perdas & danos - madô martins

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Treze anos após o primeiro, Madô Martins lança novo livro de poesia: Perdas & Danos, que o editor e escritor Ademir Demarchi considerou sua melhor obra. O lançamento aconteceu em (16/6/2012), na Pinacoteca Benedicto Calixto, quando trechos da obra foram encenados por Célia Faustino e Márcio Barreto dos grupos Percutindo Mundos e Núcleo de Pesquisa do Movimento - Imaginário Coletivo. Publicado pelas Edições Caiçaras, de Márcio Barreto, trata-se de um livro artesanal em que cada exemplar traz uma capa exclusiva, confeccionada com material reciclado. Nele estão poemas que abordam o luto e suas consequências, quando um amor que atravessou décadas termina por força do destino. Versão bilingue (português/francês)

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Page 1: Perdas & Danos - Madô Martins
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Page 3: Perdas & Danos - Madô Martins

PERDAS & DANOS

VERSÃO BILÍNGUE PORTUGUÊS / FRANCÊS

Page 4: Perdas & Danos - Madô Martins

A presente edição é inspirada nos trabalhos desenvolvidos na América Latina através de Sereia Ca(n)tadora (São Vicente, Santos – Brasil), Dulcinéia Catadora (São Paulo – Brasil), Eloisa Cartonera (Argentina), Sarita Cartonera (Peru), YiYi-Jambo (Paraguai), Yerba Mala (Bolívia), Animita (Chile) e La Cartonera (México).

Edições Caiçaras é uma realização do Instituto Ocanoa, Projeto Canoa, Percutindo Mundos e Imaginário Coletivo de Arte.

Capa feita a mão com material reciclado.

Contato:

[email protected]

13-9174621213-34674387

Page 5: Perdas & Danos - Madô Martins

PERDAS & DANOSMadô Martins

VERSÃO BILÍNGUE PORTUGUÊS / FRANCÊS

Edições Caiçaras São Vicente /SP

Novembro de 2012

Page 6: Perdas & Danos - Madô Martins

© Madô Martins

Capa, projeto gráfico, diagramação e editoração:Márcio Barreto

Conselho Editorial:Flávio Viegas AmoreiraMarcelo Ariel

Martins, Madô

Perdas & Danos / Madô Martins – São Vicente: Edições Caiçaras, 2012.

72p. 1.Poesia brasileira I. TítuloImpresso no Brasil

Edição bilíngüe: português / francês

2012Edições Caiçaras

Rua Benedito Calixto, 139 / 71 – CentroSão Vicente - SP - 11320-070

[email protected]

13-34674387 / 13-91746212

Page 7: Perdas & Danos - Madô Martins

Nota da Autora

As cinco fases do luto – negação, raiva, barganha, depressão e aceitação – estão representadas nestes poemas de pranto contido. Luto que imita o fado, em seus diálogos na segunda pessoa, e o tango, em sua dor inconformada, mascarada de fatalismo. Os poemas mesclam as fases, espelhando a confusão própria de quem sofreu grande perda. Ao interrelacionar as páginas, a obra oferece ao leitor vários livros dentro do livro, que podem ser reconstruídos ao gosto pessoal.

Page 8: Perdas & Danos - Madô Martins

Outras notas

É o melhor livro de Madô Martins, pois com esse conjunto de poemas ela atingiu um alto grau de desencanto, de autocrítica e de efeitos de linguagem, ao mesmo tempo simples e direta, que desconcertam o leitor com seu impacto. É a voz de uma experiência que fala, sem buscar consolo, pois ao amor que se perde definitivamente com a morte, somente a memória recupera. A voz poética que sobressai dos poemas é cortante em sua sugestão: os ganhos do amor são sempre falsos e enganosos porque sujeitos a serem engolidos pela voracidade das perdas e danos que advêm quando se esvazia a fantasia em que se sustentam. Assim, se o amor vivido acaba engolido pela sensação impactante da perda e de seus danos, ele só ganhará novo sentido e potência ao se recuperar na linguagem poética, quando ganha nova grandiosidade porque nova experiência se constituiu, agora com a escrita. 

Ademir Demarchi – escritor e editor

Um mergulho em noites onde "vestimos a dor pelo avesso", onde o feminino se mostra em suas mais contundentes contradições. Belíssimo livro onde o lirismo da perda, do amor que acaba, mas não finda, faz com que o avesso emudeça o silêncio para não perder a razão, o chão que tão incertamente pisamos quando o mundo parece estar de luto.

Marcio Barreto - editor, escritor, músico e compositor

Madô Martins amarra os poemas de tal forma, que temos a sensação de ler um conto, um romance em versos. As fases de luto interpenetram-se, o que é fortalecido pelas marcações de palavras recorrentes: terra, mãos, amor... e a proposta lúdica nos torna ávidos: voltamos ou viramos páginas para reencontrá-las com novos significados. Entramos no processo do luto, pois o livro nos devora!

