press review page - clipquick · 2012. 3. 8. · "kopelipa", ministro de estado e chefe...
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Álvaro Sobrinho não é o único sob investigação do Ministério Público. Os alvos são
também os ex-ministros angolanos Manuel Rabelais, José Pedro Morais e LeopoldinoNascimento. E a mulher do ministro Manuel Dias "Kopelipa". Por António José Vilela
EmPortugal, Luísa Giovetty desloca-
se num Bentley 3W ou num Rolls-
Royce Ghost Family que custa mais
de 250 mil euros. Tem ainda casas
em Lisboa e Vilamoura e terrenos
para construir na Quinta da Marinha, em Cas-
cais, avaliados em 4 milhões de euros. A 30 de
Setembro de 2010, a mulher de Manuel Dias
"Kopelipa", ministro de Estado e chefe da
Casa Militar do Presidente angolano José
Eduardo dos Santos, fez mais um negócio:
comprou dois apartamentos de luxo no Es-
torilpor mais de 6,4 milhões de euros.
Paia o Ministério Público, o negócio imo-
biliário de Luísa Giovetty é suspeito de violar
a lei portuguesa de branqueamento de capi-tais e, por isso, está a ser investigado num in-
quérito-crime aberto no ano passado no De-
partamento Central de Investigação e Acção
Penal (DCIAP). Actualmente, a investigaçãoestá a ser dirigida pelo procurador Paulo Gon-
çalves, depois da polémica salda do anterior
titular do inquérito, Orlando Figueira, que pe-diu uma licença sem vencimento de longa du-
ração para ir trabalhar para o sector privado.O processo-crime do DCIAP foi aberto
após o negócio de Luísa Giovetty ter sido de-
tectado numa acção de fiscalização da Co-
missão do Mercado de Valores Mobiliários
(CMVM) à sociedade Fund Box, a entidade
que gere o fundo imobiliário Fundor, o qualdetém o empreendimento Estoril-Sol Resi-
dence. No centro da investigação estará o ale-
gado não cumprimento, por exemplo, do
"dever de diligência" previsto na Lei 25/2008,
que obriga as entidades que gerem fundos
A mulher de "Kopelipa"comprou dois apartamentos pormais de 6,4 milhões de euros
imobiliários a exigir aos compradores a iden-
tificação da proveniência do dinheiro.
O contrato de compra e venda foi as sinado
a 30 de Setembro de 2010 no Edifício Hotel
Atlântico, no Monte Estoril, onde fica a sede
da imobiliária Porta da Frente, que foi funda-
da pelo ex-presidente do Benfica Manuel Da-
másio e comercializa o empreendimento.
Segundo o documento, a que a SÁBADO
teve acesso, Luísa Giovetty pagou por umdos apartamentos, localizado no 9. 0 piso(lado D do Bloco 8),3,83i milhões de euros.
O outro, no 14. 0 piso (lado B do Bloco C), fi-
cou por 2,572 milhões de euros. Cada umdestes imóveis tem duas arrecadações e qua-tro lugares de estacionamento.
Segundo apurou a SÁBADO, a acção da
CMVM identificou ainda outros negóciosimobiliários suspeitos. Um deles foi o me-
diático caso dos seis apartamentos
adquiridos no mesmo empreen-dimento do Estoril por Álvaro So-
brinho, presidente do BES Ango-la (BESA), processo também an-
teriormente titulado por Orlando
Figueira e que passou igualmen-te para o procurador Paulo Gonçalves.
As suspeitas sobre Álvaro Sobrinho tran-
sitaram, por decisão do MP, para um inqué-rito autónomo por branqueamento de capi-
tais, um dos dois processos que no DCIAP
visam Álvaro Sobrinho.
Na documentação oficial consultada pelaSÁBADO no Cartório Notarial de Cascais,
percebe-se que o negócio da mulher de Ma- ?
