relatorio participaçao orixa world
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Relatoria da participaçao de Elizabeth Firmino Pereira, como palestrante, no IX Orixá World, realizado na UERJ, no Rio de Janeiro, Brasil, em agosto de 2005.TRANSCRIPT
RELATÓRIO DE PARTICIPAÇÃO EM EVENTO CIENTÍFICO
Evento: Orisá World Rio 2005: IX Congresso Mundial de Tradição e Cultura Iorubá.
Local: UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro – RJ.
Período: 01 a 06 de agosto de 2005.
O congresso foi promovido pelo Programa de Estudos e Debates dos Povos
Africanos e Afro-Americanos (PROAFRO), vinculado ao Centro de Ciências Sociais da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em parceria com a Fundação Orisá World,
presidida pelo Prof. PhD Wande Abimbolá (Universidade de Boston - USA). Participei na
condição de palestrante, apresentando o trabalho Ritual e arte: um olhar sobre os
elementos formais cênicos presentes nas liturgias afro-brasileiras, orientado pelo Prof. Dr.
Reynuncio Napoleão de Lima, do Departamento de Artes Cênicas, Educação e
Fundamentos da Comunicação (DACEFC), Instituto de Artes UNESP, São Paulo e co-
orientado pelo Prof. Dr. Sikiru Salami, diretor do Centro Cultural Oduduwa, São Paulo;
pesquisa desenvolvida com bolsa de Iniciação Científica FAPESP durante o ano de 2003.
Integrei o Painel – O igual diferente: representando os Orixás na arte contemporânea e na
diáspora africana/ Different same: representing the Orisa in contemporary african
diáspora art, coordenado pelo Prof. PhD Babatundé Lawal, professor do Department of Art
History, School of the Arts, Virginia Commonwealth University – USA. Também
participou do Painel, o Prof. PhD Patrick Bellegarde Smith, professor of Africology,
University of Winsconsin, USA.
Ter o trabalho selecionado e participar deste painel, em companhia de tão ilustres
palestrantes, já é uma grande honra e um privilégio em si! Além disso, os temas eram
relacionados e os trabalhos voltados à pesquisa em artes. O primeiro a apresentar foi o Prof.
Babatundé Lawal que mostrou uma série de imagens com representações dos Orixás dentro
das tradições religiosas de origem iorubá, de várias partes do mundo, comparando com
obras de arte contemporânea em museus e em centros urbanos. Foram apresentadas obras
de artistas como Pablo Picasso, que reproduz em alguns trabalhos elementos formais
ritualísticos iorubás; das obras públicas destaca-se a fachada do Metro de Nova York, com
painel representativo de símbolos do Orixá Xangô (machado de duas lâminas) O
pesquisador mostrou obras de artistas de várias partes do mundo, do Brasil apresentou obra
de Ruben Valentin, entre outros.
O Prof. Patrick Bellegarde Smith é profundo conhecedor dos cultos haitianos, falou
sobre o vodu e as suas representações visuais, os vevès. Todo o sistema religioso do vodu
haitiano é baseado nas representações visuais das suas várias divindades, chamados de
Vodun ou Loa, termo de origem étnica e lingüística fon (oriundo do antigo Dahomé, hoje
Benin) equivalente ao Orixá ioruba. O conjunto dessas representações são carregados de
significados místicos, simbólicos e estéticos; são invocações e assumem um caráter épico,
por contar histórias relativas àquele Loa e sua afinidade com os elementos da natureza e os
mistérios da vida e da morte. Assumem uma forma cotidiana, por serem de conhecimento
geral das famílias ligadas aos cultos; são representações que remetem a arquétipos
universais e englobam elementos da cultura européia, a língua francesa e da religião
católica. O pesquisador destaca que esses elementos estéticos também aparecem em obras
de artistas contemporâneos e estão presentes na bandeira do Haiti, que ele exibiu durante a
realização da palestra.
Meu trabalho foi o segundo a ser apresentado e foi muito bem aceito pelos
presentes, o que também merece nota, pois a platéia era composta em sua maioria por
representantes da cultura ioruba. Quase todos falam inglês e ouviram com atenção a
tradução simultânea da minha comunicação, feita em português. Estavam entre os presentes
Prof. PhD (Chief/Babalaô – sacerdote do culto de Ifá) Wande Abimbola, professor da
Universidade de Boston - USA, presidente do Orixá World e Embaixador e Porta-voz
Mundial do Culto de Ifá e da Religião Ioruba, Prof. PhD (Chief/Babalaô – sacerdote do
culto de Ifá) Omotoso Eluyemi, diretor do Museu Nacional da Nigéria e Secretário Geral
do Orisa World; Chief/Babalaô Abbey, diretor do The Institute of African Art and Culture
de Oakland, CA; Chief/ Babalaô Adeyela Adelekan e Chief Yeyelodo Osum Ilê Ifé, altos
sacerdotes do culto aos Orixás e a Ifá da cidade de Ilê Ifé, Nigéria, dedicam-se ao culto e ao
ensino das tradições e da cultura ioruba, em várias universidades do mundo, ministrando
palestras, cursos e workshops. Como meu trabalho trafega entre o ritual e a arte,
aproximando e comparando conceitos distintos, é de suma importância a opinião de
sacerdotes do culto, especialmente se detém também o conhecimento acadêmico e
dominam a linguagem ocidental. Por seus conhecimentos e sua sabedoria, estas pessoas são
consideradas Notáveis dentro da cultura ioruba, é um grande privilégio ter um trabalho
apresentado a eles, tanto pelo nível de conhecimento tradicional ioruba, como por seu
conhecimento acadêmico. O interesse foi bastante positivo e se traduziu na atenção em
ouvir a tradução simultânea, em colocar questões, em solicitação de cópia do paper
apresentado e em elogios ao trabalho. Chief Adelekan foi o primeiro a se manifestar, fez
algumas perguntas sobre o meu trabalho e afirmou estar muito feliz com os trabalhos que
foram apresentados, por estarem estabelecendo novas relações da cultura ioruba com o
mundo contemporâneo; ele também afirmou que está acostumado a receber artistas e
pesquisadores. Essa colocação ganha relevo por se tratar de um sacerdote, demonstra
interesse e abertura; por outro lado evidencia uma relação de respeito mútuo entre o
pesquisador e o campo pesquisado. No meu caso, considero um sinal extremamente
favorável, por evidenciar a aceitação do trabalho por aqueles que foram os meus ‘objetos de
pesquisa’, significa um retorno do que foi trabalhado e a garantia de estar contribuindo
positivamente para a valorização da cultura e da tradição ioruba, um dos meus objetivos
mais importantes. Também havia pesquisadores brasileiros e argentinos, que fizeram
também observações positivas ao trabalho e perguntas sobre a metodologia.
Participar do IX Orisa World foi uma oportunidade única, no sentido de sinalização
de todo o desenvolvimento do meu trabalho até aqui e dos caminhos que ainda posso
trilhar. Agradeço à UNESP pelo Auxílio Aprimoramento concedido, especialmente pelo
reconhecimento do mérito acadêmico que representa.
Atenciosamente,
Elizabeth Firmino Pereira