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v ÍNDICE 1 O TERRAMOTO DE 1755 ...................................................................................................... 1 1.1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 1 1.2 ENQUADRAMENTO HISTÓRICO.............................................................................................. 3 1.3 DESCRIÇÃO DO TERRAMOTO DE 1755................................................................................... 6 1.4 IMPACTE SOCIAL DO TERRAMOTO DE 1755 ......................................................................... 12 2 LISBOA ANTES DO TERRAMOTO DE 1755 ...................................................................... 15 2.1 AS FREGUESIAS DE LISBOA ................................................................................................ 15 2.2 - O PARQUE HABITACIONAL ANTES DO TERRAMOTO DE 1755 ................................................. 21 2.2.1 Introdução .............................................................................................................................. 21 2.2.2 Tipologia dos Edifícios ........................................................................................................... 23 2.2.3 Pormenores e Materiais Construtivos .................................................................................... 27 2.2.4. Contabilização do Parque Habitacional ............................................................................... 33 2.3 POPULAÇÃO ANTES DO TERRAMOTO DE 1755 ..................................................................... 42 3 - LISBOA APÓS O TERRAMOTO DE 1755 ........................................................................... 52 3.1 MEDIDAS TOMADAS APÓS O TERRAMOTO DE 1755 .............................................................. 52 3.1.1 Primeiras Medidas ................................................................................................................. 52 3.1.2 Reconstrução da Cidade ......................................................................................................... 53 3.1.3 Os Edifícios Pombalinos ........................................................................................................ 58 3.1.4 Novo Plano de Divisão Paroquial .......................................................................................... 64 3.2 SOBREVIVENTES E VÍTIMAS MORTAIS DO TERRAMOTO DE 1755........................................... 66 3.3 O MOVIMENTO DAS POPULAÇÕES APÓS O TERRAMOTO ...................................................... 81 3.4 EDIFICADO DESTRUÍDO PELO TERRAMOTO DE 1755 ............................................................ 90 3.5 NOBRES E ESTRANGEIROS DESAPARECIDOS .................................................................... 101 3.6 PERDAS MATERIAIS RELEVANTES ..................................................................................... 103 3.7 APOIO ESTRANGEIRO ...................................................................................................... 127 4 CONCLUSÕES ................................................................................................................... 129 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................... 135 ANEXOS ................................................................................................................................... 138 1 DISSERTAÇÃO DE MANUEL DA MAIA..................................................................................... 139 2 INTENSIDADES DE MERCALLI, PARA O TERRAMOTO DE 1755, NA CIDADE DE LISBOA ............... 155

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ÍNDICE

1 – O TERRAMOTO DE 1755 ...................................................................................................... 1

1.1. – INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1

1.2 – ENQUADRAMENTO HISTÓRICO .............................................................................................. 3

1.3 – DESCRIÇÃO DO TERRAMOTO DE 1755................................................................................... 6

1.4 – IMPACTE SOCIAL DO TERRAMOTO DE 1755 ......................................................................... 12

2 – LISBOA ANTES DO TERRAMOTO DE 1755 ...................................................................... 15

2.1 – AS FREGUESIAS DE LISBOA ................................................................................................ 15

2.2 - O PARQUE HABITACIONAL ANTES DO TERRAMOTO DE 1755 ................................................. 21

2.2.1 – Introdução .............................................................................................................................. 21

2.2.2 – Tipologia dos Edifícios ........................................................................................................... 23

2.2.3 – Pormenores e Materiais Construtivos .................................................................................... 27

2.2.4. – Contabilização do Parque Habitacional ............................................................................... 33

2.3 – POPULAÇÃO ANTES DO TERRAMOTO DE 1755 ..................................................................... 42

3 - LISBOA APÓS O TERRAMOTO DE 1755 ........................................................................... 52

3.1 – MEDIDAS TOMADAS APÓS O TERRAMOTO DE 1755 .............................................................. 52

3.1.1 – Primeiras Medidas ................................................................................................................. 52

3.1.2 – Reconstrução da Cidade ......................................................................................................... 53

3.1.3 – Os Edifícios Pombalinos ........................................................................................................ 58

3.1.4 – Novo Plano de Divisão Paroquial .......................................................................................... 64

3.2 – SOBREVIVENTES E VÍTIMAS MORTAIS DO TERRAMOTO DE 1755 ........................................... 66

3.3 – O MOVIMENTO DAS POPULAÇÕES APÓS O TERRAMOTO ...................................................... 81

3.4 – EDIFICADO DESTRUÍDO PELO TERRAMOTO DE 1755 ............................................................ 90

3.5 – NOBRES E ESTRANGEIROS DESAPARECIDOS .................................................................... 101

3.6 – PERDAS MATERIAIS RELEVANTES ..................................................................................... 103

3.7 – APOIO ESTRANGEIRO ...................................................................................................... 127

4 – CONCLUSÕES ................................................................................................................... 129

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................... 135

ANEXOS ................................................................................................................................... 138

1 – DISSERTAÇÃO DE MANUEL DA MAIA..................................................................................... 139

2 – INTENSIDADES DE MERCALLI, PARA O TERRAMOTO DE 1755, NA CIDADE DE LISBOA ............... 155

vi

3 – CONFINAMENTO DAS FREGUESIAS ANTES DO TERRAMOTO .................................................... 157

4 – TABELA DO PADRE BAUTISTA DE CASTRO, POPULAÇÃO ANTES DO TERRAMOTO .................... 158

5 – TABELA DE CÁLCULO DO EDIFICADO DESTRUÍDO ................................................................. 159

6 – TABELA DO NÚMERO DE FOGOS À DATA DO TERRAMOTO DE 1755 ........................................ 160

7 – TABELA DO NÚMERO DE PESSOAS À DATA DO TERRAMOTO DE 1755 ..................................... 161

8 – TABELA DO NÚMERO DE VÍTIMAS MORTAIS DO TERRAMOTO DE 1755 .................................... 162

vii

ÍNDICE FIGURAS

FIGURA 1 – LISBOA ANTES DO TERRAMOTO DE 1755, GEO ............................................................... 1

FIGURA 2 – O LARGO DE SÃO DOMINGOS ANTES DO TERRAMOTO DE 1755, GEO .............................. 2

FIGURA 3 – D. JOÃO V ..................................................................................................................... 3

FIGURA 4 – D. JOSÉ I ....................................................................................................................... 4

FIGURA 5 – MARQUÊS DE POMBAL ................................................................................................... 4

FIGURA 6 – GRAVURA ALEMÃ DO SÉCULO XVIII, SOBRE O TERRAMOTO DE LISBOA DE 1755 ................ 8

FIGURA 7 – ÁREA AFECTADA PELO INCÊNDIO ..................................................................................... 9

FIGURA 8 – EPICENTROS E FALHAS PROVÁVEIS NA GERAÇÃO DO TERRAMOTO DE 1755 ..................... 10

FIGURA 9 – DESCRIÇÃO DO CATACLISMO POR MATHIAS DE AZEVEDO PEREIRA PINTO (1766), GEO . 11

FIGURA 10 – DESCRIÇÃO DO CATACLISMO PELO PADRE ANTÓNIO PEREIRA (1756), GEO ................ 13

FIGURA 11 – INQUÉRITO DISTRIBUÍDO POR MARQUÊS DE POMBAL AOS PÁROCOS ............................. 14

FIGURA 12 – SÃO CRISTÓVÃO E SÃO MAMEDE ANTES DO TERRAMOTO DE 1755, GEO ..................... 17

FIGURA 13 – MAPA DE LISBOA, REALIZADO POR JOÃO NUNES TINOCO EM 1650, GEO ..................... 19

FIGURA 14 – MAPA DE PARTE CIDADE DE LISBOA ANTES DO TERRAMOTO DE 1755 ........................... 20

FIGURA 15 – VISTA DE LISBOA 1593; GEORGIO BRAÚNIO AGRIPPINATE, GEO ................................. 21

FIGURA 16 – EDIFÍCIO TIPO 1, LARGO DE SÃO MIGUEL EM ALFAMA .................................................. 24

FIGURA 17 – EDIFÍCIO TIPO 2, RUA DOS REMÉDIOS ......................................................................... 24

FIGURA 18 – EDIFÍCIO TIPO 3, RUA DA ATALAIA BAIRRO ALTO ......................................................... 25

FIGURA 19 – EDIFÍCIO TIPO 4, BECO DO SURRA .............................................................................. 25

FIGURA 20 – EDIFÍCIO TIPO 5, ESCADINHAS DE SÃO CRISPIM] ......................................................... 26

FIGURA 21 – VISTA INTERIOR DA PAREDE DE FACHADA E DO PAVIMENTO DO ANDAR DE RESSALTO, JOÃO

APPLETON .................................................................................................................. 28

FIGURA 22 – EDIFÍCIO COM 1 ANDAR EM RESSALTO NO BECO DA ACHADA ........................................ 28

FIGURA 23 – EDIFÍCIO DE FACHADA LISA NO LARGO DE SÃO RAFAEL] .............................................. 29

FIGURA 24 – MANUSCRITO DO PADRE LUÍS CARDOSO, 1751, GEO ................................................. 43

FIGURA 25 – PLANTA Nº5 DE EUGÉNIO DOS SANTOS, SOBREPOSTA AO ANTIGO TRAÇADO DA CIDADE,

GEO .......................................................................................................................... 55

FIGURA 26 – ESTRUTURA DE FRONTAL TECIDO, JOÃO APPLETON ..................................................... 58

viii

FIGURA 27 – A «GAIOLA POMBALINA» ORIGINAL, DO EDIFÍCIO-SEDE DO BCP NA BAIXA DE LISBOA,

JORNAL EXPRESSO 1998 ............................................................................................ 59

FIGURA 28 – EDIFÍCIO POMBALINO, JORGE MASCARENHAS [32] ...................................................... 60

FIGURA 29 – PORMENOR DAS ESCADAS, JOÃO APPLETON ............................................................... 62

FIGURA 30 – MAPPA DE PORTUGAL, PADRE JOÃO BAPTISTA DE CASTRO, 1762, GEO ..................... 65

FIGURA 31 – PINTURA ANTES E DEPOIS DO TERRAMOTO, MUSEU DA CIDADE .................................... 98

FIGURA 32 – RUÍNAS DO PALÁCIO REAL, GEO .............................................................................. 111

FIGURA 33 – RUÍNAS DA CASA DA OPERA, GEO ........................................................................... 111

FIGURA 34 – RUÍNAS DA IGREJA DE SÃO NICOLAU ......................................................................... 115

FIGURA 35 – CONVENTO DE NOSSA SENHORA DO CARMO ANTES DO TERRAMOTO DE 1755 ............ 117

FIGURA 36 – CONVENTO DE NOSSA SENHORA DO CARMO DEPOIS DO TERRAMOTO DE 1755 ........... 118

FIGURA 37 – GRÁFICO DA POPULAÇÃO DE LISBOA ANTES DO TERRAMOTO DE 1755 ....................... 130

FIGURA 38 – GRÁFICO DA POPULAÇÃO POR FOGO ANTES DO TERRAMOTO DE 1755 ....................... 130

FIGURA 39 – GRÁFICO DO NÚMERO DE FOGOS ANTES DO TERRAMOTO ......................................... 131

FIGURA 40 – GRÁFICO DO NÚMERO DE FOGOS DESTRUÍDOS PELO TERRAMOTO DE 1755 ............... 131

FIGURA 41 – GRÁFICO DO NÚMERO DE VÍTIMAS MORTAIS DO TERRAMOTO DE 1755 ....................... 132

ÍNDICE TABELAS

TABELA 1 – NÚMERO TOTAL DE FOGOS EM LISBOA EM 1755 ............................................................ 41

TABELA 2 – ESTIMATIVAS DA POPULAÇÃO DE LISBOA ANTES DO TERRAMOTO DE 1755 COM BASE NO

LEVANTAMENTO POR FREGUESIA E NO ESTUDO DO RÁCIO PESSOAS/FOGO ...................... 51

1

1 – O terramoto de 1755

1.1. – Introdução

Sobre o terramoto de Lisboa do dia 1 de Novembro de 1755, existe um grande número de

estudos baseados em descrições e relatos de testemunhos vivenciais ou de informações, orais

ou escritas, transmitidas sem a experiência directa do ocorrido. Por esta razão foram

construídos vários cenários, mais ou menos próximos da realidade, consoante a formação de

quem os escreveu e as fontes que utilizou. Esta situação é marcante no que diz respeito ao

número de habitantes de Lisboa e ao número de fogos, que ainda hoje não existe um valor,

mas sim um intervalo, cujos extremos se encontram bastante afastados. As descrições para a

situação anterior ao terramoto na cidade de Lisboa vão desde 110.000 a 350 000 habitantes e

cerca de 30.000 a 50.000 fogos. Os valores referentes ao número de mortos e número de

fogos destruídos, após o terramoto, são também muito ambíguos, havendo estimativas do

número de mortos que vão de 6 ou 8 mil a 100 mil [34, p.521].

Na figura junta é apresentada uma vista sobre a cidade de Lisboa antes do grande terramoto.

Figura 1 – Lisboa antes do terramoto de 1755, GEO

A diversidade dos números relativos ao terramoto de 1755 é bem expressa por Rui Tavares, no

seu livro “O Pequeno Livro do Grande Terramoto” [1], em que escreve: “…para Lisboa chegou

a ser fantasiado o número de 70 mil mortos e disse-se também que a cidade tinha sido

obliterada do mapa.”

Pressupõe-se que estes intervalos díspares de valores tenham duas causas principais: por um

lado a tendência para se empolar a informação, pois quanto maior a nação, maior a força do

2

reino e por outro a confusão com os limites da cidade, dado que muitas freguesias não faziam

parte integrante de Lisboa, mas eram consideradas do seu termo, mais comummente

designadas os arrabaldes de Lisboa. Para melhor esclarecimento desta questão, será dedicado

um subcapítulo desta tese para a descrição e evolução das freguesias de Lisboa. Na figura 2 é

apresentada pintura de parte da cidade de Lisboa antes do terramoto.

Figura 2 – O Largo de São Domingos antes do terramoto de 1755, GEO

Com este trabalho pretende-se inferir, com a razoabilidade possível e com a máxima

fundamentação possível, qual seria o parque habitacional de Lisboa em 1755 e qual o número

de habitantes, antes e depois do terramoto do primeiro de Novembro do mesmo ano.

Tentar-se-á também avaliar, com o máximo rigor, das riquezas perdidas, dos nobres

desaparecidos, da área afectada pelo fogo, pelo maremoto, consequente tsunami. Ir-se-á

também explicar o movimento da população de Lisboa após o fatídico dia 1 de Novembro

desse ano. Tentar-se-á também perceber a forma como Portugal se relacionava com o

estrangeiro e como é que este interagiu com Portugal na reconstrução da cidade.

3

1.2 – Enquadramento Histórico

Portugal à data de 1755 exibia uma monarquia, liderada pelo Rei D. José I, o “Rei Fidelíssimo”,

na qual a cidade de Lisboa era cosmopolita, com a sua economia dependente da produção

aurífera e diamantífera do Brasil, dos laços económicos com Inglaterra e ainda dependente dos

laços diplomáticos com outros Estados Europeus.

A conjectura económica parecia muito favorável, contudo, só o era na aparência, porque o país

vivia de facto na pobreza, com uma estrutura económica que subsistia de uma agricultura dada

ao abandono pelos nobres que viram na Índia fonte de riqueza mais lucrativa, com o comércio

liderado pelos britânicos e uma indústria inexistente. Como balanço positivo, havia o ouro, os

diamantes, as madeiras preciosas, o tabaco e o açúcar, que vinham do Brasil, mas em

proporção menor que no tempo do seu pai o Rei D. João V. Contudo, o país não apresentava

grandes problemas de vulto, quer do aspecto político-social, quer do religioso.

D. José I, filho de D. João V (figura 3) e D. Maria Ana de Áustria, nasceu a 6 de Junho de 1714,

e foi educado dentro de uma cultura humanista, tendo recebido também lições de arte militar e

de geografia. Não obstante estas actividades, não abdicava dos prazeres da caça e da música

coral e sinfónica. A 19 de Janeiro de 1729, casou-se com a princesa D. Mariana Vitória, filha

dos reis de Espanha Filipe V e D. Isabel Farnésia, facto que lhe permitiu salvaguardar a paz

com o país vizinho, a Espanha. No ano de 1742, D. José I assumiu a administração central,

embora só tenha subido ao trono a 8 de Agosto de 1750 [37, p.277,278].

Figura 3 – D. João V

4

Em toda a Europa exaltava-se o pensamento Iluminista, que defende a razão, o conhecimento,

a crença absoluta nas capacidades do Homem com vista ao progresso, à liberdade e à

felicidade, pensamento este defendido por filósofos como Locke, Voltaire, Rousseau e

Montesquieu, que logo a seguir ao cataclismo, desenvolveram trabalhos sobre o terramoto que

assolou Lisboa no primeiro de Novembro de 1755.

Neste contexto D. José I (figura 4) oriundo de uma cultura absolutista, liderada pelo Rei D.

João V, viu-se impelido a criar uma nova ordem social e politica, na qual se objectivava uma

separação dos poderes executivos, legislativos e judiciais, numa tentativa de governar para o

sucesso e felicidade de Portugal.

Figura 4 – D. José I

É assim que se afigura o seu fiel colaborador, Sebastião José de Carvalho e Melo (figura 5)

outorgado Conde de Oeiras em 1759, e consagrado com o título de 1º marquês de Pombal em

1769, após 20 anos de dedicação e apego ao serviço público.

Figura 5 – Marquês de Pombal

5

Marquês de Pombal, adoptou uma série de medidas que revolucionaram o país inteiro, tais

como a reformulação do aparelho administrativo, militar e financeiro e reorganizou o

funcionalismo público. Como exemplos marcantes da sua intervenção temos a abolição da

distinção entre cristãos-velhos e cristãos-novos (distinção que levava já 200 anos), a abolição

da escravatura em Portugal (embora não tenha sido implementada nas colónias), o inicio do

desmantelamento da inquisição e a recuperação da cidade de Lisboa após o fatídico dia 1 de

Novembro de 1755, com um plano dirigido por ele, proposto por Manuel da Maia (General e

Engenheiro Mor do Reino) e concretizado pelos Engenheiros militares Eugénio dos Santos e

Carlos Mardel. Apesar de lhe associarmos grande capacidade de liderança e organização, este

não foi na realidade defensor da causa iluminista, pois não pôs em prática a separação de

poderes, mas sim uma atitude absolutista. Daí se intitular o governo de Marquês de Pombal

como despotismo esclarecido ou iluminado.

Contudo, ficou para a história, como legenda, a frase atribuída a Marques de Pombal perante o

rei em pânico após o desastre:”agora há que enterrar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os

portos”. E é esta a postura que marca a sua intervenção no após terramoto, que teve como

consequência a criação da primeira cidade moderna do Ocidente.

Lisboa, já denominada pelos Romanos como Felicitas Júlia Olisipo, era em 1755, o centro

político e comercial do país, onde se situava o palácio Real, rodeado de um emaranhado

medieval de ruas repletas de comércios tradicionais e de novos produtos permitidos pelas

Descobertas e pelo comércio das Índias. Funcionava também como um lugar de intercâmbio

de culturas e ao mesmo tempo era motivo de inspiração poética literária, quer para

portugueses como para estrangeiros.

Logo após o grande terramoto, em 1756, é iniciado o processo para a reconstrução da cidade,

exaltando-se a tenacidade e sagacidade de um povo e de uma vontade politica, que não se

deixou abalar, mas que pelo contrário se envolveu de uma forma persistente e permanente na

recuperação da cidade, restabelecendo-se dessa forma a ocupação humana e civilizacional.

A tomada de medidas foi enérgica e praticamente imediata à catástrofe, deixando a pairar a

ideia que de algum modo já se previa o sucedido.

A resposta à catástrofe foi rápida, contudo a reconstrução completa da cidade, prolongou-se no

tempo por um período de 100 anos aproximadamente. O que é marcante é a forma e o modo

dessa reconstrução. Podendo-se evidenciar verdadeiras inovações para a altura e servindo de

modelo para futuras cidades.

6

1.3 – Descrição do terramoto de 1755

O terramoto de 1755, pela destruição causada e pelo número de vitimas envolvidas, assume

uma importância impar em toda a historia sismológica nacional, porém, até essa data, a

bibliografia existente descreve um passado sismológico com diversas ocorrências relevantes

em Portugal, conforme se depreende dos dados a seguir indicados.

Os valores apresentados são quantificados na escala de Mercalli, desenvolvida pelo físico

italiano Giusseppe Mercalli. Esta escala avalia qualitativamente a intensidade sísmica através

da análise dos efeitos e danos causados às estruturas.

Ano 60 a.C., terramoto acompanhado de maremoto destrói algumas cidades da costa

portuguesa;

De 47 a 44 a.C., registo de vários tremores de terra;

Ano 33 d.C., registo de vários tremores de terra;

Ano 382 d.C., terramoto com consequente submersão de ilhas ao largo do cabo de

São Vicente;

1279, foi sentido um violento tremor de terra por todo o país;

1321, Registo de várias ocorrências sismológicas;

1344, Sismo causa estragos consideráveis na cidade de Lisboa;

1355, Ocorrência de sismos importantes;

1356, a cidade sofre um violento tremor de terra, provocando danos avultados,

estimando-se a intensidade de grau IX na escala de Mercalli;

1504, são sentidos vários sismos;

1528, violento tremor de terra provoca importantes perdas humanas;

1530, terramoto destrói parte da cidade de Lisboa e é acompanhado de um grande

número de vítimas;

1531, sismo de grau X, na escala de Mercalli, atinge a cidade de Lisboa e destrói

inúmeros edifícios e mata muitos habitantes;

1551, sismo de grau X, na escala de Mercalli, atinge a cidade de Lisboa;

1576, regista-se um sismo de grau IX, na escala de Mercalli;

1699, a cidade é assolada por um tremor de terra de grau VII na escala de Mercalli;

1722, Lisboa sente um sismo, que no Algarve teve grau IX, na escala de Mercalli;

1724, é sentido um forte sismo em Lisboa;

No dia da morte de D. João V sente-se um tremor de terra;

1755, sente-se grande tremor de terra que devastou a cidade de Lisboa, com a

ocorrência de um maremoto e de um grande incêndio; Foi sentido, de modo desigual,

noutros pontos do país e ainda no estrangeiro, Espanha (Andaluzia) e costa de África,

7

com especial incidência em Marrocos. Também se fez sentir, mas sem grande

manifestação, nas ilhas dos Açores e Madeira e em geral por toda a Europa.

Após esta data, a cidade já sofreu vários abalos bastante significativos.

No sábado, 1 de Novembro de 1755, dia de Todos-os-Santos, a população de Lisboa cumpria

na sua maioria as suas obrigações religiosas, encontrando-se grande parte da população nas

igrejas.

O dia estava calmo, o céu límpido, a temperatura rondava os 14 ºC e o vento de NE era fraco.

Pelas 9h e 40m (a hora certa do primeiro abalo difere em alguns minutos de fonte para fonte)

depois de um grande ruído subterrâneo, sentiu-se o primeiro abalo, precedido por um ressoar

subterrâneo, idêntico ao estrondo de um trovão. Nesse abalo, foi possível distinguir 3 fases: a

primeira, não muito violenta, teve duração de minuto e meio aproximadamente; após um

intervalo de um minuto, ocorreu a segunda fase, caracterizada por um movimento intenso que

durou cerca de dois minuto e meio, causando danos avultados. Após outra pausa de um

minuto, iniciou-se a terceira fase, com duração de três minutos, ainda mais violenta que a

anterior. O tremor durou cerca de nove minutos.

A partir do segundo minuto, as paredes começaram a ruir, deixando os telhados sem

sustentação. As telhas caiam, e depois delas as traves e tudo o que nelas estava suspenso,

incluindo os candelabros acesos das igrejas. A queda dos telhados matou, feriu ou imobilizou

grande parte dos fiéis que se encontravam nas igrejas, enquanto as chamas dos candelabros

se propagavam rapidamente às madeiras. O edificado ia-se desfragmentando como

consequência dos abalos e do incêndio, matando e ferindo os que estavam dentro das sua

casas, aprisionados pelo medo e que tiveram como fado a sepultura na sua própria moradia,

ou aqueles de que coragem se encheram e para a rua acorreram à espera de uma melhor

sorte. Na rua, as pessoas eram atingidas por pedaços de revestimento, telhas soltas, varandas

e até paredes inteiras, como descrevem alguns relatos de testemunhas oculares, por exemplo

o relato de um comerciante Inglês publicado em Londres sob a forma de um folheto intitulado

“Uma descrição particular do recente e horrendo terramoto em Lisboa” (referencia bibliográfica

nº2), no qual este se encontrava à escrivaninha quando se deu o primeiro abalo, e que ao ir à

janela viu morrer a sua mulher e filha, soterradas pela derrocada de um prédio.

A medida que esta cena se ia desenvolvendo, no teatro real, que era a cidade Lisboa, podia-se

ouvir o barulho das derrocadas dos edifícios e os gritos da população que se agonizava pelo

horror instalado.

Segundo testemunhos britânicos [2, p.53], a terra abriu-se em bastantes lugares do reino,

como em Alcântara, Sacavém, São Martinho e outros mais distantes de Lisboa. De algumas

destas fendas brotou água, de outras veio um vapor sulfuroso e de outras proveio apenas

vento.

O ar tornava-se opaco, com nuvens de poeira das derrocadas dos edifícios e fumo dos

incêndios que já deflagravam por grande parte da cidade, cobrindo desse modo o sol e

tornando o ar quase irrespirável. Este devastador incêndio, não teve como origem exclusiva o

8

terramoto, pois segundo uma carta anónima [2, p.65], refere que vários patifes fugidos da

cadeia da Galé, contígua à igreja Patriarcal, que se havia desmoronado, dos quais um mouro,

confessou antes de ser enforcado, que deitara fogo à cidade em sete locais distintos, um

desertor francês confessou também que fez o mesmo em três locais distintos, um dos quais a

Casa da Índia, adjacente ao palácio.

Por volta das 11 horas da manha, a cidade de Lisboa foi acolhida pelo tsunami [2, p.45],

antecedido de um maremoto que fez baixar as aguas do Tejo para níveis nunca antes vistos,

levando atrás de si os barcos que se encontravam ancorados no porto. Depois a maré

começou a subir, ultrapassando o porto e atingindo o Terreiro do Paço, com uma onda gigante

que atingiu 6 metros de altura. Esta levou atrás de si todas as embarcações que se

encontravam no porto, destruindo aquilo que se opunha ao seu avanço e servindo mais tarde

para combustível para o incêndio. Após um par de minutos, outra onda chegou.

O maremoto e as ondas do tsunami atingiram com maiores danos a margem que vai de Belém

até à Rocha do Conde de Óbidos de Santos-o-Velho até à freguesia de São Paulo, por ser a

zona mais exposta ao rio.

Segundo alguns testemunhos, a maré subiu e desceu por três vezes em pouco mais de cinco

minutos, mantendo-se fora do seu comportamento normal, durante alguns dias.

Não se consegue contabilizar o número de mortes devidas ao maremoto e às ondas do

tsunami, nem tão pouco saber com exactidão até onde foi a cidade atingida pelas águas.

Sobre o fatídico dia muitas imagens foram produzidas, algumas das quais ficcionadas, como se

pode observar pela figura 6.

Figura 6 – Gravura alemã do século XVIII, sobre o terramoto de Lisboa de 1755

Lisboa estava pois arruinada, com edifícios caídos, feridos, mortos e um incêndio que não

parava de aumentar, afectando praticamente toda a baixa da cidade. O primeiro foco de

9

incêndio foi identificado no convento ou igreja de São Domingos no Rossio e o segundo na Boa

Hora, próximo do palácio, outra fonte, José Augusto França [8, p.62] refere que para o primeiro

foco de incêndio existem duas hipóteses, a primeira diz que foi no palácio dos Louriçais-

Ericeiras, no limite norte da cidade, e que o vento nordeste, o levou para o centro, a outra

hipótese refere que foi na Igreja de São Paulo o primeiro foco. A fronteira do incêndio ia desde

Alfama, passando junto à Sé, incluindo toda a zona baixa até ao Bairro de São Paulo. Para o

interior da cidade, a fronteira do incêndio ia até ao Rossio, incluindo o Hospital de Todos-os-

Santos (actual Praça da Figueira), onde se deram como mortas as 400 pessoas internadas.

Todos os testemunhos e relatos, do acontecido, são unânimes em referir que os danos

provocados pelo incêndio, que durou cerca de 6 dias, foram superiores ao próprio terramoto e

maremoto. Veja-se na figura 7 a área afectada pelo incêndio. Este atingiu a altura de meia

légua, e desenvolveu-se no terreno por uma área de 1500 m x 1000 m, podendo ser

contemplado de Santarém.

Edifícios Nobres foram completamente destruídos pelo incêndio, como sejam o Paço Real, a

Opera do Tejo, a Igreja Patriarcal entre outros.

Figura 7 – Área afectada pelo incêndio

E difícil estabelecer com rigor a direcção do movimento, contudo alguns documentos referem

N-S e outros indicam E-W. Contudo, a direcção preferencial do movimento SW-NE merece

alguma consideração, dado que as ruas orientadas nesta direcção não sofreram grandes

danos. Para reforçar esta teoria temos a salientar dois factos importantes; a implantação das

ruas da nova Lisboa, e os poucos danos sofridos pelo Aqueduto das Águas Livres deve-se

também à sua localização segundo a direcção N-S, direcção suposta de propagação das

ondas sísmicas [30].

10

Nas primeiras 24 horas após o primeiro abalo, a terra esteve quase sempre a tremer. Após o

principal abalo, sentiu-se por volta das onze horas um outro violento abalo mas de curta

duração.

Nos primeiros oito dias após o primeiro abalo, sentiram-se mais de vinte e oito abalos,

duzentos e cinquenta nos seis meses seguintes e quinhentos abalos antes de Setembro de

1756. Os principais abalos foram: 8/11/1755, 15/11/1755, 16/11/1755 (com tsunami),

18/11/1755, 8/12/1755, 11/12/1755, 21/12/1755 e 31/3/1761 com epicentro no mar, tendo

causado um tsunami [30, p. 5].

Veja-se em anexo 2 – Mapa da cidade com indicação da intensidade do sismo na escala de

Mercalli. Pelo mapa pode-se constatar, que as zonas mais atingidas pelo tremor de terra, foram

as mais populosas, a zona baixa da cidade, exceptuando-se a parte ocidental da colina do

Castelo e a parte oriental do Bairro Alto, ambas as zonas orientadas no sentido norte sul,

contudo, não foram poupadas pelo incêndio.

O sismo de 1 de Novembro de 1755 é considerado o maior sismo registado na Europa. Sobre a

localização do epicentro existem várias hipóteses, mas ainda hoje substituem algumas dúvidas.

Na figura 8 apresentam-se falhas e epicentros, que poderão ter dado origem ao terramoto de

1755.

Figura 8 – Epicentros e falhas prováveis na geração do terramoto de 1755

11

Na figura 9, pode-se contemplar uma descrição do cataclismo.

Figura 9 – Descrição do Cataclismo por Mathias de Azevedo Pereira Pinto (1766), GEO

12

1.4 – Impacte social do Terramoto de 1755

O sismo de 1755 provocou um grande impacte no panorama cultural e filosófico europeu da

época, levando à intervenção pública de grandes intelectuais europeus da época, tais como

Kant e Voltaire.

Na época, Lisboa albergava um grande número de cidadãos estrangeiros, intelectuais,

comerciantes e industrias, personalidades que de alguma forma tinham um papel importante na

economia e nas relações comerciais com os seus países de origem, fala-se aqui de Ingleses,

Espanhóis, Franceses, Alemães, Holandeses, entre outros. Todos eles, ao assistirem a tal

calamidade, sentiram-se impelidos, de alguma forma, a relatarem o ocorrido aos seus

familiares e conhecidos do seu país de proveniência, e assim se espalhou rapidamente a

noticia do acontecido. Como exemplo da rápida difusão de informação, temos o poema sobre o

desastre de Lisboa, que Voltaire deu a conhecer no dia 24 de Novembro de 1755.

Em Portugal, este evento modificou a estrutura da sociedade portuguesa na segunda metade

do séc. XVIII. Estas modificações foram repercutidas ao nível económico, social e político.

