tese mestrado fev 2002

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Relao treinador-atleta em futebol

Universidade Tcnica de Lisboa

FACULDADE DE MOTRICIDADE HUMANA

A RELAO TREINADOR - ATLETACaracterizao da relao treinador - atleta em situao de treino em Futebol

Dissertao elaborada sob orientao do Professor Doutor Antnio Fernando Boleto Rosado com vista obteno do grau de Mestre em Gesto da Formao Desportiva

Jri:Presidente: Prof. Doutor Pedro Augusto Cordeiro Sarmento Vogais: Prof. Doutor Antnio Fernando Boleto Rosado Prof. Doutor Vtor Manuel dos Santos Silva Ferreira Prof. Doutor Jos de Jesus Fernandes Rodrigues

Nuno Miguel Canto da Palma 2001

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Relao treinador-atleta em futebol

Universidade Tcnica de Lisboa

FACULDADE DE MOTRICIDADE HUMANA

A RELAO TREINADOR - ATLETACaracterizao da relao treinador - atleta em situao de treino em Futebol

Nuno Miguel Canto da Palma

Dissertao elaborada sob orientao do Professor Doutor Antnio Fernando Boleto Rosado com vista obteno do grau de Mestre em Gesto da Formao Desportiva

2001

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Relao treinador-atleta em futebol

AGRADECIMENTOS

Estas palavras so dedicadas a todos aqueles que directa ou indirectamente contriburam para a realizao deste trabalho. Assim, gostaria de agradecer de forma simples e reconhecida:

Ao Prof. Doutor Antnio Rosado, a disponibilidade e apoio na orientao durante todas as fases da nossa investigao, bem como na confiana em ns depositada.

Aos professores do curso de Mestrado em Gesto da Formao Desportiva, pela colaborao dispensada sempre que foi solicitada para o desenvolvimento do trabalho.

Aos colegas do curso deste Mestrado, o carinho, apoio e incentivo demonstrados ao longo da realizao deste trabalho.

Aos treinadores e atletas que acederam a fazer parte da amostra e que se submeteram a filmagens e elaborao de questionrios, contribuindo assim para o desenvolvimento da investigao cientifica neste mbito.

Aos treinadores de futebol, Amndio Barreiras e Manuel Fernandes, pelo indispensvel apoio no contacto com outros treinadores.

Ao servio de audiovisuais da Escola Superior de Educao de Setbal, que to prontamente nos facultaram os meios materiais, fundamentais na observao dos treinos.

Ao Dr. Faisal Aboobakar e Dr. Ricardo Palma pela colaborao na recolha de dados3

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atravs das filmagens dos treinos.

A todos os funcionrios da biblioteca da F.M.H. pela amabilidade e compreenso sempre manifestada.

minha famlia, em geral, pela compreenso e apoio sempre demonstrado.

minha esposa, que me acompanhou deste o primeiro momento, ajudando-me a ultrapassar alguns momentos menos bons durante a execuo do trabalho.

A todos MUITO OBRIGADO

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NDICE GERAL

AGRADECIMENTOS NDICE GERAL NDICE DE FIGURAS NDICE DE GRFICOS NDICE DE QUADROS NDICE DE ABREVIATURAS INTRODUO I Parte - ANLISE DA LITERATURA 1- Introduo 2- Paradigmas de pesquisa em pedagogia no desporto 3- Perfil comportamental do treinador 4- As funes do treinador 5- Relao treinador-atleta 6- A investigao sobre o comportamento do treinador 6.1- O comportamento do treinador no treino 6.2- O comportamento do treinador em competio 6.3- Percepo do comportamento do treinador 6.4- Sntese II Parte - PLANIFICAO E ORGANIZAO EXPERIMENTAL Captulo 1 - Objecto do estudo 1- Introduo 2- Enunciado do problema 3- Hipteses de estudo 4- Limitaes do estudo Captulo 2 - Mtodos e Procedimentos

III V VIII IX X XII 1 4 5 5 11 15 19 28 29 41 48 55 56 57 57 57 59 59 61

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1- Introduo 2- A amostra 2.1.- Caracterizao da amostra 2.2.- Procedimentos prvios 3- As Variveis 4- Filmagens 4.1.- Material utilizado 5- Instrumentos de observao para recolha de dados 5.1.- Definio do sistema de observao 5.1.1- Sistema de observao do comportamento funcional do treinador 5.1.2- Sistema de observao do comportamento de afectividade 5.2.- Definies das categorias 5.2.1- Comportamentos funcionais do treinador 5.2.2- Comportamentos de afectividade positiva 5.2.3- Comportamentos de afectividade negativa 5.3.- Questionrio da relao treinador-atleta (I.I.T.A.) 6- Fidelidade 6.1- Fidelidade intra-observador 6.2- Fidelidade inter-observador 7- Condies de observao 7.1.- Tempo de observao 8- Tratamento dos dados e procedimentos estatsticos

61 61 61 62 62 63 63 64 64 64 65 65 65 68 69 70 71 71 72 73 73 74

III Parte - APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS Captulo I - Anlise do comportamento funcional dos treinadores1-Introduo 2- Anlise global do comportamento funcional dos treinadores

76 7777 77

Captulo II - Anlise do comportamento de afectividade dos treinadores 931- Introduo 2- Valores globais do comportamento de afectividade dos treinadores 93 93

3- Anlise do comportamento de afectividade positiva e negativa dos treinadores 956

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4- Categorias de comportamento de afectividade positiva dos treinadores 5- Categorias do comportamento de afectividade negativa dos treinadores Captulo III - Perfil da percepo dos atletas relativamente imagem que os treinadores exibem em funo do escalo 1- Introduo 2- Perfil da percepo dos atletas relativamente imagem que os treinadores exibem em funo do escalo 3- Perfil da percepo dos atletas relativamente s caractersticas que os treinadores exibem em funo do escalo 4- Comparao das caractersticas percepcionadas pelos atletas em funo do escalo Captulo IV - Relao entre o comportamento dos treinadores e a percepo dos atletas 1- Introduo 2- Relao entre a percepo dos atletas e o comportamento de afectividade dos treinadores3- Relao entre o comportamento de afectividade e o comportamento funcional dos treinadores 4- Relao entre a percepo dos atletas e o comportamento funcional dos treinadores

98 112 119 119 119 124 126 128 128 128129 133

IV Parte - RESUMO E CONCLUSES DO ESTUDO1- Resumo e concluses do estudo 2- Recomendaes V Parte - REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS Anexos

134135 139 141 154

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NDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Modelo de anlise da relao pedaggica em desporto adaptado do modelo de anlise do ensino em educao fsica 7

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NDICE DE GRFICOS

Grfico n. 1: Perfil do comportamento funcional dos treinadores referentes s dimenses Grfico n. 2: Perfil do comportamento funcional dos treinadores referentes s categorias Grfico n. 3: Comportamento de afectividade dos treinadores Grfico n. 4: Comportamento de afectividade positiva e negativa dos treinadores Grfico n. 5: Comportamento de afectividade positiva dos treinadores Grfico n. 6: Comportamento de afectividade negativa dos treinadores 97 100 114 81 94 79

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NDICE DE QUADROS

Quadro n. 1: Comparao dos resultados dos principais estudos em treino Quadro n. 2: Comparao dos resultados dos principais estudos em competio

37 47

Quadro n. 3: Nmero de treinadores e treinos observados nos dois escalesQuadro n. 5: Sistema de observao do comportamento funcional do treinador adaptado ao SOTA Quadro n. 6: Sistema de observao do comportamento de afectividade

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Quadro n. 4: Nmero de treinadores e treinos observados nos diversos escales 6164 65

Quadro n. 7: Fidelidade intra-observador do sistema de observao do comportamento funcional do treinadorQuadro n. 8: Fidelidade intra-observador do sistema de observao do comportamento de afectividade positiva Quadro n. 9: Fidelidade intra-observador do sistema de observao do comportamento de afectividade negativa Quadro n. 10: Fidelidade inter-observador do sistema de observao comportamento funcional do treinador Quadro n. 11: Fidelidade intra-observador do sistema de observao do comportamento de afectividade positiva Quadro n. 12: Fidelidade inter-observador do sistema de observao do comportamento de afectividade negativa Quadro n. 13: Mdia dos valores percentuais e teste U de Mann-Whitney relativos s dimenses do comportamento funcional dos treinadores Quadro n. 14: Mdia dos valores percentuais e teste U de Mann-Whitney relativos s categorias do comportamento funcional dos treinadores Quadro n. 15: Mdia dos valores percentuais do comportamento de afectividade dos treinadores 93 80 78 73 73 73 72 72

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Quadro n. 16: Mdia dos valores percentuais do comportamento de afectividade positiva e negativa dos treinadores 96

Quadro n. 17: Mdia dos valores percentuais e teste U de Mann-Whitney referentes s categorias do comportamento de afectividade positiva dos treinadores 9810

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Quadro n. 18: Mdia dos valores percentuais e teste U de Mann-whitney referentes s categorias do comportamento de afectividade negativa dos treinadores Quadro n. 19: Mdia do somatrio, valor mdio, desvio padro, valor mnimo e mximo do questionrio I.I.T.A. em funo do nvel de prtica Quadro n. 20: Valores das caractersticas do questionrio I.I.T.A. em funo do nvel de prtica da liga com maior valor mdio amadores com maior valor mdio dos atletas com maior valor mdio da liga com menor valor mdio Quadro n. 25: Itens da percepo das caractersticas do treinador pelos atletas amadores com menor valor mdio dos atletas com menor valor mdio Quadro n. 27: Dados relativos ao nmero de atletas, mdia e desvio-padro Quadro n. 28: Teste U de Mann-Whitney em funo do escalo Quadro n. 29: Relao entre as categorias do comportamento de afectividade e o comportamentos funcional dos treinadores Quadro n. 30: Relao entre as percepes dos atletas e o comportamento funcional dos treinadores 133 129 123 123 124 126 Quadro n. 26: Itens da percepo das caractersticas dos treinadores da totalidade 120 121 121 122 123 Quadro n. 21: Itens da percepo das caractersticas dos treinadores pelos atletas Quadro n. 22: Itens da percepo das caractersticas dos treinadores pelos atletas Quadro n. 23: Itens da percepo das caractersticas dos treinadores da totalidade Quadro n. 24: Itens da percepo das caractersticas dos treinadores pelos atletas 119 112