? nuel Dias "Kopelipa" foi feito apenas 28 dias
após a sociedade gestora Fund Box assinar
o contrato da venda dos seis apartamentos,por 9.575.074,99, com o presidente do BES
Angola. Antes de o MP indiciar Álvaro So-brinho já o juiz de instrução Carlos Alexan-dre havia concordado com o pedido de ar-resto (uma espécie de apreensão preventiva)de cinco destes imóveis, pois um já fora en-tretanto revendido.
0 resto da informação recolhida pelaCMVM foi incorporada no inquérito-crimeque visa, além de Luísa Giovetty, pelo me-nos mais cinco outros negócios imobiliá-rios feitos no Estoril-Sol Residence. Excep-tuando um deles (quatro apartamentoscomprados, por 6,547 milhões de euros, porVladimir Sergeenkov, um ex-deputado do
parlamento russo e ex-governador da re-gião de Kirov), todos os outros foram feitos
por cidadãos angolanos que estão muitopróximos do Governo do Presidente JoséEduardo dos Santos.
É QUE, ENTRE OS cinco negócios que o Mi-nistério Público investiga, está o contrato de
compra e venda de dois imóveis no Estoril-Sol Residence do general Leopoldino Nasci-
mento, que já foi ministro de Estado e che-fe da Casa Militar do Presidente angolano.
Segundo os documentos oficiais queconstam no Cartório Notarial de Cascais,
Leopoldino e a mulher, Amélia, têm o "usu-fruto simultâneo e sucessivo" dos dois apar-
Na semana passada, o MPfez buscas e apreensõesem seis locais diferentes
tamentos avaliados, em conjunto, nas Fi-
nanças, por cerca de 734 mil euros. Na prá-tica, enquanto for vivo, o casal pode ocuparos imóveis, apesar de os apartamentos esta-rem registados, desde 2008, no nome das
suas quatro filhas menores.Dos cinco casos, fazem parte ainda outros
dois sob investigação que a CMVM identifi-cou apenas através de contratos-promessa de
compra e venda alegadamente assinados porex-membros do Governo de José Eduardodos Santos. Um dos casos será o de José Pe-dro Morais Júnior, ministro das Finanças en-tre 2002 e 2008. 0 outro é o de Manuel Rabe-lais, que teve a pasta da Comunicação Social.
Contudo, nos registos oficiais dos 110apartamentos do Estoril-Sol Residence, não
consta qualquer imóvel em nome de Ra-belais ou Morais Júnior. Assim, ou os ex-
governantes desistiram do negócio queformalizaram nos contratos-promessa(e perderam o dinheiro avançadcou simplesmente cederam pos-teriormente as posições con-
tratuais nos negóciosimobiliários.
Estas hipóteses ainda
estarão a ser investiga-das pelo MP. Apesar de
o fundo ter iniciado a
actividade a 11 de Abrilde 2006, só em 2010 a maior
parte dos contratos-pro-messa deu lugar a contratosde compra e venda. Issc
mesmo é referido no últi-mo relatório de contas do
fundo Fundor, disponívelno site da CMVM, salien-
tando que foram concreti-zadas vendas de imóveis
no valor de 106 milhões de euros.Nessa altura, cerca de 90% dos apar-
tamentos já estavam vendidos. Entreos compradores constam o futebolis-
ta Simão Sabrosa, com um imóvelno 13. 0 piso com o valor de 2,7milhões de euros, e José Mouri-nho, que pagou 1,419 milhões deeuros por um apartamento no 2."andar.
