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Álvaro Sobrinho não é o único sob investigação do Ministério Público. Os alvos são também os ex-ministros angolanos Manuel Rabelais, José Pedro Morais e Leopoldino Nascimento. E a mulher do ministro Manuel Dias "Kopelipa". Por António José Vilela Em Portugal, Luísa Giovetty desloca- se num Bentley 3W ou num Rolls- Royce Ghost Family que custa mais de 250 mil euros. Tem ainda casas em Lisboa e Vilamoura e terrenos para construir na Quinta da Marinha, em Cas- cais, avaliados em 4 milhões de euros. A 30 de Setembro de 2010, a mulher de Manuel Dias "Kopelipa", ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente angolano José Eduardo dos Santos, fez mais um negócio: comprou dois apartamentos de luxo no Es- torilpor mais de 6,4 milhões de euros. Paia o Ministério Público, o negócio imo- biliário de Luísa Giovetty é suspeito de violar a lei portuguesa de branqueamento de capi- tais e, por isso, está a ser investigado num in- quérito-crime aberto no ano passado no De- partamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP). Actualmente, a investigação está a ser dirigida pelo procurador Paulo Gon- çalves, depois da polémica salda do anterior titular do inquérito, Orlando Figueira, que pe- diu uma licença sem vencimento de longa du- ração para ir trabalhar para o sector privado. O processo-crime do DCIAP foi aberto após o negócio de Luísa Giovetty ter sido de- tectado numa acção de fiscalização da Co- missão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) à sociedade Fund Box, a entidade que gere o fundo imobiliário Fundor, o qual detém o empreendimento Estoril-Sol Resi- dence. No centro da investigação estará o ale- gado não cumprimento, por exemplo, do "dever de diligência" previsto na Lei 25/2008, que obriga as entidades que gerem fundos A mulher de "Kopelipa" comprou dois apartamentos por mais de 6,4 milhões de euros imobiliários a exigir aos compradores a iden- tificação da proveniência do dinheiro. O contrato de compra e venda foi as sinado a 30 de Setembro de 2010 no Edifício Hotel Atlântico, no Monte Estoril, onde fica a sede da imobiliária Porta da Frente, que foi funda- da pelo ex-presidente do Benfica Manuel Da- másio e comercializa o empreendimento. Segundo o documento, a que a SÁBADO teve acesso, Luísa Giovetty pagou por um dos apartamentos, localizado no 9. 0 piso (lado D do Bloco 8),3,83i milhões de euros. O outro, no 14. 0 piso (lado B do Bloco C), fi- cou por 2,572 milhões de euros. Cada um destes imóveis tem duas arrecadações e qua- tro lugares de estacionamento. Segundo apurou a SÁBADO, a acção da CMVM identificou ainda outros negócios imobiliários suspeitos. Um deles foi o me- diático caso dos seis apartamentos adquiridos no mesmo empreen- dimento do Estoril por Álvaro So- brinho, presidente do BES Ango- la (BESA), processo também an- teriormente titulado por Orlando Figueira e que passou igualmen- te para o procurador Paulo Gonçalves. As suspeitas sobre Álvaro Sobrinho tran- sitaram, por decisão do MP, para um inqué- rito autónomo por branqueamento de capi- tais, um dos dois processos que no DCIAP visam Álvaro Sobrinho. Na documentação oficial consultada pela SÁBADO no Cartório Notarial de Cascais, percebe-se que o negócio da mulher de Ma- ?

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Page 1: Press Review page - ClipQuick · 2012. 3. 8. · "Kopelipa", ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente angolano José Eduardo dos Santos, fez mais um negócio: comprou

Álvaro Sobrinho não é o único sob investigação do Ministério Público. Os alvos são

também os ex-ministros angolanos Manuel Rabelais, José Pedro Morais e LeopoldinoNascimento. E a mulher do ministro Manuel Dias "Kopelipa". Por António José Vilela

EmPortugal, Luísa Giovetty desloca-

se num Bentley 3W ou num Rolls-

Royce Ghost Family que custa mais

de 250 mil euros. Tem ainda casas

em Lisboa e Vilamoura e terrenos

para construir na Quinta da Marinha, em Cas-

cais, avaliados em 4 milhões de euros. A 30 de

Setembro de 2010, a mulher de Manuel Dias

"Kopelipa", ministro de Estado e chefe da

Casa Militar do Presidente angolano José

Eduardo dos Santos, fez mais um negócio:

comprou dois apartamentos de luxo no Es-

torilpor mais de 6,4 milhões de euros.

