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Edição Especial de Lançamento
Revista de Finanças e Contabilidade da Unimep – REFICONT – v. 1, n. 1, Jul/Dez – 2014 Página 33
QUALIDADE DE VIDA, SUSTENTABILIDADE E EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Carlos Eduardo Francischetti - [email protected]
Lumila Souza Girioli Camargo - [email protected]
Nilcéia Cristina dos Santos - [email protected]
RESUMO
A satisfação das necessidades das pessoas está diretamente ligada a sua qualidade
de vida. Ainda ocorrem mudanças socioeconômicas no mundo em relação à
globalização com a expansão do consumo, levando cada indivíduo a buscar um
padrão de bem-estar cada vez maior. Faz-se necessário existir uma conscientização
e um equilíbrio na busca da satisfação dessas necessidades. É importante estar
consciente que seu estilo de vida deve ser condizente com o da sua realidade
econômica. Desta maneira, realiza-se uma pesquisa bibliográfica exploratória sobre
a melhoria da qualidade de vida por meio da sustentabilidade e de uma boa e
eficiente educação financeira, contribuindo para a conscientização da importância da
organização financeira na vida das pessoas e que por meio do planejamento e
orçamento financeiro e com disciplina, mudança de hábitos e um plano de objetivos
sustentável, pode-se obter além de um eficiente plano de melhoria de vida, a tão
sonhada e desejada independência financeira.
Palavras-chave: Qualidade de vida, sustentabilidade, educação financeira.
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1 – INTRODUÇÃO
O Brasil, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da
Organização das Nações Unidas (ONU), está aquém dos níveis ideais de qualidade
de vida, ficando em 2012, entre os 187 países do mundo, com a 85ª posição geral.
Em geral, utiliza-se o IDH para avaliar o grau de qualidade de vida das
populações, onde admite-se a expectativa de vida, os índices de mortalidade ou
morbidade, os níveis de escolaridade e alfabetização, a renda per capita, o nível de
desemprego, a desnutrição e a obesidade.
Com a globalização, ocorreram mudanças socioeconômicas consideráveis no
mundo em relação à integração dos mercados produtores e consumidores, trazendo
conseqüências na vida de cada indivíduo e levando-nos a buscar um padrão de
conforto e bem-estar cada vez maiores. Acreditamos que estamos continuamente,
buscando a satisfação de nossas necessidades básicas, mas o que se percebe é
que estamos sendo influenciados pelas necessidades criadas pelo grau de
desenvolvimento econômico e social da sociedade.
Atualmente, existe uma intensa necessidade da população pelo consumo.
Induzido pelo marketing espera-se, que quanto mais se consome, mais se tem
garantias de bem-estar e qualidade de vida. Pode-se dizer que houve uma inversão
de valores, pois se não houver uma conscientização e um equilíbrio na busca da
satisfação de nossas necessidades, estaremos nos afastando cada vez mais da
qualidade de vida.
Desta maneira, apresentamos uma pesquisa bibliográfica exploratória sobre a
melhoria da qualidade de vida por meio da sustentabilidade e de uma boa e eficiente
educação financeira, contribuindo para a conscientização da importância da
organização financeira na vida das pessoas e que por meio do planejamento e
orçamento financeiro e com disciplina, mudança de hábitos e um plano de objetivos
sustentável, pode-se obter além de um eficiente plano de melhoria de vida, a tão
sonhada e desejada independência financeira.
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2 – QUALIDADE DE VIDA
De acordo com Saba (2003), qualidade de vida é um cotidiano no qual há um
equilíbrio entre a responsabilidade e os prazeres, garantidos por boa saúde,
realização pessoal e facilidade ao lidar com as tarefas diárias. A qualidade de vida
certamente depende de vários fatores para que o indivíduo alcance o equilíbrio,
com por exemplo: poder aquisitivo, infraestrutura do habitat em que vive, da relação
que se obtém com o conjunto dessas atividades, do conforto a que se tem acesso,
do estado de saúde e, acima de tudo, da maneira de se encarar tudo isso.
A qualidade de vida está ligada a maneira de cada pessoa em conseguir
satisfazer suas necessidades pessoais em relação ao seu estado mental, emocional
e físico.
