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RAFAEL AUGUSTO SOLDI SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE CATALISADORES POLIMÉRICOS ÁCIDOS, A PARTIR DA RECICLAGEM QUÍMICA DE POLIESTIRENO, E AVALIAÇÃO NA SÍNTESE DE BIODIESEL EM FASE HETEROGÊNEA Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Química – Área de Química Orgânica, do Setor de Ciências Exatas da Universidade Federal do Paraná. Orientadora: Profa. Dra. Maria Aparecida F. César-Oliveira Co-orientador: Prof. Dr. Luiz Pereira Ramos CURITIBA 2006

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Page 1: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

RAFAEL AUGUSTO SOLDI

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE CATALISADORES POLIMÉRICOS ÁCIDOS,

A PARTIR DA RECICLAGEM QUÍMICA DE POLIESTIRENO, E AVALIAÇÃO NA

SÍNTESE DE BIODIESEL EM FASE HETEROGÊNEA

Dissertação apresentada como requisito

parcial à obtenção do grau de Mestre pelo

Programa de Pós-Graduação em Química –

Área de Química Orgânica, do Setor de

Ciências Exatas da Universidade Federal do

Paraná.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Aparecida

F. César-Oliveira

Co-orientador: Prof. Dr. Luiz Pereira

Ramos

CURITIBA 2006

Page 2: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

Dedico este trabalho aos meus pais: Elis dos Santos Soldi e Roque Antonio Soldi

Page 3: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

Em memória do meu avô Heitor Henrique dos Santos, que não pode acompanhar o término deste trabalho.

Page 4: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

A maior recompensa do nosso trabalho não é o que nos pagam por ele, mas aquilo em que ele nos transforma. (John Ruskin)

Page 5: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

AGRADECIMENTOS

A realização deste Trabalho contou com a ajuda e o apoio de várias pessoas

a quem pretendo dedicar algumas linhas :

Agradeço especialmente à Profa. Dra. Maria Aparecida F. César-Oliveira, pela

orientação ao longo dos anos, apoio, ensinamentos e conhecimentos que me foram

transmitidos, pela forma como analisou, criticou e orientou este trabalho e a

elaboração desta dissertação.

Ao Prof. Dr. Luiz Pereira Ramos, pela orientação, amizade, ensinamentos,

atenção e dedicação dispensada durante o desenvolvimento deste trabalho.

Quero também agradecer à Profa. Dra. Sônia Faria Zawadzki, pela amizade,

atenção e dedicação dispensada durante todos os anos de LABPOL.

À Profa. Dra. Elizabeth Roditi Lachter (IQ/UFRJ), ao Prof. Dr. Ronilson

Vasconcelos Barbosa (DQUI/UFPR) e a Profa. Dra. Ana Luisa Lacava Lordello pelas

valiosas contribuições como membros componentes da Banca Examinadora.

Às instituições de fomento, CAPES e LACTEC, pelo apoio financeiro para a

execução deste trabalho, e ao CNPq pela concessão da bolsa.

À Corn Products do Brasil, pelo fornecimento do óleo de milho bruto, à

ALCOPAR, pelo fornecimento do etanol anidro, ao The Dallas Group of America Inc.

(USA), pelo fornecimento do Magnesol.

Aos colegas de laboratório, pelo apoio, amizade e companheirismo, a todos

aqueles que passaram e aos que continuam presentes em todos os momentos:

Angelo, Cida, Ronilson, Sônia, Juliana, Rodrigo, Scheyla, Cleverson, Soraia, André,

Maria Carolina, Caroline, Claudio, Susana, Danielle, Rony, Maraíza, Laudicéia, Vitor.

A todos os alunos do LABPOL pela experiência de ter trabalhado com

pessoas sérias e competentes o suficiente para tornar as horas de trabalho

descontraídas e produtivas. Cada página deste documento tem um pouco de cada

um de vocês: Agne, Angelo, Alysson, Danielle, Fernando, Laudicéia, Maraíza,

Mariana, Priscila, Rony, Susana, Vitor.

Page 6: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

Aos grandes Amigos Denis Jeison Gulin e Rogério Aparecido Gariani que

estiveram sempre presente durante a realização deste Trabalho, pelo ombro amigo

nas horas difíceis, pela força, dedicação e amizade.

Aos grandes amigos Soraia Zaioncz, Fábio Ricardo Bento, Cleverson Sandri

Emir Bolzani Saad, Sergio Humberto Domingues, Anderson Kurunczki Domingos,

Jose Augusto Villar, pelo apoio, companheirismo e amizade em todos os momentos.

As amizades que se fizeram dentro do Departamento de Química e se

estendem às atividade externas à Universidade, especialmente: Martha Elena

Pawlowytsch, Priscila Amorin, Daniele Schnitzler, Mariane Schnitzler, Kely Viviane

de Souza, Marco Tadeu Grassi, Agne Roani Carvalho, Alysson Prezibello, Aline

Hara, José Guedin Neto, Valcineide de Oliveira de Andrade Tanobe.

A todos que contribuíram para este trabalho, direta e indiretamente, incluindo

todos os colegas, professores e funcionários técnico-administrativos da UFPR e do

Departamento de Química

À grande amiga e mãe científica Cida, pela amizade e paciência com que

sempre me acolheu. Os conhecimentos práticos e teóricos por ela transmitidos

foram de essencial importância, não apenas no decorrer deste Trabalho, mas para

meu crescimento como pessoa e profissional. Assim como o ânimo e a atitude

positiva que sempre dedicou em todas as ocasiões.

Agradeço especialmente aos meus Pais, Elis dos Santos Soldi e Roque

Antonio Soldi, pelo enorme apoio, confiança e compreensão nos momentos

ausentes, sem os quais a realização deste Trabalho não teria sido possível

A todos o meu sincero carinho e agradecimento.

Page 7: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

I

ÍNDICE

ÍNDICE DE FIGURAS................................................................................................ III

ÍNDICE DE TABELAS ...............................................................................................VI

LISTA DE ABREVIATURA, SIGLAS E SÍMBOLOS ................................................. VII

LISTA DE ABREVIATURA, SIGLAS E SÍMBOLOS ................................................. VII

RESUMO................................................................................................................... IX

ABSTRACT ............................................................................................................... XI

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 1

1.1. Biodiesel .......................................................................................................... 2

1.2. Os catalisadores poliméricos ......................................................................... 14

1.3. Poliestireno .................................................................................................... 22

1.4. Sistemas de polimerização em suspensão .................................................... 27

2. OBJETIVOS ......................................................................................................... 33

3. PARTE EXPERIMENTAL ..................................................................................... 34

3.1. Materiais ........................................................................................................ 34

3.2. Procedimento Experimental ........................................................................... 35

3.2.1. Síntese do poliestireno em suspensão.................................................... 35

3.2.1.1.Poli(álcool vinílico) como agente de suspensão ................................ 35

3.2.1.2. Hidroxietilcelulose/gelatina como agente de suspensão................... 36

3.2.2. Obtenção dos catalisadores sulfônicos ................................................... 37

3.2.2.1. Sulfonação do PS linear com sulfato de acetila ................................ 37

3.2.2.1.1 Sulfonação do PS na ausência de solvente.................................... 37

3.2.2.1.2. Sulfonação do PS em solução ....................................................... 38

3.2.2.2. Sulfonação do poliestireno linear com ácido sulfúrico ...................... 38

3.2.3. Tratamento das resinas comerciais para uso como catalisador .............. 39

3.2.4. Transesterificação de óleos vegetais ...................................................... 39

3.2.4.1. Transesterificação em meio homogêneo .......................................... 39

3.2.4.2. Transesterificação em meio heterogêneo ......................................... 40

Page 8: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

II

3.2.5. Reutilização dos catalisadores poliméricos ............................................. 40

3.3. Métodos Analíticos e Instrumentais ............................................................... 41

3.3.1. Espectroscopia na região do infravermelho ............................................ 41

3.3.2. Avaliação do aspecto morfológico ........................................................... 42

3.3.3. Termogravimetria - TG ............................................................................ 42

3.3.4. Espectroscopia de Ressonância magnética nuclear de hidrogênio......... 42

3.3.5. Determinação do teor de grupamentos sulfônicos nos catalisadores...... 43

3.3.6. Determinação da capacidade de troca iônica das resinas comerciais .... 43

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS..................................... 44

4.1. Síntese do Poliestireno em suspensão .......................................................... 45

4.2. Obtenção dos Catalisadores Sulfônicos ........................................................ 52

4.2.1. Sulfonação do PS linear com sulfato de acetila....................................... 52

4.2.2. Sulfonação do PS linear com ácido sulfúrico concentrado...................... 60

4.2.3. Sulfonação do PS linear com ácido sulfúrico fumegante......................... 64

4.2.4. Catalisadores macrorreticulados comerciais ........................................... 70

4.2.5. Análise térmica dos PS sulfonados ......................................................... 72

4.3 Transesterificação de óleos vegetais .............................................................. 78

4.3.1. Transesterificação em meio homogêneo................................................. 78

4.3.2. Transesterificação em meio heterogêneo ............................................... 83

4.4 Reutilização dos catalisadores poliméricos..................................................... 93

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 96

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 99

Page 9: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

III

ÍNDICE DE FIGURAS

FIGURA 1. REAÇÃO DE TRANSESTERIFICAÇÃO DE ÓLEOS VEGETAIS OU

GORDURA ANIMAL COM ÁLCOOL FORMANDO ÉSTERES E GLICEROL. ......... 10

FIGURA 2. MECANISMO DE TRANSESTERIFICAÇÃO DE ÓLEOS VEGETAIS

POR CATÁLISE ÁCIDA............................................................................................ 13

FIGURA 3. ESTRUTURA DE UMA MATRIZ POLIMÉRICA CONSTITUÍDA DE

ESTIRENO E DIVINILBENZENO. ............................................................................ 15

FIGURA 4. SULFONAÇÃO DE UMA MATRIZ POLIMÉRICA CONSTITUÍDA DE

POLIESTIRENO E DIVINILBENZENO. .................................................................... 18

FIGURA 5. REPRESENTAÇÃO DE UMA RESINA CATIÔNICA SULFONADA....... 18

FIGURA 6. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA POLIMERIZAÇÃO DO

ESTIRENO ............................................................................................................... 23

FIGURA 7. IMAGENS DE MICROSCOPIA ÓPTICA DAS FRAÇÕES DE PS EM

SUSPENSÃO ........................................................................................................... 47

FIGURA 8. IMAGENS DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA DAS

FRAÇÕES DE PS EM SUSPENSÃO DE PVAl. ....................................................... 48

FIGURA 9. IMAGENS DE MICROSCOPIA ÓPTICA DAS FRAÇÕES DE PS EM

SUSPENSÃO DE HEC/GELATINA .......................................................................... 49

FIGURA 10. IMAGENS DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA DAS

FRAÇÕES DE PS EM SUSPENSÃO DE HEC/GELATINA...................................... 50

FIGURA 11. CURVA DE TG E DTG DO PS SUSPENSÃO DE HEC/GELATINA. ... 51

Page 10: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

IV

FIGURA 12. CURVAS DE TG E DTG DO PS CRISTAL .......................................... 51

FIGURA 13. ESQUEMA DE REAÇÃO DE SULFONAÇÃO DE PS COM SULFATO

DE ACETILA............................................................................................................. 53

FIGURA 14. IMAGENS DE MICROSCOPIA ÓPTICA DAS FRAÇÕES DE PSSA... 54

FIGURA 15. ESPECTRO DE FTIR DE UM PRODUTO SULFONADO COM

SULFATO DE ACETILA, SEM SOLVENTE. ............................................................ 55

FIGURA 16. ESPECTRO DE FTIR DO PRODUTO PSSA#5 SULFONADO COM

SULFATO DE ACETILA EM SOLUÇÃO DE DCE.................................................... 59

FIGURA 17. IMAGENS DE MICROSCOPIA ÓTICA DAS FRAÇÕES DE PSS........ 62

FIGURA 18. ESPECTRO DE FTIR DO PRODUTO SULFONADO COM ÁCIDO

SULFÚRICO CONCENTRADO................................................................................ 63

FIGURA 19. IMAGENS DE MICROSCOPIA ÓTICA DO PSS.................................. 65

FIGURA 20. IMAGENS DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA DO

PSS. ......................................................................................................................... 66

FIGURA 21. ESPECTRO DE FTIR DO PRODUTO SULFONADO COM ÁCIDO

SULFÚRICO FUMEGANTE. .................................................................................... 67

FIGURA 22. REPRESENTAÇÃO DA LIGAÇÃO CRUZADA DO TIPO SULFONA. . 70

FIGURA 23. ESPECTRO DE FTIR DAS RESINAS COMERCIAIS SULFONADAS. 72

FIGURA 24. CURVAS DE TG E DTG DO CATALISADOR PSS#7.......................... 75

FIGURA 25. CURVAS DE TG E DTG DO CATALISADOR PSS#8.......................... 75

FIGURA 26. CURVAS DE TG E DTG DA RESINA LEWATIT SPC112. .................. 76

Page 11: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

V

FIGURA 27. CURVAS DE TG E DTG DA RESINA PS GELULAR SULFONADO. .. 76

FIGURA 28. ESPECTRO DE 1H-NMR DO ÓLEO DE SOJA, MOSTRANDO O

ASSINALAMENTO DA FRAÇÃO OLEATO.............................................................. 80

FIGURA 29. AMPLIAÇÃO DOS ESPECTROS DE 1H-NMR DO ÓLEO DE SOJA

REFINADO. .............................................................................................................. 81

FIGURA 30. AMPLIAÇÃO DO ESPECTRO DE 1H-NMR ÉSTERES ETÍLICOS

DERIVADO DE ÓLEO DE SOJA.............................................................................. 81

FIGURA 31. ESPECTRO DE 1H-NMR DE ÉSTERES METÍLICOS DERIVADOS DE

ÓLEO DE SOJA. ...................................................................................................... 82

FIGURA 32. AMPLIAÇÃO DOS ESPECTROS DE 1H-NMR DOS ÉSTERES

ETÍLICOS NA REGIÃO DE 4,05-4,40 PPM, MOSTRANDO OS SINAIS DOS

HIDROGÊNIOS METILÊNICOS DA ETOXILA......................................................... 85

FIGURA 33. ESPECTRO DE 1H-NMR DE UM PRODUTO TRANSESTERIFICADO

PARCIALMENTE COM METANOL. ......................................................................... 89

FIGURA 34. GRÁFICOS DA CINÉTICA DE TRANSESTERIFICAÇÃO EM

DIVERSAS PROPORÇÕES MOLARES ÓLEO DE SOJA: METANOL, UTILIZANDO

PS CRISTAL SULFONADO. .................................................................................... 90

Page 12: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

VI

ÍNDICE DE TABELAS

TABELA 1. ESPECIFICAÇÕES PRELIMINARES PARA O BIODIESEL NO

BRASIL....................................................................................................................... 6

TABELA 2. NÚMERO DE IODO E COMPOSIÇÃO QUÍMICA EM ÁCIDOS GRAXOS

DE ALGUNS DOS PRINCIPAIS ÓLEOS VEGETAIS E GORDURAS ANIMAIS

DISPONÍVEIS PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL ............................................... 7

TABELA 3. OLEAGINOSAS DISPONÍVEIS NO TERRITÓRIO NACIONAL PARA A

PRODUÇÃO DE BIODIESEL ..................................................................................... 8

TABELA 4. CONDIÇÕES DE SULFONAÇÃO UTILIZADAS E TEOR DE

GRUPAMENTOS ÁCIDO SULFÔNICO NOS PRODUTOS PSSA........................... 56

TABELA 5. CONDIÇÕES DE SULFONAÇÃO UTILIZADAS E TEOR DE

GRUPAMENTOS SULFÔNICO NOS PRODUTOS PSS OBTIDOS COM H2SO4

CONCENTRADO...................................................................................................... 62

TABELA 6. CONDIÇÕES DE SULFONAÇÃO UTILIZADAS E TEOR DE

GRUPAMENTOS SULFÔNICOS NOS PRODUTOS PSS, OBTIDOS COM H2SO4

FUMEGANTE. .......................................................................................................... 68

TABELA 7. TRANSESTERIFICAÇÃO DO ÓLEO DE SOJA, UTILIZANDO PTSA

COMO CATALISADOR. ........................................................................................... 79

TABELA 8. RESULTADOS DO EMPREGO DE DIVERSOS CATALISADORES

HETEROGÊNEOS NA TRANSESTERIFICAÇÃO DOS ÓLEOS. ............................ 86

TABELA 9 RESULTADOS DA TRANSESTERIFICAÇÃO METÍLICA DO ÓLEO DE

SOJA, COM 40 MOLS% DE CATALISADOR POLIMÉRICO ................................... 93

TABELA 10. ESTUDO DA REUTILIZAÇÃO DOS CATALISADORES

HETEROGÊNEOS EMPREGADOS NA TRANSESTERIFICAÇÃO DO ÓLEO DE

SOJA ........................................................................................................................ 95

Page 13: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

VII

LISTA DE ABREVIATURA, SIGLAS E SÍMBOLOS

1H-NMR – Ressonância magnética nuclear de hidrogênio

AGS – Agente sulfonante

ABS - Terpolímero de acrilonitrila, butadieno e estireno

AIBN - α,α’-azobis-isobutironitrila

ALCOPAR - Associação dos Produtores de Açúcar e Álcool do Paraná

ANP - Agência Nacional do Petróleo

AOCS –American Oil Chemist’s Society

ASTM - American Society for Testing Methods

BPO – Peróxido de benzoíla

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

DCE – 1,2-dicloro-etano

DVB - Divinilbenzeno

DIN - Deutsches Institut Für Normung

DTG – Termogravimetria derivada

EPS - Poliestireno expandido

FTIR – Espectrometria no infravermelho com transformada de Fourier

HEC – Hidroxietilcelulose

LACTEC - Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento

PET – Poli(tereftalato de etileno)

PS – Poliestireno linear

PSS - Produto de sulfonação do poliestireno

Page 14: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

VIII

PSSA – Produto de sulfonação do poliestireno com sulfato de acetila

PTSA – Ácido p-toluenossulfônico

PVAl – Poli(álcool vinílico)

PVC - Poli(cloreto de vinila)

PVP - Poli(vinil-pirrolidona)

TA – Temperatura Ambiente

TCP - Fosfato tricálcico

TG – Termogravimetria

TMS – Tetrametil-silano

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

LABPOL – Laboratório de Polímeros Sintéticos (DQUI/UFPR)

DQUI/UFPR – Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná

PS-DVB – Poli(estireno-co-divinilbenzeno)

PS-DVB-SO3H - Poli(estireno-co-divinilbenzeno) sulfonado

BASF - Badische Anilin und Soda Fabrik

UR – Unidade repetitiva

Page 15: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

IX

RESUMO

A catálise heterogênea tem despertado grande interesse nos setores produtivo e

acadêmico-científico. Diversos exemplos de reações de esterificação e

transesterificação envolvendo o uso de catalisadores poliméricos têm sido descritos

na literatura. Em geral, são utilizados polímeros reticulados funcionalizados

principalmente aqueles contendo grupos sulfônicos, como é o caso das resinas de

poliestireno-divinilbenzeno sulfonadas, macrorreticuladas e gelulares (PS-DVB-

SO3H). Neste Trabalho foi estudado o uso de poliestireno linear (PS), na obtenção

de poliestireno sulfonado (PSS). Diversos métodos e condições experimentais foram

investigados para a sulfonação de PS cristal, PS pós-consumo (copos descartáveis

triturados) e esferas de PS linear, obtidas por polimerização em suspensão. As

amostras de poliestireno linear estudadas levaram a catalisadores poliméricos com

graus de sulfonação na faixa de 5,0-6,2 mmol -SO3H/g de polímero seco. O

desempenho dos diversos catalisadores foi avaliado frente à reação de

transesterificação de sebo bovino (acidez de 53 mg de KOH/g) e óleos vegetais

(óleo de soja refinado – acidez de 0,1 mg de KOH/g e óleo de milho bruto - acidez

de 1,3 mg de KOH/g) com etanol e metanol. As amostras de PSS se mostraram

insolúveis nas condições da reação de transesterificação (empregados em 20 mol%

de catalisador e na proporção óleo:etanol de 1:100). Ésteres etílicos foram obtidos

em 85% de conversão para o óleo de soja refinado, 75% para o óleo de milho bruto

e 70% para o sebo bovino. Para efeito de comparação, as mesmas condições de

reação empregadas com os PSS foram utilizadas com uma resina gelular sulfonada

(5,0 mmol SO3H/g com 8% de ligações cruzadas) e com as resinas

macrorreticuladas PS-DVB-SO3H comerciais, Lewatit SPC112 (2,7 mmol SO3H/g -

Bayer) e Amberlyst 15 (3,7 mmol SO3H/g - Aldrich), sendo esta última a única que

Page 16: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

X

levou à formação de ésteres etílicos e metílicos, entretanto em baixas taxas de

conversão. Estes resultados demonstram a grande potencialidade dos catalisadores

obtidos neste trabalho. Para melhor compreender o comportamento dos PSS, foi

realizado um estudo cinético com estes catalisadores, utilizando como substrato o

óleo de soja refinado e metanol. Os resultados demonstraram um grande aumento

na produção de ésteres quando a reação foi realizada com um excesso de metanol

de 100:1, gerando um produto cujo teor de ésteres metílicos correspondeu a 94%.

