prefácio - rl.art.br · por caminhos tortuosos adentrei... agora na consciência da essência que...

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Prefácio Buscando Caminhos

Na busca de mim mesmo, por caminhos tortuosos adentrei...Me vi, em faces sombrias em dores sentidas, por caminhos marcados.Encontros, desencontros ... pedaços de mim.Estar frente a frente com minhas vidas, não me trouxe alento... precisava muito mais que isso, precisava me resgatar, de cada dor, de cada lágrima, de cada tristeza.Por caminhos tortuosos adentrei... e a cada encontro ao me reconhecer chorei, o que fui, o que sonhei, o que cheguei a ser... dores, mágoas, rancores, amores e ódios...Tudo isso em generosas camadas completando o ser que sou hoje, reflexo de meus caminhos tortuosos eu sei...Por caminhos tortuosos adentrei... agora na consciência da essência que sou, refaço estes caminhos encarando meu eu... em cada momento de dor, de angustia... recupero os passos errados, escolhas mal feitas, ódios perdidos que só criaram grilhões.Me coloco de pé frente a mim, e a minha consciência, não me abandonarei mais a sorte de qualquer vento... posso curar partes que em mim habitam e, que me tornam o ser especial para o qual nasci para ser.Este trabalho chama CURA DE MEMÓRIAS e é disso que se trata este lindo livro de minhas amigas Fátima e Luana.Édina Montelli Introdução

De Cais em Cais Um Só Coração

I- Caminhando vou pelas estradasCaminhos tortos desta cidade...Sozinho vou sem um destinoem busca de um afago da liberdade...Plantei escuridão e abracei a madrugadaSigo em solidão nas ruas desta cidadecom o peito em dor e cheio de magoaChoro para a lua clara e apaixonada...Ah! Que me liberte o diada tormenta de te perderde não ver nascer o sol de teu sorrirAh! Que me liberte o diada punição e da maldiçãoque nosso amor não merecia!II- Vou de encontro ao marde cais em cais hei de viverNos portos hei de te buscarPara longe vou deste sofrerde ver-te existir onde não hei de viver...Colhi o dia... Uma flor que nasceu entre meus “ais” de agonia...Pétalas sedosas cheias de viço e de alegriaFlor mimosa e perfumada traz-me o aroma da maresia...Flor dengosa e regadacom o mar de minhas lágrimas...Ah ! Que de ti nascerá o frutoe quem chorou (se magoou)há de crer em um futuro...Olhai os mares e as gaivotas no céuo azul de tantas águas e as ondas afagando a praiaEu que vaguei perdido nas ruas de Lisboado porto me verás como estrelaquando o sol refulgir nas velas de minha canoaEm meu coração erguida está a flor da madrugadaque será minha companhiaenquanto esperas minha chegadaVistes as gaivotas corajosasQue enfrenta a tempestade no mar?Assim sou eu em minha viagem coloridapela certeza amiga de te encontrar...III-O barqueiro se perde e vaiLogo a felicidade chega... Uma canoa de velas brancascheio de saudade, de amor e de lembranças

Atracou no cais da esperança trazendo o mais belo Pirataque cantando e festejando encontra sua namorada!Irão se assentar nas areias do tempoe na margem da saudade desfolhadahão de esquecer todo tormento,,A flor já será um frutoe os beijos sementesque será da felicidade um cantoque será ouvido por todo o mundo...Há de acabar o sofrimento e cessará o pranto...Não haverá ruas estreitas e nem largas...Não haverá o mar salgando a bocamuito menos da magoa o estardalhaçonem mesmo a velada saudadee a perseguida liberdadeserá os grilhões de um abraço...Os mares do pirata apaixonadoserá o seio de sua amadae o sol da esperança “dela”será os olhos de seu amoruma janela de onde debruçadahá de vislumbrar o infinito em esplendor!Thoreser

Capitulo 1

Rcelato de AfonsoSúbito uma sensação nostálgica me envolveu. Ouvia um violino melodioso e triste que

por alguém estava sendo manipulado ao longe e respirei. A brisa do mar, o cheiro forte das amarrações do barco que me levava a terra firma. Ondas nervosas empurravam o barco para mais perto. Âncora lançada e um barco diminuto para que a travessia fosse terminada. Homens brutos e feios corriam com os meus pertences e os pertences de minha companheira depositando-os no barco que por fim recebeu a nós dois e mais três remadores fortes e ligeiros de cujas vozes não se ouviu em nenhum momento. Já na praia outros homens à espera levaram os baús para dentro da construção cinzenta cujas janelas altas eram todas gradeadas. Estava em casa novamente, mas não sentia o prazer de quando se adentra um lar verdadeiro, era mais a sensação de um exílio. Minha companheira foi abrigada em ambiente previamente preparado para recebê-la sem nenhum luxo, mas confortável o bastante para que aprendesse a ali viver e gostar. Adentrei meu dormitório. Uma peça grande com três ambientes ligados. O primeiro onde estava agora, um escritório e biblioteca bem munido de tudo que a sociedade da época dispunha, em seguida uma câmara mobiliada com uma sala para refeições e descanso, com abertura para um jardim interno onde uma fonte de água podia ser ouvida dia e noite, de lá um vento tépido banhada todos os cantos e mais adiante o quarto de dormir rigorosamente bem produzido de móveis e apetrechos de banho dispostos elegantemente próximo da banheira. No escritório os documentos da moça foram guardados em local especial com um número de registro aposto por cera em primeiro plano em um nicho onde outros registros anteriores permaneciam pelo visto há anos e anos. Um banho reconfortante e o jantar servido em outra parte daquela construção que não era um lar nem uma prisão, mas lembrava em tudo um hospital para doentes mentais. Eu, o respeitado Dr. Afonso conhecido como encarregado da instituição de nome insólito: casa de Lázaro. Nome estampado nos documentos na parte que recebia o doente. Médico de reconhecida capacidade em Lisboa. Estava a serviço dos doentes cujas famílias não tinham como mantê-los em casa, ou pelo menos assim eram os comunicados feitos à sociedade tão arraigada de preconceitos. Poucos pacientes ali viviam sob os meus cuidados. Enfermeiros vindos do continente atendiam particularmente cada doente que somavam neste dia cinco ao todo. Após o jantar busco a sala de descanso e confortavelmente sentado numa poltrona de veludo fumava um cachimbo cujo fumo de boa qualidade lançava no ar um aroma sofisticado. O silencio é tal que pode ouvir a própria respiração. Sentindo-me em paz. Lembrei do barulho insuportável das reuniões que aconteciam mensalmente entre os meus familiares que me requisitam para que tomasse parte das decisões sobre a compra ou o roubo de navios. Considerava que não fazia parte deste grupo de seres selvagens. Desde criança todo aquele movimento me causava desconforto e assim que foi possível tomar minha própria decisão fui estudar medicina o que fez com que precisasse manter-me afastado dos negócios, único jeito que encontrou para não ser um pirata, um ladrão um homem sem moderação na vida cujas atividades ilegais me fariam estar constantemente no fio da navalha.

Capitulo 2

Relato de Rosa Maria Respiro profundamente, eu, ser de natureza emocional, tenho buscado por razões e

tentando trazer lógica para minhas emoções, mas o que agora me é proposto seria prejudicado se procurar empregar a matemática racional... Então respiro profundamente e deixo vir minhas emoções para que possa trazer à luz mais uma das pessoas que fui, mais uma história onde a trama é visceral e verdadeira, uma luta de almas cansadas com o destino traçado por nossas escolhas certas e erradas... Respiro profundamente e me vejo diante a imensidão dos oceanos, percebo que há uma estrela do mar em minha mão...Alguma época entre 1500 e 1600 – Portugal O mundo parecia agitado, mais repleto de pessoas, pessoas ávidas por galgar os degraus da glória sem nenhum incomodo caso estes degraus fossem feitos da cabeça e sonhos de outras pessoas, os poderosos do mundo guerreavam entre si por terra e poder e as pessoas afastadas dos campos de batalha não rasgavam as vestes em guerra declarada, mas a disputa brilhava nos olhos da mais rica dama a mais pobre delas, no entanto, eu, Rosa Maria nasci nesse mundo moldado na ganância e na pólvora, mas afastada dos modos e interesses da aristocracia, vivia em uma vila beira-mar sustentada pelo comercio do pescado e do vinho, ali existia liberdade, os poderosos não se importavam conosco, e só recordavam de nossa existência quando suas provisões de peixe salgado e vinho estava perto de terminar.A vila era simples, mas nos sentíamos ricos em nossas casinhas pequenas, a maioria de madeira e tijolos artesanais, todas cercada por mar e vinhedos; trabalhávamos muito e quando tínhamos colheita e éramos felizes na comercialização de nosso vinho, dávamos festas que varavam a noite, a religião era, talvez, mais sagrada entre nós do que na própria corte, todos os domingos todos estavam na pequena igreja da vila para ouvir, mesmo que não pudéssemos entender de tudo o que se dizia, o padre responsável por nossa fé.Meu paimum comerciante de pescado, era grego, chegou até nosso país em busca de novos mares, mas apaixonou-se pela beleza de minha mãe, casaram-se e papai ficou responsável pelo vinhedo de herdade de mamãe, então não foi mais embora, em meio a esta rica simplicidade cresci, mas cheia de espírito aventureiro, gostava de ouvir sobre as guerras que aconteciam fora do alcance de nossa visão e imaginar que o mundo era maior que minha vila, não me fazia sentir cativa, por outro lado, eu sentia felicidade, pois minhas esperanças não eram ilusões, sim o mundo era grande e esperava por mim. Contava com a idade de 17 anos quando conheci o amor que me levaria ao fim de minhas esperanças em explorar o mundo. Era uma rapariga bela; cabelos encaracolados que descia pelas costas como uma cascata negra, pele clara que destacava grandes olhos negros marcados por farta sobrancelha que enchia o olhar de mistério em um brilho vivo e curioso, rejeitava todos os pedidos de casamento, papai não se importava com isso, na verdade me via mais como filho do que filha, na lida do cultivo dos vinhedos era eu seu braço direito. O amor não me fustigava, na verdade eu

o temia, então os rapazes não me interessavam em nada, até uma manhã ensolarada de domingo quando ao voltarmos da igreja um noviço fora até nós, encarregado de uma encomenda de vinho para a igreja da capital parecia apressado e não me olhou, me senti deveras incomodada, papai ficara no lugar de líder, que era de vovô, então hospedou o futuro jovem Padre se prontificando a cuidar de seus animais até o dia em que partiria. Três dias passou tão ligeiros, logo ele estava partindo com o carro carregado de barris de vinho e de nosso peixe salgado.Não parei de pensar no rapaz um só instante e ficava imaginando como seria se ele tivesse me lançado um simples olhar que fosse.Percebendo meu abatimento que se arrastava dias a fora, papai, sempre mais atencioso que mamãe, veio até mim, na verdade ele me inspirava com seus relatos, as historias incríveis de seu povo alimentava ainda mais a minha natureza sedenta por aventuras e ação, era o meu melhor amigo:- Filha, percebo-te triste, sempre aos cantos, não falas mais como de costume, teu sorriso apagou-se, queres falar?- Papai... Não te preocupes apenas me sinto cansada, este ano duro tem sido o trabalho.Fuji de seus olhos e permaneci sentada no pequeno porto da vila, perdida nas ondas do mar, papai tocou-me o ombro com carinho abaixou-se e me beijou a cabeça.- Filha , filha, não te preocupes, sonha que faz bem, mas não te demores muito a cá, ou tua mãe ficará irritada.Papai se afastou e mais mergulhada em mim mesmo fiquei, tantas emoções eclodiam em meu coração, saudades e temores misteriosos confundiam minha mente, o jovem futuro padre, veio como mensageiro da felicidade, como Gabriel veio a Maria anunciar-lhe a maior riqueza do mundo, mas que seria também uma espada em seu coração.Precisava vê-lo uma vez mais...Passou alguns meses, embora não fosse a mesma, voltei ao meu habitual estado de espírito sempre sorrindo e disposta.Chegou o dia da festa, tínhamos garantindo muitos barris de vinho para reposição de nosso estoque e os negócios prosperavam, nesses dias vivíamos um tanto, menos claro, mas vivíamos a futilidade da época, papai fazia questão de me encomendar vestidos como os das damas da corte, mas quando chegavam até mim, recebiam meu toque, diminuía as anáguas e afrouxava os espartilhos, tanto frufru impedia os movimentos, dançar nas festas era impossível, cavalgar então... Era uma noite de festa e eu havia me preparado para tal, vesti-me na seda azul, lindo vestido que papai me dera, enchi de flores o cabelo e fui para o terreno onde todos estavam; apenas a luz das fogueiras em parceria com a Lua cheia em céu limpo, iluminava a noite, esperava ansiosa pelo bandolim de papai e as musicas de seu país...

Mas, antes que eu pudesse me extasiar com a canção daquele lugar tão distante de mim, meus olhos encontram alguém um tanto perdido entre as pessoas. Paralisei, era o jovem que havia me arrebatado o coração, não vestia-se como noviço e sim como um homem da corte, trajava luto, mas não havia tristeza em seu semblante e sim uma contida pressa, foi notado por muitos da aldeia que não lembravam de sua presença, alguns homens o pegaram para interrogar, ao perceber que o vinho já alterava os ânimos corri até papai:- Meu pai, papai!lembra-te do jovem noviço que aqui esteve a alguns meses?- Sim querida... Mas por que estas sem fôlego e desesperada?-Papai corra, ele aqui se encontra, não o reconheceram e alguns homens da vila o levaram para baixo do velho carvalho...corremos juntos para o velho carvalho que ficava a entrada do terreno onde estávamos festejando... Papai firme gritou:-Soltem-no é meu convidado e um negociador importante para a vila.Os homens que aterrorizavam o rapaz afastaram-se pedindo perdão, papai logo ficou alegre e com seu jeito peculiar atraiu o rapaz para seus braços e o apertou fazendo seu chapéu emplumado cair no chão.- Voltastes, e agora vestes calças! Andemos para o festejo e depois falemos de tua visita.Eu parecia um vulto que não se via na escuridão, até papai me ignorou a presença, mas eu seria surpreendida durante a noite, quando pela benção do vinho, o rapaz tirou-me pra dançar e disse de forma que somente eu pudesse ouvir:- Voltei por ti...Meu coração saltou, não pude conter o riso, mas estranhamente corri, me escondi em casa e não mais sai de meu quarto, mesmo quando ouvi todos chegando, incluindo o rapaz que lá ficou instalado; não conciliava o sono, com dificuldade dormir; pela manhã ao acordar depois de me preparar para sair para mais um dia, inacreditavelmente havia me esquecido do hospede até esbarrar em um papel no chão frente a porta de meu quarto, com o coração em sobressalto peguei o bilhete, ao ler não pude conter-me , levei-o aos meus lábios e o beijei, li mais algumas vezes antes de guardar em meio as minhas roupas, Lindo poema ressoava em minha alma e de dentro para fora me tocava cada célula, simples palavras:

“ Raios da manhã em uma noite sem fim

Chegaste para iluminar-me... Tão pura e tão forte!Como o Sol da esperança, não podes tu ser detida

Somente contemplada, pois tão bela jóia rara

Nada pode prender, não podes ser cravada no ouro ou na prata...Escolhes tu em qual coração fazes morada

Torna o amor do Cristo ainda mais bendito

Pois fazes do pecado um manto sagrado

Cubra-me, pois renunciei todos os mantos terrestrespor tua presença que minh’alma enaltece...”

Jonas J. Não o vi durante todo o dia, não ousei perguntar qualquer coisa para papai, tentaria disfarçar e ficariam mais notórias as minhas emoções aos seus olhos que tanto me conheciam.Quando não tinha muito trabalho sempre ia para o nosso porto e ali ficava olhando os barcos, os pescadores recolhendo suas redes, não foi diferente, o dia não foi cheio e quando cheguei ao porto ali estava Jonas, não me intimidei e continuei até chegar a beirada, se ele escutou o ranger das tabuas molhadas mesmo diante o som do mar ou sentiu minha presença, não sei, mas, ele se virou e pela primeira vez olhou-me, no mesmo instante toda agitação em mim, o inverno em minhas vísceras e o verão em meu rosto terminou, e uma paz amena invadiu-me, me aproximei como se não fosse aquela a primeira vez, como soubesse que o encontraria ali, como se todos os dias o encontrasse ali. Abraçamos-nos sem mesuras, ele foi logo dizendo: - Confuso estava até agora... Via-me em erro, mas Deus não pode está ausente em meu amor...- Como me amarias tu, sequer me conheces – Voltando a realidade dos fatos senti estranheza- chegastes aqui com vestes de noviço e hoje, depois de meses, voltas e me declaras amor?Jonas afastou-se e sentou-se na beirada, sentei-me ao seu lado:- Teu pai fez a mesma pergunta... Desde o ventre de minha mãe sou prometido ao

Cristo, cresci animado por coisas maravilhosas que minha saudosa avó pintava em minha cabeça infante, não havia nada no mundo que me animasse e acreditei ser essa minha tarefa no mundo, cresci rodeado por santos, orações e padres, quando fiz 12 anos finalmente passei a dedicar-me inteiramente, faria meus juramentos, me professaria aos 20 anos, até então havia mostrado vocação; em nada, nunca, desagradei a família, mas meses antes de meu batismo oficial, a conheci, e no dia do juramento confessei-me inapto e sem vocação para seguir como sacerdote do Cristo, foi e ainda é assunto nas rodas, mas a igreja não me condenou, muito pelo contrário, louvou minha sinceridade e não me fechou as portas, a família por outro lado, chegou a pedir que eu fosse excomungado, no calor do momento falaram sem pensar, mas pior... – Jonas fez pausa e abaixou a cabeça, continuei prestando atenção a sua historia, depois de um longo tempo ele respirou fundo e continuou – Minha adorada Avó não aguentou a surpresa de meu ato, e morreu em meus braços dias depois, em uma lamentação infeliz.Meus país quiseram saber os motivos, e eu simplesmente disse que sonhava em casar-me e ter uma família, depois de alguns dias não aceitaram, mas passaram a tentar e me indicaram muitas moças, mas não mostrei interesse por nenhuma, gostava de ficar em meu quarto em oração, o que os deixava ainda mais em duvida, não falei de tu para eles, justamente por não saber explicar a natureza desse amor e por não saber se em ti existia ao menos a possibilidade do amor.Perplexa e quase sem fôlego não encontrava palavras, nem o que dizer, Jonas encarou-me com seus grandes olhos castanhos, e eu vi como era belo; desenhei com meu olhar cada detalhe de seu rosto em minha mente, pele clara sendo iluminada por cabelos ondulados e castanho dourado como seus olhos, sua boca de lábios contornados sorria-me com doçura ao terminar seu relato: - Vim pedir tua mão a teu pai, mas ele falou-me algo que me causou espanto, disse que tu quem decidiria teu destino...- Jonas, eu não deixo minha terra, sim, amei-te, mas não quero a vida da corte, conheço os modos das pessoas que lá vivem; as roupas; a educação; os caprichos; não te seria uma boa esposa, e carregaria a marca de ter te desviado do teu real caminho. - Tão Jovem e tão sábia... Afirmas o que sempre digo: A liberdade lápida a inteligência do homem. Não, jamais lhe obrigaria a tal, se disser que aceita nunca mais me vou embora, fico aqui contigo.

