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Instabilidade política na América Latina do século XXI e o caso Honduras Political instability in the XXI century Latin America and the Honduras case Joana Dresch Ribeiro de Almeida 1 RESUMO O presidente de Honduras, José Manuel Zelaya Rosales, ao longo do mandato iniciado em 2006, formou alianças com países radicais do Grande Caribe como Venezuela e Cuba, numa inesperada guinada à esquerda, adotando postura anti-imperialista e anti- neoliberal. Em 2009, o país sofreu uma ruptura política de larga escala. A conjuntura internacional conta com fatores de natureza geopolítica como a ascensão chinesa e as rivalidades entre Rússia e Estados Unidos, com a ocupação espaços políticos pelas esquerdas latino americanas nas últimas décadas e sua estratégia geopolítica, destacando-se Cuba e Venezuela em seu espaço de inserção (o Grande Caribe). Por fim, a análise afunila para o caso hondurenho. O objetivo é lançar olhar sobre o caso em questão analisando as rivalidades e atritos existentes em seu contexto geopolítico interno e externo. A importância de observar as tendências e rivalidades entre as principais potências (Rússia, China e Estados Unidos) está na hipótese de que a nível regional emergem fatores que dialogam com essas rivalidades e influenciam diretamente a realidade política do país centro-americano. Assim, a instabilidade política hondurenha decorreria dos atritos entre as grandes potências globais e entre a potência hegemônica regional e os atores que a desafiam neste cenário. Para tanto, propõe-se uma análise de conjuntura que parte de uma concepção realista das Relações Internacionais associada a uma reflexão geopolítica, que perpassa uma leitura de autores como Spykman e Kaplan, a fim de inserir a crise de Honduras numa moldura sistêmica maior. Em sentido temporal, optou-se por analisar os fatos ocorridos entre os anos de 2006 - quando a Foreign Affairs reconhece um claro movimento de ascensão das esquerdas - e 2016. Com isso, pretende-se explorar os fatores de ordem geopolítica que influenciam grandes instabilidades políticas, especialmente na região do Grande Caribe, como colocado por Spykman (1942). Palavras-chave: Geopolítica; Honduras; Instabilidade Política 1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PEPI-UFRJ)

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Instabilidade política na América Latina do século XXI e o caso Honduras

Political instability in the XXI century Latin America and the Honduras case

Joana Dresch Ribeiro de Almeida1

RESUMO

O presidente de Honduras, José Manuel Zelaya Rosales, ao longo do mandato

iniciado em 2006, formou alianças com países radicais do Grande Caribe como Venezuela e

Cuba, numa inesperada guinada à esquerda, adotando postura anti-imperialista e anti-

neoliberal. Em 2009, o país sofreu uma ruptura política de larga escala. A conjuntura

internacional conta com fatores de natureza geopolítica como a ascensão chinesa e as

rivalidades entre Rússia e Estados Unidos, com a ocupação espaços políticos pelas esquerdas

latino americanas nas últimas décadas e sua estratégia geopolítica, destacando-se Cuba e

Venezuela em seu espaço de inserção (o Grande Caribe). Por fim, a análise afunila para o

caso hondurenho. O objetivo é lançar olhar sobre o caso em questão analisando as rivalidades

e atritos existentes em seu contexto geopolítico interno e externo. A importância de observar

as tendências e rivalidades entre as principais potências (Rússia, China e Estados Unidos)

está na hipótese de que a nível regional emergem fatores que dialogam com essas rivalidades

e influenciam diretamente a realidade política do país centro-americano. Assim, a

instabilidade política hondurenha decorreria dos atritos entre as grandes potências globais e

entre a potência hegemônica regional e os atores que a desafiam neste cenário. Para tanto,

propõe-se uma análise de conjuntura que parte de uma concepção realista das Relações

Internacionais associada a uma reflexão geopolítica, que perpassa uma leitura de autores

como Spykman e Kaplan, a fim de inserir a crise de Honduras numa moldura sistêmica

maior. Em sentido temporal, optou-se por analisar os fatos ocorridos entre os anos de 2006 -

quando a Foreign Affairs reconhece um claro movimento de ascensão das esquerdas - e 2016.

Com isso, pretende-se explorar os fatores de ordem geopolítica que influenciam grandes

instabilidades políticas, especialmente na região do Grande Caribe, como colocado por

Spykman (1942).

Palavras-chave: Geopolítica; Honduras; Instabilidade Política

1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da Universidade Federal do

Rio de Janeiro (PEPI-UFRJ)

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ABSTRACT

The president of Honduras, José Manuel Zelaya Rosales, during his time in office

starting in 2006, formed alliances with radical countries of the Great Caribbean, such as

Venezuela and Cuba, in an unexpected turn to the left, adopting an anti-imperialist and anti-

neoliberal stance. In 2009, the country suffered a large-scale political rupture. In the

international conjuncture there are elements of geopolitical nature such as China’s rise and

the rivalries between Russia and the United States, there’s also the occupation of political

spaces by the latin american lefts in the last decade and their geopolitical strategies, with

emphasis in Cuba and Venezuela in their specific area of insertion (the Great Caribbean).

Finally, the analysis works towards the Honduran case. The intent is to look at the case at

issue analysing the existing rivalries and frictions in its geopolitical context both internally

and externally. The importance of observing the tendencies and rivalries between the main

potencies (Russia, China and the US) lies in the hypothesis that in a regional level there’s the

emergency of factors that engage with these rivalries and directly influence the political

reality of the central american country. Hence, the Honduran political instability would derive

from the frictions between the great global potencies and between the regional hegemonic

potency and other defying actors in that scenario. For this purpose, this study offers a

conjunctural analysis stemming from a realist conception of the International Relations

associated with a reflexion of geopolitical nature, overarching the reading of authors like

Spykman and Kaplan, in order to insert the Honduran crisis in a larger systemic framework.

In terms of temporality, we opted for the analysis of facts that took place between 2006 -

when Foreign Affairs recognized a clear rise of the lefts - and 2016. By this, we mean to

explore the factors of geopolitical character that influence great political instabilities,

especially in the region of the Great Caribbean, as posed by Spykman (1942).

Keywords: Geopolitics; Honduras; Political Instability

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1. Introdução

Nos anos 90, com a redemocratização dos países, a implementação do modelo liberal

ganhou força e os Estados Unidos estabeleceram-se como único hegemon. Chegou-se a

cogitar que seria o fim da história2 com o prevalecimento dos regimes democráticos liberais,

o que se provou falso na primeira década do século XXI.

A teoria da estabilidade hegemônica, formulada por Kindleberger em 1973, propunha

que o Sistema Mundial requer que um, e apenas um, ator hegemônico tome responsabilidade

por estabilizá-lo, fornecendo um conjunto de instituições que possam assegurar o “bem

público”. A ideia do Paradoxo do Hiperpoder de Fiori (2004) propõe que, na década de 1990,

os Estados Unidos mais praticaram a instabilidade do que promoveram a estabilidade.

Em consonância com a antiga linha estratégica da Doutrina Monroe, passou a ocorrer

a Doutrina Bush, que é um claro exemplo de como essa instabilidade é praticada. Várias das

iniciativas do governo Bush, a exemplo da instauração de exércitos mercenários na América

Latina com a justificativa de combater o tráfico de drogas, vão contra princípios liberais do

establishment estadunidense como a soberania nacional e autodeterminação dos povos, além

de acarretarem violações aos direitos humanos3.

