terceirizaÇÃo de serviÇos do setor calÇadista: … · no brasil, em 2010, foram produzidos...
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TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS DO
SETOR CALÇADISTA: UMA ANÁLISE
DAS BANCAS DE PESPONTO
Matheus Rodrigues Corsi (Unifran )
Silvana Salomao (Unifran )
Luis Fernando Paulista Cotian (Unifran )
Adriana Borges Souza (Unifran )
Leocio Marquezini de Paula (Unifran )
Este trabalho teve por objetivo analisar a terceirização das bancas de
pesponto na indústria calçadista de Franca/SP. A atração pela
terceirização é defendida pela redução de custos, aumento de
eficiência, maior competitividade e maior quallidade para as
organizações como um todo, no entanto, não se tem um estudo claro no
qual são explorados os motivos e as formas com que as empresas do
setor calçadista tomam a decisão de terceirizar a etapa do pesponto.
Esse foi o questionamento que deu origem a este trabalho e junto a
isso, o trabalho teve por objetivo apontar para essa etapa específica as
vantagens e desvantagens da terceirização na prática. A opção
metodológica foi a do estudo de 6 casos, escolhidos intencionalmente
sem intenção de generalizações. Como resultados, destaca-se que duas
das empresas entrevistadas alegam como vantagem a possibilidade de
diversificação dos produtos, agilidade no processo produtivo e
redução de custos; e duas apontam a redução de custos. Como
desvantagens duas apontam custos gerados pela baixa qualidade dos
produtos e atrasos na entrega; e 3 indicam problemas com a qualidade
dos produtos.
Palavras-chaves: Terceirização; Bancas de Pesponto; Indústria
Calçadista
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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1. Introdução
Nas décadas de 1960 e 1970 os modelos econômicos começaram a mudar diante de novas
demandas do capitalismo. Os sindicatos começaram a se fortalecer e os funcionários a
reivindicar maiores benefícios. As empresas estavam preparadas para períodos de
crescimento, porém, para os períodos em recessão depararam-se com dificuldades. Empresas
dos países industrializados optaram pela diminuição, ou enxugamento, de suas estruturas
produtivas. Neste enxugamento houve redução dos níveis hierárquicos, redivisão de
departamentos, eliminação de atividades consideradas desnecessárias e externalização de
atividades, neste trabalho definida como terceirização.
No Brasil, esse processo de terceirização deu-se a partir da década de 1990, com empresas do
setor privado e público terceirizando etapas envolvendo desde os serviços gerais até as fases
mais importantes de produção e comercialização. No que tange à indústria calçadista, segundo
Instituto de Estudos e Marketing Industrial (2011), no polo de Franca-SP e região, a maior
incidência de terceirização é na atividade de pesponto, alcançando o índice de 65,5%.
Dentro deste universo este trabalho tem como objetivo analisar a terceirização da etapa do
pesponto em 6 empresas produtoras de calçados de Franca-SP, buscando conhecer os motivos
da adesão destas empresas ao processo de terceirização, bem como as suas principais
vantagens e desvantagens.
Como hipótese acredita-se que essas empresas adquirem vantagens como redução de custos e
melhoria da qualidade de seus produtos elaborados pelas empresas terceirizadas.
Esta pesquisa é de cunho bibliográfico dedutivo e utilizará como método de pesquisa o estudo
de multi caso com abordagem combinada. Os métodos de coleta de dados utilizados serão
observações em visitas nas empresas e um questionário aplicado junto aos responsáveis pela
contratação das empresas terceirizadas.
O trabalho está estruturado em cinco seções. A primeira destaca a origem da terceirização; os
aspectos determinantes para a adoção da terceirização pelas empresas nacionais; e o setor
calçadista brasileiro, com ênfase nas bancas de pesponto do polo francano, objeto deste
estudo. A segunda seção apresenta a metodologia utilizada para a realização do estudo e
caracteriza as empresas entrevistadas. Na seção 3 são apresentadas as análises, bem como o
confronto dos dados levantados com a literatura. Por fim, apresenta as conclusões e
referências.
Como contribuição científica, espera-se viabilizar o confronto de aspectos teóricos
relacionados à temática terceirização com a realidade enfrentada pelas seis empresas
estudadas.
2. Revisão Bibliográfica
2.1. Terceirização
No Brasil, a partir dos anos 2000 a economia do país iniciou um lento processo de
recuperação com taxas de crescimento positivas. Nos últimos anos a terceirização tem tomado
proporções gigantescas no Brasil e sua abrangência se expande constantemente por novos
setores e serviços. (DIEESE, 2007).
