preocupação crescente dos consumidores com a corporeidade

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  • 7/25/2019 Preocupao Crescente Dos Consumidores Com a Corporeidade

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    Discente: Ana Catarina Teixeira

    17 de Maio de 2015

    Escola Superior de Comunicao Social

    Ps Graduao em BrandingeContentMarketing

    Unidade curricular: Novos Consumos, Novos Consumidores

    Docentes: Sandra Miranda e Ana Antunes

    Novos Consumos, Novos Consumidores

    Questes para Reviso da literatura

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    Discente: Ana Catarina Teixeira

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    Encete uma reflexo crtica acerca das razes subjacentes a uma preocupao

    crescente dos consumidores com a corporeidade, o culto do corpo e a imagem e

    como isso se manifestou em novos consumos.

    INTRODUO

    Na sequncia da expanso do fenmeno da Revoluo Industrial tecnolgica d-

    se incio poca histrica denominada por Modernidade. Nesta, a ideia de ser moderno

    e evoludo entendida atravs do processo da modernizao tecnolgica, bem como, a

    ideia de que as sociedades progridem/ evoluem no sentido de um melhor bem-estar

    material ligado sociedade de consumo.

    Devido expanso do tipo de economia de mercado capitalista que se veio impor

    a quase todas as sociedades, d-se o consumo, como caracterstica da modernidade no

    ocidente, passando a ser uma parte importante da nossa vida e a ter uma funo muito

    mais que apenas a sobrevivncia, como diz Baudrillard (Baudrillard, 2007), em que

    consumimos sempre muito mais do que o que precisamos, este vai para alm da nossa

    necessidade.

    Assim, a sociedade moderna passa a ser vista como uma sociedade de consumoem que tudo orientado pelo consumo, isto significa assim, uma perda de

    preponderncia de certos aspetos na sociedade que outrora foram importantes.

    A maneira como a sociedade atual molda os seus membros ditado acima de

    tudo pelo dever de desempenhar o papel de consumidor. (Bauman, 1999) (in, Floresta,

    et al., s.d.)

    Segundo Baudrillard (Baudrillard, 2007), o processo de consumo pode ser

    analisado tendo em conta dois aspetos: como um processo de significao e de

    comunicao, onde atravs de signos o individuo levado a comprar certos objetos; e o

    de classificao e diferenciao social, onde o indivduo levado a consumir de forma a

    atingir um determinado estatuto social.

    Neste sentido, surge o corpo como um dos objetos de estudo cada vez mais

    frequentes no campo das cincias humanas e sociais e tambm nos estudos de

    consumo.

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    nos anos 60, com a chamada revoluo sexual e com o movimento feminista

    que, associados contracultura e ao movimento hippie se d a consolidao de uma

    cultura juvenil e a formao de um mercado consumidor jovem. Adotar um estilo jovem

    torna-se imperativo, numa sociedade na qual o processo de envelhecimento passa a sercompreendido como algo a ser evitado e negado. (Castro, 2004)

    O modo como os mediacomeam ento a explorar os padres de beleza e a

    contribuir para a busca do belo faz com que parte da sociedade se lance na busca por

    uma aparncia fsica idealizada e difundida pelos principais meios de comunicao.

    Comea-se assim a associar o corpo a uma ideia de consumo.

    CONTEXTUALIZAO

    A indstria da beleza, atravs dos meios de comunicao, responsvel por criar

    desejos e reforar imagens da beleza ideal. Mantendo a temtica presente na vida

    cotidiana, os meios de comunicao levam ao leitor as ltimas novidades e descobertas,

    ditando e incorporando tendncias, que a indstria da beleza materializa pelo excesso

    de estmulos visuais, que alienado com os media, levam os indivduos a acreditar que

    toda e qualquer imperfeio ou defeito fruto de negligncia pessoal e falta de cuidado

    de si (Dantas, 2011).

    Por imagem corporal compreende-se a maneira pela qual o corpo se apresenta

    para si prprio.