Essa remontagem da Doutrina Monroe através da Doutrina Bush pode ser vista como

uma resposta à eleição de candidatos de esquerda no continente de 2006 a 2016. Ao total

foram 15, dentre os quais: Morales, Chávez, Lula, Dilma, Ortega, Lugo e Zelaya.

Com a chegada de Manuel Zelaya ao poder, Honduras passou por processos de

diminuição de desigualdades sociais, além de ter galgado, em certa medida, inserção

internacional através do estabelecimento de relações sul-sul ou alinhamento com potências

que conflitam com a hegemonia regional dos Estados Unidos.

Na esfera internacional, cabe ressaltar, a Rússia lidava com a expansão da OTAN para

o leste e a China, em 2012, vivenciou grande mudança nas diretrizes de sua política externa

quando Xi Jinping foi eleito presidente. Xi retoma a narrativa da gloriosa história do império

através do “sonho chinês”, que consistiria numa espécie de rejuvenescimento próspero do

país (MOURA, 2015).

2 Para maiores informações ver FUKUYAMA, Francis. O fim da história e o último homem. Rio de Janeiro:

Rocco, 1992. 3

http://www.bbc.com/mundo/noticias/2015/05/150507_colombia_violacion_menores_pornografia_militares_eeu

u_ng

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Para lançar olhar sobre o caso específico de Honduras (2009), propõe-se analisar as

rivalidades e atritos existentes em contexto interno e externo e entre as principais potências

mundiais. É importante observar as tendências e rivalidades entre as principais potências

(Rússia, China e Estados Unidos) pois trabalha-se com a hipótese de que as instabilidades

políticas dessas potências geram uma disputa geopolítica que se estende para outras regiões

do mundo, como numa Segunda Guerra Fria.

O recorte temporal, entre os anos de 2006 e 2016 justifica-se pelo fato de que em

2006 a Foreign Affairs publicou uma matéria na qual ela reconhece um claro movimento de

ascensão das esquerdas4 e 2016, foi uma escolha arbitrária, no sentido de delimitar o escopo

da pesquisa.

A construção da pesquisa partiu de uma revisão bibliográfica focada na área da

produção acadêmica relevante para o enfoque geopolítico e estratégico. O trabalho utilizou-se

dos principais conceitos de Nicholas J. Spykman, também dos comentários de Robert D.

Kaplan, de alguns conceitos apresentados por Cristina Pecequilo e José Luís Fiori, além das

discussões propostas pelos mesmos e por Luiz Alberto Moniz Bandeira, dentre outros

autores.

A escolha dos autores e das obras analisadas orienta o paradigma teórico, que é o

realismo político. A abordagem realista favorece uma análise dos elementos de equilíbrio de

poder por considerar que o Sistema Internacional se insere numa lógica de estado natural

anárquico, hobbesiano e de guerra constante. De acordo com Pecequilo (2012),

o Realismo Político sistematiza suas preocupações em torno de dois conceitos-

chave, o poder e o conflito. [...] O Equilíbrio de Poder (EP) e a diplomacia terão

como função evitar estas ameaças constantes de destruição, seja pelo choque de

interesses entre os Estados, como pelo estabelecimento de relações regulares e

mediadas entre os mesmos

Por fim, a seguinte passagem do livro “A Segunda Guerra Fria” (BANDEIRA, 2015)

também corrobora com o viés realista, fazendo uma ligação com a noção de paradoxo do

hiperpoder, visto acima: “Ao longo de sua história, os Estados Unidos têm demonstrado

empiricamente que nas relações internacionais a lei não a lei não deriva da justiça, mas da

força”.

2. As rivalidades internacionais em escala global

4 https://www.foreignaffairs.com/articles/south-america/2006-05-01/latin-americas-left-turn

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No livro “O mito do colapso do poder americano” (2008), Fiori, Medeiros e Serrano,

defendem que a crise dos anos 1970 aponta um aumento da pressão competitiva interestatal e

não uma derrocada do poder estadunidense, como se imaginou. Na análise conjuntural da

geopolítica do século XXI, levando em consideração a pressão interestatal que tais autores

apontam, é central considerar a ressurreição militar da Rússia e a ascensão econômica e

militar da China no tabuleiro internacional.

Diversos autores5 falam de uma “Segunda Guerra Fria” onde as potências

supracitadas travariam disputas por zonas próximas à Eurásia, não se restringindo, contudo, a

essa região global. Bissio (2017) utiliza a premissa da ascensão de uma multipolaridade

global onde, novamente, os atores em destaque são Rússia, China e Estados Unidos. A

“Segunda Guerra Fria” não seria, portanto, uma disputa bipolar, como a Primeira.

2.1. Estados Unidos e Rússia

A Rússia possui três pontos de pressão geopolítica: o Cáucaso; a Ásia Central e Sul da

Ásia; e a “vizinhança ocidental”6 (PECEQUILO, LUQUE, 2016). A penetração dos EUA

nesses espaços permite acesso a recursos eurasianos, como, por exemplo, petróleo e gás, que

são elementos essenciais em termos de acumulação de poder no tabuleiro global. À pressão

geopolítica exercida pelos EUA, a Rússia responde com clareza.

A “Diplomacia dos Dutos” consistiu na construção de gasodutos e oleodutos que

funcionassem como alternativa ao quase monopólio russo em relação ao fornecimento de

bens energéticos à Europa. O oleoduto Baku-Tíflis-Ceyhan (BTC) - que leva óleo do mar

Cáspio à Turquia, passando pela Geórgia - é um claro exemplo dessa investida ocidental. A

Geórgia, envolvida neste caso, é recorrentemente usada como instrumento de atrito com a

Rússia, a exemplo também do projeto de expansão da OTAN para o leste europeu, que

considerou tornar a Geórgia país membro7. A resposta russa a essas pressões foi a promoção

da independência de dois territórios da Geórgia (Abecásia e Ossétia do Sul) em 2008.

Ainda no escopo da expansão da OTAN, temos o caso da Crimeia, região pertencente

à zona de instabilidade da “vizinhança ocidental”, que foi anexada à Rússia em 2014 após um

conflito com a Ucrânia, que contou não apenas com mecanismos militares, mas também com

5 A exemplo de Moniz Bandeira (ver “A Segunda Guerra Fria - Geopolítica e dimensão estratégica dos Estados

Unidos”), Pecequilo e Luque (ver “EUA e Rússia: Convergência e Divergência Geopolítica (1989-2016)”) 6 Essa região se caracteriza por ser uma região de ex-repúblicas soviéticas 7 http://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2008/08/080808_entenda_ossetia_cg.shtml

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a pressão gerada pela “Guerra do Gás”8. A aproximação com a organização comprometeria a

projeção do poder russo no Mar Negro, cuja localização geográfica permite acesso aos mares

quentes e possibilita o comércio direto com o Mar Mediterrâneo.

Por fim, cabe tratar da importância da região Ártica para a geopolítica russa. Esta

remete à primeira Guerra Fria, quando foi considerada zona primordial por representar a

menor distância entre EUA e URSS. Por volta dos anos 2000, o derretimento das calotas

polares possibilitou acesso marítimo a uma região com grande potencial energético. A

Rússia, fincando uma bandeira no fundo do Oceano Glacial Ártico na primeira década do

século XXI, demonstrou estar ciente disso. Conforme se desenvolvem as tensões entre Rússia

e Estados Unidos, percebe-se uma intensificação da presença militar e industrialização da

região por parte da Rússia9, especialmente nos anos de 2014 e 2015, por conta dos conflitos

na Ucrânia e na Síria.

