resumo fiori brics

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1.1 – teoria clássica do desenvolvimento Petty desenvolve uma teoria economica que dá importancia central ao papel do Estado e das guerras no funcionamento das sociedades. Parte da definição dos principais encargos públicos e propoe uma estratégia economica de multiplicação dos recursos necessarios para o cumprimento dessas funçoes. Para Petty, a 1a obrigação do Estado é a defesa por terra e mar da sua paz interna e externa, como também uma ação mais enérgica em relação as ofensas de outros Estados. Define que a forma mais eficaz de obter recursos indispensaveis é por meio de tributos, mas isso depende do aumento da produtividade e do excedente economico nacional. Esse segundo conceito rompe com o pensamento mercantilista. Petty profetizou o sucesso do Estado ingles, mas para Fiori ele não previu que este sucesso viria acompanhado de duas características: potencia agressiva como instrumento de acumulação de riqueza. Petty propunha, entretanto, uma preocupação com o poder defensivo e não agressivo, para preservação do território e não sua expansão. No caso da Inglaterra e dos EUA foi a agressão e não a defesa que permitiu o desenvolvimento, fato já previsto por Hobbes no Leviatã. Os dois países transformaram sua divida publica num instrumento de poder e ao mesmo tempo num mecanismo de acumulação de riqueza. 1.2 – Portugal O sistema interestatal capitalista nasceu na Europa entre 1150 e 1450, de um conflito entre feudos e centros imperiais de poder que permitiu a transformação de suas economias naturais em economias capitalistas poderosas.

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Resumo sobre como se desenvolveu o sistema interestatal capitalista, a Ásia, o Brasil e a China

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Page 1: Resumo Fiori Brics

1.1 – teoria clássica do desenvolvimento

Petty desenvolve uma teoria economica que dá importancia central ao papel do Estado e das guerras no funcionamento das sociedades. Parte da definição dos principais encargos públicos e propoe uma estratégia economica de multiplicação dos recursos necessarios para o cumprimento dessas funçoes.

Para Petty, a 1a obrigação do Estado é a defesa por terra e mar da sua paz interna e externa, como também uma ação mais enérgica em relação as ofensas de outros Estados. Define que a forma mais eficaz de obter recursos indispensaveis é por meio de tributos, mas isso depende do aumento da produtividade e do excedente economico nacional. Esse segundo conceito rompe com o pensamento mercantilista.

Petty profetizou o sucesso do Estado ingles, mas para Fiori ele não previu que este sucesso viria acompanhado de duas características: potencia agressiva como instrumento de acumulação de riqueza. Petty propunha, entretanto, uma preocupação com o poder defensivo e não agressivo, para preservação do território e não sua expansão.

No caso da Inglaterra e dos EUA foi a agressão e não a defesa que permitiu o desenvolvimento, fato já previsto por Hobbes no Leviatã. Os dois países transformaram sua divida publica num instrumento de poder e ao mesmo tempo num mecanismo de acumulação de riqueza.

1.2 – Portugal

O sistema interestatal capitalista nasceu na Europa entre 1150 e 1450, de um conflito entre feudos e centros imperiais de poder que permitiu a transformação de suas economias naturais em economias capitalistas poderosas.

Portugal nasce dentro de um sistema competitive. Suas fronteiras, unidade politica e identidade nacional foram construidas por duas grandes guerras, que se prolongaram num movimento de expansão para fora, em direção à Asia, Africa e América. Essa expansão teve, a longo prazo, um papel decisive na criação e expansão de uma economia de Mercado e de um capitalism nacional.

1.3 ESPANHA

A Espanha também teve um papel decisivo na formação do sistema interestatal europeu. Esse império foi construido a partir de suas guerras de conquista com os vizinhos portugueses e com os invasores mouros. Mas mesmo depois da

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unificação, seguiram em estado de Guerra permanente com outros países a fim de expandir e obter uma monarquia universal europeia.

