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    Organologia

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    Organologia

    Considerada um ramo da Musicologia, a Organologia é a disciplina que estuda,

    descreve e classifica os instrumentos musicais tendo em conta, essencialmente, osmateriais de que são fabricados, a forma, o timbre e o modo de execução. A organologia

    afirmou-se como disciplina devido, essencialmente, aos trabalhos desenvolvidos por

    Victor-Charles Mahillon, Curt Sachs, Erich Moritz von Hornbostel e Andre Schaeffner.

    Objectivos da Organologia

     A organologia apresenta dois grandes objectivos (Malm, 1986):

    •  Compreensão da terminologia dos instrumentos originária de cada região ou país

    na sua relação com a cultura em que é utilizada.

    •  Desenvolvimento de método de estudo e de terminologia que permitam comparar

    e sistematizar a informação acerca de todos os instrumentos musicais –

    ocidentais, orientais, primitivos (existentes e não existentes).

    Instrumento musical

    “Considera-se genericamente como instrumento musical todo o dispositivo suscetível

    de produzir som, utilizado como meio de expressão musical ” (Henrique L. 2006)

    O conhecimento e a caraterização dos instrumentos implicam a abordagem de diversas

    matérias: história da música, técnicas de execução, repertório, materiais de construção,

    acústica, qualidade sonora, história da arte, etc.

    O estudo dos instrumentos musicais e da sua história faz-se com base nas seguintes

    fontes:

    •  Os próprios instrumentos

    •  Instrumentos antigos originais e instrumentos populares de origem arcaica

    •  Iconografia musical (Estudo das representações figuradas relativas à musica)

    •  Obras teóricas e tratados sobre construção de instrumentos e sobre

    execução/interpretação

    •  Alusão a obras literárias

    •  Outras fontes documentais (inventários, folhas de pagamento, etc.)

    •  A própria música escrita para os instrumentos em estudo

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    Obras teóricas

     A partir do século XVI foram escritas diversas obras teóricas – tratados sobre música e

    construção de instrumentos – que se tornaram imprescindíveis para o estudo da história

    dos instrumentos. Entre elas podemos destacar:

    •  1511 Sebastian Virdung, Musica getutscht und ausgezogen, Basileia. Esta obra é

    considerada o primeiro tratado inteiramente dedicado a instrumentos

    •  1528 Martin Agricola, Musica instrumentalis deutsch, Wittemberg. Primeira obra

    que contém instruções relativas à execução em diversos instrumentos musicais.

    •  1619 Michael Praetorius, Syntagma Musicum, Wolfenbuttel. Obra dividida em

    três volumes. O segundo volume é uma enciclopédia de instrumentos,

    constituindo o mais importante documento sobre instrumentos renascentistas, em

    grande parte devido às suas gravuras, bastante realistas, que incluem uma escala

    gráfica, permitindo a reconstituição com bastante rigor de instrumentos de que

    não possuímos quaisquer outros vestígios.

    Para além de tratados teóricos sobre instrumentos, existem diversos outros tratados e

    escritos sobre a execução de um instrumentos (ou tipos de instrumentos), que

    constituem fontes fundamentais para o estudo dos instrumentos musicais. De entre as

    que chegaram até aos nossos dias podemos destacar:

    •  1535 Silvestro Ganassi, Opera Intitulata la Fontegara (tratado sobre flauta de

    Bizel), Veneza

    •  1553 Silvestro Ganassi, Regula Rubertina (Viola da Gamba), Veneza

    •  1687 Jean Rosseau, Traité de Viole, Paris

    •  1752 Carl Philip Emanuel Bach, Versuch uber die wahre Art das Clavier zu

    Spielen, Berlim•  1756 Leopold Mozart, Violinschule, Ausburg

    No contexto nacional devemos destacar as obras de:

    •  1964 Ernesto Veiga de Oliveira, Instrumentos Musicais Populares Portugueses, 

    Lisboa

    •  1988 Luís L. Henrique, Instrumentos Musicais, Lisboa

      2002 Luís L. Henrique, Acústica Musical , Lisboa 

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    Origem e evolução dos instrumentos

    O uso de instrumentos de música é encarada hoje de forma tão natural que

    nem nos lembramos de questionar a sua origem, a razão da sua criação ou a

    sua evolução ao longo dos tempos.