2.2. Estados Unidos e China

George Friedman (2008) afirma que a China possui três imperativos geopolíticos: a

manutenção da unidade interna no “heartland” chinês, a manutenção do controle sob as

“regiões de amortecimento”10 e a proteção da costa contra invasões estrangeiras. O que, para

ele, configura o espaço chinês como insular são essas regiões de amortecimento11. É por isso

que, a partir do século XIX, quando os europeus chegaram à região oriental do pacífico, a

costa chinesa passou a ser o ponto mais vulnerável de sua geopolítica, enquanto mantivessem

sob controle as “regiões de amortecimento”.

A estratégia estadunidense para a China parece uma espécie de cercamento

geopolítico. O cercamento pelo mar ocorre tanto através do acordo com as Filipinas em 2016,

concedendo direito à utilização de cinco de suas bases militares12, como do fornecimento de

apoio a Japão, Coreia do Sul e Cingapura - além de Taiwan -, com destaque para a base

militar estadunidense nas ilhas Diaoyu (ou Senkaku) - que são reclamadas pela China - e o

posicionamento de sua sétima frota naval em Yokosuka, no Japão.

8 Corte do abastecimento de gás para a Ucrânia para desestabilizar politicamente o país. 9 https://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/02/internacional/1427998445_036342.html 10 Tradução da autora. No original: “buffer regions”. Disponível em:

<https://pt.scribd.com/document/15244702/6-15-2008-the-Geopolitics-of-China-A-Great-Power-Enclosed>

Acesso em: 09 de nov. 2017. 11 De difícil transposição, que protegem, mas também isolam. 12 http://eesp.fgv.br/en/noticias/disputas-no-mar-da-china-e-o-pre-sal

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Enquanto isso, o cercamento terrestre se dá por meio de projetos como o da Parceria

Transpacífica (TPP), que passou a ser de interesse estadunidense em 200813 e parecia ter o

objetivo de minar a influência Chinesa no sudeste asiático e na própria Eurásia, pois além do

acordo de livre comércio, a parceria viabiliza o reposicionamento estratégico de contingente

militar na região Ásia Pacífico.

Para este último, a China providencia uma resposta à altura: o projeto da Nova Rota

da Seda14. A projeção deste projeto, também conhecido como One Belt One Road, sobre a

África é sintomática das demandas internas da China, de maneira que pretende construir

estradas que permitam acesso ao corredor eurasiano e diversos portos na costa da África.

Outro ponto central para a geopolítica da China desde 1949 é a questão com Taiwan.

Apesar das relações econômicas apontarem uma aproximação entre Taiwan e China, na

esfera estratégica e militar as relações de Taiwan com os Estados Unidos possuem

preponderância. Em 2016, pouco depois da realização de manobras militares nas quais

Taiwan simulou ataques chineses15, as relações entre China e Estados Unidos se abalaram em

razão da ruptura diplomática de Trump ao estabelecer diálogo com a presidenta taiwanesa,

Tsai Ing-wen16.

Se esses desgastes envolvendo EUA e China ainda não resultaram em conflito é

porque a China trabalha sua geopolítica de forma defensiva em relação aos Estados Unidos e

tende a não adotar uma política confrontacionista com países do Norte (de uma maneira

geral). Essa diretriz política se associa a uma cooperação que estende aos países do Sul. De

acordo com Carmo e Pecequilo (2014), define-se como nação do Sul global, “preservando

sua identidade político-social-estratégica como nação do Terceiro Mundo e em

desenvolvimento.”.

2.3. As respostas conjuntas

Destacam-se dois projetos geopolíticos de cooperação com a Rússia: o “World Order

in the 21st Century” e a criação da Organização de Xangai (uma espécie de OTAN do

13 https://ustr.gov/trans-pacific-partners-and-united-states-launch-fta-negotiations 14 Segundo Bissio (2017), “Destinado a ampliar a integração econômica e política da Ásia, com desdobramentos

na África, no Oriente Médio e até na Europa, o OBOR utiliza a via terrestre e marítima mediante

impressionantes obras de infraestrutura – redes de transporte (rodovias, ferrovias para trens de alta velocidade),

oleodutos, gasodutos, portos e fibra ótica – e deve estar completamente implementado em 2025.” 15 http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/08/taiwan-inicia-manobras-militares-em-plena-tensao-com-

china.html 16 https://g1.globo.com/mundo/noticia/trump-conversa-com-presidente-de-taiwan-sob-risco-de-irritar-a-

china.ghtml

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Oriente). A declaração supracitada serviu para enfatizar “os princípios que orientariam as

relações entre ambas: ‘respeito mútuo da soberania, integridade territorial, não-agressão e

não-interferência’” (BISSIO, 2017, p.541), além de fazer frente à “Doutrina Bush”,

conhecida pelo aumento nas intervenções militares ocidentais nas mais diversas regiões do

planeta. Ademais, apesar da comparação com a OTAN não ser fiel em termos de modus

operandi ou poderio militar da entidade, a Organização de Xangai embute uma proposta de

ampliação da cooperação militar com ênfase em segurança e inteligência compartilhada com

o objetivo de enfrentar as ofensivas mais relevantes para o grupo: terrorismo, separatismo e

extremismo.

Consequentemente, no século XXI torna-se notável a cooperação militar entre Rússia

e China, especialmente em termos comerciais, uma vez que a Rússia foi importante fonte de

tecnologia militar e sistemas de armamento para a China17.

No período de 2009 a 2011, a China e a Rússia realizaram uma aproximação

estratégica em âmbito energético, que envolvia a construção de gasodutos e oleodutos, além

de fornecimento preferencial de energia. Além dessa, ocorreu uma aproximação política

multilateral através dos BRICS, enfatizando seus papeis enquanto nações emergentes. Essa

aproximação, por sua vez, gerou uma reação estadunidense através da “Parceria

Transpacífica” (TPP) e da “Parceria Transatlântica” (TTIP) - que excluem os BRICS de seu

escopo. A resposta russa a isso foi o aumento de mecanismos de projeção da sua presença na

Eurásia entre 2011 e 2014. Durante esse período ocorreu também o estabelecimento de

acordos bilaterais entre EUA e Iraque e EUA e Afeganistão, garantindo presença de tropas

estadunidenses na região, o que causou ainda mais tensão com a Rússia.

O aumento da influência russa na Ásia, que pode ser percebido tanto no plano

econômico como no geopolítico, através de investimentos em infraestrutura na região, muito

se ao Fórum Econômico Oriental - realizado em 2015 -, onde foram assinados 34 acordos de

investimento, cujo montante excede U$20bi.

3. As rivalidades internacionais em escala regional

Aqui trataremos das rivalidades internacionais sob uma perspectiva regional e

examinaremos as rivalidades decorrentes da geopolítica continental no Grande Caribe. Far-

17 “[...] em determinados setores — como os da guerra eletrônica, dos motores e dos sistemas de combate

embarcados de melhor desempenho — ela permanece dependente de países estrangeiros, principalmente da

Rússia.” (ZAJEC, 2008).