Amado Neto (1995) define terceirização como o processo pelo qual uma determinada
empresa deixa de realizar uma ou várias etapas produtivas e as repassa para trabalhadores
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diretamente contratados em outras empresas. Nesse processo a empresa que contrata é
chamada empresa-mãe ou contratante e a que realiza a etapa proposta, empresa terceira ou
contratada.
A terceirização constitui-se de um processo de transferência de funções de uma empresa para
outras terceiras, sendo que estas funções podem incluir desde etapas do próprio processo
produtivo daquela até atividades de apoio, tais como serviços de limpeza e manutenção
predial, preparação e distribuição de alimentos para os funcionários da empresa, telefonia,
vigilância, movimentação de materiais e expedição de produtos finais, dentre outras. A
empresa contratante pode também deixar de produzir alguns produtos e comprá-los de outra
empresa. Todo esse processo que abrange a tomada de decisão, por parte da empresa
contratante, de desativar uma ou um conjunto de atividades até a realização de contrato com
terceiros, é compreendido como terceirização. (DIEESE, 2012; RACHID, 2000).
Para SEBRAE (2004), terceirização dá-se pela contratação de uma empresa de serviços
realizados por pessoa física (profissionais autônomos) ou jurídica (empresas especializadas),
para realizar determinados serviços de que necessite, desde que não relacionados às suas
atividades-fim, isto é, suas principais atividades, descritas na cláusula objeto do contrato
social das empresas. Entretanto, é notório casos de empresas que só se ocupam com o
desenvolvimento dos produtos ou sua comercialização, deixando a cargo das empresas
terceiras todas as etapas produtivas.
Além disso, SEBRAE (2003, 2004) também destaca que a terceirização não pode conter
elementos caracterizadores da relação de emprego, ou seja, não apresentar entre empresa
contratante e contratada relação de subordinação, habitualidade, horário, pessoalidade e
salário.
O processo de terceirização tem suas características padrão e se apresenta usual em diversas
áreas, tanto da produção de bens quanto de serviços. Como exemplos DIEESE (2012) destaca
o setor público, o setor financeiro, o setor elétrico, o setor químico, o setor de construção civil
e as atividades de logística nas organizações. (DIEESE, 2012). No que tange à indústria
calçadista, o Instituto de Estudos e Marketing Industrial (2011) aponta que no polo de Franca-
SP e região, a terceirização é usada em várias etapas, destacando-se na atividade de pesponto,
com o índice de 65,5% realizado pelas empresas terceiras.
2.2. Fatores determinantes para a terceirização pelas indústrias nacionais
Cerutti et al. (2003), DIEESE (2007) e SEBRAE (2004) apontam que um dos fatores
motivadores para a terceirização é a forte pressão para o aumento das margens de lucro e a
diminuição dos custos da empresa. Os autores lembram que atualmente existem muitos
recursos humanos especializados, aptos e com baixo custo, disponíveis no mercado, o que
proporciona redução nos custos, aumento na qualidade, redução no tempo de produção e
possibilidade de lançamentos de novos produtos, pois com a mão de obra especializada sendo
terceirizada, a flexibilidade de produzir novos produtos aumenta. Além disso, os autores
lembram que com a terceirização há uma economia em se tratando dos custos fixos para a
empresa.
Outros pontos de destaque por empresários, descrito na pesquisa de DIEESE (2007), são o
aumento da eficiência; a facilidade de gestão, com a redução de etapas a serem gerenciadas
dentro da empresa-mãe; a maleabilidade em momentos de crise, pois é mais fácil cancelar a
atividade terceirizada do que realizar dimensionamentos na produção; a redução de custos; o
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maior controle da qualidade; maior participação dos dirigentes nas atividades-fim da empresa
e concentração dos talentos no negócio principal da empresa.
Segundo a CNI (2009), na terceirização, busca-se a melhoria da qualidade, maior acesso à
tecnologia e a redução de custos. A Figura 1 apresenta o percentual dos fatores que mais
motivam a terceirização.
Figura 1 – Grau de importância para a decisão de terceirizar
Fonte: Criada pelos autores a partir de CNI (2009)
A partir desta pesquisa, observa-se que a redução dos custos por meio da terceirização é mais
relevante para os setores de material eletrônico (90%) e de comunicação e borracha (71%).
Com relação ao aumento da qualidade de serviços, os setores que mais a percebem são os de
equipamentos hospitalares e de precisão (50%) e de equipamentos de transporte (50%). No
uso de novas tecnologias, os setores em destaque são os farmacêuticos (38%) e equipamentos
hospitalares (36%).