    Conforme analisado por Featherstone (1995), existem:

    [...] trs linhas distintas (econmica, sociolgica e psicolgica) regem o conceito de

    cultura do consumo: A primeira a concepo de que a cultura de consumo tem como

    premissa a expanso da produo capitalista de mercadorias [...] Em segundo lugar, h

    a concepo mais estritamente sociolgica de que a relao entre a satisfaoproporcionada pelos bens e seu acesso socialmente estruturado um jogo de soma

    zero, no qual a satisfao e o status dependem da exibio e da conservao das

    diferenas em condies de inflao. Nesse caso, focaliza-se o fato de que as pessoas

    usam as mercadorias de forma a criar vnculos ou estabelecer distines sociais. E,

    terceiro lugar, h a questo dos prazeres emocionais do consumo, os sonhos e desejos

    celebrados no imaginrio cultural consumista e em locais especficos de consumo que

    produzem diversos tipos de excitao fsica e prazeres estticos. (Floresta, et al., s.d.)

    Na atualidade o vesturio assume a posio de segunda pele, que tende avalorizar o corpo, assumindo este por sua vez, a condio de expressar um estilo, uma

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    identidade. Castro (2001) defende que o culto ao corpo , hoje, preocupao geral, que

    atravessa todos os setores, classes sociais e faixas etrias, apoiado no discurso da

    esttica e da preocupao com a sade.

    Assim, entender o modo como a sociedade compreende e se relaciona com ocorpo tem vindo a tornar-se uma questo fundamental, ao que Bauman (2007) (in,

    Floresta, et al., s.d.) prope que devemos conceber o corpo como potencialidade

    elaborada pela cultura e desenvolvida nas relaes sociais (Dantas, 2011).

    A sociedade avalia o seu corpo atravs da interao com o ambiente, assim a sua

    autoimagem desenvolvida, reavaliada e comparada continuamente durante a vida

    inteira (Becker, 1999) (Russo, 2005), porm as necessidades de ordem social ofuscam as

    necessidades individuais. Cada vez mais somos levados sensao de frequente

    inquietude e insatisfao gerada pelas relaes de consumo (Cury, 2003) (Floresta, et

    al., s.d.) e alteramos o nosso corpo de acordo com o corpo ideal imposto pela sociedade

    em que vivemos (Tavares, 2003) (Russo, 2005).

    DESENVOLVIMENTO

    O sculo XX foi marcado pela valorizao da aparncia e pela necessidade de se

    cuidar do corpo. Este passa a ser um polo de preocupao e investimento (Dantas, 2011)

    por quase toda a sociedade que, alimentada diariamente pelos media, fica exposta

    formulao de um novo ideal fsico, tendo tambm a imagem cinematogrfica

    interferido.

    Como Floresta et al. menciona sobre a sociedade de consumo e como esta

    impacta a vida dos indivduos:

    A necessidade de consumir acaba sendo desenvolvida nos indivduos desde a infncia,e a mdia e a moda acaba por desenvolver uma necessidade cada vez maior de bens,

    objetos como uma forma de se caracterizar um pertencimento social. Classifica-se

    subjetivamente o individuo de acordo com sua capacidade de consumo. Cada vez mais

    grupos so dissociados mais por seus posicionamentos frente a sua capacidade de

    compra do que por seus posicionamentos ideolgicos, polticos ou religiosos. (Floresta,

    et al., s.d.)

    Mergulhados no consumo, o corpo passa a ser mais uma mercadoria disponvel

    para uso ou para compra no mercado aberto. Passa a haver cada vez mais preocupaescom o corpo, alimentadas pelo surgimento de produtos, intervenes, atividades fsicas,

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    etc. que se dizem capazes de atrasar o envelhecimento e transformar o corpo numa

    obra de arte que se encontra em revistas e desfiles da moda.

    A exploso publicitria ocorrida aps a 2 Grande Guerra foi a grande

    responsvel pela difuso de hbitos relativos aos cuidados com o corpo, onde os mediatem uma grande parcela de responsabilidade como influenciadores/ formadores de

    opinio e dinamizadores da mesma, tornando o corpo um lugar de destaque na

    sociedade contempornea.

