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PAI JOAQUIM PALESTRAS CAMINHO, VERDADE E LUZ

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PAI JOAQUIM - CAMINHO, VERDADE E LUZ

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Page 1: PAI JOAQUIM - CAMINHO, VERDADE E LUZ

PAI JOAQUIM PALESTRAS

CAMINHO, VERDADE E

LUZ

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ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL

Uma doutrina de vida

Caminho, Ver-dade e Luz

(Os ensinamentos de Cristo)

Volume I“Assim, quando o corpo mortal se vestir com o que é imortal e quando o que morre se vestir com o que não pode morrer, então acontecerá o que as Es-

crituras Sagradas dizem: a morte está destruída; a vitória é total”

(Paulo – Carta aos Coríntios 1 – Capítulo 15 – versículo 54).

Este livro contém textos de palestras espirituais reali-zadas por incorporação pelo amigo espiritual JOA-QUIM DE ARUANDA e organizados por FIRMINO

JOSÉ LEITE.e MÁRCIA LIZ CONTIERI LEITE

Os ensinamentos deste livro seguem as bases da Doutrina Espiritualista Ecumênica Universal.

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Página 2 Caminho, Verdade e Luz – volume I

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Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 3

Amem-se uns aos outros

Comecemos nosso estudo de hoje da Bíblia. Para conversamos, se-lecionei um discurso que Cristo faz aos apóstolos depois que Judas retira-se da ceia. Ou seja, é a última instrução que Cristo dá aos seus apóstolos an-tes da crucificação. Ele está no Evangelho de João, evangelho esse que é muitas vezes esquecido, mas que contém grandes ensinamentos.

Vamos, então, ver este texto...

Jesus disse:

- Eu sou a videira verdadeira... (Capítulo 15 – Versículo 01).

O mestre se declara como a videira, mas quem é Jesus Cristo? An-tes de entrarmos no estudo, isso precisa ficar muito bem definido...

Jesus Cristo não é um homem ou um espírito, mas sim uma encar-nação, uma vida humana, uma personalidade que vivenciou uma vida hu-mana. É assim que se deve tratar qualquer mestre: uma encarnação que sirva de exemplo para aqueles que buscam aproximar-se de Deus.

Outro dia me perguntaram se Kardec tinha ego e eu respondi que não. Disse isso porque Kardec é o ego com o qual um espírito viveu a vida carnal.

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Página 4 Caminho, Verdade e Luz – volume I

Se isso é verdade, Jesus Cristo também é o ego de um espírito. É uma encarnação, uma vida carnal, nada mais do que isso...

Mas, veja bem: existe o espírito que você chama de Cristo? Existe... Mas ele não se chama Cristo, não foi homem ou mulher, judeu ou romano e nunca foi o messias. Ele é apenas um espírito igual a todos os outros: gera-do à imagem e semelhança de Deus e que realiza a sua progressão espiri-tual no Universo.

Quando vamos estudar na Bíblia os ensinamentos de Jesus Cristo, temos que ter isso em mente, pois senão pode se cair na idolatria, o que nos afastará do Pai. Jesus Cristo é apenas uma encarnação de um espírito, mas, é uma encarnação especial. Vamos entender isso...

Segundo João neste mesmo Evangelho, Jesus Cristo é o verbo (Ca-pítulo 01 – versículo 01). O verbo, gramaticalmente falando, é a ação de uma frase. Sendo assim, podemos dizer que a encarnação verbo (Jesus Cristo) é o exemplo de atividade para um espírito durante uma encarnação.

O fato de ela ser um exemplo a ser seguido fica muito claro com ou-tra palavra de Jesus Cristo: eu sou o caminho, a verdade e a luz e ninguém chega a Deus a não ser através de mim.

Portanto, quando se estuda a Bíblia, ou seja, os ensinamentos que fizeram parte daquela encarnação, nós temos que entender que aqueles en-sinamentos são o sentido de transformar a sua encarnação numa ação...

Mas, que ação foi praticada pela encarnação Jesus Cisto e que deve ser copiada por você? O amar... A encarnação Jesus Cristo foi a ação do amor universal, do amor sublime...

A partir de agora, portanto, devemos compreender que durante este estudo não iremos conhecer Jesus Cristo ou seus ensinamentos, mas sim compreender a ação amorosa, que se posta em prática durante a encarna-ção, nos aproxima de Deus.

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Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 5

Por exemplo, quando ele diz “eu sou a videira”, não devemos, em nosso estudo, entender que o ser humano ou espiritual Jesus Cristo é a vi-deira, mas sim que a ação amorosa é a videira. A árvore da vida não é o mestre, um ensinamento ou qualquer outra coisa, mas sim a ação amorosa, a conjugação do verbo amar.

Esta é, então, a primeira compreensão deste estudo: iremos estudar a questão da aplicação do amor durante a existência carnal para que ela fundamente a sua opção que lhe leva a felicidade incondicional. É preciso se estudar isso porque sem essa ação, você jamais optará pela felicidade incondicional.

Isso porque a antítese do amar universal em ação é a encarnação humana, ou seja, o amor individualista e egoísta em ação. O amor humano não lhe deixa alcançar a felicidade incondicional porque he prende ao dua-lismo do prazer e dor, já que fortalece as paixões e os desejo.

Portanto, para aqueles que pensaram que iríamos estudar Jesus Cristo ou suas máximas, afirmo que, na verdade, iremos buscar compreen-der como construir em nós esse amor universal. Para teremos que entender como destruir em nós esse amor egoísta e individualista que só pensa em si mesmo e o resto do mundo que se dane...

Agora podemos continuar nosso estudo...

... e o meu Pai é o lavrador. (Idem).

O que é uma videira? Uma árvore. Mas, na Bíblia a árvore não é um vegetal...

Toda árvore citada na Bíblia deve ser compreendida como uma fon-te de conhecimento. Desde o livro Gênesis, quando Deus fala da árvore do conhecimento que fica no centro do Jardim do Éden, este elemento sempre simboliza uma fonte de conhecimentos.

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Página 6 Caminho, Verdade e Luz – volume I

Se o mestre afirma que ele é a videira, isso, portanto, quer dizer que ele é a fonte de conhecimentos para uma existência que leva a Deus. Se entendermos Jesus Cristo como o verbo, como já dissemos, dizer que ele é a fonte de conhecimento da ação do amor durante a vida. Por isso copiá-lo nesta ação leva a Deus.

