power point sobre laplantine

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Capítulo 12 • Uma Ruptura Metodológica: a prioridade dada `a experiência pessoal do ”campo”

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Power Point sobre etnocentrismo, cultura e relativismo

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Page 1: Power Point sobre Laplantine

Capítulo 12

• Uma Ruptura Metodológica: a prioridade dada `a experiência pessoal do ”campo”

Page 2: Power Point sobre Laplantine

• O que é a prática antropológica?• O que é fazer etnográfico?• Antropologia e etnografia são a mesma coisa?

Page 3: Power Point sobre Laplantine

Vejamos esse relato• “Imagine o leitor que, de repente, desembarca sozinho numa praia tropical, perto

de uma aldeia nativa, rodeado pelo seu material, enquanto a lancha ou pequena baleeira que o trouxe navega até desaparecer de vista. Uma vez que se instalou na vizinhança de um homem branco, comerciante ou missionário, não tem nada a fazer senão começar imediatamente o seu trabalho etnográfico. Imagine ainda que é um principiante sem experiência anterior, sem nada para o guiar e ninguém para o ajudar, pois o homem branco está temporariamente ausente, ou então impossibilitado ou sem interesse em perder tempo consigo. Isto descreve exactamente a minha primeira iniciação no trabalho de campo na costa Sul da Nova Guiné. Lembro-me bem das longas visitas que efectuei às povoações durante as primeiras semanas e da sensação de desânimo e desespero depois de muitas tentativas obstinadas mas inúteis com o objectivo frustrado de estabelecimento de um contacto real com os nativos ou da obtenção de algum material. Atravessei períodos de desânimo, alturas em que me refugiava na leitura de romances, tal como um homem levado a beber numa crise de depressão e tédio tropical.”

Page 4: Power Point sobre Laplantine

• Esse é o relato de Malinowsky no seu clássico livro “Os Argonautas do Pacífico Ocidental”

• Este livro é um exemplo de trabalho de campo e de etnografia.

• Mas antropólogos com Frazer, Morgan, Tylor que não fizeram trabalho de campo podem ser considerados antropólogos?

Page 5: Power Point sobre Laplantine

• Quais são as diferenças entre o fazer antropólogico e as pesquisas nas ciências naturais (química, física, biologia)?

Page 6: Power Point sobre Laplantine

• O etnográfo não apenas coletr, através de um método estritamente indutivo, uma grande quantidade de informações. Ele tem que impregnar-se dos temas obsessionais de uma sociedade, de seus ideais, de suas angústias.

• O etnográfo é aquele que deve ser capaz de viver nele mesmo a tendência principal da cultura que estuda.

• Se, por exemplo, a sociedade tem preocupações religiosas, ele próprio deve rezar com seus hóspedes.

• Para poder compreender o candomblé: “foi-me preciso mudar completamente minhas categorias lógicas”, escreve Roger Bastide (1978).

Page 7: Power Point sobre Laplantine

• Pesquisas:• Orar com os evangélicos• Estar inserido entre torcidas organizadas• Abraçar árvores

Page 8: Power Point sobre Laplantine

Vejamos os que Laplantine diz sobre a etnografia

• Assim, a etnografia é antes a experência de uma IMERSÃO TOTAL, consistindo em uma verdadeira ACULTURAÇÃO INVERTIDA, na qual, longe de compreender uma sociedade apenas em suas manifestações “exteriores” (Durkheim),devo interiorizá-la nas significações que os próprios indivíduos atribuem a seus comportamentos.

Page 9: Power Point sobre Laplantine

Abre parênteses(Durkheim) – Fatos Sociais

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Page 12: Power Point sobre Laplantine

• Fazer etnografia é então se transformar no outro?

• E se estivermos fazendo etnografia em grupo de penitentes que se auto-flagelam devemos nós antropólogos fazermos o mesmo?

Page 13: Power Point sobre Laplantine

• “Essa apreensão da sociedade tal como é percebida de dentro pelos atores sociais com os quais mantenho uma relação direta [...] e que distingue essencialmente a prática etnológica – prática do campo – da do historiador ou do sociólogo.

Page 14: Power Point sobre Laplantine

Historiador x Antropólogo

• O historiador, de fato, se procura, como o etn logo, dar conta o mais cientificamente ó́possível da alteridade a qual é confrontado, nunca entra em contato direto com os homens e mulheres das sociedades que estuda. Recolhe e analisa os testemunhos. Nunca encontra testemunhas vivas. “

Page 15: Power Point sobre Laplantine

Sociólogo x Antropólogo

• Quanto a prática da sociologia, pelo menos em suas principais tendências clássicas várias características a distinguem da prática etnológica considerada sob o ângulo que detém aqui nossa atenção:

• Exemplos? Alguém sabe como cada um pesquisa?

