psicultura ecolÓgica

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  • A piscicultura uma atividade econ-mica rentvel e pode se transformar em uma medida eficiente de preservao da natureza. Para que isso acontea, so ne-cessrios conhecimentos biolgicos e zootcnicos bsicos da espcie de peixe que se deseja cultivar, alm de informa-es sobre a utilizao correta da gua.

    Neste livro, o autor fornece informa-es sobre esses e outros aspectos da pis-cicultura, como a construo da infra-es-trutura adequada de um viveiro e as mais simples tcnicas de manejo, como a co-lheita dos peixes.

    Tudo isso deve ser feito levando-se em conta o desenvolvimento do cultivo de ma-neira que no agrida ou provoque danos ao meio ambiente. Nesse sentido, o livro consiste numa importante contribuio ao desenvolvimento sustentvel, incentivan-do o cultivo de peixes, especialmente o do lambar i -do- rabo-amare lo , tendo como princpio fundamenta l o respeito aos ecossistemas.

    Para que ocorra a manuteno dos processos ecolgicos e da diversidade gentica, a obra fornece as bases legais da piscicultura, apresentando as orienta-es bsicas para realizar solicitaes jun-to aos rgos competentes. H ainda in-formaes elementares de como funciona a natureza e de como os organismos vi-vos interagem entre si e com o meio am-biente.

  • PISCICULTURA ECOLGICA

  • FUNDAO EDITORA DA UNESP

    Presidente do Conselho Curador Jos Carlos Souza Trindade

    Diretor-Presidente Jos Castilho Marques Neto

    Editor Executivo Jzio Hernani Bomfim Gutierre Conselho Editorial Acadmico

    Alberto Ikeda Antonio Carlos Carrera de Souza Antonio de Pdua Pithon Cyrino

    Benedito Antunes Isabel Maria F. R. Loureiro Lgia M. Vettorato Trevisan

    Lourdes A. M. dos Santos Pinto Raul Borges Guimares

    Ruben Aldrovandi Tinia Regina de Luca

    Editora Assistente Joana Monteleone

  • PISCICULTURA ECOLGICA

    VALDENER GARUTTI

  • 2003 Editora UNESP

    Direitos de publicao reservados : Fundao Editora da UNESP (FEU)

    Praa da S, 108 01001-900 - So Paulo - SP

    Tel.: (Oxxll) 3242-7171 Fax: (Oxxll) 3242-7172

    www.editora.unesp.br [email protected]

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Garutti, Valdener Piscicultura ecolgica / Valdener Garutti. - So Paulo:

    Editora UNESP, 2003.

    Bibliografia. ISBN 85-7139-470-9

    1. Aqicultura 2. Ecologia animal 3. Lambari-do-rabo-amarelo 4. Piscicultura I. Ttulo

    03-2948 CDD-639.3

    ndice para catlogo sistemtico: 1. Piscicultura ecolgica 639.3

    Este livro publicado pelo projeto Edio de Textos de Docentes e Ps-Graduados da UNESP - Pr-Reitoria de Ps-Graduao e Pesquisa

    da UNESP (PROPP)/ Fundao Editora da UNESP (FEU)

    Editora afiliada:

  • O homem est acordando para o fato de que o planeta Terra finito e que, alm de preservar os recursos naturais, preciso tambm recuperar muitos deles. Assim, toda atividade humana deve ser direcionada a esse esforo conjunto, cujos princpios constam da Agenda 21 (Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio de Ja-neiro, ECO-92), a fim de assegurar a necessria disponibili-dade dos recursos, em padres de qualidade adequados ao desenvolvimento econmico e ao bem-estar social, aos seus usurios atuais e s geraes futuras.

    A proposta desenvolvida neste livro em hiptese alguma visa restringir o uso da natureza, mas adequar e orientar sua explorao aos limites que a prpria natureza apresenta, de acordo com os conhecimentos tcnico-cientficos disponveis. Visa a maximizar o aproveitamento do potencial natural em benefcio do homem, melhorando sua qualidade de vida. Ob-jetiva conciliar desenvolvimento com preservao.

  • AGRADECIMENTOS

    Este livro resulta das pesquisas que desenvolvo com o lambari-do-rabo-amarelo desde 1985. Ao longo dos estudos, recebi auxlios financeiros importantes, cujos objetivos eram, inicialmente, o co-nhecimento biolgico bsico do lambari na natureza e, numa segunda etapa, o desenvolvimento de tcnicas adequadas de manejo, visando ao cultivo intensivo. Nesse contexto, expresso agradecimentos: ao Centro de Aqicultura da Universidade Estadual Paulista (CAUNESP); ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), processo n 150.019/93-9; Fundao de Amparo Pes-quisa do Estado de So Paulo (Fapesp), processo n 96/11.427-8; Fundao para o Desenvolvimento da UNESP (FUNDUNESP), como entidade interveniente (processo DPE 305/88); ao Instituto de Bio-cincias, Letras e Cincias Exatas (Ibilce-UNESP), Cmpus de So Jos do Rio Preto; Secretaria de Cincia, Tecnologia e Desenvolvimento Econmico do Governo do Estado de So Paulo (SCTDE), processo n 0550/89.

    Expresso tambm meus agradecimentos aos seguintes rgos, pelas informaes prestadas: Companhia de Gerao de Energia Eltrica Tiet; Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb); Companhia Energtica de Minas Gerais (Cemig); Com-panhia Energtica de So Paulo (Cesp); Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de So Paulo (Crea-SP); Departamento de guas e Energia Eltrica (Daee); Departa-mento Estadual de Proteo de Recursos Naturais (DEPRN); Duke

  • Energy International Gerao Paranapanema; Furnas Centrais El-tricas S. A. (Furnas); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (Ibama); Ministrio da Agricultura e do Abastecimento (MAA); Ministrio da Marinha.

    Finalmente, agradeo jornalista Neide Nadruz pela reviso inicial dos originais.

  • SUMRIO

    Introduo 11

    1 Perspectivas para o cultivo do Iambari-do-rabo-amarelo 17

    2 Bases ecolgicas da piscicultura 2 1

    3 Lambaricultivo 35

    4 Bases legais para a piscicultura 71

    5 Onde protocolar as solicitaes 125

    Anexo: legislao sobre aqicultura-piscicultura 197

    Glossrio 293

    ndice alfabtico das localidades 305

    ndice remissivo 321

  • INTRODUO

    A piscicultura uma modalidade de aqicultura, o cultivo de peixes. Cultivar peixes pode significar uma excelente atividade de lazer e tambm uma atividade econmica rentvel. Pode trans-formar-se, ainda, em uma medida eficiente de preservao da natureza.

    E isso mais fcil do que se imagina. Basta que sejam aplica-das tcnicas adequadas de manejo. Algumas dessas tcnicas so comuns ao cultivo de quaisquer espcies; outras, porm, somente devem ser aplicadas ao cultivo de um determinado tipo de peixe.

    Para ser bem-sucedido imprescindvel dispor dos conhecimen-tos biolgico e zootcnico bsicos da espcie de peixe que se quer cultivar. O conhecimento biolgico conseguido primeiramente por meio de observaes do peixe em seu prprio ambiente natu-ral. Posteriormente, o peixe capturado e transferido para o labo-ratrio, e por meio de experimentos so conseguidas as informa-es zootcnicas. de fundamental importncia saber o que come, quanto cresce, quando se reproduz, com que tamanho se repro-duz, quantos descendentes deixa, que espao ocupa no ambiente, como se relaciona com os demais indivduos da mesma espcie e com indivduos de outras espcies, sua rusticidade etc. Sem essas informaes, certamente quaisquer tentativas para cri-lo seriam infrutferas.

    Alm dessas informaes, para implementar a piscicultura necessria a utilizao da gua, um recurso natural essencial vida e que, embora renovvel, finito. A gua necessria a todos os

  • aspectos da vida. Sua utilizao deve ser feita de modo tal a preser-var suas qualidades e seus mltiplos usos. E, neste incio de sculo, o homem demonstra ter alcanado um elevado grau de conscien-tizao ecolgica sobre o aproveitamento dos recursos naturais e est, de forma sria e consistente, envidando esforos para preser-var e recuperar o meio ambiente. A sociedade comea a tomar conscincia de que a natureza requer tratamento diferenciado, que todos os recursos naturais so finitos e que medidas urgentes pre-cisam ser implementadas, para que a atual e as futuras geraes tenham uma adequada qualidade de vida. Mais do que isso, a socie-dade se conscientiza de que preciso conciliar o desenvolvimento com a preservao ambiental, como nica alternativa para se autopreservar.

    O homem est acordando para o fato de que o planeta Terra finito e que, alm de preservar os recursos naturais, preciso tam-bm recuperar muitos deles. Assim, toda atividade humana deve ser direcionada a esse esforo conjunto, cujos princpios constam da Agenda 21 (Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambien-te e Desenvolvimento, Rio de Janeiro, ECO-92), a fim de assegurar a necessria disponibilidade dos recursos, em padres de qualida-de adequados ao desenvolvimento econmico e ao bem-estar social, aos seus usurios atuais e s geraes futuras.

    O manejo integrado dos recursos hdricos est baseado na per-cepo da gua como parte integrante do ecossistema, que alm de recurso natural um bem econmico e social, cujas quantidade e qualidade determinam a natureza de sua utilizao. A gua deve ser protegida, levando-se em conta o funcionamento dos ecossis-temas aquticos e a perenidade do recurso, a fim de satisfazer e conciliar as necessidades das atividades humanas.

    Para o desenvolvimento da piscicultura, outros recursos natu-rais podero eventualmente estar envolvidos, como a vegetao e o solo. Nesse contexto, compete a todo cidado consciente enqua-drar-se nos princpios bsicos da Agenda 21 com a convico de dar a sua parcela de contribuio em prol da coletividade. O resultado a melhoria do ambiente e, por conseqncia, da sua prpria quali-dade de vida. Como bem se refere o princpio primeiro da Carta dos Princpios de Proteo Vida (Ibama, Braslia, 12 de outubro de

  • 1999): "A vida depende do ambiente, e o ambiente depende da gen-te. Vamos todos juntos nos mobilizar para o ambiente preservar".

    O livro que o leitor tem em mos fruto do interesse demonstra-do pela comunidade para com a piscicultura. Com muita freqn-cia, somos solicitados a prestar informaes sobre como criar pei-xes. Mas, alm do manejo da espcie em si, invariavelmente as informaes requeridas fluem para a construo da infra-estrutura adequada: quantos viveiros so necessrios, a construo do viveiro em si, a quantidade e a qualidade da gua. Claramente percebe-mos que a maioria dessas pessoas tem a inteno de criar peixes, mas no sabe como faz-lo. A maioria desconhece a importncia de detalhes tcnicos na construo do viveiro, e at mesmo as mais simples tcnicas de manejo, como a realizao da colheita dos pei-xes (despesca), alm de no saber como conciliar o desenvolvi-mento necessrio sem agredir e provocar danos ao meio ambiente.

    Entre ns, a explicao para o pouco conhecimento sobre pisci-cultura simples e at natural. A piscicultura ainda uma ativida-de nova aqui no Brasil, e um pequeno nmero de pessoas a ela tem se dedicado. As tcnicas de cultivo aqutico no so muito difun-didas. Alm disso, alguns conceitos so distorcidos, e poucos sa-bem distinguir um viveiro de cultivo de um depsito de gua, por exemplo. Embora as pessoas digam que so piscicultoras, nem todas efetivamente dominam ou conhecem as tcnicas de construo de viveiros e de manejo das diferentes espcies de peixes. Embora afirmem ser piscicultoras h anos, o que elas, em sua maioria, desen-volvem uma criao extensiva de peixes, utilizando-se de um corpo de gua sobre o qual no tm nenhum controle.

