pires 2015 conservacao de embarcacoes historicas

230
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ MARIO ALVES DO ROSÁRIO PIRES PRESERVAÇÃO DE EMBARCAÇÕES HISTÓRICAS: Estudo de Caso dos Batelões da Revolução de 1924 Itajaí 2015

Upload: m-pires

Post on 13-Feb-2017

150 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

Page 1: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

MARIO ALVES DO ROSÁRIO PIRES

PRESERVAÇÃO DE EMBARCAÇÕES HISTÓRICAS: Estudo de Caso

dos Batelões da Revolução de 1924

Itajaí

2015

Page 2: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas
Page 3: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

MARIO ALVES DO ROSARIO PIRES

PRESERVAÇÃO DE EMBARCAÇÕES HISTÓRICAS: Estudo de Caso

dos Batelões da Revolução de 1924

Trabalho de Iniciação Científica desenvolvido para obtenção do título de Tecnólogo em Construção Naval – Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar da Universidade do Vale do Itajaí. Prof. Orientador: Msc. Roberto Barddal.

Itajaí

2015

Page 4: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas
Page 5: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

MARIO ALVES DO ROSARIO PIRES

PRESERVAÇÃO DE EMBARCAÇÕES HISTÓRICAS: Estudo de Caso

dos Batelões da Revolução de 1924

Esta monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Tecnólogo em Construção Naval e aprovada pelo Curso de Tecnologia em Construção Naval da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências da Terra e do Mar. Área de Concentração: Construção Naval. Itajaí, 26 de novembro de 2015

_________________________________ Prof. Roberto Barddal UNIVALI – CTTMAR

ORIENTADOR

_________________________________ Prof.ª Karoline Bastos Mundstok

UNIVALI – CTTMAR MEMBRO

_________________________________ Prof. Carlos Frederico da Cunha Teixeira

UNIVALI – CTTMAR MEMBRO

Page 6: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas
Page 7: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

“So Long, and Thanks for All the Fish”

Douglas Adams – The Ultimate Hitchhiker’s Guide.

Page 8: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas
Page 9: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

PERMISSÃO DO ACADÊMICO PARA PUBLICAÇÃO DO TIC II

Itajaí, 07 de Dezembro de 2015. Autorizo a publicação do Trabalho de Iniciação Científica – TIC II de minha autoria, intitulado

PRESERVAÇÃO DE EMBARCAÇÕES HISTÓRICAS: Estudo de Caso dos Batelões da

Revolução de 1924, na página do Curso Superior de Tecnologia em Construção Naval do

site da Universidade do Vale do Itajaí (www.univali.br) e no blog do Curso Superior de

Tecnologia em Construção Naval (http://navalunivali.wordpress.com/), e abdico de qualquer

tipo pagamento a título de direitos autorais.

________________________________________________ Mario Alves do Rosário Pires

Page 10: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas
Page 11: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO

Itajaí, 07 de Dezembro de 2015. Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, estando ciente do disposto no Art. 58 do

Regulamento do Trabalho de Iniciação Científica e na Lei nº 9610 de 18/02/1998, isentando

a Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, o Curso Superior de Tecnologia em Construção

Naval, a Banca Examinadora e o Professor Orientador de TCC, de toda e qualquer

responsabilidade acerca do mesmo.

Assinatura do acadêmico:__________________________________

Mário Alves do Rosário Pires

Page 12: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas
Page 13: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Resumo

O presente trabalho estudou o caso de duas embarcações encontradas no leito do Rio Paraná, a cerca de 30 km da cidade de Porto Rico/PR, no ano de 2009. As duas embarcações, classificadas como batelões, em estrutura de aço, foram identificadas como envolvidas nas ações militares ligadas à revolução de 1924, no evento que daria origem à Coluna Miguel Costa-Prestes. A intenção de restaurar as embarcações para passeios turísticos motivou a retirada dos cascos por um empresário local. Porém, tratando-se de patrimônio cultural e arqueológico, sua propriedade e usufruto sofrem restrições legais e, ao mesmo tempo, nenhuma das instituições envolvidas dispunha de recursos para ações contundentes. O Ministério Público Federal provocou a ação das instituições envolvidas para a conservação das embarcações, assim o IPHAN realizou uma vistoria visando a elaboração de diretrizes de intervenção nestes bens. A vistoria realizada revelou questões que se pretendeu explorar neste trabalho: Quais intervenções, tratamentos e procedimentos poderiam ser admitidos para a preservação nas embarcações reconhecidas como de valor cultural? Através da fundamentação teórica foram relacionadas as especificidades da preservação de bens de reconhecido valor cultural e a preservação do patrimônio naval. Em seguida foram reunidas as informações disponíveis sobre as embarcações da revolução de 1924 e organizadas na forma de um levantamento histórico, realizada com base nos documentos emitidos pelo IPHAN, e um levantamento cadastral contendo um relatório fotográfico, um relatório descritivo das principais características e um desenho técnico das dimensões principais, baseados em vistoria realizada com a participação do autor. A partir da fundamentação teórica e dos registros das informações acerca das embarcações do caso estudado conclui-se como alternativa mais adequada a de Conservação Integral, e foram indicadas medidas para Estabilização, relacionando os critérios e princípios que devem direcionar as intervenções, além de abordar os principais aspectos para que a manutenção dê condições para a proteção contínua do material constituinte das embarcações.

Palavras-chave: Embarcações Históricas, Conservação e Intervenção em

patrimônio histórico, Estudo de Caso: Embarcações da Revolução de 1924.

Page 14: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Abstract

This research studied the case of two vessels found sunk in the Parana River, about 30 km from the town of Puerto Rico / PR, back in 2009. The two vessels, classified as barges, in steel structure, have been identified as involved in military actions related to the 1924 revolution, in the event that would lead to Miguel Costa-Prestes Column. The intention of restoring vessels for sightseeing motivated the removal of the hulls by a local businessman. However, in the case of cultural and archaeological heritage, their property and use suffer legal restrictions and, at the same time, none of the institutions involved have the resources for effective action. The Public Federal Ministry motivated the action of the institutions involved in the conservation of the vessels, so IPHAN conducted a survey in order to develop intervention guidelines. The survey revealed issues explored in this paper: What interventions, treatments and procedures could be admitted to preserve the historic vessels? Through theoretical fundaments the specific features of the conservation of cultural heritage and preservation of the maritime heritage were discussed. Then the information available on the 1924’s Revolution vessels were gathered and organized as a historical survey, based on documents issued by IPHAN, and on the physical survey containing a photographic report, a report describing the main features and the technical design of the principal dimensions, based on a survey held with the participation of the author. From the theoretical fundaments and recorded information about the vessels it was concluded that most appropriate alternative is the Static Conservation, and stabilization measures were recommended, relating to the criteria and principles that should direct the interventions, in addition to relate key aspects for maintenance that provide conditions for continuous protective care of the fabric of the vessels.

Keywords: Historic Vessels, Conservation and Intervention in historical heritage,

Case Study: 1924’s Revolution vessels.

Page 15: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Processo da Carta de Burra (the Burra Charter Process) ........................ 43

Figura 2 – Princípios da Preservação para Embarcações Históricas ........................ 50

Figura 3 – Fluxograma de Preservação de Embarcações Históricas ........................ 51

Figura 4 – Processo de Documentação de Embarcações ........................................ 56

Figura 5 – Desenho das Linhas Principais do Casco de uma Embarcação .............. 57

Figura 6 – Plano de Preservação .............................................................................. 65

Figura 7 – Sistemas de Pintura: ................................................................................ 84

Figura 8 – Localização da cidade de Porto Rico/PR. ................................................ 96

Figura 9 – Situação das Embarcações na Cidade de Porto Rico/PR. ....................... 96

Figura 10 – Situação das Embarcações .................................................................... 97

Figura 11 – Situação das Embarcações .................................................................... 97

Figura 12 – Proa Embarcação I ................................................................................. 98

Figura 13– Popa Embarcação I ................................................................................. 98

Figura 14 – Costado de BE Embarcação I ................................................................ 99

Figura 15 – Costado de BB Embarcação I ................................................................ 99

Figura 16 – Convés - Porão de Carga de Vante - vista à Vante Embarcação I ...... 100

Figura 17– Convés - Porão de Carga de Ré - vista à Vante Embarcação I ............ 100

Figura 18– Convés - Porão de Carga de Ré - vista à Ré Embarcação I ................. 101

Figura 19 – Proa Embarcação II .............................................................................. 102

Figura 20 – Popa Embarcação II ............................................................................. 102

Figura 21 – Costado BE - à Vante Embarcação II ................................................... 103

Figura 22 – Costado BE - à Ré Embarcação II ....................................................... 103

Figura 23 – Costado BB - à Vante Embarcação II ................................................... 104

Page 16: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Figura 24 – Costado BB - à Ré Embarcação II ....................................................... 104

Figura 25 – Convés -Vista geral à Ré Embarcação II ............................................. 105

Figura 26 – Detalhe da estrutura do compartimento de proa Embarcação II .......... 106

Figura 27 – Formas e padrões de rebites: .............................................................. 107

Figura 28 – Tipos de juntas: ................................................................................... 108

Figura 29 – Padrões de juntas cravadas: ............................................................... 108

Figura 30 – Desenho dos Planos de Linhas Principais Embarcação I .................... 111

Figura 31 – Desenho das elevações principais Embarcação I ............................... 112

Figura 32 – Desenho dos Planos de Linhas Principais Embarcação II ................... 112

Figura 33 – Desenho das elevações principais Embarcação II .............................. 113

Page 17: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

LISTA DE ABREVIATURAS

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

DEPAM – Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do IPHAN.

UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.

ICOMOS - International Council on Monuments and Sites.

FCC - Fundação Catarinense de Cultura.

CPC - Coordenação do Patrimônio Cultural (CPC), setor da Secretaria de Estado da

Cultura, Paraná.

SEPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Município.

DoCoMoMo - International Working Party for the Documentation and Conservation of

Buildings, Sites and Neighborhoods of the Modern Movement

Page 18: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas
Page 19: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 23

1.1 Tema e Problema de Pesquisa ................................................................. 23

1.2 Justificativa ................................................................................................ 25

1.3 Objetivos .................................................................................................... 28

1.3.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 28

1.3.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 28

2 METODOLOGIA ..................................................................................................... 29

2.1 Perspectivas da Pesquisa ......................................................................... 29

2.2 Participantes da Pesquisa ......................................................................... 30

2.3 Procedimentos e Coleta de Dados ............................................................ 30

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 35

3.1 Especificidades da Área de Patrimônio Cultural ....................................... 35

3.1.1 A preservação do patrimônio cultural ............................................................... 35

3.1.2 As implicações da proteção legal ao patrimônio cultural .................................. 37

3.1.3 Aspectos teóricos das intervenções no patrimônio cultural .............................. 38

3.2 Aspectos da Preservação do Patrimônio Naval ........................................ 44

3.2.1 A questão da preservação das embarcações históricas .................................. 44

3.2.2 Entendendo as Embarcações Históricas .......................................................... 52

3.2.2.1 Avaliação da importância das embarcações históricas ................................. 53

3.2.2.2 Documentando embarcações históricas........................................................ 55

3.2.3 Os Caminhos da Preservação das Embarcações Históricas ........................... 58

3.2.3.1 Conservação Integral .................................................................................... 60

3.2.3.2 Restauração .................................................................................................. 61

3.2.3.3 Reconstrução ................................................................................................ 61

3.2.3.4 Adaptação ..................................................................................................... 62

3.2.3.5 Replicação ..................................................................................................... 62

3.3 Aspectos Práticos da Conservação do Patrimônio Histórico .................... 62

3.3.1 Aspectos práticos da conservação de embarcações históricas ....................... 65

3.3.1.1 Estabilização ................................................................................................. 66

Page 20: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

3.3.1.2 Intervenção ................................................................................................... 67

3.3.1.3 Manutenção .................................................................................................. 68

3.3.2 Procedimentos de Conservação ...................................................................... 69

3.3.2.1 Combatendo a corrosão ............................................................................... 69

3.3.2.2 Limpeza e Decapagem ................................................................................. 73

3.3.2.3 Convertedores de Ferrugem ......................................................................... 76

3.3.2.4 Revestimentos reversíveis ............................................................................ 77

3.3.2.5 Vernizes e sistemas de pinturas ................................................................... 78

3.3.2.6 Revestimentos de alto desempenho ............................................................. 84

3.3.3 Guarda, Conservação e Manutenção .............................................................. 85

4 DESENVOLVIMENTO ........................................................................................... 91

4.1 Documentação das embarcações da Revolução de 1924 ........................ 91

4.1.1 Levantamento Histórico (Avaliação da importância) ........................................ 92

4.1.2 Levantamento cadastral ................................................................................... 94

4.1.2.1 Registro fotográfico ....................................................................................... 95

4.1.2.2 Registro descritivo ...................................................................................... 107

4.1.3.3 Registro dimensional .................................................................................. 111

4.2 Intervenções, Tratamentos e Procedimentos .......................................... 113

4.2.1 Identificação das características fundamentais do estudo de caso ............... 113

4.2.2 Identificação das necessidades, recursos e restrições .................................. 114

4.2.3 Identificação das intervenções e procedimentos indicados ........................... 114

5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 119

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 125

GLOSSÁRIO ........................................................................................................... 131

APÊNDICES ........................................................................................................... 139

APÊNDICE A - Relatório Fotográfico da Situação ................................................. 139

APÊNDICE B - Relatório Fotográfico da Embarcação Porto Rico I ....................... 145

APÊNDICE C - Relatório Fotográfico da Embarcação Porto Rico II ...................... 167

APÊNDICE D - Levantamento Cadastral: Planos de Linhas Embarcação I .......... 189

APÊNDICE E - Levantamento Cadastral: Elevações Embarcação I ..................... 193

APÊNDICE F - Levantamento Cadastral: Planos de Linhas Embarcação II .......... 197

APÊNDICE G - Levantamento Cadastral: Elevações Embarcação II .................... 201

Page 21: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ANEXOS ................................................................................................................. 205

ANEXO A - Memorando 285/09 de 07 de outubro de 2009, Castro (2009) ........... 205

ANEXO B - Laudo 03/2010 de 06 de julho de 2010, Castro (2010c) ................... 2013

ANEXO C - Memorando 239/10 de 05 de agosto de 2010, Castro (2010b) ........... 225

ANEXO D - Parecer 10/2010 de 5 de agosto de 2010, Castro (2010a) ................. 231

Page 22: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas
Page 23: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

23

1 INTRODUÇÃO

1.1 Tema e Problema de Pesquisa

O presente trabalho estudou o caso de duas embarcações encontradas no

leito do Rio Paraná, a cerca de 30 km da cidade de Porto Rico/PR, no ano de 2009.

Ao que consta no Inquérito Civil Público sob o n° 1.25.011.000003/2010-70,

um empresário da localidade descobriu e retirou do leito do Rio Paraná uma série de

artefatos históricos. Dentre eles os mais notáveis foram duas embarcações

classificadas como batelões (barcaças sem motor, usadas para rebocar carga pelas

vias fluviais) em estrutura de aço. O cidadão responsável pela retirada dos artefatos

históricos o fez com seus próprios meios, provavelmente com a intenção de montar

uma exposição na localidade, onde era proprietário de um hotel flutuante.

Segundo o Historiador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(IPHAN), Adler Homero Fonseca de Castro, há sinais evidentes de que as

embarcações estiveram envolvidas nas ações militares ligadas à revolução de 1924,

no evento que daria origem à Coluna Miguel Costa-Prestes. Além disso, os batelões

eram de tipos comuns em uso no final do século XIX e início do XX. Sua função

original não era o transporte de tropas, mas sim de granéis sólidos. Estão também

associados a outros processos históricos, como o transporte fluvial no Brasil, com a

ocupação do interior do território nacional, e com a economia da erva-mate nos

estados do Paraná e Mato Grosso do Sul. (CASTRO 2010a).

Os artefatos foram retirados de forma amadora, sem o uso de técnicas

arqueológicas adequadas, e por isso uma grande quantidade de informação foi

perdida. Entretanto, conforme expressa o Memorando IPHAN n° 285/09

Proteção/DEPAM, de acordo com a legislação brasileira as coisas de natureza

arqueológica, subaquática ou não, mesmo tendo sido irregularmente removidas do

contexto, mantém sua característica fundamental de serem, antes de tudo, itens

culturais protegidos (CASTRO 2009).

Assim, foi instaurado o Inquérito Administrativo n° 1/2009 pela Delegacia

Fluvial de Presidente Epitácio da Marinha do Brasil e, posteriormente, o Inquérito

Civil Público n° 1.25.011.000003/2010-70 para apurar e acompanhar a tutela e

destinação dos artefatos que pertencem ao patrimônio histórico e arqueológico

Page 24: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

24

nacional. O Ministério Público Federal, através da Procuradoria da República de

Paranavaí, promoveu reuniões que motivou a ação das instituições envolvidas1 no

caso em questão, a fim de provocar medidas para a conservação das embarcações.

Em outubro de 2013, a Superintendência do IPHAN do Paraná solicitou apoio

técnico ao Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização (DEPAM) do IPHAN

para a avaliação das condições das embarcações retiradas do Rio Paraná e,

posteriormente, elaboração de diretrizes de intervenção nestes bens.

A vistoria realizada revelou uma situação complicada e alarmante: havia a

intenção de restauração das embarcações para passeios turísticos e divulgação da

história da região. Ao mesmo tempo, nenhuma das instituições envolvidas dispunha

de recursos para ações contundentes. As embarcações, nesta ocasião expostas às

intempéries já por aproximadamente 3 anos, apresentavam considerável estado de

degradação.

Estas condições levantaram a questão que não foi respondida, e que se

pretende explorar nesta pesquisa:

• Quais intervenções, tratamentos e procedimentos poderiam ser

admitidos para a preservação das embarcações reconhecidas como de

valor cultural?

1O Ministério Público Federal, através da Procuradoria da República de Paranavaí; A Marinha do

Brasil, através da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha; O IPHAN, através

da Superintendência do IPHAN do Paraná; A Prefeitura Municipal de Porto Rico; e a Universidade

Estadual de Maringá, através do Núcleo de Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura.

Page 25: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

25

1.2 Justificativa

Parte dos mais ricos patrimônios navais do mundo encontra representação no

Brasil. Tradições ibéricas, mediterrâneas, norte europeias, africanas, asiáticas e

americanas estão miscigenadas em nossa cultura (VIEIRA FILHO, 2012).

Não obstante, segundo Vieira Filho (2012), no âmbito da Cultura Brasileira o

Patrimônio Naval é uma das áreas mais ameaçadas, além de possuir inúmeras

manifestações culturais de cunho material e imaterial associadas que decorrem das

tradicionais formas de vida que incluem as atividades nos ambientes fluviais,

lacustres e marítimos. O Patrimônio Naval, portanto, é possivelmente o mais

complexo dos contextos culturais brasileiros, englobando patrimônio material e

imaterial, interagindo com a economia, as paisagens e ecossistemas de nosso

espaço geográfico continental.

O Brasil possui uma costa com mais de 8.500 km, a maior rede hidrográfica

do mundo e uma tradição náutica que remonta a época das Grandes Navegações,

umas das maiores aventuras da humanidade. Ainda assim, a consciência social na

área do Patrimônio Naval ainda é incipiente, quase inexistente. O Brasil assiste

passivamente ao desaparecimento de parte desse importante patrimônio cultural,

por conta de uma visão imediatista do progresso. Tratam-se das mesmas razões

que determinaram como inexorável o desaparecimento de nossos casarões e igrejas

nos anos 30. (ARCHENAVE, 1990).

Conforme citado em Couto e Duarte (1988, apud ARCHENAVE, 1990) a mais

completa obra sobre o universo das embarcações brasileiras realizadas até então

seria o Ensaio sobre as Construções Navais indígenas do Brasil do almirante da

Marinha do Brasil, Antônio Alves Câmara, datado de 1888.

Vieira Filho (2012), ao apresentar uma síntese das pesquisas realizadas pelo

IPHAN entre 1990 e 2009, reconhece que não foi possível equilibrar o esforço com a

equivalente necessidade de estudo das embarcações do interior do país. Ao mesmo

tempo, afirma que o mar deve ser considerado o cordão umbilical da nacionalidade

brasileira, pois, foi através dele que chegou a maior parte da população. Foi a

navegação que permitiu o acesso a fixação da população, estabeleceu vias

comerciais de transporte em um território repleto de obstáculos naturais. Até o

século XVIII, com a interiorização provocada pela economia do ouro, a comunicação

e o transporte eram praticamente exclusivamente navais. (VIEIRA FILHO, 2012).

Page 26: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

26

Por muito tempo os navios representaram a vanguarda da tecnologia e da

cultura humana. Representaram as maiores e mais complexas estruturas móveis de

muitas nações no decorrer da história, tornando-se elementos críticos da ascensão e

do declínio de civilizações. (DELGADO, 1987).

O Patrimônio Naval Brasileiro é a união entre o conhecimento e a criatividade

para adaptar as tecnologias disponíveis aos materiais e à mão de obra existentes

para suprir as suas necessidades. A penetração na Amazônia, o acesso ao Mato

Grosso e a longa disputa pelo Rio da Prata estão intimamente ligados à navegação.

(VIEIRA FILHO, 2012).

O patrimônio industrial, como definido pelo Central Europe Project SHIFT-X

(2014), são locais, estruturas, complexos, áreas e paisagens, assim como os

equipamentos, objetos ou documentos relacionados que fornecem evidência de

processos industriais antigos ou contínuos de produção, extração de matérias-

primas, da sua transformação em bens, e sua infraestrutura de energia e transporte

relacionados. Ele inclui ambos os aspectos dos bens materiais - móveis e imóveis –

além dos aspectos intangíveis como know-how técnico, a organização do trabalho e

dos trabalhadores e do legado social e cultural complexos que moldaram a vida das

comunidades e trouxeram grandes mudanças organizacionais para sociedades

inteiras e do mundo em geral. (SHIFT-X, 2014).

A área de estudo de patrimônio industrial deve ser tratada como um campo

multidisciplinar, que compreende a distribuição no espaço das edificações, o estudo

dos vestígios materiais, de documentos escritos, de testemunhos orais,

levantamento e documentação e a sua preservação. O desafio com relação ao

patrimônio industrial é situar o monumento em seu contexto social e econômico e

sua relação com a história da técnica. As formas de abordagem são múltiplas e

abarcam uma grande variedade de disciplinas, havendo necessidade de intercâmbio

e complementariedade entre elas. É de fundamental importância para o

entendimento do patrimônio industrial o estudo da história da tecnologia, e a relação

entre uma dada técnica com outras empregadas na época. Também é relevante a

avaliação das técnicas usadas e sua relação com a história da ciência. (KÜHL,

1998).

O trabalho de pesquisa de campo é fundamental para levantar os dados que

não são encontrados em fontes documentais, permitindo que equipes

multidisciplinares façam o discernimento acerca dos dados técnicos e processos de

Page 27: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

27

construção. O estudo do Patrimônio Industrial torna-se mais amplo e significante

com profissionais de várias áreas atuando em conjunto, cada qual se dedicando à

sua área de interesse, possibilitando o intercâmbio e complementariedade das

informações: Historiadores com as pesquisas documentais; Arqueólogos e arquitetos

à implantação, localização, construção, distribuição no espaço; Tecnólogos sobre a

forma de produção, suas características técnicas e suas inter-relações com as

demais áreas de conhecimento. (KÜHL, 1998).

Segundo Kortum (1987) um navio restaurado pode contar uma história, mas

para isso ele deve ser interpretado. A interpretação é normalmente deixada de lado

em relação à reparação física do navio, o que é compreensível em certa medida.

Entretanto, ao não projetar a história do navio para o público é provável que não se

consiga o apoio necessário para manter o navio vivo.

Assim, o estudo de parâmetros técnicos sob o olhar da Tecnologia da

Construção Naval pode orientar as intervenções em embarcações reconhecidas

como Patrimônio Cultural. A compilação de uma bibliografia de referência poderá

servir como alicerce para estabelecer parâmetros práticos, adequados à realidade

brasileira, estudando um tema pouco abordado em nosso país e de suma

importância para a Preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro.

Page 28: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

28

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Identificar os tratamentos e procedimentos mais adequados à preservação de

embarcações de reconhecido valor cultural, tendo como pano de fundo o estudo de

caso de duas embarcações naufragadas da Revolução de 1924.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) Relacionar as especificidades da área da preservação de bens de

reconhecido valor cultural com a preservação do patrimônio naval;

b) Documentar as características de duas embarcações da Revolução de

1924, objetos do estudo de caso;

c) Levantar, na literatura especializada, procedimentos, intervenções e

tratamentos indicados para a conservação das embarcações da

Revolução de 1924.

Page 29: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

29

2 METODOLOGIA

2.1 Perspectivas da Pesquisa

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa documental, pois é focada em

um caso onde há escasso conhecimento acumulado e sistematizado. Trata-se

também, de uma pesquisa temática com foco mais aberto, passível de várias

perspectivas de interpretação, bastante comum em ensaios no campo da história

(VASCONCELOS, 2002, apud LEAL, 2011).

De acordo com os objetos e fontes a serem investigados foi proposta uma

pesquisa teórica, pois tem por objeto a problemática teórica e/ou conceitual sobre a

conservação de embarcações históricas. (VASCONCELOS, 2002, apud LEAL,

2011).

A fim de alcançar os objetivos traçados no presente trabalho foram aplicadas

as seguintes estratégias ou meios de busca da informação: (LAVILLE; DIONNE,

1999 apud LEAL, 2011).

a) Pesquisa Bibliográfica, posto que, estudou material publicado em

livros e artigos científicos.

b) Pesquisa Documental, visto que partiu-se de documentos oficiais do

IPHAN e de outros órgãos de Preservação similares, direta ou

indiretamente, bem como, embasou-se em outros estudos de casos,

conforme a sua disponibilidade.

c) Estudo de caso, conforme Yin (2001, apud LEAL, 2011), ao se

investigar o contexto, neste caso as embarcações da revolução de

1924, e construir uma análise holística a fim de possibilitar a

formulação de orientações oportunas para o caso como parte dos

objetivos da pesquisa.

Embora trate de um estudo de caso e considere a avaliação de algumas

produções científicas no campo de conhecimento da conservação de embarcações

históricas, a presente pesquisa não teve a pretensão de fazer uma avaliação do

estado da arte. Devido à complexidade e extensão do tema em questão, este

trabalho limitou-se a apresentar uma revisão bibliográfica. (VASCONCELOS, 2002,

apud LEAL, 2011).

Page 30: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

30

2.2 Participantes da Pesquisa

Participaram desta pesquisa os seguintes órgãos e pessoas:

a) A Superintendência do IPHAN de Santa Catarina, que concedeu ao autor

licença para trabalhar em horário especial, além de ceder o técnico em

questão para auxiliar a Superintendência do IPHAN do Paraná, no caso

das embarcações da Revolução de 1924;

b) O Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização (DEPAM) do

IPHAN central, que contatou e disponibilizou os recursos de diárias e

passagens para o auxílio à Superintendência do IPHAN do Paraná;

c) O historiador e Assistente Técnico de Pesquisa III, Adler Homero Fonseca

de Castro, servidor da Superintendência do IPHAN do Rio de Janeiro, o

qual emitiu e disponibilizou os documentos sobre as questões históricas

dos artefatos encontrados no estudo de caso;

d) A Superintendência do IPHAN do Paraná, que através do seu

superintendente José Lapastina Filho que, além de provocar a

participação do autor no caso, auxiliou ativamente nos levantamentos in

loco;

e) O Ministério Público Federal, através da Procuradoria da República de

Paranavaí/PR, na pessoa do Procurador da República Raphael Otávio

Bueno Santos, que motivou a ação das instituições envolvidas no caso

em questão, a fim de provocar medidas para a conservação das

embarcações no seu papel de defesa do patrimônio nacional, o

patrimônio público e social; e

f) A Prefeitura Municipal de Porto Rico/PR, que deu suporte aos técnicos do

IPHAN envolvidos nos levantamentos durante a execução dos trabalhos.

2.3 Procedimentos e Coleta de Dados

Para relacionar as especificidades da área de preservação de bens de

reconhecido valor cultural com a preservação do patrimônio naval, o presente

trabalho apresenta uma fundamentação teórica realizada através de ampla pesquisa

bibliográfica, apresentada no Capítulo 3, desenvolvida nas seguintes etapas:

Page 31: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

31

a) Identificação e seleção de material bibliográfico pertinente;

b) Leitura e seleção de referências com identificação das obras, autores e

de seus escopos, reunindo-as em banco de arquivos em formato

digital; e

c) Análise do material pesquisado para a elaboração dos conteúdos

necessários para o atendimento dos objetivos específicos deste

projeto.

Para documentar as características das embarcações da Revolução de 1924,

foram reunidas e organizadas as informações disponíveis sobre o caso,

correlacionando o levantamento histórico realizado pelo historiador Adler Homero

Fonseca de Castro, como Assistente Técnico de Pesquisa III do IPHAN, e os

levantamentos de campo realizados pelo autor em conjunto com a Superintendência

do IPHAN do Paraná, apresentado no Capítulo 4.1, nas seguintes etapas:

a) Levantamento histórico.

A avaliação da importância das embarcações foi realizada com base nos

seguintes documentos técnicos emitidos pelo IPHAN:

I. Memorando 285/09 de 07 de outubro de 2009, Castro (2009), Anexo A;

II. Laudo 03/2010 de 06 de julho de 2010, Castro (2010c), Anexo B;

III. Memorando 239/10 de 05 de agosto de 2010 que encaminha o Laudo

03/10 e o Parecer 10/2010, Castro (2010b), Anexo C;

IV. Parecer 10/2010 de 5 de agosto de 2010, Castro (2010a), Anexo D.

A partir das informações relacionadas nos documentos técnicos foram

discriminadas as características conforme os critérios de importância e significado

relacionados na fundamentação teórica (item 3.2.2.1).

b) Levantamento cadastral

O levantamento cadastral das embarcações foi realizado com base nos

registros da vistoria realizada pelo IPHAN no período de 18 a 20/11/2013 na cidade

de Porto Rico/PR, no qual constam o levantamento físico expedito das principais

dimensões e um levantamento fotográfico das características gerais das duas

embarcações objetos do estudo de caso.

Conforme os critérios relacionados na fundamentação teórica (item 3.2.2.1) as

informações pesquisadas foram organizadas nas formas a seguir:

Page 32: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

32

b.1) Registro fotográfico

A captura das imagens foi realizada utilizando uma câmera CANON EOS

REBEL T3, com lentes de distância focal 18-55 mm e as imagens foram tiradas

originalmente com dimensão de 4272 x 2848 pixels, resolução de 72 dpi,

representação de cor “sRGB” e gravadas com extensão “.JPEG”.

A partir das informações da vistoria, foi organizado o registro fotográfico das

duas embarcações, separados em 3 etapas: Situação, Embarcação I e Embarcação

II.

Para a etapa Situação foram organizadas imagens identificando a localização

das embarcações dos contextos regionais aos locais. Na etapa Embarcação I e

Embarcação II as fotos foram organizadas com relação às características principais

em: proa, costados, popa, convés e compartimentos. O levantamento completo está

apresentado nos Apêndices A, B e C.

b.2) Registro descritivo

Devido à qualidade e riqueza de detalhes da construção das embarcações,

mostradas no levantamento fotográfico, optou-se por uma descrição condensada

dos principais elementos e as características dos cascos das duas embarcações do

estudo de caso, reunindo e organizado as informações disponíveis nos documentos

e bibliografia pesquisados, para os elementos de destaque da tipologia, operação e

construção.

b.3) Registro dimensional (planos de linhas principais)

O levantamento de campo foi realizado de forma expedita, com a utilização de

instrumentos de medida tipo trena de aço auto retrátil, sendo uma de largura 25 mm

para até 10 m e outra de largura 19 mm para até 5 m, ambas com precisão

milimétrica (0,001m) não aferidas. Foi utilizado linha de referência de nylon 0,50 mm

de diâmetro, prumos simples de construção civil sendo um prumo de centro e um

prumo de face, sendo que as medições foram realizadas por dois técnicos do

IPHAN:

I. O autor, Mário Alves do Rosário Pires, Técnico I em exercício na

Superintendência do IPHAN no Estado de Santa Catarina, com

formação em Engenharia Civil e graduando do curso de Tecnologia em

Construção Naval; e

Page 33: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

33

II. José Lapastina Filho, Superintendente do IPHAN no Estado do Paraná,

com formação em Arquitetura e Urbanismo e especialização em

restauro e conservação de monumentos arquitetônicos.