1.4 França

Foi durante a Guerra dos Cem Anos que a França forjou sua identidade nacional e unidade, criando as condições para que a monarquia de Luis XI acelerasse o processo de centralização do poder que formou o Estado nacional francês.

Com o sucesso da França nas guerras até a derrota de Bonaparte em Waterloo, os países da Santa Aliança (Conferencia de Viena) conseguiram montar um muro de contenção contra a França dentro da Europa, mas não na África e na Asia.

Liderou o processo de formação da Uniao Europeia, mantendo também uma posição de xerife occidental na África Negra e no Mundo Arabe.

Entre a Guerra dos Trinta Anos e a dos Sete anos a França alcançou a maior glória e exerceu sua hegemonia política, militar e cultural dentro da Europa. Se transformou num Estado nacional modern, contribuindo para o desenvolvimento da teoria mercantilista, com sua defesa da intervenção estatal na economia sempre que fosse com o objetivo de fortalecer o poder da nação francesa.

Colbert: luta pelo desenvolvimento economico e pela industrialização era uma luta para expandir o poder do Estado francês. Isso semeou as raizes do futuro capitalismo de Estado Francês.

1.5 Holanda

Só depois de 1590 a Holanda deixou de ser apenas um dos entrepostos mercantis do Imperio Espanhol para se transformar numa economia capitalista dos grandes lucros extraordinarios e do comercio de alto valor agregado.

A fronteira da economia nacional Holandesa foi criada pelo cerco dos espanhois. Foi a luta revolucionária e a centralização do poder que deram o primeiro impulso ao milagre economico da Holanda.

1.6 Inglaterra

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O desenvolvimento ingles foi ligado à expansão do poder internacional, que foi importante para o aumento da produtividade e do excedente da economia inglesa

Nesse cenário a Guerra e a preparação para a Guerra ocupam um lugar importante no desenho estratégico do desenvolvimento do Estado e dos capitais ingleses. O expansionismo ingles nunca foi liderado pela industria ou pela burguesia, mas sim pelas elites ligadas à terra, às armas e às finanças.

A finança, a divida publica e a imposição progressiva da libra como moeda do territorio economico supranacional da Inglaterra foram os principais instrumentos de poder responsaveis pelo sucesso ingles.

O modelo de desenvolvimento economico ingles foi sempre expansive e agressivo, constituido a sombra da projeção do poder do Estado dentro e fora da Inglaterra, segundo a estratégia proposta pela economia politica classica de Petty.

1.7 – EUA

Nasceu e se formou durante a Revoluçao Industrial inglesa que transformou os EUA na periferia primário-exportadora da economia industrial inglesa.

Os EUA foram governados por uma elite coesa e mantiveram um ritmo de expansão politica e territorial continua por meio da Guerra, da diplomacia e do comercio.

1.8 – Capitalismo Feliz

Nem todos os países com altos niveis de desenvolvimento, riqueza e qualidade de vida tiveram alta propensao nacional expansiva ou imperialista. Trata-se do Canadá, Australia, Nova Zelandia e os países nórdicos, que foram expansivos de inicio, mas que rapidamente se submeteram à hierarquia de poder europeia.

São paises pequenos, com excelente dotação de recursos e se especializaram em serviços ou setores industriais de alta tecnologia. Em alguns casos, dentro da industria militar.

1.9 – Nacionalismo e desenvolvimento economico: Alemanha

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O nacionalismo pode ser entendido como um projeto politico de construção ou fortalecimento dos Estados nacionais que nasceram – dentro e fora do continente europeu – a partir das independencias americanas. Na segunda metade do seculo XIX adquiriu face e formulação explicitamente economicas e se transformou num instrumento de luta dos países atrasados contra o status quo.

Depois do século XVI o desenvolvimento economico se baseou em politicas mercantilistas de defesa das economias dos Estados (nacionalismo economico primitivo).

Entretanto, foi só na Alemanha, no seculo XIX, que se formulou uma teoria e uma estrategia nacionalista consistente de desenvolvimento economico, a partir de objetivos geopoliticos explicitos.

