projeto de graduação _parte 03

122
crônicas do 507 UM SISTEMA MUITO MAIS REDONDO! _tá tudo errado! Era o que dizia Karlão [Rupf], citando Théllius [Zamprogno], dois amigos formados aqui pela UFES. E nós, estudantes de arquitetura e urbanismo, temos o estigma de criticar muita coisa e propor quase nada. Esse capítulo do P.G. me dá a oportunidade de começar a colocar no papel algumas alternativas que ve- nho processando, remoendo e, talvez até, ruminando, desde que comecei a escrever este Trabalho. Começo, portanto, com o problema da mobilidade da Região Metropolitana. E, já que, o tempo todo, to- das as alternativas de modelos mais inteligentes de cidades têm preconizado a utilização de um sistema de transporte coletivo, começo pelo Sistema Transcol, que atende à RMGV.

Upload: cleuber-da-silva-junior

Post on 16-Mar-2016

232 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

terceira parte do projeto de graduação em arq.urb da ufes: "2001/02 - 2009/02 [na escala do toque]"

TRANSCRIPT

Page 1: projeto de graduação _parte 03

crônicas do 507

UM SISTEMA MUITO MAIS REDONDO!

_tá tudo errado!Era o que dizia Karlão [Rupf], citando Théllius [Zamprogno], dois amigos formados aqui pela UFES. E nós, estudantes de arquitetura e urbanismo, temos o estigma de criticar muita coisa e propor quase nada.Esse capítulo do P.G. me dá a oportunidade de começar a colocar no papel algumas alternativas que ve-nho processando, remoendo e, talvez até, ruminando, desde que comecei a escrever este Trabalho.Começo, portanto, com o problema da mobilidade da Região Metropolitana. E, já que, o tempo todo, to-das as alternativas de modelos mais inteligentes de cidades têm preconizado a utilização de um sistema de transporte coletivo, começo pelo Sistema Transcol, que atende à RMGV.

Page 2: projeto de graduação _parte 03

crônicas do 507

_navegar é precisoNós temos no Parque da Prainha um sítio histórico interessantíssimo, com uma bela vista para a Baía, com os barcos passando ao longe, alguns museus [o Homero Massena e a Casa da Memória de Vila Ve-lha], igrejas das mais antigas do Estado [a do Rosário e o Convento], bares e até alguns restaurantes mais sofisticados. E não é para menos: foi naquele pedaço de chão que os portugueses pisaram pela primeira vez ao chegarem ao Espírito Santo.Vila Velha é a terceira cidade mais antiga do país, e o primeiro núcleo colonizado do Estado; a Igreja do Rosário, localizada na Prainha, é a Igreja mais antiga do Espírito Santo, a capela tendo sido construída em 1535, e ampliada em 1573 [tombada pelo IPHAN: Livro Histórico Insc. 268, Proc. 0422-T-50, em 20/03/1950]. Ainda assim, o Parque da Prainha parece esquecido.Seus moradores continuam por lá, as atividades dominicais passando de pai para filho, atestando que continua sendo um dos bairros mais aprazíveis de Vila Velha. Os fiéis do Convento da Penha continuam aparecendo nos fins de semana, tomam um sorvete na Praça da Igreja, depois de descerem do Morro do Convento, antes de pegar o ônibus e voltar para casa. Mas ainda é muito pouco pelo que deveria re-presentar aquele local.Nas idas e vindas dos Encontros de Arquitetura, pude observar, sobretudo nas cidades do nordeste, o valor que é dado a lugares históricos como este. Alguns deles não são nem tão bacanas quanto é a nossa Prainha, mas são tão valorizados que impressiona. Muitos nem possuem uma importância turística na-cional, mas são um ponto de referência regional bastante importante, atraindo muitos turistas de seus estados e dos estados mais próximos.

Page 3: projeto de graduação _parte 03

crônicas do 507

Começo a pensar se o Parque da Prainha não acabou se tornando um desses lugares que a gente aca-ba rotulando como “lugar nenhum”. Quero dizer, não obstante sua grande importância histórica, acaba sendo um lugar ao qual não se tem muito por que ir. É um desses lugares que não ligam nada a lugar algum; não é um local de passagem; não é necessário passar por lá, a não ser que você more lá ou seja devoto. Será que seria o caso de criar motivos que façam com que as pessoas passem por lá? Foi nesse ponto que desisti de voltar a dormir, e fiquei pensando em possibilidades.Não é preciso estar muito atento para perceber que a região que envolve a Praça Duque de Caxias [Pra-cinha de Vila Velha] concentra grande parte do movimento da cidade. É onde se concentram atividades comerciais [além da Glória], agências bancárias, instalações do governo municipal, o Teatro Municipal, colégios referenciais, como o Vasco Coutinho e o Marista, e é servida por vias que dão acesso ao Con-vento, às praias, à Vitória ou ao Bairro da Glória. Em contrapartida, percebemos que o Parque da Prainha não possui essa característica. Ainda assim, é no Parque da Prainha que está localizada, por exemplo, a Casa da Memória. Talvez surtisse maior efeito se estivesse localizada na Avenida Champagnat, onde as pessoas estariam passando entre uma compra e outra, ou voltando da praia, e poderiam parar para visitar. O Caminho Niemeyer não é um local onde se tenha que ir para visitá-lo, como o MAC; está lo-calizado no centro de Niterói, por onde se passa normalmente. O MASP, da mesma forma, está lá, na Avenida Paulista. É óbvio que não existe regra; há muitos museus que viraram pontos de visitação e que as pessoas se deslocam a fim de conhecê-los, e, ainda assim, são bastante visitados. Mas penso que se você está indo à praia, tropeça e dá de cara com um museu, uma casa da cultura ou algo do gênero, pode ficar sabendo que a menos de um quilômetro dali está localizado um sítio histórico que deu início à colonização do Espírito Santo; o terceiro mais antigo do país. Talvez ficasse mais tentado a ir visitá-lo.

Page 4: projeto de graduação _parte 03

crônicas do 507

Mas essa medida, provavelmente, faria muito mais sucesso com os turistas do que com a população nativa. Afinal de contas, quem mora em Vila Velha já deve ter ido à Prainha, conhecido o lugar e sua história. Portanto, uma outra possibilidade, que não exclui a primeira, é transformar aquele local em um ponto importante de ligação com a capital. Sabemos que a Terceira Ponte, principal meio de ligação entre Vila Velha e Vitória, fica sobrecarregada nos horários de pico. Por que não criar outra forma de co-municação entre as duas cidades? A Barca Rio-Niterói possui preço acessível e vive lotada, desafogando o tráfego da Ponte Rio-Niterói. Nossa Baía é navegável desde sempre, e não precisa asfaltar ou tapar buracos quando chove. O modal seria ainda mais perfeito se pudesse embarcar bicicletas, como em Ni-terói, e se fosse integrado com o sistema metropolitano de ônibus.A passagem poderia ser paga com o cartão que usamos atualmente, e seria cobrada na roleta do ôni-bus que te deixaria na Prainha, e te daria “x” minutos de gratuidade, tanto na Barca quanto no ônibus que fosse pegar do outro lado da Baía, e vice-versa. Isso já acontece em Colatina, já faz algum tempo, e entre empresas rivais de transporte rodoviário [a Viação Joana D’Arc e a Viação São Roque – há um cartão magnético que pode ser usado nas roletas das duas empresas, e você só paga uma vez se fizer a integração no prazo de uma hora]. E, quanto à integração, penso que as pessoas que se utilizam do transporte público na RMGV já estão acostumadas. Como Romanelli frisou em uma aula de Planejamen-to Habitacional, conforto, pontualidade e preço são fatores que podem estimular as pessoas a usarem o transporte público em detrimento do individual. Não vejo porque esses três elementos não estarem presentes no sistema.Os centros das duas cidades já são muito interessantes; o de Vitória com uma paisagem mais urbana, mas de grande relevo histórico, e o de Vila Velha com uma visual toda da Baía; e ambos possuem bons lugares para se tomar uma cerveja e boas vias de ligação com outras partes da cidade. Só falta ligá-los.

Page 5: projeto de graduação _parte 03

crônicas do 507

_meTranSkol: um sistema muito mais redondo!Quando o arquiteto Jaime Lerner esteve aqui em Vitória pela última vez, fez uma proposta para resolver o problema de circulação da RMGV que tenho guardado com muito carinho:“A solução é metronizar o ônibus!”Concordo quando dizem que o Sistema Transcol ainda não foi levado às suas últimas conseqüências; a integração é parcial, há sobreposição de linhas, sobretudo entre as linhas do Transcol e a dos ônibus das cidades de Vitória e Vila Velha [com visível prejuízo para a primeira cidade], superlotação, insegurança, e por aí vai.De forma que, quando visitei a cidade de São Paulo pela primeira vez, fiquei tentando perceber o que o metrô tinha que o Transcol não tem. São várias coisas: pontualidade, segurança, conforto [não dentro do metrô, que é igual ao ônibus, mas nas estações de transbordo], rapidez e melhor localização. Entre os pontos comuns, há a questão da integração e o preço da tarifa, que é relativamente barato em ambos os casos em relação à distância percorrida.Algumas observações preliminares:Durante os dias de semana, os ônibus da linha 507 costumam sair lotados do Terminal do Ibes entre seis e meia e sete e meia da manhã [o horário padrão de início de trabalho é às oito]. Vai deixando algumas pessoas pelo caminho, mas, principalmente, embarcando outras. Isto até chegar ao Terminal de Vila Velha, onde estamos todos espremidos, e o ônibus possui sua capacidade testada: não fiz os cálculos, mas parece que há, nestas horas, um total de pessoas igual à lotação máxima permitida [aquela que fica colada num papelzinho na frente do ônibus, do lado do retrovisor] mais 20%. Permanecemos assim até o início da Reta da Penha, onde a lotação cai para um pouco menos da permitida.

Page 6: projeto de graduação _parte 03

crônicas do 507

Imediatamente após passar da Emescam, já dá para dizer que estamos folgados dentro do ônibus, em-bora muitos ainda estejam de pé. Depois de passar pela UFES já estamos praticamente todos devida-mente assentados e, ao chegar ao Terminal de Laranjeiras, estamos só eu, o cobrador (ou a cobradora, uma senhora não muito simpática com seus curtos cabelos amarelos), o motorista e uma meia dúzia de pessoas dentro do “minhocão” [ou “sanfona”, como são chamados os ônibus articulados]. Algumas coisas em que tenho pensado:_revisão das linhas do sistema, criando 4 linhas troncais que sairiam de Guarapari e iriam até Fundão, saindo um ônibus a cada 5 minutos. Uma linha litorânea, uma passando pela Reta da Penha, outra pelo Maciço Central, outra pelo contorno;_integração total: o bilhete da passagem do Transcol servindo para os “Verdinhos” de Vitória e os “San-remos” de Vila Velha, além de permitirem uma integração com o aquaviário, a ser reativado;_bilhetagem eletrônica: todo mundo entrando pela porta da frente, passando pela catraca, elimina a necessidade de os terminais serem esses trambolhos, esses acidentes geográficos. Em caso extremo, penso até na supressão de muitos dos terminais atuais, com as pessoas podendo pegar qualquer ônibus em qualquer lugar, sem ter que pagar a mais por isso, desde que essa integração ocorra no tempo de 1 hora, mais ou menos;_proposição de alguns locais abertos, em que os pontos de ônibus serão confortáveis como numa esta-ção de metrô, mas os mobiliários fazendo parte do espaço público, integrado a ele;_criação de uma Estação Prainha, integrando o rodoviário com o aquaviário, e uma ou duas em Vitória, uma no Centro e outra na Enseada do Suá.

Page 7: projeto de graduação _parte 03

crônicas do 507

O mais importante, e o primeiro passo a ser dado deve ser o da criação de uma faixa exclusiva para o transporte público coletivo. Desde que criadas vias exclusivas, proibindo-se estacionar nas artérias prin-cipais e realizando a integração total entre as empresas municipais e o Sistema, o Transcol poderá estar mais bem preparado para o futuro.Em 2008, o projeto de Graduação da aluna Thais Perini Zanotelli foi premiado no Concurso de Monogra-fias CBTU – Companhia Brasileira de Transportes Urbanos. Uma exigência da Companhia era a de que os trabalhos premiados deveriam ser apresentados em suas respectivas faculdades, envolvendo, além do aluno e seu orientador, um representante da CBTU e membros do Poder Público local interessados no assunto – no caso de Thais, o convidado foi o Secretário de Mobilidade Urbana da Prefeitura Municipal de Vitória, Taurio Lucilo Tessarolo. Aconteceu, assim, o Seminário “A cidade nos trilhos”. O trabalho da Thais consistia na integração dos Meios de Transporte Urbanos de Vitória a partir da inserção de um mo-notrilho na rede existente. O então Secretário afirmou que o governo não tinha coragem de implantar faixas exclusivas para ônibus aqui na RMGV. Ponderou, inclusive, se alguém teria, dando a entender que tal proposta não sairia do papel por conta de interesses outros, escusos.No ano de 2009, durante a realização do Seminário Pensar o Brasil: construir o futuro da nação – seção Espírito Santo, [fulana de tal] representava o Governo na área de Transportes, usando um discurso dife-rente. Segundo ela, um dos primeiros passos da Administração para os anos vindouros era o da implan-tação do corredor exclusivo. Segundo a reportagem de A Tribuna, publicada sábado, 07 de novembro de 2009, parece que há possibilidades de que aconteça.

Page 8: projeto de graduação _parte 03

crônicas do 507

O Secretário Estadual de Transportes e Obras Públicas, Neivaldo Bragato, participou do 1º Encontro Mundial de Corredores Exclusivos em Bogotá, na Colômbia. A criação de duas faixas para ultrapassagem em determinados trechos é outro aspecto avaliado. Segundo o secretário, até 2010 podem ter início as primeiras ações práticas do projeto para o Estado. A primeira, inclusive, já foi tomada: o aumento da passagem. O Secretário especula sobre a segunda: mudar as portas de embarque e desembarque de lado. “Até o ano que vem já podemos [...] dar sinal para os ônibus começarem a ter portas do lado esquerdo”. Não entendi a necessidade de tal modificação. Penso que podemos implantar corredores ex-clusivos na pista da direita, mais próximo dos pontos de ônibus, que já existem, e sem necessidade de mudar as portas de lado. Já a separação entre a faixa exclusiva e as demais faixas será feita utilizando “tachões de sinalização”, o popular “olho de gato”, pelo que entendi, muito mais coerente do que separar com meio-fio ou “gelo baiano”. Permite, inclusive, que, em casos de emergência, os ônibus possam usar as outras faixas, comuns.

Page 9: projeto de graduação _parte 03

crônicas do 507

Dentro do 507, me questionava tanto sobre as questões de escala macro, como a “metronização” pro-posta por Lerner, quanto em questões menores, como a mudança das cores e dos letreiros dos ônibus. Uma dessas questões menores tem relação com a implantação dos pontos, independendo de seu forma-to. É freqüente a gente ter que se contorcer a fim de conseguir enxergar que ônibus está vindo, pois os pontos são posicionados paralelamente às vias. Nos passeios maiores, pelo menos, poderia haver uma rotação de poucos graus, o que já ajudaria.

Ponto posicionado paralelamente à rua. Ponto posicionado a 5° em relação à rua.

Contorcionismo no ponto de ônibus: Qual ônibus estará vin-do? _desenho; jr. 2010.

