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 Nº.3/ Nov2014 Fiacha O Baú do Cantinho do Corvo A noite”, um conto de Maria Roseta Excerto do mais recente livro da série GO: “Os ventos de inverno” Destaque para “A Cativa”, série W ulf ric d e Manu- el Alves, com en- trevista exclusiva. Destaque para o romance histórico de Isabel Ricardo, leitura conjunta do mês. George Martin, a fantasia renovada, a nova geração da fantasia mundial.  Jog os literários Temas de de ba te Leituras co nj un tas

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- George Martin, a fantasia renovada, a nova geração da fantasia mundial.- Excerto do mais recente livro da série GOT: “Os ventos de inverno”.- “A noite”, um conto de Maria Roseta.- Destaque para “A Cativa”, série Wulfric de Manuel Alves, com entrevista exclusiva.- Destaque para o romance histórico de Isabel Ricardo, leitura conjunta a decorrer aqui no Cantinho.

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  • N.3/Nov2014

    FiachaO Ba do Cantinho do Corvo

    A noite, um conto de Maria Roseta

    Excerto do mais recente livro da srie GOT:Os ventos de inverno

    Destaque para A Cativa, srie Wulfric de Manu-el Alves, com en-trevista exclusiva.

    Destaque para o romance histrico de Isabel Ricardo, leitura conjunta do ms.

    George Martin, a fantasia renovada, a nova gerao da fantasia mundial.

    Jogos literrios Temas de debate Leituras conjuntas

  • um conto de Maria Roseta,

    A noite Percorro a noite. No meio de rvores, arbustos e flores; pela brisa que sopra vinda do alto do cu; pela terra coberta de folhas cadas e memrias mil, de vidas passadas e Eras distantes, eu percorro a noite. Sinto o vento que sopra, sinto-o minha volta, rodeando-me o corpo. Sinto a tristeza e a desolao que assombram a noite e sinto o frio, o frio imenso que invade o bosque onde habito. O frio que cai quando se pe o Sol nunca termina e todas as noites so geladassinto-me gelar todas as noites. Mas continuo a andar, a deslizar, a voar pelo bosque. Toco nas rvores an-tigas, mais antigas do que o Mundo. Os meus ps tocam nas ervas e flores que se encontram na escurido do cho do bosque. Sinto as pedras, as pequenas pedras que esto no meu caminho, e vejo tudo. Vejo tudo minha volta e penso: O que foi que aconteceu? Ainda me lembro da majestade, do brilho, da opulncia. Todas as noites ha-via festa, uma festa em que todos danvamos, ramos e sonhvamos. Com longas vestes e belas tiaras, eramos felizes ao bailar ao luar, ao segredar aos ouvidos da noite o quanto eramos felizes. Lembro-me dos beijos e dos abraos do meu amado, que comigo danava todas as noites, com a sua cabea de longos cabelos negros encostada minha. Lembro-me como me acariciava o longo cabelo tambm negro e como punha a sua alva mo na minha. Lembro-me das flores que ele colhia para mim, dos passeios pelas fontes de prata e das jias mais lindas que ele me ofertava. Jias de antanho, extradas do ventre da terra. Como eram belos os seus brilhantes olhos de esmeralda ao fitar minhas safi-ras. Lembro-me dele como se estivesse ainda comigoainda oio a sua suave voz ao meu ouvido, declamando poemas, fazendo juras de amor. Mas tambm oio a sua agonia, o seu desespero. Oio os gritos, o choro de todos ns. Oio o fim da nossa festa, como o brilho se estilhaou, como a majestade findou e a opulncia fugiu das nossas mos, do nosso bosque. Como pode ter terminado? Foram longos os sculos em que fomos to felizes, sozinhos no bosque, rodeados de animais, de plantas, de beleza, de amor. Agora no h ningum. O bosque morreuj no h calor, aquele calor que todas as noites despertava quando as nossas luzes de mbar se acendiam, quais to-chas a arder. S resta o frio, a negrido e a tristeza, a solido. Onde ests? Onde ests? Procuro-te, mas no te vejo. Sinto-te, mas no te consigo alcanar. Estou perdida, para sempre perdida de ti e nunca vou conseguir encontrar-te. Nunca

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  • Nunca mais te poderei dizer o quanto te amo. Nunca mais cantarei para ti. Estou sozinha e percorro a noite, sem descanso, tua procura. Eu chamo por ti, no me ouves? Eu grito na noite, clamando pelo teu amor. Tenho o corao ferido, dilacerado e a sangrar. O meu corpo chora a tua perda e os meus olhos j no brilham. Onde ests? Por mais que chame, ningum responde. Ser que morri? Ser que o vagueia na noite o meu esprito? No seino consigo saber. Morreram todos, foram as ltimas palavras que ouvi naquela horrvel noite, naquela noite em que o nosso sangue jorrou como a gua das nossas fontes jorrava. J no h lua. Tudo est escuro. As rvores parecem criaturas perversas, enro-lando os seus horrendos troncos para a noite, parecendo dedos com garras. O siln-cio mortal. Chamo mais uma vez por ti. Recordo a tua face, a tua voz. Choro e o meu choro alimento para as plantas que esto de baixo dos meus ps. Nunca voltarei a ver os teus olhos. Nunca voltarei a ver o meu povo, nem as suas jias. Meu amor, perdi a jia que me deste, aquele maravilhoso colar de ametista. No seu lugar, tenho um buraco que parece uma ferida. Um buraco manchado de vermelho, feio e fundo. Quando ponho os dedos nele, eles entram l dentro, mas no sinto nada no interior a no ser frio Espero por ti. No vou desistir at te voltar a encontrar. Volta para mim, ouve minha voz! Volta! Percorro a noite tua procura, sem descanso. Percorro a noite e hei-de percor-r-la at ao fim dos tempos, procurando por ti, clamando o teu nome e recordandorecordando os teus olhos nos meus, naquela noite, enquanto o sangue jorrava e tu abraavas o meu corpo; enquanto nos tentvamos esconder. Recordo o teu olhar e a tua voz, enquanto a festa acabava.

    Gostas de escrever? Gostarias de participar na re-vista Fiacha? Reservamos este espao para crni-ca ou conto, para tema e gnero livre. S tens de o enviar para [email protected] e publicaremos na revista seguinte. Atreve-te e par-ticipa. No 1. aniversrio da revista iremos pre-miar 1 livro para o conto ou crnica mais votada.

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  • desta

    que d

    o ms

    para mais informas: https://www.facebook.com/pages/F%C3%B3rum-Fant%C3%A

    1stico/132519120136500?ref=ts&fref=ts

  • Selvagem, druida, assassino, rei

    Wulfric teve mui-tas vidas.

    o Mestre mais antigo, dono de um antiqurio

    contguo a uma igreja, um ponto de convergncia entre mundos, o que faz dele tam-

    bm porteiro. Uma rebelio

    ameaa abrir uma passagem entre a

    Terra e o Inferno, e ele provavelmente ter de assassinar o

    re sponsvel.

    Lcifer. Teria sido mais simples matar a Cativa, duzentos

    anos atrs.

    O mundo dos humanos uma iluso apenas perceptvel por aqueles que se movem nas

    margens da realidade. Conheo muitas realidades, todas construdas de enganos que competem para se torna-

    rem a iluso prevalecente.Wulfric, O Livro Secreto das

    Ilusesprimeiro captulo do livro A Cativa em http://juroqueminto.blogspot.

    pt/2014/10/a-cativa-excerto.html

    desta

    que d

    o ms

  • Manuel Alves O resto no interessa. argumento para outra pea. Ah, mas por falar em histrias com palavras, tambm tenho coisas dessas inventadas. Engraadas, sentimentais, poticas, patticas e at macabras. Para mim, o limite no a imaginao, a disposio. A imaginao uma mulher fcil, a disposio que no.

    fonte: http://p3.publico.pt/actualidade/2376/manuel-alves-imaginacao-e-uma-mulher-facil

    Entrevista:1.) Quando comeou o gosto pela escrita?

    Provavelmente, na altura em que tudo comea a srio. Na ado-lescncia. Oh, o amor, e a necessidade de abrir o corao para o mundo (ou para a rapariga especial com os olhos de gua e sorriso de manh de Primavera essas coisas). Depois, a ado-lescncia passou (parcialmente ahah) e a escrita ficou. Atu-ra-me todas as palhaadas. amor a srio, para toda a vida.

    2.) Que fonte de inspirao influencia o teu gosto ou forma de escrever?