    A piscicultura envolve, ainda, uma nova concepo: a de uma atividade de controle indireto. No a toda hora que o peixe visto. A quantidade de peixe que se diz ter no passvel de ser comprovada, seno na hora da colheita. Quase no se "v" o peixe crescer. Muitas vezes, nem sequer se v o peixe comer. Mas se acom-panha o bem-estar do peixe e o seu desenvolvimento harmnico, observando-se a qualidade da gua (cor, cheiro, pH), os teores de oxignio e amnia dissolvidos, a aceitao do alimento, a quanti-dade de alimento consumida, o comportamento do cardume etc. Isso muito diferente dos demais cultivos. Na criao de gado, por

  • exemplo, pode-se mostr-lo a qualquer hora, v-lo comer, crescer, enfim, ter contato direto com ele. Alm disso, a aqicultura inova ao aproveitar a terceira dimenso do espao, ou seja, a altura das diferentes profundidades da coluna de gua, resultando em pro-dutividades maiores que outras atividades de cultivo.

    oportuno frisar que o potencial aqcola de gua doce brasi-leiro enorme. Precisa e deve ser convenientemente explorado, para o aumento da oferta de protenas visando ao consumo interno, para a exportao, para a produo de iscas, de peixes ornamen-tais (incluindo exportao) etc. Um potencial que pode gerar mi-lhares de empregos na sua cadeia produtiva. Nunca demais lem-brar que a maior parte do territrio brasileiro est situada na regio tropical, favorecendo o crescimento do peixe o ano inteiro. E es-pcies para quaisquer modalidades de piscicultura no faltam, esti-mando-se que existam cerca de oito mil espcies na ictiofauna neo-tropical, embora conhea-se o manejo de poucas espcies.

    Este livro representa uma contribuio em prol da natureza e do desenvolvimento sustentvel. Tem por objetivo incentivar o cul-tivo de peixes, particularmente do lambari-do-rabo-amarelo, tendo como princpios o uso sustentado de espcies e ecossistemas, a ma-nuteno dos processos ecolgicos essenciais e dos sistemas de susten-tao da vida e a preservao da diversidade gentica. Acima de tudo, a proposta insere-se na prtica de uma piscicultura ecolgica.

    Como o implemento da piscicultura implica a utilizao de pelo menos um recurso natural - a gua -, so abordados os aspec-tos legais vigentes, as bases legais da piscicultura, sendo fornecida toda a orientao necessria, e possvel, para as solicitaes aos rgos competentes.

    No Estado de So Paulo esto envolvidos o Departamento Esta-dual de Proteo de Recursos Naturais (DEPRN), o Departamento de guas e Energia Eltrica (Daee) e o rgo federal Ministrio da Agricultura e Abastecimento (MAA). O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (Ibama) dever ser contatado em alguns casos. Se o empreendimento envolver a insta-lao de indstria pesqueira, dever tambm ser contatada a Com-panhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), rgo estadual de So Paulo.

  • Se o empreendimento envolver a implantao de tanques-re-des em reservatrios de hidreltricas, devero ser consultadas a Marinha do Brasil e a concessionria operadora do reservatrio. So fornecidas instrues detalhadas sobre a documentao neces-sria para cada tipo de solicitao e os respectivos endereos dos rgos competentes para encaminhamento (protocolo).

    O livro contm, ainda, informaes elementares de como fun-ciona a natureza, ou seja, como a natureza est estruturada e como os organismos vivos interagem entre si e com o meio ambiente, o que no conjunto constituem as bases ecolgicas da piscicultura. Alm disso, so apresentadas as tcnicas de manejo para o cultivo do lambari-do-rabo-amarelo, o lambaricultivo, incluindo a cons-truo dos viveiros.

    O lambari-do-rabo-amarelo uma espcie rstica, de peque-no porte, com ciclo de vida rpido e que apresenta elevada produ-tividade em cultivo intensivo. O manejo preconizado aqui permite produzir 100 t/ha por ano e o incio de cultivo em qualquer poca. As tcnicas utilizadas so extremamente simples, ao alcance de qualquer pessoa, e o cultivo se processa da forma mais natural possvel, sem a aplicao de hormnios ou outras drogas, apenas com o emprego de adequadas tcnicas de manejo. Alm disso, com uma produtividade desse porte, considera-se importante o desen-volvimento de novas tecnologias de processamento de pescado, para que o consumidor tenha outras opes e no somente as for-mas triviais de peixe resfriado ou congelado.

    Certamente este livro ser til queles que, de uma forma ou de outra, atuam com a natureza, particularmente tendo como ob-jetivo a explorao de recursos naturais envolvidos com a prtica da aqicultura, ou simplesmente queles que querem melhorar nossa prpria qualidade de vida e preservar a natureza para as futuras geraes.

    A proposta aqui desenvolvida em hiptese alguma visa a res-tringir o uso da natureza, mas, sim, a adequar e orientar sua explo-rao aos limites que ela prpria apresenta, de acordo com os co-nhecimentos tcnico-cientficos disponveis. Visa a maximizar o aproveitamento do potencial natural para proveito do homem, me-lhorando sua qualidade de vida. Objetiva conciliar desenvolvimento

  • com preservao. Para um pas com srios problemas de abasteci-mento alimentar, com carncia protica endmica em muitas re-gies, certamente a produo de protena animal de boa qualidade e a custos reduzidos ser uma importante contribuio. Mas seria totalmente intil uma produo de alimentos compatvel com a demanda custa da degradao ambiental, com reflexos srios e comprometedores qualidade de vida. Nesse caso, no se estar resolvendo um, mas criando outro problema.

  • I PERSPECTIVAS PARA O CULTIVO DO LAMBARI-DO-RABO-AMARELO

    A criao do lambari-do-rabo-amarelo atividade promissora do ponto de vista econmico e ecolgico, contribuindo sobrema-neira com a natureza. A cada dia mais piscicultores se interessam por ela. O lambari tem boa aceitao como alimento, no consumo in natura, principalmente como tira-gosto. Como isca viva, na pesca profissional ou de lazer, possibilita ao usurio uma boa pescaria, pois um peixe que atrai inmeros carnvoros, como o dourado, o tucunar e a corvina. Em menor escala, utilizado como peixe or-namental, na aquariofilia, e como alimento de espcies carnvoras. Ainda, em algumas regies do pas, dele obtm-se leo para con-sumo humano e iluminao. Nenhuma dessas aplicaes, entre-tanto, se encontra prxima da saturao, pois o potencial desse peixinho enorme, sendo subutilizado ao longo do tempo.

    Dois pontos de estrangulamento contribuem para o panorama da subutilizao: a oferta descontnua do produto, que no permi-te ao consumidor criar o hbito de inclu-lo na sua dieta alimentar, e por ser a maior parte do produto ofertado procedente de pesca extrativista, com reflexos indesejveis nos ecossistemas naturais.

    O lambari-do-rabo-amarelo desempenha papel fundamental na cadeia alimentar dos ecossistemas de guas interiores. impor-tante predador de larvas de insetos, um controlador biolgico na-tural e um dos principais itens na dieta dos peixes carnvoros. A diminuio dos estoques pesqueiros desse peixe ocasiona a diminui-o das espcies carnvoras, de maior porte e de maior interesse econmico.

  • As tcnicas de manejo, agora acessveis para o cultivo intensivo, permitem a oferta contnua do produto e a obteno de elevada produtividade, trazendo contribuies importantes para o desen-volvimento da piscicultura.

    Um dos benefcios a preservao ambiental. O cultivo consti-tui-se em ao eficaz de proteo natureza, na medida em que esta deixa de ser predada em decorrncia da pesca extrativista ina-dequada. Alm disso, o emprego de petrechos de pesca, especial-mente nas lagoas marginais, provoca srios danos ao meio ambiente, com reflexos altamente negativos em todo o ecossistema. As lagoas marginais so os criadouros naturais, e depende delas a riqueza dos rios.

    Pelo aspecto econmico, a criao do lambari uma alternativa vivel para os pequenos e mdios agricultores, que em espaos re-duzidos podem realizar o cultivo intensivo. O consumo de lambari na alimentao ainda pequeno, quando comparado com o de outros peixes. Entretanto, trata-se de um excelente alimento, com baixos ndices de gorduras e elevadas concentraes de protenas, alm dos teores elevados de sais minerais. O consumo poder ser consideravelmente ampliado, quer por meio de se criar o hbito no consumidor, quer pelo oferecimento de diferentes formas do pes-cado. necessrio que seja ofertado de outras maneiras, que no as convencionais lambaris resfriado e congelado.

    No contexto moderno, o produto tem de estar acabado ou semi-acabado na prateleira do supermercado. No h mais espao para se adquirir o peixe, lev-lo para casa, descam-lo, eviscer-lo e coz-lo. Nessa linha de conduta, experimentos preliminares rea-lizados pelo Departamento de Engenharia de Alimentos do Ibilce-UNESP mostram que vivel, por exemplo, o lambari em conser-va, semelhante sardinha. Outro aspecto importante que, dessa maneira, so agregados valores ao produto. Como as tcnicas de manejo para a criao intensiva j esto delineadas, sua aplicao na indstria de processamento no depende dos estoques pesquei-ros naturais, o que no acontece com a sardinha.

    O comrcio de iscas vivas tem mercado firme no Estado de So Paulo e em muitas outras reas do pas, onde cada unidade comercializada entre R$ 0,10 e R$ 0,20. A utilizao de iscas vivas

  • crescente na pesca esportiva. Essa prtica tende a aumentar medida que o turismo crescer, principalmente aquele relacionado s reas de lazer situadas junto s grandes barragens do Estado de So Paulo. A indstria do turismo um dos segmentos econmi-cos de maior crescimento na atualidade, e a pesca de tucunars e corvinas, por exemplo, atividade integrante do calendrio anual de eventos de muitas cidades.

    Quanto aplicao do lambari-do-rabo-amarelo na aquariofilia, nas lojas especializadas cada unidade chega a alcanar R$ 2,00 e constitui-se em peixe de fcil manejo.

    Em algumas regies do pas, como no pantanal mato-grossense, extrado leo por meio da fervura de exemplares inteiros. Esse leo utilizado na iluminao, para abastecer lamparinas e candeei-ros, e no consumo humano.

    Finalmente, o lambari-do-rabo-amarelo pode ser um forte alia-do da sade pblica. Por ser um excelente predador de larvas, pode ser utilizado no combate s doenas transmitidas por mosquitos que tm sua fase larvria no meio aqutico. Esse o caso da febre amarela e da dengue. O ressurgimento dessas enfermidades no meio urbano preocupante e em muitas regies est fora do con-trole dos rgos de vigilncia sanitria e epidemiolgica. A sim-ples colocao de alguns exemplares de lambaris nos recipientes onde a gua armazenada evita a proliferao dos mosquitos. Alis, isso j havia sido recomendado nas dcadas de 1930 e 1940, para combater os pernilongos e o Aedes. Em propriedades rurais, onde existem bebedouros para animais, essa prtica tambm deve ser implementada, pois os resultados so promissores.

    A criao do lambari-do-rabo-amarelo uma atividade eco-nmica que alia uma nova conduta ecolgica a lucros certos.

  • 1 BASES ECOLGICAS DA PISCICULTURA

    A natureza est ganhando cada vez mais espao em pesquisas, conversas informais, escolas, encontros cientficos, nos discursos dos polticos, na mdia. Na maioria das vezes, a temtica abordada se refere aos danos provocados natureza pela atuao desorde-nada, inadequada e, at mesmo, inconseqente do homem. Os aci-dentes ecolgicos, a mortandade de organismos, as contaminaes com os mais variados produtos ou catstrofes naturais poderiam ser evitados.

    E tudo se reflete, obviamente, na qualidade de vida do prprio homem. Este, por ser "racional", tem sua parcela de responsabi-lidade para com a natureza, como parte integrante dela, que vai muito alm do seu papel ecolgico. Ento, como o homem moderno pode conseguir os recursos de que necessita para sua satisfao pes-soal, de sua famlia e de sua comunidade e, ao mesmo tempo, pre-servar a natureza? O que pode fazer um cidado "comum" para preservar a natureza? O que pode fazer um dirigente pblico ou um empresrio? O que podem fazer as entidades pblicas e priva-das? O que posso eu fazer, sem receio de engrossar as fileiras dos emotivos simplesmente bem-intencionados?