Não contive a felicidade e toquei o seu rosto e sem que eu o esperasse me atraiu para si e me beijou, me desvencilhei de seus braços, sorrindo lhe disse:– Na liberdade há regras...Me levantei e corri... Felicidade seria minha vida daquele momento em diante, nos tornamos noivos e Jonas mostrava-se feliz em aprender os trabalhos da vila, minha mãe parecia não gostar da situação, sempre dizia que eu estava me casando com um louco e herege, deixou o Cristo por uma mulher e agora abria mão da fortuna pela mesma, para viver na miséria daquele lugar...Jonas sumido, deixara para a família apenas uma carta onde pedia perdão e prometia voltar um dia, não para ficar, mas para dar testemunho de sua felicidade, sua mãe não aceitava, seu pai agarrava-se a crença de que era apenas confusão tardia de sua mocidade.Minha mãe não aceitou também, teve tempo e espaço para descobrir as origens de Jonas, filho de Duque, família importante, visando o ganho de algo encontrou a mãe de Jonas e então toda a trama deu-se inicio.Antes que pudesse ser desposada por Jonas sofreria o martírio de nunca mais o vê-lo, nem a ele e nem a minha terra amada, nunca mais ouviria a voz cheia de ternura de meu pai...Repentinamente, adoeci e passei a ter alucinações, estados febris, convulsões e lapsos de pânico onde perdia a noção de quem eu era, todos na vila julgava-me possuída, minha mãe com desespero dizia que somente estava louca, Jonas não saia de meu leito, pouco me lembro destes dias, mas agora sei que minha mãe colaborou para a drástica mudança de meu destino, a mãe de Jonas deu a ela um liquido ao qual era ministrado em minha bebida matinal fazendo-me parecer doente e fora de si durante o dia.Não demorou até que minha futura sogra aparecesse na vila acompanhada de um médico e o Inquisidor Leopoldo, como os boatos era de que eu estava possuída o velho padre de nossa pequena igreja explicou a presença do temido Inquisidor...estava febril, mas sentia-me senhora de meus pensamentos, quando adentrou a figura alta e autoritária do Inquisidor, Seus olhos azuis eram assustadores, seu semblante era duro e frio, mas senti-me segura diante sua presença, ele sentou-se a beira de minha cama, olhou-me e perguntou:- Filha crês em Deus Pai, Deus Filho e Deus espírito santo?- Sim, creio...

-Erga a cabeça – Pediu-me ele ao mesmo tempo em que me ajudava, recostei-me na cama e procurei manter a cabeça equilibrada, mas ela me pesava nos ombros, Leopoldo tirou de seu pescoço um cordão com uma cruz incrustada de rubis e me disse: – Filha não percas esta cruz, sairá com ela ao peito como prova de que és filha de Deus, será enviada a um convento distante - Sem forças até para chorar, segurei sua mão e perguntei qual o motivo de tal julgamento.- Criança, és tu uma filha de Deus, em nada pecaste, teu erro foi somente amar, e vim com a tarefa de condenar-te a fogueira por heresia, por ser mulher de satanás, acredite, ir para esse convento é o melhor que te faço... Assim tua honra não se mancha e tu não sofres horrenda morte, não ouse discordar.Leopoldo levantou-se e saiu... Logo depois ouvi gritos, gritos de meu Pai e de Jonas, desmaiei, perdi os sentidos e quando acordei estava em uma carroça um capuz em minha cabeça, mãos e pés amarrados, uma mordaça impedia-me de gritar, não sei precisar o tempo, mas demorou até que me visse sendo tirada deste carro e jogada em algum lugar, tempos depois ouvi gemidos, gritos estranhos e incompreensíveis e percebi pelo balanço está dentro de uma embarcação. Demorou a alcançarmos o destino, não vi o caminho, somente era arrastada, desataram apenas os laços dos pés, continuava as cegas e preza, somente soltaram minhas mãos e eu pude me libertar do capuz quando fui jogada dentro de um lugar com cheiro horrendo, aprumei a visão e até que ela pudesse se acostumar com a escuridão, nada vi, depois de um tempo percebi que não estava só, muitas pessoas estavam ali, esqueléticas, machucadas , nuas e desorientada, que espécie de convento era aquele onde homens nus misturava-se as mulheres? Todos pareciam loucos, muitos arrastavam o rosto no chão, outros se jogavam contra as paredes, encontrei um canto e ali fiquei chorando, horas depois vejo luzes de tochas se aproximando, dois monges encapuzados recebiam ordem de um cavaleiro muito bem vestido e perfumado ao ponto de seu aroma ser notado mesmo em meio a imundice de comida apodrecida e dejetos humanos.- Andem idiotas, peguem-na e a levem para a sala designada a ela!!!Aqueles monges pegaram-me pelo o braço eu tentei resisti, mas o homem que cobria a boca e o nariz com um lenço me fez parar:- Não reaja sua tola, ou resolvo não dar-te as regalias ao qual me orientaram a te dar - O homem virou as costas e eu permitir se levada.

Em determinado curso do caminho ele mesmo cuidou de me levar ao novo destino, olhei para ele e me lembrei do médico que me visitara na casa de meu pai.Em uma porta pesada de madeira paramos o homem tirou do bolso uma chave e mostrou-me um quarto que parecia esculpido na rocha, havia uma cama, velas, roupas sobre a cama, uma bacia com água para higiene e muitos livros, fui empurrada para dentro e sem entrar no quarto, da porta, o homem se apresentou.- Sou Afonso, médico e responsável por este lugar, aqui eu sou a igreja, aqui eu sou Deus, aqui eu quem decido, apenas permiti que fosse separada dos outros pacientes, pois fui informado da trama e não te enquadras no quadro dos que aqui recebo... Depois de meu repasto, eu mesmo venho trazer-te algo de comer, até que alguém para lhe paparicar ou te levar embora seja enviado. – Fechou a porta e pelo som percebi que a trancava.olhei o local, morta de tristeza não fiz mesura para lavar-me e trocar as vestes, mas eram todos movimentos automáticos, me sentia morta e assim seria, passei a alimentar a idéia do suicídio, mas não havia com o que me matar, decidi então que não comeria.Como prometido, sem nada falar, ou se quer me olhar, Afonso trouxe o alimento eu não me levantei e assim foi durante dias, até que ele percebeu que eu não havia tocado em nada, resolveu então clarear o quarto motivado pelo o cheiro estragado do alimento, encontrou-me quase morta na cama.Passou a cuidar de mim, ministrava-me tônicos e misturas, me alimentava e eu não tinha forças para me negar a não tomar os caldos que ele me servia, em minha convalescência passei a esperar por ele e me alegrava quando chegava, quando mais forte perguntei o porquê de está ali... Afonso respondeu-me depois de muito tempo de silêncio:- Não procuro saber os motivos dos que me são trazidos para ao que fui designado, faço o que tenho de fazer, mas sempre sabemos de algo, mas não interessa, deves saber... Apenas não entendo porque deves ficar aqui se não é de utilidade ao meu trabalho, aqui não é refugio de raparigas rebeldes e doidivanas, logo darei um jeito de que partas daqui.- Não sou rebelde e nem doidivanas- retruquei mesmo fraca.- Cala-te que não me importo e coma, até que descubra as causas de teu internamento não quero prestar contas de teu cadáver.Mas ninguém nunca foi reclamar-me, o mundo pareceu esquecer-me, nada havia ficado comigo, somente lembranças, pensei muitas vezes em fugir, mas me via cercada de mar, muitas vezes conjecturei as possibilidades que me levaram até aquela prisão onde urros de desespero assombrava-me, lugar repugnante cheio de homens obscuros de

capuz, cruéis, recebendo ordens de um homem obscuro que não encaixava-se em tal lugar, não sabia como fui parar ali, mas sabia o motivo, Jonas, só podia, com certeza a igreja julgou-me culpada por desviá-lo, então passei a senti gratidão pelo Inquisidor que guardou minha integridade de filha de Deus, todas as noites subia na construção em um lado onde os muros de pedra eram quebrado e segurava a cruz e rezava enquanto olhava o mar, Afonso de nada me proibia, com o tempo esqueceu os motivos misteriosos da ordem que recebeu em não me por embaixo do chão com os outros, mas quem eram os outros, o que acontecia ali?Aproximei-me de Afonso e com o tempo, não sei se percebeu, ele me confessava tudo o que acontecia na ilha.Havia ele sido designado pela igreja para trabalhar naquele lugar onde pessoas declaradas loucas eram enviadas para experiências com a mente, a igreja queria o monopólio da ciência, então ali se usavam esses seres desprezados pela família para estudo do corpo humano, experiências de cirurgias, de transplantes de órgãos e de membros, horrores e mais horrores, geralmente todos ali tinham algo em comum, todos não tinham língua, até mesmo os monges que assessoravam Afonso, muitas vezes ele dizia que eu havia sido enviada a ele ainda com a língua para que ele fosse castigado em algo, pois o importunava com perguntas.Passei a tentar alegrar o tempo que dispunha da presença dele, pedi por tarefas e ele deixou que eu cuidasse de sua alimentação, e passamos a comer juntos.Ele nunca me perguntou a minha historia, e eu nunca vi necessidade em contar, aceitei, até me julgava merecedora, desviei Jonas de seu destino, o máximo que poderia fazer era ser grata ao castigo que me foi imposto, mediante os castigos da época, não era o pior, mas eu sabia que mais ninguém, nem mesmo quem dera ordens de não me misturar aos “de baixo” se importava comigo, minha única segurança era Afonso, eu não poderia deixar que ele se irritasse, ou que me odiasse, minha vida dependia dele.Percebia que pouco ele ria, e eu me esforçava para fazê-lo rir, passei a conhecer sua natureza e aprendi a observar os melhores momentos para me aproximar.Três anos se passaram, e eu ainda sofria de saudade e meu coração sangrava por Jonas, mas não sei explicar, Amava Afonso e sabia disso, era ele o que tinha, nunca o julguei mesmo imaginando os horrores que acontecia nas alas baixas.Ele enchia-me de mimos, as vezes sumia deixando-me livre na ilha, mas sempre ficava em meu quarto trancada, pois temia os fantasmas vivos daquele lugar, então lia e relia aqueles livros cheios de aventuras e histórias de amor e guerra, me fartava em poesia e me permitia chorar a saudade de meu amor e recitar para mim os versos de amor que guardei nos mistérios de meu coração. Quando Afonso voltava trazia-me guloseimas, colônias e enfeites para os cabelos, roupas simples, mas como gostava. Ele nunca me disse, mas eu sabia que era amada, e vivemos em meio ao horror, doces momentos, mesmo impenetrável ele não reagia.Mas, os contos de fadas não foram feitos para mim, na realidade eles não existem, os finais nem sempre são onde pensamos que são, e um final feliz nem sempre provém de

um momento feliz. Acordei um dia com Afonso a me estrangular com uma das mãos, tentei detê-lo, mas ele me golpeou forte na cabeça, desencarnei instantaneamente.Meu espírito ficou preso naquela ilha, então eu pude realmente conhecer o horror material e o espiritual, não era fácil distinguir os vivos dos mortos, com ressalva de alguns que andavam de peito aberto cobrando pelo o coração arrancado, outros que ficavam ao canto tentando recolocar no lugar as vísceras, não sei quanto tempo ali fiquei e se fiquei foi por ter desencarnado em revolta, como ele pode fazer isso comigo? Procurava minha cruz, a cruz que o inquisidor Leopoldo havia me dado, mas ela não estava comigo, não estava em meu corpo... E foi ao desejar encontrar minha cruz que consegui sair da ilha, de repente me vi sendo sugada por um vácuo, quando dei por mim estava ao lado de Afonso, estava abatido, parecia doente e carregava com ele a minha cruz. A revolta de meu espírito deu-me poder, o ódio deu-me poder de colocar Afonso em situações não explicadas, ele era impenetrável, nada lhe causava dor, somente minha presença o enfraquecia aos poucos, a sua fortaleza aumentou a sua dor e a minha, mas me cansou, então o ódio minou as minhas forças e mais uma vez, sem ter para onde ir, Afonso era a minha companhia, ele não se casou, e sempre que nos braços de uma mulher seus pensamentos iam a te mim...Os instantes de culpa que ele amargava já não me importava, somente no desencarne de Afonso diante as trevas que se aproximou é que eu me dei conta do tempo que perdi, no seu leito de morte todas as suas vítimas esperavam ansiosas a hora em que deixaria o corpo, em desespero, cai de joelho e chamei por Jesus, uma luz rosada atingiu-me e seres luminosos se fizeram presentes roguei que ele fosse perdoado e livrado do ódio de suas vitimas, um dos seres, cujo o rosto não podia ser vislumbrado tamanha a luz, disse em voz macia:- Filha, podemos levar somente aqueles que por amor e com amor, arrependido de seus erros, por nós chamam, podemos levar apenas os que querem ir.Em lágrimas supliquei - Leve-o e deixe que eu pague suas penas...Um segundo ser se dirigiu a mim - Estaria disposta?- Sim, estaria sim...- Por teu amor desinteressado, por teu cansaço e tua fé, o levaremos e levaremos também a ti, mas saibas que ele irá em sono profundo, quando acordar pode não querer fazer parte de nossa fraternidade.

Fomos eu e ele socorridos e levados a um hospital espiritual.Nossos espíritos seguiram em lutas, por muito tempo ficamos distantes um do outro, e sempre que nos encontrávamos o carma nos levava ao precipício da tragédia, mas passávamos por tal juntos, não éramos espinho um na carne do outro, o mundo tornava-se espinho quando nos aproximávamos dificultando nossa expiação.Hoje eu, Rosa, não preciso dizer que o perdoei, sempre compreendi o exercício de sua função, e será certo cobrar de um homem o que ele não tem condições de oferecer?Afonso aprendeu em seu percurso que as emoções são felinas, torna o homem irracional, tonteia o mais astutos dos seres, culpou a emoção pelos declínios de suas tantas vidas, e desde que dessa forma pensou a pensar, viveu vidas e vidas trabalhando no muro de pedra bruta ao redor de seu coração, isolou-se muitas e muitas vezes do mundo, congelou seu maior inimigo: A sua grande capacidade de sentir.Mas isso não o tornava mal, eu compreendia e conseguia mergulhar no verde de seus olhos e ver além dos muros altos de sua proteção. Eu via sua carne através de sua égide de ferro, espiava por entre as janelas de sua alma, não em busca de defeitos, mas em busca de qualidades que fosse alimento para meu amor... E eu encontrei... Eu encontrei...O Inquisidor que me preparou o cárcere, mesmo sem nunca ter contemplado a minha ânsia por desbravar o mundo, encheu minha cela de livros que contavam aventuras que eu sonhava viver, que contava historias do mundo além mar, decorou o cárcere com poesia, ele, Leopoldo, usou o máximo que pode da justiça mesmo diante um ato injusto; não me conhecia, mas sua alma sim, esta sim me conhecia os sofrimentos e os mais íntimos desejos, conhecia minha natureza e a importância desta vida onde ele mais uma vez decidiria meu destino. Nessa minha vida atual é uma presença impalpavél, um educador e finalmente eu amoleci minha natureza e convivemos em harmonia, uma relação, que ao contrário de seu estado impalpavél, eu posso tocar, ainda me protege, ainda me ensina, ainda compartilha sonhos e poesia.Jonas, esse sempre resvalou nas arestas do destino, os carmas sempre nos distanciaram, sempre nos separaram, mas sempre burlamos algumas regras, passamos um pelo o outro, nos saudamos e seguimos em nossa espera, nosso amor existe na alma, então nos encontramos na natureza, no sorriso da criança, no brilho do saber nos olhos dos velhos.Vive encarnado hoje e eu não me preocupo em saber onde, talvez já passamos um pelo o outro, mas acostumados a nos abraçar em um raio de sol, nem percebemos...Eu o espero, sempre!

Meu Pai, ainda hoje irradia luz que me ilumina os meu passos, ainda preciso passar muitas etapas para que possamos contemplar a paz, ser que muito me é caro.Minha mãe perdoei, esse espírito sempre errou em nossos acertos, e eu também não sou inocente, com ele resolvi nossa disputa, ao menos no que se refere a sentimento, o laço terreno que hoje nos uni é doce, forte e amoroso.Eu e Afonso seguimos juntos, hoje com novos nomes e novos corpos, unidos por novos laços, um amor transmutado e generoso; seguimos em nosso trabalho de ajudar outros a quebrar a geleira e curarem seus corações.sempre testemunhado nosso aprimoramento e relatando nossos caminhos de pedras afiadas e cortantes.

Capitulo 3

Relato de Jonas J.Antes de desbravarmos os mares, mergulhávamos na escuridão da noite, víamos melhor as estrelas, pois não havíamos nos tornado o Sol da meia noite e nem havíamos feito do reino da lua e do sono dos justos esconderijo seguro para o exercício do

pecado.A noite era somente um mistério pontilhado por distantes lumes, e assim comungávamos das benesses desse mistério, e toda sabedoria que hoje é redescoberta, nos idos antigos era o primeiro capitulo de um livro que esquecemos na poeira levantada por nossos pés apressados.Pois, esquecemos das estrelas e de que o Sol era quem nos mantinha em sua órbita. Nos tornamos ignorantes dos mistérios além céu, para que fossemos seduzidos pelas marés e por tudo o que esse Planeta e esse estado de existência poderia nos fornecer para nosso aprimoramento, e assim errar torna-se divino, pois é aqui nessa Terra sem dono, mas cheias de leis que descobrimos a maestria existencial, a misericórdia e a compaixão, somente assim, dotados de emoção e equilibrados nela podemos manter a engrenagem da vida.Falar sobre essa engrenagem seria uma escrita esticada e até cansativa, poderíamos fazer brotar das cinzas uma nova biblioteca, tão maior e vasta quanto a de Alexandria. Por isso peço “escusas” se a escrita não é profunda, mas posso resumir com profundidade que todos nós nos lançamos ao mar em busca de recuperarmos também, não só adquirir, pois todos nós perdemos um pedaço de nós mesmos na Odisséia de nossa evolução.Não há como sermos ‘um’ nessa luta, pois o que nos motivaria?No balanço desse barco azul seguimos solitários na construção da escada que nos levará aos portões da singularidade, e nessa construção sempre, como uma regra escrita, perdemos parte de nossa alma, e parece que assim tem de ser; mediante isso não acredito na involução para a evolução, no primeiro instante de nossas existências, não nascemos puros e sim vazios, sem experiência, sem sentimentos, emoções e lembranças, conhecíamos sim apenas o amor do qual fomos forjados, e dividir esse amor e sermos lançados na inferioridade de outras dimensões é instigar-nos a buscá-lo, enfim a busca de todo homem é o amor. E mesmo quando julgamos haver encontrado, parece que sempre existe algo maior e inexplicável a nossa espera atrás da linha do horizonte, mas o horizonte é infindo e existem tantos outros, acabamos que novamente voltando nossos olhos ao firmamento, e de alguma forma, cada um a seu modo, se fundir por instantes com esse amor perdido, ele se torna nossas crenças, nossas aptidões, molda nossas qualidades e até nossos defeitos; em muitas vidas encontramos essa parte de nossa alma totalmente independente de nós, e é como nos vermos existindo em outro estado, mas são passagens rápidas e se prolongadas logo o caos nos separa, pois tão grande é o amor que pode vir a destruir os amadores, e quando se cruzam no despreparo da alma e no destempero do tempo colocam em risco o universo, mas ao mesmo tempo a união harmoniosa alimenta a existência e os alicerces cósmicos de nossa origem.Escrevo agora estas paginas e dentro de uma garrafa as lanço no mar, acredito que irá chegar onde tem de chegar, paginas onde registro pequeno pedaço de minha odisséia em Orbe Terrestre.

