sindrome da ardencia bucal (artigo)

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SÍNDROME DA ARDÊNCIA BUCAL. THE BURNING MOUTH SYNDROME. André Monteiro¹ Newtton Bodnar² Denivaldo³ Wesley Assis 4 RESUMO A Síndrome da Ardência Bucal (SAB), de etiologia multifatorial, é uma condição na qual os pacientes apresentam-se com generalizada sensação de ardor ou dor na boca, mas não existem anormalidades prontamente reconhecidas na mucosa bucal. É uma desordem intra-bucal comum que afeta mais as mulheres a cima dos 50 anos de idade. A ardência pode ocorrer em muitos sítios dentro ou ao redor da cavidade bucal. O diagnóstico da SAB é clínico, pois, qualquer lesão existente na cavidade bucal pode ser descartado a possibilidade de ser SAB, pois, patologia como língua geográfica e outros produzem sensações parecidas com as da SAB e nenhum tratamento é considerado curativo. Palavras-Chave: Ardência Bucal; Xerostomia. ABSTRACT Burning Mouth Syndrome (BMS), a multifactorial etiology, is a condition in which patients present with widespread pain or burning sensation in the mouth, but no abnormalities readily recognized I the oral mucosa. It is a common intraoral disorder that affects more women over the age of 50. The burning can occur in many places in or around the oral cavity. The clinical diagnosis of BMS is thus no existing lesions in the oral cavity can be

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Page 1: Sindrome Da Ardencia Bucal (Artigo)

SÍNDROME DA ARDÊNCIA BUCAL.

THE BURNING MOUTH SYNDROME.

André Monteiro¹Newtton Bodnar²Denivaldo³ Wesley Assis 4

RESUMO

A Síndrome da Ardência Bucal (SAB), de etiologia multifatorial, é uma condição na qual os pacientes apresentam-se com generalizada sensação de ardor ou dor na boca, mas não existem anormalidades prontamente reconhecidas na mucosa bucal. É uma desordem intra-bucal comum que afeta mais as mulheres a cima dos 50 anos de idade. A ardência pode ocorrer em muitos sítios dentro ou ao redor da cavidade bucal. O diagnóstico da SAB é clínico, pois, qualquer lesão existente na cavidade bucal pode ser descartado a possibilidade de ser SAB, pois, patologia como língua geográfica e outros produzem sensações parecidas com as da SAB e nenhum tratamento é considerado curativo.

Palavras-Chave: Ardência Bucal; Xerostomia.

ABSTRACT

Burning Mouth Syndrome (BMS), a multifactorial etiology, is a condition in which patients present with widespread pain or burning sensation in the mouth, but no abnormalities readily recognized I the oral mucosa. It is a common intraoral disorder that affects more women over the age of 50. The burning can occur in many places in or around the oral cavity. The clinical diagnosis of BMS is thus no existing lesions in the oral cavity can be discarded the possibility of BMS therefore protein diseases such as stomatitis, geographic tongue and other produce sensations similar to those of BMS, and no treatment is considered curative.

Key words: Burning Mouth, Xerostomia.

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INTRODUÇÃO

Este artigo mostra aspectos sobre a Síndrome da Ardência Bucal (SAB), também denominada glossidinia, glossopirose, síndrome da boca ardente, estomatodinia ou síndrome dos lábios ardentes, que constitui uma condição de etiologia multifatorial, pode ser dividida em três principais grupos: local, sistêmico e psicológico.

A SAB pode ser definida como sendo uma entidade clínica caracterizada pela dor e sensação de ardor que se localiza numa determinada região ou se estende por toda mucosa bucal sem que se possa detectar qualquer alteração ou lesão fora dos padrões da normalidade. Alterações na composição salivar destes pacientes foram detectadas, com aumento na quantidade de potássio, proteínas e fosfatos, o que torna a saliva mais espessa e pegajosa.

A etiologia da SAB é de difícil diagnóstico, podendo haver mais de um fator etiológico. Os pacientes procuram auxílio de diversos especialistas, dentre eles o Cirurgião Dentista e fazem uso de vários tipos de medicamentos, sendo os mais usados: corticóides, analgésicos, ATB, estrogênio, retinóides e psicotrópicos, sendo que nenhum medicamento é considerado curativo.

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REVISÃO DA LITERATURA

Definição de Síndrome da Ardência bucal

A Associação Internacional de Estudos da Dor define tal condição como uma sensação intra oral de queimação, na qual nenhuma causa médica ou odontológica pode ser encontrada. O termo síndrome é adotado para essa condição devido à presença simultânea de diversos sintomas subjetivos, como a sensação de boca seca, paladar alterado e ardência nos tecidos orais (Montandon, Pinelli, Rosell, Fais, 2011).