 Regina Alonso – escritora

Page 9: Perdas & Danos - Madô Martins

Madô Martins conta a historia de uma mulher que tinha a esperança de que seu amado homem um dia a chamasse, ainda que fosse em seus últimos tempos de vida... Coração danificado mas com os sentidos plenos, esta mulher é capaz de imprimir com beleza poética a história de tantas mulheres que seguem a vida com ardor porque o  amor jamais se apagará.  

 Maria Teresa Teixeira Pinto - escritora

Quando Madô, maltrapilha de dor, enverga uma “mortalha por baixo da pele”, expõe à flor da pele o silêncio do incompreendido – a morte não anunciada do grande amor – lenda de décadas. Desnudando-se em poesia, desfiando lembranças e mágoas numa delicada catarse da alma dorida, Madô nos conduz a uma dúvida quântica. Quanto da morte não presenciada representa de fato uma realidade? Realidade que se parece a sonhos. “Será que me pressentes?” Sonhos visitados por lembranças cotidianas inscritas “na memória do corpo”. Brincadeiras de “sol e lua”. Nunca mais o encontro, para sempre as lembranças. Perdas & Danos revela a dor das perdas suscitando com maestria a questão da imortalidade dos grandes amores.

  Alice Mesquita - Cantora, pesquisadora e tradutora

A obra traz poemas que, embalados ao som do mar, relatam as hesitações do processo de perda do grande AMOR, único e intransferível. “O amor permanecerá intacto – não haverá outro!” A necessidade de expressar e elaborar essa grande paixão, vivenciada décadas em segredo. A esperança da transcendência. “Ganham dimensão os afetos, as memórias...” Por isso, veio a inspiração para dançá-los, uma forma de compartilhar esse agudo sentimento. Uma dança que celebra a oportunidade de vivenciar a existência do amor! “Será que também tu vives este misto de vontade e medo?” 

Célia Faustino - eutonista, bailarina, musicista e pesquisadora

Este livro de Madô Martins é fruto de uma coragem que sabe conferir um sentido poético a essa capacidade típica dos sensíveis de transformar a memória daquilo que foi perdido em arte. Existe

Page 10: Perdas & Danos - Madô Martins

ainda um belo paradoxo, que o término da leitura do livro torna explícito, ao converter a memória da perda em poesia, a poesia passa a conter em si a coisa perdida e este livro parece dizer que aquilo que perdemos, é no fundo a única coisa que realmente temos.

Marcelo Ariel – poeta, dramaturgo e performer

Dialogando com a tristeza do fado e a volúpia do tango, fala da perda, pela morte, de um amado já perdido pela vida. É o livro da amante, e o termo se deve compreender como particípio presente, aquela que ama, ainda que não seja, em absoluto, livro de esposa. É de amante para amado. Amor que se experimentou em doses homeopáticas, avaras, e que ficou na perspectiva do paladar insatisfeito. Dialoga com Neruda e Vinicius sem subordinação a um padrão poético, fala pelo lado oposto. Um livro especular, mas não o espelho narcísico de um lago plácido onde se veja a si mesmo. Amor contemplado pelo signo da alteridade, a ótica da mulher.

Manoel Herzog - escritor

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Em 10 de novembro de 2012, o livro Perdas & Danos ganhou poemas em francês, para apresentação de performance na Aliança Francesa de Santos, em noite de autógrafos. O espetáculo contou com a participação de Célia Faustino e Márcio Barreto, no vídeo de dança que interpreta os versos contidos na obra. Imagens foram projetadas em telão e apresentadas canções nos dois idiomas, por Alice Mesquita. Ela também assinou a tradução de algumas poesias. Teresa Teixeira traduziu outras e as interpretou. A professora Sonia Gabilly, da AF de Santos, auxiliou na revisão. A autora leu seus versos em português. O roteiro foi elaborado pelas três, com apoio da AF de Santos, por meio de sua diretora Maria de Lourdes Beco, que cedeu o espaço e estrutura, O cartaz anunciando o evento tem arte de Pablo Basile.

Page 12: Perdas & Danos - Madô Martins

(as páginas citadas no final de cada poema referem-se à localização da versão original dentro do livro)

Page 13: Perdas & Danos - Madô Martins

Perdas e danos

Soube da tua morte

por amigos.

Eu, que há muito

te sepultara,

sete palmos abaixo da memória.

Já não me encantavam

teu sorriso de fauno,

a teia de teus olhos,

tuas mentiras bem montadas.

Agora voltas

para me assombrar.

E sou quem morre

a cada dia,

sabendo que já não existes

nem ao menos

para eu me vingar.

Page 14: Perdas & Danos - Madô Martins

pgs. 14 e 16

1

Quase

Quase viúva,

do mesmo jeito

que fui quase amada,

quase esposa,

quase feliz.

