raposa do deserto

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Hans Klein relembra Rommel e o Afrika Korps As lembranças das lutas do veterano Hans Klein no deserto e de seu cativeiro. Hans Klein nasceu em 1921, era marceneiro antes de entrar para a Divisão Hermann Göring da Luftwaffe em 1942. Enviado para a África, serviu no Afrika Korps entre 1942-43, onde alcançou o posto de cabo. No inicio de 1942 eu fui recrutado para servir na Força Aérea (Luftwaffe), na Divisão Paraquedista Hermann Göring. Diferente do que costuma ser publicado, a Divisão não era integrada por voluntários, na verdade éramos diretamente recrutados ou transferidos de outras unidades, e eu nunca conheci algum voluntário na nossa companhia. A Divisão Hermann Göring era uma unidade fantástica, e foi uma honra servir em suas fileiras. Nossa Divisão teve um bom programa de treinamento, e era uma unidade sólida e orgulhosa. Eu fui enviado a Utrecht, na Holanda, para treinamento, mais especificamente, para ser estafeta. Além da instrução militar, aprendi a dirigir diversos tipos de motocicletas e veículos, além de aprender auto- mecânica e elétrica. Lamento dizer isto mas muitos dos homens na minha Divisão achavam que o Marechal da Força- Aérea Hermann Göring era um fanfarrão. No início da guerra ele fez a estúpida afirmação de que se algum avião inimigo alcançasse Berlim ele mudaria o seu nome para "Meier", e desde então nós o chamávamos de Hermann Meier em nossas conversas. A primeira campanha em que eu estive envolvido foi a ocupação do território de Vichy, na França, em novembro de 1942. Não houve qualquer resistência e prosseguimos em direção ao sul até a cidade de Cognac, que é uma das mais belas cidades na França. No final de 1942 a situação no norte da África era crítica, e foi decidida a criação do Grupo de Combate (Kampfgruppe) Schmidt, formada com elementos da Divisão Hermann Göring. Fomos transportados via aérea para a área de Nápoles, na Itália, e depois para a África, em aviões de transporte Junkers-52. Estes aviões eram lentos mas bastante robustos. Voamos rente ao nível do mar, entre 7 e 15 metros de altura, por sobre as ondas, esperando que não acontecesse algum problema mecânico. Tivemos a escolta de alguns caças e fomos afortunados por não acontecer nenhum incidente durante a viagem. Chegamos a Túnis e eu assumi o meu posto de estafeta. Lutamos e participamos de várias batalhas durante meio ano, até que a luta cessou na África. Em um dia típico na África havia a constante troca de tiros da artilharia na maior parte do dia, mas não mais que 50 ou 60 tiros em ambas as direções. Apenas o suficiente para deixar o outro lado perturbado. Nós continuamente nos protegíamos pois estávamos muito próximos da linha de frente. Estávamos freqüentemente juntos aos observadores avançados, que não estavam a mais que 700 metros das linhas inglesas. Na metade do tempo fazíamos patrulhas na terra de ninguém, mas nossas atividades mudavam constantemente. Quando não estávamos patrulhando nós ficávamos nos nossos buracos, protegidos dos ataques aéreos. Usualmente recebíamos uma calorosa visita todos os

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As lembranças das lutas do veterano Hans Klein no deserto e de seu cativeiro.

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  • Hans Klein relembra Rommel e o Afrika Korps As lembranas das lutas do veterano Hans Klein no deserto e de seu cativeiro.

    Hans Klein nasceu em 1921, era marceneiro antes de entrar para a Diviso Hermann Gring da Luftwaffe em 1942. Enviado para a frica, serviu no Afrika Korps entre 1942-43, onde alcanou o posto de cabo.

    No inicio de 1942 eu fui recrutado para servir na Fora Area (Luftwaffe), na Diviso Paraquedista Hermann Gring.Diferente do que costuma ser publicado, a Diviso no era integrada por voluntrios, na verdade ramos diretamente recrutados ou transferidos de outras unidades, e eu nunca conheci algum voluntrio na nossa companhia. A Diviso Hermann Gring era uma unidade fantstica, e foi uma honra servir em suas fileiras.

    Nossa Diviso teve um bom programa de treinamento, e era uma unidade slida e orgulhosa. Eu fui enviado a Utrecht, na Holanda, para treinamento, mais especificamente, para ser estafeta. Alm da instruo militar, aprendi a dirigir diversos tipos de motocicletas e veculos, alm de aprender auto-mecnica e eltrica.