Sendo assim, é justo dizer que nenhuma outra encarnação pode servir de espelho para você. Nenhuma encarnação pode servir de exemplo porque elas não são o amor em ação.

Às vezes, quando as pessoas me perguntam como reagir a determi-nadas circunstâncias, digo: tente imaginar como Cristo reagiria... Falo assim porque este é o exercício que precisamos fazer transformar a vida carnal numa progressão em direção ao Pai.

Devemos seguir a única coisa que pode ser exemplo: a ação do amor. Qualquer outro exemplo que você me cite, mesmo que humanamente seja considerado como sublime, não é a videira, não é a árvore da vida.

Mas, neste pedaço do Evangelho de João que citamos, Cristo fala mais: ele diz que Deus é o lavrador, ou seja, que o Pai é que sustenta a vida. Vamos ver esta afirmação, pois esta é uma questão impar para quem quer colocar o amor em ação, ou seja, optar pela felicidade e o bem em to-dos os momentos de sua existência carnal.

A vida não nasce ao acaso, ao léu. Ela não é fruto do encontro de um espermatozóide com o óvulo nem do coco de um passarinho que tinha uma semente. Ela é criada e cultivada por Deus...

Esta afirmação de Cristo vem de encontro àquela informação que já estudamos em O Livro dos Espíritos que diz que Deus é Causa Primária de todas as Coisas. Sim, Deus é a Causa Primária de todas as coisas porque é Ele que cuida da vida de cada um.

Cristo é a vida... O amor em ação é a vida, mas ele só nasce quan-do cultivada por Deus.

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Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 7

Aí está o primeiro grande ensinamento de nosso estudo, isso por-que ninguém conseguirá optar pelo bem, se não sentir a sua vida como obra de Deus.

Ontem estávamos conversando sobre outro tema e uma pessoa me disse: eu realmente só entendendo o seu ensinamento se aplicarmos o pre-ceito que diz que Deus é a Causa Primária de todas as coisas. Se não apli-cá-lo, nada faz sentido...

Realmente, você só vai me entender, ou melhor, só conseguirá op-tar por estar no bem, se ver no que está acontecendo o fruto de um trabalho de Deus. Enquanto estiver aprisionado ao fruto do trabalho de qualquer ou-tro, não há como.

Isso porque não há como você conceber que outro ser humano, es-pírito, ou seja, outra inteligência inferior igual a você aja sobre você, controle os acontecimentos de sua existência. Ver a ação de uma inteligência inferior sobre você lhe dirigindo não lhe dá confiança, não lhe permite a entrega ab-soluta...

Portanto, Jesus Cristo é o amor em ação, a fonte do conhecimento para a prática amorosa, mas quem cultiva, quem ara a terra, semeia, rega e cuida da vida é Deus.

Não quero transformar este estudo num tratado religioso. Nosso ob-jetivo é conversar de forma prática, de forma aplicada à vivência de cada um durante a existência carnal.

Como prática disso que acabamos de ver, digo o seguinte: ninguém nos fala nada... Se Deus é o agricultor, ou seja, quem cria a árvore da vida e toma conta dela, qualquer som que ouçamos terá sido semeado, cultivado e germinado por ele...

Sendo assim, sentir-se ofendido, ou seja, viver o “mal” neste mo-mento, é não estar ligado ao amor, a Deus e ao próximo. Só vive o “mal” quem coloca o próximo como o agricultor que cuida da sua viseira, da sua vida.

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Página 8 Caminho, Verdade e Luz – volume I

NOTA: As alusões a escolha entre “bem”, “bom” e “mal”, estão ligadas ao ensinamento de O Livro do Espírito (pergunta 390), onde o Espírito da Verdade afirma que o livre arbítrio do espírito encarnado se consiste em esco-lher entre o “bem” e o “mal” enquanto vivencia o destino que resultou da sua opção por determinados gêneros de provas.

Quando esta questão foi estudada, o amigo espiritual en-sinou que o “bem” é tudo que provém de Deus, enquanto que o “mal”, que pode ser dividido em “bom” (o bem que eu gosto) e novamente “mal” (o bem que eu não gosto).

Portanto, optar pelo “bem” é viver tudo como oriundo de Deus, enquanto que optar pelo “mal” é viver preso ao du-alismo dos conceitos individualistas.

Aí está a resposta para aqueles que me perguntaram como colocar em prática esses ensinamentos: optando pelo bem... Isso porque optar pelo bem é optar por ver que a vida é cultivada por Deus e não por outros espíri-tos, encarnados ou não.

Participante: A gente até consegue fazer esta opção por um tempo, mas às vezes tropeça...

Quando tropeçar uma vez, passe a viver o momento seguinte, conti-nuando a tentar optar...

Esqueça os tropeços. Este ainda não é um mundo de Regeneração, mas sim de Provas e Expiações, ou seja, de provar que estar disposto a buscar.

Mas, você tropeça uma vez e logo para de caminhar e fica chorando porque machucou o dedão...

Participante; Como aqueles que não tem Jesus como guia vão seguí-lo?

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Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 9

Amando como Jesus amou... Amando sem buscar para si, sem es-perar resultados... Amar por amar... É assim que se segue o exemplo de Je-sus.

Veja. Todos os mestres amaram como Jesus, portanto, não importa que exemplo siga, você sempre estará caminhando em direção a Deus quando optar pelo bem...

Sabe... Eu não estou no oriente. Se estivesse falando para egos da-queles povos, diria: siga Buda...

Para cada povo há um mestre, mas todos seguiram o mesmo cami-nho: o amor incondicional, a libertação do eu para amar. Não importa que mestre você cite, posso lhe provar que o ensinamento deles, mesmo que não tenha estas palavras, se resume nisso.

Sendo assim, para você optar pelo “bem” deixe que Deus resolva isso, ou seja, que Ele cultive como o espírito encarregado de ensinar o amor em ação no oriente fale. Vamos nos firmar em Cristo, pois ele para nós, que somos cristãos, é nosso mestre.

Ele corta todos os galhos que não dão uva, embora eles estejam em mim. (idem, versículo 02).

Deus corta todos os galhos da videira que não dão uva, apesar de-les estarem no amor. Isso quer dizer que não basta conhecer o amor ou ter o amor: é preciso que o amor gere frutos para que continuem vivo...

Este é um aspecto interessante da vida. Vocês acham que “bem” vi-ver é quando se alcança acúmulo de conhecimentos: quanto mais se vive, mais se conhece e, por isso, mais se evolui.

