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POBREZA EM SUA X˝CARA O que há por trás da crise do café

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POBREZAEM SUAXÍCARAO que há por trás da crise do café

Este relatório foi escrito por Charis Gresser e Sophia Tickell. As autorasgostariam de agradecer a todo o pessoal da Oxfam, aos parceiros eespecialistas do setor que ajudaram nessa produção. Particularmente,elas gostariam de reconhecer as contribuições oferecidas pelas seguintespessoas:

Abera Tola, Albert Tucker, Alex Renton, Ana Eugenia Marin, AndrewRay, Antonio Castro, Bert Beekman, Celine Charveriat, Chad Dobson,Christopher Gilbert, Colin Roche, Constantino Casasbuenas, Dang KimSon, Dereje Wordofa, Diana Gibson, Duncan Green, GenevièveDeboeck, Geoff Sayer, Gezahegn Kebede, Hoang Xuan Thanh, IanBreminer, Izzy Birch, Jeff Atkinson, John Burstein, John Crabtree, JohnSchluter, Jon Jacoby, Jörn Kalinski, José Geronimo Brumatti, Karen StJean-Kufuor, Khamlouang Keoka, Liam Brody, Luuk Zonneveld, MaritaHutjes, Martin Khor, Max Lawson, Michael Oyat, Mick Wheeler, MonicaNaggaga, Pablo Dubois e Néstor Osorio e os colegas da OrganizaçãoInternacional do Café, Patrick Knight, Pauline Tiffen, Peter Baker, PhilBloomer, Rainer Quitzow, Robert Simmons, Ruth Mayne, Siddo Deva,Simon Ticehurst, Steve Thorne, Tatiana Lara, Than Thi Thien Huong,Tran My Hanh, Wendel Trio,Xavier Declercq,

O texto foi editado por Kate Raworth e David Wilson e o projeto gráfico éde Barney Haward.

A produção deste relatório para o português foi coordenada peloescritório da Oxfam no Brasil. A tradução foi realizada por MasterLanguage, a revisão por Tereza Moreira e a edição por Luiz Daré.

Algumas das pesquisas contidas neste relatório foram produzidas com aassistência financeira da Comissão da Comunidade Européia. Asopiniões expressadas no relatório são dos autores e, como tal, nãorepresentam o ponto de vista oficial da Comissão.

© Oxfam International [email protected]

No Brasil, para maiores informações sobre a campanha entre em contatocom o escritório da Oxfam em Brasília:SCS Q.08 – Bloco B 50 – Salas 403/405 – Edifício Venâncio 200070333-970 – Brasília – DFFone/Fax: (61) 225-2979E-mail: [email protected] ou [email protected]

Agradecimentos

1

Agradecimentos

Resumo

1. A crise do café 4

Crise? Que Crise ? 6

Da prosperidade à bancarrota… 6

A devastação de comunidades e países produtoresde café 9

Famílias que passam fome

Crianças forçadas a abandonar a escola

Assistência médica prejudicada

Trabalhadores sazonais empobrecidos

A crescente atração pelo cultivo de drogas

Crises financeiras para economias nacionais

2. As raízes da crise 14

Reestruturação do mercado: de administradoa superabastecido 16

O colapso do mercado administrado

Os gigantes: Brasil e Vietnã

Demanda vagarosa

Desequilíbrios de poder no mercado: 20produtores sem dinheiro, torrefadoras com grandes lucros

Para onde estão indo todos os lucros?Rastreando a cadeia de valor...

O poder das torrefadoras: lucros estratosféricosem meio à crise

• O poder das marcas

• Controle de custos

• Combinações de diferentes tipos de café: misturas flexíveis

• Mercados de futuro: financiamentos flexíveis

Novas tecnologias e técnicas: qualidade afetada 28

Novas tecnologias adotadas pelas torrefadoras:extraindo, até a última gota, tudo que o grão docafé pode oferecer

Abundância de robusta, escassez de arábica…

Técnicas agrícolas intensivas reduzem aqualidade e degradam o solo

Sem alternativas: commodities em baixa e fracasso do 31desenvolvimento rural

Falta de opções para substituir o cafépor outras culturas comerciais

A dependência de commodities com preçosem baixa…

Muito pouco valor é captado

Metas de desenvolvimento rural não alcançadas

Regulação inadequada

Organizações de produtores e trabalhadoressob ataque

Escassez de informações

Treinamento e apoio insuficientes

Empréstimos pendentes, novos créditosindisponíveis

Infra-estrutura rural inadequada

Ajuda cada vez menos disponível e adoçãode duplos padrões: produtores traídos pelosdoadores

3. O mercado dos cafés especiais – uma alternativa 38interessante? Não para todos...

O Comércio Justo: um raio de esperança 40

As marcas de cafés especiais estão captando um alto valor 42

Correndo para a mesma saída? 42

Não há justificativa para a inércia 43

4. Saindo da crise: uma estratégia de ação 44

Restauração do equilíbrio entre oferta e demanda 46

Restauração da qualidade e aumento da produtividade 46

Preços mais altos, revitalização de meios de vida 47

Manutenção e desenvolvimento da capacidadede agregar valor 48

Estabelecimento de alternativas efetivas para o 48desenvolvimento rural

Conclusão 48

Recomendações: Um Plano de Resgate para o Café 49

Notas 52

Pesquisas 53

O trabalho da Oxfam com produtores de café 54

Informações para contatos com a Oxfam Internacional

Índice

2

Uma crise está destruindo os meios de vida de 25 milhões de produto-

res de café em todo o mundo. O preço do café sofreu queda de quase

50% nesses três anos, atingindo o nível mais baixo dos últimos 30 anos.

As perspectivas de longo prazo parecem sombrias. Os cafeicultores dos

países em desenvolvimento, em sua maioria pequenos proprietários

pobres, estão sendo forçados a vender o café em grãos a preços muito

inferiores aos custos que tiveram para produzi-lo. Na província de

Daklak, no Vietnã, por exemplo, os preços cobrem apenas 60% dos

custos de produção. Os produtores amargam grandes prejuízos enquan-

to os preços dos cafés de marca garantem enormes lucros. A crise do

café tornou-se um desastre para o desenvolvimento e seus impactos

serão sentidos por muito tempo.

As famílias que dependem da renda gerada pelo café são forçadas a

tirar seus filhos, principalmente suas filhas, da escola. Elas não têm

mais recursos para comprar medicamentos básicos e estão reduzindo

o consumo de alimentos. Além das famílias cafeicultoras, as empresas

que compram o produto para revendê-lo às torrefadoras também estão

falindo. Economias nacionais estão sofrendo e alguns bancos estão em

situação crítica. Os fundos governamentais esgotam-se, pressionam os

setores de saúde e educação e forçam os governos a ficar mais

endividados.

A escala da solução deve ser proporcional à escala da crise. Um Plano

de Resgate para o Café, que reúna todos os atores envolvidos no comér-

cio do produto, faz-se necessário para que esse mercado beneficie a

pobres e ricos. O plano envolve mais do que o café. Trata-se de um

elemento-chave no desafio global de tornar o comércio mais justo.

O mercado do café vai mal. Vai mal para os produtores que o cultivam

em pequenas propriedades rurais familiares e costumavam ter uma

boa renda com o produto. Vai mal para exportadores e empresários

locais, que estão falindo por causa da violenta concorrência internacio-

nal. E vai mal para governos que estimularam a produção de café, vi-

sando aumentar suas receitas de exportação.

Há uma década, as exportações dos países produtores captavam um

terço do valor de mercado do café. Atualmente, conseguem menos de

10% desse valor. Nos últimos cinco anos, as divisas com exportações

de café caíram em US$ 4 bilhões. Para se ter uma idéia do que esse

número significa, Honduras, Vietnã e Etiópia pagaram, em 1999 e

2000, US$ 4,7 bilhões com o serviço de suas dívidas.

O mercado também ficará ruim para as grandes empresas de

processamento de café, que atualmente sabem tão bem transformar

grãos verdes em notas verdes. As quatro grandes torrefadoras (Kraft,

Nestlé, Procter & Gamble e Sara Lee) têm, cada uma, marcas de café

que vendem mais de US$ 1bilhão por ano. Junto com a gigante alemã

Tchibo, elas compram quase metade dos grãos de café do mundo. As

margens de lucro são altas – a Nestlé teve lucro estimado em 26% com

suas vendas de café instantâneo. Os lucros da Sara Lee chegam a cerca

de 17% – que é um percentual muito alto se comparado com outras

marcas de produtos alimentícios e de bebidas. Se todos os envolvidos

na cadeia de abastecimento estivessem se beneficiando, isso não im-

portaria. Na situação atual, no entanto, com os produtores só conse-

guindo vender o seu café a um preço abaixo dos custos de produção, os

negócios de vento em popa das empresas estão sendo pagos por algu-

mas das pessoas mais pobres do mundo.

Pagar preços muito baixos – menosprezando as conseqüências para os

produtores – é uma estratégia comercial perigosa no longo prazo. Mes-

mo no curto prazo representa um risco para os interesses comerciais

dos produtores de café instantâneo, considerando que essas empresas

dependem da reputação que desfrutam junto aos consumidores. O cres-

cimento das vendas no âmbito do movimento do Comércio Justo nos

últimos anos mostra que estes se preocupam com a miséria de quem

produz os bens que consomem.

A indústria do café atravessa um momento de reformulação radical

que, para muitos, é extremamente dolorosa. De um mercado adminis-

trado, no qual os governos desempenhavam papel ativo em âmbito

nacional e internacional, o café adentrou o sistema de livre mercado, do

qual qualquer pessoa pode participar e o próprio mercado define o preço

do produto. Recentemente, essa mudança garantiu valores muito baixos

para as matérias-primas compradas pelas grandes empresas de café.

Ao mesmo tempo, o Vietnã entrou no mercado com toda a força e o

Brasil aumentou a sua já substancial produção. Conseqüentemente,

mais café está sendo produzido e mais café de qualidade inferior

comercializado, gerando uma queda de preços catastrófica para os ca-

feicultores. Atualmente se produz 8% a mais de café do que se conso-

me. Enquanto isso, as empresas não têm feito, com a devida agilidade,

uma coisa que uma delas identificou como sua principal responsabili-

dade na atual crise: gerar demanda para o produto. A atual taxa de

crescimento da demanda, de 1% a 1,5% ao ano, é facilmente superada

por um aumento superior a 2% na oferta.

A despeito de um consumo estagnado, as empresas de café estão com

suas contas bancárias abarrotadas. Num ambiente de livre mercado,

sua penetração global lhes garante opções sem precedentes. As mistu-

ras padronizadas que comercializam atualmente incluem até 20 dife-

rentes tipos de café. Sofisticadas técnicas de gestão de riscos e hedging

permitem que as empresas, a um simples clique do mouse do compu-

tador, comprem cafés de baixo custo para produzir essas misturas.

Na outra extremidade da cadeia produtiva não se desfruta da mesma

liberdade. Sem estradas ou meios de transporte para os mercados lo-

cais e sem apoio técnico, linhas de crédito ou informações sobre pre-

ços, a maioria dos cafeicultores está à mercê de comerciantes itinerantes

que oferecem preços em regime de ‘pegar ou largar’. Eles também não

dispõem de meios que lhes permitam abandonar a cultura do café e

cultivar outros produtos, que seria uma decisão óbvia frente à crise.

Resumo

3

Essa mudança exige recursos que eles não possuem e opções de cultivo

capazes de oferecer melhores perspectivas. Para um produtor, abrir mão

dos quatro anos gastos esperando que os pés de café comecem a dar

frutos é uma estratégia altamente arriscada.

O fracasso do mercado deve-se também, em parte, às desastrosas polí-

ticas adotadas por instituições internacionais. O Banco Mundial e o

FMI estimularam os países pobres a liberalizar o comércio e a optar pelo

crescimento baseado nas exportações em suas áreas de “vantagem com-

parativa”. O problema para muitos países pobres é que, na prática, essa

vantagem pode ser muito pequena – como evidenciado pela avalanche

de café e de outros produtos primários agrícolas nos mercados globais.

Esses países não têm outra opção senão vender matérias-primas que não

conseguem de modo algum assegurar o valor agregado a elas quando os

produtos finais chegam às prateleiras dos supermercados.

Mesmo no livre mercado do café, essas instituições podem ser

responsabilizadas por negligência no cumprimento do dever. Elas ori-

entam, como deveriam, os países em desenvolvimento sobre as ten-

dências globais dos produtos primários e seus prováveis impactos nos

preços? Que medidas urgentes os governos credores estão tomando para

garantir que os esforços empreendidos no sentido de se criar uma dívida

mais administrável para os países mais pobres não sejam minados por

choques provocados por baixas nos preços de produtos primários?

Até agora, os países consumidores ricos e as grandes empresas sediadas

neles têm sido indesculpavelmente complacentes com a crise. Diante

de uma situação de miséria humana, têm falado muito, mas agido pou-

co. As soluções baseadas no mercado – o movimento do Comércio

Justo e o desenvolvimento de cafés especiais – são importantes, mas

somente para alguns produtores. Essas medidas podem ajudar a pro-

mover a redução da pobreza e a proteção do meio ambiente. No entan-

to, faz-se necessária uma solução sistêmica e não isolada, como é a

criação de um nicho especial de mercado.

O desafio consiste em fazer com que o mercado do café opere a favor

de pobres e ricos. Deve-se compreender o fracasso de tentativas ante-

riores de intervir no mercado e aprender as lições. Mas há também

lições que precisam ser aprendidas com base na situação atual. O baixo

preço do café cria um mercado de compradores que força algumas das

pessoas mais pobres e sem poder de barganha do mundo a negociar

num mercado aberto com algumas das pessoas mais ricas e poderosas.

O resultado inevitável é que os ricos ficam mais ricos e os pobres mais

pobres. Para reverter esse quadro, faz-se necessária a participação de

todos os atores envolvidos no comércio do café.

O ano que vem será crítico. Os governos dos países produtores fizeram

um acordo para reduzir a oferta, melhorando a qualidade do café

comercializado. Esse plano só vai funcionar se for apoiado pelas em-

presas e pelos países ricos e se for complementado por medidas contra

o subdesenvolvimento rural de longo prazo.

A Oxfam está propondo um Plano de Resgate para o Café que façaA Oxfam está propondo um Plano de Resgate para o Café que façaA Oxfam está propondo um Plano de Resgate para o Café que façaA Oxfam está propondo um Plano de Resgate para o Café que façaA Oxfam está propondo um Plano de Resgate para o Café que faça

com que o mercado para esse produto opere a favor de pobres comocom que o mercado para esse produto opere a favor de pobres comocom que o mercado para esse produto opere a favor de pobres comocom que o mercado para esse produto opere a favor de pobres comocom que o mercado para esse produto opere a favor de pobres como

vem operando a favor de ricos. O plano precisa reunir os principaisvem operando a favor de ricos. O plano precisa reunir os principaisvem operando a favor de ricos. O plano precisa reunir os principaisvem operando a favor de ricos. O plano precisa reunir os principaisvem operando a favor de ricos. O plano precisa reunir os principais

atores envolvidos na produção e no comércio do café para que aatores envolvidos na produção e no comércio do café para que aatores envolvidos na produção e no comércio do café para que aatores envolvidos na produção e no comércio do café para que aatores envolvidos na produção e no comércio do café para que a

crise seja superada e se crie um mercado mais estável.crise seja superada e se crie um mercado mais estável.crise seja superada e se crie um mercado mais estável.crise seja superada e se crie um mercado mais estável.crise seja superada e se crie um mercado mais estável.

Em um ano, o Plano de Resgate, a ser implementado sob os auspí-Em um ano, o Plano de Resgate, a ser implementado sob os auspí-Em um ano, o Plano de Resgate, a ser implementado sob os auspí-Em um ano, o Plano de Resgate, a ser implementado sob os auspí-Em um ano, o Plano de Resgate, a ser implementado sob os auspí-

cios da Organização Internacional do Café (OIC), deve resultar nocios da Organização Internacional do Café (OIC), deve resultar nocios da Organização Internacional do Café (OIC), deve resultar nocios da Organização Internacional do Café (OIC), deve resultar nocios da Organização Internacional do Café (OIC), deve resultar no

seguinte:seguinte:seguinte:seguinte:seguinte:

1. Empresas torrefadoras pagando um preço decente aos produtores

(acima de seus custos de produção) de modo que estes possam edu-

car seus filhos e comprar medicamentos e alimentos em quantidade

suficiente.

2. Preços mais altos pagos aos produtores, reduzindo-se a oferta e os

estoques de café disponíveis no mercado por meio de:

• empresas torrefadoras só comercializando cafés que satisfaçam os

padrões básicos de qualidade propostos pela OIC;

• destruição de pelo menos cinco milhões de sacas de café como

medida imediata, a ser financiada por governos de países ricos e

empresas torrefadoras.

3. Criação de um fundo para ajudar produtores pobres a buscarem ou-

tros meios de vida, tornando-se menos dependentes do café.

4. Torrefadoras assumindo o compromisso de aumentar a quantidade

de café que elas compram no âmbito do movimento do Comércio

Justo para 2% de seus volumes.

O Plano de Resgate deve ser o piloto de uma Iniciativa de GO Plano de Resgate deve ser o piloto de uma Iniciativa de GO Plano de Resgate deve ser o piloto de uma Iniciativa de GO Plano de Resgate deve ser o piloto de uma Iniciativa de GO Plano de Resgate deve ser o piloto de uma Iniciativa de Gestãoestãoestãoestãoestão

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preços e proporcionar outros meios de vida para os produtores. Ospreços e proporcionar outros meios de vida para os produtores. Ospreços e proporcionar outros meios de vida para os produtores. Ospreços e proporcionar outros meios de vida para os produtores. Ospreços e proporcionar outros meios de vida para os produtores. Os

resultados desse plano seriam os seguintes, entre outros:resultados desse plano seriam os seguintes, entre outros:resultados desse plano seriam os seguintes, entre outros:resultados desse plano seriam os seguintes, entre outros:resultados desse plano seriam os seguintes, entre outros:

1. Estabelecimento de mecanismos, por parte dos governos dos países

produtores e consumidores, para corrigir o desequilíbrio entre a oferta

e a demanda, visando garantir preços razoáveis para os produtores.

Estes devem estar adequadamente representados nesses esquemas.

2. Cooperação entre governos de países produtores para impedir que

os mercados aceitem um volume de commodities maior do que pode

ser vendido.

3. Apoio aos países produtores para que estes extraiam uma parcela

maior do valor de suas commodities.

4. Incentivos financiados para reduzir a enorme dependência que os

produtores têm das commodities agrícolas.

5. Empresas pagando um preço decente por todas as commodities, in-

cluindo o café.

4

1A crise do café

Annie Bungeroth/OXFAM

4

5

Peris Mwihaki poda seus pés de café após a colheita na ProvínciaCentral do Quênia. Nos últimos anos, ela só tem conseguido venderseus frutos de café ao equivalente a não mais de 2% a 3% do preçofinal de venda do café queniano AA nos supermercados dos paísesdo Norte. “Os pagamentos simplesmente não chegam até a genteque vive aqui nas colinas”, explicou Peris. “O trabalho de cuidar docafezal continua duro como sempre, mas atualmente não estamostendo nenhum retorno”.

6

Uma crise está afetando 25 milhões de produtores de caféem todo o mundo. O produto atingiu o preço mais baixodos últimos 30 anos e as perspectivas de longo prazo pa-recem sombrias. Os produtores de café dos países em de-senvolvimento, em sua maioria pequenos proprietáriospobres, vendem seus grãos por preços muito mais baixosque os custos de produção. A crise está se tornando de-sastrosa para o desenvolvimento de muitos países e seuimpacto será sentido por muito tempo.

Famílias que dependem da renda gerada pelo café estãotirando seus filhos, principalmente suas filhas, da escola,não têm mais recursos para comprar medicamentos bási-cos e reduziram o consumo de alimentos. Além dessasfamílias, muitas economias nacionais também estão sofren-do os efeitos da crise. Comerciantes de café estão falindo,alguns bancos enfrentam problemas e governos que de-pendem de receitas de exportação geradas pelo produto sãoobrigados a cortar ainda mais seus orçamentos para educa-ção e saúde e têm poucos recursos para saldar suas dívidas.

Se a globalização deve operar a favor dos pobres e se ocomércio deve favorecer os pobres, o mercado do café nãopode desconsiderá-los como está fazendo atualmente. Ascoisas não precisam ser assim.

Crise? Que crise?Qualquer pessoa que der uma olhada em shoppings dospaíses desenvolvidos não terá dúvida de que a indústriado café continua em plena expansão. Os bares para de-gustação de cafés, onde se desfruta o clima jovial de ca-maradagem do seriado americano Friends, multiplicam-se em lugares nobres. Atualmente, livrarias e lojas de de-partamentos abrigam locais que exalam o aroma do caféfresco e o burburinho de clientes cansados de fazer com-pras. Pequenos cafés em estações de trem oferecem umarápida dose de cafeína a passageiros que já conhecem bemo café expresso, o café latte e o cappuccino.

Nas salas de reuniões das diretorias das quatro maioresempresas de café do mundo, conhecidas comotorrefadoras (Kraft Foods, Nestlé, Procter & Gamble e Sara

1. A crise do café

Lee), o clima é de total satisfação com os negócios. Juntas,essas quatro empresas controlam as marcas de café maisconhecidas do mundo: Maxwell House, Nescafé, Folgerse Douwe Egberts. A Kraft – que é subsidiária da PhilipMorris, empresa fabricante de cigarros – teve lucros demais de US$ 1bilhão com suas vendas de bebidas, alimen-tos a base de cereais e sobremesas em 2001. O café solú-vel fabricado pela Nestlé, do qual se consomem 3.900 xí-caras a cada segundo, produz lucros tão robustos que umanalista de investimentos o descreveu como o equivalen-te comercial do paraíso.1

A indústria é tão lucrativa que muitos se chocam ao saberque a produção desse grão, que para alguns tem o mesmovalor do ouro, deixa milhões de produtores na mais absolu-ta pobreza. Um cafeicultor de Uganda resumiu o desespe-ro de muitos dos produtores entrevistados pela Oxfam:

“Gostaria que vocês dissessem às pessoas de seu país queo café que elas tomam tornou-se causa de todos os nossosproblemas. Nós cultivamos esse produto com muito suore o vendemos por preços irrisórios.”

- LAWRENCE SEGUYA, DISTRITO DE MPIGI, UGANDA.

FEVEREIRO DE 2002 2

O desafio com que se defronta o mercado mundial do caféilustra nitidamente os problemas enfrentados por outrascommodities (produtos primários) das quais os países emdesenvolvimento são muito dependentes. Encontrar umasolução para essa crise é um teste que indicará se a globa-lização – e o mercado que ela cria – pode efetivamente seradministrada no sentido de operar a favor dos pobres.

Da prosperidade à bancarrota…Para produtores de todos os países em desenvolvimento,o café representava a esperança de um futuro melhor.

O café é uma das poucas commodities comercializadasinternacionalmente ainda produzida, em sua maior par-te, não em grandes plantações, mas em pequenos cafe-zais cultivados por famílias de agricultores. Setenta porcento do café produzido no mundo são cultivados em pro-

7

priedades rurais com menos de 10 hectares, principalmen-te em chácaras com áreas que variam de um a cinco hec-tares. Mesmo em países que têm grandes cafezais, comoBrasil, Índia e Quênia, também existem muitos produto-res de pequeno porte.

Os pequenos produtores costumavam colher benefíciosde seus cafezais. Eles conseguiam alimentar adequada-mente suas famílias, educar seus filhos e ter uma mora-dia decente. Na região do Kilimanjaro, na Tanzânia, porexemplo, a renda proporcionada pelo café garantia taxaselevadas de alfabetização e níveis nutricionais acima damédia.3 Na Colômbia, a receita do café financiava escolas,infra-estrutura e cursos de treinamento para produtoresrurais. As regiões produtoras eram menos propensas àviolência política que afeta outras áreas daquele país – fa-tor atribuído, em parte, à relativa prosperidade dos cafei-cultores.