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NDICE DE ABREVIATURASA - Categoria de comportamentos de afectividade positiva Amabilidades AG - Categoria de comportamentos de afectividade negativa Agredir AM - Categoria de comportamentos funcional do treinador Actividade Motora AF- - Categoria de comportamentos funcional do treinador Afectividade Negativa AF + - Categoria de comportamentos funcional do treinador Afectividade Positiva AIV - Categoria de comportamentos funcional do treinador Ateno s Intervenes Verbais AUIO - Categoria de comportamentos de afectividade positiva Aceitao e Utilizao das Ideias dos Atletas AV- - Categoria de comportamentos funcional do treinador Avaliao Negativa AV + - Categoria de comportamentos funcional do treinador Avaliao Positiva C - Categoria de comportamentos de afectividade negativa Criticar CF - Categoria de comportamentos de afectividade positiva Contactos Fsicos CNV - Categoria de comportamentos de afectividade positiva Comunicao No Verbal COM - Categoria de comportamentos funcional do treinador Conversas COR - Categoria de comportamentos funcional do treinador Correco D - Categoria de comportamentos de afectividade negativa Desinteresse DEM - Categoria de comportamentos funcional do treinador Demonstrao D P - Categoria de comportamentos de afectividade positiva Demonstrao e Participao E - Categoria de comportamentos de afectividade positiva Elogios EP - Categoria de comportamentos de afectividade positiva Encorajamento e Presso FB - Categoria de comportamentos de afectividade negativa Feedback Negativo FB+ - Categoria de comportamentos de afectividade positiva Feedback Positivo F I - Categoria de comportamentos de afectividade negativaFrustrao e Irritabilidade GES - Categoria de comportamentos funcional do treinador Gesto IA - Categoria de comportamentos de afectividade positiva Identificao do Atleta IET - Categoria de comportamentos de afectividade positiva Interaces Extra-Treino IITA Inventrio de Interaco Treinador-Atleta INF - Categoria de comportamentos funcional do treinador Informao I V - Categoria de comportamentos de afectividade positiva Inflexes de Voz M - Categoria de comportamentos de afectividade positiva Movimentao MX - Valor mximo dos valores percentuais MN - Valor mnimo dos valores percentuais Q - Categoria de comportamentos funcional do treinador Questionamento OBS - Observao P - Categoria de comportamentos de afectividade negativa Punir RSG - Categoria de comportamentos de afectividade positiva Rir, Sorrir e Gracejar 12

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INTRODUO

Ao longo do percurso desportivo do treinador e do atleta, podemos interrogarmo-nos como que os treinadores e os atletas interagem entre si, como que os treinadores influenciam os seus praticantes e como que os atletas influenciam o comportamento dos treinadores. A relao pedaggica entre os treinadores e os atletas pode ser influenciada pelo nvel de prtica dos atletas, pela competncia do treinador, pelos resultados alcanados, pela gesto da estrutura directiva ou pelo objectivo desportivo do clube. O treinador tem um papel importante na conduo do processo de treino, sabendo como se deve aproximar dos atletas e da relao que querer criar durante os treinos. Sendo frequente que os treinadores e os atletas se relacionam por dia 4,5, ou mais horas, ao longo de meses e anos, qual a natureza da relao do treinador-atleta durante o perodo da prtica desportiva competitiva em que se procura alcanar o sucesso? O treinador e os atletas so os intervenientes do processo de interaco na relao pedaggica do desporto. No processo de treino, o comportamento dos treinadores e dos atletas pode ser condicionado por inmeros factores, atrs mencionados, que influenciam os seus resultados. A anlise e caracterizao do processo pedaggico, quer ao nvel do ensino do desporto, quer ao nvel da competio, tem sido uma das principais preocupaes da Pedagogia do Desporto. Portanto, a nossa pesquisa pretende estudar o comportamento do treinador e a percepo dos atletas face ao comportamento do treinador. O estudo deste tema poder ajudar a esclarecer aspectos decisivos da qualificao da relao treinador-atleta e analisar o comportamento dos treinadores em situao de treino durante a poca desportiva.13

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Este tema tem sido pouco explorado porque dificilmente se tem acesso aos treinos das equipas durante a poca desportiva. Assim, pensamos que esta oportunidade possibilita recolher algumas informaes sobre o processo pedaggico no treino desportivo. Um estudo no mbito do perfil de comportamento do treinador, torna-se, quanto a ns, um desafio em virtude dos escassos estudos desta natureza quer a nvel nacional quer a nvel internacional. Deste modo, encontramos uma rea francamente inexplorada com poucos estudos relacionados com a anlise da relao treinador-atleta. Este estudo, pretende descrever e caracterizar, em primeiro lugar, o comportamento do treinador em situaes de treino em futebol. Em segundo lugar, comparar os seus comportamentos em funo de nveis de prtica diferentes. Por outro lado, interessa-nos perceber qual a percepo que os atletas tm da relao treinador-atleta e quais os comportamentos que melhor se relacionam com a sua percepo. Perante estes objectivos, algumas questes essenciais se colocam quando pensamos na anlise do comportamento do treinador de Futebol Portugus. Qual o perfil de comportamento funcional e relacional do treinador no decorrer do treino em futebol? Variar o perfil funcional e relacional em funo do nvel competitivo? Como que os atletas percebem a relao com o seu treinador? Ser que existe uma relao entre os comportamentos do treinador e a sua percepo por parte dos atletas? Que comportamentos se associam a que percepes?

Para a apresentao deste trabalho, decidimos seguir um conjunto de etapas que conduziram o nosso estudo.

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Num primeiro momento, apresentaremos a anlise da literatura desta investigao que serve fundamentalmente para o enquadramento terico do tema, onde, atravs da opinio de vrios autores, enriquecemos o nosso conhecimento, face relao treinadoratleta. De seguida, fazemos uma referncia metodologia, onde descrevemos a amostra, o material, as variveis de estudo, os procedimentos e os critrios da avaliao subjacentes ao seu desenvolvimento. Continuando, fazemos referncia apresentao e discusso dos resultados, comparando os nossos resultados com os dados j encontrados, permitindo fazer as respectivas explicaes. Nas concluses e recomendaes, efectuamos uma sntese dos resultados e sugerimos tambm, possveis caminhos de desenvolvimento. Seguidamente, encontramos as referncia bibliogrficas que serviram de apoio realizao do nosso estudo.

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I PARTE ANLISE DA LITERATURA

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1 - INTRODUO

Este captulo tem como objectivo revelar o desenvolvimento da investigao sobre o processo pedaggico em desporto. Pretendemos identificar e caracterizar os principais paradigmas associados investigao em Pedagogia em Desporto. Procuramos abordar referncias centradas no treinador no que toca ao seu comportamento relacional e funcional, apontando, tambm, algumas consideraes sobre a anlise da relao treinador-atleta. Descrevemos, tambm, algumas concluses e resultados de estudos efectuados no mbito do comportamento do treinador em treino e competio e a percepo por parte dos atletas face aos treinadores, bem como as principais concluses dos diversos problemas e mtodos utilizados nas diferentes pesquisas.

2- PARADIGMAS DE PESQUISA EM PEDAGOGIA DO DESPORTO

Piron, M. (1993) afirma que os trabalhos realizados pela Pedagogia Geral, serviram de fonte de inspirao queles que consideravam que uma aplicao destes paradigmas de pesquisa pedaggica ao ensino das actividades fsicas, poderia ser benfica ao desenvolvimento da investigao nesta rea. Tambm Rodrigues, J. (1995) faz igualmente referncia utilizao dos paradigmas de pesquisa da Pedagogia Geral, na anlise do ensino em Educao Fsica e enquadra o pensamento cientfico e sistmico relativamente s principais variveis tpicas do processo de ensino. Porm, a adaptao destes paradigmas ao processo de treino em Desporto, designadamente na anlise da relao treinador-atleta, envolve novos desafios at agora inexplorados.17

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A maior parte dos trabalhos de investigao sobre o ensino da Educao Fsica, assentam em dois modelos tpicos: o modelo "Pressgio - Processo - Produto", desenvolvido por Mitzel, H. (1960) relativamente ao ensino em geral e o modelo de "Descrio - Correlao - Experimentao" apresentado por Rosenshine, B. & Furst, N. (1973), tendo sido adaptados e especificados para o processo de ensino da Educao Fsica (Costa, J. 1988) e (Piron, M. 1993) e depois para o Treino Desportivo (Rodrigues, J. 1995). Actualmente observamos que os paradigmas existentes no processo de ensino de Educao Fsica permitem uma interligao bastante estreita com o processo desportivo, abrindo novas perspectivas por parte dos investigadores nesta rea. Desta forma, devemos proceder a uma nova sistematizao dos paradigmas utilizados, de forma a melhor entender a sua aplicao ao desporto, onde o treinador e atletas so os principais objectos de pesquisa. Apesar de apresentar algumas semelhanas com o ensino da Educao Fsica, julgamos importante desenvolver pesquisas sobre o processo de treino em desporto, sabendo que neste processo pedaggico existem aspectos particulares quanto aos objectivos, estratgias e prestao dos atletas, etc. Assim, julgamos interessante colocar algumas questes importantes relativamente ao fenmeno desportivo: Qual o pensamento dos treinadores? Quais as diferenas entre experts ou no experts? etc. O Paradigma "Descrio - Correlao - Experimentao, " (Rosenshine, B. & Furst, N., 1973), quando aplicado ao processo de treino em Desporto, apresenta-nos 3 elementos fundamentais de pesquisa. 1- O desenvolvimento de mtodos e procedimentos qualitativos e quantitativos, proporcionando a descrio da relao treinador-atleta.18

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2- Investigaes da relao entre as variveis descritivas do processo pedaggico em Desporto e os seus resultados medidos atravs do desempenho dos atletas ou da sua modificao comportamental. 3- Estudos que controlam algumas variveis do processo de treino e realizam uma certa manipulao de outras variveis, atravs da aplicao de modelos de anlise quasiexperimental ou experimental. Segundo Rodrigues, J. (1995) outro do paradigmas que tem sido utilizado nas poucas investigaes pedaggicas que incidem sobre o processo de treino referido como paradigma "Pressgio - Processo - Produto". Desta forma, adaptando o modelo de anlise do ensino da Educao Fsica (Piron, M. 1986a) ao treino desportivo, temos os seguintes variveis:Figura 1 - Modelo de anlise da relao pedaggica em desporto adaptado do modelo de anlise do ensino em educao fsica (Piron, M. 1986a)

PRESSGIO Formao Experincia Conhecimentos

PROCESSO Treinador Atletas

PRODUTO Aprendizagens Performances Resultados

PROGRAMA Objectivos Contedos

CONTEXTO Nvel dos atletas Condies materiais Envolvimento

As variveis de pressgio representam as caractersticas do treinador capazes de influenciar os efeitos de treino. Podemos enumerar, como exemplo, a formao inicial do treinador, a experincia adquirida ao longo do processo de treino, a formao19