À data desenvolveram-se duas correntes distintas como causa do cataclismo. Por um lado

temos a causa divina e por outro a causa natural.

A primeira ganhou grande enfoque por se viver numa época em que o clero tinha um papel

primordial no contexto social, cultural e de ensino. Aliado a este facto está o pormenor do dia

em que ocorreu o desastre, dia 1 de Novembro, dia de Todos os Santos, que veio reforçar

ainda mais a ideia de que o ocorrido era um castigo divino. Como exemplo da corrente que

defende a causa divina cite-se um excerto de um texto de Francisco Xavier de Oliveira [35]

onde se refere: “…Seu braço forte abateu-se sobre este reino, e em particular sobre a sua

capital, onde nada deixou inteiro por causa da sua indignação”…”A morte, na qualidade de

executora das ordens de Deus, desabou sobre muitos e os fez descer ainda vivos para a

fossa…”. Na Europa, Leibnitz (1646-1710) foi um acérrimo defensor da causa divina, que

advogava que Deus criou o “melhor dos mundos possíveis”. Pelo contrário, Voltaire defendia a

causa natural e dessa forma, aproveitou a catástrofe de Lisboa para criticar o paradigma do

“optimismo filosófico” e a posição de Leibnitz, desenvolvendo um poema intitulado “O Desastre

de Lisboa”.

Na figura 10 apresenta-se uma descrição do cataclismo fundamentada na ideia que a causa da

catástrofe foi um castigo divino.

13

Figura 10 – Descrição do Cataclismo pelo Padre António Pereira (1756), GEO

14

A segunda corrente, a causa natural, que coloca o homem com responsabilidade e a razão

como elemento de decisão e de apreciação de causas e efeitos, foi defendida por alguns

notáveis portugueses, dos quais se destaca Francisco Luiz Pereira de Sousa (que no seu livro

“Efeitos do Terremoto de 1755”, trata das consequências do terramoto nas construções),

Marquês de Pombal e seus colaboradores.

Marquês de Pombal afasta-se claramente da corrente divina, quando distribuiu aos párocos de

Lisboa, Lagos e Faro inquéritos de “natureza puramente sismológica” (fig.11), no qual se

pediam as características do abalo e dos respectivos danos. A partir da análise destes mesmos

inquéritos, foram feitas extrapolações sobre possíveis magnitudes do sismo.

Figura 11 – Inquérito distribuído por Marquês de Pombal aos párocos

Refira-se que o catolicismo teve um relacionamento um pouco difícil com o iluminismo,

defendendo esta última corrente uma intensa actividade de observação científica e de reflexão

contra a credibilidade de um Providência por parte do clero.

15

2 – Lisboa antes do terramoto de 1755

2.1 – As freguesias de Lisboa

Neste capítulo será feita uma abordagem ao processo de formação das freguesias de Lisboa

até ao ano de 1755. Irá ainda apresentar-se uma caracterização sumária do parque

habitacional e da população existente à data do grande terramoto de Lisboa.

De acordo com a bibliografia existente, o primeiro povo conhecido a fixar-se em Lisboa, foi o

Fenício, o qual deu ao local o nome de Allis Ubo (baía calma). Mais tarde, algures entre 100 a

45 a.C., já sobre a alçada do Império Romano, o Imperador Júlio César promoveu o povoado à

categoria de cidade, designando-a por Felicitas Júlia. Após os Romanos, outros povos

ocuparam a cidade, entre os quais os Alanos, os Vândalos e os Visigodos, não tendo deixado

vestígios significativos. No ano 714 d.C., teve lugar a ocupação da cidade pelos Árabes. No

início do século IX a cidade passou para domínio cristão, quando foi tomada pelo Rei da Galiza

e Astúrias, Afonso, “o Casto”. Seguiu-se um período (entre 813 e 1093) onde a cidade foi

sucessivamente disputada pelos Árabes e pelo Reino de Leão.

Decorria o ano de 1147, quando a cidade foi definitivamente conquistada aos Mouros por

aquele que viria a ser o primeiro Rei de Portugal (D. Afonso Henriques) apoiado pelos

Cruzados Europeus. A partir desta data inicia-se a ocupação cristã e com ela a divisão da

cidade em zonas cuja gestão cabia à autoridade eclesiástica. As diferentes zonas delimitadas,

foram denominadas inicialmente por paróquias e posteriormente por freguesias, cuja sede se

situava na igreja matriz da área demarcada. 1

Durante o reinado de D. Afonso Henriques, Rei de Portugal, reconhece-se a criação de

algumas freguesias, mas não foram encontrados documentos que indiquem as igrejas

paroquiais a elas associadas. Vários autores antigos, reconhecem no bispo D. Gilberto,

instituído pelo Rei D. Afonso Henriques como o prelado responsável do novo distrito, o

fundador (ou pelo menos o predecessor) das seguintes paróquias: de São Vicente, Nossa

Senhora dos Mártires, Santa Justa e Santa Maria Maior.

No cartório do convento de São Vicente de Fora, encontra-se um documento datado de 1668

[31, p.11], relativo à realização de um sínodo no ano de 1191, que refere a existência de 7

1 Por similaridade de significados, optou-se por utilizar indistintamente os vocábulos “freguesia” e

“paróquia” ao longo deste trabalho”.

16

freguesias em Lisboa, nomeadamente: São Vicente, Nossa Senhora dos Mártires, Santa Justa,

Santa Justa da Alcáçova, São Bartolomeu, São Martinho e São Jorge. Conforme se constata,

este documento não indica a existência de Santa Maria Maior, contrapondo a hipótese referida

no parágrafo anterior.

Augusto Vieira da Silva [31,p.12] descreve até final do século XII a existência de 10 freguesias,

subordinadas ao bispado de Lisboa, designadamente: São Vicente, Nossa Senhora dos

Mártires, Santa Justa, Santa Maria da Sé, Santa

Maria Madalena, Santa Cruz do Castelo, São

Bartolomeu, São Martinho, São Jorge e São Pedro (de Alfama).

Já no século XIII, o número de freguesias registadas atinge as vinte e três, conforme se pode

ler num pergaminho datado de 1247 guardado no arquivo Nacional da Torre do Tombo.

1. São Vicente;

2. Nossa Senhora dos Mártires;

3. Santa Justa;

4. Santa Maria da Sé;

5. Santa Maria Madalena;

6. Santa Cruz do Castelo;

7. São Bartolomeu;

8. São Martinho;

9. São Jorge;

10. São Pedro de Alfama;

11. São Julião;

12. Santa Marinha do Outeiro;

13. São Lourenço;

14. São Nicolau;

15. Santo André;

16. Santo Estêvão;

17. São Miguel;

18. Santa Maria de Alcamim (São Cristóvão);·

19. São Mamede;

20. São João (Baptista ou da Praça);

21. São Tomé (do Penedo);

22. São Jacob (São Tiago);·

23. São Salvador (da Mata) depois Senhor Jesus da Boa Morte.

17

No Gabinete de Estudos Olisiponeneses (GEO), encontram-se valiosos documentos sobre

Lisboa, no qual se apresentam alguns mapas e plantas da cidade. Como exemplo, veja-se a

planta relativa às freguesias de São Cristóvão e São Mamede, antes do terramoto de 1755.

Figura 12 – São Cristóvão e São Mamede antes do Terramoto de 1755, GEO

18

Das vinte e três freguesias atrás referidas, sete permanecerão inalteradas até ao terramoto de

1755, são elas:

Santa Maria da Sé

Santa Cruz do Castelo

São Bartolomeu

São Martinho

São Jorge

São João (Baptista ou da Praça

São Jacob (São Tiago)

O summário, elaborado em 1551 por Cristóvão Rodrigues de Oliveira [31, p.14], mostra que

durante mais de três séculos (1247 a 1551), a estrutura paroquial da cidade permaneceu quase

inalterada. De acordo com o referido documento, à data da respectiva edição existiam em

Lisboa vinte e quatro freguesias, as vinte e três atrás referidas mais a freguesia de Nossa

Senhora do Loreto, criada nesse mesmo ano.

24. Nossa Senhora do Loreto (depois Nossa Senhora da Encarnação);

Refira-se como nota, que a construção da cerca Fernandina (1373-1375) circunscreveu o

povoado da cidade a uma área de 101,63 ha. Neste território, existiam zonas isentas de

jurisdição eclesiásticas, ou seja, freguesias sem território adstrito, nomeadamente os bairros

israelitas (judiarias) e a mouraria, os quais foram integrados nas freguesias existentes. Durante

este período (1247 a 1551).

No século XVII verificou-se em Lisboa um aumento demográfico, facto intimamente ligado à

expansão ultramarina que originou um aumento da navegação e do comércio na cidade. Este

novo cenário populacional foi responsável pela criação de doze novas freguesias, a seguir

identificadas:

25. Nossa Senhora da Ajuda;

26. Santa Catarina (do monte Sinai);

27. Anjos;

28. Santa Ana (depois Nossa Senhora da Pena);

29. São Paulo;

30. Santos-o-Velho;

31. São José (d‟entre as hortas);

32. Nossa Senhora da Conceição (depois Conceição Nova);

33. Santa Engrácia;

34. Trindade (depois Santíssimo Sacramento);

35. São Sebastião (da Mouraria, depois Nossa Senhora do Socorro).

19

Não consta da descrição acima indicada a freguesia das “Chagas de Jesus Cristo”, que apesar

de ter sido formada na mesma altura, não se constituía como um território próprio, razão pela

qual não foi contabilizada.

23-A.

Após o século XVII e até ao terramoto de 1755 foram criadas apenas mais três freguesias:

36. São Sebastião da Pedreira;

37. Nossa Senhora das Mercês;

38. Santa Isabel Rainha de Portugal.

Neste período (século XVII), foi ainda constituída uma outra freguesia (Santa Igreja Patriarcal

(37-A)), que mais não era do que a freguesia privativa da casa Real, sem distrito territorial.

Pelo ano de 1650, João Nunes Tinoco, desenhou mapa da cidade de Lisboa que pode ser

analisado na figura 13.

Figura 13 – Mapa de Lisboa, realizado por João Nunes Tinoco em 1650, GEO

À data do terramoto contabilizam-se pois trinta e sete freguesias, porque Nossa Senhora da

Ajuda era considerada fora dos limites da cidade, mais concretamente nos seus arrabaldes.

Veja-se quadro explicativo do confinamento das freguesias à data de 1755 no anexo 3.

20

Na figura 14 que se junta de seguida, pode ser analisado mapa da parte principal da cidade de

Lisboa antes do grande terramoto de 1755.

Figura 14 – Mapa de parte Cidade de Lisboa antes do Terramoto de 1755

21

2.2 - O Parque Habitacional antes do Terramoto de 1755

2.2.1 – Introdução

Pretende-se com este capítulo classificar, caracterizar e quantificar o edificado da cidade de

Lisboa, da época que antecedeu o terramoto de 1755, sendo esta data de extrema relevância

porque marca um ponto de viragem na forma e composição da urbe. Para tal proceder-se-á à

definição tipológica, que visará a divisão por grupos em função de determinadas

características, como seja: forma do lote; composição dos alçados; compartimentação interior

ou de pormenores mais particularizados (medidas de compartimentos; vão; paredes e

cantarias) e também das técnicas construtivas. Este estudo fundamenta-se em documentos

escritos, iconografia e exemplos que se conservam até hoje. Pela análise iconográfica da

planta de Lisboa realizada por Georgio Braúnio Agrippinate em 1593 (figura 15) destaca-se o

seguinte:

Figura 15 – Vista de Lisboa 1593; Georgio Braúnio Agrippinate, GEO

Edifícios com fachada em bico (telhado de 2 águas perpendiculares à fachada);

Edifícios com três a quatro pisos, com áreas de implantação que vão dos 40m2

aos 150m2;

22

Grande densidade da construção nas zonas da Baixa e nos quarteirões da

colina do Castelo. Para as zonas da periferia verifica-se uma progressiva

rarefacção. Como exemplo tem-se a zona do Bairro Alto, onde os quarteirões

já se apresentam delineados mas não totalmente ocupados.

Contrariamente ao intricado de pequenos edifícios de habitação, os edifícios

religiosos destacam-se destes, pela área de implantação, volumetria e até pelo

tipo construtivo, onde se utilizava em grande parte ou na totalidade a alvenaria,

tornando-os assim imóveis de grande massa.

Em 1755 Lisboa era uma cidade medieval, em que o tempo pouco ou nada modificou a sua

aparência. Pese embora se tenha expandindo por um período aproximado de 6 séculos, a sua

estrutura urbana mantinha-se como um burgo medieval, vasto e desorganizado, sem plano

nem proporções, exceptuando-se as novas ruas do Bairro Alto. As ruas eram, na sua quase

maioria, estreitas, sujas e incómodas. Os edifícios religiosos constituíam o centro dos novos

bairros. A cidade ia crescendo com a construção de novas casas e demolição das mais

antigas, contudo esta reedificação continuava a fazer-se de uma forma irregular. A cidade

encontrava-se coberta por ruínas, que o senado, sempre parco de finanças, não conseguia

fazer desaparecer. As ruas, assim como o Terreiro do Paço, encontravam-se atulhadas de

nauseabundos depósitos de lixo e a zona baixa da cidade inundada com frequência,

apresentando-se as ruas em autênticos lamaçais.

A cidade a nível urbano estava pois mal organizada, com ruas estreitas e becos, nos quais

encaixavam os edifícios construídos ao acaso, sem regras, formando um emaranhado de

casas e ruas, com problemas em termos de circulação, de higiene e sobretudo de falta de

segurança.

23

2.2.2 – Tipologia dos Edifícios

Com o intuito de se classificarem os edifícios pré-pombalinos, ou seja, edifícios existentes à

data do terramoto, foi recolhida alguma bibliografia, sendo que os trabalhos mais

pormenorizados foram desenvolvidos pelo LNEC [41], que contemplaram levantamentos dos

edifícios que resistiram total ou parcialmente ao grande terramoto de 1755, e que se

conservaram ao longo do tempo até à actualidade. Os edifícios da data de estudo que

resistiram ao evento concentram-se preferencialmente nos bairros históricos de Alfama,

Castelo, Mouraria e Bairro Alto.

A evolução do edificado é um processo que se desenvolve ao longo do tempo de uma forma

dinâmica e como consequência de diversos factores, assim qualquer tentativa de classificação

tipológica será um processo de descritizar um processo contínuo. Contudo, numa primeira

abordagem classificativa e de uma forma grosseira, podem-se classificar os edifícios pelo seu

aspecto. Podendo-se distinguir três grandes grupos de edifícios:

Edifícios de qualidade elevada, são aqueles que apresentam paredes de alvenaria bem

cuidada, pedra aparelhada pelo menos nos cunhais e elementos de travamento.

Edifícios de qualidade inferior, são aqueles cujas paredes são de alvenaria pobre,

muitas vezes de taipa mal conservada, apresentando grandes deformações

permanentes e, em muitos casos, com total ausência de elementos de travamento. Na

maioria dos casos as paredes apresentam espessura considerável. Os pavimentos

vencem, raras excepções, vãos pequenos e são geralmente sobrados de madeira.

Edifícios com andar de ressalto, são constituídos por um rés-do-chão em alvenaria de

pedra, e pavimento em arco que serve de suporte a um ou dois pisos com estrutura

reticulada de madeira, salientes em relação ao rés-do-chão. O revestimento exterior

das paredes era efectuado por uma alvenaria mista em enxadrezado, na qual se nota

já a preocupação de gaiola pombalina, que será generalizada na época subsequente.

Apresentar-se-á de seguida uma classificação tipológica das soluções arquitectónicas,

estruturais e construtivas dos edifícios pré-terramoto. Esta classificação será uma proposta de

discretização, mas que não se assume como única, pois os critérios de classificação podem

ser outros. Os critérios utilizados, aqui apresentados alicerçam-se em algumas características

morfológicas do edifício, como sejam a largura do edifício, o tipo de cobertura e os materiais

utilizados nos revestimentos exteriores.

Esta classificação tipológica foi baseada em trabalhos desenvolvidos pelo LNEC, mais

concretamente num relatório que descrimina os processos construtivos utilizados em Portugal

antes do sismo de 1755 [41, p.85 e 86]. Assim, veja-se:

24

1. Casas de frente estreita, com cobertura de quatro águas ou duas perpendiculares à

fachada e paredes exteriores de tabique formando ressalto (figura 16).

Figura 16 – Edifício Tipo 1, Largo de São Miguel em Alfama

2. Casas de frente estreita, com coberturas de quatro águas e paredes exteriores em

alvenaria de pedra (figura 17).

Figura 17 – Edifício Tipo 2, Rua dos Remédios

25

3. Casas de frente estreita, com cobertura de duas águas perpendiculares à fachada e

paredes exteriores em alvenaria de pedra(figura 18).

Figura 18 – Edifício Tipo 3, Rua da Atalaia Bairro Alto

4. Casas de frente estreita, com cobertura de quatro águas ou duas perpendiculares à

fachada e paredes exteriores em estrutura mista de tabique e alvenaria de pedra

(figura 19).

Figura 19 – Edifício Tipo 4, Beco do Surra

26

5. Casas de frente ampla, com cobertura de duas águas paralelas à fachada ou “telhados

múltiplos” e paredes exteriores em alvenaria de pedra (figura 20).

Figura 20 – Edifício Tipo 5, Escadinhas de São Crispim]

A forma dos lotes dos edifícios pré-pombalinos pode ser agrupada em 3 tipos genéricos:

Lotes de frente estreita e grande profundidade;

Lotes sensivelmente quadrados (identificados como casas de fachada em Bico),

normalmente associados aos edifícios mais altos da cidade;

Lotes de frente ampla e pequena profundidade.

27

2.2.3 – Pormenores e Materiais Construtivos

Lisboa é uma cidade que tem sofrido ao longo da sua existência grandes modificações

urbanas, sendo que as de maior relevância são consequência de desastres naturais, como

sejam os terramotos e em alguns casos guerras, além das modificações impostas pelo natural

aumento de população. Assim, a história dos edifícios que compõem a urbe, pode ser lida

pelas técnicas de construção e materiais usados ao longo de toda a sua existência. Verifica-se

que nas construções mais antigas existem marcas vincadas de regionalismo, que se

fundamentam na disponibilidade dos materiais mais acessíveis e nas técnicas de construção

tradicionais. Com o passar dos anos, constata-se uma separação à região, com o acesso a

técnicas mais industrializadas na arte de construir e também com o recurso a matérias de

origem mais distante.

No sentido de se compreender melhor como era o parque habitacional de Lisboa no pré-

terramoto, apresenta-se de seguida uma lista que define alguns pormenores construtivos e

materiais representativos do tipo de construção praticado. Esta lista, resultou de diversa

pesquisa e bibliografia nomeadamente [32], [39], [40] e [41].

O desenvolvimento em altura das casas urbanas não apalaçadas, com paredes

exteriores de alvenaria até 0,70m de espessura, não ultrapassa os 3 pisos em média,

registando-se algumas excepções com 4 e 5 pisos, em situações de forte declive e

muito raramente em 6 pisos.

A grande maioria das casas da cidade de Lisboa é de estrutura mista de alvenaria e

pedra, com tabique exterior nos andares superiores e tijolo para arcos de ressalva,

chaminés e outros pormenores

A supra-estrutura é constituída genericamente por um conjunto de vigas, prumos e

diagonais de travamento de madeira, preenchida com alvenaria de tijolo e pedra miúda.

Esta estrutura assenta em paredes de alvenaria nos primeiros pisos, desenvolvendo-se

na vertical como fachada lisa ou em ressalto.

Fachada em ressalto – Os ressaltos são consolas, constituídas pelo prolongamento

das vigas do pavimento, com o máximo de 0,80m, que se apresentam numa ou em

duas direcções (edifícios de gaveto) e repetidos na vertical. Verifica-se em alguns dos

casos que os ressaltos se apoiam em colunas de pedra e excepcionalmente estes

aparecem em paredes exteriores de alvenaria de pedra, existindo exemplos destes

edifícios na Calçada do Marquês de Tancos e na rua do Século. Veja-se figuras

números 21 e 22.

28

Pela figura 21 pode ser analisada uma estrutura típica da fachada em ressalto, na qual podem

ser observados os materiais usados e também a técnica de construção utilizada na construção

do pavimento do ressalto e também nas paredes deste. Assim constata-se que o pavimento é

realizado em estrutura de madeira e as paredes em tabique, nas quais se destaca o uso de

madeiras em cruz para conferir maior resistência e o uso de alvenaria com argamassa de cal e

areia no seu preenchimento.

Figura 21 – Vista interior da parede de fachada e do pavimento do andar de ressalto, João Appleton [39]

Conforme pode ser observado na figura 22 o ressalto encontra-se revestido a madeira por

questões meramente estéticas.

Figura 22 – Edifício com 1 andar em ressalto no Beco da Achada

29

Fachada Lisa – Estes edifícios são o tipo construtivo mais abundante na cidade de

Lisboa pré-terramoto, podendo desenvolver-se na vertical até 6 pisos. Como exemplo,

temos o edifício em Alfama com o pormenor do acesso aos pisos superiores ser

realizado por uma escada de tiro, conforme se pode observar na figura 23.

Figura 23 – Edifício de Fachada Lisa no Largo de São Rafael]

O espaço interior dos edifícios é dividido por tabiques, que em regra formam uma cruz.

Os tabiques portantes, são paralelos à fachada e apresentam uma espessura de

0,20m. Um pouco menos espessos, com 0,15m, são os tabiques semi-portantes, que

funcionam do mesmo modo que os portantes, ou seja, servem de apoio às vigas. Os

tabiques de separação, com 0,10m de espessura são constituídos por tábuas

costaneiras, cobertas com fasquiado de madeira para segurar o reboco.

No que concerne ao espaço interior dos lotes, verifica-se que é quase sempre

diminuto, levando nalguns casos à supressão dos corredores e obrigando à passagem

directa de uns compartimentos para outros. Devido à forma e agrupamento dos lotes,

muitos compartimentos não têm janelas.

As paredes exteriores em tabique têm sempre 0,20m de espessura e são constituídas

por um conjunto de vigas, prumos e diagonais de travamento em madeira, que se

apoiam nas paredes do piso ou pisos inferiores. Os vazios desta estrutura são

preenchidos com pedaços de tijolo ou tijolo e pedra ligados e rebocados com a mesma

argamassa de cal e areia. Estas paredes apresentam grande elasticidade, contudo

comportam-se muito mal quando sujeitas a humidade e fogo.

30

As paredes exteriores em alvenaria podem ser de blocos de pedra calcária, de tijolos

(0,125 x 0,25 x 0,03m) ou ainda de pedaços de tijolos ligados por uma argamassa de

cal e areia posteriormente rebocada e pintada.

Nos edifícios de habitação de pequenas dimensões, as paredes exteriores rondam os

0,60m a 0,80 de espessura. As paredes meeiras (paredes comuns a 2 edifícios) têm

espessuras que rondam os 0,40m a 0,60m, podendo em alguns casos ser superior a

estes valores.

Nos edifícios de grandes dimensões e grande massa (palácios, conventos, etc.), as

paredes exteriores de alvenaria podem atingir os 1,40m, mesmo nos últimos pisos

(convento de São Francisco).

Os pavimentos térreos são geralmente constituídos por lajes de pedra calcária de

grandes dimensões, sendo generalizada a sua aplicação em edifícios de melhor

qualidade e armazéns ou lojas. Para os edifícios de habitação, os pavimentos térreos

também poderão ser em tabuado de madeira assente sobre vigas.

Os pavimentos elevados são sempre de madeira (sobrados), com espessuras que vão

de 0,15m a 0,20m. Os sobrados são assentes sobre uma estrutura de vigas, que se

encontram encastradas geralmente nas fachadas, com apoio a meio vão no tabique

resistente paralelo à fachada. Os sobrados são revestidos na face superior pelo soalho

e na face inferior por um forro de pranchas de madeira (“saia e camisa”). Para edifícios

de maior qualidade ou dimensão é vulgar os sobrados assentarem sobre abóbadas em

tijolo.

O pé direito anda entre 2,20m e 2,60m.

As portas interiores têm sempre 0,60m e normalmente esta medida corresponde à

largura dos corredores e das escadas de entrada.

As janelas, normalmente de peito, são pequenas com dimensões usuais de

0,85mx1,05m. Contudo, algumas são de sacada, correspondendo estas ao vão da

sala. Nas zonas mais pobres no lugar de vidraças, apenas existem portadas de

madeira. O uso generalizado do vidro foi posterior ao terramoto de 1755.

Os vãos são guarnecidos por madeira (0,10m) nas fachadas de tabique e por pedra

(0,22m) nas fachadas de alvenaria.

As coberturas são geralmente formadas por três águas quando o edifício encosta numa

parede mais alta no tardoz, ou de duas, paralelas ou perpendiculares à fachada. Este

último caso dá origem às fachadas de bico. Embora mais raramente se pudessem

31

encontrar coberturas que exibiam quatro águas. Do ponto de vista estrutural, as

coberturas eram constituídas na sua maioria por uma estrutura de suporte revestida

superiormente por um tabuado onde assentava o telhado. Habitualmente o telhado era

executado com telhas de canudo argamassadas ou aramadas.

A qualidade de construção era em regra má, sobretudo em bairros populares como

Alfama ou Mouraria.

Uma característica corrente de edifícios desta época, era a inexistência de instalações

sanitárias, sendo os dejectos e águas sujas lançados à rua ao anoitecer. Sobre este

tópico o Arquitecto Jorge Mascarenhas [32] cita o seguinte:”…os líquidos ao infiltrarem-

se iriam saturar o terreno e aumentar a sua instabilidade perante um sismo.”

O acesso aos pisos é feito em regra por escadas de um lance apenas, alinhadas ao

comprimento do edifício (escada de tiro – figura 23) e geralmente com 0,60m de

largura, medida esta também frequente para a largura de corredores de entrada. A

escada encosta-se geralmente às paredes meeiras (de alvenaria) que dividem os lotes,

que são comuns a ambos, transformando os quarteirões em gigantescos “edifícios”.

Nos lotes de fachada mais larga a escada pode-se encontrar a meio.

As escadas são suportadas por duas vigas oblíquas que se apoiam nas vigas dos

pavimentos. Para se garantir o afastamento são colocadas traves que permitem

também apoiar os degraus.

32

A forma e o tipo de materiais usados nas estruturas edificadas contribuem directamente para o

tipo de resposta aos sismos. Entre os edifícios que resistiram ao terramoto de 1755 podem-se

distinguir alguns pormenores construtivo mais ou menos constantes nestes, que garantiram

uma melhor resposta aos sismos, que foi a existência de cunhais em alvenaria ou cantaria

aparelhada, muitas vezes levada até aos pisos mais elevados e em alguns casos a forrar parte

das superfícies de empena e uma estrutura de madeira nas paredes que entrevê a futura

gaiola pombalina.

No sentido oposto, o sismo de 1755 gerou uma série de destruição no edificado urbano,

podendo-se descrever alguns aspectos construtivos dos edifícios da cidade de Lisboa, que

facilitaram a destruição deste e que consequentemente dificultaram a fuga dos habitantes

implicando um aumento do número de vítimas. Refiram-se:

Fachadas desalinhadas;

Elementos salientes nas fachadas;

Irregularidade nas alturas dos edifícios;

Existência de chaminés;

Frágil fixação dos elementos da cobertura (pregados)

Utilização da madeira como material de construção;

Piso térreo vazado (normalmente zona comercial);

Construção de edifícios sobre arcos.

33

2.2.4. – Contabilização do Parque Habitacional

Tendo em vista a quantificação do parque habitacional em Lisboa à data do cataclismo,

apresenta-se seguidamente a avaliação do número de fogos por freguesia, de acordo com os

dados bibliográficos consultados.

Freguesia de Santo André

– 146 Fogos, referenciados no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 140 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.8].

– 140 Fogos, enumerados por Bautista de Castro [28, p.522-523].

– 146 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia dos Anjos

– 2 146 Fogos, enumerados no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 2 140 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.6].

– 2 140 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 2 146 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de Santa Catarina

– 1 874 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.298].

– 1 886 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.20].

– 1 874 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 2 196 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de São Cristóvão

– 420 Fogos, descritos nas memórias paroquiais [20, p.89].

– 432 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 460 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.13].

– 432 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de Nossa Senhora da Conceição

– 900 Fogos, descritos nas memórias paroquiais [20, p.92].

34

– 850 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 850 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 856 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.17].

– 850 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de Santa Engrácia

– 1 874 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.298].

– 2 330 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.5].

– 1 330 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 1 327 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de Santo Estêvão

– 1 108 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 1 170 Vizinhos, enumerados por Francisco Santana [23, p.6].

– 1 129 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 1 108 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de São João

– 305 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 400 Para 500 Fogos, informação fornecida pelo prior desta paróquia [20, p.124].

– 300 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.15].

– 300 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 305 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de São Jorge

– 69 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de Portugal

[20, p.297].

– 58 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.16].

– 58 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 69 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

35

Freguesia de São José

– 1 035 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 1 100 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por Francisco Luís Pereira

de Sousa [28, p.522-523].

– 1 100 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.9].

– 1 357 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de Santa Justa

– 1 156 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 3 140 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.12].

– 1 940 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 1 156 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de Santa Isabel

– 904 Fogos descritos nas memórias paroquiais [9, p.6-14].

– 1 289 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 1 460 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.10].

– 1 460 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 1 289 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de São Lourenço

– 152 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 150 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.12].

– 150 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 152 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de São Mamede

– 318 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 360 Fogos [11, p.101].

– 300 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.13].

– 300 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

36

– 318 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia da Madalena

– 800 Fogos [10, p.9], assume número apresentado em Mapa de Portugal, p.216, edição

1870).

– 805 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 830 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.16].

– 800 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 805 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de Santa Maria Maior – Sé

– 911 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 1 008 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.15].

– 896 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 911 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de Santa Marinha

– 200 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 220 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.7].

– 200 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 200 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de São Martinho

– 56 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de Portugal

[20, p.297].

– 30 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.16].

– 30 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 56 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia dos Mártires

– 1 800 Fogos [16, p.11].

– 1 531 Fogos, assumidos pelo mapa que antecede as memórias paroquiais [20, p.297].

37

– 1 600 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 1 756 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.18].

– 1 531 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia da Nossa Senhora das Mercês

– 840 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 850 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.19].

– 840 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 840 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de São Miguel

– 869 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 870 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.14].

– 870 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 869 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de São Nicolau

– 2 333 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 2 325 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.17].

– 2 325 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 2 333 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Santa Igreja Patriarcal

- 85 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de Portugal

[20, p.297].

Freguesia de São Paulo

– 755 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.298].

– 1 080 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.19].

– 1 000 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 755 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

38

Freguesia do Santíssimo Sacramento

– 642 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.298].

– 466 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.11].

– 646 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 642 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia do Salvador

– 268 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 266 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.7].

– 266 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 268 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de Santos-o-Velho

– 1 800 Fogos [14, p.11].

– 1 807 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 1 970 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.20].

– 1 800 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 2 129 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de São Sebastião da Pedreira

– 1 080 Fogos [15, p.11].

– 604 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 1 080 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.10].

– 500 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 926 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de Nossa senhora do Socorro

– 1 556 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 1 600 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.8].

– 1 600 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados F.L.P. de Sousa [28, p.522-

523].

39

– 1 556 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de São Tiago

– 120 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 120 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.14].

– 120 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 120 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de São Tomé

– 260 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 235 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.8].

– 275 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 260 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de São Vicente de Fora

– 544 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 544 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.7].

– 544 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 544 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de Santa Cruz do Castelo

– 322 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 335 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.14].

– 322 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de São Julião

– 1 608 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 1 630 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.18].

– 1600 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 1 608 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

40

Freguesia de São Pedro

– 350 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 352 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.119].

– 252 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 350 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de São Bartolomeu

– 148 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 140 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.13].

– 140 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por [28, p.522-523].

– 148 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de Nossa Senhora da Encarnação

– 2 027 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 2 072 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.11].

– 2 002 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por [28, p.522-523].

– 2 027 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de Nossa Senhora da Pena

– 1 403 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 1 330 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.9].

– 1 336 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 1 403 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Freguesia de Nossa Senhora da Ajuda

– 1 059 Fogos, referidos no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal [20, p.297].