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se-á um esforço para trazer à tona Estados pivô18 e compreender as tentativas de projeção dos

atores globais no sub-continente, fazendo, assim, a conexão com a primeira seção.

Durante a “virada à esquerda”19, a América Latina sofreu diversas transformações.

Isso implicou numa série de mudanças em âmbito regional, com destaque para a mudança na

forma como os países da região encaravam as projeções geopolíticas estadunidenses no

subcontinente.

O foco estratégico desses governos de esquerda era a tentativa de desagregar as

políticas externas do domínio exercido pelo imperativo geopolítico estadunidense na região.

Os países que participam das disputas em nível global se encontraram inseridos nessa

estratégia de mudança geopolítica, ganhando posições no continente em decorrência disto.

Isso gerou instabilidades na geopolítica estadunidense não apenas por ferir um de seus pilares

geoestratégicos, a Doutrina Monroe, cujo lema é “América para os americanos”, mas também

por conta das rivalidades a nível global, dentro de uma lógica de “Segunda Guerra Fria”.

3.1. A geopolítica do Grande Caribe sob a ótica da Longa Duração

Primeiramente, o grau de dependência geopolítica que os Estados Unidos possuem

com relação ao Grande Caribe se, por um lado, não se demonstra no campo econômico, nas

relações geopolíticas desenvolvidas historicamente se sobressai. Nicholas Spykman enxerga a

preponderância estrutural da região do Mediterrâneo Americano20, que ele considera “o

coração estratégico e geográfico do Novo Mundo”21 (KAPLAN, 2012). Essa área “consiste

numa grande parte do México, da América Central, Colômbia, Venezuela e a cadeia de ilhas

se estendendo em um grande arco desde o leste da Venezuela até a extremidade ocidental de

Cuba”22 com uma “segunda cadeia de ilhas”23, as Bahamas, que agem como uma espécie de

sentinelas à entrada do Golfo do México (1942, p.46-47). “As ilhas possuem tamanho

18 De acordo com Pecequilo (2012), seriam Estados com projeção regional e capacidade de definir equilíbrios e

desequilíbrios na região. 19 O termo é amplamente utilizado por analistas e pela mídia para se referir à ascensão das esquerdas ao poder

na américa latina durante a primeira década do século XXI. A exemplo do artigo escrito por Fiori em 2013 ou da

matéria de 2006 na revista Foreign Affairs (disponível em: <https://www.foreignaffairs.com/articles/south-

america/2006-05-01/latin-americas-left-turn>). 20 Região do Grande Caribe, englobando o Golfo do México. 21 Tradução da autora. No original: “strategic and geographic heart of the New World”. 22 Tradução da autora. No original: “It consist of a large part of Mexico, Central America, Colombia, Venezuela

and of the chain of islands stretching in a great arc from the east of Venezuela to the western end of Cuba”. 23 Tradução da autora. No original: “second island chain”.

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limitado, e a topografia da América Central [...] favorece unidades políticas pequenas.”24

(Spykman, 1942).

Para ele, a realidade geopolítica dessa região é a do Grande Caribe, mesmo que alguns

países sejam formalmente reconhecidos como sulamericanos. Colômbia e Venezuela, por

exemplo, estão em maior contato com a costa oposta que com os demais países do Sul

(Spykman, 1942, p.404-405), o que acontece devido ao isolamento que os Andes promovem,

aliado à impenetrabilidade da floresta amazônica. O rio Amazonas corre do oeste para o leste

e, portanto também não facilita a navegação para o sul ou para o norte (KAPLAN, 2012).

Imagem 1: O Mediterrâneo Americano

Fonte: University of Texas Libraries25

O Mediterrâneo Americano, à primeira vista, é uma área que divide o Norte do

continente Americano do Sul. Todavia, cria-se uma conexão entre eles através da atração

24 Tradução da autora. No original: “The islands are of limited size, and the topography of Central America [...]

favors small political units.” 25 http://www.lib.utexas.edu/maps/americas/middleamerica.jpg

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gerada pela região, que torna possível, por exemplo, que os Estados Unidos tenham acesso à

costa oeste da América do Sul através do canal do Panamá.

A construção desse canal proporcionou aos Estados Unidos um ganho de insularidade,

assegurando a mobilidade de suas frotas, através da conexão entre o Oceano Atlântico e

Pacífico, o que assegurou também uma interessante posição em relação às extremidades da

Eurásia (KAPLAN, 2012, p.74).

A magnitude do poder estadunidense, segundo Kaplan (2012), se deve ao fato de que,

possuindo o controle hegemônico do Hemisfério Ocidental, os EUA estendem sua energia

geopolítica de modo a “afetar a balança de poder no Hemisfério Oriental”26 (p. 65). Nenhuma

outra nação no mundo possui influência hemisférica, tal como os EUA. Esta seria uma

consequência da Doutrina Monroe.

A origem da Doutrina Monroe remete ao discurso do presidente James Monroe, em

1823, no qual ele postulava uma assimetria, baseada na autonomia e soberania territorial,

entre os Estados Unidos e os Estados que compunham a América Espanhola. Isso implicou

na reivindicação da ingerência sobre a região e sua proteção contra as influências

extrarregionais para si. Foi, entretanto, durante o governo do presidente Theodore Roosevelt

que o monroísmo ganhou nova face, através da política do Big Stick (grande bastão). Essa

política pregava que a transgressão ou impotência em resolver assuntos internos,

desencadeariam legítima intervenção dos Estados Unidos na América Latina. Segundo

Bandeira (2008) a doutrina proporciona pretexto ideológico para a manutenção da hegemonia

estadunidense sob o Hemisfério Ocidental, o que assegura seu acesso a matéria prima e

mercados e afasta a influência europeia.

Não é difícil ver as semelhanças entre o relato de Bandeira e o que ocorre na América

Latina, sobretudo na região do Caribe, onde Spykman afirma que “nenhuma ameaça séria à

posição dos Estados Unidos pode insurgir”27 (1942). A diferença é que as ameaças

extrarregionais apresentadas neste cenário advém de uma tentativa recente de emancipação

regional da Velezuela28, conforme veremos.

3.2. Venezuela, Cuba e as rivalidades intrarregionais emergentes do século XXI

26 Tradução da autora. No original: “affect the balance of power in the Eastern Hemisphere”. 27 Tradução da autora. No original: “No serious threat against the position of the United States can arise” 28 País que o representante do presidente Monroe constatou ser "tímido, indolente, ignorante, supersticioso,

incapaz de se esforçar e desprovido de iniciativa" (SCOTT, 1812).

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Bandeira (2008) trata da proposta estadunidense à época, que teria como objetivo

conter qualquer avanço europeu na sua área de influência e garantir seu acesso às fontes de

matéria prima e mercado por meio da criação de uma espécie de União Aduaneira com os

países latinoamericanos.

A tentativa mais recente nesse sentido foi a da criação da Área de Livre Comércio das

Américas (ALCA), que buscava estabelecer relações comerciais com o objetivo de garantir

estrategicamente a adesão dos países ao Consenso de Washington. Algumas iniciativas

encabeçadas pela Venezuela29 e Cuba (tal como a Petroamérica) ameaçaram o acesso a

diversos mercados consumidores na região, o que tornou imperativo para os EUA lograr

influência sobre a América Latina, especialmente Grande Caribe.