Acontece que o simples acúmulo de conhecimentos não é sinal de evolução. Isso porque enquanto o ser humanizado apenas conhece, mas

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Página 10 Caminho, Verdade e Luz – volume I

não pratica o que aprende, torna-se um galho que não dá frutos e, segundo Cristo, Deus cortará estes galhos da vida.

Nós vamos falar neste estudo muito sobre destruir o “mal” para en-trar no “bem”, mas a partir do momento que se falar sobre qualquer coisa, é preciso que o ensinamento entre em prática.

Participante: Como amar na prática?

Como se faz alguma? Só tenho uma resposta para lhe dar sobre isso: fazendo...

Não existe outra forma. Como se ama? Amando... Como se destrói a opção pelo “mal”? Destruindo...

Esse é o caminho. Não há resposta diferente desta e ninguém pode lhe responder de forma diferente disso, pois cada um ama da sua forma. Saiba de uma coisa: a única coisa que um mestre pode dizer é onde se deve chegar, mas cada um precisa encontrar o seu próprio caminho para caminhar.

Portanto, para amar, é preciso amar...

Não estou falando de amar a partir de seus próprios conceitos, mas estou dizendo que cada tem a sua própria opção pelo “bem”. Ou seja, tem a sua própria forma de ver Deus como Causa Primária de todas as coisas. O que quero dizer é que cada um opta pelo “bem” a partir de uma motivação racional individual.

A forma como se destrói o “mal” ou se constrói o “bem” não impor-ta... O importante é sabermos que se tudo que conversarmos aqui for exclu-sivamente letra fria, ou seja, virar conhecimento e no momento de vivenciar um determinado acontecimento não se transformar em opção pelo “bem”, saiba que você será um galho futuramente cortado por Deus da videira.

Participante: O que quer dizer quando cita que o Pai cor-tará todo galho que não dá fruto?

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Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 11

Que este galho será tirado da vida...

Não falo que este ser humano será morto... Não estou dizendo que uma encarnação será encerrada... O que digo é que o galho que não dá fru-to será tirado da glória de Deus.

Ou seja, este ser humanizado viverá como ser humano: preso aos seus afazeres diários, às suas preocupações humanas, aos seus medos... Isso é estar morto, porque quem vive assim está morto para Deus.

É isso que quero dizer.

Participante: Como amar se a pessoa que nós amamos não quer ser amada?

Participante 2: Todos querem ser amados...

Desculpa, mas nem todos querem ser amados. Alguns querem ser idolatrados, outros adorados e muitos querem ser paparicados. Agora ama-dos de uma forma incondicional, isso poucos querem...

Como amar quem não quer ser amado? Amando...

Eu falei no início que este amor é incondicional. Ou seja, ele se existe mesmo que o outro você não queria ser amado por você.

Então ame, ame a todos, independente deles quererem ou não ser amado por você. Ame mesmo que os outros não queiram ser amados e não espere nem que eles aceitem ser amados ou que retribuam de alguma for-ma o seu o amor...

Participante: Como Jesus sabia que só ele era o cami-nho?

Espiritualmente falando porque ele é a inteligência mais evoluída deste do orbe terrestre. Racionalmente falando porque esta verdade estava presente naquele ego.

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Página 12 Caminho, Verdade e Luz – volume I

Participante: Então podemos concluir que não é o Pai que irá nos cortar da árvore, mas que é uma escolha de cada um sair da árvore?

Quem corta da árvore é o Pai, mas ele faz isso apenas para quem optou por não dar frutos.

Na árvore da vida cada galho tem vida própria no sentido de optar em dar frutos ou não. Deus cuida da árvore, mas cada galho tem a liberda-de de amar ou não.

Quando você opta pelo “mal”, ou seja, por não amar, Deus corta o galho.

Participante: Ninguém poderia aparecer hoje dizendo ser o caminho?

Pode... Qualquer um pode aparecer afirmando ser o caminho, des-de Deus faça isso acontecer...

Mas isso não quer dizer que ele é o caminho, pois somente aquele que colocar o amor incondicional em ação é o caminho... Respondo desta forma porque o caminho não é Cristo, mas o amor em ação.

Participante: Mas este julgamento quem fará não será o ego?

Não... Será Deus através do seu ego. Não o ego em si...

Então, se tiver que cair nessa, ou se tiver que não acreditar e for re-almente uma nova encarnação caminho, Deus lhe dará a compreensão ou não...

Portanto, não se preocupe com isso...

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Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 13

Mas ele poda os galhos que dão uvas para que fiquem limpos e dêem mais uvas ainda. (idem, versículo 02).

O que é podar? Cortar alguns galhos para que a planta cresça com mais vigor. Ou seja, renovar...

Com isso, nossa compreensão sobre a vida, aumenta. Sabemos que Deus cortar os galhos que não dão frutos e agora aprendemos que Ele renova os galhos que dão frutos.

O que quer dizer isso? Quer dizer uma coisa que ainda estudare-mos: quanto mais se gastar desse amor, mais amor estará disponível para gastar, para amar...

NOTA: Este assunto foi estudado no texto “Jesus e os três empregados” que está disponível neste livro.

Tem gente, como a parábola dos talentos fala, que economiza no amar. Ama apenas os pobres, os sem saúde, os velhos no asilo. Isso é eco-nomia no amar.

Cristo disse que devemos amar a todos. Sendo assim devemos amar as crianças abandonadas, mas também as que têm lar da mesma for-ma. Temos que amar os com saúde e os sem com a mesma intensidade; te-mos que amar os velhos que moram em asilos ou os que estão em casa de uma forma equânime.

Amar a tudo e a todos, a cada momento: essa é a única garantia que você terá de receber esse amor sempre...

Veja, vou dizer uma coisa que talvez você ainda não tenha se dado conta: amor e conhecimentos são as únicas coisas que quando mais se gasta, mais aumenta. Quanto mais ama, mais amor você tem; quanto mais busca conhecimento, tem, e quanto mais dá, recebe, pois ouve os conheci-mentos dos outros.

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Página 14 Caminho, Verdade e Luz – volume I

Então, Deus retira os que não ama, mas renova, fortalece o amor daqueles que amam.

Vocês já estão limpos por meio do ensinamento que lhes tenho dado. Continuem unidos comigo e eu conti-nuarei unido com vocês; pois só podem dar fruto se fi-carem unidos comigo, assim como o galho dá uvas só quando está unido com a planta. (idem, versículos 03 e 04)

Olha que grande ensinamento: vocês já estão limpos pelos ensina-mentos que receberam ao longo de suas existências... Sim, já estão...