Paia o Ministério Público, o negócio imo-

biliário de Luísa Giovetty é suspeito de violar

a lei portuguesa de branqueamento de capi-tais e, por isso, está a ser investigado num in-

quérito-crime aberto no ano passado no De-

partamento Central de Investigação e Acção

Penal (DCIAP). Actualmente, a investigaçãoestá a ser dirigida pelo procurador Paulo Gon-

çalves, depois da polémica salda do anterior

titular do inquérito, Orlando Figueira, que pe-diu uma licença sem vencimento de longa du-

ração para ir trabalhar para o sector privado.O processo-crime do DCIAP foi aberto

após o negócio de Luísa Giovetty ter sido de-

tectado numa acção de fiscalização da Co-

missão do Mercado de Valores Mobiliários

(CMVM) à sociedade Fund Box, a entidade

que gere o fundo imobiliário Fundor, o qualdetém o empreendimento Estoril-Sol Resi-

dence. No centro da investigação estará o ale-

gado não cumprimento, por exemplo, do

"dever de diligência" previsto na Lei 25/2008,

que obriga as entidades que gerem fundos

A mulher de "Kopelipa"comprou dois apartamentos pormais de 6,4 milhões de euros

imobiliários a exigir aos compradores a iden-

tificação da proveniência do dinheiro.

O contrato de compra e venda foi as sinado

a 30 de Setembro de 2010 no Edifício Hotel

Atlântico, no Monte Estoril, onde fica a sede

da imobiliária Porta da Frente, que foi funda-

da pelo ex-presidente do Benfica Manuel Da-

másio e comercializa o empreendimento.

Segundo o documento, a que a SÁBADO

teve acesso, Luísa Giovetty pagou por umdos apartamentos, localizado no 9. 0 piso(lado D do Bloco 8),3,83i milhões de euros.

O outro, no 14. 0 piso (lado B do Bloco C), fi-

cou por 2,572 milhões de euros. Cada umdestes imóveis tem duas arrecadações e qua-tro lugares de estacionamento.

Segundo apurou a SÁBADO, a acção da

CMVM identificou ainda outros negóciosimobiliários suspeitos. Um deles foi o me-

diático caso dos seis apartamentos

adquiridos no mesmo empreen-dimento do Estoril por Álvaro So-

brinho, presidente do BES Ango-la (BESA), processo também an-

teriormente titulado por Orlando

Figueira e que passou igualmen-te para o procurador Paulo Gonçalves.

As suspeitas sobre Álvaro Sobrinho tran-

sitaram, por decisão do MP, para um inqué-rito autónomo por branqueamento de capi-

tais, um dos dois processos que no DCIAP

visam Álvaro Sobrinho.

Na documentação oficial consultada pelaSÁBADO no Cartório Notarial de Cascais,

percebe-se que o negócio da mulher de Ma- ?

Page 2: Press Review page - ClipQuick · 2012. 3. 8. · "Kopelipa", ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente angolano José Eduardo dos Santos, fez mais um negócio: comprou

? nuel Dias "Kopelipa" foi feito apenas 28 dias

após a sociedade gestora Fund Box assinar

o contrato da venda dos seis apartamentos,por 9.575.074,99, com o presidente do BES

Angola. Antes de o MP indiciar Álvaro So-brinho já o juiz de instrução Carlos Alexan-dre havia concordado com o pedido de ar-resto (uma espécie de apreensão preventiva)de cinco destes imóveis, pois um já fora en-tretanto revendido.

0 resto da informação recolhida pelaCMVM foi incorporada no inquérito-crimeque visa, além de Luísa Giovetty, pelo me-nos mais cinco outros negócios imobiliá-rios feitos no Estoril-Sol Residence. Excep-tuando um deles (quatro apartamentoscomprados, por 6,547 milhões de euros, porVladimir Sergeenkov, um ex-deputado do

parlamento russo e ex-governador da re-gião de Kirov), todos os outros foram feitos

por cidadãos angolanos que estão muitopróximos do Governo do Presidente JoséEduardo dos Santos.

É QUE, ENTRE OS cinco negócios que o Mi-nistério Público investiga, está o contrato de

compra e venda de dois imóveis no Estoril-Sol Residence do general Leopoldino Nasci-

mento, que já foi ministro de Estado e che-fe da Casa Militar do Presidente angolano.

Segundo os documentos oficiais queconstam no Cartório Notarial de Cascais,

Leopoldino e a mulher, Amélia, têm o "usu-fruto simultâneo e sucessivo" dos dois apar-

Na semana passada, o MPfez buscas e apreensõesem seis locais diferentes

tamentos avaliados, em conjunto, nas Fi-

nanças, por cerca de 734 mil euros. Na prá-tica, enquanto for vivo, o casal pode ocuparos imóveis, apesar de os apartamentos esta-rem registados, desde 2008, no nome das

suas quatro filhas menores.Dos cinco casos, fazem parte ainda outros

dois sob investigação que a CMVM identifi-cou apenas através de contratos-promessa de

compra e venda alegadamente assinados porex-membros do Governo de José Eduardodos Santos. Um dos casos será o de José Pe-dro Morais Júnior, ministro das Finanças en-tre 2002 e 2008. 0 outro é o de Manuel Rabe-lais, que teve a pasta da Comunicação Social.

Contudo, nos registos oficiais dos 110apartamentos do Estoril-Sol Residence, não

consta qualquer imóvel em nome de Ra-belais ou Morais Júnior. Assim, ou os ex-

governantes desistiram do negócio queformalizaram nos contratos-promessa(e perderam o dinheiro avançadcou simplesmente cederam pos-teriormente as posições con-

tratuais nos negóciosimobiliários.

