revista ucs ed. 19

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revistaUCS MARÇO E ABRIL /2016 . ANO 3 . Nº 19 UCS UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL ARTE DE ALDO LOCATELLI FOI FUNDAMENTAL PARA FORMAÇÃO CULTURAL GAÚCHA E ÍTALO-RIOGRANDENSE O CRIADOR DA IDENTIDADE IMIGRANTE *Afrescos do teto e altar da Igreja São Pelegrino, conjunto que, somado às telas da Via Sacra nas naves laterais, é considerado a obra-prima do artista.

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A Revista UCS é uma publicação da Universidade de Caxias do Sul (UCS).

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revistaUCSMarço e abril /2016 . ano 3 . nº 19UCS UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

ARTE DE ALDO LOCATELLI FOI FUNDAMENTAL PARA

FORMAÇÃO CULTURAL GAÚCHA E ÍTALO-RIOGRANDENSE

O CRIADOR DA IDENTIDADE IMIGRANTE

*Afrescos do teto e altar da Igreja São Pelegrino, conjunto que, somado às telas da Via Sacra nas naves laterais, é considerado a obra-prima do artista.

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Universidade de Caxias do SulReitor: Evaldo Antonio KuiavaVice-Reitor: Odacir Deonisio GraciolliPró-Reitor Acadêmico: Marcelo RossatoPró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Odacir Deonisio Graciolli (interinamente)Pró-Reitor de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico: Odacir Deonisio GraciolliChefe de Gabinete: Gelson Leonardo RechDiretor Administrativo e Financeiro: Cesar Augusto Bernardi

Produção: Assessoria de Comunicação UCS/ Setor de Imprensa e Mídias Digitais Edição: Ariel Rossi Griffante Revisão: Cristina Beatriz Boff, Josmari Pavan e Vagner Espeiorin Supervisão: Dimas Augusto FelippiFoto de capa: Acervo Igreja São PelegrinoTiragem: 5.000 exemplaresContato: 54.3218.2116 [email protected]; [email protected] Versão digital: www.ucs.br/site/revista-ucs/

facebook.com.br/ucsoficial twitter.com/ucs_oficial instagram.com/ucs_oficial pinterest.com/ucsoficial/ https://www.flickr.com/photos/_ucs

ALDO LOCATELLI: A ARTE QUE DEU FORMA E IDENTIDADE

AOS VALORES DA IMIGRAÇÃO 7

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ORQUESTRA SINFÔNICA DA UCS: ESPETÁCULO CÊNICO-MUSICAL

COMPÕE PRIMEIRO DVD 6

PÓS-GRADUAÇÃO: NECESSIDADE DE INVESTIMENTO

EM ATUALIZAÇÃO PERMANENTE 12

UCS NO YOUTUBE: CONFIRA VÍDEO ORIGINAL DA INAUGURAÇÃO, EM 1960, DA VIA SACRA DA IGREJA SÃO PELEGRINO 11

CELSO VASCONCELLOS:

O PROFESSOR COMO MEDIADOR DA CONSTRUÇÃO

DO CONHECIMENTO 15

Claudia Velho

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Acervo Igreja São Pelegrino

FESTA DA UVA: OLIMPÍADA

COLONIAL VIRA GAME PARA CELULARES

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A vocação de indutora do desenvolvimento re-gional da Universidade de Caxias do Sul, firmada desde sua fundação, em 1967, chega à atualidade consolidada na criação do Parque de Ciência, Tec-nologia e Inovação (TecnoUCS). O complexo tem a finalidade de promover o avanço da inovação e do empreendedorismo, visando ao desenvolvimento econômico e social, criando uma nova matriz de produção e sustentabilidade.

Ao concentrar a expertise da universidade em pesquisa e inovação, o TecnoUCS assume a res-ponsabilidade pelo fluxo de conhecimento e tecno-logia voltado para a geração de ideias inovadoras, com aplicação dirigida tanto para a solução de problemas das empresas constituídas como para a criação de produtos ou processos com potencial de se tornarem empreendimentos competitivos e rentáveis.

“O TecnoUCS acompanha as tendências mun-diais de interação entre universidades, o poder pú-blico e o setor empresarial na busca de soluções inovadoras para o desenvolvimento sustentável”, sintetizou o reitor Evaldo Kuiava na solenidade

inaugural, ocorrida em dezembro, no Bloco 57 do Campus-Sede – onde estão instalados os primei-ros Espaços de Inovação do parque. “Sua base de sustentação está na atuação dos pesquisadores que, desde 1970, vêm construindo uma rede de pesquisa e inovação em áreas estratégicas”, com-plementou.

APOIO DO ESTADO – Apontando a ciência e a tecnologia como “as novas moedas da economia”, o governador José Ivo Sartori ressaltou o programa de apoio aos parques tecnológicos do governo do Estado: “Temos o papel de sermos articuladores e ajudarmos a universidade e as empresas. A UCS fez até hoje um trabalho muito importante no pla-nejamento dos municípios e no desenvolvimento da região. Com o TecnoUCS, teremos uma nova cadeia de produtividade e sustentabilidade”.

Na inauguração também foi apresentado o pro-jeto das futuras instalações da unidade de Caxias do Sul do TecnoUCS, que ocupará uma área pró-xima ao Instituto de Biotecnologia e à Incubadora Tecnológica do Campus-Sede.

TECNOUCS

Coordenador Enor Tonolli; pró-reitor de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico, Odacir Graciolli; presidente da FUCS, Ambrósio Bonalume; reitor Evaldo Kuiava; governador José Ivo Sartori; vice-prefeito Antônio Feldmann; e vereador Guilla Sebben: interação entre universidade, poder público e setor empresarial em busca de soluções inovadoras.

Claudia Velho

EstruturaO Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação integra um ecossistema de conhecimento, empreendedorismo e inovação composto por:

w 18 Núcleos de Inovação e Desenvolvimento

w 14 Núcleos de Pesquisa;

w uma rede de 92 laboratórios com atuação em diferentes áreas de conhecimento;

w três unidades, com incubadoras tecnológicas, sediadas em Caxias do Sul (Campus-Sede), Bento Gonçalves (em implantação), e Vale do Caí (onde também está instalado o Instituto de Materiais Cerâmicos, em Bom Princípio).

PARQUE DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO CONSOLIDA UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL COMO INDUTORA DO EMPREENDEDORISMO SUSTENTÁVEL

IMPULSO AO DESENVOLVIMENTO

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LABORATÓRIO DA UCS DESENVOLVE GAME BASEADO NAS OLIMPÍADAS COLONIAIS EM APLICATIVO PARA A FESTA DA UVA

No videogame, a perfeição do traço gráfico lembra tanto a realida-de que, em um primeiro momento, o jogo digital Metal Gear parece cena de cinema. A sensação se completa com o suspense que en-volve os personagens da ação. Não por acaso, o título é o preferido do estudante de Tecnologias Digitais Milton Prestes Medeiros, 26 anos.

Nos últimos meses, porém, a ro-tina de jogos se transformou para o rapaz. Ao invés das disputas e com-bates travados no Metal Gear, ele passou a lidar com os cenários do interior caxiense. As armas, essen-ciais para avançar de fase, foram substituídas por uvas, o fruto tradi-cional da região. Os combatentes que obedeciam aos comandos do jogador cederam lugar a Radicci, o personagem em quadrinhos criado pelo cartunista Iotti.

Essa mudança drástica tem um motivo. Desde agosto, Milton integra a equipe do Laboratório de Criação e Aplicação de Software da Universidade de Caxias do Sul. No bloco 71 do Campus-Sede, o gru-po da área de Informática trabalhou contra o tempo para desenvolver um jogo digital especialmente para a Festa da Uva 2016: a Olimpíada Colonial da Festa da Uva. A criação está disponível para baixar em ta-blets e smartphones que utilizam as plataformas Android e iOS.