Page 10: projeto de graduação _parte 03

crônicas do 507

A criação dos últimos quatro terminais [Jacaraípe, Itaparica, São Torquato e Jardim América] também foi polêmica. Na verdade, o Terminal de Itaparica representa ganho de tempo para muitas pessoas que moram nas regiões de Ponta da Fruta e Barra do Jucu. Antes dele, se você morasse na região do Gran-de Ibes, como é meu caso, a não ser que você fosse pela Viação Sanremo, você precisava pegar um ônibus até o Terminal de Vila Velha e, de lá, pegar outra para voltar na direção da Barra. Além disso, o Terminal é bastante amplo, e internamente bastante agradável. O de Jacaraípe, pelo que conversei com um amigo que mora lá, fez o mesmo pelos moradores da Serra. Pontos positivos. Mas os terminais de Jardim América e São Torquato, além de serem próximos um do outro, não foram tão bem vistos assim pelos usuários.Em primeiro lugar, algumas linhas bastante funcionais, como a do 502, foram extintas; mal-absorvidas por outras, criadas em seus lugares, mas que, agora, ou se precisa passar por locais onde antes não era necessário, ou não se chega, com um ônibus apenas, onde se chegava com as linhas antigas.Apesar disso, defendo a criação do Terminal de Jardim América. Além de amplo, está localizado em fren-te à Estação Ferroviária Pedro Nolasco, da CVRD, em Cariacica. Acredito que agora consigo chegar à fer-roviária a tempo de embarcar no trem que passa por Colatina, o que era impossível saindo diretamente do Terminal do Ibes [o primeiro horário do 525 – o único que fazia o trajeto diretamente – era meia hora antes do horário de partida do trem, e, por duas vezes, já perdi a locomotiva].Mas o Terminal de São Torquato, até agora, me parece indefensável. Espremido, localizado em um nó viário que liga Vila Velha a Vitória pela Cinco Pontes, o Terminal parece ter desagradado aos usuários do Sistema Transcol, aos motoristas e cobradores e até mesmo aos motoristas de carros particulares e de caminhões de empresas. E o dinheiro público continua indo ralo abaixo...

Page 11: projeto de graduação _parte 03

crônicas do 507

Toda essa agitação dentro de coletivos me motivou a escrever estas crônicas. E, como costuma aconte-cer, quando a gente se debruça por muito tempo sobre um determinado assunto, acaba sendo tentado a meter o bedelho, mesmo quando não é chamado.Como não sou diferente, apresento algumas possibilidades, alternativas.

Não acredito que tenha aqui “a” solução para o problema. Por dois motivos, principalmente.O primeiro, porque não discuti muito sobre o assunto com outras pessoas, principalmente com pessoas diretamente envolvidas no setor – donos de empresas, secretários de transporte, etc.O segundo, porque muitos dos problemas aqui esboçados não encontrariam soluções em simples proje-tos de arquitetura e urbanismo. A maioria, aliás, ultrapassa essa esfera e demandaria um projeto mul-tidisciplinar coletivo.Mas penso que alguém que olhasse com mais cuidado poderia aproveitar uma ou duas linhas disso tudo.

Entretanto, um motivo muitíssimo importante de estar me debatendo sobre o assunto advém mesmo da temática central do P.G.Uma cidade só pode ser considerada economicamente viável [e, portanto, sustentável, num sentido mais amplo do termo; social e economicamente] quando consegue satisfazer suas demandas de fluxo [de mercadorias, de pessoas, de informação].Foi também, e, talvez, principalmente, por isso que senti a necessidade de escrever este capítulo.

Page 12: projeto de graduação _parte 03

E AGORA, SEU ZÉ?

Page 13: projeto de graduação _parte 03

Este capítulo foi dividido em três escalas diferentes:

1_ metropolitanaComo as “Crônicas” falavam sobre apreensões da cidade a partir da janela do 507, achei melhor começar por essa escala.Por isso, aquele capítulo termina e este começa com idéias que poderiam contribuir para descongestio-nar um pouco o tráfego metropolitano.

2_ local ou comunitáriaAqui, serão abordadas em duas frentes:2.1_ rural [retomo o projeto desenvolvido no Grupo de Pesquisa no Conexão_Vix sobre os assentamentos indígenas de Aracruz];2.2_ urbana [pretendo retomar idéias dos trabalhos do célula_Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanis-mo da UFES, tanto no em Alice Coutinho quanto em São Benedito].

3_ individualEm que pretendo abordar a escala do indivíduo através da minha observação da realidade dos meninos[as] de rua de Vitória e Vila Velha.

e agora, Seu Zé?

Page 14: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_nº. 1: a escala metropolitana _mobilidadeQuase todos os autores lidos durante a preparação deste Projeto afirmaram que uma possível “Sustenta-bilidade Urbana” passa, necessariamente, pelos seguintes pontos: preservação dos recursos naturais do município, sobretudo os hídricos [o que implica em preservação da flora municipal e no devido tratamen-to dos resíduos urbanos]; acesso, por parte da população, à educação [imprescindível; não a educação controladora, mas a libertária]; a uma moradia digna e a espaços públicos decentes, além do acesso, garantido por Constituição, a serviços públicos de qualidade; projetos [tanto os de edifícios públicos quanto privados] coerentes com seu local de implantação, sobretudo com relação aos materiais utiliza-dos e economia de energia. Isso tudo resultaria numa valorização do ser humano, sobretudo dos que não podem pagar por serviços privados de saúde, educação, lazer, segurança, transporte e moradia.Além dos pontos citados, muitos têm destacado a priorização do transporte público coletivo em detri-mento do transporte individual, o que, teoricamente, reduziria o número de veículos particulares em circulação. Não que as pessoas venham a deixar de ter carros; elas apenas o utilizariam de maneira diferente. No lugar de ser o único meio de transporte de muitas famílias – para se locomoverem até seus locais de trabalho, estudo, lazer e compras – o carro seria utilizado somente em ocasiões específi-cas, como, por exemplo, numa saída noturna, ou na visita à casa de alguém ou ao shopping, durante o fim de semana. As atividades cotidianas – estudar, trabalhar, voltar para casa – poderiam ser feitas via transporte coletivo, desde que este oferecesse conforto, segurança, pontualidade e preço razoáveis. Um amigo de Vila Velha, há algum tempo, confirmou que, nos tempos de aperto, preferia ir para o trabalho de ônibus a ir de carro, já que ficava mais barato.A primeira vez que estive em São Paulo, em 2003, Jaime Lerner ainda não havia se pronunciado em re-lação a Vitória, mas fiquei impressionado com a eficiência do sistema metroviário: a cada cinco minutos, aproximadamente, parava e saía um veículo da estação. Ao voltar para Vitória, já naquela época, me perguntava por que os terminais do Transcol não podiam funcionar assim.

Page 15: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

Diagrama do sistema metroviário da cidade de São Paulo.

Fonte: www.amadeus.net/home/subwaymaps/en/maps_gifs/sao-paulo-map; Janeiro de 2010.

Page 16: projeto de graduação _parte 03

E as respostas foram vindo com o tempo: fa-lha na integração – as linhas dos ônibus dos municípios de Vitória e Vila Velha não são in-tegradas ao Sistema; sobreposição de linhas; linhas troncais que, em nome do lucro da Em-presa, fazem as vezes de linhas alimentado-ras, passando por ruas de bairro que, muitas vezes, nem comportam o fluxo de veículos de grande porte; Terminais gigantescos que acu-mulam as funções de terminais de algumas linhas, estações de transbordo para outras, garagem de ônibus, administração; e, por fim, a inexistência de uma via exclusiva para o transporte coletivo.Se tomarmos como exemplo a linha 507, uma das mais importantes do Sistema atual, vere-mos que o ônibus passa desnecessariamente por dentro de bairros que não o comportam, como o Aribiri e Cristóvão Colombo. Da mes-ma forma, as linhas que vão para o Terminal de Campo Grande saem da Rodovia, entram na Expedito Garcia, e voltam para a Rodovia para entrar no Terminal, pois é inconcebível passar por ali sem passar pela Expedito Gar-cia.

Page 17: projeto de graduação _parte 03

Podemos estudar outros exemplos, além dos do metrô de São Paulo. Os passeios no Centro da Cidade de Niterói, por exemplo, são bem largos. Os edifícios os cobrem a partir do segundo pavimento [o pé-direito do primeiro pavimento é duplo], permitindo que se caminhe confortavelmente por essas galerias. Em alguns desses passeios, é sob essas marquises que as pessoas esperam os ônibus. Era mais ou me-nos essa qualidade que procurava para os pontos de ônibus daqui. Os pontos de Florianópolis, Curitiba e de Bogotá parecem atingir este objetivo. Encontrei na internet imagens da proposta de um ponto de ônibus que também agradou. Em outro site, o projeto das estações do VLT [Veículo Leve sobre Trilhos], apresentado pela equipe de engenheiros e arquitetos da empresa Oficina Consultores durante o Segundo Seminário de Mobilidade Urbana de Vitória, também consegue bom resultado.

e agora, Seu Zé?

Exemplos de Pontos de Ônibus e Estações.Imagem 01: ponto de ônibus em Vitória; modelo virtual em 3d; in: http://i724.photobucket.com/al-bums/ww242/brunovix2/corre-dor2705.jpg;Imagem 02: estação de VLT em Vitória; modelo virtual em 3d; in: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=558698.Acesso em fevereiro de 2010.

_mobilidade metropolitana

T. Ibes

Page 18: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

Exemplos de Pontos eEstações.Imagem 01: Estação-tubo de Curitiba; in: www.mrm.mendes.com.br/2006-119-curitiba-09; jan/2010;Imagem 02: Estação em Bogotá; in: www.jean-marco.files.wordpress.com/2009/07/transmile-nio; jan/2010;Imagem 03: Ponto de ônibus urbano em Floria-nópolis; foto de Reinaldo Rocha, 2007;Imagem 04: Ponto de ônibus próximo à praia, Florianópolis; foto de Rei-naldo Rocha, 2007;Imagens 05 e 06: Ponto de ônibus na Universida-de Federal de Santa Ca-tarina, em Florianópolis; modelo virtual em 3d.

_mobilidade metropolitana

Page 19: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

Exemplos de Pontos de Ônibus e Estações.Imagens 01 e 02: Pon-to de ônibus de Vitória; modelo virtual em 3d, jr. 2009;Imagem 03 e 04: Pon-to de ônibus de Serra; modelo virtual em 3d, jr. 2009;Imagens 05 e 06: Estu-do para ponto de ônibus; modelo virtual em 3d, jr. 2009.

_mobilidade metropolitana _mobilidade metropolitana

Page 20: projeto de graduação _parte 03

Independentemente do formato que teriam estes pontos e estações de integração, algumas coisas são necessárias para o bom funcionamento do Sistema. Pelo menos nos quatro eixos criados, é imprescindí-vel que sejam criadas faixas exclusivas para o transporte público. Estas devem ser separadas das demais faixas por sinalização do tipo “olho de gato”. Os estacionamentos devem ser proibidos ao longo de toda a linha. Havendo necessidade de acesso aos bairros pelos quais os ônibus passarem, deverão ser criadas pistas de caráter local para este fim, como prevê Carlos Nelson F. dos Santos em A cidade como um jogo de cartas, p. 132 [1988].

e agora, Seu Zé?_mobilidade metropolitana

Page 21: projeto de graduação _parte 03

Analisando o diagrama do metrô de São Paulo, percebe-mos que há alguns eixos principais, que cortam a cidade longitudinalmente, e que são, por sua vez, entrecortados por eixos transversais. Nas conexões, estações de inte-gração. E também, de quando em quando, estações de transbordo ao longo das linhas.É esse o esquema que pretendo reproduzir na Grande Vi-tória. A grande diferença é o modal: ônibus articulados no lugar dos trens de metrô.A proposta prevê a criação de quatro eixos troncais atra-vés da criação das quatro linhas principais, quais sejam: a Linha Litorânea [em azul]; a Linha Vermelha [em verme-lho]; a Linha Verde [em cor de mesmo nome] e a Linha Amarela [também em amarelo].

e agora, Seu Zé?_mobilidade metropolitana _mobilidade metropolitana

Page 22: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

Estudo dos eixos longitudinais propostos para o transporte público rodoviário na RMGV.Base: IPES - Instituto de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento Jones dos S. Neves; 2002.

Legenda:

Terminal Litorâneo [de onde partem

os ônibus das Linhas Azul, Vermelha e

Verde a cada 5 minutos];

Terminal Continental [de onde par-

tem os ônibus da Linha Amarela a cada 5

minutos];

Garagem da Linha Vermelha [de onde

saem os primeiros ônibus da Linha];

Garagem das Linhas Amarela e Verde

[de onde saem os primeiros ônibus das

Linhas];

Garagem da Linha Azul [de onde

saem os primeiros ônibus da Linha].

OBS: Depois de terem colocado um de-

terminado número de ônibus em circula-

ção a partir de suas garagens, as Linhas

deverão funcionar como Circulares, pa-

rando somente de acordo com a necessi-

dade mecânica dos veículos. As garagens

deverão abrigar os carros extras de suas

respectivas Linhas.

1

2

3

4

5

5

1

2

3

4

_mobilidade metropolitana

Page 23: projeto de graduação _parte 03

MetranSkol: Estudo de Eixos prin-cipais e Linhas Alimentadoras estru-turantes; RMGV; Janeiro de 2010.

Terminal Litorâneo Sul

Terminal Continental

Terminal Litorâneo Norte

Laranjeiras

Enseada

Prainha

Serra SedeG

G

T

T

T

A partir do momento em que a integração ocorrer totalmente, poder-se-á sair de um ônibus e entrar em outro sem ter que se pagar outra passagem; e isto po-derá ocorrer em qualquer ponto do Sistema. Propomos ainda uma quarta ligação entre os municí-pios de Vila Velha e Vitória atra-vés da criação de estações aqua-viárias dos dois lados do canal. A princípio, uma Estação Prainha e uma Estação Enseada, mas com possibilidades de proliferação de estações aquaviárias, incluindo ligações Cariacica-Vitória.

_mobilidade metropolitana

Page 24: projeto de graduação _parte 03

Seguindo a base que tinha em mãos [dwg do IPES, ano 2002], a estruturação das Linhas propostas me pareceu razoavelmente simples de ser feita. Alguns [poucos] trechos desconexos [sobretudo em Vila Ve-lha, em que a malha viária dos bairros teima em não se encontrar com a dos bairros vizinhos] e alguns trechos em que seria necessário o alargamento da pista. Como afirmei anteriormente, será essencial para o bom funcionamento do sistema que sejam implantadas vias exclusivas para o transporte coletivo, além da implantação de estações de integração [a cada 2 km, mais ou menos] e a proibição de esta-cionamento nos eixos principais. Entretanto, a Linha Verde apresentou um problema maior. Seguindo a malha existente, a Linha Verde iria sobrepor-se à Vermelha justamente num dos trechos mais críticos: Reta da Penha e Fernando Ferrari. A linha verde passa pela Segunda Ponte e segue, via Grande Santo Antônio e Grande São Pedro, pela Rodovia Serafim Derenzi. Já próximo ao mangue, poderia utilizar um trecho aéreo, fazendo a ligação com a parte continental de Vitória já próximo à Rodovia do Contorno. Obviamente, os impactos ambientais devem ser cuidadosamente estudados. Parece-me que a sobrepo-sição dos ônibus das linhas verde e vermelha nesse trecho é a alternativa mais simples, mais econômica e, conseqüentemente, a mais viável. Pelo menos num curto prazo.

e agora, Seu Zé?_mobilidade metropolitana

Page 25: projeto de graduação _parte 03

Mariana Saleme, em seu Projeto de Graduação [Transporte Público: análise crítica da RMGV; Vi-tória, UFES, 2007] estudou o sistema de transporte coletivo de Curitiba e o comparou com o da Região Metropolitana da Grande Vitória. Sem entrar no mérito de trazer as conclusões da autora, retomo uma das estações propostas: o Módulo B, implantado na Rodovia Carlos Lindemberg. As imagens 02 e 03 desta página foram escaneadas diretamente do Projeto da Mari, páginas 57 e 77.A idéia é de que ocorra uma substituição do local onde as pessoas embarcam/desembarcam naquela região: no lugar de os ônibus terem de entrar no Terminal do Ibes, eles apenas passariam pela Avenida e, na estação proposta, efetuariam o embarque e desembarque dos passageiros.Penso que o formato que tinha o Terminal de Dom Bosco era ideal, mas o Terminal ficara obsoleto com o crescimento da cidade, sobretudo depois da desativação do aquaviário. Independentemente de sua obsolescência, é mais ou menos aquela estrutura [em termos de fluxo] que penso que deva ser replicada sempre que possível.É mais ou menos o que a Mariana propõe, e que retomo aqui. Estações de embarque/desembarque in-tegrados, localizadas ao longo dos quatro eixos propostos, sempre que as mesmas forem interceptadas por uma outra via localmente importante.

e agora, Seu Zé?_mobilidade metropolitana _mobilidade metropolitana

Page 26: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

No caso do Terminal do Ibes, por exemplo, a estrutura que hoje o abriga seria mantida, mas abrigando somente as funções administrativas, de garagem de ônibus, e instalações de des-canso para motoristas. A praça de alimentação, juntamente com os equipamentos de sanitário, telefonia e outros serviços compatíveis, como venda de passes, pode ser abrigado na “praça” que se cria ao ligar o antigo Terminal à Avenida Carlos Lindemberg pelo terreno baldio demarca-do. Finalmente, dos dois lados da Avenida, esta-ções ligadas por rampas e passarelas, como as do Módulo B de Mariana.Mas é preciso estudar outros modais, já que a idéia de mexer no sistema do transporte público coletivo da Grande Vitória constantemente tan-gencia dois outras duas possibilidades, pelo me-nos: o trem urbano e a reativação do transporte aquaviário.