    Penso, logo O resto conhecimento da linguagem. Um bo-cadinho, pelo menos. No preciso muito para conhecer as palavras certas. No final de contas, as palavras certas so sem-pre as que encontramos, pois as que no encontramos no nos servem de nada. E tambm conhecer as pessoas. O pedacinho infinitesimal que possvel conhecer de assunto to compli-cado. Em ltima anlise, escrevo para me divertir e para me compreender. Se aquilo que escrevo encontra mais a quem di-vertir e quem ajudar na busca da compreenso prpria, mara-vilha. Derramem dos cus anjinhos rolios a tocar trombetas.

    3.) Qual o gnero literrio em que te sen-tes mais vontade para escrever?

    Quando escrevo, no penso conscientemente no gnero literrio em que se enquadrar a histria. Quero dizer, tenho presentes as linhas gerais da estrutura, do enredo, do estilo que integraro a histria em determinado gnero, mas no factor principal que me oriente. Considerando que no sou um escritor de gnero (entenda-se: escritor que escreve apenas dentro de um gne-ro), talvez seja mais vlido dizer que haver circunstncias que sero, para mim, mais fceis de abordar e passar para a escrita. Alguns dos meus livros tm personagens crianas, em pa-pis relevantes, por uma boa razo (muitas razes, na verdade). Eu dou-me bem com a crianada. E a crian-ada d-se bem comigo. benefcio mtuo. As crian-as deixam-me regressar infncia, na companhia delas, sem me atirarem olhares reprovadores reforados com co-mentrios que certamente vincaro a palavra infantil. E, na minha companhia, deixo-as perceber que nem todos os adultos se tornam chatos, que esto sempre a dizer j che-ga e agora no, porque se esqueceram de como se brinca. um prazer, e um desafio, escrever personagens crianas. 4.) Quais as crticas s tuas obras, e que

    impacto tm as mesmas no teu trabalho?A grande maioria das crticas so sorrisos e abraos. So essas que a minha memria se sente inclinada a reter. Mas haver sempre, para tudo, maus olhares e mangui-tos (ahah). O melhor escritor de todos os tempos pode es-crever o livro mais arrebatador de almas e, ainda assim,

    Manuel Alves, natural de Braga, da terriola Vieira do Minho, um artista multifacetado que divide o seu tempo entre a ilustrao e a escrita.

    Escrevo coisas. Quando no as escrevo, desenho-as. Em mo-

    mentos extraordinrios, escre-vo-as e desenho-as.

    um artista com um sentido de humor mui-to prprio, humor esse, que est bem pre-sente em muitos dos seus trabalhos. Se por momentos nos apaixonamos pela sua escrita simples e tocante, logo de seguida nos ren-demos s descries verdadeiramente reais da cortina a que chamamos vida. E esta cor-tina um pano pesado que s cai no final da pea, e at esse momento, os atores encenam inmeros actos, onde as lgrimas, sorrisos, sonhos, descrenas e esperanas, preenchem todas as falas dos salteadores da felicidade.

    nasci num ano que acaba em forma de biscoito, 1978....comecei por rabiscar as paredes e o cho at que algum me deu papel para a mo. No frequentei nenhuma escola de Arte, mas isso s um aparte. Uso lpis, pincis, canetas, papis, computador e o que mais for. O meu trabalho vai do minimalista ao realista, mas dedico-me a cada tipo de desenho com igual empenho. Saltei para a banda desenhada em menos de nada. Mantenho a ilustrao sempre mo, seja editorial ou publicitria, que vai do simples bico do pardal mais complicada indumentria.

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  • surgir algum que decidir que essa merda intragvel fere a sua sensibilidade requintada no que toca a reconhecer boa literatura. Dito isto, escrevo histrias que eu gostaria de ler e aceito que nem todas as pessoas tm de partilhar dos meus gostos. Nesse sentido, os sorrisos e abraos fazem-me sentir acarinhado e aumentam a minha vontade de partilhar histrias com quem gosta de as ler. Quanto aos maus olhares e man-guitos, g o s t a r i a que no perd-essem demasiado tempo comigo. Certamente haver imensos liv-ros para lerem, que meream os seus sorrisos e abraos.

    5.) Podes falar-nos um pouco sobre o teu prximo livro A Cati-

    va?As sinop-ses so mal-dies ter-rveis para os escritores (pelo menos, para este escritor), e costumo de-ixar para o fim. mais uma razo

    para eu gostar tanto das histrias que crio para a Lili. As sinopses escrevem-se sozinhas (com ajuda dos duendes, v). Mas voltando pergunta A Cativa ser o pri-meiro volume de Wulfric, uma srie de fantasia que se alongar, pelo menos, por quatro livros. Wulfric, que d o nome srie, o protagonista. No vou dizer que o heri, porque a conduta dele, em termos ticos, por vezes, poder deixar um bocadinho a de-sejar. Digamos que ele faz certas coisas para o bem comum, desde que o bem comum lhe seja conve-niente. um pragmtico (ahah). Ele um dos Mestres da Ordem, uma organizao milenar secreta (como no podia deixar de ser), que assegura a manuteno, na Terra, do equilbrio de poderes entre os Lados (Cu e Inferno). fantasia urbana (a atirar para o so-brenatural religioso), com partes de romance, terror, fico cient-fica e tambm um pedacinho de fico histrica. O enredo cen-

    tral est ancorado no presente, mas partes da aco decorrem no passado (Wulfric tem uma vida muito, muito longa), algu-mas em Portugal, na altura do cerco do Porto, na guerra entre Liberais e Absolutistas. Em A Cativa, aparecem lobisomens, fadas, anjos, demnios, Lcifer, Mefistfeles, uma feiticeira que guarda a Cruz de Cristo, Cativas (uma em particular; prefervel ler o livro para conhecer a sua natureza) e, no centro da feira de horrores, Wulfric, o Mestre Lobo. O principal desafio que enfrentar neste primeiro livro ser o desentendimento en-tre Lcifer e Mefistfeles, um conflito que poder arruinar o equilbrio entre os Lados.

    6.) Sabemos que s um artista multi-facetado. Que ex-presso artstica pref-eres, ou aquela, em que, te sentes mais vontade?tade?Desenho e escrevo. So ex-presses diferentes e, em parte, injusto compar-las. Mas se estivesse na situao extrema de escolher apenas uma, seria a escrita. Gosto imenso de desen-har, comecei a faz-lo uns anos antes de (comear a) descobrir a escrita. Tambm descobri o de-senho, diga-se. No tenho para contar aquelas lindas histrias de tenra infncia em que come-cei a d e s e n h a r ainda mal sa-bia falar, e que rabiscava todas as superfcies planas que encon-trasse. Nada disso. Na escola primria, usava papel qumico (dos totolotos ahah), para decalcar os d e s e n h o s dos livros. Vrias vezes, aconte-ceu o desastre do qumico in-vertido. Era s encostar a face errada e zs, em vez de ficar no caderno, desenho novo do outro lado da folha do livro. Pequenas tragdias (ahah). Um dia, acho que foi numa aula de desenho, talvez no stimo ano, deu-se a epifania. Eureka! Descobri que sabia desenhar. E isso. A escrita demorou muito mais tempo. Passados uns vinte anos desde que comecei a tra-

    duzir para linguagem inteligvel a lgica estranha dos pensamentos, continuo a aprender o que es-crever. Desenho e escrita, ambos necessitam de tcnica, de saber muitas coisas para que se tornem naturais, instintivos, at. Mas, para mim, a escrita mais completa(-me), e concretiza os meus pensa-mentos com maior preciso. Em contrapartida, demora muito mais tempo a fazer-me as vontades. Enfim, no h relaes perfeitas.

    7.) Qual o teu prximo projecto?Parece que uns tipos ricos (sem sa-ber o que fazer ao dinheiro) esto a planear uma expedio a Marte, mas acho que j no vou a tempo para a seleco. Assim, restam-me as coisas terrenas. Mais ou me-nos. Vou a Marte sempre que me apetecer. A imaginao a melhor agente de viagens. E tudo gra-tuito. A minha prxima viagem j est agendada. Resta-me escolher entre alguns destinos. Aps a pub-licao de As Cativas, comearei a trabalhar a srio no primeiro liv-ro de uma de duas sries de fico cientfica que j esto h algum tempo em lista de espera. Depois, terei de fazer deciso semelhante entre outros dois livros de fico literria (talvez uma escolha mais difcil). Alm disso, terei de finalmente es-crever dois contos pro-metidos a duas pessoas que tm sido muito pacientes. Ah, e parece-me que tambm j est na altura de es-crever o terceiro livro da Lili. Ela anda para aqui aos pulinhos, a perguntar-me se voltar a encontrar o Homem Que Muda.

