revista fedra 12
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Doenças RarasTRANSCRIPT
Fe d e r a ç ã o d a s D o e n ç a s R a r a s d e P o r t u g a l
FEDRAISSN 2182-0082Edição 12 | Novembro 2012 | Trimestral | Gratuita | Direcção: Paula Brito e Costa
Foto
: Joã
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©
RETT
Sinapses neuronais podem vir a curar
Síndrome de Hunter
BioBanco – IMM
A excelênciaao serviço da investigação
O drama dosdiagnósticostardios
04EntrevistaMaria do Carmo Fonseca“O que mais me fascina neste momento é a possibilidade de actuar sobre o RNA como terapia”
08Em FocoAs principais novidades científicas sobre doenças órfãs
10AcessibilidadesEmprego inclusivo
12InvestigaçãoSíndroma de RettUma patologia da comunicação
16Tema de CapaIgnorância ou falha humana?Hunter diagnosticado em adulto
22ComunidadeAs notícias dos associados da FEDRA
24ActualBiobanco-IMMPortugal na vanguarda da investigação
28Relatório de Contas 2011
29Registo de IPSS
30DiagnósticosCGC Genetics20 anos ao serviço do doente
34Última HoraSoutien detecta cancro
O poder das palavrasPaula Brito e Costa, Presidente da FEDRA
Seria quase inevitável não dedicar este editorial à defesa de todos os doentes raros que foram “apanhados” pela irracionali-dade do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (pa-recer 64/CNECV/2012) que confundiu este mês racionamento com racionalização dos cuidados de saúde, culminando num do-cumento confuso feito para português não compreender. Senão vejamos: por racionamento entende-se o ato ou efeito de racionar; distribuição de quantidades ou rações, medidas limitadas, sendo que por racionalização já se entende um modelo que, em minha opinião, encaixa numa democracia plena de um país em dificul-dades. Designa-se assim por racionalização o aperfeiçoamento de uma técnica, de modo a que melhore o rendimento.
Mais à frente, neste mesmo documento, pode ler-se “...tornando ainda mais urgente a necessidade de pagar um modelo de decisão baseado no principio da justiça que permite, em última análise, a salvaguarda da dignidade de quem é tratado e de quem trata”. A questão que se põe não está relacionada com uma mera implicân-cia no que à semântica diz respeito, mas ao perigo de uma leitura distorcida por parte da tutela, enquanto atento decisor das políticas da saúde e solicitante deste parecer. Em tempos difíceis aos players da saúde é-lhes exigido rigor, mas também cuidado nas declarações proferidas, sob pena de se criar um turbilhão de incertezas junto dos doentes, afinal os beneficiários das decisões políticas e pagadores de impostos portugueses.O final deste capítulo resume-se com o reconhecimento público do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, de que não foram felizes na tentativa de colocar no mesmo saco o racio-namento e a racionalização em saúde.Assim sim, os doentes gostam!
Ficha Técnica Directora Paula Brito e Costa | Projecto Redacção e Edição Paula Simões Design gráfico, infografia e paginação Leonel Sousa Pinto
Propriedade FEDRA - Federação das Doenças Raras de PortugalMorada Rua das Açucenas, Lote 1, Loja Dta, 1300-003 Lisboa Número de Pessoa Colectiva 507 772 466 | Distribuição gratuita
Impressão Textype Artes Gráficas Lda | Tiragem 3000 exemplares Depósito legal 298 810/09 | ISSN 2182-0082 | ERC 126174© Publicação trimestral. Todos os direitos reservados.
editorialFEDRA
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04FEDRA entrevista
Detentora de diversos prémios e galardões de reconhecimento na área científica, Maria do Car-
mo Fonseca, directora do Instituto de Medicina Molecular (IMM) é hoje uma referência internacional incontornável na área da investigação.
Sob a sua direcção, o IMM tornou-se uma referência a nível mundial. Acha que a experiência que adquiriu na Europa se refletiu no seu modelo de gestão? De que forma?Dirigir um instituto de investigação requer formação específica. Não é algo que se faça “por intuição”. No meu caso, adquiri essa formação ao longo de aproximadamente 10 anos, en-quanto exercia as funções de delegada nacional ao conselho do European Molecular Biology Laboratory (EMBL). O EMBL é um dos mais prestigiados institutos de investigação na Europa e tem a característica única de perten-cer a uma organização inter-governa-mental. O director do EMBL tem de apresentar a sua visão para o instituto num período de 5 anos, bem como um plano detalhado de actividades a
“O que mais me fascinaneste momento
é a possibilidade de actuar sobre o RNA como terapia”
Maria do Carmo Fonseca
Doutorada em Biologia Celular, professora e investigadora representa o que de melhor se faz em Portugal e foi, até hoje, a única mulher a receber o Prémio Pessoa.
O seu sucesso internacional fez dela uma digna representante do País na área científica
implementar e iniciativas a desenvol-ver. Tudo isto é discutido no conselho onde participam os delegados de todos os países membros da organização e sujeito a aprovação. Acompanhar por dentro o modelo de governância do
EMBL permitiu-me aprender o valor da transparência e da negociação no processo decisório. Mas, mais impor-tante de tudo, ensinou-me a traçar metas muito concretas a longo prazo.
Segue um modelo de avaliação permanente da qualidade dos seus investigadores. A exigência é um factor preponderante para o êxito de uma investigação?Todos os sistemas de avaliação são desagradáveis mas inevitáveis para se obterem resultados. A exigência e o rigor são elementos essenciais. É como a pre-paração desportiva: dói, mas o momento de sucesso compensa tudo.
Recentemente, recebeu um prémio que serviu para comprar equipamento para o IMM. O Estado não investe o suficiente nos centros de investigação?O Estado português investe em Ciência uma percentagem do valor do produto interno bruto (PIB) próxima da média dos países Europeus. O grande proble-ma é que, em Portugal, os centros de investigação estão demasiado depen-dentes do investimento do Estado. Isto
Em 2010 recebeu o Prémio Pessoa pela sua importante carreira científica e reve-lou que esta distinção permitiu “passar às gerações mais novas a ideia de que a aposta na ciência é uma aposta ganha-dora para o desenvolvimento do país”
05FEDRANovembro 2012
não acontece nos países onde a Ciência e a inovação tecnológica estão muito mais desenvolvidas. De facto, nestes pa-íses existem várias fontes alternativas de financiamento. Uma fonte muito impor-tante de financiamento da Ciência nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha são os donativos privados. Trata-se de uma atitude social e cultural que acredito se possa modificar em Portugal.
O dinheiro pode condicionar a quali-dade da Ciência?Infelizmente é a mais pura das ver-dades: sem dinheiro não é possível investigar em Medicina! É importante estar consciente que o nosso conheci-mento sobre Biologia humana e Me-dicina é, hoje em dia, enorme. Como a qualidade da Ciência se mede pelo grau de inovação, quanto mais se sabe, mais difícil se torna saber ainda mais. Inovar em Medicina ou Biomedicina, actualmente, exige acesso a reagentes e instrumentos muito sofisticados e, portanto, muito dispendiosos.
Em media, que investimento temporal e financeiro poderá ser necessário até atingir resultados efectivos – uma terapêutica eficaz por exemplo?Não existe um valor padrão, é extre-mamente variável. Vamos considerar o exemplo de uma doença para a qual não existe tratamento. Primeiro é preciso descobrir a causa da doença, ou seja, quais os processos e mecanismos que deixam de funcionar correctamente dentro da célula. Depois, é preciso des-cobrir uma via para reverter o que está errado. Finalmente, é preciso assegurar que o tratamento não é tóxico para o organismo. Na maioria dos casos são consumidos vários anos em cada uma destas fases. Para citar uma história de
Carmo Fonseca dirige a equipa que se dedica à compreensão da dinâmica nuclear e regulação da expressão genética, para compreender as doenças causadas por defeitos nestes processos celulares
“Neste momento, estamos muito excitados com a descoberta de dois novos potenciais tratamentos, um para a Sepsis e outro para a Artrite Reumatóide”
06FEDRA entrevista
grande sucesso, a Leucemia Mieloide Crónica, a causa da doença foi escla-recida em 1990 e em 1998 tiveram inicio os primeiros ensaios clínicos. Os resultados foram tão positivos que, em 2002, já havia 6 mil doentes em todo o Mundo a receber o tratamento, ainda em fase de ensaio clínico.
O IMM também realiza ensaios clí-nicos com doentes? Neste momento quantos doentes se encontram nos vossos ensaios? Em que áreas?O IMM dedica-se às fases pré-clínicas da investigação, ou seja, no IMM investigam-se sobretudo os mecanis-mos das doenças e fazem-se testes de novas terapias em modelos celulares e animais. Todos os ensaios clínicos (isto é, com doentes) são feitos em parceria com o Hospital de Santa Maria e com a Faculdade de Medicina de Lisboa, no âmbito de uma plataforma integrada denominada Centro Académico de Me-dicina de Lisboa. Actualmente, existem várias dezenas de doentes em ensaios clínicos, principalmente nas áreas de neurologia, oncologia e reumatologia.