– 680 Fogos, enumerados por Francisco Santana [23, p.21].

– 600 Fogos, enumerados por Bautista de Castro e apresentados por F.L.P. de Sousa [28,

p.522-523].

– 1 059 Fogos, referenciados na tese de Ana Maria dos Santos Temudo Barata [38].

Tendo em consideração a descrição quantitativa do parque imobiliário que se acaba de

apresentar, indica-se na tabela seguinte o número total de fogos em Lisboa à data do grande

41

terramoto na perspectiva de quatro historiadores, descontando-se os valores da freguesia da

Ajuda, por ser dos arrabaldes da cidade. No anexo 6 pode-se consultar o número de fogos

detalhado para cada freguesia descrito por cada referência.

Tabela 1 – Número total de fogos em Lisboa em 1755

Francisco

Santana

Bautista de

Castro

Ana

Temudo

Barata

Mapa do

Padre Luís

Cardoso

Pinho Leal

Número total de

fogos 36 643 32 735 33 454 32 878 39 615

Relativamente aos dados acima indicados é oportuno referir que:

A freguesia de Nossa Senhora da Ajuda pertencia aos arrabaldes da cidade, isto é,

situava-se fora de Lisboa à data do terramoto. Assim, não se considerou esta freguesia

na determinação do número de fogos indicado na tabela anterior;

Nos dados apresentados por Luís Cardoso constata-se que a freguesia de Santa

Engrácia está lançada duas vezes, com os valores respectivos de 5 753 e 8 493, tendo

sido escolhido arbitrariamente o valor de 8 493, para cômputo do total de fogos;

Os valores relativos ao historiador Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal

[35] referem que o total de fogos em Lisboa antes do cataclismo era de 39 615;

Conforme se constata no articulado supra apresentado, o número de fogos apontados

na tese de Ana Maria Temudo Barata, são os mesmos que o mapa do padre Luís

Cardoso excepto para a freguesia de Santa Catarina.

A análise do quadro acima indicado, mostra que o número total de fogos segundo os diferentes

autores, situa-se num intervalo que vai de 32 735 a 39 615. Simplificadamente, pode-se

assumir que o número total de fogos da cidade de Lisboa antes do terramoto 1755 estaria no

intervalo compreendido entre 30 000 a 40 000 fogos. Tomando-se a liberdade de calcular a

média aritmética do intervalo referido, obtém-se para a cidade de Lisboa cerca de 35 000 fogos

antes do grande terramoto de 1755.

42

2.3 – População antes do Terramoto de 1755

De acordo com os dados históricos existentes, a população de Lisboa teve sempre uma taxa

de crescimento positiva desde a sua origem até 1755. Este aumento populacional variou entre

as diferentes freguesias havendo relatos históricos que denunciam em determinadas áreas um

crescimento ténue e pouco significativo. É o caso, por exemplo, de zona da Ribeira, que

segundo conferência apresentada no G.E.O [27] manifestou entre 1551 e 1755 uma certa

estabilização ou mesmo descida do total de residentes. Este facto pontual deveu-se à

impossibilidade física de construir novas habitações dentro dos limites físicos impostos pela

cerca moura e pelo rio Tejo.

O crescimento populacional da cidade tendeu a acentuar-se nas freguesias pertencentes à

faixa de transição entre o núcleo urbano e os arrabaldes da cidade. Entre 1620 e 1755 todas

elas registaram acréscimos superiores a 50%. O aumento terá sido em média de 1,23% ao ano

até 1755, ano em que o Terramoto terá feito diminuir em 12 pontos percentuais a população

residente [27, p.8]. Entre essa data e os anos 80 retoma-se a tendência de crescimento

À data do terramoto de 1755, as estimativas da população de Lisboa são bastante divergentes,

conforme se subentende dos valores a seguir mencionados, retirados de diversa bibliografia.

Testemunhos Britânicos referem 350 000 [2];

Ana Cristina Araújo refere 250 000 [7, p.20];

José Augusto França refere 250 000 [8, p.65];

Moreira de Mendonça refere 250 000 [8, p.66];

Jorge Paulino Pereira (IST – UTL) refere 160 000 a 170 000 [24, p.26];

Veríssimo Serrão refere 190 750 [25, p.108];

Teresa Ferreira Rodrigues refere 191 052 [27, p. 7].

Para aferir da veracidade dos valores acima indicados e tentar definir um intervalo mais

reduzido da real população da cidade antes do cataclismo, foi efectuado um estudo que teve

por base o levantamento populacional por freguesia levado a efeito pelos seguintes autores:

O Padre Castro (Anexo 4);

O Padre Luís Cardoso [20;28];

A historiadora Ana Maria Temudo Barata [38].

43

Em determinadas freguesias foi possível considerar valores estimados de população por outros

autores, realce-se no entanto, por serem valores que não abrangem a totalidade das

freguesias, foram negligenciados no estudo efectuado.

Na figura seguinte, apresenta-se um manuscrito do Padre Luís Cardoso (1751), que entrou

para a análise populacional, tendo sido retirado do arquivo de Augusto Vieira da Silva

(Olisipógrafo) no Gabinete de Estudos Olisiponenses (GEO).

Figura 24 – Manuscrito do padre Luís Cardoso, 1751, GEO

Relativamente à figura 24 supra apresentada, apraz necessário fazer um comentário; a

freguesia de Santa Engrácia esta repetida duas vezes.

O descritivo populacional por freguesia, com base no atrás exposto, é em seguida

apresentado.

Freguesia de Santo André

– 575 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 550 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 679 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

44

Freguesia dos Anjos

– 8 441 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 6 420 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 9 975 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de Santa Catarina

– 8 255 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 8 255 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 11 338 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de São Cristóvão

– 1 276 Pessoas, descritos nas memórias paroquiais [20, p.89];

– 1 901 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 800 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 2 246 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de Nossa Senhora da Conceição

– 4 000 Pessoas descritos nas memórias paroquiais [20, p.92];

– 3 783 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 3 400 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 4 470 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de Santa Engrácia

– 8 493, ou 5753 pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário

geográfico de Portugal (Figura 23);

– 3 990 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 6 798 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de Santo Estêvão

– 4 353 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 4 325 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 5 144 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

45

Freguesia de São João

– 1 359 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 900 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 1 600 Pessoas, quantificadas na memoria paroquial [20, p.124];

– 1 606 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de São Jorge

– 335 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 174 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 396 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de São José

– 5 005 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 5 600 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 7 497 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de Santa Justa

– 7 782 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 8 000 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 9 196 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de Santa Isabel

– 5 357 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 3 179 Pessoas [9, p.6-14];

– 5 626 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 6 331 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de São Lourenço

– 152 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 610 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 732 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

46

Freguesia de São Mamede

– 1 420 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 1 370 Pessoas [11, p.101];

– 1 370 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 1 678 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia da Madalena

– 3 743 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 3 700 Pessoas [10, p.9], assume número apresentado em Mapa de Portugal, p.216, edição

1870;

– 3 700 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 4 423 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de Santa Maria Maior – Sé

– 4 255 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 4 255 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 5 028 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de Santa Marinha

– 715 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 600 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 845 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de São Martinho

– 837 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 300 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 898 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia dos Mártires

– 6 557 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 7 748 Pessoas [16, p.11];

– 7 000 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 7 748 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

47

Freguesia da Nossa Senhora das Mercês

– 3 800 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 2 520 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 4 491 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de São Miguel

– 3 429 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 3 700 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 4 052 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de São Nicolau

– 9 859 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 9 854 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 11 650 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Santa Igreja Patriarcal

– 1 261 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23).

Freguesia de São Paulo

– 3 958 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 4 000 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 4 677 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia do Santíssimo Sacramento

– 3 119 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 3 400 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 3 686 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia do Salvador

– 1 046 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 1 050 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 1 236 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

48

Freguesia de Santos-o-Velho

– 7 870 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 8 150 Pessoas [14, p.11];

– 8 150 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 10 883 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de São Sebastião da Pedreira

– 2 835 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 4 933 Pessoas [15, p.11];

– 2 100 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 4 933 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de Nossa Senhora do Socorro

– 5 774 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 4 800 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 6 823 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de São Tiago

– 662 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 15);

– 360 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 782 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de São Tomé

– 1 186 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 825 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 1 402 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de São Vicente de Fora

– 2 368 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 1 632 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 2 798 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

49

Freguesia de Santa Cruz do Castelo

– 1 352 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 966 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 1 598 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de São Julião

– 7 016 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 7 016 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 8 291 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de São Pedro

– 1 550 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 1 500 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 1 832 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de São Bartolomeu

– 574 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 500 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 678 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de Nossa Senhora da Encarnação

– 9 516 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 9 523 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 11 245 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de Nossa Senhora da Pena

– 5 371 Pessoas, identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 5 066 Pessoas, quantificadas na tabela do padre Castro (Anexo 4);

– 6 347 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

Freguesia de Nossa Senhora da Ajuda

– 4 748 Pessoas identificadas no mapa do padre Luís Cardoso, para o dicionário geográfico de

Portugal (Figura 23);

– 5 611 Pessoas, identificadas na Tese de Ana Maria Temudo Barata [38].

50

Procede-se em seguida à análise dos valores apresentados por freguesia, com o objectivo de

estimar a totalidade da população de Lisboa em 1755. Nesta análise vai ter-se em conta

unicamente os dados relativos à tabela do Padre Castro (Anexo 4), ao mapa do padre Luís

Cardoso [20;28] e à tese de Ana Maria Temudo Barata [38], pelas razões já referidas

anteriormente.

De acordo com os autores acima indicados, a população de Lisboa em 1755, era, em primeira

análise, de:

Tabela do Padre Castro: 132 837 habitantes;

Mapa do Padre Luís Cardoso: 151 079 habitantes;

Tese de Ana Maria Temudo Barata: 180 043 habitantes.

Nas duas últimas estimativas indicadas (151 079 e 180 043) incluem-se valores relativos à

freguesia da Ajuda, que não pertencia à zona administrativa do concelho de Lisboa. Retirando-

se a população desta freguesia, os totais passam respectivamente para 146 331 pessoas e

174 432 pessoas. Podem ser analisados os valores detalhados por autor e por freguesia no

anexo 7.

Sabe-se que o levantamento do Padre Castro e do Padre Luís Cardoso, não contabiliza as

crianças com menos de 7 anos, apresentando-se em seguida uma estimativa deste valor de

modo a tornar as estimativas indicadas comparáveis.

Assim, recorrendo a um estudo demográfico realizado em 2001 [29], para o ano de 1801,

estimou-se que a população da cidade de Lisboa com menos de 7 anos de idade era de 14 889

crianças do sexo masculino e 14 888 do sexo feminino, perfazendo um total de 29 777

crianças. Correspondendo pois este valor a cerca de 15% da totalidade da população.

Admitindo que à data do terramoto, o valor acima indicado era válido, isto é, a população era

formada por 15% de crianças com menos de sete anos, estamos em condições de avaliar a

totalidade da população da cidade segundo o Padre Castro (152 763 Habitantes) e o Padre

Luís Cardoso (168 092 Habitantes). Importa lembrar que os valores anteriormente

apresentados para estes autores, não contabilizavam crianças com idade inferior a sete anos.

Resulta do exposto que a população de Lisboa antes do terramoto, segundo os três autores

que se vêm referindo era de:

152 763 Habitantes (Padre Castro);

168 092 Habitantes (Padre Luís Cardoso);

174 432 Habitantes (Historiadora Ana Temudo Barata)

Efectuando a reunião dos valores estimados pelas várias fontes, as que acima se indicam mais

as referidas no início deste capítulo, obtém-se um intervalo de valores relativos à população de

51

Lisboa entre 152 763 a 350 000 habitantes. Perante tão vasto intervalo, parece razoável desde

logo, eliminar-se o valor de 350 mil habitantes, por ser manifestamente exagerado, face à

dimensão do próprio país à data do terramoto (rondava os 2 milhões de habitantes em Portugal

[29]). Tendo em mente as estimativas apresentadas neste capítulo, parece aceitável restringir o

limite superior a 250 mil pessoas, sendo este valor, de resto, sugerido por várias fontes.

Para auxílio na análise e conclusão do presumível valor da população de Lisboa antes do

terramoto, considere-se também o rácio “número de habitantes por fogo”. Segundo o estudo

demográfico atrás referido, realizado para o ano de 1801, o rácio estimado foi de 3,85

pessoas/fogo. Considerando que o rácio para o ano de 1755, antes do terramoto, toma valores

ligeiramente superiores, num intervalo entre 4,1 e 4,3 pessoas/fogo e que o número de fogos

se cifrava entre 32 735 (padre Castro) a 39 616 (Pinho Leal), obtém-se para a população o

intervalo entre 134 214 e 170 349 pessoas.

Na tabela seguinte resumem-se as estimativas populacionais tendo por base a análise acima

efectuada e os valores decorrentes do estudo populacional das freguesias.

Tabela 2 – Estimativas da população de Lisboa antes do terramoto de 1755 com base no levantamento por freguesia e no estudo do rácio pessoas/fogo

Padre Castro Padre Luís Cardoso

Historiadora Ana Temudo

Barata

Estudo pelo Rácio

pessoas/fogo

População de Lisboa

(Habitantes) 152 763 168 092 174 432

Entre

134 214 a

170 349

Tendo em consideração a tabela anterior, parece razoável admitir como limite superior da

população de Lisboa um valor na ordem dos 175 000 Habitantes. Por outro lado, nenhum

documento consultado indica um valor mínimo de população inferior a 150 000 Habitantes,

facto que leva a excluir a estimativa, acima indicada, de 134 000 habitantes.

Desta forma, pode-se supor que a população de Lisboa antes do grande terramoto, se cifrava

possivelmente entre 150 000 a 175 000 pessoas. Trata-se de um intervalo credível à luz dos

documentos consultados, no entanto, resulta de interpretações sobre descrições históricas nem

sempre consonantes, e como tal sempre discutíveis.

Como conclusão, calculando-se a média aritmética deste intervalo, obtém-se o valor de 162

500 pessoas para a zona administrativa da cidade de Lisboa antes do terramoto de 1755.

52

3 - Lisboa após o Terramoto de 1755

3.1 – Medidas tomadas após o Terramoto de 1755

3.1.1 – Primeiras Medidas Lisboa, uma das cidades mais ricas do velho mundo, viu-se com o terramoto, deparada com

um problema de dimensão catastrófica, que naturalmente transcendeu os próprios limites da

cidade, afectando o país como um todo. Não obstante tamanha desgraça, o país, por

intermédio dos seus governantes, envolveu-se de forma rápida e expedita na recuperação

daquela, que em tempos foi, a capital do grande Império.

Logo após a catástrofe a situação ficou caótica, havia feridos e mortos em grande quantidade

por toda a cidade e outros problemas como as pilhagens levadas a cabo pelos presos fugidos

das várias cadeias destruídas, adensavam ainda mais a confusão instalada. Os sobreviventes

da tragédia, perante o cenário que lhes era apresentado de zonas completamente destruídas e

áreas totalmente inacessíveis durante vários dias, procuraram fugir da cidade para acamparem

nos seus arredores.

A reabilitação e reconstrução do património danificado, já de si difícil no enquadramento em

que ocorreu, viu-se no imediato dificultado pelo preço dos materiais de construção que

disparou devido à grande especulação, embora se tenham tomado posteriormente medidas

para minimizar o problema.

Quando as primeiras tarefas de socorro e rescaldo permitiram finalmente algum fôlego, uma

parte da energia da população necessária à reconstrução da cidade, acabou por ser entregue à

devoção.

Sebastião José de Carvalho e Melo (fiel colaborador do Rei D. José I), outorgado Conde de

Oeiras em 1759 e consagrado com o título de 1º Marquês de Pombal em 1769, é o escolhido

para liderar uma equipa que através de medidas concretas procurou no imediato alcançar

essencialmente dois objectivos:

Atenuar rapidamente os problemas prementes sentidos pelos cidadãos que

permaneciam na cidade;

Perceber a real dimensão da catástrofe com vista à reconstrução das áreas afectadas.

53

Indicam-se em seguida algumas das medidas tomadas que reflectem os objectivos acima

referidos.

Tentou-se atender às necessidades básicas dos sobreviventes (comida, alojamento,

etc.);

Lançaram-se os cadáveres ao rio;

Recrutaram-se regimentos da província para manter a ordem pública;

Enforcaram-se desordeiros e bandidos, por ordem de juízes que se encontravam

espalhados pela cidade, a mando do Duque de Lafões. De resto, foi este Duque que

prontamente providenciou uma forma de punição para os bandidos e malfeitores,

colocando forcas em vários pontos da cidade. Em poucos dias foram enforcados 34

ladrões, dos quais, 11 portugueses, 10 castelhanos, 5 irlandeses, 3 saboianos, 2

franceses, 1 polaco e um flamengo;

Revistaram-se todas as embarcações;

Tentou-se impedir a fuga dos habitantes, exigindo-se uma autorização para se poder

deixar a cidade, ao mesmo tempo que os párocos encorajavam a permanência dos

seus fregueses;

Evitou-se a especulação de bens, pela fixação de preços, pelo congelamento das

rendas, abolindo-se a taxa sobre os produtos alimentares, registando-se os bens que

entravam na cidade e distribuindo-se os padeiros e talhantes pela cidade;

Quanto ao restabelecimento do funcionamento urbano, as águas estagnadas foram

drenadas, os escombros retirados com mão-de-obra essencialmente dos prisioneiros e

as propriedades destruídas foram registadas;

Foi feito o levantamento de todas as ruas e propriedades;

Foram enviados questionários aos párocos de todas as freguesias, no sentido de

recolherem informações sobre as consequências do terramoto.

3.1.2 – Reconstrução da Cidade No período que antecede o terramoto de 1755, Portugal foi palco de duas grandes obras,

ambas de dimensão pouco usual no país: o Aqueduto das Águas Livres, com quilómetros de

extensão e algumas obras de grande complexidade, como é a estrutura de transposição do

vale de Alcântara, e o gigantesco Convento e Palácio Real de Mafra [39]. Estas grandes obras

serviram de escola para a aprendizagem da prática da engenharia, da arquitectura e da

construção. Os conhecimentos adquiridos permitiram delinear e preparar bases de trabalho

que foram de grande ajuda para a definição de procedimentos e regras de construção

adoptadas na reedificação da cidade de Lisboa após o terramoto.

O Marquês de Pombal nomeou o Engenheiro-Mor do reino, Manuel da Maia, na altura, já com

80 anos, para planear a reconstrução da cidade Lisboa. Manuel da Maia, revelou-se um

54

homem de bom senso e de espírito prático com uma consciência perfeita no que respeita à

necessidade de se criar uma cidade com boas condições de segurança e habitabilidade.

A 4 de Dezembro de 1755, Manuel da Maia apresenta cinco perspectivas diferentes para a

reconstrução da cidade de Lisboa, enaltecendo em cada uma delas as respectivas vantagens e

desvantagens. Veja-se no anexo 1do presente trabalho a “dissertação de Manuel da Maia"

sobre os planos para a recuperação da cidade.

De uma forma sumária as cinco ideias para a reconstrução da cidade de Lisboa assentavam no

seguinte:

1ª Hipótese – Reconstruir a cidade tal qual era outrora;

2ª Hipótese – Reconstruir a cidade mantendo a altura dos edifícios, mas alargando as

ruas;

3ª Hipótese – Reconstruir a cidade, mas restringindo a altura dos edifícios ao máximo

de dois pisos, e alargando as ruas estreitas;

4ª Hipótese – Demolir por completo toda a cidade atingida e construir sobre os

escombros;

5ª Hipótese – Abandonar a cidade, reconstruir uma nova cidade em Belém, ou entre

Belém e Pedrouços.

A 16 de Fevereiro de 1756, Manuel da Maia apresenta novo plano de reconstrução, baseado

na quarta hipótese (solução aprovada pelo Rei), em que propõe alargar as ruas mais estreitas

e abrir os becos sem saída, sempre com a preocupação de não alterar muito as propriedades.

A 31 de Março de 1756, apresenta algumas peças desenhadas, nomeadamente 6 plantas

elaboradas por vários Engenheiros e Arquitectos.

A 16 de Abril de 1756, com base na planta número cinco (figura 25), executada por Eugénio

dos Santos, apresenta as medidas preventivas e soluções para resolver problemas

burocráticos.

55

Figura 25 – Planta nº5 de Eugénio dos Santos, sobreposta ao antigo traçado da cidade, GEO

A 12 de Maio de 1758 dá uma autorização para o início dos trabalhos de reconstrução e um

mês depois, 12 de Junho de 1758, apresenta soluções para resolver algumas situações

especiais.

A reconstrução da cidade foi planeada e executada de uma forma relativamente rápida e

expedita, só possível com uma capacidade técnica e administrativa eficaz, adaptada a um

planeamento urbanístico integrado, para o qual muito contribuiu o conhecimento multidisciplinar

de Manuel da Maia, Carlos Mardel e Eugénio dos Santos. Como exemplo desse conhecimento,

refiram-se os trabalhos explicativos das regras e definições para a reconstrução da cidade [28,

p.782]. Pode-se afirmar que foram definidas verdadeiras inovações ao nível das técnicas de

construção anti-sísmica, da segurança contra incêndios, da salubridade e higiene e do recurso

à pré-fabricação e standardização. Define-se assim uma nova e moderna atitude perante a

Engenharia. No que concerne às técnicas anti-sísmicas, destacando-se [36, p.71].:

O uso da gaiola Pombalina de uma forma sistemática;

O recurso a fundações com estacas de madeira;

56

A realização de ensaios para simulação de efeitos dinâmicos. Carlos Mardel, terá

realizado no Terreiro do Paço um ensaio sísmico da estrutura tipo gaiola, através da

colocação de um modelo sobre um estrado e sujeitando este à marcha

descompassada de um destacamento militar, simulando dessa forma um carregamento

dinâmico de contornos semelhantes ao produzido pela acção sísmica [43, p.57].

No que diz respeito à segurança contra incêndios a inovação passa pelo uso de paredes de

“quebra-fogo” que subindo as empenas de alvenaria entre edifícios um a dois metros tornaria

mais difícil a propagação do fogo de um para outro edifício. Por outro lado, a exigência de

colocar a “gaiola pombalina” no interior das paredes conferia alguma protecção ao fogo dos

elementos de madeira destes sistemas.

Relativamente às técnicas inovadoras de salubridade e segurança destaque-se a criação de

alfurges e esgotos; a limitação da altura dos edifícios à largura das ruas, a colocação das

chaminés do lado dos logradouros e a eliminação de pormenores decorativos nas fachadas,

entre outras. Como exemplo de standardização temos o uso do palmo (22,5 cm), como medida

unitária, muito utilizada na época.

O uso de componentes pré-fabricados foi uma realidade não só em alguns componentes de

fachadas como em interiores. Os trabalhos de pré-fabricação eram realizados por artificies em

oficinas da província que produziam principalmente cantarias, grades, azulejos, balaustradas,

portas e guarnições. Também estes artificies já tinham acumulado experiência aquando da

execução das grandes obras supra referenciadas.

F.L.P. de Sousa apresenta [28, p.782, 783] uma compilação de instruções para as construções

adoptadas após o terramoto, cuja transcrição se apresenta em seguida:

- O número máximo de pisos será de 3 com águas furtadas, o primeiro com janelas de sacada,

o segundo e terceiro e ainda águas furtadas com janelas de peito. Excepção a esta regra será

apenas a Praça do Rossio que alterna janelas de sacada com janelas de peito no primeiro

andar;

- Os tectos deverão ser de esteira e os vigamentos amarrados nos freixais e estes por sua vez

amarrados nos centros das paredes;

- As águas furtadas deverão ter trapeiras (janelas sobre telhados), para arejamento e

conservação das madeiras;

- As vigas dos pisos terão que ser de casquinha (0,13 x 0,18 m), em quadrado, assentes em

freixais de carvalho ou asinho de secção 0,15 x 0,10 m, pregados com pregos forjados de 0,20

a 0,30 m de comprimento e ligados às paredes por ferrolhos. O seu comprimento será de 2,0 m

nos cunhais e 0,80 a 1,0 m nos membros;

- As vigas dos telhados serão em castanho com 0,10 a 0,13 m de diâmetro e o guarda pó e ripa

será em casquinha;

- Todas as vigas serão colocadas em cavidades forradas de madeira para maior conservação.

57

- Os tabiques serão de casquinha, os prumos, travessanhos e escoras em carvalho, sobro ou

asinho;

- As gaiolas serão compostas por prumos com secção 0,15x0,13 m e travessanhos com

secção 0,10x0,13 m, em carvalho ou asinho. Os travessanhos serão ligados às paredes por

meio de “mãos de madeira” e os prumos ligados entre si pelos freixiais. Nos vãos, os prumos

serão ligados uns aos outros pelas vergas com os respectivos pendurais;

- Os alicerces serão assentes numa grade de troncos de pinho, ligada às estacas por meio de

pregos de 0,30 m;

- O pinho deverá ser empregado verde e toda a madeira não exposta ao ar, deverá apresentar-

se bem conservada.

Toda esta nova concepção na forma e modo de construir permitiu chegar àquilo que hoje

intitulamos os edifícios Pombalinos, que serão analisados de seguida no ponto 3.1.3. deste

documento.

58

3.1.3 – Os Edifícios Pombalinos

Lisboa pombalina nasceu dos esforços conjugados de três homens: Manuel da Maia, Carlos

Mardel e Eugénio dos Santos, coordenados pelo responsável politico Marques de Pombal, que

em conjunto desenvolveram uma concepção global do desenho da cidade, no qual os volumes

construídos, a definição de fachadas, as ruas, os quarteirões e os espaços estão directamente

associados a uma lógica que assenta no pressuposto de criação de cidade ideal. Desta forma

resulta a nova Lisboa, conforme nos diz França [43, p.96] “…, a primeira das cidades modernas

e a última das cidades antigas…”

A construção dos edifícios “pombalinos” assenta num novo conceito de edificação, ao qual

estão associadas novas regras de concepção, fabricação, segurança e salubridade, impondo-

se dessa forma um novo discurso estético na cidade de Lisboa, comummente designado por

estilo pombalino. No que respeita ao estilo dos prédios de rendimento este caracteriza-se por

um maneirismo em continuidade e deformação seiscentista, por outro lado o estilo associado

aos palácios contemporâneos designa-se por barroco romano discreto.

Pela análise simplista da edificação “pombalina” é-se tentado a afirmar a existência de grande

rigor na regularidade dos espaços, contudo após alguma análise constata-se que a forma do

lote, a organização espacial de cada andar e a própria solução estrutural construtiva

apresentam-se de forma bastante diversa. Este facto explica-se pela dilatação no tempo do

período de reconstrução e acima de tudo porque não existia um regulamento que define-se

com rigor as opções construtivas. Contudo, conseguem-se identificar elementos construtivos

constantes em todos os edifícios, nomeadamente as estruturas de frontal e as cantarias de

palmo de largura. Veja-se na figura seguinte um exemplo de um frontal.

Figura 26 – Estrutura de frontal tecido, João Appleton [39]

Para melhor se compreender a diversidade apresentada para algumas das soluções

arquitectónicas pombalinas, analise-se o que a seguir se expõe (esta informação foi recolhida

essencialmente na bibliografia referida em [32], [39]. e [44] respectivamente.

59

A solução estrutural típica dos primeiros pisos dos edifícios é identificada pela

existência de abóbadas suportadas por arcos e colunas, contudo existem numerosos

edifícios em que o primeiro sobrado é composto por vigamentos de madeira, solução

característica do período anterior ao terramoto de 1755.

A “gaiola” pombalina (“A “gaiola” define-se como uma estrutura de madeira que, pela

sua elasticidade, se adapta aos movimentos do solo sacudido por um sismo, resistindo

de pé e desprendendo-se das alvenarias que podem (ou não) cair, sem que o prédio

inteiro se desmorone” [43, p.56]) é comummente associada a uma malha ortogonal

interior, bi-direccional, de paredes de frontal tecido, contudo existem numerosos

exemplos em que esta malha é formada por frontais em alinhamentos paralelos às

fachadas. Veja-se na figura 27 uma maqueta em madeira da gaiola pombalina do

edifício sede do BCP na Baixa de Lisboa.

Figura 27 – A «gaiola pombalina» original, do edifício-sede do BCP na Baixa de Lisboa, Jornal Expresso

1998

Os tectos na grande maioria seguem a tradição antiga dos de madeira, os quais são

sobrepostos ou de camisa e saia, contudo existem exemplos em que estes são de

estuque decorados ou fasquiados.

O uso da azulejaria de padrão é recorrente em grande número de edifícios, contudo

para alguns edifícios não se constata este uso mas sim a utilização de painéis

figurativos.

60

Não obstante constatar-se a utilização de diferentes soluções para a mesma estrutura

funcional, pode-se tentar definir o edifício típico pombalino, pelo seguinte:

O edifício localiza-se sempre num quarteirão (unidade construtiva – a Baixa contabiliza

60) regular, salvo algumas excepções que englobam igrejas, delimitado por ruas

hierarquizadas que balizam alguns aspectos da própria construção. Cada quarteirão

tem em média 8 lotes e podem agrupar-se em dois tipos diferentes, os de habitação e

os “dos tribunais”, cada um destes com dimensões distintas. Cada quarteirão está

dotado de paredes principais de alvenaria de pedra (0,90 m a 1,1 m) ao longo do seu

contorno exterior e à volta do saguão central.

Têm logradouro e tardoz.

As fundações são assentes sobre aterros e escombros, compactados por fiadas de

estacas de pinho com cerca de um metro e meio de comprimento e quinze centímetros

de diâmetro, dispostas segundo duas linhas paralelas na direcção das paredes mestras

e unidas na parte superior por pequenos toros transversais e outros longitudinais a

estes, formando-se assim um denso engradado de madeira que serve de base às

paredes e colunas que se erguem para suportar os arcos e abóbadas que formam a

estrutura do primeiro piso elevado.

A construção do piso térreo pode ser feita com o recurso a paredes-mestras e pilares

ligados por arcos ou abóbadas. Estas são geralmente de alvenaria de tijolo maciço de

tipo baldoza (figura 28), e assumem a forma de abóbadas de aresta, com arcos de asa

de cesto: os arcos torais são igualmente de alvenaria de tijolo maciço mas com

intradorso de cantaria de Lioz.

Figura 28 – Edifício Pombalino, Jorge Mascarenhas [32]

61

O pé direito do primeiro andar e loja rondam os 3,5 m (16 palmos), os restantes são

acima dos 3,2 m.

No que se refere às paredes tem-se o seguinte:

As de empena são de alvenaria ordinária que se salientam do telhado para garantir

o efeito corta-fogo e são comuns com as dos edifícios adjacentes.

As de fachada são descontínuas, constituídas por um conjunto de nembos

interligados por lintéis correspondentes às cabeceiras e panos de peito dos vãos.

Do lado exterior os vão são rematados por cantarias.

As divisórias não têm continuidade nos pisos e são construídas com pranchas de

madeira travadas com uma travessa em diagonal.

As de frontal e de tabique nascem a partir de frechais do pavimento e no seu

conjunto, formam a compartimentação de cada fogo; esta estrutura é ainda

complementada por uma estrutura de madeira de geometria mais simples, formada

por prumos, travessas e pendurais (sobre janelas) que, através de mãos de

madeira, ficará depois “inserida” nas alvenarias das paredes exteriores e dos

saguões. Os frontais principais são paralelos às fachadas e recebem os

vigamentos de madeira que formam as estruturas dos pisos; dependendo da

profundidade do lote e da compartimentação definida, formam-se dois, três ou

quatro alinhamentos de paredes de frontal. Os frontais secundários, que não têm

função no suporte de cargas verticais, são perpendiculares às fachadas e

localizam-se no contorno da caixa de escadas e, pelo menos, em um alinhamento

interior correspondente à separação de fogos, desempenhando um papel

fundamental no desempenho sísmico da estrutura

O pavimento é geralmente assoalhado sobre as vigas de madeira que se apoiam nas

abóbadas e arcos, sendo formado por vigas de secção quase quadrada (0,14mx0,14m

a 0,16mx0,16m) paralelas entre si e afastadas do eixo de cerca de 0,30m a 0,45m.

Estas assentam sobre frechais das paredes de alvenaria e dos frontais, podendo ser

fixados às paredes exteriores através de gatos de ferro forjado.

