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    FICHA CATALOGRFICA

    Bibliotecria ResponsvelMairla Pires Costa

    CRB 14/1364

    Capa: Luiza de Aguiar BorgesArte da contra-capa: Otvio Guimares Tavares

    L775 Literaturas entre o digital e o analgico / Deise J. T. deFreitas; Rafael Soares Duarte [org.]. Teresina: Edufpi,2013.108f.

    ISBN: 978-85-7463-688-7

    1. Literatura digital. 2. Hipertexto. 3. Ferramentastelemticas. 4. Literatura contempornea I. Freitas, Deise J.T. II. Duarte, Rafael Soares III. Ttulo.

    CDU - 82:004

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    Deise J. T. De Freitas

    Rafael Soares Duarte

    (Orgs.)

    Literaturas entre o digital e o analgico

    Teresina

    Edufpi2013

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    Sumrio.................................................................................................................................................5

    Apresentao........................................................................................................................................6

    Por um engenho e arte digital Otvio Guimares Tavares................................................................9Verificao estatstica das caractersticas de estilos de poca: Simbolismo Saulo Cunha de Serpa

    Brando e Diego Meireles de Paiva ..................................................................................................18

    A pgina infinita: leitura de algumas possibilidades narrativas nas Webcomics Rafael Soares

    Duarte.................................................................................................................................................29

    Dlnotes2: um relato de uma ferramenta para marcao semntica de textos literrios Emanoel

    Cesar Pires de Assis e Isabela Melim Borges Sandoval.............................................,......................40

    Personarium: dicionrio eletrnico de personagens Deise J. T. de Freitas e Silvio Somer............................................................................................................................................................51

    Reflexes do papel tela sobre literatura contempornea e memria Everton Vincius de

    Santa...................................................................................................................................................63

    Espacializaes nas narrativas de Perec, Cortzar e Calvino Cludia Grij Vilarouca

    ............................................................................................................................................................71

    Tendncias modernas em continuidade na poesia do presente Julia Telsforo Osrio e Patrcia

    Chanely Silva Ricarte.........................................................................................................................77

    Realidade ou fico? A verdadeira face do caipira Juliana Cristina Garcia....................................93

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    Apresentao

    Esta publicao tem origem no I Seminrio Literatura e Meio Digital1, organizado pelo

    Ncleo de Pesquisas em Informtica, Literatura e Lingustica (NuPILL) da Universidade Federal

    de Santa Catarina (UFSC) em outubro de 2011. No encontro, que reuniu pesquisadores, professores

    e estudantes de graduao e ps-graduao de vrias partes do pas, a apresentao das pesquisas

    sobre o tema da Literatura e sua relao com o meio digital suscitou debates intensos e

    enriquecedores que, alm de contriburem para o rumo dos projetos que estavam em andamento,

    estimulou novas estudos relacionados ao tema.

    Hoje, a realidade da literatura j bastante diferente e muito mais consolidada do que em

    2011. H uma produo expressiva de publicaes em meio digital, os livros eletrnicos oue-booksconquistaram uma parte do mercado editorial, h obras hbridas que mesclam literatura msica e

    vdeo, que envolvem a criao artstica nesse novo meio, h os blogs, onde se tem uma grande

    variedade de gneros textuais. Enfim, h toda uma gama de novos objetos e processos que acabam

    por suscitar questes que so do interesse do pesquisador da rea da Literatura, seja na rea de

    ensino-aprendizagem, seja na anlise terico-crtica sobre essa produo. desse complexo

    universo que os pesquisadores reunidos nessa publicao tratam.

    Em Por um engenho e arte digital, Otvio Guimares Tavares prope uma aproximaoentre a arte literria barroca e a arte literria digital. Tal conexo possvel, segundo o autor, por

    conta de caractersticas comuns como a complexidade, multiplicidade, e multimidialidade. Ou seja,

    ele parte do conceito de barroco como uma arte pautada por engenho e artifcio, o que a

    aproximaria da arte digital, na medida em que se assemelham quanto a seus modos de produo e

    recepo. Tais semelhanas estariam no s na submisso a regras rgidas de procedimento para a

    criao bem como na necessidade de participao/interatividade por parte da recepo, como se

    estivesse participando de um jogo.No artigo Verificao estatstica das caractersticas de estilos de poca, Digo Paiva e

    Saulo Brando usam a estilometria para rever as caractersticas da escola simbolista, por meio de

    uma abordagem quantitativa. Utilizando como ferramenta osoftwarede estatstica textualLexico3,

    desenvolvido na Universidade de Sorbonne, os pesquisadores cotejam as obrasBroquis, de Cruz e

    Sousa; Kiriale, de Alphonsus de Guimaraens; Clepsidra, de Camilo Pessanha; tendo como

    parmetro de comparao a obra paranasianaVia Lctea, de Olavo Bilac.

    1 Realizado na Universidade Federal de Santa Catarina, nos dias 6 e 7 de outubro de 2011.

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    Rafael Duarte, em A pgina infinita: leitura de algumas possibilidades narrativas nas

    webcomics,discute as relaes formais existentes entre a poesia visual moderna e as histrias em

    quadrinhos. O seu foco na unidade de espao comum a ambas, pautado na ideia de que a

    possibilidade tcnica deve estar submetida proposta esttica da arte em questo. O autor aponta

    trs possibilidades formais para as HQ feitas para a internet. Uma que manteria formato da pgina

    impressa, outra que retomaria as possibilidades narrativas das HQ pr-imprensa, e, por fim, um

    modelo criado especificamente para o meio digital.

    J no texto DLnotes2: um relato de uma ferramenta para marcao semntica de textos

    literrios, Emanoel Pires de Assis e Isabela Borges Sandoval traam o histrico de uma ferramenta

    eletrnica construda para o ensino-aprendizagem de Literatura. Pensado, a princpio, para ser um

    esquema de termos de teoria literria, ligados atravs de suas relaes, para ser disponibilizado emmeio digital, o DLnotes2 acabou por ganhar novas funcionalidades que so apresentadas em

    situao real de uso pelos alunos em sala de aula. Alm disso, os autores apontam para a

    importncia do papel do professor na adoo e gerenciamento dos recursos tecnolgicos utilizados

    em sala de aula.

    Deise Freitas e Silvio Somer apresentam o percurso de concepo, pesquisa e criao de um

    dicionrio eletrnico de personagens no texto Personarium: dicionrio eletrnico de personagens.

    Assim como o DLnotes2, o Personarium foi pensado para ser uma ferramenta de leitura, ensino eaprendizagem de Literatura. Voltado para vrios pblicos (acadmicos de diferentes nveis e

    disponvel tambm para o pblico leigo), essa ferramenta permitir uma experincia hipertextual de

    leitura que possibilitar ao usurio acessar informaes de carter estritamente literrio sobre as

    personagens: autor, obra, relao com outras personagens entre outras; bem como as de carter

    extraliterrio: contexto histrico, social, imagens da poca e de locais citados na obra etc.

    O confronto entre memria e realidade, factual e ficcional, so alguns dos temas presentes

    em Reflexes do papel tela sobre literatura contempornea e memria. Everton de Santaproblematiza os mecanismos de memria e criao literria no romance contemporneo. Tratando

    tanto de obras impressas como das narrativas digitais como as disponveis emblogsna internet, o

    autor destaca a influncia da midiatizao e da autoexposio que resultam numa tendncia

    contempornea para a autofico.

    A partir das obrasRayuela(Jogo da Amarelinha) de Cortzar,La vie mode d'emploi(A vida

    modo de usar) de Georges Perec eCidades Invisveisde talo Calvino, Cludia Vilarouca discute o

    espao na literatura. Organizadas em forma de um jogo proposto pelo autor ao leitor, as narrativas

    analisadas so capazes, segundo a autora, de oferecer diferentes possibilidades de construo do

    significado. A arquitetura dessas obras capaz de fazer com que em uma s obra possa ser lida de

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    diferentes maneiras, multiplicando suas possibilidades e tornando o leitor um ativo participante na

    construo de seus possveis sentidos.

    Na sequncia, Jlia Osrio e Patrcia Ricarte apontam elementos da tradio moderna na

    poesia de Paulo Henriques Britto, Marcos Siscar, Lus Quintais e Rui Pires Cabral, identificando

    influncias que passam de Mallarm a Pound e Eliot. As autoras analisam como se d a

    interlocuo entre modernidade e a poesia desses autores em cada caso particular.

    Por fim, Juliana Garcia investiga as representao do homem do interior de So Paulo, contrapondo

    a figura do caipira em sua representao ficcional nos contos de Monteiro Lobato, Cornlio Pires e

    Hugo de Carvalho Ramos ao perfil traado por Antonio Candido em sua teseOs parceiros do Rio

    Bonito. A autora aponta os pontos em comum e as divergncias entre o caipira personagem,

    retratado nessas obras ficcionais e o caipira real representado pelos moradores de Bofete, na obrano-ficcional de Candido.

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    POR UM ENGENHO E ARTE DIGITAL

    Otvio Guimares Tavares*

    1. Incio de uma possibilidade

    No incio dOs Lusadaslemos Cantando espalharei por toda a parte,/ Se a tanto me ajudar

    o engenho e arte (CAMES, 1963, p. 9 [1572]); ecoando estes versos proponho pensar dois

    termos, engenho e arte, e expor como estes se articulam como a chave do desenvolvimento de meus

    estudos mais recentes.

    Minha pesquisa partiu da intuio de que existe algo de similar entre a arte literria barroca ea arte literria digital. Esta ligao se daria em ambas pela complexidade, multiplicidade, elementos

    indiretos, excesso de signos e multimidialidade. Essa proposio no seria nada impensvel. Alguns

    autores apontaram anteriormente a similaridade entre barroco e arte digital, bem como outros

    atentaram para a relao existente entre esta e a poesia experimental, caso Haroldo de Campos e E.

    M. de Melo e Castro; j autores como Christine Buci-Glucksmann frisaram a proximidade cultura

    de massa e o modo de vida dos sculos XX e XXI. Geralmente, esse tipo de conexo estabelecida

    por meio de certas complexidades ou excessos sensoriais na criao digital, esperando encontrar naconfuso ou contradio barroca uma similaridade com a pluralidade de modos e meios da arte

    digital.

    Esse tem sido tambm o caminho que muitos poetas e crticos tm encontrado para apontar

    uma ligao entre o barroco e certos autores contemporneos, como os cubanos Lezama Lima

    (1977) e Severo Sarduy (1999), e o brasileiro Haroldo de Campos (1989; 2004), propondo o que

    eles chamam de neobarroco2, tendo em vista as obras de autores como Eugenio DOrs (1989) e suas

    prprias criaes literrias.