Eu diria que a humanidade já tem hoje todos os conhecimentos ne-cessários para a evolução e por isso nenhum mestre mais precisa encarnar. Agora, precisam continuar limpos, precisam continuar ligados ao amor amando...

Foi o que falamos agora a pouco: saber sem prática não vale nana-da. É preciso praticar o que se recebe.

Ora, se você recebe a informação, que está na Bíblia, que diz que não é vantagem cumprimentar apenas o seu amigo, é preciso, para continu-ar puro, amar o inimigo. Se recebe o ensinamento que não deve julgar os outros (que atire a primeira pedra quem não tem pecado), deve abster-se de julgar...

De nada adianta saber que isso está escrito na Bíblia, se na hora do acontecimento você não pratica... O galho só dá frutos quando está ligado à árvore: você, como galho da vida universal que é, só dará frutos, ou seja, só estará na árvore da vida, se continuar ligado à árvore.

Então nunca pare de amar: ame a tudo e a todos...

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Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 15

Participante: Há algum espírito no nível de evolução de Jesus que sirva de exemplo.

Não... Só Ele é o exemplo.

É isso que dissemos agora pouco: nenhuma outra encarnação pode servir de exemplo para você

Eu sou a videira e vocês são os galhos. Quem está em mim e eu nele, esse dá muito fruto porque sem mim vo-cês não podem fazer nada. Quem não ficar unido comi-go será jogado fora e secará; será como os galhos se-cos que são juntados e queimados. Se vocês ficarem unidos comigo e as minhas palavras continuarem em vocês, receberão tudo o que pedirem. A glória do meu Pai é conhecida por meio dos frutos que vocês produ-zem e assim vocês se tornam meus seguidores. O meu amor por vocês é como o amor do Pai por mim; portan-to continuem no meu amor. Se obedecerem aos meus mandamentos, vocês continuarão no meu amor, assim como eu obedeço aos mandamentos do meu Pai e con-tinuo no seu amor.

Eu estou dizendo isso para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa. (idem, ver-sículos de 05 a 11).

Eu deixei a leitura correr porque já havíamos falado de tudo isso. Mesmo agora, quando Cristo fala em ser feliz, já havíamos abordado este tema.

A felicidade de Cristo, que não é a felicidade deste mundo, está com você e em Cristo por causa de Deus. Portanto, você só será feliz de verda-de quando encontrar Deus, ou seja, quando ver nos acontecimentos da vida a ação de Deus tomando como lavrador da planta.

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Página 16 Caminho, Verdade e Luz – volume I

O meu mandamento é este: amem uns aos outros como eu amo vocês. (idem, versículo 12).

Agora chegamos ao ponto principal desta conversa: amem uns aos outros como eu amo vocês.

Como Cristo amou, ou como a encarnação Cristo transmitiu o amor? De uma forma incondicional.

Cristo nos ama incondicionalmente e nós devemos amar ao próximo incondicionalmente. Mas, o que é amar incondicionalmente? Não amar por-que, para que, como... É simplesmente amar...

Perguntaram-me como se pode amar a pessoa que não quer ser amada por mim? Superando esta condição. Esse é o incondicional deste amor...

Como atingir a incondicionalidade? Superando as condições para amar... Ninguém consegue amar incondicionalmente sem antes superar as condições que ele tem para amar.

Eu amo fulano por causa disso... Desculpe, não ama, porque o amor verdadeiro é incondicional. Você gosta, é outra coisa. Enquanto não superar a condição não estará no amor.

Eu não amo fulano por causa disso... Para amá-lo não é preciso que ele se mude, mas que você supere a condição que você impõe para amar.

Mas como superá-la? Para vocês este é o problema...

É o que disse anteriormente: optando por não se submeter a esta condição. Optando por não deixar esta condição influenciar os seu estado de espírito lhe levando para o “mal”.

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Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 17

Aquela pessoa me fez isso... Esta é uma condição que precisa ser suplantada para entrar no amor universal. Esta é uma condição que precisa sr ultrapassada para se atingir o amor.

Então, aí está uma forma de fazer, uma forma de colocar este ensi-namento em prática. Agora, como disse anteriormente, cada um terá uma forma para suplantar estas condições...

Apesar disso, este é o caminho: suplantar condições para amar. Isso porque ninguém entra no amor universal sem suplantar condições. Só quando você vence a condição entra na incondicionalidade.

Não se ama verdadeiramente sem superar as condições para amar ou não... É a mesma história que ainda estudaremos sobre aquela frase de Cristo: em verdade lhe digo que quem não nascer de novo não verá o reino do céu.

Todos querem renascer do espírito e da água e entre no reino do céu. Mas ninguém nasce sem antes morrer. Portanto, é preciso morrer an-tes para depois poder nascer de novo. Só que ninguém quer morrer...

Isso é amar. Amar não é se entregar ou ter quaisquer posturas raci-onais a favor de alguém... Amar é suplantar as condições que lhe leva a amar em alguns momentos e em outros não.

O maior amor que alguém pode ter pelos seus amigos é dar a vida por eles. Você são meus amigos se fazem o que eu mando. (idem, versículo 13).

O que é dar a vida por eles? Quando é que você se sente vivo? Quando está feliz, quando tem prazer...

Dar a vida por eles é exatamente isso: deixar o outro se considerar o certo, o bom. Enfim, deixá-lo considerar-se o que ele quiser se conside-rar...

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Página 18 Caminho, Verdade e Luz – volume I

O maior amor que alguém pode dar pelo outro é dar a ele o direito de pensar sobre si ou sobre qualquer coisa o que quiser...

Amar não é ensinar nada, não é interferir no próximo. Amar é uma atitude passiva no tocante à vida humana.

Amar é assistir ao outro vivendo com suas verdades, com suas pai-xões, com suas posses, com sua busca da fama, sem que você se sinta ob-rigado a interferir nisso. Sem que você se sinta obrigado a mudá-lo, sem que você veja nestas coisas um condicionamento ao “bom” ou “mal”.

Sabe, tem gente que diz que amaria uma pessoa se ela fosse de um determinado jeito. Mesmo que esta pessoa mudasse, ele não amaria o outro, mas continuaria amando apenas a si mesmo. Amaria a ele mesmo porque primeiro se preocupou consigo, com o que é importante para si.