As coberturas têm uma estrutura de madeira formada por toros ou barrotes apoiados

em prolongamentos das paredes de frontal e na periferia das paredes exteriores;

quando os frontais não atingem a cobertura a estrutura desta é baseada em falsas

asnas e vigas trianguladas que suportam madres, varas e ripados, com ou sem

guarda-pós. Estas são forradas por telhas de canudo e têm trapeiras para melhorar a

iluminação e o arejamento.

62

As escadas (figura 29), normalmente posicionadas ao eixo do edifício (de rendimento),

desenvolvem-se em dois ou três lanços de degraus, sendo estes dotados de três

pernas com características similares às vigas dos pisos, as quais se apoiam a cadeias

reforçadas apoiadas nas paredes laterais da caixa de escadas; a guarda da escada é

formada por frontais tecidos formando uma estrutura helicoidal de grande rigidez. Na

maioria dos edifícios, o primeiro lanço da escada de acesso aos pisos superiores é em

alvenaria, com degraus de pedra.

Figura 29 – Pormenor das escadas, João Appleton [39]

Nos edifícios de gaveto as vigas de pavimento são colocadas em duas direcções

ortogonais, garantindo dessa forma a sustentação dos pisos e o travamento sísmico.

Verifica-se que as estruturas nos edifícios de lote estreito são sismicamente

vulneráveis, porque é frequente a inexistência de frontais de travamento.

Em lotes largos, com dois fogos por piso e escada em posição central, a separação

entre fogos é habitualmente garantida por paredes de frontal, mesmo nas construções

menos cuidadas e tardias, por razões que não serão de ordem estrutural mas de

privacidade que os tabiques de tábua ao alto não podem assegurar.

Nestes edifícios em oposição à construção anterior ao sismo constata-se um aumento

na dimensão dos elementos de madeira e na substituição de madeiras moles por duras

para a execução dos frontais.

A alvenaria e a pedra são os materiais estruturais por excelência, contudo identifica-se

a utilização do ferro para ligação destes materiais e a utilização de areia para as

argamassas de assentamento.

63

A base da estrutura “pombalina” sobrevive ao passar dos tempos, identificando-se a utilização

de alguns pormenores construtivos tipicamente pombalinos ainda nas primeiras décadas do

século XX, como seja por exemplo o uso de paredes de frontal. Contudo é com o afastamento

de Marques de Pombal e com a nomeação de Frederico Rossano Garcia para engenheiro

chefe da Câmara Municipal de Lisboa que se redefine um novo ciclo na história arquitectónica

da cidade, contudo as edificações “pombalinas” construídas são o legado histórico e ao mesmo

tempo os indicadores de que Lisboa “pombalina” representa um marco na historia da

planificação das cidades.

64

3.1.4 – Novo Plano de Divisão Paroquial

Após o terramoto, desmoronaram-se muitas casas, confundindo-se os limites paroquiais,

tornando-se dessa forma imperioso dispor de um novo plano de distribuição e de delimitação

das freguesias, o qual, segundo diversa bibliografia, foi apresentado a 8 de Abril de 1770.

Neste plano é de salientar que todas as freguesias sofreram alterações aos limites que as

definiam até 1755, havendo mesmo seis freguesias que foram transladadas para locais muito

distantes do original, anexando território às freguesias lá existentes, nomeadamente:

Santo André, em 1770 voltou para perto do castelo de São Jorge, para o sítio de

Arroios, anexando território à freguesia dos Anjos e dos Santos, tendo regressado ao

seu local original em 1780;

São Bartolomeu, em 1770, passou para o convento de São Bento de Xabregas, no sítio

do Beato, anexando território à freguesia de Santa Engrácia e dos Olivais;

São Jorge, em 1770, passou temporariamente para o sítio das Olarias em 1770 e

definitivamente para o sítio de Arroios em 1780;

São Mamede, em 1770, passou para o Vale do Pereiro, para a ermida de Nossa

Senhora Mãi dos Homens, anexando território à freguesia de Santa Isabel e São

Sebastião da Pedreira;

São Pedro, em 1770, passou de Alfama para Alcântara, para a ermida da Caridade,

anexando território à freguesia da Ajuda;

São Salvador, passou temporariamente para o sítio do Senhor Jesus da Boa Morte em

1770, e regressou ao seu antigo local em 1780.

O plano de 1770 contempla também a formação de três novas freguesias:

Nossa Senhora da Lapa;

Santa Joana, depois Coração de Jesus;

23-B. Senhor Jesus da Boa Morte, que era intitulada como São Salvador.

Durante dez anos conservou-se esta distribuição paroquial com quarenta freguesias. A 19 de

Abril de 1780, por intermédio do alvará régio, foi feita uma nova delimitação das freguesias. O

número de freguesias manteve-se, mas foi alterada a dimensão dos respectivos distritos

territoriais, verificando-se que algumas freguesias transladaram mesmas para outros locais.

Refiram-se então as alterações mais profundas:

Senhor Jesus da Boa Morte extinguiu-se, permitindo que Santa Isabel e Nossa

Senhora da Lapa aumentassem o seu território;

Santa Joana passou a intitular-se Coração de Jesus (40);

Portanto, em resumo, diga-se que Lisboa à data do terramoto de 1755, era constituída por

trinta e sete freguesias. Após o plano de 1770, passou Lisboa a ter o seu concelho dividido em

65

quarenta freguesias. Número este que se manteve mesmo após a reestruturação efectuada em

Abril de 1780.

O padre João Baptista de Castro, fez um levantamento de todas as freguesias e concelhos de

Portugal em 1762, salientando-se neste trabalho a enumeração das freguesias para o concelho

de Lisboa, que à data o mesmo contabilizava 41 freguesias, das quais 2 não apresentavam

território privativo e por isso sem jurisdição (Patriarcal e Chagas de Jesus Cristo). Refira-se que

neste documento, Mappa de Portugal, a freguesia de Nossa Senhora da Ajuda já aparece

pertencendo ao distrito territorial de Lisboa, mas na verdade a sua junção jurídica só foi

realizada pela carta de lei de 18 de Julho de 1885 [31, p.49]. Veja-se na figura seguinte,

excerto do Mappa de Portugal, relativo à composição distrital do concelho de Lisboa em 1762.

Figura 30 – Mappa de Portugal, Padre João Baptista de Castro, 1762, GEO

66

3.2 – Sobreviventes e Vítimas Mortais do Terramoto de 1755

O grande terramoto que assolou sem pré-aviso a cidade de Lisboa, no primeiro dia de

Novembro de 1755, deixou Portugal e em particular a sua capital transformada em escombros,

com os seus edifícios e monumentos praticamente arruinados e ou queimados.

As descrições relativas ao número de vítimas são dramáticas, mas pouco concretas quanto ao

número efectivo de mortes, havendo inclusive freguesias que não se conhece a existência do

livro de registos de óbitos. Com base nos levantamentos da população posteriores ao

terramoto de 1755 e nas descrições de alguns autores, tentar-se-á concluir de um valor

verosímil para o total de vítimas mortais e para o total da população sobrevivente.

Para se estimar a totalidade da população, depois do grande terramoto, interessa em primeira

análise, conhecer o número total de vítimas mortais. Para este efeito, foi realizada pesquisa,

que indica os seguintes valores:

Testemunho britânico: 30 milhares de vítimas mortais [2, p.47];

The Gentleman‟s Magazine: 100 mil vítimas mortais [2, p.259];

M. T. Pedegache: defende que o número de mortos foi cerca de 10 por cento da

população [8, p.65];

Padres António Pereira e Manuel Portal: entre 12 a 15 mil mortos [8, p.65];

Sr. J. Bristow Jr. Defende: 22 mil mortos encontrados e sepultados e 50 mil mortos no

cômputo total [2, p.121];

Núncio apostólico: 40 mil mortos [7, p.37];

Moreira de Mendonça: 10 mil mortos, ou seja cerca de 4 por cento da população (250

000 habitantes) [8, p.66];

Durval Pires de Lima: 30 mil mortos [19, p.45];

Jorge Paulino Pereira, refere no seu trabalho sobre o Terramoto de 1755 que morreram

em média cerca de 10 500 pessoas, face ao intervalo provável de mortes, que segundo

o autor, seria de 8 000 a 13 000 [24, p.31];

Padre Manuel Portal: entre 12 000 a 15 000 mortos [28, p.695].

67

Com o intuito de perceber em que freguesias padeceram o maior número de pessoas, ir-se-á

apresentar seguidamente um levantamento por freguesia, do número total de fregueses e de

vítimas mortais.

Freguesia de Santo André

- O prior da paróquia de Santo André, Francisco Luís Henriques Borges, relata que na igreja,

não houve morte alguma e que esta freguesia tinha, no ano de 1758, 663 pessoas [20, p.71];

- Francisco Santana, contabiliza 1 042 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.131];

- Segundo o padre Manuel Portal, pela ruína do convento de Nossa Senhora da Graça, ficaram

soterradas muitas pessoas, entre as quais, 5 religiosos [28, p.658];

- Pelo livro de registo de óbitos contam-se 11 pessoas [28, p.694];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 37 óbitos, dos quais 8 menores [38].

Freguesia dos Anjos

- O reitor da freguesia dos Anjos, na sua resposta aos inquéritos, afirma que no ano de 1758,

residiam na paróquia 9 500 pessoas [20, p.76];

- Francisco Santana, contabiliza 7 673 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.131];

- F.L.P. Sousa, cita o padre Manuel Portal, descrevendo que nas ruínas da igreja do convento

de Nossa Senhora da Graça, padeceram mais de 400 pessoas [28, p.662];

- O livro, do registo de óbitos, indica 16 pessoas [28, p.694].

Freguesia de Santa Catarina

- Segundo António Carlos de Oliveira, esta freguesia no ano de 1758, tinha 8 350 pessoas [20,

p.81];

- F.L.P. Sousa, apresenta a tabela de Bautista de Castro, na qual se indicam 8 020 almas no

ano de 1758 [28, p.523];

- Francisco Santana, contabiliza 6 974 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.134];

- F.L.P. Sousa, cita o padre Manuel Portal, que diz o seguinte: “O palácio do conde de São

Lourenço onde morava o Núncio se arruinou e elle escapou milagrosamente mas não

escaparão quatro creados, que morrerão nas ruínas.”. “O palácio dos Srs. Das Alcáçovas veyo

a terra sepultando debayxo de si muitas pessoas.” [28, p.670].

- O livro, de registo de óbitos, desta freguesia contabiliza 38 pessoas [28, p.666].

68

Freguesia de São Cristóvão

- Ferreira de Andrade e o livro de óbitos da freguesia referem 11 mortos, dos quais apenas 5

sucumbiram dentro da área da freguesia, pois os restantes tiveram a morte nas ruínas da Igreja

da Graça. No ano de 1756, constavam 834 habitantes nesta freguesia [12, p.17];

- O prior desta freguesia, no inquérito entregue, contabilizou 134 habitantes logo após o

desastre, assumindo que mais de metade da população fugiu para outras freguesias [20, p.89];

- Francisco Santana, contabiliza 1 087 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.133];

- O livro, de registo de óbitos desta freguesia, contabiliza 11 pessoas [28, p.694];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 58 óbitos, dos quais 11 menores [38].

Freguesia de Nossa Senhora da Conceição

- Luís Pereira de Sousa, após o terramoto, contabiliza 438 pessoas na freguesia [22, p.522-

529];

- Francisco Santana, contabiliza 1 729 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.134];

- Na derrocada da igreja padeceram 76 pessoas. [28, p.564];

- O livro, de registo de óbitos desta freguesia, contabiliza 2 pessoas [28, p.565].

Freguesia de Santa Engrácia

- O prior, Luiz da Costa de Barbuda, assume que na sua paróquia residem 6 362 pessoa no

ano de 1758 [20, p.102];

- Francisco Santana, contabiliza 7 102 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.136];

- F.L.P. Sousa cita Mappa de Portugal, que relata o seguinte acerca do Convento de Santa

Clara: ”O seu famoso templo que era um monte de ouro, …, ficou totalmente prostrado, …,

sepultando mais de quatrocentas pessoas, …. O coro de cima, …, também se abateu e serviu

de sepultura com suas ruínas a quasi todas as religiosas que foram cincoenta e seis, alem de

oito educandas uma noviça, quatorze recolhidas, quarenta e três criadas e nove escravas, que

por todas fazem cento e trinta e uma pessoas dentro do mosteiro, que pereceram nesta trágica

fatalidade.” [28, p.706];

- O livro, de registo de óbitos, desta freguesia indica 40 pessoas falecidas pelo terramoto de

1755 [28 p.702, 703].

69

Freguesia de Santo Estêvão

- O prior, Luiz António Franco, contabilizou 3 724 pessoas na sua paróquia em 1759 [20,

p.121];

- Francisco Santana, contabiliza 2 987 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.137];

- F.L.P. Sousa, cita o padre Manuel Portal, que descreve o seguinte: “A freguesia de S.

Estêvão de Alfama….Morreram nellas algumas pessoas”. “A Ermida de Nossa Senhora dos

Remédios ficou reduzida a hum monte de pedras sepultada a milagrosa Imagem e as pessoas

que erão muitas que estavão na igreja.” [28, p.713];

- O livro, de registo de óbitos da paróquia, indica 34 falecidos pelo dia 1 de Novembro de 1755

[28, p.711, 712];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 132 óbitos, dos quais 3 menores [38].

Freguesia de São João da Praça

- O prior, António Faustino da Gama, contabilizou 50 pessoas na sua paróquia, no ano de 1759

[20, p.123];

- Francisco Santana, contabiliza 1 580 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.137];

- O livro de registo de óbitos regista apenas 2 mortes devido ao terramoto e incêndio [28

p.573];

Freguesia de São Jorge

- O prior, José Lino de Azevedo, contabilizou 376 pessoas na sua paróquia, no ano de 1758

[20, p.126];

- Francisco Santana, contabiliza 1 795 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.138];

- O livro, de registo de óbitos, regista apenas 6 mortes devidas ao terramoto [28, p.648];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 10 óbitos, dos quais 5 menores [38].

Freguesia de São José

- O vigário, Thomaz Roiz de Aguiar, contabilizou na sua paróquia, no ano de 1758, 6 000

fregueses [20, p.131];

- Francisco Santana, contabiliza 5 756 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.139];

- F.L.P. Sousa, cita Bautista de Castro, que se refere ao convento de Nossa Senhora da

Anunciada da seguinte forma: “Com o terramoto se arruinou bastante…e perecendo neste

estrago dez religiosas.” [28, p.731].

70

- O livro, de óbitos desta freguesia, indica 44 pessoas falecidas nesta freguesia, embora

algumas não lhe pertencessem [28, p.730].

Freguesia de Santa Justa

- O prior, Alexandre Ferreira Freire, contabilizou na sua paróquia, no ano de 1759, 3 523

pessoas [20, p.133];

- Francisco Santana, contabiliza 3 460 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.139];

- Segundo o registo paroquial dos óbitos, padeceram nesta freguesia 94 pessoas, devido ao

terramoto e incêndio [28 p.578];

- F.L.P. Sousa, cita o padre Manuel Portal, o qual indica 10 vítimas mortais devidas ao

incêndio da Ermida do Amparo e mais 400 mortes de hospitalizados, devidas às chamas que

devoraram o hospital Real [28, p.584];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 274 óbitos, dos quais 54 menores [38].

Freguesia de Santa Isabel

- O reitor, Felixberto Leitão de Carvalho, contabiliza 2 415 vizinhos na sua paróquia, no ano de

1757 [20, p.139];

- Francisco Santana, contabiliza 8 764 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.140];

- O livro, de óbitos desta freguesia indica somente uma pessoa falecida no dia da catástrofe

[28, p.714];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 268 óbitos [38].

Freguesia de São Lourenço

-O prior, Bernardo de Bulhõens de Araújo, contabiliza para a sua paróquia, no ano de 1760,

749 pessoas [20, p.145];

- Francisco Santana, contabiliza 1 996 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.142];

- F.L.P. Sousa, apresenta tabela de Bautista de Castro, que indica 483 almas no ano de 1758

[28, p.523];

- O livro de registo de óbitos desta freguesia contabiliza 7 pessoas [28, p.673];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 23 óbitos, dos quais 2 menores [38].

71

Freguesia de São Mamede

- O reverendo, António Ferreira de Mattos, assume que no ano de 1759, existem 207 fregueses

na sua freguesia [20, p.149];

- Francisco Santana, contabiliza 3 786 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.146];

- Francisco Luís Pereira de Sousa, cita o padre Manuel Portal, que indica 40 vítimas mortais,

pela derrocada e incêndio da igreja paroquial de São Mamede [28, p.589];

- O livro, de registo dos óbitos, enumera 4 mortes devidas ao cataclismo [28, p.588].

Freguesia de Santa Maria Madalena

- O padre, da paróquia de Santa Maria Madalena, José de Azevedo Álvaro, relata no seu

inquérito, 137 vítimas mortais. Tendo ficado estas sepultadas nas ruínas da freguesia [20,

p.163];

- Luís de Macedo enumera 140 vítimas mortais, devidas ao terramoto e incêndio [10, p.9-15];

- Francisco Santana, contabiliza 1 613 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.143];

- O livro de registo dos óbitos desta freguesia refere 137 mortes devidas ao terramoto e

incêndio [28 p.597, 598, 599, 600 e 601].

Freguesia de Santa Maria Maior – Sé

- Francisco Santana, contabiliza 1 720 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.143];

- F.L.P. Sousa, cita vários autores, que descrevem várias mortes pela derrocada de alguns

edifícios, leia-se: “Na Igreja paroquial da Sé, 5 nomes em concreto e mais alguns meninos do

coro; na igreja de Nossa Senhora da Misericórdia, algumas mortes pela queda da abobada; no

palácio do tesouro, várias mortes, pelas derrocadas do tremor de terra [28 p.591,594 e 696]”;

- O livro de registo dos óbitos desta freguesia refere apenas 4 mortes devidas ao terramoto e

incêndio, contudo Luís Pereira de Sousa escreve: “…de 4 255 pessoas maiores de 7 anos

passaram a 730 pessoas.” [28 p.590];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 80 óbitos, dos quais 22 menores [38];

Freguesia de Santa Marinha

- O pároco, João da Costa Coutinho, indica que a freguesia em 1758, tinha 810 pessoas [20,

p.167];

- Francisco Santana, contabiliza 978 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.147];

- O livro, de registo de óbitos, da paróquia indica 16 pessoas [28 p.733];

72

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 39 óbitos, dos quais 8 menores [38].

Freguesia de São Martinho

- O prior da paróquia, Rodrigo José Dourado de Maris Sarmento, menciona 210 pessoas de

confissão residentes na sua freguesia em 1758 e descreve 30 mortes causadas pelo terramoto

[20, p.179];

- Francisco Santana, contabiliza 338 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.144];

- F.L.P. Sousa, transcreve Batista de Castro: “Nesta ruína faleceram à porta da igreja sete

pessoas…” [28 p. 675];

- O livro de registo de óbitos desta freguesia contabiliza 3 pessoas [28, p.694];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 48 óbitos, dos quais 1 menor [38].

Freguesia Nossa Senhora dos Mártires

- O cura, Manuel Roiz Leytão, enumera 46 pessoas residentes na paróquia, no ano de 1758

[20, p.185].

- Francisco Santana, contabiliza 1 708 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.145].

- Segundo o padre Manuel Portal, padeceram na derrocada no convento de São Francisco 21

religiosos e várias outras pessoas na derrocada do frontispício da igreja. Bautista de Castro

afirma que morreram 12 religiosos e quase 600 pessoas pela tragédia no convento de São

Francisco. Também na derrocada do palácio do Marques de Távora e do palácio do Conde de

Vimieiro, são referidas vítimas mortais, mas não quantificadas [28, p.528, 608 e 610].

Freguesia de Nossa Senhora das Mercês

- O cura, Joachim Ribeiro de Carvalho, enumera 3400 pessoas de comunhão, 83 pessoas

eclesiásticas e 107 menores, na sua paróquia, donde se afere o número total de habitantes, em

1758, de 3 590 pessoas. [20, p.201];

- Francisco Santana, contabiliza 5 475 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.145];

- F.L.P. Sousa, cita o padre Manuel Portal e Bautista de Castro que referem o seguinte:”No

convento das Religiosas de Santa Thereza…morrerão cinco pessoas…” “ Padeceram também

considerável ruína mais de setenta propriedades de casas dentro dos limites d‟esta paroquia,

…, em cuja destruição perderam a vida mais de 90 pessoas.” [28, p. 676 e 677];

- O livro de óbitos da paróquia, regista 9 pessoas [28 p.677];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 183 óbitos, dos quais 34 menores [38].

73

Freguesia de São Miguel

- O prior, Joaquim Manoel de Carvalho, refere no seu interrogatório, que a sua paróquia em

1758, tinha 2 300 fregueses [20, p.203];

- Francisco Santana, contabiliza 2 480 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.147];

- Não existem registos de vítimas mortais nesta paróquia pelo dia do terramoto [28, p.680];

Freguesia de São Nicolau

- O prior, Luís Monteiro, informa que em 1757 existiam na sua freguesia 1534 paroquianos [20,

p.209];

- Francisco Santana, contabiliza 2 053 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.148];

- Francisco Luís Pereira de Sousa, apresenta uma citação indicada no Mappa de Portugal onde

se refere: ”…morreram nesta tragédia dentro dos limites desta paroquia perto de 4 000

pessoas. Ficando desta sorte a freguesia arruinada, deserta e inabitável, …” [28, p.611];

- No livro de óbitos vêem registados 11 mortos.

Freguesia de São Paulo

O vigário, Francisco Xavier Baptista, contabiliza na sua paróquia, que sofreu grande

devastação pelo terramoto e subsequente incêndio, 1200 pessoas à data de 1759 [20, p.217];

- Francisco Santana, contabiliza 3 585 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.148];

- O padre Manuel Portal, citado por F.L.P. Sousa, descreve a morte de cerca de 300 pessoas

que ficaram sepultadas nas ruínas da freguesia [28 p.628];

- F.L.P. Sousa, cita Mappa de Portugal, que indica a morte de mais de 700 pessoas pela ruína

da igreja [28 p.628];

- O livro dos óbitos da freguesia regista 13 mortos pelo terramoto [28 p.627].

Freguesia do Santíssimo Sacramento

- O reitor, António da Costa Neves, relata 204 mortos devidos ao terramoto e subsequente

incêndio. Informa também, que na sua freguesia no ano de 1759, existiam 1 097 pessoas [20,

p.239];

- Francisco Santana, contabiliza 2 655 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.151];

- Bautista de Castro refere que ficaram sepultados nos escombros da igreja paroquial 75

pessoas e 15 religiosos na derrocada do convento do Santíssimo Sacramento. Também no

74

convento do Carmo, afirma terem morrido muitas pessoas, das quais 14 religiosos [28, p.632 e

641];

- F.L.P. Sousa, cita Visconde Castilho, que descreve o seguinte: das 400 pessoas que

assistiam às celebrações do dia de Todos os Santos, no convento da Santíssima Trindade,

poucos escaparam [28, p.642].

Freguesia de São Salvador

- O vigário, Joaquim Ferreira de Veras, contabiliza para o ano de 1758, 800 e tantas pessoas

na sua paróquia [20, p.241];

- Francisco Santana, contabiliza 736 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.150];

- F.L.P. Sousa, cita o padre Manuel Portal, que indica a morte de 14 religiosas pela queda da

igreja paroquial [28, p.686];

- O livro de registos de óbitos, indica 7 mortos devido ao terramoto de 1755 [28, p. 685];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 20 óbitos [38].

Freguesia de Santos-o-Velho

- O prior, Gonçalo Nobre da Silveira, contabiliza na sua paróquia, no ano de 1758, 8 403

pessoas de confissão e mais 700 entre hereges e menores, perfazendo um total de 9 103

pessoas na freguesia [20, p.243];

- Francisco Santana, contabiliza 7 500 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.143];

- O livro, de registos de óbitos, indica 22 mortos pelo terramoto de 1755 [28 p. 735].

Freguesia de São Sebastião da Pedreira

- O pároco urbano, Joze de Melo Pinto da Sylva, contabiliza para a sua freguesia, no ano de

1760, 3 425 pessoas, mais informa, que destas pessoas, 105 são provenientes de outras

freguesias [20, p.261];

- Francisco Santana, contabiliza 3 053 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.152];

- O livro de registo dos óbitos desta freguesia refere que 35 pessoas faleceram no fatídico 1 de

Novembro de 1755, embora todos estes óbitos tenham ocorrido fora da freguesia, isso é, as

pessoas não se encontravam na freguesia no momento do terramoto. Manuel Portal, está de

acordo com o registo de óbitos, quando afirma que na freguesia não padeceu alma nenhuma,

contudo o resisto das memórias paroquias é diferente, pois descreve que na derrocada das 9

moradas de casas faleceram algumas pessoas [28, p.750 e 751];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 102 óbitos, dos quais 27 menores [38].

75

Freguesia de Nossa Senhora do Socorro

- O vigário, Manuel Curado Diniz, contabiliza no ano de 1759, 3 330 pessoas, na sua freguesia

[20, p.267];

- Francisco Santana, contabiliza 4 829 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.152];

- F.L.P. Sousa, cita Bautista de Castro, que indica a morte de 3 religiosos na ruína do colégio

de Santo Antão [28, p.687];

- O livro, de registo dos óbitos da freguesia, indica 25 pessoas falecidas pelo dia 1 de

Novembro de 1755 [28, p.687].

Freguesia de São Tiago

O prior, Francisco delgado, contabilizou nesta freguesia 240 pessoas, no ano de 1758 [20,

p.269];

- Francisco Santana, contabiliza 662 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.153];

- F.L.P. Sousa cita o padre Manuel Portal que descreve o seguinte:”Cahio a Cappella mor e

parte da igreja e a outra ficou muito arruinada com a morte de varias pessoas, …” [28, p.753];

- O livro de registo de óbitos indica 5 mortes devidas ao terramoto de 1755 [28, p.752];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 14 óbitos, dos quais 3 menores [38].

Freguesia de São Tomé

- O prior, Joseph Caldeira, contabilizou no ano de 1758, 1 019 pessoas na sua freguesia [20,

p.272];

- Francisco Santana, contabiliza 1 058 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.154];

- O livro de registo de óbitos indica 38 pessoas falecidas pelo terramoto de 1755 [28, p.758];

- Batista de Castro afirma que morreram 39 fregueses, ainda que as mortes tenham ocorrido

fora da sua paróquia [28, p.755].

Freguesia de São Vicente de Fora

- O padre-cura, Francisco Joze de Mattos, em 1759, contabiliza na sua paróquia, 2 485

pessoas [20, p.275];

- Francisco Santana, contabiliza 2 120 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.154];

- F.L.P. Sousa, cita o padre Manuel Portal, que indica a morte de 10 religiosas pela ruína do

convento de Santa Mónica [28, p.691]. O mesmo autor cita também Bautista de Castro que

narra o seguinte: “…; porém na freguesia morreram mais de cicoenta e sete…” [28, p.690];

76

- O livro de registo de óbitos desta paróquia, contabiliza 12 pessoas falecidas pelo infortúnio do

dia 1 de Novembro de 1755 [28, p.690];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 78 óbitos, dos quais 9 menores [38].

Freguesia do Castelo

- Francisco Santana, contabiliza 1 098 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.135];

- O livro de registo de óbitos desta paróquia contabiliza 54 pessoas falecidas devido à tragédia

do dia 1 de Novembro de 1755 [28, p.566 e 567];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 95 óbitos, dos quais 20 menores [38].

Freguesia de São Julião

- Francisco Santana, contabiliza 3 374 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.131];

- F.L.P. Sousa, apresenta a tabela de Bautista de Castro, que indica para o ano de 1758, 1 719

pessoas residentes na freguesia [28, p.522];

- Não existe para esta freguesia o livro de registo de óbitos, nem tão pouco a memória

paroquial, contudo, F.L.P. Sousa cita Mappa de Portugal e Padre Manuel Portal, que

descrevem o seguinte: “Acontecendo em o primeiro de Novembro o trágico infortúnio do

terramoto, se arruinou a igreja e veio toda ao chão, perecendo em suas ruínas algumas

pessoas e entre elas alguns ministros eclesiásticos da mesma igreja…”. “…, que a gente que

era muita hia fugindo cahio a igreja, e no adro cahirão as cazas sepultando quasi toda a gente,

e a capella cahio ao mesmo tempo sobre o dito xafariz sotterrando o Sacerdote, com os mais ,

que estavão assistindo ao Santo sacrifício…”. [28, p. 575 e 576].

Freguesia de São Pedro de Alfama

- Francisco Santana, contabiliza 4 769 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.149];

- F.L.P. Sousa, cita Bautista de Castro, que refere o seguinte: “…Experimentou com o soberbo

terramoto esta igreja a sua total ruína, …, em cujo estrago morreram mais de 100 pessoas…”

[28, p.681];

- O livro de óbitos desta freguesia contabiliza 95 vítimas mortais do terramoto de 1755 [28,

p.681];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 130 óbitos, dos quais 21 menores [38].

77

Freguesia de São Bartolomeu

- Francisco Santana, contabiliza 1 500 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.132].

- F.L.P. Sousa, cita Mappa de Portugal, que descreve 45 vítimas mortais, em consequência do

incêndio e mais de 90 pessoas pela ruína do Hospital de São Paulo [28, p.562-563].

Relativamente aos dados sobre esta freguesia, aparece também citado o padre Manuel Portal,

que descreve a morte de muitas pessoas e 7 padres pela ruína da igreja do convento de Santo

Eloy [28, p.645].

Freguesia das Chagas de Jesus Cristo

- Segundo Francisco Luís Pereira de Sousa, que cita Mappa de Portugal, p.146, perderam a

vida 4 pessoas pelo incêndio da igreja das Chagas de Jesus Cristo [28, p. 563];

- O padre Manuel Portal, assume que na derrocada do tecto da igreja padeceram muitas

pessoas [28, p. 646].

Freguesia de Nossa Senhora da Encarnação

- Francisco Santana, contabiliza 6 860 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.135];

- F.L.P. Sousa, reproduz a citação de Bautista de Castro e de Visconde de Castilho: “a

destruição do seu coro e a ruína de duas pirâmides da torre que, desabando sobre o adro,

tiraram a vida a uma mulher e a dois padres da mesma igreja, …” [28, p.569]). “a igreja dos

religiosos capuchos … matou um religioso leigo. De seculares morreram muitos, especialmente

mulheres …” [28 p.570];

- O livro de registos de óbitos acusa 11 óbitos, contudo F.L.P. Sousa assume que devem ter

sido mais. [28 p.569];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 49 óbitos quais 1 menor [38].

Freguesia de Nossa Senhora da Pena

- Francisco Santana, contabiliza 5 000 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.149];

- F.L.P. Sousa, cita Bautista de Castro, que indica 11 mortes pela queda da abobada do corpo

da igreja do convento de Santo António dos Capuchos. Também citado, foi o padre Manuel

Portal, que indicou a morte de 5 religiosas na ruína do convento de Santa Ana [28, p.683 e

684];

- O livro de registo de óbitos desta freguesia indica que 50 pessoas perderam a vida devido ao

terramoto [28, p.694];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 175 óbitos, dos quais 35 menores [38].

78

Freguesia de Nossa Senhora da Ajuda

- Francisco Santana, contabiliza 7 843 pessoas para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.130];

- F.L.P. Sousa, cita o padre Manuel Portal, que refere o seguinte: “O convento das religiosas do

Calvário veyo a terra morrendo vinte, e duas Religiosas, e ficando sepultadas varias pessoas.”

[28, p.700];

- O livro dos óbitos desta freguesia contabiliza 8 mortes pelo dia 1 de Novembro, assumindo

que algumas destas foram devidas ao maremoto [28 p.699];

- Ana Maria Temudo Barata, contabiliza 212 óbitos, dos quais 4 menores [38].

Constata-se que as descrições apresentadas são muito díspares no que concerne ao número

de vítimas, tornando-se difícil estimar com rigor a verdadeira dimensão do número de perdas

humanas. Acresce que em certas freguesias não foi mesmo possível obter qualquer valor

quantitativo de vítimas mortais. Sendo assim, numa primeira análise efectuada sobre os dados

apresentados, admitiu-se que o número de mortos em cada uma das freguesias era

representado pelas estimativas mais pessimistas apresentadas pelos autores consultados.