Várias condições têm sido associadas à ardência bucal, como: candidíase, lesões orais, xerostomia, irritação por materiais utilizados em próteses dentárias, deficiência de ácido fólico, ferro e vitamina B12, diabetes, entre outros. Entretanto, essas condições não têm sido consistentemente ligadas com a SAB, uma vez que o tratamento delas possui pequeno impacto no sintoma da ardência bucal (Aguiar Couto, 2006).

Característica da Síndrome da Ardência Bucal

A Síndrome da Ardência Bucal (SAB) é caracterizada pela dor e sensação de ardor (queimação), que pode ser localizada em qualquer região da mucosa bucal, sem ter qualquer tipo de lesão ou alteração fora dos padrões da anormalidade (Ribeiro da Silva, Cerri, Bressan, Cerri, Pacca, 2007).

Não é incomum paciente portador de SAB relatar dificuldade para dormir à noite e queixar-se de sono interrompido. Relatos de mudanças de humor tais como irritabilidade e diminuição no desejo de relacionamento, podem ser relacionados com padrões alterados de sono (Silverman S, Eversole LR, Truelove).

Afeta de 2 a 3% da população com predominância pelo gênero feminino (Alfaya, Tannure, Barcelos, Cantisano, Gouvêa, 2010) na faixa etária dos 45 a 60 anos no período da menopausa (Ribeiro da Silva, Cerri, Bressan, Cerri, Pacca, 2007), a menopausa afeta a capacidade de detecção do sabor amargo, assim, a redução de percepção deste sabor na corda do tímpano, ramo do nervo facial, poderá resultar na intensificação de sensações gustativas na área inervada pelo glossofaríngeo e na produção de sabores anormais (Almeida, Gago, 2004) a SBA é de ocorrência rara abaixo de 30 anos e nunca foi reportada em crianças (Montandon, Pinelli, Rosell, Fais, 2011).

O paladar alterado ou diminuído pode acompanhar amorbidade. A intensidade dos sintomas pode aumentar ao longo do dia e torna-se exacerbado pela dieta alimentar. Alimentos condimentados, ácidos, líquidos quentes podem ser acompanhada de outros sintomas como xerostomia e disgeusia (Alfaya, Tannure, Barcelos, Cantisano, Gouvêa, 2010) e a hipogeusia na qual os pacientes referem gosto persistente principalmente metálico, salgado ou amargo (Cerchiari, Moricz, Sanjar, Rapoport, Moretti, Guerra, 2006).

A dor é mais comum na região anterior da língua principalmente no terço anterior e nos lábios, na região anterior do palato duro e na mucosa do lábio inferior, sendo que estas são as regiões mais freqüentemente afetadas (Couto, 2006) com intensidade variável de ligeira a moderada e, raramente, severa (Almeida, Gago, 2004) .

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Outros grupos de pacientes com presença mais elevada da SAB/Xerostomia, são os idosos, diabéticos, edêntulos e os portadores de fibromialgia do sexo feminino. (Reis, 2006).

Dentre as etiologias de dor bucal local, deve-se pesquisar as de causa dentária, alérgicas e infecciosas. Para as causas sistêmicas, pesquisar doenças do tecido conectivo, doenças endócrinas, neurológicas, deficiências nutricionais e as alterações das glândulas salivares que levam à xerostomia (Cerchiari, Moricz, Sanjar, Rapoport, Moretti, Guerra, 2006).

Tipos de Síndrome da Ardência Bucal

A sintomatologia da SAB pode ser diária e permanecer por muitos anos. Enquanto a intensidade dos sintomas possui grande variabilidade entre os indivíduos, em um mesmo indivíduo há pouca variação, mesmo ao longo danos de sintomatologia persistente (Montandon, Pinelli, Rosell, Fais, 2011).

Tendo como base as flutuações diárias dos sintomas, definiram três tipos para a SAB: tipo 1, 2 e 3.

Tipo 1. Descreve os pacientes que, ao acordar, estão livres dos sintomas de ardência. Contudo, à medida que o dia prossegue, os sintomas surgem e agravam-se paulatinamente, atingindo sua intensidade máxima logo ao anoitecer. Deficiências nutricionais têm sido implicadas nesse grupo.

Tipo 2. A sensação de ardência bucal está presente ao acordar, persistindo em intensidade durante o decorrer do dia. Associa-se a ansiedade crônica a esses pacientes.