Recentemente, o governo aprovou uma plataforma para ensaios clí-nicos. Que importância poderá ter uma ferramenta deste tipo para os investigadores?Extremamente importante, mas ainda não chega. Por diversas razões, que estão bem identificadas, Portugal perdeu capacidade para participar nos grandes ensaios clínicos promo-vidos pela indústria farmacêutica internacional. Felizmente que as autoridades competentes estão a assumir a necessidade de actuar, no sentido de corrigir esta situação. Im-porta essencialmente tornar a análise dos processos mais rápida, de forma a tomar atempadamente a decisão se determinado ensaio reúne ou não todas as condições exigidas para ser realizado em Portugal.
de. O tratamento para a Sepsis resulta do trabalho de investigação de um jovem cirurgião no IMM, enquanto o medicamento para a Artrite Reuma-tóide foi produzido por uma pequena companhia de biotecnologia sediada no IMM, a TechnoPhage.
Acha que a comunidade científica portuguesa pode mudar a nossa socie-dade?Acho que a comunidade científica faz parte activa da nossa sociedade e ambas evoluem em conjunto. O de-senvolvimento da sociedade em geral está intimamente ligado à existência de uma comunidade científica robus-ta e influente.
Afirmou recentemente que “Estamos a viver um período de revolução do nosso conhecimento da vida”. Pode explanar a sua afirmação.O nosso conhecimento da vida depen-de em grande medida dos instrumentos que temos disponíveis para a estudar. Tal como a nossa visão sobre o universo mudou radicalmente à medida que
Para que áreas específicas da saúde estão a ser testadas novas terapêuti-cas no IMM?Neste momento, estamos muito excitados com a descoberta de dois novos potenciais tratamentos, um para a Sepsis outro para a Artrite Reumatói-
Carmo Fonseca foi um dos talentos escolhidos para representar internacionalmente a imagem da marca Portugal
Em Fevereiro de 2012 passou a integrar o Conselho Científico da FEDRA – Federação das Doenças Raras de Portugal, presidida por Paula Brito e Costa
07FEDRANovembro 2012
O ideal seria que o Estado fosse capaz de cumprir os dispositivos legais por ele criados, afirma Adalberto Campos Fernandes
foram sendo feitos telescópios cada vez mais potentes, os novos instrumentos que hoje se usam para “olhar” para den-tro das células revelam uma realidade insuspeitada há 20 anos atrás.
Como investigadora, como descreve a sensação de descobrir algo inédito que poderá revolucionar o Mundo?A sensação de fazer uma descoberta é ver o que nunca tinha sido visto antes, é
encontrar a solução para um problema que nunca tinha sido resolvido. É muito agradável mas efémero porque um pro-blema resolvido deixa de ser aliciante e por isso se parte para um novo proble-ma e assim sucessivamente.
É também professora. Que valores ten-ta transmitir aos seus alunos, futuros investigadores?Ser curioso e inconformista. Não se
contentar em saber e fazer apenas o que os outros já sabiam e faziam, mas querer ir mais além.
O seu trabalho é desenvolvido na área do ARN (ácico ribonucleico) e da sua influência sobre as doenças. De que forma é que este ácido poderá influen-ciar as patologias raras?Para mim o RNA (ou ARN) é uma mo- lécula fascinante com um enorme potencial ainda por desvendar. Há doen-ças raras causadas por RNA defeituosos. Mas o que mais me fascina neste mo-mento é a possibilidade de actuar sobre o RNA como terapia. Existem já em curso ensaios clínicos com terapêuticas de RNA que estão a revelar resultados muito promissores para a Distrofia Mus-cular de Duchenne e a Atrofia Muscular Espinhal. No meu grupo de investiga-ção estamos a explorar novas formas de tratamentos dirigidos ao RNA.
Editora do Journal of Cell Science e membro do Conselho Editorial da revis-ta Transcription, Carmo Fonseca exige a excelência aos seus alunos fazendo da investigação a sua razão de viver
Uma equipa do Benioff Children’s
Hospital, da Universidade da
Califórnia, provou que o transplante
de células-tronco neuronais conseguiu
aumentar a produção de mielina
em crianças que sofrem de doença
de Pelizaeus-Marzabacher, uma
leucodistrofia em que há alteração
desta substância que envolve e
protege as fibras nervosas, auxiliando
a transmissão de mensagens entre os
neurónios. Segundo os resultados das
ressonâncias magnéticas realizadas
ao longo de um ano, a equipa médica
encontrou sinais de que as células
implantadas (HuCNS-SC, derivadas
do cérebro de fetos) conseguiam
Os portadores de doença de
Gaucher tipo 1 poderão ter disponível,
em breve, uma nova formula
terapêutica que lhes trará uma
melhoria substancial da qualidade
de vida, graças ao seu poder na
redução do baço, principal órgão
afectado pela doença. O primeiro
estudo de fase 3 sobre o eliglustate
revelou que os doentes apresentaram,
em nove meses, uma melhoria
estatisticamente significativa no
tamanho do baço, em comparação
A britânica Neil Halford e o seu es-
poso foram alvo de um procedimento
revolucionário que evitou que o filho
que desejavam nascesse doente. Neil
Halford é portadora da síndrome de
Li-Fraumeni, uma patologia rara de
transmissão autossómica dominante,
que se caracteriza pelo aparecimento
de vários tumores no organismo. Dado
o risco de transmitir a doença ao filho,
Esperança para Gaucheraos que não foram tratados. O
eliglustate foi desenvolvido de forma
a proporcionar uma alternativa de
tratamento para os pacientes com
doença de Gaucher tipo 1.
A doença de Gaucher é caracterizada
pela insuficiência de uma enzima que
processa as moléculas de gordura.
Os resultados completos do estudo
ENGAGE deverão ser apresentados
durante o Lysosomal Disease
Network, que ocorre entre 12 e 15 de
Fevereiro, em Orlando, na Flórida.
Células-tronco curam doençareceber sangue e nutrientes dos
tecidos neurais, transformando-se em
oligodendrócitos (células responsáveis
pela produção de mielina). Segundo
Nalin Gupta, chefe de cirurgia
neurológica do departamento de
pediatria deste hospital, “antes deste
trabalho, não havia evidências de que
células-tronco neurais eram capazes
de incorporar e funcionar normalmente
no cérebro”.
O resultado desta intervenção foi
publicado recentemente no Science
Translational Medicine e pode ser um
primeiro passo para o desenvolvimento
de terapias para a falta de mielina no
sistema nervoso.
verificado em gravidezes anteriores, o
casal submeteu-se a um tratamento
especial de fertilização in-vitro, onde
se rastrearam os embriões, em busca
dos genes defeituosos, antes de serem
reintroduzidos no útero.
Esta selecção genética, deu a oportuni-
dade a este casal de ter um filho sau-
dável, apesar da inevitável controvérsia
gerada à volta deste procedimento.
Selecção genética evita doença
08FEDRA em foco
O Centro Hospitalar da Cova
da Beira, na Covilhã, inaugurou
recentemente o único centro de
ensaios clínicos do interior do país.
Graças à existência deste espaço,
os doentes desta região têm agora
a oportunidade de participar nos
diversos ensaios clínicos que a
unidade realiza, com vista a testar
novas terapêuticas. “No fundo, os
doentes têm o melhor dos dois
mundos: investigação de ponta e uma
assistência médica cuidada, atempada
e perfeitamente planeada, durante o
período em que decorre o ensaio, que
são vários anos”, declarou Luís Oliveira,
cardiologista do Centro Hospitalar.
Os investigadores do Hemocentro
da Universidade Estadual
de Campinas, no Brasil,
demonstraram que a hidroxiureia,
substância habitualmente utilizada
no controle da Drepanocitose,
pode também ajudar a aliviar os
sintomas da doença na fase aguda,
actualmente sem opção terapêutica.
“O paciente que chega hoje ao
hospital com uma crise de dor
típica da fase aguda recebe apenas
analgésicos e hidratação. A ideia de
Investigadores do Centro Médico da Universidade de Duke, nos EUA, descobriram
que os linfócito tipo B10 podem ajudar no tratamento de doenças autoimunes graves,
como a Esclerose Múltipla e Artrite Reumatoide.
