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8 INTRODUÇÃO A acessibilidade à Internet, à câmera digital, ao celular com câmera e a muitos outros aparatos tecnológicos reprodutores de imagens trouxeram uma mudança significativa na maneira como o homem do século XXI se relaciona com o mundo, acentuando o seu lado narcisista através das redes sociais de relacionamento. Segundo Lemos (2010), com um perfil em uma rede social, alcançamos o que, há 15 anos, só era possível para quem aparecia na TV ou jornais (LEMOS apud PAVARIN, et alli: 2010 p.50). A partir desta premissa, o presente trabalho busca expressar o fenômeno do narcisismo de uma maneira bem humorada, utilizando como embasamento a história do humor como crítica aos costumes vigentes de sua época. Paralelamente o texto traça a evolução do desenvolvimento técnico dos meios de comunicação de massa que floresceu apoiado por uma burguesia em ampla expansão. Este relatório está dividido em dois capítulos. O primeiro faz um recorte na história do humor abordando desde os carnavais na Idade Média às charges no Período Imperial brasileiro. Vale lembrar que cada um dos períodos é exemplificado com nomes de artistas que se destacaram como cronistas de seu tempo , traz um panorama da charge nos dias atuais e trata dos principais recursos tecnológicos e metodologias de produções; por fim no segundo capítulo será abordada a metodologia empregada para a criação da série de charges que acompanha este trabalho. Desde a sua concepção teórica, os caminhos percorridos mal-sucedidos, as soluções encontradas e a posterior retomada e finalização do processo criativo.

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Page 1: Quevedo; ruan pina   humor como crítica da sociedade-do carnavalo ao digital

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INTRODUÇÃO

A acessibilidade à Internet, à câmera digital, ao celular com câmera e a

muitos outros aparatos tecnológicos reprodutores de imagens trouxeram uma

mudança significativa na maneira como o homem do século XXI se relaciona com o

mundo, acentuando o seu lado narcisista através das redes sociais de

relacionamento. Segundo Lemos (2010), com um perfil em uma rede social,

alcançamos o que, há 15 anos, só era possível para quem aparecia na TV ou jornais

(LEMOS apud PAVARIN, et alli: 2010 p.50).

A partir desta premissa, o presente trabalho busca expressar o fenômeno do

narcisismo de uma maneira bem humorada, utilizando como embasamento a história

do humor como crítica aos costumes vigentes de sua época.

Paralelamente o texto traça a evolução do desenvolvimento técnico dos meios

de comunicação de massa que floresceu apoiado por uma burguesia em ampla

expansão.

Este relatório está dividido em dois capítulos. O primeiro faz um recorte na história

do humor abordando desde os carnavais na Idade Média às charges no Período

Imperial brasileiro. Vale lembrar que cada um dos períodos é exemplificado com

nomes de artistas que se destacaram como cronistas de seu tempo , traz um

panorama da charge nos dias atuais e trata dos principais recursos tecnológicos e

metodologias de produções; por fim no segundo capítulo será abordada a

metodologia empregada para a criação da série de charges que acompanha este

trabalho. Desde a sua concepção teórica, os caminhos percorridos mal-sucedidos,

as soluções encontradas e a posterior retomada e finalização do processo criativo.

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N.A:Primeiramente,é preciso esclarecer ao leitor algumas diferenças fundamentais entre as linguagens utilizadas pelo humor gráfico: caricatura, charge e cartum. A caricatura exagera as partes do corpo que mais chamam atenção do retratado, a charge faz uma sátira a um fato específico em determinado tempo, portanto ela é temporal e o cartum se preocupa em fazer uma sátira com temas atemporais que levam o leitor à reflexão como por exemplo:violência urbana, meio ambiente, paz,etc;contudo é necessário ressaltar que estas não são características rígidas podendo uma mesma obra conter mais de um estilo de linguagem.

2- UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA DO HUMOR GRÁFICO

Para uma compreensão mais clara do papel do humor no

desenvolvimento da sociedade ocidental, é feita a seguir uma contextualização

histórica; abordando dois períodos cruciais: Idade Média e Idade Moderna.

A história do humor como forma de crítica social remonta aos

carnavais medievais, quando esse festejo popular igualava todos os estratos sociais

em um evento que abria parênteses ao cômico em meio a uma vida sofrida.

Segundo Eco (2007), em sua obra História da Feiúra, este período foi marcado por

paradoxos, pois ao mesmo tempo em que a Igreja impunha uma conduta rígida (o

riso era considerado uma “licença diabólica”1), abria concessões para festejos que

beiravam o paganismo ,como a Festa do Asno e o charivari 2(fig. 1),.O autor afirma:

(Fig.1) - Os Charivari,ms.fr.146,f.34,séc.XIV,Paris FONTE: Bibliotèque Nationale apud Eco, 2007

1 Do ponto de vista do clero neste período, o riso era abominável pois acreditavam que rir era sinônimo de

perder o medo da autoridade instituída pela Igreja e consequentemente uma afronta a Deus(ECO,2003 apud MARQUES,2010) 2 Charivari eram procissões por ocasião de novas núpcias de um viúvo, caracterizados por gritos e gestos

obscenos, transvestimentos (...)e uma grande barulheira com utensílios de cozinha.(ECO,2007p.140)

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A população vingava-se alegremente do poder feudal e eclesiástico e tentava reagir, através de paródias dos diabos e do mundo infernal, ao medo da morte e do além-túmulo, ao terror das pestes e das desgraças que imperavam o resto do ano (ECO, 2007 p.140).

