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PROCEDIMENTO DE PREPARAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DE
OBRA
Vanessa Leitão Tomásio Ferreira
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Civil
Júri
Presidente: Prof. Jorge Manuel Caliço Lopes de Brito
Orientador: Prof. Francisco José Loforte Teixeira Ribeiro
Co-orientador: Eng. Ângelo Ribeiro Batista
Vogais: Prof. Alberto Martins Pereira da Silva
Setembro 2008
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Aos meus Pais por todo o carinho e apoio ao longo da minha vida.
Obrigada por tudo.
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Agradecimentos
Em primeiro lugar, agradeço ao Prof. Francisco Loforte Ribeiro pela forma como orientou o
meu trabalho e pela disponibilidade demonstrada ao longo deste percurso.
Gostaria também de expressar um agradecimento muito especial ao Eng.º Ângelo Batista pela
oportunidade para desenvolver esta dissertação na Tecnovia e por todo o apoio prestado.
Agradeço ainda a todos aqueles dentro da empresa que contribuíram para a realização deste
trabalho, em particular ao Eng.º Luís Serra, à Eng.ª Ana Rita Trindade, ao Eng.º Paulo Salgado e
ao Eng.º Sérgio Conceição.
Ao Mestre Paulo Vaz Serra e às antigas colegas Mónica Vera-Cruz e Sílvia Chaves agradeço
a disponibilidade para esclarecer dúvidas e partilhar conhecimentos.
Um agradecimento muito especial aos meus Pais, a quem dedico esta dissertação, pela
compreensão e incentivo constantes, sem os quais não teria sido possível chegar até aqui.
Por fim, agradeço aos meus amigos e colegas pela alegria nas horas boas e pelo apoio nas
menos boas, especialmente ao Daniel, à Maria Manuel, à Elisa, à Ana Marçal, à Inês Rita e à
Ana Rita Nascimento.
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v
Resumo
Na indústria da construção, o produto final resulta da conjugação de vários factores, pelo que
é cada vez mais importante antecipar situações desfavoráveis e prever soluções mais adequadas.
Neste contexto, o processo de preparação de obra e a reutilização do conhecimento interno das
organizações surgem como ferramentas fundamentais para optimizar soluções, reduzir os
imprevistos e minimizar os erros, aumentando assim a probabilidade de sucesso durante a
execução das obras.
O modelo proposto nesta dissertação, desenvolvida em parceria com a empresa Tecnovia -
Sociedade de Empreitadas S.A, pode ser aplicado a qualquer tipo de obra, com o intuito de
melhorar o seu processo de preparação. Para tal, apresenta-se uma metodologia e uma check-list,
compostas pelos principais aspectos a abordar na realização deste processo, o qual é
complementado pela consulta de informação relevante compilada na Base de Conhecimento,
elaborada em Microsoft Access 2007. Esta Base de Conhecimento é composta por sete
formulários e quatro modelos de relatório. Desta forma, é possível editar, consultar e imprimir
informação, resultante do conhecimento e das experiências adquiridas nas obras executadas
anteriormente, que pode ser útil para a adopção de medidas estratégicas e resolução de
problemas, quer na fase de preparação quer na de execução das obras futuras.
Um maior controlo do desenvolvimento da obra e a redução dos riscos de imprevistos são as
principais vantagens resultantes da implementação do modelo proposto, o qual foi testado e
validado através da aplicação a uma obra real, já executada pela empresa cooperante.
Palavras-chave: Preparação de obra, gestão do conhecimento, reutilização do conhecimento,
Base de Conhecimento, Microsoft Access
vi
vii
Abstract
In the construction industry, the final product is yielded by a combination of several factors,
which is why it is more and more important to anticipate adverse situations and foresee the most
suitable solutions. This is where preparation of works and the re-use of internal knowledge,
within organizations, come into their own as basic tools for optimizing solutions, reducing the
occurrence of the unexpected and minimizing errors, thereby increasing the likelihood of success
during the execution of construction projects.
The model proposed in this dissertation has been developed in partnership with Tecnovia –
Sociedade de Empreitadas SA and can be applied to construction projects of any kind, as an aid
to the preparation of works. It comprises a methodology and a check-list composed of the chief
issues to be addressed by the process. It is complemented by consulting the relevant information
compiled in the Knowledge Base, developed in Microsoft Access 2007. This Knowledge Base
consists of seven forms and four report templates. It is therefore possible to edit, consult and
print information provided by the knowledge and experience acquired in already-completed
construction projects. This can help in the adoption of strategic measures and problem resolution,
at the preparation stage and during the execution of future similar construction projects.
Greater control over the progress of works and reduction of the risk of unforeseen events
occurring are the main advantages of implementing the proposed model. It has been tested and
validated by applying it to a real construction project, which the partner company has already
finished.
Keywords: Preparation of works; knowledge management; re-use of knowledge; Knowledge
Base, Microsoft Access.
viii
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil ix
Índice
1. Introdução ................................................................................................................................... 1
1.1. Justificação ..................................................................................................................... 1
1.2. Campo de aplicação ........................................................................................................ 1
1.3. Objectivos ....................................................................................................................... 2
1.4. Metodologia de investigação .......................................................................................... 3
1.5. Organização da dissertação ............................................................................................ 4
2. Estado do Conhecimento ............................................................................................................ 5
2.1. Introdução ....................................................................................................................... 5
2.2. Processo de pesquisa implementado .............................................................................. 6
2.3. Análise da informação .................................................................................................... 7
2.3.1. Preparação de obra ...................................................................................................... 8
2.3.1.1. Principais conceitos .................................................................................................. 8
2.3.1.2. Processo de preparação de obra .............................................................................. 11
2.3.1.3. Regulamentação ..................................................................................................... 21
2.3.2. A gestão do conhecimento na construção ................................................................. 24
2.3.2.1. Definição de conhecimento .................................................................................... 24
2.3.2.2. Reutilização do conhecimento no contexto da preparação de obra ........................ 26
2.4. Conclusão ..................................................................................................................... 30
3. Estudo de Casos ........................................................................................................................ 33
3.1. Introdução ..................................................................................................................... 33
3.2. Metodologia de investigação ........................................................................................ 34
3.2.1. Metodologia de observação directa - Fichas de caso de estudo ................................ 34
3.2.2. Metodologia de observação indirecta - Questionários .............................................. 39
3.3. Procedimento e práticas em vigor na empresa ............................................................. 41
3.4. Descrição dos casos de estudo ...................................................................................... 44
3.5. Análise e interpretação da informação recolhida ......................................................... 47
Índices
x Instituto Superior Técnico
3.5.1. Procedimento de preparação de obra actualmente em vigor na empresa .................. 48
3.5.2. Desempenho das obras .............................................................................................. 49
3.5.3. Principais dificuldades e problemas recorrentes ....................................................... 50
3.5.4. Aspectos a melhorar .................................................................................................. 54
3.5.5. Factores de sucesso.................................................................................................... 54
3.5.6. Base de Conhecimento/Banco de Memória .............................................................. 55
3.6. Conclusões .................................................................................................................... 57
4. Modelo Proposto ....................................................................................................................... 59
4.1. Introdução ..................................................................................................................... 59
4.2. Metodologia de Preparação de Obra ............................................................................ 60
4.2.1. Procedimento ............................................................................................................. 60
4.2.2. Documentos ............................................................................................................... 66
4.2.3. Check-list ................................................................................................................... 66
4.3. Modelo de uma Base de Conhecimento de apoio à Preparação de Obra ..................... 69
4.3.1. Bases do modelo ........................................................................................................ 69
4.3.1.1. Modelo Relacional.................................................................................................. 72
4.3.1.2. Modelo Entidade-Relacionamento (E-R) ............................................................... 75
4.3.2. Descrição do modelo ................................................................................................. 76
4.3.2.1. Formulários............................................................................................................. 76
4.3.2.2. Relatórios ................................................................................................................ 84
4.4. Campo de aplicação ...................................................................................................... 85
4.5. Conclusões .................................................................................................................... 85
5. Teste e Validação do Modelo ................................................................................................... 87
5.1. Introdução ..................................................................................................................... 87
5.2. Requisitos e aplicação do modelo ................................................................................ 87
5.3. Teste e validação .......................................................................................................... 88
5.3.1. Menu inicial ............................................................................................................... 89
5.3.2. Identificação da obra ................................................................................................. 90
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil xi
5.3.3. Descrição sumária ..................................................................................................... 90
5.3.4. Aspectos de execução ................................................................................................ 91
5.3.5. Análise económica..................................................................................................... 92
5.3.6. Consulta de obras por grupo ...................................................................................... 94
5.3.7. Consulta de obras por tipo ......................................................................................... 95
5.3.8. Relatório Pontos de melhoria - Materiais .................................................................. 97
5.3.9. Relatório Pontos de melhoria – Soluções construtivas.............................................. 97
5.3.10. Relatório Pontos de melhoria – Soluções técnicas .................................................. 98
5.3.11. Relatório Identificação da obra ............................................................................... 99
5.4. Teste de técnicas de programação - Análise de desempenho ..................................... 100
5.5. Conclusões .................................................................................................................. 101
5.6. Propostas de melhoria ................................................................................................. 102
6. Conclusão ................................................................................................................................ 103
6.1. Introdução ................................................................................................................... 103
6.2. Avaliação dos resultados ............................................................................................ 103
6.3. Contribuição e aspectos inovadores ........................................................................... 104
6.3.1. Contribuição para o conhecimento .......................................................................... 104
6.3.2. Contribuição para a indústria ................................................................................... 106
6.4. Limitações .................................................................................................................. 107
6.5. Trabalhos futuros ........................................................................................................ 107
Referências bibliográficas ........................................................................................................... 109
Anexos ......................................................................................................................................... A1
Anexo I – Fichas de caso de estudo (Preparação de obra) ................................................. A3
Anexo II – Fichas de caso de estudo (Acompanhamento de obra) .................................... A7
Anexo III – Questionários ................................................................................................ A13
Índices
xii Instituto Superior Técnico
Índice de figuras
Figura 1.1 – Metodologia da investigação ...................................................................................... 3
Figura 2.1 – Geração e reutilização do conhecimento .................................................................... 8
Figura 2.2 – Diligências para um empreendimento [5] ................................................................ 10
Figura 2.3 – Organização do plano de trabalhos para a construção [15] ...................................... 20
Figura 2.4 – Actividades da gestão do conhecimento................................................................... 25
Figura 2.5 – Ciclo da gestão do conhecimento ............................................................................. 26
Figura 3.1 – Âmbito da investigação ............................................................................................ 33
Figura 3.2 – Metodologia de investigação .................................................................................... 34
Figura 3.3 – Organograma das fichas de recolha de dados das obras executadas ........................ 37
Figura 3.4 - Organograma das fichas de recolha de dados das obras em preparação ................... 38
Figura 3.5 - Organograma dos questionários ................................................................................ 41
Figura 3.6 - Processo de preparação de obra desde a proposta à execução .................................. 43
Figura 4.1 – Articulação do procedimento de preparação de obra com a Base de Conhecimento59
Figura 4.2 – Processo de preparação de obra ................................................................................ 60
Figura 4.3 – Ciclo dados-conhecimento-decisão [39] .................................................................. 69
Figura 4.4 - Arquitectura do modelo de Base de Conhecimento .................................................. 70
Figura 4.5 - Fases de desenvolvimento de uma Base de Conhecimento [39]............................... 70
Figura 4.6 – Modelo relacional ..................................................................................................... 74
Figura 4.7 – Diagrama Entidade-Relacionamento [retirado do Microsoft Access 2007] ............. 75
Figura 5.1 – Características de qualidade exigidas pela norma ISO/IEC 9126 [40] .................... 88
Figura 5.2 – Formulário Menu inicial ........................................................................................... 89
Figura 5.3 – Formulário Identificação da obra ............................................................................ 90
Figura 5.4 – Formulário Descrição sumária................................................................................. 91
Figura 5.5 – Formulário Aspectos de execução ............................................................................ 92
Figura 5.6 – Formulário Análise económica ................................................................................. 93
Figura 5.7 – Janela de selecção do grupo a consultar ................................................................... 94
Figura 5.8 – Formulário Consulta de obras por Grupo (Alentejo) .............................................. 94
Figura 5.9 - Formulário Consulta de obras por Grupo (Algarve) ................................................ 94
Figura 5.10 - Formulário Consulta de obras por Grupo (Sede) ................................................... 95
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil xiii
Figura 5.11 - Formulário Consulta de obras por Grupo (Viseu) ................................................. 95
Figura 5.12 - Janela de selecção do tipo de obra a consultar ........................................................ 95
Figura 5.13 - Formulário Consulta de obras por tipo (Requalificação urbana) ........................... 96
Figura 5.14 - Formulário Consulta de obras por tipo (Vias de comunicação – Estrada Nacional)
....................................................................................................................................................... 96
Figura 5.15 - Formulário Consulta de obras por tipo (Vias de comunicação – Itinerário
Complementar) ............................................................................................................................. 96
Figura 5.16 - Janela para introdução do número da obra .............................................................. 97
Figura 5.17 – Relatório Pontos de melhoria - Materiais .............................................................. 97
Figura 5.18 - Janela para introdução do número da obra .............................................................. 98
Figura 5.19 - Relatório Pontos de melhoria – Soluções construtivas ........................................... 98
Figura 5.20 - Janela para introdução do número da obra .............................................................. 98
Figura 5.21 - Relatório Pontos de melhoria – Soluções técnicas ................................................. 98
Figura 5.22 - Janela para selecção da obra pretendida .................................................................. 99
Figura 5.23 - Relatório Identificação da obra .............................................................................. 99
Figura 5.24 – Objectos da Base de Conhecimento analisados.................................................... 100
Figura 5.25 – Ideias de optimização apresentadas pelo Analisador de desempenho.................. 101
Índices
xiv Instituto Superior Técnico
Índice de quadros
Quadro 2.1 – Classificação dos riscos segundo Wideman [18] .................................................... 18
Quadro 3.1 – Casos de estudo ....................................................................................................... 35
Quadro 3.2 – Número de inquéritos distribuídos .......................................................................... 39
Quadro 3.3 – Caracterização da amostra ...................................................................................... 47
Quadro 3.4 - Obras com prorrogação legal do prazo de execução ............................................... 49
Quadro 3.5 - Distribuição das dificuldades pelas obras em estudo .............................................. 51
Quadro 3.6 – Principais actividades críticas ................................................................................. 53
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil xv
Índice de gráficos
Gráfico 3.1 – Experiência profissional dos entrevistados ............................................................. 47
Gráfico 3.2 – Classificação do desempenho das obras ................................................................. 49
Gráfico 3.3 – Principais dificuldades encontradas ........................................................................ 51
Gráfico 3.4 – Utilidade da Base de Conhecimento e dos relatórios de fecho de obra e
disponibilidade para colaborar ...................................................................................................... 56
Índices
xvi Instituto Superior Técnico
Índice de tabelas
Tabela 4.1 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário
Datas ............................................................................................................................................. 77
Tabela 4.2 – Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do formulário
Identificação da obra .................................................................................................................... 77
Tabela 4.3 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário
Principais quantidades finais ....................................................................................................... 78
Tabela 4.4 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do formulário
Descrição sumária ........................................................................................................................ 78
Tabela 4.5 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário
Pontos de melhoria – Materiais .................................................................................................... 79
Tabela 4.6 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário
Pontos de melhoria – Soluções construtivas ................................................................................ 79
Tabela 4.7 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário
Pontos de melhoria – Soluções técnicas ....................................................................................... 79
Tabela 4.8 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do formulário Aspectos
de execução ................................................................................................................................... 80
Tabela 4.9 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário
Actividades críticas ....................................................................................................................... 80
Tabela 4.10 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário
Quadro comparativo ..................................................................................................................... 81
Tabela 4.11 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do formulário Análise
económica ..................................................................................................................................... 82
Tabela 4.12 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário
Actividades positivas ..................................................................................................................... 83
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 1
1. Introdução
1.1. Justificação
Na indústria, em especial na da construção, o produto final resulta da conjugação de vários
factores como a selecção das tecnologias de construção, as particularidades do projecto, a
localização geográfica, a meteorologia, entre outros. Assim, existem inúmeras condicionantes
que podem influenciar o desempenho das obras, tanto pela positiva como pela negativa, pelo que
é cada vez mais importante antecipar os riscos e prever soluções mais adequadas. Neste contexto,
o processo de preparação de obra surge como uma ferramenta crucial.
Por outro lado, a elevada competitividade dos mercados actuais faz com que as empresas já
não encontrem vantagens competitivas no exterior das mesmas, pois o acesso aos meios
necessários a esta actividade está facilitado. Então, a verdadeira vantagem competitiva resulta do
conhecimento interno das próprias organizações, o qual é único, raro e valioso. A reutilização
deste conhecimento no processo de preparação de obra permite optimizar as práticas das
empresas e minimizar os erros, aumentando assim a probabilidade de sucesso das obras.
1.2. Campo de aplicação
Este projecto de investigação foi desenvolvido em parceria com a empresa Tecnovia,
Sociedade de Empreitadas S.A, pelo que o modelo desenvolvido e apresentado nos Capítulos 4 e
5 surge no seguimento das práticas e procedimentos em vigor na empresa, ainda que possa ser
aplicado a qualquer tipo de obra além das de vias de comunicação, caso se efectuem algumas
adaptações.
Capítulo 1 – Introdução
2 Instituto Superior Técnico
1.3. Objectivos
A presente dissertação tem como objectivo contribuir para a consolidação do procedimento de
preparação das obras, especialmente rodoviárias, assim como o acompanhamento e
implementação de uma Base de Conhecimento de boas práticas construtivas, na empresa
cooperante – a Tecnovia.
No que se refere ao procedimento de preparação de obra, pretende-se minimizar os riscos de
imprevistos na execução das obras e estabelecer bases de partida, para uma consistente gestão de
recursos e adequado controlo físico e económico do projecto, face às metas e objectivos
previamente traçados.
Por outro lado, pretende-se compilar de forma ordenada os aspectos mais relevantes
identificados durante o período de execução das obras, através da criação da Base de
Conhecimento/Banco de Memória, de modo a, no futuro mais ou menos próximo, ser consultada
para adopção de medidas estratégicas, de situações idênticas, quer em fase de orçamentação,
quer em fase de execução.
Para atingir estes objectivos é necessário:
- efectuar uma pesquisa e análise bibliográfica das técnicas, conceitos e regulamento
relacionados com a preparação de obra, especialmente das obras rodoviárias;
- proceder ao levantamento e abordagem do procedimento existente e aplicado na empresa até
à data;
- identificar e recolher a informação necessária para a elaboração da Base de Conhecimento;
- desenvolver o sistema de gestão de conhecimento (Base de Conhecimento) através da
compilação de informação relevante para a preparação de futuras obras;
- implementar e promover o recurso à Base de Conhecimento como prática fundamental no
complemento aos processos de preparação e execução da obra.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 3
1.4. Metodologia de investigação
A presente dissertação resulta de um trabalho de investigação de aproximadamente um ano,
realizado em parceria com a empresa Tecnovia, Sociedade de Empreitadas S.A.
A Figura 1.1 mostra as principais etapas desta investigação. O primeiro passo consistiu na
realização de algumas reuniões com vista a identificar as necessidades da empresa no âmbito
desta temática e estabelecer os objectivos do estudo e o seu planeamento. Seguidamente,
efectuou-se uma pesquisa e consequente análise da bibliografia relevante para a elaboração do
fundamento teórico, no qual esta dissertação se baseia. Simultaneamente, foi-se tomando
conhecimento e acompanhando as práticas da empresa. Após a determinação do estado do
conhecimento, procedeu-se à recolha e análise de dados na empresa, relativos às obras pré-
seleccionadas, para identificar os pressupostos e oportunidades nos quais o modelo desenvolvido
assenta. Por fim, testou-se o modelo proposto para aperfeiçoamento e validação, através da sua
aplicação a uma das obras em estudo.