    Questes como essas so formuladas diariamente. Voc pr-prio deve t-las feito. Mas para que as respostas sejam adequadas nos contextos tcnico-cientfico e social, necessrio que se tenha noes de como e como funciona a natureza. Desse modo, todas as aes, sejam elas particulares, coletivas ou pblicas, deveriam ser implementadas, o que contribuiria para um desenvolvimento

  • sustentvel da natureza, resultando na melhoria da nossa qualidade de vida. Sabendo como funciona a natureza, ser mais fcil delimi-tar cada um dos seus integrantes e observar o seu papel. De posse dessas informaes, qualquer cidado poder propor ou executar aes que visem preservao e recuperao do ambiente.

    inquestionvel que a cada dia precisamos alimentar mais pessoas e que, para isso, necessrio tambm produzir mais alimen-tos, os quais, em larga escala, so obtidos por meio do cultivo de organismos animais e vegetais.

    O cultivo de qualquer animal baseia-se em informaes extra-das em duas instncias. Na primeira, conseguem-se as informaes a partir das observaes do organismo no seu prprio ambiente natural. Que hbitat ocupa? O que come? Qual o tamanho da part-cula de alimento que come? Quanto cresce? Qual o tamanho que atinge? Quanto tempo demora para atingir esse tamanho? Com que tamanho ou idade atinge a maturidade sexual? Quando e quan-to se reproduz? Como se relaciona com os demais organismos da mesma espcie e com organismos de outras espcies? Enfim, o que faz o organismo no ambiente e qual o seu papel ecolgico? Esse conjunto de informaes constitui o conhecimento biolgico.

    Na segunda instncia, o organismo objeto da tentativa de cul-tivo, tendo como ponto de partida o conhecimento biolgico. Os experimentos-piloto de cultivo so planejados com base nesses co-nhecimentos biolgicos, e geralmente so realizados numerosos experimentos. O tempo de durao de cada experimento varia de organismo para organismo estudado. Alguns tm cultivo rpido, outros so demorados, principalmente em razo do tempo do ci-clo de vida. Via de regra, consideram-se os resultados obtidos em um experimento para direcionar ou redirecionar o planejamento e a execuo do experimento seguinte.

    Os experimentos de cultivo so realizados em laboratrio ou em rea experimental. Por meio deles que se obtm os conheci-mentos zootcnicos imprescindveis para a exata avaliao da via-bilidade da criao do organismo em questo. ao longo desses experimentos que vo se desenvolvendo e definindo as tcnicas de manejo adequadas, fundamentais para tornar o cultivo da espcie vivel ou economicamente rentvel.

  • Na natureza, os organismos da mesma espcie e de espcies diferentes fazem parte de um sistema que envolve o meio ambien-te. Esses organismos interagem entre si e com o meio. Essa interao geralmente complexa, e o conjunto de organismos presentes em uma determinada rea resulta da influncia dos prprios organis-mos sobre o meio, das qualidades desse meio e do tempo de exis-tncia de todo o conjunto. Essas informaes biolgicas constituem os princpios ecolgicos da natureza, os quais devem ser aplicados nos cultivos. Para compreender a dimenso desses princpios eco-lgicos necessrio conhecer quais so os integrantes da natureza e como ela funciona, o que propiciar subsdios para a correta compreenso do "como fazer" e do "por que fazer" no cultivo.

    MECANISMOS DA NATUREZA

    A natureza formada por numerosos ecossistemas. Florestas, cerrados, savanas, desertos, oceanos, rios e lagos so exemplos de ecossistemas. Cada ecossistema, por sua vez, est formado por numerosos organismos vivos, vegetais e animais, e por uma parte do ambiente.

    Os vegetais e os animais, em conjunto, formam a biocenose e representam o contedo orgnico da natureza, isto , sua parte viva. A parte ou poro do ambiente onde se encontram esses or-ganismos vivos denominada bitopo. Ele formado por gua, ar, solo, rochas, minerais, e pode ser perfeitamente delimitado. Dentro de cada bitopo geralmente existem vrios hbitats, que so locais mais ou menos restritos onde vive cada uma das espcies integrantes da biocenose. O bitopo corresponde ao contedo inorgnico do ecossistema, uma vez que formado geralmente por materiais no vivos. Eventualmente, os bitopos podem tam-bm ser formados por matria orgnica, como as rvores de uma floresta ou as macrfitas presentes em um lago.

    A biocenose e seu bitopo constituem dois elementos insepa-rveis que reagem um sobre o outro para produzir o ecossistema. Nos ecossistemas em geral, cada espcie usualmente ocupa um hbitat, e h uma relao positiva entre o nmero de hbitats dispo-

  • nveis e a diversidade biolgica do ambiente. Explica-se assim, pre-liminarmente, por que um ecossistema apresenta maior riqueza, maior nmero de espcies, que outro.

    ECOSSISTEMA: BITOPO + BIOCENOSE BIOCENOSE: CONJUNTO DE ORGANISMOS

    VEGETAIS E ANIMAIS BITOPO: ESPAO OCUPADO PELA BIOCENOSE

    BITOPO: GERALMENTE CONTM NUMEROSOS HBITATS

    HBITAT: LOCAIS MAIS OU MENOS RESTRITOS ONDE VIVE CADA UMA DAS ESPCIES

    Entre os constituintes da biocenose ocorrem diversos tipos de interao, que podem ser classificados em dois grandes grupos:

    1o grupo - das interaes homotpicas, relacionadas s interaes que envolvem indivduos da mesma espcie. Ocorrem princi-palmente por meio do efeito de grupo, do efeito de massa e da competio intra-especfica.

    INTERAES HOMOTPICAS: ENTRE INDIVDUOS DA MESMA ESPCIE

    O efeito de grupo, em linhas gerais, manifesta-se quando h a necessidade de um nmero mnimo de indivduos na populao para realizar uma determinada atividade, como procura de ali-mento, proteo contra inimigos ou reproduo. Por exemplo, os lobos podem matar presas de grande porte quando reunidos em alcatia. Geralmente o efeito de grupo tem conseqncias benfi-cas para a populao.

    O efeito de massa manifesta-se quando determinadas ativida-des so influenciadas pela densidade populacional. Ao contrrio do anterior, o efeito de massa geralmente negativo populao. Por exemplo, a superpopulao em um viveiro de piscicultura re-sulta na diminuio das taxas de crescimento dos indivduos.

  • Finalmente, a competio intra-especfica manifesta-se por meio da marcao de territrio, da hierarquia social ou pela disputa na obteno de algum recurso ambiental limitado. a competio por refgio, alimento, local de nidificao, gua, luz etc. o caso, por exemplo, quando se cultivam os peixes tilpia-do-nilo ou tucunar, cujos machos reprodutivamente ativos so territoriais. 2o grupo - das interaes heterotpicas, que envolvem indivduos

    de espcies diferentes. A existncia de duas espcies em um mesmo local (coabitao) pode provocar sobre cada uma de-las uma influncia nula, positiva ou negativa. As interaes heterotpicas ocorrem principalmente por meio de competi-o interespecfica, predao, mutualismo, parasitismo, coo-perao, comensalismo, amensalismo e neutralismo.

    INTERAES HETEROTPICAS: ENTRE INDIVDUOS DE ESPCIES DIFERENTES

    A competio interespecfica manifesta-se quando cada espcie atua desfavoravelmente sobre a outra na procura por algum recur-so do ambiente, como alimento, espao, refgio, local de nidificao etc. Essas espcies, em geral, necessitam dos mesmos itens. Por exemplo, a competio interespecfica ocorre em viveiro quando se cultivam ao mesmo tempo pacu e tambaqui, espcies de peixes que sobrepem muitos itens do ambiente: competem pelo alimento e ocupam a mesma posio na coluna de gua.

    Na predao, a espcie predadora ataca a que sua presa para dela alimentar-se. , por exemplo, o cultivo de lambaris e tucunars no mesmo viveiro, em que os primeiros so predados pelos ltimos.

    No parasitismo, a espcie parasita, geralmente de menor porte, inibe o crescimento ou a reproduo de seu hospedeiro, ou ainda retira nutrientes dele, e depende diretamente do hospedeiro para se alimentar. O parasita pode acarretar ou no a morte do hospe-deiro, mas de qualquer forma atua desfavoravelmente sobre ele. o caso da infestao do microrganismo Henneguya leporinicola em peixes piauus.

  • Na cooperao as espcies formam uma associao que traz vantagens a ambas. A associao no indispensvel, podendo cada espcie viver isoladamente. exemplo de cooperao a nidi-ficao coletiva das garas-reais, que permite a defesa mais eficaz contra predadores.

    No comensalismo forma-se uma associao na qual uma esp-cie beneficia-se da associao sem, no entanto, prejudicar a outra. exemplo a associao entre tubares e rmoras, peixes relativa-mente pequenos que vivem "grudados" aos tubares.

    No amensalismo, uma espcie denominada amensal inibida em seu crescimento ou em sua reproduo, enquanto a outra, ini-bidora, nada sofre.

    Finalmente, no mutualismo, cada espcie s pode sobreviver, crescer e reproduzir-se na presena da outra. As duas espcies vivem em simbiose.

    Biocenose e sucesso ecolgica

    A biocenose resulta da ao do bitopo e da influncia que ela prpria exerce sobre o bitopo. dinmica e modifica-se ao longo do tempo, originando a sucesso ecolgica, a qual se d em vrios estgios: inicia-se pelas sucesses primrias, com a instalao dos primeiros organismos vivos, os organismos pioneiros, em um am-biente nunca antes povoado; posteriormente, aparecem as suces-ses secundrias, formadas por outros tipos de organismos; final-mente, manifesta-se a biocenose clmax, formada pela mxima expresso dos organismos naquele bitopo.

    Quando a biocenose clmax por qualquer fator alterada, a prpria natureza se encarrega de recuper-la. necessrio, evi-dentemente, um tempo, varivel de biocenose para biocenose e de bitopo para bitopo.

    de fundamental importncia reconhecer em qual estgio da sucesso ecolgica se encontra uma determinada biocenose, espe-cialmente nas reas em que a vegetao nativa foi total ou parcial-mente destruda, com a conseqente alterao dos ecossistemas ali presentes. importante tambm o reconhecimento do estgio da

  • sucesso ecolgica quando da solicitao aos rgos competentes para intervir sobre os recursos naturais, como no desassoreamento de represas e audes.

    No somente a biocenose que dinmica e mutvel. O ecos-sistema tambm um conjunto dinmico, com trocas entre cada um de seus componentes. Os constituintes que entram normal-mente no ecossistema so a energia solar, os elementos minerais, os elementos da atmosfera e a gua. Os elementos que saem so o calor, o oxignio, o gs carbnico e diversos outros gases, os com-postos hmicos, as substncias biognicas carregadas pela gua etc.

    ECOSSISTEMA: UM CONJUNTO DINMICO E MUTVEL

    Nos ecossistemas h um fluxo de matria executado por meio da cadeia alimentar ou cadeia trfica.

    Cadeia alimentar a seqncia de seres vivos na qual uns co-mem aqueles que os precedem na cadeia, antes de serem comidos por aqueles que os seguem.

    H dois tipos de cadeia alimentar. O primeiro comea pelos vegetais verdes, que so devorados pelos herbvoros. O segundo comea pelos vegetais ou animais mortos, mais ou menos em de-composio, e que so devorados pelos detritvoros.