Segundo Santos (2008), em seu artigo denominado ”A desfiguração da realidade –

A carnavalização e o grotesco em El Buscón”, aonde analisa a obra Francisco

Quevedo3

A arte grotesca, além de desfigurar as imagens que são por elas representadas, reúne no mesmo patamar paradigmático o trágico e o cômico, o elevado e o baixo, o belo e o feio combinando-os a um aspecto aparentemente contraditório, assim como ocorre nas características destinadas aos carnavais medievais. (SANTOS, 2008 p.180)

Deste modo nota-se que o cômico e o obsceno eram elementos libertadores

de uma classe oprimida. Ainda citando Eco, a sátira que a plebe dirigia aos seus

algozes representava uma espécie de “revolta compensatória” (ECO, 2007 p.132).

Neste momento predominavam as manifestações humorísticas marcadas pela

oralidade, as impressões em pequena escala eram apenas opúsculos dedicados ao

registro das cantigas de Escárnio e Maldizer4.

No Renascimento, surgido na Itália no século XV, todos os dogmas medievais

foram depostos e o riso como “licença diabólica” também foi questionado, surgindo

inúmeros tratados a respeito de suas origens, como: De ris,1603 de Antonio

Lorenzini; Traité du ris,1579 ,de Laurent Joubert; De risu, ac ridiculis,1598, de Celso

Mansini, entre outros (SKINNER, 2004). Com essa nova visão de mundo, o burlesco

sai dos guetos populares e se se torna parte de uma Revolução Cultural

encabeçada pela elite intelectual, tendo o nome de maior destaque nesta empreitada

o escritor François Rabelais,com sua série de textos burlescos chamados

Gargântua (fig.2) e Pantagruel, que seriam ilustrados posteriormente por Gustavé

Doré (ECO, 2007).

3 Francisco Gómez de Quevedo foi um dos escritores mais críticos de seu tempo, denunciando em sua obra “ El

Buscón” de forma satírica, a decadência da nobreza feudal. 4 Cantigas de Escárnio e Maldizer eram os gêneros liteários de humor predominantes,aonde os trovadores

entoavam suas críticas à uma autoridade ou alguém de seu círculo social.(INFOPÉDIA,2010)

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(Fig.2) – Gargantua ,séc. XIX de Gustavé Dorè FONTE: ECO, 2007

Neste período que ficaria conhecido pela “Revolução Cultural5”, foi também marcado

por duas outras revoluções que foram cruciais para a disseminação de

conhecimento: a introdução do papel trazido pelos mouros6 e a invenção da prensa

tipográfica de Johan Gutemberg7, em 1455, na cidade alemã de Munz(fig.3).

(Fig.3) – Prensa tipográfica criada por Johan Gutemberg FONTE: (http://masterverkpt.wordpress.com/2010/03/12/prensa-movel/)

Segundo (BRIGGS, BURKE: 2006 p.24), em seu livro Uma história social da mídia:

de Gutemberg à Internet

A prática da impressão gráfica se espalhou pela Europa com a diáspora dos impressores germânicos. Por volta de 1500, haviam sido instaladas máquinas de impressão em mais de 250 lugares na Europa – 80 na Itália, 52 na Alemanha e 43 na França. (...) Todas essas gráficas produziram cerca de 27 mil edições até o ano de 1500, o que

5 o Renascimento foi marcado por uma revolução humanista que abarcou todos os segmentos da sociedade:

econômicos, políticos,religioso e artístico,questionando o modelo teocêntrico predominante. Disponível em: (http://www.historiadaarte.com.br/renascimento.html) acesso em: 05 nov.de 2010 6 No ano de 711, os mouros invadem a península ibérica trazendo em suas bagagens todo um volume de

conhecimento entre eles o papel e os algarismos arábicos. (NAVARRO, s/d) 7 Guttemberg inventou a primeira máquina de impressão em larga escala (MACLUHAN, 1972 p.192)

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significa que estimando-se uma média de 500 cópias por edição – cerca de 13 milhões de livros estavam circulando naquela data em uma Europa com cem milhões de habitantes.

François Rabelais defendeu ardorosamente a prensa tipográfica através de

inúmeras publicações que “intimavam” a população a ler os seus textos.

