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2 Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 2009

Sumário

Opinião

Vida rural

Plantas bioativas

Conjuntura

Artigo científico

Informativo técnico

Nota científica

Germoplasma

• Editorial ............................................................ 3• Lançamentos editoriais .................................... 4

• Hormônio pode proteger videiras de cicloprecoce contra geadas ......................................5

• Pesquisa da UFSC “silencia” vírus da mancha--branca em camarões ....................................... 6

• FAO prevê que Brasil será o maior produtoragrícola do mundo ........................................... 6

• Entidades combatem uso indevido deagrotóxicos no Estado ...................................... 7

• Ciências agrárias lideram produção científicado País ............................................................ 8

• SC Rural investirá US$ 189 milhões noEstado ............................................................. 8

• Epagri resgata origem do queijo artesanalserrano ........................................................... 9

• Embrapa cria inseticida biológico paracombater borrachudos .....................................10

• Empresa produz defensivo à base de óleosessenciais ...................................................... 10

• Agricultura, ciência e meio ambiente ................11

• Produção de carvão e de saberes naagricultura familiar de Santa Catarina ............ ..13

• Cultive saúde no quintal ................................ ..16

• Qualidade nas alturas .................................... ..19• Mudanças na gestão, foco na inovação ............25

No ritmo da natureza ..........................................29

• Pimenta-longa produz safrol em SantaCatarina ..........................................................33

• Produtos alternativos para o controle debrocas-das-cucurbitáceas na produção depepino para picles ......................................... ..37

• Agricultura de base ecológica como instrumentopara o desenvolvimento rural sustentável: umestudo de caso de uma unidade de produçãoagrícola familiar ...................................................40

• Diagnose e manejo do enfezamento-vermelhoe do enfezamento-pálido na cultura domilho ...............................................................44

• Características agronômicas de 21 cultivares debanana em sistema orgânico ...........................47

• Qualidade de sementes de arroz irrigadoutilizadas em Santa Catarina no ano agrícola2007/08 ............................................................ 50

• A hibridação no melhoramento genético dacultura da aveia-branca: técnicas e fatores queinterferem na eficiência dos cruzamentosdirigidos ............................................................55

• Necessidade de mata ciliar nas propriedadessuinícolas a partir dos dados doLevantamento Agropecuário Catarinense .......... 61

• Qualidade da água da rede hídrica doLajeado São José utilizada para abastecimentourbano da cidade de Chapecó, SC ................... 66

• Validação de catálogos de cores comoindicadores do estádio de maturação e doponto de colheita de maçã ................................ 71

• Variedades de milho de polinização abertaSCS155 Catarina e SCS156 Colorado para aagricultura familiar.......................................... .. 78

• Modelo de previsão da mancha da gala namacieira baseado na temperatura e duraçãodo molhamento foliar ....................................... 82

• Seleção de estirpes de rizóbio (Shinorhizobiumspp.) para Medicago arabica (L.) Hudson,espécie forrageira e medicinal ......................... 85

• Desempenho de cultivares de girassol naRegião Oeste Catarinense ................................ 88

Reportagem

Entrevista

Registro

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3Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 20093 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

FICHA CATALOGRÁFICA

Agropecuária Catarinense – v.1 (1988) –Florianópolis: Empresa Catarinense de PesquisaAgropecuária 1988 - 1991)

Editada pela Epagri (1991 – )TrimestralA partir de março/2000 a periodicidade passou a

ser quadrimestral.1. Agropecuária – Brasil – SC – Periódicos. I.

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária,Florianópolis, SC. II. Empresa de PesquisaAgropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina,Florianópolis, SC.

CDD 630.5

Tiragem: 2.500 exemplaresImpressão: Floriprint Ind. Gráficae Etiquetas Ltda.

ISSN 0103-0779

INDEXAÇÃO: Agrobase e CAB International.

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicaçãoda Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Ruralde Santa Catarina (Epagri), Rodovia Admar Gonzaga,1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502, 88034-901Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, fone: (48) 3239-5500, fax: (48) 3239-5597, internet: www.epagri.sc.gov.br,e-mail: [email protected].

EDITORAÇÃO:

Editor-chefe: Roger Delmar FleschEditor técnico: Paulo Sergio Tagliari

JORNALISTA: Cinthia Andruchak Freitas (MTb SC02337)

ARTE E CAPA: Vilton Jorge de Souza

DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINAL: Victor Berretta

PADRONIZAÇÃO: Abel Viana

REVISÃO DE PORTUGUÊS: João Batista LeonelGhizoni

REVISÃO DE INGLÊS: João Batista Leonel Ghizoni

REVISÃO TIPOGRÁFICA: Daniel Pereira

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit e Abel Viana

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveira –GMC/Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC,fones: (48) 3239-5595 e 3239-5535, fax: (48) 3239-5597ou 3239-5628, e-mail: [email protected] anual (3 edições): R$ 22,00 à vista

PUBLICIDADE: GMC/Epagri – fone: (48) 3239-5682,fax: (48) 3239-5597

REVISTA QUADRIMESTRAL

15 DE NOVEMBRO DE 2010

As normas para publicação na Revista Agropecuária Catarinense estão disponíveis no site www.epagri.sc.gov.br.

Esta edição foi financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica eTecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

Osetor agrícola catarinense temmotivo para comemorar. Asúltimas safras dos chamados

vinhos de altitude, cuja produção élocalizada acima de 900 metros, nasregiões de São Joaquim, Bom Retiro,Caçador e outras localidades,revelaram vinhos de ótima qualidade,comparável aos melhores sul--americanos. A Epagri sente-seorgulhosa por ter contribuído comtecnologia e assistência técnica nosvinhedos pioneiros, e hoje váriosprodutores já estão caminhando comsuas próprias pernas, conformemostra a reportagem principal destaedição.

E falando em tecnologia, umaexperiência nova de gestão empesquisa acaba de ser posta em práticaenvolvendo a cultura do arrozirrigado. A segunda reportagem destarevista mostra o trabalho articuladoentre pesquisadores, extensionistas eprodutores de arroz irrigado visando

à melhoria da qualidade do cereal.Testes estão sendo feitos com novascultivares, inclusive na linha orgânica,buscando atender o consumo maissofisticado e alternativo, como arroz--vermelho, arroz-preto e o arrozintegral.

Entre os trabalhos experimentaisabordados nesta edição, um estudo daEstação Experimental de Caçadorcomprovou que o catálogo de corespara maturação da maçã em uso pelosprodutores apresenta boa con-fiabilidade para avaliar o ponto dematuração das cultivares Fuji, Gala eRoyal Gala, as mais plantadas noEstado. E a Estação Experimental deItajaí comprovou, pela coleta deamostras com agricultores cata-rinenses, que a semente de arrozirrigado utilizada no Estado apresentaalta qualidade, considerando pureza,germinação e vigor. Aliás, SantaCatarina é o Estado brasileiro que

obteve a maior evolução na qualidadedessa semente nas três últimasdécadas.

Um dos destaques desta edição é aseção Germoplasma, que apresenta olançamento da cultivar Colorado,novo milho de polinização aberta, e adescrição da cultivar Catarina, já emuso no Estado. São milhos desen-volvidos para a pequena propriedade,não necessitando a compra anual desementes, além de ser mais rústicos ede estar sendo disponibilizados paraos produtores da agricultura familiar.Para os produtores de bananaorgânica esta edição apresenta, naseção Informativo Técnico, arecomendação de oito cultivares debanana para o litoral sul catarinense,as quais sobressaem nos aspectos deprodução e resistência ao mal desigatoka.

Boa leitura!

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4 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

A cultura do milho em Santa Catarina. 2010, 480p. Livro, R$ 30,00.

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho, colhendo cerca de 58 milhões detoneladas por ano. O cereal é cultivado em todas as regiões do País, com destaque para pequenaspropriedades que utilizam mão de obra familiar. Diante da importância da cultura, a Epagrireúne nesse livro resultados de uma série de pesquisas realizadas com milho que servem paraorientar o planejamento, a implantação e a condução das lavouras. Com o objetivo de aumentara produtividade e reduzir o custo de produção nas propriedades obedecendo a critérios desustentabilidade, a publicação aborda temas como situação e perspectivas socioeconômicas,ecofisiologia e estádios fenológicos, desempenho agronômico, calagem, adubação, doenças,manejo de pragas e de plantas daninhas, melhoramento genético, entre outros.

Contato: [email protected].

Potencial de mercado para uva de mesa em Santa Catarina. 2010, 54p. DOC234, R$ 8,00.Dividido em quatro capítulos, o Documento apresenta a estrutura de produção de uvas emSanta Catarina e sua inserção no contexto nacional, além dos principais resultados de umapesquisa de campo, considerando segmentos como produtores de uva e agentes decomercialização no atacado e no varejo. O estudo discute a formulação de políticas e aproposição de ações que poderão ser executadas no Estado para promover o desenvolvimentodo setor. Os resultados revelam possibilidades de expansão da área cultivada, especialmentepara cultivares destinadas à industrialização de vinho e sucos, e de aproveitamento dosmicroclimas existentes, capazes de antecipar ou postergar a colheita, oportunizando melhorespreços para a uva de mesa.Contato: [email protected].

Pragas dos citros no Estado de Santa Catarina: caracterização, danos emanejo integrado. 2010, 49p. BT 151, R$ 10,00.Auxiliar os 3,5 mil citricultores catarinenses no manejo de pragas em pomares que ocupamcerca de 4,5 mil hectares no Estado é o objetivo da Epagri com o lançamento desse Boletim. Apublicação reúne informações relacionadas à caracterização, à bioecologia, aos danos e aomanejo integrado das pragas dos citros, buscando reduzir os impactos ambientais eproporcionar benefícios aos citricultores e consumidores. Para facilitar o reconhecimentodas espécies, foram incluídas ilustrações de insetos, ácaros-pragas e inimigos naturais. Asorientações, elaboradas dentro de um contexto moderno de práticas agrícolas sustentáveis,foram extraídas da literatura e de resultados de pesquisas desenvolvidas no Estado.

Contato: [email protected].

Receitas tradicionais do município de Rodeio. 2010, 29p. BD 87, R$ 8,00.

A publicação é resultado do resgate cultural de receitas tradicionais do município de Rodeio,no Vale do Itajaí. O trabalho foi compilado e adaptado pela Epagri/Escritório Municipal deRodeio em atividades de educação alimentar realizadas com grupos de mulheres domunicípio. Transmitidas de maneira informal ao longo do tempo, essas receitas passarampor adaptações devido às mudanças dos hábitos alimentares das famílias, mas ainda hojesão consumidas na região. Além de saudáveis e fáceis de ser preparadas, elas valorizam osingredientes produzidos nas propriedades. O Boletim Didático apresenta pratos doces esalgados, além de bebidas como licores e vinho.

Contato: [email protected].

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5Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Pesquisadores da Epagri/Estação Experimental de SãoJoaquim estão avaliando, em

caráter pioneiro, a eficiência dohormônio vegetal auxina paraprolongar o período de dormência emvideiras de ciclo precoce. O objetivoé minimizar os efeitos das geadastardias durante a brotação dasplantas. “Um dos principais fatores derisco à produção dessas cultivares sãoas geadas que ocorrem entre meadosde agosto e o final de setembro,quando normalmente inicia o ciclovegetativo das plantas. A geada ne-crosa os brotos, e os estragos, muitasvezes, são irreversíveis, com queda ouaté mesmo perda total da produção”,justifica o pesquisador João Felippeto.

Inicialmente, o estudo avaliou oefeito da aplicação de auxina nasgemas mantidas após a pré-poda dascultivares de uvas brancas Char-donnay e Sangiovese. Essas espécies,usadas na elaboração de vinhos finosde alto padrão, são cultivadas porprodutores das regiões de altitudecatarinenses que não têm alternativaspara proteger os parreirais das geadastardias.

Hormônio pode proteger videiras de cicloprecoce contra geadas

No experimento, aauxina foi diluída emálcool e incorporada auma solução de ágar. Amistura foi colocadaem cápsulas depolietileno que foramencaixadas nas pontasdos ramos da videira eenvolvidas com papelalumínio para protegera substância dos efeitosdo sol.

Os resultados pre-liminares revelam que,com uma únicaaplicação de auxina, é possívelretardar consideravelmente o início dociclo vegetativo das cultivaresavaliadas, permitindo que ele aconteçaquando os riscos das geadas sãomenores. “O tratamento foi eficientecomo recurso químico para prolongaro período da dormência, promovendouma proteção efetiva sobre aintegridade das gemas”, concluiFelippeto.

A pesquisa está em andamento e aaplicação da auxina nas videiras aindanão é recomendada. O próximo passo

Diferenças no desenvolvimento vegetativo entre os ramos (esquerda) tratados e(direita) não tratados com auxina

Brotação dos ramos que receberam diferentes dosagens deauxina

é estabelecer dosagens adequadaspara cada cultivar, além de formas deaplicação mais práticas e que exigemmenos mão de obra. Os pesquisadorestambém vão conduzir um ex-perimento para quantificar e qualificaressa interferência hormonal e avaliarseu impacto sobre a evoluçãofenológica das plantas e a qualidadedas safras. Outra meta é estudar osefeitos colaterais da substância nasvideiras. A pesquisa, que iniciou em2008, deve levar 5 a 6 anos para serconcluída.

Aplicação inédita

A auxina é um hormônioregulador de crescimento devegetais encontrada facilmente nocomércio e de baixo custo. Ela temvárias aplicações na fruticultura,como no enraizamento de estacas,mas a Epagri é a primeira apesquisar a aplicação da substânciaem videiras. O pesquisador JoãoFelippeto explica que embora essehormônio tenha sido descobertoinicialmente em função dos efeitossobre o crescimento das plantas, eleinfluencia praticamente todas asfases do ciclo de vida de umvegetal, desde a germinação até asenescência.

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6 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Uma iniciativa pioneira noBrasil traz esperança para osprodutores que enfrentam o

problema da mancha-branca, umvírus que deixa a carapaça do camarãoesbranquiçada e mata o crustáceo empoucos dias. Desenvolvido a partir dadissertação da engenheira deaquicultura Cristhiane Guertler noPrograma de Pós-Graduação emAquicultura da Universidade Federalde Santa Catarina (UFSC), o processoutiliza a técnica do RNA deinterferência para ativar a defesa doscamarões.

Presente em todas as plantas eanimais, o RNA de interferência é umadas defesas naturais do sistemaimunológico. A descoberta domecanismo, que permite “silenciar”genes com precisão, rendeu aosbiólogos norte-americanos AndrewFire e Craig Mello o Prêmio Nobel de

Pesquisa da UFSC “silencia” vírusda mancha-branca em camarões

Medicina de 2006. Nos invertebrados(caso dos crustáceos), o RNA deinterferência tem uma importânciaainda maior, já que eles não possuemum mecanismo de defesa adaptativo,portanto, não podem ser vacinados.

A morte rápida da espécie, em 85%das fazendas catarinenses de cultivo,surpreendeu os carcinicultores. Ovírus apareceu em 2004 em Laguna e

acarretou um prejuízo que chegou aR$ 6 milhões no Estado.

A espécie de camarão utilizada napesquisa foi a Litopenaeus vannamei,por ser a mais cultivada no mundo etambém no Brasil.

De janeiro a outubro de 2009, 300camarões foram testados e osresultados comprovam os benefíciosda técnica: 219 sobreviveram e, desses,80% não apresentaram mais o vírus.

A meta é expandir o projeto parautilização mais prática, além dolaboratório. Por enquanto, não é viávelsubmeter um lote inteiro de camarõesde cultivo à técnica antiviral, pois cadaanimal teria que receber uma injeção.Entretanto, a ação poderia ser feitacom camarões usados para repro-dução, informa a orientadora LucianePerazzolo, professora do Depar-tamento de Biologia Celular,Embriologia e Genética da UFSC.

Espécie utilizada na pesquisa foiLitopenaeus vannamei, a mais cultivada nomundo

OBrasil terá a maior produçãoagrícola do mundo napróxima década. É o que prevê

o relatório Perspectivas Agrícolas2010-2019, publicado pela Orga-nização das Nações Unidas para aAgricultura e a Alimentação (FAO) epela Organização para a Cooperaçãoe o Desenvolvimento Econômico(OCDE). De acordo com o documento,a tendência é que a produçãobrasileira passe dos atuais 26% dototal mundial para 35% em 2019.

Enquanto países como Rússia,Ucrânia, China e Índia devem registraraumento médio superior a 20% naprodução agrícola nos próximos 10anos, o crescimento brasileiro será de40%. O documento aponta os setoresde etanol e oleaginosas como algunsdos destaques da agriculturabrasileira. No setor das oleaginosas, oPaís deve tornar-se o maiorexportador mundial em 2018,superando os Estados Unidos.

FAO prevê que Brasil será o maior produtor agrícola do mundoPara a FAO e a OCDE, o ritmo do

crescimento agrícola será mais lentona próxima década em relação aosúltimos 10 anos, mas atingirá a metade 70% de aumento estimada paraatender a demanda mundial poralimentos prevista para 2050. Aomesmo tempo, os alimentos ficarãomais caros. Os preçosmédios do trigo e doscereais devem subirentre 15% e 40% nospróximos 10 anos, osazeites vegetais terãoaumento de 40% e osprodutos lácteos en-tre 16% e 45%.

O relatório acres-centa que, embora omundo produza osuficiente para ali-mentar a população,os recentes aumentosde preços e a crise

econômica contri-buíram para o au-mento da fome e da insegurançaalimentar. Por isso, ressalta anecessidade de elevar a produção e aprodutividade agrícolas e implantarmedidas para que os alimentoscheguem às áreas deficitárias.

Fonte: Agência Brasil.

Tendência é que a produção agropecuária do País alcance35% do total mundial em 2019

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7Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Aassinatura de um Termo de Cooperação Técnica reuniu 17 entidadesde Santa Catarina com o objetivo de combater o uso indiscriminado deagrotóxicos no Estado. Entre os participantes estão Ministério Público

de Santa Catarina, Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia(Crea-SC), Secretaria de Estado da Saúde, Polícia Ambiental, CompanhiaIntegrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), Epagri,Fundação do Meio Ambiente (Fatma) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente edos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O acordo pretende coibir o uso indevido dessas substâncias por meio deestratégias baseadas em uma rede de informações entre as entidadesparticipantes. Além de fortalecer a economia agrícola do Estado, o documentobusca assegurar o direito à saúde de agricultores e consumidores e da sociedadeem geral. Para o promotor de justiça Rodrigo Cunha Amorim, CoordenadorGeral do Centro de Apoio Operacional do Consumidor, atuar nesse controle éuma tarefa complexa que justifica a participação de todos os órgãos e a uniãode esforços.

A diretora da Vigilância Sanitária do Estado, Raquel Bittencourt, comentaque o órgão ingressou no Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos emAlimentos (Para) em 2004. Atualmente são analisados 21 alimentos entre frutas,legumes, cereais e verduras. Ela alerta para três situações: a presença de resíduosnão permitidos para consumo, a presença de resíduos permitidos acima dosníveis normais e os resíduos de produtos não autorizados no Brasil. “Além daagressão ao meio ambiente, existe a questão da saúde pública, com risco paraquem consome o alimento, mas também para o trabalhador rural que usouprodutos indevidos ou sem orientação”, destaca.

Entidades combatem uso indevido de agrotóxicos no Estado

De olho nosalimentos

Os últimos dados do Paradivulgados pela AgênciaNacional de Vigilância Sanitária(Anvisa) chamam a atenção parao uso indiscriminado deagrotóxicos no Brasil. Em 15 das20 culturas analisadas foramencontrados, de forma irregular,ingredientes ativos em processode reavaliação toxicológica juntoà Anvisa devido aos efeitosnegativos para a saúde humana.

O relatório aponta grandequantidade de amostras depepino e pimentão con-taminadas com endossulfan, decebola e cenoura contaminadascom acefato, e de pimentão,tomate, alface e cebola con-taminados com metamidofós.Além de ser proibidas em váriospaíses, essas substâncias jácomeçaram a ser reavaliadaspela Anvisa e tiveram indicaçãode banimento do Brasil. “Sãoingredientes ativos com elevadograu de toxicidade agudacomprovada e que causamproblemas neurológicos, repro-dutivos, de desregulaçãohormonal e até câncer”, afirmao diretor da Anvisa, DirceuBarbano.

Outra irregularidade apon-tada foi a presença, em 2,7% dasamostras, de resíduos deagrotóxicos acima do nívelpermitido. No balanço geral, das3.130 amostras coletadas, 29%apresentaram irregularidades.Os casos mais problemáticosforam os do pimentão, da uva,do pepino e do morango, com80%, 56,4%, 54,8% e 50,8% dasamostras insatisfatórias, respec-tivamente. A batata apresentouo melhor resultado, comirregularidades em 1,2% dasamostras analisadas.

Fonte: Anvisa.Pimentão é uma das culturas que apresenta maior contaminação

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8 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Se todos os pesquisadoresbrasileiros produzissem comoos das ciências agrárias, o peso

científico do País hoje seria equi-valente ao da França. As pesquisasbrasileiras nessa área abrangem 4,05%da produção científica mundial,enquanto campos como psicologia,economia e ciências sociais, inferioresà média nacional de 2,12%, puxam aprodutividade para baixo. Osdados foram apresentados pelopresidente do Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq), CarlosAragão, na reunião da SociedadeBrasileira para o Progresso daCiência, em Natal (RN).

De acordo com o CNPq, oBrasil está em 13o lugar noranking mundial da produçãocientífica. Os Estados Unidoslideram a lista, com 23,74%,seguidos por China (7,86%),

Ciências agrárias lideram produção científica do PaísAlemanha (6,09%), Japão (5,54%),Inglaterra (5,47%) e França (4,50%). Amedida usada nas estatísticas é onúmero de artigos publicados emrevistas científicas indexados em basesde dados internacionais.

Na média, o país vem melhorandorapidamente. Só entre 2007 e 2008, onúmero de artigos publicados emrevistas científicas internacionais

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cresceu de 19 mil para 30 mil e o Paíssubiu da 15a para a 13a posição noranking mundial.

O bioquímico Rogério Meneghini,especializado em medições deprodutividade científica, lembra quepode haver uma margem de erro nascomparações. Segundo ele, as áreascom notas intermediárias precisam seranalisadas caso a caso porque a base

internacional na qual os dadosestão não separa os trabalhoscientíficos em campos – énecessário fazer buscas porpalavras relacionadas à área. Paraele, é preciso ter cuidadoespecialmente em áreas inter-disciplinares, como a bioquímica.“São áreas menos definidas econforme as palavras usadas nabusca aparecem resultadosdiferentes”, conta.

Fonte: www.folha.com.br.

Oprojeto SC Rural/Micro-bacias 3 vai beneficiar90 mil agricultores familiares

e 1.920 famílias indígenas catarinensesnos próximos 6 anos. A meta éaumentar a competitividade dasorganizações dos agricultoresresultando, até 2016, em aumento de30% no volume de vendas, de 20% naprodutividade e de 5% no preço doproduto recebido pelo agricultor. Oprojeto conta com investimentos deUS$ 189 milhões, dos quais US$ 90milhões serão financiados pelo BancoMundial e US$ 99 milhões serãocontrapartida do Governo do Estado.

“A palavra de ordem do SC Ruralé a competitividade”, reforça LuizHessmann, presidente da Epagri,principal executora do Projeto. Paraele, a abertura de novos mercadospara a agricultura familiar, ofortalecimento de parcerias, oenvolvimento dos jovens rurais e depovos indígenas nas atividades

SC Rural investirá US$ 189 milhões no Estadoprodutivas e a realização de projetosestruturantes vão promover umaverdadeira transformação no campo.

O SC Rural prevê apoio a 500projetos para melhoria e implantaçãode agroindústrias familiares, além damelhoria dos sistemas de produção,agregação de valor aos produtosagrícolas e conexão à Internet. Essesprojetos poderão captar recursos,também, para a melhoria de estradasmunicipais terciárias e para o turismorural. O programa ainda ampliará oprocesso de certificação fitossanitáriade produtos como banana, maçã,pínus e citros e a inspeção de produtosde origem animal.

O SC Rural é continuação dosprogramas iniciados em 1991 e vaiconsolidar os avanços das ediçõesanteriores. A execução do projetoenvolverá as seguintes instituições:Epagri, Companhia Integrada deDesenvolvimento Agrícola de Santa

Catarina (Cidasc), Fundação do MeioAmbiente (Fatma), Polícia MilitarAmbiental e as secretarias de Estadoda Agricultura e DesenvolvimentoRural, de Desenvolvimento Econô-mico Sustentável, de Turismo, Culturae Esporte e de Infraestrutura.

Brasil é o 13o no ranking mundial da produção

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9Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Oprocesso de fabricação doqueijo artesanal serrano, umatradição centenária que gera

renda para aproximadamente 2 milfamílias do planalto sul catarinense,foi resgatado e documentado por umapesquisa da Epagri. O levantamentoda história do produto, que faz partedo Projeto de Certificação eQualificação do Queijo ArtesanalSerrano dos Campos de Altitude deSanta Catarina, vai evitar que esseconhecimento se perca no tempo.

As pesquisas de campo incluíramentrevistas com 41 produtores dos 18municípios da Associação dosMunicípios da Região Serrana(Amures). “O objetivo foi registrar omáximo de informações e fotografarentrevistados, queijos, locais eutensílios usados na fabricação”, contao coordenador do projeto, engenheiro--agrônomo Ulisses Córdova, daEpagri/Estação Experimental deLages.

O resgate comprovou que amaioria dos fabricantes é de origemportuguesa e muitos se declaramdescendentes de açorianos. “A receitado produto tem em torno de 200 anose teria chegado com os primeirosportugueses que povoaram o entãochamado Continente das Lagens.Pessoas de até 94 anos informaram queseus avós e bisavós já produziam oqueijo”, revela Ulisses. Durante apesquisa, foram encontradosutensílios como queijeiras centenárias,fôrma ajustável feita de casca debracatinga e outras fôrmas detamanhos e formatos variados.

Uma surpresa do Projeto foi adescoberta de duas novas rotas decomercialização. Uma delas erautilizada pelos municípios que estãoa oeste da BR-116 (Capão Alto, CampoBelo do Sul, Cerro Negro e AnitaGaribaldi) que, após a abertura daestrada de ferro ligando São Paulo aoRio Grande do Sul, comercializavamos queijos numa localidade chamadaCosta da Linha, nas proximidades deJoaçaba. A outra era o percurso diretopara Torres, RS, realizado pelosprodutores de Coxilha Rica, distrito deLages localizado na divisa com o RioGrande do Sul. O transporte era feitopor tropeiros em mulas arreadas oucargueiros.

Epagri resgata origem do queijo artesanal serrano

Legalização

O objetivo do Projeto é obter aIndicação Geográfica do produto paraos Campos de Altitude do Rio Grandedo Sul e Santa Catarina e legalizar acomercialização. “Apesar da im-portância cultural, econômica e social,a inexistência de parâmetros deidentidade e qualidade dificultam ocontrole do produto e possibilitamfraudes na elaboração. Apresentar oqueijo apropriadamente ao con-sumidor pode significar a conquista deum espaço melhor no mercado”,destaca Ulisses.

O trabalho também envolvedelimitação da área geográfica deprodução, descrição do processo defabricação, análises laboratoriais(química, sensorial, física emicrobiológica) e o lançamento depublicações sobre a história e oprocesso de elaboração.

As fontes financiadoras do Projetosão os ministérios da Agricultura,Pecuária e Abastecimento e doDesenvolvimento Agrário e aFundação de Apoio à PesquisaCientífica e Tecnológica do Estado deSanta Catarina. Além da Epagri,integram a parceria o Centro deCiências Agroveterinárias daUniversidade do Estado de Santa

A receita do produto tem em torno de 200 anos

Produto único

O queijo artesanal serranoé um produto dos campos dealtitude formados peloplanalto sul catarinense e peloscampos de cima da serra doRio Grande do Sul. Ele sediferencia dos queijospopularmente conhecidoscomo coloniais, porque o leitevem de vacas de raças de corteou mistas alimentadasbasicamente com pastagensnativas e tem maior percentualde gordura. Além disso, oprocesso de fabricaçãoassegura características únicasao queijo. A produção ocorreem propriedades que sededicam à pecuária de corteem pequena escala, commétodos tradicionais, mão deobra familiar e reduzidopadrão tecnológico.

Catarina, a Empresa de AssistênciaTécnica e Extensão Rural do RioGrande do Sul, prefeituras e a Amures.

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10 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Oinseticida biológico Fim daPicada, desenvolvido pelaEmpresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária (Embrapa),promete dar um fim às picadas deborrachudos que, além de doloridas,podem causar alergias em sereshumanos e animais. O produtocontém em sua formulação apenas abactéria Bacillus thuringiensis ,específica para controlar insetos, o queo torna inofensivo à saúde humana ede animais e ao meio ambiente.

O bioinseticida foi desenvolvidopela Embrapa Recursos Genéticos eBiotecnologia em parceria com a BthekBiotecnologia. Ele é aplicado emcórregos e rios, onde as larvas dosmosquitos se desenvolvem. A bactériautilizada no desenvolvimento doproduto faz parte do Banco de BacilosEntomopatogênicos da EmbrapaRecursos Genéticos e Biotecnologia,

Embrapa cria inseticida biológico para combater borrachudosque conta com mais de 2.300 estirpes(ou raças) de bactérias com potencialpara o controle biológico de pragas.

Os borrachudos são insetos dehábitos diurnos que pertencem àfamília Simuliidae. São sugadores desangue e, por isso, podem transmitirdoenças para seres humanos eanimais. Dependendo do número e daintensidade das picadas, podemocorrer irritações locais ougeneralizadas, muitas vezes levandoà perda de sangue.

Segundo a pesquisadora daEmbrapa Recursos Genéticos eBiotecnologia Rose Monnerat, osborrachudos causam estresse emanimais de interesse para aagropecuária, como bovinos e ovinos,já que eles picam qualquer parte docorpo que não tenha pelo. “Muitasvezes, as picadas causam infecções,fragilizando o animal e possibilitando

a entrada de outros microrganismos,como fungos, por exemplo”, afirma.

O produto está em fase de registroe deve chegar ao mercado no primeirotrimestre de 2011.

Fonte: Embrapa.

Produto é aplicado em córregos e rios, ondeas larvas dos mosquitos se desenvolvem

Foto

da

Embr

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Uma empresa de Israel está desenvolvendo uma alternativaaos pesticidas químicos para combater pragas das lavourassem prejudicar o meio ambiente. A BotanoCap trabalha em

um produto à base de óleos essenciais como o da citronela, queprotegeria as plantações sem prejudicar os ecossistemas.

Yigal Gezundhait, diretor executivo da BotanoCap, explica queos óleos essenciais não são muito usados na indústria agrícola porqueoxidam rapidamente e perdem a eficácia logo após a aplicação. “É omesmo princípio dos perfumes. Quando se espirra, o cheiro é forte,mas segundos depois já começa a enfraquecer”. Por isso, acompanhia desenvolveu um método para usar os óleos em umasolução à base de água que pudesse ser aplicada da mesma formaque os pesticidas tradicionais.

Já existem três soluções da BotanoCap sendo adotadas em Israel.Há óleos para matar larvas de mosquitos como os que transmitem amalária e a febre amarela, para matar pulgas e carrapatos em animais,além de uma fórmula para proteger a água de infestações.

A companhia está realizando pesquisas em várias áreas,incluindo bactericidas, fungicidas e substâncias contra pulgas,carrapatos, mosquitos, baratas e formigas – todos à base desubstâncias naturais. A BotanoCap também continua os testes parase certificar de que os pesticidas não prejudicam espécies importantespara a natureza, como as abelhas.

Fonte: www.israel21c.org.

Empresa produz defensivo à base de óleos essenciais

Óleos não prejudicariam os ecossistemas

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11Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Há 11 mil anos, andavamnossos antepassados cole-tando frutas silvestres, raízes

e caçando animais selvagens quando,num “lampejo de inteligência”,inventaram a agricultura, consideradaa maior façanha do homem, tendocontribuído para a nossa sobre-vivência e evolução, permitindo,assim, as grandes transformações dacivilização humana.

No início da Era Cristã éramos 285milhões de habitantes no planetaTerra; em 1800 d.C., 1 bilhão e hojesomos 7 bilhões, graças àdisponibilidade de alimentos e aosavanços da medicina. Em 1798 ocientista Thomas Malthus afirmou quea produção de alimentos ocorreria deforma aritmética, enquanto apopulação cresceria de formageométrica, levando a sociedade aocolapso por falta de alimentos e demeios de subsistência. Mas eis quesurge o engenheiro-agrônomoamericano Norman Burlaug, PrêmioNobel da Paz de 1970, que iniciou achamada revolução verde. Nessa faseforam criados centros internacionaisde agricultura em vários locais domundo, apoiados por grandesfundações americanas e europeias,

Agricultura, ciênciae meio ambiente

foram mobilizados recursos humanose financeiros e a teoria de Malthus foiderrubada pelo aumento daprodutividade e da produção dealimentos e de bens de consumo.

A agricultura ao longo dos anosdeu saltos espetaculares. Após adomesticação de plantas e animais, airrigação e a mecanização, seguiu-sea hibridação de plantas e de animais,

A descoberta, em 1953, daestrutura em dupla hélice do DNA,molécula que contém o códigogenético, por Watson, Crick e Wilkins,ganhadores do Prêmio Nobel deMedicina e Fisiologia, considerada amais significativa desde Mendel,possibilitou avanços significativos naprodutividade das culturas. Poucos sedão conta de que a agricultura é umaatividade complexa, que envolve oconvívio do homem com a natureza,na qual existem insetos, ervasdaninhas, fungos, bactérias, vírus eoutros organismos disputando oalimento. Ainda, há toda a questão daprodução em escala, armazenamento,transporte, industrialização ecomercialização.

A cada salto que a humanidadedeu, sofreu danos que precisam seravaliados e reparados. É precisoproduzir com cuidado, afetando omínimo possível o ambiente,corrigindo os erros cometidos. Comoescreveu Leonardo Boff: “É precisosaber cuidar”. Recentementeevoluímos para uma forma deagricultura mais natural, comemprego de insumos naturais econsequente produção de alimentosorgânicos e agroecológicos.

Hoje, precisamos repensar aagricultura, continuando comproduções ascendentes. No entanto,temos que reduzir o efeito ambientaladverso. Para isso, é preciso inovar,principalmente em termos tecno-lógicos, para obter ganhos ambientais,sociais e econômicos, observando oconceito de sustentabilidade.

Logo que concluí o curso deagronomia na Universidade Federalde Pelotas, na década de 70, fuitrabalhar como extensionista rural naAcaresc em Chapecó. A minhapercepção e angústia sobre a erosãodo solo foi tão intensa que escrevi umartigo sugerindo estudos para acriação de máquinas capazes desubstituir as plantas na produção dealimentos. O artigo não foi publicado,mas seria interessante termosequipamentos e usinas para produçãode proteínas e outros nutrientes

1 Eng.-agr., Dr., Diretor de Pesquisa Agropecuária e Meio Ambiente da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado deSanta Catarina (Fapesc), Rod. SC-401 km 1, Parque Tecnológico Alfa, 88030-000 Florianópolis, SC, fone: (48) 3215-1212, e-mail:[email protected].

a partir das leis mendelianas, domonge e botânico Gregório Mendel,denominado o “Pai da Genética”. Em1865 ele formulou as leis dahereditariedade a partir deexperimentos simples com ervilhas,conduzidos na horta do mosteiro, quepossibilitaram o desenvolvimento deplantas mais vigorosas e resistentes,com maior produtividade.

É preciso inovar paraobter ganhos ambientais,

sociais e econômicos,observando o conceito de

sustentabilidade.

Zenório Piana1

Hoje, precisamos repensar a agricultura, continuan-do com produções ascendentes. No entanto, temos

que reduzir o efeito ambiental adverso.

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12 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

essenciais. Com novas tecnologiaspodemos produzir mais em menosespaço e veremos retornar as matas eos rios de águas límpidas e cristalinas.

Mas enquanto continuarmos como modo de produção atual, temos quepensar nas mazelas da agricultura, nasdiferenças sociais gigantescas que otempo não diminui, com a intensidadenecessária, para termos umasociedade mais igualitária. Há maispobreza no campo que em muitasfavelas.

De nada adianta equacionar oproblema dos “sem-terra” e continuarcom o êxodo rural por falta de umapolítica agrícola adequada. A questãopassa por uma ação concreta desubsídios agrícolas e de uma políticade apoio mais ampla para aagricultura familiar.

Segundo muitos cientistas, o maiorproblema do Brasil é a desigualdadesocial, que tem diminuído nos últimosanos, mas que precisa de atençãoespecial para ser reduzida a um nívelaceitável, de forma estrutural.

As discussões mais fortes,atualmente, se referem à cor e àquestão de gênero, mas devemavançar sobre as questões cruciais dodesempenho individual, dacapacidade intelectual humana, queimplica aprendizagem, oportunidades

e integração na sociedade extrema-mente competitiva.

Outro ponto importante a sertratado é o processo de incorporaçãode tecnologias avançadas naagricultura, que não é fácil, devido aaspectos socioculturais, diversidadede sistemas de cultivos, ambientes efinalidades da produção. De acordocom Theodor W. Shultz, Prêmio Nobelde Economia de 1979, “é menos difíciladquirir e modernizar siderúrgicas ecompanhias aéreas do que modernizara agricultura”, mas ainda assim, elatem evoluído muito.

O uso intensivo de mão de obra nocampo com a oferta de alimentos abaixo custo ainda limita em muito ouso de tecnologia; com isso, temosuma baixa remuneração para osagricultores, com consequente baixarenda per capita.

É preciso conciliar os interessessocioeconômicos e continuarinvestindo em ciência, tecnologia einovação para alterar esse quadro.Nos últimos anos, o Governobrasileiro ampliou a destinação derecursos para Ciência, Tecnologia eInovação. Em Santa Catarina, aConstituição de 1989 definiu adestinação de pelo menos 2% dosrecursos líquidos da arrecadação paraa pesquisa científica e tecnológica, e a

Lei de Inovação assegurou 1% para apesquisa agropecuária.

A Fapesc, por sua vez, seconsolidou como importante instru-mento de apoio ao desenvolvimentoestadual pela descentralização edestinação de recursos às uni-versidades e instituições de pesquisa,fomentando estudos e pesquisas parao desenvolvimento sustentável. Naárea da pesquisa agropecuária e domeio ambiente, continuará a darsuporte para as atividades da Epagri,Udesc, UFSC e para todas asuniversidades do Sistema Acafe, alémde apoiar pesquisadores e cientistasinde-pendentes e empresas privadas,uma vez que a agropecuáriacatarinense, só no setor doagronegócio, participa com 21% doPIB, 37% da força de trabalho e 60%das exportações.

O que precisamos fazer é continuardefinindo com muita precisão aaplicação desses recursos em áreasestratégicas da agricultura, dapecuária e do meio ambiente, a fim demelhorar as condições sociais dosagricultores e propiciar a produção dealimentos cada vez mais saudáveis,garantindo a segurança alimentar paratoda a população e preservando omeio ambiente para as geraçõesfuturas.

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13Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Provavelmente quase ninguém sepergunta de onde vem, quemproduz ou como é produzido o

carvão que é usado no nossochurrasco. Enquanto se desfruta essaque é uma das principais atividadesde lazer no fim de semana dobrasileiro, um pequeno exército deagricultores luta para produzir ocarvão, em condições de trabalho cujadureza só é menor do que a falta dereconhecimento do valor de suaatividade.

Uma pesquisa realizada entre 2007e 2008 com seis comunidades rurais domunicípio de Biguaçu, litoral de SantaCatarina, revelou que mais de 30% dasfamílias que trabalham a terra têm naprodução de carvão vegetal umaimportante fonte de renda (Uller--Gómez & Gartner, 2009). Esseresultado causou grande surpresapara nós, pesquisadores, já que aprodução de carvão não aparece nasestatísticas oficiais. Mais sur-preendente ainda, a discussão desseresultado vem revelando que asituação se repete em todos osmunicípios da região.

A atividade de produção de carvãoé, na prática, clandestina. Asconsequências da situação são todasindesejáveis, mas afetam, em curtoprazo, quase que exclusivamente osagricultores: multas por produçãoilegal da matéria-prima ou carbo-nização da madeira, enfermidades porconta do uso de fornos insalubres e do

manuseio da lenha, baixa autoestima,resultante da constante sensação deserem flagrados pelas agênciasambientais. Entre os agricultores queentrevistamos, o sentimento de “estarfazendo algo errado” é o pior aspectoda sua atividade.

Uma pergunta que parece bastanteóbvia é por que, ante tamanhasdificuldades, os agricultores insistemem produzir carvão. A resposta a essapergunta nos parecia também óbvia:os agricultores necessitam da rendagerada pelo carvão. Entretanto, asimplicidade da nossa respostaesconde uma grande complexidade do

sistema de uso da terra dosagricultores familiares da região. Umfato pouco conhecido, por exemplo, éque em alguns casos a renda emdinheiro gerada pelo carvão é usadapara financiar outras atividades doestabelecimento agrícola, como acompra de ração para o gado.

Saberes que se vão perdendo

O sistema de produção de carvãotraz consigo um grande repertório deconhecimento local dos agricultores,acumulado e passado através das

Produção de carvão e de saberes naagricultura familiar de SC1

Alfredo C. Fantini2, Cíntia Uller-Gómez3, Carolina Gartner4, Nicole R. Vicente5,Sandro L. Schlindwein6, Eliane Bauer7 e Giovana T.C. Menezes8

1 A pesquisa de que trata esta matéria faz parte do projeto financiado pelo CNPq sob o Processo no 558703/2009-7.2 Eng.-agr., Dr., UFSC/Centro de Ciências Agrárias, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dra., Epagri/Pesquisa, Extensão e Aprendizagem Participativas, e-mail: [email protected] Geógrafa, M.Sc., e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., UFSC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., UFSC/Centro de Ciências Agrárias, e-mail: [email protected] Eng.-agr., UFSC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., UFSC, e-mail: [email protected].