Figura 1.1 – Metodologia da investigação
Integração na empresa e definição dos objectivos
Pesquisa e análise bibliográfica
Levantamento das práticas e procedimentos em vigor na empresa
rRecolha, tratamento estatístico e análise dos dados relativos às obras em estudo
Desenvolvimento do modelo proposto
Teste e validação do modelo
Capítulo 1 – Introdução
4 Instituto Superior Técnico
1.5. Organização da dissertação
A organização desta dissertação reflecte a metodologia de investigação seguida, pelo que está
organizada em seis capítulos. Assim, a estrutura do trabalho é:
• Capítulo 1 – introdução, objectivos e metodologia da investigação e organização da
dissertação;
• Capítulo 2 – análise da informação relevante, como conceitos, modelos e estudos,
resultantes da pesquisa bibliográfica efectuada, com vista a estabelecer a base teórica
desta dissertação;
• Capítulo 3 – levantamento das práticas e procedimentos em vigor na empresa
cooperante e recolha e análise dos dados relativos às obras pré-seleccionadas em
estudo;
• Capítulo 4 – descrição do modelo proposto, onde se inclui uma metodologia para a
realização da preparação de obra, uma check-list e uma Base de Conhecimento/Banco
de Memória, desenvolvido com base na análise bibliográfica e nos casos de estudo;
• Capítulo 5 – teste do modelo proposto, através da sua aplicação a um caso de estudo e
apresentação dos resultados para consequente demonstração da validação do modelo;
• Capítulo 6 – avaliação do cumprimento dos objectivos propostos, apresentação das
limitações da investigação, descrição do contributo deste trabalho para a comunidade
científica e para a indústria e exposição de sugestões de trabalhos futuros.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 5
2. Estado do Conhecimento
2.1. Introdução
O presente capítulo constitui o fundamento teórico, baseado em trabalhos e conhecimentos
anteriores, imprescindível para a elaboração do restante estudo.
Esta dissertação desenrola-se segundo duas vertentes que se complementam, pois ainda que se
pretenda aperfeiçoar o procedimento de preparação de obra existente na empresa cooperante, tal
só é possível através de um maior conhecimento interno, resultante da análise dos dados relativos
às obras já executadas. Assim sendo, decidiu-se organizar a informação resultante da pesquisa
bibliográfica em dois subtemas.
Primeiramente, abordou-se a temática da preparação de obra, expondo modelos defendidos
por alguns autores sobre os elementos e etapas que este procedimento deve englobar. Para
melhor compreender este tema, apresenta-se uma síntese dos principais conceitos que importa
conhecer para desenvolver este processo e efectua-se um breve enquadramento regulamentar,
realçando os artigos fundamentais respeitantes a esta prática.
No segundo subtema, explorou-se a aplicação da gestão do conhecimento à metodologia da
preparação de obra. Analogamente à estrutura adoptada no subtema anterior, também aqui se
desenvolveu uma secção onde se apresentam as definições mais relevantes neste contexto, como
sejam a de conhecimento e os seus tipos, bem como o papel que este desempenha e a sua
importância. Em seguida, expõem-se alguns modelos de sistemas de gestão do conhecimento no
âmbito da construção, estabelecidos por especialistas internacionais. Deste modo, é possível
efectuar uma análise crítica, demonstrando, de uma forma explícita e objectiva, a aplicabilidade
desta temática à construção, nomeadamente, à metodologia da preparação de obra.
Na secção seguinte, explicita-se o processo de pesquisa desenvolvido, com vista à recolha de
informação relevante para a elaboração deste estudo.
Capítulo 2 – Estado do Conhecimento
6 Instituto Superior Técnico
2.2. Processo de pesquisa implementado
No âmbito da temática em questão, realizou-se uma pesquisa bibliográfica dividida em duas
componentes, de acordo com os subtemas considerados.
O primeiro passo consistiu na procura em sites de referência, nomeadamente no Science
Direct, de artigos de revistas conceituadas no meio científico, recorrendo a palavras-chave
relacionadas com a preparação de obra e a gestão do conhecimento na construção. É de salientar
a dificuldade em encontrar literatura actual e internacional relativa ao primeiro tema, pelo que foi
necessário efectuar uma pesquisa mais aprofundada, recorrendo a outros meios, especialmente
livros técnicos existentes nas bibliotecas do Instituto Superior Técnico e do Laboratório Nacional
de Engenharia Civil, nas livrarias nacionais e on-line. Simultaneamente, utilizaram-se os motores
de busca da Biblioteca do Conhecimento Online e de outras bibliotecas de universidades e
institutos do país. Foram também consultados estudos e trabalhos, sobretudo teses de mestrado
de autores nacionais, bem como os decretos-lei mais relevantes, associados à preparação de obra.
No que se refere ao subtema da gestão do conhecimento, constatou-se existir pouca literatura
portuguesa sobre o assunto, visto tratar-se de um tema inovador. Assim, a principal fonte de
informação foram os artigos de revistas e jornais de referência internacionais, onde se destacam
o International Journal of Project Management, o Automation in Construction e o Journal of
Knowledge Management.
Nesta selecção foi dada preferência às publicações mais recentes, com vista à recolha da
informação mais actualizada.
Após triagem das publicações com interesse para este trabalho, efectuou-se a leitura e
identificação dos conceitos, definições e modelos, resultando na análise que em seguida se
expõe.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 7
2.3. Análise da informação
A elevada competitividade dos mercados tem vindo a tornar cada vez mais importante a
difusão do conhecimento interno nas organizações. À medida que as técnicas e processos vão
evoluindo e o acesso aos meios vai sendo mais fácil, aumenta a dificuldade em encontrar
vantagens competitivas no exterior das organizações, pelo que estas se viraram para si próprias,
em busca de uma aprendizagem interna que lhes permitisse aperfeiçoar e melhorar
continuamente os seus desempenhos. É neste contexto que a gestão do conhecimento ganha uma
importância crescente.
No caso específico da construção, o produto final são as obras, ou seja, a concretização dos
projectos, os quais, segundo a Association for Project Management [1] consistem num “conjunto
de actividades coordenadas com instantes de início e fim bem definidos, executadas por uma
dada entidade individual ou colectiva com vista à realização de um objectivo bem definido,
dentro de determinadas restrições de tempo, orçamento e performance”. Por seu turno Walker
[2] definiu as obras como “objectos com características individuais únicas na concepção e
execução”.
Deste modo, cada obra apresenta características específicas, resultantes de diversos factores,
tais como: as particularidades do projecto, a utilização, os processos construtivos e a localização.
Esta última condicionante influencia não só a natureza do terreno, mas também as condições em
que os trabalhos vão ser executados. De acordo com Domingues [3], cada obra como “única nas
suas características e especificidades, apresenta um grau elevado de incerteza”, que se traduz
numa vasta gama de situações e imprevistos com potenciais impactos negativos no processo de
execução da obra. Assim, é compreensível que as empresas procurem cada vez mais, prevenir e
minimizar todas as situações que possam ter efeitos nefastos no seu desempenho, bem como
assegurar o sucesso das actividades mais favoráveis através de preparações de obra mais
completas e eficazes.
Capítulo 2 – Estado do Conhecimento
8 Instituto Superior Técnico
Preparação de obra
Acompanhamento da execução da obra
Fecho da obra
Conhecimento
Para servir tal objectivo, há que evitar incorrer nos mesmos erros e aprender com a
experiência para optimizar os resultados. A Figura 2.1 mostra como o conhecimento gerado ao
longo de todo o processo de execução das obras constitui um factor chave na melhoria da
preparação das obras futuras.
Figura 2.1 – Geração e reutilização do conhecimento
2.3.1. Preparação de obra
2.3.1.1. Principais conceitos
Quando se aborda a temática da preparação de obra, é necessário ter presente os
principais conceitos e definições que lhe estão associados.
Pela designação de obra entende-se “todo o trabalho de construção, reconstrução,
restauro, ampliação, alteração, reparação, conservação ou adaptação e demolição de bens
imóveis” [4]. Estas podem ser públicas ou particulares, consoante se trate de um dono de obra
público ou particular, ou seja, consoante a pessoa, individual ou colectiva, proprietária dos bens e
que executa ou manda executar a obra, seja pública ou não.
Por outro lado, o empreiteiro corresponde “à entidade responsável pela execução de uma
obra em regime de contrato de empreitada” [4]. Note-se que podem existir várias empreitadas
numa mesma obra, pois uma empreitada é a forma de contrato pelo qual uma das partes se obriga
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 9
em relação à outra a executar um conjunto de trabalhos, mediante um preço, os quais podem
englobar ou não a totalidade da obra. Existe ainda a figura do subempreiteiro, correspondente a
“pessoa singular, ou colectiva, autorizada a exercer a actividade de empreiteiro de obras
públicas ou de industrial de construção civil, que executa parte da obra mediante contrato com
a entidade executante” [5].
A realização de uma obra divide-se em várias fases:
� Concurso/Convite – processo através do qual as propostas apresentadas pelos
concorrentes são avaliadas, de modo a seleccionar os empreiteiros que irão executar a
obra;
� Adjudicação – nesta fase, após a análise das propostas, o dono da obra decide contratar
com o concorrente que apresentou a proposta mais vantajosa, notificando-o e dando
seguimento ao processo que conduz à assinatura do contrato;
� Consignação – acto pelo qual o representante do dono da obra faculta ao adjudicatário os
locais e as peças escritas ou desenhadas complementares do projecto e necessários à
execução da obra;
� Preparação – de acordo com a definição dada por Correia dos Reis [5], consiste na
elaboração de um conjunto de documentos que possibilitam a programação das acções a
empreender no decorrer da execução da obra;
� Execução – corresponde à realização física da obra, segundo o plano anteriormente
estabelecido e que vai sendo adaptado à medida que vão surgindo condicionantes
diferentes das consideradas inicialmente;
� Recepção – esta última etapa tem duas componentes: uma provisória e outra definitiva. A
recepção provisória, na qual a obra é entregue ao cliente, ocorre após a realização da
vistoria final pela fiscalização, com a assistência do empreiteiro, e caso não se verifiquem
deficiências resultantes de infracção às obrigações contratuais e legais do empreiteiro. A
Capítulo 2 – Estado do Conhecimento
10 Instituto Superior Técnico
recepção definitiva é formalizada quando na nova vistoria, efectuada após decorrido o
prazo de garantia, não se detectarem deficiências.
Na Figura 2.2 apresenta-se todo o processo desde a detecção das necessidades que
originam o projecto até à entrada em funcionamento da obra construída.
Figura 2.2 – Diligências para um empreendimento [5]
Em geral, a preparação de obra é realizada pelo director técnico da obra, ou seja, pelo
técnico designado pelo dono da obra, quando se trate de uma obra dividida em várias
empreitadas ou pelo técnico do empreiteiro, nos casos em que tal é previsto no contrato. Para
Alves Dias [4], o papel do preparador consiste na orientação do modo de execução da obra,
planeando as acções que irão constituir as linhas gerais da realização da obra, em conjunto com
os seus colaboradores. Adicionalmente, Correia dos Reis [5] considera que o estudo do projecto,
a detecção de erros e a proposta de soluções ou alterações também se englobam nas tarefas do
responsável pela preparação de obra.
Detecção de necessidades
Estudos Técnico-Económicos Estudos prévios de Engenharia
Estudo de mercado
Anteprojecto Projecto de execução e programa de concurso
Anúncio do Concurso ou Convite
Orçamento Proposta
Recepção das propostas
Análise das propostas
Contrato
Adjudicação
Consignação
Execução
Preparação
Funcionamento
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Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 11
2.3.1.2. Processo de preparação de obra
É frequente assumir que a preparação de obra se limita ao planeamento da mesma, o que
não corresponde de todo à verdade. Uma boa e eficiente preparação de obra engloba muitos
outros aspectos, ainda que se baseie em apenas quatro pilares fundamentais:
1 – a identificação dos trabalhos e das suas principais características;
2 – a programação prévia, correspondente ao plano de trabalhos;
3 – a previsão dos recursos, tanto de equipamentos como de materiais;
4 – o reorçamento.
Para Mourão Reis [6], a preparação de obras de construção, públicas ou privadas, é uma
actividade complexa, cujo principal objectivo passa por “fornecer às várias frentes de trabalho
elementos gráficos que permitam compreender, de forma clara e exacta, o que se pretende
construir.” Esta actividade deve ser metódica e sistemática, sempre focada no objectivo, visto
que se existirem erros, a preparação de obra torna-se ineficaz. Assim sendo, este processo só se
apresenta vantajoso quando resolve e colmata as insuficiências do projecto, constituindo neste
caso uma das mais importantes actividades da construção. Também Cardoso [7] realça a
importância deste procedimento, na medida em que permite corrigir e ultrapassar dificuldades e
deficiências, antecipando-as. Assim, não só se evitam os resultados negativos e incumprimento
de prazos, que levam ao aumento dos custos, como também permite melhorar os resultados
positivos.
Segundo Alves Dias [4], a preparação de obra compreende a organização de um conjunto
de elementos que permitam executar a obra nas melhores condições de qualidade, segurança,
prazo e custo. Por seu turno, para Correia dos Reis [5], a preparação de obra visa optimizar um
conjunto de factores, como qualidade, segurança, prazo, custo e ambiente, sendo por isso um
processo complexo, devido à interligação entre eles. Contudo, todas estas condições devem ser
verificadas, de modo a que a obra atinja o desempenho esperado. Para tal, é necessário saber o
que se pretende construir e de que forma, o que implica o estudo do projecto e do regime
pretendido para a construção, bem como o conhecimento de todas as condições de execução.
Capítulo 2 – Estado do Conhecimento
12 Instituto Superior Técnico
Todavia, é na prática que se encontram os fundamentos para um bom trabalho de
preparação de obra, visto que todos os conhecimentos relativos à execução, materiais e
problemas se adquirem apenas na obra, através da observação e aprendizagem. [6]
A lista que se segue, compilada por Alves Dias [4], apresenta os principais elementos que
devem ser preparados antes do início da execução da obra:
- Organização do dossier de empreitada;
- Preparação do livro de registo de obra;
- Análise do contrato e caderno de encargos da obra;
- Estudo do projecto da obra e respectivas especificações técnicas;
- Estudo dos processos construtivos mais adequados;
- Identificação dos fornecedores de materiais, subempreiteiros e tarefeiros;
- Projecto do estaleiro;
- Projecto de sinalização de carácter temporário;
- Plano de demolição;
- Plano de escavação e contenção periférica;
- Projecto de implantação e piquetagem da obra;
- Plano definitivo de trabalhos;
- Plano de pagamentos e cronograma financeiro da obra;
- Diagramas de cargas da mão-de-obra por especialidades;
- Cronograma da mão-de-obra total;
- Curva de progresso físico da obra;
- Lista de erros e omissões do projecto (no caso de empreitadas por preço global);
- Plano de utilização dos equipamentos de estaleiro afectos à obra;
- Sistema de gestão ambiental;
- Sistema de gestão da qualidade;
- Sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho;
- Procedimentos de execução dos trabalhos;
- Sistema de controlo de subcontratados;
- Sistema de controlo de custos;
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 13
- Sistema de controlo de tempos de execução;
- Reorçamento da obra.
O dossier da empreitada serve de apoio ao controlo técnico, económico e administrativo
da obra, através da compilação de informação relativa à mesma, como: ficha de empreitada,
contrato, auto de consignação, proposta do empreiteiro, lista de preços unitários contratuais,
plano de trabalhos, plano de pagamentos, cronograma financeiro e matriz de definição de tarefas
e respectivas competências.
O livro de registo de obra, obrigatório pela regulamentação, consiste num conjunto de
folhas numeradas e rubricadas pelo empreiteiro e pela fiscalização na data da assinatura do auto
de consignação, contendo informação organizada e de fácil consulta dos acontecimentos mais
significativos relativos à execução dos trabalhos.
Com vista à elaboração de todos os documentos necessários para o início da execução
dos trabalhos, Mourão Reis [6] considera fundamental a leitura antecipada e procura de
diferenças entre as informações contidas nas Peças Escritas e Desenhadas, bem como eventuais
pedidos de esclarecimento ao dono da obra.
De acordo com Correia dos Reis [5], o processo de preparação de obra deve assentar nas
seguintes etapas:
- Compilação e estudo de toda a documentação do projecto, de modo a completar
eventuais elementos em falha;
- Organização dos planos de execução dos trabalhos;
- Revisão rigorosa das medições e do orçamento apresentado, estabelecendo
rectificações;
- Realização do planeamento da obra, atendendo às disponibilidades de equipamento do
empreiteiro e aos programas de execução.
Cardoso [7] define o processo de preparação de obra como a adaptação do projecto à
obra, decompondo-a nos seguintes aspectos:
Capítulo 2 – Estado do Conhecimento
14 Instituto Superior Técnico
- Eliminação de dúvidas, erros e omissões;
- Análise das Peças Escritas e Desenhadas para a definição das fases e métodos de
execução;
- Elaboração de desenhos distintos de fabrico e colocação, pormenores de execução, de
modo legível e adequado aos conhecimentos de quem vai executar os diferentes trabalhos;
- Medição e rectificação das quantidades de trabalho a executar de cada tarefa;
- Elaboração de notas explicativas dos aspectos particulares, pouco usuais ou
desconhecidos.
A comparação das quantidades nos desenhos com a lista de quantidades do Articulado é
crucial, pois não são raras as vezes em que se verificam discrepâncias, sendo nesses casos
necessário accionar o processo de erros e omissões com a maior celeridade possível, dado
existirem prazos estabelecidos para o efeito. Pretende-se assim rectificar as diferenças, de modo
a que o empreiteiro não seja prejudicado, ao incorrer em custos não previstos resultantes destas
incorrecções.
Salienta-se também, tal como defende Mourão Reis [6], a importância das Peças Escritas,
na medida em que o seu conhecimento é fundamental para que o responsável pela preparação de
obra complemente os seus desenhos de execução com toda a informação necessária às frentes de
obra. Ainda que os encarregados tenham acesso aos elementos do projecto, são os desenhos do
preparador os mais significativos na obra, pois corrigem o projecto, constituindo o guia para a
execução dos trabalhos.
Paralelamente às etapas acima mencionadas, este autor refere ainda outras actividades
relevantes neste processo, tais como:
- Organização e separação da informação do projecto necessária às várias consultas e
encomendas;
- Procura de informação necessária, tanto na Internet como através de outros meios, para
complementar as informações do projecto, nos casos em que este se apresente insuficiente em
determinados aspectos;
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 15
- Gestão das preparações desenvolvidas pelos respectivos subempreiteiros, fornecendo-
lhes todos os dados relevantes actualizados e notificando-os de todas as condicionantes relativas
a outras subempreitadas susceptíveis de criar conflitos;
- Proposta de soluções alternativas.
Este último ponto requer alguns cuidados. Por um lado, se depois do estudo aprofundado
das possíveis soluções, houver uma alternativa favorável à obra, a sua escolha deve ser encarada
com seriedade. Contudo, ao propor soluções alternativas, a responsabilidade da concepção é
transferida para o empreiteiro, além da óbvia responsabilidade pela execução da obra,
implicando maiores responsabilidades durante o período de garantia da empreitada. Assim, antes
de efectuar propostas de soluções alternativas, há que assegurar a sua aplicabilidade e viabilidade
no contexto da obra em causa. Adicionalmente, o empreiteiro pode ainda ser responsabilizado
pela aplicação de materiais ou técnicas de execução inapropriadas, sem ter tido o cuidado de
alertar o dono da obra sobre as possíveis consequências ou prejuízos daí decorrentes.
Dada a constante evolução das tecnologias no sector da construção, existem diversas
alternativas para a execução de uma mesma actividade, as quais, de acordo com Fonseca [8],
podem influenciar o custo, o rendimento, a disponibilidade e a fiabilidade, pelo que as diferentes
hipóteses devem ser sempre analisadas. Para Cardoso [7], a selecção dos processos construtivos
constitui um dos passos imprescindíveis no processo de preparação de obra, uma vez que assim
se podem obter significativas economias, “quer directamente através da escolha, em cada caso,
do método mais adequado à execução da obra, quer indirectamente através do aumento da
produtividade” e consequente redução de prazos. Também Hendrickson e Au [9] referem a
escolha dos métodos e técnicas a utilizar na execução de uma obra como um dos factores cruciais
para assegurar o cumprimento dos objectivos estabelecidos.
Quando se perspectiva o início de uma obra há outras etapas a ter em conta com vista a
uma eficaz preparação dessa obra, sendo uma delas as visitas ao local da obra [10]. A
necessidade da sua realização advém da possibilidade de recolha de dados relativos ao local da
construção, destacando-se aspectos como a topografia do terreno e o seu estado, os acessos por
estrada e caminho-de-ferro, os abastecimentos de água, energia e materiais, o recrutamento de
Capítulo 2 – Estado do Conhecimento
16 Instituto Superior Técnico
mão-de-obra, facilidades de comunicações por telefone e correio e a existência de linhas de água,
que possam interferir na execução da obra. Correia dos Reis [5] refere a natureza do terreno
como outro dos factores a analisar, não só para avaliar as suas características, mas também o seu
comportamento superficial nos períodos de chuva, o que poderá ter consequências no rendimento
ou andamento dos trabalhos.
Por seu turno, Ruíz [11] acrescenta ainda a verificação das dimensões do terreno, de
forma a evitar conflitos com os proprietários dos terrenos confinantes. Por vezes, é mesmo
necessário chegar a um acordo relativo à ocupação parcial dessas propriedades para instalação de
oficinas e contentores ou para a utilização destas para acesso. A visita ao local é também crucial
para a elaboração do plano do estaleiro e para averiguar o tipo de ocupação da propriedade,
determinando assim a necessidade de demolições ou decapagens.