    Seria fcil ento pegar esse desenvolvimento crtico e along-lo arte digital, pois se existe

    j uma vertente que liga o barroco e os experimentalismos de vanguarda, e outra que liga as

    vanguardas arte digital3, bastaria reconhecer as similaridades e ligar os pontos necessrios

    * Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, Doutorando em literatura, membro do NUPILL - Ncleo dePesquisas em Informtica, Literatura e Lingustica -, [email protected] Lezama Lima nunca efetivamente utilizou esse termo, mas escreve sobre o barroco e tido quase como o pai do que

    seria o neobarroco.3Como tem sido bastante abordada por autores como Rui Torres (com relao ao Po-Ex portugus dos anos 60-70),Andr Vallias (com relao aos Concretos brasileiros e vanguarda alem), Augusto de Campos, E. M. de Melo e

    Castro e muitos outros.

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    construir a narrativa entre as cenas para demonstrar que existe uma ligao entre o barroco e o

    digital.

    2. Problemas para um conceito

    A certa altura, percebi que a definio de barroco, da arte barroca, utilizada por esses autores

    era inconsistente ou cambiante, ora significando um momento histrico, ora um estilo de recursos

    lingusticos; por vezes apontava para alguma identidade (nacional) ou operava como sinnima para

    qualquer produo artstica que incorporasse, direta ou indiretamente, certas caractersticas

    estabelecidas ou desenvolvidas a partir das categorias elaboradas por Heinrich Wlfflin (2000)4.

    Essas categorias criam uma srie de dicotmicas apriorsticas opondo o barroco renascena deuma forma que tende a deixar de lado qualquer meio termo entre os dois movimentos.

    Em seu livroO Barroco(1989), Eugenio DOrs estabelece um eon ou essncia barroca

    que se manifesta de tempos em tempos sobre a humanidade (alternando com um suposto eon

    clssico). Nessa mesma esteira essencialista, Alejo Carpentier (1978) fala que os latino-americanos

    sempre foram barrocos, como se intrinsecamente nosso local fsico no mundo predeterminasse o

    nosso modo de ser como barroco; como se os seres humanos, suas aes e obras, fossem regidos

    predeterminados por essncias ou idealidades exteriores ao mundo que se manifestassem de

    tempos em tempos e tornassem tudo que se produzisse ali em barroco.

    A tendncia desses mtodos crticos colocar a nomenclatura e as categorizaes antes do

    objeto a ser analisado. Quando isso no feito, l-se o objeto j com as denominaes categricas

    preestabelecidas para serem aplicadas a leitura da obra. So anlises que acabam por construir o

    objeto analisado. Com esse tipo de viso, atribui-se similaridades a obras bastante distintas e

    oposies a obras muito prximas. Com frequncia, observamos que uma variedade de pinturas,

    obras arquitetnicas, literrias e musicais so cunhadas sob o ttulo de barrocas e lidas a partir das

    categorias wlfflinianas (por agregarem elementos como o curvo, o elptico, o profundo e o

    obscuro, por exemplo) sem, entretanto, ter efetivamente relao umas com as outras ou com as

    obras de que fala Wlfflin.

    o caso de Lezama Lima em seu ensaio La curiosidad barroca (1977), em que acaba por

    colocar lado a lado sobre a insgnia barroca as igrejas de Jos Kondori na Bolvia e as de Antnio

    Francisco de Lisboa (Aleijadinho) no Brasil graas origem mestia (e para ele, caracterstica base

    do barroco latino-americano) de ambos os arquitetos; como se no houvesse diferena entre a

    4 As de Wlfflin so: pictrico, profundidade, forma aberta, unificao, clareza relativa.

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    colonizao portuguesa e espanhola e ambos pertencessem mesma nao hispnica 5 e, acima de

    tudo, como se ambas as igrejas produzidas tivessem uma proximidade artstica. Caso oposto o que

    ocorre com Lus Vaz de Cames, que apesar de no ser tido como um autor barroco utilizado por

    Baltasar Gracian em seu clebre manual conceptista Agudeza y arte de ingenio(1969) para ilustrar

    artifcios engenhosos e agudos6.

    O problema no menos catico na produo da crtica moderna e contempornea. Autores

    como Jos Koser, em seu ensaio O Neobarroco: um convergente na poesia latino-americana

    (2004) e Haroldo de Campos, em Barroco, neobarroco, transbarroco (2004), acabam por atribuir

    o ttulo de barroco ou neobarroco a uma constelao de escritores to diversos. Koser opta por

    reunir Lus de Gngora, Glauco Mattoso, Gertrude Stein e James Joyce; j Haroldo elege Cruz e

    Souza, Toms Antnio Gonzaga, Oswald de Andrade, Augusto dos Anjos, Bernardo Guimares,Jorge de Lima e os prprios concretos. Estes dois crticos/poetas acabam por selecionar um

    conjunto de escritores de caractersticas to diversas que no necessariamente apresentam influncia

    seiscentista ou qualquer conexo com esse perodo.

    Podemos notar que o termo barroco ou neobrarroco acaba ento por se tornar uma categoria

    conveniente para definir a Amrica Latina de uma forma unificada como se a Amrica Latina

    fosse uma coisa s, com uma identidade nica ou para propor uma nacionalidade latino-americana

    atribuindo essa mesma unicidade aos povos que nela residem7

    . O uso dos termos barroco eneobarroco acabam por ser uma tentativa de formar uma ideia de nacionalidade, ao modo do que

    explana Benedict Anderson em seu livro Imagined Communities (1991), criando uma comunidade

    imaginria atravs de uma construo ideolgica. Entretanto, essa ideia de nao ou de unidade no

    expe as mltiplas caractersticas dos povos e culturas latino-americanas, mas acaba por atribuir

    Amrica Latina caractersticas resumidas e caricaturadas de uma nao imaginada/criada.

    Imaginada por um ponto de vista que quase parece externo ao continente, seus povos e culturas,

    pois como se a Amrica Latina fosse vista por algum que nele no reside ou conhece e utiliza oconceito/ferreamente barroco para ler uma aparente unidade em um continente que escapa aos

    padres culturais de quem a olha. O problema obviamente no o olhar de fora, mas o fato de que o

    conceito de barroco acaba sendo utilizado por latino-americanos de uma forma limitada e

    5 Lezama rpido em juntar os dois, at mesmo chamando ambos de espanhis, e escolhe ignorar todas as possveisinfluncias distintas e obras bastante diversas de ambos para erguer uma igualdade mediocrizante que anula asdiferenas.6 Em outras palavras, Cames utiliza uma grande quantidade de recursos poticos que se tornaro regra na literatura

    barroca, mas isso no o torna um autor barroco (existem outros fatores tambm em questo que aqui no seroabordados).7 O termo no se refere somente a obras artsticas produzidas na Amrica Latina, mas acaba por designar a Amrica

    Latina e tudo que existe nela.

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    estrangeira. Coisa muito prxima ao que ocorreu como o modo em que os romnticos brasileiros,

    com a explorao da cor local, acabaram por pintar o Brasil no como ele seria ou como eles o

    notavam, mas como os estrangeiros o viam, ou seja, extico.

    Resumindo, barroco, ou neobarroco, parece se tornar um sinnimo de complexidade,

    trabalho interno com a linguagem, uma espcie de tudo que me interessa barroco, pois assim eu

    escolho me definir, ou ainda, de uma sada para erguer uma espcie de nacionalidade latino-

    americana, ressaltando uma identidade nica entre os diferentes povos, raas e credos a

    mestiagem (vista de forma feliz e quase inocente) ressaltada por Lezama Lima , e at mesmo

    apontando para uma identidade que anteceda a prpria existncia de mestiagem e seja de alguma

    forma essencial Amrica Latina como sugere Carpentier relendo DOrs8.

    Se seguirmos essas conceituaes de barroco acabaremos por criar uma categoria to amplae vaga que ela nada poder nos dizer sobre o que uma obra barroca ou um estilo barroco. Esse

    conceito solto no seria capaz de evidenciar ou articular uma ligao forte entre a literatura barroca 9

    e as produes digitais, porque dentro dele as ligaes se tornam bastante subjetivas e metafricas 10.

    Prefiro, ento, olhar a literatura barroca de outra forma, mais histrica e mais pragmtica,

    mas que, entretanto, melhor possibilita uma aproximao com as obras digitais (sem a necessidade

    de falar que ambas so curvas, elpticas ou qualquer outra denominao metafrica).

    3. Origem e Fim

    Um dos problemas que leva a esse caos conceitual sobre o barroco est na incapacidade de

    olharmos historicamente e concretamente os objetos literrios em questo, preferindo sempre buscar

    uma origem no sentido de uma essncia para o que seria ser barroco. Isso consiste em colocar

    um ponto de origem anterior a origem, algo que fundamente o modo de ser daquele objeto, estilo ou

    conjunto (e que inevitavelmente o esquive de perguntas sobre seu modo de ser, pois esse j est pr-

    definido). Dessa forma, aceitando essa essncia original, possvel ignorar os modos de operao

    ou funcionamento daquele objeto, e apenas se concentrar no efeito, no objeto finalizado. O maior

    problema disso que, se essa essncia uma construo discursiva (uma ideia na cabea de quem a

    quer, pois no temos acesso a ela) e ela mostra predeterminadamente o que um objeto , ento a

    8No se trata de ser contra uma maior integrao entre os pases latino-americanos, mas de ressaltar a tentativa nodeclarada desses autores de criar uma ideia de nao que tornaria o ser barroco quase que obrigatrio (automtico e

    determinante) da Amrica do Sul.9

    A produo de seus expoentes como Vieira, Quevedo, Gregrio, as inmeras produes acadmicas.10 Pois dentro do que vimos, um sermo seiscentista, um templo inca, um homem latino, um filme pop, o Time Square eum poema gerado por uma mquina podem todos ser definidos por barroco sem necessariamente evidenciar um

    elemento comum entre eles (ou permitindo que o elemento comum seja um termo subjetivo como curvo).

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    leitura que se faz daquele objeto tambm est predeterminada quando se ergue algo como essencial.

    Logo, ao invs de olhar o objeto e seus procedimentos de construo, os eventos sociais que o

    cercam e afetam, esse tipo de viso acaba por olhar apenas aquilo que eles mesmos construram e

    atriburam ideia do objeto.

    Um dos problemas sobre as crticas de obras barrocas, gerado por esse tipo de viso, est em

    que se tende a no olhar o processo de composio ou textos a respeitos desse (tratados de potica e

    retrica da poca), e ficar somente no poema desassociado de seu contexto, encontrando nele um

    texto de caractersticas quase expressionista ou surrealista carregado de uma subjetividade

    incompreensvel. Ler o poema deste modo se deve a uma falta de conhecimento por parte do leitor

    de compreender ummodus operandida obra.

    Uma sada para o problema est em olharmos genealogicamente as obras literrias emquesto. Por genealogicamente quero dizer olhar a obra terminada, o processo de composio, os

    textos perifricos a obra, o momento histrico, entre outros elementos, de modo a lembrar um

    pouco o olhar de um mecnico sobre um carro; olhar esse que tenta apreender o modo de

    funcionamento de uma mquina (lanando mo de todas as informaes possveis e ao alcance).