    Lamento dizer isto mas muitos dos homens na minha Diviso achavam que o Marechal da Fora-Area Hermann Gring era um fanfarro. No incio da guerra ele fez a estpida afirmao de que sealgum avio inimigo alcanasse Berlim ele mudaria o seu nome para "Meier", e desde ento ns o chamvamos de Hermann Meier em nossas conversas.

    A primeira campanha em que eu estive envolvido foi a ocupao do territrio de Vichy, na Frana, em novembro de 1942. No houve qualquer resistncia e prosseguimos em direo ao sul at a cidade de Cognac, que uma das mais belas cidades na Frana.

    No final de 1942 a situao no norte da frica era crtica, e foi decidida a criao do Grupo de Combate (Kampfgruppe) Schmidt, formada com elementos da Diviso Hermann Gring. Fomos transportados via area para a rea de Npoles, na Itlia, e depois para a frica, em avies de transporte Junkers-52. Estes avies eram lentos mas bastante robustos. Voamos rente ao nvel do mar, entre 7 e 15 metros de altura, por sobre as ondas, esperando que no acontecesse algum problema mecnico. Tivemos a escolta de alguns caas e fomos afortunados por no acontecer nenhum incidente durante a viagem. Chegamos a Tnis e eu assumi o meu posto de estafeta. Lutamos e participamos de vrias batalhas durante meio ano, at que a luta cessou na frica.

    Em um dia tpico na frica havia a constante troca de tiros da artilharia na maior parte do dia, mas no mais que 50 ou 60 tiros em ambas as direes. Apenas o suficiente para deixar o outro lado perturbado. Ns continuamente nos protegamos pois estvamos muito prximos da linha de frente. Estvamos freqentemente juntos aos observadores avanados, que no estavam a mais que 700 metros das linhas inglesas. Na metade do tempo fazamos patrulhas na terra de ningum, mas nossas atividades mudavam constantemente. Quando no estvamos patrulhando ns ficvamos nosnossos buracos, protegidos dos ataques areos. Usualmente recebamos uma calorosa visita todos os

  • dias.

    Muita de nossa atividade era feita durante a noite. Ns colocvamos minas ou saiamos em patrulha. Se nos encontrvamos na linha de frente, o que acontecia na maior parte das vezes, recebamos tirosde barragem do inimigo a cada 15 minutos. Na primeira oportunidade que tnhamos, procurvamos dormir, geralmente no final da madrugada.

    Nossos suprimentos de comida, gua e munio no eram adequados. Usualmente tnhamos falta detudo. Deveramos receber quatro litros de gua por dia, mas na prtica eram apenas dois litros para cada um de ns. Raramente tomvamos banho, a menos que estivssemos prximo costa do Mediterrneo.

    Em uma noite a minha moto foi pelos ares, atingida em cheio pela barragem. No havia muito o quefazer. Supostamente a Diviso Hermann Gring era motorizada, e ns espervamos que chegassem os veculos, mas os cargueiros em que estavam sendo transportados foram afundados no caminho e ns nunca recebemos os equipamentos.

    As moscas eram um problema constante, e no tnhamos controle sobre elas, nuvens delas vinham sobre nossas faces e usvamos uma rede sobre a cabea o tempo todo. Para comer o po, algumas vezes, poucas vezes, tnhamos gelia ou carne enlatada, e devamos antes retirar as moscas e rapidamente colocar o po sob a proteo da rede, esperando que nenhuma tivesse entrado junto com a comida.

    O calor durante o dia era tremendo, com mdia de mais de 40oC a sombra, era muito desgastante. Anoite fazia tanto frio quanto quente era o dia, e tnhamos que vestir agasalhos para as misses noturnas.

    O nosso comandante, o Marechal de Campo Erwin Rommel, foi o homem mais importante que j conheci. Ele era uma lenda para os soldados que lutaram na frica, ns tnhamos um respeito e admirao natural por ele.

    Eu o vi pessoalmente em vrias ocasies durante a minha tarefa de estafeta. Ele nunca me dirigiu a palavra, mas estar prximo a sua pessoa causava uma forte impresso. Ns sabamos que em todas as decises que ele tomava, sempre levava em conta a vida e a segurana de seus homens. Ele surpreendia o inimigo e encontrava uma maneira de manobrar em torno deles de forma a proteger os seus soldados. Esta foi a sua marca de galanteria na campanha da frica.