Este autor evidencia também a consulta, junto das autarquias ou semelhantes entidades
locais, de elementos adicionais que permitam um melhor conhecimento da zona, nomeadamente
a proximidade a pontos de fornecimento de materiais, a abundância de mão-de-obra, as
distâncias a percorrer até vazadouros e o clima da região. Maria [10] sugere mesmo o recurso à
Internet para consultar as previsões meteorológicas, visto que o estado do tempo pode influenciar
consideravelmente o andamento dos trabalhos, pelo que se deve conhecer tais previsões quando
se efectua o planeamento das actividades. Além disso, alguns trabalhos ou materiais requerem
condições específicas que têm maior probabilidade de ocorrência nalgumas épocas do ano, o que
também deve ser tido em consideração no planeamento.
Naturalmente, estas considerações têm maior expressão nas obras situadas fora das zonas
urbanas.
Como se verificou pelo exposto acima o processo de preparação de obra engloba vários
aspectos, mas dois deles, nomeadamente o reorçamento e o planeamento, revestem-se de uma
especial importância em qualquer obra.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 17
Reorçamento:
O reorçamento assemelha-se ao orçamento ideal, na medida em que traduz a adaptação
do orçamento comercial à obra, com o objectivo de minimizar os custos. Assim, o orçamento
comercial tem de ser trabalhado, procurando aplicar processos construtivos e materiais que se
apresentem mais vantajosos, bem como a utilização dos equipamentos que melhor se adequam
aos trabalhos a executar, de modo a optimizar o planeamento e consequentemente, o orçamento.
Desta forma, é possível maximizar o resultado económico final, ou seja, o lucro, que constitui o
objectivo último de qualquer empresa.
Segundo Cardoso [7], é importante descriminar o mapa orçamental, o que facilita a
detecção dos possíveis erros de orçamentação ou incoerências face à realidade da obra,
permitindo antecipar derrapagens. Assim, é possível procurar, na fase de preparação de obra,
alternativas ou soluções que minimizem esses efeitos.
A optimização dos custos deve ser alcançada através da minimização dos preços secos,
ou seja, os preços sem margem, correspondentes apenas à execução do trabalho, de modo a
aumentar as respectivas margens relativamente aos preços de venda.
A estrutura de custos de uma obra é a seguinte:
Valor de Venda = Custos + Margem
Custos = Custo Industrial + Custo Não Industrial
Custo Industrial = Custos Directos + Custos Indirectos
Custos Directos = Mão-de-Obra + Materiais + Equipamentos + Subempreitadas +
Diversos
Custos Indirectos = englobam todos os encargos que dizem respeito à empreitada e
que não incidem directa e exclusivamente sobre a execução das várias actividades que
constituem a obra
Custo Não Industrial = Encargos de Estrutura + Encargos Industriais
Capítulo 2 – Estado do Conhecimento
18 Instituto Superior Técnico
Planeamento:
Segundo Raz, Shenhar e Dvir [12], os projectos de construção acarretam um elevado
risco, visto que demasiados factores podem provocar atrasos, custos excessivos, resultados
insatisfatórios ou até mesmo falhar por completo os objectivos. Adicionalmente, Flanagan [13]
afirma que as especificidades dos projectos de construção, como o prazo de execução, as
condições meteorológicas, as condicionantes financeiras e a complexidade tecnológica também
são factores causadores de riscos. Assim, é lógico que as empresas procurem aumentar a
probabilidade de sucesso das suas obras e projectos, implementando um planeamento mais
eficaz. Para atingir este objectivo, Smith [14] afirma que é necessário saber gerir a incerteza e
conhecer os eventuais imprevistos, pelo que a identificação e avaliação antecipada dos
problemas é essencial.
Rodrigues [15] definiu o planeamento como “uma actividade fundamental para a gestão
e execução dos projectos de construção. Envolve por isso, a escolha da tecnologia de
construção, a definição de actividades, a estimação de durações e recursos necessários para as
tarefas e a identificação das suas inter-relações.” Por seu turno, Kerzner [16] defende a redução
do grau de incerteza como uma das razões fundamentais para se proceder ao planeamento de
uma obra.
O planeamento assume desta forma um papel crucial, pois, de acordo com Zwikael e
Sadeh [17], é nesta fase que os riscos devem ser identificados e analisados. O Quadro 2.1 mostra
a classificação dos riscos, em cinco grupos, estabelecida por Wideman [18].
Quadro 2.1 – Classificação dos riscos segundo Wideman [18]
Riscos
Externos - imprevisíveis e incontroláveis
Externos – previsíveis e incontroláveis
Internos – não técnicos e controláveis
Internos – técnicos e controláveis
Legais e controláveis
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 19
Por sua vez, Abdou [19] classificou os riscos na construção em três categorias:
- financeiros,
- associados aos prazos,
- de projecto.
Uma das ferramentas mais importantes nesta fase é o plano de trabalhos, o qual, de
acordo com o artigo 159º do Decreto-Lei nº59/99 de 2 de Março [20], “ se destina à fixação da
sequência, prazo e ritmo de execução de cada uma das espécies de trabalhos que constituem a
empreitada e à especificação dos meios com que o empreiteiro se propõe executá-los”. Para
Cardoso [7], o planeamento do trabalho consiste na definição da ordem e da forma como este vai
ser executado e em que tempo, permitindo assim evitar interrupções, repetições e incrementos de
custos, o que requer um “estudo metódico, organizado e aprofundado aos pormenores na
procura de soluções que, adoptadas, conduzam a uma execução racional dos diferentes
trabalhos.” Assim sendo, há que ter em consideração todos os factores que podem influenciar a
execução da obra, sobretudo a duração das actividades, a qual é função da natureza dos trabalhos
de construção, pelo que a prática e experiência do responsável por esta fase assume especial
importância.
Um conceito relevante para a determinação das durações dos trabalhos é o de rendimento,
o qual traduz, de acordo com Alves Dias [4], a quantidade de tempo de trabalhador/máquina,
necessária à realização de uma unidade de trabalho. Inversamente, a produtividade representa a
quantidade de trabalho produzida por determinada equipa/máquina num dado intervalo de tempo.
Silva [21] defende que os métodos mais frequentemente usados na determinação das
durações das actividades são: o Critical Path Method (CPM) e o Program Evaluation and
Review Technique (PERT). A principal diferença entre estas metodologias reside no facto de no
CPM se admitirem durações determinísticas, enquanto no PERT estas são consideradas
probabilísticas e resultantes da combinação de três durações possíveis: uma optimista (duração
da actividade caso tudo corra bem – valor mínimo), uma mais provável (duração normal da
actividade) e outra pessimista (duração da actividade se tudo correr mal – valor máximo). Ambos
se baseiam no conceito de caminho crítico, ou seja, o caminho composto pelas actividades
Capítulo 2 – Estado do Conhecimento
20 Instituto Superior Técnico
Plano de Trabalhos da Construção
Orientação para custos
Custos Directos Custos Indirectos
Orientação para calendarização
Durações (Definição do
Caminho Crítico)
Recursos (Calendarização de
utilização de recursos)
críticas. Estas actividades têm folga nula, pelo que qualquer atraso na sua execução condiciona
directamente o prazo final. Por actividades não críticas entenda-se as que têm alguma folga, isto
é, têm alguma margem para atrasos na sua execução, sem afectar a data de conclusão da obra.
Segundo o mesmo autor [21], “a duração do caminho crítico define a duração do projecto.”
Resta salientar que o plano de trabalhos elaborado na fase de preparação de obra visa
maximizar o lucro que a empresa pode obter, através da redução do tempo de execução, o que
implica uma diminuição dos custos associados ao estaleiro. Contudo, para reduzir o prazo pode
ser necessário aumentar os recursos, o que nem sempre é viável. Assim, há que encontrar o ponto
de equilíbrio no qual o benefício resultante da redução do prazo é superior ao custo do aumento
dos recursos. A Figura 2.3 mostra as duas vertentes de orientação do plano de trabalhos.
Figura 2.3 – Organização do plano de trabalhos para a construção [15]
Em suma, o planeamento constitui a base para uma boa orçamentação e calendarização
dos trabalhos.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 21
2.3.1.3. Regulamentação
No processo de preparação de obra importa conhecer as principais directrizes legais e
regulamentares que regem a actividade da construção, o que permite ao empreiteiro não só
exercer os seus direitos, mas também estar ciente das suas responsabilidades.
Em seguida, apresenta-se uma síntese dos principais artigos considerados relevantes para
o enquadramento deste estudo.
A legislação portuguesa estipula que, para a execução das obras, as empresas podem
constituir agrupamentos temporários de três tipos:
• Agrupamento Complementar de Empresas (ACE) – consiste num contrato
constitutivo entre as empresas agrupadas que regula a actividade comum a desenvolver.
Este agrupamento possui personalidade jurídica, mantendo os seus membros
individualidade jurídica e podendo ser constituído com ou sem capital próprio. [22]
• Consórcio: neste tipo de contrato os seus membros obrigam-se a realizar de forma
concertada uma actividade, não possuindo personalidade jurídica. [22]
- Interno – quando: “ (i) as actividades ou os bens são fornecidos a um
dos membros do consórcio e só este estabelece relações com terceiros; (ii) as actividades
ou os bens são fornecidos directamente a terceiros por cada um dos membros do
consórcio, sem expressa invocação dessa qualidade.”
- Externo – quando “as actividades ou os bens são fornecidos
directamente a terceiros por cada um dos membros do consórcio, com expressa invocação
dessa qualidade. Neste caso, os membros do consórcio deverão designar um chefe de
consórcio ao qual competirá, entre outras funções que lhe sejam atribuídas, coordenar a
actividade do consórcio.”
• Associação em participação – consiste na associação de uma pessoa (associada) a
uma actividade económica exercida por outra (associante), ficando a associada a
Capítulo 2 – Estado do Conhecimento
22 Instituto Superior Técnico
participar nos lucros ou nos lucros e perdas que desse exercício resultarem para a
segunda. [22]
Note-se que as empreitadas podem ser de um de três tipos existentes:
• Por preço global – o montante da remuneração a receber pelo empreiteiro,
correspondente à realização de todos os trabalhos necessários para a execução da obra
objecto do contrato, é previamente fixado;
• Por série de preços – a remuneração do empreiteiro resulta da aplicação dos preços
unitários, estabelecidos no contrato para cada espécie de trabalho a realizar, às
quantidades desses trabalhos realmente executadas;
• Por percentagem – o empreiteiro compromete-se a executar a obra pelo preço
correspondente ao seu custo, acrescido de uma percentagem relativa aos encargos de
administração e à remuneração da empresa.
No âmbito da preparação de obra, os conceitos anteriores reflectem-se no modo de
resolução das questões respeitantes aos custos a mais a assumir em determinadas situações.
Como o regime mais frequente é o de preço global, serão as disposições que lhe correspondem as
abordadas a seguir.
Um prazo que assume especial relevância é o relativo a reclamações quanto a erros e
omissões do projecto. De acordo com o Decreto-Lei nº18/2008 de 29 de Janeiro [38], o
empreiteiro deve reclamar contra erros ou omissões do projecto ou contra erros de cálculo, erros
de materiais e outros erros num prazo estabelecido para o efeito no caderno de encargos, em
geral de um mês contados a partir da data da consignação. Outra noção importante é a de
trabalhos a mais, definida no artigo 370º do mesmo decreto-lei, os quais correspondem aos
trabalhos cuja espécie ou quantidade não tenha sido prevista ou incluída no contrato, mas se
tenham tornado necessários devido à ocorrência de uma circunstância imprevista e não possam
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 23
ser técnica ou economicamente separáveis do objecto do contrato sem inconvenientes graves ou,
sendo separáveis, sejam estritamente necessários para a conclusão da obra.
No que se refere às responsabilidades do empreiteiro, o artigo 350º do decreto-lei acima
mencionado [38] estabelece que este é obrigado a realizar à sua custa os trabalhos preparatórios
ou acessórios necessários à execução da obra, como seja a montagem e desmontagem do
estaleiro, o restabelecimento das servidões e serventias alteradas ou destruídas para a execução
dos trabalhos, a construção dos acessos ao estaleiro, entre outros. O artigo 35º do Decreto-Lei
nº59/99 de 2 de Março [20] também estipula as responsabilidades do empreiteiro no que se refere
a erros de execução, sendo este responsável por todas as deficiências e erros relativos à execução
dos trabalhos ou à qualidade, forma e dimensões dos materiais aplicados, caso o projecto não
fixe as normas a aplicar ou estes difiram dos aprovados. Nas situações em que o empreiteiro é
autor do projecto, deverá também responder pelas deficiências técnicas e erros de concepção
deste.
Independentemente do tipo de empreitada, o Decreto-Lei nº18/2008 de 29 de Janeiro [38]
estabelece que o contrato entre o empreiteiro e o dono da obra deve ser assinado no prazo de 30
dias contados a partir da data de aceitação da respectiva minuta e da prestação da caução, a qual
deve ser prestada pelo concorrente preferido, num prazo de 10 dias, após a notificação pelo dono
da obra (artigo 90º). Após a celebração do contrato há que proceder à consignação da obra num
prazo máximo de 30 dias, na falta de estipulação contratual (artigo 359º). É esta a data a partir da
qual se inicia a contagem do prazo para a apresentação do plano definitivo de trabalhos, para o
início dos trabalhos e do prazo, fixado no contrato, para a execução da obra (artigo 362º).
Todavia, sempre que se verifiquem trabalhos a mais, quer por imposição do dono da obra quer
por deferimento de reclamação do empreiteiro, o prazo contratual para a execução da obra pode
ser prorrogado a requerimento do empreiteiro (artigo 374º). O auto de consignação assume assim
um papel preponderante não só para a contagem dos prazos, mas também porque todas as
reclamações do empreiteiro devem ser exaradas neste documento. Caso contrário, assumir-se-ão
como definitivos os resultados deste auto, à excepção das reclamações contra erros ou omissões
do projecto.
Capítulo 2 – Estado do Conhecimento
24 Instituto Superior Técnico
Por fim, a regulamentação em vigor estabelece que antes de iniciar qualquer elemento da
obra, o empreiteiro deve ter em sua posse, devidamente autenticados, todos os documentos e
indicações necessárias para a perfeita identificação e execução da mesma.
2.3.2. A gestão do conhecimento na construção
2.3.2.1. Definição de conhecimento
Na economia tradicional, o conhecimento sempre foi visto como um factor externo e sem
ligação ao processo económico, tal como refere Beijerse [23]. Todavia, Civi [24] e outros autores
defendem que a única vantagem competitiva que as organizações terão no século XXI será o
conhecimento e a forma como o utilizam. Então, é possível afirmar que o verdadeiro valor e
sucesso das empresas advém do conhecimento que reside nas mentes dos seus colaboradores,
resultante das experiências e ideias destes. De acordo com Bollinger e Smith [25], o
conhecimento organizacional é uma mais-valia estratégica, visto ser valioso, raro, inimitável e
insubstituível.
Por conhecimento entende-se informação relevante, já processada pela mente humana e
que acrescenta algum tipo de valor. Por seu turno, Davenport e Prusak [26] definem
conhecimento como a combinação da experiência dos especialistas, dos valores, da informação
adquirida em determinados contextos e das competências profissionais. Deste modo, o
conhecimento assume um papel fundamental no processo de tomada de decisões e acções, pelo
que, de acordo com Carneiro [27], a sua integração e divulgação entre departamentos deve ser
incentivada.
Existem dois tipos de conhecimento: tácito e explícito. Polanyi [28] definiu o
conhecimento tácito como “altamente pessoal, enquadrado num contexto específico e como tal,
de difícil formalização e comunicação.” Este tipo de conhecimento reside na mente humana e
resulta da experiência dos indivíduos. Segundo Nevo e Chan [29], o conhecimento tácito pode
ser de carácter técnico, representando competências e engenho, ou cognitivo, referenciando
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil
Criação
• Recolha• Conjugação• Selecção
Administração
crenças, ideias e modelos mentais. Por outro lado, o conhecimento explícito pode ser expresso
através de uma representação formal, como a linguagem
e Takeuchi [30], este conhecimento pode ser “
eficazmente aplicado.” O conhecimento explícito resulta de dados concretos e acessíveis,
podendo ser articulado, codificado e formalizado quer de uma forma física,
documentos, quer electronicamente.
O facto do conhecimento tácito ser difícil de capturar e não poder ser documentado numa
linguagem formal, torna fundamental a distinção entre estes dois tipos de conhecimento, visto
que cada um tem de ser tratado de
conhecimento tácito ou implícito em conhecimento explícito é fundamental para pôr em prática a
gestão do conhecimento e para manter esse conhecimento como propriedade da empresa.
A gestão do conhecimento
organizado de geração e disseminação de informação
explícito são seleccionados e dissecados, com vista “
usada pela organização para alcançar uma vantagem competitiva no mercado
Kasvi, Vartiainen e Hailikari
actividades:
Figura 2.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil
Administração
• Compilação• Organização
Disseminação
crenças, ideias e modelos mentais. Por outro lado, o conhecimento explícito pode ser expresso
através de uma representação formal, como a linguagem, e facilmente transmitido. Para Nonaka
], este conhecimento pode ser “representado, armazenado, partilhado e
.” O conhecimento explícito resulta de dados concretos e acessíveis,
podendo ser articulado, codificado e formalizado quer de uma forma física,
documentos, quer electronicamente.
O facto do conhecimento tácito ser difícil de capturar e não poder ser documentado numa
linguagem formal, torna fundamental a distinção entre estes dois tipos de conhecimento, visto
que cada um tem de ser tratado de forma diferente. Assim, a recolha e conversão do
conhecimento tácito ou implícito em conhecimento explícito é fundamental para pôr em prática a
gestão do conhecimento e para manter esse conhecimento como propriedade da empresa.
A gestão do conhecimento foi definida, por Hult [31] como um “processo sistemático e
organizado de geração e disseminação de informação”, no qual os conhecimentos tácito e
explícito são seleccionados e dissecados, com vista “à criação de uma mais
usada pela organização para alcançar uma vantagem competitiva no mercado
Kasvi, Vartiainen e Hailikari [32], a gestão do conhecimento é composta por quatro grupos de
Figura 2.4 – Actividades da gestão do conhecimento
e Acompanhamento de Obra
25
Utilização
• Integração nos produtos e decisões
• Aplicação noutros projectos
crenças, ideias e modelos mentais. Por outro lado, o conhecimento explícito pode ser expresso
e facilmente transmitido. Para Nonaka
representado, armazenado, partilhado e
.” O conhecimento explícito resulta de dados concretos e acessíveis,
podendo ser articulado, codificado e formalizado quer de uma forma física, como seja através de
O facto do conhecimento tácito ser difícil de capturar e não poder ser documentado numa
linguagem formal, torna fundamental a distinção entre estes dois tipos de conhecimento, visto
forma diferente. Assim, a recolha e conversão do
conhecimento tácito ou implícito em conhecimento explícito é fundamental para pôr em prática a
gestão do conhecimento e para manter esse conhecimento como propriedade da empresa.
processo sistemático e
”, no qual os conhecimentos tácito e
à criação de uma mais-valia que possa ser
usada pela organização para alcançar uma vantagem competitiva no mercado.” De acordo com
], a gestão do conhecimento é composta por quatro grupos de
Capítulo 2 – Estado do Conhecimento
26 Instituto Superior Técnico
Aquisição Extracção/ Recolha
Armazenamento/ Compilação Partilha Actualização
Relativamente ao ciclo da gestão do conhecimento, Lin e Tserng [33] identificaram cinco
fases:
Figura 2.5 – Ciclo da gestão do conhecimento
Adicionalmente, Kasvi, Vartiainen e Hailikari [32] referem outros dois conceitos
importantes associados à temática da reutilização do conhecimento:
• Project Memory (Memória do projecto) – os autores [32] definem como sendo “a
informação retirada do histórico de um projecto que pode ser trazida para aplicação ao
presente”.
• Project Organisation Memory (Memória organizacional) – “conhecimento acumulado
dos anteriores projectos da empresa que é trazido para aplicação ao presente”[32].
Em suma, o conhecimento quando visto como um objecto, pode ser uma ideia,
competência, know-what, know-how ou qualquer tipo de informação relevante que possa ser
usada para alcançar os objectivos estabelecidos.
2.3.2.2. Reutilização do conhecimento no contexto da preparação de obra
Os projectos de construção são complexos e consomem muito tempo, devido à
complexidade e diversidade dos processos que envolvem. Actualmente, as empresas estão
sujeitas a enormes pressões para obter melhores resultados em menos tempo, com menores
custos e a mesma qualidade. Na indústria da construção, uma das formas de alcançar melhores
resultados consiste na reutilização do conhecimento proveniente de obras já concluídas, evitando
a repetição dos erros do passado, pois a natureza dos projectos de construção (limite de prazos e
recursos, elevada pressão, grau de dificuldade e constante formação de novas equipas) adequa-se
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 27
à aprendizagem. Adicionalmente, Tserng e Lin [33] afirmam que a partilha de experiências e a
reutilização do conhecimento auferem outras vantagens, como minimizar a necessidade de
consultar projectos anteriores, melhorar a qualidade das soluções e reduzir o tempo e o custo
associados à resolução de problemas, pois evita que se esteja constantemente a procurar soluções
para as mesmas questões.