Nasci em tradicional família da corte portuguesa, em um tempo onde havia uma nuvem de superioridade nas sociedades e de medo também, pois entre os grandes, maiores se erguiam escurecendo o dia e pintando de vermelho o majestoso azul dos céus.Minha família era da casta Bragança, meu pai um Duque requisitado e respeitado na corte, com regalias da Coroa. Minha mãe uma digna matrona sempre muito fria, mais preocupada com a aparência de nossa suntuosa casa, com eventos e jantares aos nobres, era cruel no trato com os criados e escravos; meu pai parecia austero e inabalável, porem dona da ultima palavra era sempre minha mãe, cresci nessa atmosfera vazia, sem carinho e amor de meus país, mas era cercado de cuidados e mimos por minha avó Jocasta; era o segundo filho da união, e por isso Minha mãe, Inês, viu-se em obrigação de cumprir uma promessa de minha avó, se o seu segundo filho fosse um homem este seria entregue ao cristo e devotaria sua vida ao Cristo, seria um clérigo.Nasci para o cumprimento desta tarefa, e minha avó soube moldar-me em seu desejo, na verdade eu era inclinado ao silêncio e ao sobrenatural, não me sentia a vontade em meio aos festejos que minha mãe fazia, fugia de todos os compromissos da corte para rezar com minha avó ou dedicar-me aos estudos, desde muito criança, pouco era visto pelas pessoas de nossa roda, que tinham os ouvidos embevecidos com os relatos vaidosos de minha mãe sobre seus filhos e seu menino Jonas, um santo, que preferia deixar as traquinagens de criança para dedicar-se a penitências e orações.Aos 12 anos me sentia auto-suficiente o bastante para partir ao mosteiro, despedi-me com emoção apenas de minha avó Jocasta, na verdade sentia-me aliviado, poderia agora somente dedicar-me a leitura e a minha preparação para ser um sacerdote de Deus, cheio de expectativas parti. Não demorou para que eu percebesse a ilusão que havida vivido, não sofria por mim, mas por minha avó, nos primeiros anos sofri algumas torturas infligidas aos novatos, mas depois já mais velho e com alguns louvores por minha dedicação adentrei um tanto mais na educação do clérigo.Nesse momento, todos os livros que vovó havia-me proibido de ler por serem pecaminosos, estavam a minha disposição, até mesmo livros que ela não podia supor que existisse. Isso me deixou confortável para uma aptidão que julgava fraqueza de minha parte, uma fraqueza a ser superada, gostava de fazer poesias, então passei a exercitar este talento, mas claro, meus tutores e colegas não imaginavam que eu já era dono de uma coleção de poesias próprias.Aos 18 anos decidi que em dois anos professaria e finalmente seria padre, pude sair do mosteiro e visitar meus parentes, vovó bem mais velha, mas forte, recebeu-me com muito carinho e emoção, ver-me em vestes santas a deixava extasiada, minha mãe logo tratou de prepara uma arrojada e farta recepção, havia me tornado um rapaz belo, e meu irmão mais velho, que negava-se ao matrimonio adiando o quanto podia, ironizava-me com chacotas, dizendo que as raparigas lamentavam minha escolha e me apontava várias delas:

- Jonas, deixe disso, és rapazola ainda, não conheces os prazeres da vida, ouça-me: Experimente primeiro as delicias da carne para que possas escolher com mais sabedoria...Na verdade admirava o espírito jocoso e irresponsável de meu irmão Jaime, ele era amante das farras e das tavernas, seus modos irritava mamãe, talvez por isso não o julgasse digno ao estomago de satã, porque no fundo havia nele a coragem para cometer erros e tanto errei por ser covarde nessa modalidade que me tornei tão digno da fome de satã quanto meu irmão.Sempre sorria para ele quando me fazia estas propostas, um sorriso proposital, que mantinha acesa as esperanças de Jaime em me desviar do caminho estreito.Era jovem, e aos 18 anos dispunha de liberdade para ir e vir, creio que uma manobra pensada para testar as virtudes do candidato a guiar ovelhas e sustentar a fé, olhares por trás de leques, menestréis de rua, circos, barulhos, o mundo de que minha avó falava com repugnância chamava-me atenção, muitas vezes subia em arvores para acompanhar as escondidas pequenas peças teatrais de rua, e cantadores de fadinhos que faziam chacotas dos modos conservadores da corte.Mas nada me animava o espírito e decidido, sabia o que queria para minha vida. Mas, para graça do Senhor, nenhuma certeza é absoluta e a minha esfarelou-se depois de aceitar cumprir uma tarefa, que era de meu amigo de quarto, Antonio, reabastecer adega da igreja... Deveria cruzar praticamente o país, para chegar a uma vila beira mar, grande, quase uma cidade, onde também se podiam ver os vinhedos a perder-se de vista, as casinhas organizadas em quadrados formando ruelas, tudo muito simples, não podia imaginar que no mundo existisse tamanha paz na segurança de montanhas que rodeavam como deus a zelar aquelas terras.O ar não era frio e nem empoeirado, era-me conhecido, enquanto me aproximava um sentimento saudoso apertava meu coração no peito, olhava as montanhas e em minha cabeça as via brancas cobertas por neve, não há palavras para descrever o que senti ao passar para aquela vila tão afastada de tudo e de todos.Quando cheguei fui bem recebido pelos transeuntes, a maioria mulheres carregando cestos e crianças as ajudando e brincando ao mesmo tempo, pedi informação a uma delas contando-lhe os motivos comerciais de minha vinda, a senhora, muito educada, me ensinou o caminho até chegar a casa de Sr. Quinto.Seguindo o mapa mental que fiz em minha cabeça com as informações da mulher, cheguei a uma casa simples, mas ampla; janelas pequenas, acabamentos de barro e gesso; parecia um ninho de descanso e paz.Senhor Quinto demorou algum tempo, não estava na casa, fiquei esperando no grande terreiro de frente a casa, não tinha portões e nem muros, então não pensei que pareceria invasivo ali esperar, sentado em uma pedra ao lado de uma oliveira jovem permaneci em contemplação do lugar enquanto esperava.

A família finalmente chegou, logo me dirigi ao Sr. Quinto, um homem de pele morena e cabelos encaracolados e porte forte, não tinha barba apenas um discreto bigode grisalho em contraste com os cabelos muito negros, aproximou-se sem mesuras ou desconfiança, mas deixou claro no aperto de mão que ele estava no controle.- O que desejas Jovem Padre?- Ainda não sou padre Senhor, venho para comprar vinho e o que mais tiver a venda em sua vila.- Ho sim, mas e o jovem Antonio?- Está adoentado, por isso estou em seu lugar hoje...O Homem segurou em meu braço, desenvolto como se lhe fosse um velho amigo, saiu a me arrastar pelo terreiro em direção a casa, pelo canto dos olhos vi que uma dama nos acompanhava de braços com a mãe.A moça conversava alegre com a mulher, que não parava de lhe repreender pelos exageros em gesticular com as mãos, não ouvi uma só palavra do Sr. Quinto, havia me concentrado na voz da moça, não percebi exageros em seus movimentos, mas era ela entusiasmada, logo queria uma oportunidade e olhar para ver em detalhes.Quando dei por mim Sr Quinto já havia ajeitado minhas estalagens, dizendo que ficaria 3 dias em sua casa, e que seria tratado como Antonio, e que o tempo de três dias era justo, pois poderia assim levar um peixe mais fresco.A moça foi encarregada de arrumar meus aposentos, enquanto recolhia minha pouca bagagem pude observar seu talhe e sua beleza, diferente das moças da corte ela deixava os cabelos longos ao vento lhe cobrindo as costas como um manto negro, bela, não como as belas da corte, mas bela como um raio de sol.Aquele sentimento me era desconhecido, temi. Os três dias que ali passei procurei evitar encontrar-me com ela, mas quando tinha chances lhe observava, mas não a deixava perceber; notei que ela se esforçava em chamar minha atenção e eu ria de sua marotice.Três dias de confusão em meu coração, confusão que dali para frente só se agravaria; aquela moça que tinha o nome da mais linda flor carregava também os espinhos, mas eu me arriscaria aos ferimentos para sentir seu perfume, e essa constatação abateu meu espírito.Ir embora foi custoso, estava tão perturbado que se não fosse a honestidade de Sr Quinto teria sido enganado.Parti... Carregado não só de vinho e peixe, mas carregado pela ânsia de voltar, de viver ali, de ter comigo aquela simples moça, parti deixando a rosa e levando espinhos

comigo, ferindo todas as minhas inabaláveis certezas.Faltava pouco para minha ordenação, em menos de um mês estaria no momento de fazer meus votos e finalmente dar o primeiro passo no caminho que me preparei para trilhar por toda minha vida.Mas a oração perdia o sentido, minha fé se transformou, não vivia um desejo pela luxuria, havia encontrar o amor que busquei na fé, e então vivi a parte mais bela e mais perigosa da fé: A dúvida.Não era mais capaz de ignorar a má fé, a hipocrisia e a simonia camuflada nos semblantes orgulhosos do mundo que escolhi; tudo passou a ser obscuro e sufocante. Confessei-me todos os dias até o dia de minha ordenação, creio que cansei os ouvidos do bispo que me aconselhou a não professar-me se não me sentia pronto e nem com vocação, que eu não seria o primeiro e nem o ultimo, o caminho não era fácil.Quando o homem quer prazer, e é escravo desse desejo, ele encontra arestas para saciar -se, mas eu não vivia um simples desejo.Não compareci a cerimônia que era feita nas particularidades do mosteiro, antes da cerimônia publica na igreja; esperei por meu tutor, quando veio até mim ajoelhei-me e pedi perdão e me confessei incapaz de seguir no estreito caminho, não contei os motivos, apenas que minha fé era falha.Ele não foi bom comigo, tentou arrancar-me alguma confissão grave o suficiente para seu melhor tutelado negar-se aos votos, mas eu não deixei fios para que ele puxasse, não vendo escolha me despediu e eu não voltei para casa de meus pais; fiquei em uma hospedaria, apareci no lar dias depois, somente quando me senti pronto.Foi exatamente como imaginei, minha mãe queria matar-me, meu irmão me apoiava, meu pai concordava com minha mãe e minha avó me amaldiçoava, tamanha foi sua decepção que sua saúde entrou em declínio.Passei meses difíceis, minha mãe chegou a escrever ao papa pedindo meu excomungo, já que o bispo negava-se.De certa forma sentia-me feliz, liberto... Não havia pesos e nem medos, minha fé havia mudado de cor, não era escura como os corredores do mosteiro, era viva e colorida como a vila onde vivia a “Rosa” mística de meu amor; apenas algo me deixava triste, minha avó Jocasta negava-se a me receber e quando aceitou ver-me, foi para amaldiçoar-me em palavras que me feriram:- Jamais serás feliz em tua vida, sofrerás essa maldição; é a benção que lhe dou... Traidor, fraco... E assim ela morreu proferindo maldições que se misturavam ao meu pedido de perdão e meu choro cheio de remorso; passei alguns meses em triste luto, pensei em desisti e voltar aos antigos planos, mas não havia como, iria em frente, afinal a que mais se importava com meu destino já não estava mais viva, nada ali me prendia então escrevi uma carta e deixei para minha mãe, prometi que voltaria um dia, não para ficar, mas

para dar testemunho de minha felicidade, imaginei e tinha certeza de que ela nunca aceitar-me-ia de volta e ainda mais com uma camponesa sem nome como esposa. Logo ela se adaptaria, como se adaptou com minha escolha e já me preparava casamento com uma jovem condessa da Espanha, mas eu me negava às mulheres; muito ela se confundia com meus atos estranho, me negava a igreja, mas me negava ao mundo.Quase um ano se passou desde minha visita a vila, não podia esperar mais para seguir meus planos, e mesmo que eles falhassem uma coisa era certa: Não voltaria para a igreja e nem para a futilidade daquele mundo em que minha família era personagem principal. Iria lançar-me ao mundo, procuraria um lugar distante e silencioso onde nem mesmo o Santo Padre pudesse me achar.A carta não era muito longa para minha mãe, prometia voltar e testemunhar felicidade, mas não... Eu não voltaria...Sai pela madrugada, não me preocupei em fazer silêncio, tomei minha montaria carregando poucos pertencer e corri em direção ao meu destino. A viagem era um tanto longa, chegaria ao meu destino em menos de dois dias se fosse ligeiro pelo caminho, e foi o que fiz, pouco parei para descansar, foi cruel com meu cavalo, e as poucas vezes que parei foi por ele.Cheguei a vila, estava escuro, tentei encontrar o caminho da casa de Sr. Quinto, mas me perdi nas vielas e estreitas ruas do tranqüilo lugar, não me importei fiquei andando a ermo, depois de um tempo fui despertado de meus pensamentos por sons de palmas e musica, seguindo o som encontrei um grande terreno com fogueiras esporádicas e pessoas, muitas pessoas festejando, amarrei minha montaria em uma arvore a entrada do terreno e me infiltrei entre os homens e mulheres, meus olhos procuravam por uma figura conhecida e meu coração não aquietava-se no peito, até que encontrei uma roda onde um homem alegre cantava em uma língua que eu conhecia, as pessoas a sua volta se aglomeravam enfeitiçadas pelo toque atraente do canto estrangeiro, me enfie entre as pessoas curioso também, e vi Sr, Quinto sentado em um tamborete tocava alegre e cantava alto e afinado, como um anjo a sorrir, cabelos coberto por flores sua filha entregava-se a dança, rodopiava com graça e uma inocente sensualidade, foi como encontrar uma estrela e poder tocá-la, era sobrenatural e inexplicável o que sentia, vê-la era como fechar os olhos em oração, o musical silêncio. Todo o mundo longe e ao alcance dos dedos a imensidão.Fui despertado do transe em que havia entrado por seu olhar direto em meus olhos queimando minha alma. Sr. Quinto saiu para seguir rumo a outra roda que o requisitava mas a filha não redou pé.Senti alguém me arrancar de onde eu estava me puxando o braço com hostilidade, homens truculentos perguntavam de onde era e pelo o que ali estava, mas não me davam tempo de responder, um deles chegou a me agredir, e os outros gritavam e pediam respostas, mas não me permitiam falar, me arrastaram para perto de onde minha montaria estava, um local escuro e fora de alcance, mas antes que os

embriagados homens pudessem realizar seus intentos chega aos gritos Sr. Quinto e sua filha esbaforida ao lado.Depois de expulsar os homens, senhor quinto me atraiu para junto dele, muito solicito alegre ironizou minhas calças, surpreendeu-se por me ver sem as vestes de noviço.Não me atrevi olhar Rosa, não era acostumado a mentir um sentimento, até então desconhecido por mim, não queria ofende-la; fui jogado literalmente na festa, me senti fora de lugar, mas o vinho logo me situou, e me deu coragem para puxar Rosa pela mão e dançar com ela... Falei em seu ouvido o motivo de minha vinda, mas ela escapou-me das mãos, seu pai percebeu, não demorou e o preocupado senhor me afastou do barulho, mostrando que o vinho não tirava sua sobriedade, me encostou na parede em usar de violência:- Escute aqui meu Jovem, eu sou um homem selvagem aos olhos de nobres, como pareces tu ser, mas conheço a sordidez do mundo e sua inocência também, gosto de ti, mas muito mais de minha filha e sei que tu é a causa da mudança dela, nunca mais foi a mesma desde que aqui esteve, agora voltas como um homem sedento pelo o mundo e queres o que com minha filha?Tirei o chapéu, nervoso o manuseava, não foi difícil encontrar as palavras, não me preocupei em parecer verdadeiro, pois eu estava com a verdade, então com firmeza o respondi:- Senhor. Não sou sedento pelo o mundo, ele de nada me serve... Amo tua filha com todas as forças de minha alma e a quero desposá-la.Sr. Quinto assustou-se com minhas falas, passou a mão em seu bigode, olhou para o chão depois de uns segundo voltou a me encarar de soslaio e interrogou-me uma vez mais:- Eu entendi direito?Primeiro apareces aqui em vestes da igreja e meses depois volta dizendo amar minha filha e pedindo sua mão?Não dei tempo para que ele continuasse com as perguntas e logo o interrompi com respeito:- Sei que soa absurdo, mas quando aqui cheguei eu sequer tinha um coração, na verdade eu tinha um coração, mas não compreendia o amor, nunca o vivi, até encontrar sua filha. Eu abri mão de tudo, da igreja, dos bens de minha família... Abri mão de meu nome, não tenho mais nada se não o que sinto, e mesmo se impossível for eu a ter em meus braços, hei de morrer feliz, pois ao menos eu encontrei o amor e ele está comigo, em minha alma!Surpreendi-me com o sorriso do afetuoso senhor, ele me abraçou e depois bateu em

meu ombro com exagerada força e suas falas foram como as de um amante desventurado:- Há jovem Jonas, o amor tem seus mistérios e esta terra os encantos que nos infla de coragem para desbravar esse inexplicável sentir; meus olhos deitaram em ti com satisfação desde o primeiro instante, mas no fundo sinto um aperto de tristeza, pois ninguém nunca encontra o verdadeiro amor e vive para dar testemunho de felicidade... O que minha filha decidir para ela eu aceito. Posas em nossa casa até que encontre um lugar.O Senhor saiu andando e eu automaticamente o segui em silêncio e encantado com a liberdade que ele oferecia a sua filha.No dia seguinte, antes de raiar o sol tomei de um papel que trazia comigo, um papel onde esboçara um poema, caminhei na ponta dos pés e passei por baixo da porta do quarto de Rosa, uma fresta rente ao chão onde escapava tremula claridade. Segui para caminhar ao nascer do sol e conhecer o lugar, algumas horas depois procurei por Rosa, mas não a vi, não tive pressa e resolvi ficar a beira do mar no pequeno porto da vila, entrei em contemplação, minha alma louvava a grandeza do criador, as horas passaram que nem vi, senti que alguém se aproximava e ao olhar vi Rosa vindo em minha direção, me levantei e fiquei a sua espera, o que sentia?Somente felicidade, nos abraçamos e eu lhe confessei meu amor e lhe contei minha historia, jurei que se fosse aceito viveria ali, era o que eu queria do fundo da alma.Depois de um beijo que roubei o compromisso pareceu formado, na mesma noite fiz o pedido formal aos meus futuros sogros na presença de minha noiva.Quinto nos abençoou feliz, mas Dona Madalena me olhava com desprezo. Minha vida passou a ser de completo gozo, me esforçava em aprender o trabalho da vila e tinha tempo para sonhar ao lado de minha amada, mas não demorou para que a mãe de Rosa passasse a dificultar as coisas com seu veneno, sabotava meu trabalho me colocando muitas vezes em posição complicada perante outros, sempre tentando convencer o esposo de que eu não servia para Rosa. Mas eu mantinha-me calmo sempre e isso era pontos positivos tanto com Rosa quanto com Sr. Quinto.Certa manhã fui informado por meu futuro sogro que viajaríamos juntos a outros moradores para buscarmos algumas cabras parideiras em uma fazenda não longe dali, despedir-me de minha noiva com caloroso beijo.seguimos viagem, não achei o lugar perto, na verdade demorou para chegarmos, quase 4 dias de viagem, a fazenda que não era muito vasta, me incomodei com o movimento grande, homens truculentos e mulheres descuidadas de modos estúpidos tagarelavam por toda a parte, havia currais de animais a venda e para trocas, vi também enormes pilhas de troncos vermelhos guardado por homens bêbados e mau trajados; Sr Quinto notou em meu semblante que estava incomodado e tentou tranqüilizar-me.

