
centrar a discussão na situação de dependência e tutela em que vivem as crianças.
Neste processo Soares e Tomás referem ser indispensável «saber o que as crianças
entendem sobre cidadania, quais são os significados que associam ao papel de cidadão
e como tudo isto influi na sua representação na esfera pública» (2004: 155). Os mesmos
autores, referem Mayall (2002) para vincar que a aprendizagem da cidadania não se faz
tanto pela interiorização de princípios teóricos, mas antes pelas experiências que as
crianças, enquanto actores sociais com competências e com voz, estabelecem com os
grupos sociais implicados na sua relação social e acontece sempre que são valorizadoas
e respeitados os seus direitos pois «somente através de uma cultura de respeito pelas
crianças enquanto sujeitos de direitos se poderão desenvolver atitudes e práticas
consentâneas à ideia e promoção de uma cidadania da infância» (Soares e Tomás, 2004:
156).
1.2.5. A Educação para a Cidadania e o clima de escola/cultura escolar
O modelo burocrático das organizações coloca o enfoque do sucesso das mesmas na
52
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
estrutura formal e nas “relações explícitas de autoridade e subordinação” (Firestone e
Herriot, apud Zabalza, 1990: 199) No entanto, muitos investigadores acreditam que este
modelo não dá resposta completamente satisfatória nas organizações educativas.
Nestas, o sucesso, não se deve tanto ao aspecto formal mas sim ao ambiente, ao clima
construído pelos membros da organização. Deste modo, as organizações educativas
enquadram-se mais no modelo que explica o sucesso através das variáveis informais
relacionadas com a comunicação e a socialização dos indivíduos e dos grupos ou seja a
sua cultura ou clima organizacional, referindo este modelo como “interpretativo-simbólico”
(Allison, apud Zabalza, 1990:199).
Conforme se referiu anteriormente, ser cidadão é entendido num sentido bastante
profundo e exigente que vai para além da participação nas instituições democráticas e no
exercício dos direitos e deveres. Exige e implica a apropriação de valores, códigos e
competências. Esta apropriação não se faz por via teórica unicamente, mas sim em
contexto e ocorre quando há uma partilha e uma sintonia de princípios, valores, atitudes,
etc. Isto implica que a escola, enquanto organização social, se preocupe em construir a
sua cultura organizacional com o objectivo de facilitar a aprendizagem da cidadania.
Quando falamos em cultura organizacional referimo-nos à cultura da escola como um
todo, referimo-nos ao conjunto de crenças, atitudes, valores e expectativas que todos os
elementos da escola devem interiorizar e que reflectem em todas as atitudes, servindo de
modelo. Há autores que usam o termo “clima” e “ambiente” para se referir à cultura da
escola, mas abordam essencialmente espaços mais restritos como a sala de aula. Os
autores que se referem ao espaço escola utilizam o termo cultura.
A cultura escolar não se impõe, constrói-se a partir da reflexão das necessidades, dos
problemas que se vão detectando na escola, na teia de relações que os seus membros
estabelecem entre si e com o exterior. A cultura da escola deve ser construída,
enquanto organização, de forma intencional por todos os seus membros e deve ser o
espelho do conjunto de valores reflectidos e assumidos claramente por todos, de
forma a facilitar o empenhamento na consecução dos objectivos e na transmissão e
vivência desses mesmos valores.
«A cultura organizacional é o conjunto de crenças, atitudes, valores e expectativas
partilhados pela maior parte dos membros de uma organização» (Baron e Greenberg
apud Conboy 1997: 458). Fullan e Hargreaves s e Fullan utilizam o conceito de cultura
para referir «as crenças e expectativas que são visíveis na forma como a escola funciona,
particularmente no que toca ao modo como as pessoas se relacionam (ou não)»
53
Maria Cândida Jardim
(2001:71).
Joseph Edward Conboy, na sua comunicação no II Congresso da Associação de
Educação Pluridimensional e da Escola Cultural, aborda a questão da cultura
organizacional e considera que dela fazem parte dois tipos de componentes: as visíveis e
as invisíveis. As visíveis são os símbolos, as cerimónias, os rituais e os heróis. As
invisíveis são as crenças, atitudes, valores e expectativas (Conboy, 1997: 458).
De entre as componentes visíveis destaca-se o símbolo, pela função importante que se
considera ter na formação do sentimento de pertença, na coesão do grupo,
especialmente nas crianças entre os seis e os dez anos, que é a faixa etária na qual se
pretende dar enfoque nesta reflexão. Ainda segundo o mesmo autor, as cerimónias e os
rituais apoiam a identificação individual com a organização e demonstram aos membros
da organização quais os valores que a regem. É muito importante que as crianças
conheçam as regras dos espaços em que agem para que se situem e inconscientemente
interiorizem comportamentos. Essas regras constituem os referenciais e vão formando e
consolidando a identidade de cada um e do grupo na escola.
Alvaréz e Zabalza, citados por Zabalza, também se aproximam dos conceitos
apresentados sobre clima escolar, na perspectiva do mesmo permitir, diferenciar uma
organização de outra, mas reforçam o seu carácter de construção social e
intrinsecamente dinâmico: «a mais-valia que incorpora esta definição é a apresentação
do clima escolar como um conjunto de características relativamente estáveis no tempo
que nos permitem descrever a vida de uma escola e distingui-la significativamente de
outras: o clima como algo não estático mas que se transforma e evolui com o passar do
tempo para adaptar-se tanto a às novas demandas do meio ambiente externo como às
pressões internas produzidas por mudanças na situação dos membros da instituição
escolar» [tradução nossa] (Zabalza, 1990: 200).
Halpin e Croft, continuando a ser citado por Zabalza (1990), realçam a analogia entre a
personalidade do indivíduo e clima da organização, na medida em que ambos integram
características próprias e específicas que permitem a diferenciação e a aquisição de uma
identidade.
Poole ao referir-se ao clima escolar focaliza a sua atenção mais nas relações de
comunicação que se geram numa organização educativa, falando mesmo em “clima
comunicacional”: «consta de crenças colectivas, expectativas e valores na comunicação
e forma-se pela interacção que acontece nas práticas organizacionais, por um
contínuo processo de estruturação (…). Através do processo de estruturação, o clima de
54
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
comunicação também influi na interacção entre os seus membros e nas atitudes e
comportamentos» [tradução nossa] (apud Zabalza, 1990: 200).
Podemos ser tentados a pensar que a cultura organizacional de uma escola é de
reduzida importância em relação ao sucesso académico e relegamos, muitas vezes, a
causa do insucesso para o nível sócio-económico-cultural das famílias. No entanto, em
vários estudos feitos nos anos 70, Brookover e seus colegas mostraram que «as
expectativas (uma componente da cultura organizacional) constituem um factor mais
importante na determinação do sucesso académico do que a situação sócio-económico-
cultural» (in Patrício, 1997: 460).
Observamos através dos comportamentos dos alunos que o tipo de atitudes divergentes
entre pai e mãe perante uma mesma situação leva a criança a ficar confusa e insegura,
pois tem referenciais contraditórios. Analogamente, numa escola em que para muitos
comportamentos ou situações não existe uma clarificação unânime de critérios, uma linha
orientadora interiorizada pelos seus membros, a mesma insegurança referida
anteriormente pode acontecer e pode dar origem a comportamentos desviantes. Perante
uma diversidade extensa de referenciais é necessário enfrentar os novos desafios da
educação do século XXI e haver um empenho efectivo no crescimento de uma verdadeira
cultura cívica democrática, edificando «uma nova ordem social onde todos contam e cada
um possa ser capacitado para participar activamente num processo de desenvolvimento
que, para o ser, recupera a centralidade da pessoa humana na sua mais plena e
inviolável dignidade» (Delors, 1996: 195).
«A construção gradual e sustentada de um ambiente organizacional e de uma rede de
práticas democraticamente orientadas – referidas aos valores da inclusão social, da
participação e co-decisão, do respeito recíproco, da garantia dos direitos, da abertura à
diferença, da justiça e da equidade, da solidariedade entre as pessoas e os grupos; e
pondo em acção processos democráticos de escuta, expressão, negociação, resolução
de conflitos, partilha de objectivos comuns, descentralização de poderes e
responsabilidades, envolvimento colectivo, etc., constituem não apenas uma
oportunidade, mas uma cada vez maior urgência de revalorização da escola e do
trabalho escolar, no contexto das sociedades contemporâneas» (Santos Silva et al, 2000:
216)
1.2.6. A Educação para a Cidadania e a interacção Escola-Família
James Beane (1990), referido por Menezes, considera que a sociedade tem expectativas
55
Maria Cândida Jardim
legítimas quanto ao papel da escola na construção da cidadania e como tal, no
desenvolvimento da democracia, apontando várias razões: «permite a expressão de
todos», investe na resolução de conflitos através da negociação, criando consensos,
«tem um contacto contínuo e sistemático com os jovens durante um período importante
do seu desenvolvimento», permitindo a realização de projectos de transformação da
realidade e permite a participação de todos os membros, coadunando-se com a
verdadeira vivência democrática (1999:97). Paralelamente cada vez mais observamos
que a família assume um papel marginal em relação às suas responsabilidades,
transferindo as mesmas para os professores a quem exigem aquilo que muitas vezes não
conseguem dar. É preciso que a escola recupere a participação, a responsabilização
e a assunção do papel dos pais em parceria com a escola que, por inerência à sua
função deve questionar-se sobre como educar para a cidadania, como deve agir. Esta
utopia tem definitivamente que ser tornada realidade e essa concretização passa por
integrar, também educar, a família. É preciso perdermos o medo da participação dos
pais, o medo de deixarmos os pais entrar porque apenas têm por objectivo
inspeccionar/criticar. Terá, talvez a ver com uma nova cultura de escola, que deve
começar nos próprios professores. Teremos que derrubar alguns fantasmas e percorrer
um caminho lado a lado com as famílias e simultaneamente com a comunidade. Teremos
que derrubar convicções: os pais convictos de que a escola é que tem o dever de educar,
a escola convicta que a família se demite das suas funções de educar.
Certamente que a solução do problema não passa por, famílias e escola, cada um com
as suas razões, “sacudir a água do capote” e encontrar um culpado. A resposta está em
querermos aprender a viver juntos, sendo ambos co-educadores, co-construtores em
papéis diferentes mas com o mesmo objectivo e respeitando os limites de cada um. A
concretização deste objectivo não será mais do que educar na cidadania e haverá melhor
caminho que o próprio exemplo dos adultos com quem a criança se relaciona no seu
quotidiano? Não é tarefa fácil, face aos constrangimentos e pressões de ambos os lados.
Se por um lado as famílias não conseguem responder adequadamente às exigências da
escola (aqui inserem-se problemas de desestruturação familiar, dificuldades económicas,
baixas expectativas, desinvestimento na vida), por outro lado a escola debate-se com a
falta de recursos humanos e materiais e a burocratização imposta pelos novos modelos
de gestão (inserem-se aqui as insuficiências resultantes da falta de investimento sério e
equitativo na educação).
O primeiro passo tem de ser dado. E cabe à escola pelo poder que enquanto instituição
lhe é conferido, abrir-se e modificar a sua postura. A propósito da necessidade urgente
56
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
de escola e família darem as mãos na construção da cidadania de uma forma coerente e
transformadora Milice Ribeiro dos Santos8, referiu numa entrevista ao Jornal A Página da
Educação, que «a escola tem de considerar as famílias como interlocutores com saberes
e competências e tem de investir, solidariamente numa cooperação. Tem de afirmar isso
nas práticas... num cenário de complementaridade de intervenções e interacções, de
colaboração e envolvimento em finalidades partilhadas» (2Ribeiro dos Santos, 2002: 3).
A cidadania deve extravasar as fronteiras da sala de aula e da escola e ser equacionada
de uma forma mais abrangente, implicando a família e a comunidade na construção do
seu projecto, com base num poder partilhado e no respeito pelas funções de cada um. A
reflexão produzida na mesa-redonda sobre relação escolas-famílias, em 10/11/98, ilustra
esta abrangência da cidadania:
A cidadania deve ser considerada no sentido mais amplo do termo. A cidadania não se esgota na motivação dos cidadãos para a assumpção dos seus direitos e na participação na vida associativa, mas, essencialmente, na melhoria da sua qualidade de vida.
A intervenção dos pais na vida da escola, as observações, os comentários e a participação na educação dos filhos, no espaço da escola, são um importante exercício de cidadania. Há que fomentar constantemente estratégias de aproximação da escola à família, facilitadas pela disponibilidade apresentada pelos professores, pela abertura da escola ao meio, pela identificação de problemas que afectam os alunos na tentativa de encontrar soluções para os resolver.A participação da família na escola tem de ser vista num quadro de participação igualitária, ultrapassando obstáculos de comunicação que passam pelo ‘paternalismo dos professores’, pela ‘invasão do território dos professores pelos pais’, pelo medo da ‘violência duns e de outros’ e, finalmente, pelas posturas ‘arrogantes’. É fundamental passar-se da fase da transmissão à fase da participação na elaboração e na decisão do projecto educativo da escola. Só desta forma é que o trabalho de ensino-aprendizagem a realizar dentro da escola, na sala de aula com os alunos, se pode tornar significativo e contextualizado (GRUPO PORTUGUÊS DE ACOMPANHAMENTO DO PROJECTO DO CONSELHO DA EUROPA, "Educação para a Cidadania Democrática", 2001: 39).
1.2.7. A Educação para a Cidadania como responsabilidade partilhada
A educação para a cidadania é da responsabilidade dos sistemas formais e não formais,
«diz respeito a todas as instituições de socialização de formação e de expressão da vida
pública» (Paixão, 2000: 11) mas cabe ao sistema educativo e à escola, de uma forma
reflectida e organizada adequar estratégias para desenvolver nas crianças os saberes e
as práticas duma cidadania activa. Mais do que a procura de uma fronteira de definições
entre educação para a cidadania e formação (educação) cívica, importa definir
claramente o que é educar para a cidadania ao nível do 1.º ciclo, quais as componentes,
os conceitos básicos e quais os processos ou estratégias a utilizar para alcançar as
competências que enquadram os mesmos conceitos.
8 Mestre em Psicologia, com uma dissertação sobre a adolescência em internatos intitulada Crescer mulheres entre mulheres.
57
Maria Cândida Jardim
A definição de objectivos de educação para a cidadania tem necessariamente a ver com
o momento histórico em questão e com a realidade económica, social e cultural.
Antes de definir os conceitos básicos e os processos subjacentes à educação para a
cidadania é importante considerar e identificar, por um lado, alguns dos objectivos
específicos do ensino básico, que, pela sua natureza e abrangência vão ajudar à
definição pretendida, e por outro, os objectivos visados na educação para a cidadania,
como componente do currículo de natureza transversal, conforme consta na matriz
curricular anexa ao Decreto-Lei 6/2001.
Os objectivos específicos do Ensino Básico podem ser enunciados considerando três
dimensões: a dimensão pessoal da formação, a dimensão das aquisições básicas e
intelectuais fundamentais e a dimensão para a cidadania. Para o objecto do estudo
pretendido irão ser enunciados os objectivos da dimensão pessoal e da dimensão para a
cidadania.
Dimensão pessoal: a) promover a criação de situações que favoreçam o conhecimento
de si próprio e o relacionamento positivo com os outros no apreço pelos valores da
justiça, da verdade e da solidariedade b) favorecer o desenvolvimento progressivo dos
sentimentos de autoconfiança c) favorecer, no respeito pelas fases específicas de
desenvolvimento dos alunos, uma construção pessoal assente nos valores da iniciativa,
da criatividade e da persistência. d) Incentivar o reconhecimento pelo valor social do
trabalho em todas as suas formas e promover o sentido de entreajuda e cooperação.
Dimensão para a cidadania: a) Estimular a criação de atitudes e hábitos positivos de
relação que favoreçam a maturidade sócio-afectiva e cívica, quer no plano dos seus
vínculos de família, quer no da intervenção consciente e responsável na realidade
circundante b) Promover o desenvolvimento de atitudes e hábitos de trabalho
autónomo e em grupo que favoreçam a realização de iniciativas individuais ou colectivas
de interesse cívico e social, e a análise e a participação na discussão de problemas de
interesse geral c) Assegurar, em colaboração com as entidades adequadas e
designadamente as famílias, a criação de condições próprias ao conhecimento e
aquisição progressiva das regras básicas de higiene pessoal e colectiva e a uma
informação correcta e ao desenvolvimento de valores e atitudes positivas em relação à
sexualidade d) Estimular a prática de uma nova aprendizagem das inter-relações do
indivíduo com o ambiente, geradora de uma responsabilização individual e colectiva na
solução dos problemas ambientais existentes e na prevenção de outros e) Ccriar as
condições que permitam a assunção esclarecida e responsável dos papéis de
58
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
consumidor e/ou de produtor f) Ggarantir a informação adequada à compreensão do
significado e das implicações do nosso relacionamento com os outros espaços
socioculturais e económicos e suscitar uma atitude responsável, solidária e participativa
g) Ffomentar a existência de uma consciência nacional aberta à realidade concreta numa
perspectiva de humanismo universalista, de solidariedade e de compreensão
internacionaiss. (DEB, 2004: 15).
A educação para a cidadania é uma componente do currículo de natureza transversal,
em todos os ciclos. O seu objectivo central é o de contribuir para a construção da
identidade e o desenvolvimento da consciência cívica dos alunos. Esta componente
curricular não é da responsabilidade de um professor ou de uma disciplina, atravessando
todos os saberes e passando por todas as situações vividas na escola. Por isso,
concretiza-se através de um plano que abrange o trabalho a realizar nas diversas
disciplinas e áreas do currículo. Aspectos como a educação para a saúde, a educação
sexual, a educação rodoviária ou a educação ambiental, entre outros, deverão ser
considerados, quer no trabalho a realizar nas áreas curriculares não disciplinares quer no
âmbito das diversas disciplinas. Esta componente do currículo é desenvolvida através da
área de Formação Cívica.
O Decreto-Lei n.º 6/2001 define, na matriz curricular para o 1.º ciclo, a área curricular não
disciplinar de Formação Cívica como «um espaço privilegiado para o desenvolvimento da
educação para a cidadania, visando o desenvolvimento da consciência cívica dos alunos
como elemento fundamental no processo de formação de cidadãos responsáveis,
críticos, activos e intervenientes, com recurso, nomeadamente ao intercâmbio de
experiências vividas pelos alunos e à sua participação, individual e colectiva na vida da
turma, da escola e da comunidade» (DEB, 2004: 18). A actividade a desenvolver neste
domínio contará com o apoio de um tempo semanal para sessões de informação e de
debate que, entre outros, pode assumir o formato de assembleia de turma.
Em 2001, o ministro da educação (Augusto Santos Silva), a propósito do Dia da
Cidadania nas Escolas (16 de Março), enviou uma carta em que referia que, para que as
crianças e os jovens se tornassem cidadãos era necessário que a acção integrada de
todos os responsáveis se desenvolvesse em três planos complementares: «estimulando
a presença, nos programas e nas actividades de várias disciplinas, dos valores e dos
princípios constitutivos da democracia; fazendo com que os comportamentos e as
atitudes dos alunos, funcionários e docentes, se orientem pelo respeito recíproco, pela
tolerância, pela aceitação e pelo cumprimento de regras comuns; e proporcionando
59
Maria Cândida Jardim
oportunidades de participação construtiva».
1.3. Educação para a Cidadania em Portugal: um percurso construído
No que se refere ao sistema de ensino, os anos oitenta ficaram assinalados pela
aprovação e adopção, em 1986, da Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE - Lei n.º
46/86 de 14 de Outubro), da qual se pode dizer que recolhe e estrutura as aquisições que
a sociedade e a escola foram fazendo, por sucessivos avanços e recuos (Figueiredo,
1999: 31). No art. 3.º (princípios organizativos) da LBSE de 1986 diz-se: «O sistema
educativo organiza-se de forma a: (…) b) Contribuir para a realização do educando,
através do pleno desenvolvimento da personalidade, da formação do carácter e daformação do carácter e da
cidadaniacidadania, preparando-o para uma reflexão consciente sobre os valores espirituais,
estéticos, morais e cívicos e proporcionando-lhe um equilibrado desenvolvimento físico;
c) Assegurar a formação cívica e moral dos jovens formação cívica e moral dos jovens (…)». E, no referente ao ensino
básico, no art. 7.º: «São objectivos do ensino básico: (…) h) Proporcionar aos alunos
experiências que favoreçam a sua maturidade cívica e sócio-afectivaexperiências que favoreçam a sua maturidade cívica e sócio-afectiva, criando neles
atitudes e hábitos positivos de relação e cooperação, quer no plano dos seus vínculos de
família, quer no da intervenção consciente e responsável na realidade circundante; i)
Proporcionar a aquisição de atitudes autónomas, visando a formação de cidadãosformação de cidadãos
civicamente responsáveis e democraticamente intervenientes na vida comunitáriacivicamente responsáveis e democraticamente intervenientes na vida comunitária; (…)».
No art. 47.º (desenvolvimento curricular): «2. Os planos curriculares do ensino básico
incluirão em todos os ciclos e de forma adequada uma área de formação pessoal euma área de formação pessoal e
socialsocial, que pode ter como componentes a educação ecológica, a educação do
consumidor, a educação familiar, a educação sexual, prevenção de acidentes, a
educação para a saúde e educação para a participação nas instituições, serviços cívicos
e outros do mesmo âmbito. (…) 4. Os planos curriculares do ensino básico devem ser
estabelecidos à escala nacional, sem prejuízo da existência de conteúdos flexíveisconteúdos flexíveis
integrando componentes regionaisintegrando componentes regionais. (…)»
Em 1989 e 2001 foram implementadas duas reformas curriculares que focaram aspectos
diferentes da LBSE de 1986.
.
1.3.1. Área-Escola e DPS/EMR e do Decreto-Lei n.º 286/89
60
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
O Decreto-Lei n.º 286/89, de 29 de Agosto, e o Despacho n.º 142/90 estabelecem as
orientações para a concretização, nos currículos educativos, da área de formação
pessoal e social, referida no ponto 2 do art. 47.º da LBSE. Teoricamente esta área
concretizar-se-ia a três níveis: multidisciplinar na área curricular não disciplinar de Área
Escola (art. 6.º); disciplinar na disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social ou
Educação Moral e Religiosa (art. 7.º); transdisciplinar na formação pessoal e social, a
valorização da dimensão humana do trabalho e o domínio da língua materna (art. 9.º).
A Área-Escola era uma área curricular não disciplinar, cuja distribuição, conteúdoconteúdo e
coordenação competia à escola ou à área escolar, na qual se pretendia «a concretização
dos saberes através de actividades e projectos multidisciplinares, a articulação entre a
escola e o meio e a formação pessoal e social dos alunos» (Decreto-Lei n.º 286/89, art.
6.º - 1 e 2).O art. 6.º apenas define a carga horária anual (95 a 110 horas) para a área
curricular não disciplinar da Área-Escola, deixando tudo o resto (distribuição, conteúdosconteúdos e
coordenação) à decisão da escola. No mesmo artigo é também definido como sendo um
dos seus objectivos a formação pessoal e social dos alunos. Com efeito a Área-Escola
concebida como um espaço propício para a concretização de saberes integrados e para
o desenvolvimento do espírito de iniciativa e de hábitos de organização e autonomia,
através da criação e elaboração de projectos, poderia ser uma forma de educar para a
cidadania mas a sobrevivência desta área não foi duradoura, sendo uma das causas a
inexistência de um tempo próprio no horário dos alunos, pela dificuldade dos docentes se
desenraizarem de uma lógica disciplinar e pela «resistência das disciplinas curriculares
cederem espaço a uma actividade muitas vezes desvalorizada como menor,
desestruturada ou lúdica» (Figueiredo e Silva, 1999: 36).
A formação pessoal e social já era um dos objectivos da Área-Escola e o art. 7.º vem
explicitar que «Todas as componentes curriculares dos ensinos básico e secundário
devem contribuir de forma sistemática para a formação pessoal e social dos educandos»;
além disso é criada a disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social, em alternativa à
Educação Moral e Religiosa. E, «no 3.º ciclo do ensino básico, a área Escola inclui
obrigatoriamente um programa de educação cívica para a participação nas instituições
democráticas».
A disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social, concebida com carácter alternativo à
Disciplina de Educação Religiosa e Moral Católica, não perdurou. Além disso, a indicação
de que a oferta da disciplina pelas escolas aconteceria gradualmente, à medida que o
sistema dispusesse de docentes habilitados para o efeito, atribuiu implicitamente um
61
Maria Cândida Jardim
carácter desvalorativo à mesma. O que é certo é que, segundo Figueiredo e Silva poucos
professores receberam formação específica para a leccionar [a disciplina] e foram
reduzidas as escolas do ensino básico que a conseguiram implementar.
O Despacho n.º 141/ME/90 veio aprovar o Modelo de apoio à organização das
actividades de complemento curricular, constituídas por «actividades não curriculares que
se desenvolvem, predominantemente, para além do tempo lectivo dos alunos e que são
de frequência facultativa» (1.º-1) e «em casos devidamente justificados como,
designadamente, realização de projectos pedagógicos especiais em determinadas áreas
disciplinares ou disciplinas, ou desenvolvidos no âmbito da área escola bem como
sempre que ocorram interrupções na actividade lectiva podem as actividades de
complemento curricular ser desenvolvidas dentro do tempo lectivo» (1.º-2).
O Despacho n.º 142/ME/90 veio aprovar o Plano de concretização, o modelo organizativo
e as sugestões de estrutura da Área-Escola. Segundo este mesmo despacho, uma das
finalidades da Área-Escola, além de outras, era «g) A concretização de actividades que
promovam o desenvolvimento do espírito de iniciativa, de organização, de autonomia e
de solidariedade, aspectos fundamentais da formação integral do aluno; (…) i) O
exercício de uma cidadania responsávelexercício de uma cidadania responsável através de vivências que os órgãos de gestão
pedagógica entendam de interesse. (Anexo I - 2.º). Mas também a Área-Escola não
perdurou.
Uma certa distância permite-nos observar mais a frio como foi regulamentada e
implementada a Lei 46/86, de 14 de Outubro, Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE).
Disso se ocupou o 11.º governo constitucional chefiado pelo Prof. Aníbal Cavaco Silva,
tendo como ministro da Educação Eng. Roberto Artur da Luz Carneiro e secretários de
Estado da Reforma Educativa: Prof. António Carrilho Ribeiro (1987-08-17— 1989-01-30)
Prof. Pedro José d'Orey da Cunha de Menezes (1989-01-30— 1991-10-31). A Comissão
de Reforma do Sistema Educativo dinamizou debates e promoveu estudos, tendo sido
criado um Grupo de Trabalho para elaborar uma Proposta de reorganização dos planos
curriculares dos Ensinos Básico e Secundário (1988) e uma Comissão Executiva do
Grupo Coordenador para o estudo da Formação Pessoal e Social no quadro do
desenvolvimento curricular dos ensinos básico e secundário (Desp. 155/ME/89, DR. 2.ª,
225, de 29-9-89), que apresentou o seu Relatório em 1989. É publicado o Decreto-Lei
43/89, de 3 de Fevereiro, que estabelece o regime jurídico de autonomia das escolasautonomia das escolas
oficiaisoficiais dos 2.º e 3.ºciclos do ensino básico e do ensino secundário em que «a autonomia
da escola concretiza-se na elaboração de um PROJECTOPROJECTO EDUCATIVOEDUCATIVO próprio, constituído e
62
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
executado de forma participada, dentro de princípios de responsabilização dos vários
intervenientes na vida escolar e de adequação a características e recursos da escola e às
solicitações e apoios da comunidade em que se insere».
É neste contexto que é publicado o Decreto-Lei n.º 286/89, de 29 de Agosto, que aprova
os Planos curriculares dos ensinos básico e secundário, onde se prevê a Área-Escola e a
Formação Pessoal e Social num quadro de grande autonomia, «… num contexto de
solidariedade com as gerações passadas e futurassolidariedade com as gerações passadas e futuras; liberdade de aprender e ensinarliberdade de aprender e ensinar, no
respeito pela pluralidade de doutrinas e métodos; democraticidade na organização edemocraticidade na organização e
participação de todosparticipação de todos os interessados no processo educativo e na vida da escola;
iniciativa própria na regulamentação do funcionamento e actividades da escolainiciativa própria na regulamentação do funcionamento e actividades da escola;
responsabilizaçãoresponsabilização dos órgãos individuais ou colectivos das escolas pelos seus actos e
decisões; inserção da escola no desenvolvimento conjunto de projectos educativos einserção da escola no desenvolvimento conjunto de projectos educativos e
culturais em resposta às solicitações do meioculturais em resposta às solicitações do meio…» (Decreto-Lei 43/89).
A vaga legislativa continua pelo Decreto-lei 344/89, de 11 de Outubro, que estabelece o
ordenamento jurídico da formação inicial dos educadores de infância e dos professores
dos ensinos básico e secundário; pelo Decreto-lei 361/89, de 18 de Outubro, que
estabelece a Lei orgânica das direcções regionais de educação; pelo Decreto-Lei 409/89,
de 18 de Novembro, que aprova a estrutura da carreira do pessoal docente de educação
pré-escolar e dos ensinos básico e secundário e estabelece as normas relativas ao seu
estatuto remuneratório; pelo Decreto-lei 35/90, de 25 de Janeiro, que define os apoios e
complementos educativos na escolaridade obrigatória.
A 4 de Julho de 1990 é divulgado o Relatório da Comissão Executiva do Grupo
Coordenador para o estudo da Formação Pessoal e Social no quadro do
Desenvolvimento Curricular dos ensinos básico e secundário.
Em 1994, o Conselho Nacional de Educação apontou a necessidade de se repensar uma
alternativa pedagógica à disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social, que permitisse
concretizar adequadamente a área de Formação Pessoal e Social.
Entre 1994 e 1997, o Instituto de Inovação Educacional realizou um estudo sobre o
currículo do ensino básico com incidência em cinco temas do âmbito da educação para a
cidadania, a saber: a democracia, a identidade nacional, a coesão e a diversidade social,
a economia e os problemas locais. Neste estudo participaram além de Portugal, mais de
20 países, na sua maioria europeus, incluindo a quase totalidade dos países do ex-“Bloco
de Leste”9, evidenciando a oportunidade e interesse do assunto no contexto europeu.
9 Especificamente: Alemanha, Austrália, Bélgica francófona, Bulgária, Canadá, Chipre, Colômbia,
63
Maria Cândida Jardim
Taylor (1994), num estudo sobre a educação para os valores em 26 países europeus
constatou que cerca de ¾ estavam envolvidos em reformas do sistema educativo que
enfatizavam a promoção da cidadania e da participação na vida democrática. Nóvoa
(1996), ao analisar as políticas educativas europeias, sublinha também que a construção
de um “currículo europeu” (que inclui a educação para a consciência e cidadanias
europeias, mas também a educação do consumidor, ecológica ou para a saúde) é uma
área de influência importante da União Europeia na tomada de decisões de política
educativa nacional (Nóvoa apud Menezes, 1999: 50). Foram analisados os documentos
orientadores da política educativa, os programas oficiais e os manuais escolares, quanto
à abordagem dos temas. Concluiu-se que foi privilegiada uma lógica informativa e pouco
direccionada para a prática. Os alunos poderiam até adquirir alguns conhecimentos
teóricos mas os mesmos não corresponderiam a mudanças de atitude ou intervenções
concretas, que de resto seria o objectivo último de qualquer intervenção educativa
(Menezes, 1999: 49).
Podemos concluir que a Reforma Educativa, iniciada com a LBSE, revelou mais o seu
contributo ao nível da determinação das grandes finalidades do sistema educativo, da
sensibilização dos professores e das escolas para novas temáticas e formas de
estruturação das organizações e dos processos pedagógicos do que ao nível de uma
mudança global em termos de cidadania; não obstante terem sido desenvolvidos
projectos com essa vertente dentro das actividades da área escola
1.3.2. A Educação para a Cidadania e a Formação Cívica no Decreto-Lei n.º 6/2001
Desde 1997 que a Educação para a cidadania (democrática) e, obviamente, a Educação
para os Direitos Humanos têm sido prioridades do Conselho da Europa. Nesse ano teve
início uma nova estratégia que pretendeu superar o desequilíbrio existente entre a
valorização que era dada aos conteúdos estritamente académicos e o desenvolvimento
de competências de natureza transversal, nas quais se incluem as competências no
âmbito da cidadania. A participação portuguesa no Programa de Educação para a
Cidadania Democrática, do Conselho da Europa, iniciado em 1997 e em curso até ao ano
2000, constituiu uma oportunidade para procurarmos repensar criticamente dois eixos da
nossa história recente: o ajustamento das finalidades e organização geral do sistema
educativo ao quadro social e político da democracia; e os processos específicos de
desenvolvimento, dentro desse sistema, de contextos e práticas de formação cívica. ,
Eslovénia, Estados Unidos da América, Finlândia, Grécia, Holanda, Hong Kong, Hungria, Inglaterra, Israel, Itália, Lituânia, Polónia, Portugal, República Checa, Roménia, Rússia e Suíça.
64
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
quer dizer, pPretendeu-se saber em que medida os objectivos e conteúdos da educação
cívica, explicitamente presentes no currículo enunciado do Ensino Básico, tiveram
tradução nas práticas educativas na escola e os efeitos nos jovens. Os pressupostos que
configuraram a participação portuguesa no projecto referido anteriormente continuam a
justificar as finalidades que devem pressupor a Educação para a cidadania actual. A
educação para a cidadania é um processo de aprendizagem ao longo da vida e
constrói-se na acção, englobando a articulação entre uma educação formal e não
formal (GRUPO PORTUGUÊS DE ACOMPANHAMENTO DO PROJECTO DO CONSELHO DA EUROPA,
2001).
No âmbito das acções desenvolvidas aquando da participação de Portugal no Programa
de Educação para a Cidadania Democrática, do Conselho da Europa, o Departamento de
Educação Básica (DEB) promoveu um Programa de Promoção de Competências Sociais
(PPCS) para criar espaços de efectivo envolvimento dos alunos. Este programa contou
com a colaboração do Núcleo de Comportamento Social da Faculdade de Motricidade
Humana, que disponibilizou técnicos investigadores para orientar sessões de
sensibilização, durante os anos de 1996 e 1997, que abrangeram 400 professores (2 por
escola). Em simultâneo, os professores sentiram a necessidade em transpor as
orientações recebidas para as práticas lectivas e o DEB organizou três oficinas de
formação, com o objectivo de divulgar os conhecimentos teóricos, metodológicos e
técnicas fundamentais do Programa habilitando os Conselhos de Turma a implementar o
PPCS na sala de aula. A Educação para a cidadania começou a ser trabalhada através
do desenvolvimento de competências sociais que se revelaram resposta para a
superação de alguns problemas que, de resto, são problemas que existem em todas as
escolas: dificuldades de aprendizagem, insucesso escolar, desinteresse pelas matérias
escolares, indisciplina, falta de “habilidades” sociais, absentismo, exclusão escolar e
social. Todos os docentes implicados no programa foram unânimes em afirmar que o
Programa teve aspectos positivos para os alunos e para os próprios professores, pois
contribuiu para que cada elemento tivesse melhor conhecimento de si e dos outros,
facilitando as relações interpessoais ao nível da sala de aula, reflectindo-se no interesse
crescente nas aprendizagens revelado pelos alunos.
A experiência relatada não poderá levar-nos a concluir que educar para a cidadania é
educar para as competências sociais. No entanto pode considerar-se um pré-requisito.
Se uma criança não é capaz de se relacionar consigo própria e com os outros de uma
forma assertiva e adequada, sem uso de qualquer tipo de agressão ou violência; se não é
capaz de aceitar as frustrações; se não sabe resolver civilizadamente os conflitos; como
65
Maria Cândida Jardim
poderá estar preparada para reconhecer os seus direitos e os seus deveres, como
poderá viver a liberdade na responsabilidade, como poderá aceitar as diferenças? Nesta
perspectiva, o caminho percorrido foi um passo em frente na senda da educação para a
cidadania, pese embora esta seja muito mais lata e abrangente e ultrapasse o limite das
relações intra e interpessoais.
O Decreto-Lei n.º 6/2001, de 18 de Janeiro foi o culminar de um longo e continuado
trabalho que se iniciou no ano lectivo 1996-1997 com o projecto de reflexão participada
sobre o currículo do ensino básico e que teve como ponto alto a emanação de um
Documento Orientador das políticas para o ensino básico, publicado pelo Ministério da
Educação em 1998.
Surgiu para concretizar um objectivo do governo que se inscrevia na garantia de uma
educação e formação para todos ao longo da vida e sublinha a necessidade da escola se
assumir como um espaço privilegiado de educação para a cidadania numa concepção
transversal, concretizando-se através de experiências de aprendizagem que mobilizem o
envolvimento efectivo dos alunos. Nesse sentido e tendo também em conta as
orientações europeias, houve necessidade de uma reorganização do currículo do ensino
básico para que o mesmo possibilitasse a articulação entre os três ciclos.
Uma das mais significativas mudanças que a reorganização do Currículo do Ensino
Básico trouxe à cena foi o entendimento que dele se faz. O desenvolvimento de
competências deve ultrapassar o conhecimento memorizado de termos, factos e
procedimentos básicos e encontrar o seu significado na integração de um conjunto
alargado de aprendizagens com vista ao «desenvolvimento de capacidades de
pensamento e atitudes favoráveis à aprendizagem» (Abrantes, 2001: 9). A cidadania
activa que se preconiza como necessária à realidade é uma cidadania que exige e
implica uma pedagogia diferente, uma pedagogia mais aberta ao meio (do local ao
global), aos seus problemas, à participação efectiva da comunidade educativa. Este
modelo pedagógico integra princípios defendidos por vários pedagogos ao longo da
história (Freinet, Piaget, Dewey, Freire, Wallon, etc.) em que é valorizada a relação
escola e sociedade; a relação dos sujeitos com a cultura e a construção do currículo; a
organização do trabalho e o compromisso do professor.
Neste sentido e como está bem explícito, para cada competência geral o professor deve
proporcionar acções que desenvolvam no aluno a capacidade para, nas mais diversas
situações de relação com os outros, saber seleccionar e colocar em uso os
conhecimentos que adquiriu. Todas essas acções veiculam a educação para a (na)
66
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
cidadania, na medida em que propõem a resolução de situações e problemas, a
organização de actividades cooperativas de aprendizagem, a realização de projectos que
envolvam a tomada de decisões, o confronto de pontos de vista, a aceitação das
diferenças e como tal a autonomia e a solidariedade.
O Decreto-Lei n.º 6/2001, de 18 de Janeiro consagra a educação para a cidadania como
uma das formações transdisciplinares, a par da língua portuguesa, da utilização das
novas tecnologias de informação e da dimensão humana do trabalho. No artigo 3.º do
referido decreto, referente aos princípios orientadores, é sublinhado a carácter
transversal da educação para a cidadania, integrante de todas as áreas curriculares.
O Decreto-Lei n.º 6/2001 aprova os desenhos curriculares do 1.º, 2.º e 3.º ciclo. A
estrutura curricular é desenhada em função de uma perspectiva globalizadora orientada
no sentido da Educação para a Cidadania e é organizada em dois grandes blocos: um
constituído pelas Áreas Curriculares Disciplinares; o outro designado por Formação
Pessoal e Social, integrando três novas áreas Curriculares não Disciplinares (NAC) -Área
de Projecto, Estudo Acompanhado e Formação Cívica. Estas três áreas foram criadas
não apenas com o objectivo de desenvolver nos alunos métodos de trabalho assentes na
metodologia de projecto, aumentar a sua autonomia no processo de aprendizagem,
estimular o trabalho cooperativo, favorecer a aplicação prática e integrada de
conhecimentos, atitudes e capacidades. Pretendeu-se mudar as práticas dos docentes,
pouco habituados a apropriar-se do currículo adaptando-o à realidade e aos contextos,
exigindo tomadas de decisão e desinstalando os professores de uma prática meramente
de executantes e os alunos de meros espectadores. A Área de Formação Cívica é
concebida no artigo 5.º do referido Decreto-Lei como «um espaço privilegiado para o
desenvolvimento da educação para a cidadania» e só fará sentido numa perspectiva
aberta de participação e vivência de experiências e relações emergentes da vida da
turma, da escola e da comunidade. Só assim será possível educar para a cidadania, que,
de resto, é o fim último de todo o currículo. A Formação Cívica tem por objectivo «o
desenvolvimento da consciência cívica dos alunos como elemento fundamental no
processo de formação de cidadãos responsáveis, críticos, activos e intervenientes, com
recurso, nomeadamente ao intercâmbio de experiências vividas pelos alunos e à sua
participação, individual e colectiva, na vida da turma, da escola e da comunidade»
(Abrantes et al, 2002: 11). A reflexão sobre problemas da vida individual e colectiva,
numa lógica de educação para a cidadania, é um potenciador do envolvimento dos
alunos em projectos de grupo ou individuais permitindo desenvolver as suas capacidades
de pesquisa e tratamento da informação e estimular a autonomia
67
Maria Cândida Jardim
O Decreto-Lei n.º 6/2001 estabelece «os princípios orientadores da organização e gestão
curricular do ensino básico bem como da avaliação das aprendizagens e do processo de
desenvolvimento do currículo nacional…». Sendo um dos princípios orientadores (alínea
d) do artigo n.º 3) «a integração, com carácter transversal, da educação para a cidadania
em todas as áreas curriculares» como se explica que seja o próprio decreto a considerar
a área curricular não disciplinar de Formação Cívica como o «espaço privilegiado para o
desenvolvimento da educação para a cidadania»? Entende-se então a educação para a
cidadania como parte da Formação Cívica? Considerar-se-á como uma formação muito
mais lata e abrangente concretizada em todo o currículo, em todos os momentos de
permanência do aluno no espaço escolar, em todos os espaços de relação com os
outros, implicando e envolvendo todos os elementos da comunidade escolar e até para
alemalém da mesma. Todos os espaços devem ser privilegiados para o desenvolvimento
da educação para (na) cidadania considerando nesta educação uma formação pessoal e
uma formação social, cujos fundamentos se enquadram nos seis pilares da Educação,
quatro definidos no Relatório Delors (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a
viver juntos [com os outros] e aprender a ser [aprender a tornar-se] e mais dois propostos
agora: aprender a viver com o ambiente e aprender a viver consigo próprio.
É proposta a abordagem da Formação Cívica em três níveis complementares:
Tratamento dos conteúdos das diferentes áreas curriculares: Qualquer aprendizagem
deve ser considerada, em si mesma, um contributo para a formação do cidadão (seja
mais instrumental ou conceptual); qualquer conteúdo e momento de aprendizagem
podem tornar-se uma oportunidade para uma abordagem às questões das normas,
valores e atitudes.
Relações interpessoais que se estabelecem na escola como “matéria-prima” óptima para
trabalhar questões ligadas à formação do aluno e do cidadão, de acordo com os
princípios propostos pela escola.
Actividades específicas (em determinado tempo/espaço) com o objectivo de promover a
intervenção e aprendizagem cívica dos alunos: Debate de problemas e questões do
mundo actual (problemas surgidos na turma, notícias trazidas pelos alunos sobre factos
vividos ou a partir dos meios de comunicação social, textos lidos, textos escolhidos para
o efeito, actividades e projectos realizados); participação na vida da escola (reuniões,
assembleias, mecanismos de comunicação e troca de saberes, campanhas internas à
escola); participação na vida da comunidade (conhecimento do meio local, participação
em campanhas de instituições locais, realizações conjuntas, apoio/colaboração regular
68
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
com instituições da comunidade).
Apesar destas orientações, a Educação para a cidadania deve entender-se não como
mais uma área, concretizável na área curricular não disciplinar de Formação Cívica mas
como uma nova forma de aprender que reclama uma nova postura do professor e exige
determinadas acções.
Há opiniões divergentes quanto à identidade entre a educação para a cidadania e a
formação cívica. É preciso ter presente as diferentes concepções em que podem ser
tomados alguns dos termos referidos, bem como as alterações que se têm verificado ao
longo dos tempos nessas concepções. Segundo Maria Praia, não é possível nem legítimo
separar as finalidades da educação para a cidadania da educação para o civismo, pois a
primeira implica a segunda, sendo a educação para a cidadania muito mais abrangente
(Praia, 1999). Cada estado tem na sua constituição, direitos e deveres cívicos
específicos, sendo os direitos cívicos inerentes à qualidade de ser cidadão e os direitos
sociais são inerentes a qualquer pessoa, independentemente da sua condição de
cidadão. O conceito de formação cívica abrange uma diversidade de perspectivas que
torna mais susceptível a sua descrição objectiva do que o conceito de educação para a
cidadania.
As questões formuladas relacionam-se com a ideia de que a educação para a cidadania
deve preocupar-se com o civismo dos cidadãos. Pode dizer-se, então, que é necessário
educar o cidadão para uma intervenção cívica, civismo, que é, simultaneamente, um
direito e um dever dos cidadãos. A cidadania não se resume a uma soma de direitos e
deveres mas é também, um modo de ser e estar, uma implicação pessoal na construção
da sociedade.
Para uma definição de formação cívica e de cidadania podemos dizer que existem
globalmente duas perspectivas. Uma considera a educação para a cidadania e o civismo
sinónimos; outra que considera que não são sinónimos e o cidadão, para o ser
verdadeiramente, não lhe basta ter uma actuação meramente cívica, embora seja dela
indissociável. Refere Maria Praia que embora partilhando da última opção, não se
encontra uma definição que revele a relação de complementaridade e simultaneamente
de particularidade de cada um dos conceitos (Praia, 1999).
Desta forma, o cidadão de um determinado Estado deverá ter consciência dos seus
deveres cívicos relativamente a esse Estado de pertença, a essa comunidade de
convivência, o que não impede que, simultaneamente, tenha consciência das implicações
das suas atitudes cívicas nos seus deveres de cidadão do mundo e também nos seus
69
Maria Cândida Jardim
direitos. É o dever cívico dum cidadão que o leva a defender as fronteiras do seu país, o
que hoje começa a levantar outras questões, porque o conceito de fronteira já não é nem
linear nem pacífico e pode acontecer que o cidadão, seja chamado civicamente a
defender as fronteiras físicas do seu território nacional e, esse mesmo cidadão se veja
confrontado, no seu íntimo, com o conceito de mundo sem fronteiras resultante do
sentimento de solidariedade a que a cidadania apela.
Para Luísa Beltrão, a educação para cidadania e educação/formação cívica não são a
mesma coisa. O conceito de educação para a cidadania é muito mais geral e abrangente
que o de educação cívica. A educação/formação cívica encontra-se mais confinada
histórica e geograficamente a uma região, a uma cultura, a um Estado; a educação para
a cidadania aponta para uma pertença mais alargada, que abarca o próprio mundo.
Contudo, a educação cívica é indissociável da educação para a cidadania. Não se pode
ser cidadão do mundo sem ser cidadão de um qualquer estado (Beltrão, 2000).
Pode-se entender-se a cidadania como o que diz respeito à humanidade como um todo e
pode ser-se cidadão do mundo, como pessoa que se é. O civismo entende-se como
dizendo respeito a espaços mais confinados, aos espaços de pertença e convivência do
dia-a-dia do cidadão, ao espaço de um país. Actualmente, na era da globalização, e de
forma especial, na comunidade europeia as diferenças de conceitos entre os dois termos
esbatem-se e entrelaçam-se.