O amor é doação, é caridade e a doação maior que alguém pode fa-zer é doar a razão: você está certo...

Você acha que estou falando besteira, louvado seja Deus. Você está certo: eu não tenho que lhe corrigir, que lhe mudar... Esta é uma ex-pressão do amor que nos auxilia a vencer as condições. Isto porque as ven-ce quem doa ao outro o direito de ter as suas próprias condições para ser feliz.

Abe de uma coisa: viver é um constante choque de opiniões, pois ninguém nunca faz o que você quer nem acredita exatamente no que você crê. Para que? Exatamente para isso: para que você exerça no grau máxi-mo o amor que é dar ao próximo o direito de ser, estar, fazer e acreditar no que ele quiser...

Vocês são meu amigos se fazem o que eu mando. Não chamo vocês de escravos porque o escravo não sabe o que o seu dono faz; mas chamo de amigos, pois tenho dito a vocês tudo o que ouvi do meu Pai. Não forma vo-

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cês que me escolheram; pelo contrário, fui que os esco-lhi para que vão e dêem muito fruto e que esses frutos não se estraguem. Assim o Pai lhes dará tudo o que pe-direm em meu nome. Portanto, isto é o que eu mando: Amem uns aos outros. (idem, versículos 14 a 17).

Com isso encerramos nossa conversa de hoje...

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Pedra de Roseta

Participante: O senhor pode falar um pouco sobre as bem-aventuranças?

Como já disse anteriormente, já passei a vocês tudo o que tinha a ser passado. O que estamos fazendo agora é tirando dúvidas. Agora, tirar dúvidas não é estudar tudo novamente. Não estou falando que não vou es-tudar hoje as "bem-aventuranças", mas preciso hoje deixar algo bem claro.

Daqui a pouco não mais estarei aqui para estudar com vocês por-que a minha missão terá terminado. Neste momento vocês irão precisar "pensar" sozinhos". Por isso afirmo que o importante é vocês começarem a conhecer o mecanismo da coisas, ou seja, como decodificar os ensinamen-tos doas mestres.

Por isso, ao invés de fazer como sempre fiz, ou seja, estudar direta-mente o texto, eu quero ir um pouco além hoje. Gostaria de começar esta conversa falando dos fundamentos de onde surgiram os textos que são co-nhecidos como "bem-aventuranças".

O meu objetivo primordial hoje é tentar lhes ensinar a aprender a entender não só este ensinamento, mas todos os ensinamentos de Cristo. Isto porque, depois que aprenderem a compreender os ensinamentos em essência ficará fácil compreender este e outros textos do Novo Testamento. Portanto, vamos lá!

Quem ensinou as "bem-aventuranças"? Jesus, o Cristo.

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Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 21

Não existe um Jesus Cristo. Naqueles tempos não existiam sobre-nomes. Jesus era conhecido como Jesus de Nazaré porque nasceu na cida-de deste nome ou ainda como Jesus, filho de José. Jesus Cristo, portanto, não é um nome.

Mas, por que este adendo foi colocado ao nome de Jesus? Porque ele foi reconhecido como o messias, o prometido. Portanto, Jesus Cristo quer dizer "Jesus, o prometido".

Por que prometido? Porque no velho testamento os profetas, falan-do em nome de Deus, prometem à humanidade que um dia viria o "filho de Deus" que libertaria o povo do Senhor da opressão.

Quem é o filho do Senhor? O espírito que se reconhece como tal. Como já disse anteriormente, todos somos filhos de Deus, mas não nos re-conhecemos como tal. Para que possamos fazer jus a este título é preciso que nos reconheçamos como seres espirituais e não humanos. Para isso é preciso que o espírito esteja de posse de sua consciência espiritual e não li-gado a egos humanizados.

Portanto, o espírito que foi prometido pelos profetas seria um que estivesse ligado à sua consciência primária e não a um ego humano. Sendo assim, Jesus não poderia ser este espírito, pois ele era um ego humano.

Por isso afirmo: Jesus era um espírito ligado a um ego humanizado que em determinado momento ligou-se a um espírito puro (ligado à sua consciência espiritual). Daí o nome: Jesus, o Cristo.

Resumindo, então, posso dizer que as bem-aventuranças, assim como todos os ensinamentos do Novo Testamento, são transmissões reali-zadas por um médium (Jesus) influenciado por um espírito superior (o Cris-to).

Esta é a origem dos ensinamentos. Tudo que está no Novo Testa-mento foi passado à humanidade através de um médium guiado por um es-pírito de posse da sua consciência espiritual. Por isso afirmo que todo ensi-

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namento atribuído a Jesus Cristo tem origem em um espírito de posse da sua consciência espiritual.

O que quer dizer um espírito de posse da sua consciência espiritual? Já falamos disso também: são os espíritos que estão livres da ação do individualismo que surgem pela formação da idéia do "eu".

Poderíamos dizer que os espíritos que existem a partir das realida-des formadas por sua consciência plena - ou primária como Krishna fala - são os universalistas. Eles são individualidades do Universo, mas vivem em perfeita comunhão com o Todo e por isso deixam de ser individualistas.

Existindo a partir desta consciência eles estão livres do egoísmo que se expressa através das posses, paixões e desejos. O espírito quando existindo a partir das realidades formadas por uma consciência primária está tão perfeitamente interligado ao Todo que nada mais possui nem dese-ja.

Agora dá para entender aquilo que está no Novo Testamento e é atribuído à Jesus, o Cristo: ensinamentos universalistas (não individualistas) de um espírito superior transmitidos por um ego humano.

Participante: A partir do que foi exposto, como podemos entender as mensagens trazidas por aqueles que são chamados de mestres ascensionados?

O que é mensagem de um mestre chamado de mestre ascensiona-do, eu não saberia lhe dizer, pois esta determinação a um espírito é essen-cialmente humana.

Apesar disso, posso afirmar que o que devemos entender em tudo na existência carnal é que se trata de uma emanação divina. Tudo que exis-te origina-se em Deus (Causa Primária). Por isso, seja que rótulo se dê a quem transmite uma mensagem, deve-se entender que ali está uma emana-ção divina.

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Mas, também devemos entender que qualquer mensagem é uma faca que corta dos dois lados. Ao mesmo tempo em que uma mensagem transmite um ensinamento, ela cria uma prova. Isso porque toda mensagem transmite um ensinamento e este é utilizado para criar um "certo" e um "er-rado" do qual o espírito encarnado se apropriará e julgará o próximo.