A partir dos croquis do levantamento de campo foram desenhadas as linhas

principais do casco das embarcações utilizando o programa AutoCAD (Autodesk)

obtendo uma representação simplificada do casco: plano de perfil na linha de centro,

baliza da seção de meia nau, e plano de linha d’água do convés.

Para identificar quais as intervenções, tratamentos e procedimentos indicados

para a conservação das embarcações da Revolução de 1924 as informações foram

apresentadas e obtidas na bibliografia pesquisada, correlacionando as

especificidades da área de patrimônio cultural com os aspectos práticos da

preservação e reabilitação do patrimônio naval aplicadas ao caso das embarcações

da Revolução de 1924, apresentadas no capitulo 4.2 nas seguintes etapas:

a) Identificação dos fatores e questões relevantes para uma política de

preservação das embarcações da Revolução de 1924;

b) Levantamento das necessidades futuras, recursos, condições e

restrições; e

c) Identificação das intervenções, tratamentos e quais procedimentos são

indicados de acordo com a bibliografia consultada.

Page 34: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

34

Page 35: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

35

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Especificidades da Área de Patrimônio Cultural

3.1.1 A preservação do patrimônio cultural

O Renascimento, movimento cultural e artístico que surgiu na Itália no século

XIV, foi marcado pela busca dos ideais e padrões estéticos da antiguidade greco-

romana a qual fomentou a consciência da importância dos vestígios das civilizações

passadas. Muitas obras arquitetônicas emblemáticas foram edificadas neste período

onde predominava o perfeito equilíbrio entre formas e volumes. No entanto, até

meados do século XVIII o conceito de que os monumentos antigos eram

testemunhos históricos e culturais e que deveriam ser preservados ainda não estava

consolidado. Um marco para o início da discussão para definição de critérios para

intervenção em monumentos históricos foi a Revolução Francesa com a destruição

de inúmeros documentos e edificações antigos após as guerras ocorridas na época.

(LUSO; LOURENÇO; ALMEIDA, 2004).

Durante o século XVIII, o conceito de patrimônio histórico considerava os

bens que possuíam apenas relevância universal para a humanidade. O conceito foi

sendo ampliado gradualmente sendo que o termo mais utilizado hoje é “patrimônio

cultural”. Atualmente, a definição de patrimônio cultural é abrangente e inclui não

somente monumentos antigos excepcionais, palácios, fortificações, obras de arte e

grandes edificações de uso público ou religioso, mas também, edificações

residenciais, áreas urbanas e rurais de uso privado. (JOKILEHTO, 1999).

Foi apenas no século XX que diretrizes norteadoras das ações de

preservação do patrimônio cultural começaram a ser formalizadas. Os documentos

resultantes de convenções internacionais que reúnem técnicos, acadêmicos e

especialistas da área de preservação são denominados “Cartas Patrimoniais”. As

primeiras cartas patrimoniais, a exemplo da Carta de Atenas de 1931, tinham a

preocupação de definir a noção de monumento histórico e seu entorno e os

conjuntos arquitetônicos. Cartas mais recentes trouxeram a preocupação com

aspectos urbanísticos das cidades, integração do antigo ao novo, autenticidade do

patrimônio, qualidade de vida das pessoas, cultura popular e referências locais.

(IPHAN, 2004).

Page 36: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

36

Segundo Jokilehto (1999), atualmente a preservação do patrimônio cultural

não é considerada um retorno ao passado, mas sim uma ação necessária para o

desenvolvimento sustentável da nossa sociedade levando-se em conta os potenciais

existentes dos recursos naturais, humanos e tecnológicos.

A Constituição Federal brasileira, em seu artigo n. 216, define que o

patrimônio cultural é o conjunto resultante das formas de expressão de um povo; de

seus modos de criar, fazer e viver; das criações científicas, artísticas e tecnológicas;

das obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às

manifestações artístico-culturais; e dos conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,

paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (BRASIL,

1988).

O patrimônio cultural pode ser divido em patrimônio material e imaterial. O

patrimônio imaterial diz respeito a elementos intangíveis, como: expressões,

conhecimentos e técnicas que as comunidades ou grupos reconhecem como parte

integrante de seu patrimônio cultural. O patrimônio material é divido entre bens

imóveis como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens

individuais; e móveis como coleções arqueológicas, acervos museológicos,

documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e

cinematográficos. Os bens imóveis, como palácios, fortificações, casas, prédios

comerciais, igrejas, construções militares, constituem o patrimônio histórico

edificado. (IPHAN, 2015).

Conforme Feilden (2003), o patrimônio histórico edificado, salvo casos

excepcionais, deve estar sempre em uso e, portanto, estará sujeito às influências

das condições climáticas, dos agentes de degradação biológicos e também da ação

humana.

O fato de essas edificações não poderem ser demolidas ou substituídas

devido a sua importância histórica exigem ações de preservação contínua que levam

ao prolongamento de sua vida útil por gerações. Desta forma, os edifícios históricos,

inevitavelmente, estarão sujeitos a alterações no que diz respeito ao seu tipo de

ocupação, quantidade de usuários que o utilizam, rotinas de uso, ampliações e

adaptações para receber novos elementos ou instalações. Historicamente, ações de

adaptação e reabilitação constituem um processo natural durante a vida de um

centro urbano ou de uma edificação. (FEILDEN, 2003).

Page 37: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

37

Podem ser citados como exemplos clássicos de adaptação de uso de

edificações: o “Castelo de Santo Ângelo”, em Roma, que foi concebido como um

mausoléu (Mausoléu de Adriano) tornando-se posteriormente uma fortaleza, uma

residência papal, uma prisão e hoje é atração turística como museu. Outro exemplo

romano são as “Termas de Diocleciano” que teve seu salão de entrada principal

transformado em uma igreja e as outras áreas hoje abrigam um museu, cinema e

planetário. (FEILDEN, 2003).

Há organismos internacionais cuja atribuição é pesquisar e fornecer

orientações para intervenção no patrimônio cultural. Um deles é o ICOMOS

(International Council on Monuments and Sites), que tem como uma de suas

atribuições o aconselhamento no que se referem aos bens contidos na lista de

Patrimônio Cultural da Humanidade da UNESCO (FEILDEN, 2003).

Preocupados com a preservação dos componentes tangíveis e intangíveis do

Patrimônio Industrial, em 2013 a Assembleia Parlamentar do Conselho da União

Europeia, através do Committee on Culture, Science, Education and Media emitiu o

relatório Industrial Heritage in Europe (Patrimônio Industrial na Europa),

estabelecendo uma série de recomendações, além de suas definições e escopos.

(DERVOZ, 2013).

O Patrimônio Industrial é altamente vulnerável, frequentemente por falta de

consciência, documentação, reconhecimento ou proteção, mas também, por

questões econômicas e ambientais pela sua dimensão e complexidade. Engloba a

extração, produção e processamento de matérias-primas, minerais ou orgânicas, o

trabalho, a manufatura e comercialização destes produtos além da infraestrutura,

instalação, serviços, transporte e comunicação. As máquinas são parte essencial, e

embora mais difíceis de lidar, seu estudo e preservação merece a mesma atenção e

respeito que as construções que as cercam. (DERVOZ, 2013).

3.1.2 As implicações da proteção legal ao patrimônio cultural

No Brasil, o patrimônio cultural é protegido por legislação em três esferas:

nacional, estadual e municipal. O dispositivo legal para a proteção do patrimônio

material é o ato do tombamento. O tombamento reconhece o valor cultural de um

bem, o qual passa a compor a lista dos bens com importância histórica, artística ou

cultural reconhecida pelo órgão competente. O tombamento não retira a propriedade

do imóvel e nem implica seu congelamento, permitindo transações comerciais e

Page 38: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

38

eventuais modificações, previamente autorizadas e acompanhadas, além de auxílio

técnico do órgão competente. (IPHAN, 2011).

Segundo a Constituição Federal (artigo 30, II) cabe ao Município legislar

suplementarmente à legislação federal e estadual no que couber, vale dizer, naquilo

que se dá a ele possibilidade de atuar, ou seja, dentro da área sob a sua

administração e observando a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL, 1988).

A proteção ao patrimônio cultural com relevância nacional é responsabilidade

do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O Iphan foi

instituído em 1937, através do Decreto-Lei nº 25, que organiza a proteção do

patrimônio histórico e artístico nacional (BRASIL, 1937).

A proteção ao patrimônio cultural em Santa Catarina data de 1979, quando foi

publicado o Decreto Estadual nº 7439 que criou a Fundação Catarinense de Cultura

(FCC). A FCC é a instituição encarregada da aplicação das Leis de proteção dos

bens culturais de importância estadual. (FCC, 2015).

No estado do Paraná existe a Coordenação do Patrimônio Cultural (CPC)

setor da Secretaria de Estado da Cultura encarregado dos assuntos relativos ao

tombamento, à restauração, à conservação e a divulgação do patrimônio

arqueológico, histórico, artístico e natural estaduais, estabelecido pela Lei Estadual

nº 1.211 de 1953. (CPC, 2015).

Nas cidades o patrimônio cultural é responsabilidade das Prefeituras

Municipais, onde cada município deve legislar acerca de seu próprio patrimônio, no

caso do Município de Florianópolis sua gestão é realizada pelo Serviço do

Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Município (SEPHAN), amparado pela Lei

no 1202/74 que dispõe sobre a proteção do patrimônio histórico, artístico e natural do

município (FLORIANÓPOLIS, 1974).

Entretanto, nem todos os municípios dispõe de legislação. O município de

Porto Rico no Paraná não dispõe de legislação específica para proteção cultural.

3.1.3 Aspectos teóricos das intervenções no patrimônio cultural

Cada restauração constitui um caso a ser analisado de modo singular em

razão das características particulares de cada obra e das marcas sofridas no

transcorrer do tempo. Não obedecer a colocações dogmáticas não significa que a

intervenção seja arbitrária, pois, a teoria tende a uma generalização, enquanto os

Page 39: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

39

monumentos são sempre "indivíduos". Por que então uma teoria? Este

questionamento perpassa as formulações das ciências em geral, e das humanidades

em particular. Nesse sentido, é prudente evidenciar o papel do rigor e do método

para se ter acesso a uma objetividade, mesmo na imprecisão das ciências humanas.

(KÜHL, 2008).

Assim, a teoria é justamente uma ferramenta que visa refletir sobre o método,

para chegar ao conhecimento. Dada a responsabilidade envolvida, por tratar-se de

patrimônio cultural, é necessário resolver o problema de modo que a ideia subjetiva

se torne acessível a um juízo mais objetivo e controlável. Essa objetividade só pode

ser alcançada através da reflexão teórica. (KÜHL, 2008).

A restauração deve seguir princípios gerais, vinculados a um conceito e

metodologia (algo diverso de regras fixas), para as várias formas de manifestação

cultural, mesmo na diversidade dos meios a serem empregados para enfrentar os

problemas particulares de cada obra. É ato histórico-crítico ancorado na história e na

filosofia. Essa vinculação é essencial para aqueles que atuam na preservação de

bens culturais, pois possibilita que se superem atitudes ditadas por predileções

individuais. Salienta-se que esse processo não é óbvio, trata-se de um procedimento

necessariamente multidisciplinar, exigindo estudos e reflexões aprofundadas. Não se

admite aplicações mecânicas de fórmulas, nem simplificações. A restauração é uma

ação em um “presente histórico” específico, e deve respeitar os princípios

fundamentais sempre de forma concomitante e nunca excludente. (KÜHL, 2008).

No que tange à questão da preservação dos bens culturais, ainda se

estabelece o critério de se intervir com técnicas contemporâneas, diferenciando a

nova intervenção da construção original, porém, mantendo-se uma unidade legível e

a garantia de um uso adequado e compatível, visando assegurar sua sobrevivência.

O essencial em qualquer situação é um amplo conhecimento teórico, arquitetônico e

crítico. Toda intervenção sobre um patrimônio cultural implica em certa dose de

subjetividade e responsabilidade, que não pode ser evitada e deve ser assumida de

maneira clara e explícita. Para realizar qualquer intervenção com qualidade e

pertinência, é necessária uma formação técnica e humanística para se lidar com o

tema, a fim de se trabalhar sempre concomitantemente com os critérios técnicos

definidos, levando-se em conta as considerações de ordem social, cultural e

econômica. Embora seja um processo complexo, atender a todos esses parâmetros

não é impossível. (ZEIN; MARCO, 2007).

Page 40: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

40

De acordo com Kühl (2008) conforme cada ambiente cultural, como no Brasil

e na França, pode haver pequenas distinções entre os sentidos associados à

palavra preservação, que pode abranger procedimentos de intervenção (a exemplo

de manutenção, conservação e restauração), formas legais de tutela (como o

tombamento), políticas de proteção e perpetuação da memória, educação

patrimonial. Na Inglaterra, a palavra restoration permanece com conotação

extremamente negativa pela repercussão do pensamento do teórico inglês John

Ruskin, utilizando-se conservation tanto para bens móveis quanto imóveis. Já nos

Estados Unidos, a palavra conservation volta-se mais para os bens móveis,

enquanto preservation é empregada preferencialmente para bens imóveis. Em

ambiente italiano, usa-se conservazione e tutela para o sentido lato, com algumas

nuanças, semelhante ao uso brasileiro da palavra preservação. Conservazione

também é associada a um dos graus de atuação (distinta da manutenção e do

restauro). (KÜHL, 2008).

Segundo Zein e Marco (2007), para os brasileiros a ciência da Preservação

do Patrimônio Cultural é um tema um pouco mais abrangente, enquanto poderia

situar-se a conservação como um subtema. Nos Estados Unidos e Canadá o termo

preservation é utilizado de forma mais abrangente, enquanto nos outros países de

língua inglesa adota-se o termo conservation, the science of conservation. Nesses

países, tais termos referem-se à profissão e ao profissional da área cujo intuito é o

de retardar a deterioração do bem, ou seja, preservá-lo. (ZEIN; MARCO, 2007).

No âmbito da preservação do patrimônio moderno o DoCoMoMo

(Internacional Working Party for the Documentation and Conservation of buildings,

sites and neighbourhoods of the Modern Movement) adotou internacionalmente o

termo Conservação (Conservation). A organização do DoCoMoMo/Brasil adotou o

termo Preservação, de significado mais amplo em português que o termo

conservação. (ZEIN; MARCO, 2007).

De acordo com Fielden (2003) devem ser rigorosamente observados nos

trabalhos de conservação/restauração os seguintes princípios (standard of ethics):

(1) As condições da edificação devem ser documentadas antes de qualquer intervenção.

(2) Evidencias históricas não devem ser destruídas, falsificadas ou removidas.

(3) Qualquer intervenção deve ser a mínima necessária.

Page 41: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

41

(4) Qualquer que seja a intervenção deve ser direcionada pelo questionamento respeitoso pela estética, história e integridade física da propriedade cultural.

(5) Todos os métodos e materiais usados durante a intervenção (treatment) devem ser inteiramente documentadas, e qualquer proposta de intervenção deve necessariamente:

a) Ser reversível ou reprodutível, se tecnicamente possível, ou

b) Ao menos não prejudique uma futura intervenção quando ela se tornar necessária;

c) Não esconda a possibilidade de acesso posterior a todas as evidências incorporadas no objeto;

d) Permita que a máxima quantidade de material existente seja mantido;

e) Seja harmonioso em cor, tom, textura, forma e escala, se forem necessárias quaisquer adições elas devem ser somente menos notáveis que o material original, enquanto ao mesmo tempo serem identificáveis;

f) Não sejam empreendidos por conservadores/restauradores que sejam insuficientemente treinados ou experimentados, a menos que sejam devidamente supervisionados. No entanto, deve ser reconhecido que alguns problemas são únicos e devem ser resolvidos primeiramente pelos princípios básicos de tentativa-erro. (FEILDEN, 2003, p. 6. Tradução nossa).

A Austrália ICOMOS Burra Charter (Carta de Burra), resultante da reunião do

ICOMOS realizada na Austrália em 1980, posteriormente atualizada em 1988, 1999

e mais recentemente em 2013, traz importantes definições de termos de ações

intervencionistas do patrimônio cultural, bem como estabelece um processo para a

prática para aqueles que trabalham com Patrimônio Cultural (cultural significance).

Alguns destes termos são apresentados a seguir. (ICOMOS, 2013).

Sítio/ambiência (place). É uma área definida geograficamente, podendo conter elementos, objetos, lugares e paisagens (views) com dimensões tangíveis e intangíveis.

Significado/importância Cultural (cultural significance). Trata da existência de importância estética, histórica, científica, social ou espiritual para as gerações passadas, presente ou futuras incorporadas na própria ambiência/sítio, na sua constituição (fabric), entorno (setting), uso, associações, significados, registros, e sítios/ambiências e objetos relacionados.

Constituição/Material (fabric). Significa toda a matéria ou substância física do sítio/ambiência, incluindo elementos, acessórios, conteúdos e objetos.

Conservação (conservation). Trata de todo o processo de cuidar de um sítio/ambiência visando a retenção do seu significado/importância cultural.

Page 42: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

42

Manutenção (maintenance). Trata das ações contínuas de cuidado em um sítio/ambiência e em seu entorno (setting). Manutenção deve ser diferenciada de reparo, pois este envolve restauração ou reconstrução.

Preservação (preservation). Significa a manutenção, ou o cuidado contínuo de manutenção de um sítio/ambiência em seu estado atual, retardando a sua deterioração.

Restauração (restoration). Significa retornar um sítio/ambiência a uma forma ou estado prévio conhecido, seja pela remoção de acréscimos ou remontagem de elementos existentes sem a introdução de novos materiais.

Reconstrução (reconstruction). Significa retornar um sítio/ambiência a uma forma ou estado prévio conhecido, seja pela remoção de acréscimos ou remontagem de elementos existentes com a introdução de novos materiais. Se difere da restauração pela introdução de novos materiais.

Adaptação (adaptation). Significa alterar um sítio/ambiência visando se adequar a um uso já existente ou a um proposto.

Uso (use). Trata das funções do sítio/ambiência incluindo as atividades e práticas tradicionais que podem acontecer ou serem dependentes do sítio/ambiência.

Uso compatível (compatible use). Significa um uso o qual respeita o significado/importância cultural do sítio/ambiência

Entorno (setting). Trata da extensão imediata do ambiente do sítio/ambiência do qual é parte ou contribui para a significado/ importância cultural e suas características diferenciais/peculiares.

Significado (meaning). Denota o que um sitio/ambiência representa, indica ou suscita ou se expressa nas pessoas.

Interpretação (interpretation). Significa todas as formas de apresentação de um significado/importância cultural de um sítio/ambiência.

Processo de Conservação (conservation process): A conservação pode, de acordo com a circunstância, incluir os processos de: Retenção/manutenção ou reintrodução de um uso; retenção/manutenção de associações e significados; Manutenção, preservação, restauração, reconstrução, adaptação e interpretação; E normalmente inclui uma combinação de um ou mais destes itens. Conservação pode ainda incluir a retenção/manutenção da contribuição que objetos relacionados e sítios/ambiências relacionadas devida ao significado/importância de um sítio/ambiência. (ICOMOS, 2013. p. 1-3. Tradução nossa).

O Processo da Carta de Burra (the Burra Charter Process) se inicia com o

entendimento do significado/importância cultural (cultural significance), aonde se

define o sítio/ambiência (place) e sua extensão, investiga-se sítio/ambiência (place)

sua história, uso e constituição (fabric), avalia todos os seus valores usando critérios

relevantes e bem definidos, e se desenvolve uma declaração de

Page 43: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

43

significado/importância (significance). Posteriormente se preocupa com o

desenvolvimento de uma política de conservação, primeiramente identificando todos

os fatores e questões relevantes, como as obrigações decorrentes do

reconhecimento do significado/importância (significance), as necessidades futuras,

recursos, oportunidades, restrições e condições. Em segundo lugar, desenvolvendo

a política de preservação propriamente dita e, em seguida, preparando um plano de

gestão, onde se define prioridades, recursos, responsabilidades, um cronograma de

desenvolvimento e implementação de ações. A última etapa trata da gestão

conforme a política de conservação definida, dividindo-se em implementação do

plano de gestão e no monitoramento dos resultados e ajuste do plano. A Figura 01

ilustra o Fluxograma do Processo da Carta de Burra. (ICOMOS, 2013).

Figura 1 – Processo da Carta de Burra (the Burra Charter Process)

Fonte: Adaptado de ICOMOS, 2013. p. 10.

Page 44: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

44

Cesare Brandi, que dirigiu o Instituto Central de Restauração de Roma de

1939 a 1961, e foi um dos mais eminentes teóricos da preservação, na sua

publicação editada pela primeira vez em 1963 – Teoria del Restauro, diferencia a

restauração de produtos industriais e de obras de arte, definindo que na restauração

de produtos industriais, qualquer que seja a escala, o escopo da restauração será

evidentemente o de restabelecer a funcionalidade do bem, e por isso, a natureza da

intervenção de restauro deveria estar exclusivamente ligada a este fim. (BRANDI,

2004).

Segundo Kühl (1999), embora Brandi defina que o objetivo das intervenções

de restauro em relação aos objetos industriais deveria estar ligado em restituir a

funcionalidade do bem, o mesmo autor também especificou algumas obras de arte

que também possuem objetivos funcionais, e que reconduzir a funcionalidade nestes

casos, apesar de ser um requisito do restauro, seria apenas um elemento

secundário e que o fundamental é restabelecer a obra de arte como obra de arte, se

assim for reconhecida, a exemplo da arquitetura. (KÜHL, 1999).

3.2 Aspectos da Preservação do Patrimônio Naval

Segundo o National Historic Ships (2010) as embarcações estão entre os

artefatos humanos mais complexos concebidos em qualquer momento na história.

Embora em diferentes escala e tipologia, eles têm grande impacto emocional como

expressões funcionais, e muitas vezes artísticas da engenhosidade das pessoas em

relação ao seu ambiente. Eles geraram mudança cultural em grande escala,

afetando pessoas que nunca puseram os pés em uma embarcação. Elas não são

uma categoria isolada de criações, pois, estão interligadas com lugares, objetos e

arquivos. Elas eram, e são, parte da vida das pessoas e das interações humanas:

locais, nacionais e internacionais. As embarcações refletem a história de pessoas

como artesãos, inventores e aventureiros. (NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

3.2.1 A questão da preservação das embarcações históricas

Segundo Mori Flapan (2009) a decisão da forma de melhor preservar uma

embarcação é bastante complexa, pois, é preciso considerar uma grande

diversidade de fatores. Algumas embarcações são musealizadas de forma

Page 45: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

45

estacionária, em terra ou flutuando, enquanto que outras são operacionais. Existem

argumentos contra e a favor de quaisquer das opções.

Na Austrália a maior parte das embarcações preservadas são musealizadas

flutuando, sendo que algumas delas são operacionais. O maior benefício de se

manter uma embarcação preservada operacional é que ela permite sua exibição

dentro do seu contexto histórico. Poder transportar o público a bordo de uma

embarcação histórica operacional expande significantemente a experiência dos

visitantes. Manter uma embarcação operacional aumenta de forma expressiva o

escopo de um museu pela necessidade de se preservar as habilidades de operação

e manutenção além das próprias embarcações e seus artefatos. (FLAPAN, 2009).

Na Inglaterra o National Historic Ships, órgão de preservação das

embarcações históricas do patrimônio inglês (English Heritage) reconhece que

podem surgir ocasiões específicas quando uma embarcação histórica se encontrar

em tal grau de declínio e degradação que pode ser impraticável sua salvação, sendo

necessário contemplar sua perda. Para casos extraordinários, quando uma

embarcação pode vir a ser perdida, ainda é possível salvaguardar parte valiosa da

história registrando-se os remanescentes da vida operacional e da sua estrutura. Em

outras palavras, um processo de desmontagem deve ser cuidadosamente

gerenciado, a fim de permitir um registro completo da sua estrutura durante a sua

desmontagem, em um processo de desconstrução controlada. (KENTLEY;

STEPHERS; HEIGHTON, 2007b).

Mori Flapan (2009) identifica e divide os principais desafios para a

preservação das embarcações históricas nos seguintes grupos: históricos;

tecnológicos; de competência (ou habilidade); éticos e financeiros, conforme exposto

a seguir:

a) Desafios Históricos: Navios-museus foram construídos em uma época

onde havia diferentes expectativas sociais quanto à segurança. A análise

do destino dos navios que datam dos séculos anteriores mostra taxas de

perda por catástrofes muito maiores do que é considerado aceitável hoje.

Os atuais padrões de segurança têm evoluído com as experiências de

muitos milhares de tragédias.

As embarcações históricas podem ter sido concebidas antes da

implantação de importantes alterações nas medidas de segurança.

Algumas destas alterações podem ser facilmente implantadas nas

Page 46: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

46

embarcações musealizadas. Sistemas modernos de previsão do tempo,

comunicações e salvatagem ampliam a segurança quanto aos riscos de

operação. Porém alterações de natureza fundamental podem não ser tão

facilmente alcançadas por embarcações históricas. Os requisitos

mínimos para a estabilidade, subdivisões e proteções estruturais contra

incêndios são exemplos de recursos que podem ser difíceis de serem

instalados.

b) Desafios Tecnológicos: As abordagens modernas à segurança de

embarcações comerciais domésticas estão bastante preocupadas com a

criação de sistemas relativamente tolerantes a erros humanos.

Muitas embarcações antigas têm características que as tornam

demasiadamente suscetíveis ao erro humano de acordo com os padrões

atuais de segurança. Por exemplo: motores de bordo à gasolina; equipes

suspensas trabalhando nas plataformas dos mastros dos veleiros; e

reservatórios de caldeiras e embarcações de convés aberto que operam

no mar.

Motores de bordo à gasolina foram proibidos e é considerado como

condição para operação de embarcações comerciais. Reservatórios de

caldeiras estão sujeitos a um rigoroso regime de vistorias.

O trabalho de equipes suspensas foi substituído na maioria dos navios,

salvo em alguns poucos navios “tradicionais”.

A operação de embarcações de convés aberto tem sua operação limitada

pelas normas atuais de segurança.

Estas e outras características "imperdoáveis" podem ser partes

indissociáveis do caráter histórico do navio preservado. Elas precisam ser

especialmente consideradas para identificar a magnitude dos riscos, a

medida em que os riscos podem ser controlados e se as medidas de

controle de risco são compatíveis com os objetivos mais amplos da

musealização.

c) Desafios de Competência/Habilidade (competency challenges): A

restauração, operação e manutenção de embarcações históricas

requerem habilidades que são raras, senão únicas. Estas habilidades não

estão mais prontamente disponíveis no mercado de trabalho. Pessoas

que podem ser muito competentes para operar navios modernos podem

Page 47: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

47

ter dificuldade em operar uma embarcação histórica com segurança, sem

ter que passar por treinamento adicional considerável e ganhando

experiência específica para um navio “especial”. Este é um problema que

está aumentando com o passar do tempo. Cerca de trinta anos atrás,

navios com máquinas a vapor de movimento alternativo deixaram de ser

contabilizados para atribuição de um engenheiro naval. Nos últimos anos,

tem havido uma falta de engenheiros qualificados que podem operar

navios à vapor. Requisitos modernos para revalidação de licenças têm

reduzido a quantidade disponível destes profissionais ainda mais, sem

contar com algumas aposentadorias. Hoje os museus estão sendo

obrigados a estabelecer programas de treinamento que oferecem licenças

específicas para operar seus navios de motor à vapor. A decisão de

operar um navio museu também é uma decisão que o direciona a

encontrar pessoas dispostas a serem treinadas como equipe e

estabelecer um programa de treinamento dentro destes museus.

d) Desafios Éticos: Um museu tem a difícil tarefa de equilibrar seus objetivos

de conservação e operação com as suas obrigações de segurança. Ao

contrário dos operadores (armadores) da maioria dos demais navios

comerciais, a operação de um navio histórico pode não ser essencial para

a realização dos objetivos de um museu. Os museus têm objetivos mais

amplos na preservação e interpretação do patrimônio marítimo. A

operação é apenas um dos possíveis meios de alcançar esses objetivos

mais amplos. Um museu deve avaliar os benefícios da operação contra os

custos éticos. A seguir são apresentadas questões típicas que precisam

ser consideradas:

1. Até que ponto poderia/deveria haver perda da sua constituição (fabric)

"original" (ou seja, dos materiais) para alcançar os objetivos

operacionais?

2. Até que ponto poderia/deveria ser comprometida a autenticidade para a

segurança operacional?

3. Os riscos associados à operação estariam de acordo com níveis de

risco considerados normalmente como aceitáveis para um navio tido

como artefato museológico?

Page 48: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

48

e) Desafios Financeiros: Além dos desafios financeiros normais

apresentados pelo retorno sobre o investimento e pela manutenção

permanente, os navios-museus operacionais enfrentam desafios

especiais.

A primeira é que a tecnologia é muitas vezes relativamente antieconômica

e, se comparada com um contexto moderno, exige tripulações maiores,

uma maior manutenção e/ou mais combustível.

Um segundo desafio é que os navios-museus têm uma vida útil indefinida.

Não pode haver falha na abordagem dos aspectos relativos a

deterioração de longo prazo. Evitar tal trabalho de planejamento na

expectativa de que o navio poderá ser programado para uma manutenção

em curto ou a médio prazo não é uma opção. (Adaptado de FLAPAN,

2009, p. 2-4).

Em suma, a operação de um navio-museu propõe uma série de desafios

especiais. A decisão de qual a melhor forma para musealizar uma embarcação deve

ser avaliada pelas suas necessidades éticas e práticas contra a obrigação em

mantê-la segura e preservada. A operação de um navio sob inspeção pode ter uma

série de benefícios que incluem a aplicação proativa de um sistema de segurança, a

capacidade de aumentar consideravelmente a experiência do visitante e como um

meio de angariar fundos. (FLAPAN, 2009).

De acordo com Kentley, Stephers e Heighton (2007a) as embarcações

históricas podem ser preservadas por diversas razões. Podem ser simplesmente

belos objetos e expressões da arte dos construtores navais; podem incorporar

avanços tecnológicos, ou ser bons exemplos de um desenvolvimento particular na

construção naval; podem ser reflexos de fatores sociais ou econômicos; eles podem

estar relacionados com heroísmo, incidentes famosos, ou pessoas notáveis. Seja

qual for a razão, são evidências da história e carregam as informações sobre suas

vidas profissionais e atividades humanas relacionadas, as fases de seu

desenvolvimento, seu estado atual, sua relevância hoje, e quais são suas

necessidades para a conservação e, quando apropriado, para a restauração.

(KENTLEY; STEPHERS; HEIGHTON, 2007a).

Page 49: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

49

Também há ocasiões em que os navios não conseguem sobreviver: eles

estão muito degradados/alterados, não são suficientemente significantes para

justificar o alto custo de conservação ou não há ninguém disposto a assumir a

responsabilidade. No entanto, as informações que estas embarcações carregam

podem ser importantes, e perder esses navios sem salvaguardar essa informação

seria perder uma oportunidade irremediável para ampliar nosso conhecimento e para

manter esse conhecimento para as gerações futuras. Todas estas informações

devem ser propriamente documentadas. (KENTLEY; STEPHERS; HEIGHTON,

2007a).

O National Historic Ships (2010) apresenta um processo com o objetivo de

identificar os princípios e os critérios para a preservação de embarcações históricas.