A Petroamérica é uma iniciativa composta por três vertentes: Petrocaribe, Petrosur e

Petroandina. A ideia é promover uma complementação energética entre os governos da

América Latina e Caribe. O projeto se dá pela facilitação ao acesso energético fomentado

pelas condições preferenciais oferecidas, garantidas através de acordos e investimentos

conjuntos. (Sistema Económico Latinoamericano y del Caribe, 2013, p.7-8). É o primeiro

acordo energético baseado em princípios de solidariedade e que tem como fim último o

desenvolvimento e a justiça social da região.

A aliança entre Cuba e Venezuela, além de ideológica, é estratégica. A distância da

ilha à costa estadunidense é de apenas 90 milhas e seu histórico de relações com os Estados

Unidos permeia as tensões da Guerra Fria. Na década de 60, Cuba alinhou-se com o bloco de

países liderado pela União Soviética e seu projeto comunista, o que suscitou práticas de

contra-insurreição por parte dos Estados Unidos acompanhadas por um aumento nos gastos

com a região latinoamericana (SIMÕES FERNANDES, 2009), além da promoção de um

embargo.

A aliança com a Venezuela e o momento de ascensão das esquerdas no continente

latino fez com que a suspensão de Cuba na Organização dos Estados Americanos - uma das

medidas do embargo - fosse revogada no ano de 200930. O grupo de trabalhos sobre a

revogação da suspensão de Cuba foi proposto pelo ministro brasileiro, Celso Amorim, e

contou com atuação direta dos presidentes Manuel Zelaya, Daniel Ortega e Fernando Lugo.

29 Conforme visto anteriormente, a Venezuela, apesar de geograficamente integrar a América do Sul,

estrategicamente faz parte do Mediterrâneo Americano, que seria um rimland, uma “zona em que a supremacia

dos Estados Unidos não pode ser questionada. Para todos os efeitos, trata-se um mar fechado cujas chaves

pertencem aos Estados Unidos.” (FIORI, 2007). 30 http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2009/06/090603_oea_cuba_rc.shtml

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Ao lado da Venezuela, participou também da criação de instituições como a ALBA e

a UNASUL, tal como seu fortalecimento durante a década analisada, o que constitui um

sintoma a ser observado. A ALBA, nova proposta de integração regional, fundada por Hugo

Chávez e Fidel Castro chegou a abranger Bolívia, Nicarágua, Honduras, República

Dominicana, Equador, dentre outros.

Estes movimentos são uma afronta geopolítica ao poder global dos Estados Unidos.

Kaplan, sobre o radicalismo anti-estadunidense do ex-presidente Hugo Chávez, afirma que,

diferente da região do Cone Sul, o perigo apresentado pela aliança com a Rússia e o Irã se

deve à posição geográfica da Venezuela na região da bacia do Caribe (KAPLAN, 2012,

p.66).

Esse tipo de sublevação na região do Hemisfério Ocidental deve ser respondido

através de uma envoltura do Grande Caribe numa zona de livre comércio (KAPLAN, 2012,

p. 196), mas, com o fracasso da ALCA, os Estados Unidos apelaram para uma linha de

políticas de natureza menos cooperativa: a reativação da 4a Frota Naval31, prática de

exercícios militares em conjunto com o Chile e aprofundamento dos acordos militares com

Colômbia e Peru.

O Plano Colômbia é uma ajuda econômica e de expertise militar concedida pelo

governo estadunidense à Colômbia com o objetivo de combater o tráfico de drogas, que

levantava questionamentos pelo fato de que, apesar de ter se mostrado efetiva no combate à

guerrilha esquerdista (as FARC), mostrou-se pouco eficaz no combate ao tráfico de drogas,

já que, em 2012, 95% da cocaína consumida nos EUA ainda procedia da Colômbia32. Em

2009, passou a preocupar analistas e gerar críticas na América Latina por conta de um novo

acordo, que permitiu a utilização de bases colombianas por militares estadunidenses,

levantando suspeitas em países como Venezuela, Equador, Brasil e Chile33.

Essa é uma das manifestações da Doutrina Bush. Essa retomada da Doutrina Monroe

desencadeou uma consequência principal para a política dos Estados Unidos em relação à

América Latina: a elevação da capacidade de intervenção militar, que se justifica pela guerra

às drogas e se manifesta de duas maneiras diferentes: “ação preventiva” e “cambio de

governo” ou “cambio de regime” (BISSIO, 2017).

31 É “responsável pelo controle marítimo das águas que cercam a América Latina”(FIORI, PADULA, 2016) e

encontra-se na Flórida, onde possui projeção para o Mar do Caribe e proximidade de Cuba. Sua reativação

nessas circunstâncias demonstra a importância também da região sul do continente - tanto no lado atlântico,

quanto no pacífico -, já que é a área circundada pelo Comando Sul, responsável pela frota (UC, 2008). 32 http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2012/04/120411_plano_colombia_lf.shtml 33 http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2009/08/090807_colombia_analise_dg.shtml

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O Plano Colômbia é um exemplo de ação preventiva, que vai de encontro ao

pensamento estratégico de Spykman para a região do Mediterrâneo Americano uma vez que a

Colômbia, tal como a Venezuela, faz parte desta importante seção estratégica. O combate à

insurgência de movimentos anti-imperialistas e que se opõem à ingerência estadunidense na

região se dá também por meio de tentativas ou de golpes de Estado, que trataremos no

próximo capítulo.

3.3. Influência de atores extrarregionais

O novo movimento autonomista que ganhou força com a “virada à esquerda” que a

América Latina experienciou na primeira década e meia do século XXI, fez com que os

países latinoamericanos, historicamente dependentes em termos econômicos dos Estados

Unidos, buscassem alternativas de cooperação regional e entre países que também se

encontram no Sul Global, como é o caso da China e da Rússia.

3.3.1. China

“A China, por seu tamanho, ‘escala’ e grau de produtividade alcançada, tornou-se o

gigante da nova época, e seu entorno geográfico (Ásia-Pacífico) é hoje o centro de gravidade

de toda economia global.” (KISSINGER, 2011). Concomitantemente a isto, tornou-se o

maior parceiro comercial de boa parte dos países latinoamericanos durante o período

analisado.

A necessidade chinesa de importação de petróleo é importante motivador de tal

parceria, pois sua industrialização e desenvolvimento militar dependem dos recursos naturais

e energéticos procedentes da América Latina. A região da América Latina e Caribe foi a que

recebeu os maiores investimentos chineses no ano de 2012, o que possivelmente tem relação

com a projeção de uma rota de abastecimento de hidrocarbonetos, que partiria da América

Latina passando por águas filipinas (ZAJEC, 2008). A América Latina serve também como

mercado consumidor para o escoamento da produção chinesa.

Em termos diplomáticos, mas que tem que ver com a rivalidade geopolítica global

gerada pela presença estadunidense em uma área de vulnerabilidade estratégica da China, há

a intenção de isolar Taiwan. Como os países caribenhos estão tradicionalmente na área de

influência estadunidense, apoiam Taiwan. Assim, “a oferta de cooperação Sul-Sul associada

às oportunidades de negócios tornou-se um mecanismo eficaz para engendrar um

reposicionamento político dos países da região.” (PECEQUILO, CARMO, 2014).