Trata-se de um critério que à luz da informação existente, permite definir um limite superior do

número de mortos na cidade de Lisboa devido ao sismo de 1755.

Definido o critério e tendo em conta o descritivo apresentado, podem-se contabilizar 9 771

pessoas mortas pelo terramoto com maremoto e subsequente incêndio, sendo que 443 vítimas

mortais se reportam a representantes religiosos.

A análise dos relatos históricos anteriormente referidos, permite ainda determinar um valor

mínimo provável de vítimas, o qual se cifraria nas 857 perdas humanas. Este valor advém

principalmente do número mortos mencionado nos “livros de óbitos”, sempre muito inferior ao

descrito pelos outros autores estudados. De resto, o valor apresentado parece muito

desajustado à dimensão da catástrofe, sendo apenas útil para comparar com outros estudos a

seguir mencionados.

Na tentativa de confrontar os limites acima indicados (857 e 9 771) com outras fontes, atente-

se na estimativa levada a efeito por F.L.P. Sousa, que multiplicou as freguesias queimadas (15

freguesias) por 204, valor correspondente ao número de vítimas mortais da freguesia do

Santíssimo Sacramento (freguesia ardida, que segundo o autor teve o maior número de vítimas

mortais), obtendo-se assim o valor de 3 060 pessoas mortas nas freguesias ardidas. Trata-se

um valor relativo apenas a 15 freguesias, mas como ordem de grandeza poderá ser

extrapolável para as restantes 22 freguesias. Assim, admitindo que em qualquer das freguesias

não consideradas o número de mortos foi idêntico ao que se verificou na freguesia do

Santíssimo Sacramento, a extrapolação do número de vítimas acima referido (3 060) para

todas as freguesias indica um total de 7 548 vítimas mortais. Trata-se de um valor muito

discutível, importante só para definir uma ordem de grandeza. Na verdade não é certo que em

79

qualquer das freguesias não consumidas pelo fogo o número de mortos seja inferior ao

verificado na freguesia do Santíssimo Sacramento. De facto, há freguesias muito mais

populosas do que a freguesia do Santíssimo Sacramento, onde só o efeito do sismo poderá ter

provocado um número muito maior de mortos do que o verificado nas freguesias consumidas

pelo fogo, em particular, na freguesia que serviu de base ao estudo (Santíssimo Sacramento).

Assim, o valor acima referido de 7 548 vítimas mortais é uma referência, que de qualquer modo

não se afasta sobremaneira do valor anteriormente apresentado para o número total de perdas

humanas (9 771 mortos).

O estudo de F.L.P. Sousa que se acaba de referir, permite também definir um valor provável do

número mínimo de vítimas que terá ocorrido. Assim, atendendo a que a análise apresentada se

refere a 15 freguesias, parece perfeitamente aceitável que no mínimo tenham padecido 3 060

pessoas no terramoto. Em primeira análise poderá pensar-se muito redutor assumir um valor

mínimo de 3 060 vítimas mortais, porquanto tal corresponderia aparentemente a considerar

nulas as perdas humanas nas restantes freguesias, porém, deve atender-se que a estimativa

associada a 3 060 mortes, parte de um valor máximo, ou seja, 3 060 é um valor majorativo do

número de mortes nas freguesias ardidas, pelo que, na realidade o valor efectivo poderá ser

menor. Ao admitir-se como mínimo provável um valor de vítimas de 3 060, está-se a considerar

que o erro por excesso que se está cometer na análise do número de vítimas das 15 freguesias

ardidas é sensivelmente o número mínimo de mortos que terá ocorrido nas restantes 22

freguesias não analisadas. Trata-se de um raciocínio que nos parece conservador e portanto o

limite mínimo apresentado (3 060 Vítimas) tem inerente alguma garantia de que de facto não

foi menor.

Um outro autor, Moreira de Mendonça, citado por vários autores [24] [28], refere cerca de 5 000

vítimas mortais no imediato ao terramoto e cerca de 10 000 após todas as consequências da

catástrofe.

Pegando no valor estimado por Moreira de Mendonça (10 000 vítimas mortais) e comparando-o

com as restantes análises, conclui-se que:

A análise dos relatos históricos efectuada sob a perspectiva mais desfavorável, fornece

um valor de vítimas mortais (9 771) muito semelhante ao de Moreira de Mendonça.

A extrapolação efectuada sobre a análise das vítimas levada a cabo por F.L.P. Sousa,

fornece valores mais contidos do número de mortos (7 548 mortos), ainda assim da

mesma ordem de grandeza das restantes análises;

Relativamente ao valor mínimo, parece ser deveras irrealista o valor fornecido pela

análise dos relatos históricos, dada a dimensão da catástrofe. Já o valor apresentado

por F.L.P. Sousa, conforme se referiu, tem alguma credibilidade, embora, na nossa

80

opinião esse valor até esteja algo por defeito, em face da forma conservativa como foi

obtido.

Face ao exposto, pode-se referir como intervalo provável do número de mortos devido ao

sismo de 1755 valores entre 3 100 e 10 000 mortos.

Trata-se de um intervalo amplo, mas como se disse anteriormente com um limite inferior

claramente a tender para mais. Por outro lado, o limite superior tenderá a cair um pouco. De

facto, segundo os dados históricos, tal limite só é alcançado considerando as piores descrições

de cada uma das freguesias.

Face ao exposto, parece-nos razoável considerar que o número total de mortos devido ao

terramoto de 1755, se tenha cifrado numa ordem de grandeza correspondente ao valor médio

do intervalo acima indicado, isto é, terão morrido cerca de 6 550 pessoas.

Assumindo que imediatamente antes do terramoto, a cidade de Lisboa ostentava uma

população total entre 150 000 a 175 000 pessoas e que o número de vítimas é representado

pelo intervalo de valores que vai de 3 100 a 10 000, conclui-se que o número de sobreviventes

da catástrofe se encaixa no intervalo que vai de 146 900 a 165 000 pessoas. Assim e de uma

forma simplista, pode-se concluir que o número de sobreviventes da catástrofe ronda os 155

950 habitantes, acrescente-se que este valor representa uma média aritmética do intervalo

acima referido.

81

3.3 – O Movimento das Populações Após o Terramoto

O terramoto destruiu e tornou inabitável algumas freguesias e é neste contexto que se alvitra

perceber qual foi o movimento das populações, e dessa forma entender onde, em que

condições e de que forma se instalavam estas mesmas pessoas. O desenvolvimento deste

subcapítulo tem como base a bibliografia apresentada com os números 13, 20, 28 e 38.

Passados que foram 3 dias do grande terramoto que assolou a capital, a população tomou-se

de algum ânimo e alento, para procurar entre as ruínas e as cinzas das suas casas, algo que

permitisse remediar de alguma maneira as suas necessidades e carências. Contudo, muitos

foram aqueles que nada encontraram. Para estes, a primeira prioridade foi improvisarem algo

que lhes servisse de abrigo. Assim, dispersas por toda a capital, foram improvisadas barracas,

na sua maioria sem o mínimo de conforto, sendo que muitas eram feitas unicamente com

panos e esteiras. Os fidalgos que se viram sem os seus palácios, como por exemplo a Senhora

Marquesa de Tancos e os Senhores Marqueses de Niza, instalaram-se provisoriamente em

barracas de lona, porque no imediato à catástrofe havia carência de materiais de construção,

no entanto, prontamente se tomaram providências para a construção de acomodações de

madeira, com vidraças e telhas. De todas as acomodações, destaca-se a barraca apalaçada do

Rei e seus familiares, que era de madeira e contava no seu interior cerca de 400 divisões. O

seu comprimento era tal, que permitia contar 25 janelas em cada um dos lados.

A população oriunda de várias freguesias do concelho de Lisboa que se viu privada da sua

casa por estar arruinada ou ardida, procurou um local seguro para montar a sua tenda.

Seguidamente apresentam-se exemplos daquelas que viram os seus fregueses diminuir:

São Cristóvão, em que mais de metade da sua população fugiu para outros locais;

São Nicolau que ficou quase deserta e inabitável com apenas algumas barracas;

Nossa Senhora da Encarnação, em que mais de 1 000 fregueses fugiram;

São Bartolomeu, em que a maior parte dos seus fregueses fugiram;

Santos, Santíssimo Sacramento; São Julião, Madalena; Santa Justa; São Mamede;

Socorro, São Tomé; São Miguel de Alfama; Santa Engrácia; Santa Marinha; Mercês,

São Paulo; Mártires, Nossa Senhora da Conceição, Santa Catarina, em que mais de 1

000 fregueses procuraram outra paróquia;

São José; Santa Maria Maior; Nossa Senhora da Pena, São João da Praça; Santo

Estêvão; Santo André; Salvadora e São Tiago viram-se diminuídas de fregueses, mas

não quantificados em número pela bibliografia apresentada

A população que fugia, distribuiu-se um pouco por toda a cidade, sendo que os locais

preferências para a colocação das barracas foram:

82

Santa Isabel, que teve um aumento populacional superior a 9 000 pessoas em apenas

4 anos, instalando-se estas em 5 249 barracas;

Santa Marinha, com a colocação de 34 barracas;

São Mamede, com 207 pessoas instaladas em barracas;

Santíssimo Sacramento com a instalação de 180 barracas;

Campo Grande e Ajuda, sendo que nesta última se fixou o Rei e a sua família, numa

barraca por um período aproximado de 9 meses;

Graça, com instalação de 100 barracas,

Anjos, onde se montaram vários abarracamentos fabricados de madeira, tabique e

outros até de pedra e cal;

São Vicente, com 200 barracas aproximadamente;

Campo de Santa Clara, Cardal da Graça, Quinta do Alcaide e Cruz dos Quatro

Caminhos, que albergaram a quase a totalidade dos fregueses de São Bartolomeu.

F.L.P. Sousa, cita Manuel Portal que refere o seguinte: “ As principaes partes, que escolherão,

foy o Rato, Campo de Ourique, Terreyro do Paço, Ribeyra, huns quasi sobre outros que eram

summa compaixão vellos. Outros pela Cotovia, Pay Silva, Campo grande, campo pequeno, em

fim cada hum se accomodou como pode lamentando a sua miséria, e desgraça.”.

As condições em que a grande generalidade destas pessoas viviam, eram péssimas, na

freguesia de Santa Isabel por exemplo, até final do ano de 1755 morreram 58 pessoas,

provenientes de várias paróquias.

O terramoto impossibilitou a pratica do culto religioso da forma que era habitual, porque as

igrejas paroquiais ficaram em grande parte arruinadas ou destruídas. Assim, os párocos

responsáveis das paróquias, tentaram remediar a situação, improvisando barracas ou

ocupando igrejas que ficaram sem ruína, para nova sede de freguesia. O movimento que as

paroquiais danificadas tiveram após o 1º de Novembro de 1755, pode ser percebido pelo que a

seguir se expõe:

Freguesia de Santo André

A igreja paroquial ficou muito arruinada. Por ser pequena e pobre, esta freguesia no ano de

1758 ainda não tinha meios para proceder à reconstrução da sua sede. O responsável da

paróquia tomou a resolução de formar igreja na casa grande entre o claustro e a portaria, para

cumprimento dos ofícios religiosos.

83

Freguesia dos Anjos

A igreja paroquial ficou muito arruinada e por esse facto o pároco transferiu o Sacramento para

a ermida do desembargador Alexandre Metello, no campo do Curral, onde permaneceu por

alguns anos.

Freguesia de Santa Catarina

A igreja paroquial embora não tivesse ruína total, acabou por ser demolida, para nesse local se

montar uma enorme igreja abarracada, sendo das mais distintas e primorosas da corte.

Freguesia de São Cristóvão

A igreja paroquial teve pouca ruína, mantendo-se o seu interior na perfeição, permitindo o culto

religioso.

Freguesia de Nossa Senhora da Conceição

A igreja paroquial embora salva da ruína, ardeu totalmente, tendo o responsável optado pela

sua transferência para a barraca instalada no Terreiro do Paço.

Freguesia de Santa Engrácia

A igreja paroquial estava estabelecida no convento ou hospício de Nossa Senhora da

Conceição, que pertencia aos religiosos Barbadinhos Missionários Italianos. Pelo terramoto,

esta construção moderna e bem conservada, teve pouca ruína, permitindo a manutenção da

freguesia neste local com a prática de todos os ofícios habituais.

Freguesia de Santo Estêvão

A igreja paroquial sofreu pouca ruína, contudo o seu pároco receoso transferiu a paróquia para

a ermida de Nossa Senhora do Rosário, no largo do sítio das Galés.

Freguesia de São João da Praça

A igreja paroquial ficou arruinada e queimada, pelo que provisoriamente foi colocado o

santíssimo numa ermida na travessa da Verónica, aguardando a construção de uma nova

ermida no cais de Santarém, para onde se transferiu posteriormente.

84

Freguesia de São Jorge

A igreja paroquial ficou destruída pelo terramoto e incêndio. Pelo que foi transferida

provisoriamente para a freguesia de São Martinho e posteriormente para a ermida de Santa

Bárbara.

Freguesia de São José

A igreja paroquial embora tenha sofrido pouca ruína, foi transferida para uma barraca de

madeira, onde permaneceu até 1757.

Freguesia de Santa Justa

A igreja paroquial resistiu aos abalos do tremor de terra, tanto que ainda se fez missa no dia de

todos os Santos, contudo pela noite o incêndio acercou-a e consumiu-a por completo, restando

apenas alguns alicerces. Como consequência, as paróquias de Santa Justa e São Nicolau (que

se havia instalado na sede de Santa Justa após o terramoto), foram transferidas para uma

barraca no Rossio. Esta barraca, foi a sede da paróquia de Santa Justa por um período de dois

meses e meio. Posteriormente as intempéries do Inverno obrigaram a sua transferência para a

ermida de São Camilo. Na figura 7 pode-se visualizar a área consumida pelas chamas.

Freguesia de Santa Isabel

A igreja paroquial, como praticamente toda a freguesia, nada sofreram pelo terramoto.

Mantiveram-se pois os ofícios religiosos como habitual.

Freguesia de São Lourenço

A igreja paroquial sofreu bastante com o terramoto, sendo o Santíssimo transferido de imediato

para a igreja do menino de Deus, celebrando-se os ofícios divinos dentro do palácio do

Visconde de Vila Nova da Cerveira.

Freguesia de São Mamede

A igreja paroquial ficou arruinada e reduzida a cinzas pelo incêndio. Por essa razão, o pároco

transferiu-se para a igreja de São Cristóvão e depois para a igreja de São Patrício na Calçada

de São Crispim.

85

Freguesia de Santa Maria Madalena

A igreja paroquial ficou muito arruinada e destruída pelo incêndio. O seu pároco conseguiu

salvar o Santíssimo e colocá-lo numa barraca no Rossio, onde se havia também instalado a

freguesia de São Julião. Após algum tempo a freguesia da Madalena foi-se instalar na sede

paroquial de São Martinho.

Freguesia de Santa Maria Maior – Sé

A igreja paroquial ficou com alguma ruína e com bastantes estragos devidos ao incêndio, pelo

que os ofícios divinos passaram a ser ministrados numa ermida no Cardal da Graça, de onde

passaram para uma barraca próxima. Por ser pobre e pequena, o Cardeal Patriarca ordenou

que se fossem instalar na igreja do Senhor Jesus da Boa Morte. Contudo, por se sentirem

inseguros com os abalos de terra que ainda se faziam sentir, transferiram-se para uma barraca

na freguesia de São José, onde permaneceram até meados de 1757. Passaram para a igreja

do Menino de Deus e posteriormente para a igreja de São Roque.

Freguesia de Santa Marinha

A igreja paroquial ficou bastante arruinada mas não caiu. Sobre a manutenção dos ofícios

religiosos nesta igreja a bibliografia consultada não é elucidativa.

Freguesia de São Martinho

A igreja paroquial sofreu uma grande ruína. Um mês depois do grande terramoto foi-se instalar

na ermida de Santa Bárbara às Fontainhas, onde permaneceu por um período de 9 meses, na

companhia da freguesia de São Jorge. Após este período, a freguesia foi-se instalar na sua

igreja paroquial já reparada dos estragos sofridos.

Freguesia Nossa Senhora dos Mártires

A igreja paroquial ficou arruinada pelo tremor de terra e completamente destruída pelo incêndio

que lhe sucedeu. No dia 2 de Novembro de 1755, a paroquia foi refugiar-se numa barraca na

quinta de Relhafoles e aí permaneceu até ao Natal, transferindo-se então para a ermida de

Nossa Senhora dos Mártires sita ao Rego e posteriormente para a ermida de São Pedro

Gonçalves ao Corpo Santo.

86

Freguesia de Nossa Senhora das Mercês

A igreja paroquial ficou bastante arruinada, transferindo-se por essa razão o Santíssimo para a

ermida da Ascensão de Cristo na calçada do Combro, onde permaneceu até meados de 1757,

data em que a sua paroquial se encontrava já reparada.

Freguesia de São Miguel

A igreja paroquial sofreu a ruína, obrigando à sua transferência para uma casa fronteira ao

Campo da Lã, de onde regressou novamente para a sua sede após reedificação desta.

Freguesia de São Nicolau

A igreja paroquial ficou arruinada e transformada em cinzas pelo incêndio, pelo que se

transferiu, por um período de um mês, para uma barraca no Rossio, juntamente com a

freguesia de Santa Justa. Após este período foi instalar-se na ermida de Nossa Senhora da

Pureza, na Calçada da Glória.

Freguesia de São Paulo

A igreja paroquial ficou arruinada e queimada, após o que foi transferido o Santíssimo para a

igreja de São João Nepomuceno, onde ficou por um dia. No dia seguinte ao terramoto passou

para a igreja paroquial de Santa Isabel e daí voltou novamente para o templo de São João

Nepomuceno até 1757, data da conclusão da construção de uma igreja de madeira junto da

antiga paroquial, para onde esta se transferiu.

Freguesia do Santíssimo Sacramento

A igreja paroquial ficou quase completamente destruída pelo terramoto e transformada em

cinzas pelo incêndio. O pároco responsável, transferiu o sacramento para a ermida de Nossa

Senhora da Conceição dos Cathecumenos, erguida no telheiro das Aguas Livres. Aí

permaneceria por um período de 3 meses, findos os quais se transferiu a paróquia para o

convento das Religiosas Trinas ao Rato, até que as sua novas acomodações fossem

concluídas.

Freguesia de São Salvador

A igreja paroquial encontrava-se estabelecida no convento de São Salvador, que embora

sofrendo de ruína considerável, viu a sua igreja totalmente destruída pelo terramoto. Por esse

motivo, se transferiu a paróquia para a igreja do Menino de Deus, onde se manteve por 2

87

meses. Após os quais retornou para o mesmo convento, já em parte reparado dos danos

sofridos.

Freguesia de Santos-o-Velho

A igreja paroquial sofreu pouco com o terramoto. De qualquer modo, o pároco transferiu o

Santíssimo para uma barraca das casas de D. Rodrigo de Noronha, transferindo-o mais tarde

novamente para a sua igreja.

Freguesia de São Sebastião da Pedreira

A igreja paroquial ficou intacta perante os abalos de terra sentidos, mantendo o culto no

mesmo local.

Freguesia de Nossa Senhora do Socorro

A igreja paroquial padeceu grave ruína, pelo que se transferiu o sacramento para a ermida de

Nossa Senhora da Conceição. Após a reparação dos estragos, transferiu-se novamente a

paroquia para a sua sede original.

Freguesia de São Tiago

Sobre as consequências do terramoto na igreja paroquial, a bibliografia é discordante. No que

diz respeito ao culto religioso, F.L.P. Sousa, refere que este se continuou a processar de forma

habitual na igreja de São Tiago.

Freguesia de São Tomé

Os estragos devidos ao terramoto foram insignificantes. O culto continuou de forma habitual na

sua igreja, contudo transferiu-se para a igreja do Menino de Deus até ao ano de 1762, após o

que retornou para a sua sede original.

Freguesia de São Vicente de Fora

A sua igreja paroquial ficou arruinada, pelo que se transferiu o culto para uma barraca.

88

Freguesia do Castelo

A sua igreja paroquial ficou totalmente arruinada. O pároco responsável mandou fazer no

mesmo adro da igreja uma ermida de madeira, com todos os requisitos necessários para o

cumprimento das obrigações paroquias.

Freguesia de São Julião

A igreja paroquial veio ao chão com o terramoto e com o incêndio tudo o que restou foi

consumido pelas chamas. Assim se transferiu a paróquia para uma barraca no Terreiro do

Paço, onde permaneceu até 1758, data em que a sua nova igreja se encontrava já construída

no mesmo local da anterior.

Freguesia de São Pedro de Alfama

A igreja paroquial com o terramoto experimentou a ruína total. Os sacramentos passaram a ser

administrados num armazém ao chafariz de Elrei até 1757, ano de inauguração da sua nova

igreja erguida precisamente no mesmo local da antiga.

Freguesia de São Bartolomeu

A igreja paroquial ficou arruinada e transformada em cinzas. O pároco, transferiu a paróquia

para uma barraca no Cardal da Graça. Após o que se transferiu para a ermida de Nossa

Senhora do Rosário na travessa da Verónica e finalmente para o convento dos Agostinhos do

Grilo.

Freguesia das Chagas de Jesus Cristo

Esta igreja ficou totalmente destruída, quer pelo terramoto quer pelo fogo que a consumiu. O

Santíssimo Sacramento e outras figuras que se salvaram, foram transferidas para o oratório da

Quinta de Bento Gonçalves Forte, a Sete-Rios, transferindo-se no ano seguinte ao terramoto

para uma ermida de madeira construída na Cotovia e posteriormente para a sua igreja

reconstruída.

Freguesia de Nossa Senhora da Encarnação

A igreja paroquial pouco sofreu com o terramoto. Sobre a transferência da paróquia, nada é

referido na bibliografia consultada, contudo supõe-se que esta terá permanecido no mesmo

local pelo facto de pouca ruína ter padecido.

89

Freguesia de Nossa Senhora da Pena

A igreja paroquial caiu por terra. O pároco transferiu os sacramentos para uma ermida que foi

dos padres Jesuítas, donde em meados do mês de Novembro se transferiu novamente para a

igreja do recolhimentos de Nossa Senhora da Encarnação e daqui para a ermida de Alexandre

Metello até a sua paroquial se achar reconstruída.

Freguesia de Nossa Senhora da Ajuda

Pelo facto de a sua igreja paroquial nada ter sofrido, os ofícios religiosos continuaram a ser

ministrados no mesmo local.

90

3.4 – Edificado Destruído pelo Terramoto de 1755

O terramoto e o incêndio que se lhe seguiu destruíram e tornaram inabitável vários edifícios,

tornando-se pois relevante perceber os efeitos da catástrofe no edificado, no que concerne às

áreas destruídas e intactas, após a tragédia. Essa análise irá permitir definir com maior clareza

as repercussões do cataclismo na cidade de Lisboa, ajudando simultaneamente a

compreender a forma como a população foi afecta.

Alguns autores consultados fornecem uma visão global do edificado destruído, nomeadamente

F.L.P. Sousa, António França e o padre Manuel Portal, apresentam descrições quantificadas

da destruição verificada, conforme se apresenta em seguida:

F.L.P Sousa, refere que “das 20 000 casas da cidade de Lisboa, somente um terço das

casas do centro da cidade ficaram de pé e destas somente 3 000 ficaram habitáveis

[28, p.546]”;

Augusto França no seu livro “Lisboa Pombalina e o Iluminismo” na página 68 refere

que Moreira de Mendonça, em 1758, assume que o terramoto destruiu 10 por cento

das casas e tornou inabitável mais de dois terços da cidade;

O padre Manuel Portal, estabelece que o incêndio abrasou cerca de 25 000 fogos. [28,

p.65].

Conhecidos alguns números gerais sobre a destruição verificada, pretende-se agora tentar

definir, para cada uma das freguesias, o número de fogos destruídos pela catástrofe do dia 1

de Novembro de 1755.

Desde já se deve clarificar que são poucos os casos em que a bibliografia refere

objectivamente o número de fogos destruídos numa dada freguesia. Desta forma, para avaliar

o edificado arruinado por freguesia, recorreu-se muitas vezes a uma análise comparativa do

número de fogos antes e depois do sismo. A quantificação dos fogos à data do sismo, mas

antes do mesmo, pode ser consultado no ponto 2.2.2 da presente tese. Quanto à definição do

número de fogos por freguesia, após o sismo, seguiram-se essencialmente relatos que se

reportam a 1758, 1757, 1759, 1760 e 1770. Em rigor, existindo informação, só os anos mais

próximos a 1755 seriam relevantes, sendo por isso as datas privilegiadas para efeitos

comparativos. Porém, optou-se sempre que possível, por referir também o número de fogos

por freguesia relativos ao ano de 1770, porque permitirá aferir da evolução do edificado na

freguesia em questão, nos anos que se seguiram ao sismo. Não sendo este um objectivo deste

capítulo, é ainda assim, uma informação histórica que se julgou útil não ocultar.

91

Note-se que no levantamento que se vai apresentar, interessa quantificar os fogos, pois o

edificado nobre e religioso, será contabilizado no ponto 6 do capítulo 3.

Freguesia de Santo André

- Na tabela de Bautista de Castro, são apresentados para o ano de 1758, 213 fogos [28, p.522];

- Francisco Santana, contabiliza 268 fogos nesta freguesia no ano de 1770 [23, p.131];

Freguesia dos Anjos

- F.L.P. Sousa, apresenta a tabela de Bautista de Castro, que contabiliza 2 117 fogos e 293

barracas, no ano de 1758 [28 p.522];

- Francisco Santana, contabiliza 1 770 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.131].

Freguesia de Santa Catarina

- Francisco Santana, contabiliza 1 798 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.134].

Freguesia de São Cristóvão

- Esta freguesia sofreu na sua generalidade uma grande ruína motivada pelo terramoto e

incêndio. O seu edificado constituído por 420 fogos antes do cataclismo, viu-se reduzido a 230

fogos após este, ou seja, pela acção do terramoto e posterior incêndio, viu-se a freguesia

suprimida de 190 fogos. [20, p.89];

- Outra fonte assume que esta freguesia foi pouco afectada com o terramoto, escapando ao

cataclismo cerca de 230 fogos [12, p.17];

- Francisco Santana, contabiliza 284 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.133].

Freguesia de Nossa Senhora da Conceição

- F.L.P Sousa, apresenta uma tabela relativa às freguesias queimadas, onde refere que

imediatamente após o terramoto se contabilizavam 84 fogos, assim se conclui que dos 850

fogos existentes na freguesia antes do terramoto, foram destruídos 766 fogos [28, p.522-529].

O mesmo autor citando o Mappa de Portugal, refere: ”Observou-se, que ficando totalmente

destruídas no âmbito desta paróquia as propriedades, só escapassem a veemência do

terramoto, e voracidade das chamas aquelas casas da Tinturaria…” [28, p.564];

- Francisco Santana, contabiliza 337 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.134].

Freguesia de Santa Engrácia

92

- No ano de 1758, esta freguesia contabilizava 1 262 fogos [20, p.102];

- Francisco Santana, contabiliza 1 807 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.136].

Freguesia de Santo Estêvão

- No ano de 1759, esta freguesia contabilizava 977 fogos [20, p.119];

- Francisco Santana, contabiliza 938 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.137].

Freguesia de São João da Praça

- Das trezentas casas que constituíam o seu espaço urbanizado, restaram apenas 10 após o

cataclismo [18, p.34];

- Dos 450 fogos, antes do terramoto e incêndio, restaram apenas 10 fogos após a catástrofe

[20, p.123];

- Francisco Santana, contabiliza 377 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.137].

Freguesia de São Jorge

- Esta freguesia, no ano de 1758, era constituída por 72 fogos [20, p.126];

- Francisco Santana, contabiliza 433 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.138].

Freguesia de São José

- Francisco Santana, contabiliza 1 483 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.139].

Freguesia de Santa Justa

- Esta freguesia, no ano de 1759, era constituída por 361 fogos [20, p.133];

- Francisco Santana, contabiliza 780 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [3, p.139].

Freguesia de Santa Isabel

- Esta freguesia no ano de 1757 albergava 2 415 fogos. Sabe-se também que esta freguesia foi

ocupada no período pós terramoto, por pessoas provenientes de outras freguesias, conforme o

confirma o prior que em resposta ao inquérito sobre a tragédia, refere a chegada de 9 249

pessoas à freguesia, posteriormente instaladas em barracas [20, 139];

- Francisco Santana, contabiliza 2 530 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.140].

93

Freguesia de São Lourenço

- F.L.P. Sousa, apresenta a tabela de Bautista de Castro, na qual são referidos 143 fogos, para

o ano de 1758 [28, p.522];

- Esta freguesia, no ano de 1760 era constituída por 196 fogos [20, p.145];

- Francisco Santana, contabiliza 587 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.131].

Freguesia de São Mamede

- Esta freguesia, onde à data do sismo se erguiam 360 fogos, ficou reduzida a um monte de

escombros, sendo a sua igreja completamente consumida pelas chamas, salvando-se

unicamente 12 fogos [11, p.101];

- O reverendo desta paróquia apresenta números algo discordantes dos anteriores, pois refere

que nesta freguesia, após o terramoto e incêndio, ficaram apenas 25 fogos habitáveis, os

quais, se salvaram do fogo [20 p.149];

- F.L.P. de Sousa, apresenta tabela de Bautista de Castro, para freguesias queimadas,

contabilizando-se 288 fogos destruídos pelo terramoto e incêndio [28 p. 522];

- Francisco Santana, contabiliza 749 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.146].

Freguesia da Madalena

- Nesta freguesia, o terramoto e o incêndio foram causadores de uma desgraça quase total,

pois antes do terramoto contabilizavam-se 800 fogos com 3700 habitantes e depois deste e

com acção conjunta do incêndio, restavam apenas 4 fogos (1757);

- O padre José de Azevedo Álvaro, na sua resposta ao inquérito, pouco se afasta do número

anterior, pois afirma que após o terramoto e incêndio, a freguesia ficou sem habitação própria,

realçando que o incêndio consumiu toda a grandeza da freguesia, incluindo a sua igreja

paroquial [20, p.164];

- Francisco Santana, contabiliza 232 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.143).

Freguesia de Santa Maria Maior – Sé

- O reitor da paróquia afirma que esta ficou destruída pelo terramoto;

- Francisco Santana, contabiliza 308 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.143].

Freguesia de Santa Marinha

- Nesta freguesia existiam em 1758, 165 fogos e 34 barracas [20, p.167];

94

- Francisco Santana, contabiliza 269 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.147].

Freguesia de São Martinho

- Em 1758 havia nesta freguesia 50 fogos [20, p.179];

- Francisco Santana, contabiliza 97 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.144].

Freguesia de Nossa Senhora dos Mártires

- Esta freguesia foi totalmente devastada pelo terramoto. No ano de 1758 contabilizava-se

apenas 7 fogos [20, p.185);

- Francisco Santana, contabiliza 410 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.145].

Freguesia de Nossa Senhora das Mercês

- F.L.P. Sousa apresenta descrição de Bautista de Castro, que refere o seguinte:” Padeceram

também considerável ruína mais de setenta propriedades de casas dentro dos limites d‟esta

paroquia, …” [28, p.677];

- No ano de 1758, esta freguesia contabilizava 807 fogos [20, p.201];

- Francisco Santana, estabelece 1 105 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.145].

Freguesia de São Miguel

- Segundo F.L.P. Sousa, o número de casas desta freguesia ficou ficaram reduzido a metade

devido ao cataclismo [28, p.680], facto que de algum modo é confirmado pela tabela de

Bautista de Castro, onde para o ano de 1758 são indicados 435 fogos e para 1755, antes do

terramoto são indicados 870 fogos [28, p.523];

- Pelo ano de 1758, esta freguesia contabilizava 666 fogos [20, p.203]. Note-se que este valor é

superior ao indicado pela tabela de Bautista de Castro (453) acima referida;

- Francisco Santana, refere a existência de 696 fogos nesta freguesia em 1770 [23, p.147];

Freguesia de São Nicolau

- Francisco Santana, contabiliza 404 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.148]).

Freguesia de São Paulo

- Francisco Santana, contabiliza 723 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.144].