Macluhan em sua obra “A galáxia de Gutemberg - a formação do homem

tipográfico” escreve:

O Renascimento do século XVI foi uma época na fronteira entre dois milênios: de cultura alfabética e manuscrita, de um lado, e a nova técnica mecânica de repetição e quantificação de outro. (MACLUHAN, 1972 p.197)

Mais adiante ele completa:

Rabelais preocupa-se com a democratização do conhecimento (...) E o conhecimento aplicado que nos chegou pela prensa acabou levando-nos tanto ao conforto, quanto ao saber. (MACLUHAN,1972 p.206)

Em suma, quanto ao humor não podia ser diferente, pois fez parte ativamente

das rupturas de valores da sociedade ocidental, fazendo sátiras abertamente contra

a decadência da nobreza feudal.

No entanto será somente na França revolucionária do século XIX que o

humor como crônica social ganhará destaque, devido ao contexto social e político

conturbados, recebendo o nome de charge, que significa: carga, ataque violento

como uma carga de cavalaria (NERY, 2001 apud ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2008 p.3)

(GRIFO NOSSO)

Em meados de 1800, um período aonde a França vivia o auge da crise do regime

monarquista, nasce a charge como uma voz com grande poder de destruir ou criar

simbolismo com sua linguagem do exagero e comicidade.

Os impérios, o Estado, a Igreja sempre se utilizaram da força para evitar opiniões contrárias, o que não extirpou do seio social o anseio de manifestar e tornar real as conclamações de protesto, eis então, um poder fiscalizador e exclamativo perante as injustiças sociais e históricas vigentes no país: a charge. (ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2008 p.4)

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Podemos dizer que, a partir deste período, o humor gráfico atuando como

crítica social ganharia visibilidade para um público mais amplo, pois estava atrelado

a um meio de comunicação de massa que vivia o seu ápice: o jornal.

Passado quase quatro séculos após a invenção da prensa tipográfica, as

impressões em larga escala ganham um novo fôlego com o auxílio da mecanização

e, especialmente, de uma nova tecnologia que nascia nesse período: a fotografia.

O jornal adquiriu tanta popularidade e prestígio como primeiro meio de

comunicação de massa híbrido, aplicando simultaneamente às linguagens da

escrita, da ilustração e da fotografia, que mudou a maneira do homem do século XIX

ver o mundo. Tal fenômeno chamou a atenção dos estudiosos das ciências sociais.

Segundo (COOLEY:1909 apud DEFLEUR; BALL-ROKEACH: 1993 p.40)

O caráter genérico dessa mudança é bem expresso pelas duas palavras ampliação e vitalização. Os contatos sociais são prolongados no espaço e acelerados no tempo, e no mesmo grau de a unidade mental por eles subentendida torna-se mais ampla e mais atenta. O indivíduo se expande por entrar em relação com uma vida maior e mais variada, é mantido imobilizado, às vezes em excesso, pela multidão de sugestões variáveis que esta vida lhe traz.

Um artista que se destacou como um grande crítico de seu tempo através de suas

charges foi o francês Honoré Daumier (1808-1879).Além de caricaturista foi pintor,

escultor, gravador.Nasceu em Marselha em 1808, estudou pintura com Lenoir,

fundador do Musée des Monuments Français e depois na Academia Suíça.

Trabalhou nos principais jornais de oposição do regime monarquista como Le

Charivare e La Caricature, tendo seu talento reconhecido posteriormente por

grandes nomes da intelectualidade francesa de seu tempo como: Charles

Baudelaire, Vitor Hugo e Balzac. ( BRUCHARD, 1995 p.8)

A revolução de 1830 causou, como todas as revoluções, uma febre caricatural. Realmente, foi uma bela época para os caricaturistas (...)guerra acirrada em particular contra o rei. (BAUDELAIRE apud BRUCHARD, 1995 p.8)

Segundo Bruchard (1995), Daumier com sua extrema habilidade e sua crítica

ácida ao regime vigente, pagou com a própria vida pela ousadia quando retratou o

rei como “Gargântua”, remetendo ao clássico de Rabelais (fig.4), e acabou

condenado pelo júri a seis meses de detenção - primeiro no cárcere de Saint Pélagie

e depois na casa de saúde do doutor Pinel.

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De acordo com Baudelaire, as sátiras de Daumier podem ser

classificadas como:

... uma desordem, um pandemônio, uma prodigiosa comédia satânica, ora burlesca, ora sangrenta, onde desfilam, enfiadas em vestimentas variadas e grotescas, todas as honorabilidades políticas. (BRUCHARD,1995 p.8 )

(fig.4)“Gargantua – Louis Philip e os impostos” (DAUMIER, 1831)

FONTE: BRUCHARD, 1995

A partir de 1835, com a lei de censura à imprensa, Daumier deixou de lado os

ataques ao rei e passou a fazer sátiras: aos costumes triviais da sociedade burguesa

(fig.5), ao Salão de Arte com seus critérios de seleção questionáveis e ao gosto

exagerado pelos temas da Antiguidade retratados no Neoclassicismo8 (fig.6). Em

relação a este último, Baudelaire afirma: “(...) atacou brutalmente a Antiguidade,

retratando-a numa fealdade burlesca (...) foi uma blasfêmia muito divertida e teve

sua finalidade” (BAUDELAIRE apud BRUCHARD, 1995 p. 8).