Por conta das particularidades de cada embarcação a publicação se detém em

estabelecer os valores por trás de cada processo de conservação, com a intenção

de se tornar uma fonte de ferramental baseada em princípios sólidos e

fundamentados para serem usados tanto por proprietários particulares, grupos de

entusiastas, associações de preservação ou museus. Sua metodologia é fortemente

influenciada pela Illustrated Burra Charter (2004), que embora seja baseada na

versão de 1999 da Carta de Burra (Austrália ICOMOS Burra Charter), o próprio

Austrália ICOMOS continua indicando a publicação como um excelente guia para a

prática de preservação do patrimônio.2 (NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

A versão dos Princípios para a Preservação de Embarcações Históricas que o

National Historic Ships (2010) apresenta é ilustrada na Figura 02.

2 Referência ao texto presente no sítio oficial da Australia ICOMOS que apresenta a publicação

Illustrated Burra Charter: good practice for heritage places, disponível em:

http://australia.icomos.org/publications/burra-charter-practice-notes/illustrated-burra-charter/, acesso

em 08/09/2015.

Page 50: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

50

Figura 2 – Princípios da Preservação para Embarcações Históricas

Fonte: Adaptado de NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010. p. 18-21.

A metodologia do National Historic Ships (2010) orienta os proprietários e

gestores de embarcações históricas a pensarem através de um processo de

preservação, onde primeiramente se faz uma análise do um significado da

embarcação, investigação e em seguida a conservação propriamente dita, conforme

ilustrado na Figura 03.

Page 51: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

51

Figura 3 – Fluxograma de Preservação de Embarcações Históricas

Fonte: Adaptado de NATIONAL HISTORIC SHIPS 2010. p. 14-17.

Page 52: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

52

3.2.2 Entendendo as Embarcações Históricas

De acordo com o National Historic Ships (2010) as decisões corretas sobre a

preservação não podem ser tomadas sem um real entendimento da embarcação em

questão. Isto significa encontrar não só a história da sua constituição, mas a história

de toda a sua vida. Não se deve começar a trabalhar na embarcação, excluindo

serviços de emergência para estabiliza-la, até que tenham sido tomadas medidas

para desenvolver um entendimento aprofundado sobre ela. (NATIONAL HISTORIC

SHIPS, 2010).

Ter um registro preciso e completo para cada embarcação é crucial para

entender a importância dos navios históricos. A situação ideal seria já se ter a

embarcação devidamente documentada quando a candidatura ao reconhecimento

como embarcação histórica é feita. (KENTLEY; STEPHERS; HEIGHTON, 2007a).

O National Historic Ships incita veementemente todos os proprietários e

gestores de embarcações históricas a realizar essa pesquisa, não como um

exercício acadêmico, mas como uma atividade essencial na compreensão do

significado dos seus navios. Registros precisos e detalhados também podem ajudar

com a gestão ativa de uma embarcação, e são o ponto de partida na elaboração dos

planos de gestão de conservação: o método amplamente aceito de definir como os

proprietários pretendem preservar o significado dos seus navios. As informações

conseguidas por essa investigação devem ser apresentadas no registro da

embarcação (vessel record). (KENTLEY; STEPHERS; HEIGHTON, 2007a).

De acordo com Kentley, Stephers e Heighton (2007a) existem três elementos

chave para o registro das embarcações:

a) Documentário e outros elementos de prova tangível de fontes como

plantas de construção e desenhos de linhas, recibos de embarque, notas

de reparação, diários de bordo, diários, cartas, jornais, revistas, fotografias

contemporâneas, cinema e vídeo clipes, modelos, planos e fotografias de

episódios substituição de equipamentos, reparação e restaurações, e

retratações do navio.

b) Histórias orais derivados de entrevistas com os construtores, proprietários,

membros da tripulação, mestres portuários e outros trabalhadores aliados

com atividades que apoiam o funcionamento de um navio ou barco. O

testemunho oral, importante muitas vezes apenas pelo seu conteúdo

Page 53: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

53

intrínseco, também pode ter um impacto sobre o cuidado e a gestão do

dia-a-dia de uma embarcação histórica.

c) Registros produzidos a partir de um levantamento físico atual do navio.

(KENTLEY; STEPHERS; HEIGHTON, 2007a).

O registro da embarcação não deve se concentrar apenas na vida

operacional: a embarcação pode também ter uma vida significativa "após o serviço",

que não deve ser negligenciada. (KENTLEY; STEPHERS; HEIGHTON, 2007a).

Sempre que possível, as provas documentais e a história oral devem ser

primeiramente consideradas em conjunto e em seguida criticamente avaliadas para

fornecerem um contexto sólido e uma direção para o trabalho necessário a fim de

alcançar um bom levantamento físico. (KENTLEY; STEPHERS; HEIGHTON, 2007a).

3.2.2.1 Avaliação da importância das embarcações históricas

Compreender as várias maneiras em que uma embarcação é importante para

as pessoas é a questão chave para a tomada de todas as decisões, grandes e

pequenas, sobre como ela deve ser preservada. A importância de uma embarcação

deve ser a orientação principal para o processo de preservação a ser adotado e as

decisões tomadas em seu uso e manejo futuro. A importância deve ser avaliada

globalmente, e reconhecida para diferentes grupos de pessoas e pontos de vista.

(NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

Segundo Kentley, Stephers e Heighton (2007a) o objetivo de pesquisar a

história de um navio é ganhar uma compreensão mais completa do significado de:

1. Singularidade do navio ou tipologia em termos da sua classe e função. Ele é um exemplo sobrevivente de um tipo comum de sua época ou é um projeto singular?

2. Singularidade do navio ou tipologia, tanto nos contextos nacional e local. Por exemplo, o último tipo de um barco de pesca local a ser construído em um estaleiro particular; o último tipo de uma embarcação a atuar no comércio ou operar em uma determinada localidade ou uma embarcação como um bote salva-vidas envolvido em um resgate famoso.

3. A contribuição do navio para um amplo entendimento da história marítima. Por exemplo, um navio de guerra do século XVIII pode ilustrar muito sobre os aspectos práticos de combate à vela.

4. A contribuição do navio à tecnologia, incluindo suas características de manobra. Ele é o único exemplo de sobrevivência de um tipo

Page 54: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

54

particular de unidade propulsora; uma variação importante em um processo construtivo; ou um exemplo típico de um certo tipo de armação à vela?

5. A contribuição do navio a história econômica e social, a nível local, nacional ou internacional.

6. Quaisquer partes da sua constituição (fabric), acessórios que são únicos remanescentes ou raros; ou são típicos do tipo de navio em questão; ou são de importância tecnológica, social ou econômica. (KENTLEY; STEPHERS; HEIGHTON, 2007a, p. 12. Tradução nossa).

Embora a pesquisa possa gerar uma quantidade considerável de

informações, é essencial que as conclusões atestando o que é significativo sobre a

embarcação tenha sido extraído e colocado no papel. Estas conclusões devem ser

condensadas em uma declaração concisa do significado, de preferência envolvendo

não mais que dois lados de uma folha de papel tamanho A4. (KENTLEY;

STEPHERS; HEIGHTON, 2007a).

Pode não ser justificável um registro detalhado da forma e a construção de

um pequeno barco, entretanto, a importância dele estava no seu papel de um meio

de transporte de passageiros através de um curto trecho de água abrigado. Esse

trabalho burocrático pode fazer algumas exigências sobre características físicas e

tecnológicas do navio. Por outro lado a forma, construção e inovação tecnológica

são de importância fundamental para um navio construído para ser veloz ou para ter

grande capacidade de carga em mar aberto e deve, portanto, ser registrado em

detalhes. (KENTLEY; STEPHERS; HEIGHTON, 2007a).

A pergunta chave é: Quão importantes são as formas, a construção, os

atributos tecnológicos, o arranjo interior e os acessórios do navio na avaliação do

significado da embarcação? (KENTLEY; STEPHERS; HEIGHTON, 2007a. tradução

nossa).

Uma embarcação de qualquer idade é o produto de várias mudanças, de

várias fases, não apenas da sua concepção original. Todos os períodos de sua vida

devem ser cuidadosamente avaliados quanto à sua importância. Se houver restado

muito pouco da embarcação "como construída" para preservar e o valor das fases

posteriores não é devidamente reconhecido, poderá acontecer uma intervenção

desnecessária. (NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

Page 55: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

55

3.2.2.2 Documentando embarcações históricas

Quando a forma e a construção de um casco de um navio são elementos

chave da sua importância, deve ser estabelecido o nível adequado do levantamento

físico. O ideal é que a forma e a estrutura da embarcação sejam documentadas em

detalhes suficientes para que os planos precisos e seções transversais possam ser

desenhados corretamente em todos os detalhes, desde bitolas e formatos de quadro

para acessórios, materiais e esquema de pintura. (KENTLEY; STEPHERS;

HEIGHTON, 2007a).

Kentley, Stephers e Heighton (2007a) indicam que isso nem sempre significa

que o levantamento completo é necessário, e estabelecem os seguintes parâmetros:

1. Se outros exemplos de embarcações de mesma tipologia (tanto existentes e extintas) foram registrados.

2. Se ainda existem o projeto construtivo, planos de linhas, desenhos da autoridade classificadora e outros projetos. Não se deve presumir que os projetos existentes são precisos, ou se refletem o navio em sua configuração atual. No entanto, eles podem ser utilizados como uma referência de controle e, através da comparação de dimensões importantes e, observando diferenças estruturais adicionais, substituição ou ausência acessórios, etc., é possível reduzir consideravelmente a quantidade de novo trabalho de levantamento necessário. (KENTLEY; STEPHERS; HEIGHTON, 2007a, p. 14. Tradução nossa).

Além da existência de planos e a importância da forma de construção e para

a importância da embarcação, quatro outros fatores irão determinar o nível do

levantamento:

1. O custo do levantamento: uma pesquisa completa profissional para criar projeto construtivo vai custar dezenas de milhares de libras para grandes embarcações.

2. O tempo disponível para o levantamento: pressões comerciais e outras restrições podem exigir que a documentação seja concluída dentro de um curto período de tempo.

3. O estado físico do navio: uma embarcação degradada pode ter se tornado gravemente distorcida e pode até ser perigoso para trabalhar. Por outro lado, a condição estrutural danificada pode tornar certas características de construção mais acessíveis.

4. Localização da embarcação: embarcações são mais fáceis de levantar quando fora da água. (KENTLEY; STEPHERS; HEIGHTON, 2007a, p. 14. Tradução nossa).

Page 56: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

56

Os vários tipos de registros podem ser pensados como dispostos ao longo de

uma série contínua, de um mínimo de detalhe para um máximo de detalhe, com

cada fase adicional no processo aumentando ainda mais a complexidade do registro

geral do navio. Idealmente, cada uma destas etapas deve ser concluída para

proporcionar um registro técnico abrangente do navio. No nível mais básico, um

registro fotográfico abrangente (incluindo vídeo com narração, e que acompanham

descrições escritas) deve ser criado. No entanto, somente um registro fotográfico só

é aceitável como registro de uma embarcação quando tempo, acesso e os recursos

são tão limitados que não há formas adicionais de levantamentos que possam ser

realizados. Uma forma de melhorar o registro seria adicionando ao registro

fotográfico a descrição por escrito de todas as principais características do navio.

Isto poderia ser complementado pela inclusão de desenhos das características mais

significativas. Todos estes três métodos de levantamento podem ser realizados sem

a necessidade de contratar equipes de mão-de-obra especializadas. (KENTLEY;

STEPHERS; HEIGHTON, 2007a).

A Figura 4 ilustra a relação entre os diferentes níveis de detalhamentos

decorrentes do uso de diferentes métodos de registro.

Figura 4 – Processo de Documentação de Embarcações

Fonte: Adaptado de KENTLEY; STEPHERS; HEIGHTON 2007a, p 15.

Segundo Nasseh (2000) o levantamento das linhas como as bordas, a quilha

e o perfil longitudinal são as mais importantes e já determinam basicamente um

esboço da embarcação, apesar de não serem suficientes para a construção e o

desenvolvimento do casco, como representado na Figura 05.

Page 57: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

57

Figura 5 – Desenho das Linhas Principais do Casco de uma Embarcação

Fonte: NASSEH, 2000, p. 201.

Anderson Junior (2004) ressalta que os detalhes de construção de

particulares de cascos de embarcações rebitadas ou soldadas podem fornecer muita

informação sobre padrões de engenharia, métodos de construção naval, e dos

materiais disponíveis e tecnologia da época em que o navio foi construído. Por esta

razão, destaca que os seguintes detalhes são dignos de documentação:

a) Espessura das chapas em painéis: Obter as espessuras dos painéis

pode ser uma tarefa complexa. Em construções rebitadas a espessura

das placas de fachada, muitas vezes, pode variar de fiada a fiada.

Espessuras de chapa devem ser medidas não só a meia-nau, mas

também nas extremidades, onde as espessuras eram geralmente

reduzidas. Em alguns casos, as espessuras vão ser menores na popa do

que na proa.

Espessuras originais podem ter sido avaliadas em vários padrões. Navios

construídos nas ilhas britânicas eram frequentemente construídos em

chapas que variavam de espessura em incrementos de 1/20" ou 1/16". As

chapas nas embarcações construídas nos EUA eram medidas em libras

por pé quadrado ou frações padrão de uma polegada (uma chapa de 10

libras são de 1/4" de espessura). Construtores europeus usavam sistema

métrico, ou em alguns casos, sistemas de medição fora do padrão

peculiar à nação construtora.

As medições de espessuras das chapas dos painéis originais são

dificultadas quando ocorre extensa corrosão. Com a construção de fiadas

"de dentro para fora", as fiadas internas podem ser medidas pela parte

Page 58: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

58

interna da sobreposição das fiadas. As fiadas externas podem ser mais

difíceis de medir à medida que a corrosão exterior afeta a espessura de

toda a placa. O mesmo problema é encontrado em juntas de topo rebitada

e painéis soldados. Nestes casos, a medida precisa da espessura da

chapa original (sem os registros dos construtores ou das classificadoras)

pode não ser possível.

b) Juntas e Costuras: A combinação de dois ou mais arranjos de juntas ou

costuras podem ser encontradas em uma embarcação. Um exemplo

comum é o uso de juntas "trincadas" ou sobrepostas quando abaixo da

linha d’água e costuras “lavadas” (ou de topo) para as áreas acima da

linha d’água.

c) Tipos de rebites e padrões de rebitagem: Rebites podem revelar tanto

sobre uma embarcação de ferro ou aço como parafusos fazem em

construções de madeira. O seu tipo e padrão são indicativos da

tecnologia e qualidade de construção disponível. O tipo de rebite é

praticamente restrito ao diâmetro e tipo de cabeça. Padrões de rebite são

numerosos mas, geralmente, envolvem linhas de escalonamento ou

múltiplas. Padrões de rebite são medidos em "bitola" e "passo".

As sociedades classificadoras, como o Lloyds, muitas vezes exigem mais

rebites nas uniões dos painéis à meia-nau de um navio do que nas

extremidades. A documentação dos padrões das uniões rebitadas do

casco deve, portanto, ser realizada nas seções de proa, popa e perto da

meia-nau.

Outros aspectos da construção rebitada, que devem ser documentados

são o uso de feltro em costuras, e calafetagem de costuras. Estes

métodos de impermeabilização podem indicar a qualidade do trabalho de

reparo ou construção original. (Adaptado de ANDERSON JR, 2004,

4.4.10).

3.2.3 Os Caminhos da Preservação das Embarcações Históricas

A análise da importância de um navio irá fundamentar a decisão sobre o

melhor método de conservação a se adotar, a fim de manter sua significância. O

National Historic Ships (2010) identifica este ponto crucial no processo como Os

Caminhos da Preservação, quando deve ser feita a escolha sobre conservar a

Page 59: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

59

embarcação principalmente pelos seus materiais, ou mantê-la em uso operacional.

Ambas as opções têm um reflexo sobre o processo de conservação a ser

empregado e envolvem perdas de um tipo ou outro. (NATIONAL HISTORIC SHIPS,

2010).

O material original das embarcações mantidas em terra e cobertas pode ser

conservado a longo prazo, se forem mantidas em um ambiente de máxima proteção.

Isso pode significar manter embarcações em ambientes fechados, ou

engenhosamente cobertas para evitar a penetração de chuva, danos causados pela

luz ultravioleta e/ou mudanças bruscas de temperatura. Dependendo da qualidade

das decisões tomadas, da condição e complexidade da sua construção, e da

habilidade das pessoas que realizam o trabalho, é possível reduzir e, em alguns

casos, virtualmente paralisar a deterioração. A preservação de navios de grande

porte em ambientes fechados é, provavelmente, apropriada apenas para um

pequeno número de navios de importância excepcional. Os grandes navios podem

precisar ser conservados ao ar livre, no mar ou numa doca seca. A exposição aos

elementos, tanto acima quanto abaixo da linha de água, não significa

necessariamente que deva ocorrer a substituição de material ao longo do tempo,

mas, traz muitos desafios para a sua conservação. (NATIONAL HISTORIC SHIPS,

2010).

Embarcações mantidas em terra ou em uma doca seca coberta sem controles

ambientais especiais podem ser protegidas das intempéries e são significativamente

mais seguras, mas ainda precisam de manutenção regular e boa compreensão do

impacto de seu ambiente, incluindo os visitantes, sobre os seus materiais (fabric).

Embarcações estáticas exibidas ao ar livre, vulneráveis à água da chuva, aos efeitos

da luz solar direta ou sujeitas a geadas, sobrevivem apenas por um período de

tempo finito. É de pouca ajuda concentrar esforços na manutenção de seus

materiais, porque os resultados são suscetíveis de serem de curta duração. Uma

embarcação ou navio mantidos em terra não estão no ambiente para o qual a

estrutura foi concebida. Garantir a integridade estrutural interna e uma sustentação

adequada são considerações importantes, mas, na maioria dos casos, são menos

problemáticos do que manter a água da chuva para fora de um navio ao ar livre.

(NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

As circunstâncias de alguns navios históricos implicam que a conservação

estática flutuando pode ser a única opção. Esta opção tem a vantagem de manter

Page 60: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

60

um barco ou um navio estruturalmente suportado na água, mas o inconveniente é

que a substituição e reconstrução dos materiais são praticamente inevitáveis. Se ela

também é mantida ao ar livre, os danos da exposição à água da chuva, à luz solar,

ao vento e às alterações de temperatura devem ser controlados tanto quanto

possível. As embarcações vão precisar não só de inspeção e manutenção regulares,

mas suspensões (haull-out) regulares ou docagem e seu casco vai eventualmente

precisar de substituição de material. Quanto maior o navio, mais caro serão as

suspensões (haull-out) periódicas ou a docagem. (NATIONAL HISTORIC SHIPS,

2010).

Muitos proprietários são motivados a conservar embarcações históricas

precisamente porque desejam velejar, motorar ou navegar, seja por prazer ou por

motivos comerciais. Estas práticas mantém as embarcações históricas vivas,

estabelecem um futuro para elas e proporcionam laser, enquanto desenvolvem as

habilidades que vêm com a operação destas embarcações. No entanto, a escolha

desta rota de preservação implicará na perda de materiais originais, pois o

proprietário irá conservar a função em detrimento dos materiais. A operação de um

navio é incompatível com ampla conservação do material original remanescente e os

principais processos de preservação aplicados serão de substituição e reconstrução.

A ligação viva com o material histórico do passado será gradualmente erodida com o

apodrecimento da madeira e a oxidação do ferro conforme são necessárias suas

substituições para manter a navegabilidade e segurança da embarcação, embora

isso não signifique necessariamente a perda da integridade do navio. (NATIONAL

HISTORIC SHIPS, 2010).

3.2.3.1 Conservação Integral

Conservação significa manter em parte ou no todo a constituição (fabric) da

embarcação tanto quanto possível no seu estado atual e retardar a sua degradação.

A preservação de uma embarcação inteira a longo prazo geralmente só é viável se

ela é mantida em terra e em área coberta. Proporcionar um ambiente controlado

minimiza a necessidade de intervenções no material de uma embarcação. Todas as

intervenções, incluindo tanto a remoção como a inclusão de novos materiais, devem

ser documentadas e registradas. Se os elementos deteriorados precisarem ser

substituídos, os novos elementos devem ser distinguíveis do original in situ, sempre

que possível. Não se deve confundir a conservação com a reconstrução, ou pode-se

Page 61: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

61

desnecessariamente perder o material original de uma embarcação, se ela está

destinada para exposição estática. A importância de criar um ambiente estável e

controlado é reconhecida como parte do caminho para retardar a deterioração.

Deve-se desenvolver e atualizar regularmente a interpretação para os visitantes,

para ajudá-los a compreender e apreciar o navio conservado. (NATIONAL

HISTORIC SHIPS, 2010).

3.2.3.2 Restauração

A restauração, de acordo com a definição do National Historic Ships (2010),

significa retornar o material de constituição existente de uma embarcação, ou parte

do material, à um estado conhecido anterior removendo adições ou remontando

componentes existentes, com um mínimo de introdução de novos materiais. Para

isso, é fundamental certificar-se que o valor de fases secundárias e posteriores não

serão subestimados e removidos desnecessariamente. É importante considerar

cuidadosamente a extensão e a natureza do novo trabalho necessário para se fazer

uma boa restauração após a remoção das adições consideradas descartáveis.

(NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

3.2.3.3 Reconstrução

A reconstrução, de acordo com a definição do National Historic Ships (2010),

significa retornar toda à constituição, ou parte dela, à um estado conhecido anterior

com um uso substancial de introdução de novos materiais. A reconstrução na forma

de renovação periódica dos materiais é inevitável para as embarcações

operacionais, a fim de mantê-las seguras e em condições de navegar. A

reconstrução é apropriada apenas quando uma embarcação histórica é incompleta

por dano, alteração ou deterioração e apenas quando há evidência suficiente para

se reproduzir um estado anterior da sua constituição. As técnicas e materiais

tradicionais são preferidas na sua reconstrução e o início dela deve ser

cuidadosamente justificada. Se não houver conflito com a integridade visual do

navio, os elementos reconstruídos devem ser identificáveis in situ. A reconstrução

deve ser documentada e seu registro repassado aos sucessivos proprietários ou

gestores. (NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

Page 62: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

62

3.2.3.4 Adaptação

A adaptação, de acordo com a definição do National Historic Ships (2010),

significa modificar uma embarcação para ser compatível com um novo uso proposto.

Adaptação só é aceitável quando se tem um impacto mínimo sobre a importância de

uma embarcação e traz uma contribuição essencial para a sustentabilidade e

segurança. Adaptação é mais frequentemente aplicada nas embarcações históricas

consideradas para uso operacional ou como a melhor forma de fornecer acesso

seguro aos visitantes em uma embarcação estática. A adaptação deve ser adotada

quando todas as outras alternativas tiverem sido seriamente consideradas, e não

como meio de fazer alterações convenientes. Deve-se questionar se a adaptação

proposta encontra-se com as boas práticas de conservação e se o seu impacto pode

ser minimizado através do design. (NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

3.2.3.5 Replicação

A replicação, de acordo com a definição do National Historic Ships (2010),

significa começar a partir do zero para construir uma cópia de uma embarcação e

pode ser definida em vários níveis de detalhe e precisão. Podem ser replicados

exatamente, detalhe a detalhe, podem ser replicados somente o casco e arranjo

geral, pode ser uma réplica operacional (com modificações que atendam os

parâmetros internacionais atuais de segurança), pode ser uma hipótese baseada em

pesquisa histórica e informações técnicas, ou apenas uma mera representação.

(NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

3.3 Aspectos Práticos da Conservação do Patrimônio Histórico

Conforme ICOMOS (2003) as especificidades das estruturas do patrimônio

demandam a organização dos estudos e propostas em fases semelhantes às que

são utilizadas em medicina: anamnese, diagnóstico, terapia e controle. Elas

correspondem à análise da informação histórica, identificação das causas de danos

e degradações, seleção das ações de consolidação e controle da eficácia das

intervenções, respectivamente. De forma a assegurar a eficiência na utilização dos

meios disponíveis e o mínimo impacto ao patrimônio arquitetônico, é por vezes

adequado repetir o processo de maneira iterativa. (ICOMOS, 2003).

Page 63: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

63

A anamnese é parte do esforço para a compreensão integral do

comportamento das estruturas e das características dos materiais, e é indispensável

a qualquer projeto de preservação e restauro. É fundamental buscar as informações

tanto sobre as estruturas na sua forma original, das técnicas e métodos utilizados na

sua construção, sobre as intervenções sofridas e acontecimentos posteriores que

ocorreram, quanto ao seu estado presente. (ICOMOS, 2003).

O diagnóstico é baseado nas informações históricas e em análises

qualitativas e quantitativas. As análises qualitativas são baseadas na observação

direta dos danos estruturais e degradações dos materiais, apoiados na investigação

histórica e arqueológica, enquanto que as análises quantitativas demandam ensaios

nas estruturas e nos materiais, monitoramento e dimensionamento estrutural

(avaliação da segurança). Antes de se tomar uma decisão sobre a intervenção

estrutural, é imprescindível que antes sejam determinadas as causas do danos e

degradações, para em seguida avaliar a segurança atual da estrutura. (ICOMOS,

2003).

A terapia é definida na forma do projeto de intervenção, que deve ser

fundamentado no entendimento das ações que foram a causa dos danos ou

degradações (forças, acelerações, deformações, etc.), além de levar em

consideração as ações que irão atuar posteriormente. Destacam-se os seguintes

critérios que devem ser observados ao projeto de intervenção, segundo ICOMOS

(2003):

a) A escolha entre técnicas “tradicionais” e “inovadoras” deve ser decidida

caso a caso, com preferência pelas técnicas que são menos invasivas e

mais compatíveis com o valor patrimonial, tendo em consideração as

exigências de segurança e durabilidade. Por vezes, a dificuldade em

avaliar os níveis reais de segurança e os possíveis benefícios das

intervenções podem sugerir uma abordagem incremental, partindo de um

nível mínimo de intervenção para uma possível adoção posterior de

medidas suplementares ou corretivas.

b) Sempre que possível, as medidas adotadas devem ser reversíveis para

que possam ser removidas e substituídas por medidas mais apropriadas

quando novo conhecimento estiver disponível. Quando as medidas

adotadas não forem totalmente reversíveis, as intervenções não devem

comprometer intervenções posteriores.

Page 64: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

64

c) As características dos materiais utilizados em trabalhos de conservação,

restauro e reforço estrutural (em particular novos materiais) e a sua

compatibilidade com materiais existentes devem ser completamente

conhecidas. O conhecimento deve estender-se aos efeitos a longo prazo,

para que os efeitos colaterais indesejáveis sejam evitados.

d) A intervenção deve ser o resultado de um plano integrado que dê o

devido peso aos diferentes aspectos da arquitetura, estrutura, instalações

e funcionalidade. A reparação é sempre preferível à substituição. Quando

as imperfeições e alterações se tornaram parte da história da estrutura,

estas devem ser mantidas, desde que não comprometam as exigências

de segurança. O desmonte e a reconstrução só devem ser efetuados

quando exigidos pela natureza dos materiais e da estrutura, e/ou quando

a conservação por outros meios resulte mais danosa. (Adaptado de

ICOMOS, 2003, p 9-10).

O controle de qualquer proposta para intervenção deve ser acompanhado por

um programa de monitoramento e controle, que deve ser executado sempre que

possível concomitantemente a execução do projeto de intervenção. Todas as

atividades de monitoramento e controle devem ser documentadas e mantidas como

parte da história da construção. (ICOMOS, 2003).

De acordo com Dehault, Delachaux e Métier (1997) antes de serem

analisadas as diferentes técnicas e etapas de uma conservação, é conveniente a

realização de um diagnóstico completo de maneira a estabelecer os procedimentos

de acordo com os princípios de intervenção, de maneira similar ao estabelecido por

Fielden (2003) no item 3.1.3. No caso de bens protegidos é necessário consultar as

autoridades que o protegem, nos níveis federal (IPHAN, no caso do Brasil) estadual

(CPC, no caso do Paraná) ou municipal. (DEHAULT; DELACHAUX; MÉTIVIER,

1997).

O National Historic Ships (2010) delineia um plano de preservação para

embarcações históricas conforme ilustrado na Figura 06.

Page 65: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

65

Figura 6 – Plano de Preservação

Fonte: Adaptado de NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010, p. 78).

3.3.1 Aspectos práticos da conservação de embarcações históricas

Podridão, ferrugem e infestações que não podem ser estabilizados por

controle ambiental devem ser tratados usando os métodos menos invasivos e mais

suaves, e somente após a documentação e registro acerca de quaisquer traços de

revestimentos, e onde mais for possível preservar amostras para futuras pesquisas.

O material original deve ser cuidadosamente protegido quando o trabalho estiver

sendo realizado para evitar eventuais danos. (NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

Os melhores materiais disponíveis, produtos e métodos para a estabilização

ou consolidação devem ser pesquisados, inclusive com o uso de áreas de teste,

antes do uso extensivo. Nenhum procedimento moderno irreversível deve ser

Page 66: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

66

adotado, à medida do possível, para o caso de opções mais eficazes serem

encontradas no futuro. (NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

Se a embarcação inteira é preservada em terra, deve ser fornecido suporte ou

apoio adequado o tempo todo e devem ser monitoradas a estabilidade do seu

material e o seu equilíbrio, que podem ser afetados quando em ambiente seco. Um

cadastro (um documento que agrega todas as informações conhecidas da

embarcação) e um plano de assistência devem ser desenvolvidos para as

embarcações preservadas em museus, incluindo uma estratégia de manutenção

não-destrutiva e limpeza. (NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

O ambiente em que uma embarcação preservada será mantida deve ser

adequado a seus materiais de constituição. Isto deve incluir uma ventilação

generosa para todas as partes do navio, durante e depois dos trabalhos de

conservação. O impacto do meio ambiente sobre os diferentes materiais de um

navio é complexo. O melhor ambiente para a preservação de um barco de madeira

pode não ser o ideal para as fixações e acessórios de metal que unem o navio. Isto

é particularmente verdade quando ferro ou aço estão em contato ou se uma

variedade de metais diferentes estão bastante próximos. A corrosão de metais

ferrosos pode continuar indefinidamente sob certas circunstâncias, mesmo em

ambientes considerados ideais para barcos de madeira, especialmente se houver

contaminação por cloretos. (NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

Todos os elementos importantes de uma embarcação histórica devem ser

preservados a menos que haja um conflito com a segurança, ou onde preservação

colocaria em risco a sobrevivência da embarcação. (NATIONAL HISTORIC SHIPS,

2010).

3.3.1.1 Estabilização

A estabilização é uma forma importante para o proprietário do navio ganhar

algum tempo para planejar, sabendo que o material da embarcação esteja

temporariamente seguro. No entanto sejam pequenas embarcações, ou navios

complexos, todos se beneficiam da reflexão para sua conservação, antes de se

iniciar o projeto. O National Historic Ships (2010) elenca os seguintes aspectos que

devem ser observados: (NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

Page 67: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

67

a) Deve-se estabilizar o navio ao garantindo temporariamente para que o

seu material permaneça o mais próximo possível da condição quando

encontrou;

b) Deve-se assegurar que a quilha esteja bem apoiada ao longo do seu

comprimento e que as bordas e os porões estejam contidos, assim

como o apoio das as saliências de popa;

c) O navio deve ser protegido do ingresso da chuva e a ventilação em

todos os espaços maximizados;

d) Deve-se realizar o mínimo de intervenção nos materiais, não perdendo

o foco, pois o objetivo é retardar a deterioração, e não realizar desta

maneira uma restauração ou reconstrução;

e) Se possível, não substituir os materiais para evitar falhas estruturais

nesta fase. Escoramentos reversíveis cuidadosos, de aperto e talas de

suporte são preferíveis até que o planejamento da conservação esteja

completo;

f) Se um navio tiver de ser movido em más condições, deve-se tomar a

decisão com cuidado e pensar sobre os riscos físicos;

g) Inspecionar o navio regularmente para manter a estabilidade,

especialmente quando um projeto leva mais tempo para começar do

que o esperado;

h) Deve-se documentar qualquer intervenção para evitar a perda acidental

de evidência histórica, como por exemplo, a decapagem pode eliminar

as evidências das cores históricas. (Adaptado de NATIONAL

HISTORIC SHIPS, 2010, p. 51).