    No caso de uma cadeia alimentar que comea pelos vegetais vivos, possvel distinguir as seguintes categorias ou nveis trficos:

    A) PRODUTORES: formados essencialmente por vegetais ver-des, so os organismos capazes de fabricar e acumular energia po-

    SUCESSO ECOLGICA: ESTGIOS DA BIOCENOSE

    CADEIA ALIMENTAR: SEQNCIA DE SERES VIVOS ONDE UNS COMEM AQUELES QUE OS PRECEDEM

    NA CADEIA, ANTES DE SEREM COMIDOS POR AQUELES QUE OS SEGUEM

  • tencial na forma de energia qumica presente nas matrias orgni-cas sintetizadas (protenas, acares, gorduras).

    a chamada produtividade primria. Os vegetais verdes conse-guem, por meio do processo da fotossntese, transformar a energia luminosa (luz do sol) em energia qumica, que armazenada nos compostos orgnicos e que fica disponvel para as demais catego-rias da cadeia alimentar.

    De forma simplificada: os vegetais verdes retiram elementos do bitopo, sintetizam compostos orgnicos com a energia solar recebida e os armazenam, tornando-os disponveis aos animais.

    Todos os demais nveis trficos da cadeia alimentar depen-dem dos produtores. Quanto maior for a produtividade primria no ecossistema, mais rica ser a cadeia alimentar. O alimento pro-duzido no prprio local denominado alimento autctone. De outra forma, com produtividade primria pequena, ou a cadeia alimentar pobre ou fica na dependncia da entrada de alimento vindo de outro ecossistema, o alimento alctone. Em alguns ecossistemas, o alimento alctone parcela considervel e impor-tante para a biocenose.

    Exemplo de produtores na gua doce so as algas, via de regra microscpicas, e as macrfitas (plantas aquticas com razes, cau-les e folhas).

    PRODUTORES: REALIZAM A FOTOSSNTESE

    B) CONSUMIDORES DE PRIMEIRA ORDEM: so os organis-mos animais que comem os vegetais verdes.

    a produtividade secundria. Exemplos na gua doce so os crustceos coppodos, geralmente microscpicos, e os peixes ilifagos (por exemplo, curimbat).

    De modo geral, os consumidores de primeira ordem so de-nominados herbvoros.

    CONSUMIDORES DE PRIMEIRA ORDEM: HERBVOROS

  • C) CONSUMIDORES DE SEGUNDA ORDEM: comem os con-sumidores de primeira ordem. So todos carnvoros.

    a produtividade terciria. Exemplo: as larvas dos peixes que comem coppodos ou os peixes que comem os peixes ilifagos (por exemplo, dourado).

    Os consumidores de segunda ordem podem ser predadores, que capturam as presas matando-as antes de devor-las; parasitas, que respeitam mais ou menos o hospedeiro; e ainda comedores de cadveres.

    Da mesma maneira, seria possvel definir consumidores de terceira, quarta, quinta ordem etc.

    CONSUMIDORES DE SEGUNDA, TERCEIRA, QUARTA ORDEM: CARNVOROS

    D) DECOMPOSITORES: formam o nvel trfico final da ca-deia alimentar. So principalmente microrganismos (bactrias e fun-gos) que atacam os cadveres e os excrementos, decompondo-os pouco a pouco, assegurando assim o retorno progressivo ao mun-do mineral dos elementos contidos na matria orgnica.

    DECOMPOSITORES: RECICLAM MATRIA ORGNICA

    Transferncia de energia na cadeia alimentar

    Todo organismo precisa de energia: para crescer, para realizar suas atividades dirias, para se reproduzir etc. No pertencendo ao primeiro nvel trfico da cadeia alimentar, os produtores, os organismos obtm energia por meio dos alimentos, ou seja, dos demais nveis da cadeia alimentar.

    Ao longo da cadeia alimentar ocorre a transferncia de ener-gia de um nvel trfico para outro, com perda considervel de energia. Na cadeia alimentar, a pirmide das energias tem sempre a forma de um tringulo com o vrtice (ponta) voltado para cima.

  • importante saber a qual nvel trfico pertence o organismo animal que se deseja cultivar. No se quer dizer com isso que no se deva cultivar organismos de nveis troficos elevados, mas sim que se tenha pleno conhecimento de suas exigncias alimentares e, eventualmente, das dificuldades ou custos para aliment-los. A rela-o custo/benefcio necessariamente deve ser avaliada.

    Estabilidade e crescimento das populaes

    A capacidade de um hbitat pode ser utilizada em diferentes graus. Os indivduos de uma espcie podem ser to poucos que a capacidade do hbitat nunca atingida. Existe tambm o processo de saturao, em que uma determinada espcie excede a capacidade de seu hbitat pelo uso excessivo dos recursos, em um determina-do tempo. Tanto num quanto noutro caso, nenhuma populao pode manter-se, a menos que haja disponibilidade de alimento. Nos locais em que o alimento escasso, a densidade das populaes animais mais baixa do que onde o alimento mais abundante.

    Na natureza, os organismos geralmente produzem mais des-cendentes do que seria necessrio para manter a populao cons-tante. Mas por que produzir mais descendentes? Por que gastar energia na produo deles? O que acontece com os descendentes "excedentes"?

    O aumento do nmero de indivduos em uma populao, se no houvesse nenhum impedimento, seria feito segundo uma pro-gresso geomtrica. Nessas condies, a curva de crescimento seria uma exponencial, de maneira que, aps algumas geraes para uma espcie prolfica, seus descendentes cobririam a face da Terra. Mas isso nunca acontece porque sempre intervm algum processo re-gulador.

    A conservao de um organismo depende de dois fatores: 1) o potencial bitico, ou seja, a capacidade que tem o orga-

    nismo de multiplicar-se e ocupar uma determinada rea; 2) a resistncia do meio ou o conjunto de causas que impe-

    dem essa capacidade. Para cada agente fsico h um mnimo de resistncia ao poten-

    cial bitico, que varia para cada espcie em funo de outros agentes.

  • POTENCIAL BITICO: CAPACIDADE DE EXPANSO DOS ORGANISMOS

    RESISTNCIA DO MEIO: OPOSIO EXPANSO DOS ORGANISMOS

    Todos os organismos sofrem resistncia do meio (oposio taxa de crescimento potencial), que resulta na taxa de crescimento real de uma populao. A diferena entre as taxas de crescimen-to potencial e real de uma espcie em particular, ou a perda dos descendentes "excedentes", o efeito da resistncia do meio que a natureza impe sobre as espcies. Essa resistncia do meio mani-festa-se de vrias maneiras, como efeito de massa, competio intra-especfica, competio interespecfica, predao, parasitismo, amensalismo, neutralismo, fatores abiticos etc. Assim, o cresci-mento real de uma espcie representado por uma curva sigmide.

    A perda dos organismos excedentes pode ser didaticamente entendida como o imposto que cada espcie paga natureza para dela participar, e cada biocenose tem sua tabela de tributos.1

    TCNICAS DE MANEJO: A MGICA DO CULTIVO

    Como foi visto, a piscicultura uma modalidade de aqicul-tura. o cultivo de um organismo animal, o peixe. Para a realiza-o do cultivo de peixes, ou de quaisquer outros organismos, deve-se interferir nas relaes que ocorrem entre os componentes do ecossistema, ou seja, deve-se atuar no nvel do bitopo e da bioce-nose, modificando o que acontece na natureza.

    1 Ao leitor que desejar mais informaes sobre como est estruturada a nature-za, recomenda-se consultar livros de ecologia, como Ecologia geral, de Roger Dajoz (So Paulo: Vozes, 1983).

    CRESCIMENTO REAL: POTENCIAL BITICO MENOS A RESISTNCIA DO MEIO

  • O homem geralmente reproduz de maneira artificial um bitopo, com um nmero menor de variveis, e insere nele uma ou mais espcies de seu interesse. Constri ecossistemas limitados, fechados, nos quais tem praticamente o total controle sobre o bitopo e a biocenose resultantes. Essas interferncias ocorrem em diferentes nveis e de diversas formas. No conjunto, correspon-dem s tcnicas de manejo.

    As tcnicas de manejo visam geralmente a obter o maior nme-ro de indivduos, para um determinado espao, e maximizar o cres-cimento desses indivduos, no menor intervalo de tempo possvel.

    Geralmente a aplicao das tcnicas de manejo mais fcil com a instalao de uma infra-estrutura adequada.

    Em piscicultura, inicia-se com a construo do prprio viveiro e do respectivo abastecimento de gua. O viveiro deve ser cons-trudo de forma tal que:

    a) permita a aplicao das diferentes tcnicas de manejo ne-cessrias criao de um peixe em particular;

    b) maximize a utilizao de alguns recursos, os favorveis; c) minimize a atuao de outros, os negativos.

    A circulao adequada da gua, por exemplo, de um lado, maximiza a oxigenao e, de outro, minimiza a ao da matria orgnica e dos produtos nitrogenados resultantes da atividade bio-lgica do cultivo. Outro aspecto importante que nas condies do viveiro assim construdo podem-se cultivar peixes em elevadas densidades de estocagem, isto , muito mais peixes por rea ou volume do que em qualquer ecossistema natural.

    O viveiro, entretanto, do mesmo modo que a natureza, tem capacidade de produo limitada. No incio do cultivo importante saber qual a densidade de estocagem ideal em que determinado pei-xe deve ser criado, naquelas condies, visando a maximizar a

    TCNICAS DE MANEJO: MECANISMOS PARA INTERFERIR NAS RELAES

    BITOPO-BIOCENOSE

  • produtividade, ou seja, obter a mxima quantidade de peixes (qui-lograma) por rea ou volume que o viveiro pode suportar.

    As tcnicas de manejo devem ser aplicadas j na preparao dos viveiros para o cultivo. Por meio das adubaes orgnica e qumica adequadas, consegue-se produzir o mximo de microrga-nismos, o plncton, que o viveiro comporta. Esses microrganis-mos sero consumidos pelas larvas dos peixes ali criados (h pei-xes que continuam comendo plncton mesmo depois da fase larval), de forma que as larvas tero alimento abundante. Isso diminuir a competio entre elas e, conseqentemente, a mortalidade nessa fase, e aumentar seu crescimento.

    Ainda na fase de larva ou aps essa fase, adiciona-se alimento ao sistema: faz-se o arraoamento, para alimentar as ps-larvas ou juvenis.

    O arraoamento feito sempre em propores muito maiores que aqueles que o viveiro poderia produzir se dependesse apenas e exclusivamente dos organismos produtores, de forma tal que o alimento no seja o fator limitante ou impeditivo ao crescimento dos indivduos daquela populao.

    O manejo alimentar feito tambm com as matrizes, uma vez que matrizes bem nutridas produzem maior nmero de gametas, as clulas reprodutoras vulos e espermatozides. Matrizes bem alimentadas produzem maior nmero de descendentes.

    Ainda quanto s matrizes, interfere-se tambm na proporo do nmero de indivduos machos e fmeas, a razo sexual, de modo a maximizar a desova e a obter o maior nmero de vulos fertilizados.

    MATRIZES BEM ALIMENTADAS: MAIOR QUANTIDADE DE VULOS

    RAZO SEXUAL ADEQUADA ENTRE MACHOS E FMEAS: MAXIMIZA A FERTILIZAO DOS VULOS

    CONDIES ABITICAS ADEQUADAS E DISPONIBILIDADE DE PLNCTON: MINIMIZAM

    A MORTALIDADE DE LARVAS E MAXIMIZAM O RENDIMENTO LARVAL

  • As tcnicas de manejo minimizam tambm a ocorrncia da predao e outras interaes negativas em todas as fases do cultivo, como a infestao por parasitas. O resultado ser muito mais peixes ao final, o que fundamental, especialmente para o criador que objetiva montar uma piscigranja comercial.

    Por ltimo, com os peixes atingindo um tamanho X ou um peso Y, realiza-se a colheita ou despesca. Mas qual o momento indicado para a realizao da despesca?