O café é cultivado na ampla faixa tropical e subtropicalsituada em torno do Equador, incluindo alguns dos paí-ses que enfrentam os mais severos desafios do mundoem termos de desenvolvimento (veja a figura 1). Existemduas variedades principais de café: a robusta e a arábica.A variedade robusta, como seu nome indica, vem de umaplanta mais resistente, amplamente usada na confecçãode cafés solúveis e na preparação dos tipos mais fortes dabebida. A variedade arábica, de melhor qualidade, comseu sabor mais suave, é tipicamente cultivada à mão emregiões de maior altitude. Tem cultivo mais difícil e pos-sui suscetibilidade a doenças, mas alcança maior preço. Porseu sabor requintado, é vendida nos mercados dos cafésespeciais e também usada em misturas de cafés solúveis.

Figura 1: Produção mundial de café, 2001

Produtores de Cafépor volume anual

menos de 1 milhão de sacas

mais de 5 milhões de sacas

1-5 milhões de sacas

8

As economias de alguns dos países mais pobres do mun-do são muito dependentes do comércio do café. Essa de-pendência se acentua particularmente em alguns paísesafricanos. Em Uganda, os meios de vida de cerca de umquarto da população dependem de alguma maneira dasvendas do café. Na Etiópia, o produto responde por maisde 50% das receitas de exportação; em Burundi, essepercentual atinge quase 80% (veja a figura 2). NaGuatemala, a sobrevivência de mais de 7% da populaçãodepende do café; na vizinha Honduras, esse percentualchega a quase 10%.4 Na Nicarágua, o segundo país maispobre da América Central, o café responde por 7% da ren-da nacional.5

Mesmo onde as economias nacionais não dependem docafé, há regiões e comunidades cuja sobrevivência estádiretamente ligada a esse produto. No México, o café ain-da é muito importante, em especial para os 280 mil pro-dutores indígenas que vivem nos estados de Oaxaca,Chiapas, Veracruz e Puebla, considerados os mais pobresdo país. No Brasil, embora o café responda por menos de5% de todas as divisas geradas, garante o meio de vida de230 a 300 mil pequenos produtores e emprega diretamen-te no setor um contingente adicional de três milhões detrabalhadores rurais.6 Na Índia, a indústria do café dáemprego a três milhões de trabalhadores.7

Figura 2: Alta dependência do café como fonte de rendaExportações de café como % do total das exportações (2000)

Fonte: Banco Mun

Burundi: 1999 f

Eti pia 54%

Ruanda 31%Fonte: Banco Mundial

Burundi: 1999 figures

Burundi 79%

Etiópia 54%

Uganda 43%

Ruanda 31%

Honduras 24%

9

A devastação de comunidades e paísesprodutores de caféOs preços pagos aos produtores – tanto da variedade ro-busta como da arábica – caíram para níveis extremamen-te baixos. A queda começou abruptamente em 1997, comos preços chegando ao nível mais baixo em 30 anos nofinal de 2001, fenômeno que se mantinha em junho de2002. Levando em conta a inflação, o preço ‘real’ dos grãosdo café caiu muito mais: atualmente, encontra-se no pa-tamar de 25% de seu nível em 1960. Isto significa que arenda alcançada pelos cafeicultores só compra um quartodo que eles conseguiam comprar 40 anos atrás (veja a

figura 3). Esse é provavelmente o preço real mais baixoque os produtores recebem pelo café nos últimos 100 anos.

A empresa de consultoria Landell Mill Consultants esti-mou, no fim de 2001, que o preço do café não cobria oscustos totais dos produtores das variedades robusta e ará-bica. No caso da robusta, o preço não pagava sequer oscustos variáveis. No Vietnã, por exemplo, que é um dospaíses com custo de produção mais baixo do mundo, umapesquisa realizada pela Oxfam na província de Daklaksugere que, no início de 2002, o valor recebido pelos ca-feicultores representava cerca de 60% dos seus custos deprodução.8

Figura 3: A dramática queda dos preços do café

Preços reais: Robusta, centavos de US$/libra

Preços reais: Arábica, centavos de US$/libra

Arábica e robusta, centavos de US$/libra

Fonte: Banco Mundial. Preço em dólares constantes de 1990.O Índice G-5 MUV de Preços Deflacionados para 2002 refere-se ao período de janeiro a maio.

10

Os tempos estão muito ruins para os produtores, já que opreço do café não permite que estes satisfaçam as neces-sidades mais básicas de suas famílias. A maioria tem usa-do a receita da venda do café para comprar itens essenci-ais e não consegue fazer qualquer poupança para superartempos difíceis. Alguns são forçados a vender suas terras;outros estão abandonando suas casas e famílias em bus-ca de trabalho em outros lugares, provocando um efeitodominó nas comunidades em que vivem.

“Em algumas comunidades, vemos que a migração parao México é muito grande. Numa comunidade, há cerca detrês ou quatro meses, chegaram uns oito caminhões e le-varam embora todas as pessoas que podiam trabalhar nasfazendas mexicanas… Elas ficaram lá por períodos quevariaram de quatro a seis meses. Isso significa uma gran-de ruptura social da família”, diz Jeronimo Bollen, mem-bro da cooperativa Manos Campesinos, da Guatemala.9

No México ou em Honduras, produtores desesperadossonham com a possibilidade de fugir para os EstadosUnidos. No ano passado, seis produtores de café deVeracruz foram encontrados mortos no deserto doArizona, após tentarem a sorte cruzando a fronteira.10

Segundo Cesar Villanueva, da ONG Rainforest, “a crisedos preços afeta diretamente as mulheres. O chefe de fa-mília com freqüência vai trabalhar em outros lugares, pelomenos durante parte do ano, deixando sua mulher e fi-lhos para cuidar da terra. Nesse processo, as crianças ge-ralmente abandonam os estudos”. A carga de trabalho paraas mulheres também aumentou nas famílias que costu-mavam contratar mão-de-obra temporária para ajudar nacolheita do café. Agora que elas não têm mais condiçõeseconômicas de contratar ninguém, freqüentemente assu-mem o trabalho adicional.

Mohammed Ali Indris, cafeicultor etíope da província deKaffa entrevistado pela Oxfam em março de 2002, deuuma imagem gráfica de como a queda no preço do caféhavia afetado sua família. Ele tem 36 anos e sua famíliade 12 membros inclui os filhos de seu falecido irmão. Deacordo com suas estimativas, há cerca de cinco anos ele ti-nha uma renda de US$ 320 por ano com suas vendas com-binadas de café e milho. Neste ano, ele espera conseguir algoem torno de US$ 60 com as vendas do café. O milho queele teria vendido já foi consumido por sua família.

“Cinco a sete anos atrás, eu produzia sete sacas de café dotipo cereja vermelha (café sem processar) e ganhava osuficiente para comprar roupas, medicamentos, serviçose resolver muitos problemas. Agora, mesmo que eu ven-da quatro vezes mais, seria impossível cobrir todas as des-pesas. Fui forçado a vender meus bois para quitar umempréstimo que fiz para comprar fertilizantes e semen-tes melhoradas de milho, caso contrário estaria na prisão.

“As despesas médicas são altas, já que a nossa área é mui-to afetada pela malária. Pelo menos um membro de mi-nha família precisa ir ao hospital todos os anos para setratar. Cada tratamento custa US$ 6. Precisamos tambémcomprar teff (alimento típico muito consumido na região),sal, açúcar, sabão e querosene para nossa iluminação, entreoutras coisas. Precisamos pagar pela educação de nossosfilhos. Antes, conseguíamos cobrir essas despesas, masagora não… Três de nossos filhos não podem ir à escola,porque não tenho condições de comprar seus uniformes.Paramos de comprar teff e óleo comestível. Estamos co-mendo basicamente milho. A pele das crianças está fi-cando seca e elas apresentam sinais de desnutrição.”11

Famílias que passam fomeSegundo o Programa Mundial de Alimentos, em março2002 a crise do café, associada aos efeitos de uma secaacentuada, deixou 30 mil de hondurenhos com fome ecentenas de crianças tão desnutridas que foi necessáriohospitalizá-las.12 “A fome tornou-se lugar-comum em al-gumas regiões da América Central, particularmente nonordeste da Guatemala, onde a seca afetou seriamente aprodução de cereais básicos e o Programa Mundial deAlimentos foi forçado a desenvolver uma série de progra-mas emergenciais”, relata a Oxford Analytica. 13

Em janeiro de 2002, a União Européia (UE) e a The UnitedStates Agency for International Development (USAID)lançaram um alerta sobre o aumento da pobreza e levan-taram questões relacionadas à segurança alimentar queafetam produtores de café na Etiópia, informando que elesestavam vendendo seus ativos e reduzindo o consumo dealimentos. Produtores entrevistados pela Oxfam no Peruafirmaram que estavam sendo forçados a diminuir drasti-camente seu consumo de alimentos. Na província deDaklak, no Vietnã, toda a renda dos produtores mais pre-

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judicados dependia do café e, por esta razão, estes foramenquadrados na categoria de pré-inanição.

A fome é particularmente aguda entre famílias que opta-ram por dedicar uma parcela maior de sua terra para ocultivo do café em detrimento de outras lavouras de sub-sistência. A decisão sobre este equilíbrio pode estar nabase dos conflitos entre mulheres responsáveis por ali-mentar suas famílias e homens ansiosos por conseguiruma renda maior.

Crianças forçadas a abandonar a escolaEm muitas entrevistas realizadas pela Oxfam no Vietnã,na região leste da África e no Peru, os produtores citaramo preço do café como um problema que os impede degarantir uma boa educação para seus descendentes. EmUganda, onde uma grande parcela da população depen-de, em parte, do café, a crise está afetando a capacidadedas famílias de prover escolas para os filhos.

Bruno Kalufi (17 anos) e seu irmão Michael (15 anos),moradores do distrito de Mpegi, Uganda, precisaram aban-donar os estudos porque não têm condições de pagar asmensalidades escolares. “Não vou conseguir vencer na vidase não freqüentar a escola”, afirma Bruno. “Só me restaráficar por aqui, plantando alguma coisa para comer. Mi-nha escola de Segundo Grau já me mandou de volta paracasa diversas vezes… ela faz isso quando você não paga asmensalidades… Estamos na principal estação do café. To-dos costumavam voltar para a escola após pagar as men-salidades com o dinheiro do café, mas agora ele não ren-de nada. O preço é tão baixo que as pessoas nem estãocolhendo… gostaria que as pessoas que estão usando onosso café nos proporcionassem um mercado melhor.Tudo que eu quero é ir para a escola”.

Patrick Kayanja, diretor da escola de Bruno, explica: “Onúmero de alunos está muito baixo. Tentamos reduzir asmensalidades, mas ainda assim os pais não conseguempagá-las. O dinheiro deles vinha da venda do café, masessa renda sumiu. Entre 1995 e 1997, tínhamos 500 alu-nos. Há três anos, tínhamos 250. No ano passado, come-çamos com 140 e terminamos com 54. Este ano não tere-mos mais que 120 alunos, considerando a situação dosprodutores rurais”.14

Assistência médica prejudicadaA combinação entre queda na receita do café e demandascrescentes na área de saúde está produzindo impactosdevastadores no setor da assistência médica. Na Etiópia,onde o café é o principal produto de exportação, 700 milfamílias dependem dele para sobreviver e milhões de ou-tras para complementar sua renda, 15 a queda nas receitasde exportação geradas pelo café constitui um sério desa-fio para o país em termos de sua capacidade de lidar coma crise do HIV/AIDS. A Agência das Nações Unidas parao HIV/AIDS estima que mais de três milhões de etíopeadultos (5% da população) estão infectados com o vírus.Segundo as projeções do Ministério da Saúde, só o trata-mento de portadores do HIV e aidéticos responderá pormais de 30% de todas as despesas do setor de saúde em2014.

O ônus da doença tem o potencial de demandar fatias cadavez maiores do orçamento do governo para o setor de saú-de, que em parte precisarão ser financiadas por receitasoriundas da venda de café. Como em outros países emdesenvolvimento nos quais os serviços de assistênciamédica prestados pelo Estado enfrentam grandes limita-ções, indivíduos e suas famílias precisam usar seus pró-prios recursos para ter acesso a serviços de saúde e amedicamentos.

Os custos econômicos do HIV/AIDS são altos: baixa pro-dutividade provocada pela doença e ônus de encontrarrecursos para pagar por serviços de assistência médica emedicamentos e cobrir despesas funerárias. Esses custose despesas já são muito superiores à renda familiar mé-dia dos pobres da Etiópia. Para as famílias que dependemdo retorno cada vez menor dos cafezais, a situação tor-nou-se intolerável. As mulheres são particularmente afeta-das, porque além das responsabilidades adicionais gera-das pelos problemas de saúde na família, elas tendem aabster-se de se tratar quando suas famílias precisam fazeropções em relação a quem receberá o tratamento.

Trabalhadores sazonais empobrecidosOs trabalhadores sazonais (temporários) estão entre osmais pobres e vulneráveis participantes do comércio docafé. Em troca de um baixo salário, eles trabalham empropriedades rurais de pequeno e médio portes (de 10 a50 hectares) e em grandes cafezais (com mais de 50 hec-

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tares) que produzem 30% de todo o café do mundo. Lon-ge de casa, eles não têm condições de suplementar suadieta alimentar com produtos cultivados em suas terras epodem ficar sem trabalho de uma hora para outra.

Embora alguns países produtores mantenham padrõestrabalhistas adequados no setor do café, nem todos fa-zem isso: muitos trabalhadores em cafezais não conse-guem se sindicalizar para negociar melhores salários.Mesmo onde existe uma legislação trabalhista, esta éfreqüentemente ignorada e os direitos dos trabalhadoresdesprezados. As mulheres em geral recebem salários in-feriores pelo mesmo tipo de trabalho (até 30% mais bai-xos em Honduras) e o uso de mão-de-obra infantil é co-mum. No Quênia, por exemplo, 30% dos colhedores decafé têm menos de 15 anos de idade.16

Na América Central, cerca de 400 mil trabalhadores tem-porários e 200 mil empregados permanentes de cafezaisperderam seus empregos recentemente, de acordo com oBanco Mundial.17 Na Guatemala, muitos dos trabalhado-res sazonais são indígenas que abandonam suas casas naépoca da colheita na esperança de ganhar dinheiro sufici-ente para comprar produtos essenciais, como óleo de co-zinha, sal e roupas para o resto do ano. Mesmo antes daqueda dos preços do café, as condições de trabalho e devida desses trabalhadores eram deploráveis. Eles se aco-modam em grandes galpões ou alojamentos coletivos semqualquer privacidade e desprovidos de itens básicos, comoágua limpa, privadas ou fossas adequadas.

A crise levou muitos deles a tomar medidas extremas. Nasregiões de cultivo de café da Guatemala, muitas terras fo-ram invadidas por trabalhadores sazonais desemprega-dos, após pequenos produtores terem despedido até 75%de seus colhedores em janeiro de 2002.18 Em Karnataka,responsável por grande parte do café cultivado na Índia,houve uma redução de 20% no número de trabalhadoresempregados em cafezais nos últimos dois anos.19

A crescente atração pelo cultivo de drogasA crise do café teve também outros impactos inesperadossobre o desenvolvimento. No Peru, na Colômbia e naBolívia, as condições para o cultivo do café são muito se-melhantes às necessárias ao cultivo da coca, matéria-pri-ma da cocaína. Há décadas os países andinos têm sofrido

uma pressão considerável, particularmente da agênciaantidrogas do governo americano (DEA), para atuar na‘guerra contra as drogas’, participando de programas de-senvolvidos com o objetivo de destruir a coca que é usadana produção da cocaína. A queda nos preços do café criousérias ameaças para programas concebidos para substi-tuir a coca por outras lavouras.

“As pessoas estão substituindo o café pela coca. Na áreade Sauce, essa prática é bastante camuflada, uma vez queo CORAH (o órgão responsável pela erradicação das dro-gas) ainda é muito ativo nela. Mas o CORAH não conse-gue acompanhar o ritmo dessa mudança. O café repre-senta uma perda de tempo do ponto de vista estritamenteeconômico… Todos têm alguma coca, embora paguem umpreço por isso. Todos têm consciência desse fato. Ela geraviolência – agressões e saques. Gera também prostituiçãoe guerras entre gangues.”

– ENG. GUILLERMO LOPEZ,20 SAUCE, PERU

Crises financeiras para economias nacionaisOs impactos provocados pela baixa no preço do café afe-tam muito mais que as comunidades agrícolas imediatas:o fenômeno acarretou uma crise de desenvolvimento parapaíses predominantemente pobres que cultivam o produ-to. O desaparecimento do dinheiro oriundo da venda docafé na economia local é um dos principais fatores quelevou muitos bancos ao colapso. Na América Central, afir-mou-se que a crise está tendo o‘impacto de um outro (fu-racão) Mitch’ em termos de perda de renda: os países des-sa região viram suas receitas oriundas da exportação decafé caírem 44% num só ano: de US$ 1,7 bilhão, em 1999/2000, para US$ 938 milhões, em 2000/01. As previsõespara 2001/02 continuam sombrias: mais 25% de queda.21

Na África subsaariana, a mesma história se repete. A re-ceita de exportação de café da Etiópia caiu 42%: de US$257 milhões para US$ 149 milhões em apenas um ano.22

Em Uganda, onde aproximadamente um quarto da popu-lação depende do café de alguma maneira, as exportaçõesdo produto nos oito meses que precederam junho de 2002mantiveram-se nos mesmos volumes registrados no anoanterior, mas as receitas caíram em quase 30%.23

Os países produtores enfrentam um azar duplo: o preçode suas exportações tende a cair ao longo do tempo, mas

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o preço de suas importações, que freqüentemente consis-tem em bens manufaturados, não cai com a mesma rapi-dez, o que afeta profundamente suas condições de comér-cio. A figura 4 mostra que um produtor de café precisariavender mais do que o dobro de grãos de café atualmente,em relação a 1980, para comprar um canivete suíço.

Outro aspecto ainda pior: o custo da dívida é fixado emdólares norte-americanos, enquanto o valor das exporta-ções de café cai constantemente, dificultando cada vezmais o seu pagamento regular. Os países mais pobres be-neficiam-se de ações destinadas a aliviar o peso da dívida(como a iniciativa dos Países Pobres Altamente Endivida-dos - HIPC). Mas a forte queda nas receitas de exportaçãomina qualquer esforço para equilibrar as finanças dospaíses pobres.

As exportações de café da Etiópia caíram de US$ 257 mi-lhões para US$ 149 milhões em um ano.24 Para termosuma melhor perspectiva do que isto significa, a poupançaprojetada pelo país no serviço de sua dívida em 2002 seráde US$ 58 milhões (no âmbito dos HIPC e de outras ini-

ciativas destinadas a aliviar o ônus da dívida dos paísespobres).25 O Ministro da Agricultura da Nicarágua, JoseAugusto Navarro, afirmou que o ônus do pagamento dadívida representa um imenso desafio que se soma à misé-ria provocada em seu país pelo preço do café.26

Tragicamente, longe de criar um setor agrícola saudável ede gerar divisas muito necessárias, o café acabou forçan-do governos a tomarem medidas emergenciais para apoi-ar seus cafeicultores. A Colômbia alocou US$ 72 milhõespara financiar um subsídio interno de preços para os pro-dutores de café.27 Em 2001, a Costa Rica precisou dispo-nibilizar US$ 73 milhões em créditos emergenciais semjuros para produtores rurais.28 Na Tailândia, o governotem planos de comprar mais da metade da safra de 2001/2002 a uma taxa fixa, que embora ainda seja inferior aoscustos de produção, é significativamente mais alta que opreço pago aos produtores.29

Figura 4: Que quantidade de café um produtor precisa vender para poder comprar um canivete suíço?

Fonte: Gerster Consulting

1980

126.8

1.67

1990

88.95

1.39

2000

65.55

1.68

2001

46.2

1.68

*Preço spot básico por libra em dezembro

**Média anual

Preço do café* (centavos de US$)

Taxa de câmbio Dólares Norte-Americanos/Francos Suíços**

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2As raízes da crise

Geoff Sayer

14

15

George Sakwa com frutos de café arábica colhidos em suapequena propriedade familiar, situada no Monte Elgon, emUganda. Em 2001, George e Topista, sua mulher, venderam 1,5acre de sua propriedade porque o retorno da venda de café já nãopermitia que eles pagassem as mensalidades da escola deSegundo Grau de seus filhos.

15

16

O mercado do café enfrenta um colapso nos preços e naqualidade. Para os produtores, a perda de qualidade signi-fica preços mais baixos, até para cafés da variedade arábi-ca, pelos quais eles costumavam receber mais. Isto é ruimpara os produtores, para os consumidores de café e, emúltima análise, para as torrefadoras. Essa situação devas-tadora é provocada por quatro importantes fatores:

a. reestruturação do mercado: de administrado a supera-bastecido

b. desequilíbrios de poder no mercado: produtores semdinheiro, torrefadoras com grandes lucros

c. novas tecnologias e técnicas adotadas pelas torrefadoras:qualidade afetada

d. falta de alternativas: fracasso do desenvolvimento rural.

2. As raízes da crise

Reestruturação do mercado:de administrado a superabastecidoO mercado está superabastecido: o volume de café produ-zido para comercialização é muito superior à demanda. Aprodução de 2001/2 está estimada em 115 milhões de sa-cas30 – de 60kg cada –, contra um consumo de 105 a 106milhões de sacas31 (veja a figura 5). A oferta tem crescido auma taxa maior que 2% ao ano, superando o crescimentoda demanda em 1% a 1,5 %.32 A repetição desse excedenteano após ano levou à acumulação de estoques atualmenteestimados em mais de 40 milhões de sacas33. Mesmo quea oferta se alinhe com a demanda num futuro próximo –e alguns esperam que isso ocorra até 2003/4 – a presençadesses estoques ainda manteria o preço do café num ní-vel baixo.

Figura 5: Produção Mundial de Café 1964-2001 (‘000s sacas)

Fonte: OIC

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Três fatores explicam por que a oferta e a demanda sedesalinharam tanto: o fim do mercado administrado, em1989; a entrada de novos protagonistas no mercado; e obaixo crescimento da demanda nos mercados tradicionaisdo ocidente.

O colapso do mercado administradoNos últimos 15 anos, o mercado mudou radicalmente. Até1989, o café – como a maioria das commodities – tinhasua comercialização regulada pelo Acordo Internacionaldo Café (AIC). Os governos das nações produtoras e con-sumidoras se empenharam em estabelecer acordos sobreníveis predeterminados de oferta, definindo cotas de ex-portação para os países produtores. O objetivo era mantero preço do café relativamente alto e estável, dentro de umafaixa de preço de US$ 1,20/libra a US$ 1,40/libra (1 libra= 453,59 gramas). Para evitar superoferta, os países preci-saram assumir o compromisso de não ultrapassar sua cota‘justa’ de exportações de café. Se, no entanto, os preçossubissem acima de um determinado teto, os produtorespodiam ultrapassar suas cotas para atender ao aumentorepentino da demanda.

A falta de entendimento entre os membros levou ao co-lapso do Acordo em 1989. A oposição dos Estados Uni-dos, que subseqüentemente deixou de ser membro, foi

um fator importante. O acordo ainda sobrevive, adminis-trado pela Organização Internacional do Café (OIC), masperdeu seu poder de regular a oferta por meio de cotas efaixas acordadas de preços. Os preços do café são deter-minados nos dois grandes mercados de futuro de Lon-dres e Nova Iorque, cada um dos quais comercializa va-riedades e categorias específicas de café. O mercado deLondres é a referência para o café da variedade robusta eo de Nova Iorque para o café da variedade arábica. O pre-ço do café é influenciado por um enorme volume de con-tratos de comercialização, que ultrapassa em muito a quan-tidade física de café que muda de mãos.

