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QUE PODER É ESSE?
REFLEXÕES SOBRE O PODER DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
RESUMO
Este estudo teve como objetivos verificar a representação social do poder do professor
para estudantes e professores universitários, compreender as características dessa representação,
identificar e analisar sua influência na relação professor - estudante e no processo de ensino-
aprendizagem. Para isto, foi utilizada a Teoria das Representações Sociais, atentando à relação
entre o individual e o social na formação de suas representações; além das contribuições da
Psicologia Sócio-Histórica e de alguns autores sobre o poder que serviram como referencial
teórico para a discussão. Participaram do estudo dezesseis estudantes e seis professores de dois
Cursos de graduação da Universidade Metodista de São Paulo. Para a coleta dos dados com os
estudantes utilizou-se a técnica de Grupos Focais, e para os professores a entrevista individual
semi-diretiva. Percebeu-se que ambos possuem representações sociais similares no que tange ao
poder do professor, diferenciando-se pela especificidade histórica de cada um ou do papel social
que desenvolvem. Os participantes consideraram que o professor detém poder na relação devido
ao conhecimento, à questão institucional e ao seu papel social. Definiram o poder como positivo,
ou seja, aquele que favorece a aprendizagem, e também como negativo, no sentido daquele que a
dificulta. Além disso, atribuíram o poder como objeto, uma propriedade, algo natural do ser
professor, negando que o estudante participe na construção desse poder. Concluiu-se assim que o
estudo das representações sociais do poder do professor possibilitou a desnaturalização desse
fenômeno, indicando-o como uma condição social que pode ser transformada pelos atores do
processo de ensino-aprendizagem.
PALAVRAS-CHAVE
poder do professor – relação professor-aluno – representação social
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Título do Trabalho de Conclusão de Curso:
Que poder é esse? Reflexões sobre o poder do professor universitário
Autores:
Jean Fernando dos Santos
Rafael Campos de Oliveira Dutra
Orientadora:
Profa. Dra. Eda Marconi Custódio
Banca Examinadora:
Presidente: Profa. Dra. Eda Marconi Custódio
Professor Interno: Profa. Ms. Fabiola Ramon
Professor Externo: Profa. Ms. Alessandra Mara dos Santos Dutra
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora como exigência para a
graduação em Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo em 24/11/2006.
Parecer da Orientadora: O trabalho desenvolvido por Jean e Rafael reflete suas preocupações
com o ambiente universitário, a transmissão de conhecimentos, as relações entre os professores e
seus alunos. Ambos fazem uma retrospectiva histórica do processo educacional em nosso meio e
de como nele se instalam as relações de poder. Ambos se apropriam do referencial teórico
relativo ao tema e desenvolvem um trabalho que reputo ser de excelente qualidade para o nível de
graduação. O ineditismo do tema atraiu a atenção das lideranças universitárias, do corpo docente
e do alunado no momento de sua apresentação.
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1. Introdução:
A Psicologia – uma ciência jovem, conhecida como o “estudo da alma”, a “ciência do
comportamento”, entre outras conceituações – dedicou sua não tão breve história a estudar o ser
humano, o homem, a mulher, sua constituição psíquica, suas relações, seu desenvolvimento, seu
desempenho, seus maiores conflitos, seus desejos, etc. Essa ampla e jovem ciência possui como
objeto de estudo o ser humano, e dedica-se a ele desde então.
Porém não é simples ter o ser humano como objeto de estudo, afinal, o ser humano é
complexo, e neste caminho para compreendê-lo a Psicologia tornou-se “Psicologias”, algumas
destas que se aproximam e conversam, outras que se distanciam e divergem e, embora o objeto
de estudo seja o mesmo, a maneira de compreender e conceituar o ser humano e o mundo não são
as mesmas. No âmago das “Psicologias” existem concepções epistemologicamente diferentes, o
que enriquece a compreensão do ser humano, e nos mostra o quão complexo é este objeto de
estudo.
Nas ditas “Psicologias” existem divergências e vertentes dominantes que se enquadram
no modelo de ciência atual, outras que divergem deste modelo, mas que possuem seu espaço, e
ainda aquelas que dialogam fortemente com campos de conhecimentos afim, como a Sociologia,
a Filosofia, a Biologia, etc. Enfim, nas “Psicologias” existem diversos estudos que partem de
pressupostos diferentes e que compreendem e explicam o homem, a mulher, e suas relações de
maneiras diferentes.
Dentre todas essas, este estudo apropria-se de uma visão de ser humano e de mundo
enraizada na Psicologia Social, em sua perspectiva sócio-histórica, no qual
... o homem é visto como um ser inerentemente social e, como tal,
sempre ligado às condições sociais. Homem que, além de produto
da evolução biológica das espécies, é também produto histórico,
mutável, pertencente a uma determinada sociedade, em uma
determinada etapa de sua evolução (AGUIAR, 2000, p.126).
Para Bock (2000), o ser humano constrói a sociedade e se constrói numa relação dialética,
indivíduo-sociedade. Ele não está alheio ao contexto cultural no qual está inserido, nem ao tempo
histórico que está vivendo. Não está fora do mundo, mas é constituído nesse mundo, por meio das
suas relações com ele. Isso não significa que o homem ou a mulher e a sua sociedade são a
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mesma coisa, mas que ambos se influenciam mutuamente. Esse ser é movimento, e está em
constante construção. Não é cristalizado, completo, terminado. É um ser inacabado que se sabe
inacabado (FREIRE, 1979), que influencia o meio que vive, e também é influenciado por ele. E
nesse encontro, pode transformar e transformar-se.
Desta maneira, afirma-se não só que o homem e a mulher estão vinculados ao mundo e à
sociedade, ou apenas que são influenciados por ela, mas sim que o ser humano se constitui sob
determinadas condições sociais, resultado da atividade de gerações anteriores. (AGUIAR, 2000,
p.126)
Vale ressaltar, que se constituir sob determinadas condições sociais não significa que o
homem e a mulher sejam reflexos imediatos do meio social, pois desta maneira os compreenderia
como seres passivos, apenas reprodutores deste meio, e ao contrário, compreende-se como seres
ativos, capazes de criar, inovar, e influenciar esta mesma realidade que os constituem.
Para aprofundar nesta visão de ser humano que o presente estudo se baseia, vale explorar
uma questão fundamental da perspectiva sócio-histórica: a de natureza humana versus a de
condição humana (AGUIAR, 2000).
Não existe uma natureza humana, uma essência humana, que ao desenvolver-se, o homem
e a mulher se atualizam, gerando as potencialidades e faculdades do ser humano, considerando-o
como autônomo, como aquele que possui um desenvolvimento independente ou já previsto pela
semente de homem que carregamos (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1999 p. 89).
O que existe é a condição humana, pois o ser humano, como ser ativo, social e histórico,
constrói-se a partir de suas ações sobre a realidade, na busca de satisfazer suas necessidades.
Necessidades essas, que são sociais e produzidas historicamente pela sociedade. Desta maneira, o
ser humano não é autônomo, mas sim um ser único, pois se constituirá a partir da própria ação,
em um determinando contexto social e histórico, na busca de satisfazer suas necessidades, que
não são apenas biológicas, mas também sociais (BOCK et al. 1999).
Esta concepção de ser humano possui uma perspectiva da Psicologia Social, que não é a
perspectiva hegemônica na Psicologia. No entanto, na própria Psicologia Social existem
divergências marcadas por dois campos de conhecimento, que também possuem referenciais
epistemológicos diferentes, que se caracterizam como a Psicologia Social Psicológica, que é um
campo que se identifica com o modelo positivista, que embora possua raízes européias, é forte na
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América do Norte, tendo um foco nos processos psicológicos individuais frente aos processos
sociais; e a Psicologia Social Sociológica, que possui raiz e força na Europa, mais vinculada com
o campo da Sociologia, possuindo como foco os processos sociais e grupais, as relações e suas
dinâmicas, expandindo-se da perspectiva individual. (FONSECA, 1998)
Dentre os estudos da Psicologia Social Sociológica, existe o estudo do fenômeno das
representações sociais (RS), foco desta pesquisa, que possui como um dos seus objetivos
identificar a RS do poder do professor de estudantes e professores universitários.
No Brasil, o interesse por esta teoria iniciou-se no final da década de 70, e teve estreitas
relações com o desenvolvimento da própria Psicologia Social no país. Atualmente, as discussões
sobre RS têm ocupado um grande espaço no campo da Psicologia Social, e com isso muitos
teóricos e acadêmicos revisaram seus enfoques, proporcionando a todos novas formas de olhar,
entender e interpretar os fenômenos sociais (OLIVEIRA e WERBA, 2002).
Historicamente, os estudos das RS possuíam caráter diferente, com enfoque e essências
diferentes, e Moscovici vai resgatar estes estudos, e desenvolver a partir deles, e das próprias
representações, a sua contribuição acerca deste conceito.
Para ele, as representações são geradas no social e re-elaboradas pelo indivíduo, sendo
assim, não são os substratos que devem interessar, mas a ação, o movimento, ou seja, as
interações entre o individual e o social. E é com esta perspectiva de compreender como se dá o
movimento e a interação entre o individuo e o coletivo que Moscovici desenvolve sua Teoria das
Representações Sociais, buscando uma visão sociológica do indivíduo e individual da
coletividade, avançando em relação às abordagens unilaterais da Psicologia e da Sociologia,
ainda predominantes em meados do século XX. (COSTA; ALMEIDA, 1999)
É com este olhar diferenciado para as representações, buscando compreendê-las por meio
da interdisciplinaridade, que Moscovici consegue inovar em seus estudos e redefinir a sua
dinâmica, considerando a RS como um fenômeno, e não como um conceito, dando importância à
natureza de sua mudança, por meio das quais as RS se tornam capazes de influenciar o
comportamento do indivíduo participante de uma coletividade, partindo do processo coletivo e
penetrando, como fator determinante, no do pensamento individual (MOSCOVICI, 2003).
Com isso, percebe-se a inter-relação entre o individual e o social, e o quanto as
representações de um coletivo podem determinar as representações do indivíduo, gerando um
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processo de adaptação e de ressignificação do sujeito perante o grupo. Por outro lado, vale
ressaltar que a participação do indivíduo pode modificar as representações do coletivo,
reforçando a relação dialética da influência do sujeito no grupo e vice-versa, ou seja, do interno
com o externo, a todo instante.
Para tanto, Moscovici (2003) apresenta em sua teoria dois processos que trazem esta
questão da relação do interno com o externo, processos estes considerados essenciais: a
ancoragem e a objetivação. A ancoragem caracteriza-se pelo processo de tornar familiar o não-
familiar, de re-construir um objeto social, tornando interno aquilo que era externo. Já a
objetivação caracteriza-se pelo processo de tornar concreto aquilo que era apenas imaginário, de
trazer para o externo aquilo que era interno, de materializar o que está na imaginação,
concretizando as representações sociais a partir das representações individuais.
Enfim, Moscovici propõe uma nova ótica para se compreender esse fenômeno, pensando
as RS como um
“conjunto de conceitos, proposições e explicações originadas na
vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são o
equivalente, em nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crença
das sociedades tradicionais, podem também ser vistas como a
versão contemporânea do senso-comum” (MOSCOVICI, 1981, p.
181 apud OLIVEIRA e WERBA, 2002)
Além desta compreensão, é importante identificar alguns elementos geralmente presentes
na noção de RS. Segundo Guareschi (1996), estão presentes os elementos dinâmicos e
explicativos: na realidade social, física ou cultural; os elementos de uma dimensão histórica e
transformadora; e também os aspectos culturais, cognitivos e valorativos, ou seja, os elementos
ideológicos; e todos estes estão presentes tanto nos objetos quanto nos sujeitos, fazendo com que
as RS sejam sempre relacionais (OLIVEIRA E WERBA,2002).