- Não te assustes Jonas, esta é uma feira, mesmo que durante o dia, aqui é como uma noite eterna, às vezes somos obrigados a burlar algumas regras para sobreviver, os impostos do rei são absurdamente injustos, e estes homens de tempos em tempos se disponibilizam aos negócios, na verdade o que se vê por fora é uma fechada, da qual utilizamos, os comentários dizem que aqui se comercializa de tudo até pessoas e que os melhores fregueses são membros da corte... São criminosos do mar, viajam pelos oceanos e vivem de porto em porto, estranho que sejam invisíveis mediante o barulho que fazem... Mas não corremos perigo, não servimos a eles.Tudo o que falou serviu só para me deixar ainda mais receoso, aquela família tinha residência fixa ali, mas poucos ficavam, estavam sempre no mar e a fazenda era uma espécie de hospedaria e mercado onde as mulheres e crianças ali ficavam.Fizemos nossas compras em um dia, pagamos pela noite que lá dormimos e por nossa comida e a dos animais e partimos; por conta dos animais que lá foram adquiridos a viagem de volta demorou o dobro da viagem de ida.Cheguei saudoso e cansado, mas, não tive tempo de acalmar a saudade e nem descansar o corpo, encontrei Rosa doente alternando entre momentos de fraqueza e histeria, não sabia o que fazer, somente ficava ao seu lado e sofria seu estado, nos primeiros dias orei fervoroso, mas ela só piorava, passei a pensar que seria um castigo de Deus, pois ela via demônios dançando em sua volta, gritava nomes estranhos e quando me aproximava agarrava minha mão e implorava para que eu não a deixasse, chamava-me por vários nomes, menos o meu de verdade.Seu pai sofria com seu estado e a mãe me condenava, logo espalhou-se na vila que Rosa estava amaldiçoada por ter desviado um padre de seus votos...A mãe, D. Madalena, resolveu finalmente procurar ajuda e foi até o padre da vila, foram a corte, aquela idéia me assustou deveras.Uma semana depois eu me encontrava muitos dias sem dormir e Rosa parecia menos alucinada, contudo cansada e fraca.Na verdade sua mãe que tramará junto a minha ficou temerosa quando o estado da filha passou a ser tratado como um caso demoníaco e parou de ministrar o liquido entorpecente em Rosa. Pelo o que essa mulher foi capaz de ferir a filha?Ainda estava por descobri, mas naquele momento eu tinha certeza que Deus me castigara descendo sua mão e a pesando no ser que eu mais amava.Estava recostado em uma poltrona na sala de entrada quando paralisei com a imagem soberba de meu tutor, Inquisidor Leopoldo, e minha mãe...Com olhar esnobe entrou na casa e me lançou um olhar de desprezo, meu tutor olhou-me com seu habitual olhar imperscrutável. Entrou no quarto de Rosa sem pedir licença e deixou-me na sala junto a minha mãe e os pais de Rosa.- Essa sua aventura termina hoje Jonas, pois essa cadela se satã terá o que merece! – Quinto e Madalena avançaram em minha mãe, mas negros truculentos ao seu lado puxaram de armas, mas Quinto não parava de gritar impropérios e expulsa-la, eu

apenas observada paralisado tudo e minha mãe ignorando os gritos disse-me:- Venha embora e ela terá uma chance de se redimir-se perante Deus e salvar sua alma!Uma fúria nunca antes experimentada apoderou-se de mim, olhei aquela mulher sem coração em minha frente como fosse intocável e minha voz calou a voz de todos:- Mulher seca de virtudes, o que fiz eu para merecer nascer de teu ventre?Maldita, repugno a hora em que me trouxesses ao mundo, sinto-me sujo de ser carne de tua carne e sangue de teu sangue... Um dia prestarás conta perante Deus de teus crimes!!! - Não percebia mas gritava ao mesmo tempo que lagrimas doloridas molhava minha face. Duquesa Inês permanecia parada em minha frente e minhas palavras faziam seus olhos crepitarem de ódio, mas não me intimidei e continuei a vomitar o que há anos me sufocava - Tu e tua casa maldita há de perecer, esse teu ar prepotente e soberbo será varrido da face da terra e eu ainda te serei a mão a salvar-te do poço profundo de tua sordidez, essa é a maldição que te lanço. Perdes hoje um filho!Antes que eu pudesse terminar minhas falas a porta do quarto de Rosa se abre, D.Leopoldo sai com a desfalecida moça nos braços a entrega aos negros e dá ordem de que a coloquem em seu carro, nessa hora notei a presença de mais uma pessoa o médico da corte, respeitado pela coroa e todos que o podiam pagar, tudo parecia muito organizado para ser um movimento de socorro feito as pressas, quis impedir que levassem Rosa, Sr. Quinto também; Madalena só chorava ao canto; fomos impedidos, D. Leopoldo segurou forte meu braço crivou seus olhos frios nos meus e em voz autoritária e entrecortada falou a todos.- A moça leva consigo a cruz do Senhor, que de meu pescoço passou para o dela, não foi tomada por nenhum demônio... – Nesse momento ele me soltou e mirou minha mãe que abaixou a cabeça e recebeu suas palavras como uma ordem – Não será interrogada e muito menos julgada, ficará um tempo aos cuidados de Dr Afonso e em seguida rumará para um convento onde professará...Em meio ao choro dos familiares minha alma fez silêncio e eu me deixei cair mais uma vez na poltrona que antes estava.Não tinha o que dizer e nem o que fazer, sabia o que acontecia, principalmente com moças no estado de Rosa; Meu mundo não fazia mais sentido apenas culpa me preenchia me esvaziando de qualquer esperança, fui despertado pela voz grave de meu tutor:- Erga-te Jonas e me siga, não permita mais que Deus castigue esse povoado por tua rebeldia – Pegou-me pelo braço e me jogou para minha mãe que saiu me arrastando para seu carro, passei pelo o carro onde desfalecida estava Rosa e olhei para trás, vi Sr.Quinto desolado, tentei dizer a ele com meu olhar que voltaria a salvo com sua filha, mas não sei se fui compreendido.

A carruagem com meu tutor e Rosa seguiu por outro caminho e eu e minha mãe em silêncio seguíamos em alta velocidade, o barulho da galopada dos cavalos que puxavam o carro me hipnotizou, estava em choque e fraco... Essa viagem é um borrão em minha mente.lembro-me que adoeci, meu estado de tristeza era profundo, fiquei entre a vida e a morte em meus delírios via Rosa sendo tirada de mim, mas ela não tinha o mesmo rosto e os mesmos cabelos, seus olhos eram profundos e da cor do mar, seus cabelo longos eram como o sol, dourados, éramos separados e eu escutava seus gritos...Esses gritos me despertavam, em um dia, depois de um desse pesadelos estranhos, acordei e repugnei o fato de está naquela casa maldita, me levantei com dificuldade e me vesti, ao perceber passos na escada os criados vieram ver e gritaram por sua senhora que logo apareceu irritada com a algazarra, D. Inês tentou deter-me e eu esbravejei.- Deixe-me mulher, quero ir até meu tutor... Deixe-me!- O que queres tu com ele? Estas fraco...Eu o chamo aqui e tu falas com ele. – Tentava impedir-me segurando-me pelos braços, mas me desvencilhei e sem dizer nada sai, chamei por um escravo e pedi o coche... Dei ordens de ir até o mosteiro, um tanto zonzo entrei, me sentia ansioso e ter me erguido fortaleceu-me. Cheguei ao destino, era uma tarde gelada e adentrando os portões do mosteiro o frio parecia aumentar. Não encontrei D. Leopoldo, então fui para os jardins e sentei-me na beirada de uma fonte onde uma imagem de são Miguel Arcanjo enegrecida pelo lodo parecia fazer guarda.Não sabia ao certo porque estava ali, e sabia que não adiantaria pedir a D. Leopoldo para me dizer onde estava Rosa e porque tudo isso aconteceu, restava-me a opção mais obvia, se tudo se deu por minha recusa em professar, então... Deus havia ganhado a guerra, e uma vez dentro da igreja poderia, quem sabe, encontrar a minha Rosa. - O que quer Jonas?Voltei de meus pensamentos e fui em direção de D. Leopoldo, me ajoelhei e beijei sua mão...- Quero professar-me...- Tens certeza disso meu filho?- Tenho sim, mas não quero cerimônia publica para a corte, se possível... - Abaixei a cabeça e esperei pela resposta.- Teu aposento ainda está vazio, volte para lá, vá dormir, pareces abatido, e depois conversamos.

Segui seu conselho, e depois daquele dia tudo ocorreu sem que eu interferisse, tornei-me padre, voltei a orar, mas minha fé havia mudado; era contra as indulgências e não via como santo o “santo oficio”, em minhas conversas com Jesus a duvida confrontava a fé e eu sentia que sua passagem na terra de nada nos serviu, por mais que tentasse voltar ao meu estado antigo de espírito, nada seria mais igual. Passei a procurar por pistas de Rosa, revirava documentos em conventos, mas nada, não achava nada!Na sala do Inquisidor descobri documentos de uma Casa de lazaro, um retiro para o clérigo que se contaminava por lepra e pestes desconhecidas. Era o único lugar que não havia procurado.Passei então a fazer perguntas a D. Leopoldo sobre a Casa de Lazaro.As respostas eram evasivas, percebia que o Inquisidor não falar-me-ia sobre o dito retiro, no entanto não parei de investigar, consegui encontrar outros documentos das pessoas que iam para lá, mas não havia nada sobre Rosa. Não era para o clérigo doente, era uma espécie de hospital para doentes da mente e do espírito. Frustrei-me e passei a ser um tanto amargo e infeliz, não escrevia mais e nem cantarolava as canções de Senhor Quinto, sentia saudade; Deus como sentia saudade.Haviam passado três anos, havia perdido o interesse em me tornar um poderoso na igreja, poderia usar o nome de minha família para isso, mas perdi o ânimo em minhas tentativas, sempre falhas, de conseguir status e assim poder melhor investigar o destino de minha amada.certo dia caminhava para a capela e ouvi vozes na sala de D. Leopoldo, movido por uma curiosidade estranha colei o ouvido na porta.O homem lá dentro cobrava por seu pagamento, pois a muito seu contrato havia vencido; D. Leopoldo dizia não ser fácil conseguir um titulo junto à coroa para um homem sem nome e sem passado, mas que junto ao Rei falava sobre a importância do mesmo aos interesses do reino e da igreja, em breve teria uma resposta.- Como está a moça Dr. Afonso?Essa pergunta fez meu coração saltar, aquele homem na sala era o médico que estava junto a D. Leopoldo no dia em que ela foi levada embora.- A moça está bem, muito prestativa, conformou-se com seu destino; não fala de sua vida, para mim também não interessa, ainda não entendo os motivos para ser mandada a ilha, não se enquadra ao propósito e nem ao que diz seus registros.- Não se esqueça de manter-me informado sobre ela, em breve deixarás a ilha e preciso preparar o próximo a assumir teu lugar sobre ela.- Por que ela é tão importante, por um acaso é uma ameaça ao rei?

D. Leopoldo gargalhou e rebateu.- Não, não, é apenas alguém por quem me sinto responsável, visto que o melhor para ela foi o martírio de tua companhia... Numa coisa está certo, ela não merecia tal destino, mas as vezes a única forma de salvar uma ovelha de um lobo cruel é esconder a ovelha no covil do lobo, mas nada disso te interessa... Em breve terei a resposta do rei.Percebi pelos os sons que os homens haviam levantado escondi-me em um corredor escuro ao lado da porta e os homens saíram.Falaram de Rosa, estava ela então em posse de Dr. Afonso, de certo médico na casa de Lázaro.procurando não ser percebido arrumei uma forma de seguir o médico, estava em uma estalagem, fiquei de guarda durante dias, mal dormia ou me alimentava, para onde o homem ia lá estava eu a espreita. Na companhia de dois monges ele tomou uma embarcação, procurei pelo capitão e consegui a informação de que iam para a ilha de Santa Cruz, nada fez com que eu fosse aceito a bordo, dei então ao capitão o anel de meus votos e então pude embarcar, mas fiquei junto aos escravos, para aqueles homens do mar pouco importava minha posição como padre, nas partes baixas da enorme caravela estavam os escravo e os monges que acompanhavam o médico, tentei conversar com estes, fazer perguntas, mas nada respondiam, dias de viagem, um dos monges adoeceu, os escravos cuidaram dele, mas nada puderam fazer, seu rosto estava inchado e vermelho, não eram sintomas de peste, então resolvi tentar ajudar, o capitão não foi informado sobre a doença do homem, os escravos temiam que imaginassem que ali havia peste e matassem a todos, ao examinar o homem percebi que sua língua havia sido recentemente cortada, um mal cheiro saia de sua boca que estava coberta por uma enorme ferida que minava pus e sangue escuro.Então falei aos negros o motivo de sua doença, se acalmaram por não ser peste, depois de alguns dias agonizando o monge morreu, o outro somente observava sombrio, de certo nada dizia por ter também a língua cortada. Um plano me veio à mente, mas seria perigoso. Desamarrei um negro forte que entendia meu idioma e muitas vezes me servia de interprete para que eu me comunicasse com os outros, pedi que ele me ajudasse a se desfazer do corpo durante a madrugada, o homem não compreendeu, mas não se negou, o outro monge em nada mostrava interesse, parecia gostar de meu plano.Então quando os sons e matinada no navio cessaram, abri pequena abertura no teto que dava para o convés e observei, não havia ninguém, então fiz sinal ao escravo que pegou o monge vestido em minhas roupas, jogamos o homem em alto mar e descemos as pressas, vestindo a roupa do monge morto me coloquei ao lado de seu companheiro que me mirava com olhos sombrios.A embarcação atracou e fomos chamados, havia parado em uma ilhota, não imaginava

que a as Terras de Vera Cruz fossem somente aquela porçãozinha de terra em meio ao nada. Desci em um pequeno barco com remadores a nossa espera, escondia meu rosto com o capuz, mas senti-me seguro, o outro monge não me denunciou e o médico se quer olhava-nos.Meu coração batia forte na esperança de rever Rosa, mas como escaparia com ela?Logo percebi que seria impossível aproximar-me do médico, a tal casa era na verdade uma fortaleza e para onde fui mandado a seguir com os monges era uma área isolada, ficou claro que o médico não aparecia muito por ali.Meu coração quase não suportou o que viu, freiras; monges e estudantes de medicina ali estudavam e sob orientação de Dr. Afonso realizavam horrores com pessoas alienadas.procurava não ser percebido, passei quinze dias ali, preso e mudo em meio ao silêncio dos que trabalhavam e os urros de dor dos doentes, todos... Todos sem a língua?Entendi a natureza do lugar, usavam pessoas de todas as raças para experiências cientificas e médicas; a igreja abominava essas praticas como poderia permitir que um lugar desses existisse?Tentei me aproximar de Afonso, mas não conseguia, um dia em uma de minhas tentativas, estava em uma árvore que dava visão da ala onde o médico ficava, ele sempre estava na parte alta, descendo em determinados dias da semana para anotar os resultados de suas experiências, nesse dia pude ver uma moça sentada em um muro alto, parecia absorta em seus pensamento, era Rosa, não contendo a felicidade chorei.Ela não ficava com os doentes, estava na ala alta com o médico, isso aliviou-me ao mesmo tempo que me fez sentir ódio, contive os sentimentos e as emoções e tentei pensar em um plano.três dias passados Afonso veio avisar aos empregados e aos monges que partiria, havia recebido um comunicado da corte, que todos prosseguissem com o trabalho e ficassem a espera de um substituto.Deu ordem para que os pacientes em estado terminal e agressivos fossem executados, e os menos agressivos fossem mantidos vivos para que o próximo médico não se assustasse tanto.Percebi que partia sozinho, por fim deixou a silenciosa ilha, o médico parecia dar vida aquele lugar sombrio e propositadamente fora do mapa, partiu levando consigo o peso de uma maldição, pois todos que serviram para seus intentos se não existia mais nesse mundo, existiam em outro, todos sedentos de vingança.Assim que achei seguro subi para a deserta ala alta, senti que os que ali ficaram em espera do novo patrão logo fariam o mesmo, tentando desfrutar de algum luxo deixado para trás enquanto outro chefe daquele lugar não vinha.Procurei por toda parte, mas nada... Já sem esperança vaguei pelos salões e encontrei o luxuoso quarto, a vasta biblioteca e percebi que entre as altas prateleiras havia um estreito corredor ainda iluminado por archotes, segui por ele e encontrei uma porta

pesada de madeira, o lugar era úmido como uma caverna; examinei a porta com minhas mãos, encontrei a fechadura e nela uma chave, grande tristeza me tomou, não pude conter as lagrimas, escorreguei pela porta e encontrei o chão, soluços e gritos escapavam de mim sem que eu pudesse evitar, senti que ao adentrar aquele quarto morreria, tive medo e senti revolta; depois de me sentir preparado girei a chave com dificuldade e abri a porta, o quarto estava escuro, corri para o corredor e tirei um archote da parede. Triste momento que ao relembrar faz meu peito doer, encontrei o cadáver de minha amada, debrucei-me sobre ela e chorei ainda mais, fraco e destruído examinei o quarto, não era luxuoso mas era confortável, havia uma penteadeira com perfumes e enfeites de cabelo, escovas, óleos e muitos livros, tropecei em uma pedra e quando a peguei vi que tinha marcas de sangue nela, de certo foi a causa do ferimento em sua cabeça; maldito! O médico havia a matado.Ali fiquei um grande tempo, depois sem ter o que fazer a peguei no colo, estava fria e rígida, passei por todos que nada fizeram, gritei por um barco, se assustaram por eu poder falar, ainda hoje me pergunto porque não me impediram e ainda providenciaram um batel simples de um remo só, tomei a embarcação junto ao corpo de minha amada, a abençoei dentro dos rituais da igreja e com muita tristeza a joguei ao mar.O que faria?Perdido e sem direção não fazia idéia, mas fui tomado por um sentimento de vingança, encontrei um navio da capitania hereditária, pude então retornar para Portugal,Quando cheguei D. Leopoldo tentou interrogar-me e eu despejei nele tudo o que sabia sobre a Casa de Lazaro e como encontrei Rosa.Vi seu semblante empalidecer de súbito, pela primeira vez o deixei sem a chance de uma resposta pronta e final - Vamos, diga-me o que o maldito contou-lhe sobre o que aconteceu a Rosa... Que havia fugido?- Como vê ele mentia, eu mereço saber, preciso, pela paz de minha alma, não me negue o direito de saber a trama de desfecho tão trágico.D. Leopoldo olhou-me nos olhos que brilhavam como quem chorava por dentro, senti que minhas noticias o atordoou... Com voz vencida e sem a altivez marcante ele me respondeu quase em suplica:- Não queira saber, não seria seguro para ti, envolve poderes, não poderia protegê-lo e lamento o destino da pobre moça...- Proteger-me? A vida inteira confiei em ti, nunca te vi como exemplo, nunca quis ser temido, mas confiei em ti, ora deixe-me, desde criança estas na direção de meu destino. Irei revelar o que acontece e a existência deste lugar.