Na perspectiva dos países produtores, o Acordo trouxe umaera próspera de preços bons e estáveis em comparação àatual situação desastrosa. Como mostra a figura 6, embo-ra os preços tenham flutuado significativamente de 1975a 1989, permaneceram relativamente altos e raramentecaíram abaixo do piso de US$ 1,20/libra previsto no AIC.No entanto, em 1989, quando o Acordo entrou em colap-so e a faixa acordada de preços deixou de ser aplicada, ospreços caíram dramaticamente e – exceto em duas oca-siões em que ocorreram altas acentuadas, em 1995 e 1997,por causa das geadas que prejudicaram as safras brasilei-ras – os preços caíram muito, chegando a ficar abaixo docusto médio de produção.

Figura 6: Mercados mensais de futuro de café de Nova Iorque (mês spot)

Fonte: Volcafe. É importanteobservar que, individualmente,os produtores não extraíramtodo o ‘lucro do produtor’,como indicado aqui, já queeste foi, em grande parte,absorvido por intermediários ecadeias de comercializaçãoineficientes.

Faixa acordadade preços da OIC

Piso da OIC

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Os críticos mencionam alguns fatores que levaram aocolapso do Acordo. Houve muita barganha política parase conquistar cotas maiores e a situação ficou difícil paranovos produtores que tentavam entrar no mercado. Adespeito das cotas acordadas, volumes adicionais vazaramde países que não faziam parte do Acordo, minando oesquema de preços e a confiança de seus integrantes. Al-gumas pessoas do setor acreditam que o esquema de pre-ços levou à superprodução, argumentando que foi artifi-cialmente definido num patamar elevado demais. Outrasargumentam que a superoferta atual deve-se mais às al-tas de preço verificadas em 1994/95 e 1997 do que aospreços elevados que prevaleceram na década de 1980.

As propostas de reativar o Acordo não estão surtindo efei-to por falta de vontade política. As ricas nações consumi-doras não demonstram qualquer disposição de participare as nações produtoras talvez não estejam dispostas ounão tenham condições de observar suas próprias regras.Sem o apoio dos países consumidores, os países produto-res tentaram limitar suas exportações, mas a iniciativa ruiuem 2001. A falta de vontade de reativar a administraçãodos mercados por meio de cotas não significa que outrasabordagens não funcionem, principalmente se foremregidas por mecanismos de mercado. A OIC desenvolveuuma abordagem dessa natureza: um esquema para redu-zir a quantidade do café comercializada com base na suaqualidade. No entanto, essa iniciativa só produzirá resul-tados se for apoiada pelos países ricos e pelas torrefadoras.

Os gigantes: Brasil e VietnãO Brasil e o Vietnã mudaram todo o cenário da ofertamundial do café. Há dez anos, o Vietnã era estatistica-mente insignificante neste mercado, produzindo apenas1,5 milhão de sacas. Sua economia agrícola abriu-se parao mundo na década de 1990, quando o governo do paísdisponibilizou terras irrigadas e concedeu subsídios paraestimular o reassentamento de produtores para que plan-tassem café. Em 2000, o país tornou-se o segundo maiorprodutor do mundo, produzindo 15 milhões de sacas, prin-cipalmente em pequenas propriedades rurais.

O Brasil, por outro lado, não é um país que entrou recen-temente no mercado. Há muito tempo é o maior produ-tor do mundo, mas a sua produção foi impulsionada re-centemente por mudanças em termos de como e onde o

café é cultivado. Uma maior mecanização, a adoção demétodos de produção intensiva e o deslocamento geográ-fico de áreas sujeitas a geadas para locais onde este fenô-meno não ocorre aumentaram a produtividade dos cafe-zais. A expectativa de uma próxima grande safra brasilei-ra contrabalançará a redução das exportações de outrospaíses, mantendo o desequilíbrio na oferta do café.34

Além de uma oferta dramaticamente maior, essa situaçãotraz sérias implicações para países que produzem café tra-dicionalmente: eles terão que enfrentar a concorrência deníveis de produtividade sem precedentes. “Para se ter umaidéia da diferença, em algumas áreas da Guatemala po-dem ser necessárias mais de mil pessoas trabalhando umdia inteiro para encher um container com 275 sacas de69kg cada. No cerrado brasileiro, esse mesmo trabalhopode ser realizado por apenas cinco pessoas e umacolheitadeira mecânica. Uma pessoa dirige e as outrascolhem. Como as famílias de produtores da América Cen-tral poderão concorrer com um esquema desses?” pergun-ta Patrick Installe, Diretor Administrativo da Efico, umaempresa que comercializa café verde.35

Quais foram os gatilhos que levaram a esse grande au-mento na produção mundial de café e à conseqüentesuperoferta do produto? As altas inesperadas ocorridasem 1994/5 e 1997, em decorrência de geadas no Brasil,certamente estimularam muitos países e seus produtoresa entrar no mercado. No entanto, outros fatores observa-dos nos países produtores também contribuíram para ofenômeno. Políticas nacionais, novas tecnologias e movi-mentos monetários também exerceram uma importanteinfluência nesse sentido.

Demanda vagarosaOs Estados Unidos, a Alemanha, a França e o Japão con-somem, entre si, metade das exportações mundiais decafé.36

Enquanto a produção aumentou rapidamente, a deman-da pelo produto nos países desenvolvidos cresceu numritmo mais lento, a despeito do surgimento de novosmercados promissores, como o do Leste Europeu. As gran-des empresas de café gastam milhões de dólares em pro-paganda a cada ano, mas não conseguiram evitar que con-sumidores ricos optassem por outras bebidas. A figura 7mostra como o consumo de café tem crescido pouco em

19

relação ao consumo de refrigerantes nos Estados Unidos,o maior mercado consumidor do mundo. No entanto, essefenômeno não é mundial. A Nestlé, que tem uma partici-pação relativamente pequena no mercado estado-unidense, afirma que suas vendas de Nescafé nesse paísaumentaram em 40% nos últimos 10 anos.

A combinação entre superoferta, maior produção e lentocrescimento da demanda gerou um sério desequilíbrio queprecisa ser atacado para que a oferta e a demanda consi-gam se realinhar. As conseqüências desse fenômeno paraos produtores são inaceitáveis: o mercado não apresentaqualquer sugestão sobre como as famílias que cultivam oproduto sobreviverão enquanto esperam este reequilíbrio,que pode levar anos.

Figura 7: Consumo de café nos Estados Unidos, uma nação onde o consumo doproduto está ficando cada vez mais moderadoConsumo de café versus consumo de refrigerantes nos Estados Unidos, em galões per capita

Os números para 2000 são previsões

Os números indicados para o café baseiam-se numa média móvel detrês anos

Fonte: Departamento de Agricultura dos

Estados Unidos/Davenport & Company

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Desequilíbrios de poder no mercado:produtores sem dinheiro, torrefadorascom grandes lucrosEnquanto essa crise continua, o mercado do café tem sidoextremamente favorável para as empresas torrefadorastransnacionais. Ao mesmo tempo, os países produtorestêm, coletivamente, recebido uma parcela cada vez me-nor dos lucros gerados.

• Há 10 anos, os países produtores tinham uma renda deUS$ 10 bilhões37 num mercado que gerava cerca de US$30 bilhões. Uma década depois, suas receitas de expor-tação caíram para menos de US$ 6 bilhões num mer-cado cujo tamanho mais que dobrou nesse período. Issorepresenta uma queda de mais de 30% do valor dalucratividade gerada no mercado para menos de 10%.

• Atualmente, os cafeicultores recebem 1% ou menos dopreço de uma xícara de café vendida ao consumidor. Elesse apossam de aproximadamente 6% do valor de umpacote de café vendido num supermercado ou armazém.

O gráfico da figura 8 mostra como o preço do grão do caféembutido no preço pago pelo consumidor no varejo vemcaindo vertiginosamente. Em 1984, os custos do grão ver-de representavam 64% do preço no varejo nos EstadosUnidos. Em 2001, o preço da matéria-prima, comopercentual do preço final no varejo, havia caído para 18%.38

Alguns mercados podem estar oferecendo um preço me-lhor aos consumidores, mas em todos a participação dosgrãos de café no preço final caiu.

Figura 8: Comparação dos preços nominais do café em 1984-2001 (centavos de US$/Libra)

*Índice composto de preços nominais da OIC. Grão verde = o café em grãos é comercializado internacionalmente e processado na forma de café instantâneo ou decafé torrado e moído.

Fonte: OIC. O café solúvel não pode ser comparado ao café torrado e moído: um consumidor ou uma consumidora pode fazer mais xícaras de café com uma librade café solúvel do que com uma libra de café torrado e moído.

21

Há um enorme desequilíbrio de poder na cadeia mundialde abastecimento do café. Os produtores enfrentam umasérie de obstáculos, a começar por preços internacionaismuito baixos. No entanto, alguns deles, com os quais aOxfam conversou, também reclamaram que precisavamaceitar o preço oferecido pela empresa comercializadorae que seu poder de negociação era muito reduzido ouinexistente. Se os produtores processam o seu café (reti-ram a casca externa do fruto), conseguem demonstrar aqualidade ou categoria de seus grãos e, assim, negociarum preço melhor. No entanto, se vendem o café semprocessamento, não têm como comprovar a qualidade doproduto e não são recompensados por ela.

No Peru, mesmo quando o café é vendido semiprocessado,a situação não muda muito: “Apresentamos o café devida-mente seco, mas os compradores dizem: dê-nos umdesconto…não dá para identificar a qualidade, mas achoque eles estão se aproveitando de nós, porque sabem queprecisamos vender para eles”, diz Carmela Rodriguez, deSauce, Peru.39 As cooperativas constituem uma saída paraos produtores em relação aos duros termos de negociaçãoimpostos pelos comerciantes. Os produtores relataram quevendiam seu café de melhor qualidade para as cooperati-vas, que os recompensavam com melhores preços. Po-rém, seguiam achando que as empresas de comercializa-ção eram úteis porque compravam rapidamente o café dequalidade inferior.

Embora os comerciantes procurem extrair o máximo delucro dos produtores, as margens mais altas do mercado

são as auferidas pelas empresas torrefadoras, após a ex-portação do café. Contrastando profundamente com osprejuízos ou, na melhor das hipóteses, com as reduzidís-simas margens de lucro alcançadas pelos produtores eexportadores dos países em desenvolvimento, as empre-sas torrefadoras dos Estados Unidos e da Europa têm lu-cros extraordinários em suas vendas de café no varejo.

A Oxfam entrevistou muitos atores envolvidos na cadeiade abastecimento em Uganda para rastrear a escala dopreço do café em grãos em sua jornada do cafezal até asprateleiras dos supermercados no Reino Unido. Verificouque, neste caso, o produtor só capta 2,5% do preço do caféno varejo. Nos Estados Unidos, o percentual seria de 4,5%do preço no varejo (veja seção ‘Para onde estão indo todosos lucros?’). Além do estudo em Uganda, a Oxfam contra-tou um consultor para desenvolver uma cadeia de valorindicativa, buscando avaliar que percentual médio do va-lor final os produtores estariam recebendo em diferentespaíses do mundo. Concluiu que os produtores do tipo maisbarato de café, sem processamento, captam apenas 6,5%do valor final no varejo. Essa cadeia de valor usa dadosoficiais de preços, onde eles estão disponíveis, pondera-dos para levar em consideração diferentes participaçõesno mercado.40 É provável que este número esteja superesti-mado, uma vez que os dados oficiais podem estar exageran-do o preço que os produtores conseguem efetivamente.

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Para onde estão indotodos os lucros?Rastreando a cadeia de valor…

“No Hotel Sheraton, de Kampala, uma xícara de café custa US$ 0,60. NaEuropa, o preço pode ser até duas vezes mais alto. Não compreendemos oque está acontecendo. O produtor não compreende. Como pode um produtorcultivar um quilo de kiboko (café local não processado) para vendê-lo porUS$ 0,08 e ver uma colher do produto ser vendida por US$ 0,60? Será queas torrefadoras estão enganando os produtores? Será que estão tendo lucrossobre-humanos? Os ugandenses só poderão ficar em seu país sem perturbaros países europeus se puderem vender suas safras por um preço melhor”.a

Estas são as palavras de um comprador de café da empresa Volcafe emUganda. Embora ele seja um funcionário de uma multinacional gigantesca,suas palavras são de um habitante local fazendo uma pergunta básica: paraonde estão indo todos os lucros? A Oxfam rastreou os custos embutidos nopreço do café, entrevistando pessoas que fazem parte da cadeia de valor emUganda. Mostrou como o valor é agregado ao café à medida que ele sai dasmãos do produtor, passa por diversos estágios de processamento e distribuiçãoe finalmente chega às prateleiras dos supermercados. Esse rastreamento revelacomo as reduzidíssimas margens de lucro obtidas nessa cadeia de valorampliam-se subitamente quando o café chega às mãos das torrefadoras edos varejistas.

O produtor de café recebe US$0,14 por quilo de seus grãos verdes,pressupondo-se que ele não tenha feito qualquer processamento. Esses grãospassam por diversos comerciantes antes de chegar à fábrica da torrefadoraao preço de US$ 1,64 o quilo. Se os grãos forem transformados em cafésolúvel, vendido nos supermercados do Reino Unido, seu preço médio porquilo seria US$ 26,40. Ajustando-se esse número em função da perda depeso ao longo do caminho, entre o cafezal e o carrinho do supermercado, opreço teria subido mais de 7.000%. Uma jornada equivalente para um pacotede café torrado e moído vendido nos Estados Unidos envolveria um aumentode quase 4.000%.b

A região de Kituntu situa-se no distrito de Mpigi, em Uganda, a cerca de100km a sudoeste de Kampala, poucos quilômetros ao sul da linha do equadore a uma altitude de aproximadamente 1.200 metros. Trata-se de uma típicaárea de cultivo de café ao norte e oeste do Lago Vitória, onde se produz amaior parte das safras de robusta de Uganda.

Peter e Salome Kafuluzi vivem em sua cháca-ra em Kituntu com 13 de seus filhos e netos.Eles plantam café na região desde 1945. En-trevistado pela Oxfam em fevereiro de 2002,Peter afirmou que na última vez em que ven-deu café, o preço obtido foi o mais baixo jávisto. Um quilo do fruto seco ao sol, conheci-do localmente como kiboko, foi vendido a seisou sete centavos de dólar. “Eu me lembroquando se pagava 69 centavos de dólar peloquilo de kiboko. Podíamos nos alimentar di-reito e dormíamos sem preocupações na ca-beça. Conseguíamos cuidar adequadamentede nossas famílias. Eu precisaria vender o caféa, pelo menos, 34 centavos de dólar o quilo.Mesmo que conseguíssemos 29 centavos dedólar, não daria para cuidar da terra”.

Salome diz: “Estamos sem dinheiro. Nãoestamos felizes. Não estamos conseguindofazer nada. Não temos condições de compraras coisas mais essenciais. Não temos condi-ções de comprar carne, peixe ou arroz, somen-te batata-doce, feijão e matoke… Não temosrecursos para manter nossos filhos na esco-la”.

O kiboko precisa ser moído para se extrair acasca do fruto, após o que seu peso cai até ametade do peso do grão verde, que é comer-cializado internacionalmente. Para os produ-tores, tem mais sentido, do ponto de vista fi-nanceiro, moerem seu café eles próprios emuitos fazem isso. Peter vendeu parte do cafémoído e conseguiu um preço melhor. Mas al-guns cafeicultores não produzem uma quan-tidade suficiente para justificar o custo de umacaminhonete e seus cafezais estão longe de-mais do moinho para levá-lo até lá de bicicle-ta. Resta-lhes aceitar o preço mais baixo ofe-recido pelos intermediários locais por frutosnão processados.

O produtor: impossível sequercobrir os custos

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Os donos de moinhos: lutandopara sobreviver

Mary Goreti administra o moinho de Jalamba,situado nas proximidades de Kituntu, há 10anos. O moinho emprega 10 pessoas, mas abaixa no preço do café está afetando demaisseus negócios. “Atualmente, as margens delucro ficaram tão baixas e o preço da energiaque consumimos tão alto que não dá nempara sobreviver. Poucas pessoas estão trazen-do o seu kiboko para processarmos. Algunscafeicultores simplesmente mantêm o produ-to em casa, porque os preços baixaram de-mais. Se a situação continuar assim, vamosfalir. Não se pode abrir uma fábrica para pro-cessar 10 sacas”, diz ela.

O exportador: cobrindo os custoscom muita dificuldade

De Jalamba, o café é despachado de caminhãopara Kampala, situada a 100km de distância,e vendido para um exportador. HanningtonKaruhanga, diretor administrativo da empre-sa Ugacof, é um desses exportadores. O es-critório de Hannington tem grandes janelascom vista para a fábrica da empresa e pilhasde containers. Diante do brilho oscilante datela do computador, ele repete, de memória,percentuais e diferenciais de preços no cliquedo mouse. Ele também acha que os númerosnão batem. Afirma que os exportadores “es-tão muito satisfeitos com uma margem deUS$ 10 por tonelada líquida (um centavo dedólar por quilo)”. Hannington seleciona, clas-sifica, limpa e ensaca o café, despachando-ode caminhão para Mombaça ou Dar esSalaam. O preço que ele recebe por seu caféé essencialmente o preço de exportação(FOB). Ele diz que isso cobre apenas os cus-tos. “Não vale a pena transportar algumas dascategorias (diferentes qualidades de café) quetemos. Seria mais barato destruí-las”, ele diz.

O varejista: preços absurdamentealtos

Na extremidade oposta da cadeia de valor, va-rejistas no Reino Unido vendem um quilo decafé solúvel a um preço médio de US$ 26,40,o que representa um enorme salto nos pre-ços. Obviamente, ali estão embutidos diver-sos custos de processamento, armazenagem,distribuição e comercialização do café, bemcomo os lucros das torrefadoras e dos varejis-tas. O café ugandense costumava ser muitoconsumido nos bares do Reino Unido, masseu consumo caiu, de modo que não há comosaber com certeza se o preço final no varejoinclui o café dessa origem específica. Mas acadeia de valor de Uganda serve como umindicador útil de um mercado competitivo ebastante eficiente para esse tipo de café. Omelhor preço que Peter e Salome Kafuluzipoderiam ter obtido para o produto, venden-do-o descascado para um moinho, represen-tava cerca de 2,5% do preço final no varejoem 2001, após os ajustes necessários em de-corrência do peso perdido no processamento.c

a Pesquisa realizada pela Oxfam em Uganda, fevereiro de 2002

b O múltiplo para se ajustar o preço em decorrência da perda de peso é de 2,6 vezes para o café solúvel e de 1,19 vez para o café torrado e moído. O número básico é o pior dos dois preços que o produtor recebeu

c Ajustado em função da perda de peso

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Quem está lucrando na cadeia do mercado do café?

Todos os preços em US$/kg Novembro de 2001 – Fevereiro de 2002

Preço comercializado

O produtor vende o kiboko ao intermediário(preço equivalente a 1kg de grãos verdes) 0,05 Margem do intermediário local

0,05 Custos de transporte até o moinho local, custo da moagem, margem do dono do moinho0,02 Custo de ensacamento e transporte para Kampala

Preço do café verde (Qualidade Média)quando chega ao exportador em Kampala

0,09 Custos do exportador: processamento, descarte de categorias de baixa qualidade, impostos e margem do exportador0,10 Ensacamento, transporte, seguro cobrado por porto no Oceano Índico

Preço FOB da variedade robusta padrão

0,07 Custo do frete, seguro

Preço CIF

0,11 Custos do importador: custos de descarregamento, entrega nasinstalações da torrefadora, margem do importador

Preço do produto entregue na fábrica(ajustado em decorrência da perda de peso para café solúvel: x2,6)

Preço médio no varejo de 1 kg de cafésolúvel no Reino Unido

O preço FOB aplica-se àvariedade robusta deUganda, de classificaçãopadrão 15. O lucro dosexportadores éprejudicado pelo preçomais baixo pago por cafésde qualidade inferior. Opreço no varejo refere-seao preço de setembro de2001 do café solúvel noReino Unido, extraído deestatísticas da OIC.

Custos e margens

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O poder das torrefadoras: lucros estratosféricos emmeio à crise

Muitas torrefadoras em todo o mundo compram café emgrãos verdes e o transformam em café torrado e moído ouem café instantâneo. No entanto, as quatro principaistorrefadoras – Kraft, Nestlé, Procter & Gamble e Sara Lee– são gigantes do mundo do café e moldam o seu mercadode varejo. Suas marcas amplamente conhecidas incluemMaxwell House, Nescafé, Folgers e Douwe Egberts. AProcter & Gamble vende café na América do Norte (veja afigura 9), enquanto a quinta maior torrefadora, a Tchibo,comercializa o produto principalmente na Alemanha.

Recentemente, ocorreram mudanças na forma pela qualo café é consumido nos países ricos. Proliferam sofistica-das casas para degustação do produto, instigando os con-sumidores a saborear cafés cada vez mais exóticos (gosta-ria de experimentar um legítimo moca [café de variedadesuperior, originário da Arábia]?). O setor de cafés espe-ciais cresce em ritmo acelerado e atualmente respondepor cerca de 40% do valor das vendas do produto nos Es-tados Unidos, segundo uma estimativa.41 No entanto, emtermos de volumes, as torrefadoras mais importantes, asquais movimentam milhões de sacas de café, são as quemais estão afetando os países em desenvolvimento. Entreelas, as cinco empresas mencionadas acima compramquase metade da oferta mundial de café na forma de grãosverdes.

Fonte: Volcafe

Figura 9: Principais torrefadoras - volume anualde café verde, 2000 (‘000 toneladas métricas)

Nestlé

: 13%

Kraft: 1

3%

Sara Le

e: 10

%P &

G: 4

%Tc

hibo:

4%

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É difícil definir um número exato para os lucros que es-sas empresas auferem. Suas atividades com café,freqüentemente desenvolvidas por meio de subsidiáriasque comercializam alimentos e outras bebidas, não têmresultados divulgados publicamente. No entanto, estima-tivas desenvolvidas por analistas explicam por que essasempresas estão tão viciadas nas altas do café quecomercializam.

Há dois anos, o relatório de um analista sobre os negó-cios com café solúvel da Nestlé concluiu o seguinte:“Martin Luther costumava se perguntar o que as pessoasfazem no paraíso. Para a maioria das empresas que parti-cipam da intensamente competitiva indústria de fabrica-ção de produtos alimentícios, a contemplação dos negó-cios da Nestlé na área do café solúvel deve parecer o equi-valente comercial da meditação espiritual de Luther”.42

Referindo-se à participação da Nestlé no mercado, ao ta-manho de suas vendas e às suas margens de lucrosoperacionais, o mesmo autor afirma o seguinte: “Nenhu-ma outra empresa que opera no mercado dos produtosalimentícios e bebidas tem resultados que sejam, nem delonge, tão bons”. O relatório estima que, em média, aNestlé obtém um lucro de 26 centavos de libra esterlinaem cada libra vendida de café instantâneo.43 Um outroanalista acredita que a margem de lucro da Nestlé44 com avenda de café solúvel em todo o mundo é mais alta, che-gando a cerca de 30%. Para a Nestlé, os ricos mercados doReino Unido e do Japão são particularmente lucrativos.