8 O Neoclassicismo foi um período da história da arte, aonde os artistas buscavam se inspirar nos modelos

harmoniosos da Grécia Antiga, principalmente depois da descoberta das ruínas da cidade de Herculano em 1738 e Pompéia em 1748(COLL I MIRABENT: 1991p.11)

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(fig.5) - Retrato do cotidiano –“Seis meses de casado” (DAUMIER,1839) FONTE: BRUCHARD, 1995

(Fig.6) - Esboço feito no Salão de Arte c/a legenda: “Mais um ano de Vênus...sempre Vênus!” (DAUMIER,1865)

FONTE: ANDRADE, 2004

Daumier, devido à sua enorme maestria técnica como: luz, sombra e perspectiva

espacial, chegou a receber um elogio de Balzac: “ Ele tem Michelangelo na

pele”(BALZAC apud BRUCHARD, 1995 p. 8).

Apesar desta comparação com o mestre renascentista, seus traços tinham grande

expressividade, valorizando o sentimento do retratado como afirma Baudelaire:

Todas as pobrezas de espírito, todos os ridículos, todas as manias de inteligência, todos os vícios do coração lêem-se e mostram-se claramente naquelas fisionomias animalizadas; e ao mesmo tempo; tudo é desenhado e amplamente acentuados. (BAUDELAIRE apud BRUCHARD, 1995 p. 16)

Como legado, esse grande artista de olhar sociológico deixou um amplo acervo de

4.000 litografias, além de diversas xilogravuras num total de 4.800 desenhos.

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2.1 A Charge no Brasil e Suas Influências Européias

No Brasil, já quase no final do século XIX, o Rio de Janeiro a então capital do

Império já sentia os reflexos da “modernidade européia”, recebendo as últimas

novidades como a invenção do daguerreótipo9. Era o início do Segundo Reinado e

havia uma grande liberdade de imprensa; esta por sua vez encontrava terreno fértil

para as sátiras em vários temas: nas disputas políticas entre liberais e

conservadores, na adesão à causa abolicionista e nos ataques ao clero e ao rei.

Segundo Sodré (1999), a caricatura surgiu no Brasil em 14 de dezembro de

1837 em um semanário chamado: Jornal do Comércio. Ela foi introduzida por um

artista renomado na época chamado Manoel Araújo Porto Alegre10, que trouxe a

novidade de Paris, aonde havia estudado esse ano; sendo esse o autor da primeira

charge brasileira com autoria, pois anteriormente não havia essa preocupação.

(fig.7)

(Fig. 7)- “A Campainha e o Cujo” (PORTO ALEGRE, 1837)

FONTE: MARINGONI, 2005

Além de Porto Alegre, neste contexto surgem também grandes nomes de

destaque no cenário artístico nacional, como Henrique Fleiuss, que será abordado

mais adiante sua vida e suas obras.

Ao contrário do que muitos imaginam o aparecimento da fotografia não trouxe a

princípio nenhum tipo de ameaça às técnicas tradicionais de produção de imagens

9 Segundo Joaquim M. Ferreira de Andrade, daguerreótipo foi um aparelho fotográfico desenvolvido por Louis

Jacques Mandé Daguerre em colaboração com Joseph Niépce e seu filho Isidore Niépce neste período,anunciando oficialmente o invento na Academia de ciências e Artes em Paris em 1839. (ANDRADE, 2004) 10

Manuel Araújo foi um artista que demonstrou grande versatilidade atuando como :poeta, teatrólogo, urbanista, arquiteto,professor de desenho,crítico e historiador de arte,vereador,diplomata e homens das letras , sendo patrono da cadeira número 32 da Academia Brasileira de Letras.

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para veiculação comercial, como o desenho, a gravura e a pintura pois o processo

de produção daquela era muito oneroso e demorado para quem comercializava

imagens(CARDOSO, 2004)

Outros artistas que se destacaram neste cenário foram: Hermam Lima, Pedro

Américo, seu irmão Aurélio de Figueiredo e Décio Vilares que lançam em fevereiro

de 1870 o periódico “A comédia social – Hebdomadário Popular Satírico”.

Muitos outros grandes artistas do humor surgiram neste período, contudo

abordamos aqui apenas a vida e as obras de Henrique Fleiuss; não por este ter mais

relevância que os demais, mas sim pelo fato de ele ter retratado de forma bem

humorada um fenômeno que causou as mais diversas reações de todos os extratos

da população: o ato de ser fotografado.