Para Edum-Fotwe e McCaffer [34] a competência profissional na gestão de projectos
resulta da integração e aplicação do conhecimento existente, adquirido através do estudo, e das
competências desenvolvidas com a experiência, em projectos semelhantes. Assim, o know-how
e a experiência dos engenheiros de obra é muito valiosa, porque a sua acumulação é um processo
moroso, que envolve não só recursos humanos como também acarreta custos. Recentemente, a
literatura também tem vindo a dar uma importância crescente ao know-why, além do know-how,
pois é a combinação de ambos que permite encontrar respostas para as questões ou problemas
que surgem durante a preparação ou no decurso das obras.
A identificação do conhecimento relevante e a capacidade para o usar constituem assim
um desafio para qualquer empresa de projectos, pelo que é necessária uma gestão do
conhecimento excepcionalmente eficiente para poder aprender com as suas experiências.
Todavia, nem sempre é fácil recolher a informação apreendida, sobretudo no que se
refere ao conhecimento tácito. Este está, por definição, ligado às pessoas directamente
envolvidas nos correspondentes processos de resolução de problemas, pelo que na maior parte
dos casos é difícil obter a colaboração dos profissionais mais experientes, que sentem as suas
posições e a sua utilidade na empresa ameaçadas. Outros problemas na recolha do conhecimento
passam pela falta de vontade para aprender com os erros dos outros colaboradores, falhas na
divulgação da experiência adquirida devido a falsa modéstia e a inexistência de métodos e
procedimentos para recolha de conhecimento, constantes da política da empresa.
Segundo Lin e Tserng [33], a maior parte da aquisição do conhecimento é efectuada nos
escritórios, ainda que a principal fonte de geração de conhecimento seja a obra. Toda a
informação e conhecimento tácito que é enviado da obra para a sede deve ser transformado em
conhecimento explícito para que possa ser reutilizado. Nos estudos desenvolvidos por Kasvi,
Capítulo 2 – Estado do Conhecimento
28 Instituto Superior Técnico
Vartiainen e Hailikari [32], as fontes de conhecimento explícito e tácito mais importantes são,
respectivamente, os documentos em papel (relatórios) e a interacção com os colegas. Contudo,
esta aprendizagem só se verifica enquanto a obra está em curso, pois quando esta termina os
conhecimentos dispersam-se e por vezes perdem-se, devido à criação de novas equipas. Por este
motivo, é fundamental proceder a uma recolha sistemática do conhecimento e das competências
adquiridos nas várias obras. Assim, os autores Schindler e Eppler [35] defendem a
implementação de técnicas como o debriefing, que consiste numa retrospectiva da obra, ou seja,
na análise detalhada dos factores de sucesso e insucesso, no final de cada obra. Também Lin,
Wang e Tserng [36] defendem a elaboração de registos relativos a todas as obras, quer estas
sejam bem ou mal sucedidas, com vista a identificar as melhores e piores práticas das empresas.
Na sequência destes estudos, surge o conceito de lessons learned (lições aprendidas), que
Schindler e Eppler [35] definiram como “as experiências-chave de projecto que apresentam uma
certa relevância para a generalidade dos futuros projectos”.
A retenção sistemática da experiência da obra possibilita a comparação entre obras e a
identificação dos mecanismos de resolução de problemas mais eficientes. Se juntamente com
este conhecimento se registarem as falhas, os erros e as potenciais más práticas, está-se a
contribuir para reduzir o risco associado às obras e a poupar à empresa elevados custos,
resultantes da realização de trabalho redundante e da repetição de erros. Além disso, contribuir-
se-á grandemente para que os processos de preparação de obra decorram de uma forma mais
sustentada e informada, permitindo assim prever eventuais problemas e encontrar soluções
antecipadamente, sem que estes cheguem a ter impactos negativos na execução da obra.
Adicionalmente, o registo das soluções alternativas permite desenvolver as obras mais
rapidamente, com menores custos e a mesma qualidade, logo com maior probabilidade de
sucesso e aumento do lucro.
Em seguida, apresentam-se alguns modelos de sistemas de reutilização do conhecimento
na construção.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 29
Lin, Wang e Tserng [36] estudaram a aplicação da gestão do conhecimento às obras de
construção. Para tal, desenvolveram um sistema baseado em mapas de gestão do conhecimento,
o qual permite ao utilizador o acesso fácil e rápido a conceitos-chave, a identificação dos
processos e ferramentas utilizadas e o conhecimento das condicionantes das obras, consoante o
contexto em que se inserem. Esta rede de mapas de conhecimento é composta por três
componentes:
- a representação gráfica do conhecimento através de nós (obras), sub-nós
(conhecimento apreendido) e ligações;
- a descrição do item;
- um pacote de outros ficheiros ilustrativos desse conhecimento.
Este sistema foi desenvolvido com base em seis casos de estudo, relativos à construção de
fábricas de alta-tecnologia localizadas em Taiwan e tendo como principal fonte de conhecimento
o know-how resultante da experiência dos engenheiros seniors.
Tserng e Lin [33] também elaboraram um modelo de gestão do conhecimento baseado
nas actividades de construção. Todo o conhecimento tácito e explícito relativo a cada actividade
é recolhido e guardado numa categoria diferente. O conhecimento tácito abrange registos de
processos, problemas encontrados e respectivas soluções, sugestões dos colaboradores, know-
how, alternativas inovadoras e testemunhos de experiências vividas. No que respeita ao
conhecimento explícito, são armazenados contratos, especificações, relatórios, desenhos e outros
dados relevantes. Para que o sistema fosse efectivamente útil, estabeleceram-se ligações entre
actividades correntes e de obras semelhantes já terminadas. Este modelo foi desenvolvido com
base no caso da construção de uma auto-estrada em Taiwan.
Em 2001, a construtora Skanska estabeleceu uma rede interna de conhecimento, através
da qual os colaboradores podem ter acesso a informação relativa a projectos anteriores,
desenvolvidos em qualquer parte do mundo onde a empresa actue. Posteriormente, foi
desenvolvido o Banco de Informação, contendo detalhadas descrições das obras e os contactos
Capítulo 2 – Estado do Conhecimento
30 Instituto Superior Técnico
dos profissionais com experiência em cada tipo de obras. Desta forma, este modelo funciona
como um sistema de recolha de conhecimento. [37]
Por último, apresenta-se o exemplo do banco suíço UBS. Ainda que não se trate de uma
empresa ligada à indústria da construção, serve para demonstrar como a necessidade de
documentar e reutilizar o conhecimento e a experiência adquiridos no desenvolvimento dos
projectos já tinha sido identificada há mais tempo e, nalgumas situações, até posta em prática. No
caso do UBS, a recolha e compilação das lições aprendidas é um requisito do manual de
procedimento de projecto, implementado na empresa, e constitui um dos elementos do relatório
de projecto final, obrigatório para todos os tipos de projecto. Deste modo, pretende-se promover
a transferência de conhecimento para os projectos seguintes, visto que estes relatórios incluem
conclusões e recomendações, sintetizando o que pode ser melhorado no futuro. [35]
2.4. Conclusão
A partir da análise acima apresentada é possível conhecer os principais conceitos, modelos e
ideias sobre as temáticas abordadas, bem como a importância do papel que desempenham no
sucesso das obras.
No que se refere à preparação de obra, conclui-se que esta não se limita ao planeamento e ao
reorçamento, os quais são etapas fundamentais neste processo, mas que não constituem a sua
totalidade. Uma correcta e completa preparação de obra envolve muitos outros elementos, como
sejam: a elaboração de toda a documentação necessária à abertura do dossier de obra, o estudo
do projecto e soluções alternativas, a procura de informação para complementar as Peças
Desenhadas, a selecção dos processos construtivos e tecnologias mais adequados, o
reconhecimento do local da obra e respectivas características, a identificação e prevenção dos
problemas mais frequentes no tipo de obra em causa, a elaboração e aplicação dos diversos
planos associados às obras, a potenciação dos factores de sucesso, entre outros.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 31
A elaboração desta análise permitiu compreender o verdadeiro valor deste procedimento, cuja
correcta realização e com a devida antecedência contribui substancialmente para o bom resultado
das obras, o que nem sempre é tido em consideração por parte dos profissionais desta área.
Por outro lado, é de realçar que o sucesso e a eficácia do processo de preparação de obra não
se esgota no procedimento em si, mas também abrange o conhecimento e as competências dos
colaboradores.
Ainda que muitos factores difiram entre si, a complexidade, a pressão, as limitações de tempo
e recursos e a constante formação de novas equipas associadas às obras, tornam-nas
especialmente vocacionadas para a aprendizagem, a qual funciona como veículo de melhoria
contínua. Daí resulta a necessidade de aumentar o conhecimento interno das organizações, o qual
é composto por duas parcelas: uma de conhecimento tácito, resultante das experiências e
competências dos colaboradores e outra explícita, constante dos documentos e registos e como
tal, mais facilmente acessível. Assim, há que apreender ambos os tipos de conhecimento para
que a aprendizagem seja completa, pois estes complementam-se. Conclui-se então, que a
aprendizagem sistemática com as obras executadas permite que as empresas desenvolvam
competências que conduzem a uma sustentável vantagem competitiva. Assim, torna-se óbvia a
importância que a reutilização do conhecimento pode ter no processo de preparação de obra, na
medida em que quanto mais completos, realistas e sustentados forem os conhecimentos que estão
na origem da elaboração deste procedimento, mais correcta, eficaz e fiável será a preparação de
obra e como tal, maior a probabilidade de alcançar os objectivos estabelecidos.
Em síntese, o aperfeiçoamento do procedimento de preparação de obra deve resultar não só da
melhoria do procedimento em si, mas também de um maior conhecimento e aprendizagem
internos, juntamente com a consciencialização dos colaboradores para a sua importância.
Capítulo 2 – Estado do Conhecimento
32 Instituto Superior Técnico
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 33
Melhoria do procedimento de preparação de obra e
desenvolvimento de Banco de Memória
Obras em preparação
Oportunidades de melhoria
Obras em execução ou executadas
Feedback
3. Estudo de Casos
3.1. Introdução
No seguimento da análise efectuada no capítulo anterior, conclui-se que o elevado grau de
incerteza associado às actividades relacionadas com a construção leva a que as empresas
procurem, cada vez mais, melhorar os seus procedimentos de preparação de obra, através de um
maior conhecimento interno, de modo a prevenir eventuais problemas e a minimizar os seus
impactes.
O principal objectivo desta investigação consiste, como mostra a Figura 3.1, na identificação
de oportunidades de melhoria do procedimento de preparação de obra existente na empresa
Tecnovia, Sociedade de Empreitadas S.A bem como o desenvolvimento de uma Base de
Conhecimento/Banco de Memória para aumentar e divulgar o conhecimento interno sobre os
problemas e soluções relativos às obras, de modo a que o processo de preparação de obra se
efectue de forma mais informada e consistente com a realidade.
Figura 3.1 – Âmbito da investigação
Para tal, apresenta-se no presente capítulo o estudo de cinco casos, representativos da
realidade, os quais consistem em obras executadas ou em execução pela empresa cooperante e
são:
Capítulo 3 – Estudo de Casos
34 Instituto Superior Técnico
- Caso 1 – Acesso de Viseu ao IP3;
- Caso 2 – Construção de Tratamento e Valorização da Frente Urbana Nascente
- Caso 3 – EN 390 e 393
- Caso 4 – Requalificação das Praias de Carcavelos e Parede
- Caso 5 – Passeio marítimo de S. João das Maias
3.2. Metodologia de investigação
A metodologia de investigação adoptada é composta por duas técnicas de observação, como
mostra a Figura 3.2: uma directa, baseada na recolha do conhecimento explícito e outra indirecta,
com vista à extracção do conhecimento implícito. Por sua vez, a metodologia de observação
directa desenvolve-se segundo uma de duas vertentes, consoante se trate de uma obra em fase de
preparação ou já em execução/terminada.
Figura 3.2 – Metodologia de investigação
3.2.1. Metodologia de observação directa - Fichas de caso de estudo
O intuito da observação directa consiste na recolha de dados objectivos que caracterizem os
casos de estudo, representativos da realidade sobre a qual se pretende intervir. Deste modo, era
necessário analisar obras em execução e obras em preparação. Assim, seleccionaram-se três
obras em execução, que fossem representativas da actividade da empresa e cujo estado de
Metodologia de investigação
Observação directa: fichas de caso de estudo
Obras em preparaçãoObras em execução ou já
terminadas
Observação indirecta: questionários
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 35
desenvolvimento já fosse avançado à data da realização desta investigação. Quanto às obras em
preparação, foram seleccionadas duas obras do mesmo tipo, neste caso de requalificação urbana,
e cuja localização permitisse o acompanhamento do desenvolvimento dos trabalhos. O Quadro
3.1 apresenta as cinco obras em estudo.
Quadro 3.1 – Casos de estudo
Caso de estudo Tipo de obra Estado de desenvolvimento
Caso 1 Vias de comunicação Executada
Caso 2 Requalificação urbana Em execução
Caso 3 Vias de comunicação Em execução
Caso 4 Requalificação urbana Em preparação/Início dos trabalhos
Caso 5 Requalificação urbana Em preparação/Início dos trabalhos
No âmbito da observação directa pretendia-se registar todos os dados que permitissem
caracterizar a obra e compreender o seu desempenho, tanto a nível económico como de
execução. Como se trata de conhecimento explícito, a sua extracção torna-se mais fácil, pois este
tipo de informação consta de documentos. Assim, era necessário elaborar uma ficha de caso de
estudo com vista a seleccionar os dados a recolher e a assegurar a objectividade do processo.
Contudo, duas das obras seleccionadas encontravam-se em fase de preparação e as restantes
já em execução ou terminadas, pelo que havia que fazer esta distinção, pois os dados e a
informação que interessa recolher difere em cada uma das situações. Assim, optou-se por
desenvolver dois modelos de ficha de recolha de dados, os quais seriam aplicados consoante o
estado de desenvolvimento da obra em estudo.
A Figura 3.3 mostra a estrutura das fichas de caso de estudo das obras em execução ou já
executadas (Anexo I), a qual se divide em cinco partes:
1 - dados gerais, que permitem a identificação da obra;
2 - breve descrição da obra e dos principais trabalhos;
3 - aspectos de execução, como as principais dificuldades encontradas e as oportunidades de
melhoria referentes a materiais, soluções construtivas e soluções técnicas;
Capítulo 3 – Estudo de Casos
36 Instituto Superior Técnico
4 - análise económica da obra, com vista a compreender quais as actividades que mais
influenciaram o resultado final da obra, tanto positiva como negativamente. Através desta
análise, procura-se também identificar as discrepâncias entre o orçamento e o reorçamento e os
respectivos motivos, de modo a estabelecer se os pressupostos tidos em conta na elaboração do
orçamento comercial correspondem ou não à realidade da obra;
5 - conclusões, onde se registam os factores de sucesso a potenciar e divulgar, os factores de
insucesso a corrigir e as lições aprendidas que podem ser úteis na preparação e execução de
obras futuras.
Note-se que as partes três e quatro constituem a essência deste processo, pois permitem
avaliar o que correu bem, o que efectivamente correu mal e deve ser melhorado e os motivos
para tal.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 37
Figura 3.3 – Organograma das fichas de recolha de dados das obras executadas
Por outro lado, pretende-se determinar as práticas de preparação de obra mais frequentes,
através do estudo das obras em preparação. A Figura 3.4 mostra as principais componentes
destas fichas de caso (Anexo II), cuja estrutura se divide em quatro secções:
1 - identificação da obra;
2 - avaliação da utilização do actual procedimento de preparação de obra da empresa e registo
dos dados relativos ao orçamento e ao reorçamento;
3 - identificação dos principais problemas recorrentes neste tipo de obras;
Capítulo 3 – Estudo de Casos
38 Instituto Superior Técnico
4 - conclusões, onde se registam os pontos fracos e fortes das práticas em vigor, outros pontos
a considerar e os problemas mais significativos.
Figura 3.4 - Organograma das fichas de recolha de dados das obras em preparação
Nas obras em fase de execução ou já terminadas, a investigação centrou-se na análise dos
mapas económicos e dos relatórios de actividades críticas fornecidos pelo sector financeiro, na
consulta dos dossiers de preparação de obra, bem como dos vários documentos que compõem as
propostas.
Relativamente às obras cujo procedimento de preparação de obra se acompanhou, os dados
foram recolhidos directamente assistindo às reuniões de passagem da obra do sector comercial
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 39
para a direcção da obra, de preparação de obra e reorçamento e consultando os dossiers de
preparação de obra.
Adicionalmente, alguns dados foram transmitidos em conversas informais com os
responsáveis pelas obras em análise, durante as visitas às mesmas.
3.2.2. Metodologia de observação indirecta - Questionários
No âmbito da observação indirecta elaboraram-se questionários com vista a recolher a
informação sobre aspectos fundamentais que os colaboradores da empresa têm em relação quer
ao procedimento e às práticas de preparação de obra em vigor, quer ao desempenho das obras em
curso, resultantes da sua experiência profissional.
Inicialmente, estes questionários tinham como destinatários os cinco directores de obra e os
restantes elementos pertencentes aos quadros técnicos das obras em estudo, tendo sido,
posteriormente, alargados a outros directores de obra da empresa. O Quadro 3.2 mostra o número
de inquéritos distribuídos e a função dos inquiridos.
Quadro 3.2 – Número de inquéritos distribuídos
Função do inquirido Nº de inquéritos distribuídos
Director de obra 9
Elemento do quadro técnico da obra 1
A Figura 3.5 mostra o organograma dos questionários (Anexo III), os quais são compostos
por quatro partes:
1 - identificação do entrevistado;
2 - identificação da obra;
3 - preparação de obra: avaliação do procedimento actualmente em vigor, procurando
determinar o seu grau de utilização e eficácia, bem como os aspectos que podem ser melhorados
e adicionados. Também se pretende determinar a necessidade de informação adicional presente e
futura;
Capítulo 3 – Estudo de Casos
40 Instituto Superior Técnico
4 - acompanhamento de obra: avaliação do desempenho da obra que acompanha e eventuais
sugestões de melhoria, assim como a identificação dos factores de sucesso e dos problemas
recorrentes no tipo de obra em causa. As últimas questões referem-se à utilidade da Base de
Conhecimento/Banco de Memória e a disponibilidade do inquirido para contribuir com a sua
experiência.
A maioria das perguntas são fechadas, ou seja, o inquirido apenas tem que seleccionar a
resposta que mais se aproxime da sua opinião, de entre as opções dadas. Assim, recorreu-se à
escala de Likert para medir as atitudes dos inquiridos, atribuindo a cada resposta um valor de 1
(nada importante) a 5 (muito importante), com vista a medir o grau de importância da resposta.
Deste modo, pretendeu-se facilitar e estimular o preenchimento do questionário e também
aumentar a objectividade na análise das respostas.
Para completar esta recolha de dados, elaboraram-se ainda questões de resposta aberta,
possibilitando assim o registo das sugestões e opiniões mais abrangentes dos inquiridos.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 41
Figura 3.5 - Organograma dos questionários
Antes de se proceder à recolha de dados, foi necessário efectuar o levantamento das práticas
e do procedimento de preparação de obra em vigor na empresa. Para tal, acompanhou-se o
processo de preparação das obras 4 e 5 e desenvolveram-se diversas conversas informais com os
responsáveis das várias áreas envolvidas.
3.3. Procedimento e práticas em vigor na empresa
A Tecnovia é uma empresa do sector da construção civil e obras públicas, cuja origem
remonta a 7 de Fevereiro de 1973. No seu conjunto, o grupo Tecnovia está presente em Portugal
Capítulo 3 – Estudo de Casos
42 Instituto Superior Técnico
Continental, Açores, Madeira, Angola, Marrocos e Brasil e atinge um volume de negócios anual
aproximadamente de 250 milhões de euros. A Tecnovia, Sociedade de Empreitadas S.A é uma
das sociedades do grupo cuja área de negócios abrange sobretudo a engenharia e construção,
nomeadamente: vias de comunicação (auto-estradas e estradas), construção e renovação de vias
ferroviárias, obras de arte (túneis, viadutos, obras de arte correntes, etc.), obras de ambiente,
requalificação urbana, obras aeroportuárias, terraplanagens, obras marítimas e portuárias, obras
hidráulicas, obras de infra-estruturas e arranjos exteriores.