O estudo, publicado na revista Nature, revela que as células B10 produzem uma pro-
teína denominada IL-10 que ajuda a controlar a resposta do sistema imunológico às
infecções. “Este estudo mostra, pela primeira vez, que há um processo que determina
quando e como estas células produzem IL-10”, revelou o imunologista Thomas Ted-
der, responsável pela investigação. Este estudo foi realizado em ratos com sintomas
de Esclerose Múltipla e que, algum tempo após de terem recebido linfócitos B10,
viram os efeitos da doença reduzidos de tal forma que quase foram eliminados.
Linfócitos podem tratar Esclerose Múltipla
a realização de todos os testes
necessários, quer em termos de
fármacos quer de dispositivos médicos
inovadores.
Terapêutica para Drepanocitose
Ensaios clínicos beneficiam doentes
O novo centro, que brevemente
integrará a rede europeia de ensaios
clínicos, trabalha em sinergia com o
hospital e a universidade permitindo
usar a hidroxiureia – aprovada para
tratar a forma crónica destes doentes
– também na etapa aguda é muito
atraente para os clínicos. Até agora,
isso não havia sido cogitado”, revela
Nicola Amanda Conran Zorzetto,
orientadora da investigação.
A Drepanocitose é uma doença
rara, caracterizada por uma
alteração genética na hemoglobina
que altera a estrutura das
hemácias, dificultando a circulação
sanguínea.
09FEDRANovembro 2012
10FEDRA acessibilidades
Criado em 1990, a partir de um protocolo estabelecido entre o departamento de acção social da Câmara Municipal de Lisboa, o Instituto de Emprego e Formação Profissional e a Fundação LIGA organismo este que actua, exclusivamente, no apoio à inserção profissional de pessoas com deficiência, contribuindo para o aumento da sua empregabilidade. A fim de assegurar a eficiência dos seus serviços, a OED criou um banco de empresas, potenciais empregadoras, mantendo-as informadas sobre
as capacidades profissionais das pessoas com deficiência que nele estão inscritas e, posteriormente, mediando e apoiando todo o processo de recrutamento, manutenção e progressão no posto de trabalho.Para ter acesso a este serviço deverá ter deficiência associada, residir em Lisboa e estar inscrito no centro de emprego. Efectue depois a sua pré-inscrição através do site www.oed.com.pt ou presencialmente. No caso de escolher a candidatura online, será posteriormente contactado por um técnico que o informará
Os portadores de deficiência queixam-se, frequentemente, de dificuldades no acesso ao trabalho. Para os ajudar existe a OED – Operação de Emprego para Pessoas com Deficiência
Serviços OEDInformação e assessoria
a potenciais empregadores
Recrutamento e pré-selecção
de candidatos
Análise e adaptação
de postos de trabalho
Acompanhamento profissional
Assessoria a empresas na candidatura
e apoios à contratação, concedidos
pelo IEFP (DL n.º 290/2009)
Avaliação e orientação profissional
dos candidatos
Desenvolvimento
de competências socioprofissionais
Emprego inclusivo
11FEDRANovembro 2012
da documentação necessária para formalizar, presencialmente, a sua inscrição. Depois da inscrição efectuada será entrevistado por um técnico, a fim de definir as suas capacidades e a área onde poderá ser integrado. A partir daí a OED tratará de entrar em contacto com as empresas que tem em carteira e que abranjam a área de residência do candidato. Mais tarde, após a proposta da empresa, a OED encarregar-se-á, ainda, de apoiar o candidato na fase de entrevista e na posterior integração profissional.
Saiba mais em
IEFP: www.iefp.pt
ou 808 200 670,
disponível das 8 às 20 horas,
todos os dias úteis
OED: www.oed.com.pt
ou pelo telefone 21 393 25 20
A integração no mercado de trabalho dos doentes, portadores de deficiência, é essencial para a promoção de uma sociedade igualitária
Este acompanhamento passará por contactos telefónicos ou presenciais com o futuro trabalhador, preferencialmente fora do horário de trabalho, com o objectivo de garantir a satisfação total do mesmo no mercado de trabalho.A remuneração dos trabalhadores inscritos na OED é definida pela empresa, seguindo e respeitando a política de remunerações adoptada. As entidades empregadoras que celebrem contratos sem termo com estes trabalhadores poderão beneficiar de uma redução das
contribuições para a Segurança Social, conforme o estabelecido pelo Código Contributivo – Lei 110/2009.Anualmente, a OED atende cerca de 400 pessoas conseguindo a integração de grande parte destes profissionais.
Qualificar para integrarDevido a problemas diversos, mui-
tos dos trabalhadores com deficiência
associada nem sempre possuem as
qualificações exigidas pelo mercado de
trabalho. Para isso, o Instituto de Em-
prego e Formação Profissional (IEFP)
adoptou uma medida que visa a qualifi-
cação de pessoas com deficiência e/ou
incapacidade. Ao abrigo desta medida,
o IEFP promove formação profissional
inicial (promovidas por entidades for-
madoras certificadas, com estruturas
especificamente vocacionadas para a
área da deficiência) e formação profis-
sional contínua.
A formação promovida pelo IEFP vem
na sequência da medida implantada
através do Decreto-Lei n.o 396/2007,
de 31 de Dezembro, que estabelece o
regime jurídico do Sistema Nacional
de Qualificações (SNQ) e que define,
entre os seus objectivos, a promoção
das competências necessárias ao
desenvolvimento dos indivíduos, à pro-
moção da coesão social e ao exercício
dos direitos de cidadania bem como a
promoção da qualificação e integração
socioprofissional de grupos com parti-
culares dificuldades de inserção.
Nascem iguais a todas as rapari-gas, são lindas, interagem com os pais e com o mundo à sua
volta. Mas, de repente, entre os seis e os dezoitos meses, começa a tempesta-de… A pequenita deixa de andar, deixa de conseguir coordenar as mãos, pode começar a ter dificuldades a respirar, tem convulsões… muitas convulsões, e pode mesmo morrer. Imagine os sinto-mas do Autismo, da paralisia cerebral, da doença de Parkinson, de epilepsia, de patologias da ansiedade… tudo isto numa menina pequenina. Isto é a síndroma de Rett, uma patologia rara, muito rara, e muito grave.
Afecta sobretudo as raparigas, 1 em cada 10 000 a 12 000, e não escolhe a família, simplesmente aparece.
Os sintomas desta patologia são os mais variados e podem ser, inicialmen-te, confundidos com outras patologias neurológicas como as perturbações do espetro do Autismo.
As meninas que sofrem desta do-ença nascem sem qualquer sinal e pa-recem desenvolver-se normalmente. Mas, entre os seis e os dezoito meses
Uma patologia da comunicação
de vida, subitamente, estagnam no seu desenvolvimento e come-çam a apresentar sinais de regressão física e neurológica. O cérebro e a cabeça crescem mais lentamente, co-meçam a perder a capacidade de usar as mãos, mostram ter problemas de equilíbrio, deixam de falar (perdem a comunicação verbal, pela linguagem), podem perder a marcha, ficam men-talmente diminuídas e demonstram sérios problemas de relacionamento com os outros evitando, por exemplo, o contacto visual. A estereotipia mais característica deste síndroma é um constante esfregar de mãos. Apresen-tam epilepsia, desenvolvem proble-mas respiratórios e cardíacos (arrit-mia) e ósseos (escolioses e fragilidade,
Síndroma de Rett
A síndroma de Rett é uma desordem do desenvolvimento neurológico que é classificada pelo DSM-IV como um transtorno do espectro do Autismo. As características clínicas incluem as mãos e pés pequenos e movimentos manuais repetitivos
Salomé de Almeida
Geneticista Molecular, no Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE
Os sintomas desta patologia são os mais variados e podem ser, inicialmente, confundidos com outras patologias neurológicas como as perturbações do espetro do Autismo
12FEDRA investigação
A forma clássica de Rett carateriza--se por 4 fases distintas:
Uma primeira fase, que surge en-tre os seis e os dezoito meses, e que frequentemente passa despercebida aos pais e aos médicos. Observa-se um abrandamento do crescimento da ca-beça e do desenvolvimento geral, como algum atraso no sentar e no rolar, me-nos contacto visual e perda de interesse
pelos brinquedos. Depois, tudo se precipita, surgindo uma fase de rápida regressão das aquisições
intelectuais, cognitivas e mo-toras, perda da linguagem, da capacidade de usar as mãos corretamente, esfre-
A síndroma de Rett é causada por mutações genéticas específicas, estando descritas mais de 200 mutações
com grande tendência para fraturarem os ossos). Muitas destas crianças têm uma esperança média de vida diminu-
ída e morrem antes de atingir a idade adulta, mas há cada vez mais casos conhecidos de doentes que chegam aos 50 anos. No entanto, precisam de cuida-dos e ajuda a vida inteira.