    Bauman (1999) (in, Floresta, et al., s.d.)afirma que vivemos numa sociedade de

    consumo onde

    A vida organizada em torno do consumo, por outro lado, deve se bastar sem normas:

    ela orientada pela seduo, por desejos sempre crescentes e quereres volteis (...). O

    principal cuidado diz respeito, ento, adequao a estar sempre pronto; a ter a

    capacidade aproveitar a oportunidade quando ela se apresentar; a desenvolver novos

    desejos feitos sob medida para as novas, nunca vistas e inesperadas sedues. (Floresta,

    et al., s.d.)

    O autor, sobre a influncia que os mediatm sob os consumidores, na sociedade

    de consumo diz ainda que:

    Para aumentar sua capacidade de consumo, os consumidores no devem nunca ter

    descanso. Precisam ser acordados e em alerta sempre, continuamente expostos a novas

    tentaes, num estado de excitao incessante [...] e pronta insatisfao. (Floresta, et

    al., s.d.)

    O Culto do corpo entendido como o modo como os indivduos se relacionam

    com os seus corpos e que se baseia numa preocupao exarcebada em modelar e

    aproxim-lo o mximo possvel ao padro de beleza estabelecido pelas sociedades em

    que esto inseridos. (Castro, 2004)

    Para Castro (2001):

    A possibilidade de esculpir-se ou de desenhar o seu prprio corpo algo que propicia acada um estar o mais prximo possvel de um padro de beleza estabelecido

    globalmente; afinal, as medidas do mercado da moda so internacionais. (Castro, 2001)

    O culto ao corpo uma das dimenses dos estilos de vida, construda atravs do

    consumo, nas sociedades contemporneas (Castro, 2004) e que no est confinado

    apenas prtica de atividade fsica, mas tambm envolve o consumo alimentar, de

    produtos de beleza e de vesturio. Neste sentido, J. Baudrillard (Baudrillard, 2007)

    atribui ao corpo o significado de mais belo objeto do investimento individual e social.

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    J Featherstone (1995) muito antes tinha mostrado o quanto a experincia

    esttica e o culto do corpo conferia sentido e possibilitava a autoexpresso e a

    construo de um estilo de vida. O corpo apresenta-se assim como um instrumento de

    adequao a valores idealizados (Dantas, 2011) e como elemento primordial naformao da subjetividade do indivduo para a construo da sua identidade.

    Na sociedade contempornea, o corpo tem-se configurado cada vez mais como

    um dos principais espaos simblicos na construo dos modos de subjetividade de

    nossa poca. (Dantas, 2011)

    Castro (2001) afirma que a experincia corporal invariavelmente atravessada

    pela vivncia cultural, tornando-se uma fonte de smbolos, de construo de identidades

    e de estilos de vida. Podemos ousar em dizer que o corpo sempre territrio da cultura.

    SantAnna (2001) afirma ainda que, na sociedade atual [...] ser belo aproximar-se de

    um ideal, sempre determinado de modo universal [...](Dantas, 2011)

    Para Le Breton (2006) o corpo produz sentidos que permitem a que o indivduo

    seja inserido, de forma ativa, no interior de um dado espao social e cultural (Dantas,

    2011) e assim possibilita a integrao do indivduo num grupo social que provoque

    sentimentos de identificao a este, ou seja, que partilhe com o mesmo valores

    compartilhados na sua dimenso cultural. (Castro, 2004) (Floresta, et al., s.d.)

    Trata-se ento, de experimentar, custa do corpo, a capacidade em

    corresponder aos ideais propostos pela nossa sociedade.

    Floresta et al. caracterizam os processos da construo da subjetividade do

    indivduo como o espao de encontro do indivduo com as relaes de consumo no

    mundo atual e que resultam tanto em marcas singulares na formao do indivduo

    quanto na construo de crenas e valores compartilhados na dimenso cultural.

    (Floresta, et al., s.d.)

    Hoje em dia, vivemos numa sociedade onde a aparncia jovem cada vez mais

    valorizada, onde cada cultura constri a sua imagem de corpo ideal e essas imagens

    instituem-se como maneiras prprias de ver e de viver o prprio corpo.