_mobilidade metropolitana

Page 27: projeto de graduação _parte 03

No caso do trem, a idéia corrente é a de implantação de um veículo leve sobre trilhos [VLT], mas já se discutiu a possibilidade de se aproveitar os trechos urbanos da estrada de ferro existente. Em termos práticos, isso equivale a embarcar passageiros em Viana, passando por Cariacica e chegando a Vila Ve-lha, na estação desativada de Santa Leopoldina.No caso do aquaviário, não se gastaria muito criando o “leito carroçável”, pois este já existe: o canal. Nem se gastaria muito com a manutenção do mesmo, pois a natureza o faz gratuitamente. Há um cus-to com a aquisição das barcas, com o combustível e com a manutenção e reparo dos veículos. Mas que parece ser viável, já que, da última vez que fui a Niterói, em 2008, peguei somente R$ 1,50 [um real e cinqüenta centavos] pela travessia, que durou pouco menos do que uma hora.Entretanto, enquanto escrevo essas linhas, a CETURB se aproveita, pela segunda vez consecutiva, da desmobilização natural dos estudantes durante o período de férias para anunciar, no dia 01 de janeiro, que a tarifa do Transcol será aumentada em 15 centavos.Manifestações à parte, sempre acreditei no potencial do Parque da Prainha. Pelo potencial histórico, principalmente [o primeiro lugar em que os portugueses pisaram, quando chegaram ao Espírito Santo, o que faz de Vila Velha a terceira cidade “mais antiga” do país], mas também pelo potencial paisagístico e visual do lugar. De frente para o canal, com uma relação muito bacana com o Convento da Penha, com a Terceira Ponte e com a Enseada [apesar dos prédios...].Uma ligação pelo mar parece óbvia entre a Prainha e a Enseada. E isso num primeiro momento, porque posteriormente poderiam ser criadas estações no Shopping Vitória e no Centro. Ligações que, se inte-gradas ao sistema Transcol, aliviariam a Terceira Ponte. Mas o Governo insiste em publicar notícias de que estuda a retomada do aquaviáro “turístico”, que daria a volta na Ilha. Nada contra, mas como já afirmei antes aqui, citando Mestre Marçal, “Pode encher sua piscina, mas não esvazia a minha bacia”.

e agora, Seu Zé?_mobilidade metropolitana _mobilidade metropolitana

Page 28: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_mobilidade metropolitana

Nesse estudo, aproveito para sugerir algumas coisas, e entre elas está essa espécie de reorganização do sistema de transporte da Região Metropolitana. Isso passa, pelo menos na minha cabeça, pela investi-gação da viabilidade de retomada do aquaviário, mas de forma integrada ao Sistema, sem necessidade de pagar outra passagem para quem acaba de sair do ônibus. A primeira travessia, uma “Terceira Ponte Aquática”, ligaria a Prainha à Enseada. Mas como?Em relação à Enseada, parece menos complicado, pois há um terreno sub-utilizado próximo à Praça do Papa que poderia abrigar uma estação de embarque do transporte aquaviário e poderia, sem muitos problemas, levar os passageiros com algum conforto [sem ter que ficar expostos ao sol ou à chuva] a um ponto de ônibus que se localizaria na Avenida.Já na Prainha precisa-se considerar outras situações. Visitei o sítio algumas vezes no ano passado já pensando nessa possibilidade e anotei algumas questões: como já disse, a relação com o Canal é muito interessante para que seja interrompida com um “trambolho” que atrapalhe a paisagem; já funciona no local, há muitos anos, uma estrutura voltada para a pesca, que, a meu ver, precisa ser mantida; há também uma estrutura bastante utilizada pelos freqüentadores que funciona como um bar, mas penso que esta possa ser incorporada pela estação de embarque; visitando a Prainha durante um dia de sema-na, vi que seus espaços de recreação ativa [duas quadras e um campo de futebol] são utilizados para a realização de atividades de Educação Física de algumas escolas da região; o equipamento para skate também era bastante utilizado, no período noturno, mas já foi demolido por esta administração, junta-mente com os arcos e algumas árvores que marcavam o Parque; por último, mas não menos importante, o local frequentemente é utilizado como sítio para a realização de atividades culturais e eventos públicos – aliás, além da orla, o único da cidade utilizado para este fim. Elaborei, então, um estudo preliminar que tentasse levar em conta essas questões. Apresento o resultado.

Page 29: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_mobilidade metropolitana _mobilidade metropolitana

Page 30: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_mobilidade metropolitana

Os materiais propostos [uma tortura na hora de tomar decisões, sobretudo ao questionar o que seria correto ou não do ponto de vista ecológico] ainda não estão totalmente definidos neste estudo prelimi-nar, mas serão, com certeza, os materiais acessíveis localmente, ponto predominante dentro da filosofia permacultural. A marquise/palco deve oferecer conforto aos usuários do transporte coletivo, mas não deve tornar-se uma obstrução na paisagem do parque. Pensada para vencer grandes vãos, poderá ser utilizada por ciclistas, skatistas e esportistas afins, como acontece no Parque do Ibirapuera. Alguns ban-cos presos à estrutura de apoio da marquise são bem-vindos. Uma rampa leva usuários até a cobertura, onde poderão ser montadas estruturas de palanque para shows, eventos e peças ao ar livre promovi-dos pela cidade. As quadras e o campo devem ser mantidos, e servirão, eventualmente, para abrigar a platéia desses espetáculos. A arquibancada, posicionada ao lado das quadras e do campo, poderão servir como palco para peças e eventos menores. A Estação de embarque, além de cumprir a função de integrar o modal ônibus ao aquaviário, pode abrigar bares e restaurantes no segundo piso. O edifício [o único do complexo] deve ser bem permeável ao vento e à luz natural.

Page 31: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_mobilidade metropolitana _mobilidade metropolitana

Legenda:1. Ponto de ônibus: linhas alimentadoras do Sistema Transcol;2. Marquise / Palco;3. Equipamentos es-portivos / Platéia;4. Arquibancada / Palco;5. Embarque / Deck;6. Estação de embar-que para as barcas;7. Estrutura de pesca existente;8. Estacionamento existente;

Sentido único.

1

2

3

8

7

6

5

4

Page 32: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_mobilidade metropolitana

Imagens 01, 02 e 03: Proposta para a Estação Parque da Prainha _Vistas aéreas; modelo virtual em 3d;Imagem 04: Proposta para a Estação Parque da Prainha _Vista de um dos acessos de pedestres [da pracinha da Igreja do Rosário]; modelo virtual em 3d; jr. 2010.

Page 33: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_mobilidade metropolitana _mobilidade metropolitana

Imagens 01 e 02: Propos-ta para a Estação Parque da Prainha _Vistas sob a mar-quise; modelo virtual em 3d; jr. 2010;Imagens 03 e 04: Propos-ta para a Estação Parque da Prainha _Vistas de fora do parque [da esquina do Corpo de Bombeiros e da esquina oposta, próxima do Museu Homero Massena; modelo virtual em 3d; jr. 2010;Imagens 05 e 06: Propos-ta para a Estação Parque da Prainha _Vistas internas ao Edifício da Estação de Em-barque [primeiro e segun-do pisos, respectivamente]; modelo virtual em 3d; jr. 2010.

Page 34: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

Imagens 01, 02 e 03: Proposta para a Estação Parque da Prainha _Vistas da marquise e da Estação de Em-barque, ao fundo; modelo virtual em 3d; jr. 2010;Imagem 04: Proposta para a Estação Parque da Prainha _Vista da marquise/palco a partir da arquibancada/palco; modelo virtual em 3d; jr. 2010.

Page 35: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

Imagem 01: Proposta para a Estação Parque da Prainha _Parque visto a partir do deck de embarque; modelo virtual em 3d; jr. 2010;Imagens 02, 03 e 04: Proposta para a Estação Parque da Prainha _Vistas a partir de um dos acessos de pe-destres [da pracinha da Igreja do Rosário]; modelo virtual em 3d; jr. 2010.

Page 36: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

_nº. 2: a escala da comunidade _os índios de AracruzNo início do ano de 2005 tivemos contato com as comunidades indígenas de Aracruz e com a comuni-dade quilombola de Divino Espírito Santo, em São Mateus. Organizávamos, na época, o 9º Seminário Nacional sobre Escritórios Modelo em Arquitetura e Urbanismo. Meses depois as aldeias indígenas se organizaram na luta pela retomada de suas terras. Começava, então, juntamente com o professor Milton Esteves, e todos os membros do Laboratório de Pesquisa Conexão_Vix um projeto de pesquisa, do qual apresento algumas questões.

Sobreposição de Ima-gens: Mapa Rodoviário do Espírito Santo [ar-quivo pdf, 2005] elabo-rado pelo Instituto de Pesquisas Rodoviárias [2001] sobre imagem de satélite [obtida atra-vés do programa Goo-gle Earth, 2007] com as reservas indígenas demarcadas.

Aracruz

Page 37: projeto de graduação _parte 03

_aldeia indígena

e agora, Seu Zé?

No dia 26 de junho de 2005 um grupo de alunos de arquitetura e urbanismo da UFES “apareceu” na aldeia recém-recuperada de Olho d’Água, depois de saber que os índios – os mesmos que haviam nos ajudado a organizar o SeNEMAU Vitória – precisavam de voluntários na construção das casas da Aldeia. A Casa de Reza já estava pronta; foi a primeira construção a ser erguida, bem no meio da clareira, se-manas antes. As outras seis casas continuavam sendo construídas no dia que chegamos.Outra visita foi organizada no mês de agosto; desta vez organizada pelo Conexão_Vix. A abrangência desta visita foi maior, na tentativa de entender a logística que se encontrava por trás de toda a região polarizada pelo município de Aracruz. Visitamos o bairro residencial de Coqueiral de Aracruz, Barra do Riacho, a fábrica da Aracruz Celulose e as áreas urbanas de Aracruz, Ibiraçu e Fundão.Em campo, o que pudemos perceber foi a imensidão que os plantios de eucalipto ocupam na área, e quão depende a economia local é desta monocultura. Isso afeta diretamente a economia familiar rural, na qual as famílias indígenas estão inclusas. Incapacitados ou, no mínimo, desencorajados a sobreviver da agricultura de subsistência, muitos pequenos agricultores venderam suas terras para a Empresa Ara-cruz Celulose S/A, mudando-se para as cidades médias da região. Alguns vieram parar, inclusive, na ca-pital. Sem estudo, tornaram-se mão-de-obra barata, posto que desqualificada, ou desempregados. Esse período foi sobremaneira triste para as famílias indígenas, já que o preconceito em relação à sua cultura potencializou a situação de desespero. As décadas de 1970 e 1980 foram marcadas pelo abandono de suas terras e pelo alto índice de suicídio, principalmente entre os jovens.

Page 38: projeto de graduação _parte 03

_aldeia indígena

e agora, Seu Zé?

Page 39: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_aldeia indígena

Imagens de satélite; Google Earth, 2007, modificada pelo autor. Em des-taque, o clarão aberto pelos índios na floresta de eucaliptos.

_aldeia indígena

Page 40: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_aldeia indígena

5

1

4

03

2

Page 41: projeto de graduação _parte 03

_aldeia indígena

e agora, Seu Zé?_aldeia indígena

Zona 5

Zona 4

Zona 3

Zona 2

Zona 1

Zona 0CASA

Horta

Pomar e Criação[animais pequenos]

Cultivo e Criação[consumo interno]

Cultivo e Criação[venda/troca]

Reserva a sermantida e preservada

Diagrama de zonas de uma proprie-dade permacultural [segundo Ro-semary Morrow em Permacultura passo a passo, páginas 56 a 61; IPEC, Goiás, 1993].

Page 42: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_aldeia indígena

A etapa virtual da pesquisa [realizada nas bibliotecas e na internet] confirmou algumas suspeitas. De acordo com a Associação dos Geógrafos Brasileiros – seção ES, uma porção bastante grande da área que hoje é ocupada pelo plantio da Aracruz era ocupada, até antes da presença da Empresa, pela Mata Atlân-tica, que cobria grande parte do litoral capixaba. Outra parte foi comprada de pequenos agricultores, incluindo indígenas. Entretanto, a operação seria ilegal, já que as terras indígenas são, por Constituição, inalienáveis [intransferíveis]. [Para informações detalhadas acerca do assunto, consultar o sub-projeto de pesquisa: Conexão VIX: estudo dos impactos das plataformas industriais, infraestruturais e logísticas sobre os assentamentos humanos na faixa litorânea Norte do Espírito Santo; UFES, 2005/2007].A FUNAI algumas vezes mostrou-se interessada em resolver a situação a favor dos índios; outras vezes, em protelar a agonia dos mesmos, deixando as coisas como estão. De maneira que os índios poderiam apenas contar com eles mesmos. Foi o que fizeram. E o que apresento aqui é o desdobramento virtual desse processo. De acordo com um dos relatórios da FUNAI, os índios, que ocupavam inicialmente 40 mil hectares de terra, teriam direito a pouco mais de 18 mil ha. Deveria, então, ser demarcada uma poligonal que desse conta desse valor. O projeto de pesquisa citado também propunha uma poligonal própria, abrangendo e integrando todas as aldeias da região. Uma delas, a de Olho d’Água, foi pensada como um primeiro ponto de retomada e reocupação, já que tinha se tornado o símbolo da luta indígena nos anos em questão.

Page 43: projeto de graduação _parte 03

_aldeia indígena

e agora, Seu Zé?_aldeia indígena

A necessidade mundial de harmonizar as aglomerações humanas com a natureza casava diretamente com o modo de vida indígena. Portanto, o protótipo apresentado tende para a permacultura. O desenho da aldeia proposta teve como base o respeito a esta lógica bem simples: as zonas são um método utili-zado para “posicionar os diversos elementos e empreendimentos no sítio, para alcançar o máximo bene-fício com o mínimo trabalho: reciclagem de recursos, alta produtividade e baixa manutenção. Podem ser imaginadas como uma série de círculos concêntricos, começando do local da moradia e expandindo-se. Por exemplo: as galinhas põem ovos todos os dias e necessitam de água sempre limpa, portanto devem estar perto de casa. Já os pessegueiros produzem uma safra inteira em poucos dias e requer irrigação menos freqüente, por isso pode ser posicionado mais afastadamente”. [Rosemary Morrow, p. 56].No mais, quase tudo o que foi proposto respeita o modo como os próprios índios já organizam seu es-paço, apenas com algumas interferências. O material empregado na construção das casas, por exemplo, assim como a tecnologia construtiva, são os mesmos: paredes de pau-a-pique, estruturadas com madei-ra e preenchidas com barro. Entertanto, no curso de extensão organizado pelo professor Nelson Pôrto, “Técnicas Construtivas Históricas” [com participação do professor Raymundo, restaurador do Rio de Ja-neiro], aprendemos que uma construção de terra que se pretenda durável necessita de alguns cuidados: as paredes não devem estar em contato direto com o solo, nem devem receber chuva direta. Por isso, a proposta inclui a criação de uma vala corrida como fundação, na qual serão instaladas as estruturas de madeira, impedindo o contato direto com o solo. Uma outra prerrogativa vem da necessidade da boa execução dessas paredes, obedecendo o processo de cura do barro, aplicando pelo menos uma camada de barrela, para corrigir trincas, argamassa regularizadora e o reboco, ambos também feitos a partir do barro. Raymundo afirmou ainda que já há no mercado impermeabilizantes e tinturas naturais, bastante indicados em construções à base de terra.