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O aumento do controle sobre a região pode ter para a China o mesmo efeito que teve

para os Estados Unidos, possibilitando a construção do Canal do Panamá. Isso se tornou uma

preocupação para a estratégia estadunidense em 2014, quando anunciou-se o projeto de

construção de um Canal na Nicarágua, durante o governo do sandinista Daniel Ortega. O

Canal da Nicarágua, como o Canal do Panamá, deve ligar os dois oceanos e contaria com alto

investimento de empresas chinesas34.

3.3.2. Rússia

A proliferação de relações entre Rússia e os países da América Latina, especialmente

Grande Caribe, fundamenta-se na provocação estratégica. Segundo Romero (2008), a

aproximação da Rússia com a Venezuela é uma resposta ao avanço da OTAN ao leste

europeu. Uma das maneiras de confrontar o poder estadunidense na região é a concessão de

aterrizagem russa em território venezuelano, além da realização de exercícios militares

conjuntos no Mar do Caribe, o que seria inconcebível para a visão Spykmaniana.

A Rússia chegou a se envolver no projeto do Canal da Nicarágua, fornecendo apoio

militar e político à construção do Canal, já que, de acordo com Vladimir Evseev (2014)35, não

teria condições de arcar com os custos gerados, mas possui interesse geopolítico, o que

encontra respaldo nas afirmações de Romero (2008): “em termos materiais a capacidade real

de projeção de poder da Rússia é bastante limitada- a aproximação russo-venezuelana tem um

caráter simbólico muito importante.”.

Durante o conflito gerado pelo interesse da Geórgia e da Ucrânia de aproximação da

OTAN, a Rússia recebeu o apoio de Caracas e deslocou para o Caribe dois bombardeiros

estratégicos TU-160 com o objetivo de realizar exercícios conjuntos com a Força Aérea

Venezuelana, além de indicar a intenção de envio de navios de guerra como reação à

presença estadunidense no Mar Negro (BANDEIRA, 2008).

As relações entre Rússia e Venezuela envolvem venda de armas e acordos de

cooperação técnica e militar. Isso desencadeia ganhos políticos extraordinários para o

governo venezuelano, que visa à desestabilização estratégica dos Estados Unidos em sua

zona de influência imediata. Para a Rússia, a afronta venezuelana em seu posicionamento

geográfico também abriu portas para uma reconfiguração estratégica.

34 http://www.bbc.com/mundo/noticias/2014/12/141222_nicaragua_canal_divisiones_previa_aw 35 Em entrevista ao Sputnik disponível em:

https://br.sputniknews.com/portuguese.ruvr.ru/news/2014_09_09/Canal-nicaraguense-contribuir-para-constru-o-

de-mundo-multipolar-0624/

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4. As rivalidades internacionais em escala Estatal

A proposta deste tópico é averiguar se o que ocorre nesses dois outros níveis

influenciou o sucedido no ano de 2009 em Honduras. Para abordar o ocorrido no país centro-

americano lançar-se-á breve olhar sobre seu histórico do pós guerra fria, sobre a eleição de

Manuel Zelaya e também sobre a mudança política por ele promovida. Assim, examinaremos

de que maneira o processo foi facilitado internamente e, por fim, deve-se retomar o nível

regional para analisar interesses externos na ruptura política de larga escala que levou à

deposição do presidente Zelaya.

4.1. Mudanças estruturais promovidas pelo governo Zelaya

O processo de democratização de Honduras no pós guerra fria reforçou estruturas de

exclusão e empobrecimento da população, promovendo fome, guerra e aprofundando as

desigualdades sociais, que é dos grandes motivos desencadeadores da ascensão da esquerda

que a América Latina presenciou no início do século36.

Honduras que, além de extremamente desigual, é um dos países mais pobres da

América Latina37, elegeu no ano de 2005 o candidato do Partido Liberal, Manuel Zelaya38. O

mandato, que se iniciou em 2006, foi marcado por um favorecimento das políticas sociais e

de distribuição de renda, com o aumento de 60% do salário mínimo, do salário de professores

e do acesso à educação39. O processo político conduzido por Zelaya escorou-se no aumento

da base de direitos, participação política de setores sociais, com discurso anti-neoliberal e

anti-imperialista.

A aproximação com a Venezuela marcou uma mudança de postura de Zelaya. O

objetivo era diminuir sua dependência energética, o que fez agregando-se a duas iniciativas

anti-hegemônicas que ela liderava: a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América

(ALBA), criada por Cuba e Venezuela, fazendo frente à proposta do NAFTA; e a

Petrocaribe.

À entrada do país na Petrocaribe, em 2008, a presidenta da Comissão Administradora

do Petróleo de Honduras afirmou “que Petrocaribe fortalece a soberania energética de

36 Ver Castaneda (2006). 37 Com quase metade da sua população em situação de pobreza. 38 https://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2005/12/24/ult1808u55862.jhtm 39 http://cepr.net/publicaciones/articulos-de-opinion/abogados-armas-dinero

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Honduras, ao diversificar as fontes de fornecimento de hidrocarbonetos para o país e outorgar

ao governo maior participação na administração dos recursos energéticos”40.

Esse “giro à esquerda” custou a Zelaya o apoio da cúpula de seu próprio partido41, que

se fracionou durante as eleições primárias de 2008 em função disso (PEETZ, 2008). Além

disso, os processos de democratização que almejou promover não foram homogêneos e

geraram embate com a Frente Sandinista na Nicarágua, mas “expressam uma diminuição da

hegemonia unilateral das políticas neoliberais e das tendências autoritárias da oligarquia

empresarial-militar”42 (AGUILAR, 2009).

4.2. Trajetória do golpe

A radicalização, de uma forma geral, é contrademocrárica43. A proposta da quarta44

urna - que se daria através de uma consulta popular não vinculante sobre a adição de uma

urna para votar a realização de mudanças nos artigos pétreos da constituição45 - fez emergir

forte polarização social em Honduras. Havia dois grupos mobilizados: de um lado

empresários, a igreja católica e meios de comunicação, contrários à reforma constitucional e

favoráveis à destituição do presidente; e do outro as forças sociais compostas por

movimentos de professores, grupos feministas, movimentos indígenas, sindicatos,

movimentos campesinos e ONGs locais e regionais favoráveis à reforma e defensores de

Zelaya.

Boa parte dos políticos e o empresariado, que já estava descontente com o aumento do

salário mínimo, desaprovaram a aproximação ideológica e política feita por Zelaya com a

Venezuela (CORDERO, 2013). A integração do país à ALBA foi, por eles, considerada

nefasta para os interesses nacionais de Honduras.

O presidente hondurenho aborreceu também o exército e o judiciário ao destituir o

Chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, por ter se negado a mobilizar as urnas

40 Tradução da autora. No original: “que Petrocaribe fortalece la soberanía energética de Honduras, al

diversificar las fuentes de suministro de hidrocarburos para el país y otorgar al gobierno mayor participación en

la administración de los recursos energéticos”. Disponível em: <http://www.revistaei.cl/2008/06/10/regional-

iniciado-suministro-de-petrocaribe-en-honduras/> 41 Na realidade, conforme argumenta Peetz (2009), os Partidos Liberal e Nacional não possuem grande

diferenciação em termos de perfil ideológico, dependendo muito dos dirigentes de cada um deles em

determinado momento histórico. 42 Tradução da autora. No original: “expresan una disminución de la hegemonía unilateral de las políticas

neoliberales y de las tendencias autoritarias de la oligarquía empresarial-militar”. 43 Ver Bobbio (1995), Fabrício Brugnago e Vera Chaia (2014). 44 A primeira serviria para eleger um presidente, a segunda congressista e a terceira alcades. 45 http://www.elheraldo.hn/opinion/739465-368/la-cuarta-urna

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para a consulta popular, e aceitar a renúncia do Ministro de Defesa. A Corte Suprema de

Justiça, cujo presidente mantinha relação de dependência direta com Micheletti46 logo afirma

que a decisão foi “arbitrária e violadora da constituição e da lei das Forças Armadas”47.