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Forno para produção de carvão vegetal em comunidade rural de Biguaçu, SC, em 2008

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14 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

gerações, mas que corre o risco de serperdido já nesta geração. A florestausada na produção de carvão faz partede uma complexa organização doestabelecimento rural e do manejoflorestal, que apresenta como um dosaspectos mais importantes o sistemade roça de toco, também conhecidocomo coivara.

Nesse sistema, a floresta éderrubada e, por 3 ou 4 anos, dá lugara lavouras de mandioca, milho, feijão,batata-doce, etc., destinadas aomercado ou ao consumo da família.Depois, a terra é deixada em pousio ea floresta volta a regenerar-se porperíodos de 10 a 15 anos; em algunscasos por períodos muito mais longos,de até 30 anos. Esse processo deregeneração é chamado de sucessãoflorestal, porque acontece em estágiossucessivos marcados pelo apa-recimento de novas espécies deplantas. A vegetação aumenta, assim,em altura, volume de biomassa ecomplexidade. É comumente chamadade vegetação secundária, ou florestasecundária, porque se desenvolve emlocal onde havia uma florestaoriginalmente e que foi derrubada.

Em Biguaçu, o sistema já teve comoum dos objetivos a produção de lenhapara os engenhos de farinha e deaçúcar da região. Posteriormente, alenha passou a ser usada paraproduzir carvão, um produto commercado garantido. Nos últimos anos,entretanto, a legislação florestaltornou-se muito restritiva para omanejo da floresta. Por exemplo, aoatingir o ponto de corte para lenha, avegetação secundária já apresentacaracterísticas que a enquadram noestágio sucessional médio ouavançado de regeneração, em que asupressão (desmatamento) não é maispermitida. Na prática, essa restriçãoimpede o agricultor de realizar o cicloda roça de toco e, portanto, deproduzir carvão com essa lenha.

Essa restrição legal não reconhece,portanto, que a floresta secundária é,na verdade, parte de um sistema deuso da terra muito eficaz se analisadoadequadamente. Além disso,criminalizar o uso da floresta

caracterizando-o simplesmente comodesmatamento é pura falta deconhecimento da história da relaçãodesses agricultores com seu meio. Emdécadas passadas, época em que osengenhos de farinha e açúcar eram omotor da economia local, pouco haviade florestas na região, como relatauma agricultora: “Quando eu vimmorar aqui era só capim-melado. Nãotinha lenha pra cozinhar um feijão.Hoje a gente tem lenha e não podecortar... e foi a gente que plantou.Durante três, quatro anos usava [aárea] e depois plantava as capoeirasdentro da roça. Plantei ingá-feijão até,mais ou menos, 1975.”

As florestas existentes hoje são,portanto, produto do trabalho dessesagricultores. Essa maneira de integraragricultura e floresta tranformou apaisagem em um mosaico devegetação secundária em diferentesestágios de sucessão. Os diferentestipos de vegetação favorecem amanutenção da biodiversidade epermitem usos múltiplos da floresta,inclusive dos serviços ambientaispouco valorizados pela nossasociedade, como a produção de águae o valor estético da paisagem. Esses eoutros serviços prestados pelosagricultores não são remunerados.Assim, tratar agricultores carvoeiroscomo criminosos ambientais nosparece injusto. Em suas falas osagricultores também revelamconhecimentos específicos sobreespécies de crescimento rápido, sobreespécies que melhoram a capacidadeprodutiva dos solos, bem como sobreespécies com qualidades para acarbonização, construção civil e deartefatos, alimentação, etc.

Infelizmente, esses conhecimentosestão se perdendo porque estãodeixando de ser utilizados. Diante dadificuldade e do receio de manejar afloresta, muitos agricultores estãosubstituindo o sistema de roça de tocopor monoculturas de eucalipto, cujocorte não tem restrições legais.

Nesse processo de substituição,espécies nativas da Mata Atlânticaimportantes na roça de toco vão seperdendo, como a bracatinga (Mimosa

scabrella). Em seu manejo tradicional,quando a planta atinge o estágioreprodutivo, as sementes se espalhame o fogo utilizado para preparar oterreno para a lavoura se encarrega dequebrar a dormência das sementes. Ouseja, não há custo de implantação dafloresta. Embora a espécie seja típicado planalto catarinense, há registro doseu uso associado ao cultivo damandioca em Biguaçu há mais de 50anos (Carvalho, 1994). Quando aregeneração da bracatinga dá lugar aoeucalipto, não há pousio, nem maisfloresta secundária naquele local;somente outro plantio de eucalipto.Esta nos parece uma “solução” em quetodos perdem.

Carvoejamento: novastecnologias podem melhoraro trabalho dos agricultores

Da maneira como vem sendorealizado, o carvoejamento é umaatividade insalubre: exige grandeesforço físico para carregar a lenha aoforno e, principalmente, expõe osagricultores à poeira do carvãodurante o descarregamento do fornoe ensacamento do produto. Em MinasGerais, onde a produção de carvão émuito intensa, os problemas lombaressão a segunda causa de demanda porconsulta médica na rede pública desaúde, e é expressivo o número detrabalhadores precocemente inca-pacitados para o trabalho (Dias et al.,2002). Os agricultores de Biguaçutambém sofrem desses males.Inúmeros são os casos relatados deproblemas na coluna. Outros aspectos,como a irritação dos olhos e das viasaéreas superiores causadas pelafumaça e pelos gases que saem dosfornos, também merecem ser maisbem estudados.

Entretanto, os trabalhadores emMinas Gerais e outros Estados onde ocarvão é produzido em escalaindustrial para o setor siderúrgico sãoassalariados e trabalham emcondições inaceitáveis. Em Biguaçu, osagricultores produtores de carvãotrabalham em seu próprioestabelecimento agrícola e têm,portanto, liberdade para ditar o ritmode trabalho. Além disso, a produçãode carvão é somente uma das muitas

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15Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

atividades desses agricultores;praticamente uma atividade artesanal.

De qualquer modo, nos dois casoshá possibilidades de introduzirsignificativas melhorias em todo oprocesso de transformação da maderiaem carvão. Por exemplo, um novo tipode forno, desenvolvido naUniversidade Federal de Viçosa,reduz significativamente o esforço e ainsalubridade do trabalho decarregamento da lenha, queima edescarregamento do carvão, aomesmo tempo que aumenta orendimento do trabalho. Avançosdesse tipo poderiam ser incorporadosà atividade imediatamente.

Para legitimar a produção decarvão

A produção de carvão deveria serconsiderada uma das questões maisimportantes para a agriculturafamiliar da região, pelo seu impactosocial, ambiental e econômico naqualidade de vida do grande númerode famílias envolvidas. Além dosproblemas associados à produção demadeira e sua carbonização, osagricultores recebem baixos valorespelo produto, já que ele écomercializado na calada da noite. Os

agricultores produtores de carvãoconvivem, assim, com a contradiçãode produzir clandestinamente umproduto que depois é vendidolegalmente em qualquer super-mercado.

No entanto, todos esses problemascausam menos incômodo aosagricultores do que o receio de seremapanhados pela fiscalizaçãoambiental, de serem multados, de queseus fornos sejam destruídos e suasmotosserras apreendidas. Essesentimento destrói sua autoestima, eos agricultores se dizem comple-tamente desamparados.

Trata-se de uma situação--problema extremamente complexa, eo encaminhamento da questãodemanda uma abordagem sistêmica,que demanda pensar e agir de maneiradiferente. Nesse sentido, um plano deação deve abordar pelo menos quatrolinhas de ação articuladas: aregularização dos estabelecimentosagrícolas, a adoção de sistemas deprodução sustentável de matéria--prima, o uso de fornos modernos paracarbonização da madeira e odesenvolvimento de um sistema justode comercialização do produto.

O reconhecimento oficial daimportância da atividade (por

exemplo, através de um profundoestudo da questão) é um passofundamental para garantir legi-timidade ao processo e à proposiçãode ações para sua melhoria, assimcomo para assinalar as res-ponsabilidades de cada agente dacadeia de produção e consumo doproduto, incluindo principalmente opoder público. A missão de umainiciativa dessa natureza é aproximardos agricultores as instituições depesquisa e extensão, agênciasambientais e Poder Judiciário.

Deve, portanto, ser neces-sariamente um processo deaprendizagem social, no qual todos osinteressados se descobrem parteimportante, e onde as ações sãoconcertadas e levam a uma situaçãomelhor para todos. Na prática, issosignifica uma aliança para garantirlegitimidade aos interesses coletivos,como o bom uso da terra e dosrecursos naturais, e aos interessesindividuais, como a renda de cadaagricultor e o direito de cada cidadãoque não abre mão de apreciar umchurrasco no fim de semana.

Literatura citada

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1. CARVALHO, P.E.R. Espéciesflorestais brasileiras: recomendaçõessilviculturais, potencialidades euso da madeira. Colombo, PR:Embrapa-CNPF; Brasília: Embra-pa-SPI, 1994. 640p.

2. DIAS, E.C.; ASSUNÇÃO, A.A.;GUERRA, C.B. et al. Processo detrabalho e saúde dos trabalhadoresna produção artesanal de carvãovegetal em Minas Gerais, Brasil.Cadernos de Saúde Pública, Rio deJaneiro, v.18, n.1, p.269-277, jan./fev., 2002.

3. ULLER-GÓMEZ, C.; GARTNER,C. Um caminho para conhecer etransformar nossa comunidade .Relatório final de pesquisavinculada ao TOR 23/2006Epagri/MB2. Florianópolis, 2008.111p.

Mandioca cultivada no sistema de roça de toco, em janeiro de 2009, em comunidaderural de Biguaçu, SC

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16 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Ter hortaliças fresquinhas esaudáveis cultivadas em casaajuda a melhorar a alimentação,

faz bem para a saúde e traz economia.Além disso, cuidar das plantas é umaverdadeira terapia. Quando a horta écultivada no sistema agroecológico, asvantagens são ainda maiores. “Ashortaliças agroecológicas são ricas emvitaminas e sais minerais, têm bomteor de carboidratos, proteínas efibras”, conta o engenheiro-agrônomoCirio Parizotto, da Epagri/EstaçãoExperimental de Campos Novos. Sejano campo ou na cidade, manter umahorta para consumo da família nãoexige grandes áreas nem muita mãode obra. Basta seguir algumasorientações.

O que plantar

A variedade de espécies quepodem ser cultivadas em horta é

Cultive saúde no quintalgrande: batata, tomate, pimentão,alface, chicória, repolho, couve-flor,brócolis, feijão-vagem, moranga,pepino, melancia, cenoura,mandioquinha-salsa, beterraba, alho ecebola são alguns exemplos. A hortatambém é ideal para cultivartemperos, como salsa, cebolinha,sálvia e alecrim, e plantas medicinaiscomo erva-cidreira, boldo e camomila.

Onde fazer a horta

É preciso escolher um local bemensolarado, de fácil acesso, próximo àresidência, com água por perto e, depreferência, junto à vegetação nativa.A horta deve ser instalada longe desanitários, esgotos e lixo e protegidado acesso de animais. O espaço nãoprecisa ser grande: são necessários de6 a 10m² por pessoa. “Em uma hortade 50m² é possível produzir umagrande diversidade de espécies para

uma família de cinco pessoas”, explicaParizotto.

O terreno deve ser plano ouligeiramente inclinado e bem drenado.O solo ideal é medianamente leve(arenoargiloso), permeável e de boafertilidade. É importante evitar soloscontaminados por fungos, bactérias enematoides.

Preparo do solo

Antes de implantar a horta,recomenda-se fazer a análise do solopara avaliar a necessidade de aplicarcalcário e fosfato natural. Caso sejapreciso, deve-se corrigir uma camadade 20cm de solo. O preparo pode serfeito com uma enxada.

A dosagem de adubo parasemeadura ou plantio é deaproximadamente 3kg/m² quando seusa composto orgânico, 4 a 5kg/m² sefor aplicado esterco de gado, e para

Manter uma horta para consumo da família não exige grandes áreas nem muita mão de obra

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17Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

esterco de aves recomenda-se aplicar2kg/m². O esterco deve estar semprebem curado. “O composto orgânico éindispensável para produzirhortaliças no sistema agroecológicopor possuir todos os nutrientesexigidos pelas culturas. É a melhorforma de reciclar os resíduosorgânicos das propriedades”,acrescenta Parizotto.

Montagem dos canteiros

Espécies cultivadas com es-paçamentos maiores, como repolho,pepino, abobrinha, cebola e tomatenão precisam de canteiros e sãoplantadas em cova ou sulco de plantio.Outras espécies podem ser plantadasem canteiros com cerca de 1m delargura e 15 a 20cm de altura. Ocomprimento é variável e a distânciaentre os canteiros deve ser de 40 a50cm.

Quando plantar

Antes de plantar, é preciso seinformar sobre o períodorecomendado para cada espécie,pois a época varia de acordo coma região. Para o sul do Brasil, arecomendação geral é a seguinte:

Abóboras e morangas: agostoa dezembro.

Alface: o ano todo.Alho: abril a julho.Almeirão: o ano todo.Beterraba: o ano todo.Cebola: março a julho.Cebolinha: o ano todo.Cenoura: o ano todo.Chicória: o ano todo.Brócolis: março a setembro.Couve-flor: março a setembro.Feijão-vagem trepador: agosto

a dezembro.Melancia: agosto a dezembro.Melão: agosto a dezembro.Pepino: setembro a fevereiro.Pimentão: setembro a janeiro.Rabanete: abril a junho.Repolho: março a janeiro.Rúcula: o ano todo.Salsa: o ano todo.Tomate: setembro a janeiro.

A variedade de espécies que podem ser cultivadas em horta é grande

Local deve ser ensolarado, de fácil acesso, com água por perto, longe de esgotos e lixo eprotegido dos animais

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18 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

- Forneça água de boa qualidade às plantas. Asfolhosas são irrigadas diariamente, e frutos e raízes,a cada três dias no verão.

- Use cultivares resistentes a doenças, recolharestos de plantas doentes e aplique produtos naturaisnas culturas.

- Retire as plantas espontâneas (inços) na faseinicial das culturas, pois elas competem com ashortaliças por água, luz e nutrientes.

- Cultive flores na horta para atrair inimigosnaturais que auxiliam no controle de insetos-pragas.

- Para manejar os insetos que atacam hortaliças,use plantas atrativas como tajujá, mostarda, porongoe couve-chinesa.

- Plantas como cravo-de-defunto (tagetes),losna, gerânio, urtiga, camomila e cavalinha ajudama repelir insetos.

Consorciação de culturas reduz a erosão e a incidência de insetos-pragas, plantas espontâneas e doenças

- A consorciação de culturas (cultivo de duasou mais espécies na mesma área) aproveita melhoro espaço, estabiliza a produção, reduz a erosão e aincidência de insetos-pragas, plantas espontâneas edoenças.

- Use cobertura morta, uma camada de palhaseca, capim, serragem ou casca de arroz colocadanas entrelinhas das plantas, que evita a evaporaçãoda água e a erosão, fertiliza o solo, mantém ashortaliças limpas e reduz o número de capinas.

- A rotação de culturas diminui a incidênciade doenças, insetos-pragas e plantas espontâneas,melhora a fertilidade do solo e a produtividade. Paraisso, a cada novo ciclo é preciso cultivar plantas defamílias diferentes.

Mantenha a horta saudável

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19Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

A trajetória de Santa Catarina na produção devinhos finos é recente, mas o Estado já escreveuma história regada a sucesso e com boaspromessas para o futuro

Cinthia Andruchak Freitas1

Qualidade nas alturasQualidade nas alturas

Pouco mais de uma décadadepois que a Epagri descobriua excelência das regiões de

altitude catarinenses para a produçãode uvas viníferas, o Estado temreconhecimento nacional e atéinternacional pela qualidade dosvinhos finos que produz. O impulsodado pelas pesquisas e porinvestimentos pioneiros construiu umnovo e promissor segmentoeconômico em Santa Catarina. As uvascultivadas com capricho em altitudesacima de 900m e vinificadas nascantinas de produtores obcecados porqualidade dão origem a vinhos de altopadrão que conquistam os paladaresmais exigentes.

1 Jornalista, Epagri/Gerência de Marketing e Comunicação (GMC), C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5682, e-mail:[email protected].

O embrião dessa história surgiu nadécada de 80, quando pesquisadoresda Epagri/Estação Experimental deVideira plantaram espécies viníferasem diversas regiões do Estado. Em1997, com a microvinificação de uvascultivadas em São Joaquim, a Empresadescobriu o potencial da região paraproduzir variedades que dariamorigem a vinhos finos dife-renciados. ”Com a confirmação de seestar diante de um novo terroir degrande qualidade, os pesquisadoresde São Joaquim tomaram parte nodesenvolvimento da atividade naregião”, conta o engenheiro-agrônomoe enólogo Jean Pierre Rosier,

pesquisador da Estação Experimentalde Videira.

A partir desse esforço, em parceriacom instituições como o Serviço deApoio às Micro e Pequenas Empresasde Santa Catarina (Sebrae/SC) e aUniversidade Federal de SantaCatarina (UFSC), um novo setor sedesenvolveu nas regiões de altitudedo Estado. Já no final da década de 90,vinhedos de variedades como Cabernetsauvignon, Merlot e Chardonnaycomeçaram a ser implantados.

As primeiras garrafas foramlançadas em 2005 e, desde então, têmatraído a atenção do mercado. NaExpoVinis, maior feira do setor daAmérica Latina, já receberam três

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prêmios Top Ten, que compara àscegas os melhores vinhos de váriospaíses em dez categorias. Em 2007, aVilla Francioni, de São Joaquim, foipremiada com seu Chardonnay; em2008, a Sanjo, também de São Joaquim,foi premiada com o Sauvignon blanc; eo Chardonnay da Villaggio Grando, deÁgua Doce, foi escolhido o melhor em2010.

Em setembro deste ano, mais umaconquista: os catarinenses levaram 14das 50 medalhas concedidas a vinhosbrasileiros no 7o Concurso Nacional deVinhos Finos e Destilados/ConcursoMundial de Bruxelas, edição Brasil2010. Foram 4 medalhas de Prata, 7 deOuro e 3 Gran Ouro recebidas pelasempresas Sanjo, Suzin, Quinta SantaMaria, Panceri, Kranz, Quinta daNeve, Pericó e Santo Emílio. “SantaCatarina deu um grande saltotecnológico que melhorou a qualidadee a competitividade desses produtos,tornando-se produtora de vinhos finosde altíssima qualidade”, destaca EdsonSilva, diretor de ciência, tecnologia einovação da Epagri.

Clima e capricho

O segredo está na altitude. Ainfluência climática nas regiõescatarinenses localizadas entre 900 e1.400m acima do nível do mar deslocae torna mais lento o ciclo produtivo da

videira. “Esse deslocamento propiciaa ocorrência de condições climáticasdiferenciadas em relação ao restantedo País em todas as etapas dedesenvolvimento das plantas”, explicaRosier.

Por conta disso, algumasvariedades iniciam a brotação nasegunda quinzena de outubro efinalizam a maturação na segundaquinzena de abril. Nessa época, amenor quantidade de chuvas reduz aocorrência de doenças e permite amaturação mais completa da uva. “Jáem regiões como a Serra Gaúcha, ociclo vegetativo inicia em setembro enormalmente finda em fevereiro,quando as condições climáticas,principalmente de altas temperaturase pluviosidade, são tradicionalmentedifíceis para a cultura”, detalha opesquisador.

A altitude também proporcionamaior insolação durante a maturaçãoe permite a aeração constante nosvinhedos, diminuindo a incidência defungos. A amplitude térmica(diferença entre a temperaturamáxima e a mínima no mesmo dia),que pode chegar a mais de 20ºC,aumenta a concentração de polifenóise enriquece os aromas dos vinhos.

O resultado se comprova na taça.Para Jean Pierre Rosier, os vinhos finoscatarinenses têm tipicidade própria ese inserem entre os grandes rótulos da

América do Sul. “Eles são distintos,apresentam coloração intensa, aromasvarietais, força em álcool, equilíbrio etaninos próprios de uvas que atingemuma maturação completa, portanto,tintos aptos ao envelhecimento ebrancos frescos e equilibrados”,avalia.

O alto padrão da bebida éalcançado por 28 produtoresindividuais e coletivos representadospela Associação Catarinense dosProdutores de Vinhos Finos deAltitude (Acavitis). Eles somam 287hade vinhedos distribuídos nas regiõesde São Joaquim, Caçador e CamposNovos. “Somos empreendimentosfamiliares com, no máximo, 50ha”,conta o presidente da Acavitis, JoséEduardo Bassetti. A cada ano, 600 milgarrafas são vendidas no mercadobrasileiro e uma pequena parte éexportada. A meta é alcançar 1 milhãode garrafas em até 5 anos.

Nessas propriedades, zelo pelaqualidade é regra. Os vitivinicultorestrabalham com baixa produtividade ea maioria conduz as plantas emespaldeiras – dispondo os ramos emuma espécie de cerca, o sistemapermite melhor ventilação eaproveitamento dos raios solares. Aprodução máxima é de 2kg de uva porplanta e a cada 100ha de área sãoimplantados 20 a 25ha de vinhedos.

Produção de uvas viníferas oferece boa rentabilidade econômica para pequenaspropriedades

Epagri investe fortemente em pesquisaspara melhorar a qualidade e acompetitividade dos produtos

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“O cuidado com as videiras, desdeo plantio até a condução, é nossomaior investimento. Sabemos que ovinho se faz no campo”, destacaBassetti, que entrou no segmento em2005. A Villaggio Bassetti, instaladaem São Joaquim, lançou neste ano asprimeiras 4 mil garrafas, produzidasem vinícolas parceiras a partir devariedades como Merlot, Cabernetsauvignon, Pinot noir e Sauvignon blanc.Em 2011, o produtor pretendecomercializar 10 mil garrafas e, no anoseguinte, 16 mil. Outra meta éconstruir uma vinícola. “Queremosproduzir 100 mil litros por ano eexportar 25% da produção para aEuropa”, planeja.

Resultados em cadeia

Os vinhos finos têm provocadograndes transformações no Estado.Embora o impacto no número deempregos ainda não seja expressivo –cerca de 1,2 mil diretos e 5 milindiretos –, a atividade tem levadodesenvolvimento social e econômicopara regiões carentes. “Em SãoJoaquim, por exemplo, o turismo ésazonal e não tem uma grandeestrutura. Com os vinhos finos seestabelece uma nova atividade queatrai turistas durante o ano todo eimpulsiona o desenvolvimento daregião”, afirma José Itamar Boneti,pesquisador da Estação Experimentalde São Joaquim.

Criatividade não falta para atrairesses turistas. Um exemplo está naQuinta Santa Maria, em São Joaquim.O sócio-proprietário Nazário Santos,português radicado no Estado, criouum roteiro em que, além de visitar acave e os vinhedos conduzidos empatamares tipicamente portugueses,os turistas consomem iguarias locaiscomo carreteiro de pinhão à beira dorio Lava Tudo. Em Caçador, a VillagioGrando também aposta no eno-turismo e recepciona os visitantes àsmargens de um lago.

Indiretamente, os vinhos finosfavorecem o Estado inteiro. Para CelsoPanceri, presidente do Sindicato dasIndústrias de Vinho de Santa Catarina(Sindivinho), a entrada de SantaCatarina nesse segmento beneficioutodo o setor, formado por cerca de90 estabelecimentos entre vinícolas,engarrafadoras e fábricas de suco,além de 2,5 mil famílias agricultoras.

“A produção de vinhos finos exigeuma reformulação desde o campo atéo interior das vinícolas. A tecnologiade produção deu um grande salto como início desses trabalhos e amodernização melhorou também aprodução dos vinhos de mesa”,destaca. O diretor Edson Silvaacrescenta que, graças a esse avanço,a cadeia produtiva está seorganizando para combater produtosfalsificados, adulterados e de baixaqualidade.

No campo

produzir vinhos finos. “Quandoprecisávamos de informações,buscávamos na Epagri, que sempreajudou com pesquisas, acom-panhamento e ações de agregação devalor”, afirma Panceri, que lembracom orgulho de ter participado dasprimeiras experiências com uvas finasno Estado: “Fomos os primeiros atestar o plantio de uva Merlot, aindana década de 1970.”

Hoje, a vinícola emprega 15pessoas, fabrica 300 mil litros por ano

Para as famílias rurais, o cultivo deuvas viníferas é uma alternativa derenda de alto valor agregado. Oinvestimento gira em torno de R$ 50mil por hectare – semelhante ao dacriação de aves e suínos –, mas arentabilidade da uva é superior: sãocolhidas 5 a 8t/ha e a uva vinífera évendida a cerca de R$ 3,00/kg,enquanto a comum rende R$ 0,49/kg.Além disso, é possível buscarfinanciamentos e os produtorespodem investir de forma coletiva. “Avitivinicultura é uma atividadepermanente de boa rentabili-dade econômica que viabilizapropriedades com pequenas áreas”,destaca Celso Panceri.

Ele fala com conhecimento decausa. A família do produtor, quesempre trabalhou na agricultura, crioua Vinícola Panceri em 1990 emTangará para melhorar a receita dapropriedade. Em 1999, depois deadquirir experiência com vinhos demesa, a família plantou variedadeseuropeias e adaptou a vinícola para

e mantém 14ha com variedades demesa e viníferas. Os produtos sãocomercializados em Santa Catarina,Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro eexportados para Estados Unidos eRepública Tcheca. A empresa, quetambém promove degustações ecursos, recebe cerca de 100 visitantespor mês.

As boas promessas do setortambém motivaram 23 pequenosprodutores de maçã da CooperativaAgrícola de São Joaquim (Sanjo) adiversificar os negócios. Juntos, elescultivam um vinhedo de 23ha querende cerca de 100t de uvas por ano.A primeira safra comercial foi lançadaem 2005 e, hoje, são produzidas 80 milgarrafas por ano. São seis rótulos devinhos finos no mercado: três tintos debase Cabernet sauvignon, umChardonnay, um Sauvignon blanc e umrosé. Os produtos são vendidos noBrasil inteiro e há negociações paraexportar para o Japão.

O trabalho é cuidadoso. No pomar,a poda e o sistema de condução são

Alta qualidade e condução das plantas em espaldeiras predominam nos parreirais

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feitos de acordo com o com-portamento das cultivares e asdoenças são controladas com usoracional de fungicidas. “A decisão dostratamentos é baseada nafenologia das plantas e na avaliaçãodo clima”, detalha o pesquisador JoséItamar Boneti, da Epagri. Na vinícola,fermentação em tanques de açoinoxidável e amadurecimento embarricas de carvalho francês garantema qualidade dos produtos.

Desenvolvimento local

O setor também atrai investimen-tos de apaixonados por vinho vindosde outras áreas. Um exemplo é oexecutivo Walter Kranz, que, após 32anos de carreira em um grande grupoautomobilístico mundial, decidiuproduzir vinhos em Treze Tílias.“Mesmo com todos os projetosrealizados, havia o sonho de voltarpara minha terra natal e iniciar umnegócio que viria a contribuir com odesenvolvimento do município”,conta.

Aliando experiência em negóciose na área industrial, o empresáriocriou em 2007 a Vinícola Kranz,considerada uma das mais modernasdo mundo em tecnologia. O

conhecimento sobre vinhos foiadquirido com suporte da Epagri. “Eue minha esposa visitamos exposiçõese fizemos cursos na área. O primeiro,feito na Epagri, foi a grande alavancado projeto”, revela.

A vinícola processa uvas das trêsregiões da Acavitis cultivadas emvinhedos localizados acima de 1.200mde altitude. Um sistema de vinificaçãoa frio mantém a uva a temperaturasabaixo de 10ºC após a colheita edurante o processamento para mantera sanidade do grão, evitar a pré--fermentação e facilitar a seleção. Ocuidado minucioso garante que sejamusadas somente uvas 100% sadias emaduras. “Temos capacidade paraprocessar 10 mil quilos por hora, maspara manter o alto padrão, proces-samos no máximo 500kg”, conta.

Os primeiros vinhos e espumantesforam lançados neste ano. Além devender no Brasil, Kranz pretendeexportar para a China. Em 2010, foramproduzidos 55 mil litros e a meta éalcançar 130 mil litros em cinco anos.O empreendimento também produzsucos, doces e geleias e, paraimpulsionar o turismo, está localizadono centro da cidade. “Nosso projetoprevê uma loja e um restaurante paraatender consumidores e turistas”,acrescenta.

Salto tecnológico

Para avançar no conhecimentosobre vinhos finos, a Epagri investefortemente em pesquisas e assistênciatécnica. Vários resultados dessetrabalho se destacam, como adeterminação da superfície foliarnecessária para o bom desempenhodas plantas, o conhecimentofenológico de diversas variedades nascondições climáticas de altitude, oconhecimento da atividade anti-oxidante dos vinhos, da composiçãoaromática e fenólica de tintos dediversas altitudes e dos pontos dematuração ideais para a colheita.

São diversas pesquisas emandamento nas Estações Expe-rimentais de Videira, São Joaquim eCampos Novos e em parceria comempresas do setor. Há experimentossobre comportamento de cultivares,sistemas de condução, colheita e poda,controle de doenças e pragas,fertilidade dos solos, adubação eavaliação de novas cultivares.“Estamos dando continuidade ao saltotecnológico e de qualidade dos vinhoscatarinenses, realizando pesquisas etrabalhando em busca da com-petitividade do setor”, afirma o diretorEdson Silva.

Neste ano, a Epagri montou umLaboratório de Microvinificação naEstação Experimental de São Joaquimpara pesquisar as características dosvinhos de altitude. Outra ação emandamento é um convênio firmadocom o Instituto Agrário San Michelede Trento, da Itália, com apoio daFundação de Apoio à PesquisaCientífica e Tecnológica do Estado deSanta Catarina (Fapesc), para avaliarno Estado o desenvolvimento de 36variedades de uvas daquele país.Recentemente, um trabalho queavaliou os impactos das mudançasclimáticas na produção de Vitisvinifera, realizado pela pesquisadoraCristina Pandolfo, da Epagri/Centrode Informações de RecursosAmbientais e Hidrometeorologia deSanta Catarina (Ciram), tambémtrouxe contribuições importantes.

Em 2010, a Empresa assinouconvênio para integrar a Rede deCentros de Inovação em Viti-vinicultura, que busca promover odesenvolvimento tecnológico dasregiões produtoras com vistas à Processo de fabricação alia trabalho minucioso e tecnologias de última geração

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23Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

criação de indicações geográficas. Arede também atua no Rio Grande doSul e em Pernambuco e conta com osseguintes centros: Epagri, EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa), UFSC, Universidade doEstado de Santa Catarina (Udesc),Universidade de Caxias do Sul (UCS),Universidade Federal do Rio Grandedo Sul (UFGRS) e Instituto deTecnologia de Pernambuco (Itep-OS).A rede integra o Sistema Brasileiro deTecnologia (Sibratec). Na primeiraetapa, o convênio e seus projetos têmR$ 10 milhões à disposição. O objetivoé melhorar a competitividade do setore ampliar a interação entre instituiçõesde pesquisa e ensino e o setor privado.

A reativação da Câmara Setorial daUva e do Vinho de Santa Catarina foioutra iniciativa da Epagri no ano.Regulamentada e dirigida pelaSecretaria da Agricultura do Estado,ela integra agentes do setor na buscade soluções para as dificuldades dacadeia produtiva. Além da Epagri,participam instituições comoEmbrapa, UFSC, Udesc, Universidadedo Oeste de Santa Catarina (Unoesc),Sindivinho, Acavitis, Associação dosProdutores de Uva e do Vinho Goethe(ProGoethe), Federação da Agri-cultura e Pecuária do Estado (Faesc),Fundação de Apoio à PesquisaCientífica do Estado de Santa Catarina(Fapesc), Banco Regional deDesenvolvimento do Extremo Sul(BRDE) e Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento.

O diretor Edson Silva tambémdestaca como avanço no setor oreconhecimento, por parte doMinistério do Desenvolvimento,Indústria e Comércio Exterior, dosvinhos de altitude entre os dezArranjos Produtivos Locaisprioritários do Estado. “Outraconquista é a criação do Fundo doVinho, que prevê benefícios fiscaispara as vinícolas e o uso de parte doICMS recolhido por essesempreendimentos para financiarpesquisas na área por meio daFapesc”, acrescenta. De acordo comCarlos Pieta Filho, coordenador deprojeto técnico-científico da Fapesc,entre 2003 e 2009 os projetos depesquisa em vitiviniculturafinanciados pela fundação somaramR$ 1.111.275,00. Em 2010, foramliberados R$ 673.986,00.

Entre os países produtores, o Brasilé um dos que menos consomem vinho– cerca de 2 litros por pessoa por ano.Quando se trata de vinhos finos, ovolume é menor ainda. “Essa é umaoportunidade e não uma dificuldadeintransponível. Se o consumo dosbrasileiros passar a 4 litros por ano,não há produção nacional suficientepara sustentar a demanda, e oaumento não é impossível, já que empaíses tradicionais se bebe nada menosque 50 litros por pessoa”, apontaRosier.

Outro obstáculo é a concorrênciados importados. Vinhos de paísescomo Chile e Argentina chegam àmesa do brasileiro com praticamentea metade da carga tributária dosnacionais. “Temos que trabalhar para,ao menos, equalizar as condições dedisputa. Precisamos ter competênciana produção e buscar apoio deinstituições públicas para ra-pidamente conquistar nosso espaçonesse mercado”, afirma José EduardoBassetti, presidente da Acavitis.

Futuro

Apesar dos avanços, o setor temdesafios, especialmente na áreacomercial. O Brasil consome cerca de100 milhões de litros de vinhos finospor ano e a participação dos produtoscatarinenses nesse mercado é estimadaem cerca de 0,5%. “Temos pela frentetodas as dificuldades de um setor quepode ser considerado pioneiro, pois oEstado, antes conhecido pelos vinhoscomuns, busca mostrar produtosnobres, inovadores, produzidos emuma região desconhecida para essefim. É preciso ser conhecido no difícilmercado de vinhos finos, ganhar aconfiança dos consumidores, e issotem sido buscado incansavelmentecom a participação em feiras e mostrasem todo o País”, destaca Rosier, daEpagri.

Amadurecimento em barricas decarvalho dá qualidade superior aosvinhos

Walter Kranz largou carreira de executivo para produzir vinhos finos em Treze Tílias

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24 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

O enoturismo também precisaevoluir. Embora vários empreendi-mentos estejam preparados parareceber visitantes, o setor deve secapacitar ainda mais para atender essepúblico. “O apreciador de vinhos é umturista exigente e para que ele possavoltar e indicar o passeio para outraspessoas, não basta degustar bonsvinhos; ele precisa de bons hotéis,restaurantes e lojas”, destaca Bassetti.

Com o empenho das instituiçõesenvolvidas e a dedicação dosprodutores, Santa Catarina caminhapara transpor esses obstáculos eganhar espaço no exigente mercado devinhos finos. Uma ação que vaicontribuir para isso é a certificaçãocom a marca coletiva Acavitis, quedeve entrar em vigor em 2011,assegurando aos consumidores opadrão de qualidade dos produtoscatarinenses. “Vencidas as barreiras,o Estado deve se constituir no grandepolo de qualidade de vinhos noBrasil”, acredita Jean Pierre Rosier. Sedepender da sede de crescimento dacadeia produtiva, Santa Catarina nãodemora a brindar essas conquistas.

Com criatividade, produtores apostam no enoturismo e impulsionam o desenvolvimento local

Influência climática nas regiões de altitude permite maturação mais completa da uva

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25Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Cinthia Andruchak Freitas1

Epagri moderniza a gestão das pesquisas com arrozirrigado para impulsionar a competitividade de um dosprincipais produtos catarinenses

1 Jornalista, Epagri/Gerência de Marketing e Comunicação (GMC), C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5682, e-mail:[email protected].

Mudanças na gestão,foco na inovaçãoMudanças na gestão,foco na inovação

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No início de 2009, a diretoria ea equipe de pesquisa emarroz da Epagri tinham um

desafio: era preciso ampliar os estudosna área para atender melhor asdemandas do Estado, mas o espaçofísico na Estação Experimental de Itajaí(EEI), que sempre realizou essetrabalho, já não era suficiente. Foiquando se percebeu que o Centro deTreinamento de Araranguá (Cetrar)poderia ter uma importância estra-tégica no processo. A identificaçãodessa oportunidade desencadeou umamudança de gestão inédita na Epagri,permitindo ampliar as pesquisas comarroz irrigado e fomentar ainda maisa atividade que gera renda para cercade 8 mil agricultores em SantaCatarina.

Antes usado basicamente paraprodução de sementes de arroz etreinamento de agricultores, o Cetrarganhou um novo papel na missão daEpagri de gerar e difundir tecnologias:a diretoria e o grupo de pesquisa emarroz, inspirados no modelo de gestãoda Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária (Embrapa) e buscandoa eficiência do processo, fizeram areconversão da área de campo docentro em unidade de pesquisa. “Amaior região produtora de arroz deSanta Catarina é o Sul. Percebemosque isso poderia trazer uma série debenefícios para o setor”, explica o

diretor de ciência, tecnologia einovação da Epagri, Edson Silva.

O local passou a ser usado para arealização de experimentos com arrozirrigado no sistema orgânico e algunstipos especiais do cereal. Ospesquisadores do projeto de arroz daEEI têm a responsabilidade degerenciar as ações de pesquisa noCetrar, que continua desempenhandotambém as atividades de um centro detreinamento. O projeto, no valoraproximado de R$ 200 mil, foifinanciado pela Fundação de Apoio àPesquisa Científica e Tecnológica doEstado de Santa Catarina (Fapesc). Osrecursos foram investidos emequipamentos e materiais para osexperimentos.

Trabalho articulado

A equipe de pesquisadores de Itajaíacompanha os trabalhos no Centro deTreinamento de Araranguáperiodicamente, especialmente pararealizar as avaliações. No Cetrar e naregião, o engenheiro-agrônomo ReneKleveston é responsável pelacondução dos trabalhos e mantémcontato permanente com ospesquisadores. “As ações sãodesenvolvidas de forma articuladaentre a equipe da EEI, o administradordo Cetrar e o responsável pelotrabalho no centro”, detalha o

engenheiro-agrônomo José AlbertoNoldin, coordenador do projeto depesquisa com arroz irrigado naEpagri.

As pesquisas se concentram emmanejo da adubação orgânica esistemas de produção orgânica,incluindo a rizipiscicultura (pro-dução de arroz consorciada com ocultivo de peixes) e o uso de marrecos--de-pequim na entressafra paramovimentar o solo e reduzir ainfestação de plantas daninhas edoenças. Também são objeto de estudono Cetrar a avaliação de cultivaresmais adaptadas ao sistema orgânico eos tipos especiais de arroz, como overmelho, o preto e o cateto. “Oobjetivo é oferecer produtosdiferenciados que atendam demandasde mercado e deem competitividadeaos agricultores catarinenses”, explicao diretor Edson Silva.

Os resultados superaram asexpectativas já no primeiro ano depesquisas no Cetrar. A produtividademédia nos experimentos alcançou7t/ha logo na primeira safra e ospesquisadores identificaram bomdesempenho em campo das cultivaresEpagri 108, Epagri 109, SCSBRSTioTaka, SCS114 Andosan e SCS116Satoru em sistema de produçãoorgânica. “No ano agrícola 2009/10,11 dos 23ha cultivados com arroz noCetrar foram conduzidos no sistemade produção orgânica com afinalidade de atender os experimentos

Produtividade média nos experimentos alcançou 7t/ha logo na primeira safra

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27Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Grãos da cultivar Epagri 108 e dos tipos especiais vermelho e preto pesquisados pelaEmpresa

de pesquisa e para testar, em maiorescala, a produção para consumo.Com os mesmos objetivos, para a safra2010/11, a área de produção orgânicafoi ampliada para 18 hectares”, contaRene Kleveston, engenheiro--agrônomo do Cetrar responsável peloprojeto de arroz no sul do Estado.

Os resultados dos testes com tiposespeciais do cereal também apontamnovidades para o futuro. A equipe depesquisa planeja lançar, daqui a 2anos, uma cultivar de arroz-vermelhoe uma de arroz-preto, que serãotecnologias importantes parafomentar a produção orgânica dearroz irrigado no Estado.

Pesquisados pela Epagri há cercade 8 anos, os tipos especiais de arrozse destacam principalmente pelasqualidades nutricionais. Análisesrealizadas no Departamento deAlimentos e Nutrição Experimental daFaculdade de Ciências Farmacêuticasda Universidade de São Paulo (USP)indicam que o arroz-vermelho podeconter até quatro vezes maiscompostos fenólicos (antioxidantes)que o arroz-branco, enquanto noarroz-preto os teores podem ser dezvezes maiores.

Sucesso

Os rizicultores da região apro-varam a iniciativa da Epagri. Emmarço deste ano, o primeiro dia decampo sobre produção orgânica dearroz irrigado realizado no Cetrarreuniu cerca de 200 produtores rurais,técnicos, lideranças municipais eestaduais. No evento, os visitantespuderam atestar o sucesso das açõesdesenvolvidas pela Epagri naunidade.

Um dos produtores que se animoucom os resultados foi Márcio AntônioNeto, do município de Ermo. Casado

e com dois filhos, o agricultor colhecerca de 85t de arroz em uma área de15ha. Embora produza no sistemaorgânico desde 1990,Márcio vende o arrozcomo convencionalporque ainda não temcertificação. “Para apróxima safra, esperojá ter a certificação”,prevê. Com o iníciodas pesquisas noCetrar, ele já destinouuma área na pro-priedade para fazerpesquisa participativana produção orgânicade arroz. “O Cetrarsempre foi nossareferência em técnicas de produção e,agora, mais produtores vão apostar naprodução sustentável”, acredita.

A Cooperativa RegionalAgropecuária Sul Catarinense(Coopersulca), que possui 2,5 mil

associados, a maioria rizicultores,distribuídos em 25 municípioscatarinenses e gaúchos, tambémcomemorou a novidade. Acooperativa, localizada em Turvo, queatua com assistência técnica,recebimento da produção, secagem,armazenagem, beneficiamento ecomercialização, além de venda deinsumos e sementes, beneficia cerca de12 mil sacas de arroz orgânico por anoproduzidas por 16 associados. “Orespaldo e a validação da pesquisa sãomuito gratificantes para quem estáengajado no processo de produção dealimentos mais limpos”, afirma oengenheiro-agrônomo Marcos José

Rosso, vice-presidente da cooperativae funcionário licenciado da Epagri.