Page 44: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_aldeia indígena

Já a caixa d’água foi pensada em concreto, já que ficará mais exposta à ação da chuva. A cobertura se-gue o padrão tradicional da aldeia, mas propõe-se que o encontro da cumeeira possua um desnível, para facilitar a ventilação. A tipologia também surgiu da investigação em campo: residências de um único pa-vimento, planta livre e com aberturas pequenas. A dimensão também é modesta: em torno dos 50m².

Page 45: projeto de graduação _parte 03

_aldeia indígena

e agora, Seu Zé?

Um dos princípios apresentados nas comunidades de permacultura é o Círculo de Bananeiras. A partir do plantio em círculo de um grupo de 8 a 12 bananeiras, com o raio interno entre 3 e 5 metros, cria-se um sistema com grande potencial de absorção de resíduos. Tivemos a oportunidade de conhecer o sistema funcionando em dois sítios: no EcoOca, instituto de permacultura aqui do Estado já citado; e no IPEC, que é o Instituto de Permacultura do Cerrado, localizado em Pirenópolis. Segundo as informações adqui-ridas nessas visitas, o círculo suporta a disposição de resíduos sólidos orgânicos em seu interior. Cava-se um buraco de cerca de 1,5m de profundidade no interior do círculo, onde é depositado este resíduo, que depois será recoberto com uma camada de serragem e terra. Restos de comida, roupas fabricadas com algodão, tudo isso pode ser depositado no sistema. O Círculo de Bananeiras foi proposto no protótipo aqui apresentado; situado na zona 1, deve-se obedecer o limite de um círculo para cada família.

Page 46: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_aldeia indígena

Outro princípio bastante empregado e divulgado é o da Seqüência de Filtros Naturais. Esta medida é utilizada a fim de “limpar” a água servida utilizada pelos moradores. A água utilizada nos banhos, pias e tanques, denominada “água cinza”, é dirigida primeiramente a uma caixa coletora padrão [caixa de gordura ou caixa de passagem] e de lá segue para diversos tanques, todos repletos de plantas e outros organismos vivos.As plantas utilizadas atuam como filtros naturais e devem ser utilizadas as espécies aquáticas de raízes longas em geral. Depois de passar pela seqüência de filtros, a água estará pronta para ser devolvida à natureza. No EcoOca, o último recipiente [o sexto] funcionava como um tanque de piscicultura.

Na Zona 1 você também pode re-ciclar águas cinzas através de uma seqüência de filtros naturais.

Águascinzas

Cx. de passagem / cx. gordura

A águapode ser

despejadano rio ou lago

Tanque 1: ostras, conchas de mexilhões

Tanque 2: filtro de cascalho

Tanque 3: taboas

Tanque 4: ninféias

Tanque 5: pístias

Tanque 6: mexilhões vivos

Exemplos de plantas que podem ser utilizadas nos filtros:junco, aguapé, repolho d’água, vitória-régia e helicôneas.

Fonte: Permacultura passo a passo; Rosemary Morrow.

Page 47: projeto de graduação _parte 03

_aldeia indígena

e agora, Seu Zé?_aldeia indígena

Algumas propostas para a aldeia: na zona 1, o cultivo de hortaliças, ervas para tempero e plantas or-namentais; a presença da seqüência de filtros naturais e do círculo de bananeiras, além da criação de animais pequenos e cultivo de frutíferas necessárias ao dia-a-dia. Afastando-se da residência, pomares e cultivos maiores, como feijão, arroz e milho. A partir de certa distância pode-se plantar café, soja ou outros cultivos para consumo interno, cujo excedente será trocado ou vendido. De acordo com a perma-cultura, mesmo o cultivo dos animais maiores, como o gado, pode ser feito de maneira integrada.Admite-se a criação de gado para fornecimento de leite para a vizinhança, madeiras de reflorestamento para consumo externo e outras possibilidades de complementação da renda familiar, desde que feito de forma integrada e respeitando os ciclos naturais.

Círculo deBananeiras

Pomar

AnimaisPequenos

Zona 1 Zona 2

Horta

Zona 3

Page 48: projeto de graduação _parte 03

_aldeia indígena

O Laboratório de Ecologia Florestal da Faculdade de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, estuda a possibilidade de um reflo-restamento mais responsável. O grupo verificará até que ponto se pode plantar florestas para obtenção de madeira sem prejudicar o meio ambiente.O importante é que, em determinada área, com determinado tipo de solo e com determinada quantidade de chuva, se poderá plantar apenas um determinado número de árvores de uma determinada espécie, e isso deve ser respeitado sempre. A exemplo do que é feito no Sul do País, entre fileiras duplas ou tri-plas de eucaliptos, o produtor pode deixar corredores de 10 metros nos quais é possível fazer lavouras de outras culturas, conjugando o plantio de árvores com o cultivo de trigo, cevada, aveia, girassol e a criação de animais. As plantações de eucalipto podem, e devem, ser intercaladas com as de outras cul-turas. Entretanto, o que resta de floresta ou mata nativa não deve, sob hipótese alguma, ser substituído pela plantação de monoculturas de qualquer espécie ou por pastagens para criação de gado. Da mesma forma, as margens dos rios devem ser preservadas, não podendo, portanto, servir para plantação de qualquer monocultura para qualquer finalidade.

e agora, Seu Zé?

Page 49: projeto de graduação _parte 03

_aldeia indígena

e agora, Seu Zé? e agora, Seu Zé?_aldeia indígena

Uma outra atitude permacultural, esta agora voltada especificamente para as residências, trata da pos-sibilidade de Captação da Água da Chuva a partir dos telhados. A possibilidade de captação de água da chuva para fins não bebíveis são mostradas nas figuras ao lado. Na figura 01, o corte esquemático mos-tra uma primeira possibilidade: o tubo coletor desemboca diretamente no reservatório final, que destina a água para descarga e irrigação. Nos demais desenhos, no caso da utilização do sanitário seco [não utiliza descarga], a água da chuva é captada em um reservatório intermediário e, depois, impulsionada, através de uma bomba de aríete, para o reservatório final. De lá, poderá ser utilizada no chuveiro, pia e irrigação; um sistema que economiza mais água, mais indicado para locais em que chova menos.

Page 50: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_aldeia indígena

Estudo prototípico de uma aldeia indígena em Aracruz. Cone-

xão-Vix 2005/2007. Retomado em 2009 para o PG. Residências

familiares.

Prototipo é uma metodologia utilizada pelo Instituto CHORA da

qual nos apropriamos [livremente, devo dizer] para desenvolver

estes estudos. O I. CHORA trabalha o território da cidade atra-

vés do que chamam de Condições Proto-Urbanas [Proto-Urban

Condition], que são forças que envolvem e afetam o comporta-

mento e as ações no espaço urbano, dando motivação a uma

mudança urbana. Essas condições podem estar ligadas a fatores

macroeconômicos, ecológicos, geopolíticos, culturais e à intera-

ção entre eles. É o que nos ajuda a enxergar por que um espaço

se territorializa de uma determinada forma específica, e não de

outra. De uma forma mais geral, poderíamos dizer que a terri-

torialização espacial de uma determinada localidade é a conse-

qüência, enquanto as condições proto-urbanas são as causas, o

que está por trás. É importante frisar que essas condições não

são estáticas, e estão constantemente modificando nossos terri-

tórios e criando novas formas de vivenciar a cidade.

Page 51: projeto de graduação _parte 03

_aldeia indígena

e agora, Seu Zé?_aldeia indígena

O CHORA representa essas condições através de Mini-cenários, a fim de que essas condições, muitas

vezes sutis e subjetivas, possam ser visíveis [sobretudo para a comunidade leiga] e trabalháveis [para

os profissionais do planejamento urbano].

A utilização dos Protótipos [Prototipos] se dá na tentativa de auxiliar nesse processo de leitura das con-

dições proto-urbanas. Não se trata somente de proposições arquitetônicas, mas engloba questões so-

ciais, políticas e espaciais. O protótipo pode assumir a forma de um diagrama ou propriamente de um

projeto de arquitetura. Ou seja, como as condições proto-urbanas estão em dinâmica constante, talvez

a linguagem diagramática, que se debruça mais no conceito do que na técnica, seja a mais adequada

em determinadas situações.

É especificamente por essa característica de compreensão das dinâmicas que formam o quadro das con-

dições proto-urbanas que optamos por desenvolver nosso projeto de pesquisa em forma de protótipos.

Colocar no papel, ainda que diagramaticamente, as idéias adquiridas e geradas durante esta pesquisa

pode significar uma margem menor de erro do que trabalhar um projeto urbano com todas as suas espe-

cificidades e dinâmicas. Em suma, na metodologia de protótipos do I. CHORA, o discurso, as discussões

geradas no processo são tão ou mais importantes do que um resultado final formalizado em um projeto

fechado.

Page 52: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_aldeia indígena

Page 53: projeto de graduação _parte 03

_aldeia indígena

e agora, Seu Zé?_aldeia indígena

De acordo com as pesquisas realizadas, procuramos incluir nesta proposta alternativas viáveis na cons-trução de uma aldeia [que bem poderia se tratar de uma eco-vila ou mesmo do bairro de uma cidade pe-quena]. Viáveis no sentido de respeitar o jeito de fazer dos moradores em questão, que é o do “faça você mesmo” utilizando os recursos locais. Mas restava ainda a dúvida: qual seria a alternativa urbana?

Page 54: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

_nº. 3: a escala da comunidade _Alice CoutinhoO bairro de Alice Coutinho, localizado em Cariacica [próximo à Sede do Município], é fruto de uma ocu-pação coordenada pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia. O local onde hoje se situa o Bairro pertencia à COHAB, que havia feito alguns loteamentos na região mas não ocupara aquela área, que permaneceu vazia por cerca de 10 anos. O célula_Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo da UFES foi convidado para elaborar o projeto de uma praça para o Bairro. Desde o início do trabalho ficou evidente que o projeto encontraria problemas cujas soluções não poderiam restringir-se ao âmbi-to da praça, mesmo que se reconhecesse a importância desta para qualquer cidade e, sobretudo, para aquele bairro, que reservou local para sua instalação desde sua fundação, tendo-o como único espaço público previsto para convívio social e encontros comunitários. Local de importância simbólica, já que fora naquele lugar que armaram pela primeira vez suas barracas durante o processo de ocupação da-quele território. Entretanto, o bairro demandava estratégias muito mais amplas de sustentabilidade e habitabilidade.Iniciou-se o processo a partir de eixos temáticos importantes como: mobilidade e circulação; proteção ambiental (inter-relação dos fundos de vales que circundam o bairro, com ênfase ao saneamento am-biental); centro comunitário; cooperativas; plano de desenvolvimento local e urbano; habitação e ha-bitabilidade, incluindo a elaboração de cartilha para orientar moradores instalados de modo precário, indevido ou arriscado, prevendo requalificação das unidades existentes e otimização das futuras amplia-ções ou novas construções, enfatizando estabilidade estrutural, conforto ambiental, condições de sane-amento, inter-relações de vizinhança etc. Para tarefa tão ambiciosa, contamos com o apoio dos alunos que cursavam as disciplinas de Projeto de Arquitetura VI e Urbanismo III, ministradas pelos professores Rogério Almenara e Milton Esteves Jr., respectivamente.

Page 55: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_bairro / comunidade

Page 56: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_bairro / comunidade

Projetos de intervenção em áreas de interesse ou risco social devem ser estudados com cuidado. Isto por que corre-se o risco de contribuir para a segregação urbana [mantendo os moradores das favelas nas favelas, sem possibilidade de morar em outros locais da cidade] ou para a gentrificação [expulsando os moradores das favelas por conta de intervenções que “elitizem” o morro, tornando-o caro demais para seus moradores originais].Se há um local pobre, onde as pessoas que lá moram, ao ascender socialmente, precisam, necessaria-mente, se mudar dali por qualquer motivo [as ruas não comportam o carro que foi comprado, por exem-plo], então, obviamente, tem alguma coisa errada. Aquela parte da cidade é constituída por um tecido urbano pobre, e somente pessoas pobres poderão morar lá. Se, por outro lado, ocorre uma intervenção nesta parte da cidade, mostrando que o bairro possui grande potencial paisagístico e está bem localizado na cidade em relação às oportunidades de emprego, de modo que as pessoas que lá moravam já não conseguem mais arcar com o custo de vida que o lugar adquiriu e precisam, por conta disso, se mudar dali, então também temos uma situação problemática. Aquele lugar passa a ser “proibido” a pessoas po-bres. Sabemos que muitas pessoas que moravam em barracos, depois de conseguirem uma casa finan-ciada pelo poder público, vendem suas casas novas e voltam a se instalar em barracos, em outros locais com características semelhantes àquele onde tinha seu primeiro barraco, pois o custo de vida de seu antigo bairro, depois da intervenção, tornou-se muito alto para ela. A questão é delicada. E polêmica.Para áreas assim, costumamos apostar em melhorar acessos [e até criar alguns] e em criar [caso não exista] um diálogo viário entre tecidos urbano [conexões], deixando o bairro mais acessível e permeá-vel. Além disso, obviamente, há preocupações com a habitabilidade, revendo as residências em as áreas de risco e em áreas de proteção ambiental.

Page 57: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_bairro / comunidade

Daí veio a idéia de retomar este projeto coletivo aqui neste trabalho individual. Acreditando em muito do que tenho lido [e que tenho tentado relatar aqui], começo a pensar que as intervenções pontuais po-dem resultar em grandes benefícios locais, sobretudo se orientadas a partir de uma estratégia elaborada desde uma integração regional. Tanto o atual SLUM LAB: Paraisópolis quanto o mais antigo “A Cidade como um Jogo de Cartas” mostraram isso. Acredito que era o que pretendíamos na época do trabalho em Alice Coutinho. Mas não há muito tempo para retomá-lo agora. Portanto o menciono aqui apenas ilustrativamente.Os desenhos, maquete e perspectivas feitas em computador do projeto para a Praça de Alice Coutinho, de autoria de Clara Pignaton, Rafael Loureiro, Reinaldo Rocha e minha. Nosso grupo obteve o segundo lugar na votação popular no Bairro.O projeto vencedor é de autoria de Cristiane Quirgo e Felipe Couto.

Cris e Felipe Christian, Tiago e VictorClara, Kid, Rei e Jr.

Page 58: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_bairro / comunidade

Page 59: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_bairro / comunidade

_nº. 4: a escala da comunidade _São BeneditoDentro do EMAU, a discussão acerca do nosso papel frente à realidade social brasileira sempre foi recor-rente. Por outro lado, sempre ficou muito claro que essa realidade ainda não fazia parte [formalmente falando] dos programas das disciplinas da nossa Escola. Foi então que, durante a mobilização espon-tânea que aconteceu em 2006 [habitantes do CEMUNI III], os alunos decidiram que as atividades do EMAU deveriam, de certa forma, recomeçar. Não que tivessem parado; a idéia de recomeçar era de começar praticamente do zero, com pessoas novas e envolvendo novas localidades da Região Metropo-litana. Daí em diante uma série de coincidências nos levaram ao contato com o Banco Bem – banco comunitário que atua no Bairro de São Benedito no sentido de desenvolver a economia local – e com a ONG Ateliê de Idéias.Na época em que nos aproximamos, nosso objetivo era o de realizar uma investigação do modo de ocu-pação do território através da auto-construção. Coincidentemente, os agentes do Banco [em especial Tania Parra, Valmir Dantas, Leonora Mol, Adriano “Dida” e Seu Mário] idealizavam entrevistas com os moradores mais antigos do Bairro a fim de resgatar e divulgar a memória local – o processo de ocupa-ção, de construção das casas, das relações inter-pessoais, etc. Desse encontro resultou um projeto de vivência a fim de resgatar a memória e de investigar a habitabilidade no Bairro de São Benedito. Foram realizadas, a partir de então, cerca de 20 entrevistas com moradoras e moradores de São Benedito, pre-servando especialmente a memória dos mais antigos.