A consulta da quarta urna provocou suspeitas. Segundo o analista político, Ramón

Martínez (2009)48, a intenção do presidente seria lograr a constitucionalização da reeleição

ilimitada, como Chávez e Correa. Muitos dos meios de comunicação ligaram a convocação

da constituinte com o golpe empregado, apesar de também haver acusações de corrupção e de

“traição”. O Partido Nacional, partido que presidia e tinha forte influência sob a Procuradoria

Geral da República (SALOMÓN, 2009), viu na possibilidade de reeleição de Zelaya uma

ameaça à vitória eleitoral de seu candidato, Porfirio Lobo.

Dentre facilitadores da aplicação do golpe, estão a crise econômica gerada por conta

da influência do capital internacional aliado à crise do subprime, o crescimento das funções e

do orçamento militar quando os exércitos tem grande poder de influência política sobre a

região (AGUILAR, 2009).

No sistema unicameral de Honduras, Zelaya governava com minoria parlamentar. Seu

partido - que, diferente dele, era um partido conservador - possuía 62 cadeiras, ao passo que o

Nacional e os demais opositores ocupavam 6649. Com a proposta do referendo da quarta urna

o presidente perdeu também o apoio de integrantes de seu partido.

4.3. Ruptura política em larga escala

Em 2009, Manuel Zelaya foi acusado pelo Ministério Público por corrupção, além de

traição à pátria, abuso de autoridade e usurpação de funções em virtude da proposta de

adicionar uma quarta urna para decidir sobre a necessidade de uma reforma constitucional,

que foi vista como uma tentativa de se perpetuar no poder, dado que ocorreram processos

similares na Venezuela e na Nicarágua na mesma época.

Por conta da acusação feita pelo MP, os tribunais de justiça expediram uma ordem de

captura do presidente envolvendo também a Interpol. Com o fim do mandato de Zelaya - que

já havia sido sequestrado e destituído à época -, ocorreram novas eleições e em 2010, quando

46 Roberto Micheletti, presidente do parlamento, do mesmo partido que Zelaya, mas de uma ala com a qual se

produziu um conflito durante as eleições primárias de 2008. 47 Tradução da autora. No original: “arbitraria y violatoria de la constitución y la ley de las Fuerzas Armadas”.

Disponível em: <http://revistas.una.ac.cr/index.php/repertorio/article/view/7991/9023> 48 http://www.bbc.com/mundo/america_latina/2009/06/090625_honduras_crisis_sao.shtml 49 http://americo.usal.es/oir/opal/elecciones/Elecc_Honduras_Otero.pdf

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o novo governo já estava empossado, Zelaya foi anistiado das acusações do Ministério

Público concernentes aos crimes políticos e acusado de desvio de verbas. Em 2011,

entretanto, seu julgamento pelos crimes de corrupção foi anulado.

A Suprema Corte, com base nas acusações do Ministério Público, expediu a ordem de

prisão de Zelaya. Esta foi levada a cabo pelas tropas hondurenhas no dia 28 de junho de 2009

e Zelaya retirado do país ainda em seus pijamas. Foram presos também o ministro da

presidência, Enrique Flores, a ministra das relações exteriores, Patricia Rodas, e os

embaixadores da Nicarágua, Venezuela e de Cuba50.

Após o sequestro de Zelaya, o então presidente do congresso, Roberto Micheletti,

recebeu sua “renúncia” e foi empossado em seu lugar. Este obteve apoio dos setores

conservadores. Assim que tomou posse, buscou reafirmar a legalidade do processo

declarando que chegara “à presidência como produto de uma transição legal”51, que “Este é

um ato democrático”52 e que “o exército somente cumpriu com a missão encomendada pela

Corte Suprema de Justiça, pela Procuradoria geral e pelo sentimento do povo hondurenho”53.

Zelaya então afirmou, ainda na Costa Rica, que não havia pedido renúncia, o que fez com que

o Congresso hondurenho o destituísse por unanimidade.

No que diz respeito à resistência, Samantha Maia Araujo (2016) coloca que houveram

manifestações contra e a favor da retirada de Zelaya, com grande repressão policial contra o

primeiro grupo, o que chegou a gerar uma morte no dia em que o presidente tentou retornar

pela primeira vez ao país.

Por fim, após a consolidação do golpe com a realização de novas eleições - o que

impediu que fosse levada a cabo a consulta popular proposta por Zelaya -, o ex presidente foi

anistiado dos crimes políticos dos quais havia sido acusado e teve direitos políticos mantidos.

4.4. Perspectiva regional a partir de Honduras

50 http://www.bbc.com/mundo/america_latina/2009/06/090628_1430_honduras_arresto_med.shtml 51 Tradução da autora. No original: “a presidencia como producto de una transición legal”. Disponível em:

<http://revistas.una.ac.cr/index.php/repertorio/article/view/7991/9023> 52 Tradução da autora. No original: “Este es un acto democratico”. Disponível em:

<http://revistas.una.ac.cr/index.php/repertorio/article/view/7991/9023> 53 Tradução da autora. No original: “El ejército solo ha cumplico con la misión encomendada por la Corte

Suprema de Justicia, la Fiscalía General y el sentimiento del pueblo hondureño”. Disponível em:

<http://revistas.una.ac.cr/index.php/repertorio/article/view/7991/9023>

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Com o golpe em 2009, o país se retira tanto da ALBA quanto da Petrocaribe, voltando

a integrar somente esta última no ano de 201454. Foi calculado que tal ação poderia gerar a

obtenção de 13 milhões de dólares adicionais para os cofres hondurenhos.

Bolívia e Venezuela logo qualificaram o ocorrido como um golpe de Estado, ao passo

que a União Europeia considerou um golpe militar. Zelaya contou também com o apoio da

Nicarágua, onde se refugiou durante a maior parte do tempo, e do Brasil, em cuja embaixada

se refugiou quando retornou a Honduras pela primeira vez após o golpe. Além disso, ocorreu

um intento, encabeçado por Chávez, de restituí-lo ao poder através da UNASUL, que acabou

falhando.

No campo da diplomacia internacional, o que não é dito é tão importante quanto o que

é dito. Segundo Weisbrot (2009)55, em nenhum momento as declarações dos Estados Unidos

pediram a imediata restituição do presidente Zelaya a seu cargo nem tampouco condenaram

ou reconheceram oficialmente o golpe. Condenaram, entretanto, a tentativa do presidente de

retornar a seu próprio país com o argumento de que gerou violência.

Os Estados Unidos chegaram a barrar a tentativa de aprovação de uma resolução no

âmbito da OEA que considerasse ilegítimas as eleições realizadas durante a ditadura que

derrocou Zelaya. Posteriormente, na contracorrente do continente, apoiaram ditas eleições.