A articulação com o setorprodutivo no planejamento das açõesda pesquisa é um diferencial notrabalho da Epagri com arroz irrigado.

Epagri estuda uso de marrecos-de-pequim na entressafrapara reduzir infestação de plantas daninhas e de doenças

Dia de campo reuniu produtores, técnicos e lideranças que atestaram o sucesso dotrabalho no Cetrar

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28 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Em reuniões periódicas e grupos dediscussão, pequenos e grandesagricultores, extensionistas, técnicos eoutros agentes do setor produtivo,como o Sindicato da Indústria doArroz do Estado de Santa Catarina(Sindarroz-SC), a Associação Ca-tarinense dos Produtores de Sementesde Arroz Irrigado (Acapsa) e diversascooperativas definem as prioridadesdo trabalho com os pesquisadores.

Essa forma de trabalhar permiteque a equipe de pesquisa semprebusque e proponha soluções paraproblemas reais da cadeia. E quandoos resultados são alcançados, podemser mais facilmente transferidos paraos produtores. “A participação dosagricultores tem importânciafundamental no trabalho de pesquisa,especialmente na avaliação dastecnologias de forma participativa,seja nos experimentos e nas unidadesdemonstrativas conduzidas naspropriedades, seja em eventosrealizados com a participação depesquisadores e técnicos do setor”,

destaca Noldin. Por outro lado, alertaele, os pesquisadores precisam estarsempre atualizados e identificar ospontos críticos, muitas vezes nãopercebidos pelos produtores, paradesenvolver tecnologias diferen-ciadas.

Competitividade

A mudança implantada pelaEpagri na gestão das pesquisas comarroz irrigado otimiza o uso derecursos e aumenta a capacidade depesquisa da Empresa com a mesmaestrutura, além de atender uma sériede demandas da sociedade. “Com essainovação pudemos aproximar aspesquisas dos produtores do sul,beneficiando ainda mais o setor. Amudança permitiu reduzir custos,aproveitando melhor os recursosdisponíveis na Empresa, dispensandoa necessidade de criar uma novaunidade de pesquisa e explorandomelhor o potencial dos nossospesquisadores”, ressalta o diretor

Edson Silva. Para o dirigente, essaforma de organização faz com que oprodutor sinta que a Empresa estámais próxima. “Isso fortalece apresença da Epagri como um ente vitalno processo competitivo do setor”,ressalta.

Para Reney Dorow, chefe daEpagri/Centro de Socioeconomia ePlanejamento Agrícola (Cepa), osegmento de arroz do sul do Estadotem as características de ArranjoProdutivo Local (APL) – um grupo deempresas e instituições com territóriodelimitado, produto comum e quepossui governança, ou seja, luta porum mesmo objetivo. “A inovação é aessência que aglutina todos essesagentes e mantém o grupo unido. AEpagri é o elemento-chave nesseprocesso, pois tem condições deproduzir inovação para manter acompetitividade do setor. Se a Epagrideixar de ser competitiva, esse elo sequebra”, conclui.

Alimento que vai longe

As pesquisas da Epagri contribuem paraque Santa Catarina exiba o título de segundomaior produtor de arroz do País. No anoagrícola 2009/10, foram plantados 151 milhectares que renderam 1,049 milhão detoneladas de arroz. O sul catarinense é omaior produtor: em uma área de 94.580ha,cerca de 5 mil rizicultores colheram 622.931tno ano agrícola 2009/10.

Além de abastecer o mercado interno, oproduto catarinense é vendidoprincipalmente para Estados como Paraná,Rio de Janeiro e Minas Gerais, as regiõesNorte e Nordeste do Brasil e exportadoeventualmente para países da África.

Com a ampliação das pesquisas, nãoapenas os produtores do sul do Estado, mastodo o segmento de arroz de Santa Catarinaganha competitividade. “Os resultadosobtidos nas pesquisas e difundidos junto aosagricultores e demais segmentos da cadeiaprodutiva estimularão a oferta e o consumode novos produtos, beneficiandoprodutores e consumidores”, aponta oengenheiro-agrônomo José Alberto Noldin,responsável pelo projeto de arroz na Epagri.

No ano agrícola 2009/10, Santa Catarina colheu 1,049 milhão de toneladasde arroz

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29Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Em 1924, o pesquisador Rudolf Steiner lançou na Alemanha

as bases da agricultura biodinâmica, um modelo agrícola

que respeita os fluxos da natureza no cultivo da terra e

na produção de alimentos. Desde então, a prática vem ganhando

adeptos em todo o mundo. No Brasil, ela chegou na década de

1970 e, aos poucos, ocupa espaço no campo e no mercado. Em

entrevista exclusiva à RAC, o engenheiro-agrônomo Marcelo

Barbosa de Cunto, presidente da Associação de Agricultura

Biodinâmica do Sul (ABDSUL), explica os fundamentos dessa

agricultura e fala sobre os benefícios e a certificação dos produtos.

No ritmo da naturezaNo ritmo da natureza

Marcelo de Cunto, presidente da ABDSUL

Marcelo de Cunto, presidente da Associação deAgricultura Biodinâmica do Sul (ABDSUL), apresentaos fundamentos e os benefícios da agriculturabiodinâmica

Marcelo de Cunto, presidente da Associação deAgricultura Biodinâmica do Sul (ABDSUL), apresentaos fundamentos e os benefícios da agriculturabiodinâmica

Cinthia Andruchak Freitas1

1 Jornalista, Epagri/Gerência de Marketing e Comunicação (GMC), C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5682, e-mail:[email protected].

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30 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

RAC: O que é a agriculturabiodinâmica?

MBC: É uma agricultura que vê apropriedade agrícola, a fazenda ou osítio como um organismo vivo. Todosos elementos que atuam nesseorganismo, como terra, água, ar ecalor, estão relacionados e integrados.Na agricultura biodinâmica de-senvolve-se, a partir da capacidade deordenação do agricultor, umequilíbrio vital entre a produçãovegetal e a animal, trabalhando comos ritmos das substâncias da naturezae com a atuação das forças vivificantesque atuam através dessas substâncias.

RAC: Como se trabalha com oritmo dessas substâncias?

MBC: Todo ser que está vivoestabelece ritmos em seus processos.É o que acontece com a respiração, porexemplo. Se olharmos o nosso planetacomo um ser vivo, teremos aí tambémbem claros os ritmos do dia e da noite,da lua e muitos outros. Na prática daagricultura biodinâmica procura-setrabalhar com esses ritmos, que atuam,também, nas substâncias minerais.Temos, por exemplo, os elementos

cálcio e sílica com os quais são feitospreparados biodinâmicos queestimulam a vivificação do solo e dasplantas através de seus ritmosespecíficos.

RAC: Quais os princípios e aspráticas dessa agricultura?

MBC: Os princípios que norteiamessas práticas são o entendimento dasforças provenientes da Terra e docosmo que atuam na organizaçãoagrícola, no crescimento vegetal e naambientação animal, e da interaçãoentre os elementos da natureza e suaatuação no organismo da propriedadeagrícola. Algumas práticas própriassão o uso dos preparados bio-dinâmicos desenvolvidos a partir deervas como camomila, dente-de-leão,cavalinha, valeriana, mil-folhas, urtigadioica e casca de carvalho. Com essasplantas elaboram-se os preparadosutilizados nas pilhas de composto comobjetivo de fazer com que as forças queatuam na matéria orgânica possampromover um desenvolvimento sadiopara as plantas. Existem também ospreparados feitos a partir da sílica edo esterco da vaca. Além disso, é

usado o calendário biodinâmico deplantio, que estabelece a melhor datapara semeadura, transplante e outraspráticas agrícolas em função domovimento da lua em relação àsconstelações e aos planetas. Essecalendário é publicado e editado todosos anos pela Associação Brasileira deAgricultura Biodinâmica (ABD).

Internacionalmente, a certificação dos produtos biodinâmicos é reconhecida pela marca Demeter

RAC: Quais os benefícios que elaoferece ao agricultor e à natureza?

MBC: Os agricultores quedesenvolvem a agricultura bio-dinâmica buscam entender sua

Todo ser vivo estabeleceritmos em seus processos. Se

olharmos nosso planetacomo um ser vivo, teremos

bem claros os ritmos do dia eda noite, da lua e muitos

outros. Na prática daagricultura biodinâmicaprocura-se trabalhar com

esses ritmos.

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31Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

propriedade de forma integrada e vivae com uma atitude ecológica. É umavisão de preservação dos rios e matase de manutenção da fertilidade dossolos para as gerações futuras, não sóde suas famílias, mas tambémdaqueles que se alimentam com oresultado de suas safras.

RAC: E para o consumidor?MBC: Quem opta por produtos

biodinâmicos sabe que está con-sumindo produtos de uma agriculturaque se preocupa com a preservação domeio ambiente, pois ela não utilizaprodutos químicos e se comprometecom a ecologia e com a res-ponsabilidade social. Com relação àqualidade, os alimentos bio-dinâmicos, por serem produzidosdentro de um meio ambiente saudávele equilibrado, além de não teremresíduos de produtos químicos etóxicos, desenvolvem um equilíbrionutricional que favorece as pessoasque os consomem.

RAC: Qual a diferença entrealimentos agroecológicos e biodi-nâmicos?

MBC: A agricultura orgânica e abiodinâmica estão bem próximas emseu modo de atuar. O que diferencia abiodinâmica da orgânica/agro-ecológica é basicamente o conceito dapropriedade agrícola como umorganismo vivo, além de algumaspráticas já citadas. O entendimentodas forças que atuam na matéria apartir das práticas biodinâmicas e aatuação do agricultor como oorganizador e vivificador do solo e doorganismo agrícola pelo qual éresponsável são fundamentos queidentificam a agricultura biodinâmica.O não uso de agrotóxicos ou deadubação química e a não utilizaçãode produtos geneticamente mo-dificados são conceitos comuns àagricultura biodinâmica e à orgânica.

RAC: Como está a produção dealimentos biodinâmicos no Brasil eno mundo?

MBC: O Brasil tem perto de 200produtores, com um volume deprodução que pode estar em torno de10 mil toneladas. Os produtos da

agricultura biodinâmica sãodiversificados e vêm crescendo emárea e volume a cada ano. Osprincipais alimentos de exportaçãosão soja, produzida nos Estados deMato Grosso, Paraná e São Paulo;cana-de-açúcar, cultivada em SãoPaulo e Goiás; café, produzido emMinas Gerais; arroz do Rio Grande doSul; banana plantada na Bahia e emMinas Gerais; citros produzidos emSão Paulo e Goiás. Além disso, há umasérie de outros produtos de consumono mercado interno, tais comohortaliças, frutas como uva, banana elaranja, e também milho, feijão, arroz,mandioca, entre outros. Fora do Brasil,a produção também vem aumentando,à medida que mais pessoas, tantoprodutores quanto consumidores,reconhecem os valores e as qualidadesdesses alimentos. A maior concen-tração de produtos e produtores estána Alemanha, mas França, Itália,Estados Unidos, Austrália, Egito, entreoutros, também possuem produçãosignificativa.

processos vivos entre as plantas e osanimais de uma propriedade, ne-cessita que os produtores reconheçamesses processos a atuem emconformidade com eles. Isso exige umgrau de experiência e capacitação quenão se adquire de uma hora paraoutra. Em termos de mercado, aexemplo do que vem ocorrendo emdiversos países da Europa, a tendênciaé de crescimento desse produtoalavancado pelo consumidor que, acada dia, reconhece mais o que é essaagricultura e a importância dosprodutos biodinâmicos para umaalimentação saudável.

RAC: Qual a importância dacertificação desses alimentos?

MBC: A certificação garante aoconsumidor e a toda a cadeiaprodutiva de alimentos que o produtoprovém do manejo agrícolabiodinâmico. Internacionalmente, acertificação é reconhecida pela marcaDemeter, que possui a mesmaidentidade visual para todos os países.A entidade que certifica os produtosbiodinâmicos no Brasil e em váriospaíses da América do Sul é o InstitutoBiodinâmico (IBD).

RAC: Qual é a situação mundialda certificação orgânica e bio-dinâmica?

MBC: A certificação, no mundo,tem seguido o caminho da legalizaçãoe da profissionalização. Em muitospaíses, a certificação da produçãoorgânica e biodinâmica já estátotalmente legalizada e os órgãosgovernamentais aparelhados para oacompanhamento e a fiscalizaçãodesse processo. Basicamente, acertificação no mundo começou como trabalho da International Federationof Organic Agriculture Movements(IFOAM), a partir do qual foramestabelecidas normas internacionais.As normas nacionais seguiram, dentrode suas realidades regionais, essasmesmas regras.

RAC: Como está o processo decertificação dos produtos bio-dinâmicos no Brasil?

MBC: A certificação segue asnormas da lei que regulamenta a

RAC: E em Santa Catarina?MBC: Os principais produtos são

soja, goiaba, banana, quivi e hortaliçasproduzidas por pequenos produtoresfamiliares, além de outros produtos innatura e processados. Devemos ter emtorno de dez produtores com umvolume anual que pode estar em tornode mil toneladas.

RAC: Como você vê o futuro daagricultura biodinâmica?

MBC: Ela está ainda em fase inicialde seu processo de desenvolvimento.Por ser um sistema de produçãobaseado no conhecimento dos

Os agricultores quedesenvolvem a agricultura

biodinâmica buscam entendera propriedade de forma

integrada e viva e com umaatitude ecológica. É uma

visão de preservação dos riose matas e de manutenção dafertilidade dos solos para as

gerações futuras.

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produção orgânica no País. Osmecanismos de controle e fiscalizaçãoestão sendo implantados peloMinistério da Agricultura. Atendência é que, com a legalização daprodução orgânica, esse mercado setorne cada vez mais formal, abrindouma maior perspectiva de crescimentopara o setor. Vamos ter a entrada degrandes empresas de alimentos, tantoprodutoras como distribuidoras erevendedoras. Mas pela minhaexperiência de mercado, acredito queisso não provocará impacto para ospequenos produtores ou pequenosnegócios da agricultura orgânica, umavez que o mercado tem potencial decrescimento muito grande e o públicoestá ainda começando a conhecer aagricultura orgânica e a biodinâmica.

RAC: O que é preciso para obter acertificação?

MBC: É necessário que o produtorsiga as normas internacionais daagricultura biodinâmica. Elaspreveem que a propriedade estejacaracterizada como um organismoagrícola, que utilize os preparadosbiodinâmicos de campo e decomposto, que siga o calendário

agrícola biodinâmico de manejo, alémde outras atividades que caracterizamessa agricultura.

RAC: O que é certificaçãoparticipativa?

MBC: A certificação participativaestá prevista dentro da lei dosorgânicos, que foi elaborada com aparticipação de entidades dasociedade civil organizada, empresase entidades governamentais, uni-versidades e institutos de pesquisa.Nesse sentido, a lei contempladiversos setores da produçãoorgânica. A certificação participativaé adequada à realidade dos pequenosagricultores que trabalham na cadeiacurta, da produção à comercialização,ou seja, quando a rastreabilidade doproduto no sistema de produção se dá

de forma simples. Para uma cadeia deprodução em que existam diversosprocessamentos e setores entre aprodução e o produto final, ela setorna mais inadequada à realidade domercado.

RAC: Ela já é realizada no Brasil?MBC: Para o selo biodinâmico não

existe uma certificação participativa,mas isso já é motivo de estudo.

RAC: Quais os principais re-sultados do XXV Encontro para aAgricultura Biodinâmica no Cone Sule da IX Conferência Brasileira deAgricultura Biodinâmica, realizadosem junho deste ano emFlorianópolis?

MBC: Os eventos foram marcantespara o movimento da agriculturabiodinâmica na América Latina.Tivemos a presença de pessoas depaíses como Uruguai, Argentina,Chile, Bolívia, Peru e Costa Rica. DoBrasil, havia representantes de quasetodos os Estados, totalizando 267participantes. O encontro propor-cionou uma aproximação entre osinteressados na agricultura bio-dinâmica, propiciando umamultiplicação de ações que certamentese concretizarão em ações paraengrandecer o movimento dessaagricultura. O enfoque principal foidado na vitalização dos alimentos edas sementes, na importância dedesenvolvermos, por meio de umaação consciente, a recuperação dessavitalidade que existia nos centros deorigem das sementes, quando elasforam domesticadas e adaptadas àsnecessidades nutricionais dos sereshumanos.

Quem opta pelosbiodinâmicos sabe que está

consumindo produtos de umaagricultura que se preocupacom a preservação do meio

ambiente, pois ela nãoutiliza produtos químicos e

se compromete com aecologia e a responsabilidade

social.

Saiba mais

Associação Brasileira de Agri-cultura Biodinâmica (ABD)www.biodinamica.org.br

Associação de Agricultura Bio-dinâmica do Sul (ABDSUL)www.abdsul.ufsc.br

Uso de preparados biodinâmicos para promover o desenvolvimento sadio das plantas éuma prática dessa agricultura

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33Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Apimenta-longa (Piperhispidinervum C. DC. –Piperaceae) constitui-se numa

arvoreta com cerca de três a cincometros de altura (Figura 1), deocorrência natural e exclusiva no Valedo Rio Acre (AC) em áreas depastagens degradadas e abandonadas,adjacentes à floresta (Bergo et al. 2001).Wadt & Kageyama (2004) indicam aespécie como pioneira, isto é, quecoloniza rapidamente grandes áreasna região de origem onde não háfloresta e sim alta incidência de luz,gerando densas populações. Para isso,a pimenta-longa é auxiliada porpássaros e morcegos que consomemos frutos (Figuras 2 e 3) e espalham assementes nas suas dejeções (Wadt,2001; Wadt & Kageyama, 2004). O soloem que vegeta é caracterizado comoPodzólico Vermelho-Amarelo álico,de textura argilosa, pouco com-pactado, com pH variando de 4,8 a 7,1(Cordeiro et al., 1999 citados por Bergoet al., 2005). O clima na região deocorrência, Vale do Rio Acre, é do tipoAwi e Ami, ambos com elevadaprecipitação pluviométrica e período

Pimenta-longa produz safrol em Santa CatarinaAirton Rodrigues Salerno1 e Antonio Amaury Silva Jr.2

seco de 2 a 3 meses (Mesquita, 1996citado por Bergo et al., 2005).

Safrol em pimenta-longa

A pimenta-longa contém nasfolhas e ramos finos 3% a 5% de óleoessencial em relação ao peso fresco dabiomassa. Esse óleo é formado poruma mistura de substâncias em que o

safrol aparece com participação de83% a 93% (Rocha & Ming, 1999). Essasubstância foi extraída durante muitosanos do tronco da canela-sassafrás(Ocotea pretiosa Mezz), especialmenteno Vale do Itajaí, em Santa Catarina, oque ocasionou seu extrativismoexagerado e quase sua extinção (Klein,1990). Com as restrições legais ao corteda árvore no Brasil, as indústrias

1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (37) 3341-5244, e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected].

Figura 1. Pimenta-longa em crescimento livre desde 1996 naEstação Experimental de Itajaí. Foto: agosto de 2010

Figura 2. Ramo com folhas e frutos imaturos de pimenta-longa

Figura 3. Ramos com dois frutos verdes (claros) e um fruto maduro (escuro)de pimenta-longa

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catarinenses de destilação foramdesativadas e o mercado passou a seralimentado por países asiáticos emque os cortes da vegetação nativaainda era permitido. Recentementehouve restrição a essa atividadetambém na Ásia e a demanda mundialpor safrol aumentou significa-tivamente. Na Europa o butóxido depiperonila, um dos produtos obtidosdo safrol, com efeito sinérgico sobre opiretro, é demandado pelas indústriasde defensivos permitidos pelaagricultura orgânica. A indústriaquímica também usa o safrol comomatéria-prima para a obtenção deheliotropina, substância utilizada nafixação de fragrâncias (Unitins, 2010).

O óleo de sassafrás já foi utilizadocomo aromatizante de alimentos,porém o seu uso para esse fim estáproibido devido à sua toxicidade.Estudos realizados com ratosmantidos sob dieta alimentarcontendo safrol evidenciaram efeitoshepatotóxicos e cancerígenos.Entretanto, o óleo de sassafrás ainda éutilizado como aromatizante deprodutos técnicos, como inseticidas edesinfetantes (Costa, 2000).

No Brasil os compradoresprincipais são indústrias estabelecidasno Paraná e no Rio Grande do Sul, oque favorece o estabelecimento dacultura no Estado de Santa Catarinapela maior proximidade, especial-mente em relação aos Estados daRegião Norte, onde a cultura dapimenta-longa vem sendo fomentada(Pimentel et al., 2000).

Manejo da cultura

A pimenta-longa produz o safrolnas folhas e nos ramos finos,rebrotando após a realização doscortes. Como ainda está em fase dedomesticação, são necessáriaspesquisas para definição do manejoadequado para rendimento epersistência da cultura (Bergo et al.,2005). Esses pesquisadores avaliaramem Vila Extrema, RO, épocas e

número de cortes ao longo do ano,para maior rendimento de óleoessencial de pimenta-longa.Verificaram que as colheitaspraticadas no final do períodochuvoso, isto é, em março e abril,apresentaram as maiores produ-tividades. Registraram também que arealização de apenas um corte/anoresultou em maior percentual de óleoessencial na massa seca do que doiscortes/ano.

Wadt & Pacheco (2006) avaliaramníveis de adubação nitrogenada eespaçamentos de plantio parapimenta-longa em Rio Branco, AC.Verificaram que plantas espaçadas 1,5x 0,5m produziram maior biomassa defolhas e que a adubação nitrogenadanão promoveu efeito significativo naprodutividade de massa seca dacultura. O desenvolvimento da plantaé melhor em solos com pH acima de5, bem drenados e supridos comfósforo. Os cortes são feitos quando asplantas atingem 1m de diâmetro decopa ou 1,7m de altura, o que ocorrenormalmente com 1 ano de idade. Aaltura do corte deve ser a 40cm do soloe feito preferencialmente comroçadeira costal motorizada equipadacom disco de 200mm de diâmetro, oque evita rachaduras nos caules(Unitins, 2010).

Processamento

Após o corte, as folhas e os ramosfinos são separados do caule, que nãocontém óleo, e são transportados paraum secador ou galpão ventilado ondepermanecem por 6 a 7 dias. Adestilação é feita através de arraste devapor por cerca de quatro horas, apóso que se filtra o óleo em algodão e searmazena em tambores de açorevestidos com epóxi até acomercialização (Unitins, 2010). Estesautores indicam também que omercado exige óleo essencial com nomínimo 89% de safrol e que o preçooscila entre cinco e seis dólares o quilo.

Pimenta-longa em SantaCatarina

Na Estação Experimental de Itajaí(EEI), sete introduções de pimentalonga foram estabelecidas em meadosda década de 90 a partir de coletarealizada no Acre por pesquisadoresda Epagri e da Furb. Posteriormente,em 1996, Silva Jr. (comunicaçãopessoal) fez nova introdução a partirde sementes coletadas em Rodeio, SC,no horto de plantas bioativas formadopela Irmã Eva Michalack. Todo omaterial introduzido apresentoudesenvolvimento normal na EEI,havendo formação de inflorescênciasamplamente visitadas por pássaros,disseminação de sementes eocorrência de ressemeadura natural.Ataques severos de pragas e doençasnão foram constatados, embora asplantas sejam suscetíveis à murchabacteriana e incidência de broca noNorte do país (Pimentel et al., 2000).

Em Santa Catarina, Riva (2009)avaliou as matrizes existentes na EEIe obteve rendimentos de óleo essencialna biomassa verde entre 2,94% e5,76%. Definiu como mais pro-missoras as introduções 2 e 3 e comelas realizou estudos de sazonalidade,sendo o maior teor de safrol,correspondente a 84,4%, obtido no

Figura 4. Muda de pimenta-longa logo apóso plantio em covas. Blumenau 20/5/09

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35Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

mês de janeiro. Esses dados sãoequivalentes aos obtidos no Acre, jámencionados neste texto, masreferem-se ao material cultivadoapenas no Baixo Vale do Itajaí. Assim,é importante também avaliar odesenvolvimento da pimenta-longa eo seu rendimento em safrol no Médio

Considerações finais

Os dados obtidos até o momentoindicam rusticidade, bom desen-volvimento e boa produtividade dapimenta-longa no Vale do Itajaí. Comoa extração do safrol é histórica naregião, e os agricultores precisam de

e Alto Vale do Itajaí para futurasrecomendações de cultivo. Com basenessa preocupação, pesquisadores daEpagri e da Furb, num projeto apoiadopela Fundação de Apoio à PesquisaCientífica do Estado de Santa Catarina(Fapesc), implantaram em 2009 umaavaliação regional de pimenta-longa,estabelecendo cultivos experimentaisem Itajaí, Blumenau e Ibirama (Figura4). O desenvolvimento da pimenta--longa foi normal no primeiro ano, nostrês locais, com destaque paraBlumenau (Figura 5), onde as plantasatingiram altura média de 299,45cm,enquanto em Itajaí e Ibirama as alturasforam de 164,80 e 165,88cm,respectivamente. Os dados qua-litativos ainda estão em análise, masos melhores teores de óleo essencialna massa fresca foram de 4,57%, comum teor de safrol no óleo de 96,99%.

novas alternativas de renda, essacultura pode encontrar espaçoespecialmente como atividadeparalela à já desenvolvida napropriedade. Presta-se especialmentepara ações em grupo, possibilitandoa divisão dos investimentosnecessários e o uso comum dosequipamentos necessários aoprocessamento e à estocagem doproduto. A ação grupal favorecetambém a disponibilização de ummaior volume de óleo essencial, o queé desejado pelos compradores. Antesde tudo, porém, é fundamentalprospectar o mercado e saber quemvai comprar o produto. Sem essacerteza nenhuma atividade deve seriniciada. Vale lembrar que o óleo depimenta-longa deve ser manuseadocom cuidado, pois o safrol éconsiderado cancerígeno ehepatotóxico (Costa, 2000).

Figura 5. Pimenta-longa em Blumenau 1 ano após o plantio. Colaborador: Odanir Leite

1. BERGO, C.L.; MENDONÇA, H.A.de; SILVA, M.R. da. Efeito da épocae frequência de corte de pimentalonga (Piper hispidinervum C. DC.) norendimento de óleo essencial. ActaAmazonica, v.35, n.2, p.111-117, 2005.

2. BERGO, C.L.; PIMENTEL, F.A.;SILVA, M.R. da et al. Recomendaçõespara época e frequência de corte depimenta longa. Rio Branco: EmbrapaAcre, 2001. 4p. (Embrapa Acre.Comunicado Técnico, 132).

3. COSTA, P.R.R. Safrol e eugenol:estudo da reatividade química e usoem síntese de produtos naturaisbiologicamente ativos e seusderivados. Química Nova,v.23, n.3, p.357-369, 2000.

4. KLEIN, R.M. Espécies raras ouameaçadas de extinção do Estado deSanta Catarina. Rio de Janeiro:IBGE/Diretoria de Geociências,1990. 287p.

5. PIMENTEL, F.A.; SILVA, M.P. da;SILVA, M.R. da. Pimenta longa:cultivo. Rio Branco: Embrapa Acre,2000. 31p. (Embrapa Acre.Documentos, 59).

6. ROCHA, S.F.R.; MING, L.C. Piperhispidinervum: a sustainable sourceof safrole. In: JANICK, J. (Ed.).Perspectives on new crops and newuses. Alexandria: ASHS Press, 1999.p.479-481.

7. UNITINS. Universidade doTocantins. Pimenta longa – cultivo.Disponível em: <http://www.unitins.br/ates/arquivos/Agricultura/olericultura/Pimenta/Pimenta%20longa%20%20cultivo.doc>. Acesso em: 5 ago. 2010.

8. WADT, L.H. de O. Estrutura genéticade populações naturais de pimenta longa(Piper hispidinervum C. DC.),visando seu uso e conservação. 2001.95f. Tese (Doutorado), EscolaSuperior de Agricultura Luiz deQueiroz (ESALQ), Piracicaba, SP.2001.

9. WADT, L.H. de O.; KAGEYAMA,P.Y. Estrutura genética e sistema deacasalamento de Piper hispidinervum.Pesquisa Agropecuária Brasileira,Brasília, v.39, n.2, fev. 2004.

10. WADT, P.G.S.; PACHECO, E.P.Efeito da adubação nitrogenada, emdiferentes densidades de plantio, naprodução de biomassa de PimentaLonga (Piper hispidinervum C. DC.).Revista de Biologia e Ciências da Terra,v.6, n.2, p. 334-340, 2006.

Literatura citada

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37Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 2009

Seção técnico-científicacatarinense

OEpagriEpagri

• Produtos alternativos para o controle de brocas-das-cucurbitáceas na produção de pepino para picles ... 37Renato Arcangelo Pegoraro, José Angelo Rebelo e Henri Stuker

• Agricultura de base ecológica como instrumento para o desenvolvimento rural sustentável: um estudo decaso de uma unidade de produção agrícola familiar ................................................................................................... 40Lírio José Reichert, Mário Conill Gomes e José Ernani Schwengber

• Diagnose e manejo do enfezamento-vermelho e do enfezamento-pálido na cultura do milho ...................... 44João Américo Wordell Filho e Luís Antônio Chiaradia

• Características agronômicas de 21 cultivares de banana em sistema orgânico ............................................... 47Márcio Sônego, Luiz Augusto Martins Peruch, Luiz Alberto Lichtemberg e Cristiano Nunes Nesi

• Qualidade de sementes de arroz irrigado utilizadas em Santa Catarina no ano agrícola 2007/08 ................. 50José Alberto Noldin, Ronaldir Knoblauch, Gabriela Neves Martins, Celso Antônio Dal Piva eMoacir Antônio Schiocchet

• A hibridação no melhoramento genético da cultura da aveia-branca: técnicas e fatores que interferem naeficiência dos cruzamentos dirigidos ......................................................................................................................... 55Maraisa Crestani, Solange Ferreira da Silveira Silveira, Leomar Guilherme Woyann, Antonio Costa de Oliveira eFernando Irajá Félix de Carvalho

• Necessidade de mata ciliar nas propriedades suinícolas a partir dos dados do LevantamentoAgropecuário Catarinense .............................................................................................................................................61Julio Cesar Pascale Palhares e Antonio Lourenço Guidoni

• Qualidade da água da rede hídrica do Lajeado São José utilizada para abastecimento urbano da cidadede Chapecó, SC ............................................................................................................................................................... 66Ivan Tadeu Baldissera, Daiana Bampi, Adriana L. Santana Klock e Jovane Bottin

• Validação de catálogos de cores como indicadores do estádio de maturação e do ponto de colheitade maçã ................................................................................................................................................................. 71Luiz Carlos Argenta, Marcelo José Vieira e Andreia Maria T. Scolaro

• Cultivares de milho de polinização aberta SCS155 Catarina e SCS156 Colorado para a agriculturafamiliar .................................................................................................................................................................. 78Estanislao Díaz Dávalos e Gilcimar Adriano Vogt

• Modelo de previsão da mancha-da-gala na macieira baseado na temperatura e duração do molhamentofoliar ...................................................................................................................................................................... 82Yoshinori Katsurayama e José Itamar da Silva Boneti

• Seleção de estirpes de rizóbio (Shinorhizobium spp.) para Medicago arabica (L.) Hudson, espécieforrageira e medicinal .......................................................................................................................................... 85Aleksander Westphal Muniz, Fernanda Grimaldi, Edemar Brose, Murilo Dalla Costa e Carmem Lídia Wolff

• Desempenho de cultivares de girassol na Região Oeste Catarinense .............................................................88Juliano Simioni, Giseli Valentini, Haroldo Tavares Elias, Márcio Strapazzon, José Renato Righi e Ana ClaudiaBarneche de Oliveira

Artigo científico

Informativo técnico

Nota científica

Germoplasma

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37Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Introdução

O ataque das brocas-das-curcu-bitáceas, Diaphania hyalinata (L., 1758)e Diaphania nitidalis (Cramer, 1782)(Lepidoptera: Crambidae) (Figura 1),é um dos obstáculos à produção depepinos. Os danos das duas espéciesnum mesmo cultivo são comuns,agravando o problema de frutosbrocados.

Produtos alternativos para o controle de brocas-das--cucurbitáceas na produção de pepino para picles

Renato Arcangelo Pegoraro1, José Angelo Rebelo2 e Henri Stuker3

Figura 1. Adultos das brocas-das-curcubitáceas (A) Diaphania hyalinata (L. 1758) e (B)Diaphania nitidalis (Cramer, 1783)

Aceito para publicação em 25/8/10.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí (aposentado), C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, e-mail:[email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected].

As lagartas de D. hyalinatadestroem folhas, brotos, flores ehastes, podendo danificar os frutos,enquanto as de D. nitidalis concentramseu ataque nos frutos, onde abremgalerias, e raramente incidem emfolhas, flores e brotos (Link & Costa,1989).

O controle das brocas-das--curcubitáceas em cultivos conven-cionais de pepineiros é realizado cominseticidas sintéticos, de açãosistêmica e contato, aplicados desde oinício do ciclo vegetativo até o final dacolheita. Muitas vezes, essasaplicações são preventivas, des-

necessárias e perigosas. E mais: o usocontínuo de inseticidas seleciona raçasde insetos resistentes, provocaressurgência de pragas e trazinúmeras consequências negativas aoambiente e à saúde humana, além deelevar os custos da produção (Brito etal., 2004).

Saliente-se que os períodos decarência dos agrotóxicos sintéticosusados para o controle das brocas-das-

-curcubitáceas são, de um modo geral,superiores ao intervalo de colheita,que é diária em pepinos para picles.Assim, é preciso adequar o empregodos agrotóxicos sintéticos para ocontrole das brocas-das-cucurbitáceasnos sistemas convencionais deprodução e buscar métodosalternativos e eficientes de controlepara o sistema orgânico de produçãode pepinos.

O sulfato de cobre (CuSO4.5H2O)tem sido estudado como umaalternativa em substituição aosinseticidas no manejo de cigarrinhasnas culturas da batatinha e do fumo,

pela repelência que oferece(Weingärtner et al., 2006). Alternativasao uso de inseticidas sintéticospesquisadas constituem-se nocitrobio, um biocida orgânico de largoespectro e com elevada ação residual,sendo atóxico para animais de sanguequente e recomendado paradesinfestação em geral; e no óleo denim, que é extraído da Azadirachtaindica Juss, espécie botânica que possuio ingrediente ativo azadiractina,destacando-se pela eficiência nocontrole de pragas e baixíssimatoxicidade a animais de sanguequente, minhocas e abelhas. Háregistro da ação inseticida do nim paramais de 400 espécies de insetos(Martinez, 2002). O controle biológicode lagartas com bactérias ento-mopatogênicas, tais como o Bacillusthuringiensis Berliner, também temsido usado como alternativa emcultivos agrícolas (Bavaresco, 2007).Salienta-se, contudo, que algumasespécies de lagartas já apresentaramresistência a B. thuringiensis e queestratégia para contornar e minimizaros efeitos desse fenômeno já vemsendo estudada (McGaughey, 1994).Há produto comercial à base de B.thuringiensis registrado no Ministérioda Agricultura para o controle dasbrocas-das-curcubitáceas em pepi-neiro, mas pouco difundido entre osprodutores de pepino.

O objetivo deste trabalho foiavaliar a eficácia de alguns produtosna redução de danos causados porbrocas-das-curcubitáceas em cultivosde cultivares de pepineiros parapicles.

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38 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Metodologia

O experimento foi conduzido a céuaberto na Epagri/Estação Expe-rimental de Itajaí (26°56’34" latitudesul, 48°45’31" longitude oeste), noperíodo de fevereiro a abril de 2005,para coincidir com a maior incidênciade brocas-das-curcubitáceas nacultura de pepino. Utilizou-se acultivar Eureka, cujas mudas foramproduzidas em bandejas depoliestireno de 128 células, mantidasem abrigos de cultivo até a data detransplante, realizado em 12 defevereiro. Os sulcos para o plantioforam adubados com compostoorgânico elaborado com palha dearroz e esterco de bovinos, naquantidade de 15t de matéria seca porhectare, que foi incorporado ao solo 3dias antes do plantio. A adubaçãoobedeceu à recomendação da análisedo solo (Sociedade..., 1994) econsiderou os teores de nutrientes docomposto. O espaçamento foi de 1mentre linhas e 0,3m entre plantas. Acondução utilizada foi vertical,deixando uma haste por planta, quefoi sustentada por fitilho.

O delineamento experimentalutilizado foi blocos ao acaso, com seistratamentos e seis repetições com seisplantas úteis, tendo bordaduracompleta, totalizando 24 plantas porparcela. Os tratamentos foram: 1)Bacillus thuringiensis var. Kurstakilinhagem HD-1, com 16.000 UIP (Dipel

PM®), 1g p.c./L de água; 2) Extratocomercial de citros a 40% (Citrobio),1ml p.c./L de água; 3) Óleo de nim(Organic neem®) a 0,5%, 5ml p.c./Lde água; 4) Sulfato de cobre 0,3%(calda bordalesa); 5) Éster de ácidograxo (Agr’óleo®) 3ml/L; 6)Testemunha (somente água). Nostratamentos 1, 3 e 4 também foramadicionados 3ml do espalhanteadesivo éster de ácido graxo(Agr’óleo®) por litro de calda.

As pulverizações foram iniciadasquando a incidência das lagartasocorria em cerca de 80% das plantas(folhas ou hastes), o que se deu aos 14dias do plantio. Foram realizadas setepulverizações em todo o ciclo, aoentardecer, com intervalo semanal.Utilizou-se pulverizador costalmanual com capacidade de 20L,dotado de bico jato cônico vazio,aspergindo toda a planta e,principalmente, o ponteiro e a parteabaxial das folhas.

A massa da produção e número defrutos totais, comerciais e danificadospelas brocas foram conferidosdiariamente em cada colheita depepinos com 4cm a 7cm decomprimento, realizada nas seisplantas de cada fila central da parceladurante o período de produção. Osdados foram submetidos à análise devariância e as médias dos tratamentoscomparadas pelo teste de Tukey (p <0,05).

Resultado

As maiores produções totais defrutos foram obtidas nas plantastratadas com B. thuringiensis var.Kurstaki e com óleo de nim, enquantoa maior produção comercial depepinos ocorreu no tratamento com B.thuringiensis, que apresentou 19,9% defrutos brocados (Tabela 1). Essa perdaelevada de frutos ocorrida no melhortratamento é reflexo do alto nível deinfestação de plantas no início dasaplicações dos produtos, condiçãonecessária para determinar a eficáciados produtos testados.

Bavaresco (2007), utilizandodiferentes extratos vegetais e B.thuringiensis var. Kurstaki para ocontrole da Diaphania spp. no início doflorescimento do pepineiro, verificouque esta bactéria proporcionou amaior eficiência de controle,reduzindo em 33,3% os danos emponteiros e em 25,9% em frutos depepino, com quatro aplicações emintervalos de 7 dias. Segundo Gallo etal. (2002), o B. thuringiensis se tornamais eficiente no controle de D.hyalinata e D. nitidalis se for aplicadono início da infestação, quando aslagartas são pequenas e, no caso de D.nitidalis, antes de penetrarem nosfrutos.

O óleo de nim foi menos eficaz queo B. thuringiensis na redução dopercentual de frutos brocados (48,3%).Essa menor eficácia pode estar

Produção de frutos

Total Comercial

................. t/ha ................ %Bacillus thuringiensis var. Kurstaki-HD-1 com16.000 UIP(1), 1g p.c.(2)/L (Dipel PM®) 15,7a 12,6a 19,9aÓleo de nim 0,5%, 5ml p.c./L (Organic neem®) 14,6a 8,9b 48,3bExtrato de citros 40%, 1ml p.c./L (Citrobio) 8,1b 4,4c 38,8bSulfato de cobre 0,3% (Calda bordalesa) 7,2b 4,3c 38,2bÉster de ácido graxo (Agr’óleo®), 3ml/L 7,1b 3,4c 51,7bÁgua (testemunha) 6,1b 3,0c 51,9b

CV% 25,0 29,7 29,4

Frutos brocadosTratamento

Tabela 1. Produção total e comercial de frutos e porcentagem de frutos brocados por D. nitidalis (Cramer, 1782) e D. hyalinata(L. 1758) em cultivar de pepineiro Eureka tratados semanalmente com diversos produtos. Epagri, Itajaí, SC, 2005

(1) UIP = Unidade Internacional de Potência, indica a potência de formulação do bioinseticida por miligrama.(2) p.c.= produto comercial.Nota: Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.

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39Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

relacionada com o hábito broqueadordas lagartas, como é o caso da espécieD. nitidalis, que permanecem poucotempo expostas ao produto. Tambémpode ser resultado de inadequação daformulação comercial do nim para asespécies de brocas-das-cucurbitáceas(Morandi Filho et al., 2006). LópezDiaz & Estrada Ortiz (2005)demonstraram que o óleo de nim 80na dose de 1% e Neo Nim 60 diluídosem 0,5% controlaram 100% e 95% deD. hyalinata em pepineiro, res-pectivamente, sem causar fitotoxidadeàs plantas.

Neste estudo, apesar de não tersido quantificada a mortalidade daslagartas da espécie D. hyalinata, que sealimentam preferencialmente dasfolhas, brotos e hastes do pepineiro,foi possível observar que as plantaspulverizadas com nim permanecerammais longevas, com aspecto estrutural,hastes e folhas, semelhantes às dotratamento com B. thuringiensis .Considerando-se que as plantas dotratamento óleo de nim foram tãoprodutivas quanto as plantas dotratamento B. thuringiensis, porém commaior percentual de frutos brocados,acredita-se que o óleo de nim atuemelhor contra as lagartas de D.hyalinata que as de D. nitidalis.