13FEDRANovembro 2012
gando-as constantemente, dificuldades respiratórias e cardíacas. Na terceira fase, aparentemente há uma estagna-ção na regressão e uma estabilização da patologia. O comportamento pode melhorar e é possível apostar na comu-nicação com bons resultados. Muitas crianças com Rett permanecem neste estadio até ao fim da sua vida. É um pe-ríodo de reabilitação e de recuperação de algumas das aquisições perdidas. Por fim, pode surgir uma quarta fase, marcada pela redução da mobilidade, enfraquecimento muscular e escoliose, levando ao uso da cadeira de rodas.
A síndroma de Rett foi descrita, inicialmente, pelo médico austríaco Andreas Rett, em 1966, como uma doença grave do desenvolvimento que afectava, exclusivamente, raparigas. Só cerca de 20 anos depois, em 1983, foi reconhecida como uma patologia, com as publicações do investigador sueco Bengt Hagberg.
Os últimos 40 anos de investigação permitiram perceber que:• A síndroma de Rett é causada por mu-
tações genéticas específicas, estando descritas mais de 200 mutações;
• envolve mais do que um gene – os principais são MECP2, o CDKL5 e o FOXG1;
• os genes identificados estão relacio-nados com o desenvolvimento e a conectividade neuronal;
• mutações nestes genes podem ori-ginar outras patologias do neurode-senvolvimento;
• os mecanismos celulares envolvidos constituem alvos terapêuticos com elevado potencial de intervenção;
• é possível fazer diagnóstico genético precoce e diferencial, definindo es-tratégias terapêuticas próprias. Olhando, de forma breve, para estes
três genes, adivinha-se uma nova era para estes doentes. O primeiro gene a ser descrito – o MECP2 – localiza--se no cromossoma X, região Xq28, e contém as instruções para a produção
Na síndroma de Rett os neurónios não conseguem
estabelecer as ligações corretamente, formando
sinapses “doentes”, comprometendo
o desenvolvimento cognitivo
de uma proteína (Methyl CpG-binding protein 2) que regula a expressão de certos genes envolvidos no desenvol-vimento do cérebro, num mecanismo de “interruptor”, quer fazendo com que alguns aumentem a sua expres-são, quer “desligando” outros, paran-do a sua actividade. Quando funciona mal, são produzidas quantidades insu-ficientes de certos compostos e/ou um excesso de outros. Esta proteína tem um papel importante na manutenção das conexões entre os neurónios (as sinapses), permitindo a comunicação entre eles. Na síndroma de Rett os neurónios não conseguem estabelecer as ligações corretamente, formando sinapses “doentes”, comprometendo o desenvolvimento cognitivo e a forma-ção da ligação entre o cérebro e o am-biente, através da percepção sensorial. Como está localizado no cromossoma X, as raparigas têm duas cópias. Em condições normais, uma das cópias está inactivada e a outra a funcionar, garantindo a dosagem certa na produ-ção de MeCP2. Ao ocorrer uma alte-ração neste gene, uma parte das célu-las do sistema nervoso vai usar o gene mutado, que pode originar quer um aumento da dosagem, quer uma dimi-nuição, quer ainda a produção de pro-teínas anormais, explicando, assim a variabilidade de sintomas da síndroma de Rett, o início das manifestações e a severidade da doença. Nos rapazes, a
história é outra, como têm apenas um cromossoma X, com um gene MECP2 a ser expresso, se o gene estiver alte-rado, todos os neurónios serão afeta-dos pela mesma alteração. Por isso, a maior parte das mutações neste gene são fatais nos rapazes.
Um grupo de cientistas, ao culti-var as células neuronais de crianças normais e crianças com síndroma de Rett, verificou que nestas últimas a rede de ligações que cada neurónio estabelecia com os neurónios vizinhos era muito menor. Surge aqui uma das primeiras pistas para as novas terapias – investir na formação das sinapses neuronais, conhecendo quais as mo-léculas que se formam , os genes que são activados, os mecanismos de re-gulação e os melhores tempos para se intervir na estimulação.
O gene CDKL5, também locali-zado no cromossoma X, região Xp22, codifica uma proteína essencial ao funcionamento normal do cérebro (cyclin-dependent kinase-like 5) e inte-rage com a proteína MeCP2 na ma-nutenção das sinapses, de forma ainda pouco conhecida.
O gene FOXG1 (forkhead box G1), localizado no cromossoma 14, região 14q13, dá origem a um factor de trans-crição. Este tipo de proteínas ajudam a regular a actividade de outros genes de forma negativa, isto é, reprimindo--os quando eles não são necessários. Se ocorrerem alterações no FOXG1, outros genes passarão a ser expressos quando deveriam estar desligados. As proteínas FOXG1 parecem ter uma função especialmente importante no desenvolvimento embrionário do cére-bro, na formação de estruturas espe-cíficas, incluíndo os dois hemisférios cerebrais (que controlam a maioria da actividade voluntária, da linguagem, da percepção sensorial, aprendizagem e memória).
Não se sabe como é que esta pro-teína interage com a MeCP2, ou se
14FEDRA investigação
apenas actua no desenvolvimento das mesmas estruturas cerebrais.
Muitos outros genes associados a es-tes mecanismos têm sido descritos, en-tretanto, tornando-se alvos de tentativas terapêuticas farmacológicas, quer de re-gulação de genes, quer de estimulação de neurónios, usando os mecanismos celulares de “interruptor” (ligando e des-ligando de forma controlada). A utiliza-ção de modelos animais tem permitido avançar muito nesta área.
Este conhecimento científico ain-da é insuficiente para curar os doen-tes mas já permitiu encontrar novas formas de melhorar a sua qualidade
de vida, orientando um conjunto de terapias no sentido da es-
timulação da comunicação neuronal e na intervenção precoce.O conhecimento dos ge-
nes e das mutações patológicas transporta-nos, ainda, para a área da
prevenção e da actuação pré-sintomá-tica, através dos testes de diagnóstico genético. Reforça também a interven-ção precoce, orientanto as terapias e o aconselhamento genético (em par-ticular no diagnóstico pré-natal e no diagnóstico diferencial).
Os tratamentos actuais quase que se limitam a acompanhar os sintomas com medicação, diversas formas de terapia (em es-pecial da fala e fisioterapia)e apoio às famílias. Mas tudo isso está a mudar…
Atualmente, com todos estes meios ao dispor, com todo este conhecimento científico em “ex-plosão”, a esperança de melho-res dias para os doentes com síndroma de Rett é real, está a acontecer, e vai ser possível
para as nossas crianças.
Saiba mais em
www.linharara.pt
A estereotipia mais característica desta síndroma é um constante esfregar de mãos
15FEDRANovembro 2012
16FEDRA capa
Alterações faciais marcadas, cabeça com um volume maior, abdómen aumentado, perda au-
ditiva, comprometimento das válvulas cardíacas e da função cardíaca, obs-trução das vias respiratórias, apneia do sono e aumento do fígado e do baço são as principais características da síndrome de Hunter ou Mucopolissacaridose tipo II (MPS II). Apesar de estarmos a falar de sintomatologias marcantes, e que afectam em Portugal meia centena de pessoas (declaradas), a verdade é que muitas centenas se encontram ainda por diagnosticar. A prová-lo está a histó-ria de Paulo*, um doente que conseguiu chegar aos 33 anos de idade sem qual-quer diagnóstico, apesar da história fa-miliar reportar indivíduos que já haviam sucumbido à doença.
“O Paulo tem um aspecto caracte-rístico de MPS, com todas as manifes-tações típicas durante a sua infância e início de idade adulta, nomeadamente ter sido operado na infância a hérnias abdominais, apresentar uma hérnia umbilical na actualidade, baixa estatu-ra, uma face caraterística e também a recorrência de infecções respiratórias” conta Nuno Marques, cardiologista do
Ignorância ou falha humana?
hospital de Faro. Conforme recorda o especialista, o diagnóstico deste do-ente surgiu quase por acaso, quando Paulo foi referenciado para a consulta de doenças do miocárdio e pericárdio, por apresentar valvulopatia. “A pato-logia cardíaca valvular que o doente apresentava, bem como a história familiar positiva, eram muito suges-tivos de estar na presença de uma síndroma de Hunter”.
“Nunca, até à data, nenhum mé-dico tinha efectuado o diagnós-tico a este doente!”, salienta o médico. Após confirmação do diagnóstico, Paulo foi avaliado por uma equipa multidisciplinar médica do hospital de Faro e o caso foi submetido à apreciação do Centro Nacional Co-ordenador do Diagnóstico e Tratamento de Doenças Lisossomais, tendo sido emitido parecer favorável à realização da terapêutica de substituição enzimática, em Julho de 2012. Neste momen-to, Paulo continua a aguardar para dar início à terapêutica...