A partir destes estudos das RS pretende-se identificar qual a representação do poder do
professor para estudantes e professores universitários, sabendo que para compreendê-las é
necessária uma compreensão de todo o contexto em que ambos estão inseridos, a sala de aula, a
universidade, a sociedade, ou seja, estudar o fenômeno das RS implica em buscar uma
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compreensão ampla da maneira como o indivíduo apropria-se do social, e de como o indivíduo
atua, transformando ou reproduzindo, este mesmo social.
Vale ressaltar que a própria Psicologia Sócio-Histórica apresenta uma crítica à Teoria das
Representações Sociais, embora reconheça todo o avanço que esta teoria trouxe para a questão da
dicotomia social-individual, e de sua colaboração para o próprio avanço da Psicologia Social (BOCK e
GONÇALVES, 2003).
A crítica feita à Teoria das Representações Sociais se dá no fato de ter um forte teor descritivo,
descrevendo muito bem as teorias que os homens constroem sobre o mundo, porém não avançando no
debate da relação que essas idéias (teorias sobre o mundo) mantêm com as formas de vida e as relações
sociais. Além disso, critica a Teoria das Representações Sociais por não aderir a uma metodologia
dialética, comprometendo a análise das contradições presentes na construção das idéias sobre o mundo
(BOCK e GONÇALVES, 2003)
Porém, tentou-se trabalhar estas questões ao longo do desenvolvimento desse estudo que, após
identificar e descrever a representação social do poder do professor, buscou não apenas descrevê-la, mas
compreender o processo e contexto social e histórico na qual ela foi constituída, e além disso, apontar as
dificuldades e possibilidades desta questão na atualidade.
Para tanto, ao compreender tais representações é importante conhecer quem são estes
atores sociais: professores e estudantes, que papéis desempenham na sociedade, em que contexto
e em que processo estão implicados, e com isso, é necessário pensar a sociedade, a cultura, a
educação, as escolas e universidades, o processo de ensino-aprendizagem e por fim a relação
professor-estudante1. Desta forma é possível conhecer os aspectos sociais, os individuais e a
relação de mútua influência que constitui o fenômeno das RS do poder do professor.
Assim sendo, para conhecer a RS presente na relação professor-estudante, busca-se a
princípio explorar sobre a finalidade de tal relação: a educação; partindo do pressuposto de que a
educação é fundamental para o desenvolvimento humano, permitindo que o homem e a mulher
1 Nesse trabalho foi adotado preferencialmente o termo “professor-estudante”, ao invés de, “professor-aluno”, geralmente utilizado pelos autores.
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aprendam sobre si, sobre o outro, e sobre o mundo. Ela tem como papel principal situar o ser
humano no seu contexto cultural e propiciar condições para que ele compreenda com maior
clareza os determinantes envolvidos na sua constituição como pessoa, adquirindo não apenas um
conhecimento formal, mas um conhecimento de si, como um alguém em constante construção.
Para Freire (1979), conforme já foi dito, o núcleo fundamental que sustenta o processo
educacional é a condição humana de ser inacabado, em construção. O homem e a mulher se
educam porque são inacabados, “inconcluídos”. Devido a esse “inacabamento” é que a educação
só poderia ser concebida como um processo e não como um fim em si mesma, pois o ser humano
estará sempre se educando, uma vez que está sempre em construção. Para esse autor a educação é
um processo do qual o homem é o sujeito e pelo qual torna-se tal:
... é preciso que a educação esteja em seu conteúdo, em seus
programas e em seus métodos, adaptada ao fim que se persegue:
permitir ao homem chegar a ser sujeito, construir-se como pessoa,
transformar o mundo e estabelecer com os outros homens relações
de reciprocidade, fazer a cultura e a história... (FREIRE, apud
MIZUKAMI, 1986, p. 94).
Nesta perspectiva a educação torna-se fundamental para que o ser humano adquira
conhecimento e se desenvolva, afinal, adquirir conhecimento é uma busca do ser humano desde o
início da vida. O bebê desde o nascimento explora o ambiente e apreende o que ocorre, e assim
desenvolve a linguagem, os conceitos, o pensamento, etc. O homem e a mulher se constituem (e
são constituídos) por meio do conhecimento (seja formal ou informal), e sem o conhecimento não
são capazes de se alterarem e nem alterar o meio. Ninguém é crítico sem conhecimento
(SAVIANI, 1983), e sem conhecimento, sem uma postura crítica não haverá a dialética
necessária para construção do novo conhecimento.
Este novo conhecimento é fruto de um processo de ensino-aprendizagem, no qual a
educação atua em prol do desenvolvimento do ser humano, enquanto sujeito e autor do seu devir.
Para ser sujeito da própria história é necessário apreendê-la. E além de tornar-se sujeito da sua
própria história, torna-se sujeito da história, com a história, ou seja, um participante ativo no
processo de mudança da sociedade em que vive.
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Sendo assim, o desenvolvimento possível no processo educacional dos homens e
mulheres é importante não só para o desenvolvimento do indivíduo, mas da sociedade como um
todo. Portanto, é por meio da aprendizagem, e do conhecimento adquirido por conta dela que o
ser humano é capaz de se desenvolver. Mas para que isso ocorra necessita-se de uma pessoa que
ensine para que a outra aprenda, uma vez que a aprendizagem é um processo social, permeado
por determinantes históricos que atuam facilitando ou dificultando sua eficácia (VYGOTSKY,
1956 apud COLL, PALACIOS & MARCHESI, 1996).
Segundo Vygotsky (1956 apud COLL, et al. 1996), a aprendizagem é fundamental para
que haja desenvolvimento. Ele diz que o processo de desenvolvimento é conseqüência da
aprendizagem que possibilita a criação de uma zona de desenvolvimento potencial. Este conceito
refere-se à diferença entre o que a pessoa conhece e o que pessoa pode conhecer. Assim, a
aprendizagem ocorre como um processo dialético no qual o conhecimento anterior (tese) é
negado pelo conhecimento apresentado (antítese) o que possibilita a aquisição de um novo
conhecimento (síntese) e a formação ou refinamento de estruturas que proporcionam novas
condições de aprendizagem, ocorrendo assim o desenvolvimento.
Esse autor valoriza a mediação social no processo de ensino-aprendizagem. Para ele a
relação do homem e da mulher com o mundo é uma relação mediada, onde se considera a atuação
dos determinantes sócio-históricos para elaboração das atividades psicológicas superiores
(pensamento, linguagem, memória, etc) necessárias a aprendizagem. A relação social é
fundamental nesse processo, pois é nessa relação que o individuo vai internalizar as formas
culturalmente estabelecidas de funcionamento psicológico.
Neste contexto, as educações formais e informais atuam no processo de ensino-
aprendizagem, onde alguém com um conhecimento sintético (organizado, bem estruturado e
refinado) auxilia alguém que possui um conhecimento sincrético (“caótico” e desorganizado)
(SAVIANI, 1983). O primeiro será um mediador para que o segundo possa aprender e se
desenvolver, mas isso não significa que nessa relação o primeiro não será afetado.
A escola é um lugar onde ocorre a educação formal. Conforme Freire (1980, apud
MIZUKAMI,1986), ela é uma instituição determinada em um contexto histórico dentro da
sociedade e para compreendê-la é fundamental compreender a sociedade na qual está inserida.
Dessa maneira, a universidade é, assim como a escola, um espaço instituído e social de
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apropriação do conhecimento formal. Um lugar onde existem diversos determinantes históricos
que influenciam as relações sociais dos atores do processo ensino-aprendizagem: professores e
estudantes. Portanto, para conhecer as relações que se dão neste espaço, se faz necessário
compreender a sociedade na qual a universidade está inserida, e a relação entre tal sociedade e a
universidade.
Historicamente, buscou-se afirmar por meio do discurso a existência da autonomia
universitária, indicando que esta teria liberdade acima do contexto histórico-político de exercer o
seu papel de formação intelectual das pessoas com a finalidade de desenvolvimento econômico e
social do país. No entanto, ao longo da história da própria Universidade no Brasil, constata-se
que a mesma nunca atuou sem estar atrelada aos interesses políticos, sobretudo os interesses
hegemônicos (MENDONÇA, 2000).
Tanto as universidades públicas quanto as privadas têm limites na sua produção
acadêmica e no desenvolvimento das suas políticas educacionais, os quais estão atrelados às
políticas do governo vigente e aos interesses das classes dominantes. Isso é presente nos
currículos dos cursos, restritos pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura), pelas exigências do
mercado de trabalho e de forma geral pelos interesses que norteiam a vida dos “consumidores de
educação” no país, bem como pelo poder imposto pelas políticas do governo federal
(MENDONÇA, 2000).
Na perspectiva utilizada nesse trabalho é fundamental considerar esses fatores como
determinantes do processo de ensino-aprendizagem nas universidades, pois compreender o
contexto histórico-social-político-econômico é fundamental para compreender as ações da
universidade e as relações estabelecidas em seu meio.
Os professores e os estudantes são atores desse processo e seres sociais que habitam esse
ambiente, exercem papéis determinados, atendem requisitos que lhe são exigidos pelo meio,
possuem restrições e limites institucionais na sua atuação, embora sejam os atores desse processo.
A relação professor-estudante caracteriza-se pela mútua influência ao exercerem seus papéis: o
professor, aquele que está para ensinar; e o estudante, aquele que está para aprender, numa
relação social, num encontro em direção ao outro.
O professor tem um papel ativo e importante nesse processo, e segundo Del Prette (et al.,
1998), a atuação do professor em sala de aula tem sido alvo de investigação permanente por parte
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dos pesquisadores da área educacional, sobretudo no que diz respeito ao ensino fundamental e
médio. As universidades e as instituições responsáveis pelo ensino superior no Brasil têm-se
preocupado muito em conhecer quais características definem o “bom professor e o professor
ideal” na percepção dos estudantes, mas poucos estudos nessa área buscam conhecer as
características das relações estabelecidas entre estudantes e professores universitários, o que
indica uma visão unilateral do processo.
Para Tunes (et al., 2005), um grupo de estudantes e seu professor estão mergulhados em
diferentes possibilidades interativas, a despeito de desempenharem funções inerentes a papéis que
lhes são reservados e tidos como esperados. Na instituição estão em processo contínuo de criação
intersubjetiva de significados que, por sua vez, podem gerar novas possibilidades de relação.
Assim, aquém de qualquer estrutura cristalizada existe a possibilidade de algo diferente e
transformador por parte de qualquer um dos atores, algo que se constitui a partir dessa relação.
Freire (1996) diz que nenhum professor, independente do estilo positivo ou negativo
passa pelos alunos sem deixar sua marca, pois a relação está além da formalidade imposta pelos
papéis institucionais. É importante assim esclarecer que considerar a existência dos determinantes
históricos envolvidos na relação e conseqüentemente no processo não significa ignorar os
elementos singulares.
Mizukami (1986) apresenta uma proposta de classificação do processo de ensino-
aprendizagem, na qual distingue a relação professor-estudante conforme a abordagem de ensino
utilizada pela mesma.
A autora apresenta a definição da relação segundo diversas abordagens. Nesse trabalho
serão apresentadas as definições da relação professor-estudante segundo a abordagem tradicional
e a abordagem sociocultural, com a finalidade de observar a influência da primeira, utilizada
como referência desde o início do século passado até os dias de hoje e o movimento progressista
da segunda como uma mudança desse paradigma.
Mizucami (1986) relata que na abordagem tradicional, a relação estabelecida entre
professores e estudantes é vertical, unilateral e de dependência, em que o professor é indicado
como autor do processo, com a função de conduzir e informar os estudantes no sentido de
cumprir objetivos determinados pela escola/sociedade. Já na abordagem sociocultural, a relação
professor-estudante é horizontal e não imposta, ambos aprendem e ensinam, os papéis de
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educando e educador se alternam, assumindo-se o papel de sujeito da própria educação; o
professor busca criar junto com a classe condições para a percepção e discussão das contradições
da sociedade da qual eles fazem parte. Ambas as abordagens são influenciadas pelas suas visões
de homem, mundo, sociedade, educação e escola.