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contnua a que o treinador submetido devido s exigncias do prprio treino, bem como as caractersticas pessoais intrnsecas (motivao, inteligncia, personalidade, valores, atitudes, etc.). Em virtude de alguns investigadores considerarem reduzida a influncia desta varivel no processo pedaggico, os estudos apresentados so muito escassos. As variveis de processo referem-se aos comportamentos e interaces que ocorrem no treino e na competio. Fundamentalmente, interessa identificar e caracterizar quais os comportamentos dos intervenientes, assim como as suas interaces no treino e na competio. Desta forma, estas inter-relaes colocam-nos perante algumas incgnitas no processo pedaggico. Que estratgias utiliza o treinador para motivar os seus atletas? Qual a relao pedaggica entre o treinador e o atleta? Qual a percepo dos atletas perante o comportamento do treinador? Como interage com a equipa de arbitragem, com o departamento mdico, com os pais dos jovens atletas? As variveis de contexto dizem respeito influncia do ambiente e do envolvimento em que decorre o processo de treino, obrigando, por vezes, o treinador a alteraes importantes, interferindo no processo pedaggico. Face a estas variveis temos o envolvimento, o equipamento e as instalaes disponveis que o treinador pode utilizar, assim como as caractersticas dos atletas (nvel scio-econmico, idade, sexo, condio fsica, etc.). As variveis de programa identificam os objectivos a perseguir, aos contedos de ensino/treino, o programa da competio, influncias directamente dependentes da tomada de deciso do treinador. As variveis de produto so relativas do resultado do processo pedaggico. No caso do sistema desportivo, estas variveis indicam as aprendizagens dos atletas, os efeitos educativos e a melhoria das qualidades fsicas. Porm, tambm, podemos considerar como resultado do processo de treino as performances e resultados obtidos nas competies.20

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Tal como no ensino da Educao Fsica, tambm o processo do Treino Desportivo de tal forma complexo que qualquer abordagem de pesquisa poder no se revelar totalmente satisfatria. Segundo Piron, M. (1993) as descries crticas e minuciosas que so obtidas pela observao etnogrfica contribuem para a explicao e interpretao dos fenmenos que acontecem na aula. Todavia, as pesquisas etnogrficas esto relacionados com o contexto e com a sua especificidade, dificultando a generalizao dos resultados obtidos. Embora os estudos baseados neste paradigma sejam escassos, torna-se fundamental e interessante desenvolver pesquisas aplicadas ao Treino Desportivo, em virtude da especificidade do seu contexto. Um dos estudos que aplicou este paradigma ao nvel do treino desportivo, foi o de Hastie, P. & Saunders, J. (1992). O paradigma dos processos mediadores encontra-se no domnio da Educao Fsica, como no domnio do Treino Desportivo. De uma forma geral, pode ser entendido, como o processo de mediao entre o estmulo pedaggico e a aprendizagem dos alunos ou atletas (Levie & Dickie, 1973, citados por Piron, M. 1993). Desta forma, significa que, na relao pedaggica, o professor ou o treinador produz um estmulo que tem como objectivo provocar uma resposta verbal ou motora por parte dos alunos ou atletas. Os processos mediadores referem-se ao momento que se passa entre o estmulo e a resposta. Este paradigma tem sido desenvolvido em investigaes que se orientam sobretudo para a capacidade de anlise tcnica dos treinadores (Rosado, A. 1995). Todavia, quanto aos processos mentais utilizados pelos atletas e treinadores, a investigao ainda escassa, pelo que muito h ainda a investigar sobre a rea dos processos mediadores dos intervenientes no desporto. Outro paradigma bastante utilizado na investigao em Desporto o paradigma dos Mestres ("Experts"). A Mestria um termo tcnico que refere virtuosidade de competncia (Siedentop, D. & Eldar, N. 1989). Os "mestres" realizam inferncias de21

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casualidade sobre acontecimentos aos quais os "inexperientes" se limitam a observar superficialmente. Os "mestres" colocam os problemas pela sua verdadeira importncia enquanto que os "inexperientes" identificam-nos a partir das evidncias superficiais. Os "mestres" possuem padres rpidos e precisos de resposta a situaes de ensino, elaboram representaes dos problemas pedaggicos, apresentam mecanismos de auto regulao e avaliao dinmica e eficaz, revelam a sua competncia pedaggica atravs da prtica progressiva e prolongada no tempo (Berliner, 1986, citado por Rodrigues, J. 1995). Aplicado ao Treino Desportivo o termo "mestria" ou "expertise", julgamos importante salientar a caracterizao efectuada por Siedentop, D. & Eldar, E. (1989), perante uma perspectiva comportamental: Maior capacidade de efectuar discriminaes mais precisas e finas, melhorando a qualidade de julgamento; Maior capacidade de resposta aos estmulos identificados, possuindo uma melhor antecipao e velocidade de reaco s situaes; Um repertrio comportamental mais alargado, permitindo uma maior seleco de respostas perante a situao; Uma capacidade de analisar a situao para alm do imediatismo que o estmulo apresenta procurando encontrar as causas profundas da actividade, dando origem a uma mais adequada resposta; Uma independncia em relao ao planeado, visto que no se apresentam absolutamente circunscritos ao que planearam, mas so capazes de se adaptar aos eventuais condicionalismos, ajustado ao seu comportamento; Uma capacidade de auto anlise e crtica da sua prpria competncia.

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3 - PERFIL COMPORTAMENTAL DO TREINADOR

A evoluo do conhecimento do estudo do treinador como pea central do processo desportivo, tem dado origem a inmeros trabalhos por parte de diversos investigadores. Desta forma, encontramos algumas atribuies e caracterizaes sobre a sua personalidade e comportamento. Ribeiro da Silva (1975, ed. orig.,1970) citado por Serpa, S. (1995), considera o treinador uma figura central no desporto por via das prprias funes que desempenha, mas, de igual forma, pela projeco pblica de que protagonista, o que leva a afirmar, em 1970, que a imprensa, no Brasil, consagrava mais espao transferncia de clubes dos treinadores que s dos jogadores. Este autor chama a ateno para o facto de que, no contexto desportivo, o treinador o nico que designado por tcnico, o que o coloca na condio de sujeito especializado, de estratego, de conhecedor da tctica, de uma cincia, de uma arte(pp.103). Este autor, caracteriza o tcnico desportivo como sendo detentor de caractersticas especiais subjacentes ao xito desportivo, afirmando que: a actuao do tcnico numa equipa uma arte; a combinao do saber respeitar os valores humanos com a necessidade de conservar a autoridade e a disciplina exige variaes e habilidade de conduta apenas possveis em personalidades ricas e bem estruturadas, tanto mais quanto o ambiente sofre a tenso permanente da luta com o adversrio e da competio intragrupal, normal e at desejvel em elementos que querem conquistar o seu lugar ao sol(pp.106). Segundo Rosado, A. (1995) o treinador tem que ser concebido como um profissional activo, em que a definio de objectivos e a busca de informao no contexto dos objectivos, faz parte da sua actividade.

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Para Arajo, J. (1995) o verdadeiro segredo dos treinadores com sucesso reside em, para alm do seu saber e saber estar na relao com atletas e dirigentes, serem capazes de criar nuns e outros, a motivao prpria de quem se sente a participar e contribuir de modo efectivo para o progresso colectivo. Podemos constatar que as decises do treinador, sendo muitas vezes aleatrias e em funo das prprias interpretaes e atitudes, interferem profundamente na vida desportiva e pessoal dos desportistas que orientam, da resultando consequncias positivas ou negativas para estes. Fazem-no no s atravs das opes de gesto das situaes de treino e competio, mas, ainda, das suas atitudes gerais no processo desportivo, com grande impacto, nas suas formas de comunicao directa com o atleta. Por sua vez, Ping, W. (1993) afirma que os treinadores tm um papel significativo pela profunda influncia que exercem nos atletas, a qual vai para alm dos aspectos fsicos e tcnicos para entrar nos que so inerentes vida emocional, desenvolvimento de valores, da moral e da integrao social. Refere, que o comportamento do tcnico pode ser observado em cinco nveis principais. O primeiro relaciona-se com a procura da excelncia competitiva dos seus atletas, tendo o treinador que estabelecer e operacionalizar objectivos, tomar decises e planear a poca de treino. Como educador, o treinador tem que instruir comportamentos socais desejveis. No papel de professor, este deve interessar-se pela vida escolar dos seus atletas. Em termos de agente social, o treinador pode ajudar os seus atletas a desenharem os seus planos futuros, sendo comparvel preocupao de um pai. Por ltimo, o treinador na perspectiva de conselheiro, ajuda os seus pupilos a enfrentarem desafios, lidando com o sucesso ou o fracasso. O mesmo autor, destaca, ainda, o carcter nico desta actividade pelo facto do treinador ocupar um lugar central e pblico em que alvo de elevadas expectativas e presses, sendo o seu desempenho sujeito a discusso e avaliao pblica a qual condicionada pelos resultados desportivos.

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Para Arajo, J. (1997) o treinador ideal nem mesmo no domnio da utopia poder ser descrito, no existindo um perfil nico de treinadores mas sim uma srie infindvel deles, consoante as circunstncias e respectivas necessidades de interveno. Cada treinador deve actuar de acordo com as suas caractersticas e limitaes, sem nunca esquecer a responsabilidade que lhe est atribuda quanto formao social e emocional dos atletas com quem trabalha e melhoria gradual destes, no mbito dos conhecimentos relativos modalidade a que se dedicam. Carrier, C. (1992) citado por Serpa, S. (1995), por sua vez, chamando a ateno para a complexidade da tarefa do treinador, afirma que este, ao desempenhar as suas funes num clima de incertezas e de dvidas, deve, todavia, manter uma aparncia de segurana, para assim a inspirar nos seus atletas e, sobretudo, para que estes mantenham a confiana nele. Segundo Barata, T. (1996), o perfil de treinador est muito ligado ao tipo de formao pessoal de cada um (educao familiar, auto-disciplina, respeito pelas regras de convivncia, passado desportivo, etc.). Independentemente desse facto, o autor defende, que cada treinador pode evoluir bastante nessa rea, sendo isso uma questo de investimento pessoal, to importante como a aquisio de conhecimentos tcnicotcticos. Jarov, K. (1982) defende que o treinador em competio, tem o dever de se apresentar calmo e seguro de si prprio, demonstrando e transmitindo confiana aos atletas. Este autor, distingue e caracteriza dois tipos de treinadores: o treinador experiente como oposto ao treinador principiante, assim como a sua aptido para dirigir o comportamento dos seus atletas durante o jogo, tal como refere, que normalmente um treinador principiante no consegue dirigir os elementos de equipa, mas parece ele prprio participar na competio. Deste modo, ao envolver-se demasiado na competio, faz diminuir a sua disponibilidade para efectuar uma observao atenta ao desenrolar do jogo e intervir correctamente, no sentido de exercer a influncia desejada nos atletas.25

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Por outro lado, o autor caracteriza o treinador experiente como sendo capaz de ajudar os atletas a resolver as dificuldades que o adversrio coloca ao longo do jogo e escondendo as suas prprias emoes e inquietaes. Sarmento, P. (1991) defende que os treinadores devem dominar instrumentos suficientes para modificar certos conhecimentos indesejveis dos atletas, alertando para a necessidade de abordar, na formao, as tcnicas de interveno pedaggica, nos aspectos da gesto e controlo disciplinar, nas estratgias de observao, instruo e informao e na avaliao dos contedos. Segundo Heitzhofer-Lackner (1989) citado por Jorge, P. (1999), a prestao e competncias do treinador esto relacionadas com a prestao e competncias da equipa e atletas que orienta, pelo que o seu trabalho e a sua formao complexificam-se progressivamente o que poder obrigar sua disponibilidade a tempo inteiro e posterior profissionalizao. Refere ainda que o treinador est em permanente conflito emocional entre a equipa e as responsabilidades perante a organizao. Tem que lidar com duas foras contraditrias: os princpios da organizao e os fenmenos de grupo que, muitas vezes, so opostos. O treinador a pessoa que tem que coordenar estas contradies tal como exigido na moderna gesto. Segundo Cruz, J. & Gomes, A. (1996), o treinador como um "ponto sensvel" de equilbrio entre dois tipos de unidades ou foras como: a organizao do clube (devendo cumprir as suas exigncias, nomeadamente em termos de produtividade) e o rendimento; e os atletas que tem de influenciar e motivar (assegurando-se de que as suas necessidades e aspiraes so atingidas e de que esto satisfeitos com o seu envolvimento na organizao, clube ou equipa). Partindo deste facto, obvio que qualquer lder ou treinador tem de ser sensvel s exigncias da modalidade e s pessoas envolvidas.