    Assim, torna-se possvel observar caractersticas e elementos e estabelecer categorias pragmticas

    que podem ser associados produo barroca e a digital, tendo o cuidado de no construir um no

    outro, ou seja, mantendo claro de que se trata de uma aproximao e no uma identificaocompleta.

    4. Por ummodus operandi

    Revisemos alguns aspectos da literatura seiscentista atravs do que bem aponta Joo Adofo

    Hansen (2002) ao introduzir a antologiaPoesia seiscentista: fnix renascida & postilho de Apolo.

    Primeiro, temos que ter claro que o autor seiscentista no um artista no sentido romntico do

    termo (nada de gnios ou seres inspirados) nem propriamente no sentido iluminista de indivduo.

    Segundo, a literatura uma tcnica, e o autor um artfice que conhece essa arte/tcnica (no h a

    noo de arte como expresso de um eu). Nesse sentido, os tratados de potica (geralmente

    referentes mtrica) e os tratados de retrica (procedimentos e artifcios de construo) e mais a

    leitura de textos literrios so as bases para o domnio dessa tcnica 11. Terceiro e ltimo, as bases

    de valorao artsticas no residiam sobre o conceito de belo ou de beleza esttica, mas sim sobre os

    conceitos de engenho, artifcio e agudeza. Era mais nobre engenhoso aquele que melhor sabia

    11 Os tratados de potica e retrica muitas vezes se misturavam, lanando mo um do outro e vice-versa.

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    jogar com os elementos em questo, aquele que sabia construir engenhos difceis dentro das

    possibilidades, regidos por uma tradio (HANSEN, 2002).

    Os fundamentos para esses jogos eram estipulados por princpios derivados tanto de autores

    cannicos quanto de uma base aristotlica fundada principalmente nas tradues de sua Potica e

    Retrica, mas tambm em seu sistema lgico, o Organon12. Quando um autor se refere a prolas

    como dentes ou cravo como boca, ele est subentendendo uma estrutura de relaes pautadas nas

    categorias aristotlicas, brincando com as possibilidades combinatrias das categorias, seus

    acidentes e assim por diante13.

    Esse sistema operante da literatura seiscentista era compartilhado por todos letrados, logo,

    representava um cabedal comum para trabalharem. Quando se faziam esses jogos de construo e

    palavra, se estava jogando com um conjunto de regras e elementos aceitos pelo amplo pblicoletrado, e sacramentado pelas instituies legais da poca (basta olharmos que a maioria das

    academias tinham como fundador ou protetor algum membro de alta nobreza e poder poltico, e

    este, uma longa lista de poemas e discursos encomisticos a seu favor).

    Logo, ter o engenho como base para anlise dos textos literrios barrocos, antes de mais

    nada, representa utilizar as categorias de valorizao da poca; no sentido em que os tratados e

    basta lermos Gracian ou Rengifo apontam e exemplificam tais utilizaes retricas e poticas. A

    passagem para o engenho tambm proporciona uma dessubjetivao do objeto artstico eliminando as leituras expressionistas ou psicolgicas do barroco em favor de uma visada ao

    objeto de forma mais tcnica, no sentido de aprender e mapear seus funcionamentos, seus jogos de

    palavras, seustoposrecorrentes, suas metforas, seus silogismos, como tambm seu lugar em um

    contexto mais amplo da sociedade do sculo XVII, ou seja, propem a leitura do modo de operar do

    poema.

    5. Mquina Textual

    Uma arte que pautada por engenho e artifcio pode ser aproximada da arte digital, pela

    semelhana entre seus modos de produo e recepo. Refiro-me produo, pois no barroco havia

    um sistema potico e retrico institucional para criao de obras, ou seja, a composio

    subentendia uma srie de normas e regras com que o autor deveria brincar e utilizar na sua

    12 Muitos destes textos comeam a circular j na renascena, porm sem o forte fundo neo-escolstico que veriam na

    Contrareforma, como bem mostra Luisa Lpez Grigera emAnotaes de Quevedo Retrica de Aristteles(2008).13 Em Portugal, o fim desse sistema chega quando o Marqus de Pombal, com as reformas pombalinas, elimina as razesjesuticas-aristotlicas e implementa o iluminismo, que se torna presente na literatura atravs da grande influencia das

    obras de Lus Antnio Verney e Candido Lusitano.

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    composio14. O autor estava como dentro de um jogo, com regras pr-estabelecidas e limites, em

    que deveria criar a partir desse cenrio. No meio digital algo parecido ocorre, no precisamente por

    uma institucionalizao, mas pelas restries implcitas nas linguagens de programao Java,

    actionscript, C++ que o autor vem a escolher para compor sua obra (estas que so efetivamente

    linguagens lgicas). Ele deve se submeter a um engenho efetivo para compor, e sua obra ser

    efetivamente uma mquina. Enquanto um brincava com silogismos dentro de um poema, outro

    constri um poema com uma linguagem lgica.

    Em termos de uma recepo, podemos aproximar os dois tipos de criao atravs do carter

    no-esttico. No barroco, a literatura tinha um carter procedural na sua recepo, ou seja, eram

    obras compostas para serem executadas nas cortes, reunies acadmicas e afins. Nesses contextos, a

    obra seria decifrada pelos ouvintes ou leitores que tentariam bater os engenhos com outros maishbeis. Tal s possvel em um contexto em que tanto a composio quanto o processo de decifrar

    engenhos desfrutam do mesmo valor. Logo, nesse contexto, a literatura se torna tambm uma

    proposta para ao. Isso vem a ser ainda mais claro nos labirintos poticos, em que a leitura

    somente se d atravs da compreenso de um conjunto de regras e de uma ao (sensrio-motora)

    sobre o texto. Na arte digital, temos novamente um paralelo. No momento em que a arte no mais

    considerada kantianamente como mera contemplao, torna-se necessrio agir sobre para efetiv-la

    (as artes visuais contemporneas so um bom exemplo disso). Temos ento poemas que necessitamde interao, movimento nomouse, gravao de sons,joystick, escrita no teclado, tudo por parte do

    leitor que deve obviamente compreender essas regras de interao para poder agir15. Cria-se uma

    literatura que apenas efetivada quando o leitor age sobre ela materialmente, seja ele sozinho ou

    em uma comunidade via a internete. Um bom exemplo o Amor de Claricedo poeta portugus Rui

    Torres (2005)16.

    A possibilidade de paralelos proporcionada pela aproximao via a noo de engenho

    rapidamente apresentada aqui no se esgota, nem pode se esgotar. Ela deve servir para nosperguntarmos, a partir das aproximaes, o que significa isso? E o que podemos fazer com isso? A

    pergunta que mais me intriga : quo mecnico eram ou so estes processos de criao, e quo

    livres esto aqueles que criam dentro de um sistema de normas? Para criar, ambos se submetiam a

    regras retricas e cdigos-fonte. Para ambas as leituras, o leitor deve apreender as regras que o

    autor utilizou. Se no barroco temos uma quantidade imensa de poemas, escritos em louvor da

    14

    No se deve entender essas regras ou normas de forma pejorativa. Um autor que decide criar um soneto sabe queestar a construir atravs de um conjunto de restries X, e pode usar isso para sua vantagem.15 Abordei o tema de interao mais de perto na minha dissertao: A interatividade na poesia digital(2010).16Amor de Clarice : .

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    mesma pessoa, na mesma ocasio, com o mesmo fundo retrico e potico e a compilao dos

    tomos da Academia dos Esquecidos empreendidos por Jos Aderaldo Castello (1969) so uma boa

    prova disso , hoje temos geradores de textos automticos como oSintextde Pedro Barbosa que

    podem exaurir as possibilidades de composies dentro de regras textuais pr-estabelecidas. At

    que ponto ento no so ambas as produes maqunicas? Este talvez uma das principais questes

    que me proponho a responder nessa pesquisa.

    Concluses

    A noo de engenho acaba por constituir um conceito base que permite melhor explorar as

    facetas de aproximao entre o barroco e o digital, no como aspectos metafricos, mas comsimilaridades do funcionamento e operao literrias. Essa volta tcnica implicada pelo engenho

    tambm possibilita sairmos da esteticidade demasiadamente subjetiva da obra de arte, evitando os

    erros de leitura derivados de um olhar superficial sobre a obra. Em outras palavras, a categoria de

    engenho na arte permite uma melhor compreenso tanto do barroco quanto da arte digital

    contempornea atravs de um foco sobre seu modo de operar.

    Referncias Bibliogrficas

    ANDERSON, Benedict. Imagined communities: reflections on the origin and spread ofnationalism. London: Verso, 1991.

    BARBOSA, Pedro. Sintext. Disponvel em: . Acesso em: 10 maio 2012.

    CAMES, Lus Vaz de.Obra completa. Rio de Janeiro: Jos Aguilar, 1963.

    CAMPOS, Haroldo de. O Sequestro do barroco na formao da literatura brasileira: o casoGregrio de Mattos. Salvador: FCJA, 1989.

    ______. Barroco, neobarroco transbarroco. In: DANIEL, Claudio (Org.)Jardim de camalees: apoesia neobarroca na Amrica Latina. So Paulo: Iluminuras, 2004. p.13-16.

    CARPENTIER, Alejo.Tientos y diferencias. Buenos Aires: Calicanto, 1978.

    CASTELLO, Jos Aderaldo. O Movimento academicista no Brasil 1641-1820/22 . So Paulo:Conselho Estadual de Cultura, 1969.

    DORS, Eugenio.O Barroco. Lisboa: Vega, 1989.

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    p. 23-40.

    LEZAMA LIMA, Jos.Obras completas. (volume 2). Mxico: Aguilar, 1977.

    GRACIAN, Baltasar. Agudeza y arte de ingenio. (2 volumes). Madrid: Castilia, 1969.

    GRIGERA, Luisa Lpez.Anotaes de Quevedo Retrica de Aristteles. Campinas: Unicamp,2008.

    HANSEN, Joo Adolfo. Fnix Renascida & Postilho de Apolo: uma introduo. In: PCORA, A.(Org.).Poesia seiscentista: fnix renascida & postilho de Apolo. So Paulo: Hedra, 2002. p. 20-

    71.

    SARDUY, Severo.Obra Completa. Madrid: ALLCA XX, 1999. (2 volumes)

    TAVARES, Otvio Guimares. A Interatividade na poesia digital. 2010. 120pgs: Dissertao(Mestrado em Teoria Literria) Programa de Ps-Graduao em Literatura, Centro deComunicao e Expresso, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2010. Disponvelem: . Acessado em 2 de maio 2012.

    TORRES, Rui. Amor de Clarice. Porto: Universidade Fernando Pessoa. 2005. Disponvel em:

    . Acesso em: 14 maio 2012.

    WLFFLIN, Heinrich.Conceitos fundamentais da historia da arte: o problema da evoluo dosestilos na arte mais recente. So Paulo: Martins Fontes, 2000.