APROXIMAÇÃO COMUNITÁRIA

Coordenadora do laboratório, a professora Iraci Cristina da Silveira de Carli explica que a demanda par-tiu da própria Comissão Social da Festa da Uva, a partir do desejo de aproximar a comemoração comuni-tária do público jovem. Com tempo escasso, quatro estudantes e dois professores passaram a compre-

ender melhor o evento e a trabalhar nas possibilidades de aplicação do game. Não demorou muito para que a equipe pensasse nas Olimpíadas Coloniais, tradicionalmente promo-vidas pela festa, como conteúdo.

As pesquisas começaram em agosto. Para o planejamento, Milton ganhou a companhia da colega de Tecnologias Digitais Tatiane Castag-na Tomé, 22 anos. Na largada, eles optaram pela simulação da prova de amassar uvas – aquela mesma que remete à antiga técnica para produção de vinhos e que hoje é exibida, na festa, como atrativo tu-rístico-cultural.

PROGRAMAÇÃO O desafio de transferir a sen-

sação de pisar na fruta para uma aplicação mobile, porém, não foi tão simples. O projeto contemplou etapas como a viabilidade de pro-gramação e dos aspectos gráfi-cos, o tempo para execução e a coordenação das atividades entre os membros da equipe. “Optamos pela prova de amassar a uva por-que ela se encaixou melhor na pro-posta. Depois disso, passamos a pensar na programação. É a parte mais técnica, mas bem importante para que a interação com o usuário seja eficiente”, destaca Tatiane.

A programação ficou sob a res-ponsabilidade do estudante de Ci-ências da Computação Gustavo Martins Wanser, de 23 anos. Com um jeito calmo, o acadêmico teve que traduzir para a linguagem de dados o passo a passo pensado pelos estudantes de Tecnologias Di-gitais. Essa parte é crucial, porque nessa etapa podem surgir possíveis falhas no andamento do jogo. Só depois da programação definida é que o aplicativo ganha – literalmen-te – uma cara.

‘COLÔNIA’ DIGITAL

VAGNER ESPEIORIN – [email protected]

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RADICCI ENTRA NA DISPUTA

Olimpíada Virtual

‘COLÔNIA’ DIGITAL

A coordenadora do Laboratório, Iraci Cristina da Silveira de Carli, e os alunos Gustavo Martins Wanser, Tatiane Castagna Tomé e Milton Prestes Medeiros: aplicação fiel ao espírito comunitário, cultural e celebrativo da Festa da Uva.

Planejamento e programação são partes indispensáveis para que um jogo digital ganhe vida. Mas, ainda que es-sas etapas sejam estruturantes, o game precisa de uma interface gráfica. Cores, traços e movimento acabam sendo deci-sivos para que o jogador fique imerso no ambiente da disputa.

Estudante de Design, Luan Carlos Zanatta Zuchi, 20 anos, é o responsável por fazer com que o jogo tenha uma pla-taforma interessante e atraia a atenção do público. Para a tarefa, ele ganhou um reforço de peso: Radicci. Luan trabalhou graficamente com o personagem criado

pelo cartunista caxiense Iotti.Durante o cronograma de atividades,

o personagem, conhecido pelo tipo rús-tico do colono italiano, vai ter que amas-sar muita uva para atingir pontuações, garantidas pelo enchimento de garra-fões com o suco, além de ter que me-lhorar o desempenho entre uma etapa e outra da disputa.

TOUR PELOS DISTRITOS A cada subida de nível, representa-

da pelo deslocamento a outra das 12 localidades caxienses onde se realizam as Olimpíadas Coloniais ‘reais’, reduz-

se o tempo e aumenta a velocidade de comando para a execução da tarefa. O surgimento de elementos distratores também vai aumentando o desafio.

Avançando no jogo, o usuário vai co-nhecendo curiosidades e a cultura dos distritos e regiões que compõem o tra-jeto das tarefas. A fala característica do personagem – impregnada de termos do Talian, variante linguística dos diale-tos trazidos pelos imigrantes italianos – também é apresentada. “O grande de-safio foi pensar em cada detalhe, como a atenção aos elementos audiovisuais”, pontua Milton.

w De acordo com a professora Iraci de Carli, o trabalho deteve-se sobre a atividade de amassar uvas, mas a ideia é criar uma espécie de Olimpíada Colonial Digital, em que o usuário poderá competir em diversas modalidades. A meta é produzir pelo menos um game por semestre ao longo dos próximos quatro, chegando com cinco jogos até a próxima Festa da Uva, em 2018.

w Por enquanto, os internautas podem baixar o aplicativo e ainda disputar com outros usuários quem faz mais pontos. Um ranking entre os competidores foi integrado por meio de uma aplicação no Facebook, na fanpage das Olimpíadas Coloniais da Festa da Uva.

Claudia Velho

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Por meio da Lei de Incentivo à Cultura Federal (Lei Rouanet), a Orquestra Sinfô-nica da UCS pode receber, anualmente, o repasse de até 6% do Imposto de Ren-da devido de pessoas físicas e jurídicas. Referente ao exercício de 2016, a desig-nação deve ser feita até o dia 20 de junho (confira o procedimento ao lado).

O valor será descontado na ocasião do pagamento do imposto – ou seja, é retirado da parcela a receber pela Receita Federal. No caso de restituição, a quantia

é devolvida integralmente. Empresas que declaram IR por lucro real podem partici-par com limite de contribuição de até 4% do imposto devido.

“Ao decidir sobre parte do destino da-quilo que terá que pagar de qualquer for-ma ao governo, a pessoa contribui com a economia da região, porque os valores são mantidos no mercado local”, obser-va o coordenador da Orquestra, Moacir Lazzari, sobre as vantagens da adesão à proposta.

DESTINAÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA

LANÇADO PRIMEIRO DVD DA ORQUESTRA DA UCS

DISTRIBUIÇÃO - O projeto foi financiado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, com apoio cultural da Unimed Nordeste e da Racon Consórcios, o que garantiu a produção de mil exemplares. Parte foi

distribuída gratuitamente a escolas da rede pública, entidades culturais e à Secretaria Municipal da Cultura.Como contrapartida, a cota comercializável é oferecida ao preço reduzido de R$ 20.

O DVD pode ser adquirido com a Cia. Municipal de Dança ou com o Setor de Desenvolvimento Cultural da UCS (Sala 102 do Centro de Convivência, no Campus-Sede). Informações pelo 3218.2610.

Um espetáculo cênico-musical em torno dos quatro elementos da natureza – fogo, ar, água e terra – compõe o primeiro DVD produzido pelo Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul. O Qua-dressencias foi lançado em dezembro, em conjunto com a Companhia Municipal de Dança de Caxias do Sul.

Com concepção e direção artística do maestro Manfredo Schmiedt, o espetáculo estreou em junho de 2014, mas foi reestru-turado para a gravação, que ocorreu em

julho de 2015. As filmagens foram realiza-das durante três apresentações, que reu-niram 2 mil pessoas no UCS Teatro.

Em 50 minutos de duração, o Quadres-sencias é composto por cinco movimen-tos: a abertura, apenas com a orquestra, em andamento calmo, e os quatro atos com dança – Fogo (allegro), Ar (calmo), Água (moderato) e Terra (allegro). A com-posição musical de Daniel Wolff, feita es-pecialmente para o espetáculo, conta com 40 músicas, encenadas por 11 bailarinos

coreografados por Ney Moraes. Ao todo, 30 pessoas envolveram-se

na produção. O visagismo é de Pepe Pessoa e a concepção de figurinos de Rosmari Giusto, Paula Giusto e Verónica Gomezjurado. A direção de fotografia é de Luciano Paim; a iluminação, de Israel Ca-bral; a captação de áudio, da AtmosFERA Produções Culturais; e a produção audio-visual, da Spaghetti Filmes, com direção geral de Moacir Lazzari e Cristina Nora Calcagnotto.