Assustei-me com a revelação gritada em minha direção:- Não, não farás isso, não posso deixar, pois és meu filho!!!Uma segunda faca apunhalou-me o coração, sem palavras corri de sua presença e a evitei por semanas.Certo dia chegou até mim a noticia da festa que minha mãe preparava, contaria com a presença do Rei que daria o titulo de barão para D. Afonso por seus serviços a coroa.não me enfureci, havia reconquistado minha calma, então planejei meu próximo passo, procurei minha mãe e pedi perdão por tudo o que a fiz passar. Então ela me abraçou dizendo que me esperava para a festa, pelo o modo como me recebeu não fora informa de que eu sabia de seu pecado, um pecado que a destruiria.Me preparei e ao entardecer fui para o festejo e depois da cerimônia gritei chamando a atenção de todos, acusei a igreja pelos sacrilégios da casa de Lazaro e pior, entreguei o pecado do inquisidor e me declarei como origem de uma relação abençoada por Satã.Todos ficaram pasmos, mas logo minha mãe interveio:- Céus, meu filho enlouqueceu ou os demônios da mulher que o desviou do caminho estreito tomou seu corpo?D. Leopoldo permanecia frio em seu lugar ao lado do rei, Dr Afonso estava parado em minha frente, um silêncio instalou-se e foi quebrado pela voz do rei que pedia explicação ao Inquisidor, que com frieza ordenou a minha prisão e minha condenação a forca por injuria a Santa Madre Igreja.Fui retirado do lugar com violência, nada disse mais, fui preso e torturado por toda a noite e jogado em uma cela, fui avisado que seria enforcado em praça publica no domingo vindouro, não me importava com meu destino, nada me importava.Um dia antes do cumprimento de minha sentença D. Leopoldo apareceu a noite na cela trazendo nas mãos uma capa e sem rodeio foi logo dizendo.- Vamos sair daqui, foges hoje em um cargueiro da capitania Inglesa, irás para outro país, esqueça tua vida aqui e não volte mais.- Me salvas por eu ser teu filho, não te envergonhas disso?Ele me olhou e irônico rebateu:- E tu não te envergonhas?Fizeste teu destino por não resisti ao amor de uma mulher, aliás talvez estivesse ela viva ainda se tivesse sido fiel, muitas vezes renunciamos o amor por zelo do amor...- Somente um monstro como tu poderia amar uma mulher como minha mãe...

- Ai é que te enganas tolo... Agora cala-te e venha...Quis me negar, mas algo impediu-me, estranhamente pensei na segurança do Inquisidor, temi que ele fosse pego nesse plano arriscado.coberto pela capa segui com ele até seu coche, fomos direto para o porto onde embarquei no navio inglês, não me despedi, sequer olhei para trás.Dias de viagem e em uma noite sou despertado por um forte barulho e o movimento brusco do navio, subi ao convés e o navio havia sido tomado por ladrões do mar, todos os militares foram mortos e alguns inclusive eu, foram feitos prisioneiros, embarcamos no estranho navio junto aos bens roubados.Reconheci o capitão do Navio, era o homem dono da fazenda onde as feiras ilegais eram realizadas de tempos em tempos.Me ofereci para trabalhar no navio com eles, fui interrogado sobre minhas habilidades marítimas e confessei não ter nenhuma, mas sabia fazer rimas e havia aprendido a cantar e tocar com um amigo poderia alegrar as festas.O homem Lembrou-se de mim, inacreditavelmente sabia toda minha historia e revelou ser pai de Afonso, agora Barão, reclamou que o ingrato havia cortado laços.Ri da ironia da vida ao ser aceito no bando, durante o primeiro ano fui alimentado pelo sentimento de vingança, mas não demorou e eu me cansei, era desgastante odiar e eu nunca conseguia manter-me muito tempo alimentado o fogo do ódio, era um covarde para aquele tempo onde o ódio e as ambições eram o combustível de tudo, até mesmo dos pais da fé.não demorou e logo recebi um nome dado pelas noites de festas nos portos do mundo, chamavam-me de menestrel, viajei por todos os mares conhecidos da época e passei a ser enamorado do mar, nele podia encontrar as lembranças de meu amor e quando o céu era limpo e podia ver-se estrelas, eu conversava com elas e pedia que levassem meu amor ate minha amada.Vivi como pirata durante anos, nosso alvo passou a ser os navios da capitania hereditária de Portugal, madeiras nobres, diamantes e esmeraldas , tudo o que podíamos pegar era levado e sempre incendiavamos os navios saqueados.Passei a ser imediato do navio de Apolônio o Turco, como era conhecido por conta de suas origens.Mesmo quando estávamos na fazenda eu não procurei encontrar Quinto, me escondia quando para lá íamos, e depois o comercio ilegal foi descoberto e as terras tomadas, claro que pelo Barão Afonso, onde ele tratou de construir seu castelo.Anos em alto mar me cansaram, aquela vida vazia, cheio de riqueza e sem ter como desfrutar parecia mais inglória que a vida na corte, então pedi permissão a Apolônio para fixar-me em uma país distante e menos castigado pela igreja, pedi que me deixasse partir para Índia.Ele recusou-se, mas logo aceitou quando disse que deixaria para ele toda a minha parte

das pilhagens.Segui para Índia, estranhei o povo e seus costumes, e os pobres, povo ao qual fazia parte, eram ignorados e tratados como abjetos da vida, não era diferente do que a as sociedades que conheci, podiam ser mais selvagens, mas apenas isso... Mas existia ali algo de encantador. Certo dia encontrei um monge hindu e o segui, não foi difícil mergulhar naquelas crenças, magoado com o Deus da igreja, Krishnna parecia um caminho seguro, tornei-me um monge enclausurado voltado para a minha iluminação.Sentia-me leve e feliz, aquelas montanhas geladas do Himalaia era para mim o paraíso na terra, os ensinamentos hindus foram aceitos com alegria, principalmente a sua liturgia sobre o carma.Ali, naquelas montanhas envelheci e morri, um outro homem, mas ainda amando uma Rosa.Meu desencarne foi sem dor e sofrimento, de imediato meu espírito foi resgatado e no plano além vida reencontrei minha Rosa, e juntos percebemos que deveríamos nos manter afastados até o momento em que todo o carma que envolvia o grupo de espíritos ao qual fazíamos parte fosse expiado, seguimos eu e ela em opostos de caminho, mesmo que unidos por nossas mentes, havíamos criado nossos próprios débitos e pagar por eles era impossível se juntos permanecêssemos.Desde então vivemos fisicamente longe um do outro, vez por outra infligindo algumas regras e nos encontrando, mas nunca permanecendo um na vida do outro.Me encontro, nesse momento, encarnado e em cada raiar de sol e em cada brilho da luz conectado ao coração de meu amor. Ela tornou-se a natureza que busco com meus olhos perscrutadores. O nosso grupo hoje é movido pela luz e o empenho dos que escolheram o caminho do amor, acredito, que é uma alavanca poderosa e estamos nos saindo bem. Entendo agora as palavras de Leopoldo, de fato às vezes devemos sacrificar o amor pelo bem do amor, a maior prova de amor incondicional chama-se liberdade, na liberdade os homens podem encontrar suas maiores grandezas, mesmo em vias tortas e escuras.Gosto desta era nova, a era das maquinas, não vejo a humanidade com olhos julgadores, sou otimista e tudo sempre será melhor no futuro!NamastêCapítulo 4

Relato de D. LeopoldoTais relatos não são de propósitos históricos, visto que vivemos em um mundo onde não há mais necessidades de provar o sobrenatural, ele já está até explorado em demasia, tudo hoje é ao alcance das mãos e tudo se trata de escolhas, no entanto verdades acabam sendo históricas, mas não nos esqueçamos do objetivo principal: A cura das memórias adoecidas em nós.

A historia que aqui se desenrola não é um fato raro, todos os espíritos da Terra fazem parte de tramas semelhantes, mas a energia aqui empregada não é a de fustigar memórias e sim de dividir o fármaco que curou as emoções dos espíritos envolvidos.Esse tempo era semelhante aos dias de hoje no que se refere a falta de estrutura para se realizar as mudanças necessárias no Planeta, mas os homens de hoje são mais pecadores, pois digno de perdão é o servo que erra sem conhecer a fundo as leis de seu senhor.Trazer a tona uma memória não é tarefa fácil, exige pericia e compaixão, os arquivos da memória não são como os céus, para o firmamento a curiosidade é a chave, mas paras as memórias não, então quem segue por esse trabalho de tratar memórias deve ser dotado de responsabilidade, pois uma vez lembrando por “um” essa lembrança vibrará nas cordas que conectam todos a tudo, e quem participou da trama relembrada terá de alguma forma suas lembranças despertadas também, por isso o lembrar-se por lembrar pode servi para uma única pessoa, que egoísta não saberá nunca que prejudica os espíritos que pelo carma são ligados a ele. Apresento uma das encarnações que mais maltratou a minha fé, bastante frágil por natureza, a memória de Leopoldo debatia-se em mim e nutria-se dos meus vícios de personalidade, e sempre permaneceu escondida como algo de que não gostamos, mas do qual não podemos nos livrar.Nasci no inicio de 1500 da graça de Nosso Senhor; criança abandonada nos pórticos de um Mosteiro, o país, Portugal.Posso ver com frescor, como uma tela recém pintada, o mosteiro de Santa Maria, uma construção inacabada, mas pomposa e obscura, com alguns jardins internos e áreas abertas, mas a maioria do espaço era tomada pela construção de muros altos, parecia na verdade uma prisão.Eu não gostava do lugar, embora ali tenha vivido, crescer em clausura para um espírito de minha natureza era tortuoso, mas me serviu em algo; com 12 anos eu era tão sábios quanto qualquer bispo velhaco que por lá vagava.Muitos poucos ali ficavam e fazia seus votos por amor, a maioria eram jovens castigados pelo celibato ou desafortunados na vida, estes não tinham chance alguma de cargos elevados no clérigo, então suas vidas eram de servidão, quase uma criadagem prestando trabalho escravo.A vocação por ser rara dava margem aos “pecados” da carne, cometidos todos na surdina; essa tradição moldava os valores e passava a ser como uma informação inserida em um DNA.Havia também aqueles que enclausuravam seus filhos para que esses conseguissem status hierárquicos, em um tempo em que a igreja era mandatária era uma das formas de tornar respeitada uma família perante o império.Astuto, eu sempre observava todos os movimentos, esgueirava-me feito cobra por baixo das batinas, sabia que era um desafortunado e se queria as regalias do mundo

necessitaria de um cargo elevado. Sábia de segredos sórdidos e usando de tais armas obtive a oportunidade de estudar com verdadeiras chances de conseguir poder, na verdade eu não entendia que não eram necessários os meus atos, pois minha natureza perspicaz e meu cérebro incrivelmente a frente do tempo era observado por aqueles que descobri suas cavernas cheias de aranhas e lagartos, mas vivendo em um mundo de intrigas, não poderia proceder de outra forma.Tornei-me uma figura respeitada quando escolhido pela coroa, a Rainha gostou deveras de confessar-me seus pecados, fixei moradia no palácio real e do Rei aos seus servos lhes ouvia as confissões, e pecávamos juntos também, então era um sacerdote perfeito para o tempo e lugar.Era jovem e não se assustem se disser que vivi grandes paixões, quando comecei a me acostumar a vida da corte, a igreja prevendo que eu seria peça chave em um escândalo que marcaria até o dia de hoje os livros de história, mandou-me a Roma para estudar o Santo Ofício.Uma face da igreja que muitos dizem pertencer ao tempo arcaico, um comportamento de todos e que acabou sendo também da igreja, mas meu espírito entendia ao contrário, na verdade talvez os povos dessa época tenham capturado o espírito da instituição que moldava valores e legislavam leis.O estudo do Santo Oficio era macabro; demonstrações ao vivo de como se extrair a verdade de alguém, e de como mostrar a face de satã, exorcismos que não poderia ter outro desfecho se não a morte... Tudo isso fez apodrecer por dentro qualquer chance de fazer a juntura do nome de Deus ao amor, contudo era um prisioneiro de meu próprio destino, e se fugisse dele ou seria um homem morto ou... Um pervertido sem futuro refugiado em algum país distante. Meu coração revestiu-se mais uma vez de sua malha metálica, mas existia em mim o incomodo, e o incomodo é aquele grito desesperado da própria consciência, não podia mudar o cenário caótico dos bastidores da fé, mas podia ser diferente no que eu pudesse ser... Era um Inquisidor do Santo Oficio, seguia as regras e as leis, cumpria com meu dever, mas nenhum prazer sentia, quando podia liberava a vitima, quando não, tentava amenizar seus sofrimentos, ministrava em muitas mulheres condenadas ao fogo sutis venenos que as matavam antes que pudessem sofrer a tortura de serem queimadas vivas, uma dessas moças não pode ser “salva” por minha mecânica compaixão, encantei-me por seu espírito, por seu olhar brilhante, sua insubordinação e a coragem de cuspir no rosto dos sacerdotes, apaixonei-me quase que instantaneamente, sofri tanto sua morte e tanto me culpei que quase coloquei minha vida a perder e por isso retornei a Portugal, agora como inquisidor, até os bispos mais poderosos me temeriam, voltei ao convívio da corte e foi quando conheci Inês.A duquesa deitou sobre mim seus olhos, um leão reconhece sempre uma possível vitima, e não foi arriscado até o dia em que ela revelou-se esperando um filho que só podia ser meu, pois desde que me conhecera vivia em rezas e penitências e uma delas era negar-se ao marido; interromper a gravidez era arriscado havia chances de ser

uma empreita má sucedida e colocá-la em situação delicada; então decidido foi que a criança nasceria, sua mãe Jocasta sabia de toda trama, não queria um bastardo dessa origem horrenda, então prometeu o neto a igreja tentando livrar a filha das chamas do inferno, por sorte a criança nasceu com os olhos da cor do mel recém colhido, não veio nele o azul de meus olhos, parecia-se com a mãe.Jocasta apegou-se ao menino, mas não abria mão de tirá-lo do seio da família.Depois deste incidente que resultou em uma criança afastei-me de Inês sem lhe provocar a ira, pois sua língua era farta de veneno e seu coração um vácuo destruidor. Jamais deixe a criança, nasceu em mim grande amor que não demonstrava...Cuidei para que tudo lhe fosse fácil em seu destino.Jonas era aplicado e existia nele a fé que não havia em mim, era sábio nas perguntas e também nas resoluções que encontrava, gostava de rezar e meditar, por sua presença abdiquei-me de ser quem de fato eu era; a verdade é que ele foi capaz de me fazer parar com minhas ânsias.Alegrei-me por tê-lo mais próximo quando decidiu morar no mosteiro, fiz por onde camuflar qualquer coisa que ferisse sua fé, mas era impossível, ele logo entendeu o espírito da instituição, mas não abalou-se, havia nele um verdadeiro desejo de servi ao Cristo, mas nem a fé de meu filho foi capaz de incendiar meu coração de amor a obra, não podia haver amor em minha função, eu era tal como um anjo: Abençoava quando assim ordenava Deus, mas no silêncio da madrugada, se Deus mandasse, Eu voltava para fazer em pedaços quem abençoei pela manhã, minhas asas eram manchadas de sangue; como poderia amar em um ofício onde se descoberta fosse minha compaixão eu seria condenado a morte?A Cerimônia dos novos ordenados, incluindo Jonas estava prestes a acontecer, faltava pouco menos de um ano para seu aniversário de vinte anos .Um tanto de liberdade vivia, podia entrar e sair, ficar com a família e tarefas exteriores lhe eram dadas, e depois de voltar de uma dessas tarefas Jonas já não era mais o mesmo, não demorou para vir até mim, percebendo sua mudança passei a cercá-lo, nada senti quando me disse que não queria mais professar, tentei fazer com que me falasse, sem mostrar intimidade, pois estavam presentes na reunião eu, outros clérigos e o bispo do mosteiro, mas ele nada nos informou, além de que não via-se pronto.Mas eu, mais que todos os outros, sabia ler o amor nos olhos de um homem, a causa de sua desistência usava anáguas com certeza; como seu responsável eu o liberei sem mais perguntas e disse que sempre seria recebido pela igreja... Inês no entanto não conformava-se, procurava-me todos os dias rogando que eu mudasse a cabeça de nosso filho; toda vez que ela usava a frase “nosso filho” eu a recriminava, na verdade ela não suportava-me o olhar e não conseguia comigo o que conseguia com todos, sempre lhe negava os caprichos, de alguma forma o mundo ao seu redor sofria suas revoltas provenientes de meu desdém.