    Por problemas de sade o Marechal passou o comando para o General Hans Von Arnim que era muito inteligente e gil, mas no tinha o mesmo carisma que seu antecessor, e assim sentamos como que afastados do seu comando. Havia uma grande camaradagem entre ns, os soldados do Afrika Korps, e a nossa moral era bastante elevada.

    Por outro lado, os nossos aliados italianos passavam por uma srie de dificuldades. Aos oficiais italianos sequer lhes passava pela cabea dormir ou comer ao lado de seus soldados, em contraste,

  • os oficiais alemes estavam sempre compartilhando das mesmas rotinas de seus subordinados, ns ramos muito unidos e isto nos dava um sentimento de orgulho. Isto continuou mesmo quando nos tornamos prisioneiros de guerra. Recebemos posteriormente a admirao dos jornais americanos pela forma "democrtica" de integrao do nosso corpo militar.

    Tnhamos uma grande camaradagem com os italianos, mas dava pena de sua situao, se nossos suprimentos eram escassos, a deles era totalmente inadequada. A sua liderana alm de inepta no providenciava a sua apropriada alimentao bem como o suprimento de munio e armamento adequados. Os italianos no tinham a mesma disposio de luta porque no tinham nada decente com que se defender. Os seus tanques no eram de segunda categoria mas sim de terceira. Os aliados tinham novos tipos de tanques entregues aos milhares e os italianos tinham que lutar com um modelo construdo em 1928, eles no tinham a menor possibilidade de vencer. Se a presso na batalha fosse muito grande eles simplesmente viravam as costas e desistiam. Preferiam mais ser capturados a lutar por um sistema que nunca lhes ofereceu nada.

    Um dia ficamos face a face com quatro tanques americanos que entraram em nosso campo minado. Um deles estava atirando contra ns, e eu, num impulso, corri at ele e coloquei uma granada entre as suas lagartas. O som da exploso fez com que a equipagem sasse do tanque e se rendesse a ns. Pelo feito ganhei a medalha da Cruz de Ferro de 2 classe.

    Aps a batalha de El Alamein nossa retirada foi constante, mas tambm organizada. Tnhamos sempre que estar com um olho nos italianos pois sua retirada podia se transformar em debandada, alm disso os seus oficiais sempre queriam levar todas as suas coisas nos caminhes, incluindo ai assuas confortveis camas, equipamento de cozinha, banheiros e apetrechos de luxo de toda natureza, enquanto isso ns levvamos apenas o estritamente necessrio.

    Em um determinado ponto estvamos cercados ao sul da Tunsia, prximo a cidade de Pond du Fahs. Durante trs dias sofremos pesado bombardeio e no tnhamos fora suficiente para quebrar o cerco, nossas chances de escapar eram muito pequenas, ento fomos instrudos a destruir os documentos e nosso equipamento para evitar a captura pelo inimigo. Recebemos permisso para comer nossas raes de emergncia, que eram reservadas somente para o ltimo e desesperado momento. Ela contm comida desidratada e energtica, e at barra de chocolate. Resignadamente espervamos pela morte ou captura nos prximos minutos.

    Felizmente fomos socorridos no ltimo momento pela 10 Diviso Panzer que furou o cerco e libertou nossas tropas. Continuamos ento a retirada atravs da Tunsia. Em caminhes atingimos a cidade de Zaghouan, onde cerca de 25.000 soldados alemes, de diferentes unidades concentraram-se. Estas unidades estavam muito misturadas. Os combates diminuram e apenas mantnhamos escaramuas para cobrir a retirada.

    Em 11 de maio de 1943 eu estava junto com cerca de 5.000 soldados alemes em Zaghouan, que ficava localizado em uma montanha acerca de 600m de altitude, cobrindo a retirada dos demais. Os americanos estavam fazendo um bombardeio pesado sobre a cidade. Eles tambm lanavam folhetos de avies dizendo que se no nos rendssemos pela manh a cidade seria bombardeada e

  • destruda, mas claro, ns no nos rendemos.

    Alm das armas pessoais e morteiros, ns tnhamos cerca de 20 canhes de 88mm, o melhor canhoda campanha na frica. Os americanos atacaram com cerca de 30 tanques, vindos de uma nica direo, e cerca de 25 outros vindo de outra. Eu me lembro que tnhamos apenas 15 tiros por pea, ento esperamos at o ltimo momento para atirar. Os tanques estavam a apenas 300 metros quandoabrimos fogo fazendo uma barragem incrvel. Imediatamente entre 12 e 15 tanques foram pelos ares. Durante dois dias as carcaas arderam.