Como contribuirw Até 20 de junho, efetuar a designação por cheque nominal ao Pronac nº 1310958 (número do projeto cultural inscrito na Lei Rouanet) ou depósito bancário (Banco do Brasil, ag: 00892, cc: 000001089293). Em seguida, entre em contato com o Setor de Desenvolvimento Cultural da UCS para a providência do recibo.

w Fazer a Declaração do IR 2017 no modo ‘Completa’. No campo ‘Doações e Patrocínios’, preencher com os dados do recibo.

w Mais informações: Setor de Desenvolvimento Cultural da UCS (3218.2610 ou [email protected])

Antonio Lorenzett/Divulgação

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Assim como na tradição cristã – um dos principais objetos de estudo, arte e fé de Aldo Locatelli – Deus deu, do bar-ro, forma ao Homem, e inúmeras mani-festações à criação, o artista, em tintas e pincéis, deu rosto ao imigrante italiano e ao colonizador português, e imagem e expressividade à fé e aos valores desses povos. Retratada em obras históricas, alegóricas e sacras, o simbolismo esté-tico daquilo que compõe as identidades gaúcha e ítalo-riograndense teve, em Lo-catelli, um criador particular.

O fenômeno se repetiu com o próprio artista e com sua arte. No Brasil, Locatelli encontrou a identidade de mestre, como professor e Mago das Cores – epíteto re-cebido dos admiradores no intuito de sin-tetizar a destacada versatilidade de seu trabalho. Como homem, naturalizou-se brasileiro, teve seus filhos e fincou raízes no país depois de cruzar o oceano para não mais voltar – a exemplo dos conter-râneos e dos vizinhos europeus, de quem narrou sagas e religiosidade em murais,

afrescos e telas. Influenciada pela cultura brasileira, sua técnica e inspiração acaba-riam também incrementadas pelos traços nacionais, configurando identidade singu-lar ao conjunto de sua obra.

EXPOENTE CULTURAL - “Aldo Loca-telli tornou-se o artista de maior reconheci-mento em afrescos no Rio Grande do Sul. O conjunto da sua obra é muito grande e expressivo, sendo uma das referências da pintura sacra no Brasil”, destaca a pro-fessora do Centro de Artes e Arquitetura da UCS, Silvana Boone. “Sua obra não segue um padrão característico de movi-mentos artísticos contemporâneos ao ar-tista, mas traz a irreverência advinda tanto de referências renascentistas quanto tra-ços expressionistas da pintura moderna”.

Para o pesquisador do Instituto de Artes de Porto Alegre (onde Locatelli le-cionou), Paulo Gomes, o pintor ajudou a plasmar a autoimagem que o Estado necessitava no contexto sociocultural do pós-Guerra – “um Rio Grande ávido por

se modernizar após o longo período do Estado Novo de Getúlio Vargas” – colo-cando-se entre expoentes da cultura rio-grandense, como Simões Lopes Neto, Erico Verissimo e os fundadores do mo-vimento tradicionalista. “Multiplamente ta-lentoso e hábil, Locatelli posicionou-se no reduzido grupo de artistas que lograram criar uma identificação imediata do públi-co com seu Estado e com suas obras e, mais raro ainda, nos pouquíssimos casos nos quais essa identificação está atrelada ao nome de seu autor”, define Gomes.

O Mago morreu no ápice, em 1962, com menos de meio século de vida, mas a tempo de ser reconhecido como um dos mais importantes pintores sacros e regionalistas do Brasil, deixando um le-gado celebrado ao longo das décadas. Especialmente em Caxias do Sul, onde o vigor impactante do auge de sua cria-ção artística combina-se em serenidade e imponência com a Igreja São Pelegrino, dando residência definitiva ao conjunto hoje considerado sua obra-prima.

ARIEL ROSSI GRIFFANTE - [email protected]

COM ARTE SINGULARMENTE VERSÁTIL E EXPRESSIVA, PINTOR

ALDO LOCATELLI AJUDOU A DEFINIR E FIXAR IDENTIDADES

GAÚCHA E ÍTALO-RIOGRANDENSE

O HOMEM QUE DEU ROSTO À IMIGRAÇÃO

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Aldo Daniele Locatelli nasceu em 18 de agos-to de 1915 em Villa d’Almè, na Lombardia, Norte da Itália. O interesse pela pintura despertou aos dez anos, quando teve contato com artistas que restauravam a igreja da cidade vizinha de Bér-gamo que estavam alojados no restaurante de seu pai. Aos 16 fez o primeiro curso de decora-ção, tomando contato com a estética dos gran-des mestres renascentistas. Um ano depois, ingressou na Academia Carrara de Belas Artes, de Bérgamo. Em 1937, consegue uma bolsa de estudos para a Escola de Belas Artes de Roma.

Em seguida surgem as primeiras oportuni-dades de trabalho. A profissão é interrompida em maio de 1940, com a convocação para a II Guerra Mundial. Compõe um regimento de In-fantaria que combate no Norte da África. É dis-pensado em outubro e remobilizado em abril de 1941, desta vez baseado em Ospedalete, cida-de próxima à fronteira com a França, onde viria a conhecer sua futura esposa, Mercedes Bian-cheri.

Mesmo ferido em ação, é mantido em ope-rações no Mediterrâneo até setembro de 1943. A guerra não tira a vida de Aldo, mas marca um período de perdas profundas. Seu pai, Luigi, morre quando ele está na África. O irmão, Ân-gelo, é vitimado em batalha em 1943. No ano seguinte, falece sua mãe, Anna.

VIDA PELA ARTE - De volta à Villa d’Almè e à pintura, emenda uma série de trabalhos e ganha projeção, especialmente como muralis-ta sacro. Em 1948, a equipe de Aldo Locatelli e Emilio Sessa é indicada por Dom Ângelo Ron-calli, então núncio apostólico do Vaticano em

Paris (e que viria a se tornar o Papa João XXIII), para a decoração da Catedral São Francisco de Paula, em Pelotas, a partir de solicitação do bis-po Dom Antonio Zattera.

Locatelli chega em 1º de novembro com a intenção de concluir o trabalho e retornar à terra natal. Acabaria por trazer a mulher, ter seus dois filhos Roberto (1950) e Cristiana (1952) em Pelo-tas, naturalizar-se brasileiro (1954) e permanecer no país até o fim da vida. A morte ocorreria de forma precoce, aos 47 anos, em decorrência de câncer pulmonar, em 3 de setembro de 1962, em Porto Alegre, onde foi sepultado.

CONSAGRAÇÃO NO BRASIL - Interessa-da em resgatar a condição de referência cultural que a caracterizara no final do século XIX e início do século XX, Pelotas instala a Escola de Belas Artes em 1949, convidando Locatelli a se tornar o principal professor. No ano seguinte, o padre Eugênio Giordani contrata o artista para a deco-ração daquela que se constituiria em sua mais emblemática realização: a decoração da Igreja São Pelegrino (veja nas páginas 10 e 11).

No período, trabalha intensamente pelo Es-tado, passando também por Santa Maria, Novo Hamburgo e Porto Alegre, onde é convidado a lecionar Arte Decorativa no Instituto de Belas Artes. Produz afrescos religiosos e murais de caráter alegórico e histórico, caracterizados pela monumentalidade, carga emocional e simbolis-mo cultural – casos dos painéis de A Formação Histórico-Etnográfica do Povo Rio-Grandense, no Palácio Piratini, e Do Itálico Berço à Nova Pá-tria Brasileira, produzido para a Festa da Uva de 1954 (leia ao lado).