Page 60: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_bairro / comunidade

Poderia relatar aqui um pouco do processo de ocupação do Bairro, mas não é com esta finalidade que pretendia retomar mais este projeto coletivo. Até porque recomendo a leitura do Catálogo habitação, memória e vivência em São Benedito, que deve sair em breve, contendo todas as informações, en-trevistas e imagens desse processo.A idéia de retomá-lo aqui foi a mesma que nos levou a inserir o projeto na pauta da disciplina de Plane-jamento Habitacional [2009/01; professores Clara Luisa Miranda e Marco Antonio Romanelli]. Ao mesmo tempo em que íamos realizando as entrevistas, os agentes do Banco Bem nos convidaram para ajudá-los no processo de assessoria técnica nas casas dos moradores que tivessem conseguido obter o crédito do Banco para construção e/ou reforma. Além desses projetos, o Banco Bem participou da licitação do Fun-do Nacional para Habitação de Interesse Social, conseguindo verba federal para a construção de novas moradias; dessa vez, em Cariacica.

D. Regina D. Osvaldina S. Oto

Page 61: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_bairro / comunidade

Uma arquiteta, amiga dos diretores do Banco, havia feito um projeto para uma área em São Benedito, e foi este projeto que passou para o Ministério das Cidades. Nessa época, acreditava-se que fosse possível conseguir um terreno dentro do próprio bairro. Mas não foi possível, assim como não conseguiram ne-gociar com a Prefeitura de Vitória nenhum terreno dentro do município. Por isso o projeto deveria sofrer “adaptações” para adequar-se ao novo local de implantação, em Cariacica. Como tivemos “carta quase branca” para efetuar as modificações [precisava-se manter o número de 24 apartamentos e a área a ser construída], começamos algumas especulações.

S

D. Regina D. Osvaldina S. Oto

Page 62: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_bairro / comunidade

Esta primeira proposta partiu da idéia de valorizar a varanda como espaço de uso comum e freqüente. Uma rede, uma cadeira, e as relações poderiam ir se estabelecendo. Mas a proposta ultrapassava em quase 30m² a proposta que havia sido enviada para Brasília. Além disso o projeto possui limitações por parte de seus espaços internos, principalmente na sala. Pretendendo resolver os problemas, continua-mos investindo no projeto, e chegamos a uma segunda proposta. A varanda ficaria limitada à circulação, mas, internamente, não houve mudanças significativas.

S

Page 63: projeto de graduação _parte 03

S

e agora, Seu Zé?_bairro / comunidade

Apareceu, então, o professor Eduardo Barbosa com uma proposta totalmente diferente, que incluía pa-redes a 45° para quebrar a monotonia dos prédios justapostos, num resultado muito mais “charmoso”. A partir daí, a professora Clara juntamente com o professor Eduardo e os outros membros do célula [em especial, Karlão Rupf e Rei Rocha], nos dedicamos à implantação do conjunto no terreno, que deveria abrigar, ainda, uma praça. Enquanto isso, os trabalhos de assessoria técnica e do Catálogo continuavam em andamento.A idéia inicial era retomar essa discussão para, a partir daí, chegar a uma proposta macro para São Be-nedito, como era a intenção em Alice Coutinho: localizar equipamentos, rever acessos [relação entre o tecido viário do bairro e o da cidade] e acessibilidades, áreas de risco e de preservação, além de propos-tas para habitação nos lotes vazios que identificamos durante a vivência. Mais uma vez, não foi possível, e retomo o projeto apenas a título de ilustração.

Page 64: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_bairro / comunidade

Tijolos de solo-cimento fabricados por uma cooperativa incentivada pelo próprio Banco, e aquecedores de baixo custo, fabricados no mesmo galpão onde funciona a cooperativa, são alternativas construtivas adotadas neste projeto.Ainda assim, algumas ressalvas: a terra uti-lizada vinha dos municípios de Cariacica ou da Serra. A dificuldade de obtenção do ma-terial acarretou em diversos contratempos na fabricação dos blocos. “Ecológicos”, mas nem tanto.

Page 65: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

_nº. 5: a escala do toque _meninos e meninas de rua“Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e negras pedras dos alicerces do trapiche as ondas ora se rebentavam fragorosas, ora vinham bater mansamente. A água passava por baixo da ponte sob a qual muitas crianças repousam agora, iluminadas por uma réstia amarela de lua. Desta ponte saíram inú-meros veleiros carregados, alguns eram enormes e pintados de estranhas cores, para a aventura das travessias marítimas. Aqui vinham encher os porões e atracavam nessa ponte de tábuas hoje comidas. Antigamente diante do trapiche se estendia o mistério do mar oceano, as noites diante dele eram de um verde escuro, quase negras, daquela cor misteriosa que é a cor do mar à noite”. [p. 31]“Neste tempo a porta caíra para um lado e um do grupo, certo dia em que passeava na extensão dos seus domínios (porque toda a zona do areal do cais, como aliás toda a cidade da Bahia, pertence aos Capitães da Areia), entrou no trapiche. [...] Estranhas coisas entraram então para o trapiche. Não mais estranhas, porém, que aqueles meninos, moleques de todas as cores e de idades as mais variadas, desde o nove aos dezesseis anos, que à noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da ponte e dor-miam, indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando, indiferentes à chuva que muitas vezes os lavava, mas com os olhos puxados para as luzes dos navios, com os ouvidos presos às canções que vinham das embarcações...” [p. 32/33]

Page 66: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_indivíduo / rua

“Foi dessa época que a cidade começou a ouvir falar nos Capitães da Areia, crianças abandonadas que viviam do furto. Nunca ninguém soube o número exato de meninos que assim viviam. Eram bem uns cem e desses mais de quarenta dormiam nas ruínas do velho trapiche. Vestidos de farrapos, sujos, semi-esfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram, em verdade, os donos da cidade, os que a conheciam totalmente, os que totalmente a amavam, os seus poetas”. [p. 34][...] “O que ele queria era felicidade, era alegria, era fugir de toda aquela miséria, de toda aquela des-graça que os cercava e os estrangulava. Havia, é verdade, a grande liberdade das ruas. Mas havia tam-bém o abandono de qualquer carinho, a falta de todas as palavras boas”. [p. 44]Trechos do livro Capitães da Areia, de Jorge Amado; Livraria Martins Editora; São Paulos, 1963 [11ª Edição].

Page 67: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

Aos 15 anos, tive a oportunidade de participar de um dos encon-tros nacionais promovidos pelo Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua. Não dá para relatar aqui aquela experiência única, em que tive contato com aquela realidade tão dura mas, ao mesmo tempo, tão vibrante. Meninos e meninas que realmente moravam nas ruas, debaixo de pontes, cheirando cola, arrumando dinheiro sabe-se lá como para poder comer [muitas vezes roubando ou se prostituindo], e uns outros, como nós, em “situação de risco”. Mas ali, éramos todos iguais. Crianças conhecendo um lugar novo, “onde nosso Presidente mora!” E se conhecendo também. Foi um momen-to feliz! Para se ter uma idéia de sua importância, o MNMMR é um dos idealizadores do Estatuto da Criança e do Adolescente, que foi assinado como Lei em um desses Encontros Nacionais.

As coisas que eu sei de mim

São pivetes da cidade

Pedem, insistem e eu

Me sinto pouco à vontade

Fechada dentro de um táxi

Numa transversal do tempo

Acho que o amor

É a ausência de engarrafamento

As coisas que eu sei de mim

Tentam vencer a distância

E é como se aguardassem feridas

Numa ambulância

As pobres coisas que eu sei

Podem morrer, mas espero

Como se houvesse um sinal

Sem sair do amarelo

[Transversal do Tempo;

João Bosco e Aldir Blanc]

Page 68: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_indivíduo / rua

Meu bairro não tinha criança morando na rua. Mas era um bairro considerado “de risco”, o que quer dizer que era necessário acompanhamento, instrução. Por isso a importância de uma entidade como o MNMMR ali. Por conta do Movimento, alguns alunos não precisavam pagar mensalidade; precisavam apenas estar estudando e participar das atividades que o MNMMR promovia nos fins de semana a cada quinze dias.Numa dessas voltas à Colatina, entre os anos de 2003 e 2004, encontrei-me no bar com Douglinhas, finado Canjiquinha e Marcelinho para saber das novidades. Já naquela época, Marcelinho, mais velho, se mostrava preocupado com o futuro da meninada. Muitos estavam não só usando droga cada vez mais cedo, mas já tinham entrado para o tráfico. Marcelo se confessava perdido:

“Como é que a gente pode competir? O que a gente faz não dá dinheiro. Os meninos vêem a gente e nos têm como espelho, mas nós – que damos aula em três escolas diferentes – moramos de aluguel numa casa sem mobília, não temos carro e nosso único luxo é poder estar sentado aqui, tomando essa cerveja. Aí eles olham para os aviõezinhos do morro: moleques da idade deles, que já têm celular, tênis da moda, camisa de marca, são respeitados... E é muito difícil dizer para um menino que confia em você que, por melhor que ele seja, por mais que se esforce, provavelmente não terá oportunidades para ser melhor que isso. Ainda mais hoje, quando o que se vê são propagandas dizendo que você tem que ter, e ter, e ter!”

Page 69: projeto de graduação _parte 03

O que o sistema oferece é que a massa seja simplesmente peça de reposição. E isso, cada vez mais, tem afetado desde as crianças. Peças substituíveis, descartáveis; necessárias para manter a engrenagem funcionando, mas que, pela mão-de-obra em reserva, poderão ser substituídos por outro, e por outro, e por outro, infinitamente. Já o poder que a marginalidade oferece adquire valor de status, de nobreza, quase. Você passa a ser valorizado pelo “dono do morro” por ser peça importante em seu esquema, e não apenas mais um. Alguma responsabilidade é posta sobre suas costas, e as vantagens que vêm com isso também aparecem. Você recebe armas, dinheiro, roupa; aquele tênis que você teria de economizar uns três anos para conseguir comprar, aquela gata que você jamais iria pegar... É realmente muito sedutor. Além disso, parece que o ser humano tem um gosto meio suicida pela aventura. Por isso fuma, mesmo sabendo que é prejudicial; bebe e dirige, mesmo sabendo que pode se matar e matar outras pessoas; por isso usa drogas. O ser humano precisa dessa adrenalina. E se não houver um direcionamento, uma forma positiva de canalizar essa disposição [através de uma atividade física, intelectual, ...], pode-se facilmente utilizá-la de forma negativa. E isso se torna ainda mais fácil quando instituições como as do Estado estão ausentes.

que futuro tem aquela gente toda???...[Chico Buarque]

Page 70: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_indivíduo / rua

E isso tem começado cada vez mais cedo. A cobrança, de que já falamos aqui, a necessidade de provar sempre alguma coisa, tem atingido nossas crianças desde a escola, com resultados bastante negativos para a sociedade.A maioria de nossas escolas privadas preocupa-se, sobretudo, em tornar os alunos capazes de passar no vestibular e ingressar numa faculdade. E têm obtido relativo êxito em sua tarefa. Alunos que se julgam melhores por terem sido mais bem preparados decoraram uma série de informações e isto basta para ingressar numa faculdade. Talvez consigam, no decurso de sua faculdade, amadurecer e se transformar em cidadãos. Mas, caso contrário, a faculdade potencializará o caráter competitivo, e o aluno sairá pior do que entrou. Já a maioria de nossas escolas públicas consegue ser ainda pior. Não tem condição de formar nem cidadãos prontos para a vida, nem experts em vestibular, nem em pessoas prontas para o mercado de trabalho. As reportagens sobre a educação pública são quase sempre tristes. São denúncias de superfaturamento desde a fase de construção; de falta de merenda, ou o fornecimento de comida com prazo de validade vencido; de venda de drogas e consumo de bebidas alcoólicas no pátio, em ho-rário de aula; de agressões a professores e alunos; o ensino é de qualidade questionável.Algumas medidas que parecem simples poderiam ajudar a melhorar este quadro. A proposta de Cristó-vão Buarque, por exemplo, de que os filhos dos secretários, ministros, vereadores, governadores, pre-feitos e até mesmo do Presidente tenham que freqüentar, obrigatoriamente, a escola pública, parece um bom começo. Penso que nenhum político vai roubar a merenda do próprio filho.

Morreu na contramão

atrapalhando o tráfego...[Chico Buarque]

Page 71: projeto de graduação _parte 03

“Você sabia que a 1ª Matrix foi criada para reproduzir o mundo humano perfeito, onde ninguém sofreria, onde todos seriam feli-zes?Foi um desastre! Ninguém aceitou o pro-grama. Perdemos safras inteiras. [...]Mas eu acho que, como espécie, os seres humanos definem a realidade através da desgraça e do sofrimento. Então, o mundo perfeito era um sonho do qual o cérebro primitivo de vocês tentava acordar. E por isso a Matrix foi recriada assim.[...]Eu gostaria de lhe contar uma revelação que tive durante o tempo em que estive aqui. Ela me ocorreu quando tentei clas-sificar sua espécie e me dei conta de que vocês não são mamíferos.Todos os mamíferos do planeta instintiva-mente entram em equilíbrio com o meio ambiente. Mas os seres humanos, não. Vo-cês vão para uma área e se multiplicam, e se multiplicam, até que todos os recursos naturais sejam consumidos. A única forma de sobreviver é indo para outra área.Há outro organismo neste planeta que se-gue o mesmo padrão. Você sabe qual é? Um vírus. Os seres humanos são uma do-ença, um câncer neste planeta. Vocês são uma praga. E nós somos a cura”.

[Agente Smith _cena de Matrix; Andy e Larry Wachowski; EUA, 1999]

welcome, my son; welcome to the machine![Roger Waters]

Page 72: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_indivíduo / rua

Por tudo isso, desde o início, dentre os temas possíveis para este Projeto de Graduação estava presente a vontade de trabalhar com os meninos e meninas das ruas de Vitória. Como não sabia como nem por onde começar, e como as coisas foram tomando um outro rumo [a parte teórica acabou tomando muito mais tempo do que eu gostaria] apresento apenas algumas intervenções, frutos de meus devaneios.Alguns deles nasceram das vezes em que eu, cursando a disciplina de Desenho III [estudo de figura humana], fui ao Centro da Cidade e meninos pedintes, por acharem engraçado o que eu desenhava no caderno, acabaram se aproximando e trocando algumas palavras. Outros nasceram da janela do 507, quando eu passava por uma praça e, num dia, via a meninada por ali e, no outro, já não a via mais. Alguns nasceram ao ver meninos, como ratos, entrando no vão da Terceira Ponte e fazendo daquele lu-gar a sua casa – alguns meninos achavam melhor o pernoite debaixo da Ponte de Camburi, mas não os tenho visto mais ali. Outros devaneios nasceram da frente da televisão, assistindo ao Jornal do Espírito Santo e ouvindo falar de uma tal “operação limpeza”. Ou quando, assistindo ao Programa da Xuxa com meu sobrinho, num desenho chamado “Os padrinhos mágicos”, ouvi, de um desenho animado, que o menino iria continuar burro para sempre mesmo, porque estudava em escola pública. Outros nasceram de conversas com tantos amigos, com pessoas queridas, como Ivana e Gaia, me dizendo que “o que importa são as pessoas”.

