quintal produtivo garante renda extra para família do semiárido

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No município de Castelo do Piauí, a 35 km da zona urbana existe uma comunidade chamada Marruá, lá moram 11 famílias e uma delas é a de Dona Filomena Maria Teixeira Lima de 65 anos e Paulo Teixeira Lima, 58 anos. O casal tem uma bonita história de vida e dedicação à terra na qual vivem e é essa história que vamos conhecer. Dona Filomena conta que nasceu e se criou na comunidade Marruá, ela é filha de José Teixeira Sobrinho, conhecido como Cazuza, e Maria Marcolina da Rocha. Em seus primeiros casamentos Dona Maria Marcolina teve três filhos e Seu Cazuza nove filhos. Com a morte da esposa de Seu Cazuza e o fim do casamento de Dona Marcolina, os dois se conheceram e resolveram se juntar, desta união nasceram oito filhos, um deles é Dona Filomena. Seu Paulo é filho de José Alves Lima e Francisca Alves Teixeira irmã de Seu Cazuza, Dona Filomena e Seu Paulo são primos legítimos. A agricultora conta que quando os dois se casaram ela estava com 30 anos e Seu Paulo com 22 anos, o fato de serem primos e a diferença das idades não impossibilitou o sentimento entre os dois, que casaram, tiveram três filhos e há 36 anos vivem juntos. Dona Filomena conta que Marruá significa boi reprodutor, mas não sabe dizer o porquê do lugar ter recebido esse nome. A comunidade fica em uma região semiárida de Castelo do Piauí e por isso a maior dificuldade para os moradores do local era a falta d'água. De acordo com Dona Filomena as famílias de lá utilizavam a água de um poço cacimbão para tudo, mas quando o poço secava, geralmente no mês de outubro, as famílias tinham que caminhar léguas até um olho d'água distante conhecido como Pé da Serra para buscar água. Seu Paulo diz que a cisterna pequena, como eles chamam a cisterna de 16 mil litros do Programa “Um Milhão de Cisternas Rurais” (P1MC), foi uma bênção de Deus mesmo com as dificuldades em construí-la. De acordo com ele foi uma luta grande para cavar o buraco, o que fez a família até pensar em desistir, “foi muita dificuldade, o terreno era muito duro, ruim para cavar, nós arranjamos uma reta escavadeira, mas a máquina quebrou, foi concertada e voltou a Piauí Ano 4 | nº 68 | fevereiro | 2010 Castelo do Piauí - PI Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Quintal produtivo garante renda extra para família do semiárido 1 O casal em seu quintal produtivo, garantia de renda extra para a família. Seu Paulo divide com a mulher o trabalho de cuidar dos canteiros.

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Page 1: Quintal produtivo garante renda extra para família do semiárido

No município de Castelo do Piauí, a 35 km da zona urbana existe uma comunidade chamada Marruá, lá moram 11 famílias e uma delas é a de Dona Filomena Maria Teixeira Lima de 65 anos e Paulo Teixeira Lima, 58 anos. O casal tem uma bonita história de vida e dedicação à terra na qual vivem e é essa história que vamos conhecer.

Dona Filomena conta que nasceu e se criou na comunidade Marruá, ela é filha de José Teixeira Sobrinho, conhecido como Cazuza, e Maria Marcolina da Rocha. Em seus primeiros casamentos Dona Maria Marcolina teve três filhos e Seu Cazuza nove filhos. Com a morte da esposa de Seu Cazuza e o fim do casamento de Dona Marcolina, os dois se conheceram e resolveram se juntar, desta união nasceram oito filhos, um deles é Dona Filomena. Seu Paulo é filho de José Alves Lima e Francisca Alves Teixeira irmã de Seu Cazuza, Dona Filomena e Seu Paulo são primos legítimos. A agricultora conta que quando os dois se casaram ela estava com 30 anos e Seu Paulo com 22 anos, o fato de serem primos e a diferença das idades não impossibilitou o sentimento entre os dois, que casaram, tiveram três filhos e há 36 anos vivem juntos.