Além disso, Weisbrot denuncia também o envolvimento de um lobista ligado a

Hillary no processo que retirou Zelaya do poder. Ele afirma que Lanny Davis, advogado e

lobista em Washington e ex conselheiro legal de Bill Clinton havia sido contratado pela

coalisão de interesses empresariais latinoamericanos para representar os setores golpistas em

Honduras56.

Honduras é o que Pecequilo (2012) classificaria como um país de baixa projeção

global e regional. Como se encontra na região do Caribe, imperativa para a geopolítica dos

Estados Unidos, sua política externa está historicamente subjugada aos interesses

estadunidenses. Mesmo durante o governo de Zelaya, quando Honduras buscou se desatrelar

da relação histórica com os EUA, ainda existia a Venezuela guiando o rumo das relações a

serem estabelecidas.

54 http://www.bbc.com/mundo/america_latina/2009/06/090628_1430_honduras_arresto_med.shtml 55 http://cepr.net/publicaciones/articulos-de-opinion/diez-indicios-que-revelan-la-actitud-de-eeuu-respecto-al-

golpe-de-honduras 56 http://cepr.net/publicaciones/articulos-de-opinion/abogados-armas-dinero

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Tendo em vista a posição geográfica de Honduras57 é de se esperar que as afrontas ao

interesse estratégico estadunidense não fossem toleradas. Ainda mais quando, para Spykman,

os países desta região não possuem capacidade de resposta (p.405). O golpe foi, portanto,

uma contra-ofensiva conservadora econômica e militarmente.

5. Conclusão

A tese central do presente trabalho foi mostrar o Golpe de Estado em Honduras,

pequeno e pobre país da América Central, que se encontra banhado pelo Mar do Caribe

comprova as teses de Spykman. Kaplan (2012), em sua leitura sobre a geopolítica

spykmaniana, refere-se ao Caribe como “quintal hemisférico”58 dos Estados Unidos, o que

denota a tutela do hegemon ao norte e que, portanto, nenhum desafio na região deve ser

tolerado.

Honduras fez parte, até 2009, de uma tendência regional de ascensão das esquerdas

nacionais que mudou os rumos da geopolítica na região da América Latina. De acordo com

Cairo (2008), a situação política apresentou uma possibilidade de autonomia inédita na

história dos países independentes da América Latina, com o descolamento dos projetos

políticos tanto da tutela europeia quanto da tutela estadunidense. Exemplos são a eleição de

Evo Morales59, o projeto bolivariano de Chávez e a política externa de Lula.

A transformação do Brasil em uma das maiores economias mundiais se deve ao

favorecimento das relações de integração sul-sul. Segundo Guaita (2014), mesmo após a

grande crise do subprime de 2008 o Brasil se encontrava em posição econômica protagonista,

regionalmente, o que se deve à cooperação com a Venezuela.

Isso exemplifica que, a nível regional, a Venezuela emerge como Estado pivô com

capacidade de afetar o equilíbrio de poder. Seu projeto de poder perpassa alianças com os

Estados que, de maneira perspicaz, reconhece como países de grande projeção em escala

internacional. Esses Estados possuem também propósitos que conflitam com a estratégia dos

Estados Unidos, dando a essas alianças caráter anti hegemônico. Isso gera possibilidades não

apenas para a Venezuela, como para todo o continente e parece agir em prol de uma

multipolaridade a nível regional e global.

57 No Mediterrâneo Americano, próximo da Nicarágua (alvo do projeto chinês de construção de um canal

interoceânico), com acesso tanto ao Mar do Caribe quanto ao Pacífico. 58 Tradução da autora. No original: “hemispheric backyard”. 59 Primeiro presidente indígena da Bolívia, cuja população é composta de cerca de 60% de indígenas.

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Há, contudo, uma clara resposta que barra esta tendência. Um artigo da revista Time

afirma que as políticas de Obama - eleito sob a impressão de que as políticas para o

Hemisfério Ocidental sofreriam mudanças60 - se parecem as de Bush61 para a América Latina.

Foi durante seu governo que ocorreu também o golpe no Paraguai e o processo de

impeachment duvidosamente conduzido no Brasil. “Para o próprio Zelaya, sua destituição

[...] deu início ao ciclo que continuou com Fernando Lugo no Paraguai (2012) e Dilma

Rousseff no Brasil (2016).”62.

Mahan afirmava que a propulsão do poder estadunidense dependia dos mares, do

Caribe e do Pacífico (KAPLAN, 2012). Portanto, à falta do domínio completo da região do

Caribe, os Estados Unidos, seguindo o que afirmava Mahan, reforçam a Aliança do Pacífico e

propõem a Parceria Trans-Pacífico. Esta última, além de funcionar visando ao controle do

Pacífico e à recuperação da região do Mediterrâneo Americano (CABRAL, 2015), exclui

China, Rússia e Brasil, que compõem o grupo dos BRICS. Essas ações buscam desmobilizar

o caráter multilateral de governança global proposto pelo grupo e denotam a reação

estadunidense à perda de poder relativo.

A Rússia foi alvo das ações estadunidenses pois as “redefinições políticas internas e

externas realizadas pelos governos Putin e Medvedev (1999/2014)” (PECEQUILO, CARMO,

2014) funcionaram de modo a reposicionar este país estrategicamente diante do Ocidente.

Isso permitiu que a Rússia reagisse aos intentos estadunidenses de gerar instabilidades

geopolíticas com o avanço da OTAN para o leste através de sua aliança com a Venezuela,

conforme mencionado anteriormente.

Com relação à China, a política do governo venezuelano diz respeito a questões

econômicas e impulsionou o acesso chinês à região. Isto gera duas possibilidades para a

América Latina, vis-à-vis a força de seu poder econômico e seus propósitos estratégicos

globais: a alternativa à dependência, que faz com que os Estados tenham seu

desenvolvimento limitado à exportação de bens primários e commodities ou a simples

substituição do polo de dependência, que passaria dos Estados Unidos para a China. O que

não se pode questionar é que o crescimento da presença chinesa na região prejudica o

domínio dos Estados Unidos, tendo no Canal da Nicarágua exemplo de desafio estratégico.

60 http://cepr.net/publicaciones/articulos-de-opinion/diez-indicios-que-revelan-la-actitud-de-eeuu-respecto-al-

golpe-de-honduras 61 http://content.time.com/time/world/article/0,8599,1945440,00.html 62 https://br.sputniknews.com/americas/201705228450416-eua-america-latina-invasao/

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Pecequilo (2014) considera que a Venezuela é um polo fraco de ameaça, mesmo

tendo em vista sua posição estratégica e seu bom relacionamento tanto com países andinos -

como Bolívia e Equador - quanto com atores maiores - como Brasil, China e Rússia -, sem

mencionar a aliança com o Irã. Afirma que, além das limitações por questões internas, sua

economia é pouco diversificada e o país ainda é muito dependente dos Estados Unidos em

relação ao petróleo - seu principal produto de exportação - para buscar uma projeção global.

O resultado desta pesquisa insiste, entretanto, em discordar humildemente. A posição

geográfica ocupada pela Venezuela faz com que sua “rebeldia” se constitua como real

problema para as políticas estadunidenses na região. De acordo com seu próprio conceito, a

Venezuela encontraria-se categorizada como um Estado pivô no cenário regional por exercer

influência no equilíbrio de poder regional, o que se comprova, lamentavelmente, através do

Golpe de Estado em Honduras.

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