3.3.1.2 Intervenção

As condições para as intervenções nas embarcações históricas foram

apresentadas pelos Critérios e Princípios da Preservação expressos nos itens 3.1.3

(Aspectos teóricos das intervenções no patrimônio cultural) e 3.2 (Aspectos da

Preservação do Patrimônio Naval).

De acordo com National Historic Ships (2010) é possível e desejável

identificar quaisquer intervenções feitas como parte do processo de conservação por

vários meios. Introdução de novo material pode ser deixado sem revestimentos para

distinguir claramente entre o velho e o novo. Materiais novos ou substituídos podem

Page 68: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

68

ser cobertos por revestimentos renovados, podem ser identificados por uma marca,

estampa, uso de etiquetas soldadas ou outros meios permanentes registrando a

data de instalação. Enquanto o registro, em papel ou eletrônico, for cuidadosamente

mantido o material substituído pode ser marcado em desenhos ou identificados em

um registro escrito. O registro diário do trabalho realizado fornecerá uma descrição

mais precisa do que foi feito, sendo recolhido quando o trabalho for concluído.

(NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

Uma embarcação mantida em operação vai precisar de reconstrução

periódica de partes de seu material, mas, sempre que possível, acessórios históricos

devem ser conservados e, se compatível com a segurança, mantido em uso. Se esta

não é uma opção, eles devem ser mantidos a bordo in situ ou, se não for possível,

armazenados de forma segura. Existe um perigo de conflito de interesses entre o

navio e seus visitantes e pode ser preciso proteger um do outro. A apresentação e

interpretação das embarcações mantidas em terra e em área coberta é um desafio,

mas os museus precisam ser especialmente alertas para os riscos entre os materiais

frágeis e o desejo inocente de tocar, e olhar para dentro ou a possibilidade de

vandalismo. (NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

3.3.1.3 Manutenção

Manutenção significa o cuidado de proteção contínua do material constituinte

de uma embarcação e deve ser diferenciada de reparação, que envolve a

restauração ou reconstrução. O National Historic Ships (2010) elenca os seguintes

aspectos que devem ser observados: (NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010).

a) A manutenção regular e contínua é a chave para a conservação de

embarcações históricas, mas difere da restauração ou reconstrução

que envolvem grandes reparações;

b) Ajustar ou controlar o ambiente em que um navio é mantido para

proporcionar um nível de umidade em consonância com os seus

cuidados contínuos ou de longa duração, vão ajudar na manutenção

geral e reduzir o risco de ataques de fungos e insetos;

c) A manutenção deve ser gerenciada através da elaboração e

implementação baseadas no regime de orçamento anual,

personalizados de acordo com materiais, design, condição, ambiente

de um navio e uso;

Page 69: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

69

d) As recomendações de ciclos de manutenção dos fabricantes devem

ser seguidas para todos os equipamentos, incluindo os de prevenção e

combate a incêndios, salvatagem e equipamentos de segurança;

e) Embarcações em operação devem cumprir normas e regulamentos

externos para manutenção como das sociedades classificadoras e das

autoridades marítimas;

f) A água salgada é um biocida natural, disponível e abundante, eficaz na

redução da podridão em decks de madeira e acessórios. Lavar com

água salgada é um método simples e eficaz de conservar as

embarcações de madeira. No entanto, ela pode ser muito prejudicial

para as embarcações de metal, peças ou acessórios;

g) Em alguns casos, a utilização adequada dos materiais e técnicas

modernas podem reduzir os custos sem alterar a importância da

embarcação. (Adaptado de NATIONAL HISTORIC SHIPS, 2010, p.

189).

3.3.2 Procedimentos de Conservação

3.3.2.1 Combatendo a corrosão

Segundo Kühl (1998) a principal causa da degradação das estruturas

metálicas é a corrosão, sendo um dos problemas mais frequentes e que mais afeta

as construções metálicas. A corrosão produz alterações nas estruturas, modificando

seu equilíbrio. Resulta, geralmente, na diminuição de sua resistência, muitas vezes

através redução da seção dos elementos causando, ainda, irregularidades na

superfície do material. Desta forma, Kühl (1998) afirma como sendo de primordial

importância ter-se a compreensão das causas que geram a corrosão e dos possíveis

tratamentos e modos de prevenção referentes à restauração. (KÜHL, 1998).

Segundo Martin Weaver (1987) para entender o que realmente acontece neste

processo, deve-se primeiramente entender um pouco sobre a natureza da ferrugem.

O que é ferrugem?

Essencialmente a fabricação de ferro e sua posterior corrosão são partes de

um processo circular. O minério de ferro é encontrado na natureza de várias formas,

tipicamente como compostos minerais, tais como hematita e vários outros tipos de

óxido de ferro. Ao aplicar uma grande quantidade de calor nestes minerais - cerca de

Page 70: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

70

1600ºC - o ferro contido no mineral é reduzido a um metal puro em estado líquido.

Este processo é conhecido como fundição e envolve um grande fornecimento de

energia. (WEAVER, 1987).

A corrosão, que pode ser descrita como a reação química de um metal com o

oxigênio e outras substâncias, se inicia com a exposição do ferro metálico à

atmosfera, umidade, e outros compostos químicos. Assim, começa a reversão lenta,

mas quase inexorável, do composto mineral novamente para estado parecido com o

minério natural. A metamorfose também envolve troca de energia. Se uma porção de

ferro se encontra em água salgada ou ácida com metais como o bronze, cobre, latão

ou cromo, ferro sofrerá uma corrosão eletroquímica. A energia será gerada e,

conforme a corrente eléctrica flui, o ferro vai corroer-se, protegendo os metais "mais

nobres" no processo. (WEAVER, 1987).

Os metais podem ser arranjados em série, como os degraus de uma escada,

ascendente a partir dos assim chamados metais de base, tais como cálcio,

magnésio, alumínio, zinco e ferro e subindo a escada para os assim chamados

metais nobres, tais como prata, platina e ouro. Isso é chamado de série eletromotriz.

Metais na parte inferior da escada são altamente reativos e têm uma forte tendência

para ionizar - perder íons carregados positivamente. Quanto mais íons positivos

perder, mais ele se torna negativamente carregado, ou eletronegativo. (WEAVER,

1987).

Uma área negativamente carregada de metal é chamada um ânodo. Uma

área de carga positiva de metal é chamada um cátodo e tendem a ser favorecidos

em qualquer reação. Assim, também nos referimos à corrosão anódica e proteção

catódica. A corrosão eletroquímica, também conhecido como corrosão galvânica,

ocorre se existem diferenças de potencial elétrico entre dois metais ou sobre uma

superfície metálica; se houver contato que permita o fluxo de elétrons; e, se houver

um eletrólito (água + sais) de modo que os íons possam entrar em solução e se

transferir a partir de uma área do metal para outro. (WEAVER, 1987).

Diferenças de minutos de exposição ao ar, a água, a vários compostos

químicos ou a diferentes graus de acidez, podem fazer a superfície de um único

pedaço de ferro ou de aço sofrer uma série de mudanças de forma ativa, em áreas

com cargas negativas ou positivas. Isto resultará em perdas contínuas por corrosão

nas áreas anódicas na medida que elas se movam sobre a superfície. O processo é

Page 71: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

71

tipicamente desigual e conduz a um processo de corrosão mais grave ou mesmo

cavidades profundas em algumas áreas. (WEAVER, 1987).

Para evitar a corrosão, uma série de procedimentos podem ser tomados. Em

primeiro lugar, se deve impedir que ocorram quaisquer reações entre ferro (ou aço)

com a água e oxigênio. Isto significa que o ar e a água não devem entrar em contato

com a superfície do metal. Em segundo lugar, deve-se anular qualquer processo de

corrosão ativa em andamento. Jateamento, lixamento e escovação são processos

tipicamente ineficientes, pois procuram paralisar a corrosão ativa ao se retirar

fisicamente os produtos da corrosão. Se o metal permanece exposto ao ar e/ou a

água, o processo de corrosão se iniciará imediatamente. Em alguns ambientes esse

processo pode ter início em minutos e é chamado de "corrosão instantânea".

Proteger a superfície do ferro com óleo, graxa, tinta ou finas camadas de outros

metais só é eficaz enquanto as camadas protetoras permanecem intactas e

impenetráveis ao ar e a umidade, ou mesmo, a pequenas quantidades de vapor

d’água ou oxigênio. (WEAVER, 1987).

Nos ambientes urbanos e poluídos, com a precipitação ácida (chuva ácida,

neve e nevoeiro), a vida útil das camadas protetoras pode ser desastrosamente

encurtada. Películas de tinta e outros revestimentos tornam-se permeáveis e podem,

na verdade, permitir que o oxigênio e o vapor d’água entrem em contato com a

superfície do metal, permitindo o início da corrosão enquanto, ao mesmo tempo, o

revestimento defeituoso mantém efetivamente a umidade e cria condições que

causam mais corrosão, ao invés de preveni-la. Quanto mais complexa a superfície

do ferro, mais difícil é remover os produtos de corrosão instáveis. Objetos de ferro

que possuem formas complexas com áreas inacessíveis podem ter corrosão ativa

ocorrendo no fundo de sulcos e fissuras no próprio metal, e são normalmente difíceis

para tratar. Um submarino afundado feito com metais diferentes e com muitas

câmaras tem apenas as piores coleções de problemas de corrosão que se pode

encontrar. (WEAVER, 1987).

A remoção completa de todos os produtos de corrosão e a proteção

subsequente do metal é praticamente impossível por meios tradicionais. Isso é o que

fez o sucesso do tratamento de "Holland 1" tão interessante e importante, conforme

o artigo do American Heritage (edição de abril/maio) intitulado "The Holland

Surfaces" que trata da localização e salvamento bem-sucedidos do Submarino

lançado em 1901 conhecido como "Holland 1". Este artigo faz referência ao "Fertan,

Page 72: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

72

um composto com os poderes alquímicos para transformar ferrugem em um material

tão forte quanto o aço original". (WEAVER, 1987).

O segredo do sucesso do Fertan reside no fato de não ser necessário

remover toda a corrosão para combater a "corrosão instantânea". O Fertan reage

com os produtos da corrosão e os converte em um composto organometálico

insolúvel passivo. Tudo o que se tem a fazer é molhar completamente a superfície e

aplicar a Fertan com um pincel, um rolo de pintura, ou um pulverizador airless. O

processo de conversão começa praticamente diante dos olhos do aplicador, e em

questão de 24 a 48 horas a reação está completa. (WEAVER, 1987).

Curiosamente, há problemas associados com a eficácia do Fertan. Os

cientistas ainda não conseguem explicar todos os aspectos das reações químicas

complexas que ocorrem, mas o comandante Compton Hall expõe um problema

potencial de forma muito clara. Em uma carta de 1984 ao vice-almirante Sir Patrick

Bayly do Maritime Trust relativa ao uso potencial de Fertan em recuperar o famoso

USS Monitor, ele escreveu:

A única palavra de advertência é, talvez, óbvia: (Fertan) realmente transforma as partes enferrujadas e corroídas em alguma coisa tão dura quanto o metal original, por isso é importante evitar o tratamento de pontas irregulares, da maneira como fiz em algumas partes de "Holland 1". Tais pontos subsequentemente se tornam um trabalho de esmerilhamento caso seja desejado alisá-los. Ele funciona, pode-se dizer, muito bem em todas as superfícies .... (WEAVER, 1987, p. 18 – tradução nossa).

Há outros produtos que são baseados em ácido tânico, mas ao contrário do

Fertan, eles também contêm resina sintética. Estas resinas tendem a minar a

efetividade da apassivação total, funcionando apenas como um primer. Para que o

processo de apassivação ou conversão de corrosão do produto seja concluído, o

oxigénio deve continuar a alcançar a superfície. “Conversores de ferrugem” a base

de resinas e solventes tendem a formar uma película, impermeável ao oxigênio que

impede a conclusão da conversão. Devido as suas fórmulas com conteúdo de

sólidos, os produtos a base de resina não penetram tão eficazmente quanto o

Fertan, que é à base de água. Alguns produtos a base de resina não podem ser

usados em oxidação pesada, oxidação úmida, ou oxidação solúvel. Produtos a base

de resina também pode ter a prazo de validade e vida útil limitados (ou seja, eles se

deterioram em suas embalagens antes de serem utilizados e após o uso parcial).

Alguns também podem ser tóxicos e inflamáveis. (WEAVER, 1987).

Page 73: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

73

No caso de verificar-se que um tratamento não resultou na conversão

completa da oxidação, o Fertan pode ser reaplicado quantas vezes quanto

necessário, mas com os produtos a base de resina a camada ou película formada

torna impossível reaplicação. Nestes dias de uma crescente consciência da

importância da prevenção da poluição e de reduzir a toxicidade dos produtos

químicos, também é importante saber que testes realizados em 1983 mostraram que

o Fertan é de muito baixa toxicidade, mesmo para espécies como a solha e o

camarão marrom. (WEAVER, 1987).

O Fertan tem proporciona uma cobertura de 8 a 10 m² por litro. Uma vez que

a superfície enferrujada se tornou escura e está completamente seca, simplesmente

remove-se toda a poeira negra residual e aplica-se sobre a superfície escura um

sistema de pintura normal. Tendo em vista os resultados, quase se poderia acreditar

em "milagres" alquímicos, mas este convertedor de ferrugem é um aliado real na

guerra contra a ferrugem. (WEAVER, 1987).

3.3.2.2 Limpeza e Decapagem

De acordo com Dehault, Delachaux e Métier (1997) a finalidade da limpeza ou

decapagem é atingir o metal sem danificar a superfície da peça, sendo

recomendável dissociar as partes desmontáveis para tratamento em separado, com

especial atenção aos fenômenos de corrosão eletrolítica quando do contato de

metais diferentes.

Existem inúmeras técnicas de limpeza e decapagem, e todas elas requerem

severas precauções de utilização de modo que só devem ser empregadas sob

acompanhamento de restauradores profissionais devidamente qualificados. Os

seguintes métodos são apresentados por Dehault, Delachaux e Métier (1997) para o

caso de obras de arte em ligas de ferro, sendo que em todos os casos o preparo da

superfície obtida deve estar conforme o resultado desejado (geralmente, grau de

cuidados DS 2,5 e rugosidade N 10 Bd):

a) Limpeza Mecânica Manual – Utilização de escova com cerdas metálicas

para remoção ferrugem superficial e poeira;

b) Jateamento a seco com escória de alto-forno triturada a 500 micra e

pressão de 4 bars. Este abrasivo é indicado em virtude da sua neutralidade

em relação ao suporte (para o caso da maioria das ligas de ferro) e de sua

média agressividade. Esta técnica permite liberar a superfície de corrosões

Page 74: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

74

externas pouco aderentes e restituir um estado mais homogêneo às

superfícies irregulares;

c) Jato abrasivo Jet RazR, um silicato resultante de fusão em alta temperatura

e rápido esfriamento, para ser lançado contra a superfície ferrosa com

cerca de 6 bars de pressão;

d) Bilhas finas de aço ou de ferro fundido hematita, cujo efeito preenchedor,

alisante, elimina os riscos de pontos;

e) Bilhas angulares lançadas com pressão de 3 a 7 bars, que permite a

obtenção de uma superfície rugosa do ferro fundido, capaz de receber

metalização;

f) Jato abrasivo úmido - O hidrojateamento é praticado com rugosidade 20/30

e poeira de silício com pressão de 120 a 200 bars. Os controles no

decorrer dos trabalhos são difíceis. A decapagem resultante é correta,

embora longa nas partes muito cavadas. A formação de flor de ferrugem

requer, antes da aplicação do revestimento, um tratamento de superfície.

Não há abrasão de relevos em baixa pressão;

g) Decapagem por alta pressão com jato d’água lançado a 1200 a 1500 bars

com bicos rotativos de 1,5 a 2mm de diâmetro. Esta técnica não oferece

resultados suficientemente satisfatórios em virtude das limitações que

impõe. O consumo de água é importante (60 l/min) e a pressão parece

demasiadamente elevada para algumas ligas de ferro;

h) Processo de abrasão pelo frio: o processo Cryoclin, patenteado pela C.E.A

e difundido por Linde Gaz Industriel, é a projeção de bilhas de gelo de 1mm

de diâmetro formadas em nitrogênio líquido (-180 C) sob pressões de 3 a

30 bars, com vazão de gelo de 1,2 kg/min. Tal processo age por efeito

térmico e pouco por abrasão. A eficácia deste método é moderada, pois as

camadas superficiais de tinta são eliminadas, mas a decapagem para

desnudamento do metal é impossível; (Adaptado de DEHAULT;

DELACHAUX; MÉTIVIER, 1997, p. 60-61).

Após a limpeza e decapagem, recomenda-se que as peças sejam

desempoeiradas e secas para eliminar os vestígios de poeira e umidade. É

recomendado o desempoeiramento com o uso de ar comprimido e escovação

manual com escovas de cerdas macias (nylon). Em seguida, recomenda-se que as

Page 75: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

75

peças sejam cuidadosamente secas por estufa ou por tocha a gás a uma

temperatura máxima de 70º C. (DEHAULT; DELACHAUX; MÉTIVIER, 1997).

Segundo Kühl (1998) os métodos de preparação manual de superfície, tais

como raspagem, uso de escovas, limas ou outras ferramentas, não são eficientes

pois não removem toda a ferrugem, camadas de pintura e impurezas. Podem ser

úteis quando empregados para se verificar o estado de determinadas peças e

quando outros métodos não estejam disponíveis ou sejam possíveis de aplicar em

uma dada situação. Com o uso de procedimentos mecanizados, tal como escova

giratória, a eficiência é maior do que com a preparação manual, mas ineficaz para

pequenas cavidades, para as quais devem ser usados instrumentos manuais. O uso

de meios mecanizados ocasiona um desgaste da superfície do metal, fato que nem

sempre é desejável para edifícios históricos, pois traços do modo de fabricação do

material podem perder-se. Além disso Kühl (1998) cita também dois outros métodos:

a) Limpeza por chama, que remove rapidamente a ferrugem e escamações,

devendo ser seguido por escova giratória para as impurezas que restam. É

um método adequado para a limpeza do aço laminado, mas é relativamente

lento para grandes superfícies, exige profissionais altamente qualificados,

além do perigo inerente da chama durante a aplicação da chama. Deve-se

também, quando de sua utilização, ter cuidado com as consequências das

variações térmicas. É aplicado com eficiência para livrar a superfície de

qualquer corrosão que possa ter-se desenvolvido após a limpeza e para secar

a superfície antes da aplicação da camada primária de proteção.

b) Banhos de ácido podem também ser empregados para dissolver e remover

escamações e ferrugem (geralmente ácido fosfórico ou sulfúrico). Depois, a

peça deve ser cuidadosamente neutralizada e a peça lavada com água. Esse

procedimento deve ser feito em oficinas, não sendo recomendado para uso

no canteiro de obras. (Adaptado de KÜHL, 1998, p. 255).

Kühl (1998) também aponta que os métodos considerados mais eficientes

para a limpeza de grandes superfícies são os jateamentos com abrasivos, secos ou

úmidos. Em ambos os procedimentos devem ser tomadas precauções com as

superfícies adjacentes, protegendo-as. Os operadores devem estar devidamente

equipados e resguardados. Deve-se ainda estar atendo aos possíveis problemas

Page 76: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

76

ambientais devido as partículas em suspensão que os sistemas geram. (KÜHL,

1998).

Ainda segundo Kühl (1998) o método abrasivo seco, que consiste em jatear

partículas sob pressão, é um método eficiente, relativamente rápido se comparado a

limpeza por chama, de custos não elevados, permitindo que a estrutura seja tratada

no local. Essa técnica, no entanto, pode remover as marcas manuais ou mecânicas

do processo de fabricação do material, o que pode ser inconveniente para estruturas

históricas. A pressão a ser usada, a partícula a ser empregada e seu tamanho,

dependem do material a ser limpo e de sua dureza. As partículas mais comumente

utilizadas são as de pedra, tijolo, madeira ou mesmo vidro, para o ferro fundido e

para o ferro, e partículas de cobre para determinados tipos de aço. As partículas de

cobre não são recomendadas para o ferro pela possibilidade de ocorrer reações

eletrolíticas, sendo esse procedimento desaconselhado para peças muito

elaboradas e delicadas. Deixa impurezas e poeira na superfície, que devem ser

removidas antes da pintura. Não é recomendado em estruturas onde a camada

primária é a base de chumbo. (KÜHL, 1998).

Onde há a presença do mínio de chumbo (primer à base de chumbo) e em

estruturas em ambiente marinho ou muito poluído, o uso do método de jato abrasivo

úmido (com uso concomitante de água) pode ser aconselhável. Este processo

remove rapidamente a ferrugem, as impurezas ou sais solúveis e permite uma boa

visibilidade da superfície tratada durante o processo. No entanto, forma-se uma

camada de ferrugem na superfície e pode haver a penetração de água em fissuras

ou junções. Dessa forma, uma camada primária tolerante a água é indicada. (KÜHL,

1998).

3.3.2.3 Convertedores de Ferrugem

O ácido tânico, que é o princípio ativo dos convertedores de ferrugem como o

Fertan (conforme exposto no item 3.3.1), é um revestimento possível para o ferro ou

aço oxidado que vai permanecer em ambiente interno. Ele pode ser usado para

melhorar a aparência de um objeto para fins de exposição. Aplicando-se o ácido

tânico em ferro enferrujado vai resultar em um acabamento azul-preto uniforme. Ele

reage com as camadas de corrosão para formar tanato férrico, o que impedirá as

áreas mais susceptíveis de reoxidar a curto prazo. Se o objeto reinicia a corrosão, o

ácido tânico pode ser reaplicado facilmente. (LOGAN, 2007a).

Page 77: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

77

No entanto, é importante compreender as limitações do tratamento ácido

tânico. A camada de tanato de ferro resultante não é um revestimento permanente

ou uma barreira de vapor, e não eliminará ou reduzirá o efeito de contaminação por

sais. Além disso, o tratamento não é normalmente usado em conjunto com uma

barreira de vapor. (LOGAN, 2007a).

3.3.2.4 Revestimentos reversíveis

Revestimentos de proteção, tais como óleos, ceras, podem ser aplicados aos

objetos de ferro para reduzir a taxa de transmissão de vapor de água e oxigênio a

partir do ambiente para a superfície do metal. No entanto, se os revestimentos são

aplicados às camadas de corrosão porosas em ferro oxidado, podem se tornar muito

difíceis de serem removidos no caso de o objeto começar a oxidar ativamente.

Aconselha-se utilizar somente revestimentos de proteção, e apenas no conselho de

um conservador, e, em seguida, estabelecer um programa regular de inspeção e

manutenção para os artefatos revestidos. A manutenção pode envolver a remoção

periódica e reaplicação dos revestimentos. (LOGAN, 2007a).

Dehault, Delachaux e Métier (1997) orientam a aplicação de óleo quando se

pretende conservar o aspecto avermelhado escuro oxidado de uma peça. Após uma

limpeza superficial recomenda-se aplicar duas camadas de óleo de linhaça

acrescido de um sicativo, tendo como vantagens a facilidade e o baixo custo de

aplicação, e os inconvenientes de necessitar de frequentes inspeções e

manutenção. (DEHAULT; DELACHAUX; MÉTIVIER, 1997).

De acordo com Logan (2007a) as ceras são particularmente difíceis de

remover das superfícies de ferro fortemente corroídos, por isso normalmente não

são recomendadas para uso em ferro enferrujado. Como mencionado anteriormente,

o óleo é adequado como um revestimento protetor para as lâminas de ferramentas,

canos de armas e peças de máquinas levemente enferrujadas. Tintas e vernizes

podem ser apropriados para alguns objetos, especialmente para aqueles

armazenados ou expostos ao ar livre. (LOGAN, 2007a).

Dehault, Delachaux e Métier (1997) apontam a cera microcristalina mineral

como um dos mais simples e neutros tratamentos de superfície, sendo

especialmente concebida para proteção exterior dos metais. A cera assegura um

bom obstáculo contra o meio ambiente atmosférico, mais particularmente contra a

água. A neutralidade química da cera com o tempo assegura uma proteção de

Page 78: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

78

qualidade eliminando os riscos de corrosão provocados pela acidificação do

revestimento. (DEHAULT; DELACHAUX; MÉTIVIER, 1997).

Ademais, a manutenção da cera pode ser realizada com mais facilidade do

que os vernizes e resinas, bastando uma simples limpeza e uma nova aplicação a

cada dois ou três anos. Os revestimentos do tipo verniz supõem, com efeito, para

sua renovação ou manutenção, uma limpeza total da superfície por jateamento,

seguida de nova aplicação. A peça, após a limpeza e proteção, apresentará um

aspecto levemente mais escuro, e poderá conservar o aspecto corroído vermelho

escuro. (DEHAULT; DELACHAUX; MÉTIVIER, 1997).

A cera pode ser aplicada tanto sobre o metal desnudado como sobre o

decapado mas ainda recoberto por uma fina camada de óxido de ferro,

desempenhando simultaneamente um papel protetor e colorante no ferro fundido, ou

ainda sobre a tinta. A aplicação é normalmente executada em três camadas.

(DEHAULT; DELACHAUX; MÉTIVIER, 1997).

Dehault, Delachaux e Métier (1997) recomendam uma vigilância anual, que

determinará a frequência da manutenção (2 a 5 anos). Esta consistirá numa lavagem

a água sob pressão, escovação manual com escova de nylon flexível com um

tensoativo seguida de enxágue a água. Após uma leve secagem (tocha a gás),

deve-se aplicar a cera microcristalina, se possível idêntica àquela de origem.

(DEHAULT; DELACHAUX; MÉTIVIER, 1997).

3.3.2.5 Vernizes e sistemas de pinturas

Para Kühl (1998) a aplicação de camadas de pintura tem sido o método mais

eficaz na proteção contra a corrosão de superfícies metálicas extensas, sendo de

essencial importância que elas sejam contínuas. Onde houver uma falha, a corrosão

terá tendência a se propagar por baixo da pintura, sob a forma de corrosão

eletroquímica, uma vez que as áreas menos expostas à atmosfera terão carga

diferente das expostas. (KÜHL, 1998).

A pintura deve ser aplicada em várias camadas para diminuir a probabilidade

de haver falhas, e na tentativa de se isolar o metal base da melhor forma possível. É

essencial também, que hajam manutenções regulares e frequentes, para verificar

possíveis defeitos na pintura e repará-los o mais rápido possível, mantendo os

elementos causadores da corrosão afastados. Por isso, é importante verificar juntas,

Page 79: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

79

pequenas concavidades que possam reter água, sistemas de escoamento de água,

e o estado geral da cobertura, etc. (KÜHL, 1998).

De acordo com Kühl (1998) os principais procedimentos para o tratamento

das superfícies metálicas são a limpeza e preparação da superfície, seguidas de

tratamento e de pintura. O passo inicial é uma análise das camadas de pintura

existentes, estas camadas condicionam, pela sua importância histórica e pelo estado

que possam estar, o sistema de pintura a ser empregado. Este ainda depende tipo

de tratamento e acabamento que foi dado à superfície do metal, da agressividade do

meio-ambiente, do programa de manutenção a ser seguido, da dificuldade de

acesso das partes à serem tratadas, assim como da legislação em vigor. (KÜHL,

1998).

Kühl (1998) chama a atenção também para a importância da preparação da

superfície, fator essencial para a adesão da pintura. Mesmo a melhor pintura

apresentará problemas em uma superfície mal preparada, enquanto pinturas de

qualidade inferior darão resultados satisfatórios em uma superfície preparada de

forma adequada. Deve ser removido todo traço de corrosão, sujeiras, escamações,

oleosidades, etc. É aconselhável ainda fazer testes em áreas reduzidas da estrutura

para verificar a efetividade de cada método. (KÜHL, 1998).

Deve-se proceder à análise das camadas existentes, para se determinar

dados tais como: a) a pintura utilizada como fundo para proteção; b) o tipo de

pintura; c) quantas camadas foram usadas; d) as cores originais empregadas; e) e

se o acabamento da superfície era fosco ou brilhante. (KÜHL, 1998).

Caso as camadas inferiores estejam em bom estado e com boa aderência,

não é necessário removê-las. Devem simplesmente ser escovadas e receber mais

uma ou duas camadas de proteção, compatíveis com as já existentes. Defeitos

localizados da pintura podem ser reparados, havendo um recobrimento mínimo de

50 milímetros com a área circunstante não defeituosa, devendo a nova pintura

empregada ser compatível física e quimicamente com a existente. Quando a peça já

apresenta muitas camadas de pintura sucessivas, dificilmente se consegue um bom

resultado deste procedimento. (KÜHL, 1998).

A remoção das camadas, por sua vez, permite verificar a existência de

defeitos de fabricação, de fissuras, de corrosão e outros problemas não visíveis

anteriormente. Devem ser eliminadas todas as impurezas, tais como sais solúveis

em água que possam existir em pequenas cavidades da superfície do metal base e

Page 80: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

80

traços de corrosão, pois, qualquer ferrugem que fique pode dar início a um novo

processo de deterioração. No entanto, ocasiona a perda de dados históricos. (KÜHL,

1998).

Após a limpeza, as superfícies devem receber uma camada primária

protetora. Esse período pode ser de minutos ou horas, dependendo das condições

ambientais, para evitar que se comece a formar ferrugem. Quando não é possível

proteger as peças de imediato, deve haver uma nova e breve limpeza da superfície

antes do tratamento, pois a ferrugem que se forma impede a boa aderência da

pintura no substrato. Após métodos de tratamento abrasivos utilizando água, a

superfície tende a enferrujar rapidamente, e pode-se usar um inibidor de ferrugem no

último enxague. Deve-se prestar atenção ainda aos detalhes que retenham água e,

se possível, modificá-los. Caso, por sua importância histórica, não seja possível

fazê-lo, deve-se prever vistoria, manutenção e tratamento contra ferrugem

periódicos. (KÜHL, 1998).

Existe uma enorme variedade de tipos de tintas disponíveis no mercado para

a proteção do ferro fundido, ferro e aço, podendo-se escolher os mais adequados de

acordo com as condições ambientais às quais a estrutura está exposta. A seleção de

um sistema de proteção deve ser acompanhada por um especialista e sempre

devem ser consultados os fabricantes, para se verificar a adequabilidade do método

proposto e, se for o caso, a compatibilidade entre o sistema de pintura existente e o

novo que se pretende aplicar. Deve-se levar em consideração vários fatores, não

somente o já citado valor histórico das camadas existentes e condições ambientais,

como também o modo de preparação da superfície utilizado, a dificuldade de

acesso, o programa de manutenção a ser seguido, as condições de aplicação da

pintura e a qualidade da mão-de-obra. (KÜHL, 1998).

Um sistema recomendado como sendo eficiente para superfícies com

camadas de pinturas preexistentes e limpos por métodos manuais é formado por: a)

camadas primárias de antioxidantes à base de óxido de ferro, óxido de zinco ou

fosfato de zinco em resinas à base de poliésteres; b) camadas intermediárias e de

acabamento com tinta à base de poliésteres, que substituem o antigo método de

camadas primárias à base de chumbo e óleo de linhaça e as demais também à base

de óleo de linhaça. As tintas à base de poliésteres secam mais rápido do que as

oleosas e têm menor espessura, mas não protegem o metal com a mesma duração.

(KÜHL, 1998).

Page 81: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

81

As tintas à base de látex não são recomendadas como camadas primárias,

pois causam corrosão imediata, se aplicadas diretamente sobre o metal. Podem ser

empregadas para o acabamento, mas se as camadas de proteção apresentarem

imperfeições elas causarão a oxidação do metal. Recomenda-se dessa forma, o

acabamento com tintas de poliésteres. (KÜHL, 1998).