Um período assintomático durante a noite é comumente relatado pelos pacientes, também, do tipo 1, que sofrem dos sintomas todos os dias.

Tipo 3. Os pacientes descrevem os sintomas como sendo intermitentes, não acontecendo todos os dias. Exibem uma atípica ardência bucal, visto que os fatores etiológicos usualmente relatados estão relacionados à alergia proveniente de alimentos. Em contraste com os outros tipos, pacientes do tipo 3 referem envolvimento de locais incomuns, tais como o assoalho bucal e a orofaringe (Studart-Soares, Costa, Fontenele, 2007).

Diagnóstico e Prognóstico

Por se tratar de uma entidade de difícil diagnóstico, é de suma importância que o profissional, ao ter contato com o portador, realize, durante o exame clínico, uma anamnese bastante cuidadosa e detalhada (Ribeiro da Silva, Cerri, Bressan, Cerri, Pacca, 2007).

O diagnóstico é realizado pela exclusão de outras morbidades que poderiam causar o mesmo sintoma e deve ser baseado na Classificação da Sociedade Internacional de Cefaléia (2004). Os seguintes critérios devem ser considerados durante o diagnóstico: (A) dor na boca presente diariamente e persistindo a maior parte do dia; (B) a mucosa oral com aparência normal; (C) exclusão de doenças locais e sistêmicas. Secura subjetiva da boca, parestesia e alteração no paladar podem ser sintomas associados (Alfaya, Tannure, Barcelos, Cantisano, Gouvêa, 2010).

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Sendo o SAB uma entidade nosológica idiopática, o recurso a exames complementares de diagnóstico deve ser feito de acordo com a história clínica, procurando eliminar, sucessivamente, as patologias que mais freqüentemente são causa de ardor bucal (Almeida, Gago, 2004). A SAB pode ser confirmada através de exames laboratoriais: hemograma completo + VHS, glicemia de jejum, creatinina, uréia, dosagem de T3, T4, TSH, estrogênio, progesterona e testosterona, fator reumatóide, Anti-Ro/SSA, Anti-La/SSB.O prognóstico é considerado variável, uma vez que determinados pacientes podem apresentar a remissão da sintomatologia, enquanto outros mantêm os sintomas pelo resto da vida (Alfaya, Tannure, Barcelos, Cantisano, Gouvêa, 2010).

Caso clínico

Alfaya, Tannure, Barcelos, Cantisano e Gouvêa (2010), analisaram um paciente de 87 anos, sexo feminino, leucoderma, com a queixa de queimação em língua há um ano, associada a presença de xerostomia. A paciente não associava fator iniciador, porém sentia um aumento da intensidade da queimação ao consumir alimentos ácidos e ao longo do dia.

Na qual a abordagem terapêutica consistiu em:a. Orientação sobre os possíveis fatores de desencadeantes, como os

presentes na dieta alimentar. Recomendou-se a ingestão de pelo menos dois litros de água/dia e a realização da higiene bucal periódica

b. Aplicação de Laser de baixa potência – realizou-se aplicações de forma pontual no ápice lingual (cada área recebeu uma aplicação de laser a cada sessão) e em varredura (em toda a extensão lingual). As aplicações eram precedidas por uma cuidadosa limpeza da região que era mantida seca.As aplicações foram realizadas duas vezes por semana com intervalo de 72 horas entre cada aplicação.

c. Tratamento multidisciplinar: a paciente foi encorajada a iniciar tratamento no setor de Psicologia.

E concluíram que o laser de baixa potência mostrou-se uma alternativa terapêutica eficaz nesse caso de SAB, o que pode estar relacionado a uma produção aumentada de β-endorfinas, controle da produção de prostaglandina e biostimulação das fibras musculares. (Alfaya, Tannure, Barcelos, Cantisano, Gouvêa, 2010).

Tratamento

O tratamento consiste na terapêutica existem as seguintes abordagens: Adaptação protética, Correção de hábitos parafuncionais, controle de alergia (Anti-histamínicos), Psicoterapia, Antifúngicos, Antibacterianos, Corticosteróides, Sialogogos, Reposição de vitaminas e sais minerais, Substituição hormonal, Benzodiazepinas e Antidepressivos (Almeida, Gago, 2004). A terapêutica tem como a finalidade de exclusão de outras morbidades como infecções fúngicas, bacterianas e inflamatórias, quadro de desnutrição e para isso utiliza-se fármacos como, antifúngicos, anti-histamínicos, antibacterianos, reposição vitamínica, mineral. Analgésicos, benzodiapínicos, antidepressivos tricílicos podem ser utilizados no controle da dor e em quadros de ansiedade. O laser de baixa potência também é uma alternativa terapêutica (Alfaya, Tannure, Barcelos, Cantisano, Gouvêa, 2010).