CNI (2009) propõe nove categorias de problemas em potencial com a utilização de serviços
terceirizados. A maior incidência de problemas recai sobre 3 questões, a saber, a qualidade
menor que a esperada (58%), custos maiores que o esperado (48%) e insegurança jurídica
com possíveis passivos trabalhistas (47%).
Diante deste levantamento, CNI (2009) aponta que para os próximos anos pode-se esperar
uma pequena redução no uso da terceirização de serviços, contudo, 17% dos setores
pretendem aumentar o uso de serviços terceirizados.
Nesta direção Luna (2006) afirma que cada vez mais um maior número de aspectos é
necessário para a tomada de decisão do processo de terceirização, principalmente nos casos
em que se justificam uma análise estruturada e mais acurada do seu impacto sobre a
organização.
2.3. O Setor Calçadista Brasileiro
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No Brasil, em 2010, foram produzidos 893,9 milhões de pares de calçados, representando
12,34 bilhões de dólares. Para essa produção foram empregadas 348,7 mil pessoas de forma
direta ou indireta, caracterizando um dos setores que mais gerou trabalho e renda no Brasil.
(ABICALÇADOS, 2011). A justificativa para esse expressivo número é observada em
Prochnik et al. (2005) que destaca este setor com predominância da atividade artesanal e,
portanto, uso intensivo de mão de obra. Somada a esta característica, ABICALÇADOS (2011)
aponta que o consumo nacional de calçados, no mesmo período, correspondeu a 4,1
pares/habitante, maior que no ano de 2009 com consumo de 3,7 pares/habitante.
O setor calçadista brasileiro apresenta-se altamente diversificado. Sua composição contempla
calçados esportivos, em couro, em plástico e borracha, além de outros materiais. Em 2010,
suas exportações corresponderam a 1,487 bilhões de dólares, colocando o Brasil como o
terceiro maior produtor mundial de calçados e o oitavo maior exportador. Regionalmente, os
maiores destaques nacionais são o Vale do Sino-RS, Franca-SP, Nova Serana-MG, Jaú-SP,
Birigui-SP e a regição Nordeste. (ABICALÇADOS, 2011).
Apesar destes números animadores ABICALÇADOS (2012) mostra que o Brasil importou
40,4% a mais de calçados em 2011 em relação a 2010. Os baixos custos dos calçados
asiáticos justificam este dado. Nesse sentido, Prochnik et al. (2005) afirma que é mister
analisar os desafios deste setor, que em uma tentativa de adotar estratégias competitivas
apostam na terceirização de etapas produtivas, bem como na transferência de suas plantas
industriais para estados nacionais onde é abundante a mão de obra e os custos mais baixos.
A indústria calçadista de Franca-SP apresenta estrutura produtiva de um cluster e suas
empresas são divididas em produtoras de calçados, artefatos de couro, artigos de viajem e
prestadoras de serviços. Para Carloni et al. (2007) os segmentos produtivos de maior acuidade
nesta indústria é o processamento do couro e a confecção do calçado.
Yoshino (2008) mostra que o processo de confecção do calçado normalmente é dividido em
cinco grandes fases, a saber: corte, preparação, pesponto, montagem e acabamento. Em
concordância com Prochnik et al. (2005) o autor ressalta que a produção é, em sua maioria
artesanal, o que agrega maior valor ao produto. A Figura 2 mostra as etapas principais para a
fabricação de calçados.
Figura 2 – Etapas da produção de calçados
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Fonte: Autores
Segundo Gorini; Correa; Silva (2000), nas empresas produtoras de Franca, a terceirização da
etapa de pesponto, caracterizada pela presença das chamadas bancas de pesponto, está ligada
aos baixos investimentos em capital fixo necessários para o estabelecimento dos pequenos
produtores. A etapa do pesponto possui um forte caráter artesanal e exige a disponibilidade de
poucas máquinas, que podem ser encontradas, já usadas, a um preço reduzido no mercado.
Como resultado, tem-se uma estrutura em que praticamente inexistem barreiras à entrada,
permitindo que alguns ex-operários da indústria calçadista estabeleçam uma atividade
autônoma, vendendo seus serviços para as empresas de maior porte.
3. Método de Pesquisa
O estudo multicasos foi realizado no período de Abril de 2012 a Setembro de 2012 o qual
abordou seis empresas do setor calçadista de Franca-SP, escolhidas intencionalmente devido
ao seu posicionamento no mercado. Neste trabalho são denominadas como empresa A, B, C,
D, E e F.