Hunter diagnosticado em adultoApesar de ser uma patologia com características bastante visíveis, a verdade é que em Portugal ainda existem doentes que levam mais de três décadas a ser diagnosticados
O cardiologista Nuno Marques
conseguiu, ao fim de 33 anos,
diagnosticar um doente com Hunter
que, apesar das evidências físicas e clínicas, nunca
tinha sido devidamente seguido
17FEDRANovembro 2012
e reciclar determinadas substâncias conhecidas como mucopolissacaríde-os ou glicosaminoglicanos (GAGs) no Lisossoma, resultando numa disfunção orgânica multissistémica. À medida que os GAGs se acumulam nas células de todo o corpo, os sinais da síndrome tornam-se mais visíveis e a esperança de vida, em caso de não se proceder à terapêutica órfã, está consideravelmen-te comprometida.
Actualmente, o principal entrave para o diagnóstico e tratamento destes doen-tes é o desconhecimento por parte dos médicos e profissionais de saúde, o que produz com frequência um diagnóstico tardio e, muitas vezes, erróneo da doen-ça. Este facto foi confirmado por Nuno Marques em relação ao Paulo:
“Neste doente, o principal factor que levou ao seu diagnóstico tardio foi a falta de informação dos profissionais de saú-
A síndrome de Hunter é uma doen-ça genética hereditária, da classe das doenças do depósito do Lisossoma, li-gada ao cromossoma X, o que significa que as mulheres portadoras da muta-ção do gene IDS vão transmitir a do-ença aos filhos do sexo masculino, em 50% dos casos. É causada pela defici-ência de uma enzima chamada iduro-nato-2-sulfatase. A doença interfere na capacidade do organismo em quebrar
O declínio progressivo da função cardíaca, com comprometimento das válvulas cardíacas e da função cardíaca é uma das principais características da patologia representando em muitos casos uma diminuição da esperança de vida
18FEDRA capa
de, principalmente dos médicos, acerca desta doença rara e das possibilidades actuais de tratamento destes doentes”.
O diagnóstico pré-natal é feito pelo doseamento da enzima ou estudo mo-lecular, em produtos biológicos colhi-dos por amniocentese ou biopsia das vilosidades corionicas. Nas crianças e adultos, existem dois métodos dispo-níveis para diagnosticar a patologia. O primeiro, e mais utilizado, é um exame à urina com vista a verificar os níveis dos glicosaminoglicanos (GAGs). Pos-teriormente, procede-se à investigação da actividade enzimática a partir do sangue ou pele do doente, para confir-mação das suspeitas.
O atingimento multissistémico pro-gressivo obriga ao seguimento por uma equipa multidisciplinar, que incluí pediatria ou medicina interna, depen-dendo da idade do doente, neurologia, oftalmologia, otorrinolaringologia, me-dicina física, ortopedia e psicologia/psiquiatria. Além do tratamento de su-porte, que continua a ser fundamental, existe actualmente a terapia enzimática de substituição, um medicamento ór-fão disponível no nosso país. Esta tera-pia tem efeitos benéficos que se tradu-zem na redução do volume do fígado e
baço, melhoria da capacidade respira-tória, mobilidade articular e capacida-de de marcha. A nível futuro está em investigação a terapia génica.
Bioquímica da doençaO corpo humano depende de uma am-pla gama de reações bioquímicas para manter suas funções vitais, inclusive para produzir energia, crescer e para as comunicações dentro do corpo e pro-teção contra infecções. Outra função crítica é a quebra de biomoléculas gran-des. É aí que reside a base do problema da síndrome de Hunter (MPS II) e de outras doenças de depósito lisossómico.
A bioquímica da síndrome de Hun-ter está relacionada com um problema
Os cortes anunciados nas diversas áreas da saúde causam
ainda mais sofrimento aos doentes raros. Agora, além dos
atrasos no diagnóstico, os doentes podem também sofrer com
o atraso nas autorizações para o início das suas terapêuticas.
“Este caso recente de Hunter é um paradigma muito ilustrati-
vo deste facto. A indicação para iniciar a terapêutica específica
foi dada por uma comissão de peritos nacionais em Julho de
2012. Contudo, até Outubro, cerca de 3 meses depois, o hospi-
tal de Faro ainda não adquiriu a medicação. Foi referido recen-
temente no jornal Expresso, pelo Presidente do Conselho de
Administração do hospital de Faro, que a aquisição não teria
sido efectuada devido a dificuldades económicas”, acusa Nuno
Marques. Segundo o cardiologista, um dos riscos dos cortes é
a limitação de realização de exames auxiliares de diagnósti-
co mais dispendiosos, como é o caso dos estudos genéticos,
fundamentais para o diagnóstico de muitas patologias raras.
“Quando o diagnóstico não é estabelecido, o Estado deixa de
suportar os custos dos exames auxiliares de diagnóstico e
as terapêuticas... Cabe à comunidade médica e aos doentes
mostrar que é inaceitável que estas limitações ocorram desta
forma, colocando doentes e vidas em causa. Parece-me que
esta situação será inaceitável numa sociedade como a nossa,
no século XXI”, diz o médico que afiança que estes cortes são
já sentidos há muito no serviço de cardiologia do hospital de
Faro. “Trata-se de um serviço que desde sempre esteve preo-
cupado com os custos e eventuais desperdícios, como se pode
verificar nas tabelas de preços de aquisição e números do ser-
viço. Penso que será difícil efectuar mais cortes”, conclui.
Cortes orçamentais prejudicam doentes
numa zona do tecido conjuntivo conhe-cido como matriz extracelular. A matriz é constituída por vários açúcares e pro-teínas e ajuda a formar a estrutura ar-quitetónica de suporte do organismo. A matriz circunda as células do organis-
A MPS II é uma doença genética hereditária, da classe das doenças do depósito do Lisossoma, ligada ao cromossoma X, o que significa que as mulheres portadoras da mutação do gene IDS vão transmitir a doença aos filhos do sexo masculino, em 50% dos casos
19FEDRANovembro 2012
mo como uma malha organizada e fun-ciona como um adesivo que mantém as células do organismo juntas. Um dos componentes da matriz extracelular é uma molécula denominada proteogli-cano. Como muitos componentes do corpo, os proteoglicanos precisam ser quebrados e substituídos. Quando o or-ganismo quebra os proteoglicanos, um dos produtos resultantes são os muco-polissacarídeos, também conhecidos como GAGs. Existem vários tipos de GAG, cada um localizado em determi-nados locais do organismo.
Na síndrome de Hunter, o problema reside na quebra de dois GAG: o der-matosulfato e o sulfato de heparan. A primeira etapa da quebra do dermato-sulfato e do sulfato de heparan requer a enzima lisossómica I2S. Em pessoas acometidas pela síndrome de Hunter, essa enzima está parcial ou completa-mente inactiva. Como consequência, os GAGs acumulam-se nas células do corpo, em particular nos tecidos que
contêm dermatosulfato e sulfato de heparan. Como consequência desse acúmulo, ocorrem interferências no modo de funcionamento de determi-nadas células e órgãos, o que ocasiona uma série de sintomas graves. A taxa de acúmulo de GAG não é a mesma para todas as pessoas com síndrome de Hunter, o que leva ao surgimento de um série de problemas médicos.
A complexidade das doenças rarasPara o cardiologista Nuno Marques, existe uma enorme falta de informa-ção dos profissionais de saúde acerca das patologias raras. “Embora não pos-samos esperar que todos os médicos conheçam estas patologias, também não é aceitável que se julgue que a presença de centros em Lisboa, Por-to e Coimbra possam dar este tipo de resposta, pois continuarão a ser inacessíveis para a maioria destes do-entes. Um centro de menores dimen-
Cronologia1917 A doença é descrita pela primeira
vez pelo professor de Medicina
Charles Hunter, no Canadá
1952 Pela primeira vez, na descrição
da doença, é reconhecido o
acúmulo de mucopolissacarídeos
nos pacientes com a síndrome
1964 É definido que a doença
é causada por um defeito
de uma enzima
1965 Culturas de células de pacientes
de Hunter mostram o acúmulo
de mucopolissacarídeos
1971 Acreditou-se que a enzima
defeituosa seria a sulfatase
1974 Determinou-se que a enzima de-
feituosa nos pacientes de Hunter
era iduronato-2-sulfatase (I2S)
1999 Concedida a patente
aos EUA baseada no trabalho do
médico John Hopwood (WCH,
Adelaide, Austrália) que clonou
o gene (cDNA) para a produção
da enzima I2S
2000 A empresa de biotecnologia TKT
registrou IND para iniciar
os testes clínicos da enzima I2S
para a síndrome de Hunter
2001 A TKT inicia a Fase I/II dos testes
clínicos em 12 doentes
2002 TKT obtém o status de “droga
órfã” na Europa e nos EUA para
a I2S e completa as fases I/II
com sucesso
2003 TKT inicia estudo clínico piloto
2005 A idursulfase é aprovada pelo
Food and Drug Administration
e usada por centenas de
pacientes nos EUA, Europa,
países da Ásia e América Latina
2007 A Comissão Europeia concede
à idursulfase uma Autorização
de Introdução no Mercado, válida
para toda a União Europeia,
registando-a sob a designação
de medicamento órfão
A genética da doença
20FEDRA capa
sões, mais próximo dos doentes e com profissionais qualificados, será muito mais eficaz na orientação destes doen-tes”, afiança.