Sendo assim, não importa a que mensagem você tenha tido acesso - seja de um espírito considerado ascensionado ou de outro qualquer que não seja reconhecido como tal - é uma orientação e ao mesmo tempo uma provação.

Voltemos à conversa de hoje. Agora que já entendemos a origem dos ensinamentos do Novo Testamento, pergunto: qual a essência que está embutida em cada um deles? Para sabermos isso é preciso compreender qual foi a missão de Cristo ao transmitir através de Jesus os ensinamentos universalistas.

Esta missão foi deixada bem clara na Bíblia: transmitir a "boa nova do Reino do Céu". O objetivo de Cristo durante aquela missão foi trazer à humanidade a boa notícia do Reino do Céu.

Mas, qual é esta boa notícia? Cristo informou à humanidade que aqueles que praticarem determinada coisa estarão sentados ao lado direito de Deus. Esta visão é bem dogmática e, por isso, muitas vezes ininteligíveis para os seres humanizados de diversas crenças. Por isso, vamos passar esta informação para nossas palavras, para palavras do universalismo e do espiritualismo.

A boa notícia que aquele espírito ligado à sua consciência primária trouxe através de um ego humano foi que o fim das encarnações para pro-vas e expiações pode ser alcançado por quem seguir determinados ensina-mentos. Isso é, numa linguagem mais moderna, o mesmo que foi dito ao povo de então quando foi afirmado que há um caminho para se estar senta-do ao lado direito de Deus.

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Partindo dessa premissa, podemos afirmar que aqueles que estão do lado esquerdo são os que ainda se encontram presos ao ciclo de encar-nações. Quem se alinha ao lado direito é aquele que passa a viver no Reino do Céu, ou seja, não reencarna mais, pelo menos para provas e expiações.

Essa é a boa notícia do Reino do Céu que um espírito de posse de sua consciência espiritual revelou através de um ego humano. Ele ensinou que qualquer espírito pode encerrar o ciclo de encarnações se cumprir algu-ma coisa.

Mas, o que é preciso cumprir para estar ao lado direito de Deus? Cristo deixou isso muito claro: amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Com isso a boa notícia estava então solidificada: qualquer um que durante a sua encarnação amar a deus acima de qualquer coisa e ao próximo como a si mesmo, no desencarne alcançará a ressurrei-ção, ou seja, a libertação da consciência humana.

Esta é a boa notícia do Reino do Céu. Todos que amarem a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, não mais encar-narão e libertar-se-ão da ligação à egos humanizados.

Ao dizer isso eu estou criando para vocês uma "pedra de roseta": um código para que vocês possam decodificar todos os ensinamentos do Novo Testamento. Não importa que palavras estejam na sua Bíblia, o que está embutido nelas é um caminho para a libertação do ciclo de encarna-ções para provas e expiações. Este caminho é composto pelo amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Quando Cristo fala do cego espiritual, ele fala daquele que não ama a Deus sobre todas as coisas e nem ao próximo como a si mesmo.

Quando ele fala que não se deve julgar, diz que não julgar é amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Quando ele diz que você deve conviver com o seu inimigo, ele está dizendo que viver assim é amar a Deus acima de todas as coisas e ao pró-ximo como a si mesmo.

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Veja: sem entender isso, sem colocar esta essência que decodifica o ensinamento, nós criaremos uma multiplicidade de intenções para os ensi-namentos de Cristo, enquanto ele não teve nenhuma outra intenção a não ser trazer a boa notícia do Reino do Céu, a não ser dizer para cada um o que é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Cristo não quer que você tenha visão espiritual, não julgue ou que conviva com o seu inimigo. Não é isso que ele quer que você faça... Na ver-dade ele fala estas coisas porque elas são expressões do amor a Deus aci-ma de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, que é o mote de seus ensinamentos.

Participante: Como é amar a Deus? Pergunto isso por-que não se sabe como é Deus. Como amá-lo então? Deus seria a vida? Se puder fale um pouco de Deus: sua forma de agir e como Ele nos ama...

Vou começar a lhe responder pela última pergunta (fale um pouco de Deus): impossível... O ego humanizado não tem condições de conhecer a Deus. Falta a ele um sentido para isso.

NOTA: "Pergunta 0010: Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus? Não, falta-lhe para isso o sen-tido".

Para o segundo questionamento seu (como é amar a Deus) a res-posta é simples: seguir os ensinamentos do Novo Testamento. Se a essên-cia da missão deste espírito ligado à sua consciência espiritual foi ensinar a amar a Deus acima de todas as coisas, fazer isso é seguir aquilo que ele ensinou.

Cristo ensina: por que vocês se preocupam com o que vão vestir ou comer amanhã? A partir daí pergunto: o que é amar a Deus? Não se preo-cupar com o que vai comer e vestir amanhã.

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O mestre deixou um ensinamento que lhe orienta para que quando alguém lhe peça a túnica você dê o manto também. A partir daí, o que é amar a Deus? É dar além do que lhe pedem...

Ele diz: se um soldado estrangeiro (seu inimigo) lhe mandar carre-gar um peso por um quilômetro, carregue por Deus. Lendo isso podemos compreender que amar a Deus é fazer pelos nossos inimigos além do que eles esperam...

Compreendeu? Para saber o que é amar a Deus é só você pegar o ensinamento e entendê-lo. Por isso afirmei que estou passando a vocês uma "pedra de roseta", um código para compreender o que é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, o que, em essência, é o que está por trás de todos os ensinamentos do Novo Testamento.

Como ensinou o Espírito da Verdade (pergunta 14 de O Livro dos Espíritos), não perca tempo criando sistemas que se transformarão em labi-rintos dos quais você não conseguirá sair. Não importa que assunto esteja sendo abordado em qualquer ensinamento da Bíblia: o que sempre será mostrado é apenas um caminho que reflita o amor a Deus sobre todas as coisas ao próximo como a si mesmo.

NOTA: "Pergunta 0014: Deus é um ser distinto, ou será, como opinam alguns, a resultante de todas as forças e de todas as inteligências do Universo reunidas? Se fosse assim, Deus não existiria, porquanto seria efeito e não causa. Ele não pode ser ao mesmo tempo uma e outra coisa. Deus existe; disso não podeis duvidar e é o es-sencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograreis sair. Isso não vos tor-naria melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois que acreditaríeis saber, quando na realidade nada sabe-ríeis. Deixai, conseguintemente, de lado todos esses sis-temas; tendes bastantes coisas que vos tocam mais de perto, a começar por vós mesmos. Estudai as vossas próprias imperfeições, a fim de vos libertardes delas, o

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que será mais útil do que pretenderdes penetrar no que é impenetrável".