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Se forem eliminados todos os fatores locais e sistêmicos, a hipótese de uma origem psicogênica deve ser considerada. A necessidade de acompanhamento psicológico nestes casos é indicada, mas nem sempre o paciente reage bem a esta indicação. O uso de medicação antidepressiva também pode ser prescrito (Ribeiro da Silva, Cerri, Bressan, Cerri, Pacca, 2007).

A exposição ao calor e a comida picante alivia a sintomatologia em 22% e 13% dos doentes, respectivamente. Sugere que a melhoria dos sintomas com comida picante se poderá dever à presença de capsaicina, que diminui a substância P, um mediador químico central da dor, para níveis que levam a um decréscimo da sensação de ardor bucal. Este fato levou alguns autores a aconselharem o uso tópico de capsaicina no tratamento da Síndrome de Ardor Bucal em bochechos na dose de uma colher de chá de pimenta vermelha diluída de 1:2 ou 1:1 em água. A utilização de capsaicina a nível sistêmico, embora seja eficaz o tratamento em curto prazo da patologia, produzem efeitos gastrointestinais indesejáveis (Almeida, Gago, 2004). Segundo Ribeiro da Silva, Cerri, Bressan, Cerri, Pacca, (2007), a capsaicina tem tido seu uso diminuído pelo incômodo de aumentar a sensação de ardor no início do tratamento, pelos efeitos colaterais gerados pelo uso sistêmico (irritação gástrica) e pela baixa efetividade no controle dos sintomas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através desta revisão de literatura, percebe-se que é fundamental ao cirurgião-dentista realizar um questionamento específico sobre a dor que o paciente apresenta, analisando início, intensidade, freqüência, qualidade, fatores de melhora e piora, sintomas relacionados e horários de pico e menor dor, para que se possa obter um correto diagnóstico.

Fatores psicológicos estão fortemente associados a síndrome, principalmente ansiedade e cancerofobia, sendo assim, é importante que o paciente admita a presença da síndrome e aceite um bom acompanhamento psicológico.

Diante dos estudos, podemos concluir que não existe nenhum tipo de tratamento considerado curativo a SAB, pois nem todos os pacientes tenham resultado de melhora completa dos sintomas, mas, muitos relatam a melhora na qualidade de vida.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REIS DA SILVEIRA, Dr. Josemar. Síndrome da Ardência Bucal (SAB) Boca Seca (xerostomia), 2006.

MONTANDON BARRETO AFONSO, Andréia; PINELLI PEREIRA ANTUNES, Lígia; ROSELL LOPEZ, Fernanda; FAIS GRASSI MARIA, Laiza. Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo, 2011.

COUTO DE AGUIAR, Aglai. Síndrome de Ardência Bucal, Características Clínicas, Diagnóstico Diferencial, e Tratamento, 2006.

SILVA RIBEIRO DOS SANTOS CHAVIER, Calos Eduardo; CERRI ALARCON, Rodrigo; BRESSAN DE OLIVEIRA, Silvia Cristina; CERRI, Arthur; PACCA TEIXEIRA OCTÁVIO, Francisco. Síndrome da Ardência Bucal, 2007.

http://www.odontologiadiferenciada.com.br/?cont=ardenciabucal

SOARES COSTA, Eduardo; COSTA GURGEL WILDSON, Fabio; FONTENELE, Brenda. Síndrome de Ardência Bucal: e relato de casos, 2007.

ALFAYA ALMEIDA, Thays; TANNURE NIVOLONI, Patrícia; BARCELOS, Roberta; CANTISANO HEFFER, Marília; GOUVÊA DEPES VINICIUS, Cresus. Laser de baixa potência no tratamento da Síndrome da Ardência Bucal: relato de caso clínico, 2010.

CERCHIARI PATRICIA, Dafne; MORICZ DUTRA, Renata; SANJAR ALVES, Fernanda; RAPOPOR BOGAR, Priscila; MORETTI, Giovana; GUERRA MICHELIN, Marja. Síndrome da boca ardente: etiologia, 2006.

ALMEIDA, Arlindo; GAGO, Maria Teresa; Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial, Síndrome de Ardor Bucal. Controvérsias e Realidade, 2004.