De acordo com Herculano et al. (2000, p. 04), a avaliação sobre a qualidade
de vida de uma população pode ser proposta de duas formas. A primeira é relativa
aos recursos disponíveis, a capacidade para manutenção das necessidades. A
segunda forma, por sua vez, é relativa às necessidades, numa tentativa de mensurar
o grau de satisfação e o patamar desejado, a distância entre o que se deseja e o
que se alcança.
O conceito de qualidade de vida não deve ser confundido com o de padrão de
vida, mas não podemos deixar de enfatizar que com um padrão de vida melhor ou
mais digno, pode contribuir para que a qualidade de vida seja alcançada com uma
maior facilidade. Pode-se dizer que o dinheiro não traz felicidade, mas na verdade,
ajuda a proporcionar um nível de satisfação e prazer, sendo um ponto importante,
para uma qualidade de vida cada vez melhor.
A qualidade de vida não se resume a ter um bom apartamento ou saúde na
terceira idade. Há de se abordar vários aspectos: educação, cultura, alimentação,
lazer, entre outros, compreendendo variáveis como a satisfação das necessidades
básicas, a manutenção de um ambiente favorável à segurança pessoal, e a
disponibilidade de um ambiente social ao qual o indivíduo possa se engajar (PIAIA,
2008, p. 16).
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De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma definição para
qualidade de vida pode ser entendida como "a percepção do indivíduo sobre sua
posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive,
e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações".
Uma grande aliada da melhoria na qualidade de vida é a educação financeira,
oferecendo informações e procurando conscientizar as pessoas sobre os benefícios
da organização das finanças. Um exemplo de organização ou reorganização
financeira pode ser um e-mail recebido pelo planejador financeiro Jurandir Sell
Macedo Júnior (2010), após uma palestra ministrada em Curitiba, dizendo: "Jurandir,
parabéns pela palestra. Ela me fez trocar uma BMW por uma bicicleta". A explicação
é que o remetente estava pensando em comprar um carro mais luxuoso e
confortável, pois passava cerca de duas horas no trânsito para ir trabalhar. Após a
palestra, o mesmo percebeu que seria mais interessante negociar urna mudança de
horário no trabalho, evitando assim os congestionamentos e economizando um bom
dinheiro com o carro, optando por comprar uma bicicleta e passar a pedalar no seu
tempo livre, cuidando assim de sua saúde física e mental, melhorando sua qualidade
de vida (PIAIA, 2008).
3 – EDUCAÇÃO FINANCEIRA
A educação financeira pode ser entendida como um processo que estimula a
busca pelo conhecimento em como aplicar e investir o dinheiro em nosso dia a dia,
para poder transformar esse dinheiro em riqueza e segurança financeira para o
futuro, possibilitando as pessoas a lidarem com a sua renda, com a gestão do
dinheiro, a gestão de gastos e de empréstimos, aplicações na poupança e
investimentos de curto e longo prazos.
Filho (2003) diz que ser financeiramente educado é planejar de forma
inteligente sua vida financeira para realizar tudo que deseja com consciência e
prazer. É saber como eliminar a preocupação com dinheiro. É saber identificar e
aproveitar as oportunidades que lhe aparecem. Sendo assim, a educação financeira
é essencial na vida das pessoas, adquirir um bem ou serviço com o planejamento
necessário, sem ter que pensar em “como vou pagar isso?” depois da compra,
significa ter qualidade de vida e saboreá-la com mais prazer. Cerbasi (2004, p. 69)
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enfatiza, que "É rico quem tem uma vida feliz, saúde para vivê-la e também uma
renda garantida para manter essa felicidade conquistada ao longo da existência".
O estudo das finanças e em especial das finanças pessoais, envolve
conceitos e técnicas fundamentais para uma gestão de recursos pessoais e de uma
família, por exemplo, a poupança pode produzir uma segurança necessária para a
vida do indivíduo, assim como os investimentos de uma pessoa podem ser mais
precisos e planejados de acordo com as suas necessidades de curto e longo prazo,
resultando em ganhos maiores para a vida financeira das pessoas. Poupar exige o
adiamento do consumo presente, visando o consumo de algo maior no futuro. Dois
objetivos motivam as pessoas a poupar, sendo um deles a possibilidade de
consumir mais em certo tempo e o outro as adversidades causadas pelo
envelhecimento e a queda de produtividade para a geração de receitas suficientes
para arcar com as despesas.