Dona Filomena conta que Marruá significa boi reprodutor, mas não sabe dizer o porquê do lugar ter recebido esse nome. A comunidade fica em uma região semiárida de Castelo do Piauí e por isso a maior dificuldade para os moradores do local era a falta d'água. De acordo com Dona Filomena as famílias de lá utilizavam a água de um poço cacimbão para tudo, mas quando o poço secava, geralmente no mês de outubro, as famílias tinham que caminhar léguas até um olho d'água distante conhecido como Pé da Serra para buscar água.

Seu Paulo diz que a cisterna pequena, como eles chamam a cisterna de 16 mil litros do Programa “Um Milhão de Cisternas Rurais” (P1MC), foi uma bênção de Deus mesmo com as dificuldades em construí-la. De acordo com ele foi uma luta grande para cavar o buraco, o que fez a família até pensar em desistir, “foi muita dificuldade, o terreno era muito duro, ruim para cavar, nós arranjamos uma reta escavadeira, mas a máquina quebrou, foi concertada e voltou a

Piauí

Ano 4 | nº 68 | fevereiro | 2010

Castelo do Piauí - PI

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Quintal produtivo garante renda extra para família do semiárido

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O casal em seu quintal produtivo, garantia de renda extrapara a família.

Seu Paulo divide com a mulher o trabalho de cuidar dos

canteiros.

Page 2: Quintal produtivo garante renda extra para família do semiárido

trabalhar, foi aí que o buraco foi feito”, conta. Dona Filomena concorda que pensou em

desistir, mas diz que levanta as mãos aos céus e agradece por não ter feito isso porque a vida da família melhorou muito depois das cisternas pequenas, quando o programa “Uma Terra e Duas Águas” (P1+2) chegou com as cisternas de 52 mil litros, que acumula água para a produção de alimentos, as famílias da comunidade viram ali a possibilidade de mudar de vida, “a gente pensa em desistir na primeira dificuldade, mas antes a gente não tinha água nem para beber e agora com o 'cisternão' dá até para plantar uns canterinhos, antes parecia sonho e hoje a gente ver que dá”, diz.

No quintal do casal de agricultores tem cebola, coentro, pimentão, tomate, alface, batata doce, macaxeira, milho, feijão, mandioca, frutas como banana, goiaba, coco, acerola, melancia, caju e as plantas medicinais vick, hortelã, noni, capim limão, passarela, boldo, babosa, coronha. Um cuidado todo especial Dona Filomena diz ter é com o noni, porque soube que o fruto é muito bom para curar vários tipos de enfermidades. Por enquanto ela tem em seu quintal apenas dois pés da planta que já estão florando, mas a agricultora diz que pretende plantar muito mais, “minha comadre Teresinha usou e disse que é muito bom até para prevenir câncer, ela me ensinou que a gente bate ele no liquidificador, depois põe no vinho e toma duas colheres ao dia”, explica.

A família também cria pequenos animais como galinhas, porcos, capote, bode e ovelha. Dona Filomena conta que antes ela tinha que juntar a água das lavagens das coisas sujas, juntava cada pinguinho para poder dá aos animais. Como os filhos do casal não moram mais com eles Seu Paulo divide com a mulher a tarefa de cuidar da plantação.

Ele conta que com as facilidades de não precisar mais se preocupar em buscar água distante construiu uma oficina para concertar bicicletas na cidade de Juazeiro do Piauí, mas afirma que ganha um dinheirinho bom mesmo é com a venda de cebolas e coentros. Ele conta que sai batendo de porta em porta até vender tudo, “levo de 30 a 40 moinhos de cebolas e coentro e vou vender em Juazeiro, saía vendendo de porta em porta e vendia tudo, trazia para casa até um dinheirinho bom”, conta.

O casal afirma que é feliz, sair da comunidade nunca foi uma opção porque mesmo com as dificuldades e com a falta d'água, aquele pedaço de terra pertencia à família deles. Podiam sempre dizer que tinham onde morar e com as novas possibilidades, o casal ampliou os seus sonhos que agora é aumentar a área produtiva para que futuramente sejam os netos e netas do casal que possam vir colher os frutos no quintal.

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Toda produção do quintal de Seu Paulo e Dona Filomenaé orgânica, sem uso de agrotóxico.

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do Programa Uma Terra

e Duas Águas Piauí

Ministério doDesenvolvimento Social

e Combate à Fome

Secretaria de Segurança Alimentar

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O Noni, rico em propriedades medicinais.