1.3.3. Avanço ou recuo da educação para a cidadania na prática docente
Em termos teóricos a integração, com carácter transversal, da educação para a
cidadania em todas as áreas curriculares seria o caminho mais completo para o
exercício da cidadania pois promoveria a não compartimentação de saberes e
aprendizagens e poderia provocar a dinamização e aplicação de novas estratégias e
metodologias, uma nova forma de estar na escola. No entanto, a criação das novas áreas
curriculares não disciplinares, especificamente a área de formação cívica, definida como
espaço privilegiado para o desenvolvimento da educação para a cidadania veio
desvalorizar a abrangência da educação para a cidadania. A Educação para a cidadania,
assumida transversalmente como é apresentada no desenho curricular do 1.º ciclo do
ensino básico, no decreto-lei n.º 6/2001, é muito mais do que apenas desenvolver a
«consciência cívica dos alunos» como é objectivo da área de Formação Cívica; passa
essencialmente por uma revolução de estratégias e metodologias que envolve todo o
acto educativo. A falta de clarificação da finalidade desta área curricular não disciplinar e
a falta de um plano de concretização (existente na área-escola) poderá reduzir a
70
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
educação para a cidadania a lições de civilidade, a um conjunto de regras a aprender
para ser um aluno bem comportado na escola e em público, a conteúdos memorizáveis
que facilmente serão esquecidos se não forem concretizados nas práticas sociais em
todos os momentos e espaços da escola. A Educação para a cidadania, concretizada na
área de Formação cívica não suscitará o desenvolvimento pessoal e social. Nesta
perspectiva a criação da área curricular não disciplinar de Formação Cívica foi um recuo
em relação à Área Escola que no seu plano de concretização definia claramente a
finalidade, o âmbito, a organização, a iniciativa da sua implementação, as competências
do conselho pedagógico, dos professores e do conselho de turma (no 2.º e 3.º ciclo), a
participação dos alunos e professores, a integração no horário lectivo e a avaliação
(Anexo I ao Despacho 142/ME/90). O vazio resultante da falta de directrizes e
referenciais claros e inequívocos em relação à forma de concretização e
operacionalização da educação para a cidadania e a ambiguidade gerada pela introdução
de uma área curricular não disciplinar sem orientações quanto às competências,
objectivos e finalidades tem levado a práticas docentes pouco sustentadas, pouco
partilhadas e pouco reflectidas.
A formação de cidadãos «responsáveis, críticos activos e intervenientes» (Decreto-Lei n.º
6/2001) tem de ser reflectida e assumida pelo conjunto de docentes e não docentes e
partilhada pelos encarregados de educação de cada escola e deveria ser objecto de um
plano de concretização específico tendo em conta os contextos sociais, económicos e
culturais onde se insere.
1.3.4. Aprendizagens, competências e processos em Educação para a Cidadania
Tendo por base as directrizes europeias, os objectivos do ensino básico, a legislação
portuguesa sobre a reorganização do currículo do ensino básico e partindo do referencial
de Delors, a educação para a cidadania tem que dar resposta a um conjunto de seis
aprendizagens (componentes) fundamentais:
Aprender a ser (a tornar-se)
Aprender a conhecer
Aprender a fazer
Aprender a viver consigo próprio
Aprender a viver com os outros
Aprender a viver com o (no) ambiente
Estas seis aprendizagens operacionalizam-se através de processos formais (na escola) e
informais (todas as instituições de socialização, de formação e de expressão da vida
71
Maria Cândida Jardim
pública)) ao longo de toda a vida (educação permanente). As aprendizagens referidas
constituem as competências que preparam o aluno para o seu futuro como cidadão
portador de saber e de capacidade de acção. Em última análise, pretende-se que a
criança adquira as competências que lhe permita pensar sobre a sociedade em que está
inserido e intervir nela de forma a transformá-la. Impõe-se então definir claramente
alguns conceitos subjacentes à educação para a cidadania: cidadania/cidadão; direitos
humanos; diversidade; igualdade.
Cidadania/cidadão – envolve questões relacionadas com direitos e deveres, mas também
com igualdade, diversidade e justiça social. A cidadania em questão tem de ser uma
cidadania inclusiva que parte da referência nacional e se expande à dimensão da Europa
e do mundo. «Pela primeira vez o homem compreendeu realmente que é um habitante do
planeta e que deve pensar ou agir numa nova perspectiva, não apenas na visão do
indivíduo, família ou género, de Estado ou grupo de Estados, mas numa perspectiva
planetária» (Vladimir Vernadsky in Paixão, 2000: 11).
Direitos humanos – os direitos humanos englobam o desenvolvimento máximo das
capacidades dos seres humanos e a regulamentação das responsabilidades do Estado-
Nação para com os indivíduos. A educação para a cidadania deve promover uma
compreensão integrada das diversas categorias dos direitos (sociais, civis, políticos,
económicos e culturais).
Diversidade – diz respeito ao verdadeiro respeito e apreço pela diferença, tão
necessários para o entendimento da sociedade actual marcada pelo multiculturalismo e
pluralismo.
Igualdade – é o reconhecimento de que cada indivíduo, independentemente da idade, do
sexo, do género, da religião, da etnia, etc., tem os mesmos direitos e de que as
desigualdades nas ou entre as sociedades dificulta o exercício da cidadania efectiva.
Além destes conceitos o exercício da cidadania é sustentado por um conjunto de valores
(participação; responsabilidade; solidariedade; tolerância; respeito; justiça, verdade,
liberdade; coragem; patriotismo, compromisso; legalidade; abertura/pluralismo;
transparência; civilidade) e de temas que não podem ser ignorados: a educação dos
afectos, a educação ambiental, a educação para a saúde, a educação rodoviária, a
educação para os meios de comunicação, a educação para os direitos humanos, a
cultura do património, a cultura da paz, a diversidade social e cultural, os problemas
locais…
72
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
A cidadania na escola pode abranger a intervenção ao nível do Projecto Educativo, ao
nível da organização da escola e ao nível da comunidade.
A formação do cidadão não se pode limitar à sala de aula; tem de fazer parte de um
projecto educativo de escola em que estejam envolvidos todos os elementos da escola e
a família. O projecto Educativo da Escola/Agrupamento, como documento estruturante de
toda a acção pedagógica traduz a valorização ou desvalorização concedida à educação
para a cidadania enquanto área transversal a todo o currículo, e é observada em diversos
campos como sejam: Os regulamentos, o clima de escola, as relações interpessoais, os
valores e princípios pedagógicos e as metodologias privilegiadas.
Regulamentos – é fundamental que toda a comunidade escolar tenha um referencial,
que não é mais que um regulamento. Esta é uma das oportunidades por excelência de
iniciar os alunos numa participação activa e responsável através da reflexão sobre a
necessidade de se criarem regras/ normas de funcionamento de vida na turma, na
escola, no recreio, na cantina, etc. A partir daí os alunos colaboram, com os restantes
elementos na concepção do Regulamento, tendo a enorme vantagem de que as regras
não lhes foram impostas ou comunicadas como algo acabado mas nas quais eles tiveram
parte activa, deram a sua opinião pelo que lhes reconhecem um sentido.
O Clima de escola «define-se pela forma como está organizada, como garante a
comunicação, como recebe e ouve os pais, como solicita a entrada da comunidade
envolvente ou como responde aos seus apelos» (Paixão, 2000: 15).
As relações interpessoais são o aspecto a privilegiar antes da abordagem de qualquer
conceito, pois são elas que podem ter efeitos construtivos ou negativos na formação
integral do aluno, no seu bem-estar e por inerência na sua capacidade para aprender a
ser. Cabe aqui salientar o papel do professor enquanto mediador e enquanto modelo,
pois em função das vivências mútuas que experimentam, vai sendo interiorizado o
respeito por si próprio e pelo outro. «A vivência do respeito por si mesmo, pelos outros,
pelo bem comum, modelizada pelo professor, a exigência frente aos compromissos
assumidos e a afectividade demonstrada mesmo quando se manifesta discordância, são
factores operativos de formação do carácter e das competências de cidadania» (Paixão,
2000: 16).
O ex-ministro da educação, Guilherme Oliveira Martins perspectiva a escola como um
espaço de aprendizagem efectiva da cidadania: «Como comunidade de direitos e
deveres de professores, estudantes, pais e funcionários, a escola de hoje tem de se
constituir em factor de exigência e de convivialidade, onde conhecer e compreender o
73
Maria Cândida Jardim
que nos cerca se traduza em oportunidade para participarmos activamente na construção
de um mundo melhor, no qual todos tenham lugar como pessoas iguais e diferentes»
(Paixão, 2000: 14).
O projecto educativo terá que ter em conta e respeitar a heterogeneidade e diversidade
da realidade da escola e da comunidade que serve, tornando clara a política específica
da comunidade. Dessa forma o projecto educativo estará impregnado de uma
intencionalidade educativa e de uma linha de acção que carece de avaliação.
Ao nível da organização há vários campos que proporcionam espaço para a construção
da cidadania: a elaboração do Regulamento da escola, a organização de espaços e
actividades de enriquecimento. Ao nível da comunidade escolar, o intercâmbio com
outras escolas, as parcerias com instituições e associações locais e a participação dos
pais na escola podem tornar-se um caminho para a construção da cidadania. Sejam
quais forem os campos de construção de cidadania, devemos ter em conta os seguintes
processos na concretização dos objectivos de aprendizagem:
Acção – a cidadania não pode esgotar-se ou limitar-se à dimensão cognitiva. Para que
produza efeitos é essencial que as crianças tenham oportunidade de utilizar as suas
capacidades e desenvolver outras, numa constante interacção entre pensamento e
acção.
Análise crítica – por este processo o aluno é incentivado a desenvolver e utilizar
competências de pensamento crítico, de análise e reflexão, tornando-o capaz de formar,
emitir e rever a sua própria opinião
Aprendizagem activa – é o processo de aprender praticando. A criança é um elemento
activo no processo de aprendizagem, sendo-lhe dadas oportunidades e proporcionando-
lhe experiências para que ele possa pensar, actuar e reflectir (ex.: brainstorming, jogos
de representação de papéis, debates, discussões, trabalhos de grupo, etc.)
Aprendizagem cooperativa – é a aprendizagem que é feita a partir de e com os outros e
que se revela muito eficaz e pertinente na medida em que. a criança está continuamente
em relação com os seus companheiros e que aprende com eles. Não existe cidadania do
indivíduo enquanto ser isolado.
Reflexão – A reflexão ajuda a criança a compreender e a dar sentido à sua acção.
Assumir a educação para a cidadania como um projecto de dimensão pessoal e social
que contribui para a formação do cidadão, na perspectiva de Beane (1990) implica
assumir determinadas estratégias curriculares e práticas organizacionais. Devem existir
74
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
alguns princípios básicos presentes quer explicitamente nos planos curriculares, quer
implicitamente nas características institucionais, nas relações informais com os alunos,
nas metodologias de ensino, etc. A abordagem centrada em problemas é uma
metodologia que permite que as aprendizagens se realizem a partir do contexto da vida
pessoal e social dos alunos, utilizando as competências, os factos e os conceitos para
explorar, analisar e resolver os problemas.
Menezes reflecte sobre a diversidade de estratégias, apresentadas por diferentes
autores, como resposta, aos objectivos da Educação para a (na) cidadania referindo que,
apesar da diversidade, em termos de intervenção, existem factores comuns: a
importância do tempo na tarefa pois não é possível atingir resultados e provocar
mudanças adoptando estratégias e envolvendo projectos descontínuos ou de curta
duração; «o reconhecimento da importância do currículo oculto e a sua constituição como
alvo intencional da mudança educativa»; a necessidade de proporcionar vivências e
experiências relacionadas com a vida e o quotidiano das crianças; a aprendizagem
cooperativa como forma de experimentar diferentes contextos e realidades; a relevância
da implicação de todos os elementos da escola na construção e implementação das
estratégias e acções (1999: )
A rápida mudança da sociedade exigiu uma forma de estar na vida, de resolver as
situações, diferente, conduzindo a uma mudança quanto àquilo que é importante os
alunos adquirirem para se integrarem na sociedade.
Na sociedade de informação e do conhecimento, em constante mudança é necessário
que os alunos desenvolvam competências estruturantes (saberes básicos) que lhes
permitam aprender ao longo da vida. Essas competências devem ser orientadas para a
acção, serem transversais e partir dos quatro pilares da educação (aprender a ser,
aprender a conhecer, aprender a fazer e aprender a viver juntos) (Santos e Gaspar,
2004). Considerar-se-á, no entanto mais dois pilares pertinentes e essenciais: aprender a
viver consigo próprio (saber pensar com autonomia e responsabilidade decidindo
livremente) e aprender a viver com o (no) ambiente (entendendo-se por ambiente tudo o
que está à nossa volta e nos influência e sobre o qual também exercemos influência).
Através do Decreto-Lei n.º 6/2001 o enfoque, até então, dado aos conteúdos passou a
ser dado às competências. Esta mudança de enfoque implica uma necessária
reorganização e ressignificação do curriculum. A aprendizagem terá de ser
necessariamente menos centrada no professor para haver uma participação mais
responsável e autónoma do aluno. A abordagem por competências transforma
75
Maria Cândida Jardim
saberes disciplinares em recursos para resolver problemas, realizar projectos,
tomar decisões.
Impõe-se definir então que competência é o saber em acção ou em uso, é uma
capacidade que leva à atitude de forma a viabilizar a utilização dos conhecimentos em
situações diversas. A aquisição progressiva de conhecimentos é relevante se for
integrada num conjunto mais amplo de aprendizagens e enquadrada por uma perspectiva
que coloca no primeiro plano o desenvolvimento de capacidades de pensamento e de
atitudes favoráveis à aprendizagem. «A competência diz respeito ao processo de activar
recursos (conhecimentos, capacidades, estratégias) em diversos tipos de situações,
nomeadamente situações problemáticas. Por isso, não se pode falar de competência sem
lhe associar o desenvolvimento de algum grau de autonomia em relação ao uso do
saber» (Abrantes, 2001: 9). A competência enquanto aquisição, aprendizagem
construída, focaliza o aluno como actor do seu próprio conhecimento e como gestor do
processo desse mesmo conhecimento (Abrantes, 2001). Isabel Alarcão faz referência à
noção de competência patente no relatório produzido no início dos anos 90, por um
conjunto de industriais europeus e reitores das universidades europeias e cujo objectivo
era pensarem o papel da educação no mundo actual. Nesse relatório a noção de
competência incluía «não só conhecimentos (factos, métodos, conceitos e princípios),
mas capacidades (saber o que fazer e como), experiência (capacidade de aprender com
o sucesso e com os erros), contactos (capacidades sociais, redes de contactos,
influência), valores (vontade de agir, acreditar, empenhar-se, aceitar responsabilidades e
poder (físico e energia mental) (Alarcão, 2005: 17). Esta noção de competência resulta da
necessidade de uma formação holística e abrangente reflexo duma sociedade da
informação, do conhecimento e da aprendizagem (permanente).
Um dos autores que mais se tem dedicado à questão das competências é o sociólogo
Philipe Perrenoud definindo o conceito como a capacidade de utilizar (mobilizar) os
saberes (conhecimentos) para agir em situação. Segundo o autor referido a
aprendizagem por competências tem por objectivo que cada um aprenda a utilizar os
saberes que adquiriu na acção.
Decorrente da concepção de competência apresentada por Abrantes, o professor deixa
de ser transmissor, impondo-se que se assuma como «facilitador e organizador de
ambientes ricos, estimulantes, diversificados e propícios à vivência de experiências de
aprendizagem integradoras, significativas, diversificadas e globalizadoras» (Abrantes,
2001: 78).
76
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
A par das competências a serem adquiridas pelos alunos, Perrenoud enumera dez
competências que o professor da actualidade deve colocar em prática: 1. Organizar e
animar situações de aprendizagem. 2. Gerir a progressão das aprendizagens. 3.
Conceber e fazer evoluir dispositivos de diferenciação. 4. Implicar os alunos nas suas
aprendizagens e trabalho. 5. Trabalhar em equipa. 6. Participar na gestão da escola. 7.
Informar e implicar os pais. 8. Servir-se das novas tecnologias. 9. Enfrentar os deveres e
os dilemas éticos da profissão. 10. Gerir a sua própria formação contínua» (2002a: 140).
Segundo Edgar Morin (2000) para o exercício da cidadania numa sociedade de
incertezas ou de certezas transitórias são necessários saberes em acção, quer dizer,
competências que permitam uma acção «reflectida, consciente, informada e regulada por
valores […]» (Santos e Gaspar, 2004: 25). Podemos considerar cinco saberes básicos
(competências): a) aprender a aprender; b) comunicar adequadamente; c) cidadania
activa; d) espírito crítico e e) resolver situações problemáticas: Aprender a aprender é a
competência que permite «mobilizar estratégias adequadas para procurar, processar,
sistematizar e organizar a informação, bem como avaliá-la criteriosamente tendo em vista
transformá-la em conhecimento […]. Sem aprender a aprender não há aprendizagem ao
longo da vida» (Santos e Gaspar, 2004: 28). Comunicar adequadamente é «usar
diferentes suportes e veículos de representação, simbolização e comunicação» (Santos e
Gaspar, 2004: 28). Cidadania activa passa por saber lidar adequadamente com
diferenças culturais e de géneros, saber relacionar-se adequadamente com a natureza
como resposta à necessidade de um desenvolvimento sustentável e saber estar com os
outros. Espírito crítico é a competência que permite desenvolver uma «opinião pessoal
com base em argumentos» (Santos e Gaspar, 2004: 29). Só assim o cidadão numa
sociedade democrática poderá fazer escolhas reflectidas e coerentes. Resolver situações
problemáticas e conflitos é «mobilizar conhecimentos, capacidades, atitudes e estratégias
para ultrapassar obstáculos que se interpõem entre uma dada situação e uma situação
futura identificada» (Santos e Gaspar, 2004: 29)
As competências enunciadas anteriormente estão contidas nos princípios e valores
orientadores do Currículo e a Educação para a Cidadania, afectando transversalmente
todo o processo educativo, devendo ser desenvolvidas a três níveis: atitudes e valores;
desenvolvimento pessoal e desenvolvimento interpessoal/social. Os níveis de
operacionalização destas competências são muito diversificados, pois o quotidiano é fértil
em oportunidades de concretização. É necessário não se deixar vencer pela premência
dos programas e pela imprescindibilidade dos conteúdos programáticos. A educação
para o séc. XXI, em particular a educação para a cidadania passa pela vontade e pela
77
Maria Cândida Jardim
capacidade dos professores conceberem o currículo não como orientações estanques e
directivas, mas numa perspectiva de prática de gestão curricular flexível adaptada a cada
contexto, pensada e justificada no PCE e nos PCT.
Carla Cibele Figueiredo, na mesma linha de pensamento manifestado pelo Conselho
Nacional de Educação, propõe que a Educação para a cidadania, enquanto área
transversal a todo o currículo, deve desenvolver competências nas vertentes da
«construção da identidade (valorizar a(s) sua (s) cultura(s) e compreender os outro…), do
desenvolvimento de relações interpessoais (escutar os outros; estabelecer relações de
empatia, tolerância e solidariedade…), do estabelecimento de regras para uma vida
numa sociedade democrática (criar e cumprir regras, conhecer e apreciar os valores
fundadores da sociedade democrática…), da comunicação e da expressão (expressar a
sua identidade pessoal, comunicar ideias e sentimentos…), da tomada de decisões
(propor alternativas quando não se está de acordo, arbitrar e resolver conflitos de forma
democrática…), da formação de um pensamento crítico e reflexivo ( intervir de forma
coerente e informada no debate público, reflectir sobre a sua experiência/acção e a dos
outros…), da resolução de problemas (identificar problemas e resolvê-los ou contribuir
para a sua resolução) e da consecução de projectos (construir projectos e contribuir para
eles)» (in Abrantes et al, 2002: 56-57). Chama ainda a atenção que essa aquisição não
se pode fazer à custa de “lições” de Educação Cívica, pois a sua eficácia seria muito
reduzida, mas sim através do pleno exercício da cidadania. «Os “pacotes” de informação
sobre a forma como se regula e estrutura “a Nação” terão duvidosa eficácia, uma vez que
transformarão aquilo que fundamenta a vida de uma comunidade num saber abstracto,
num conteúdo memorizável que será facilmente esquecido se não suscitar adesão
afectiva, se não for vivido, se não se concretizar nas práticas sociais» (Abrantes et al,
2002: 57).
À guisa de exemplo, poderemos pensar por exemplo numa situação em que se pretende
que os alunos tenham uma atitude de respeito e preservação pelos espaços verdes
públicos. O que surtirá melhor e mais duradouro efeito? Enumerar uma lista de
comportamentos que não devem ter nesses espaços ou, por exemplo, propor aos alunos
o desenvolvimento de um projecto sobre um jardim próximo da escola (fazer uma visita,
observar a variedade do mundo vegetal existente, seleccionar alguns exemplares,
recolher informação sobre eles, fazer um trabalho de grupos e preparar uma
apresentação aos pais sobre o trabalho desenvolvido). Não será muito difícil decidir a
opção. A eficácia da acção do professor centrar-se-á essencialmente na metodologia a
aplicar, metodologia essa que provoque a «participação no seio de espaços de vida» pois
78
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
só assim poder-se-á suscitar o desenvolvimento pessoal e social. (Abrantes et al, 2002:
57).
O Comité dos Ministros do Conselho da Europa considera as seguintes competências
(2002: 57): a) Resolver conflitos de modo não violento; b) Saber argumentar e defender a
própria opinião; c) Escutar, compreender e interpretar os argumentos dos outros; d)
Reconhecer e aceitar as diferenças; e) Fazer opções, considerar alternativas e submetê-
las a uma análise ética; f) Assumir responsabilidades partilhadas; g) Estabelecer com os
outros relações construtivas e não agressivas; h) Desenvolver o espírito crítico
relativamente à informação, aos modelos de pensamento, concepções filosóficas,
religiosas, sociais, políticas e culturais.
Bárcene, refere que as competências a desenvolver devem estar integradas em quatro
áreas fundamentais: «exercício de juízos decisivos sobre os assuntos públicos; gosto
pelo bem público; educação para o desenvolvimento moral e sentido e disponibilidade
para o serviço em prol da comunidade» (Bárcene, apud Abrantes et al, 2002: 58).
Carla Cibele Figueiredo recorre a Audigier para apresentar a abordagem que ele refere
acerca das competências subdividindo-as em três domínios: competências cognitivas (de
ordem jurídica e política, as questões do mundo actual e as competências de tipo
procedimental, bem como os conhecimentos sobre os princípios e valores dos Direitos do
Homem e da Cidadania Democrática); éticas (escolha de valores e o agir de acordo com
eles, recorrendo à reflexão sobre a liberdade, a igualdade e a solidariedade) e acção ou
sociais (saber cooperar, resolver conflitos de forma democrática e intervir no debate
público). (in Abrantes et al, 2002: 59).
Ao abordarmos a questão das competências, não podemos excluir as metodologias
utilizadas para desenvolver essas competências. Tendo em conta que
A educação para a cidadania é uma componente transversal ao currículo, podendo
ser trabalhada integrada e articulada com outras áreas curriculares disciplinares e não
disciplinares, aliando teoria e prática, reflexão e acção;
As competências que são necessárias desenvolver se enquadram numa concepção
de educação e de formação para o exercício da cidadania global;
O centro de todo esse processo educativo e formativo é um ser humano livre,
responsável, solidário, autónomo, com direitos e deveres, aberto ao diálogo, com
espírito crítico, democrático, pluralista, criativo e interventivo face à sociedade;
as metodologias a utilizar só poderão ser metodologias activas, promotoras da
79
Maria Cândida Jardim
participação, do diálogo, da construção de projectos comuns e da vivência prática da
cidadania.
O Conselho de Ministros do Conselho da Europa chamou à atenção para a necessidade
de «desencadear métodos e pedagogias que ensinem os indivíduos a viver juntos numa
sociedade democrática e a lutar contra o nacionalismo agressivo, o racismo e a
intolerância, eliminando extremismos e os fenómenos ligados à violência» (2002: 5).
Neste contexto e utilizando como referencial o Guião de Educação para a Cidadania em
contexto escolar (Afonso, 2007: 24) apresentamos um quadro com algumas metodologias
que se consideram fundamentais para o desenvolvimento das competências e que
poderão ser um suporte de trabalho para a gestão pedagógica do trabalho a desenvolver
no 1.º CEB.
Metodologias
Processos de trabalho cooperativo
- Trabalhos de grupo (grupos heterogéneos que favoreçam a aprendizagem entre pares, onde as regras são claras, simples e negociadas de forma a serem cumpridas e a promoverem comportamentos democráticos. Este método pode ser usado para: Debater questões; Procurar consensos; Resolver problemas; Fazer projectos, etc.
Processos de trabalho reflexivo
Este tipo de trabalho permite «ajuizar e decidir com outra consciência do que está em causa. Pode passar pelo simples questionamento/perguntar e responder, à chuva de ideias – brainstorming - ou abranger o debate mais ou menos estruturado. Este processo dá a possibilidade de cada um desenvolver algumas competências democráticas (saber ouvir, argumentar, criticar, contestar, justificar, argumentar)
Processos de resolução de problemas
Este processo envolve estratégias de análise e discussão e permite desenvolver a capacidade de pensar, discutir e justificar. Pode ser utilizado para resolver problemas do dia-a-dia dos alunos ligados a diferentes temáticas ou para abordar valores de natureza moral (dilemas morais e discussão de valores)
Processos de negociação, acordo e contrato
Este processo é usado quando se está perante uma situação que gera conflitos e não se avista uma solução com sustentabilidade. O mais importante na negociação é «a intenção de chegar a um consenso, a um bom acordo, sendo que uns e outros têm de estar dispostos a fazer cedências, a bem da melhor solução possível». Pode ser utilizada, por exemplo, para resolver problemas de indisciplina, de utilização de espaços comuns, etc.
Role Play/simulação de papéis
Este processo consiste em representar papéis e situações sociais que normalmente não fazem parte do quotidiano dos intervenientes. Exige que nos saibamos colocar no lugar do outro, sendo muitas vezes uma oportunidade de pesquisa.
Acções concretas
Estas acções devem responder a um objectivo e resultar de uma planificação e conforme a sua amplitude em termos de tempo e finalidades pode integrar-se no trabalho de projecto. Este tipo de metodologia permite a criação de produtos, traduzindo-se em resultados ao nível da participação e intervenção cívica.
Fonte: Afonso (2007) (adaptado)
Quadro 2 – Processos metodológicos orientadores do trabalho pedagógico
Independentemente do enfoque escolhido, existe unanimidade em relação às condições
aplicáveis ao exercício da cidadania, verdadeiro caminho para a Educação para a
80
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Cidadania. Fazendo eco das palavras de Carla Cibele Figueiredo, a Educação para a
Cidadania passa pela forma como os professores exercem eles próprios a cidadania (cid
–prof, na expressão de Arménio Rego), reflectindo-se de forma evidente nas
metodologias que utilizam, na forma como avaliam, no modo como comunicam com os
alunos e com os pais e na forma como gerem direitos e deveres na sala de aula e fora
dela.
A escola, como instituição de natureza social, pode encontrar diferentes formas de
concretização e operacionalização da educação para a cidadania, significando que as
práticas curriculares podem ser diferentes, não sendo, no entanto, possível, dissociar a
educação para a cidadania da interiorização e vivência de valores, de uma forma
intencional e explícita ou de uma forma implícita e informal. Daí que não será
contraditório falarmos em formação pessoal e social, educação cívica, educação para os
valores, educação para os direitos humanos quando nos referimos à Educação para a
cidadania.
Promover a educação para a cidadania é, actualmente, um dos maiores desafios que tem
implicações no currículo, na organização escolar e na formação inicial e contínua dos
professores. Mas como vai o professor promover essa educação? A partir de que
pressupostos? A definição necessária do que se pretende na Educação para a cidadania
tem, antes de mais, de dar resposta aos problemas que são observados a nível da
escola, da comunidade, mas também a nível nacional e a nível europeu, os quais tem
preocupado e gerado encontros, congressos, relatórios, recomendações, programas,
projectos…na década de noventa (Projecto do BIE/Unesco “Que educação para que
cidadania?”, o projecto “Educação para a Cidadania Democrática, o relatório da União
Europeia “Construir a Europa pela Educação e a Formação” e o relatório Delors da
Unesco “A Educação, um tesouro a descobrir”). Essas preocupações (apatia cívica,
corrupção, racismo, intolerância, nacionalismo agressivo…) reflectiram-se na década
seguinte, em 2002, quando o Comité de Ministros dos Estados Membros da Europa
declarou a educação para a cidadania como uma prioridade, preocupação que foi
enfatizada pela Declaração do ano 2005 como o Ano Europeu da cidadania pela
educação (Ano). Desde então até hoje, o exercício da cidadania é sustentado por um
conjunto de valores que fazem todo o sentido nas sociedades democráticas e que são o
garante da satisfação dos direitos individuais e colectivos: a justiça, a liberdade, a
solidariedade, a tolerância, o respeito de si, do outro, do diferente, do bem comum, o
sentido de responsabilidade individual e colectiva, a participação, o pluralismo…
81
Maria Cândida Jardim
1.3.5. Currículo explícito na concretização da educação para a cidadania
«A Educação para a Cidadania concretiza-se ao longo de todo o percurso educativo
porque, fundamentalmente, é um processo de desenvolvimento de competências
cognitivas, sociais e afectivas desenvolvidas em “situação” e em estreita ligação com um
conjunto de valores que caracterizam as sociedades democráticas» (Abrantes et al,
2002: 55)
Para a concretização e construção dessas competências é necessário que o professor
desenvolva e propicie situações significativas e adequadas através, por exemplo do
envolvimento em projectos criados pelos próprios alunos a partir da necessidade da
resolução de um problema, uma preocupação do grupo, um incidente ocorrido, etc.
O currículo Básico do Ensino Básico está organizado em competências gerais e
específicas. As competências gerais foram equacionadas à luz de determinados
princípios da Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) que em nosso entender, todos
eles, enformam a concepção de educação para e na cidadania. São eles:
A construção e a tomada de consciência da identidade pessoal e social;
A participação na vida cívica de forma livre, responsável, solidária;
O respeito e a valorização da diversidade dos indivíduos e dos grupos quanto às
suas pertenças e opções;
A valorização de diferentes formas de conhecimento, comunicação e expressão;
O desenvolvimento da curiosidade intelectual, do gosto pelo saber, pelo trabalho e
pelo estudo;
A construção de uma consciência ecológica conducente à valorização e
preservação do património natural e cultural;
A valorização das dimensões relacionais da aprendizagem e dos princípios éticos
que regulam a relacionamento com o saber e com os outros.
O currículo do ensino básico (Abrantes, 2001) determina que no fim do 9.º ano de
escolaridade, o aluno tenha atingido o conjunto das dez competências gerais, propondo
para isso uma operacionalização específica, uma operacionalização transversal, e um
conjunto de acções que cada professor deverá promover e desenvolver. Tendo em conta
que a educação para a cidadania se concretiza através do seu exercício e implica uma
nova postura do professor, pretende analisar-se em que medida, no currículo explícito, as
propostas de operacionalização transversal e de acções a desenvolver por cada
82
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
professor permitem a transversalidade da educação para a cidadania em todas as áreas
curriculares, conforme é definido na alínea d) do artigo 3.º do Decreto-lei n.º 6/2001.
83
Maria Cândida Jardim
10 Competências Gerais Operacionalização transversal Acções a desenvolver pelo professor1-Mobilizar saberes culturais, científicos e tecnológicos para compreender a realidade e para abordar situações e problemas do quotidiano.
Prestar atenção a situações e problemas manifestando envolvimento e curiosidade.
Abordar os conteúdos da área do saber com base em situações e problemas.Organizar actividades cooperativas de aprendizagem, orientadas para a integração e troca de saberes.Desenvolver actividades integradoras de diferentes saberes, nomeadamente a realização de projectos.
2-Usar adequadamente linguagens das diferentes áreas do saber cultural, científico e tecnológico para se expressar
Comunicar, discutir e defender ideias próprias mobilizando adequadamente diferentes linguagens.
Desenvolver a realização de projectos que impliquem o uso de diferentes linguagens.
3-Usar correctamente a língua portuguesa para comunicar de forma adequada e para estruturar o pensamento próprio.
Valorizar e apreciar a língua portuguesa, quer como língua materna quer como língua de acolhimento.
Organizar o ensino prevendo situações de reflexão e de uso da língua portuguesa, considerando a heterogeneidade linguística dos alunos.Organizar o ensino valorizando situações de interacção e expressão oral e escrita que permitam ao aluno intervenções personalizadas, autónomas e críticas.
4-Usar línguas estrangeiras para comunicar adequadamente em situações do quotidiano e para apropriação de informação.
Interagir, oralmente e por escrito, em línguas estrangeiras, para alargar e consolidar relacionamentos com interlocutores/parceiros estrangeiros.Usar a informação sobre culturas estrangeiras disponibilizada pelo meio ambiente e, particularmente pelos media, com vista à realização de trocas interculturais.
Organizar actividades cooperativas de aprendizagem em situações de interacção entre diversas línguas e culturas.
5- Adoptar metodologias personalizadas de trabalho e de aprendizagem adequadas a objectivos visados
Exprimir dúvidas e dificuldadesPlanear e organizar as suas actividades de aprendizagemConfrontar diferentes métodos de trabalho, para a realização da mesma tarefa.
Promover intencionalmente, na sala de aula e fora dela, actividades dirigidas à expressão e ao esclarecimento de dúvidas e dificuldades
6- Pesquisar, seleccionar e organizar informação para a transformar em conhecimento mobilizável
Pesquisar, seleccionar, organizar e interpretar informação de forma crítica em função de questões, necessidades ou problemas a resolver e respectivos contextos.
Propor actividades integradoras dos conhecimentos, nomeadamente a realização de projectos
7- Adoptar estratégias adequadas à resolução de problemas e tomada de decisões
Promover intencionalmente, na sala de aula e fora dela, actividades que permitam ao aluno fazer escolhas, confrontar pontos de vista e resolver problemas.Promover intencionalmente, na sala de aula e fora dela, actividades de simulação e jogos de papéis que permitam a percepção de diferentes pontos de vista.Promover a realização de projectos que envolvam a resolução de problemas e a tomada de decisões
8- Realizar actividades de forma autónoma, responsável e criativa
Realizar tarefas por iniciativa própriaIdentificar, seleccionar e aplicar métodos de trabalho, numa perspectiva crítica e criativaResponsabilizar-se por realizar integralmente uma tarefa
Organizar o ensino prevendo a realização de actividades por iniciativa do aluno.Organizar actividades cooperativas de aprendizagem rentabilizadoras da autonomia, responsabilização e criatividade do alunoApoiar o aluno na descoberta das diversas formas de organização da sua aprendizagem e na construção da sua autonomia para aprender.Criar na escola espaços e tempos para intervenção livre
84
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
do aluno9- Cooperar com outros em tarefas e projectos comuns
Participar em actividades interpessoais e de grupo, respeitando normas, regras, critérios de actuação, de convivência e de trabalho em vários contextosManifestar sentido de responsabilidade, de flexibilidade e de respeito pelo seu trabalho e pelo dos outros.Comunicar, discutir e defender descobertas e ideias próprias, dando espaços de intervenção aos seus parceiros.
Organizar o ensino prevendo e orientando a execução de actividades individuais, a pares, em grupos e colectivasPromover, intencionalmente, na sala de aula e fora dela, actividades dirigidas para o trabalho cooperativo, desde a sua concepção à sua avaliação e comunicação aos outrosFomentar actividades cooperativas de aprendizagem com explicitação de papéis e responsabilidadesApoiar o aluno na descoberta das diversas formas de organização da sua aprendizagem em interacção com os outrosDesenvolver a realização cooperativa de projectos
10- Relacionar harmoniosamente o corpo com o espaço, numa perspectiva pessoal e interpessoal promotora da saúde e da qualidade de vida
Estabelecer e respeitar regras para o uso colectivo de espaços.Manifestar respeito por normas de segurança pessoal e colectiva
Organizar o ensino prevendo a realização de actividades em que é necessário estabelecer regras e critérios de actuaçãoPromover intencionalmente, na sala de aula e fora dela, actividades dirigidas à apropriação de hábitos de vida saudáveis e à responsabilização face à sua própria segurança e à dos outros.
Quadro 3 - A Educação para a cidadania na operacionalização das 10 Competências Gerais do Ensino Básico
No Fórum Educação para a Cidadania , que teve início em 2006, que teve início em
2006, consultado em Julho de 2009 (http://www.cidadania-educacao.pt), surge o conceito
de “cidadania global”. Este conceito, abrangente surge como resultado de novos
contextos sociais, económicos e políticos, tendo sentido porque, como é referido nos
documentos produzidos, abrange «as esferas pessoal e profissional, privada e pública, a
participação política e institucional e o quotidiano, na perspectiva da democracia, do
desenvolvimento humano, da mobilidade, da co-responsabilidade e da intersolidariedade
do espaço planetário» (2008:17). Este Fórum constituiu um contributo significativo para o
trabalho docente, contendo um manancial de propostas que podem ser postas em prática
na construção da cidadania, pelo seu exercício. O «exercício pleno da cidadania global
implica o desenvolvimento de competências sociais e cívicas agrupadas em três grandes
eixos: 1. Postura Cívica Individual; 2. Relacionamento Interpessoal e 3. Relacionamento
Social e Intercultural» (Ministério da Educação, s.d.: 17). (http://www.cidadania-
educacao.pt). O quadro que apresentamos e que consta dos documentos produzidos
durante o Fórum ilustra claramente as competências essenciais que os alunos devem
desenvolver numa perspectiva de educar para uma cidadania global. Importante será que
este manancial constitua uma base de trabalho para ser trabalhado transversalmente
pelos órgãos de gestão pedagógica e adaptado aos alunos.
85
Maria Cândida Jardim
Eixos Temáticas Competências Essenciais
Postura
Cívica
Individual
a) Identidade cidadã• Formação da identidade - auto-estima, consciência dos limites, responsabilidade e valorização positiva• Diferenças e pertenças múltiplas• Formação da consciência críticab) Autonomia individual• Autonomia para a construção de projectos de vida• Autonomia para o exercício de uma profissão e para as tarefas do cuidado• Desenvolvimento da capacidade de liderança• Situações e comportamentos de risco, incluindo circulação rodoviária e dependências• Desenvolvimento da capacidade de resposta a situações de emergência, incluindo primeiros socorros• Alimentação e consumo• Sexualidade humana• Saúde pessoal e colectiva• Saúde sexual e reprodutivac) Direitos humanos• Conhecimento das necessidades e dos direitos humanos• Dignidade humana• Igualdade de género• Eliminação das discriminações• Liberdade cultural, igualdade na diferença e interculturalidade• Compreensão da desigualdade de género, das discriminações, da distribuição desigual da riqueza e do poder, da persistência da pobreza enquanto manifestação de violência, de injustiça e de ineficiência nas sociedades• Compreensão das responsabilidades cidadãs na concretização dos direitos humanos.
• Saber exercer e compatibilizar os direitos humanos – que abrangem os civis, políticos, económicos, sociais, culturais, ambientais e do desenvolvimento – à luz dos principais instrumentos que os consagram a nível nacional, internacional e comunitário, bem como reagir em caso de incumprimento;• Saber usar e desenvolver a consciência crítica como instrumento de intervenção cívica, designadamente no que respeita à linguagem;• Saber fazer uma leitura crítica da realidade e da informação, assente na capacidade de distinguir entre o real e o virtual, bem como na consciência do papel dos media e da sua influência na sociedade;• Saber argumentar a primazia dos direitos humanos e a separação de poderes relativamente a eventuais justificações para a respectiva violação emanadas de qualquer poder, incluindo os de natureza temporal, religiosa, filosófica ou fáctica;• Aceitar a sua própria identidade, as características, possibilidades e limitações do próprio corpo;• Valorizar as experiências pessoais como construção da identidade;• Desenvolver a auto-estima, a responsabilidade, o respeito por si e pelas outras pessoas, a coragem, a persistência, a capacidade de superação da adversidade e a afirmação da cidadania em qualquer circunstância;• Saber agir com urbanidade, simplicidade, rigor, auto-domínio e respeito por si, pelas outras pessoas, designadamente no quadro da circulação rodoviária;• Saber recusar estereótipos e preconceitos e valorizar positivamente a diversidade;• Ter autonomia quer para o cuidado individual, incluindo nos domínios da sexualidade, da saúde e dos comportamentos de risco, incluindo a circulação rodoviária, quer para as tarefas de cuidado inerentes à vida familiar e às amizades, e aos espaços em que estas se desenvolvem;• Ter autonomia para o exercício de uma profissão e para o ajustamento aos riscos de conjunturas económicas diversificadas;• Saber criar e desenvolver uma atitude de exigência e de aperfeiçoamento permanente, designadamente no domínio do conhecimento e das qualificações;• Saber entender o cumprimento dos deveres fundamentais, incluindo os fiscais e contributivos e a respectiva aplicação ao caso concreto como dimensão estruturante da cidadania e da coesão social num Estado de direito democrático;• Ter capacidade de resposta a situações de emergência e de não omissão do auxílio exigível, desde os primeiros socorros até à participação em acções ou campanhas de ajuda humanitária em situações nacionais ou internacionais graves;• Ter capacidade de resposta a situações de ofensa dos direitos fundamentais, incluindo no convívio social, nas práticas profissionais ou em situações do quotidiano;• Ter capacidade de defesa própria ou alheia em estado de necessidade, de escolha informada sobre a adequação dos meios a utilizar e de exercício do direito de queixa às entidades competentes;• Saber rejeitar a vitimização, a subserviência, a humilhação, a intimidação, a manipulação, o medo, a corrupção, a hipocrisia, os comportamentos violadores da dignidade humana própria ou alheia, a desproporção na exigência de superação dos próprios limites, a exploração de fragilidades alheias, a arrogância, o abuso de autoridade ou de posição dominante;• Saber gerir realidades complexas e eleger prioridades;• Saber clarificar valores, reconhecer e gerir sentimentos próprios e compreender os alheios;• Saber como participar socialmente e como assumir responsabilidades, designadamente de liderança, para a construção do bem estar colectivo tanto a nível local como global;
Relaciona
mento
Interpessoa
l
a) Comunicação1. Desenvolvimento da capacidade de expressão do pensamento com clareza, objectividade, concisão e utilização de linguagem inclusiva2. Desenvolvimento da capacidade de falar em público
• Saber comunicar no respeito pela igual liberdade e pela igual dignidade de todas as pessoas, tendo em conta a pluralidade de pertenças individuais;• Saber comunicar de igual para igual com homens e mulheres;• Saber rejeitar a reprodução simbólica da estratificação social, designadamente através da recusa de utilização de títulos
86
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
3. Desenvolvimento da capacidade de escuta activa, da capacidade de interlocução e da capacidade de expressão dos sentimentos4. Desenvolvimento da assertividade, do auto-domínio, do controlo da agressividade, da capacidade de escolha, da criatividade e da capacidade de empreenderb) Diálogo5. Ecologia do relacionamento humano6. Desenvolvimento da capacidade de diálogo, de cooperação, de gestão harmoniosa de conflitos7. Desenvolvimento da capacidade de trabalho em equipa
nobiliárquicos ou graus académicos no tratamento das pessoas, salvo quando tal utilização seja legalmente obrigatória;• Saber ouvir activamente, interpretar opiniões e dialogar (apresentando posições fundamentadas e argumentando);• Ter capacidade de diálogo, de cooperação, de resolução de problemas, de gestão de conflitos, de prevenção de situações de violência e de organização colectiva e associativa;• Assumir comportamentos sexuais saudáveis incluindo o uso de preservativo no contexto da prevenção do VIH/SIDA e prevenção da gravidez não desejada;• Respeitar a diversidade, os direitos fundamentais de todos e de todas, as suas opiniões e crenças;• Ter sensibilidade face aos sentimentos, e necessidades, recursos e propostas dos outros e capacidade de demonstrar solidariedade);• Saber rejeitar a violência como solução dos conflitos interpessoais;
Relaciona
mento
Social e
Intercultural
a) Democracia• Democracia da esfera pública e democracia da esfera privada• Os limites dos direitos e os deveres de cidadania• Formas de comunicação, media• Compromissos individuais e colectivos• Responsabilidade social• Cidadania empresarial• Participação, cooperação e voluntariado• Inovação social• Lideranças• Boa governança• Modelos de governo, instrumentos de poder• Funcionamento da estrutura organizativa do Estado português e da UniãoEuropeiab) Desenvolvimento humano sustentável• Modelos de desenvolvimento• Desenvolvimento, ciência e tecnologia• Desenvolvimento social, cultural, político e económico tanto local como global (direitos sociais, económicos e culturais, sensibilidade ambiental)• Opções de desenvolvimento sustentável• Produção, consumo e desenvolvimento• Intervenções e acções de transformação e construção social para o equilíbrio sustentável do desenvolvimento humanoc) Globalização e interdependência• Conhecimento dos sistemas económicos e políticos existentes no mundo• Relações de poder• Migrações internacionais• Recusa de um “pensamento único”, procura de alternativas para a injustiça e as desigualdades• Consumo responsável, comércio justod) Paz e conflitos:• Causas e efeitos dos conflitos locais e globais• Educação para a paz• Cultura de paz
• Saber exercer os deveres inerentes ao Estado de Direito democrático, compreendendo os respectivos fundamentos;• Saber reconhecer a importância da participação na vida democrática e dos códigos de conduta que a regem, em particular através do exercício do direito/dever de sufrágio e dos direitos/deveres fiscais e contributivos;• Defender os direitos humanos, identificar e desenvolver práticas de responsabilidade social, comprometer-se com a justiça social e a igualdade, disponibilizando-se para contribuir para a erradicação da pobreza em prol de um mundo mais solidário;• Saber como funciona a estrutura política e organizativa do País e da União Europeia e quais são as respectivas bases;• Saber respeitar a diversidade humana, exercer a liberdade cultural no quadro dos direitos humanos e de uma concepção global e sistémica do mundo em que vivemos;• Saber respeitar o património cultural e natural;• Desenvolver sensibilidade para os impactos ambiental e social das actividades individuais e colectivas;• Rejeitar a violência em geral e as atitudes de intolerância e exclusão;• Saber reconhecer as injustiças e desigualdades e interessar-se activamente pela procura e prática de formas de vida mais justas;• Procurar, adquirir e analisar criticamente informação relevante acerca das realidades locais e globais;• Adquirir critérios de valor relacionados com a coerência, a solidariedade e o compromisso pessoal e social, dentro e fora da escola;• Aprender a reflectir sobre os conflitos de valor, pensando segundo critérios de justiça e dignidade pessoal a partir de princípios universais;• Saber viver em paz, igualdade, justiça e solidariedade, e promover estes valores nas sociedades plurais dos nossos dias.
Fonte: http://www.min-edu.pt/np3content/?newsId=297&fileName=edu_cidadania.pdf
Quadro 4 - Competências Essenciais no âmbito da Educação para a Cidadania propostas pelo
Fórum Educação para a Cidadania
1.3.6. Educação para a cidadania em manuais escolares
A forma dominante de instrução na actualidade ainda continua a ser a leitura de textos.
«Os textos escritos mais generalizados, mais eficazes e mais padronizados, são, sem
87
Maria Cândida Jardim
dúvida, os textos dos manuais escolares» (Santos, 2001: 136-137).
Se por um lado, os livros e a leitura dos textos dos livros podem constituir um elemento
educativo fundamental e contribuir para a promoção de contextos facilitadores de
educação para a cidadania, por outro lado não se pode esquecer que o objectivo das
editoras está muito mais voltado para uma lógica técnico-económica de produção e de
mercado. Será que estes dois objectivos podem “conviver” sem um anular o outro?
Existirão livros que dêem resposta simultaneamente à lógica do consumo e do lucro fácil
e à lógica do livro enquanto suporte formativo e regulador da prática pedagógica?