Almánzar et al. (1997) compararamtratamentos com três produtoscomerciais do B. thuringiensis e óleo denim e concluíram que, além de sermais econômico, o B. thuringiensis foimais eficaz. Com isso, sugerirameliminar o óleo de nim nos ensaiosfuturos. Brechelt (2004), por sua vez,salienta que o óleo de nim se tornamais eficaz contra lagartas delepidópteros quando utilizadoalternadamente com B. thuringiensis.

Os tratamentos citrobio, óleo denim, sulfato de cobre (calda bordalesa)e espalhante adesivo não tiveramefeito na supressão dos danos debroca, resultando em altos percentuaisde frutos brocados. O sulfato de cobrefoi até mesmo fitotóxico às plantas,impedindo o desenvolvimento normaldos pepineiros.

Estratégias para manejar as brocas--das-curcubitáceas em pepineirospoderão ser estabelecidas com novosestudos, caso da determinação donível de dano econômico; aferição dedoses adequadas do óleo de nim paraD. hyalinata e D. nitidalis, época eintervalos de aplicação do B.thuringiensis var. Kurstaki e associaçãode óleo de nim com B. thuringiensis.

Conclusões

• O Bacillus thuringiensis var.Kurstaki pode ser empregado emestratégias de controle das brocas-das--cucurbitáceas na cultura do pepinopara picles.

• Extrato comercial de citros a 40%(Citrobio), 1ml p.c./L de água; óleo denim (Organic neem®) a 0,5%, 5mlp.c./L de água; éster de ácido graxo(Agr’óleo®) 3ml/L não têm efeito nasupressão dos danos de broca, quandoaplicados semanalmente.

• O sulfato de cobre a 0,3% não temefeito na supressão dos danos de brocae é fitotóxico às plantas de pepino,quando aplicado semanalmente.

Literatura citada

1. ALMÁNZAR, J.C.; VENTURA,C.A.; SUERO, R.V. Efectividad detres insecticidas biológicos y naturalesen el control de Diaphania spp. en elcultivo del pepino, en la zona baja deLa Vega, Rep. Dom., 1997. 45f. Tesisde Ingeniería Agronómica.Instituto Agrónomo Salesiano(IAS), La Vega, RepúblicaDominicana, 1997.

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40 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Introdução

O debate sobre desenvolvi- mentorural sustentável está na pauta dasdiscussões dos órgãos governa-mentais, da mídia e do público emgeral. A sustentabilidade daagricultura familiar está diretamenterelacionada aos processos e aos meiosde produção. A agroecologia tem sidoproposta como forma de melhorabarcar uma ação convergente para odesenvolvimento rural sustentável.Ela traz consigo a perspectiva demudança na matriz produtiva visandomanter a unidade de produção deforma sustentável nas dimensõeseconômica, social e ambiental.Segundo Gliessman (2000), aagricultura sustentável é aquela que,tendo como base uma compreensãoholística dos agroecossistemas, écapaz de atender, de maneiraintegrada, a toda a complexidadeinerente ao espaço agrário. Altieri(2002) refere-se à agriculturasustentável como a busca derendimentos duráveis através do usode tecnologias de manejo eco-logicamente adequadas, o que requera otimização do sistema como umtodo.

Baseado nos conceitos apre-sentados, um grupo de agricultores daregião sul do Estado do Rio Grandedo Sul vem desenvolvendo sistemasde produção de base ecológica em suasunidades de produção agrícola

Agricultura de base ecológica como instrumento para odesenvolvimento rural sustentável: um estudo de caso de uma

unidade de produção agrícola familiarLírio José Reichert1, Mário Conill Gomes2 e José Ernani Schwengber3

Aceito para publicação em 9/9/10.1 Economista, M.Sc., Universidade Federal de Pelotas (UFPel)/Pós-Graduação em Sistemas de Produção Agrícola Familiar, Rua Joaquim Oliveira,60, 96055-060 Pelotas, RS, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., UFPel, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Ph.D., Embrapa Clima Temperado, Pelotas, e-mail: [email protected].

(UPAs) há mais de 14 anos. Esse grupocriou a Associação Regional deProdutores Agroecologistas da RegiãoSul (Arpa-Sul) e, de forma organizada,produzem e realizam feiras na cidadede Pelotas.

Neste trabalho está relatado oresultado do acompanhamentotécnico e econômico durante o anocivil de 2008 em uma dessas UPAs,localizada no município de MorroRedondo, RS, distante 40km domunicípio de Pelotas, localizadageograficamente nas coordenadas31º32’23,4’’ latitude sul e 52º37’40,9’’longitude oeste. Na Figura 1 pode servista a UPA em toda a suainfraestrutura.

A unidade familiar estudadapertence à família Scheer. Apropriedade possui área total de 37hectares, com característicasfavoráveis para o desenvolvimento delavouras temporárias, hortaliças,áreas de pastagem nativa e área depreservação permanente, com cerca de13ha. Apesar de a área apresentar umdeclive suavemente ondulado, oagricultor faz uso das práticas deconservação do solo com construçãode terraços, adubação verde, rotaçãode culturas, manejo das ervas e pousio.

A mão de obra da propriedade écomposta pelos agricultores, seus paise a contratação de duas trabalhadoras

Figura 1. Vista aérea da propriedade, mostrando a disposição das instalações

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41Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

eventuais durante os meses de maioratividade, totalizando 4,2 UTH4, o querepresenta uma infraestrutura deprodução acima da média da regiãode estudo. A administração e adistribuição das tarefas de cadamembro são realizadas em conjuntopelo jovem casal de agricultores.

O trabalho constituiu-se doacompanhamento técnico e eco-nômico, durante o ano de 2008, de umagroecossistema familiar inserido noprocesso de produção de baseecológica. O monitoramento dacomercialização foi feito na feira como maior volume de vendas, localizadana Av. Dom Joaquim, na zona norteda cidade de Pelotas, RS, local deorigem da feira. A renda bruta (receita)apurada nos demais pontos decomercialização foi obtida por meio deaproximação baseada em percentualde faturamento sobre a feiramonitorada. Segundo o agricultor, ofaturamento das demais feiras,localizadas na Av. Bento Gonçalves eno Bairro Fragata, na mesma cidade,foram em torno de 90% e 40%,respectivamente, em relação à feiramonitorada.

As áreas de cultivos e o manejo dosolo foram preparados para ummodelo de produção bem diver-sificado e de base ecológica, de modoque há 14 anos a UPA está inseridanesse processo de produção.

Mulher gera a renda

Na UPA são cultivadas cerca de 40variedades de hortaliças e 10 defrutíferas, além de milho, feijão,amendoim e algumas forrageirasrecuperadoras do solo. As criaçõesdesenvolvidas são a bovinocultura deleite, aves de postura, frango colonial,aves de corte no sistema integradocom a indústria, e suínos paraconsumo próprio. A criação deabelhas também é desenvolvida paraa produção de mel e própolis.

Há interação entre os sistemas decultivo e criações de maneira querestos de uma atividade servem deinsumos ou alimentos para outra.Desse modo, as aves coloniais sãoalimentadas com as sobras de

produtos das feiras, das áreas decultivos e da produção de milho, que,além das aves, alimenta os bovinos deleite e suínos. O agricultor utilizacomo fertilizantes a cama de aviário(60t/ano), a compostagem, a cinza decasca de arroz, a farinha de osso eoutros fertilizantes orgânicos.

O processamento e a trans-formação de alimentos, que ocorre nacozinha da residência por meio daprodução caseira de 30 itens, geramquase 50% da renda bruta da unidade.Segundo Mior (2005), a agroindústriafamiliar rural se constitui num novoespaço e num novo empreendimentosocial e econômico que, geralmente, édesenvolvido pela mulher agricultora.

Com relação à produção leiteira,cerca de 44% dos 14.232L de leiteproduzidos foram destinados para opróprio consumo familiar, para acriação de terneiras e para a produçãode rapaduras e de outros produtosprocessados.

Por sua vez, a criação de frangos egalinhas coloniais poedeiras é desen-volvida em um manejo de semicon-finamento. O custo deste sistema decriação é muito baixo dado o apro-veitamento de resíduos na unidadepara sua alimentação (Figura 2).

O agricultor mantém criação defrangos no sistema integrado com aindústria. Apesar da baixa ren-tabilidade obtida ao longo do ano emcinco lotes produzidos (R$ 4 mil de

renda líquida), o agricultor consideraimportante a criação peloaproveitamento dado à cama doaviário como alternativa à fertilizaçãodos cultivos realizados.

As feiras livres representam o maisimportante segmento para odesempenho econômico da pro-priedade, desde a inserção no mercadopor meio da venda direta, passandopela relação e compromisso com osconsumidores, pela garantia de renda,até a satisfação de poder ofertarprodutos de qualidade aos con-sumidores (Figura 3).

Essa atividade é realizada pelocasal de agricultores por meio de duasfeiras semanais (sábados e terças--feiras) em três locais diferentes. Opúblico que frequenta as feirasabrange todas as faixas etárias, mas,segundo Anjos et al. (2005), predomi-nam as mulheres e consumidores comfaixa etária entre 40 e 70 anos.

Feiras, o principal mercado

Na participação na renda bruta dashortaliças destacam-se o tomate, aabóbora e o morango (Figura 4). Nocaso do tomate, além dacomercialização in natura, há umavenda expressiva de massa de tomate,com 15,8% do total dos produtosprocessados. Outro aspecto aconsiderar é que a produção de tomate

4 Unidades de Trabalho Homem. Segundo Lima et al. (2005), uma UTH é correspondente ao trabalho de uma pessoa adulta (18-65 anos) durante300 dias no ano em uma jornada média de 8 horas por dia.

Figura 2. Sistema de criação e alimentação de aves coloniais com produção da UPA

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concentra-se num pequeno período doano (dezembro a março) e, por meioda transformação, o agricultor realizaa venda durante o ano.

Na participação dos produtosprocessados na renda bruta destaca--se a rapadura de amendoim (Figura5), mantendo uma venda semanalconstante e alcançando a cifra de maisde 15 mil unidades vendidas ao longode um ano. Para a produção darapadura somente o açúcar mascavovem de fora da propriedade.

No desempenho das vendas porgrupo de atividades nas feiras houveo destaque para os produtosprocessados e hortaliças, querepresentaram quase 80% das receitas(Tabela 1).

Figura 3. (A) Banca da feira da Av. DomJoaquim e (B) banca da feira do BairroFragata

(A)

(B)

Figura 4. Participação na renda bruta das hortaliças na feira monitorada. Pelotas, RS,2008

Figura 5. Participação na renda bruta dos produtos processados na feira monitorada.Pelotas, RS, 2008

Grupo de Valor (renda bruta) obtido Participaçãoprodutos Feira monitorada Todas as feiras sobre o total

.............................R$............................ %Processados 10.439,90 23.907,37 48,63Hortaliças 6.711,52 15.369,38 31,26Aves (ovos) 2.318,43 5.309,19 10,80Mel e própolis 977,26 2.237,92 4,55Cereais 498,75 1.142,14 2,32Outros 476,85 1.099,89 2,24Total 21.469,05 49.164,13 100

Tabela 1. Desempenho anual das vendas por grupos de atividades realizadas nas feiraslivres da Arpa-Sul. Pelotas, RS, 2008

As feiras livres representaram58,28% das receitas, seguidas da vendade frangos coloniais e da prestação deserviços do agricultor comoinseminador (Tabela 2).

Atividade é remuneradora

Os gastos com combustíveis foramos mais elevados, seguidos damanutenção de veículos e máquinas eda infraestrutura (Tabela 3). Namanutenção, os valores foram gastosquase todos na reforma do caminhão.

O resultado do exercício apuradopela produção e comercialização doconjunto de atividades agropecuáriase produtos processados, efetuados nasfeiras bem como na unidade (líquidode R$ 19.857,70), permitiu aoagricultor saldar todos os com-promissos financeiros assumidosdurante o ano e ainda realizarinvestimentos como a troca doutilitário para transporte da produçãoaté as feiras.

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Tabela 2. Demonstrativo anual das receitas e a participação relativa de cada grupo devendas, na UPA, 2008Resumo das receitas (renda bruta total) Valor Participação

R$ %Feiras livres 49.276,34 58,28Aves coloniais 9.334,29 11,04Inseminação artificial 9.310,00 11,01Leite comercializado e para consumo próprio 8.178,66 9,67Receita líquida de frangos de corte 3.956,05 4,68Venda de animais 3.200,00 3,78Outras receitas (Programa de Aquisição de 1.300,00 1,54Alimentos)Total 84.555,34 100,00

Grupo de despesas Valor ParticipaçãoAtividades agropecuárias R$ %Combustível 11.380,72 21,80Manutenção 10.451,00 20,02Mão de obra contratada 8.575,00 16,43Taxas (impostos, tarifas e juros bancários) 6.374,82 12,21Fertilizantes 4.327,00 8,29Hortaliças (sementes, mudas e fertilizantes) 4.097,50 7,85Milho (sementes, custo H/M, etc.) 2.182,00 4,18Avicultura colonial (pintos) 1.711,50 3,28Bovino de leite (semente, pastagem, 1.324,40 2,54casca soja e H/M)Embalagem 1.160,00 2,22Diversos 622,50 1,19Subtotal 1 52.206,44 100,00Despesas gerais R$ %Despesas pessoais (familiar) 9.000,00 72,05Energia elétrica 1.781,95 14,27Telefone (fixo e celular) 1.709,21 13,68Subtotal 2 12.491,16 100,00Total da UPA 64.697,60

Tabela 3. Demonstrativo anual dos desembolsos efetuados na UPA localizada naColônia São Domingos, município de Morro Redondo, RS, 2008

Considerações finais

A análise dos dados da unidadeagrícola aponta para as seguintesconclusões: a) O resultado econômicofoi positivo, mesmo tendo sidoanalisados apenas os custos diretos enão valorados todos os itens paraconsumo próprio; b) A UPA apresentadiversidade da renda agrícola e doprocessamento com vários produtos,reduzindo riscos e incertezas a que aatividade agrícola está exposta; c) Aboa infraestrutura de produção,

Literatura citada

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5 ML = renda bruta total (Tabela 2) menos despesas (Tabela 3) da UPA.

organização interna, aplicação derecursos e uso da mão de obrapermitem concluir que o agricultormaximiza os fatores de produção; d)A máxima redução dos gastos cominsumos como fertilizantes, sementese alimentação dos bovinos e das avescoloniais permitiu reduzir custos eaumentar a margem líquida (ML)5.

O trabalho evidenciou que épossível almejar a sustentabilidadenas dimensões ambiental, social eeconômica de um agroecossistemafamiliar de base ecológica, desde que

esteja organizada nos aspectosprodutivos e gerenciais, conforme jádemonstrado por Verona (2008).

A organização gerencial e adiversificação de atividades agrícolae não agrícolas propiciaram aoagricultor aumentar a oferta dealimentos naturais e processados,demonstrando haver maior estabi-lidade e capacidade de resistir àsadversidades comuns à agriculturafamiliar em busca do Desen-volvimento Rural Sustentável.

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44 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Introdução

O Brasil é o terceiro maior produtormundial de milho, atrás dos EUA e daChina, e no ano agrícola 2007/2008produziu 57,5 milhões de toneladas.A produtividade média das lavourasde milho brasileiras alcança 3.559kg/ha, ao passo que em Santa Catarinaatinge 5.400kg/ha. É ainda baixaquando comparada com outros países,que atingem até 8.903kg/ha(Rodigheri, 2009). Dentre as causasque contribuem para a baixaprodutividade de milho no Brasilestão as adversidades climáticas e aincidência de doenças, principalmentede ferrugens, helmintosporiose,antracnose, cercosporiose, podridões--de-espiga e enfezamentos (Reis et al.,2004).

No Brasil, as plantas de milhopodem manifestar dois tipos deenfezamentos: o enfezamento--vermelho (Figura 1) e o enfezamento--pálido (Figura 2). Essas doenças sãocausadas por molicutes, micror-ganismos similares a bactérias, queinfectam o floema das plantas. Oagente causal do enfezamento--vermelho é um fitoplasma(Phytoplasma sp.), enquanto oenfezamento-pálido é provocado porespiroplasma, o Spiroplasma kunkeliiWhitcomb et al. (Entomoplasmatales:Spiroplasmataceae) (Williamson &Whitcomb, 1975). Esses patógenos sãotransmitidos pela cigarrinha-do-milhoDalbulus maidis (DeLong & Wolcott)(Hemiptera: Cicadellidae) (Figura 3)(Lopes & Oliveira, 2004; Waquil, 2004).

Lavouras com essas doençaspodem ter a produtividade reduzidaem 35% a 91% (Toffanelli & Bedendo,2002). Massola Júnior et al. (1999)constataram redução de 0,8% naprodutividade das lavouras para cada1% de plantas sintomáticas.

João Américo Wordell Filho1 e Luís Antônio Chiaradia2

Diagnose e manejo do enfezamento-vermelho e doenfezamento-pálido na cultura do milho

Aceito para publicação em 14/9/10.1 Eng.-agr., Dr., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, (49) 3361-0615, e-mail:[email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Cepaf, (49) 3361-0638, e-mail: [email protected].

Figura 1. Plantas de milho com sintomas de enfezamento-vermelho

Figura 2. Planta de milho com sintomasdo enfezamento-pálido

Figura 3. Cigarrinha-do-milho Dalbulusmaidis

Os enfezamentos têm incidido comfrequência nas lavouras de milhosituadas no Estado de Santa Catarina,reduzindo a produtividade ecausando prejuízos aos produtoresdesse cereal.

Caracterização das doenças

O enfezamento-vermelho e oenfezamento-pálido se manifestam nafase reprodutiva do milho,prejudicando a formação das espigas

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e o enchimento dos grãos. Os sintomasiniciais dessas doenças sãosemelhantes, caracterizando-se peloaparecimento de estrias esbran-quiçadas nas margens das folhas. Como desenvolvimento das doenças, noenfezamento-vermelho ocorre aver-melhamento do ápice e das laterais dasfolhas, podendo cobrir toda asuperfície foliar (Oliveira et al., 2003).Já no enfezamento-pálido surgemestrias cloróticas de formato irregular,principalmente localizadas próximoda base das folhas (Reis et al., 2004).

Esses enfezamentos podem ocorrersimultaneamente pelo fato de o insetovetor ser o mesmo, dificultando odiagnóstico. Nesses casos, normal-mente predominam sintomascausados pelo fitoplasma, exceção àsestrias cloróticas na base das folhas,que, invariavelmente, são provocadaspelo S. kunkelii. Por isso, utiliza-se otermo “complexo-de-enfezamento” nodiagnóstico visual dessas doençasquando não se tem certeza da espéciede molicute que está incidindo nasplantas (Silva et al., 2001).

As plantas com enfezamentosnormalmente emitem um maiornúmero de espigas, surgindo em umaou em várias axilas foliares, as quaisproduzem grãos pequenos, man-chados, frouxos e chochos. De maneiraindistinta, as plantas doentesapresentam encurtamento deinternódios, secam precocemente epodem tombar (Oliveira et al., 2003).

Os enfezamentos ocorrem deforma generalizada nas principaisregiões produtoras de milho do País,principalmente nas lavourascultivadas na “safrinha”, sobretudoquando os cultivos são realizadossucessivamente em uma mesma área(Oliveira et al., 2003), prática adotadapor muitos agricultores catarinenses.

A cigarrinha D. maidis adquire osmolicutes ao se alimentar da seiva dofloema de plantas infectadas. A partirdessa contaminação, esses mi-crorganismos se multiplicam no corpoda cigarrinha por 13 a 24 dias e,finalmente, se instalam nas glândulassalivares, fazendo com que o inseto setorne vetor desses patógenos pelorestante da vida. Quando as plantasde milho começam a secar, acigarrinha-do-milho migra para asplantas de outras lavouras. Assim,cigarrinhas oriundas de outras áreassão responsáveis pelos focos iniciaisdessas doenças. Por isso, o dano dosenfezamentos nas lavouras dependeda população de cigarrinhas infetantes

e da fase de desenvolvimento daplanta em que ocorreu a infecção dopatógeno (Nault, 1998; Oliveira et al.,2003). A cigarrinha D. maidis, quandonão está contaminada pelos molicutes,causa danos inexpressivos naslavouras.

Caracterização do inseto vetor

A cigarrinha D. maidis, na faseadulta, mede 3,7 a 4,3mm decomprimento, possui o corpo de coramarelo-pálida, tem as asassemitransparentes e apresenta duaspequenas manchas pretas e circularessituadas na parte dorso-frontal dacabeça, as quais medem o dobro dodiâmetro dos seus ocelos (Lopes &Oliveira, 2004; Waquil, 2004).

A longevidade das cigarrinhasadultas pode alcançar até oitosemanas, período em que cada fêmeapõe de 400 a 600 ovos, os quais sãoinseridos na nervura central das folhasdo milho. As ninfas são amareladas epassam por quatro ou cinco estádiosninfais até atingir a fase adulta,completando o ciclo biológico em 25a 30 dias, e os períodos quentes eúmidos favorecem o desenvolvimentodesse inseto (Cruz et al., 2002; Oliveiraet al., 2003). A cigarrinha-do-milhogeralmente aumenta a sua populaçãonas lavouras cultivadas na “safra”,motivo pelo qual a sua população émaior nas lavouras da “safrinha”(Oliveira et al., 2002; Waquil, 2004).

A cigarrinha D. maidis ocorre dosul da Argentina ao sul dos EstadosUnidos, sendo encontrada ao nível domar e a até 3.000m de altitude. Esseinseto se alimenta da seiva do milho,do teosinto Euchlaena mexicana(Schrad.), de plantas do gêneroTripsacum e do sorgo Sorghum bicolor(L.) (Oliveira et al., 2002; Waquil,2004).

Manejo dos enfezamentos

A incidência de enfezamentos naslavouras de milho pode ser prevenidaou, então, seus danos podem serreduzidos com a adoção de algumaspráticas, as quais devem serpreferencialmente aplicadas de formasimultânea para maior eficiência.Nesse sentido, o agricultor devesemear cultivares de milho que sejamresistentes aos enfezamentos, apesarde que a imunidade ainda não foiregistrada (Waquil, 2004). Tambémdeve ser priorizada a diversificação decultivares para evitar a adaptação de

variantes genéticos dos patógenos(Oliveira et al., 2003). As variedadesresistentes aos molicutes estão listadasna internet, na página da EmbrapaMilho e Sorgo (Embrapa, 2010).

Eliminar plantas de milhovoluntárias (guachas ou tiguera) antesde implantar a lavoura, evitarsemeaduras sucessivas de milho namesma área e não escalonar asemeadura das lavouras de milhosituadas em áreas próximas sãopráticas que ajudam a reduzir apopulação da cigarrinha-do-milho,implicando uma menor taxa dedispersão dos patógenos (Cruz et al.,2002; Waquil, 2004). Adequar a épocade semeadura, evitando a instalaçãode lavouras tardias, também contribuipara menor infestação do inseto vetor.Instalar lavouras com culturas nãohospedeiras desse inseto em sucessãoàs lavouras de milho ou deixar a áreaem pousio pelo menos por 3 meses,principalmente onde existe históricode ocorrência de enfezamentos,também são alternativas preconizadasno manejo dessas doenças (Oliveira etal., 2003; Waquil, 2004).

A época e a densidade desemeadura, o espaçamento, osconsórcios com outras culturas e aquantidade de adubo nitrogenadoutilizado nas lavouras influenciam nonível de infestação, na atividade e nomovimento da cigarrinha D. maidis.Estudos realizados por Power (1987;1989) mostraram que a população dacigarrinha-do-milho diminui quandose aumenta a densidade de semeaduraou quando se reduz a adubaçãonitrogenada. Castro et al. (1992)verificaram que a cigarrinha D. maidistem menor movimentação naslavouras de milho consorciadas comoutras culturas, implicando menordisseminação dos molicutes.

O tratamento de semente cominseticidas sistêmicos é recomendadopara controlar a cigarrinha na faseinicial de desenvolvimento da cultura,quando as plantas são mais sensíveisao ataque dessa praga e os patógenostêm mais tempo para se multiplicarnas plantas, provocando danos maisexpressivos nas lavouras (Cruz et al.,2004; Albuquerque et al., 2006).Entretanto, o fator limitante dessaprática consiste no curto espaço detempo de controle da praga, pois como crescimento das plantas, o resíduotóxico do ingrediente ativo inseticidase dilui, tornando-se insuficiente paramatar o inseto (Waquil, 2004). Asdoses dos inseticidas comerciais

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registrados para controlar acigarrinha-do-milho, expressos pelosseus ingredientes ativos, formulaçõese concentrações, são apresentadas naTabela 1 (Agrofit, 2009).

Oliveira et al. (2003) e Waquil(2004) sugerem o controle dacigarrinha D. maidis depois de aslavouras estarem instaladas. Apopulação pode ser estimadaverificando-se a presença do inseto nocartucho das plantas, prefe-rencialmente nas primeiras horas damanhã, embora no Brasil ainda nãoexistam inseticidas registrados paraessa finalidade.

Os enfezamentos estão cada vezmais frequentes nas lavouras de milhocatarinenses, causando prejuízos aosprodutores rurais. Isso sugere anecessidade de aplicar medidaspreventivas para o manejo dessasdoenças, como forma de reduzir seusdanos nas lavouras.

Ingrediente Concentração/ Dose do produtoativo formulação(1) comercial por ha(2)

Clotianidina 600 SC 0,40LImidacloprida 600 SC 0,80LTiametoxam 350 SC 0,40L

700 WS 0,15 a 0,20kg

Tabela 1. Doses dos inseticidas comerciais registrados para o controle da cigarrinhaDalbulus maidis na cultura do milho, expressos pelos seus ingredientes ativos,formulações e concentrações

(1) SC = suspensão de encapsulado; WS = pó dispersível para tratar sementes.(2) Dose para tratar 100kg de sementes.Fonte: Agrofit (2009).

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47Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Introdução

A banana é a fruta mais cultivadano litoral sul de Santa Catarina. Emtorno de 8.500ha são ocupados combananais, distribuídos em pequenaspropriedades rurais (Sônego et al.,2003). As cultivares plantadas nospomares comerciais da regiãopertencem ao subgrupo Prata (AAB)e ao subgrupo Cavendish (AAA), com84% e 16% da área total, res-pectivamente (Souza & Conceição,2002).

A bananeira também se destacacomo a principal fruta na produçãoorgânica em âmbito estadual(Oltramari et al., 2002). Todavia, ocultivo orgânico dessa fruta apresentauma série de particularidadesinerentes ao sistema de produção.Fungicidas, inseticidas e herbicidas,em sua maioria, não podem seraplicados para controlar doenças,pragas e plantas daninhas, res-pectivamente. Por esse motivo,existem inúmeros desafios em relaçãoà qualidade fitossanitária dabananeira a ser superados a fim deviabilizar a produção orgânica.

Por sua adaptação ao climasubtropical (Lichtemberg & Moreira,2006), ‘Enxerto’ é a banana maiscomumente cultivada no sistemaorgânico no litoral sul de SantaCatarina. Entretanto, essa cultivarapresenta alta susceptibilidade ao malde sigatoka, ao mal do panamá e apencas falhadas. Alguns trabalhos têmdeterminado o comportamento dediferentes cultivares sob sistemaorgânico (Marcílio et al., 2006; Gómezet al., 2006). No Brasil, Marcílio et al.(2006) determinaram ‘Tropical’ e ‘IAC2001’ como adequadas à produçãoorgânica em Mato Grosso. Os clonesFHIA-02, FHIA-17 e FHIA-18 foram

Características agronômicas de 21 cultivares debanana em sistema orgânico

Márcio Sônego1, Luiz Augusto Martins Peruch2, Luiz Alberto Lichtemberg3 e Cristiano Nunes Nesi4

Aceito para publicação em 23/9/10.1 Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone: (48) 3465-1209, e-mail:[email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600, e-mail:[email protected].

considerados apropriados paracultivo orgânico em condições detrópico seco da Venezuela (Gómez etal., 2006).

Mundialmente, programas demelhoramento genético têm pro-curado desenvolver genótipos debananeira com maior resistência apragas e doenças, sendo muitos delesrecomendados para cultivo orgânico,a exemplo de materiais lançados pelaFundação Hondurenha de Inves-tigação Agrícola (FHIA) (Rowe, 1999).

O presente trabalho aborda odesempenho agronômico de 21cultivares de banana, com o objetivode identificar genótipos maisadequados à produção orgânica nascondições ambientais do litoral sul deSanta Catarina.

Metodologia

Em outubro de 2001 foi implantadauma coleção com 21 cultivares debananeiras na Epagri/EstaçãoExperimental de Urussanga. O solo édo tipo Argissolo Vermelho-Amarelooriginário de diabásio neozólico, comas seguintes características físico--químicas: argila = 53%; pH índiceSMP = 6,5; P = 8,0mg/L; K = 166mg/L; matéria orgânica = 2,5%; Ca + Mg =5,7cmolc/L. As mudas de bananeirado tipo pedaços de rizoma foramplantadas no espaçamento de 3m entrefileiras e 2,5m entre plantas, e cadauma das 21 cultivares formou umafileira de 12 plantas. A adubação foibaseada na análise de solo(Sociedade..., 2004). Cada cova deplantio recebeu 500g de calcáriodolomítico e 2kg de esterco curtido deaviário. A cada 6 meses foramaplicadas 6t/ha de cama de aviário depalha de arroz, divididas em 4kg portouceira, amontoadas a 1m de

distância da planta-filha e cobertascom restos culturais. Seis e 12 mesesapós o plantio foram aplicadas 2t/hade calcário dolomítico semincorporação. O controle das ervas nobananal foi feito por roçadas e capinasno primeiro ano, e por roçadas nosanos subsequentes. O bananal foiconduzido no sistema mãe-filha-neta.As folhas com mais de 50% deseveridade da sigatoka ou necrosesnaturais foram cortadas e colocadas aochão.

A altura do pseudocaule, suacircunferência a 30cm do chão e onúmero de folhas foram avaliados porocasião da emissão do cacho. Acolheita foi feita a partir de março de2003, em intervalos semanais,estendendo-se até fevereiro de 2006.Os cachos foram despencados,pesando-se cada penca para obter opeso total do cacho sem o engaço(ráquis).

A apresentação dos resultados éfeita pela média seguida dasemiamplitude do intervalo deconfiança (Tabela 1).

Resultados

A emissão do primeiro cacho apóso plantio variou de 373 dias para‘Pioneira’, até 490 dias para ‘Williams’e para ‘Ouro da Mata’. Em geral,bananeiras do subgrupo Prata (AAB)e Figo (ABB) lançaram os primeiroscachos mais precocemente do quebananeiras do subgrupo Cavendish(AAA) e híbridas (AAAB). Entretanto,Lichtemberg et al. (2002) relatam queapós o primeiro ciclo de produção ascultivares do subgrupo Cavendish(Nanicão e Grande Naine) se tornammais precoces do que as cultivares dosubgrupo Prata (Enxerto e Branca). Osvalores da altura e da circunferência

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Tabela 1. Valores da média e da semiamplitude para as características agronômicas de 21 cultivares de bananeira sob manejoorgânico, Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC, para primeira e segunda colheitas feitas entre os anos de 2003 e 2005

(1) Número de dias entre o plantio e a primeira floração.(2) 1a = Primeira colheita; 2a = Segunda colheita.* Os valores entre parênteses correspondem à semiamplitude do intervalo de confiança para média com base na distribuição t de Student com95% de confiança.

do pseudocaule à época da emissão docacho aumentaram no segundo ano deprodução em todas as cultivares. Demaneira geral, houve redução nonúmero de folhas no momento deemissão do segundo cacho,comparado aos valores da primeirainflorescência. A tendência de reduçãode folhas úteis ao longo dos anos estárelacionada com vários fatores. Partedos danos deve-se à incidência desigatoka, mas cultivares resistentes aessa doença apresentaram compor-tamento semelhante.

O número de pencas por cachoaumentou do primeiro para o segundocacho na maioria das cultivares debanana, tendo sido mais expressivo

para Pioneira e Prata Baby (nam)(Figuras 1 e 2). Cultivares do subgrupoPrata (AAB) apresentaram poucaalteração no peso do cacho doprimeiro para o segundo ciclo. Já oshíbridos (AAAB) mostraram incre-mento no peso do cacho do primeiropara o segundo ciclo, com destaquepara Pioneira e, no subgrupo AAA, aPrata Baby. Tendência semelhante foiencontrada por Lichtemberg et al.(2002), tanto para cultivares dosubgrupo Prata como para os híbridos,mesmo em cultivo convencional. Porsua vez, cultivares do subgrupoCavendish (AAA) apresentaramredução no peso do cacho no segundo

ciclo, contrastando com resultadosapresentados por Lichtemberg et al.(2002), que apontam incremento nopeso de cacho no segundo ciclo parao subgrupo Cavendish em cultivoconvencional.

Além dos aspectos de fisiologia eprodutividade de uma cultivar, éimportante considerar a suaresistência ao mal de sigatoka.Segundo dados de Peruch et al. (2007),verificou-se que as cultivares Figo,Figo Cinza, Tropical (Figura 3), PrataBaby, Thap Maeo, Pioneira, FHIA-01(Figura 4) e Ouro da Mata mostraram--se mais resistentes à doença sobcondições de cultivo orgânico.

Grupogenômico

Floração(1)

Altura do Perímetro do Folhas na Pencas PesoCultivar pseudocaule pseudocaule floração por cacho do cacho

1a (2) 2a (2) 1a 2a 1a 2a 1a 2a 1a 2a

........cm.......... ........cm......... .........No.......... ........No.......... ...............kg...............Ouro AA 482 295 390 60,8 66,5 11,5 8,0 7,4 7,5 10,975 7,973

(±13)* (±14) (±13) (±2,6) (±2,5) (±0,9) (±2,1) (±0,6) (±0,9) (±1,954) (±2,696)Nanicão AAA 479 258 268 75,2 75,5 13,6 11,0 10,5 9,5 31,569 25,219

(±21) (±7) (±21) (±3,0) (±4,0) (±1,1) (±1,2) (±0,4) (±0,6) (±2,073) (±5,311)Grande Naine AAA 481 228 241 69,0 77,5 12,7 11,0 10,1 9,7 30,065 27,012

(±27) (±10) (±9) (±4,2) (±1,8) (±1,4) (±1,7) (±2,4) (±0,8) (±1,821) (±2,293)Nanica AAA 469 183 183 71,5 76,2 13,9 12,2 10,7 9,4 27,754 20,917

(±3,7) (±6) (±10) (±2,6) (±3,0) (±0,9) (±1,5) (±0,5) (±0,8) (±2,102) (±2,372)Nanicão Corupá AAA 482 222 241 72,0 73,7 13,8 10,8 10,4 9,8 26,937 25,560

(±29) (±9) (±11) (±3,0) (±3,5) (±1,2) (±1,4) (±0,5) (±0,7) (±3,199) (±2,863)Williams AAA 490 234 257 67,7 72,8 11,3 11,9 9,8 9,7 23,341 22,080

(±13) (±10) (±12) (±3,0) (±3,8) (±1,2) (±0,8) (±0,5) (±0,8) (±4,369) (±3,380)Prata Baby (nam) AAA 445 216 320 57,4 75,2 12,0 11,8 6,5 9,3 11,777 17,042

(±17) (±13) (±10) (±1,6) (±1,9) (±0,8) (±1,1) (±0,6) (±0,6) (±1,216) (±1,834)Thap Maeo AAB 467 331 433 72,4 83,8 14,3 12,3 13,3 13,2 22,110 22,632(maçã da índia) (±5) (±8) (±33) (±2,4) (±4,1) (±0,7) (±0,8) (±0,5) (±1,4) (±1,472) (±3,739)Catarina AAB 416 254 335 70,1 86,3 15,2 11,8 8,0 8,7 15,249 17,169(prata catarina) (±21) (±11) (±13) (±4,3) (±4,8) (±0,7) (±0,7) (±1,3) (±1,3) (±2,057) (±1,166)Pacovan AAB 447 330 447 65,3 78,3 16,4 11,8 7,8 8,3 15242 15006

(8) (10) (18) (2,3) (3,7) (0,9) (1,2) (0,7) (0,8) (1460) (2603)Prata AAB 422 298 411 58,3 67,0 13,3 11,1 7,7 7,7 13,402 10,342

(±14) (±18) (±22) (±2,4) (±5,2) (±0,8) (±0,8) (±0,3) (±0,7) (±0,807) (±0,756)Enxerto (prata anã, AAB 415 232 312 65,6 84,8 15,4 12,9 9,2 9,4 12,292 14,403prata santa catarina) (±20) (±19) (±15) (±3,5) (±6,2) (±1,0) (±1,0) (±1,2) (±0,9) (±2,748) (±2,543)Branca AAB 462 353 477 70,6 86,2 13,5 9,7 8,3 8,5 10,331 10,531

(±10) (±13) (±29) (±1,9) (±6,6) (±1,5) (±1,9) (±0,5) (±0,6) (±2,060) (±1,282)Figue Pomme Naine AAB 418 180 169 68,7 74,2 14,2 13,2 10,0 7,6 9,008 8,580(maçã anã) (±10) (±4) (±6) (±2,1) (±2,4) (±0,9) (±1,7) (±0,8) (±0,5) (±1,900) (±0,608)Figo ABB 422 319 393 64,8 72,6 15,7 12,4 6,4 7,3 15,932 20,706

(±12) (±12) (±14) (±2,4) (±2,4) (±0,8) (±1,5) (±0,6) (±0,8) (±2,056) (±2,188)Figo Cinza ABB 412 313 395 59,0 70,8 15,8 12,6 5,4 6,2 14,290 15,593

(±14) (±11) (±12) (±1,3) (±2,2) (±1,3) (±1,2) (±0,8) (±1,0) (±1,963) (±1,791)Prata Graúda AAAB 450 290 382 80,1 102 14,1 11,8 10,4 10,7 28,150 32,530(pacovan apodi) (±25) (±13) (±17) (±3,0) (±4,9) (±0,6) (±1,3) (±0,5) (±0,9) (±2,617) (±8,758)FHIA 1 (fhia AAAB 467 273 355 82,8 100 13,0 11,9 10,8 10,4 26,007 29,870maravilha, prata açu) (±16) (±9) (±20) (±3,1) (±6,3) (±1,0) (±1,5) (±0,6) (±1,4) (±1,700) (±4,608)Ouro da Mata AAAB 490 358 425 78,2 86,8 11,3 9,8 7,8 7,6 17,335 17,456

(±16) (±9) (±15) (±2,0) (±6,6) (±1,0) (±1,1) (±0,4) (±0,9) (±2,388) (±2,321)Maçã Bahia(tropical, AAAB 450 350 396 83,9 82,8 10,5 8,8 8,3 7,3 11,450 12,429maçã tropical) (±6) (±8) (±23) (±2,0) (±4,6) (±0,9) (±0,7) (±0,7) (±0,6) (±2,085) (±2,543)Pioneira AAAB 373 193 313 54,4 83,7 11,2 10,7 6,3 10,3 9,061 16,356

(±15) (±16) (±11) (±3,0) (±5,1) (±2,3) (±0,9) (±0,9) (±0,7) (±2,961) (±2,017)

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Considerações finais

Levando-se em consideração osaspectos de produção e resistência aomal de sigatoka, podem-se reco-mendar as cultivares para cultivoorgânico de acordo com a sua aptidão:‘Tropical’, ‘Prata Baby’, ‘Thap Maeo’,‘Ouro da Mata’ e ‘FHIA-01’ paraconsumo in natura; ‘Figo’, ‘Figo Cinza’e ‘FHIA-01’ para fabricação de chips; e‘Pioneira’ para fabricação de polpa oubanana passa.

Figura 2. Penca de banana ‘Prata Baby’ em estágio médio de maturação

Figura 1. Bananeira ‘Prata Baby’ comfolhas sadias e cacho próximo ao pontode colheita Figura 3. Penca de banana ‘Tropical’ em estágio médio de maturação

Figura 4. FHIA-01 após colheita doprimeiro cacho, e detalhes da condução dobananal

Literatura citada

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Introdução

A qualidade das sementes ou domaterial de propagação interferediretamente no potencial produtivo detodas as espécies (Finch-Savage, 1994).O objetivo básico de um sistema deprodução de sementes moderno eorganizado é obter material deelevada qualidade genética, física,fisiológica e sanitária (Knoblauch,2003). Desses fatores, o potencialfisiológico, definido como a

Qualidade de sementes de arroz irrigado utilizadas emSanta Catarina no ano agrícola 2007/08

José Alberto Noldin1, Ronaldir Knoblauch2, Gabriela Neves Martins3,Celso Antônio Dal Piva4 e Moacir Antônio Schiocchet5

Resumo – A semente é considerada o mais importante insumo agrícola, principalmente porque conduz ao campo ascaracterísticas genéticas determinantes do desempenho de uma cultivar, e ao mesmo tempo contribui decisivamentepara o sucesso da lavoura. Santa Catarina é o Estado brasileiro que obteve a maior evolução na qualidade da semente dearroz irrigado nas três últimas décadas, demonstrada pela coleta de amostras das sementes utilizadas pelos agricultores.Este trabalho teve como objetivo realizar o levantamento da qualidade das sementes de arroz irrigado utilizadas pelosagricultores de Santa Catarina. Foram coletadas 307 amostras de sementes em todas as regiões produtoras de arrozirrigado no Estado no ano agrícola 2007/08. Por ocasião da coleta, utilizou-se um questionário para obter informaçõesadicionais sobre a semente e a lavoura de cada agricultor. Em laboratório, foram realizadas as seguintes avaliações:análise de pureza, teste de germinação, teste de vigor e ocorrência de arroz-vermelho. Conclui-se que as sementes utilizadaspelos agricultores de Santa Catarina apresentaram alta qualidade, considerando pureza, germinação e vigor, porém17% das amostras apresentam infestação por arroz-vermelho.

Termos para indexação: Oryza sativa L., germinação, vigor, arroz-vermelho.