TALENTO LAPIDADO PELA FÉ

O QUE PRESERVA O LEGADO DO ARTISTA EM CAXIASw Associação de Cultura e Arte Aldo Locatelli (Scala) – presidida há 16 anos por Ivan Antonio Furlan (pai da rainha da Festa da Uva 2016, Rafaelle Galiotto Furlan). Funciona junto à Casa de Memória São Pelegrino, no térreo da igreja. O local guarda fotos, esboços originais das pinturas, documentos e cartas trocadas entre Locatelli e o padre Eugênio Giordani.w Coral Aldo Locatelli – da Paróquia São Pelegrino.w Honraria Especial Aldo Locatelli: 100 Anos de História e Legado – foi concedida em agosto de 2015, pela Câmara de Vereadores, a

cinco personalidades indicadas pela comunidade ligadas à obra do artista: o Padre Eugênio Giordani (in memorian), pároco responsável pela contratação de Locatelli para a decoração da Igreja São Pelegrino; Emilio Sessa (in memorian), pintor que trabalhou com Locatelli na Itália e no Brasil; Alvino Melquides Brugalli, condutor da criação da Associação de Cultura e Arte Aldo Locatelli (Scala), em 1964; Ivan Antonio Furlan, presidente da Scala há 16 anos; e Véra Stedile Zattera, professora e pesquisadora que publicou, em 1990, pela Educs, o livro Aldo Locatelli, primeira compilação apresentando a trajetória e o legado do artista.

“A par da excelência acadêmica (uma arte

bem feita, fundada no desenho preciso e no colorido equilibrado)

das pinturas da Catedral de São Francisco de

Paula, ele contrapõe a economia do painel do

Aeroporto Salgado Filho; em oposição à narrativa

emocionalizada da Igreja de Santa Teresinha, ele propõe o equilíbrio e a elegância do painel

‘As Artes’ (Instituto de Artes); a par do barroco exacerbado do teto de

São Pelegrino, ele contrapõe a

emoção expressionista da Via Sacra na

mesma igreja”

PAULO GOMES, pesquisador do

Instituto de Artes de Porto Alegre

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Consagrado em Caxias do Sul com a execução do altar e do teto da Igreja São Pelegrino, inaugura-dos em 1953, Aldo Locatelli é con-vidado pelo então presidente da Festa da Uva, Júlio Ungaretti, para pintar um mural no novo pavilhão do evento , que seria inaugurado no ano seguinte – hoje sede do Centro Administrativo Municipal.

A festa de 1954 reunia uma conjugação de fatores históricos e sociológicos que acabariam repre-sentados na obra. Além da primeira edição nas espaçosas e imponen-tes instalações, o evento celebraria os 75 anos da imigração italiana na região e apresentaria, em paralelo, a 1ª Feira Industrial do Rio Grande do Sul. Isso demarcaria a virada definiti-va da identidade caxiense, da ‘colo-nial’ cidade central da região da uva para a referência industrial líder do desenvolvimento da Serra. Essa res-siginificação atingiria a identidade da própria Festa da Uva como prin-cipal vitrine de Caxias do Sul, que desde então alicerça seu conceito nesta significação sociocultural.

TRABALHO - Com uma com-binação precisa entre sensibilidade e assertividade nos traços e temá-ticas, Locatelli deu forma, cores e expressões a todos esses aspectos no magistral Do Itálico Berço à Nova Pátria Brasileira (reprodução acima). Com 30,8m de extensão por 2,75m de altura, o mural retrata, em oito se-quências, a trajetória imigrante.

O trabalho – em suas facetas brutas, delicadas, detalhistas e en-genhosas, empregadas pela deter-minação do homem – é enfatizado como valor primordial e impulsiona-dor do progresso. O resultado ofere-ce uma síntese visual inigualável da identidade ítalo-riograndense.

FAMÍLIA - Essa fundamen-tação aparece desde o primeiro quadro e na disposição não-crono-lógica. O painel no centro da com-posição mostra a chegada da famí-lia imigrante, com o homem à frente, empunhando uma pá expressando determinação e o olhar entre o can-saço, a apreensão e a consciência do desafio de construir o futuro dian-te do desconhecido.

A sequência, com a instalação na nova pátria, ocorre para a es-querda de quem visualiza, com as imagens da árdua conquista da terra – simbolizada nas tarefas para sua ocupação e extração do susten-to –, harmonizada com a suavidade da presença de uma mãe amamen-tando o bebê – o que insere a famí-lia como retaguarda e causa para o empenho desbravador. Seguem-se a semeadura (em uma plástica ilus-tração da virilidade masculina a ser-viço da tarefa sutil da fecundação), o cultivo e colheita da uva, ápice de todo empenho anterior – tornada ce-lebrativa pela presença feminina, no gestar e no receber os frutos.

E PROGRESSO - Para a direita ruma a representação do progresso advindo do esforço imigrante. Sur-gem as construções de alvenaria. O ferro é forjado, fios são tecidos, pedras lapidadas, máquinas cons-truídas e a metalurgia se instala. Como pano de fundo, uma capela apresenta a salvaguarda da fé. Da integração com o gaúcho riogran-dense, emergem cidades e prospe-ram indústrias. Do engenho humano sofisticam-se tecnologias que, em meio ao desenvolvimentismo dos anos 1950, são, ao mesmo tempo, consolidação do trabalho empreen-dido e apontamento de direção para a continuidade progressista.

A SÍNTESE DEFINITIVA DA EPOPEIA IMIGRANTE

DEMAIS OBRAS PRINCIPAIS

w Em Caxias do Sul, o artista também produziu o afresco A Ressurreição, na Igreja do Santo Sepulcro (Avenida Júlio de Castilhos) e o quadro Natividade, na Capela das Irmãs Carmelitas (bairro Panazzolo).

w Além de diversas outras obras, como retratos em tela, o talento de Locatelli o leva a ser contratado para executar diversos trabalhos em bancos e empresas em São Paulo (SP), de 1955 a 1962, e para a decoração da Catedral de Itajaí (SC).

Daniela Barcellos/Palácio Piratini

Pelotas

Catedral São Francisco de Paula

Santa Maria

Catedral Nossa Senhora da Conceição

Novo Hamburgo

Catedral São Luiz Gonzaga

Porto Alegre

w Palácio Piratini: A Formação Histórico-Etnográfica do Povo Rio-Grandense (Salão Alberto Pasqualini) e Saga do Negrinho do Pastoreio (Salão Negrinho do Pastoreio)

w Antigo Aeroporto Salgado Filho: mural A Conquista do Espaço

w Fiergs: A Fundação de Rio Grande (Teatro do Sesi)

w Bairro Floresta: afrescos da Igreja de Santa Terezinha do Menino Jesus

w UFRGS: painéis As Profissões (reitoria) e As Artes (Instituto de Artes)

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O teto da igreja é o grande trabalho renas-centista de Locatelli. As pinturas formam uma grande cruz, em cuja base está o quadro da Criação do Cosmos, inspirado na estética de Rafael Sanzio, no qual a figura onipotente de Deus sobrepõe-se à Criação (abaixo, à es-querda).

O segundo quadro é a Criação da Mu-lher (ao centro), na qual a figura feminina não aparece, e sim a sugestão de seu surgi-mento, com Adão semidesacordado aos pés de Deus. Segue-se a Expulsão do Paraíso (abaixo, à direita), com Adão e Eva em enver-gonhada retirada sob a ordem imposta pelo apontamento de uma espada por um anjo.

Neste último quadro surge a influência de

Michelângelo, que ganhará culminância no trabalho mais conhecido de Locatelli, o afres-co do Juízo Final (reproduzido na capa desta edição), inspirado no executado pelo mestre renascentista na Capela Sistina (Vaticano).