Recobrimentos com camadas primárias protetoras, de alto desempenho, tais

como aquelas ricas em zinco, e as epóxi, podem ser usadas no metal limpo para

proporcionar uma proteção mais duradoura, mas exigem superfícies perfeitamente

preparadas e condições especiais para a sua aplicação, difíceis de serem obtidas no

canteiro de obras. (KÜHL, 1998).

Um sistema recomendado para peças limpas até se atingir a superfície do

metal, é a limpeza abrasiva a seco da superfície, que deve ser protegida por camada

primária rica em zinco, seguida por uma camada intermediária à base de epóxi e

duas demãos de acabamento à base de poliuretano. As resinas epóxi degradam

quando expostas à radiação ultravioleta e, por isso, recomenda-se camadas de

acabamento bastante resistentes. (KÜHL, 1998).

A espessura recomendada para uma boa proteção é de 120 a 250 micra,

sendo normalmente aplicadas quatro camadas. Considera-se mais prudente a

aplicação de uma camada a mais do que a escolha de um sistema mais caro.

(KÜHL, 1998).

Quanto aos métodos de aplicação da pintura, Kühl (1998) indica que os

pincéis são considerados os mais adequados e eficientes, por permitirem contato

completo entre a pintura e o metal e contato efetivo com imperfeições do material,

tais como pequenas cavidades, fissuras, etc. As aplicações com pistolas de ar são

mais econômicas e rápidas, mas os resultados não são tão efetivos e uniformes,

assim como também não o são as pinturas aplicadas por rolo. Além do mais, a

aparência resultante da utilização desses dois materiais não é a mais apropriada.

(KÜHL, 1998).

Logan (2007a) adverte que as tintas e vernizes devem ser mantidos

regularmente, porque a exposição ao ar livre faz com que eles se deteriorarem

rapidamente e, para muitos, quanto mais tempo eles são expostos ao ar livre, mais

difícil fica para remover. (LOGAN, 2007a).

Dehault, Delachaux e Métier (1997) orientam que antes de qualquer processo

de acabamento, o ferro fundido deve receber um tratamento anticorrosivo aplicado

Page 82: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

82

sobre uma superfície lisa, decapada, desempoeirada e completamente seca. Esta

camada primária deve aderir bem ao metal, e constitui um inibidor dos pontos de

corrosão. A escolha dos pigmentos é muito importante, e estes podem ser:

(DEHAULT; DELACHAUX; MÉTIVIER, 1997).

a) De ação básica e inibidores por proteção apassivante.

b) De ação por proteção anódica, como os cromatos de cálcio ou de

zinco, os sílicos-cromatos de chumbo. Os fosfatos, como o fosfato de

zinco, asseguram também uma proteção anódica.

c) De ação por proteção catódica ou galvânica, como o zinco e o chumbo.

As tintas ricas em zinco vedam os poros do metal, assegurando-lhe

assim perfeita estanqueidade.

d) Inertes, como os óxidos de ferro ou de alumínio. (Adaptado de

DEHAULT; DELACHAUX; MÉTIVIER, 1997, p. 67).

Como pré-revestimento recomenda-se o uso de wash primer (também

denominado veda-poros), ao entrar em contato com o ar, este revestimento produz

sais de zinco, que vedam os poros do metal base, juntamente com uma camada

epóxi de poliamidas de fosfato de zinco. (DEHAULT; DELACHAUX; MÉTIVIER,

1997).

Em seguida ao pré-revestimento (pintura primária ou primer) utiliza-se a

camada de Pintura Intermediária. As camadas intermediárias asseguram ao

revestimento uma espessura suficiente para preencher as desigualdades de

superfície. Por outro lado, elas reforçam o poder anticorrosivo da camada primária e

favorecem a estanqueidade do conjunto. (DEHAULT; DELACHAUX; MÉTIVIER,

1997).

Após a pintura intermediária (ou de reforço) utiliza-se a camada de Pintura de

Acabamento. As tintas de acabamento, da mesma forma que o revestimento

anticorrosão, deverão ser escolhidas aquelas homologadas pelo órgão responsável.

Na França trata-se do Ministério do Equipamento, cuja homologação consta na

classe HAU 1: Proteção das partes à vista sob atmosfera urbana ou industrial das

obras aéreas. Verdadeira barreira contra-ataques da corrosão, ela deverá ser

estanque e, naturalmente, participar do aspecto estético desejado. Além das

especificidades em matéria de carga e de pigmentos, as tintas diferem entre si pela

Page 83: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

83

natureza química de seus ligantes, que podem ser termoplásticos ou

termoendurecedores. (DEHAULT; DELACHAUX; MÉTIVIER, 1997).

Pode-se também distinguir os ligantes pelo seu modo de secagem e por suas

funções químicas (alquídica, epoxídica, acrílica, poliuretânica, etc.) as mais comuns

são:

a) Tintas líquidas: epóxi, poliuretano, alquídicas, normalmente aplicadas à

frio.

b) Tintas em pó: poliéster, mistas (epóxi + poliéster), epóxi; Aplicação

sobre superfícies aquecidas e posterior cura à quente (Adaptado de

DEHAULT; DELACHAUX; MÉTIVIER, 1997, p. 70).

Dehault, Delachaux e Métier (1997) indicam que para uma camada de

acabamento eficiente, em geral, três camadas deverão ser aplicadas, e entre cada

camada pode haver necessidade de preparação para a aderência da próxima

camada (lixamento);

Os sistemas de pintura à quente possuem a vantagem de terem maior vida

útil, porém é necessária uma decapagem completa para sua reaplicação. As tintas

tradicionais têm vida útil menor, porém aceitam retoques ou camadas suplementares

sem a substituição do tratamento de fundo. (DEHAULT; DELACHAUX; MÉTIVIER,

1997).

A Figura 07 ilustra as possíveis composições de Sistemas de Pintura.

Page 84: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

84

Figura 7 – Sistemas de Pintura:

Fonte: Adaptado de DEHAULT, DELACHAUX E MÉTIER, 1997, p. 74.

3.3.2.6 Revestimentos de alto desempenho

Dehault, Delachaux e Métier (1997) descrevem também a metalização, que

consiste na aplicação de um metal sobre uma superfície previamente preparada,

normalmente à quente e por jateamento, cujo objetivo é isolar o metal-base de

qualquer corrosão. A empresa GHM utiliza um processo que tem garantia de 9 anos,

mas sua vida útil é normalmente de 15 a 20 anos, podendo ser estendido se

realizada a manutenção regular na tinta da superfície, da forma a seguir:

1. Limpeza e preparo da peça por projeção de bilhas angulares (ferro fundido hematita) a seco, sob pressão de 5 a 7 bars;

2. Metalização, meia hora após o jateamento por projeção em fusão de uma camada de zinco + Alumínio (85/15%) espessura de 80 micra;

3. Desemgorduramento e fosfatação por passagem num túnel onde as peças são borrifadas com ácido e em seguida com detergente de modo a suprimir os corpos graxos. A fosfatação é realizada para um melhor preparo à tinta. Cada Operação é seguida de enxágue e escorrimento (no caso de tinta líquida, esta operação é excluída).

Page 85: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

85

4. Passivação por tratamento das peças em cromo;

5. Enxágue na água desmineralizada com troca de íons;

6. Estufagem até 190 C. Secagem e colocação sob temperatura para a aplicação do pó;

7. Aplicação da tinta em pó sobre as peças aquecidas a 130/140 C;

8. Cozimento durante 10 min a 180 C. (DEHAULT, DELACHAUX E MÉTIER, 1997, p. 65-66).

Kühl (2008) observa que assim como os recobrimentos protetores de alto

desempenho exigem superfícies e condições difíceis de serem obtidas no canteiro

de obras, o mesmo pode ser dito em relação a galvanoplastia, processo de

metalização que utiliza eletrólise para o revestimento de peças metálicas, a exemplo

da zincagem, técnica protetora extremamente eficiente cuja aplicação deve ser

realizada em oficinas. Pode, eventualmente, ser utilizada em peças substitutivas, ou

após processo de desmonte, mas não deve ser empregada em reparações no

canteiro de obras. (KÜHL, 1998).

3.3.3 Guarda, Conservação e Manutenção

O ferro na forma de ferro fundido, ferro forjado ou aço é abundante em

coleções de museus. O ferro é frequentemente encontrado associado com outros

materiais tais como madeira, plásticos, têxteis, couro, ou outros metais. Dado que o

ferro é geralmente revestido, a natureza e o estado do revestimento, sejam pintura,

óleo, ou laqueada, é uma grande preocupação. Os cuidados com os artefatos de

ferro devem, portanto, levar em conta também os materiais associados. A tendência

natural de ferro à ferrugem - às vezes rapidamente - significa que um monitoramento

de perto e o cuidado consistente são muito importantes para a preservação de

artefatos de ferro. (LOGAN, 2007a).

As superfícies nuas de ferro oxidam rapidamente, isto é, forma-se uma

camada de corrosão ou oxidação. A oxidação é lenta no ar limpo e seco, mais rápida

em ar húmido, e mais rápido ainda quando a superfície metálica é coberta com uma

fina película de água. Uma camada uniformemente distribuída de ferrugem

proporciona alguma proteção para o objeto; superfícies enferrujadas irregularmente

oferecem menos proteção. A corrosão desigual permite que a água e oxigênio

penetrem na superfície de metal subjacente, o que proporciona um aumento da

corrosão. (LOGAN, 2007a).

Page 86: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

86

A formação de oxidação é acelerada por sais solúveis em água,

especialmente os sais que contêm íons cloreto (como cloreto de sódio) ou íons de

sulfato (tais como sulfato de cálcio). Sais são introduzidos quando um objeto é usado

(por exemplo, durante o cozimento), manipulados (por exemplo, transferências pelo

contato com a pele), ou simplesmente expostas a certos ambientes (por exemplo: ar

poluído, atmosfera marinha, etc.). Se um objeto fora armazenado ao ar livre ou tenha

sido enterrado, é provável que contenha sais solúveis em água. Por estes motivos é

recomendável que os museus estabeleçam programas de limpezas e cuidados para

prolongar a vida útil de objetos de ferro. (LOGAN, 2007a).

O primeiro passo para cuidar de ferro e suas ligas é examinar os objetos a fim

de determinar quais são estáveis e que estão instáveis ou com corrosão ativa.

(LOGAN, 2007a).

O termo "estável" descreve objetos de ferro que vão desde aqueles com

superfícies não corroídas de coloração cinza-prata, até superfícies enferrujadas

compactas e aderentes que variam em cor de azul-preto para vermelho-marrom. O

termo "instável" descreve artefatos de ferro que sofrem de corrosão ativa que pode

transformar um objeto em pó rapidamente. Dado o fato de que o ferro instável solta

partículas de ferrugem continuamente, será possível observar a presença de “pó de

ferrugem” debaixo e em torno do objeto com corrosão ativa. A corrosão ocorre na

interface entre o núcleo metálico e a camada exterior de corrosão, resultando em

fratura, descamação, e descolamento das camadas externas de corrosão. Um

exame mais aprofundado de qualquer artefato de ferro suspeito de ser instável pode

revelar corrosão ativa do ferro, quer na forma de akaganéite ou sob a forma de

"gotejamento" ou "sudação”. (LOGAN, 2007a).

Akaganéite é um óxido hidróxido de ferro (ß-FeOOH) que forma cristais cor

laranja-vivos. Embora a presença de cloreto não é indicada pela fórmula química,

estes cristais crescem apenas quando há íons cloreto presentes suficientes para

estabilizar a sua estrutura. Akaganéite, que cresce sobre o ferro na interface metal-

ferrugem, exerce uma pressão suficiente sobre as camadas de corrosão que leva a

quebrá-las para fora, provocando assim gretas e lascamento. Esta corrosão ativa

aparece como cristais cor de laranja nas rachaduras de uma superfície de

fragmentação. (LOGAN, 2007a).

"Gotejamento" ou "sudação" é causada por elevadas concentrações de sais

contendo cloreto. Quando a umidade relativa do ar (RH) é elevada (acima de cerca

Page 87: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

87

de 55%), os sais de absorvem o vapor de água do ar, dissolvem-se na água, e

formam gotículas de líquido amarelo, castanho, cor de laranja sobre a superfície da

corrosão. Este líquido é ácido, e por isso deverá corroer o ferro e danificar os

materiais sensíveis ao ácido que entrarem em contato com ele. (LOGAN, 2007a).

Se a umidade relativa (RH) diminui, as gotículas secam e formam tanto

crostas brilhantes nas rachaduras da superfície quanto bolhas circulares de cor

laranja-marrom. Quando visto em pequeno aumento, essas bolhas se assemelham a

bolhas quebradas e vazias com cascas frágeis, finas e brilhantes. (LOGAN, 2007a).

Para tratar os objetos de ferro com corrosão ativa deve-se inicialmente

separá-los, e armazená-los em condições com uma umidade relativa (RH) abaixo de

35%. Se ainda houver corrosão ativa nesta baixa umidade, pode ser necessário

armazenar esses objetos em locais muito secos, com menos de 12% RH. Pequenas

peças importantes, podem ser armazenadas a seco com gel de sílica em

dessecadores, em recipientes fechados (por exemplo, Tupperware), ou em armários

fechados. As condições secas diminuem significativamente a taxa de corrosão de

ferro em corrosão ativa, mas não removem a fonte do problema. Aconselha-se que

se procure o conselho de um conservador para o atendimento e tratamento de tais

objetos. (LOGAN, 2007a).

Para tratar objetos de ferro estável deve-se mantê-los sempre que possível

livres de poeira e sujeira. A limpeza deve ocorrer sempre longe da área de

armazenamento para evitar a introdução de partículas de pó de ferro carregado para

a área. Não se deve limpar os objetos expondo a superfície de ferro nua a não ser

que seja apropriado. Se o produto da corrosão é removido totalmente, o ferro pode

corroer-se novamente, que resultará em pontos alaranjados de ferrugem. Para os

pequenos objetos de ferro armazenado em ambientes fechados, deve-se usar

métodos de limpeza que não envolvam a água ou detergentes. A sujeira e poeira

acumulada devem ser removidas com o uso de escovas de vários tamanhos e

rigidez de cerdas, e escovas de cerdas naturais, (às vezes chamado de "escovas

estêncil"). Se necessário, as cerdas devem ser cortadas na forma requerida. O

comprimento das cerdas determina a rigidez da escova - cerdas mais curtas são

mais rígidas do que as mais longas. Deve-se tomar cuidado para que não se retire

quaisquer camadas de corrosão porque o metal subjacente pode ser frágil. Caso a

corrosão mais espessa seja removida de forma inadequada, o objeto será

desfigurado. Se o grau de corrosão ou a fragilidade de um objeto está em dúvida,

Page 88: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

88

deve-se passar um ímã sobre a superfície: a atração será forte onde a corrosão é

fina, e será fraca onde a maior parte do metal está corroída. (LOGAN, 2007a).

Uma camada fina e uniforme de ferrugem superficial pode ser removida

esfregando-se suavemente com lã fina de aço (graduação 000 ou 0000), e algumas

gotas de óleo leve (por exemplo, óleo de máquina de costura). Recomenda-se o uso

panos limpos e sem fiapos, molhados com solvente mineral (por exemplo Varsol)

para limpar a lama de óleo/oxidação resultante; isto irá impedir que a lama seja

transferida a outros materiais. Em seguida aplica-se uma nova camada de óleo,

aplicada e espalhada bem fina com um pano limpo. É necessário que se tenha em

mente que muito óleo vai atrair poeira e sujeira, mas muito pouco óleo não irá

proteger contra ferrugem. O tratamento com óleo é especialmente adequado para

lâminas de ferramentas e de peças de máquinas levemente enferrujadas. O óleo

melhora a aparência da superfície do objeto e deixa uma película, que atua como

uma fina barreira de vapor que protege temporariamente o ferro contra a ferrugem.

Os objetos limpos desta forma devem ser reexaminados regularmente, e

consequentemente limpos e lubrificados novamente se a ferrugem reaparecer.

(LOGAN, 2007a).

Ao limpar o ferro, recomenda-se evitar o uso de líquidos removedores de

ferrugem comerciais. Estes produtos contêm ácidos para dissolver oxidação, e

podem rapidamente retirar algumas áreas do objeto deixando o metal nu.

Idealmente, qualquer objeto composto que contém ferro deve ser desmontado e

seus componentes limpos separadamente. Se isso não for possível, cada uma das

diferentes partes do objeto deve ser limpa com métodos e produtos adequados. Há

de se tomar cuidado para não danificar as peças não-ferrosas do objeto quando

estiver limpando as peças de ferro, e vice-versa. (LOGAN, 2007a).

O ferro é muitas vezes pintado, marcado com decalques, ou revestido com

outro metal como estanho ou cromo. A corrosão pode causar qualquer um destes

revestimentos exteriores para ser levantada da superfície de ferro subjacente. Deve-

se ter cuidado para não remover qualquer um destes revestimentos de superfície,

pois eles contêm informações históricas sobre o objeto. Se um objeto pintado ou

revestido deve ser limpo, um conservador deve ser consultado. Quaisquer tintas ou

decalques destacadas devem ser devidamente documentados e guardados, porque

estes podem ser úteis para um conservador na realização de trabalhos de

restauração ou pesquisa histórica. (LOGAN, 2007a).

Page 89: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

89

Máquinas grandes armazenadas ou exibidas ao ar livre frequentemente ficam

cobertas com sais acumulados, sujeira e depósitos de ácidos que precisam ser

retirados regularmente. Objetos de ferro devem ser armazenados preferencialmente

em baixa umidade relativa. No entanto, porque os objetos de ferro normalmente têm

acessórios de outros materiais que podem ser danificados por umidades relativas

(RH) muito baixo, isso nem sempre é prático. Para uma coleção mista, é mais

seguro, mais fácil e menos dispendioso para selecionar uma umidade relativa (RH)

ambiente média que vai equilibrar as necessidades de toda a coleção. É importante

manter uma umidade relativa (RH) constante. Uma HR de 50% não danificará a

maioria do ferro que não contém níveis excepcionalmente elevados de sais solúveis

ou que não tem corrosão ativa. Uma RH média de cerca de 65% vai levar a danos

progressivos todo o ferro. (LOGAN, 2007a).

É recomendado o uso de papel neutro, livre de ácido, para embrulhar objetos

de ferro. Ele vai ajudar a reduzir os efeitos de um aumento repentino de umidade

relativa (RH) e impedirá os artefatos de tocar um ao outro. Prateleiras ou gavetas

com um estofamento resistente, tais como folhas finas de polietileno ou

polipropileno, para proteger os artefatos de choque ou abrasão. Como alternativa,

suportes individuais para os objetos podem ser esculpidos em espuma de

polietileno. (LOGAN, 2007a).

Temperatura e iluminação dos artefatos de ferro não são fatores críticos,

exceto quando afetam a umidade relativa (RH) ou materiais associados, como uma

camada de tinta. Ao exibir objetos compostos, deve-se considerar a tolerância de

cada material componente. Alguns objetos de ferro vêm com revestimentos ou

invólucros de proteção (por exemplo, punhais com bainhas). Não é recomendado

armazenar esses objetos em suas capas ou invólucros de proteção, porque o ferro

pode enferrujar despercebido. Além disso, a corrosão pode manchar a sua capa ou,

na pior das hipóteses, pode ancorar permanentemente o ferro no interior do

recipiente. Deve-se, portanto, armazenar objetos de ferro ao lado de suas proteções.

(LOGAN, 2007a).

Ao manusear objetos de ferro limpo recomenda-se o uso de luvas, mesmo

aqueles com camadas de corrosão. Caso contrário, os sais da pele serão

depositados nos objetos e irão promover a corrosão. (LOGAN, 2007a).

Dehault, Delachaux e Métier (1997) observam que os sistemas de pintura à

quente possuem a vantagem de terem maior vida útil, porém é necessária uma

Page 90: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

90

decapagem completa para sua reaplicação. As tintas tradicionais têm vida útil

menor, porém aceitam retoques ou camadas suplementares sem a substituição do

tratamento de fundo. Conforme o tipo de revestimento e sua vida útil, deverá ser

previsto sua restauração: (DEHAULT; DELACHAUX; MÉTIVIER, 1997, p. 72).

a) De 2 a 5 anos para ceras microcristalinas;

b) De 3 a 5 anos para tintas tradicionais;

c) De 10 anos para as tintas aplicadas a quente;

d) De 15 anos para os casos de metalização.

Page 91: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

91

4 DESENVOLVIMENTO

4.1 Documentação das embarcações da Revolução de 1924

De acordo com o National Historic Ships (2010) compreender as várias

maneiras em que uma embarcação é importante é a questão chave para a tomada

de todas as decisões, grandes e pequenas, sobre como ela deve ser preservada. A

importância de uma embarcação deve ser a orientação principal para o processo de

preservação a ser adotado e as decisões tomadas em seu uso e manejo futuros. A

importância deve ser avaliada globalmente, reconhecida por diferentes grupos de

pessoas e pontos de vista. Isto significa encontrar não só a história da sua

construção, mas a história de toda a sua vida. Além disso, idealmente, a forma e a

estrutura da embarcação deveriam ser documentadas com detalhes suficientes, de

maneira que uma réplica ou modelo exato poderia ser construído, de forma precisa

em todos os detalhes, desde bitolas e formatos de quadro para acessórios, materiais

e esquema de pintura.

Entretanto, segundo Kentley, Stephers e Heighton (2007a) os vários tipos de

registros podem ser pensados como dispostos ao longo de uma série contínua, de

um mínimo de detalhe para um máximo de detalhe, com cada fase adicional no

processo aumentando ainda mais a complexidade do registro geral do navio. Assim,

cada uma destas etapas deve ser concluída para proporcionar um registro técnico

abrangente do navio.

Deste modo, as informações históricas foram condensadas com a finalidade

de ratificar o significado e importância das embarcações da Revolução de 1924, e

em seguida, as informações disponíveis foram organizadas na forma de um

levantamento cadastral através do registro fotográfico, registro descritivo e registo

dimensional das características mais significativas, obtidos por vistoria técnica com a

participação do autor, a fim de complementar a documentação e visando estabelecer

um registro o mais abrangente possível dentro das limitações deste trabalho.

Page 92: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

92

4.1.1 Levantamento Histórico (Avaliação da importância)

As embarcações do estudo de caso são parte de um conjunto de objetos

recuperados no Rio Paraná identificados pelo IPHAN como sendo de um incidente

relacionado à Revolução de 1924.

... o material certamente se enquadra no contexto da Coluna Miguel Costa-Prestes, já que há elementos históricos que só podem ser datados de depois de 1922 (ver peça n 21 da lista “B”, carregador de pente Puteaux, para armas Hotchkiss do modelo 1921/1922), não havendo eventos históricos posteriores à criação da Coluna, em 1924, que possam justificar a presença do material no local. Também é possível constatar que são barcos que estiveram envolvidos em combate, como podem se observar pelos poucos orifícios de balas presentes nos mesmos, bem como pela imensa quantidade de cartuchos deflagrados que foi encontrada na embarcação “A”. (CASTRO, 2010b, p. 2-3).

A análise histórica elaborada por Castro (2010a) identifica as embarcações

como batelões, tipos comuns em uso no final do século XIX e início do século XX,

mas que atualmente não existem mais, e eram possivelmente de propriedade da

companhia Mate-Laranjeira, a qual operava na região e perdeu barcos para os

revolucionários. Além disso, são claramente construídas para o transporte de

granéis sólidos e não tem características de embarcações para operações militares

ou transporte de tropas da Coluna Costa-Prestes. (CASTRO, 2010a).

Castro (2010b) apresenta como evidência um histórico sobre a ação que

resultou na perda dos batelões, conforme registrado no jornal “Hora do Povo”

acessado em agosto de 2010 pelo sítio na internet:

<http://www.horadopovo.com.br/colunistas/-sergiorub/barrancas.htm>, com o

seguinte conteúdo:

Uma semana depois da trágica investida [de 18 de agosto de 1924], começa a descida do rio Paraná. O plano é escoar a Divisão em escalões sucessivos, em direção à Guaíra. A vanguarda, sob o comando do general João Francisco, é composta pelo 3º e 4º Batalhão de Caçadores, da Brigada Mesquita de Vasconcelos, reforçada por uma seção de artilharia montada e um piquete de cavalaria. O 3º Batalhão de Caçadores, debilitado pelas baixas sofridas em Mato Grosso, fora reorganizado, absorvendo a Companhia Azhaury que antes integrava o 1º Batalhão. Embarcada em três navios e um pontão, a expedição aprisiona, no dia 26 de agosto, a lancha Iguatemi, da Companhia Mate Laranjeira, que conduzia uma patrulha governista. Os prisioneiros informam que o capitão Dilermando Cândido de Assis, responsável pela defesa de Guaíra, mantinha 200 homens em

Page 93: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

93

Porto São José, na margem paranaense do rio, três léguas abaixo da foz do Paranapanema - divisa do estado de São Paulo. Na outra margem, o grileiro Quincas Nogueira dominava Porto São João. Nogueira era um homicida disputado pela Justiça do Rio Grande do Sul, de Rosário – Argentina – e Santa Rosa – Uruguai. Fugira da cadeia de Corrientes, em outubro de 1913, instalando-se nos ervais mato-grossenses. O governo, em seu esforço de guerra, concedera-lhe a p atente de tenente-coronel da reserva do Exército. A força revolucionária dividiu-se para enfrentar a nova ameaça – um destacamento continuaria pela via fluvial, outros seguiriam por terra, para surpreender os elementos governistas entrincheirados nas duas margens do rio Paraná. A iniciativa valeu a conquista de Porto São João, em 30 de agosto, e Porto São José, no dia seguinte. Em 14 de setembro, após um confronto com as forças do capitão Dilermando, na ilha do Pacu, os revolucionários conquistam Guaíra. Haviam descido 200 km do rio Paraná, em 20 dias. Percorreriam outros tantos, nas duas semanas seguintes. (Apud CASTRO, 2010b, p. 3-4).

Castro (2010a) considera que o conjunto recuperado de bens móveis de

pequeno porte são de origem e situação diversa, porém, podem ser facilmente

encontrados em museus, não tendo maior valor como testemunho da história das

técnicas por si, e apresenta as seguintes conclusões:

1 – O material encontrado não tem valor comercial, se não for levado em consideração o valor histórico/cultural a ele associado; 2 – A sua presença no local só pode ser associada a evento marcante da história do Brasil, a formação da Coluna Miguel Costa-Prestes e ao movimento revolucionário que agitou o País entre 1922 (Revolta do Forte de Copacabana) e 1930 (Revolução de 1930). 3 – Os batelões estão associados a outros processos históricos além da revolução de 1924, a saber, a questão do transporte fluvial no Brasil, a penetração e ocupação do interior e, considerando o recorte cronológico de sua existência, independente de sua propriedade original, estão associados a economia da plantação e colheita do mate no Paraná e sul de Mato Grosso, o que, por si, já demonstraria um interesse histórico nos bens. Tudo isso nos permite afirmar que o material encontrado tem elevado valor histórico para o País por sua associação a um evento marcante da história recente. Merece, por isso, a preservação e proteção por parte do Governo. Caberia, talvez, até o tombamento do mesmo, mas isso dependeria, em nossa opinião, da situação dos itens encontrados como material arqueológico. (CASTRO, 2010a, p. 2).

Assim, pode-se classificar as embarcações do estudo de caso quanto à sua

importância e significado, segundo os critérios estabelecidos por Kentley, Stephers e

Heighton (2007a) da seguinte forma:

Page 94: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

94

a) Singularidade da sua classe e função.

Tratam-se de exemplares únicos, de tipos comuns à sua época.

b) Singularidade da tipologia no contexto nacional.

Tratam-se de exemplares de embarcações simples, comuns à sua época,

embora não existam mais exemplares preservados.

c) Contribuição para o entendimento da história marítima.

As embarcações estão associadas a processos históricos do transporte

fluvial, e a penetração e ocupação do interior do Brasil.

d) Contribuição quanto a tecnologia.

Embora sejam simples embarcações para transporte e transbordo de

carga sem propulsão, são construídas em uma técnica artesanal de

construção primorosa em aço com uso de rebites, técnica quase extinta na

construção naval moderna.

e) Contribuição quanto a história econômica e social.

As embarcações têm elevado valor histórico para o País por sua

associação a um evento marcante da história recente.

f) Aspectos únicos ou raros, típicos da tipologia, importantes

tecnológica, social ou economicamente.

As embarcações têm elevado valor histórico para o País, são exemplares

de embarcações comuns, porém, construídas em uma técnica artesanal de

construção primorosa, e que não mais existem exemplares preservados.

4.1.2 Levantamento cadastral

O levantamento cadastral das embarcações foi realizado com base nos

registros da vistoria realizada pelo IPHAN no período de 18 a 20/11/2013 na cidade

de Porto Rico/PR, no qual constam o levantamento físico expedito das principais

dimensões e um levantamento fotográfico das características gerais das duas

embarcações objetos do estudo de caso.

Conforme os critérios relacionados na fundamentação teórica (item 3.2.2.1) as

informações pesquisadas foram organizadas na forma de um Registro Fotográfico

(apresentado no item 4.1.2.1), Registro Descritivo (apresentado no item 4.1.2.2) e

Registro Dimensional (apresentado no item 4.1.2.3).

Page 95: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

95

4.1.2.1 Registro fotográfico

A partir das informações da vistoria de 18 a 20/11/2013 na cidade de Porto

Rico/PR, foi organizado o registro fotográfico das duas embarcações, separados em

3 etapas: Situação, Embarcação I e Embarcação II.

Para a situação foram organizadas imagens identificando a localização das

embarcações dos contextos regionais aos locais.

Para as embarcações as fotos foram organizadas com relação às

características principais em: proa, popa, costados, convés e compartimentos.

Os registros completos estão localizados no Apêndices A, B e C, as fotos

abaixo relacionadas tratam de um resumo das caraterísticas principais das

embarcações.

Page 96: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

96

Situação

Figura 8 – Localização da cidade de Porto Rico/PR.

Fonte: Adaptado de www.maps.google.com , 2015.

Figura 9 – Situação das Embarcações na Cidade de Porto Rico/PR.

Fonte: Adaptado de www.maps.google.com, 2015.

Page 97: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

97

Figura 10 – Situação das Embarcações

Fonte: Adaptado de www.maps.google.com, 2015.

Figura 11 – Situação das Embarcações

Fonte: Adaptado de www.maps.google.com, 2015.

Page 98: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

98

Embarcação I

Figura 12 – Proa Embarcação I

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Figura 13– Popa Embarcação I

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Page 99: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

99

Figura 14 – Costado de BE Embarcação I

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Figura 15 – Costado de BB Embarcação I

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Page 100: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

100

Figura 16 – Convés - Porão de Carga de Vante - vista à Vante Embarcação I

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Figura 17– Convés - Porão de Carga de Ré - vista à Vante Embarcação I

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Page 101: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

101

Figura 18– Convés - Porão de Carga de Ré - vista à Ré Embarcação I

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Page 102: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

102

Embarcação II

Figura 19 – Proa Embarcação II

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Figura 20 – Popa Embarcação II

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Page 103: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

103

Figura 21 – Costado BE - à Vante Embarcação II

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Figura 22 – Costado BE - à Ré Embarcação II

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Page 104: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

104

Figura 23 – Costado BB - à Vante Embarcação II

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Figura 24 – Costado BB - à Ré Embarcação II

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Page 105: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

105

Foto 1 – Convés -Vista geral - à Vante Embarcação II

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Figura 25 – Convés -Vista geral à Ré Embarcação II

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Page 106: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

106

Figura 26 – Detalhe da estrutura do compartimento de proa Embarcação II

Fonte: Acervo IPHAN, 2013.

Page 107: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

107

4.1.2.2 Registro descritivo

Este trabalho optou por uma descrição condensada dos principais elementos

e as características dos cascos das duas embarcações do estudo de caso, reunindo

e organizando as informações disponíveis nos documentos e bibliografia

pesquisados, para os elementos de destaque da tipologia, operação e construção.