A escolha de manuais escolares para cada ano de escolaridade acontece de quatro em
quatro anos. A análise dos manuais é registada em impressos próprios do Ministério de
Educação. Só a partir do ano 2006 é que a abordagem da educação para a cidadania foi
considerada como um item a analisar para a selecção dos manuais a adoptar. Foi
também a partir desse ano que as editoras começaram a dar algum destaque explícito a
conteúdos/temas relacionados com a educação para a cidadania. O objecto da análise
incidirá sobre uma selecção de 11 manuais escolares da área curricular de Língua
Portuguesa, do 4.º ano de escolaridade propostos para adopção para o ano 2005/2006.
Esses manuais estarão em vigor até 2013, momento em que decorrerá nova adopção de
manuais, de acordo com o Despacho n.º 29865/2007, de 27 de Dezembro.
O manual “Crescer”, da Porto Editora, apresenta cinco sugestões de propostas que se
podem considerar relacionadas com a educação para a cidadania, no entanto as mesmas
não são apresentadas em articulação com os textos. De seguida apresenta-se um quadro
de análise dos itens abordados e as actividades propostas.
TEXTO SUGESTÃO OBSERVAÇÕES
A caminho da escola Elaboração de um painel relativo às regras básicas de prevenção rodoviária
Texto muito simples sem referência nenhuma ao tema
Um acordar difícil Conversa sobre algumas regras da escola (ser pontual, trazer o material necessário)
Texto pobre sem referência explícita ao cumprimento de regras.
O dorminhoco Organização de uma recolha de brinquedos usados para doar a uma instituição social
A proposta não apresenta nenhuma articulação com o texto
Coração de robô Conversa sobre os benefícios da reciclagem Não há uma coerência entre o texto e a sugestão de actividade
As grades Conversa sobre o carinho com que se devem tratar as pessoas idosas.
Não existe articulação entre o texto e a proposta.
Dia Mundial do Ambiente Faz um painel alusivo à Protecção do Ambiente
Quadro 5 - Abordagem da Educação para a Cidadania no Manual Escolar: "Crescer, Porto
Editora"
88
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
O manual Pasta Mágica, (Pereira et al, 2006), é um dos poucos manuais que dedica
algum espaço específico à educação para a cidadania, na área de Formação Cívica.
Esse espaço de duas páginas está reservado ao fim de cada unidade que corresponde a
um mês. Nos meses de Setembro a Abril o tema globalizador é “Eu e os Outros”. Em
Maio o tema é “Prevenção Rodoviária”. Os itens abordados em cada tema são
independentes dos textos apresentados na respectiva unidade e têm como objectivo
levar os alunos a debater essencialmente as regras de bom comportamento em casa, na
escola, na sociedade, em locais públicos. As duas últimas unidades destacam
intencionalmente a educação Ambiental e a Prevenção Rodoviária. Utiliza como
motivação ilustrações adaptadas à realidade da escola. É de referir que também faz parte
do manual um livro de fichas para prática e consolidação das questões gramaticais mas
que dedica um espaço ao trabalho sobre alguns itens de Formação Cívica abordados no
manual. Todas as actividades propostas contêm ilustrações e é solicitado ao aluno que,
baseado nas imagens, teça um comentário. Apesar de considerar uma grande evolução
em termos de sensibilização para abordagens diferentes no âmbito da educação para a
cidadania, esta abordagem deverá servir como motivação para elaboração de projectos
mais consistentes e alargados no tempo.
De seguida apresenta-se um quadro de análise dos itens abordados por unidades e as
actividades propostas.
89
Maria Cândida Jardim
MÊS TEMAS E SUB-TEMASACTIVIDADES PROPOSTAS
NO MANUAL
Setembro
Ser bem-educado na escola:- Chegou um novo aluno- Na sala de aula
- Debate de ideias- Conclusões- Elaboração de um cartaz com normas de boa educação
Outubro
Ser bem-educado com a família:- Com os teus pais- Ao entrar em casa- À mesa
- Entrevista aos pais sobre possíveis tarefas a desempenhar- Organização de lista de tarefas
Novembro
Ser bem-educado com os amigos:- É preciso saber perder e ganhar- Um amigo na necessidade é um amigo de verdade- Amizade firme…portas sempre abertas
- Debate o tema- Organização de regras de jogo e de partilha.
Dezembro
Ser bem-educado …em sociedade:- Comportamentos em diversas situações- Saber dizer não- Ser simpático- Comportamentos nas visitas e locais públicos
- Debate- Elaboração de cartaz com regras
JaneiroAprender a escutar - Elaboração de perguntas sobre as
dificuldades
FevereiroAprender o escutar…e ser cidadão do mundo!- O que é ser cidadão do mundo?
MarçoCompreender os outros…e os seus sentimentos!
- Registo das expressões faciais - Registo de uma situação que desencadeou um sentimento
AbrilO silêncio é de ouro! …A Natureza também! - Escrita de uma frase sobre o que é possível
fazer para melhorar o ambiente- Elaboração de um cartaz colectivo
Maio
Prevenção Rodoviária: - Sinais a conhecer…- Cuidados a ter
- Comentário e debate de situações apresentadas- Análise de grupo de outras situações- Elaboração de um cartaz: “Prevenção Rodoviária”
90
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Quadro 6 - Abordagem da Educação para a Cidadania no Manual Escolar: Pasta Mágica
O manual Júnior /Silva, 2006), também dá algum destaque à Educação para a cidadania
através de uma abordagem articulada com alguns dos textos. O manual está dividido em
10 unidades, em que são propostos cinquenta e oito textos. Desses, vinte e cinco textos
apresentam articulação com a área de Formação Cívica. Essa abordagem é feita na
parte inferior do texto, através de um pequeno texto de enquadramento. Em alguns textos
são propostas actividades simples (marcar com um x a resposta adequada), noutros a
actividade é mais abrangente e aberta às iniciativas da turma. De seguida vai ser
apresentada uma grelha de análise em que se refere, em cada unidade os textos que
apresentam o item Formação Cívica e as respectivas propostas de actividades.
Unidade TEXTO TEMA DE FORMAÇÃO
CIVICAACTIVIDADES PROPOSTAS
NO MANUAL
1Verde ou azul Aprender a comunicar Debate sobre a expressão: «Da discussão nasce a luz»
O coelho monstro Ser delicado Conversa sobre as atitudes de dedicação para com a família e os amigos
2
João Flor e Joana amor – 4 de Outubro,
Dia Mundial do Animal Proposta de adopção de um animal, lembrando as responsabilidades da decisão
A Proclamação da República
Respeitar os símbolos nacionais
Proposta de aprender o hino nacional
Encruzilhada Entreajuda Proposta de reflexão sobre atitudes através do levantamento de uma questão
3
Terra – MãeRespeitar usos e tradições Levantamento de questão para reflectir: O que deves fazer
quando estiveres com pessoas de outras regiões (em Portugal)?
Uma história bonita mas salgada
Partilhar tarefas Elaboração individual de uma lista de tarefas.Elaboração, após comparação, de uma lista com tarefas comuns a todos
No NatalSer solidário Referência ao voluntariado em instituições (Banco Alimentar
contra a fome, Fundação Gil, Unicef, 91ró91tas). Proposta de acções para ajudar os outros
4 Um passeio de jipe Respeitar a Natureza Pequeno texto com referência a áreas protegidas
5
A gansa dos ovos de ouro
Aprender com os provérbios Proposta de aprendizagem de provérbios como expressões que transmitem uma lição moral
A idade de Portugal Preservar os vestígios do passado
Apelo ao orgulho de pertencer a uma família e a um país ( monumentos)
O rio da minha aldeiaPoupar água Apresentação de frase: O Dia da Água deve ser
comemorado todos os dias, poupando água. Poluir a água põe em perigo a tua saúde!
6
Depois da comida Aprender a ser tolerante Sinalização com x na opção certa
A uma árvore amigaAprender a observar Continuação de um texto elaborado por um grupo de alunos;
Observação das árvores que existem no meio envolvente e desenho de uma
7
A mulher do mágicoRespeitar as religiões Investigação sobre o significado da Páscoa. Apelo ao
respeito pelas pessoas que não celebram a Páscoa cristã porque têm outras religiões.
Fogo Prevenir incêndios Pequeno texto de sensibilização sobre simples atitudes a adoptar em diversas situações em que se usa o fogo.
8
Meninos de todas as cores
Somos todos iguais Preenchimento de lacunas em frasesComentário da frase: «Todos diferentes, todos irmãos, como os dedos da mão.»
A revolução de Abril Direito à liberdade Indicação com x da expressão que completa uma frase.
9
Lição de gramática Cumprir regras Elaboração de uma lista com as cinco regras que melhor são aplicadas na sala de aula
José Barnabé Pé de Jacaré
Respeitar o espaço alheio Indicação com x na opção correcta
91
Maria Cândida Jardim
Luís, o poeta, salva a nado o poema
10 de Junho – Dia de Portugal, de Camões e das comunidades
Proposta de pesquisa sobre a data
Quadro 7 - Abordagem da Educação para a Cidadania no Manual Escolar : JuniorJúnior
O manual Amiguinhos, (Rocha et al, 2006) dedica um pequeno espaço, no fim da página
de alguns textos, dedicado à reflexão e educação cívica, identificando-o como «Sou
cidadão». Essa rubrica, apela à reflexão, em grupo, de diferentes temáticas e propõe
actividades. Por vezes a reflexão proposta parte do texto mas nem sempre isso se
verifica. É notória a preocupação pela selecção de textos que facilitam a abordagem da
educação para a cidadania, essencialmente na preservação do ambiente e na adopção
de comportamentos cívicos adequados às mais diversas situações. A editora apresenta
também um caderno de fichas que aborda sempre questões gramaticais, nunca fazendo
qualquer referência a questões da educação para a cidadania. De seguida apresenta-se
uma grelha de análise dividida em unidades (correspondentes aos meses de actividades
lectivas), os textos referência, os itens de Formação Cívica e as actividades propostas.
Unidade TEXTO TEMA DE FORMAÇÃO CIVICA
ACTIVIDADES PROPOSTASNO MANUAL
1Notícia (120 milhões de crianças não podem ir à escola)
Direitos e deveres Elaboração de um regulamento da turma com os direitos e deveres
2Negra O respeito da diferença Diálogo sobre a frase «Todos diferentes, todos
iguais» e construção de um texto em grupo sobre o assunto.
3 Bartolomeu marinheiro
Prevenção rodoviária Construção de regras enquanto peão.
4 Lenda da serra da Estrela
Amizade Debate na turma sobre o valor da amizade e elaboração das conclusões.
5A menina do marTexto científico
Educação ambiental (espécies marinhas em vias de extinção)
Elaboração de um cartaz sobre as medidas a tomar para evitar o desaparecimento de espécies marinhas.
6 O que é a cidadania?Os direitos da criança
Direitos Humanos Debate sobre os Direitos e deveres de cada um.
7
Cientista O que há atrás da porta?
Valores Debate sobre o que é mais importante (Ir à lua ou descobrir uma vacina para salvar milhões de vidas).Registo das principais ideias retidas.
8
O diabo e o lavrador.O que é um conto popular?
O egoísmo e a ganância Reflexão sobre as características das personagens e reescrita da história mudando as características das mesmas (trabalhador e honesto).
A poluiçãoRio na sombra
Preservação do ambiente Imaginação e escrita das recomendações feitas pela professora na preparação de um piquenique.
Quadro 8 - Abordagem da Educação para a Cidadania no Manual Escolar: Amiguinhos
O Manual «Fio-de-Prumo» (Monteiro, 2006) não apresenta explicitamente nenhuma
92
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
referência à Educação para a Cidadania. Em 6 textos dos 58 que o manual propõe, é
feita uma curta abordagem a alguns temas que se enquadram na área da Educação para
a cidadania. As propostas apresentadas surgem no caderno de actividades, sempre no
item “Proposta de Escrita” e a motivação está sempre articulada com o texto. A maior
parte dos textos apresentados são susceptíveis de serem explorados conforme o
interesse dos alunos e a intenção do professor. No entanto as propostas apresentadas no
caderno de actividades poderiam ser mais diversificadas e não apenas com a função de
suporte para a aprendizagem da produção de determinados tipos de textos (cartas,
notícias, resumos, etc.) Apresenta-se, de seguida, a grelha de análise dos itens
abordados.
TEXTO TEMA ABORDADO Proposta apresentada
Uma nova aluna Regras de comportamento Escreve algumas regras de comportamento na sala de aula e justifica-as oralmente.
O cão abandonadoCuidados a ter com um animal Elaboração de um texto sobre a melhor forma de cuidar
de um animal e a necessidade de levar uma saco e uma pá quando for dar um passeio
O grilo diferenteDiversidade e aceitação das diferenças
«Tens ou já tiveste meninos de outras raças na tua escola? O que te parece mais importante nessa convivência?»
Baltasar A pobreza e a responsabilidade de uns pelos outros
Criar um texto com o título “Se eu fosse rei e se no meu reino houvesse muitos pobres, eu…”
O valor do trabalho A importância do trabalho Escrever um texto sobre a importância do trabalho.
Nós e a Natureza O respeito por si próprio, pelos outros e pela Natureza
Escrever um texto com o título “O Planeta ideal seria…”
Quadro 9 - Abordagem da Educação para a Cidadania no Manual Escolar: Fio-de-Prumo
O Manual «As leituras do João» (Monteiro e Paiva, 2006) apresenta-se dividido em nove
unidades correspondentes aos meses de Setembro a Maio. No início de cada unidade o
manual apresenta duas páginas organizadas em itens: temas/conteúdos; competências
essenciais; competências transversais; processos de operacionalização; metodologias de
avaliação; área de projecto; estudo acompanhado e cidadania/formação cívica. Este
último item está subdividido em conteúdos, objectivos e sugestões de actividades. Far-
se-á uma análise dos temas, objectivos, sugestões de actividades apresentadas em cada
unidade e paralelamente também uma apresentação dos textos seleccionados, que
permitem uma abordagem no âmbito da educação para a cidadania.
Uni-dade
TEMA/CONTEUD
O
OBJECTIVOS ACTIVIDADES PROPOSTAS NO
MANUAL
TEXTOS/DEBATE ORAL SOBRE
O valor da pessoa, Ser
Identificar situações de respeito pela vida e descobrir os seus benefícios.
Visualização de imagens e identificação de atitudes
A estrela-do-mar – o que se devia fazer para proteger a vida dos
93
Maria Cândida Jardim
1
pessoa
Reconhecer a dignidade da pessoa e a defesa da vida.Manifestar uma atitude de respeito pela vida.Identificar algumas capacidades e valores em si e nos outrosReconhecer a complementaridade das pessoas
de respeito pela vida;Elaboração de um cartaz com sugestões de respostas e desenhos das crianças, para as perguntas: quando é que eu respeito/não respeito a minha vida?Diálogo sobre as capacidades de cada um e dos outros; reconhecendo que todos precisam de todos
pequenos seres vivos nas águas do mar, junto às praias.O amigo de Joana –o valor da amizadeO trambolhão do avô – benefícios do exercício físico para a saúde.Quem conta um conto…parques existentes ou necessários na localidade.Que medo – formas de evitar o medo ou de o enfrentarO Quicas – abandono de animais Os biscoitos da avó – amor dos avós pelos netos e vice-versa
2
A relação com os outros
Alegrar-se por ser quem é e colaborar activamente para que os valores de cada um contribuam para o bem de todosIdentificar as necessidades fundamentais do ser humanoVerificar situações em que as necessidades básicas não são satisfeitasApreciar as iniciativas de promoção humana e social.
Trabalho a pares para descobrir as qualidades um do outro e elaboração de cartaz. Dialogo sobre as qualidades de cada um no bem do grupo.Conclusão sobre a não satisfação das necessidades básicas em muitos países.Diálogo sobre instituições sociais nacionais e mundiais: acção e importância…
As árvores – a morte das árvores como uma atitude por vezes inevitável - sentimentosParabéns a você – comportamento nos aniversáriosE o leão pensou – protecção dos animais e do seu meio ambiente.
3
O respeito pelos
símbolos nacionaisO Natal
Identificar os símbolos nacionaisReconhecer os símbolos nacionais como representação de Portugal e, por isso, merecedores de todo o respeito.Recordar que o mais importante do natal é o amor e o respeito entre todas as pessoas.
Desenho da bandeira nacionalDecoração da sala pelas crianças
«Heróis do mar, nobre Povo»A prenda – prendas que nunca se deveriam oferecer às crianças.Hoje é Natal! – Como fazer árvores de Natal sem danificar a natureza.
4
A famíliaUma grande
família (formada por
todos os seres
humanos)
Conhecer situações de carência no mundoIdentificar alguns movimentos e organizações de entreajuda fraterna e descobrir a sua importância
Construção de cartaz de movimentos e organizações nacionais e internacionais de entreajuda fraterna (Cruz Vermelha, Caritas…Diálogo sobre as suas acções, valor e importância para que todos possam viver com mais dignidadeAcção de solidariedade na escola ou no meio
Isabel e o anão - dialogar sobre a pergunta: a curiosidade é uma virtude ou um defeito?
5
Não refere[Educação
para os Meios de
Comunicação Social]
Tomar consciência de situações em que procedeu bem e em que procedeu malDistinguir entre o bom e o mau uso da liberdade e responsabilizar-se pelas suas decisões
Escolha de programas adequadas à idadeDesenho ou descrição de uma situação que exigiu uma opçãoDiálogo sobre os
Uma pequena história quase mágica – diálogo sobre a amizadeNa ilha Graciosa – debater e relembrar as normas de segurança no caso de um tremor
94
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Fazer uma análise crítica de um programa de televisãoReconhecer que nem todos os programas de TV ajudam a crescer
programas de TV que as crianças costumam ver (benefícios, vantagens, desvantagens, efeitos)Elaboração de uma lista de programas actuais que promovem o crescimento das crianças.
de terraVai andar…Vai andar – dialogar sobre brinquedos adequados e perigosos de uma feira popularOs balões coloridos – o que é a verdadeira amizade.Entrevista de rua – importância das passadeiras e dos semáforos
6
Dimensão humana: valores éticos e
morais nas grandes cidades
Dimensão Social:
migração Emigração e
ImigraçãoDomingo
Mostrar respeito por todos os países lusófonosReconhecer que o domingo é um dia diferentes dos outros e saber o significado da palavra
Escrita de frases sobre como viver a PáscoaDiálogo sobre os dias da semana e o domingo: o que faz, o que se pode fazer, o que se costuma fazer.
As meninas do pessegueiro – debater a afirmação:”Quando brincamos ao ar livre, temos de ter cuidado para não estragar as plantas e as árvores”A chegada da Primavera – o egoísmo e suas consequênciasDia do pai – o que fazer para agradecer aos paisA andorinha distraída – debate sobre a frase “Humildade é não pensar que se sabe tudo”
7
A alegria
Saber reconhecer a importância da saúde para o perfeito exercício de todas as actividadesReconhecer os cuidados dispensados pelas outras pessoas e agradecerGostar de praticar e colaborar no bem-estar colectivo
Não faz referência A árvore – como resolver o problema causado pela sombra da árvorePão-de-ló e flores – o que de importante se costuma realizar na época da Páscoa.A água e a vida – diversos aproveitamentos da água, bom e mau uso da água.A lâmpada eléctrica – utilidades da electricidade e benefícios
8
O trabalhoA
diversidade
Saber respeitar o seu trabalho e o dos outrosSaber respeitar as regras de associativismo
Não faz referência Obrigado, Mãe! – Como devemos proceder com as nossas mãesA borracha cansada – “Só quem muito trabalhou é que merece descansar”
9A Escola
Identificar momentos em que se sentiu feliz na escola.
Elaboração de um cartaz sobre o que de mais importante aconteceu nesse ano e os momentos mais agradáveis
A gaivota – o que podemos fazer para evitar a poluição?
Quadro 10 - Abordagem da Educação para a Cidadania no Manual Escolar « As Leituras do João»
o»
Foram consultados e analisados 11 manuais de Língua Portuguesa do 4.º ano propostos
para análise, selecção e adopção para o ano lectivo 2005/2006. Em seis dos manuais
analisados não é feita qualquer referência à Educação para a cidadania, revelando que
ainda não existe uma sensibilização generalizada ao nível das editoras para a sua
importância. Os manuais de Língua Portuguesa do 4º ano que não contemplam a
educação para a cidadania são os seguintes: «Eu e a Mariana» (Mota, 2006),
95
Maria Cândida Jardim
«Trampolim», «Pirilampo», «Caminhos (Dinis, 2006), «Novo Despertar» (Neto, 2006) e
Vá de Roda (Rosa, 2006). O manual «Crescer», da Editora Educação Nacional refere na
contracapa que o “Projecto Crescer 4” aborda temas relacionados com a cidadania. No
entanto essa abordagem é muito ténue e pouco significativa, sendo limitada a uma
sugestão de actividade, individual. Muitas vezes o próprio texto não faz a articulação
necessária com a proposta. Nos restantes cinco manuais pode-se considerar que houve
alguma preocupação em fornecer propostas de temas/conteúdos/pistas de trabalho para
serem desenvolvidas pelos docentes. No manual «Pasta Mágica», a abordagem
referente à educação para a cidadania restringe-se a três grandes temas: Eu e os outros,
Prevenção Rodoviária e Ambiente, estando o primeiro tema presente de Setembro a Abril
e só em Maio e Junho é dedicado espaço aos outros temas. Atendendo a esta
constatação e sendo este o manual adoptado pelo Agrupamento, compreende-se que na
análise dos Registos diários das Actividades da turma dos docentes que leccionaram
turmas de 4.º ano de escolaridade, se tenha registado a maior percentagem no item
“Aprender a viver com os outros” (40,8%), traduzindo a grande preocupação e
valorização dos docentes pela formação social dos alunos, ou seja pelo aprender a viver
com os outros.
No manual «Amiguinhos» (Rocha et al, 2006), são apresentadas apenas 8 propostas
(uma por mês). Em cada uma é abordado um tema diferente. São apresentadas
diferentes estratégias de trabalho com os alunos.
No manual «JuniorJúnior» (Silva, 2006), a abordagem é feita a partir de cada texto,
apresentando para cada um, um tema e uma proposta de trabalho.
No manual «Fio de Prumo» (Monteiro, 2006), ( a abordagem à educação para a
cidadania é bastante pobre pois limita-se a propostas de produção escrita e acontece
apenas a partir de 6 dos 58 textos do manual.
O manual «As leituras do João» (Monteiro e Paiva, 2006) é um dos únicos manuais com
boa organização (tema/objectivos, propostas de actividades/ propostas de debate oral)
que aborda uma diversidade de temas enquadráveis nos itens que considerámos para o
estudo prático (aprender a viver consigo próprio, com os outros e com o ambiente): O
valor da pessoa, a relação com os outros, o respeito pelos símbolos nacionais, os seres
humanos como uma grande família, vValores éticos, a alegria, o trabalho, a diversidade e
a escola.
Como se pode observar a questão dos temas a abordar relativamente à Educação para a
cidadania, não são temas estanques e contemplam uma diversidade que não vinculam o
96
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
docente pois são apenas possíveis propostas de trabalho. Cabe ao professor a escolha
oportuna, adequada ao grupo e às suas características e contextualizada no tempo e no
espaço. O mesmo se dirá em relação às estratégias e metodologias, sendo certo que as
propostas mais eficazes resultam de abordagens significativas em que o protagonismo é
dado ao aluno, assumindo um papel activo e interventivo e valorizando a aprendizagem
cooperativa e prática.
1.3.7. A formação para a Educação para a Cidadania em Portugal
À formação compete desenvolver uma racionalidade crítica que apoie os professores a identificar os problemas com que se defrontam, a contextualizá-los e a delinear processos de acção.
Carlinda Leite10
As propostas de formação devem assumir uma metodologia que privilegie a reflexão
sobre o ser, sobre o fazer e sobre o acontecer; sobre a acção pedagógica quotidiana do
docente e o seu impacto transformador, de modo que a escola se vá assumindo como
um espaço para a reflexão e para aprender a ensinar. (Esclarín, 2004: 158).
Num mundo que muda vertiginosamente a formação contínua é um pressuposto que
deve ser interiorizado por todos os professores como uma necessidade e não como uma
obrigação, pois «a formação inicial não basta para o resto da vida: precisam de actualizar
e aperfeiçoar os seus conhecimentos e técnicas, ao longo de toda a vida» (Delors, 1996:
139). Simultaneamente a formação contínua deve, mais do que oferecer informação,
provocar a auto reflexão na e sobre a acção, a reconstrução crítica e a auto
transformação. Um professor que se põe em causa, que questiona a sua relação com o
saber, com o ensinar e com o aprender, aprende a reflectir e isso conduz a mudanças
qualitativas na sua actuação pedagógica. O relatório Delors (1996) propõe algumas
medidas para conseguir melhorar a qualidade e a motivação dos professores. Entre elas
10 Doutorada em Ciências da Educação e Professora na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.
97
Maria Cândida Jardim
enumeram-se a Formação Inicial e a Formação contínua.
A formação contínua só cumprirá o seu papel fundamental quando tiver como objectivo
«transformar o docente em educador, em agente democratizador e provocador da fome
de aprender dos seus alunos (EsclarinEsclarín, 2004: 158). A formação contínua deve
orientar-se para formar o professor como pessoa, como cidadão, como promotor de
cidadania, para que ajude os seus alunos a aprender a aprender, a ser e a conviver.
Como é referido no relatório Delors a formação contínua pode contribuir para aumentar o
nível de competência e a motivação dos professores e melhorar o seu estatuto social.
O estudo Eurydice, editado em 2005, que abrangeu 30 países europeus, debruçado
sobre a oferta de educação para a cidadania nas escolas, concluiu que «que ensinam
sobre cidadania e uma promoção mais eficaz na participação activa dos alunos na
sociedade em geral, são indiscutivelmente, dois grandes desafios para os próximos
anos» (Eurydice, 2005: 3).
Perrenoud adverte que para ser possível desenvolver uma cidadania adaptada ao mundo
contemporâneo o professor deve ter algumas competências: «organizador de uma
pedagogia construtivista, deve ser garantia do sentido dos saberes; criador de situações
de aprendizagem; administrador de heterogeneidade e regulador dos processos e
percursos de formação» (Perrenoud e Thurler, 2002:14). Segundo os mesmos autores
além das competências referidas, é fundamental que o professor assuma uma posição
reflexiva sobre a sua prática, pois é uma condição para a inovação, a negociação, a
mudança. Esta postura conduz necessariamente a uma implicação crítica pois não é
possível assumir uma postura reflexiva sobre a acção pedagógica e ao mesmo tempo
não se implicar na mudança. A formação dos professores é concebida pelos autores
referidos tendo por base dois pressupostos estruturantes: a escola deve ter por objectivo
por um lado democratizar o acesso aos saberes e por outro desenvolver a autonomia dos
sujeitos, a sua capacidade crítica, ou seja a capacidade para defender o seu ponto de
vista. Na sua perspectiva «a formação dos professores deveria ser orientada para uma
aprendizagem por problemas para que os estudantes se confrontassem com a
experiência da sala de aula e trabalhassem a partir das suas observações, surpresas,
sucessos e fracassos, medos e alegrias, bem como de suas dificuldades para controlar
os processos de aprendizagem e as dinâmicas de grupos ou os comportamentos de
alguns alunos» (Perrenoud e Thurler, 2002: 22).
Actualmente a teoria (saberes teóricos e metodológicos) e a prática acontecem em
momentos distintos, não havendo, de facto, oportunidade para os alunos se
98
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
questionarem sobre os saberes. O desejável era que a formação fosse uma só (teórica e
prática ao mesmo tempo) assim como «reflexiva, crítica e criadora de identidade»
(Perrenoud e Thurler, 2002: 23). Para que isto fosse possível, «as instituições de
formação deveriam criar parcerias mais amplas e equitativas com os estabelecimentos
escolares e com os professores que acolhem os estagiários» (Perrenoud e Thurler, 2002:
23).
A formação de professores deve conseguir estimular neles a capacidade de questionar, a
interacção, a análise de diferentes hipóteses, sabendo que uma das finalidades dessa
formação é o desenvolvimento nos professores de qualidades de ordem ética, intelectual
e afectiva; para que essas qualidades sejam cultivadas nos alunos. (Delors, 1996: 139).
A educação para a cidadania exige um investimento na formação inicial dos professores
de forma a permitir o desenvolvimento da sua profissão de uma forma criativa e
interventora. É necessário contrariar a cultura de indiferença, de isolamento e
passividade dominantes que tem caracterizado a profissão de professor. A construção de
uma escola democrática e pluralista reivindica uma cultura de equipa e de parceria, com
profissionais, e não apenas técnicos, capazes de desenvolver projectos entre pares, de
negociar, debater, intervir e reflectir sobre as suas práticas para que a escola promova a
diminuição das desigualdades e a aprendizagem de todos os actores. (Bettencourt et al,
2000). Para que esta visão seja possível a dinâmica da formação inicial de professores
também tem que ser diferente. É necessário que todos (direcção das instituições,
formadores e alunos) saibam inequivocamente quais os objectivos que se pretendem
alcançar, ou seja que competências são necessárias que os futuros professores
desenvolvam e que percurso escolher.
1.3.7.1. A formação após o 25 de Abril
Até 1974 (durante o Estado Novo) a formação foi pouco significativa. Segundo Carlinda
Leite a formação até então tinha como finalidade aprender a elaborar planos de aula, e a
adquirir «técnicas para dirigir e orientar o ensino e a instrução» (Leite, in Ferreira e
Estevão, 2003: 201). Após o 25 de Abril de 1974 sentiu-se a necessidade de procurar
soluções para colmatar a desqualificação dos professores. Criaram-se Escolas
Superiores de Educação (ESE) e Licenciaturas em Ensino, nas Universidades.
O associativismo dos professores conduziu a que os sindicatos dessem importância à
formação contínua e apareceu o associativismo científico e profissional. Surgiram alguns
movimentos pedagógicos (associações que se formaram tendo por base uma corrente de
99
Maria Cândida Jardim
pensamento). Estes movimentos tiveram pouca evidência. O mais significativo foi o
“Movimento da Escola Moderna”, inspirado na pedagogia de Freinet.
A Educação para a cidadania não tem tido grande visibilidade ao nível da formação inicial
e contínua: «Pede-se aos professores que sejam formadores de competências,
capacidades e atitudes democráticas; mas alimenta-se pouco a formação destes
formadores com as competências necessárias ao desempenho do seu papel»
(Figueiredo e Silva, 1999: 33).
A reforma de 1989-1994 considerou condição necessária e suficiente para a leccionação
da disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social uma formação complementar. No ano
1991/1992 foi iniciado um projecto de formação coordenado pelo Instituto de Inovação
Educacional (IIE) em parceria com as Escolas Superiores de Educação. Foi difícil formar
o número suficiente de professores e muitos procuravam as acções apenas com o
objectivo de adquirir créditos.
A área-escola, não exigia em termos legislativos, formação específica complementar. A
formação foi surgindo por todos os Centros de Formação de Professores e até por
iniciativa de escolas. Fez-se entre 1992-1994 e conseguiu despertar o interesse de
muitos professores.
A educação para a cidadania figura nas ofertas de formação contínua mas sem a
importância equivalente às exigências de mudança que se tem verificado pois os
professores continuam a valorizar outros problemas que parecem ser mais prementes
nas suas práticas pedagógicas. Segundo Figueiredo e Silva «continuamos sem entender
a natureza transversal da temática» (Figueiredo e Silva, 2000: 40).
«A formação dos professores começa quando o candidato inicia a frequência de uma
licenciatura ou de um bacharelato em ensino e termina com a aposentação» (Marques,
1997: 32).
A Lei de Bases do Sistema Educativo remete para as instituições superiores a
competência para assegurar a formação contínua mas o que é certo é que existe uma
cobertura nacional ao nível das associações de professores. Marques ao abordar esta
questão perfilha da opinião da necessidade de articulação entre as instituições superiores
e as associações de professores para que a formação possibilite a actualização
profissional, a progressão na carreira mas também permita dar oportunidade a muitos
docentes completarem as licenciaturas, o mestrado ou o doutoramento.
Para Perrenoud «a cidadania passa pela adesão a valores e à lei, pela reflexão sobre o
100
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
que seria uma organização ideal da comunidade, mas sobretudo pelo conhecimento
realista dos mecanismos demográficos, económicos, políticos, psico-sociológicos ou
jurídicos em acção […]» (2005: 33). Esta visão implica a prática da democracia e da
responsabilidade. No entanto a escola e obviamente os professores estão mais
preocupados com a transmissão eficaz de um grande número de conhecimentos e têm
medo de proporcionar momentos de debate e de perder o tempo precioso que seria
necessário para cumprir o programa. Como refere Vellas «A formação do cidadão oculta-
se no cerne da construção dos saberes» (in Perrenoud, 2005: 41). Esta citação é
bombástica mas realmente verdadeira. Os professores continuam inseguros quanto ao
que é essencial na formação dos alunos. Nessa angústia e incerteza e na procura de
fazer o suficiente acabam por valorizar demais o domínio das aprendizagens cognitivas,
em detrimento das aprendizagens essenciais e das competências necessárias à
adaptabilidade à sociedade em mudança. Os saberes descontextualizados permitem, de
uma forma mais legítima, uma pedagogia transmissiva, que deprecia a investigação e o
debate e revelam a incapacidade, o medo e a insegurança do professor para assumir e
pôr em prática uma nova relação com o saber e com a razão, que conduziriam à
verdadeira formação do cidadão mas que exigiriam competências para as quais os
professores não estão preparados. Resulta daí que os professores, na sua relação com o
saber «privilegiam ainda as respostas mais do que as questões, as aquisições
consolidadas mais do que as zonas de sombra ou de incerteza, os resultados da
investigação mais do que o seu método, o consenso mais do que o conflito teórico ou
metodológico (Perrenoud, 2002: 71).
É generalizada entre os docentes e entre os responsáveis pela formação de professores,
a sensação de crise e um sentimento de mal-estar, motivado por um lado pelos papéis
sociais mais exigentes que a sociedade espera da escola e por outro devido ao facto da
formação de professores se centrar e valorizar sobretudo uma abordagem académica,
em detrimento da aprendizagem como factor de desenvolvimento e crescimento da
pessoa. Os modelos de formação de professores alicerçam-se na separação entre a
teoria e a prática. Os alunos têm primeiro que se munir dos conhecimentos teóricos
aprofundados para depois iniciar capazmente a prática. Esta concepção não se coaduna
com as competências que são necessárias para construir a cidadania, pois não solicitam
uma participação na construção do saber, não colocam o futuro professor a reflectir, a
investigar a partir de situações, a formular hipóteses para resolução de problemas. Só
mudando o tipo de formação se poderá ter professores mais auto-reflexivos,
intervenientes e dispostos a mudar e a adaptar as práticas escolares aos contextos.
101
Maria Cândida Jardim
Segundo Carlinda Leite, referindo Nóvoa, a formação deve apoiar-se numa «perspectiva
ecológica de mudança interactiva dos profissionais e dos contextos» (Leite, Carlinda in
Ferreira e Estevão, 2003: 203). No entanto esta formação ainda não tem conseguido os
fins que nela estão implícitos, pois os docentes ainda se vêem muito embrenhados numa
formação focalizada mais na transmissão de conhecimentos do que em papéis mais
reflexiva e de investigação-acção.
O desafio que se coloca à formação de professores é encontrar estratégias que permitam
uma real e efectiva implicação e intervenção dos sujeitos no seu próprio processo de
formação. Citando Carlinda Leite, «uma formação de professores para a cidadania exige
que, a par dos conhecimentos e dos procedimentos que permitam a aquisição e
compreensão desses conhecimentos e dos modos de os ensinar, ocorram condições que
… lhes permitam desenvolver competências, tanto de questionamento do instituído
socialmente como de intervenção social, pois estas competências são essenciais a um
exercício profissional que promova a vivência da cidadania» (in Ferreira e Estêvão, 2003:
204).
«A experiência do debate de ideias está na base de uma relação crítica com o
pensamento – o seu e o do outro - e de uma cultura democrática, ou seja da cidadania»
(Perrenoud, 2005: 41). Como pressuposto a qualquer aprendizagem Perrenoud considera
essencial para a construção da cidadania «a relação crítica com o pensamento (o seu e
do outro)» (2005: 41) através da experiência do debate de ideias. Para que este princípio
pedagógico possa ser concretizável exige dos professores «uma nova identidade
profissional, um engajamento diferente em seu ofício e em seu estabelecimento de
ensino, uma outra relação com o saber e com os alunos» (Perrenoud, 2005: 42). Nesta
perspectiva a formação inicial dos professores poderá contribuir parcelarmente,
provocando o debate e reflexão colectivas sobre cidadania, fazendo uma análise de
situações educacionais, das práticas, das culturas e dos funcionamentos das instituições,
do peso das expectativas, dos valores e das estratégias familiares. Mas a verdadeira
transformação ao nível da educação para a cidadania só pode acontecer a partir de uma
«autotransformação, no âmbito de uma dinâmica e de um projecto de estabelecimento
escolar» (Perrenoud, 2005: 43). A aprendizagem da cidadania faz-se na prática,
encarando a escola como um espaço de vivência democrática em todos os momentos e
situações e como tal, exige a responsabilização de todos os seus actores e uma tomada
de poder, pela mudança de atitudes. Na realidade não basta apenas isso. A educação
para a cidadania no âmbito escolar tem de ultrapassar segundo Perrenoud dois grandes
obstáculos: «as contradições da sociedade que a prescreve e as ambivalências dos
102
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
alunos aos quais ela se destina, bem como do meio familiar e social a que eles
pertencem» (Perrenoud, 2005: 50).
Segundo Perrenoud a formação de professores deveria partir dos problemas com que os
professores se debatem e recorrendo ao estudo teórico e metodológico encontrar as
respostas para os mesmos (abordagem por problema, defendida por Dewey).
A formação tem que ir ao encontro de questões globais com que os professores se
deparam no seu quotidiano, tendo muitas vezes, a intervenção inadequada, repercussões
decisivas no percurso dos alunos. Perrenoud aborda essa formação designando-a por
objectos de saber e de formação transversais.
1.3.7.2. O Instituto de Defesa Nacional (IDN) como entidade governamental formadora
O Instituto de Defesa Nacional (IDN) é uma entidade que também tem por objectivo a
formação no âmbito da cidadania, vocação que tem vindo a desenvolver também com
professores, quer ao nível da investigação, quer ao nível de encontros, cursos, acções e
também publicações.
INVESTIGAÇÃO - Pesquisa e comunicação em encontros nacionais e internacionais.
Apoio à elaboração de teses e trabalhos científicos no Curso de Defesa Nacional, Cursos
de Cidadania e ensino universitário.
ENCONTROS - Seminário Educação e Defesa Nacional, 1982. Seminário "A juventude e
a Defesa Nacional, 1985; Colóquio sobre a "Educação e Defesa Nacional" na
Universidade de Coimbra., 1987. Mesas redondas sobre "Cidadania e Educação", de
1992, 1994 e 1996. Jornadas de Actualização de Formadores, 1997; Apresentação do
livro "Educação para a Cidadania", 1999; Seminário Internacional de Cidadania,
Educação e Defesa, 2000.
CURSOS - O IDN realiza Cursos de Formação para a Cidadania (CFC) desde 1994,
mediante protocolos de cooperação com entidades competentes. De 1994 a 1999, foram
realizados 7 cursos com carácter residente. A partir de 2000, os CFC's são realizados
com carácter externo e em parceria com Centros de Formação de todo o país. Até final
de 2001 foram leccionados 18 Cursos de Formação para a Cidadania, com um total de
30 formadores e 336 formandos. Em 1999 iniciou-se o 1º Curso de Pós-Graduação em
Cidadania.
A finalidade dos CFC's é aperfeiçoar competências científicas e pedagógicas dos
docentes, dinamizando a transversalidade da Cidadania nos programas curriculares do
Ensino Básico e Secundário e no âmbito do Projecto Educativo da Escola. Os CFC’s têm
103
Maria Cândida Jardim
como objectivos: I. Compreender as dimensões da cidadania: responsabilidade social e
moral, participação na comunidade e literacia política; II. Promover a Cidadania como
área interdisciplinar dinamizadora do Projecto Educativo da Escola; III. Apoiar os
professores na concepção, desenvolvimento e avaliação de projectos e cumprimento de
objectivos curriculares em Cidadania; IV. Ajudar a formular actividades de enriquecimento
curricular; V. Reforçar a capacidade de análise crítica da organização escolar,
nomeadamente no que se refere àá participação dos diferentes membros e parceiros na
vida da comunidade escolar; VI. Assegurar o estudo, investigação e divulgação dos
problemas de segurança e defesa nacionais.
Os CFC's agregam componentes curriculares de:
I. Dimensões e Conceitos de Cidadania; II. Cidadania e desenvolvimento sociomoral; III.
Desenvolvimento Curricular em Cidadania; IV. Estado e Comunidade Nacional; V.
Participação na Democracia; VI. Cidadania Europeia e Comunidade Internacional; VII.
Segurança e Defesa.
Os módulos incluem uma componente teórica em Educação para a Cidadania , uma e
uma componente prática que identifica conteúdos de cidadania nas disciplinas,
elaborando mapas de conteúdos temáticos. A formação é feita em Cursos, Conferências,
Círculo de Estudos e Oficinas Pedagógicas, com duração de 25h ou 50h.
ACÇÕES - Entre 1994 e 2001 foram realizadas 13 acções de divulgação, em todo o país,
por formadores do IDN, com duração entre 2 a 9 horas.
PUBLICAÇÕES - Contou com o patrocínio do IDN a obra "Educação para a Cidadania"
de 1999. Foram publicados textos do SICED na revista Nação e Defesa, Primavera de
2000. Está em projecto a publicação de Cidadania Global, conjunto de obras didácticas
desde o grau de ensino pré-escolar até ao universitário a partir de 2002.
1.3.7.3. A Educação para a cidadania nos Cursos de Formação Inicial
Na reorganização curricular do ensino básico, implementada em 2001 é dada uma
notoriedade explícita à Educação para a cidadania como nunca teve. No entanto, é lícito
questionarmo-nos se os docentes são detentores das competências necessárias que
permitam operacionalizar essa cidadania. Quanto a nós e partilhando do ponto de vista
de alguns autores, é necessária uma intervenção ao nível da formação, quer inicial, quer
contínua, de forma a capacitar os professores a realizarem «de uma forma criativa e
interventiva a sua profissão» (Bettencourt et al, 2000: 25).
A cultura escolar do professor tem-se caracterizado por ser uma cultura do isolamento,
104
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
que, de todo, já não dá resposta às exigências e necessidades da sociedade actual. É
necessário construir uma cultura de equipa e de parceria e uma forma de estar auto
reflexiva e isso implica também novos objectivos ao nível da formação inicial de
professores. A autora citada insiste na importância de «formar professores autónomos
que saibam conceber e desenvolver projectos entre pares e outros parceiros e reflectir
sobre a sua acção e a sua história pessoal e profissional» (Bettencourt et al, 2000: 26).
Além de novos objectivos é essencial também contrariar a cultura da indiferença e
passividade, implicando o exercício de novas competências (capacidade de negociar,
debater, intervir), já enquanto estudantes e implica uma nova posição dos docentes do
ensino superior, novas metodologias e um clima da instituição favorável à participação
dos futuros professores na vida da escola.
A Educação para a cidadania pode abranger perspectivas muito diversas mas mais do
que formar teoricamente os futuros docentes, é importante que as instituições de
formação sejam organizações em que a cidadania seja uma realidade experienciada
pelos próprios alunos, o que tem implicações na forma como os alunos adquirem as
competências para o exercício da sua profissão (foram tratados com respeito e
igualdade? houve espaço para a participação e iniciativa? foram valorizadas as
perspectivas diferentes?) Essa avaliação não é o objectivo deste trabalho. No entanto é
importante analisar, que lugar têem as áreas ligadas à cidadania, nos planos de estudo
da formação inicial de professores pois a sua presença pode indicar alguma evolução e
sensibilidade das instituições do ensino superior em relação à temática da cidadania e do
papel, responsabilidade e atitude do professor enquanto agente de mudança.
O Ano 2005 foi consignado como a Ano Europeu para a Cidadania pela Educação e
nesse âmbito o Comité Ad Hoc de peritos para o Ano Europeu da Cidadania pela
Educação (CAHCIT) elaborou um documento de orientação em que um dos quatro
objectivos é reforçar o compromisso dos Estados membros para fazer da Educação para
a cidadania «um objectivo prioritário na elaboração das políticas educativas e
implementar reformas duradouras a todos os níveis do sistema educativo» (2004: 5).
Esse mesmo documento numa das medidas a adoptar refere o desenvolvimento de «uma
formação de professores mais eficaz e abrangente, tanto na formação inicial como
contínua» (2004: 6). De facto teoricamente tudo parece bem encaminhado mas será que
as directrizes internacionais e europeias já foram assumidas pelas instituições de
formação universitária ou continuam apenas em intenções?
O Processo de Bolonha é um plano de reforma do ensino superior, iniciado em 1999, que
105
Maria Cândida Jardim
visa uniformizar a sua estrutura nos 45 países europeus participantes, tendo como meta
a criação do Espaço Europeu de Ensino Superior até 2010. O objectivo não é criar
programas de ensino iguais em todos os países, mas um sistema de graus comparável e
compreensível por todos, que facilite o reconhecimento dos graus e das qualificações no
espaço europeu e a mobilidade dos estudantes e diplomados entre instituições,
promovendo desta forma a sua empregabilidade.
Os sistemas nacionais de ensino superior dos países europeus compreendiam uma
grande diversidade de graus e de qualificações. Tal disparidade levantava alguns
problemas, nomeadamente no que diz respeito ao reconhecimento de habilitações de
país para país e à mobilidade dos diplomados. Além disso, essa profusão de formas tão
diversas de organização dos cursos representava um grande obstáculo à construção de
um espaço europeu de ensino superior competitivo e atractivo no contexto internacional.
O processo de Bolonha pretende harmonizar a organização do ensino superior nos 45
países que aderiram a este ambicioso projecto.
O modelo do percurso de formação superior, no âmbito do Processo de Bolonha, na
generalidade, está organizado em três ciclos: o 1.º ciclo, com duração de três anos,
conducente ao grau de licenciado, o 2.º ciclo, com duração de dois anos, conducente ao
grau de mestre, o 3.º ciclo, com duração de três anos, conducente ao grau de doutor. A
formação científica de base que os licenciados universitários recebem durante o 1.º ciclo
permite-lhes iniciar uma actividade profissional, embora apenas estejam aptos a
desempenhar funções mais generalistas, de nível intermédio, que exigem naturalmente
menos competências técnicas. O exercício pleno da profissão correspondente à sua área
de formação exigirá formação adicional que é dada pelo 2.º ciclo, isto é, pelo mestrado.
A implementação do processo de Bolonha, introduziu mudanças na estrutura dos cursos
mas também representou uma mudança de paradigma de ensino baseado no
desenvolvimento de competências em que o aluno é o centro do processo de ensino-
aprendizagem, implicando necessariamente a adopção de novas metodologias,
colocando maior ênfase no trabalho do aluno e assentando numa aprendizagem mais
activa, autónoma e prática, baseada no trabalho laboratorial e de campo, na resolução de
problemas, no estudo de casos, no desenvolvimento de projectos e na aprendizagem à
distância.