     A voz humana, parece ter sido o primeiro instrumento musical. Segundo

    Schaeffer (1965), o Homem teria a certo momento sentido necessidade de

    produzir outros sons para além dos da sua voz, quer utilizando o corpo, quer

    através de qualquer instrumento.

    Os instrumentos para além de serem aparelhos produtores de som tiveram

    muitas outras funções ao longo da História. Para além da função de produzir

    som tinham, e tem ainda nos nossos dias em algumas civilizações, funções

    rituais e é-lhes atribuído poderes mágicos. Considerados atributos dos deuses,

    são imprescindíveis na realização de cerimónias e actos sociais. Noutros

    períodos deu-se grande importância ao aspecto exterior, à estética da sua

    decoração, criando-se assim instrumentos, que como peças são verdadeiras

    obras de arte (Thornton, 1982).

    “...algumas formas primitivas de objectos mantiveram-se sem alterações, outras

     precisaram de modificações”  (Wachsmann, 1969).

     A evolução dos instrumentos é semelhante à dos outros utensílios e objectos.

    Em algumas culturas africanas e orientais, por exemplo, muitos instrumentos

    mantêm hoje a sua simplicidade original de épocas remotas, não tendo sofrido

    qualquer transformação. Para esses povos tais instrumentos são de tal forma

    perfeitos e produzem uma tal sonoridade para a execução da sua música, quequalquer alteração é desaconselhável.

    “ A eficácia de um instrumento musical só pode ser medida pelo grau de

    satisfação que o seu som proporciona ao povo que a utiliza” (Wachsmann,

    1969).

    No que diz respeito às alterações dos instrumentos, Nikolaus Harnacourtrealça: ”Os instrumentos não se foram tornando melhores, e cada passo, cada

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    modificação na construção dos instrumentos foi por um lado perda e por outro

    lado ganho” (Harnacourt, 2002). Tomando como exemplo a evolução do oboé e

    da flauta barrocos, pode-se verificar que houve uma grande evolução na sua

    extensão (tessitura), igualdade tímbrica, facilidade de execução, grau de

    virtuosismo. No entanto, a estrutura e o timbre destes instrumentos modificaram-

    se tanto que poderemos considerar que deram origem a outros instrumentos. 

    Fases de desenvolvimento da música instrumental

    No desenvolvimento da música instrumental ocidental podemos considerar três

    fases tendo em conta a importância relativa da voz e dos instrumentos musicais

    (Apel, 1972)

    •  De meados do sec.XIII até final do sec.XVI, período em que música vocal

    é mais importante que a instrumental. A execução nos instrumentos tinha

    como modelo a voz humana, limitando-se muitas vezes a dobrá-la: os

    seus âmbitos sonoros eram reduzidos, comparando com instrumentos

    mais tardios, uma vez que não havia necessidade de produzir notas

    impossíveis de cantar.

    •  Do séc. XVI até meados do séc. XVIII, período em que a música

    instrumental adquire importância equivalente à vocal. É nesta altura que

    os compositores começam a escrever num estilo próprio para um

    determinado instrumento ou voz, explorando ao máximo as suas

    possibilidades.

    •  A partir de meados do séc. XVII, período de maior importância da música

    instrumental. A própria voz é frequentemente tratada como um

    instrumento, sendo-lhe exigida a execução de passagens rápidas,intervalos muito largos, notas muito agudas e muito graves (nos extremos

    da sua extensão).

    De uma maneira geral até ao séc. XVII não se especificava que instrumentos

    deveriam executar uma obra. A escolha ficava ao critério dos executantes e

    dependia das suas possibilidades. A partir de então os compositores começam a

    indicar expressamente para que instrumentos escreve. A questão do compositor

    explicitar para que instrumento escreve foi um problema que subsistiu duranteainda algum tempo. Para que uma obra possa ser executada em diferentes

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    locais pressupõe-se a existência de um determinado conjunto de instrumentos

    de caraterísticas idênticas (afinação, extensão...)

    O desenvolvimento da técnica específica dos instrumentos está intimamente

    relacionado com o aparecimento dos luthiers  (violeiros) e dos construtores de

    instrumentos em geral. Depois do séc. XVII os instrumentos passam a obedecer

    a certos padrões estandardizados (uniformização dos teclados do órgão, cravo,

    piano, etc.) factor decisivo para o desenvolvimento da técnica instrumental.