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  • algumas das suas obras:

    Pginas do escritor: http://omanuelalves.blogspot.pt/ * https://www.facebook.com/omanuelalves/timelinehttp://juroqueminto.blogspot.pt/ *http://odeusum.deviantart.com/gallery/

    A inveno de um conto de fadas

    Sinopse: Seria bom que todas as histrias en-tre duas pessoas que se gostam terminassem em verdadeiros contos de fa-das. A vida outra coisa.Se querem uma histria em linha recta, no leiam este ro-

    mance. No incio, uma chama que arde lenta. No meio, fala de amor como apenas o amor sabe falar de si. No fim, umas coisas acabam e out-ras comeam. um fim um bocado mentiroso.

    https://www.goodreads.com/book/show/17343736-a-inven-o-de-um-conto-de-fadas

    https://www.smashwords.com/books/view/283934

    Terra Fria

    Sinopse: Uma octogenria em fim de vida recebe a visita de um padre aposentado, para a ltima confisso, e ambos re-visitam o passado na esperana de exorcizarem demnios de conscincia. Cinquenta anos antes, a mulher fora denuncia-

    da PIDE por um bufo que depois desapareceu sem deixar rasto juntamente com o agente enviado para investigar a denncia. Mas o demnio de conscin-cia mais antigo nascera anos antes, dos escombros da Segunda Guerra Mundial, nas runas de um corao.

    https://www.goodreads.com/book/show/20804191-terra-fria?from_search=true

    Equador morto

    Sinopse: Muitos anos de-pois de criaturas lendrias terem surgido na Terra e dominado todo o hemis-frio norte, a Humanidade vive apenas no hemisfrio sul, escudada por uma bar-reira construda volta do mundo, sobre a linha do

    Equador. Uma equipa de reparaes atacada numa misso a norte da barreira e o capito Mar-co, o nico sobrevivente, s quer regressar a casa.

    https://www.goodreads.com/book/show/18245427-equador-morto?from_search=true

    https://www.smashwords.com/books/view/341029

    Z

    Sinopse: Z vive confinado numa sala branca e vigiado por um sistema de seguran-a criado especificamente para o conter. Z o ltimo de mil crianas nascidas de teros artificiais, dotado de um extraordinrio poder de raciocnio e capacidades fsi-

    cas que o colocam um degrau acima da evoluo humana. Z tem um plano para escapar mas, para isso, ter de enfrentar o seu carcereiro e criador: o Professor, um homem frio e metdico, pos-suidor de um intelecto que rivaliza com o de Z.

    https://www.goodreads.com/book/show/17268339-z?from_search=true

    Quem nunca leu, deve ler, de gneros diferentes h tema para todos os gostos nos seus trabalhos. Apenas uma coisa em comum: a forma de escrita muito particular do autor que , na minha opinio, cheia de vida. Ele escreve com os sentimentos a saltarem da tinta que corre pelo papel, as emoes, os relacionamentos so uma tnica mais real, mais dura, mais fantasiosa conforme os temas abordados, por So Bernardes.

    Quem frequenta o meu blog, O Senhor Luvas, no ficar espantado ao ler que eu conside-ro o Manuel Alves um dos novos valores da escrita em Portugus. No s escreve nos meus gne-ros de eleio, Fico Cientfica e Fantasia, mas tambm verstil ao ponto de escrever livros infan-tis e Romances sempre com a qualidade a que estamos a habituados a ver em editoras a serio. Mas existe mais um outro pormenor que torna o Manuel diferente, ele faz parte de uma nova gerao de escritores que comeam cada vez mais a fazer parte da preferncia dos leitores. O Manuel o arqu-tipo desta nova gerao, destes escritores do sculo vinte e um, dos escritores 2.0, por Marco Lopes.

    S

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  • George Raymond Richard Martin, mais conhecido como George R. R. Martin ou sim-plesmente GRRM, nasceu em 20 de setembro de 1948 e um roteirista e escritor de fico cientfica, terror e fantasia.

    Trabalhou 10 anos em Hol-lywood como argumentista e produtor de diversas sries e filmes de grande sucesso. Autor de vrias coletneas de contos e noveletas, foi em meados de anos 90 que comeou a sua obra mais famosa, As Crnicas de Gelo e Fogo. a saga de fantasia mais

    vendida da atualidade e uma adaptao televisiva de grande sucesso foi realizada pela HBO. Um autor multifacetado, a sua obra estende-se a diver-sos gneros como o horror, a fantasia, a fico cientfica, e a prova disso so os ttulos Dy-ing of the Light, Windhaven (com Lisa Tuttle), The Arma-geddon Rag e Sonho Febril.

    O escritor conta com um rol de publicaes, romances, nove-las, livros infantis e colectneas .Martin comeou a escrever con-tos de fico cientfica no comeo

    da dcada de 1970, anos depois ele venceria seu primeiro Hugo Award e Nebula Award por um de seus contos. Durante a dca-da de 1980, Martin comeou a escrever para a televiso e tra-balhar como editor de livros.A novela de Martin, Night-flyers, foi adaptada em um filme no ano de 1987.

    Em 1991, Martin voltou a es-crever livros, comeando a es-crever aquilo que eventualmente se tornaria a srie de fantasia pi-ca, As Crnicas de Gelo e Fogo.

    Curiosidades: Martin foi um instrutor de jornalismo e, quando jovem, um diretor de um torneio de xadrez. Em seu tempo livre ele coleciona miniaturas com temas medievais, l e colecio-na livros de fico cientfica, terror e fantasia, e aumenta sua grande coleo de quadrinhos, que inclu as primeiras edies da era de prata do Homem Aranha e do Quarteto Fantstico.

    George R. R. Martin Uma mente n e -c e s s i t a de livros da mesma forma que uma espada necessita de uma pedra de amo-lar se quisermos que se mantenha afiada.

    A Guerra dos Tronos uma srie de televiso norte-americana criada por David Benioff e D. B. Weiss para a HBO. A srie baseada na srie de livros A Song of Ice and Fire, escritos por George R. R. Martin, com seu ttulo sendo derivado do primeiro livro. Game of Thrones est sendo filmada principal-mente no Paint Hall Studios, em Belfast, e em outras localizaes na Irlanda do Norte, Espanha, Marrocos, Malta, Crocia e Islndia.

    Muito aguardada desde seus primeiros estgios de desenvolvimento, Game of Thrones foi muito bem recebida pela crtica especializada. Sua primeira temporada foi indicada a vrios prmios, incluindo o Primetime Emmy Award de melhor srie dramtica e o Globo de Ouro de melhor srie - drama; Peter Dinklage venceu o Emmy e o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante. Tambm conquistou o Emmy de melhor projeto de crditos principais. Possui uma das melhores notas entre os telespectadores para sries em exibio no site IMDb. Possui 14 Emmy Awards.S