Seed quality of paddy rice in Santa Catarina state, Brazil, in the 2007/08 season

Abstract – The seed is considered the most important agricultural input, mainly because it carries genetic characteristicsthat determine the agronomic performance and it is responsible for the success of the crop establishment. Santa Catarinais the Brazilian state that showed a major evolution in irrigated rice seed quality over the last three decades, as becameevident from samplings taken from rice growers at planting time. This study aimed to evaluate the rice seed qualityused by farmers in Santa Catarina state, southern Brazil. Rice seed samples (307) were collected representing all rice--producing regions of the state, in the 2007/08 season, and a form was completed with relevant information about eachsample. The samples were sent to Epagri’s seed laboratory to determine purity, germination test, vigor and red riceinfestation. The survey shows that the seeds used by farmers in Santa Catarina have high quality when purity, germinationand vigor are considered, but about 17% of the samples are infested with red rice.

Index terms: Oryza sativa L., germination, vigor, red rice.

Aceito para publicação em 5/7/10.1 Eng.-agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5217, e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dra, Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0638,e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected].

capacidade da semente paradesempenhar funções vitais,manifestada pela longevidade,germinação e vigor, é aquelediretamente responsável pelamanutenção da qualidade dassementes durante o armazenamento eno desempenho no campo (Rosseto &Marcos Filho, 1995; Rodo et al., 2000).As vantagens do uso de sementes comelevado potencial fisiológico incluemgerminação rápida e uniforme,obtenção de plântulas com maior

tolerância a adversidades ambientais,obtenção de estandes adequados ematuridade uniforme da cultura, comconsequente aumento na ren-tabilidade (Marcos Filho, 2005) (Figura1).

Um ponto crucial que deve serlevado em consideração quando sefala em semente de arroz irrigado dealta qualidade é a ausência de arroz--vermelho (Oryza sativa L.). O arroz--vermelho se destaca como a maisimportante planta daninha das

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51Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

lavouras de arroz irrigado no Sul doBrasil em razão das perdaseconômicas causadas à produção dearroz, tanto em produtividade comoem qualidade, e da elevação doscustos de produção devida ànecessidade de controle e a problemasoperacionais na colheita, secagem ebeneficiamento (Eberhardt & Noldin,2005). A disseminação do arroz--vermelho ocorre, principalmente,pelos equipamentos agrícolas e pelouso de sementes comerciaiscontaminadas (Noldin et al., 2006;Schwanke et al., 2008). Resultados depesquisa demonstram que cadapanícula de arroz-vermelho por metroquadrado provoca redução média naprodutividade de 18kg/ha, de-pendendo da densidade da infestaçãoe das características do arroz--vermelho presente no local(Eberhardt & Noldin, 2005).

Estudos sobre a qualidade dassementes de arroz irrigado realizadosnas três últimas décadas em SantaCatarina (Miura et al., 1981; Marqueset al., 1990; Noldin et al., 1997)revelaram que as sementes utilizadaspelos agricultores apresentavampadrões de qualidade aquém domínimo exigido pela legislaçãovigente. Os principais fatoresdeterminantes da baixa qualidadeforam a baixa germinação e a presençade sementes de arroz-vermelho.

Este trabalho teve como objetivoavaliar a qualidade de sementes dearroz irrigado utilizadas poragricultores de Santa Catarina no anoagrícola 2007/08.

Figura 1. A Epagri mantém um programa de pesquisa visando ao lançamento denovas cultivares de arroz irrigado para atender as demandas do mercado

Material e métodos

A amostragem foi realizada noperíodo de setembro a novembro de2007, pelo método “Drill Box Survey”(Clark & Porter, 1961), que consiste emretirar uma amostra de apro-ximadamente 1kg da semente a serutilizada para plantio pelo agricultor.O número de amostras correspondeua 3% do número de produtores emcada município, totalizando 307amostras, sendo coletada, no mínimo,uma amostra por município. Asamostras foram coletadas em todas asregiões produtoras de arroz irrigadono Estado de Santa Catarina: Alto Valedo Itajaí (Agrolândia, Mirim Doce,Pouso Redondo, Rio do Campo, Riodo Oeste, Rio do Sul e Taió); Baixo eMédio Vale do Itajaí e litoral norte(Apiúna, Araquari, Ascurra, BalneárioPiçarras, Barra Velha, Benedito Novo,Biguaçu, Brusque, Camboriú, DoutorPedrinho, Garuva, Gaspar, Ilhota,Itajaí, Itapema, Jaraguá do Sul,Joinville, Massaranduba, Rodeio, SãoJoão do Itaperiú, Schroeder, Tijucas eTimbó); litoral sul (Capivari de Baixo,Imaruí, Imbituba, Laguna, PauloLopes, Sangão, Treze de Maio eTubarão) e Região Sul (Araranguá,Ermo, Forquilhinha, Içara, JacintoMachado, Maracajá, Meleiro, Morroda Fumaça, Morro Grande, NovaVeneza, Praia Grande, Santa Rosa doSul, São João do Sul e Timbé do Sul).

Por ocasião da coleta, os exten-sionistas da Epagri e colaboradores deoutras entidades preencheram umquestionário, no qual se procurou

obter informações complementaressobre o lote de sementes amostrado,como: cultivar, origem e categoria.

Após a coleta, as sementes foramenviadas para o Laboratório deAnálise de Sementes da Epagri/Centro de Pesquisa para AgriculturaFamiliar (Cepaf), em Chapecó, SC,onde foram realizados análise depureza, testes de germinação, vigor(primeira contagem, aos 7 dias) epresença de arroz-vermelho, deacordo com a metodologia de análisede rotina do laboratório, que segue aRegra para Análise de Sementes(Brasil, 2009).

Resultados e discussão

Observou-se que a cultivar maisutilizada em Santa Catarina no anoagrícola 2007/08 foi Epagri 109, com36,8%, seguida da SCS114 Andosan eSCSBRS Tio Taka, com 24,7% e 21,5%,respectivamente (Tabela 1). Apenas aregião do litoral sul não manteve essatendência, onde as cultivares Epagri108 e SCS114 Andosan foram as maisutilizadas, seguidas da Epagri 109.Dentre as cultivares utilizadas,observou-se que, com exceção de umacultivar (Cica 8), todas sãodesenvolvidas e recomendadas pelaEpagri, totalizando 99,3%, denotandoa importância do trabalho de geraçãoe transferência de tecnologias emarroz irrigado desenvolvido pelaEpagri em Santa Catarina.

Houve grande alteração naprocedência das sementes utilizadaspelos orizicultores catarinenses nastrês últimas décadas. Nos anosagrícolas 1978/79 (Miura et al., 1981),1986/87 (Marques et al., 1990) e 1996/97 (Noldin et al., 1997), 89,1%, 78,9% e73,5% dos agricultores, respec-tivamente, utilizavam sementespróprias ou de vizinhos, enquanto noano agrícola 2007/08, 77,9 ± 9,2%(Intervalo de Confiança – IC de 95%)dos agricultores utilizaram sementescertificadas, dos quais apenas 18,2%fizeram uso de sementes próprias, e3,9% compraram do vizinho ou deorigem desconhecida (Tabela 2).Destaca-se que na região do Alto Valedo Itajaí (Região 2) 100% dosagricultores utilizaram sementescertificadas. Esses dados demonstramo êxito obtido no Programa deQualidade de Sementes do Estado deSanta Catarina (Knoblauch, 2003),

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(1) Região 1 - Baixo e Médio Vale do Itajaí e litoral norte; região 2 - Alto Vale do Itajaí;região 3 - litoral sul; região 4 - Região Sul.

Cultivar Região Região Região Região Total Porcentagem 1 2 3 4................................... No ..................................

Epagri 106 2 - - - 2 0,7Epagri 107 - - - 1 1 0,3Epagri 108 4 3 10 15 32 10,4Epagri 109 48 13 6 46 113 36,8SCS 112 4 - 2 4 10 3,3SCSBRS Tio Taka 21 6 3 36 66 21,5SCS114 Andosan 22 7 10 37 76 24,7SCS115 CL 2 - 2 1 5 1,6Cica 8 - - - 2 2 0,7Total 103 29 33 142 307 100,0

Tabela 1. Identificação e distribuição, por região(1), das amostras de cultivares de arrozirrigado em Santa Catarina, ano agrícola 2007/08. EEI, Itajaí, SC, 2009

Origem Região Região Região Região Total 1 2 3 4.........................................%.............................................

Certificada 86,4 100 81,8 66,2 77,9Própria 9,7 - 15,2 28,9 18,2Do vizinho 1,0 - - 3,5 2,0Sacaria brancaou desconhecida 2,9 - 3,0 1,4 1,9Total 100,0

Tabela 2. Origem das sementes, por região(1), de arroz irrigado em Santa Catarina, anoagrícola 2007/08. EEI, Itajaí, SC, 2009

(1) Região 1 - Baixo e Médio Vale do Itajaí e litoral norte; região 2 - Alto Vale do Itajaí; região 3- litoral sul; região 4 - Região Sul.

Pureza Região 1 Região 2 Região 3 Região 4 Total...................................................... % ...................................................

< 99,0 95,2 100,0 100,0 87,4 92,5< 99,0 4,8 - - 12,6 7,5Total 100,0

Tabela 3. Pureza das sementes, por região(1), de arroz irrigado em Santa Catarina, anoagrícola 2007/08. EEI, Itajaí, SC, 2009

(1) Região 1 - Baixo e Médio Vale do Itajaí e litoral norte; região 2 - Alto Vale do Itajaí; região 3- litoral sul; região 4 - Região Sul.

criado no ano de 1986 e desenvolvidopela Epagri e pela AssociaçãoCatarinense dos Produtores deSementes de Arroz Irrigado (Acapsa),com apoio de outras entidades, comoa Cidasc e o Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento.

Considerando-se que o padrãomínimo de pureza física é de 99% parasemente certificada, em função dosresultados de análise obtidos foipossível constatar que 92,5 ± 5,8% (ICde 95%) das amostras atendiam opadrão (Tabela 3), destacando-se asregiões do Alto Vale do Itajaí e dolitoral sul com 100% das amostrasdentro do padrão. Comparando-secom 54,8% obtidos por Marques et al.(1990), verifica-se também que houveum aumento expressivo na pureza dassementes utilizadas.

Observa-se que 92,8 ± 2,9% (IC de95%) das sementes amostradasestavam dentro do padrão mínimo degerminação para comercialização, queé de 80% (Tabela 4). O elevado podergerminativo é um importante fatorque caracteriza sementes de alta

qualidade. Neste sentido, destacaram--se novamente as regiões do Alto Valedo Itajaí e litoral sul, com 100% dasamostras dentro do padrão. Noslevantamentos anteriores, 1986/87(Marques et al., 1990) e 1996/97(Noldin et al., 1997), respectivamente30% e 56,5% das sementes amostradasatendiam o padrão mínimo de 80% degerminação.

Não só a porcentagem degerminação, mas também o vigor dassementes utilizadas pelos agricultoresde Santa Catarina melhoraram nosúltimos anos. A porcentagem deamostras com alto vigor aumentou de44,2% (1997/98) para 87,6 ± 7,4% (IC

de 95%), no ano agrícola 2007/08(Tabela 5). Sementes de alto vigorpossuem propriedades que de-terminam o potencial para umaemergência rápida e uniforme e parao desenvolvimento de plântulasnormais, sob uma ampla faixa decondições ambientais.

O principal mecanismo dedisseminação do arroz-vermelhoocorre pelo uso de sementes de arrozcontaminadas. As RecomendaçõesTécnicas da Pesquisa para o Sul doBrasil (Sosbai, 2007), no que se refereao manejo adequado do arroz--vermelho, enfatizam a importânciado uso de sementes livres dessa plantadaninha. Os dados referentes àpresença de arroz-vermelho (Tabela 6)mostram que 83 ± 8,5% (IC de 95%) dasamostras estavam dentro do padrãoestabelecido para Santa Catarina.Nesse parâmetro, novamente sedestacou a região do Alto Vale doItajaí, onde 96,6% das amostrasanalisadas eram isentas de arroz--vermelho.

A utilização de sementes con-taminadas com arroz-vermelhoalimentará o banco de sementes epermitirá a manutenção dasinfestações nas lavouras, comconsequências diretas na pro-dutividade e qualidade do arroz. Umfator ainda mais preocupante é quetem sido observada no campo aocorrência de plantas de arroz--vermelho de porte baixo e grãos tipolongo-fino, semelhantes às cultivarescomerciais. A ocorrência desse tipo deplanta de arroz-vermelho dificulta suaidentificação nas operações deroguing6, fundamentais para aobtenção de sementes livres dessaplanta daninha. Nesse sentido,recomenda-se a utilização de sistemasalternativos, como o “Clearfield”, oqual propicia o controle seletivo dasplantas de arroz-vermelho presentes

5 Eliminação de plantas atípicas dentro da lavoura de sementes.

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Germinação Região 1 Região 2 Região 3 Região 4 Total................................................. % ...................................................

> 80 94,2 100 100 88,7 92,8< 80 5,8 - - 11,3 7,2Total 100,0

Tabela 4. Germinação das sementes, por região(1), de arroz irrigado em Santa Catarina,ano agrícola 2007/08. EEI, Itajaí, SC, 2009

(1) Região 1 - Baixo e Médio Vale do Itajaí e litoral norte; região 2 - Alto Vale do Itajaí; região3 - litoral sul; região 4 - Região Sul.

Vigor Região 1 Região 2 Região 3 Região 4 Total....................................................... % ......................................................

Alto 91,3 93,2 96,9 81,7 87,6Médio 5,8 3,4 3,1 11,3 7,8Baixo 2.9 3,4 - 7,0 4,6Total 100,0

Tabela 5. Vigor (porcentagem na primeira contagem) das sementes, por região(1), dearroz irrigado em Santa Catarina, ano agrícola 2007/08. EEI, Itajaí, SC, 2009

(1) Região 1 - Baixo e Médio Vale do Itajaí e litoral norte; região 2 - Alto Vale do Itajaí; região 3- litoral sul; região 4 - Região Sul.

na lavoura e a consequente limpeza deáreas contaminadas.

O padrão de qualidade desementes certificadas estabelecido emSanta Catarina propiciou umamelhoria significativa na qualidadedas sementes quando comparada àsamostragens anteriores realizadas nosanos agrícolas de 1978/79, 1986/87 e1996/97, quando apenas 1,5%, 11,8%e 42,7% das amostras, respec-tivamente, eram isentas de arroz--vermelho. O progresso na melhoriada qualidade das sementes utilizadasem Santa Catarina é ainda maisevidente quando comparada comavaliação semelhante realizada noEstado do Rio Grande do Sul, no anoagrícola 2008/09. No trabalhorealizado nas regiões da DepressãoCentral e da Planície Costeira Internado Estado vizinho, o percentual de

amostras de sementes contaminadascom arroz-vermelho foi de 55,5% e85,7%, respectivamente (Alerta...,2009). No ano agrícola 1997/98, naregião de Santa Maria (DepressãoCentral do RS), Marchezan et al. (2001)constataram que apenas 17% dasamostras de sementes de arrozavaliadas não apresentavam arroz-vermelho.

De modo geral, foi possívelperceber a crescente melhoria daqualidade das sementes de arrozirrigado utilizadas pelo orizicultorescatarinenses. Isso é resultado demuitos fatores, com destaque para aintegração existente entre os diferentessegmentos da cadeia produtiva. Nestesentido, a organização dos produtorese técnicos envolvidos na atividade pormeio da Acapsa e a efetiva parti-cipação da Epagri na disponibilização

de sementes básicas, bem como aconscientização dos agricultores sobreos benefícios do uso de sementes deboa qualidade, exerceram papelpreponderante na melhoria daqualidade das sementes de arroz emSanta Catarina.

Conclusões

• As sementes utilizadas pelosagricultores do Estado de SantaCatarina, quanto à origem, germi-nação e vigor são consideradas de boaqualidade.

• A infestação por arroz-vermelhoteve redução expressiva em lotes desementes utilizadas pelos agricultoresde Santa Catarina.

Agradecimentos

Os autores agradecem a todos osagricultores que cederam as amostraspara análise, assim como aos técnicose extensionistas que colaboraram nacoleta e envio das referidas amostraspara a Epagri/Estação Experimentalde Itajaí.

Literatura citada

1. ALERTA vermelho em SantaCatarina. Planeta Arroz, Cachoeirado Sul, RS, v.10, n.30, p.26-27, maio2009.

2. BRASIL. Ministério da Agricul-tura, Pecuária e Abastecimento.Regras para Análise de Sementes.Secretaria de Defesa Agropecuária.Brasília: Mapa/ACS. 2009. 399p.

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4. EBERHARDT, D.S.; NOLDIN, J.A.Dano causado por arroz-vermelho(Oryza sativa L.) em lavouras dearroz irrigado, sistema pré--germinado. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE ARROZIRRIGADO, 4.; REUNIÃO DACULTURA DO ARROZIRRIGADO, 26., 2005, Santa Maria,RS. Anais… Santa Maria, RS:Orium, 2005. p.184-186.

5. FINCH-SAVAGE, W.E. Influenceof seed quality on crop

Sementes de AV/500g Região Região Região Região Totalde amostra 1 2 3 4 No .......................................... % ........................................0 (isenta) 84,5 96,6 84,4 78,2 83,01 9,7 3,4 3,1 11,3 8,82 a 5 4,8 - 6,3 6,3 5,26 a 10 - - - 2,8 1,311 a 20 - - 3,1 0,7 0,721 a 50 1,0 - 3,1 0,7 1,0> 50 - - - - -Total 100,0

Tabela 6. Amostras com ocorrência de sementes, por região(1), de arroz-vermelho (AV)em sementes de arroz irrigado em Santa Catarina, ano agrícola 2007/08. EEI, Itajaí, SC,2009

(1) Região 1 - Baixo e Médio Vale do Itajaí e litoral norte; região 2 - Alto Vale do Itajaí; região 3- litoral sul; região 4 - Região Sul.

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16. SOSBAI (Sociedade Sul-Brasileirade Arroz Irrigado). Arroz Irrigado:Recomendações Técnicas daPesquisa para o Sul do Brasil.Pelotas: Sosbai/Embrapa ClimaTemperado, 2007, 164p.

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Introdução

A cultura da aveia-branca temassumido um papel cada vez maisimportante como cultivo de estaçãofria no sistema de produção agrícolado sul do País. A razão principal parao aumento do cultivo dessa espécieestá em sua ampla aptidão, sendoutilizada desde como cobertura desolo para o sistema de semeadura

A hibridação no melhoramento genético da cultura daaveia-branca: técnicas e fatores que interferem na

eficiência dos cruzamentos dirigidosMaraisa Crestani1, Solange Ferreira da Silveira Silveira2, Leomar Guilherme Woyann3, Antonio Costa de Oliveira4 e

Fernando Irajá Félix de Carvalho5

Resumo – Diferentes técnicas de hibridação artificial têm sido adotadas pelos programas de melhoramento de aveia--branca na busca de genótipos elite. Neste sentido, buscou-se verificar a efetividade dos cruzamentos artificiais com aadoção de diferentes métodos e condições de hibridação, além de analisar a relação entre as condições do ambiente nomomento dos cruzamentos com a sua efetividade. No ano de 2008, 400 cruzamentos artificiais foram realizados entrecultivares de aveia-branca, sendo testados dois métodos de hibridação, variando também o número de antécios polinizadose o intervalo entre a polinização e a emasculação. A maior eficácia nas hibridações foi alcançada ao se polinizar seisantécios por panícula, realizando a polinização 4 dias após a emasculação na técnica flor cortada, ou no intervalo de 1 a4 dias com a técnica conhecida como flor aberta. Além disso, a menor temperatura e a maior umidade relativa do ar nomomento da emasculação demonstram relação com o incremento da eficácia das hibridações.

Termos para indexação: Avena sativa, hibridação artificial, ambiente de hibridação, taxa de cruzamento.

Hybridization in genetic improvement of white oat crop: techniques and factors thatinterfere in the efficiency of directed crosses

Abstract – Different techniques of artificial hybridization have been adopted in white oat breeding programs in searchof superior genotypes. This way, the objective of this study was to verify the effectiveness of artificial crosses adoptingdifferent hybridization methods and conditions, and to analyze the relationship between the environmental conditionsat the moment of artificial hybridizations and cross efficiency. During the year 2008, 400 artificial crosses were performedamong white oat cultivars, and two methods of hybridization were tested, varying the number of pollinated florets andthe interval between pollination and emasculation. The best efficiency rate in the hybridizations was achieved with thepollination of six florets per panicle, performing the pollination four days after emasculation using the cut flowertechnique, or in the range of one to four days with the open flower technique. Moreover, lower temperatures and higherrelative humidity at the moment of emasculation show relationship with the increase in the efficiency of hybridizations.

Index terms: Avena sativa, artificial hybridization, hybridization environment, cross rate.

Aceito para publicação em 7/7/10.1 Eng.-agr., M.Sc., Universidade Federal de Pelotas, C.P. 354, 96010-900 Pelotas, RS, e-mail: [email protected] Graduanda em Agronomia, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, C.P. 354, 96010-900 Pelotas, RS, e-mail: [email protected] Graduando em Agronomia, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Ph.D., Universidade Federal de Pelotas, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Ph.D., Universidade Federal de Pelotas, e-mail: [email protected].

direta, até a formação de pastagens emcultivo isolado ou consorciado, eutilização como adubo verde,apresentando um reconhecido efeitode recuperação e conservação do solo(CBPA, 2006). Além disso, a inclusãodessa cultura nos sistemas deprodução propicia melhorias naspropriedades físicas, químicas ebiológicas do solo (Santos et al., 1998),redução de moléstias e pragas que

afetam outras culturas e o controlealelopático sobre algumas plantasdaninhas (Roman & Velloso, 1993). Osgrãos desse cereal se destacam peloelevado teor de carboidratos,proteínas, lipídeos essenciais e fibrasalimentares, além da adequadaestrutura de grãos para aindustrialização, caracterizando aaveia-branca como um produto dequalidade para o consumo humano

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56 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

(Bustos, 2008) reconhecido pelaAnvisa (2009) por suas propriedadesfuncionais. Dessa forma, a cultura daaveia-branca vem se caracterizandocomo uma excelente alternativa dediversificação e contribuição para aeficiência econômica do sistemaprodutivo.

O melhoramento genético temcontribuído de forma expressiva parao desenvolvimento da cultura daaveia-branca no Brasil, onde ostrabalhos desenvolvidos, princi-palmente a partir da década de 70,foram responsáveis pelo significativoincremento no rendimento de grãos eno aproveitamento industrial dessecereal em decorrência do desen-volvimento e da seleção de inúmerascultivares elite adaptadas às condiçõesde cultivo brasileiras.

Assim como em outras espécies, arealização de hibridações artificiaisentre genitores elite de aveia-brancatem caracterizado a forma maiseficiente para a ampliação devariabilidade genética e formação depopulações iniciais de seleção.

A aveia-branca possui floreshermafroditas (completas), chamadasantécios. Cada antécio é formado pelapálea e a lema, que envolvem oandroceu, constituído por três estames(com filete e antera), e o gineceu,formado por um pistilo (ovário,estilete e estigma), conformerepresentado na Figura 1. Umconjunto de dois a três antéciosprotegidos por duas glumas externascompõe a espigueta. Essa disposiçãofloral garante a ocorrência de índicessuperiores a 95% de autofecundaçãonatural nessa espécie, o que tornabastante laborioso o processo dehibridação artificial. Neste sentido,diferentes técnicas de hibridaçãoartificial têm sido adotadas pelosprogramas de melhoramento de aveia--branca a fim de otimizar o processode obtenção de populaçõessegregantes, alvo de seleção e fonte devariabilidade para a busca porgenótipos elite. Entre as técnicas dehibridação artificial adotadas nessaespécie, podem ser citadas a técnica deaproximação (McDaniel, 1967), atécnica da flor cortada e a técnica daflor aberta (Bertagnolli & Federizzi,1994).

Além da escolha do método dehibridação adequado, o sucesso dashibridações artificiais é diretamentedependente das peculiaridades decondução dos cruzamentos dirigidose pelas condições do ambiente em queelas são realizadas. Logo, o presentetrabalho teve como objetivos verificara efetividade dos cruzamentosartificiais em aveia-branca, como aadoção de diferentes métodos econdições de hibridação, além deanalisar as relações entre as condiçõesdo ambiente no momento doscruzamentos com a sua efetividade.

Material e métodos

O experimento foi conduzido noperíodo de abril a novembro de 2008,nas dependências da casa devegetação do Centro de Genômica eFitomelhoramento da Faculdade deAgronomia Eliseu Maciel, Uni-versidade Federal de Pelotas. Foramutilizadas sete cultivares de aveia--branca como genitores doscruzamentos: ALBASUL, UPFA 22,URS 23, UPF 15, UFRGS 19, FAPA 4 eIAC 7, as quais serviram tanto comodoadoras quanto receptoras de grãosde pólen. A semeadura foi realizadaem cinco épocas, com intervalo de 15dias, buscando a sincronização doinício dos ciclos reprodutivos dosgenótipos e o prolongamento doperíodo da realização das hibridaçõesartificiais. Em cada época desemeadura foram cultivados quatrovasos, com capacidade de oito litrosde solo devidamente corrigido,contendo cinco plantas de cada

Figura 1. Representação de um antécio deaveia-branca, com o gineceu e o androceuprotegidos pela lema e pela pálea

genitor. O delineamento experimentaladotado foi de blocos completoscasualizados, sendo o fator operadorconsiderado o controle local, enquantoo método de hibridação adotado, onúmero de antécios e o intervalo entrea emasculação e a polinizaçãoconstituíram os fatores de tratamento.

Nesta avaliação, os cruzamentosforam efetuados em duas situações:com a realização dos processos deemasculação e polinização por apenasum operador; e com a realização doprocedimento por dois operadores,caracterizado pela execução da etapade emasculação por um operador e umsegundo operador finalizando oprocesso, efetuando a polinização.Dessa forma, o fator operador foiconsiderado como controle local.

Os métodos de hibridação artificialadotados foram flor aberta e florcortada, conforme descrito porBertagnolli & Federizzi (1994). Elescaracterizam os métodos maisadotados no cotidiano dos programasde melhoramento de aveia-branca,podendo ser conduzidos em ambientecontrolado e a campo. Nestaavaliação, ambas as técnicas iniciaramcom a retirada das espiguetasexcedentes presentes na panícula, e aretirada dos antécios secundários eterciários que compunham asespiguetas aptas à emasculação. Issofoi realizado com auxílio de tesoura epinça, sendo geralmente adotadas nashibridações as espiguetas superioresdas panículas (Figura 2, A e B).Posteriormente, foi efetuada aemasculação dos antécios pelaretirada das três anteras, com auxíliode uma pinça (Figura 2, C e D). Osprocedimentos técnicos adotados atéo momento da emasculação nãodiferiram nos dois métodos dehibridação.

No método flor aberta, asestruturas de proteção das espiguetascompostas por apenas um antécioemasculado foram recompostas deforma a fechar a flor, e permaneceramnessa forma aguardando apolinização. Enquanto isso, no métodoflor cortada, ao finalizar o processo deretirada das anteras, foi efetuado ocorte da metade superior dasespiguetas emasculadas (cortando-seas glumas, a pálea e a lema na regiãologo acima do estigma), sendoposteriormente protegidas com papel

Fonte: adaptado de Teillier (2009).

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Figura 2. Preparo das espiguetas para a emasculação: (A, B) retirada dos antéciossecundários e terciários presentes na espigueta a ser emasculada, (C) realização daemasculação com a abertura do antécio primário e (D) retirada das três anteras aindaimaturas. UFPel, Pelotas, RS, 2008

encerado, aguardando a polinização(Figura 3, A, B e C). Em ambas astécnicas, a polinização foi efetuada nomomento em que foi verificada areceptividade do estigma, repre-sentada pelo seu grau de plu-mosidade, e em condição adequada dematuração das anteras doadoras depólen, verificada com a liberaçãovisível de quantidade abundante degrãos de pólen.

As polinizações foram realizadascom a introdução de aproxi-madamente três anteras maduras nointerior do antécio emasculado,proporcionando o contanto diretoentre os grãos de pólen e o estigma(Figura 3, D), com posteriorfechamento das estruturas do antéciona técnica flor aberta, e proteção dapanícula com papel encerado natécnica flor cortada.

As polinizações foram realizadasno intervalo de 1, 2, 3 e 4 dias após asemasculações. Em relação ao númerode antécios polinizados, foi adotada naavaliação a polinização de seis, sete,oito, nove e dez antécios. Os efeitosdos fatores de tratamento e interaçõesforam testados pela realização decruzamentos artificiais em panículasdiferentes de plantas que seapresentavam no mesmo estádio de

desenvolvimento, caracterizado peloinício da emergência das panículas,com os genitores pegos ao acaso,sendo avaliadas 400 panículas

efetuada a emasculação (MEm), emhoras; temperatura no momento daemasculação (TEm), em graus Celsius;umidade relativa do ar no momentoda emasculação (UREm), emporcentagem; número de antéciospolinizados (AntPol), em unidade;momento do dia em que foi realizadaa polinização (MPol), em horas;temperatura no momento dapolinização (TPol), em graus Celsius;umidade relativa do ar no momentoda polinização (URPol), emporcentagem; intervalo entre arealização da emasculação e dapolinização (IEmPol), em dias (Figura4, B e D).

A efetividade das hibridações foiquantificada pela avaliação donúmero de sementes F1 obtidas porpanícula emasculada (NSF1), emunidade, e a eficiência do cruzamentoartificial (Eficiência), em percentagem,definida a partir da relação entre onúmero de sementes F1 obtidas porpanícula emasculada e o número deantécios polinizados por panícula(Tabela 1). A normalidade e ahomogeneidade de variância dosdados obtidos para cada variávelforam verificadas pelo teste

Figura 3. Finalização do processo de emasculação dos antéciosna técnica flor cortada: (A, B) corte da metade superior dasespiguetas emasculadas, (C) proteção da panícula com papelencerado até o momento da polinização, preconizada com (D)introdução de anteras maduras no interior do antécioemasculado. UFPel, Pelotas, RS, 2008

emasculadas ep o l i n i z a d a s ,totalizando cincorepetições paracada combinaçãode tratamentosem cada situaçãode operação ado-tada (controlelocal).

No momentoda realização dasemasculações ep o l i n i z a ç õ e s ,informações arespeito das ca-racterísticas dahibridação e dascondições do am-biente foram re-gistradas na eti-queta de identifi-cação do cruza-mento, entre elas:número de anté-cios emasculados(AntEm), em uni-dade; momentodo dia em que foi

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58 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Figura 4. Panícula de aveia em (A) estádio de enchimentode grãos após hibridação artificial adotando o métodoflor aberta, e no (B) momento da colheita, com respectivaidentificação das condições da hibridação; panícula deaveia em (C) estádio de enchimento de grãos apóshibridação artificial adotando o método flor cortada, e no(D) momento da colheita, com respectiva identificaçãodas condições da hibridação. UFPel, Pelotas, RS, 2008

Kolmogorov-Smirnov e pelo testeBartlett (SAS Institute Inc, 2004),respectivamente. A variável eficiênciado cruzamento artificial (Eficiência)foi transformada a fim de atender aspressuposições da análise devariância, sendo efetuada atransformação por (x+0,5), ou seja,x’=(x+0,5)1/2, sendo x os valoresobservados e x’ os valores geradoscom a transformação, sugeridas pelométodo Box-Cox (SAS Institute Inc,2004). Para a avaliação dos resultadosfoi efetuada a análise de variância e oajuste da equação de regressão para osfatores de tratamento número deantécios polinizados e intervalo entrea polinização e a emasculação, eanálise de médias para o fator detratamento método de hibridação,adotando o teste Tukey a 5% deprobabilidade de erro. Conjun-tamente, foi realizada uma análise decorrelação linear de Pearson entre asvariáveis relacionadas às condições de

cruzamento artificialobservadas no momentodas hibridações emrelação às variáveisrepresentantes da efeti-vidade dos cruzamentos(NSF1 e a Eficiência), a 5%de probabilidade de erro.Os procedimentos es-tatísticos foram reali-zados no programacomputacional SASInstitute Inc (2004).

Resultados ediscussão

Pela análise de vari-ância foi possíveldetectar significânciapara a interação entre osfatores método dehibridação (AP) e ointervalo entre apolinização e a emas-culação (IEP) em relaçãoà variável Eficiência,indicando que a efeti-vidade dos cruzamentosartificiais foi alteradaconforme o intervaloconsiderado entre arealização da emas-

culação e posterior polinizaçãodiferentemente em cada técnica decruzamento. Considerando os efeitosdos fatores principais, apenas onúmero de antécios polinizados (AP)evidenciou diferenças significativaspara ambas as variáveisrepresentantes da efetividade doscruzamentos. O coeficiente devariação (CV) para as variáveis NSF1e Eficiência revelou valores de elevadamagnitude (67,9% e 32,23%,respectivamente), refletindo a grandevariação nos resultados doscruzamentos artificiais realizados,reflexo da dificuldade na execução dehibridações artificiais com sucessonesta espécie, ou da dificuldade de seavaliar o êxito pelas técnicas deexperimentação agrícola utilizadasneste trabalho.

Avaliando a efetividade dashibridações artificiais com base noajuste da equação de regressãoconsiderando o intervalo entre a

realização da emasculação e apolinização, em dias, em cada métodode hibridação artificial adotado(Figura 5), a maior eficiência doscruzamentos foi obtida com apolinização realizada no quarto diaapós a emasculação no método dehibridação flor cortada, enquanto parao método flor aberta não foi verificadadiferença de desempenho nosdiferentes intervalos considerados. Aomesmo tempo, foi possível observarque ao proceder à polinização 3 diasapós a emasculação, maior eficiênciafoi conseguida adotando-se o métodoflor cortada. O intervalo em dias entrea realização da emasculação e apolinização está diretamenterelacionado ao tempo necessário paraque o grau de maturação do estigmaseja alcançado, contudo, sem atingir onível de senescência, garantindo aeficiente polinização artificial cruzada.Quanto mais imaturos estiverem oandroceu e o gineceu no momento daemasculação, maior intervalo de diasdeverá ser dado entre a emasculaçãoe a polinização, na busca do momentomais adequado para se proceder àpolinização.

No método de hibridação florcortada, torna-se mais fácil arealização da polinização na ocasiãoem que o estigma se encontra emestado de maturação adequado, vistoque com as estruturas florais expostasapós o corte há maior facilidade emeleger o momento adequado paraefetuar a polinização. Já com o métodoflor aberta é necessário realizar aabertura de todas as estruturas floraispara se visualizar o estado dematuração do estigma. Contudo, nométodo flor cortada o antécio tem suasestruturas reprodutivas expostas,passíveis de sofrerem mais facilmentecom processos de desidratação emrelação aos que foram emasculadospela técnica de flor aberta, em que aestrutura do antécio se mantémíntegra e protegida. De acordo comessa avaliação, procedendo àpolinização na técnica da flor aberta,os grãos de pólen encontram umambiente mais propício à suaviabilidade, e mesmo que o gineceuainda não esteja apto à fertilização, aschances de sucesso de fertilização sãomaiores em relação às flores cortadas,

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59Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

aparentemente mais dependentes doacerto no momento de polinização.

A efetividade das hibridaçõesartificiais foi variável de acordo como número de antécios polinizados,sendo observado maior número desementes F1 por panícula emasculada(NSF1) com a polinização de oitoantécios por panícula, com essecomportamento representado poruma equação quadrática (Figura 6).Enquanto isso, maior relação entre onúmero de sementes F1 obtidas porpanícula emasculada e o número de

número de antécios polinizados,representado por uma equação linear.Brown (1980) recomenda aemasculação e posterior polinizaçãode cinco a oito antécios por panícula,enquanto Milach et al. (1999) indicama hibridação de seis a 12 espiguetas nométodo flor aberta e de dez a 20 nométodo flor cortada.

Com base no desempenhoobservado nesta avaliação, é possívelsugerir a emasculação e posteriorpolinização de seis antécios porpanícula, por representar a melhor

hibridação adotados parece estar naabundância de pólen e em suacapacidade de atingir os estigmas,assim como na coincidência dematuração e reciprocidade das partesfemininas e masculinas no momentoda hibridação. Assim, o nível de danoprovocado nas flores pelas diferentestécnicas de hibridação é poucoimportante na definição do métodomais eficaz a ser adotado.

Com base nos coeficientes decorrelação observados entre asvariáveis relacionadas às condiçõesobservadas no momento dashibridações artificiais em relação àefetividade dos cruzamentos (Tabela2), foi possível verificar relaçõesnegativas entre a temperatura doambiente no momento da emas-culação com as variáveis NSF1 e aEficiência. Além disso, foramverificadas relações positivas entreNSF1 e a Eficiência com a umidaderelativa do ar no momento daemasculação. Esse comportamento sedeve possivelmente ao fato de que aumidade relativa do ar baixa nomomento da emasculação, associadaa temperaturas elevadas, ao redor dos30oC ou superiores, contribuem paraa desidratação das estruturasreprodutivas da flor, refletindo namenor efetividade dos cruzamentos.Tais relações não foram observadasconsiderando o momento da reali-zação da polinização. Dessa forma,salienta-se a importância das condi-ções do ambiente de cruzamentosartificiais em aveia-branca para arealização da emasculação, uma vezque o desempenho positivo doscruzamentos parece ser favorecidocom realização dessa etapa emcondições de maior umidade relativado ar e menores temperaturas. Alémdisso, Brown (1980), Bertagnolli &Federizzi (1994) e Milach et al. (1999)ressaltam que elevadas temperaturasnos dias que compreendem o intervaloentre a emasculação e a polinizaçãocausam a redução do número desementes obtidas com os cruzamentos,por agravar a esterilidade naturaldevido à inviabilização do pólen.

Apesar das dificuldades emrealizar cruzamentos artificiais emaveia-branca, o conhecimento daspeculiaridades e da biologia da planta,associado ao adequado procedimento

QMNSF1 Eficiência

Método de hibridação (M) 1 1,0271 ns 0,9806 ns

Antécios polinizados (AP) 4 4,7212 * 9,2464 **Intervalo entre polinização 3 3,6913 n 2,4008 ns

e emasculação (IEP)M x AP 4 2,9470 ns 3,7251 ns

M x IEP 3 4,3468 ns 6,7224 *AP x IEP 12 2,7146 ns 3,6249 ns

M x AP x IEP 12 1,2213 ns 1,4425 ns

Operador 1 2,6526 2,6242Erro 359 2,2307 2,6752Média geral - 2,199 25,249CV% - 67,90 32,233

Tabela 1. Resumo da análise de variância em relação ao número de sementes F1 obtidaspor panícula emasculada (NSF1) e a eficiência da hibridação (Eficiência) emcruzamentos artificiais em aveia-branca. UFPel, Pelotas, RS, 2008

Notas: a) GL = Graus de liberdade; QM = Quadrado médio; CV = Coeficiente de variação.b) **, * = Significativo pelo teste F a 1% e a 5% de probabilidade de erro, respectivamente;

ns = Não significativo pelo teste F a 5% de probabilidade de erro.

Figura 5. Eficiência das hibridações artificiais (%) observada nos diferentes intervalosentre a emasculação e a polinização, em dias, em cada método de hibridação adotado.Médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si pelo testeTukey a 5% de significância. UFPel, Pelotas, RS, 2008

antécios polinizados por panícula(Eficiência) foi evidenciada aopolinizar seis antécios por panícula.Nesse caso, foi observado umdecréscimo no desempenho doscruzamentos com o aumento do

combinação entre o esforço despen-dido nos cruzamentos e o potencialresultado positivo.

Bertagnolli & Federizzi (1994) eMcDaniel (1967) salientam que adiferença entre os métodos de

Fonte de variação GL

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60 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Coeficiente de correlação de Pearson

AntEm MEm TEm UREm MPol TPol URPol

NSF1 0,03ns 0,09ns -0,57** 0,34* 0,02ns -0,05ns 0,27ns

Eficiência -0,27ns 0,18ns -0,52** 0,33* -0,02ns -0,01ns 0,15ns

Variável

Tabela 2. Coeficientes de correlação entre variáveis relacionadas às condiçõesobservadas no momento das hibridações com o número de sementes F1 obtidas porpanícula emasculada (NSF1) e a eficiência das hibridações artificiais (Eficiência) emaveia-branca. UFPel, Pelotas-RS, 2008

Notas: a) AntEM = Número de antécios emasculados; MEm = Momento da emasculação, emhora; TEm = Temperatura no momento da emasculação, em oC; UREm = Umidade relativa doar no momento da emasculação, em %; MPol = Momento da polinização, em horas; TPol =Temperatura no momento da polinização, em oC; URPol = Umidade relativa do ar no momentoda polinização, em %.

b) **, * = Significativo pelo teste F a 1% e a 5% de probabilidade de erro, respectivamente;ns = Não significativo pelo teste F a 5% de probabilidade de erro.

Literatura citada

1. ANVISA (Agência Nacional deVigilância Sanitária). Alimentos comalegações de propriedades funcionaise ou de saúde, novos alimentos/ingredientes, substâncias bioativas eprobióticos. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/alimentos/comissoes/tecno2.htm>. Acessoem: 30 jun. 2009.

2. BERTAGNOLLI, P.F.; FEDERIZZI,L.C. Cruzamentos artificiais emaveia. Pesquisa AgropecuáriaBrasileira, Brasília, v.29, n.4, p.601-606, abr. 1994.

3. BROWN, C.M. Oat. In: FEHR, W.R;HADLEY, H.H. (Eds.).Hybridization of crop plants .Madison: The American Society ofAgronomy, 1980. p.427-441.

4. BUSTOS, F.M. Potencialidade daaveia para consumo humano eusos industriais. In: REUNIÃO DACOMISSÃO BRASILEIRA DEPESQUISA DE AVEIA, 28.,2008,Pelotas, RS. Palestras... Pelotas:Ufpel, 2008. p.23-32.

5. CBPA (Comissão Brasileira dePesquisa de Aveia). Indicaçõestécnicas para cultura da aveia .Guarapuava: Fundação Agrária dePesquisa Agropecuária, 2006. 82p.

6. McDANIEL, M.E.; KIM, H.B.;HATHCOCK, B.R. Approachcrossing of oats (Avena spp.). CropScience, v.7, p.538-540, mar. 1967.

7. MILACH, S.C.K.; FEDERIZZI,L.C.; HANDEL, C.L. et al.Hibridação em aveia. In: BÓREM,A. (Ed.). Hibridação artificial deplantas. Viçosa: UFV, 1999. p.121-137.