Deixas a obra completa

e, mais uma vez,

sais ileso,

desertando do estrago.

Não te bastou

fazer-me frustrada em vida.

Tinhas que definhar

longe, em segredo,

e morrer

sem me dar qualquer chance.

Tinhas que me deixar

à margem,

pela última vez

e para sempre.

Page 15: Perdas & Danos - Madô Martins

pgs. 8 e 39

2

Lembranças

Vêm à tona

antigas lembranças

que eu julgava felizes.

Só agora compreendo

que eram apenas

a minha versão dos fatos,

sob a luz da paixão.

Éramos dois,

mas não estavam comigo

teu coração e tua mente.

Apenas um corpo

que se dava a intimidades

sem se tornar íntimo.

Page 16: Perdas & Danos - Madô Martins

pgs. 12 e 42

3

Page 17: Perdas & Danos - Madô Martins

Palavras

Minha pequena -

era assim que me chamavas

com jeito de namorado.

E tua fala

me abraçava igual teus braços,

plena de promessa.

Outras duas palavras

me faziam tremer,

por revelar tua entrega.

Mas estas, dizias raramente,

rapidamente,

como se escapassem da boca

à revelia da tua vontade.

pg. 19

4

Page 18: Perdas & Danos - Madô Martins

Voz

Em sonhos,

ainda escuto

tua voz de veludo,

distante

como se falasse

ao telefone.

Com ela vem

teu riso,

cristalino

igual ao de um menino.

Chegam-me

tuas mãos

que nunca perceberam

que machucavam

as minhas,

com tua força de homem.

E a tua indiferença,

esta sim,

próxima e real.

pg. 8

Page 19: Perdas & Danos - Madô Martins

5

Revés

Visto esta dor

pelo avesso

e, mesmo assim,

me sufoca.

Erro botões e casas,

desemparceirados

como fomos nós.

Descosturo

pregas e bainhas,

fazendo-me rota

como aquele amor.

Ando maltrapilha,

desde a tua morte.

Talvez seja mortalha

o que agora uso

por baixo da pele,

por dentro dos olhos,

impregnada de silêncio.

E tudo vai se esfiapando,

até que um dia

estarei nua,

sem nada do que lembrar,

sem nada para amar.

Page 20: Perdas & Danos - Madô Martins

pg. 38

6

Page 21: Perdas & Danos - Madô Martins

Datas

Agosto, mês de cachorro louco.

Agosto, mês dos desastres aéreos.

Agosto, mês de desgosto.

Morreste no último dia de agosto,

numa quarta-feira,

teu dia preferido da semana.

Nascidos no mesmo ano,

agora, só eu continuarei

a aniversariar e envelhecer.

Ficaremos

tu com tua imagem congelada,

eu acumulando senilidade.

Não sei quanto tempo mais

andaremos em paralelas.

Mas até elas

se encontram no infinito.

pgs. 36 e 43

Page 22: Perdas & Danos - Madô Martins

7

Sobras

Assisto à tua

última entrevista,

para ouvir

outra vez

tua voz.

Ali estão tuas mãos,

em gestos generosos

como eu sempre quis.

Repetes ainda

o velho hábito

de tocar a orelha

enquanto falas.

E teus olhos

permanecem atentos

a tudo em volta,

como cabe

a um bom contador de histórias.

Pena que

o relato mais bonito

nunca vais escrever.

Morreu contigo,

entre teus muitos segredos,

nossa lenda de décadas.

E me soa estranho

Page 23: Perdas & Danos - Madô Martins

quando nossos amigos

8

me falam de ti:

“teu ex dizia isso, teu ex fazia aquilo”...

Ao menos morto me pertences.

Page 24: Perdas & Danos - Madô Martins

pgs. 2 e 5

9

Falta

Outro repórter já ocupa

teu espaço na redação

e nas páginas do jornal.

Mas foi só isso.

Devia ser fácil assim

substituir-te em nossas vidas.

No afeto dos amigos,

és único

e deixaste saudades.

Na memória dos colegas,

um modelo a ser seguido.

No coração de tuas mulheres,

tantas,

pulsam amor e ódio,

mas o tempo coará todo rancor

e só o que foi bom ficará.

Para teus filhos,

o lugar de pai

sempre será só teu.

Quanto a mim,

devo a ti

a razão do meu viver

e agora tenho que achar

Page 25: Perdas & Danos - Madô Martins

algum outro motivo

que preencha teu vazio

10

e me faça suportar

a falta que me fazes.

Page 26: Perdas & Danos - Madô Martins

pgs. 34 e 38

11

Desconhecido íntimo

O floral

começa a fazer efeito.

Sonhei que guardava

tuas coisas,

constatando que

nada me servia.