Page 73: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_indivíduo / rua

“Dito não se lembrava mais como era morar numa casa. Recor-dava-se do tempão que passou dormindo debaixo do ônibus que-brado, num trecho da rua sem saída, dos bancos das praças, da Rodoviária, da escadaria no prédio de janelas se despencando. E, com todas essas coisas, chegavam-lhe os momentos de raiva que tivera na noite em que procurava abrigo, a garoa caindo, a mulher de rabo grande querendo oferecer-lhe um brinquedo. Disse-lhe que era Natal, mandou que pegasse entre os brinque-dos o que mais o agradasse. Bateu forte na cesta, os brinquedos saltaram no cimento molhado. A mulher pôs a chamá-lo mole-que atrevido, deu uma carreirinha para tentar segurá-lo, não conseguiu. Os que passavam encheram-se de compaixão pela mulher, o moço forte disparou atrás de Dito, deu-lhe uns empur-rões. A mulher juntava os brinquedos e chorava.[...]Aquela caverna se transformaria na sua casa. Com o tempo, quem sabe, poderia ter uma mesa, latas para guardar manti-mentos, um fogão a álcool. Os que não topassem a idéia iriam em frente. [...] Passou a manhã toda nos trabalhos de limpeza da caverna”. [p. 74/75][Trechos do livro Infância dos Mortos, de José Louzeiro; Cír-culo do Livro; São Paulo, 1977].

Page 74: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_indivíduo / rua

Com a publicação desses devaneios, não pretendo nada. Não pretendo estudar, diagnosticar, propor, argumentar, discutir, elaborar, mapear, investigar, descobrir... Não pretendo nada senão pôr para fora tudo isso. Não sei se é o momento ou o lugar certo – parece que tenho a mania de misturar alhos com bugalhos –, mas talvez não tenha outra oportunidade de fazê-lo.E essa história de prestígio, dos que podem mais choram menos, vai crescendo com o tempo. Cada vez mais, o Estado tem se ausentado de suas responsabilidades, abrindo um campo cada vez maior para que empresas privadas prometam fornecer aquilo que deveria ser provido pelo Poder Público.Hoje, 19 de novembro de 2009, uma reportagem na 1ª Edição do Jornal ES TV, da Rede A Gazeta, mos-trou que os donos de lojas da Grande Vitória estão recorrendo a empresas privadas para efetuarem sua segurança; as coisas prometidas pelos empreendimentos residenciais fechados não são encontradas facilmente no espaço público [ou pelo menos não com a mesma qualidade]; desloca-se de forma muito mais eficiente quem tem automóvel particular do que quem utiliza o transporte público coletivo; quem pode pagar por um plano de saúde particular o faz, porque depender da saúde pública é cada vez mais arriscado; o ensino público está imensamente aquém do que deveria, não apenas em termos de conte-údo, mas de infra-estrutura mesmo.Na verdade, quem pode pagar “por fora” por esses serviços o faz, e os tem a contento; quem não pode fazê-lo, está sujeito a não receber ou receber com uma qualidade abaixo da esperada e com uma moro-sidade acima do aceitável. E, assim, nossa sociedade continua esquematizada de forma a garantir que os privilegiados continuem tendo privilégios em relação ao restante da população. E assim nossa sociedade continua “morrendo à espera de vida”. [Millôr, 2000; p. 118]

Page 75: projeto de graduação _parte 03

Entretanto, há algumas compensações. Não ganhamos um bom salário, mas nos oferecem uma TV a que possamos pagar com prestações a perder de vista. Dessa forma vão nos anestesiando aos poucos. É o famoso “tá ruim, mas tá bom!”, ou o “poderia ser pior”. [E já esteve pior]. Dessa maneira vamos nos acomo-dando com o pouco, com o paliativo, e não brigamos pelo todo. Meu irmão, que trabalha nos Correios, vai receber um abono no salário por três meses para que não haja o reajuste salarial que deveria.Numa das últimas propagandas imobiliárias a que vi, um sujeito perguntava o que era ideal para o outro e este repondia: “Ideal é poder contar com o subsídio do Governo para financiar minha casa”.E eu que pensava que o ideal era não precisar de subsídio...

Mother, do you think they’ll drop the

[bomb?

Mother, do you think they’ll like this

[song?

Mother, do you think they’ll try to break

[my balls?

Mother, should I build the wall?

Mother, should I run for president?

Mother, should I trust the government?

Mother, will they put me in the firing

[line?

Is it just a waste of time?

Hush now baby, baby, don’t you cry

Momma’s gonna make all of your

[nightmares come true

Momma’s gonna put all of her fears into

[you

Momma’s gonna keep you right here

[under her wing

She won’t let you fly, but she might let

[you sing

Momma’s will keep baby cozy and warm

[Mother; de David Gilmour e Roger Wa-

ters; in: The Wall; EMI, 1979]

Page 76: projeto de graduação _parte 03

Hoje a cidade está parada

E ele apressa a caminhada

Pra acordar a namorada logo ali

E vai sorrindo, vai aflito

Pra mostrar, cheio de si

Que hoje ele é senhor das suas

mãos

E das ferramentas

Quando a sirene não apita

Ela acorda mais bonita

Sua pele é sua chita, seu fustão

E, bem ou mal, é o seu veludo

É o tafetá que Deus lhe deu

E é bendito o fruto do suor

Do trabalho que é só seu

Hoje eles hão de consagrar

O dia inteiro pra se amar tanto

Ele, o artesão,

Faz dentro dela a sua oficina

E ela, a tecelã,

Vai fiar nas malhas do seu ventre

O homem de amanhã

[Primeiro de Maio, de Milton Nasci-

mento e Chico Buarque; in: O cio da

Terra; Marola Edições Musicais, 1977]

Page 77: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_indivíduo / rua

Cidade 10 foi o projeto do Pavilhão Espanhol para a V Bienal de Arquitetura de São Paulo, ocorrida em 2003. Do projeto nasceu o livro “Semillas/Cidade10”, organizado por Enric Ruiz Geli. O livro é di-vidido em duas partes: Semillas; e Cidade 10. A parte Semillas [sementes] aborda uma possível saída para a crise ambiental e social através da tecnologia: “o ser humano deixará de ser consumidor para se tornar produtor de energia”. A parte Cidade 10 apresenta resultados e ponderações acerca de um projeto realizado entre o grupo espanhol e uma instituição brasileira situada em São Paulo, a Funda-ção Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente, que trabalha com crianças e adolescentes em situação de risco social. A partir da pergunta: “Como seria uma cidade ‘arquitetada’ por crianças e ado-lescentes? Se perguntássemos a uma criança como ela desejaria que fosse a cidade, o que ela diria?” [Fundação Abrinq; Cidade 10, p. 10], elaboraram um workshop com as crianças e adolescentes dessa instituição, e tanto o livro quanto o pavilhão deles na Bienal são a resposta.

Page 78: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_indivíduo / rua

Declaração Universal dos Direitos da Criança, Nações Unidas, 1959, e Convenção dos Direitos da Criança, Nações Unidas, 1989 [resumo][Cidade 10; p. 18/20/22]* A criança tem o direito de crescer e desenvolver-se com boa saúde, dispondo de alimentação, moradia, lazer e assistência médica adequada;* A criança será uma das primeiras a receber, em qualquer circunstância, proteção e ajuda;* A criança necessita amor e compreensão, deve crescer com a proteção e sob a responsabilidade de seus pais e, em qualquer caso, num ambiente afetivo com segurança moral e material;* A elas Ihes será dada uma educação que favoreça sua cultura geral para que permitam-nas, em con-dições de igualdade de oportunidades, desenvolver suas aptidões e seus julgamentos individuais, seu sentido de responsabilidade moral e social, convertendo-se em um membro útil da sociedade;* A educação (...) deve preparar a criança para levar uma vida responsável perante a sociedade e o meio natural;* 0 interesse superior da criança será o princípio que guiará aos que têm a responsabilidade de sua edu-cação e orientação; esta responsabilidade corresponde primeiro a seus pais;* O Estado deve garantir o reconhecimento do princípio que diz que o pai e a mãe têm responsabilidades comuns na educação e no desenvolvimento da criança; são os primeiros responsáveis da criança e sua preocupação fundamental deve ser seu ótimo crescimento;* A criança desfrutará plenamente de jogos e do lazer, que estarão orientados aos propósitos persegui-dos pela educação; a sociedade e as autoridades públicas se esforçarão em promover a satisfação deste direito;

Page 79: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_indivíduo / rua

* A criança tem direito ao descanso, ao lazer, aos jogos e à participação em atividades culturais artísticas;* A criança deve ser protegida contra qualquer forma de negligência, crueldade ou exploração, não será objeto de nenhum tipo de trafico e não se consentirá que trabalhe antes de uma idade mínima adequada;* A criança deve ser protegida contra as práticas que po-dem promover a discriminação racial religiosa ou de qual-quer outro tipo. Deve ser educada num espírito de com-preensão, tolerância, amizade entre os povoados, paz e fraternidade universal, e com plena consciência que deve consagrar suas aptidões e energias ao serviço de seus semelhantes;* A criança tem o direito à liberdade de associação e a celebrar reuniões pacíficas com a condição que os direitos do outros sejam respeitados;* A criança tem o direito de não ser objeto de intromis-sões em sua vida privada; tem o direito à família, à resi-dência e à correspondência, e a não ser objeto de ataques ilegais à sua honra e sua reputação;* A criança deve ter acesso à informação procedente de diversas fontes nacionais e internacionais, especialmente a que as promova seu bem estar social, espiritual e moral, e sua saúde física e mental; os Estados disponibilizarão os meios possíveis.

Page 80: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_indivíduo / rua

Los niños _A cidade das crianças [segundo elas próprias] [Cidade 10; p. 26/18/20/22]* As praças nunca mais seriam lugares sujos, maltratados; seriam jardins verdes, limpos e sempre flo-ridos, com estátuas divertidas. Seus habitantes seriam joaninhas, borboletas, pássaros e formigas;* Quando chegasse a noite, nunca faltaria luz nas ruas, afastando todos os fantasmas e bruxas para bem longe;* Os telefones públicos poderiam ser ajustados para o tamanho de cada criança, adolescente, jovem, adulto e idoso, bastando para isso apertar um botão!;* As ruas seriam, para sempre e em primeiro lugar, lugares para brinquedos, bolas, skates, pipas, bi-cicletas, patins, esconde-esconde, carrinhos de sorvete e risadas; e não mais lugares para se pedir di-nheiro, assaltar, desrespeitar, atropelar, matar;* Em cada esquina, rua ou quadra haveria uma grande horta onde todos poderiam colher verduras, le-gumes e frutas para preparar a comida; assim, criança nenhuma passaria fome;* Haveria hospitais por perto sempre quando uma doença surpreendesse uma criança; e esses hospitais teriam quartos com muitos brinquedos, médicos que explicassem direitinho o que estivesse acontecen-do, livros com muitas histórias e gente disposta a contá-Ias;* As casas não teriam mais grades nas janelas, nem muros altos, nem trancas nas portas, pois não ha-veria mais medo e insegurança; com isso, as crianças e as famílias vizinhas teriam mais vontade de se conhecer, conversar, brincar e se importariam mais uns com os outros;

Page 81: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_indivíduo / rua

* Nesta cidade, bastariam alguns minutos caminhando para se chegar à escola, e essa escola seria dese-jada por seus brilhantes, apaixonados e sempre presentes professores, por sua generosidade de vagas, por suas cores e sua beleza, pelo zelo de seu diretor e, principalmente, pelo respeito às opiniões, aos desejos e necessidades de seus alunos. Suas lições seriam sempre lições para a vida e seriam apren-didas em livros, histórias, contos e músicas. Suas salas seriam sempre especiais: dentro da escola, os espaços seriam generosos, confortáveis, bem cuidados, iluminados e vivos; fora dela, as salas de aula seriam os museus, cinemas, teatros, casas antigas, ruas e vielas;* Tudo quanto fosse concreto, cinza, escuro e sujo seria contaminado por flores e desenhos coloridos;* Nas casas nunca mais se ouviria o choro de crianças maltratadas por seus pais ou parentes;* E o prefeito desta cidade? Este seria um mágico: sempre que fosse construir uma ponte, se transfor-maria, antes, em uma criança e perguntaria a ela: o que você deseja?;* Mesmo nos lugares mais afastados desta cidade haveria lugares bonitos e com bastante espaço para se jogar bola e conversa fora, brincar de roda e de cantar, encontrar amigos e paquerar;* Nenhuma criança seria impedida de entrar em lugares bonitos e ricos, pois não existiria mais nenhum lugar que não fosse assim.

Page 82: projeto de graduação _parte 03

Escola!

As ruas seriam sempre, e em 1º lugar, lugares para brincar...

Page 83: projeto de graduação _parte 03

Nunca faltaria luz nas ruas,afastando os fantasmas para bem longe...

Page 84: projeto de graduação _parte 03

Nos hospitais, quartos com brinquedose médicos contando histórias...

Page 85: projeto de graduação _parte 03

Fo

ra d

a e

sco

la,

as

sala

s d

e a

ula

seri

am

os

mu

seu

s,te

atr

os,

cin

em

as,

ru

as,

vie

las.

..

Page 86: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

Mas não, mas não!

O sonho é meu e eu sonho que

Deve ter alamedas verdes

A cidade dos meus amores

E, quem dera, os moradores,

E o Prefeito e os varredores,

E os pintores e os vendedores,

As senhoras e os senhores,

E os guardas e os inspetores,

Fossem somente

crianças...

[A cidade Ideal, de Chico Buarque;

in: Os Saltimbancos, espetáculo de

Chico Buarque, Sérgio Bardotti, Luis

Enríquez Bacalov; 1977]

_indivíduo / rua

Page 87: projeto de graduação _parte 03

E o Prefeito desta cidade?Ah!, este seria um Mágico!...

Page 88: projeto de graduação _parte 03

Cacá Diegues, importante diretor brasileiro de cinema, afirmou em entrevista certa vez que não bastava levar cultura às pessoas que não têm acesso; “Isso é importante! Sem dúvida!”, dizia ele, “mas mais im-portante do que isso é permitir que essas pessoas se manifestem culturalmente!”.Mais uma dessas frases que ouvi e que volta e meia me vêm à cabeça, enquanto faço este Trabalho. Ima-gina se houvesse mesmo um prefeito que ouvisse a população? Inclusive as crianças, por que não?Mas quando se ouve que há pessoas que pensam em tirar os bancos da praça para que moradores de rua deixem o lugar, ou quando o prefeito está coordenando uma “operação limpeza”, a gente vê quão longe está de uma mudança...Imagina, então, se o mobiliário das praças, no lugar de repelir os moradores de rua, os acolhesse, como se ali fosse mesmo a sua casa? Como seria?Há algum tempo atrás, quando futucava a internet à cata de imagens ainda sem a preocupação de catalo-gar as referências, encontrei um protótipo de mobiliário muito interessante. Era uma espécie de rede que se apoiava em uma estrutura metálica. Dessa forma, você poderia carregá-la para onde quisesse, pois não dependia de paredes para se sustentar. E se esse equipamento fosse instalado nas praças? Poder-se-ia dormir abrigado da chuva!

e agora, Seu Zé?_indivíduo / rua

Page 89: projeto de graduação _parte 03
Page 90: projeto de graduação _parte 03

Numa dessas Semanas de Arquitetura que o nosso Centro Acadêmico promove de vez em quando, tivemos a possibilidade de assistir a um fil-me de dentro de uma estrutura inflável. Bruno Bowen e Clara Sampaio coordenaram a atividade. Estava pronto o nosso cinema.Leandro Camatta, em seu Projeto de Graduação, imaginou se uma es-trutura como essa não caberia dentro de uma mochila. Moradores de rua teriam, então, sua própria casa portátil. Uma casa própria!Já Lutero Proschöldt em seu Trabalho Final [espaço (e-) [MOB.trans]; UFES, 2006] criou uma estrutura móvel e versátil, capaz de levar abrigo, lazer, cultura, educação ou saúde, dependendo da necessidade, para o lugar onde fosse preciso.

e agora, Seu Zé?_indivíduo / rua

Page 91: projeto de graduação _parte 03

Vito Acconci causou polêmica com seu projeto para o Arte/Cidade 2002. Ele propunha um contêiner ha-bitacional para as pessoas que se abrigavam debaixo de um viaduto em São Paulo. A polêmica girou em torno do material transparente que Acconci propunha para o contêiner. À noite, quando a luminosidade dentro do módulo era mais intensa do que a da cidade, se podia ver o que os moradores faziam. Mas antes também não era assim?