Após a seleção das empresas, elaborou-se um questionário (anexo) contendo questões
referentes à caracterização das empresas, quanto à capacidade produtiva, mercado interno e
externo; perfil dos clientes; existência de terceirização das etapas produtivas; caracterização
da terceirização da etapa de pesponto; bancas de pesponto; vantagens e desvantagens
alcançadas com a terceirização; ações para correção dos erros vinculados à terceirização; e
intenções e barreiras de interromper a terceirização da referida etapa.
Em 4 empresas o questionário foi respondido, durante uma entrevista com os responsáveis
pela produção. Nas duas outras empresas o questionário foi encaminhamento via email,
respondido pelo responsável e devolvido também por email.
Na análise dos dados, o artigo usou como variáveis de análise as questões aplicadas nas
empresas e, em seguida, sua verificação percentual.
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4. Análise dos dados
Este tópico apresenta análises referentes às questões da pesquisa. O quadro 1, em
anexo,apresenta uma síntese dos questionários aplicados às 6 empresas entrevistadas.
A tabela 1 destaca as principais características das empresas entrevistadas.
Tabela 1: Caracterização da empresa e seu mercado
Fonte: Autores
No início das entrevistas uma das questões aborda a opinião das empresas questionando quais
são as maiores exigências dos clientes atualmente. Cinco empresas (A, C, D, E e F),
totalizando 83% da amostra, apontam o custo como maior exigência dos clientes; quatro
empresas (B, C, E e F), 66%, apontam a qualidade; e duas delas (C e E), 33%, apontam a
pontualidade nas entregas.
Com relação à terceirização de serviços, 83% das empresas responderam que terceirizam os
processos de pesponto, string (montagem), viés e chanfração (ambos na preparação). As
empresas B, C, D, E e F responderam que terceirizam todo processo de pesponto ou parte
dele, o que significa que 83% tem seu processo de pesponto terceirizado. Quanto aos
processos de string e viés, é terceirizado apenas pela empresa B (16%); e o processo de
chanfração, terceirizado apenas pela empresa C (16%).
A empresa A possui o pesponto todo interno, o que representa 16% da amostra desta pesquisa.
Das 5 empresas que terceirizam a etapa do pesponto, 4 delas (B, C, D e E) o fazem desde a
fundação da empresa, o que representa 80%; já a empresa F, 20%, iniciou a terceirização 10
anos após a sua fundação, visto que a capacidade física da mesma se tornara pequena
mediante ao aumento da demanda.
Dentre as empresas entrevistadas notam-se vários fatores relacionados às vantagens da
terceirização. Para as empresas C e D, 40%, que possuem grande variedade de modelos,
existem na terceirização do pesponto agilidade na adoção de novos modelos; a empresa D
(20%) mostra que as bancas são mais ágeis e possuem custos menores. Já as empresas E e F
(40%) mostram que o custo é uma das principais vantagens com a terceirização do pesponto e
Nome da Empresa A B C D E F
Entrevistados Gerente de produção Gerente de Produção
Diretor Geral
(Proprietário) e
Gerente de Produção
Gerente de ProduçãoGerente de Produção e
EstagiárioPlanejador da Produção
Ano da Fundação 1977 1977 1992 1997 1986 1995
Capacidade Instalada 8000 pares 1800 pares 4000 pares 1000 pares 6000 pares 2500
Produção Atual 2800 pares 1200 pares 3000 pares 1000 pares 2700 pares 1300
N° de Funcionários 450 114 510 75 460 150
Portfólio de Produtos Calçados em SintéticoCalçados Masculinos e
Femininos
Calçados Adventure
(Couro)
Calçados infantis
masculinos e femininos
Calçados esportivos e
sapato masculino
Calçados Masculinos
(20%) e Femininos (80%)
Exportação Não 10% para Europa NãoEUA, países do Mercosul
e EuropaEUA (30%)
Vietnan e América do
Sul
Mercado Interno 100% 90% 100% Sim 70% 90%
Maiores Exigências dos Clientes Custo QualidadePontualidade, Custo e
QualidadeCusto
Custo, qualidade e
Pontualidade nas
entregas
Qualidade e Custo
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a empresa F ainda reforça que não existe a necessidade de investimentos com maquinários e
instalações físicas.
As desvantagens e problemas existentes com a terceirização também foram abordados, 40%
das empresas apontam o custo como a principal desvantagem, 60% destacam a qualidade
como principal desvantagem do processo de terceirização e 20% mostram que existem atrasos
no retorno dos produtos para a empresa-mãe.