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    VERIFICAO ESTATSTICA DAS CARACTERSTICAS DE ESTILOS DE POCA:SIMBOLISMO

    Digo Meireles de Paiva (UFPI)*

    Prof. Dr. Saulo Cunha de Serpa Brando (UFPI)

    **

    Introduo

    comum a crtica literria caracterizar a literatura em escolas ou movimentos literrios,

    baseada em caractersticas dos artistas de determinada poca. Por outro lado, estudos

    contemporneos tm buscado rever e atualizar essa crtica, seja por meio da releitura de obras

    cannicas ou de novos meios de estudar os textos literrios.

    A estilometria um desses novos meios. Trata-se de uma anlise quantitativa dos textos,

    baseada dados estatsticos, diferente da tradicional leitura qualitativa. No algo totalmente novo,

    pois no sc. XIX j existiam trabalhos dessa natureza. Entretanto, com o advento informtica a

    estatstica textual tornou-se muito mais eficiente e vivel. O computador capaz de contar milhares

    de palavras em segundos, enquanto uma pessoa levaria muito mais tempo (CRCIO, 2006). A

    estilometria pode ser utilizada de vrias formas, desde estudos estilsticos at aqueles voltados a

    questes de atribuio de autoria, como o fez Brando (2006), estudando o caso das Cartas

    Chilenas.

    O Simbolismo um dos movimentos artsticos mais conhecidos. Na literatura, um dos

    maiores expoentes da poesia. Surgido na segunda metade do sc. XIX, poca marcada pela

    objetividade, caracterizou-se pelo uso de uma linguagem altamente subjetiva e temas introspectivos.

    Atravs da construo de imagens e musicalidade os simbolistas buscavam externar os pensamentos

    e sentimentos mais interiores. Os temas predominantes so pessimistas e voltados para o eu. A

    crtica acerca dessa esttica j bem consolidada, pois se estabeleceu a mais de um sculo. Massaud

    Moiss (1973) diz tratar-se duma espcie pura, ou de uma esttica que se aproximou de pura, ouseja, o Simbolismo possui caractersticas estticas bem definidas.

    Objetivamos verificar se a estilometria dos poetas simbolistas, especialmente Cruz e Sousa,

    condizem com o que a crtica literria tradicional preconiza. Uma leitura diferente, baseada em

    estatstica textual, pode reforar ou contrariar o que j foi dito pela crtica.

    * Mestrando em Letras pela Universidade Federal do Piau UFPI. Integra o Ncleo de pesquisa em Literatura

    Digitalizada (NUPLID)[email protected]** Professor Associado II do Departamento de Letras Universidade Federal do Piau UFPI. Coordena o Ncleo depesquisa em Lieratura Digirtalizada (NUPLID)[email protected]

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    Por tratar-se de um estudo com metodologia diferenciada em relao aos tradicionais

    estudos literrios (predominantemente bibliogrficos), convm explicitar alguns detalhes tcnicos

    da pesquisa, seja para efeito de esclarecimento ou para transmitir credibilidade.

    1 Aspectos Metodolgicos

    Para realizar o estudo estilomtrico utilizamos o software de estatstica textual Lexico3,

    desenvolvido na Universidade de Sorbonne. Obtivemos a verso digital das obras na Biblioteca

    Digital do NUPILL17 e Portal Domnio Pblico18. Estas foram revisadas com base em uma edio

    impressa19. Em seguida realizamos o processo de balizamento, que consiste em preparar os textos

    para serem submetidos ao programa, inserindo marcadores 20

    e transformando as letras maisculasem minsculas21. O corpusbalizado foi salvo no formato *.txt22 , no programaBloco de notas23.

    As obras selecionadas para esta pesquisa foram: Broquis, de Cruz e Sousa;Kiriale(1960),

    de Alphonsus de Guimaraens; Clepsidra (2009), de Camilo Pessanha; e Via Lctea (2006), de

    Olavo Bilac. Esta ltima foi utilizada como parmetro, j que faz parte de um movimento esttico

    tido como oposto ao Simbolismo, o Parnasianismo.

    OLexico3fornece dados gerais sobre as obras, tais como o total de palavras utilizadas e o

    nmero de ocorrncias de cada uma. Tambm dispe de ferramentas mais especficas que permitembuscar um grupo especfico de formas24 dentro do texto ou ainda analisar o contexto em se

    encontram. Esta ltima ferramenta, denominada Concordance, fundamental para garantir uma

    interpretao coerente dos dados, pois o pesquisador pode desconsiderar ocorrncias ilusrias

    como, por exemplo, a palavra claro, que pode ser adjetivo ou advrbio, possuindo mesma escrita,

    mas significados distintos.

    17

    Ncleo de Pesquisa em Informtica, Literatura e Lingstica (Florianpolis SC), que oferece gratuitamente umgrande acervo digitalizado pela internet.18 ExcetoKiriale, que no estava disponvel em meio digital confivel. A obra foi digitalizada pela equipe do Ncleo dePesquisa em Literatura Digitalizada NUPLID/ UFPI, utilizando um escner e o programa Omnipage Pro, que faz aleitura do texto escaneado, possibilitando o balizamento do mesmo.19 Todos os textos retirados de meio digital so comparados com verses impressas, visando a qualidade docorpus .20Nesta pesquisa cada poema recebeu um marcador, ou seja, uma parte. Assim possvel verificar em um grfico qual

    poema utiliza mais determinada palavra, ou qual poema tem mais palavras.21 Essa formatao necessria para que o Lexico3 no interprete duas palavras iguais como diferentes por causa deuma letra maiscula.22Arquivo de texto bsico, de formatao simples.23

    Editor de texto simples, programa bsico do sistema operacional Windows em todas as suas verses.24Formas o termo utilizado no programa para designar, em geral, palavras. Mas possvel tambm considerar os sinaisgrficos de pontuao, desde que alteradas as configuraes do programa. Neste trabalho os sinais de pontuao foram

    desconsiderados na contagem, ento onde h formas, entenda-se palavras.

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    Na anlise e comparao sempre tomamos os dados em frequncia relativa percentual, ou

    seja, relacionando o nmero de ocorrncias absoluto com o total de formas de cadacorpus,pois

    difcil analisar a relevncia de uma palavra sem considerar o tamanho do texto em que a mesma est

    inserida. Alm disso, seria impossvel realizar os estudos comparativos, j que cada obra tem uma

    quantidade especfica de palavras.

    A busca pelos dados estilomtricos foi guiada pela pesquisa bibliogrfica sobre o

    Simbolismo. Assim chegamos questo da cor branca e do uso de primeira pessoa na obra de Cruz

    e Sousa, que sero discutidas nos dois tpicos a seguir.

    2 O Simbolismo e a cor branca

    De acordo com os dados bibliogrficos levantados, uma das caractersticas do Simbolismo

    a forte presena da cor branca e seus cognatos, pois ela, segundo Massaud Moiss (1973), traduz a

    vaguido, o mistrio, a languidez, a espiritualidade, a pureza, o etreo e o oculto, que so temas

    constantes nesse movimento. Alm disso, essa caracterstica especialmente marcante na obra de

    Cruz e Sousa, sendo que alguns crticos atribuem esse fascnio do poeta por essa cor ao fato dele ser

    negro e por meio da sua poesia buscar transcender essa questo social. Diz o estudioso Wilson

    Martins (1979, p. 437) que Cruz e Sousa fez inconscientemente da sua arte um instrumento declarificao, de ascenso social, opinio compartilhada por Manuel Bandeira (2009), citando o

    famoso estudioso da poesia afro-brasileira Roger Bastide.

    Utilizando a ferramenta grupo de formas criamos um grupo de sinnimos (branco, alvo,

    claro, nvel e variaes de gnero e nmero) e outro de palavras associadas (lua, neve, leite, gelo,

    marfim e formas derivadas) que foram aplicados nos textos simbolistas. Antes de serem

    contabilizados, os dados foram analisados atravs da ferramenta Concordance para atestar sua

    validade. Esse processo foi realizado com todos os grupos de forma da pesquisa.

    A seguir temos uma tabela com os dados referentes ocorrncia da palavra branco e

    sinnimos em cada obra, seguida por outra que contempla as palavras associadas cor:

    ObraForma

    Broquis Kiriale Clepsidra

    Branco 24 13 15Brancura 9 - 1Brancor 1 - -

    Alvo 7 1 1

    Alvura 4 - -Alvor 2 1 -Alvar 1 - -Claro 17 2 1

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    Claridade 4 - -Nveo 7 - -

    Total (%) 75 (1,41%) 17 (0,3%) 18 (0,38%)

    Obra

    Forma

    Broquis Kiriale Clepsidra

    Branco 24 13 15

    Brancura 9 - 1

    Brancor 1 - -

    Alvo 7 1 1

    Alvura 4 - -

    Alvor 2 1 -

    Alvar 1 - -Claro 17 2 1

    Claridade 4 - -

    Nveo 7 - -

    Total (%) 75 (1,41%) 17 (0,3%) 18 (0,38%)

    Tabela 2.

    Pela anlise desses dados verificou-se que os nmeros em Broquis so bem superiores,

    pois, somando as ocorrncias das duas tabelas, chega a 2,54% das ocorrncias totais da obra,enquanto as outras duas no atingem 1%.Kirialesoma 0,75% eClepsidra0,59%.

    No entanto ficamos sem parmetros para realizar uma anlise mais segura dessas ltimas.

    Ento, na busca dessa referncia, foi balizada uma quarta obra pertencente outra escola literria, o

    Parnasianismo. Com isso esperou-se que, caso a crtica estivesse certa, haveria uma diferena

    significativa entre os dois simbolistas e o parnasiano. A obra escolhida foi Via Lctea, de Olavo

    Bilac.

    Compilando os dados de cada produo, obtivemos o grfico a seguir, que apresenta ocomparativo entre elas no que diz repeito frequncia relativa da cor branca, sinnimos e palavras

    associadas:

    0,00%0,50%

    1,00%1,50%2,00%2,50%3,00%

    Broquis Kiriale Clepsidra Via Lctea

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    Grfico 1.

    Como pode ser visto no grfico 1, a frequncia emVia Lctea menor do que emKirialee

    Clepsidra, o que nos d margem para afirmar que Alphonsus de Guimaraens e Camilo Pessanha

    tambm tem a cor branca como meio de expresso recorrente. Porm a diferena em relao ao

    poeta parnasiano no to significativa, o que faz com que o termo obsesso (usado por Massaud

    Moiss) em relao cor branca parea um exagero ao classificar as obras de Guimaraens e

    Pessanha.

    Quanto aBroquis, o grfico s refora o que j havia sido constatado anteriormente com os

    nmeros. Estatisticamente verificou-se que 2,54% do total de palavras na obra Broquis estoassociadas cor branca, seja como sinnimo ou como palavra que remete a ela. So dados

    relevantes. Especialmente porque, segundo informaes gerais fornecidas pelo programa, h uma

    grande riqueza no vocabulrio de Cruz e Sousa, onde mais de 50% das palavras so hapax 25.

    Os grficos a seguir esto em nmeros absolutos, mas so vlidos para explicitar a presena

    contnua da cor branca em toda a obra. Eles foram elaborados com base nos dados j apresentados.