8. ROMAN, E.R.; VELLOSO, J.A.R.O.Controle cultural, coberturasmortas e alelopatia em sistemasconservacionistas. In: EMBRAPA-CNPT; FUNDACEP-FECO-TRIGO; FUNDAÇÃO ABC PARAASSISTÊNCIA TÉCNICA (Orgs.).Plantio direto no Brasil. PassoFundo: Aldeia Norte, 1993. p.77-84.

9. SANTOS, H.P.; LHAMBY, J.C.B.;WOBETO, C. Efeito de culturas deinverno em plantio direto sobre asoja cultivada em rotação deculturas. Pesquisa AgropecuáriaBrasileira, Brasília, v.33, n.3, p.289-295, mar. 1998.

10. SAS INSTITUTE INC. Base Sas®

Procedures Guide. North Carolina:Cary SAS Publishing, 2004. 1861p.

11. TEILLIER, A.S. Curso de botánicasistemática (Guía 4 - Divisiónangiospermatophyta). Disponívelem: <http://www.chlorischile.cl/c u r s o o n l i n e / g u i a % 2 0 1 1 /fig29y30.htm>. Acesso em: 29 jun.2009.

Figura 6. (A) Efeito do número variável de antécios polinizados (no) sobre o número desementes F1 obtidas por panícula emasculada (no) e (B) eficiência das hibridaçõesartificiais (%). UFPel, Pelotas, RS, 2008

das técnicas de hibridação, temproporcionado aos programas demelhoramento dessa cultura a seleçãode muitos genótipos elite a partir deum elevado número de populaçõessegregantes. Isso garante o constanteganho genético em caracteres deinteresse agronômico.

Conclusões

• A maior efetividade nashibridações é alcançada ao polinizarentre seis e oito antécios por panícula,independentemente do método dehibridação utilizado.

• Adotando a técnica flor cortada,maior sucesso é alcançado ao seproceder à polinização 4 dias após aemasculação, ao passo que com ométodo flor aberta a polinização pôdeser realizada no intervalo de 1 a 4 diasapós a emasculação sem interferir naeficiência dos cruzamentos.

• A menor temperatura e a maiorumidade relativa do ar no momentoda emasculação demonstram relaçãocom o incremento da efetividade dashibridações.

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61Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Introdução

Um conflito vigente nas regiõescatarinenses de concentraçãosuinícola, em que de um lado seencontram os órgãos públicos e acomunidade e de outro ossuinocultores e agroindústrias, équanto à necessidade de conservaçãoe recuperação das matas ciliares naspropriedades. Freitas (2002) destacaque essa mata, existente ao longo doscursos d’água, e especialmenteprotegida pelo Código Florestal, étambém chamada de mata aluvial, degaleria, ripária ou marginal.

Muller (1996) enumera asprincipais funções das matas ciliares:proteção das terras das margens doscorpos d’água, evitando-se que sejamcarregadas pelas águas das chuvas;

Necessidade de mata ciliar nas propriedadessuinícolas a partir dos dados do

Levantamento Agropecuário CatarinenseJulio Cesar Pascale Palhares1 e Antonio Lourenço Guidoni2

Resumo – O objetivo deste estudo foi gerar informações e conhecimentos a fim de subsidiar a tomada de decisões e odelineamento de políticas e estratégias para conservação e recuperação de matas ciliares nas propriedades suinícolas deSanta Catarina. Utilizaram-se as informações contidas no Levantamento Agropecuário Catarinense. Dos 7.257suinocultores entrevistados, 4.443 (61,2%) declararam possuir curso d’água na propriedade e 2.806 (38,7%) não possuíam.A maior presença de rios se deu em propriedades com escalas produtivas de média a grande (de 101 a 1.000 suínos). Alargura dos cursos d’água em 90% das propriedades apresentou-se inferior a 10m.

Termos para indexação: legislação ambiental, rios, suinocultura.

Necessity of riparian forests on pig farms based on the Agricultural Census of SantaCatarina, Brazil

Abstract – The aim of this study was to generate information and knowledge to support policies and strategies forconservation and restoration of riparian forests on pig farms of Santa Catarina State. Information from the AgriculturalCensus of Santa Catarina was used. We selected 7,257 pig farms, of which 4,443 (61.2%) had a watercourse, and 2,806(38.7%) did not. The higher river occurrence was on farms from medium to large size (from 101 to 1,000 pigs). Ninetypercent of the farms had watercourses which were less than 10m wide.

Key words: environmental law, rivers, pig raising.

Aceito para publicação em 31/8/2010.1 Zootecnista, Dr., Embrapa Suínos e Aves, C.P. 21, 89700-000 Concórdia, SC, fone: (49) 3441-0401, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Embrapa Suínos e Aves, fone: (49) 3441-0400, e-mail: [email protected].

proteção de mananciais; proteção derios e reservatórios contra a massa dedetritos que, sem essas matas, seriaminvadidos, provocando assoreamentocom impactos negativos sobre a faunaaquática, a navegação e, sobretudo, acapacidade de fornecer água em boascondições, tanto para consumohumano quanto para a geração deenergia e irrigação; garantia de recargados lençóis freáticos pelas chuvas;contribuição para conservar a vidaaquática dos rios, represas e lagos,evitando-se rápidas transformações natopografia de seus leitos o queimpossibilitaria o fornecimento defrutos, flores, folhas e insetos à faunaaquática.

Segundo a legislação ambientalbrasileira, as matas ciliares (Figura 1)estão contidas nas Áreas dePreservação Permanente (APPs). As

APPs são áreas de grande relevânciaecológica e social estabelecidas emrazão do relevo, principalmente aolongo dos cursos d’água, cujas funçõesrelacionam-se à manutenção daqualidade das águas, à preservação dapaisagem, da biodiversidade, daestabilidade geológica, do fluxogênico da flora e da fauna, e deassegurar o bem-estar das populaçõeshumanas (Milaré, 2002; Schäffer &Prochnow, 2002; Brasil, 2002). Santoset al. (1999) destacam ainda, comofunções ambientais das áreas depreservação permanente, o controlebiológico, a produção de recursosgenéticos e medicinais, o fato deservirem de corredores de fauna ecomo fontes de informação científica,educacional e estética. Quandoassociada à paisagem como atrativoturístico, científico e educacional fica

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62 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

evidente a estética como sendotambém uma das funções ambientaisdas APPs, uma vez que essas áreasvalorizam a propriedade rural(Magalhães & Ferreira, 2000).

O Estado de Santa Catarina e suaprodução suinícola possuemcaracterísticas que dificultam as açõesde conservação florestal. Entre essascaracterísticas, destacam-se: otamanho médio das propriedades(média de 20ha); o relevo acidentadonas regiões do Meio-Oeste e OesteCatarinense, tradicionais produtorasde suínos, onde as áreas que deveriamapresentar essas matas são as maisplanas e férteis, ou seja, aptas àagricultura; o manejo ambientalvigente, que é o de disposição dosdejetos de suínos no solo, práticaproibida pela legislação ambiental nasáreas de mata ciliar; o uso dos corposd’água como bebedouros para osbovinos de leite, produção tambémmuito presente nas propriedadessuinícolas; a percepção dossuinocultores de que a exigência deconservação e recuperação de matasciliares não tem sido feita a outrosprodutores rurais apesar da exigêncialegal.

O objetivo deste estudo foi gerarinformações a fim de subsidiar atomada de decisões e o delineamentode políticas e estratégias pelos atoresda cadeia produtiva de suínos epoderes públicos quanto ànecessidade de conservação erecuperação de matas ciliares.

Material e métodos

Os dados trabalhados neste artigoforam obtidos da base de dados doLevantamento Agropecuário Catari-nense (LAC-2002/2003) (InstitutoCepa/SC, 2005), através do contratode parceria no 200.1778/05 firmadoentre a Epagri e Embrapa, sendo estaresponsável pela organização dobanco de dados e análise dasinformações.

Optou-se por trabalhar somentecom os suinocultores que apre-sentassem um efetivo de animaismaior do que 51 cabeças, sendo osoutros rebanhos desconsiderados,apesar de repre-sentarem um grandenúmero de suinocultores, mas combaixa representatividade no total decabeças no Estado de Santa Catarina.Portanto, quanto ao efetivo animal, ossuinocultores foram classificados em:de 51 a 100 cabeças, de 101 a 500cabeças, de 501 a 1.000 cabeças e maisde 1.000 cabeças. Para classificação dovínculo produtivo desses suino-cultores, consideraram-se as seguintesrealidades: integrado da agroindús-tria, parceiro da agroindústria,integrado de particular (quando umsuinocultor independente recebeanimais de outros suinocultores e osabate ou comercializa) eindependente.

A partir da declaração da presençaou ausência de cursos d’água, ossuinocultores foram questionadospelos recenseadores a respeito da

largura desses riachos. Para esteestudo foram estipulados os seguintesintervalos de largura: cursos d’água deaté 10m, de 10m a 50m, e maior que50m.

Os intervalos citados acima estãobaseados no artigo 2o, regulamentadopela Resolução no 303, de 20 de marçode 2002 (Conama, 2003). O CódigoFlorestal considera como depreservação permanente as florestas edemais formas de vegetação naturalsituadas em faixa marginal, medida apartir do nível mais alto, em projeçãohorizontal, com largura mínima de: a)30m, para o curso d’água com menosde 10m de largura; b) 50m, para ocurso d’água com 10 a 50m de largura;c) 100m, para o curso d’água com 50 a200m de largura; d) 200m, para o cursod’água com 200 a 600m de largura; e)500m, para o curso d’água com maisde 600m de largura.

As variáveis e os respectivoscruzamentos foram obtidos a partirdos parâmetros populacionais noEstado de Santa Catarina: número deestabelecimentos e respectiva porcen-tagem por categoria da resposta.Destaca-se que as respostas fornecidaspelos entrevistados tiveram caráterdeclaratório.

As consultas à base de dados e oscálculos foram realizados através dopacote SAS 2002-2003, versão 9.1.3.

Resultados e discussão

O número de questionáriosanalisados foi 7.257. Desse total, 4.443(61,2%) suinocultores possuíamcursos d’água em suas propriedades,2.814 (38,7%) não possuíam, e 8 (0,1%)não declararam. Esses resultadosdemons-tram que a maioria daspropriedades avaliadas possuía áreasde mata ciliar, justificando odelineamento de programas e políticaspara con-servação ou recuperaçãodessas áreas na atividade suinícola.Portanto, a suinocultura é umapotencial contribuinte em ações depreservação e conservação das águassuperficiais do Estado.

Bayer (2003) atesta que essarecuperação ou conservação dasmatas ciliares não seriam difíceis deser implementadas, pois osprodutores já dispõem de umasensibilização para a importância

Figura 1. Implantação das matas ciliares ajudará na regularização ambiental dasuinocultura catarinense

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63Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

delas (Figura 2). A autora questionou60 produtores rurais do município deCaçador, SC, sobre a importância dasAPPs. Aqueles que responderampositivamente sobre seu significadorelacionaram seu papel princi-palmente à proteção dos recursoshídricos. Entre eles, 58,1% consideramque as APPs são importantes somentepara a preservação dos cursos d’águae mananciais. A maior relaçãoconstatada entre as APPs e apreservação dos recursos hídricospode ser explicada pela associação queo produtor rural faz dessas áreas coma mata ciliar, cuja função, entre outras,diz respeito justamente à proteção queconferem aos corpos d’água aos quaisestão associadas.

preservar a qualidade das águassuperficiais.

As propriedades com rebanhoentre 101 e 500 animais foram as queapresentaram maior porcentagem decursos d’água (Figura 3). Segundo alegislação catarinense que estabeleceas atividades consideradas poten-cialmente causadoras de degradaçãoambiental (Santa Catarina, 2002), parasuinoculturas em terminação até 499animais ou em ciclo completo até 59matrizes, o produtor não necessita terlicença ambiental, mas somenteautorização ambiental para ofuncionamento. Isso não exclui o fatode esses produtores terem quecumprir o Código Florestal.

Somando-se as porcentagens deefetivos com 101 a 500 animais (2.632produtores) e 501 a 1.000 animais (718produtores), totalizam-se 75% dos4.443 produtores que possuíam cursosd’água em suas propriedades. Essefato deve ser considerado em umprograma ou política de recuperaçãodas matas ciliares, pois se essavegetação se iniciar nesses grupos, oreflexo na melhoria da quantidade equalidade das águas superficiais serásignificativo devido ao grandenúmero de produtores que seriamabrangidos.

Os produtores com efetivosmaiores do que 1.000 cabeçasrepresentam os grandes produtores doEstado. Eles possuem potencialcapacidade financeira, portanto aconservação/recuperação das matasciliares seria facilitada devido a suaspossibilidades de investimento.Tradicionalmente, os investimentossão canalizados para o aumento dacapacidade de produção, mas essacultura deve mudar ou pelasexigências legais, que tendem a umamaior restrição, ou pela pressão socialsobre a atividade.

A relação entre o vínculo dosuinocultor e a presença de cursosd’água é observada na Figura 4. Aintegração à agroindústria é o tipo devínculo que apresenta a maiorporcentagem de cursos d’água (48%).Considerando que o parceiro tambémé um produtor vinculado à agro-indústria, esta possuía relação

Figura 2. A mata ciliar pode proteger os cursos d’água de um eventualtransbordamento das esterqueiras

A manutenção dessas matastambém trará benefícios produtivospara a própria suinocultura, poismuitas delas, principalmente emépocas de estiagem hídrica, captamáguas superficiais, o que sacia a sededos rebanhos. Estando essas águasconservadas pelas matas ciliares, asegurança sanitária, ambiental ealimentar da atividade será maisfacilmente atingida.

A relação entre presença de faixaciliar e conservação da água emquantidade e qualidade é citada emdiversos estudos. Bortoluzzi et al.(2006), por exemplo, confirmaram aimportância de um planejamento querespeite a presença de coberturaflorestal nas áreas de encostas e nasmargens dos cursos d’água, a fim de

Figura 3. Proporção de efetivo de suínos nas propriedades com presença de cursod’água

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econômica com 70% (3.110) dosentrevistados, que possuíam cursod´água.

A partir dessa realidade, ressalta--se a importância do princípio dacorresponsabilidade das agroindús-trias na viabilização ambiental dasuinocultura. Esse princípio pode serjustificado tomando-se comoexemplos os conceitos constantes emcertificações como a ISO 14000 ou emprogramas de rastreabilidade, em queaquele que utilizará a matéria-primapara o beneficiamento ouprocessamento deverá adquiri-la defontes ambientalmente seguras. Entãoseria uma contradição uma agro-indústria apresentar um sistema degestão ambiental e adquirir animais desuinoculturas potencialmente po-luidoras dos recursos hídricos. Asagroindústrias também poderão atuarcomo fontes financiadoras em ações deconservação e recuperação das ciliaresde seus integrados e parceiros, comojá acontece no Termo de Ajustamentode Conduta da Suinocultura Amauc/Consórcio Lambari.

Analisando-se a tendênciaprodutiva na produção de suínos,observa-se que a verticalização daprodução será cada vez mais intensa,como já ocorrida nos países doHemisfério Norte. Isso conduzirá auma porcentagem ainda maior deprodutores vinculados às agro-indústrias, aumentando-se assim acorresponsabilidade delas nasintervenções ambientais a seremrealizadas nas propriedades.

Figura 4. Proporção das classes de vínculo do suinocultor nas propriedades com presen-ça de cursos d’água

Os suinocultores autônomos(independentes) totalizaram 20% (889)dos respondentes que possuem terrascom presença de cursos d’água. Essaporcentagem deve ser consideradasignificativa e servir de subsídio parase fomentar o desenvolvimento deprogramas de capacitação dessesagricultores na conservação erecuperação das matas ciliares. Essesprogramas poderiam ser delineados eorganizados por órgãos ambientais ede extensão rural, associações decriadores e sindicatos rurais.Poderiam, também, ter como clientesos integrados de particulares, que, porpossuírem vínculo como as chamadasmini-integradoras, dispõem de menorassistência técnica que um integradoà agroindústria ou parceiro.

Quanto à largura dos cursosd’água existentes nas propriedades, amaioria absoluta dos entrevistadosdeclarou que elestêm até 10m (Figura5). Relacionandoesse resultado com oque prescreve oCódigo FlorestalFederal, essas pro-priedades devemconservar 30m demata ciliar emambas as margensdesses cursos. Deve--se destacar quealgumas dessasdeclarações podemconter erros, pois oCódigo estabelece Figura 5. Largura dos cursos d’água existentes nas propriedades

que a largura do curso d’água deve sermedida a partir do nível mais alto, emprojeção horizontal (Brasil, 2002) eprovavelmente os suinocultores nãoconsideraram essa recomendação emsuas declarações.

Mas, apesar dos possíveis erros,pode-se admitir que grande parte dassuinoculturas avaliadas devaconservar 30m de ciliar, o que jáfornece uma informação valiosaquanto ao custo da recuperação. Essecusto estará relacionado, prin-cipalmente, ao tipo de estratégia quese utilizará para a promoção darecuperação, pois ela pode dar-se pelosimples abandono das áreas, deixandoque a vegetação as ocupe; pelo plantiode mudas nativas nessas áreas; peloabandono ou plantio de mudas comcercamento das áreas, evitando queanimais em pastejo tenham acesso.

Destaca-se que o uso dasinformações constantes no LAC e oconsequente delineamento de pro-gramas que visem à conservação erecuperação das matas ciliares irãocontribuir para a mitigação dospassivos ambientais da atividadesuinícola.

Salienta-se também que o manejoambiental vigente na suinoculturacatarinense é o uso dos dejetos comofertilizante. Essa prática se constituiem uma fonte de poluição difusa epode ter seu impacto reduzido se amata ciliar estiver presente. Pro-gramas ambientais focados no manejo

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de bacias hidrográficas e na mitigaçãode fontes difusas têm na conservaçãodas matas ciliares uma das principaisações para conservação das águas.

A vegetação ciliar pode reduzirsignificativamente as fontes depoluição difusa que podem atingir aságuas de superfície (Carpenter et al.,1998). Essa vegetação traz con-tribuições importantes para aconservação dos locais naturais devida selvagem e da biodiversidade.Por isso, o interesse no uso davegetação ciliar para o controle depoluição difusa tem crescidorapidamente nos últimos anos(Correll, 1997).

Conclusões e recomendações

A partir dos dados fornecidos peloLevantamento Agropecuário Catari-nense com relação à presença decursos d’água em propriedadessuinícolas, pode-se concluir que amaior presença se dá em propriedadescom escalas produtivas de média agrande e que mantêm vínculo com asagroindústrias. A largura dos cursosd’água, na maior parte daspropriedades, apresenta-se inferior a10m, o que condiciona ao cumpri-mento da exigência mínima de faixaciliar estabelecida por lei.

O delineamento das políticas,programas e ações estratégicas deveestar baseado em dados, como osfornecidos pelo LAC e, obriga-toriamente, na análise deles, visandoà produção de informações e deconhecimentos úteis. Além disso,argumenta-se como necessidadebasilar a participação de todos osatores da cadeia produtiva suinícolana construção dessas políticas etambém na implementação de umprograma de capacitação e educaçãosocioambiental sobre a importânciadas matas ciliares, bem como de suaconservação e recuperação.

Literatura citada

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Introdução

Nos últimos anos, ficou evidenteque a população humana tem causadoimpacto sobre o ambiente natural,afetando os ecossistemas aquáticos e

Qualidade da água da rede hídrica doLajeado São José utilizada para abastecimento

urbano da cidade de Chapecó, SCIvan Tadeu Baldissera1, Daiana Bampi2, Adriana L. Santana Klock3 e Jovane Bottin4

Resumo – O presente trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade das águas do Lajeado São José, que abastece acidade de Chapecó, considerando variáveis físico-químicas e microbiológicas. As amostras foram coletadas mensalmenteem quatro pontos da microbacia, no período de junho de 2007 a março de 2008. Os pontos de coleta ficaram assimdistribuídos na microbacia: ponto 1 – localização mais elevada da microbacia e representa a contribuição urbana e rural;ponto 2 – contribuição da atividade suinícola; ponto 3 – representa contribuição urbana; e ponto 4 – localizado próximoao reservatório de captação da Companhia Catarinense de Água e Saneamento (Casan), representa o somatório de todosos pontos a montante. Os parâmetros analisados foram: coliformes fecais, OD, turbidez, pH, P-total, nitrato, amônia,DBO e os metais cobre (Cu), zinco (Zn) e chumbo (Pb). Observou-se que os valores para alguns parâmetros estão acimado permitido pela Resolução 357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para água de classe 1,principalmente nos pontos de monitoramento 2 e 3. A aplicação do índice de qualidade de água (IQA) permitiu oenquadramento desses pontos na classe ruim de qualidade da água e os pontos 1 e 4 na classe aceitável.

Termos para indexação: monitoramento hídrico, qualidade da água, poluição.

Water quality of the São José stream network used for water supplyto the city of Chapecó, SC, Brazil

Abstract – The objective of this study was to evaluate the water quality of the São José stream which supplies the city ofChapecó, southern Brazil, considering some physical-chemical and microbiological indicators of water quality. Thesamples were collected monthly from June 2007 to March 2008 at four points of the stream. The sampling points in thewatershed were distributed as follows: point 1 – the highest watershed represents both the urban and the rural contribution;point 2 – the contribution of pig raising activity; point 3 – represents the urban contribution; and point 4 – located nearthe Casan reservoir, is the sum of all points upstream. The measured parameters were excremental matter, DO, turbidity,pH, total-P, nitrate, ammonia, BOD and metals Cu, Zn and Pb. The results demonstrated the occurrence of values, forsome parameters, above the permitted by the Conama Resolution 357/2005 for water class 1, mainly at monitoringpoints 2 and 3. The implementation of the water quality index (IQA) allowed the classification of points 2 and 3 as ofpoor quality, and points 1 and 4 as of acceptable quality.

Index terms: hydric monitoring, water quality, pollution.

Aceito para publicação em 24/8/10.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0640, e-mail:[email protected] Bióloga, Fundagro/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0635, e-mail:[email protected] Química, M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), fone: (49) 3361-0635, e-mail: [email protected] Bióloga, Prefeitura Municipal de Chapecó, Rua Assis Brasil, 48D, 89812-000 Chapecó, SC, fone: (49) 3329-5939, e-mail:[email protected].

causando crescente preocupação comrelação à poluição e à qualidade deles.Por essa razão, cada vez mais existe anecessidade de se avaliar e monitorara qualidade desses mananciais.

O desenvolvimento do OesteCatarinense caracterizou-se pelaexploração intensiva dos recursosflorestais que, por muitas décadas, foia base econômica da região. Um dos

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passivos ambientais desse modelo foia supressão da faixa ciliar, queacarreta redução da biodiversidadelocal, bem como o assoreamento dosrios e o comprometimento daqualidade de suas águas. As matasciliares são indispensáveis para aharmonização entre os sistemasprodutivos, o modo de vida daspopulações humanas e, princi-palmente, para propiciar a qualidadeda água e manter o fluxo gênico entreas espécies da flora e da fauna(Cardoso-Leite et al., 2004). Quandoesses rios ou riachos sofremalterações, perturbando o ecossistema,são classificados como poluídos, poisapresentam modificações nascaracterísticas físico-químicas ebiológicas da água. A poluição podeter várias origens: doméstica,industrial e também a provocada porpoluentes de origem animal,principalmente os dejetos de suínos ebovinos (Ferri, 1993; Gonsalves, 2000).

De acordo com Gonsalves (2000),o sistema de abastecimento do Estadode Santa Catarina caracteriza-se porutilizar 77% da captação demananciais superficiais e 23% delençóis subterrâneos. Esses ma-nanciais superficiais, em termos dequalidade, encontram-se seriamentecomprometidos em decorrência dadegradação ambiental, causada porfatores como: dejetos de animais,agrotóxicos, fertilizantes, esgotossanitários urbanos, efluentesindustriais e fatores naturais, como aerosão.

O setor agrícola foi responsávelpelo desenvolvimento da RegiãoOeste Catarinense, onde o complexoagroindustrial se destaca prin-cipalmente na produção de suínos eaves. No entanto, a exploraçãointensiva da atividade agropecuáriatambém é responsável por grandeparte da degradação ambiental, comdestaque para o comprometimentodos recursos hídricos promovido pelacarga de dejetos de suínos gerada nomeio rural. Isso resulta nocomprometimento de grande partedos pequenos mananciais, queapresentam contaminação porcoliformes fecais.

Conforme Feitosa & Filho (1997),os padrões de qualidade ambientaldas águas visam à proteção da saúde

pública e ao controle de substânciaspotencialmente prejudiciais à saúdedo homem, bem como à proteção dascomunidades aquáticas. Sabe-se que aágua superficial é muito maisvulnerável às contaminações,oriundas da atividade humana. Apoluição das águas é um problemamundial e exige séria atenção dasautoridades sanitárias e dos órgãos desaneamento a fim de preservar aqualidade dos mananciais de águapara consumo e a saúde da população,uma vez que a água pode atuar comoveículo de transmissão de inúmerasdoenças.

O presente trabalho teve porobjetivo avaliar a qualidade da águado Lajeado São José, manancial deabastecimento da cidade de Chapecó,mensurando parâmetros físico--químicos e microbiológicos, tendopor referência os valores descritos naResolução no 357/2005, do Conama, eutilizando o IQA para expressão dosresultados.

Material e métodos

Área de estudo

A microbacia do Lajeado São Josétem área de 7.744ha, sendo 90% dentrodo município de Chapecó. O LajeadoSão José tem extensão de 42,7km, suanascente fica no município deCordilheira Alta e a foz na barra doRio dos Índios, no município deChapecó. A vazão média anual é de1.230m3/s medida na entrada doreservatório de captação de água daCasan. A área de estudo foirepresentada por quatro pontos: 1:localização mais elevada damicrobacia próximo às nascentes, masjá com contribuição urbana e rural; 2:no terço médio da microbacia, indicaa contribuição da atividade suinícola;3: na entrada de afluente oriundo deum bairro, representa a contribuiçãourbana; e 4: localizado próximo aoreservatório de captação de água daCasan, representa o somatório detodos os pontos. Do ponto de vistaambiental, esta microbacia mereceatenção especial, pois é considerada declasse 1 pela Legislação Estadual,Portaria no 24/79, e contém o principalreservatório de água para oabastecimento da cidade de Chapecó.

Coleta e análise dos dados

Foram realizadas amostragensmensais de junho de 2007 a março de2008, totalizando 10 campanhas decoleta e 40 amostras analisadas. Emcada ponto foram avaliadosparâmetros de qualidade da água,como: coliformes fecais, oxigêniodisponível (OD), turbidez, pH, P-total,nitrato, amônia, demanda bioquímicade oxigênio (DBO) e os metais cobre(Cu), zinco (Zn) e chumbo (Pb).

As amostras foram coletadas nomesmo dia, a 0,5m da borda do rioutilizando-se frascos esterilizados,emborcados na água a 20cm deprofundidade. Em seguida, asamostras foram encaminhadas aoLaboratório de Análises de Águas daEpagri/Centro de Pesquisa paraAgricultura Familiar (Cepaf) eanalisadas. Os métodos analíticosutilizados seguiram a metodologiadescrita no Standard Methods (2002).Os coliformes fecais foram determina-dos pelo método enzimático Colilert,para a detecção e quantificaçãosimultânea de coliformes fecais (E.coli) e totais. Esse processo utilizanutrientes indicadores que produzemcor e fluorescência ao seremmetabolizados por coliformes fecais etotais quando incubados a 35ºC (±0,5ºC) em um período de 24 horas.

Os resultados foram expressos emtabelas de médias e em enqua-dramentos possibilitados pelo IQA.Esse índice foi calculado pelasomatória do produto ponderado dasqualidades de água correspondentesaos parâmetros: pH, oxigêniodissolvido, demanda bioquímica deoxigênio (5 dias, 20ºC), coliformesfecais, nitrato, amônia, fósforo total eturbidez, conforme a equação abaixo:

n IQA = ∏ qi .wi i=1em que:IQA: índice de qualidade de água

(número entre zero e 100);qi: qualidade do i-ésimo parâmetro

(número entre zero e 100) obtido darespectiva “curva média de variaçãode qualidade” em função de suaconcentração ou medida.

∏: constante de pi = 3,1416...wi: peso correspondente ao i-ésimo

parâmetro (número entre zero e 1)

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68 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

atribuído com função de suaimportância para a conformaçãoglobal de qualidade, sendo:

εwi = 1n

i=1em que:n: número de parâmetros que

entram no cálculo do IQA.A adoção do IQA é uma tentativa

de expressar, em um valor,informações disponíveis isoladamentenos vários parâmetros determinadosno presente estudo. Sua aplicaçãopode estabelecer uma linguagem decomunicação mais simples, con-tribuindo como instrumento para ogerenciamento de microbacias ou,ainda, para programas de educaçãoambiental (Deschamps et al., 2003).

Em síntese, é um número graduadode zero a 100, que pode representar aqualidade da água de umadeterminada amostra, após a análisede seus diferentes parâmetros.

A Tabela 1 mostra as faixas deenquadramento, relacionando-as coma simbologia de cores e ocorrespondente atributo de qualidadeda água.

Esse recurso visual favorece acompreensão dos valores de IQAobtidos a partir do somatório dosvalores individuais dos oitoparâmetros avaliados neste estudo.Cada parâmetro tem seu qi(concentração) e o wi (peso em funçãoda importância), o que permiteconhecer o valor da contribuição decada um na obtenção do IQA.

Resultados e discussão

Na Tabela 2 são apresentados osresultados das médias e do desvio

padrão para os dados físico-químicose biológicos obtidos a partir das dezcoletas realizadas no período de junhode 2007 a março de 2008. Observa-seque todos os pontos mostram valoresde coliformes fecais, turbidez e fósforototal acima do valor máximopermitido (VMP) para rios de classe1, segundo a Resolução no 357/2005,do Conama.

Os altos valores de coliformesfecais encontrados nas águas dolajeado são indicativos dacontaminação por dejetos e tambémpor esgoto doméstico, uma vez quetanto os pontos de contribuição rural(ponto 2) quanto o ponto decontribuição urbana (ponto 3) tiveramníveis elevados de contaminação. Issoé preocupante, pois esse indicadorpermite verificar a possibilidade daexistência de microrganismospatogênicos responsáveis pelatransmissão de doenças de veiculaçãohídrica, tais como febre tifoide, febreparatifoide, disenteria bacilar e cólera.

Os altos valores de fósforoencontrados, principalmente nospontos 2 e 3, sugerem contaminação

origem desse nutriente a partir deáreas agrícolas tem sido colocada emrelevância como indicador dequalidade da água (Parry, 1998).Sharpley & Rekolainen (1997) relatamque o aporte de fósforo aos recursoshídricos tem como principal agente ouso urbano, seguido pelo uso agrícolado solo.

Além dos altos valores de fósforo,a turbidez elevada indica que háausência de vegetação marginal (mataciliar), pois a turbidez tem ligaçãodireta com a precipitação e oescoamento superficial da água. Emambientes com deficiência decobertura vegetal, as águas dasenxurradas carregam consigocompostos orgânicos e mineraisprovenientes da superfície da baciahidrográfica diretamente para o rio,dando-lhe aspecto turvo.

Os valores de pH, nitrato e amôniaapresentaram-se dentro dos limitesestabelecidos pela Resolução no 357/2005, do Conama, mas muitopróximos do VMP. Os valores de DBOpara os pontos 1, 2 e 4 encontram-sedentro do limite permitido; já o ponto3 apresentou valores acima dopermitido pela legislação. Para Branco& Pana (1991), a DBO é excelenteindicadora das condições de poluiçãoorgânica do meio, sendo fundamentalnos estudos que objetivam apreservação do equilíbrio ecológico.

Para OD, apenas os pontos 2 e 4 seencontram adequados. ConformeDerisio (1992), o oxigênio dissolvidoé um elemento de importância vitalpara os seres aquáticos aeróbios,sendo introduzido na água através doar atmosférico e do fenômeno dafotossíntese e variando muito em seuteor, de acordo com a temperatura ealtitude do corpo d’água. SegundoMaier (1998), quando um poluente éintroduzido, há um rápido decréscimona concentração de oxigênio, sendoessa situação mantida pelo temponecessário à decomposição aeróbia, aqual é variável e dependente daquantidade e do poder poluente dodespejo e da capacidade deautodepuração do rio. Essacapacidade é muito favorecida peloturbilhonamento da água nos trechos

5 Excesso de nutrientes na água, que ocasiona o crescimento exagerado de algas e a diminuição do oxigênio disponível, provocando a morte dospeixes e outros organismos aquáticos, com redução na qualidade da água e alterações no ecossistema.

das águas por dejetos suínos,fertilizantes agrícolas e também poresgotos domésticos. Os compostosfosforados têm origem nos dejetoshumanos e animais, detergentes etambém nos polifosfatos aplicados naagricultura, como fertilizantes eagrotóxicos, e sua presença podeacarretar inúmeros problemas, pois,embora tenham baixa mobilidade nosolo, quando em altas concentraçõespodem atingir as águas superficiaispelo processo de erosão. O papel dofósforo na eutrofização5 dos recursoshídricos deve ser considerado, e a

Tabela 1. Classes e simbologia do IQA para os parâmetros de qualidade daágua

Classes Simbologia Atributo de qualidade(valores de IQA) (cor) da água90 a 100 Azul Excelente70 a 89 Verde Boa50 a 69 Amarelo Aceitável30 a 49 Laranja Ruim0 a 29 Vermelho Péssima

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Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 VMP(1) para águas classe 1Coliformes fecais Média 2.201,10 36.348,90 103.722,14 2.698,80 200nmp/100ml(2)

Desvio padrão 2.903,28 78.008,30 64.940,08 3.427,82OD Média 5,98 6,9 3,97 7,05 6mg/L O2 (mínimo)(3)

Desvio padrão 1,28 0,8 1,7 0,45Turbidez Média 61,02 229,6 383,85 96,41 40 UT(4)

Desvio padrão 91,39 566,5 672,25 122,26pH Média 7,39 7,28 7,09 7,25 6 a 9

Desvio padrão 0,26 0,3 0,34 0,27P-total Média 0,34 0,64 0,87 0,43 0,025mg/L

Desvio padrão 0,23 0,7 0,64 0,2Nitrato Média 4,9 5,92 7,85 5,5 10mg/L

Desvio padrão 2,25 3,5 3,4 2,17Amônia Média 1,38 1,74 5,18 1,52 - (5)

Desvio padrão 1,79 2,1 1,48 1,86DBO Média 2,2 2,34 9,16 1,74 3 mg/L O2

Desvio padrão 1,19 1,6 4,08 1,3

Tabela 2. Valores médios e desvio padrão dos parâmetros físico-químicos e biológicos nas águas do Lajeado São José, Chapecó, SC

(1) Valor máximo permitido.(2) Número mais provável em 100ml de água.(3) Valor mínimo para OD (oxigênio disponível) permitido para enquadramento em água de classe 1.(4) Unidade de turbidez.(5) Sem valor de enquadramento.Nota: Ponto 1 = próximo de nascentes; ponto 2 = área com suinocultura; ponto 3 = contribuição urbana; ponto 4 = captação da Casan.

acidentados do rio onde a difusão dooxigênio do ar atmosférico para omeio líquido é facilitada.

O ponto 3, que representa acontribuição urbana, mostrou ummaior grau de contaminação em todosos parâmetros analisados, indicandoaltos níveis de poluição por esgotosdomésticos e efluentes industriais.

Na Tabela 3 estão representados osvalores do IQA obtidos a partir deuma média de dez coletas. Com basenessas médias, pode-se observar queo ponto 3 (que representa acontribuição urbana), seguido doponto 2 (que representa a atividadesuinícola), apresentou IQA na classeruim. Os pontos 1 e 4 apresentaramIQA na classe aceitável. Os parâmetrosque mais contribuíram para aclassificação da água dos pontos 2 e 3como ruim foram coliformes fecais,OD, turbidez, DBO e P-total, (Tabela2). Esses parâmetros foram maisdeterminantes devido à importâncianas condições ambientais da região,afetada pela produção de grandesquantidades de material orgânico deorigem animal no meio rural, e pelacarência de recolhimento e tratamentodo esgoto urbano-industrial nascidades. O impacto maior sobre o

ponto 3 é exatamente o resultado dapresença de efluentes domésticos eindustriais não tratados; já no ponto2, deve-se ao despejo de estercoanimal. Além da carga de efluentesnão tratados, tanto de origem animalquanto humana, a ocupação urbanaindiscriminada é uma forte ameaça àestabilidade ambiental da microbaciado Lajeado São José. O com-prometimento da qualidade da águaé mais acentuado na região urbana domunicípio, seguida pela região desuinocultura.

Considerando apenas os valoresmédios observados em cada ponto decoleta, não é possível observartendências claras quanto à qualidadeda água ao longo do tempo. Isso podeser visualizado na Figura 1, onde estãorepresentados os valores de cinco

campanhas, selecionadas aleatoria-mente para o cálculo do IQA.

Assim, quanto ao ponto 3 (urbano),verifica-se a permanência na classeruim em todas as campanhas, e aomenos em 3 campanhas o IQAaproximou-se muito da classepéssima. O ponto 2 foi consideradoruim em duas das cinco coletasapresentadas. Já os pontos 1 e 4, àexceção da 5a campanha, apre-sentaram IQA oscilando entre asclasses aceitável e boa.

A Figura 2 representa o grau decontaminação do Lajeado São José porCu, Zn e Pb, onde se destaca o ponto 3por apresentar níveis de contaminaçãocom valores de 0,03mg/L de Cu e0,04mg/L de Pb, bem acima dosmáximos permitidos pela Resolução357/2005, do Conama, (0,01mg/Lpara Pb e 0,009mg/L para Cu). Osdemais pontos, 1, 2 e 4, tambémapresentaram valores elevados parachumbo, e o ponto 1, especificamente,apresentou o valor de 0,01mg/L deCu, acima, portanto, do valor máximopermitido. Segundo Baker (1990), osníveis de Cu são afetados no solo e nasplantas por tratamentos que incluemfungicidas, fertilizantes, estercos deanimais e resíduos urbanos eindustriais.

Valores Atributo dede IQA qualidade da água

1 59 Aceitável2 45 Ruim3 34 Ruim4 59 Aceitável

Tabela 3. Valores do IQA obtidos nos 4pontos de coleta(1)

(1) Média de 10 coletas de junho de 2007 amarço de 2008.

Ponto

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Os sedimentos em suspensão sãoo principal meio de transporte dosmetais nas águas. Em seguida, essespoluentes são depositados novamenteem sedimentos de fundo, tornando-seimportantes reservatórios paracontaminação da água e da biota(Amado Filho et al., 1999). Osresultados permitem observar arelação direta entre a turbidez e osvalores dos sedimentos totaispresentes na água, permitindo dizerque quanto maior o teor desedimentos totais, maior a turbidez daágua. Dessa forma, a turbidez é maiorno ponto 3 (383,85 UT), exatamenteonde ocorrem os maiores valores paraos metais chumbo, cobre e zinco, quepodem estar adsorvidos às partículasde argilominerais e matéria orgânica(Tabela 2 e Figura 2).

Conclusões

• Os pontos 2 e 3, com IQA de 45 e34, respectivamente, têm enqua-dramento na classe ruim de qualidadeda água (cor laranja), e os parâmetroscoliformes fecais, OD, turbidez, DBOe P-total foram determinantes para oenquadramento nesta classe.

• O ponto 3 apresenta teores de Cue Pb acima do permitido pelalegislação, e os maiores teores de Znem relação aos demais pontosmonitorados.

• Os pontos 1 e 4, com IQA de 59,enquadram-se na classe aceitável e, àexceção do ponto 1, que apresentoucontaminação por Pb, nãoapresentaram problemas com osdemais metais pesados avaliados.

Figura 2. Concentração dos metais solúveis zinco, cobre echumbo, no Lajeado São José, Chapecó, SC

Figura 1. Valores de IQA obtidos nos quatro pontos de coleta em 5campanhas

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Introdução

A qualidade e o potencial dearmazenagem de maçãs sãoinfluenciados pelo estádio dematuração dos frutos na colheita(Knee & Smith, 1989; Blanpied &Silsby, 1992). Estudos demonstramque o ponto ideal da colheita de maçãsdestinadas à armazenagem por longosperíodos está associado ao estádio em

Validação de catálogos de cores como indicadores doestádio de maturação e do ponto de colheita de maçã

Luiz Carlos Argenta1, Marcelo José Vieira2 e Andreia Maria T. Scolaro3

Resumo – A validade dos catálogos de escalas de cores de fundo (cor da região menos avermelhada da epiderme)desenvolvidos para maçãs ‘Gala’ e ‘Fuji’ pela Epagri foi analisada neste estudo pela significância da correlação entre avariação dos índices de cores de fundo (estimados pelos catálogos de cores) e os demais índices de maturação. Asmudanças da cor de fundo em maçãs ‘Gala’, ‘Royal Gala’ e ‘Fuji’ estimadas por catálogo de cores (escala 1 a 5) serelacionaram significativamente com as mudanças da cor de fundo determinada por colorímetro, da firmeza da polpa,do índice de amido e do teor de sólidos solúveis totais. Os menores coeficientes de correlação ocorreram entre a cor defundo estimada pelo catálogo de cores e a acidez titulável, produção de etileno e intensidade de cor vermelha,especialmente em ‘Fuji’. A variação da firmeza de polpa em função da variação da cor de fundo se ajustou a modeloslineares ou quadráticos. Esses modelos foram usados para estimar os índices de cor de fundo do catálogo de corescorrespondentes ao período ideal de colheita, os quais variaram de 2,8 a 4,1 para ‘Gala’, 2,5 a 3,7 para ‘Royal Gala’ e 2,2a 3,6 para ‘Fuji’.

Termos para indexação: Malus domestica, cor de fundo, maturação, colheita.