Segundo o cardiologista, existem várias doenças raras com atingimen-to cardíaco localizado ou com atingi-mento multiorgânico, mas em que o atingimento cardíaco tem implicação determinante no prognóstico. Algumas doenças cardíacas raras manifestam-se por aumento da espessura do músculo cardíaco, como é o caso das doenças de armazenamento do Lisossoma e do ar-
a identificar os doentes e a tratá-los devi-damente”, declara Nuno Marques.
Outras doenças de armazenamento que podem afectar o coração e, espe-cificamente, o músculo cardíaco, são as doenças de armazenamento do gli-cogénio, como a doença de Pompe, a deficiência da PRKAG2, a doença de Forbes e a doença de Danon. A pes-quisa de alterações cardíacas nestas doenças é importante, contudo, como são doenças sistémicas, muitas vezes o diagnóstico já foi estabelecido por outras manifestações. Também podem existir doenças das mitocôndrias, com-ponentes das células responsáveis pela produção de energia. Como o múscu-lo cardíaco necessita de muita energia para contrair e impelir o sangue para todo o organismo de forma constante, acaba por ser um dos órgãos mais afec-tado por estas doenças.
Existem ainda síndromes raras com atingimento cardíaco, cujo diagnósti-co é frequentemente estabelecido por
Pais
+ =
Descendentes
Sexo masculinonão afectado
Sexo masculino,não afectado
Sexo feminino,não afectado
Sexo feminino,portadora
Sexo masculino,com síndorme
de HunterSexo masculinocom síndrome
de Hunter
Mãe portadora
Mãenão portadora
+ =
mazenamento do glicogénioA doença de Fabry é uma doença
rara cujo diagnóstico tem sido frequen-temente efectuado por cardiologistas. O Centro Hospitalar do Alto Ave – Guima-rães é exemplo disso, tendo-se tornado no maior centro de doentes de Fabry da Península Ibérica, devido ao trabalho pioneiro da cardiologista Olga Azevedo que, através dos dados apresentados publicamente, suscitou o interesse da comunidade cardiológica para esta pato-logia. “São estes exemplos que levam a serem procuradas estas patologias raras,
A idursulfase como terapêutica órfãA idursulfase é uma cópia da enzima humana iduronato-2-sulfatase. É produzida
através de tecnologia de ADN recombinante, em que a enzima é produzida por uma
célula humana que recebeu um gene (ADN) que a torna capaz de produzir a enzima.
A idursulfase substitui a enzima inexistente ou deficiente nos pacientes com síndrome
de Hunter. A idursulfase deve ser administrada nos doentes de Hunter, semanalmente,
por perfusão intravenosa, sendo a dose de 0,5 mg por quilograma de peso corporal. A
perfusão deve ter a duração de 3 horas. No entanto, desde que não sejam observadas
reacções associadas à perfusão (erupção cutânea, comichão, febre, dores de cabeça,
hipertensão ou afrontamento), o medicamento pode ser administrado de forma mais
rápida, reduzindo gradualmente a duração da perfusão para uma hora. O tratamento
deve ser efectuado por um profissional de saúde, em meio hospitalar, no entanto, nos
doentes que tolerem bem as perfusões poderá fazer-se a administração em casa, sob
a vigilância de um médico ou enfermeiro.
21FEDRANovembro 2012
pertrofia cardíaca. Contudo, esta doença é responsável apenas por cerca de 3% dos doentes com o hipertrofia cardíaca, sendo a hipertensão arterial ou mesmo a miocardiopatia hipertrófica as causas mais comuns de hipertrofia cardíaca.
O Grupo de Estudos das Doenças do Miocárdio e Pericárdio, da Socie-dade Portuguesa de Cardiologia e a criação de consultas específicas para as doenças do miocárdio e pericárdio em vários centros hospitalares, têm contribuído para o diagnóstico destas doenças raras que, de outra forma, pas-sariam despercebidas ou seriam diag-nosticadas muito tardiamente.
Apesar da grande variabilidade e sintomatologia das doenças raras car-díacas, os vários avanços terapêuticos realizados nos últimos anos têm possi-bilitado uma intervenção eficaz. “Têm existido avanços importantes nesta área, que julgo serem o futuro da terapêutica destes doentes... Destaco as terapêuti-cas de substituição enzimática, em que se fornece ao doente a proteína que está em défice na sua doença, tratando-se directamente a causa e não apenas as manifestações da doença. Estas tera-pêuticas podem levar a uma paragem na progressão das manifestações da doença e das lesões nos órgãos. Está ainda a ser investigada a possibilidade de utilização de terapêutica genética para muitas des-tas doenças”, afirma o cardiologista.
Apesar de ser ainda bastante jovem, Nuno Marques já contribuiu grande-mente para o diagnóstico de diversas patologias raras sendo que “a patolo-gia rara que tive maior dificuldade em diagnosticar na minha carreira foi uma Granulomatose de Wegener, um tipo de doença inflamatória dos vasos sanguíne-os, muito rara, e que no caso da minha doente apresentou uma manifestação inicial cardíaca, o que não se encontrava ainda descrito nesta doença” concluí.
manifestações claras noutros órgãos ou sistemas. É o caso da síndrome de No-onan, LEOPARD, Ataxia de Friedreich, síndrome de Beckwith-Wiedermann, síndrome de Swyer ou síndrome de Barth. Outra doença rara com poten-cial atingimento cardíaco é a amiloidose familiar. No nosso país, a paramiloido-se familiar (PAF), também conhecida como doença dos pezinhos, tem uma incidência elevada e, embora sendo um tipo de amiloidose essencialmente neu-ropática, pode afectar o coração e causar falência do músculo cardíaco. “Existem ainda doenças cardíacas que são raras entre nós mas que são frequentes nou-tras partes do mundo, como a doença de Chagas (frequente na América do Sul) e a fibrose endomiocárdica (muito rara em Portugal mas frequente em África)”, esclarece o cardiologista.
Segundo Nuno Marques, as patolo-
gias cardíacas raras que implicam maior dificuldade de diagnóstico são aquelas que se apresentam com uma manifes-tação clínica inespecífica, exclusiva ou quase exclusivamente cardíaca, e cuja prevalência seja muito baixa. Como exemplo disso temos a doença de Fabry cuja única manifestação pode ser a hi-
* - o nome do doente é fictício, de forma a proteger a sua identidade
A aparência física das crianças com Hunter é bastante característica e inclui testa proeminente, nariz achatado com uma ponte e língua larga
As obstruções das vias respiratórias, levam ao espessamento das paredes das vias aéreas, provocando problemas respiratórios durante o sono que poderão culminar em doença obstrutiva das vias aéreas. A capacidade pulmonar está também limitada
A APSA – Associa-ção Portuguesa de Síndrome de Asper-ger vai dar início a mais um Ciclo de En-contros para Famílias sobre a síndrome de Asperger. Estes encon-tros pretendem dar resposta a diversas questões que chegam diariamente à associação sobre esta temática, através da intervenção de técnicos especializados na doença. Estas sessões terão início no próximo dia 8 de Novembro, na Escola Superior de Educação de Lisboa e irão ocorrer, mensalmente, até ao mês de Fevereiro.
Para mais informações contacte através do telefone 214 605 237, ou pelo email [email protected]
A utilização da caminhada nórdica (nordic walking) por doentes de Parkinson tem ganho relevo a nível internacional pelos resultados positivos sobre a melhoria da marcha, equilíbrio, coordenação e função dos membros superiores, bem como no alívio de sintomas como a fadiga e isolamento social. Este treino é realizado com o auxílio de dois bastões reguláveis, especificamente delineados para o efeito, e que ajudam a impulsionar o corpo para frente permitindo, desta forma, intensificar o treino, reduzindo o impacto do peso do corpo sobre as pernas e, ao mes-mo tempo, induzindo um movimento intenso dos braços.