    Recebemos ordem de recuar alguns dos nossos tanques que estavam desgastados e precisando de reparos No tnhamos peas sobressalentes e mecnicos suficientes para recuperar todos. A situaono geral deteriorava-se a cada momento.

    Pouco tempo depois perdemos o contato com o Quartel-General em Tnis e com o General Von Arnim. Estvamos concentrados ao sul da frente, mas na verdade no havia uma frente definida, ramos mais uma tropa presa em um bolso. O bombardeio americano da manh seguinte foi intenso e terrvel, era o nosso fim. Recebemos ordem de destruir nossas armas. O comandante passou a ordem para nos concentrarmos em uma determinada regio da cidade para a rendio final.

    No tnhamos nada para comer, nossas munies acabaram e apenas a gua era ainda distribuda regularmente. Por volta das 08:30hs da manh de 12 de maio de 1943 foi formalizada a nossa rendio, e no nos pareceu um fim muito dramtico. Marchamos para fora da cidade de Zaghouan, os tanques americanos pararam perto de ns.

    Os americanos nos colocaram em campo aberto, onde entramos em formao. No tnhamos comida ou gua, e ficamos assim por dois dias. Eles no tomaram a mnima atitude ou cuidado para conosco e o tempo estava muito quente. Pouco depois fomos entregues aos franceses, mais especificamente, aos homens da Legio Estrangeira. Ficamos muito apreensivos pois eles eram bemhostis em relao a ns. Fomos revistados e despojados de tudo que tnhamos. O tratamento que recebemos como prisioneiros de guerra foi terrvel.

    Por dois dias nos fizeram marchar at um ponto ao norte de Pond du Fahs. Um bom nmero de ns foi ferido pelos guardas da Legio durante a marcha at o campo de prisioneiros. Ns marchvamosem quatro ou cinco fileiras e, de tempos em tempos, os legionrios vinham atrs em um caminho puxando um cabo atado a um rolo de arame farpado e dirigiam em velocidade passando entre ns. Praticamente todos ns fomos feridos neste processo. Apenas aqueles que conseguiam ouvir a tempo os gritos e o barulho do veculo tinham uma chance de desviar, eu fui um dos poucos que conseguiu.

    O campo de prisioneiros em Pond du Fahs media entre 300 e 400 acres, cercado por arame farpado. ramos entre 12.000 e 14.000 prisioneiros no campo. Ficamos ao ar livre, os franceses no nos deram tendas ou ps para cavarmos buracos onde pudssemos nos proteger do sol e do vento. Nunca recebemos qualquer tipo de material para fazermos abrigos.

  • No recebamos gua com regularidade, tnhamos que dosar e economizar o precioso lquido. Imaginamos uma maneira de escapar mas no tnhamos iluso pois no havia gua ou comida na regio, alm disso estvamos bastante debilitados fisicamente, e no conheo nenhum prisioneiro alemo na Africa que tenha conseguido escapar.

    No demorou para surgirem centenas de casos de morte por inanio, falta de gua e insolao. Cavei vrias covas para enterrar os mortos. ramos mais de 12.000 homens esquecidos no deserto, nem mesmo a Cruz Vermelha tomou conhecimento. Normalmente os prisioneiros so contados e colocados sob a proteo das leis internacionais, mas no para a Legio Estrangeira.

    Aps um tempo, entre seis e oito semanas, vrios de ns fomos forados a trabalhar na limpeza de campos minados. Aqueles que se recusavam eram fuzilados no local. Todos os dias cerca de 100 prisioneiros marchavam para os campos minados. Eu ouvia sempre nessas ocasies trs ou quatro exploses. Os franceses no forneciam qualquer tipo de equipamento ou ferramentas, muito menos algum tipo de orientao sobre o campo e as minas.

    Esta rotina diria de retirada de minas durou trs semanas. Sabamos que os franceses tinham o mapa dos campos minados e a localizao das minas, porm no forneciam qualquer informao.

    Por volta de julho de 1943 fomos forados a marchar por trs ou quatro dias at um campo menor prximo de Tnis. A marcha at o campo foi feita em uma cadncia muito lenta devido ao estado defraqueza em que nos encontrvamos, muitos ficaram pelo caminho para nunca mais voltar.