2.1.1 Fleiuss, o Artista Visionário

Henrique Fleiuss (1823-1882) nasceu na cidade alemã de Colônia. Em

Dusseldorf formou-se no curso de Belas Artes e, logo depois, complementou seus

estudos em Ciências Naturais na cidade de Munique. Em 1858 chegou ao Brasil

para integrar a missão científica dirigida pelos naturalistas Spix e Martius, assim

desenvolvendo inúmeros trabalhos em aquarela da vegetação nativa, após ir para o

norte do país. Andrade destaca:

Vale aqui recapitular as origens dessa missão, que remonta ao casamento do príncipe D. Pedro de Alcântara, herdeiro do trono de Portugal e do Brasil, com D. Maria Leopoldina Josefa Carolina de Habsburgo, arquiduquesa da Áustria. Por ocasião da transferência do casal para o novo mundo em 1817, onde se tornariam imperadores do Brasil, diversos especialistas europeus os acompanharam com o intuito de realizar uma viagem de exploração científica, por iniciativa do governo vienense. (ANDRADE, 2004 p.120)

Após estabelecer-se na Corte Imperial, junto com o irmão Carl Fleiuss e o

pintor Carlos Linde, o artista fundou um estabelecimento litográfico11.Posteriormente

sendo transformado em Imperial Instituto Artístico, devido a amizade que o artista

tinha com D.Pedro II.

11

Litografia é uma técnica de gravura, um método de impressão a partir de imagem desenhada sobre base, em

geral de calcário especial, conhecida como pedra litográfica. A base dessa técnica é o princípio da repulsão entre água e óleo. Atualmente são usadas como matrizes chapas de metal, embora a litografia artística clássica seja toda ela sobre pedra. No início do século XIX foi bastante utilizada para impressão de documentos, rótulos, cartazes, mapas, jornais, etc. Ela pode ser impressa em plástico, madeira, tecido e papel. (NETO; SANCHONETE, 2008 p.3)

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Muitos historiadores rotulam Fleiuss como conservador devido a sua vida

palaciana, onde exaltava os feitos do rei e criticava veementemente os republicanos

como anarquistas12; no entanto, aqui não será analisada a sua obra pelo viés

ideológico ou temático, mas sim pela expressividade de seu traço e pelo olhar atento

sobre o cotidiano, características muito parecidas com de Daumier, entre outros

feitos do artista que marcou a história da imprensa brasileira, fundou o periódico

Semana Ilustrada13 (1860 a 1876). Andrade (2004), ao analisar a obra de Fleiuss,

destaca que desde o primeiro ano de existência do jornal há referências à fotografia,

aonde o artista ressalta em suas charges algumas características como: as falhas

tecnológicas (fig.8) e a reação comportamental (fig.9). Quanto à primeira, Andrade

destaca que o processo demorado e a pouca semelhança no resultado eram fontes

de muitas reclamações. (ANDRADE, 2004)

(fig. 8) Homem reclama ao fotógrafo que a foto que não se parece ele: ”... isto é mais uma cara de macaco do que meu retrato” (FLEIUSS, 1864)

FONTE: ANDRADE, 2004

12

Ver LOPES, A. E. M Idéias republicanas ou idéias revolucionárias?: A imprensa ilustrada fluminense e o Ideário republicano nos anos 1870. Disponível em: < http://www.eeh2008.anpuh-rs.org.br/resources/content/anais/1212272285_ARQUIVO_artigoAristeuLopes.pdf> Acesso em: 18/09/2010

13

Segundo Cardoso, Semana Ilustrada (1860-1876) foi a publicação mais duradoura e influente da primeira leva de revistas ilustradas brasileiras (...) ( CARDOSO,2004 p.41)

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19

(fig. 9) Matutos fogem diante da “caixa estranha” (FLEIUSS, 1864) FONTE: ANDRADE, 2004

A importância desse artista para o desenvolvimento das artes gráficas, vai

muito além desta sua faceta de humorista, sendo considerado um dos grandes

precursores do design gráfico ao implantar em seu novo periódico, chamado

Ilustração Brasileira, um layout inovador seguindo, as tendências européias, como a

francesa “L llustration e a inglesa The ilustrated London News” (ANDRADE, 2004

p.122). Fleiuss possuía formação como ilustrador naturalista, no entanto suas

caricaturas fogem do estilo meramente descritivo.

Segundo Pinto (1949):

(...) seu traço de característica “germânica, naturalista e marcado pela escola expressionista” diferenciava-se profundamente dos demais caricaturistas ativos no país, todos eles influenciados pela arte francesa ou italiana (PINTO apud LEITE, 1988 p.197).

Em suma, seus traços vigorosos realçam a expressividade da cena retratada,

dando maior ênfase aos sentimentos dos personagens retratados, em contraponto

as composições harmoniosas e personagens estáticos herdados do Neoclassicismo.

2.2- A Charge na Era Digital

Assim como no passado o jornal representou uma grande revolução como

meio de comunicação de massa, sendo o primeiro veículo a unir várias linguagens

(a ilustração, a escrita e a fotografia) hoje estamos vivendo outro marco na história

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20

da comunicação com o auxílio dos programas computacionais e a fácil divulgação

na Internet.