4 – INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA
Independência financeira pode ser entendida como ter uma renda garantida
que satisfaça as nossas necessidades. Essa renda pode ser obtida de diversas
formas, seja com imóveis e salários, ou com poupança e investimentos regulares
iniciados o mais cedo possível, para que se possa não mais depender do dinheiro
para viver.
De acordo com Cerbasi (2004), o planejamento financeiro não significa
simplesmente "não ficar no vermelho", mas tem sim por objetivo conquistar um
padrão de vida e conseguir mantê-lo. Qual é o projeto de vida de cada ser humano,
senão trabalhar para acumular um capital e realizações, para um dia poder diminuir
o ritmo e aproveitar um pouco a vida? Pois bem, este dia não precisa chegar apenas
quando o individuo tiver 65 anos. Imagine se não fosse necessário trabalhar por
obrigação, que fosse possível apenas aproveitar o lado bom da vida, seja ele qual
for, pois cada pessoa tem suas preferências.
Para Macedo Junior (2010, p. 69) "quando bem administrado, o dinheiro
permite uma vida mais tranqüila e prazerosa, permitindo que se busque mais
facilmente a felicidade".
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HalfeId (2005) contribui citando alguns passos para se adquirir a
independência financeira, tais como:
a) ganhar mais;
b) poupar;
c) evitar dívidas e
d) investir corretamente.
Independência financeira não é apenas ter uma renda permanente que não
diminua o padrão de vida alcançado. O importante é definir qual será o padrão a ser
mantido, e qual será o valor financeiro suficiente para garantir este padrão, a fim de
satisfazer as necessidades.
Pode-se calcular o valor do patrimônio que deve ser alcançado para obter
uma independência financeira para toda uma vida, ou PNIF (patrimônio necessário
para independência financeira), com base no valor médio de gastos mensais e o
quanto de rendimento se pode conseguir no mercado financeiro. Vamos considerar
como exemplo, uma pessoa que possua um gasto médio mensal de R$ 3.000,00 e
que disponha apenas de aplicação na caderneta de poupança, onde em média
também consideraremos uma remuneração de 0,5 % de juros mensais. O gasto
médio mensal acumulado ao ano será de R$ 36.000,00 (R$ 3.000,00 x 12 meses) e
os juros acumulados ao ano da caderneta de poupança serão de 6% (0,5% x 12
meses). Dividindo-se o gasto médio anual pelo rendimento anual dos juros, teremos
um total de R$ 600.000,00.
00,000.60006,0
00,000.36PNIF
Desta maneira, para deixar de trabalhar e passar a viver com um gasto médio
mensal de R$ 3.000,00 é só possuir um patrimônio de pelo menos R$ 600.000,00.
Mas, atenção, pois esse patrimônio deverá crescer e continuar rendendo pelo
menos 6% de juros ao ano, ou simplesmente, 0,5% ao mês para que possa ser
possível viver com R$ 3.000,00 por mês e caso a sua remuneração seja maior ou
menor também pode-se obter valores maiores e menores proporcionais a
remuneração alcançada.
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5 – PLANEJAMENTO FINANCEIRO
O planejamento financeiro é o processo de gerenciar seu dinheiro com o
objetivo de atingir a satisfação pessoal, controlando a situação financeira atual para
atender às necessidades e alcançar objetivos ao longo da vida (MACEDO, 2010).
As organizações elaboram planejamentos para cada um de seus projetos e
também as pessoas devem ou deveriam elaborar seus planejamentos para alcançar
os seus objetivos a curto, médio ou longo prazos.
Em um bom planejamento, deve-se relacionar as receitas líquidas de cada
período com as despesas fixas (moradia, saúde, transporte, educação, lazer e
outras) e variáveis (gastos não previstos ou que ocorrem pelo menos uma vez ao
ano: IPVA, IPTU, datas festivas, etc.), para apurar o saldo do período e montar um
plano financeiro eficaz. Também, é necessário ter uma reserva para diversos
imprevistos como: multas de trânsito, batida de carro, juros por atraso, etc.
(CERBASI, 2009).