Não me servem

teus óculos,

tuas canetas ponta porosa,

teus tênis macios,

teu casaco de couro,

teus livros em inglês,

tuas chaves.

Nunca soube

a marca do teu sabonete,

da pasta de dentes,

a lâmina de barbear,

com o que te penteavas.

Foste o homem

que eu imaginava

e via uma vez por ano.

A única certeza,

Page 27: Perdas & Danos - Madô Martins

único bem compartilhado,

era que te amava.

pgs. 3 e 37 12

Vândalo

Amor-bônus,

foi isto

o que representei

para ti.

Amor disponível,

sem cobrança,

nenhuma queixa,

só sorrisos e beijos.

Pisavas no jardim,

me colhias, despetalavas

e depois partias,

sem olhar para trás.

Page 28: Perdas & Danos - Madô Martins

pgs. 28 e 36

13

Outra

Volta a girar

a engrenagem do tempo.

Sou outra, agora,

menos iludida com as ilusões.

Foste para mim a prova

da existência do amor.

Mas, quando te despediste da vida,

sem contestar,

levaste contigo a esperança

de que a antiga chama

voltasse um dia a arder.

Pensei que partiria

antes de ti,

mas aqui permaneço.

Não soube da tua doença

nem que era incurável

nem da internação

nem da cirurgia.

Não nos despedimos,

eis o fato,

Page 29: Perdas & Danos - Madô Martins

por isso penso que é sonho

tua morte prematura.

És o de sempre,

dentro de mim.

E como não vi teu corpo

14

sem alma,

sou como aquelas

viuvas de desaparecidos:

sigo na dúvida

se aconteceu de verdade

e se fiquei mesmo só,

definitivamente.

Page 30: Perdas & Danos - Madô Martins

pgs. 1 e 16

15

Duas mortes

Triste de quem fica.

Nada mais importa -

horários, obrigações,

aparências...

Ganham dimensão

os afetos,

as memórias.

Cada lembrança

que vem à tona

é bem-vinda

porque reforça

esta morte em vida,

em que

não há respostas.

Page 31: Perdas & Danos - Madô Martins

pgs. 1 e 14

16

Hoje

Hoje consegui dormir

sem pensar em ti

debaixo da terra,

virando terra.

Ouvi tango,

não chorei nem uma vez

e voltei a assobiar

como homem,

para surpresa

de alguns homens.

Hoje não sofro demais.

Li no jornal

um desastre em Buenos Aires,

mas já não tenho

por quem me preocupar.

E há uma mulher

na direção do NY Times,

mas tu não estás lá

Page 32: Perdas & Danos - Madô Martins

para entrevistá-la

nem aqui,

para comentar o fato

comigo.

Hoje posso sair

vestida de qualquer jeito:

não corro o risco

17

de te encontrar de repente.

É uma dor amansada,

esta que sinto agora.

É tranquila

a convivência com os mortos.

Page 33: Perdas & Danos - Madô Martins

pg. 21

18

Ontem, hoje, amanhã

Escolhi nadar contra a maré,amando-te e não a outro.Quando chegavamtuas cartas,no ontem dos correios,no hoje dos e-mail,tudo valia a pena:a espera,a frustração,o amanhã incerto.Minha alma de entãonão era pequena.

Page 34: Perdas & Danos - Madô Martins

pg. 4

19

Inveja

Bom dia, amor -

te digo, ao levantar,

constatando que

sobrevivi a mais um dia

e estou a menos um dia

do tempo que falta

para te encontrar.

Calço os sapatos,

visto a máscara

e vou para a vida

que me cobra

o que já não posso dar.

Perco a hora,

adio compromissos -

nada agora tem urgência.

À noite,

deito exausta.

Page 35: Perdas & Danos - Madô Martins

Tiro a máscara que me fere

e penso em ti,

na tua liberdade atual -

como te invejo...

Pgs. 35 e 37

20

Travesseiro

Uma vez, lembras?,

usamos um só travesseiro,

numa cama de solteiro.

E esta manhã

acordei com a impressão

que havia grama e terra

sobre aquele onde durmo.

Grama e terra do interior

onde nasceste

e de onde partiste

para não mais voltar.

Em sonho

me visitaste

e voltaste a dividir comigo

a intimidade.

Como sempre,

Page 36: Perdas & Danos - Madô Martins

não deixaste pistas

da tua presença.

Exististe mesmo,

algum dia?

pgs. 17 e 29

21

Ainda

Mesmo sem querer,

sinto falta de ti,

de teu nariz pequeno

roçando o meu como esquimó,

dos teus pelos

onde eu gostava de me esconder,

do joelho ansioso

abrindo caminho entre minhas pernas,

das mãos que conseguiam ser

fortes e ternas ao mesmo tempo,

dos teus olhos espertos,

cheios de palavras e risos,

do teu dom

de me fazer feliz.