List: criticava a economia politica classica por condenar as naçoes menos desenvolvidas a rolar eternamente no atraso porque havia excluido a politica da ciencia economica, ignorado a existencia de nacionalidade e desconhecido os efeitos da Guerra sobre o comercio entre as naçoes.

Essas ideias contribuiram para o desenho de uma estrategia de desenvolvimento e industrialização da alemanha, combinada com uma visao cultural e um projeto geopolitico de unificação e expansao do poder, em direta competiçao com a inglaterra.

Mesmo após a sua unificação, a Alemanha sempre se sentiu cercada e pressionada, carregando um atraso politico e economico profundo em relaçao às outras potencias do sistema interestatal. Nesse contexto de atraso, cerco e ressentimento nacional que aparece a permanente preocupação defensiva-expansionista da Alemanha.

1.10 – Nacionalismo e Desenvolvimento economico II – Russia e Japao

Russia e Japao sao paises que sempre tiveram forte sentimento nacional de cerco, vulnerabilidade e atraso com relação as outras potencias ocidentais que lideraram a formação do sistema interestatal capitalista. Esse sentimento de insegurança coletiva teve papel decisive na formulação do projeto e na trajetoria nacionalista e militarizada de seus desenvolvimentos economicos. Russia: Reconquista e expansão defensive em direção a Asia e ao Baltico e da Europa Central. Seu desenvolvimento economico esteve a serviço de

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uma estrategia militar de expansao defensive de fronteiras cada vez mais extensas e vulneraveis.

Japao: o desenvolvimento e industrialização obedeceram a objetivos estrategicos e geopoliticos.

Alemanha, Russia e Japao compartilharam desse sentimento de cerco e vulnerabilidade e responderam a essa situação com uma estratégia nacionalista de mobilização de recursos e desenvolvimento economico.

O que nenhum desses paises conseguiu foi alcançar uma posiçao de centralidade monetaria e financeira internacional, tampouco a universalizaçao de seus ideais e valores.

O imperialism dos grandes sempre teve uma caracteristica mais liberal e pelo Mercado, apesar de seu continuado militarismo. O expansionismo dos nacionalistas sempre teve uma face mais militar e agressiva.

1.11 – Guerra Fria

A logica da Guerra Fria pesou decisivamente para a origem dos milagres economicos da Alemanha, Italia, Japao, Coreia e Brasil no sentido de transformar esses paises em peças centrais na engrenagem economica do poder global dos EUA, pelo menos até 1970.

Com a crise de 70 esse processo se interrompeu, devido a nova mudança da politica internacional dos EUA. Os EUA se reaproximaram da China, saindo do Vietnã e redesenhando o equilibrio do poder no sudeste asiatico. Liberaram sua moeda, o que iniciou a desregulaçao do seu Mercado financeiro com lenta reorganização do sistema monetario internacional, baseado no dolar. Isso permitiu o cerco e a desconstrução da URSS e o fim da Guerra Fria, porem esvaziou o papel economico ocupado por Alemanha, Japao e Brasil.

Com isso, a China obteve a categoria de novo milagre economico do sistema capitalista mundial. Alemanha e Japao continuavam como gigantes industriais e teconologicos, mas ainda como protetorado dos EUA, além de serem dependentes do ponto de vista alimentar e energetico.

No seculo XXI Obama se propoe a fazer um cerco economico em militar da China. Nesse sentido, Japao e Coreia estao sendo pressionados a participar do TPP, que pretende reunir os dois lados do pacifico numa grande zona de livre comercio, ao mesmo tempo que a Alemanha vem

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sendo estimulada a liderar um grande pacto comercial transatlantico entre a UE e EUA.

O Brasil é muito menos desenvolvido do que a Alemanha e o Japao, mas é autosuficiente energeticamente e alimentarmente. Por isso, pode ter condiçoes reais de escolher um caminho que lhe dê maior grau de autonomia estrategica e maior capacidade de projetar seus interesses e sua influencia numa escala global.