Na semana passada, no dia 29de Fevereiro, a imobiliária Por-ta da Frente e a sociedade FundBox foram dois dos alvos dasbuscas ordenadas pelo MP e au-torizadas pelo juiz de instruçãoCarlos Alexandre. A discretaoperação judicial contou com a
ajuda no terreno de militaresda Unidade Fiscal da GNR e de
peritos das Finanças. Foram es-
tes operacionais, e não elemen-tos da PJ, que vasculharam e
apreenderam dezenas de docu-mentos e o conteúdo dos com-
putadores instalados no escritó-rio da gestora do fundo de investi-
mento imobiliário, na Rua TomásRibeiro, em Lisboa, e na sede da
imobiliária no Monte Estoril. Asbuscas estenderam-se ainda ao es-
ÁLVARO SOBRINHOPresidente do BES AngolaTem cerca de 23 milhões deeuros apreendidos pelo Mi-nistério Público português
JOSÉ PEDROMORAISEx-ministro
jdas Finanças
i A investigação
l só localizou um
contrato-promessai
de compra e venda
critério de contabilidade que trabalha com
a imobiliária, com sede também no conce-
lho de Cascais (Alcabideche).
A SÁBADO questionou as administra-
ções da imobiliária Porta da Frente e da
Fund Box, mas apenas obteve resposta da
sociedade gestora, que alegou o dever de si-
gilo limitando-se a dizer, por email, que,
em seu entender, "não foram detectadas
situações passíveis de serem enquadradas
como branqueamento de capitais no que
respeita à comercialização do Empreendi-mento Estoril-Sol Residence".
A OPERAÇÃO CHEFIADA pelo procurador
Paulo Gonçalves e pelo juiz Carlos Alexan-
dre esteve também nas Amoreiras, em Lis-
boa, no escritório da advogada Ana Bruno,
que representa vários interes-
ses e empresas angolanas em
Portugal, como é o caso da
Newshold, proprietária do jor-
nal Sol e que também tem par-
ticipações no capital social dos
grupos Impresa (SIC, Expresso
e Visão) e Cofina (dona da SÁBADO).
Outro dos alvos, também nas Amorei-
ras, foi a sociedade unipessoal Grun-
berg, detida integralmente pela
Grunberg Investments, esta já com
sede no offshore das Ilhas Virgens Bri-
tânicas. A empresa é represen-tada em Portugal também porAna Bruno, com quem a SÁ-
BADO não conseguiu falar até
ao fecho desta edição.A presença dos investiga-
dores criminais na Grunberg,
e também no escritório do
contabilista da empresa
(igualmente nas Amoreiras), faz supor que
Álvaro Sobrinho continua a ser um dos al-
vos privilegiados do Ministério Público.
Isto porque 5,6 milhões de euros dos cer-
ca de 23 milhões - entre imóveis, aplicações
financeiras e depósitos bancários - que o
MP apreendeu ao presidente do BESA te-
rão passado precisamente pela Grunberg
Investments.
Entre os negócios suspeitosestá ainda a compra de quatrocasas por um ex-deputado russo
Quando no ano passado foi interrogado
e constituído arguido apenas num dos dois
processos do DCIAP (o caso do circuito da
fraude de 75 milhões ao Estado angolano
onde foi detectada uma transferência ban-
cária de 3 ,04 milhões de euros para as suas
contas em Portugal), Álvaro Sobrinho ne-
gou a prática de qualquer crime de bran-
queamento de capitais e associação crimi-
nosa. Recentemente, um acórdão do Tribu-
nal da Relação de Lisboa deu razão à defesa
de Álvaro Sobrinho e anulou as medidas de
coacção, entre elas uma caução de meio mi-
lhão de euros, aplicadas pelo Tribunal Cen-
tral de Instrução Criminal (TCIC). •
Os outros donosQUEM TAMBÉM TEM CASA NAS TORRES
DE LUXO DO ESTORIL-SOL RESIDENCE
JOSÉ MOURINHO. Em 2010, o
actual treinador do Real Madrid
comprou um apartamento por
1,419 milhões de euros.
SIMÃO SABROSA. 0 jogador
do Besiktastem lá um imóvel
avaliado nas Finanças por 2,7milhões de euros. Após o divór-
cio, ficou com o imóvel.
SÁRACCA LEAL. Dois filhos do
advogado, Eduardo e Francisco,
compraram um rés-do-chão
numa das três torres.