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4 - AS FUNES DO TREINADOR

A funo do treinador insere-se num contexto mais vasto e complexo no domnio das relaes humanas, apoiando e suportando emocionalmente os seus atletas, aconselhando-os, escutando-os, motivando-os, apetrechando-os de estratgias psicolgicas, decidindo sobre a participao competitiva em situaes negativas e sofrendo as presses inerentes sua profisso. O treinador tem um papel importante na gesto e orientao no s do processo de treino, mas tambm de competio. O treinador dever saber como se aproxima dos atletas e da atmosfera que querer criar durante os treinos e as competies. Como treinador, dever estabelecer uma estratgia de orientao antes do inicio da poca, deve tambm decidir quais os objectivos do seu planeamento e como atingi-los. Rushal, B. (1979) citado por Serpa, S. (1995), enumera trs classes de comportamentos que, na sua perspectiva, o treinador deve gerir para facilitar a adaptao psicolgica do atleta no local de competio. Em primeiro lugar, o tcnico deve constituir-se como um modelo de referncia, manifestando uma atitude sria e positiva perante a competio, ao mesmo tempo que deve transmitir controlo emocional e confiana na capacidade de lidar com a situao, j que as variaes na reactividade do treinador situao sero elementos de distraco para o atleta, em resultado da inerente exigncia de adaptao a tais comportamentos do seu tcnico. Em segundo lugar, o treinador deve constituir-se como um recurso para a seleco de problemas, que eventualmente apaream, transmitindo, deste modo, segurana ao atleta, o que exige um processo anterior de facilitao da comunicao treinador-atleta. Em terceiro lugar, o autor defende que o treinador deve auxiliar os competidores no cumprimento de estratgias anteriormente estabelecidas, na anlise da situao competitiva e na gesto do comportamento adequado.

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O estudo do papel do treinador tem originado um conjunto de trabalhos, baseado nas suas funes. Crespo & Balguer (1994), citados por Cruz, J. & Gomes, A. (1996), listam os inmeros papeis ou funes que diariamente so desempenhadas pelos treinadores nas suas tarefas dirias: "tcnicos, professores, juizes, directores, gestores, relaes publicas, amigos, pais ou mes, cientistas, actores, polticos, estudantes". Arajo, J. (1998) expressa que no exerccio da sua profisso o treinador deve ser formal, firme e disciplinador, sem que isso signifique abdicar de comportamentos cordiais e at amigveis para com aqueles que se revelam merecedores dessa distino. Ser exigente no ser injusto, e todos os que nos rodeiam que assim o justifiquem pelo respeito que souberam conquistar requerem, da parte do treinador, o incentivo sempre presente numa retribuio mais pessoalizada e efectiva. Salmela, J., Draper, S. & Laplante, D. (1993) referem que os treinadores devem apresentar caractersticas como dedicao, entusiasmo e expectativas elevadas, com consequncias positivas no ambiente de treino que criam, bem como por desenvolveram estratgias de auto-controlo emocional e cognitivo de modo a poderem exercer influncias favorveis nos atletas durante as competies, evitando-lhes a vivncia de presses exageradas. Existem, outras investigaes que se inspiram na caracterizao do treinador ideal. Martens, R. (1987) define um conjunto de qualidades necessrias, mas no suficientes, para ser um bom treinador: inteligente, afirmativo, auto-confiante, persuasivo, flexvel, intrinsecamente motivado, motivado para o sucesso, com controlo interno, consciente de si prprio e optimista. Todavia, sugere que para se ter sucesso a influenciar os outros e a permitir que os outros nos influenciam, tem que se dominar competncias verbais e no-verbais de comunicao e relao interpessoal. Mais especificamente, o autor sugere a necessidade de saber enviar mensagens aos outros, de possuir competncias de atendimento (saber ouvir e escutar), competncias no verbais (aparncia fsica, postura corporal e gestos) e competncias de gesto de conflitos e confrontaes.

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Neste sentido, Martens, R. (1998) salienta que a comunicao um elemento decisivo para o exerccio da funo do treinador. Contudo, bom que se saiba que no existe s comunicao verbal e que tambm comunicamos com os outros pelas nossas expresses e pelos nossos actos, ou seja, treinar , na sua essncia, um processo de comunicao. Com o intuito de melhorar as competncias de comunicao e a relao interpessoal, Cruz, J. & Gomes, A. (1996) afirmam que, treinar implica, antes de tudo, saber e ser capaz de comunicar e de se relacionar interpessoalmente com outras pessoas. Por isso, os treinadores devero ser especificamente treinados na forma de comunicar. Segundo Hotz, A. (1999) os bons treinadores, se so treinadores com sucesso, distinguem-se dos restantes essencialmente pela sua capacidade de comunicao. Para alm de possurem todas as outras qualificaes de especializao prprias de cada modalidade, os treinadores devem tambm ser pedagogos (desportivos), empticos, especialistas em termos psicolgicos e orientados para uma concepo humanista do homem. nestas caractersticas que devem incluir-se as suas capacidades de comunicao: os treinadores devem ser especialistas da comunicao interpessoal e no apenas aquela que se orienta para o sucesso desportivo. Nesta perspectiva, a metodologia uma disciplina que se integra na cincia da comunicao pelo que os treinadores qualificados actuam com competncia mesmo nos aspectos da metodologia da comunicao. A funo do treinador, enquanto pessoa que comunica, a de transmitir as informaes individualmente mais adequadas, de maneira convincente, no momento oportuno, com o doseamento certo e de tal modo que fornea um suporte adequado ao tipo de aprendizagem em causa. Sublinhe-se, tambm, que a principal funo do treinador, para Arajo, J. & Henrique, M. (1999), saber gerir paradoxos em situaes com um elevado grau de imprevisibilidade. No existem duas situaes iguais: o que funciona agora optimamente, pode ser um buraco no momento seguinte. O papel do treinador , definido por Jarov, K. (1982) segundo quatro factores de acordo com: a estabilidade da direco, que se relaciona com a programao da participao competitiva; a continuidade da direco, inerente coordenao permanente dos atletas,29

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quer directamente, quer atravs do capito; a firmeza da direco, relacionada com a consistncia das decises tomadas previamente; e a flexibilidade da direco, isto , a capacidade de adaptao das decises em funo da anlise dos elementos em jogo. Davies (1989), citado por Alves, R. (1998) refere que, tradicionalmente, as funes do treinador no processo de treino so a instruo, orientao, organizao, observao e anlise, relacionando-as, por outro lado, com a sua qualidade profissional de elemento fundamental na gesto do comportamento, emoes e motivao do atleta em treino e competio. Ping, W. (1993) identifica, por sua vez, outro conjunto de funes a desempenhar pelo treinador: (1) estabelecer objectivos e tomar decises inerentes aos objectivos desportivos; (2) promover os valores sociais, actuando como educador dos atletas; e (3) promover o necessrio enquadramento dos praticantes no que concerne ajuda no desempenho pessoal e social. Saury, J. & Durand, M. (1995) referem que o treinador assume o papel de decisor, de gestor, de orientador e de director de todo o processo de treino, sendo permanentemente confrontado com uma variedade de situaes complexas, imprevisveis, dinmicas, singulares e de conflitos de valores. Segundo Antonelli, F. & Salvini, A. (1978), citados por Serpa, S. (1995), os treinadores devero desempenhar quatro papeis: 1- o de tcnico; 2 - o de educador; 3 - o de organizador e animador e 4 - o de lder. Para estes autores, a funo de treinador exige notveis dotes de preparao e de personalidade, adquirveis as primeiras, mas parcialmente inatas as segundas, cuja importncia de modo algum se devem menosprezar. Referem ainda que a sua actividade ultrapassa os limites profissionais, implicando-o num vasto domnio de motivaes, relaes, participaes e ressonncias emocionais com profundas consequncias no indivduo enquanto pessoa, defendendo que a vivncia emocional do desporto pelo atleta e pelo treinador so muito semelhantes. Afirmam ainda que a eficincia de um bom lder deriva do equilbrio que30

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saiba manter entre as exigncias opostas de ser como os outros e diferente dos outros. Arajo, J. (1997) aponta, que ao treinador dos dias de hoje exige-se-lhe um desempenho onde, mais do que actuar de modo autoritrio, ele veja a sua autoridade reconhecida, conhecendo-se a si prprio e s necessidades de realizao, auto-estima e segurana social que, como qualquer outro cidado, norteiam a sua actividade, desenvolvendo a sua aco com objecto natural de ter sucesso, necessitando para isso de pertencer a um grupo profissional socialmente dignificado. Segundo Serpa, S. (1995) as funes do treinador, devero estar relacionadas no s com os aspectos tcnicos e instrumentais especficos da sua modalidade mas tambm com o desenvolvimento de valores. O treinador, devendo estar consciente da influncia determinante que exerce no atleta, deve igualmente contribuir para o desenvolvimento da sua autonomia de acordo com a maturidade social que este vai adquirindo com a evoluo do seu estatuto e da sua carreira.