1.12 – O Desenvolvimento Asiático

A maioria dos Estados nacionais asiáticos se constituiu na segunda metade do século XX, depois do fim do colonialismo europeu. No entanto, quase todos os novos Estados mantiveram suas fronteiras tradicionais e civilizatórias e sua relaçao milenar, dando origem, desde o inicio, a um sistema interestatal regional altamente competitivo.

Em comparação à Europa, a estratégia econômica desses países tiveram mais proximas do mercantilismo de Petty do que da economia politica de Smith ou Marx. Além disso, muito mais próximos do Nacionalismo economico de List do que do liberalismo de Keynes. A prioridade desses países foi sempre a construção do Estado e a defesa da unidade territorial de sua sociedade.

Em nada se pode relacionar o sucesso asiático ao desenvolvimentismo latino. Suas politicas industriais, comerciais e macroeconomicas estiveram sempre a serviço de suas grandes estratégias social e nacional e de sua luta pela conquista ou reconquista da posição internacional autonoma e preeminente. Os asiaticos têm plena consciencia de que a mão invisivel do Estado por si só é incapaz de gerar seus proprios objetivos e muito menos definir os objetivos de uma naçao.

1.13 – Sobre o desenvolvimento Chines (I)

O grande salto capitalista da China começou no final da decada de 50, com a ruptura entre o comunismo chines e o soviético. A partir daí tensões fronteiriças com a Russa foram constantes, elevando o sentimento de ameaça e insegurança.

A forma definida para conter essa ameaça à segurança chinesa foi por meio de uma politica de defesa ativa e de uma estratégia politica-diplomática ofensiva de reaproximação com os EUA.

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Essa nova estratégia fortaleceu o Estado chines, que recuperou sua condição de guardiao moral da unidade e do interesse universal do territorio continental e da civilizaçao chinesa.

Após o fim da URSS a China se reaproximou da Russia e redefiniu seu mapa estratégico. Entretanto, o desenvolvimento da China deve estar sempre a serviço da sua politica de defesa. Dessa forma, a doutrina de Obama para contenção da China deve apenas reforçar e expandir a economia de Guerra do país, accelerando e aprofundando sua conquista do Oeste e sua integração com a Russia e com a Asia Central.

Para os chineses, o desenvolvimento capitalista é apenas um instrumento a mais de defesa da sua civilização milenar contra os sucessivos cercos e invasões.

1.13 – Sobre o desenvolvimento Chines II

Até a segunda metade do seculo XIX a China se desenvolveu fora do mundo eurocêntrico e só se transformou num Estado nacional depois de 1912 – e numa economia capitalista no final do século XX. É um Estado-civilização que não possui sociedade civil nem conhece o principio da soberania popular. Apesar disso, tem se mostrado altamente flexivel e inovador.

O que mantem o povo chines unido é a identificação com uma civilizaçao e uma historia cujas raizes remontam o ano 5000 a.c. Nunca teve nenhum tipo de religião oficial, nem dividiu seu poder imperial com instituiçoes religiosas, nobreza ou classe economica. O império chines foi gerido ao longo dos seculos por mandarinato meritocrático e homogeneo, que sempre se pautou na filosofia moral de Confucio (virtude e compromisso etico dos governantes com o interesse universal do povo e da civilização chinesa).

A filosofia confuciana nunca valorizou a participação do povo no governo e sempre teve uma visao elitista do Estado. Entretanto, sempre admitiu o direito de sublevaçao popular contra as autoridades que nao cumprissem suas obrigaçoes morais.

Aos olhos do ocidente esse modelo é autoritário e inflexível e direcionado ao fracasso. Porém, o Estado chines tem demonstrado capacidade de se autocorrigir e de se reinventar, sem apresentar necessidades de se transformar numa democracia aos moldes ocidentais. O modelo chines demonstra que existem alternativas ao modelo occidental, que seria apenas uma invenção europeia transformada em necessidade histórica.