Validation of ground color chart as indicators of maturity stage and harvest date of apples

Abstract – The ground color index is one of most used parameters for maturity assessment of green or partly redvarieties of apples at orchard. The validation of ground color (color on the least red part of skin) cards developed for‘Gala’ and ‘Fuji’ apples was assessed in the present study by the significance of correlation between ground colorindices (estimated by color chart) and other ripening indicators. Changes in ground color on ‘Gala’, ‘Royal Gala’ and‘Fuji’ estimated by color chart (1 to 5 scale) related significantly with evolution of other ripening indices includingground color measured by colorimeter, firmness, starch index, and soluble solids content. The lowest correlation indicesoccur between chart ground color and titratable acidity, ethylene production and red color intensity, particularly for‘Fuji’. Data of firmness changes fitted to linear or quadratic models as functions of ground color evolution. These modelswere used to estimate indices of chart ground color relative to optimum harvest period which vary from 2.8 to 4.1 for‘Gala’, 2.5 to 3.7 for ‘Royal Gala’ and 2.2 to 3.6 for ‘Fuji’.

Index terms: Malus domestica, ground color, ripening, harvest.

Aceito para publicação em 26/8/2010.1 Eng.-agr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (49) 3561-2000, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Bolsista do CNPq, Epagri/Estação Experimental de Caçador, fone: (49) 3561-2000.3 Eng.-agr., Bolsista do CNPq, Epagri/Estação Experimental de Caçador, fone: (49) 3561-2000.

que a taxa respiratória é mínima, opré-climatério (estádio que antecede oaumento acentuado e transitório darespiração), e ao início da síntese deetileno autocatalítico (Reid et al., 1973;Knee et al., 1983; Blanpied, 1986).Entretanto, essas medidas fisiológicasnão têm sido usadas como métodoprático na determinação do início dacolheita de maçãs pelos produtores.

As medidas práticas maisempregadas para monitorar aevolução da maturação na planta eindicar o ponto de colheita de maçãspelos produtores de maçãs são afirmeza da polpa, o índice dedegradação do amido, o índice de corde fundo da epiderme (casca), (cor dasuperfície menos exposta ao sol) e oteor de sólidos solúveis (Kingston,

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Figura 1. Catálogos de cores de fundo desenvolvidos pela Epagri para maçãs ‘Gala’ e ‘Fuji’

Nota: as cores aqui representadas podem não ser as reais do cartão.

1992; Blanpied & Silsby, 1992;Bartram, 1993). Esses índices físico--químicos se caracterizam pelasimplicidade dos métodos einstrumentos de avaliação e pelaaceitável precisão (Knee & Smith,1989). Mesmo assim, valores absolutosde índices físico-químicos oufisiológicos nem semprecorrespondem ao ponto ideal decolheita para máxima qualidade oupotencial de armazenagem devido,principalmente, às variações dascondições meteorológicas entreregiões ou anos e as variações de soloe sistemas de cultivo entre pomares(Kingston, 1992; Blanpied & Silsby,1992; Bartram, 1993).

O catálogo de escalas dedegradação do amido (Bender & Ebert,1985) e as medidas de firmeza dapolpa têm sido amplamenteempregados no Brasil para estimar oestádio de maturação de maçãs,especialmente nos laboratórios decontrole de qualidade e maturação dosetor produtivo. Já o índice de cor defundo e a intensidade de cor vermelhatêm sido usados como indicadorespráticos do ponto de colheita de maçãs‘Gala’ e ‘Fuji’ no pomar, especialmentepor pequenos produtores, tanto noHemisfério Norte, quanto na NovaZelândia (Watkins et al., 1993a;Kupferman, 1994) e no Brasil. Aintensidade da cor vermelha é umamedida de qualidade, enquanto a corde fundo é uma medida de maturação.Maçãs bicolores com alta intensidadede cor vermelha são preferidas pelosconsumidores e possuem maior valorcomercial (Harker et al., 2003). Amudança da cor de fundo, de verdepara amarelo, ou amarelo-laranja,resulta da redução do conteúdo declorofila e da revelação e aumento doconteúdo de carotenoides das célulasda epiderme (Knee, 1971). Essasalterações são estimuladas pelo etilenoe aumentam durante o climatério(Lelièvre et al., 1997). A cor de fundocorrespondente ao ponto de colheitanão é a mesma para todas as cultivarese pode variar entre os principaiscentros de produção, como Estados

Unidos e Nova Zelândia (Kingston,1992; Bartram, 1993).

As mudanças de cor de fundopodem ser avaliadas por métodosanalíticos de determinação daconcentração dos pigmentos clorofilae carotenoides dos tecidos ou porinstrumento de medida de cor(colorímetro). O colorímetro permiteexpressões numéricas e precisas decor, como o ângulo hue4 (relacionadoao tipo de cor: vermelho, amarelo,azul, etc.) e os índices L (medida debrilho) e C (medida de contraste esaturação) (McGuire, 1992). Noentanto, o colorímetro não tem sidousado pelos fruticultores e éraramente usado em laboratórios decontrole de qualidade e de análises damaturação do setor produtivo demaçãs. Na maioria dos países, osfruticultores ainda utilizam (oupreferem) os catálogos de cores aoscolorímetros. No Japão e na NovaZelândia, os catálogos de cores sãodistribuídos pelo serviço deassistência técnica governamentalpara orientar a colheita da maçã.

Apesar de os catálogos de escalasde cores de fundo para maçãs ‘Gala’ e‘Fuji’ (Argenta, 2004a; 2004b) (Figura1) serem atualmente utilizadoscomercialmente no Brasil, a suavalidade não foi relatada ainda. Porisso, o presente estudo foi conduzidopara determinar a relação entre avariação dos índices de cores de fundo(estimados pelos catálogos de escalasde cores de Argenta (2004a; 2004b)), eos demais índices de maturação demaçãs ‘Gala’, ‘Royal Gala’ e ‘Fuji’ paravalidação desses catálogos. Adicio-nalmente, determinaram-se os índicesde cor de fundo correspondentes aoperíodo ideal de colheita dessascultivares de maçãs.

Material e métodos

Origem dos frutos

A colheita de maçãs, ano agrícola2003/04, foi realizada em 16 pomarescomerciais da cultivar Gala, 14pomares comerciais da cultivar RoyalGala e 18 pomares comerciais dacultivar Fuji, em Santa Catarina.

4 “Hue” pode ser definido como “escala objetiva de cores” (medida por instrumento).

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Os frutos foram colhidossemanalmente por seis a sete semanas,dependendo do pomar, iniciandoduas a três semanas antes do ponto decolheita comercial previsto, com basena data da plena floração. Foramcolhidos 30 frutos por pomar e datade colheita, de 30 plantas previamentemarcadas em cada pomar.

Desenvolvimento e validação doscatálogos de cores

Estudos preliminares foramconduzidos com maçãs ‘Gala’ e ‘Fuji’colhidas em vários estádios dematuração, segundo a cor de fundo daregião menos exposta ao sol e menosavermelhada da superfície dos frutos,em 2002 e 2003. Valores de hue, L e C(McGuire, 1992) foram estimados porcolorímetro CR-200 (Minolta, Japão)nessa região menos exposta ao sol emenos avermelhada da superfíciedesses frutos. Selecionaram-se as coresdos catálogos-referência (usados paramaçãs na Nova Zelândia, EstadosUnidos, Itália, França e Japão) quemais se aproximavam da cor de fundodos frutos para cada cultivar e estádiode desenvolvimento, com base nosvalores de hue, L e C.

Catálogos preliminares comaproximadamente 30 cores foramimpressos por deposição de tinta foscaLacnitrocelulose específica paracatálogo de cores de frutos (TipoLac,São Paulo). Selecionaram-se 5 escalasde cores para a cultivar Gala e 5escalas de cores para a cultivar Fujipela proximidade dos valores de huedos frutos e das amostras de cores doscatálogos. Arbitrou-se uma escala deíndices de cores de 1 a 5,correspondentes a verde (índice 1) eamarelo (índice 5). A validade dosnovos catálogos de cores impressosem 2004 (Argenta, 2004a; 2004b) foideterminada pelos coeficientes decorrelação entre a cor de fundo e osdemais indicadores físico-químicos damaturação dos frutos medidos emdiferentes estádios de desenvol-vimento dos frutos.

Medidas da maturação e qualidadedos frutos

A qualidade e a maturação dosfrutos foram determinadas 1 dia apósa colheita. As análises da firmeza dapolpa, cor de fundo e intensidade decor vermelha foram realizadasindividualmente para cada fruto,enquanto as análises do teor de sólidossolúveis totais (SS), da acidez titulável(AT) e da taxa de produção de etilenoforam determinadas em quatroamostras de seis a oito frutos (± 1kg)por data de colheita e pomar. Afirmeza da polpa foi medida em doislados opostos da superfície de cadafruto, pela utilização de umpenetrômetro eletrônico motorizadocom ponteira de 11mm (Güss, Áfricado Sul). O teor de SS e a AT foramdeterminados no suco preparado comespremedor tipo Champion. O teor deSS foi medido usando-se refratômetrodigital (Atago, Tokyo), e a ATdeterminada pela titulação de 10ml desuco com 0,1N NaOH até pH 8,2,usando-se um titulador automático(Radiometer, França). A cor de fundofoi medida na área menos exposta aosol e menos avermelhada da superfíciedos frutos usando-se um colorímetroCR-200 (Minolta, Japão) e expressacomo ângulo hue (McGuire, 1992). Acor de fundo também foi estimadavisualmente, dando-se notas de 1 a 5,conforme catálogo de escalas de coresdesenvolvido para maçãs ‘Gala’ e‘Fuji’ (Argenta, 2004a; 2004b). Aintensidade (%) de cor vermelha foiestimada visualmente, considerando aporcentagem de área avermelhadarelativa à superfície total do fruto e àdensidade de cor vermelha,especialmente entre as estrias de corvermelha. Considerou-se como menordensidade de vermelho para asuperfície mais estriada.

As avaliações das taxas deprodução de etileno foram feitas emquatro amostras de frutos por data decolheita e por pomar, usando umsistema de fluxo contínuo. Amostrasde frutos (± 1kg) foram colocadas 1 diaapós a colheita, em jarras de 4L,supridas com ar comprimido, livre deetileno, a 100ml/min, e mantidas a 23

± 0,3oC durante 12h. No ar efluente foianalisada a concentração de etilenopor meio de um cromatógrafo a gás(Shimadzu 14B, Japão).

Análise de dados

Os coeficientes de correlação e suasignificância entre o índice de cor defundo (medido pelos catálogos deescalas de cores) e os demais indicado-res da qualidade e maturação dos fru-tos foram determinados pelo testePerson Product-Moment, usando mé-dias de 30 medidas de firmeza, índicede amido, índices de cor de fundo (huee do catálogo) e intensidade de cor ver-melha e de quatro medidas de AT, SSe etileno, de cada data de colheita epomar.

Os dados também foram submeti-dos à análise de regressão paradeterminar os modelos de variaçãodos índices de maturação e qualidadeem função da variação do índice de corde fundo. Selecionaram-se modeloslineares ou quadráticos que melhor seajustaram aos dados com base na suasignificância, determinada pelo testeF, e no índice R2. Os dados foramanalisados usando o Sistema deAnálise Estatística para micro-computador (SAS Inc.). Equações deregressão lineares ou quadráticas fo-ram usadas para estimar os índices decor de fundo correspondentes aoperíodo ideal de colheita de maçãs‘Gala’ e ‘Fuji’.

Resultados e discussão

Validação dos catálogos de cores

A relação entre o índice de cor defundo estimado visualmente pelocatálogo de escalas de cores e osdemais indicadores de maturação foialtamente significativa para as trêscultivares estudadas (Figuras 2 e 3).Isso significa que a variação dafirmeza, o índice de amido, os sólidossolúveis (SS), a acidez titulável (AT),a cor de fundo hue, a produção deetileno e a intensidade de cor vermelhados frutos foram associados à variaçãodo índice de cor de fundo estimadopelo catálogo de cor.

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Notas: - ‘r’ indica o coeficiente de relação entre o índice de cor de fundo (escala 1 a 5) eos demais índices;

- os três asteriscos indicam significância (p < 0,001) pelo teste de PersonProduct-Moment;

- as setas no interior do gráfico superior esquerdo projetam os índices de cor defundo no período ideal de colheita (firmeza da polpa entre 17 e 19 lb) de frutosdestinados à armazenagem.

Figura 2. Evolução dos índices de maturação de maçãs ‘Gala’ (círculos vazios) e ‘RoyalGala’ (círculos cheios) em função da variação dos índices de cor de fundo determinadapelo catálogo de cores

Os coeficientes de correlação forammenores para a ‘Fuji’ em relação à‘Gala’ e à ‘Royal Gala’. Apesar deserem significativos, os coeficientes derelação entre a cor de fundo estimadapelo catálogo de cores e a AT, a taxade produção de etileno e a intensidadede cor vermelha foram menores secomparados aos coeficientes derelação entre a cor de fundo e osdemais indicadores da maturação(Figuras 2 e 3).

O alto coeficiente de relação entrea cor de fundo medida pelo catálogode cores e a cor hue indica que as

mudanças de cor de fundo queacompanham as alterações dosestádios de maturação de maçãspodem ser estimadas por ambos osmétodos, especialmente para ascultivares Gala e Fuji. As medidas decor determinadas por colorímetro (ex.:hue) se caracterizam pela precisão,rapidez e simplicidade do método(McGuire, 1992). Esse método éespecialmente útil para identificarvariações mínimas de cores emsuperfícies de cores uniformes. Já ocatálogo de cores dispensa a aquisiçãode instrumentos, pode ser facilmente

carregado para pomares e ser usadopara treinamento dos colhedores defrutas. O catálogo de cores é vantajosoem relação ao colorímetro paracultivares de maçãs com maiorintensidade de cor vermelha rajada,como é o caso da ‘Royal Gala’. Osvalores de cor hue em maçãs ‘RoyalGala’ foram inferiores aos de maçãs‘Gala’ quando ambas apresentavam omesmo índice de cor 4 ou 5 do catálogode cores (Figura 1). Isso possivelmentese deve à interferência da cor vermelhadetectada pelo colorímetro edesconsiderada nas medidas sub-jetivas feitas com o catálogo de cores.A intensidade da cor vermelha naregião menos exposta ao sol em maçãs‘Gala’ é menor que aquela em maçãs‘Royal Gala’. Por isso, os valoresabsolutos de hue correspondente acada índice do catálogo de cores sãomais corretos quando medidos nasuperfície de maçãs ‘Gala’ que nasuperfície de maçãs ‘Royal Gala’.

Os resultados indicam que oscatálogos de cores empregados nesteestudo podem ser seguros paraestimar o estádio de maturação e oponto de colheita de maçãs ‘Gala’,‘Royal Gala’ e ‘Fuji’. No entanto, éimportante considerar que nemsempre ocorre perfeito sincronismoentre os vários processos fisiológicosassociados à maturação dos frutos naplanta (Knee, 1971), embora a maioriadeles seja altamente dependente daação do fitormônio etileno (Lelièvre etal., 1997). Por isso, nenhum indicadorde maturação pode ser usadoisoladamente, de forma segura, paraindicar o estádio de maturação e pontode colheita de maçãs (Kingston, 1992;Blanpied & Silsby, 1992; Bartram,1993). Um índice composto por trêsmédias físico-químicas tem sidosugerido como método mais seguropara estimar o estádio de maturaçãode maçãs (Streif, 1989).

A cor de fundo é um dosindicadores da evolução da maturaçãomais utilizados para estimar o períodode colheita de maçãs ‘Gala’, ‘RoyalGala’ e ‘Fuji’ nos Estados Unidos e naNova Zelândia, embora ela possa serinfluenciada pela data de colheita eregião de produção (Watkins et al.,

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75Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Notas: - ‘r’ indica o coeficiente de correlação entre o índice de cor de fundo (escala 1 a 5) eos demais índices;

- os três asteriscos indicam significância (p < 0,001) pelo teste de Person Product-Moment;

- as setas no interior do gráfico superior esquerdo projetam os índices de cor defundo no período ideal de colheita (firmeza da polpa entre 16 e 18 lb) de frutosdestinados à armazenagem.

Figura 3. Evolução dos índices de maturação de maçãs ‘Fuji’ em função da variação dosíndices de cor de fundo determinada pelo catálogo de cores

1993a; 1993b; Plotto et al., 1995). Frutoscom uma cor de fundo específicapodem ter menor firmeza e maioríndice de degradação de amidoquando colhidos tarde (nas últimaspassadas) que frutos colhidos nasprimeiras passadas. Frutos de regiõesmais frias podem apresentar menoríndice de amido e maior firmeza depolpa que frutos de regiões quentes,embora apresentem a mesma cor defundo (Watkins et al., 1993a) pois,baixas temperaturas favorecem oacúmulo de carotenoides na epidermedas maçãs (Kingston, 1992). Frutoscom elevados níveis de nitrogênio

podem exibir cor de fundo mais verde,embora possam apresentar reduzidafirmeza da polpa e avançado índice dedegradação de amido (Raese &Williams, 1974).

Evidentemente, o catálogo de coresde fundo não pode ser usado paraclones de ‘Gala’ e ‘Fuji’ comintensidade de cor vermelha muitoalta e não estriada, como é o caso da‘Fuji Suprema’. No entanto, catálogosde cores de fundo podem serempregados para clones de corvermelha estriada, mesmo que aincidência de cor vermelha seja maiorque as de ‘Gala’ e ‘Fuji’, como é caso

da ‘Royal Gala’ (Figura 1), ‘ImperialGala’, ‘Maxi Gala’, ‘Mishima’ e ‘Kiku8’, atualmente cultivadas no sul doBrasil.

Índice de cor de fundo do catálogode cores para o período ideal decolheita

O período ideal de colheita dasmaçãs destinadas à armazenagemocorre quando a firmeza da polpa, nacolheita, está entre 17 e 19lb para‘Gala’ e entre 16 e 18lb para ‘Fuji’(Argenta & Mondardo, 1994; Argentaet al., 1995; Plotto et al., 1995). Aqualidade sensorial após longosperíodos de armazenagem é máximaquando ‘Gala’ e ‘Fuji’ são colhidasnesses intervalos de firmeza (Plotto etal., 1995). Os riscos de desen-volvimento dos distúrbios fisiológicos“bitter pit” e escaldadura superficialaumentam muito quando a firmeza dapolpa, na colheita, for superior a 19lbpara ‘Gala’ e superior a 18lb para ‘Fuji’(Plotto et al., 1995). Por outro lado, osriscos de desenvolvimento depodridões e distúrbios por senescênciae por CO2 aumentam muito quando afirmeza da polpa, na colheita, forinferior a 17lb para ‘Gala’ e inferior a16lb para ‘Fuji’ (Argenta & Mondardo,1994; Plotto et al., 1995; Argenta et al.,2002).

Considerando que o período idealde colheita de maçãs ‘Gala’ ocorrequando a firmeza da polpa está entre17 e 19lb (Argenta & Mondardo, 1994),o índice de cor de fundo projetado pelaanálise de regressão estará entre 2,8 e4,1 para ‘Gala’ e 2,5 e 3,7 para ‘RoyalGala’ (Figura 1, Tabela 1). Essesresultados demonstram que, para ummesmo valor de cor de fundo, afirmeza da polpa é ligeiramentesuperior e o índice de degradação deamido ligeiramente inferior em maçãs‘Gala’ quando comparados com maçãs‘Royal Gala’.

Por outro lado, levando em contaque o período de colheita comercial demaçãs ‘Fuji’ ocorre quando a firmezada polpa está entre 16 e 18lb (Argentaet al., 1995; Plotto et al., 1995), o índicede cor de fundo do catálogo de cores,

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76 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Significância(3)

Linear QuadráticoGalaFirmeza da polpa (lb) 19,0 17,0 y = 0,24x2 – 3,20x + 26,2 *** ***Cor de fundo (catálogo) 2,8 4,1Cor de fundo (hue) 105,6 95,4 y = -1,4x2 - 0,08x + 114,6 *** ***

Índice de amido (1 a 9) 2,8 5,7 y = 0,34x2 - 0,11x + 0,46 *** ***Sólidos solúveis (%) 11,0 12,4 y = 1,04x + 8,09 *** ns

Etileno (nMol/kg/h) 75,7 163,0 y = 10,06x2 - 2,29x + 1,6 *** ***

Cor vermelha (%) 53,3 64,7 y = -2,67x2 + 27,4x - 2,9 *** ***Royal GalaFirmeza da polpa (lb) 19,0 17,0 y = 0,29x2 - 3,5x + 25,9 *** ***

Cor de fundo (catálogo) 2,5 3,7Cor de fundo (hue) 93,7 78,2 y = -13,3x + 127,0 *** ns

Índice de amido (1 a 9) 3,0 5,5 y = 0,23x2 + 0,73x - 0,33 *** ***

Sólidos solúveis (%) 10,6 11,9 y = 1,07x + 7,96 *** ns

Etileno (nMol/kg/h) 58,8 128,0 y = 23,4x2 - 57,4x + 40,9 *** ***Cor vermelha (%) 61,6 72,0 y = -1,5x2 + 18,4x + 25,2 *** ***FujiFirmeza da polpa (lb) 18,0 16,0 y = -1,4x + 21,1 *** ns

Cor de fundo (catálogo) 2,2 3,6Cor de fundo (hue) 107,0 95,5 y = -8,2x + 125,9 *** ns

Índice de amido (1 a 9) 3,5 5,5 y = 0,2x2 + 0,25x + 2,0 *** ***Sólidos solúveis (%) 13,0 14,4 y = 1,02x + 10,75 *** ns

Etileno (nMol/kg/h) 63,1 100,4 y = 26,7x + 4,6 *** ns

Cor vermelha (%) 44,4 61,0 y = -2,8x2 + 28,1x - 3,6 *** ***

Tabela 1. Índices de maturação correspondentes ao período ideal de colheita1 estimados pelas respectivas funções deregressão e significância de modelos lineares e quadráticos testados para variação dos índices de maturação emfunção da variação da cor de fundo do catálogo

(1) Período em que a firmeza estava entre 19 e 17lb para ‘Gala’ e ‘Royal Gala’ e entre 18 e 16lb para ‘Fuji’.(2) Funções de regressão usadas como modelos de variação dos respectivos índices de maturação em relação à variação do índice de cor defundo do catálogo de cores, apresentados nas Figuras 1 e 2.(3) Significante para p < 0,001 (***) ou não significante para p < 0,05 (ns) para os modelos lineares e quadráticos testados.

projetado pela análise de regressão,está entre 2,2 e 3,6.

Conclusões

• As mudanças de cor de fundo emmaçãs estimadas por catálogos decores de Argenta (2004a; 2004b) serelacionam significativamente com asmudanças de outros indicadores daevolução da maturação, incluindo acor de fundo determinada por

colorímetro, firmeza da polpa,degradação do amido e teor de SS.

• Os coeficientes de relação entrecor de fundo estimada pelos catálogosde cores e AT, taxa de produção deetileno e intensidade de cor vermelhasão menores na ‘Fuji’.

• Os índices de cor de fundo doscatálogos de cores relativos ao períodoideal de colheita variam de 2,8 e 4,1para ‘Gala’, 2,5 a 3,7 para ‘Royal Gala’e 2,2 a 3,6 para ‘Fuji’.

Literatura citada

1. ARGENTA, L.C. Índice de cores paramaçãs ‘Fuji’. Florianópolis: Epagri,2004b. Cartão.

2. ARGENTA, L.C. Índice de cores paramaçãs ‘Gala’. Florianópolis: Epagri,2004a. Cartão.

3. ARGENTA, L.C.; MONDARDO,M. Maturação na colheita equalidade de maçãs ‘Gala’ após a

Parâmetro Índice de maturação Função(2)

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77Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

armazenagem. Revista Brasileira deFisiologia Vegetal, Campinas, v.6,n.2, p.135-140, 1994.

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9. BLANPIED, G.D.; SILSBY, K.J.Predicting harvest date windows forapples. Ithaca: Cornell CooperativeExtension Information, 1992. 12p.

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quality: an interpretive review ofconsumer attitudes, andpreferences for apples. PostharvestBiology and Technology, Amsterdam, v.28, n.3, p.333-347,2003.

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13. KNEE, M.; SMITH, S.M.;JOHNSON, D.S. Comparison ofmethods for estimating the onset ofrespiration climacteric in unpickedapples. Journal of HorticulturalScience, Ashford, v.58, n.4, p.521-526, 1983.

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23. WATKINS, C.B.; BROOKFIELD,P.L.; HARKER, F.R. Developmentof maturity indices for the ‘Fuji’apple cultivar in relation towatercore incidence. ActaHorticulturae, Wellington, v.326,p.267-276, 1993b.

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78 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Introdução

No Estado de Santa Catarina omilho é a cultura de maiorimportância na agropecuária, tantoem volume colhido como na formaçãodo valor bruto da produção. A culturado milho é estratégica no fornecimentode alimentos para a suinocultura epara a avicultura, as quais são asprincipais atividades supridoras de

Variedades de milho de polinização aberta SCS155 Catarinae SCS156 Colorado para a agricultura familiar

Estanislao Díaz Dávalos1 e Gilcimar Adriano Vogt2

Resumo – Os híbridos em geral são mais exigentes em relação à aplicação de tecnologia, como correção de acidez desolo, utilização de nutrientes, bom suprimento de umidade no solo. Entretanto, a maioria dos pequenos agricultores nãodispõe de recursos financeiros para aplicar a tecnologia exigida para explorar o potencial genético dos híbridos,prejudicando o rendimento da cultura e, consequentemente, obtendo baixa remuneração em sua atividade produtiva.Uma das alternativas viáveis para a realidade dos pequenos produtores é a utilização de variedades de polinizaçãoaberta. Com bases nessa fundamentação, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina(Epagri) vem trabalhando com o melhoramento genético de milho visando à criação de variedade de milho de polinizaçãoaberta para utilização na pequena propriedade. Assim sendo, este trabalho resultou na criação de mais duas variedadesde milho de polinização aberta, denominadas SCS155 Catarina e SCS156 Colorado, inscritas no Registro Nacional deCultivares (RNC) do Ministério de Agricultura. Juntamente com as variedades SCS153 Esperança e SCS154 Fortuna, elasestão sendo disponibilizadas para os produtores da agricultura familiar.

Termos para indexação: Milho, variedade de polinização aberta, indicação.

SCS155 Catarina and SCS156 Colorado open pollinated corn varietiesfor small farm agriculture

Abstract – Hybrids are generally more demanding in relation to technology application, such as correction of soil acidity,nutrient utilization, good supply of soil moisture. However, most small farmers do not have financial resources toimplement the technology required to explore the hybrid’s genetic potential. Thus, it affects crop yield and consequentlysmall farmers get low pay for their activity. One of the viable alternatives for the reality of small producers is the use ofopen pollinated varieties. Based on this idea, the Institute for Agricultural Research and Rural Extension of Santa Catarina(Epagri) has been working with the genetic improvement of maize, aiming at the creation of a maize open pollinationvariety for use in small farms. Thus, the work resulted in the creation of two new varieties of open pollination maize:SCS155 Catarina and SCS156 Colorado, which entered the National Register of Plant Varieties (RNC) from the Ministryof Agriculture. Along with the varieties SCS153 Esperança and SCS154 Fortuna, they are starting to be available tofamily farmers.

Index terms: Corn, open pollinated variety, indication.

Aceito para publicação em 28/9/10.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600,e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 3624-1144, e-mail:[email protected].

matéria-prima para a agroindústriacatarinense.

No contexto estadual, a maioriados agricultores utiliza sementes demilho híbrido, comprando-asanualmente, mas é ainda expressivoo número de pequenos produtores queutilizam sementes de paiol,constituídas de gerações avançadas dehíbridos ou sementes de origem devariedades comuns sem nenhum

melhoramento. O uso dessas sementestem como implicação direta alimitação do rendimento, com reflexoeconômico e social palpáveis.

As sementes híbridas têm altocusto e em geral são mais exigentes emrelação à aplicação de tecnologia,quais sejam: correção de acidez desolo, utilização de nutrientes e bomsuprimento de umidade no solo.Entretanto, a maioria dos pequenos

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79Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

agricultores não dispõe de recursosfinanceiros para aplicar a tecnologiaexigida para explorar o potencialgenético dos híbridos, prejudicando orendimento da cultura e, con-sequentemente, obtendo baixaremuneração em sua atividadeprodutiva.

Uma das alternativas viáveis paraa realidade dos pequenos produtoresé a utilização de variedades depolinização aberta. Segundo Emygdio(2004), existem pelo menos três fatoresque colocam as cultivares de milho dotipo varietal como uma excelenteopção para agricultores de pequenapropriedade, geralmente desca-pitalizados ou de baixa tecnologia, quesão: a) o baixo custo da semente, atécinco vezes menor que o custo dasemente de uma cultivar híbrida; b) apossibilidade de produção de sementeprópria, pois, ao contrário doshíbridos, as variedades de milho nãoperdem o potencial produtivo quandosemeadas na safra seguinte; e c) amaior plasticidade das variedades sobcondições de estresse.

Com base nessa fundamentação, aEpagri vem trabalhando com omelhoramento genético de milho,visando à criação de variedade demilho de polinização aberta parautilização na pequena propriedade.

Origens das variedades

A variedade SCS155 Catarina éoriunda de um composto constituídopor 14 híbridos, iniciado em 1999 eregistrado inicialmente comocomposto CPPP/99. Foi selecionadano experimento de intercruzamentosdurante seis gerações e avaliada emensaio de competição de cultivares emdiferentes regiões edafoclimáticas.Devido ao excelente desempenho domaterial, procedeu-se à multiplicaçãoda semente genética (Figura 1).

A variedade SCS156 Colorado,inicialmente registrada comoComposto Seleção Flint, eposteriormente como Cepaf 3, foiconstituída a partir de cruzamentos de31 linhagens e 4 populaçõessubtropicais, recebidas do CentroInternacional de Mejoramiento deMaíz y Trigo (Cimmyt), México. Paraa formação de um novo composto,procedeu-se ao cruzamento com

híbridos comerciais brasileiros, comcaracterísticas predominantemente degrãos vermelhos e de sabugos finos(Figura 2). Cumpridas as etapas derecombinação, seleção e avaliação emexperimento, procedeu-se àmultiplicação da semente genética.

Material e métodos

O melhoramento genético consiste,basicamente, em aumentar asfrequências de genes superioresdentro da população a ser melhoradaatravés de um processo dinâmico,contínuo e progressivo, denominadoa cada etapa como ciclo de seleção.Sendo assim, procedeu-se à seleção degermoplasmas competitivos, tantopara rendimento de grãos como paraas características agronômicasdesejáveis.

Os métodos de melhoramentousados foram o de seleção massalestratificada e o de seleção entre (edentro de) famílias de meios-irmãos,

seleção em menor tempo, as progêniesforam recombinadas pelo “MétodoIrlandês Modificado” utilizando-se arelação de três linhas fêmeas para umalinha polinizadora.

Como parâmetros de comparaçãoforam usados dois híbridos comerciaisde ampla adaptação no Estado deSanta Catarina e uma variedade depolinização aberta. Assim, no mesmoano se tem recombinação, avaliação eseleção entre as progênies e dentrodelas.

Na avaliação das progênies, alémdo rendimento de grãos, foramtomadas as seguintes medições: datade florescimento feminino, altura dasplantas e da inserção das espigas,número total de plantas por parcela,plantas acamadas e quebradas,doenças foliares, número de espigas,número de espigas danificadas oudoentes, relação de peso espiga/grão,determinação de umidade no grão,empalhamento, produção de grãos etipo de grão. Dentro das progênies, no

Figura 1. Colmos e espigas da variedade SCS155 Catarina

Figura 2. Espiga da variedade SCS156 Colorado

utilizando-se na re-combinação o “Mé-todo Irlandês Modi-ficado”.

Os locais deavaliação ou seleçãoforam: Chapecó,Campos Novos, Cam-po Erê, Canoinhas eSão Miguel do Oeste.

Anualmente, cadapopulação foi for-mada a partir de 193espigas, oriundas deseleção realizada emcampo no ano an-terior. Dessa forma,para se obteremmaiores ganhos de

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2004/05 2005/06 2006/07 2007/081 2 3 2 1 2 1 3 2

.....................................................................kg/ha...............................................................................Testemunha 1 (híbrido) 7.114 6.793 7.503 7.966 5.858 9.972 6.675 8.367 10.096 7.816Testemunha 2 (híbrido) 6.259 6.674 7.772 7.841 5.347 8.827 7.220 8.897 9.483 7.591Testemunha 3 (vpa) 4.893 7.238 6.796 7.999 4.699 8.619 7.008 7.724 9.488 7.163SCS 155 Catarina 6.799 7.075 6.857 8.881 6.337 10.312 6.178 7.565 10.179 7.798

Tabela 1. Ensaios de rendimento de grãos da variedade SCS155 Catarina e de três cultivares de milho (testemunhas) em diferentesanos agrícolas e municípios(1) do Estado de Santa Catarina

(1) 1 = Chapecó; 2 = Canoinhas; 3 = Campos Novos.Nota: As testemunhas são materiais de ponta, que mais se destacaram nas diversas regiões do Estado.

campo, a primeira avaliação foi deseleção visual, levando em contaaspectos fenotípicos e de sanidade daplanta.

Resultados

Com as seleções de espigas naspopulações ou nos compostosrealizados anualmente foram orga-nizados novamente os experimentospara outro ciclo de recomendação eseleção. Dessa forma, conseguiu-seum aumento significativo dos alelosfavoráveis dentro da população, eapós o sexto ciclo de seleção (S6) seiniciou a multiplicação de sementesgenéticas escolhendo as 40 melhoresprogênies, o que deu origem àmultiplicação da semente básica.

Assim sendo, o trabalho resultouna criação de duas variedades demilho de polinização aberta,denominadas SCS155 Catarina e aSCS156 Colorado, inscritas noRegistro Nacional de Cultivares(RNC) do Ministério da Agricultura.Juntamente com as variedades SCS153Esperança e SCS154 Fortuna estãosendo disponibilizadas para osprodutores da agricultura familiar. Avariedade Catarina está sendocomercializada pela Federação dosTrabalhadores na Agricultura doEstado de Santa Catarina (Fetaesc),enquanto a variedade Colorado estáem fase de multiplicação de sementes.

O rendimento dos grãos davariedade SCS155 Catarina éapresentado na Tabela 1.

Características da variedade demilho de polinização aberta SCS155Catarina

- Florescimento masculino: 76 dias.- Florescimento feminino: 80 dias.- Altura média da planta: 230cm.- Altura média da inserção da

espiga: 120cm.- Tipo de grão: Duro.- Comprimento médio das espigas:

19cm (Figura 3).

- Diâmetro médio das espigas:5,2cm.

- Número de fileiras de grãos: 16(14 a 18).

- Coloração dos grãos: Amareloa alaranjado.

- Empalhamento: Alto (cobrecompletamente a espiga) (Figura 4).

- Peso de mil sementes: 421g.- Qualidades nutricionais:PB (%): 11,66.

Figura 3. Espigas da variedade SCS155 Catarina

Figura 4. Empalhamento da variedade SCS155 Catarina

Média

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81Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

- Acamamento: Em condiçõesnormais é resistente ao acamamento.

- Limitações da cultivar: Evitarplantios tardios e densidadessuperiores a 55.000 plantas porhectare.

- Região de adaptação: Estado deSanta Catarina, especialmentemesorregião Oeste e Planalto Norte,realizando a semeadura em épocasrecomendadas para o Estado,seguindo o zoneamento agrícola paraa cultura do milho.

O resultado dos ensaios sobre orendimento da variedade SCS156Colorado pode ser observado naTabela 2.

Características da variedade demilho de polinização aberta SCS156Colorado

- Florescimento masculino: 74 dias- Florescimento feminino: 78 dias- Altura média da planta: 245cm- Altura média da inserção da

espiga: 140cm- Tipo de grão: Duro- Comprimento médio das espigas:

18cm- Diâmetro médio das espigas:

5,1cm- Número de fileiras de grãos: 16

(14 a 18)- Coloração dos grãos: Vermelha

(Figura 5)- Empalhamento: Alto (cobre

completamente a espiga) (Figura 6)- Peso de mil sementes: 397g- Qualidades nutricionais:PB (%): 10,03- Acamamento: Em condições

normais é resistente ao acamamento.- Limitações da cultivar: Evitar

plantios tardios e densidadessuperiores a 55.000 plantas porhectare.

Literatura citada1. EMYGDIO, B.M. Cultivares demilho de tipo varietal. Disponível em:<www.embrapa.brinformativovia-trigoviatrigo3.htm>. Acesso em :5fev.2004.

Figura 6. Empalhamento recobre toda a espiga da variedade SCS156 Colorado

Figura 5. Aspectos da coloração vermelha dos grãos da variedade SCS156 Colorado

2004/05 2005/06 2006/07 2007/08 2008/091 2 3 2 1 2 1 3 2 2

..................................................................kg/ha...............................................................................Testemunha 1 (híbrido) 4.893 7.238 6.796 7.999 4.699 8.619 7.008 7.724 9.488 4.680 6.914Testemunha 2 (vpa) 7.114 6.793 7.503 7.966 5.858 9.972 6.675 8.367 10.096 5.388 7.573SCS156 Colorado 5.931 6.474 7.132 8.101 5.636 9.236 6.983 6.939 8.616 5.479 7.053

Tabela 2. Ensaios de rendimento de grãos da variedade SCS156 Colorado e duas cultivares de milho (testemunhas) em diferentesanos agrícolas e municípios(1) do Estado de Santa Catarina

(1) 1 = Chapecó; 2 = Canoinhas; 3 = Campos Novos.Nota: As testemunhas são materiais de ponta, os que mais se destacaram nas diversas regiões do Estado.

- Região de adaptação: Estado deSanta Catarina, especialmentemesorregião Oeste e Planalto Norte,realizando a semeadura em épocasrecomendadas para o Estado,seguindo o zoneamento agrícola paraa cultura do milho.

Média

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82 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Introdução

A mancha da gala (MG) é umadoença da macieira tipicamentebrasileira. Foi relatada pela primeiravez no Estado do Paraná em 1983(Leite et al., 1988) e disseminou-se portodas as regiões do Brasil onde amacieira é cultivada. No Estado deSanta Catarina, a MG se estabeleceuno ciclo 1988/89. Contudo, até o ciclo1997/98, ficou restrita às regiões maisquentes, com altitude inferior a1.200m. Então, devido ao fenômeno ElNiño, a doença se disseminou pelasregiões mais altas e frias de SantaCatarina (1.300 a 1.500m), tornando-

Modelo de previsão da mancha da gala na macieira baseadona temperatura e na duração do molhamento foliar1

Yoshinori Katsurayama2 e José Itamar da Silva Boneti3

Resumo – Visando desenvolver um modelo de previsão da mancha da gala (Colletotrichum gloeosporioides), em casa devegetação, em mudas de macieira com apenas uma haste, da cultivar Gala, foram inoculadas com suspensão de 1 x 106

conídios/ml de C. gloeosporioides e depois mantidas em câmara de inoculação a 12, 14, 16, 18, 20, 22, 24 e 26ºC (> 98% deumidade relativa do ar, no escuro) durante 8, 10, 12, 18, 24, 30, 36, 42, 48, 54, 60, 66, 72 e 96h. Foram, então, transferidaspara uma sala de crescimento (14h de fotófase) nas mesmas temperaturas da inoculação. Pela interação entre o períodode molhamento foliar e as diferentes temperaturas foi possível estabelecer uma superfície de resposta como modelopara estimar a severidade da mancha da gala, cuja equação resultante é: Y = -91,497 + (7,851 x T) + (0,243 x PMF) + (-0,177x T x T) + (0,021 x T x PMF) + (-0,002 x PMF x PMF), onde T = temperatura (ºC) e PMF = período de molhamento foliar(h).

Termos para indexação: Malus domestica, Colletotrichum gloeosporioides, epidemiologia, previsão da doença.

Model for forecasting the leaf spot disease in apple trees based on temperature and leafwetness duration

Abstract – The effect of temperature and leaf wetness duration on the development of Glomerella leaf spot disease wascharacterized in greenhouse study. Potted apple plants of cv. Gala were inoculated with C. gloeosporioides (106 conidia/ml), and submitted to 12, 14, 16, 18, 20, 22, 24 and 26°C under continuous wetness (8, 10, 12, 18, 24, 30, 36, 42, 48, 54, 60,66, 72 and 96h). The best equation to explain the interaction between leaf wetness duration (LWD, h) and temperature (T,ºC) on the severity of Glomerella leaf spot was Y = -91,497 + (7,851 x T) + (0,243 x LWD) + (-0,177 x T x T) + (0,021 x T xLWD) + (-0,002 x LWD x LWD).

Keywords: Mallus domestica, Colletotrichum gloeosporioides, epidemiology, disease forecast.

Aceito para publicação em 30/9/10.1 Este trabalho foi executado com recursos do Projeto Inovamaçã.2 Eng.-agr., M.Sc, Epagri/Estação Experimental de São Joaquim, C.P. 81, 88600-000 São Joaquim, SC, fone: (49) 3233-0324, e-mail:[email protected] Eng.-agr., M.Sc, Epagri/Estação Experimental de São Joaquim, e-mail: [email protected].

-se um dos problemas fitossanitáriosmais sérios da cultura da macieira(Katsurayama et al., 2000) (Figura 1).

O sistema de controle da MGatualmente em uso consiste naaplicação de fungicidas protetores apartir do final da floração da macieira(outubro) até o período pós-colheitada maçã ‘Gala’ (final de março)(Katsurayama & Boneti, 2009). Issoimplica grande número de pulve-rizações, principalmente de fungicidasdo grupo dos ditiocarbamatos.

Alguns estudos foram realizadosvisando ao desenvolvimento de ummodelo de previsão dessa doença. Omodelo empírico descrito por Bleicher

et al. (1995) relaciona a epidemia daMG à ocorrência de temperatura >18ºC e ao período de molhamentofoliar (PMF) e > 14h, ou 10h ou maisde UR (umidade relativa) > 90%quando, então, é considerado um diafavorável. O controle é recomendadoquando ocorrerem 4 ou mais diasfavoráveis nos últimos 10 dias.