    A linha vertical apresenta a frequncia absoluta. A linha horizontal representa os poemas em

    sequncia, que no total so 54.

    Grfico 2.

    Obviamente, em alguns poemas a cor branca tem maior destaque e em outros ela no

    aparece diretamente, mas visvel que o grfico frequentemente est acima da linha zero, ou seja,

    25 Palavras que aparem uma nica vez no texto. De maneira geral esse dado pode ser considerado um indicativo de

    riqueza vocabular.

    01

    23456789

    101112

    01 03 05 07 09 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53

    Frequncia

    absoluta

    Poemas

    Branco e sinnimos Palavras associadas

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    as ocorrncias no so pontuais, mas distribudas ao longo de toda a obraBroquis. Podemos ento

    concordar com os crticos que afirmam que Cruz e Sousa recorre constantemente cor branca em

    seus poemas. No dizer de Manuel Bandeira (2009, p. 127), tinha a obsesso da cor branca: branco

    o adjetivo que d sempre ao seu Sonho.

    Analisando o contexto de ocorrncia das palavras em Broquis, que fornecido pelo

    programa atravs da ferramenta Concordance, observamos que o branco e seus sinnimos se

    aplicam a temas variados nos poemas: os astros, os sonhos, a mulher, objetos (lenos, rosas e etc.).

    Isso mostra uma tendncia geral utilizao dessa cor. Com relao s palavras que remetem cor

    branca (neve, marfim, gelo, leite e etc.) nota-se que geralmente a inteno sugerir a prpria cor, e

    no as prprias figuras que o eu lrico invoca para esse fim, como o luar ou a neve, por exemplo.

    Se a cor branca notvel nos versos de Cruz e Sousa, o mesmo no se pode dizer da questoracial apontada por alguns crticos. Nos contextos analisados no foi possvel observar nenhuma

    referncia direta a este tema. Alfredo Bosi faz uma crtica explicao um tanto simplista dos que

    viram nessa constante apenas o reverso da cor do poeta (1994, p. 306) e, ao referir-se ao poeta, fala

    de um esforo de superao de todas as barreiras existenciais, de uma cristalizao, algo bem mais

    abrangente. Ainda como argumento de refutao a essa ideia temos a biografia do autor. Na

    juventude, Cruz e Sousa combateu a escravatura e aps a Lei urea continuou a tratar dos

    problemas raciais atravs de conferncias, artigos e crnicas (Bosi, 1975).A cor branca representaria ento um ideal (ou sonho), uma fuga ou refgio que o poeta

    evoca a todo momentos em seus versos, como pode ser visto em Sonho branco (CRUZ e

    SOUSA): De linho e rosas brancas vai vestido,/ Sonho virgem que cantas no meu peito.../ s do

    luar o claro deus eleito, Das estrelas purssimas nascido.. A cor branca tambm , muitas vezes,

    instrumento de purificao, que pode tornar algo sagrado, e talvez por isso as mulheres emBroquis

    sejam sempre brancas, assim como os sonhos.

    Pela anlise apresentada at aqui j podemos afirmar que Cruz e Sousa faz uso de muitassugestes cromticas em sua poesia. Por meio da sinestesia caracterstica do Simbolismo o poeta

    expressa emoes e sentimentos pelas cores, especialmente a branca. Mas essa sugesto visual no

    apenas cromtica, ou melhor, no se restringe cor branca e suas variadas matizes.

    A palavra no funcional26 com maior frequncia emBroquis luz, que aparece 26 vezes.

    Depois so apresentadas outras formas que podemos associar luz: lua; luar (14); sol (14) e estrelas

    26 Palavras funcionais so aquelas que exercem funo predominantemente sinttica (ligar ou substituir elementos de

    uma orao): artigos, conjunes, preposies, pronomes e interjeies. Devido ao nmero reduzido de formas e a terfuno sinttica aparecem com frequncia bem maior que as demais classes gramaticais (substantivo, adjetivo, verbo,

    advrbio e numeral) ditas no funcionais.

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    (13). Somando apenas a frequncia desses elementos citados temos um percentual de 1,06% da

    obra.

    Alfredo Bosi (1994) j havia atentado para essa presena de elementos luminosos e

    translcidos em Broquis. Seguindo essa ideia, criamos um grupo de formas para buscar outros

    elementos brilhantes tais como cristais e metais. Os resultados obtidos foram os seguintes:

    ObraForma

    Broquis

    Ouro 10

    ureo 3Prata 6

    Prateado 2

    Metal 1Cristal 1

    Cristalino 3

    Marfim 2

    Total (%) 28 (0,52%)

    Tabela 3.

    No poema Cristo de Bronze (CRUZ e SOUSA), por exemplo, possvel perceber a

    predileo aos objetos brilhantes. Cristos de ouro, de marfim, de prata,/ Cristos ideais, serenos,luminosos,. Esse aspecto est presente at mesmo no ttulo da obra. O broquel um escudo

    metlico de forma arredondada, que se assemelha Lua, enquanto objeto que reflete a luz e brilha.

    Podemos dizer que emBroquis, Cruz e Sousa no apenas o poeta da cor branca, mas o

    poeta da luz. A luz que o prprio sonho branco, porque para haver branco necessrio haver luz.

    A luz que buscada nos astros, em figuras religiosas e na prpria poesia, mas que por ser

    inalcanvel, gera a angstia e a dor.

    2 O Simbolismo e a expresso do Eu

    Segundo Moiss, O Simbolismo surge como negao ao objetivismo advindo do

    Positivismo, Naturalismo e Parnasianismo, retomando uma atitude romntica. Reentroniza-se uma

    viso egocntrica do mundo, de modo que o eu interior de cada poeta volta a ser o foco de ateno

    (Moiss, 1973). Bosi (1994) fala tambm de uma mudana de foco: do objeto, como faziam os

    parnasianos, para o sujeito. Assim, os Simbolistas se voltam para o ego, numa viagem

    imprevisvel em busca do eu profundo.

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    Pelo levantamento bibliogrfico da crtica literria e pela leitura das obras em estudo surgiu

    a seguinte hiptese: Por ser uma poesia voltada ao eu, possvel que a poesia simbolista seja

    marcada por uma presena significativa de pronomes e verbos de 1 pessoa do singular.

    Embora os pronomes sejam tidos como palavras funcionais, consideramos que os pessoais e

    possessivos possuem certa carga semntica na medida em que podem identificar um sujeito ou

    ainda estabelecer a relao emissor (eu) - receptor (tu). Ento criamos um grupo de formas

    contendo os pronomes de 1 pessoa no singular: eu, me, mim, comigo, meu(s) e minha(s). Esse

    grupo foi buscado emBroquis,KirialeeClepsidra.

    Seguem os dados fornecidos pelo Lexico3 referentes frequncia dos pronomes:

    Obra

    Pronome

    Broquis Kiriale Clepsidra

    Eu 7 32 20

    Me, mim, comigo 6 58+11+1 42+4

    Meu(s), Minha(s) 7 1+32 2+33

    Total 20 (0,37%) 135 (2,4%) 101 (2,15%)

    Tabela 4.

    Percebemos ento uma enorme discrepncia nos dados deBroquisem relao aKiriale e

    Clepsidra, contrariando a hiptese inicial.

    Criamos ento uma segunda hiptese: A utilizao de sujeito desinencial. Ou seja, o sujeito

    eu estaria implcito na conjugao do verbo, podendo ser identificado no mesmo.

    Para investig-la, tivemos que modificar um pouco a forma de obter os dados. Ao contrrio

    da classe gramatical dos pronomes, os verbos so muito numerosos e possuem muitas desinncias,

    alm dos verbos irregulares. Isso inviabilizou a criao de um grupo de formas. Ento a busca pelosverbos teve que ser feita pelo ndice geral de formas, palavra por palavra.

    Ao fim da busca, foram contabilizados 17 verbos conjugados em primeira pessoa, mas 4

    deles acompanhados de pronomes j contabilizados, restando 13 casos de sujeito desinencial. Um

    nmero no expressivo (0,24%). Alm disso, foi observado que verbos comuns como ser ou estar

    no so utilizados com frequncia pelo poeta Cruz e Sousa. Assim, mesmo contabilizados os casos

    de sujeito desinencial, os nmeros deBroquisficaram muito abaixo das outras obras simbolistas.

    Montamos um grfico que apresenta as ocorrncias de primeira pessoa, considerando os

    casos de sujeito desinencial emBroquis:

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    Grfico 3.

    Ressaltamos que apenas na obra de Cruz e Sousa foram contabilizados os casos de sujeito

    desinencial, pois os dados j se mostraram significativos o suficiente para uma interpretao

    coerente. Esses dados nos revelam um trao estilstico muito interessante na obra Broquis. Um eu

    lrico que pouco se apresenta diretamente.

    Perdido estou nesta grande charneca,/ Cheio de sede, cheio de fome,/ Disse-me Deus: S

    bom! E o Diabo diz-me: Peca!/ E anjos e demnios repetem meu nome (XI Ocaso,

    GUIMARAENS). Nessa estrofe de Alphonsus fica clara a participao do eu lrico no poema,

    expressando o dilema entre o bem e o mal.

    No poema Caminho (PESSANHA), o eu lrico expressa sua dor e angstia diante dasincertezas da vida: Tenho sonhos cruis; nalma doente/ Sinto um vago receio prematuro./ Vou a

    medo na aresta do futuro,/ Embebido em saudades do presente.... Podemos ver nesses versos como

    o uso da primeira pessoa (implcito ou explcito) significativo na expresso do eu profundo.

    Construes semelhantes a essas so incomuns emBroquis. Em boa parte dos versos, Cruz

    e Sousa abre mo at mesmo dos verbos, e os versos so construdos em uma sucesso de sugestes

    de imagens e sons, como podemos ver nessa estrofe do poema Supremo Desejo (CRUZ e SOUSA):

    Eternas, imortais origens vivas/ Da luz, do Aroma, segredantes vozes/ Do mar e luares decontemplativas, Vagas vises volpicas, velozes....

    Se o eu pouco se apresenta, seria possvel questionar se o foco da poesia de Cruz e Sousa

    no o prprio eu e sua subjetividade, e sim o objeto que busca descrever. Mas se for esse o caso,

    lendo os poemas deBroquischegaramos concluso que o objeto a prpria experincia do eu: o

    sonho, o desejo, a dor.

    Consideraes Finais

    0,00%

    0,50%

    1,00%

    1,50%

    2,00%

    2,50%

    3,00%

    Broquis Kiriale Clepsidra

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    Os resultados obtidos com o estudo estilomtrico concordaram com o que a crtica diz a

    respeito da obsesso de Cruz e Sousa pela cor branca e seus matizes. Por outro lado, levaram a um

    questionamento sobre a justificativa usada por alguns crticos para explicar esse trao estilstico do

    poeta. A estatstica textual dos poemas de Broquisno mostrou nenhuma evidncia de questes

    sociais ou raciais relacionada cor supracitada.