A maioria das pessoas, não considera os imprevistos em seu planejamento e
não poupam para constituir uma reserva, para eventuais necessidades. Com o
dinheiro que sobra, geralmente fazem compras para satisfazerem seus desejos
momentâneos, substituindo uma necessidade pela vontade de consumir
determinado bem ou serviço.
Planejar é estabelecer com antecedência as ações a serem executadas,
estimar os recursos empregados e definir as correspondentes atribuições de
responsabilidade em relação a um período futuro determinado, para que sejam
alcançados satisfatoriamente os objetivos porventura fixados anteriormente
(SANVICENTE e SANTOS, 1995, p.16).
É importante estar consciente que seu estilo de vida deve ser condizente com
o da sua realidade econômica. Freqüentar bares e restaurantes caros, comprar
somente roupas de marca para atender a seus desejos de status, sem considerar
sua realidade econômica, podem ser o caminho para sérias dificuldades financeiras.
No planejamento financeiro nunca deixe as despesas ultrapassarem as
receitas, na pior das hipóteses a equação deverá ser da seguinte maneira: receitas =
despesas.
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É necessário ter um controle rigoroso dos gastos. E principalmente, conhecer
as despesas mais significativas.
Welsch (1996), por sua vez, aborda três dimensões sobre o planejamento
financeiro:
a) Longo prazo: para projetos de investimento, normalmente cinco anos ou
mais;
b) Curto prazo: quando se tratar do ano corrente e
c) Planejamento operacional: onde as disponibilidades (sobras ou faltas de
dinheiro) de caixa são projetadas para o mês corrente, ou para os próximos dias.
O planejamento financeiro, ou fluxo de caixa (figura 1), é uma forma
bastante simples de planilha que permite visualizar as entradas (receitas) e saídas
(despesas) dos recursos financeiros, assim como os saldos ou disponibilidades
existentes. Essa importante ferramenta, permite verificar, de forma antecipada, se
haverá sobra ou falta de recursos antes que ela aconteça. O ideal é que esse
planejamento seja feito anualmente.
Figura 1: Modelo de Planejamento Financeiro
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio junho Julho Total
SALDO ANTERIOR
ENTRADAS
Salários
13º Salário
Férias
Retirada da Poupança
Bicos / Renda Extra
Retirada de Aplicações
Empréstimos
Outros
TOTAL DAS ENTRADAS ( A )
SAÍDAS
Aluguel + Financiamento
Condomínio
Mensalidade Escolar
Prestações Carro
Seguros
Plano de Saúde
Água, Luz, Telefone, Gás
Alimentação
Cartão de Crédito
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Consertos Domésticos
Medicamentos
Lazer (cinema, restaurante, etc.)
Vestuário
Cabeleireiro
Cosméticos
Academia
Transporte
Impostos
Matrícula Escola
Outros
TOTAL DAS SAÍDAS ( B )
RESULTADO
SALDO (A - B)
Fonte: Elaborado pelos autores.
6 – SUSTENTABILIDADE
A sustentabilidade pode ser definida como a capacidade do ser humano de
interagir com o mundo sem comprometer os recursos naturais para as gerações
futuras, buscando o uso consciente dos fatores de produção (terra, capital e
trabalho) para a obtenção dos lucros e retornos de capital e preservando ao mesmo
tempo o meio ambiente.
As oportunidades de negócios, hoje em dia, estão cada vez mais voltadas
para as atuais condições econômicas, onde a responsabilidade social começa a
justificar a necessidade do saber usar os recursos disponíveis do planeta.
A sustentabilidade tem como base seis dimensões (SACHS, 1993):
a) Sustentabilidade ecológica: ancorada no princípio da solidariedade com
o planeta e suas riquezas e com a biosfera que o envolve;
b) Sustentabilidade econômica: avaliada a partir da sustentabilidade
social propiciada pela organização da vida material;
c) Sustentabilidade social: ancorada na equidade na distribuição de renda
e de bens; no princípio da igualdade de direitos, a dignidade humana e no princípio
de solidariedade dos laços sociais;
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d) Sustentabilidade espacial ou territorial: norteada pelo alcance de uma
equanimidade nas relações inter-regionais e na distribuição populacional entre o
rural/urbano;
e) Sustentabilidade cultural: respeito à cultura de cada local, garantindo
continuidade e equilíbrio entre a tradição e a inovação;
f) Sustentabilidade política: que representa um pré-requisito para a
continuidade de qualquer curso de ação a longo prazo.