    Mais recentemente (séc. XIX), o desenvolvimento da tecnologia permitiu

    importantes modificações nos instrumentos (em especial nos aerofones:

    invenção dos pistões e do sistema Boehm). Com o advento dos instrumentos

    eletrónicos (em finais do séc.XIX e, sobretudo a partir das primeiras décadas do

    séc.XX), surge uma nova fase: torna-se possível a criação de novos sons – não

    de origem mecânica mas de origem eletrónica.

    Caraterísticas dos instrumentos

     Ao conceber um instrumento é fundamental que a sua configuração tenha

    sempre em conta as limitações anatómico-fisiológicas do homem, principalmente

    no que se refere à forma e dimensões da mão.

    Materiais

     A escolha dos materiais de construção obedece a critérios mecânicos,

    acústicos e de ordem prática: Vejamos de seguida alguns exemplos:

    O clarinete é fabricado de ébano porque a cor escura desta madeira evita que

    se notem manchas provocadas pelo uso e a sua elevada massa volúmica inibe

    vibrações indesejáveis das paredes. Para além disso quando torneado permite

    um bom acabamento e suporta sem problema o sistema de chaves.Para a construção de um instrumento de arco, a escolha da madeira é

    extremamente seletiva, reservando-se para o tampo certas variedades de

    espruce (variedade de abeto) com fibras paralelas muito juntas. Segundo Leipp

    (1965) as madeiras preferidas pelas suas qualidades acústicas, para esta

    aplicação, provêm de árvores que cresceram em terreno silicioso, num clima

    temperado, a uma altitude de 1000 a 1500 m.

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    Campos de liberdade

    Os instrumentos são construídos de modo a que o executante possa explorar

    as caraterísticas do som: altura, intensidade e timbre. Cada uma destas

    caraterísticas apresenta um campo de variação, que se designa campo de

    liberdade (Leipp, 1996)

    Consideram-se três campos de liberdade:

    •  Campo de liberdade da intensidade  – Condiciona as possibilidades

    dinâmicas do instrumento, e diz respeito à gama de intensidades

    diferentes que este permite.

    •  Campo de liberdade da altura  – Diz respeito não apenas à extensão ou

    âmbito sonoro, mas também a rigidez da sua afinação: há instrumentos de

    afinação fixa (piano), de afinação semi-fixa (quase todos os sopros) e de

    afinação livre (a voz, os instrumentos da família do violino). Nos dois

    últimos grupos o executante pode actuar sobre a altura exata de cada

    nota, o que tem grande interesse musical, já que não o limita a um

    sistema de afinação único.

    •  Campo de liberdade do timbre  – É a capacidade que um instrumento

    tem de variar o timbre produzido. Embora se diga usualmente que cada

    instrumento tem um determinado timbre, num mesmo instrumento esta

    caraterística pode variar substancialmente em função do modo de

    execução.

    O instrumento do ponto de vista físico

    Se um violino estiver a produzir som, podemos observar a vibração das cordas,

    mas não conseguimos ver o movimento vibratório de toda a estrutura doinstrumento. No entanto, praticamente todas as partes do instrumento vibram. No

    seu todo, o instrumento comporta-se como um sistema de osciladores de grande

    complexidade.

     Analisando um instrumento musical do ponto de vista físico, podemos encará-lo

    como um sistema dinâmico, seja qual for o instrumento em questão, ele é

    constituído por três componentes: sistema excitador , sistema ressoador ,

    sistema radiante. 

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    Sistema excitador  é o mecanismo físico que gera as vibrações transformando a

    energia não-vibratória (movimento do arco, fluxo de ar) em energia vibratória.

    Ex: martelo/corda no piano, fluxo de ar/vibração labial nos metais,

    baqueta/membrana nos timbales, fluxo de ar/vibração da palheta dupla no oboé.

    Nos cordofones, os modos de pôr uma corda a vibrar são: percutir, friccionar,

    dedilhar (ou beliscar). Relativamente aos aerofones a forma de excitar a coluna

    de ar são: jato de ar/arets, palheta e vibração labial.

    O sistema excitador pode ser bem diferente consoante o tipo de energia

    envolvida na produção sonora:

    Nos instrumentos mecânicos o sistema excitador consiste em provocar

    vibrações mecânicas ou acústicas; nos instrumentos eletrónicos a origem do

    som está em osciladores eletrónicos ou em dispositivos informáticos, havendo

    necessariamente um transdutor como um altifalante para converter a energia

    elétrica em energia acústica; nos instrumentos electromecânicos utilizam-se

    elementos eletrónicos e mecânicos. Neste caso a origem do som é mecânica, e

    a eletrónica intervém, quer para modificar e amplificar esse sinal antes de ser

    radiado, quer para simular a resposta do corpo do instrumento.