Deste modo o humor gráfico recebeu grandes aliadas no processo criativo: as

novas ferramentas digitais, como o Photoshop e o Corel Draw. Cabe salientar que

os processos tradicionais de produção de imagens não foram abandonados, mas

como Santaella (2008) afirma em sua obra Por que a comunicação e artes estão

convergindo? foram “regurgitados” ,sofrendo um processo de “canibalização” com o

meio digital.

De modo cada vez mais intenso, os processos tradicionais e mecânicos da fotografia vêm sendo alargados pelo uso das câmeras digitais, scanners, programas especializados em processamento de imagem e novos modos de arquivamento, transmissão e exibição de imagens on-line (SANTAELLA, 2008, pg. 29).

De acordo com Santaella, classificar não seria a palavra mais adequada para

exemplificar os processos criativos existentes hoje para se fazer uma charge, pois

esta seria uma atitude muito simplista; mas, cabe salientar os principais métodos

utilizados pelos profissionais que atuam nesta área, que são: a colagem sobrepondo

várias fotos (fig.10), o hibridismo, mesclando o desenho manual que, após ser

scaneado, é colorizado digitalmente por meio de programas computacionais

específicos de manipulação de imagem (fig.11) e, por último, a charge animada que

são pequenos vídeos narrando determinados fatos.Este estilo tem como o principal

representante o chargista,roteirista e jornalista Maurício Ricardo Quirino que dirige o

site < http//:www.charge.com.br>(fig.12).

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(Fig.10) Heringer, 2010 FONTE: http://www.acharge.com.br/index.htm

(Fig.11) Junião, 2010 FONTE: http://www.acharge.com.br/index.htm

(Fig.12) Quirino, 2010 FONTE: http://filmmania.ru/video/index.php?key=Charges.com.br

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22

Hoje no Rio de Janeiro, a faculdade Estácio de Sá oferece um curso

específico para quem quer atuar nesta área e há também inúmeros salões de humor

sendo o mais conhecido o Salão Internacional de Humor de Piracicaba, SIHP.

Desde a sua fundação em 1974 durante a ditadura, o SIHP vem exercendo

um papel relevante ao sacralizar talento já conhecidos e revelar os novos

(http://salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br/humor/).

Entre os nomes de destaque que passaram pelo Salão temos: Ziraldo, Millôr

Fernandes, Jaguar, Paulo e Chico Caruso e Glauco. Neste ano em sua 37ª edição,

apenas citando alguns, os selecionados na categoria charge foram: Alberto

Palmieri(SP),José Costa(PI), João M. da Silva (MA),Daniel Ponciano da Silva (BA)

(fig.13 -16).

(fig.13) Alberto Palmieri,2010

FONTE:

(http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=10855595484021705602&aid=1287635561)

(fig.14) José Costa,2010

FONTE:

(http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=10855595484021705602&aid=1287635561)

Page 16: Quevedo; ruan pina   humor como crítica da sociedade-do carnavalo ao digital

23

(fig.15) João M. da Silva,2010

FONTE:

(http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=10855595484021705602&aid=1287635561)

(fig.16) Daniel Ponciano,2010

FONTE:

(http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=10855595484021705602&aid=1287635561)

É inegável, também, que as ferramentas digitais como: Photoshop, scanner ,

mesa digitalizadora e a facilidade de divulgação na rede abriram inúmeras portas

para os profissionais; mas nem tudo são rosas, pois ainda há muitas dificuldades

pare serem superadas.

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24

Segundo o chargista André Cerino, em uma entrevista concedida ao site

<Plano Brasília>, falta visão dos grandes jornais e editoras que deste modo estão

perdendo os profissionais para mercado internacional.

Hoje é importante um veículo de comunicação ter um chargista, um cartunista, porque dá credibilidade à questão do humor. Estamos cometendo algumas falhas e não dando valor a isso. O mercado internacional vai acabar absorvendo esses profissionais que existem aqui (CERINO apud MENDES, 2010 disponível em:

http://www.planobrasilia.com.br/php/pla_indexnot_toda.php?reg=123 )

No capítulo a seguir abordamos passo a passo o processo de produção de uma

charge, desde a escolha do tema abordado e suas concepções teóricas até o

produto final.

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3- PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Hoje, se pararmos para analisar com um olhar mais atento, estamos

vivenciando o caminho inverso do cenário retratado por Fleiuss no final do século

XIX, pois nos deparamos a todo instante com pessoas “armadas” com uma

máquina fotográfica ou celular na ânsia de serem “pegas” na melhor pose e/ou nas

atitudes mais banais do cotidiano.Na maioria das vezes com um objetivo comum:

postar na rede para serem vistas. Segundo dados do instituto de pesquisa Nielsen,

75% dos 1,7 bilhão de pessoas com acesso à internet no mundo freqüentam as

redes sociais (PAVARIN, et alli: 2010 p.48).

