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11° 5.988, de 14/12/73, Lei dos Direitos Autorais).
INDICE
1 – CAÇADORES DE JUDEUS
2 – AS TRÊS BESTAS HUMANAS
3 – FECHADO POR LUTO
4 – JURAMENTO DE VINGANÇA
5 – REBELIÃO NO PRESÍDIO
6 – BATEDORES DE CARTEIRAS
7 – VIGÉSIMO PRIMEIRO ANIVERSÁRIO
8 – A CONQUISTA DE LILIAN
9 – A PARCEIRA IDEAL
10 – AS FESTAS DE EMBALO
11 – AMOR NÃO TEM PREÇO
12 – O PRIMEIRO SONHO
13 – MULHERES ESCOLHIDAS A DEDO
14 – UMA SURPRESA PARA ALBERT
15 – O SEGUNDO SONHO
16 – SONHO E FANTASIA
17 – A HISTÓRIA DE LILIAN
18 – O CASAMENTO DE PAULO
19 – PAULO E ALBERT
20 – PASSAGEM DE ANO
21 – O REVEILLON
22 – A MANSÃO DE SILMARA
23 – ENTRE DUAS MULHERES
24 – UMA DAMA ENTRE CANALHAS
25 – DE VOLTA AO APARTAMENTO
26 – UM PLANO DE VINGANÇA
27 – UMA NOITE DE HORROR
28 – UM ACIDENTE TRÁGICO
29 – O COPO SOBRE O BALCÃO
30 – O ENTERRO
31 – DOIS TIROS CERTEIROS
32 – O TERCEIRO SONHO
33 – A CONFISSÃO
34 – O REENCONTRO
EPÍLOGO
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O TERCEIRO SONHO
Capitulo 1
Caçadores de Judeus
Os sinos de todas as Igrejas anunciavam
alegremente que o ano de l980 se findara e que ao
mesmo tempo nascia o ano novo, foguetes multi-
coloridos faziam desenhos maravilhosos no céu. Ao
barulho ensurdecedor das buzinas dos milhares de
automóveis misturadas aos estrondos dos fogos de
artifícios juntava-se a não menos barulhenta, mas
contagiante bateria de uma Escola de Samba. Tudo
era festa e a alegria do povo era ainda maior, pois
um brasileiro ganhara a tradicional corrida de São
Silvestre disputada todos os anos na capital de São
Paulo com a participação de vários atletas interna-
cionais convidados especiais do maior jornal de
esportes do Estado de São Paulo “A GAZETA
ESPORTIVA”. Dia 31 de Dezembro é consagrado
a São Silvestre, por isso, a corrida de pedestria-
nismo que marca a passagem do ano foi denomi-
nada como: “CORRIDA DE SÃO SILVESTRE” e
o brasileiro JOSE JOÃO DA SILVA até então um
ilustre desconhecido tinha sido o melhor de todos,
conquistara para o Brasil uma grande vitória, uma
vitória, aliás, esperada ansiosamente há mais de
trinta anos, por isso, a conquista do brasileiro não
era festejada somente em São Paulo, mas em todo o
Brasil.
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O trânsito de automóveis que havia sido
desviado das ruas onde deveriam passar os atletas
agora estava liberado. Os primeiros carros tinham
de forçar passagem, pois as ruas estavam cheias de
gente que pulava e dançava a frente dos veículos e,
foi assim que aquela Mercedes azul conseguiu se
desvencilhar de toda aquela balbúrdia onde sem
querer se metera, pois seu condutor ao tentar alcan-
çar um clube de granfinos lá dos lados do Jardim
Paulista onde pretendia passar a noite do reveillon
acabara por se enroscar naquele emaranhado de veí-
culos e de gente, o que o deixou tremendamente
irritado, por isso, quando se viu livre daquela con-
fusão procurou imprimir maior velocidade ao auto
visando chegar o quanto antes ao seu destino.
Gostava de festejar o momento exato da
passagem de ano, gostava dos abraços, dos apertos
de mão, de elevar sua taça de champanhe e gostava
também de cantar a música “Adeus Ano velho”,
Feliz Ano Novo”, naquele coral de vozes felizes e
despreocupadas, porque para eles não interessava
muito se o ano que acabara de findar fora ruim ou
se o ano que se iniciava naquele momento seria
bom, porque aquele clube só recebia pessoas de
famílias abastadas, pessoas cujo nível social impe-
dia qualquer pensamento negativo. Infelizmente pa-
ra Albert, este era o seu nome, Albert Samter,
chegara atrasado em virtude da confusão em que se
metera e isto o deixou chateado, pois perdera a
oportunidade de no meio de tantos abraços e aper-
tos de mão praticar o seu hobby que, era o de afanar
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carteiras e jóias enquanto abraçava efusivamente
aquela gente endinheirada que mal conhecia.