Aquele era um projeto interessante, questionador. Fiquei pensando se caberia algo parecido aqui, já que, de vez em quando, vejo meninos e meninas dormindo debaixo de marquises, no vão das pontes. Mas essa é uma questão delicada, já que o perfil de muitos desses meninos[as] já não se enquadra nas regras que essas instituições propõem...Como escreveu Jorge Amado, muitos desses meninos amam a rua verdadeiramente...

e agora, Seu Zé?_indivíduo / rua

Page 92: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_indivíduo / rua

No dia 09 de outubro de 2009 assisti ao Programa “Famosos do Mundo Real”, no canal National Ge-ografic. A reportagem mostrava projetos para sobreviventes de guerra na Libéria. O público alvo eram crianças, sobretudo ex-soldados infantis, e o programa estava baseado principalmente na construção de playgrounds públicos, construídos nas comunidades locais.Na festa de inauguração, a comunidade providenciou os comes e bebes e a infra-estrutura [espaço, carro de som, iluminação, etc.]. O projeto foi executado em 25 escolas e mais umas tantas pracinhas de bair-ro. Uma das pessoas envolvidas no projeto afirmou que era “muito difícil fazer as pessoa entenderem a importância de brincar no processo de cura”. No final do programa, um dos meninos dizia: “Nós mora-mos em uma favela, mas ainda podemos voar”.

Page 93: projeto de graduação _parte 03

Ah, look at all the lonely people...

Eu quis cantarMinha canção iluminada de solSoltei os panos, sobre os mas-tros no arSoltei os tigres e os leões, nos quintaisMas as pessoas na sala de jan-tarSão ocupadas em nascer e mor-rer[Panis et circensis, de Caeta-no Veloso e Gilberto Gil para o álbum Tropicália ou Panis et Cir-censis; RGE, 1968]

No alto: Eleanor Rigby, de Lennon & McCartney, para o album Revolver; The Beatles, 1966, Parlophone (GB) / Capitol (EUA)

CASA

BOTÔ LONAVIRÔ CIRCO

Panis et Circensis

Page 94: projeto de graduação _parte 03

Projeto Morar no Centro, Morar na Rua!

E se, no lugar de repelir,convidasse?

_indivíduo / rua

Page 95: projeto de graduação _parte 03

Desde o princípio, o que tem norteado este projeto é a vontade de saber se seria possível uma cidade menos agressiva – do ponto de vista do meio ambiente e até mesmo das relações políticas e pessoais. Iniciativas desse porte têm sido raras. Não por serem difíceis, mas porque parece haver mesmo um grande esforço em manter as coisas como estão. Deve haver alguém se dando bem com isso.Procuramos, então, respostas para as nossas angústias em nossas andanças pelo país, através dos En-contros e Seminários organizados por estudantes de arquitetura [e alguns cursos de extensão organiza-dos por professores aqui da UFES], na internet e nos livros que tratam da cidade. Descobri, sem muita surpresa, que já se fala, há alguns anos, na busca por uma “permacultura urbana”, mas ela ainda aposta na adoção de medidas pontuais.Projetos que minimizem os gastos de energia são um bom começo. A utilização de materiais menos agressivos, como madeira certificada e as tintas chamadas naturais, também deve ser considerada. A reutilização de bens naturais, como a água, também vem sendo estudada por todo o mundo. Em alguns lugares, onde a escassez de água já é um fato, a água utilizada na descarga do banheiro vem de um reservatório que capta as chamadas águas cinzas, que são as que utilizamos para tomar banho e lavar as mãos. Entretanto, o sistema ainda precisa evoluir, já que, durante o banho, a água carrega consigo – além da sujeira – xampus e cremes, pêlos, suores e até sangue, fluidos que passarão por um filtro que precisa de manutenção constante. Além disso, hoje em dia até mesmo os casais têm gasto dinheiro e espaço para construírem duas suítes no quarto de casal, porque um não suporta os odores do outro, o que mostra que, no quesito mentalidade, ainda estamos longe de utilizarmos nos nossos banheiros a água que passou pelo corpo de terceiros. Soluções deste tipo tendem a ser adotadas somente quando a “água estiver batendo na bunda”. Ou melhor, quando estiver faltando água para isso. E pode ser que, até lá, já se tenha descoberto um meio barato de dessalinizar a água.

e agora, Seu Zé?_cidade / meio-ambiente

Page 96: projeto de graduação _parte 03

Durante as viagens proporcionadas pelos Encontros de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo tivemos a oportunidade de conhecer muitos lugares. Em cada um deles via-se sobretudo o que não se achava em Vitória. [A esta altura, você já deve ter percebido que, quando escrevo “Vitória” me refiro à Região Metropolitana, mas, sobretudo, aos municípios de Vitória, Vila Velha e Serra]. Mas sempre se voltava para casa com a certeza de que Vitória também tinha algo que nenhuma delas tinha. Não se sabia o que era ainda, mas voltava sempre tendo cada vez mais a certeza de que aqui era um bom lugar. Mesmo ao assistir a alguns filmes que exploravam os lugares onde se passava a história, ou nos livros ou slides das aulas que abordavam teoria e história das cidades, ou em websites, visitando lugares em que nunca estive, guardava comigo, cada vez mais, essa certeza.Percebi, depois, que nenhum deles tinha a escala que Vitória tem. É pequena, sem ser pequena demais, como as cidades do interior; é movimentada, sem ser agressiva, como Rio ou São Paulo; é dispare, mas não tanto quanto as cidades do Nordeste. Como disse certa vez a professora Clara Miranda, nos lugares em que o homem não colocou a mão, então, nossa região é ímpar. A paisagem natural da nossa Região Metropolitana é realmente muito bonita! Além do fato de estarmos na beira da praia e a 40 minutos de cachoeiras e montanhas. E mesmo em alguns pontos em que o homem tocou, calhou de acertar. O Cen-tro de Vitória me agrada em especial. O contato com a Baía, os vazios encontrados de tanto em tanto, a relação com os morros, tudo isso dota nossa cidade de um certo charme, até. A Grande Vitória, na minha cabeça, é assim: tem a medida certa, a escala certa.

_cidade / meio-ambiente

e agora, Seu Zé?

Page 97: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_cidade / meio-ambiente

Depois de algum tempo, percebi que, o que Vitória não tem, ainda pode vir a ter. Niterói, por exemplo, me lembra Vila Velha, com a diferença de que Niterói “se pendura” no Rio e Vila Velha em Vitória, o que tem seu lado positivo e negativo. Já São Luís me lembrava Vitória às vezes. Mas lá as pessoas usavam o espaço público de uma maneira diferente. À noite, especialmente nos fins de semana, as “ruas viravam casas”, e, numa mesma rua, passei por seis tipos de “rocks” diferentes; tudo gratuitamente. Em Reci-fe/Olinda o que me chamava mais a atenção era como as pessoas de lá valorizavam sua história, sua cultura. Sabiam os por quês de tudo, muito diferentemente de como acontece aqui. Já em Belém, o que me chamou a atenção foi o fato de que a cidade cabia aos turistas mas também aos seus habitantes. São Paulo, por sua vez, é aquela correria: você pode, literalmente, ser atropelado pelas pessoas. Só que o bom de São Paulo não é isso, mas o fato de ser um lugar onde as coisas acontecem, sobretudo cultu-ralmente. Mas percebam que são coisas que ainda cabem aqui. Pelo menos por enquanto.

Belém, PA. Vitória, ES.

Page 98: projeto de graduação _parte 03

_cidade / meio-ambiente

e agora, Seu Zé?

Estocolmo, Suécia. Vitória, ES.

Yerevan, Armênia. Vitória, ES.

Page 99: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_cidade / meio-ambiente

Estocolmo, Suécia.

Vitória, ES.SESC, São Paulo.

Vitória, ES.

Page 100: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

Estocolmo, Suécia.

Vitória, ES.

Page 101: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_cidade / meio-ambiente

Digo por enquanto porque, como tentei mostrar ao longo de todo este trabalho, estou preocupado. Pre-ocupam-me as administrações municipais, a falta de um planejamento metropolitano efetivo, a especu-lação imobiliária e a ação de algumas empresas que, por mais que gerem empregos, impingem a toda a cidade os efeitos colaterais de estarem ali. Este deve ter sido, pelo menos tangencialmente, o pano de fundo que me moveu a realizar este Trabalho. Medo de que Vitória permaneça esquecida no tempo ou, o que talvez seja até pior, seja atropelada por uma série de medidas que não mais permitam o toque, que modifiquem a escala atropeladamente, sem planejamento.Ainda temos muito para onde crescer. Falando metropolitanamente, Vila Velha ainda é bastante horizon-tal, com exceção à orla, e a Serra é cheia de vazios, muitos dos quais devem permanecer assim [vide o PG de Braz Casagrande: Os cheios, os vazios e os vazios; UFES, 2002]; Viana e Cariacica podem ser consideradas áreas quase rurais; Guarapari se desenvolve como balneário e Fundão às margens da BR. O problema será se continuarmos a urbanizar esses municípios espraiadamente no lugar de con-centrarmos nossos esforços em achar a densidade ideal para o núcleo urbano de cada um deles. Vitória parece já ter chegado perto de seu limite. Pelo menos é com isso que se preocupam muitos dos estudos publicados nessa área. O problema de nossa capital, hoje, diz respeito à circulação e acesso: circulação de pessoas e mercadorias; e acesso a toda a população aos bens e serviços que lhes são garantidos pela Constituição.

Page 102: projeto de graduação _parte 03

_cidade / meio-ambiente

e agora, Seu Zé?

Depois de ler Não verás país nenhum, um receio [ainda mais] pessimista se aproximou de mim, e eu ficava pen-sando quando iria chegar o tempo em que Vitória fosse começar a se parecer com as cidades de que falamos ou com as cidades dos filmes aos quais nos referimos.

Por do sol, CST e Vale, Vitória, ES.

Page 103: projeto de graduação _parte 03

Deus lhe pague...

Smog em Los Angeles, EUA.

Porto da Companhia Siderúrgica de Tubarão, ES.

Pela fumaça, de graça,

que a gente tem que tossir

[...]

Por me deixar respirar

Por me deixar existir

Deus lhe pague...

[Deus lhe pague, de Chico Buar-

que para o álbum Construção; Pho-

nogram, 1971]

Você deve aprender a abaixar a ca-

beça

E dizer sempre muito obrigado

[...]

Pra ganhar um fuscão no Juízo Final

E um diploma de bem comportado

Você merece, Você merece

Tudo vai bem, tudo legal

Cerveja, samba e amanhã, Seu Zé,

Se acabarem teu carnaval?

[Você Merece, Gonzaga Jr; 1974]

Page 104: projeto de graduação _parte 03

_cidade / meio-ambiente

e agora, Seu Zé?

A falta de opção para tantos cidadãos deve ser superada. Pais que não têm acesso a emprego, famílias que não têm acesso à educação, filhos que não têm acesso ao mínimo. Pessoas que não têm acesso a lazer, cultura, informação, justo numa sociedade como a de hoje, na qual, segundo Gabriela Pereira, “o acesso à informação e à comunicação é uma das condicionantes para o desenvolvimento”.[Arquitetura e Informação; UFES, 2005; p. 7].Ao continuarmos negligenciando boa parte dos cidadãos, ao mantê-los em seu estado atual, sem pers-pectiva de progressão, estamos correndo sério risco de perder o controle. Como afirmei, acredito que Vitória ainda pode dar certo. [Ou continuar dando certo]. Mas é preciso agir agora, enquanto “nossos meninos”, como diz Dona Enedina [liderança do Bairro Floresta], ainda estão brincando de polícia e ban-dido. Depois que organizações paralelas como as que atuam no Rio e em São Paulo resolverem tomar a cidade de assalto, pode ser tarde demais.

Page 105: projeto de graduação _parte 03

_cidade / meio-ambiente

e agora, Seu Zé?

Desde que tenho consciência do mundo que me cerca, jamais o problema da violência urbana esteve tão sério. Uma sociedade desigual alimenta a violência, e alimenta a criminalidade e o tráfico, que alimenta o vício, que alimenta a violência, que alimenta a insegurança, que alimenta a segregação, que alimenta a violência, e essa bola de neve não terá fim nunca.

Page 106: projeto de graduação _parte 03

Por esse pão [pra comerPor esse chão [pra dormirA certidão [pra nascerE a concessão [pra sorrirDeus lhe pague...

quando derem vez ao morro...

Sei que o tom do discurso parece pessimista, mas a maioria dos autores lidos afirma que a situação não é de desespero, mas, sim, de alerta e tomada de consciência. Em primeiro lugar, tomar consciência da situação; em segundo, ter consciência de que não dá mais para ficar esperando que alguém apareça com uma solução global para a crise: há muitas pessoas que querem que as coisas permaneçam exata-mente do jeito que estão. Patrick Geddes revolucionou sua vizinhança – uma das mais problemáticas de Edimburgo – começando com uma simples pintura de paredes e o plantio de flores em sua janela: “Um a um, alguns habitantes dos prédios começaram a dar parte de seu tempo para as tarefas que Geddes os persuadia a assumir com ele: limpeza, caiação ou jardinagem. [...] Pela primeira vez começavam a sentir que algo poderia ser feito para melhorar o ambiente onde viviam”. [Trecho sobre Geddes numa carta de Kropotkin a Reclus, em 1886; Peter Hall; 2007, p. 288]

[Tom e Vinicius]

Page 107: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_cidade / meio-ambiente

Iniciativas como as do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, os Bancos Comunitários que têm incutido a idéia da economia solidária dentro de localidades desassistidas, o surgimento de produtos preocupados com o meio ambiente, enfim, muitas têm sido as ações que mostram que “um outro mundo é possível”. Mas é preciso agir logo, e agir desde cedo. E, segundo Moacir Gadotti, autor do livro Educar para um outro mundo possível, isto não só é possível como deverá acontecer, desde que venha das bases:“A construção de uma nova sociedade não pode ser adiada para o momento da revolução ou da vitória eleitoral. [...] A mudança está conosco. Mudar o mundo não é a missão de uns poucos heróis, de uns poucos militantes. É a tarefa de todas as pessoas. [...] Esse ‘outro mundo possível’ será fruto de um processo instaurado pelos que não têm poder”. [Moacir Gadotti em entrevista para a Revista Filosofia, Ciência e Vida; ano 01, nº 10; p. 6/7]A questão principal é que não se trata de um problema específico, ou de se encontrar uma solução global generalizante, que vá resolver todos os nossos problemas. Soluções localizadas, pontuais podem surtir grande efeito em seu entorno imediato, e acabar contaminando uma região inteira.“Creio que ao pensamento único não podemos opor um outro pensamento único. Sempre existe mais de um ponto de vista que responde a uma mesma questão. [...] O partido único e o monolitismo ideológico conduzem necessariamente ao fracasso político. A diversidade é a característica fundamental da hu-manidade. Diante da diversidade humana abre-se a possibilidade da diversidade de mundos possíveis”. [Gadotti, p. 13]

Page 108: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

Muitas crianças brasileiras vivem uma realidade social que lhes mostra apenas um caminho a seguir. Um único caminho com dois sentidos: para um lado, o narcotráfico; para o outro, o subemprego. Por isso perguntar, o tempo todo, para onde estamos caminhando. Qual será, por exemplo, o futuro das cida-des?Como vimos, alguns apresentam um salto para o futuro, enquanto outros pregam uma volta ao passado. No primeiro caso, penso que somente as pessoas que tiverem muito dinheiro poderão pegar sua espa-çonave com destino à primeira cidade espacial [feita com o dinheiro dos sheiks de Dubai]. No segundo, também só quem tem uma reserva considerável, e puder comprar seu sitiozinho – sua casa no campo – é que vão se dar bem. Os outros [nós?] também continuarão na mesma.Portanto, permanece a pergunta. Para onde? Qual o futuro de uma cidade como Vitória? Depois de ler e pesquisar sobre o assunto, começo a acreditar mesmo que um possível futuro será encontrado na cida-de. O futuro parece mesmo querer ser urbano. Mas, que cidade?