    Quanto cor branca em Kiriale e Clepsidra, os resultados no chegaram a contradizer a

    crtica, mas os nmeros modestos no trouxeram credibilidade a essa generalizao, que deve ser

    questionada e melhor estudada.

    As maiores contribuies desta pesquisa dizem respeito estilometria da obraBroquis, pois

    a anlise sistemtica do vocabulrio possibilitou tanto uma melhor compreenso da obra como a

    identificao de traos estilsticos prprios da mesma, que so a significncia da luz nos poemas e atmida presena explcita do eu lrico.

    A estilometria se mostrou um mtodo muito eficaz e promissor. Certamente a divulgao

    desse tipo de pesquisa e a utilizao de softwarescomo o Lexico3 traro grandes contribuies aos

    estudos literrios.

    Referncias Bibliogrficas

    BANDEIRA, Manuel.Apresentao da poesia brasileira. So Paulo: Cosac Naify, 2009.

    BOSI, Alfredo.Histria concisa da literatura brasileira.4. Ed. So Paulo: Cultrix, 1994.

    BILAC, Olavo. Via Lctea.In:_____________,Poesias. So Paulo: Martin Claret. 2006.

    ______.Via Lctea. Disponvel em: . Acesso em jun/2012.

    BRANDO, S. C. de S. Atribuio de autoria: um problema antigo, novas ferramentas. TextoDigital, Florianpolis, ano 2, n. 1, Julho 2006. Disponvel em: < www.textodigital.ufsc.br>. Acessoem: maio/2012.

    CRCIO, Vernica. R. Estudos estatsticos de textos literrios. In:Texto Digital , Florianpolis, ano2, n. 2, Dezembro 2006. Disponvel em: < www.textodigital.ufsc.br>.Acesso em: maio/2012.

    GUIMARAENS, Alphonsus de. Kiriale. In: ___.Obra completa. Rio de Janeiro: Jos Aguilar ltda.1960.

    MARTINS, Wilson.Histria da inteligncia brasileira.Vol. IV. So Paulo: Cultrix, 1979.

    MOISES, Massaud.A literatura brasileira: O simbolismo. So Paulo: Cultrix, 1973. p. 41.

  • 7/25/2019 telainfinita.pdf

    28/10828

    ______.A literatura portuguesa.So Paulo: Cultrix, 1999.

    PESSANHA, Camilo.Clepsidra. Disponvel em:. Acesso emjun/2012.

    SOARES, Iaponan; MUZART, Zahid L(org.).Cruz e Sousa: No centenrio de Broquis e Missal.Florianpolis: Ed. da UFSC, FCC Ed., 1994.

    SOUSA, Cruz e.Broquis Faris. So Paulo: Martin Claret, 2002.

    ______.Broquis. Disponvel em: < http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/_documents/broqueis-cruzesousa.htm>. Acesso em: jun/2012.

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    A PGINA INFINITA: LEITURA DE ALGUMAS POSSIBILIDADES NARRATIVAS NAS

    WEBCOMICS

    Rafael Soares Duarte*

    Esta anlise sobre as histrias em quadrinhos feitas para ainternet, os chamadoswebcomics,

    parte de uma primeira considerao sobre um dos desdobramentos do meu projeto de tese, que

    trata das relaes formais existentes entre a poesia visual moderna e as histrias em quadrinhos.

    Dentre os vrios aspectos explorados na tese, a ideia que centrar a argumentao aqui a ideia da

    unidade de espao, presente tanto na poesia visual quanto nas histrias em quadrinhos, mas aqui

    analisada apenas em relao s HQ. Como o presente texto trata sobre alguns dos desdobramentosdas possibilidades formais das histrias em quadrinhos no meio digital, uma primeira e breve

    conceituao sobre a definio de histrias em quadrinhos se faz necessria.

    Isto porque as diferentes denominaes que as histrias em quadrinhos receberam em

    diferentes lnguas de certa forma influram na forma como esta forma textual j foi encarada.

    Atravs do estabelecimento de alguns parmetros sobre os aspectos formais das histrias em

    quadrinhos ser pensada a relao com as formas narrativas que Scott McCloud entendeu como

    quadrinhos pr-imprensa, as mudanas nas suas possibilidades narrativas quando de seu advento napgina, e a dupla relao de retomada e desenvolvimento nos quadrinhos parainternet. No tocante

    aoswebcomics, suas possibilidades narrativas sero analisadas em dois aspectos: a possibilidade de

    recriar e reformular os processos pr-imprensa, e as possibilidades relativas unicamente ao meio

    digital. Para isso sero feitas breves leituras de alguns webcomics que contemplam os aspectos

    discutidos.

    Um dos primeiros problemas relativos ao estudo das HQ a prpria denominao que este

    meio recebeu nas diferentes lnguas. Se a denominao das formas artsticas um fator lingustico

    que normalmente no indica um problema isto acontece mais pelo processo histrico em que surgiu

    do que por uma possvel eficcia absoluta de sua nominao, como demonstra, por exemplo, toda a

    discusso em torno do termo literatura. Ou seja, h uma grande discusso quanto ao que pode

    abarcar o nome literatura, mas o prprio nome no colocado em questo, o mesmo se dando com

    os termos teatro e cinema porque, grosso modo, estes nomes foram disseminados a partir de um

    lugar e aprendidos pelos outros. O caso dos quadrinhos tem certa diferena, pois sua denominao,

    *Doutorando em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Pesquisador do Ncleo de Pesquisa

    em Informtica Literatura e Lingustica NUPILL. Bolsista [email protected]

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    alm de ser totalmente diferente nos diferentes pases, indica diferentes maneiras de entender esta

    forma de arte.

    Provavelmente a principal diferena indicada pelos seus diferentes nomes a relao que

    estabelece com a ideia da origem das histrias em quadrinhos. Esta particularidade da histria das

    HQ mostra como o desenvolvimento de um veculo artstico em determinado perodo influi em sua

    recepo. Por ter sua produo e difuso em larga escala iniciada em 1895, juntamente com o incio

    do cinema, foi durante muito tempo largamente aceito que as histrias em quadrinhos comearam

    com do personagem Yellow Kid. Isto fez dela uma criao ligada ao processo de cultura de massas

    norte-americano e produto direto da ascenso da era da reprodutibilidade tcnica.

    Consequentemente, o quadrinho foi tomado imediatamente como um produto menor. Acontece que

    sua denominao no foi imposta pelo processo de incorporao lingustica como aconteceu emoutras artes, mas acompanhando a velocidade de seu processo de disseminao, foi denominado

    livre e diferentemente em cada lugar em que surgiu.

    Em uma breve listagem, possvel verificar dois polos sobre a forma de compreenso do

    meio a partir de sua denominao, os nomes que so ligados ao incio das HQ nos jornais com o

    Yellow Kid: Estados Unidos e Inglaterra: comics (uma referncia ao tipo de histria narrada);

    Frana: bande dessine, Portugal: banda desenhada (tiras); Itlia: fumetti (a fumacinha uma

    referncia aos bales de fala); Espanha: Tebeo (nome de uma revista que acabou dando nome aoveculo, como quase aconteceu com o nome Gibi no Brasil, que era o nome de um personagem e de

    uma revista). Por outro lado, se tem nomes puramente descritivos: Brasil: histria em quadrinhos;

    Japo: mang (basicamente o mesmo que HQ, mas uma possvel traduo para a palavra mang

    desenho involuntrio, o que a tornaria a denominao mais precisa sobre o processo de leitura das

    histrias em quadrinhos).

    Como demonstraram as pesquisas posteriores a esta primeira historiografia apressada, o

    incio dos quadrinhos modernos se d a partir de 1827 com as histrias criadas pelo suo RodolpheTppfer, e segue em diversos lugares com produes contnuas at sua segunda e equivocada

    inveno nos jornais. A existncia deste passado anterior cultura de massas mostrou que esta

    forma textual tinha antepassados muito anteriores, e que o que deveria servir de parmetro para o

    entendimento de uma forma artstica deveria ser a prpria forma, seu funcionamento e suas

    particularidades, em vez seu suporte de veiculao.

    Neste sentido o pesquisador norte-americano Scott McCloud cunhou uma definio de

    comicsque considera estas criaes pr-imprensa na obra Desvendando os Quadrinhos, alm de dar

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    m novo escopo s pesquisas e

    deliberada destinadas a trans

    (McCLOUD, 2005, p.09). Por

    antagem de desfazer alguns do

    entendimento sobre sua especi

    organizam. Em outras palavras d

    que fazem uso da justaposio

    construo de sequncias que

    disposio espacial.

    A partir desta definio

    antigo, provavelmente a formanarrativas pr-imprensa como: as

    m bordado com 70,34 metros

    nglaterra pelos normandos, con

    em Roma no frum de Trajano so

    sobre os Dcios; o cdice Nuttal

    casos mesmo as catedrais bizanti

    Detalhe da tapearia de Baieux .28

    Umas das particularidade

    diferentes sentidos de leitura, l

    entanto, no destoam dos mais b

    de sentido, de mudana temporal

    27 O termo outras abarca as palavras,28 a pgina da Wikipdia possvel en

    m HQ: imagens pictricas e outras 27 just

    itir informaes e/ou produzir um a res

    ais limitada que possa ser uma definio,

    s equvocos mais comuns sobre o estudo d

    icidade das partes q ue a constituem para

    screve um meio atravs do qual possvel c

    de painis (quadrinhos), com desenhos,

    ulam a passagem do tempo, lugar ou

    oi possvel compreender o termo HQ como

    mais antiga de narrar. Assim, a histria epinturas rupestres da caverna de Lascaux; a

    de comprimento, representando em 58

    luda no ano 1066; a coluna de Trajano, co

    bre o tmulo do imperador para comemorar

    do Mxico pr colombiano; as sequencias

    as); os quadros trpticos, etc., entre diversas

    s destas formas de HQ que mesmo que c

    inha direta, espiral ascendente, e mesmo

    sicos princpios de leitura dos quadrinhos, a

    e/ou narrativa se dar atravs da justaposi

    bstraes e convenes grficas.

    contrar a imagem completa da tapearia de Bayeux .

    31

    apostas em sequncia

    osta no espectador

    a de McCloud tem a

    as HQ, por desviar o

    a maneira como se

    nstruir textualidades,

    textos ou ambos na

    ideia atravs de sua

    um meio muito mais

    m quadrinhos abarcaTapearia de Bayeux,

    enas a conquista da

    struda entre 112-114

    vitria dos romanos

    de vitrais (em alguns

    outras obras.

    da uma delas possua

    zigue -zague elas, no

    ideia de que a criao

    o espacial esttica de

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    momentos pictricos ou pictrico-verbais de significao. Com o escreve McCloud sobre a maioria

    destes exemplos, todos seguem o princpio bsico de que mover-se no tempo mover-se no

    espao. E quanto maior o tempo, mais longa a linha. Da a quebra e a mudana de organizao

    formal causada pela pgina impressa s histrias em quadrinhos.