No estudo da relação professor-estudante observa-se que muitas teorias/abordagens
apresentam uma visão unilateral, descaracterizando a relação, focando nos papéis dos professores
e estudantes, sendo os primeiros responsáveis pelo processo. Mas vê-se na história da educação
no Brasil, que a responsabilidade pela aprendizagem (sobretudo pelo fracasso no processo) tem
sido atribuída uma hora a um, outro momento a outro. O que pode ser considerado como um
ponto de tensão, de conflito instituído para essa relação, o qual pode ser presente na atualidade
com o discurso de um atribuir à própria responsabilidade ao outro. Essa perspectiva unilateral da
aprendizagem difere da perspectiva de Vygotsky de que a aprendizagem é um processo social,
que depende da mediação social, que implica em relação.
Dessa forma, nessas relações e vínculos o individuo se constitui e constitui o outro, é
transformado pela realidade que o envolve e transforma essa mesma realidade, o que impede de
atribuir o fracasso de uma relação ou de um processo apenas a uma das partes.
Como ser social, ao manifestar-se diante do outro, coloca-se numa posição, num lugar
social que determina o tipo de relacionamento exercido em cada contexto. Sempre falamos a
partir de uma posição enunciativa determinada: de estudante, de professor, de graduado, de
mestre, doutor, pai, filho, de quem ocupa um cargo importante ou não, ou tem a formação
acadêmica em alguma área do conhecimento e é reconhecido enquanto tal (ZANELLA, PRADO
FILHO & ABELLA, 2006).
Considerando que o sujeito se relaciona com os outros a partir do lugar social que ocupa,
as relações entre as pessoas são aqui consideradas como relações de poder em que se identifica
uma assimetria que as caracteriza em cada situação, em cada posição que o interlocutor assume e
lhe é indicada. Desse modo, Zanella (et al. 2006) diz que o poder é relacional, pois se manifesta
na assimetria característica das relações entre as pessoas.
Pensando as relações entre as pessoas como relações de poder, faz-se necessário
compreender o que é esse poder e como ele se estrutura. Para Foucault (1984) os poderes não
estão localizados em nenhum ponto específico da estrutura social. O poder não existe, mas sim
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práticas ou relações de poder, considerando-o como algo que se exerce, se efetua, que funciona.
O poder não é um objeto, uma coisa, mas uma relação (p. 14).
Na perspectiva de Foucault (1984) o poder pode ser descrito a partir de algumas
características: ele não se limita a aspectos institucionais e organizacionais e a formas
econômicas, relações de classe, status, prestígio ou desempenho de papéis sociais; está presente
em todas as relações, na rua, na família, nas relações afetivas, de amizade, etc. O poder também
não se restringe a suas formas repressivas, anulando e destruindo o outro, pois em sua concepção
"positiva" o poder é produtivo. Segundo esse autor, o poder não conseguiria manter-se caso fosse
apenas de natureza repressiva, negativa. O poder se mantém e é aceito porque de fato ele
permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso (FOUCAULT, 1984, p.
08).
Além disso, Foucault (1984) diz que todo poder implica em um saber, principalmente na
atualidade, em que o especialista enquanto detêm o saber se diferencia dos demais, explicando e
produzindo significados a serem compartilhados socialmente. Para ele não há constituição de
poder sem um campo de saber. Poder e saber possuem uma relação intrínseca e assim todo saber
garante o exercício de algum poder.
Um outro autor que trabalha a temática do poder é o psicólogo latino-americano Ignácio
Martin-Baró, apresentando, em seus estudos, duas maneiras pelas quais o poder pode influir nas
pessoas e nos grupos.
Uma destas maneiras seria a imediata, como a que impõe uma direção concreta à ação, e a
outra mediata, como a que configura o mundo onde as pessoas estão inseridas, determinando os
elementos constitutivos dessa mesma ação. Porém estas duas formas não se excluem, mas pelo
contrário, são inclusivas, uma vez que em geral a ação imediata se articula sobre as
determinações de poder de forma mediata (MARTIN-BARÓ apud MARTINS, 2003).
Além disso, ele apresenta três características fundamentais do poder:
1. Se dá nas relações sociais, o que significa dizer que as relações
sociais têm um caráter de oposição e conflito; 2. Se baseia na
posse de recursos, ou seja, um dos sujeitos da relação, pessoa ou
grupo, possui algo que o outro não possui ou possui em menor grau
(quantitativo e/ou qualitativo), o que evidencia uma relação de
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desequilíbrio em relação a determinado objeto, e 3.´Produz um
efeito na mesma relação social´ (p.97), que se dá tanto sobre o
objeto da relação como sobre as pessoas ou grupos relacionados,
podendo implicar na ´obediência ou submissão de um, o exercício
da autoridade ou do domínio do outro. O poder configura assim o
que fazer de pessoas e grupos (p.99).3
Já Bourdieu (1989) discorre sobre poder simbólico. Esta forma consiste em um poder
exercido por meio do discurso, que é reconhecido pelos demais e legitimado devido à posição
social de quem o profere. Mas para que isso ocorra é fundamental que aquele que possua o poder
simbólico, detenha também um capital simbólico, ou seja capaz de transformar alguma espécie de
capital, como por exemplo, capital econômico, cultural ou social, em capital simbólico.
Bourdieu aborda também a questão do poder a partir da noção de campo considerando o
campo do poder como um "campo de forças" definido em sua estrutura, pelo estado de relação de
forças entre formas de poder ou espécies de capital diferentes. É um campo de lutas pelo poder,
entre detentores de poderes diferentes; um espaço de jogo, nos quais agentes e instituições, tendo
em comum o fato de possuírem uma quantidade de capital específico suficiente para ocupar
posições dominantes no seio de seus respectivos campos, afrontam-se em estratégias destinadas a
conservar ou a transformar essa relação de forças (BOURDIEU, 1989).
Guareschi (1996) define poder como a capacidade de uma pessoa fazer algo, nesse sentido
compreende-se que todas as pessoas em alguma medida possuem poder. Porém ele diferencia tal
poder de dominação, conceituando-a como uma relação entre as pessoas e os grupos, em que
alguém se apropria do poder do outro e passa assim a tratá-lo de forma desigual. Assim, o poder
pode ser positivo enquanto permite que as pessoas exerçam suas capacidades, e negativo quando
é utilizado para expropriação do poder do outro, ou seja, a dominação do outro. Essa dominação
pode ter várias características, inclusive ser uma dominação cultural, nas quais os argumentos e
significados ideológicos utilizados para sustentar a relação de dominação são os que estão
determinados pela cultura.
3Conforme aponta e exemplifica as reflexões Martins (2003) no artigo Processo grupal e a questão do poder em Martín-Baró.
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Como toda relação social, a relação professor-estudante é uma relação de poder, pois cada
ator fala de uma posição enunciativa: estudante ou professor. Então, é possível supor a priori
que há poder nessa relação e que o professor exerce um poder específico, vinculado a sua função
social de profissional capacitado, detentor do saber, mediador do conhecimento por meio da
universidade. No entanto, ao estudar sobre o poder do professor nessa relação, não está negando-
se a existência do poder do estudante, mas apenas indicando que ambos são diferentes pela sua
condição social.
Quanto às características da representação desse poder do professor pode-se, por meio da
teoria apresentada, levantar como hipótese que ele seja composto de certa ambigüidade, um poder
positivo, que possibilita que o estudante apreenda o conhecimento do qual o professor é
mediador; ou negativo, no qual o estudante seja subjugado/dominado como um coadjuvante do
processo de aprendizagem, reprodutor daquele que possui a titulação conseguida
competentemente. Entende-se que no primeiro caso, o discurso do estudante é concebido aqui
como positivo por ser emancipatório, pois o mesmo é consciente da sua interdependência do
mestre; e o segundo como negativo, por estabelecer uma relação de dependência/dominação, ou
talvez, opressão. Porém, é importante reconhecer que na relação professor - estudante a
representação do poder do professor possa ter diversas características se considerarmos os
elementos singulares que nela estão inseridos.
Na busca de uma melhor compreensão dessa relação, e especificamente do poder presente
nela, a RS do poder para os atores que vivenciam tal processo contribui e auxilia para seu melhor
conhecimento, caracterizando esse encontro, sua dinâmica e sua interação, indicando limites e
possibilidades.
Assim, conhecer tal RS permite identificar e analisar alguns elementos sócio-históricos
que caracterizam esta relação e conseqüentemente, o processo de ensino aprendizagem. Para
tanto, o presente trabalho visa primeiramente conhecer a RS do poder do professor para
estudantes e professores universitários. Uma vez compreendida as características dessa
representação, busca-se identificar e analisar sua influência na relação professor- estudante e no
processo de ensino-aprendizagem.
16
2. MÉTODO
2.1 Participantes
Participaram desta pesquisa dezesseis estudantes do terceiro ano e seis professores de dois
cursos de uma Universidade particular do Grande ABC.
2.2 Instrumentos
Para a coleta de dados dos estudantes foi utilizada a técnica de grupos focais, que é um
método cada vez mais conhecido para uma coleta de dados qualitativos (MORGAN, 1997). Tal
método implica em entrevistas fundamentadas na interação desenvolvida no próprio grupo, no
qual ocorre intensa troca de idéias sobre um determinado tópico, num período limitado de tempo.
Os dados são discutidos e avaliados em conjunto, utilizando-se explicitamente da interação do
grupo para produzir dados e insights a respeito do tópico discutido (OLIVEIRA e WERBA,
2002).
Foi escolhida a técnica dos grupos focais, pois é um dos métodos para o estudo das
representações sociais conforme Oliveira e Werba (2002), e porque se considerou que a
experiência em grupo, por permitir a interação e a troca de idéias, é mais rica do que uma coleta
de dados no âmbito individual.
Para realização do grupo focal, os pesquisadores exerceram o papel de coordenadores, que
segundo OLIVEIRA e WERBA (2002, p. 113) possuem o papel de conduzir a discussão de
forma livre, porém com o cuidado de não desviar do tema proposto. Nesse sentido administraram
o tempo e facilitaram o desenvolvimento do grupo, sem expor suas representações acerca do tema
proposto para discussão.
Já para a coleta de dados dos professores não foi utilizada a técnica de grupo focal devido
à dificuldade de juntar todos os professores no mesmo período e local. Para tanto, foi utilizada a
entrevista não-diretiva de pesquisa, que segundo Jodelet (apud CASTRO, 1993), são entrevistas
realizadas considerando exclusivamente o roteiro em sua função orientadora, permitindo que os
entrevistados tivessem a possibilidade de desenvolver seus discursos com maior liberdade.
17
2.3 Procedimento de coleta de dados
2.3.1 Grupos Focais
Para a aplicação da técnica de grupos-focais foram criados dois grupos com oito
estudantes em cada curso. Ser estudante universitário foi o único critério para a participação na
pesquisa. Não houve seleção prévia, os estudantes se disponibilizaram a participar da coleta de
dados no horário de aula.
Cada grupo teve duração de sessenta minutos, onde os pesquisadores exerceram os papeis
de coordenadores. Inicialmente, houve uma apresentação dos participantes, depois um debate
sobre o poder de maneira geral, seguido da discussão acerca do poder do professor conforme os
objetivos do presente estudo.
As discussões foram registradas por um gravador mediante a autorização dos participantes
que também preencheram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo 1).
2.3.2 Entrevistas individuais semi-diretivas
A aplicação das entrevistas individuais semi-diretivas foi agendado com as coordenações
de Curso, que disponibilizaram os professores para realiza-las. Ser professor universitário foi o
único critério para a participação na pesquisa. Não houve seleção prévia, os professores se
disponibilizaram a participar da coleta de dados em horário de trabalho.