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China se adaptará a Vestfália ou Vestfália terá que se adaptar a China?

A China também foi por muito tempo um Império expansivo e agressivo.

O sistema Vestfalia só funcionou na Europa, lugar onde foi inventado. Quando se expandiu para fora, nao foi igualitário nem respeitou a soberania dos povos conquistados e submetidos à condição de colonias, protetorados etc

Os países que pretendem mudar sua posição dentro da hierarquia internacional também mudam seu sistema de pesquisa e inovação, o que vem acontecendo com a China, que integrou seu setor academico com o setor publico e privado. O sistema de defesa da China ocupa um lugar central no seu sistema de inovação.

1.17 – Prototipo Argentino

A Argentina se transformou no prototipo do modelo primário-exportador incapaz de se industrializar e ficou a deriva apos a crise de 30. Sua idade de ouro foi entre 1870 e 1920.

Depois de 30, entretanto, seu crescimento se deu de forma cada vez mais instavel, por meio de ciclos cada vez mais curtos e intensos. Prebisch atribuiu essa inflexao às mudanças internacionais e à forma em que operava o novo centro ciclico da economia mundial, os EUA, somado a fragilidade das economias primario-exportadoras. Ortodoxos e neoliberais, entretanto, acreditam que a culpa dessa mudança foram as politicas populistas de Perón.

O Estado liberal argentino nasceu de uma Guerra civil que durou meio seculo e se consolidou por meio de uma estratégia expansiva de ocupação de novos territorios, financiada pelo sucesso de seu modelo primario-exportador. No fim dessa expansão se estalou a crise politica responsavel pela desorganização do Estado e polarização definitiva da sociedade.

O que faltou foi uma estrategia expansiva de longo prazo e um grupo capaz de transformar a economia argentina num instrument de sua propria acumulação de poder internacional.

1.18 – O desenvolvimentismo Brasileiro

O pensamento desenvolvimentista na America latina tem suas raízes na decada de 30, consolida-se em 50 e passa por uma autocritica em 60, perdendo seu vigor em 80.

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Nesse percurso é possivel identificar tres matrizes teoricas que influenciaram o papel do Estado no desenvolvimento economico e contribuiram para a legitimaçao de uma ideologia nacional-desenvolvimentista: 1) teoria Weberiana da modernização, Sua proposta de modernização supunha para uma idealização dos Estados e dos sistemas politicos europeu e norte-americanos; 2) teoria estruturalista do centro-periferia e do intercambio desigual (CEPAL). Defesa intransigente da industrialização, lembrando o nacionalismo eocnomico de List;

3) teoria marxista de revolução democratico-burguesa. Via no desenvolvimento e na industrialização o caminho necessário para o amadurecimento do modo de produção capitalista e da propria revolução socialista. Traduzia-se de forma mecanica as experiencias de outros paises, sem considerar a heterogeneidade da America Latina.

Essas 3 teorias consideravam que o desenvolvimento economico era um objetivo indiscutivel, capaz de constituir e unificar a nação. Propunham-se a construer economias nacionais e autonomas, sociedades modernas e democraticas. Consideravam a industrialização como caminho necessário e atribuiam ao Estado o papel estratégico de conduzir essa grande transformação.

Pode-se falar apenas de dois países desenvolvimentistas na America Latina: Mexico e Brasil.

No Brasil, a matriz teorica nao foi nenhuma das tres, mas sim a teoria de segurança nacional, formulada pelos militares, que teve papel central na construção e controle do Estado desenvolvimentista entre 1937-1985. Apontava a necessidade de desenvolvimento e industrialização com o objetivo prioritário da defesa nacional. Esse projeto militar teve grande sucesso economico, mas foi muito fragil do ponto de vista politico e social.

Propunham um projeto de desenvolvimento e expansão do poder nacional pautados a partir de um inimigo externo ideologico e longinquo (URSS), que nunca foi motivo de ameaça e que foi importao da geopolitica da Guerra Fria.