Em 2005, a Tecnovia, Sociedade de Empreitadas S.A. implementou o procedimento de
preparação de obra actualmente em vigor. O procedimento em causa é composto por três partes:
1 – abertura de obra – onde se registam os dados gerais que permitem a caracterização e
identificação da obra;
2 – check-list – consiste na verificação dos principais elementos e etapas a considerar na
preparação da obra;
3 – metodologia – traduz-se num guia para o estudo mais detalhado da preparação da obra
que inclui o plano de estaleiro, o plano de trabalhos, a gestão dos recursos (subempreitadas,
equipamentos, mão-de-obra e materiais), a sinalização provisória, a análise de processos
construtivos alternativos, o reorçamento e os diversos planos de inspecção e ensaio, qualidade,
segurança e gestão ambiental.
Inicialmente, o departamento comercial efectua algumas etapas importantes, como o
orçamento, uma estimativa do planeamento e uma prospecção de materiais e subempreiteiros,
para a elaboração da proposta.
Após a adjudicação da obra, acciona-se o mecanismo de passagem da obra do departamento
comercial para a direcção de obra, através de um conjunto de reuniões. Na primeira reunião, a
obra é apresentada pelo departamento comercial aos responsáveis pela sua preparação, com vista
à realização do procedimento de preparação de obra, o qual é em geral desenvolvido pelo futuro
director da obra e adjuntos. Em seguida e à medida que o processo vai avançando, são realizadas
outras reuniões nas quais se debatem os pressupostos tidos em conta na elaboração da proposta,
assim como a abordagem inicial à obra e se comparam os valores comerciais com os do
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 43
Proposta - Departamento comercial
Reunião de passagem do departamento comercial para a direcção da obra
Preparação de obra
Reunião de reorçamento e preparação de obra
Início dos trabalhos
reorçamento, efectuando os ajustes necessários, sobretudo no que se refere aos custos e ao
planeamento.
A Figura 3.6 mostra as várias fases que compõem o processo de preparação de obra, desde a
elaboração da proposta pelo departamento comercial até à execução dos trabalhos, passando pela
preparação da obra sob a responsabilidade da direcção de obra.
Figura 3.6 - Processo de preparação de obra desde a proposta à execução
Durante e após a fase de execução, o controlo financeiro das obras é efectuado pelo
departamento de controlo de obra com recurso aos mapas económicos fornecidos pelo software
CDP, onde são lançados os diversos dados como as horas de trabalho dos recursos humanos e
dos equipamentos, as subempreitadas, os materiais, a produção efectuada e respectivos custos.
Estes mapas económicos referem-se à produção mensal e permitem comparar o orçamento
previsto com o real, fornecendo também indicadores de desempenho, como os rácios da
produção real face à prevista e dos custos reais face aos previstos. A partir deste controlo
económico é possível identificar as actividades críticas.
Capítulo 3 – Estudo de Casos
44 Instituto Superior Técnico
Todavia, a empresa dispõe ainda de outra ferramenta para monitorizar estas actividades, que
são os relatórios de actividades críticas (RAC). Estes documentos são elaborados mensalmente e
permitem controlar as actividades que apresentam valores críticos quer de custo quer de
execução face ao orçamento e ao planeamento, bem como analisar os motivos desses resultados
e sugerir medidas correctivas. Adicionalmente, realizam-se reuniões onde se analisam as causas
e se procura implementar acções correctivas para minimizar ou corrigir esses desvios.
Por fim, resta referir que, actualmente, a empresa não dispõe de nenhum tipo de registo final
das obras, ou seja, não está implementada nenhuma técnica de debriefing.
3.4. Descrição dos casos de estudo
Os casos de estudo são cinco obras pré-seleccionadas. Tal como referido anteriormente, duas
delas encontram-se em fase de preparação e início dos trabalhos, uma já está concluída e as
restantes estão em fase de execução.
Caso de estudo 1:
� Designação: “Acesso de Viseu ao IP3”
� Localização: Viseu
� Tipo de obra: Vias de comunicação – Estrada Nacional
� Construção em consórcio: Não
� Estado actual: Recepção provisória efectuada
� Descrição sumária: Esta obra era composta por três troços, prevendo–se o alargamento
de dois desses troços e a construção de três rotundas em cada um deles. O terceiro troço
foi construído na íntegra e incorporava também uma rotunda com dois restabelecimentos.
Esta empreitada incluía trabalhos de natureza diversa, sendo os mais significativos os
trabalhos de terraplenagens, pavimentação, drenagem, integração paisagística, guardas de
segurança, sinalização horizontal e vertical, assim como a instalação de serviços de
interesse público e reposição de serviços afectados.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 45
Caso de estudo 2:
� Designação: “Construção de Tratamento e Valorização da Frente Urbana Nascente”
� Localização: Albufeira (zona antiga)
� Tipo de obra: Requalificação urbana
� Construção em consórcio: Sim
� Estado actual: Primeira fase em acabamentos; segunda fase em execução
� Descrição sumária: Nesta obra, proceder-se-á à reconversão global da actual praia do
INATEL, reconstituindo o areal e reabilitando a sua frente urbana. Também se prevê o
reordenamento dos acessos viários e a remodelação do Largo do Pau da Bandeira e da
Av. Gago Coutinho. Adicionalmente, será construído um novo estacionamento e um eixo
pedonal com ciclovia entre a Oura e o INATEL, incluindo o arranjo paisagístico do Vale
e a integração da ETAR.
Caso de estudo 3:
� Designação: "EN 390 e 393"
� Localização: Cercal / Vila Nova de Milfontes / Odemira
� Tipo de obra: Vias de comunicação – Estrada Nacional
� Construção em consórcio: Não
� Estado actual: Em execução
� Descrição sumária: Esta obra, com cerca de 34 km de extensão, compreende o
alargamento da plataforma da estrada e a construção de dez ligações de nível, com
repavimentação total. Prevê também a implementação de sistema de sinalização e
segurança novos.
Caso de estudo 4:
� Designação: "Requalificação das Praias de Carcavelos e Parede"
Capítulo 3 – Estudo de Casos
46 Instituto Superior Técnico
� Localização: Carcavelos / Parede
� Tipo de obra: Requalificação urbana
� Construção em consórcio: Sim
� Estado actual: Início dos trabalhos
� Descrição sumária: Esta obra consiste na recuperação e requalificação dos elementos de
arquitectura paisagista e na adequação das infra-estruturas de acessos e pavimentos;
contemplando também o alargamento do Passeio Marítimo, a construção de escadas,
rampas de acesso ao areal e muretes banco e ainda a construção e reabilitação de muros
de suporte. Adicionalmente, prevê-se a extensão da rede de abastecimento de água
existente e a execução de ramais para ligação do novo concessionário e dos conjuntos
bebedouro, duches e lava-pés ao colector de drenagem de águas residuais domésticas
existente. Por fim, realizar-se-á uma série de intervenções na rede de drenagem de águas
pluviais e uma remodelação das redes de energia eléctrica, iluminação pública e
telecomunicações.
Caso de estudo 5:
� Designação: "Passeio marítimo de S. João das Maias"
� Localização: Oeiras
� Tipo de obra: Requalificação urbana
� Construção em consórcio: Não
� Estado actual: Início dos trabalhos
� Descrição sumária: Esta obra visa a reabilitação e construção do Passeio Marítimo, entre
Santo Amaro de Oeiras e a Direcção de Faróis, pelo que engloba essencialmente
trabalhos de regularização e pavimentação, bem como a construção de muros de
protecção, na frente marítima e a tardoz. Nos primeiros troços prevê-se a construção de
uma calçada em fundação reforçada e de muretes, bem como a instalação de uma
drenagem de fundo e respectiva iluminação. Por fim, na zona da praia, prevê-se o
alargamento do passeio limitado por muretes baixos; a ligação por escadaria entre o nível
do passeio e o da plataforma, criando igualmente uma segunda rampa inferior de ligação
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil
33%
ao areal; a repavimentação, alargamento e requalificação geral (iluminação, mobiliário,
sinalética) do acesso à galeria da Passagem Inferior.
3.5. Análise e interpretação da informação recolhida
Recolhidos os dados, procede
efectuar uma breve caracterização dos inquiridos que constituem a amostra.
A taxa de resposta dos questionários foi de 60%, o que
tempo dos inquiridos. No Quadro 3.
função dos inquiridos.
Director de obr
Elemento do quadro técnico da obra
Foram preenchidos seis questionários, cinco por directores de obra da empresa e um por um
elemento da equipa técnica de uma das obras em estudo.
inquiridos distribui-se como mostra o
Gráfico 3.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil
17%
33%33%
17%0%
Nº anos:
0-5
5-10
10-
15-
> 20
repavimentação, alargamento e requalificação geral (iluminação, mobiliário,
sinalética) do acesso à galeria da Passagem Inferior.
terpretação da informação recolhida
Recolhidos os dados, procede-se então à análise da informação obtida, mas não sem antes
efectuar uma breve caracterização dos inquiridos que constituem a amostra.
A taxa de resposta dos questionários foi de 60%, o que se deve frequentemente à falta de
Quadro 3.3 efectua-se a caracterização da amostra de acordo com a
Quadro 3.3 – Caracterização da amostra
Amostra
Director de obra 5
Elemento do quadro técnico da obra 1
Total 6
questionários, cinco por directores de obra da empresa e um por um
elemento da equipa técnica de uma das obras em estudo. A experiência profissional dos
o mostra o Gráfico 3.1.
Gráfico 3.1 – Experiência profissional dos entrevistados
e Acompanhamento de Obra
47
Nº anos:
5
10
-15
-20
> 20
repavimentação, alargamento e requalificação geral (iluminação, mobiliário,
se então à análise da informação obtida, mas não sem antes
efectuar uma breve caracterização dos inquiridos que constituem a amostra.
se deve frequentemente à falta de
se a caracterização da amostra de acordo com a
questionários, cinco por directores de obra da empresa e um por um
A experiência profissional dos
Experiência profissional dos entrevistados
Capítulo 3 – Estudo de Casos
48 Instituto Superior Técnico
A maioria dos inquiridos tem entre cinco e quinze anos de experiência profissional.
Relativamente às habilitações académicas, todos os entrevistados são licenciados em Engenharia
Civil.
3.5.1. Procedimento de preparação de obra actualmente em vigor na empresa
No que se refere à preparação de obra, todas as obras seguiram o procedimento actualmente
em vigor, através da verificação da check-list por parte dos respectivos directores de obra, ainda
que nalguns casos não exista tal registo, sob a forma do dossier de preparação de obra. Tal facto
deve-se à frequentemente tardia elaboração da preparação de obra. Quanto à aplicabilidade e
eficácia do procedimento, as respostas foram unânimes: todos os entrevistados assinalaram o
grau 4 da escala de Likert, ou seja, consideram-no eficaz. Como nenhum dos inquiridos sugeriu
algum aspecto em concreto a melhorar ou a adicionar aos existentes, admite-se que os pontos do
procedimento em vigor são correctos e eficazes, mas podem não ser suficientes, denotando assim
uma oportunidade de melhoria. Pela análise das fichas de caso de estudo das obras em
preparação, constatou-se que nas obras em que o procedimento foi seguido, todos os pontos
foram verificados, o que sustenta a conclusão anterior de que estes estão correctos mas podem
não ser suficientes.
Quando inquiridos sobre o tipo de informação adicional que poderia ser útil conhecer
durante a fase de preparação de obra, os entrevistados sugeriram:
- Base da negociação na fase comercial;
- Faseamentos totais necessários à execução da obra, face à dificuldade em lidar com
algumas condicionantes, sobretudo os casos em que há tráfego intenso.
Ainda que nenhum dos directores de obra entrevistados tenha consultado outras obras do
mesmo tipo, durante a fase de preparação, para recolher informação, todos reconhecem que a
reutilização, nas obras futuras, da experiência e das lições aprendidas é muito importante (grau 5
na escala de Likert).
Da mesma forma, é unânime a opinião que uma boa preparação de obra é muito importante
para o sucesso da fase de execução, pois permite conhecer eventuais condicionantes, determinar
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 49
0
20
40
60
80
100
1 2 3 4 5
Respostas (%
)
Grau de satisfação crescente
Desempenho geral
Em relação aos custos
Em relação aos prazos
melhores soluções e ajustar prazos face à realidade, o que justifica a preocupação da empresa em
torno desta temática.
3.5.2. Desempenho das obras
O Gráfico 3.2 mostra o grau de satisfação atribuído ao desempenho geral das obras em
estudo, bem como ao desempenho em relação aos prazos e aos custos.
Gráfico 3.2 – Classificação do desempenho das obras
Como se pode constatar pela observação do Gráfico 3.2, as obras apresentam um bom
desempenho geral, na medida em que o produto final corresponde ao esperado e apresenta
qualidade.
Relativamente aos prazos também não se verificam grandes dificuldades no seu
cumprimento, apesar de algumas obras beneficiarem de prorrogações legais, como se apresenta
no Quadro 3.4.
Quadro 3.4 - Obras com prorrogação legal do prazo de execução
Sim Não
Obra 1 – Viseu x
Obra 2 – Albufeira x
Obra 3 - Odemira/Cercal x
Obra 4 – Carcavelos x
Obra 5 – Oeiras x
Capítulo 3 – Estudo de Casos
50 Instituto Superior Técnico
Todavia, uma análise mais atenta das fichas de caso de estudo, realça a discrepância entre as
datas em que os trabalhos estão terminados e as datas dos autos de recepção provisória. Tal facto,
deve-se sobretudo à desmobilização demasiado cedo dos recursos das obras, ou seja, quando a
obra se aproxima do final e assim que a grande maioria dos trabalhos está concluída, inicia-se a
desmobilização. Consequentemente, os poucos trabalhos e até, por vezes, apenas acabamentos
em falta, demoram muito mais tempo, arrastando o fecho da obra e incorrendo em custos
desnecessários. Assim, torna-se necessário destacar este facto para evitar que a situação se repita
no futuro.
No que respeita aos custos, o desempenho varia consoante o grau de complexidade da obra e
as dificuldades encontradas durante a sua execução. Para melhorar os resultados obtidos, há que
prever todas as situações passíveis de afectar negativamente o resultado económico das obras,
pelo que quando estas apresentam um grau de dificuldade acrescido, este aspecto acarreta uma
importância ainda maior, daí ser fundamental conhecer os problemas recorrentes neste tipo de
obra, como se verá em seguida.
3.5.3. Principais dificuldades e problemas recorrentes
As diversas visitas permitiram observar as principais dificuldades encontradas nas obras em
curso, sendo as restantes relatadas pelos directores de obra em conversas informais.
O Quadro 3.5 apresenta uma síntese das principais dificuldades registadas por obra.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 51
0 1 2 3 4 5
Ciclos das marésComplexidade do projecto
Elevado grau de qualidade e segurança exigidoErros de orçamentação
Erros de projectoEscavações em rocha
Gestão trânsitoProblemas de expropriações/demolições
Transporte de blocos de pedra de grandes dimensões
Nº de obras em estudo em que são referidas
Quadro 3.5 - Distribuição das dificuldades pelas obras em estudo
Através da análise do Quadro 3.5, constatou-se que, numa amostra de cinco obras, os
problemas de expropriações/demolições e as escavações em rocha são referidos em três das
obras analisadas, o que se traduz numa elevada probabilidade de ocorrência. Então, para melhor
compreender as dificuldades mais vezes referidas nas obras em estudo, ou seja, os problemas
mais frequentemente encontradas nestas obras, elaborou-se o Gráfico 3.3.
Gráfico 3.3 – Principais dificuldades encontradas
Pela observação do Gráfico 3.3, verificou-se que os problemas relacionados com
expropriações e demolições surgem como os mais frequentes, ainda que muitas dessas situações
Obra 1
Obra 2
Obra 3
Obra 4
Obra 5
Ciclos das marés x x
Complexidade do projecto x
Elevado grau de qualidade e segurança exigido x
Erros de orçamentação x
Erros de projecto x
Escavações em rocha x x x
Gestão trânsito x
Problemas de expropriações/demolições x x x
Transporte de blocos de pedra de grandes dimensões x
Capítulo 3 – Estudo de Casos
52 Instituto Superior Técnico
não dependam directamente da empresa, mas sim de outras entidades, como o dono de obra, o
qual tem muitas vezes a responsabilidade de efectuar tais acções e falha no seu cumprimento.
Seguidamente, as escavações em rocha surgem como outro dos problemas mais vezes
mencionado, o que se justificará, por um lado, pela dificuldade em obter bons rendimentos face
aos estimados quando se opta por meios mecânicos e, por outro lado, pela complexidade que
reveste o processo de utilização de explosivos.
O caso dos ciclos das marés é mais específico dado o contexto em que as obras 4 e 5 se
inserem e como tal, não pode ser tido em consideração com a mesma relevância que os restantes,
visto ser apenas aplicável a obras junto à costa. Todavia, quando de tal caso se tratar, esta
constituirá, claramente, uma das maiores dificuldades e condicionantes deste tipo de obras, como
se verifica nas obras dos dois passeios marítimos em estudo (obras 4 e 5).
Os restantes problemas referidos são menos recorrentes no conjunto de obras em análise, na
medida em que se verificaram apenas numa delas. Contudo, admitindo que as obras
seleccionadas constituem uma amostra da realidade das obras, a sua importância destaca-se na
medida em que traduzem uma gama de dificuldades que podem ser encontradas nas obras em
geral.
Principais actividades críticas:
Um dos aspectos fundamentais nesta análise consiste na identificação das actividades
críticas, com vista a determinar as actividades que repetidamente apresentam resultados
desfavoráveis. Para tal, consultaram-se os mapas económicos mais recentes e os relatórios de
actividades críticas de cada uma das obras em execução ou já terminadas (obras 1, 2 e 3),
procedendo-se em seguida à selecção das actividades com pior desempenho, num máximo de
dez, como mostra o Quadro 3.6.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 53
Quadro 3.6 – Principais actividades críticas
Obra 1 Obra 2 Obra 3
Escavação: mecânica e com explosivos
Trabalhos preparatórios Regularização de taludes
Limpeza/Regulariz./Trab.Complem.
Desmatação/Demolição Decapagem Vaz./Depósito
Movimentos de terras: escavação com meios mecânicos
Escavação/Vazadouro
Escav. Empréstimo/Aterro Movimentos de terras: transporte a
vazadouro Escavação em Alargamento
Colocação em : vazadouro, aterro
Drenagem de águas pluviais Passagens Hidráulicas/Bocas
Drenos de plataforma Lancis de calcário Serventias em Valetas
Drenagem longitudinal Vedações em rede Tout Venant
Tout Venant Tout Venant Betuminosos
Remoção de pavimentos Leito Pavimento Lancis
Sinalização temporária
Sinalização Temporária
Paisagismo
Ambiente/Arqueologia
Estaleiro/Custos Indirectos
Actividades relativas às escavações Actividades relativas às drenagens
Actividades relativas aos movimentos de terras Actividades relativas à colocação de Tout-Venant
As actividades referentes aos movimentos de terras, sobretudo a escavação com meios
mecânicos e o transporte a vazadouro/aterro, assim como as drenagens de águas pluviais e a
colocação de tout venant surgem na lista das principais actividades críticas das três obras. Assim,
é possível afirmar que são as actividades mais problemáticas, pelo que é necessário analisar as
suas causas, de modo a evitar incorrer nos mesmos erros.
Relativamente às escavações, os motivos que levam ao insucesso destas actividades são
muitas vezes os anteriormente mencionados, juntamente com a frequente ausência de estudos
geológicos. Por seu turno, a derrapagem da actividade de transporte a vazadouro é, na maioria
Capítulo 3 – Estudo de Casos
54 Instituto Superior Técnico
dos casos, devida aos elevados tempos de percurso, pois nem sempre se encontram vazadouros
às distâncias pretendidas. Quanto às drenagens de águas pluviais, salienta-se a utilização de
materiais que podem não ser a opção mais económica, face à propagação dos colectores em
materiais poliméricos, os quais apresentam custos bastante competitivos e desempenhos
satisfatórios. No que se refere à actividade de colocação de tout venant em obra, é necessário
realçar as elevadas quantidades geralmente associadas a este material, pelo que qualquer deslize
face ao previsto apresenta impactes bastante significativos.
3.5.4. Aspectos a melhorar
Quando inquiridos sobre os aspectos que poderiam ser melhorados nas obras futuras, os
entrevistados sugeriram:
- Mais celeridade nas adjudicações das actividades principais;
- Iniciar as obras com Encarregados à altura da complexidade destas;
- Orçamentos mais realistas com a complexidade das obras.
Esta última referência destaca a importância de um maior conhecimento interno, ou seja, um
maior conhecimento das dificuldades, dos materiais, das técnicas e até dos próprios rendimentos
obtidos para determinadas soluções e condições. Só assim se poderiam obter orçamentos mais
realistas e adequados à complexidade das obras. Contudo, a divulgação das experiências em
obras com elevado grau de dificuldade e complexidade, permitiria resolver os problemas de uma
forma mais célere e possivelmente mais adequada, o que também poderia contribuir para a
obtenção de resultados económicos mais próximos dos orçamentos, os quais têm que ser
competitivos por natureza.