5- RELAO TREINADOR - ATLETA

Os processos da interaco entre praticantes e respectivos treinadores tm sido sempre considerados de relevncia determinante na prestao desportiva do atleta, j que a sua complexidade tem repercusso nos nveis comportamental, cognitivo e emocional de ambos os actores e, particularmente, neste ltimo cuja prestao nas situaes competitivas d significado a todo o investimento de desportistas, tcnicos e organizaes em que se inserem. Patriksson, G. & Erikson, S. (1990) realizaram um estudo cujo objectivo foi avaliar o programa de formao dos treinadores na Sucia. Questionou-se os atletas sobre vrios assuntos, entre os quais a importncia do papel do treinador, sendo o treinador, considerado a personagem mais importante do fenmeno desportivo31

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A relao treinador-atleta tem uma importncia fundamental para o sucesso da equipa em competio. do sistema de cooperao montado entre estes dois intervenientes que ir depender o rendimento dos jogadores, sendo, por isso, muito importante o treinador apresentar comportamentos de interaco com contedo predominantemente positivo, no sentido de aumentar a confiana do atleta de forma a que este possa actuar de acordo com as suas potencialidades. Ser treinador , hoje, uma profisso de grande desgaste fsico e psquico. Ao treinador tudo exigido, pelo que dever ter sempre as melhores prestaes possveis. Por tudo isto, o estudo da relao treinador-atleta torna-se um ponto importante para que o treinador possa perceber e melhorar a sua prestao desportiva. Todos os seus comportamentos tero uma influncia, maior ou menor, sobre os atletas e sua prestao, logo, o controlo e o conhecimento de todas as variveis que afectam a dide treinadoratleta dever ser um dos objectivos do treinador. Ping, W. (1993) escreve que os treinadores tm um papel significativo pela profunda influncia que exercem nos atletas, a qual vai para alm dos aspectos fsicos e tcnicos para entrar nos que so inerentes vida emocional, desenvolvimento de valores, da moral e da integrao social. Destaca ainda o carcter nico desta actividade pelo facto do treinador ocupar um lugar central e pblico em que alvo de elevadas expectativas e presses, sendo o seu desempenho sujeito a discusso e avaliao pblica a qual condicionada pelos resultados desportivos. Sobre as interaces com os diversos intervenientes no processo de treino, Brunelle, Talbot, Tousignant & Berube (1976), citados por Rodrigues, J. (1995), apresentaram como objectivo do seu estudo a identificao das tcnicas de interveno pedaggica especfica dos instrutores de hquei no gelo, de modo a confrontaram a teoria pedaggica com a prtica dos treinadores. Foram observados 48 instrutores em situaes de treino. Utilizaram um sistema que comporta duas dimenses de anlise: o clima psicossocial e afectivo; e a organizao das condies de aprendizagem da matria.32

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As principais concluses evidenciaram a importncia do incentivo maximizao do esforo dos atletas (presses), do clima positivo (elogio e afectividade positiva) e da interveno de feedback com referncia ao contedo. Os autores procuraram avaliar o procedimento pedaggico dos treinadores observados e confrontaram estratgias de relao e de planeamento e organizao. Os resultados identificaram as estratgias de interaco positiva e de contedo especfico como muito importantes. Estas concluses possibilitam criar a concepo de um processo de treino de carcter positivo e afectivo, que proporcione um envolvimento e esforo dos atletas no sentido da optimizao da performance desportiva. Smoll, F. & Smith, R. (1984) com base no seu programa de investigao e interveno junto de treinadores, sugeriam algumas linhas de orientao prtica para os comportamentos dos treinadores de jovens. Adicionalmente, estes autores, apontaram trs estratgias principais para a melhoria da relao treinador-atleta, nomeadamente, nos escales de iniciao e formao desportiva. Uma primeira estratgia tem subjacente uma nova abordagem e a conceptualizao da ideia de sucesso, fazendo equivaler estes conceitos ideia de dar o mximo de esforo. Dado que a nica coisa que um atleta pode controlar de forma total e completa a quantidade de esforo que despende na competio, provavelmente o mais importante tipo de sucesso desportivo consiste em lutar e dar o mximo de esforo para ganhar. Uma segunda estratgia passa pela opo por uma abordagem positiva face ao treino, mediante o recurso sistemtico utilizao do reforo pelo esforo e pelo rendimento, do encorajamento aps falhano e erros cometidos e da instruo tcnica, dada de uma forma positiva e encorajadora. Uma abordagem predominantemente negativa que recorra basicamente a diferentes formas de punio e castigo, como forma de eliminar comportamentos ou atitudes inadequadas, apenas tem um nico resultado: diminui o prazer essencial prtica desportiva, para alm de poder provocar conflitos de natureza interpessoal com os treinadores.33

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Uma ltima estratgia para a melhoria da relao treinador-atleta consiste em promover nos treinadores uma maior conscincia e percepes mais realistas acerca dos seus prprios comportamentos, assim como das suas consequncias na relao treinadoratleta. Num processo relacional, cabe ao treinador gerir e distinguir os limites das relaes com os atletas. o treinador que detm a autoridade, controla o atleta, objecto de sentimentos alheios, modela as emoes dos atletas e respeitado como modelo. Todas estas funes tornam o papel do treinador complexo e multidimensional. Num estudo sobre a interaco treinador-atleta, constatou-se, numa anlise comparativa de diferentes estudos, que utilizam o D.A.C. (Dyadic Adaptation of CAFIAS) (Martinek & Mancini, 1983) e o A.L.T.-P.E. (Academic Learning Time-Physical Education) (Siedentop, Tousignant & Parker, 1982) realizada por Mancini & Wuest (1987) citados por Rodrigues, J. (1995), sobre uma amostragem de treinadores e atletas de diversas modalidades (Basquetebol, Lacrosse, Futebol Americano, Voleibol e Futebol) revelou que os atletas mais importantes e evoludos da equipa tm mais e melhores condies de prtica e so os que recebem mais encorajamento e informao dos seus treinadores. Crevosier, J. (1985) a partir de um inqurito junto de treinadores franceses de futebol, encontrou trs tendncias que concernem s caractersticas da relao treinador-atleta de acordo com as opinies dos sujeitos do estudo: devem ser profundas, para alm dos aspectos profissionais, prevalecendo uma orientao para as relaes humanas; devem ser distantes e limitadas, prevalecendo uma orientao para a tarefa; ou devem ser frequentes, de acordo com as necessidades e caractersticas dos jogadores com que se trabalha. Os treinadores dividem-se, tambm, quanto ao nvel de afinidade que deve existir entre praticante e tcnico, defendendo uns que deve ser elevada, outros que prefervel que exista um distanciamento e outros, ainda, que depende da personalidade e experincia do treinador. A pesquisa de Crevoisier, J. mostra, tambm, que o autoritarismo considerado por muitos treinadores de futebol francs como sendo necessrio numa relao em que os jogadores so trabalhadores que, segundo eles,34

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devem obedecer maior competncia do treinador. Para Bloom, B. (1985) citado por Salmela, J. (1994), o treinador dispensa ateno especfica e detalhada a pormenores de incremento tcnico e tctico visando o afinamento total das capacidades do atleta, possui, tambm, viso profunda da actividade e extremamente meticuloso na correco dos erros esperando uma adaptao rpida dos atletas, centrando-se na prestao do treino num objectivo especfico a ser concretizado na competio. Por outro lado, exige disciplina, mas tambm pretende o apoio e colaborao dos atletas, desenvolvendo-se um clima propcio criao de laos emocionais fortes entre o treinador e o atleta. Barnest, N., Smoll, F. & Smith, R. (1992) concretizaram um programa com o objectivo de incrementarem a relao treinador-atleta com 8 treinadores de basquetebol. Constataram que os treinadores que participaram no programa obtiveram uma percentagem inferior de abandono dos seus atletas, comparativamente a 10 treinadores que no frequentaram o programa, numa amostra total de 202 atletas masculinos, com idades compreendidas entre os 10 e 12 anos. No se verificando diferenas no nvel de sucesso demonstrado pelos 18 treinadores, o programa de modificao dos comportamentos do treinador, implicou que estes optassem por comportamentos de reforo, encorajamento e instruo tcnica em detrimento de punies ou atitudes de no comunicao com os seus atletas. Os atletas destes treinadores gostavam mais dos seus tcnicos e consideravam-nos melhores treinadores, apresentando um esprito de equipa mais consistente e um maior nvel de prazer pela actividade. Aps um ano, os autores estudaram novamente o mesmo grupo de treinadores, concluindo que a taxa de abandono dos atletas era cinco vezes mais elevada para os treinadores que no tinham participado no programa, concretamente 26% para estes treinadores e 5% para os treinadores sujeitos a uma modificao dos seus comportamentos.35

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Baria, Salmela, Ct, Russel, Moraes, Baier, Ping & Pristarincha (1993), citados por Serpa, S. (1995) desenvolveram um estudo transcultural com o objectivo de identificar e comparar os padres de comportamentos de treinadores de elite de vrios pases (Brasil, Canad, China, Rssia e Alemanha). Utilizaram, para tal o Coach`s Knowledge Questionnaire que foi respondido pelos 57 treinadores da amostra numa escala tipo Lickert onde eram assinalados os tipos de comportamentos interactivos entre ginasta e tcnico. Constatou-se que todos os treinadores referem um nvel mnimo de interaco com os ginastas no local de competio o que os autores assinalam ser uma confirmao da investigao de Salmela, J. & Col. (1980) que concluem que os treinadores de maior sucesso eram mais distantes. Shigunov, V., Pereira, V. & Manzotti, O. (1993) estudaram 500 atletas e traaram as seguintes concluses. Os comportamentos afectivos negativos pelo tcnico, como ralhar, punir, gritar, geram tambm sentimentos negativos nos seus atletas (raiva, insegurana, preocupao e falta de concentrao). Da mesma forma, os comportamentos afectivos positivos por parte do treinador (elogiar, afectividade e uso do primeiro nome), implicam tambm sentimentos positivos nos atletas (valorizao, incentivo e satisfao). A grande maioria dos atletas no aceitam os comportamentos afectivos negativos dos treinadores, mesmo quando a razo se fundamenta na tentativa de obter a incrementao da performance. Os atletas consideram importantes os comportamentos de competncia didctica do treinador, bem como a distribuio e gesto do tempo, uso de material, organizao e planeamento do processo de treino. Num estudo realizado com os treinadores franceses da equipa olmpica de vela, Saury, J. & Durand, D. (1995) referem que estes treinadores tm um modo de se relacionar com os atletas caracterizado por quatro componentes: 1- uma atitude emptica para com os atletas; 2- uma negociao relativamente s tarefas do treino; 3- uma delimitao da margem de autonomia do atleta relativamente ao seu treino; 4- um referencial comum como base no conhecimento e nas experincias partilhadas.