A empresa A internalizou o pesponto pela necessidade de redução de custos. Segundo esta
empresa, com a terceirização é necessário oferecer lucro às bancas, o que corresponde a
aumentos de até 60%; além disso, a empresa mostra que com a terceirização há um aumento
no lead time mesmo com datas impostas para entrega, podendo assim as bancas não cumprir
os contratos de entrega. A empresa B, apesar de terceirizar, não vê vantagens com a
terceirização do pesponto alegando que o custo mínimo empata com o custo interno e que os
problemas relacionados à qualidade dos produtos terceirizados acarretam aumento dos custos.
A falta de segurança e de confiabilidade também são pontos de desvantagem além de
existirem perdas com retrabalho. A empresa B alega que não há como controlar o trabalho das
bancas e ainda aponta que elas fazem uso de mão de obra infantil. A empresa C alega ter
responsabilidade sobre a gestão dos recursos humanos utilizados nas bancas, portanto,
responsável pelos casos de demissões e contratações.
Quanto à localização das prestadoras de serviços, as empresas B, D, E e F, 80%, apontam que
as empresas terceiras são apenas da cidade de Franca; a empresa C, 20%, apresenta 60% das
empresas prestadoras na cidade de Franca e 40% na região do sul de Minas Gerais.
Com relação à existência de pesponto interno nas empresas que terceirizam, 80%
responderam que possuem. A empresa B, 20%, utiliza o pesponto interno para consertos e
confecção de amostras. A empresa C e F, 40%, produzem 60% do seu pesponto internamente.
A empresa E, 20%, utiliza o pesponto interno para elaboração de custos de mão de obra.
Quando questionadas sobre a possibilidade de internalizar todo o processo de pesponto as
empresas B e F, 40%, destacaram que já existe o projeto de internalizar todo pesponto visando
aumento da qualidade. As empresas C, D e E, 60%, destacam a necessidade de grandes
investimentos em layout, instalações, maquinários e qualificação dos recursos humanos,
inviabilizando o projeto.
5. Conclusão
A partir da elaboração desta pesquisa, percebeu-se que o processo de terceirização é fruto de
uma demanda de reestruturação produtiva ocorrida a partir da década de 1970 nos países
desenvolvidos e desde 1990 no Brasil. Com relação aos casos estudados, a terceirização da
etapa de pesponto é utilizada por 83% da amostra estudada desde o final da década de 1980.
Percebeu-se a partir da revisão bibliográfica que a maior intenção das empresas na adoção do
processo de terceirização é a diminuição de custos. Neste sentido, pode-se observar que esta
redução baseia-se no perfil das bancas de pesponto, com jornadas de trabalho maiores do que
o estipulado pelas leis trabalhistas, quadro de funcionários familiar e, na maioria das vezes,
sem direitos trabalhistas.
O perfil do mercado de trabalho de Franca tem uma predisposição para terceirização, como
relata Gorini, Correa e Silva (2000), o qual mostra que a etapa do pesponto possui um forte
caráter artesanal e exige a disponibilidade de poucas máquinas, que podem ser encontradas a
um preço extremamente reduzido no mercado de segunda mão.
Com relação ao estudo dos casos, alguns aspectos levantados por DIEESE (2007), Cerutti et
al. (2003) e SEBRAE (2004) referentes aos fatores motivacionais na busca de processos de
terceirização não foram percebidos. Com relação ao aumento na qualidade do produto, este
não foi percebido pelas empresas B, C e F (60%). A redução no tempo de produção não foi
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percebida pelas empresas B e F (40%). Os autores evidenciam o aumento da eficiência
relacionada à produtividade, sendo que esta não foi percebida pelas empresas B e F (40%); e a
redução de custos que é um dos maiores alvos da terceirização não foi percebida pelas
empresas B e E (40%).
Quanto aos aspectos relacionados às vantagens, a amostra da pesquisa aponta 40% das
empresas (C e D) destacando a variedade de produtos e 60% (C, D e E) a economia de custos
fixos como instalações, maquinários e afins.
A CNI (2009) apresenta problemas em potencial com a utilização de serviços terceirizados. A
qualidade menor que a esperada (58%) foi percebida pelas empresas B, C e F (60%) entre
empresas estudadas que terceirizam a etapa de pesponto; o custo maior que o esperado (48%)
foi diagnosticado pelas empresas B e E (40%); já a insegurança jurídica com possíveis
passivos trabalhistas (47%), só foi percebida pela empresa C, 16%, que se sente responsável
pelos funcionários das bancas de forma indireta.
Com relação à hipótese proposta, é importante pontuar que esta foi comprovada parcialmente,
pois, 58% das empresas questionadas não atingem suas metas com relação à qualidade
estipulada; e 48% têm seus custos com a terceirização maiores que o planejado.
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XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
11
ANEXO
Quadro 1: Síntese dos questionários respondidos pelas 6 empresas entrevistadas