Impõe-se neste momento uma questão: Terá o modelo de Bolonha, em Portugal,
potenciado a construção de planos curriculares que possibilitem o desenvolvimento de
competências de uma cidadania (europeia)? Após o Processo de Bolonha, a Educação
para a cidadania (europeia) passou a ser mais valorizada? Para procurar analisar as
106
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
questões referidas, vamos fazer um levantamento das disciplinas ligadas à educação
para a cidadania que fazem parte do plano curricular do Curso de Formação Inicial de
Professores do 1.º ciclo do ensino básico, antes do Processo de Bolonha, nas instituições
de ensino superior público e privado e do plano Curricular do 1.º Ciclo de Estudos do
Curso de Educação Básica. A pesquisa terá como fonte o endereço electrónico de cada
instituição e a análise será estruturada tendo em conta os objectivos do curso, as
disciplinas leccionadas na área da cidadania, a natureza da disciplina (opcional ou
específica), a duração (anual ou semestral). Em relação aos planos curriculares dos
cursos já integrados no modelo de Bolonha iremos utilizar como termo de comparação
entre instituições as unidades de crédito obtidas em cada disciplina (ECTS- Sistema
Europeu de transferência de créditos).
A Licenciatura em Educação Básica, resulta da adequação da Licenciatura em Educação
de Infância e da Licenciatura em Ensino Básico – 1º Ciclo e permite prosseguir estudos
no sentido de poder vir a ser Educadores de Infância, Professores do 1º e/ou do 2º Ciclos
do Ensino Básico. Esta adequação resulta da reestruturação do ensino superior à luz do
Processo de Bolonha e do novo enquadramento legal que define as habilitações
profissionais para a docência na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário
(Decreto-Lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro).
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º Ciclo da Universidade dos Açores está
constituído de forma a contribuir para que «os futuros licenciados fiquem aptos a
leccionar, numa perspectiva de interdisciplinaridade, de forma competente e inovadora,
no 1º Ciclo do Ensino Básico. Visa, ainda, fomentar, nos futuros professores, a
progressão de interesses pelo Ensino e pela Educação, com abertura à mobilidade e à
internacionalização». Existem três disciplinas no âmbito da Educação para a cidadania,
sendo todas semestrais e estando distribuídas uma em cada ano: Corpo Humano e
Educação para a Saúde; Educação Ambiental e Desenvolvimento Pessoal e Social. No
ano 2007/2008, o plano curricular do curso de Educação Básica, no primeiro ciclo de
estudos, com a duração de 3 anos, não inclui nenhuma disciplina em que se possa
vislumbrar alguma preocupaçãopreocupação com a educação para a cidadania.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º ciclo da Universidade de Aveiro visa
proporcionar a construção de saberes que habilitem para a docência no 1.º Ciclo do
Ensino Básico. Pretende-se que os futuros professores passem progressivamente de um
conhecimento referencial e teórico ao conhecimento didáctico, constituindo ambos a base
de um conhecimento prático da intervenção educativa. É leccionada a disciplina de Ética
107
Maria Cândida Jardim
e Educação para a Cidadania, sendo uma disciplina semestral. Após a integração do
Curso no Modelo de Bolonha, o Plano de estudos do 1.º ciclo de Estudos do Curso de
Educação Básica não faz referência a nenhuma disciplina ligada à Educação para a
cidadania.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1º. Ciclo na Universidade de Évora destina-
se à formação de profissionais de educação habilitados para exercer a docência no 1º.
Ciclo do Ensino Básico, compreendendo o plano de estudos áreas relativas às Ciências
da especialidade, às Ciências da Educação, às Metodologias de Ensino e à Prática
Pedagógica, de modo a possuírem as competências indispensáveis à organização,
direcção e coordenação do processo de aprendizagem dos alunos, indispensável à sua
progressão no interior do sistema escolar, à sua integração na sociedade e à sua
realização pessoal. Procura ainda, além da preparação para o exercício da docência,
formar um professor que tenha capacidade para organizar correctamente a Escola,
administrá-la e dirigi-la, relacioná-la com a comunidade envolvente e implicar a família no
processo educativo. É leccionada a disciplina semestral de Desenvolvimento Pessoal e
Social e com carácter opcional. No entanto, o Plano Curricular do 1.º ciclo de Estudos do
Curso de Educação Básica apresenta cinco disciplinas afins, sendo quatro de carácter
opcional (Educação para a Sustentabilidade; Educação Cultura e Cidadania; Promoção e
Educação para a Saúde e Princípios de Educação comunitária). A outra disciplina é
Fundamentos de Ciências do Ambiente.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º Ciclo na Universidade do Minho, no seu
site, não apresenta os objectivos. São leccionadas três disciplinas do domínio da
Educação para a Cidadania: Educação para a Comunicação Social, Temas de Saúde e
Ambiente e Desenvolvimento Pessoal e Social, sendo as duas primeiras semestrais e a
última anual e nenhuma tem carácter opcional. Já o Plano Curricular do 1.º Ciclo de
Estudos do Curso de Educação Básica restringe a formação apenas à área do Ambiente
com a disciplina de Educação Ambiental e Património Cultural.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º Ciclo na Universidade de Trás-os-
Montes e Alto Douro tem como objectivo assegurar uma formação científica, pedagógica,
artística e estética dos professores de modo a que possam realizar com eficiência a sua
função, contribuindo para o desenvolvimento harmonioso cognitivo, moral, social e motor
das crianças do nível etário a que estes docentes se destinam; assegurar a aquisição e
desenvolvimento de conhecimentos e atitudes conducentes ao sucesso escolar de todos
os alunos, e ao desenvolvimento de cidadãos responsáveis, livres, solidários e
108
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
participativos. São leccionadas 4 disciplinas semestrais do domínio da Educação para a
Cidadania: Formação Pessoal e Social, Educação Intercultural, Educação para a Saúde e
Educação do Ambiente e do Consumidor, não sendo nenhuma das disciplinas de
carácter opcional. É relevante registar que está disponível on line o programa de duas
das disciplinas: Formação pessoal e Social e Educação Intercultural. O Plano Curricular
do 1.º Ciclo de Estudos do Curso de Educação Básica engloba as quatro disciplinas
numa única: Promoção da Saúde.
A ESE de Beja, no plano de Estudos do curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º
Ciclo contempla a disciplina de Formação Pessoal e Social, não sendo referenciado se é
de frequência anual ou semestral.
A ESE do Algarve não disponibiliza on-line os objectivos do curso de Licenciatura em
Ensino Básico no 1.º ciclo. O plano de estudos contempla a disciplina semestral de
Educação para a cidadania.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º Ciclo na ESE de Bragança não
disponibiliza os objectivos do Curso. É leccionada a disciplina de Ciências do Ambiente,
anual e de carácter não opcional.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º Ciclo na ESE de Castelo Branco
destina-se a formar educadores profissionalizados em Ensino Básico 1º Ciclo, os quais
podem concorrer directamente aos quadros das escolas oficiais e particulares e integrar a
carreira docente sem necessidades de cumprir quaisquer outros requisitos académicos
ou profissionais. É leccionada a disciplina de Teorias do Desenvolvimento Pessoal e
Social, anual e de carácter não opcional.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º Ciclo na ESE de Coimbra faculta aos
licenciados em Ensino Básico - 1º Ciclo uma sólida formação pedagógica e didáctica.
Reconhece, assim, a importância do 1º ciclo do Ensino Básico na escolaridade dos
indivíduos, enquanto momento estruturante e em que se adquirem os principais
instrumentos para a prossecução dos estudos. A integração da Escola na comunidade é
uma das vertentes a destacar nesta formação. A ESE de Coimbra aposta numa formação
interdisciplinar, o que corresponde às exigências desta profissão e tem já uma década de
tradição em iniciativas de animação dirigidas às crianças do ensino Pré-primário e
Básico, em parceria com instituições locais. Tem por objectivo «desenvolver a formação
pessoal e social dos futuros professores, de modo a interiorizarem atitudes e valores
deontológicos indispensáveis à sua profissão e proporcionar aos futuros educadores uma
formação científica, técnica ou artística que lhes garanta a correspondente qualificação
109
Maria Cândida Jardim
profissional». Na ESE de Coimbra são leccionadas três disciplinas relacionadas com a
Educação para a cidadania: a disciplina anual de Desenvolvimento Pessoal e Social e as
disciplinas semestrais de Educação para a Saúde, Ambiente e Consumo e Educação
Multicultural e para a cidadania. Nenhuma delas tem carácter opcional.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º ciclo na ESE da Guarda tem por
objectivo desenvolver a formação pessoal e social dos futuros professores, de modo a
interiorizarem atitudes e valores deontológicos indispensáveis à sua profissão.
Proporcionar aos futuros educadores uma formação científica, técnica ou artística que
lhes garanta a correspondente qualificação profissional. Apesar de um dos objectivos da
licenciatura ser desenvolver a formação pessoal e social dos futuros professores a
realidade é que do plano de estudos não consta nenhuma disciplina nessa área. Já o
mesmo não acontece no Plano de Estudos do 1.º ciclo de estudos do curso de Educação
Básica que oferece três disciplinas ligadas à Educação para a Cidadania: Formação
Pessoal e Social, Educação Ambiental e Educação para a Saúde, sendo as duas ultimais
opcionais.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º ciclo na ESE de Leiria forma
profissionais capazes de responderem às solicitações da rede educativa do ensino
básico, em instituições de ensino público, particular e cooperativo. Neste curso é
leccionada a disciplina de Formação Pessoal e Social e a disciplina de Educação
Intercultural em regime de seminário, quatro horas semanais, sendo ambas semestrais.
No 1.º ciclo de Estudos do Curso de Educação Básica, o plano de estudos contempla
uma única disciplina na área da Educação para a cidadania: História Local e Cidadania
para o Património.
A ESE de Lisboa, não disponibiliza on-line os objectivos da Licenciatura no 1º ciclo. O
seu plano de estudos oferece no terceiro ano duas disciplinas semestrais relacionadas
com a educação para a cidadania, cabendo aos alunos optar por uma. São elas
Educação para o Ambiente e Ciência e Ética. No quarto ano oferece a disciplina
semestral de Formação Pessoal e Social, três horas semanais. Estranhamente, o plano
curricular do 1.º ciclo de Estudos do Curso de Educação Básica não contempla nenhuma
disciplina no âmbito da Educação para a cidadania.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1º ciclo na ESE de Portalegre contempla
uma formação de âmbito teórico-prático e uma formação prática que inclui três momentos
de Prática Pedagógica e Seminários. A formação inicial de professores, em geral, e de
Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico, em particular, deve privilegiar a compreensão
110
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
dos contextos e dos processos que condicionam e promovem as aprendizagens. Neste
sentido, a formação deverá: ser polivalente em termos de competências; flexível à
aquisição e reconversão permanente de saberes; integradora, quer no plano científico-
pedagógico, quer no da articulação teoria-prática; desenvolver as práticas de formação
contemplando, na medida do possível, os contextos de trabalho onde os futuros
professores irão exercer; ser geradora de uma atitude cultural simultaneamente crítica e
actuante. O plano de Estudos da Licenciatura no 1.º ciclo e o plano curricular do 1.º ciclo
de estudos do curso de Educação Básica não contempla nenhuma disciplina no âmbito
em estudo.
A ESE do Porto não disponibiliza on-line os objectivos do curso e no seu plano de
estudos não existe nenhuma disciplina no âmbito da educação para a cidadania. O Plano
Curricular do 1.º ciclo de estudos do curso de Educação Básica proporciona, com
carácter opcional a disciplina de Cultura e Cidadania.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º ciclo na ESE de Santarém tem os
seguintes objectivos: a) Conduzir os futuros professores ao desenvolvimento de práticas
educativas de qualidade, reflectidas e fundamentadas, levando-os a analisar criticamente
e de forma flexível, quer o contexto sócio educativo em que se enquadra a sua actuação,
quer os processos e percursos singulares dos seus educandos. b) Proporcionar uma
aquisição activa dos saberes fundamentais ao desempenho da profissão, centrando-os
na natureza desse desempenho a promoção da aprendizagem dos alunos. c) Integrar na
formação momentos de (in) formação teórico-práticos a nível científico-pedagógico que
possibilitem ao futuro professor: adquirir e manipular um quadro conceptual alargado e
flexível; dominar os campos e metodologias de construção de conhecimento com que
trabalhará como profissional; adquirir uma cultura profissional e humanística actualizada;
desenvolver uma atitude de transformação pessoal visando o desenvolvimento de uma
futura prática profissional crítica e participativa; desenvolver uma atitude de constante
auto-avaliação e auto-formação, numa perspectiva de desenvolvimento profissional
contínuo. No seu plano de estudos contempla a disciplina semestral de Educação
Ambiental, sem carácter opcional. O Plano Curricular do 1.º ciclo de estudos do curso de
Educação Básica em termos de educação para a cidadania continua com uma disciplina
na área do Ambiente, apresentada numa perspectiva mais reflexiva e assente nos
problemas da sociedade: Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
A ESE de Setúbal não disponibiliza on-line os objectivos que pretende com o curso de
Licenciatura no 1º ciclo do Ensino Básico. O seu plano de estudos apenas contempla a
111
Maria Cândida Jardim
disciplina semestral de Actividades Interculturais num total de 33 horas. O plano curricular
do 1.º ciclo de estudos do curso de Educação Básica continua a valorizar aspectos
relacionados com a multiculturalidade oferecendo duas disciplinas: Contextos
Multiculturais e Educação e Problemas Sociais Contemporâneos.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º ciclo na ESE de Viana do Castelo tem
por objectivos formar na vertente científica e na área educacional nos domínios de
docência requeridos (língua portuguesa, matemática, ciências da natureza e ciências
sociais, expressões artísticas e educação física e motora); dotar de conhecimentos em
tecnologias de informação e comunicação e numa língua estrangeira;
preparar licenciados com a autonomia científica necessária ao prosseguimento de
estudos graduados (mestrado e doutoramento). Do plano de estudos faz parte a
disciplina semestral de Educação para a Saúde e Ambiente. O plano curricular do 1.º
ciclo de estudos do curso de Educação Básica oferece um conjunto de três disciplinas,
embora duas em regime opcional, que vão muito ao encontro dos problemas da
actualidade e que, quanto a nós, podem contribuir para desenvolver nos futuros docentes
competências para serem capazes de trabalhar com a diversidade no respeito pelos
valores democráticos e abertos à mudança e à aprendizagem ao longo da vida:
Pedagogia e Educação ao longo da vida, Educação para os media e Artes, Pedagogia e
Cidadanias Críticas.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º ciclo na ESE de Viseu visa o
desenvolvimento da formação pessoal e social dos futuros professores, de modo a
interiorizarem atitudes e valores deontológicos indispensáveis à sua profissão;
a acessibilidade aos futuros educadores de uma formação científica, técnica ou artística
que lhes garanta a correspondente qualificação profissional. O plano de estudos propõe
no âmbito da Educação para a cidadania duas disciplinas semestrais: Desenvolvimento
Pessoal e Profissional e Educação para a Saúde. O plano curricular do 1.º ciclo de
estudos do Curso de Educação Básica não está disponível no site da ESE de Viseu.
A seguir apresenta-se um quadro informativo que contém um levantamento feito nos sites
das instituições de ensino superior, público e privado referente aos Planos de estudos
dos cursos que formam professores que irão leccionar no primeiro ciclo do ensino básico,
antes e depois da implementação do modelo de Bolonha. Verificamos quais as disciplinas
que cada instituição oferece no âmbito da Educação para a Cidadania.
112
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Local Antes do processo de Bolonha S/A De acordo com o modelo de Bolonha ECTS
Açores
Corpo Humano e Educação para a Saúde S Corpo Humano e Educação para a Saúde 3,5Educação Ambiental S
Desenvolvimento Pessoal e Social 2,5Desenvolvimento Pessoal e Social S
Aveiro Ética e Educação para a Cidadania S a) -------
Évora Desenvolvimento Pessoal e Social (O) S
Fundamentos das Ciências do Ambiente 5Educação para a Sustentabilidade (O) 2,5Educação, Cultura e Cidadania (O) 2,5Promoção e Educação para a Saúde (O) 2,5Princípios de Educação Comunitária (O) 2,5
MinhoEducação para a Comunicação Social S
Educação Ambiental e Património Cultural 5Temas de Saúde e Ambiente S
Trás-os-Montes
Formação Pessoal e Social S
Promoção da Saúde 6Educação Intercultural SEducação para a Saúde SEducação do Ambiente e do Consumidor S
Beja Formação Pessoal e Social *Algarve Educação para a cidadania S
Bragança Ciências do Ambiente A Ciências do Ambiente 6Educação para a Promoção da Saúde 4Ética, Educação e Cidadania 4
Castelo Branco Teorias do Desenvolvimento Pessoal e Social ACiência, Tecnologia e Meio Ambiente 6Problemas Sociais Contemporâneos 4
CoimbraDesenvolvimento Pessoal e Social A Saúde, Ambiente e Consumo 6Educação para a Saúde, Ambiente e Consumo S
Educação Intercultural 2Educação Multicultural e para a Cidadania S
Guarda a)Formação Pessoal e Social 3Educação para o Ambiente ou Educação para a Saúde 5
LeiriaFormação Pessoal e Social (Seminário) S
História Local e Cidadania para o património 4Educação Intercultural (seminário) S
LisboaEducação para o Ambiente ou Ciência e Ética S
a)Formação Pessoal e Social S
Porto a) Cultura e Cidadania (O) 4Portalegre a) a)Santarém Educação Ambiental S Ambiente e Desenvolvimento Sustentável 5
Setúbal Actividades Interculturais SContextos multiculturais e Educação 4Problemas Sociais Contemporâneos (O) 5
Viana Educação para a Saúde e Ambiente SPedagogia e Educação ao longo da vida (O) 5
Educação para os média (O) 5Artes, pedagogia e Cidadania críticas 3
ViseuDesenvolvimento pessoal e profissional SEducação para a Saúde S
Fonte: site de cada entidade formadoraS- Semestral A - Anual O – opcional * não consta o plano de estudos
a) Não há referência a nenhuma disciplina no âmbito em estudo
Quadro 11: Disciplinas no âmbito da Educação para a Cidadania em cursos de formação inicial (ensino superior público)
Ao estabelecermos uma análise comparativa entre as disciplinas que fazem parte dos
cursos em cada instituição, antes e após a implementação do modelo de Bolonha,
podemos dissecar várias constatações: há instituições que tendo várias disciplinas no
plano de estudos, aglutinaram as mesmas numa única disciplina, no modelo de Bolonha;
113
Maria Cândida Jardim
há instituições que tendo uma única disciplina no plano de Estudos, desdobraram-na a
mesma em várias, no modelo de Bolonha. Há também instituições que tendo uma ou
mais disciplinas no âmbito da cidadania, não apresentam nenhuma disciplina no plano de
estudo, após o modelo de Bolonha e há também instituições que não tendo nenhuma
disciplina no plano de estudos, integraram uma ou várias disciplinas no plano de estudos,
de acordo com o modelo de Bolonha. Numa análise comparativa entre os planos de
Estudos do Curso de Licenciatura no 1.º ciclo do ensino básico e o 1.º Ciclo de estudos
do curso de Educação Básica, constata-se que a ESE de Portalegre é a única instituição
pública de ensino superior que não contempla nos seus planos de estudos disciplinas no
âmbito da Educação para a Cidadania. Também se regista de interesse que uma grande
parte das instituições contempla nos seus planos curriculares no 1.º Ciclo de estudos do
curso de Educação Básica, disciplinas relacionadas com o ambiente, a multiculturalidade
e a educação para a Saúde, havendo, no entanto uma grande diversidade de disciplinas,
traduzindo a autonomia e gestão curricular de cada instituição. Apresentamos um gráfico
que permite constatar que na generalidade após a introdução do modelo de Bolonha, se
verificou uma redução do número de instituições do ensino superior a integrar no seu
plano de estudos disciplinas na área da Educação para a cidadania.
Gráfico 1- N.º de instituições do ES Público que integram a EC nos Planos Estudos
Seguir-se-á o levantamento dos planos de estudos das instituições de ensino superior
privadas, ao nível das disciplinas no âmbito da Educação para a Cidadania.
A ESE Almeida Garrett não disponibiliza os objectivos do curso. O plano de Estudos
abrange duas disciplinas semestrais que poder-se-ão considerar do âmbito da cidadania:
114
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Educação e Valores e Ecologia e Ambiente. O Plano Curricular do 1.º ciclo de Estudos do
Curso de Educação Básica contempla apenas uma disciplina e conservou a mesma
designação: Ecologia e Ambiente.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º ciclo na ESE de Fafe tem por objectivos
desenvolver nos futuros professores as qualificações e as competências necessárias ao
desempenho profissional docente e à aprendizagem ao longo da vida; formar
profissionais capazes de analisar as situações específicas de ensino, de propor soluções
alternativas de acção e de gerir de forma autónoma e eficiente todas as situações
problemáticas que surjam nos diferentes espaços de actuação pedagógica, administrativa
e organizacional e desenvolver princípios éticos centrados na responsabilidade social de
cada professor, em articulação com um conjunto de outros saberes técnicos. O Plano de
estudos contempla duas disciplinas semestrais: Educação Ambiental e Desenvolvimento
Pessoal e Social. De salientar que o plano Curricular do Curso de Educação Básica, no
1.º ciclo de estudos não oferece nenhuma disciplina que possa ser enquadrável na
Educação para a Cidadania.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º ciclo na ESE Jean Piaget, nos diversos
pólos pretende formar professores sensibilizados para o trabalho com todo o tipo de
crianças, sejam ou não consideradas de evolução normalmente esperada, na perspectiva
da integração socioeducativa. Encontrando-se numa situação privilegiada de contacto e
de estabelecimento de laços afectivos com as crianças, o professor deverá estimular
atitudes de abertura ao conhecimento e à criação. O plano de estudos oferece duas
disciplinas semestrais, de carácter opcional: Ecologia e Educação Ambiental e
Desenvolvimento Pessoal e Social. No plano Curricular do 1.º ciclo de estudos do curso
de Educação Básica é proposta uma única disciplina mas de carácter mais geral e
abrangente: A Humanidade e o Futuro: Paradigma ecológico, ético e Direitos Humanos.
A ESE João de Deus não disponibiliza on-line os objectivos que pretende com o curso. A
Formação Pessoal e Social é a disciplina anual oferecida no plano de estudos. O Plano
Curricular do 1.º ciclo de estudos do Curso de Educação Básica mantém a disciplina de
Educação para a Saúde e alarga a sua oferta com uma disciplina de carácter globalizante
e quanto a nós, em sintonia com os objectivos a alcançar com o processo de Bolonha.
O curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º ciclo na ESE de Paula Frassinetti tem
por objectivos promover a aquisição de conhecimentos, destrezas, técnicas e artes
específicas implícitas nas áreas que integram o plano de estudos; facilitar uma atitude
reflexiva e crítica de investigação – acção, na prática e sobre a prática, conducente à
115
Maria Cândida Jardim
estruturação de respostas inovadoras e criativas em situações reais de ensino-
aprendizagem; desenvolver atitudes que permitam articular conhecimentos e praticar a
interdisciplinaridade em contextos educativos; desencadear competências que permitam
articular os diferentes espaços educativos formais e não formais; formar professores com
um perfil flexível, preparando-os para um diálogo construtivo com as famílias e a
comunidade; criar, nos discentes, potencialidades e disponibilidade interior, para
assumirem a sua formação pessoal e profissional como um processo contínuo. O Plano
de estudos contempla três disciplinas na área, não referenciando o regime de
funcionamento de cada uma: Desenvolvimento Pessoal e Humanismo Cristão,
Multiculturalidade e Formação para os Valores e Educação para a saúde. O Plano
Curricular de acordo com o modelo de Bolonha, do 1.º ciclo de estudos do curso de
Educação Básica também apresenta três disciplinas no âmbito do interesse deste
trabalho.
O Curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º ciclo no Instituto Superior de Ciências
Educativas visa proporcionar a aquisição de competências profissionais e pessoais
consentâneas com as especificidades inerentes a este nível de docência. Constituem-se
como objectivos na formação: a) Desenvolver atitudes e valores consonantes com o perfil
de Profissional de Educação, cuja função específica é a condução do processo de
ensino-aprendizagem enquadrado nas especificidades da política educativa nacional e
europeia; b) Desenvolver estratégias de leitura de enquadramento cultural, de forma a
garantir uma acção curricular transcultural reflectida a partir da realidade multicultural; c)
Desenvolver estratégias de reflexão profissional conducente à avaliação sistemática do
trabalho realizado e de investigação que se constitua como suporte fundamental à
consecução de boas práticas educativas; d) Desenvolver um conjunto alargado de
saberes científicos, que respeite e assegure resposta às lógicas de organização
disciplinar do ciclo de leccionação; e) Desenvolver um conjunto alargado de saberes
pedagógico-didácticos, promissor de uma gestão integrada dos currículos, em que as
perspectivas inter e transdisciplinares sejam uma constante orientadora, e em que as
novas tecnologias da informação e da comunicação venham a ter um papel
sistematicamente activo na vinculação profissional; f) Desenvolver estratégias de
desenho didáctico que assegurem a concepção e desenvolvimento contextualizado do
currículo, numa perspectiva de autonomia, inclusiva e comunitária; g) Desenvolver
capacidades de gestão integrada da cidadania em consonância com a cultura cidadã,
numa perspectiva simultaneamente referenciada nos planos nacional e europeu,
assumindo, sempre que assim seja pertinente, uma perspectiva transnacional de análise;
116
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
h) Desenvolver ferramentas de aprendizagem conducentes à valorização da formação ao
longo da vida; i) Desenvolver a capacidade para o trabalho e proporcionar, com base
numa sólida formação geral, uma formação específica para a ocupação de um justo lugar
na vida activa que permita ao indivíduo prestar o seu contributo ao progresso da
sociedade em consonância com os seus interesses, capacidades e vocação; j) Contribuir
para a realização pessoal e comunitária dos indivíduos, não só pela formação para o
sistema de ocupações socialmente úteis, mas ainda pela prática e aprendizagem da
utilização criativa dos tempos livres. Do Plano de Estudos fazem parte as disciplinas
semestrais de Ecologia e Educação Ambiental e Antropologia e Educação Intercultural.
Apenas a primeira disciplina se manteve no Plano Curricular do 1.º ciclo de Estudos do
Curso de Educação Básica.
O Curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º ciclo no Instituto Superior de Educação
e Ciências visa desenvolver as competências necessárias para a promoção do
desenvolvimento global e harmonioso dos alunos deste nível de ensino, nomeadamente
através do aperfeiçoamento da linguagem oral, do progressivo domínio da leitura e da
escrita, das noções essenciais da aritmética e do cálculo, da compreensão do meio físico
e social. No plano de estudos inclui duas disciplinas com carácter opcional: a disciplina
anual de Formação Pessoal e Social (ou Cultura Cristã) e a disciplina semestral de
Metodologia da Formação Pessoal e Social (ou Metodologia da Educação Ética e
Religiosa), mantendo-se, mas com carácter opcional, as duas disciplinas no Plano
Curricular do 1.º Ciclo de Estudos do Curso de Educação Básica.
A Escola Superior de Educadores de Infância Maria Ulrich substitui a Licenciatura
existente em Educação de Infância e nos termos do Decreto-Lei n.º 43/2007 de 22 de
Fevereiro, apresenta um plano de estudos preparatório para os Mestrados
profissionalizantes que conferem habilitação para a Docência em Educação Pré-Escolar,
Professor do 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico. No referido Plano de Estudos apresenta
três disciplinas relacionadas com a Educação para a Cidadania.
117
Maria Cândida Jardim
Local Antes do processo de Bolonha S/A De acordo com o modelo de Bolonha ECTS
ESE Almeida Garret
Educação e valores SEcologia e Ambiente 3,5Ecologia e Ambiente S
ESE Fafe Educação Ambiental S a)Desenvolvimento pessoal e Social S
ESE PiagetEcologia e Educação Ambiental (O) S A Humanidade e o Futuro:
Paradigma ecológico, ético e Direitos Humanos
2Desenvolvimento pessoal e Social (O) S
ESE João de Deus Formação pessoal e Social A
Educação para a Saúde 1,5
Formação Pessoal e Social e Ética 1,5
ESE Paula Frassinetti
Desenvolvimento pessoal e Humanismo Cristão * Ciências Ambientais *
Multiculturalidade e Formação para os Valores * Interculturalidade e Cidadania *
Educação para a Saúde * Desenvolvimento Pessoal e Humanismo cristão *
Ins. Sup. Ciências Educativas
Ecologia e Educação Ambiental SEcologia e Educação Ambiental 3Antropologia e Educação Intercultural S
Ins.Sup. Educação e Ciências
Formação Pessoal e Social A Formação Pessoal e Social 2,5
ESEIM Ulrich b)
Ecologia e Ambiente 6Fundamentos de Ética 2Ciências da Saúde - Saúde em meio escolar
3
S- Semestral A - Anual O – opcional * não consta no plano de estudos ECTS- Sistema de transferência de créditos europeu
a) Não há referência a nenhuma disciplina no âmbito em estudo b) não existia na escola o curso para formar professores para leccionar no 1.º ciclo de ensino básico
Quadro 14: Disciplinas no âmbito da Educação para a Cidadania em cursos de formação inicial (ensino sup. particular)
Os Planos de Estudos de cinco das sete instituições de ensino Particular onde foi
leccionado o curso de Licenciatura em Ensino Básico no 1.º ciclo, integraram pelo menos
duas disciplinas no âmbito da Educação para a Cidadania, destacando-se em quatro
delas a disciplina de Ecologia e Educação Ambiental e em cinco delas disciplinas na área
da Formação (Desenvolvimento) Pessoal e Social. A Escola Superior de Fafe não
apresenta o Plano Curricular do 1.º Ciclo de Estudos do Curso de Educação Básica. Em
cinco das oito instituições de ensino superior privado o plano curricular inclui disciplinas
relacionadas com a educação ambiental.
Apresenta-se um gráfico comparativo do número de instituições privadas (Escolas
Superiores de Educação) que integram no seu plano de estudos disciplinas relacionadas
com a Educação para a cidadania.
118
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Gráfico 2- N.º de Instituições de ES Privado que integram a EC nos Planos de Estudos
1.3.7.4. A Educação para a cidadania na Formação Contínua
A formação contínua atravessou no ano de 2006 uma mudança significativa decorrente
do Despacho n.º 16.794/2005 de 3 de Agosto do Ministério da Educação. Esta mudança
reflecte-se na oferta nas áreas de formação e na procura de formação. O referido
despacho determina no ponto um que 50% das acções de formação contínua a
frequentar pelos docentes devem ser realizadas, obrigatoriamente, no âmbito da área de
formação adequada ou seja a área que está directamente relacionada com o domínio
científico didáctico do grupo disciplinar do docente. Anteriormente a este despacho os
docentes inscreviam-se nas acções propostas pelo Centro de Formação de Professores
mais próximo da área de residência ou da escola onde exerciam a actividade docente. A
partir da entrada em vigor do despacho n.º 16.794/2005 os docentes têm de fazer
formação na área geográfica da escola a que pertencem entendendo-se por «área
geográfica de escola a que pertence» a que coincide com a área do distrito que abrange
a respectiva escola/agrupamento de escolas onde o docente desempenha a sua
actividade profissional.
A legislação em questão criou novas preocupações aos Centros de Formação em termos
de acções a integrar nos Planos de Formação de cada ano civil. Ao analisarmos o tipo de
acções que constam dos Planos de Formação Contínua quer nos Centros de Formação
de Professores quer nas Universidades verifica-se que a oferta de formação aos
educadores e aos professores que leccionam do 1.º ao 12º ano são, o reflexo das
exigências do despacho. Globalmente a maior parte das acções são na área da
119
Maria Cândida Jardim
Matemática, da Física, das Novas Tecnologias, das Línguas (Português e Inglês) e das
necessidades educativas especiais. As acções no âmbito das relações interpessoais são
praticamente inexistentes.
Ao nível da formação contínua para docentes do 1º ciclo, a maior parte das acções
inscrevem-se nas áreas de Língua Portuguesa, Matemática e Inglês e com menor
incidência nas áreas de Ciências. Esta situação tem a ver com o projecto de
sensibilização da língua inglesa a nível nacional e consequentemente a necessidade de
formação pedagógica específica. A formação na área da matemática que tem proliferado
por todo o país insere-se no programa de formação contínua para professores do 1.º ciclo
do ensino básico, que o governo decidiu desenvolver no sentido de melhorar os níveis de
sucesso dos alunos na disciplina de Matemática. Esta formação inscreve-se no programa
criado pelo despacho conjunto n.º 812/2005, de 24 de Outubro, pelo Ministério da
Educação e da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior.
Sendo, como foi referido o ano de 2006 como um ano de viragem em termos de oferta e
procura na formação contínua, far-se-á um registo das acções de formação contínua
oferecidas pelas instituições de ensino superior. Em virtude do trabalho de investigação
que se irá desenvolver no próximo ano ter por base uma parte da área geográfica do
concelho de Ovar, far-se-á também uma análise das acções de Formação Contínua
disponíveis, este ano lectivo nos Planos de Formação dos Centro de Formação da área
geográfica do distrito de Aveiro.
A ESE de Coimbra disponibiliza uma acção de formação contínua na área da Educação
para a cidadania destinada aos docentes de todos os graus de ensino desde o Pré-
Escolar ao Ensino Secundário. Os objectivos a que se propõe são os seguintes: a)
possibilitar aos formandos a participação em actividades que os consciencializem para a
relevância da reflexão crítica sobre as suas práticas de cidadania e sua repercussão ao
nível da sua actividade docente e educativa. b) Concretizar a exigência fundamental de
formação e desenvolvimento pessoal e social dos discentes, professores e educadores,
formulada pela Lei de Bases do Sistema Educativo e pelos documentos de organização e
orientação curricular da Educação Pré-escolar e Ensino Básico. c) Proporcionar situações
aptas para a percepção da importância da Educação para a Cidadania dos discentes. d)
Criar oportunidades de consciencialização dos formandos para a particular urgência do
tratamento desta temática no actual contexto global e inter/multicultural do nosso mundo.
e) Possibilitar a prática de estratégias e actividades pedagógicas promotoras da
Educação para a Cidadania. f) Criar condições para a produção de materiais
120
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
pedagógicos por parte dos formandos susceptíveis de serem utilizados em Educação
para a Cidadania em todos os contextos da sua prática docente.
A ESE de Santarém disponibilizou já no ano lectivo 2004/2005 uma acção de formação
contínua creditada em regime de curso de formação, num total de 30 horas, no âmbito da
educação para a cidadania: «Contributo do Ensino das Ciências no Desenvolvimento de
Competências relevantes para a cidadania». Esta acção foi dirigida a todos os docentes
do 1.º, 2.º, 3.º ciclo do Ensino Básico e aos docentes que leccionam no Ensino
Secundário. Os objectivos desta acção de formação foram os seguintes: a) Desenvolver
as competências de reflexão crítica sobre as necessidades de formação científica dos
alunos face às relações complexas que se estabelecem, actualmente, entre a ciência, a
tecnologia, a sociedade e o ambiente; b) Proporcionar um espaço de reflexão, discussão
e trabalho que integre a experiência profissional dos participantes e que permite
desenvolver competências necessárias à concepção, implementação e avaliação de
diversas situações de aprendizagem consentâneas com os princípios curriculares; c)
Apresentar, sempre pela prática, abordagens, metodologias e actividades que o professor
de ciências poderá usar para estimular o desenvolvimento de competências na sua área
curricular disciplinar e em áreas curriculares não disciplinares como a Área de Projecto, o
Estudo Acompanhado e a Formação Cívica; d) Envolver os professores participantes na
definição de procedimentos de acção e na produção de materiais de intervenção
adequados as seus diferentes contextos de trabalho; e) Contribuir para uma
implementação eficaz das finalidades e dos objectivos dos vários currículos de ciências,
nomeadamente, os que estão relacionados com educação para a cidadania, literacia
científica e tomada de decisões.
A ESE de Setúbal, entidade de formação contínua, no ano civil de 2006 não oferece
formação no âmbito da educação para a cidadania. Apresenta três acções de formação
na área da metodologia da língua inglesa no 1º ciclo, uma acção sobre necessidades
educativas especiais e uma última sobre a matemática no 1º ciclo.
A ESE Paula Frassinetti, como entidade com competências ao nível da formação
contínua tem acções de formação contínua essencialmente em áreas de matemática e
Língua Inglesa no 1º ciclo do ensino básico: «Criação de suportes às aprendizagens de
grandezas e medidas», «Materiais de apoio ao ensino da Língua Portuguesa no 1.º
ciclo»; «Didáctica Interdisciplinar da Língua Portuguesa e das Ciências da Natureza» e
«Ensino Precoce da Língua Inglesa».
1.3.7.5. Cidadania nos Centros de Formação de Professores do distrito de Aveiro
121
Maria Cândida Jardim
A rede de Centros de Formação do distrito de Aveiro é formada pelos seguintes centros
de Formação: Centro de Formação de entre Paiva e Caima, Centro de Formação de
Oliveira de Azeméis, Centro de Formação José Pereira Tavares, Centro de Formação
das Escolas do Concelho de Ílhavo, Centro de Formação de Professores de Águeda,
Centro de Formação de Associação de Escolas de Albergaria-a-Velha, Centro de
Formação da Associação de Escolas do Concelho de Oliveira do Bairro, Centro de
Formação Rodrigues Lapa, Centro de Formação das Escolas de Espinho, Centro de
Formação da Associação de Escolas de Sever do Vouga, Centro de Formação das
Escolas de Vagos, Centro de Formação de Associação de Escolas de Ovar, Centro de
Formação Intermunicipal Egas Moniz, Centro de Formação de Terras da Feira e Centro
de Formação das Escolas de S. João da Madeira.
As ofertas de formação contínua para os docentes do 1.º CEB em 2006
O plano de formação dos Centros de Formação do distrito de Aveiro, para o ano civil
2006 não contemplou nenhuma acção para docentes no âmbito da Educação para a
cidadania. As acções de formação disponíveis são todas na área das didácticas das
disciplinas curriculares, prioritariamente na área da Matemática, da Língua Portuguesa,
das Ciências, do Inglês e das Novas tecnologias da Informação e Comunicação. Esta
constatação tem a ver com duas situações: a) as directrizes governamentais resultantes
dos maus resultados obtidos pelos alunos do nono ano, nos exames nacionais, no ano
lectivo 2004/2005 que redundou num programa de formação contínua lançado pelo
Ministério da Educação (ME), através do Despacho conjunto n.º 812/2005 e b) a
determinação pelo ME de 50% das acções de formação contínua deverem ser realizadas,
obrigatoriamente, no âmbito da área de formação adequada, conforme já foi referido
anteriormente.
Será relevante registar as acções que os Centros de Formação do distrito de Aveiro
disponibilizaram para o ano 2006 aos docentes que leccionaram no 1.º ciclo.
122
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Designação da acção Modalidade N.º horas
CFAE Promotor
O ensino do inglês do 1º ciclo do ensino básico Oficina de Formação
25 Centro de Formação de entre Paiva e Caima
Promoção do Prazer da Leitura – Da Leitura à Escrita em Oficina Círculo de Estudos
25 CenForAz – Centro de Formação de Oliveira de Azeméis
Ensino experimental das Ciências Oficina de Formação
25 CFAE Sever do Vouga
Alunos com necessidades educativas especiais: a arte da inclusão
Círculo de estudos
25 CFAE de Ovar
Uma abordagem experimental no ensino da Física e Química no 1.º CEB
Oficina de Formação
35 CFAE de Ovar
Oficinas de escrita no 1.º CEB: como promovê-las? Círculo de estudos
35 CFAE de Ovar
Ferramentas didácticas em matemática Círculo de estudos
25 CFAE de Ovar
CBTIC (competências básicas em TIC): Internet e Email Curso deFormação
15 CFAE de Ovar
Necessidades Educativas especiais e perturbações intelectuais Oficina de Formação
25 CF Intermunicipal Egas Moniz
Gestão e animação de Biblioteca Escolar Oficina de Formação
25 CF Intermunicipal Egas Moniz
O desenvolvimento das Expressões: Musica, movimento e drama Oficina de Formação
35
O Processo de Ensino Aprendizagem do Inglês no Primeiro Ciclo: A Interacção entre o carácter lúdico e a eficácia comunicacional
Oficina de Formação
25 Centro de Formação de Terras da Feira
A Matemática e os Materiais Manipulativos, no 1º Ciclo do Ensino Básico
Oficina de Formação
25 Centro de Formação de Terras da Feira
Alunos com necessidades educativas especiais - todos diferentes, todos únicos
Curso de Formação
25 Centro de Formação das Escolas de S. João da Madeira
Leitura e Escrita, intervir com eficácia Oficina de Formação
25 Centro de Formação das Escolas de S. João da Madeira
A utilização das TIC no processo ensino aprendizagem Oficina de Formação
25 Centro de Formação das Escolas de S. João da Madeira
Quadro 12 - Formação Contínua dos Centros de Formação do distrito de Aveiro em 2006
A Educação para a Cidadania partilha de um lugar secundário entre as ofertas de
formação de professores. Deve pois constituir um objectivo prioritário a formação do
pessoal docente nesta área a nível da formação inicial, contínua e especializada.
As ofertas de formação contínua para Auxiliares de Acção Educativa
Embora nos Planos de Formação dos Centros de Formação do distrito de Aveiro, a
Educação para a cidadania não tenha sido considerada prioritária para merecer sequer
uma acção de formação, o mesmo felizmente não se verificou na oferta de formação para
o pessoal não docente, revelando que de facto a educação para a cidadania não deve
ser promovida apenas pelos professores mas por todos os agentes educativos e daí ser
tão importante a promoção de acções nesse âmbito.
123
Maria Cândida Jardim
O Centro de Formação de Terras da Feira apresenta uma acção para auxiliares
especificamente dedicada à cidadania e o seu site revela algumas das razões que
justificam essa prioridade. «O Centro de Formação Terras da Feira ao longo dos últimos
triénios e no âmbito do seus projectos de formação procurou ir ao encontro de
necessidades de formação expressas pelos docentes, pais e encarregados de educação
e pessoal técnico, auxiliar e administrativo, por isso em cada ano lectivo e civil promoveu
fóruns, seminários, jornadas, assim como alguns encontros temáticos e acções de curta
duração. Estas iniciativas permitiram o contacto com vários elementos da comunidade
educativa, que trouxeram até nós preocupações, experiências, expectativas que
procuramos dar resposta pontual e agora no decurso deste triénio pensámos poder vir a
dar uma resposta, o mais concertada possível através do projecto de formação
Escolas/Agrupamentos: Comunidades de Aprendizagem. Este projecto de formação que
se iniciou em 2005 pretende ser um espaço de cruzamento de todos os projectos
educativos das escolas/agrupamentos /instituições associadas» (http://www.cf-terras-
feira.rcts.pt/fund.html). O projecto de Formação, para o triénio 2005/2007, que pretendem
implementar é baseado em três eixos orientadores:
Projecto para o triénio 2005-2007 Eixo Transversal: Comunidades de aprendizagem…espaço relacional
Eixo I Comunidades de aprendizagem…espaços de intervenção educativa
Eixo II Comunidades de aprendizagem…Revitalização do espaço comunitário na aprendizagem
Eixo III Comunidades de aprendizagem…Espaço de responsabilidade educativa e Cidadania
Quadro 13 - Formação Contínua no Centro de Formação Terras da Feira para AAE
Far-se-á, um registo das acções cujo tema é explicitamente a cidadania mas também de
acções que de alguma forma se podem enquadrar neste campo vasto como sejam a
educação alimentar, as relações interpessoais.
*
124
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Designação da acçãoN.º
horasConteúdos
Centro de Formação promotor
Escola promotora de Saúde38
Higiene, segurança e prevenção, Socorrismo, Educação alimentar
Centro de Formação de Ovar
Comunicação e Relações interpessoais
42Língua e Cultura Portuguesa, Princípios e processos da comunicação interpessoal, Gestão de conflitos
Centro de Formação de Ovar
Formação Educacional. Apoio Pedagógico 42
Desenvolvimento psicológico da criança e do jovem; Acção educativa – aspectos pedagógicos; Cultura da participação e da cooperação;
Centro de Formação de Estarreja
Escola, espaço de responsabilidade educativa e cidadania
30 Não disponívelCentro de Formação de
Terras da Feira
O atendimento e a relação interpessoal
25
Atendimento de clientes e imagem da instituição, as fases do atendimento, factores que determinam a qualidade no atendimento, gerir o processo de comunicação com o cliente no atendimento directo e telefónico, gerir o tempo como forma de aumentar a produtividade, lidar com reclamações e conflitos
Centro de Formação das Escolas de S. João
da Madeira
A Dinâmica das relações interpessoais 15
Comunicação, relacionamento interpessoal, competências relacionais
Centro de Formação das Escolas de S. João
da MadeiraAlimentação Saudável
15
Conceito de alimentação saudável - sua importância e implicações práticas; Identificação dos principais erros alimentares; Educação Alimentar, Regras de Higiene e Segurança Alimentares
Centro de Formação de Entre Paiva e Caima
Comunicações e Relações Interpessoais 20 Não disponível
Centro de Formação de Escolas de Sever do
VougaDiz como me olhas – A Comunicação na Acção Educativa 20
Tipologia e Funções dos AAE nos vários Contextos Escolares. Caracterização da Linguagem; O indivíduo e o Grupo. O Relacionamento Interpessoal. Desenvolvimento de Actividades Práticas de Integração/Aplicação
Centro de Formação das Escolas de Espinho
O AAE na Construção de uma Escola de Qualidade
20
Lei de Bases do Sistema Educativo. O Papel do Pessoal Auxiliar. Organização do Sistema Educativo. Combater a Exclusão Social e Promover a Igualdade. Respeitar as Diferenças Individuais e Culturais. Necessidades Educativas Especiais – Caracterização e Intervenção
Centro de Formação das Escolas de Espinho
Comunicação e Relações Interpessoais 42 Não disponível
Centro de Formação das Escolas de Vagos
Quadro 14 - Formação Contínua no âmbito da Educação para a Cidadania, nos Centros de
Formação do Distrito de Aveiro para AAE
125
Maria Cândida Jardim
1.4. Educação para a Cidadania na Europa: currículo, objectivos e conteúdos
A Recomendação 12 do Comité de Ministros aos Estados Membros (2002: 8) aponta
claramente para a necessidade dos sistema educativos (em todos os níveis) contribuírem
para a implementação do conceito de educação para a cidadania democrática nos
programas e adoptarem nos currículos «[…] abordagens educativas e métodos
pedagógicos que tenham como finalidade ensinar a viver em conjunto numa sociedade
democrática, combater o nacionalismo agressivo, o racismo e a intolerância, eliminar a
violência, assim como as ideias e os comportamentos extremistas».
Como é que esta abordagem é feita no ensino primário nos países europeus: como uma
disciplina autónoma? Integrada em uma ou mais disciplinas? Como uma temática
educativa transversal ao currículo? Para fazermos este estudo partimos de um Estudo
publicado pela Eurydice (2005) sobre «A Educação para a Cidadania nas Escolas da
Europa», solicitado pela presidência holandesa do Conselho da União Europeia, a qual
esteve em funções de Julho a Dezembro de 2004, integrado num dos seus objectivos
prioritários: iniciar um debate com cidadãos e governos sobre os valores europeus
comuns e sobre como alcançar um a plena integração e cooperação europeias. Este
estudo foi realizado em 30 países da rede Eurydice e os dados tem como referência o
ano lectivo 2004/2005.
A educação para a cidadania é geralmente considerada como um pilar da educação,
sendo apresentada como um princípio orientador dos currículos específicos do ensino
obrigatório No entanto, a forma como é inserido no currículo difere de país para país e
conforme os níveis de ensino. Pode ser como uma disciplina autónoma: disciplina
independente que poderá ser obrigatória, uma opção no currículo de base ou uma
disciplina opcional; integrada quando a temática faz parte de uma ou mais disciplinas e
como temática transversal do currículo quando a educação para a cidadania está
presente em todo o currículo.