Participante: Será se entregar à vida?

É mais do que isso. À vida você não pode deixar de se entregar, porque na verdade está totalmente entregue a ela. Você acha que domina a vida, mas na verdade ela lhe leva, ou seja, acontece o que ela quer e não o que você deseja. Portanto, você não tem consciência disso, mas já está to-talmente entregue a ela.

A partir desta simples constatação, eu diria que amar a Deus não é entregar-se à vida, mas ter consciência de que você é um barquinho sem leme e vela que o mar leva para onde quer. Esta é a primeira posição da-quele que ama a Deus sobre todas as coisas, mas existe outra: é preciso não sofrer por causa deste não comando da existência.

Muitos até alcançam a idéia de que a vida é uma emanação divina, mas sofrem com a consciência da perda do controle. Como podem, então, dizer que amam a Deus, já que o amor para existir necessita da felicidade?

Participante: Se a evolução é individual, por que precisa-mos buscar Deus? Por que precisamos ter vontade de Deus?

Eu não falei em buscar a Deus ou ter vontade Dele... Eu falei em amar a Deus. São coisas completamente diferentes.

A partir daí você poderia me perguntar então: por que precisa amar a Deus? Eu respondo: não precisa.

Veja uma coisa... Cristo diz: eu sou o caminho e não a realização. O amar a Deus, portanto, é o caminho para a evolução espiritual e não a reali-zação. Deixe-me tentar explicar...

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Deus é o Universo, é tudo que existe. Quando você ama a Deus, ama o universal, o Universo, o Todo. É isso que Cristo ensinou. Ele não dis-se que se deve amar a Deus, mas amar-se a Tudo.

Mas, por que amar ao Universo, a Tudo, é um caminho para a ele-vação espiritual? Porque acaba com o egoísmo, o individualismo. Quem ama o Todo universal não ama a sai mesmo prioritariamente. Portanto, amar a Deus é um caminho para destruir o egoísmo...

Seria muita prepotência de Deus dizer: só quando me amar conse-guirá elevar-se... Esta não é pode ser a postura de alguém que prega a hu-mildade. Além do mais, um amor fundamentado no ganhar alguma coisa não é amor, mas bajulação.

Na verdade, o sentido do mandamento que constitui a boa nova não é amar a Deus, um espírito, um ser, mas sim ame a o universal acima do in-dividual. Isso, todos os mestres falaram...

Vamos além? Por que você não pode ser individual no Universo? Porque ele fere os outros. O egoísmo de cada um fere o próximo e com isso não se realiza o segundo item da boa nova: amar ao próximo como a si mesmo.

Então veja, a elevação não se consegue entregando-se a um deus que seja uma individualidade, uma imagem ou uma idéia, mas universali-zando-se. Isso é elevação espiritual.

Portanto, a boa notícia do Reino do Céu é de que se pode por fim ao ciclo de encarnações humanos. Mas, para que isso se torne realidade, é preciso que o espírito preso a este ciclo caminhe paulatinamente para a uni-versalização, ou seja, para o amor ao Todo acima de suas próprias posses, paixões e desejos. Este é um bom resumo para quem quer entender os en-sinamentos do Novo testamento.

Participante: Universalizar-se é identificar-se com o uni-versal, cm o Universo, ao invés do individual, ego?

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Não... Não é identificar-se: é integrar-se. Identificar-se é você se ver dentro do Universo; integrar-se é você ser ele.

Tem uma figura que foi feita anteriormente que bem define isso. O Universo é como um quebra cabeça, onde cada espírito é como se fosse uma de suas peças.

Identificar-se, como você propôs como elevação espiritual, é saber que é uma parte do quebra cabeça, saber que é uma peça que o compõe. Mas, isso não lhe faz integrar-se a ele, ou seja, não lhe faz compreender que sozinho você não vale nada. Universalizar-se é ter a plena consciência de que você, peça que compõe o todo, sozinho nada vale e assumir o seu posto fazendo com que o Todo valha alguma coisa.

Integrar-se é ter a consciência de ser uma peça, mas também é sa-ber que a peça sozinha nada forma. É preciso que cada peça perca seu in-dividualismo e assuma seu posto junto às outras para que a figura que surja da fusão tenha sentido.

Identificar-se é saber apenas que é uma peça do todo, mas ainda possuir individualismo. Integrar-se, é anular o individualismo para que o bem coletivo sobreponha ao individual.

Participante: O senhor já falou hoje algumas vezes sobre o Deus personificado. É muito difícil para mim se des-vencilhar do conceito de Deus personificado. Racional-mente consigo, mas sentimentalmente é difícil. Cada vez que ajo egoisticamente me sinto culpada por estar desa-gradando a Deus, mas não podemos desagradar a Ele, não é mesmo? Isso me causa muito conflito...

Realmente no tocante a Deus, existem diferenças de culturas que transformam a realidade. Para os ocidentais, Deus virou uma pessoa, uma individualidade. Você, como ocidental que é, foi criada com a idéia de um Deus "homem", espírito, quando ele é mais do que isso: ele é tudo...

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Por isso concordo com você: realmente para os ocidentais é difícil desvencilhar-se dessa idéia. Mas, tem que ir tentando paulatinamente liber-tando-se dessa idéia. No entanto, durante este processo de mudança de cultura você não deve lastimar-se quando errar (não conseguir viver o Deus Tudo). Quando não conseguir alterar sua visão sobre Deus, não deve so-frer, porque, afinal de contas, se Deus é tudo, Ele é o próprio erro ou aquilo que você chama de "errado".

Participante: Eu não sei mais o que pensar... Você diz que nós não sabemos o que é amar e ao mesmo tempo diz que temos que amar. Como fazer algo que não co-nhecemos?

A sua pergunta é interessante: como fazer algo que não sabe? A resposta é: deixando de fazer o que você sabe que está fazendo...

Por exemplo: você não vai aprender a amar, mas deve desaprender de ter raiva, de achar que o carinho é amor, de que o sentimento de mãe pelo filho é amor... Na verdade todo trabalho de elevação espiritual é de destruição e não de construção.