O café torrado e moído dá menos lucro do que o solúvel,mas o lucro deste também é invejável. Em 2002, a SaraLee, embora prejudicada por uma dura concorrência nomercado dos Estados Unidos, teve uma margem de lucronada desprezível de quase 17% com sua unidade de bebi-das,45 a qual comercializa, principalmente, café.

Uma rápida olhada nos lucros auferidos em outros mer-cados de produtos alimentícios e bebidas revela como es-ses níveis de lucro são de dar água na boca. O grupoHeineken, fabricante de cerveja, por exemplo, teve umamargem de lucro de cerca de 12% em 2001. As margensde lucro da Sara Lee em seus negócios com carnes e lin-güiças especiais não chegaram a 10% em 2002;46 seuslucros com a venda de pães, bolos e doces foram até maisbaixos, 5,5%. Os negócios da Danone com a venda de lati-cínios e iogurte geraram lucros da ordem de 11% em 2001.

O café – principalmente o café solúvel – é uma verdadeiragalinha dos ovos de ouro em comparação com esses ou-tros produtos.

Como as empresas torrefadoras conseguem ter lucros tãoaltos enquanto os produtores enfrentam uma crise tãoprofunda? Elas lucram com os volumes que compram,com a força de suas marcas e produtos, com o controle decustos, com sua capacidade de misturar diferentes tiposde café em seus produtos de marca e com o uso de instru-mentos financeiros que lhes dão uma flexibilidade de com-pra ainda maior.

• O poder das marcasOs nomes famosos das principais marcas encontradas nomercado garantem ágios expressivos sobre o custo efeti-vo dos produtos. As empresas gastam milhões de dólaresa cada ano para promover a imagem de suas marcas. NoReino Unido, por exemplo, os gastos com a propagandade marcas de café instantâneo chegaram a US$ 65 mi-lhões em 1999, principalmente das marcas Nescafé, Kencoe Douwe Egberts, de acordo com uma pesquisa da KeyNote.47 Usando diferentes marcas, as torrefadoras dife-renciam seus produtos por meio de uma imagem e saborespecíficos, evitando concorrer apenas umas com as ou-tras no terreno dos preços.

A fama das marcas também garante às torrefadoras maispoder de negociação com os varejistas que estocam seusprodutos. Esse poder é exercido em negociações longas,duras e reservadas. Os varejistas mais importantes – osprincipais supermercados – também são bastante pode-rosos e têm garantido boas margens de lucro em suasvendas de café, lançando suas próprias marcas.

Em alguns mercados, como nos da Alemanha e da Fran-ça, os números indicam que os varejistas estão pressio-nando as torrefadoras para manter os preços em níveismuito baixos. No entanto, há um limite para o nível depressão que estes podem aplicar sobre as quatro ou cincograndes torrefadoras do mundo: eles sabem que o consu-midor espera encontrar marcas clássicas em suas prate-leiras.

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• Controle de custosOutro fator que garante os lucros das torrefadoras é a for-ma pela qual estes são administrados. Em parte, isso re-sulta do uso da tecnologia. Por exemplo, se uma torrefa-dora consegue extrair mais café solúvel do grão do café,aumenta seus lucros.

Um outro custo arcado pelas torrefadoras é, obviamente,o da matéria-prima: o grão verde. Mas, dependendo daempresa, a importância desse custo varia muito. Para aNestlé, por exemplo, cuja principal atividade consiste nafabricação e na venda de café instantâneo, o custo do caféem grãos verdes é menos importante do que para empre-sas que vendem café torrado e moído. Isso ocorre porquea Nestlé precisa investir em unidades de processamento etecnologias de fabricação caras para criar seus produtos.

Esse fato levou a Nestlé a argumentar, surpreendentemen-te, que não tem interesse em preços baixos para o café emgrãos. Se esses preços forem baixos, seus custos serão,em parte, reduzidos – e analistas da Morgan Stanley esti-mam que “… os benefícios gerados pela baixa nos preçosdo café em 2001 só podem ter sido substanciais”.48 Noentanto, a empresa afirma que o impacto geral pode sernegativo, pois quando os preços do café em grãos caem,seus concorrentes, que vendem café torrado e moído, po-dem baixar os preços no varejo de forma agressiva sem sepreocupar com os grandes custos fixos de unidades deprocessamento de café solúvel, dos quais a Nestlé não temcomo escapar. “A posição competitiva do café solúvel, comoo Nescafé, em relação ao café torrado e moído é menosfavorável num mercado de preços baixos”,49 afirma a em-presa. Esse é um fator importante entre os que levaram aNestlé a afirmar recentemente que gostaria de ver preçosmais altos e estáveis para o café (veja a parte 3).

As empresas que vendem café torrado e moído têm maisa lucrar com a queda nos preços do café em grãos, masalguns desses benefícios podem ser anulados pela con-corrência por uma fatia maior do mercado. Isso significaque elas talvez precisem transferir suas economias decustos para os consumidores, em forma de preços maisbaixos. Em seu balanço de resultados para nove meses de2002, a Sara Lee afirmou que os preços do café verde ha-viam forçado seus preços no varejo para baixo. Em com-binação com outras questões (como despesas de comer-cialização mais altas), esse fenômeno havia gerado ‘que-

das nas vendas e no rendimento operacional’. Se em tem-pos difíceis a Sara Lee teve um nível de lucro de quase17% com suas vendas de bebidas, imagine os lucros queela deve ter em tempos favoráveis.

• Combinações de diferentes tipos de café: misturas flexíveisAs torrefadoras não precisam mais manter grandes esto-ques de café. Contratos assinados com empresas interna-cionais de comercialização garantem-lhes uma oferta cons-tante de grandes volumes de diferentes tipos de café me-diante pedidos de prazo relativamente curtos. Isso permi-te que combinem cafés de diferentes maneiras e ajustemsuas misturas com crescente flexibilidade. Os países pro-dutores se vêem sob uma pressão crescente à medida queas torrefadoras desenvolvem combinações cada vez maisbaratas de café para produzir misturas padronizadas. Emsua análise dos mercados do café da África oriental,Stefano Ponte observou que “a variedade robusta deUganda está ameaçada pelas mudanças de estratégias dasprincipais torrefadoras… De modo geral, as empresas in-ternacionais de comercialização argumentam que astorrefadoras desenvolveram maior flexibilidade em seusprocessos de misturar cafés e estão cada vez menoscomprometidas em adquirir produtos de uma origem emparticular”.50

• Mercados de futuro: financiamentos flexíveisAs torrefadoras dispõem de mecanismos extremamenteavançados para administrar e minimizar riscos para cus-tos com matérias-primas. Em vez de pagar o preço real demercado, elas assinam contratos com comerciantes quelhes garantem proteção contra riscos da volatilidade depreços no futuro. Complexos modelos matemáticos per-mitem que, mediante um simples clique do mouse decomputador, firmem hoje acordos nos mercados de futu-ro para preços a serem pagos pelo café que comprarãodaqui a seis ou 18 meses. Esses instrumentos financeirospermitem que otimizem suas estratégias de compra – algomuito distante das opções de mercado que os produtoresenfrentam.

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Novas tecnologias e técnicas: qualidadeafetadaNovas tecnologias e técnicas aplicadas ao cultivo eprocessamento do café estão provocando efeitospreocupantes na qualidade do produto, além de impactosambientais crescentes. Houve uma dupla queda de quali-dade – a primeira, como resultado da crescente substitui-ção da variedade arábica pela robusta, de qualidade infe-rior, e a segunda, em decorrência da queda observada naqualidade da própria variedade robusta.

Essas tendências não são boas para os produtores, paraos consumidores e para a sustentabilidade ambiental daprodução do café. Também não são boas para as torrefa-doras, particularmente porque afetam sua base de ofertade longo prazo. Elas próprias reconhecem o problema.“Os produtos que vendemos sob a marca Millstone (amarca de maior qualidade da P&G) dependem de grãosde boa qualidade. Estamos preocupados com a possibili-dade de não termos café disponível em todos os níveis dequalidade”, admite a Procter & Gamble.51 E a Nestlé con-corda: “O contexto atual de preços baixos tem um impac-to muito negativo sobre a qualidade do café produzido,dificultando a tarefa da Nestlé de encontrar cafés com aqualidade necessária para a fabricação de seus produtos”,declarou a empresa.52

Novas tecnologias adotadas pelas torrefadoras:extraindo, até a última gota, tudo que o grão do cafépode oferecerAs torrefadoras estão preocupadas com a queda na quali-dade do café. No entanto, desenvolveram tecnologias quecamuflam o gosto mais amargo do café mais barato e dequalidade inferior de forma a usar uma proporção maiordesse café em suas misturas. Essas tecnologias começa-ram a ser desenvolvidas quando o preço da variedade arábi-ca subiu abruptamente em 1997, incentivando-os para de-senvolver maneiras de extrair mais dos grãos da robusta.

“As torrefadoras aprenderam a aumentar a absorção doscafés natural53 e robusta por meio de processos como aaplicação de vapor para eliminar o gosto mais amargodessas variedades”, observa um relatório preparado pelaUSAID, o Banco Mundial e o Banco Interamericano deDesenvolvimento (BID).54

O setor como um todo reconhece a importância dessamudança. “O aumento do uso de cafés de baixa qualidadee de preço mais baixo (por exemplo, do café do Vietnã),principalmente no continente europeu e na América doNorte, por pressão da concorrência, é a única falha óbviados países consumidores”, explica Paul Moeller, da em-presa comercializadora de café Volcafe, numa análise dacrise. Um analista do setor estima que, em média, opercentual da variedade robusta usado em misturas decafés aumentou de cerca de 35% para 40% nos últimoscinco anos (embora a Sara Lee afirme que não).

Em alguns casos, o perfil do gosto de países inteiros mu-dou. Embora a Alemanha costumasse importar principal-mente a variedade arábica lavada, registrou-se na últimadécada um aumento repentino nas importações das vari-edades robusta e arábica natural.55 Comentando sobre ocrescimento das importações da variedade robusta,Bernhard Benecke afirmou: “Ficou simplesmente im-possível resistir à tentação de usar uma proporção maiorda variedade robusta na mistura”.56

Não se trata apenas de uma maior utilização da variedaderobusta. Ocorreu também uma deterioração acentuada naqualidade dessa variedade. Atualmente, os compradoresde café estão mais interessados em comprar cafés de cate-gorias inferiores do que antes. Em Uganda, por exemplo,William Naggaga, secretário do conselho da Autoridadepara o Desenvolvimento do Café do país, afirmou: “Con-sideremos o caso do café em grãos pretos não processa-dos (resultado da colheita de frutos não maduros). Nósnunca o exportamos até que veio a liberalização. Ele erasimplesmente jogado fora até que os mesmos comprado-res europeus passaram a se interessar por ele, afirmandoque podiam usá-lo. Tivemos que pedir autorização aoMinistro para exportar o grão preto – porque ele não eraconsiderado como uma categoria exportável em Uganda.Foi necessário obter permissão e mudar nossas regula-mentações para podermos exportar os grãos pretos”.57

A unidade de comercialização da Kraft, a Taloca, foi a maiorcompradora de café vietnamita em 2001, de acordo comas estimativas de uma importadora de café sediada nosEstados Unidos. No ano passado, a Taloca comprou qua-se 1,2 milhão de sacas de café vietnamita, pouco mais quea Neumann, uma outra grande empresa comercializadora.

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A Kraft reconhece a importância da qualidade: “Na situa-ção atual, em que há grande produção mundial de café econsumo estagnado, a qualidade se tornará uma questãocada vez mais importante num mercado orientado para ocomércio”.58 A empresa também é muito franca quandomenciona os problemas de qualidade que enfrentou noVietnã. Ela está particularmente preocupada com o fatode que “... problemas de qualidade e ambientais podemser identificados em todos os estágios do processo de pro-dução do café (naquele país)...”

Um desses problemas é a técnica de colher todo o cafédos cafezais de uma só vez (conhecida como strip-picking):“Como essa prática é comum na colheita de café da varie-dade robusta, o percentual de frutos verdes imaturos nassafras é alto, o que dificulta uma secagem adequada, tor-nando-a mais demorada”, observa a Kraft. O clima quentee úmido do Vietnã agrava a situação. Essas condições, deacordo com a empresa, levam a uma “deterioração naqualidade do café consumido”. Outros problemas enfren-tados em anos anteriores incluíram a “doença da folhaamarela”, provocada pela superfertilização dos cafezais,relatada em algumas partes do país. A Kraft descreve comopráticas inadequadas de secagem adotadas nos cafezaisdo Vietnã obrigam a empresa a secar o café novamenteantes de exportá-lo. “O café é submetido a um novo pro-cesso de secagem em fornos a lenha, carvão ou até utili-zando pneus de borracha, cujo odor desagradável às ve-zes é absorvido pelo café”.

Embora a Kraft tenha desenvolvido um esquema demelhoria de qualidade no Vietnã, este não é aplicado nasregiões que produzem café da variedade robusta (porexemplo, a região de Daklak). Isto “exigiria um enormeapoio financeiro com baixa expectativa de sucesso, emdecorrência das grandes dimensões das áreas de produção,dos muitos problemas que apresentam e de sua infra-es-trutura já fixa”. A Kraft e seus parceiros estão concentrandoesforços em melhorar o café da variedade arábica.59

Abundância de robusta, escassez de arábica…A entrada do Vietnã na grande liga de produtores de cafécertamente contribuiu para aumentar a produção mun-dial da variedade robusta, já que ela é, de longe, a maiscultivada no país. No entanto, há outros fatores envolvidos.O Brasil, que ainda produz principalmente cafés da varieda-

de arábica, mais que dobrou sua produção da variedade ro-busta nos últimos dez anos para quase 11 milhões de sa-cas.60

O paradoxo é que enquanto o mercado do café estásaturado de robusta, a oferta de arábica, de qualidade su-perior, está sendo espremida até a última gota: existe umaquantidade excessiva de café barato empurrando os pre-ços para baixo no mercado tradicional e uma quantidadeinsuficiente de café de qualidade no mercado dos cafésespeciais. Como mostrado no gráfico abaixo, a oferta davariedade arábica vem caindo, em termos percentuais, emrelação à oferta de café como um todo (veja a figura 10).61

Fonte: OIC/APPC (Associação dos Países Produtores de Café)

Participação na produção mundial, %

Figura 10: Aumenta a produção de Robusta, cai a deArábica...

Robusta

Arábica

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Esse aumento na produção intensiva de café da variedaderobusta tem afetado, acima de tudo, os produtores pobres,proprietários de pequenos cafezais. O café da variedaderobusta tem diferentes classificações (o produzido noVietnã, por exemplo, é diferente do produzido na Índia),mas essas diferenças não são muito apreciadas pelo con-sumidor ou pelos grandes compradores de café. A situa-ção é diferente com o café da variedade arábica, já que osconsumidores não se incomodam de pagar mais para be-ber um café arábica puro da Etiópia, da Colômbia ou daCosta Rica.

Conseqüentemente, os produtores de robusta estão sen-do forçados a concorrer cada vez mais com base em seuspreços – e, por essa razão, na África subsaariana, por exem-plo, onde os níveis de produtividade são baixos em rela-ção aos do Vietnã ou do Brasil, os produtores não estãoconseguindo sequer cobrir seus custos mais básicos deprodução. Eles também não têm condições de simples-mente passar a cultivar o café da variedade arábica, quegeralmente é mais lucrativo, pois a variedade é delicada esó pode ser cultivada em grandes altitudes. Muitos pro-dutores também não têm as habilidades e os insumosnecessários para cultivá-la.

Técnicas agrícolas intensivas reduzem a qualidade edegradam o solo

A maior concorrência entre os fornecedores tem levado àutilização de técnicas mais intensivas de cultivo de café,que ameaçam a qualidade do produto e o meio ambiente.

O café é tradicionalmente colhido de forma seletiva, comum rígido controle de qualidade para garantir que somenteos frutos maduros sejam apanhados. No entanto, com aqueda nos preços, esses padrões têm caído também: aprática de colher todo o café de uma só vez e a colheitatardia tornaram-se cada vez mais comuns. A colheita detodos os frutos dos pés de café em fardos comuns, semuma coleta individual, mistura frutos maduros e verdes; acolheita tardia – para economizar os custos – mistura osfrutos pretos ou em decomposição com frutos em bomestado, levando à formação de mofo.

As técnicas intensivas estão ameaçando a sustentabilida-de da produção no longo prazo. Em muitos países, o cafétem sido tradicionalmente plantado entre árvores que dãosombra, juntamente com outras lavouras para consumopróprio ou comercialização. Além de conservar o solo eas florestas, esse sistema protege o micro-clima. Na Amé-rica Central, ele também cria um importante hábitat parapássaros migratórios. O cultivo intensivo levou à elimina-ção da sombra, visando uma produtividade maior. O cafépassou a ser cultivado ao sol e em regime de monocultura.Muitos produtores começaram a usar também varieda-des híbridas anãs, que se desenvolvem mais rapidamentee são mais produtivas em resposta a uma maior utiliza-ção de fertilizantes químicos. No Brasil, por exemplo, fo-ram suspensas algumas restrições governamentais paraa densidade de pés de café e para técnicas de plantio.62 Adensidade dos pés de café tornou-se muito maior, passan-do dos tradicionais 900 a 1.200 pés por hectare para 5.000a 8.000 pés. Produtores em diversos países atualmenteadotam essas técnicas para produzir volumes maiores acustos mais baixos.63

Uma entidade científica, a CABI Commodities, confirmaa ocorrência dessas mudanças: “O uso de variedades anãshíbridas, que se desenvolvem com maior rapidez e cujaprodutividade aumenta muito com a aplicação de fertili-zantes; o uso de variedades resistentes à ferrugem, quereduzem os custos com insumos; a eliminação de som-bras, que aumenta a produção; e a mecanização, que per-mitiu à produção de café no Brasil deslocar-se de áreasdensamente povoadas e sujeitas a geadas no sul para áre-as menos povoadas e não sujeitas a geadas mais ao norte,são mudanças recentes. Métodos de produção intensivaforam promovidos por doadores, principalmente na Amé-rica Central, como parte de uma tendência mundial de sepromover uma produção agrícola mais intensiva”.64

Essas técnicas intensivas têm gerado uma produtividadesem precedentes, mas muitos observadores questionamse elas são sustentáveis e argumentam que não devemser usadas como uma referência de produtividade a serseguida por outros produtores.

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Sem alternativas: commodities em baixa eo fracasso do desenvolvimento ruralOs produtores de café pobres travam uma grande luta.Os custos para abandonar este cultivo são substanciais eos produtores não dispõem de opções viáveis. Por um lado,em decorrência do fracasso das ações de doadores inter-nacionais e governos nacionais em promover o desenvol-vimento e a diversificação rurais e, por outro, em decor-rência das políticas protecionistas da União Européia edos Estados Unidos, que impedem os produtores de paí-ses em desenvolvimento de obter uma renda adequadacultivando outros produtos primários. Isso significa queatualmente muitos dependem de opções restritas. Alémdisso, como todos os produtores, os produtores de caféenfrentam antigos problemas oriundos do subdesenvol-vimento rural: infra-estrutura de transportes insuficien-te, falta de opções de crédito, acesso restrito aos mercadose, portanto, pouca informação sobre os melhores preçospossíveis.

Falta de opções para substituir o café por outrasculturas comerciais

A despeito dos apelos continuados para que os países di-versifiquem sua produção e não dependam excessivamen-te de produtos primários, muitos deles nada fizeram nes-se sentido: a África subsaariana, por exemplo, dependemais da venda de commodities atualmente do que há 20anos.65 Trata-se de um enorme fracasso, em termos depolíticas, em todos os níveis.

Pode parecer economicamente irracional que os produto-res continuem a vender café a um preço que não lhes per-mite satisfazer suas necessidades básicas, mas, na verda-de, essa decisão é plenamente racional. Em primeiro lu-gar, os custos envolvidos na substituição dos pés de cafépor uma cultura alternativa são altos. Mesmo que a terraseja adequada para plantar cacau, por exemplo, eles po-dem não ter capacidade ou treinamento adequado paracultivá-lo. A maioria das famílias que vivem da terra nãotem qualquer poupança que lhes permita sobreviver atéque as novas culturas gerem seus frutos.

Em segundo lugar, há uma séria carência de opções viá-veis. Mais do que a maioria das pessoas, os produtores decafé sabem como é perigoso depender exclusivamente

dessa cultura instável para sobreviver. Por isso, a maioriados proprietários de pequenos cafezais cultiva outros pro-dutos para fins comerciais na mesma área e também criagalinhas e gado. Os mercados internos para os produtosque cultivam tendem a ser pequenos demais e oferecerpreços baixos demais para substituir a renda que o cafécostumava proporcionar. O retorno gerado por muitasdessas culturas é tão baixo quanto o do café ou até maisbaixo. Abarya Abadura, um produtor de café de Jimma,Etiópia, afirma: “Há três anos eu ganhava US$ 105 porano vendendo meu milho. No ano passado, eu só conse-gui US$ 35”. Estima-se que o preço pago pelo milho, umproduto muito consumido no país, tenha caído mais de60% nos últimos cinco anos. Abarya explica a conexão:“Quando o preço do café cai, as pessoas ficam sem di-nheiro suficiente para comprar milho”.66

A dependência de commodities com preços em baixa

O café não está sozinho em sua crise: os preços de muitascommodities, como os do açúcar, do arroz e do algodãotambém caíram e deverão cair ainda mais no longo prazoem decorrência de uma maior produtividade e do fato desua oferta ter superado a demanda, como resultado deuma concorrência mais acirrada (veja a figura 11). Comoo café, muitos desses outros produtos primários experi-mentam os altos e baixos de preços voláteis.

Além de minar qualquer alternativa para os produtores,essa queda de preços de longo prazo também está devas-tando economias nacionais. Quanto maior a dependên-cia de um país de commodities, mais devastador o impac-to da queda de seus preços nos orçamentos governamen-tais. Na África subsaariana, 17 países dependem das ex-portações de produtos primários, sem contar o petróleo,para gerar 75% ou mais de suas receitas de exportação.67

Muitos desses países também têm pesadas dívidas a sal-dar e sua capacidade de arcar com esse ônus foi severa-mente minada.

O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional(FMI) exacerbaram esse problema com a abordagem úni-ca, não diferenciada, que têm aplicado a todos os paísesde baixa renda: a concessão de empréstimos vinculados aajustes estruturais. Trata-se do enfoque de gerar cresci-mento com base nas exportações e facilitar investimentosexternos por meio da liberalização de barreiras comerci-

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ais, da desvalorização das taxas de câmbio e da privatizaçãode empresas estatais. Ou seja, seu objetivo é essencial-mente promover o livre mercado, de forma que cada paísdesenvolva sua própria ‘vantagem comparativa’. No en-tanto, o impacto direto dessa abordagem para as pessoaspobres é pouco considerado.