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  • 11Mercy

  • Excerto Os Ventos de Inverno, Guerra dos Tronos:Ela acordou com um suspiro, sem saber quem era, ou onde estava.Nas narinas o cheiro a sangue era pesado... ou seria o pesadelo, prolongando-se?Tinha sonhado com lobos, outra vez, de correr atravs de algum pinhal com uma grande matilha nos seus calcanhares, fixados na pista de uma presa.Uma meia-luz enchia o quarto, cinzenta e pesada. A tremer sentou-se na cama e passou a mo pelo couro cabeludo. O cabelo cortado curto eriava-se contra a palma da mo.Preciso rapa-lo antes que Izembaro veja. Mercy, eu sou a Mercy, e esta noite serei violada e assassinada. O seu verdadeiro nome era Mer-cedene, mas Mercy era tudo o que alguma vez lhe haviam-lhe chamado...Expecto nos sonhos. Respirou para acalmar o barulho no corao, tentado lembrar-se de que mais havia sonhado, mas a maior parte j tinha desaparecido. Nele tinha havido sangue, pensou, e uma lua cheia no cu, e uma rvore que a vigiava enquanto ela corria.Tinha prendido as cortinas para que o sol da manh a acorda-se. Mas no exis-tia sol fora da janela do pequeno quarto da Mercy, apenas uma parede incon-stante de nevoeiro cinza. O ar tinha ficado fresco... e ainda bem, se no ela tinha dormido o dia todo. Seria mesmo da Mercy dormir durante a sua violao.Um formigueiro cobriu-lhe as pernas. A colcha tinha-se enrolado a ela como uma cobra. Desenrolou-a e atirou-a para o cho vazio e foi nua at janela. Braa-vos estava perdida no nevoeiro. Conseguia ver a gua verde do pequeno canal em baixo, a rua empedrada que passava por baixo da casa onde estava, dois arcos da ponte de musgo... Mas o outro lado da ponte desaparecia no cinzento e dos ed-ifcios do outro lado do canal apenas algumas vagas luzes restavam. Ouviu um suave salpico assim que um barco serpentino emergiu debaixo do arco ponte.- Que horas so? - Perguntou Mercy ao homem que estava na cauda levantada da serpente, empurrando-o em frente com a sua vara.O barqueiro olhou pasmado para cima, procurando a vozes.- Quatro, pelo rugido do Tit. - As suas palavras ecoaram surdamente atravs das guas verdes em torvelinho e das paredes de edifcios invisveis.No estava atrasada, ainda no, mas no devia mandriar. A Mercy era uma alma alegre e uma trabalhadora afincada, mas raramente pontual. Isso no iria servir esta noite. O embaixador de Westeros era esperado no Porto ao cair da noite e Izembaro no estaria com disposio para ouvir desculpas, mesmo que ela as servisse com um doce sorriso.Tinha enchido a bacia no canal, ontem noite antes de ter ido dormir, preferin-do a gua salobra gua da chuva cheia de limo que estufava na cisterna das tra-seiras. Molhando um pano spero, lavou-se da cabea aos ps, equilibrando-se numa perna vez para esfregar os ps calosos. Depois disso encontrou a lmina. Um escalpe liso ajudava as perucas a assentar melhor, assim afirmava Izembaro.Rapou, comps as suas pequenas roupas e enfiou pela cabea um vestido de l castanho sem formas. Uma das meias precisava de ser remendada, reparou quando a puxou para cima. Iria pedir ajuda a Snapper; as suas costuras eram to miserveis que a mestre do guarda-roupa geralmente tinha pena dela. Po-dia surripiar um par melhor do guarda-roupa. Era arriscado, pensou. Izem-baro odiava quando os actores usavam os trajes na rua. Excepto a Wendeyne. Dava-se uma chupadela na pia do Izambaro e uma rapariga podia usar qual-quer traje que quisesse. Mercy no era assim to tola. Daena tinha-a avisado.- Raparigas que vo por esse caminho acabam no Navio, onde todos os homens da plateia sabem que podem ter qualquer coisinha bonita que vem no palco, se a sua carteira for suficientemente recheada.As suas botas eram pedaos de velho couro castanho sarapintado de manchas de sal e rachadas devido ao longo uso, o cinto um bocado de corda de cnhamo tingido de azul. Atou-o cintura e pendurou a faca na anca direita e uma bolsa de moedas na esquerda. Por ltimo atirou sobre os ombros a capa. Era a capa de um verdadeiro saltimbanco, l prpura forrada com seda encarnada, com um capuz para proteger da chuva, e tambm com trs bolsos secretos. Escondeu algumas moedas num deles, uma chave de ferro noutro e uma lmina no ltimo. Uma lmina verdadeira, no uma faca de fruta como a que estava na anca, mas no pertencia Mercy, no mais que do que os seus outros tesouros. A faca de fruta pertencia Mercy. Ela era feita para com-er fruta, para sorrir e brincar, para trabalhar no duro e fazer o que lhe mandavam.- Mercy, Mercy, Mercy Cantarolava enquanto descia as escadas de madeira para a rua. O corrimo era escorregadio, os degraus ngremes, e havia cinco lances de escada

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  • mas essas eram as razes pelas quais ela havia conseguido o quarto to barato. Isso e o sorriso da Mercy. Ela podia ser careca e magricela, mas a Mercy tinha um sorriso bonito, e uma certa graa. At Izembaro concordava que ela era graciosa. Como o Corvo voa ela no estava longe dos Portes da Cidade, mas para rapari-gas com ps em vez de asas o caminho era mais longo. Braavos era uma cidade desonesta. As ruas eram desonestas, os becos eram desonestos e os canais eram os mais desonestos de todos. Na maioria dos dias preferia ir pelo caminho mais longo, pela estrada do Trapeiro ao logo do Porto Exterior, onde tinha o mar sua frente e o cu acima, e uma vista desimpedida da Grande Lagoa at ao Arsenal e as encostas de pinheiros do Escudo de Sellegoro. Marinheiros iriam saud-la en-quanto ela passava pelas docas, chamando-a a partir do convs alcatroado de um baleeiro Ibbenese e de uma coca de barriga grande de Westeros. A Mercy nem sem-pre entedia as suas palavras, mas sabia o que eles diziam. Algumas vezes ela sorria de volta e dizia-lhes que a podiam encontrar no Porto se eles tivessem moedas.O caminho longo levava-a atravs da Ponte dos Olhos com as suas caras em pedra es-culpidas. Do topo do arco da ponte, ela conseguia ver atravs dos arcos toda a cidade: as cpulas verde cobre do Palcio da Verdade, os mastros que se elevavam como uma floresta no Porto Prpura, as Altas Torres do Grandioso, o raiam dourado virando na sua agulha no topo do Palcio do Senhor do Mar... at os ombros do Tit de Bronze, atravs das guas verde escuras. Mas isso era apenas quando o sol brilhava sobre Braavos. Se o nevoeiro era espesso no haveria nada para ver a no ser cinza, por isso hoje escolheu a rota mais curta e salvar algum uso s suas pobres e rachadas botas.O nevoeiro parecia apartar-se sua frente fechando-se sua passagem. As pe-dras da estrada estavam hmidas e escorregadias sob os seus ps. Ouviu um gato miar queixosamente. Braavos era uma boa cidade para gatos e eles vagueavam por todo do lado, especialmente noite. No nevoeiro todos os ga-tos so pardos, pensou Mercy. No nevoeiro todos os homens so assassinos.Ela nunca tinha visto um nevoeiro to cerrado como este. Nos canais mais largos, os barqueiros estariam a embater com os barcos serpentes uns nos outros, incapazes de distinguirem mais do que as luzes pouco perceptveis dos edifcios em ambos os lados.Mercy passou por um homem velho com uma lanterna que caminhava na di-reco oposta e invejou-lhe a luz. A rua estava to sombria que ela mal conseguia ver onde pisava. Nas partes mais humildes da cidade, as casas, lojas e os armazns juntavam-se, apoiando-se uns nos outros como amantes bbados, os seus an-dares superiores to prximos que se podia dar um passo de uma varanda para a outra. As ruas abaixo tornam-se tneis sombrios onde cada passo ecoa. Os ca-nais pequenos eram ainda mais perigosos, visto que muitas das casas que se alin-ham nas suas margens tinham latrinas projectadas por cima da gua. Izembaro adora declamar o discurso do Senhor do Mar de A Filha Melanclica do Mer-cador sobre como aqui o ltimo Tit ainda est de p, com as pernas nos om-bros dos seus irmos, mas Mercy prefere a cena onde o mercador gordo caga sobre a cabea do Senhor do Mar enquanto este passa por baixo na sua barca dourada e prpura. Era dito que apenas em Braavos algo assim podia acontecer, e apenas em Braavos o Senhor do Mar e um marinheiro ririam a bom rir ao v-lo.O Porto estava perto dos limites da Cidade dos Afogados, entre o Porto Exterior e o Porto Prpura. Um velho armazm tinha ardido ali e o cho afundava-se um pouco mais a cada ano, por isso os terrenos eram baratos. No topo das fundaes de pedra do armazm inundado, Izembaro ergueu o seu cavernoso salo. A Cpula e a Lanterna Azul podiam gozar de ambientes mais elegantes, dizia ele aos seus saltimbancos, mas aqui entre os portos nunca lhes faltariam marinheiros e prostitutas para encher a pla-teia. O Navio estava perto, ainda atraindo uma multido considervel ao cais onde estava ancorado h vinte anos, disse ele, e o Porto tambm haveria de prosperar.O tempo tinha-lhe dado razo. O palco do Porto tinha desenvolvido uma inclinao medida que o edifcio assentava, os trajes eram propen-sos ao bolor, e as cobras da gua faziam os ninhos na adega inundada, mas nada disso incomodava os saltimbancos desde que a casa estivesse cheia.A ltima ponte era feita de corda e pranchas grosseiras, e parecia dissolver-se no nada, mas era apenas o nevoeiro. Mercy atravessou-a em corrida, os calcanhares mal tocando na madeira. O nevoeiro abriu-se sua frente como uma cortina cinza esfarrapada revelando o teatro. Uma luz amarela amanteigada transbordava das por-tas e Mercy podia ouvir as vozes no interior. Ao lado da entrada, Brusco Grande tinha pintado sobre o ttulo do ltimo espectculo e escrito no seu lugar A Mo