Cada entrevista teve duração de aproximadamente vinte e cinco minutos. Inicialmente,
houve uma apresentação dos participantes, dizendo há quanto tempo davam aula no Ensino
Superior, como eles entendiam ser o papel do professor universitário, seguido por uma reflexão
geral acerca do poder, e por fim, sobre o poder do professor, conforme os objetivos do presente
estudo.
As entrevistas foram registradas por um gravador mediante a autorização dos
participantes que também preencheram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo 1).
18
2.4.Procedimento de Análise dos Dados
Para o tratamento de dados foram seguidas as seguintes etapas:
1ª Transcrição dos conteúdos verbalizados nos grupos-focais e das entrevistas registradas
pelo gravador;
2ª Escuta da gravação e leitura do material transcrito;
3ª Levantamento dos principais elementos (palavras ou idéias que descrevem o poder do
professor) a partir das falas de cada participante e dos grupos;
4ª Elaboração de uma síntese que contém a idéia central acerca do tema proposto e dos
principais elementos previamente elencados de cada participante e dos grupos;
5ª Elaboração de uma análise que contempla as idéias acerca do tema apresentado,
considerando os principais elementos, a síntese e as falas de cada participante e dos grupos;
6ª Leitura dos principais elementos, síntese e análise dos grupos
7ª Elaboração de um texto apresentando a representação social do poder do professor para
os estudantes
8ª Leitura dos principais elementos, síntese e análise de cada participante.
9ª Elaboração de um texto apresentando a representação social do poder do professor para
os professores
A partir dessas etapas, foi feita uma discussão qualitativa dos dados obtidos de acordo
com o referencial teórico e os objetivos da pesquisa.
19
3. RESULTADOS
3.1. Análise das entrevistas com os estudantes
3.1.1. Grupo 1 – Estudantes
Principais elementos:
- detentor do conhecimento; impor algo para a sala; usar o poder para o bem comum versus bem
individual; influenciar; transmitir conhecimento; definir / configurar o contexto de aprendizagem;
definir o conteúdo a ser passado, a maneira de passar e de avaliar; poder de prejudicar/ punição;
poder de favorecer; motivar/ impulsionar; ser modelo/ espelho; imposição; controlar; dominar;
manipular; autoridade; direcionamento acadêmico.
Síntese:
Poder atribuído a uma questão de controle: sobre os estudantes (favorecendo ou
prejudicando), sobre o conteúdo (selecionando o que acha importante) e sobre a maneira de
passar o conteúdo (dinâmico ou rígido). De forma que o controle se manifesta predominante por
meio da imposição, retirando a possibilidade do estudante de se apropriar do processo, sendo
assim, um poder de dominação.
Análise:
A RS do poder do professor para o Grupo 1 caracteriza-se tanto como um poder positivo
quanto negativo, exercido em uma relação na qual o professor exerce um papel superior, devido
principalmente à questão de ser o detentor do conhecimento e do papel exercido naquele contexto
como aparece nas falas dos estudantes:
“...ela (a pessoa que tem poder) está acima de você, para você falar que aquela pessoa
tem poder, ela está num patamar melhor que você...”
“...porque dentro desse contexto ele (o professor) é autoridade...”
Este grupo possui a representação de um poder que facilita o processo de ensino-
aprendizagem, capaz de envolver o estudante, fazendo com que ele tenha a possibilidade de
participar ativamente desse processo. E por outro lado um poder vinculado a uma postura
dominante do professor, capaz de impor, definir, manipular, e controlar o que acontece em sala
20
de aula, desde a configuração do espaço, à participação em sala, o conteúdo a ser transmitido, até
a questão de avaliações e notas, como aparece nas falas:
“...até mesmo o poder do professor de mexer com a matéria, por ele saber a matéria, por
ele ter esse poder, esse conhecimento mais do que nós, ele tem o poder de movimentar esse
material e expor de maneiras diferentes, que possa facilitar ou que possa prejudicar...”
No entanto, é predominante a representação de um poder vinculado ao controle, à
dominação, um poder negativo, no qual alguém se apropria do poder do outro, dizendo que o
professor tem o poder de dominar o processo de ensino-aprendizagem de forma impositiva,
impedindo a participação ativa do estudante nesse processo, como se pode ver:
“...na verdade eles tentam impregnar nossa cabeça com aquilo que eles acham certo. É
algo que eles acreditam, então a gente acaba não tendo livre-arbítrio para escolher aquilo que a
gente quer para nossa vida...”
“...acho que o professor tem também o poder de manipular notas...”
“...o que ele (o professor) acha mais importante, ele dá ênfase ou não. Montar
cronograma, esse é um poder que ele tem e é ele que vai dar matéria, ele que vai poder fazer
isso...”
3.1.2.Grupo 2 - Estudantes
Principais elementos:
- torna acessível; o poder está intrínseco no dia-a-dia de todo mundo; permite melhor se
relacionar; manipulação; capacidade de comandar um grupo ou uma pessoa; capacidade de
mandar e desmandar; ter poder é diferente de ter que pisar em cima do outro; ter poder em cima
de...; depende do caráter da pessoa; se não usar o poder de manipular, a sala pode montar em
cima do professor; colocar medo/ ameaçar/ manipular por interesse pessoal; autoritário;
persuasão; conduzir a sala; conhecimento; punição/ imposição; a nota é uma arma do professor
(“muleta” do poder); respeito; conseguir comandar/ passar a própria idéia; poder institucional;
poder do papel social do professor; relação direta com a aprendizagem
21
Síntese:
O poder aparece como algo que o professor possui independente do estudante, devido ao
seu papel social e institucional, à sua experiência profissional e ao seu conhecimento. Um poder
que está no professor, mas que se manifesta na relação com o estudante. Um poder que atua como
instrumento do processo de ensino-aprendizagem, capaz de configurar o contexto de
aprendizagem e caracteriza-se tanto de maneira positiva como negativa.
Análise:
A RS do poder do professor para o Grupo 2 caracteriza-se como um poder que professor
já possui de antemão, devido à estrutura hierárquica institucional, na qual ele se encontra acima
do estudante, ao seu próprio papel social, à sua experiência profissional e também ao
conhecimento que ele possui, portanto, antes de iniciar um contato com o estudante, o professor
já possui tal poder, como observa-se nas falas:
“... eu acho que para ele (o professor) entrar na sala de aula, ele já tem o poder...”
“...tem poderes sobre o professor fora da sala de aula...”
“...um chefe numa sessão tem o poder em cima de outros funcionários, o professor tem
em cima dos alunos, eu acho que isso é um poder...”
“...pois eu acho que quando entra um professor você acha que está sendo subjugado,
porque ele é professor então você sabe menos, teoricamente....”
Portanto o professor possui um poder antes mesmo de estabelecer-se a relação professor-
estudante, no entanto, este poder se manifesta apenas nessa relação, tendo a possibilidade de
configurá-la, bem como o próprio contexto da aprendizagem, definindo a maneira de ministrar os
conteúdos, de conduzir a sala, e de relacionar-se com os estudantes. Como na fala:
“... acho que ele (o professor) tinha uma persuasão legal na aula, de conduzir a aula,
trazer o aluno para as situações...”
“... um usa o poder aplicando a nota, outro usa o poder para turma ficar quieta e prestar
atenção. Outro trabalha com brincadeira, o que também é uma forma de poder, acho que há
varias formas de poder...”
22
E nesta possibilidade de configurar o contexto de aprendizagem, o poder manifesta-se de
forma positiva ou negativa:
- Positiva, na medida em que o professor auxilia os estudantes a atingir o objetivo que é a
aprendizagem, propondo atividades, transmitindo conteúdos de forma acessível e utilizando-se
até de recursos impositivos e punitivos para que os estudantes possam atingir tal objetivo. Como
nas falas abaixo:
“...tem sempre aquele (estudante) que é relaxado e o professor precisa cobrar para que
ele estude...”
“... porque se o professor deixar aquela bagunça e não cobrar do aluno, o aluno não
aprende...”
“... então o professor diz: é, eu fui rígido, mas olha lá como está meu aluno...”
- E negativa, quando o professor subjuga o estudante devido sua posição inferior em
termos de conhecimento, hierarquia institucional e papel social, por meio de imposição, punição,
humilhação, pressão por notas e ameaças, sem o intuito de promover a aprendizagem, mas sim de
se manter no poder. Como na fala abaixo:
“...não importa se você é professor ou se você é aluno, tem que trocar conhecimento
dentro de uma faculdade, não ficar achando que eu sou professor então eu vou pisar...”
“...eu já vi um professor de renome ‘chutando o balde’ para cima de uma doutoranda, e
falando um monte e querendo humilhar a doutoranda que tava apresentando o trabalho
dela...tipo eu sou um professor X e você não é nada. A maioria faz do mesmo jeito...”
Portanto, percebe-se que o professor possui um poder a priori, e que esse poder se
manifesta na relação de maneira positiva ou negativa. No entanto, para este grupo, o estudante
possui uma atuação passiva nesse processo, dependendo do professor usar o seu poder para
configurar o processo de aprendizagem. Como na fala:
“...o aluno acaba sendo reflexo do professor...”
23
3.2. A representação social do poder do professor para os estudantes
De acordo com o que os dois grupos de estudantes apresentaram durante os grupos-focais,
percebeu-se que o poder do professor está diretamente relacionado a uma relação assimétrica
entre professor e estudante, na qual o professor, aquele que possui o poder, está acima do
estudante nesta relação. Isso se caracteriza, no contexto universitário, principalmente pela
questão do conhecimento. Como o professor possui mais conhecimento, ele é colocado como
quem está acima nesta relação. Outros aspectos foram abordados por um dos grupos, como o
papel social e institucional do professor, justificando esta posição superior, porém o que foi
comum aos grupos, foi a questão do saber, do conhecimento.
Além disso, este poder atribuído ao professor foi caracterizado por meio da possibilidade
dele exercer controle, configurando o contexto de sala de aula, selecionando o conteúdo a ser
ministrado, definindo a maneira de transmitir e avaliar este conhecimento, e até mesmo como
aquele capaz de impor, punir, ameaçar, etc.
Devido até mesmo a este controle que é colocado nas mãos do professor, os estudantes
atribuem a ele uma responsabilidade quase que individual pelo processo de ensino-aprendizagem,
apresentando-se de forma passiva frente a tal poder, dependendo do professor permitir ou não
uma participação ativa dos estudantes neste processo.
Um outro aspecto comum aos grupos de estudantes foi o poder apresentado de forma
positiva e negativa, onde o “poder positivo” é aquele que favorece a aprendizagem do estudante,
e o “poder negativo” como aquele que dificulta. No entanto, a maneira de compreender o que é
positivo e o que é negativo é diferente nos dois grupos. Enquanto um traz que o poder positivo é
aquele que permite uma participação maior dos estudantes, e o negativo aquele que impede esta
participação, o outro traz que esta imposição pode até ser positiva, caso tenha como finalidade a
aprendizagem. Sendo assim, o positivo e negativo é visto para um grupo como a maneira de
exercer o poder, e o outro como a finalidade deste poder exercido, um é meio, o outro é o fim.
Portanto, a representação social do poder do professor para os estudantes é de um poder
que se caracteriza por uma relação na qual o professor encontra-se acima do estudante,
principalmente devido à questão do conhecimento a mais que ele possui. Um poder de controlar a
situação da aprendizagem, e até mesmo o processo de ensino-aprendizagem, caracterizado como
positivo, ao facilitar a aprendizagem, e negativo, enquanto elemento que a impede.
24
3.3.Análise das entrevistas com os professores
3.3.1. Participante 1 - Professor
Principais elementos:
- mandar/ ordenar; passar o conhecimento adquirido; poder como respeito/ responsabilidade; o
aluno faz se quiser; o professor dá o caminho/ o aluno determina sua nota; o controle da turma;
não colocar o aluno para baixo/ denegrir/ afetar; motivar para o aluno ir atrás; fazer o aluno se
aproximar; direcionar; mostrar caminhos; buscar aproximação do estudante; induzir a conhecer/ a
gostar/ a colocar em prática.