3.5.5. Factores de sucesso
Nos inquéritos preenchidos foram referidos os seguintes principais factores de sucesso que
importa divulgar e potenciar para aplicação no futuro:
- Planeamento e organização;
- Melhoria contínua.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 55
É de salientar que o planeamento e a organização estão fortemente relacionados com a
preparação de obra, pelo que quando esta é correctamente realizada, a probabilidade de sucesso é
maior.
Por outro lado, através da análise das fichas de caso de estudo, verificou-se que os principais
factores de sucesso observados são:
- Procura de alternativas, quando necessárias, que contemplam o cumprimento dos prazos e
custos previstos;
- Qualidade final das obras assegurada, apesar das muitas dificuldades frequentemente
encontradas.
Estes factores são igualmente importantes, na medida em que o primeiro visa assegurar o
orçamento previsto e o segundo valoriza a imagem da empresa junto dos donos de obra e público
em geral.
3.5.6. Base de Conhecimento/Banco de Memória
Por fim, procurou-se determinar a opinião dos entrevistados em relação à criação de uma
Base de Conhecimento/Banco de Memória e/ou à implementação de relatórios de fecho de obra,
os quais constituem uma técnica de debriefing que se considerou adequada à actividade da
empresa. Também se procurou avaliar a disponibilidade dos entrevistados para contribuir com a
sua experiência no enriquecimento da Base de Conhecimento/Banco de Memória. O Gráfico 3.4
mostra os resultados obtidos.
Capítulo 3 – Estudo de Casos
56 Instituto Superior Técnico
0
20
40
60
80
100
1 2 3 4 5
Respostas (%
)
Grau de utilidade/disponibilidade crescente
Utilidade da Base de Conhecimento
Utilidade dos relatórios de fecho de obra
Disponibilidade para contribuir para a Base de Conhecimento
Gráfico 3.4 – Utilidade da Base de Conhecimento e dos relatórios de fecho de obra e disponibilidade para
colaborar
Todos os entrevistados mostram-se muito disponíveis para colaborar e contribuir com a sua
experiência para a Base de Conhecimento, pois esta é considerada de grande utilidade. No que se
refere à utilidade dos relatórios de fecho de obra, as opiniões oscilam entre útil (33%) e muito
útil (67%). Esta dispersão de opiniões pode ser devida ao facto de ainda não existir nenhum
modelo determinado e como tal, ser mais difícil avaliar o grau de utilidade da informação aí
constante.
Adicionalmente, inquiriram-se os entrevistados sobre o tipo de informação a compilar na
Base de Conhecimento, obtendo-se as seguintes respostas:
- Informação sobre as principais actividades que tenham corrido bem ou mal;
- As falhas mais graves que foram cometidas, tanto a nível de orçamento comercial, como a
nível de execução da obra.
Note-se que foi feita referência não apenas aos aspectos que correram mal, mas também ao
que correu bem, pois é necessário evitar incorrer nos mesmos erros e simultaneamente, divulgar
e partilhar as experiências positivas e as lições aprendidas. Assim, verifica-se que a empresa está
mobilizada e disposta a aumentar o seu conhecimento interno através da aprendizagem conjunta
e mútua entre os seus colaboradores.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 57
3.6. Conclusões
Após a análise dos dados e resultados obtidos, verifica-se que o procedimento de preparação
de obra em vigor na empresa contribui significativamente para o sucesso das obras,
especialmente para o sucesso da fase de execução, o que posteriormente se traduz em bons
resultados finais.
Assim, conclui-se ser indispensável a existência de um correcto e muito eficaz procedimento
de preparação de obra, pois ainda que os pontos constantes do actual procedimento sejam
considerados eficazes podem ser aperfeiçoados ou acrescentados outros que se considerem
relevantes e complementares. Todavia, será sempre necessário consciencializar os directores de
obra para a sua realização com a devida antecedência, pois só nestes termos se beneficiará em
pleno de uma correcta preparação de obra.
Através do levantamento dos procedimentos implementados na empresa, constatou-se existir
uma ferramenta de controlo e monitorização das actividades críticas, ou seja, os relatórios de
actividades críticas (RAC). Esta ferramenta visa encontrar soluções e medidas, para as
actividades já em execução e que apresentam resultados desfavoráveis a nível de custos ou
prazos, de modo a minimizar esses desvios. Contudo, alguns desses problemas poderiam ser
evitados, caso existisse um sistema que os pudesse prever, o que só seria possível através de um
maior conhecimento das dificuldades encontradas nas obras já executadas, ou seja, resultante da
experiência e das lições aprendidas. Então, considera-se que o desenvolvimento de um registo
relativo ao fecho das obras, como por exemplo relatórios de fecho de obra, poderia ser útil no
sentido de efectuar um balanço dos factores de sucesso e insucesso face ao resultado final, com
vista a uma aprendizagem e partilha de experiências entre os colaboradores da empresa. Desta
forma, aproveitar-se-ia esta oportunidade de melhoria para implementar um sistema de
debriefing, visto não existir nenhum em vigor, actualmente.
Em síntese, é legítimo concluir que o desenvolvimento de uma Base de Conhecimento e/ou a
implementação de relatórios de fecho de obra, nos quais se registe apenas informação relevante e
Capítulo 3 – Estudo de Casos
58 Instituto Superior Técnico
de modo sintético, constituem uma necessidade urgente da empresa. Adicionalmente, a
articulação deste sistema com o procedimento de preparação de obra, após efectuados os devidos
aperfeiçoamentos, permitirão iniciar o processo de aprendizagem interna da empresa, com vista à
obtenção de melhores resultados finais nas obras.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 59
4. Modelo Proposto
4.1. Introdução
O principal objectivo deste estudo consiste no aumento do sucesso das obras através da
reutilização do conhecimento interno da organização, resultante da aprendizagem e partilha de
experiências, bem como na realização de adequadas preparações de obra. Para tal, apresenta-se
no presente capítulo uma metodologia que visa melhorar o processo de preparação das obras.
Este modelo é composto por um procedimento, o qual requer a elaboração de vários documentos,
uma check-list e ainda uma Base de Conhecimento/Banco de Memória, sob a forma de sistema
dinâmico, que permite compilar de forma sintética e objectiva o conhecimento resultante da
execução das obras.
A articulação entre estas ferramentas ocorrerá da seguinte forma: na fase de abertura da obra,
durante a sua execução e na altura do fecho serão fornecidos dados para enriquecer a Base de
Conhecimento (inputs). Esta, por sua vez, será consultada durante o processo de preparação das
obras futuras (outputs), beneficiando assim do conhecimento proveniente das obras já
executadas, o que resulta em preparações de obra mais eficazes, tal como mostra a Figura 4.1.
Figura 4.1 – Articulação do procedimento de preparação de obra com a Base de Conhecimento
Execução da Obra
Fecho de Obra
Abertura de Obra
Procedimento de Preparação de Obra
Check-list
Preparação de Obra
Fornecimento de dados
Fornecimento de dados
Consulta de elementos
Base de Conhecimento/
Banco de Memória Fornecimento de dados
Capítulo 4 – Modelo Proposto
60 Instituto Superior Técnico
Recepção do dossier do Departamento Comercial e Análise do Projecto
Planeamento do Estaleiro
Planeamento dos Trabalhos
Gestão dos recursos
Planeamento Qualidade/ Ambiente
/ Segurança
Reorçamento
Estudo preliminar
Reconhecimento do local
Erros e omissões
Estudo de processos construtivos
4.2. Metodologia de Preparação de Obra
As recomendações que a seguir se descrevem resultam não só da recensão bibliográfica
efectuada no Capítulo 2, mas também das sugestões de melhoria e das necessidades transmitidas
nos questionários e no contacto com os colaboradores da empresa.
4.2.1. Procedimento
O procedimento implementado e actualmente em vigor na empresa é composto por um
conjunto de temas que devem ser desenvolvidos segundo a metodologia preconizada. Nesta
secção abordam-se apenas os pontos fulcrais, indicados na Figura 4.2, para os quais se
apresentam recomendações de melhoria.
Figura 4.2 – Processo de preparação de obra
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 61
� Recepção do projecto de execução da obra:
Aquando da passagem da obra do Departamento Comercial para a Direcção de Produção, o
responsável pelo processo de preparação da obra deverá proceder à identificação e compilação
de toda a documentação do projecto, de modo a completar eventuais elementos em falta.
� Estudo preliminar:
Após a recepção do projecto de execução da obra, há que efectuar um breve estudo
introdutório que permita ao responsável pelo processo de preparação de obra, compreender o
âmbito da mesma, bem como os conceitos que deverão servir de base à execução da empreitada.
Esta análise preliminar deverá reger-se pelas seguintes linhas principais de orientação:
- Em que consiste a obra;
- Quais as bases de elaboração do projecto, normalmente descritas na Memória Descritiva;
- Qual o regime pretendido para a construção;
- As principais actividades, não só pelas quantidades, como também pelo valor parcial de
venda ou de fabrico;
- Conhecimento de todas as condições de execução;
- Se existem prazos intercalares impostos pelo Dono de Obra;
- Quais os constrangimentos naturais ou outros que condicionam o desenvolvimento dos
trabalhos;
- Serviços afectados significativos;
- Outros aspectos que tenham ressaltado na análise.
� Reconhecimento do local:
Uma das etapas cruciais deste processo é o reconhecimento do local, na medida em que
permitirá ao responsável pela preparação da obra confrontar os pressupostos tidos em conta no
Capítulo 4 – Modelo Proposto
62 Instituto Superior Técnico
projecto com a realidade física do terreno onde a obra será executada. Além disso, estas visitas
facilitam a determinação da localização das instalações de apoio.
Assim sendo, esta análise deverá contemplar duas abordagens: uma orientada para o futuro
estaleiro e outra focada nos aspectos relativos à execução da obra.
i.) Estaleiro
Deverá ser verificada a disponibilidade das zonas para instalação de estaleiros,
considerando:
- Áreas necessárias para escritórios, laboratório, oficina mecânica, dormitórios, refeitório,
armazéns, parque de equipamentos, carpintaria, preparação de armaduras, centrais de betão e
betuminosos, centrais temporárias de britagem, pré-fabricação, etc.;
- Indicação no próprio Programa de Concurso/Caderno de Encargos, de que o Dono de Obra
disponibiliza áreas de estaleiro;
- Avaliação da disponibilidade para ocupar os terrenos e da existência de áreas
condicionadas e respectiva previsão de entrega;
- Ocupação de parcelas sobrantes expropriadas (ou a expropriar), pelo Dono de Obra no
âmbito da obra e a serem disponibilizadas na Consignação (procurar confirmar esta hipótese);
- Possibilidade de arrendamento ou cedência gratuita temporária de terrenos particulares;
- Verificação das dimensões do terreno, de forma a evitar conflitos com os proprietários dos
terrenos confinantes.
ii.) Execução da Obra
- Empréstimos e/ou Vazadouros: localização (distâncias a percorrer até Empréstimos e/ou
Vazadouros), volumes disponíveis (estimativa), acessibilidades, condições de exploração,
caracterização dos materiais, implicações ambientais;
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 63
- Obstáculos naturais ou outros, como poços ou minas aparentes, elementos de interesse
arqueológico ou histórico e construções existentes, situados em plena zona de intervenção ou na
sua periferia;
- Outras condicionantes, como:
- Intensidade do tráfego rodoviário na zona - determinar se este pode constituir uma
condicionante ao andamento dos trabalhos ou à definição das fases de execução da
obra,
- Natureza do terreno - avaliar as suas características, mas também o seu
comportamento superficial nos períodos de chuva e os métodos mais adequados para
escavação,
- Tipo de ocupação/utilização dos terrenos - determinar a necessidade de efectuar
demolições ou decapagens,
- Risco de desmoronamentos,
- Clima da região - identificar condicionantes à utilização de determinados materiais
ou equipamentos, determinar a melhor altura do ano para a execução de certos
trabalhos que possam ser afectados pelas condições meteorológicas ou que só possam
ser realizados em épocas específicas do ano;
- Identificação/confirmação da existência de fornecedores locais (ou próximos) e
determinação da abundância de mão-de-obra na região.
Uma vez realizada esta visita, dever-se-á analisar a metodologia construtiva contemplada na
Memória Descritiva da Proposta, com o intuito de estabelecer as fases da obra e verificar a
aplicabilidade dos métodos de execução seleccionados, de forma a introduzir as necessárias
alterações de conceitos, aquando da elaboração do Plano de Trabalhos definitivo e respectiva
memória.
Capítulo 4 – Modelo Proposto
64 Instituto Superior Técnico
� Erros e omissões:
Após a compilação de todos os elementos do projecto e efectuado o reconhecimento do
local, o responsável pela preparação da obra está em condições de prosseguir o estudo segundo
duas vertentes.
Por um lado, deverá preparar, no prazo legal, eventuais pedidos de esclarecimento ao dono
da obra, de modo a eliminar quaisquer dúvidas, erros e omissões resultantes de:
- Leitura e procura de diferenças entre as informações contidas nas Peças Escritas e
Desenhadas;
- Confronto entre projecto de concurso e condições reais de execução;
- Revisão rigorosa das medições, estabelecendo rectificações;
- Comparação das quantidades apresentadas nas Peças Desenhadas com a lista de
quantidades do Articulado.
Por outro lado, nesta fase já é possível organizar os planos de execução dos trabalhos, assim
como o planeamento da obra, atendendo às disponibilidades de equipamento e aos programas de
execução.
Note-se que, de acordo com o Decreto-Lei nº18/2008 de 29 de Janeiro [38], o empreiteiro
deve reclamar contra erros ou omissões do projecto ou contra erros de cálculo, erros de materiais
e outros erros ou omissões de folhas de medições num prazo estabelecido para o efeito no
caderno de encargos. Caso tal não esteja definido, este é em geral de um mês contado a partir da
data da consignação.
� Planeamento do Estaleiro e Seguros:
A elaboração do Plano de Estaleiro deverá incluir uma planta do mesmo, onde se represente:
- Implantação geral do estaleiro;
- Tipo de vedações e placas identificadoras da empresa ou outras;
- Acessos (entrada e saída de pessoas e viaturas) e circulações dentro do estaleiro;
- Instalações sociais (instalações sanitárias, refeitório e dormitórios), devidamente cotadas;
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 65
- Instalações industriais (escritórios, ferramentaria, oficinas de aço, cofragem e armazéns),
devidamente cotadas;
- Implantação de equipamentos (gruas, geradores, máquinas de ferro, centrais de betão,…);
- Implantação do posto de combustíveis;
- Implantação de báscula de pesagem;
- Sinalização de trânsito e de segurança.
Nesta fase, o responsável pela direcção da obra deverá proceder à requisição do
fornecimento das Redes Públicas (águas, esgotos, electricidade e telefones) ao futuro Estaleiro.
Também se recomenda a obtenção ou confirmação da existência dos seguros obrigatórios
(Acidentes de trabalho, Responsabilidade Civil, Execução da Obra) ou outros necessários. As
licenças, nomeadamente para uso de explosivos nas escavações, deverão ser requeridas junto da
Câmara Municipal e da Polícia de Segurança Pública, com a devida antecedência.
� Plano de Trabalhos:
Na elaboração do Plano de Trabalhos deve-se procurar identificar potenciais actividades
críticas, tanto a nível de execução como de custo.
� Estudo de Processos Construtivos:
Para determinadas actividades específicas, cuja execução constitua um processo mais
complexo ou de maior custo, o responsável pela preparação da obra deverá estudar os métodos
de execução indicados no projecto e outros alternativos, que tenham como objectivo rentabilizar
os trabalhos, facilitar a sua execução e diminuir os custos. Nos casos em que tal se justifique e
com vista a fornecer toda a informação necessária às frentes da obra, deverão ser elaborados
desenhos distintos de fabrico e colocação, assim como pormenores de execução, de modo legível
e adequado aos conhecimentos de quem vai executar os diferentes trabalhos. Estes devem ser
Capítulo 4 – Modelo Proposto
66 Instituto Superior Técnico
complementados com notas explicativas dos aspectos particulares, pouco usuais ou
desconhecidos.
� Consulta de informação complementar:
Com vista a completar a informação disponível e rentabilizar o processo de preparação de
obra, é aconselhável a consulta da Base de Conhecimento, de modo a não repetir erros do
passado e beneficiar de soluções de execução alternativas ou inovadoras.
4.2.2. Documentos
Além da documentação indispensável a qualquer obra, como o Plano de Trabalhos
definitivo, o Plano de Segurança e Saúde, o Plano da Qualidade, o Plano de Sinalização
Temporária e Desvios de Trânsito, também se recomenda a elaboração de documentos
complementares que possam auxiliar a execução da obra.
Assim, salientam-se:
- Plano de Demolições;
- Plano de Escavações e Contenção Periférica;
- Plano de Inspecção e Ensaio;
- Estudos Laboratoriais;
- Projecto de Implantação e Piquetagem da Obra.
4.2.3. Check-list
O processo de preparação de obra também inclui uma check-list com os principais pontos a
abordar. Cada ponto deve ser desenvolvido de acordo com a metodologia para a qual foram
descritas as recomendações acima mencionadas.
Esta lista é composta por onze temáticas, como se mostra em seguida.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 67
Continua na página seguinte
Capítulo 4 – Modelo Proposto
68 Instituto Superior Técnico
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 69
Utilizador
Dados
InformaçãoConhecimento
Tomada de decisões
4.3. Modelo de uma Base de Conhecimento de apoio à Preparação de Obra
4.3.1. Bases do modelo
O ciclo da informação, apresentado na Figura 4.3, inicia-se com a aplicação da inteligência
do utilizador sobre os dados, gerando informação. Esta, por sua vez, leva ao conhecimento, o
qual auxilia a tomada de decisões.
Figura 4.3 – Ciclo dados-conhecimento-decisão [39]
Para que a informação seja disponibilizada de forma compreensível e de fácil utilização
dentro das organizações, cada vez mais se recorre a sistemas de bases de dados.
Na presente dissertação, dadas as limitações existentes, optou-se por uma base de dados
como forma de materialização da Base de Conhecimento de apoio à preparação de obra, ou seja,
para armazenar o conhecimento (dados) resultante das obras executadas pela empresa e facilitar
a sua consulta, a qual pode ser útil durante o processo de preparação das obras futuras. A Figura
4.4 mostra a arquitectura deste modelo.
Capítulo 4 – Modelo Proposto
70 Instituto Superior Técnico
Figura 4.4 - Arquitectura do modelo de Base de Conhecimento
De acordo com Carvalho, Azevedo e Abreu [39], o desenvolvimento de uma base de dados
deste tipo é composto por várias etapas, tal como mostra a Figura 4.5.
Figura 4.5 - Fases de desenvolvimento de uma Base de Conhecimento [39]
Feedback
Estudo preliminar
Identificação de requisitos
Análise detalhada
Desenho
Codificação
Teste e implantação
Manutenção
Obras executadas
Obras em execução
Conhecimento
Base de Conhecimento Formulários e
Relatórios
Preparação das obras futuras
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 71
No presente capítulo abordam-se as fases de:
- análise detalhada, procurando estabelecer regras e procedimentos para organizar os dados
num modelo lógico;
- desenho dos processos e especificações técnicas que compõem o modelo;
- codificação, na qual se constrói a aplicação pretendida através de um Sistema de Gestão de
Bases de Dados (SGBD).
Os SGBD dispõem de mecanismos simples de consulta e manutenção de dados, assim como
um conjunto de funcionalidades importantes, que visam garantir a integridade dos dados
armazenados. A maioria destes sistemas utiliza a Structured Query Language, que consiste numa
linguagem de pesquisa declarativa para bases de dados relacionais, baseada na álgebra relacional.
O SGBD escolhido para desenvolver a Base de Conhecimento/Banco de Memória foi o
Microsoft Access 2007, devido à facilidade de utilização e interacção deste software, tanto na
óptica do programador como na do utilizador.
O primeiro passo para o desenvolvimento da Base de Conhecimento em causa, passa pela
definição do modelo lógico de base de dados a usar, o qual segundo Carvalho, Azevedo e Abreu
[39], consiste num conjunto de estruturas lógicas usadas para representar a estrutura dos dados e
as relações entre estes na base de dados.
Existem dois tipos de modelos:
- conceptuais ou de alto nível, como o modelo Entidade-Relacionamento (E-R), os quais são
usados para obter uma descrição lógica do sistema, focando o que a base de dados representa;
- físicos ou de implementação, sendo um exemplo o modelo Relacional, que descreve a
forma como os dados estão representados na base de dados e o modo como as estruturas de
dados são implementadas.