1.19 – Poder, Geopolitica e Desenvolvimento

Dentro do sistema interestatal capitalista europeu, que se impos dentro e fora da Europa, se expandindo e ampliando suas fronteiras, foram sendo criados e incorporados novos Estados e economias nacionais que

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compete e se hierarquizam dinamicamente, podendo ser classificados em tres grupos:

1) Estados que adotam estratégias de integração direta em relação as potencias lideres. Desenvolvimento a convite ou associado. Esses países têm acesso privilegiado aos mercados e aos capitais das grandes potencias, em troca da submissao de sua politica externa e estratégia militar global;

2) Países que questionam a hierarquia internacional e adotam estratégias de mudança do status quo, além de terem crescimento acelerado com o objetivo de mudar sua participação no sistema internacional, no poder e na riqueza. Podem ou não ter sucesso, como foi o caso dos EUA no seculo XX e o caso da China agora no seculo XXI.

3) Países do andar de baixo, periferia politica e economica do sistema. Sao estados que podem ser fortes e ter crescimento e industrias, porem nao tem condiçoes ou nao se propoem a desafiar a ordem estabelecida e aceitam sua posição subaltern, mantendo-se como fornecedores de commodities, como é o caso do Chile, Colombia e Peru, entre muitos outros.

No grupo das potencias “ganhadoras” também há hierarquização.

1) Todos enfrentaram invasoes externas, guerras civis e rebelioes sociais que contribuiram para o fortalecimento de suas identidades nacionais e para a mobilização de suas sociedades em torno de grandes projetos de defesa e de projeção internacional. Esses países compartilham de um sentimento de cerco e ameaça externa, o que explica a submissão de seus sistemas de defesa na definição de politicas de desenvolvimento e industrializaçao.

2) Todos Estados desrespeitaram as regras e instituiçoes de Mercado que devem ser obedecidas pelos que estao abaixo no sistema. Quem liderou a expansao do capitalism foram os Estados que souberam navegar com sucesso na contramao das leis de Mercado.

Alguns Estados podem modificar sua posiçao relativa dentro desse sistema, dependendo do seu territorio, dos seus recursos e da sua coesao social – e também da existencia de uma elite politica capaz de assumir as grandes pressoes sociais e o aumento dos desafios e provocaçoes externas, como sinal de amadurecimento para estar preparado para sustentar uma estratégia de longo prazo, de questionamento do status quo internacional e de desenvolvimento com mobilidade social generalizada.

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O que eu achei interessante do texto é que ele primeiro trata de abordar como nasceu o sistema interestatal capitalista, na Europa. Apesar de cada Estado ter suas peculiaridades e intelectuais que influenciaram seus processos de formação, todos tiveram o ímpeto expansivo e agressivo e viveram sob estado de cerco. Alemanha com uma estratégia nacionalista influenciada por List, Inglaterra influenciada por Petty, mas que seguiu um conceito de expansão mais hobbesiano e de não conformismo.

É notável também a participação de outros países com sistemas capitalistas e desenvolvimento avançado que não se utilizaram da agressão e expansão e adotaram uma lógica de integração direta em relação aos grandes, o que fiori chama de Desenvolvimento a convite ou associado. Esses países têm acesso privilegiado aos mercados e aos capitais das grandes potencias, em troca da submissao de sua politica externa e estratégia militar global. São paises pequenos, com excelente dotação de recursos e se especializaram em serviços ou setores industriais de alta tecnologia. Em alguns casos, dentro da industria militar.

É interessante notar também os milagres economicos da Guerra Fria em alguns países, como Alemanha, Italia, Japao, Coreia e Brasil no sentido de transformar esses paises em peças centrais na engrenagem economica do poder global dos EUA, pelo menos até 1970 (olhar parte da Guerra fria). Surgimento da China como novo milagre economico a partir da crise dos EUA de 70, que fez com que os EUA mudassem sua estratégia e politica internacional, cerco da URSS e fim da mesma.

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