Síntese:
O poder que o professor possui é de facilitar a aprendizagem do estudante. Este
participante reconhece que o professor tem o poder de controlar, mandar, impor e denegrir o
estudante, até mesmo pelo poder ser uma condição do ser professor, porém para o participante
deve-se fazer uso desse poder para outro fim. Além disso, considera que o professor apenas pode
facilitar, mas que quem realiza é o estudante.
Análise
A RS do poder do professor para o participante 1 caracteriza-se como um poder
facilitador, o professor possui o poder de facilitar a aprendizagem do estudante, transmitindo o
conhecimento adquirido, induzindo, aproximando-se do estudante e mostrando os caminhos,
como percebe-se nas falas:
“... o professor tem de motivar para eles (os estudantes) irem atrás do conhecimento...”
“...acho que eu induzo a conhecer, gostar e colocar em pratica...”
“...aparece essa forma do poder, onde eu posso educar, posso mostrar algo que eu
aprendi...”
Por outro lado, também se reconhece à possibilidade de mandar, ordenar, de utilizar-se de
um poder (que é visto como da natureza do ser professor) para reafirmar-se em uma posição de
estar acima do estudante, e não de facilitar a aprendizagem, como na fala abaixo:
“... não se deve usar o poder de uma maneira que afete, que denigra, ou deixe o aluno de
uma maneira inferior...”
25
No entanto, mesmo reconhecendo que o professor possui este papel facilitador, o
participante ressalta a importância da participação do estudante nesse processo, pois este poder
do professor é limitado, ele pode mostrar os caminhos, mas cabe ao estudante percorre-los.
Demonstrando assim uma compreensão da responsabilidade do estudante para a própria
aprendizagem. Como se pode ver:
“...a gente (o professor) não manda nada, se o aluno quer, ele faz, se não quiser, ele vai
ter o problema dele lá no dia da avaliação. A gente dá caminhos para que ele possa ter uma boa
nota. E ele mesmo que vai determinar a sua nota...”
Além disso, reforça esta co-responsabilidade e contribuição recíproca, quando considera a
idéia da mútua aprendizagem nesse processo, dizendo que o professor também aprende ao
ensinar. Como se pode ver:
“... eu também estou aprendendo com meus alunos, eu acabo sendo um aluno deles, eu vou me educando, e vou me preparando para esta troca...”
3.3.2. Participante 2 - Professor
Principais elementos:
- poder devido à posição hierárquica; poder devido ao papel social desempenhado; o professor
também é aluno em outros momentos; poder devido ao conhecimento adquirido; estar numa
posição hierarquicamente superior não implica em ser autoritário; professor e aluno
desempenham papéis sociais diferentes, portanto esta não é uma relação entre iguais; autoridade
natural; conduzir o aluno; possibilidade de ser punitivo/ impositivo; possibilidade de organizar o
desenvolvimento da aprendizagem; construção versus punição; utilizar a punição não implica em
ser autoritário; ter uma postura firme e dura, não implica em ser autoritário; o estudante possui
um livre-arbítrio; espaço aberto ao questionamento.
Síntese:
O poder é algo inerente ao papel social, à posição hierárquica e ao conhecimento que o
professor possui, como se o ter poder fosse uma condição de quem é professor. Porém, este poder
não implica em ser autoritário, mas sim em ser um facilitador do processo, alguém que possui as
possibilidades de ser mais ou menos rígido, de ser mais ou menos flexível e assim propiciar ao
estudante um melhor espaço para o processo de ensino-aprendizagem.
26
Análise:
A RS do poder do professor do participante 2 aparece como uma característica do papel
social do professor, relacionada também com a hierarquia institucional e o conhecimento
adquirido na experiência dele. Como nas falas abaixo:
“... existe poder, lógico!...Existe uma hierarquia dentro do ambiente escolar como existe
dentro de outros ambientes...”
“...é o poder que existe porque você retém o conhecimento que outras pessoas não têm e
quando você retém um conhecimento que os outros não têm, você acaba se sobressaindo sobre
ela...”
“...o papel do professor é diferente do aluno, não é igual, o que não os torna melhores
nem piores, mas diferentes, em escalas diferentes...”
Esse poder do professor se constitui numa relação hierárquica, não como um poder
autoritário, mas como uma relação de autoridade, onde as pessoas têm papeis diferentes e o
professor assume um papel de conduzir o estudante, auxiliando-o no processo de ensino-
aprendizagem, sendo um facilitador desse processo. Como segue na fala:
“...o que tem que se buscar é uma relação hierárquica mais sem ser autoritária, ele é
uma pessoa diferente do aluno, como o aluno é uma pessoa diferente do professor...”
“...esta condição por si só traz uma relação hierárquica, porque alguém vai conduzir, e
isto eu sempre interpreto como uma certa autoridade natural.”
“... existe uma relação que vai sendo construída de responsabilidades, deveres e
obrigações, onde eu tenho o meu papel e você (o estudante) tem o seu...”
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3.3.3. Participante 3 - Professor
Principais elementos:
- sedução/ encantamento; mobilizar para um movimento; direcionamento/ manipulação;
configurar um contexto; conhecimento/ detentor do saber; transmissão de conteúdo; organizar o
raciocínio do estudante; orientar a reflexão acerca do conhecimento; possibilitar a construção do
estudante; responsabilidade pela construção do estudante; autoritarismo; autoridade; respeito/
desrespeito; submissão; possibilitar troca; permissão; mando; influenciar; comando/ liderança
Síntese:
O poder do professor como um poder daquele que sabe, que possui o conhecimento, e que
por isso direciona e configura o espaço, capaz de definir a relação com o estudante, e definir a
própria formação do estudante.
Análise:
A RS do poder do professor para o participante 3 caracteriza-se como um poder
diretamente relacionado à questão do saber e do conhecimento como segue em sua fala:
“...vivemos um momento em que o conhecimento gera poder, se eu dou o ensino, eu tenho
conhecimento, então eu tenho poder...”
Além disso, este poder se manifesta como a possibilidade de realização de determinadas
ações, um poder diretamente atrelado “ao poder de fazer com que...”, dizendo que o professor
tem o poder de fazer com que o estudante aprenda mais, seja mais crítico, organize o raciocínio,
etc. Podendo assim direcionar e configurar a relação professor-estudante, e consequentemente
definir o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, inclusive seus possíveis
resultados. De forma até a enfatizar a responsabilidade do professor devido ao seu poder, e
minimizar a responsabilidade do estudante nesse processo, como aparecem nas falas abaixo:
“...agora se você (professor) faz com que o aluno participe, entenda, critique e construa,
aquilo fica dentro dele...”
“...eu acho que ele tem o poder de encantar, de fazer com que o aluno se torne crítico...”
“...ele pode seduzir o aluno para aquele conteúdo que ele esta mostrando, fazer com que
todos amem aquele conteúdo, a própria profissão, como ele pode fazer com que eles odeiem, eu
acho que esse é o poder do professor...”
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3.3.4 Participante 4 – Professor
Principais elementos:
- liderança; voz de comando; tomar decisões/ palavra final; administrador; mediador; imposição;
ditadura da palavra; comandar; diretriz; relação assimétrica/ aluno submetido ao professor;
respeito por submissão; não permitir a inversão hierárquica; transmissão de conhecimento; ser a
referência/ o modelo
Síntese:
O poder do professor é um poder de superioridade, devido à posição superior hierárquica
sobre o estudante, por deter o conhecimento/ experiência de vida. Um poder de comandar e
direcionar, que se manifesta a partir da posição de quem o possui.
Análise:
A RS do poder do professor para o participante 4 caracteriza-se como superioridade, uma
posição superior em termos hierárquicos em relação ao estudante, devido ao seu
conhecimento/experiência de vida. A função mediadora do professor aparece como uma abertura
a discussão e participação dos estudantes, porém a palavra final é do professor, pois este possui o
poder, que o qualifica como superior aos estudantes no desenvolvimento do processo, conforme a
fala abaixo:
“...vamos negociar isso, quer colocar em discussão a gente pode por, quem vai dar a
palavra final é o professor, mediante a discussão da sala, mas eu acho, eu acredito nesse
poder.”
Para este participante, embora o professor esteja em uma posição superior ao estudante, é
permitido que haja um movimento, fazendo com que o estudante estabeleça uma relação de
igualdade, ressalvando o devido respeito ao professor. Por outro lado não é permitida uma
inversão hierárquica, em que o estudante assumiria a posição superior, cabendo ao professor
manter-se nesta posição acima ou igual, como percebe-se na fala:
“... às vezes os alunos acham que têm muito poder sobre o professor, mas é um poder
relativo, que o professor pode dar o basta, pode dar o ponto final, e o professor acaba pondo um
ponto final...”
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“...eu acho que acontece esta inversão de papel, e eu acho também que cabe ao professor
converter, não que eu acredito que a gente não deve ouvir o outro, nada disso, mas eu acho que
às vezes a inversão acontece...”
Portanto, tal representação coloca o professor em uma posição superior ao estudante, tanto
no âmbito de hierarquia institucional quanto ao papel social desempenhado, tornando-o
responsável pela relação professor-estudante, em que ele é quem permite ou não permite que algo
aconteça em sala de aula, ou fora, configurando uma relação subordinada as decisões do
professor.
3.3.5 Participante 5 – Professor
Principais elementos:
- se manifesta na relação; hierarquia funcional; ditar regras; estabelecer normas; coordenar/
governar a relação; cobrança; normas/ regras (centralizar); poder que pode ser diluído;
compartilhar conhecimento
Síntese:
O poder do professor é vinculado ao papel social e ao saber, que se manifesta por meio da
possibilidade de controlar, coordenar, estabelecer normas, aparecendo também como algo que
possa ser compartilhado com o estudante.
Análise:
A RS do poder do professor para o participante 5 caracteriza-se como um poder atuante,
independente da vontade do professor, manifestando-se como uma possibilidade de controle, de
administrar, de estabelecer regras, como na fala abaixo:
“...mesmo que a gente não queira, quando você avalia você acaba estabelecendo uma
relação onde você dita as regras. Onde você estabelece as normas. Acho que isso também é
poder. Tem a possibilidade de coordenar ou governar uma situação...”
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Além desta relação do poder com o papel social do professor, ele também aparece
vinculado à questão do saber/ conhecimento que o professor adquiriu ao longo da vida, saber este
que autentica um poder ao professor, como se percebe em sua fala:
“...acho que às vezes a gente exerce poder através do saber da gente, então o fato de eu
saber mais que ele..., faz com que a gente tenha um certo poder sim. Você detém um
conhecimento que espera-se que você compartilhe com o aluno, mas isso também é uma forma
de exercer poder...”
Para este participante, este poder existe, porém começa a configurar-se de uma outra
maneira, onde o estudante também participa e compartilha este poder, sendo assim, “o professor
possui o poder de compartilhar seu poder”, como aparece em sua fala:
“...não tem mais uma aprendizagem centrada só como o professor detentor do poder,
hoje eu acredito que a gente está caminhando ainda para isso, porque é um modelo em
construção, onde a gente tem esse poder todo diluído e ai a co-responsabilidade...”
“...porque você não é mais o centro, você coordena até, mas você divide o poder...”
No entanto, fica claro que o poder se estabelece na relação, e que esta nova configuração
de exercício do poder é um desafio para o professor:
“...então quando eu quero formar um profissional a característica que o mercado de
trabalho pede, que a sociedade pede e que a própria área pede é essa pro atividade que você
desenvolve se você souber partilhar o poder. Mas não é um exercício fácil..”