Page 37: Perdas & Danos - Madô Martins

pg. 29

22

Inútil

Tinjo de fogo os cabelos

e distraio a paixão.

Zarpo no barco dos sonhos

para esquecer da solidão.

Em vão.

Mais cedo ou mais tarde,

o cabelo escurece

e volto ao cais da realidade.

Cheia de saudade.

Page 38: Perdas & Danos - Madô Martins

pg. 33

23

Ecos

Neruda tornou

a entrar em minha vida

reacendendo brasas,

arranhando cicatrizes,

e tua falta

é quase insuportável.

Por isso, à noite,

te chamo

entre lençóis

e as páginas do livro.

O pensamento te busca

longe,

com o velho amor de sempre

Page 39: Perdas & Danos - Madô Martins

no envelope da esperança.

Será que me pressentes?

Será que também tu

vives este misto

de vontade e medo?

Será que nossa história

ainda tem capítulos?

O eco do silêncio

não me traz respostas...

Pode ser o outono,

pode ser Neruda,

24

mas estou te amando,

e sei que não devia.

Page 40: Perdas & Danos - Madô Martins

pg. 31

25

Ternamente

Quero um tempo

para a ternura,

sem relógios,

sem culpa,

sem planos.

Um tempo parado

no meio do tempo,

repicando sinos

de comemoração.

Quero gestos lânguidos,

Page 41: Perdas & Danos - Madô Martins

olhos entreabertos,

bocas úmidas de silêncio.

Quero tudo isso

e muito mais,

de bom, de belo, de puro,

para quando estivermos juntos.

Calmamente afagaremos

os minutos,

mansamente colheremos

as lembranças,

docemente trocaremos

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juras.

Para sempre

e ternamente.

Page 42: Perdas & Danos - Madô Martins

pg. 34

27

Sem resposta

O amor que me preenche

me faz vidro transparente

colorido pelo mel.

Pode quebrar.

Quanto vivem teus parentes?

Quanto tempo ainda temos?

Perguntas que não fizemos.

Page 43: Perdas & Danos - Madô Martins

pg. 36

28

Page 44: Perdas & Danos - Madô Martins

Tato

Na memória do corpo,

cada uma de tuas carícias.

Mãos e palavras entrelaçadas,

certeza do que não sei

mas sempre soube.

O par, o parceiro,

duas cabeças e um só travesseiro.

pgs. 21 e 22

Page 45: Perdas & Danos - Madô Martins

29

Casal

Homem do campo

Mulher do mar

Ele traz

ramos de trigo

o canto da cigarra

duas frutas

Ela

conchas rosadas

o som das ondas

areia de ampulheta

Quando se beijam

cessam os gafanhotos

somem as manchas de óleo

a brisa sopra folhas e espantalhos

a maré embala peixes e barcos

Homem do campo

Mulher do mar

A gerar vales e rios

lagos e pomares

Page 46: Perdas & Danos - Madô Martins

30

pela vida

para além da vida

Page 47: Perdas & Danos - Madô Martins

pgs. 24 e 43

31

Crença

O que há de divino na cama

descobri contigo,

meu anjo pagão.

Toda vez

que trocamos o ar

das bocas entreabertas,

que nos sorrimos

no instante do prazer,

que gememos

em uníssono,

acreditei na velha teoria

de que amantes são deuses

cheios de graças e poderes.

Page 48: Perdas & Danos - Madô Martins

pg. 33

32

Distância

Brincando

de sol e lua

antigos amantes

seguem

pela vida

com passos de saudade

Page 49: Perdas & Danos - Madô Martins

pgs. 23 e 32

33

Sábio coração

Pensar que ele se foi.

Amor

endividado de anos,

gotejando dia após dia

sua vontade e desejo.

De todos os relógios

retirei os ponteiros,

em todos os calendários

misturei os dias

para a espera se confundir

e doer menos.

Mas o coração sabe

que não é assim tão fácil.

Mantém vigilante o olhar,

o pensamento atento a qualquer sinal,

o fogo da paixão sempre aceso,

para a vida poder continuar.

Page 50: Perdas & Danos - Madô Martins

pgs. 10 e 26

34

Salmo

Ah, homem

Que povoa meus sonhos

E noites mal dormidas.

Talvez te assuste,

Como me assusta,

Saber o quanto

Espero por ti.

Estás nas vitrines,

Nas bancas de frutas.

Estás nos perfumes,

Nos sons, nas luzes.

Estás nos poemas

Que não escrevi.

A cada noite me enfeito

Para mais uma espera.

E durmo com tua ausência,

Lembrando, pensando em ti.

Page 51: Perdas & Danos - Madô Martins

pg. 20

35

Rima ruim

Ele não vem.

De que me adianta

este sol todo?

Onde represar

tanto amor

até a próxima vez?