Page 109: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_cidade / meio-ambiente

Page 110: projeto de graduação _parte 03

_cidade / meio-ambiente

e agora, Seu Zé?

Precisamos rever todo o nosso modo de habitar este planeta. Todos parecem estar cientes dessa neces-sidade.Muitos parecem não interessados em que se mude coisa alguma. A maioria pensa sobre, mas nada faz. E uns poucos estão tentando chamar a atenção dessa maioria, tentando fazê-la se movimentar.Se existe um ambiente potencialmente especial, este ambiente é a escola. Atualmente, mesmo nas loca-lidades mais pobres, observamos um empenho dos pais em pôr seus filhos nas escolas, e isso é fruto de anos de propagação de que a educação pode fazer a diferença. Não questiono aqui se o Estado assumiu a função de educar, que deveria partir dos pais, mas pode-se tirar proveito dessa situação atual. Já que grande parte das famílias precisa deixar seus filhos nas creches e escolas para que os pais possam traba-lhar, podemos utilizar tais equipamentos para promover uma nova forma de educação, como pretendia Edgar Morin [cujos pensamentos aqui são apresentados por Izabel Petraglia].

Page 111: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_cidade / meio-ambiente

Morin focaliza seus estudos sobre a educação porque acreditava que estávamos diante de uma “agonia planetária” e somente a educação poderia nos libertar.“Para essa transformação, alguns apontam novos paradigmas. Morin fala do paradigma da complexida-de, que influi sobremaneira na educação, que abrange todas as áreas do conhecimento”. [p. 103]Para Milton Santos, as possibilidades de sairmos da crise devem ser procuradas dentro da própria cida-de:

“A cidade é o lugar em que o Mundo se move mais; e os homens também. A co-presença ensina aos homens a diferença. Por isso, a cidade é o lugar da educação e da reeducação. Quanto [...] mais numeroso e significativo o movimento, mais vasta e densa a co-presença e também maio-res as lições e o aprendizado”. [Milton Santos; 1994; citado por Ivana Marques: No olho da rua; UFES, 2006].

Page 112: projeto de graduação _parte 03

_cidade / meio-ambiente

e agora, Seu Zé?

Ambos os autores nos advertem sobre a necessidade de tomarmos consciência acerca de nosso destino no planeta, pois somente associando ética e solidariedade conseguiremos nos libertar dessa agonia. Os dois mostram-se especialmente preocupados com o processo de globalização:

“O desenvolvimento tem dois aspectos. Por um lado, é um mito global em que as sociedades industriais atingem o bem-estar, reduzem suas desigualdades extremas e proporcionam aos indivíduos o máximo de felicidade que uma sociedade pode dispensar. Por outro lado, é uma concepção redutora, em que o crescimento econômico é o motor necessário e suficiente de todos os desenvolvimentos sociais, psíquicos e morais. Esta concepção técnico-econômica ignora os problemas humanos da identidade, da comunidade, da solidariedade e da cultura. Assim, a noção de desenvolvimento continua gravemente subdesenvolvida. A noção de subdesenvol-vimento é um produto pobre e abstrato da noção pobre e abstrata de desenvolvimento”. [Edgar Morin e Anne Brigitte Kern; Terra-Pátria; p. 64; in: Petraglia; p. 63]“Nesse processo, o capitalismo se constitui uma forma de globalização injusta que deve ser su-perada ‘por uma outra globalização’, como sustentava nosso saudoso Milton Santos. A globalização capitalista é uma ‘fábula’, como afirma ele, na medida em que o mundo não foi globalizado para maioria das pessoas. É assim que os ‘globalistas’ querem que vejamos o mundo. Na verdade, a globalização é perversa para a grande maioria dos seres humanos. Para a maioria das pes-soas é apenas uma ilusão; é uma fantasia pensar que estamos todos globalizados. Temos a ilusão de que estamos nos comunicando com todo o mundo e que fazemos parte da globalização. Mas o mundo só está realmente melhor para as grandes corporações. A globalização capitalista só chega a poucos, muito poucos”. [Gadotti; p. 10]

Page 113: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_cidade / meio-ambiente

Gabriela Pereira, tendo também como referência Milton Santos, lembra que “não é preciso muito esforço para perceber que a globalização não é a mesma para todos”:

“O mundo global, que talvez pudesse soar como uma perspectiva de união, de alcançar ‘toda’ a extensão do globo terrestre, na realidade apresenta-se como um mundo de desiguais be-nefícios, malefícios, lucro e prejuízo. Observa-se que é cada vez maior o distanciamento entre pobres e ricos. O estímulo à competitividade ganha força frente ao ideal de cooperação. O incentivo ao consumo exagerado é descarado, tanto de mercadorias quanto de ideologias, que apresentam-se cada vez mais superficiais. Os objetivos humanos e sociais cedem frente a este cenário de preocu-pações secamente econômicas. A ‘fábula da globalização’ surge amparada por esse aparato ideológico e tenta convencer de que ele é a única possibilidade”.[Arquitetura e Informação; p. 14; Gabriela Pereira; UFES, 2005]

A marcha desenfreada das sociedades e civilizações em busca de progresso e desenvolvimento da ciên-cia, da razão e da técnica, culminou numa grande crise, a qual, segundo Edgar Morin, “não é o contrário do desenvolvimento, mas a própria forma deste”. [p. 63]

Page 114: projeto de graduação _parte 03

_cidade / meio-ambiente

e agora, Seu Zé?

O modelo de desenvolvimento apregoado pelo modelo ocidental possui, como tudo [dizem], dois lados; busca-se este desenvolvimento, mas essa busca ignora seus próprios efeitos colaterais. Seria neces-sário, portanto, subverter a idéia de desenvolvimento, ou a idéia deste desenvolvimento; buscar outra saída. O problema é que essas mesmas bases continuam esperando que a revolução venha de cima.

“Há várias décadas já se via que as possibilidades de mudanças profundas através da tomada de poder estavam esgotadas. [...] Os partidos não são os únicos canais de participação política. [...] Não se pode utilizar a mesma lógica e os mesmos métodos utilizados pelo capitalismo para tentar superá-los. [...] Então, não se trata de conquistar o poder para mudar a sociedade. Trata-se de construir uma sociedade sem relações de poder, isto é, sem relações de mando e subor-dinação”.[Gadotti; p. 8]

Page 115: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_cidade / meio-ambiente

“Não se pode mudar o mundo sem mudar as pessoas. O mercado existia bem antes do capitalis-mo e, possivelmente, continuará a existir depois dele. [...] O mercado não é um ser imutável; pode ser regido sob uma outra lógica. [...] O mercado não foi inventado pela mão invisível de um deus que o fez necessariamente excludente e perverso. Ele foi inventado pelos homens e tudo o quanto foi inventado por eles, por eles pode ser re-inventado”. [Gadotti; p. 9]

A saída se encontraria, portanto, no auto-conhecimento, o que implica em conhecer o que nos cerca [sociedade, ecossistema, planeta], já que, segundo Morin, somos parte um do outro. Mas, para que isso seja possível, “é necessária uma consciência reflexiva de si e do mundo, uma nova ética da solidarieda-de, que implica em mudança de atitude e perspectiva diante da vida”. [p. 103]Para ele, o ser humano, assim como tudo [o planeta, a sociedade ou mesmo uma bactéria], também é um sistema e, como tal, deveria ser entendido em sua complexidade.“O Sujeito é o ‘eu’ que se coloca no centro do mundo, ocupando seu próprio espaço. Sua concepção é complexa, por isto o “eu” precisa da relação com o “tu” e ambos pertencem ao mundo”. [p. 58] Mas não é só isso: “O indivíduo não está somente dentro da sociedade; a sociedade enquanto todo está também dentro de cada indivíduo”. [p. 83]E, para Edgar Morin, é somente a partir da educação do ser humano, de ensinar ao ser humano que ele é parte do todo – parte esta que contém o todo em si mesma – é que conseguiremos sair dessa agonia. Mas, antes, será necessário, então, reaprender a ensinar.Morin acredita que, depois que entender isso, o ser humano será capaz de se transformar, de se manter em estado de eterna aprendizagem, colocando seu aprendizado em função de seu meio ambiente.

Page 116: projeto de graduação _parte 03

_cidade / meio-ambiente

e agora, Seu Zé?

Mas resta, ainda, uma pergunta: “quem educará os educadores?” [Marx, citado por Morin em 1988]“Essa formação [dos professores] deveria ser uma formação autodidata, mas é claro que todo auto-didata é também um heterodidata porque o autodidata aprende sozinho, mas indo sempre às fontes que existem fora dele e antes dele. [p. 89] Como é impossível de encontrar essa formação na insti-tuição existente, pode-se imaginar que se criaria uma instituição que desse esta formação. Eu creio que é preciso partir do que eu chamo de ciência de um novo tipo, que são três: ecologia, as ciências da terra e a cosmologia”. [p. 90]

É necessário, ainda, aceitar a desordem, a imprevisibilidade como parte do processo do conhecimento:“Vimos que a vida não é um processo linear, mas um processo aleatório, que comporta não poucas desordens [...] e muitas são absolutamente positivas, porque significam também liberda-de. Ou seja, começamos a conceber que para compreender tudo o que acontece, tanto do ponto de vista físico, humano, biológico, como social e psicológico, não podemos opor ordem e desordem, não devemos mesmo expulsar a ordem para colocar a desordem no seu lugar; é preciso ver este diálogo, esta complementaridade no antagonismo das noções de ordem e desordem, graças às quais nascem as organizações, isto é, os sistemas. Aí as idéias começam a se movimentar [...]” [p. 98]

Page 117: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?_cidade / meio-ambiente

“Infelizmente, devo dizer, hoje, as condições são sobretudo desfavoráveis. [...] Infelizmente, a crise não é suficientemente aprofundada. [...] As instituições resistem e até mesmo impe-dem os espíritos que desejam se reformar de poderem efetuar esta reforma”.[Edgar Morin]

Dez motivos para visitar o Salão do Automóvel [reportagem de Ricardo Freiesleben para http://br.esportes.yahoo.com/081028/48/gju3kg.html; 28 de outubro de 2008].

“O dia 30 de outubro está logo aí e tem gente que não vê a hora desta data chegar. O motivo é sim-ples. Não será nenhuma final de campeonato e muito menos o último capítulo da novela, mas sim a abertura do Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, [...] No ano passado foram registrados cerca de 600 mil visitantes na feira, um número tão expressivo que, segundo a São Paulo Turismo, faz deste evento um dos mais populares da cidade, atrás apenas da Virada Cultural, da Parada GLBT e da Bienal do Livro. Mas em 2008 há uma expectativa de que o Salão ultrapasse a Bienal no ranking”.

O que poderia, ou deveria, na minha opinião, ser um dos principais motivos para se visitar o salão, que são as novas possibilidades para o automóvel [como o uso de combustíveis alternativos, por exemplo], aparece somente no final do ranking dos 10 mais, atrás de motivos como “poder ver o carro do speed racer, a lamburguinhi do Batman e tirar fotos ao lado de modelos lindíssimas”.

Page 118: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

A questão social, industrial

Não permite, não quer

que eu ande a pé

Na vitrine um mustang

cor de sangue

Tenho um novo ideal sexual

Abandono a mulher

virgem no altar

Amo em ferro e sangue

Um mustang cor de sangue

No farol vejo o seu olhar

Minha mão toca a direção

No painel eu vejo o seu amor

E o meu corpo invade o interior

A questão social, industrial

Não permite que eu seja fiel

Na vitrine um corcel cor de mel

[Mustang Cor De Sangue, de

Paulo Sérgio Valle e Marcos Valle;

in: Marcos Valle 1969; Odeon]

Mais gente querendo ver o carro do Batman do que a Bienal...Me lembra uma propaganda em que uma moça passa por um rapaz e faz cara de apaixonada; o rapaz não dá muita importância, mas se enamora do carro que vê numa vitrine logo adiante. O carro, por sua vez, “olhando fixamente” para um posto de gasolina.Bruno Bowen recebeu alguns amigos de Madrid recentemente e os espanhóis admitiram estar surpresos com o estardalhaço que a mí-dia daqui [do Brasil, em geral] faz em torno de notícias ruins. Não que lá não houvesse problemas; só não havia uma indústria lucran-do com a veiculação disso. Sabemos que quanto maior a veiculação de roubos, seqüestros e mortes violentas, maior será o medo; e quanto maior o medo, maior será o lucro das empresas que prome-tem segurança, já que também é notório o fato de não podermos contar muito com a segurança pública.

Page 119: projeto de graduação _parte 03

No momento, enquanto estamos jogando esgoto em nossos cursos d’água, Seul recupera os seus. As imagens mostram um escoamento de água pluvial no centro da cidade que foi completamente transfor-mado. Estamos, sim, caminhando rumo ao conforto através da tecnologia, mas lembro que, no Ensino Médio, li um texto que mostrava uma pesquisa feita com taxistas de São Paulo. A maioria tinha acu-mulado gordura depois de alguns anos utilizando o vidro elétrico no lugar da alavanca manual. Isto é apenas ilustrativo. No campo da Construção Civil também encontraremos alguns efeitos colaterais. Na disciplina de Tecnologias e Recursos Naturais, do professor Mindszenti, ficamos sabendo, por exemplo, do estrago causado pela extração de areia e rocha para a construção civil. Não sei se o pior papel é o do Poder Público, que autoriza essa extração em algumas áreas, ou o das empresas, que o fazem sem autorização – clandestina e criminosamente – em outras, ou do profissional, que especifica esse tipo de material indiscriminadamente.

e agora, Seu Zé?_cidade / meio-ambiente

“Eu não me sinto isolado, não me sinto solitário, portanto tenho a impressão de que não sou um louco. Eu vejo que outras pessoas encontram as mesmas idéias, os mesmos conceitos por seus próprios cami-nhos e a partir de disciplinas diferentes... É como se existisse uma constelação”.[Edgar Morin, citado por Isabel Petraglia; p. 97]

Page 120: projeto de graduação _parte 03

e agora, Seu Zé?

Disse [Kublai Khan]:_ É tudo inútil, se o último porto só pode ser a cidade infernal, que está lá no fundo e que nos suga num vór-tice cada vez mais estreito.E Polo:_ O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é algo que já está aqui, o inferno no qual vivemos to-dos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o in-ferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige aten-ção e aprendizagem contínuas: ten-tar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.Cidades Invisíveis; Ítalo Calvino [Le città invisibili]; Biblioteca Fo-lha, 1972.

Não considero necessário um capítulo final que trate exclusiva-mente da conclusão deste trabalho. Penso que cada uma de suas partes já continha, em si mesmas, suas próprias conclusões. Repeti-las aqui seria repetitivamente repetitivo.Conclusões? Tire você as suas...Por isso, tentarei ser sucinto. No começo deste Volume afirmei que uma das minhas questões era a de me provar que estava preparado para me graduar. Quis pegar alguns pontos do Proje-to Pedagógico e dar conta deles. Você já deve ter percebido que não consegui.Na verdade, este Projeto acabou se tornando mais um memo-rial para uma série de estudos preliminares. O que era um dos objetivos [“vários projetos em várias escalas”, lembra?]. Mas pretendia pegar pelo menos um desses projetos e aprofundá-los pelo menos ao nível de anteprojeto legal. Não deu.Como afirmei antes, cinco anos foram pouco tempo para tudo o que me propus aqui dentro, e dois anos também foram pouco para o que se pretendia. Mas estou satisfeito, apesar de um pou-co frustrado. Frustrado por ter futucado várias feridas sem, no entanto, ter conseguido propor alternativas para solucioná-las.

Page 121: projeto de graduação _parte 03

No mais,“As cidades são para as pessoas”.Esta é a única conclusão possível.

Page 122: projeto de graduação _parte 03

Pessoa = Pessoas aquele abraço!_e obrigado por tudo...

[Gonzaga Jr.]