    Sistema ressoador  - O sistema excitador está acoplado ao sistema ressoador,

    processo pelo qual as oscilações são amplificadas, filtradas ou modificadas. O

    ressoador é o elemento que ressoa à frequência pretendida.

    Ex: corda e caixa de violino, tubo/modos acústicos na trompa, cordas e caixa de

    ressonância na guitarra, cordas vocais/trato vocal no aparelho vocal humano.

     A fonte sonora produz, regra geral, energia em muitas frequências, algumas

    das quais são depois amplificadas e modificadas pelo sistema ressoador.

    Sistema radiante – O som dos instrumentos que chega até nós depende do seusistema radiante. Este é constituído pelos mecanismos que o instrumento possui

    para radiar os som, isto é, transmitir vibrações ao ar circundante originando

    assim a onda sonora que se propaga no meio até atingir os nossos ouvidos. A

    energia vibratória e acústica resultante dos sistemas excitador e ressoador é

    transformada em energia vibratória no ar (energia acústica radiante)

    Ex: Orifícios laterais e pavilhão no clarinete, tampo harmónico no piano,

    pavilhão no trombone, caixas da guitarra e violino e massa de ar interior.

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    Em todos os instrumentos existe um compromisso entre a energia necessária

    para se formarem ondas estacionárias no interior do instrumento, e a energia

    que se deve transferir por radiação para o exterior para que possamos ouvir esse

    instrumento. Se a transferência de energia do sistema radiante fosse total, a

    onda estacionária não se formava e o som que estamos habituados a ouvir num

    instrumento musical não surgiria.

    Interação dos sistemas excitador, ressoador e radiante

    Os sistemas excitador, ressoador e radiante estão acoplados, interagindo entre

    si. O modo como se influenciam fisicamente depende de muitos factores

    variando com o tipo de instrumento.

    Ex: Nos instrumentos mecânicos, a frequência do som emitido é determinada

    essencialmente pelo sistema ressoador. Nos instrumentos de sopro são os

    modos acústicos do tubo que prevalecem sobre as frequências do sistema

    excitador. Nos instrumentos auto-excitados, o ressoador interage com o sistema

    excitador controlando a energia que “precisa” receber dele.

    Nos violinos, por exemplo, existem vários sistemas oscilatórios interligados: a

    corda, o cavalete, tampo superior, alma, barra, ar no interior da caixa, tampo

    inferior, etc.

    De notar que em muitos casos uma parte do instrumento pode ter diversas

    funções: a corda do violino faz parte simultaneamente do mecanismo de

    excitação e é elemento ressoador; a lâmina do xilofone cumpre três funções

    simultaneamente: faz parte do sistema excitador e é elemento ressoador e

    radiante.

    Nos violinos, por exemplo, existem vários sistemas oscilatórios interligados: acorda, o cavalete, tampo superior, alma, barra, ar no interior da caixa, tampo

    inferior.

    De notar que em muitos casos uma parte do instrumento pode ter diversas

    funções: a corda do violino faz parte simultaneamente do mecanismo de

    excitação e é elemento ressoador; a lâmina do xilofone cumpre três funções

    simultaneamente: faz parte do sistema excitador e é elemento ressoador e

    radiante.

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    Radiação e direcionalidade

    Devido à sua geometria (muitas vezes complexa) , e ao modo de execução, os

    instrumentos musicais não radiam a sua energia acústica de modo idêntico em

    todas as direções, apresentando caraterísticas direcionais. A radiação sonora

    varia de instrumento para instrumento e para o mesmo instrumento varia com a

    frequência. Conhecer as caraterísticas direcionais dos instrumentos e da voz

    permite otimizar a colocação dos instrumentos num conjunto musical, a

    colocação de microfones nas gravações e tirar o melhor partido da acústica de

    uma sala.