Por meses não vi Jonas e não tive noticias, não me importei, até que fui surpreendido em uma manhã quando um escravo de Inês veio com o recado de que me solicitavam com urgência.Sem pressa atendi o chamado, quando lá cheguei o caos havia se instalado, Jonas havia fugido, me neguei a fazer dele um procurado, então ela tratou logo de ameaçar escrever ao Papa, tola mulher...Estava tranquilo quanto a Jonas, até descobri que Inês tramava contra o filho e a noiva em uma reunião para o qual fui convocado, a tola mulher que lhe apareceu do nada dizia-se mãe de uma moça que estava noiva de Jonas, seus interesses eram mesquinhos, estava atrás de um dote, pois a filha não podia casar-se com um miserável que era afortunado de berço, mas Inês se negou e ofereceu muito mais que um dote para que a mulher ajudasse em seu plano de assustar o filho.Jonas sempre teve a fé rica, se a amada adoecesse com certeza ele a deixaria, pois julgaria que a moça sofria por sua ousadia em não seguir seu destino, Inês sempre astuta convenceu a mulher de que a filha não morreria e que a mistura que ela lhe daria para ministrar na filha não era venenosa, apenas a deixaria atordoada e os efeitos passariam assim que deixasse de ministrar, pagou muito bem a mulher que satisfeita partiu nos deixando a sós na grandiosa biblioteca de sua casa, Inês olhava-me com ávido desejo contido que faziam seus lábios tremularem, eu não fugia desses olhares, mas desta vez pesou-me o coração e não mais dormi desde então.Passaram-se os dias e nada de Jonas regressar, muito tempo depois a mãe da moça volta desesperada trazendo consigo o padre da vila, logo coloquei-me a par e impedi que o bispo tomasse conhecimento para que pudesse proteger a moça, a mãe disse que ficou dias sem ministrar o liquido, mas a moça não melhorava; acontece que depois de tanto tempo usando a tintura dessa espécie de papoula o cérebro demorava a se limpar, Inês sabia disso, mas aproveitou-se da simplicidade da ambiciosa mulher e não lhe disse nada para tranqüilizar, apenas que de certo a filha havia sido tocada por satã e era assunto da igreja, teria de por os bispos a par... Eu intervir, tranqüilizei a mulher de que cuidaria do caso, não pude impedir Inês de alertar todos sobre o caso da moça que mantinha por feitiçaria o filho preso, fiz o que pude para que sozinho ficasse com o caso e consegui, mas teria de fazer algo, ou morreriam todos.Comuniquei Inês da decisão do bispo, mas ela reagiu com ameaças, não me contive a esbofeteei - Vá, corra e conte para todo reino as minhas prevaricações... Esqueces tu, mulher aleivosa, que se cair, cais também tu, teu nome e tua raça?Vá... Mas saiba que não há rei que te salve de mim e que de todos os homens que se serviram de teu corpo, sou eu o único que não teme a morte!Deixei a capela de sua casa e não importei-me com mesuras aos que estavam na sala, o Duque olhava-me com olhos de temor e revolta, ele sabia a mulher que tinha, mas nos tempos onde um nome valia mais que a honra, não havia importância em desonrar-se

na hipocrisia.No dia seguinte seguimos a vila onde Jonas estava, ao chegar a casa estranhamente sabia para onde me dirigir, levei comigo Dr. Afonso pois ele seria fundamental ao meus planos.Ao adentrar no quarto da rapariga entendi porque Jonas havia deixado a graça, mesmo ressequida pelo veneno que ingeriu a moça era bela, uma beleza simples e que não encaixava-se nos padrões da época, senti-me inteiramente morto diante seu sofrimento.Teria que mostrar uma prova irrefutável de que ela não estava possuída e então tirei a cruz que carregava comigo, a cruz de minha ordenação, um tesouro sagrado que seria repudiado por um demônio e coloquei em seu pescoço.Ela segurava forte minhas mãos e pedia misericórdia no olhar, tive medo que se negasse ao que eu propunha, que não aceitasse, acredito que sem força para isso ela não lutou, tentou levantar-se para me acompanhar, mas desfaleceu em meus braços, eu deveria livrá-la de Inês, eu conhecia aquele coração cruel, não sossegaria até destruir a moça e Afonso era sua única chance, mas havia uma luta interna, um medo de que isso lhe fosse pior que o excomungo e a morte cruel que era destinada a moças como ela.A casa Lázaro era registrada como um leprosário para o clérigo, mas era apenas uma farsa que ocultava a verdadeira natureza da instituição caso viesse a ser descoberta. Eu conheci Afonso ainda muito jovem, estudioso e aplicado, tínhamos quase a mesma idade e escolheu medicina, estudou em Roma quase toda sua vida, seu esforço o tirou das mãos da sorte, tornou-se respeitado médico depois de inserido na corte, era mestre no que fazia, nessa época havia uma corrida entre o homem e Deus, o homem começava a despertar para a ciência e a igreja não queria que os mistérios da vida não fossem de seu domínio, então a casa de Lázaro foi apenas um dos muitos lugares onde seres humanos eram usados em experiências absurdas que em nada acrescentou para a ciência e para medicina. Quando a natureza do lugar me foi explicada tratei de cuidar para que Afonso fosse pra lá e o tempo que trabalhou fez fortuna, contribui para que ele fosse nomeado Barão Afonso I de Vila ViçosaSe ele tinha meu rabo preso nos pés?Não, não tinha, mas passou a ter o da igreja quando serviu na Casa Lázaro.Jonas voltou para a capital e eu pedi que a menina moça ficasse longe dos doentes e dos trabalhos ali realizados e fosse instalada na câmera onde servia de dormitório do antigo médico, um lunático que não queria saber de luxos, seu prazer era fatiar cérebros; mandava todos os meses livros e mais livros de toda ordem para que a moça tivesse o tempo distraído, mandei todos que gostava e me sentia um tanto acompanhado em saber que ela leria as mesmas paginas que li um dia... Procurava-me manter informado sobre ela, Afonso informava que era tratada como eu pedira que fosse.

Jonas passou a complicar tudo quando voltou a igreja, fazia-me perguntas sobre A moça que se chamava Rosa Maria, mas imaginando que ele procuraria por ela troquei seu nome nos registros; nos registros ela era Dolores.Por muitas vezes Jonas tentou cargos de grande hierarquia, mas para proteger sua integridade e a madre não o castigasse com seu chicote cruel. Eu me fazia de pedra em seu caminho.Anos depois vi uma oportunidade de Trazer Afonso pra corte, imaginei que ele traria a moça, e se a deixasse lá eu a buscaria, tinha planos para ela no novo mundo que emergia no horizonte.Passei a dedicar-me a isso, e sequer percebi que Jonas não estava mais entre nós, dias depois de uma carta que enviei para Afonso ele regressou, perguntei da moça e o médico me informou que Rosa havia pego uma doença que agravou um mal que sofria desde nascida no coração, fizera o que pode, mas a rapariga não resistiu, lamentou-se, e de fato havia lamento em seus olhos, mas ao mesmo tempo ele estudava minha reação, perguntou-me, finalmente com interesse real, quem era a moça, não lhe contei da trama, ele sabia por parte, sabia que ela desviara um rapazola que se tornaria padre, mas não suas origens, e assim permaneceu.Fiz como prometerá, dentro de quatro meses ele receberia o titulo de Barão.Meses depois deste dia, quando terminei os últimos arranjos não tive tempo de esvaziar minha cabeça, pela primeira vez na vida sentia-me no limite de minhas forças, me desconhecia, Jonas chegou revoltado invadiu-me a sala onde eu começava a penetrar em meus pensamentos.- Eu sei de tudo... Suas lagrimas corriam como um rio que acabara de romper uma barragem, sua voz era soluçante e descontrolada, não tive ação, apenas fiquei parado olhando-o – Eu segui o crápula do médico, passei 20 dias naquela casa de tortura que tu disseste-me ser um convento, a encontrei morta, seu pescoço tinha marcas de estrangulamento e sua cabeça estava estraçalhada por uma pedra...Aquelas falas caíram em mim com navalhas afiadas... Levantei-me, mas tonto me apoiei na mesa.Jonas jurou por todos a par do que descobriu, eu não sei o que me levou a tamanha irresponsabilidade, se foi uma intenção suicida de minha parte, não sei, mas lhe revelei que era seu pai; novamente lágrimas banharam seu rosto e sem dizer nada ele se retirou de minha frente.Tolo, levado pela emoção e creio eu, por um arroubo suicida também, no dia da nomeação de Afonso ele levantou a voz e contou tudo o que sabia, acusou Afonso, acusou a igreja e acusou eu e sua mãe de sermos amantes e ele um fruto deste pecado horrendo.Mantive-me senhor de mim, estava ao lado do rei que me cutucou com o cotovelo e me

cobrou uma atitude. Então me vi obrigado a condenar a morte meu próprio filho e deixá-lo a mercê das torturas aos condenados.Eu não dormia a meses praticamente, desde que mandara aquela moça para a ilha, meu coração havia despertado embaixo da malha de ferro, três anos passaram-se como trinta anos, meus negros cabelos tornaram-se grisalhos, meus olhos azuis como o céu no verão estavam sem vida, marcas profundas passou a se formar em meu rosto, meu corpo curvara-se, morria aos cadinhos, e agora meu filho querido condenado a morte por mim?Não, tratei de garantir sua entrada em um navio inglês, um dia antes de sua sentença ser cumprida eu o resgatei do destino na forca.Nunca mais tive noticias de meu filho, mas cobrei caro de Afonso o seu crime, tanto fiz que para ele lhe restou apenas o titulo que não era lembrado por ninguém, em uma fazendinha perto do mar ele construiu um Castelo e ali ficou enclausurado, levei dez anos para tirar dele todas suas conquistas, dez anos que me cansaram, em seu castelo inacabado ele morreu na própria companhia.E eu... Eu devo ter feito falta para os condenados que era minha responsabilidade, procurei de todas as formas ser menos cruel do que Deus me exigia que fosse, já não me preocupava em esconder minhas falhas, entrei em declínio como nunca antes, passei a freqüentar uma ordem secreta que se espalhava feito praga no organismo interno da Instituição, os rituais eram secretos e feito nos calabouços de castelos importantes da corte ou em lugares escusos. O intuito principal dessa ordem era dominar a magia através do culto ao corpo de uma virgem, não vivi muito nesse momento de assassinatos, estupros, sodomia e muito vinho, mas vivi o suficiente para me afastar de Jesus ainda mais e sair da vida com mais pesos que Afonso quando deixou a ilha.Não me ressinto pelas descargas de revolta com que ainda tenho de lidar, nos momentos que gritos de cobrança chegam até mim, não me escondo mais em uma lembrança, ou em fortalezas impenetráveis, deixo que tudo chegue até mim e envio de volta um pedido sincero de perdão.Todas as vezes que nasci com poder para mudar caminhos tortos, reescrever historias que deram errado; todas as vezes que nasci com o cargo de ser a juntura para uma expiação sem dor entre os meus irmãos de meu grupo espiritual, eu falhei, mas se falhei foi por fazer-me em demasia responsável e quando vi que era errado ser o senhor do destino, errei também, pois fui irresponsável comigo mesmo... Não posso fazer como Pilatos e me isentar de toda a culpa do sofrimento destes amigos, pois com eles errei, e sem que tivessem a chance de não permitir, usei suas histórias para o cumprimento de meus interesses.Hoje, depois de um labor desconhecido do publico geral, esses meus amigos, cada um à seu modo, tenta recuperar o tempo que se perdeu, mas na verdade não houve tempo

perdido, tudo deu-se na perfeita ordem de como deveria ser, claro que poderia ser mais fácil e menos sofrido, mas somos almas complexas dando vida a uma natureza complexa, sempre escolhemos os caminhos mais complicados, os montes mais íngremes e pedregosos, pois somos a centelha divina que se coloca em prova, que se testa a todo momento; fazemos experiências com nossas potências e por isso somos tão belos, por sermos o nosso próprio deus e o nosso próprio diabo.

Capítulo 4

Introdução a Cura

Preparação (Fátima, buscando a libertação de espinhos e de grilhões.)Viver implica em descobrir-se a cada situação que aconteça.Por anos acreditei que tudo estivesse determinado e fixo e descobri nesse tempo que

nada eu poderia fazer para mudar o futuro já que estava escrito no grande livro da vida por onde meus pés seguiriam.Algumas situações colocaram a prova essa regra e descobri que alguns pontos da encarnação realmente não podem ser mudados, mas são poucos em relação à quantidade de situações que podemos e devemos influenciar.Estou no limiar de fechar um ciclo e iniciar outro por isso me coloco em preparação para virar esta página bastante rabiscada, repleta de emoções de aprendizados que mudaram meu ser interior atuante nesta vida para deixar vir a página em branco na qual vou escrever com muito cuidado, amorosidade e responsabilidade.O fechamento nada mais é que a permissão para que a abertura nova se dê. E é com essa intenção que pretendo abrir as últimas urnas que permaneceram lacradas por minha vontade. Deixar que delas saiam o pó, o aroma, o movimento reprimido, o sentimento desprezado, para que em contato com o ambiente se renovem, ou desintegrem ou voltem para onde devem voltar para seus donos ou reluzentes permaneçam em mim para que vestida destes eu me coloque diante do novo portal.Tenho a intenção resoluta para essa fase; depois do tempo necessário para que eu com minha natureza teimosa amargasse todos os caldos e limpasse os cômodos alheios na esperança de enganar os fios que tramam meus dias.E como não poderia deixar de ser, compreendo melhor agora o que significa aprender pela dor.Espelhos são de grande auxílio no nosso dia a dia; eles mostram como está o penteado de nosso cabelo; como está o caimento de nossa roupa; se a maquilagem está conveniente. Pela manhã ao acordarmos a primeira impressão de nós mesmos é o espelho quem dá.É um conselheiro mudo que fornece reflexos de nosso exteriorpara facilitar a administração das situações que estamos vivendo. Não damosmuita atenção às suas faculdades porque assim somos ensinados à somente usá-lossem nos atentarmos para sua magia.Mas como somos seres mutáveis e sempre que algo se tornacomum para nós, saímos à procura de outra novidade, uma hora destas olhamos oespelho com certa curiosidade e na ingenuidade lhes atribuímos poderes; atéolhamos por trás da moldura para ver se há alguma inscrição ou algum símbolosagrado.

Nada encontramos evidentemente; embora ele continue sendosilencioso começamos a olhá-lo com desconfiança, uma desconfiança que semprefaz com que fiquemos procurando uma mancha, um brilho, um piscar no queestejamos vendo. É novamente nossa mente fantasiosa trabalhando tentandoencontrar um sinal que nem sabemos o que seja. Os livros com suas históriasmiraculosas muito colaboram para esses comportamentos incríveis de nossa parte.Mas nada mais é que a famosa necessidade de aventura.Existem períodos em que o espelho além de mudo torna-seinvisível. Passamos por ele sem nos olharmos e pode ser que ele tenha mostradoalgo que ainda não conhecemos, mas não vimos. Estamos desanimados e para nãonos depararmos com uma imagem desvalorizada e apática preferimos não observar ehá até quem jogue um tecido por cima para não correr o risco de os olhosimprudentes deitarem sobre o aço.Todas essas fases têm lugar em nossas vidas e depois demuitas situações vantajosas e de muitas desvantajosas nos pegamos pensando noespelho novamente. Em um dia cinzento, quando não há disposição para omovimento, nem para as atividades simples vem uma sensação magnética de lá dolado do espelho e ato contínuo olhamos e de repente algo se move dentro dele;estranhamos porque não há nada em sua frente que pudesse ser refletido. Não ligamos,um balançar de ombro nos leva a letargia de antes; mas não por muito tempo.Comigo não foi diferente. O espelho esteve esquecido por umtempo longo. Minha atenção estava em outras coisas e simplesmente abandonei aideia de saber que imagem poderia refletir. Não foi porque estivesse depressivaou triste foi porque por resolução em parte e por necessidade em outra porque omundo precisava ser conquistado antes de conquistar a calma necessária paraobservar o espelho.Agora que o vento de fora parou de soprar e o dia nublado

está convidativo senti o magnetismo do espelho me convidando para olhá-lo.Levantei-me devagar porque assim precisa ser e detive-mediante de seu aço pobre e manchado pelo pouco cuidado. Olhei e vi minha imagem;não me surpreendi porque é o que aparento neste corpo com o tempo que viveu. Procureialgo além da impressão do cabelo, da roupa, não procurei cores porque não havianenhum creme a cobrir-me a pele.Nada havia além do que eu via. Olhei na imagem refletida domeu rosto e atentei para os meus olhos. Pensei que se houvesse algo além seriaatravés das janelas da alma que eu haveria de saber.Fixei por alguns segundos e pude sentir que sim, estava nocaminho certo. E uma torrente de pensamentos aflorou; perguntas e respostasimediatas. Sabia que estava próxima de encontrar um tesouro porque a menteestava em alerta total. Deixei que ela fizesse seu trabalho e aquietei-me sempreocupação. Apenas respirei lentamente até esvaziar-me, então passei arespirar para nutrir-se com consciência de inspirar e respirar como uma técnicapara acessar a espiral desejada.

Regressão- A CuraJá disse vezes anteriores sobre a possibilidade de curarmos traumas passados por mais distante tenha sido a vida onde eles se originaram. Essa possibilidade foi um presente que o ser humano recebeu de seus guardiões que vendo a demora que o humano tem em se desvencilhar dos erros repetidos criaram processos que o fizesse entender onde errou, quem errou consigo e por que, e assim compreender que todos os envolvidos inclusive ele próprio só desejavam ser felizes, assim como ainda hoje acontece.