O quadro que a seguir é apresentado foi adaptado do quadro apresentado pela Eurydice no Estudo sobre «A Educação para a Cidadania nas Escolas da Europa»
126
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
País
Abordagem
Terminologia Carga horária
Tem
a tr
ansv
ersa
l
Tem
a in
tegr
ado
Dis
cipl
ina
autó
nom
a
Dis
cipl
ina
autó
nom
a e
Bélgica fr (comunidade francófona)
x X Educação Moral e Religiosa, Línguas estrangeiras, Geografia, História, Ciências sociais e Naturais
Não prescrita
Bélgica de (comunidade germanófona)
X (a partir de 2006/2007: tema transversal)
Educação Cívica 1 aula por semana do 3.º ao 6.º ano
Bélgica nl (Comunidade
flamenga)
X Orientação – questões mundiais Não prescrita
República Checa
X Ambiente local ou História e Geografia Nacional
Não prescrita
Dinamarca x Não prescrita
AlemanhaX Geografia regional e Instrução
científica e técnica de baseNão prescrita
Estónia x x Educação Social, Ciências Humanas 1 aula por semana
Gréciax x Educação Social e Cívica 1 aula por semana no
5.º e 5.º anos
Espanhax X Ambiente Natural, Social e Cultural,
Língua estrangeira, Língua e Literatura Espanhola
Não prescrita
Françax 1 hora distribuída em
todas as disciplinas no 3.º a 5.º anos
Itáliax Educação para a coabitação Cívica
(educazione alla convivenza civile)Não prescrita
Chipre x Não prescrita
Letónia x X Conhecimentos Sociais Não prescrita
LituâniaX Ética, Geografia, História, Ciências
Sociais, O Essencial sobre a sociedade cívica
Não prescrita
LuxemburgoX Educação Moral, Religiosa e Social,
Introdução ao Mundo da Ciência (domínio social)
Não prescrita
HungriaX Estudos Ambientais, Literatura,
HistóriaNão prescrita
Malta
x Educação para a Cidadania Democrática e Aprender Democracia
Cada escola tem de desenvolver o seu currículo baseado no Currículo Mínimo Nacional
Países BaixosX Geografia, História, Sociedade,
Ambiente, Aprender para a autonomia e Comportamento Saudável
Não prescrita
Austria x Educação Cívica Não prescrita
PolóniaX Educação para a vida na Sociedade,
História e SociedadeNão prescrita
127
Maria Cândida Jardim
Portugal
x x Formação Cívica (área curricular autónoma)Educação para a cidadania (tema transversal)
1 aula por semana
Eslovéniax História, Geografia, Língua eslovena,
Língua estrangeira, Sociedade, Educação Ambiental
Não prescrita
Eslováquia x Pátria Não prescritaFinlândia x Estudos Ambientais e naturais Não prescrita
Suéciax x Estudos Sociais/Educação Cívica,
religiãoInglaterra x PSHE, Cidadania Não prescrita
País de Gales x Educação Social e Pessoal Não prescritaIrlanda do
Nortex Não precrita
Escócia x xIslândia x Competências de Vida Não prescrita
Listenstaine x Realidades Não prescrita
Noruega x x História, Geografia e Estudos Sociais Não prescrita
Bulgáriax Ciências Sociais, Educação Cívica e
ReligiãoNão prescrita
Roménia x Educação Cívica 1-2 aulas por semana
Fonte: http://eurydice.giase.min-edu.pt
Quadro 15 - Abordagem da Educação para a cidadania, no Currículo, nas Escolas da Europa
No ensino primário, em quase todos os países, o ensino da cidadania está integrado
numa ou em várias disciplinas, podendo também ser considerado como transversal ao
conjunto de disciplinas do currículo. Neste nível de ensino, apenas a Grécia, Estónia,
Portugal, Suécia, Bélgica (Comunidade Germanófona) e Roménia providenciam
actualmente aulas dedicadas à cidadania, sendo nos dois últimos países abordada
apenas como disciplina autónoma, enquanto nos outros quatro países é também
abordada como uma área transversal a todo o currículo.
Aprender sobre cidadania é um processo complexo que se inicia muito cedo e dura toda
a vida (aprendizagem permanente). O ensino primário constitui uma primeira etapa
importante para o desenvolvimento de cidadãos responsáveis aptos a desempenhar um
papel activo numa sociedade democrática. Dos 30 países que participaram no estudo
verificou-se que apenas no Luxemburgo não se refere, no currículo do ensino primário,
explicitamente à educação para a cidadania.
A abordagem e análise que vamos considerar tiveram em conta três grandes categorias
de objectivos interdependentes e que se articulam numa sequência lógica contínua em
termos de grau de formalização das aprendizagens por um lado e o envolvimento dos
128
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
alunos por outro. Esses objectivos procuram orientar para:
O desenvolvimento de uma literacia política relacionada com «a aquisição formal de conhecimentos teóricos» e os objectivos incidem principalmente «na transmissão de informação e conhecimento sobre a história e a geografia do país, os princípios fundamentais da sua Constituição, as suas estruturas organizacionais e o sistema político» (Eurydice, 2005: 23)
Um pensamento crítico e aquisição de determinadas atitudes e valores (aceites e partilhados pela sociedade) «necessários para se tornar um cidadão responsável, aprender a se respeitar e a respeitar os outros, escutar e resolver conflitos pacificamente, contribuir para uma coexistência harmoniosa entre as pessoas, desenvolver valores consistentes com uma sociedade pluralista» (Eurydice, 2005: 23)
Uma participação activa, tornando os alunos «aptos a envolverem-se na vida escolar e da comunidade local, e a adquirirem as competências necessárias para realizarem uma contribuição responsável e construtivamente cívica para a vida pública» (Eurydice, 2005: 23). Esta categoria engloba uma concepção de educação para a cidadania mais lata. Pretende-se que os valores e atitudes que adquiriram sirvam de quadro de referência para um envolvimento responsável baseado nos direitos e responsabilidades cívicas.
Os objectivos da educação para a cidadania são formulados numa diversidade de
maneiras de um país para outro, de acordo com o contexto nacional, as tradições e o
património cultural. A própria definição depende da autonomia das autoridades locais e
do grau de descentralização da gestão. Na educação primária, a formulação dos
objectivos é dirigida mais para a aprendizagem dos princípios que regem a vida em
sociedade, destacando-se a aquisição de competências necessárias para desenvolver o
respeito nas relações com outras crianças e adultos, competências que colocamos dentro
de um dos pilares da educação: aprender a viver com os outros. O relatório sobre
educação para a cidadania e aprendizagem da democracia realizado em 1998 no Reino
Unido apresenta uma definição global sobre o objectivo que deve prevalecer na
educação para a cidadania: promover o conhecimento, desenvolver competências e
valores relevantes para uma prática da democracia participativa e sensibilizar para o
sentido dos direitos e dos deveres e para a responsabilidade enquanto cidadãos activos e
isso faz como que os alunos, a escola e a sociedade se envolvam na sua comunidade e
na sociedade em geral: «One of the best ways of putting the theories of citizenship into
practice is through voluntary work in the community» (Final report of the Advisory Group
on Citizenship 22 September 1998: 63).
O quadro que a seguir apresentamos, regista a inclusão implícita ou explícita de cada
uma das três categorias de objectivos (literacia política, atitudes/valores, participação
activa) nos currículos do ensino primário dos países europeus. Iremos usar a seguinte
terminologia: Referência explícita, quando os objectivos são claramente mencionados em
relação à categoria concernente, no currículo ou em outros documentos oficiais;
referência implícita, quando os objectivos não são mencionados como tal mas é referida
129
Maria Cândida Jardim
no conteúdo, em actividades incluídas no currículo ou em outros documentos oficiais;
sem referência, quando o currículo oficial não contém qualquer referência a objectivos
relacionados com a educação para a cidadania.
PaísCategorias de objectivos
Literacia política Atitudes/valores Participação activaBélgica (comunidade francófona) ● ● ●Bélgica (comunidade germanófona) ● ● ●Bélgica (comunidade flamenga) ● ● ●República checa ◙ ◙ ○Dinamarca ● ● ●Alemanha ○ ● ○Estónia ● ● ●Grécia ● ● ●Espanha ● ● ◙França ● ● ●Irlanda ● ● ●Itália ● ● ●Chipre ● ● ●Letónia ● ● ●Lituânia ● ● ●Luxemburgo ○ ○ ○Hungria ● ● ○Malta ● ● ●Países Baixos ● ● ●Austria ● ● ●Polónia ● ● ●Portugal ● ● ●Eslovénia ● ● ●Eslováquia ● ● ○Finlândia ○ ● ●Suécia ○ ● ◙Inglaterra ○ ● ○País de Gales ● ● ●Irlanda do Norte ● ● ◙Escócia ◙ ● ●Islândia ○ ● ○Listenstaine ● ● ●Noruega ● ● ●Bulgária ○ ● ●Roménia ● ● ●● referência explícita ◙ referência implícita ○ sem referência
Fonte: http://eurydice.giase.min-edu.pt
Quadro 16 - Abordagem dos Objectivos da Educação para a Cidadania, no Currículo, nas Escolas da Europa
É apresentado no gráfico seguinte o resultado global da referência nos documentos
oficiais dos objectivos da educação para a cidadania.
130
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Podemos concluir que as três categorias de objectivos são explicitamente referidas nos
documentos oficiais da maioria dos 35 países, mas é no objectivo valores/atitudes que se
observa o maior número de referências explícitas (em 33 dos 35 países do estudo). O
Luxemburgo é o único país que não faz qualquer referência a nenhuma das três
categorias de objectivos nos seus documentos oficiais.
A cidadania é a «essência da educação, na medida em que a escola tem como uma das
principais finalidades preparar as crianças e os jovens para assumirem responsabilidades
e papéis de cidadania numa sociedade democrática» (Ferreira, 2003: 221). A cidadania
vista desta forma só será uma realidade quando a mesma deixar de ser vista como mais
uma tarefa do professor, intensificadora do seu trabalho e passar a ser assumida como
uma oportunidade de transformação do trabalho dos professores e ser integrada nas
práticas profissionais e organizacionais da escola.
A consciência da emergência da educação para a cidadania implica uma nova
mentalidade por parte dos professores e um trabalho cooperativo não apenas entre os
docentes mas com a participação e empenhamento também dos alunos, dos assistentes
operacionais e da comunidade, numa sintonia de intenções com vista à concretização e
operacionalização de acções. É necessário assumir novas formas de cidadania,
colectivas e não individuais, um novo conceito de cidadania, com base em critérios
democráticos de participação, responsabilidade, respeito, solidariedade e tolerância. Não
se pode conceber a educação e a escola fora do contexto da sociedade e dos espaços
em que se situa.
131
Maria Cândida Jardim
2. A Educação para a Cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Na segunda parte desta investigação apresenta-se o resultado interpretativo do
levantamento realizado ao nível da educação para a cidadania no 1.º ciclo de
escolaridade, em vários documentos do Agrupamento e através de um questionário
aplicado aos docentes. Os documentos analisados foram o Projecto Educativo do
Agrupamento com incidência nos seus princípios orientadores, os Projectos Curriculares
de Turma e os Registos diários das actividades do 1.ºciclo no ano lectivo 2007/2008 e a
programação da Área de Formação Cívica. São identificados os objectivos e a
metodologia utilizada. Caracteriza-se o meio físico e social que abrange a área do
Agrupamento, bem como a população discente, docente e não docente.
2.1. Objectivos e metodologia do estudo
Esta investigação pretendeu analisar que lugar está a ter a educação para a cidadania ao
nível dos diversos documentos de concretização do currículo do 1.º ciclo, num
Agrupamento de Escolas. A pertinência deste estudo assenta nos possíveis contributos
para a melhoria das práticas educativas ao nível da educação para a (na) cidadania e
como tal da formação de cidadãos livres, autónomos e eticamente responsáveis,
considerando o cidadão como uma pessoa individual e única, que aprende ao longo da
vida a ser aprendendo a conhecer, a fazer, a viver consigo própria, com os outros e com
o ambiente.
A implementação da Educação para a Cidadania, numa perspectiva globalizadora e
abrangente de todo o currículo exige do professor uma tomada de decisões constante, o
que implica uma atitude reflexiva e participativa acerca da realidade patente ao nível da
concepção de actividades, da afirmação de opções, da selecção de recursos, da
avaliação de resultados e correcção de percursos em função dos resultados obtidos.
Sendo a Educação para a Cidadania apresentada no Decreto-Lei n.º 6/2001 como uma
componente do currículo de natureza transversal e tendo em conta os objectivos que nos
movem neste estudo, a metodologia que privilegiamos foi de natureza qualitativa.
Considerando que a educação é global e não compartimentada, concebemos a educação
para a cidadania integrada em todas as acções e em todos os momentos, indissociável
dos seis pilares da educação (aprender a ser, aprender a conhecer, aprender a fazer,
aprender a viver consigo próprio, aprender a viver com os outros e aprender a viver com
132
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
o (no) ambiente) já referidos anteriormente e que devem constituir, no nosso ponto de
vista, o fundamento do trabalho diário do professor e de todos os adultos que se
relacionam com a criança no dia-a-dia.
Através deste estudo de caso, procurámos «a penetração num universo de relações
sociais complexas em que as práticas, os pontos de vista dos sujeitos, as interpretações
e os significados que conferem às acções são privilegiados» (Lima in Leite, 2005: 206)
Temos consciência no nosso campo de trabalho do peso dos contextos
(socioeconómicos, geográficos, culturais), e das especificidades de cada escola podendo
as mesmas serem condicionantes e até determinantes na forma como as mudanças são
recebidas, integradas, assumidas e implementadas. Tendo em conta o que atrás foi dito,
decidimos adoptar uma abordagem compreensiva das situações ou seja, «apreender as
situações na sua globalidade, sem isolar variáveis de interacção, identificando todos os
determinantes e restituindo a sua articulação» (Postic, 1988: 139).
A educação já não é mais um intervalo no percurso de vida das pessoas mas antes um
processo de formação abrangente e continuado ao longo desse percurso. Nesta
perspectiva, não podemos pensar que a escola dá um conjunto de conhecimentos
essenciais para toda a vida. Assumimos que temos de aprender ao longo de toda a vida
e como tal a educação é este continuum educativo sempre inacabado e dinâmico que
tem como objectivo que o indivíduo aprenda a ser / a tornar-se e deverá ter como papel
essencial «conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento,
sentimento e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e
permanecer tanto quanto possível, donos do seu próprio destino» (Delors, 1996: 86).
Para sermos donos do nosso próprio destino (seres livres, autónomos e responsáveis),
ou seja para aprender a ser, temos, antes de mais, de aprender a conhecer e aprender a
fazer. Este fim último da educação que é sempre um fim incompleto, só faz sentido
porque concebemos o ser humano como uma pessoa de relação e em relação com os
outros, não como um ser isolado. Então a educação tem sempre que abranger o
aprender a viver consigo próprio e com os outros. Mas como existimos e aprendemos
num espaço também temos de estabelecer relação com esse espaço e com o que nele
existe (ambiente), temos de aprender a viver nesse espaço e com esse espaço que nos
rodeia e no qual intervimos, interferimos, construindo interdependências. Assim, educar é
um processo de aprendizagem dinâmico e contínuo que visa que cada um aprenda a
ser /a tornar-se. Nesse fim último que nunca está completo integram-se mais cinco
vertentes (pilares) todas inter-relacionadas, sendo duas mais relacionadas com as
133
Maria Cândida Jardim
aprendizagens curriculares disciplinares (aprender a conhecer e aprender a fazer) e três
mais relacionadas com a cidadania (aprender a viver com os outros, aprender a viver
consigo próprio e aprender a viver com o (no) ambiente). Para ilustrar a nossa
perspectiva apresentamos um esquema que foi considerado na análise que fizemos dos
vários documentos.
Esquema 1: pilares da educação
O projecto de investigação que está na base dos dados que se apresentam foi
desenvolvido tendo por base a análise de diversas fontes documentais elaboradas e
aplicadas, no ano lectivo 2007/2008, nomeadamente as planificações da área de
Formação Cívica, elaboradas ao nível dos Conselhos de Docentes de cada ano, os
Aprender a
viver consigo próprio
Aprender a viver
com os outros
Aprender
a conhecer
Aprender
a fazer
Aprender a viver
com o ambiente
Aprender a ser/
a tornar-se
134
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Projectos Curriculares de Turma dos docentes titulares de turma e os Registos Diários
das Actividades de Turma. Além desta análise documental foi também aplicado um
questionário a todos os titulares de turma.
Os dados recolhidos e analisados referem-se ao ano lectivo 2007/2008 e tendo em
conta que a análise feita é uma análise qualitativa, é importante contextualizar a realidade
documental. Considere-se o facto de o ano 2007/2008 ter sido o primeiro ano no
Agrupamento a ser implementado, em modelo próprio do Ministério da Educação, os
registos diários das actividades da turma (sumários). Também pela primeira vez os
manuais escolares do 4.º ano adoptados apresentam algumas propostas de actividades
no âmbito da educação para a cidadania. Tendo em conta esta realidade que, pelo seu
carácter inovador assume também um carácter experimental, o questionário aplicado
inclui entre outras, uma questão específica aos docentes que leccionaram o 4.º ano de
escolaridade e que pretende recolher informação sobre a utilização ou não das propostas
do manual, referentes à Educação para a cidadania. Os dados obtidos no questionário
foram analisados e cruzados com a planificação da área de Formação Cívica e com os
dados recolhidos nos registos diários de actividades da turma.
O PCT traduz a operacionalização contextualizada pela realidade da turma, do PCE e
deve apontar para as metas do Projecto Educativo. A escolha dos Projectos Curriculares
de Turma como objecto para verificar como é que está a ser implementada a educação
para a cidadania transversalmente no 1.º ciclo integra-se na perspectiva de concepção do
PCT como um instrumento de autonomia do professor, no estabelecimento das
estratégias de desenvolvimento do currículo nacional, adequando-o ao contexto da
turma.
2.2. Um Agrupamento de Escolas e seu contexto
Caracterização do meio envolvente
O concelho de Cedrim11 tem cerca de 55000 habitantes e é constituído por oito
freguesias, sendo as de Cedrim e Alter12 aquelas de onde são oriundos os alunos. A
cidade dispõe de caminho-de-ferro desde 1863, acesso à auto-estrada Porto/ Lisboa, é
beneficiada pela estrada nacional 109 e pela A29. Outrora essencialmente rural e
piscatória, Cedrim apresenta alguma dinâmica de desenvolvimento nas áreas dos
serviços e do comércio, bem como nas suas estruturas produtivas; a indústria
11 Nome fictício12 Nome fictício
135
Maria Cândida Jardim
transformadora constitui-se como principal empregadora. Em todo o concelho, a par da
indústria e do comércio, ainda subsiste, como actividade complementar, a agricultura.
No sector desportivo, Cedrim conta com algumas colectividades que se dedicam ao
desenvolvimento de várias modalidades.
A Biblioteca Municipal de Cedrim tem também desenvolvido a sua acção de forma
articulada com as escolas e Jardins-de-Infância, promovendo diversas iniciativas que
enriquecem o quotidiano escolar.
Caracterização do contexto físico e social
O Agrupamento de Escolas resultou da reorganização administrativa promovida em 2003
pelo Ministério da Educação, através da Direcção Regional de Educação do Centro, o
que provocou a fusão do Agrupamento Horizontal de Escolas e Jardins-de-Infância de
Cedrim Cidade13, do Agrupamento de Escolas e Jardins-de-Infância Alter14 e da Escola do
Ensino Básico do 2º e 3º Ciclos do Redondo numa só entidade. Iniciou a sua actividade
em 2003/2004, com sede na E.B. 2,3. É constituído por dez Jardins-de-Infância, catorze
E.B. 1 e uma E.B. 2,3.
O Agrupamento de Escolas de Redondo abrange os alunos provenientes das freguesias
de Cedrim e Alter com contextos sócio-geográficos diversificados: área essencialmente
urbana (EB 2,3 Redondo, EB1/J.I. Parque, EB1 J. I. da Estação, EB1 Pinhal, EB1 de do
Centro, J. I. do Centro e J. I. do Marquês), áreas nas franjas urbanas (EB1/J.I. Ponte,
EB1 da Estrada, EB1/J. I. Alter e EB1 do Hospital) área rural (EB1/J. I. de Guilhovai, EB1
de Cabanas, EB1/J. I. da Torre e EB1 do Campo) e área piscatória (EB1 e Jardim de
Infância da Praia). Nos últimos anos o índice de desemprego aumentou
significativamente, tendo-se passado da situação de pleno emprego, para indicadores de
desemprego superiores aos referentes nacionais. Este facto tem afectado uma grande
parte da população, notando-se uma grande mobilidade das famílias com mais
dificuldades (aumentou o número de famílias emigradas). Existe igualmente uma
comunidade de imigrantes, da qual uma grande percentagem, é proveniente dos países
de leste.
O Agrupamento é composto por 24 estabelecimentos de ensino, dispersos
geograficamente. A população escolar é muito heterogénea, sendo composta por alunos
13 Os nomes são fictícios.
14
136
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
de estratos sócio-económicossocioeconómicos e culturais marcadamente diferentes.
A distância que separa alguns dos estabelecimentos de ensino da escola-sede e do
centro da cidade coloca-os numa situação desfavorável relativamente àqueles mais
próximos. Dos 24 estabelecimentos de ensino, 14 são escolas básicas do 1.º ciclo,
integrando seis deles também a educação Pré-Escolar. A maior parte das Escolas
Básicas do 1.º ciclo (EB1) do Agrupamento carece de obras de manutenção. Das catorze
EB1, sete são escolas de maior dimensão, com quatro ou mais turmas. A EB1 do Campo
tem desde o presente ano, apenas uma turma, com os quatro anos de escolaridade. A
carência de salas e a opção pelo regime normal de funcionamento levou a que a Câmara
Municipal recorresse ao aluguer de monoblocos para salas de aula. A EB1 do Parque (11
turmas), é a escola mais degradada, tendo neste ano lectivo, duas turmas a funcionar em
monoblocos e duas turmas a funcionar nas instalações do Instituto das Irmãs
Franciscanas (IPSS). Na Carta Educativa do Concelho, está prevista a construção de três
Centros Educativos na área do Agrupamento, constituindo o Centro Educativo do Parque,
a primeira prioridade na construção. Todas as escolas têm pelo menos um computador (à
excepção da EB1 da Ponte, que, por ter sido alvo de obras de recuperação, aguarda a
instalação de serviços e equipamentos) com acesso à internet, verificando-se no entanto
a necessidade de se equiparem as salas com computadores mais modernos. Na EB1
com Jardim-de-infância de Guilhovai, funciona uma Unidade de Ensino Estruturado, para
apoio a alunos com espectro de autismo. Serve três concelhos vizinhos. Nas escolas do
Centro e de Guilhovai, funcionam duas Bibliotecas da Rede Pública das
Bibliotecas/Centro de Recursos, que em conjunto com a Biblioteca/Centro de Recursos
da Escola sede, servem todo o Agrupamento.
Caracterização da população discente em 2007/08
Os alunos do Agrupamento de Escolas são provenientes de contextos socioculturais e
económicos muito diversificados. As diferentes áreas geográfico-económicas
condicionam a existência de diferentes realidades, no que diz respeito às áreas
profissionais predominantes (comunidade piscatória, comunidade rural e comunidade
urbana).
Há uma grande percentagem de Encarregados de Educação com baixos níveis de
escolaridade e com baixa qualificação profissional, o que se traduz numa baixa
expectativa cultural das famílias em relação ao percurso escolar dos seus educandos,
não valorizando convenientemente o papel da escola. A cultura de rua sobrepõe-se
muitas vezes à cultura de escola, levando a que o Agrupamento desempenhe neste
137
Maria Cândida Jardim
âmbito, a dupla função de escola para filhos e escola para pais. Verifica-se uma grande
precariedade de emprego, que se reflecte em dificuldades acrescidas para as famílias,
quer no âmbito económico, quer no âmbito relacional. No exercício da cidadania, o
Agrupamento procura no âmbito da prática educativa diária, desenvolver respostas que
contrariem esta realidade, potenciando a colaboração dos Encarregados de Educação e
outros agentes, que, quer pela profissão, quer pela formação académica, constituem um
recurso na concretização da actividade educativa (áreas da saúde, segurança,
desporto…).
Nível de Ensino Nº de Alunos
Pré-escolar 292
1º Ciclo 1154
2º CicloEnsino Regular 613
PCA (Percurso Curricular Alternativo) 25
3º CicloEnsino Regular 132
EFA (Educação e Formação de Adultos) 34
Total 2250
Quadro 17 - Número de Alunos no Agrupamento de Escolas no ano lectivo 2007/2008
Caracterização do Pessoal Docente
O Quadro do pessoal docente tem um elevado grau de estabilidade, uma vez que cerca
de 85,7% dos docentes pertence aos quadros (titulares, Quadros de Escola e Quadros de
Zona Pedagógica). Isto tem permitido melhorar a continuidade pedagógica e a articulação
entre docentes. Constata-se em termos de experiencia profissional, que 51,7% dos
docentes tem mais do que 20 anos de serviço. Por outro lado, 17,4% dos docentes tem
mais do que 30 anos de serviço, o que por vezes ocasiona alguns constrangimentos no
que diz respeito à necessidade de inovação e renovação constantes.
138
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
NívelVínculoVínculo Experiência profissionalExperiência profissional
Quadro de titulares
Quadro de Escola
Quadro zona pedagógica contratados <4 5-9 10-19 20-29 >30
PréPré 3 5 12 0 0 1 8 10 1
1º CEB1º CEB 16 16 31 5 3 12 12 29 12
2º CEB2º CEB 25 35 3 21 2 13 15 30 24
3º CEB3º CEB 5 19 3 6 2 4 17 8 2
Educação EspecialEducação Especial 2 6 5
Apoio EducativoApoio Educativo 2 2
Intervenção PrecoceIntervenção Precoce 2
Total 2 6 58 32 7 30 52 77 39
Quadro 18 - Docentes ao serviço no Agrupamento de Escolas no ano lectivo 2007/2008
Caracterização do Pessoal Não Docente
Em relação ao Pré-Escolar, não há grandes constrangimentos, tendo em conta que,
geralmente, podemos contar com uma AAE por sala (três da responsabilidade do
Ministério de Educação e 12 da responsabilidade da autarquia). Por outro lado, no 1.º
ciclo, o número de auxiliares por escola é insuficiente, tendo em conta a necessidade de
dar resposta ao período de almoço, aos alunos com necessidades educativas especiais e
às Actividades de Enriquecimento Curricular. O facto das EB1 com menos de 3 turmas
não terem, em termos legais, direito a uma AAE provoca grandes constrangimentos na
resposta junto dos alunos e das famílias. O Agrupamento procura ultrapassar esta
situação, recorrendo a candidaturas a programas ocupacionais do Centro de Emprego e
a assalariamentos, suportados pelo orçamento privativo da escola. Este facto, se, por um
lado, minimiza a falta de pessoal, por outro lado aumenta o número de pessoas que
passam pelas escolas (as assalariadas trabalham entre 2 e 4h por dia). No 2.º e 3.º ciclo,
o número de auxiliares é adequado, embora o baixo nível de assiduidade de alguns
funcionários, conjuntamente com a qualidade do exercício das respectivas competências,
dos funcionários com mais idade e baixo índice de escolaridade, dificulte por vezes a
organização e o funcionamento dos serviços.
Os serviços administrativos estão organizados em termos de gestão de processos na
área de Recursos Humanos, Alunos, Contabilidade, Tesouraria e Expediente Geral. Este
serviço contempla 11 elementos incluindo a Chefe de Serviços. O número de funcionários
é insuficiente tendo em conta a dimensão do Agrupamento (número inferior ao rácio do
ME). Os funcionários são na maioria assíduos e vão conseguindo dar resposta à
comunidade educativa.
139
Maria Cândida Jardim
2.3. Apresentação e discussão dos resultados
O Projecto Educativo do Agrupamento evidencia fortes preocupações no âmbito da
educação para a cidadania, quer ao nível da definição de valores prioritários (o bem-
estar, o respeito, a responsabilidade, a solidariedade, a autonomia e o saber), quer ao
nível dos princípios educativos, salientando «a formação integral dos alunos em valores,
atitudes e comportamentos cívicos promovendo o exercício da cidadania». Os valores e
os princípios educativos foram formulados, em coerência com alguns problemas
detectados: baixo nível de educação cívica, alunos indisciplinados, desmotivados e pouco
empenhados, alunos em risco de abandono escolar, alunos com insucesso repetido,
pouca partilha/ cooperação entre docentes dos vários ciclos de escolaridade, pouco
acompanhamento de alguns encarregados de educação aos seus educandos.
A par dos valores e princípios educativos, os objectivos do Projecto Educativo do
Agrupamento foram elaborados de forma a constituírem um caminho para a colmatação
dos problemas detectados abrangendo alunos, docentes, não docentes e encarregados
de educação, numa perspectiva globalizadora e de abertura à comunidade educativa.
Destacámos alguns objectivos de âmbito relacional e pedagógico que se inscrevem na
perspectiva de educação para a cidadania: - Promover a formação ética, moral, cívica e
afectiva dos alunos; - Desenvolver o respeito do aluno por si próprio e pelos outros; -
Desenvolver competências sociais e cognitivas; - Promover uma consciência ecológica; -
Desenvolver procedimentos que previnam actos de indisciplina; - Proporcionar um
ambiente de bem-estar, segurança e tranquilidade; - Promover um clima de boas
relações que assentem no respeito, responsabilidade, solidariedade, frontalidade e rigor;
- Desenvolver o trabalho cooperativo entre os docentes do Agrupamento; - Proporcionar
momentos/ situações de convívio entre todos os elementos do Agrupamento; -
Proporcionar um clima favorável à participação das famílias.
Os resultados que se apresentam dizem respeito à análise comparativa entre
os Projectos Curriculares de turma do ano lectivo 2007/208; os Registos Diários das
Actividades das turmas de 2007/208; as programações da área de Formação Cívica dos
Conselhos de Docentes do ano lectivo 2007/208 e os resultados da aplicação de um
questionário (Anexo).
Em relação aos Projectos Curriculares de Turma (PCT), para organizar e centrar a
pesquisa da informação de acordo com o objectivo da investigação, seleccionamos os
itens do modelo do PCT 1.º CEB adoptado no Agrupamento, que consideramos
relevantes. Assim sendo, a recolha, análise da informação e apresentação dos resultados
incidiu sobre 44 dos 57 PCT (77%) focando-se em dois pontos:
140
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
1. Definição dos Problemas da Turma;
2. Definição das Prioridades de Acção.
Em cada um dos pontos fomos verificar a presença de itens relacionados com a
educação para a cidadania de acordo com o esquema acima apresentado: aprender aaprender a
viver com os outros, aprender a viver consigo próprio e aprender a viver com o (no)viver com os outros, aprender a viver consigo próprio e aprender a viver com o (no)
ambienteambiente, registando o tipo de referência que se observa: referência explícita, referência
implícita ou sem referência. Consideramos referência explícita quando a referência está
claramente mencionada em relação ao item concernente. Consideramos referência
implícita quando a referência não está claramente mencionada mas a referência feita
potencia e subentende a categoria concernente. Consideramos sem referência, quando
não existe qualquer tipo de referência, à categoria analisada.
No item aprender a viver com os outrosaprender a viver com os outros verificámos a existência de questões
relacionadas com três categorias definidas: respeito/tolerância, cooperação/solidariedade
e cumprimento de regras.
No item aprender a viver consigo próprioaprender a viver consigo próprio verificámos a existência de questões
relacionadas com três categorias definidas: saúde/bem-estar; hábitos de
trabalho/responsabilidade e auto-conceito.
No item aprender a viver com o (no) ambienteaprender a viver com o (no) ambiente verificámos a existência de questões
relacionadas com três categorias definidas: consumo; política 3 R (reduzir, reciclar,
reutilizar) e intervenção comunitária.
A análise dos Registos Diários das Actividades das Turmas incidiu sobre 80,7% do total e
teve por objectivo fazer o levantamento das áreas onde se verificaram registos no âmbito
dos três itens seleccionados para o estudo (aprender a viver com os outros, aprender a
viver consigo próprio e aprender a viver no ambiente).
Em relação à Programação da área de Formação Cívica, consultamos na plataforma
moodle do Agrupamento a programação elaborada, no início do ano lectivo, pelos
Conselhos de Docentes do 1.º, 2.º, 3.º e 4.º ano de escolaridade, sendo de salientar que
o Conselho de Docentes do 2.º ano não disponibilizou a planificação desta área.
O inquérito distribuído a 57 docentes teve um retorno de 63%, correspondente a 36
inquéritos sobre os quais incidiu a análise e tratamento dos dados. A maior parte dos
docentes que responderam ao questionário tinham idades compreendidas entre 41 e 50
anos (47,2%), predominantemente com grau ou equiparado a licenciatura (77,8%); quase
na totalidade pertencente ao quadro do Agrupamento (91,7%) e do sexo feminino
141
Maria Cândida Jardim
(97,2%).
Tendo em conta que se trata de uma análise qualitativa e que a coerência na
apresentação de dados exige continuamente confronto com os vários documentos
analisados optou-se por partir dos Projectos Curriculares de turma (Definição de
problemas da turma e Definição de Prioridades) e progressivamente ir relacionando os
dados e as conclusões com os outros documentos já referenciados.
2.3.1. Análise comparativa da EC na Definição de problemas da turma
A análise do ponto “Definição de problemas” nos PCT, revelou que a maior
percentagem de referências, quer explícitas (25,8%), quer implícitas (12,1%) se regista
no item Aprender a viver com os outrosAprender a viver com os outros (37,9%). No entanto é de referir que existe um
elevado número de PCT em que não é feita referência nenhuma às categorias
relacionados com qualquer um dos itens.
Gráfico 3 - Análise dos PCT 2007/2008 no ponto "Definição de Problemas"
Os resultados da análise observada revelam que é dada mais valorização aos itens
relacionados com o aprender a viver com os outros estando em coerência com os valores
prioritários definidos no Projecto Educativo do Agrupamento de Escolas. Esta valorização
é reforçada ao analisar as respostas dadas pelos docentes na questão 3 do questionário
(Registe 6 palavras que tem em conta quando pensa em Educação para a Cidadania). Como podemos verificar
pelo quadro abaixo apresentado, as concepções dos professores localizam-se no quadro
142
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
das relações sociais (aprender a viver com os outros) no espaço sala de aula. As seis
palavras que obtiveram maior número de registos têm a ver com temáticas ligadas aos
valores, à responsabilidade, ao respeito, à solidariedade, aos deveres e às regras.
Categorias 3. Registe 6 palavras que tem em conta quando pensa em Educação para a Cidadania.
N.º Total de registos %
1.º ano 2.º ano 3.º ano 4.º ano Total
Apre
nder
a v
iver c
onsig
o pr
óprio
Direitos 3 1 0 3 7
78 40
Eeducação/cultura 3 4 5 2 14Ssinceridade/verdade 0 0 1 1 2Sabedoria 0 0 0 1 1Rresponsabilidade 4 3 4 5 16Humildade 1 1 3 0 5Liberdade 0 1 0 0 1Vvalores/princípios 5 2 2 9 18Pessoa 1 0 1 0 2Sensibilidade 0 0 1 0 1Ddiálogo/reflexão 1 2 0 0 3Eempenho/atitude 1 2 0 0 3Éética/moral/consciência 0 3 2 0 5
Apre
nder
a v
iver c
om o
s ou
tros Respeito 6 6 7 7 26
96 49,2
Tolerância 3 2 3 1 9Ssolidariedade/humanidade 3 5 4 5 17Cooperação 3 3 3 1 10Gerações 0 0 1 0 1Aamor/afectos/compreensão 4 3 2 2 11Civismo 1 3 0 0 4Igualdade 0 1 0 0 1Lealdade 0 0 0 1 1Ddeveres/regras 5 3 3 5 16
Apre
nder
a
viver
com
o
(no)
ambi
ente Eespírito crítico 0 1 2 1 4
21 10,8Irreverência 0 0 1 0 1Intervenção 1 0 1 1 3Sociedade 6 4 1 2 13
Quadro 19 - Resultados da questão 3 do questionário aos docentes
A maior percentagem (49,2%) das palavras continuaram a estar relacionadas com o item
Aprender a viver com os outrosAprender a viver com os outros. O item Aprender a viver com o ambiente registou umaAprender a viver com o ambiente registou uma
percentagem bastante baixa.percentagem bastante baixa.
143
Maria Cândida Jardim
Gráfico 4 - Valorização pelos docentes dos itens ligados à Educação para a cidadania
Ao nível dos Registos Diários das Actividades das Turmas, poder-se-ia esperar que a
maior percentagem de registos se verificasse noeste item Aprender a viver com os outrosAprender a viver com os outros
mas regista-se no item Aprender a viver no ambiente.Aprender a viver no ambiente.
Gráfico 5- Análise da Educação para a cidadania nos Registos Diários das Actividades da turma
Apenas se verifica uma maior percentagem de registos no item Aprender a viver com osAprender a viver com os
outrosoutros nas turmas do 4.º ano (40,8%).
144
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Gráfico 6 - Análise do Item Aprender a viver com os outrosAprender a viver com os outros nos Registos Diários das Actividades
Fazendo o cruzamento analítico com as Planificações da Área de Formação Cívica, dos
quatro Conselhos de Docentes, também a Planificação elaborada pelo Conselho de
Docentes do 4.º ano é a que apresenta mais registos, ao longo do ano, no item AprenderAprender
a viver com os outrosa viver com os outros, verificando-se referência em sete dos dez meses de planificação
(ver anexo). Fomos então verificar as propostas de actividades propostas no manual do
4.º ano e verificou-se que a sua maioria se integravam no item que definimos como
Aprender a viver com os outrosAprender a viver com os outros: nos meses de Setembro a Abril o tema integrador é “Eu
e os Outros” (Ser bem-educado na escola, com a família, com os amigos, em sociedade;
Aprender a escutar; Compreender os outros); em Maio o tema é “Prevenção Rodoviária”.
Os itens abordados em cada tema são independentes dos textos apresentados na
respectiva unidade e têm como objectivo levar os alunos a debater essencialmente as
regras de bom comportamento em casa, na escola, na sociedade, em locais públicos. As
duas últimas unidades destacam a educação Ambiental e a Prevenção Rodoviária. Estes
temas corresponderam ao que os professores identificaram nos Projectos Curriculares de
Turma como problemas e como prioridades e ao cruzar estes dados com a questão 6 (Os
manuais escolares do 4.º ano adoptados pelo Agrupamento sugerem temas no âmbito da
Educação para a cidadania, para serem trabalhados na área de Formação Cívca. Utilizou
essas sugestões?) do questionário apenas dirigida aos titulares de turma do 4.º ano veri-
ficou-se que apenas 12,5% dos docentes respondeu que nunca tinha recorrido às pro-
postas.
145
Maria Cândida Jardim
Gráfico 7 - Utilização das propostas do manual do 4.º ano de Formação Cívica
Como explicar que no 1.º, 2.º e 3.º ano ao nível da definição de problemas no PCT seja
valorizado o item aprender a viver com os outros e, quer na programação da área de For-
mação Cívica15 , quer nos Registos Diários das Actividades da Turma, exista uma acentu-
ada valorização das questões relacionadas com o Aprender a viver com o (no) ambienteAprender a viver com o (no) ambiente,
assumindo o maior número de registos (442), correspondente a 38,9% do n.º total de reg-
istos?
Gráfico 8- Análise da EC nos Registos Diários das Actividades das Turmas.
Poderemos explicar estes factos se considerarmos a política ambiental assumida pelo
Agrupamento e que já faz parte da sua identidade, tendo-se candidatado e envolvido em
15 O Conselho de Docentes do 2.º ano não elaborou planificação da área de Formação Cívica
146
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
vários projectos com vertentes ambientais, quer a nível nacional (Projecto Eco-Escolas e
Projecto Tampinhas), quer a nível concelhio (Programa de Curta Duração - PCD). Isto
significa que as questões ambientais não constituem problemas mas fizeram parte das
preocupações assumidas por todos os docentes e que se mantêm ao longo do tempo,
sendo sempre um percurso inacabado. Constata-se que o envolvimento dos docentes em
projectos incentiva o desenvolvimento de actividades concretas e conduz à apresentação
de produtos que servem para avaliar o nível de concretização dos objectivos.
Fazendo uma micro-análise da definição de problemas nos PCT, no item Aprender aAprender a
viver com os outros viver com os outros podemos observar que a categoria “Cumprimento de regras” foi
aquela que obteve mais referências (mais de metade dos PCT), com uma maior
percentagem tanto em termos de referência explícita (47,7%), como implícita (13,6%),
evidenciando a valorização que os professores do 1.º ciclo atribuem ao cumprimento de
regras no domínio da Educação para a cidadania como sendo um problema que merece
registo e intervenção.
Gráfico 9 - Análise da Definição de Problemas nos PCT 1.º CEB: Aprender a viver com os outrosAprender a viver com os outros
No item Aprender a viver consigo próprioAprender a viver consigo próprio, 50% dos docentes consideraram como um
problema detectado na turma, a falta de hábitos de trabalho e a responsabilidade,
obtendo a maior percentagem quer na referência explícita (36,4%), quer na referência
implícita (13,6%).
147
Maria Cândida Jardim
Gráfico 10 - Análise da Definição de Problemas nos PCT 1.º CEB: Aprender a viver consigoAprender a viver consigo
própriopróprio
No item Aprender a viver no Ambiente,Aprender a viver no Ambiente, embora sendo o item menos referido na definição
de problemas e prioridades, observa-se maior incidência na vertente ambiental rela-
cionada com a política dos 3R’s (reduzir, reciclar, reutilizar), resultante dos projectos de
educação ambiental que envolveram todas as turmas.
Gráfico 11 - Análise da Definição de Problemas nos PCT:"Aprender a viver com o (no) ambiente"
2.3.2. Análise comparativa da EC na Definição de prioridades
A análise do ponto “Definição de prioridades” nos PCT, revelou que o maior número de
referências, quer explícitas, quer implícitas se regista, à semelhança do que se verificou
com o ponto “Definição de problemas”, no item Aprender a viver com os outrosAprender a viver com os outros,
148
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
correspondendo a um total de 74,3% dos registos embora agora se verifique um número
de referências muito maior, concluindo-se que este item é assumido como uma prioridade
mas não é sentido pelos professores como um problema relevante. Esta análise e
constatação estão de acordo com as conclusões levadas a cabo num estudo feito pela
Eurydice em 2005, sobre a Educação para a cidadania nas escolas do 1.º ciclo em 35
países da Europa, já referido anteriormente em que se verificou que no primeiro ciclo do
ensino básico, a formulação dos objectivos é dirigida mais para a aprendizagem dos
princípios que regem a vida em sociedade, destacando-se a aquisição de competências
necessárias para desenvolver o respeito nas relações com outras crianças e adultos,
competências que colocamos dentro de um dos pilares da educação: aprender a viveraprender a viver
com os outroscom os outros.
É de referir também que mais de metade dos PCT analisados apresentam poucas
referências em relação à Definição de Prioridades nos itens Aprender a viver consigoAprender a viver consigo
própriopróprio (66,7%) e Aprender a viver no ambienteAprender a viver no ambiente (90,2%).
Gráfico 12 - Análise da Definição de Prioridades nos PCT 1.º CEB
Podemos concluir que os docentes do 1.º ciclo desvalorizam no trabalho a planificar e
desenvolver com os alunos as questões ligadas a esses itens?
Ao observarmos os resultados da análise dos Livros de Registo Diário das Actividades
das Turmas, verificamos que nesses dois itens é onde se observam percentagens mais
elevadas de registos (Aprender a viver consigo próprio - 31,5% e Aprender a viver com o
149
Maria Cândida Jardim
(no) ambiente – 38,9%). Ao cruzarmos estes dados com o resultado dos inquéritos, no
que diz respeito às palavras que fazem lembrar educação para a cidadania, registaram-
se palavras que indirectamente têm a ver com o item aprender a viver com o ambiente
tais como espírito crítico, intervenção, irreverência e sociedade, num total de 21 registos,
correspondendo a 10,8% do total dos registos (v. quadro 19). Podemos então concluir
que os docentes do 1.º ciclo consideram muito importante que os alunos sejam sensíveis
às questões ambientais e preocupam-se com o desenvolvimento de actividades nesse
âmbito, envolvendo-se nos diversos projectos já mencionados (Eco-Escolas, Projecto
Tampinhas, Projecto de Curta Duração – PCD) com uma vertente muito direccionada
para a intervenção na comunidade em momentos especificamente programados,
desenvolvendo as mesmas nas áreas curriculares disciplinares de Língua Portuguesa e
Estudo do Meio ou nas áreas curriculares não disciplinares de Formação Cívica ou Área
de Projecto.
Fazendo uma micro-análise da Definição de Prioridades nos PCT, pudemos observar que
no item Aprender a viver com os outrosAprender a viver com os outros, as três categorias (respeito/tolerância,
cooperação/solidariedade e cumprimento de regras) obtiveram percentagens próximas,
quer em termos de referência explícita, quer em termos de referência implícita, não
ultrapassando, no entanto os 50% dos PCT.
Gráfico 13 - Análise da Definição de Prioridades nos PCT 1.º CEB: Aprender a viver com os outrosAprender a viver com os outros
É importante registar que a categoria “Cumprimento de Regras” é referenciada pela
quase totalidade dos docentes nos Registos Diários das Actividades da Turma, no início
150
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
do ano e ao longo do ano (26 de Setembro FC – Prof. 2 - regras a cumprir dentro e fora
da sala de aula; 13 de Setembro FC – Prof. 9 - leitura e análise do desdobrável a
entregar aos encarregados de educação; 4 de Junho FC - Prof. 19 -os comportamentos
nas Actividades de Enriquecimento Curricular). Constata-se que existe articulação nesta
categoria com os docentes que leccionam as Actividades de Enriquecimento Curricular
(das 15h30 às 17h30) principalmente pela dificuldade que estes sentem em que os
alunos cumpram as regras, o que revela que há ainda muito trabalho a desenvolver ao
nível do aprender a viver com os outros. Na categoria “Cooperação /solidariedade”,
apesar de se verificar uma percentagem alta, quer na referência explícita, quer implícita,
esta categoria do item Aprender a viver com os outrosAprender a viver com os outros, não é claramente registada nos
Registos Diários das Actividades das Turmas. Raramente é registado em qualquer uma
das áreas, a metodologia do trabalho proposto, sendo de referir que quando é
referenciado é maioritariamente na área de Projecto.
No item Aprender a viver consigo próprioAprender a viver consigo próprio, 55% dos docentes referem explicitamente a
categoria “Hábitos de trabalho/Responsabilidade”, como uma prioridade e é referida
implicitamente por 18% dos docentes, concluindo-se que esta categoria é claramente
valorizada pela maior parte dos docentes do 1.º ciclo do Agrupamento de Escolas objecto
da investigação.
Gráfico 84 14 - Análise da Definição de Prioridades nos PCT 1.º CEB 2: Aprender a viver consigo Aprender a viver consigo
própriopróprio
É importante referenciar que as questões relacionadas com a categoria saúde/bem-estar
não são referidas explicitamente como prioridade em nenhum PCT. No entanto elas são
151
Maria Cândida Jardim
abordadas especificamente no âmbito dos conteúdos da área disciplinar de Estudo do
Meio, sendo o número de registos maior nas turmas com 1.º ano (151 registos,
correspondendo a 55,1%), como é possível observar no gráfico seguinte.