Portanto, este trabalho permitiu demonstrar que os catalisadores poliméricos obtidos

a partir de poliestireno linear, apresentaram uma boa eficiência na etanólise e

metanólise de óleos vegetais e de matérias-primas que apresentam elevado índice

de acidez como o óleo de milho bruto e o sebo bovino.

Page 17: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

XI

ABSTRACT

Heterogeneous catalysts have been increasingly used for industrial and/or scientific

applications. In this regard, examples of esterification and transesterification

reactions involving the use of polymeric catalysts have been described in the

literature. In general, funcionalized crosslinked macroporous or gelular resins are

used, particularly those containing sulfonic groups such as the sulfonated

polystyrene-divinylbenzene resins (PS-DVB-SO3H). In this work, sulfonated

polystyrene compounds (PSS) were synthesized from different linear polystyrene

(PS) samples, such as crystal, post-consumption (triturated disposable plastic cups)

and freshly synthesized spheres obtained by polymerization in suspension. Several

methods and experimental conditions were investigated for the sulfonation of PS

samples, producing catalytically active polymeric materials with sulfonation degrees

in the range of 5.0-6.2 mmol -SO3H/g of dry polymer. The performance of these

catalysts was evaluated in transesterification reactions of beef tallow and vegetable

oils with ethanol and methanol. For the sake of comparison, the same reaction

conditions employed for the PSS catalysts were also used for a sulfonated gelular

resin (5,0 mmol SO3H/g - 8% crosslink) and for two commercially available PS-DVB-

SO3H macroporous resins, Lewatit SPC112 (2,7 mmol SO3H/g - Bayer) and

Amberlyst 15 (3,7 mmol SO3H/g - Aldrich). The PSS samples were shown to be

insoluble in the reaction media, leading to conversion rates of 85%, 75%, and 70% of

the refined soybeen oil (acid value 0,1 mg de KOH/g), beef tallow (53 mg de KOH/g)

and crude corn oil (1,3 mg de KOH/g) in to (m)ethyl esters (employed in 20 mol% of

catalyst with proportion oil:ethanol - 1:100). Amberlyst 15 was the only catalytically

active alternative to the process, but its conversion rate to alkyl esters was very low.

These results demonstrated that our synthetic PSS materials have a great potential

Page 18: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

XII

to act as heterogeneous catalysts for transesterification. For a better understanding

of the PSS behavior, a kinetic study was also carried out with these catalysts using

the refined soybean oil and methanol. The results demonstrated an increase in esters

production when the reaction was performed with 100:1 methanol:oil molar ratio.

Under these conditions, the resulting product contained 94% of methyl esters in its

composition. Therefore, this work has demonstrated that, upon sulfonation, polymeric

catalysts obtained from linear polystyrene of different sources have a good efficiency

in the alcoholysis of crude and refined vegetable oils, as well as raw materials that

present high acid numbers such as beef tallow or used frying oil.

Page 19: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

1

1. INTRODUÇÃO

As necessidades de energia mundial atualmente são supridas por fontes

petroquímicas, carvão e gases naturais, com a exceção da hidroeletricidade e a

energia nuclear, as demais fontes energéticas têm natureza não renovável e são

finitas.

Combustíveis derivados do petróleo, como o óleo diesel, têm uma função

essencial na economia industrial de um país em desenvolvimento, assim como na

utilização de transporte de bens industriais, agrícolas, entre outros. Desde modo, o

crescimento econômico sempre é acompanhado por aumento comensurável no

transporte. A alta demanda de energia no mundo industrializado, como também no

setor doméstico, associado aos problemas de poluição causados devido ao uso

difundido de combustíveis fósseis, desperta o interesse na busca de fontes de

energia renováveis, de duração ilimitada e baixo impacto ambiental. Estes fatores

estimulam o interesse em fontes alternativas para combustíveis à base de petróleo.

Um combustível alternativo deve ser tecnicamente possível, economicamente

competitivo, e prontamente disponível. Uma possível alternativa para os

combustíveis fósseis é o uso de óleos de origem vegetal, uma vez que estes

apresentam baixos perfis de emissão, e se comparado ao diesel de petróleo, são

biodegradáveis e não-tóxicos [KNOTHE., 2005; LOTERO et al., 2005; MEHER et al.,

2006].

Page 20: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

2

1.1. Biodiesel

Apesar do recente destaque que o uso energético de óleos vegetais vem

recebendo nas mídias nacional e internacional, esta é uma idéia antiga, que foi

inicialmente sugerida no final do século XIX quando Rudolph Diesel, inventor do

motor à combustão por compressão interna (motor do ciclo Diesel), utilizou em seus

ensaios petróleo, álcool e óleo de amendoim como combustíveis [SHAY, 1993;

KNOTHE, 2005]. No entanto, devido ao baixo custo e alta disponibilidade do

petróleo na época, esta matéria-prima fóssil se consagrou na matriz energética

mundial como principal fonte de combustíveis líquidos. Atualmente, a maior parte de

toda energia consumida no mundo é proveniente de fontes derivadas de petróleo,

sendo o óleo diesel uma de suas principais frações. No entanto, em diversos

momentos do século XX, principalmente em crises de abastecimento durante as

duas grandes guerras mundiais, óleos vegetais in natura foram estrategicamente

utilizados como combustíveis líquidos [MA & HANNA, 1999; MEHER et al., 2006].

Finalmente, a crise no mercado mundial de petróleo, ocorrida na década de 70,

conduziu a um movimento no sentido da produção de combustíveis líquidos

alternativos provenientes de fontes renováveis.

A utilização de óleos vegetais in natura como combustíveis alternativos tem

sido alvo de diversos estudos nas últimas décadas [NAG et al., 1995; PIYAPORN et

al., 1996]. No entanto, esses estudos demonstraram a existência de algumas

desvantagens no uso direto de óleos virgens: (a) a ocorrência de excessivos

depósitos de carbono no motor; (b) a obstrução nos filtros de óleo e bicos injetores;

(c) a diluição parcial do combustível no lubrificante; (d) o comprometimento da

durabilidade do motor, e (e) um aumento considerável em seus custos de

Page 21: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

3

manutenção. Outros autores [KOBMHL & HEINRICH, 1998; GHASSAN et al., 2003]

demonstraram que a alta viscosidade (aproximadamente 11 a 17 vezes mais alta

que a do óleo diesel) e a baixa volatibilidade dos óleos vegetais in natura podem

provocar sérios problemas ao bom funcionamento de motores do ciclo Diesel.

Pelas razões expostas acima, a utilização de óleos vegetais in natura como

combustível alternativo ao diesel está condicionada a adaptações especiais dos

motores, afim de resolver as desconformidades advindas do seu emprego direto.

Dentre os problemas que geralmente aparecem após longos períodos de utilização,

destacam-se a formação de gomas e depósitos de carbono por combustão

incompleta no motor, a diminuição da eficiência de lubrificação do óleo pela

ocorrência de reações de polimerização (no caso de óleos poli-insaturados) e a

atomização ineficiente e/ou entupimento dos sistemas de injeção, decorrente da alta

viscosidade, caráter poli-insaturado dos triglicerídeos e do teor de ácidos graxos

livres que algumas matérias graxas possam apresentar [PETERSON et al., 1983;

PRYDE, 1983].

Em meados da década de 70, surgiram as primeiras propostas de

modificação de óleos vegetais através do processo químico de transesterificação,

cujos objetivos eram os de melhorar a qualidade de ignição do óleo, reduzir o seu

ponto de fluidez e ajustar os índices de viscosidade e densidade especifica

[MITTELABACH et al., 1983; SHAY, 1993; STOURNAS et al., 1995; MA & HANNA,

1999]. Deste modo, um biocombustível renovável, denominado biodiesel, pode ser

produzido com propriedades bastante compatíveis às do diesel convencional.

Em um processo ideal de combustão, todo o carbono presente na

composição química do (bio)combustível é convertido em gás carbônico (CO2) e o

nitrogênio presente no ar é liberado novamente para a atmosfera sem sofrer

Page 22: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

4

qualquer transformação química. Entretanto, no processo real de combustão, parte

do carbono permanece como hidrocarboneto e outra parte como monóxido de

carbono (CO) e/ou aldeídos, enquanto que o nitrogênio é parcialmente convertido

em óxidos de nitrogênio (NOx).

Diferentemente do combustível fóssil, o CO2 liberado na queima do biodiesel

é reciclado por absorção durante o crescimento das oleaginosas [SHEEHAN et al.,

1998]. Assim, a produção do biodiesel está inserida em um processo cíclico que

auxilia na minimização do efeito estufa, pois há um certo equilíbrio entre a massa de

carbono fixada e aquela liberada ou dispersa na atmosfera.

De acordo com a literatura [PETERSON & HUSTRULID, 1998;

MAKAREVICIENE & JANULIS, 2003], as emissões de gases poluentes, tais como

monóxido de carbono, hidrocarbonetos, compostos poliaromáticos de alto potencial

carcinogênico, materiais particulados, óxidos de enxofre e o gás carbônico, são bem

menores para o biodiesel em comparação ao petrodiesel, demonstrando que o uso

deste em substituição ao combustível fóssil traz benefícios para o meio ambiente. A

ausência total de enxofre em sua composição química confere ao biodiesel uma

grande vantagem, pois não há emissões de gases sulfurados (SOx), característicos

em motores movidos a derivados de petróleo. Dessa forma, há uma contribuição

efetiva para a minimização do fenômeno da chuva ácida [CHANG et al., 1996].

Por definição, biodiesel é um substituto natural do diesel de petróleo que pode

ser produzido a partir de fontes renováveis como óleos vegetais, gorduras animais e

óleos utilizados para cocção de alimentos (fritura). Quimicamente, é definido como

éster monoalquílico de ácidos graxos derivados de lipídios de ocorrência natural e

pode ser produzido, juntamente com a glicerina, através da reação de triacilgliceróis

(ou triglicerídeos) com etanol ou metanol, na presença de um catalisador ácido ou

Page 23: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

5

básico [SCHUCHARDT et al., 1998; RAMOS, 2003; ZAGONEL & RAMOS, 2001].

Embora essa definição seja a mais amplamente aceita desde os primeiros trabalhos

relacionados ao tema, alguns autores preferem generalizar o termo e associá-lo a

qualquer tipo de ação que promova a substituição do diesel por um combustível de

menor impacto ambiental [MA & HANNA, 1999; GONZÁLEZ-GÓMEZ, 2002;

VICENTE, 2004; KUCEK, 2004].

Segundo a Lei nº 11.097, de 13 de janeiro de 2005, biodiesel pode ser

classificado como qualquer combustível alternativo, de natureza renovável, que

possa oferecer vantagens sócio-ambientais ao ser empregado na substituição total

ou parcial do diesel de petróleo em motores de ignição por compressão interna

(motores do ciclo Diesel). No entanto, o único tipo de biodiesel já regulamentado no

território brasileiro corresponde aos ésteres alquílicos derivados de óleos vegetais ou

gordura animal. Como combustível, os ésteres alquílicos necessitam de algumas

características técnicas que podem ser consideradas absolutamente

imprescindíveis. Portanto, é importante frisar que os ésteres alquílicos de óleos e

gorduras não podem ser caracterizados como biodiesel se não forem capazes de

atender integralmente aos parâmetros fixados pelas especificações, como as

normas American Standard Testing Methods (ASTM) D6751 (ASTM D6751, 2003),

Deutsches Institut für Normung (DIN) 14214 (DIN 14214, 2003) ou pela Portaria no

42 da Agência Nacional do Petróleo (ANP) (ANP, 2005) que, apesar de provisória, já

estabelece as propriedades que serão exigidas para que esse produto seja aceito no

mercado brasileiro (Tabela 1).

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6

TABELA 1. ESPECIFICAÇÕES PRELIMINARES PARA O BIODIESEL NO BRASIL (PORTARIA ANP

42)

Propriedades Limites Métodos

Ponto de fulgor (ºC) 100 mín. NBR14598; ISO/CD3679

Àgua e sedimentos (%) 0,05 máx. D2709

Viscosidade cinemática a 40ºC (mm2/s)

Anotar NBR10441; D445; EN/ISO3104

Cinzas sulfatadas (%, m/m) 0,02 máx. NBR9842; D874; IS3987

Enxofre (%, m/m) Anotar D5453; EN/ISO14596

Corrosividade ao cobre por 3h a 50ºC

No. 1 máx. NBR14359; D130; EN/ISO2160

Teor de éster (%, m/m) Anotar Anotar

Número de cetano Anotar D613; EN/ISO5165

Ponto de névoa (ºC) 7 NBR14747; D6371

Resíduo de carbono (%, m/m) 0,1 máx. D4530; EN/ISO10370

Índice de acidez (mg KOH/g) 0,80 máx. NBR14448; D664; prEN14104

Glicerina livre (%, m/m) 0,02 máx. D6854; prEN14105-6

Glicerina total (%, m/m) 0,38 máx. D6854; prEN14105

Curva de destilação 90% (ºC) 360 máx. D1160

Fósforo (mg/kg) Anotar D4951; prEN14107

Massa específica a 20ºC (kg/m3) Anotar NBR7148/14065; D1298/4052

Álcool (%, m/m) 0,50 máx. prEN14110

Número de iodo Anotar prEN14111

Monoglicerídeos (%, m/m) Anotar D6584; prEN14105

Diglicerídeos (%, m/m ) Anotar D6584; prEN14105

Triglicerídeos (%, m/m) Anotar D6584; prEN14105

Na + K (mg/kg) 10 máx. prEN14108-9

Aspecto LII ----

Estabilidade oxidativa à 110ºC (h) 6 mín. prEN14112

Page 25: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

7

De uma forma geral, pode-se afirmar que monoalquil-ésteres de ácidos

graxos podem ser produzidos a partir de qualquer tipo de óleo vegetal (Tabela 2),

mas nem todo óleo vegetal pode (ou deve ser utilizado como matéria-prima para a

produção de biodiesel). Isso porque alguns óleos vegetais apresentam propriedades

não ideais, como alta viscosidade, que são transferidos para o biocombustível e que

o tornam inadequado para o uso direto em motores do ciclo diesel.

TABELA 2. NÚMERO DE IODO E COMPOSIÇÃO QUÍMICA EM ÁCIDOS GRAXOS DE ALGUNS DOS

PRINCIPAIS ÓLEOS VEGETAIS E GORDURAS ANIMAIS DISPONÍVEIS PARA A

PRODUÇÃO DE BIODIESEL (PARENTE, 2003)

PRINCIPAIS ÁCIDOS GRAXOS

FONTE

N° DE

IODO Láurico Mirístico Palmítico Esteárico Oleico Linoleico Linolênico

Sebo bovino 38-46 - 2,0 29,0 24,5 44,5 - -

Banha suína 46-70 - - 24,6 15,0 50,4 10,0 -

Côco 8-10 45,0 20,0 5,0 3,0 6,0 - -

Oliva 79-88 - - 14,6 - 75,4 10,0

Amendoim 83-100 - - 8,5 6,0 51,6 26,0 -

Algodão 108-110 - - 23,4 - 31,6 45,0 -

Milho 111-130 - - 5,5 1,5 44,0 48,0 1,0

Soja 137-143 - - 11,0 2,0 20,0 64,0 3,0

Dentre as oleaginosas já investigadas para a produção de biodiesel, figuram a

soja, o girassol, a mamona, o milho, a canola, o babaçu, o buriti, o dendê, o

amendoim, entre outras [PARENTE, 2003; PIYAPORN et al., 1996; RAMOS et al.,

2003]. Gorduras animais e rejeito de óleos usados na cocção de alimentos também

são utilizados como matérias-primas alternativas [MA e HANNA, 1999]. No entanto,

é importante ressaltar que as propriedades químicas e físicas da matéria-prima

empregada no processo estão diretamente associadas ao rendimento da

Page 26: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

8

transesterificação e, por conseguinte, à qualidade do produto final para fins

combustíveis [LANG et al., 2001].

O Brasil, por ser detentor de uma grande extensão territorial, apresenta uma

grande diversidade de matérias-primas para a produção de biodiesel (Tabela 3). No

entanto, a viabilidade de cada matéria-prima dependerá de suas respectivas

competitividades técnica, econômica e sócio-ambiental, passando inclusive por

importantes aspectos agronômicos, tais como (a) o teor em óleos vegetais; (b) a

produtividade por unidade de área; (c) o equilíbrio agronômico e demais aspectos

relacionados ao ciclo de vida da planta; (d) a atenção a diferentes sistemas

produtivos; (e) o ciclo da planta; e (f) a sua adaptação territorial, que deve ser tão

ampla quanto possível, atendendo a diferentes condições climáticas [RAMOS, 2003].

TABELA 3. OLEAGINOSAS DISPONÍVEIS NO TERRITÓRIO NACIONAL PARA A PRODUÇÃO DE

BIODIESEL (PARENTE, 2003)

Região Óleos vegetais disponíveis

Norte dendê, babaçu e soja

Nordeste Babaçu, soja, mamona, dendê, algodão e coco

Centro-oeste soja, mamona, algodão, girassol, dendê e gordura animal

Sudeste soja, mamona, algodão e girassol

Sul soja, canola, girassol e algodão

O processo químico empregado mundialmente para a produção de biodiesel é

o da transesterificação ou alcoólise, na qual um óleo vegetal triglicerídico reage com

um álcool (comumente metanol ou etanol) na presença de um catalisador pra formar,

majoritariamente, ésteres monoalquílicos (biodiesel) e glicerol (Figura 1).

Page 27: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

9

Por outro lado, o glicerol, inicialmente recuperado em sua forma bruta por

processos de decantação, deve ser considerado um co-produto de alto valor

agregado, pois existem importantes aplicações comerciais para seu uso nas

indústrias química, farmacêutica e de cosméticos [RANESES et al., 1999; ZAGONEL

& RAMOS 2001; ZHANG et al., 2003].

A alcoólise de triacilglicerídeos por álcoois mono-hidroxilados é composta por

três reações consecutivas e reversíveis, nas quais são formados diacilglicerídeos e

monoacilglicerídeos como intermediários, conforme mostrado na Figura 1 [SCHWAB

et al., 1987]. Sua estequiometria requer 1 mol de triacilglicerídeo para 3 mols de

álcool, mas, devido ao fato desta reação ser reversível, um excesso de álcool se faz

necessário para promover um aumento no rendimento da produção dos ésteres

alquílicos. Assim, os triésteres de ácidos graxos que compõem os óleos vegetais são

transformados em monoésteres [KNOTHE, 2005].

Os álcoois empregados são normalmente primários e secundários, tendo

entre 1 a 8 átomos de carbono. Dentre estes, os mais utilizados no processo são:

metanol, etanol, propanol, butanol e álcool amílico. O metanol e etanol são mais

freqüentemente utilizados devido ao baixo custo [MA & HANNA, 1999].

A alcoólise de óleos vegetais ou gordura animal pode ser conduzida por uma

variedade de rotas tecnológicas em que diferentes tipos de catalisadores podem ser

empregados: base inorgânica (hidróxido de sódio e potássio), ácidos minerais (ácido

sulfúrico), resinas de troca iônica (resinas catiônicas fortemente ácidas),

argilominerais ativados, hidróxidos duplos lamelares e enzimas lipolíticas (lipases)

[SCHUCARDT et al., 1998; RAMOS, 2003].

Page 28: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

10

FIGURA 1. REAÇÃO DE TRANSESTERIFICAÇÃO DE ÓLEOS VEGETAIS OU GORDURA ANIMAL

COM ÁLCOOL FORMANDO ÉSTERES E GLICEROL.

1)

2)

3)

Atualmente, catálise homogênea em meio alcalino é a rota tecnológica

predominante, no meio industrial, para a produção do biodiesel. As reações de

transesterificação catalisadas por álcali são muito rápidas, se comparadas com as

conduzidas em meio ácido [MA & HANNA, 1999; VICENTE et al., 2004; KUCEK,

2004]. Além disso, o catalisador alcalino é menos corrosivo e exige menores razões

molares entre o álcool e o óleo vegetal. Nesse sentido, muitas rotas tecnológicas

têm sido desenvolvidas, através do uso de catalisadores como os carbonatos de

CH2

CH

CH2

CO2R2

CO2R3

CO2R1

+ 3R'OH

CH2

CH

CH2

HO

HO

HO

+Catalisador

CO2R1 R'

CO2R2 R'

CO2R3 R'

Triacil-glicerídeo Álcool Ésteres Glicerol

CH2

CH

CH2

CO2R2

CO2R3

HO

CO2R1 R'

CH2

CH

CH2

CO2R2

CO2R3

CO2R1+ R'OH

k1

k4

+

Triacil-glicerídeo Diacil-glicerídeo

CH2

CH

CH2CO2R3

HO

HO CO2R2 R'

CH2

CH

CH2

CO2R2

CO2R3

HO

+ R'OHk2

k5

+

Diacil-glicerídeo Monoacil-glicerídeo

CH2

CH

CH2

HO

HO

HO

CO2R3 R'

CH2

CH

CH2CO2R3

HO

HO + R'OHk3

k6

+

Monoacil-glicerídeo Glicerol

Page 29: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

11

sódio e potássio e alcóxidos, como metóxido, etóxido, propóxido e butóxido de sódio

[BONDIOLI et al., 1995; SCHUCHARDT et al., 1998; VICENTE et al., 2004].