95

Freguesia do Santíssimo Sacramento

- Pelo ano de 1759, esta freguesia tinha 137 fogos e 180 barracas. Dado existirem em 1755,

613 fogos, conclui-se que foram destruídos pelo terramoto e subsequente incêndio, 476 fogos,

pertencentes a 544 casas grandes e pequenas, das quais 44 foram arruinadas e 500 ardidas.

[20, p.239];

- Francisco Santana, contabiliza 690 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.151].

Freguesia de São Salvador

- F.L.P. Sousa, apresenta tabela de Bautista de Castro, que indica 200 fogos para 1758 e 266

fogos para 1755, antes do terramoto [28, p.522]. Estes valores permitem uma estimativa de 66

fogos destruídos devido ao cataclismo;

- Contam-se 300 fogos nesta freguesia no ano de 1758 [20, p.241];

- Francisco Santana, contabiliza 210 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.150].

Freguesia de Santos-o-Velho

- Contam-se no ano de 1758, 1 836 fogos, mais 49 fogos que no ano de 1755 (1 787 fogos),

antes do terramoto. O prior desta freguesia, refere que 30 moradas de casas foram ocupadas

por fregueses de outras paróquias, contudo o mesmo prior, informa que por causa do

terramoto, ficaram arruinadas 115 de 118 moradas de casas, que comportariam 300 fogos e

mil pessoas e que à data de 1758 encontram-se já reedificadas 70 moradas [20, p.243-246];

- Francisco Santana, contabiliza 1 850 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.151].

Freguesia de São Sebastião da Pedreira

- A memória paroquial informa que o terramoto arruinou cerca de 9 a 10 moradas de casa, [28

p.750];

- Contam-se no ano de 1760, 862 fogos [20, p.261];

- Francisco Santana, contabiliza 821 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.152].

Freguesia de Nossa Senhora do Socorro

- F.L.P. Sousa, apresenta a tabela de Bautista de Castro, em que para o ano de 1755, antes do

terramoto indica 1 600 fogos e para o ano de 1758 estima 840 fogos [28, p.523]. Assim, de

acordo com estes dados, em primeira análise, poderá considerar-se que foram destruídos pelo

terramoto 760 fogos;

96

- Contam-se 830 fogos, no ano de 1759 [20, p.267];

- Francisco Santana, contabiliza 892 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.152].

Freguesia de São Tiago

- Contam-se 60 vizinhos nesta freguesia, no ano de 1758. Com o terramoto, muitas casas

ficaram demolidas e outras arruinadas. O incêndio subsequente viria a queimar apenas

algumas dessas casas [20, p.269-270];

- Francisco Santana, contabiliza 195 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.153].

Freguesia de São Tomé

- Antes do terramoto, constava esta freguesia de 275 fogos. Pelo ano de 1758 contava 250

fogos em casas e 43 barracas [20, p.272]. Supõem-se pois destruídos pelo terramoto cerca de

25 fogos;

- Francisco Santana, contabiliza 286 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.154].

Freguesia de São Vicente

- F.L.P. Sousa, apresenta tabela de Bautista de Castro, na qual são indicados 544 fogos antes

do terramoto e 500 fogos para o ano de 1758 [28, p.522]. Estes valores indicam que pelo

menos 44 fogos foram destruídos em consequência do terramoto;

- Contam-se 582 fogos, no ano de 1759 [20, p.275];

- Francisco Santana, contabiliza 626 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.154].

Freguesia do Castelo

- Francisco Luís Pereira de Sousa, cita Batista de Castro, escrevendo o seguinte:”…mais de 46

moradas de casa se arruinaram…” [28 p.566];

- Francisco Santana, contabiliza 363 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.135].

Freguesia de São Julião

- Francisco Santana, contabiliza 629 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.141].

97

Freguesia de São Pedro de Alfama

- F.L.P. Sousa, apresenta a tabela de Bautista de Castro, na qual para o ano de 1758 são

indicados 150 fogos e 544 fogos à data do terramoto [28, p.522]. Estes dados mostram que no

mínimo 394 fogos terão sido destruídos durante a catástrofe;

- O mesmo F.L.P. Sousa, cita o padre Manuel Portal, que diz: ” São Pedro freguesia, quase

inteyramente arruinada.” (Ref. bibliográfica nº28, p.682). Neste trabalho de F.L.P. Sousa

também é citado Bautista de Castro, que refere: “A mesma destruição padeceram quasi todas

as propriedades d‟esta paroquia, porque constando ella de cento e oito, só seis ficaram

capazes de serem habitadas.” [28, p.681];

- Francisco Santana, contabiliza 1 297 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.149].

Freguesia de São Bartolomeu

- O fogo, mais que o terramoto, destruiu para cima de 97 casas [28, p.562];

- Segundo manuscrito apresentado no Estudo Demográfico F.L.P. de Sousa, o terramoto e o

incêndio destruíram todas as habitações, com excepção de duas moradas de casas e ermidas

anexas [28 p.540];

- Francisco Santana, contabiliza 380 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.132].

Freguesia de Nossa Senhora da Encarnação

- Francisco Santana, contabiliza 1 855 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.135].

Freguesia de Nossa senhora da Pena

- Francisco Santana, contabiliza 1 422 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.149].

Freguesia de Nossa Senhora da Ajuda

- Francisco Santana, contabiliza 1 900 fogos para esta freguesia no ano de 1770 [23, p.130].

98

Veja-se na figura 31 uma pintura que pretende retratar o efeito do terramoto e do maremoto do

dia 1 de Novembro de 1755 na cidade de Lisboa, com imagem da cidade antes e depois da

catástrofe.

Figura 31 – Pintura antes e depois do terramoto, Museu da Cidade

Seguidamente irá quantificar-se o número de fogos destruídos por freguesia. Nesta análise

teve-se em consideração o edificado existente antes do terramoto (Cap. 2.2.3) e os relatos

históricos relativos ao edificado remanescente ou mesmo destruído após o terramoto.

Deve referir-se que nem sempre foi possível conseguir registos bibliográficos que

mencionassem objectivamente o número de fogos destruídos pelo terramoto. Identificaram-se

freguesias onde essa descrição existe, tendo sido consideradas no descritivo a seguir

apresentado. Porém, na grande maioria das situações, o edificado destruído foi determinado

por comparação entre o número de fogos existentes antes do terramoto e em datas próximas

do mesmo, nomeadamente: 1758, 1759, 1760 e 1770. Este tipo de análise envolvendo datas

posteriores ao terramoto, é susceptível de erro, na medida em que alguma reconstrução pode

99

falsear os resultados. Para minimizar este aspecto, a análise comparativa envolvendo as datas

acima referidas, só foi efectivada sempre que o número de fogos descritos após o terramoto

fosse inferior ao número de fogos reconhecidos antes do terramoto. Nas situações em que era

maior, fez-se uma estimativa do número de fogos destruídos com base no grau de intensidade

sísmica. Como referência utilizou-se a freguesia de Santa Engrácia, que apresentava cerca de

20% do seu edificado destruído, para um grau de intensidade sísmica de valor IX na escala de

Mercalli. Nas freguesias em questão, tendo em mente as descrições bibliográficas, considerou-

se a intensidade sísmica descrita por [28] para as referidas freguesias, que foi IX na escala de

Mercalli. No anexo 5 do presente trabalho, encontra-se a descrição detalhada do número de

fogos destruídos pelo sismo, efectuado em conformidade com os critérios acima expostos,

apresentando-se em seguida o respectivo resumo por freguesia.

Santo André – 28 Fogos destruídos (Valor estimado pelo grau de intensidade sísmica),

20% do edificado;

Nossa Senhora dos Anjos – 370 Fogos destruídos, 17% do edificado;

Santa Catarina – 88 Fogos destruídos, 5% do edificado;

São Cristóvão – 190 Fogos destruídos, 45% do edificado;

Nossa Senhora da Conceição – 766 Fogos destruídos, 90% do edificado;

Santa Engrácia – 523 Fogos destruídos, 22% do edificado;

Santo Estêvão – 232 Fogos destruídos, 20% do edificado;

São João da Praça – 440 Fogos destruídos, 98% do edificado;

São Jorge – 12 Fogos destruídos (Valor estimado pelo grau de intensidade sísmica),

20% do edificado;

São José – 220 Fogos destruídos (Valor estimado pelo grau de intensidade sísmica),

20% do edificado;

Santa Justa – 2 360 Fogos destruídos, 75% do edificado;

Santa Isabel – 292 Fogos destruídos, 20% do edificado;

São Lourenço – 7 Fogos destruídos, 5% do edificado;

São Mamede – 348 Fogos destruídos, 97% do edificado;

Santa Maria Madalena – 830 Fogos destruídos, 100% do edificado;

Sé – 700 Fogos destruídos, 69% do edificado;

100

Santa Marinha – 55 Fogos destruídos, 25% do edificado;

São Martinho – 6 Fogos destruídos, 11% do edificado;

Nossa Senhora dos Mártires – 1 793 Fogos destruídos, 99% do edificado;

Nossa Senhora das Mercês – 710 Fogos destruídos, 83% do edificado;

São Miguel – 435 Fogos destruídos, 50% do edificado;

São Nicolau – 1 921 Fogos destruídos, 83% do edificado;

São Paulo – 357 Fogos destruídos, 33% do edificado;

Santíssimo Sacramento – 509 Fogos destruídos, 79% do edificado;

São Salvador – 68 Fogos destruídos, 25% do edificado;

Santos-o-Velho – 300 Fogos destruídos, 15% do edificado;

São Sebastião da Pedreira – 259 Fogos destruídos, 24% do edificado;

Nossa Senhora do Socorro – 760 fogos destruídos, 48% do edificado;

São Tiago – 90 Fogos destruídos, 75% do edificado;

São Tomé – 25 Fogos destruídos, 9% do edificado;

São Vicente – 44 Fogos destruídos, 8% do edificado;

Castelo – 243 Fogos destruídos, 73% do edificado;

São Julião – 1 001 Fogos destruídos, 61% do edificado;

São Pedro – 394 Fogos destruídos, 72% do edificado;

São Bartolomeu – 144 Fogos destruídos, 97% do edificado;

Nossa Senhora da encarnação – 217 Fogos destruídos, 11% do edificado;

Nossa Senhora da Pena – 281 Fogos destruídos (Valor estimado pelo grau de

intensidade sísmica), 20% do edificado.

Perante o exposto, presume-se que o terramoto terá destruído cerca de 17 017 fogos, ou seja

aproximadamente 49% do total do edificado da cidade de Lisboa.

101

3.5 – Nobres e Estrangeiros Desaparecidos

Os nobres, “pessoas de qualidade” como refere Jâcome Ratton (importante negociante e

industrial do pombalismo [28, p.695]) foram de toda a população a classe menos afectada pela

ocorrência do sismo. A sua boa sorte resultou essencialmente de dois factores:

Primeiro, a grande maioria dos nobres e pessoas abastadas, encontrava-se nas suas

casas de férias nos arrabaldes da cidade, que pouco ou nada sofreram com o fatídico

dia 1 de Novembro de 1755;

Segundo, em regra, a nobreza cumpria os deveres religiosos em capelas privativas, a

horas mais tardias que a população em geral, isto é, por volta das 11 da manhã.

A conjugação das circunstâncias acima referidas, afastou a nobreza das zonas de Lisboa mais

destruídas, e mesmo das estruturas mais afectadas (igrejas). Consequentemente esta classe

sentiu menos que a restante população os efeitos devastadores do terramoto, nomeadamente

no que concerne a perdas humanas.

A família Real encontrava-se a passar a noite de 31 de Outubro de 1755, no palácio de Belém,

freguesia dos arrabaldes de Lisboa que pouco ou nada foi danificada com a catástrofe, tendo

escapado ilesa tanto ao tremor de terra como ao incêndio que devastou o Paço da Ribeira.

Os estrangeiros radicados em Lisboa eram um grupo populacional de alguma relevância,

resultado da influência que detinham no comércio português, onde usufruíam de regalias ao

nível do negócio que exploravam, pois através de acordos vários constituíram feitorias com leis

que os defendiam. Formavam uma classe que frequentavam locais de culto próprios e bem

definidos vejamos alguns exemplos:

Os Italianos tinham na freguesia do Loreto a Capela de Nossa Senhora do Loreto

(actual Nossa Senhora de Encarnação) que usavam como sua igreja privativa;

Os Irlandeses ocupavam para seu uso exclusivo o Seminário de São Patrício, na

freguesia de São Mamede;

Os Irlandezes possuíam o Colégio de Nossa Senhora do Rosário com igreja e

convento (Corpo Santo dos Dominicos), na freguesia de São Julião;

Os Franceses possuíam o convento de Nossa Senhora da Porciuncula, designado

também por Barbadinhos Franceses e o convento de Santo Crucifixo, também

conhecido por convento das Francezinhas, na freguesia de Santos;

Os Ingleses habitavam em moradias e bons hotéis, naquela que é hoje a Lapa, e

detinham cerca de 150 a 200 grandes firmas e estabelecimentos comerciais em

Lisboa, na zona da Baixa. Estavam organizados em Feitorias, com leis próprias, com

hospital, colégios privativos e locais de culto.

102

Com alguma relevância, mas com menos destaque estavam os Alemães (Hamburgueses), os

Espanhóis, os Holandeses, os Suecos e Suíços.

Após o terramoto, os estrangeiros ficaram despojados de grande parte dos seus bens e

riquezas, e em poucos casos, da própria vida. Na sua grande maioria sofreram apenas perdas

materiais com o terramoto e posterior incêndio, embora haja notícia de vítimas mortais. Numa

lista do Public Record Office State Papers Portugal, são referidos 77 britânicos mortos pelo

terramoto de 1755, em Lisboa [2, p.259]. O padre Manuel Portal, relata que só da nação

Italiana morreram 57 pessoas [28, p.758].

Veja-se lista, dos nobres e estrangeiros que perderam a sua vida, no fatídico dia 1 de

Novembro de 1755 [28]:

Francisco Luís da Cunha Atayde, Dezembargador do Paço e Chanceler Mor do Reino;

Pedro de Mello Pas e Atayde, Secretario de Guerra;

Manoel Varejão de Távora, Deão da Sé de Elvas e inquisidor em Lisboa;

Gaspar Galvão Castello Branco, prelado da Santa Igreja Patriarcal;

Manoel de Vasconcellos Gayo, prelado da Santa Igreja Patriarcal;

Conde da Peralada, embaixador de Espanha;

Mr. Fowke, mercador de vinhos inglês;

D. Maria da Graça de Castro, Marquesa de Louriçal e sua filha;

D. João de Bragança;

D. José António Franco Lobo, Conde de Oriola e Barão de Alvito;

D. João Ansberto de Noronha, Conde de São Lourenço;

D. Vasco da Câmara, filho dos condes da Ribeira;

José Apocalise Linhares, Teólogo;

Frei José de S. Gualter Leonatilde, Teólogo;

Frei Luciano de Santo Alberto;

Frei António da Cunha;

D. Bernardo de Rocabesti, Conde da Perelada;

D. Francisco de Noronha, filho dos Marqueses de Angeja;

António de Mello de Castro, Roque de Sousa;

D. Anna Vicencia de Noronha, Condessa de Lumiares e a sua filha mais velha, D. Anna

de Moscozo e

D. Izabel Catherina Henriques, mulher de D. Lourenço de Almeida.

103

3.6 – Perdas Materiais relevantes

A acção conjunta dos três elementos da natureza, terra, água e fogo, destruíram quase

completamente a cidade de Lisboa no primeiro de Novembro do ano de 1755. A cidade de

Lisboa viu-se confrontada com uma situação para a qual não estava preparada. O tremor de

terra, o incêndio e o maremoto, conjugaram-se gerando uma série exponencial de estragos. É

pois propósito deste capítulo apresentar uma descrição geral das perdas materiais verificadas,

com referências particulares ao edificado religioso e alguns edifícios de utilidade pública.

A informação contida neste capítulo, resultou basicamente de pesquisa do livro de F.L.P. de

Sousa [28], da consulta da obra de Fernando Portugal e Alfredo de Matos [20] e ainda de um

trabalho realizado pelo Professor Carlos Sousa Oliveira sobre os Monumentos de Lisboa [42].

F.L.P. Sousa [28, p.522-529] e Fernando Portugal e Alfredo de Matos [20, p.305,325], mostram

a tabela de Bautista de Castro, onde as freguesias de Lisboa são divididas em 3 grandes

grupos. Cada grupo está associado ao agente causador de maior dano na sua igreja paroquial,

nomeadamente:

Grupo das “freguesias queimadas” – pertencem a este grupo, todas as freguesias onde

a igreja paroquial ardeu;

Grupo das “freguesias arruinadas” - aplicou-se às freguesias onde a igreja paroquial

colapsou por efeito exclusivo do terramoto;

Grupo das “freguesias bem Livradas” – inclui todas as freguesias onde a igreja

paroquial resistiu sem danos relevantes ao efeito da catástrofe.

Deve referir-se que a classificação das freguesias conforme acima se indica, está unicamente

vinculada às ocorrências na igreja paroquial dessa freguesia. Por exemplo, se uma freguesia é

classificada como “queimada”, não significa que toda a freguesia tenha sido devastada pelo

incêndio, apenas indica que a igreja paroquial dessa freguesia foi consumida pelas chamas.

Da mesma forma, se uma dada freguesia é referenciada como “arruinada”, não quer dizer que

o incêndio não tenha provocado algum dano, mas tão-somente que este não afectou a sua

igreja paroquial.

Na mesma linha de raciocínio, quando uma freguesia é classificada como “freguesia bem-

livrada”, não significa uma total ausência de danos decorrentes da acção do sismo e do

incêndio na freguesia, mas somente que a respectiva igreja paroquial não foi afectada.

De acordo com os documentos anteriormente referidos, a divisão das freguesias pelos três

grupos já mencionados, foi a seguinte:

104

Freguesias Queimadas – São Julião, Santa Justa, São Nicolau, Nossa Senhora da Conceição,

Santa Maria Madalena, Sé, São João, Castelo, São Bartolomeu, São Jorge, São Mamede,

Mártires, Sacramento, Nossa Senhora da Encarnação, Loreto, Chagas de Jesus Cristo e parte

de São Cristóvão;

Freguesias Arruinadas – São Vicente, Santo André, Salvador, São Pedro, São Miguel, São

Lourenço, São Cristóvão, Nossa Senhora dos Anjos, Nossa Senhora da Pena, Nossa Senhora

do Socorro, Santa Catarina e Nossa Senhora das Mercês;

Freguesias Bem Livradas – Nossa Senhora da Ajuda, Santa Isabel, Santos, São Tomé, São

Tiago, São Martinho, Santa Marinha, Santo Estêvão, Santa Engrácia, São José e São

Sebastião da Pedreira.

Em seguida, para cada uma das freguesias, tentar-se-á quantificar os danos mais relevantes

nas construções nobres, eclesiásticas e edifícios de utilização pública.

Freguesia de Santo André

Pequena e pobre, esta freguesia tem a sua primeira referência no documento do episcopado

de D. Afonso II. Pelo terramoto, a igreja abateu quase toda, caindo o corpo desta até à porta,

mantendo-se de pé unicamente as paredes. [20 p.330]. Tal como a igreja, outros monumentos

foram atingidos pela catástrofe, nomeadamente:

O Convento de Nossa Senhora da Graça que ficou arruinado;

O Palácio do Conde da Figueira que veio grande parte por terra.

Por último refira-se que o grau de intensidade sísmica nesta freguesia foi de IX na escala de

Mercalli.

Freguesia de Nossa Senhora dos Anjos

Para Batista de Castro a igreja paroquial ficou arruinada com o terramoto, contudo esta opinião

não é confirmada por Francisco Luís Pereira de Sousa. Este autor, com base nas descrições

de Moreira de Mendonça, chega à conclusão que os estragos na realidade não foram muito

grandes [28, p.664].

Não só a igreja sofreu com o terramoto, outras estruturas também foram afectadas, assim:

No Conventos de Nossa Senhora da Penha de França, os abalos motivaram a queda

das abóbadas da capela-mor e da tribuna da igreja;

O Convento de Nossa Senhora do Desterro viu a sua igreja arruinada, na qual caíram

as abóbadas;

O Convento de Nossa Senhora da Conceição teve poucos danos;

O Hospício de Nossa Senhora da Conceição e colégio de Nossa Senhora da Nazaré,

sofreram apenas pequeno dano;

105

A Ermida de Nossa Senhora do Monte ficou totalmente arruinada;

A Ermida de Jesus Maria José ficou bastante arruinada;

O Palácio de D. Cristóvão Manuel de Vilhena teve grande ruína;

O Paço Real da Bemposta sofreu danos consideráveis com o terramoto.

A finalizar, estima-se que o grau de intensidade sísmica nesta freguesia foi de IX na escala de

Mercalli.

Freguesia de Santa Catarina

Embora toda a freguesia tenha sofrido com o terramoto, apenas uma pequena parte se

incendiou. A Igreja desta paróquia sofreu quase ruína total, devido ao terramoto, demolindo-se

a capela-mor, o cruzeiro, as naves, as torres e o frontispício, salvando-se da ruína apenas o

corpo da igreja. Além da igreja, outros edifícios sofreram danos mais ou menos consideráveis

com o terramoto, conforme se refere em seguida.

Edifícios com alguns danos:

o Hospício de Nossa Senhora do Carmo;

Edifícios muito danificados:

o Convento de Nossa Senhora de Jesus (caiu a igreja);

o Palácio do Visconde de Mesquitella;

o Recolhimento de Nossa Senhora do Carmo;

Edifícios totalmente destruídos:

o Palácio do Conde de São Lourenço;

o Palácio de D. Lourenço de Lencastre;

o Palácio de D. José de Menezes;

Por último, segundo os relatos históricos, o grau de intensidade sísmica nesta freguesia foi de

X na escala de Mercalli.

Freguesia de São Cristóvão

Tomando como referência o grau de destruição ocorrido na globalidade da cidade, pode-se

considerar que nesta freguesia os danos foram relativamente pequenos, facto que em parte se

explica pela ausência de superfície queimada, pois o incêndio ficou confinado a pequenas

áreas.

De acordo com os registos históricos, a igreja paroquial sofreu com o terramoto alguns danos

nas suas torres e em alguns remates do frontispício.

No que concerne a outros edifícios, registaram-se os seguintes danos:

106

O Recolhimento de Nossa Senhora do Amparo ficou com a parede da capela e parte

da frontaria da igreja parcialmente danificada;

O Palácio do Conde de São Vicente arruinou-se e ardeu por completo;

O Palácio de Tancos ficou muito destruído.

No que respeita ao grau de intensidade sísmica, a bibliografia indica para esta freguesia o grau

IX na escala de Mercalli.

Freguesia de Nossa Senhora da Conceição

A paróquia desta freguesia foi inaugurada em 1699. Quando se deu o terramoto e incêndio, o

coro e a frontaria da igreja abateram-se.

Uma outra edificação relevante, a Colegiada de Nossa Senhora da Conceição dos Freires,

antiga sinagoga dos Judeus, não sofreu muito com terramoto, contudo o incêndio ainda a

atingiu, assim como ao Hospital de Nossa Senhora da Vitória e o Convento de Santo Espírito

que foram consumidos pelas Chamas.

No que respeita ao grau de intensidade sísmica, a bibliografia indica para esta freguesia o grau

IX na escala de Mercalli.

Freguesia de Santa Engrácia

A sua primeira igreja paroquial foi construída em 1569. Por esta não se achar digna de seus

fregueses, iniciou-se a construção de uma nova paroquia, que foi atingida e danificada pelo

terramoto de 1755, antes mesmo da sua conclusão. Foi novamente reconstruída, mas não

terminada, porque ainda hoje (2008) não se encontra finalizada, o que explica o apanágio da

“obra de Santa Engrácia”.

Juntamente com a igreja de Santa Engrácia outras estruturas importantes foram atingidas pelo

terramoto, conforme se apresenta em seguida.

Edifícios com alguns danos:

o Convento de Santa Apolónia;

o Convento do hospício de Nossa Senhora da Conceição;

o Recolhimento de Nossa Senhora dos Anjos;

o Colégio de São Francisco Xavier;

o Ermida de São Pedro de Alcântara;

o Arsenal das Armas;

o Palácio do Almirante Conde de Rezende;

o Palácio de D. Pedro da Cunha Mendonça de Menezes.

Edifícios muito danificados:

107

o Convento da nossa Senhora da Madre de Deus, somente a igreja deste

mosteiro padeceu grande ruína;

o Palácio do Conde de Unhão ou Paço de Enxobregas (caíram vários quartos

deste palácio);

o Palácio do Almirante Conde Rezende.

Edifícios totalmente destruídos:

o Convento de Santa Clara;

o Convento de Santos-o-Novo;

o Convento de Santa Maria de Jesus de Xabregas.

O grau de intensidade sísmica da freguesia de Santa Engrácia foi IX, excepto no convento de

Santa Clara que foi X.

Freguesia de Santo Estêvão

Trata-se de uma freguesia com um vasto território. Pensa-se que a sua igreja foi mandada

construir por D. Afonso Henriques após a tomada de Lisboa aos Mouros. Sabe-se que foi

reconstruída várias vezes e que pelo terramoto sofreu alguns danos, nomeadamente na

capela-mor, que rapidamente foram reparados. Ainda hoje é considerada Monumento

Nacional.

A esta freguesia pertencia ainda a Ermida de Nossa Senhora dos Remédios, o Palácio do

Conde de São Martinho que ficaram bastante danificados pelo terramoto.

O grau de intensidade sísmica da freguesia de Santo Estêvão foi IX na parte norte e X na parte

sul.

Freguesia de São João da Praça

A igreja paroquial de São João, pobre e pequena, remonta a sua existência ao ano de 1317.

Pelo terramoto e incêndio ficou completamente arruinada e queimada.

Dos monumentos e palácios que sofreram danos, destacam-se os seguintes:

O Palácio do Conde de Coculim, foi destruído pelo terramoto e incêndio, registando-se

a queda dos andares superiores. Todas as suas riquezas em jóias e móveis foram

perdidas;

A Igreja Paroquial do Lumiar que sofreu alguns danos;

O Convento de São Francisco e a sua igreja foram arruinados;

O Agasalho do Pão foi completamente destruído pelo terramoto;

O Palácio do Conde de Vila Flor e Palácio do Marquez d‟Angeja foram completamente

destruídos pelo terramoto e incêndio.

O grau de intensidade sísmica da freguesia de São João foi X na escala de Mercalli.

Freguesia de São Jorge

108

Esta freguesia aparece referenciada já no ano de 1168. Segundo as memórias paroquias o

terramoto e o incêndio terão destruído a igreja, contudo, o padre Manuel Portal não confirma

esse cenário, referindo que a igreja sofreu danos significativos mas menos marcantes, caindo

somente o coro e ficando o corpo do templo arruinado. Dado que a freguesia transladou de

local após o terramoto 1755, a sede paroquial viria ser edificada no largo do Cruzeiro de

Arroios.

O grau de intensidade sísmica da freguesia de São Jorge foi IX na escala de Mercalli.

Freguesia de São José

A sua igreja paroquia, datada de 1345, pouco sofreu com o terramoto de 1755, arruinando-se

apenas o frontispício.

Algumas outras estruturas relevantes desta freguesia sofreram danos mais ou menos graves

conforme se descreve em seguida:

Edifícios pouco danificados:

o Hospício dos Brunos (sofreu alguma ruína);

o Hospício do Mercenários (padeceu pouca Ruína);

o Convento de Santa Marta (padeceu alguma ruína);

o Ermida de São Luiz Rei de França (Hospital dos Franceses) sofreu algumas

ruínas;

o Hospício dos Mercenários teve pouca ruína.

Edifícios muito danificados:

o Convento de Nossa Senhora da Anunciada (ruína significativa, a abobada da

igreja ficou aberta ao meio);

o Ermida de Nossa Senhora da Glória (completamente arruinada);

o Palácio do Conde de Castelo Melhor (ruína total);

o Palácio do Marques de Louriçal (ardeu).

O grau de intensidade sísmica da freguesia de São José foi de IX do sul da freguesia até à

igreja e de VIII para o norte desta (valores referidos à escala de Mercalli).

Freguesia de Santa Justa

Localizada no coração de Lisboa, esta freguesia era das mais importantes da cidade, sendo

certa a sua existência pelo menos desde 1191. A igreja paroquial era sumptuosa e uma das

mais ricas de Lisboa, resistiu aos abalos mas foi consumida pelo incêndio (com excepção da

capela mor). Após o terramoto de 1755 foi transladada do local original para a actual rua dos

fanqueiros onde ainda hoje permanece.

Esta freguesia ostentava diversos monumentos e palácios também eles afectados pela

catástrofe, conforme se refere de seguida.

109

O Convento de São Domingos e a sua igreja sofreram muito com terramoto e posterior

incêndio. Ao primeiro abalo, caiu o óculo do frontispício da igreja, caiu a tribuna da

capela de Nossa Senhora do Rosário e a de São Domingos, caiu a torre do sino, caiu

grande parte das paredes do dormitório da capela do noviciado e da Livraria. Após o

que o incêndio destruiu tudo, à excepção do noviciado e do dormitório junto deste.

A Ermida de Nossa Senhora da Escada foi completamente devorada pelo fogo;

O Hospital Real, também conhecido por Hospital de Todos os Santos ardeu por

completo após os abalos sísmicos;

O Hospício de São Camilo na Ermida de São Mateus sofreu alguma ruína;

O Palácio da Inquisição ficou totalmente arruinado pelo terramoto. Foi reconstruído por

Carlos Mardel e novamente destruído em 1836, destas feita pelo fogo. No seu local, foi

então construído o Teatro D. Maria II;

O Palácio do Senado da Câmara, casas dos herdeiros de D. Brás Baltazar da Silveira

ficou totalmente arruinado pelo terramoto;

O Palácio do Duque de Cadaval ficou algo danificado com o terramoto, mas foi o

incêndio que o destruiu quase por completo. Já o Hospício de Santo António,

pertencente ao palácio em questão, somente experimentou ruína pelo terramoto, pois o

incêndio não o atingiu;

O Palácio do Conde de Almada, reconhecidamente de fraco valor arquitectónico, é

contudo considerado um edifício carismático pelo papel que desempenhou em 1640,

na manutenção da independência de Portugal. Resistiu ao terramoto e incêndio;

A Ermida de Nossa Senhora do Amparo foi destruída pelo terramoto e incêndio;

A Ermida de Nossa Senhora da Escada foi devorada pelas chamas;

A Ermida de Nossa Senhora da Graça foi destruída pelo terramoto e pelo incêndio.

O grau de intensidade sísmica da freguesia de Santa Justa foi de IX, à excepção da zona do

Rossio que foi de X (valores relativos à escala de Mercalli).

Freguesia de Santa Isabel

A freguesia de Santa Isabel, criada em 1741, era para os Lisboetas um recanto pitoresco, lugar

agradável, batido a vento, desafogado e campesino, considerando-se pois uma zona

suburbana e lugar indicado para as férias de verão Esta freguesia que era alfobre de

estrangeiros foi das menos afectadas pela tragédia do dia 1 de Novembro de 1755. A sua

igreja paroquial, ainda inacabada, não padeceu ruína alguma. Contudo podem-se contabilizar

alguns estragos em edifícios importantes, como sejam:

O Convento das Religiosas Trinas ou de Nossa Senhora dos Remédios ficou algo

danificado;

O Convento de Nossa Senhora da Assunção ou Noviciado dos Jesuítas da Cotovia,

sofreu ruína considerável;

110

O Convento de Nossa Senhora da Estrela ficou muito arruinado;

O Convento e a igreja do Mosteiro de São Bento da Saúde pouco ou nada sofreram

(refira-se que foi neste mosteiro que se albergou o Arquivo nacional do Tombo, salvo

por Manuel da Maia, após o incêndio no Castelo).

O Noviciado dos Jesuítas da Cotovia (Convento) sofreu alguma ruína;

A Ermida e o Mosteiro da Quinta do Vale do Pereiro da Congregação de São Filipe de

Nery ficaram muito danificados;

O Reservatório e Aqueduto das Aguas Livres encontravam-se já em grande parte

construídos, pelo terramoto nada de importante sofreram, somente três torreões que

serviam de ventiladores é que sofreram algum dano.

O grau de intensidade sísmica da freguesia de Santa Isabel foi de VIII com excepção à zona da

Escola Politécnica onde se atingiu o grau IX (valores referidos à escala de Mercalli).