Estas hipóteses ainda

estarão a ser investiga-das pelo MP. Apesar de

o fundo ter iniciado a

actividade a 11 de Abrilde 2006, só em 2010 a maior

parte dos contratos-pro-messa deu lugar a contratosde compra e venda. Issc

mesmo é referido no últi-mo relatório de contas do

fundo Fundor, disponívelno site da CMVM, salien-

tando que foram concreti-zadas vendas de imóveis

no valor de 106 milhões de euros.Nessa altura, cerca de 90% dos apar-

tamentos já estavam vendidos. Entreos compradores constam o futebolis-

ta Simão Sabrosa, com um imóvelno 13. 0 piso com o valor de 2,7milhões de euros, e José Mouri-nho, que pagou 1,419 milhões deeuros por um apartamento no 2."andar.

Na semana passada, no dia 29de Fevereiro, a imobiliária Por-ta da Frente e a sociedade FundBox foram dois dos alvos dasbuscas ordenadas pelo MP e au-torizadas pelo juiz de instruçãoCarlos Alexandre. A discretaoperação judicial contou com a

ajuda no terreno de militaresda Unidade Fiscal da GNR e de

peritos das Finanças. Foram es-

tes operacionais, e não elemen-tos da PJ, que vasculharam e

apreenderam dezenas de docu-mentos e o conteúdo dos com-

putadores instalados no escritó-rio da gestora do fundo de investi-

mento imobiliário, na Rua TomásRibeiro, em Lisboa, e na sede da

imobiliária no Monte Estoril. Asbuscas estenderam-se ainda ao es-

ÁLVARO SOBRINHOPresidente do BES AngolaTem cerca de 23 milhões deeuros apreendidos pelo Mi-nistério Público português

JOSÉ PEDROMORAISEx-ministro

jdas Finanças

i A investigação

l só localizou um

contrato-promessai

de compra e venda

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critério de contabilidade que trabalha com

a imobiliária, com sede também no conce-

lho de Cascais (Alcabideche).

A SÁBADO questionou as administra-

ções da imobiliária Porta da Frente e da

Fund Box, mas apenas obteve resposta da

sociedade gestora, que alegou o dever de si-

gilo limitando-se a dizer, por email, que,

em seu entender, "não foram detectadas

situações passíveis de serem enquadradas

como branqueamento de capitais no que

respeita à comercialização do Empreendi-mento Estoril-Sol Residence".

A OPERAÇÃO CHEFIADA pelo procurador

Paulo Gonçalves e pelo juiz Carlos Alexan-

dre esteve também nas Amoreiras, em Lis-

boa, no escritório da advogada Ana Bruno,

que representa vários interes-

ses e empresas angolanas em

Portugal, como é o caso da

Newshold, proprietária do jor-

nal Sol e que também tem par-

ticipações no capital social dos

grupos Impresa (SIC, Expresso

e Visão) e Cofina (dona da SÁBADO).

Outro dos alvos, também nas Amorei-

ras, foi a sociedade unipessoal Grun-

berg, detida integralmente pela

Grunberg Investments, esta já com

sede no offshore das Ilhas Virgens Bri-

tânicas. A empresa é represen-tada em Portugal também porAna Bruno, com quem a SÁ-

BADO não conseguiu falar até

ao fecho desta edição.A presença dos investiga-

dores criminais na Grunberg,

e também no escritório do

contabilista da empresa

(igualmente nas Amoreiras), faz supor que

Álvaro Sobrinho continua a ser um dos al-

vos privilegiados do Ministério Público.

Isto porque 5,6 milhões de euros dos cer-

ca de 23 milhões - entre imóveis, aplicações

financeiras e depósitos bancários - que o

MP apreendeu ao presidente do BESA te-

rão passado precisamente pela Grunberg

Investments.

Entre os negócios suspeitosestá ainda a compra de quatrocasas por um ex-deputado russo

Quando no ano passado foi interrogado

e constituído arguido apenas num dos dois

processos do DCIAP (o caso do circuito da

fraude de 75 milhões ao Estado angolano

onde foi detectada uma transferência ban-

cária de 3 ,04 milhões de euros para as suas

contas em Portugal), Álvaro Sobrinho ne-

gou a prática de qualquer crime de bran-

queamento de capitais e associação crimi-

nosa. Recentemente, um acórdão do Tribu-

nal da Relação de Lisboa deu razão à defesa

de Álvaro Sobrinho e anulou as medidas de

coacção, entre elas uma caução de meio mi-

lhão de euros, aplicadas pelo Tribunal Cen-

tral de Instrução Criminal (TCIC). •

Os outros donosQUEM TAMBÉM TEM CASA NAS TORRES

DE LUXO DO ESTORIL-SOL RESIDENCE

JOSÉ MOURINHO. Em 2010, o

actual treinador do Real Madrid

comprou um apartamento por

1,419 milhões de euros.

SIMÃO SABROSA. 0 jogador

do Besiktastem lá um imóvel

avaliado nas Finanças por 2,7milhões de euros. Após o divór-

cio, ficou com o imóvel.

SÁRACCA LEAL. Dois filhos do

advogado, Eduardo e Francisco,

compraram um rés-do-chão

numa das três torres.

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