Entretanto, os hidróxidos de sódio e potássio são mais comumente empregados por

apresentarem vantagens econômicas sobre os respectivos alcóxidos, e embora a

conversão dos triglicerídeos em ésteres seja mais rápida com o emprego de

alcóxidos [VICENTE et al, 2004].

A transesterificação catalisada por ácido não desfruta da mesma difusão em

aplicações comerciais, como o processo em meio básico. A principal razão para a

grande utilização da catálise básica se deve ao fato de que a reação em meio

homogêneo catalisada por ácido são aproximadamente 4000 vezes mais lenta que a

reação catalisada por base. Porém, a transesterificação catalisada por ácido

apresenta como principal vantagem o fato do catalisador não ser afetado pela

presença de ácidos graxos livres da matéria-prima [LOTERO et al., 2005; MEHER et

al., 2006].

Na realidade, os catalisadores ácidos podem catalisar esterificação e

transesterificação simultaneamente, e assim, apresentam a vantagem de poderem

produzir biodiesel diretamente de óleos que apresentam índice de acidez elevado.

Este tipo de matéria-prima não é adequada para transformação em biodiesel via

catálise alcalina pois os ácidos carboxílicos livres reagem rapidamente com o

catalisador produzindo sabões que inibem a separação entre o éster e a glicerina,

nas etapas de lavagem com água.

Diversos catalisadores podem ser utilizados na alcoólise, preferencialmente,

os ácidos sulfônicos e sulfúrico. Estes catalisadores fornecem alto rendimento em

ésteres monoalquílicos, mas a reação é lenta, normalmente requerendo

temperaturas de 100ºC e mais de 3 horas para atingir uma boa taxa de conversão.

Page 30: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

12

Outra desvantagem é a contaminação com catalisadores ácidos residuais que

podem atacar as partes metálicas do motor, causando a corrosão e, por isso, devem

ser eliminados completamente do produto final, implicando em muitas etapas de

purificação [CANAKCI & GERPEN, 1999].

O mecanismo de transesterificação apresentado na Figura 2, para a

transesterificação catalisada por ácido, indica que a etapa fundamental na interação

do catalisador-substrato é a protonação da carbonila. Isto aumenta o eletrofilicidade

do átomo de carbono adjacente, deixando mais suscetível para o ataque

nucleofílico. Por outro lado, quando a catálise básica é utilizado leva aos produtos

por uma rota mais direta, um íon alcóxido é formado, e este atua diretamente como

um nucleófilo forte, por um mecanismo diferenciado para a reação. Esta diferença

crucial, é a formação de uma espécie mais eletrofílica (catálise ácida) contra o de um

nucleófilo mais forte (catálise básica), que são responsáveis pelas diferenças

observadas na atividade.

Page 31: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

13

FIGURA 2. MECANISMO DE TRANSESTERIFICAÇÃO DE ÓLEOS VEGETAIS POR CATÁLISE

ÁCIDA.

A transesterificação em fase heterogênea ainda é muito pouca estudada,

destacando-se a catálise enzimática, onde são utilizados as lipases, que são

enzimas cuja função biológica é a de catalisar a hidrólise de gorduras e óleos

vegetais, com a subseqüente liberação de ácidos graxos livres, diacilgliceróis,

monoacilgliceróis e glicerol livre.

Como biocatalisadores, apresentam algumas vantagens importantes sobre os

catalisadores clássicos, como a especificidade, a regiosseletividade e a

enatiosseletividade, que permitem a catálise de reações com um número reduzido

de subprodutos necessitando de condições brandas de temperatura e pressão

R3 O

OOH

O R2

O

R1 O

OH

R4+

R3 O

OO

R1O

OH

R4HO R2

O

R3 O

OO R1

OH

O R2

O

+R4OHR3 O

OO O

OH

H R4

R1

O R2

O

R3 O

OO R1

O

O R2

O

H+

R3 O

OO R1

OH+

O R2

O

Page 32: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

14

[FACIOLI & GONÇALVES, 1998; UOSUKAINEN et al., 1998]. Como desvantagens,

as enzimas ainda apresentam importantes limitações tecnológicas, como o custo, a

disponibilidade de mercado e a exigência de tempos de reação considerados

proibitivos para um processo industrial. No entanto, recentes evoluções na área da

tecnologia enzimática tendem a minimizar estes problemas, fazendo com que a

tecnologia enzimática possa a ser considerada uma alternativa viável à

transesterificação.

À exemplo da catálise enzimática, o uso de catalisadores heterogêneos, como

zeólitas, hidróxidos duplos lamelares, porfirinas e resinas de troca iônica, permite

uma redução significativa do números de etapas de purificação do biodiesel, facilita

a reutilização do catalisador e conseqüentemente, reduz o custo do processo de

produção [CHOUDARY et al., 2000; FUKUDA et al., 2001; ABREU et al., 2004;

KUCEK, 2004; SUPPES et al., 2004].

Outros tipos de catalisadores heterogêneos utilizados no processo de

transesterificação corresponde a alguns tipos de polímeros orgânicos e resinas

trocadoras de íons, sendo estes os catalisadores menos estudados mundialmente.

1.2. Os catalisadores poliméricos

Desde os estudos pioneiros de Merrifield sobre a síntese de polipeptídeos em

fase sólida, é sabido que o poliestireno reúne muitos dos requisitos necessários para

que um material polimérico possa ser utilizado como suporte de catalisadores e

reagentes [MERRIFIELD, 1963; FRÉCHET, 1981]. Assim, o estireno e

divinilbenzeno (DVB) estão entre os monômeros mais empregados na preparação

de suportes poliméricos sólidos. Quando a polimerização do estireno se dá na

Page 33: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

15

presença de quantidades variadas de divinilbenzeno, ocorre a formação de um

copolímero insolúvel, poli(estireno-co-divinilbenzeno), cujas características, neste

caso, dependem fundamentalmente do teor de DVB presente no copolímero. A

estrutura de uma matriz constituída de cadeias de poliestireno interligadas por

divinilbenzeno (PS-DVB) se encontra ilustrada na Figura 3 [KAPURA & GASTES,

1973].

FIGURA 3. ESTRUTURA DE UMA MATRIZ POLIMÉRICA CONSTITUÍDA DE ESTIRENO E

DIVINILBENZENO.

Em muitos casos, o sucesso do emprego de um determinado catalisador

heterogêneo depende, em grande parte, das características do suporte acima

mencionado. Bergbreiter propôs que na escolha desse suporte devem ser

considerados alguns fatores e propriedades físico-químicas do mesmo, dentre os

quais podem ser destacados [BERGBREITER, 2002]:

- possível atividade catalítica do próprio suporte;

- modificação, pelo suporte, das propriedades do componente suportado;

- área superficial;

- porosidade;

- tamanho de partícula;

CH2 CH CH2 CH CH2

CHCH2 CH2 CH CH2

Page 34: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

16

- estabilidade térmica e mecânica frente às condições em que a reação

catalisada é conduzida.

Na Área de Polímeros, resina é o termo indistintamente empregado para

descrever polímeros, com ou sem ligação cruzadas [AKELAH, 1981; BARREIRA,

1991; SHARMA, 1995]. No entanto, em Catálise Heterogênea, o termo resina se

refere à espécie que, sendo constituída de longas cadeias poliméricas interligadas

por ligações cruzadas, apresentam estrutura tridimensional, insolúvel e porosa, a

qual é denominada matriz polimérica. A capacidade de trocar íons surge quando são

introduzidos grupos funcionais adequados no suporte polimérico.

As primeiras resinas trocadoras de íons totalmente sintéticas foram

preparadas em 1937 [FRÉCHET, 1981]. Inicialmente, o processo utilizado na

obtenção desses materiais foi a polimerização por condensação, atualmente

substituído, quase que totalmente, pela polimerização em cadeia via radicais livres.

Apesar de as primeiras idéias sobre polimerização em suspensão terem

surgido em 1910, resinas trocadoras de íons só começaram a ser preparadas

segundo essa técnica em 1950 [KUNIN et al., 1962; BARREIRA, 1991]. Uma

vantagem logo constatada, foi a maior uniformidade do produto obtido via

polimerização em suspensão. Fundamentalmente, essa técnica se baseia na

dispersão de uma fase orgânica polimerizável contendo o iniciador em um meio no

qual o polímero formado é insolúvel. Como regra geral, são utilizados um monômero

vinílico de funcionalidade dois e um outro com funcionalidade tal que permita a

formação de ligação cruzada entre as cadeias poliméricas. As resinas, assim

preparadas, apresentam forma esférica e a distribuição granulométrica, normalmente

Page 35: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

17

na faixa de 0,3 a 1,25 mm, é influenciada pela intensidade da agitação mecânica

empregada [HART et al., 2002].

Basicamente, a introdução de grupos funcionais na matriz polimérica pode ser

conseguida de duas formas. Na primeira, monômeros contendo os grupos funcionais

desejados (ou grupamentos precursores destes grupos funcionais) são diretamente

polimerizados. Alternativamente, de acordo com o caso, o suporte polimérico pode

ser previamente preparado e o grupo funcional introduzido posteriormente, por

modificação química do suporte polimérico [MOLINARI, et al, 1979; HAMER & SUN,

2001] .

Segundo Coutinho [COUTINHO et al.,2001], a principal forma de preparação

de espécies suportadas é por meio de modificação química do copolímero-base

(suporte polimérico). Um exemplo, ilustrado na Figura 4, é o da sulfonação de um

suporte constituído de poliestireno reticulado com divinilbenzeno, onde os anéis

aromáticos presentes no copolímero insolúvel PS-DVB são sulfonados por reação

com ácido sulfúrico concentrado, na presença de 1,2–dicloro-etano, cuja função é a

de expandir a matriz polimérica permitindo, assim, que a superfície interna também

seja sulfonada.

De acordo com Santos em 1991, a maior parte dos grupos funcionais

introduzidos na matriz polimérica se concentra no interior da pérola de resina, como

mostra a Figura 5.

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18

FIGURA 4. SULFONAÇÃO DE UMA MATRIZ POLIMÉRICA CONSTITUÍDA DE POLIESTIRENO E

DIVINILBENZENO.

FIGURA 5. REPRESENTAÇÃO DE UMA RESINA CATIÔNICA SULFONADA [SANTOS, 1991].

Poliestireno

Divinilbenzeno

CH2 CH CH2 CH CH2

CHCH2 CH2 CH CH2

CH2 CH CH2 CH CH2

CHCH2 CH2 CH CH2

SO3H

SO3H

SO3H

+ H2SO4ClCH2CH2Cl

94ºC / 3,5 h

Page 37: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

19

Resinas catiônicas podem ser utilizadas como catalisadores em reações

onde, em meio homogêneo, são empregados ácidos minerais ou ácidos sulfônicos.

Estando o polímero em presença de água, os grupos catiônicos, da mesma forma

que em compostos de baixa massa molar, apresentam diferentes valores para a

constante de acidez.

Quando uma solução contendo íons ou espécies não carregadas entra em

contato com uma resina de troca iônica, qualquer um dos seguintes processos pode

ocorrer:

(a) troca iônica;

(b) absorção do solvente pela resina;

(c) penetração do eletrólito na resina;

(d) absorção, pela resina, de moléculas não carregadas.

Esse último fenômeno é de fundamental importância quando a resina é

utilizada na catálise de reações comuns da Química Orgânica já que, ao serem

absorvidos pelo material, os reagentes se difundem pelos poros até a superfície

interna do mesmo, onde se localiza a maior parte dos grupos funcionais. A difusão

para o interior da partícula do material, típica de processos heterogêneos, é um

fenômeno físico introduzido pela matriz polimérica [HALÁSZ & MARTIN, 1978;

HALÁSZ & VOGTEL, 1980]. Nos sistemas catalisados por resinas de troca iônica em

que essa é a etapa lenta do processo, os grupos funcionais localizados na superfície

externa da pérola participam mais efetivamente da reação, de forma que a

conversão, nesses casos, varia com o diâmetro da partícula da resina funcionalizada

[AKELAH, 1981; AKELAH & SHERRINGTON, 1981].

Assim, o desempenho catalítico de uma resina de troca iônica está associado

não só à concentração de grupos funcionais, mas também a propriedades físico-

Page 38: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

20

químicas do suporte. Portanto, os fatores que influenciam a atividade desses

materiais são muito diferentes daqueles relacionados com a atuação de

catalisadores homogêneos.

Várias são as vantagens do emprego de polímeros funcionalizados, do tipo

resinas trocadoras de íons, como catalisadores. Em primeiro lugar, podem ser

citadas as facilidades encontradas pelo usuário que manipula a resina e idealiza a

síntese na qual a mesma será utilizada como catalisador:

- as resinas podem ser manuseadas sem perigo para o operador e são de

fácil estocagem. Apesar da equivalência com ácidos minerais fortes, as resinas são

menos oxidantes e corrosivas do que os mesmos, já que a maior parte dos sítios

catalíticos se localiza no interior das pérolas do material;

- várias são as situações descritas na literatura em que as resinas se

comportam como catalisadores seletivos, possibilitando maior controle sobre o curso

das reações.

A fácil separação do meio reacional, por simples filtração do catalisador é

mais uma vantagem sobre os catalisadores homogêneos, possibilitando a obtenção

de um produto com maior grau de pureza. Além disso, no caso de catalisadores

heterogêneos, é desnecessário neutralizá-los para removê-los por meio de lavagem

do meio reacional, o que é uma etapa que geralmente reduz o rendimento [SAHA &

SHARMA, 1996; HAMER & SUN, 2001; MARQUARDT & EIFLER-LIMA, 2001;

MITSUTANI; 2002]. A eliminação de etapas e equipamentos, relacionados com a

separação do catalisador e com a purificação do produto, permite a simplificação dos

processos contínuos ou em batelada onde são usadas resinas de troca iônica. Em

termos de equipamento, outro ponto favorável à utilização das resinas é que apenas

a superfície externa dessas, que apresenta um percentual reduzido do total de

Page 39: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

21

grupos ácidos, entra em contato com o equipamento. Como conseqüência, a

corrosão do mesmo é eliminada, ou significativamente reduzida [MARQUARDT &

EIFLER-LIMA, 2001; GOMES et al., 2004; COSTA et al., 2003; COUTINHO et al.,

2001].

Um aspecto negativo da catálise homogênea através do ácido sulfúrico, que

já era motivo de preocupação há duas décadas, é a poluição atmosférica provocada

pela emissão de SO2 e compostos à base de enxofre, na etapa de reconcentração

do catalisador [NEIER & WOLLNER, 1973; BARREIRA, 1991]. Isso não ocorre

quando se substitui o ácido solúvel por uma resina de troca iônica sulfônica que, no

caso de sofrer desativação por contaminantes ou uso prolongado, pode ser

reativada através de um procedimento simples, que não envolve liberação de gases

para a atmosfera.

A principal desvantagem do uso de resinas como catalisadores é sua

temperatura máxima de operação, relativamente baixa. A literatura sugere

[GOTTIFREDI et al., 1968; YERAMIAN, et al., 1968; GIMÉNEZ et al., 1987] que

esses materiais devem ser usados abaixo de 125ºC, para manter longa a sua vida

útil.

Também é encontrado na literatura o uso de catalisadores ácidos suportados

em matrizes poliméricas como catalisadores heterogêneos em diversos tipos de

reação da Síntese Orgânica, incluindo as reações de esterificação e

transesterificação [JOHN & ISRAELSTAM, 1960; AKELAH & SHERRINGTONN,

1981; BARREIRA, 1991; SANTOS, 1991; COUTINHO et al., 2001].

Dentre os catalisadores heterogêneos ácidos, os que mais nos despertam

interesse são aqueles nos quais os sítios ativos se encontram covalentemente

ligados a uma matriz polimérica sintética. Essa matriz pode ser o poliestireno linear

Page 40: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

22

(PS), (homopolímero), o poliestireno reticulado ou mesmo copolímeros de estireno

com diversos outros comonômeros.

Entendendo que as reações de sulfonação provocam grandes mudanças nas

propriedades físicas do PS linear, principalmente quanto à sua polaridade, é de se

esperar que o PS sulfonado permaneça insolúvel durante a reação de produção de

biodiesel.

1.3. Poliestireno

Os números de produção de poliestireno (PS) no Brasil por si justificam o

interesse em pesquisas no sentido de aprimorar os processos produtivos

convencionais e de desenvolver novos processos e produtos utilizando este material.

Características como baixa densidade, baixa condutividade elétrica, alto índice de

refração, baixo custo e possibilidade ilimitada de cores, fazem do PS o quinto

termoplástico e estima-se que sejam consumidos em torno de 300 mil toneladas ao

ano, no país [BNDES, 2002].

O PS é obtido através da polimerização do estireno, sendo que são utilizadas

quatro técnicas mais comumente conhecidas: polimerização em massa, em solução,

em suspensão e em emulsão. A reação de polimerização é apresentada,

esquematicamente, na Figura 6.

O monômero para a produção do poliestireno é o estireno, um hidrocarboneto

líquido com ponto de ebulição de 145ºC e ponto de fusão de - 30,6ºC. Quando puro,

é incolor com um odor agradável e adocicado, ao contrário do que se observa, pois

o odor irritante aparece devido à contaminação por aldeídos formados quando da

exposição ao ar livre [BORRELLY, 2002; NEVES, 2002; GONÇALVES, 2003].

Page 41: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

23

FIGURA 6. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA POLIMERIZAÇÃO DO ESTIRENO

Sua produção pode vir da desidrogenação do etil-benzeno, que é obtido a

partir da alquilação do etileno e do benzeno, na presença de um catalisador como o

cloreto de alumínio.

A primeira referência ao trabalho com estireno, este foi obtido a partir de

resinas derivadas de árvores. Se destiladas em água, estas geram um material

oleoso de odor desagradável e que contém, em sua composição, a mesma razão

entre carbono e hidrogênio apresentada pelo benzeno. É comum, no entanto,

creditar a Bonastre o primeiro isolamento do monômero de estireno em 1831. Outros

pesquisadores (D’Arcet em 1837, G. J. Mulder em 1839, G. H. Gerhardt em 1841, A.

Glenard e C. H. Boudault em 1844) conseguiram isolar o estireno a partir de vários

ingredientes como cânfora e óleo de cássia [NEVES, 2002; GONÇALVES, 2003].

O estudo da polimerização iniciou com E. Simon em 1839, que divulgou seus

experimentos em que o monômero de estireno foi transformado em um material que

apresentava um maior ordenamento. Esse material foi interpretado, por ele, como

sendo um óxido de estireno. As reações eram conduzidas na presença de ar e

aquecimento. Em 1845, dois químicos ingleses, Hoffman e Blyth, aqueceram

estireno em tubos selados de vidro até 200°C e obtiveram um material sólido, o qual

chamaram de metaestireno [BORRELLY, 2002; NEVES, 2002; GONÇALVES, 2003].

nn

Estireno Poliestireno

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24

F. E. Matthews patenteou um método de polimerização do estireno por

processos térmicos e catalíticos, que geravam uma substância útil na produção de

artefatos feitos primeiramente em madeira, borracha e vidro. O trabalho de Stobbe e

Posnjak, medindo viscosidades relativas em um equipamento viscosímetro de

Ostwald detalha os primeiros usos de peróxidos, em 1914.

Devido ao estireno ser altamente reativo, as operações de estocagem, refino

e purificação eram, na época, muito difíceis. Em 1922, Moureau e Dufraisse

descobriram que derivados de aminas aromáticas e fenóis retardavam a

polimerização do estireno. Essa descoberta possibilitou o aumento da quantidade de

estireno disponível no mercado.

O químico americano Staudinger contribuiu significativamente para a

pesquisa fundamental sobre a polimerização em seus estudos de monômeros de

estireno e das ligações das cadeias vinílicas. Atribui-se a ele o nome de poliestireno

aos produtos dessas reações em cadeia e a química básica de compostos vinílicos,

e do estireno, em particular [VILLALOBOS et al., 1991; NEVES, 2002; GONÇALVES

2003].

Em 1937, a Dow Chemical Company introduziu no mercado um poliestireno

de uso doméstico chamado Styron. Era utilizado o mesmo processo de pirólise

catalítica mas, devido às inovações nos processos de destilação e à possibilidade de

uso dos inibidores, o produto obtido era passível de ser comercializado. A Monsanto

Chemical Company e a Bakelite Company seguiram o mesmo caminho suprindo o

mercado de plásticos com poliestireno. Contudo, em 1938, apenas eram produzidos

cerca de 90000 kg de poliestireno. O grande impulso para a produção aconteceu

devido ao aumento de demanda durante a Segunda Guerra Mundial, atingindo a

cifra de 23 mil toneladas, um aumento de aproximadamente 250 vezes.

Page 43: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

25

O poliestireno expandido (EPS) tem origem relativamente recente e a

detentora da tecnologia era a Empresa alemã Badische Anilin und Soda Fabrik

(BASF). Ele foi primeiramente produzido na Grã-Bretanha em 1943 e foi introduzido

na América pela Koppers Company LTDA, em 1954. Todos os produtores nessa

época tinham sua tecnologia licenciada da BASF. Desde então, o processo original

de produção mudou muito pouco durante seus aproximadamente 60 anos de

existência. As mudanças mais significativas resultaram da sofisticação de

equipamentos e do surgimento de técnicas de controle mais efetivas.