Historicamente, os países de renda mais baixa dependemda produção de commodities primárias e, em muitos ca-sos, o enfoque da liberalização e da chamada vantagemcomparativa aumentou essa dependência. Além disso, aeliminação de tarifas ou de mecanismos de apoio à indús-

tria interna tem dificultado cada vez mais qualquer possi-bilidade de diversificação, por parte desses países, paraempreendimentos industriais com maior valor agregado.Qualquer tentativa de proteger indústrias incipientes en-contra forte resistência por parte do Banco Mundial e doFMI: alguns programas ugandenses concebidos para pro-mover áreas estratégicas de exportação, como deprocessamento de pescados, com medidas para protegeresse setor incipiente, “foram ridicularizados por técnicosdo Banco Mundial e do FMI”.68

Fonte: Banco Mundial

Figura 11: Preços efetivos de commodities que não petróleo

Inde

x 19

00=1

00

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Muito pouco valor é captado

Os países produtores quase não processam ou empaco-tam o café que produzem, o que significa que eles só re-têm um percentual muito reduzido do valor em potencialdo grão do café. Em 2000/1, verificou-se que 94% de todoo café exportado de países em desenvolvimento cruzarama fronteira na forma de grãos verdes: a maior parte dos6% restantes que foram processados veio do Brasil, daÍndia e da Colômbia.69

O baixo valor agregado ao café é um problema que perse-gue muitos produtos primários. Uma consulta recentejunto à FAO (Organização das Nações Unidas para a Ali-mentação e a Agricultura) concluiu, entre outras coisas,que: “Os preços pagos aos produtores estão muito baixos,principalmente os preços que recebem por produtos ali-mentícios com setores de processamento altamente con-centrados. Portanto, parece que a estrutura do mercado éuma área importante que precisa ser investigada. Os be-nefícios de se obter melhores informações sobre o merca-do foram discutidos como uma maneira de melhorar opoder de barganha dos exportadores de produtos primá-rios”.70

Ampliar o processamento do café no país de origem éuma medida essencial para aumentar o seu retorno. Mas,para a maioria dos países, as barreiras são altas. Para seconstruir uma unidade de processamento de café solúvelsão necessários mais de US$ 20 milhões, embora sejamais barato torrar e moer o café. Mesmo que fosse eco-nomicamente viável processar o produto nos países emdesenvolvimento, a ausência de outros insumos produzi-dos internamente, como embalagens de qualidade, seriaoutro obstáculo a superar. Uma alternativa consiste emestimular empresas transnacionais a investir em paísesprodutores. A maioria delas, entre as quais não se inclu-em a Nestlé (e Sara Lee, já que também esta tem umapresença importante no Brasil, um grande consumidorde café), prefere não fazer isso. Suas altamente eficientesunidades de processamento nos Estados Unidos e na Eu-ropa representam um custo plenamente absorvido e fi-cam mais próximas do consumidor final, o que constituiuma vantagem para alguns tipos de café.

A distribuição também enfrenta barreiras. Muitos caféssão vendidos na forma de uma mistura de diferentes ori-gens. Os vínculos comerciais entre os países produtores

geralmente não são fortes e esse fato prejudica a sua ca-pacidade de desenvolver suas próprias misturas regionais.As marcas dos países em desenvolvimento geralmente nãotêm o reconhecimento e o perfil de suas concorrentes.Superar o obstáculo de relações bem estabelecidas entretorrefadoras e varejistas de peso é uma batalha difícil, masnão impossível: Ismael Andrade, exportador de um cafépopular brasileiro, o Sabor de Minas, vende com sucessopara algumas das maiores redes varejistas do mundo, entreas quais a Wal-Mart e o Carrefour.71

Diferentemente do que ocorre com muitos produtos agrí-colas, as tarifas de importação cobradas nos mercados depaíses ricos não constituem a principal barreira para amaioria dos produtores de café. Nos Estados Unidos, porexemplo, não são cobradas tarifas de importação de cafésprocessados oriundos de outros países, sejam eles torra-dos ou solúveis. Cafés processados de todos os países daÁfrica, Caribe e Pacífico, bem como de muitos países daAmérica Latina (entre os quais a Colômbia, El Salvador,Guatemala, Honduras e Nicarágua), podem entrar naUnião Européia sem pagar impostos. No entanto, outrospaíses pobres, como Índia, Vietnã e Timor Leste, são obri-gados a pagar taxas de 3,1% para café solúvel e de 2,6%para café torrado e moído, enquanto Brasil e Tailândiapagam tarifas de até 9% para o café solúvel.72

Empresas internacionais de comercialização estão cadavez mais ativas em países produtores. As torrefadorascompram grandes volumes de café de diversas origensdessas empresas mediante pedidos de curto prazo. Se-gundo Stefano Ponte, isso tem mudado a forma como asempresas comercializadoras trabalham: “A necessidade degarantir um abastecimento constante de diversos tipos decafé de diferentes origens leva empresas internacionaisde comercialização a ter uma presença mais forte nospaíses produtores do que teriam simplesmente em decor-rência da liberalização do mercado”.73

Num cenário de menos restrições para investimentos ex-ternos, as empresas internacionais de comercializaçãoestabeleceram subsidiárias locais ou passaram a negociardiretamente com os produtores. Em alguns casos raros,elas próprias são as proprietárias dos cafezais. Algumasdessas empresas mantêm vínculos muito estreitos comas principais torrefadoras. Essa mudança é confirmadapor Lorenzo Castillo, da Junta Nacional do Café do Peru,

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que afirma: “As multinacionais querem reduzir seus cus-tos. Com essa finalidade, tentam reduzir o número deintermediários entre elas e o produtor. Os mais vulnerá-veis à substituição são os exportadores. Para o produtor, ogancho é a disponibilização de créditos”.74

Moinhos, intermediários e até empresas comercializado-ras nacionais de maior porte estão lutando para sobrevi-ver, já que não dispõem dos recursos financeiros das gran-des empresas internacionais para continuar operando naatual situação de crise. Em Uganda, por exemplo, o nú-mero de exportadores diminuiu de 150 para 20 na últimadécada, de acordo com uma empresa de comercializaçãoeuropéia, e muitos dos que fecharam suas portas eramexportadores locais.

Essa situação criou um vazio que empresas internacio-nais de comercialização mais capitalizadas e fortes procu-raram ocupar. Na Tanzânia, por exemplo, Stefano Ponteobserva que as multinacionais atualmente “controlammais da metade do mercado de exportação, por meio desubsidiárias diretas, e uma outra fatia substancial dessemesmo mercado, por meio de contratos de financiamen-to assinados com empresas locais”.75 A crise está minan-do uma base empresarial local importante, enquanto oslucros das empresas internacionais de comercializaçãofluem de volta para os países industrializados, o que épreocupante.

Metas de desenvolvimento rural não alcançadas

A desregulamentação dos mercados internacionais do caféserviu de exemplo para a liberalização dos mercados in-ternos de muitos países produtores, freqüentemente porpressão das políticas do FMI e do Banco Mundial. Orga-nizações de café paraestatais, que em muitos casos atua-vam como compradoras monopolistas do produto, foramgradualmente desmanteladas ou privatizadas. Os impos-tos e outros tributos cobrados sobre o café ficaram maisbaixos e o controle estatal sobre a produção foi reduzido.Muitas restrições impostas a investimentos externos e àpropriedade estrangeira foram eliminadas, particularmen-te nos setores de comércio e exportação.

A desregulamentação trouxe alguns benefícios para osprodutores: em muitos países, eles estão conseguindo umpercentual mais alto do preço de exportação de seu café.O professor Christopher Gilbert explica: “A liberalização

aumenta a participação dos produtores no preço FOB (Freeon Board, de exportação), porque reduz os custos na ca-deia de comercialização e tem sido freqüentemente asso-ciada a impostos e tributos mais baixos, oferecendo me-nos oportunidades para a extração de renda econômica”.76

No entanto, esses benefícios tornaram-se insignificantesdiante da baixa geral no preço do café.

A liberalização também trouxe muitas conseqüências ad-versas para os produtores. Onde os serviços governamen-tais deixaram de atuar, os mercados, em grande medida,também ficaram de fora: o que não causa nenhuma sur-presa diante da crise dos produtos primários. Num mo-mento em que os produtores estão mais expostos do quenunca aos caprichos do mercado, sua vulnerabilidade acen-tua-se pela redução de serviços de apoio e pela escassezde fontes alternativas de ajuda, afetando a qualidade docafé que eles conseguem produzir e diminuindo seu po-der de negociação no mercado.

Regulação inadequada

Alguns especialistas acreditam que o relaxamento doscontroles anteriormente impostos à produção de café con-tribuiu para a queda da qualidade, principalmente da va-riedade arábica, que exige mais cuidados e insumos.

Segundo o professor Christopher Gilbert: “A organizaçãodo mercado é muito importante para a produção da varie-dade arábica, muito mais do que para a produção da va-riedade robusta. A plena liberalização parece afetar adver-samente a qualidade (da variedade arábica). Os melhorescafés da variedade arábica são produzidos em países quepermitem algum nível de regulação (Colômbia, Costa Rica,Quênia)... Na minha opinião, os produtores do café arábi-ca podem se sair melhor num sistema misto, com coope-rativas (Quênia) ou órgãos estatais fortes (Colômbia). Aregulação independente é crucial”.77

Organizações de produtores e de trabalhadores sobataque

Muitos dos supostos benefícios da desregulamentaçãodependem da disponibilidade de instituições e organiza-ções de apoio que não existem. Além de muitos serviçosde apoio terem sido eliminados, as organizações da socie-dade civil que poderiam exercer pressões no sentido de

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desenvolver a capacidade de pequenos produtores de es-tabelecer novos vínculos com o mercado também se en-fraqueceram.

Pesquisas realizadas sobre a recente experiência da Etiópiamostram como as organizações de produtores, sendo bemadministradas, podem desempenhar um papel crucial noestabelecimento de um piso para os preços do café. Ascooperativas podem também ajudar os produtores a con-tornar os intermediários e a terem acesso a mercados deexportação de alto valor. O resultado disso é um retornomais alto para os produtores individuais, além do financi-amento de importantes serviços comunitários. Qualquerdecisão de política pública, no sentido de apoiar essas es-truturas, deve abordar o fato de que restrições impostas àparticipação de mulheres em cooperativas podem afetarsua capacidade de tirar proveito das oportunidades ofere-cidas por cooperativas e associações.

Escassez de informações

Muitos produtores sofrem com a falta de informações –sobre preços correntes ou novas técnicas de colheita, porexemplo –, o que reduz a qualidade e o preço de seus pro-dutos. A Autoridade para o Desenvolvimento do Café deUganda (UCDA) costumava divulgar previsões de preçospara o produto por meio de oito estações de rádio, mas oprograma deixou de ser transmitido, em parte em decor-rência dos baixos preços do café. Há planos para reativá-lo, mas os produtores perderam valiosas informações des-de que ele saiu do ar. O Instituto do Café de Hondurasrelata que os cafeicultores do país não estão conseguindo,sistematicamente, tirar proveito de qualquer alta no pre-ço do café.78 Na Etiópia, a situação é a mesma: em abril de2002, os exportadores sabiam que o preço havia melho-rado,79 mas os produtores, desinformados dessa alta, nãotiraram qualquer proveito dela.

Treinamento e apoio insuficientes

O know-how técnico é crucial para o aumento da produti-vidade e a agregação de valor. Estudos sugerem que a pro-dutividade de pequenos cafezais em alguns países produ-tores da África é muito baixa: inferior a 500 kg por hecta-re. No Vietnã, a produtividade média é de 1.500 a 2.000kg/hectare. A diferença não reside apenas no fato de me-nos insumos estarem disponíveis na África, mas também

na falta de know-how sobre o ciclo de poda, capina e apli-cação de matéria vegetal na base dos pés para assegurar ograu necessário de umidade às suas raízes. Os cortes emserviços de extensão de alguns países não têm permitidoque seus produtores apliquem pesticidas nos cafezais coma regularidade necessária, aumentando a incidência dedoenças. A falta de know-how técnico também afeta a ca-pacidade dos cafeicultores de produzir um fruto de me-lhor qualidade ou de aumentar o valor do café por meiode um processamento básico.

Empréstimos pendentes, novos créditos indisponíveis

A baixa de preços impossibilitou que muitos produtoresquitassem suas dívidas. Uma pesquisa sobre os cafeicul-tores do Vietnã indica que mais de 60% deles não conse-guem quitar seus empréstimos.80 A necessidade de sal-dar dívidas freqüentemente impede que os produtoresesperem por um momento mais oportuno para vender ocafé e os força a aceitar o preço oferecido pelas empresasque comercializam o produto. Carmela Rodriguez, umaprodutora de 56 anos de Sauce, Peru, diz: “Ouvimos di-zer que os preços às vezes são melhores em Tarapoto,Moyobamba ou Jaen, mas é difícil para nós levar (o nossocafé) até lá e não podemos armazená-lo por causa das dí-vidas. Não podemos nos dar a esse luxo”.81

À medida que a inadimplência aumenta, diminui a dis-ponibilidade de novas linhas de crédito – na verdade, ocrédito rural simplesmente deixou de existir em muitospaíses. Quando as cooperativas ficam imobilizadas porfalta de crédito, os produtores precisam recorrer aos co-merciantes locais. Segundo Mohammed Indris, produtorde café da Etiópia: “As compras da cooperativa mantinhamos preços altos. No ano passado, a cooperativa não conse-guiu comprar frutos maduros de café não processados emdecorrência de dificuldades financeiras. Quando as em-presas perceberam isso, elas baixaram seus preços de US$0,11/kg para US$ 0,06/kg”.82

A falta de crédito deixa os produtores particularmente ex-postos nos duros meses que precedem a colheita. Algunsconseguem comprar alimentos a crédito em troca da sa-fra ainda não colhida; outros oferecem suas terras comogarantia, embora nem todos tenham títulos das proprie-dades. Outros ainda são forçados a vender seus ativos. Asmulheres ficam numa situação particularmente desvan-

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tajosa, já que em alguns lugares elas não podem ter títu-los de propriedade de terras, dificultando ainda mais aobtenção de qualquer crédito.

Infra-estrutura rural inadequada

A crônica falta de investimento em transportes rurais emmuitos países tem gerado altos custos, principalmentepara pequenos cafeicultores que não produzem um nú-mero suficiente de sacas de café para justificar o custo deuma caminhonete que transporte seus frutos não proces-sados até o moinho local. Mesmo quando usam caminho-netes, os custos por quilômetro são muito mais altos doque seriam se usassem estradas pavimentadas: uma pes-quisa realizada pela Oxfam em Uganda indica que o cus-to de transporte de uma saca de café por apenas 15km atéo moinho local não é muito inferior, proporcionalmente,ao custo para se transportar a mesma saca por 100km, domoinho até Kampala.

A ausência de boas estradas constitui um verdadeiro pro-blema para os produtores. Um deles diz o seguinte: “Eume chamo Avelios Asuego. Sou um pequeno produtor decafé orgânico da Guatemala. Gostaria de lhes contar umpouco da minha história pessoal. Só para vocês terem umaidéia de como estamos isolados do mundo moderno, te-mos que andar durante quatro horas para chegar até aestrada pavimentada mais próxima da minha comunida-de. De lá, temos que rodar mais três horas de carro commuito cuidado, porque a condição das nossas estradas nãoé nada boa. Só então chegamos até onde estacionamos ocarro e deixamos nosso café para ser vendido”.83

A falta de acesso a itens básicos, como mesas de secageme moinhos de processamento, afeta a qualidade do caféproduzido por esses pequenos produtores. A maioria de-les seca seu café ao sol – mas por falta de acesso a mesasadequadas de secagem ou a know-how para construí-las,eles espalham os grãos diretamente na terra. Os frutos davariedade arábica devem ser processados na maior brevi-dade possível após serem colhidos. No entanto, quandonão existem moinhos próximos para processamentos empequena escala, os pequenos produtores precisam colherum volume suficiente de café antes de transportá-lo – eesse atraso pode ocasionar o surgimento de mofo nosgrãos.

Ajuda cada vez menos disponível e adoção de duplospadrões: produtores traídos pelos doadores

Os países doadores contribuíram diretamente para essacrise. Em primeiro lugar, por negligenciarem profunda-mente investimentos em desenvolvimento rural. Em se-gundo lugar, por exacerbarem o problema com a adoçãode duplos padrões que estimularam os países em desen-volvimento a abrir seus mercados, enquanto eles própri-os impunham pesadas medidas protecionistas para mantê-los fora dos mercados dos países ricos, restringindo suasopções a uma gama limitada de produtos primários. Oresultado é uma clara traição e uma negação de oportuni-dades agrícolas aos países em desenvolvimento.

O apoio ao desenvolvimento rural – algo imprescindívelpara milhões de produtores dos países mais pobres domundo – está diminuindo, como mostra a figura 12. AOrganização para a Cooperação Econômica e o Desenvol-vimento (OCDE) salienta os compromissos não cumpri-dos de seus países membros: “A ajuda para agricultura,que já estava ficando estagnada no início da década de1980, diminuiu a partir de 1985 a uma taxa anual médiade 7%. Conseqüentemente, essa ajuda caiu de uma cotade 17% no início da década de 1980 para 8% no final dadécada de 1990. Essa queda pode ser parcialmenteexplicada por cortes na ODA (Assistência Externa ao De-senvolvimento) de um modo geral, mas também pormudanças nas políticas setoriais dos doadores (da agri-cultura e de outros setores produtivos para setores sociais).É plausível que a exclusão da agricultura da agenda deredução da pobreza da década de 1990 explique, em par-te, essa queda”.84

Considerando a dependência de tantas pessoas pobres daagricultura como um meio de vida, essa queda é estarre-cedora. “Segundo estimativas da OCDE, a AssistênciaExterna ao Desenvolvimento concedida para atividadesagrícolas representa, atualmente, 8% de toda a ODA: 8%para apoiar três quartos dos pobres”, afirma Lennart Bage,presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimen-to Agrícola da ONU.85

Os países ricos têm demonstrado recentemente grandehabilidade no uso de duplos padrões no comércio. O exem-plo mais notório desse fato é o novo projeto de lei dosEstados Unidos para a agricultura. Em 2000, os paísesricos concederam US$ 245 bilhões86 em subsídios aos seus

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Fonte: estatísticas de CRS e DAC

produtores rurais. Os subsídios concedidos atualmente,com ênfase no aumento da produção, têm efeitos devas-tadores para produtores pobres nos países em desenvol-vimento. Seus efeitos são muito nocivos porque distorcemo mercado e permitem que os produtores dos países ricosvendam seus produtos a preços muito baixos nos merca-dos mundiais. Os produtores pobres não conseguem con-correr em bases tão injustas.

Os países ricos também aplicam barreiras tarifárias a bensdos quais muitos países em desenvolvimento dependempara gerar receitas de exportação: produtos agrícolas eprodutos manufaturados com alto coeficiente de mão-de-obra. Os países em desenvolvimento gastam em torno deUS$ 43 bilhões por ano com o pagamento de tarifas deimportação.87

Os injustos subsídios e tarifas de importação dos paísesricos têm um impacto forte sobre os produtores de café:

eles limitam suas opções e, portanto, são também res-ponsáveis, em parte, pelo problema mais amplo dos pro-dutos primários. Um artigo sobre a Nicarágua, publicadono Wall Street Journal, levantou a seguinte questão: “Ou-tros produtores (de café) mencionam a possibilidade depassar a cultivar outros produtos. No entanto, a experiên-cia de produtores que plantaram amendoim ou gergelimos desestimula. Esses produtores estão quase falindo apóstentarem concorrer com os produtores dos Estados Uni-dos, que recebem generosos subsídios de Washington”.88

Os países da África subsaariana são os mais afetados. Seusgovernos propuseram um plano de ação com a Nova Par-ceria para o Desenvolvimento da África (NEPAD). A res-posta dos governos dos países ricos foi decepcionante.

Todos os doadores

G7 (Grupo dos sete países mais ricos do mundo)

Multilaterais

Milh

ões

de U

S$

Figura 12: Ajuda decrescente para a agricultura: 1973-2000Média móvel de cinco anos, preços constantes de 1999

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3O mercado dos cafés especiais– uma alternativa interessante?Não para todos…

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Annie Bungeroth/OXFAM

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Maria, Janet, Eduarda e Felicia tomam umcafezinho numa pausa de seu trabalho na fábricade processamento de café de Chiclayo, em Piura,Peru. A fábrica fornece café em grãos à Café Directpara o mercado do Comércio Justo.

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Em contraste com a baixa registrada nos preços dos caféstradicionais, os cafés ‘especiais’ – novos tipos vendidos apreços mais altos por sua qualidade superior – têm obtidoum grande sucesso. Os vendedores diferenciam esses pro-dutos salientando país de origem, enfatizando característi-cas particulares ou indicando que são orgânicos, cultiva-dos à sombra ou comercializados de acordo com as práti-cas do movimento do Comércio Justo. Os produtores quevendem seus produtos nesse mercado freqüentemente con-seguem um preço muito melhor para suas safras.

Os pioneiros dessas opções populares não foram as torre-fadoras tradicionais, e sim os cafés, que familiarizaramclientes ocidentais com o café latte, o cappuccino e o caféexpresso. Uma das maiores cadeias de cafés, a Starbucks,declarou sua intenção de adquirir todo o seu café de pro-dutores que satisfazem novas diretrizes sociais e ambientaise de comprar 74% do café verde a preços fixos e de longoprazo, garantindo, assim, estabilidade e previsibilidade paraos produtores em 2002. O mais interessante, no entanto, éque o argumento comercial de que essas medidas são neces-sárias para garantir a qualidade do café tenha sido colocadopara os investidores e aceito por eles. Os consumidores fica-rão interessados em verificar se os pequenos produtores co-lherão algum benefício desse esquema.

Aqui e ali, cooperativas de países produtores estão se as-sociando a comerciantes e lojas de cafés especiais em pa-íses consumidores para mudar a forma pela qual o café écomprado e vendido. Na Nicarágua, por exemplo, doispequenos produtores venderam recentemente sua varie-dade arábica especial num leilão realizado pela Internetpor US$ 11,75 a libra, ou cerca de 23 vezes o preço pagopela variedade em Nova Iorque.89 Um elemento-chave parao desenvolvimento desses cafés especiais e a divulgaçãode informações sobre eles é a realização de concursos querecompensam a melhor qualidade.

Preços melhores e ágio cobrado em função da qualidadetornam o mercado dos cafés especiais particularmenteatraente para produtores e países que tentam se livrar daarmadilha dos preços baixos e da baixa qualidade. Casos

bem-sucedidos são freqüentemente citados como exem-plos que geram esperança para outros produtores à pro-cura de opções viáveis. No entanto, é crucial que gover-nos e indústria de um modo geral considerem adequada-mente o risco de estimular todos os produtores a optarempela mesma alternativa. Um mercado de produtos espe-ciais perderá sua singularidade e capacidade de pagar pre-ços altos se ficar superabastecido e o consumo não cres-cer com ele.

O Comércio Justo: um raio de esperança“No setor do café, o movimento do Comércio Justo mos-trou claramente que os produtores podem conseguir pre-ços duas vezes mais altos que os atuais preços desastrosa-mente baixos sem afetar a disposição dos consumidoresde comprar um produto de boa qualidade.” – PauloDubois, chefe de operações, Organização Internacionaldo Café

No clima atual, o movimento do Comércio Justo tornou-se um salva-vidas para muitos produtores. Este movimentooriginou muitas iniciativas comerciais que geram lucro,mas não perdem de vista o objetivo explícito de melhorara vida dos produtores dos quais adquirem café. O movi-mento do Comércio Justo baseia-se num princípio essen-cial: o compromisso de pagar um valor justo aos produto-res – um preço que cubra seus custos e seja estável. Osprodutores de café da variedade arábica, por exemplo, re-cebem pelo menos US$ 1,26 por libra,90 bem mais que odobro do preço de mercado.

O primeiro café comercializado em bases justas foi im-portado, em 1973, pelos Países Baixos de cooperativas depequenos produtores guatemaltecos. Trinta anos depois,quase 200 cooperativas de café, que representam 675 milprodutores, mais de 70 comerciantes e cerca de 350 torre-fadoras, trabalham com base nos padrões da FLO(Fairtrade Labelling Organisations International) paracolocar produtos no mercado de uma maneira que garan-ta um retorno decente para seus produtores.