Gráfico 15 - Incidência da Educação para a Cidadania na área de Estudo do Meio, nos Registos
Diários das Actividades das Turma
Esta constatação deve-se ao facto dos conteúdos temáticos da área disciplinar de Estudo
do Meio do 1.º ano se enquadrarem maioritariamente na categoria saúde/bem-estar
(Reconhecer e aplicar normas de higiene do corpo; conhecer normas de higiene
alimentar; reconhecer a importância de posturas correctas, do repouso e do exercício
físico para a saúde; conhecer e aplicar normas de prevenção rodoviária; conhecer e
aplicar normas de prevenção de acidentes domésticos, conhecer e aplicar alguns
cuidados na utilização de objectos em situações concretas). Ainda no item Aprender aAprender a
viver consigo próprioviver consigo próprio, a categoria auto-conceito é pouco valorizada pelos docentes do 1.º
ciclo, verificando-se a existência de poucos registos de actividades com vista ao
desenvolvimento de competências a ela referentes. Se consultarmos as competências
essenciais propostas no Fórum Educação para a Cidadania, em 2008, verificamos que
nos três eixos referidos (Postura Cívica Individual, Relacionamento Interpessoal e
Relacionamento Social e Intercultural) podemos encontrar competências que apelam à
construção do auto-conceito (Desenvolver a auto-estima, a responsabilidade, o respeito
por si e pelos outros…; saber ouvir activamente, interpretar opiniões e dialogar; adquirir
critérios de valor relacionados com a coerência e solidariedade e o compromisso pessoal
e social, dentro e fora da escola) o que revela quão importante é esta categoria para o
exercício pleno da cidadania. Tendo em conta que esta investigação também pretende
colaborar para a reflexão dos docentes, conducente àa melhoria da qualidade das suas
152
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
práticas, vai ser apresentado mais adiante um quadro adaptado dos documentos
emanados do Fórum com algumas propostas de competências essenciais no âmbito da
Educação para a (na) Cidadania, com indicação de várias temáticas a desenvolver.
No item Aprender a viver no ambienteAprender a viver no ambiente, corrobora-se a constatação feita, na análise dos
Problemas detectados: uma percentagem acima dos 90% não refere como prioridade
nenhuma das três categorias que consideramos: consumo, política dos 3 R’s e
intervenção comunitária.
Gráfico 9 - Análise da Definição de Prioridades nos PCT 1.º CEB: Aprender a viver com o (no) Aprender a viver com o (no)
ambienteambiente
Estes factos seriam suficientes para concluir que os docentes do 1.º CEB não
consideraram a educação ambiental como uma prioridade. No entanto, a análise dos
Registos diários das actividades da turma, as planificações feitas pelos Conselhos de
Docentes e os projectos em que o Agrupamento se envolveu (já referidos anteriormente)
e que operacionalizaram os valores presentes no Projecto Educativo, provam que,
embora não se tenham verificado registos específicos nos PCT, as preocupações com a
educação ambiental são uma realidade no Agrupamento e já fazem parte da cultura do
mesmo. Podemos verificar que nos Registos Diários das Actividades das turmas em
2007/2008, 38,9 % dos registos no âmbito da educação para a cidadania, localizam-se no
item Aprender a viver no ambienteAprender a viver no ambiente (consultar gráfico 7).
Pelos dados analisados através dos PCT, dos RDAT e das planificações da área
curricular não disciplinar de Formação Cívica e já apresentados, concluímos que a
educação para a cidadania ainda se resume muito a questões que vão surgindo
relacionadas com atitudes e comportamentos, integrados naquilo que no âmbito da
educação em geral e da educação para a cidadania em particular no nosso estudo,
chamamos de aprender a viver com os outros. As questões ligadas à preservação
153
Maria Cândida Jardim
ambiental resultam não tanto de uma prioridade ou de um problema detectado na turma
mas como acções que já fazem parte da identidade, da cultura do Agrupamento,
assumidas pela quase totalidade dos docentes.
O que é então educar para a cidadania para os docentes do 1.º ciclo, que conceitos
valorizam. Será que o facto de se observarem predominantemente registos do âmbito
das atitudes e comportamentos, determina que os docentes pensam que a sua função
está reduzida a intervenções e acções comportamentais?
Quanto ao conceito, o questionário dirigido a todos os docentes revelou que existe um
leque muito alargado de palavras que os docentes consideram enquadráveis no que é a
Educação para a Cidadania, como já foi apresentado anteriormente. As palavras
registadas foram integradas em três categorias: aprender a viver consigo próprio,aprender a viver consigo próprio,
aprender a viver com os outros e aprender a viver com o (no) ambienteaprender a viver com os outros e aprender a viver com o (no) ambiente, revelando que a
maior percentagem de palavras se localizava na categoria Aprender a viver com osAprender a viver com os
outrosoutros. No entanto há palavras relacionadas com questões emergentes na nossa
sociedade, claramente no âmbito da educação para a cidadania que não são referidas.
Tal como refere Maria Rosa Afonso, falta aos professores, muitas vezes, «um referencial
teórico que lhes permita alguma sistematização, falamos de um trabalho fundamentado,
progressivo, sequencial e devidamente planificado, que se possa traduzir em verdadeiras
aprendizagens» (Afonso, 2007:15). A análise dos registos Diários das Actividades das
turmas traduziu o que também já tinha sido verificado num estudo anterior16: tudo o que é
trabalhado enquadra-se no cumprimento de regras e deveres, na gestão de
comportamentos e na comemoração de dias. Poderão estes resultados indicar que os
professores consideram que não é tarefa deles educar para a cidadania? No questionário
já referido anteriormente foi colocada a seguinte questão (questão 2): Na sua opinião de
quem deve ser a responsabilidade de educar para a cidadania no 1.º CEB (Seleccione por
ordem de prioridade (de 6 a 1) as opções que desejar, correspondendo 6, à escolha que considera mais
importante). Verificámos, como consta no gráfico seguinte que os professores do 1.º ciclo,
na globalidade, entre as seis opções propostas (família, escola, professor de cada turma,
estado, sociedade e comunicação social), consideram que a primeira responsabilidade de
educar para a cidadania deve ser da família e logo a seguir da escola a par do professor
de cada turma.
16 Referimo-nos a um estudo realizado por Carla Cibele, “Formação Cívica. E agora, um tempo para reflectir?” in Educação para a Cidadania como dimensão transversal do currículo escolar (2005), Carvalho, Carolina, Sousa Florbela e Pintassilgo Joaquim (org.) Porto Editora
154
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Gráfico 17 – Hierarquização da responsabilidade de educar para a cidadania.
Numa análise mais detalhada, concluímos que 86,1% dos docentes que responderam
ao inquérito atribuíram à família a primeira prioridade (6 pontos), como poderemos
constatar no seguinte gráfico.
Gráfico 18- Responsabilidade da família na tarefa de EC - perspectiva docente
Em relação à responsabilidade da escola na tarefa de educar para a cidadania, as
concepções dos professores são um pouco divergentes, não sendo considerada por
nenhum professor como a primeira responsável. Esta constatação é motivo de
reflexão e pressupõe que, apesar de ter sido considerada, na generalidade, como a
segunda responsável, não há consenso geral nesta matéria.
155
Maria Cândida Jardim
Gráfico 19 - Responsabilidade da escola na tarefa de EC - perspectiva docente
Em relação à responsabilidade do professor titular de turma também se notou
opiniões diferentes obtendo pontuação em todas as prioridades. Apenas dois
docentes (2,8%) consideraram o professor titular de turma como o primeiro
responsável pela tarefa de educar para a cidadania. A maior percentagem (36,1%)
verificou-se na terceira prioridade, como é ilustrado no quadro seguinte.
Gráfico 20- Responsabilidade do professor titular de turma na tarefa de educar para a cidadania -
perspectiva docente.
A divergência de opiniões, entre os professores do 1.º ciclo, em termos de prioridades, no
que diz respeito à tarefa de educar para a cidadania também se reflecte ao nível dos
156
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
registos das actividades que realizam neste âmbito, ao nível do recurso à programação
da área de Formação Cívica e ao nível do recurso às propostas dos manuais escolares
para desenvolvimento das actividades com os alunos. Na análise dos livros dos Registos
diários das Actividades da Turma, verificáamos que os procedimentos são diversificados:
há professores que apenas registam os objectivos que pretendem, integrado em
determinada temática mas não se percebe concretamente quais foram as actividades
propostas e realizadas pelos alunos nem como o fizeram; não existe referência à
metodologia utilizada; outros professores registam com pormenor como é que os alunos
se envolveram nos trabalhos e ao longo do tempo os registos revelam que existe um fio
condutor da planificação e da acção. Há ainda docentes cujos registos, ou a sua
inexistência, revelam que a educação para a cidadania não é interiorizada nas suas
práticas como uma prioridade. De facto ao determo-nos na análise dos questionários,
verificamos que quase metade dos docentes nunca (11,1%) ou só algumas vezes
(33,3%) recorreu à Programação de Formação Cívica elaborada em Conselho de
Docentes no início do ano lectivo.
Gráfico 21 - Utilização da Programação da Área Curricular não disciplinar de Formação Cívica.
Questionados sobre a razão da não recorrência à Programação existente, uma percent-
agem considerável de docentes (37,5%) refere que não sente necessidade da mesma.
157
Maria Cândida Jardim
Gráfico 22 - Motivo explicativo da não utilização da Programação da Área de Formação Cívica.
.
As constatações observadas remetem-nos para uma conclusão que vai ao encontro da
análise feita nos Registos Diários de Actividades da turma e que é reforçada no
questionário realizado aos docentes titulares de turma: os docentes não têm por hábito
registar aquilo que pretendem fazer e/ou que efectivamente desenvolvem com os seus
alunos ao nível da Educação para a Cidadania. Ainda não existe na cultura do grupo de
docentes do 1.º ciclo do Agrupamento de Escolas sobre o qual incidiu a investigação,
uma prática intencional (reflectida), consistente e generalizada no que respeita ao registo
do trabalho no âmbito da cidadania o que não quer dizer que esse trabalho não seja feito
e valorizado. Como sabemos as mudanças não acontecem por decreto e a
implementação no currículo da Educação para a Cidadania, com a proposta de
concretização na área Curricular não disciplinar de Formação Cívica introduzida pela
reorganização Curricular de 2001, através do Decreto-lei n.º 6/2001 ainda não conseguiu
impor-se pois os professores consideram que essa área já era contemplada e trabalhada
no dia-a-dia da escola. A flexibilização curricular e a interdisciplinaridade facilitada pela
monodocência, potencia que a educação para a cidadania seja feita em qualquer área,
tornando-se difícil como foi constatado, privilegiar uma única área (Formação Cívica). De
facto, mais do que educar para a cidadania, pretende-se educar na cidadania e aqui sim
concluímos que ainda há um longo percurso a percorrer pois para uma grande maioria
dos docentes a educação para a cidadania surge relacionada com as temáticas da área
de Estudo do Meio (no item Aprender a viver consigo próprioAprender a viver consigo próprio), ou da área de Projecto (no
158
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
item Aprender a viver com o ambiente).
Embora globalmente os professores considerem que têm grande responsabilidade na
educação para a cidadania, a sua acção centra-se prioritariamente num campo muito
restrito, limitando-se muito, em termos de áreas temáticas, à interiorização de regras e
gestão de comportamentos, às relações interpessoais, à comemoração de dias “mágicos”
e ao tratamento dos temas propostos na área curricular de Estudo do Meio ou no
desenvolvimento de actividades de articulação com os projectos da escola, do Conselho
de Docentes ou do Agrupamento. É de salientar, no entanto, que a articulação com os
Projectos (área ambiental) tem sido um estímulo para a sensibilização, intervenção e
mudança de comportamentos e atitudes em termos ambientais, envolvendo toda a
comunidade escolar. Também no que diz respeito às metodologias, continuam a incidir
na grande maioria, apenas no diálogo, tendo esta constatação sido também verificada
num estudo internacional17: «Também as metodologias continuam centradas nos
professores, em detrimento de estratégias activas» (Afonso, 2007: 15) Como refere Maria
Rosa Afonso «falta aos professores, muitas vezes, um referencial teórico que lhes
permita alguma sistematização, falamos de um trabalho fundamentado, progressivo,
sequencial e devidamente planificado, que se possa traduzir em verdadeiras
aprendizagens» (Afonso: 2007: 15). Além deste referencial teórico necessário para o qual
o Fórum Educação para a Cidadania deu um valioso contributo, é necessária uma
profunda reflexão sobre a necessidade de se realizar um trabalho de fundo de sensibiliza-
ção dos docentes acerca da abrangência temática e metodológica da educação para a
cidadania, acerca dos princípios que devem orientar o trabalho pedagógico e acerca das
mais valias que, em termos de educação/formação pessoal e social, daí poderão emergir
para o bem individual e para o bem comum e por inerência para o desenvolvimento
profissional dos docentes e para a educação em Portugal. A Educação para a (na)
cidadania (fundamento da educação e abrangente de todo o ser pessoa (porque é
aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser, aprender a viver com os outros,
aprender a viver consigo próprio e aprender a viver no ambiente) tem de deixar de ser a
resposta a um ou mais projectos ou a abordagem recorrente de uma ou outra área
disciplinar. A Educação para a (na) cidadania tem de impregnar todo e qualquer acto
educativo, em todos os momentos e espaços, querendo com isto dizer que é urgente
viver a cidadania. Estaremos então a referir-nos a uma nova metodologia de trabalho e a
uma nova forma de encarar o currículo e os saberes.
17 Conhecimentos, concepções e práticas de cidadania dos jovens portugueses, não obstante a responsabilidade um estudo internacional (2005), DGIDC, pp 185-188.
159
Maria Cândida Jardim
A concretização e efectivação de uma proposta de escola como construtora de cidadania,
através do seu exercício no dia-a-dia requer que os professores sejam reconhecidos
como «profissionais configuradores de projectos curriculares e não como meros
executores do prescrito, é necessário que os professores queiram ser, de facto, seus
configuradores» (Leite, 1999: 10) e que «se aposte nos professores […] para que estes
construam colectivamente as competências típicas dos profissionais que desempenham
profissões complexas» (Leite, 2003: 167). Não obstante o que foi mencionado, uma
escola construtora de cidadania requer algumas condições que parecem determinantes:
consciência e conhecimento do educador dos seus direitos e deveres, vivência cidadã
quer enquanto sujeito individual, quer enquanto sujeito colectivo e valorização de um
trabalho compartilhado e participativo de todos os actores educativos. A concretização
destas condições passa essencialmente por uma mudança de valores, atitudes e
posturas. Não é possível que a escola seja um espaço efectivo de construção plena de
cidadania se os seus agentes não se perceberem e não perceberem os outros como
seres humanos com direitos e deveres e não entenderem a escola como o tal espaço
permanente e excelente de construção colectiva da cidadania. A prática pedagógica que
permite a construção da cidadania tem de ser uma prática que rompa com a cultura
autoritária, tem de criar uma nova cultura, alicerçada na convicção de que todos os seres
humanos têem direitos e deveres, tem de garantir o acesso ao conhecimento de modo a
permitir apreender a complexidade de relações e preparar o indivíduo para a sua
inserção no mundo do trabalho e para a compreensão do avanço tecnológico e a
participação activa na organização da sociedade. Nesta perspectiva da formação do ser
humano impõe-se necessáriao a construção de um projecto pedagógico, democrático e
participativo, assumido colectivamente. Sendo então a cidadania uma construção
colectiva diária, é necessário que todos tenham participação na construção do próprio
projecto pedagógico (dimensão organizacional) para que dele se apropriem, se
identifiquem e o vivam (dimensão pedagógica).
Parece generalizado o sentimento entre os docentes de um mau-estar profissional, de um
desencanto, de falta de motivação. Embora constatando que é real a falta de condições
de trabalho, a falta de espaços adequados, a falta de recursos, a intensificação da
pressão do trabalho, a proliferação de burocracias e justificações, não podemos perder a
clareza e o discernimento do nosso papel de educadores. Para transmitirmos bem-estar
aos outros e orientá-los no sentido da estimulação e desenvolvimento das suas
capacidades e competências é de extrema importância estarmos bem com o nosso
interior. Talvez seja necessário que nós professores, comecemos por nós próprios, como
160
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
refere David Hunt (1987) apud e Fullan e Hardgreaves (2001), no sentido de
diagnosticarmos o nível das nossas energias e reflectirmos sobre a essência da nossa
tarefa, quais os valores e as finalidades mais importantes, quais os nossos propósitos e
quais os contextos, quais os princípios implícitos aos juízos e práticas que
desenvolvemos na sala de aula. Esta tarefa exige estabelecermos prioridades, exige que
o professor seja um “prático reflexivo” 18 nas, pelas e sobre as experiências e práticas em
que está implicado e implica os seus alunos. Fullan e Hargreaves (2001) citam Thiessen
(1991) para sublinhar a valorização do uso do feedback dos alunos como instrumento de
reflexão, desenvolvimento profissional dos docentes, percurso essencial para a inovação
construtora de cidadania.
18 Conceito criado por Donald Schön (1987)
161
Maria Cândida Jardim
3. Confronto de paradigmas em Educação e Educação para a Cidadania
A escola tradicional é centrada no professor, no currículo, no ensino e na escola formal. A
escola «nova» é centrada no aluno, na aprendizagem do aluno e na construção da
autonomia do aluno. Esta dicotomia percorre toda a história da educação. Mas hoje
podemos desdobrá-la em três dois eventuais paradigmas: 1) educação para todos e
educação para cada um; 2) educação para a heteronomia ou para a autonomia.
3.1. Educação para todos e Educação para cada um
A educação apareceu como um direito para todos em 1948. O direito à educação foi
consagrado no artigo n.º 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948),
devendo a mesma visar a plena expansão da personalidade humana […] e favorecer a
compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais
ou religiosos […]. Em virtude da Declaração Universal dos Direitos Humanos não ser
juridicamente vinculativa, a implementação dos direitos nela consignados só se foi
tornando possível através de múltiplas iniciativas de declarações, convenções, pactos,
protocolos, recomendações, conferências internacionais, programas… como Declaração
dos Direitos da Criança (1959), Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos,
Sociais e Culturais (1966, entrou em vigor em 1976) Pacto Internacional sobre os Direitos
Civis e Políticos (1966), Convenção sobre os Direitos da Criança (1989, entrou em vigor
em 1991), Convenção sobre o Ensino Técnico e Profissional (1989 não ratificada por
Portugal).
Enquanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos defende que «Toda a pessoa
tem direito à educação», que o «ensino primário e fundamental deverá ser gratuito «e
que o «ensino primário deve ser obrigatório», a “Declaração Mundial sobre Educação
para Todos” clarifica os destinatários detentores do direito à educação: criança, jovem ou
adulto, introduz o termo «educando» e «necessidades básicas de aprendizagem».
As primeiras estimativas estatísticas relativas à extensão do analfabetismo a nível
mundial realizadas pela UNESCO e as conclusões de um estudo internacional sobre
ensino de leitura e escrita (W.S. Gray, The Teaching of Reading and Writing: Na
International Servey, Paris/London, UNESCO/Evan Brothers, 1956) influenciaram
162
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
bastante as acções internacionais na década de 60, na promoção da alfabetização, numa
perspectiva funcional (“um indivíduo é funcionalmente alfabetizado quando adquire o
conhecimento e as competências em leitura e escrita que lhe permitem envolver-se
eficazmente em todas as actividades em que a alfabetização é normalmente assumida na
sua cultura ou grupo”). Segundo este novo conceito o indivíduo aprende quando a
alfabetização satisfaz as suas “necessidades de aprendizagem”.
Entre meados dos anos 60 até finais dos anos 70, a erradicação do analfabetismo
continuou a merecer as maiores preocupações. No Congresso Internacional dos
Ministros da Educação sobre a Eliminação do Analfabetismo, realizado em Teerão, em
Setembro de 1965, estas ideias de alfabetização funcional (“alfabetização de adultos
orientada para o trabalho”) foram apresentadas e deram origem à implementação do
maior programa internacional especificamente centrado na erradicação do analfabetismo
em adultos: O Programa Mundial Experimental de Alfabetização (PMEA), lançado em
1966 pela UNESCO. Face aos objectivos que o programa se propunha (resolver os
problemas de desenvolvimento económico) as expectativas eram altas mas os resultados
não conseguiram ser suficientemente satisfatórios ao ponto de manter o interesse nos
investimentos realizados na concretização do programa.
As ideias do pedagogo Paulo Freire sobre alfabetização tiveram nesta altura grande
influência a nível internacional ao alargar a função da aprendizagem da leitura e escrita
para além das referentes ao trabalho e ao emprego (como pretendia o PMEA). Aprender
a ler e a escrever era um passo no processo de autonomia para aprender a aprender.
Consequentemente a noção de “alfabetização funcional” foi gradualmente direccionada
para o conceito mais abrangente de “necessidades de aprendizagem”
Até 1968, a igualdade de oportunidades e o direito ao sucesso não era de certo o
principal objectivo do sistema educativo português. Em 1960, o ensino primário passou a
ser constituído por quatro classes, formando um só ciclo e sendo concluído com o exame
da 4.ª classe. O currículo do ensino primário (a base comum de educação para todos),
congruente com o contexto social e político do Estado Novo, tinha como finalidade a
memorização e interiorização de conhecimentos elementares, a homogeneização de
regras de conduta individual e social e o desenvolvimento de técnicas culturais
elementares - leitura, escrita e cálculo. Na base deste currículo estava o não
questionamento científico/pedagógico dos conteúdos, a repetição e memorização das
matérias, a correcção dos erros através de um sistema eficaz de prémios e castigos e o
exercício autoritário do poder disciplinar. O plano curricular implementado em 1960,
163
Maria Cândida Jardim
integrava uma área ligada à formação pessoal e social: Moral e Religião em que se
evidenciavam os valores do respeito e obediência à autoridade, em nome do amor à
Pátria e em que se pretendia que o aluno conseguisse a «… posse gradual de uma
consciência moral […], corrigindo a pouco e pouco as tendências que dispõem para o
mal». O programa de Moral e Religião tinha por objectivo dar o «conhecimento básico» e
os «fundamentos morais da vida cívica». O «educador» tinha como dever, em cada
«lição» sugerir aos seus «discípulos» «virtudes e propósitos de vida moral cristã e cívica
mais relacionados com a lição» Além disso deveria procurar criar o sentido profundo do
«amor da Pátria e o respeito da autoridade, bem como a colaboração leal dos cristãos na
vida cívica» (Decreto-Lei n.º 42.994, de 28 de Maio de 1960). O conceito de educação
estava explicitamente, muito vinculado à religião, chegando mesmo a fazer-se citações
bíblicas na própria lei. «Educar é dirigir - para algum ponto, por alguma forma, a alguma
luz. “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, disse Jesus Cristo, indicando-nos o ideal
supremo de toda a obra de educação» (Decreto-Lei n.º 42.994). O objectivo da educação
era transmitir «os conhecimentos fundamentais à grande maioria de portugueses que não
vai continuar os estudos [¼]» (Decreto-Lei n.º 42.994).
Os quatro anos do ensino primário constituíam o tempo necessário para os alunos se
prepararem para o momento derradeiro da selecção, o exame da 4.ª classe. Este
constituía o instrumento de controlo curricular interno e modo de legitimação dos méritos
escolares e dos lugares sociais futuros. Os resultados do exame determinavam, à
partida, os mais capazes para continuar os estudos (eram estes que asseguravam a
reprodução das elites), os que tinham capacidades para seguir uma formação profissional
e os que deveriam entrar no mercado de trabalho, por falta de capacidades. Sistema
elitista que segregava os alunos aos dez anos de idade.
Em 1964, pelo Decreto-Lei n.º 45.810, de 9 de Julho, o ensino primário é ampliado,
passando a compreender dois ciclos, um elementar, correspondente às quatro classes, e
outro complementar, constituído por duas novas classes, também este obrigatório e
gratuito. Em 1966, através do Decreto-Lei n.º 47.211, de 23 de Setembro, foram definidas
as respectivas disciplinas, tendo a área de Moral e Religião duas horas semanais.
Apenas em 1967, a 5.ª e 6.ª classe passam a fazer parte do Ciclo Preparatório do Ensino
Secundário, por instituição do Decreto-Lei n.º 47.430, de 2 de Janeiro.
O ciclo complementar iniciou o seu funcionamento, com carácter facultativo em 1966-
1967. No plano Curricular de Moral e Religião da 5.ª e 6.ª classe constavam como
164
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
objectivos «Apresentar aos alunos as verdades da Religião reveladas de um modo tal
que eles as aceitem e façam delas convicções pessoais e ajudá-los a descobrir quais as
consequências práticas de ordem moral que dimana dessas verdades, para procurarem
conformar com elas a sua conduta individual, familiar, profissional e social». A vida de
cada um está tinha que estar de acordo com as verdades da religião e o que se pretendia
é que cada um aceitasse docilmente as verdades reveladas e vivesse segundo as
mesmas, não havendo lugar para o questionamento, mas apenas para a memorização.
Os “mestres” deveriam ter ainda em conta algumas regras na “explanação” do programa.
Umas dessas regras era que a formação moral e religiosa deveria ser transversal, ou
seja, deveria estar presente em todas as disciplinas. No entanto a formação moral
resumia-se ao cumprimento dos ensinamentos religiosos sendo estes o princípio de toda
a acção educativa: «Não esqueçam que a verdadeira e sólida formação moral e religiosa
dos alunos terá de fazer-se a propósito de todas as disciplinas, e não apenas nos tempos
destinados à aula de Religião. Procurem, por isso, impregnar de espírito religioso todas
as matérias escolares, de tal modo que a Religião seja o fundamento e a coroação de
todo o esforço educativo (Portaria 22966 de 17 de Outubro de 1967).
Em 1968, após a revisão dos programas do ciclo elementar, resultante da introdução do
ciclo complementar, são publicados os programas do ciclo elementar do ensino primário,
fazendo parte dos mesmos as disciplinas de Língua Portuguesa, Aritmética, Geometria
(só para a 3.ª e 4.ª classe), História de Portugal (só para a 4.ª classe), Ciências
Geográfico - Naturais, Desenho, Trabalhos Manuais, Educação Física, Moral e Religião,
Educação Musical e Educação Feminina (apenas para as raparigas). Nesta disciplina,
além das aprendizagens ligadas à costura, bordados, malha e croché, foram introduzidas
aprendizagens ligadas à alimentação porque, como é referido na Portaria, interessava
continuar com a tradição «da mulher portuguesa como excelente dona de casa». Este
destaque sugere, de facto, que as meninas iriam à escola para aprender a ser boas
donas de casa e não estava nas intenções do governo a continuação dos estudos, sendo
esta questão uma referência inequívoca do carácter elitista e segregador do ensino.
A Portaria n.º 23.529, de 9 de Agosto de 1968 definiu os contornos curriculares. A função
de selecção escolar e social que acontecia, através do exame da 4.ª classe, passou para
o “ciclo”. No entanto o alargamento da escolaridade básica para seis anos e o seu
carácter obrigatório nem por isso impediu que crianças abandonassem a escola no fim
dos quatro primeiros anos por razões de ordem económica, de ordem física ou psíquica
ou devido a estigmas causados por aprendizagens anteriores mas, essencialmente, pela
165
Maria Cândida Jardim
desvalorização social da escola e dos diplomas escolares em favor das aprendizagens
que se obtinham no mundo do trabalho, da vida. Apesar deste avanço em termos de
formação para a vida, o objectivo do ciclo continuou a ser elitista e selectivo pois
pretendia preparar os alunos para prosseguirem estudos no ensino secundário ou para
ingressarem no mundo do trabalho, sendo este mesmo discriminatório das baixas
qualificações. A prioridade da política educativa, através da nova escolaridade obrigatória
de 6 anos era desenvolver a função democratizadora da escola pública, possibilitando a
um maior número de crianças uma educação de base mais exigente e mais longa, para
além unicamente da instrução.
Desde inícios da década de 80 até aos dias de hoje a tónica passou para a alfabetização,
sendo o ensino primário entendido como parte integrante da “educação básica”. A
educação básica é concebida então para satisfazer as necessidades básicas de
aprendizagem: «A educação básica é mais do que uma finalidade em si mesma. Ela é a
base para a aprendizagem e o desenvolvimento humano permanentes, sobre os quais os
países podem construir, sistematicamente, níveis e tipos mais avançados de educação e
formação» (Declaração Mundial sobre Educação para Todos, art.1.º-4).
Na actualidade a educação mais do que o caminho limitado no tempo e com o objectivo
de adquirir a qualificação para desempenhar um determinado trabalho e uma estabilidade
até à reforma, tornou-se um percurso que tem início quase desde o nascimento e que se
prolonga durante a vida (educação permanente, ao longo da vida). O modelo de
educação centrado no próprio conceito não responde às mudanças da sociedade e às
necessidades criadas pela mesma. Por toda a rede de inter-relações com que se cruza e
pela interdependência com os contextos nacionais, europeus e internacionais, passou a
ser encarada e aceite como uma necessidade. A educação já não é privilégio e escolha
de alguns mas uma necessidade para todos e como tal deve responder às necessidades
de aprendizagem de cada um.
Mas da constatação à realidade poderá existir um grande fosso. Sendo aceite que a
educação é o caminho para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem de todo
ser humano, estarão criadas as condições para a sua operacionalização? De que
falamos quando pensamos em necessidades básicas de aprendizagem? Estaremos
todos em harmonia em relação ao seu conceito? Serão as necessidades básicas iguais
para todos? Estaremos a agir tendo em conta este novo paradigma que se impõe ou
continuamos a resistir à mudança valorizando um currículo igual para todos
independentemente dos interesses, aptidões e contextos sócio-económicos e culturais de
166
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
cada um, tentando convencer-nos que todos têm as mesmas necessidades básicas de
aprendizagem?
Perrenoud aborda a questão não como necessidades básicas mas como competências
básicas e refere que a definição de competências básicas (em Portugal foram definidas
em 2001, pela Reorganização Curricular) deve, ao mobilizar todos os recursos,
instrumentos e condições, servir para que todos, e não apenas uma elite privilegiada, as
possam construir, «principalmente aqueles que de um modo ou de outro não as
constroem» (Perrenoud, 2005: 100).
A Declaração Mundial de Educação para todos define no artigo 1.º quais são essas
necessidades básicas de aprendizagem: «Essas necessidades compreendem tanto os
instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita, a expressão
oral, o cálculo, a solução de problemas), quanto os conteúdos básicos da aprendizagem
(como conhecimentos, habilidades, valores e atitudes), necessários para que os seres
humanos possam sobreviver, desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e
trabalhar com dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, melhorar a
qualidade de vida, tomar decisões fundamentadas e continuar aprendendo. A amplitude
das necessidades básicas de aprendizagem e a maneira de satisfazê-las variam segundo
cada país e cada cultura, e, inevitavelmente, mudam com o decorrer do tempo». Parece
claro e inequívoco que a primeira parte estará a ser concretizada. Quanto à segunda,
basta estarmos atentos e olharmos para o número de alunos que se arrastam ou vão
sendo arrastados na escola, com muita ‘água benta’ até terem idade para ingressarem
num percurso diferente, que será ou não adequado aos seus interesses e às expectativas
familiares, para concluirmos que ainda não conseguimos ser capazes de colocar em
funcionamento este projecto que permite que cada um siga o percurso que o irá tornar
capaz de «desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar com
dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida,
tomar decisões fundamentadas e continuar aprendendo» (Unesco, 1998).
O Tratado de Lisboa lança o desafio da modernização dos sistemas de ensino, desafio
que surge como uma necessidade face às rápidas e enormes mudanças resultantes da
globalização e aponta claramente o objectivo que decorre da necessidade da União
Europeia tornar-se na economia, baseada no conhecimento (economia digital), mais
dinâmica e competitiva do mundo: «Os sistemas educativo e de formação europeus
necessitam de ser adaptados não só às exigências da sociedade do conhecimento como
também à necessidade de uma maior nível e qualidade de emprego».19
19 http://www.consilium.europa.eu/ueDocs/cms_Data/docs/pressData/pt/ec/00100-r1.p0.htm
167
Maria Cândida Jardim
Estamos perante a necessidade dos sistemas de ensino desenvolverem novas
competências necessárias para viver e trabalhar, sendo essas competências, na
actualidade, muito mais ecléticas e abrangentes para permitirem ao cidadão adaptar-se e
responder às situações mais variadas. A transmissão de conhecimentos centrada no
papel retórico do professor e no papel passivo e receptivo do aluno, já não responde às
exigências da sociedade digital que vivemos. As necessidades básicas de aprendizagem
assentam essencialmente na participação na própria construção da aprendizagem,
aprendendo a conhecer e a fazer, para depois poder aplicar noutras situações. A este
respeito o art. 4.º da Declaração Mundial de Educação para Todos refere que a educação
básica deve estar centrada «na aquisição e nos resultados efectivos da aprendizagem, e
não mais exclusivamente na matrícula, frequência aos programas estabelecidos e
preenchimento dos requisitos para a obtenção do diploma. Abordagens activas e
participativas são particularmente valiosas no que diz respeito a garantir a aprendizagem
e possibilitar aos educandos esgotar plenamente suas potencialidades» (Unesco, 1998).
Para que as potencialidades de cada um possam ser desenvolvidas ao máximo na
procura da autonomia e integração social é essencial identificar as suas necessidades de
aprendizagem e a origem dos obstáculos ao sucesso escolar para determinar e
implementar as medidas que constituam respostas adequadas.
A Educação deve dar resposta às necessidades básicas de aprendizagem de cada um e
tem de criar os recursos, as condições e os instrumentos para que todos e cada um
possam desenvolver as suas potencialidades com vista à sua inclusão social e para que
cada um se possa sentir como um cidadão comprometido, capaz de se mobilizar para
fazer cumprir os seus direitos e consciente dos seus deveres.
Educação para todos é sinónimo de educação de massas, formato único, alunos iguais e
com tratamento idêntico, em que se premeiam os melhores, os que têm mais
capacidades e melhores condições de sucesso. A Educação para todos acolhe todos os
alunos mas “mistura-os” indistintamente não sendo compatível com a justiça e coesão
sociais nem com a igualdade de oportunidades na medida em que não são criados os
instrumentos que permitam a todos e a cada um munir-se dos recursos necessários para
mobilizar-se com vista ao acesso a essas oportunidades tendo em consideração as suas
necessidades básicas de aprendizagem.
Educação para cada um é sinal de adaptação às necessidades e potencialidades de
cada um, é sinónimo de gestão, de equidade e igualdade, requerendo estratégias e
metodologias diferentes e caminho único para a inclusão social. É nesta perspectiva que
168
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
se inscreve uma das estratégias para atingir o objectivo estratégico da década de 2000:
«modernizar o modelo social europeu, investindo nas pessoas e combatendo a exclusão
social» (Conselho da União Europeia, 2000).
Se falarmos em educação para responder às necessidades básicas de aprendizagem e
se aceitamos que as mesmas não são iguais para todos, necessariamente teremos que
nos situar numa educação que tem por base a qualidade e que avança com os tempos
adaptando-se à realidade em constante transformação. Se falarmos em educação com
vista à obtenção unicamente de um diploma que confira um título e um estatuto, estamos
perante uma educação que prima pela quantidade, não se questionando nem
questionando a realidade.
Ao reflectir no conceito, educação de qualidade ou qualidade na educação não se refere,
convictamente, a uma educação que tem por objectivo o débito (a transmissão) a todos
de igual forma, de todos os conteúdos curriculares programados, no tempo previsto,
fragmentados e sem conexão com eles mesmo ou com a vida dos educandos nem à
atribuição a cada aluno de uma nota, que o vai classificar cumulativamente em cada
período escolar num patamar (excelente aluno aluno, bom aluno, aluno razoável aluno ou
medíocre aluno medíocre).
Um sistema educativo promove uma educação de qualidade quando, quer nos seus
pressupostos, quer nas suas finalidades e no seu modus operandis a singularidade e a
individualidade é valorizada de forma inequívoca, de forma a quepara que cada um
possa, através duma educação libertadora e usando as competências que desenvolveu e
a criatividade que explorou, encontrar o seu caminho, o seu espaço no mundo sendo
capaz de responder às suas exigências e ser uma pessoa feliz. Neste conceito de
educação, o educando tem de assumir o seu papel de protagonizador de toda a acção,
de uma forma contínua e permanente (aprendizagem ao longo da vida) sendo este
processo de “educar-se a si mesmo” por vezes longo e doloroso.
Atentando ainda na qualidade na educação, além do protagonismo dos educandos,
integra-se o uso de estratégias activas que promovam a conquista da autonomia do aluno
numa relação de auto-aprendizagem com os outros e com a vida, possibilitando dessa
forma, que os conhecimentos sejam por ele apropriados e contribuam para a construção
do seu “eu pensante”.
Educação de qualidade, educação para cada um é a educação que consegue que cada
aluno aprenda a pensar, desenvolvendo o seu potencial máximo, privilegiando as
relações sociais entre todos os elementos da escola e valorizando estratégias de inter-
169
Maria Cândida Jardim
ajuda e cooperação, potenciadoras de valores universais como a solidariedade e o
respeito pela individualidade.
Os sistemas de ensino hoje, com a qualidade como prioridade e tendo em vista o
objectivo estratégico da União Europeia para a década de 2000, definido no Tratado de
Lisboa «tornar-se na economia baseada no conhecimento mais dinâmica e competitiva
do mundo, capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com mais e
melhores empregos, e com maior coesão social», têm de diversificar as oportunidades de
aprendizagem de competências ecléticas a oferecer, com especial ênfase para as
competências ao nível das tecnologias de informação (TI) e utilização da internet como
recurso. Para isso é necessária a criação de «centros de aprendizagem locais». Estes
centros locais de aprendizagem polivalentes, não devem funcionar como unidades
isoladas mas construindo parcerias de aprendizagem «com outras escolas, centros de
formação, firmas e unidades de investigação, para o seu benefício mútuo». Só assim
poderão dar resposta ao vasto leque de grupos-alvo (Conselho da União Europeia,
2000).
A Educação para cada um é a educação inclusiva que procura resultados a longo prazo.
Podemos considerar que trabalhamos no sentido de uma educação inclusiva quando a
educação for capaz de proporcionar aos alunos ferramentas e desenvolver capacidades
que lhes vão permitir exigir os seus direitos e responder aos deveres de uma cidadania
plena, como por exemplo os direitos a um rendimento digno, a um trabalho e a uma
actividade económica, à educação e à formação; à saúde e à habitação e à igualdade de
oportunidades.
Não se pode conceber uma educação atenta a cada um, a cada indivíduo, sem conceber
uma educação, que para o ser tem de ser capaz de revolucionar os papéis tradicionais
dos professores e de todos os que nela trabalham. Uma escola inclusiva apresenta-se
como uma escola de oportunidades, incidindo na possibilidade de todos, sem excepção,
beneficiarem da formação, como instrumento essencial à sua realização pessoal e social.
Este pressuposto admite uma metamorfose concedida de simbolismo
sócioculturalsociocultural, que nos transporta de uma escola monocultural e transmissiva,
para uma escola intercultural. A construção de uma escola inclusiva exige um papel
diferente aos docentes, diferenciando os processos de aprendizagem e investindo no
desenvolvimento e diversificação de estratégias de aprendizagem, pressupondo para isso
que os docentes sejam capazes de « (…) reconhecer, respeitar e valorizar a diversidade
cultural existente nas escolas» (Leite, 2003). Os professores tornam-se mais próximos
170
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
dos alunos, mais envolvidos nas suas maiores dificuldades. Impõe-se também dizer que
para que seja possível ao professor responder adequadamente às necessidades e
dificuldades de cada aluno, é necessário que sejam criadas redes de apoio ao processo
de ensino-aprendizagem de forma a serem encontradas as respostas mais eficazes. Esta
realidade ainda é, em muitas escolas uma meta a alcançar, um sonho a tornar realidade.
Se por um lado, existem já muitas escolas que se preocupam com os padrões de
educação já definidos, por outro lado, não existe aquilo que se pode chamar de
articulação eficaz entre os diversos sistemas que estão implicados: sistema de saúde,
sistema de protecção social, sistema de justiça, sistema de habitação e infra-estruturas,
etc. Muitas vezes falta ao professor e às escolas uma rede de suporte que integre, que
trabalhe em parceria e responda a todas as necessidades dos seus educandos, de forma
a proporcionar a cada um as condições e meios para que se possa desenvolver pessoal
e socialmente, concretizando e efectivando os direitos que estão consignados na lei.
Nesta perspectiva a educação inclusiva é a educação que consegue adaptar as
estratégias às necessidades e dificuldades de cada um, não se circunscrevendo ou
reduzindo especificamente a crianças com necessidades educativas especiais; é a
educação que tem nos seus pressupostos o que está consagrado na Declaração
Universal dos Direitos Humanos.
Para que a educação inclusiva seja uma realidade e se consolide é necessária uma
relação de maior proximidade e cooperação entre a família e a escola. A criação das
Associações/Comissões de Pais é essencial, de modo a participarem na vida escolar.
Simultaneamente a escola tem também que se abrir à comunidade envolvente,
assumindo a participação dos pais não apenas como um direito mas também como um
elemento fundamental para a sua progressiva melhoria. No relatório sobre as actividades
de Enriquecimento Curricular é referido que o caminho para que a escola seja um espaço
de vivência de cidadania e promotora de competências e de capacidade crítica e e como
tal inovadora, é indispensável, principalmente no 1.º ciclo do ensino básico «a construção
e criação de uma relação dialéctica entre as famílias e a escola, de modo a que as
famílias conheçam, intervenham e se envolvam na cultura da escola»20
A Educação para cada um, sinónimo de educação inclusiva tem de ser capaz de minorar
ou eliminar os factores de insucesso escolar. Capucha (2009) agrupa esses factores em
quatro grandes grupos: «1. desajustamento entre o capital cultural de origem das famílias
e a linguagem tradicional da escola…; 2. desarticulação entre a escola, as famílias e o
mercado de trabalho…; 3. qualidade do processo pedagógico… equilíbrio do currículo
20 Relatório Intercalar de Acompanhamento das Actividades de Enriquecimento Curricular: 2007.
171
Maria Cândida Jardim
entre as diferentes competências …e espaço para o enriquecimento curricular e a
integração de saberes; utilização das tecnologias e valorização das aprendizagens
experimentais; aprendizagem de métodos de estudo e trabalho; presença ou ausência de
mecanismos de detecção precoce do risco de insucesso; ausência de elementos de
identificação dos alunos com a sua escola; fraca autonomia da escola e uma organização
escolar pouco estruturada…; presença ou ausência de serviços de orientação escolar;
qualidade do parque edificado e dos equipamentos escolares; qualidade do acesso à
escola; envolvimento dos pais e da comunidade com a escola; 4. relação entre os
agentes educativos e alunos com problemáticas específicas…»
No Seminário Internacional Educação Inclusiva – Impacto dos Referenciais Internacionais
nas Políticas, nas Práticas e na Formação, realizado em Setembro de 2009 Luís
Capucha na sua intervenção evidenciou a necessidade de haver alterações no
funcionamento dos vários sistemas que têm um papel fundamental na inclusão ou
exclusão social, referindo que «as mutações tecnológicas e a organização do trabalho
estão a modificar os factores de competitividade das empresas e o modo como elas se
relacionam entre si e com os seus trabalhadores» (Capucha, ) tornando-se cada vez
mais exigente ao nível das habilitações escolares e das qualificações profissionais,
tendendo a deixar de fora os sectores menos escolarizados e qualificados da população.
Para que se possa dar cumprimento ao objectivo estratégico da União Europeia para a
década de 2000, definido no Tratado de Lisboa, e desse modo a inclusão e coesão
sociais sejam uma realidade e para que todos os indivíduos tenham acesso às mesmas
oportunidades, quer ao nível do acesso a um posto de trabalho, quer ao nível do
estabelecimento de relações sociais e participação plena na cidadania é necessário que
a educação ofereça as melhores condições de desenvolvimento a cada um, que os
sistemas de ensino não se orientem para a selecção dos poucos sobre os quais existem
expectativas de prosseguimento de estudos de nível superior e que, tal como refere Luís
Capucha (2009), os sistemas de qualificação não reproduzam os segmentos de
qualidade (ou falta dela) do tecido económico. Como já foi referido anteriormente, o
sistema de protecção social tem de se tornar capaz de redistribuir de forma equitativa os
rendimentos, prevenir riscos e activar os beneficiários. Da mesma forma os sistemas de
saúde devem funcionar segundo princípios capazes «de proteger diferenciadamente
aqueles que mais carecem de cuidados, os que menos conhecimento possuem sobre
estilos de vida saudáveis e os que não possuem capital social mobilizável nas relações
com o sistema e os seus profissionais.»
Tendo em vista o objectivo estratégico já definido, é importante considerar que o sistema
172
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
de habitação e infra-estruturas também pode ser gerador de exclusão ou inclusão social.
É necessário que todos tenham condições de vida dignas e que a localização dos
equipamentos e infra-estruturas tenham em conta os mais desfavorecidos.
A falta de articulação e parceria entre os diversos sistemas e a falta de investimento real
e concreto na valorização e integração dos mais desfavorecidos a todos os níveis
contribuem para que muitos cidadãos não se sintam cidadãos plenos e se sintam
progressivamente excluídos formando uma auto-imagem desvalorizada, orientando-se
muitas vezes para a necessidade de sobrevivência quotidiana, acomodando-se à sua
condição, desmotivando-se, tornando-se incapazes de exigir e reivindicar
autonomamente os seus direitos e perdendo a iniciativa de desenvolver uma acção
estratégica para a sua valorização, para a obtenção de objectivos mais audazes e para a
participação social.
Se todos os sistemas referidos funcionarem articuladamente tendo em vista
procedimentos conducentes à inclusão social e como tal à vivência plena da cidadania,
as repercussões reflectir-se-ão positivamente ao nível da vida concreta das pessoas:
aumento de cidadãos com qualificações mínimas de empregabilidade conduzindo a um
encorajamento na procura de emprego, diminuição do desemprego e a um aumento dos
rendimentos do trabalho; diminuição do risco de doença e deficiência devido a condições
de habitação mais dignas e acessos facilitados a equipamentos e serviços e aumento das
competências cognitivas, operativas e relacionais.
3.2. Educação para a heteronomia ou educação para a autonomia
Antes de mais será importante esclarecer conceitos. Podendo a autonomia ser aplicada a
várias áreas, interessa deter-nos no conceito de autonomia enquanto «capacidade de se
governar ou de se gerir pelos seus próprios meios; liberdade de determinar os seus
comportamentos, as suas opções, os seus valores; vontade própria» (Academia das
Ciências de Lisboa, 2001: 430).
A heteronomia diz respeito à situação daquele que recebe de outrem ou de um princípio
estranho à razão, a norma que lhe determina a vontade. A lógica colectiva é o elemento
propulsor mais evidente da instauração da heteronomia no indivíduo.
Para Piaget o pensamento autónomo surge a par da capacidade de estabelecer relações
cooperativas. Na sua perspectiva ser autónomo significa estar apto a construir com os
outros, o sistema de regras morais e operatórias necessárias à manutenção de relações
173
Maria Cândida Jardim
permeadas pelo respeito mútuo.