Nos anos de 1997 e 2002, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

e Social (BNDES), publicou relatórios agregando uma série de informações sobre a

situação do mercado de estireno e poliestireno, situando-os em nível mundial e

nacional. A demanda mundial de PS, em 2001, atingiu em torno de 10,5 milhões de

toneladas e a demanda da América do Sul, em torno de 450 mil toneladas, tendo o

Brasil como maior produtor de PS e responsável por 64% da produção, com uma

taxa de crescimento da produção de 5,2% ao ano, no período de 1993 até o

presente, sendo uma das regiões mais dinâmicas do mundo nesse segmento. Desta

produção cerca de 45% é destinado à produção de embalagens e descartáveis

[BNDES, 2002].

Em relação aos seus principais concorrentes, o poliestireno apresenta

vantagens sobre o preço do ABS (terpolímero de acrilonitrila, butadieno e estireno) e

do PET, e tem um processamento mais fácil que o do polipropileno. Para aplicações

de baixo valor agregado, como embalagens e descartáveis, o poliestireno tem uma

significativa influência, onde a embalagem de papel é o seu grande concorrente.

Estima-se que 34% de todas as embalagens e descartáveis nos EUA são fabricadas

a partir do poliestireno.

Page 44: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

26

Algumas modificações no mercado foram relevantes na concorrência das

diferentes matérias-primas nas últimas décadas, mais notadamente a substituição

por poliestireno do uso de ABS na produção de fitas cassetes de áudio, na década

de 1970, e de vídeo, na década de 1980, assim como a mudança recente dos

gabinetes de televisores, impressoras e revestimentos de geladeiras anteriormente

fabricadas a partir de ABS. Alguns produtos deixaram de ser fabricados a partir do

poliestireno, como é o caso das embalagens para laticínios, que passaram a usar

polipropileno desde o final da década de 1980 [BNDES, 2002].

De maneira geral, após ter cumprido a sua função, qualquer material torna-

se um resíduo e o PS não está fora dessa situação.

Com respeito ao nível de geração de resíduos, o EPS distingue-se pelo seu

elevado nível de contaminação visual. Peças de embalagem grandes, que criam

grandes volumes nos pontos de coleta e sua cor branca tornam o EPS muito visível,

produzindo um efeito de grande desperdício [BORRELLY, 2002; BNDES, 2002].

Os plásticos em geral, tal como o PS cristal, correspondem a apenas 7% dos

resíduos sólidos urbanos. Isso não impede, porém, que a indústria, em conjunto com

outras entidades que atuam nesta área, estejam a desenvolver políticas de gestão

de resíduos mais adequadas.

Este tipo de resíduo, normalmente, tem três destinos principais: sua

reutilização, seu reaproveitamento energético ou seu direcionamento a um aterro

sanitário.

Nos casos em que os resíduos gerados não podem ser reaproveitados, casos

em que ele está contaminado ou muito sujo, seu destino é o aterro ou a sua queima.

A reutilização dos resíduos pode ser feita, dentre vários tipos, através da reciclagem

mecânica convencional, para a produção de novos artefatos de PS.

Page 45: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

27

A reciclagem química do PS é muito pouco estudada no Brasil, o que nos

desperta o interesse, uma vez que elimina em grande parte os problemas do

descarte de materiais poliméricos, bem como fornece um valor agregado maior ao

PS reciclável. Por outro lado, a reciclagem mecânica, na grande maioria dos casos,

apresenta a desvantagem de gerar materiais com propriedades mecânicas e físico-

químicas inferiores ao do polímero que lhe deu origem, sendo utilizado

principalmente para obter produtos com baixo valor agregado, tais como: sacos de

lixo, embalagens não-alimentícias e componentes de automóveis.

1.4. Sistemas de polimerização em suspensão

Em um sistema típico de polimerização em suspensão, um ou mais

monômeros contendo iniciadores são dispersos em uma fase aquosa onde todos

são insolúveis. A dispersão é mantida pela combinação de forte agitação mecânica e

pela adição de agentes de suspensão (também chamados de estabilizantes).

Enquanto a suspensão é mantida, as gotas de monômero são convertidas de um

estado líquido de alta mobilidade, passando por um estado altamente viscoso

(conversão entre 20 e 60%), até se tornarem partículas sólidas de polímero

(conversão >70%). Os estabilizantes previnem a coalescência das gotas,

inicialmente, e depois estabilizam as partículas de polímero quando o efeito gel se

torna pronunciado [YUAN et al., 1991; NEVES, 2002; GONÇALVES, 2003]

Uma das operações mais importante em uma polimerização em suspensão é

o controle final da distribuição do tamanho das partículas, o qual dependerá do tipo

de monômero, concentração de estabilizante, condições de agitação e geometria do

reator. A morfologia da partícula é uma característica importante no produto

Page 46: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

28

polimérico final, particularmente nos casos de poliestireno expandido e de PS,

resinas de troca iônica e poli(cloreto de vinila) (PVC) e copolímeros de poliestireno-

divinilbenzeno (PS-DVB). As partículas poliméricas produzidas em suspensão

possuem aplicações em separações cromatográficas, resinas de troca iônica,

engenharia biomédica e biomecânica, embalagens para uso doméstico e industrial,

componentes para a indústria eletro-eletrônica, automobilística, aeroespacial, entre

outras [YUAN et al., 1991; NEVES, 2002; GONÇALVES, 2003].

Basicamente, os processos de polimerização em suspensão podem ser

divididos em três [YUAN et al., 1991]:

1- Polimerização em suspensão em pérola: o monômero é solvente do polímero. As

gotas de monômero passam por um estágio viscoso, até se transformarem em

pequenas esferas sólidas.

2- Polimerização em suspensão em meio precipitante: O monômero não é solvente

do polímero. Ocorre, em cada gota, uma polimerização por precipitação em massa,

formando um produto final granulado, de formas irregulares.

3- Polimerização em suspensão em massa: é um processo que ocorre em dois

estágios. No primeiro estágio, uma borracha (polibutadieno, por exemplo) é

dissolvida numa mistura de monômero grafitizante. A mistura é polimerizada

inicialmente num processo em massa. Quando a conversão alcança de 25 a 30%, a

massa reacional altamente viscosa é transferida para um reator contendo água e

estabilizante. A reação prossegue em suspensão até que a conversão desejada seja

alcançada.

A polimerização em suspensão apresenta as seguintes vantagens, quando

comparada a outros processos (massa, solução e emulsão):

Page 47: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

29

a. fácil remoção de calor e controle de temperatura;

b. baixa viscosidade da fase dispersa;

c. baixos níveis de impurezas no produto polimérico (se comparado com

emulsões);

d. produto final na forma particulada.

Por outro lado, as desvantagens são:

a. baixa produtividade para a mesma capacidade do reator (se comparado

com os sistemas em massa);

b. problemas de tratamento de efluentes (a água do meio contínuo precisa

ser tratada);

c. o polímero adere nas paredes do reator, chicanas, pás do agitador e

outras superfícies;

d. dificuldade de se manter a produção de um copolímero homogêneo

durante a batelada.

Na maioria dos trabalhos sobre reações de polimerização em suspensão

que podem ser encontrados na literatura, assume-se que a cinética da reação é

semelhante a da polimerização em massa [HATATE et al., 1981; SONI &

ALBRIGHT, 1981; YUAN et al. 1991]. Ou seja, considera-se que cada gota de

monômero se comporta como um minireator em massa e o comportamento global do

reator é o somatório do comportamento de cada gotícula. Assim, esta hipótese

assume que o tamanho da partícula, tipo e concentração de estabilizante não devem

influenciar a cinética da reação, no caso de homopolimerizações. Embora bastante

aceita, não podem ser encontrados na literatura trabalhos que apresentem uma

discussão detalhada baseada em dados experimentais que fundamentem esta

hipótese [HATATE et al., 1981; SONI & ALBRIGHT, 1981].

Page 48: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

30

Se o monômero possuir solubilidade em água, o polímero pode ser formado

em emulsão e/ou solução na fase aquosa. Esta fração indesejável de polímero, que

possuirá massa molar e estrutura diferente daquela fração formada em suspensão,

pode ser minimizada pela adição de eletrólitos à fase aquosa. Outra possibilidade é

a adição de pequenas quantidades de inibidores solúveis em água, como

tiossulfatos, tiocianatos ou nitrito de sódio [HATATE et al., 1981; SONI & ALBRIGHT,

1981].

Basicamente, o processo de formação das partículas pode ser dividido em

três estágios. No primeiro estágio, ocorre a formação de uma dispersão líquido-

líquido onde o monômero líquido é disperso em pequenas gotas, estabilizadas pela

ação combinada da agitação mecânica e adição de agentes de suspensão. Os

estabilizantes podem ser materiais orgânicos ou inorgânicos que interferem na

tendência de aglomeração das gotas, eletrólitos para alterar a tensão interfacial

entre as fases, ou polímeros solúveis em água. No segundo estágio, ocorre um

equilíbrio dinâmico entre os processos de quebramento e de coalescência,

determinando o tamanho final das partículas. Neste estágio, a viscosidade aumenta

à medida que a reação se processa. As gotas quebram devido à ação mecânica do

agitador e coalescem após se chocarem. No terceiro estágio, as partículas

poliméricas tornam-se sólidas. Após este ponto, não ocorre mais ruptura nem

coalescência e seu diâmetro permanece constante [HATATE et al., 1981; SONI &

ALBRIGHT, 1981; YUAN et al. 1991]. O monômero ainda não reagido permanece

em seu interior até que a reação se complete, no caso de monômeros insolúveis em

água.

Os agentes de suspensão são fatores chave no processo de polimerização

em suspensão. Um grande número de estabilizantes estão relatados na literatura.

Page 49: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

31

Porém, ainda não surgiu um trabalho que apresente resultados experimentais com a

comparação dos efeitos de diversos estabilizantes em um determinado sistema de

polimerização, e que apresente uma análise detalhada da variação do seu tipo e

concentração sobre as propriedades das partículas poliméricas e na cinética da

reação, permitindo, desta forma, a seleção daquele que melhor se enquadre na

produção de um polímero com as propriedades finais requeridas [NEVES, 2002;

GONÇALVES, 2003].

As indústrias que trabalham com sistemas de polimerização em suspensão

utilizam, basicamente aqueles agentes estabilizantes já consagrados na literatura,

que são o PVAl, poli(vinil-pirrolidona) (PVP), fosfato tricálcico (TCP), sem a

realização de um estudo aprofundado sobre aquele que melhor se enquadra ao seu

processo de polimerização.

Os estabilizantes mais conhecidos para a produção de polímeros em

suspensão são: gelatina, hidroxipropilmetilceculose, metilcelulose, poli(ácido acrílico)

e seus sais, amido, fosfatos de metais alcalino, silicatos de magnésio,

hidroxietilcelulose, óxido de zinco, hidróxido de magnésio, dodecilbenzeno sulfonato

de sódio, copolímeros de ácido acrílico e acrilato de 2-etilhexila [SONI & ALBRIGHT,

1981].

O agente de suspensão inicialmente estabiliza as gotas de monômero e evita

a formação de aglomerações durante o estágio viscoso, o que pode levar ao disparo

da reação e perda da suspensão. Os estabilizantes devem ser, preferencialmente,

solúveis em água ou insolúveis nas duas fases, pois mudanças na tensão interfacial

da fase dispersa podem levar a alterações na estrutura do polímero. Observa-se que

a capacidade de estabilização do agente de suspensão não depende somente de

sua capacidade de alterar a tensão interfacial, mas também das propriedades

Page 50: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

32

mecânicas do filme protetor formado na superfície das gotas de monômero/polímero.

Quando ocorre a redução da tensão interfacial por um agente com atividade

interfacial, a sua natureza química também deve ser considerada. Quanto maior a

parte hidrofóbica de sua molécula, maior é o decréscimo da tensão interfacial.

Na seleção do agente de suspensão para um sistema polimérico específico,

outras questões, além da estabilidade da suspensão, devem ser consideradas, tais

como: 1) se a remoção do agente de suspensão das partículas poliméricas requer

um tratamento especial; 2) para evitar problemas ambientais e reduzir custos de

produção, a água que constitui o meio contínuo deverá ser tratada antes do descarte

ou uma estratégia para sua reutilização precisa ser implantada no processo.

Pode ser observado, pelo número de trabalhos disponíveis na literatura, o

PVAl vem recebendo uma atenção maior devido a sua versatilidade como agente de

suspensão. Seu grande potencial como agente de suspensão deve-se ao fato de

que o conteúdo de acetato (ou seja, o grau de hidrólise) pode ser alterado. São

disponíveis no mercado PVAl com diferentes graus de hidrólise, ou seja, diferentes

proporções de unidades acetato de vinila e álcool vinílico na composição do

polímero. Isto resulta em mudanças da hidrofobicidade do PVAl e,

conseqüentemente, na conformação e atividade superficial do polímero na interface

água/monômero [NEVES, 2002; GONÇALVES, 2003].

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33

2. OBJETIVOS Promover a síntese e caracterização estrutural de catalisadores ácidos

suportados em matrizes poliméricas, a partir de poliestireno virgem e a partir da

reciclagem química de artefatos de poliestireno linear, e estudar o desempenho

destes catalisadores sobre reações de transesterificação.

A) ESPECÍFICOS

1. Sintetizar catalisadores poliméricos ácidos, do tipo poliestireno sulfonado, por

modificação química do poliestireno linear, virgem, reciclado;

2. Estudar a reciclagem química de artefatos descartados de poliestireno visando a

obtenção do catalisador polimérico, a baixo custo;

3. Avaliar o desempenho dos polímeros funcionalizados obtidos, como catalisadores

em fase heterogênea, em reações de transesterificação de óleos vegetais;

4. Avaliar a capacidade de reutilização das matrizes poliméricas funcionalizadas.

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34

3. PARTE EXPERIMENTAL 3.1. Materiais

Todos os solventes utilizados foram purificados e secos de acordo com a

literatura [PERRIN & ARMAREGO, 1988].

Para a retirada dos inibidores, o estireno (AROFIBRAS) foi lavado por

diversas vezes com uma solução aquosa de NaOH 5% (m/V), seguido de lavagens

com água destilada, seco com sulfato de magnésio anidro e destilado à pressão

reduzida, na presença de enxofre e espiral de cobre.

O α,α’-azobis-isobutironitrila (AIBN - MERCK) foi recristalizado em

clorofórmio, seco com pentóxido de fósforo à pressão reduzida, até peso constante.

O Poliestireno cristal em pelets, foi doado pela empresa INNOVA, e apresenta

135500:nM e 6,5nMwM = , o PS cristal, triturado e separou-se a fração com

tamanho de partícula inferior a 100 mesh. Enquanto, que o Poliestireno pós-

consumo (Zanata), foi triturado em pequenas tiras, este não passou por nenhum

tratamento para a retirada dos demais componentes presentes em sua formulação.

A resina AMBERLYST 15 (ROHM and HAAS): resina macrorreticulada à base

de estireno-divinilbenzeno sulfonado, contendo 12% de ligações cruzadas; teor de

grupos sulfônicos = 3,7 mmol/g de resina seca; tamanho de partícula 16 - 50 mesh;

tratada e seca até peso constante.

Resina LEWATIT SPC-112 (Bayer do Brasil S.A.): resina macrorreticulada à

base de estireno-divinilbenzeno sulfonado, contendo 12% de ligações cruzadas; teor

de grupos sulfônicos = 2,7 mmol/g de resina seca; tamanho de partícula 20 - 40

mesh; tratada e seca até peso constante.

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35

Resina gelular: à base de estireno-divinilbenzeno, contendo 8% de ligações

cruzadas; tamanho de partícula 16 - 50 mesh.

O Magnesol® (adsorvente sintético foi doado pela empresa The Dallas Group

of América), o etanol anidro (pureza de 99,8%, fornecido pela ALCOOPAR),

enquanto que o sebo bovino (acidez de 53 mg de KOH/g de amostra), óleo de milho

bruto (apresenta acidez de 1,3 mg de KOH/g de amostra, foi fornecido pela unidade

de produção da Corn Products do Brasil) [AOCS Cd 3d-63].

Dentre os solventes e reagentes utilizados neste trabalho, destacam-se:

ácido sulfúrico concentrado (BIOTEC), ácido sulfúrico fumegante (20% de SO3 -

VETEC), ácido p-toluenossulfônico (PTSA - RIEDEL), anidrido acético (BIOTEC),

clorofórmio deuterado (MERCK), ácool etílico (98% - VETEC), gelatina farmacêutica

(PURIFARMA), hidroxietilcelulose (CELLOSIZE - VITAL QUÍMICA), óleo de soja

refinado (SOYA®) peróxido de benzoíla (BPO - ALDRICH) e poli(álcool vinílico)

(PVAl - REAGEN). Todos estes insumos foram adquiridos comercialmente e

utilizados como recebidos.

3.2. Procedimento Experimental

3.2.1. Síntese do poliestireno em suspensão

3.2.1.1.Poli(álcool vinílico) como agente de suspensão

Em um balão tritubulado, equipado com agitador mecânico, condensador de

refluxo e borbulhador de nitrogênio, foi preparada a fase aquosa composta por:

Iniciador Agente de suspensão

80ºC / 3 h

nn

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36

poli(álcool vinílico) (11,25 g - 4,5% (m/V)) e cloreto de sódio a (1,5 g - 0,6% (m/V)).

Sobre a fase aquosa foi adicionada a fase orgânica, constituída pelo monômero

estireno (50 mL – 435,22 mmols) e pelo iniciador peróxido de benzoíla (1,05 g - 4,35

mmols; 1 mol% em relação ao monômero). A relação volumétrica entre a fase

aquosa e a orgânica foi de 5:1. A mistura reacional foi mantida a 80ºC em banho

termostatizado por 3 horas, sob agitação mecânica (1000 rpm) e atmosfera de

nitrogênio.

Ao final da reação, o sobrenadante foi filtrado e as pérolas de poliestireno

(PS) foram lavadas exaustivamente com água destilada a 50ºC e, em seguida,

lavadas por três vezes com metanol, sob agitação magnética branda. As pérolas

foram, então, filtradas e secas em estufa, a 70ºC, até peso constante.

3.2.1.2. Hidroxietilcelulose/gelatina como agente de suspensão

Em um balão tritubulado, equipado com agitador mecânico, condensador de

refluxo e borbulhador de nitrogênio, foi preparada a fase aquosa composta por:

gelatina (0,072 g - 0,06% (m/V)), hidroxietilcelulose (0,18 g - 0,15% (m/V)) e NaCl

(0,72 g - 0,6% (m/V)). Sobre esta, foi adicionada a fase orgânica constituída pelo

monômero estireno (30 mL - 261,13 mmols) e pelo iniciador AIBN (0,43 g - 2,60

mmols; 1 mol% em relação ao monômero). A relação volumétrica entre a fase

aquosa e a orgânica foi de 4:1. A mistura reacional foi mantida a 70ºC em banho

termostatizado por 12 horas, sob atmosfera de nitrogênio e agitação mecânica (500

rpm).

Ao final da reação, o sobrenadante foi filtrado, e as pérolas de poliestireno

foram lavadas exaustivamente com água destilada a 50ºC, em seguida, por três

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37

vezes com metanol, sob agitação magnética branda, seguida de filtração e secagem

em estufa, a 70ºC, até peso constante.

3.2.2. Obtenção dos catalisadores sulfônicos

3.2.2.1. Sulfonação do PS linear com sulfato de acetila

3.2.2.1.1 Sulfonação do PS na ausência de solvente

Um balão de fundo redondo contendo PS (2,0 g – 19,2 mmols de UR) foi

equipado com funil de adição, e resfriado a cerca de 0ºC.

Separadamente, preparou-se o agente de sulfonação, o sulfato de acetila,

através da reação de ácido sulfúrico concentrado (10,0 mL – 48,0 mmols) com

anidrido acético (6,0 mL – 62,4 mmols), correspondendo a 30 mol% de excesso, em

relação ao ácido sulfúrico. Transferiu-se o agente de sulfonação para o funil de

adição, e o mesmo foi adicionado sobre o PS durante 30 minutos. A reação foi

mantida por mais 2 horas a 0ºC e, em seguida, por 18 horas à temperatura

ambiente, sob agitação magnética.

Ao final da reação, o produto foi purificado vertendo-se o meio reacional,

cuidadosamente, sobre água destilada gelada, seguida de lavagens com água até o

pH da mesma, sob agitação magnética, seguida de filtração. O produto foi ainda

lavado com metanol e seco em estufa à vácuo, a 75ºC, até peso constante.

12 h

n-m

SO3H

mn

O

O

SO3H+ T.A.

Page 56: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

38

3.2.2.1.2. Sulfonação do PS em solução

O agente de sulfonação, sulfato de acetila foi rapidamente preparado

misturando anidrido acético (1,6 mL – 17,0 mmols) com ácido sulfúrico concentrado

(0,6 mL – 11,0 mmols) em 0,6 mL de 1,2-dicloroetano. Esta solução de sulfato de

acetila foi adicionada sobre uma solução de poliestireno (2,0 g – 19,2 mmols de UR)

em 10 mL de 1,2-dicloroetano, previamente preparada.

A reação de sulfonação foi realizada por 1 h a 50ºC e foi terminada por adição

de 1 mL de isopropanol e resfriada. O produto foi exaustivamente lavado com 1,2-

dicloroetano e seco em estufa a 75ºC, até peso constante.