    Os peixes, assim como todos os demais organismos, tm taxas de crescimento variveis nas diferentes fases do ciclo de vida. As taxas de crescimento geralmente so maiores durante as fases ini-ciais da vida, diminuindo progressivamente aps atingir a maturi-dade sexual. Os organismos homeotrmicos, caso dos mamferos, praticamente no crescem mais aps essa fase. Os pecilotrmicos, caso dos peixes, continuam crescendo, porm com taxas muito menores. Alm disso, parte da energia obtida por meio dos alimentos agora direcionada para os processos da reproduo, de forma que a converso alimento consumido em crescimento diminui. O crescimento implica o incremento da quantidade de carne dispo-nvel no peixe. Nesse momento, a despesca deve ser realizada.

    Como resultado final, a piscicultura est apta a produzir mais toneladas de peixes por hectare ao ano, em comparao com qual-quer ecossistema natural. E interessante assinalar que, quanto mais se conhece sobre a biologia bsica do peixe e quanto mais so atendidas as necessidades dos organismos no viveiro, mais se po-der produzi-lo.

    No Brasil, embora as informaes sejam esparsas e pouco confiveis, razovel referir-se a uma produtividade mdia de pei-xes entre 10 e 20 t/ha por ano. Isso pouco se comparado com o cultivo do lambari-do-rabo-amarelo, assunto deste livro. O cultivo do lambari aqui preconizado envolve mecanismos simples, com a adoo de tcnicas de manejo acessveis a quaisquer interessados e, o que importante, com pequeno investimento na infra-estrutura.

  • 3 LAMBARICULTIVO

    A criao do lambari est despertando enorme interesse na piscicultura. O cultivo desses pequenos peixes visa a atender a qua-tro benefcios bsicos:

    um peixe importante como alimento e como fonte de prote-na animal, sendo adequado para o consumo, especialmente para o popular tira-gosto;

    intensamente utilizado como iscas na pesca de peixes maiores de gua doce, como dourados, tabaranas, matrinxs, pacus, tam-baquis, traras, barbados, jas, pintados, surubins, corvinas, tucunars e tilpias;

    utilizado como peixe forrageiro' na criao de peixes carn-voros;

    empregado na aquariofilia.

    Na natureza, o lambari um dos principais peixes forrageiros dos ecossistemas aquticos interiores da Amrica do Sul. Infeliz-mente, a sobrepesca extrativista desse pequeno peixe tem levado diminuio dos estoques pesqueiros naturais dos peixes mais no-bres, aqueles de maior interesse econmico, que se alimentam de lambaris. Como agravante, a captura mais comum dos lambaris ocorre nas lagoas marginais, que so os principais criadouros na-turais dessa espcie e de muitas outras com interesse comercial maior, o que altera drasticamente esses ecossistemas.

    1 Peixe que serve de alimento a outro peixe.

  • O domnio das tcnicas do cultivo intensivo do lambari tem triplo alcance:

    torna possvel o aumento da oferta do produto e a oferta con-tnua durante o ano todo, para qualquer das finalidades referidas;

    permite ganhos econmicos extras ao produtor rural, como uma atividade complementar s atividades agropecurias;

    a natureza a grande beneficiada, porque deixa de ser predada. O cultivo do lambari uma medida eficaz de proteo natureza. As tcnicas aqui desenvolvidas seguem dois princpios:

    da simplificao tecnolgica; da utilizao de materiais/equipamentos disponveis no mercado.

    A simplificao das tcnicas de manejo, em oposio sua sofisticao, permite colocar ao alcance de todos os interessados as bases para uma correta e adequada implantao da piscicultura, independentemente dos conhecimentos e experincias prvias que se possa ter no ramo. Destaca-se que as recomendaes e os resul-tados expostos resultaram de experincias desenvolvidas na escala preconizada. No se referem simplesmente a experimentos-piloto, em viveiros de menores dimenses, com resultados extrapolados.

    A utilizao de materiais/equipamentos disponveis no merca-do outro aspecto importante e fundamental para a fcil e ade-quada implantao do cultivo de peixes. So materiais usados em muitas outras atividades, podendo ser encontrados em numerosas casas de comrcio. Esto disponveis em qualquer parte do pas, mesmo onde a piscicultura ainda no foi implantada. So tubos e telas de PVC, caixas-d'gua de amianto, tubos de ferro galvaniza-do, trilhos de isopor etc. At a rao administrada comercial.

    A metodologia desenvolvida visa a aproveitar ao mximo o potencial bitico do lambari, minimizar a resistncia do meio e pro-duzir mais toneladas de peixes por hectare ao ano. E uma situao completamente diferente daquela encontrada na natureza, mesmo considerando-se que essa espcie ocupa diferentes ambientes.

    O lambari-do-rabo-amarelo uma espcie rstica, de peque-no porte, com ciclo de vida rpido e que apresenta elevada produ-tividade em cultivo intensivo.

  • INFORMAES SOBRE A TAXONOMIA DOS LAMBARIS

    O nome popular lambari aplicado a um conjunto de peque-nos peixes pertencentes principalmente s subfamlias dos chei-rodontneos e tetragonopterneos, da grande famlia dos caracdeos. O lambari tratado neste livro pertence ao gnero Astyanax, sub-famlia Tetragonopterinae, famlia Characidae, ordem Characi-formes.

    O lambari aqui utilizado no cultivo apresenta como caracters-ticas distintivas uma mancha umeral preta, horizontalmente ova-lada, uma mancha preta no pednculo caudal estendida extremi-dade dos raios caudais medianos e duas barras verticais marrons na regio umeral. Suas nadadeiras so amarelas ou amareladas, espe-cialmente a nadadeira caudal, que apresenta tons amarelos fortes.

    Nas regies Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil conheci-do popularmente como tambi ou lambari-do-rabo-amarelo; no Nordeste, como piaba; e nos pases sul-americanos como mojarra ou sardinha-de-gua-doce. A espcie recomendada para cultivo encontrada somente na bacia do alto Paran, ou seja, ocorre nos rios situados acima das cataratas de Sete Quedas, hoje submersas pelo represamento de Itaipu (rios Paran, Paranaba, Grande, Tiet, Paranapanema, Iva, Sucuri etc). identificada como Astyanax altiparanae (Garutti & Britski, 2000) (Figura 1).

    As espcies prximas, isto , dotadas de mesmos caracteres de colorao, mas de ocorrncia em outras bacias hidrogrficas, devem apresentar desempenho de cultivo semelhante.

    Existem cerca de cem espcies nominais referidas para o gnero Astyanax, cuja distribuio geogrfica ampla na regio neotropical e cujo conhecimento taxonmico atual ainda bastante confuso. Estudos recentes indicam acentuado endemismo, quer das espcies j conhecidas, quer das espcies no descritas, ocorrendo cada es-pcie apenas dentro de uma bacia hidrogrfica. Na Amaznia, onde a hidrografia e a histria geolgica so mais complexas, as espcies parecem ter sua distribuio restrita a um ou outro de seus grandes tributrios.

  • FIGURA 1 - O lambari-do-rabo-amarelo (ou tambu), Astyanax altiparanae.

    Para no provocar nenhum dano ao meio ambiente, recomen-da-se enfaticamente:

    nunca realizar peixamentos (soltura de peixes) com lambaris pro-cedentes de outra bacia hidrogrfica;

    ao levar lambaris como iscas de uma bacia hidrogrfica para outra, nunca soltar nessas guas os lambaris que sobrarem;

    nunca soltar lambaris, quando adquiridos em lojas de aqurios, em sistemas naturais abertos (rios, lagoas, represas etc);

    nunca cultivar, sem os cuidados adequados, espcies de peixes que no sejam daquela bacia hidrogrfica.

    A introduo de uma espcie diferente e no existente em um ecossistema natural acarreta a competio pelo nicho ecolgico com as espcies j existentes, criando-se um problema para a nature-za. No se deve correr o risco desnecessrio de introduzir uma nova espcie de peixe na regio, sem antes ter-se uma exata dimenso do impacto ambiental que ela vai provocar. Essas recomendaes so

  • vlidas para quaisquer outras espcies de lambaris ou de outros peixes. H regulamentao do assunto por meio da Portaria Ibama n.l45-n, de 29 de outubro de 1998 (vide Anexo, "Legislao").

    NUNCA TRANSPLANTAR PEIXES DE UMA BACIA HIDROGRFICA PARA OUTRA SEM

    OS CUIDADOS ADEQUADOS

    INFRA-ESTRUTURA NECESSRIA PARA 0 CULTIVO DO LAMBARI

    O sucesso na piscicultura comea pela infra-estrutura monta-da. Improvisaes resultam, quase sempre, em fracassos. Alm da gua em quantidade adequada, para o cultivo do lambari-do-rabo-amarelo necessrio ter pelo menos uma pequena caixa ou aqu-rio e um viveiro.

    A caixa para estocagem das matrizes maduras, ao passo que o viveiro para o cultivo propriamente dito. Ambos precisam de gua corrente e sistema do tipo monge para sada da gua.

    O nmero de caixas e viveiros necessrios depender da quan-tidade de lambaris que o piscicultor quer produzir.

    ESTRUTURA MNIMA NECESSRIA: UM VIVEIRO (150 A 200 M2) + UMA CAIXA

    DE GUA (150 A 250 L)

    A gua

    Para o cultivo adequado do lambari-do-rabo-amarelo, a gua deve ser de boa qualidade e em quantidade suficiente para atender demanda.

  • A gua deve ter, no mnimo, as seguintes caractersticas fsico-qumicas gerais:

    oxignio dissolvido: acima de 3 mg/L; pH: entre 5,5 e 8,5; alcalinidade: acima de 20 mg de CaC03/L; temperatura: entre 15 C e 30 C; condutividade: mdia 40 S/cm; transparncia: entre 20 e 60 cm.

    Nunca utilizar gua clorada, pois ela mata o peixe.

    Caixas-d'gua ou aqurios

    As caixas-d'gua ou aqurios devem ter capacidade para 150 a 250 L apenas, com sistema de gua corrente e sada tipo monge. Deve-se colocar uma cobertura de tela, de malha pequena, para evitar predao e escape dos peixes (os lambaris saltam para fora da caixa). A sada do tipo sistema monge impede a sada dos lambaris.

    FINALIDADE: ESTOCAGEM DAS MATRIZES MADURAS

    DENSIDADE DE ESTOCAGEM: DE 0,5 A 1 PEIXE POR LITRO

    FLUXO DA GUA: CONTNUO, 24 HORAS/DIA, DE 3 A 5 L POR MINUTO

    Viveiros

    Um viveiro para a piscicultura uma massa dinmica de gua, gua em movimento de forma ordenada, desde a superfcie at o fundo. Quanto maior a movimentao da gua, maior ser a ho-mogeneidade das suas variveis fsico-qumicas, ou seja, qualquer poro da gua ter sempre as mesmas caractersticas das demais por-es. Como resultado, a produtividade do viveiro ser maior.

  • VIVEIROS PARA A PISCICULTURA: MASSA DE GUA EM MOVIMENTO

    Os viveiros (Figura 2) devem ser construdos considerando-se tcnicas que permitam o correto manejo das espcies.

    Tamanho, inclinao dos taludes, caixa de coleta e encana-mentos devem ser dimensionados adequadamente, de acordo com a finalidade do viveiro. Para quaisquer que sejam as espcies a serem cultivadas fundamental que o viveiro seja dotado de mon-ge e gua circulante 24 horas por dia.

    Lembre-se que um viveiro para o cultivo de peixe no sim-plesmente um depsito de gua. Lembre-se, tambm, que impor-tante considerar os custos com a manuteno da piscicultura, um componente que onera qualquer empreendimento comercial. Os gastos com manuteno devem ser minimizados ao mximo possvel e devem ser previstos desde a construo dos viveiros. Assim, os viveiros so construdos atendendo primariamente ao manejo que ser executado, considerando na sua manuteno um mnimo de equipamento necessrio e pessoal envolvidos.

    O viveiro corretamente construdo permite que uma nica pessoa possa cuidar de dezenas deles, incluindo a realizao da colheita ou despesca.

