[recensão a] andrew shenton (ed.), messiaen the theologian

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A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. [Recensão a] ANDREW SHENTON (ed.), Messiaen the Theologian Autor(es): Carvalho, Mário Santiago de Publicado por: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Filosóficos URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/29619 DOI: DOI:http://dx.doi.org/10.14195/0872-0851_39_14 Accessed : 17-Jun-2022 08:36:22 digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

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A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis,

UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e

Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos.

Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de

acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s)

documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença.

Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s)

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respetivo autor ou editor da obra.

Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito

de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste

documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por

este aviso.

[Recensão a] ANDREW SHENTON (ed.), Messiaen the Theologian

Autor(es): Carvalho, Mário Santiago de

Publicado por: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de EstudosFilosóficos

URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/29619

DOI: DOI:http://dx.doi.org/10.14195/0872-0851_39_14

Accessed : 17-Jun-2022 08:36:22

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pp. 283-296Revista Filosófi ca de Coimbra — n.o 39 (2011)

ANDREW SHENTON (ed.), Messiaen the Theologian, Surrey – Burlington: Ashgate, 2010, 290pp.

Um livro colectivo sobre talvez, juntamente com Arvo Part, o mais importante compositor do século XX, Olivier Messiaen (1908-1992), publicado por quem em 2009 recebeu o Miller Book Award pela monografi a Olivier Messiaen’s System of Signs, Andrew Shenton, não podia deixar de ser um acontecimento surpreendente. A surpresa advém do próprio tema, já que os amantes de música talvez não estivessem à espera de uma abordagem acerca da teologia do músico e da obra musical de Messiaen. Não porque não fossem a teologia e a religião assuntos importantes para o compositor francês – mas quem o ignora? – outrossim porque raramente um musicólogo inspecciona a dimensão não musical de um músico. A. Shenton fê-lo numa edição meritória, cuidada e digna recorrendo a doze colegas e especialistas que nos ajudam a ouvir a obra do compositor de Saint François d’Assise (1988), esta ópera que é “a súmula mais gloriosa de todos os estilos” (P. Griffi ths), num horizonte alargadíssimo. O projecto remonta a um conferência BUMP (Boston University Messiaen Project) 2007. Bastaria, para captarmos tal horizonte, reproduzir os temas abordados nesta obra. Dividida em quatro partes – o teólogo, a relação com os teólogos, os temas poéticos e teológicos, a teologia na sua música – além do editor do volume que tratou “Five Quartets: The Search for the Still Point of the Turning World in the War Quartets of T.S. Elliot and Olivier Messiaen”, citemos os demais autores e as respectivas temáticas a fi m de se poder vislumbrar o simultaneamente alargado e concentrado prisma de leituras: Yves Balmer (Religious Literature in Messiaen’ Personal Library); Peter Bannister (Messiaen as Preacher and Evangelist in the Context of European Modernism); Sander van Maas (Messiaen’s Saintly Naïveté); Karin Heller (Olivier Messiaen and Cardinal Jean-Marie Lustiger: Two Views of the Liturgical Reform according to the Second Vatican Council); Douglas Shadle (Messiaen’s Relationship to Jacques Maritain’s Musical Circle and Neo-Thomism);Vincente P. Benitez (Messiaen and Aquinas); Robert Fallon (Dante as Guide to Messiaen’s Gothic Spirituality); Stephen Schloesser (The Charm of Impossibilities: Mystic Surrealism as Contemplative Voluptuosness); Nigel Simeone (‘Une oeuvre simple, solennelle…’ Messiaen’s Commission from André Malraux); Robert Sholl (Olivier Messiaen and the Avant-Garde Poetics of the ‘Messe de la Pentecôte’); Luke Berryman (Messiaen as Explorer in ‘Livre du Saint Sacrament’); Cheong Wai Ling (Buddhist Temple, Shinto Shrine and the Invisible God of ‘Sept Haïkaï’). De entre estes nomes, sobressaem musicólogos, historiadores da música, teólogos, messiaenistas, compositores e directores de orquestra e nos seus métodos de trabalho destacam-se a exegese, a teologia e a semiótica. A obra inclui ainda fotos, várias pranchas, tabelas, partituras em extractos, além de um curioso glossário onomástico (será que AS pensou mesmo que entre os seus leitores haveria quem não soubesse quem foi Baudelaire? Ou Karl Rahner?), uma discografi a

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e bibliografi a selecta, além de um necessário índice, mais discreto porém. A simples enumeração dos autores e dos respectivos temas poderia servir ao leitor curioso para se saber interessado, mas não resistimos mesmo assim a sublinhar um ou outro aspecto desta tão tempestiva iniciativa. Veja-se portanto no que se segue um interesse meramente pessoal mais ou menos acrítico ou mesmo diletante. Talvez menos estudado (ou ouvido) que Schoenberg ou Stravinsky, Messiaen tem uma obra musical absolutamente singular interdependente da sua espiritualidade, assaz marcada – assim o revela o presente volume – pelo catolicismo francês do século XX, mormente pelo “renouveau catholique” de Lubac, Theillard de Chardin, Urs von Balthasar, Congar, Chenu, Gilson, Maritain, entre outros. Tanto o Traité de rythme, couleur et d’ornithologie é revelador de um conjunto monumental de citações católicas, como Couleurs de la cité céleste ou La Transfi guration nos permitem asseverar que pela música essa religiosidade católica pôde trespassar a sociedade laica mais moderna de maneira difícil de aquilatar. A combinação do sagrado e do secular, a síntese do antigo e do moderno da sua música (no livro há um silêncio incompreensível sobre Guilherme de Machaut) radica numa peculiar (física e bondosa) teologia da Criação que não regista só diálogos com a teologia e os teólogos (mormente Tomás de Aquino), mas com a poesia (Dante), com a literatura surrealista ou não (Éluard, Claudel), deixando marcas em compositores de relevo como Berio, Boulez, Stockhausen ou Xenakis). Lembremos apenas que acabámos de citar alguns dos membros do grupo mais relevante de Darmstadt ligados ao serialismo integral, isto é, ao processo de transformação em séries sistemáticas das durações, das intensidades, das dinâmicas (e.g. Mode de valeurs et d’intensités), isto é dizer, geradores de uma revolução nos processos de composição sem a qual é impensável já conceber-se a música contemporânea. No caso de Messiaen, a música de orquestra, a música de câmara, de piano e órgão, as oratórias e mesmo a ópera recebiam o alento vibrante de um estudo maturado de ritmos menos comuns, como o indiano, ou processos invulgares, como o canto dos pássaros ou a utilização das cores (e que atenção à criação nestes procedimentos audíveis vg. em Oiseaux exotiques!) – aspectos estes surpreendentes para quem os escuta, mas – e é este o ponto que o volume de AS nos permite consolidar – resultantes de uma cosmovisão teológica profunda e insistente, nitidamente separada do seu imediato precursor nas relações com a religiosidade, Stravinsky, designadamente por superar o neoclassicismo deste numa unidade variada de intenções – pensamos, como P. Griffi ths, nas harmonias estáticas derivadas de um sistema pessoalíssimo de modos que conferem um sentido original de tempo (vd. aqui a participação do próprio editor, AS). Por este prisma, a obra interessa a musicólogos e a simples amantes de música, mas também a teólogos e a todos aqueles a quem a teologia é matéria vitalizadora de cultura e de humanidade. Possa uma tão interessante obra sobre o teólogo Messiaen aumentar o número daqueles que escutam a sua música, quiçá entrevendo a Verdade que não se diz por palavras.

Mário Santiago de Carvalho