Capítulo 4 – Modelo Proposto
72 Instituto Superior Técnico
4.3.1.1. Modelo Relacional
Neste modelo os dados são representados como um conjunto de estruturas lógicas,
compostas por tabelas com linhas e colunas. Assim, toda a informação que se pretende
armazenar na base de dados é guardada nestas relações ou tabelas.
Para elaborar e estruturar as relações é necessário conhecer alguns conceitos básicos, tais
como:
- Classe – colecção de objectos semelhantes que partilham a mesma estrutura e o mesmo
comportamento;
- Objecto – representação conceptual de uma entidade do mundo real sobre a qual se
pretende armazenar informação na base de dados;
- Entidade – conjunto de pessoas, lugares, objectos, acontecimentos ou conceitos;
- Atributo – característica específica de uma entidade.
Nas tabelas, cada linha representa um registo e cada coluna um atributo. Então, para
interligar as diferentes tabelas é necessário que existam atributos comuns entre elas. Contudo,
existe outro problema, como distinguir os vários registos de uma tabela. A solução passa por
identificar cada registo de modo único. Assim, surge a noção de chave primária, que consiste
num atributo ou conjunto de atributos, cujo valor permite identificar de forma unívoca cada linha
da tabela. Com o intuito de assegurar a integridade de entidade da base de dados, os atributos
chave são sempre campos de preenchimento obrigatório e os SGBD não permitem que dois
registos da mesma tabela apresentem igual valor nos atributos chave. Para fácil identificação e
procura de dados numa tabela, deve-se escolher para chave primária, atributos com um tamanho
pequeno, como por exemplo um código identificador.
Quando um atributo ou conjunto de atributos de uma tabela corresponde também à chave
primária de outra tabela, então este designa-se por chave estrangeira. De acordo com a regra da
integridade referencial, uma chave estrangeira não pode ter um valor que não tenha
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 73
correspondência na tabela relacionada, mas tal não implica que seja de preenchimento
obrigatório.
O tipo de campo de um atributo determina os dados que nele se podem armazenar e
podem ser:
- texto - qualquer conjunto de n caracteres até um máximo de 255;
- memo – qualquer conjunto de n caracteres até um máximo de 64.000 (mais indicado
para campos com textos mais longos, como descrições);
- número - um valor real;
- data - um valor de data (engloba o dia, o mês e o ano);
- numeração automática – um valor numérico definido automaticamente quando é
adicionado um registo;
- sim/não – valores booleanos (para campos que só podem ter uma de duas opções);
- objecto OLE – imagens, gráficos e outros dados binários.
A Figura 4.6 mostra o modelo relacional da base de dados desenvolvida. Os atributos
assinalados com a expressão <pk> fazem parte da chave primária (primary key) e os atributos
assinalados com a expressão <fk> correspondem a chaves estrangeiras (foreign key). Por sua
vez, as setas representam os relacionamentos entre as tabelas, ligando as chaves estrangeiras de
uma tabela à chave primária correspondente, de outra tabela.
Capítulo 4 – Modelo Proposto
74 Instituto Superior Técnico
Figura 4.6 – Modelo relacional
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 75
4.3.1.2. Modelo Entidade-Relacionamento (E-R)
Este modelo baseia-se nos conceitos de entidade, atributo e relacionamentos, pois
representa os relacionamentos entre essas entidades.
Um relacionamento é uma associação útil entre duas entidades, ou seja, é um conjunto de
ligações entre dois ou mais objectos que permite impor algumas restrições. A cardinalidade do
relacionamento corresponde ao número de registos de uma entidade associado a um dado
número de registos de outra entidade e pode ser de três tipos:
- um para um (1:1) – a cada registo de uma tabela está associado apenas um registo de
outra tabela, por exemplo: cada obra tem apenas uma análise económica;
- um para muitos (1:∞) – a cada registo de uma tabela podem corresponder vários registos
de outra tabela, por exemplo: a cada grupo de produção estão associadas várias obras;
- muitos para muitos (∞:∞) – por exemplo, para cada obra foram usados vários tipos de
materiais e cada tipo de material pode ser usado em diversas obras.
A Figura 4.7 mostra o modelo Entidade-Relacionamento da base de dados em estudo.
Figura 4.7 – Diagrama Entidade-Relacionamento [retirado do Microsoft Access 2007]
Capítulo 4 – Modelo Proposto
76 Instituto Superior Técnico
4.3.2. Descrição do modelo
Para simplificar a interacção do utilizador com os dados armazenados nas tabelas foram
criados sete formulários. Adicionalmente, também se definiram quatro estruturas de relatório, de
modo a permitir a impressão da informação mais significativa.
4.3.2.1. Formulários
Os formulários, também designados por ecrãs de apresentação, são interfaces mais
sofisticados que permitem ao utilizador inserir, alterar ou visualizar os registos da base de dados
de uma forma mais simples.
A Base de Conhecimento criada é composta por um total de sete formulários de três
tipos:
- quatro formulários para edição e visualização dos dados (Identificação da obra,
Descrição sumária, Aspectos de execução e Análise económica),
- dois formulários para efectuar consultas por selecção (Consulta de obras por tipo e
Consulta de obras por grupo),
- um formulário correspondente ao menu inicial da base de dados.
Todos os formulários de edição e visualização de dados dispõem, junto ao cabeçalho, de
um conjunto de botões para facilitar a navegação entre registos, um botão para voltar ao menu
inicial e um campo que permite procurar um registo pelo número da obra.
� Identificação da obra
Este formulário contém um conjunto de campos que permitem efectuar a caracterização
geral da obra e um subformulário com as principais datas e prazos.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 77
Tabela 4.1 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário Datas
Campo Tipo de campo Tipo de dados Propriedades Tabela/Fonte
Nº obra Manual Número Preenchimento obrigatório
Datas
Data da proposta Manual Data Datas
Data do contrato Manual Data Datas Data da consignação Manual Data Datas
Prazo de execução inicial (contratual) – duração
Manual Memo Datas
Prazo de execução inicial (contratual) – data
Manual Data Datas
Prazo de execução final (sem penalizações) - duração
Manual Memo Datas
Prazo de execução final (sem penalizações) – data
Manual Data Datas
Recepção provisória - pedido Manual Data Datas
Recepção provisória - auto Manual Data Datas
Desvio entre prazo de execução final e data do auto de recepção
Manual Memo Datas
Observações Manual Memo Datas
Tabela 4.2 – Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do formulário Identificação da
obra
Campo Tipo de campo Tipo de dados Propriedades Tabela/Fonte
Nº obra Manual Número Preenchimento obrigatório
Obras
Designação Manual Texto Obras
Localização Manual Texto Obras
Grupo Caixa de combinação Texto Grupo
Cliente/Promotor Manual Memo Obras Tipo de obra Caixa de combinação Texto Tipo de obra
Construção em consórcio/ACE
Caixa de verificação Sim/Não Obras
Identificação do consórcio
Manual Memo Obras
% Tecnovia Manual Número Obras Valor do contrato Manual Número Obras
Capítulo 4 – Modelo Proposto
78 Instituto Superior Técnico
� Descrição sumária
Este formulário é composto por um campo com a descrição sumária da obra, uma
imagem representativa e um subformulário com a lista dos principais materiais utilizados.
Tabela 4.3 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário Principais
quantidades finais
Campo Tipo de campo Tipo de dados Propriedades Tabela/Fonte
Nº obra Manual Número Preenchimento obrigatório Quantidades finais
Material Manual Memo Quantidades finais
Quantidade Manual Memo Quantidades finais
Código quantidade Automático Numeração automática
Preenchimento obrigatório Quantidades finais
Tabela 4.4 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do formulário Descrição
sumária
Campo Tipo de campo Tipo de dados Propriedades Tabela/Fonte Nº obra Manual Número Preenchimento obrigatório Obras
Descrição sumária Manual Memo Obras
Imagem Manual Objecto OLE Obras
� Aspectos de execução
Este formulário apresenta um campo para o registo das principais dificuldades
encontradas e soluções sugeridas para o futuro e outro campo com as soluções construtivas
inovadoras utilizadas. Adicionalmente, contém ainda três subformulários com as listas de
materiais, soluções construtivas e soluções técnicas executadas e respectivas alternativas.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 79
Tabela 4.5 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário Pontos de
melhoria – Materiais
Campo Tipo de campo Tipo de dados Propriedades Tabela/Fonte
Nº obra Manual Número Preenchimento obrigatório
Melhoria materiais
Material utilizado Manual Memo Melhoria materiais Alternativa possível Manual Memo Melhoria materiais
Diferença de custo unitário
Manual Texto Melhoria materiais
Quantidade Manual Texto Melhoria materiais
Código material Automático Numeração automática
Preenchimento obrigatório
Melhoria materiais
Tabela 4.6 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário Pontos de
melhoria – Soluções construtivas
Campo Tipo de campo
Tipo de dados Propriedades Tabela/Fonte
Nº obra Manual Número Preenchimento obrigatório
Melhoria soluções construtivas
Solução construtiva executada
Manual Memo Melhoria soluções construtivas
Alternativa possível Manual Memo Melhoria soluções construtivas
Código sol construtiva Automático Numeração automática
Preenchimento obrigatório
Melhoria soluções construtivas
Tabela 4.7 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário Pontos de
melhoria – Soluções técnicas
Campo Tipo de campo
Tipo de dados Propriedades Tabela/Fonte
Nº obra Manual Número Preenchimento obrigatório
Melhoria soluções técnicas
Solução técnica executada
Manual Memo Melhoria soluções técnicas
Alternativa possível Manual Memo Melhoria soluções técnicas
Código sol técnica Automático Numeração automática
Preenchimento obrigatório
Melhoria soluções técnicas
Capítulo 4 – Modelo Proposto
80 Instituto Superior Técnico
Tabela 4.8 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do formulário Aspectos de
execução
Campo Tipo de campo
Tipo de dados
Propriedades Tabela/Fonte
Nº obra Manual Número Preenchimento obrigatório Obras
Soluções construtivas inovadoras
Manual Memo Obras
Principais dificuldades encontradas e soluções sugeridas para o futuro
Manual Memo Obras
� Análise económica
Este formulário é composto por um conjunto de campos para o registo dos principais
dados económicos, um quadro comparativo que apresenta a evolução económica da obra e
dois subformulários com a listagem das actividades críticas e das actividades mais bem
sucedidas e respectiva análise.
Tabela 4.9 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário Actividades
críticas
Campo Tipo de campo Tipo de dados Propriedades Tabela/Fonte
Nº obra Manual Número Preenchimento obrigatório
Actividades críticas
Actividade crítica Manual Memo Actividades críticas
Custo orçamentado Manual Número Actividades críticas
Custo real Manual Número Actividades críticas
Motivos Manual Memo Actividades críticas
Código actividade crítica Automático Numeração automática
Preenchimento obrigatório
Actividades críticas
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 81
Tabela 4.10 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário Quadro
comparativo
Campo Tipo de campo
Tipo de dados
Propriedades Tabela/Fonte
Nº obra Manual Número Preenchimento obrigatório
Quadro comparativo
% MO – orçamento comercial Manual Memo Quadro comparativo
% MO – orçamento preparação obra Manual Memo Quadro comparativo
% MO – último reorçamento Manual Memo Quadro comparativo
% MO – posição final Manual Memo Quadro comparativo
Desvio MO (final-comercial) Manual Memo Quadro comparativo
% EQ – orçamento comercial Manual Memo Quadro comparativo
% EQ – orçamento preparação obra Manual Memo Quadro comparativo
% EQ – último reorçamento Manual Memo Quadro comparativo
% EQ – posição final Manual Memo Quadro comparativo
Desvio EQ (final-comercial) Manual Memo Quadro comparativo
% MT – orçamento comercial Manual Memo Quadro comparativo
% MT – orçamento preparação obra Manual Memo Quadro comparativo
% MT – último reorçamento Manual Memo Quadro comparativo
% MT – posição final Manual Memo Quadro comparativo
Desvio MT (final-comercial) Manual Memo Quadro comparativo
% SB – orçamento comercial Manual Memo Quadro comparativo
% SB – orçamento preparação obra Manual Memo Quadro comparativo
% SB – último reorçamento Manual Memo Quadro comparativo
% SB – posição final Manual Memo Quadro comparativo
Desvio SB (final-comercial) Manual Memo Quadro comparativo
Capítulo 4 – Modelo Proposto
82 Instituto Superior Técnico
Tabela 4.11 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do formulário Análise
económica
Campo Tipo de campo
Tipo de dados
Propriedades Tabela/Fonte
Nº obra Manual Número Preenchimento obrigatório
Análise económica
Valor de venda comercial Manual Número Análise económica
Custo industrial do orçamento comercial
Manual Número Análise económica
Custo total do orçamento comercial Manual Número Análise económica
Margem do orçamento comercial Manual Memo Análise económica
Valor de venda do orçamento da preparação de obra
Manual Número Análise económica
Custo industrial do orçamento da preparação de obra
Manual Número Análise económica
Custo total do orçamento da preparação de obra
Manual Número Análise económica
Margem do orçamento da preparação de obra
Manual Memo Análise económica
Data do último reorçamento (Mês/Ano)
Manual Memo Análise económica
Valor de venda do último reorçamento
Manual Número Análise económica
Custo industrial do último reorçamento
Manual Número Análise económica
Custo total do último reorçamento Manual Número Análise económica
Margem do último reorçamento Manual Memo Análise económica
Data da posição final (Mês/Ano) Manual Memo Análise económica
Valor de venda da posição final Manual Número Análise económica
Custo industrial da posição final Manual Número Análise económica
Custo total da posição final Manual Número Análise económica
Margem da posição final Manual Memo Análise económica
Evolução do orçamento comercial-reorçamento: comentários
Manual Memo Análise económica
Evolução do reorçamento-posição final: comentários
Manual Memo Análise económica
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 83
Tabela 4.12 - Campos, tipo de campo, tipo de dados, propriedades e fontes do subformulário Actividades
positivas
Campo Tipo de campo Tipo de dados Propriedades Tabela/Fonte
Nº obra Manual Número Preenchimento obrigatório
Actividades positivas
Actividade positiva Manual Memo Actividades positivas
Custo orçamentado Manual Número Actividades positivas
Custo real Manual Número Actividades positivas
Observações Manual Memo Actividades positivas
Código actividade positiva
Automático Numeração automática
Preenchimento obrigatório
Actividades positivas
� Consulta de obras por Grupo
Este formulário está associado a uma consulta, ou seja, a base de dados pergunta ao
utilizador qual o grupo que pretende consultar e apresenta um formulário com a listagem das
obras que pertencem ao grupo seleccionado. Além do número e da designação, também
mostra os campos com a localização e o tipo de cada obra, de modo a que o utilizador possa
facilmente identificar qual a obra que contém a informação que mais lhe convém.
� Consulta de obras por Tipo
Analogamente ao formulário Consulta de obras por Grupo, também este formulário está
associado a uma consulta, que permite ao utilizador escolher o tipo de obras que pretende
visualizar. Seleccionado o tipo de obra, a Base de Conhecimento apresenta um formulário
com a lista dos números, designações, localizações e breves descrições das obras que
correspondem ao critério de selecção.
Capítulo 4 – Modelo Proposto
84 Instituto Superior Técnico
� Menu inicial
O Menu inicial é um formulário um pouco mais complexo, composto por dois
separadores:
- Introdução e consulta de dados, que dá acesso aos vários formulários através de um
conjunto de botões que estabelecem essas ligações;
- Relatórios, que permite escolher e aceder aos quatro modelos de relatório criados.
Este menu dispõe ainda de um botão, no separador Introdução e consulta de dados, que
permite fechar a aplicação.
4.3.2.2. Relatórios
Com o intuito de facilitar a impressão dos dados mais relevantes, foram definidos quatro
relatórios-tipo.
Tendo em atenção que a informação que pode ser mais útil ao utilizador é a relacionada
com os aspectos de execução das obras, optou-se por dividi-la em três relatórios:
- Pontos de melhoria – Materiais;
- Pontos de melhoria – Soluções Construtivas;
- Pontos de melhoria – Soluções Técnicas.
Cada um destes relatórios apresenta, para uma obra individual, o conjunto de campos que
compõem os respectivos formulários.
Adicionalmente, foi criado o relatório Identificação da obra, composto pelos principais
campos que permitem efectuar a caracterização geral de cada obra e que são: nº de obra,
designação, localização, grupo, director de obra, cliente, tipo de obra, construção em consórcio
(identificação e % da Tecnovia), valor do contrato, descrição sumária, soluções construtivas
inovadoras, dificuldades e soluções sugeridas para o futuro.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 85
Todos os relatórios mostram, no cabeçalho, a data e a hora da impressão.
4.4. Campo de aplicação
Este modelo serve de suporte à criação de uma aplicação informática para a gestão do
conhecimento resultante da execução das obras, com vista a complementar a metodologia de
preparação de obra. Para tal, procurou-se estabelecer uma estrutura que permitisse que os
formulários de fecho de obra pudessem ser aplicados a qualquer tipo de obra.
4.5. Conclusões
A Base de Conhecimento/Banco de Memória permite, em tempo real, a consulta e edição de
conhecimentos resultantes das obras executadas pela empresa, bem como a sua partilha por toda
a organização.
O preenchimento do formulário Aspectos de execução permite efectuar, em simultâneo, uma
análise a posteriori das decisões e opções tomadas em obra e propor alternativas viáveis. Desta
forma, introduz-se a prática de debriefing, até à data inexistente na empresa. Salienta-se ainda a
importante contribuição desta técnica para evitar a repetição dos erros no futuro e diminuição do
tempo de resolução de problemas.
A análise individual das actividades críticas possibilita à empresa compreender quais as
actividades que apresentam maiores dificuldades e, assim, agir em conformidade, definindo
acções correctivas e/ou preventivas e procurando aplicar soluções potencialmente mais
adequadas. Analogamente, através da análise das actividades positivas, a empresa pode
determinar quais as práticas mais bem sucedidas e incentivar a sua aplicação.
Por fim, a consulta da Base de Conhecimento, durante o processo de preparação de obra,
juntamente com metodologia apresentada permitem preparar de forma mais sustentada e realista
as futuras obras a executar. Deste modo, lançam-se as bases para diminuir os factores de risco e
Capítulo 4 – Modelo Proposto
86 Instituto Superior Técnico
incerteza associados à preparação das obras e para aumentar a probabilidade de sucesso na fase
de execução, dando origem a um ciclo de melhoria contínua e obtendo resultados económicos
finais mais satisfatórios.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 87
5. Teste e Validação do Modelo
5.1. Introdução
Após desenvolver o modelo para realização do procedimento de preparação de obra, onde se
inclui a Base de Conhecimento de apoio, é necessário avaliar se esta satisfaz as necessidades
identificadas anteriormente. No presente capítulo, procede-se ao teste e validação da Base de
Conhecimento através da sua aplicação a situações reais, ou seja, às obras apresentadas no
Capítulo 3, nomeadamente o caso de estudo 1.
Desta forma, pretende-se não só apresentar a aplicação informática (Base de Conhecimento)
incluída no modelo apresentado no Capítulo 4, mas também testá-la e validá-la.
A Base de Conhecimento desenvolvida é dinâmica, pelo que pode ser melhorada ou alterada
para responder a novas necessidades. Em qualquer altura, podem ser elaborados mais
formulários ou relatórios, com vista à manipulação e consulta dos dados armazenados nas tabelas
e até criadas novas tabelas.
5.2. Requisitos e aplicação do modelo
Para efectuar o teste e validação da Base de Conhecimento, há que estabelecer os requisitos a
verificar.
A validação da aplicação requer o teste do produto final nas suas várias componentes, como
testes ao programa incluindo a interface do utilizador, testes ao código fonte, testes à
documentação e eventualmente, testes aos dados armazenados. As técnicas para efectuar estes
testes podem ser: inspecções manuais, testes das funções dos programas ou testes baseados no
fluxo de dados.
Relativamente à qualidade da aplicação informática Base de Conhecimento, a Figura 5.1
mostra as principais características exigidas pela norma ISO/IEC 9126 [40].
Capítulo 5 – Teste e validação do modelo
88 Instituto Superior Técnico
Figura 5.1 – Características de qualidade exigidas pela norma ISO/IEC 9126 [40]
Assim, foram realizados testes de funcionalidade baseados em fluxos de dados, com o intuito
de verificar se todas as funções do programa estão em conformidade, incluindo as interfaces dos
utilizadores e testes às técnicas de programação, para determinar se a aplicação informática Base
de Conhecimento funciona de forma robusta e de confiança.
Para tal, recorreu-se, como referido acima, a uma das obras apresentadas no Capítulo 3,
nomeadamente o caso de estudo 1 que consiste no alargamento de dois troços de uma estrada
nacional e na construção integral de um terceiro troço, incluindo três rotundas por troço.
5.3. Teste e validação
O primeiro passo consiste em abrir a Base de Conhecimento, em formato Microsoft Access
2007, visualizando de imediato o menu inicial e procedendo ao teste de todas as funções dos dois
separadores.