    A imagem de juventude, associada ao corpo perfeito e ideal atravessa os

    diferentes gneros, idades e classes sociais, compondo de maneira diferenciada,

    diversos estilos de vida (Castro, 2001). Cada vez mais, a ideia de envelhecer repudiada

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    numa sociedade cheia de estmulos visuais do fsico ideal, com excesso de informao e

    a paranoia do consumo e da esttica. (Floresta, et al., s.d.)

    Nas sociedades atuais onde se procura alternativas capazes de atrasar este

    processo, atravs de produtos, intervenes, tratamentos de emagrecimento,atividades fsicas, etc, torna-se imperativo adotar um estilo jovem [...] numa sociedade

    na qual o processo de envelhecimento passa a ser compreendido como algo a ser

    evitado e negado. (Castro, 2004)

    CONCLUSO

    Como nos diz Lipovestsky (Castro, 2004), com a emergncia da sociedade de

    consumo, a procura tortuosa e incansvel por solues de esttica e moda que colocam

    o corpo num lugar privilegiado de contato com o mundo, passam a atravessar todas as

    camadas sociais:

    Aps a Segunda Guerra Mundial, o desejo de moda expandiu-se com fora, tornou-se

    um fenmeno geral, que diz respeito a todas as camadas da sociedade (...) os signos

    efmeros e estticos da moda deixaram de aparecer, nas classes populares, como um

    fenmeno inacessvel reservado aos outros: tornaram-se uma exigncia de massa, um

    cenrio de vida decorrente de uma sociedade que sacraliza a mudana, o prazer, as

    novidades. (Lipovestsky, 1999)

    J como nos diz Iwanowicz (1994),[...] Agora no estamos mais usando

    espartilhos, mas impondo inconscientemente uma armadura cultural ao nosso corpo

    [...](Cruz, et al., 2008)

    Courtine (1995) afirma que o desejo de obter uma tenso mxima da pele, tendo

    amor ao liso, ao esbelto, ao jovem, induz os indivduos a no aceitarem sua prpria

    imagem, querendo modific-la, conforme os padres [culturais] exigidos. Estesprocuram, atravs da atividade fsica, identificar-se e fazer parte de um grupo com as

    mesmas caractersticas.

    A forma como a modelagem corporal est a ser abordada pelos meios de

    comunicao cresceu de forma gigantesca nestes ltimos anos e o corpo feminino est

    cada vez mais sobe o efeito do que os media tendem a caracterizar como o corpo

    perfeito. Porm, esteapelo no se restringe apenas s mulheres, pois, cada vez mais,

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    o pblico masculino mais atingido pela propaganda, que difunde a imagem do homem

    jovem, bem-sucedido profissionalmente e em boa forma fsica. (Anzai, 2000)

    BibliografiaAnzai, K., 2000. O Corpo enquanto objecto de Consumo. Revista Brasileira de Cincias do

    Esporte, pp. 71 - 76.

    Baudrillard, J., 2007.A Sociedade de Consumo. Lisboa: Edies 70.

    Castro, A. L. d., 2001. Culto ao corpo e Sociedade: mdia, estilos de vida e cultura de consumo.

    Campinas: Universidade Estadual de Campinas.

    Castro, A. L. d., 2004. Culto ao Corpo: identidades e Estilos de Vida. Coimbra, Centro de Estudos

    Sociais.

    Cruz, P. P., Nilson, G., Pardo, E. R. & Fonseca, A. O., 2008. Culto ao Corpo: As influncias da

    mdia contempornea marcando a Juventude. Florianpolis, Fazendo Gnero 8 - Corpo,

    Violncia e Poder.

    Dantas, J. B., 2011. Um ensaio sobre o Culto ao Corpo na Contemporaneidade. Estudos e

    Pesquisas em Psicologia V.11, pp. 898-912.

    Floresta, S. R., Siqueira, M. R., Paixo, V. C. d. & Silva, C. K. C. d., s.d.. As relaes de Consumo e

    a Formao da Subjectividade do Indivduo. Gias, Universidade Estadual de Gias.

    Russo, R., 2005. Imagem Corporal: Construo atravs da Cultura do Belo. Movimento &

    Percepo V. 5, Janeiro/ Junho.