prisma
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2013
Marco Bueno
PRISMA
PRISMA
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Há alguns dias venho reparando o relacionamento de determinadas pessoas ao meu redor,
no que diz respeito a mim. Essas pessoas objetos de meu estudo não tem sido um espelho ou uma
referência, muito pelo contrário, elas tem sido o resultado de uma luz ao prisma. Eu emito
determinada luz, e elas refratam de maneiras diferentes.
Eu brinco, e elas me pedem para me colocar no meu lugar; se eu fico quieto e entocado no
meu canto, elas falam que eu não faço nada. Se eu as abraço, falam que eu sou atrevido; se eu não
as cumprimento, sou chamado de frio. Se cobro uma dívida sou insensato; se não pago sou
salafrário. Se falo o que estou pensando, devo tomar cuidado com a língua; se digo o que elas
querem ouvir, sou amigo. Se eu não discuto determinado tema, sou tapado e ignorante; se eu
defendo idéias, sou arrogante. Se sorrio demais, sou falso; se fico sério, sou anti-social e egoísta.
No senso comum, uma pessoa crítica é aquela que só sabe reclamar. Olhar o mundo sob
outro prisma, sob outra ótica, pensar fora da caixinha, quebrar paradigmas, refutar idéias,
contextualizar assuntos, se defender de pedradas, buscar a própria transformação ou tentar ser "eu
mesmo", são expressões eruditas que não combinam com as roupas comuns e que são vendidas em
qualquer brechó, escondido sob uma marca qualquer e cujo valor é apenas o preço.
Vivemos um mundo de faz de conta, e qualquer cidadão que não cabe no contexto
ideológico de determinado grupo, está fora. As razões pelos quais uma determinada pessoa não se
encaixa nessa ou naquela situação não é exatamente o foco de meu pensamento.
O meu foco é o disfarce.
Analogias a parte, dissimular o nosso verdadeiro aspecto, de algo ou de outrem é coisa que
sabemos fazer muito bem, contudo, se esconder atrás de um mundo colorido não condiz com a atual
realidade, pois estamos vivendo uma época em que a transparência começa duvidar de si mesma, e
a crítica e o julgamento, enfim, parece querer tomar o seu verdadeiro lugar.
Estou careca de tanto dizer que não sou da área de letras, mas admito que tenho uma certa
caidinha pelo setor, e neste departamento, um fato que me chama atenção são os significados das
palavras. Vou ser atrevido e ousado ao mesmo tempo, mas não inconsequente: a forma que nos
comunicamos está muito atrasada. Quero deixar claro que essa forma atrasada a que me refiro não
é no sentido de falar e escrever certo ou errado. Estou revivendo uma guerra fria muito antiga e
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3 diária do ser humano: a boca expressa o que a alma sente. A incongruência comunicativa é
derivada do não perceber o que realmente está sentindo.
Por exemplo, aqui está uma colocação padrão de várias pessoas: Esta tudo bem? Sim,
graça a Deus. Engraçado o seu dia está sendo daqueles: a mulher acordou de pá virada e esta
perturbando até umas horas; o bicho de estimação morreu; recebeu um email dizendo que foi
demitido da empresa; a sua filha de quatorze anos diz que esta grávida e você ainda dá graça a
Deus?
Repare bem, mas bem mesmo, que, estou falando de sentimentos verdadeiros: Esta tudo
bem? Olha, estou com uma série de problemas mas acredito que eles irão se resolver; ou
!@#$#%%!!! você ta loko?
Não sei se essa divergência na sociabilidade do homem é cultural, mas sei que os
motivos que as pessoas andam se enganando vai muito além deste mundo encantado de OZ que ele
criou.
Espero não estar enganado, e não me corrija se eu estiver, mas se a tradição tiver a função
de preservar na sociedade costumes e práticas que mostraram ser eficazes no passado e a sua ação é
uma forma de dominação sem o uso da força, tendo como único objetivo o de influenciar o outro a
fazer aquilo que supostamente foi bom, então eu pirei e parei.
Aquilo que foi ou é bom para sociedade, não significa que foi ou continua sendo para mim
ou você.
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