    Os instrumentos musicais pela sua geometria e modo de execução são

    sistemas radiantes de grande complexidade que se afastam mais ou menos dos

    monopolos (modelo comparativo com a realidade, que parte do princípio de que

    um sistema radiante produz um campo sonoro idêntico em todas as direções),

    apresentando portanto caraterísticas direcionais. Caraterística direcional de um

    instrumento é a dependência relativamente à direção, do nível de pressão

    sonora radiada (Meyer, 1978). Esta dependência varia com a frequência.

     A partir dos estudos realizados por Jurgen Meyer verificou-se que, tendo como

    referência um nível normalizado de radiação sonora correspondente a 0 dB

    como nível máximo emitido, as caraterísticas de direcionalidade de radiação dos

    instrumentos de orquestra apresentam radiação de tipo omnidirecional (idêntica

    em todas as direcções) para as frequências mais graves de em alguns

    instrumentos. Acima de 500 Hz não existe radiação omnidirecional para nenhum

    instrumento.

    Definindo um factor estatístico de direcionalidade relativo à energia, Meyerconseguiu avaliar a grandeza da direcionalidade. Estabelecendo uma relação

    entre a pressão sonora gerada por um instrumento real e a pressão sonora

    gerada por uma fonte omnidirecional, radiando a mesma potência sonora, Meyer

    concluiu que quanto maior for o factor de direcionalidade menor é o ângulo

    privilegiado de radiação.

    Ex: a 3000 Hz a trompa apresenta um factor de direcionalidade aproximado de

    5. Este valor significa que a pressão medida num ponto do ângulo de radiação é

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    cinco vezes maior do que a pressão medida no mesmo ponto se a radiação

    fosse omnidirecional (para a mesma potência radiada).

    Fig.1 – Principais direções de radiação (0 dB a -3dB) A – do violino no plano horizontal.

    B - do contrabaixo no plano horizontal

    Fig.1 – Principais direções de radiação da trompa (0 dB a -3dB) A – no plano horizontal.

    B – Em dois planos verticais

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    Classificação dos instrumentos 

     Ao longo do tempo tem havido diversas abordagens à classificação dos

    instrumentos. Das obras de que há registo devemos salientar o contributo de

    alguns estudiosos para a classificação e sistematização dos instrumentos:

    •  Victor-Charles Mahillon (1880-1922) – Elaborou o catálogo dos

    instrumentos pertencentes ao museu onde era conservador (Musée

    Instrumental de Bruxelles) e no qual incluiu um importante ensaio de

    classificação dos instrumentos. Pelo rigor científico com que foi elaborado

    é considerado um trabalho pioneiro, tendo influenciado trabalhos

    posteriores sobre classificação.

    •  Erich von Hornbostel (1877-1935) – Elabora juntamente com Curt Sachs o

    sistema que é nos dias de hoje referência universal na classificação dos

    instrumentos. O sistema Hornbostel-Sachs

    •  Curt Sachs (1881-1959) – Ver no apontamento sobre Hornbostel

    •  André Schaeffner (1890-1980) – Contributo para o conhecimento das

    origens dos instrumentos e história da música instrumental na obra

    Origine des instruments de musique. Introduction ethnologique à l'histoire

    de la musique instrumentale. 

    Existem classificações dos instrumentos musicais em que os instrumentos

    musicais são agrupados em categorias gerais, baseando-se em:

    •  método de execução

    •  estrutura ou material

    •  uso ou estatuto (Malm, 1986)

    Malm considera que essas classificações reflectem as necessidades e a culturade quem as elabora. Como exemplo refira-se a classificação dos instrumentos

    usados na música de gamelão, baseado no material de construção.

    Na denominada classificação da orquestra sinfónica, os instrumentos que a

    constituem são divididos em três grupos.

    •  Instrumentos de corda

      Instrumentos de sopro•  Instrumentos de percussão

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    Esta classificação serve para os instrumentos de orquestra, no entanto, não é a

    mais indicada para classificar os instrumentos em geral. É um sistema limitado já

    que não permite classificar um elevado número de instrumentos (harmónica de

    vidro, berimbau, as caixas de música, etc.)

    Para ser universal, um sistema de classificação deve basear-se num princípio

    único, lógico e coerente. Se numa classificação pretendemos incluir todos os

    instrumentos de todas as épocas e de todo o mundo – actuais ou antigos,

    eruditos ou populares, ocidentais e orientais – teremos que nos basear num

    critério uniforme para que não haja instrumentos impossíveis de classificar ou

    classificáveis em mais de um grupo. Um tal critério deve assentar em algo que

    seja essencial, indispensável a qualquer instrumento musical.