Na obra, Jesus preside o Julgamento que sucedeu à Desobediência. Junto dele estão seus seguidores e auxiliares terrenos (Maria e José, São Pedro, São Paulo, São João Batis-ta, Moisés e os profetas). Acima, anjos com trombetas anunciam o Juízo Final. Abaixo, di-videm-se os aceitos no Reino dos Céus, pró-ximos de São Miguel (à direita de Cristo), e os ímpios e condenados, à esquerda. Ao centro, bem e mal lutam pelas almas daqueles que estão sendo julgados.

Em um legado artístico vasto e versátil, é difícil apon-tar uma obra-prima. No caso de Aldo Locatelli ainda mais, em virtude da atuação em diferentes formas da pintura – mesmo apenas em um dos segmentos, o das obras sa-cras, por exemplo, é notável a diferenciação de sua produ-ção na Itália, baseada na esté-tica mediterrânea clássica, em relação ao expressionismo do final da carreira.

Por reunir essa diversidade de características e apresentar tanto a produção baseada em mestres renascentistas (teto da igreja), como a ousadia au-toral, fazendo uso de elemen-tos incorporados à sua técnica (o modernismo e o cubismo na Via Sacra), o conjunto da Igreja São Pelegrino é consi-derado a expressão maior do Mago das Cores.

Com a pedra fundamen-tal lançada em 19 de março de 1944, a construção da nova igreja se aproximava da conclusão quando, em 1950, o pároco Eugênio Giordani tomou conhecimento do tra-balho de Locatelli na Catedral de Pelotas. Uma visita bastou para a decisão de contratar o artista e equipe para conceber e executar a decoração do templo caxiense.

O trabalho nos afrescos (altar, naves laterais e teto) se inicia em 1951 e fica pronto para a inauguração da igreja, em 2 de agosto de 1953. De 1958 a 1960, Locatelli produz, em seu atelier, em Porto Ale-gre, os 14 óleos sobre tela da Via Sacra, descerrada em 22 de maio de 1960.

A OBRA-PRIMA

Pintado em 11 dias, o mural da Santa Ceia, no altar (capa desta edição), foi a primeira obra executada na igreja. Nele, destacam-se a mesa em forma de U e o jogo de cores que o pintor faz entre a iluminação externa e interna da cena – elementos que remetem à singularidade que Locatelli perseguia.

Abaixo está a representação dos símbo-los dos quatro evangelistas, remetendo à quádrupla qualidade de Jesus (Homem, Rei, Sacerdote e Deus).

No arco que circunda o altar encontram-se, à esquerda do observador, a figura de

São José com o Menino Jesus no colo (cujo rosto foi inspirado no filho do artista, Roberto), e, à direita, o padroeiro São Pelegrino.

Às laterais do arco estão os afrescos Apa-rição do Sagrado Coração à Santa Margarida Maria Alecoque, à esquerda, e Aparição de Nossa Senhora de Caravaggio à Camponesa Joaneta¸ à direita.

As naves laterais contam com as Sete Obras de Misericórdia Corporais (à esquer-da) e as Sete Obras de Misericórdia Espiri-tuais (à direita), pintadas por Emílio Sessa a partir de desenhos de Locatelli.

ALTAR – SANTA CEIA

TETO – O JUÍZO FINAL IGREJA SÃO PELEGRINO

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Cinco anos após con-cluir os afrescos da Igreja São Pelegrino, Aldo Lo-catelli foi novamente cha-mado pelo Padre Eugênio Giordani. O pedido agora eram as estações da Via Sacra, a obra final para o templo e para o artista em Caxias do Sul. Consagra-do no Estado, radicado em Porto Alegre como profes-sor do Instituto de Artes da UFRGS, e com sua fama expandindo-se em São Paulo, onde vinha sendo frequentemente contrata-do, Locatelli aceitou pedin-do tempo e liberdade cria-tiva. Recebeu carta-branca do pároco e pôs-se a pro-duzir aquele que, para a professora Vera Stédile Záttera, é o ápice do Mago das Cores.

“O que ele quer repre-sentar não é a corriqueira história repetida inúmeras vezes por muitos pintores. O que o ofende mais é o cínico, o irrisório, o mortal comportamento da so-ciedade atual. É a dor da

incompreensão de todos para com todos”, diz a pesquisadora no livro Aldo Locatelli, a respeito do rea-lismo empregado na obra. “É esse sentimento que o leva a analisar uma obra sobre crucificados, o livro A Paixão de Cristo Segun-do o Cirurgião, do francês Pierre Barbet”.

Foram três anos até a conclusão das 14 pinturas de 2,50m x 1,80m. Duran-te os estudos, Locatelli se faz fotografar nas posições que imaginara para o cor-po de Jesus na obra, de

modo a extrair a maior rea-lidade anatômica possível, que seria combinada com distorções de perspectivas destinadas a conferir maior dramaticidade às cenas.

O pesquisador Luiz Er-nesto Brambatti observa que o artista “incorporou elementos do cotidiano, numa linguagem expres-sionista, utilizando elemen-tos modernos vinculados à imagem”. Isso justifica a presença de um sapa-to atirado contra Jesus na estação 3 (Jesus cai pela primeira vez), reproduzida acima; da lata de café na estação 6 (Verônica lim-pa o rosto de Jesus) e de uma vassoura na 9 (Jesus cai pela terceira vez). Na estação 8 (Jesus encontra as mulheres de Jerusa-lém), Locatelli manteve o costume de inserir rostos conhecidos nas telas com sua filha, Cristiana, como a menina oferecendo o pote de água em primeiro pla-no, simbolizando a pureza da misericórdia.

VIA SACRA

No entorno dos afrescos princi-pais, 36 quadros de 2,10m x 2,10m trazem as 19 estrofes (dois versos por quadro), em latim, do Hino do Ju-ízo Universal. De autoria atribuída ao frade franciscano Thomás de Celano no século XIII, o Dies Irae (Dia da Ira) era recitado em atos fúnebres antes da reforma litúrgica.

“Estão presentes elementos sim-bólicos do encontro do homem com seu destino, em imagens ora sere-nas, ora angustiadas diante do ine-vitável”, descreve o pesquisador Luiz Ernesto Brambatti no livro Locatelli no Brasil. A obra é tida como única em toda a arte sacra universal.

TETO - DIES IRAE

VERSO XIV ’PRECES MEAE NON

SUNT DIGNAE/ SED TU BONUS

FAC BENIGNE/NE PERENNI

CREMER IGNE’

‘MEU PEDIDO NÃO É DIGNO/ MAS

VÓS, SENHOR, SOIS BENIGNO/

NÃO ME QUEIME NO FOGO ETERNO’

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OPORTUNIDADES PÓS-CRISECONSIDERADAS INVESTIMENTO EM ATUALIZAÇÃO PERMANENTE, ESPECIALIZAÇÕES E MBAS AMPLIAM POSSIBILIDADES E RENDA NO UNIVERSO PROFISSIONAL

ANA LAURA PARAGINSKI – [email protected]

Polo industrial de grande relevância para o Rio Grande do Sul, a economia de Caxias do Sul atravessa um momento desfavorável com a crise econômica e os ajustes fiscais praticados pelo governo nos últimos meses. Segundo dados do Observatório do Trabalho da UCS, ao longo de 2015 foram fechados 14.171 empregos na cidade (uma diminuição de 8,32% em relação ao ano anterior), sendo 11.027 no setor da Indústria da Transformação.

Contudo, o cenário de apreensão também é de oportunidades. Para a coordenadora do Observatório, Lodonha Maria Coimbra Soares, em períodos de crise, empresas que precisam reduzir o quadro de funcionários preferem ini-ciar pelos cargos menos especializados, mais fáceis de repor. Por outro lado, as chances no mercado aumentam para quem não deixa de buscar capacitação.