A partir desta observação, foi escolhido fazer uma leitura contemporânea das duas

personagens que o Artista da Corte retratou:a senhora e a menina(fig.17). Para dar

vida as personagens buscou -se fazer uma pesquisa visual nos principais sites de

relacionamento que continham estes dois perfis. Após o levantamento, constatou-se

que a maior parte dos usuários que utilizam a rede para exibir seus atributos e seus

gostos pessoais são jovens(fig.18 -22) ; por esta razão foi dado maior ênfase a

personagem da menina. Após esta etapa concluída, deu-se início a produção prática

descrita abaixo:

(Fig.17) Uma senhora e sua filha se submetem a câmera de um retratista -H. Fleius 1861

FONTE: (ANDRADE, 2004)

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(Fig.18)

FONTE:http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=11468294894499360254&aid=1289213777

(Fig.19)

FONTE:http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=11063847040225690116&aid=1255002858

(Fig.20)

FONTE:http://www.orkut.com.br/Main#AlbumZoom?gwt=1&uid=11063847040225690116&aid=12707

42120&pid=1283205612253

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27

(Fig.21)

FONTE:http://www.orkut.com.br/Main#Application?uid=919651958658956809

9&appId=751275171894

(Fig.22)

FONTE:http://www.orkut.com.br/Main#AlbumZoom?gwt=1&uid=11063847040225690116&aid=12707

42120&pid=1288312565417

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3.1- Passo A

A partir desta pesquisa, foi realizada uma série de rascunhos com os lápis 5B,7B

e 8B, em folhas sulfites A4 180gr, fazendo uma releitura das personagens com

os traços expressivos de Fleiuss, adaptando ao contexto atual de nossa

sociedade (fig.23).

(Fig.23) desenhos realizados FONTE: arquivo pessoal

A seguir foi digitalizada em scanner (fig.24) cada uma das imagens, como mostra

a imagem abaixo (fig.25)

(Fig.24) scanner utilizado para digitalização FONTE: arquivo pessoal

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(Fig.25) desenho digitalizado FONTE: idem

Após digitalizadas todas as imagens, iniciou-se o processo de colorização em

software apropriado (Photoshop).

Não foi possível seguir adiante esta etapa, pois as matrizes eram inviáveis para tal

fim (imagem “suja”, com excesso de traços, dificultando a seleção do desenho).

Portanto foi necessário reelaborar os desenhos, para extrair seus traços principais,

através do processo de “transparência” que será descrito no próximo tópico.

3.2 - Passo B

O processo de “transparência” consistiu em fixar os desenhos sobre um suporte de

vidro (balcão) e colocar uma fonte luminosa contra o fundo do papel, fixado no

balcão (fig.26) A seguir colocou-se uma folha sulfite sobre o papel iluminado para

extrair o contorno das figuras, de modo que formassem figuras chapadas ou seja,

sem sombras(fig.27).

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(Fig.26) Lâmpada fixada sob o balcão contra o fundo do desenho FONTE: idem

(Fig.27) desenho concluído FONTE: idem

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Após esta etapa, foram novamente scanneados todos os desenhos, chegando a este resultado abaixo (fig.28).

(Fig.28) desenho digitalizado FONTE: idem

Logo após ser digitalizados, passou-se para a etapa de colorização, utilizando a ferramenta Photoshop (fig.29).

(Fig.29) processo de pintura digital FONTE: idem

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Após colorizados todos os desenhos, estes foram dispostos em uma formatação que remetesse à uma página de relacionamento.

A seguir, o resultado final das charges propostas e suas respectivas análises (fig.30-35).

(Fig.30) Ruan Pina, Tia com o brinquedinho shuashua!!, pintura digital s/papel fotográfico,30 x 20cm,2010

Para compor esta cena, foi utilizado um enquadramento fotográfico que remete ao

chamado Primeiro Plano, onde este mostra-se apenas a cabeça das personagens da cena.

Assim destaca -se o contraste de sentimentos das duas personagens: a alegria da senhora

em contraponto com o constrangimento da menina.

As cores quentes utilizadas ao fundo como o laranja e o amarelo complementam a

atmosfera cômica da cena. Os contornos bem demarcados ressaltam a vivacidade das

personagens. E por último foram acrescentadas quatro cantoneiras verdes remetendo à um

enquadramento de uma máquina fotográfica digital, como estivesse uma terceira pessoa

observando a cena.

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(Fig.31) Ruan Pina, S2 Friends S2, pintura digital s/papel fotográfico, 30 x 20 cm, 2010

As duas personagens foram retratadas, de modo que o enquadramento da cena

remetesse

ao close, uma técnica fotográfica onde o enquadramento é muito mais próximo que o

Primeiro Plano , ressaltando o sentimento de amizade das meninas retratadas na cena. Foi

escolhido retratar a cena de um ponto de observação acima das duas. Esta “técnica” é muito

utilizada por jovens para ressaltar seus atributos físicos como por exemplo os seios.