    Classificação de Hornbostel-Sachs

    Muitas foram as classificações elaboradas ao longo dos tempos. No entanto a

    classificação que é mais usada e universalmente aceite para fins científicos por

    musicólogos, antropólogos e músicos tem sido a classificação de Hornbostel-

    Sachs.

    No sistema de Hornbostel-Sachs os instrumentos são divididos em quatro

    categorias principais:

    •  Idiofones – O som é produzido pelo próprio corpo do instrumento, feito de

    materiais elásticos naturalmente sonoros, sem estarem submetidos a

    tensão.

    •  Membranofones – O som é produzido por uma membrana esticada.

    •  Cordofones – O som é produzido por corda tensa.

    •  Aerofones  – O som é produzido pela vibração de uma massa de aroriginada no (ou pelo) instrumento.

    Com o aparecimento dos instrumentos electrónicos passou a considerar-se

    uma quinta categoria.

    •  Electrofones – O som é produzido a partir da variação de intensidade de

    um campo eletromagnético. Distinguem-se nesta categoria os

    instrumentos electrónicos e os instrumentos eletromecânicos. Nestes

    últimos, o som é produzido por meios mecânicos e posteriormenteamplificado e/ou modificado eletronicamente.

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    Subclassificações 

    Embora a classificação Hornbostel-Sachs base seja relativamente simples, as

    subdivisões de cada categoria tornam-se bastante complexas devido à enorme

    quantidade de instrumentos existentes.

    Idiofones 

    Distinguem-se de acordo com a maneira como são postos em vibração.

    •  Idiofones de percussão – O som é obtido sujeitando o corpo vibrante a

    um choque. São de forma (placas, sinos, tubos) e construídos de material

    variado (bambu, madeira, pedra, vidro, metal). Para conjuntos (colecções)

    de corpos vibrantes, usam-se designações como xilofone, litofone,

    cristalofone, metalofone. Porém muitos consistem em apenas um corpo

    vibrante (gongo ou tam tam, sino, triângulo).

    Nos idiofones de percussão podemos distinguir três tipos:

    •  Idiofones percutidos  – O som é obtido batendo com a mão, baqueta,

    pau ou outro objecto no corpo vibrante. O som é proveniente da superfície

    onde se bate (vibrafone, marimba de vidro).

    •  Idiofones percussivos  – O som é obtido batendo com o próprio

    instrumento numa superfície dura. O som provém do objecto com que se

    percute (diapasão).

    •  Idiofones de concussão  – O som é obtido pelo entrechoque de dois

    corpos iguais ou semelhantes e provém da vibração de ambos. Podem

    ser usados cada um numa mão (pratos de orquestra) ou ambos na

    mesma (castanholas).

     Ainda na subclassificação dos idiofones encontramos mais quatro subclasses:

    •  Idiofones de agitamento  – Podem ser constituídos por um recipiente

    contendo grânulos que se agitam (maracas), podem estar suspensos ou

    ainda presos num caixilho (sistro)

    •  Idiofones de raspagem – Um corpo raspa outro de superfície canelada,

    dentada ou irregular. Ambos podem funcionar como corpo vibrante (reco-reco).

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    •  Idiofones beliscados – O som é produzido pela flexão de uma lâmina

    (berimbau, sansa).

    •  Idiofones friccionados – O som é produzido por fricção do corpo

    vibrante (violino de pregos, harmónica de vidro).

    Membranofones

    Embora a maioria dos membranofones sejam tambores (no sentido lato do

    termo), para fins de classificação consideram-se três categorias:

    •  Tambores  – Podem ser unimembranofones  ou bimembranofones,

    assumindo diversas formas: cilíndricos, cónicos, em forma de barril, taça

    ou ampulheta, com pés, longos, munidos de um caixilho, etc. Deste grupo

    os timbales (ou tímpanos de orquestra) distinguem-se pelo seu corpo

    hemisférico e por produzirem um som de altura definida.

    •  Tambores de fricção – São caraterizados pelo facto da membrana ser

    posta em vibração através de um pau ou corda que a ela está preso.