Pode-se dizer, que viver a sustentabilidade nada mais é do que aplicar de
maneira inteligente e útil, conceitos que criem situações em que exista uma
constante auto-suficiência social, econômica e principalmente financeira.
Desta maneira, ao recusar outro padrão de vida que não seja o seu,
realizando um planejamento financeiro adequado ao saldo para o pagamento das
suas despesas, reorganizar suas compras, identificando quando é realmente
necessário comprar um bem ou se é apenas motivo de desejo, repensar sobre os
desperdícios e reciclar ou procurar reutilizar tudo que estiver ao seu alcance, é a
maneira sensata de construir um mundo melhor e aproveitar as oportunidades de
fazer com que aquele saldo do seu planejamento financeiro seja cada vez maior,
para então aumentar, mesmo que de maneira gradual, o seu padrão de vida e
consequentemente melhorar ainda mais sua qualidade de vida.
7 – ECONOMIA DOMÉSTICA
A economia doméstica aplica técnicas e conhecimentos para melhorar a
qualidade de vida dos indivíduos ou comunidades. São hábitos que as pessoas
adotam para melhorar sua condição financeira.
Para obter uma boa condição financeira, com um alto padrão de vida basta ter
dinheiro. Mas, se o saldo acumulado do nosso planejamento financeiro ainda não é
o suficiente para a tão sonhada independência financeira (PNIF), haverá a
necessidade de criar estratégias e planos de ação que ofereçam condições e
recursos para a acumulação do capital necessário para esse fim.
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É fundamental saber gerenciar a sua renda. É necessário ter um controle
rigoroso dos gastos. Seja precavido das armadilhas do cotidiano que existem para
contaminar o seu planejamento financeiro. Dentre elas, temos:
a) Economia de água: Ao terminar o banho, feche o registro do
chuveiro e quando estiver se ensaboando. Na escovação dos dentes, feche a
torneira, ela só precisará estar aberta quando você for enxaguar a boca.
Verifique se há vazamento nas torneiras, bacia sanitária, chuveiro; caso
exista, conserte o mais rápido possível para evitar desperdício de água. Não
faça de sua mangueira uma vassoura hidráulica para “varrer” a calçada e
limpar as dependências da casa. Quanto mais usamos a água, mais caro
pagamos por ela;
b) Uso correto e eficiente de energia elétrica: Evite deixar luzes
acesas desnecessariamente, principalmente durante o dia. Procure utilizar
iluminação natural. Utilize lâmpadas econômicas. Use a capacidade máxima
da máquina de lavar roupas. Acumule o maior número de roupas para passá-
las de uma única vez. Na compra de um ferro novo, procure modelos a vapor,
pois são mais econômicos. Desligue a TV diretamente no aparelho, não deixe
a luz vermelha acesa. Sempre que possível mantenha o chuveiro na posição
“verão”. Evite abrir e fechar a geladeira. Se o congelador estiver formando
uma camada fina de gelo pode ser sinal de borrachas desgastadas. Instale o
refrigerador longe dos raios solares;
c) Gastos com telefone: Utilize-o racionalmente. Ligações mais
demoradas ou interurbanas ficarão mais baratas se feitas em horários de
tarifas reduzidas. Procure pacotes promocionais das operadoras, faça a
portabilidade, se for o caso. Mesmo nos celulares pré-pagos, o Brasil tem as
mais altas taxas de telefonia do mundo. Incentive a família a ter o mesma
operadora de telefonia móvel;
d) Gastos com supermercado: Antes de ir ao supermercado ou
feiras livres, elabore uma lista de compras que você precisa, para não cair na
tentação de levar produtos que já tenha ou esquecer de algum. Outro ponto
importante é pesquisar os preços;
e) Gastos supérfluos: São gastos evitáveis, não necessários. Antes
de comprar alguma coisa pense: “eu preciso disso agora?”; “para quê?”.