3.2.2.2. Sulfonação do poliestireno linear com ácido sulfúrico

Foram transferidos para um balão de fundo redondo o PS (2,0 g – 19,2

mmols de UR) sobre o qual foi adicionado o ácido sulfúrico concentrado (20,0 mL –

384 mmols). Ao balão de reação foi acoplado um condensador de refluxo, equipado

com um tubo dessecante, e a reação ocorreu a 80ºC sob agitação magnética. As

reações de sulfonação foram realizadas em tempos de 3 e 18 horas.

Ao final de cada reação, o produto foi purificado vertendo-se o meio reacional,

cuidadosamente, sobre água destilada gelada, seguida de lavagens com água, sob

agitação magnética, até que o filtrado atingisse o pH da água destilada. O produto

foi filtrado, lavado com metanol e seco em estufa à vácuo, a 75ºC, até peso

constante.

80ºC

n-m

SO3H

mnH2SO4

Page 57: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

39

As mesmas condições experimentais foram utilizadas em outras reações,

substituindo-se o agente sulfonante, ácido sulfúrico concentrado, por ácido sulfúrico

fumegante.

3.2.3. Tratamento das resinas comerciais para uso como catalisador

Cerca de 50 mL da resina comercial foram colocados em um funil adição de

100 mL de capacidade, contendo um disco de vidro sinterizado, e através dela foram

passados 300 mL de solução aquosa de ácido clorídrico 1,8 mol/L, a uma vazão de

10 mL/min, mantendo-se constantemente cerca de 2 cm de fase líquida acima do

nível do catalisador no funil.

A resina foi então lavada com água deionizada, até que o teste com nitrato de

prata (para íons cloreto) no eluído fosse negativo. Em seguida, a resina foi percolada

com três porções de 50 mL de metanol, e seca em estufa sob vácuo à 75ºC, até

peso constante.

3.2.4. Transesterificação de óleos vegetais

3.2.4.1. Transesterificação em meio homogêneo

Em um balão de fundo redondo adicionou-se o óleo de soja refinado (10,0 g –

35,70 mmols de grupos ésteres) e o etanol anidro (42,0 mL - 720 mmols), e ácido

p-toluenossulfônico (3,30 g – 17,86 mmols, 5 mol% em relação às carbonilas dos

ácidos graxos). Ao balão foi acoplado um condensador de refluxo e a reação ocorreu

a 60ºC sob agitação magnética, em tempos variados.

Ao término da reação, o etanol em excesso foi removido em evaporador

rotatório, ocorrendo então a separação de fases. A fase superior, correspondente

Page 58: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

40

aos ésteres etílicos, foi retirada, lavada com uma solução aquosa de bicarbonato de

sódio 20% (m/V), lavada com água destilada, e seca com sulfato de sódio anidro.

3.2.4.2. Transesterificação em meio heterogêneo

O procedimento geral da reação de transesterificação etílica foi realizado

utilizando um balão de fundo redondo contendo óleo de soja refinado (5,0 g – 17,85

mmols de grupos éster) e o etanol anidro (105,0 mL - 3,6 mols), sobre os quais

foram adicionados, quantidades variadas dos catalisadores poliméricos sintetizados.

Ao balão de reação foi acoplado um condensador de refluxo, as reações ocorreram

na temperatura de refluxo do meio reacional, sob agitação magnética.

Ao término da reação, o etanol em excesso foi removido em evaporador

rotatório. Os ésteres foram então submetidos a tratamento com 2% (m/m) de

Magnesol® (adsorvente composto por silicato de magnésio amorfo e sulfato de sódio

anidro), sob agitação magnética à 60ºC por 30 minutos, seguido de filtração.

Utilizou-se ainda: etanol previamente seco e destilado, etanol P.A. (98 % de

pureza) e metanol destilado. As mesmas condições experimentais foram utilizadas,

em reações nas quais substituiu-se o óleo de soja por óleo de milho bruto e por sebo

bovino.

3.2.5. Reutilização dos catalisadores poliméricos

Os catalisadores poliméricos, após a sua utilização nas reações de

transesterificação do óleo de soja, foram separados do meio reacional por

decantação e lavados com quatro porções de 50 mL de etanol, sob agitação

magnética branda. Após filtração, foram secos em estufa a 75ºC, por 12 horas.

Page 59: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

41

Aproximadamente 5 g do catalisador polimérico foram colocados em funil de

adição de 100 mL de capacidade, contendo um disco de vidro sinterizado, e através

deste foram passados 300 mL de uma solução aquosa de ácido clorídrico 1,8 mol/L

a uma vazão de 10 mL/min, mantendo-se cerca de 2 cm de fase líquida acima do

nível do catalisador no funil.

Após completa eluição do ácido, o catalisador foi lavado com água deionizada

até resultado negativo no teste com nitrato de prata. Em seguida, o catalisador foi

percolado com três porções de 50 mL de metanol e seco em estufa, sob vácuo à

75ºC, até peso constante.

Após este tratamento, repetiu-se o procedimento de transesterificação do óleo

de soja refinado descrito acima.

3.3. Métodos Analíticos e Instrumentais

3.3.1. Espectroscopia na região do infravermelho

Todos os reagentes e produtos das reações realizadas neste Trabalho, foram

analisados por espectrometria no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR),

no equipamento BIORAD - Excalibur Series FTS 3500GX, localizado no

Departamento de Química da UFPR (DQUI/UFPR).

O método de análise variou com as características dos produtos porém, todas

foram realizadas com 32 varreduras/minuto, com resolução de 2 cm-1, na faixa de

freqüência de 400 a 4000 cm-1. O poliestireno e os produtos sulfonados com os

agentes de sulfonação, sulfato de acetila e ácido sulfúrico concentrado, foram

analisados na forma de filmes sobre célula de KBr, os produtos sulfonados com

ácido sulfúrico fumegante foram analisados na forma de pastilha com KBr, contendo

aproximadamente 1% (m/m).

Page 60: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

42

3.3.2. Avaliação do aspecto morfológico

O aspecto morfológico dos suportes poliméricos e dos catalisadores

sulfônicos foi observado em microscópio ótico OLYMPUS CH30/CH40 equipado com

câmera fotográfica (DQUI/UFPR), e em microscópio eletrônico de varredura JEOL

JSM – 6360LV (Centro de Microscopia Eletrônica/UFPR).

3.3.3. Termogravimetria - TG

Os suportes poliméricos e os catalisadores sulfônicos, tiveram suas

propriedades térmicas determinadas por termogravimetria (TG) em aparelho Netzsh

STA 409EP. Aproximadamente 10 mg de amostra foram colocadas em um cadinho de

óxido de alumínio e aquecidas de 20 a 800oC a 20oC/min, sob atmosfera de

nitrogênio.

3.3.4. Espectroscopia de Ressonância magnética nuclear de hidrogênio

As análises por espectroscopia de ressonância magnética nuclear de

hidrogênio (1H-NMR) foi realizada em um espectrômetro BRUKER – AC 200 (200

MHz - DQUI/UFPR), utilizando clorofórmio deuterado como solvente e tetrametil-

silano (TMS) como padrão interno.

Através da análise dos espectros de 1H-NMR do óleo de soja e dos produtos

de transesterificação com metanol, foi possível determinar a qualidade, bem como

calcular o teor de ésteres metílicos na reação.

A qualidade dos ésteres etílicos produzidos foi monitorada por 1H-NMR

através de variações no sinal dos hidrogênios glicerídicos.

Page 61: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

43

3.3.5. Determinação do teor de grupamentos sulfônicos nos

catalisadores

Na avaliação do grau de sulfonação das diversas amostras de PS utilizou-se

a técnica de volumetria de neutralização. 60,0 mg de PS sulfonado seco foram

acrescidos de 10,00 mL de solução aquosa padronizada de NaOH 0,1 mol/L e a

mistura foi deixada sob agitação magnética lenta, em frasco tampado, à temperatura

ambiente por 24 horas. Alíquotas de 3,00 mL foram retiradas e tituladas com solução

aquosa padronizada de HCl 0,05 mol/L, utilizando-se solução alcoólica de

fenolftaleína 0,1% (m/V), como indicador.

3.3.6. Determinação da capacidade de troca iônica das resinas

comerciais

Sobre 0,60 g de resina Lewatit SPC-112 seca foram adicionados 8 mL de

solução aquosa de cloreto de sódio 2,5 % (m/V). Após 30 minutos sob agitaão

magnética lenta, a mistura foi transferida quantitativamente para um funil de adição

onde a resina foi lavada com aproximadamente 2 mL da solução de cloreto sódio.

Todo o filtrado foi recolhido em um balão volumétrico de 10 mL e seu volume

ajustado com água deionizada. Alíquotas de 3,00 mL foram tituladas com uma

solução aquosa padronizada NaOH 0,1 mol/L, utilizando-se solução alcoólica de

fenolftaleína 0,1% (m/V), como indicador.

Page 62: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

44

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Um dos maiores desafios das indústrias químicas nos últimos anos tem sido o

desenvolvimento de tecnologias alternativas que sejam mais limpas, seguras e

menos agressivas ao ambiente. Os processos devem ser eficientes, em termos de

consumo de energia e matéria-prima, e produzir o mínimo de rejeitos.

O ponto-chave para minimizar a quantidade de rejeitos é a melhoria dos

processos no que diz respeito à seletividade e, conseqüentemente, à substituição de

rotas clássicas por rotas catalíticas. Um processo catalítico heterogêneo em fase

líquida apresenta vantagens, como alta atividade, seletividade de separação do

produto e diminuição de problemas ambientais e de corrosão.

Muitos esforços têm sido feitos para se desenvolver catalisadores para

reações de esterificação e transesterificação, que possam ser reutilizados e que

sejam menos agressivos ao ambiente [SCHUCHARDT et al., 1998; COSTA et al.,

2003; KUCEK, 2004].

Diversos trabalhos encontrados na literatura demonstram problemas

associados ao uso de polímeros insolúveis como catalisadores, tais como: a

dificuldade de acesso dos reagentes aos sitios reativos, bem como sua distribuição

aleatória ao longo do suporte; problemas de solvatação associadas com a natureza

do suporte, e dificuldades sintéticas na adaptação das condições de reação da

Síntese Orgânica Clássica para a fase sólida [MARQUARDT & EILFLER-LIMA,

2001; BERGBREITER, 2002]. Sabe-se que estes fatores são fundamentais para que

a reação possa levar ao produto em elevados rendimentos. No caso da

transesterificação de triacil-gliceróis, a presença de ligações cruzadas na estrutura

do catalisador polimérico aumenta a dificuldade de acesso deste reagente volumoso

Page 63: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

45

aos grupamentos sulfônicos, que se encontram em maior quantidade no interior das

resinas sulfonadas [SANTOS, 1991; COUTINHO et al., 2001]. Assim, este trabalho

foi orientado ao desenvolvimento de catalisadores sulfônicos a partir do poliestireno

linear. O PS sulfonado é insolúvel neste meio reacional apresentando, com isso, as

vantagens dos catalisadores heterogêneos. Além disso, por não conterem ligações

cruzadas, as cadeias de PS linear sulfonado podem apresentar maior mobilidade

facilitando, assim, o acesso dos triacil-glicerois aos sítios catalíticos.

4.1. Síntese do Poliestireno em suspensão

Visando a obtenção da matriz polimérica em uma forma que permitisse maior

facilidade de manipulação e uma elevada área superficial, optou-se por utilizar a

técnica de polimerização em suspensão, que leva à formação de pequenas esferas

cujo tamanho pode ser variado através das condições de reação, tais como:

proporção entre fase aquosa e fase orgânica, velocidade de agitação do meio

reacional, tipo e concentração do agente de suspensão, entre outras.

A primeira reação de síntese do poliestireno em suspensão foi realizada

utilizando, como agente de suspensão, o poli(álcool vinílico) (PVAl) [MANO &

SEABRA, 1987; COUTINHO et al., 2001]. A utilização desta técnica de

polimerização leva à formação de esferas transparentes e brilhantes de PS linear de

granulometria variada.

As pérolas de PS em suspensão foram primeiramente lavadas com água

destilada, no intuito da retirada do agente de suspensão, PVAl, o que foi um

processo bastante complexo, devido à baixa solubilidade do PVAl em água,

constatando melhor eficiência do processo quando utilizou-se água quente. Para a

Page 64: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

46

retirada de resíduos de monômero as pérolas foram lavadas com metanol.

Entretanto, o PVAl utilizado não se mostrou um bom agente de suspensão nas

condições de reação utilizadas pois, apesar da alta velocidade de agitação do meio

reacional (1000 rpm), constatou-se a formação de grandes aglomerados de pérolas

de PS. Estes aglomerados precisaram ser desfeitos manualmente para aumentar a

eficiência do processo de purificação e secagem do material, o que levou à formação

de uma considerável quantidade de pó e pérolas quebradas, como pode ser

observado na Figura 7.

Apesar das diversas reações realizadas, variando o tempo de reação, a

proporção entre a fase orgânica e aquosa, assim como o aumento da concentração

do agente estabilizante de suspensão, não foi possível resolver o problema da

formação de aglomerados e da formação de partículas grandes, que foram

observadas em todos os experimentos realizados (Figura 7).

Estes resultados não eram do nosso interesse, devido à busca por uma alta

área superficial no poliestireno e homogeneidade do material de partida que

poderiam afetar os resultados da etapa de sulfonação.

Durante a etapa de purificação, observou-se a presença de emulsão, muito

viscosa e com forte cheiro de estireno, indicando que uma parte do monômero não

havia polimerizado, e que uma outra parte havia polimerizado mas não no formato

desejado, formando partículas muito pequenas, com morfologia diferenciada. Assim,

o PS em suspensão foi obtido com rendimentos bastante baixos, cerca de 45% em

média. Após a purificação e secagem, o PS foi submetido a um fracionamento

granulométrico de modo a obter um material com maior homogeneidade. Separou-se

a fração com granulometria inferior a 30 mesh para ser empregada, posteriormente,

como suporte para os catalisadores.

Page 65: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

47

O mesmo comportamento visualizado através da microscopia óptica foi

observado através das imagens de microscopia eletrônica de varredura (MEV)

(Figura 8), onde pode-se observar mais facilmente que o PVAl utilizado não se

mostrou eficiente na estabilização da suspensão, notando-se um material de

morfologia não esférica, aderido à superfície das esferas de PS, que pode

corresponder a resíduos de PVAl que não foram completamente removidos durante

o processo de lavagem.

FIGURA 7. IMAGENS DE MICROSCOPIA ÓPTICA DAS FRAÇÕES DE PS EM SUSPENSÃO: A)

AUMENTO DE 40 VEZES; B) AUMENTO DE 100 VEZES; C) PÉROLAS QUEBRADAS

DURANTE O PROCESSO DE PURIFICAÇÃO, AUMENTO DE 100 VEZES.

(A) (B)

(C)

Page 66: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

48

FIGURA 8. IMAGENS DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA DAS FRAÇÕES DE PS

EM SUSPENSÃO DE PVAl.

Gomes e colaborados descreveram a utilização de uma mistura de

hidroxietilcelulose (HEC) e gelatina como agente de suspensão para a obtenção de

esferas de resinas macrorreticuladas e gelulares à base do copolímero de estireno e

divinilbenzeno. Devido às características desejadas para o suporte polimérico,

optou-se por realizar alguns experimentos com este agente de suspensão, na

tentativa de obtenção de esferas de PS linear mais uniformes [GOMES et al., 2004].

Mesmo utilizando a mistura HEC/gelatina, a etapa de purificação foi um

processo bastante trabalhoso devido à degradação da hidroxietilcelulose em

temperaturas superiores a 60ºC, levando a um material com baixa solubilidade em

água. Entretanto, quando terminada a reação, as pérolas de PS se separaram

rapidamente do sobrenadante, sendo facilmente retiradas por filtração simples.

A utilização deste sistema de agentes de suspensão facilitou o processo por

permitir trabalhar com um menor volume de material, uma vez que praticamente todo

o volume do meio reacional foi retirado por simples filtração, reduzindo o número de

etapas de lavagem do produto de reação e, conseqüentemente, a quantidade de

Page 67: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

49

rejeito gerado na etapa de purificação. O aspecto visual do PS obtido é mostrado na

Figura 9, através das imagens de microscopia óptica.

Conforme a Figura 9, a utilização deste sistema hidroxietilcelulose/gelatina

como agente de suspensão não favoreceu a formação de aglomerados e levou à

formação de pérolas de tamanho mais uniforme. Apesar das amostras de PS em

suspensão apresentarem deformação durante a realização da microscopia eletrônica

de varredura (Figura 10), pode-se observar melhor a uniformidade das amostras,

sendo obtidas com rendimento médio de 90% e na faixa de granulometria inferior a

30 mesh, nas condições experimentais utilizadas.

FIGURA 9. IMAGENS DE MICROSCOPIA ÓPTICA DAS FRAÇÕES DE PS EM SUSPENSÃO DE

HEC/GELATINA: A) AUMENTO DE 40 VEZES; B) AUMENTO DE 100 VEZES.

(A) (B)

Page 68: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

50

FIGURA 10. IMAGENS DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA DAS FRAÇÕES DE PS

EM SUSPENSÃO DE HEC/GELATINA.

Devido aos melhores resultados obtidos com a técnica de polimerização em

suspensão utilizando HEC/gelatina, os PS assim obtidos foram analisados por

termogravimetria para avaliação do comportamento térmico dos produtos (Figura

11). Foi também determinada a estabilidade termogravimétrica de uma amostra de

poliestireno cristal (comercial), que também foi utilizada neste Trabalho como

suporte para a síntese dos catalisadores (Figura 12). Os dois tipo de PS

apresentaram comportamento térmico muito semelhante. As curvas

termogravimétricas (TG) e termogravimétricas derivada (DTG) das Figuras 11 e 12

mostraram que não houve perda de massa abaixo de 130ºC. Entre 130º e 300ºC,

ocorreu uma redução insignificante da massa (inferior a 3%), como era esperado. De

acordo com a literatura [MATHEW et al., 2001], em temperaturas inferiores a 300ºC,

ocorrem cisões aleatórias da cadeia do polímero; nenhum produto volátil é formado

e as cadeias sofrem perda de hidrogênio, levando a cadeias de massa molar mais

baixa que são estáveis nessa faixa de temperatura.

Page 69: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

51

FIGURA 11. CURVA DE TG E DTG DO PS SUSPENSÃO DE HEC/GELATINA.

FIGURA 12. CURVAS DE TG E DTG DO PS CRISTAL

0 200 400 600 800

0

20

40

60

80

100

Perda de Massa (%)

Temperatura (ºC)

-2,0

-1,5

-1,0

-0,5

0,0

Deriva

da (u.a.)

0 200 400 600 800

0

20

40

60

80

100

Deriva

da (u.a.)

Perda de Massa (%)

Temperatura (ºC)

-2,5

-2,0

-1,5

-1,0

-0,5

0,0

Page 70: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

52

As curvas de TG mostraram que as amostras de PS sofreram degradação em

uma única etapa, e que foram estáveis até aproximadamente 300ºC, quando

acontece uma rápida degradação. Em aproximadamente 390ºC, está localizado o

ponto de inflexão da curva de TG (assinalado pelo pico da curva de DTG), onde as

amostras de PS atingiram sua velocidade máxima de decomposição, com cerca de

65% da degradação completada. Acima de 440ºC, nenhum resíduo foi observado.

Segundo a literatura, o pico principal na curva de DTG do PS corresponde à cisão

das cadeias, gerando monômeros, juntamente com dímeros, trímeros e tetrâmeros

[LEVCHIK et al., 1999; LUCAS et al., 2001; MATHEW et al., 2001; BOURBIGOT et

al., 2004; JANG & WIlKIE, 2005].

4.2. Obtenção dos Catalisadores Sulfônicos

A princípio, toda molécula polimérica esta sujeita às mesmas transformações

químicas a que estão sujeitas moléculas orgânicas de baixa massa molar. Porém, as

condições de reação necessárias para que tais transformações ocorram

satisfatoriamente sobre a cadeia do polímero precisam ser ajustadas, considerando

a dificuldade adicional geralmente relacionada ao impedimento estérico promovido

pelo tamanho cadeia. Portanto, até a mais simples das reações orgânicas pode se

tornar extremamente complexa quando realizada sobre uma cadeia polimérica.

4.2.1. Sulfonação do PS linear com sulfato de acetila

Diversos trabalhos já descreveram a sulfonação de poliestireno linear, porém,

poucos são os detalhes que estão disponíveis na literatura sobre as reações de

sulfonação e as propriedades dos produtos. Geralmente, as reações de sulfonação

Page 71: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

53

de um polímero são conduzidas em meio heterogêneo, ou seja, o polímero e agente

sulfonante estão em fases diferentes, ou ainda, com o polímero solubilizado em um

hidrocarboneto clorado (Figura 13) [MAKOWSKI et al., 1980; AGARWAL et al., 1980;

WEISS et al., 1991; THEODOROPOULOS et al., 1993; KUCERA et al., 1998;

ZHANG et al., 2000; LI et al., 2002; MARTINS et al., 2003].

FIGURA 13. ESQUEMA DE REAÇÃO DE SULFONAÇÃO DE PS COM SULFATO DE ACETILA.