Page 16: Power Point sobre Laplantine

• 1) Comporta um distanciamento em relação a seu objeto, e algo frio, e ”desencarnado”, como diz Lévi-Strauss a respeito do pensamento durkheimiano.

• 2) Diante de qualquer problema que lhe seja apresentado, parece ser capaz de encontrar uma explicação e fornecer slouções. Objetar-se-á que pode, é claro, ser o caso do etnólgo. Com a diferença, porém, de que este se esforça, por RAZÕES METODOLÓGICAS (E EVIDENTEMENTE AFETIVAS), em colocar-se o mais perto possível do que é vivido por homens de carne e osso, ARRISCANDO-SE A PERDER EM ALGUM MOMENTO SUA IDENTIDADE e a não voltar totalmente ileso dessa experiência.

Page 17: Power Point sobre Laplantine

Abre parêntese – de novo

• Nós podemos perder nossa identidade?• A identidade é pra vocês algo imutável ou

dinâmico?• A identidade se dá nas relações sociais e na

alteridade? O que acham?

Page 18: Power Point sobre Laplantine

Sociólogo x Antropólogo - continuando

• 3) O etnólogo evita, não apenas por temperamento mas também em consequência da especificidade do modo de conhecimento que persegue, uma programação estrita de sua pesquisa, bem como a utilização de protocolos rígidos, de que a sociologia clássica pensou poder tirar tantos benefícios científicos. A BUSCA ETNOGRÁFICA, PELO CONTRÁRIO, TEM ALGO DE ERRANTE. As tentativas abordadas, os ERROS COMETIDOS NO CAMPO, CONSTITUEM INFORMAÇÕES QUE O PESQUISADOR DEVE LEVAR EM CONTA. COMO TAMBÉM O ENCONTRO QUE SURGE FREQUENTEMENTE COM O IMPREVISTO, O EVENTO QUE OCORRE QUANDO NÃO ESPERÁVAMOS.

Page 19: Power Point sobre Laplantine

• Absolutamente tudo é relevante na etnografia: Os silêncios, os desconfortos, as respostas que fogem as perguntas.

• A etnografia é portanto uma viagem especial, um descentramento, um abalo nas convicções.

• É preciso estar aberto ao novo, ao indigesto, ao desconforto para fazer antropologia.

• Alguém está disposto a isso?

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• Capítulo 13 Uma Inversão Temática: o estudo do infinitamente pequeno e do cotidiano

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• A história, a sociologia clássica dão uma prioridade quase sistemática a sociedade global, bem como as formas de atividades instituídas. Assim, por exemplo, quando estudam as associações volunt rias, privilegiam á́nitidamente as grandes, suscetíveis de influenciar diretamente a (grande) política: os partidos, os sindicatos. . . em detrimento das associações de menor importâcia numérica, como as associações religiosas, e sobretudo as formas menos organizadas de socialidade.

• Nessas condições, a vida cotidiana dos homens torna-se uma espécie de resíduo irrisório, a não ser em se tratando (para o historiador) da vida dos ”grandes homens”. Os fenômenos sociais não escritos, não formalizados, não institucionalizados (isto é, na realidade, a maior parte de nossa existência) são então rejeitados para o registro inconsistente do ”folclore”.

Page 22: Power Point sobre Laplantine

Vejamos exemplos

• Todos escutam falar, leem, etc dos farós, mas dos escravos que contruíram as pirâmides ninguém sabe deles.

• A história das mulheres, dos negros dos índios são resíduos na História Ocidental.

Page 23: Power Point sobre Laplantine

• A abordagem etnológica consiste precisamente em dar uma atenção toda especial a esses materiais residuais que foram durante muito tempo considerados como indignos de uma atividade tão nobre quanto a atividade científica.

Page 24: Power Point sobre Laplantine

• É uma abordagem claramente MICROSOCIOLÓGICA que privilegia dessa vez o que é aparentemente secundário em nossos comportamentos sociais. Disso resulta um DESLOCAMENTO RADICAL DOS CENTROS DE INTERESSE TRADICIONAIS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS, para o que chamarei de infinitamente pequeno e cotidiano.

• Assim, a atenção do pesquisador passa a interessar-se para as condutas mais habituais e, em aparência, mais fúteis: os gestos, as expressões corporais, os hábitos alimentares, e higiene, a percepção dos ruídos da cidade e dos ruídos dos campos. . .