Freguesia de São Lourenço

A sua criação remonta ao ano de 1209, no reinado de D. Afonso II. Pelo terramoto arruinou-se

aquela que era a sua igreja paroquial, tendo caído a maior parte do tecto e do coro. Além da

igreja paroquial outros edifícios ficaram danificados, veja-se:

O Convento de Nossa Senhora do Rosário teve alguma ruína, mas a sua igreja teve

danos consideráveis pois ficou sem tecto;

O Convento da Rosa de Religiosas Dominicanas e o Palácio do Visconde de Vila Nova

da Cerveira ficaram parcialmente danificados, manifestando alguma ruína;

O Mosteiro de Nossa Senhora do Rosário ficou sem tecto, sem paredes do coro, com

danos nos dormitórios e sem parte do muro do convento;

O Palácio do Viscondes de Vila nova da Cerveira caiu grande parte por terra;

O Palácio do Conde de Aveiras ficou reduzido a chamas.

O grau de intensidade sísmica da freguesia de São Lourenço foi de IX na escala de Mercalli.

Freguesia de São Mamede

Igreja de São Mamede, uma das mais antigas de Lisboa (remontando ao ano de 1220), foi

destruída pelo terramoto e incêndio.

Outros edifícios que também sofreram danos com a catástrofe foram os seguintes:

O Colégio de São Patrício também designado por colégio dos Irlandeses católicos

sofreu alguma ruína com o terramoto e incêndio;

O Palácio Penafiel;

111

A Ermida de São Crispim, embora salva do incêndio, viu-se arruinada com o terramoto.

O grau de intensidade sísmica da freguesia de São Mamede foi de X na escala de Mercalli.

Freguesia de Santa Maria Madalena

Esta freguesia cuja existência é já mencionada em 1164, tem na sua igreja paroquial

contabilizadas várias contrariedades ao longo da sua existência. No dia 1 de Novembro de

1755, suportou o tremor de terra, contudo foi consumida pelo incêndio. Actualmente o portal

principal da igreja é considerado Monumento Nacional.

Dos edifícios destruídos pelo fogo, destacam-se os seguintes:

A Ermida de Nossa Senhora da Assunção;

A Ermida de Nossa Senhora do Rosário;

O Hospital dos Palmeiros e Ermida de Nossa Senhora de Belém;

O Palácio Real (fig. 32), onde se consumiram pelas chamas 70 volumes da sua livraria,

uma das mais completas de toda a Europa;

Figura 32 – Ruínas do Palácio Real, GEO

A Casa da Índia com todo o seu valioso recheio (diamantes, prata e ouro);

A Casa da Ópera (fig.33), muito afamada por toda a Europa, quer pelos artistas que

nela entravam quer pela sua grandiosidade e magnificência;

Figura 33 – Ruínas da Casa da Opera, GEO

112

Os Tribunais maiores, nomeadamente o Desembargo do Paço, a Mesa da

Consciência, o Concelho da Fazenda, o Concelho de Guerra, a Junta dos três Estados,

a Contadoria da Guerra, o Concelho Ultramarino entre outros;

O Palácio do Tesouro foi devorado pelas chamas;

A Ermida da Ascensão de Cristo sofreu grande ruína pelo terramoto;

A Ermida do Senhor Jesus dos Desamparados ficou totalmente pelos abalos e pelo

fogo;

Os Paços dos Arcebispos de Lisboa foram totalmente destruídos pelos abalos;

A igreja de São Sebastião da Padaria que sofreu pelos abalos e foi destruída pelas

chamas.

Embora se reconheça que os grandes estragos foram devidos ao incêndio, também esta

freguesia foi assolada pelo maremoto. A este respeito Moreira de Mendonça refere: “O impacto

das águas desfez o formosíssimo Caes da pedra, que descorria na Marinha do Terreiro do

Paço…” [28 p.605].”.

O grau de intensidade sísmica foi de IX, excepto na área junto ao Tejo que foi de X (Valores

relativos à escala de Mercalli).

Freguesia da Sé

A igreja da Sé é actualmente Monumento Nacional. Trata-se de uma obra em estilo românico e

gótico, que não reúne consenso no que respeita à sua origem. Certos autores atribuem a D.

Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, a responsabilidade pela sua construção. Porém,

outros autores não corroboram desta opinião, defendendo que este monumento religioso já

existia à data da conquista de Lisboa. Esta igreja sofreu ao longo dos anos várias reparações,

incluindo-se nestas as que foram efectuadas para consertar os estragos provocados pelo

terramoto de 1755 e subsequente incêndio, que foram:

A queda da torre sobre o cruzeiro;

O derrubamento de parte da torre sineira do lado sul da frontaria;

A incineração de quase tudo o que não tinha caído.

Além da sua igreja, outros monumentos e palácios sofreram danos, como sejam:

A Igreja de Santo António ficou arruinada pelo terramoto e desfigurada pelo incêndio;

Na Igreja e Recolhimento de Nossa Senhora da Misericórdia, caíram partes da

abobada e um campanário devido aos abalos sísmicos;

O Palácio do Tesouro foi destruído pelo terramoto e incêndio, ardendo todas as

riquezas que continha, incluindo-se nestas as armações riquíssimas de sua Majestade;

O Paços dos Arcebispos de Lisboa, foi completamente destruído pelo terramoto;

A Ermida de Nossa Senhora da Caridade, ficou muito danificada;

A Ermida de Nossa Senhora da Consolação ficou destruída pelo terramoto e incêndio;

113

A Ermida do Senhor Jesus dos Desamparados e de Nossa Senhora do Rosário, que

fora fundada no ano do terramoto, foi destruída pelo tremor de terra e incêndio;

A Igreja de São Sebastião, foi completamente destruída pelo terramoto e o pouco que

se salvou ardeu no incêndio;

A Casa dos Bicos e a Casa das Varandas ficaram bastante danificadas;

Todos os palácios foram destruídos, à excepção do Palácio dos Vila Flor.

O grau de intensidade sísmica da freguesia da Sé foi de IX na escala de Mercalli.

Freguesia de Santa Marinha

Vem mencionada no documento do episcopado, no ano de 1222. A sua igreja, algo danificada

pelo terramoto, localizava-se no centro do actual Largo de Santa Marinha.

Bautista de Castro na sua tabela indica esta freguesia como “bem livrada”, contudo pelo

número de mortes, ficam algumas dúvidas nesta apreciação.

O grau de intensidade sísmica da freguesia de Santa Marinha foi de IX na igreja e

proximidades e de X na restante área (valores relativos à escala de Mercalli).

Freguesia de São Martinho

F.L.P. Sousa apresenta a tabela de Bautista de Castro, na qual esta freguesia se considera

como “bem livrada”, contudo os danos pelo terramoto tiveram alguma expressão, podendo-se

afirmar que a sua igreja paroquial ficou muito danificada. Contabilizam-se na história várias

reconstruções desta igreja.

Nesta freguesia refira-se ainda a Prisão do Limoeiro, que caiu por terra devido à catástrofe.

O grau de intensidade sísmica da freguesia de São Martinho foi de X na escala de Mercalli.

Freguesia dos Mártires

A sua igreja paroquial foi edificada logo após a reconquista cristã (curiosamente no mesmo dia

que a igreja de São Vicente). Trata-se de uma igreja reconstruída no todo, ou em parte, por

várias vezes, sendo que uma delas foi após o terramoto de 1755, onde ficou completamente

destruída, tanto pelos abalos do tremor de terra, como pelo incêndio. Devido ao plano de 1770,

a igreja reconstruída noutro local, mais concretamente, na actual rua Garrett em Lisboa.

Também destruídos pelo terramoto e consequente incêndio foram os seguintes edifícios:

Convento de São Francisco (abateu-se pelo terramoto o coro, a igreja, a capela-mor, e

as varandas do claustro, ardendo pelo incêndio a maior parte do convento e a igreja);

Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora (totalmente destruído pelo terramoto),

Ermida de Nossa Senhora da Graça (destruída pelo incêndio);

Palácio do Côrte-real (destruído pelo terramoto e incêndio);

Palácio do Conde de Atouguia (arruinou-se e ardeu);

114

Palácio do Conde de Vimieiro (foi completamente destruído e consumido pelo fogo,

levando nas suas ruínas muitas casa contíguas);

Palácio dos Duques de Bragança (parte destruído pelo terramoto e reduzido a cinzas

pelo incêndio);

Palácio do Visconde de Barbacena (caiu sobre a igreja dos Agostinhos Descalços);

Palácio do Marques de Távora (veio por terra e foi devorado pelas chamas, que

consumiram também todas as riquezas que o Vice-rei, seu dono, trouxera da Índia);

Recolhimento de meninas pobres (destruído pelo terramoto e posterior incêndio);

Outros edifícios sobreviveram, mas com danos muito consideráveis, destacando-se os

seguintes:

O Hospital dos Terceiros da Ordem de São Francisco que sofreu bastante pelo

terramoto e incêndio.

O Palácio dos Duques de Bragança que foi reduzido a cinzas no seu interior.

O grau de intensidade sísmica da freguesia dos Mártires foi de X na escala de Mercalli.

Freguesia da Nossa Senhora das Mercês

Nesta freguesia, comparativamente a outras, não sofreu grandes prejuízos, contudo, a sua

igreja ficou em parte destruída, nomeadamente a tribuna da capela-mor, a frontaria da igreja, a

tribuna, o coro e a torre dos sinos.

Da mesma forma que a igreja paroquial, outros edifícios foram afectados pelo

terramoto e posterior incêndio. Em algumas estruturas, como no Hospício de Nossa

Senhora dos Anjos, no Hospício de Nossa Senhora do Carmo e ainda no Hospício de

Nossa Senhora da Conceição os prejuízos foram pequenos, mas outras edificações

manifestaram uma destruição considerável, como sejam:

O Convento de Nossa Senhora da Providencia;

Convento de Nossa Senhora de Jesus;

Recolhimento do Espírito Santo ou dos Cardais que segundo Baptista de Castro os

danos foram poucos, mas segundo Moreira de Mendonça a ruína foi grande;

O Colégio de São Pedro e São Paulo também conhecidos pelo Seminário dos

Inglesinhos ficou com a sua igreja completamente destruída e parte do colégio

arruinado;

O Palácio do Cunhal das Bolas de António de Melo e Castro (grande parte veio por

terra).

O Convento das religiosas de Santa Teresa (também conhecido por convento da

Nossa Senhora da Conceição) ficou com bastante ruína);

O Convento do santíssimo Sacramento (caíram as pirâmides das duas torres e

varanda, a abóbada da igreja e as algumas paredes);

115

O Hospital da Ordem Terceira de Jesus sofreu a queda do tecto em abóbada e a casa

de despacho;

O Palácio dos Senhores das Alcáçovas caiu por terra;

O Colégio de São Pedro e São Paulo, ou dos Inglesinhos ficou;

O Convento dos Caetanos ou de Nossa Senhora da Providência

Realce-se ainda que nesta freguesia morava o conde de Oeiras, constatando-se que a sua

casa pouco ou nada sofreu em virtude do terramoto.

O grau de intensidade sísmica da freguesia de Nossa Senhora das Mercês foi de X na escala

de Mercalli.

Freguesia de São Miguel

Conhecida pelos seus banhos quentes de águas termais, esta freguesia vem citada pela

primeira vez no documento do episcopado de 1209. De acordo com os relatos históricos, a

igreja paroquial que fora reedificada desde os seus alicerces no ano de 1674, sofreu grandes

estragos motivados pelo terramoto.

O grau de intensidade sísmica da freguesia de São Miguel foi de IX n escala de Mercalli.

Freguesia de São Nicolau

A igreja desta freguesia (fig.34) vem citada pela primeira vez no documento do episcopado do

reinado de D. Afonso II. Era uma das igrejas mais sumptuosas da capital, não só pela sua

arquitectura mas também pelos materiais usados e pelo precioso recheio que ostentava. Esta

estrutura foi severamente danificada pelo terramoto de 1755. O plano de divisão das freguesias

datado de 1770, destinava à igreja um terreno na Rua dos Fanqueiros para construção da nova

sede paroquial desta freguesia, contudo, esta acabaria por ser construída no local da primitiva,

mas com orientação perpendicular à original.

Figura 34 – Ruínas da Igreja de São Nicolau

Par além da igreja paroquial outros edifícios sofreram danos devido ao terramoto e incêndio,

veja-se os exemplos mais relevantes:

O Convento de Corpus Christi foi muito danificado pelo terramoto e o seu recheio

transformado em cinzas;

A Ermida de Nossa senhora da Palma ficou completamente arruinada pelo terramoto;

116

A Ermida de Ascensão de Cristo também ficou totalmente destruída;

Para a Ermida de Nossa Senhora da Vitória também estão referenciados danos

motivados pelo terramoto e incêndio;

O Hospital de Nossa Senhora da Vitória ardeu e o Hospital da Ordem Terceira do

Carmo sofreu danos aquando do terramoto sendo posteriormente devorado pelo fogo,

perdendo todas as suas riquezas [28, p.623].

O grau de intensidade sísmica na freguesia de São Nicolau foi em geral X na escala de

Mercalli.

Freguesia da Patriarcal

Esta freguesia, sem território submetido, tinha como fregueses exclusivos os residentes do

palácio e os habitantes da rua do Arco dos Cobertos da Ribeira das naus. A sua igreja, situada

junto ao palácio da Ribeira, continha preciosidades incalculáveis, ornamentos interiores

belíssimos, jóias e peças em ouro e prata. Apesar de pouco ou nada ter sofrido com o

terramoto, acabou por ser completamente destruída pelo fogo, com quase tudo de valor que lá

se encontrava. Aproveitando a tragédia e antes de ser totalmente consumida pelo fogo, a igreja

foi pilhada e alguns valores foram ainda parar às mãos de ladrões.

Como esta freguesia não tinha território determinado não se pôde avaliar o seu grau de

intensidade sísmica.

Freguesia de São Paulo

Nesta freguesia o terramoto e o incêndio provocaram uma grande destruição. A sua igreja

paroquial foi quase totalmente arruinada pelo terramoto, tendo o fogo posto fim ao que restava.

Outras estruturas grandemente afectadas pela catástrofe foram o Colégio de Nossa Senhora

do Rosário, onde o terramoto danificou fortemente a igreja e o convento e ainda a Igreja das

Chagas de Jesus Cristo que sofreu com os abalos e foi totalmente destruída pelo fogo. O

Hospício de São João Nepomuceno e Santa Ana sofreu pouco. Já a Casa da Moeda teve

melhor sorte, pois salvou-se ao terramoto, ao incêndio e aos ladrões

O grau de intensidade sísmica na freguesia de São Paulo foi de X na escala de Mercalli.

Freguesia do Santíssimo Sacramento

A ocorrência do terramoto e posterior incêndio reduziram a sua igreja às paredes laterais, tudo

o resto ficou arruinado e queimado. De resto, a ruína e posterior redução a cinzas devido às

chamas decorrentes do incêndio, ocorreu em muitos outros edifícios desta freguesia, como

sejam:

O Templo de Nossa Senhora do Carmo;

O Templo da Santíssima Trindade;

O Palácio do Senhor Marques de Nisa;

O Palácio do Duque de Lafões;

117

O Palácio do Conde de Cocolim;

O Palácio do conde de Valadares;

O Palácio de Dom António de Silveira;

O Palácio do Conde de Oeiras;

O Palácio de Ruy da Silva;

O Palácio de Dom Luís Caetano;

O Palácio de Gonçalo José de Alcasova;

O Palácio do Governador D. João Diogo de Atayde;

O Palácio dos Italianos;

Convento da Santíssima Trindade;

O Convento de Nossa Senhora do Carmo (após os primeiros abalos, caiu a abóbada

do cruzeiro e o corpo da igreja, após o que o fogo se lhe pegou e ardeu);

Veja-se de seguida (fig.35 e 36) o Convento do Carmo, antes e depois do grande terramoto.

Figura 35 – Convento de Nossa Senhora do Carmo antes do terramoto de 1755

118

Figura 36 – Convento de Nossa Senhora do Carmo depois do terramoto de 1755

O grau de intensidade sísmica na freguesia do Santíssimo Sacramento foi de X na escala de

Mercalli.

Freguesia de São Salvador

A sua igreja paroquial, pertencente ao convento de São Salvador, sofreu danos graves com o

terramoto de 1755, caindo o coro e metade do tecto, ao contrário do convento, que passados

dois meses da catástrofe já dava serventia aos seus fregueses. Na freguesia, outros edifícios

importantes ficaram danificados com gravidade, é exemplo o Palácio do Conde dos Arcos, que

sofreu fortes prejuízos com o terramoto.

O grau de intensidade sísmica na freguesia de São Salvador foi de X na escala de Mercalli.

Freguesia de Santos-o-Velho

A sua sede paroquial, com o terramoto, ficou destituída da abóbada do coro, que caiu. Nesta

freguesia outras estruturas importantes foram atingidas pelo terramoto, conforme se apresenta

em seguida.

Estruturas com poucos danos:

119

o Convento do Marianos ou de Nossa Senhora dos Remédios;

o Convento de Nossa Senhora da Soledade ou Trinas de Mocambo;

o Convento de Santo Crucifixo;

o Convento de Nossa Senhora do Livramento;

o Convento de Santa Brígida ou das Inglesinhas, permitiu a permanência das

freiras;

o Convento de São João de Deus;

o Convento do Santo Crucifixo ou das Francesinhas;

o Convento e Palácio de Nossa Senhora das Necessidades;

o Palácio do Conde de Óbidos.

Estruturas com danos medianos e consideráveis:

o Convento de Nossa Senhora da Esperança (bastante danificado);

o Convento de Santo Alberto (bastante danificado, impedindo as freiras de lá

permanecerem);

o Convento de Nossa Senhora da Esperança;

o Convento do Santíssimo Sacramento (alguns estragos, não impeditivos da

permanência das freiras).

Estruturas completamente destruídas:

o Convento de Nossa Senhora da Nazaré ou das Religiosas Bernardas;

o Convento de São Francisca de Paula;

o Palácio do Duque de Aveiro (reduzido a cinzas alguns dias após o terramoto);

O grau de intensidade sísmica na freguesia de Santos-o-Velho foi de IX na parte este da igreja

de Santos e de VIII na parte oeste desta (valores referidos à escala de Mercalli).

Freguesia de São Sebastião da Pedreira

A sua igreja paroquial ficou intacta após o tremor de terra de 1755. O Palácio de Palhavã, a

Ermida de São João Baptista, o Palácio Fronteira e o Convento de Santa Rita (ou de

Agostinhos Descalços) também não sofreram danos consideráveis. Já o Convento da

Convalescença na Cruz da Pedra, o Convento de São Domingos de Benfica, a Quinta de

Miraflores, o Palácio das Galveias e o Palácio do Campo Pequeno foram bastante arruinados

pelo grande sismo de Lisboa.

O grau de intensidade sísmica na freguesia de São Sebastião da Pedreira foi de VIII na escala

de Mercalli.

Freguesia de Nossa Senhora do Socorro

Esta paróquia (com referências à data de 1596) tinha a sua sede paroquial estabelecida na

igreja de Nossa Senhora do Socorro, a qual foi completamente destruída pelo terramoto.

120

Também danificados, ficaram os seguintes edifícios relevantes da freguesia:

O Colégio de Santo Antão ficou com a sua igreja e dormitório arruinados;

O Convento de Santo Antão-o-Velho sofreu danos consideráveis, ficando a sua igreja

completamente destruída, excepto a sua capela-mor;

O Colégio de Jesus também ficou muito destruído;

O Palácio do Marques de Alegrete ruiu parcialmente;

A Ermida de Nossa Senhora da Saúde ficou arruinada.

O grau de intensidade sísmica na freguesia de Nossa Senhora do Socorro foi de X, com

excepção da Mouraria que foi de IX (valores referidos à escala de Mercalli).

Freguesia de São Tiago

A igreja paroquial da freguesia de São Tiago, era uma das mais antigas de Lisboa. A descrição

dos danos sofridos após o terramoto não é consensual. Os autores consultados concordam

que houve estragos decorrentes do sismo, porém, enquanto que para Bautista de Castro a

ruína foi pequena, para Moreira de Mendonça e para as memórias paroquias, a ruína foi total.

Outras estruturas sofreram com o sismo, nomeadamente, a Igreja de Santa Luzia (também

nesta igreja, as opiniões sobre a gravidade da ruína são divergentes), o Palácio Azurara e o

Palácio da Família Franco que sofreu poucos danos.

Por último atente-se na Memória Paroquial afecta a esta freguesia, onde se refere o seguinte:

“Com o terramoto de 1755 cahio a igreja desta freguesia e muitas cazas ficarão demolidas e

outras aruinadas e somente se queimarão humas casas nobres, e parte de outras e das

aruinadas se vão concertando algumas poucas.”

O grau de intensidade sísmica na freguesia de São Tiago foi de IX na escala de Mercalli.

Freguesia de São Tomé

A existência da sua igreja paroquial remonta ao ano de 1320. O terramoto de 1755 não

danificou de sobremaneira esta igreja, havendo apenas danos a considerar no estuque, na

pintura e nos azulejos. Já a Igreja de Nossa Senhora da Graça teve sorte diferente, pois ficou

completamente arruinada.

O grau de intensidade sísmica na freguesia de São Tomé variou entre de VIII até IX (valores

relativos à escala de Mercalli).

121

Freguesia de São Vicente

Esta paróquia foi instituída em 1147, após a conquista da cidade aos Mouros. Ao longo do

tempo a igreja paroquial de São Vicente sofreu várias reconstruções. Pelo terramoto, sofreu

alguns estragos, nomeadamente na grande cúpula do cruzeiro. Após o que foi reparada. Esta

igreja foi classificada como Monumento Nacional.

Também danificados pelo terramoto ficaram os seguintes edifícios:

O Convento de Santa Mónica sofreu muitos danos, tendo-se destruído grande parte

deste edifício, incluindo a igreja;

O Convento de São Vicente que ficou sem o zimbório e algumas pirâmides;

O Hospício de Nosso Senhor Jesus Cristo que ficou arruinado;

O Palácio do Conde de Vale Reis, a antiga universidade de Lisboa (Escolas Gerais),

que ficou em grande parte destruído;

O Palácio do Conde de São Martinho que sofreu bastante com o terramoto;

O Palácio de Vieira da Silva Teles que manifestou alguma ruína.

O grau de intensidade sísmica na freguesia de São Vicente foi de X na escala de Mercalli.

Freguesia do Castelo

A igreja de Santa Cruz da Alcáçova também designada por Santa Cruz do Castelo, que terá

sido fundada por D. Afonso Henriques, a seguir à tomada de Lisboa, ficou arruinada com o

terramoto de 1755.

Nesta freguesia o terramoto e consequente incêndio foram responsáveis pela ruína de diversos

monumentos, descrevendo-se em seguida os mais importantes:

A Torre do Tombo (foi destruída pelo terramoto, mas Manuel da Maia, o guarda-mor

deste arquivo, conseguiu salvar o precioso arquivo que esta albergava);

O Hospital de Nossa Senhora da Conceição;

O Recolhimento de Nossa Senhora da Encarnação;

O Paço da Alcáçova;

A Ermida de Espírito Santo e a Ermida de São Miguel.

O grau de intensidade sísmica na freguesia de Santa Cruz do Castelo foi de X na escala de

Mercalli.

Freguesia de São Julião

Pensa-se que no ano de 1200 já estaria formada, sendo certa a sua existência no tempo de

Afonso II. A sua igreja paroquial, completamente destruída pelo terramoto de 1755, localizava-

se na actual rua Augusta. Foi reconstruída em novo local, no Largo de São Julião, onde outrora

se encontrava parte do edifício da Patriarcal. Registe-se ainda que em 1934 o edifício da igreja

foi entregue ao Banco de Portugal.

122

Sobre a destruição resultante do desastre de 1755 podemos destacar o seguinte:

Edifícios destruídos exclusivamente pelo terramoto:

Palácio do Cunhal das Bolas de António de Melo e Castro;

Edifícios poupados em grande parte pelo sismo, mas destruídos pelo incêndio:

Toda a rua do Ouro;

O palácio da Corte Real, cujas paredes ficaram de pé e com poucos estragos,

abatendo-se as coberturas e o célebre zimbório do torreão filipino.

Edifícios destruídos pela acção conjunta do sismo e incêndio:

O convento da Nossa Senhora da Boa Hora;

A igreja e convento de Nossa Senhora dos Dominicos;

A Santa Igreja Patriarcal

A ermida da Nossa Senhora da Oliveira.

Nesta freguesia encontravam-se grande parte dos ourives de ouro e prata, não sendo por isso

de estranhar os danos materiais avultados aqui registados.

O grau de intensidade sísmica na freguesia de São Julião foi de X na escala de Mercalli.

Freguesia de São Pedro de Alfama

A data da sua criação é duvidosa, havendo referências ao ano de 1191, porém, é certa a sua

existência no reinado de D. Sancho II. A sua igreja paroquial, que se localizava no actual nº2

da Calçada de São João da Praça, foi quase totalmente destruída pelo terramoto,

permanecendo apenas uma parede de pé. Após o sismo a igreja foi reconstruída e

posteriormente demolida.

Pela divisão de 1770, a freguesia foi transladada para Alcântara. No ano de 1786 foi

inaugurada a sua nova sede paroquial, localizada na Calçada da Tapada.

O grau de intensidade sísmica na freguesia de São Pedro de Alcântara foi de X na escala de

Mercalli.

Freguesia de São Bartolomeu

No sínodo de 1191 esta freguesia já aparece referenciada. A sede paroquial ficou severamente

danificada com o terramoto e incêndio do dia 1 de Novembro de 1755. Dos danos

mencionados na literatura, fazem parte o derrube do tecto e da frontaria da igreja e a redução a

cinzas das suas 3 capelas. O território desta freguesia foi posteriormente incorporado nas

freguesias de São Tiago e São Martinho.

Dos edifícios destruídos, destacam-se:

123

O Hospital de São Paulo (Convento de Santo Eloy), onde caíram as suas duas torres, o

tecto e as paredes, até às cimalhas das capelas, ficando os dois arcos da capela-mor e

do coro de pé;

O Seminário de Santa Catarina, que ficou fortemente danificado com o terramoto e

incêndio.

O grau de intensidade sísmica, não é certo, contudo aceita-se que foi de X na escala de

Mercalli.

Freguesia das Chagas de Jesus Cristo

Sem território determinado, esta freguesia foi destinada aos marítimos da Carreira da Índia.

A sua sede paroquial, com 200 anos de existência, sofreu grandes danos com o terramoto,

contudo foi o incêndio que a devorou por completo.

Como esta freguesia não tinha território determinado, não se pôde avaliar o seu grau de

intensidade sísmica.

Freguesia de Nossa Senhora da Encarnação

A majestosa igreja paroquial, concluída em 1708, foi pouco afectada pela ocorrência do sismo,

apenas sofreu a destruição do seu coro e a ruína de duas pirâmides da torre.

Também danificados ficaram os seguintes edifícios:

Convento de São Pedro de Alcântara – Tudo se destruiu pelo terramoto, excepção feita

à cozinha, claustro e refeitório;

Convento de São Roque – Arruinou-se parte da igreja, o frontispício e a torre desta;

Recolhimento de Nossa Senhora da Natividade – Severamente danificado com o

terramoto;

Hospital de Nossa Senhora da Conceição – O terramoto provocou-lhe alguma ruína,

que foi posteriormente reparada;

Ermida de Nossa Senhora do Alecrim – Ficou totalmente destruída com o terramoto e o

incêndio;

Hospital de Nossa Senhora da Conceição – Sofreu alguma ruína;

Palácio dos Condes da Vidigueira e Marquezes de Niza – Ficou bastante arruinado

pelo terramoto;

Palácio do Conde da Cunha – Caiu por terra, segundo o padre Manuel Portal;

Palácio do Conde de Sandomil – Caiu por terra, segundo o padre Manuel Portal;

Palácios dos Marquezes de Marialva – Segundo o padre Manuel Portal, grande parte

veio a terra e foi inteiramente queimado, contudo Moreira de Mendonça nada refere;

Palácio dos Condes de Soure – Sofreu danos significativos com o terramoto;

Palácios dos Sousa Calhariz – Caiu por terra o palácio de Manuel António e ficou muito

arruinado o palácio de Vicente de Sousa;

124

Igreja de Nossa Senhora do Loreto e o Colégio dos Catecúmenos – padeceram pouca

ruína.

O grau de intensidade sísmica na freguesia de Nossa Senhora da Encarnação foi de IX na

escala de Mercalli.

Freguesia de Nossa Senhora da Pena

Designada nos seus primórdios por Santa Ana, esta paróquia foi fortemente danificada pelo

terramoto, ficando a sua igreja paroquial sem tecto.

O terramoto provocou ainda vários danos noutros edifícios, conforme se refere em seguida:

Convento de Santo António dos Capuchos – Sofreu danos nas suas capelas e na

abobada do corpo da igreja que caiu;

Convento de Santa Ana - A sua igreja e dois dormitórios ficaram arruinados;

Convento de Nossa Senhora da Encarnação – Ficou com danos suficientes que

impediram a sua habitabilidade;

Convento de São Vicente de Paulo – Sofreu alguma ruína.

O grau de intensidade sísmica na freguesia de Nossa Senhora da Pena foi de IX em algumas

zonas e de X noutras (Valores referidos à escala de Mercalli).

Freguesia de Nossa Senhora da Ajuda

Era nesta freguesia que se encontrava a família Real à data do terramoto, mais concretamente

no palácio de Nossa Senhora da Ajuda. Foi também nesta freguesia que sua Majestade

mandou construir uma barraca apalaçada após o terramoto, para a qual se transferiu em Julho

de 1755, tendo aí permanecido por um período de 9 meses.

Pelo terramoto, esta freguesia pouco ou nada sofreu. A sua igreja paroquial saiu ilesa, contudo,

alguns edifícios sofreram danos, veja-se:

Convento de Nossa Senhora de Belém – Sofreu alguns danos que não foram

prontamente reparados, levando à queda da abóbada da igreja;

Convento de Nossa Senhora do Bom Sucesso - Ficou pouco danificado, pelo que

facilmente foi reparada;

Convento do Calvário - Ficou totalmente arruinado, caindo por terra;

Convento de Nossa Senhora da Quietação – Teve poucos estragos, que foram de fácil

reparo;

Mosteiro dos Jerónimos – Teve necessidade de algumas reparações;

Ermida de Nossa Senhora dos Aflitos e Santo Cristo – Sofreu muito pouco;

Ermida de Nossa Senhora da Conceição – Padeceu pouca ruína;

Palácio do Conde de São Lourenço em Santo Amaro – Sofreu muito pouco;

O Palácio Real de Alcântara e o Palácio do Conde da Ponte tiveram uma ruína total.

125

O maremoto atingiu esta freguesia, podendo ler-se no livro de registo de óbitos da freguesia o

seguinte: “…, moradores em Bellem, fugindo do horroroso, terramotto que houve neste dia,

para a rua a tempo que crecendo as agoas com grandissimo impulço os arrebatou pelo mar

dentro e os foi lançar na Junqueira junto a casa…” (Ref. bibliográfica nº28, p. 699).

O grau de intensidade sísmica na freguesia de Nossa Senhora da Ajuda foi de VIII, excepto

uma pequena parte junto ao rio Tejo e à Ribeira de Alcântara, que foi IX (Valores referidos à

escala de Mercalli).

Freguesia de Nossa Senhora do Loreto

Esta freguesia, sem território administrativo, foi estabelecida para todos os Italianos residentes

em Lisboa. A sua igreja foi pouco afectada pelo terramoto, porém no dia 3 de Novembro de

1755, foi tomada pelo fogo, que a consumiu com todos os valores guardados no seu interior.

Feita uma descrição com algum detalhe dos danos ocorridos nos principais edifícios das

diferentes freguesias, atente-se num texto de Bautista de Castro, citado por F. Portugal / A.