A primeira reação de sulfonação do poliestireno em suspensão foi realizada

utilizando uma metodologia que é amplamente difundida na literatura [AGARWAL et

al., 1980; WEISS et al., 1991; THEODOROPOULOS et al., 1993; ZHANG et al.,

2000; LI et al., 2002], segundo a qual o PS sulfonado é obtido utilizando-se sulfato

de acetila. Este reagente é descrito na literatura como um agente de sulfonação

menos oxidante, se comparado com os agentes de sulfonação tradicionais, tais

como o ácido clorossulfônico e o ácido sulfúrico concentrado e fumegante,

preservando ao máximo a integridade estrutural do suporte.

O

O

SO3H+ n

SO3H

n m+

OH

O

O

O O

H2SO4+OH

O

O

O

SO3H+

Page 72: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

54

Optou-se por realizar a sulfonação do PS em suspensão HEC/gelatina na

ausência de solvente para a preservação das pérolas, assim como um melhor

controle do grau de sulfonação e favorecendo a sulfonação na superfície das

esferas. As condições das diversas reações constam na Tabela 4.

O processo de purificação deste material foi bastante difícil devido às fortes

interações entre os grupos sulfônicos e a água, dando o aspecto de gel ao produto

durante esta etapa. Após diversas tentativas, o meio reacional foi vertido em uma

mistura de 1:1 (V/V) etanol:água, seguido de lavagens com etanol até ser

constatada a ausência de ácido livre no filtrado. O aspecto visual do PS sulfonado

(PSSA) é mostrado na Figura 14, onde pode-se observar que o processo de

sulfonação não afetou a integridade estrutural das pérolas.

FIGURA 14. IMAGENS DE MICROSCOPIA ÓPTICA DAS FRAÇÕES DE PSSA: A) AUMENTO DE 40

VEZES; B) AUMENTO DE 100 VEZES.

A caracterização dos produtos foi realizada através de análise por FTIR na

forma de filme sobre célula de KBr. Analisando as bandas mais importantes dos

espectros de FTIR dos polímeros sulfonados, foi observado que todas as amostras

apresentaram o mesmo perfil (Figura 15). Todos os espectros apresentaram bandas

na região de deformações axiais assimétricas e simétricas do grupamento SO2

(B) (A)

Page 73: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

55

(1350 cm-1 e 1342 cm-1, respectivamente) e ainda bandas características de ácidos

sulfônicos (906 cm-1, 1006 cm-1, 1097 cm-1 e 1176 cm-1). As bandas observadas,

para estas amostras sulfonadas foram pouco intensas em relação a outras bandas

do espectro [WEISS et al., 1991; SILVERSTEIN & WEBSTER, 2000; COUTINHO et

al.,2001; LI et al., 2002].

FIGURA 15. ESPECTRO DE FTIR DE UM PRODUTO SULFONADO COM SULFATO DE ACETILA,

SEM SOLVENTE.

A determinação do teor de grupamentos –SO3H presente no poliestireno

sulfonado foi realizado através de volumetria de neutralização [WEISS et al., 1991;

ZHANG et al., 2000; COUTINHO et al., 2001; ARTHANAREESWARAN et al., 2004;

MIKHAILENKO et al., 2004], tendo sido comprovada, anteriormente, a maior

eficiência do método da retro-titulação [CÉSAR-OLIVEIRA, 2002; WYKROTA, 2004].

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500

Transmitância (u.a.)

Número de Onda (cm-1)

PS

PSSA#3

Page 74: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

56

Neste método, o catalisador sulfônico foi tratado com excesso de uma solução

aquosa padronizada de NaOH e, posteriormente, a quantidade de base que não

reagiu com os grupamentos ácido sulfônico foi determinada por titulação direta com

solução ácida padronizada. Os resultados da titulação foram convertidos em mmol

SO3H/g de polímero seco e constam na Tabela 4.

TABELA 4. CONDIÇÕES DE SULFONAÇÃO UTILIZADAS E TEOR DE GRUPAMENTOS ÁCIDO

SULFÔNICO NOS PRODUTOS PSSA

Produto

Excesso de

Anidrido

Acéticoa

Proporção

UR/AGSb

Temp.

(ºC)

Tempo

(h)

Teor de –SO3H

(mmol SO3H/g de

polímero seco)

Porcentagem de

Substituição

(mol %)

PSSA#2 30 % 1:1 18º 18 0,212 2,25

PSSA#3 50 % 1:1 35º 18 0,210 2,20

PSSA#4 50 % 1:10 18º 18 0,110 1,15

PSSA#5c 55 % 1:4,5 50º 1 3,00 41,10

PSSA#6c 55% 1:4,5 50º 12 3,50 50,60

a Excesso de anidrido acético, na obtenção do sulfato de acetila b Proporção molar utilizada entre unidades repetitivas de estireno (UR) e o sulfato de

acetila (agente de sulfonação - AGS) c Sulfonação realizada em solução de 1,2-dicloro-etano

Apesar de não terem sido utilizadas em grande número de variáveis, os

dados apresentados na Tabela 4 permitem observar que o sulfato de acetila é um

agente de sulfonação mais brando tanto em termos de poder oxidante, uma vez que

a integridade das péroals de PS suspensão se manteve, quanto em poder

sulfonante, uma vez que os teores de grupamentos sulfônicos obtidos foram bem

aquém dos desejados.

Page 75: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

57

Segundo ZHANG e colaboradores [ZHANG et al., 2000], os maiores valores

referentes ao teor de grupamentos ácido sulfônico são encontrados quando um

excesso de 30 mol% de anidrido acético é empregado na reação. Entretanto, mesmo

aumentando o excesso de anidrido acético ou a proporção entre agente sulfonante e

unidades repetitivas de estireno, não foi observado um aumento no grau de

sulfonação do material, o que sugere que a sulfonação deva estar ocorrendo apenas

na superfície das esferas de PS. O fato de estar realizando a reação em fase

heterogênea pode ter auxiliado para que o teor de grupos sulfônicos fosse bastante

baixo.

Os trabalhos encontrados na literatura, que utilizam o sulfato de acetila como

agente de sulfonação, o utilizam com o polímero em solução. Assim, diversos destes

procedimentos experimentais em solução foram testados, onde a sulfonação foi

realizada com o PS em solução de 1,2-dicloroetano (DCE), buscando um maior teor

de grupos sulfônicos [AGARWAL et al., 1980, WEISS et al., 1991; ZHANG et al.,

2000, CARRETTA et al., 2000].

Diversas reações foram realizadas, as quais foram interrompidas por adição

de isopropanol ao meio reacional; em seguida, o agente de sulfonação foi removido

em evaporador rotatório e o produto de reação foi solubilizado em um solvente

adequado para então ser precipitado em um “não-solvente”, que variou de acordo

com o grau de sulfonação obtido. Esta etapa foi bastante complexa devido à

mudança de polaridade que os PSSA apresentaram, levando a uma polaridade

muito maior que o PS que lhe deu origem.

A solubilidade dos produtos obtidos foi testada em treze solventes de

polaridade variada. As amostras de PSSA apresentaram apenas solubilidade em

água e, em alguns casos, também foram solúveis em metanol. Esta característica do

Page 76: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

58

PSSA dificultou bastante a etapa de purificação, pois uma vez em solução, este não

precipitou em solvente de polaridade mais baixa. Em todos os produtos obtidos,

mesmo após a etapa de precipitação em solvente apolar, obteve-se um produto

viscoso levemente amarelado, dificultando as etapas de caracterização destes

produtos. Após diversos testes realizados com diferentes pares de solvente,

resolveu-se este problema solubilizando o PSSA em uma mistura de metanol: água,

na proporção de 4:1 (V/V), seguido de adição desta solução sobre acetona, na

proporção de 1:10 (m/V) PSSA:acetona. Entretanto, este sistema não se mostrou

eficiente quando testado em outros produtos, provavelmente, devido às diversas

variações observada na polaridade dos produtos.

SMITHA e colaboradores em 2003, descreveram um procedimento

experimental, utilizando o sulfato de acetila na sulfonação de uma série polímeros

visando a obtenção de membranas poliméricas para células à combustível. Este

procedimento foi testado, e adaptou-se a etapa de purificação, onde o PSSA no

decorrer da reação de sulfonação precipita no meio reacional, e a reação é

finalizada por adição de isopropanol, levando à precipitação total do produto

sulfonado. Para garantir que todo PSSA estivesse precipitado, o meio reacional foi

resfriado. Em seguida, a solução foi filtrada e o precipitado lavado com DCE seguido

de filtração, até que o filtrado não apresentasse acidez.

Este procedimento se mostrou eficiente para todos os produtos de reação

obtidos. Foi observado que, mesmo com o aumento no tempo de reação de 1 para 6

horas, o grau de sulfonação foi muito pouco superior no PSSA#6 (Tabela 4).

Entretanto, apesar dos bons resultados obtidos, as pérolas tiveram que ser

solubilizadas, dificultando a obtenção de um material, que apresentasse as

Page 77: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

59

facilidades de manipulação que as resinas comerciais apresentam, entretanto, com

menor custo.

A caracterização destes produtos foi realizada através de análise por FTIR na

forma de filme sólido sobre célula de KBr. Analisando as bandas mais importantes

dos espectros de FTIR dos polímeros sulfonados, foi observado que todas as

amostras apresentaram o mesmo perfil (Figura 16).

FIGURA 16. ESPECTRO DE FTIR DO PRODUTO PSSA#5 SULFONADO COM SULFATO DE

ACETILA EM SOLUÇÃO DE DCE.

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500

Transmitância (u.a.)

Número de Onda (cm-1)

PS

PSSA#5

Page 78: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

60

Todos os espectros apresentaram uma redução relativa nas bandas em 700 e

780 cm-1 referentes à deformação angular fora do plano da ligação –C-H aromático,

característico de anéis monossubstituídos. Podemos observar ainda a banda da

deformação axial assimétrica do grupamento SO2 (1360 cm-1) e a vibração simétrica

desta ligação produz uma banda dividida característica (1150-1185 cm-1) e ainda

uma banda referente ao grupamento –OH (3400 cm-1). Nos produtos obtidos através

de sulfonação com sulfato de acetila em solução (Figura 16), foi observado que os

espectros não apresentaram uma boa resolução, devido à higroscopicidade que a

presença de altos teores de –SO3H confere ao material [WEISS et al., 1991;

SILVERSTEIN & WEBSTER, 2000; LI et al., 2002; SMITHA et al., 2003].

4.2.2. Sulfonação do PS linear com ácido sulfúrico concentrado

Para atingir o objetivo principal deste Trabalho, deseja-se um material que

apresente um elevado teor de grupamentos sulfônicos ligados covalentemente à

matriz polimérica, que seja insolúvel no meio reacional para a produção de biodiesel

e que apresente reprodutibilidade dos resultados experimentais. Apesar dos bons

resultados obtidos com o sulfato de acetila, na tentativa de se obter PS sulfonados

com teores de grupos sulfônicos ainda maiores, optamos então por utilizar uma das

técnicas tradicionais de sulfonação de compostos aromáticos benzenóides,

empregando o ácido sulfúrico concentrado.

As primeiras sínteses do PS sulfonado (PSS) seguiram os procedimentos de

sulfonação de hidrocarbonetos aromáticos [VOGEL, 1971, MITSUTANI, 2002,

MANO & SEABRA, 1987], onde um pequeno excesso de ácido sulfúrico concentrado

Page 79: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

61

foi empregado sob aquecimento. As condições reacionais empregadas e os

resultados dos experimentos estão resumidos na Tabela 5. Foi possível observar,

através das imagens de microscopia óptica (Figura 17), uma grande degradação

física das pérolas de PS.

Diversos trabalhos encontrados na literatura sugerem que melhores

resultados são obtidos quando a sulfonação do suporte polimérico é realizado em

um grande excesso de ácido sulfúrico concentrado [THEODOROPOULOS et al.,

1993; COSTA et al., 2003; ARTHANAREESWARAN et al., 2004; MIKHAILENKO et

al., 2004]. Assim, o agente sulfonante foi utilizado na proporção de 10 mL para 1 g

de suporte polimérico, o que corresponde a um proporção molar de 20:1 de

H2SO4:UR de PS.

Para todas as reações realizadas utilizando-se o ácido sulfúrico concentrado,

a etapa de purificação não foi um processo simples, pois os grupamentos ácido

sulfônico sofrem hidratação rapidamente, tornando o processo de filtração difícil e

demorado. Este problema foi solucionado vertendo-se o meio reacional em uma

mistura gelada de 1:1 (V/V) de etanol:água, seguido de filtração e lavagens com

etanol, tornando todo o processo mais rápido bem como a etapa de secagem do

catalisador. O aspecto visual dos PSS pode ser observado na Figura 17.

A determinação do teor de grupamentos –SO3H no poliestireno sulfonado foi

realizado através da volumetria de neutralização pelo método da retro-titulação,

como descrito para os produtos PSSA sulfonados com sulfato de acetila. Os

resultados foram convertidos em mmol SO3H/g de polímero seco e constam na

Tabela 5.

Page 80: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

62

FIGURA 17. IMAGENS DE MICROSCOPIA ÓTICA DAS FRAÇÕES DE PSS: A) AUMENTO DE 40

VEZES; B) AUMENTO DE 100 VEZES; C) AUMENTO DE 100 VEZES.

TABELA 5. CONDIÇÕES DE SULFONAÇÃO UTILIZADAS E TEOR DE GRUPAMENTOS

SULFÔNICO NOS PRODUTOS PSS OBTIDOS COM H2SO4 CONCENTRADO.

Produto Proporção (UR/AGS)

a Tempo (h)

Teor de –SO3H (mmol SO3H/g polímero seco)

Porcentagem de Substituição

(mol %)

PSS#1 1:5 3 0,60 6,60

PSS#2 1:5 18 0,45 5,00 PSS#3 1:20 3 0,11 1,15

PSS#4 1:20 18 0,10 1,05 a Proporção molar utilizada entre as unidades repetitivas do poliestireno (U.R.) e o agente de

sulfonação (AGS)

A reação de sulfonação é um processo que fragiliza bastante o suporte

polimérico e, associado à agitação magnética (mesmo que lenta) durante a

(B)

(C)

(A)

Page 81: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

63

sulfonação, fez com que grande parte das pérolas de PS fossem quebradas,

levando a um aumento na área superficial e a maiores teores de grupos sulfônicos,

nas primeiras sulfonações realizadas com ácido sulfúrico concentrado

O emprego de ácido sulfúrico concentrado levou a teores de grupos

sulfônicos no PSS bastante baixos (bem inferiores aos encontrados em PS-DVB

sulfonados comerciais), mesmo aumentando a proporção entre poliestireno e H2SO4.

Quando aumentou-se a proporção AGS:PS e diminuiu-se ainda mais a

intensidade da agitação magnética, observou-se que as pérolas foram mantidas.

Entretanto, o teor de grupos sulfônicos no PSS diminuiu, independente das

condições experimentais utilizadas, provavelmente devido à menor superfície de

contato.

FIGURA 18. ESPECTRO DE FTIR DO PRODUTO SULFONADO COM ÁCIDO SULFÚRICO

CONCENTRADO.

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500

Transmitância (u.a.)

Número de Onda (cm -1)

PS

PSS#1

Page 82: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

64

A caracterização dos produtos PSS foi realizada através de análise por FTIR

na forma de pastilha com KBr. Analisando as bandas mais importantes dos

espectros, foi observado que os produtos obtidos através de sulfonação com ácido

sulfúrico concentrado (Figura 18) apresentaram bandas na região de deformações

axiais assimétricas e simétricas do grupamento SO2, 1350 cm-1 e 1342 cm-1

respectivamente, e ainda bandas características de ácidos sulfônicos (906 cm-1,

1006 cm-1, 1097 cm-1 e 1176 cm-1) [WEISS et al., 1991; SILVERSTEIN & WEBSTER,

2000; COUTINHO et al.,2001; LI et al., 2002].

4.2.3. Sulfonação do PS linear com ácido sulfúrico fumegante.

Grupamentos sulfônicos são introduzidos em resinas à base de poliestireno

através de diversos agentes sulfonantes como: ácido clorossulfônico, ácido sulfúrico

concentrado, ácido sulfúrico fumegante, trióxido de enxofre, entre outros. Segundo a

literatura, todos os agentes sulfonantes citados acima levam à perda de solubilidade

do suporte polimérico empregado. Assim, optou-se por investigar também o uso de

ácido sulfúrico fumegante como agente sulfonante, uma vez que este apresenta

menor custo quando comparado com os demais agentes sulfonantes não testados

[THEODOROPOULOS et al., 1993].

A sulfonação com ácido sulfúrico fumegante, foi realizada seguindo o

procedimento utilizado para a sulfonação com ácido sulfúrico concentrado [VOGEL,

1971; MANO & SEABRA, 1987; MITSUTANI, 2002]. As primeiras sulfonações

realizadas, utilizou-se proporção molar de 1:5 PS:AGS, entretanto, o grau de

sulfonação foi relativamente baixo, como pode ser observado na Tabela 6.

Page 83: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

65

Na busca por maiores teores de grupamentos sulfônicos introduzidos na

matriz polimérica, optou-se por aumentar a proporção molar, sendo observado que

no decorrer da reação as pérolas de PS se tornaram bastante inchadas, absorvendo

todo o ácido sulfúrico fumegante adicionado.

As condições de sulfonação com ácido sulfúrico fumegante estão

apresentadas na Tabela 6 e o aspecto visual do material obtido pode ser observado

pelas imagens de microscopia óptica na Figura 19. Através das imagens de MEV do

catalisador (Figura 20) pode-se observar, claramente, rachaduras na superfície das

pérolas do PSS.

FIGURA 19. IMAGENS DE MICROSCOPIA ÓTICA DO PSS: A) AUMENTO DE 40 VEZES; B)

AUMENTO DE 100 VEZES.

(B) (A)

Page 84: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

66

FIGURA 20. IMAGENS DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA DO PSS.

Os produtos obtidos através da sulfonação com ácido sulfúrico fumegante

geraram espectros de FTIR de baixa resolução, o que é característico deste tipo de

produto sulfonado devido à higroscopicidade que o grupo –SO3H confere ao material

(Figura 21). Foi observada uma banda larga na faixa de 1230 cm-1 a 1120 cm-1,

devido à formação de sais de hidrônio-sulfonato.

Ácidos sulfônicos, quando em sua forma anidra, absorvem em duas regiões

estreitas: de 1350 cm-1 a 1342 cm-1 e em 1165 cm-1 a 1150 cm-1, entretanto, estas

faixas não são observadas nos catalisadores obtidos com ácido sulfúrico fumegante,

provavelmente devido a este material apresentar alto grau de sulfonação que,

associado à impossibilidade técnica de manipulação em atmosfera anidra, permitiu

Page 85: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

67

que os grupos se hidratassem rapidamente [SILVERSTEIN & WEBSTER, 2000;

COUTINHO et al., 2001].

FIGURA 21. ESPECTRO DE FTIR DO PRODUTO SULFONADO COM ÁCIDO SULFÚRICO

FUMEGANTE.

A determinação do teor de grupamentos –SO3H dos produtos sulfonados foi

realizada através da volumetria de neutralização pelo método da retro-titulação. Os

resultados foram convertidos em mmol SO3H/g de polímero seco e constam na

Tabela 6.

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500

Transmitância (u.a.)

N úmero de Onda (cm-1)

PS

PSS#6

Page 86: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

68

TABELA 6. CONDIÇÕES DE SULFONAÇÃO UTILIZADAS E TEOR DE GRUPAMENTOS

SULFÔNICOS NOS PRODUTOS PSS, OBTIDOS COM H2SO4 FUMEGANTE.

Produto Proporção (UR/AGS)a

Tempo (h)

Teor de –SO3H (mmol SO3H/ g polímero seco)

PSS#5 1:5 3 1,90 PSS#6 1:20 1 3,00

PSS# 7 1:20 3 5,60

PSS# 8 1:20 18 6,20

PS moído 1:20 3 5,60 PS cristal 1:20 3 5,50

PS pós-consumo 1:20 3 5,00 a Proporção molar utilizada entre unidades repetitivas de estireno (U.R.) e os agentes de

sulfonação (AGS)

A variação do tempo de reação de 3 para 18 horas com ácido sulfúrico

fumegante promoveu um aumento de apenas 10% no teor de grupos sulfônicos, o

que não justifica o aumento no custo de produção.

Comparando os resultados obtidos com os diferentes agentes de sulfonação

utilizados neste Trabalho, podemos observar que os melhores resultados estão

relacionados ao uso do ácido sulfúrico fumegante, independentemente do tempo de

reação, produzindo catalisadores com teores de grupos sulfônicos na faixa de 5,60 –

6,20 mmol/g de polímero seco.

Os resultados apresentados na Tabela 6 mostram valores comparáveis de

teor de grupos sulfônicos para os diversos tipos de produtos de partida estudados na

sulfonação com ácido sulfúrico fumegante. A variação de massa molar e

granulometria dos PS lineares utilizados não afetou significativamente o teor de

grupos sulfônicos obtido. No caso do PS pós-consumo, os copos descartáveis foram

apenas finamente triturados, e a presença dos demais componentes da formulação

não afetaram de modo significativo o teor de sítios catalíticos.