Assim, as embarcações da revolução de 1924 são classificadas segundo

Fonseca (2005) como embarcações mercantes, com casco de aço, e sem propulsão.

Tratam-se de embarcações robustas empregadas para transbordo de carga, de

fundo chato, possuem convés fechado, casco de construção em aço e recebem a

designação Batelão ou Alvarenga. (FONSECA, 2005).

A seguir apresentam-se as descrições para cada uma das embarcações.

Embarcação I

A Embarcação I possui dimensões principais de 18,29 m (60’) de

comprimento total, 3,45 m (11’ 3.13/16”) de boca, 1,27 m (4’ 2” ou 50”) de pontal e

um espaçamento entre cavernas (ou balizas) de 508 mm (20”) o que indica o padrão

de construção em medidas imperiais.

Trata-se de um batelão de fundo chato, de estrutura de aço rebitado, com

casco em chapas e reforços em perfis laminados em cantoneira. O padrão de

construção utilizou juntas sobrepostas e rebites com cabeça escariada para o

costado, e rebites de cabeça redonda nas uniões dos reforços e anteparas, sempre

com cravação paralela.

Figura 27 – Formas e padrões de rebites:

Fonte: Adaptado de FONSECA, 2005, p. 194.

Page 108: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

108

Figura 28 – Tipos de juntas:

Fonte: Adaptado de FONSECA, 2005, p. 192.

Figura 29 – Padrões de juntas cravadas:

Fonte: Adaptado de FONSECA, 2005, p. 194.

A embarcação é compartimentada em quatro porões, separados por

anteparas estanques e acessados por escotilhas, sendo dois pequenos

compartimentos nas extremidades de proa e popa mais dois porões centrais de

carga. O compartimento de proa tem apenas uma pequena escotilha (Foto 9), e o

compartimento de ré duas (Foto 11).

Possui quilha em chapa (Fotos 9, 10 e 11), reforçada apenas com uma

longarina na função de sobre quilha, em perfil composto por duas cantoneiras,

havendo na roda de proa um reforço de talhamar (Foto 5). A construção foi feita

sobre cavernas de aço em perfis laminados tipo cantoneira reforçada com borboletas

em chapa.

Em seu atual estado de conservação apresenta corrosão ampla com

perfurações pontuais, estima-se que a maioria dos reforços usam cantoneiras de aço

laminadas de dimensões 1.1/4” x 3/16” (abas de 31,75 mm e espessura de 4,97

Page 109: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

109

mm), sendo as chapas tanto dos reforços quanto do costado de aproximadamente

3/16” (4,76 mm).

A embarcação não possui qualquer sistema de propulsão, mas possui um

leme, atualmente sem cana (Foto 6). Tem quatro cabeços duplos, dois a vante e

dois a ré. A vante há uma buzina dupla de ferro fundido para passagem de cabos

(Foto 5).

Há indícios de ter existido um convés de madeira, restando apenas vestígios

do mesmo (Fotos 9, 10 e 11). Na borda da embarcação há chapas e parafusos

metálicos que indicam que a mesma recebia uma prancha de madeira para servir de

verdugo (Foto 5, 6 e 7).

Ambos os costados se encontram amassados ao longo de todo o seu

comprimento, provavelmente devido aos translados sofridos, com sinais de corrosão

generalizada com alguns pontos de perfurações. A situação mais crítica ocorre nos

pontos de acumulação de água da chuva onde já se identificam grandes aberturas

no fundo, inclusive com a presença de vegetação. Quase não há mais sinais da

pintura, identificada anteriormente como aparentemente a base de breu, e não foi

possível identificar quaisquer sinais de identificação da embarcação. Ainda são

passíveis de identificação alguns poucos furos que foram identificados como sendo

de projéteis de armas portáteis, todos situados a bombordo.

Embarcação II

A Embarcação II possui dimensões principais de 16,01 m (52’ 6.7/16”) de

comprimento total, 3,09 m (10’ 1.5/8”) de boca, 1,55 m (5’ 1”) de pontal e um

espaçamento entre cavernas (ou balizas) de 508 mm (20”) o que indica o padrão de

construção em medidas imperiais.

Trata-se de um batelão de fundo chato, de estrutura inteiramente de aço

rebitado, com casco em chapas e reforços com perfis laminados em cantoneira. O

padrão de construção utilizou juntas sobrepostas e rebites com cabeça escariada

para as áreas estanques (costado), juntas de topo com rebites de cabeça escariada

no convés e rebites de cabeça redonda nas uniões dos reforços, sempre com

cravação paralela. (Figuras 8, 9 e 10)

É compartimentada em três porões separados por duas anteparas e

acessados por escotilhas, dois pequenos compartimentos nas extremidades de proa

e popa mais uma central para carga. Os compartimentos de proa possuem uma

Page 110: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

110

pequena escotilha cada. Não possui elemento de quilha ou reforço, apenas o

chapeamento do fundo, havendo na roda de proa um reforço de talhamar (Foto 12).

A construção foi feita sobre cavernas de aço em perfis laminados tipo

cantoneira reforçada com borboletas em chapa, possuindo duas longarinas

constituídas com perfis simples de cantoneira laminada, sendo uma em cada bordo

a uma altura aproximada de 1/3 do pontal (Foto 18). Aparenta estar em melhor

condições do que a Embarcação I, mas também apresenta corrosão ampla com

perfurações pontuais. Estima-se que a maioria dos reforços usam cantoneiras de

aço laminadas de dimensões 1.1/4” x 3/16” (abas de 31,75 mm e espessura de 4,97

mm), sendo as chapas tanto dos reforços quanto do costado de aproximadamente

3/16” (4,76 mm).

A embarcação não possui qualquer sistema de propulsão, mas possui um

leme atualmente sem cana (Foto 13 e 17). Possui quatro cabeços duplos e um

cunho, sendo o cunho e dois cabeços dois a vante e dois cabeços a ré, porém,

faltam dois cabeços: o de vante à bombordo, e o ré à boreste. Na proa há uma

borda falsa com função de quebra-mar e duas buzinas ferro fundido para passagem

de cabos (Foto 5) a qual encontra-se amassada.

O convés é todo em chapa metálica xadrez, havendo apenas um trecho de

aproximadamente 3 metros de chapa diferenciada, bastante desgastada, porém de

espessura similar, junto a escotilha do porão de carga, de meia nau à ré, de boreste

(Foto 19). Nas bordas desta embarcação há reforços que indicam que a mesma

poderia ter uma prancha de madeira para servir de verdugo (Foto 14 e 15).

Ambos os costados se encontram amassados ao longo de todo o seu

comprimento, provavelmente devido aos translados sofridos, com sinais de corrosão

generalizada com alguns pontos de perfurações. A situação mais crítica ocorre nos

pontos de acumulação de água da chuva onde já se identificam grandes aberturas

no fundo, inclusive com a presença de vegetação. Quase não há mais sinais da

pintura, identificada anteriormente como aparentemente a base de breu, e não foi

possível encontrar quaisquer sinais de identificação da embarcação. Ainda são

passíveis de identificação alguns poucos furos que foram identificados como sendo

de projéteis de armas portáteis, todos situados a bombordo.

Page 111: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

111

4.1.3.3 Registro dimensional

O levantamento de campo foi realizado de forma expedita, com a utilização de

instrumentos de medida simples e não aferidos tiradas por apenas duas pessoas,

durante vistoria de 18 a 20/11/2013 na cidade de Porto Rico/PR.

A partir dos croquis do levantamento de campo foram desenhadas as linhas

principais do casco das embarcações utilizando o programa AutoCAD (Autodesk)

obtendo uma representação simplificada do casco: plano de perfil na linha de centro,

baliza da seção de meia nau, e plano de linha d’água do convés. Os desenhos

plotados em escala encontram-se nos Apêndices D, E, F e G.

Figura 30 – Desenho dos Planos de Linhas Principais Embarcação I

Fonte: Arquivo IPHAN, 2013.

Page 112: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

112

Figura 31 – Desenho das elevações principais Embarcação I

Fonte: Arquivo IPHAN, 2013. Figura 32 – Desenho dos Planos de Linhas Principais Embarcação II

Fonte: Arquivo IPHAN, 2013.

Page 113: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

113

Figura 33 – Desenho das elevações principais Embarcação II

Fonte: Arquivo IPHAN, 2013.

4.2 Intervenções, Tratamentos e Procedimentos

Para identificar quais as intervenções, tratamentos e procedimentos indicados

para a conservação das embarcações da Revolução de 1924 foram correlacionadas

as informações obtidas na bibliografia pesquisada, considerando as especificidades

da área de patrimônio cultural e os aspectos práticos da preservação e reabilitação

do patrimônio naval, e as informações organizadas referentes aos documentos e

vistorias realizadas que foram apresentadas e aplicadas ao caso das embarcações

da Revolução de 1924, nas etapas de: Identificação das características

fundamentais do estudo de caso (apresentada no item 4.2.1); Identificação das

necessidades; recursos e restrições (apresentada no item 4.2.2) e Identificação das

intervenções e procedimentos indicados (apresentada no item 4.2.3).

4.2.1 Identificação das características fundamentais do estudo de caso

A partir das conclusões da análise histórica realizada por Castro (2010a)

Page 114: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

114

restam claros a importância histórica do contexto envolvendo as embarcações e

demais artefatos da Revolução de 1924, notoriamente pelo seu valor como artefatos

arqueológicos. Não restam dúvidas, portanto, da necessidade de preservação das

embarcações e demais artefatos identificados como sendo da Revolução de 1924.

Entre as possibilidades de preservação destas embarcações, presume-se que

o estado de conservação atual inviabilize ações no sentido de restauração,

reconstrução ou adaptação conforme apresentado no Capítulo 3.2.3. Não há

informações suficientes para uma replicação, e sem que haja o refinamento dos

levantamentos destas embarcações, tentativa esta que fatalmente recairia em um

engodo visual.

Assim, por exclusão, resta sobre a alternativa de conservação integral, e

como o caso requer, indicar-se-ão medidas de estabilização emergencial, proteção

ambiental e interpretação estática, em terra e em ambiente protegido.

4.2.2 Identificação das necessidades, recursos e restrições

As condições das embarcações quando da realização da vistoria já eram

precárias, pois a exposição às intempéries havia acelerado a olhos vistos o processo

de degradação. Não se têm notícias até a conclusão do presente estudo, se as

medidas emergenciais de execução de uma cobertura provisória e de um berço para

afastar as embarcações da umidade do solo foram executadas. De qualquer

maneira, passados quase dois anos, quaisquer ações provisórias já devem ter

dissipado seu efeito.

A principal problemática da situação encontrada foi a falta crônica de recursos

humanos e financeiros, devendo ser esta a linha de partida inicial para qualquer que

seja o planejamento a ser desenvolvido. Como diretrizes este estudo identificou

primeiramente a necessidade de preservar as embarcações, mantendo-as em seu

contexto com um mínimo de intervenção possível, e em seguida proporcionar uma

interpretação a mais ampla possível para este patrimônio.

4.2.3 Identificação das intervenções e procedimentos indicados

Para identificar quais as intervenções, tratamentos e procedimentos indicados

para a conservação das embarcações da Revolução de 1924 as informações foram

indicadas de acordo com a fundamentação teórica apresentada no Capítulo 3,

correlacionando as especificidades da área de patrimônio cultural com os aspectos

Page 115: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

115

práticos da preservação e reabilitação do patrimônio naval aplicadas ao caso das

embarcações da Revolução de 1924, apresentadas nas etapas de: Estabilização

(apresentada no item 4.2.3.1); Intervenção (apresentada no item 4.2.3.2) e

Manutenção (apresentada no item 4.2.3).

4.2.3.1 Estabilização

A estabilização é uma forma importante para o proprietário do navio ganhar

algum tempo para planejar, sabendo que o material da embarcação esteja

temporariamente seguro. O National Historic Ships (2010) elenca os seguintes

aspectos que devem ser observados:

a) Estabilizar as embarcações garantindo temporariamente, de maneira que

o seu material permaneça o mais próximo possível da condição na qual

foram encontradas.

Nesta etapa reversibilidade é um critério fundamental, sendo que a

aplicação de óleo protetor parece ser o ideal por tratar-se de um produto

fácil de aplicar, barato, de fácil manutenção e completamente reversível.

Dehault, Delachaux e Métier (1997) orientam a aplicação, após uma

limpeza superficial, de duas camadas de óleo de linhaça acrescido de um

sicativo (diluente inerte de alta volatilidade, por exemplo solventes como

isoparafina). Logan (2007a) recomenda a aplicação do óleo em camadas

finas, uniformemente espalhadas com um pano limpo. Deve ser

observado que óleo em excesso vai atrair poeira e sujeira, e pouco óleo

não irá proteger contra ferrugem, além disso, as superfícies tratadas desta

forma devem ser reexaminados regularmente e, consequentemente,

limpos e lubrificados novamente se a ferrugem reaparecer.

Logan (2007a) recomenda usar métodos de limpeza que não envolvam

a água ou detergentes. A sujeira e poeira acumulada devem ser

removidas com o uso de escovas de vários tamanhos e rigidez de cerdas,

e escovas de cerdas naturais (às vezes chamado de "escovas estêncil").

Se necessário, as cerdas devem ser cortadas na forma requerida. O

comprimento das cerdas determina a rigidez da escova - cerdas mais

curtas são mais rígidas do que as mais longas. Deve-se tomar cuidado

Page 116: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

116

para que não se retire quaisquer camadas de corrosão porque o metal

subjacente pode ser frágil. Para uma limpeza mais profunda recomenda-

se o uso panos limpos e sem fiapos, molhados com solvente mineral (por

exemplo Varsol).

b) A estrutura deverá ser bem apoiada ao longo do seu comprimento, de

modo que as bordas e os porões estejam contidos, assim como o apoio

das saliências de popa. Embora possa ser conseguido um apoio uniforme

ao longo do comprimento por meio de pontaletes de madeira de

reflorestamento, é recomendável, assim que possível, elaborar o projeto

de um berço que além de proporcionar apoio e solidez para as

embarcações, sirva de plataforma para eventuais translados no futuro.

c) Realizar o mínimo de intervenção nos materiais, pois o objetivo é retardar

a deterioração, e não realizar uma restauração ou reconstrução. Não é

recomendada nenhuma limpeza das superfícies metálicas que possam

desgastar ou mesmo retirar material, com a consequente perda de

informações das embarcações, somente devendo-se retirar os materiais

que por ventura estejam depositados e não façam parte das mesmas, e de

forma menos agressiva possível (ex. plantas, terra, sujeiras de animais,

etc.). Não substituir, furar, soldar ou reforçar os materiais para evitar falhas

estruturais nesta fase. Escoramentos devem ser reversíveis e cuidadosos,

de aperto ou talas de suporte, até que uma solução permanente seja

implementada.

d) Proteger as embarcações do ingresso da chuva, maximizando a ventilação

em todos os espaços. Sugere-se tendas provisórias ou coberturas

tensionadas, desde que permitam uma ventilação, podem ser boas

opções.

e) Se as embarcações tiverem que ser movidas, deve-se tomar a decisão

com cuidado e assegurar condições para minimizar os riscos de danos

físicos. Não é recomendada nenhuma remoção sem que se tenha

executado uma estrutura de suporte adequada.

f) Inspecionar o navio regularmente para conservar a estabilidade,

especialmente quando não há cronograma para implementação ou

projeto. É necessário prever a manutenção da cobertura e do revestimento

Page 117: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

117

provisório pelo período que for necessário até que haja uma destinação

definitiva.

g) Documentar todas as intervenções que tiverem de ser feitas, pois, a perda

acidental de evidência histórica, como por exemplo na decapagem, pode-

se eliminar as evidências da pintura e devem ser evitadas. É importante

prever a continuidade do processo de documentação das embarcações,

sendo que convênios com universidades e instituições de ensino são

alternativas que devem ser consideradas.

4.2.3.2 Intervenção

As condições para as intervenções nas embarcações históricas foram

apresentadas pelos Critérios e Princípios da Preservação expressos nos itens 3.1.3

(Aspectos teóricos das intervenções no patrimônio cultural) e 3.2 (Aspectos da

Preservação do Patrimônio Naval).

O projeto deve ser adequado à realidade e as condições de localização,

ambiência, e as necessidades de interpretação e recursos disponíveis devem ser

minuciosamente estudadas e devidamente consideradas.

É desejável identificar quaisquer intervenções feitas como parte do processo

de conservação por vários meios. A possível introdução de um novo material deve

permitir clara distinção entre o velho e o novo. Materiais novos ou substituídos

podem ser identificados por uma marca, estampa, uso de etiquetas ou outros meios

permanentes registrando a data de instalação. O registro, em papel ou eletrônico,

deve ser cuidadosamente mantido e o material substituído deve ser marcado em

desenhos e/ou identificados em um registro escrito. O registro diário do trabalho

realizado irá fornecer uma descrição mais precisa do que foi feito, sendo recolhido

quando o trabalho for concluído.

Existe ainda o perigo de haver conflito de interesses entre as embarcações e

seus visitantes e pode ser preciso proteger um do outro. A apresentação e

interpretação das embarcações mantidas em terra e em área coberta é um desafio,

mas os museus precisam ser especialmente alertas para os riscos entre os materiais

frágeis e o desejo inocente de tocar, e olhar para dentro ou a possibilidade de

vandalismo.

Page 118: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

118

4.2.3.3 Manutenção

A manutenção com a finalidade de dar condições para o cuidado de proteção

contínua do material constituinte de uma embarcação não deve ser confundida com

a reparação, que envolve a restauração ou reconstrução. Para isso, sugere-se que

os seguintes aspectos que devem ser observados:

a) A manutenção regular e contínua é a chave para a conservação de

embarcações históricas, mas difere da restauração ou reconstrução

que envolvem reparações;

b) Ajustar ou controlar o ambiente em que uma embarcação é mantida é

fundamental para proporcionar um nível de umidade em consonância

com os seus cuidados contínuos ou de longa duração, e vão ajudar

com a manutenção geral. Segundo Logan (2007a) manter uma

umidade relativa (RH) constante em 50% não danificará a maioria dos

materiais ferrosos, desde que não contenham níveis elevados de sais

solúveis ou que não tem corrosão ativa, enquanto uma RH de cerca de

65% pode proporcionar danos progressivos todo o ferro; e

c) A manutenção deve ser gerenciada através da elaboração e

implementação baseados no regime de orçamento anual,

personalizados de acordo com materiais, condição, e ambiente da

embarcação.

Page 119: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

119

5 CONCLUSÃO

Este trabalho apresentou como objetivo identificar os tratamentos e

procedimentos mais adequados à preservação de embarcações de reconhecido

valor cultural, tendo como pano de fundo o estudo de caso de duas embarcações

naufragadas em um evento relacionado com a Revolução de 1924.

As duas embarcações foram retiradas do leito do Rio Paraná, a cerca de 30

km da cidade de Porto Rico/PR, no ano de 2009 por um empresário da localidade,

juntamente com uma série de artefatos históricos. O cidadão responsável pela

retirada dos artefatos históricos o fez com seus próprios meios, provavelmente com

a intenção de montar uma exposição na localidade, onde era proprietário de um

hotel flutuante.

De acordo com a legislação brasileira, as coisas de natureza arqueológica

pertencem à União e são itens culturais protegidos. Assim, foi instaurado o Inquérito

Administrativo n° 1/2009 pela Delegacia Fluvial de Presidente Epitácio da Marinha

do Brasil e, posteriormente, o Inquérito Civil Público n° 1.25.011.000003/2010-70

para apurar e acompanhar a tutela e destinação dos artefatos. O Ministério Público

Federal, através da Procuradoria da República de Paranavaí, provocou as

instituições envolvidas3 no caso em questão, a fim de provocar medidas para a

preservação das embarcações.

A partir do caso estudado, surgiu uma questão maior a ser pesquisada: Quais

intervenções, tratamentos e procedimentos poderiam ser admitidos para a

preservação nas embarcações reconhecidas como de valor cultural?

Assim, com a finalidade de se estabelecer parâmetros técnicos sob o olhar da

Tecnologia da Construção Naval para orientar as intervenções em embarcações

reconhecidas como Patrimônio Cultural, realizou-se uma ampla pesquisa

bibliográfica pontuando as especificidades da área de patrimônio cultural, aspectos

teóricos e práticos da preservação do patrimônio naval.

3O Ministério Público Federal, através da Procuradoria da República de Paranavaí; A Marinha do

Brasil, através da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha; O IPHAN, através

da Superintendência do IPHAN do Paraná; A Prefeitura Municipal de Porto Rico; e a Universidade

Estadual de Maringá, através do Núcleo de Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura.

Page 120: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

120

De acordo com a pesquisa realizada a questão chave para a tomada de todas

as decisões, grandes e pequenas, sobre como ela deve ser preservada é através do

conhecimento e compreensão. A importância de uma embarcação deve ser a

orientação principal para o processo de preservação a ser adotado e as decisões

tomadas em seu uso e manejo futuro. Seguindo estas orientações este trabalho se

propôs a organizar as informações disponíveis visando estabelecer um registro o

mais abrangente possível dentro das limitações deste trabalho.

Deste modo, a partir dos documentos técnicos emitidos pelo IPHAN foram

condensadas as informações históricas com a finalidade de ratificar o significado e

importância das embarcações da revolução de 1924. Posteriormente, foi organizado

o levantamento cadastral, com as informações obtidas por vistoria técnica com a

participação do autor, na forma de um registro fotográfico, registro descritivo e

registo dimensional das características mais significativas. Assim, não restaram

dúvidas, da necessidade de preservação das embarcações e demais artefatos

identificados como sendo da Revolução de 1924.

Concluiu-se que a alternativa mais adequada é a de CONSERVAÇÃO

INTEGRAL, e foram relacionadas medidas de estabilização emergencial, proteção

ambiental e interpretação estática, em terra e manutenção em ambiente protegido.

Para a estabilização, cujo objetivo é garantir temporariamente que o seu

material permaneça o mais próximo possível da condição em que foi encontrada,

indicou-se os seguintes procedimentos:

a) Não é recomendada nenhuma limpeza das superfícies metálicas que

possam desgastar ou mesmo retirar qualquer material, somente deve

ser retirado materiais que por ventura estejam depositados e não

façam parte da embarcação, e de forma menos agressiva possível (ex.

Plantas, terra, sujeiras de animais, etc.). Métodos de limpeza que

envolvam a água ou detergentes devem ser evitados;

b) A limpeza deve ser executada com o uso de escovas de vários

tamanhos e rigidez de cerdas, e escovas de cerdas naturais, (às vezes

chamado de "escovas estêncil"). Se necessário, as cerdas devem ser

cortadas na forma requerida, pois o comprimento das cerdas determina

a rigidez da escova - cerdas mais curtas são mais rígidas do que as

mais longas. Deve-se tomar cuidado para que não se retire quaisquer

camadas de corrosão mais aderidas porque o metal subjacente pode

Page 121: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

121

ser frágil. Para uma limpeza mais profunda recomenda-se o uso panos

limpos e sem fiapos, molhados com solvente mineral (por exemplo

Varsol);

c) Para a proteção do material do casco indicou-se a aplicação de filme

de óleo protetor por tratar-se de um produto fácil de aplicar, barato, de

fácil manutenção e completamente reversível.

Após uma limpeza superficial, aplicar duas camadas de óleo de linhaça

acrescido de um sicativo (diluente inerte de alta volatilidade, por

exemplo solventes como isoparafina), uniformemente espalhadas em

camadas finas com um pano limpo. A aplicação do óleo deve ser

executada em camadas finas, uniformemente espalhadas, observando

que óleo em excesso vai atrair poeira e sujeira, e pouco óleo não irá

proteger contra ferrugem, além disso, as superfícies devem ser

reexaminados regularmente, e consequentemente limpos e lubrificados

novamente se a ferrugem reaparecer;

d) Assegurar que a estrutura esteja uniformemente apoiada ao longo do

seu comprimento, e que as bordas e os porões estejam contidos, assim

como o apoio das as saliências de popa;

e) Não substituir, furar, soldar ou reforçar os materiais para evitar falhas

estruturais nesta fase. Escoramentos devem ser reversíveis e

cuidadosos, de aperto ou talas de suporte, até que uma solução

permanente seja implementada;

f) Proteger as embarcações do ingresso da chuva, maximizando a

ventilação em todos os espaços;

g) Se as embarcações tiverem que ser movidas, deve-se tomar a decisão

com cuidado de maneira a assegurar as condições para minimizar os

riscos de danos físicos. Não é recomendada nenhuma remoção sem

que se tenha executado uma estrutura de suporte adequada;

h) Inspecionar as embarcações regularmente para conservação da sua

estabilidade, sendo necessário prever a manutenção da cobertura e do

revestimento protetivo pelo período que for necessário até que haja

uma destinação definitiva; e

i) Documentar todas as intervenções que tiverem de ser feitas, para

evitar a perda acidental de evidência histórica.

Page 122: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

122

As intervenções devem ser planejadas, projetadas e documentadas em

consonância com os Critérios e Princípios da Preservação expressos nos itens 3.1.3

(Aspectos teóricos das intervenções no patrimônio cultural) e 3.2 (Aspectos da

Preservação do Patrimônio Naval), devendo ser observado:

a) O projeto deve ser adequado à realidade e as condições de

localização, ambiência, necessidades de interpretação e recursos

disponíveis;

b) Quaisquer intervenções feitas devem ser identificadas e registradas

como parte do processo de conservação. O registro diário do trabalho

realizado irá fornecer uma descrição mais precisa do que foi feito,

sendo recolhido quando o trabalho for concluído; e

c) Existe um perigo de haver conflito no processo de interpretação das

embarcações por seus visitantes e pode ser preciso proteger um do

outro.

A manutenção tem como objetivo dar condições para o cuidado de proteção

contínua do material constituinte de uma embarcação e não deve ser confundida

com a reparação, que envolve a restauração ou reconstrução. Para isso os

seguintes aspectos que devem ser observados:

a) A manutenção regular contínua é a chave para a conservação de

embarcações históricas, mas difere da restauração ou reconstrução

que envolvem reparações;

b) Ajustar ou controlar o ambiente em que uma embarcação é mantida é

fundamental os cuidados contínuos ou de longa duração. Manter uma

RH de cerca de 65% pode proporcionar danos progressivos todo o

ferro, enquanto uma umidade relativa (RH) constante em 50% não

danificará a maioria dos materiais ferrosos, desde que corretamente

manutenidos; e

c) A manutenção deve ser gerenciada através da elaboração e

implementação de um planejamento baseado nos recursos disponíveis,

personalizados de acordo com materiais, condição, e ambiente da

embarcação.

Page 123: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

123

De acordo com Zein e Marco (2007), para realizar qualquer intervenção com

qualidade e pertinência, é necessária uma formação técnica e humanística para se

lidar com o tema, levando-se em conta as considerações de ordem social, cultural e

econômica, e conforme Kühl (2008) a preservação de bens culturais, não é um

processo óbvio, trata-se de uma metodologia necessariamente multidisciplinar. Não

restam dúvidas da importância, e da necessidade, do envolvimento da Tecnologia

em Construção Naval com a preservação do Patrimônio Cultural.

No Brasil, somente em 2012 foram homologados os primeiros tombamentos

pelo IPHAN referentes ao Patrimônio Naval Brasileiro: A Canoa Costeira “Dinamar”

do Estaleiro Escola do Maranhão; o Saveiro de Vela de içar “Sombra da Lua” da

ONG Viva Saveiro na Bahia; a Canoa de Tolda “Luzitânia” da Sociedade

Socioambiental do Baixo São Francisco em Sergipe; a canoa de pranchão

“Tradição” do Museu Náutico da FURG de Rio Grande/RS; e o acervo do Museu

Nacional do Mar em São Francisco do Sul/SC.

Existe portanto uma demanda que, embora relativamente pequena, é

imensamente expressiva e ao mesmo tempo reprimida. Deste modo indicam-se

como sugestões de trabalhos futuros a documentação e o registro de embarcações

históricas e a pesquisa do estado da arte junto às instituições que promovem a

conservação das embarcações de valor cultural no Brasil.

Page 124: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

124

Page 125: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

125

REFERÊNCIAS

ANDERSON JUNIOR, Richard k. Guidelines for Recording Historic Ships. 3. ed.

Washington D.C.: National Park Service – U.S. Department of the Interior, 2004. 348

p.

ARCHENAVE – Comissão de Arqueologia, História e Etnografia Naval - Sphan/Pró-

Memória – Ministério da Cultura. Patrimônio Cultural Naval do Brasil. Brasília:

Banco Central do Brasil, 1990. 52 p.

BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Cotia: Ateliê Editorial, 2004. 261 p.

BRASIL. Decreto Lei nº 25 de novembro de 1937. Organiza a proteção do

patrimônio histórico e artístico nacional. 1937. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del0025.htm>. Acesso em: 15

maio. 2015.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Brasil:

Presidência da República. 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 13

maio. 2015.

BRITO, Gonçalves de; GORDO, José Manuel. Tecnologia de Estaleiro: textos de

apoio. Lisboa: Centro de Engenharia e Tecnologia Naval e Oceânica (CENTEC).

2006. 38 p. Disponível em: <http://www.mar.ist.utl.pt/jgordo/tecest/TEN-1.pdf>.

Acesso em: 08 jun. 2015.

CASTRO, Adler Homero Fonseca de. PARECER 10/2010 Proteção/DEPAM/IPHAN.

Rio de Janeiro: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 2010a. 2 p.

CASTRO, Adler Homero Fonseca de. Memorando IPHAN n. 239/10

Proteção/DEPAM. Rio de Janeiro: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional. 2010b. 4 p.

CASTRO, Adler Homero Fonseca de. LAUDO 03/2010 Proteção/DEPAM/IPHAN.

Rio de Janeiro: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 2010c. 10 p.

Page 126: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

126

CASTRO, Adler Homero Fonseca de. Memorando IPHAN n. 285/09

Proteção/DEPAM. Rio de Janeiro: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional. 2009. 2 p.

SHIFT-X, Central Europe project. European Strategy for Promotion of Industrial

Heritage: Suggestions for the further development and implementation of the

resolution 1924 (2013) “Industrial Heritage in Europe” adopted by the Standing

Committee of the Council of Europe acting on behalf of the Assembly, on 8 March

2013, Genk: Central Europe project SHIFT-X, with support of European networks and

stakeholders, 2014. 12 p.

CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

283 p.

CPC. Portal Institucional - Secretaria de Estado da Cultura, Coordenação do

Patrimônio Cultural – Histórico. Disponível em:

<http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/>. Acesso em: 07 jun. 2015.

DEHAULT, Elisabeth Robert; DELACHAUX, Yvers; MÉTIVIER, Laurent. Técnicas de

Restauração, Reforma Manutenção e Prevenção, in: Seminário Internacional Rio de

Janeiro Obras de Arte em Ferro Fundido – Técnicas de Conservação e Restauração.

1997. Rio de Janeiro: Fundação Parques e Jardins. 1997.

DELGADO, James P. Introduction. Association for Preservation Technology

International (APT) Bulletin, Washington D.C., V. 19 - Maritime Preservation, n. 1.

p. 20-21, 1987. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/1494172>. Acesso em:

14 maio 2010.

DERVOZ, Ismeta. Resolution 1924: Industrial Heritage in Europe. Bosnia and

Herzegovina. Committee on Culture, Science, Education and media. Parliamentary

Assembly – Council of Europe, Doc. 13134. 2013.

FCC. Portal Institucional – A Fundação. Disponível em:

<http://www.fcc.sc.gov.br//pagina/4968/historico>. Acesso em: 14 maio. 2015.

FEILDEN, B. M. Conservation of Historic Buildings. 3. ed. Oxford: Architectural

Press Elsevier, 2003. 408 p.

Page 127: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

127

FLAPAN, Mori. Museum vessels: To Be or Not to Be - In Survey? Australian

Maritime Museums Council Conference. Hobart: 2009. 13 p. Disponível em:

<http://johnoxley.org.au/explore-the-fleet/john-oxley-1927-steam-ship/wp-

content/uploads/2013/08/Museum_Vessels-Mori-Flapan.pdf>. Acesso em: 18 maio.