Como dizer à esperança

que o agora é amanhã

ou mesmo, talvez?

Ele não vem.

Há um coração em cacos

para recolher.

Material reciclável.

(agosto

sempre rimou com

desgosto)

Page 52: Perdas & Danos - Madô Martins

pgs. 7, 13, 28 e 40

36

Ainda hoje

fragmentos de um tempo feliz

meus suspiros

tuas reticências

feridos de vida os dois

repletos de certezas

ainda hoje

passo pela igreja

onde nos beijamos

em vez de rezar

pela loja

onde me descobriste

do outro lado da vitrine

pelo café

que era nosso refúgio

Page 53: Perdas & Danos - Madô Martins

tudo continua lá

menos os apaixonados

pgs. 12 e 20

37

Frio

Abro teu perfume

no quarto vazio.

Evoco assim, concreta,

a lembrança mais antiga

de um tempo bom e nosso,

agora tão distante.

Aqui, esse vidro de cheiro,

a cama solitária,

um rosto, um gesto invisível

e toda a dor,

coberta que não agasalha,

saudade-mortalha.

Page 54: Perdas & Danos - Madô Martins

pgs. 6 e 11

38

Sem volta

Lume de lamparina

apagado pelo vento,

frágil momento

que não volta mais.

Vaso quebrado,

mesmo colado,

ainda é trincado.

Sonho perdido,

quando revivido,

é sempre doído.

Page 55: Perdas & Danos - Madô Martins

pg. 2

39

Autodefesa

Para não enlouquecer,

dou-te a importância

que sempre quiseste ter,

pequena, fortuita.

Para não enlouquecer,

faço dormir,

de novo, o desejo

e dispo a ansiedade,

essa roupa apertada.

Para não enlouquecer,

estouro, uma a uma,

as bolhas de sabão

que a esperança soprou

Page 56: Perdas & Danos - Madô Martins

diante de meus olhos.

Para não enlouquecer,

procuro apagar

as luzes das lembranças

e me acostumar, outra vez,

à penumbra da mesmice.

Guardo no baú

a desilusão

40

- quem quer saber? -

e me ocupo

do não-ser.

Para não enlouquecer.

Page 57: Perdas & Danos - Madô Martins

pg. 36

41

Aprendizado

Através do nada,

no vácuo que deixaste,

tento ouvir o que falas sem dizer.

Ensaio uma cumplicidade ainda incipiente

e busco a bula, a bússola, o mapa, o manual

perdidos sob a mesma luz

que te ilumina e me cega.

Page 58: Perdas & Danos - Madô Martins

pg. 3

42

Areal

Areia nos olhos

areia nos poros

o corpo vagando pela praia

sem sono, sem sonhos

Areia nos planos

alguns já tão velhos

quanto esta baía

de mar sempre manso

Areia no tempo

ampulheta partida

horizonte branco

Page 59: Perdas & Danos - Madô Martins

coração vazio

Areia nos passos

que seguem a esmo

sem rumo ou abrigo -

tropeços na mágoa

Areia sem fim

árida, monótona

como a vida que pesa

cá dentro de mim

pg. 7, 30 e 44

43

Ilógico “nem tudo que termina acaba”

Estas são

as últimas linhas

que te escrevo,

um basta, não um fim,

ao que jamais se apagará.

Preciso te calar

dentro de mim

para que a vida

possa continuar.

O amor permanecerá intacto -

não haverá outro.

Page 60: Perdas & Danos - Madô Martins

E ilógico, como sempre:

foste e serás,

até o último dos dias,

minha metade maior.

pg. 43

44

Page 61: Perdas & Danos - Madô Martins

EM FRANÇAIS

Page 62: Perdas & Danos - Madô Martins

Ô toi, homme

qui habite mes rêves

et mes nuits blanches.

Peut-être te fait-il peur

comme à moi,

de savoir à quel point

je t’attends.

Je te trouve dans les vitrines,

sur les étals de fruits.

Tu es dans les parfums,

les sons, les lumières.

Tu es dans les poèmes

que je n’ai pas écrits.

Chaque nuit, je m’embellis

pour encore une attente

et je m’endors avec ton absence,

avec ton souvenir, la pensée à toi.

pg. 35

I

Page 63: Perdas & Danos - Madô Martins

De ta mort, j’ai su

a travers des amis.

Moi, qui t’avais longtemps

enseveli

au fond de la mémoire.

Dèjá, ils ne m’enchantaient plus

ton sourire de faune,

ni la toile attirante de tes yeux

ou tes mensonges bien ourdis.

Et maintenant tu reviens

pour me hanter.

Et c’est moi qui meurs

à chaque jour,

sachant que tu n’existes plus

ni que ce soit au moins

pour me venger.

pg. 1

II

Page 64: Perdas & Danos - Madô Martins

Il ne vient pas.