Segundo levantamento da Fundação Ge-túlio Vargas (FGV), os salários de profissionais

pós-graduados são, em geral, 66% mais altos do que os daqueles que possuem apenas gra-duação. Já estudo da consultoria norte-ameri-cana PayScale revela que a qualificação com especializações, mestrado e doutorado pode render uma valorização salarial de até 80%, de-pendendo da área de atuação.

Exemplo disso ocorreu com o engenhei-ro mecânico formado pela UCS Marcelo An-tunes, 41 anos, que com a experiência de 20 anos na indústria, percebeu o mercado caren-te de profissionais de Engenharia de Seguran-ça do Trabalho.

“Logo após concluir a pós-graduação veio a crise e acabei saindo da empresa em que estava havia 17 anos. Depois de três semanas comecei em outra, como engenheiro de Segu-rança, com salário inicial maior do que recebia na empresa anterior”, relata. Diversas possibili-dades de trabalhos extras também se abriram para ele, que soube identificar uma área.

COM A ESPECIALIZAÇÃO PUDE CONHECER MAIS ÁREAS NA

PROFISSÃO E ASSUMIR NOVOS

DESAFIOS

FRANCESCA MIGLIORINI,

pós-graduada em Comunicação Digital

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Engenheiro de Segurança do Trabalho Marcelo Antunes: percepção de necessidade do mercado.

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Para o pós-graduado em Gestão Estratégica na UCS Márcio Luiz Barboza Michielin Carvalho, 25 anos, hoje somente uma gradua-ção não é mais diferencial para a carreira executiva. Ele conta que, no curso, ob-teve todo o conhecimento para a boa gestão e muito aprendizado técnico para desenvolver estratégias e aplicabilidade, e que o ne-tworking com colegas e professores foi uma grande descoberta. “Acredito que uma pós-graduação contri-bui 60% para uma boa colo-cação profissional, e que o restante seja fruto da força de vontade e da dedicação pessoal”, complementa.

Após a finalização do curso, Carvalho teve uma nova oportunidade profis-sional, com o desafio de desenvolver e aplicar uma nova gestão de produção por meio do sistema lean manufacture (focado na redução de desperdícios). Com a realização, obteve reconhecimento no merca-

do, tanto profissional como pessoalmente. “Duas em-presas do mesmo seg-mento podem ter a mesma tecnologia e máquinas,

porém, o diferencial com-petitivo está nas pessoas que realizam a gestão e execução das operações”, ensina.

AVANÇO NA FORMAÇÃO IMPULSIONA NETWORKINGA prática do networking – desenvolvi-

mento e exploração de rede de contatos e relacionamentos – deve ser exercitada dia-riamente, especialmente por aqueles que procuram novas oportunidades de traba-lho. Uma pesquisa realizada pelo Catho, maior site de classificados de currículos e empregos da América Latina, mostra que 44% dos profissionais conseguem empre-go graças à indicação de conhecidos.

O ambiente de um curso de pós-gra-duação potencializa a formação da rede de contatos para o aluno e tende a gerar novas possibilidades de recolocação pro-fissional.

“O mercado, atualmente, entende que a pós-graduação, em suas modalidades de especialista e MBA, tornou-se uma necessidade de atualização permanente, pois as mudanças são muito rápidas”, ressalta a professora Maria Suelena Pe-reira de Quadros, que leciona disciplinas ligadas à área de Recursos Humanos na UCS. “Manter-se alinhando conhecimen-tos e renovando habilidades e atitudes é vital”, complementa.

‘TRAMPOLIM’ À CARREIRA - Suele-na observa a rica troca de experiências e vivências partilhadas nos cursos de pós, o

que permite aprofundamento e aplicação dos conhecimentos.

Francesca Migliorini, 27 anos, formada em Relações Públicas e especializada em Comunicação Digital pela UCS, confirma a premissa. Para ela a pós-graduação foi um ‘trampolim’ para a carreira, tendo a rede de contatos criada possibilitado a descoberta de uma nova etapa profissional.

“Ainda durante o curso recebi uma pro-posta de trabalho de uma colega, proprie-tária de uma agência de Comunicação. Com a especialização pude conhecer mais áreas na profissão e assumir novos desafios”, relata.

‘O DIFERENCIAL ESTÁ NAS PESSOAS’

MANTER-SE ALINHANDO

CONHECIMENTOS E RENOVANDO HABILIDADES E

ATITUDES É VITAL

MARIA SUELENA PEREIRA DE QUADROS,

professora de Recursos Humanos

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CampoGrande

Para a professora de Maria Suelena, as va-gas para candidatos com pós-graduação estão disponíveis nas empresas com melhor enfoque e gestão estratégica de seus negócios. “São as organizações que acreditam em inovação e que

consideram que as pessoas e seu conhecimento criam os diferenciais competitivos necessários para manter-se à frente da concorrência”, des-creve. “Normalmente, são as empresas maiores ou que têm participação em outras, de fora do

país ou da região, e que acreditam que o co-nhecimento é o grande gerador de riquezas e soluções”, comenta a especialista, sobre o perfil das empresas que mais contratam profissionais pós-graduados.

CONHECIMENTO VALORIZADO POR EMPRESAS INOVADORAS

CAXIAS DO SUL

w A Arte de Cuidado do Ser- Abordagens das Práticas Integrativas em Saúde

w Acupuntura

w Análise Estratégica de Custos

w Atenção Integral à Saúde da Mulher e da Criança

w Conservação Arquitetônica: Diagnóstico e Intervenção

w Direito Contratual Contemporâneo e Res-ponsabilidade Civil

w Direito e Processo do Trabalho

w Direito Previdenciário- UCS/ESMAFE

w Direito Processual Civil

w Direito Público- UCS/ESMAFE

w Direito Tributário

w Direito Tributário em Questão- UCS/ESMAFE

w Economia Aplicada a Negócios

w Educação em Direitos Humanos

w Educação Infantil

w Educação Especial em Deficiência Intelectual e Múltipla

w Envelhecimento e Saúde do Idoso

w Estratégias de Gestão por Processos

w Farmácia Hospitalar e Clínica

w Fisioterapia Dermatofuncional

w Gestão Bancária Executiva

w Gestão da Manutenção Industrial

w Gestão de Pessoas

w Gestão Escolar

w Gestão de Marketing

w Gestão Financeira

w História Regional do Rio Grande do Sul

w Interativa em Terapia Intensiva Adulto

w Intervenção Familiar: Abordagem Socioedu-cativa

w MBA em Gestão Estratégica de Pessoas

w MBA em Gestão de Varejo

w MBA em Gestão Empresarial

w MBA em Gerência de Projetos: a Teoria Alinhada e Aplicada às Organizações- UCS/PMI-RS

w MBA em Negócios Internacionais

w MBA em Psicologia e Gestão nos Contextos Organizacionais

w MBA em Produção Lean

w Multiprofissional em Oncologia

w Nutrição Clínica

w Patrimônio Cultural e Educação Patrimonial

w Pedagogia Empresarial

w Planejamento e Gestão de Vendas

w Psicologia Clínica: Abordagem Psicanalítica do Sujeito Contemporâneo

w Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais: da Primeira à Terceira Geração