2015.

FONSECA, Maurílio Magalhães. Arte Naval. Rio de Janeiro: Serviço de

Documentação da Marinha, 2005. 930 p.

ICOMOS. The Australia ICOMOS Charter for Places of Cultural Significance,

Australia International Council on Monuments and Sites, Burwood. 2013. 10 p.

ICOMOS. Recomendações para a Análise, Conservação e Restauro Estrutural do

Património Arquitectónico, Comité Científico Internacional Para a Análise e Restauro

de Estruturas do Património Arquitectónico, Victoria Falls. 2003. 42 p. Disponível

em:<http://icomos.fa.utl.pt/documentos/cartasdoutrina/icomosrecomendacoesestrutur

as.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2015.

IPHAN. Cartas Patrimoniais. 3. ed. Rio de Janeiro: IPHAN, 2004. p. 408.

IPHAN. Portal Institucional - Patrimônio Cultural. Disponível em:

<www.iphan.gov.br>. Acesso em: 10 maio. 2015.

JOKILEHTO, Jukka. A History of Architectural Conservation. 1. ed. Oxford:

Butterworth-Heinemann, 1999. 354 p.

KENTLEY, Eric; STEPHERS, Simon; HEIGHTON, Martyn. Recording Historic

Vessels. Understanding Historic Vessels V. 1. Greenwich: National Historic Ships.

2007a. 41 p. Disponível em:

<http://www.nationalhistoricships.org.uk/pages/recording-and-deconstruction-of-

historic-vessels.html>. Acesso em: 09 jun. 2015.

KENTLEY, Eric; STEPHERS, Simon; HEIGHTON, Martyn. Deconstructing Historic

Vessels. Understanding Historic Vessels V. 2. Greenwich: National Historic Ships.

2007b. 41 p. Disponível em: <

Page 128: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

128

http://www.nationalhistoricships.org.uk/data/files/advisorypapers/deconstructinghistori

cvessels.pdf>. Acesso em: 09 jun. 2015.

KORTUM, Karl. Why do we Save Ships? Association for Preservation

Technology International (APT) Bulletin, Washington D.C., V. 19 - Maritime

Preservation, n. 1, p. 30-33, 1987. Disponível em:

<http://www.jstor.org/stable/1494175>. Acesso em: 14 maio. 2010.

KÜHL, Beatriz Mugayar. Arquitetura do Ferro e Arquitetura Ferroviária em São

Paulo: Reflexões sobre a sua Preservação. São Paulo: Ateliê Editorial, 1998.

KÜHL, Beatriz Mugayar. Preservação do Patrimônio Arquitetônico da

Industrialização: Problemas Teóricos de Restauro. Cotia: Ateliê Editorial, 2008. 325

p.

LA PASTINA FILHO, José. Memorando n.340/2013. Curitiba: Superintendência do

IPHAN no Paraná. 2013. 1 p.

LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia da

pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed; Belo Horizonte: UFMG, 1999.

LEAL, Elisabeth Juchem Machado. Produção Acadêmico-Científica: A Pesquisa e o

Ensaio. Cadernos de ensino. Itajaí, V. 7, n. 9, 2011. 133 p.

LOGAN, Judy. Care and Cleaning of Iron. CCI Notes No. 9/6. Ottawa, ON:

Canadian Conservation Institute. 2007a. 4 p. Disponível em: <http://www.cci-

icc.gc.ca>. Acesso em: 10 jun. 2015.

LOGAN, Judy. Recognizing Active Corrosion. CCI Notes No. 9/1. Ottawa, ON:

Canadian Conservation Institute. 2007b. 4 p. Disponível em: <http://www.cci-

icc.gc.ca>. Acesso em: 10 jun. 2015.

LOGAN, Judy. Storage of Metals. CCI Notes No. 9/2. Ottawa, ON: Canadian

Conservation Institute. 2007c. 6 p. Disponível em: <http://www.cci-icc.gc.ca>. Acesso

em: 10 jun. 2015.

Page 129: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

129

LUSO, Eduarda Cristina Pires; LOURENÇO, Paulo B; ALMEIDA, Manuela Guedes

de. Breve história da teoria da conservação e do restauro. Revista Engenharia

Civil, Minho, n. 20, p. 31-44, 2004.

MARCO, Anita Di; ZEIN, Ruth Verde. A rosa por outro nome tão doce...seria? in:

SEMINÁRIO DO.CO,MO.MO_BRASIL, 7., 2007, Porto Alegre. Anais... Porto

Alegre: DO.CO,MO.MO_BRASIL. 2007. Disponível em:

<http://www.docomomo.org.br/seminario%207%20pdfs/049.pdf> Acesso em 14

maio. 2015.

NATIONAL HISTORIC SHIPS. Conserving Historic Vessels: Understanding

Historic Vessels V. 3. Greenwich: National Historic Ships, 2010. 213 p.

NASSEH, Jorge. Manual de Construção de Barcos. Rio de Janeiro: Booklook,

2000. 400 p.

PRYTULAK, George. Mechanical Removal of Rust from Machined Ferrous

Surfaces. CCI Notes No. 9/8. Ottawa, ON: Canadian Conservation Institute. 2007c.

4 p. Disponível em: <http://www.cci-icc.gc.ca>. Acesso em: 10 jun. 2015.

VASCONCELOS, E. M. Complexidade e pesquisa interdisciplinar: epistemologia

e metodologia operativa. Petrópolis: Vozes, 2002.

VIEIRA FILHO, Dalmo. Patrimônio Naval Brasileiro: Edições Técnicas sobre

Patrimônio Material 2. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,

2012. 107 p.

WEAVER, Martin. Fighting Rust. Association for Preservation Technology

International (APT) Bulletin. Washington D.C., V. 19 - Maritime Preservation, n. 1.

1987. p. 16-18. Disponível em: http: <//www.jstor.org/stable/1494171>. Acesso em:

14 maio. 2010.

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman,

2001.

Page 130: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

130

Page 131: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

131

GLOSSÁRIO4

A vante/ A ré: Diz-se que qualquer coisa é de vante ou está a vante (AV),

quando está na proa; e que é de ré ou está a ré (AR), quando está na popa. Se um

objeto está mais para a proa do que outro, diz-se que está por ante-a-vante (AAV)

dele; se está mais para a popa, diz-se por ante-a-ré (AAR).

Antepara: São as separações verticais que subdividem em compartimentos o

espaço interno do casco, em cada pavimento. As anteparas concorrem também para

manter a forma e aumentar a resistência do casco. Nos navios de aço, as anteparas,

particularmente as transversais, constituem um meio eficiente de proteção em caso

de veio d’água; para isto elas recebem reforços, são tornadas impermeáveis à água,

e chamam-se anteparas estanques.

Balizas: Os braços das cavernas (peças curvas que se fixam na quilha em

direção perpendicular a ela e que servem para dar forma ao casco e sustentar o

chapeamento exterior) acima do bojo chamam-se balizas.

Batelão: batelão, saveiro, alvarenga são embarcações robustas, de ferro ou

de madeira, de fundo chato. São empregadas para desembarque ou transbordo de

carga, nos portos. Podem ser abertas ou cobertas. A designação de alvarenga é

muito empregada na costa nordeste do Brasil.

Boca: É a largura da seção transversal a que se referir; a palavra boca, sem

referência à seção em que foi tomada, significa a maior largura do casco. Meia-boca

é a metade da boca.

Bombordo: é a parte à esquerda, em que o casco é dividido pelo plano

diametral, supondo-se o observador situado no plano diametral e olhando para a

proa.

Bojo: Parte da carena, formada pelo contorno de transição entre a sua parte

quase horizontal, ou fundo do navio, e sua parte quase vertical.

Borboleta: Borboletas ou esquadros são pedaços de chapa, em forma de

esquadro, que servem para ligação de dois perfis, duas peças quaisquer, ou duas

superfícies que fazem ângulo entre si, a fim de manter invariável este ângulo. As

borboletas tomam o nome do local que ocupam.

4 Termos e definições segundo FONSECA, Maurílio Magalhães. Arte Naval. Rio de Janeiro: Serviço

de Documentação da Marinha, 2005. 930 p.

Page 132: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

132

Borda: É o limite superior do costado, que pode terminar na altura do convés

(se recebe balaustrada) ou elevar-se um pouco mais, constituindo a borda-falsa.

Borda falsa: Parapeito do navio no convés, de chapas mais leves que as

outras chapas do costado. Tem por fim proteger o pessoal e o material que

estiverem no convés, evitando que caiam ao mar.

Bordos: São as duas partes simétricas em que o casco é dividido pelo plano

diametral. Boreste (BE) é a parte à direita e bombordo (BB) é a parte à esquerda,

supondo-se o observador situado no plano diametral e olhando para a proa. Em

Portugal se diz estibordo, em vez de boreste.

Boreste: é a parte à direita, em que o casco é dividido pelo plano diametral,

supondo-se o observador situado no plano diametral e olhando para a proa.

Buzina: Peças de forma elíptica de ferro ou outro metal, fixadas na borda,

para servirem de guia aos cabos de amarração dos navios. Onde for possível, as

buzinas são abertas na parte superior a fim de se poder gurnir o cabo pelo seio. As

buzinas situadas no bico de proa do navio e no painel tomam os nomes de buzina

da roda e buzina do painel, respectivamente. Buzina da amarra é o conduto por

onde gurne a amarra do navio do convés ao paiol.

Cabeço: Colunas de ferro, de pequena altura, montadas na maioria das

vezes aos pares e colocadas geralmente junto à amurada ou às balaustradas;

servem para dar-se volta às espias e cabos de reboque. No cais, para amarração

dos navios, os cabeços não são montados aos pares.

Cana do leme: Barra de madeira ou de ferro, que se coloca na cabeça do

leme, pela qual se pode movimentá-lo, e assim governar a embarcação.

Carena ou Obras vivas (OV): Parte do casco abaixo do plano de flutuação

em plena carga, isto é, a parte que fica total ou quase totalmente imersa. Carena é

um termo empregado muitas vezes em lugar de obras vivas, mas significa com mais

propriedade o invólucro do casco nas obras vivas.

Casco: É o corpo do navio sem mastreação, ou aparelhos acessórios, ou

qualquer outro arranjo. Normalmente, o casco não possui uma forma geométrica

definida, e a principal característica de sua forma é ter um plano de simetria (plano

diametral) que se imagina passar pelo eixo da quilha. Da forma adequada do casco

dependem as qualidades náuticas de um navio: Resistência mínima à propulsão,

mobilidade e estabilidade de plataforma.

Page 133: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

133

Cavernas: Peças curvas que se fixam na quilha em direção perpendicular a

ela e que servem para dar forma ao casco e sustentar o chapeamento exterior.

Caverna mestra é a caverna situada na seção mestra. Cavername é o conjunto das

cavernas no casco. O intervalo entre duas cavernas contíguas, medido de centro a

centro, chama-se espaçamento. Os braços das cavernas acima do bojo chamam-se

balizas

Chapas: as chapas podem ser definidas como sendo peças de seção

retangular, de pequena espessura relativamente a seus comprimento e largura. São

fabricadas como os vergalhões e perfis, em prensas especiais chamadas

laminadores.

Chapas xadrez: Apresentam nervuras salientes em uma das suas faces e

podem ser vazadas ou não; muito empregadas em lugares escorregadios como nas

praças de máquinas e de caldeiras, estrados dos porões, degraus de escadas,

plataformas dos canhões e, de modo geral, em locais muito pisados ou que não

podem ser cobertos por madeira, corticina ou tapete.

Chapeamento: É o conjunto de chapas que compõem um revestimento ou

uma subdivisão qualquer do casco dos navios metálicos. As chapas dispostas na

mesma fileira de chapeamento constituem uma fiada de chapas.

Comprimento total: Comprimento de roda a roda ou comprimento total é a

distância medida, paralelamente à linha-d’água projetada, entre os pontos mais

salientes da roda de proa e do cadaste, nas partes imersas ou emersas; o gurupés,

se existe, ou o leme, se eventualmente se estende para ré da popa, ou peças

semelhantes, não são geralmente considerados. Algumas vezes este comprimento

toma uma significação particular, e refere-se ao comprimento máximo do navio, ou

às dimensões necessárias para o conter num cais ou num dique seco e deve então

incluir as peças da estrutura acima referidas. A esta última medida chamaremos o

comprimento total.

Convés: A palavra convés, sem outra referência, designa, de modo geral, o

convés principal; na linguagem de bordo indica a parte do convés principal que é

descoberta, ou coberta por toldo. O primeiro pavimento contínuo de proa a popa,

contando de cima para baixo, que é descoberto em todo ou em parte, toma o nome

de convés principal.

Page 134: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

134

Costado: Invólucro do casco acima da linha-d’água. Em arquitetura naval,

durante a construção do navio, quando ainda não está traçada a linha-d’água,

costado é o revestimento do casco acima do bojo.

Cunho: Peça de metal, em forma de bigorna, que se fixa nas amuradas do

navio, nos turcos, ou nos lugares por onde possam passar os cabos de laborar, para

dar-se volta neles.

Embarcação: Embarcação é uma construção feita de madeira, concreto,

ferro, aço ou da combinação desses e outros materiais, que flutua e é destinada a

transportar pela água pessoas ou coisas. Em nossa Marinha, o termo embarcação é

particularmente usado para designar qualquer das embarcações pequenas

transportáveis a bordo dos navios, e também as empregadas pelos

estabelecimentos navais, ou particulares, para seus serviços de porto.

Escotilhas: Aberturas geralmente retangulares, feitas no convés e nas

cobertas, para passagem de ar e luz, pessoal e carga.

Fundo do navio: Parte inferior do casco, desde a quilha até o bojo; quando o

fundo é chato, diz-se que o navio tem fundo de prato.

Juntas: Chamam-se juntas as ligações das inúmeras partes que constituem a

estrutura do casco.

Leme: Peça utilizada no governo da embarcação e as suas partes principais

são madre, cabeça e porta do leme. É a porta que oferece resistência à água;

cabeça é a parte de cima, onde emecha a cana do leme; madre é a parte mais a

vante, onde ficam as governaduras.

Longarina: Peças colocadas de proa a popa, na parte interna das cavernas,

ligando-as entre si.

Meia-nau: Parte do casco compreendida entre a proa e a popa. As palavras

proa, popa e meia-nau não definem uma parte determinada do casco, e sim uma

região cujo tamanho é indefinido. Em seu significado original, o termo meia-nau

referia-se à parte do casco próxima do plano diametral, isto é, equidistante dos lados

do navio.

Navio: Navio, nau, nave, designam, em geral, as embarcações de grande

porte; nau e nave são palavras antiquadas, hoje empregadas apenas no sentido

figurado; vaso de guerra e belonave significam navio de guerra, mas são também

pouco usados.

Page 135: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

135

Navios mercantes: São navios que destinam-se ao transporte de

passageiros e mercadorias.

Perfil laminado: Os perfis são peças de metal laminadas em formas

especiais. São classificados segundo a forma de sua seção transversal Num perfil

"T", "Z", ou numa seção preparada, chama-se alma à parte por onde passa o eixo ou

o plano de simetria do perfil, e abas às outras partes, que geralmente são de

menores dimensões. Numa cantoneira, os dois lados tomam o nome de abas.

Plano de balizas: Interseções do casco por planos verticais transversais. Elas

aparecem em verdadeira grandeza no plano das balizas. Para isto, a linha de base é

dividida em 10, 20 ou 40 partes iguais, conforme o tamanho do navio e a precisão

desejada, e por cada divisão é traçada uma ordenada vertical ou baliza. Geralmente

nos dois intervalos de vante e nos dois de ré traçam-se também balizas

intermediárias. O plano das balizas mostra o corpo de proa (metade de vante do

navio) à direita da LC e o corpo de popa (metade de ré do navio) à esquerda.

Plano de linha d’água: Interseções do casco por planos horizontais. Elas

aparecem em verdadeira grandeza no plano das linhas d’água e são usualmente

denominadas de acordo com sua altura acima do plano da base: LA de 2 pés, de 8

pés etc. A linha da base moldada é a LA zero. O espaçamento destas linhas

depende do calado do navio. Note-se que as linhas d’água que aparecem no

desenho de linhas são usadas no projeto e na construção do navio, mas em

algumas delas o navio evidentemente não pode flutuar. As linhas em que o navio

flutua chamam-se linhas de flutuação, e muitas vezes não são paralelas às linhas

d’água do desenho de linhas, devido à distribuição de pesos. A linha de flutuação

correspondente ao calado para o qual o navio é desenhado chama-se linha-d’água

projetada; em geral os navios são construídos para terem a quilha paralela à linha-

d’água projetada.

Plano de perfil: são as interseções do casco por planos verticais

longitudinais, ou planos do alto. Elas aparecem em verdadeira grandeza no plano

das linhas do alto e são denominadas de acordo com seu afastamento do plano

diametral. Há geralmente quatro destas linhas espaçadas igualmente, a partir do

plano diametral, que determina a linha do zero.

Pontal: pontal é a distância vertical medida sobre o plano diametral e a meia-

nau, entre a linha reta do vau do convés principal e a linha da base moldada. O

pontal pode ainda ser referido a outro pavimento, mas neste caso toma o nome de

Page 136: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

136

acordo com o local medido: pontal da primeira coberta, pontal da segunda coberta

etc.

Popa: É a extremidade posterior do navio. Quase sempre, tem a forma

exterior adequada para facilitar a passagem dos filetes líquidos que vão encher o

vazio produzido pelo navio em seu movimento, a fim de tornar mais eficiente a ação

do leme e do hélice.

Porão: Num navio mercante, porão é também o compartimento estanque

onde se acondiciona a carga; estes porões são numerados seguidamente de vante

para ré, e são forrados por tábuas que se chamam sarretas (nos lados) e cobros (no

fundo).

Proa: É a extremidade anterior do navio no sentido de sua marcha normal.

Quase sempre tem a forma exterior adequada para mais facilmente fender o mar.

Propulsão: Sistema que promove o movimento do navio ou embarcação.

Quebra-mar: Chapa ou tábua, vertical ou um pouco inclinada para vante,

colocada sobre o convés, na proa de alguns navios, a fim de diminuir a violência das

águas que possam cair ali e também para dirigir o escoamento destas águas até os

embornais.

Quilha: Peça disposta em todo o comprimento do casco no plano diametral e

na parte mais baixa do navio. Constitui a “espinha dorsal” e é a parte mais

importante do navio, qualquer que seja o seu tipo; nas docagens e nos encalhes, por

exemplo, é a quilha que suporta os maiores esforços.

Rebite: Pequenos cilindros de metal alojados em orifícios feitos nas partes a

ligar e que tomam o nome de rebites, um rebite é constituído por cabeça, corpo e

ponta. A cabeça é feita antes da cravação, e a ponta é formada no processo de

cravação, não sendo ambas necessariamente da mesma forma.

Roda de proa: Peça robusta que, em prolongamento da quilha, na direção

vertical ou quase vertical, forma o extremo do navio a vante.

Talhamar: Nos navios de madeira, é uma combinação de várias peças de

madeira, formando um corpo que sobressai da parte superior da roda de proa; serve

geralmente para fornecer o apoio necessário à fixação do gurupés e principalmente

para dar um aspecto elegante à proa do navio. Nos navios de ferro ou aço, o

talhamar faz parte da roda de proa, da qual não é mais do que um prolongamento.

Possuem talhamar a maior parte dos veleiros e somente alguns navios de propulsão

a hélice. O nome talhamar também pode ser usado para significar a aresta externa

Page 137: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

137

da proa do navio ou a peça que constitui essa aresta, colocada externamente à roda

de proa.

Verdugo: Peça reforçada, posta na cinta de alguns navios pequenos, como

os rebocadores, ou em embarcações pequenas, para proteger o costado durante as

manobras de atracação.

Page 138: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

138

Page 139: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

139

APÊNDICES

APÊNDICE A - Relatório Fotográfico da Situação

Page 140: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

140

Page 141: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

PARTICIPANTES:

Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

Foto 02: Detalhe da localização regional da cidade de Porto Rico/PR.

Foto 01: Localização Regional da Cidade de Porto Rico/PR.

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Situação

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

VISTORIA

TEMPO: Bom

IPHAN / SC - Florianópolis

IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

OBJETIVO:

Página 1 de 3

Page 142: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

PARTICIPANTES:

Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Situação

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

VISTORIA

TEMPO: Bom

IPHAN / SC - Florianópolis

IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

OBJETIVO:

Foto 03: Situação das embarcações na cidade de Porto Rico/PR.

Foto 04: Detalhe da situação das embarcações na cidade de Porto Rico/PR.

Página 2 de 3

Page 143: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

PARTICIPANTES:

Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Situação

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

VISTORIA

TEMPO: Bom

IPHAN / SC - Florianópolis

IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

OBJETIVO:

AUTORIA DO REL.: Visto:Eng. Mário A. R. Pires

Foto 07: Vista Geral da Cidade de Porto Rico/PR.

Fotos 05 e 06: Vistas panorâmicas da situação das embarcações na cidade de Porto Rico/PR.

Página 3 de 3

Page 144: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas
Page 145: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

145

APÊNDICE B - Relatório Fotográfico da Embarcação Porto Rico I

Page 146: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

146

Page 147: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

Embarcação I - Planos das Linhas Principais

Embarcação I - Levantamento Preliminar

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Página 1 de 19

Page 148: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Foto 01: Proa Emb. Porto Rico I

Fotos 02 e 03: Proa Emb. Porto Rico I - bochechas BE e BB

Página 2 de 19

Page 149: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Foto 04: Costado BE - à Vante

Fotos 05 e 06: Costado BE à Vante

Página 3 de 19

Page 150: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Fotos 07 e 08: Costado BE à Ré

Fotos 09 e 10: Costado BE - à Ré

Página 4 de 19

Page 151: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Foto 11: Costado BB - à Vante

Foto 12: Costado BB à Meia Nau

Página 5 de 19

Page 152: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Foto 13: Costado BB à Ré

Foto 14: Costado BB - à Ré

Página 6 de 19

Page 153: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Foto 15: Popa

Foto 16: Alheta de BE

Página 7 de 19

Page 154: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Foto 17: Alheta de BB

Fotos 18 e 19: Detalhes Leme

Página 8 de 19

Page 155: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Foto 20: Convés - à Vante

Foto 21: Convés - Escotilha do Compartimento de Proa

Página 9 de 19

Page 156: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Foto 22: Convés - Porão de Carga de Vante - vista à Vante

Foto 23: Convés - Porão de Carga de Vante - vista à Ré

Página 10 de 19

Page 157: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Foto 24: Convés - Porão de Carga de Ré - vista à Vante

Foto 25: Convés - Porão de Carga de Ré - vista à Ré

Página 11 de 19

Page 158: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Foto 26: Convés - Meia Nau - Antepara entre os porões de Carga de vante e de ré

Fotos 27 e 28: Convés - Compartimento de Ré

Página 12 de 19

Page 159: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Foto 29: Convés - Escotilha do compartimento de Ré.

Foto 30: Convés - Vista longitudinal à partir da popa em direção à Vante

Página 13 de 19

Page 160: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Foto 33: Convés - Compartimento de Vante - Acesso e Antepara

Fotos 31 e 32: Compartimento de Vante

Página 14 de 19

Page 161: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Fotos 34 e 35: Porão de Carga de Vante

Fotos 36, 37 e 38: Porão de Carga de Vante

Página 15 de 19

Page 162: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Fotos 39 e 40: Convés - Porão de Carga de Ré

Fotos 41 e 42: Porão de Carga de Ré

Página 16 de 19

Page 163: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Foto 43: Antepara de Ré do Porão de Carga de Ré

Fotos 44, 45, 46 e 47: Detalhes do Compartimento de Popa.

Página 17 de 19

Page 164: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

Foto 48: Detalhe do Compartimento de Popa

Fotos 49 e 50: Detalhe vestígios de madeira convés

Página 18 de 19

Page 165: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico I

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO: Bom

AUTORIA DO REL.: Visto:Eng. Mário A. R. Pires

Fotos 51 e 52: Detalhe vestígios de madeira convés e verdugo

Página 19 de 19

Page 166: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas
Page 167: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

167

APÊNDICE C - Relatório Fotográfico da Embarcação Porto Rico II

Page 168: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

168

Page 169: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

Embarcação I - Planos Principais

Embarcação I - Levantamento Preliminar

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Página 1 de 20

Page 170: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Foto 01: Proa Emb. Porto Rico I

Fotos 02 e 03: Proa Emb. Porto Rico I - bochechas BE e BB

Página 2 de 20

Page 171: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Foto 04: Costado BE - à Vante

Foto 05: Costado BE à Meia Nau

Página 3 de 20

Page 172: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Foto 06: Costado BE à Ré

Fotos 07 e 08: Costado BE - à Ré e à Vante

Página 4 de 20

Page 173: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Foto 12: Costado BB à Meia Nau

Foto 11: Costado BB - à Vante

Página 5 de 20

Page 174: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Foto 13: Costado BB à Ré

Foto 13: Costado BE à Ré

Página 6 de 20

Page 175: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Foto 15: Popa

Foto 16: Alheta de BE

Página 7 de 20

Page 176: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Foto 20: Convés - Detalhe da Proa - à Vante

Fotos 18 e 19: Detalhes Leme

Página 8 de 20

Page 177: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Fotos 21 e 22: Convés - Detalhes da Proa - à Vante

Fotos 23 e 24: Convés - Detalhes do Acesso ao Compartimento de Proa

Página 9 de 20

Page 178: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Foto 25: Convés - Acesso do Compartimento de Proa

Fotos 26:e 27: Convés - Porão de Carga - à Vante

Página 10 de 20

Page 179: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Foto 29: Convés -Vista geral - Acesso ao compartimento de Popa - à Vante

Foto 28: Convés - Porão de Carga - à Ré

Página 11 de 20

Page 180: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Foto 30: Convés -Acesso ao Compartimento de Ré

Foto 31: Convés - Popa - à Ré

Página 12 de 20

Page 181: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Fotos 32 e 33 : Compartimento de Proa à Vante

Fotos 34, 35 e 36: Detalhes do Compartimento de Proa

Página 13 de 20

Page 182: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Fotos 37, 38 e 39: Detalhes do Compartimento de Proa

Fotos 40 e 41: Detalhes Antepara do Compartimento de Proa

Página 14 de 20

Page 183: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Fotos 42 e 43: Porão de Carga - Vistas à Vante e à Ré

Foto 44: Porão de Carga - Meia Nau, à Vante

Página 15 de 20

Page 184: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Foto 45: Porão de Carga - Antepara de Vante

Fotos 46 e 47: Porão de Carga - Costados BE e BB

Página 16 de 20

Page 185: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Foto 48: Porão de Carga - Vista a Partir da Antepara de Vante à Ré

Foto 49: Porão de Carga - Antepara de Ré

Página 17 de 20

Page 186: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Foto 50: Acesso ao Compartimento de Ré

Fotos 51 e 52: Detalhes Antepara do Compartimento de Ré - BB e BE

Página 18 de 20

Page 187: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

Fotos 53, 54, 55 e 56: Detalhes da estrutura no Compartimento de Ré

Fotos 57, e 58: Detalhes da estrutura no Compartimento de Ré

Página 19 de 20

Page 188: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

ATIVIDADE:

DATA: 18 a 20 / 11 / 2013

COND. CLIMA:

RELATÓRIO FOTOGRÁFICO: Embarcação Porto Rico II

OBJETIVO: Vistoria em duas embarcações localizadas na cidade de Porto Rico,

Paraná, para elaboração de diretrizes de conservação.

PARTICIPANTES:IPHAN: eng. Mário A. R. Pires, Arq. José Lapastina Filho

R E L A T Ó R I O D E V I S T O R I A Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NÚMERO RELATÓRIO

IPHAN / SC - Florianópolis

VISTORIA

TEMPO:

AUTORIA DO REL.: Visto:

Fotos 59, 60 e 61: Detalhes da estrutura no Compartimento de Ré

Eng. Mário A. R. Pires

Fotos 62, 63, 64 e 65: Detalhes da estrutura no Compartimento de Ré

Página 20 de 20

Page 189: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

189

APÊNDICE D - Levantamento Cadastral: Planos de Linhas Embarcação I

Page 190: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

190

Page 191: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas
Page 192: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

193

APÊNDICE E - Levantamento Cadastral: Elevações Embarcação I

Page 193: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

194

Page 194: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas
Page 195: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

197

APÊNDICE F - Levantamento Cadastral: Planos de Linhas Embarcação II

Page 196: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

198

Page 197: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas
Page 198: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

201

APÊNDICE G - Levantamento Cadastral: Elevações Embarcação II

Page 199: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

202

Page 200: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas
Page 201: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

205

ANEXOS

ANEXO A - Memorando 285/09 de 07 de outubro de 2009, Castro (2009)

Page 202: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

206

Page 203: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Ministério da Cultura

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL

Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

MEMORANDO: Proteção/DEPAM/nº 285/09 Rio de Janeiro, 7 de outubro de 2009

Para: Il.ma Srª. Coordenadora de Proteção, Jurema Arnaut,

De: Adler Homero Fonseca de Castro

Assunto: Informa sobre material arqueológico

Prezada Srª. Coordenadora de Proteção

Segunda feira pp, dia 5, tivemos uma rápida reunião com a técnica em arqueologia Eleni-

ta H. Rufino, da Regional do IPHAN no Paraná. O assunto da nossa conversa foi o achado

fortuito de duas embarcações no Paraná, em cujo interior havia objetos de uso militar (cartu-

chos, carregadores etc). Já tínhamos escrito um memorando sobre esse assunto (250/09), mas

com a ajuda dos documentos gentilmente cedidos pela referida arqueóloga, que estão em anexo

ao presente memorando, junto com um contato que fizemos junto ao Capitão-Tenente Carlos

André Lopes da Silva, da Diretoria de Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, po-

demos tecer maiores considerações, o que fazemos por meio deste documento, que solicitamos

seja encaminhado para a regional do Paraná e, em cópia, para o Centro de Arqueologia do

DEPAM.

Tendo em vista que os afundamentos ocorreram em área limítrofe dos estados, cremos

que as regionais de São Paulo e do Mato Grosso do Sul devem ser mantidas igualmente infor-

madas sobre o andamento desse assunto, especialmente considerando que essas regionais po-

derão vir a ser chamadas a assumir a condução dos trabalhos pelo IPHAN, uma vez definida a

exata jurisdição sobre a qual o sítio arqueológico se encontra.

Page 204: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

2

Quanto a conversa com a arqueóloga Rufino, foi-nos solicitado um pronunciamento so-

bre os itens constantes do ofício 422/DelPEpitácio-MB, de 30 de setembro pp (em anexo).

Estes itens, resumidamente, seriam os seguintes:

1 – Os objetos recolhidos deixaram de ser bens culturais subaquáticos por terem sido

removidos de seu contexto?

2 – Os bens são considerados como históricos? Por quê?

3 – Quais seriam a época e circunstâncias do naufrágio?

4 – Os bens são de interesse do IPHAN? Caso afirmativo, para onde mandar os barcos

e quem custeará a remoção?

5 – As condições de acondicionamento do material recolhido são adequadas?

6 – Como o fiel depositário deve proceder para impedir a degradação dos objetos remo-

vido?

Não temos condição de fazer, no momento, uma vistoria no local, o que inviabiliza a

resposta ao item 5 e prejudica um pouco a do item 6. Com relação às outras dúvidas levanta-

das, já podemos adiantar algumas considerações, a saber:

1 – Os objetos recolhidos deixaram de ser bens culturais subaquáticos por terem sido

removidos de seu contexto?