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Segundo os mesmos autores, a relao treinador-atleta conhecida como uma actividade cooperativa, organizada para realizar uma tarefa colectiva, na qual o treinador tem objectivos para o seu atleta que tm de ser partilhados por ambos. O treinador depende totalmente da prestao do atleta para conseguir alcanar os seus objectivos profissionais, assim como o atleta necessita do seu treinador para poder evoluir. Esta relao de dependncia torna a dide treinador-atleta complexo e carismtica. Neste sentido, Piron, M. & Bozzi, G. (1988) efectuaram um estudo que pretendia verificar qual o perfil de interveno pedaggica de treinadores de basquetebol junto de 3 grupos diferentes de atletas: atletas belgas de 1. plano, atletas belgas de 2. plano e atletas norte-americanos. Os autores concluram que a relao pedaggica treinadoratleta sofria variaes relativamente ao perfil de interveno do treinador, em funo do tipo de grupo a que o atleta pertencia. Os resultados da pesquisa, permitiram verificar diferenas significativas quanto distribuio de feedback emitidos: 50% do seu total eram dirigidos aos jogadores belgas de 1. plano, 26,2% aos atletas americanos e 23,4% aos jogadores de origem belga mas de 2. plano. Por outro lado, os elogios e louvores foram efectuados em primeiro lugar com atletas norte-americanos (52,6%), em segundo lugar para os jogadores de 1. plano (31,7%) e por ltimo para os atletas belgas de 2. plano (15,8%), sendo 75,3% das repreenses destinadas aos jogadores belgas de 2. plano. Partindo da diviso no percurso da carreira desportiva do nadador em quatro etapas e das dimenses de actuao do treinador, Pereira, P. (1997) procurou identificar as relaes que se estabelecem entre esta dade nas diferentes etapas. Constatou, que a etapa de primeiros sucessos apresenta-se como a mais favorvel no desenvolvimento das relaes entre o treinador e o atleta, talvez derivada de uma transio para um treino de caractersticas mais especficas e necessitando de uma adaptao dos atletas, que37

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procuram e recebem afecto e apoio por parte do treinador. A etapa menos favorvel, apresenta-se na ltima fase da carreira desportiva do atleta, derivada de uma menor contacto pessoal com o treinador e um aumento de criticismo da sua competncia tcnica. Levque, M. (1995) refere que abordar a relao treinador sobre o ngulo da afectividade partilhada, renunciar a todas as generalizaes, a todas as modelizaes deduzveis, a todas as esquematizaes que suportam os procedimentos de preparao, as qualidades requeridas, os incrementos indispensveis. Para o mesmo autor, os tipos de relao treinador-atleta incidem, normalmente, nos aspectos tcnicos ou nos mtodos de aprendizagem, no sendo usual a explorao da relao afectiva que se estabelece entre os dois intervenientes, e que, segundo o autor, apresenta caractersticas prprias de uma relao amorosa, pelo profundo e recproco envolvimento que integra. Stambulova, N. (1996) salienta a importncia do estudo das relaes que se estabelecem entre treinador e atleta durante o percurso da carreira desportiva do atleta. Refere que um perfil desejadamente estabelecido pode incrementar e potenciar o nvel de alcance dos resultados desportivos. Defende que os objectivos principais de eficincia expressam-se em termos do trabalho do treinador, do trabalho do atleta, da relao treinador-atleta e do investimento que cada um despende na sua participao desportiva. Wescott (1980), citado por Shigunov, V. (1991), estudou os efeitos de um treinador encorajador, interagindo com os jogadores e os encorajamentos entre jogadores. Foram seleccionados quatro grupos com diferentes caractersticas scio-econmicas e diferentes habilidades. Foram codificadas as manifestaes verbais de encorajamento sendo positivas e com objectivo de apoiar o esforo dos atletas. Os resultados mostraram que os jogadores que observam um modelo que encorajava, tiveram mais encorajamentos com os seus companheiros mais novos. Lombardo, B. & Pearkman, C. (1984) citados por Serpa, S. (1995) verificaram que os treinadores com idades superiores a 35 anos manifestavam uma percentagem inferior de interaces totais positivas e os que tinham idades superiores a 45 anos eram38

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significativamente mais punitivos na sua interaco no verbal. Determinaram, tambm, que a interaco no verbal negativa era significativamente mais baixa com atletas de idades inferiores a 12 anos. Isberg, L. (1993) ao entrevistar atletas suecos pertencentes a equipas de desportos colectivos, tendo como objectivo determinar o que pretendiam dos treinadores, denotou que estes preferiam um tcnico disponvel para o dilogo, que lhes inspirasse confiana, que elaborasse crticas construtivas, delegasse responsabilidades e que opinasse acerca da sua prestao. Foi tambm observado, que, por vezes, os praticantes no ficam seguros sobre o que os tcnicos pretendem deles e que o julgamento dos atletas e treinadores diferem relativamente ao desejo de sucesso e empenhamento dos primeiros. Um outro estudo efectuado na Universidade de Washington, acompanhou um grupo de treinadores que eram muito positivos na comunicao e que estavam sempre a encorajar os seus praticantes, mesmo sem saberem muito da respectiva modalidade nem serem capazes de fornecer feedback, uma vez que eles vm para a prtica de uma modalidade na tentativa de aprender os seus elementos tcnicos especficos. Chegou-se concluso, que, para alm de gostarem mais destes treinadores, os respectivos praticantes atingiam um nvel mais elevado de auto-estima e pelo facto de serem capazes de aprender, ficavam a ter uma melhor imagem de si prprios. (Martens, R. 1998) Este processo relacional e tudo o que lhe est inerente tem sido considerado fundamental no fenmeno desportivo devido h grande influncia sobre os afectos, cognies e comportamentos dos intervenientes principalmente no que respeita competio propriamente dita. Para Serpa, S. (1995), os treinadores tambm se dividem quanto ao nvel de afinidade que deve existir entre praticante e tcnico, defendendo uns que deve ser elevada, outros que prefervel que exista um distanciamento e outros, ainda, que depende da personalidade e experincia do treinador.

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Segundo estas perspectivas, podemos salientar que a interaco treinador-atleta surge como um processo onde o comportamento do treinador tem uma influncia dominante sobre o atleta, pelo que o treino dever ser planeado tendo em vista objectivos bem definidos de forma a que estes possam ser controlados e avaliados. Para um treinador influenciar de forma correcta o praticante, dever simultaneamente ser um educador cujo nvel cultural seja elevado e possuir um conhecimento pessoal, familiar e social. Em jeito de concluso, estes ltimos estudos aqui referidos mostram-nos a importncia da relao treinador-atleta e o papel importante que o treinador tem no desenrolar de todo o processo desportivo. Hoje, sabe-se que as caractersticas de personalidade do treinador ideal no existe, pelo que se torna importante que o treinador tenha uma disposio prpria para adoptar comportamentos que levem a desempenhar um comportamento adequado segundo as expectativas dos atletas, de acordo com a idade, o sexo e o seu nvel de sucesso de prtica.

6- A INVESTIGAO SOBRE O COMPORTAMENTO DO TREINADOR

Piron, M. (1985) menciona que aps a anlise de 216 documentos de investigao cientfica seleccionados de acordo com uma classificao sistemtica, publicados at 01/01/84 e referente ao ensino das actividades fsicas, somente 12,5% respeitavam ao estudo do comportamento dos treinadores. Vealey, R. (1993), num estudo semelhante, verificou que entre 1987 e 1992, s 8% dos artigos tratavam sobre o treinador. Um outro estudo, salienta que de 10215 publicaes sobre o processo de treino, s 15% referiam-se a estudos sobre psicologia e pedagogia do treino (Ct, J., Trudel, P. & Salmela, J. 1993). A Pedagogia do Desporto, como rea das cincias do desporto, tem procurado identificar os principais padres e comportamentos do treinador.

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O estudo realizado por Metzler, M. (1989), sobre a investigao em Pedagogia do Desporto, refere que "precisamos de descrever o que os treinadores e os atletas fazem, pois quer seja devido dificuldade de implementar a pesquisa ou por existirem poucos investigadores interessados, o facto que o processo de treino est muito pouco explorado em Pedagogia do Desporto"(pp.98). O treinador uma das personagens mais importantes do contexto desportivo, sendo responsvel pela conduo da equipa no treino e na competio, pelo que a observao do seu comportamento e da sua interaco com os atletas se revela muito importante. Assim, a observao do treinador torna-se fundamental para a interpretao do seu comportamento, sendo desenvolvido para o efeito, diversos sistemas de observao. Desta forma, abordaremos o estado actual da investigao centrada no comportamento do treinador e pretendemos igualmente fazer referncia aos principais estudos efectuados em diversos contextos: treino e competio.

6.1- O COMPORTAMENTO DO TREINADOR NO TREINO

A pesquisa de expertise" tem sido um dos modelos mais utilizados na investigao centrada no comportamento do treinador. Um dos estudos que constitui uma referncia neste domnio, foi realizado por Tharp, R. & Gallimore, R. (1976) e um estudo de caso sobre o famoso treinador de basquetebol John Wooden. O estudo consistiu na observao do treinador durante 15 sesses de treino numa poca. Utilizou-se um sistema de categorizao comportamental. Os resultados mostraram que o treinador dedica uma larga percentagem de tempo dedicada Instruo (50.3%). A utilizao de categorias de Presso (12.7%), Modelo Positivo (2.8%), Elogios (6.9%) e Recompensa (1.2%), demonstra a preocupao de o treinador em manter um clima positivo durante o treino.

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semelhana do estudo de Tharp, R. & Gallimore, R. (1976), Langsdorf (1979) citado por Rodrigues, J. (1995), analisou o comportamento de um treinador, mas agora de futebol americano de alto nvel, Frank Kush, treinador principal do Arizona State University que foi observado durante 18 sesses de treino. Os resultados evidenciaram um valor para instruo de 36%, enquanto a categoria reprimenda-reinstruo se situa em 12%. Lucas (1980) citado por Piron, M. (1986b) realizou um estudo baseado no mesmo sistema de observao com um treinador de basquetebol e um treinador de futebol, chegando concluso que a importncia atribuda intensificao do esforo, aos encorajamentos e reinstruo foram as categorias com maior relevo. Piron, M. (1986b) encontrou vrias analogias entre os comportamentos observados nestes dois treinadores e com John Wooden. Smith, R., Zane, N., Smoll, B. & Coppel, D. (1983) conduziram observaes com 31 treinadores de basquetebol responsveis por 23 equipas e os seus 182 atletas masculinos, entre 9 e 12 anos de idade. Verificaram que os comportamentos dos treinadores centravam-se no reforo, encorajamento e instruo tcnica geral, enquanto somente 6% dos comportamentos incidiam em respostas negativas, constatando que os treinadores que demonstravam mais atitudes punitivas eram aqueles que por sua vez forneciam mais instruo tcnica. Sherman & Hassan (1986) citados por Rodrigues, J. (1995) efectuaram um estudo aplicando o sistema CBAS (Coaching Assessonent System) a 102 treinadores de basquetebol, futebol e tnis. Como ilaes mais significativas, verificaram-se que os treinadores passam 85% do seu tempo em comportamentos relevantes para o treino, como, instruo (33%), observao (18%) e feedback (30%), sendo os feedbacks positivos (12%) e correctivos (12%). Os comportamentos irrelevantes assumiam 15% do tempo, aparecendo por exemplo a organizao com 8%.