    Os viveiros mais adequados para o cultivo do lambari-do-rabo-amarelo so os do tipo escavado, tendo entre 150 e 250 m2 de espelho de gua, profundidade entre 0,8 e 1,5 m e bordas com inclinao entre 45"e 60. O fluxo da gua deve ser de no mnimo 10 L por minuto. O ideal que seja em torno de 15 L por minuto, o que resultar na renovao diria de cerca de 10% do volume total da gua contida no viveiro. A entrada da gua deve situar-se sempre do lado oposto ao da ligao com o monge. O fundo do viveiro deve ser levemente inclinado em direo caixa de coleta, com 1% a 2% de desnvel.

    VIVEIROS PARA CULTIVO DE LAMBARIS: 150 A 200 M2 FLUXO DE GUA NO VIVEIRO (150 M2): MNIMO

    DE 10 L POR MINUTO

  • FIGURA 2 - Esquema de viveiro para a piscicultura (1. entrada de gua; 2. fundo do viveiro; 3. massa de gua; 4. caixa de coleta; 5. talude; 6. monge; 7. sada de gua).

    Os viveiros de fundo de terra batida (Figura 3) propiciam me-lhores resultados que os viveiros revestidos, pois so muito mais produtivos. A troca inica entre a coluna d'gua e a terra mais intensa nesse tipo de viveiro. Sempre que possvel, devem ser uti-lizados. Como cuidado complementar, deve-se colocar grama ao redor dos viveiros.

    FIGURA 3 - Viveiro de terra batida.

  • Caixa de coleta

    A caixa de coleta deve ser construda em alvenaria e ter as seguintes dimenses livres: 1 m de comprimento x 70 cm de largu-ra X 50 cm de altura (Figura 4). A ligao com o monge feita por meio de um tubo em PVC de 150 mm de dimetro, colocado a 30 cm de altura dentro da caixa de coleta. Deve-se lembrar que na hora da despesca ou colheita na caixa de coleta que os lambaris vo ficar armazenados.

    CAIXA DE COLETA: COLETA PEIXES NA DESPESCA OU COLHEITA

    Monge

    O monge uma estrutura acoplada ao viveiro. Deve ter no mnimo dois compartimentos: A e B (Figura 5). O compartimento A est voltado para o viveiro e comunica-se com ele por meio do tubo de PVC de 150 mm de dimetro. Deve ter as seguintes di-menses livres: 60 cm x 90 cm e profundidade em torno de 1,8 m. O compartimento B deve ter as seguintes dimenses livres: 70 cm x 90 cm e profundidade igual do compartimento A.

    Entre os compartimentos A e B h uma parede com trs aber-turas, feitas com tubos galvanizados de 100 mm de dimetro. As aberturas devem situar-se em nvel zero (mesmo nvel do piso do compartimento A), a 60 cm e 1,2 m a partir do piso. A parede tem cerca de 1,7 m de altura; do compartimento B sai o tubo de PVC de 150 mm de dimetro, para o escoamento da gua.

    A profundidade mxima do viveiro ser de aproximadamente 1,50 m, com o monge situado a cerca de 2 m de distncia da caixa de coleta.

    As paredes do monge podem ser feitas de meio-tijolo ou de concreto, com 12 cm de espessura. Nesse caso, os tubos galvaniza-dos devem ter cerca de 15 cm de comprimento. Ao construir o monge, soldar pequenas ncoras em torno dos tubos galvanizados para melhor fixao na parede.

  • FIGURA 4 - Esquema da caixa de coleta.

    FIGURA 5 - Detalhes do monge (A. compartimento em comunicao com o vi-veiro; B. compartimento ligado ao escoamento; 1, 2 e 3: aberturas fechadas com rolhas cnicas de madeira).

  • A parede entre os compartimentos A e B deve ter altura me-nor, cerca de 10 cm, do que a parede externa do monge. Quando o viveiro estiver completamente cheio, a gua escoar sobre essa parede. As aberturas de 100 mm so fechadas com rolhas cnicas de madeira, previamente encharcadas.

    A posio que o monge ocupa pode ser interna (dentro do prprio viveiro) ou externa (fora dele). Nesse caso, a distncia ser varivel: pode estar situado no prprio talude ou at mais distante. O importante considerar os custos de implantao do monge e constru-lo onde ficar mais barato. A relao custo/bene-fcio deve ser considerada.

    MONGE: PERMITE A CIRCULAO CORRETA DA GUA NO VIVEIRO

    O monge pode ser construdo para atender a dois ou mais viveiros, como mostra a Figura 6. Nesse caso, o compartimento C deve estar ligado ao segundo viveiro.

    FIGURA 6 - Monge para dois viveiros.

  • Para reciclagem da gua, o monge deve ter, no compartimento B ligado sada de gua, dois tubos galvanizados de 100 mm de di-metro cada, fixados junto ao piso. Eles esto no lugar do tubo nico de 150 mm de dimetro. Essa substituio para facilitar a confec-o das rolhas cnicas de madeira e o fechamento da abertura.

    A operacionalidade desse sistema muito simples: colocando ou retirando as rolhas nas sadas, a gua ficar ou no retida, para ser enviada ao reservatrio de reciclagem. A tomada de gua pela bomba de recalque deve ser feita nesse compartimento (comparti-mento B).

    A movimentao da gua

    Com o monge acoplado ao viveiro, a movimentao da gua interiormente segue o princpio fsico dos vasos comunicantes. Para sair do viveiro, a gua dever passar pelo tubo de PVC instalado na sua poro mais profunda e que o liga ao monge. Pelo monge sai a gua do fundo do viveiro, fazendo que a gua da superfcie tome o seu lugar.

    Quanto mais rpida for a circulao da gua, maior ser a ho-mogeneidade das caractersticas fsico-qumicas, incluindo o oxi-gnio dissolvido. Lembre-se que o peixe para crescer, ter bom de-sempenho, necessita ter sua disposio dois componentes bsicos: oxignio e alimento. A correta circulao da gua no sistema vivei-ro-monge atende a uma dessas duas exigncias, a oxigenao.

    Pelo menos 10% do volume total do viveiro devem ser reno-vados, ou recirculados, diariamente.

    Quando a gua insuficiente

    Se a disponibilidade da gua de superfcie (gua captada de nascentes, riachos, crregos) no for suficiente, pode-se aprovei-tar a gua de poo artesiano ou semi-artesiano. O abastecimento

    RENOVAO OU RECIRCULAO DIRIA DA GUA: DE PELO MENOS 10% DO VOLUME

    TOTAL DO VIVEIRO

  • por meio de poo tubular profundo adequado e propicia bons resultados. Na piscicultura do CAUNESP-Ibilce, a gua do poo tubular entra no viveiro com cerca de 7 mg/L (miligramas por litro) de oxignio. Alm disso, a gua pode ser reciclada (ver adiante) ou forada a sua movimentao.

    A movimentao forada recomendada quando h pouca gua disponvel, mesmo no caso do aproveitamento da gua de poo tubular, ou para minimizar custos.

    Para realizar a circulao forada da gua, utiliza-se uma peque-na bomba de recalque, cuja tomada deve estar localizada dentro do monge (compartimento A, Figura 5, ou B, Figura 6). Para maximizar essa operao, recomenda-se que a gua retorne ao vivei-ro pelo lado oposto ao do monge e que caia chuveirada, com cerca de 2 m de altura. Como alternativa, pode-se enviar essa gua para um reservatrio colocado a montante do viveiro, em local mais elevado. Por gravidade, a gua retornar ao viveiro, percorrendo tubulao ou canaletas abertas. Quanto mais distante estiver situado o reservatrio, mais a gua ter condies de autodepurar-se e rein-corporar oxignio, especialmente com o uso de canaletas abertas.

    Recomenda-se ao piscicultor ateno especial quando da rea-lizao da circulao forada ou reciclagem da gua. Deve-se ficar atento para o eventual surgimento de doenas, especialmente provocadas pelo desenvolvimento de algum microrganismo pato-gnico, em um dos viveiros participantes da reciclagem.

    Quando estiver reciclando ou forando a circulao da gua em mais de um viveiro, ao mesmo tempo, deve-se tomar cuidado para que o que estiver acontecendo em um viveiro no passe para os demais. Um viveiro no deve comprometer os outros.

    PREPARAO DO VIVEIRO PARA 0 CULTIVO Os viveiros precisam ser preparados para o cultivo (Figura 7),

    com adubao qumica, trs dias antes da colocao das matrizes.

    MOVIMENTAO DA GUA: PODE SER MAXIMIZADA POR MEIO

    DA CIRCULAO FORADA

  • Com o viveiro ainda vazio e seco, deve-se espalhar cerca de 2 kg2 de superfosfato simples ou composto a cada 150 m2. Em seguida, fecham-se as trs aberturas do monge e comea-se a colocar gua. A adubao qumica recomendada porque propicia resposta mais rpida.

    Importante: as rolhas cnicas de madeira devem ser colocadas na gua dois dias antes de serem utilizadas, para que fiquem encharcadas. Nunca colocar rolhas secas, porque estas, ao encharcar dentro do tubo galvanizado, exercero uma presso tal que sua retirada posterior ser dificultada.

    A gua deve ser colocada devagar, de maneira que o viveiro fique completamente cheio ao final do terceiro dia. Como as larvas dos lambaris comeam a se alimentar ativamente entre trs e cinco dias aps a colocao das matrizes, ou de seis a oito dias aps a adu-bao qumica, este o tempo adequado para o desenvolvimento do plncton. Em sua maior parte, ele constitudo pelo fitoplncton (microrganismos vegetais, especialmente algas) e zooplncton (mi-crorganismos animais).

    FIGURA 7 - Viveiro preparado para o cultivo, com exuberante produo de mi-crorganismos.

    2 Quantidade varivel de acordo com a qualidade da gua e do tipo de solo.

  • A adubao qumica deve ser mantida toda vez que a transpa-rncia da gua atingir 30 cm. A transparncia pode ser verificada por meio da imerso de uma placa branca de 20 cm x 20 cm.

    O consumo do plncton estar na dependncia da quantidade de larvas produzidas, e a adubao dever ser feita em menor ou maior espao de tempo. Enquanto houver produo de larvas, os viveiros devem receber adubao qumica.

    Recomenda-se diminuir a vazo da gua nesse perodo, para no haver perda do plncton.

    ADUBAO QUMICA: 2 KG DE SUPERFOSFATO SIMPLES POR 150 M2 DE VIVEIRO

    Produzindo mais plncton

    No momento da preparao inicial do viveiro para o cultivo, para maximizar a produo de plncton recomenda-se o emprego da tcnica da inoculao. Essa tcnica consiste na colocao de dez a vinte baldes de gua (cerca de 100 a 200 L, para cada viveiro de 150 m2), proveniente de um viveiro j em funcionamento e rico em microrganismos. Essa gua deve ser colocada durante o enchi-mento do viveiro, com a coluna d'gua atingindo apenas 0,50 m aproximadamente, fato que acontecer no primeiro dia do enchi-mento. Ao final do terceiro dia haver uma exploso (boom) no desenvolvimento do plncton.

    ALIMENTAO DO LAMBARI

    O lambari-do-rabo-amarelo onvoro, come de tudo. O impor-tante a partcula de alimento ter tamanho compatvel com o de sua boca.

    Os lambaris-do-rabo-amarelo consomem alimento mesmo em temperaturas baixas, apenas a quantidade ser menor. Eventual-mente eles interrompem a alimentao quando h variaes brus-cas de temperatura, porm retornam ao consumo normal poucas

  • horas depois e no mesmo dia. De qualquer forma, o piscicultor deve ficar atento para que no ocorram sobras de alimento.

    A sobra sempre indesejvel, com reflexos diretos sobre a qualidade da gua e, evidentemente, para o bolso do piscicultor (estar ocorrendo desperdcio de rao). Deve-se lembrar que a alimentao correta dos peixes atende a um dos dois componentes bsicos da piscicultura (o outro a quantidade de oxignio).