3.3.6 Participante 6 - Professor
Principais elementos:
- hierarquia institucional; poder instituído; instância do poder; estrutura verticalizada; autoritário;
punição; perspectiva pessoal; democrático; estimular o estudante; conhecimento versus nota;
evitar conflitos – “panos quentes”; autoridade versus autoritarismo; depende da relação com o
estudante; criar o ambiente; argumentação; direcionar/ dar o norte; atribuir responsabilidade ao
estudante; estimular o questionamento; poder como possibilidade; relação que constrói o saber.
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Síntese
O poder do professor é um poder instituído, baseado pela estrutura verticalizada dentro da
instituição, ou seja, um poder que o professor possui. Porém um poder que se configura na
relação com o estudante a partir de uma perspectiva pessoal do professor, que pode adotar uma
postura autoritária, democrática ou passiva, caracterizando-se principalmente como um poder que
gera possibilidade de construir um saber.
Análise:
A RS do poder do professor para o participante 6 caracteriza-se como uma relação
institucional, na qual a instância hierárquica ocupada pelo professor é superior a do estudante e
determinante desse poder. Como percebe-se na fala abaixo:
“...eu acho que o poder existe a partir do momento que tem uma hierarquia ..., e a
hierarquia não é do professor, são das instituições, quem determina quem é o chefe, o vice-chefe,
o assessor, é que vai encaminhando dentro de uma questão organizacional automaticamente
determina as instâncias de poder...”
Entretanto, a forma como este poder se manifesta depende da perspectiva pessoal do
professor e da relação estabelecida com os estudantes. Sendo possível que esse poder se
manifeste de uma maneira autoritária, passiva ou democrática. A maneira autoritária é impositiva
e não permite o questionamento; a passiva (“panos quentes”) configura-se por uma postura em
que professor busca evitar conflitos; e o democrático busca por meio do diálogo e da
argumentação, incentivar o questionamento do estudante. Conforme na fala abaixo:
“...existem professores que são extremamente democráticos e que buscam este processo
todo ai de conscientização, etc, etc... e outros professores que são autoritários, que cobram a
nota, são vistos de outra forma, os dois estão exercendo diferentes formas de poder, mas com
perspectivas também diferentes em função da condição que você se coloca, então eu vejo que é
possível você enquanto professor trabalhar qualquer uma das pontas.”
“...eu vejo o seguinte...o cara que fica nessa coisa de pano quente daqui, pano quente dali
é um professor que fica dessa forma fazendo uma certa camuflagem. Alguém fica ensinando,
alguém fica mediando para lá e para cá, pra lá e pra cá, alguém acha que ensina, alguém acha
que aprende e o processo fica nessa situação, e tudo bem.”
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Já este poder democrático fortemente presente na representação do participante, indica o
poder do professor de criar o ambiente e induzir o estudante ao questionamento,
responsabilizando-o também pelo processo de ensino-aprendizagem.
“...o democrático é o cara que cria o processo de argumentação e vai criando um
ambiente de argumentação onde não tem muita discussão...”
“...o democrático continua exercendo o papel de educador, não transfira para mim sua
questão, percebe que você fez para isso ser como está. Acho que é ai que você ganha na situação
de aprendizagem...”
3.4. A representação social do poder do professor para os professores
De acordo com o que os seis professores apresentaram durante as entrevistas percebeu-se
que o poder do professor caracteriza-se por uma relação em que o professor encontra-se em uma
posição superior ao estudante. Posição esta legitimada pelo conhecimento, pela hierarquia
institucional, e pelo próprio papel social do professor, sendo que alguns trazem estes aspectos
com mais ou menos ênfase que os outros.
Este poder possibilita ao professor configurar o contexto de ensino-aprendizagem, um
poder de comandar, administrar, liderar, mediar e até mesmo definir tal processo, atribuindo
assim maior responsabilidade ao professor, uma vez que este possui tal poder. Para alguns
participantes o professor possui esta possibilidade, mas para que isso se concretize é necessário o
envolvimento dos estudantes, para outros, apenas o poder do professor já dá conta disso, o
estudante participar seria uma conseqüência do uso desse poder, e não algo que o complementa.
Os professores trazem este poder diretamente atrelado à questão da aprendizagem, onde o
professor utiliza seu poder para que o estudante aprenda. Para alguns participantes o professor
pode usar tal poder para reafirmar-se nesta posição superior, de autoridade, afastando-se deste
compromisso com a aprendizagem dos estudantes, porém isso não aparece explicitamente em
todos.
Portanto, a representação social do poder do professor para os professores é de um poder
que caracteriza-se por uma relação em que o professor, devido ao seu conhecimento, a sua
posição institucional e ao seu papel social encontra-se acima do estudante. Um poder que se
33
manifesta na possibilidade de configurar, administrar, comandar, liderar e definir o contexto de
ensino-aprendizagem, com o intuito de fazer com que o estudante aprenda. Além disso, vê-se
como possível utilizar tal poder para reafirmar-se em sua posição social, embora tal postura não
seja aprovada pelos professores participantes.
4. DISCUSSÃO
Na elaboração da discussão deste trabalho optou-se por dividi-la em alguns tópicos para
que assim seja mais fácil compreender o raciocínio estabelecido e atingir os objetivos.
Um dos objetivos deste estudo que era identificar a RS do poder do professor para
professores e estudantes universitários foi atingido e apresentado ao longo da Análise dos Dados.
Apesar disso, para facilitar a compreensão do leitor serão retomadas as RS dos estudantes e
professores respectivamente, conforme abaixo:
4.1 A representação social do poder do professor para os estudantes
A RS do poder do professor para os estudantes é de um poder que se caracteriza por uma
relação na qual o professor encontra-se acima do estudante, principalmente devido à questão do
conhecimento a mais que ele possui. Um poder de controlar a situação da aprendizagem, e até
mesmo o processo de ensino-aprendizagem, caracterizado como positivo, ao facilitar a
aprendizagem, e negativo, enquanto elemento que a impede.
4.2 A representação social do poder do professor para os professores
Para os professores a RS do poder caracteriza-se por uma relação em que o professor,
devido ao seu conhecimento, a sua posição institucional e ao seu papel social encontra-se acima
do estudante. Um poder que se manifesta na possibilidade de configurar, administrar, comandar,
liderar e definir o contexto de ensino-aprendizagem, com o intuito de fazer com que o estudante
aprenda. Além disso, vê-se como possível utilizar tal poder para reafirmar-se em sua posição
social, embora tal postura não seja aprovada pelos professores participantes.
34
4.3 Comparação entre as representações sociais de estudantes e professores
As RS dos estudantes e professores possuem praticamente o mesmo conteúdo, porém na
sua especificidade se manifestam de formas diferentes. Ambos trazem a questão da existência de
uma relação desigual entre professores e estudantes, principalmente atribuída ao conhecimento
que o professor possui a mais. No entanto, o professor também considera os aspectos
institucionais e o papel social que ele desempenha como determinantes desta relação de poder.
Além disso, também é concordante a idéia de que o professor por meio desse poder é
capaz de configurar/controlar a sala, organizar a aprendizagem e até mesmo definir o próprio
contexto de ensino-aprendizagem.
Por fim, tanto um quanto o outro apresentam uma representação do poder do professor
como positiva ou negativa. No entanto, o estudante compreende este positivo e negativo a partir
da vivência de suas relações com os professores, já os professores trazem o positivo como uma
postura, como aquilo que eles acham que devem exercer (aquilo que vivenciam) e o negativo
como algo que sabem que existe, mas apresentam como uma prática que não aprovam. E os dois
concordam que o positivo é aquele que facilita a aprendizagem e o negativo aquele que dificulta,
independentemente da maneira de exercê-lo.
4.4. Compreendendo a constituição da representação social: o processo da relação
social-individual
Como foi possível compreender, as RS do poder do professor que os participantes desta
pesquisa possuem são atreladas a uma realidade na qual estão inseridos, e nas relações que
estabelecem com esta realidade. Para Moscovici (2003), ao estudar as RS, o importante é
compreender o processo, o movimento entre o social e o individual, pois ele considera as RS
como algo gerado pelo social e re-elaborado pelo individuo. E neste sentido, pode-se considerar
que toda a realidade na qual os estudantes e professores estão inseridos irá influenciar
diretamente na RS do poder do professor. Sendo assim, pode-se compreender um pouco o que
seria este social que gera uma representação a priori, na qual estudantes e professores irão se
relacionar, para re-elaborar, e gerar suas próprias RS.
35
Nesta busca, pode-se ressaltar o fato de que estes estão inseridos em uma Universidade,
estão no “Universo do Conhecimento”, na qual as relações de poder se estabelecem
principalmente ligadas à questão do conhecimento, do saber. Além disso, trata-se de uma
Universidade particular, e portanto possui uma lógica de Mercado, pois o estudante “compra o
saber”. Outro fato importante é que esta Universidade está localizada em São Paulo, no Grande
ABC, um grande pólo industrial e comercial do Brasil, portanto, uma Universidade que está
fortemente vinculada ao Mercado de Trabalho, e os estudantes, em sua maioria de classe média,
almejam a entrada neste Mercado, percebendo que tal Universidade encontra-se determinada por
um contexto histórico-político (MENDONÇA, 2000).
Estas questões estão diretamente relacionadas às RS do poder do professor, pois ele é
aquele que transmite o “produto” que o estudante compra, aquele que pode contribuir e
“instrumentalizar” o estudante para o Mercado de Trabalho. E tudo isso está presente nesta
relação e neste contexto social da Universidade, da Cultura e da Sociedade de maneira geral,
sendo algo gerado pelo social.
Ao deparar-se com essa realidade que o estudante – a partir de sua singularidade, sua
história de vida, seus objetivos para com a graduação, seus valores, suas relações no âmbito
escolar (em sua maioria os estudantes vêm direto do Ensino Médio), ou seja, a partir de todo o
histórico que o estudante apresenta – ele vai re-elaborar e constituir a sua RS do poder do
professor. E da mesma maneira, o professor também vai com sua singularidade, história de vida e
suas relações no âmbito acadêmico, re-elaborar o gerado pelo social.
Para exemplificar, ambos caracterizam a RS do poder do professor principalmente
vinculadas a questão do saber, a uma relação hierárquica na qual o professor encontra-se
superior. E pensando este processo entre social e individual, percebe-se que toda esta questão do
saber atrelado ao poder aparece de forma marcante para o estudante, pois ele atribui que o poder
do professor está diretamente ligado ao saber que este possui. Neste caso, pode-se recorrer à
Foucault (1984), ao dizer que aquele que possui um saber a mais que o outro, possui um poder
em relação ao outro, e isso está presente neste estudo, tanto nas RS dos estudantes como dos
professores.
Além disso, encontra-se o fato de que os estudantes e os professores colocam o professor
num papel de quem pode configurar o contexto da aprendizagem. Para eles, o professor possui
36
esse poder, por meio de sua liderança, de sua mediação, da maneira com a qual ele organiza a
sala.
Isso também está presente no âmbito social, principalmente se pensarmos historicamente
o processo de ensino-aprendizagem e o próprio desenvolvimento da Educação no Brasil, pois
ainda estamos num processo de desligamento da Educação Tradicional, onde o professor atua em
um processo vertical, unilateral e de dependência (MIZUKAMI,1986). Isso se faz presente no
contexto acadêmico, na história de vida dos professores – que foram estudantes, que viveram
uma relação baseada nesses princípios com seus professores – e também com os estudantes, que
vieram de uma relação não tão diferente no âmbito escolar.
Desta maneira, nota-se que o contexto social traz uma representação de tal poder já pré-
estabelecida, na qual o estudante e o professor muitas vezes compactuam em sua história de vida,
e neste encontro, nesta nova relação (professor-estudante universitários) ao tentar conhecer este
movimento e este processo entende-se que os estudantes acabam ancorando, sustentando e
reproduzindo estas representações, pois não possuíam uma relação professor-estudante no âmbito
universitário antes, não conheciam ainda este poder, e acabam trazendo para as suas
representações aquilo que está no coletivo, sendo fortemente influenciados pelo social. Ao re-
elaborar esta relação o estudante acaba por “tornar familiar aquilo que não era familiar”, e
adquire na sua vivência, na relação, uma RS do poder do professor determinada pelo contexto
social no qual está inserido.