E com essa disposição de ânimos o amor incondicional que é a energia atômica que tudo restabelece, cura e ilumina é reconhecido no momento oportuno, quando os corações amolecidos são capazes de perdoar e cada um que ali se encontra possa usar de amorosidade na tinta que usará para pintar novos painéis na grande tela emocional transformando sua sensação íntima sobre o que até então lhe causava sofrimento e em quem fazia sofrer.Não é com um passe de mágica nem tão pouco um momento de tortura onde alguém se vê na situação de aceitar condições que lhe são contrárias para que seu sofrimento seja breve. Não, o caminho é outro, é um caminho suave onde parte-se do principio de que todos estão certos dentro de suas escolhas e somente quando entenderem as escolhas das outras partes envolvidas poderão ter consciência plena dos acontecimentos.Há o perdão por matéria prima porque todo o sofrimento humano origina-se em momentos vividos que tenham deixado uma marca de culpa, mágoa, raiva, ou quaisquer que sejam as denominações que usamos para uma desarmonia que a pessoa sinta dentro de si.Estamos diante de mais uma cura de memórias, num tempo em que não há mais a necessidade de longas argumentações visto a condição dos participantes, sua clareza de pensamentos e sentimentos.Assim o diálogo entre curador e paciente pode ser amoroso desde o inicio e ao se encontrar os outros envolvidos todos terão a chance de contarem suas histórias o que já fará com que luzes sejam lançadas nos traumas guardados na forma de crenças dentro de cada.Nesta cura busca o paciente saber o motivo de sua postura racional e fria sua ânsia por conhecimentos, sua necessidade de fuga de tudo que pudesse causar dor física o que culmina com uma cirurgia cardíaca quando se aproxima dos sessenta anos. Cirurgia esta que tem lhe provocado reflexões antes nunca imaginadas e pela primeira vez um olhar para si com respeito e amorosidade por suas próprias dores.Tem a finalidade de harmonização e de limpeza áurica para que o equilíbrio espiritual reflita em equilíbrio material e assim alinhados os mundos possa essa paciente continuar sua vida, seu trabalho, sua busca por conhecimentos.Após breve momento de preparação onde os protetores, mentores e mestres são acessados. Deixam-se levar para um local atemporal, onde grandes pedras lisas são avistadas e onde pousam para que de lá possam encontram o portal que as levará até a vida onde a paciente desenvolveu o carma que agora a incomoda.Então é dado início à cura propriamente dita como se segue:Luana Thoreserc como curadora e dirigente da sessão diz:

-Eu sei que é complicado, pois desprender-se não é fácil, e o que mais nos torna presos, não é o apego ao externo, mas o apego a nossa personalidade. Maria de Fátima Leite como paciente que busca a origem de seu sofrimento nesta vida, seu medo de dor física, diz:- Tenho em minhas mãos um livro que nunca li.A cura seguira por caminhos até então encobertos pelo tempo ou pelo inconsciente da paciente que sempre tentou ajudar outros a serem felizes curando suas dores, mas negligenciou sua própria dor, até que mais uma vez lhe é dada a oportunidade de rever-se.A conversa seguirá sem nominação de quem é que fala porque o desenvolvimento da mesma dá a ciência do que se fala e quem fala em cada vez.-Há algo de interessante que não conhece ainda, ou que busca, há nesse livro, ou até mesmo no apego em guardá-lo, o motivo pelo qual o guarda.-Tenho alguns livros misteriosos nessa minha jornada; tem um livro que tem água do mar dentro que nunca foi aberto; tem um livro que eu tive em mãos mas não abri, um livro muito grande num trabalho onde me vi como uma mandatária que procurava o filho perdido na galáxia. Também tenho até hoje a chave de uma grande porta de uma biblioteca que estava franqueada ao nosso grupo. Creio que existam muitas emoções ainda que não senti.-Me lembro dessa chave, mas esse livro que se refere agora ou algum desses que disse está na biblioteca?-Os dois livros que mencionei não têm relação com a biblioteca, pelo menos eu acho.- Então ache o livro aqui, ou ele já esta com você? Ao localizá-lo quero que se lembre da musica.(Sempre que vamos acessar uma emoção; um tempo; uma memória, escolhemos uma canção que nos faça entrar em sintonia vibracional com o que procuramos, e antes da empreita dar inicio a curadora pediu que eu escutasse quantas vezes necessárias a canção Beatriz de Chico Buarque)Lembrei que estes livros eu não conheço suas historias.- Uma palavra surgiu na minha mente, “Be” “atriz”, duas vezes atriz não é?- Voce entendeu, “Be” “atriz”, todos temos essas polaridades; como já disse podemos nos encontrar em tudo; escolha quem irá abrir o livro.

Poderia ser uma atriz?-Vou reformular; lembra quando me procurou e disse que havia procurado por quem pudesse te ajudar a descer e você não via ninguém além de mim?-Sim- E hoje você me disse que se despoja da lógica.- Exato- Eu disse que estava fazendo ao contrário, me despojava da emoção; estamos em um inverso; você me conhece como ninguém e falamos também que podemos nos encontrar em tudo, nessa minha jornada de me despojar da razão-Sim- Muitas vezes penso: “O que Fátima pensaria, ou diria faria” ?Guio-me com sua ajuda e sem você saber, não é uma imitação.- A frase: “se eu pudesse entrar na sua vida”. Vem bem a calhar.- É uma base, pois a lógica em muitos âmbitos me é desconhecida, se você pudesse entrar na minha vida. Se fosse eu, Luana, com esse livro nas mãos? O que eu faria?- Abriria e leria a ultima pagina rapidamente.- Sim.- Ficaria enraivecida pelo desfecho do que não sabe como teve origem ou encantada pela meiguice da personagem, mas aquela que fosse mais intrigante seria sua personagem preferida. Leria tudo para encontrar essa tal pessoa.- Agora encontre o livro.- Já está na minha mão.- Ótimo, leia a ultima página.... Por fim a cidade ficou silenciosa, diante da partida da última pessoa que seria capaz de dar vida àquele lugar mal visto e desconhecido, mantido propositalmente fora do mapa. Partiu levando um peso grande em seu futuro, porque todos os que aqui foram mantidos para sua serventia mesmo não existindo mais nesta vida, existem no outro mundo e lhe ameaçam com maldiçoes. J.J. -JJ?- Sim. Quem é?-Não sei.

- Esta cidade poderia ser um forte, um planeta, um reino, um palácio escondido dos súditos?- É uma ilha; havia uma prisão neste lugar. Não. Um manicômio.- JJ o autor é o último a deixar a ilha?- Não. JJ é quem conta a história daquele que deixou a ilha por ultimo. JJ foi vítima- “O que deixou a ilha” era um interno ou o responsável por ela?- Era o responsável; quem trazia as pessoas para a ilha; muitas famílias se livravam de suas ovelhas negras através dele; era um médico.- Sem pensar, pois a emoção não dá tempo para isso; quem foi você, o autor ou quem deixou a ilha?- Parece que sou o medico; vejo-me de costas indo para o barco; não tenho certeza ainda. - Sim. Continue.- Um médico português influente na sociedade moralista, sem nenhum escrúpulos, tudo pelo dinheiro e pelo poder as pessoas eram mercadorias e viviam em péssimas condições de vida.- Assumindo as emoções dele, diria que ele partiu sem arrependimentos?- Nenhum arrependimento. Outro negocio surgiu e estava querendo ficar no continente; tinha agora relações com poderosos. A corte era seu objetivo.- Ele tinha consciência da crueldade e a cometia por prazer; ou ele apenas era amoral, para ele não era errado?- Era amoral; não sentia nada; tudo valia para conseguir seus intentos; mantinha-se baseado em que o que oferecia alguém comprava; estavam em igualdade de condições.- Sim. Continue.- Ninguém era melhor nem pior que ele, todos tinham um preço.- O que acha que o levou a amoralidade, somente a gana pelo poder? Somente isso o motivava? O poder?- Sua educação foi baseada em interesses, sempre viu na sua família as negociatas. Os homens eram mercadores, comerciantes, tinham navios, compravam e vendiam de tudo, eram homens ferozes e ele não queria ser feroz. Por isso estudou, pensava que o refinamento era mais importante que a brutalidade, o refinamento não poderia ser entendido, a brutalidade deixava marcas, que levavam às vinganças, pois assim quase

todos de sua família morriam ou matavam em ações de vinganças.- Então de seu espírito a única coisa que a família não conseguiu fazer foi com que se perdesse pela falha educação a inteligência e o senso de estratégia?- Sim, isso mesmo; desde criança era astuto, gostava do luxo, não queria viver em um navio a maior parte do ano.- E você Fátima, sendo esse homem sentiria incomodo pelos crimes que cometeu, ou entenderia sua condição, a sua criação, e o perdoaria, simplesmente por reconhecer que não havia como ele vencer as influências? - Entenderia apenas uma ação dele não precisaria ser feita e acredito que por isso passei o que passei recentemente-Continue.- Depois que seus supostos pacientes morreram, ele não os matava propriamente, mas as condições eram tais que os adoeciam; frio, umidade, má alimentação. Uma mulher sobreviveu, como precisava pegar o navio que passaria logo mais, não quis levá-la consigo, mesmo que lhe afeiçoada a ela.- Certo. Você entenderia a condição dele, mas vamos desconstruir e reconstruir para termos uma outra visão, como um quadro de Picasso que em um único plano mostra todos os lado de um rosto, parece feio, mas tem de ter pericia para entender um pintura assim.- Entenderia sua consciência de mundo era aquela, não lembrava de mais nada. Entenderia porque tudo a sua volta tinha essa mesma vibração, não havia em nenhum canto misericórdia ou compaixão; apenas ganância, nenhum respeito pelo outro; quem pudesse mais vivia mais; ele tinha uma diferença entre todos, agia silenciosamente sem agravos sem lutas ou violência incontida.- Vamos agora trazer a emoção, a razão o perdoa, mas a razão também diz, através do que conhecemos, que não nascemos por acaso no seio de uma família, e a única coisa que se sobressaiu desse espírito foi apenas a inteligência, a estratégia, lapidou apenas isso.- Ele até se considera um ser humano melhor que os outros nunca se sentiu como parte da família, achava que era adotado, mas nunca conseguiu nenhuma prova; suas feições eram parecidas com os familiares.- Mesmo que fosse adotado. Não há uma programação do espírito antes de reencarnar?- Não sei se naquela condição conseguiria cumprir alguma programação, precisaria ter algum suporte e ele não teve.

- Por que um espírito tão inteligente escolheria uma prova que falharia certamente?- Não sei também se teve condições de escolher; não sei se era tão inteligente ou se os outros eram muito mais broncos.- Então ele já veio com a natureza amoral e não pode escolher?- É uma situação difícil de interpretar, talvez deveríamos verificar antes de sua encarnação, como é que foi decidida.- Você acredita mesmo que foi falta de suporte ou ele não quis ouvir o suporte e não teve sucesso na programação?- O que ele fez foi muito longe da sociedade, talvez ele próprio tenha se afastado e o suporte não pode alcançá-lo, isso por escolha não sei se consciente, sinto que essa memória pode ser questionada se quiser.- Antes de irmos, a sua vida anterior a emoção precisa vir à tona; mesmo que tenha deixado a moça sem sentir remorso, por ela ou por tudo que fez, ele partiu pelos próprios interesses.- Ele não deixou a moça. Foi à única pessoa que deliberadamente tirou a vida, enquanto dormia. Estava em conflito entre levá-la ou deixá-la. -Sentia algo por ela, tinha afeições por que ela o fazia sentir e essa foi a solução?- Ela atrapalharia sua situação na sociedade, mas deixá-la seria condená-la a uma morte lenta e dolorosa.- Foi uma morte rápida e piedosa de sua parte, não acha?-Ele sentiu. Foi o que a paciente relatou neste instante que o médico guardado em sua memória sentira a ultima frase da curadora.-Não deixou que o sentimento de culpa dominasse, entendeu que fez o melhor; carregou esse peso e sempre que estava em companhia de uma mulher lhe vinha a mente essa mulher à quem ele tirara a vida enquanto dormia. Nunca contraiu matrimônio naquela vida.- Exato, a natureza lógica de Fátima o compreende, mas se fosse eu, eu entenderia rapidamente os seus motivos?- Acredito que não.- A pagina que viu foi pensando como reagiria a emoção diante disso; ele nasceu sem condição para que a emoção fosse despertada, talvez essa fosse sua programação de

vida, conseguir sentir e os crimes que cometeu não quer dizer que falhou se ele foi bem sucedido em sentir.- Não. Também penso assim. Ele sentiu, mas ainda assim fez sua escolha. - Mas você não deve pensar. Você deve sentir. A curadora ri da forma como a paciente interfere com sua forma de pensar.- É, esqueci. A paciente também ri de sua interferência.Este momento de descontração serve para entendermos como esse procedimento de cura é consciente e pode ser feito à maneira de uma boa e salutar conversa.- E essa escolha pesou e o marcou e dói em seu coração?- Não dói no sentido emocional, mas entendi que a cirurgia foi para sentir a dor que ele causou, um resgate na forma como se diz na doutrina espírita que a expiação ou a modalidade da prova será a mesma que a originou.E no coração de Fátima?- Ter medo de morrer porque o coração está sendo mexido. -Quais foram os resultados, somente uma cirurgia? - Não. Obrigou-me a entender que sou impotente que não tenho poder algum com relação ao corpo nem meu nem de ninguém. Ele nada sabia sobre espírito, sendo a memória que carrego surda sobre esse assunto. - Sim. E isso ajuda a se despojar da logica? Se a ajudou, despoje dela agora, e tente acessar o momento onde o sentimento quase o dominou e o fez demonstrar emoções. - Certo dia ele estava com amigos em um lugar bebendo, tomavam vinho, entrou uma mulher, e ele se assustou. - Sim. Continue. A mulher o assustou?

-A mulher não o viu; ele se assustou porque ela usava um vestido igual ao da mulher no dia que morreu; sentiu-se tão incomodado que deixou os amigos e foi para o cais. -Sim. - Sentou-se numa pedra e teve um ameaço de remorso. - Incomodado por sua falta ou pela decisão de matá-la? - Pensou que poderia ter companhia, alguém com quem viver. Ela conhecia seus atos e não julgava, lhe servia como mulher e lhe devotava cuidados, de certo modo ele sentiu remorso, mas puramente egoísta. - A mulher havia sido paciente ou ajudava ele em seu trabalho? - A família não lhe queria por perto então pagou para ele levá-la para o suposto hospital como doente mental, lá ela demonstrou habilidades. - Era uma paciente então. - Era, ele deu certa liberdade para ela e ela retribuiu a contento - Agora vamos ao autor, quando você leu a ultima pagina, eu percebi um olhar emocional e lírico do autor em descrever a partida dele da ilha. JJ é a mulher? - Não, É homem. - Acha que ele teve alguma relevância na vida do médico português?

- Não sinto nada a respeito. - Sim. Você reconhece a moça existindo na sua vida hoje? - Acho que é você. - Eu? -É... - Acha que eu poderia falar com ele? - Sim pode. - E você poderia dar voz a ele? - Sim. -Bom, eu o vejo no cais; vou me aproximar. -Sim. -Boa noite. - Ele levanta os olhos; engraçado tem cabelos encaracolados lembra o Alguém que conhecemos.

-Eu ia dizer isso. - Está olhando, esperando. ***-Eu gosto de pensar diante o mar também, posso me aproximar? -Fique a vontade. A curadora observa e comenta com a paciente que a memória ali presente na beira do cais tem os olhos verdes e recebe a confirmação. A curadora continuou: - Eu tenho a impressão quando olho o mar que alguém está pra chegar, às vezes fico esperando mesmo sabendo que ninguém virá; e tu, o que pensas diante o mar? - Venho próximo do mar justamente para não pensar, a brisa me alivia a mente, me deixa absorto nas ondas, mas causa-me espanto uma rapariga assim despachada e falando com um estranho, posso ser eu, um turco e seqüestrar sua pessoa; que nunca mais seria vista. - O mar tem esse poder de nos levar a mundos desconhecidos, como é teu nome? O meu é Dolores, não somos estranhos; se nos apresentarmos. - Me chamo Afonso. - Afonso; não acho que me levaria a lugar algum. -É não sou turco.- Ele ri e continua a conversa.- Mas não vejo nenhum guarda costas para estar assim tão confiante.

- O guarda costa é tua resposta do que busca diante o mar, quem busca não pensar, não sobrecarregaria o pensamento com um sequestro, ou sim? - Não, definitivamente não, mas para não lhe ser deselegante levo para este lado essa conversa por demais enfastiosa para mim, já que mencionei não querer pensar, supõe-se que não queira tanto quanto falar. - O que há no horizonte desse mar, se eu pegar um barco agora e seguir em frente, chego a algum lugar? - Chegará a muitos lugares, mas alguns não são tão bons para uma rapariga desvairada como a senhora, seria facilmente julgada por demente. e jogada em algum covil - Eu desvairada? Uma desvairada seria bem mais fácil de ser raptar, pensando por esse lado corro risco então. Afonso ri novamente e continua agora demonstrando interesse ou pela conversa ou pela moça. - Sim senhora, corre. - Creio que me deixaria ir embora então? - Não está presa aqui, como chegou pode partir eu apenas brinquei com sua ousadia, as mulheres não costumas agir assim. - Ousadia sempre foi o meu desvario o que me fez errar, eu não tenho que partir não és dono do mar e nem do cais, então fico. - Eu não disse que era; talvez fique mais a vontade sozinha, me dê licença que me vou tenho negócios a tratar.

- Verdade, mas parado aqui, pareceu-me dono da paisagem, uma paisagem em que me misturo, não gostei de sentir que podes ser dono de qualquer coisa minha. - A senhora deve estar me confundindo com alguém. - Não. Neste momento para testar a situação, a curadora que está conversando com a memória de Afonso sorri para ele e demonstra que prefere ela ir embora dizendo: - Eu me vou. Propositalmente ela se aproxima mais dele pega algo de uma bolsinha que traz pendurada no pulso, onde está enrolado em um lenço, mesmo não reconhecendo o que seja ela age e coloca o lenço no bolso da lapela de Afonso. - Quando quiser podes abrir o presente; se me permites, Senhor Afonso, me vou. - O que é isso? Como ousas me tocar tão intimamente, não lhe conheço para tanto. A ousadia de uma desvairada, mulheres não se portam assim. Se soubesse como posso ser cruel, correria agora mesmo e nunca mais me interpelaria. A memória do homem demonstrou grande nervosismo e tenta tirar do bolso o que a mulher colocou. A curadora está confiante e entre gargalha diz: -Hahahaha... Se soubesse quantas vezes ouvi tais conselhos e não corri, e pra onde correria? - Quem é você? O que quer de mim? Se afaste antes que eu lhe ponha os cães aos calcanhares.

Neste momento o ambiente muda completamente e encontram-se em na ilha. Pode-se notar um prédio construído com pedras. Não é muito grande, deve ter uns dez cômodos, tem um jardim pequeno, fica escondido no meio de uma vegetação alta. Da praia não dá para ver. A curadora observa e sua impressão é interessante. -Parece a parte do lugar da Abadia dos Beneditinos onde sempre eu ia parar. Afonso demonstrava nervosismo crescente andando de um lado para outro, procurando os cães que não aparecem, não tem mais ninguém lá. A curadora chama a atenção dele. Afonso. - Não te assuste, não sou um fantasma. - Como veio parar aqui? A impressão que Afonso tem da mulher é diferente da que teve no cais. - Porque certamente conheço o caminho; dentro de seu bolso há uma chave. Ele buscou e encontrou a chave. Vai abrir a porta da construção. Note-se que a esta altura a comunicação entre curadora paciente e memórias se torna muito rápida. Dando mais condições de verificação de cada ato, cada situação, de entender o que se passou com eles nesta vida que se apresentou. Pode-se inclusive ler com mais facilidade também as emoções existentes, pois estando envolvidos todos não ficam com escudos levantados e pode-se tratá-los com mais eficácia. A paciente identifica que a memória sente uma emoção muito forte como um desejo de voltar no tempo. - Vai tentar encontrar onde deixou a mulher. - Sim. Permita-se. Foi exatamente o que pedi pra ele quando disse da chave.