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  • Sangrenta em enormes letras vermelhas. Estava a pintar uma mo ensanguentada por baixo das palavras, para aqueles que no sabiam ler. Mercy parou para observar.- Est uma bela mo - disse- O polegar est torto - Brusco pincelou com o seu pincel. - O Rei dos Saltimbancos andou a perguntar por ti.- Estava to escuro que eu dormi e dormi - Quando Izembaro se tinha apelida-do de Rei dos Saltimbancos a companhia tinha tido um prazer perverso nis-so, saboreando a indignao dos seus rivais da Cpula e da Lanterna Azul. Mais tarde, porm, Izembaro comeou a tomar o seu ttulo de modo muito mais srio.- Ele agora apenas ir actuar em papis de reis Marro havia dito, rolando os olhos E se a pea no tiver um papel de rei, ele preferir no encen-la de todo.A Mo Sangrenta tinha dois reis, um gordo e um rapaz. Izembaro iria representar o gordo. No era um papel grande, mas tinha um belo discurso enquanto morria e uma esplndida luta com um javali demonaco, antes disso. Phario Forel tinha-a escrito e ele tinha a pena mais sangrenta de Braavos.Mercy encontrou a companhia reunida por trs do palco e deslizou para o meio da Daena e da Snapper atrs, esperando que a sua chegada tardia passasse desperce-bida. Izembaro estava a contar a todos que esperava o Porto cheio at aos barrotes esta noite, apesar do nevoeiro.- O Rei de Westeros enviou o seu embaixador para homenagear o Rei dos Saltimban-cos esta noite. - Disse sua trupe Ns no iremos desapontar o nosso camarada monarca.- Ns? - Disse Snapper, que era quem fazia todos os trajes para os saltimbancos. - Existe mais do que um, agora?- Ele gordo o suficiente para contar como dois. - Sussurrou o Bobono. Todas as trupes de saltimbancos tinham de ter um ano. Ele era o deles. Quando ele viu a Mercy olhou-a de esguelha. - Oho - Disse ele - Aqui est ela. Est a menininha devi-damente preparada para a sua violao? - Lanou um beijo sonoro.O Snapper d-lhe uma pancada na cabea.- Est quieto.O Rei dos Saltimbancos ignorou a breve agitao. Ele ainda estava a falar, dizen-do aos saltimbancos quo magnficos eles tinham de ser. Alm do embaixador de Westeros, estariam tambm presentes na multido altos responsveis de negcios, assim como famosas cortess. E ele no tinha intenes de que sassem com uma m opinio do Porto.- Correr mal a quem quer que me falhe. - Prometeu, uma ameaa emprestada do discurso que o prncipe Garin profere nas vsperas da batalha na pea A Ira dos Senhores dos Drages, a primeira de Phario Forel.Quando finalmente Izembaro acabou de falar faltava menos de uma hora para o espetculo comear e os saltimbancos estavam frenticos e irritveis vez. O Porto reverberava ao som do nome de Mercy.- Mercy. - A sua amiga Daena implorava - A Senhora Stork voltou a pisar a bainha do vestido. Vem ajudar-me a cose-lo.- Mercy O Estranho chamou - Trs-me o raio da cola, o meu chifre est a ficar solto.- Mercy Brandiu Izembaro o Grande ele prprio - Que fizeste com a minha coroa rapariga? Eu no posso fazer a minha entrada sem a coroa. Como sabero eles que eu sou o rei?- Mercy. - Guinchou o ano Bobono - Mercy, algo est errado como os meus cordes, a minha pia est muito frouxa e cai para fora. Ela foi buscar a cola e apertou o chifre esquerdo do Estranho na testa. Encontrou a coroa de Izembaro na latrina onde ele a deixa sempre e ajudou-o a coloca-la sobre a peruca, em seguida colocou a linha na agulha para que a Snapper possa costurar a bainha debruada a ouro no vestido que a rainha usar na cena do casamento.E de facto a pia do Bobono estava muito frouxa. Tinha sido feita para tombar para a violao. Que coisa medonha, pensou Mercy enquanto se ajoelhava diante do ano para o arranjar. A pia tinha mais de trinta centmetros e era to grossa como o brao dela, grande o suficiente para ser vista do balco mais alto. O tintureiro tinha feito um pssimo trabalho com o couro, embora a coisa estivesse sarapintada de cor-de-rosa e branco, com uma cabea bolbosa da cor de uma ameixa. Mercy empurrou de volta as calas do Bobono e voltou a ata-lo para cima.- Mercy.- Cantou ele enquanto ela o amarrava com firmeza . - Mercy, Mercy, vem ao

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  • meu quarto esta noite e faz de mim um homem.- Farei de ti um eunuco se voltas a afrouxar os cordes apenas para que eu mexa na tua virilha.- Estamos destinados a ficar juntos Mercy. - Bobono insitiu. - Olha, somos exacta-mente da mesma altura.- Apenas quando estou ajoelhada. Lembras-te da tua primeira fala? Tinha sido apenas h uma quinzena que o ano tinha cambaleado ao palco e aberto A Angustia de Archon com o grosseiro discurso de A Lasciva Senhora do Mercador. Izembaro iria esfol-lo vivo se ele fizesse tal asneira outra vez e no importava o quo difcil era encontrar um bom ano.- Qual a pea que estamos a representar? - Perguntou Bobono inocentemente.Ele est a gozar comigo, pensou Mercy, no est bbado esta noite, ele sabe perfeita-mente a pea desta noite.- Estamos a representar a nova pea de Phario: A Mo Sangrenta, em honra do embaixador dos Sete Reinos.- Agora me lembro. - Bobono baixou a voz para um sinistro profetizar de coisas ms. - O Deus das Sete faces enganou-me - disse ele - Ao meu nobre pai f-lo do mais puro ouro, e de ouro ele fez os meus irmos, menino e menina. Mas eu foi formado de matria sombria, de ossos e sangue e barro, retorcido nesta rude forma que vem diante vs. - Com aquilo agarrou-a no peito, tentado encontrar um mamilo. - Tu no tens mamas. Como irei violar um rapariga que no tem mamas?Ela apanhou-lhe o nariz com o polegar e o indicador e torceu.- Tu no vais ter nariz at tirares as mos de cima de mim.- Owwwwwww. - O ano guincho soltando-a.- Dentro de um ano ou dois j me tero crescido mamas. - Mercy cresceu como uma torre sobre aquele pequeno homem. - Mas nunca te nascer um novo nariz. Pensa nisso antes de voltares a tocar aqui.Bobono esfregou o seu nariz delicado.- No h necessidade de ficares to acanhada. Em breve vou te violar.- S no segunda acto.- Eu dou sempre uma boa apalpadela s mamas da Wendeyne quando a violo nA Angustia de Archon - queixou-se o ano - Ela gosta e a plateia tambm. Temos de agradar plateia.Aquilo era um dos adgios de Izembaro, como ele lhe gostava de chamar. Tem de agradar plateia.- Aposto que agradarei plateia se arrancar a pia ao ano e lhe bater com ela na cabea. - Replicou a Mercy. - Isso algo que eles no iro ver em mais lado nenhum. - Dem-lhes sempre algo que eles nunca viram antes, era outro dos adgios do Izem-baro, e um para o qual o Bobono no tinha uma resposta fcil.- Ai est, ests pronto. - Anunciou a Mercy. - Agora v l se consegues mant-lo nas calas at ser preciso.Izembaro estava a chama-la novamente. Agora no conseguia encontrar a sua lana de javalis. Mercy encontrou-a, ajudou o Brusco Grande a vestir os seu fato de javali, verificou se os punhais eram falsos s para ter a certeza que nin-gum os havia trocado por verdadeiros (algum tinha feito isso na Cpu-la uma vez e uma saltimbanco tinha morrido), e deitou Lady Stork um pouco de vinho que ela gostava de beber antes de cada pea. Quando todos os clam-ores por Mercy, Mercy, Mercy finalmente morreram, ela tirou um momen-to para dar uma rpida espreitadela para ver como estava composta a casa.A plateia estava mais cheia do que ela alguma vez tinha visto, e j estavam a diver-tir-se, brincando e empurrando, comendo e bebendo. Viu um vendedor ambulante vendendo bocados de queijo, arrancando-os da roda com os dedos sempre que en-contrava um comprador. Uma mulher tinha um saco de mas engelhadas. Sacos de pele com vinho estavam a ser passados de mo em mo, algumas raparigas vendiam beijos e um marinheiro estava a tocar uma gaita dos mares. O homenzinho de olhos tristes chamado Quill estava l atrs, tinha vindo ver o que podia roubar para uma das suas peas. Cossomo o Prestidigitador tambm tinha vindo e nos seus braos estava Yna, a ciclpica prostituta de Porto Feliz, mas Mercy no podia conhecer aqueles dois e eles no iriam conhecer Mercy. Daena reconheceu alguns dos clientes habituais do Porto na multido e aponto-lhos; o tintureiro Dellono com o seu rosto macilento e as mos manchadas de prpura, Galeo o fabricante de salsichas no seu gorduroso avental de cabedal, o alto Tamarro com o seu rato de estimao no ombro.