À quoi

bon ce soleil?

Où retenir

tant d’amour

jusqu’à ce qu’il revienne?

Comment dire à l’espoir

que maintenant est demain

ou même, peut-être?

Il ne vient pas.

Il y a un coeur déchiré .

Des morceaux à ramasser .

Pièces recyclables.

(Août

a toujours rimé avec

dégoût)

pg. 36

III

Page 65: Perdas & Danos - Madô Martins

Dans la mémoire du corps,

chacune de tes caresses.

Mains et mots entrelacés,

la certitude de ce que je ne sais pas

quoique j’ai toujours su.

le partenaire, le compagnon,

deux têtes, un seul oreiller.

pg. 29

IV

Page 66: Perdas & Danos - Madô Martins

Sable dans les yeux

Sable dans la peau

mon corps divague sur la plage

sans sommeil, sans rêves

Sable dans le projets

parfois si vieux!

Comme cette baie

où la mer est toujours douce

Sable sur le temps

le sablier cassé

l’horizon blanc

le coeur vide

Sable dans les pas

qui suivent errants

sans nord, sans toit

trébuchant dans la douleur

Sable sans fin

aride, monotone

comme la vie qui pèse

ici, dans mon coeur

pg. 43V

Page 67: Perdas & Danos - Madô Martins

Je m’habille de cette douleur

à l’envers

et, même ainsi,

ça m’étouffe.

Je me trompe

les boutons et ses boutonnières,

hors de ligne

tel que nous étions.

Je découds

des plis et des ourlets

devenant déchirée

comme cet amour

Je suis en lambeaux

depuis ta mort.

C’est le linceul, peut-être

ce que je porte sous la peau,

au fond des yeux,

imprégnée de silence.

Et tout m’éfaufile

jusqu’au jour

où je diviendrai nue,

sans avoir de quoi me souvenir,

sans avoir rien à aimer.

pg. 6VI

Page 68: Perdas & Danos - Madô Martins

Ce sont les dernières lignes

que je t’écris,

pas pour la fin, mais a peine pour

un arrêt

à ce que jamais perdra la vie.

Il faut te faire taire

au fond de moi

pour que la vie

suit son cours.

L’amour restera toujours le même –

Il n’y aura aucun d’autre.

Et, comme toujours, illogique:

t’es et tu seras,

jusqu’au bout de mes jours,

la plus grande de nos moitiés.

pg. 44VII

Page 69: Perdas & Danos - Madô Martins

SUMÁRIO

Perdas e Danos 1

Quase 2

Lembranças 3

Palavras 4

Voz 5

Revés 6

Datas 7

Sobras 8

Falta 10

Desconhecido íntimo 12

Vândalo 13

Outra 14

Duas mortes 16

Hoje 17

Ontem, hoje, amanhã 19

Inveja 20

Travesseiro 21

Ainda 22

Inútil 23

Ecos 24

Ternamente 26

Sem resposta 28

Page 70: Perdas & Danos - Madô Martins

Tato 29

Casal 30

Crença 32

Distância 33

Sábio coração 34

Salmo 35

Rima ruim 36

Ainda hoje 37

Frio 38

Sem volta 39

Autodefesa 40

Aprendizado 42

Areal 43

Ilógico 44

EN FRANÇAIS

Ô toi, homme I

De ta mort, j’ai su II

Il ne vient pás III

Dans la mémoire du corps IV

Sable dans les yeux V

Je m’habille de cette douleur VI

Ce sont les dernières lignes VII

Page 71: Perdas & Danos - Madô Martins

Madô Martins

Escreve poesia moderna, haicai, conto, crônica e, em 2011, lançou Avesso, seu primeiro romance.Tem dez livros publicados e mais de 70 premiações literárias em concursos nacionais e internacionais (Portugal e EUA). Desde 2000, é cronista do jornal A Tribuna, de Santos/SP, aos domingos, no caderno Galeria. Também assina a coluna Letras Cotidianas no site www.midiativasantos.com e participa do site Cinezen, Facebook e Twitter. Realiza palestras e oficinas literárias.

Obras publicadas: 1999 - Doce Destino (Massao Ohno Editor), poesias2000 - Paixão e Morte (produção independente), contos 2001 - Pensando em Verso (EditorAção), infantil 2004 - O Jacaré da Lagoa (produção independente), primeiro volume de uma série jornalística para crianças2004 - Alfabeto do Vento (produção independente), haicais2006 - Uma vez em 2284 e outras histórias planetárias (Editora Quártica), contos futuristas 2008 - Três meses no Japão (Editora Comunnicar), crônicas de viagem2009 - Voo de Borboleta (Editora Leopoldianum, da Universidade Católica de Santos - Unisantos), crônicas 2011 – Avesso (Clube de Autores), romance2011 – Diário Ínfimo (Sereia Ca(n)tadora), poesias