Para verificar se os formulários estão em conformidade com os requisitos, procedeu-se à
introdução dos dados referentes ao caso de estudo 1, preenchendo primeiro o formulário de
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 89
Identificação da obra, seguido da Descrição sumária, passando para os Aspectos de execução e
por fim, o formulário relativo à Análise económica.
Seguidamente, procedeu-se à consulta de dados através dos formulários de consulta, os quais
envolvem listas de obras, pelo que se procedeu à introdução prévia dos dados relativos aos
restantes casos de estudo, segundo um processo análogo ao descrito para o caso de estudo 1, de
modo a verificar a conformidade destes formulários.
Por último, imprimiram-se os diversos modelos de relatório para a obra em questão.
Resta salientar que, por se tratar de dados confidenciais da empresa cooperante, os testes
foram realizados com valores económicos e nomes fictícios, sendo reais as restantes informações
relativas à execução das obras.
5.3.1. Menu inicial
Ao iniciar a aplicação, abre-se automaticamente um formulário com o menu inicial, onde se
pode escolher o tipo de acção a desenvolver, dispondo para tal de botões que estabelecem a
ligação aos vários formulários e modelos de relatório da Base de Conhecimento, como mostra a
Figura 5.2. Assim, procedeu-se ao teste de todas as hiperligações associadas aos botões e estando
estas em pleno funcionamento, considera-se o menu inicial tecnicamente validado.
Figura 5.2 – Formulário Menu inicial
Capítulo 5 – Teste e validação do modelo
90 Instituto Superior Técnico
5.3.2. Identificação da obra
Para introduzir os dados relativos a uma nova obra, nomeadamente o caso de estudo 1,
seleccionou-se no Menu inicial o formulário Identificação da obra como mostra a Figura 5.3.
Figura 5.3 – Formulário Identificação da obra
5.3.3. Descrição sumária
Para abrir o formulário Descrição sumária e introduzir os respectivos dados, como mostra a
Figura 5.4, recorreu-se ao botão respectivo no separador Introdução e consulta de dados do
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 91
menu inicial. Para voltar a aceder ao Menu inicial utilizou-se o botão correspondente no
formulário Identificação da obra.
Figura 5.4 – Formulário Descrição sumária
5.3.4. Aspectos de execução
Para aceder ao formulário Aspectos de execução, como se apresenta na Figura 5.5, retornou-
se ao Menu inicial e uma vez aí utilizou-se o botão do formulário pretendido.
Capítulo 5 – Teste e validação do modelo
92 Instituto Superior Técnico
Figura 5.5 – Formulário Aspectos de execução
5.3.5. Análise económica
Para aceder ao formulário Análise económica, apresentado na Figura 5.6, de modo a
introduzir os dados relativos aos resultados económicos da obra em questão, repetiu-se o
procedimento utilizado para abrir os formulários anteriores.
Note-se que em todos os formulários foi testado o funcionamento dos botões de navegação
existentes na parte superior dos mesmos.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 93
Figura 5.6 – Formulário Análise económica
Capítulo 5 – Teste e validação do modelo
94 Instituto Superior Técnico
5.3.6. Consulta de obras por grupo
Para testar os formulários de consultas por selecção, retornou-se ao Menu inicial e
seleccionou-se o botão referente à Consulta de obras por Grupo, surgindo de imediato a janela
para introduzir o nome do grupo pretendido, como se apresenta na Figura 5.7.
Figura 5.7 – Janela de selecção do grupo a consultar
Ao seleccionar o grupo, a Base de Conhecimento abre o formulário com a lista das obras
correspondentes. Este procedimento foi repetido para todos os grupos, como mostram as Figuras
5.8 a 5.11.
Figura 5.8 – Formulário Consulta de obras por Grupo (Alentejo)
Figura 5.9 - Formulário Consulta de obras por Grupo (Algarve)
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 95
Figura 5.10 - Formulário Consulta de obras por Grupo (Sede)
Figura 5.11 - Formulário Consulta de obras por Grupo (Viseu)
5.3.7. Consulta de obras por tipo
Para testar o formulário de Consulta de obras por Tipo, retornou-se ao Menu inicial e
seleccionou-se o botão respectivo, abrindo de imediato a janela para introduzir o tipo de obra
pretendido, como se apresenta na Figura 5.12.
Figura 5.12 - Janela de selecção do tipo de obra a consultar
Capítulo 5 – Teste e validação do modelo
96 Instituto Superior Técnico
Ao seleccionar o tipo de obra, a Base de Conhecimento abre o formulário com a lista das
obras correspondentes. Este procedimento foi repetido para todos os tipos de obra dos casos de
estudo, como mostram as Figuras 5.13 a 5.15.
Figura 5.13 - Formulário Consulta de obras por tipo (Requalificação urbana)
Figura 5.14 - Formulário Consulta de obras por tipo (Vias de comunicação – Estrada Nacional)
Figura 5.15 - Formulário Consulta de obras por tipo (Vias de comunicação – Itinerário Complementar)
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 97
5.3.8. Relatório Pontos de melhoria - Materiais
Para visualizar e imprimir o relatório Pontos de melhoria - Materiais, retornou-se ao menu
inicial e seleccionou-se o botão correspondente no separador Relatórios, surgindo de imediato a
janela para introduzir o número da obra pretendida, como se apresenta na Figura 5.16.
Figura 5.16 - Janela para introdução do número da obra
Seleccionada a obra pretendida, a Base de Conhecimento abre o respectivo relatório, como
mostra a Figura 5.17.
Figura 5.17 – Relatório Pontos de melhoria - Materiais
5.3.9. Relatório Pontos de melhoria – Soluções construtivas
Para visualizar e imprimir o relatório Pontos de melhoria – Soluções construtivas, repetiu-se
o procedimento seguido para o relatório anterior, como mostram as Figuras 5.18 e 5.19.
Capítulo 5 – Teste e validação do modelo
98 Instituto Superior Técnico
Figura 5.18 - Janela para introdução do número da obra
Figura 5.19 - Relatório Pontos de melhoria – Soluções construtivas
5.3.10. Relatório Pontos de melhoria – Soluções técnicas
Para visualizar e imprimir o relatório Pontos de melhoria – Soluções técnicas, seguiu-se o
procedimento anteriormente descrito, como apresentam as Figuras 5.20 e 5.21.
Figura 5.20 - Janela para introdução do número da obra
Figura 5.21 - Relatório Pontos de melhoria – Soluções técnicas
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 99
5.3.11. Relatório Identificação da obra
Para aceder e imprimir o relatório Identificação da obra, seguiu-se um procedimento
análogo ao dos relatórios anteriores, como se apresenta nas Figuras 5.22 e 5.23.
Figura 5.22 - Janela para selecção da obra pretendida
Figura 5.23 - Relatório Identificação da obra
Capítulo 5 – Teste e validação do modelo
100 Instituto Superior Técnico
5.4. Teste de técnicas de programação - Análise de desempenho
O Microsoft Access 2007 tem uma ferramenta, denominada Analisador de desempenho, que
permite testar as técnicas de programação utilizadas no desenvolvimento da Base de
Conhecimento e corrigir eventuais erros.
Assim sendo, seleccionaram-se todos os objectos da Base de Conhecimento, designadamente
formulários, consultas, relatórios, tabelas e respectivas ligações, para serem analisados, tal como
mostra a Figura 5.24.
Figura 5.24 – Objectos da Base de Conhecimento analisados
Após seleccionar os objectos a analisar, executou-se esta ferramenta, obtendo-se uma lista de
ideias e sugestões de optimização da Base de Conhecimento, como se pode constatar na Figura
5.25.
Todas as ideias apresentadas foram tidas em consideração e analisadas.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 101
Figura 5.25 – Ideias de optimização apresentadas pelo Analisador de desempenho
5.5. Conclusões
A implementação da Base de Conhecimento permite uma nova abordagem aos problemas
ocorridos quer na fase de preparação quer na fase de execução das obras.
Note-se que, através do formulário Aspectos de execução e do registo comentado das
actividades críticas e das actividades positivas, é possível conhecer as principais dificuldades e
recomendações baseadas na experiência dos restantes colaboradores da empresa, possibilitando
assim prever e identificar medidas de prevenção face a eventuais situações desfavoráveis e até
mesmo evitá-las.
Por outro lado, os subformulários Pontos de melhoria de Materiais, Soluções construtivas e
Soluções técnicas, bem como o campo Soluções inovadoras apresentam alternativas às opções
tradicionalmente tomadas, o que se traduz na rentabilização do processo de procura de soluções.
Saliente-se ainda, que todo o conhecimento relevante pode ser impresso sob a forma dos
modelos de relatório estruturados.
Capítulo 5 – Teste e validação do modelo
102 Instituto Superior Técnico
Os formulários de Identificação e Descrição sumária das obras constituem uma forma de
listagem e arquivo das obras executadas, sendo a pesquisa de obras facilitada pelos dois tipos de
consulta disponibilizados.
Finalmente, a realização dos vários testes ao modelo de Base de Conhecimento desenvolvido,
permitiu constatar que todas as ligações, interfaces e relatórios funcionam correctamente, tendo
sido efectuados os devidos ajustes ou melhorias à medida que o processo de teste se ia
desenrolando.
Assim, conclui-se que a Base de Conhecimento foi testada e validada com sucesso.
5.6. Propostas de melhoria
As principais condicionantes ao aprofundamento da presente dissertação foram a escassez de
tempo e recursos para a sua elaboração, pelo que se apresentam, nesta secção, algumas propostas
de melhoria da Base de Conhecimento. Assim sendo, sugere-se:
� A inserção de autorizações, de modo a limitar e diferenciar o acesso dos diferentes
utilizadores, tendo uns autorização para introdução e alteração dos dados e outros apenas
permissão para efectuar consultas, assegurando assim a integridade dos dados.
� A introdução de caixas de listagem que permitam visualizar, nas janelas de selecção
associadas às consultas de obras por grupo ou tipo, os vários grupos e tipos de obra
existentes para escolha.
� A elaboração de uma lista com os contactos dos directores de obra, a partir da tabela
criada, com vista a promover e facilitar a partilha de conhecimento dentro da organização.
� O estudo aprofundado, em retrospectiva, de todas as dificuldades, soluções e opções
tomadas nas obras executadas, com vista a procurar alternativas inovadoras e mais
rentáveis que possam aumentar o sucesso da preparação e execução das obras futuras.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 103
6. Conclusão
6.1. Introdução
Tendo em consideração as actuais restrições do sector da construção e o aumento significativo
da concorrência, as construtoras são obrigadas a procurar mais-valias que permitam fazer face às
condições do mercado. Actualmente, a competitividade das empresas depende da sua
produtividade e capacidade de executar as empreitadas em prazos cada vez mais apertados e com
maior sucesso, tanto a nível do produto final como do ponto de vista económico. Assim sendo, é
imprescindível valorizar o processo de preparação das obras, de modo a minimizar os riscos de
imprevistos, inerentes à actividade da construção, e estabelecer bases de partida para uma
consistente gestão de recursos e adequado controlo físico e económico.
Neste contexto, surge a necessidade de desenvolver estudos sobre a temática da preparação de
obra, na qual se centra a presente dissertação. O modelo desenvolvido é composto por uma
completa metodologia de preparação de obra, onde se inclui uma check-list e um sistema de
gestão do conhecimento, a Base de Conhecimento. Desta forma, beneficia-se da experiência e
know-how dos colaboradores da empresa e incentiva-se a aprendizagem interna, através da
recolha e partilha do conhecimento, o que resultará na melhoria contínua do desempenho das
obras.
6.2. Avaliação dos resultados
Numa análise geral do trabalho desenvolvido e exposto ao longo dos vários capítulos, é
legítimo constatar que foram alcançados com sucesso todos os objectivos propostos.
A primeira etapa consistiu na pesquisa e análise bibliográfica sobre preparação de obra e
gestão do conhecimento na indústria da construção. Através deste estudo, tomou-se
conhecimento de várias metodologias de preparação de obra, bem como dos principais conceitos
e legislação aplicável. Dada a dificuldade em encontrar informação sobre a temática da
Capítulo 6 – Conclusões
104 Instituto Superior Técnico
preparação de obra, conclui-se que é dada pouca importância a tal matéria, sendo frequentemente
ignorada pelas empresas. Relativamente à gestão do conhecimento, constatou-se existir uma
vasta investigação internacional sobre o tema, apesar de ser uma área ainda pouco desenvolvida
em Portugal.
O segundo objectivo, que passava pelo levantamento dos procedimentos e práticas
implementados na empresa até à data, foi alcançado através da realização de inquéritos e do
preenchimento de fichas de caso relativas às cinco obras em estudo. A integração na empresa e a
participação dos seus colaboradores foi crucial para a recolha da informação necessária não só
para a descrição criteriosa dos procedimentos em vigor, mas também para o desenvolvimento e
validação do modelo proposto.
Seguidamente, desenvolveu-se o modelo de procedimento de preparação de obra, o qual é
composto por:
- uma metodologia para a realização da preparação de obra,
- uma check-list e
- uma Base de Conhecimento (em Microsoft Access 2007).
Desta forma, cumpre-se o objectivo principal desta dissertação, que consistia na consolidação
e desenvolvimento do procedimento de preparação de obra, assim como o acompanhamento e
implementação de uma Base de Conhecimento de boas práticas construtivas para consulta tanto
na fase de preparação da obra como na de execução.
6.3. Contribuição e aspectos inovadores
6.3.1. Contribuição para o conhecimento
A preparação de obra constitui uma temática pouco abordada e muitas vezes desprezada
pelas empresas, que na maior parte dos casos cingem o processo de preparação de obra ao seu
planeamento e à elaboração do reorçamento. A partir da recensão bibliográfica efectuada,
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 105
conclui-se que uma adequada preparação de obra envolve muitos outros elementos e a sua
correcta realização, com a devida antecedência, contribui substancialmente para o bom resultado
das obras, o que nem sempre é tido em consideração por parte dos profissionais da área.
Todavia, o sucesso e a eficácia do processo de preparação de obra não se esgota no
procedimento em si, resultando ainda do conhecimento e das competências dos colaboradores.
Assim, surge a abordagem à gestão do conhecimento, a qual consiste num tema pouco
desenvolvido em Portugal, mas com bastante aceitação no meio científico internacional e que já
conta com diversos estudos nas várias áreas a que pode ser aplicado. No presente trabalho,
apresentam-se os principais conceitos associados à gestão do conhecimento, incluindo a
distinção entre os dois tipos de conhecimento existentes (tácito e explícito), bem como um
levantamento das práticas e sistemas implementados por organizações internacionais, mostrando
desta forma a importância do conhecimento e o seu valor para as empresas.
No caso da construção, ainda que muitos factores difiram entre si, a natureza e as
características da actividade associada à execução das obras, tornam-nas especialmente
vocacionadas para a aprendizagem sistemática, o que permite desenvolver competências que se
traduzem numa sustentável vantagem competitiva. Assim, torna-se óbvio o papel que a
reutilização do conhecimento pode ter no processo de preparação de obra, na medida em que
permite evitar a repetição de erros, implementar soluções inovadoras e optimizar a resolução dos
problemas. Desta forma, obtêm-se preparações de obra mais eficazes e fiáveis e como tal,
aumenta a probabilidade de alcançar os objectivos estabelecidos.
Assim, a presente dissertação constitui um documento inovador, que pode servir de referência
e apoio a eventuais trabalhos futuros, quer na área da preparação de obra quer na da gestão do
conhecimento, pois o levantamento do estado da arte abrange ambas as temáticas e o modelo
proposto inclui não só uma metodologia para a realização da preparação das obras, mas também
uma Base de Conhecimento.
Capítulo 6 – Conclusões
106 Instituto Superior Técnico
6.3.2. Contribuição para a indústria
A mais-valia da elaboração desta dissertação resulta não só da apresentação de um modelo
para a realização da preparação das obras, mas sobretudo do facto de este incluir uma Base de
Conhecimento. Esta ferramenta constitui uma inovação na medida em que permite adaptar a
gestão do conhecimento à indústria da construção e, simultaneamente, implementar na empresa
cooperante ou outras do ramo, a prática do debriefing, crucial para recolher e compilar o
conhecimento interno das organizações. Através desta técnica é possível efectuar uma
retrospectiva crítica das opções e medidas aplicadas em cada obra, para determinar quais as
actividades ou áreas que apresentam mais dificuldades ou que têm maior sucesso. Deste modo,
as empresas podem definir uma nova estratégia, estabelecendo acções correctivas ou preventivas,
procurando soluções mais adequadas e incentivando a aplicação das práticas mais bem
sucedidas. Simultaneamente, a Base de Conhecimento permite, em tempo real, a consulta e
edição do conhecimento resultante da experiência que os colaboradores adquiriram nas obras
executadas, bem como a sua partilha por toda a organização.
Por outro lado, com a realização da preparação das obras de acordo com a metodologia
proposta no modelo, obtém-se um maior controle sobre o desenvolvimento da obra, podendo-se
antecipar e corrigir situações desfavoráveis. Adicionalmente, a consulta da Base de
Conhecimento durante este processo permite preparar de forma mais sustentada e realista as
futuras obras a executar, na medida em que se minimizam os factores de risco e incerteza
associados à actividade da construção. Deste modo, os custos serão menores e os prazos mais
facilmente cumpridos, o que se traduz numa maior probabilidade de sucesso na fase de execução.
Assim sendo, conclui-se ter sido dado o primeiro passo para o início de um ciclo de
melhoria contínua, baseado na reutilização do conhecimento e que originará resultados
económicos mais satisfatórios.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 107
6.4. Limitações
Um das principais limitações desta dissertação foi a escassez de tempo, pois foi necessário
despender um tempo considerável para aprender a trabalhar com o software escolhido (Microsoft
Access 2007), visto este não fazer parte do currículo do mestrado. Além disso, a recolha de dados
na empresa nem sempre foi imediata, pois havia que conciliar as disponibilidades dos
colaboradores.
Como o processo de preparação de obra é muitas vezes desprezado pelas construtoras,
existem poucos estudos sobre o assunto, o que dificultou substancialmente a pesquisa
bibliográfica tanto a nível nacional como internacional. Tal facto, prende-se a diversos motivos,
sendo o mais frequente o atraso no início das obras e sua constante prorrogação, fruto da
escassez de meios e recursos, assim como o curto intervalo de tempo disponibilizado para o
estudo das obras, desde que o director de obra termina uma obra e inicia outra.
Outra das condicionantes para o desenvolvimento deste trabalho foi a falta de recursos, o que
impossibilitou a utilização de programas mais completos e avançados como o Microsoft
SharePoint Server 2007, tendo-se por isso escolhido o Microsoft Access 2007.
Por fim, salienta-se a ainda fraca consciencialização e sensibilidade por parte da maioria dos
profissionais do sector para o tema, por medo de serem julgados ou perderem valor, apesar das
chefias compreenderem a sua importância e incentivarem a sua aplicação.
6.5. Trabalhos futuros
O sucesso das obras depende não só de uma adequada preparação, mas também da sua
correcta execução, resultando num produto final com qualidade. Assim, propõe-se a inclusão, na
Base de Conhecimento, de campos relativos à verificação da qualidade das obras, pois o
derradeiro sucesso é sempre a satisfação do cliente.
Capítulo 6 – Conclusões
108 Instituto Superior Técnico
Note-se que para que qualquer sistema de gestão do conhecimento seja eficaz, é necessário o
envolvimento dos colaboradores. Para tal, sugere-se que o modelo proposto esteja disponível
tanto através da Intranet da empresa como da Internet, de modo a que seja possível reunir mais
conhecimentos e mais facilmente disseminá-los por toda a organização e todas as obras,
independentemente do local geográfico em que se situem. Além disso, seria proveitoso efectuar
avaliações periódicas do modelo implementado, com o intuito de medir o seu grau de eficácia ao
longo do tempo e recolher as sugestões de melhoria por parte dos utilizadores.
Outra forma de promover a partilha de conhecimento seria a concepção de fóruns de
discussão online entre membros de equipas de trabalho diferentes.
Por fim, considera-se que a evolução natural do estudo realizado na presente dissertação teria
em vista a implementação de sistemas de gestão documental e de gestão da informação, o que
constituiria um importante complemento ao modelo proposto, completando assim o ciclo da
informação.
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil 109
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Anexos
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil A3
Anexo I – Fichas de caso de estudo (Preparação de obra)
Anexos
A4 Instituto Superior Técnico
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil A5
Anexos
A6 Instituto Superior Técnico
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil A7
Anexo II – Fichas de caso de estudo (Acompanhamento de obra)
Anexos
A8 Instituto Superior Técnico
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil A9
Anexos
A10 Instituto Superior Técnico
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil A11
Anexos
A12 Instituto Superior Técnico
Procedimento de Preparação e Acompanhamento de Obra
Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil A13
Anexo III – Questionários
Anexos
A14 Instituto Superior Técnico
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