3. O mercado dos cafés especiais – umaalternativa interessante? Não para todos…

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Enfatizando fortemente mecanismos de gestão e estrutu-ras organizacionais cooperativas, o movimento do Comér-cio Justo empenha-se em fazer com que as pessoas envol-vidas na cadeia de fornecimento do café trabalhem combase em condições transparentes de comércio e garan-tam condições decentes de produção, eliminando, aomesmo tempo, alguns dos principais obstáculos queinviabilizam o acesso de produtores pobres ao mercado.Entre outras medidas tomadas pelo movimento, podemoscitar o pré-financiamento parcial de pedidos, para evitarque organizações de pequenos produtores fiquemendividadas; o pagamento de um ágio para uso em regi-me de acordo mútuo entre os produtores; compromissoscontratuais que permitem aos produtores desenvolver umplanejamento de longo prazo para a sua produção; e a garan-tia de condições sociais e ambientais que reflitam as conven-ções da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

O padrão estabelecido pela FLO para o café consiste emum esquema voluntário financiado por taxas pagas porproprietários de marcas a título de licença. A garantia determos e condições decentes para os produtores émonitorada pela FLO em regime de cooperação com ór-gãos nacionais, enquanto organizações como a MaxHavelaar (Países Baixos, Bélgica, França, Suíça, Dinamar-ca), a TransFair USA (América do Norte) e a FundaçãoFairtrade (Reino Unido) administram e promovem dife-rentes marcas de certificação em seus respectivos merca-dos consumidores.

Como um dos impactos mais importantes, o movimentodo Comércio Justo tem melhorado muito as condições devida dos produtores, que conseguem vender café a preçosque os possibilitam satisfazer suas necessidades básicas.Na Cooperativa de Produtores de Café de Oromiya, naEtiópia, por exemplo, os cafeicultores conseguem até 70%do preço de exportação pelo produto vendido no âmbitodo movimento do Comércio Justo, enquanto os produto-res da zona de Jimma da província de Kafa, na Etiópia,que vendem no mercado aberto, só alcançam 30%.

Felipe Huaman, da Cooperativa de Bagua Grande, Peru,que vende café no mercado do Comércio Justo, explica:“Desde que nos aliamos à Twin e à Café Direct, nossospreços começaram a subir, melhorando as condições devida das famílias dos produtores. Essa é a nossa maiorrecompensa e o que mais apreciamos”. Ter um preçomelhor certamente é importante, mas um estudo indica

que os benefícios indiretos para as organizações de pro-dutores podem ser ainda mais interessantes.91

Em segundo lugar, o movimento do Comércio Justo temprovocado impactos benéficos para o meio ambiente. Emdecorrência do enfoque em pequenos produtores e daênfase em técnicas sustentáveis de produção, a maior partedo café comercializado no âmbito do movimento é culti-vada à sombra, com todas as vantagens em termos de bio-diversidade que esse tipo de cultivo oferece em relação aoproduto cultivado ao sol. A polpa do café produzida noprimeiro estágio de processamento é usada como maté-ria orgânica nos cafezais, evitando a diminuição dos ní-veis de oxigênio e a poluição dos rios.

Em terceiro lugar, o movimento do Comércio Justo repre-senta a ameaça de um bom exemplo para as grandes em-presas de café. Ao enfatizar indiretamente o fato de queos produtores que vendem seu café no mercado tradicio-nal só conseguem preços insuficientes até mesmo paracobrir seus custos de produção, a simples existência domovimento do Comércio Justo acarretou um sério riscopara a reputação de empresas cujos produtos são muitosuscetíveis aos sentimentos do consumidor.

Como a Kraft reconhece, “desde o início da década de1990, um número crescente de organizações comerciaisentrou em atividade, oferecendo marcas de café sob di-versos rótulos de ‘comércio justo’ ou ‘ecológicos’, as quaisconcorrem com o comércio convencional do café com baseem argumentos éticos. Como a demanda pelo ComércioJusto e/ou pelo café ecológico tem sido apenas moderada,ela só gerou pequenas empresas, mas grandes problemasde imagem para a indústria tradicional do café como umtodo”.92

Inicialmente, as empresas tradicionais de café opunham-se fortemente ao termo ‘Comércio Justo’ em decorrênciada implicação de que outros bens estariam sendocomercializados em bases injustas. A Nestlé chegou aproduzir um panfleto contra as reivindicações do movi-mento. Posteriormente, elas adotaram a atitude de ‘se éimpossível vencê-los, una-se a eles’ e algumas passaram acomprar uma parcela reduzida de seu café de produtoresassociados ao movimento do Comércio Justo ou pelomenos a pagar um ágio sobre a taxa de mercado.

Atualmente, essas empresas argumentam que suas ativi-dades no âmbito do movimento do Comércio Justo conti-nuam reduzidas em função de uma demanda limitada.

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Mas essa demanda pode ser desenvolvida e ampliada,como os proprietários de marcas importantes sabem muitobem. Quando a opção está disponível, os consumidoresoptam cada vez mais por uma postura ética: em todo omundo, as vendas de café no âmbito do movimento doComércio Justo cresceram 12% em 2001,93 contra umaumento geral no consumo de café de apenas 1,5%.

O café torrado e moído, comercializado no âmbito domovimento do Comércio Justo, responde atualmente pormais de 7% do mercado do Reino Unido e por cerca de2% do mercado do café como um todo. A Café Direct,uma das principais marcas do movimento do ComércioJusto e na qual a Oxfam tem participação acionária, ocu-pa a sexta posição no mercado de café do Reino Unido –muito à frente da marca italiana Lavazza.94 Nos últimostrês anos, mais de 140 empresas começaram a venderprodutos certificados pelo movimento do Comércio Justonos Estados Unidos, em cerca de 10 mil pontos de varejoespalhados por todo o país: o mercado cresceu 36% sóem 2001.

Alguns economistas criticam o movimento do ComércioJusto, argumentando que os preços altos levam produto-res, que estariam em melhores condições se optassem poroutras culturas, a continuar produzindo café, o que exa-cerba a superoferta no longo prazo. Independentementedo fato de o princípio do Comércio Justo poder ou não seraplicado ao mercado tradicional, a Oxfam acredita que afalta de outras possibilidades e a ausência de redes de se-gurança oferecidas pelos governos a produtores pobrestornam esse tipo de apoio uma tentativa plenamente jus-tificável e adequada de se lidar com o custo humano im-posto pelos rigores do livre mercado.

A despeito do sucesso alcançado, o movimento do Co-mércio Justo não conseguirá, por si só, solucionar a crise,em decorrência do persistente desequilíbrio entre a ofer-ta e a demanda. Isso não significa que as empresas tradi-cionais não possam assumir um compromisso mais sóli-do no sentido de comprar café comercializado com basenos princípios do Comércio Justo: elas podem e devemfazer isso. São necessárias, porém, iniciativas mais am-plas para se fazer frente aos atuais desequilíbrios dosmercados tradicionais.

As marcas de cafés especiais estãocaptando um alto valorAlguns países produtores têm se beneficiado do mercadode cafés especiais, desenvolvendo marcas específicas paracafés de qualidade e estabelecendo uma reputação e umnicho de mercado. A Jamaica cultivou sua marca BlueMountain e a Índia a Monsooned Malabar, ambas muitoapreciadas. A Colômbia é citada como uma outra históriade sucesso nessa área: seus grandes investimentos emmarketing, associados à prestação de serviços de exten-são para os cafeicultores, garantiram a produção de umcafé de alta qualidade, vendido com ágio, com as marcasJuan Valdez e Café de Colombia. No entanto, mesmo essespaíses bem-sucedidos já enfrentaram tempos difíceis. Comoas receitas do café caíram, as autoridades responsáveis peloproduto na Colômbia foram forçadas a cortar parte de suasdespesas com o marketing da marca Juan Valdez.

Correndo para a mesma saída?As iniciativas que ajudam os produtores a concentrar seusesforços no mercado dos cafés especiais fazem sentido,considerando que essa é a parte do mercado em expansãonos países ricos. No entanto, torna-se vital que empresase governos – tanto dos países consumidores como dosprodutores – reconheçam que essas iniciativas só podemser parte de uma solução geral.

Nem todos os produtores pobres têm condições de entrarno mercado especial dos cafés da variedade arábica. Seum número excessivo deles tentasse entrar nesse segmen-to do mercado, este deixaria de ser um nicho capaz degarantir preços altos. Simplesmente apoiar produtores nomercado dos cafés especiais não pode ser uma soluçãopara os problemas sistêmicos que afetam milhões de pro-dutores. O fenômeno de todos correrem para a mesmasaída – conhecido na economia como ‘a falácia da compo-sição’ – tem sido uma marca registrada do setor dos pro-dutos primários há décadas e uma questão não abordadade forma conveniente pelas instituições internacionais.

O Banco Mundial e o FMI têm contribuído para exacer-bar a crise do café nesse particular, pois não orientamadequadamente os países produtores em relação ao im-pacto do aumento da produção sobre os preços mundiais.O Banco Mundial tem uma unidade que se dedica a ras-trear e prever os preços mundiais das commodities,95 mas

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suas previsões são sempre excessivamente otimistas,emitindo para os países produtores sinais equivocados defuturas melhoras no mercado. O Banco Mundial e o FMIproduziram recentemente um documento que estima aperda das receitas de exportação decorrente da queda nospreços dos produtos primários em 1,5% a 2% do PIB paraos 24 Países Pobres Altamente Endividados em 2000 e2001.96 Solicitaram também financiamentos adicionaisdos doadores para permitir pagamentos complementares apaíses que estão sofrendo choques, como intensas baixasnos preços de produtos primários. Os governos de paísesdoadores devem disponibilizar os recursos imediatamente.

Além disso, faz parte das funções essenciais das institui-ções financeiras internacionais orientar governos que to-mam empréstimos sobre riscos e desvantagens de aumen-tarem sua produção e sugerir estratégias alternativas. Noentanto, essas instituições não têm desempenhado estepapel de forma alguma. Em Burundi, por exemplo, ondeo café responde por 80% das receitas de exportação, oBanco Mundial produziu recentemente um relatório quenão identificou o risco da enorme dependência do país nocafé, embora este contenha uma seção inteira sobre ou-tros riscos potenciais.97 Um outro relatório do banco iden-tifica o café como ‘uma fonte de crescimento’.98

Da mesma maneira, na Etiópia, uma avaliação conjuntado FMI e do Banco Mundial sobre o Documento Interinode Estratégia de Redução da Pobreza (PRSP), não levantao problema da superdependência do café, a despeito deque esta questão foi claramente deixada de lado nos pla-nos do governo de promover uma ‘Industrialização Base-ada no Desenvolvimento Agrícola’.99

Não há justificativa para a inérciaAs principais torrefadoras não estão enfrentando comseriedade o círculo vicioso dos preços baixos e da baixaqualidade, do qual o mercado do café não consegue selivrar, certamente expondo a atividade básica dessas em-presas a riscos. Algumas delas adotaram medidas ad hoce limitadas em relação à qualidade do café ou a questõesrelacionadas ao meio ambiente, mas estas não possuem aescala necessária para combater a crise. O contraste entreesse fato e a energia política gasta por empresas e gover-nos ricos em promover mudanças em relação às ‘novas ques-tões’ (new issues) relacionadas às regras de investimento econcorrência na próxima rodada de negociações da Organi-

zação Mundial do Comércio (OMC) é impressionante.

Só a Nestlé se manifestou sobre a necessidade de umaabordagem coordenada e internacional para a gestão daoferta do café. “A Nestlé é contra preços baixos porqueeles são ruins não apenas para os produtores, mas tam-bém para os negócios da empresa... Portanto, a Nestléapóia iniciativas que tenham por finalidade promover umamelhor gestão da oferta, reduzindo a volatilidade e man-tendo os preços do café dentro de faixas que proporcio-nem um meio de vida satisfatório para os produtores epermitam que o consumo cresça. Isso inclui mecanismossemelhantes ao Acordo Internacional do Café”.100

Nem todas as empresas reconhecem com a desenvolturanecessária sua responsabilidade de ajudar os produtoresa superar dificuldades. Algumas delas ainda se recusam aadmitir que a situação dos produtores exija sua interven-ção. Elas fizeram uma sondagem inicial sobre como agirnesse sentido na reunião de cúpula da Associação Nacio-nal do Café dos Estados Unidos, em fevereiro de 2002,intitulada In Search of Global Solutions (Em Busca deSoluções Globais), que identificou oito opções a seremconsideradas pelo setor ao abordar o problema. As op-ções indicadas incluíram a educação de produtores na di-versificação de lavouras, o uso de contratos de longo pra-zo e firmados com independência por parte das torrefa-doras e mais acessibilidade, conveniência e opções emtermos de qualidade para consumidores de café. Umanítida falta de senso de urgência caracterizou o evento: areunião da diretoria da organização, convocada durante oevento para discutir a priorização de três dessas oito op-ções, só foi realizada três meses depois.

Embora não existam soluções fáceis, a complexidade nãodeve ser uma desculpa para a inércia. O Banco Mundialadverte que “a persistirem as tendências atuais, comomuitos prevêem, a crise do café pode evoluir para umacrise social e ambiental de grandes proporções”.(101) Paraevitar isso, faz-se necessário um esforço internacionalharmonizado com a participação de todos os principaisatores envolvidos no comércio do café e de organizaçõescapazes de trazer a dimensão do desenvolvimento para amesa de negociações. Diferentes atores poderão desem-penhar papéis diferentes e complementares. O mais im-portante, no entanto, é que chegou a hora dos líderes docomércio mundial e das grandes torrefadoras de café seenvolverem com o problema.

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4Saindo da crise: uma estratégia de ação

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Rupert Elvin

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Na visão da Oxfam, um mercado de café que opere a favordos pobres exige ações por parte de muitos atores em cincofrentes:

• restauração do equilíbrio entre oferta e demanda

• restauração da qualidade e aumento da produtividade

• preços mais altos, revitalização de meios de vida

• manutenção e desenvolvimento da capacidade de agregarvalor

• estabelecimento de opções efetivas para o desenvolvimen-to rural.

São necessárias ações imediatas para superar o colapso dospreços, mas também políticas e práticas novas e de longoprazo para apoiar os produtores no processo de transição àmedida que o mercado se reequilibra.

Governos e organismos multilaterais precisam se manifes-tar claramente e sem demora sobre a crise do café. Eles pre-cisam catalisar apoio político para o argumento de que a bai-xa nos preços deste e de outros produtos primários constituium problema comercial de suma importância – embora omercado do café, amplamente desregulamentado, não sejauma questão a ser abordada no âmbito da OMC – e exigirque os países ricos ataquem o problema com o mesmo vigorcom que tratam temas relacionados a investimentos ou ser-viços. Essas mesmas autoridades comerciais devem pressio-nar os gigantes do café no sentido de que assumam respon-sabilidades sociais em suas atividades corporativas e se com-prometam, até mesmo em seu próprio interesse, a fazer asua parte para solucionar a crise.

Restauração do equilíbrio entre oferta edemandaComo prioridade imediata, os governos e as empresas de-vem assumir o compromisso de destruir cinco milhões desacas de café de qualidade extremamente baixa, mantidasem estoque nos países importadores. Essa ação custaria cer-ca de US$ 100 milhões e emitiria um sinal imediato para omercado. Segundo uma análise econômica realizada a pedi-do da Organização Internacional do Café, isto poderia levar

a um aumento no preço do café de 20% em relação aos pre-ços médios praticados em 2000/1, gerando entre US$ 700milhões e US$ 800 milhões em receitas adicionais de ex-portação para os países produtores de café.102

Existe um potencial real para as torrefadoras fazerem maisem termos do que elas próprias consideram seu papel: am-pliar e desenvolver o mercado do café. Seu desempenho nessaárea tem sido desanimador: elas são responsáveis por gran-des perdas de participação no mercado de bebidas em paísesricos, como os Estados Unidos. Poderiam se dedicar muito maisao desenvolvimento de uma nova demanda em mercados emer-gentes, em vez de lutar para manter seus clientes atuais nosEstados Unidos e na Europa.

Num prazo mais longo, será necessária uma colaboraçãomuito maior entre diferentes atores no sentido de encontrarmecanismos baseados no mercado capazes de impedir umdesequilíbrio tão acentuado entre oferta e demanda. Issoexigirá uma liderança internacional que reúna todas as par-tes para discutir uma ação comum. O acordo resultante de-verá incluir intervenções no mercado com vistas a adminis-trar a oferta.

Restauração da qualidade e aumento daprodutividadeA restauração da qualidade é fundamental para aumentar ovalor do grão do café. A proposta mais importante para acrise em âmbito internacional é o Esquema de Melhoria doCafé, apresentado pela OIC. Este deve ser implementado nofinal de 2002, com objetivo de eliminar a exportação do produ-to cuja qualidade esteja abaixo de um determinado patamar.

Se esse esquema for implementado na íntegra, poderá eli-minar do mercado internacional entre 3% e 5% de todo ocafé produzido no mundo, interrompendo o ciclo destrutivodos atuais incentivos à produção de cafés de baixa qualida-de. O esquema precisa de apoio financeiro, principalmentepara que seu impacto em produtores e países pobres sejadevidamente avaliado. Deverá, ainda, prever algum meca-nismo de apoio para os produtores pobres de cafés de quali-dade mais baixa, particularmente aqueles com limitaçõestecnológicas e países com mercados internos reduzidos.

4. Saindo da crise: uma estratégia de ação

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Os produtores rurais de pequeno porte têm, potencialmen-te, condições de produzir um café de qualidade muito boa.Eles podem ser mais cuidadosos na colheita de frutos madu-ros do que os proprietários de grandes cafezais mecaniza-dos. No entanto, existem muitos outros fatores que determi-nam a qualidade, em relação aos quais os pequenos produ-tores necessitam de ajuda, bem como de estruturas para ga-rantir que sejam recompensados pela qualidade. Precisamde ajuda, por exemplo, para adotar melhores práticas deprocessamento, para desenvolver sua capacidade técnica ede comercialização e para ter mais poder nas negociações,desenvolvendo-as por meio de organizações de produtores.

Os países com mercados internos muito limitados precisarãode apoio, porque não conseguirão exportar seu café de qualida-de mais baixa no âmbito do esquema da OIC e esse excedentenão será facilmente absorvido por compradores internos.

O esquema de qualidade da OIC representa uma iniciativade importância crucial dos países produtores, mas ainda nãoconta com o apoio necessário das torrefadoras e dos gover-nos de países consumidores. Seu apoio – por meio de comprae monitoramento de importações – será essencial para que oesquema seja bem sucedido no mercado.

Talvez se deva aumentar a produtividade na base da pirâmi-de – por exemplo, de produtores de café da variedade robus-ta em alguns países da África subsaariana. Qualquer apoiogovernamental nesse sentido, no entanto, deve ser cuidado-samente analisado para não acentuar o problema dasuperoferta. Aumentar a produtividade de forma que a mes-ma quantidade de café possa ser produzida em áreas meno-res significa liberar terras e recursos para outros usos, pro-porcionando mais opções aos produtores sem ampliar asuperoferta.

Como um exemplo de ação, podemos citar um programadesenvolvido pela Autoridade para o Desenvolvimento doCafé de Uganda (UCDA) destinado a doar mudas de um caféhíbrido mais produtivo. Trata-se de uma iniciativa que reco-nhecidamente ajudou os produtores ugandenses a se torna-rem os mais produtivos da África. A UCDA administra cer-ca de mil viveiros e espera distribuir 30 milhões de mudaseste ano.

“O apoio do governo tem sido muito útil, porque estávamosnum beco sem saída. Com os preços do café tão baixos, osprodutores não conseguem comprar novas mudas. Mas acei-tam mudas oferecidas de graça”, diz William Naggaga, daUCDA.103 A OIC e o Fundo Comum para Commodities tam-

bém têm se envolvido em projetos concebidos para ajudaros cafeicultores a controlar pestes, um problema de grandesproporções que afeta sua renda num momento em que estanão poderia estar mais baixa.

Seguindo a mesma linha, algumas empresas têm concedidorecursos para ajudar a melhorar a qualidade do café. Tanto adoação de US$ 1,5 milhão da Procter & Gamble para aTechnoServe como a doação de US$ 500 mil feita pelaStarbucks e pela Fundação Ford à Oxfam América destinam-se a ajudar os produtores a melhorar a qualidade do café queproduzem. Para os cafeicultores beneficiados por esquemasdessa natureza, as vantagens são consideráveis, mas iniciati-vas filantrópicas isoladas de empresas não são suficientesdiante da escala da crise.

Preços mais altos, revitalização de meiosde vidaAs empresas torrefadoras poderiam assumir o compromis-so de pagar preços que garantam uma renda decente aosprodutores e de administrar suas cadeias de abastecimentono sentido de permitir que estes consigam mais benefíciosdo mercado e tenham uma renda adequada. Os ganhos de-vem cobrir mais que os custos de produção – devem permi-tir que os cafeicultores satisfaçam as necessidades básicasde suas famílias em termos de alimentação, educação bási-ca, assistência médica e moradia. Há cálculos disponíveisdesses custos, compilados tanto por autoridades de café depaíses produtores como por empresas, embora estes variemde país a país.

É difícil estabelecer custos para pequenos produtores, tendoem vista que muitos dos insumos usados não possuem va-lor monetário e suas estruturas de custos são muito diferen-tes das de empreendimentos de maior porte. No entanto,essas dificuldades não devem ser usadas como uma descul-pa para a omissão. Em poucos outros setores seria necessá-rio argumentar-se que os custos dos fornecedores precisamser cobertos, mas em poucos outros setores as empresasdesfrutam do luxo de contar com uma base de abastecimen-to que continuará a ter prejuízos ano após ano.

Mesmo que os preços subam, os cafeicultores continuarãoexpostos ao risco das flutuações de preços. Diante dessa ques-tão, um grupo privado foi estabelecido sob a égide do BancoMundial para ajudar pequenos produtores a administraremo problema da volatilidade dos preços. A força-tarefaestabelecida envolve seguradoras e instituições financeiras

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de países desenvolvidos e em desenvolvimento e atualmenteestá conduzindo esquemas piloto em diversos países. A idéiaé disponibilizar instrumentos baseados no mercado aos pro-dutores para que estes garantam um preço mínimo para oseu café.

Como parte desse trabalho, uma pesquisa foi desenvolvidana Nicarágua para avaliar a demanda pelo serviço entre pro-dutores. Os resultados indicam que mesmo quando os pre-ços estão muito baixos, os produtores apreciam o benefíciode pagar um ágio que garanta um preço de mercado para oseu café num futuro próximo. De acordo com o esquemaproposto, os cafeicultores pagariam um “prêmio de seguro”para ter o direito, mas não a obrigação, de vender o seu pro-duto a um preço pré-fixado.

Manutenção e desenvolvimento dacapacidade de agregar valorPara os produtores, uma das poucas maneiras de agregarvalor é processando o café de modo a garantir sua qualidade.O café descascado e com a polpa extraída atrai um preçomelhor por libra do que o fruto não processado. Investimen-tos em pequena escala em tecnologias adequadas podemgerar bons resultados para os produtores.

Na Colômbia, por exemplo, a Federação do Café desenvol-veu um processador mecânico portátil a motor que retira apolpa do fruto da variedade arábica. Disponibilizar essa má-quina a cafeicultores em todas as áreas rurais significariaagregar muito valor a seus produtos. Obviamente, para queos produtores possam colher os benefícios desses investi-mentos, precisam ter a possibilidade de vender para ummercado que recompensa a qualidade. Governos nacionaise compradores (locais e internacionais) têm uma importan-te responsabilidade a assumir nesse sentido.

Em âmbito nacional, agregar valor constitui um desafioconsiderável. Este desafio deve ser superado urgentemen-te com o objetivo de aumentar o processamento nos pró-prios países produtores. Mas o processamento por si sónão é suficiente para agregar valor. O desenvolvimentode marcas, o marketing, a identificação de novas rotas decomercialização e de novas maneiras de chegar aos con-sumidores também fazem parte do processo, algo que ospaíses produtores precisam desenvolver com urgênciapara aumentar suas receitas.