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  • - bom que o Tamarro no deixe o Galeo ver o rato. - Avisou a Daena - Aquela a nica carne que ele mete nas salsichas pelo que ouvi dizer. - Mercy tapou a boca e riu.Os balces tambm estavam a encher. O primeiro e terceiro nveis eram para mercadores e capites e outras pessoas respeitveis. Os Braavosianos preferiam o quarto e mais alto, onde os lugares eram mais baratos. Era uma orgia de cores ber-rantes l em cima, enquanto c em baixo tons mais sombrios dominavam. O se-gundo balco tinha sido fechado em camarotes privados onde os poderosos pode-riam comportar-se de acordo com o seu estatuto em conforto e privacidade, em segurana afastados da vulgaridade acima e abaixo. Eles tinham a melhor vista do palco e criados que lhes traziam comida, vinho, almofadas, o que quer que eles de-sejassem. Era raro o segundo balco do Porto estar mais que meio; os poderosos que apreciavam uma noite de pantomina estavam mais inclinados a visitar a Cp-ula ou a Lanterna Azul, onde a oferta era considerada mais subtil e mais potica.Esta noite era contudo diferente e sem duvida devido ao embaixador de Weste-ros. Num balco estavam sentados trs rebentos de Otharys, cada um acompan-hado de um cortes famosa; Prestayn estava sentado sozinho, um homem to velho que nos perguntvamos como tinha ele conseguido chegar ao seu lugar; Torone e Pranelis partilhavam um camarote como partilhavam um descon-fortvel aliana; a Terceira Espada servia de anfitrio a meia-dzia de amigos.- Conto cinco guardies das chaves. - Disse a Daena- Bessaro to gordo que devias conta-lo duas vezes. - Replicou a Mercy, aos risin-hos. Izembaro tinha uma barriga, mas comparado com Bessaro era to gil como um salgueiro. O guardio da chave era to grande que precisava de um assento espe-cial, trs vezes o tamanho de uma cadeira comum.- Todos os Reyaans so gordos. - disse Daena - Barrigas grandes como navios. De-vias ter visto o pai. Ele fazia este parecer pequeno. Uma vez ele foi convocado ao Palcio da Verdade para votar, mas quando ele ps os ps na barcaa ela afundou. - agarrou a Mercy pelo cotovelo.- Olha, o camarote do Senhor do Mar. - O Senhor do Mar nunca havia visitado o Porto, mas o Izembaro tinha batizado um camarote para ele de qualquer das ma-neiras, o mais largo e mais opulento na casa. - Aquele deve ser o embaixador de Westeros. Alguma vez vistes roupas assim num velho? E olha, ele trouxe a Prola Negra!O embaixador era franzino e calvo, com uma engraada madeixa cinzenta de barba que crescia no queixo. O seu manto era de veludo amarelo assim como os seus cales. O seu gibo era de um azul to brilhante que quase fez os olhos da Mercy em gua. Sobre o peito um escudo tinha sido bordado em linha amarela, e no escudo estava um orgulhoso galo sobre lpis-lazli. Um dos guardas aju-dou-o a sentar-se, enquanto dois outros ficaram atrs dele no fundo do camarote.A mulher que estava com ele no podia ter mais de um tero da sua idade. Ela era to bela que as lamparinas pareciam arder com mais intensidade quando ela passava. Ela envergava um vestido decotado de seda de um amarelo plido, surpreendente contra a sua pele morena. O seu cabelo negro estava preso numa rede de fios de ouro e um colar de pedras e ouro roava no topo do seu peito farto. Enquanto eles observam, ela incli-nou-se para mais perto do embaixador e murmurou-lhe algo ao ouvido que o fez rir.- Deviam chamar-lhe a Prola Castanha. - disse a Mercy Daena - Ela mais cas-tanha do que negra.- A primeira Prola Negra era negra como um recipiente de tinta. - disse a Daena Ela era uma rainha pirata, concebida pelo filho de um Senhor do Mar e uma princesa das Ilhas do Vero. Um rei drago de Westeros tomou-a como sua amante.- Eu gostava de ver um drago. - disse a Mercy desejosamente. - Porque que o em-baixador tem uma galinha no peito?Daena suspirou.- Mercy, ser que no sabes nada? o seu braso. Nos Reinos do Sol Poente todos os senhores tm brases. Alguns tm flores, outros peixes, outros ursos e veados. V, os guardas do embaixador usam lees.Era verdade. Eram quatro guardas, grandes, homens de ar duro em cota de malha, com pesadas espadas longas de Westeros embainhadas junta a ilhar-ga. Os seus mantos carmesim eram bordados em espirais de ouro, e lees de ouro com granadas vermelhas por olhos seguravam os mantos nos ombros.Quando a Mercy vislumbrou os rostos sob os elmos dourados em forma de leo a

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  • sua barriga deu-lhe um estremecimento. Os Deuses deram-me um pre-sente. Os seus dedos agarraram bruscamente os braos de Daena.- Aquele guarda. O que est l ao fundo, por detrs da Prola Negra.- Que tem ele? Conhece-lo?- No. - Mercy tinha nascido e sido criada em Braavos, como podia conhecer algum de Westeros? Teve de pensar por um momento. - que... bem, ele belo de se ver, no achas? - E era, de um modo tosco, embora os seus olhos fossem duros.Daena encolheu os ombros.- Ele muito velho. No to velho como os outros, mas.. ele deve ter uns trinta anos. E Westeriano. Eles so selvagens terrveis, Mercy. O melhor ficares bem longe dos da sua espcie.- Ficar longe? - Mercy riu. Ela era do tipo risonha, assim era a Mercy. - No. Eu tenho de me aproximar. - deu uma apertadela a Daena e disse. - Se a Snapper vir minha procura diz-lhe que fui ler as minhas falas outra vez. - ela apenas tinha algumas, e eram na sua maioria Oh no, oh no e No, oh no, no me toques e Por favor msenhor, eu ainda sou uma donzela, mas esta era primeira vez que o Izembaro lhe dava falas, portanto era apenas expectvel que a pobre Mercy as quisesse dizer bem.O embaixador dos Sete Reinos tinha colocado dois dos guardas no camarote para fica-rem atrs dele e da Prola Negra, mas os outros dois tinham sido postados mesmo do lado de fora da porta, para ter a certeza que ele no era perturbado. Eles estavam calma-mente a falar no Idioma Comum de Westeros quando ela passou silenciosamente por trs deles na passagem escura. Aquela no era uma linguagem que a Mercy conhecesse.- Pelos Sete Infernos este sitio hmido - ouviu o seu guarda a queixar-se Estou gelado at aos ossos. Onde raio esto as laranjeiras? Eu sempre ouvi dizer que ha-via laranjeiras nas Cidades Livres. Limes e limas. Roms. Pimentas, noites quente, raparigas de barriga mostra. Onde esto as raparigas de barriga mostra, pergun-to-te?- L para baixo em Lys ou Myr ou na Velha Volantis replicou o outro guarda. Era um homem mais velho, barriga grande e grisalho - Eu estive em Lys com o Lord Tywin uma vez, quando ele era a Mo de Aerys. Braavos a norte de Porto Real es-tpido. No consegues ler o raio de um mapa?- Quanto tempo achas que aqui vamos ficar?- Mais tempo do que gostarias. - Replicou o homem velho - Se ele regressa sem o ouro a rainha vai querer a sua cabea. Alm disso eu vi a mulher dele. Existem locais em Rochedo Casterly que ela no desce por medo de ficar presa, isso quanto ela gorda. Quem voltaria para aquilo, quando tem aqui uma rainha escura?O guarda bonito sorriu ironicamente.- No achas que ele a vai partilhar connosco depois?- O qu, s maluco? Tu achas que ele repara em tipos como ns? O raio do tipo nem sequer acerta com os nossos nomes metade das vezes. Talvez fosse diferente com o Clegane.- O Sor no era de espetculos de saltimbancos e prostitutas extravagantes. Quando o Sor queria uma mulher ele tomava uma, mas as vezes ele dava-nos uma depois. Eu no me importava de provar a Prola Negra. Achas que ela cor-de-rosa entre as pernas?Mercy queria ouvir mais, mas no havia tempo. A Mo Sangrenta estava pre-stes a comear e a Snapper haveria de ir sua procura para a ajudar com os trajes. O Izembaro podia ser o Rei dos Saltimbancos, mas era a Snapper quem todos temiam. Teria tempo suficiente para o seu guarda bonito depois.A Mo Sangrenta abria num cemitrio. Quando o ano apareceu subitamente por detrs de uma pedra tumular em madeira, a multido comeou a assobiar e a prague-jar. Bobono bamboleou-se at frente do palco e olhou-os lubricamente. - O Deus das Sete faces enganou-me - Comeou ele resmungando as palavras - Ao meu nobre pai f-lo do mais puto ouro, e de ouro ele fez os meus irmos, menino e menina. Mas eu foi formado de matria sombria, de ossos e sangue e barro...Por esta altura j Marro tinha aparecido por detrs dele, lgubre e terrvel nas lon-gas vestes do Estranho. A sua face tambm era negra, os seus dentes vermelhos e brilhantes com sangue, enquanto os chifres de marfim projectavam-se por cima da testa. Bobono no o podia ver, mas os balces podiam e agora a plateia tambm. No Porto cresceu um silncio mortal. Marro moveu-se para a frente silenciosamente.Assim como Mercy. Os trajes estavam todos pendurados, e a Snapper estava ocupada a coser a Daena no seu vestido para a cena da corte, assim a ausn-cia da Mercy no deveria ser notada. Silenciosa como uma sombra ela contor-nou pela parte detrs novamente, at onde os guardas estavam do lado de fora