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Colomberotto, A., Piron, M. & Salesse, D. (1987) estudaram a relao entre os atletas e os seus treinadores em situaes especficas de treino. Observaram quatro treinadores tendo, em mdia, seis atletas na modalidade de ginstica. As categorias observadas foram de instruo, feedback, afectividade e ajuda, em nove situaes especficas de treino. Os resultados evidenciaram a grande predominncia do feedback positivo e afectividade positiva. Claxton, D. (1988) analisou o comportamento de treinadores com e sem sucesso na modalidade de tnis. Foram observados 9 treinadores, sendo 5 treinadores com sucesso e 4 sem sucesso. O critrio de definio de sucesso foi o nmero de vitrias de cada treinador na sua carreira profissional, respeitando os treinadores de maior sucesso com uma percentagem superior a 60% de vitrias, enquanto os treinadores sem sucesso tm uma percentagem igual ou inferior a 50%. Os resultados revelam que a Instruo a principal interveno dos treinadores de ambos os grupos, sendo os treinadores sem sucesso aqueles que apresentam uma valor mais elevado de comportamentos de Instruo (12%) e de Elogios (4.8%), comparativamente aos treinadores com sucesso (8.3% e 2.8% respectivamente). De uma forma geral, estes treinadores dedicam grande parte do tempo em Observao Silenciosa (19.6% - 24.8%), Gesto (6.8% - 13.5%) e Outros Comportamentos (33.5% - 51%). Os objectivos do estudo de Piron, M. & Renson, D. (1988) foram caracterizar o comportamento do treinador durante o treino e determinar a situaes de treino escolhidas pelo treinadores. Para o efeito, foram observados 3 treinadores de equipas de futebol snior na Blgica, pertencentes 1 diviso na poca de 1986/1987. Os treinadores foram sistematicamente observados em dois perodos de 3 semanas no perodo competitivo. Foi utilizado um sistema de observao que comporta 12 categorias comportamentais. A Observao Silenciosa foi a categoria com valor mais elevado (entre 45.3% e 75.1%), seguido da categoria de Instruo (6.8% - 20.3%), de Orientao (3.1% - 14.9%), Feedback (2.9% - 9.5%), Outros (0.1% - 9%) e Afectividade (0% - 4.4%). O estudo permitiu, ainda, concluir que o comportamento do43

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treinador apresenta alteraes em funo dos seus objectivos em relao a cada situao de treino (tcnica, tctica e competio simulada no treino). Num outro estudo (Lacy, 1989 citado por Rodrigues, J. 1995), no qual so observados 12 treinadores de futebol juvenil, posto em evidncia a importncia dos comportamentos de gesto, pr-instruo e elogios, pelos valores elevados que representam. Por outro lado, revelou uma taxa de 3:1 no ratio entre os elogios e as reprimendas. Segrave, J. & Ciancio, C. (1990) realizaram um estudo com o objectivo de analisar o comportamento de Beau Kilmer, um treinador de sucesso de Futebol Americano para jovens. Esta pesquisa usou como instrumento de anlise o C.B.R.F. (Coaching Behavior Recording Form), tendo sido observados 20 sesses de treino, correspondendo 5 sesses a cada perodo da poca desportiva: "pr-poca", "incio do perodo competitivo", durante o perodo competitivo" e no "final do perodo competitivo". De uma forma geral, os resultados indicam a Instruo como o principal comportamento do treinador (33.6%), seguido da Interaco com os atletas (21.1%) e dos Elogios (12.5%). O tipo de interaco dominantemente positiva, face idade dos atletas em que as expresses constituem uma fonte de motivao dos atletas e criam um ambiente positivo no treino, ajudando a manter elevados os nveis de auto-estima e de moral dos atletas. Quanto ao comportamento do treinador em funo do momento da poca desportiva em que a equipa se encontra, verificou-se que existe ao longo da poca uma diminuio da Instruo, Modelao e Questionamento, e um aumento das Interaces e Outros Comportamentos. Apresentado pela primeira vez em 1991, no II Congresso de Educao Fsica dos Pases de Lngua Portuguesa, o S.O.T.A (Sistema de Observao do Treinador e do Atleta), (Sarmento, P., Rodrigues, J., Rosado, A., Ferreira, V. & Veiga, A. 1993a) tem-se revelado um instrumento importante para a observao de comportamentos dos treinadores e atletas no contexto desportivo. Este sistema foi aplicado a treinos de44

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voleibol e de natao de alto-rendimento, tendo os resultados evidenciado uma dominncia dos comportamentos de Observao Silenciosa (58% a 77%). Verificou-se tambm que no voleibol a Instruo (12%) e a Correco (13%) so mais elevados do que na natao (5% e 7% respectivamente). Num outro estudo realizado por Sarmento, P., Rodrigues, J., Veiga, A., Ferreira, V. & Rosado, A. (1993b) em que foi utilizado o mesmo sistema de observao (S.O.T.A), foi observado o comportamento de treinadores de alta-competio em Voleibol, Ginstica de Trampolins e Natao. O perfil de comportamentos dos treinadores de voleibol apresenta, com valores mais elevados, a categoria de Observao (58.7%), seguido de Informao (10.7%). Relativamente modalidade de natao, os dados evidenciam uma predominncia na categoria de Observao (72.5%), seguido de Conversas (6.6%). Por ltimo, a modalidade de ginstica de trampolins, revela valores relativamente elevados na categoria de Observao (51.8% - 46.4%) e na Gesto (21% - 16.8%). Existem tambm estudos que incidem em anlises mais especficas do comportamento dos treinadores como o realizado por Rosado, A., Campos, J. & Aparcio, J. (1993), em que foram observados 4 treinadores de 3 modalidades (Andebol, Basquetebol e Ginstica Desportiva). Foi utilizado um sistema de observao dos comportamentos entusiastas em Desporto. Os resultados revelam que os treinadores apresentam, em mdia, uma taxa de 1,3 comportamentos entusiastas por minuto, existindo uma predominncia do encorajamento e presso (31.6%), do feedback positivo (26.8%), sinais gestuais (7.3%), demonstrao (7.2%) e inflexes de voz (6.4%). Quanto aos comportamentos de noentusiasmo mais frequente foi o feedback negativo (3.1%), seguido por comportamentos de afectividade negativa (2.4%) e por manifestaes de irritabilidade (2.2%).

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Rodrigues, J. (1995) no seu estudo, tem como uma das suas preocupaes, a procura de eventuais diferenas de comportamento de acordo com os objectivos dos treinos de Voleibol em diferentes momentos da poca desportiva. Foram observados 10 treinadores num total de 91 treinos, distribudos equilibradamente pelos 4 perodos correspondentes a cada objectivo (preparatrio, pr-competio, aps vitria e aps derrota). O instrumento de anlise foi o S.O.T.A.. O estudo revelou que existem diferenas significativas nas categorias Correco (entre os treinos de preparao, 5.3% e os treinos aps vitria, 2.6% e aps derrota, 1.7%), Afectividade Positiva (entre os treinos aps vitria, 0.1% e aps derrota 1.7%), Presso (entre os treinos pr competio, 3.3% e aps derrota, 4.7%) e Outros Comportamentos (entre os treinos pr-competio, 0.3% e aps derrota, 3.7%). O autor conclui, que em funo dos resultados, o treinador apresenta estratgias de interveno pedaggica diferentes. Na comparao entre os treinos de preparao, pr-competio e aps vitria no foram encontradas diferenas significativas. Ferreira, V. & Rodrigues, J. (1997) efectuaram um estudo que pretendeu caracterizar o perfil comportamental de diferentes treinadores de ginstica de trampolins de vrias nacionalidades. O sistema de observao utilizado foi o S.O.T.A. (Sistema de Observao do Treinador e do Atleta), de forma a analisar as principais funes do treinador no treino pr-competitivo (treino imediatamente antes da competio) e efectuado no local da competio. Deste estudo, os resultados apresentam uma dominncia das categorias de Observao (40% a 70%), Correco (6% a 28%), Informao (1% a 15%) e de gesto (0.5% a 9.2%). Ao estudar os comportamentos de entusiasmo em Voleibol, Pereira, A. (1996) investigou tais comportamentos analisando sesses de treino em escales de formao, de modo a verificar a influncia de variveis como a formao profissional, a experincia profissional, o currculo dos treinadores, o nvel de prtica (escales de46

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formao), o sexo dos atletas e a influncia dos resultados das competies nesses mesmos comportamentos. Os resultados revelaram que, em termos de comportamentos de entusiasmo, existe uma predominncia dos comportamentos de Identificao do Atleta (41.5%), Encorajamento e Presso (19%), de Feedback Positivo (15%) e de Rir, Sorrir e Gracejar (5.5%). Nos comportamentos de no entusiasmo, existe uma predominncia dos comportamentos de Frustrao e Irritabilidade (5%), Afectividade Negativa (2%), Desinteresse e Distnciao (1.7%) e de Feedback Negativo (1.5%). Quando comparados os comportamentos entusiastas e no entusiastas dos vrios grupos de treinadores, verificou-se que no existem diferenas significativas entre treinadores: (1) com formao, experincia e currculos diferenciados; (2) com atletas de diferentes escales; (3) com diferentes resultados na competio ocorrida entre os dois tipos de treino. Num estudo sobre o comportamento e as decises interactivas em treino, de treinadores de Basquetebol experientes e inexperientes, Jones, D., Housner, L. & Kornspar, A. (1997) chegaram concluso que os treinadores experientes deram mais instrues tcnicas do que os treinadores inexperientes, precisamente por terem mais experincia a analisar gestos tcnicos. Santos, R. (1998) procurou caracterizar a actividade pedaggica do treinador de tnis (decises pr-interactivas e comportamentos interactivos), em situao de treino com jovens em dois contextos diferentes (desporto escolar e desporto federado). Foram observados 12 treinadores com formao especializada em tnis atravs do S.O.T A.. Este autor revela que os resultados mais significativos dos treinadores federados observados foram a Observao (43.7%), Correco (15.9%), Gesto (14.3%), Informao (6.1%), Conversas (5.6%), Presses (4%). Por outro lado, os treinadores do desporto escolar apresentaram mais comportamentos de Observao (38.1%), Correco47

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(19.2%), Gesto (16.6%), Informao (7.7%), Demonstrao (2.9%), Conversas e Presso (2.5%). O autor refere a existncia de diferenas significativas no comportamento dos dois grupos em estudo, onde as categorias observao silenciosa, conversas e outros comportamentos, apresentam valores observados superiores nos treinadores no Clube, por outro lado os professores no Desporto Escolar apresentam valores de demonstrao superiores. Desta forma, verificou-se algumas diferenas no significativas nas categorias de correco, questionamento e ateno s interaces verbais, ocorrendo, estas mais no Desporto Escolar. Num outro estudo do comportamento do treinador, Brito, A. (1999) pretendeu saber at que ponto o treinador de ginstica artstica do sistema desportivo federado, apresenta um comportamento diferente ou no do treinador de ginstica do sistema educativodesporto escolar, em situao de treino que antecede a competio e em situao de treino aps a competio. O instrumento de observao utilizado foi o S.O.T.A., sendo observados 13 treinadores: 8 treinadores no clube e 5 professores no desporto escolar. O autor verificou que os comportamentos do professor no desporto escolar em treino anterior competio mais dominantes foram a Observao (32%), Gesto (22%), Correco (12.7%), Informao (9.86%) e Presso (7.74%). Relativamente aos comportamentos do professor em treino ps competio, os resultados indica-nos valores mais elevados nas categorias de Observao (27.42%), Gesto (21.38%), Informao (11.88%), Correco (10%) e Presso (6.7%). Por outro lado, a observao dos treinadores no clube em treino anterior competio revelam como categorias com valores mais elevados de Observao (26%), Correco (16.9%), Gesto (14.4%), Conversas (7.16%) e Informao (7.11%). Os resultados relacionados com o treino ps competio apresentam valores mais elevados nas categorias de Observao (27.36%), Correco (19.54%), Gesto (15.28%), Presso48

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(8.05%) e Informao (7.18%). Segundo o estudo realizado, verificaram-se diferenas significativas nas categorias de Observao e Afectividade Positiva quando em treinos realizados antes da competio. Nos treinos realizados ps competio, encontraram-se diferenas significativas nas categorias Correco e Avaliao Negativa. Costa, L. (2000) realizou uma investigao que teve por objectivo saber qual a influncia dos comportamentos dos treinadores sobre a permanncia ou o abandono de jovens praticantes de Judo em escales de formao (juvenis I e juvenis II). semelhana de outros estudos, foi utilizado como instrumento de observao o SOTA, observando 8 treinadores e 72 atletas, tendo verificado que os comportamentos predominantes foram a Informao (24.2%), Observao (20%), Gesto (11.3%), Presso (10.1%) e Correco (6.02%). O autor confirmou a existncia de associaes estatisticamente significativas nas categorias de Correco em sentido negativo, Avaliao Positiva e Gesto.