• Exemplo do centro da cidade de Belo Horizonte.

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• A antropologia nasce da experiência em pesquisar em sociedades de pequena escala como os Nuer de Evans Prittchard, Trobiandeses de Malinowsky, Kachin da Birmânia

• Então para ser antropólogo tenho que estudar sociedade pequenas e longes do meu habitat?

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• O antropólogo se estuda a sociedade que vive ele geralmente privilegia os grupos sociais marginais: camponeses, feiticeiros, adeptos de seitas religiosas, etc.

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• Capítulo 14 Uma Exigência: o estudo da totalidade

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• Uma das características da abordagem antropológica é que se esforça em LEVAR TUDO EM CONTA, isto é, de estar atenta para que nada lhe tenha escapado. No campo, tudo deve ser observado, anotado, vivido, mesmo que não diga respeito diretamente ao assunto que pretendemos estudar.

• De um lado, o menor fenômeno deve ser apreendido na multiplicidade de suas dimensões (todo comportamento humano tem um aspecto econômico, político, psicológico, social cultural. . .). De outro, só adquire significação antropológica sendo relacionado a SOCIEDADE COMO UM TODO NA QUAL SE INSCREVE E DENTRO DA QUAL CONSTITUI UM SISTEMA COMPLEXO. Como escreve Mauss (1960), ”o homem e indivisível” e ”o estudo do concreto” e ”o ́ ́estudo do completo”.

Page 29: Power Point sobre Laplantine

• A especialização científica é mais problemática para o antropólogo do que para qualquer outro pesquisador em ciências humanas. O antrop logo não pode, de fato, se tornar um ó́especialista, isto é, um perito de tal ou tal área particular (econômica, demográfica, jurídica. . .) sem correr o risco de abolir o que e a base da própria especificidade de sua pra ́tica.́

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• Capítulo 15 Uma Abordagem: a análise comparativa

Page 31: Power Point sobre Laplantine

• Está ligada a problemática maior de nossa disciplina que é a da diferença, implicando uma descentração radical em relação a sociedade de que faz parte o observador, isto é, uma ruptura com qualquer forma, dissimulada ou deliberada, de etnocentrismo.

Page 32: Power Point sobre Laplantine

Comparatismo na AntropologiaEvolucionistas

• A primeira forma de comparatismo – o evolucionismo – ordena os fatos colhidos dentro de um discurso que se apresenta como hist rico.ó́

• Confrontando essencialmente costumes (cf. especialmente Frazer), procura reconstituir uma evolução hipotética das sociedades humanas (de todas as sociedades) na ausência de documentos históricos.

• As extrapolações e generalizações que operam os pesquisadores eruditos desse período vão aparecendo aos poucos como tão abusivas que, praticamente, toda a etnologia posterior (a ruptura epistemológica introduzida nos anos 1910-1920 por Boas e Malinowski) irá adotar uma posição radicalmente anticomparativa.

• Quem sabe porque Boas e Malinowsky são chamados de anticomparativistas?

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Particularismo histórico/ Difusionismo

• As extrapolações e generalizações que operam os pesquisadores eruditos desse período vão aparecendo aos poucos como tão abusivas que, praticamente, toda a etnologia posterior (a ruptura epistemológica introduzida nos anos 1910-1920 por Boas e Malinowski) irá adotar uma posição radicalmente anticomparativa.

• Quem sabe porque Boas e Malinowsky são chamados de anticomparativistas?

Page 34: Power Point sobre Laplantine

Funcionalismo

• Com o funcionalismo, a sociedade estudada adquire uma autonomia não apenas empírica, mas também teórica. Não se trata mais de comparar as sociedades entre si, mas de mostrar, através de monografias, como se realiza a integração das diferenças funções em jogo em uma mesma sociedade.

Page 35: Power Point sobre Laplantine

Pergunta? Quem sabe?

• Mas como dar conta de fenômenos que não pertencem as mesmas sociedades e não se inscrevem no mesmo contexto. Como conceber ao mesmo tempo, sem arriscar-se a ultrapassar os limites de uma abordagem que se quer científicas, as instituições políticas dos habitantes da Patagônia e as dos groenlandeses, os ritos religiosos dos bantos e os dos índios da Amazônia?