A resposta a este ponto é dupla. Inicialmente, há a questão legal, que diz que coisas de

natureza arqueológica, irregularmente removidos de seu contexto, subaquático ou não, mantém

a sua característica fundamental, de serem, antes de tudo, itens culturais protegidos pela legis-

lação. Além disso, os objetos não deixaram de ser bens culturais por terem sido removidos de

seu contexto, muito pelo contrário, passaram a ter maior significado cultural do que antes, pois

com seu recolhimento, foram conhecidos e, com isso, há a possibilidade de se permite resgatar

um pouco mais da história nacional.

Page 205: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

3

Isso não quer dizer, contudo, que deve-se dar aval à ação realizada, pois a mesma foi

feita, até onde se sabe, sem o uso de técnicas de pesquisa arqueológicas adequadas. Estamos

certo que um grande manancial de informações potenciais se perdeu com a remoção não contro-

lada dos batelões.

2 – Os bens são considerados como históricos?

Os objetos têm, indubitavelmente, valor cultural. E ainda mais, este valor é de interesse

nacional. Nos termos da Constituição Federal, são bens culturais, aqueles “portadores de refe-

rência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasi-

leira”. Uma das formas de definir se um bem é histórico, portanto, é se ele se relaciona com a

memória (que é um dos campos de trabalho mais privilegiados pela história), dos grupos for-

madores da sociedade brasileira. No caso dos batelões, podemos afirmar, com elevado grau de

certeza, que mesmos estão associados a um movimento político de repercussão nacional: a

Revolução de 1924, sendo um dos poucos registros materiais desse evento histórico que so-

breviveram.

Desta forma, cremos não haver dúvida, não só quanto ao fato dos bens terem valor cul-

tural, como também a alta relevância desses para a história nacional.

3 – Quais seriam a época e circunstâncias do naufrágio?

Para se ter uma certeza maior sobre a resposta referente às circunstâncias do naufrágio,

seria necessário a realização de pesquisas maiores, que não temos condições de concluir no

momento. Contudo, o tipo de material recolhido permite datar o incidente como sendo poste-

rior à 1922 e anterior à década de 1960. A quantidade de batelões encontrados permite, por sua

vez, eliminar a hipótese do material ser resultante de sinistro (acidente) naval. Como o material

encontrado é composto de restos humanos (ossos) e material bélico, podemos afirmar, com

elevado grau de certeza, que o incidente que resultou no afundamento do material foi um com-

bate.

Page 206: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

4

Considerando o que foi colocado acima, bem como a história militar do País, existiriam

apenas dois incidentes que poderiam explicar a presença do material dos afundamentos: o des-

locamento dos revoltosos Paulistas de 1924 em direção ao Paraná ou um combate da revolução

de 1932. Sabe-se, contudo, que essa região foi relativamente pacífica durante os incidentes de

1932, enquanto a maior parte das operações militares do governo, em 1924, se deram no eixo

Catanuvas-Guaira, que englobaria a área onde ocorreram os naufrágios. Isso nos leva a conside-

rar que os batelões tenham sido afundados em combates durante este último incidente históri-

co.

4 – Os bens são de interesse do IPHAN?

Quanto a essa pergunta, cremos que ela foi mal colocada. O IPHAN não tem o costume

de fazer a administração direta de bens culturais, especialmente depois da criação do Instituto

Brasileiro de Museus-IBRAM. A função básica do Órgão é garantir a preservação de bens de

interesse cultural nacional sobre proteção legal especial, ou seja, aqueles os que estão sob a

tutela do decreto-lei 25/37 e das leis 3.924/61 e 4.845/64.

Dessa forma, não cabendo ao IPHAN receber os objetos, não se pode dizer que o Insti-

tuto tenha, a priori, “interesse” no material arqueológico, pelo menos em termos de os receber

sob sua guarda. O que o Instituto deve fazer, junto com a comunidade interessada neles, é ga-

rantir sua preservação a longo prazo, repetimos. Contudo, cremos ser conveniente apontar

que, em termos da legislação de arqueologia subaquática vigente (lei n°10.166, de 27 de dezem-

bro de 2000), o responsável pelo destino final de qualquer material de interesse cultural recu-

perado em sítios submersos é a Marinha Brasileira, a qual cabe, ouvido o IPHAN, decidir o

que será feito com objetos recolhidos debaixo d’água, sejam eles resultantes de pesquisas ar-

queológicas ou de achados fortuitos.

5 – As condições de acondicionamento do material recolhido são adequadas?

A resposta a essa questão está prejudicada, pois não temos ciência de quais seriam as

condições de acondicionamento existentes.

Page 207: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

5

6 – Como o fiel depositário deve proceder para impedir a degradação dos objetos remo-

vido?

O fiel depositário tem a liberdade – e o dever – de tomar as medidas necessárias para

garantir a preservação dos objetos a longo prazo. Em nossa opinião, se não tiver condições de

o fazer, deve abrir mão da posse dos objetos, já que a propriedade desses é da União, nos ter-

mos do artigo 20 da Constituição Federal.

Quanto aos meios e processos necessários à conservação do material, não temos condi-

ções de tecer maiores considerações, pois isso dependeria de uma análise de cada um dos obje-

tos, bem como de suas condições de acondicionamento.

Na esperança de que essas observações tenham sido úteis, subscrevemo-nos,

Respeitosamente,

Adler Homero Fonseca de Castro Historiador - Ass. Téc. Pesquisa III.

Matr. 223.784

Page 208: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas
Page 209: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

213

ANEXO B - Laudo 03/2010 de 06 de julho de 2010, Castro (2010c)

Page 210: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

214

Page 211: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Ministério da Cultura

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL

Departamento de Patrimônio Material

LAUDO 03/2010 6 de julho de 2010

Tendo em vista a portaria 95/EMA, do Estado Maior da Armada, datada de 29 de

abril do corrente ano, instituindo a comissão de peritos para “avaliação do valor artístico, do

interesse histórico ou arqueológico das coisas e bens, sob domínio da União, resgatados do

leito do Rio Paraguai, sem autoridade Marítima”, no município de Porto rico, Paraná, estive-

mos hoje nas instalações do Hotel Flutuante “Cabanas”, para realizar uma vistoria nas citadas

coisas e bens. Da vistoria participaram os Srs. Capitão-Tenente Ricardo dos Santos Guima-

rães, presidente da comissão de peritos, capitão-tenente Patrícia Miquilin Gomes e Primeiro-

Tenente Daniel Martins Gusmão, membros indicados pela Marinha do Brasil. Pelo Instituto

do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, participaram o Sr. José Lapastina Filho, Supe-

rintende do IPHAN no Estado do Paraná e o abaixo assinado.

Sobre o laudo, fazemos as seguintes ressalvas ao texto que se segue: como não temos

formação em arqueologia ou museologia, não temos condições de fazer uma análise dos fatores

pertinentes à estas formações profissionais, de forma que o presente texto não pode ser consi-

derado como um relato relativamente completo da situação dos objetos que são o tema da por-

Page 212: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

2

taria do Estado Maior da Armada. Também não temos condições de falar sobre as condições de

acondicionamento e segurança dos objetos de menor porte examinados, pois fomos informados

pelo fiel depositário dos mesmos, Sr. Ismael Alves Esmanhoto, que os objetos se encontravam

guardados em sua residência, situada na Av. Manoel Ribas, 47, S. Isabel do Ivaí, apenas tendo

sido levadas para Porto Rico apenas para exame da Comissão.

A situação dos objetos individuais poderá ser observada nas fotos em anexo ao pre-

sente laudo, organizadas de acordo com as relações contidas nas páginas 13 e 18 do IA.

Com isso em mente, nossas considerações sobre os objetos são as seguintes:

Localização:

Como foi colocado acima, as peças, no momento da inspeção, se encontravam no mu-

nicípio de Porto Rico, os objetos móveis no hotel flutuante “Cabanas” (foto 1) e os dois bate-

lões estão na avenida que margeia o Rio Paraná, ambos na cidade de Porto Rico, Paraná (foto

2). Os batelões, segundo nos informou o Sr. Ismael Alves Esmanhoto, estão em um terreno

baldio, de propriedade da Pousada Colombo, a menos de 40 metros do Rio Paraná. Não há

cobertura ou proteção para as embarcações, estas tendo livre acesso do público. A situação de

guarda dos objetos é provisória, portanto.

Descrição do conjunto.

Bens móveis:

Segundo nos foi informado, a maior parte dos objetos foi recolhida na embarcação de

menor porte, em trabalho de salvado executado pelo Sr. Ismael Alves Esmanhoto. Ainda se-

gundo nos foi informado, a parcela restante dos achados teria sido recolhido previamente, pelo

Sr. Gilmar Fontana de Veiga, e só depois de algum tempo repassados à guarda do Sr. Esmanho-

to. Os objetos inicialmente recolhidos sendo os da relação constante na página 13 dos autos do

inquérito administrativo (IA) 1/2009, da delegacia de presidente Epitácio. Para efeitos do pre-

sente laudo, tais objetos foram classificados como pertencentes à dois grupos, o primeiro, da

relação “A” do citado IA. O segundo grupo de objetos, salvos pelo Sr. Esmanhoto sendo os

constantes da relação que aparece nas páginas 18 e 19 do inquérito, que neste laudo será cha-

mada de relação “B”.

Quantitativamente, o grupo mais importante de objetos de menor porte, que estão

sob a guarda do referido Sr. Ismael Esmanhoto, é de origem militar, compondo-se de projéteis e

cartuchos deflagrados, baionetas, peças de correame, etc. Há um segundo subconjunto de bens

móveis, que podem ser associados à tripulação da embarcação compostos por peças de uso

civil, como caldeirões, talheres e ferramentas. Um terceiro grupo contém elementos que não

temos como associar ao sítio arqueológico, especialmente considerando a situação de descon-

textualização dos objetos. Estes elementos seriam um cravo de ferrovia ou uma coalheira. Fi-

Page 213: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

3

nalmente, há outros objetos que são oriundos da própria embarcação, removidos quando do

trabalho de salvamento ou após o mesmo, tais como cabeços, pedaços de madeira, etc. (ver

fotografias das relações “A” e “B”, em anexo).

Embarcações.

Os outros dois objetos vistoriados são os batelões, descritos na página 196 do IA,

acrescentando-se dados descritivos do que foi constatado na vistoria:

Embarcação “A” tem 16 metros de comprimento, e 17,93 metros de arqueação bruta

(sic), 3,3 metros de boca e um pontal de 1,45 metros, de acordo com o inquérito. O batelão,

que originalmente deveria se destinar ao transporte de granéis sólidos, teria sido a recuperada

pelo Sr. Ismael Esmanhoto e na qual estaria a maior quantidade do material arqueológico hoje

sob sua guarda. É um batelão de fundo chato, costado de chapas de ferro, soldadas, mas com

alguns reforços rebitados, com quatro porões separados por três anteparas e acessados por

escotilhas, as duas centrais para carga. No porão dianteiro tem uma escotilha e no de ré duas

(foto 2). Não tem quilha, mas na proa há um talhamar reforçado (foto 3). A construção foi

feita sobre cavernas de metal, seis no compartimento a vante (AV), dezenove no central e sete

a ré (AR) (foto 4). Tem quatro cabeços duplos, dois AV e dois AR. AV há uma buzina dupla

de ferro fundido para passagem de cabos (foto 2). A chapa do barco é de cerca de 5 mm de

espessura. Não têm propulsão própria, mas tem um leme, sem a cana (foto 2). Percebe-se no

exame do barco que o mesmo teve um convés de madeira, restando apenas vestígios do mesmo

(foto 5). Na popa da embarcação há uns poucos furos que foram identificados como sendo de

projéteis de armas portáteis, todos situados a bombordo. A boreste e na popa há furos na cha-

pa do costado, de dimensões reduzidas (cerca de 100 cm2 no máximo), causados por corrosão

(foto 4). Na bordada embarcação há chapas e parafusos metálicos que indicam que a mesma

recebia uma prancha de madeira para servir de amortecedor (foto 5). O costado a bombordo se

encontra amassado ao longo de todo o seu comprimento e os sinais de corrosão são mais visí-

veis a boreste. O barco foi recoberto por uma grossa camada de pintura, aparentemente a base

de breu, que se encontra muito rugosa e descascando com facilidade (foto 6), mas a base metá-

lica por baixo desta tinta se encontra em estado razoável. De forma muito vaga é possível ver,

em dois locais a bombordo, sinais de letras formando o que parece ser o nome “Pulinki” ou

“Pulinha”.

Embarcação “B” tem 18,75 metros de comprimento, e 24,41 metros de arqueação bru-

ta (sic), 3,65 metros de boca e um pontal de 1,25 metros, de acordo com o inquérito, mas cre-

mos que tenha havido um erro na transcrição do documento, já que o barco “A” tem um pontal

claramente maior que o “B”, perto da altura dos olhos do abaixo assinado, 1,70 m. Segundo nos

foi informado pelo Sr. Esmanhoto, o peso aproximado da embarcação seria de sete toneladas.

Também se trata de um barco de transporte de granéis sólidos, tendo sido recuperado em data

Page 214: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

4

não especificada e posteriormente comprado pelo Sr. Ismael Esmanhoto, sem ter associado a

ele objetos arqueológicos que pudessem ser contextualizados, segundo nos foi informado. É um

batelão de fundo chato, costado de chapas de ferro, soldadas, com três porões separados por

duas anteparas e acessados por escotilhas, a central para carga. No porão dianteiro tem uma

escotilha e no de ré outra (foto 2). Não tem quilha, mas na proa há um talhamar reforçado (fo-

to 7). A construção foi feita sobre cavernas de metal, seis no compartimento a vante (AV),

dezenove no central e sete a ré (AR) (foto 8). Tem dois cabeços duplos, um AV e outro AR.

AV tem uma buzina de ferro fundido para passagem de cabos, tendo se perdido a buzina de

boreste (foto 8). As chapas do barco são de cerca de 5-7 mm mm de espessura. Não têm pro-

pulsão própria, mas tem um leme, sem a cana (foto 2). O convés é de chapa metálica, com piso

antiderrapante. Na popa da embarcação há uns poucos furos que foram identificados como

sendo de projéteis de armas portáteis, todos situados a bombordo (foto 9). Na borda da em-

barcação há um reforço de chapas metálica para servir de amortecedor (foto 7). O barco foi

recoberto por uma grossa camada de pintura, aparentemente a base de breu, que se encontra

muito rugosa e descascando com facilidade.

Estado de conservação:

Os objetos menores apresentam variados estados de conservação, alguns indo de uma

situação quase intacta outros mostrando fortes sinais de deterioração e corrosão por imersão

em líquidos. A maior parte dos objetos, contudo, parece estar com sua situação estabilizada,

aparentando não necessitar de medidas de conservação imediatas.

As condições de acondicionamento e segurança não podem ser comentadas, pois co-

mo foi dito acima, os objetos encontram-se guardados na residência do fiel depositário, Sr. Es-

manhoto. Observamos apenas que muitos dos itens menores estavam embalados em plástico, o

que não consideramos ser adequado, devido a problemas de condensação. Mesmo sabendo dos

problemas da acidez, foi solicitado que os mesmos fossem embrulhados em papel para mini-

mizar a questão da umidade, que consideramos ser mais prejudicial aos objetos, pelo menos de

forma imediata.

Os batelões, pelo exame feito, apresentam-se bastante oxidados e com sinais de mani-

pulação inadequada, com marcas de abrasão e até um rombo por impacto recente. A embarca-

ção “B” também apresenta diversos amassados, que foram causados pelo próprio processo de

içamento do fundo, usando flutuadores improvisados. Em nossa opinião, em um exame imedia-

to, os barcos parecem estar estabilizados, mas testemunhos de pessoas que acompanharam o

histórico dos mesmos em Porto Rico/São José do Ivaí é no sentido de que sofreram uma piora

em seu estado de conservação, por ferrugem.

Page 215: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

5

Segurança:

Como foi dito acima, não temos como comentar a situação de segurança dos objetos

menores. Os barcos, por sua natureza, não sofrem risco maior de extravio, mas estão sob aces-

so direto da população local e já há sinais de vandalismo (grafitos) nos mesmos. Considerando

o tempo de exposição dos objetos ao público, o problema do vandalismo pareceu ser modera-

do.

Conclusão:

Do observado no local consideramos que a situação dos objetos não é problemática,

não havendo sinais de que os objetos corram risco de destruição, pelo menos em curto prazo.

Este é o laudo,

Adler Homero Fonseca de Castro Historiador - Ass. Téc. Pesquisa III.

Matr. 223.784

Page 216: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

6

Caderno de imagens:

Peças que aparentemente não constam da lista “A” ou “B”.

Foto 1 – hotel flutuante Cabanas, onde examinamos os bens móveis.

Foto 2 – terreno nas proximidades do rio, onde se encontram os batelões.

Page 217: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

7

Foto 3 – base do talhamar do batelhão A. Observar os amassados a boreste, as pequenas marcas claras no talha-

mar, causadas por manuseio incorreto do objeto. Além disso, é possível ver a grossa camada de co-bertura da chapa metálica, pintura aparentemente a base de breu, que se encontra descascando.

Foto 4 – cavernas internas do batelão “ A”. É possível ver a construção das chapas, com o uso de rebites e solda,

bem como a presença de alguns reforços metálicos rebitados. Na parte central da foto, correspondente ao bordo de boreste, é possível ver um orifício grande na chapa do barco, causado pela corrosão. Também são visíveis furos menores, igualmente resultantes de corrosão. No interior do costado é possível ver a mesma massa de cor preta, que recobre o exterior da embarcação, também se despren-dendo da chapa metálica.

Page 218: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

8

Foto 5 – detalhe do bordo e do convés da embarcação “ A”, mostrando as áreas onde houve perda de peças de

madeira.

Foto 6 – detalhe mostrando a cobertura de tinta que está se desprendendo com facilidade. Os três orifícios visí-

veis são de projéteis de armas de fogo portáteis.

Page 219: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

9

Foto 7 – proa da embarcação “ A”. A esquerda, parte da embarcação “ B”

Foto 8 – Visão geral do batelão “ B”

Page 220: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

10

Foto 9 – Primeiro-Tenente Daniel Martins Gusmão aponta local de um dos furos de bala na embarcação “ B”,

bem abaixo da linha de flutuação da mesma.

Page 221: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

225

ANEXO C - Memorando 239/10 de 05 de agosto de 2010, Castro (2010b)

Page 222: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

226

Page 223: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Ministério da Cultura

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL

Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

MEMORANDO: Proteção/DEPAM/nº 239/10 Rio de Janeiro, 5 de agosto de 2010

Para: Il.ma Srª. Coordenadora de Proteção, Jurema Arnaut,

De: Adler Homero Fonseca de Castro

Assunto: Encaminha laudo de vistoria 03/2010 e parecer 10/2010, sobre barcos encontrados no Rio Paraná.

Prezada Srª. Coordenadora de Proteção

Em abril pp, a portaria 95/EMA, do Estado Maior da Armada, datada de 29 daquele

mês, instituiu a comissão de peritos para “avaliação do valor artístico, do interesse histórico ou

arqueológico das coisas e bens, sob domínio da União, resgatados do leito do rio Paraná, sem

autoridade Marítima”, que hoje se encontram no município de Porto Rico, Paraná. A presente

comissão, formada pelos Srs. Capitão-Tenente Ricardo dos Santos Guimarães, presidente da

comissão de peritos, capitão-tenente Patrícia Miquilin Gomes e Primeiro-Tenente Daniel Mar-

tins Gusmão, membros indicados pela Marinha do Brasil e José Lapastina Filho, do Superin-

tende do IPHAN no Estado do Paraná, além do abaixo assinado, fizeram uma vistoria no local

e bens no dia 6 de julho pp, de forma que encaminhamos, pela presente, nossas considerações

sobre o assunto. Estas estão nos seguintes documentos: o presente memorando, com o enca-

minhamento do assunto e sugestões de conservação, o laudo de vistoria 03/10, e o parecer (mi-

nuta) 10/10, com uma proposta de posição do IPHAN sobre o tema.

Solicitamos que todo este material seja encaminhado ao Sr. José Lapastina Filho, para

que ele e a Srª Elenita Rufino possam emitir suas opiniões sobre o tema, fazendo as correções

que julgarem necessárias. Requeremos, igualmente, que uma cópia deste material seja encami-

Page 224: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

2

nhada para o Centro Nacional de Arqueologia/DEPAM, para que o mesmo possa acompanhar

– e intervir, se julgar necessário – no que está sendo feito sobre o assunto.

Sobre a preservação dos bens, sugerimos, caso isso seja viável, a realização de traba-

lhos de conservação preventiva nos batelões que foram encontrados. O ponto mais importante

seria a remoção dos barcos dos piores efeitos das intempéries, cobrindo-os, de preferência com

um telheiro, mesmo que improvisado ou até com uma lona. Esta última hipótese, contudo, não

é a ideal, já que dificultaria a observação constante das embarcações.

Outra sugestão que podemos fazer seria no sentido de se aumentar a aeração em torno

dos barcos, para impedir o acúmulo de umidade. Isso poderia ser feito colocando os batelões

sobre suportes mais altos, com mais de 60 cm de altura, de forma que o ar possa passar por

baixo deles, dificultando o acúmulo de água e os efeitos daninhos da vegetação rasteira.

Do ponto de vista de uma ação de conservação mais direta, pareceu-nos que não há

problemas mais graves que tenham que ser solucionados de forma emergencial. Contudo, as

chapas metálicas dos batelões, não estando protegidas por pintura, estão sujeitas a corrosão.

Neste caso, o procedimento a ser adotado seria a limpeza mecânica, para remoção da pintura

existente – registrando-se a sua forma e composição, para uso futuro. Em seguida seria feita

uma limpeza com base em produtos químicos desoxidantes e fosfatizantes, com a aplicação de

uma base fosfatizante em seguida. A pintura dos objetos, com tintas resistentes a abrasão seria

o trabalho final. Apontamos, contudo, que haverá problemas na aplicação de qualquer trata-

mento “in loco”, se os objetos permanecerem onde estão, dentro da área urbana de Porto Rico.

Quanto a questão de preservação dos remanescentes do sítio arqueológico subaquáti-

co, que não foi vistoriado pelo abaixo assinado, nos foi informado que diversas pessoas teriam

removido objetos de menor porte do local, inclusive um número razoável de armas de fogo. Há

notícias, também, da possibilidade de existência de um terceiro batelão, que ainda não teria sido

removido ou sequer encontrado. Considerando o potencial de informações sobre o sítio, cre-

mos que deveria ser feito um esforço para recuperação dos objetos resultantes de achado for-

tuito, para incorporação ao restante da coleção já recolhida. Seria interessante, também a reali-

zação de um trabalho de prospecção, visando verificar a amplitude do sítio arqueológico e a

eventual existência de outros materiais, ainda não recolhidos.

A guisa de complementação de informações, gostaríamos de concluir o presente me-

morando tratando do histórico dos embarcações: o material certamente se enquadra no contexto

da Coluna Miguel Costa-Prestes, já que há elementos históricos que só podem ser datados de

depois de 1922 (ver peça nº 21 da lista “B”, carreador de pente Puteaux, para armas Hotchkiss

do modelo 1921/1922), não havendo eventos históricos posteriores à criação da Coluna, em

1924, que possam justificar a presença do material no local. Também é possível constatar que

Page 225: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

3

são barcos que estiveram envolvidos em combate, como podem se observar pelo poucos orifí-

cios de balas presentes nos mesmos, bem como pela imensa quantidade de cartuchos deflagra-

dos que foi encontrada na embarcação “A”.

Junto com o material bélico de origem militar, observam-se alguns elementos que po-

dem ser associados às próprias embarcações, mas há outros que são de origem civil, como os

cartuchos de pistola de salão (ver lista “A”, foto 14, item 11), o que é compatível com uma

força revolucionária, organizada as pressas e que estava recebendo voluntários.

Alguns pontos, contudo, são dúbios e dependeriam de maiores pesquisas. Por exem-

plo, qual teria sido a razão do afundamento dos dois batelões? Dentro deles foram encontradas

peças que dificilmente seriam abandonadas por revolucionários, como o carregador para pentes

de metralhadoras Hotchkiss, acessório importante para o funcionamento das armas. Isso pare-

ce indicar um abandono intempestivo e apressado. Contudo, os dois barcos não têm rombos

que justifiquem o seu naufrágio – de fato, os furos de bala encontrados no casco, todos a bores-

te, são muito poucos, menos de dez em cada barco, o que seria compatível apensas com uma

pequena emboscada. Observação: segundo nos foi informado, os barcos foram encontrados

com a proa para vazante, indicativo que estavam descendo o rio. O lado de boreste, portanto,

corresponderia ao bordo visível do estado do Paraná.

Outro ponto curioso é a presença de orifícios de bala no leme e no costado, bem abai-

xo da linha de flutuação no batelão “B”, o que nos parece estranho considerando a possível

trajetória balística de disparos de fuzis feitos a distânciasnão muito longas. Parece-nos que

estes orifícios foram feitos quando os barcos encontravam-se bem adernados, com o lado de

boreste acima da linha d’água, enquanto o de bombordo estava praticamente – ou totalmente –

submerso. Isso seria compatível com um abandono precipitado da embarcação, com os ocu-

pantes, em pânico, se acumulando em um dos bordos, emborcando o batelão. Testemunha con-

tra esse abandono precipitado, contudo, a presença de um grande número de cartuchos defla-

grados (é bem verdade que encontrados no batelão “A”), que seriam indicativo de um combate

mais prolongado.

Dúvidas sobre o contexto do afundamento dos barcos dependerão, como dito acima,

de estudos maiores. Um pequeno histórico sobre a ação que resultou na perda dos batelões

pode ser encontrada no jornal “Hora do Povo”:

Uma semana depois da trágica investida [de 18 de agosto de 1924], começa a descida do rio Paraná. O plano é escoar a Divi-são em escalões sucessivos, em direção à Guaíra.

A vanguarda, sob o comando do general João Francisco, é com-posta pelo 3º e 4º Batalhão de Caçadores, da Brigada Mesquita de Vasconcelos, reforçada por uma seção de artilharia montada e

Page 226: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização

4

um piquete de cavalaria. O 3º Batalhão de Caçadores, debilitado pelas baixas sofridas em Mato Grosso, fora reorganizado, absor-vendo a Companhia Azhaury que antes integrava o 1º Batalhão.

Embarcada em três navios e um pontão, a expedição aprisiona, no dia 26 de agosto, a lancha Iguatemi, da Companhia Mate La-ranjeira, que conduzia uma patrulha governista.

Os prisioneiros informam que o capitão Dilermando Cândido de Assis, responsável pela defesa de Guaíra, mantinha 200 homens em Porto São José, na margem paranaense do rio, três léguas abaixo da foz do Paranapanema - divisa do estado de São Paulo. Na outra margem, o grileiro Quincas Nogueira dominava Porto São João. Nogueira era um homicida disputado pela Justiça do Rio Grande do Sul, de Rosário – Argentina – e Santa Rosa – Uruguai. Fugira da cadeia de Corrientes, em outubro de 1913, instalando-se nos ervais mato-grossenses. O governo, em seu es-forço de guerra, concedera-lhe a patente de tenente-coronel da reserva do Exército.

A força revolucionária dividiu-se para enfrentar a nova ameaça – um destacamento continuaria pela via fluvial, outros seguiriam por terra, para surpreender os elementos governistas entrinchei-rados nas duas margens do rio Paraná.

A iniciativa valeu a conquista de Porto São João, em 30 de agos-to, e Porto São José, no dia seguinte.

Em 14 de setembro, após um confronto com as forças do capitão Dilermando, na ilha do Pacu, os revolucionários conquistam Gua-íra. Haviam descido 200 km do rio Paraná, em 20 dias. Percorre-riam outros tantos, nas duas semanas seguintes.

Jornal Hora do Povo, sítio na Internet: http://www.horadopovo.com.br/colunistas/-

sergiorub/barrancas.htm, acesso em agosto de 2010.

As localidades mencionadas no final do trecho citado, Porto São João, Porto São José

e ilha do Pacu, são próximas de onde foram encontrados os batelões naufragados.

Sem mais, subscrevemo-nos,

Adler Homero Fonseca de Castro Historiador - Ass. Téc. Pesquisa III.

Matr. 223.784

Page 227: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

231

ANEXO D - Parecer 10/2010 de 5 de agosto de 2010, Castro (2010a)

Page 228: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

232

Page 229: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Ministério da Cultura

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL

Departamento de Patrimônio Material

PARECER 10/2010 5 de agosto de 2010

Parecer:

Analisando a situação dos batelões encontrados no rio Paraguai e tendo em vista o de-

terminado na portaria 95/EMA, do Estado Maior da Armada, de 29 de abril de 2010, de avalia-

ção do valor artístico, do interesse histórico ou arqueológico, bem como a avaliação feita dos

objetos, apresentamos nossas considerações sobre o valor dos bens e o possível destino que

poderia ser dado a eles, levando em conta o que consta do memorando 239, desta data, do lau-

do de vistoria 03/2010, de 6 de agosto do corrente ano e dos objetos que foram vistoriados,

fotografias dos quais podem ser vistas nas listagens “A” e “B”, encaminhadas em anexo ao

memorando 239 e laudo de vistoria 03/2010.

- Do observado no local, ficou evidente que o material é da primeira metade do século

XX, não tendo valor comercial por si, a não ser como sucata;

- O conjunto recuperado é parcialmente composto de bens móveis de pequeno porte

de origem e situação diversa, de um tipo que pode ser encontrado facilmente em museus do

País, não tendo, por si, maior valor como testemunho da história das técnicas;

- Parte do conjunto recuperado são os dois batelões que eram de tipos comuns em uso

no final do século XIX e início do XX, mas que hoje não mais existem em uso;

- Os batelões certamente não foram construídos para transporte de tropas ou para as

operações militares da Coluna Miguel Costa-Prestes, sendo barcos apresados para transporte

dos revolucionários. Sua função original era, claramente, a de transporte de granéis sólidos,

havendo a possibilidade de terem pertencido à companhia Mate-Laranjeira, que operava na

região e que perdeu barcos para os revolucionários;

Page 230: PIRES 2015 Conservacao de Embarcacoes Historicas

Serviço Público Federal IPHAN - Departamento de Proteção

2

- Há sinais claros de que os barcos e material a eles associados estiveram envolvidos

em ações militares, certamente ligadas à revolução de 1924, no evento que daria origem à Colu-

na Miguel Costa-Prestes;

De tudo isso apresentamos nossas conclusões:

1 – o material encontrado não tem valor comercial, se não for levado em consideração

o valor histórico/cultural a ele associado;

2 – a sua presença no local só pode ser associada a evento marcante da história do

Brasil, a formação da Coluna Miguel Costa-Prestes e ao movimento revolucionário que agitou

o País entre 1922 (Revolta do Forte de Copacabana) e 1930 (Revolução de 1930).

3 – Os batelões estão associados a outros processos históricos além da revolução de

1924, a saber, a questão do transporte fluvial no Brasil, a penetração e ocupação do interior e,

considerando o recorte cronológico de sua existência, independente de sua propriedade original,

estão associados a economia da plantação e colheita do mate no Paraná e sul de Mato Grosso,

o que, por si, já demonstraria um interesse histórico nos bens.

Tudo isso nos permite afirmar que o material encontrado tem elevado valor histórico

para o País por sua associação a um evento marcante da história recente. Merece, por isso, a

preservação e proteção por parte do Governo. Caberia, talvez, até o tombamento do mesmo,

mas isso dependeria, em nossa opinião, da situação dos itens encontrados como material ar-

queológico. Em nossa opinião, os bens têm um grande potencial arqueológico, mas que este

potencial só poderá ser aferido e avaliado de forma coerente após o levantamento da situação

do sítio arqueológico de onde foi removido.

Sendo o exposto, concluímos que o material não poderá ser descartado ou alienado da

propriedade da União por qualquer forma. Dentro da praxe institucional do IPHAN no trata-

mento de material arqueológico, recomendamos que o mesmo fique no local onde foi encontra-

do ou nas proximidades do mesmo, a não ser que não sejam localizados interessados em assu-

mir a responsabilidade pela conservação dos mesmos.

Este é o parecer

Adler Homero Fonseca de Castro

Historiador - DEPROT Matr. 223.784