Os sócios da APDPK - Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson que estejam interessados em participar devem inscrever-se através do núme-ro 213 850 042 ou pelo email [email protected]
A ANPAR – Associação Nacional de Pais e Amigos Rett realiza, no dia 9 de Dezembro, o 10.º Encontro de Natal, no Porto. Inscreva-se já através do móvel 919 467 392 ou por email para [email protected]
Foi no passado mês de Setembro que dezenas de pessoas se juntaram à iniciativa da APLL - Associação Portugue-sa de Leucemias e Linfomas denominada Pedalar contra o Linfoma e que teve por objectivo recolher fundos para apoiar os doentes de cancro e as suas famílias. Para-lelamente, a iniciativa foi complementada com uma corrida virtual no Facebook. Os utilizadores desta rede social foram desa-fiados a percorrer os 100 mil quilómetros de vasos sanguíneos que existem no corpo humano, recolhendo informação sobre os linfomas e superando vários desafios ao longo da sua corrida.
Encontros Asperger
Marchar pela saúde
Natal Rett
Pedalar pelo Linfoma
22FEDRA comunidade
Recentemente, os membros da APDIP - Associação Portuguesa de Doentes com Imunodeficiên-cias Primárias deslocaram-se a Flo-rença, na Itália, a fim de participarem na entrega do 1º Prémio Lebien que visa distinguir persona-lidades que lutam pela defesa dos direitos de doentes portadores de Imunodefici-ências Primárias.
Este primeiro prémio distinguiu
Bob Lebien, o primeiro presidente honorário vitalício da International
Patient Organisation for Primary Immunodeficiencies, em reco-nhecimento da sua ines-timável contribuição para
a formação e criação deste organismo e pela
sua luta na promo-ção do reconheci-mento por parte das autoridades na-cionais e mundiais
das necessidades destes doentes.
A AMJ - Associação Machado Joseph colocou à disposição dos seus utentes aulas de hidroginástica. Com o objectivo de manter a máxima mo-bilidade e funcionalidade, através do aumento da força muscular dos membros (em particular dos inferiores), estas aulas promovem a manutenção do equilíbrio, bem como as amplitudes articulares, coordenação de movimentos e controlo da respiração nos doentes com Machado Joseph.Caso esteja interessado em inscrever-se, por favor entre em contacto com a asso-ciação através do telefone 296 281 627 ou pelo email [email protected].
A Raríssimas assinalou os seus dez anos de existência com um jantar no restaurante Na Ordem com... Luís Suspiro. Sob a temática Por um Portugal Mais Raro, cerca de 300 amigos da instituição, entre doentes, médicos e parceiros, uniram as suas vozes para parabenizar a Raríssimas.
A exposição fotográfica Mais perto do que é Raro revelou 20 rostos raros, sob a perspectiva de quatro profissionais.
Parabéns à Raríssimas!
Prémio de Imunodeficiência
Aulas de Hidroginástica
Aniversário Raro
23FEDRANovembro 2012
Criar uma estrutura física onde são guardadas amostras bioló-gicas em condições perfeitas
de conservação, durante muitos anos, e ao mesmo tempo a informação clí-nica dos doentes associada a essas amostras”. As declarações efectuadas
Portugal na vanguarda da investigação
20 mil amostras biológicas
Fornecer dados médicos e materiais biológicos de apoio aos investigadores do mundo inteiro é a proposta do primeiro Biobanco Português
‘ à agência Lusa pelo Professor João Eurico Fonseca, director do Biobanco--IMM, definem bem esta estrutura, única no País, criada pelo Instituto de Medicina Molecular, a funcionar nas instalações da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e que con-
tou com o apoio do, agora extinto, Alto Comissariado da Saúde.
Contando já com mais de 20 mil amostras biológicas de sangue, saliva e osso o Biobanco-IMM representa um avanço considerável no estudo de do-enças neurodegenerativas, oncológicas e reumáticas. Neste local, sangue, plas-ma, urina, liquido cefalorraquidiano, osso e outros tipos de tecidos humanos são criopreservados por uma equipa de clínicos de excelência. Esta informação
24FEDRA actual
3000
2500
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Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro
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389
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13111488
1697
2552
2905Epireuma
44%
GWAS13%
AR16%
MembranasSinoviais0.01%
Doenças movimento 4%
Osso 9%
Tumores 3%
Metastases Neuro 0.04%Biobanco AVC
1%
EASN 2%Neurotumores 2%
Líquidos Sinoviais 6%
Evolução do n.º de dadores do sistema de informação do Biobanco-IMM
Tipo de amostras
© F
otos
: Joã
o Va
sco
é posteriormente guardada numa estru-tura informática específica que permite a segurança contra qualquer utilização indevida. Os pedidos de utilização de amostras efectuados ao Biobanco pelos cientistas e/ou instituições mundiais são avaliados, no que respeita ao inte-resse do projecto de investigação, e têm
de ter aprovação da comissão de ética e de uma comissão científica.
O Biobanco-IMM está integrado na rede europeia de biobancos, tendo neste momento já assegurada “uma associação com a rede nacional de bancos de tu-mores, um projecto de desenvolvimento de uma colecção de tumores do sistema
nervoso central, uma coleção relaciona-da com doenças neurológicas que inclui Alzheimer e Parkinson, e outra colecção com doenças reumáticas, com destaque para Osteoporose ou Artrite reumatói-de”, remata João Eurico Fonseca.
A existência de várias amostras do mesmo dador, amostras de dadores sau-
Em banco encontram-se preservadas 23739 amostras biológicas
Dados recolhidos até Setembro de 2012
Fonte: www.biobanco.pt; outubro
25FEDRANovembro 2012
dáveis e doentes e a disponibilização de informação clínica dos dadores (sob sigi-lo), representarão um importante recur-so para a identificação de novos testes de diagnóstico e de prognóstico, bem como de fármacos inovadores.
Neste momento, o Biobanco-IMM possui 20.907 amostras biológicas de 2.905 doentes, divididas em 13 tipos diferentes, sendo as colecções relati-vas tumores e tumores do sistema ner-voso central, as mais importantes. “Do ponto de vista de número e de impac-
Doar no BiobancoCaso queira contribuir para o avanço
da Ciência e fazer parte da lista de dadores
deste banco basta dirigir-se ao edifício Egas
Moniz, da Faculdade de Medicina da Univer-
sidade de Lisboa, onde a equipa do Biobanco
lhe prestará todos os esclarecimentos que
necessitar, podendo proceder de imediato
à recolha da amostra. Poderá ainda autori-
zar que os desperdícios de uma biopsia ou
cirurgia a que seja sujeito sejam recolhidos
e armazenados no Biobanco-IMM, devendo
para tal falar com o seu médico assistente.
Recordamos que a informação clínica reco-
lhida no momento da colheita da amostra é
essencial à sua utilização futura para fins de
investigação, mas será codificada e nunca se
associará à identidade do dador. O Biobanco-
-IMM garante rigoroso sigilo relativamente a
todos os dados pessoais recolhidos.
A descoberta da origem de diversas doenças
e os eventuais
novos fármacos
dependem agora
apenas da sua cola-
boração. Contribua
para a melhoria da
saúde humana!
Seguindo os objectivos da Federação a que preside, Paula Brito e Costa, Presidente da FEDRA, fez questão de doar o seu sangue para o Biobanco-IMM. A recolha foi efectuada pelo director deste serviço, Professor Eurico da Fonseca, um exemplo a seguir
26FEDRA actual
Saiba mais em www.biobanco.pt
25000
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0
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro
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2056
55007544
945511430
13188
16615
20907
Soro56%
Líquidos Sinoviais 4%
Tecidos 2% Sangue22%
Osso 1%
Pó de osso 2%
DNA11%
Paxgene 1%
RNA 1%MembranasSinoviais0.0002% Células
0.005%
Para�nas0.0006%
Proteínas 0.004%
Evolução das amostras
Colecçãode amostras
© F
otos
: Joã
o Va
sco
to dentro da disponibilidade de amos-tras do nosso biobanco, a área onde há maior desenvolvimento é, sem dúvida, na reumatologia, onde existem muitas amostras de DNA ou de osso” afiança o responsável pelo Biobanco-IMM.
João Eurico Fonseca que orienta e su-pervisiona o funcionamento e coordena
as comissões científica e técnica do Bio-banco-IMM, conta com a colaboração da bióloga Joana Caetano Lopes na gestão de projetos e com o apoio técnico da bio-química Ângela Afonso, responsável pela recolha, processamento, armazenamento e controlo de qualidade das amostras bio-lógicas e pela gestão da base de dados.
O Biobanco-IMM conta ainda com um consultor técnico para a área de tu-mores, o biólogo Ricardo Pires, responsá-vel pelo aconselhamento na recolha, pro-cessamento, armazenamento e controlo de qualidade das amostras tumorais.
O Biobanco-IMM tem já registados 3131 dadores
Dados recolhidos até Setembro de 2012
Fonte: www.biobanco.pt; outubro
27FEDRANovembro 2012
Relatório de Contas 2011A FEDRA sempre se pautou pela transparência na gestão dos seus recursos. Por isso mesmo, procede-se agora à publicação da demonstração de resultados, decorrentes do exercício das actividades desta Federação, durante o ano transacto.