Estes dois conceitos estão associados a tipos de sociedade. A sociedade democrática
em que nos inserimos valoriza «a autonomia do actor, a capacidade de se definir e
realizar os seus projectos, de defender os seus interesses e os seus direitos»
(Perrenoud, 2005: 113). Mas será que os diversos sistemas da sociedade estão
organizados e orientados para que todos e cada um saibam identificar, avaliar e fazer
valer os seus recursos, os seus direitos, os seus limites e as suas necessidades? Estará
a escola a valorizar a autonomia e empenhada verdadeiramente através das suas
práticas na sua construção ou ficará apenas no conjunto das boas intenções registadas
em papel? Não é nosso objectivo responder a estas questões mas, tão-somente, abrir
caminho para reflexões futuras. No entanto, se cada um de nós olhar a realidade,
observa que vivemos numa sociedade em que, embora os direitos existam legislados,
apenas são respeitados os direitos daqueles que menos precisam deles porque são
adultos com dinheiro, porque estão bem integrados no tecido social, porque detêm poder
e são considerados. Os abusos de direitos geralmente são exercidos sobre os mais
fracos mas os prisioneiros têm direitos, as crianças têm direitos, os desempregados têm
direitos, como os portadores de deficiências, os idosos, as crianças, os doentes. São
estes que precisam de construir e aprender a utilizar as competências de autonomia.
Quem não conhece situações em que uma pessoa ou um grupo é submetido a passar
por cima dos seus limites, porque os mesmos não têm consciência deles ou porque não
têm coragem de exigir que os mesmos sejam respeitados, anulando a sua própria
vontade. Quem não conhece situações em que as necessidades de cada um são
esquecidas ou porque existe medo, ou simplesmente porque não ousam manifestá-las.
Exemplo concreto podemos referir quando uma pessoa está empenhada na conclusão de
um trabalho ou de um projecto e não se preocupa ou simplesmente ignora as
necessidades de repouso, de silêncio, de segurança, de estima, de autonomia dos seus
parceiros.
Na sociedade dita “do conhecimento”, “digital” é cada vez mais importante que a escola
valorize, promova e desenvolva competências de autonomia, respeitando ela própria, no
seu quotidiano, os direitos, os limites, os recursos e as necessidades de cada um. O
sistema educativo, com vista à construção da liberdade e da autonomia individual, deve
desenvolver duas competências essenciais: a prática reflexiva e o sentido crítico.
Perrenoud refere a capacidade reflexiva como uma das competências da qual depende
todas as outras: «uma postura e uma conduta reflexivas permitem ao actor aprender com
a experiência e reflectir por si mesmo, sem ser prisioneiro do pensamento único ou das
174
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
expectativas do seu meio» (2005: 131). Ainda na perspectiva deste autor, a construção
destas duas competências conduz-nos implicitamente para o campo da educação para a
cidadania na medida em que a capacidade reflexiva e crítica não se inscrevem em
nenhuma área mas tem de estar patente, nas práticas diárias em todos os momentos e
espaços, em situações reais da vida, na escola e fora dela, desde a infância e ao longo
de toda a existência. A construção da autonomia implica «mudanças de atitude e
contratos pedagógicos e didácticos (inclusive os que se referem à avaliação), assim
como remanejamentos [adaptações, flexibilizações] do currículo prescrito» (Perrenoud,
2005: 132), adaptar o currículo a cada um. Se a escola pretender desenvolver a
autonomia e na prática, no seu interior, proíbe, reprime ou inibe a prática reflexiva e o
pensamento crítico, estará a trabalhar a favor de heteronomia.
A autonomia construída através da prática reflexiva e do sentido crítico passa também
pelo reconhecimento e aceitação de dois pressupostos implícitos: o direito a errar e a
pluralidade de opções: ninguém consegue tornar-se autónomo se não tiver opções e se
se lhe exigir que tome sempre as opções correctas. Levanta-se então a questão de saber
o que é a opção certa? Estamos perante um problema que tem a ver com a autonomia
moral que não podemos escamotear e que está patente na educação. A educação moral
tem por finalidade de acordo com o ponto 6 do Relatório da Unesco «integrar na
personalidade de cada um e nos axiomas que regem o funcionamento dos grupos sociais
o respeito e a defesa de certos princípios morais para levar assim, tanto os indivíduos
como os grupos a agir sempre em conformidade com esses princípios e a enfrentar a
realidade com espírito aberto e crítico» (Unesco, 1978). Embora diversas instituições
sociais sejam responsáveis pela educação moral, cabe à escola uma responsabilidade
especial: «ajudar o indivíduo a construir ele próprio a sua personalidade autónoma, capaz
duma participação activa, responsável e criativa, na vida da sociedade nacional e
internacional a que pertence». (Unesco, 1978). De acordo com o relatório da Unesco
citado anteriormente a autonomia (autonomia moral) constrói-se não apenas através do
conhecimento (saber o que se deve fazer) mas através das atitudes e das competências
(o saber em acção), implicando a consideração dos interesses dos outros, a acção de
acordo com as suas convicções (de acordo com a sua idade e o seu grau de maturidade)
e a assunção das consequências dos seus actos. Para que estas competências sejam
adquiridas o Relatório da Unesco (1978) teceu algumas orientações para os educadores,
que ainda hoje se mantém actualizadas, considerando importante que: 1.a escola seja o
símbolo da sociedade, assumindo e vivendo os princípios de uma democracia autêntica,
através da promoção da participação dos alunos nas decisões; através de métodos de
175
Maria Cândida Jardim
formação que ponham os alunos diante de escolhas reais e lhes ofereçam possibilidades
de experimentar soluções para tentar resolver situações que põem problemas, encarando
o erro como um processo normal e necessário para o crescimento e para a construção da
autonomia (moral); 2.os educadores devem estar sensíveis à sua missão de «preparar os
alunos para se tornarem pessoas autónomas capazes de questionar sobre as crenças e
práticas correntes e de sugerir meios para as melhorar; 3. «os educadores evitem
práticas que destruam nas crianças o sentido do seu valor pessoal ou favoreçam a
passividade, a docilidade e uma aceitação cega de todas as opiniões […]; 4.os
educadores utilizem métodos que valorizem nas crianças «o sentido da sua dignidade e
aumentem a capacidade de julgamento no plano moral»; 5.os educadores forneçam «aos
alunos informações sobre outras culturas e sobre os problemas mundiais, cooperando
assim em favor da compreensão internacional». (Unesco : 1978)
A Educação para cada um, orientada para as necessidades básicas de aprendizagem de
cada um e tendo em vista a autonomia de cada cidadão é o resultado da mobilização de
poder e, em particular, das políticas públicas activas, políticas essas capazes de «dotar
as pessoas das competências e dos poderes que facilitem a sua inclusão no emprego e
no mercado de trabalho, nos serviços e cuidados de saúde, no sistema de educação e
formação, no mercado de habitação regular, nos sistemas de protecção e segurança, em
quadros familiares enriquecedores, em comunidades de pertença diversas (trabalho,
residência ou outras), nos programas de combate à descriminação, nas instituições de
representação de interesses gerais (políticos) ou particulares (profissionais, culturais,
etc.)» (Capucha, 2009). Para que o referido se concretize dando cumprimento ao
objectivo que a União Europeia pretende atingir na década de 2000 e que visa, no seu
fim último uma maior coesão social, exige políticas activas de diferenciação positiva,
dirigidas aos grupos mais desfavorecidos, segundo critérios de justiça social, no domínio
da promoção de elevados padrões de desempenho no sistema educativo mas também
ao nível de todos os outros sistemas: sistema de saúde, sistema de emprego, de
distribuição de rendimentos, de segurança, de qualidade ambiental, da actividade
económica, de ocupação do território, de promoção dos valores da igualdade e do
respeito pela diferença.
Situar-nos-emos no paradigma de uma educação inclusiva, atenta às dificuldades e
necessidades básicas de aprendizagem de cada um, conducente à vivência plena da
cidadania e participação social e construtora da verdadeira autonomia, através da
vivência no quotidiano da escola de duas competências essenciais: a prática reflexiva e o
pensamento crítico.
176
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Conclusão
1. Os desafios da educação para a cidadania actualmente resultam também dos desafios
que são colocados à sociedade e que, tal como é referido no Documento de trabalho da
Comissão das Comunidades Europeias sobre a futura estratégia «UE 2020», passam
pelo impulsionamento do dinamismo, libertando o potencial inovador e criativo. É definida
como uma das prioridades a aquisição de novas competências, o fomento da criatividade
e da inovação e o desenvolvimento do empreendedorismo. Considerando o que foi
referido é importante que a educação na sua globalidade seja mesmo educação para a
cidadania, cidadania aberta, participativa, criativa e empreendedora (Comissão das
Comunidades Europeias, 2009).
Em Portugal, é durante a década de oitenta do século XX que a escola
elitista/homogénea/selectiva (para alguns) foi sendo substituída pelo desejo de uma
escola democrática/heterogénea/inclusiva (para todos), iniciando-se grandes
transformações curriculares. A LBSE de 1986 constituiu o motor e o travão de todas as
mudanças. Na sua regulamentação o Decreto-Lei n.º 286/89 previa a «área-escola» e o
Decreto-Lei n.º 6/2001 prevê a educação para a cidadania. A educação para a cidadania,
transversal a todo o currículo, embora imbuída de boas intenções constituiu na prática um
passo em frente e dois passos atrás em relação à área-escola. Enquanto na área-escola
estavam claramente definidos quais os seus objectivos e o âmbito de concretização e
intervenção (ligados ao que poderíamos chamar de um currículo local) na educação para
a cidadania, falta uma definição institucional clara dos seus objectivos e âmbito. O
Decreto-Lei n.º 6/2001 refere a educação para a cidadania como uma formação
transversal, a ser desenvolvida privilegiadamente na nova área curricular não disciplinar
criada - Formação Cívica. No entanto restringe a sua finalidade ao «desenvolvimento da
consciência cívica dos alunos» recorrendo como metodologias ao «intercâmbio de
experiências vividas pelos alunos e à sua participação individual e colectiva, na vida da
turma, da escola e da comunidade» (alínea c art. 5.º Dec.- Lei 6/2001).
Mas a autonomia das escolas ainda não chegou ao ponto de prever um currículo nacional
definido e controlado pelo Ministério da Educação e um “currículo de escola”, construído
na própria escola por toda a comunidade educativa constituída pelos professores, pelos
pais e pelos alunos, pelos assistentes operacionais, pelos representantes locais do poder
177
Maria Cândida Jardim
autárquico, das entidades culturais, desportivas, recreativas e económicas. O currículo
local é um pequeno e ainda muito insuficiente passo neste sentido. Cada escola
autónoma e participada deveria ter o seu currículo de escola, que deveria constituir a sua
própria identidade como “escola cidadã”, aberta e construtora da cidadania de cada um
dos seus membros.
É importante, perante a sociedade de incertezas em que vivemos, que a escola se
constitua como uma escola cidadã, de referência, no que concerne à sua organização e
funcionamento quotidianos na medida em que a escola tem como uma das principais
finalidades preparar as crianças e os jovens para assumirem responsabilidades e papéis
de cidadania. É necessário que a escola se abra à comunidade, descobrindo e aplicando
novos processos de ensinar e fazer aprender, sendo necessário que os professores
assumam novas posturas profissionais e valorizem o exercício de um trabalho colectivo
quer com todos os elementos da escola, quer com as famílias quer com a comunidade
em geral. A cidadania vista desta forma só será uma realidade quando a mesma deixar
de ser vista como mais uma tarefa do professor, intensificadora do seu trabalho e passar
a ser assumida como uma oportunidade de transformação do trabalho dos professores e
ser integrada nas práticas profissionais e organizacionais da escola. É necessário que as
escolas ultrapassem a função estritamente de instrução, se revejam e se assumam como
espaços de construção plena de uma cidadania aberta, participativa, criativa e
empreendedora, em que todostodos aprendem uns com os outros e reflectem sobre a sua
acção para a melhorar, superando-se a si próprios. No entanto esbarra-se com imensos
constrangimentos e condicionantes da sua exequibilidade. A ‘bondade’ intrínseca que
está no âmago do pressuposto não é suficiente para desencadear mudanças efectivas
nas práticas das escolas. Não é pelo facto de serem transferidas, para os professores e
escolas, responsabilidades pela qualidade e resultado das reformas, sem fornecer os
meios adequados, mas apenas atribuindo obrigações de autonomia, que a mudança se
efectivará. Observam-se algumas mudanças ao nível formal, embora a mudança real e
conducente à «aquisição de atitudes autónomas, visando a formação de cidadãos
civicamente responsáveis e democraticamente intervenientes na vida comunitária» (art.
7.º-i da Lei 46/86), verdadeiro objectivo da educação para a cidadania, exige um conjunto
de condições que não foram proporcionadas nem às escolas, enquanto organização,
nem aos professores, enquanto agentes educativos. A Educação para a Cidadania
esbarra com muitos medos e inseguranças, quer a nível individual, quer a nível de grupo
de trabalho. Os professores preferem escolher o caminho mais seguro (e
desresponsabilizador da heteronomia) do que aventurar-se no caminho da autonomia,
178
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
muito mais exigente e comportando mais riscos e, eventualmente, erros. A Educação
para a Cidadania, assumida como o caminho para a educação/formação pessoal e social
de alunos e professores, passa pela integração e participação na comunidade, pela
vivência de experiências democráticas, participativas, criativas, empreendedoras e pela
criação de condições para que os professores sintam a sua missão como algo
significativo e valorizado.
O Decreto-Lei n.º 6/2001 concebe agora a Educação para a cidadania como uma
componente transversal do currículo. Não é mais um elemento do currículo, mas
pretende-se que seja o ambiente axiológico e cultural que deve enquadrar esse currículo,
favorecendo a interdisciplinaridade até à transculturalidade numa escola autónoma que
constrói a sua própria autonomia na liberdade e responsabilidade. O currículo de escola é
(será) a condição explícita para isso.
Educar para a cidadania no contexto e na concepção da reorganização curricular implica
construir uma escola curricularmente inteligente (arguta, smart), uma escola capaz de
contribuir de uma forma activa para a formação de cidadãos participativos e
intervenientes, produtivos e solidários, críticos e tolerantes, justos e democráticos, livres e
responsáveis. A ‘chave’ para a construção desta escola passa necessariamente pela
aposta nos professores e nas suas competências. Apostar nos professores é dar
condições para que possam reflectir, analisar e discutir as concepções e finalidades que
configuram a sua acção com os alunos. Mas a dinâmica da inovação implica toda a
comunidade, podendo os professores ser um dos motores dessa inovação.
A consciência da emergência da educação para a cidadania na escola implica uma nova
mentalidade por parte dos professores e um trabalho cooperativo não apenas entre os
docentes mas com a participação e empenhamento também dos alunos, dos assistentes
operacionais e da comunidade, numa sintonia de intenções com vista à concretização e
operacionalização de acções. A escola é chamada a assumir novas formas de cidadania,
colectivas e não individuais, um novo conceito e novas práticas de cidadania, com base
em critérios democráticos de participação, responsabilidade, respeito, solidariedade e
tolerância. Não se pode conceber a educação e a escola fora do contexto da sociedade e
dos espaços em que se situa. A educação é chamada a dar resposta às necessidades
básicas de aprendizagem de cada um, criando os recursos, as condições e os
instrumentos para que todos e cada um possam desenvolver as suas potencialidades
com vista à sua inclusão social e que cada um se possa sentir como um cidadão
comprometido, cumpridor dos seus deveres e capaz de fazer cumprir os seus direitos.
179
Maria Cândida Jardim
Os desafios à cidadania em Portugal são em grande parte comuns à cidadania europeia.
Os sistemas educativos estão confrontados com as exigências da sociedade do
conhecimento como também com necessidade de um maior nível e qualidade de
emprego, investindo na criação de centros de aprendizagem locais. A educação tem de
reduzir os factores de insucesso escolar e, cumprindo o objectivo do Tratado de Lisboa
(modernizar o modelo social europeu, investindo nas pessoas e combatendo a exclusão
social), articular com todos os sistemas da sociedade que, de uma forma ou outra,
contribuem para o bem-estar das pessoas e obviamente para a inclusão social. A
educação para a cidadania inscreve-se como uma construção em exercício (educação na
cidadania), onde os professores, os alunos, as famílias e todos os membros da
comunidade vão, através da sua reflexão crítica e das suas tomadas de decisão,
construindo a sua autonomia. A escola iniciou um processo de abertura à comunidade,
ao meio local, à cidadania, à vida, constituindo-se um factor de mudança no qual a opção
por um determinado tipo de educação equivale à opção por um determinado tipo de
sociedade e é nesse processo interactivo e na articulação com os diversos sistemas da
comunidade que é necessário investir (muito) mais.
2. Ao estudarmos a Educação para a Cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de
Escolas, através da análise de diversos documentos produzidos pelos docentes em
2007/2008, concluímos que a educação para a cidadania ainda se oculta muito no cerne
da construção dos saberes e continua centrada no professor. Ainda há um percurso
longo a percorrer para que a Educação para a cidadania deixe de ser apenas ou pouco
mais que o cumprimento de uma planificação meramente escolar ou de um conjunto de
conteúdos propostos nos manuais escolares, como foi observado nos registos diários das
actividades da turma. Educar para a (na) cidadania implica o processo global de
aprendizagem porque está nele, é parte indissociável da educação. Apesar da Educação
para a (na) cidadania dever ser o cerne do acto educativo e dever implicar e envolver
todos os espaços e pessoas que trabalham com os alunos, observa-se que a mesma
está um pouco distante da realidade da comunidade e mesmo da escola limitando-se ao
trabalho em sala de aula, após a sua planificação em conselho de docentes de ano.
Tendo sido considerado três itens de observação (aprender a viver consigo próprio,
aprender a viver com os outros e aprender a viver com o ambiente), constatamos na
análise documental que a maioria dos registos nos PCT e RDAT refere-se a abordagens
académicas dos domínios do aprender a conhecer e aprender a fazer e as poucas
180
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
referências que podemos enquadrar no domínio da educação para a cidadania (o que
nem sempre é explicitado) incidem, nos PCT’s, no domínio do aprender a viver com os
outros e nos RDAT no domínio do aprender a viver com o ambiente. Na generalidade, as
evidências do âmbito do “Aprender a viver com o ambiente” são as que estão mais
enraizadas nas práticas educativas, sendo o reflexo dos projectos em que o
Agrupamento está envolvido, exigindo como tal uma programação e atenção específica e
um produto final visível. Paralelamente as evidências nos registos relacionadas com o
“Aprender a viver consigo próprio”, fazendo escolhas, manifestando uma opinião crítica,
participando nas diversas decisões da turma e/ou da escola são pouco significativas,
circunscrevendo-se aos temas relacionados com a saúde e segurança do corpo.
Segundo os dados observados, o manual escolar ainda é nos dias de hoje o recurso mais
utilizado nos temas da área de Estudo do Meio, que, a par da necessidade de
estabelecer e manter as regras na sala de aula, constituem o mote principal para a
abordagem da Educação para a cidadania. As constatações registadas conduzem-nos a
uma conclusão global: a escola ainda precisa de muito trabalho colaborativo e reflectido
para melhorar as práticas educativas ao nível da Educação para a Cidadania de forma a
contribuir verdadeiramente para a vivência de uma cidadania plena e de forma a
contribuir para a formação pessoal e social de cada ser humano. A Educação para a (na)
cidadania deve impregnar todo e qualquer acto educativo, em todos os momentos e
espaços, querendo com isto dizer que é urgente viver a cidadania. Estaremos então a
referir-nos a uma nova metodologia de trabalho e a uma nova forma de encarar o
currículo, os saberes, as competências, os métodos e a avaliação.
3. O confronto de paradigmas em educação e Educação para a Cidadania constitui a
oportunidade de análise e o eventual passo para a inovação e o empreendedorismo
necessários, pelo que se projecta para além das meras aprendizagens de conteúdos e
competências relacionadas com aprender a conhecer e aprender a fazer. Todos sentimos
a necessidade de uma educação e formação pessoal e socialeducação e formação pessoal e social para todos numa escola
inclusiva em que cada um possa aprender a viver com os outros, aprender a viver com o
ambiente, aprender a viver consigo próprio e aprender a ser ou a ir-se tornando ao longo
de toda a vida. A satisfação destas necessidades básicas de aprendizagem e a
preparação para a vida (activa) não têm sido suficientemente desenvolvidas nas nossas
escolas, sendo aceite que deverão ser transversais, interdisciplinares e mesmo
transdisciplinares.
181
Maria Cândida Jardim
Para que a escola, que é para todos, seja formadora, a nível pessoal e social, de
cidadãos livres, autónomos, intervenientes e com efectiva igualdade de oportunidades e
dessa forma, contribua para a inclusão e coesão social dando resposta às necessidades
de todos e de cada um, é necessário que todos os que estão nela implicados aprendam a
desenvolver competências de cidadania e se implementem modos de organização
escolar que valorizem a diversidade étnica, cultural, social e económica promotores de
igualdade e equidade. A implementação da educação para a (na) cidadania como
exercício de cidadania e como caminho privilegiado para o cumprimento das metas
definidas pelo Tratado de Lisboa passa pela capacidade dos professores conceberem o
currículo não como orientações estanques e directivas, mas numa perspectiva de práticaprática
de gestão curricular flexível adaptada às necessidades de cada aluno e a cada contextode gestão curricular flexível adaptada às necessidades de cada aluno e a cada contexto
local e sociallocal e social, pensada e justificada no PCE e concretizada nos projectos curriculares de
turma, em todos os espaços da escola e com o envolvimento da comunidade educativa.
Para isso o currículo terá de ser bem dividido em currículo nacional da responsabilidade
do Ministério da Educação e o currículo de escola da responsabilidade de todos os
membros da comunidade educativa da escola. O percurso da educação para a (na)
cidadania, enquanto janela para a escola e para a vida exige profissionais capazes de
tornar as aprendizagens significativas utilizando processos promotores do exercício
activo da cidadania.
Em última análise, para que a Educação para a cidadania possa contribuir para a
formação pessoal e social dos indivíduos é necessário apostar na transformação da
escola ao nível da clarificação das prioridades e ao nível da assunção da autonomia na
condução dos destinos da sua comunidade educadora.
Recomendações
Reflectindo já os objectivos e prioridades definidas pela Comissão das Comunidades
Europeias sobre a Estratégia 2020 e considerando que a educação (para a cidadania)
visa a formação pessoal e social do ser humano livre, responsável, autónomo,
solidário, sujeito de direitos e deveres, respeitador das outras pessoas e das
suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões, com um espírito
crítico, democrático, pluralista, criativo e interventivo face à sociedade e na
construção de uma cidadania global, operacionalizável no próprio exercício da mesma, é
necessário que a escola coloque a tónica na inovação e na criatividade, mudando
estratégias e articulando a sua acção com a comunidade que serve.
182
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
A resposta aos desafios da globalização exige a capacitação das pessoas em sociedades
inclusivas, exige maior capacidade de adaptação, mais criatividade e inovação e maior
empreendedorismo, sendo certo que as mesmas serão alcançáveis através de uma
educação na vida e para a vida.
Tendo em conta os sete Objectivos Estratégicos/Recomendações emanados do Fórum
“Educação para a Cidadania” em Março de 2008 dirigido a um extenso conjunto de
destinatários e o «Guião de Educação para a Cidadania em contexto escolar…Boas
práticas»;
e porque a educação (para a cidadania) pode ser, de facto, uma janela para a vida e um
meio de combate à pobreza e à exclusão social, apresentamos três quadros que mais
não são do que propostas que visam a melhoria das práticas educativas ao nível da
educação para a cidadania:
o primeiro é referente às propostas de medidas que se consideram poderem ser
adoptadas para a implementação da Educação para a Cidadania pelas direcções
dos Agrupamentos;
o segundo é referente às medidas a serem implementadas pelas escolas e;
o terceiro é referente a um conjunto de materiais pedagógicos que constituem
recursos para os docentes do 1.º ciclo.
183
Maria Cândida Jardim
Medidas para a concretização da Educação para a (na) Cidadania, através do seu exercício, no 1.º CEB
Ao nível da gestão
- Promover, nos diversos contextos sócio-culturaissocioculturais e tendo em conta os benefícios da diversidade de intervenientes, debates e tertúlias sobre questões de cidadania, utilizando também esta metodologia para concretizar e desenvolver o exercício da participação cidadã.- Valorizar e distinguir boas práticas dos docentes no domínio da Cidadania Global através da atribuição de prémios.- Valorizar o convívio, a solidariedade e o associativismo, desenvolvendo o sentido de pertença múltipla, o olhar construtivo sobre a realidade, o debate de ideias, a intervenção cívica, a capacidade de auto-motivação, o estímulo à liderança, ao empreendedorismo, à criatividade e à inovação social, designadamente através de parcerias que envolvam autarquias, associações profissionais, sindicais e empresariais, organizações não governamentais, equipamentos culturais (centros, bibliotecas, teatros) e outras entidades interessadas.- Conceber os projectos educativos como projectos de cidadania global, desenvolvendo competências quer para identificar falhas de cidadania no seu funcionamento, quer para conceber e desenvolver processos partilhados de resolução que permitam ultrapassá-las com benefício para a comunidade educativa.- Promover formação adequada para todas/os as/os docentes de todos os níveis de ensino com o objectivo de assegurar a sua responsabilidade na transversalização da dimensão da cidadania nos conteúdos programáticos, metodologias e atitudes, em todas as situações vividas na escola.- Promover a sensibilização de todos os agentes educativos, formais e não formais, públicos e privados, individuais e colectivos para que se corresponsabilizem no desenvolvimento de uma consciência crítica face aos estereótipos sociais e culturais que induzem a desigualdade e geram a discriminação.
Fonte: Ministério da Educação (s.d.): Fórum Educação para a Cidadania (adaptado)
Quadro 20 - Proposta de Medidas a implementar pela gestão para a concretização da Educação para a
cidadania no 1.º CEB
184
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Medidas para a concretização da Educação para a (na) Cidadania, através do seu exercício no 1.º CEB
Ao nível dos responsáveis pelas actividades a desenvolver com os alunos
- Acompanhar e ensinar, com o exemplo, as crianças a desenvolver-se através do trabalho e do esforço próprios e a respeitar os de terceiros; - Seguir mais de perto as suas educandas e os seus educandos motivando-as/os para a importância e a satisfação de contribuir para o bem comum;- Orientar adequadamente a generosidade própria das crianças para a partilha e para a solidariedade- Promover iniciativas que visem aplicar as TIC como instrumento de aprendizagem, exercício, participação, promoção e vivência da cidadania global.- Inserir questões relacionadas com a educação para e na cidadania global enquanto temáticas a trabalhar no espaço curricular não disciplinar Área de Projecto, na medida em que permitem articular saberes de diversas áreas curriculares e reflectir quer sobre a necessidade de reforço de intervenção para a concretização dos direitos humanos quer sobre questões emergentes na nossa sociedade.- Desenvolver acções, para que a educação de alunos e alunas contribua para lhes oferecer aprendizagens de postura cívica individual e de relacionamento interpessoal, social e interculturais inerentes ao exercício da cidadania global, que desenvolvam competências para a vida e potenciem inovação social, incluindo, aspectos práticos e concretos como: A escrita e a expressão falante tendo em conta a elevação cultural que elas podem proporcionar; as formas de tratamento interpessoal e institucional; o respeito por si, pelo próprio corpo e pelas próprias ideias, o que implica o dever de cuidar da saúde, o dever de informação relativamente a qualquer espécie de consumo e o dever de exercício responsável da liberdade; o respeito individual pelos outros, por palavras, gestos, posturas, ruídos, etc., em particular no espaço público; a civilidade e cortesia no trato entre as pessoas; o socorro às pessoas necessitadas e as vantagens da entreajuda; a incoerência entre a aceitação de desportos brutais e a observância dos direitos humanos; o realismo necessário para lidar com as vulnerabilidades próprias e alheias com a consciência de que a liberdade e a segurança constituem direitos e deveres fundamentais que exigem o desenvolvimento precoce de competências para o respectivo exercício quotidiano; o encorajamento à criatividade e à apresentação de sugestões concretas de práticas susceptíveis de melhorar a harmonia das relações sociais e a qualidade de vida colectiva, a diversos níveis e em diversos contextos; a evocação periódica, no quadro das actividades lectivas e aproveitando designadamente os “dias internacionais”, quer da memória histórica associada à resistência, à opressão e à construção do Estado de Direito democrático e de figuras nacionais e estrangeiras, homens e mulheres, como Aristides de Sousa Mendes ou Leonor da Fonseca Pimentel, que trabalharam e se sacrificaram a nível individual pela liberdade e pela defesa dos direitos humanos, no Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, no Dia Internacional de Apoio às Vitimas de Tortura ou no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, quer de outros temas no âmbito dos direitos humanos, no Dia Internacional dos Direitos Humanos, no Dia Internacional da Mulher, no Dia Internacional Contra a Violência sobre as Mulheres, no Dia Internacional de Luta contra o SIDA, no Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina ou no Dia Internacional contra a Homofobia.- Fomentar a inserção de alunos e alunas em grupos sociais diversos, reconhecendo e valorizando as múltiplas pertenças individuais, promovendo a aprendizagem intercultural.- Alicerçar a aprendizagem da cidadania também nas vivências que a escola proporciona nos seus diferentes espaços curriculares, disciplinares e não disciplinares, bem como nos contextos extracurriculares e não formais.- Criar condições para a concretização, na escola e nos seus diversos espaços, do espírito crítico, do pluralismo de opinião, do debate de ideias e da apresentação de sugestões para a melhoria da qualidade da vivência escolar, incluindo as que se traduzam em inovação social.
Fonte: Ministério da Educação (s. d.): Fórum Educação para a Cidadania (adaptado)
Quadro 22 - Proposta de Medidas a implementar pelos docentes para a concretização da
Educação para a cidadania no 1.º CEB
185
Maria Cândida Jardim
Temas
Título Descrição Destinatários
Par
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Con
sum
o
Edu
caçã
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Dire
itos
Hum
anos
Situ
açõe
s
de
defic
iênc
ia
Inte
rcul
tura
lidad
e
Saú
de
Disponível em:
“Educação Sexual no 1.º ciclo: guia para formadore
s e professore
s”
Manual de educação sexual no 1.º ciclo, baseados nos objectivos e conteúdos das Linhas Orientadoras da Educação sexual em Portugal. Inclui a relação entre pais, professores e a escola; a educação sexual na infância: objectivos, conteúdos e metodologias; exemplos de actividades e materiais pedagógicos.
- Actividades com discentes -1.º ciclo- Formação de docentes- Encarregados de Educação, Pais
x x x
APF – Associação para o Planeamento
da Família-apfportugal@ma
il.telepac.pt
“Ser +: programa
de desenvolvi
mento pessoal e social para crianças, jovens e adultos
portadores de
deficiência mental”
Este manual é um contributo para apoiar pais, professores, educadores e outros profissionais, nomeadamente os responsáveis das instituições que pretendam valorizar e investir, com efectividade, no desenvolvimento pessoal e social das crianças e jovens portadores de deficiência mental.
- Actividades com discentes- Formação de docentes- Encarregados de Educação e Pais x x x x x
APF – Associação para o Planeamento
da Família-apfportugal@ma
il.telepac.pt
“Despertar para a
igualdade: mais
desporto na escola”
Colecção de sugestões elaboradas por docentes de Educação Física explorando
- Actividades com discentes do ensino básico e secundário- Formação de docentes
x x
APMD - Associação Portuguesa Mulheres e Desporto-
“A Narrativa
na promoção
da Igualdade
de Género.
Contributos para a
educação pré-
escolar”
Caderno sobre co-educação destinado à integração da igualdade entre mulheres e homens na formação de profissionais de educação de infância com sugestões de actividades a desenvolver sobre a linguagem de e para as crianças.
- Actividades com discentes de Pré-Escolar e 1.º ciclo- Formação de docentes- Encarregados de Educação e Pais
x x
CIG- Comissão para a
Cidadania e Igualdade de
Género – [email protected]
“Educação Familiar:
estratégias para a
promoção da
igualdade de género”
Guia de boas práticas contendo um conjunto de sugestões de actuação não estereotipada do ponto de vista de género a ter em conta na família
- Todas as idades da infância ao fim da adolescência- Encarregados de Educação e Pais
x x
CIG- Comissão para a
Cidadania e Igualdade de
Género – [email protected]
“A minha sexualidad
e: dos 6 aos 9 anos”
A sexualidade relacionada com o corpo de rapaz e de rapariga, com os sentimentos e emoções, a auto-imagem e a imagem do outro, o sentido de responsabilidade. Conjunto de actividades vocacionadas para o 1.º ciclo.
- Actividades com discentes - 1.º ciclo - Formação de docentes
x x
APF – Associação para o Planeamento
da Família-apfportugal@ma
il.telepac.pt
186
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
“Jogo Lúdico-
Pedagógico «Vamos
Lá Famílias»
O jogo «Vamos lá famílias» é um jogo de mesa, constituído por 4 tabuleiros, cada um representando uma família-tipo e abordando situações do seu quotidiano. Os participantes têm que ultrapassar diversas provas que apelam à cooperação e à partilha. Este jogo pretende combater estereótipos e a existência de papeis sociais, que já não encontram correspondência na realidade.
- Actividades com discentes com idades superiores a 7 anos- Encarregados de Educação e Pais
x
Beira Serra- Associação de
Desenvolvimento Local
“Um convite a olhar e a
transformar o mundo”
Além de uma reflexão sobre o mundo em que vivemos, é proposto um conjunto de estratégias que pretendem transformar profundamente as atitudes, os programas, as práticas e promover novas alianças e parcerias, dentro e fora da escola, com o intuito de introduzir a Educação para a Cidadania Global na escola.
- Formação de docentes
“Kit Pedagógic
o Sem Fronteiras”
O Kit Pedagógico estimula e potencia atitudes positivas de reconhecimento e valorização da diferença, entre os mais novos. Constitui uma eficaz ferramenta de promoção de cidadania e interculturalidade, no processo educativo formal e informal.
- Actividades com discentes do 1.º ciclo (dos 6 aos 10 anos) x
Terras Dentro- associação para
o desenvolvimento
Integrado de Micro-Regiões
Ruraisatd@terrasdentr
o.pt
“Tiago, Tiaguito:
uma viagem
pelo Comércio
Justo”
Pequeno livro composto de duas partes. A primeira parte é uma história sobre um jovem que descobre o que é o Comércio Justo e que se junta com alguns amigos para promover e iniciar um Clube de Comércio Justo na sua escola. A segunda parte apresenta brevemente os princípios do comércio justo, os seus actores, a sua evolução e qual o nosso papel enquanto consumidores e cidadãos para um mundo mais justo
- Actividades com todos os discentes- Formação de docentes
x x x x [email protected]
“Era uma vez no
Planeta do Respeito
por Todos”
Pequena história de ficção científica que, recorrendo a um grafismo e linguagem próximos dos dois jogos de consola, pretende atrair as crianças para a importância, necessidade e vantagem de pertencer participando e participar contribuindo
- Actividades com discentes do ensino básico- Encarregados de Educação e Pais
n-financas.pt
Fonte: Ministério da Educação (s.d.): Fórum Educação para a Cidadania (adaptado)
Quadro 23- Materiais Pedagógicos para a concretização da Educação para a Cidadania no 1.ºciclo
187
Maria Cândida Jardim
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21 Listagem de sites
Centro de Formação de Professores de Oliveira de Azeméis: http://woc.esec.pt/21 Sites de instituições de ensino superior público e privado consultados para obtenção de informação acerca dos Planos de Estudo da Formação Inicial dos cursos de Licenciatura em 1.º ciclo do ensino básico; informação tratada no capítulo 1.
192
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Centro de Formação de Vagos: http://www.cf-vagos.rcts.pt/
Escola Superior de Educadores de Infância Maria Ulrich: http://www.eseimu.pt
ESE de Bragança: http://www.ese.ipb.pt/
ESE Almeida Garrett: http://www.eseag.pt/
ESE da Guarda: http://www.ipg.pt/ese/
ESE de Beja: http://www.eseb.ipbeja.pt/
ESE de Castelo Branco: http://www.ese.ipcb.pt/
ESE de Coimbra: https://www1.esec.pt/index.php
ESE de Fafe: http://www.iesfafe.pt
ESE de Leiria: http://www.esel.ipleiria.pt/
ESE de Lisboa: http://www.eselx.ipl.pt/
ESE de Portalegre: http://www.esep.pt/
ESE de Santarém: http://www.eses.pt/
ESE de Setúbal: http://www.si.ips.pt/ese_si/web_page.inicial
ESE de Viana do Castelo: http://www.ese.ipvc.pt/
ESE de Viseu: http://www.esev.ipv.pt/
ESE do Algarve: http://www.ese.ualg.pt/
ESE do Porto: http://www.ese.ipp.pt/
ESE Jean Piaget: http://www.ipiaget.org/
ESE João de Deus: http://www.ese-jdeus.edu.pt/
ESE Paula Frassinetti: http://www.esepf.pt/
Instituto de Defesa Nacional: http://www.idn.gov.pt/cidadania.htm
Instituto Superior de Educação e Ciências: http://www.isec.universitas.pt/
Instituto Superior de Ciências Educativas: http://www.pedago.pt/isce.htm
Universidade de Aveiro: http://www.ua.pt/guiaonline/
Universidade de Évora: http://www.uevora.pt/
Universidade de Tras-os-Montes e Alto Douro: http://www.utad.pt/
Universidade do Minho: http://www.uminho.pt/
Universidade dos Açores: http://www.uac.pt/
Legislação
193
Maria Cândida Jardim
Lei n.º 46/86 de 14 de Outubro
Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro
Decreto-lei n.º 42994/60 de 28 de Maio
Decreto-lei n.º 45810/64 de 9 de Julho
Decreto-lei n.º 47211/66, de 23 de Setembro
Decreto-lei n.º 47430/67, de 2 de Janeiro
Decreto-lei n.º 286/89 de 29 de Agosto
Decreto-lei n.º 6/01 de 18 de Janeiro
Despacho 142/ME/90 de 29 de Agosto
Despacho conjunto n.º 812/05 de 24 de Outubro
Despacho n.º 16.794/05 (2.ª série) de 3 de Agosto
Despacho n.º 29865/07, de 27 de Dezembro
Portaria n.º 22966/67 de 17 de Outubro
Despacho 23529/68, de 9 de Agosto
Anexos
*Programação da Área Curricular não disciplinar de FORMAÇÃO CÍVICA 2007/08
Conselho de Docentes 1.º ano
1.º Setembro Outubro Novembro Dezembro
194
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
pe
río
do
2.º
pe
río
do
Janeiro Fevereiro Março
3.º
pe
río
do
Abril Maio Junho
*A programação não contempla as áreas curriculares não disciplinares de Estudo
Acompanhado nem Formação Cívica
Programação da Área Curricular não disciplinar de FORMAÇÃO CÍVICA 2007/08
Conselho de Docentes 2.º ano
195
Maria Cândida Jardim
1.º
per
íod
oSetembro Outubro Novembro Dezembro
Educação para participação_ Respeito pelos outros_ Cooperação_ Responsabilização_ Liderança democrática(regulamento interno)
Educação para a saúde_ Higiene do corpo_ Higiene alimentar_ Alimentação racional
Educação para a saúde_ A saúde do seu corpo:Posturas correctas;Exercício físico; repouso_ Vigilância da saúde_ Tabaco, drogas, álcool - malefícios e normas de prevenção
Educação ambiental_ Consumo de resíduossólidos_ Responsabilização/intervenção individual e colectiva na preservação do ambiente
2.º
per
íod
o
Janeiro Fevereiro MarçoEducação para a participação cívica:Cantar os ReisRespeitar a diversidade
Educação ambiental:Reutilização de materiais de desperdícioResponsabilização
Educação ambiental:Preservação do ambienteReflectir e interagir
3.º
per
íod
o
Abril Maio JunhoA partilha de ideias, de culturas e de tradições
SolidariedadeCooperação
O respeito pela comunidade e pelo ambienteResponsabilização /intervenção individual e colectiva na preservação do Ambiente
Programação da Área Curricular não disciplinar de FORMAÇÃO CÍVICA 2007/08
Conselho de Docentes 3.º ano
1. º Setembro Outubro Novembro Dezembro
196
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
per
íod
o
Educação para
participação
Respeito pelos outrosCooperaçãoResponsabilizaçãoLiderança democrática
Educação para a saúde
Higiene do corpoHigiene alimentarAlimentação racional
Educação para a saúde
A saúde do seu corpo: posturas correctas; exercício físico; repousoVigilância da saúdeTabaco, drogas, álcool – malefícios e normas de prevenção
Educação
ambiental
Consumo de resíduos sólidos Responsabilização/intervenção individual e colectiva na preservação do ambiente
2.º
per
íod
o
Janeiro Fevereiro Março
Participação na vida da comunidade: conhecimento do meio local
Educação ambiental:
Debates de problemas e questões do mundo actual: a relação do Homem com os seres vivos.
Participação na vida da
Escola:
Campanhas internas à escola: participação, solidariedade.
3.º
per
íod
o
Abril Maio Junho
Educação AmbientalPromover o
respeito pela
Natureza
Colaborar para evitar incêndios nas florestas
Participação na vida da
Escola:
Campanhas internas à escola: participação, solidariedade.
Programação da Área Curricular não disciplinar de FORMAÇÃO CÍVICA 2007/08
197
Maria Cândida Jardim
Conselho de Docentes 4.º ano1.
º p
erío
do
Setembro Outubro Novembro Dezembro
Eu e os outros.Ser bem-educado é…na escola
Eu e os outrosSer bem educado…com a família
Eu e os outros.Ser bem educado…com os amigos Educação ambientalSeparação de resíduos sólidos
Eu e os outrosSer bem educado…em sociedadeEducação ambientalResponsabilização/intervenção individual
2.º
per
íod
o
Janeiro Fevereiro Março
Eu e os outros.Saber ouvir os outros.Saber argumentar
Eu e os outrosSer bem educado…com os outros, na comunidadeEducação ambientalResponsabilização/ intervenção individual
Eu e os outros.Ser bem educado…com os amigos Educação ambientalSeparação de resíduos sólidos Educação ambientalResponsabilização/intervenção colectiva
3.º
per
íod
o
Abril Maio Junho
Desenvolver competências necessárias ao desenvolvimento da cidadania Promover o desenvolvimento da auto-estima e de respeito mútuoSensibilizar e responsabilizar para os problemas ambientais
Desenvolver os valores da solidariedade e do respeito pela diferençaProporcionar momentos de reflexão sobre a vida da turma, da escola e da comunidadeCriar nos alunos uma consciência ambiental e cívica
Fomentar situações de diálogo e de reflexão sobre experiências vividas e preocupações sentidas pelos alunosCriar nos alunos uma consciência ambiental e cívica Partilhar experiências que levem a alterações de atitudes ligadas à protecção do ambiente
198
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
QUESTIONARIO AOS DOCENTES (que leccionaram 1.º, 2.º ou 3.º ano em 2007/2008)
Caro colega
O presente inquérito está a ser desenvolvido no âmbito do Curso de Mestrado em Ciências da Educação, na Universidade de Aveiro, que tem por tema “Educação para a cidadania no 1.º CEB.
A sua colaboração é indispensável para que os resultados possam apoiar as hipóteses. Por isso solicitamos a sua colaboração no preenchimento do questionário.
Agradecemos que responda a todas as questões de forma espontânea, na certeza que elas constituirão um contributo importante para a realização do nosso trabalho.
Reconhecidamente agradece,
Maria Cândida Pereira Neves Jardim
1. Identificação pessoal:
1.1. Idade:
Entre 20 e 30 anos □ Entre 31 e 40 anos □
Entre 41 e 50 anos □ Mais de 50 anos □
1.2. Sexo:
Masculino □ Feminino □
1.3. Habilitações literárias:
Bacharelato □ Licenciatura □ Mestrado □ Doutoramento □
1.4. Ano em que concluiu a formação inicial:
Antes de 1986 □ entre 1986 e 1990 □ depois de 2000 □
1.5. Tempo de serviço
menos 5 anos □ entre 5 e 10 anos □ entre 11 e 15 anos □ entre 16 e 20 anos □
entre 21 e 25 anos □ entre 26 e 30 anos □ mais de 30 anos □
1.6. Quadro a que pertence
contratado □ quadro de zona pedagógica □
quadro de Agrupamento □ quadro da Educação Especial □
199
Maria Cândida Jardim
2. Na sua opinião de quem deve ser a responsabilidade de educar para a cidadania no 1.º
CEB
Seleccione por ordem de prioridade (de 6 a 1) as opções que desejar, correspondendo 6, à escolha que considera mais importante.
a) Família b) Sociedade c) Comunicação social
d) Estado e) Escola g) Cada professor na sua turma
3. Registe 6 palavras que tem em conta quando pensa em educação para a cidadania.
1. 2. 3.
4. 5. 6.
4. O Conselho de Docentes , no ano lectivo 2007/2008, elaborou uma programação ao nível
da área curricular não disciplinar de Formação Cívica. Recorreu a essa programação?
a) Nunca b) Algumas vezes
c) Frequentemente d) Sempre
5. Se na questão anterior respondeu a) ou b), assinale o motivo que o justificou:
a) Os temas não eram adequados ao grupo turma b) Não tive tempo
c) Não achei necessária a programação desta área
d) Outro:……………………………………………………………………………………………………
6. Na sua opinião de quem deve ser a responsabilidade de educar para a cidadania dos 5 aos 11 anos.
200
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
Seleccione por ordem de prioridade (de 6 a 1) as opções que desejar , correspondendo 6, à escolha que considera mais importante.
a) Família b) Sociedade c) Comunicação social
d) Estado e) Escola g) Cada professor na sua turma
7. Quando toma conhecimento de um conflito que envolveu os seus alunos, qual a sua atitude?
a) Continuo a aula tal como estava programada e ultrapasso a situação porque terá sido resolvida.
b) Abordo a situação em questão com a turma mas não registo no livro «Registo diário das
actividades da turma 1.º ciclo».
c) Abordo a situação com a turma e registo no livro «Registo diário das actividades da turma
1.º ciclo»?
d) Se a sua atitude não se enquadra nas apresentadas, refira-a e explicite se regista a situação no livro «Registo diário das actividades da turma 1.º ciclo» e porquê?
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
Obrigada pela sua participação!
201
Maria Cândida Jardim
QUESTIONARIO AOS DOCENTES (que leccionaram o 4.º ano em 2007/2008)
Caro colega
O presente inquérito está a ser desenvolvido no âmbito do Curso de Mestrado em Ciências da Educação, na Universidade de Aveiro, que tem por tema “Educação para a cidadania no 1.º CEB.
A sua colaboração é indispensável para que os resultados possam apoiar as hipóteses. Por isso solicitamos a sua colaboração no preenchimento do questionário.
Agradecemos que responda a todas as questões de forma espontânea, na certeza que elas constituirão um contributo importante para a realização do nosso trabalho.
Reconhecidamente agradece,
Maria Cândida Pereira Neves Jardim
8. Identificação pessoal:
8.1. Idade:
Entre 20 e 30 anos □ Entre 31 e 40 anos □
Entre 41 e 50 anos □ Mais de 50 anos □
8.2. Sexo:
Masculino □ Feminino □
8.3. Habilitações literárias:
Bacharelato □ Licenciatura □ Mestrado □ Doutoramento □
8.4. Ano em que concluiu a formação inicial:
Antes de 1986 □ entre 1986 e 1990 □ depois de 2000 □
8.5. Tempo de serviço
menos 5 anos □ entre 5 e 10 anos □ entre 11 e 15 anos □ entre 16 e 20 anos □
entre 21 e 25 anos □ entre 26 e 30 anos □ mais de 30 anos □
8.6. Quadro a que pertence
contratado □ quadro de zona pedagógica □
quadro de Agrupamento □ quadro da Educação Especial □
202
Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
9. Na sua opinião de quem deve ser a responsabilidade de educar para a cidadania no 1.º
CEB
Seleccione por ordem de prioridade (de 6 a 1) as opções que desejar, correspondendo 6, à escolha que considera mais importante.
a) Família b) Sociedade c) Comunicação social
d) Estado e) Escola g) Cada professor na sua turma
10. Registe 6 palavras que tem em conta quando pensa em educação para a cidadania.
1. 2. 3.