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  • do camarote do embaixador. Ficando num canto escuro, quieta como uma pe-dra ela observou bem a cara dele. Estudou-a cuidadosamente, para ter a certeza. Serei demasiado nova para ele? perguntou-se Demasiado simples? Demasiado magra? Ela esperava que ele no fosse o tipo de homem que gostava de mamas grandes numa mulher. Bobono tinha razo em relao ao seu peito. Ser mel-hor se eu o poder levar para minha casa, t-lo s para mim. Mas vir ele comigo?- Achas que pode ser ele? - Estava a dizer o bonito.- O qu, os Outros levaram-te o juzo?- Porque no? Ele um ano, no ?- O Duende no era o nico ano no mundo.- Talvez no, mas olha aqui, toda a gente diz que ele era muito esperto, verdade? Ento talvez ele pense que o ltimo lugar onde a irm o procuraria seria num es-petculo de saltimbancos, fazendo pouco dele prprio. Ento ele faz mesmo isso s para puxar o nariz irm.- Ah, tu maluco.- Bem, talvez eu o siga depois do espetculo. Descubra por mim prprio - o guarda ps a mo no cabo da espada - Se eu estiver certo, vou ser Lorde, se estiver er-rado, bem, sangro-o, afinal apenas um ano qualquer. - deu uma gargalhada.No palco, Bobono estava a negociar como o sinistro Estranho do Marro. Ele tinha uma grande voz para um homem to pequeno, e fez ressoa-la at s mais altas vigas.- D a taa - disse ao Estranho - porque eu beberei bastante. E se o sabor for o de ouro e sangue de lees ainda melhor. Se no posso ser o heri, ao me-nos deixa-me ser o monstro, e dar-lhes o exemplo do medo no lugar do amor.Mercy murmurou as ltimas palavras juntamente com ele. Eram melhores fa-las do que as dela e adequadas ainda por cima. Ele querer-me ou no pensou ento que a pea comece. Disse uma prece em silncio ao deus das muitas fac-es, saiu do canto e aproximou-se bruscamente dos guardas. Mercy, Mercy, Mercy.- Meus Senhores. - Disse ela. - Falam Braavosiano? Oh por favor, digam que sim.Os dois guardas trocaram um olhar.- De que fala esta coisa? Perguntou o mais velho. Quem ela?- Um dos saltimbancos. Disse o bonito. Tirou o seu belo cabelo da frente da testa e sorriu para ela. Desculpa docinho, mas no falamos essa vossa lnguajar.Raios, pensou Mercy, eles apenas conhecem o Idioma Comum. Aquilo no era bom. Desiste ou vai em frente. Ela no podia desistir. Ela queria-o mesmo muito.- Conheo a vossa lngua, um bocadinho - mentiu, com o sorriso mais doce da Mercy - So Lordes de Westeros, minha amiga disse.O velho riu- Lordes? Sim somos ns.Muito tmida, Mercy olhou para os seus ps.- Izembaro disse para agradar ao Lordes. - Murmurou. - Se houver algo que quiser-em, qualquer coisa que seja...Os dois guardas trocaram um olhar. Ento o bonito estendeu a mo e tocou-lhe no peito.- Qualquer coisa?- Tu s nojento. - Disse o mais velho.- Porqu? Se Izembaro quer ser hospitaleiro, seria rude recusar - ele deu-lhe um belisco no mamilo atravs do tecido do vestido, como o ano tinha feito quando ela lhe estava a arranjar a pia. - Saltimbancos so a melhor coisa a seguir s prostitutas.- Talvez sejam, mas esta aqui uma criana.- No sou. - Mentiu. - Sou uma donzela agora.- No por muito tempo. - Disse o agradvel. - Eu sou o lorde Rafford, querida e eu sei exactamente o que quero. Levanta esse vestido e encosta-te a essa parede.- Aqui no - disse Mercy, afastando as suas mos - No onde a pea est a decorrer. Eu podia gritar e o Izambaro ficaria furioso.- Ento onde?- Eu conheo um lugar.O guarda velho estava carrancudo.- O qu, pensas que podes simplesmente sair daqui s trs pancadas? E se o embaixa-dor vem tua procura?- Porque haveria ele? Ele tem um espetculo para ver. E ele tem a sua prpria prosti-tuta, porque no haveria de ter a minha? Isto no vai demorar muito.No, pensou ela, no vai. Mercy tomou-lhe a mo e guiou-o para as traseiras e pelos

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  • degraus abaixo para a noite enevoada.- Podias ser um saltimbanco se quisesses. - disse-lhe ela, enquanto ele a pressionava contra a parede do teatro.- Eu? - O guarda resfolgou. - Eu no rapariga. Todas aquelas falas, eu no me lem-braria de metade.- difcil ao inicio - admitiu - mas depois torna-se fcil. Eu podia ensinar-te uma fala. Podia.Ele agarrou-lhe um pulso.- Serei eu a ensinar. Eis a primeira lio. - Ele puxou para si de modo bruto e beijou-a na boca, forando a lngua na sua boca. Era molhada e viscosa, como uma enguia. Mercy lambeu-o com a sua lngua e depois afastou-se dele sem flego.- Aqui no. Algum pode ver. O meu quarto no longe, mas vamos depressa. Tenho de voltar antes do segundo acto, ou irei perder a minha violao.Ele sorriu.- No tenhas medo disso rapariga - mas ele deixou que ela o puxasse a sua frente. De mos dadas, eles correram atravs do nevoeiro, sobre ponte e pelas vielas e pelos cinco lances de escadas de madeira lascada. Quando atravessaram a porta do seu pequeno quarto o guarda estava ofegante. Mercy acendeu uma vela de sebo, e danou a volta dele rindo.- Oh, agora ests demasiado cansado. Eu esqueci-me quo velho s, msenhor. Quer fazer uma pequena sesta? Deite-se e feche os olhos e voltarei depois que o Duende me tiver violado.- No vais a lado nenhum - ele puxou-a bruscamente - tira esses trapos e eu mostro-te quo velho eu sou rapariga.- Mercy - disse ela - O meu nome Mercy. Consegues diz-lo?- Mercy - disse ele - O meu nome Raff.- Eu sei. Ela passou a mo pelo meio das pernas dele e sentiu o quo duro ele estava por detrs da l e das calas.- Os laos - incitou-a S uma boa menina e desata-os - em vez disso ela deslizou um dedo pelo interior da coxa dele. Ele grunhiu.- Raios, tem cuidado ai, tu...Mercy sobressaltou-se e afastou-se, a sua face mostrava confuso e temor.- Ests a sangrar.- O qu... - ele olhou para baixo Os deuses sejam bons. Que me fizeste sua pequena puta? - A mancha vermelha alastrava pela coxa ensopando o pesado tecido.- Nada guinchou a Mercy Eu nunca... oh, oh tanto sangue, pra isso, pra isso, ests a assustar-me.Ele abanou a cabea, a sua cara tinha um aspecto confuso. Quando ele apertou a coxa com a mo sangue esguichou por entre os dedos. Estava a correr pela perna abaixo para dentro da bota. Ele no parece to gracioso agora, pensou ela, ele parece apenas branco e assustado.- Uma toalha gaguejou o guarda Traz-me uma toalha, um farrapo, faz presso. Deuses. Sinto-me tonto. - A perna dele estava empapada em sangue da coxa para baixo. Quando ele tentou colocar o peso na perna, o joelho cedeu e ele caiu.- Ajuda-me suplicou ele, medida que a virilha das calas ficava ainda mais ver-melha Me tem misericrdia, rapariga. Um curandeiro... corre e encontra um curandeiro agora.- Existe um no prximo canal, mas ele no vir. Tens de ir ter com ele. No conseg-ues andar?- Andar? - os seus dedos estavam pegajosos do sangue s cega rapariga? Estou a sangrar como um porco na matana. Eu no consigo andar com isto.- Bem disse ela Ento no sei como que vais l chegar.- Vais ter de me carregar.Vs? pensou a Mercy. Tu sabes as tuas falas e eu sei as minhas.- Achas que sim? - Arya perguntou docemente.Raff, o Querido olhou para cima bruscamente ao mesmo tempo que a lmi-na deslizou da manga dela. Ela deslizou-a atravs da garganta dele por baixo do queixo, torceu e puxou para trs de lado com um simples e suave gol-pe. Uma fina chuva vermelha seguiu-se e nos seus olhos a luz apagou-se.- Valar Morghulis a Arya sussurrou, mas o Raff estava morto e no ou-viu. Ela fungou. Devia t-lo ajudado a descer as escadas antes do o ter mata-do. Agora de o arrastar at ao canal e empurra-lo. As enguias fariam o resto.- Mercy, Mercy, Mercy cantou ela tristemente. Tinha sido uma rapariga tonta e tola, mas de bom corao. Ela iria sentir saudades dela, e iria sentir saudades da