Quadro n. 1 : Comparao dos resultados dos principais estudos em treinoAUTOR ANO MODALIDADE CATEGORIAS

Tharp, R. & Gallimore, R.

1976 Basquetebol

Instruo - 50.3% Presso- 12.7% Elogios- 6.9% Modelo Positivo- 2.8% Recompensa-1.2%

Langsdorf, E. Lucas, G.

1979 Futebol Americano 1980 Basquetebol

Instruo- 36% Reprimenda - Reinstruo - 12% Intensificao ao Esforo Encorajamentos Reinstruo

AUTOR

ANO

MODALIDADE

CATEGORIAS

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Smith, R,; Zane, N., Smoll, 1983 Basquetebol B. & Coppel, D.

Reforo Encorajamento Instruo Respostas Negativas- 6%

Sherman, M. & Hassan, J.

1986 Basquetebol Futebol Tnis

Instruo- 33% Feedback- 30% Observao- 18% Organizao- 8% feedback positivo e afectividade positiva Treinadores com sucesso Outros comp.- 33.5% Observao- 19.6% Instruo- 8.3% Gesto- 6.8% Elogios- 2.8% Treinadores sem sucesso Outros comp.- 51% Observao- 24.8% Gesto- 13.5% Instruo- 12% Elogios- 4.8%

Colomberotto, A., Piron, 1987 Ginstica M. & Salesse, D. Claxton, D. 1988 Tnis

Piron, M. & Renson, D.

1988 Futebol

Observao Silenciosa- 45.3% - 75.1% Instruo- 6.8% - 20.3% Orientao- 3.1% - 14.9% Feedback- 2.9% - 9.5%

Lacy, A.

1989 Futebol

Gesto Pr-instruo Elogios

Segrave, J. & Ciancio, C.

1990 Futebol Americano

Instruo- 33.6% Interaco- 21.1% Elogios- 12.5%

Sarmento, P., Rodrigues, 1993 Voleibol J., Rosado, A., Ferreira, a Natao V. & Veiga, A.

Observao- 58% Instruo- 12% Correco- 13% Observao- 77% Correco- 7% Instruo- 5%

AUTOR

ANO

MODALIDADE

CATEGORIAS

50

Relao treinador-atleta em futebol

Sarmento, P., Rodrigues, 1993 Voleibol J., Veiga, A., Ferreira, V. b & Rosado, A.

Observao- 58.7% Informao-10.7% Conversas- 7.1% Gesto- 6.4% Correco- 5.7%

Natao

Observao- 72.5% Conversas- 6.6% Correco- 6.5% Informao- 5.6% Gesto- 4.8%

Ginstica trampolins

Observao- 51.8 % - 46.4% Gesto- 21% - 16.8% Correco- 16.2% - 15.2% Conversas- 1.5 %- 12.9% Informao- 3.4 %- 2.6%

Rosado, A. Campos, J. & 1993 Andebol Aparcio, J. Basquetebol Ginstica desportiva

Encorajamento e presso- 31.6% Feed-back positivo- 26.8% Sinais gestuais- 7.3% Demonstrao- 7.2% Inflexes de voz- 6.4% Feedback negativo- 3.1% Afectividade negativa- 2.4% Irritabilidade- 2.2%

Rodrigues, J.

1995 Voleibol

Correco- 1.7% - 5.3% Afectividade (+)- 0.1% - 1.7% Presso- 3.3% - 4.7% Outros Comportamentos- 0.3% - 3.7%

Pereira, A.

1996 Voleibol

Identificao do atleta- 41.5% Encorajamento e presso- 19% Feed-back positivo- 15% Rir, sorrir e gracejar- 5.5% Frustrao e irritabilidade- 5% Afectividade negativa- 2% Desinteresse e distnciao- 1.7% Feed-back negativo - 0.8%

AUTOR

ANO

MODALIDADE

CATEGORIAS

51

Relao treinador-atleta em futebol

Ferreira, V. & Rodrigues, 1997 Ginstica trampolins J.

Observao- 40% - 70% Correco- 6% - 28% Informao- 1% - 15% Gesto- 0.5% 9.2%

Jones, D., Housner, L. & 1997 Basquetebol Kornspar, A. Santos, R. 1998 TnisFederado:

Instrues tcnicas Desporto Observao- 43.7% Correco- 15.9% Gesto- 14.3% Informao- 6.1% Conversas- 5.6% Presses- 4%

Desporto Escolar:

Observao-38.1% Correco- 19.2% Gesto- 16.6% Informao- 7.% Demonstrao-2.9% Conversas- 2.5% Presso- 2.5%

Brito, A.

1999 Ginstica Artstica competio Ps-competio

Observao- 32% Correco- 12.7% Informao- 9.86% Observao- 27.42% Gesto- 21.38% Informao- 11.88% Correco- 10%

D. Escolar- Anterior Gesto- 22%

Federado- Anterior Observao- 26% competio Correco- 16.9% Gesto- 14.4% Conversas- 7.16% Ps-competio Observao- 27.36% Correco- 19.54% Gesto- 15.28% Presso- 8.05%AUTOR ANO MODALIDADE CATEGORIAS

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Costa, L.

2000 Judo

Informao- 24.% Observao- 20% Gesto- 11.% Presso- 10.% Correco- 6.2%

6.2- O COMPORTAMENTO DO TREINADOR EM COMPETIO

Durante a competio, o comportamento do treinador pode ser influenciado por diversas variveis, que normalmente no esto presentes no treino. Os estudos incidindo sobre a anlise do comportamento do treinador em competio so muitos escassos, pelo que vamos revelar alguns estudos j efectuados. Smoll, B., Smith, R., Curtis, B. & Hunt, E. (1978) procuraram descrever o comportamento do treinador e relacionar com a percepo dos atletas sobre esse mesmo comportamento. Foram analisados 51 treinadores do sexo masculino num total de 202 jogos e 542 atletas entre os 8 e os 15 anos, de programas de Beisebol de jovens. O instrumento de recolha de dados foi o C.B.A.S. e quanto aos resultados de observao verificou-se que aproximadamente 66% dos comportamentos observados pertencem apenas 3 categorias: Instruo (27.3%), Encorajamento (21.4%) e Reforo (17.1%). Uma das pesquisas que teve como objectivo a descrio do comportamento de treinadores de jovens durante a competio foi realizada por Lombardo, B., Farone, N. & Pothier, D. (1982). Foram observados 34 treinadores durante os jogos do campeonato de vrias modalidades escolhidas aleatoriamente. O sistema de observao utilizado foi o LoCoBAS (Lombardo Coaching Behavior Analysis System).

Os resultados revelam que cerca de 45% dos comportamentos dos treinadores so no53

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interactivos (Observao Silenciosa). Cerca de 36.6% dos comportamentos de interaco registados foram dirigidos aos atletas individualmente. A interaco com os rbitros apresenta um valor de 4.6% do total das interaces. possvel, ainda, constatar a existncia de interaces com o treinador-adjunto, pblico e adversrios, correspondendo a estas cerca de 6 % do total de interaces. O estudo de Smith, R., Zane, N., Smoll, B. & Coppel, D. (1983) tinha como um dos principais objectivos, verificar quais os principais comportamentos do treinador durante a competio. Foram observados 31 treinadores de jovens em 110 jogos na modalidade de basquetebol, tendo como instrumento de recolha de dados uma adaptao do C.B.A.S. (Coaching Bahavior Assessment System). Dos resultados apurados, emerge as predominncia dos comportamentos de Instruo (35.8%), Reforo (22.9%) e Encorajamento Geral (15,8%), sendo estas 3 categorias responsveis por cerca de 72,5% do total de comportamentos registados. Os comportamentos de suporte positivo so superiores aos de suporte negativo numa proporo de 7:1. Em situao de competio, embora simulada numa sesso de treino, Piron, M. & Renson, D. (1988) estudaram o perfil de comportamento do treinador. Nesta pesquisa, estes autores caracterizaram o seu perfil de comportamento em trs situaes especficas de treino: situao tctica, situao tcnica e de competio. O comportamento que obtm uma percentagem mais significativa, em situao competitiva a categoria de Observao, salientado a predominncia das Repreenses relativamente aos Elogios, apresentando o primeiro, uma valor de 3,4% e o segundo um valor de 1,4%. Quando comparados com as situaes tcnica e tctica, o exerccio competitivo apresenta valores mais baixos relativamente s categorias de Instruo e Feedback, deixando a ideia de que a predominncia do comportamento do Treinador nas situaes de competio a Observao do contexto, deixando para situaes de carcter mais analtico (tcnico-tctico) o Reforo da Prtica, a Correco e os momentos de54

Relao treinador-atleta em futebol

Instruo. Isberg, L. (1993) estudou o padro de comportamento do treinador de elite e seus efeitos nos atletas em situao real de competio tendo sido observados 3 treinadores de desportos colectivos, bandy, futebol e hquei no gelo. Os atletas foram submetidos a questionrio acerca da sua percepo das suas funes. Dos dados recolhidos sobre o comportamento do treinador, registamos uma dominncia de instruo (46%-72%), seguido do feedback positivo (19%-32%) e do apoio psicolgico (9%-24%). Cloes, M., Delhaes, J. & Pieron, M. (1993) desenvolveram um estudo de forma a verificar quais as diferenas entre equipas vitoriosas e derrotadas em Voleibol, baseado na observao do conportamento dos treinadores durante os tempos de repouso. Foram observados 5 treinadores de equipas masculinas e 5 treinadores de equipas femininas da 1 e 2 diviso belga. Foi utilizado um sistema de anlise dos comportamentos verbais do treinador, que engloba 5 dimenses: Objectivo, Referencial, Direco, Origem e Tempo. Foram analisados os tempos mortos, sendo os aspectos tcnico tcticos (41.8%) o objectivo principal das intervenes dos treinadores, como o momento em que so fornecidos mais instrues aos atletas com o objectivo de melhorar o rendimento. Os resultados mostram que, quanto ao objectivo das intervenes dos treinadores, existe uma dominncia de comportamentos scio-afectivos, como a Incitao Aco (27.2%), os Elogios (24.6%). Num estudo similar, a pesquisa realizada por Ct, J.; Trud