Katsurayama et al. (2000)associaram os dados meteorológicoscoletados em cinco regiões pomícolasrepresentativas do Estado de SantaCatarina com o estabelecimento e aevolução da MG nas áreasmonitoradas. Com isso, desen-volveram um modelo empírico de

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83Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Figura 1. Sintomas da mancha da gala em cultivar Gala (A) no fruto e (B) nas folhas

previsão baseado na ocorrência de 3ou mais dias consecutivos de chuva,PMF > 10h e temperatura durante oPMF > 15ºC. Mais tarde, Katsurayama& Boneti (2006) ajustaram o modeloempírico acima para contemplar astemperaturas < 15°C, bem como osPMF > 20h/dia e, com isso, classificarmais precisamente os períodos críticosda doença.

Crusius et al. (2002) desen-volveram, em ensaios sob condiçõescontroladas, um modelo indutivo paraprevisão da MG baseado na interaçãoentre a temperatura e o período demolhamento foliar na severidade daMG. Trabalhos subsequentesindicaram a necessidade de ajustaresse modelo, tanto para PMF menoresque 12h, quanto para temperaturasinferiores a 14°C.

Este estudo teve como objetivocontribuir para o aperfeiçoamento domodelo indutivo de previsão da MGpor meio de avaliações, em condiçõescontroladas, do efeito da temperaturae do período de molhamento foliar naseveridade da MG.

O estudo foi realizado em 2008 e2009. Foram utilizadas macieiras dacultivar Gala com haste única,mantidas em casa de vegetação emvasos contendo 2L de solo.Colletotrichum gloeosporioides utilizadono presente ensaio foi o isolado CG197, coletado em 1992 em Frei Rogério,SC, de folha de macieira cultivar Galae mantido em meio de cultura BDA(batata, dextrose, ágar). O inóculo foiproduzido transferindo--se três discosde micélio (6mm de diâmetro)

cultivado em meio de BDA (39g/L,Merck), para o meio líquido dedextrose (10g/L) e batata (200g/L) emantido sob agitação, no escuro, a20ºC, durante 4 dias. A suspensão deconídios foi, então, ajustada utilizandoum hemacitômetro para 1 x 106

conídios/ml e a face adaxial das folhasinoculada com um pul-verizadormanual até o ponto de gotejamento.Após a inoculação, as plantas forammantidas na câmara de inoculaçãodurante 8, 10, 12, 18, 24, 30, 36, 42, 48,54, 60, 66, 72 e 96h à temperatura de12, 14, 16, 18, 20, 22, 24 e 26ºC, deacordo com o experimento. Com-pletados os períodos estabelecidos, asplantas foram transferidas para umfítotron a 50% de UR, 9.000lux emesma temperatura do ensaio, ondeforam mantidas durante 30min parainterromper o molhamento. Depois,foram transferidas para a sala decrescimento regulado na mesmatemperatura do ensaio (T ± 0,5ºC, 14hde fotófase e umidade ambiente). Odelineamento experimental utilizadofoi inteiramente casualizado, comquatro repetições por tratamento, euma planta em vaso por repetição.

A avaliação da severidade da MGfoi feita nas cinco folhas apicais daplanta, determinando-se a porcen-tagem de área foliar doente. Ointervalo entre a inoculação e aavaliação variou de 4 dias para astemperaturas mais altas (24 e 26°C)até 9 dias para as temperaturas maisbaixas (12 e 14°C). Um modelo deregressão múltipla para a severidadeda doença em função da temperatura

e PMF considerando o efeito dainteração entre as variáveis preditorasfoi obtido utilizando programaestatístico (Figura 2).

A 12ºC nenhum sintoma ocorreunas plantas submetidas a 48h de PMF.A ausência de sintomas com 48h dePMF a 12ºC também é relatada nopatossistema Colletotrichumlindemuthianum: feijoeiro (Tu, 1992).As lesões, na forma de pontuaçõesminúsculas, só foram observadas nasplantas submetidas a pelo menos 72hde molhamento foliar, resultado queratifica os anteriores (Hamada, 2005).A 14ºC o nível crítico de 1% (Magareyet al., 2005) só foi observado nasplantas submetidas a mais de 48h dePMF. Para os PMFs de 20 a 24h, oíndice de severidade (IS) da MGvariou entre 0,05% e 0,15%. E nasplantas submetidas a 48 e 72h demolhamento (a 14ºC) os ISs foram0,5% e 3,5%, respectivamente.

Severidades mais altas podem serobtidas submetendo as plantas a PMFsmais longos que os testados; esseaumento, porém, deve-se muito maisà expansão das lesões, causada pelapermanência das plantas por longotempo em ambiente úmido, do que aoaumento no número de lesões porfolha. A 16ºC nenhuma lesão foiobservada com 12h de molhamento.As manchas, observadas a partir de16h de molhamento, aumentaramlinearmente até o maior PMF testado,de 72h. Com base nos estudos decampo, a temperatura em torno de16ºC é considerada limiar para oaparecimento da doença nos pomares

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(Katsurayama & Boneti, 2009). Com48h de molhamento a 16ºC o IS ficouem torno de 10%.

Do mesmo modo que o relatadopor Crusius (2000), sintoma a 18ºC foiconstatado a partir de 16h demolhamento foliar. Entretanto, IS > 1%só foi observado nas plantassubmetidas a 24h ou mais demolhamento e IS de 10% só foiatingido quando PMF > 42h. Osintoma a 20°C foi observado com 10hde molhamento, porém só foisignificativo (IS > 1%) com 12h oumais. Requerimento de 10h ou mais dePMF para infecção está de acordo comos dados de outras doenças, como aantracnose das leguminosas (Lenné,1992), diferente do relatado porCrusius et al. (2002), que é de 6h paraa MG.

A 22°C a infecção ocorreu tambéma partir de 10h de molhamento foliar,porém IS de 10% só foi observado nasplantas submetidas a 30h demolhamento. A 24°C a infecção (IS =0,08%) foi observada em plantassubmetidas a PMF de 8h, porém IS >10% só foi observado com PMF de 18h.Finalmente, a 26°C, a maiortemperatura testada, a curva deseveridade praticamente não diferiuda observada a 24°C, porém IS de 10%só foi observado após 24h de PMF.

Com os dados de severidade daMG estimada para cada interaçãoentre temperatura (T) e PMF, foi

Figura 2. Efeito da temperatura (T) e do período de molhamento foliar (PMF) naseveridade da mancha da gala

Literatura citada

1. BLEICHER, J.; BERTON, O.;RIBEIRO, N.A. Previsão e controleda mancha necrótica foliar namacieira. Agropecuária Catarinense,v.8, n.1, p.45-47, 1995.

2. CRUSIUS, L.U. Epidemiologia damancha foliar da macieira. 2000. 58f.Dissertação de Mestrado. Univer-

sidade de Passo Fundo (UPF),Passo Fundo, RS.

3. CRUSIUS, L.U.; FORCELINI, C.A.;SANHUEZA, R.M.V. et al.Epidemiology of apple leaf spot.Fitopatologia Brasileira, v.27, p.65-70, 2002.

4. HAMADA, N.A. Influência datemperatura e do período demolhamento foliar (PMF) naincidência e severidade da man-cha-foliar-da-gala (Colletotrichumspp.). Agropecuária Catarinense,v.18, n.2, p.73-77, 2005.

5. KATSURAYAMA, Y.; BONETI,J.I.S. Previsão da sarna e damancha da gala: Sistema SempreAlerta. In: SEMINÁRIONACIONAL SOBRE FRUTI-CULTURA DE CLIMA TEM-PERADO, 7., São Joaquim, SC.Anais... São Joaquim, SC: Epagri,2006. p.33-41.

6. KATSURAYAMA, Y.; BONETI,J.I.S. Manejo das doenças de verãoda macieira no sul do Brasil. In:STADNIK, M.J. (Ed.). Manejointegrado das doenças da macieira.Florianópolis: CCA-UFSC, 2009.p.45-64.

7. KATSURAYAMA, Y.; BONETI,J.I.S.; BECKER, W.F. Mancha Foliarda Gala: principal doença de verãoda cultura da macieira. Agro-pecuária Catarinense, v.13, n.3, p.14-19, 2000.

8. LEITE Jr., R.P.; TSUNETA, M.;KISHINO, A.Y. Ocorrência demancha foliar de Glomerella emmacieira no Estado do Paraná .Londrina, PR: Iapar, 1988. 6p.(Iapar, Informe de Pesquisa, 81).

9. LENNÉ, J.M. Colletotrichumdiseases of legumes. In: BAILEY,J.A.; JEGER, M.J. (Eds.).Colletotrichum: Biology, Pathologyand Control. CAB International,1992. p.134-166.

10. MAGAREY, R.D.; SUTTON, T.B.;THAYER, C.L. A simple genericinfection model for foliar fungalplant pathogens. Phytopathology,v.95, p.92-100. 2005.

11. TU, J.C. Colletotrichum linde-muthianum on bean: Populationdynamics of the pathogen andbreeding for resistance. In:BAILEY, J.A.; JEGER, M.J. (Eds.).Colletotrichum: Biology, Pathologyand Control. CAB International,1992. p.203-224.

obtida a seguinte equação: Y = -91,497+ (7,851 x T) + (0,243 x PMF) + (-0,177x T x T) + (0,021 x T x PMF) + (-0,002 xPMF x PMF), representada na Figura2. Ambos os fatores, temperatura eperíodo de molhamento foliar, foramsignificativos (teste t) ao nível de 1%de probabilidade.

A severidade da mancha da galaem macieiras da cultivar Gala édiretamente relacionada com o temponas faixas de temperatura entre 12ºCe 26ºC quando submetidas amolhamento foliar contínuo. Há umaumento progressivo da severidade apartir de 12ºC, com manifestação daslesões desde minúsculos pontosnecróticos até a necrose total dasfolhas. Pela interação entre o períodode molhamento foliar e as diferentestemperaturas foi possível estabeleceruma superfície de resposta comomodelo para estimar a severidade damancha da gala.

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O trevo-manchado (Medicagoarabica) é uma leguminosa anualoriginária da Europa e cultivada comoforragem em outros países, comoAustrália e Estados Unidos (Heyn,

Seleção de estirpes de rizóbio (Shinorhizobium spp.)para Medicago arabica (L.) Hudson, espécie

forrageira e medicinalAleksander Westphal Muniz1, Fernanda Grimaldi2, Edemar Brose3, Murilo Dalla Costa4 e Carmem Lídia Wolff5

Resumo – O objetivo deste trabalho foi selecionar estirpes de rizóbios eficientes na promoção do crescimento e nafixação biológica de nitrogênio em trevo-manchado (Medicago arabica), leguminosa forrageira com potencial medicinaldevido ao alto teor de metabólitos secundários. Foram avaliadas 23 estirpes de rizóbio isoladas de nódulos de plantascoletadas no campo em Urupema, SC. Plântulas de trevo-manchado, cultivadas em hidroponia em casa de vegetação,foram inoculadas com suspensão bacteriana dessas estirpes. Após 90 dias de crescimento, as plantas foram avaliadas emrelação à produção de massa seca da parte aérea, número de nódulos e massa seca de nódulos. Essas três variáveis forammaiores nos isolados EEL 904B, EEL 1004, EEL 904, EEL 2404 e EEL 1604. Conclui-se que tais estirpes são as mais eficientesna promoção de crescimento de trevo-manchado em casa de vegetação e deverão ser testadas em experimentos emcampo para comprovar a efetividade na fixação biológica de nitrogênio e a promoção do crescimento de trevo-manchado.

Termos para indexação: trevo-manchado, bactérias diazotróficas, nodulação, crescimento vegetal, fixação biológica denitrogênio.

Selection of rhizobium strains (Shinorhizobium spp.) for Medicago arabica (L.) Hudson,fodder and medicinal plant

Abstract – The objective of this study was to select efficient strains of rhizobium in growth promoting and nitrogenfixation in spotted medick (Medicago arabica), forage legume with medicinal potential due to high content of secondarymetabolites. Twenty-three rhizobium strains isolated from plant nodules collected in Urupema, SC, Brazil, were evaluated.Spotted medick seedlings grown in hydroponics in a greenhouse were inoculated with bacterial suspensions of thesestrains. After 90 days of growth, shoot dry weight, nodule number and nodule dry mass of the plants were assessed.These three variables were higher in strains EEL 904B, EEL 1004, EEL 904, EEL 2404 and EEL 1604. It is concluded thatthese strains are most effective in growth promoting of spotted clover in greenhouse and should be tested in fieldexperiments to prove effectiveness in nitrogen fixation and in growth promoting of spotted medick.

Index terms: spotted medick, diazotrophic bacteria, nodulation, plant growth, biological nitrogen fixation.

Aceito para publicação em 29/9/10.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone: (49) 3224-4400, e-mail: [email protected] Bióloga, M.Sc., Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Av. Luís de Camões, 2090, 88520-000 Lages, SC.3 Eng.-agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Lages (aposentado), e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Lages, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Udesc, Lages, SC.

1963; Lesins & Lesins, 1963). Além deseu potencial forrageiro, essa espécieapresenta alto teor de metabólitossecundários, do tipo saponinas, quepodem ser utilizados como anti-

-inflamatórios, antimicrobianos enematicidas (Argentieri et al., 2008;Bialy et al., 2004). Em função de suadupla finalidade, como plantaforrageira e bioativa, torna-se

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importante recurso genético vegetal aser conservado, divulgado e utilizadopara pesquisa. Atualmente, faz partedo banco ativo de germoplasma(BAG) da Epagri/Estação Expe-rimental de Lages, que o disponibilizapara melhoramento das pastagensnativas do Planalto Serrano de SantaCatarina e como bioativa. Os estudosde sua utilização como plantamedicinal encontram-se em sua faseinicial e não se pode recomendar seuuso como chá ou qualquer tipo deinfusão.

O trevo-manchado (Figura 1)apresenta simbiose com bactériasdiazotróficas, as quais proporcionama fixação biológica de nitrogênio(FBN), reduzindo o aporte de adubosnitrogenados na agricultura(Hovieson et al., 2000). Entretanto,nem todas as estirpes de bactériasnativas encontradas no soloapresentam a mesma capacidade deFBN. Em função da potencialidade daespécie no uso como forragem e comobioativa, faz-se necessário selecionarestirpes com maior capacidade deFBN. O objetivo deste trabalho,portanto, consistiu na seleção deestirpes de rizóbio eficazes parasimbiose com trevo-manchado.

O trabalho inicial foi realizado peloisolamento de 29 estirpes de rizóbioefetivas para nodulação com trevo--manchado através do Laboratório deBiotecnologia da Epagri/EstaçãoExperimental de Lages. O isolamentoda bactéria foi realizado a partir denódulos coletados em áreas natu-ralizadas da espécie no município deUrupema, SC, no ano de 2004. Nolaboratório, os nódulos obtidos foramlavados em água corrente, desin-festados por um minuto em álcool 70%e imersos por cinco minutos emhipoclorito de sódio a 2%. Em seguida,os nódulos foram lavados cinco vezescom água destilada estéril emacerados. Uma gota desse maceradofoi adicionada em placa de Petri,contendo meio sólido de ágar--manitol-extrato de levedura (AML)com vermelho congo (Vincent, 1975).Os isolados foram testados nas plantashospedeiras de trevo-manchadocultivadas em vasos com areia evermiculita estéril (2:1 v/v) e soluçãonutritiva de Hoagland (Teiz & Zeiger,2004). A composição da soluçãonutritiva foi modificada nostratamentos inoculados pela reduçãode nitrogênio. No início doexperimento, cada vaso foi regado

com 200ml dessa solução nutritiva eapós quatro semanas foram adicio-nados 100ml dessa mesma solução porvaso. Para a inoculação das plantas,as bactérias foram desenvolvidas nomesmo meio AML, sem vermelhocongo, em tubos a uma temperaturade 28oC. Depois do crescimento, cadacultura foi suspensa em água estéril.Dessa suspensão foi inoculado 1mlpor vaso contendo três plantas jágerminadas com aproximadamente10cm de altura. Os 29 isolados obtidosforam depositados na coleção debactérias diazotróficas do Laboratóriode Biotecnologia da Epagri de Lages.Desses, 23 foram testados com relaçãoà eficiência na produção de massa secada parte aérea, número de nódulos emassa seca de nódulos. O experimentofoi conduzido com delineamentocompletamente casualizado, comcinco repetições e avaliado após 90dias de sua implantação. Os resultadosobtidos foram analisados esta-tisticamente com o auxílio doprograma Assistat v. 7.5. Para análisede variância e separação de médias osdados foram transformados através damacro Box-Cox.

Os resultados demonstraram queas estirpes avaliadas podem serdivididas em quatro grupos, conformea produção de massa seca da parteaérea. O grupo I (EEL 904B, EEL 1004,EEL 904, EEL 2404, EEL 2204 e EEL1104) apresentou matéria seca entre395 e 593mg/vaso, sendo a produçãomaior que as obtidas nos demaisgrupos. O grupo II (EEL 1204, EEL2604, EEL 2204, EEL 2104, EEL 2004,EEL 604, EEL 1404 e EEL 1304)apresentou massa seca entre 229 e337mg/vaso, sendo maior que aprodução dos grupos III e IV. O grupoIII (EEL 1504, EEL 404, EEL 2704, EEL1704, EEL 1804, EEL 104, EEL 504 etestemunha com nitrogênio) apre-sentou massa seca entre 75 e 186mg/vaso, sendo maior que a do grupo IV(testemunha sem nitrogênio). Asestirpes dentro do mesmo grupo nãoapresentaram diferenças entre si(Tabela 1).Figura 1. Planta de Medicago arabica (L.) Hudson

Fonte: Crellin (2008).

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Massa seca da Massa Secaparte aérea de nódulos(mg/vaso) (nódulos/vaso) (mg/vaso)

EEL 904B 592,80 a 43,00 a 37,60 aEEL 1004 511,00 a 36,80 a 26,80 aEEL 904 501,80 a 34,80 a 27,60 aEEL 2404 470,40 a 32,40 a 26,80 aEEL 1604 432,80 a 30,20 a 25,20 aEEL 1104 395,40 a 38,20 a 20,40 bEEL 1204 337,60 b 22,00 b 10,20 cEEL 2604 308,00 b 36,80 a 21,80 bEEL 2204 289,40 b 35,40 a 16,00 bEEL 2104 284,00 b 37,60 a 16,00 bEEL 2004 281,20 b 33,00 a 21,00 bEEL 604 277,60 b 37,60 a 16,40 bEEL 1404 276,80 b 29,40 a 18,20 bEEL 1304 228,80 b 22,60 b 15,00 bEEL 1504 186,40 c 25,60 b 8,00 cEEL 404 170,00 c 27,00 a 9,60 cEEL 2704 145,20 c 17,80 b 9,00 cEEL 1704 103,40 c 11,80 b 4,80 cEEL 1804 99,00 c 17,40 b 5,20 cEEL 104 88,00 c 18,00 b 7,80 cTEST+N 87,22 c 0,00 c 0,00 dEEL 504 74,80 c 28,20 a 6,00 cTEST-N 7,00 d 0,00 c 0,00 d

Tabela 1. Produção de biomassa e nodulação de Medicago arabica (L.) Hudson inoculadacom estirpes de rizóbio em condições hidropônicas (médias de cinco repetições)

Nota: Para o cálculo da variância os dados foram transformados pela ferramenta Box-cox. Asmédias seguidas da mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Scott-Knott a5%.

Quanto à nodulação obtida nessetrabalho, as estirpes estudadas podemser classificadas em três grupos. Ogrupo I (EEL 904B, EEL 1004, EEL 904,EEL 2404, EEL 2204, EEL 1104, EEL2604, EEL 2204, EEL 2104, EEL 2004,EEL 604, EEL 1404 e EEL 504)apresentou maior nodulação, com 27a 43 nódulos/vaso, do que os gruposII (EEL 1204, EEL 1304, EEL 1504, EEL2704, EEL 1704, EEL 1804 e EEL 104),com nodulação entre 18 e 22 nódulos/vaso, e III (testemunha com e semnitrogênio) sem nodulação, respec-tivamente (Tabela 1). Com relação àprodução de massa seca de nódulos,as estirpes podem ser divididas emquatro grupos. O grupo I (EEL 904B,EEL 1004, EEL 904, EEL 2404 e EEL2204) com maior produção de massa

de nódulos (25 a 38mg/vaso) do queos demais grupos. O grupo II (EEL1104, EEL 2604, EEL 2204, EEL 2104,EEL 2004, EEL 604, EEL 1404 e EEL1304) apresentou maior produção demassa de nódulos (15 a 22mg/vaso)que os grupos III e IV. O grupo III (EEL1504, EEL 404, EEL 2704, EEL 1704,EEL 1804, EEL 104 e EEL 504)apresentou maior produção de massade nódulos que o grupo IV(testemunha com e sem nitrogênio).

Os resultados obtidos apre-sentaram correlação significativa entresi (p < 0,01). A massa seca da parteaérea apresentou correlação positivatanto com a nodulação (0,63) quantocom a massa seca de nódulos (0,79). Anodulação, por sua vez, apresentoucorrelação positiva com a massa secade nódulos (0,64).

Literatura citada

1. ARGENTIERI, M.P.; D´ADDBBO,T.; TAVA, A. et al. Evaluation ofnematicidal properties of saponinsfrom Medicago spp. EuropeanJournal of Plant Pathology, n.120,p.189-197, 2008.

2. BIALY, Z.; JURZYSTA, M.;MELLA, M. et al. Triterpenesaponins from aerial parts ofMedicago arabica L. Journal ofAgricultural and Food Chemistry,n.52, p.1095-1099, 2004.

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4. GARAU, G.; REEVE, W.G.; BRAU,L. et al. The symbioticrequirements of different Medicagospp. suggest the evolution ofSinorhizobium meliloti and S.medicae with hosts differentiallyadapted to soil pH. Plant and Soil,n.176, p.263-277, 2005.

5. PEDERSON; G.A.; QUESEN-BERRY, K.H.; SMITH, G.R. et al.Collection of Trifolium sp. andother forage legumes in Bulgaria.Genetic Resources and CropEvolution, n.46, p.325-330, 1999.

6. TAIZ, L.; ZEIGER, E. Assimilaçãode nutrientes minerais. In:FISIOLOGIA VEGETAL, 3.ed.Porto Alegre: Artmed, 2004. p.285-308.

7. VINCENT, J.M. Manual práctico derhizobiología. Buenos Aires:Hemisferio Sur, 1975. 200p.

Conclui-se que as estirpes EEL904B, EEL 1004, EEL 904, EEL 2404 eEEL 1604 são as mais eficientes emcasa de vegetação. Elas devem serutilizadas em ensaios em campo paracomprovar sua efetividade.

Estirpe Nodulação

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A cultura do girassol (Helianthusannuus L.) pode adaptar-se a váriascondições edafoclimáticas. No Brasil,pode ser cultivado desde o Rio Grandedo Sul até Roraima. Entre suascaracterísticas botânicas, destacam-se:pouca sensibilidade fotoperiódica, boatolerância ao estresse hídrico e boaresistência ao frio no período inicialdo cultivo. Seu uso é versátil, podendo

Desempenho de cultivares de girassolna Região Oeste Catarinense

Juliano Simioni1, Giseli Valentini2, Haroldo Tavares Elias3, Márcio Strapazzon4, José Renato Righi5 eAna Claudia Barneche de Oliveira6

Resumo – O girassol (Helianthus annuus L.) tem-se mostrado uma opção de cultivo em diversas regiões do País. Oobjetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho de cultivares de girassol durante o ano agrícola 2007/08 na RegiãoOeste de Santa Catarina. O delineamento experimental foi de blocos casualizados com quatro repetições. Foram avaliadas26 cultivares quanto a estas características: período da emergência até a floração, densidade de plantas, altura de plantas,diâmetro do capítulo, número de plantas acamadas, número de plantas quebradas, curvatura de caule e produtividade.As cultivares diferiram significativamente para as características estudadas, com exceção da densidade e do número deplantas acamadas. A produtividade média foi de 3.070kg/ha, acima da produtividade média nacional (1.475kg/ha).Pode-se concluir que há cultivares com potencial produtivo e agronômico para cultivo na Região Oeste catarinense.

Termos para indexação: Helianthus annuus L., avaliação de cultivares, melhoramento genético.

Performance of sunflower cultivars in the western region of Santa Catarina State

Abstract – The sunflower (Helianthus annuus L.) has been shown as an option to be cultivated in many regions of Brazil.This study aims to evaluate the performance of sunflower genotypes during the harvest period of 2007/08, in the westernregion of Santa Catarina State. The experiment design was randomized blocks with four repetitions for each treatment.Twenty-six genotypes were evaluated concerning these traits: cycle until bloom, plant density, plant height, diameter ofthe capitulum, number of plants fallen down, number of broken plants, curve of the stem, and yield. The cultivarsdiffered significantly in relation to the traits studied, except for the density and the number of fallen down plants. Theaverage yield was 3,070kg/ha, above the national average yield (1,475kg/ha). Thus, it is possible to conclude that thereare cultivars with potential to be cultivated in the western region of Santa Catarina.

Index terms: Helianthus annuus L., cultivar evaluation, genetic improvement.

Aceito para publicação em 30/8/2010.1 Eng.-agr., M.Sc., Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), C.P. 214, 89560-000 Videira, SC, e-mail:[email protected] Eng.-agr., Udesc/Centro de Ciências Agroveterinárias/Instituto de Melhoramento e Genética Molecular, Av. Luís de Camões, 2090, 88520-000Lages, SC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Sede Administrativa, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, e-mail: [email protected] Graduando em Agronomia, Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), C.P. 1141, 89809-000 Chapecó, SC.5 Graduando em Agronomia, Unochapecó.6 Eng.-agr., Dr., Embrapa Clima Temperado, C.P. 403, 96001-970 Pelotas, RS, e-mail: [email protected].

ser utilizado para extração de óleocomestível, confeitaria, alimentaçãode pássaros, silagem, torta paraalimentação animal e óleocombustível. Mais recentemente, coma implementação da Política Nacionalde Produção e Uso de Biodiesel, quebusca novas alternativas à matrizenergética, foram ampliados osestudos e as iniciativas públicas e

privadas direcionadas à pesquisa e àprodução de oleaginosas, entre elas acultura do girassol.

Em Santa Catarina, o cultivocomercial de girassol ainda éincipiente. Alguns programas têmfomentado a produção, especialmentea partir do ano 2006. Em 2007 foiestimado o cultivo de cerca de 5.200hano período de safrinha no Estado

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89Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

catarinense. No entanto, fatores comoa escassa disponibilidade deinformações técnicas e poucaexperiência sobre a cultura, além dosfatores intrínsecos, tais como manejoe incidência de doenças e pragas, têmdificultado a expansão da atividade.

Ensaios pioneiros de cultivares degirassol no Oeste Catarinenserealizados por Dávalos et al. (1983)que apontaram problemas com altaincidência de doenças e pragasindicaram não ser promissora acultura, especialmente nos cultivos desafrinha. Os estudos de desempenhode cultivares foram retomadosrecentemente por Valentini et al.(2008), nos quais algumas cultivaresdemonstraram viabilidade paracultivo na região. Assim, devem-seconsiderar os avanços no melho-ramento de cultivares entre esses doisperíodos.

A adaptação e difusão da culturado girassol poderá ser uma opção paramelhor aproveitamento das terras,rotação, sucessão de culturas eciclagem de nutrientes. Nesse sentido,o objetivo deste trabalho foi avaliar odesempenho agronômico de 26cultivares de girassol na Região OesteCatarinense durante o ano agrícola2007/08.

O experimento de avaliação decultivares de girassol foi conduzido noano agrícola 2007/08 e faz parte daRede Nacional de Ensaios deAvaliação de Genótipos de Girassol,coordenada pela Embrapa Soja. Opresente ensaio foi conduzido emparceria com a Epagri/Centro dePesquisa para Agricultura Familiar(Cepaf). O experimento foi conduzidodurante o período de 2 outubro de2007 (semeadura) a 22 de fevereiro de2008 (última colheita), no municípiode Xaxim, SC, numa área com altitudede 836m (Figura 1).

O ensaio constituiu-se de umdelineamento em blocos casualizadoscom quatro repetições e 26 cultivares:M 734; Agrobel 960; HELIO 358; BRSGIRA 09; BRS GIRA 11; BRS GIRA 24;BRS GIRA 25; Embrapa 122; ZENIT;TRITON MAX; NEON; SEM 822;GRIZZLY; HLS 01; HLS 02; HLS 03;HLS 04; HLS 05; HLE 11; HLE 12; HLE13; HLA 5; HLA 6; T 700; MG 52; BRSGIRA 01. Cada parcela foi constituídapor quatro linhas de 6m de com-

primento, com espaçamento de 80cmentre linhas e 25cm entre plantas. Aparcela útil foi formada pelas duaslinhas centrais, eliminando-se 50cm decada extremidade.

A semeadura do girassol foirealizada no sistema de semeaduradireta sobre palhada de azevém. Aadubação consistiu na aplicação de230kg/ha da fórmula 2-20-20 de NPKna semeadura e de 30kg/ha de N naforma de ureia, mais 2kg/ha de borona forma de bórax em cobertura, aos25 dias após a emergência. O controlede plantas invasoras foi efetuado porcapina manual. O controle de lagartasconsistiu em uma aplicação deinseticida piretroide 15 dias após asemeadura, e duas aplicações deinseticida biológico à base de Bacillusthuringiensis no florescimento.

As variáveis mensuradas foram:período da emergência até a floração(até o estágio R5.1 – quando 50% dasplantas da parcela apresentam 10%das flores do capítulo abertas),densidade (plantas por hectare), alturadas plantas (média de 10 plantas daparcela útil), diâmetro dos capítulos(média de 10 plantas da parcela útil),

número de plantasacamadas, número deplantas quebradas,curvatura do caule(escala de 1 a 5) eprodutividade de grãos– aquênios (corrigida a11% de umidade eexpressa em kg/ha). Osdados obtidos foramsubmetidos à análise devariância pelo teste F e asmédias comparadas peloteste Scott-Knott ao nívelde significância de 5%utilizando-se o softwareSAEG. As variáveis nú-mero de plantas quebra-das, número de plantasacamadas e curvatura docaule foram trans-formadas pela equaçãoy = (x + 1), sendo seusvalores apresentados naforma original. Foicalculado também ocoeficiente de correlaçãoresidual de Pearsonentre as variáveis.

De acordo com os resultadosobservados (Tabela 1), constatou-sediferença significativa entre ascultivares para as variáveis período daemergência até a floração, altura deplantas, diâmetro do capítulo, númerode plantas quebradas, curvatura decaule e produtividade de grãos, nãosendo significativas as diferençasentre as cultivares para densidade deplantas e número de plantasacamadas.

A produtividade média observadano ensaio foi de 3.070kg/ha. Ascultivares dividiram-se em doisgrupos, sendo o primeiro formadopelas 16 cultivares mais produtivas(HLS 05, HLS 04, HLA 05, T 700, HLE11, TRITON MAX, BRS GIRA 24,M734, HLS 03, NEON, HLE 13,GRIZZLY, BRS GIRA 25, HLS 01,AGROBEL 960 e MG 52), queproduziram entre 3.053kg/ha (BRSGIRA 25) e 3.748kg/ha (HLS 05). Osegundo grupo, menos produtivo, foicomposto pelas cultivares HLS 02,ZENIT, SEM 822, HLE 12 BRS GIRA09, HELIO 358 e BRS GIRA 01, comvariação entre 2.781kg/ha para HLS02 e 2.217kg/ha para BRS GIRA 01. A

Figura 1. Ensaio do desempenho de cultivares de girassolna Região Oeste Catarinense: (A) vista geral do estádioinicial de florescimento (7/12/07); (B) cultivares já emestádio final de florescimento (14/12/07). Xaxim, SC

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90 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

produção da cultivar Embrapa 122 foiperdida.

O período da emergência até oflorescimento variou de 66 dias(Embrapa 122) a 84 dias (T 700). Adensidade de plantas foi de 38.752plantas por hectare, ficando abaixo daesperada para a cultura – 40 a 45 milplantas/ha, de acordo com Castro etal. (1996). Embora amplas asdiferenças entre as cultivares, nãohouve diferença significativa paradensidade de plantas.

O diâmetro dos capítulos variou de17,5cm (BRS GIRA 01) a 22cm (T 700),dividindo as cultivares em doisgrupos. O primeiro com diâmetro doscapítulos igual ou superior a 20,1cm(T 700, HELIO 358, HLS 05, SEM 822,HLA 6, HLA 6, HLS 04, HLS 03), e o

Característica(1)

PRO PEF DP APL CC DC PA(2) PQ(2)

HLS 05 3.748 a 74 e 37.902 a 2,21 a 4,00 a 21,0 a 1,10 a 1,25 cHLS 04 3.700 a 81 c 42.420 a 2,05 b 4,25 a 20,5 a 1,00 a 1,00 cHLA 05 3.583 a 76 d 39.408 a 1,92 c 2,50 b 20,6 a 1,10 a 1,00 cT 700 3.426 a 84 a 36.145 a 2,18 a 3,00 b 22,0 a 1,10 a 1,00 cHLE 11 3.417 a 81 c 36.647 a 2,17 a 2,25 b 18,1 b 1,00 a 1,10 cTriton Max 3.379 a 80 c 39.659 a 1,79 d 3,50 a 19,2 b 1,00 a 1,54 bBRS GIRA 24 3.340 a 72 e 38.655 a 2,02 b 4,00 a 19,6 b 1,00 a 1,00 cM 734 3.336 a 76 d 39.408 a 1,81 d 3,50 a 18,6 b 1,00 a 1,54 bHLS 03 3.322 a 79 c 37.400 a 1,71 d 2,50 b 20,1 a 1,00 a 1,00 cNEON 3.319 a 80 c 40.412 a 2,27 a 4,50 a 18,9 b 1,00 a 1,21 cHLE 13 3.269 a 72 f 41.416 a 1,87 c 3,75 a 19,2 b 1,00 a 1,10 cGRIZZLY 3.260 a 73 e 39.910 a 1,82 d 3,00 b 18,5 b 1,10 a 1,66 bBRS GIRA 25 3.238 a 71 f 39.659 a 1,90 c 3,25 a 18,6 b 1,00 a 2,49 aHLS 01 3.114 a 82 b 38.404 a 1,93 c 1,25 c 19,4 b 1,00 a 1,00 cAgrobel 960 3.101 a 72 e 40.663 a 1,81 d 4,00 a 19,1 b 1,00 a 1,70 bMG 52 3.053 a 82 b 36.145 a 2,09 b 3,50 a 19,6 b 1,00 a 1,37 cHLS 02 2.780 b 77 d 37.400 a 1,89 c 4,25 a 18,9 b 1,10 a 1,10 cZENIT 2.726 b 68 g 38.906 a 1,71 d 3,75 a 18,0 b 1,31 a 1,39 cSEM 822 2.669 b 76 d 37.651 a 1,76 d 2,25 b 20,9 a 1,29 a 1,00 cHLE 12 2.653 b 71 f 43.424 a 1,78 d 3,25 a 18,1 b 1,10 a 1,10 cBRS GIRA 11 2.645 b 73 e 35.141 a 1,84 d 3,00 b 18,7 b 1,00 a 1,90 bHLA 6 2.554 b 80 c 34.137 a 1,91 c 3,25 a 20,8 a 1,21 a 1,21 cBRS GIRA 09 2.504 b 68 g 40.161 a 1,83 d 2,25 b 19,0 b 1,00 a 1,56 bHELIO 358 2.406 b 72 e 38.655 a 1,78 d 3,50 a 21,4 a 1,41 a 1,60 bBRS GIRA 01 2.217 b 69 g 36.647 a 2,02 b 3,00 a 17,5 b 1,00 a 0,94 cEmbrapa 122 -(3) 66 h 41.165 a 1,92 c 2,26 b 19,7 b 1,00 a 1,28 cCV (%) 12,19 1,60 9,26 5,26 19,99 6,95 20,02 34,38Média Geral 3.070 75 38.752 1,92 3,21 19,46 1,07 1,31

Tabela 1. Médias de características agronômicas para 26 cultivares de girassol comparadas pelo teste Scott-Knott. Xaxim, SC, anoagrícola 2007/08

1) PRO = produtividade em kg/ha; PEF = período da emergência até a floração em dias; DP = densidade de plantas em plantas/ha; APL = alturade planta em cm; CC = curvatura do caule (notas de 1 a 5); DC = diâmetro do capítulo em cm; PA = número de plantas acamadas e PQ = númerode plantas quebradas.(2) Variáveis transformadas pela equação y = (x + 1).(3) Produção perdida.Notas: - Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Scott-Knott a 5% de probabilidade. - CV = coeficientes de variação do ensaio.

segundo grupo com diâmetro doscapítulos inferiores a esse valor, queinclui o restante das cultivares. Taisresultados são pouco superiores aosencontrados por Backes et al. (2008),com espessuras médias para diâmetrodo capítulo de 18,41cm para a primeiraépoca de semeadura e 18,22cm para asegunda época, e muito superiores aosvalores médios encontrados por Silvaet al. (2009), com diâmetros decapítulos de 11,8cm para as cultivaresAgrobel 960, BRHS 5 e Hélio 251.

As cultivares diferiram quanto àcaracterística curvatura do caule. Acultivar HLS 01 demonstrou a menorinclinação de caule, diferindo dasdemais. A curvatura de caule é umacaracterística importante e muitoparticular da cultura do girassol. De

acordo com Leite & Castro (2006),determinadas características, como aexposição e a facilidade de remoçãodos aquênios na periferia do capítulo,potencializam o dano produzido pelospássaros. Capítulos mais inclinadosficam mais protegidos de condiçõesambientais adversas e tendem a sermais sadios.

A resistência das plantas à quebrae ao acamamento também temimportância na cultura do girassol,especialmente quando a colheita émecanizada. Para a variável plantasquebradas as cultivares foramclassificadas em três grupos, dos quaisBRS GIRA 25 apresentou a maiorquantidade de plantas quebradas. Háque se observar que as característicasnúmero de plantas acamadas e

Cultivar

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número de plantas quebradas tiveramos maiores coeficientes de variação,respectivamente, 20,02% e 34,38%,indicando alta ação do ambiente paraessas características. Observou-sepelos coeficientes de correlação(Tabela 2) que as característicasplantas acamadas e plantas quebradasestão negativamente relacionadas coma produtividade, como era esperado.

Verificou-se que parcelas combaixa densidade de plantas nãoapresentaram, necessariamente,redução da produtividade. A análiseda correlação entre as variáveisdensidade de plantas e diâmetro decapítulos demonstrou que, com adiminuição da densidade de plantas,houve aumento do diâmetro doscapítulos, evidenciando a capacidadede compensação da cultura através doincremento do tamanho dos capítulose, por consequência, do número deaquênios por capítulo. Estudosanteriores também evidenciam odiâmetro do capítulo como sensível àvariação da densidade de plantas(Valentini et al., 2008; Silva & Rizzardi,1993).

Foi observado também que ascultivares mais altas ou mais tardiasapresentaram tendência de maiorprodutividade. Essas observaçõesdesafiam os programas de me-

lhoramento do girassol, pois,normalmente, o melhoramento estáfocado na precocidade e nadiminuição do porte das plantas.

A escolha de cultivares depende dapreferência e do sistema de produçãoadotado pelo produtor. Além dopotencial produtivo, característicasagronômicas como precocidade,altura das plantas, curvatura doscapítulos e resistência à quebra e aoacamamento devem pesar na escolha.

As cultivares se enquadraram emdois grupos quanto ao potencial deprodução, sendo o primeiro grupoformado pelas cultivares maisprodutivas (HLS 05, HLS 04, HLA 05,T 700, HLE 11, TRITON MAX, BRSGIRA 24, M734, HLS 03, NEON, HLE13, GRIZZLY, BRS GIRA 25, HLS 01,AGROBEL 960 e MG 52) e o segundogrupo pelas cultivares menosprodutivas (HLS 02, ZENIT, SEM 822,HLE 12, BRS GIRA 09, HELIO 358 eBRS GIRA 01).

O ensaio realizado demonstrouque há cultivares de girassol compotencial produtivo e agronômicopara a Região Oeste de Santa Catarina.Considerando as condições edafo-climáticas existentes para o ensaio, hácondições favoráveis à obtenção deprodutividades acima da médianacional.

Literatura citada

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(1) PRO = produtividade, em kg/ha; PEF = período da emergência até a floração, em dias; DP =densidade de plantas, em plantas/ha; APL = altura de planta, em cm; CC = curvatura do caule(notas de 1 a 5); DC = diâmetro do capítulo, em cm; PA = número de plantas acamadas; e PQ =número de plantas quebradas.(2) Variáveis transformadas pela equação y = (x + 1).Notas: **, * e ns significativo ao nível de 1%, 5% e não significativo a Pr < 0,05, respectivamente.

Característica(1) PRO DP APL DC CC PA(2) PQ(2) PEF

PRO xxx 0,16ns 0,27** 0,09ns 0,04ns -0,25* -0,20* 0,21*

DP xxx 0,09ns -0,52** -0,12ns -0,02ns 0,04ns -0,10ns

APL xxx 0,01ns 0,10ns 0,03ns 0,01ns 0,18ns

DC xxx 0,13ns 0,01ns -0,12ns 0,04ns

CC xxx 0,12ns -0,11ns 0,14ns

PA xxx 0,11ns 0,02ns

PQ xxx -0,04ns

DFL xxx

Tabela 2. Estimativas dos coeficientes de correlação residual de Pearson (Pr) para ascaracterísticas agronômicas em 26 cultivares de girassol. Xaxim, SC,ano agrícola 2007/08

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92 Agropecuária Catarinense, v.23, n.3, nov. 2010

Na RAC anterior (vol. 23, n. 2, jul. 2010, p. 64), a Figura 4 repetiu os dados da Figura 3. Abaixo, apresenta-secorretamente a Figura 4.

Figura 4. Teor de Na no solo em decorrência da aplicação de diferentes doses de resíduo de reciclagem de papel ( • ) ou de calcário em doseúnica ( ), em duas épocas de amostragem. A = 9 meses após a aplicação; B = 34 meses após a aplicação

Errata

As normas para publicação na Revista

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