    Embora o lambari coma de tudo, recomenda-se administrar rao balanceada para obter melhores resultados. O fornecimento da rao deve ser dirio e trs vezes ao dia: de manh (entre 6 e 7 h), no comeo da tarde (entre 13 e 14 h) e ao final da tarde (entre 17 e 18 h).

    Alimentao de larvas e ps-larvas

    As larvas com at dez dias de vida consomem plncton e pe-rifton. A partir do 11 dia, alm desses microrganismos, elas cap-turam rao finamente farelada (em p, e que flutua).

    Os melhores resultados so obtidos ao triturar-se a prpria rao comercial, obtendo-se partculas de granulao muito fina.

    Alimentao de juvenis Com cerca de quatro semanas, os peixes j aceitam rao ex-

    trusada (que flutua na gua), na forma de peletes pequenos, de 4 a 6 mm. Os juvenis devem ser alimentados com rao extrusada, que integralmente consumida e propicia adequado controle por parte do piscicultor, evitando desperdcios. Alm da rao, os ju-venis comem itens do plncton e perifton.

    ALIMENTAO: TRS VEZES AO DIA

    PRIMEIROS DEZ DIAS DE VIDA: CONSOMEM PLNCTON + PERIFTON

    DO 11 AO 30 DIA: CONSOMEM PERIFTON + RAO FARELADA

  • DO 30 DIA EM DIANTE: CONSOMEM RAO EXTRUSADA

    Alimentao de adulto - matrizes

    Os adultos devem ser alimentados com rao extrusada von-tade, tanto em viveiros quanto em caixas-d'gua-aqurios.

    Deve-se tomar cuidado para no administrar alimento em ex-cesso, que ficar na superfcie ou no fundo, depois de umedecido. O alimento no consumido imediatamente vai fermentar, servir de substrato para o desenvolvimento de microrganismos - especial-mente bactrias e fungos - e alterar a qualidade da gua, efeito considerado sempre indesejvel, alm de desperdcio, claro.

    ADULTOS, MATRIZES: COMEM RAO EXTRUSADA

    Quantidade de alimento

    A tcnica mais prtica para se avaliar a quantidade de alimen-to a ser administrada a visual. Deve-se ir oferecendo rao extru-sada: se consumida, continua-se jogando; caso contrrio, pra-se.

    Essa tambm uma das vantagens em se administrar rao extrusada. Com um pouco de experincia, mas s um pouquinho mesmo, o piscicultor ver que esta a melhor maneira de contro-lar a quantidade de alimento.

    Outra tcnica usada para saber a quantidade de alimento que deve ser administrada considera um percentual, entre 2% e 5%, em relao ao peso corporal, e a quantidade de peixes existentes no viveiro.

    Tanto a rao farelada quanto a extrusada devem ser adminis-tradas a lano, espalhada com a mo.

  • QUANTIDADE DE RAO: ESTO COMENDO, CONTINUA-SE FORNECENDO; CASO CONTRRIO,

    SUSPENDE-SE O FORNECIMENTO

    Necessidades nutricionais

    No existem ainda estudos sobre as necessidades nutricionais do lambari-do-rabo-amarelo. Contudo, nos cultivos aqui relata-dos foram utilizados vrios tipos de rao, de diversas marcas, to-das adquiridas no comrcio.

    A rao que apresentou os melhores resultados, e que podem ser considerados muito bons, apresenta peletes de 4 a 6 mm. Os dados nutricionais esto nos Quadros 1 e 2.

    Quadro 1 - Composio da rao

    Componentes

    Umidade (mxima) Protena bruta (mnima) Extrato etreo (mnimo) Matria fibrosa (mxima) Matria mineral (mxima) Clcio (mximo) Fsforo (mnimo)

    %

    13,0 32,0

    4,0 6,0

    12,0 2,5 0,8

    Quadro 2 - Enriquecimento da rao por quilo do produto

    Elemento

    Vitamina A Vitamina D-3 Vitamina E Vitamina K-3 Vitamina B-12

    Quantidade 12.000 UI 2.000 UI 20UI 5 mg 25 mg

    Elemento

    Niacina Colina Ferro Cobre Zinco

    Quantidade 40 mg 350 mg 40 mg 8 mg 50 mg

  • Continuao

    DESEMPENHO - CRESCIMENTO

    O lambar-do-rabo-amarelo apresenta bom crescimento. Se o produtor desejar produzir iscas pequenas, com cerca de

    40 mm de comprimento total, em seis semanas (40 dias) j estaro disponveis (Figura 8). Com cerca de sete semanas de cultivo, os lambaris j alcanam tamanho adequado para serem comercia-lizados como iscas comuns. E com cerca de dez a onze semanas pode-se efetuar a despesca para comercializao (consumo), quan-do a maioria dos exemplares estar pesando entre 10 e 20 g, com o comprimento entre 80 e 100 mm.

    FIGURA 8 - Comprimento total mdio do lambari-do-rabo-amarelo durante onze semanas de cultivo.

    Elemento

    Tiamina Riboflavina Piridoxina Biotina cido flico cido pantotnico

    Quantidade 2 mg 2 mg 2 mg 100 mg 0,5 mg 15 mg

    Elemento

    Mangans Cobalto Iodo Selnio Antioxidante

    Quantidade 70 mg 0,5 mg 2 mg 0,2 mg 120 mg

  • Ciclo de vida

    O ciclo de vida dos lambaris-do-rabo-amarelo rpido. Com cerca de dez a onze semanas de cultivo, alguns lambaris j estaro aptos para a reproduo, especialmente exemplares machos. Com cerca de vinte semanas, a grande maioria j estar apta para a de-sova, incluindo exemplares fmeas.

    Esse potencial biolgico pode ser utilizado aplicando-se ade-quadas tcnicas de manejo. Uma dessas tcnicas a manuteno das matrizes para os novos cultivos (ver item "Perodo reprodutivo") em densidades adequadas de estocagem. Outra que, com dez a onze semanas de idade, a maioria dos lambaris j alcana o ponto de abate, com pesos mdios entre 10 e 20 g.

    O importante o crescimento do lambari, isto , o ganho de peso (maiores quantidades de protenas acumuladas). No interes-sa continuar o cultivo a partir do instante que se tem exemplares desenvolvendo gnadas (rgos reprodutores). Nessa situao, parte do alimento fornecido ser usada pelo peixe para a reprodu-o e no para o crescimento. A taxa mdia de crescimento sofre uma queda brusca, e esse o momento indicado para se realizar a despesca ou colheita.

    Existem diferenas do momento adequado em que a despesca deve ser realizada, em funo de numerosas variveis, como tama-nho do viveiro, densidade de estocagem, fluxo da gua e tempera-tura, teor de oxignio etc. O piscicultor poder fazer o acompa-nhamento semanal, por meio da captura e do exame de pequenas amostras.

    DESPESCA: 10 A 11 SEMANAS DE CULTIVO

    DESPESCAS OU COLHEITAS POR ANO

    Em cada viveiro, podem-se realizar 4,3 despescas ou colheitas por ano.

  • Fazendo as contas:

    I. cada cultivo = 1 1 semanas II. assepsia/limpeza de viveiro = quatro dias III. preparao do viveiro para novo cultivo = trs dias itens II + III = uma semana Logo: item I + II + III => 12 semanas Ano = 52 semanas, 52 12 = 4,3

    SO 4,3 COLHEITAS AO ANO POR VIVEIRO

    PRODUTIVIDADE

    O lambari-do-rabo-amarelo apresenta excelente produtivida-de. Nos cultivos realizados em viveiros da miniestao de piscicul-tura do CAUNESP-Ibilce, os resultados so expressivos. Em vivei-ros de 150 m2, foram colhidos 35 mil lambaris, em mdia, com pesos mdios de 10 g. Como so 4,3 colheitas por ano, isso corresponde a uma produtividade anual de 1.505 kg por 150 m2 ao ano ou 100 t/ha ao ano.

    Fazendo as contas:

    70 a 77 dias (10 a ll semanas) => 35.000 lambaris => peso mdio = 10 g por lambari => total: 350 kg por viveiro

    4,3 colheitas por ano: 350 kg x 4,3 = 1.505 kg por 150 m2 ao ano Produtividade por ha = 1 ha => corresponde a 10.000 m2;

    1 ha = 66,6 viveiros de 150 m2 (10.000 150 = 66,6)

    Ento: 66,6 x 1.505 kg => 100.233 kg ou cerca de 100 t quer dizer, 100 t/ha ao ano

    PRODUTIVIDADE ALCANADA: 100 T/HA AO ANO

  • RECONHECENDO MACHOS E FMEAS -DIMORFISMO SEXUAL SECUNDRIO

    Na criao de peixes de fundamental importncia reconhe-cer machos e fmeas, o que permite montar o cultivo com a razo sexual desejada. Razo sexual a proporo entre machos e fmeas.

    fcil identificar o sexo em lambaris-do-rabo-amarelo quan-do maduros sexualmente: h dimorfismo sexual secundrio. As fmeas apresentam maior porte que os machos, e os machos apre-sentam ganchos nas nadadeiras anal e plvicas (Figura 9).

    FIGURA 9 - Detalhe dos ganchos na nadadeira anal do macho maduro do lambari-do-rabo-amarelo.

    Para reconhecer os machos basta passar os dedos nessas nada-deiras. A aspereza lembra uma lixa. Quanto maior a aspereza, isto , quanto mais os ganchos estiverem salientes, mais desenvolvidas estaro as gnadas e, portanto, mais preparados para a desova.

    O grau de aspereza permite selecionar os machos mais maduros para a montagem do cultivo. Devem-se selecionar sempre os machos cujas nadadeiras esto mais speras.

    Saliente-se que a formao de ganchos carter transitrio e no permanente. Se o macho no estiver, no mnimo, em prepara-o para a desova (em maturao dos testculos), suas nadadeiras sero todas lisas.

    Quanto s fmeas, deve-se observar a largura do abdmen em relao ao dorso e selecionar aquelas cujos abdmens esto to largos (ou mais) quanto o dorso. As nadadeiras anal e plvicas das fmeas so lisas durante todo o ciclo reprodutivo.

  • MACHOS MADUROS: GANCHOS NAS NADADEIRAS ANAL E PLVICAS

    FMEAS MADURAS: ABDMEN VOLUMOSO

    PERODO REPRODUTIVO

    Na natureza, os lambaris-do-rabo-amarelo tm perodos defi-nidos de desova, cuja extenso varia de acordo com o ambiente. Em ambientes pouco volumosos, como riachos de cabeceira, esse perodo maior do que em ambientes maiores, como em rios. Mas, no geral, a reproduo do lambari-do-rabo-amarelo ocorre na poca chuvosa.

    Em cultivo, podem-se conseguir matrizes aptas para a desova o ano inteiro. Basta adotar o seguinte manejo: 1) colocar as matrizes maduras em reservatrios pequenos, como

    aqurios (cerca de 150 a 250 L) com gua corrente e densidade de estocagem da ordem de 0,5 a 1 exemplar por litro;

    2) alimentar adequadamente e vontade; 3) selecionar as matrizes (casais) e coloc-las no viveiro.

    Se for possvel, colocar machos e fmeas em caixas separadas. Dessa forma, pode-se iniciar o cultivo em qualquer ms do ano, incluindo os meses menos quentes. Conseguiram-se desovas com temperaturas da gua em 19 C, em julho, ms mais frio na regio noroeste do Estado de So Paulo.

    TIPO DE DESOVA

    O lambari-do-rabo-amarelo apresenta desova parcelada. Em viveiros de piscicultura a desova imediata colocao das matri-zes. Aps quatro ou cinco dias, observam-se com relativa facilida-de as larvas com cerca de 5 mm de comprimento. Depois, a cada duas ou trs semanas h a postura de um novo lote de ovos.

  • A cada setenta dias de cultivo ocorrem de quatro a cinco posturas.

    LAMBARI-DO-RABO-AMARELO: DESOVA PARCELADA

    O lambari ovulparo, isto , a fmea pe vulos. Cada vulo ser fertilizado por um espermatozide, e a fecundao externa, ocorrendo na gua.