Matos e por F.L.P. de Sousa [20 e 28], onde se conclui o seguinte:

Mosteiros – 17 foram devorados pelo fogo e 34 ficaram arruinados;

Igrejas Paroquias e Ermidas – 20 foram destruídas exclusivamente pelo incêndio e 13 foram

arruinadas pela acção conjunta do tremor de terra e incêndio;

Conventos – Dos 65 conventos, só onze ficaram habitáveis, ainda que parcialmente destruídos;

Hospitais – Os 6 hospitais foram destruídos pelo incêndio;

Cadeias – Foram todas destruídas, permitindo a fuga dos seus presos que ao se sentirem em

liberdade, vaguearam pela cidade a roubar e a destruir as igrejas e habitações que se

encontravam acessíveis, incendiando os locais após as pilhagens;

Palácios – 33 Palácios das maiores famílias do reino foram destruídos, quer pelo terramoto

quer pelo incêndio. Juntamente com os palácios, muitos bens se perderam, nomeadamente

quadros, tapeçarias, móveis, jóias, etc.

Casa Real – Sofreu perdas inestimáveis, com a destruição do Paço da Ribeira, da igreja

Patriarcal e da Ópera, pelo incêndio Este conjunto arquitectural e decorativo, teve pelas mãos

de D. João V e depois D. José I as maiores atenções. Todas as riquezas lá guardadas

desapareceram, os 70 mil volumes guardados na Biblioteca Real, o tesouro dos armazéns da

casa da Índia, os ornamentos, as jóias, …, tudo desapareceu.

O valor de todas as riquezas que se perderam em ouro, prata, pedras preciosas, móveis,

pinturas, etc., é incalculável. Contudo, F.L.P. de Sousa, apresenta um manuscrito [28, p.547],

no qual se avaliam algumas das perdas matérias, nomeadamente:

Para o palácio Real, a Patriarcal, Alfandega, sete casas e teatro - cem milhões de

reais;

126

Para 12 000 casas particulares - catorze milhões de pesos;

Em dinheiro desaparecido - cerca de 100 milhões de reais.

Também é estimado o valor das perdas associado a haveres pertencentes a estrangeiros.

Assim propõem-se um valor global de perdas na ordem dos quarenta milhões de pesos fortes,

divididos nas seguintes proporções pelos diferentes países: Inglaterra, Irlanda e Escócia 32/48,

Alemanha (Hamburgo) 8/48, Itália 5/48,Holanda 1/48, Suécia 1/96, Alemanha 1/96 e França

1/48. Em forma de conclusão pode-se apresentar o estudo que Álvaro Pereira (Universidade de

York) apresentou sobre os impactos do terramoto de 1755 na economia portuguesa [29],

estimando que o total de danos se terá orçado entre 40% a 65% do PIB.

127

3.7 – Apoio Estrangeiro

As carências e necessidades dos Lisboetas eram imensas, encontrando-se na sua maioria

desprovidos de tecto e de alimento. O Rei e os seus governantes encontravam-se expectantes

de uma rápida e eficaz resposta por parte dos seus vizinhos europeus, que há já tanto tempo

se relacionavam comercialmente, distribuindo proveitos, de parte a parte.

A notícia da destruição de Lisboa só chegou à Europa entre meados e fins de Novembro, à

excepção de Espanha, que foi quase imediata. Após o que, começaram a chegar víveres e

outras dádivas de todo o lado, da Espanha, de Inglaterra, da Alemanha e da Holanda.

A rainha de Espanha, país vizinho, após conhecimento de tamanha desgraça em Portugal,

ordenou ao seu irmão que partisse com destino a Lisboa levando consigo uma grande remessa

de dinheiro. Também o rei de Espanha pela sua mão escreveu uma carta, onde oferecia os

seus tesouros, as suas tropas e se necessário, a sua própria pessoa, para ajudar a minimizar

os efeitos da catástrofe [2, p. 125].

Os Franceses também fizeram ofertas, mas algo insignificantes, face ao grau de destruição. De

Roma chegaram 50 mil patacas.

Foi dos Ingleses que Portugal esperou a maior ajuda e estes, após receberem a notícia,

enviaram no dia 5 de Dezembro, no navio de guerra „Hampton-Court‟ e em mais 6 grandes

barcos, tudo aquilo que a nação britânica afanosamente preparara [7], a fim de acorrer em

auxílio do povo da capital, constando a carga de:

30 Mil libras esterlinas em ouro português;

20 Mil libras esterlinas em dinheiro em prata;

6 Mil barricas de carne salgada;

4 Mil barricas de manteiga;

Mil “Centner” (1 “Centner” equivale a 50 quilos) de farinha;

1200 Barricas de arroz;

1000 Sacos de biscoitos;

10 Mil „Centner‟ de trigo;

Uma enorme porção de pás, enxadas e outros utensílios destinados à desobstrução

das ruas, bem como uma grande quantidade de sapatos e meias.

Não obstante os navios enviados, à mesma data encontrava-se preparado para ser embarcado

mão-de-obra especializada (pedreiros) e todo tipo de materiais de construção [3, p.295]. Após

este grande carregamento, outros se seguiram.

128

Dos mais variados pontos da Europa, afluíam a Lisboa outras generosas dádivas e sentidas

palavras de alento e conforto. São exemplo os Franceses, que por intermédio do seu

embaixador e a mando do rei, fez chegar uma carta a D. José I onde referia o seguinte: „O rei,

meu senhor, oferece a vossa Majestade o seu mais sincero e incondicional auxílio, como seria

de esperar da sua tão profunda afeição. E se sua Majestade, para maior prontidão ainda desse

mesmo auxílio, lograr desde já prover um pouco com meios de sua fazenda, assim pois se

quedam 20 000 pistolas em Madrid, às ordens de sua Majestade‟ [3, p.297].

A Alemanha, após imediata recepção da notícia, deliberou a prestação de socorros a Lisboa,

sendo que os primeiros 4 navios com destino a Portugal vinham carregados com:

Um donativo de 100 mil táleres;

200 Toneladas de madeira de construção;

Pano para tendas, coberturas de telhado, pregos, chumbo e ferramentas;

Um abundante lote de mantimentos, entre os quais vinho e açúcar, em especial para o

soberano.

O primeiro barco partiu a 17 de Dezembro de 1755 de Hamburgo e só depois partiram os

outros. A ajuda Alemã estendeu-se a outras cidades como Lübeck e Bremen, de onde partiram

outros navios com ajuda aos portugueses.

A Europa, respondeu de forma espontânea e calorosa ao silencioso apelo dos desolados

sobreviventes do terramoto e como resposta, os portugueses por intermédio dos seus

governantes, insistiram em que fossem os súbditos britânicos radicados em Lisboa e que

haviam perdido todos os seu haveres com o terramoto, os primeiros a beneficiarem das

dádivas.

Fora da Europa realce-se o Brasil, que em Maio de 1756, prometeu um empréstimo de três

milhões de cruzados (1 200 contos de réis), uma frota que trazia 14 milhões em ouro e prata e

um grande número de diamantes, para pagar em trinta anos.

Como conclusão e sem equívocos, pode-se afirmar que a Europa, na sua quase totalidade, foi

percorrida por um espírito de ajuda e humanitarismo incomparáveis, contrário a uma atitude

passiva e de indiferença em relação à desgraça alheia, muito peculiar naqueles tempo.

129

4 – Conclusões

O grande terramoto, que assolou Lisboa no dia 1 de Novembro de 1755 traduziu-se numa

tragédia sem precedentes na capital Portuguesa. A destruição causada pela catástrofe e o

número de vítimas mortais atingiu proporções ímpares na história de Portugal e até do

estrangeiro. Até à presente data, não há relatos históricos em Portugal que sustentem uma

calamidade humanitária comparável àquela que viveu Lisboa em consequência do sismo de

1755.

De uma forma geral, todos os relatos históricos relativos ao acontecimento, justificam a

destruição observada, por via da conjugação de três ocorrências, nomeadamente:

Os abalos sísmicos (responsáveis por um grande número de fogos derrubados no todo

ou em parte);

Os inúmeros incêndios que deflagraram após os abalos (consumiram durante 6 dias

praticamente toda a baixa da cidade destruindo pelas chamas o que se manteve após

o sismo);

E o maremoto (afectou unicamente as zonas ribeirinhas, mas que contribuiu para o

incremento da destruição).

Lisboa em 1755 era uma cidade mal organizada, com ruas estreitas e becos, nos quais

encaixavam os edifícios construídos ao acaso, sem regras, formando um emaranhado de

casas e ruas, com problemas em termos de circulação, de higiene e sobretudo de falta de

segurança. Apesar disso, era uma cidade que comportava uma dimensão populacional já com

alguma expressão. Um dos factos relevantes que se pretendia estudar com o presente

trabalho, dizia respeito à determinação da população de Lisboa à data do terramoto, apontando

o estudo efectuado sobre os diferentes documentos consultados, para valores entre 150 000 e

175 000 pessoas. Assumindo que a média do intervalo expressa com algum rigor a população

da cidade, pode considerar-se que esta teria na altura do terramoto cerca de 162 500

habitantes.

O intervalo populacional, acima referido foi determinado correlacionando os valores totais do

número de habitantes de Lisboa em 1755 apresentados por diversas fontes, com a população

estimada para a cidade por via de duas outras análises. Na primeira quantificou-se a população

de Lisboa a partir dos valores populacionais por freguesia (fig. 36) e na segunda essa mesma

população foi estimada considerando o rácio população/fogo também por freguesia (fig.37). A

confrontação dos diferentes valores históricos apresentados segundo as três perspectivas

acima referidas, juntamente com algumas considerações adicionais assumidas no presente

130

trabalho, levaram à determinação da população de Lisboa dentro do intervalo já mencionado,

isto é, de 150 000 a 175 000 habitantes

Nas duas figuras seguintes apresentam-se dois gráficos onde se indica:

A população de Lisboa antes do terramoto de 1755;

O número de habitantes por fogo nas diferentes freguesias.

POPULAÇÃO DE LISBOA ANTES DO TERRAMOTO DE 1755

0

2 000

4 000

6 000

8 000

10 000

12 000

14 000

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Freguesias

mero

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tes

Ana Temudo Barata

Luis Cardoso

Padre Castro

Figura 37 – Gráfico da População de Lisboa antes do Terramoto de 1755

HABITANTES POR FOGO NA CIDADE DE LISBOA ANTES DO TERRAMOTO DE 1755

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

7.0

8.0

9.0

10.0

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S.Vicen

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Freguesias

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hab

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go

Ana T. Barata

Padre Luis Cardoso

Padre Castro

Figura 38 – Gráfico da População por Fogo antes do Terramoto de 1755

Uma das principais consequências, do sismo de 1755 foi a ruína parcial ou total de grande

parte do edificado urbano da cidade de Lisboa. Um dos objectivos do presente trabalho, era

exactamente a quantificação dos fogos destruídos pelo grande terramoto. A este respeito,

conforme se apresentou no capítulo 3.4, tomaram-se como ponto de partida as descrições

globais do edificado arruinado, mencionadas por F.L.P Sousa, Augusto França e pelo Padre

Manuel Portal. Os valores fornecidos por estes autores, foram depois confrontados com os

131

valores decorrentes de uma avaliação efectuada com base no edificado existente em 1755

(antes do sismo) e em datas próximas da calamidade, nomeadamente, 1758, 1757, 1759, 1760

e 1770. Uma terceira estimativa, do edificado destruído (fig. 40) foi determinada com recurso a

referências históricas do número de fogos destruídos por freguesia. Do cruzamento criterioso

de todas as estimativas analisadas, concluiu-se que a catástrofe terá destruído cerca de 17 017

fogos, ou seja, aproximadamente 49% dos presumíveis 35 000 fogos existentes.

Nas duas figuras seguintes apresentam-se dois gráficos onde se identificam por freguesia, o

número de fogos antes de 1755 e o número de fogos destruídos pelo terramoto e consequente

incêndio e maremoto de 1755.

NÚMERO DE FOGOS DE LISBOA ANTES DO TERRAMOTO DE 1755

0

500

1 000

1 500

2 000

2 500

3 000

3 500

N.S

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juda

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Freguesias

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Ana T. Barata

Padre Luis Cardoso

Padre Castro

Francisco Santana

Figura 39 – Gráfico do Número de Fogos Antes do Terramoto

EDIFICADO DESTRUIDO

0

500

1 000

1 500

2 000

Santo

And

N.S

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Freguesias

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Figura 40 – Gráfico do Número de Fogos Destruídos pelo Terramoto de 1755

A análise, da figura 39 mostra a existência de uma certa consistência entre os valores

apresentados por cada uma das fontes, facto que assegura alguma confiança relativamente à

veracidade dos números citados pelos diferentes autores. São excepção a esta convergência,

132

as freguesias de Santa Justa, Santa Engrácia e São Sebastião da Pedreira, onde se verificam

algumas discrepâncias entre as diferentes estimativas apresentadas.

No que concerne à figura 40, transparece desde logo que a zona mais afectada pela catástrofe

foi indiscutivelmente a zona da Baixa da cidade, onde o número de fogos destruídos atingiu os

2 milhares, sendo exemplo desse valor a freguesia de Santa Justa.

O sismo de 1755 destruiu ou danificou seriamente grande parte do edificado urbano da cidade

de Lisboa, sendo esta destruição acompanhada por um grande número de perdas humanas.

De acordo com o estudo efectuado no presente trabalho, o qual foi realizado sobre dados

históricos referenciados, o número de vítimas mortais em consequência do grande terramoto

cifra-se dentro de um intervalo entre 3 100 e 10 000 pessoas. Tomando o valor média como

representativo, pode-se afirmar que aproximadamente 6 550 pessoas perderam a vida devido à

catástrofe.

Tendo em mente os valores representativos da população de Lisboa em 1755 (162 500

pessoas) e do número de vítimas devido ao sismo (6 550 pessoas), constata-se que cerca de

4% da totalidade da população da cidade terá perdido a vida em consequência do cataclismo.

Em termos conceptuais, o intervalo acima referido (3 100 e 10 000 pessoas) foi determinado a

partir de uma leitura crítica do número de vítimas mencionados por diferentes autores. No

capítulo 2.5, descrevem-se as fontes e os pressupostos que serviram de base à definição do

intervalo de vítimas já referido. Na figura seguinte apresenta-se um gráfico onde se indica o

número de vítimas por freguesia segundo diferentes fontes.

VÍTIMAS MORTAIS DO TERRAMOTO DE 1755

0

100

200

300

400

500

600

700

800

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Freguesias

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Registo ÓbitosÓbitos ReligiososDesc. FreguesesÓbitos Ana T.BarataO maior valor

Figura 41 – Gráfico do Número de Vítimas Mortais do Terramoto de 1755

Relativamente ao gráfico anterior, importa referir que a freguesia de São Nicolau registou cerca

de 4 000 vítimas mortais, tendo sido limitada a escala do gráfico a 800 para melhor leitura dos

133

valores das restantes freguesias. No anexo 8 são apresentados em tabela os valores

detalhados do número de vítimas mortais por freguesia.

Conhecido o intervalo provável da população de Lisboa em 1755 (entre 150 000 e 175 00

habitantes) e quantificado que foi o número de vítimas devido ao cataclismo (Entre 3 100 e 10

000), conclui-se que o número de habitantes em Lisboa após o terramoto cifrava-se entre 146

900 e 165 000. Tomando como referência o valor média deste intervalo afigura-se como

plausível considerar que a população em Lisboa imediatamente após a catástrofe era de 155

950 pessoas.

Referiu-se já nestas conclusões a perda de parte do parque habitacional em consequência do

grande terramoto. Porém não foram só os edifícios de habitação que sofreram dano relevante

com o sismo, maremoto e consequente incêndio. As igrejas, palácios e edifícios de utilidade

pública sofreram grandes danos e em alguns casos a total ruína com perda total do seu recheio

(jóias, tapeçarias, quadros, diamantes, ouro, dinheiro, etc.). A destruição provocou perdas

incalculáveis.

Lisboa em particular e o pais em geral sentiram o impacto económico de toda a catástrofe

associada ao sismo de1755, tendo este impacto sido estimado entre 40% a 65% do PIB.

Porém, não obstante todo o desequilíbrio gerado pelo desastre, regista-se como positivo o

facto de a Europa no seu todo se ter envolvido numa tomada de consciência, que assentou na

ideia que a catástrofe não poupou ninguém, independentemente da condição social ou

económica, fomentando-se uma forte noção contra as injustiças e prepotência dos poderosos,

desenvolvendo-se uma espontânea campanha de solidariedade que não teve mãos a medir ao

auxílio prestado como forma de assistência social em larga escala, ignorada ou quase, até

essa data. Ao nível material, algo de positivo acabou por brotar desta catástrofe, pois apesar

de todas as riquezas que se perderam, Lisboa e os seus sobreviventes, ganharam uma cidade

nova, mais organizada e mais segura.

O grande terramoto dizimou grande parte da cidade de Lisboa, obrigando os governantes do

país a um processo de reconstrução da cidade. Lisboa reconstruída representa uma obra-

prima do génio da criatividade humana, porque pode ser considerada como a ”primeira cidade

moderna do mundo ocidental” [8]. A primeira, porque antes de qualquer outra foi concebida e

executada segundo critérios e metodologia integrada que hoje continuam a basear o

planeamento urbano de todas as novas cidades que se pretenda construir ou renovar. Importa

referir que esta metodologia soube combinar e responder ao seguinte [33, p.15]:

1 - Aos critérios de desenho e concepção, com: uma imposição modular arquitectónica de fácil

adaptação aos diferentes tipos de ocupação (comercial, residencial, religioso e público) e a

diversas interpretações estéticas; dimensionamento viário adaptado a um crescimento previsto

da população e do tráfego e a criação de espaços públicos de comércio, lazer e representação.

2 - Às exigências de segurança com novos conceito de: estrutura de fundações; resistência aos

sismos e resistência ao fogo.

134

3 – Às exigências de higiene e salubridade, com novos projectos e execução de sistemas de

drenagem de aguas residuais e pluviais e também de um sistema de recolha de lixos.

Pela análise dos factos apresentados pelos vários escritores e historiadores, fica-se com a

ideia que a destruição e mortalidade embora colossal, poderia ter sido superior. Esta

percepção fundamenta-se na constatação de alguns factores atenuantes, nomeadamente: a

existência da muralha, que impediu o avançar do maremoto pela cidade dentro; a não

destruição do aqueduto das aguas livres, que permitiu o acesso de água potável; o facto dos

nobres se encontrarem de férias nas suas residências fora da cidade e finalmente o rápido

auxílio que vários países estrangeiros (alguns rivais, como Espanha e França) prestaram ao

nosso país, em particular à cidade de Lisboa.

Pode-se assumir que o grande desastre de Lisboa foi um doloroso processo de nascimento de

uma nação moderna.

135

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36. Almeida, A. Betâmio; Tese de Mestrado; O sismo de 1755 na historia da gestão do

risco; 2005; 85 p.

37. Medina, João; Historia de Portugal dos tempos pré-históricos aos nossos dias –

Portugal Absolutista II; Vol. IX; Edita Ediclube; 2004; 471p.

38. Barata, Ana M.S.T; Tese Mestrado; As crises de Mortalidade em Lisboa no séc. XVIII;

Faculdade de Ciências Sócias e Humanas; cota T453/1 e T453/2.

39. Appleton, João; Seminário; Projectos de Reabilitação de Edifícios Pombalinos; Modulo

1,2 e 3; 2008.

40. Appleton, João; Sismos e Edifícios; Capítulo 9 – Tipologias Estruturais; Edição Mário

Lopes; 2008.

137

41. Santos, Natália B; Cunha, Rui M; Alves Rui R; Rodeia, Teresa B; A Arquitectura e os

Processos Construtivos entre os séculos XVI e Meados de XVII; LNEC; 1993; 276p.

42. Oliveira, Carlos S; Levantamento dos Monumentos de Lisboa; IST; Comunicação

Pessoal; 1980.

43. França, José A; A Reconstrução de Lisboa e a Arquitectura Pombalina por José

Augusto França; Biblioteca Nacional Portuguesa; 1981; 103p.

44. Editora Flad e Publico; O grande Terramoto de Lisboa – Sistemas construtivos usados

na reconstrução; (Carlos Sousa Oliveira: p.23 – 86) e (Vítor Cóias: p.329 -373).

138

ANEXOS

139

1 – Dissertação de Manuel da Maia

140

141

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2 – Intensidades de Mercalli, para o terramoto de 1755, na

cidade de Lisboa

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3 – Confinamento das freguesias antes do terramoto

Freguesia Confinamento

1 N.S.da Ajuda Santos, Santa Isabel, N.Sra. do Amparo de Benfica, S.Romão e Carnachide

2 N.S.da Conceição S.Julião, Santa Maria Madalena e S.Nicolau

3 N.S.da Encarnação Santa Catarina. S.José, N.Sra. dos martires, N.Sra. das Merces e .Sra. do Sacramento

4 N.S.da Pena N.Sra.Socorro, Anjos, Santa Justa, S.Sebastião da Pedreira e S.José

5 N.S das Merces Santa Catarina, N.Sra. da Encarnação e Santa Isabel

6 N.S do Socorro Santa Justa, Anjos e Pena

7 N.S dos Anjos S.André, santa Engrácia, S.Lourenço, N.Sra.dos Olivais, N.Sra. da Pena, S.Sebastião

8 N.S dos Mártires N.Sra. da Encarnação, S.Julião, S.Nicolau, Sacramento e S.Paulo

9 Sacramento N.Sra. da Encarnação, N.Sra. dos Mártires e S.Nicolau

10 Salvador S.Estevão, S.Vicente, S.Tomé, S.Miguel

11 Santa Catarina Santa Isabel, N.Sra.das Merces, N.Sra. da Encarnação, S.Paulo e Santos

12 Santa Cruz do Castelo S.Bartolomeu, S.Tiago e S.Tomé

13 Santa Engrácia S.Estevão; Anjos; N.Sra. olivais; S.Vicente

14 Santa Isabel N.Sra. da Ajuda, Benfica, Santa catarina, N.Sra. da Encarnação, S.José, N.Sra das Merces,

Santos e S.Sebastião da Pedreira

15 Santa Justa S. Cristovão, s.José, S.Lourenço, S.Nicolau e N.Sra. do Socorro

16 Santa Maria Madalena N.Sra. da Conceição, S.Julião, S.Mamede, Sé e S.Nicolau

17 Santa Maria Maior S.Bartolomeu, S.João da Praça, S.Jorge, S.Mamede e Santa Maria Madalena

18 Santa Marinha S.André e S.Tomé

19 Santo André S.Tomé e Santa Marinha

20 Santo Estevão de Alfama Santa Engrácia, S.Miguel, Salvador, S.Vicente

21 Santos Santa Isabel, N.Sra. da Ajuda e S.Paulo

22 São Bartolomeu Santa Cruz do Castelo, S.Mamede, Santa Maria Maior e S.Tiago

23 São Cristovão S.Lourenço, Santa Justa, S.Mamede e S.Nicolau

24 São João da Praça S.Jorge, S.Pedro e Santa Maria Maior

25 São Jorge N.Sra.da Conceição, S.Julião, S.Mamede, Sé e S.Nicolau

26 São José N.Sra. da Pena, Santa Justa, Encarnação, Santa Isabel e S.Sebastião da Pedreira

27 São Julião N.Sra. da Conceição, Santa Maria Madalena, N.Sra. dos Mártires e S.Nicolau

28 São Lourenço S. Cristovão, N.Sra. dos Anjos, e Santa Justa

29 São Mamede S.Cristovão, Santa Maria Madalena, Santa Maria Maior e S.Nicolau

30 São Martinho S.Jorge e S.Nicolau

31 São Miguel S.Estevão, Salvador e S.Pedro

32 São Nicolau Conceição, S.Julião, Santa Justa, S.Mamede, Santa Maria Madalenae N.Sra. dos Mártires

33 São Paulo Santa Catarina, N.Sra. da Encarnação, N.Sra. dos Mártires e Santos

34 São Sebast.da Pedreira N.Sra. dos Anjos, Benfica, Santa Isabel, N.Sra. da Pena e Campo Grande

35 São Tiago S. Bartolomeu, Santa Cruz do Castelo, S.Martinho e S.Tomé

36 São Tomé S.André, Santa Cruz do Castelo, Santa Marinha, salvador, S.Tiago, e S.Vicente

37 São Vicente Santa Engrácia, S.Estevão, Santa Marinha, Salvador, S.Tomé

158

4 – Tabela do Padre Bautista de Castro, População antes do

Terramoto

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5 – Tabela de Cálculo do Edificado Destruído

FREGUESIA Nº

FOGOS ANTES - FOGOS % FOGOS OBSERV.

ANTES DEPOIS SISMO DESTRUIDOS DESTRUÍDOS

Santo André - Graça 140 140-268 28 20% IX E.Mercalli

Nossa Senhora dos Anjos 2 140 2 140-1 770 370 17%

Santa Catarina 1 886 1 886-1 798 88 5%

São Cristóvão 420 420-230 190 45%

Nossa Senhora da Conceição 850 850-84 766 90%

Santa Engrácia 2 330 2 330-1 807 523 22%

Santo Estêvão de Alfama 1 170 1 170-938 232 20%

São João da Praça 450 450-10 440 98%

São Jorge 58 58-72 12 20% IX E.Mercalli

São José 1 100 1 100-1 483 220 20% IX E.Mercalli

Santa Justa 3 140 3 140-780 2 360 75%

Santa Isabel 1 460 1 460-2 415 292 20%

São Lourenço 150 150-143 7 5%

São Mamede 360 360-12 348 97%

Santa Maria Madalena 830 830-0 830 100%

Santa Maria Maior 1 008 1 008-308 700 69%

Santa Marinha do Outeiro 220 220-165 55 25%

São Martinho 56 56-50 6 11%

Nossa Senhora dos Mártires 1 800 1800-7 1 793 100%

Nossa Senhora das Mercês 850 850-70x2 710 84% 1Morada Casa= 2 F

São Miguel de Alfama 870 870-435 435 50%

São Nicolau 2 325 2 325-404 1 921 83%

São Paulo 1 080 1080-723 357 33%

Santíssimo Sacramento 646 646-137 509 79%

Salvador 268 268-200 68 25%

Santos-o-Velho 1 970 1 970-1670 300 15%

São Sebastião da Pedreira 1 080 1 080-821 259 24%

Nossa Senhora do Socorro 1 600 1 600-840 760 48%

São Tiago 120 120-30 90 75%

São Tomé 275 275-250 25 9%

São Vicente 544 544-500 44 8%

Santa Cruz do Castelo 335 335-46X2 243 73% 1Morada Casa= 2 F

São Julião 1 630 1 630-629 1 001 61%

São Pedro de Alfama 544 544-150 394 72%

São Bartolomeu 148 148-2X2 144 97% 1Morada Casa= 2 F

Nossa Senhora da Encarnação 2 072 2 072-1 855 217 10%

Nossa Senhora da Pena 1 403 1 403-1 422 281 20% IX E.Mi

TOTAL 37 328 17 017 46%

160

6 – Tabela do Número de Fogos à data do Terramoto de 1755

Freguesia Ana T. Barata Padre Luis Cardoso Padre Castro

Francisco Santana

N.Sra Ajuda 1 059 1 059 600 680

N.Sra Conceição 850 850 850 856

N.Sra Encarnação 2 027 2 027 2 002 2 072

N.Sra Pena 1 403 1 403 1 336 1 330

N.Sra Merces 840 840 840 850

N.Sra Socorro 1 556 1 556 1 600 1 600

N.Sra Anjos 2 146 2 146 2 140 2 140

N.Sra Mártires 1 531 1 531 1 600 1 800

S.Sacramento 642 642 646 466

Salvador 268 268 266 266

Santa Catarina 2 196 1 874 1 874 1 886

Santa C.Castelo 322 322 322 335

Santa Engrácia 1 327 1 874 1 330 2 330

Santa Isabel 1 289 1 289 1 460 1 460

Santa Justa 1 156 1 156 1 940 3 140

Santa M.Madalena 805 805 800 830

Sé 911 911 896 1 008

Santa Marinha 200 200 200 220

Santo André 146 146 140 140

Santo Estevão 1 108 1 108 1 129 1 170

Santos o Velho 2 129 1 807 1 800 1 970

S.Bartolomeu 148 148 140 140

S.Cristovão 432 432 460

S.João 305 305 300 300

S.Jorge 69 69 58 58

S.José 1 357 1 035 1 100 1 100

S.Julião 1 608 1 608 1 600 1 630

S.Lourenço 152 152 150 150

S.Mamede 318 318 300 300

S.Martinho 56 56 30 30

S.Miguel 869 869 870 870

S.Nicolau 2 333 2 333 2 325 2 325

S.Paulo 755 755 1 000 1 080

S.Pedro 350 350 252 352

S.Sebastião 926 604 500 1 080

S.Tiago 120 120 120 120

S.Tomé 260 260 275 235

S.Vicente 544 544 544 544

Igreja Patriarcal 85

Igrejas e Conventos 80

TOTAL 34 513 33 937 33 335 37 323

161

7 – Tabela do Número de Pessoas à data do Terramoto de 1755

Freguesia Luis

Cardoso Padre Castro

Ana Temudo Barata

N.Sra Ajuda 4 748 5 611

N.Sra Conceição 3 783 3 400 4 470

N.Sra Encarnação 9 516 9 523 11 245

N.Sra Pena 5 371 5 066 6 347

N.Sra Merces 3 800 2 520 4 491

N.Sra Socorro 5 774 4 800 6 823

N.Sra Anjos 8 441 6 420 9 975

N.Sra Mártires 6 557 7 000 7 748

S.Sacramento 3 119 3 400 3 686

Salvador 1 046 1 050 1 236

Santa Catarina 8 255 8 255 11 338

Santa C.Castelo 1 352 966 1 598

Santa Engrácia 8 493 3 990 6 798

Santa Isabel 5 357 5 626 6 331

Santa Justa 7 782 8 000 9 196

Santa M.Madalena 3 743 3 700 4 423

Sé 4 255 4 255 5 028

Santa Marinha 715 600 845

Santo André 575 550 679

Santo Estevão 4 353 4 325 5 144

Santos o Velho 7 870 8 150 10 883

S.Bartolomeu 574 500 678

S.Cristovão 1 901 800 2 246

S.João 1 359 900 1 606

S.Jorge 335 174 396

S.José 5 005 5 600 7 497

S.Julião 7 016 7 016 8 291

S.Lourenço 619 610 732

S.Mamede 1 420 1 370 1 678

S.Martinho 837 300 898

S.Miguel 3 429 3 700 4 052

S.Nicolau 9 859 9 854 11 650

S.Paulo 3 958 4 000 4 677

S.Pedro 1 550 1 500 1 832

S.Sebastião 2 835 2 100 4 933

S.Tiago 662 360 782

S.Tomé 1 186 825 1 402

S.Vicente 2 368 1 632 2 798

Igreja Patriarcal 1 261

TOTAL 151 079 132 837 180 043

162

8 – Tabela do Número de Vítimas Mortais do Terramoto de 1755

Freguesia Registo Óbitos Óbitos

Religiosos Desc.

Fregueses Óbitos Ana T.Barata

O maior valor

N.Sra Ajuda 8 22 212 212

N.Sra Conceição 2 76 76

N.Sra Encarnação 11 2 49 49

N.Sra Pena 50 5 11 175 175

N.Sra Merces 9 5 90 183 183

N.Sra Socorro 25 3 25

N.Sra Anjos 16 400 400

N.Sra Mártires 21 600 600

S.Sacramento 29 204 204

Salvador 7 14 20 20

Santa Catarina 38 4 38

Santa C.Castelo 54 95 95

Santa Engrácia 40 56 475 475

Santa Isabel 1 268 268

Santa Justa 94 10 274 274

Santa M.Madalena 137 94

Sé 4 5 80 80

Santa Marinha 16 16

Santo André 11 5 37 37

Santo Estevão 34 132 132

Santos o Velho 22 22

S.Bartolomeu 135 135

S.Cristovão 11 7 58 58

S.João 2 11

S.Jorge 6 10 10

S.José 44 10 44

S.Julião

S.Lourenço 7 23 23

S.Mamede 4 40 40

S.Martinho 3 7 48 48

S.Miguel

S.Nicolau 11 4 000 4 000

S.Paulo 13 700 700

S.Pedro 95 130 130

S.Sebastião 35 102 102

S.Tiago 5 14 14

S.Tomé 38 38

S.Vicente 12 10 57 78 78

Rel.Mosteiros Ardidos 55

Rel.Mosteiros Arruinados 10

Óbitos em Mosteiros 211

865 465 6 814 1 988 8 906

Total 9 771