Foram escolhidas as cores suaves e tons pastéis da pele, pois remetem ao perfil das

personagens. Por fim, a cena foi desfocada levemente e acrescentada mais uma vez as

cantoneiras, de modo que remetesse ao ato de ser fotografado de forma amadora.

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(Fig.32) Ruan Pina, Me, rsss ,pintura digital s/papel fotográfico, 30 x 20 cm,2010

Para compor esta cena, optou-se pro enquadrar a personagem de forma aleatória,

mais uma vez remetendo às fotografias amadoras tiradas aleatoriamente sem nenhuma

preocupação técnica, mas somente pelo simples prazer de ser fotografado. As cores

utilizadas obedeceram ao mesmo padrão das anteriores, remetendo a jovialidade da

personagem. E por último foram acrescentadas zonas de luminosidades intensas em certos

pontos da “foto”, remetendo ao flash da máquina rebatida sobre uma superfície lisa , como

por exemplo um espelho.

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(Fig.33) Ruan Pina, Bora pra night, pintura digital s/papel fotográfico, 30x 20 cm, 2010

Para compor esta cena, optou-se pro enquadrar a personagem em um Plano Geral,

técnica fotográfica que ressalta todos os elementos da cena, dando uma atmosférica cômica

a cena devido ao lugar: o banheiro.

Assim contrapondo o cenário que não tem nem um pouco de glamour com a

personagem cheia de pose com seu visual “despojado”.

Foi acrescentado uma linha em diagonal na parte inferior da obra, remetendo a bancada do

banheiro. Assim fazendo que o olhar do espectador percorra de um lado ao outro da obra.

As cores utilizadas obedeceram ao mesmo padrão das anteriores, remetendo a

jovialidade da personagem. E por último foi acrescentado zonas de luminosidades intensas

em certos pontos da “foto”, remetendo ao flash da máquina rebatido sobre uma superfície do

espelho do banheiro.

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(Fig.34) Ruan Pina, Migucha d look novo ;) pintura digital s/papel fotográfico, 30x20cm,2010

Para compor esta cena, optou-se pro enquadrar a personagem mais uma vez em um

close, ressaltando a sua expressão, contudo a cena foi cortada aleatoriamente remetendo a

uma fotografia amadora tirada por um dispositivo qualquer como: um celular ou uma

câmera.

As cores utilizadas obedeceram ao mesmo padrão das anteriores, remetendo a

jovialidade da personagem. Os contornos bem demarcados ressaltam a vivacidade do

retratado. E por último foi acrescentada uma inscrição, de forma que remetesse a uma frase

escrita com um batom em um espelho.

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(Fig.35) Ruan Pina, Minha maninha e o Mingau (^_^), pintura digital s/papel fotográfico, 30 x20 cm,2010

Para compor esta cena, optou-se pro enquadrar a personagem mais uma vez em

Plano Americano, destacando o esforço que o gato faz para se livrar do s braços da menina.

Quanto a composição das personagens, a menina foi retratada de forma ereta

demonstrando tranqüilidade em contraponto com o desespero do gato que foi representado

na diagonal para acentuar a dramaticidade. Assim fazendo que o olhar do espectador

percorra do canto inferior esquerdo ao superior direito da obra.

As cores vivas foram utilizadas para dar uma atmosfera alegre, infantil e ao mesmo

tempo cômica a cena.Os contornos bem demarcados das personagens, mais uma vez são

utilizados para reforçar a vivacidade das personagens.Por fim foi acrescentado de forma

aleatória o “enquadramento” da câmera digital remetendo a uma terceira pessoa

fotografando a cena.

Após finalizadas as obras, foram impressas em papel fotográfico e colocadas

em molduras pretas de forma que remetesse a um monitor de computador.

Pode-se dizer que apesar das facilidades disponibilizadas pelas ferramentas

digitais, o artista de hoje precisa reiventar-se constantemente, utilizando-se da

“canibalização”, como diz Santaella das linguagens artísticas, para não cair no lugar-

comum.

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CONCLUSÃO

Com este relatório, pôde-se observar que a arte da charge como crítica social

trabalha com um sentimento inerente ao ser humano: a visão crítica atrelada ao riso,

seja este de alegria ou de escárnio. Em ambos os casos eles atuam como uma

válvula de escape de nossos sentimentos, portanto impossível de ser reprimido

como outrora.

Quanto à parte prática, com as dificuldades encontradas durante a realização dos

trabalhos, pôde-se chegar à conclusão de que apesar das facilidades das

ferramentas disponíveis hoje, o grande desafio do artista de nosso tempo é

encontrar uma linguagem própria de modo que não caiam na tentação do lugar

comum, atuando com um olhar crítico tanto sobre a técnica como sobre o tema.

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REFERÊNCIAS

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