Page 36: Power Point sobre Laplantine

Resposta

• Lembremos em primeiro lugar que a análise comparativa não é a primeira abordagem do antropólogo. Este deve passar pelo caminho lento e trabalhoso que conduz da coleta e impregnação etnográfica a compreensão da lógica própria da sociedade estudada (etnologia). Em seguida apenas, poderá interrogar-se sobre a lógica das variações da cultura (antropologia). Vale dizer que o pesquisador deve ter uma prudência considerável. Antes de serem confrontados uns aos outros, os materiais recolhidos devem ser meticulosamente criticados.

Page 37: Power Point sobre Laplantine

• Se a antropologia contemporânea é tão comparativa quanto no passado, não deve mais nada a abordagem do comparatismo dos primeiros etnólogos. Não utiliza mais os mesmos métodos e não tem mais o mesmo objeto. O que se compara hoje são costumes, comportamentos, instituições, não mais isolados de seus contextos, e sim fazendo parte destes; SÃO SISTEMAS DE RELAÇÃO.

Page 38: Power Point sobre Laplantine

• A partir de uma descrição (etnografia), e depois, de uma análise (etnologia) de tal instituição, tal costume, tal comportamento, procura-se descobrir progressivamente o que Lévi-Strauss chama de ”ESTRUTURA INCONSCIENTE”, que pode ser encontrado na forma de um arranjo diferente em uma outra instituição, um outro costume, um outro comportamento.

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• Capítulo 16• As Condições De Produção Social Do Discurso

Antropológico.

Page 40: Power Point sobre Laplantine

• A antropologia é o estudo do social em condições históricas e culturais determinadas. A própria observação nunca é efetuada em qualquer momento e por qualquer pessoa. A distância ou participação etnográfica maior ou menor está eminentemente ligada ao contexto social no qual se exerce a prática em questão, que é necessariamente a de um pesquisador pertencendo a uma época e a uma sociedade.

Page 41: Power Point sobre Laplantine

• Capítulo 17• O Observador, Parte Integrante Do Objeto De

Estudo:

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• Nunca somos testemunhas objetivas observando objetos, e sim sujeitos observando outros sujeitos. Ou seja, nunca observamos os comportamentos de um grupo tais como se dariam se na o ̃estivéssemos ou se os sujeitos da observação fossem outros. Al em disso, se o etnógrafo ́perturba determinada situação, e até cria uma situação nova, devido a sua presença, é por sua vez eminentemente perturbado por essa situação.

Page 43: Power Point sobre Laplantine

• A idéia de que se possa construir um objeto de observação independentemente do próprio observador provém na realidade de um modelo ”objetivista”, que foi o da física até o final do século XIX, mas que os próprios físicos abandonaram ha muito tempo. ́

Page 44: Power Point sobre Laplantine

• Paradoxalmente, a volta do observador para o campo da observação não se deu através das ciências humanas, nem mesmo na filosofia, e sim por intermédio da física moderna, que reintegra a reflexão sobre a problemática do sujeito como condição de possibilidade da própria atividade científica. Heisenberg mostrou que não se podia observar um elétron sem criar uma situação que o modifica. Disso tirou (em 1927) seu famoso ”princípio de incerteza”, que o levou a reintroduzir o físico na própria experiência da observação física.

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• Capítulo 18 Antropologia E Literatura:

Page 46: Power Point sobre Laplantine

• O limite que separa essa etnologia romanceada, qualificada precisamente de romance etnológico, do romance propriamente dito, a literatura da ciência (cf. Gilberto Freyre, 1974), é as vezes extremamente tênue.

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• Capítulo 19• As Tensões Constitutivas Da Prática

Antropológica:

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O Dentro E O Fora• Roger Bastide• ”Eu abordava o candomblé com uma mentalidade

moldada por três séculos de cartesianismo. Devia deixar-me penetrar por uma cultura que não era minha. Devia portanto converter-me a uma outra mentalidade A pesquisa científica exigia de mim a passagem prévia pelo ritual de iniciação”.

• Roger Bastide é então entronizado no candomblé, onde lhe revelam que é filho de Xangô, deus do trovão dos Iorubas, e onde, até a sua morte, ocupará um lugar na hierarquia sacerdotal.

Page 49: Power Point sobre Laplantine

• Passado o tempo da impregnação, chega inelutavelmente para o etnólogo o da distância, pois é próprio da linguagem, e particularmente da linguagem científica, atuar no sentido de uma separação.

• O olhar distanciado, exterior, diferente, do estranho, é inclusive a condição que torna possível a compreensão das lógicas que escapam aos atores sociais. Ao familiarizar-se com o que de início parecia estranho, o etnólogo vai tornar estranho para esses atores o que lhes parecia familiar.