Estabelecimento de alternativas efetivaspara o desenvolvimento ruralO apoio de doadores será necessário para ajudar qualquerpaís produtor que tenha desenvolvido um plano viável quevise reduzir a produção de café e apoiar produtores particu-larmente pobres. O Vietnã, por exemplo, mencionou recen-temente a necessidade de diminuir a produção de alguns deseus cafés da variedade robusta de qualidade mais baixa quegeram prejuízos. Os cafeicultores, particularmente mulhe-res pobres, precisariam contar com apoio adequado para ar-car com os custos dessa transição.

Num contexto mais amplo, os esforços de diversificação dacultura do café precisam ser considerados à luz das tendên-cias negativas registradas para outras commodities. A comu-nidade internacional há muito deveria ter adotado uma abor-dagem integrada para commodities.

ConclusãoA forma pela qual o mercado do café tem sido administradoestá provocando miséria em todos os países em desenvolvi-mento. Os problemas que essa situação acarreta para cafei-cultores e países pobres não podem mais ser ignorados. Tudotem um limite. O mercado do café deve operar a favor tantodos pobres como dos ricos.

Deve-se compreender o fracasso de esforços anteriores paraintervir no mercado e aprender as lições. Mas há tambémlições que precisam ser aprendidas com base na situação atu-al. Querer que as pessoas mais pobres e impotentes do mun-do negociem num mercado aberto com algumas das empre-sas mais ricas e poderosas do mundo significa pretender queos ricos fiquem mais ricos e os pobres mais pobres. Paraque essa situação se reverta, faz-se necessária a participaçãode todos os atores envolvidos no comércio do café.

O ano que vem será crítico. Os governos dos países produto-res acordaram um plano que tem por objetivo reduzir a ofer-ta, melhorando a qualidade do café que comercializam. Esseplano só dará certo se for apoiado por empresas e países ri-cos e complementado por medidas para atacar o subdesen-volvimento rural no longo prazo.

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É necessário um Plano de Resgate para o CÉ necessário um Plano de Resgate para o CÉ necessário um Plano de Resgate para o CÉ necessário um Plano de Resgate para o CÉ necessário um Plano de Resgate para o Café queafé queafé queafé queafé querealinhe a oferta com a demanda e apóie o desenvolvi-realinhe a oferta com a demanda e apóie o desenvolvi-realinhe a oferta com a demanda e apóie o desenvolvi-realinhe a oferta com a demanda e apóie o desenvolvi-realinhe a oferta com a demanda e apóie o desenvolvi-mento rural, de modo que os cafeicultores possam termento rural, de modo que os cafeicultores possam termento rural, de modo que os cafeicultores possam termento rural, de modo que os cafeicultores possam termento rural, de modo que os cafeicultores possam teruma renda decente. O plano precisa reunir os principaisuma renda decente. O plano precisa reunir os principaisuma renda decente. O plano precisa reunir os principaisuma renda decente. O plano precisa reunir os principaisuma renda decente. O plano precisa reunir os principaisatores envolvidos na produção e no comércio do café paraatores envolvidos na produção e no comércio do café paraatores envolvidos na produção e no comércio do café paraatores envolvidos na produção e no comércio do café paraatores envolvidos na produção e no comércio do café paraque a crise seja superada e se possa criar um mercadoque a crise seja superada e se possa criar um mercadoque a crise seja superada e se possa criar um mercadoque a crise seja superada e se possa criar um mercadoque a crise seja superada e se possa criar um mercadomais estável.mais estável.mais estável.mais estável.mais estável.

Dentro de um ano, e sob os auspícios da OIC, o Plano deDentro de um ano, e sob os auspícios da OIC, o Plano deDentro de um ano, e sob os auspícios da OIC, o Plano deDentro de um ano, e sob os auspícios da OIC, o Plano deDentro de um ano, e sob os auspícios da OIC, o Plano deResgate deve resultar em:Resgate deve resultar em:Resgate deve resultar em:Resgate deve resultar em:Resgate deve resultar em:

1. Compromisso das empresas torrefadoras de pagar umpreço decente aos produtores.

2. Compromisso das empresas torrefadoras de só comercia-lizar cafés que satisfaçam aos padrões do Esquema deMelhoria da Qualidade da OIC.

3. Destruição de pelo menos cinco milhões de sacas comomedida imediata, a ser financiada por governos de paísesricos e por empresas torrefadoras.

4. Criação de um Fundo de Diversificação destinado a ajudarprodutores com baixa produtividade a buscar outros mei-os de vida.

5. Compromisso, por parte das empresas torrefadoras, decomprar volumes crescentes de cafés comercializados, deacordo com as condições propostas pelo movimento doComércio Justo e diretamente dos produtores. Dentro deum ano, esse volume deve corresponder a 2%, com au-mentos incrementais subseqüentes.

O Plano de Resgate representa o piloto de uma IniciativaO Plano de Resgate representa o piloto de uma IniciativaO Plano de Resgate representa o piloto de uma IniciativaO Plano de Resgate representa o piloto de uma IniciativaO Plano de Resgate representa o piloto de uma Iniciativade Gde Gde Gde Gde Gestão de estão de estão de estão de estão de CommoditiesCommoditiesCommoditiesCommoditiesCommodities, de prazo mais longo, destina-, de prazo mais longo, destina-, de prazo mais longo, destina-, de prazo mais longo, destina-, de prazo mais longo, destina-da a melhorar os preços desda a melhorar os preços desda a melhorar os preços desda a melhorar os preços desda a melhorar os preços desssssses produtos e a disponibili-es produtos e a disponibili-es produtos e a disponibili-es produtos e a disponibili-es produtos e a disponibili-zar outros meios de vida para os produtores. Os resulta-zar outros meios de vida para os produtores. Os resulta-zar outros meios de vida para os produtores. Os resulta-zar outros meios de vida para os produtores. Os resulta-zar outros meios de vida para os produtores. Os resulta-dos desse plano seriam os seguintes, entre outros:dos desse plano seriam os seguintes, entre outros:dos desse plano seriam os seguintes, entre outros:dos desse plano seriam os seguintes, entre outros:dos desse plano seriam os seguintes, entre outros:

1. Estabelecimento de mecanismos, por parte dos produto-res e dos governos de países consumidores, para corrigir odesequilíbrio entre oferta e demanda, visando garantir pre-ços razoáveis para os produtores. Os produtores devemestar adequadamente representados nesses esquemas.

2. Cooperação entre governos de países consumidores nosentido de impedir que entre no mercado um volumemaior de commodities do que pode ser vendido.

3. Apoio aos países produtores para que estes extraiam umaparcela maior do valor de seus produtos primários.

4. Amplos financiamentos de doadores para reduzir a enor-me dependência que os pequenos produtores têm decommodities agrícolas.

5. Fim dos duplos padrões adotados pela União Européia epelos Estados Unidos no comércio de produtos agrícolas,que restringem as opções dos países em desenvolvimento.

6. Pagamento, pelas empresas, de um preço decente por pro-dutos primários (acima dos custos de produção).

O Plano de Resgate para o CO Plano de Resgate para o CO Plano de Resgate para o CO Plano de Resgate para o CO Plano de Resgate para o Café só poderá ser bem-suce-afé só poderá ser bem-suce-afé só poderá ser bem-suce-afé só poderá ser bem-suce-afé só poderá ser bem-suce-dido se todos os atores deste mercado se envolverem ati-dido se todos os atores deste mercado se envolverem ati-dido se todos os atores deste mercado se envolverem ati-dido se todos os atores deste mercado se envolverem ati-dido se todos os atores deste mercado se envolverem ati-vamente na sua execução. As recomendações apresenta-vamente na sua execução. As recomendações apresenta-vamente na sua execução. As recomendações apresenta-vamente na sua execução. As recomendações apresenta-vamente na sua execução. As recomendações apresenta-das a seguir incluem elementos do que cada grupo podedas a seguir incluem elementos do que cada grupo podedas a seguir incluem elementos do que cada grupo podedas a seguir incluem elementos do que cada grupo podedas a seguir incluem elementos do que cada grupo podefazer para que o plano funcione.fazer para que o plano funcione.fazer para que o plano funcione.fazer para que o plano funcione.fazer para que o plano funcione.

Empresas de caféEmpresas torrefadoras – KrafEmpresas torrefadoras – KrafEmpresas torrefadoras – KrafEmpresas torrefadoras – KrafEmpresas torrefadoras – Kraft, Nestlé, Procter & Gt, Nestlé, Procter & Gt, Nestlé, Procter & Gt, Nestlé, Procter & Gt, Nestlé, Procter & Gambleambleambleambleamblee Sara Leee Sara Leee Sara Leee Sara Leee Sara Lee

1. Comprometam-se a pagar um preço decente aos produtores.

2. Invistam um volume significativo de recursos na supera-ção da crise do café (incluindo uma contribuição financeirapara pacotes de ajuda humanitária contra a crise).

3. Rotulem produtos a base de café de acordo com a sua qualidade.

4. Comprometam-se a comprar volumes crescentes de caféscomercializados de acordo com as condições propostas pelomovimento do Comércio Justo e diretamente dos produto-res. Dentro de um ano, o volume deve corresponder a 2% desuas compras de café, com importantes aumentos incremen-tais subseqüentes a serem determinados anualmente pelomovimento do Comércio Justo.

5. Desenvolvam atividades de lobby junto ao governo dos Es-tados Unidos para que este volte a ser membro da OIC.

6. Assumam compromissos claros e verificáveis de respei-tar os direitos de trabalhadores migrantes e sazonais e asconvenções da OIT.

Recomendações – Um Plano de Resgate para o Café

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Varejistas (supermercados e cafés)

1. Exijam dos fornecedores que o café vendido por eles ga-ranta um preço decente aos produtores.

2. Promovam marcas e produtos a base de café vinculadosao movimento do Comércio Justo.

3. Insistam para que produtos a base de café sejam rotuladosde acordo com a sua qualidade.

4. A Starbucks deve divulgar publicamente suas verificaçõesem relação à viabilidade comercial de suas diretrizes para aseleção de fontes para a compra de café.

Governos e instituiçõesOrganização Internacional do COrganização Internacional do COrganização Internacional do COrganização Internacional do COrganização Internacional do Caféaféaféaféafé

1. Organizem, com a ONU (Organização das Nações Uni-das) e com a participação do Banco Mundial, uma confe-rência de alto nível sobre a crise do café, presidida por KofiAnnan, até fevereiro/março de 2003, especificando que aparticipação deve estar vinculada à disposição e capacida-de de assumir compromissos concretos.

2. Trabalhem com países produtores, organizações envolvidasno movimento do Comércio Justo e empresas torrefadoraspara definir uma renda decente para os produtores.

3. Implementem o esquema de qualidade, após avaliar seuimpacto para pequenos produtores rurais.

Banco MBanco MBanco MBanco MBanco Mundialundialundialundialundial

1. Identifique o apoio que o Banco pode oferecer a paísesprodutores na administração do impacto de curto prazode baixas no preço do café, tecendo, também, considera-ções sobre o desenvolvimento rural no exercício do Docu-mento de Estratégias para a Redução da Pobreza (PRSP).O Banco Mundial e o FMI devem desenvolver uma estra-tégia integrada de longo prazo para atacar o problema dascommodities.

2. Continue a avaliar o processo do programa HIPC à luz daqueda esperada nas receitas de exportação, em decorrên-cia da baixa nos preços dos produtos primários, e tomar asmedidas necessárias para que qualquer país que sofra osefeitos de uma queda importante nos preços de produtosprimários entre o Ponto de Decisão e Conclusão da HIPCreceba automaticamente uma assistência adicional em re-lação à dívida no Ponto de Conclusão para cumprir a metade 150% de dívida-exportações.

3. Contribua para a realização de uma conferência internacio-nal de peso sobre o café, organizada pelas Nações Unidas(UNCTAD) e pela OIC até fevereiro/março de 2003.

Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e De-Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e De-Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e De-Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e De-Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e De-senvolvimento (UNCTsenvolvimento (UNCTsenvolvimento (UNCTsenvolvimento (UNCTsenvolvimento (UNCTAD)AD)AD)AD)AD)

1. Desenvolva uma estratégia de longo prazo para o proble-ma dos produtos primários.

2. Organize uma conferência internacional de peso sobre ocafé com a OIC até fevereiro/março de 2003.

Governos de países produtoresGovernos de países produtoresGovernos de países produtoresGovernos de países produtoresGovernos de países produtores

1. Cooperem entre si para impedir que entre no mercado umvolume de commodities maior do que possa ser vendido.

2. Coloquem a diversificação no centro das estratégias deredução da pobreza.

3. Disponibilizem mecanismos de apoio a produtores queprecisam sair do mercado do café, incluindo assistência amulheres deixadas em propriedades rurais da família.

4. Adotem medidas para satisfazer as necessidades imedia-tas de produtores rurais em termos de serviços de exten-são, entre os quais:

• informações técnicas e de comercialização,

• esquemas de crédito e serviços de gestão de dívidas.

Os serviços de extensão devem considerar, particularmen-te, as necessidades das mulheres produtoras.

5. Estabeleçam sanções contra práticas comerciaisanticompetitivas que prejudiquem pequenos produtoresrurais.

6. Avaliem o impacto do Esquema de Qualidade da OIC parapequenos cafeicultores, principalmente para mulheres pro-dutoras.

7. Protejam os direitos de trabalhadores sazonais e fixos, vi-sando garantir a aprovação e a implementação de leis tra-balhistas compatíveis com convenções essenciais da OIT.Os direitos das mulheres trabalhadoras exigem atençãoespecial.

8. Promovam associações de pequenos produtores e empre-sas visando a fortalecê-los nos mercados nacionais de café.

Governos de países ricos consumidoresGovernos de países ricos consumidoresGovernos de países ricos consumidoresGovernos de países ricos consumidoresGovernos de países ricos consumidores

1. Ofereçam apoio político e financeiro para eliminar o pro-blema da superoferta por meio de medidas, tais como:

51

• apoio e ajuda financeira ao esquema de qualidade da OIC,incluindo o monitoramento da qualidade do café queentra em seus mercados oriundo de cada país produtor,disponibilizando rapidamente informações resultantesdesse monitoramento;

• eliminação das tarifas ainda em vigor;

• destruição de estoques de café de qualidade inferior.

2. Apóiem a OIC como o foro no qual produtores e consu-midores podem atacar a crise do café.

3. Aumentem o financiamento destinado ao desenvolvimen-to rural e aos meios de vida rurais na ODA (AssistênciaExterna ao Desenvolvimento).

4. Ofereçam incentivos para que as torrefadoras transfiramtecnologia e desenvolvam uma proporção maior doprocessamento de valor agregado nos países em desenvol-vimento.

ConsumidoresConsumidoresConsumidoresConsumidoresConsumidores

1. Comprem mais cafés comercializados no âmbito do mo-vimento do Comércio Justo.

2. Peçam aos varejistas que estoquem mais produtoscomercializados no âmbito do movimento do ComércioJusto.

3. Exijam que as empresas adotem políticas de preços quegarantam uma renda decente aos produtores.

4. Exijam uma melhor rotulação sobre a origem do cafécomercializado pelas torrefadoras/varejistas.

5. Peçam aos gerentes de fundos de pensão que levantem asquestões indicadas abaixo.

InvestidoresInvestidoresInvestidoresInvestidoresInvestidores

1. Estimulem as empresas torrefadoras a adotar esquemasde gerenciamento de cadeias de abastecimento e políticasde preços que garantam preços acima dos custos de pro-dução e protejam os direitos trabalhistas dos trabalhado-res em cafezais, visando garantir a sustentabilidade domercado do café no longo prazo.

2. Digam às empresas de café nas quais investem que a pro-moção de melhorias na qualidade de vida de produtoresrurais pobres será um critério-chave na avaliação da ges-tão do risco de sua reputação à luz dos preços que adotame de sua gestão da cadeia de abastecimento.

52

1 Relatório de um analista do Deutsche Bank, “Soluble Coffee: A Pot of Gold?”, 2de maio de 2000

2 Pesquisa da Oxfam em Uganda, fevereiro de 20023 “Bitter Coffee: How the Poor are Paying for the Slump in Coffee Prices”, maio de

2001, Oxford: Oxfam (disponível em inglês e espanhol)4 Fonte: FAO, OIC e Banco Mundial 1997-985 Oxford Analytica, Informe Diário para a América Latina, 19 de junho de 20026 Pesquisa realizada pela Oxfam no Brasil, fevereiro de 20027 Business Índia, maio de 20028 Pesquisa da Oxfam na província de Dak Lak em abril de 2002 e pesquisa realizada

pelo ICARD9 Entrevistas realizadas pela Oxfam América, maio de 200210 Serviço de notícias da Dow Jones, 29 de maio de 200111 Pesquisa da Oxfam na Etiópia, abril de 200212 Dow Jones: “Lower Coffee Prices, Drought Leave 30,000 Hondurans Hungry”, 25

de março de 200213 Oxford Analytica, Informe Diário, “Central America – The Coffee Crisis”, 19 de ju-

nho de 200214 Pesquisa da Oxfam em Uganda, fevereiro de 200215 Declaração da Rede Regional Integrada de Informações (IRIN), Nações Unidas em

Nairobi, 23 de janeiro de 200216 “The Coffee Market: A Background Study”, 2001, Oxford: Oxfam17 “The Coffee Crisis in Perspective”, Panos Varangis e Bryan Lewin, Banco Mundial,

9 de março de 200218 Oxford Analytica, Informe Diário sobre a América Latina. 19 de junho de 200219 Business India, maio de 200220 Nome trocado para proteger a identidade21 Documento para discussão “Managing the Competitive Transition of the Coffee Sector

in Central America”, BID, Banco Mundial e USAID, preparado para o workshopregional sobre a crise do café e seu impacto na América Central, Antigua, Guatemala,3 a 5 de abril de 2002

22 De 1999/00 a 2000/01 de acordo com a OIC23 Autoridade Ugandense para o Desenvolvimento do Café, citada pela agência de

notícias AFP de Kampala, Uganda, em 10 de junho de 200224 De 1999/00 a 2000/01, de acordo com a OIC25 Dados do Banco Mundial26 Comentários extraídos de entrevistas e declarações feitas durante a Conferência do

Café da América Central, realizada no período de 3 a 5 de abril e organizada peloIADB, Banco Mundial e USAID

27 Site da Bolsa de Commodities, Relatos de Ajuda Governamental, atualizado em 15de janeiro de 2002

28 ibid29 ibid30 Dados para anos de safras; o último ano se refere ao período de 2000/200131 FO Licht: Estimativa da Produção Mundial de Café32 Associação de Países Produtores de Café e Oxford Analytica33 Financial Times, “Bumper Brazilian crop prompts fear of glut”, 7 de junho de 200234 Esse fato vai ficar caracterizado nos números relativos à produção brasileira para a

safra de 2002/200335 Entrevista com a Oxfam, primavera de 200236 Serviço de Pesquisas Econômicas do Departamento de Agricultura dos Estados

Unidos (USDA), Agricultural Outlook, março de 199937 Dados da OIC, expressos em termos nominais38 Essas relações ajustam o preço do café em grãos verdes em função da perda de

peso, de modo a tornar esse preço comparável ao preço no varejo39 Pesquisa da Oxfam no Peru, fevereiro de 200240 Esta pesquisa foi realizada por Karen St Jean Kufuor, economista e consultora es-

pecializada em commodities41 “Sustainable Coffee Survey of the North American Speciality Industry” Daniele

Giovannucci, junho de 200142 Relatório de um analista do Deutsche Bank, “Soluble coffee: A pot of Gold?”, 2 de

maio de 200043 Esse lucro é realizado após a dedução dos custos operacionais, tais como comerci-

alização, salários, processamento44 As margens dizem respeito às margens de lucro operacional (antes dos juros e

impostos)45 Resultados financeiros de nove meses até março de 2002 do ano fiscal de 200246 Ibid47 Extraído de “Who gains when Commodities are De-commodified?”, de R Fitter e R.

Kaplinsky, IDS 200148 Pesquisa da Morgan Stanley sobre Produtores de Alimentos. “Raising Nestlé price

target to SFr410”. 12 de fevereiro de 200249 Notas da Nestlé para a Oxfam, 18 de julho de 200250 “Coffee Markets in East Africa: Local Responses to Global Challenges or Global

Responses to Local Challenges”, Stefano Ponte, Documento de Trabalho 01.5 doCentro para Pesquisas sobre o Desenvolvimento Copenhague, setembro de 2001

51 Entrevista com a Oxfam em Cincinatti, 11 de junho de 200252 Notas da Nestlé para a Oxfam, 18 de julho de 200253 Natural: café da variedade arábica do qual os grãos foram retirados por meio de

secagem ao sol, seguida de retirada da casca. O sabor pode ser mais forte que o docafé lavado, no qual a polpa é retirada do fruto e o grão fermenta antes de serdescascado.

54 Documento para discussão “Managing the Competitive Transition of the Coffee Sectorin Central America”, BID, Banco Mundial e USAID, preparado para o workshopregional sobre a crise do café e seu impacto na América Central, Antigua, Guatemala,3 a 5 de abril de 2002

55 “The Coffee Crisis in Perspective”, Panos Varangis e Bryan Lewin, Banco Mundial,9 de março de 2002

56 Bernhard Benecke, “Germany, Market Strength”, Coffee and Coca International, ju-nho de 2000

57 Pesquisa da Oxfam em Uganda, fevereiro de 200258 Kraft Foods Third World Engagement – Apresentação de atividades em três países

diferentes – documento passado à Oxfam em reunião realizada em 8 de abril de 200259 Ibid60 Relatório sobre Café da FO Licht International, “Market Overview”, de Peter Buzzanell,

18 de abril de 200261 Gráficos da APPC62 Documento para discussão “Managing the Competitive Transition of the Coffee

Sector in Central America”, BID, Banco Mundial e USAID, preparado para o workshopregional sobre a crise do café e seu impacto na América Central, Antigua, Guatemala,3 a 5 de abril de 2002

63 Relatório sobre Café da FO Licht International, “Market Overview”, de Peter Buzzanell,18 de abril de 2002

64 “Natural Enemies, Natural Allies”, de PS Baker, J Jackson e S Murphy65 Apresentação do Banco Mundial sobre café para a Associação de Café, 200266 Pesquisa da Oxfam na Etiópia, abril de 200267 “Dealing with Commodity Price Volatility in Developing Countries”, Força-tarefa in-

ternacional para a gestão de riscos relacionados a commodities em países em de-senvolvimento, Banco Mundial, 1999

68 “New World Bank Reports Confirm that the HIPC initiative is failing”, Romily Greenhill,Jubilee, abril de 2002

69 Dados da OIC70 Consultoria da FAO, “Back to Office Report by World Bank Officials”, março de 200271 Tea and Coffee Trade Journal, dezembro de 200172 Números fornecidos pela Federação Européia do Café. A União Européia aprovou

recentemente uma cota para café solúvel com uma taxa de 0% até um volume

NOTAS

53

Casasbuenas, C. (2002) ‘Coffee in Honduras: Crisis orOpportunity?’