    LAMBARI-DO-RABO-AMARELO: FECUNDAO EXTERNA

    Com a tcnica de manejo de colocar as fmeas e os machos diretamente no viveiro, o resultado final do cultivo apresentar exemplares com tamanhos diferentes, uma vez que os lambaris provenientes das posturas iniciais tiveram mais tempo para crescer do que aqueles das ltimas posturas. Para evitar esse fato, deve-se utilizar a tcnica da gaiola de desova.

    GAIOLA DE DESOVA

    A tcnica de manejo que utiliza a gaiola de desova extrema-mente simples. Consiste na utilizao de uma gaiola flutuante (Fi-gura 10), onde as matrizes so colocadas no incio do cultivo, dei-xadas ali dentro por uma ou duas semanas e posteriormente retiradas. Esse o perodo necessrio para que as matrizes liberem uma ou duas posturas de ovos, de forma que o piscicultor, a partir da retirada da gaiola com matrizes, far apenas o crescimento das ps-larvas de lambaris.

    Na ocasio da despesca ou colheita, os lambaris apresentaro maior uniformidade de tamanho, caracterstica importante e dese-jvel na comercializao do produto.

    A gaiola de desova uma caixa em forma de cubo, com 1 m de aresta, que flutua no viveiro. Seus lados so fechados por uma

  • tela de PVC, com dimetro das malhas de 10 a 12 mm. A face superior, que no fixa, deve ser fechada com tela ou panagem aps a colocao das matrizes.

    Etapas para a construo da gaiola de desova (Figura 11): 1) faz-se uma armao de madeira (um esqueleto de madeira); 2) afixa-se a tela nas faces inferior (uma) e laterais (quatro); 3) coloca-se um trilho de isopor, o flutuador, nas faces laterais

    opostas; 4) coloca-se a gaiola no viveiro.

    A colocao do isopor deve permitir que a gaiola flutue cerca de 15 cm acima da linha da gua, para que as matrizes possam vir superfcie livremente. Esse detalhe vai minimizar o efeito do es-tresse nos peixes e facilitar a alimentao das matrizes.

    COLOCAR AS MATRIZES DENTRO DA GAIOLA DE DESOVA, COBRIR COM TELA E PASSAR

    CORDINHA EM TORNO, PARA EVITAR PREDAO E FUGA DOS PEIXES

    FIGURA 10 - Gaiolas de desova com matrizes em viveiro previamente preparado.

  • FIGURA 11 - Detalhes da gaiola de desova.

    RAZO SEXUAL PARA AS MATRIZES

    Os melhores resultados de produtividade so obtidos quando se colocam matrizes na gaiola de desova na proporo de quatro machos para cada fmea.

    Em viveiros de 150 m2 recomenda-se colocar de duas a trs gaiolas de desova, com dez fmeas e quarenta machos por gaiola. J foram obtidos cerca de 55 mil lambaris aps setenta dias de cultivo. Mas acredita-se que esses valores possam ser maximizados.

    FECUNDIDADES ABSOLUTA E RELATIVA

    O lambari-do-rabo-amarelo espcie prolifera. Sua fecun-didade absoluta varia de 1,6 mil a 72 mil vulos, ao passo que sua

    PROPORO SEXUAL: QUATRO MACHOS PARA CADA FMEA

  • fecundidade relativa varia de 180 vulos por grama a 1.400 vu-los por grama, ou 30 vulos por milmetro a 550 vulos por mil-metro. A fecundidade est relacionada com o tamanho (Figura 12).

    O lambari apresenta aspectos altamente positivos para a pisci-cultura intensiva:

    espcie de pequeno porte; tem ciclo rpido; mantm-se apto para a desova o ano todo, em determinadas

    condies.

    COMPOSIO CORPORAL

    O lambari-do-rabo-amarelo possui na sua musculatura (carne) teores mdios de 25% de protenas, 6% de gorduras e 4% de cin-zas. Essa composio varia se considerado o peixe inteiro ou eviscerado, uma vez que h acmulos de gordura visceral nos pero-dos que precedem ou em que est ocorrendo o desenvolvimento das gnadas. H variao tambm entre sexos. Aparentemente, machos e fmeas utilizam-se de estratgias fisiolgicas diferentes para armazenar reservas energticas.

    FIGURA 12 - Fecundidade mdia do lambari-do-rabo-amarelo.

  • Quadro 3 - Composio centesimal (%) do lambari-do-rabo-ama-relo

    incio do perodo reprodutivo

    FMEAS Eviscerada

    Com vsceras MACHOS Eviscerado

    Com vsceras desovados

    FMEAS Eviscerada

    Com vsceras MACHOS Eviscerado

    Com vsceras

    umidade

    73,5 74,9

    67,0 66,4

    72,2 68,1

    69,7 70,3

    protenas

    26,0 20,1

    23,8 25,2

    25,4 24,5

    25,8 22,1

    cinzas

    3,7 4,6

    4,2 4,4

    3,9 4,5

    4,4 4,5

    gorduras

    3,0 9,0

    8,2 8,3

    3,3 8,5

    9,2 8,2

    CARNE DO LAMBARI-DO-RABO-AMARELO: CONTM APROXIMADAMENTE 25%

    DE PROTENAS

    Alm da carne, as gorduras dos lambaris tambm podem ser aproveitadas. No pantanal mato-grossense, por exemplo, ocorre um lambari dotado das mesmas caractersticas bsicas de colora-o, o Astyanax assuncionensis (espcie prxima do Astyanax altiparanae), que utilizado como fonte de leo para abastecer lamparinas (objetivo: iluminao) e como leo comestvel. Para cada 10 kg de lambaris obtm-se de 800 a 900 g de leo. A melhor poca para a extrao do leo de maro a outubro, ocasio em que os exemplares esto gordos. Na criao intensiva, o momento

  • mais adequado para a retirada da gordura na prpria despesca. Desconhecem-se pesquisas sobre o fracionamento (composio) do leo de lambari-do-rabo-amarelo.

    FORMAO E MANUTENO DO PLANTEL importante para o piscicultor montar seu prprio plantei de

    matrizes. Para isso, ele deve selecionar a cada despesca os maiores exemplares (fmeas e machos), acondicionando-os na caixa de estoca-gem das matrizes.

    Selecionadas as matrizes para a utilizao na caixa de desova, aps a desova deve-se proceder ao seu retorno caixa de estocagem. No decorrer de seis meses a um ano os exemplares estaro pratica-mente com tamanho mximo.

    As fmeas mais adequadas para a reproduo devem ter compri-mento total acima dos 110 mm. Os machos, em torno dos 100 mm.

    Recomenda-se que a cada ano o piscicultor renove pelo menos 10% do seu plantei, para evitar a homozigose, que torna o peixe menos rstico e mais suscetvel a doenas, fatores indesejveis.

    As matrizes maduras devem ser estocadas em caixas-d'gua ou aqurios pequenos, com cerca de 150 a 200 L, na proporo de 0,5 a 1 exemplar por litro, com gua corrente. Se houver possibi-lidade, com arejador tambm. Deve-se lembrar que o sucesso da criao depende das matrizes. importante todo o cuidado com elas. Aliment-las normalmente e vontade.

    Para evitar a contaminao por microrganismos patognicos, recomenda-se dar banho prvio nas matrizes, durante cerca de dez minutos, com uma soluo salina (proporo: uma a duas co-lheres de sopa de sal de cozinha [cloreto de sdio, NaCl] para cada 5 L de gua).

    Quando se tem a perspectiva de estocagem das matrizes por perodos superiores a um ms, recomenda-se colocar um saquinho com vrios furinhos contendo aproximadamente 250 g de sal de

    RENOVAR 10% DAS MATRIZES DO PLANTEL POR ANO

  • cozinha pendurado na borda da caixa ou do aqurio. O sal, progres-sivamente, vai sendo diludo pela gua. O saquinho deve ser subs-titudo quando seu contedo esvaziar.

    DOENAS

    Desde 1991 realizam-se cultivos em viveiros com o lambari-do-rabo-amarelo, e curiosamente no se registrou nenhuma doena. Isso reflete claramente que se trata de um peixe rstico, e que o manejo tem sido adequado. Evidentemente, isso no quer dizer que eles sejam imunes s dezenas de microrganismos patognicos oportunistas que esto espalhados no ambiente. Certamente vo aparecer doenas nos cultivos. Reitera-se que, provavelmente, a aplicao de tcnicas adequadas de manejo impediu a manifesta-o de enfermidades nos viveiros.

    As matrizes estocadas em densidades elevadas podem ser afe-tadas pelo protozorio ciliado Ichthyophthirius multifiliis. O tra-tamento dessa enfermidade, entretanto, simples. Basta lavar as paredes do aqurio ou caixa-d'gua e demais utenslios utilizados com soluo de sal de cozinha (cloreto de sdio) a 10%. Os exem-plares afetados devem ser banhados em soluo de sal de cozinha a 1%, por cerca de trinta minutos. Repetir a operao a cada dois dias, enquanto durar a infestao.

    Esses lambaris podem ser os vetores de microrganismos, como Myxobolus colossomastis (Myxozoa), e transmiti-los a outras esp-cies criadas em sistema de policultivo. Para algumas espcies do gnero Astyanax, como A. fasciatus e A. scabripinnis, a literatura registra infeces ocasionadas por vrias espcies do microrganis-mo Henneguya (Myxozoa).

    ESTOCAGEM DAS MATRIZES: 0,5 A 1 EXEMPLAR POR LITRO DE GUA

    MANEJO CORRETO: MINIMIZA O APARECIMENTO DE DOENAS

  • LIMPEZA E ASSEPSIA DOS VIVEIROS

    A limpeza e a assepsia dos viveiros devem ser realizadas perio-dicamente. O momento mais adequado para isso na hora da despesca. A limpeza consiste na retirada de plantas, ou do excesso delas, de lama e de sujeiras eventualmente existentes no viveiro e na caixa de coleta. feita manualmente.

    A assepsia dos viveiros feita com a aplicao de cal hidratada, espalhada pelas bordas e no fundo dos viveiros, logo aps o com-pleto esvaziamento. Deve ser aplicada na proporo de 2 kg a cada 150 m2 de rea alagada. Em seguida, deve-se deixar cerca de quatro dias de exposio ao sol, perodo em que a radiao ultra-violeta tambm atuar como eficiente germicida. Aps esse pero-do, os procedimentos de adubao qumica e o enchimento dos viveiros podero ser reiniciados para um novo cultivo.

    ASSEPSIA: 2 KG DE CAL HIDRATADA POR 150 M2

    DE VIVEIRO + QUATRO DIAS DE SOL RADIAO ULTRA-VIOLETA:

    EFICIENTE GERMICIDA

    MACRFITAS NOS VIVEIROS

    Em viveiros de terra, nas bordas ou no fundo, sempre se desen-volvem plantas dotadas de ramos, folhas e flores, as chamadas ma-crfitas. Em torno das ramagens e folhas dessas plantas desenvol-ve-se exuberante perifton (microrganismos aderidos ao redor das folhas, caules e ramos submersos), especialmente quando do in-cio de um novo cultivo, oportunidade em que a gua adubada.

    Nas fases iniciais de desenvolvimento, as ps-larvas dos lam-baris (e de todos os demais peixes) tm o hbito de pastar perifton. A oferta e o consumo de perifton, alm do alimento administrado, maximizam o crescimento larval.

    As plantas que comumente se desenvolvem nos viveiros de ter-ra so: Egeria densa (Hydrochantaceae), Echinochloa sp.,

  • Hymenachne sp. e Paspalum sp. (Poaceae), Cyperus ferax e C. iria (Cyperaceae) e Polygonum hidropiperoides e P. persicarial (Polygonaceae).

    . densa desenvolve-se de forma mais abundante, formando imensos tapetes verdes no fundo do viveiro, especialmente nos meses de temperat