w Saúde Mental Coletiva

w Segurança da Informação- EaD

w Sistema de Manufatura Enxuta: Gestão de Processo

w Tecnologias na Educação- EaD

BENTO GONÇALVES

w Direito e Processo do Trabalho

w Engenharia de Segurança do Trabalho

w Gestão Bancária Executiva

w Gestão de Cidades

w Gestão de Marcas- Branding

w Gestão Financeira

w Pedagogia Empresarial

w Perícia Criminal

w Planejamento Tributário Contábil

w Psicopedagogia – EaD

w MBA em Desenvolvimento de Lideranças

w MBA em Gestão Empresarial

w Neurociências Aplicada à Linguagem e à Aprendizagem

w Supervisão Escolar

FARROUPILHA

w Gestão Empresarial

GUAPORÉ

w Controladoria: Planejamento e Controle

w Criatividade e Inovação em Produtos e Negócios da Moda

w Direito e Processo do Trabalho

w Gestão Empresarial

w Educação Especial em Deficiência Intelectual e Múltipla

w Educação Infantil

REGIÃO DAS HORTÊNSIAS

w Gestão Empresarial

w Educação Infantil

NOVA PRATA

w Controladoria: Planejamento e Controle

w Gestão de Pessoas

w Direito Civil e Processo Civil

VACARIA

w Direito e Processo do Trabalho

w Educação Infantil

w Gestão em Agronegócios

w Gestão Empresarial

SÃO SEBASTIÃO DO CAÍ

w Educação em Direitos Humanos

w Gestão Empresarial

w Urgência e Emergência: Adulto e Pediátrico

Programação de Especializações e MBAs da UCS para 2016

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O professor como mediador da cons-trução do conhecimento, provocando a reflexão e a iniciativa do aluno, de modo a desenvoler autonomia, disposição e visão para atuar com o conhecimento, capaci-tando-o a resolver situações nas diversas áreas da vida, é o postulado do educador Celso Vasconcellos para uma pedago-gia direcionada à aprendizagem efetiva. Doutor em Educação pela USP, mestre em História e Filosofia da Educação pela PUC/SP, filósofo, pedagogo e diretor do Libertad - Centro de Pesquisa, Formação e Assessoria Pedagógica, em São Paulo (SP), o especialista teceu relações sobre

os princípios da educação para o desen-volvimento humano pleno em palestra para os professores da UCS promovida em encontro da reitoria com os docentes, em 18 de fevereiro, no UCS Teatro.

Com a experiência de 41 de seus 60 anos dedicados ao magistério, Vascon-cellos contesta o modelo baseado na me-morização mecânica de conteúdos. Para ele, o saber primordial do professor, além das necessárias competências técnicas, é “a capacidade de ajudar o outro a apren-der”, fundamentada no estabelecimento de vínculo humano com o aluno. Assim, defende a sensibilidade como primeira

condição para a mestria. “Você pode fa-zer mestrado, doutorado, pós-doutorado, mas se não muda o olhar, não age a partir da sensibilidade, acaba enxergando me-nos o outro à sua frente”, pontuou.

Atentando para os efeitos do “embo-tamento da sensibilidade”, o educador fri-sou que o sucesso ou fracasso da relação professor-aluno decide-se nas primeiras aulas. “Preparar bem uma aula é, sobretu-do, preparar-se interiormente para acolher aquelas pessoas com as quais se vai tra-balhar, para que o aluno encontre, diante de si, alguém que realmente deseja ser professor dele”, defendeu..

ARIEL ROSSI GRIFFANTE - [email protected]

ESPECIALISTA CELSO VASCONCELLOS DEFENDE SENSIBILIDADE NA DOCÊNCIA PARA GERAR APROPRIAÇÃO CRÍTICA, CRIATIVA E DURADOURA DO CONHECIMENTO

EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO PLENO

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NA PRÁTICA, A TEORIA É OUTRA

UMA COISA É ENSINAR ALGO

A ALGUÉM, O QUE QUALQUER UM FAZ; OUTRA

É ENSINAR OS SABERES

NECESSÁRIOS A TODOS. ISSO

É COISA DE MESTRE

Vasconcellos ressalva que as contradições na prática pedagógica, além de inerentes ao ser humano, resultam também de fatores externos e objetivos – como classes superlota-das, pouco tempo para explorar con-teúdos, carência de recursos técnicos e ausência de uma linha comum de trabalho. Contudo, concentra nos as-pectos subjetivos, como a frágil for-mação pedagógica do professor e o pensar dicotômico, que opõe a po-tência discursiva/narrativa do docente com a autonomia/iniciativa do aluno, o apontamento daquilo cuja mudança está ao alcance da iniciativa pessoal. “Muitos professores exigem domínio científico por parte dos alunos, toda-via, são altamente tolerantes com a falta de domínio científico deles em relação à sua atividade”, justifica.

ESTAMPAGEM HISTÓRICA O ‘imprinting instrucionista’ – he-

rança da metodologia passiva (pro-fessor fala/aluno escuta) e de sabe-res fragmentados praticada desde o século XVI e impregnada nas institui-ções, docentes e estudantes, também é apontado pelo especialista como um dos principais entraves da peda-gogia convencional.

“De modo geral, na Educação Infantil trabalha-se muito bem o lúdi-co, mas, no primeiro ano do Ensino Fundamental se insere a ideia de que ‘agora é sério’: um aluno é colocado atrás do outro, o professor na frente. Quando o professor quer mudar o tipo de aula, muitas vezes a reação contrá-ria é do próprio aluno, tão acostuma-do que está com um modelo estam-pado por anos”, explica o educador.

HOJE PARECE QUE ESTAMOS SEMPRE

COM PRESSA DE ESTAR COM PRESSA EM OUTRO LUGAR.

MAS EDUCAÇÃO NÃO SE FAZ SEM

PRESENÇA E FOCO

CONSCIÊNCIA DA INCOMPLETUDE Para o educador, a problemática se

estabelece quando o docente ignora a constituição histórico-cultural do magisté-rio. “Muito professor não tem noção do seu valor, não percebe a importância da sua ati-vidade, da repercussão na vida dos alunos e da sociedade. Outros têm enorme dificul-dade de reconhecer seu erro. Trata-se do que falava Paulo Freire sobre a humildade: a consciência da incompletude. Saber que falta algo – que é um dos princípios bási-cos da pesquisa”, destacou.

Tal distorção aconteceu, esclarece Vas-concellos, ao longo do processo de insti-tucionalização das universidades, desde a Idade Média. “Num certo momento, para se tornar mestre ou doutor, deixou-se de comprovar a capacidade de ajudar o outro a aprender. Tinha-se que provar o domínio de determinada área. Virar mestre não teve mais nada a ver com processos de ensi-no-aprendizagem que vinham de Sócra-

tes, Platão, Aristóteles, Cícero, Quintiliano, Agostinho”, relatou.

DESENVOLVIMENTO PESSOALEsse desvio “impõe ao professor o

desafio do desenvolvimento pessoal, que todo ser humano deve fazer: trabalhar o ‘Sou’ (autoestima), o ‘Ainda não sou” (au-tocrítica) e o ‘Posso vir a ser mais’ (autos-superação)”, define o especialista.

“Ser ‘dador de aula’ é muito fácil, mas atuar de fato com o desenvolvimento hu-mano pleno, a alegria crítica de cada um e de todos, através da apropriação criati-va, significativa e duradoura dos conheci-mentos historicamente relevantes para a formação da consciência, do caráter, da ci-dadania, da preparação para o trabalho, é mais complexo. Uma coisa é ensinar algo a alguém, o que qualquer um faz; outra é en-sinar os saberes necessários a todos. Isso é coisa de mestre”, define Vasconcellos.

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‘w‘Grande parte da pessoa é o professor, e grande parte do professor é a pessoa’, Antonio Nóvoa, reitor honorário da Universidade de Lisboa

CV: “Nenhuma outra pessoa, além da família, tem tanta influência na formação do indiví-duo. E a docência é uma das atividades mais fundamentadas nos valores pessoais daquele que a desempenha”

‘w ‘O mestre orienta os discípulos e, nos momentos de depressão, os discípulos reorientam o mestre’, Michael Bloomberg, empresário norte-americano, ex-prefei-to de Nova York

CV: “Isso só pode ser bom para todos, e acontece tendo sido criado vínculo antes”.