    Mas a imprensa era diferente. Apesar de todos os benefcios que ela trouxe aosquadrinhos, houve uma coisa que ela lhes tirou, conforme a linha que resistiradurante ons de arte sequencial foi rompida para caber em sua nova caixa. Pelaprimeira vez os leitores de tais histrias pictricas j no podiam concluir queimagens adjacentes representavam momentos adjacentes. Uma nova frmula seimpunha, e no era to simples quanto a antiga. (McCLOUD, 2006, p. 219)

    Se as narrativas das HQ pr-imprensa fluam em uma linha sequencial ininterrupta, a

    imprensa de certa forma modifica suas condies de organizao, pois o advento da pgina

    apresentou uma paisagem de pequenos becos sem sada pedindo aos leitores que saltassem para

    novas trilhas a cada poucos quadrinhos, com base num complexo protocolo importado da tradio

    para a direita e para baixo da palavra impressa (IDEM, ibidem, p.220). Como explica McCloud,

    atravs dos tempos houve uma grande especializao e complexificao baseada neste tipo de

    protocolo, a ponto de se identificar o meio com o veculo, identificao que no incomum tambm

    ao meio digital e mostra certas relaes entre as ideias de forma artstica e tcnica.

    Assim, para tornar mais claras algumas das formas a serem expostas aqui, pode-se tecer um

    brevssimo comentrio sobre a relao entre arte e tcnica voltada s artes digitais, atravs de uma

    ideia desenvolvida no artigo Elementos estticos na leitura das criaes digitais contemporneas,

    do professor e pesquisador Alckmar dos Santos, publicado na revista Texto Digital volume 6,

    nmero 2. Nele, Alckmar estabelece alguns parmetros a partir dos quais se pode pensar a anlise

    esttica das obras digitais, incluindo-se entre estas a j citada relao entre arte e tcnica, aspecto

    que ele considera fundamental para se pensar qualquer arte digital por se tratar de um meio onde

    comumente as tcnicas se tornam tambm formas (SANTOS, 2010, p.117). Neste sentido que

    aponta para um possvel distanciamento entre arte e tcnica relativa ao mbito das artes digitais,

    sintomtico desta

    poca em que tcnicas no surgem, quase nunca, ligadas s artes, mas so por estastomadas do campo das tecnologias. Quando no h esta apropriao, isto , quandoas artes no impem suas prprias lgicas s tcnicas, estas no se tornamverdadeiramente artsticas e se limitam a reproduzir as operaes, os processos, ossignificados pragmticos para os quais foram pensadas (problema que ocorre em

    muitas ocasies). o caso de objetos de arte digital que no so mais do que merasaplicaes prticas de programas de computador e de dispositivos eletrnicos.

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    Quantas criaes verbais no passam de exibicionismo tecnicista do domnio deprogramas de tratamento de imagens?! (IDEM, ibidem)

    Esta relao sempre tensa existente entre arte e tcnica, assume ares mais dramticos em

    relao s artes digitais, especialmente quando se trata de delimitar a relao entre criao e

    utilizao, e entre criatividade e subservincia na criao do objeto artstico que se utiliza de

    tecnologias dominadas por terceiros. No entanto, pode-se pensar em um estreito limite onde o

    simples uso da ferramenta digital, sem que haja necessariamente criao em relao ao seu suporte

    tcnico, pode criar objetos artsticos esteticamente vlidos que no se configurem como simples

    utilitarismo ou subservincia. Este parece ser o caso das webcomics, mas mais por uma questo

    formal da prpria histria em quadrinhos do que por sua relao com o meio digital.

    O caso que a organizao formal das histrias em quadrinhos, os princpios que definem o

    que caracteriza uma histria em quadrinhos acabam por limitar o que pode ou no ser feito em meio

    digital. A histria em quadrinhos um meio que se organiza de forma essencialmente espacial, mas

    no espacial-temporal. A espacialidade das histrias em quadrinhos a espacialidade esttica, e

    nenhuma modificao possibilitada pelos seus possveis veculos pode transigir esta caracterstica.

    Desta forma, as sempre crescentes possibilidades formais do meio digital so limitadas pelos

    prprios princpios que formam as histrias em quadrinhos. Isso, no entanto, no significa que as

    histrias em quadrinhos para ainternetdevam simplesmente imitar o papel. Na verdade, quandosurgem os primeiros quadrinhos para internet, estes, via-de-regra, mantinham o padro de pgina

    impressa, o que se no comprometia as criaes em si, representavam um sub-aproveitamento do

    que o meio digital poderia oferecer. por isso que McCloud opina que o webcomic propriamente

    dito comea a existir quando se passa a reconhecer que o monitor, que frequentemente servia de

    pgina poderia ser mais eficiente ao meio digital se as criaes o utilizassem como janela. Esta

    noo representava uma possibilidade de desenvolvimento formal que no descaracteriza a HQ,

    pelo contrrio, apontava para desdobramentos de suas formas de espacialidade, como aponta ScottMcCloud.

    Talvez nunca haja um monitor com a extenso da Europa, todavia uma histria emquadrinhos com essa extenso ou com a altura de uma montanha pode ser exibidaem qualquer monitor, bastando que avancemos sobre sua superfcie, centmetro porcentmetro, metro por metro, quilmetro por quilmetro. A pgina um artefato daimprensa, no sendo mais intrnseco aos quadrinhos do que os grampos ou a tintada ndia, uma vez libertados dessa caixa, alguns levaro consigo o formato dacaixa, mas os criadores gradualmente esticaro os membros e comearo a explorar

    as oportunidades de design de uma tela infinita. (McCLOUD, 2006, p.222)

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    Pois bem, pela lgica apresentada, pode-se, ento, pensar em trs possibilidades para as HQ

    feitas para ainternet: Aquela que mantm o formato da pgina impressa (que no ser contemplada

    neste texto), a que retoma as possibilidades narrativas das HQ pr-imprensa, e as estratgias

    narrativas possveis somente no meio digital. O segundo tipo, a retomada dos quadrinhos pr-

    imprensa baseada na pgina virtualmente infinita criada pela tela, e basicamente retoma o

    espao virtualmente esttico da informao. Um primeiro exemplo pode ser visto na adaptao de

    um fragmento de Cem anos de Solido de Garcia Marquez feito por Emily Carr, onde o sangue de

    Jos Arcdio vai contar sua me sobre seu assassinato. Para adaptar esta passagem onde o

    deslocamento do sangue contado em uma mesma frase ininterrupta, Carr transforma uma

    interligao sinttica em conexo visual, mantendo uma linha descendente ininterrupta do sangue

    atravs das diversas sarjetas e cenrios29.Como demonstra a imagem acima, alm de sua teorizao, Scott McCloud tambm pensa as

    possibilidades espaciais em termos prticos. Em seu website, http://scottmccloud.com, McCloud

    utiliza as ideias que teorizou em Reinventando os Quadrinhos, seu segundo livro, em diversos

    experimentos que lidam com o espao potencialmente infinito da web como Zot, My obssession

    with chess, Choose your own Carl, e a srie de histrias chamadas The Morning Improv, entre

    outras.

    Uma das histrias de The Morning Improv, chamada Mimis Last Coffeeutiliza o espaocomo indicativo de possibilidades de leitura. Esta HQ, feita em flash, mostra inicialmente uma

    viso geral da histria, uma linha horizontal de painis ligados por um trao, com seis apndices

    verticais, tambm ligados por um trao, em diferentes momentos da configurao horizontal.

    Clicando-se na imagem geral tem-se uma aproximao dos painis da histria de HQ, que mostram

    uma conversa entre duas mulheres. A histria inicia no canto esquerdo da linha horizontal e sua

    visualizao pode ser aproximada ou afastada atravs de cliques em diferentes partes da imagem. A

    cada linha vertical que se introduz tem-se uma possibilidade de finalizao diferente para a histria,que vo do cmico ao trgico, passando pelo nonsense e o melanclico, e tambm uma explicao

    para o ttulo, o que tambm ocorre ao fim da linha narrativa horizontal.

    29 Disponvel em: http://emcarroll.blogspot.ca/2010/11/death-of-jose-arcadio.html. Acesso em 09/04/2013.

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    Imagem geral de Mimi's Last Coffee, de

    Como em qualquer form

    como parte integrante da propost

    ficam em uma espcie de limite

    or um lado, uma imensa gama

    outro, a impossibilidade de se ut

    como tal. As possibilidades de

    ultrapassarem conceito de que

    dever ser construdo pelo leito

    extremamente limitada. A fora

    ente do leitor, na ideia de q

    construda atravs do espao e n

    Mesmo assim, o meio d

    criao de quadrinhos. Neste s

    nformao contida nela simul

    interatividade e a i speo vis

    ossibilidade, a interatividade, r

    ensar a contnua estruturao d

    The Carl Comics , tambm de Sc

    Recipe Carle Choose your own

    ma mesma situao bsica. E

    quadrinhos que consiste de uma

    ovo painel aparece entre estes

    fatos que ocorrer m entre os pain

    Scott McCloud.

    de arte a possibilidade tcnica ir interess

    esttica. Neste sentido, as possibilidades re

    astante especfico, e em uma rel ao apare

    de possveis efeitos, movimentao, som, i

    lizar a maioria destes recursos sem descara

    movimentao, por exemplo, s podero

    ualquer igao interpretativa entre os mo

    r. Qualquer passo alm disso e o que se

    as HQ est exatamente no sentido de que to

    e a passagem de tempo, espao ou de i

    o do tempo.

    gital pode simular espao de algumas for

    entido, tem -se uma pgina infinita no a

    r uma pgina extensa, mas em outras

    al em detalhes impossveis para o meio

    conhecida como a mais emblemtica do m

    uma narrativa atravs da reorganizao de

    tt McCloud. The Carl Comicsconsiste de d

    arl,que so na verdade duas verses difere

    Original Recipe Carlo leitor recebe inic

    ag de dois paineis o inicial e o final da hist

    ois painis, adicionando informaes que ao

    is.

    35

    ar se puder ser usada

    ativas ao meio digital

    temente contraditria.

    teratividade etc., por

    terizar os quadrinhos

    ser utilizadas se no

    entos de significao

    em uma animao

    da a leitura se dar na

    stante narrativo ser

    as instigantes para a

    penas no sentido da

    ropriedades como a

    mpresso. A primeira

    eio digital, possibilita

    eus pain is como em

    uas histrias, Original

    tes criadas a partir de

    almente uma tira em

    ria. A cada clique um

    s poucos explicam os

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    Configurao inicial da histria Origina

    A segunda histria, Choo

    ma enveredando por um vis

    rimeiro painel e chegando ao

    dispostos em justaposies espa

    dispostos em uma grade que i

    udana de sentido de leitura oc

    feita atravs de um painel que m

    est atrelado. Pode-se ler a

    estabelecida em seis sees de ig

    grande grade, que engloba as h

    abaixo.