4. 5. 6.
11. O Conselho de Docentes do 4.º ano, no ano lectivo 2007/2008, elaborou uma programação
ao nível da área curricular não disciplinar de Formação Cívica. Recorreu a essa
programação?
a) Nunca b) Algumas vezes
c) Frequentemente d) Sempre
12. Se na questão anterior respondeu a) ou b), assinale o motivo que o justificou:
a) Os temas não eram adequados ao grupo turma b) Não tive tempo
c) Não achei necessária a programação desta área d) Outro:……………..
13. Os manuais escolares do 4.º ano, utilizados no Agrupamento, sugerem temas no âmbito da
Educação para a cidadania, para serem trabalhados na área de Formação Cívica. Utilizou essas
sugestões?
a) Nunca b) Algumas vezes
c) Frequentemente d) Sempre
14. Na sua opinião de quem deve ser a responsabilidade de educar para a cidadania dos 5 aos 11 anos.
Seleccione por ordem de prioridade (de 6 a 1) as opções que desejar , correspondendo 6, à escolha que
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Maria Cândida Jardim
considera mais importante.
a) Família b) Sociedade c) Comunicação social
d) Estado e) Escola g) Cada professor na sua turma
15. Quando toma conhecimento de um conflito que envolveu os seus alunos, qual a sua atitude?
d) Continuo a aula tal como estava programada e ultrapasso a situação porque terá sido resolvida.
e) Abordo a situação em questão com a turma mas não registo no livro «Registo diário das
actividades da turma 1.º ciclo».
f) Abordo a situação com a turma e registo no livro «Registo diário das actividades da turma
1.º ciclo»?
d) Se a sua atitude não se enquadra nas apresentadas, refira-a e explicite se regista a situação no livro «Registo diário das actividades da turma 1.º ciclo» e porquê?
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Obrigada pela sua participação!
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Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
1989-08-29: Decreto-lei 286/89-08-29 (DR., 1.ª, p. 3638) aprova os planos curriculares
dos ensinos básico e secundário. [Parecer 6/89-04-19 do CNE]
DECRETO-LEI 286/89 — A Lei 46/86-10-14 (LBSE) estabelece o quadro de referência da reforma do sistema educativo, decorrendo a definição dos planos curriculares dos ensinos básico e secundário, prevista no art. 59.º da mesma lei, dos objectivos educacionais nela consignados. — Tomando em consideração o conjunto das propostas apresentadas pela Comissão de Reforma do Sistema Educativo e o contributo resultante do debate nacional que suscitaram, bem como o parecer que sobre elas produziu o Conselho Nacional de Educação, pelo presente diploma, o Governo procede à definição dos planos curriculares dos ensinos básico e secundário. — A estrutura curricular agora aprovada procura responder ao complexo de exigências que, tanto no plano nacional como no plano internacional, se colocam ao nosso sistema educativo: a construção de um projecto de sociedade que, preservando a identidade nacional, assuma o desafio da modernização resultante da integração de Portugal na Comunidade Europeia. — Neste sentido se decidem as opções que fundamentam a organização curricular dos ensinos básico e secundário: valoriza-se o ensino da língua portuguesa, como matriz de identidade e como suporte de aquisições múltiplas; é criada uma área de formação pessoal e social; procura-se imprimir ao currículo uma perspectiva interdisciplinar; define-se o conceito de avaliação numa óptica formativa e favorecedora da confiança própria e reforçam-se as estruturas de apoio educativo com a intenção de equilibrar a diversidade de ritmos e capacidades; incentiva-se a iniciativa local mediante a disponibilização de margens de autonomia curricular na elaboração de projectos multidisciplinares e no estabelecimento de parcerias escola-instituições comunitárias. — Finalmente, organizam-se as várias componentes curriculares nas suas dimensões humanísticas, artísticas, científica, tecnológica, física e desportiva, visando a formação integral do educando e a sua capacitação tanto para a vida activa quanto para a prossecução dos estudos. — Assim: — No desenvolvimento do regime jurídico estabelecido pela al. e) do art. 59.º da Lei 46/86-10-14 e nos termos da al. c) do n.º 1 do art. 201.º da Constituição, o Governo decreta o seguinte: — • — CAPÍTULO I: PRINCÍPIOS GERAIS — ARTIGO 1.º : ÂMBITO — O presente diploma estabelece os princípios gerais que ordenam a reestruturação curricular prevista na al. e) do n.º 1 do art. 59.º da LBSE. — ARTIGO 2.º : CONCEITOS GERAIS — 1. Para efeitos de enquadramento temporal do funcionamento dos ensinos básico e secundário, o conceito de ano escolar corresponde ao período compreendido entre os dias 1 de setembro de cada ano e 31 de agosto do ano seguinte, enquanto que o conceito de ano lectivo corresponde a um mínimo de 180 dias efectivos de actividades escolares. — 2. O ano lectivo organiza-se na base de um horário semanal distribuído equilibradamente pelos períodos da manhã e da tarde. — 3. O Ministro da Educação estabelecerá em despacho o programa de cumprimento progressivo do disposto nos números anteriores. — ARTIGO 3.º : EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR — 1. Deverá ser garantida a possibilidade a todos os pais que o requererem de inscrever os seus filhos num programa de educação pré-escolar, em instituições públicas ou privadas, pelo menos no ano anterior ao 1.º ano de escolaridade, com vista a promover o sucesso na educação escolar. — 2. Por iniciativa do Ministro da Educação será publicado em diploma apropriado um plano de expansão da oferta da educação pré-escolar, estabelecendo os prazos do cumprimento do estabelecido no número anterior, as condições da sua concretização, o âmbito de responsabilidade dos vários intervenientes, bem como os normativos gerais de carácter técnico-pedagógico. — CAPÍTULO II: ORGANIZAÇÃO CURRICULAR — ARTIGO 4.º : PLANOS CURRICULARES — 1. São aprovados os planos curriculares dos 1.º , 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, que constam, respectivamente, dos mapas n.º 1, 2 e 3 anexos ao presente diploma. — 2. É aprovado o plano curricular do ensino secundário, que consta dos mapas n.º 4, 5, 6 e 7 anexos ao presente diploma. — ARTIGO 5.º : LÍNGUAS ESTRANGEIRAS — 1. No 1.º ciclo do ensino básico podem as escolas, de acordo com os recursos disponíveis, proporcionar a iniciação de uma língua estrangeira, na sua realização oral e num contexto lúdico. — 2. No 2.º ciclo do ensino básico inicia-se a aprendizagem de uma língua estrangeira curricular. — 3. No 3.º ciclo do ensino básico, todas as escolas proporcionarão aos alunos a oportunidade da iniciação a uma segunda língua estrangeira curricular. — 4. No ensino secundário, é obrigatória a inscrição numa segunda língua estrangeira curricular quando, no
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Maria Cândida Jardim
ensino básico, tiver sido estudada apenas uma única língua estrangeira curricular. — ARTIGO 6.º : ÁREA ESCOLA — 1. Os planos curriculares dos ensinos básico e secundário compreendem uma área curricular não disciplinar com a duração anual de 95 a 110 horas, competindo à escola ou à área escolar decidir a respectiva distribuição, conteúdo e coordenação. — 2. São objectivos da área curricular não disciplinar a concretização dos saberes através de actividades e projectos multidisciplinares, a articulação entre a escola e o meio e a formação pessoal e social dos alunos. — 3. Numa primeira fase, a área referida no número anterior será organizada de acordo com a redução correspondente de horas lectivas das disciplinas envolvidas em cada projecto. — 4. Numa segunda fase e na medida do possível, a área curricular não disciplinar passará a dispor de créditos horários próprios, para além das horas lectivas das várias disciplinas. — 5. O Ministro da Educação estabelecerá em despacho o plano de concretização desta área, o qual incluirá a determinação de responsabilidades e iniciativa, bem como sugestões de metodologias e actividades. — ARTIGO 7.º : FORMAÇÃO PESSOAL E SOCIAL — 1. Todas as componentes curriculares dos ensinos básico e secundário devem contribuir de forma sistemática para a formação pessoal e social dos educandos, favorecendo, de acordo com as várias fases de desenvolvimento, a aquisição do espírito crítico e a interiorização de valores espirituais, estéticos, morais e cívicos. — 2. Sem prejuízo do disposto no n.º 4 do presente artigo, é criada, para todos os alunos dos ensinos básico e secundário, a disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social, onde se concretizam de modo especial as matérias enunciadas no n.º 2 do art. 47.º da LBSE. — 3. No 3.º ciclo do ensino básico, a área Escola inclui obrigatoriamente um programa de educação cívica para a participação nas instituições democráticas, cujos conteúdos, depois de submetidos ao parecer do Conselho Nacional de Educação, serão aprovados por despacho do Ministro da Educação, devendo a avaliação do aluno nesta matéria ser considerada para a atribuição do diploma da escolaridade básica. — 4. Em alternativa à disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social, os alunos poderão optar pela disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica ou de outras confissões. — 5. É obrigatória a frequência de uma das disciplinas referidas no número anterior. — 6. O Ministro da Educação estabelecerá, em despacho, o conjunto de conteúdos programáticos referentes à disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social, bem como o modelo de formação dos docentes encarregados da sua leccionação. — 7. A disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social será proporcionada pelas escolas à medida que o sistema dispuser de docentes para tal habilitados. — ARTIGO 8.º : ACTIVIDADES DE COMPLEMENTO CURRICULAR — 1. Para além das actividades curriculares, os estabelecimentos de ensino organizarão actividades de complemento curricular, de carácter facultativo e natureza eminentemente lúdica e cultural, visando a utilização criativa e formativa dos tempos livres dos educandos. — 2. Entre as actividades mencionadas no número anterior integra-se o desporto escolar, o qual deve ser tornado gradualmente acessível a todos os alunos dos vários ciclos de ensino. — ARTIGO 9.º : FORMAÇÕES TRANSDISCIPLINARES — 1. Constituem formações transdisciplinares a formação pessoal e social, nos termos constantes do art. 7.º , a valorização da dimensão humana do trabalho e o domínio da língua materna. — 2. A valorização da dimensão humana do trabalho constitui um objectivo dos ensinos básico e secundário que deve ser progressivamente concretizado através de todas as componentes curriculares, de acordo com o desenvolvimento e o nível etário dos alunos, levando-os à identificação dos seus interesses e aptidões e ao desenvolvimento de competências gerais de empregabilidade. — 3. Todas as componentes curriculares dos ensinos básico e secundário intervêm no ensino-aprendizagem da língua materna, devendo contribuir para o desenvolvimento das capacidades do aluno ao nível da compreensão e produção de enunciados orais e escritos em português. — ARTIGO 10.º : AVALIAÇÃO — 1. O regime de avaliação dos alunos é organizado de forma a garantir o controlo da qualidade do ensino. — 2. O regime de avaliação dos alunos deve estimular o sucesso educativo de todos os alunos, favorecer a confiança própria e contemplar os vários ritmos de desenvolvimento e progressão. — 3. O sistema de avaliação dos ensinos básico e secundário será regulamentado em despacho do Ministro da Educação. — CAPÍTULO III: APOIOS E RECURSOS EDUCATIVOS — ARTIGO 11.º : APOIO PSICOLÓGICO E ORIENTAÇÃO ESCOLAR E PROFISSIONAL — O acompanhamento do aluno, individual ou em grupo, ao longo do processo educativo, bem como o apoio no processo de escolha do seu projecto de vida é garantido pelos serviços de psicologia e orientação escolar. — ARTIGO 12.º : RECURSOS EDUCATIVOS — 1. Para a realização da reforma curricular, as escolas devem dispor dos recursos educativos necessários, nomeadamente materiais de apoio escrito e audiovisual, bibliotecas, laboratórios, oficinas e meios informáticos, bem como de espaços e materiais para as
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Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
actividades lúdicas, incluindo o desporto escolar. — 2. Os recursos educativos mencionados no número anterior devem estar distribuídos de tal forma que todos os alunos a eles tenham acesso periódico. — 3. Os recursos educativos concentram-se em centros de recursos, de forma a racionalizar a sua utilização pelas escolas. — 4. O Ministro da Educação promoverá a publicação dos normativos que definam o pro-cesso de distribuição dos recursos educativos, os padrões mínimos de qualidade e quantidade, os prazos e os programas de aquisição. — CAPÍTULO IV: ORGANIZAÇÃO DOS GRUPOS DE DOCÊNCIA — ARTIGO 13.º : REESTRUTURAÇÃO DOS GRUPOS DE DOCÊNCIA — 1. Em acordo com os princípios definidos na LBSE e com as necessidades decorrentes dos novos planos curriculares, o Ministro da Educação definirá por despacho os grupos e respectivas qualificações para a docência nos ensinos básico e secundário. — 2. Os cursos específicos de formação inicial de professores dos ensinos básico e secundário devem ser organizados de acordo com as qualificações definidas para a docência nos termos do número anterior e em conformidade com o art. 31.º da LBSE. — 3. O regime de transição para os novos quadros de docên-cia constará de disposições regulamentares a publicar pelo Ministro da Educação. — 4. Embora não podendo os professores em exercício ser afectados nos direitos adquiridos, as novas necessidades do sistema determinam a sua participação em acções de formação contínua que visem não só o comple-mento, aprofundamento e actualização de conhecimentos e de competências profissionais, como tam-bém operações de mobilidade e de reconversão profissional. — CAPÍTULO V: APLICAÇÃO EXPERIMENTAL DOS PLANOS CURRICULARES — ARTIGO 14.º : DESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA — 1. A aplicação dos pla-nos curriculares referidos no artigo anterior é feita em regime de experiência pedagógica, cujo processo de desenvolvimento obedecerá aos limites temporais e demais condições organizativas a estabelecer em portaria do Ministro da Educação. — 2. A experiência referida no número anterior: a) Iniciar-se-á pelo 1.º ano do 1.º ciclo do ensino básico, no ano lectivo de 1989-1990, e desenvolver-se-á, gradativamente, pelos anos seguintes, de acordo com programação que procurará compatibilizar as exigências pedagógi-cas com a disponibilidade de recursos, no sentido da sua eficácia educativa; b) Desenvolver-se-á de acordo com uma rede escolar de amostragem, a qual se fundamentará em critérios que traduzam a rea-lidade escolar existente e abrangerá estabelecimentos do ensino oficial e do ensino particular e coopera-tivo, no continente e nas regiões autónomas, mesmo que não dependentes do Ministério da Educação. — 3. Para efeitos de execução e aplicação experimental dos planos curriculares a que se refere o presente diploma, serão aprovados, por despacho do Ministro da Educação, os respectivos conteúdos programáti-cos, os quais vigorarão pelo período em que decorrer a experiência. — 4. Para o acompanhamento da experiência, poderá o Ministro da Educação criar por portaria um conselho de acompanhamento da reforma curricular, constituído por representantes dos vários parceiros sociais e profissionais com interesse na qualidade e conteúdo dos currículos. — CAPÍTULO VI: DISPOSIÇÕES FINAIS — ARTIGO 15.º : ENCARGOS — Os encargos resultantes da execução do presente diploma serão suportados por verbas inscritas ou a inscrever no orçamento do Instituto de Inovação Educacional expressamente destinadas ao desenvolvimento da reforma educativa. — ARTIGO 16.º — O disposto no n.º 5 do art. 7.º é aplicável à medida que se efective o preceituado no n.º 7 da mesma disposição legal. — Visto e aprovado em Con-selho de Ministros de 1989-06-01. — Aníbal António Cavaco Silva — Miguel José Ribeiro Cadilhe — Roberto Artur da Luz Carneiro. — Promulgado em 1989-08-05. — Publique-se. — O Presidente da República, MÁRIO SOARES. — Referendado em 1989-08-09. — Pelo Primeiro-Ministro, Eurico Silva Tei-xeira de Melo, Vice-Primeiro-Ministro.
MAPA N.º 1: PLANO CURRICULAR DO 1.º CICLO DO ENSINO BÁSICO — (a carga curricular mínima deste ciclo é de 25 horas) — MAPA N.º 2: PLANO CURRICULAR DO 2.º CICLO DO ENSINO BÁSICO — MAPA N.º 3: PLANO CURRICULAR DO 3.º CICLO DO ENSINO BÁSICO — MAPA N.º 4: ESTRUTURA GLOBAL DO ENSINO SECUNDÁRIO (distribuição horárias) — MAPA N.º 5: COMPONENTE DE FORMAÇÃO GERAL — MAPA N.º 6: COMPONENTE DE FORMAÇÃO ESPECÍFICA — MAPA N.º 7: COMPONENTE DE FORMAÇÃO TÉCNICA — A formação técnica poderá consistir: 1) na frequência de um curso estruturado num domínio específico de actividade ou 2) na frequência de disciplinas de índole técnica em domínios restritos de actividade. Em qualquer caso, a formação ministrada deverá visar essencialmente a obtenção de valên-cias e capacidades que permitam a futura inserção num conjunto alargado de sectores e actividades pro-fissionais. — A lista de cursos e disciplinas apresenta neste quadro tem um carácter indicativo (n.º 5 do art. 47.º da LBSE) e deve ser entendida como uma base sobre a qual as escolas deverão
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Maria Cândida Jardim
trabalhar a fim de prepararem as suas propostas de formação técnica a incluir nos currículos. — CURSOS (>1000 horas totais): — Aplicação de Informática — Artes Gráficas — Burótica — Contabilidade — Design Industrial — Documentalismo — Electricidade Industrial — Electromecânica — Electrónica — Mecânica — Relações Públicas — Secretariado — Técnicas de Agro-pecuária — Técnicas Comerciais — Técnicas de Laboratório — Técnicas de Fabricação Têxtil — Técnicas de Cerâmica e Vidro — Tradução e Interpretação — DISCI-PLINAS INDIVIDUAIS: — Dactilografia e Processamento de Texto — Desenho Técnico — Electrónica — Informática — Língua: Francês, Inglês, Alemão (sentido comercial) — Noções de Comércio.
Decreto-Lei n.º 6/2001
de 18 de Janeiro
O Programa do Governo assume como objectivo estratégico a garantia de uma educação de base para todos, entendendo-a como início de um processo de educação e formação ao longo da vida, objectivo que implica conceder uma particular atenção às situações de exclusão e desenvolver um trabalho de clarificação de exigências quanto às aprendizagens cruciais e aos modos como as mesmas se processam. De entre as medidas identificados para a concretização do objectivo referido assume especial relevância a que se refere à necessidade de proceder a uma reorganização do currículo do ensino básico, no sentido de reforçar a articulação entre os três ciclos que o compõem, quer no plano curricular quer na organização de processos de acompanhamento e indução que assegurem, sem perda das respectivas identidades e objectivos, uma maior qualidade das aprendizagens. Nesta reorganização assume particular relevo a consagração no currículo de três novas áreas curriculares não disciplinares, bem como a obrigatoriedade do ensino experimental das ciências, o aprofundamento da aprendizagem das línguas modernas, o desenvolvimento da educação artística e da educação para a cidadania e o reforço do núcleo central do currículo nos domínios da língua materna e da matemática. A preparação desta intervenção legislativa de política educativa foi objecto de um longo e continuado trabalho com as escolas e com as comunidades educativas, de que se destaca o lançamento, no ano lectivo de 1996-1997, do projecto de reflexão participada sobre os currículos do ensino básico. Realizado o diagnóstico, foram de imediato lançadas medidas de combate à exclusão no âmbito do ensino básico, nomeadamente os currículos alternativos, a constituição de territórios educativos de intervenção prioritária e os cursos de educação e formação profissional inicial. Paralelamente, foram lançadas outras medidas com impacte directo na qualidade das aprendizagens e na vida das escolas, designadamente o Programa de Expansão e Desenvolvimento da Educação Pré-Escolar, concebido como primeira etapa da educação básica, e o novo regime de autonomia, administração e gestão das escolas, o qual, de forma inovatória, assumiu como condição estrutural a plena inclusão do 1.º ciclo. De todo este processo foi emergindo a necessidade de ultrapassar uma visão de currículo como um conjunto de normas a cumprir de modo supostamente uniforme em todas as salas de aula e de ser apoiado, no contexto da crescente autonomia das escolas, o desenvolvimento de novas práticas de gestão curricular. Neste sentido, ensaiando as potencialidades de um novo desenho curricular, as escolas foram convidadas a apresentar projectos de gestão flexível do currículo. As escolas envolvidas neste projecto têm vindo a construir processos de gestão curricular no quadro de uma flexibilidade que procura encontrar respostas adequadas aos alunos e aos contextos concretos em que os professores trabalham diariamente. Tais projectos têm considerado como pressuposto fundamental a assunção pelas escolas de uma maior capacidade de decisão relativamente ao desenvolvimento e gestão das diversas componentes do currículo e a uma maior articulação entre elas, bem como um acréscimo de responsabilidade na organização das ofertas educativas. O Documento Orientador das Políticas para o Ensino Básico, publicado pelo Ministério da Educação em 1998, sintetizou os aspectos a considerar na reorganização curricular do ensino
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Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
básico, sublinhando que a escola precisa de se assumir como um espaço privilegiado de educação para a cidadania e de integrar e articular, na sua oferta curricular, experiências de aprendizagem diversificadas, nomeadamente mais espaços de efectivo envolvimento dos alunos e actividades de apoio ao estudo. Em consonância com estas perspectivas e como resultado da reflexão e dos debates realizados, assim como da experiência adquirida, importa reequacionar a organização curricular do ensino básico. O presente decreto-lei estabelece os princípios orientadores da organização e da gestão curricular do ensino básico, bem como da avaliação das aprendizagens e do processo de desenvolvimento do currículo nacional, entendido como o conjunto de aprendizagens e competências, integrando os conhecimentos, as capacidades, as atitudes e os valores, a desenvolver pelos alunos ao longo do ensino básico, de acordo com os objectivos consagrados na Lei de Bases do Sistema Educativo para este nível de ensino. No quadro do desenvolvimento da autonomia das escolas estabelece-se que as estratégias de desenvolvimento do currículo nacional, visando adequá-lo ao contexto de cada escola, deverão ser objecto de um projecto curricular de escola, concebido, aprovado e avaliado pelos respectivos órgãos de administração e gestão, o qual deverá ser desenvolvido, em função do contexto de cada turma, num projecto curricular de turma, concebido, aprovado e avaliado pelo professor titular de turma ou pelo conselho de turma, consoante os ciclos. O diploma define os princípios orientadores a que deve obedecer a organização e gestão do currículo, nomeadamente a coerência e sequencialidade entre os três ciclos do ensino básico e a articulação destes com o ensino secundário, a integração do currículo e da avaliação, assegurando que esta constitua o elemento regulador do ensino e da aprendizagem e a existência de áreas curriculares disciplinares e não disciplinares, visando a realização de aprendizagens significativas e a formação integral dos alunos, através da articulação e da contextualização dos saberes, e estabelece os parâmetros a que deve obedecer a organização do ano escolar. No âmbito da organização curricular do ensino básico, para além das áreas curriculares disciplinares, o diploma determina a criação de três áreas curriculares não disciplinares - área de projecto, estudo acompanhado e formação cívica. O diploma consagra a educação para a cidadania, o domínio da língua portuguesa e a valorização da dimensão humana do trabalho, bem como a utilização das tecnologias de informação e comunicação como formações transdisciplinares, no âmbito do ensino básico, abordando de forma integrada a diversificação das ofertas educativas, tomando em consideração as necessidades dos alunos, definindo um quadro flexível para o desenvolvimento de actividades de enriquecimento do currículo. Especial relevância assumem as disposições relativas à avaliação das aprendizagens, entendida como um processo regulador das aprendizagens, orientador do percurso escolar e certificador das diversas aquisições realizadas pelos alunos ao longo do ensino básico, bem como à avaliação do desenvolvimento do currículo nacional.
Foi ouvido o Conselho Nacional de Educação. Foram ouvidos os órgãos de governo próprio das Regiões Autónomas. Foram observados os procedimentos decorrentes da Lei n.º 23/98, de 26 de Maio. Assim: No desenvolvimento do regime jurídico estabelecido na alínea e) do n.º 1 do artigo 59.º da Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro, na redacção que lhe foi dada pela Lei n.º 115/97, de 19 de Setembro, e nos termos da alínea c) do n.º 1 do artigo 198.º da Constituição, o Governo decreta o seguinte:
CAPÍTULO IPrincípios gerais
Artigo 1.ºObjecto e âmbito
1 - O presente diploma estabelece os princípios orientadores da organização e da gestão
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Maria Cândida Jardim
curricular do ensino básico, bem como da avaliação das aprendizagens e do processo de desenvolvimento do currículo nacional. 2 - Os princípios orientadores definidos no presente diploma aplicam-se às demais ofertas formativas relativas ao ensino básico, no âmbito do sistema educativo.
Artigo 2.ºCurrículo
1 - Para efeitos do disposto no presente diploma, entende-se por currículo nacional o conjunto de aprendizagens e competências a desenvolver pelos alunos ao longo do ensino básico, de acordo com os objectivos consagrados na Lei de Bases do Sistema Educativo para este nível de ensino, expresso em orientações aprovadas pelo Ministro da Educação, tomando por referência os desenhos curriculares anexos ao presente decreto-lei. 2 - As orientações a que se refere o número anterior definem ainda o conjunto de competências consideradas essenciais e estruturantes no âmbito do desenvolvimento do currículo nacional, para cada um dos ciclos do ensino básico, o perfil de competências terminais deste nível de ensino, bem como os tipos de experiências educativas que devem ser proporcionadas a todos os alunos. 3 - As estratégias de desenvolvimento do currículo nacional, visando adequá-lo ao contexto de cada escola, são objecto de um projecto curricular de escola, concebido, aprovado e avaliado pelos respectivos órgãos de administração e gestão. 4 - As estratégias de concretização e desenvolvimento do currículo nacional e do projecto curricular de escola, visando adequá-los ao contexto de cada turma, são objecto de um projecto curricular de turma, concebido, aprovado e avaliado pelo professor titular de turma, em articulação com o conselho de docentes, ou pelo conselho de turma, consoante os ciclos.
Artigo 3.ºPrincípios orientadores
A organização e a gestão do currículo subordinam-se aos seguintes princípios orientadores:
a) Coerência e sequencialidade entre os três ciclos do ensino básico e articulação destes com o ensino secundário;
b) Integração do currículo e da avaliação, assegurando que esta constitua o elemento regulador do ensino e da aprendizagem;
c) Existência de áreas curriculares disciplinares e não disciplinares, visando a realização de aprendizagens significativas e a formação integral dos alunos, através da articulação e da contextualização dos saberes;
d) Integração, com carácter transversal, da educação para a cidadania em todas as áreas curriculares;
e) Valorização das aprendizagens experimentais nas diferentes áreas e disciplinas, em particular, e com carácter obrigatório, no ensino das ciências, promovendo a integração das dimensões teórica e prática;
f) Racionalização da carga horária lectiva semanal dos alunos;
g) Reconhecimento da autonomia da escola no sentido da definição de um projecto de desenvolvimento do currículo adequado ao seu contexto e integrado no respectivo projecto educativo;
h Valorização da diversidade de metodologias e estratégias de ensino e actividades de aprendizagem, em particular com recurso a tecnologias de informação e comunicação, visando
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Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
favorecer o desenvolvimento de competências numa perspectiva de formação ao longo da vida;
i) Diversidade de ofertas educativas, tomando em consideração as necessidades dos alunos, por forma a assegurar que todos possam desenvolver as competências essenciais e estruturantes definidas para cada um dos ciclos e concluir a escolaridade obrigatória.
Artigo 4.ºOrganização do ano escolar
1 - O ano escolar é entendido como o período compreendido entre o dia 1 de Setembro de cada ano e o dia 31 de Agosto do ano seguinte. 2 - O ano lectivo corresponde a um mínimo de 180 dias efectivos de actividades escolares. 3 - O calendário escolar anual é definido por despacho do Ministro da Educação, ouvidos os parceiros educativos.
CAPÍTULO IIOrganização e gestão do currículo nacional
Artigo 5.ºOrganização
1 - São aprovados os desenhos curriculares dos 1.º, 2.º e 3.º ciclos do ensino básico constantes dos anexos I, II e III ao presente diploma e do qual fazem parte integrante. 2 - Os desenhos curriculares dos três ciclos do ensino básico integram áreas curriculares disciplinares e não disciplinares, bem como, nos 2.º e 3.º ciclos, a carga horária semanal de cada uma delas. 3 - Para efeito do número anterior, consideram-se as seguintes áreas curriculares não disciplinares:
a) Área de projecto, visando a concepção, realização e avaliação de projectos, através da articulação de saberes de diversas áreas curriculares, em torno de problemas ou temas de pesquisa ou de intervenção, de acordo com as necessidades e os interesses dos alunos;
b) Estudo acompanhado, visando a aquisição de competências que permitam a apropriação pelos alunos de métodos de estudo e de trabalho e proporcionem o desenvolvimento de atitudes e de capacidades que favoreçam uma cada vez maior autonomia na realização das aprendizagens;
c) Formação cívica, espaço privilegiado para o desenvolvimento da educação para a cidadania, visando o desenvolvimento da consciência cívica dos alunos como elemento fundamental no processo de formação de cidadãos responsáveis, críticos, activos e intervenientes, com recurso, nomeadamente, ao intercâmbio de experiências vividas pelos alunos e à sua participação, individual e colectiva, na vida da turma, da escola e da comunidade.
4 - O desenvolvimento das áreas curriculares não disciplinares assume especificidades próprias, de acordo com as características de cada ciclo, sendo da responsabilidade do professor titular de turma, no caso do 1.º ciclo, e do conselho de turma, no caso dos 2.º e 3.º ciclos. 5 - As escolas, no âmbito da sua autonomia, devem desenvolver outros projectos e actividades que contribuam para a formação pessoal e social dos alunos, nas quais se inclui, nos termos da Constituição e da lei, a Educação Moral e Religiosa, de frequência facultativa. 6 - As orientações para as diversas áreas curriculares dos três ciclos do ensino básico, incluindo os conteúdos programáticos das áreas disciplinares, são homologadas por despacho do Ministro da Educação. 7 - No respeito pelos limites constantes dos desenhos curriculares a que se refere o n.º 1 do presente artigo, compete à escola, no desenvolvimento da sua autonomia e no âmbito do seu projecto curricular, definir as cargas horárias a atribuir às diversas componentes do currículo.
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Artigo 6.ºFormações transdisciplinares
1 - A educação para a cidadania bem como a valorização da língua portuguesa e da dimensão humana do trabalho constituem formações transdisciplinares, no âmbito do ensino básico. 2 - Constitui ainda formação transdisciplinar de carácter instrumental a utilização das tecnologias de informação e comunicação, a qual deverá conduzir, no âmbito da escolaridade obrigatória, a uma certificação da aquisição das competências básicas neste domínio.
Artigo 7.ºLínguas estrangeiras
1 - As escolas do 1.º ciclo podem, de acordo com os recursos disponíveis, proporcionar a iniciação a uma língua estrangeira, com ênfase na sua expressão oral. 2 - A aprendizagem de uma língua estrangeira inicia-se obrigatoriamente no 2.º ciclo e prolonga-se no 3.º ciclo, de modo a proporcionar aos alunos o domínio da língua num crescendo de adequação e fluência. 3 - A aprendizagem de uma segunda língua estrangeira é obrigatória no 3.º ciclo.
Artigo 8.ºLíngua portuguesa como segunda língua
As escolas devem proporcionar actividades curriculares específicas para a aprendizagem da língua portuguesa como segunda língua aos alunos cuja língua materna não seja o português.
Artigo 9.ºActividades de enriquecimento do currículo
As escolas, no desenvolvimento do seu projecto educativo, devem proporcionar aos alunos actividades de enriquecimento do currículo, de carácter facultativo e de natureza eminentemente lúdica e cultural, incidindo, nomeadamente, nos domínios desportivo, artístico, científico e tecnológico, de ligação da escola com o meio, de solidariedade e voluntariado e da dimensão europeia na educação.
Artigo 10.ºEducação especial
1 - Aos alunos com necessidades educativas especiais de carácter permanente é oferecida a modalidade de educação especial. 2 - Para efeitos do presente diploma, consideram-se alunos com necessidades educativas especiais de carácter permanente os alunos que apresentem incapacidade ou incapacidades que se reflictam numa ou mais áreas de realização de aprendizagens, resultantes de deficiências de ordem sensorial, motora ou mental, de perturbações da fala e da linguagem, de perturbações graves da personalidade ou do comportamento ou graves problemas de saúde. 3 - O disposto nos números anteriores é objecto de regulamentação própria.
Artigo 11.ºDiversificação das ofertas curriculares
1 - Visando assegurar o cumprimento da escolaridade obrigatória e combater a exclusão, as escolas dispõem de dispositivos de organização e gestão do currículo, destinados especialmente a alunos que revelem insucesso escolar repetido ou problemas de integração na comunidade educativa, os quais, para além da formação escolar, podem conferir um certificado de qualificação profissional. 2 - Compete às escolas, no desenvolvimento da sua autonomia e no âmbito do seu projecto educativo, conceber, propor e gerir outras medidas específicas de diversificação da oferta
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Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
curricular. 3 - As orientações relativas à diversificação das ofertas curriculares constam de despacho do Ministro da Educação ou de despacho conjunto dos Ministros da Educação e do Trabalho e da Solidariedade quando, para além da certificação escolar, confiram um certificado de qualificação profissional.
CAPÍTULO IIIAvaliação
Artigo 12.ºAvaliação das aprendizagens
1 - A avaliação constitui um processo regulador das aprendizagens, orientador do percurso escolar e certificador das diversas aquisições realizadas pelo aluno ao longo do ensino básico. 2 - Na avaliação das aprendizagens dos alunos intervêm todos os professores envolvidos, assumindo particular responsabilidade neste processo o professor titular de turma, no 1.º ciclo, e os professores que integram o conselho de turma, nos 2.º e 3.º ciclos. 3 - A escola deve assegurar a participação dos alunos e dos pais e encarregados de educação no processo de avaliação das aprendizagens, em condições a estabelecer no respectivo regulamento interno. 4 - Podem, ainda, ter intervenção no processo de avaliação das aprendizagens dos alunos os serviços especializados de apoio educativo, os órgãos de administração e gestão da escola ou do agrupamento de escolas, bem como outras entidades, nomeadamente serviços centrais e regionais da administração da educação, de acordo com o disposto na lei e no regulamento interno da escola. 5 - No âmbito da sua autonomia, compete à escola, em articulação com os serviços centrais e regionais da administração da educação, desenvolver e divulgar instrumentos de informação para os alunos, pais e encarregados de educação e demais elementos da comunidade educativa. 6 - As medidas de desenvolvimento do disposto no presente diploma em matéria de avaliação das aprendizagens dos alunos são aprovadas por despacho do Ministro da Educação.
Artigo 13.ºModalidades
1 - A avaliação das aprendizagens compreende as modalidades de avaliação diagnóstica, de avaliação formativa e de avaliação sumativa. 2 - A avaliação diagnóstica realiza-se no início de cada ano de escolaridade, devendo articular-se com estratégias de diferenciação pedagógica, de superação de eventuais dificuldades dos alunos, de facilitação da sua integração escolar e de apoio à orientação escolar e vocacional. 3 - A avaliação formativa assume carácter contínuo e sistemático, recorre a uma variedade de instrumentos de recolha de informação, adequados à diversidade das aprendizagens e aos contextos em que ocorrem, tendo como uma das funções principais a regulação do ensino e da aprendizagem. 4 - A avaliação sumativa realiza-se no final de cada período lectivo, utiliza a informação recolhida no âmbito da avaliação formativa e traduz-se na formulação de um juízo globalizante sobre as aprendizagens realizadas pelos alunos. 5 - No 1.º ciclo do ensino básico, a avaliação sumativa exprime-se de forma descritiva, incidindo sobre as diferentes áreas curriculares. 6 - Nos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, a avaliação sumativa exprime-se numa escala de 1 a 5 nas áreas curriculares disciplinares, assumindo formas de expressão qualitativa nas áreas curriculares não disciplinares.
Artigo 14.ºEfeitos da avaliação
1 - A evolução do processo educativo dos alunos no ensino básico assume uma lógica de ciclo,
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Maria Cândida Jardim
progredindo ao ciclo imediato o aluno que tenha desenvolvido as competências a que se refere o n.º 2 do artigo 2.º do presente diploma. 2 - Em situações de não realização das aprendizagens definidas no projecto curricular de turma para um ano não terminal de ciclo que, fundamentadamente, comprometam o desenvolvimento das competências definidas para um ciclo de escolaridade, o professor titular de turma, no 1.º ciclo, ouvidos os competentes conselhos de docentes, ou o conselho de turma, nos 2.º e 3.º ciclos, poderá determinar a retenção do aluno no mesmo ano de escolaridade, excepto no caso do 1.º ano de escolaridade. 3 - Em situações de retenção, compete ao professor titular de turma, no 1.º ciclo, e ao conselho de turma, nos 2.º e 3.º ciclos, identificar as aprendizagens não realizadas pelo aluno, as quais devem ser tomadas em consideração na elaboração do projecto curricular da turma em que o referido aluno venha a ser integrado no ano escolar subsequente.
Artigo 15.ºConclusão e certificação do ensino básico
1 - Aos alunos que concluam com aproveitamento o ensino básico é passado o diploma do ensino básico pelo órgão de direcção executiva da respectiva escola. 2 - A requerimento dos interessados, podem, ainda ser emitidas, pelo órgão de direcção executiva da escola, em qualquer momento do percurso escolar do aluno certidões das habilitações adquiridas, as quais podem discriminar as disciplinas e áreas curriculares não disciplinares concluídas e respectivos resultados de avaliação.
Artigo 16.ºAvaliação do desenvolvimento do currículo nacional
O desenvolvimento do currículo nacional, bem como a aquisição pelos alunos das competências essenciais e estruturantes nos diversos ciclos do ensino básico, é objecto de avaliação, recorrendo a uma diversidade de técnicas e de instrumentos.
Artigo 17.ºProvas nacionais de aferição
1 - As provas nacionais de aferição constituem um dos instrumentos de avaliação do desenvolvimento do currículo nacional e destinam-se a fornecer informação relevante aos professores, às escolas e à administração educativa, não produzindo efeitos na progressão escolar dos alunos. 2 - O enquadramento do processo de realização das provas nacionais de aferição é objecto de despacho do Ministro da Educação, sendo a sua realização da responsabilidade de serviços centrais do Ministério da Educação.
CAPÍTULO IVDisposições finais e transitórias
Artigo 18.ºFormação de professores
1 - Na organização dos cursos de formação inicial de professores do ensino básico são respeitados os princípios orientadores da organização e da gestão do currículo do ensino básico
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Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
constantes do presente diploma de acordo com os perfis de qualificação para a docência decorrentes do disposto na Lei de Bases do Sistema Educativo. 2 - A organização de acções de formação contínua de professores deve tomar em consideração as necessidades reais de cada contexto escolar, nomeadamente através da utilização de modalidades de formação centradas na escola e nas práticas profissionais, e dar uma particular atenção às áreas curriculares não disciplinares. 3 - A organização de acções de formação especializada de professores deve dar uma particular atenção às áreas de desenvolvimento curricular, de supervisão pedagógica e de orientação educativa.
Artigo 19.ºGrupos de docência e distribuição de serviço
1 - Por portaria do Ministro da Educação são reorganizados os grupos de docência, por forma a corresponder aos princípios orientadores da organização e da gestão do currículo constantes do presente diploma. 2 - Até à publicação da portaria a que se refere o número anterior, a distribuição de serviço aos docentes em cada escola deve obedecer a uma lógica de gestão integrada de recursos humanos, no respeito pelos princípios orientadores da organização e da gestão do currículo constantes do presente diploma. 3 - A adequação da componente lectiva dos docentes à nova organização da carga horária dos alunos, de acordo com o previsto nos anexos II e III ao presente diploma, é definida por despacho do Ministro da Educação, no respeito pelo disposto no artigo 77.º do Estatuto da Carreira Docente, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 139-A/90, de 28 de Abril, na redacção que lhe foi dada pelo Decreto-Lei n.º 1/98, de 2 de Janeiro.
Artigo 20.ºProdução de efeitos
1 - O presente diploma produz efeitos no ano lectivo de 2001-2002 no que respeita a todos os anos de escolaridade dos 1.º e 2.º ciclos do ensino básico. 2 - O presente diploma produz efeitos a partir do ano lectivo de:
a) 2002-2003 no que respeita ao 7.º ano de escolaridade;
b) 2003-2004 no que respeita ao 8.º ano de escolaridade;
c) 2004-2005 no que respeita ao 9.º ano de escolaridade.
3 - Os mecanismos de transição para os desenhos curriculares aprovados pelo presente diploma são definidos por despacho do Ministro da Educação.
Artigo 21.ºNorma revogatória
E revogado o Decreto-Lei n.º 286/89, de 29 de Agosto, em tudo o que se refere ao ensino básico, de acordo com a calendarização definida no artigo anterior.
Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 2 de Novembro de 2000. - Jorge Paulo Sacadura Almeida Coelho - Guilherme d'Oliveira Martins - Joaquim Augusto Nunes Pina Moura - Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues - Augusto Ernesto Santos Silva - Alberto de Sousa Martins.
Promulgado em 6 de Janeiro de 2001.Publique-se.O Presidente da República, JORGE SAMPAIO.
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Maria Cândida Jardim
Referendado em 11 de Janeiro de 2001.O Primeiro-Ministro, António Manuel de Oliveira Guterres.
Anexo
1º Ciclo
Componentes do currículo
.
Áreas curriculares disciplinares
Língua PortuguesaMatemáticaEstudo do MeioExpressões - artísticas - físico-motoras
FormaçãoPessoale Social
Áreas curriculares não disciplinares a
Área de ProjectoEstudo AcompanhadoFormação Cívica
Total: 25 horas
Educação Moral e Religiosa b
Actividades de enriquecimento c
a - Estas áreas devem ser desenvolvidas em articulação entre si e com as áreas disciplinares, incluindo uma componente de trabalho dos alunos com as tecnologias da informação e da comunicação e constar explicitamente do projecto curricular de turma.
b - Área curricular disciplinar de frequência facultativa, nos termos do n.º 5 do artigo 5.º.
c -Actividades de carácter facultativo, nos termos do artigo 9.º, incluindo uma possível iniciação a uma língua estrangeira, nos termos do n.º 1 do artigo 7.º.
O trabalho a desenvolver pelos alunos integrará, obrigatoriamente, actividades experimentais e actividades de pesquisa adequadas à natureza das diferentes áreas ou disciplinas, nomeadamente no ensino das ciências.
2º Ciclo
. Carga horária semanal (x 90 min.) a
. Componentes do currículo 5.º ano 6.º ano Total ciclo
. Áreas curriculares disciplinares - - -
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Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
. Línguas e Estudos SociaisLíngua PortuguesaLíngua EstrangeiraHistória e Geografia de Portugal
5 5,5 10,5
Matemática e CiênciasMatemáticaCiências da Natureza
3,5 3,5 7
Educação Artística e TecnológicaEducação Visual e Tecnológica b
Educação Musical3 3 6
Educação Física 1,5 1,5 3
Formação Pessoal e
Social
Áreas curriculares não disciplinares c
Área de ProjectoEstudo AcompanhadoFormação Cívica
3 2,5 5,5
Total 16 16 32
a decidir pela escola 0,5 0,5 1
Educação Moral e Religiosa d 0,5 0,5 1
Máximo global 17 17 34
Actividades de enriquecimento e - - -
a - A carga horária semanal refere-se a tempo útil de aula e está organizada em períodos de 90 minutos, assumindo a sua distribuição por anos de escolaridade um carácter indicativo.
Em situações justificadas, a escola poderá propor uma diferente organização da carga horária semanal dos alunos, devendo contudo respeitar os totais por área curricular e ciclo, assim como o máximo global indicado para cada ano de escolaridade.
b - A leccionação de Educação Visual e Tecnológica estará a cargo de dois professores.
c - Estas áreas devem ser desenvolvidas em articulação entre si e com as áreas disciplinares, incluindo uma componente de trabalho dos alunos com as tecnologias da informação e da comunicação e constar explicitamente do projecto curricular de turma. A área de projecto e o estudo acompanhado são assegurados por equipas de dois professores da turma, preferencialmente de áreas científicas diferentes.
d - Disciplina de frequência facultativa, nos termos do n.º 5 do artigo 5.º.
e - Actividades de carácter facultativo, nos termos do artigo 9 º.
O trabalho a desenvolver pelos alunos integrará, obrigatoriamente, actividades experimentais e actividades de pesquisa adequadas à natureza das diferentes áreas ou disciplinas, nomeadamente no ensino das ciências.
3º Ciclo
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Carga horária semanal (x 90 min.)a
Componentes do currículo7º
ano8º
ano9º
anoTotal Ciclo
Áreas curriculares disciplinares
- - - -
Língua Portuguesa 2 2 2 6
Línguas Estrangeiras LE1 LE2
3 2,5 2,5 8
Ciências Humanas e Sociais História Geografia
2 2,5 2,5 7
Matemática 2 2 2 6
Ciências Físicas e Naturais Ciências Naturais Físico-Química
2 2 2,5 6,5
Educação Artística Educação Visual
1c 1c
1,5d 5,5 outra disciplina (oferta da escola)b 1c 1c
Educação Tecnológica
Educação Física 1,5 1,5 1,5 4,5
FormaçãoPessoale Social
Áreas curriculares não disciplinarese Área de Projecto Estudo Acompanhado Formação Cívica
2,5 2,5 2,5 7,5
total 17 17 17 51
a decidir pela escola 0,5 0,5 0,5 1,5
Educação Moral e Religiosaf 0,5 0,5 0,5 1,5
Máximo global 18 18 18 54
Actividades de enriquecimentog - - - -
a- A carga horária semanal refere-se a tempo útil de aula e está organizada em períodos de 90 minutos, assumindo a sua distribuição por anos de escolaridade um carácter indicativo.
Em situações justificadas, a escola poderá propor uma diferente organização da carga horária semanal dos alunos, devendo contudo respeitar os totais por área curricular e ciclo, assim como o máximo global indicado para cada ano de escolaridade.
b - A escola deve oferecer outras disciplinas da área da Educação Artística (Educação Musical, Teatro, Dança, etc.).
c - Nos 7.º e 8.º anos, os alunos têm (i) Educação Visual ao longo do ano lectivo e (ii), numa
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Educação para a cidadania no 1.º CEB num Agrupamento de Escolas
organização equitativa ao longo de cada ano, uma outra disciplina da área da Educação Artística e Educação Tecnológica.
d - No 9.º ano, os alunos escolhem livremente uma única disciplina, entre as ofertas da escola nos domínios artístico e tecnológico.
e - Estas áreas devem ser desenvolvidas em articulação entre si e com as áreas disciplinares, incluindo uma componente de trabalho dos alunos com as tecnologias da informação e da comunicação e constar explicitamente do projecto curricular de turma. A área de projecto e o estudo acompanhado são assegurados por equipas de dois professores da turma, preferencialmente de áreas científicas diferentes.
f - Disciplina de frequência facultativa, nos termos do n.º 5 do artigo 5.º.
g - Actividades de carácter facultativo, nos termos do artigo 9 º.
O trabalho a desenvolver pelos alunos integrará, obrigatoriamente, actividades experimentais e actividades de pesquisa adequadas à natureza das diferentes áreas ou disciplinas, nomeadamente no ensino das ciências.
Interessa questionar quais os subjacentes paradigmas de cidadania e de educação para
a cidadania que sustentam as práticas dos docentes.
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