Contato com a autora pelo e-mail:[email protected]

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EDIÇÕES CAIÇARAS

São Vicente Brasil

A Edições Caiçaras é uma pequena editora independente artesanal inspirada nas cartoneras da América Latina, principalmente na Sereia Cantadora de Santos e na Dulcinéia Catadora de São Paulo. Nasceu pela dificuldade homérica e labiríntica em publicar meus livros em uma editora convencional. É uma forma de reavivar o ideal punk do “faça você mesmo”, incentivando a auto-gestão e o uso da habilidade manual, algo que está se perdendo em nossa sociedade tecnocrata. Assim, de fato, começa a tomar forma a filosofia da Edições Caiçaras, mais do que um caráter social, nos interessa, ousar na forma e no conteúdo. Na forma é um aprimoramento das técnicas das cartoneras - os livros são feitos com capa dura, costurados com sisal e presos com detalhes em bambu, e no conteúdo, priorizamos um diálogo profundo com a Internet e com as literaturas locais do Brasil.

Márcio Barreto

Page 73: Perdas & Danos - Madô Martins

CATÁLOGO

POESIA

O Novo em Folha - Márcio Barreto

Nietszche ou do que é feito o arco dos violinos - Márcio Barreto

Pequena Cartografia da Poesia Brasileira Contemporânea - Marcelo Ariel (Org.)

Perdas & Danos - Madô Martins

Mundocorpo– as aerografias e outros desvios do tempo – Márcio Barreto

Peixe-palavra (poesias caiçaras) – Domingos Santos

DRAMATURGIA

Atro Coração - Márcio Barreto

Ácidos Trópicos – uma livre criação sobre a obra de Gilberto Mendes – Márcio Barreto

ENSAIO

Obras Cadáveres - Arthur Bispo do Rosário, Estamira, Jardelina, Violeta e o Deus do Reino das Coisas Inúteis - Ademir Demarchi

Desaforismos (aforismos) - Flávio Viegas Amoreira

Meu Namoro com o Cinema – André Azenha

ROMANCE

Teatrofantasma: O Doutor Imponderável contra o onirismo groove – Marcelo Ariel

Page 74: Perdas & Danos - Madô Martins

O IMAGINÁRIO COLETIVO

O Imaginário Coletivo de Arte agrega artistas do litoral paulista em suas diferentes linguagens e tem como proposta fortalecer e propagar a “Arte Contemporânea Caiçara”, valorizando nossas raízes e misturando-as à contemporaneidade. Formado em fevereiro de 2011, é resultado de anos de pesquisas desenvolvidas em diferentes áreas que culminaram na busca de uma nova sintaxe através da reflexão sobre os processos criativos na Arte Contemporânea Caiçara.

Seus integrantes convergem da dança, eutonia, teatro, circo, música, literatura, história, jornalismo, filosofia e artes

visuais. Estão diretamente ligados à experimentação através de núcleos de pesquisas desenvolvidos no grupo Percutindo Mundos – música contemporânea caiçara (2008), Núcleo de Pesquisa do Movimento - dança contemporânea (2011), no Espaço de Consciência Corporal Célia Faustino - eutonia (2003), no Projeto Canoa e Instituto Ocanoa – pesquisa da Cultura Caiçara (2007).

Em seu repertório constam “Ácidos Trópicos – uma livre criação sobre a obra de Gilberto Mendes” (teatro), “Atro Coração – uma livre adaptação sobre o amor” (teatro), “Homo Ludens – fluxos, lugares e imprevisibilidades” (dança contemporânea), “Percutindo Mundos – universo em Gentileza” (música) e “Percutindo o samba – história e poesia” (música).

Ao longo do tempo  realizou encontros, oficinas e palestras, tais como o "Sarau Caiçara" - Pinacoteca Benedito Calixto - Santos /SP, "Mostra de Arte Contemporânea Caiçara" - Casa da Frontaria Azulejada - Santos/SP, "Itinerâncias - Encontros Caiçaras" - Casa da Cultura de Paraty - Paraty /RJ, "Sarau Filosófico" - SESC Santos - Santos /SP, "Virada Caiçara" - São Vicente /SP e “Vitrine Literária” – SESC Santos – Santos /SP.

Seu trabalho está presente em universidades, escolas públicas e instituições de cultura através de cursos, apresentações e palestras, além de inserir sua proposta artística  em espaços públicos.

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www.edicoescaicaras.blogspot.com

www.youtube.com/projetocanoa

www.percutindomundos.blogspot.com

www.myspace.com/percutindomundos

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Perdas & Danos foi impresso sobre papel reciclado 75g/m² (miolo). A capa foi composta a partir de papelão e sacolas de papel doados pelo Espaço de Consciência Corporal Célia Faustino.

www.espacodeconscienciacorporalceliafaustino.blogspot.com