‘w ‘Se o aluno não está aprendendo do jeito que estou ensinando, devo ensinar de um jeito que ele aprenda’, Howard Gardner, psicólogo educacional norte-americano

CV: “O que se espera não é uma mera transmissão do conhecimento, mas que o professor cuide para que aluno aprenda”

De acordo com Vasconcellos, a construção do conhecimento implica “articular as várias esferas da existência – o mundo objetivo, o social, o subjetivo e o espiritual (transcendente, que vai além dos interesses imediatos e oferece sentido para a vida)”.

Assim, enquanto mediador desse processo, o professor ga-nha condições de desencadear ações didáticas para resgatar o aluno com dificuldade. “Não há receita, porque a situação em sala de aula é muito complexa, mas há métodos – caminhos para atingir finalidade partindo de uma dada realidade”.

‘ALEGRIA CRÍTICA’O primeiro deles é a revisão

do trabalho com o conhecimento. “Para conhecer é preciso querer, agir e expressar-se. Então, o pro-fessor não vai esperar que o aluno venha motivado, mas mobilizá-lo a situações de ação onde há pro-priamente a construção do conhe-cimento e a expressão da síntese”, recomenda.

A oferta de um currículo com projetos, transformando a pesqui-sa em princípio educativo; a avalia-ção formativa, voltada a qualificar em vez de classificar e excluir; e o zelo pelo relacionamento interpes-soal são indicações do educador para o atendimento das exigências subjetivas para o aprendizado, despertando a ‘alegria crítica’ em sala de aula, “que ocorre quando o aluno percebe-se capaz de resol-ver situações em diversas áreas da vida”.

QUERER, AGIR E EXPRESSAR-SE

VASCONCELLOS EM CITAÇÕES COMENTADAS

‘w ‘Amar é um respeito pela individualidade, pela singularidade. Amar nos permite ser vistos, ter presença, ser escutados, enfim, existir como pessoa’, Humberto Maturana e Ximena Dávila, neurobiólogo e professo-ra chilenos, teóricos da matriz biológico-cultural da existência humana

CV: “A primeira coisa que o aluno quer, antes de qualquer conteúdo, qualquer matéria, é ser reconhecido como pessoa. O amor é princípio e fundamento da existência – é o que mais buscamos. As pessoas buscam beleza, di-nheiro, poder, brilhantismo intelectual para serem amadas. Muitas vezes o aluno está buscando esse amor”.

‘w‘Amar é um tipo de comportamento em que não há expectativas e preconceitos. Impera a aceitação do outro da forma como ele existe’, Humberto Maturana e Ximena Dávila

CV: “O afeto enquadrador é aquele que diz ‘eu te amo se você entrar no meu esquema’. O afeto radical é aquele que aceita o outro como ele é. Se ele errar, você fica con-tra o erro, não contra ele. Lembrando Santo Agostinho, ‘Odeie o pecado, mas ame o pecador’. É um fundamen-to que precisamos vivenciar porque, no princípio da aprendizagem, do ensino e da própria existência, está a dinâmica do amor”.

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Page 18: revista UCS ed. 19

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A UCS FAZ A FESTA COM CAXIASTradicional parceira da Festa da Uva, a UCS transformou seu estande, no evento deste ano, em um espaço de informação, cultura e lazer para os visitantes que percorreram o Parque de Eventos ao longo dos 18 dias de celebração. Entre diversas ações oficiais da universidade formalizadas no local, em prestígio à maior festa comunitária do Rio Grande do Sul, o estande também acolheu o público em geral, aproximando pessoas de todas as idades.Como descontração é essencial para festejar, houve recebimento de brindes (1), valeu brincar com o game da Olimpíada Colonial desenvolvido pelo Laboratório de Criação e Aplicação de Software da UCS (2), permitir-se a uma experiência eletrostática de arrepiar os cabelos (3) e até ser recepcionado pelos multicampeões pela Seleção Brasileira de Vôlei Roberto Minuzzi Jr. e Gustavo Endres (4), em sessão de fotos e autógrafos que antecedeu o jogo de despedida das carreiras de ambos, no Ginásio Poliesportivo da universidade no dia 28/02. Milhares de pessoas participaram destas e outras atividades, ajudando a UCS a cumprir e firmar, mais uma vez, o compromisso fundamentado ao longo de quase 50 anos de existência – a serem comple-mentados em 2017 –, de integrar e integrar-se cada vez mais à comunidade regional. Daqui a dois anos, tem mais!

Fotos Claudia Velho

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“O saber e o ensino são uma forma de negação do pressuposto básico de toda transação comercial”, assim dis-se Nuccio Ordine, filosófo e professor de literatura na Universidade de Calá-bria, que, em visita à Universidade de Caxias do Sul, proferiu a palestra A Uti-lidade dos Saberes Inúteis, no dia 8 de março, reunindo ouvintes curiosos pelo tema e público interessado pela Filoso-fia Contemporânea.

Segundo o filósofo, que também aproveitou sua estada no Brasil para di-vulgar sua mais nova obra, A Utilidade do Inútil – na qual defende uma reflexão frente às posturas adotadas nos tem-pos atuais, como a lógica utilitarista e o culto à posse –, a Universidade é um lugar de resistência.

A Universidade é um ambiente que pode nos tornar pessoas melhores, constituindo-nos como seres huma-nos mais conscientes das próprias ações. Na expectativa dessas trans-formações, e para que se façam reais na vida de nossos estudantes, Ordine aconselha a promoção de uma educa-ção humanista, uma vez que os valores

humanísticos tornam possíveis o exer-cício contínuo de reflexão sobre o pas-sado, a compreensão do presente e a preparação necessária para receber o que ainda está por vir.

A tese defendida pelo palestrante, tão pertinente aos dias de hoje, não é recente, pois foi levantada e difundida por filósofos humanistas da Renas-cença (sécs. XV e XVI), período que buscava valorizar um saber crítico di-rigido para o conhecimento do homem e a cultura da paz, viabilizando, desse modo, o desenvolvimento das poten-cialidades da condição humana.

Diante da lógica sustentada por Or-dine, “a universidade não é empresa e os estudantes não são clientes”, enten-demos que ensinar vai além de instruir, informar, ou, simplesmente, ‘transferir’ conhecimentos técnicos. É preciso en-sinar para uma visão humana, desvin-culando-se das perspectivas limitadas de uma educação mercantilista, dire-cionada exclusivamente para o merca-do de trabalho.

Nesse sentido, conforme o filósofo, defensor do ensino dos clássicos, o

ensino da literatura, da arte, da filoso-fia, da música e da pesquisa científica básica vai ao encontro das necessida-des do mundo contemporâneo, que, carente desses saberes, tem sido mo-vido pelo excesso de trabalho e se de-sumanizado ante tantas exigências da qualificação profissional.

Queremos tornar a humanidade mais humana, assim como anseia Nuccio Ordine. E a Universidade de Caxias do Sul, como lócus da forma-ção humana, ao longo de uma história de quase cinco décadas, busca ofertar à sua comunidade acadêmica discipli-nas filosóficas que visam a uma edu-cação de resistência ao utilitarismo, ou seja, que se impõem a uma restrita for-mação técnica, em detrimento de valo-res fundamentais para o ser humano.

A Universidade, ao mesmo tempo que não pode deixar de promover a formação técnica necessária para o seu estudante, futuro profissional no mercado de trabalho, tem o desafio permanente de oferecer uma formação clássica e humanista, capaz de desen-volver o bem-estar de todos.

UNIVERSIDADE E HUMANISMO

ARTIGO

ENSINAR VAI ALÉM DE INSTRUIR,

INFORMAR OU ‘TRANSFERIR’

CONHECIMENTOS TÉCNICOS. É PRECISO

ENSINAR PARA UMA VISÃO

HUMANA

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Claudia Velho

Prof. Dr. Evaldo Antonio Kuiava:reitor da Universidade de Caxias do Sul

Page 20: revista UCS ed. 19

Universidade de Caxias do SulCaixa Postal 131395020-972 - Caxias do Sul - RS

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