Por outro lado, os professores tornam concreto aquilo que estava apenas no imaginário,
num processo de objetivação da RS do poder do professor, algo que ainda não fazia parte daquele
coletivo (pois é uma relação nova que se estabelece), após ter este modelo de RS já ancorado pela
participação em outros grupos, em outros contextos universitários. O professor traz isto para este
novo grupo, objetivando a própria RS, externalizando aquilo que era interno.
Desta maneira, explora-se o aspecto mais importante a ser considerado no estudo das RS
segundo Moscovici (2003). Assim, demonstrou-se como é importante conhecer o meio social e
como é fundamental a relação do meio com o individuo, seu histórico social e individual, e da
singularidade de ambos, para que esta representação gerada pelo meio seja re-elaborada e se
constitua a RS do poder do professor para os professores e estudantes.
37
Enfim, percebe-se nos resultados que professores e estudantes apresentam de diferentes
maneiras praticamente o mesmo conteúdo, ou seja, qualificando, a partir das próprias
experiências, o que seria o poder do professor para o grupo que eles pertencem, enquanto
membros de um contexto universitário. Assim, tais representações apresentam-se
individualizadas, o que podemos dizer que seriam os elementos singulares de tal RS, mas que
possuem em suma o mesmo conteúdo, o que poderíamos atribuir como um núcleo comum desta
RS para estes grupos.
4.5. O poder como objeto
Na tentativa de explorar as características do poder do professor apresentadas tanto pelos
professores quanto pelos estudantes, compreendeu-se que os dois atribuem o poder como algo
que o professor possui, como uma propriedade.
Assim como o professor tem a propriedade de um saber, ele tem também a propriedade
deste poder, como um objeto. E desta maneira desconsidera-se a relação que constitui o poder
(FOUCAULT, 1984). Pois ao considerar que se possui um poder apenas por ser professor – seja
ele mediado pelo papel social, hierárquico ou pelo saber – se afirma que o poder existe como algo
concreto, um objeto, passível de apropriação.
Esta característica é interessante pelo fato de que ao atribuir o poder como um objeto no
qual o professor faz uso, se descaracteriza a função primordial da relação e sua importância na
prática do poder, retirando dessa maneira o papel do estudante no exercício do poder do
professor. Afinal, ao colocar o poder como algo que já existe, cabe ao estudante legitimar tal
poder, e submeter-se a ele, e na relação professor-estudante observar a manifestação do poder do
professor, relacionando-se assim com um objeto que está posto.
Esse foi um ponto importante, pois o estudante atribui este poder como um objeto, como
algo pré-existente, alheio a ele, vinculado principalmente ao saber, e com isso desconsidera o fato
de que o próprio estudante também atribui poder ao professor, e desta maneira, permite que a
relação de poder se estabeleça, se submetendo a ela.
Por outro lado, não diferente, os professores trazem esta mesma lógica, desconsiderando o
poder do estudante na relação, ou até mesmo sua participação para que tal relação de poder se
38
estabeleça. Sendo assim, para estes participantes, o poder do professor é caracterizado também
como um objeto que o professor possui, devido a alguns fatores e não como uma relação, como
propõe Foucault (1984).
Ainda na tentativa de compreender este poder, pode-se trazer as considerações de
Bourdieu (1989), com a idéia de um poder simbólico, exercido pelo discurso, legitimado pela
posição social de quem o profere (o professor). Neste sentido, percebe-se isso tanto na RS do
poder para o estudante quanto para o professor, pois o professor ocupa uma posição social, que
por si só legitima um poder simbólico, poder esse que atua como dominante neste campo de
forças, onde diversos poderes (forças) estão em jogo, como o do estudante, do professor, da
instituição, da própria Ciência.
Utilizando das contribuições de Martin-Baró (apud MARTINS, 2003) foi possível
identificar as duas maneiras de influência do poder apontada pelos participantes deste estudo. A
imediata aparece quando professores e estudantes trazem este poder como exercido de forma
explicita, de imposição, de punição e etc. E a mediata quando se utiliza do poder para controlar e
configurar o contexto de aprendizagem. Assim, configurando o mundo no qual os estudantes
estão inseridos e irão atuar.
Outra característica verificada nas RS do poder do professor foi o fato deste poder ser
atribuído como positivo ou negativo. Apesar das divergências de como seria o positivo e o
negativo entre os grupos de estudantes, ambos caracterizaram como positivo o poder que facilita
a aprendizagem, e negativo aquele que a dificulta, contribuindo inclusive com experiências
vivenciadas. Por outro lado os professores atribuíram este poder positivo como aquele que eles
tentam exercer, em prol do aprendizado do estudante, e negativo como aquele que pode ser
exercido, mas que não é aprovado, um poder atuante no sentido de reafirmar a posição de poder
que se possui.
Ainda na caracterização deste poder positivo e negativo, retoma-se a hipótese inicial deste
estudo, que partiu destas amplas características, depois contempladas nas RS dos participantes,
retomando assim as contribuições de Guareschi (1996) ao definir o poder como a possibilidade
de uma pessoa fazer algo. Sendo assim, tanto o poder negativo quanto o positivo encontram-se
como possibilidades; possibilidades de facilitar ou de dificultar a aprendizagem do estudante.
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O poder negativo pode ser relacionado com o que Guareschi (ibid.) denomina como o
poder de dominação, pois o professor se apropria do poder do estudante, tratando-o de forma
desigual, impedindo que o estudante exerça suas capacidades, dificultando assim o processo de
aprendizagem, e por outro lado o positivo, como facilitador, ao possibilitar que o estudante
exerça suas capacidades, melhorando a aprendizagem.
4.6. A naturalização do poder do professor
Ainda na busca de caracterizar e compreender as RS do poder do professor que os
participantes trouxeram, percebe-se juntamente com a lógica de um “poder-objeto”, seu
entendimento como propriedade do professor e como inerente ao seu papel social, entendendo
este poder como algo natural do ser professor. E considerar algo como natural implica em ser
desnecessário situar o ser humano historicamente, concebendo-o como atualização de uma
natureza humana. (AGUIAR, 2000).
A Psicologia Sócio-histórica, ao negar a concepção de natureza humana, propõe
compreender o ser humano a partir de uma condição humana na medida em que o coloca como
ser ativo, que constrói sua existência na ação com a realidade em busca de satisfazer suas
necessidades.
Com isso, considerar o poder como natural, implica em apenas ser capaz de reproduzir tal
relação de poder, enquanto considerá-lo como uma condição humana, possibilita uma ação do
sujeito sobre ele, capaz de transformá-lo. Mas isso não foi apontado pelos participantes, pelo
contrário, um dos participantes traz explicitamente em sua fala este poder como uma “autoridade
natural”. A partir disso, faz-se uma reflexão acerca das conseqüências desta naturalização.
Martin-Baró (1989 apud MARTINS, 2003) ao explorar a questão do poder, chama
atenção para o fato de que um de seus aspectos mais importante é a sua tendência a ocultar-se e
negar-se como tal, apresentando-se como exigência natural ou razão social.
Desta maneira, ao naturalizar e colocar este poder como objeto, os participantes ocultam o
que de fato seria este poder, ocultam a função da relação para a constituição desse poder, e
isentam-se desse processo, ocultando a si mesmos como participantes e constituintes desse poder.
40
Ainda neste sentido, Martins (2003) traz a idéia de que este processo de ocultamento está
vinculado à questão da socialização do individuo, compreendida como uma forma de
homogeneização de valores e normas culturais, que ocorre desde o nascimento até a vida adulta, e
que consiste na transmissão dos valores e das normas sociais de uma maneira a fazer com que os
indivíduos assimilem tais normas e regras sociais como naturais, e deste modo as reproduzem,
não as considerando impostas, nem construídas socialmente. Por isso deve-se desnaturalizar este
poder, e compreendê-lo como uma condição humana, e não algo natural que normatiza a ação
humana, controlando socialmente o pensar, o sentir e o fazer das pessoas.
4.7. A representação social do poder do professor e o processo de ensino-
aprendizagem
Após compreender as características do poder do professor identificadas nas RS dos
participantes, faz-se uma reflexão a respeito da relação entre este poder, a relação professor-
estudante e o processo de ensino-aprendizagem.
Por trazer o poder como algo que pertence ao professor, inclusive como um objeto, e
afirmar (tanto professores quanto estudantes) que o professor tem o poder de configurar o
contexto da aprendizagem, coordenar a sala, facilitar ou dificultar o processo de ensino-
aprendizagem, atribui-se uma grande responsabilidade ao professor, à atuação do mesmo, e
diminui, de certa forma, a participação e a responsabilidade do estudante neste processo.
O interessante é que este fato se complementa na RS dos professores e estudantes, pois os
estudantes, ao atribuir este poder e esta maior responsabilidade pelo processo de ensino-
aprendizagem ao professor, estão de certa forma solicitando tal uso do poder, e o professor,
complementando, atua neste sentido, “compra” esta idéia e assume o papel mais atuante no
processo de ensino-aprendizagem.
Por mais que se traga em certos momentos a idéia de um estudante ativo, participante, se
traz o fato de que o professor configura o espaço e permite esta participação. Desta maneira, a
iniciativa, a maior responsabilidade, ainda é do professor, pois o estudante não se emancipa frente
ao processo, ao poder “pré-estabelecido” atuando de forma determinante, mas atua de uma forma
condicionada.
41
Desta maneira, quando analisou-se as RS do poder do professor que ambos os atores
trazem, percebeu-se o quanto elas se completam, o estudante solicita o poder, e o professor
atende. O professor determina e configura o contexto, e o estudante se deixa determinar e se
enquadra no contexto configurado pelo professor.
Sendo assim, ao analisar as RS do poder do professor relacionando-as com o processo de
ensino-aprendizagem, percebe-se que os participantes da pesquisa trazem incorporadas a estas RS
uma visão vertical da relação no processo de ensino-aprendizagem, justificada até mesmo pelo
poder que o professor possui, atribuindo maior responsabilidade ao professor – por este possuir o
poder – e minimizando a responsabilidade do estudante – por estar submetido a tal poder –
dependendo da atuação do professor nesse processo.
Neste caminho apresentam uma visão diferente do que propõe a perspectiva Sócio-
cultural da Educação, que considera uma relação professor-estudante horizontal e não imposta,
configurada em um espaço no qual ambos aprendem e ensinam, em que o homem e a mulher
assumem o papel de sujeito da própria educação (MIZUKAMI 1986).
4.8. A herança de uma história
Até este momento, foi possível identificar as RS que os participantes possuem do poder
do professor, discorrer sobre os processos nos quais tais RS são constituídas, refletir sobre os
aspetos implicados na relação social-individual, tanto como suas conseqüências, compreendendo
assim todo um contexto que se estabelece no qual estes participantes estão inseridos, e a partir
deste contexto, trazem a RS que possuem, que atuam de forma determinante em suas ações.
No entanto, devido a perspectiva deste trabalho, vale ressaltar que nesta individualidade
existe também uma perspectiva histórica a ser considerada, tanto dos estudantes como dos
professores, pois atribuem sentidos a própria história, e é ao se relacionar e dar sentido a ela que
o individuo constitui-se enquanto tal. A Psicologia Sócio-Histórica traz a idéia de uma
subjetividade individual, dizendo que o ser humano constrói sentido para as experiências que
vivencia, constituindo-se a partir do sentido atribuído as experiências e relações vivenciadas.
(BOCK, et al. 1999).
42
Porém, não se coletou dados para buscar esta compreensão individual das características
de cada participante, o que nos impede de tentar compreender estes aspectos mais específicos da
singularidade de cada um, que já afirmados, possuem papel determinante na RS do poder do
professor.