Albert era um homem rico, porém, seu
dinheiro era controlado por um único parente vivo,
seu tio, um velho dos seus sessenta e cinco anos,
judeu alemão que chegara ao Brasil por volta de
1945. Conseguiu fugir da perseguição implacável
feita aos judeus tanto na Alemanha como em outros
países onde Hitler conseguia entrar com suas tro-
pas. Josef Samter era seu nome, homem de muitos
negócios conseguira enriquecer principalmente no
ramo de jóias. Quando em 1938 a situação ficou
insuportável resolveu fugir o que conseguiu com
ajuda de muito dinheiro e documentos falsos, indo
parar na Hungria onde já se estabelecera seu irmão
Ernest Samter e sua esposa Erna. Josef era solteiro,
mas tinha sido noivo e estava com o casamento
marcado, porém, um mês antes das bodas os sol-
dados de Hitler levaram sua noiva judia juntamente
com toda a família e Josef nunca mais a viu ou teve
qualquer notícia do seu paradeiro. Ernest e Erna
não tinham filhos, não que não os quisessem, é que
a situação de refugiados, melhor seria dizer, de
clandestinos visto que os seus passaportes eram fal-
sos não permitia que tivessem filhos enquanto a
mesma perdurasse.
Sete anos se passaram e a situação cada vez
pior, pois agora não só os soldados de Hitler, mas
os próprios vizinhos quando descobriam um judeu
nas vizinhanças procuravam logo expulsá-los e, até
mesmo denunciá-los aos caçadores de judeus, pois
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assim procedendo à paz em seus lares estaria mais
garantida. Foram sete anos horríveis; as suas malas
não se desfaziam ficavam prontas para a fuga e,
assim percorreram vários países tais como, Polônia,
Hungria, Romênia, Tcheco-Eslováquia e outros
mais sempre na tentativa de preservar a vida. Josef
conseguia vez por outra mandar algum dinheiro e
jóias para a Suíça onde amigos lá refugiados trans-
formavam jóias em dinheiro e depositavam tudo em
sua conta bancária.
Em outubro de 1944 os Samter se encon-
travam na Romênia; Josef havia saído ao entardecer
a fim de conseguir algum alimento quando ao do-
brar uma esquina topou com uma patrulha; ficou
apavorado e saiu correndo, um dos soldados levou
seu fuzil ao ombro, fez mira e atirou, Josef caiu de
bruços. O sangue vertia forte por um buraco aberto
nas costas na altura dos rins bem próximo a coluna
dorsal. Certos de que estava morto os soldados riam
da posição em que o corpo ficara e, com estas pa-
lavras “deixe que a Cruz Vermelha passa daqui a
pouco para recolher o lixo”, foram embora. Re-
colher o lixo para eles queria dizer “Recolher os
judeus mortos”. De fato a Cruz Vermelha não
tardou e quando recolheram Josef perceberam que
ele ainda vivia. Seu estado era desesperador, pois
perdera muito sangue, imediatamente socorrido foi
levado ao hospital onde recebeu tratamento não
podendo ser operado de imediato, pois seu estado
era melindroso, mas recebeu sangue e posterior-
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mente já fora de perigo foi operado recebendo os
demais tratamentos que o caso requeria.
Em dois meses Josef estava praticamente
recuperado. Por sorte a bala não atingiu a coluna, o
que o teria deixado paralítico ou quem sabe o teria
levado a morte. Mas se por um lado não ficara pa-
ralítico por outro ficara com os intestinos parali-
sados, ficando a sua evacuação na dependência de
uma bolsa de colostomia. Sua alimentação agora
tinha que ser muito leve; frutas e legumes, verduras
cosidas, pouca coisa para não ter que sofrer muito
com a evacuação feita de maneira tão horrível. O
começo foi bastante duro, porém, nesta vida a gente
se acostuma a tudo e ele acabou se acostumando.
Para sorte de Josef seu irmão Ernest saíra a
sua procura naquele dia fatídico e acabou locali-
zando-o no Hospital da Cruz Vermelha. Para que
não levantassem suspeitas sobre seu irmão e como
ainda precisava de maior recuperação Josef conse-
guiu autorização para permanecer mais algum tem-
po no hospital e, como melhorava dia a dia passou a
ajudar nas tarefas mais leves até que em maio de
l945 terminou a guerra. Ele juntou-se aos únicos
parentes que possuía e os três foram para a Suíça
retirando o dinheiro lá depositado e em agosto do
mesmo ano chegaram ao Brasil fixando residência
na capital do Estado de São Paulo.
Ajudados e aconselhados por judeus ante-
riormente aqui chegados e estabelecidos em vários
ramos de negócios não tardou para que eles se es-
tabelecessem, Josef com jóias e Ernest com tecidos.
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A situação financeira dos dois melhorava dia a dia e
em janeiro de 1947 podia-se dizer que havia mais
dois judeus ricos em São Paulo.