Page 87: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

69

A introdução dos grupamentos sulfônicos aumentou muito a hidrofilicidade do

PSS. Em testes de inchamento realizados com os catalisadores, foi observado que

estes aumentaram 9 vezes o seu volume, quando em contato com água. Este

mesmo comportamento foi observado em etanol e metanol, sem solubilização e sem

alteração morfológica. Entretanto, no óleo de soja e em solventes apolares como

hexano, nenhum inchamento foi observado. Ao contrário dos produtos obtidos com

os outros agentes sulfonantes (sulfato de acetila e ácido sulfúrico concentrado), o

PS sulfonado com ácido sulfúrico fumegante não apresentou a formação de gel na

presença de água.

O comportamento observado nos produtos de sulfonação com ácido sulfúrico

fumegante foi atribuído à formação de ligações cruzadas do tipo sulfona. Diversos

trabalhos são encontrados na literatura mostrando que, dependendo das condições

da reação de sulfonação, a formação de ligações cruzadas ocorre através de reação

entre dois grupos sulfônicos de cadeias de PSS diferentes, por mecanismo

intermolecular (Figura 22) [THEODOROPOULOS et al., 1993; 1992; KUCERA et al.,

1998; MARTINS et al., 2003]

Poucas são as informações disponíveis sobre o mecanismo de formação das

ligações cruzadas do tipo sulfona. A literatura afirma que a tendência da formação

destas ligações é relacionada ao aumento dos grupos sulfônicos ao longo da cadeia

polimérica, assim como à reação do polímero com o agente de sulfonação em altas

concentrações, e ainda, ao emprego de altas temperaturas. Estudos recentes

demonstraram que quando a reação de sulfonação de amostras de PS foram

realizadas entre 70 e 80ºC, foi observado cerca de 30% de ligações cruzadas,

enquanto que ao realizar a reação em temperaturas entre 150 e 200ºC, o teor de

Page 88: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

70

ligação cruzadas aumenta para aproximadamente 50%. [THEODOROPOULOS et

al., 1993 e 1992; KUCERA et al., 1998; MARTINS et al., 2003].

FIGURA 22. REPRESENTAÇÃO DA LIGAÇÃO CRUZADA DO TIPO SULFONA.

Como observado por THEODOROPOULOS e colaboradores

[THEODOROPOULOS et al., 1993] o poliestireno sulfonado obtido com ácido

sulfúrico fumegante, tornou-se um material insolúvel em todos os solventes

comumente utilizados em laboratório.

4.2.4. Catalisadores macrorreticulados comerciais

Para futura comparação dos resultados de atividade destes catalisadores

frente à transesterificação de óleos vegetais, foram também utilizadas duas

amostras de resinas macrorreticuladas comerciais, a Lewatit-SPC112 e a Amberlyst

15, ambas com 12% ligações cruzadas. Por se tratarem de resinas sulfonadas, não

foi necessário submetê-las aos processos de sulfonação; porém, uma vez que estas

são comercializadas sob a forma de sal de sódio, para que pudessem ser utilizadas

S OOSO3H SO3H

x n m

m z m

Page 89: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

71

como catalisadores ácidos, foi necessário acidulá-las o que foi feito de acordo com o

procedimento descrito por Santos [SANTOS, 1991].

Para possibilitar uma futura comparação entre a eficiência dos catalisadores

comerciais com os sintetizados neste Trabalho, o teor de grupos sulfônicos da

Lewatit SPC112 e da Amberlyst15 foi determinado utilizando o mesmo procedimento

de volumetria de neutralização utilizadas para os PS linear sulfonados. Os valores

obtidos foram: 3,70 mmol SO3H/g para a Amberlyst 15 e 2,70 mmols SO3H/g para a

Lewatit SPC112.

As melhores condições experimentais de sulfonação com ácido sulfúrico

fumegante, investigadas até então, foram utilizadas na sulfonação de uma amostra

de PS-DVB gelular (com 8% de ligações cruzadas), levando a um teor de grupos

sulfônicos de 5,0 mmol SO3H/g de polímero. A presença das ligações cruzadas não

afetou significativamente o teor de grupos sulfônicos na matriz polimérica.

As resinas comercias sulfonadas foram caracterizadas por FTIR e os

espectros também não apresentaram uma boa resolução, devido à higroscopicidade

que o grupo –SO3H confere ao material (Figura 23). Todos os espectros apresentam

o mesmo perfil, caracterizado por uma banda larga na faixa de 1230 cm-1 a

1120 cm-1, devida à formação de sais de hidrônio-sulfonato.

Page 90: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

72

FIGURA 23. ESPECTRO DE FTIR DAS RESINAS COMERCIAIS SULFONADAS.

Ácidos sulfônicos, quando em sua forma anidra, absorvem em duas regiões

estreitas: em 1350 cm-1 a 1342 cm-1 e em 1165 cm-1 a 1150 cm-1. Entretanto, estas

faixas também não são observadas nestas resinas comerciais sulfonadas, porém

devido a impossibilidade da técnica e manipulação em atmosfera anidra, permitiu

que os grupos se hidratassem rapidamente [SILVERSTEIN & WEBSTER, 2000;

GOMES et al., 2004].

4.2.5. Análise térmica dos PS sulfonados

A estabilidade térmica dos diferentes produtos sulfonados que apresentaram

valores mais elevados de teor de grupos sulfônicos e conseqüentemente, maior

4 0 0 0 3 5 0 0 3 0 00 2 5 00 2 0 0 0 1 5 0 0 1 0 0 0 5 0 0

Transmitância (u.a.)

N úm e ro d e O n d a (cm-1)

Gelular Sulfonada

Amberlyst 15

Page 91: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

73

potencial de aplicação como catalisadores, foi avaliada por termogravimetria (TG) e

termogravimetria diferencial (DTG). Nas Figuras 24 e 25, são apresentadas as

curvas correspondentes às amostras sulfonadas de PS em suspensão (PSS#7 e 8)

e nas Figuras 26 e 27, as curvas da resina macrorreticulada Lewatit SPC112 e da

resina PS-DVB gelular sulfonada, respectivamente.

Dentre as diversas informações que podem ser obtidas através da

termogravimetria, a análise do PS em suspensão e dos PSS#7 e 8 foram realizadas

buscando verificar o perfil de degradação dos materiais, o teor de umidade e a

resistência térmica.

As curvas de TG/DTG dos catalisadores obtidos a partir de PS em suspensão

mostraram que a introdução de altos teores de grupamentos sulfônicos atribuiu uma

maior estabilidade térmica ao poliestireno, como descrito na literatura [LUCAS et al.,

2001; MARTINS et al., 2003].

Os catalisadores PSS#7 e 8 apresentaram o mesmo perfil de perda de

massa, que ocorreu em três zonas de temperatura distintas (Figura 24 e 25). A

primeira, entre 50 e 130ºC, deve-se principalmente à dessolvatação de água, uma

vez que os catalisadores são muito higroscópicos, apresentando 11% e 2,5% de

perda de massa, respectivamente [JIANG, 2005; GOMES et al., 2004].

A segunda zona de perda de massa, para materiais sulfonados, é

apresentado pela literatura entre 200º e 400ºC, sendo atribuída à dessulfonação

térmica do material polimérico, predominando a saída de SO2. Nos PSS analisados,

esta segunda zona de perda de massa foi observada entre 260º e 410ºC,

correspondendo a uma perda de massa de 43% e 39%, respectivamente. Esta etapa

da degradação térmica apresentou velocidade máxima de decomposição em 275ºC

para o PSS#7 (5,6 mmol SO3H/g) e em 295ºC para o PSS#8 (6,2 mmol SO3H/g). Foi

Page 92: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

74

observada, em seguida, uma lenta degradação seguida da terceira zona de perda de

massa, observada entre 530º e 630ºC para os PSS, com perdas de massa de 36% e

47%, respectivamente, atribuída à degradação da matriz polimérica. Nesta etapa, a

velocidade máxima de decomposição ocorreu em torno de 580ºC, não sendo

observado resíduo acima de 640ºC [JIANG, 2005; COUTINHO et al., 2001].

Devido à elevada higroscopicidade dos materiais, não foi possível

correlacionar o teor de umidade (medido pela perda de massa abaixo de 130ºC) com

o teor de grupos sulfônicos.

Sabe-se que, em alguns casos, quando a degradação térmica ocorre em

múltiplos estágios, é possível semi-quantificar o teor de comonômeros no copolímero

[LUCAS et al., 2001]. Apesar dos PSS, podem ser classificados como copolímeros,

terem apresentado curvas de degradação em três estágios com perda de SO2,

proveniente das unidades repetitivas sulfonadas, associada ao segundo estágio de

degradação (260º-410ºC), não foi possível fazer uma associação direta entre a

perda de massa e o teor de grupos sulfônicos. Provavelmente, este fato foi devido à

pequena diferença entre os teores de grupos sulfônicos presentes nas duas

amostras (5,6 e 6,3 mmol SO3H/g).

Page 93: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

75

FIGURA 24. CURVAS DE TG E DTG DO CATALISADOR PSS#7 (5,6 MMOL SO3H/g).

FIGURA 25. CURVAS DE TG E DTG DO CATALISADOR PSS#8 (6,2 mmol SO3H/g).

100 200 300 400 500 600 700 800

0

20

40

60

80

100

Deriva

da (u.a.)

Perda de Massa (%)

Temperatura (ºC)

-4

-3

-2

-1

0

1

100 200 300 400 500 600 700 800

0

20

40

60

80

100

Deriva

da (u.a.)

Perda de Massa (%)

Temperatura (ºC)

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

Page 94: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

76

FIGURA 26. CURVAS DE TG E DTG DA RESINA LEWATIT SPC112 (2,7 mmol SO3H/g).

FIGURA 27. CURVAS DE TG E DTG DA RESINA PS GELULAR SULFONADO (5,0 mmol SO3H/g).

100 200 300 400 500 600 700 800

0

20

40

60

80

100

Perda de Massa (%)

Temperatura (ºC)

-1,4

-1,2

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

Deriva

da (u.a.)

100 200 300 400 500 600 700 800

0

20

40

60

80

100

Perda de Massa (%)

Temperatura (ºC)

-1,4

-1,2

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

Deriva

da (u.a

.)

Page 95: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

77

Com relação à estabilidade térmica do PSS#7 e 8, as análises por TG e DTG

permitem afirmar que o aumento do teor de grupos sulfônicos no copolímero PSS

aumenta a estabilidade térmica do material polimérico, uma vez que as análises

foram realizadas sob as mesmas condições, em um único equipamento. Apesar da

temperatura “on set” das duas amostras terem apresentado o mesmo valor (260ºC),

o pico de perda de SO2 na curva de DTG do PSS#8, que apresenta maior teor de

grupos sulfônicos (6,2 mmolSO3H/g – T =295ºC), foi observado em uma temperatura

seguramente superior à do produto PSS#7 (5,6 mmolSO3H/g – T = 275ºC)

As curvas de TG/DTG dos catalisadores reticulados mostraram perda de

massa em quatro zonas de temperatura distinta (Figura 26 e 27). A primeira zona de

perda de massa, entre 50 e 200ºC, deve-se principalmente à perda de água. Nessa

primeira etapa de perda de massa, foi observada uma elevação da temperatura final

em função do teor de divinilbenzeno (DVB) no suporte polimérico. A primeira perda

de massa vai até 214ºC para o catalisador PSgelular, e até 200ºC para a Lewatit-

SPC112, correspondendo de 8 e 4 % de perda de massa, respectivamente. Esse

comportamento pode estar relacionado ao volume de poros fixos: quanto maior for

esse volume, mais facilmente a água sairá da estrutura polimérica.

A segunda zona de perda de massa, entre 200 e 300ºC, é atribuída à

dessulfonação do catalisador. O início da dessulfonação, para os catalisadores

reticulados, ocorreu em temperatura acima de 200ºC, com seu máximo em 300ºC. À

medida que o teor de DVB da estrutura do suporte do catalisador diminui, houve

também um leve decréscimo na temperatura em que a velocidade de degradação é

máxima. Esse efeito pode ser atribuído ao maior impedimento estérico dos suportes

reticulados. A terceira zona de perda de massa, entre 320º e 400ºC, é devida ao

Page 96: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

78

início da quebra das ligações cruzadas, que ocorre concomitantemente à saída de

SO2 da dessulfonação. A quarta faixa de perda de massa, observada acima de

400ºC, com máximo de perda de massa em 580ºC, é atribuída à degradação total do

suporte, com a saída de diversos compostos aromáticos como estireno, metil-

estireno e benzeno [JIANG, 2005; LEVCHIK, 1999; GOMES et al., 2004].

O comportamento térmico dos catalisadores avaliados indica que estes

poderão ser utilizados nas reações de transesterificação estudadas que, no máximo,

irão ocorrer em temperatura abaixo desta faixa, portanto, sem que ocorra

degradação da matriz polimérica e/ou perda da capacidade catalítica, uma vez que

este catalisadores apresentam degradação em temperaturas acima de 240ºC. Os

catalisadores obtidos a partir de PS linear apresentam ainda um comportamento

térmico comparável a das resinas reticuladas, demonstrando o grande potencial

destes materiais.

4.3 Transesterificação de óleos vegetais

4.3.1. Transesterificação em meio homogêneo

Poucas são as informações disponíveis na literatura sobre a utilização de

ácido p-toluenossulfônico (PTSA) como catalisador na produção de ésteres etílicos

e/ou metílicos derivados de óleos vegetais. Sendo assim, optou-se por estudar

inicialmente a utilização do PTSA, pois os catalisadores obtidos neste Trabalho

podem ser vistos como formas do PTSA imobilizado em uma matriz polimérica,

tornando-se interessante avaliar o comportamento deste catalisador frente a

transesterificação de óleos vegetais.

Page 97: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

79

Diversos trabalhos são encontrados na literatura, demonstrando que quando

a catálise ácida é empregada neste tipo de reação, são necessárias condições mais

energéticas, normalmente refluxo do álcool empregado, tempos de reação,

superiores a 12 h e altas razões molares álcool:óleo. Assim como na catálise

alcalina, a quantidade de água presente no álcool influencia negativamente no

rendimento da reação [FEEDMAN, 1984 e 1986; CANAKCI & GERPEN, 1999].

Optou-se por adaptar um procedimento descrito por CANAKCI & GERPEN (1999),

onde é descrita a utilização de ácido sulfúrico concentrado e razão molar

metanol:óleo de soja de 6:1, sendo necessárias cerca de 48 h de reação à 60ºC

para os ésteres metílicos serem obtidos em elevados rendimentos.

Na Tabela 7, pode ser observado que os elevados rendimentos de ésteres de

etila obtidos foram pouco influenciados tanto pela quantidade de catalisador

utilizada, quanto pelo tempo de reação. A utilização de etanol grau P.A. (pureza de

98%) não afetou o rendimento da reação, bem como a utilização de metanol como

agente de transesterificação levou aos ésteres metílicos em alto rendimento.

TABELA 7. TRANSESTERIFICAÇÃO DO ÓLEO DE SOJA, UTILIZANDO PTSA COMO

CATALISADOR.

Exp. Álcool Razão molar (óleo de

soja:álcool)

PTSA (mol%)

T (ºC) Tempo (h)

Rendimentoª

1 Etanol anidro 1:20 10 75 18 87 2 Etanol anidro 1:20 10 75 12 85

3 Etanol anidro 1:20 5 75 3 85

4 etanol P.A. 1:20 5 75 3 85

5 metanol 1:20 5 70 3 90

ª Rendimento mássico da fase superior, após purificação.

Page 98: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

80

A caracterização dos ésteres etílicos e metílicos obtidos e a avaliação do grau

de pureza dos produtos, foram realizadas através da espectroscopia de 1H-NMR.

O espectro de 1H-NMR do óleo de soja (Figura 28) mostrou oito conjuntos de

sinais que foram identificados como: a) hidrogênios olefínicos e um hidrogênio

metínico do esqueleto hidrocarbônico do glicerol (δ - 5,1 a 5,5 ppm); b) hidrogênios

metilênicos do esqueleto hidrocarbônico do glicerol (δ - 4,05 a 4,40 ppm); c)

hidrogênios dialilmetilênicos (δ - 2,6 a 2,9 ppm); d) grupos metilênicos α-carboxílicos

(δ - 2,2 a 2,4 ppm); e) hidrogênios monoalilmetilênicos (δ - 1,9 a 2,1 ppm); f) grupos

metilênicos α-alílicos (δ - 1,5 a 1,7 ppm); g) grupos metilênicos ligados a dois átomos

de carbonos saturados (δ - 1,1 a 1,4 ppm); h) grupos metila terminais(δ - 0,7 a 0,9

ppm) [GEBARD et al., 1995; MEHER et al., 2004, SAAD, 2005].

FIGURA 28. ESPECTRO DE 1H-NMR DO ÓLEO DE SOJA, MOSTRANDO O ASSINALAMENTO DA

FRAÇÃO OLEATO.

( p pm )

01234567891 0

CH2

CH

CH2

O

O

OCOCH2(CH2)nCHCHCH2CHHCCH2CH2(CH2)nCH3h g f e a a c a a g d b

a

b

g

D

F

A

B C

E

G

H

Page 99: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

81

FIGURA 29. AMPLIAÇÃO DOS ESPECTROS DE 1H-NMR DO ÓLEO DE SOJA REFINADO.

FIGURA 30. AMPLIAÇÃO DO ESPECTRO DE 1H-NMR ÉSTERES ETÍLICOS DERIVADO DE ÓLEO

DE SOJA.

(ppm)

3.904.004.104.204.304.404.50

( p p m )

01234567

( ppm)

0. 00. 40. 81. 21. 62. 02. 42. 83. 23. 64. 04. 44. 85. 25. 66. 0

( ppm)

4. 004. 104. 20

Page 100: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

82

FIGURA 31. ESPECTRO DE 1H-NMR DE ÉSTERES METÍLICOS DERIVADOS DE ÓLEO DE SOJA.

O conjunto de sinais de maior importância para a caracterização dos ésteres

etílicos, está localizado na região de 4,05 a 4,40 ppm (Figura 29), que corresponde

ao acoplamento dos quatro hidrogênios metilênicos (Hb) com o hidrogênio metínico

(Ha) dos triacil-glicerídeos, resultando em um acoplamento tendendo à segunda

ordem do tipo duplo, duplo-dublete. Também, pode-se observar o acoplamento dos

hidrogênios metilênicos da etoxila (R-COOCH2CH3) com os hidrogênios do grupo

metila da mesma, representado por um quarteto na região de 4,05 a 4,25 ppm

(Figura 30). O triplete correspondente ao acoplamento da metila com o metileno do

grupo etoxila (R-COOCH2CH3) pode ser observado como um sinal centrado em 1,25

ppm, como é típico de ésteres de etila, porém, nete caso, também se encontra

sobreposto aos sinais dos hidrogênios metilênicos (Hg) provenientes das cadeias

dos ácidos graxos. Estas sobreposições de sinais dificultou a caracterização dos

ésteres de óleo de soja principalmente se houver presença de onoacil ou diacil-

gliceróis junto com o produto de reação.

( ppm)

0. 00. 51. 01. 52. 02. 53. 03. 54. 04. 55. 05. 56. 0

Page 101: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

83

Para os ésteres metílicos foi observada a ausência do quarteto característico

do triacil-glicerídeo e o aparecimento de um singlete referente ao grupo metoxila em

δ=3,65 ppm, região limpa do espectro do óleo de partida, o que facilita a

quantificação do produto formado (Figura 31).

4.3.2. Transesterificação em meio heterogêneo

Os ésteres etílicos do óleo de soja refinado foram obtidos através da reação

de transesterificação, utilizando os catalisadores de PS sulfonados em meio

heterogêneo. Para estes primeiros estudos, foi utilizado o catalisador PSS#8 (com

6,20 mmol SO3H/g de resina) e etanol anidro (grau de pureza de 99,5%).

Inicialmente, os melhores resultados obtidos com o uso de PTSA foram utilizados no

planejamento dos experimentos com os catalisadores heterogêneos. Entretanto, nas

condições em que o PTSA foi muito eficiente, os catalisadores heterogêneos não

apresentaram atividade (PTSA = 3 mol%; razão molar óleo de soja:etanol = 1:20;

temperatura do banho 75ºC; tempo de reação = 3 a 18 horas). Diversas reações

foram realizadas, aumentando a razão molar óleo de soja:etanol, quantidade de

catalisador e a temperatura da reação de 60 para 90ºC (refluxo brando para ebulição

intensa), uma vez que a literatura indica que, quando a catálise ácida é empregada

em reações de transesterificação de triacil-glicerídeos, altas razões molares

álcool:óleo são utilizadas, sendo comumente encontrados valores entre 20:1 e 300:1

[FEEDMAN, 1984 e 1986; CANAKCI, 1999].

Ao término de todas as reações, o catalisador polimérico foi removido do meio

reacional por simples filtração e, em seguida, o excesso de etanol foi removido à

Page 102: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

84

pressão reduzida em evaporador rotatório. Em nenhum dos experimentos realizados

foi observada a separação de fases entre os ésteres etílicos e a fase da glicerina.

Todas as reações de transesterificação foram monitoradas por 1H-NMR,

através da região característica dos ésteres etílicos, ou seja, o quarteto na região

entre 4,05 a 4,25 ppm (Figura 30). Apesar do triplete em δ= 1,25 ppm também ser

um sinal caracterísitco de éteres de etila, a grande intensidade e sobreposição dos

sinais na região entre 1,2 e 1,4 ppm não permitiu sua utilização para o

monitoramento das reações.