    (Zamburra da beira baixa ou cuíca brasileira)

    •  Mirlitão – Deriva da palavra francesa mirliton, que designa um conjunto

    de instrumentos (também chamados de kazoos ou flautas de eunuco) que

    hoje são considerados mais curiosidades e brinquedos que propriamente

    instrumentos musicais. Uma membrana é posta a vibrar por simpatia

    através de sopro, amplificando e distorcendo o som produzido pela voz,

    conferindo-lhes um timbre anasalado. Não são propriamente geradores,

    mas apenas modificadores de sons.

    Cordofones

    Classificam-se habitualmente de acordo com a posição das cordas em relaçãoao corpo do instrumento. Para além deste aspecto podemos distinguir os

    cordofones pelo modo como as cordas são excitadas:

    •  Percutidos – As cordas são excitadas com uso de uma baqueta (santur,

    dulcimer). Modernamente o piano é considerado um instrumento de

    cordas percutidas por um mecanismo activado por um teclado. No entanto

    existem alguns aspectos que vão contra a classificação do piano como

    instrumento de percussão que tem que ver com aspectos de função

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    rítmica e incapacidade por parte dos instrumentos de percussão da

    execução de escalas musicais.

    •  Dedilhados – As cordas são excitadas com o uso dos dedos ou de um

    plectro (palheta)

    •  Friccionados – As cordas são excitadas por fricção através do uso de um

    arco

    Para distinção geral e devido às diversas formas que apresentam é usual a

    seguinte distinção:

    •  Arcos musicais – São constituídos por uma corda presa nas extremidade

    de uma vara muito arqueada. (berimbau)

    •  Liras  – As cordas estão esticadas entre a caixa de ressonância e uma

    armação no mesmo plano. (lira celta)

    •  Harpas – As cordas estão esticadas entre a caixa de ressonância e um

    braço. O plano que contém as cordas é perpendicular à caixa de

    ressonância (embora as cordas em si se encontrem oblíquas

    relativamente a ela). (Harpa)

    •  Cordofones tipo alaúde – As cordas, paralelas, estão esticadas ao longo

    de um braço, prendendo na caixa de ressonância no extremo oposto a

    esse. (Guitarra)

    •  Cordofones tipo cítara  – As cordas estão esticadas ao longo

    comprimento total do instrumento. O plano das cordas é paralelo ao plano

    da caixa de ressonância. (citara, dulcimer, saltur, saltério)

    •  Cordofones friccionados (com arco)  (família do violino, violas da

    gamba, viela). Note que organologicamente estes instrumentos sãoconsiderados tipo alaúde.

    •  Cordofones de teclado  – Cordofones munidos de teclado (clavicórdio,

    cravo, piano)

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    Aerofones

    O principal elemento distintivo dos aerofones é a embocadura.

    Podemos considerar os seguintes grupos:

    •  Aerofones de aresta  (família das flautas) – Instrumentos cuja

    embocadura é uma aresta, para a qual se direcciona um jato de ar.

    Existem dois tipos de embocadura de aresta: simples (flauta transversal,

    flauta de pã) e de apito (flauta de bisel, tubos labiais de órgão).

    •  Aerofones de palheta  – O jato de ar modulado pela vibração de uma

    palheta (ou duas, vibrando uma contra a outra). Existem vários tipos de

    palhetas: livres (acordeão, órgãos de boca) ou batentes. Estas por sua

    vez, podem ser simples (saxofone, clarinete) ou duplas (oboé, corne

    inglês, fagote).

    •  Aerofones de bocal  – Neste instrumentos o som é produzido por

    vibração labial. Os lábios no instrumento funcionam como palhetas

    duplas, razão pela qual muitos autores consideram estes instrumentos de

    palheta labial (trompete, trompa, serpentão). Note que o bocal não vibra,

    servindo de apoio à vibração dos lábios [Ac. Mus. pp.602, 609]

    Existem três categorias que pela sua especificidade são classificadas à parte:

    •  Orgão (de tubos) – Aerofone munido de um ou mais teclados, contendo

    tubos labiais (embocadura de aresta) e tubos palhetados (embocadura de

    palheta).

    •  Voz humana  – O órgão da voz também designado sistema fonador é

    constituído pelo sistema respiratório, cordas vocais e tracto vocal. Os

    cantores utilizam-no como instrumento musical, mas desempenhaigualmente funções não-musicais, nomeadamente a comunicação verbal.

    •  Aerofones livres  – o som é produzido pelo movimento de um corpo

    sólido que se desloca no ar. O corpo vibrante não é instrumento, mas o ar

    que o rodeia (rombo, pião musical).