Crabtree, J. (2002) ‘Interviews with Coffee Farmers in Peru’(em espanhol) e ‘Interviews with Coffee Industry Figures inPeru’ (em inglês)

ICARD (2002) ‘Impacts of Trade Liberalisation on CoffeeFarmers in Dak Lak Province’ (disponível no final de 2002junto ao Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Ruraldo Vietnã)

INESA (2001) ‘Le Café en Haiti: Situation Actuelle atPlaidoyer pour une Amélioration de la Situation Socio-economique des Producteurs’ (disponível em inglês e fran-cês)

Jean-Kufuor, K.S. (2002) ‘Coffee Value Chain’

Knight, P. (2002) ‘Interviews with Coffee Industry Figuresin Brazil’

Mayne, R. (2002) ‘The Coffee Crisis in Kafa Province ofEthiopia’

Oxfam (2001) ‘The Coffee Market: A Background Study’

Oxfam (2001) ‘Bitter Coffee: How the Poor are Paying forthe Slump in Coffee Prices’ (disponível em inglês e espa-nhol)

Pérez-Grovas, V., E. Cervantes e J. Burstein (2001) ‘Case Studyof the Coffee Sector in Mexico’, Oxford: Oxfam

Sayer, G. (2002) ‘ ‘ ‘ ‘ ‘Coffee Futures: The Impact of Falling WorldPrices on Farmers, Millers, and Exporters in Uganda’, Oxford:Oxfam

Pesquisasmáximo. O Brasil se beneficia de uma grande proporção dessa cota permitida.73 “Coffee Markets in East Africa: Local Responses to Global Challenges or Global

Responses to Local Challenges”, Stefano Ponte, Documento de Trabalho 01.5 doCentro para Pesquisas sobre o Desenvolvimento Copenhague, setembro de 2001

74 Pesquisa da Oxfam no Peru, fevereiro de 200275 “Coffee Markets in East Africa: Local Responses to Global Challenges or Global

Responses to Local Challenges”, Stefano Ponte, Documento de Trabalho 01.5 doCentro para Pesquisas sobre o Desenvolvimento Copenhague, setembro de 2001

76 Documento preparado para seminário “Quality, Marketing Structure and FarmerRemuneration in Cocoa and Coffee”, Christopher Gilbert, ESI e FEWEB, VrijeUniversiteit, Amsterdã, abril de 2002

77 Ibid78 Pesquisa da Oxfam em Honduras, março de 200279 Pesquisa da Oxfam na Etiópia, abril de 200280 Entrevistas realizadas pela Oxfam nas províncias de Dak Lak, Buonson e CuMgar,

maio de 200281 Pesquisa da Oxfam no Peru, fevereiro de 200282 Pesquisa da Oxfam na Etiópia, abril de 200283 Entrevistas realizadas pela Oxfam América durante a conferência da SCAA, maio de

200284 “Aid To Agriculture”, OCDE, dezembro de 2001 http://www.oecd.org/pdf/M00029000/

M00029854.pdf85 Declaração da IFAD na Conferência Internacional sobre Financiamento para o De-

senvolvimento, Monterrey, México, março de 2002 (Site da IFAD)86 Relatório da Oxfam “Mudar as Regras – comércio, globalização e luta contra a

pobreza”, abril de 200287 Ibid88 “An oversupply of Coffee Beans Deepens Latin America’s woes”, de Peter Fritsch,

Wall Street Journal, 8 de julho de 200289 “Connoisseurs Lift Coffees to Vintage Status”, Adrienne Roberts e Andrew Bounds,

Financial Times, 5 de julho de 200290 Preço acordado estabelecido pela FLO91 Estudo do NRI/DFID sobre o Comércio Justo92 Kraft Foods e Third World Engagement93 Número fornecido pela FLO com base nos volumes vendidos com rótulos94 Números fornecidos pela DataMonitor, março de 200295 Isso é parte do trabalho realizado pelo Banco Mundial na área das Perspectivas de

Desenvolvimento. Veja http://www.worldbank.org/prospects/indexold.htm96 “The Enhanced HIPC Initiative and the Achievement of Long-term External Debt

Sustainability”, Documento do Banco Mundial para reuniões na primavera, 200297 Banco Mundial, “Burundi Transitional Support Strategy”, fevereiro de 200298 Banco Mundial, “Burundi: An interim strategy 1999-2001”, julho de 199999 “Interim Poverty Reduction Strategy Paper”, Avaliação conjunta do FMI e da IDA,

janeiro de 2001100 “Low Coffee Prices: Causes and Potential Solutions”, apresentação da Nestlé ao

CSR Europa, 12 de julho de 2002101 “The Coffee Crisis in Perspective”, Panos Varangis e Bryan Lewin, Banco Mundial,

9 de março de 2002102 De acordo com uma modelagem desenvolvida pelo prof. Christopher Gilbert, se

gundo a qual haveria um aumento de 2 centavos de dólar por libra no preço com-posto da OIC para cada 1 milhão de sacas eliminadas. Análise feita em 2001.Números calculados pela Oxfam com base no custo de se destruir grãos de café dequalidade extremamente baixa a 15 centavos de dólar por libra. O aumento emreceitas de exportação foi calculado de acordo com dados da OIC, com base nasexportações de 84.189 milhões de sacas de grãos verdes no período de 2000/01 eum preço composto médio da OIC de 47,84 centavos de dólar por libra, gerandoreceitas de exportação no período de 2000/01 de US$ 5.314 milhões. A Oxfamparte da premissa de que os volumes de exportação permanecerão constantes em2001/02, mas subtrai as 5 milhões de sacas a serem eliminadas. O volume deexportação de grãos verdes seria de 79.189 milhões de sacas a um novo preçomelhorado de 57,84 centavos de dólar por libra, gerando US$ 6.043 milhões emreceitas de exportação. Os benefício seriam bem maiores se incluíssemos nostotais exportados as 5 milhões de sacas de café processado dos países produtores

103 Pesquisa da Oxfam em Uganda, fevereiro de 2002

54

A Oxfam concede US$ 1,6 milhão anualmente em apoioa uma ampla gama de programas de desenvolvimento emregiões produtoras de café – na América Central, no Mé-xico e no Caribe, na América do Sul, no cabo Horn, noLeste da África e no Leste Asiático. Esses programas pro-curam fortalecer a posição de produtores de café maispobres no mercado, aumentando suas habilidades comer-ciais e técnicas e apoiando suas pesquisas, ações deadvocacy e campanhas. Eles também incluem ajuda apequenos produtores rurais para diversificar suas cultu-ras, substituindo a do café, e para melhorar a qualidadedo café que produzem.

A Oxfam trabalha em parceria com o movimento do Co-mércio Justo, que tem trazido importantes benefícios paraprodutores pobres de café em todo o mundo. A Oxfamtem apoiado redes vinculadas ao movimento do Comér-cio Justo que têm se desenvolvido em diversas regiões como objetivo de fortalecer os produtores e promover umaagenda comercial e política mais ampla.

O trabalho da Oxfam com produtores de café

A Oxfam Internacional é umaconfederação de doze agênciasde desenvolvimento quetrabalham em 120 países emdesenvolvimento: Oxfam América,Oxfam na Bélgica, OxfamCanadá, Oxfam para AjudaComunitária no Exterior(Austrália), Oxfam Grã Bretanha,Oxfam Hong Kong, IntermónOxfam (Espanha), Oxfam Irlanda,Novib Oxfam Holanda, OxfamNova Zelândia, Oxfam Quebec eOxfam Alemanha. Favor telefonarou escrever para qualquer umadessas agências para obter maisinformações de seu interesse.

Oxfam América26 West St.Boston, MA 02111-1206, USATel: (1) (617) 482-1211E-mail: [email protected]

Oxfam CanadáSuite 300, 294 Albert St.Ottawa, Ontario, Canada K1P6E6Tel: (1) (613) 237-5236E-mail: [email protected]

Oxfam Quebec2330 rue Notre-Dame OuestBureau 200, Montréal, QuébecCanada H3J 2Y2Tel: (1) (514) 937-1614E-mail: [email protected]

Oxfam IrlandaEscritório em Dublin:9 Burgh Quay, Dublin 2, Republicof IrelandTel: (353) (1) 672-7662E-mail: [email protected]ório em Belfast:52-54 Dublin Road, Belfast, BT27HN, UKTel: (44) (28) 9023-0220E-mail: [email protected]

Oxfam GB274 Banbury Road, Oxford, OX27DZ, UKTel: (44) (1865) 31-1311E-mail: [email protected]

Oxfam na BélgicaRue des Quatre Vents 601080 Brussels, BelgiumTel: (32) (2) 501-6700E-mail: [email protected]

Novib Oxfam HolandaMauritskade 92514 HD The Hague, TheNetherlandsEndereço Postal: P.O. Box30919, 2500 GX The Hague, TheNetherlandsTel: (31) (70) 342-1621E-mail: [email protected]

Intermón OxfamRoger de Llúria 1508010 Barcelona, SpainTel: (34) (93) 482-0700E-mail: [email protected]

Oxfam AlemanhaGreifswalder Str. 33a10405 Berlin, GermanyTel: (49) (30) 428-50621E-mail: [email protected]

Oxfam Hong Kong17/F, China United Centre28 Marble Road, North PointHong KongTel: (852) 2520-2525E-Mail: [email protected]

Oxfam Ajuda Comunitária noExterior156 George St. (Corner WebbStreet)Fitzroy, Victoria, 3065 AustraliaTel: (61) (3) 9289-9444E-mail: [email protected]

Oxfam Nova ZelândiaLevel 1, 62 Aitken TerraceKingsland, AucklandNew ZealandEndereço Postal : P.O. Box 68357, Auckland 1032, NewZealandTel: (64) (9) 355-6500E-mail: [email protected]

Escritórios de Advocacy daOxfam Internacional

1112 16th Street, Suite 600,Washington, DC 20036, USATel: (1) (202) 496-1170E-mail:[email protected]

Rue des Quatre Vents 60,1080 Brussels, BelgiumTel: (32) (2) 501-6761E-mail: [email protected]

15 rue des Savoises1205 GenevaTel: (41) (22) 321-2371E-mail:[email protected]

355 Lexington Avenue, 3rd Floor,New York, NY10017, USATel: (1) (212) 687-2091E-mail:[email protected]

“Os produtores de café da AméricaLatina estão enfrentando a pior crisedos últimos cem anos. Todas aspessoas que se preocupam comessa miséria crescente devem lereste relatório. Espero que ele sejausado para promover ações capazesde impedir que os cafeicultores quetrabalham duro fiquem ainda maispobres em decorrência do preçoescandalosamente baixo pago pelasempresas transnacionais”.

Raul del Aguila, Junta Nacional Del Café de Peru(Organização dos Produtores de Café do Peru)

“A urgência da crise do café nãodeve ser subestimada. 25 milhõesde produtores de café dependem deações conjuntas de governos,empresas, cooperativas, sindicatos eONGs para resolver o problema docolapso nos preços.

A Organização Internacional do Caféapóia a campanha da Oxfam, querepresenta uma importantecontribuição nessa busca desoluções.”

Nestor Osorio, Diretor Executivo,Organização Internacional do Café

“Se algumas empresas fossemmenos gananciosas, as pessoas dossegmentos de renda mais baixateriam muito mais. Podemos fazer anossa parte pressionando ospolíticos no sentido de porem fim aessa insanidade e tambémcomprando cafés comercializados noâmbito do movimento do ComércioJusto. Espero que as pessoasapóiem a campanha da Oxfam parapromover um Comércio ComJustiça”.

Chris Martin, da banda de rock Coldplay, do Reino

Unido

O QUE TEM NO SEU CAFÉ?

Pobreza e miséria para os produtores de café,gigantescos lucros para grandes empresas.

Se você aprecia um bom café mas acha os fatos expostosneste relatório difíceis de engolir, una-se a nós e exija umpreço decente para os produtores pobres.

Foto: Rupert Elvin

A empresa Kraft Foods compartilha com seus consumidores, clientes e a indús-tria do café como um todo a preocupação com a sustentabilidade de longo prazode cafés de boa qualidade. Isso significa que apoiamos... Um padrão de vidadecente e cada vez melhor para os produtores de café e suas famílias.a

Declarações sobreResponsabilidade SocialEmpresarial

Daqui a alguns anos, nos perguntarão não apenas se maximizamos o valor decurto prazo da empresa para nossos acionistas, mas também nos farão outrasperguntas mais difíceis. Entre as quais, certamente, a seguinte: O que vocês fize-ram para ajudar a combater a fome nos países em desenvolvimento?b

Opiniões sobre a crise O mercado encontrará sua própria solução à medida que países e produtoresforem sendo empurrados para fora dele naturalmente. Nosso papel está do ladoda demanda – o papel da Kraft consiste em aumentar o consumo.c

Como produtores originais de mercadorias não processadas que são vitais paranossos produtos de qualidade, os cafeicultors precisam ter um nível geral deretorno financeiro aceitável para continuarem a ser participantes viáveis do setordo café no longo prazo.d

A Nestlé está preocupada com a situação dos produtores de café, que atualmenterecebem preços historicamente baixos por suas safras. Essa situação gera pobre-za e sofrimento crescentes para eles e suas famílias.e

A Nestlé é contra esses preços baixos, pois eles não são ruins apenas para osprodutores, mas também para os negócios da empresa. Embora reduzam o custode matérias primas no curto prazo, preços baixos inevitavelmente geram preçosaltos, pois são essas oscilações muito acentuadas que têm um impacto negativosobre os nossos negócios.e

Opiniões sobre ocontrole da superofertano mercado do café,incluindo o Esquemade Melhoria daQualidade da OIC

Nossa função na indústria do café é oferecer produtos à base de café a preçosrazoáveis, que satisfaçam as expectativas de nossos consumidores tanto em ter-mos de qualidade como de valores.

O esquema de qualidade proposto pela OIC constitui uma maneira de se mudaro atual ambiente desfavorável de preços. Portanto, estamos avaliando esse pro-grama cuidadosamente para compreender suas implicações para nossos com-plexos negócios globais e sua possível contribuição para uma abordagem cons-trutiva à atual situação do mercado.f

Não vai dar certo. Nunca deu certo porque se trata de um esquema voluntário eseu objetivo não é claro. Nos opomos fundamentalmente a qualquer esquemaque implique intervenções nos preços.g

A Nestlé apóia plenamente o Esquema de Melhoria de Qualidade da OIC e suaaplicação, já que ele diz respeito à exportação de café verde de países produtores.h

A Nestlé considera a OIC como a melhor plataforma para o estabelecimento deum mecanismo de estabilização de preços, uma vez que o sucesso de uma inici-ativa desse tipo exige um compromisso por parte de governos de países produto-res e importadores. A menos que criemos um sistema completamente novo, aOIC continua sendo o único foro viável.h

A Nestlé apóia qualquer esforço coordenado que envolva governos, o setor docafé como um todo, agências intragovernamentais e ONGs para eliminar o ciclode prosperidade e colapso e ajudar os produtores de café individualmente.e

Medidas tomadas paraatacar a crise

A Kraft gastou US$ 500 mil num esquema de melhoria da qualidade no Peru. Aempresa afirma que seus esforços, empreendidos conjuntamente com uma coo-perativa local, a Cocla, para introduzir melhores padrões de qualidade, melhora-ram o preço que o Peru recebe por seu café.

A Kraft também apóia mecanismos de melhoria da qualidade implementados noVietnã, principalmente na área de produção de café da variedade arábica de TanLam, juntamente com as empresas Douwe Egberts, GTZ e Tan Lam.f

A Nestlé tem diversos projetos em andamento para ajudar a melhorar a situaçãodo pequeno produtor. O México é um exemplo dessa iniciativa.h

Preços e ágios pagospelo caféi

A Kraft paga um ágio pela qualidade de uma grande proporção do café verde quea empresa compra. Em sua grande maioria, o nosso café é comprado de empre-sas exportadoras nos países de origem. Portanto, não podemos avaliar direta-mente a magnitude dos benefícios que produtores específicos usufruem. Noentanto, acreditamos, de um modo geral, que os produtores de café aos quaispagamos um ágio pela qualidade recebem preços mais altos do que receberiamna ausência desses pagamentos diferenciados.f

Cerca de 13% do nosso café são comprados diretamente e com um ágio pelaqualidade. O mecanismo usado para garantir que o produtor rural seja beneficia-do com um ágio varia de país a país, mas temos controles para garantir a efetivadisponibilização desse benefício em todos os casos.h

Na compra de café verde, a Sara Lee manterá sua Política para Pequenos Produ-tores (adotada desde 1989), no âmbito da qual ela se compromete a comprar pelomenos 10% de todo o seu café diretamente de pequenos produtores e associa-ções de pequenos produtores, desde que eles garantam a qualidade exigida epreços acordados.o

Declarações sobreResponsabilidade SocialEmpresarial

A P&G tem sempre desenvolvido seus negócios com integridade e com base noprincípio da empresa de “fazer a coisa certa”. Há muito tempo temos sido líderesna gestão de recursos humanos e na compensação e concessão de benefícios anossos funcionários - garantimos segurança no local de trabalho, mecanismosde manejo ambiental em nossas operações, práticas comerciais éticas eenvolvimento nas comunidades onde mantemos operações.j

O objetivo da Sara Lee é usar seu poder de compra para influenciar as pessoas eempresas das quais ela compra produtos e contrata serviços no sentido de queelas: abracem elevados padrões de comportamento ético, observem todas as leise regulações aplicáveis e tratem seus funcionários de maneira justa, com digni-dade e respeito, de modo a promover seu bem-estar, melhorar sua qualidade devida e estimulá-los para que sejam cidadãos socialmente responsáveis nos paísese comunidades nos quais desenvolvem suas atividades.

Opiniões sobre a criseNenhum participante do mercado do café pode negar a crise.k

Reconhecemos os problemas sociais que muitas famílias produtoras de café es-tão enfrentando em decorrência da situação atual de superprodução global e pre-ços baixos. A P&G está empenhada em ajudar nas questões sociais e econômicassubjacentes que contribuem para essa situação e queremos trabalhar com orga-nizações respeitáveis que possam nos ajudar a desenvolver soluções sistêmicasde longo prazo.l

A Sara Lee e a indústria do café como um todo não consideram essas flutuações(de preço) a partir da perspectiva de promover os interesses dos produtores lo-cais, da indústria ou do consumidor.m

Opiniões sobre ocontrole da superofertano mercado do café,incluindo o Esquemade Melhoria da Qualidadeda OIC

Apoiamos os esforços da Associação Nacional do Café para identificar mecanis-mos que visem garantir uma oferta adequada e sustentável de café nas faixas dequalidade exigidas pelos consumidores, levando em consideração, também, ne-cessidades sociais e ecológicas. Apoiamos, também, esforços como os concursosCup of Excellence (xícara de excelência), que promovem os melhores cafés pro-duzidos nos países que sediam esses concursos.l

A P&G apóia a postura da Associação Nacional do Café em relação à crise do café.A P&G não pretende apoiar o Esquema da OIC porque ele não se afina com aspropostas da Associação Nacional do Café.

A Sara Lee não se sente à vontade com a idéia de se lançar esquemas de apoio aospreços do café. O mercado precisa restabelecer o equilíbrio entre a oferta e ademanda. Acreditamos que a melhor solução seria …melhorar a qualidade docafé no nível local.

Compensar os produtores de café pelo ônus de uma renda mais baixa pagandopreços artificialmente garantidos constitui um incentivo para a superprodução egera posições discriminatórias indesejadas no mercado do café verde. Por essarazão, a Sara Lee não promoverá ou iniciará qualquer esquema de comercializa-ção de café no nível proposto pelo movimento do Comércio Justo.m

Medidas tomadas paraatacar a crise

Como empresa, temos apoiado países produtores de café em três níveis:

Local - Contribuições de diversos escritórios da P&G em todo o mundo, no Bra-sil, no México e na Venezuela, para a construção de escolas.

De Unidade Comercial - US$ 1,5 milhão em financiamentos concedidos a umaorganização sem fins lucrativos, a Technoserve, para ajudar pequenos produtoresde café.

Corporativo - A P&G paga contribuições a organizações como a The NatureConservancy e a esforços para aliviar os efeitos de desastres naturais.n

O apoio dado pela Sara Lee inclui “a execução de projetos em países produtores(Vietnã, Uganda, Brasil) para ajudar produtores de café e suas famílias a melho-rar suas condições de vida, desenvolvendo e implementando métodos de produ-ção que provoquem o menor impacto possível sobre o meio ambiente e melho-rem a qualidade do café cultivado, garantindo preços mais altos no mercado parao produto”.o

Preços e ágios pagospelo caféi

A P&G compra um alto percentual de seu café diretamente de exportadores quetêm escritórios em países produtores. Os funcionários do nosso Departamentode Café Verde passam muito tempo nesses países trabalhando com os exportado-res; esses exportadores ajudam a traduzir nossas necessidades locais em termosde qualidade na cadeia local de abastecimento.

As empresas de café:em suas próprias palavras...

j Declaração da P&G sobre Responsabilidade SocialEmpresarial, julho de 2002 www.pg.com/about_pg/corporate/sustainability/faqk Entrevista com a Oxfam, 11 de junho de 2002.

a Kraft Foods “Sustainability – an important issue in thebrand orientated food industry”, apresentado para Oxfamem 23 de abril de 2002.b Peter Brabeck-Letmathe, Diretor-Presidente da Nestlé,30 de novembro de 1999 “The Search for Trust”.c Entrevista com a Oxfam, 23 de abril de 2002.

d Carta ao Senador Sam Farr, 7 de março de 2002.e Low coffee prices Causes and Potential Solutions –Apresentação ao CSR Europa, 12 de julho de 2002.f Carta à Oxfam, 26 de junho de 2002.g Entrevista com a Oxfam, 23 de abril de 2002.

h Carta à Oxfam, 26 de junho de 2002.i Nenhuma empresa se dispôs a revelar os preços médiospagos pelo café.

l Documento sobre Sustainable Coffee apresentado àOxfam em 11 de junho de 2002.m Entrevista com a Oxfam, 10 de junho de 2002.

n Site da Folgers, página da Procter & Gambleo Carta à Oxfam, 19 de junho de 2002.

Vendas de US$ 33.875 milhõesi

Lucros de US$ 4.884 milhõesii

As vendas de bebidas, sobremesas ealimentos à base de cereais daempresatotalizaram US$ 1.192 milhõesiii

(Exercício encerrado em 31 de dezembro de 2001)

Marcas de pesoPhiladelphia, Tang, Jello, OscarMayer, Oreo, Milka, Lifesavers

Marcas de caféMaxwell House, Jacobs, Café Hag,Carte Noire, Gervalia Kaffe, Nabob

Produtos consumidos por99,6% de todas as famíliasdos Estados Unidos

Vendas de US$ 50.415 milhõesiv

Lucros de US$ 5.487 milhõesv

As vendas de bebidas da empresatotalizaram US$ 2.535 milhõesvi

(Exercício encerrado em 31 de dezembro de 2001)

Marcas de pesoNestlé, Nescafé, Nestea, Maggo,Buitoni e Friskies

Marcas de caféNescafé, Gold Blend

Vendas de US$ 39.244 milhõesvii

Lucros de US$ 4.736 milhõesviii

As vendas de alimentos e bebidasda empresa totalizaramUS$ 547 milhõesix

(Exercício encerrado em 30 de junho de 2001)

Marcas de pesoPringles, Iams, Pampers, Always& Ariel. Marcas do “clube debilhões dedólares” da empresa

Marcas de caféFolgers, Milltone

Vendas de US$ 17.747 milhõesx

Lucros de US$ 2.037 milhõesxi

As vendas de bebidas da empresatotalizaram US$ 485 milhõesxii

(Exercício encerrado em 30 de junho de 2001)

Marcas de pesoPlaytex, Wonderbra, Hanes, SaraLee (bolos)

Marcas de caféDouwe Egberts, União, Pilão,Superior Coffee, Maison de Café

3.900 xícaras de Nescafésão consumidas a cadasegundo em mais de 120países em todo o mundo US$ 20 bilhões em receitas

anuais de vendas em 180países

A Procter & Gamblecomercializa mais de 250marcas para quase cincobilhões de consumidores emmais de 140 países

i Receitas Operacionais

ii Receita operacional (declaração consolidada de renda)

iii Renda da North American Operating Co.

iv Vendas a Clientes

v Lucros comerciais

vi Resultados

vii Vendas líquidas

viii Receita operacional

ix Receita antes do pagamento de impostos

x Vendas líquidas

xi Receita operacional

xii Receita operacional