28FEDRA federação
Registo IPSSDe acordo com os objectivos constitutivos da Federação das Doenças Raras de Portugal a Segurança Social reconheceu, oficialmente, a FEDRA como Instituição Particular de Solidariedade Social.
IPSS – instituição, constituída sem finalidade lucrativa, por iniciativa de particulares, com o propósito de dar expressão organizada ao dever moral de solidariedade e de justiça entre os indivíduos.
29FEDRANovembro 2012
CGC Genetics20 anos ao serviço do doente
É um dos mais importantes laboratórios portugueses de testes de genética médica. Com uma equipa de cinquenta geneticistas, altamente qualificados, e usando tecnologias de ponta, o Centro de Genética Clínica (CGC) é uma hoje uma referência em todo o mundo
30FEDRA diagnósticos
Fundado em 1983 por Purificação Tava-res, o CGC teve a sua expansão labora-torial em 1992, como complemento da
consulta de genética médica, com o labora-tório de Citogenética, tornando-se o primeiro laboratório privado de genética médica em Portugal. Em Junho deste ano, o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, reconhe-ceu a excelência do trabalho desenvolvido por este laboratório, atribuindo a Purificação Ta-vares o Grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito Industrial. A distinção internacional surgiu também este ano quando a CEO des-te laboratório foi um dos rostos da Secrets of Success, uma publicação da Comissão Euro-peia que revela os principais empresários eu-ropeus de sucesso.
A excelência é a sua marca: foi o primeiro laboratório a efectuar em Portugal um Progra-ma de Rastreio Pré-Natal, em 1992, o primei-ro a ter uma área de Patologia Fetal, em 1996, o primeiro a obter Certificação de Qualidade ISO 9001, em 2004, o primeiro a ser uma refe-rência em síndrome de Alström e outras doen-ças raras, em 2004, e o primeiro na Península Ibérica a efectuar o teste molecular de rastreio de cancro de cólon em sangue, em 2010. Com instalações no Porto, em Lisboa, Espanha e EUA o CGC tem como missão dotar a comu-nidade médica das mais avançadas formas de diagnóstico na área da genética médica, com enfoque na prevenção, através do diagnóstico precoce, e na valorização económica do co-nhecimento, no âmbito da inovação.
Com cinco áreas laboratoriais que dispo-nibilizam mais de 1500 testes diferentes, a interdisciplinaridade dos laboratórios CGC e do seu departamento clínico permite-lhe pres-tar serviços nas áreas de pediatria, obstetrícia, ginecologia, hematologia, oncologia, cardio-logia, endocrinologia, gastrenterologia, pneu-mologia, nefrologia, neurologia e oftalmologia, entre muitas outras especialidades.
O estudo cromossómico em array é uma O CGC possui 5 áreas laboratoriais
que disponibilizam mais de 1500 testes diferentes
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das últimas inovações do CGC. Trata-se de uma técnica de altís-sima resolução e que proporcio-na uma abordagem completa ao genoma. A solução proposta tem uma elevada resolução analítica e integra ainda uma interpre-tação clínica robusta, realizada por médicos geneticistas, com possibilidade de observação do doente em consulta de genética médica. Esta convergência de recursos cumpre os mais com-pletos programas europeus de qualidade, correspondendo ao gold standard na área da genéti-ca médica. Recentemente, o CGC desenvolveu também um protocolo que lhe permite optimizar as taxas de de-tecção de Trissomia 21 e concluir o diagnóstico Pré-Natal às 14 semanas de gravidez, quando solicitado. O rastreio do 1.º trimestre, actualmente aceite como o melhor meio de rastreio Pré-Natal de Trissomia 21, combina valores de parâmetros bioquímicos (free BhCG e PAPP-A) com parâmetros ecográficos (translucência da nuca e ossos próprios do nariz). Estes testes de elevado grau de eficiência, permitem a detecção precoce de muitas doenças raras que, de outro modo, seriam diag-nosticadas tardiamente. “Hoje em dia é possível de modo rápi-do e com grande sensibilidade excluir anomalias graves. Um diagnóstico pré-natal completo deveria incluir, no cenário actu-al de disponibilidade tecnológi-ca e de conhecimento, o estudo dos cromossomas, o Prénatal+, a pesquisa das doenças genéti-cas (não cromossómicas) mais frequentes na nossa população, como a Fibrose Quística e a sín-drome X-Frágil e, por último, um painel de doenças metabó-licas graves”, refere Purificação Tavares. Para a especialista em genética, e apesar da conjuntu-ra actual do país, os testes gené-ticos deveriam ser obrigatórios, uma vez que possibilitam, a
médio prazo, poupar em cus-tos na saúde. Para Purificação Tavares é absolutamente ina-creditável que, sendo o Esta-do o principal cliente do la-boratório e também principal devedor, continuem a serem enviados e realizados no es-trangeiro, nomeadamente em Espanha, muitos dos testes genéticos portugueses. “Se te-mos essa capacidade instalada aqui e os nossos testes são efi-cientes e rápidos, não percebo porque se enviam para o exte-rior, não dando trabalho aos
profissionais no nosso país. Há que comprar português também na saúde!” alerta a geneticista.
O desenvolvimento da área da farmacogenética é uma das últimas apostas deste laboratório de excelência. Através da farmacogenética, os genes que influenciam a actividade, o metabolismo e o transporte de um fármaco são testados para identificar polimorfismos genéticos que originam va-riabilidade do efeito. Além disso, o estudo farmacogenético
do indivíduo permite a dosagem mais correcta do fármaco, tor-nando as terapêuticas mais efica-zes e seguras, prevenindo a ocor-rência de efeitos secundários e reduzindo os custos em saúde.
Por ultimo, Purificação Tava-res refere ainda a importância
do Prénatal+, também realizado neste laborató-rio de excelência, e que permite “a pesquisa de rearranjos não visíveis ao microscópio, detectan-do alterações de tama-nho muito reduzido em regiões que se sabe que estão associadas a atraso
mental, como por exemplo as extremidades dos cromossomas (conhecidas por telómeros) e síndromes conhecidas associa-das a microdelecções, como por exemplo a síndrome de DiGeor-ge ou a síndrome de Williams”, concluí.
O CGC é o único prestador de diagnóstico molecular
para a síndrome de Fraser
A CE destacou o CGC como uma empresa de referência mundial a nível de gestão e organização
32FEDRA diagnósticos
O CGC Genetics assume-se como um player no mercado mundial. Mais de 30% das análises genéticas efectuadas têm proveniência internacional, fruto das parcerias com 28 países desde a América Latina ao Extremo Oriente
“O mercado internacional paga bem enquanto que aqui estamos a financiar o Estado”
Em 2011 o CGC elaborou 56 000 testes genéticos
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maligno que mais afecta as mulheres, registando em Portugal 4 mortes por dia. Anualmente, 1 milhão de casos são detectados em todo o mundo, estiman-do-se a morte de 400 mil mulheres.
Recentemente, celebrou-se o Dia Mundial da Luta Contra o Cancro da Mama. Nos EUA, a data foi assinalada com uma série de campanhas, a mais curiosa criada pelo site http://coedma-gazine.com, numa parceria com a Susan
Chama-se First Warning Systems e trata-se de um soutien de design desportivo que detecta qualquer anomalia que os seios possam apresentar, através de sensores coloridos e codificados, que monitorizam a temperatura dos tecidos.
“O sistema é capaz de identificar anomalias não só nos seus estadios iniciais, mas também a localização geral de anormali-dades, examinadas em três dimensões”, revela a empresa de biotecnologia Lifeli-ne, responsável pelo projecto.
Este soutien foi já testado em 650 mulheres e obteve diagnósticos com 90% de precisão. A disponibilização deste soutien revolucionário está pre-vista para 2013, no mercado europeu, onde se encontrará à venda apenas em consultórios médicos.
O cancro da mama é o tumor
404337
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Rua Fonseca Benevides, lote 29Casalinho da Ajuda1300-253 - Lisboa
tlf.: +351 213 623 [email protected]
Soutien detecta cancroG. Komen for the Cure Foundation, que
lançou uma compilação online dos 60 melhores seios naturais do país de onde se destacam nomes como Eva Mendes, Anne Hathaway, Jessica Alba, Rihanna, Beyoncé e Irina Shayk, entre muitas outras.
Por cá, este dia foi marcado pela participação activa da ex--basquetebolista Ticha Penicheiro
que participou numa caminhada de 5 quilómetros, com vista a assina-
lar esta data tão importante, em especial para as mulheres.
Portugal registou em 2010
casos de co-infeção por tuberculose
O número de pessoas infectadas por Dengue na Madeira ascende já a 2398
34FEDRA última hora
camas de hospital por100 mil habitantes, em Portugal. Quase metade da média da UE…
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