Comparando os espectros anteriores (Figuras 29 e 30) com os espectros da

Figura 32, observa-se uma sobreposição de sinais dos hidrogênios do grupo etoxila

dos ésteres com os hidrogênios metilênicos do triacil-glicerídeo na região de 4,05-

4,40 ppm, indicando uma baixa conversão dos triacil-glicerídeos em ésteres de etila.

Quando a transesterificação foi realizada com razão molar óleo de soja:etanol

1:100, 20 mol% do catalisador PSS#8, sob agitação magnética e ebulição intensa

(90ºC) por 18 h, o espectro de 1H-NMR não apresentou esta sobreposição,

indicando uma melhor conversão dos triacil-glicerídeos em ésteres etílicos [GEBARD

et al., 1995; PAVIA et al., 1996, MEHER et al., 2004].

Page 103: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

85

FIGURA 32. AMPLIAÇÃO DOS ESPECTROS DE 1H-NMR DOS ÉSTERES ETÍLICOS NA REGIÃO DE

4,05-4,40 PPM, MOSTRANDO OS SINAIS DOS HIDROGÊNIOS METILÊNICOS DA

ETOXILA.

Uma vez ajustadas as condições de reação, passou-se a estudar o efeito da

morfologia do catalisador sobre a transesterificação. Para efeito de comparação, as

condições de reação otimizadas com o uso do catalisador PSS#8 foram empregadas

com os demais PS lineares sulfonados obtidos a partir de PS em suspensão: cristal

em pelets; cristal moído e copos de café triturados (PSpós-consumo). Também

foram utilizadas a resina gelular sulfonada e as resinas macrorreticuladas PS-DVB-

SO3H comerciais, Lewatit SPC112 e Amberlyst 15. Foi também variada a fonte de

triacil-glicerídeo entre óleo de soja refinado, óleo de milho bruto e sebo bovino. Os

resultados estão apresentados na Tabela 8.

(ppm)

0.00.40.81.21.62.02.42.83.23.64.04.44.85.25.6

(ppm)

3.94.04.14.24.34.44.5

Page 104: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

86

TABELA 8. RESULTADOS DO EMPREGO DE DIVERSOS CATALISADORES HETEROGÊNEOS NA

TRANSESTERIFICAÇÃO DOS ÓLEOS.

Catalisador Óleo Álcool Rendimento (%)a

PSS#8 soja etanol anidro 82

PS moído soja etanol anidro 80

PS cristal soja etanol anidro 85

PS cristal soja etanol P.A. 78b

PS cristal soja etanol destilado 80

PS cristal soja metanol 80

PS cristal milho bruto etanol P.A. 75b

PS cristal sebo bovino etanol P.A. 70b

PS pós-consumo soja etanol P.A. nd

PS gelular soja etanol P.A. ------

Lewatit SPC112 soja etanol P.A. -------

Amberlyst 15 soja metanol 13

Condições de reação: proporção molar óleo:álcool = 1:100; catalisador = 20 mol%; refluxo intenso (90ºC); tempo =18 horas. ª Rendimento mássico dos ésteres, após purificação; b Rendimento obtido após tratamento com Magnesol®; nd – rendimento não determinado.

Na Tabela 8, pode ser observado que os elevados rendimentos de ésteres

etílicos obtidos foram pouco influenciados tanto pela morfologia do catalisador

utilizado, quanto pela utilização de etanol, com grau de umidade diferenciados,

assim como foi observado quando o PTSA foi empregado. Assim, a utilização de

metanol como agente de transesterificação produziu ésteres metílicos em

rendimento comparável aos de ésteres etílicos.

Na avaliação do desempenho dos catalisadores sulfônicos produzidos, foi

investigada a utilização de triacil-gliceróis com baixo valor agregado e elevado índice

de acidez, como óleo de milho bruto e sebo bovino, pois a elevada acidez dificulta a

Page 105: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

87

utilização da catálise alcalina em meio homogêneo, devido à formação de sabão.

Como foi possível observar (Tabela 8), o PS cristal sulfonado se mostrou bastante

eficiente na transesterificação destes óleos, apresentando rendimentos comparáveis

aos obtidos com óleo de soja refinado, nas mesmas condições.

Quando estes óleos de baixo valor agregado foram transesterificados, livres

do excesso de álcool e analisados por 1H-NMR, foi observada a sobreposição dos

sinais dos hidrogênios do grupo etoxila na região de 4,05-4,40 ppm. A fim de

melhorar a qualidade dos ésteres através da extração de produtos hidroxilados, foi

testada o tratamento com 2% (m/m) de Magnesol® um adsorvente sintético, à base

de silicato de magnésio, desenvolvido para remoção de umidade, sabões e outros

compostos polares que normalmente contaminam o produto final [SAAD, 2005]. Este

tratamento também foi realizado nos produtos derivados de óleo de soja, milho e

sebo bovino, onde após o tratamento com Magnesol®, o espectro de 1H-NMR

apresentou apenas o quarteto característico dos ésteres.

Para a reação de transesterificação utilizando o catalisador obtido a partir de

PS pós-consumo, não foi possível determinar o rendimento pois, mesmo após o

tratamento com Magnesol®, o espectro de 1H-NMR ainda apresentava a

sobreposição dos sinais na região de 4,05-4,40 ppm. Entretanto, apesar de não se

ter conseguido quantificar o rendimento dos ésteres etílicos, o catalisador obtido a

partir de PSpós-consumo, demonstrou um potencial catalítico para a

transesterificação de óleos vegetais.

Quando a resina macrorreticulada Lewatit SPC112 e a gelular sulfonada

foram utilizadas, nas mesmas condições experimentais empregadas para os PS

lineares sulfonados, não houve formação de biodiesel. Por outro lado, quando a

resina Amberlyst 15, foi utilizada como catalisador, foi observado um rendimento de

Page 106: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

88

apenas 13% de éster metílico. Estes resultados demonstram a grande

potencialidade dos catalisadores obtidos neste Trabalho. Cabe ressaltar que não

foram investigadas outras condições experimentais buscando melhores resultados

para os catalisadores reticulados, pois estes não eram os objetivos do Trabalho. A

utilização de resinas comerciais, neste caso, visa demonstrar que os bons resultados

obtidos com os catalisadores desenvolvidos não poderiam ser obtidos por simples

substituição destes por pordutos disponíveis no mercado, reconhecidamente

utilizados como catalisadores ácidos.

Para compreender melhor o comportamento destes catalisadores frente à

transesterificação do óleo de soja, foi realizado um estudo cinético da obtenção de

ésteres metílicos variando o tempo de reação, temperatura e proporção molar entre

óleo de soja e metanol. Para este estudo, foi escolhido o catalisador obtido a partir

do PS cristal.

Para ésteres metílicos, a determinação da conversão do triacil-glicerídeos é

descrita na literatura utilizando-se a razão entre as áreas dos picos dos hidrogênios

da metoxila e dos hidrogênios metilênicos do glicerol (Figura 33), aplicando-as na

equação descrita por GELBARD e colaboradores (Equação 1) [GELBARD et al.,

1995; MEHER et al., 2004].

Equação 1

onde: R% é a porcentagem de conversão de triacil-glicerídeo em ésteres metílicos;

AME é a área do pico referente aos hidrogênios da metoxila dos ésteres metílicos

(singlete intenso em 3,7 ppm); e ACH2 é a área do pico referente aos hidrogênios

=

23

2100

CH

ME

A

Ax R%

Page 107: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

89

metilênicos da fração glicerol (duplo duplo-dublete entre 4,05 e 4,40 ppm). Com base

na Equação 1, foram calculadas as conversões em ésteres metílicos nas diversas

condições utilizadas, os resultados são mostrados na Figura 34.

FIGURA 33. ESPECTRO DE 1H-NMR DE UM PRODUTO TRANSESTERIFICADO PARCIALMENTE

COM METANOL.

1.0000

1.2091

( p p m)

0 . 00 . 40 . 81 . 21 . 62 . 02 . 42 . 83 . 23 . 64 . 04 . 44 . 85 . 25 . 6

Page 108: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

90

FIGURA 34. GRÁFICOS DA CINÉTICA DE TRANSESTERIFICAÇÃO EM DIVERSAS PROPORÇÕES

MOLARES ÓLEO DE SOJA: METANOL, UTILIZANDO PS CRISTAL SULFONADO.

2 4 6 8 1 0 1 2 1 4 1 6 1 8 2 0

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

1 6

1 8

2 0

Conversão (%)

T e m p o d e R e a ç ã o ( h )

1 : 3 1 :6 1 :9 1 :1 0 0

T=30ºC

2 4 6 8 1 0 1 2 1 4 1 6 1 8 2 00

2 0

4 0

6 0

8 0

1 0 0

Conversão(%)

T e m p o d e R e a ç ã o ( h )

1 : 3 1 : 6 1 : 9 1 : 1 0 0

T=60ºC

2 4 6 8 1 0 1 2 1 4 1 6 1 8 2 00

2 0

4 0

6 0

8 0

1 0 0

Conversão(%)

T e m p o d e R e a ç ã o ( h )

1 : 3 1 : 6 1 : 9 1 : 1 0 0

T=90ºC

Page 109: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

91

Os gráficos da cinética de transesterificação demonstrou que a conversão em

ésteres é fortemente influenciado pela temperatura e pelo tempo de reação, ou seja,

em temperaturas e tempos mais elevados, a formação dos ésteres é favorecida,

apresentando o comportamento citado na literatura como sendo característico de um

catalisador homogêneo [FEEDMAN, 1984 e 1986; CANAKI, 1999].

Apesar de não haver uma relação aparentemente linear, maiores razões

molares óleo:álcool também levaram a maiores rendimentos, independentemente da

temperatura de reação. Isso pode estar relacionado ao elevado teor de grupamentos

sulfônicos que o catalisador utilizado apresenta. Como foi observado através dos

testes de inchamento, este catalisador apresentou forte interação com o metanol, e

não apresentou interação com o óleo. O catalisador pode estar absorvendo grande

parte do álcool, reduzindo a proporção molar óleo:álcool e limitando a ação catalítica

apenas aos grupamentos sulfônicos presentes na superfície do catalisador

polimérico. Enquanto que, em razões molares mais elevadas, a quantidade de álcool

é suficiente para promover o inchamento do catalisador, facilitando o acesso aos

sítios catalíticos e mantendo uma proporção óleo:álcool alta o suficiente para

propiciar bons rendimentos de reação.

Na temperatura próxima à temperatura ambiente (30ºC), as conversões foram

muito baixas, independentemente do excesso de álcool utilizado. Na reação

realizada a 60ºC o excesso de álcool se mostrou um fator mais importante, uma vez

que o rendimento máximo para baixas proporções molares (40% em 18 horas) foi

alcançado em 6 horas na proporção de 1:100 que chegou a 85% de rendimento em

18 horas; quando a reação foi realizada em ebulição intensa, a energia fornecida ao

sistema parece compensar o efeito do excesso de álcool necessário pois o perfil da

curva de 1:9 acompanha o de 1:100 com resultados superiores a 70% em 18 horas,

Page 110: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

92

apesar de melhores resultados terem sido observados para 1:100 com mais de 90 %

em 18 horas.

Diversas informações podem ser obtidas da Figura 34. Porém, a escolha das

melhores condições de reação depende fortemente do objetivo e da escala de

trabalho para a obtenção do biodiesel. Em uma análise preliminar, é possível prever

que melhores rendimentos em tempos de reação menores poderiam ser obtidos com

um maior excesso de metanol e que esta condição não comprometeria o aspecto

econômico do processo, uma vez que o excesso de álcool pode ser reutilizado no

sistema.

Como pode-se observar através deste estudo cinético, para alcançar altas

conversões em ésteres metílicos, são necessários tempos de reação bem superiores

aos utilizados na catálise homogênea ácida e alcalina. Na tentativa de reduzir os

tempos de reação, investigamos a utilização de uma maior quantidade dos

catalisadores poliméricos PSS, uma vez que podem ser obtidos a baixo custo,

através da modificação química de rejeitos de PS, e também, podem ser

regenerados e reutilizados.

Os ésteres etílicos foram obtidos em bons rendimentos somente em tempos

de reação muito longos, acima de 12 horas de reação, tornado o processo

economicamente inviável, bem como não atende as especificações da Resolução no

42 da ANP. A fim de melhor o processo de transesterificação com os catalisadores

sulfônicos, optamos por aumentar a quantidade de catalisador, de 20 mols% para 40

mols% em relação as carbonilas dos ácidos graxos. Manteve-se a razão molar de

1:100 óleo:metanol e a reação ocorreu na temperatura de refluxo do meio reacional,

em tempos de reação variados, os rendimentos dos ésteres metílicos foram obtidos

Page 111: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

93

a partir das integrações dos seus sinais característicos, os resultados são

apresentados na Tabela 9.

TABELA 9 RESULTADOS DA TRANSESTERIFICAÇÃO METÍLICA DO ÓLEO DE SOJA, COM 40

MOLS% DE CATALISADOR POLIMÉRICO

Catalisador Óleo Tempo de

reação (h) Conversão(%)

PS cristal soja 3 27

PS cristal soja 6 42

PS cristal soja 12 94

Pela análise da Tabela 9, podemos observar que, apesar do aumento da

quantidade de catalisador, este não afetou significativamente o rendimento da

transesterificação em tempos de reação inferiores a 6 horas, sendo os resultados

obtidos comparáveis aos obtidos quando foram utilizados 20 mol% de catalisador.

Por outro lado, para tempo de reação de 12 horas, é observado que o rendimento

alcançado, só foi antes obtido após 18 horas de reação em menor quantidade de

catalisador. Apesar de empregar o dobro de catalisador, os rendimentos obtidos,

não se mostraram lineares, sendo obtido uma pequena redução no tempo de

reação.

4.4 Reutilização dos catalisadores poliméricos

A possibilidade de reutilização dos catalisadores heterogêneos é um dos

fatores que despertam o nosso interesse em estudar o seu emprego em reações de

transesterificação de triacil-glicerídeos, além da busca por materiais análogos as

resinas sulfonadas comerciais, que apresentam altos custos.

Page 112: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

94

No presente Trabalho, o efeito da reutilização do catalisador polimérico

sulfonado sobre a conversão do óleo de soja em ésteres metilícos pode ser

observado na Tabela 10. As reações foram conduzidas com base nos experimentos

que utilizaram 40 mol% de catalisador polimérico sulfonado, razão molar

óleo:metanol de 1:100, tempos de reação de 18 horas, na temperatura de refluxo do

meio reacional. Monitorou-se ainda, a teor de grupos sulfônicos do catalisador,

utilizando a técnica de volumetria de neutralização descrita anteriormente.

Visando simplificar o processo, um experimento adicional foi conduzido onde,

após a sua utilização, o catalisador polimérico foi lavado por diversas vezes com

metanol, a fim de remover os sub-produtos da transesterificação, tais como: mono,

diacil, triacil-glicerídeos, assim como a glicerina. Em seguida, o catalisador foi seco

em estufa sob vácuo até peso constante. O catalisador polimérico reciclado foi então

utilizado para a transesterificação de uma nova partida de óleo de soja, nas

condições citadas acima.

Como pode ser observado, quando este procedimento foi utilizado, o teor de

grupamentos sulfônicos se mostrou inferior ao que o catalisador apresentava

quando foi sintetizado. Isso pode estar associado à presença dos sub-produtos da

reação, ainda aderidos ao catalisador. Como resultado, houve uma grande redução

no índice de conversão de triacil-glicerídeos em ésteres metílicos, proporcionando

um rendimento de 42% na reação.

Por outro lado, quando o catalisador polimérico foi submetido ao processo de

acidificação, o teor de grupos sulfônicos obtidos foi muito semelhante ao que o

produto apresentava antes de ser utilizado. O catalisador polimérico assim

regenerado foi então empregado em uma nova reação de transesterificação,

apresentando uma conversão de aproximadamente 60% em ésteres metílicos.

Page 113: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

95

Apesar de ter sido superior à conversão obtida quando o catalisador apenas passou

por um processo de lavagem, este resultado é bastante inferior ao obtido em sua

primeira utilização.

TABELA 10. ESTUDO DA REUTILIZAÇÃO DOS CATALISADORES HETEROGÊNEOS

EMPREGADOS NA TRANSESTERIFICAÇÃO DO ÓLEO DE SOJA

Utilização Teor de –SO3H

(mmol SO3H/ g polímero seco)

Conversão em

éster metílico (%)

1 5,50 94

2 4,50a 42

3 5,40b 59

4 5,40b 22 acatalisador polimérico somente lavado com metanol e seco até peso constante; bcatalisador polimérico lavado com metanol, acidulado e seco até peso constante

Na busca de se conhecer o limite de utilização destes catalisadores

poliméricos reutilizados, optou-se por realizar uma terceira reação de

transesterificação, utilizando como catalisador o PSS utilizado na segunda reação.

Após passar pelo processo de acidificação e secagem, a nova reação de

transesterificação foi realizada nas mesmas condições descritas anteriormente.

Entretanto, a conversão em éster metílico apresentou uma grande redução.

Embora as razões que levaram à queda do grau de conversão em ésteres

metílicos ainda não tenham sido esclarecidas, é possível afirmar que estas não

foram provocadas por redução do número de sítios catalíticos como mostra a Tabela

10. Estes experimentos demonstraram que o catalisador polimérico sulfonado em

estudo apresenta um bom potencial. No entanto, esta alternativa ainda deverá ser

motivo de investigações futuras, para que o processo venha a ser minimamente

otimizado.

Page 114: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

96

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A primeira síntese do poliestireno em suspensão foi realizada utilizando um

agente de suspensão amplamente difundido na área de Ciência de Polímeros, o

poli(álcool vinílico). Entretanto, a utilização desta técnica de polimerização levou à

formação de esferas acompanhadas de grandes aglomerados, em uma faixa

granulométrica bastante variada e com elevado tamanho de partícula.

A utilização do novo agente estabilizante de suspensão, composto por uma

mistura de hidroxietilcelulose e gelatina, não permitiu a formação de aglomerados e

levou à formação de pérolas de tamanho mais uniforme, em rendimentos de 90 %.

Foi possível obter o PS sulfonado, utilizando o sulfato de acetila como agente

sulfonante. Apesar de se tratar de um agente de sulfonação menos oxidante, o grau

de sulfonação do PS se mostrou muito baixo e inadequado à aplicação desejada

neste Trabalho.

Quando empregou-se o ácido sulfúrico concentrado, levou a teores de grupos

sulfônicos no PSS bastante baixos, mesmo aumentando-se a proporção entre

unidades repetitivas de estireno:H2SO4.

Como observado na literatura, o poliestireno sulfonado obtido com ácido

sulfúrico fumegante, tornou-se um material insolúvel, em todos os solventes

comumente utilizados em laboratório.

Elevados teores de grupamentos sulfônicos (bem superiores aos encontrados

em produtos comerciais) foram introduzidos nas diversas matrizes de PS, através da

metodologia desenvolvida utilizando-se ácido sulfúrico fumegante.

Nos diversos catalisadores obtidos, pode-se afirmar que a variação da massa

molar, a superfície de contato, a presença de 8% de ligações cruzadas e de outros

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97

componentes da formulação do PSpós-consumo, não afetaram o processo de

sulfonação, uma vez que a variação nos resultados não foi significativa.

O PS sulfonado por meio de ácido sulfúrico fumegante apresentou os

melhores resultados, independentemente do tempo de reação, levando a

catalisadores sulfônicos com teores de grupos sulfônicos na faixa 5,60 – 6,20

mmol/g de polímero seco, resultado superior ao encontrado para resinas gelulares e

macrorreticuladas disponíveis comercialmente.

O comportamento térmico dos catalisadores avaliados indicou que estes

poderão ser utilizados nas reações de transesterificação estudadas, que ocorrem em

torno da temperatura de refluxo do álcool (etanol ou metanol), sem que haja

degradação da matriz polimérica.

Nas condições experimentais empregadas, o catalisador heterogêneo do tipo

PS-DVB sulfonado não se mostrou eficiente na transesterificação dos triacil-gliceróis

estudados, ao contrário dos excelentes resultados obtidos a partir do PS linear.

A quantidade de umidade presente nos álcoois utilizados não influenciou

significativamente os rendimentos mássicos dos ésteres etílicos e metílicos.

Apesar do estudo da reutilização dos catalizadores não ter sido conclusivo, a

possibilidade de produção de catalisadores a baixo custo foi constada pela obtenção

de PS sulfonado a partir de variados tipos de PS, o que demonstra a viabilidade da

reciclagem química de PS oriundo de fontes diversas para esta aplicação, variando

desde rejeitos da indústria de plásticos até PSpós-consumo.

Neste Trabalho, foi demonstrado que é possível a obtenção de biodiesel a

custos baixos, através da catálise ácida heterogênea, analisando os três principais

aspectos:

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98

a) fonte de triacil-glicerídeos: além de óleo de soja refinado, foi possível

utilizar óleos e gorduras de baixo valor agregado e alto índice de acidez, como óleo

de milho bruto e sebo bovino;

b) álcool utilizado: bons resultados foram obtidos, independente do grau de

pureza e do teor de umidade presente no etanol e metanol;

c) catalisador: foi possível utilizar catalisadores obtidos a partir da sulfonação

de PS linear, permitindo a utilização de artefatos recicláveis de PS.

Page 117: RAFAEL AUGUSTO SOLDI - UFPR

99

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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