Ernest e Erna resolveram então tornar em
realidade o sonho de muitos anos; sonho tantas
vezes adiado, sonho que a guerra e a perseguição a
sua raça fizeram adiar por mais de dez anos a sua
concretização: ter um filho.
Ernest havia se dedicado inteiramente ao
trabalho desde que chegara ao Brasil, ele queria
estabilizar primeiro a vida. Agora a situação estava
boa, por isso, achou que era hora de terem um filho.
Comunicou a sua intenção a esposa que o estreitou
nos braços e beijando-o ternamente lhe disse: –
Obrigado Ernest, isso é tudo o que mais desejo.
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O Terceiro Sonho
Capítulo 2
As Três Bestas Humanas
Nos meados do mês de abril de 1947 Erna
voltou do consultório do Doutor Moysés Glemps
com um riso feliz estampado nas faces, nem foi
preciso dizer, pois assim que a viu Ernest adi-
vinhou, Erna estava grávida. Num ímpeto de alegria
a abraçou e a beijou tantas e tantas vezes na boca,
nos olhos, nas faces e nos cabelos, quando se afas-
taram um pouco e olharam-se face a face abun-
dantes lágrimas brotavam de seus olhos, lágrimas
que escorriam quentes pelos seus rostos, lágrimas
aquecidas pelo amor que os unia. Num gesto de
ternura Ernest colocou sua mão sobre o ventre da
esposa e disse:
– Até a pouco eu só pude lhe dar sofri-
mento, dor e desespero foram anos horríveis que
devemos esquecer, mas de agora em diante você vai
viver como uma rainha nada lhe faltará, você sabe
muito bem o quanto a amo, meu amor agora é
infinitamente maior uma vez que agora além da
mulher que eu adoro você é também o cofre onde
guarda nosso maior tesouro, nosso filho.
Ernest com muito cuidado e carinho levou a
esposa ao colo para o quarto – Erna – disse ele –
por favor, tire toda a sua roupa.
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– Não, Ernest, isso não é hora eu acabei de
chegar da rua com o calor que está fazendo eu
transpirei tanto que estou toda molhada de suor.
– Nem pensei em sexo, Erna, eu só quero
vê-la, quero olhar você a luz do dia, quero guardar
este momento pelo resto da minha vida.
Erna corou, não de vergonha, mas de satis-
fação porque entendeu o pedido do marido e,
lentamente foi se despindo. Não era como strip-
tease, não havia música nem luzes a cores, a cena
era muda, mas Ernest julgava ouvir um coro de mil
vozes angelicais. Através dos seus olhos cheios de
lágrimas imaginava ver mil raios de luzes multi-
coloridas recaírem sobre o corpo nu que agora mais
parecia de uma deusa. Ernest enxugou os olhos e
desfez a miragem, chegou mais perto da mulher e
depositou-lhe um beijo sobre o ventre e com a voz
embargada pela emoção ele disse:
– Obrigado, Erna, muito obrigado, depois
de tanto sofrimento somente você minha querida
poderia me dar uma alegria tão grande.
Erna não teve problemas durante a gestação,
era uma mulher de trinta anos, moça ainda, de esta-
tura mediana e bem dotada de físico era bastante
forte para suportar esta e quem sabe outras tantas
gestações. Passavam os meses e Ernest como quase
todo judeu era bom negociante, sua fortuna crescia
a olhos vistos, eles moravam agora em uma bela
casa nos altos de Santana recentemente construída
sob sua própria orientação, de finíssimo acaba-
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mento e um lindo jardim a antecedia e possuía
também garagem para dois automóveis.
Erna entrara agora no nono mês de gesta-
ção, a criança deveria nascer pouco antes do Natal.
Ernest e Erna já tinham escolhido o nome que
deveriam dar ao pequeno herdeiro, se fosse homem
receberia o nome “Albert”, em homenagem ao pai
de Ernest, se fosse mulher receberia o nome “Sara”,
em homenagem a mãe de Erna.
Relembrando agora aqueles dias em que
tudo eram rosas para o casal Samter não conse-
guimos esquecer e muito menos nos conformar com
as peças que o destino nos prega, era absolutamente
impossível imaginar uma desgraça àquela família
tão bem quista por seus vizinhos. Erna era uma boa
mulher e muito comunicativa recebia sempre muito
bem qualquer vizinho que a procurasse, muitos com
pedidos de emprego para os seus filhos. Erna con-
versava com o marido e este sempre arranjava um
emprego para os rapazes e moças, às vezes em sua
própria loja, outras vezes em lojas de amigos. Por
que então tinha que acontecer aquilo? Foi uma
coisa horrível. Ernest e Erna haviam acompanhado
o Doutor Moysés até o portão, este que viera a
chamado da família e que a após examinar a par-
turiente a tranquilizou.
– É apenas um mal estar passageiro próprio
das gestantes, a senhora está apenas nervosa e
ansiosa com o parto previsto para a manhã ou
depois de amanhã.