Por outro lado, é possível explanar uma compreensão desta determinação sócio-histórica
na esfera social, e que de certa forma já foi elaborado ao longo do trabalho, mas que vale a pena
ser retomado, na tentativa de ampliar esta discussão.
Aqui se pode retomar a questão da história do contexto educacional, partindo de uma
visão cristalizada de uma Educação Tradicional, com todas as características já apresentadas,
visão e experiência estas, presentes e determinantes da maneira como o poder do professor é
exercido e compreendido. Afinal, a cerca de 30 anos era permitido que o professor punisse
fisicamente o estudante, hoje em dia este caráter punitivo ainda existe, mas não o físico.
Outro ponto, a questão da total submissão do estudante ao professor, definitivamente o
poder estava imposto à relação e a ela determinava; o “respeito exagerado”, visto mais como um
medo do que como um respeito ao professor, estava muito presente, e percebe-se estes resquícios
nas RS que os estudantes trazem hoje em dia.
Estas são algumas especificidades de uma comparação histórica da relação professor-
estudante, mas pode-se ampliar esta reflexão histórica, compreendendo hoje a Universidade com
papel marcante em relação ao Mercado de Trabalho, compreendendo hoje o Sistema Capitalista
atuando de forma agressiva na sociedade de maneira geral, e como dominante, determinando
inclusive a própria Universidade, a produção dos saberes. A lógica empresarial está colocada no
contexto universitário, desde sua estrutura até sua cultura organizacional, atuante também nas
relações que se estabelecem dentro da Universidade, inclusive na maneira de se exercer o poder.
No entanto, esta mesma história que é determinante possui o seu movimento, pois
também é determinada e construída a partir das relações. Neste sentido, vale considerar todo o
movimento que a própria Educação vem construindo na busca pela quebra de paradigmas, o
estabelecimento de novos paradigmas, a velocidade e a amplitude do descontrolado acesso às
informações, às novas exigências do Mercado de Trabalho, enfim, todos estes aspectos históricos,
encontrados no âmbito social, constituem uma herança histórica que determinam estas RS.
43
Embora não seja possível compreender esta herança sócio-histórica no âmbito singular,
por não possuir acesso aos dados mais específicos de cada participante, por meio destas
reflexões, compreende-se um pouco do todo que está inserido nesta herança social-histórica da
Universidade, da Educação, da Sociedade de maneira geral.
4.9 Um período de transição
Compreendendo tal herança histórica, e todo o movimento atuante da própria história,
reconhecemos que hoje vivenciamos um período de transição, caracterizado por mudanças
marcantes nas últimas décadas, mudanças estas que ocorrem em uma velocidade jamais
vivenciada na história da humanidade.
Em poucos anos ocorreram mudanças radicais em sistemas econômicos e superpotências
do mundo, com o início da era da informação, a globalização, etc. No Brasil, até meados dos anos
80 vivia-se um regime onde a questão do respeito à autoridade política significava uma questão
de sobrevivência. Os referenciais eram rígidos, o governo que determinava o que poderia ser feito
ou não, o que poderia ser falado, expressado.
Diante disso, a educação não esteve alheia, estava inserida nesta realidade. A
Universidade vivenciou este momento em que uma sociedade repressora representava a condição
social. Naquele contexto, também professores e estudantes tinham papéis definidos, estava-se no
auge da Escola Tradicional. A onipotência do professor na relação, na transmissão dos conteúdos
era inerente ao seu papel tanto quanto a passividade, a obediência e o respeito por parte do
estudante.
Esses eram alguns referenciais que norteavam e influenciavam o processo de ensino-
aprendizagem. É importante pontuar que esses aspectos são determinantes e estão fortemente
presentes nas RS dos professores participantes, pois eles vivenciaram aquele momento histórico
como cidadãos, estudantes do ensino médio e universitário, ou até mesmo já como professores.
Isso mostra como lhes é familiar esse modelo tradicional do professor exercer o poder, pois
aparece como ancorado em suas representações.
Diferentemente, os estudantes não vivenciaram diretamente este momento histórico, mas
como seres constituídos socialmente, entram em contato com toda a produção de significados e
44
resquícios desta época nos dias de hoje, pois todas estas características estão presentes na história
social do contexto do qual eles fazem parte.
Assim se reconhece esse passado como determinante da realidade atual, tanto por seu
caráter expresso e vivenciado de poder, como das contradições que existiram neste mesmo
período, pois foi nesta época que intelectuais – como Paulo Freire (MIZUKAMI, 1986) –
desenvolveram pensamentos e teorias propondo uma nova concepção da Educação, reformulando
o processo de aprendizagem e a própria relação professor-estudante, trazendo novos horizontes
para a Educação no Brasil.
E esta “nova concepção de Educação” também se faz presente no âmbito social e também
determina as RS do poder do professor para estes participantes, que de maneira geral, apresentam
fortemente uma RS ligada a este momento histórico passado, porém com conteúdos desta nova
perspectiva, com estudantes ativos, participantes, professores tutores, facilitadores, um processo
democrático e de troca.
Porém, ainda não se construiu esta realidade. Nos dias atuais ela está se construindo e
com isso os referenciais do que é ser professor ou ser estudante se fragilizam, se confundem, o
que implica numa certa falta de referencial, pois a vivência e a prática ainda estão vinculadas “à
Educação do Passado”. Mas as teorias, as cobranças e as expectativas da sociedade aparecem
vinculadas “à Educação do Futuro”, ainda em construção, apresentando-se como um desafio.
Com tudo isso, percebe-se que a Educação no Brasil passa por um momento de transição,
desliga-se de uma proposta e caminha para outra, sendo que o momento histórico atual configura-
se por este período de transição, em que se perdem os referenciais e se reconstroem os papéis de
professor e de estudante, o que consequentemente vai determinar uma nova relação de poder.
E assim como a Educação, a Sociedade em geral também passa por todo este movimento,
que embora não seja analisado e discutido neste momento, é fator importante e determinante da
Educação, consequentemente do poder do professor.
45
5. CONCLUSÃO
Após todo este percurso é evidente que o professor tem um poder, pois tanto os
professores quanto os estudantes trouxeram que este poder existe, que está presente e que é
atuante no contexto universitário e na relação professor-estudante.
Ao compreender esta representação, percebe-se que professores e estudantes trouxeram
praticamente a mesma concepção do que vem a ser o poder do professor, indicando que
compactuam e complementam-se na representação deste poder.
Os participantes o caracterizam como uma assimetria na relação, pois o professor além de
ser detentor do conhecimento, também possui mecanismos que possibilitam controlar o contexto,
devido à hierarquia institucional e ao seu papel social.
Além disso, ambos trouxeram este poder como objeto, como atributo do ser professor,
desconsiderando sua construção na relação. Por outro lado, trazem a relação dizendo que é nela
que este poder se manifesta, atribuindo-o como possível facilitador ou inibidor do processo de
ensino-aprendizagem.
Com isso, os próprios professores e estudantes naturalizaram o poder, e
consequentemente ocultam as condições que o constroem. Pois apesar da hierarquia institucional,
do conhecimento e da experiência profissional, estes elementos todos fazem parte de um contexto
que se configura apenas na relação, e não a priori.
Esta visão de poder do professor está impregnada em uma visão do processo de ensino-
aprendizagem, onde o professor tem um papel mais atuante, lhe atribuindo a maior
responsabilidade, reforçando a relação vertical presente nesse processo.
Isso difere da perspectiva adotada neste trabalho, pois se defende a construção de uma
relação horizontal, onde não é apenas o professor que configura o contexto de ensino-
aprendizagem. O estudante também é atuante, pois como ser ativo influencia o contexto do qual o
professor faz parte, tendo também a possibilidade de facilitar ou dificultar o processo.
Pode-se dizer que esta visão de relação vertical está relacionada com o fato da
naturalização do poder do professor, pois ao considerá-lo como natural o estudante e o professor
ocultam a gênese de tal poder, ocultam as determinações que o constitui, e assim, não se
percebem construindo este processo.
Assim, o estudo das representações sociais do poder do professor e sua contextualização
histórica, não só possibilitou compreender esse fenômeno, mas conseguiu desnaturalizar tal
46
poder, denunciando que os papéis de professor e de estudante nessa relação e nesse processo são
determinados por um contexto sócio-histórico.
Ao desnaturalizar, afirmou-se a existência de uma condição humana, na qual o poder do
professor passa a ser entendido como social e histórico, ou seja, sua constituição deixa de ocultar-
se e evidencia-se. Podendo assim ser transformado pelos atores do processo, que conhecendo tais
determinações podem reconstruí-lo.
Durante a discussão foi possível explorar alguns destes determinantes históricos, ainda
que próximos aos dias atuais. Não se buscou compreender a gênese do poder do professor, mas
sim compreender algumas das determinações mais próximas ao contexto no qual estamos
inseridos que influenciam e nos auxiliam a compreender as razões pelas quais estudantes e
professores apresentam tal representação social, sabendo-se que, ao aprofundarmos na própria
história da Sociedade, da Educação, do professor e de todo este contexto, compreenderíamos
ainda mais tais determinantes históricos.
Mesmo assim, conseguiu-se identificar a fase de transição na qual a Educação Brasileira,
e fortemente o Ensino Superior passam nos dias atuais. As novas exigências no Mercado de
Trabalho, a formação mais técnica do que crítica, o grande volume de novas faculdades e
Universidades, e mais especificamente as características da Universidade na qual estes
participantes estão inseridos. Além disso, a falta de referenciais devido a todo este movimento de
mudanças na Sociedade e na Educação.
Vivenciou-se uma escola tradicional, com papéis definidos, estruturas sólidas e muitas
vezes rígidas. Em cima desta realidade surgiram as críticas, as novas propostas, novos
intelectuais que trouxeram uma outra concepção da aprendizagem, do papel da Educação, que
além da formação técnica, “conteudista”, busca uma formação crítica, uma formação cidadã,
formando não reprodutores de conteúdos, técnicas ou conceitos, mas sim, cidadãos e cidadãs
socialmente ativos e comprometidos com a realidade na qual estão inseridos.
Diante disso, encontra-se neste processo de construção um movimento de mudanças e
desenvolvimento da própria história, pois se abandona uma concepção cristalizada, e se adotam
novos nortes para a Educação que ainda possuem dificuldades de se aplicar, perdendo assim os
referenciais, pois aquilo que foi posto como modelo não serve mais, e aquilo que a teoria propõe,
visto como ideal, encontra muitas dificuldades de se concretizar na prática.
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Tudo isso é visto como desafio para uma nova reflexão, uma nova ação e um novo
movimento de professores e estudantes. Reconstroem-se, na prática, os papeis destes atores no
contexto educacional, e com isso, o poder do professor, sua constituição e sua manifestação
também são transformadas (nas relações).
Sendo assim, o presente estudo, ao buscar desnaturalizar este poder, ao atribuir o homem
e a mulher como ser ativo, social e histórico, traz uma breve reflexão no sentido de compreender
as condições e necessidades sociais que constituem este poder.
Assim, os professores conscientes de tal poder, da sua condição, podem transformá-la,
aprimorando o processo de ensino-aprendizagem no qual o estudante possa assimilar não só os
conteúdos e as técnicas, mas além disso, construa a crítica, a cultura e a historicidade da própria
ciência.
Por outro lado, os estudantes conscientes da condição deste poder, podem refletir sobre o
seu papel, sobre o próprio poder e suas possibilidades, construindo a antítese do processo
educacional, atuando ativamente neste processo junto aos professores e demais envolvidos.
Passando a ser co-autores da própria aprendizagem, como sujeitos da própria história, se
apropriando de forma significativa da própria formação.
48
6. REFERÊNCIAS
AGUIAR, W. M. J. Reflexões a partir da psicologia sócio-histórica sobre a categoria
"consciência". Cadernos Pesquisa. São Paulo, n. 110, 2000. Disponível em:
<http://www.scielo.br>. Acesso em: 26 de Outubro de 2006.
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