A paciente quer saber se a curadora está junto neste momento. - Você está junto? Ele está na frente de uma porta. - Sim estou. Seria bom que agora se integrasse a ele A mesma chave abre esta porta, abra-a. Aberta é.- Eu conheço esse lugar. - Agora a memória da mulher através da curadora reconhece o lugar tocando as paredes. A mulher não está lá. Afonso a procura por todo o cômodo. A curadora continuou com suas impressões. -Parece que cada parte dele tem um pedaço de historia.Claro ela saiu faz um tempo, mas, ele, Afonso, não sabe ainda. - Ela não teria como sair estava muito ferida, a pedra pontiaguda que foi usada está no chão, impossível sobreviver. Ele não voltou no tempo, só veio a construção mental do lugar. Constata a curadora. Sensação muito insólita. Por isso a sensação que a construção é de poeira, como se fosse desmoronar. - Esse era o quarto. Sim, lembra quando me perdi de vocês e Lotário (Vida anterior de D. Leopoldo) foi me resgatar; mas não tinha como vocês chegarem. É um momento raro em uma cura, pois memórias de vidas diferentes se misturam cada uma trazendo aos envolvidos emoções semelhantes. - O mesmo?

- Sim, acredito que não havia como você saber. Como você entrar, talvez não tenha permitido, ou você não quis, inconscientemente é claro. -Estávamos acessando essa memória naquele dia? Eu não sabia, nem imaginava. -Entendo. Estávamos no fim do trabalho (A ser publicado). Lotário apareceu e bagunçou tudo. Foi uma confusão, não sabia mais o que estava acontecendo.Rosalinda estava presa no quarto, mas foi confusão minha. O nome da moça é Rosa Maria. A curadora neste instante conseguiu entrar na memória da moça que Afonso procurava e mencionou seu nome. - Lembra do meu noivo português que era poeta e foi embora? - Não lembro. - Você o viu, e disse que nos reencontraríamos em um evento onde eu estava vestida de azul. - Mais ou menos algo me vem a mente. Lembro. - Acredito ser JJ. - Hum, interessante. - Ele tentou me salvar, não sei de que forma ele foi vitima, mas senti um grande afeto por Afonso, ele esta parado no quarto, ainda sem entender, consegue sentir? - Sim consigo.

- Então descreva. - Esta pensando o que pode ter acontecido, ou quem a teria salvo ou levado tentou lembrar de mais alguém que soubesse deste lugar. Tem algumas pessoas. - Ele sente felicidade por isso, ou incomodo? - Estranheza total, como se descoberto A paciente se envolve na memória e passa a sentir a mesma emoção. - Como chegaram sem que eu percebesse? -Afonso? -Sim. - Rosa foi embora - Não entendo como isso aconteceu. Foi embora como? É impossível. - Você mesmo a ajudou a sair, mas não nesse tempo, eu venho do futuro, e eu sei que és capaz, se não de entender , mas de saber que não minto - Eu a ajudei a sair? Mas eu a deixei aqui gravemente ferida, senão morta; e não tenho lembrança alguma de aqui ter voltado neste tempo em que nos encontramos no cais, estou confuso vou me sentar um pouco.

- Você foi misericordioso com ela, pois eu sou ela no futuro, eu não compreendia, mas um dia um índio me contou uma historia, ele se viu obrigado a matar a própria filha, sua tribo foi invadida, e ele para poupá-la de uma morte horrenda nas mãos dos invasores a deu uma morte misericordiosa. - Você disse que seu nome é Dolores. Como pode ser Rosa? Pois é, qual era o meu nome real e qual era a dos teus registros? - Hum. Eram nomes diferentes. Era preciso para dificultar que encontrassem a pessoa aqui instalada caso fizessem alguma busca. - Mesmo em um mundo onde se podia burlar as leis, nunca houve tempo onde não se prestasse contas, mesmo que irreais, do que se faz..- Prestar contas com quem? E quem presta contas conosco? -A nossa consciência sempre nos cobra, mesmo quando erramos por ignorância ou por imaturidade. E a sua nos trouxe aqui hoje, precisas de algo de mim? O que queres fazer Afonso? - Estou me cobrando por Rosa, e é a você que devo prestar contas? Como é que se paga? Desejo sentir paz porque carrego um peso que não posso confessar a ninguém. - Não. Não deve prestar contas, eu quem devo tirar sua consciência daqui hoje, mas apenas você pode me ajudar nisso. Confesse a mim, quem mais te entenderia? - Ninguém realmente. Quero te ouvir. Traria-me paz também. - Nunca pensei que pudesse surgir uma oportunidade de estar junto aos da monarquia, e não havia tempo para ajeitar nada, precisava partir em menos de dois meses e nunca mais voltar a cá. Os três que restavam além de Rosa, ou você, já estavam mais mortos que vivos; era uma questão de dias, talvez de horas; mas tu eras forte e alegre e tomava

conta de tudo pensei em levar-te comigo, mas o elo que nos unia era de um metal pesado e obscuro poderia ser a minha sentença. No meu novo posto era impossível que pudesses me acompanhar, sua família logo descobriria; se te deixasse por sua conta estaria sempre com a espada sobre a cabeça. Eu sei. Depois de muita aflição decidi por sua morte, enquanto dormia, assim, não haveria sofrimento, nunca acreditei em nenhuma religião, por isso não tinha que dar conta de nada. Se eu não fosse tão covarde teria tido outra atitude hoje entendo poderia levar-te para a corte e lá disfarçá-la a contento ou enviar-te para outro pais, mas o tempo não volta a atrás e não se pode desfazer o que se fez. Eu lamento porque o futuro nos traz frente a frente e ainda nada eu tenho para oferecer, mas por sua coragem e pela felicidade que pode ter e sentir eu peço que me perdoe se for possível. - Afonso. Tens sim muito para oferecer, sempre teve, quando te reencontrei hoje, tive muitas impressões, cheguei a ver o ódio, mas percebo que aprendi racionalizar para chegar aqui. Nunca senti ódio. A emoção é uma pedra, assim como a falta dela, ou a ilusão da falta dela porque no fundo a temos. Meu espírito ficou um tempo aqui assustado com sua atitude. Pois meu espírito tinha certeza de que farias a escolha certa. Minha família era muito pobre e foi comprada pela família do que chamei de noivo, mas não me queriam no caminho dele. Por ser uma rapariga de origens obscuras e ele por ser um prometido desde o ventre ao sacerdócio. Isso na corte é status. Mas nós nos amávamos e a vocação foi posta à prova e o nosso amor sobrepujou. -Entendo e me penitencio, não sabia nada a respeito, nunca me aproximei de nenhum sábio, apenas usava a profissão para a lei do menor esforço. Também não sabia desse detalhe. -Entendo. -Nunca me envolvi nos históricos dos pacientes que chegavam, também não me envolvi no teu, me disseram que era uma doidivanas e que sempre expunhas teu pai em público contando as falcatruas que ele fazia; que se metia com o povo do circo e representava como atriz em peças indignas de uma dama, que as vezes ficavas loucas e dormias na rua, junto dos mendigos. - No começo tinha muito medo, não foi fácil, mas eu percebi que comigo havia uma leveza, e sempre uma piedade, e a principio eu me aproveitei disso, mas com o tempo aprendi a te amar, mesmo quando me deixavas subir no alto da construção, na parte quebrada do muro e ver o mar. E não consigo me lembrar de crueldade, hoje eu sei que foi pra você a decisão mais dura e a mais correta que podia tomar mediante a situação,

não foi por crueldade, foi por amor. O amor que nos permite hoje estarmos frente a frente um do outro, e no futuro tanta coisa boa termos feito juntos; eu te perdoei há muito, antes mesmo que pudesse cometer algum erro. Eu te amo e sinto muito. - Sua visão é uma visão confortadora que faria o mundo um lugar melhor e eu também sinto muito. - Tentamos e sempre tentaremos, receba meu abraço. - Se o ser humano homem pudesse saber coisas tão importantes muitos desatinos teriam sido evitados, recebo e retribuo teu abraço e que deus nos abençoe. A curadora se dirige a paciente: - Fátima agora, saia por cima da cabeça como sabemos, e o veja. Presencie o momento, mantendo sempre o coração receptivo à emoção. - Sim, estou olhando. É uma cena bonita de completa harmonia. - Agora a direção é sua. Pode fazer a integração desta memória ao seu corpo de luz e trazê-la para o seu coração? - Posso tentar sim. - Fique a vontade. Então a paciente assume a integração. Chamando a memória pelo nome e assim Afonso reage olhando para Fátima e se dão as mãos. - Afonso, sei que para você hoje foi bastante revelador e muito vai ter para pensar a

respeito, mas só o fato de saber que sempre haverão reencontros espero que lhe sirva de norte para os seus dias futuros. E hoje entendo porque tinha dentro de mim um peso desconhecido que ficou tão pesado que foi preciso que meu peito fosse aberto para sair a energia represada. A curadora interfere dizendo: -Há uma energia cor de Rosa no ambiente- A paciente continua:- E para que entenda melhor assim como encontrou Rosa no futuro também estás no futuro: E eu sou você no futuro. A energia Rosa toca o coração dele, numa troca simultânea entre todos. E um suspiro quase como que um soluço preso se solta. Luana aperta a mão envia energia amorosa para Afonso e Rosa. E eu Fátima falo o que sinto no meu coração. - Compreendo sua forma de agir naquele tempo e não exigirei de ti o que não possuis; tuas escolhas foram as mais racionais mesmo que desconsiderando seres humanos de qualquer modo o que posso lhe dizer é que vives dentro de mim, sempre viveu desde quando existiu Afonso e agora que se esclareceu a relação com Rosa do passado e do futuro, sinta a leveza em seu coração para que eu também a sinta. Convido-lhe a voltar ao seu lugar que é dentro de mim para me ajudar a viver os dias desta vida de agora. - Ele se aproxima de você. Que lindo! Louvado seja nosso senhor Jesus Cristo, embaixador do amor no planeta!- Eu envio luz para o cardíaco dele e o recebo em um abraço de luz, dou graças. Luana diz: amém. Olho para Afonso e vejo que até as feições dele mudaram; ficou bonito. Luana arrematou então: -Eu mesmo sendo o “Spok” da missão de hoje me permito chorar. Enquanto fazia a integração Caius se aproximou. Não percebi nada, estava muito envolvida, Luana esclareceu porque a figura de Caius estava próxima de nós nesta

cura. Ele foi o inquisidor que entregou Rosa para Afonso. - Eu senti a energia dele e o chamei, mas ele só nesse momento veio. - Chegou a assistir? - Sim. E foi importante pra ele. A família do rapaz JJ era muito poderosa, e os portugueses sempre foram muito conservadores conseguiam ser mais do que muitas outras sociedade da época. - Engraçado eu era um médico e agora o resgate se deu por um médico.- Luana continua sua explanação: - Mas o inquisidor quando colocado diante a prova, pensou que não deveria manchar a honra da moça com as acusações que queriam lhe impor, de crimes perante a igreja, seria pior que qualquer outra coisa. Pois tratava-se, como poderia explicar? Enfim... Da honra da época. Foi como a espada do samurai. Ele também fez a melhor escolha diante das circunstâncias. Havia esse lugar escondido, para que pudesse se fazer experiências com pessoas dementes. Contratação da própria igreja, ela, a igreja, quem fez na ilha o lugar e colocou Afonso lá e ela quem acobertava. - Até que eu tentei entender como foi que ele chegou a essa idéia e simplesmente não consegui. - JJ descobriu e falou sobre em uma nomeação, acho que de Afonso, sei que foi em um evento, ele já estava na igreja, pois vestia roupas de padre mas, não foi levado a sério, muito pelo contrario, foi condenado a forca por calunia e heresia, crimes contra Deus. Uma espécie de perjuro, mas o inquisidor facilitou sua fuga e ele foi embora chegou a outro continente creio que as partes da nova América e tornou-se um comerciante, quer dizer, era o que pareciam mas roubavam navios mercantes ou seja ele virou pirata. Afonso, tinha uma ajuda deste inquisidor, mas não eram amigos, mas se serviam, ambos viveram a vida que tinham por viver, Afonso morreu vitima de uma doença que matou muitos, e o espírito de Rosa estava presente no seu desencarne, ambos foram socorridos juntos. Não sei; acho que dai combinamos outra vida, mas e você como se sente?

- Interessante, eu senti algo sobre roubo de navios no Brasil, roubavam os navios que iam para Portugal com bens do império. É possível, que tenhamos combinado. Agora eu me sinto bem; embora não consegui perceber tudo que estava na regressão, fiquei mais atenta ao que se vê na questão pessoal. - Quando Afonso olhou em meus olhos, eu contei até dez, para o “Spok” ficar no comando. Rimos da observação de Luana. Concordei com ela, pois Afonso era bonito e carismático. Luana ainda falou: - Eu vi duas vezes um olhar assim, essa vez e a vez que estive com Lud da Baviera. Eu achei essa cura muito diferente. - Foi muito bom não esperava que fosse tão fácil acessar a memória, fiquei surpresa e contente. - Eu sabia que seria bom, e na hora certa, seria um livro interessante de se ler e olha a hora passou que nem vimos. Você está bem? Não está cansada? - Estou bem mas preciso me deitar, cheguei ao limite da minha resistência física. - Vá descansar, eu também vou, amanhã podemos falar sobre as impressões, fazer o apanhado geral quem sabe escrevermos um conto sobre a historia, se você quiser testemunhar essa cura. Você quem sabe. Boa noite. E Obrigada por hoje, eu te amo! - Vamos escrever sim, talvez a terceira parte que ficou faltando tenha começado hoje; obrigada por tudo, fica em paz. Sim. - Verdade, estamos na paz, que os anjos nos levem em segurança na paz do senhor Jesus; encerro o trabalho.

Considerações finaisFascinante é essa ferramenta quântica de poder nos limpar, nos lapidar em um movimento preciso na corda do tempo; sempre estou a filosofar sobre a natureza do futuro e desde muito cedo eu compreendi que ele nasce de nossas escolhas e em malabarismos fenomenais o nosso destino não desrespeita a física da terceira dimensão, o destino adere-se. E por ser assim compreendi que todos os caminhos, até mesmo os mais tortos cheios de trevas e lamas apodrecidas, levam a alma humana ao mesmo ponto: A luz. Então não importa como seja alguém, como se comporta alguém; até o mais cruel de todos os homens será anjo um dia, pois o destino de todos nós é a luz e o amor. Fomos criados para sermos Bons e seremos.Mas a arte de pensar é tão bela, pois a cada resposta que encontramos, encontramos

recheadas de novas perguntas e pensando em futuro e descobrindo que ele é moldado pelas escolhas do presente, não é de maneira alguma complicado entender que no presente somos moldados pelo passado, tornou-se óbvio. Se agora eu faço meu futuro, eu hoje sou resultado do que fiz no passado, a quântica da espiritualidade me encontra em um reencontro com minha amiga Fátima, que me reencontrou adoecida no presente por carmas passados meus e de outros tantos amigos, que por descuido e fraqueza, atraí para mim e os vivi como se fossem meus. Ao ser paciente De Fátima nessa vida naturalmente fui me tornando curadora também, e então era possível sim ir até o passado e modificá-lo para que o presente vivido proporcionasse um futuro, não de menos labor, mas menos sofrido. O passado não necessitaria ser uma saudade; um trauma; um pecado a ser pago agora, eu e todos poderiam voltar para perdoar quando não perdoou, para amar quando odiou. Fascinante. A vida voltou a ter sentido, mas eu sou um ser de natureza emocional, extintiva, uma humana clássica em todas as suas células, o passado não era só uma bússola, mas passou a ser também um álbum de fotos que eu sempre contemplava e chorava de saudade e então lamentava a distância geográfica e evolutiva que me separava de meus amores; essa emoção desmedida passou a ser uma pedra de tropeço.No entanto inspirada pela lógica, o racionalismo e a natureza matemática de minha amiga, eu iniciei uma reformulação de mim mesmo, e passei a tentar racionalizar minhas emoções, pois visitando o passado já sabia que essa minha natureza era sempre a causa de minhas quedas, passei a buscar me despojar da emoção e trabalhar não a crueldade, mas a frieza realista às vezes entendida pelos emocionais como crueldade; mas não é, quando você tem sentimento e sua emoção é domada pela razão e lógica podemos destruir sonhos, mas sonhos que atrasam alguém que amamos; é com ter um amigo surdo que sonha em ser cantor, mas ele não se ouve enquanto canta, acredita cantar divinamente, mas apenas grita em desafino agoniando quem o possa ouvir... Ele vai sofrer com a razão, vai descobrir que não é cantor, mas disso pode fazer emergir de sua alma possibilidade e então o amigo surdo possa sim fazer musica, mas descobrindo as ondas sonoras de outra forma e não mais com as ferramentas de quem escuta com perfeição. No mesmo tempo que eu me despojava da emoção, Fátima despojava-se de sua lógica e razões, sem saber adentrávamos uma na realidade da outra em busca de melhorar-se.Hoje, sem trair a nossa natureza, pois somos o que somos, estamos buscando o meio; o ponto certo, o equilíbrio entre a emoção e a lógica. Fazendo analogia com a mitologia de uma serie de Tv: Star TrekEu descreveria nossa amizade como a de Kirk e Spok. Nossa amizade foi deveras importante para ambas e por isso hoje ainda temos uma nave e uma missão de ir onde ninguém jamais ousou ir, pois eu fui à emoção de que ela precisava e ela foi a razão que me fez errar menos.E o trabalho aqui traduzido em livro com participação de Leopoldo, um amigo de erros e acertos, hoje um guia espiritual, com a participação de JJ, reencarnado em algum lugar, é inteiramente voltado para despertar o desejo da busca por esse equilíbrio que faz da emoção sentimento e da lógica uma expressão do mesmo.Como bem disse Fátima no relato da cura, todos estamos em busca da felicidade, e como disse Jonas J, todos nós estamos na busca pela parte amada que nos falta. Nessas considerações quero trazer uma mensagem sobre encontrar o Amor de verdade.A liturgia das chamas gêmeas diz que sempre uma está à frente da outra em evolução,

e que somos atraídos por sua luz, mesmo que sem saber, ao estado de melhoramento, contudo estamos sempre em melhoramento e vivemos em uma dimensão onde se misturam seres de todas as posições evolutivas, do mesmo modo que a luz de sua chama te chama ao amor e se ao ouvir esse chamado você o segue fazendo assim com que se torne um ponto claro na escuridão, outras pessoas serão atraídas por você ao caminho do amor... Com essa visão lógica da lei de atração estamos sendo atraídos e atraindo na mesma medida, e mesmo que exista outra parte de nós, uma alma gêmea com que sonhamos em encontrar para viver um romance de contos de fada, não podemos nos negar ao fato de que todos nós somos provenientes da mesma fonte de luz, que em matéria somos todos moldados de células iguais que vieram de um mesmo lugar, em alma, cosmicamente assim também o é, logo fica claro que somos todos nós parte um do outro e que quando chegarmos à fonte haveremos de sermos todos nós um só verbo que da carne se fez luz.Então eu sou você e você sou eu e é por isso que podemos nos ver em tudo que há, em tudo e em todos, e esse movimento é o amor, o amor é uma energia inimaginável, amor gera amor e faz da humanidade uma corrente, pois quando alguém pega nossa mão com amor somos levados a pegar outras mãos e assim segue nossa existência, quem ama alastra amor. Somente de mãos dadas pelo sentimento maior chegaremos ao Pico da águia!VIDA LONGA E PRÓSPERA!