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  • Daena e da Snapper e do resto, at do Izembaro e do Bobono. Isto iria trazer sarilhos para o Senhor do Mar e o embaixador com a galinha no peito, ela no tinha duvida.Ela pensaria nisso mais tarde. Neste momento no havia tempo. melhor eu cor-rer. A Mercy ainda tinha algumas falas a dizer, as suas primeira e ltimas e o Izem-baro teria a sua bonita e vazia cabea se ela chegasse tarde para a sua violao.

    Nota do Tradutor: Ao traduzir um texto de algo que j se encontra traduzido tem de se ter sempre em ateno o que j foi feito. Neste caso tive o cuidado de verificar o que o Jorge Candeias j tinha feito e ajustei a minha traduo em conformidade. Apenas ousei desafiar a traduo do Jorge Candeias num ponto: o nome da Cidade-Livre optando por manter o nome original de Braavos e no usando o verso Bravos que aparece nos livros das Crnicas de Gelo e Fogo.

    traduo por Marco Lopes

    valar morghulis

  • Dia da Restaurao da Independncia

    em Portugalano de 1640

    Des

    taqu

    e do

    ms

  • Isabel Ricardo nasceu em 11 de Junho de 1964. Escreveu o seu primeiro livro de aven-turas aos 11 anos. Aos 16 colaborava com o jornal local com pequenos artigos. S vri-os anos depois que conseguiu que um ro-mance seu fosse publicado diariamente no jornal O Comrcio do Porto. Em 1993 es-creveu A Floresta Encantada, contactando diversas editoras, que recusaram o projecto sempre pela mesma razo. Era desconhecida. At que a CARPE DIEM, Associao Juvenil para a Arte e Cultura, resolveu formar edito-ra propositadamente para lanar o livro, que contou com o apoio do Instituto da Juventude.

    http://www.isabelricardo.com/Autora/Isabel.htm

    Considerada uma referncia valiosa na l i t e r a t u r a infantil e juvenil, apresenta vrias coleces de grande sucesso, entre elas Os Aventureiros e Guerreiros da Luz, razo por que recomendada por vrios Professores de Portugus. tambm con-siderada uma referncia importante no ro-mance histrico e perita em criar romances com enredos empolgantes, repletos de mis-trio e suspense que transportam os leitores para o encantamento da fico. A sua escrita mgica e fascinante tem vindo a apaixonar leitores de todas as idades, fazendo-os sen-tir a emocionante sensao de fazer parte do prprio livro. Adora escrever, ler e viajar por stios que lhe servem de fonte de inspirao para os seus livros, bem como o contacto com os leitores nas escolas que tem visitado.Neste momento, conta j com um leque variado de obras publicadas, 29, sendo a maioria para crianas e jovens.

    Sinopse:H sessenta anos que Portugal era h u m i l -h a d o pelos Filipes de Espanha. ento que um grupo de heris decide revoltar-se.

    1640. O jugo espanhol dura h sessenta anos. Seis dcadas de identidade roubada, ptria escondida e falsa lealdade. Mas algo est diferente: fala-se do enigmtico Capito Gualdim, que desafia o poder espanhol pelas ruas de Lisboa enquanto se conspira nas sombras e a guerra contra o domnio espan-hol ameaa rebentar. Uma importante parte da nossa Histria ganha vida em O ltimo Conjurado.

    Conjurado de Isabel Ricardo, onde a reali-dade se cruza com a fico.

    Duelos, emboscadas, amores e muito mis-trio envolvem as principais personagens, trs jovens cavaleiros que vivem todo o tipo de aventuras. Um romance histrico que representa com rigor os factos ocorridos neste to importante perodo da nossa Histria, enlaado numa m a r a v i l h o s a narrativa cheia de suspense.

    http://www.saidadeemergencia.com/editorial/noticias/o-ultimo-conjurado-porque-razao-nao-deve-perder-este-livro/

    http://www.isabelricardo.com/

    Isabel RicardoD

    esta

    que d

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    s

    Isabel Ricardo com a sua hbil mestria atravs da pena, emociona e comove os leitores, enquanto os d e -i x a vidos por saber mais neste livro destacada a importncia da nacionalidade quando ela mais ame aada. E que altura melhor para ler este livro quando mais nos encontramos num perodo de crise moral e de valores? Ser portugus ser corajoso, ser leal, ser autntico. Assim so os conjurados. Deixemos o leitor ser o primeiro, sada de emergncia

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  • Leitura conjunta a decorrer:Leitura com incio a 3 de Novembro e fim a 30 de No-vembro.

    Em cada semana ser aber-to o tpico para comentar a leitura.

    Participa, e coloca as tuas questes diretamente es-critora, a qual, ir partici-par na leitura.

    No percas a entrevista exclusiva da escritora no prximo n. do Fiacha.

    ...algumas das suas obras:A Demanda do Mestre

    Num enredo repleto de intrigas e escndalos, que nos deixa sem flego do incio ao fim, a autora transporta-nos numa viagem at um Portugal de finais da Idade Mdia. A Demanda do Mestre um romance notvel sobre o genial Nuno Alvares Pereira, as suas lutas e conquistas, e a vida turbulenta da corte portuguesa. Em Outubro

    de 1383, com a morte do rei D. Fernando, Portugal lanado numa crise inquietante A nica her-deira do trono a jovem Beatriz, casada com o rei de Castela. Lado a lado com personagens histricas notveis, tais como D. Nuno lvares Pereira, o nosso Santo Condestvel, e o primeiro rei da segunda dinas-

    tia, D. Joo I, Mestre de Avis, o leitor conhece tambm a escandalosa Constana e os seus amantes, e a doce e meiga Catarina, duas personagens femininas muito marcantes, que nos envolvem apaixonadamente. Um romance histrico de leitura compulsiva, extrema-mente emocionante, irresistvel e muito sensual

    Os Aventureiros

    Nas frias da Pscoa OS AVENTU-REIROS vo acampar na Lagoa de bidos. Estranhos acontecimentos comeam a suceder pela calada da noite, na lagoa. Quem sero aqueles homens e por que querero atodo o custo livrar-se deles? Que estranho mistrio es-conder a Lagoa de bidos?

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  • Manuel Alves

    Freelancer com experincia em ilustrao digital e tradicional (grafite, pastel, aguarela e acrlico). Vasto conhecimento de Photoshop nas reas de ilustrao, fotomanipulao e edio de imagem em geral.

    - Retratos a preto e branco ou cor: a lpis, aguarela, acrlico e digitais;

    - Ilustra publicitaria e editorial;

    - Trabalho grfico na elaborao de convites de casamento e baptizados, cartoes de visita (sem im-presso);

    - Tratamento, manipulaao e restauro de fotos; http://odeusum.deviantart.com/

    http://juroqueminto.blogspot.pt/ gallery/

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  • Revista da autoria dos administradores do Cantinho do Fiacha o Corvo Negro, com a colaborao de So Bernardes e Manuel Alves.

    Um agradecimento especial aos escritores ,Manuel Alves e Isabel Ricardo, por terem aceite o nosso convite e fazer parte da nossa revista, e participa-

    o de Marco Lopes e de Maria Roseta.O Cantinho deseja a todos boas leituras.

    Os nossos profundos agradecimentos aos leitores da nossa revista e mem-bros que nos seguem na pgina oficial do Cantinho do Fiacha.

    Novembro de 2014