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Muitas vezes, achamos que vamos precisar de determinados produtos que na
realidade não serão necessários ou, outras vezes, para preenchermos uma
carência pessoal, saímos às compras. Gastos supérfluos também são
aqueles gastos com o cinema, o fast-food, a revista, o refrigerante que nunca
lembramos de considerar no planejamento financeiro do mês e que podem
comprometer o orçamento;
f) Alimentação: Na compra dos alimentos, procure consumir frutas
da época, porque são baratas. Utilize todo o potencial energético que contém
os alimentos, usando casca de abacaxi para fazer suco, casca de melancia,
maracujá e tomate, para fazer doces, etc. Procure mudar o seu hábito
alimentar;
g) Vestuário: Antes de comprar roupas, calçados ou acessórios
verifique a necessidade de tais produtos. Há situações que compramos por
impulso;
h) Pequenas compras: Evite comprar por impulso, mesmo as
pequenas coisas. Gastar pouco em diversas vezes é o mesmo que gastar
muito. Pense numa pessoa que gastou R$ 1,00 aqui, R$ 3,00 reais ali, etc.
No final, ela não sabe onde gastou o seu dinheiro;
i) Cheque especial: Não incorpore o limite do cheque especial à
sua renda. O crédito concedido pelo banco, pelo qual ele cobra taxas
altíssimas (que podem superar 400% ao ano), só deve ser usado em
situações de emergência e por períodos curtos;
j) Cartões de crédito: Use cartões de crédito para postergar o
pagamento de dívidas. Mas, quando receber as faturas, liquide o débito
integralmente. Quem rola a dívida, pagando apenas o valor mínimo, arca com
juros altíssimos;
k) Pagamento de Juros: Informe-se sobre as taxas de juros (e não
apenas sobre o valor das prestações) cobradas nos financiamentos. O valor
da prestação pode caber no seu planejamento financeiro, mas o valor
acumulado com certeza irá ultrapassar a sua capacidade de gerar receitas ao
longo do tempo. Procure pagar suas contas até o vencimento, de modo a
evitar cobrança de multas.
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8 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
O dinheiro quando administrado de forma adequada torna-se um grande
aliado do bem-estar da sociedade e certamente implicará na melhora da qualidade
de vida, eliminando sintomas tais como stress emocional, depressão, hipertensão,
irritabilidade, insônia, entre outros que assolam a população e lotam os consultórios
médicos. Daí a necessidade de um planejamento financeiro pessoal. O dinheiro,
para uma pessoa educada financeiramente, nunca será sinônimo de problemas.
Se quisermos construir um futuro melhor, precisamos começar por
transformar nossa própria vida, viver numa condição financeira melhor, melhorar
nosso padrão de vida e consequentemente nossa qualidade de vida está
diretamente ligada a satisfação de nossas necessidades, e somente iremos obter
níveis maiores de maximização dessas necessidades, se aplicarmos de maneira
inteligente e sustentável toda atenção para a gestão de nossa renda.
Um bom planejamento financeiro é, sem dúvida, aquele que oferece ao longo
do tempo, condições de se conquistar um acúmulo de capital condizente com as
expectativas e realizações de vida de todos nós, para que um dia, não muito
distante, possamos diminuir o ritmo de atividades e assim aproveitar melhor os
momentos de nossas vidas. Desta maneira, entendemos que quando bem
administrado, o dinheiro pode oferecer uma vida mais tranqüila, prazerosa,
inteligente e sustentável.
A busca pela qualidade de vida envolve sacrifícios, disciplina e acima de tudo
iniciativa. Não podemos perder tempo, pois se investirmos R$ 500,00 todo mês,
pelos próximos 5 (cinco) anos a uma taxa de 0,50% ao mês, teremos no final R$
34.885,02 mas, se ao invés de 5 (cinco), investirmos em 10 (dez) anos, o valor será
de R$ 81.939,67, por isso não podemos perder tempo, pois quanto mais tempo
investirmos em nosso futuro, maior será nossa recompensa.
Finalmente, a educação financeira é uma maneira de administrar de forma
inteligente os recursos financeiros, aperfeiçoando constantemente o controle de
limites e autodisciplina, além de melhorar as condições socioambientais, pois,
consumir de forma consciente, com economia de recursos, pode, além de trazer
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benefícios financeiros imediatos pela redução de despesas, também contribui para a
preservação do meio ambiente.
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