    Imagem geral deChoose your own Carl

    Uma segunda possibilid

    ossibilitado pela configurao

    l Recipe Carl.

    se your own Carl ostra varias verses da

    narrativo totalmente diverso do outro, ma

    ltimo. Os desenvolvimentos das diferentes

    ciais de painis em um mesmo sentido, ho

    tersecciona e cruza as diversas narrativa

    asiona uma mudana de linha narrativa. Esta

    antm a integridade de sentido de todas as l

    istria de duas formas, atravs de uma

    al tamanho ou vendo toda a di sposio das

    strias em um mesmo espao, como pode

    .

    ade dos webcomics o alcance visual

    igital. Esta ideia foi discutida por McClou

    36

    histria de Carl, cada

    sempre partindo do

    linhas narrativas so

    izontal ou vertical, e

    . Desta forma, cada

    interseco se mpre

    nhas narrativas a que

    diviso previamente

    sequncias como uma

    ser visto na imagem

    irtualmente ilimitado

    em Reinventando os

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    37/10837

    quadrinhos, mas s foi realizada por ele algum tempo depois, no webcomic The right number,

    tambm publicado em seu site. Esta uma histria planejada para ter trs partes, mas a terceira e

    ltima ainda no foi publicada at agora. Nesta histria, alguns incidentes levam o narrador-

    protagonista a acreditar ter descoberto, mas no compreendido completamente, a existncia de um

    padro entre as pessoas e seu nmero de telefone. Aps algumas coincidncias envolvendo duas

    mulheres com quem se relaciona amorosamente e a proximidade entre seus nmeros de telefone, o

    protagonista comea a, aos poucos, se questionar sobre a lgica subjacente a este padro. Acredita

    haver uma relao entre os fatores fsicos e emocionais das mulheres que conhece e desenvolve a

    ideia obsessiva de encontrar o padro que estabelece a relao entre nmeros telefnicos e pessoas

    para, deste modo, tentar encontrar a pessoa certa para ele atravs da descoberta do nmero certo.

    A maneira que McCloud utiliza para demonstrar a crescente obsesso do protagonistaatravs da sua estruturao narrativa atravs do aprofundamento da leitura da narrativa. Em vez da

    justaposio normal das histrias em quadrinhos, cada painel subsequente estar colocado no centro

    do painel anterior, e a cada clique, a imagem central emular um aprofundamento espacial, em que

    o painel anterior ainda aparece medida que o painel central toma a frente. A impresso criada a

    de que se tem uma pgina enorme que pode se aproximar indefinidamente, ou de que podemos

    aprofundar infinitamente nosso olhar na imagem. Deste modo, enquanto o leitor vai se

    aprofundando na narrativa, o protagonista vai adentrando em sua obsesso. Aps o texto foramcolocadas as primeiras imagens da histria para ilustrar este tipo de transio espacial.

    Estas so apenas leituras preliminares, e apontam algumas das possibilidades relativas s

    HQ digitais. Mas o que estas formas de organizao tm em comum o fato de que mantm a

    estaticidade espacial entre os seus momentos de significao, ou seja, entre os painis. Pequenas

    movimentaes (como um olho que se abre) ou efeitos ocasionais (como brilhos, etc.) s so

    utilizados se no interferirem na criao de imagens, dentro e principalmente entre os painis.

    Nenhum dos os efeitos utilizados poder transigir a ideia de unidade espacial que por este motivoque coloquei anteriormente que as webcomics representam este estreito limite onde o simples uso

    da ferramenta tcnica, sem que haja criao no campo tcnico pode, no indica uma subservincia

    da forma ao veculo. Mas isso se deve mais prpria organizao formal da histria em quadrinhos

    do que sua transio ao meio digital.

    Por isso o webcomic, dada a sua natureza, tanto um meio de recuperao de uma

    espacialidade no utilizada largamente desde a inveno da imprensa, quanto um meio novo, em

    que as possibilidades narrativas ainda esto se construindo, conforme a evoluo do meio digital,

    com a diferena de que a necessidade de inveno tecnolgica no to intrnseca ao meio como

    em outras artes digitais. Neste sentido, alm da pgina da internet, alguns programas como o flash

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    ou oprezi, podem sugerir outras

    mpossveis para a pgina impre

    as toda a evoluo, mesmo a

    simplicidade de recursos de que

    ser colocado ao lado o outro.

    possibilidades para os webcomics, como for

    ssa, no sentido de transies, aprofundamen

    que ainda est a ser criada, o far sem qu

    a histria em quadrinhos necessita, o espa

    38

    mas de espacializao

    o ou distanciamento.

    haja transigncia na

    o onde um quadrinho

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    Referncias Bibliogrficas

    BENJAMIN, Walter. A obra de arte na poca de suas tcnicas de reproduo. In: ______.Ospensadores. So Paulo: Abril Cultural, 1975. p. 9-34.

    CAGNIN, Antonio Luis.Os quadrinhos. So Paulo: tica, 1975.

    CIRNE, Moacy.A exploso criativa dos quadrinhos. Petrpolis: Editora Vozes, 1977.

    COUPERIE, Pierre et. al.Historia em quadrinhos & comunicao de massa. So Paulo: Museude Arte de So Paulo, 1970.

    DELEUZE, Gilles.Diferena e repetio. Rio de Janeiro: Graal, 2009.

    ECO, Umberto.Apocalpticos e integrados. So Paulo: Perspectiva, 1987.

    EISNER, Will.Quadrinhos e arte seqencial. So Paulo: Martins Fontes, 1999.

    ELKINS, James.Visual Studies. A skeptical introduction. New York and London: Routledge,2003.

    ISER, Wolfgang.A interao do texto com o leitor. In: LIMA, Luiz Costa (org.).A literatura e oleitor. Textos da esttica da recepo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. p. 83-132.

    McCLOUD, Scott.Desvendando os quadrinhos. So Paulo: MBooks do Brasil, 2005.

    ______.Reinventando os quadrinhos. So Paulo: MBooks do Brasil, 2006.

    ______.Desenhando quadrinhos. So Paulo: MBooks do Brasil, 2008.

    MOYA, lvaro de.Histria da histria em quadrinhos. So Paulo: Brasiliense, 1993.

    ______.Shazam!So Paulo: Editora Perspectiva, 1972.

    QUELLA-GUYOT, Didier. A histria em quadrinhos. So Paulo: Edies Loyola & UnimarcoEditora,1994.

    SANTOS, Alckmar Luiz dos. Elementos estticos na leitura das criaes digitais contemporneas.

    In:Texto Digital.v.6, n.2 (2010). Disponvel em:http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/textodigital/issue/view/1479Acesso: 08/04/2013.

    SARTRE, Jean-Paul.O imaginrio: Psicologia fenomenolgica da imaginao. So Paulo: Editoratica, 1996.

    https://reader009.{domain}/reader009/html5/0327/5ab93a6a0d9e1/5ab93a8549d3f.jpg. Acesso: 08/04/2013.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Tape%C3%A7aria_de_BayeuxAcesso: 12/04/2013.

    http://scottmccloud.com/ Acesso: 12/04/2013.

    http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fe/Tapisserie_de_Bayeux_31109.jpgAcesso:12/04/2013.

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    DLNOTES2: UM RELATO DE UMA FERRAMENTAPARAMARCAO SEMNTICA

    DE TEXTOS LITERRIOS

    Alckmar Luis dos Santos*Adiel Mittmann**

    Emanoel Cesar Pires de Assis***

    Isabela Melim Borges Sandoval****

    Roberto Willrich*****

    Este texto pretende expor, ainda em carter inicial, as possibilidades de marcao/anotao

    semntica de termos em obras literrias em ambiente digital, a partir da ferramenta DLnotes2. Para

    isso, mostraremos aqui algumas das experincias feitas com a ferramenta de anotaes.

    Experincias realizadas pelos integrantes do projeto e pelos alunos da primeira fase do curso de

    Letras Portugus da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.

    Pensado, anteriormente, para possibilitar anotaes livres (comentrios, dvidas, pesquisas,

    etc.), o DLnotes2 ganhou, por volta do segundo semestre de 2011, mais funcionalidades. Agora,

    alm de permitir fazer anotaes livres, o DLnotes2 tambm permite fazer anotaes semnticas, ou

    seja, toda e qualquer palavra, expresso ou trecho pode ser marcado semanticamente.

    As anotaes semnticas surgiram a partir de um projeto que tinha como objetivo criar uma

    ontologia de termos literrios.30 Por limitaes tcnicas de conhecimento de web-semntica, aontologia de termos literrios deu lugar a um esquema de termos de teoria literria. O objetivo

    continuava o mesmo: criar, em meio digital, um esquema de termos de teoria literria, ligados

    atravs de suas relaes, que pudesse auxiliar os alunos das primeiras fases dos cursos presenciais e

    a distncia de Letras. Depois de alguns testes e verses, o esquema de termos de teoria literria

    ficou da seguinte forma:

    * Professor da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Coordena o Ncleo de Pesquisa em Informtica,Literatura e Lingustica- [email protected]** Doutorando em Cincias da Computao pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. membro doLaboratrio de Processamento de Imagens e Computao Grfica [email protected]*** Doutorando em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina [email protected]**** : Graduanda em Letras-Portugus pela Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Bolsista PIBIC no projetoTratamento digital de obras literrias; ontologia dos termos de teoria [email protected]***** Professor associado do Departamento de Informtica e Estatstica (INE) da Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC)[email protected] Participaram do projeto: Alckmar Luiz dos Santos (professor e coordenador do projeto), Tecia Vailati, Emanoel CesarPires de Assis, Isabela Melim Borges Sandoval e Isabelita Garcia.

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    Imagem 1. Parte inicial do esq

    De incio, o aluno/profes

    escolher termos de teoria literria

    elao prxima com as particula

    , termos que tinham relao co

    Clicando-se nas extremi

    elao dos termos entre si, bem

    Termos Literrios de Carlos Ceia

    Imagem . Esquema de teoria literria c

    Por exemplo, ao abrir o c

    e texto. Assim, de incio, percebe

    ema de teoria literria.

    sor/pesquisador tinha a obra literria como

    que fossem do ca po textual, ou seja, term

    ridades intrnsecas obra literria, ou do ca

    aspectos externos obra literria.

    ades dos campos, ns abriam-se e o alu

    como, ao clicar no termo, ser enviado ao s

    (http://www.edtl.com.pt/) e ter acesso ao sig

    om alguns ns expostos.

    ampo textual, o aluno depara-se com os ns:

    que h uma ligao entre os termos e que el

    41

    eixo central e podia

    s tericos que tinham

    po extra -textual, isto

    o podia visualizar a

    io do E -dicionrio de

    ificado do termo.

    autor, contexto, leitor

    s fazem parte de uma

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    gama de conceitos oriundos da o

    de poder ter acesso ao conceito l

    um espao, que rocessos de c

    gnero, que por sua vez pode ser

    Como podemos perceber,

    ser de grande ajuda aos alunos q

    ermos de grande importncia co

    da relao existente entre eles. M

    educao e ser adaptado segun

    desejasse utiliz-lo.

    Tendo uma estrutural maode ser utilizado por professore