    Durante a marcha s recebemos gua uma nica vez. Os franceses trouxeram uma grande cisterna de gua e simplesmente abriram todas as torneiras. Corramos desesperados para poder pegar um pouco, no tnhamos nada alm das mos. A gua tinha gosto de gasolina e corria para a areia onde formava poas que eram disputadas pelos homens.

    O tratamento era intencional, com o objetivo de eliminar os mais fracos. O campo localizado prximo de Tunis ficava a cerca de 80 km de Pond du Fahs no deserto do Saara. Nada alm de areiaexistia na regio. Eu calculo que mais de 4.000 prisioneiros ocupavam o campo e a cada dia dezenas morriam de fome, privao ou doenas.

    Nos perodos melhores recebamos 1/4 de litro de gua por dia e um naco de po duro cheio de areia que batia nos dentes como se estivssemos comendo pedra. Passvamos o dia pensando em comida e gua. Improvisamos a construo de abrigos cavando um buraco do tamanho de um homem no qual colocvamos arbustos e argila utilizando a gua que no era possvel beber. Conseguimos algumas lonas e pudemos finalmente colocar uma proteo contra o sol abrasador.

    No tnhamos proviso de medicamentos e havia apenas um mdico alemo no campo, mas ele no podia fazer muito sem instrumentos e remdios. Eu e meu amigo fomos escalados vrias vezes para cavar covas rasas e enterrar os mortos. No sei quantos corpos enterrei mas foi uma quantidade muito grande.

  • Aqueles que caiam de lado no recebiam qualquer ateno dos franceses e eram deixados para morrer. Aps um tempo estabelecidos, os franceses ordenaram que todos se reunissem pois iriamos mudar de campo. Ento ordenaram que empilhssemos as lonas e o material de abrigo em uma grande pilha, onde depois foi ateado fogo.

    Quando estvamos prontos para marchar eles cancelaram a ordem e mandaram dispersar, vivemos ento apenas dentro dos buracos, sem proteo contra o sol e o vento. Claro que foi proposital, com a inteno de retirar o pouco do abrigo que a custo conseguimos construir.

    Em um determinado ponto eu entrei em uma espcie de estado de coma que durou mais de uma semana. No tinha foras sequer para fazer as necessidades mais bsicas. Sem hospital, apenas podamos ficar deitados no cho ou nos buracos. Eu fui capturado em 12 de maio de 1943 e em setembro j tinha emagrecido mais de 40 kg.

    Minha vida foi salva porque um major americano achou nosso campo por acidente. Este major tinhaligao com a Cruz Vermelha e com o controle dos prisioneiros de guerra, e resolveu averiguar o campo, descobrindo as pssimas condies em que nos encontrvamos. Uma centena de prisioneiros estavam inconscientes dos cerca de menos de 2.000 que ainda estavam vivos.

    O Major voltou no dia seguinte com duas dezenas de ambulncias e forou sua entrada no campo francs, apoiado por uma centena de soldados americanos. O major selecionou entre 100 e 120 dos casos mais urgentes para hospitalizao. Afortunadamente eu estava entre estes. Fui colocado em uma ambulncia onde deram-me algo para comer. Fomos levados ento para Tunis onde nos internaram em um hospital da Cruz Vermelha Alem.

    Pouco depois fomos levados para Casablanca para embarcarmos em um comboio que partindo de Oran se dirigia para os Estados Unidos. Havia seis ou sete navios carregados com prisioneiros alemes. Viajamos em um barco mercante e fomos dos primeiros prisioneiros alemes a embarcar para os EUA.

    Desembarcamos em Nova York e depois fomos transportados em um trem confortvel de passageiros, algo indito pois na Alemanha os soldados eram transportados em vages de carga..

    Viajamos por quatro dias e trs noites at o nosso destino em Tonkawa, Oklahoma, para um campo de prisioneiros cercado de arame farpado. Ficamos alojados em barracas com capacidade para 50 homens cada.

    Durante o perodo em que estvamos prisioneiros fomos levados a ajudar vrios fazendeiros da regio na colheita e servios diversos, no campo e nas cidades.

    Quando a guerra terminou eu fui um dos afortunados que retornou para casa quatro semanas aps a Pscoa de 1946. Aps 1946 nem todos os prisioneiros retornaram diretamente para a Alemanha. Muitos passaram ainda um ano ou mais trabalhando na Inglaterra ou na Frana.