Sendo assim, posso dizer que a elevação espiritual não se caracte-riza por aprender a amar, mas deixar de fazer algo que se conhece. Quando isso for conseguido, o amor surgirá naturalmente.

Na verdade foi o que disse outro dia: o espírito já ama, pois o amor é a única coisa real no Universo. No entanto, por estar preso ilusoriamente a um ego humanizado ele acha que está abraçando, que está tendo raiva, que está sofrendo. Tudo isso ele acha que está fazendo enquanto realmen-te está amando...

Portanto, é preciso deixar de achar essas coisas para poder ver o amar que já faz.

Participante: Tenho alguns alunos japoneses que não acreditam em Deus. Eles dizem que nunca pensam em Deus. Isso é algo irreal para mim. Como alguém pode vi-

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ver sem pensar em Deus? Como fica a elevação deles se nem pensam que Deus existe? Eles acham super es-tranho como nós pensamos...

Vou lhe dizer algo interessante: eu também não acredito em Deus... Eu nem penso em Deus... Deixe-me tentar lhe explicar isso...

Por favor, me responda: seu marido está em casa?

Participante: Sim...

Por que, então, você está pensando em deus lá no alto, se Ele está aí do seu lado?

Veja: você quer pensar em Deus, mas no ser, na individualidade, no Senhor do Universo, mas tudo é Deus. Portanto, se você pensar no seu ma-rido, estará pensando em Deus...

Essa é a filosofia de Buda. O budismo originalmente não trabalha com a idéia de um Deus personificado, que está longe de você e ao qual deve se dirigir. Para eles Deus está em volta de cada um através de tudo e todos que existem...

Está vendo um computador em sua frente? Ele é Deus, e por isso você já está com Ele... Está vendo este livro? Já está com Deus... Mas, você não vê isso e fica querendo procurar um Deus que esteja lá em cima, no céu..

.Essa questão passa por aquilo que acabamos de falar: a idéia do ser ocidental do Deus espírito, homem, individualidade. Seja qual for a linha doutrinária de um ser humanizado oriental, esta não trabalha com a idéia de um Deus distante. Para os seguidores de qualquer doutrina oriental Deus está em tudo que existe ao seu redor, por isso ele não precisa buscá-Lo...

Por isso, me desculpe, mas eu também não busco a Deus: eu con-vivo com Ele quando estou com você e todos que me rodeiam; convivo com Deus com a cadeira onde coloco o corpo que estou usando e com o pito (ci-

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garro) que utilizo para trabalhar. Por causa disso, lhe digo: não acredito em Deus...

Eu não acredito neste Deus lá de cima que os egos ocidentais que criou porque Ele está muito longe para nós O alcançarmos. Ele encontra-se muito distante de nós que precisamos conviver com Ele...

Eu prefiro conviver com o Deus que está ao meu lado, não impor-tando o que ou quem esteja ali. Afinal de contas, como já vimos em diversos estudos, sejam eles fundamentados em doutrinas orientais ou ocidentais, tudo que existe é emanação do Pai e, portanto, Ele emanado...

Se eu me concentrar em endeusar a cadeira, vou viver com Deus, convivendo com um elemento material. Este é o grande segredo da eleva-ção espiritual que o oriental conhece e o ocidental não: é preciso endeusar (conviver com Deus) divinizando todas as coisas que estão ao seu redor para promover a reforma íntima. Se você se prende em buscar o Deus que, para você, está em algum lugar muito longe onde sua consciência não con-segue alcançar, se perde no caminho.

Este é o grande segredo da evolução espiritual que as doutrinas oci-dentais, as doutrinas fundamentadas no Deus individualidade, não conse-guiram passar. Mas, como sempre digo, isso não é erro, mas prova para cada um.

Verifique as histórias daqueles que segundo estas doutrinas conse-guiram a santidade. Veja se eles não passaram em determinado momento a divinizar tudo aquilo com o qual conviviam? Foi nestes momentos que eles encontraram a Deus...

A doutrina era a mesma que você segue, mas eles se libertaram da interpretação humana e forma mais além, ou seja, venceram a prova. Se eles conseguiram, você também pode...

Perguntaram como tinha sido o meu dia. Eu respondi que, como sempre, foi maravilhoso. Quiseram saber o que era maravilhoso para mim e eu respondi que era porque eu estive com Deus o dia inteiro... Mas, isso só

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aconteceu porque eu me preocupei em cada lapso de tempo em tornar divi-nas as coisas que me cercam.

Se eu estou por acaso no meio de uma cena bárbara, divinizo o quadro que está à minha frente, apesar da interpretação que o meu ego dê àquela forma que está sendo percebida. Eu não sairei dali mentalmente para procurar Deus nas alturas: eu conviverei com as idéias e formas perce-bidas como emanações divinas, como o próprio Deus.

Recentemente ocorreu um acidente que chocou a população deste país (queda do avião da TAM em Cumbica). Diante daquele quadro todos foram procurar Deus lá em cima, no céu, e não encontraram nada, pois es-tavam presos às imagens que o ego criou. Se, ao invés disso, tornassem di-vino aquilo que estavam percebendo, vivendo, teriam encontrado Deus nos corpos carbonizados e no monte de entulho...

Na verdade, este estudo de hoje tinha como fundamento falar-se das bem-aventuranças. Eu, porém, tinha pedido para antes criar um sistema decodificador para todos os ensinamentos do Novo Testamento. A pedra de roseta, como disse, é o amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, mas a única forma para colocar isso em prática é apren-dendo a conviver com as emanações divinas divinizando-as.

Mas, isso não serve apenas para o Novo Testamento, mas para todo o trabalho da reforma íntima, independente de que doutrina se utilize. Tem uma pessoa que sempre me pergunta sobre elevação espiritual e, ape-sar de ter dado muitas respostas ao longo dos anos, agora posso, enfim, dar a resposta final: elevação espiritual é a denominação que se dá ao pro-cesso de conviver com a divindade em todas as coisas.

Ela jamais será conseguida simplesmente ficando de joelhos rezan-do par um Deus que está lá longe. Preocupem-se em divinizar todos e tudo que vocês convivem que com certeza encontrarão Deus. Agora, se quise-rem encontrar o Deus ser, precisam aprender a construir foguetes e utiliza-rem roupas especiais para irem para o céu físico (o Universo) onde vocês imaginam que Deus está trancafiado...

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Já me perguntaram até onde Deus está no Universo, como se o Todo pudesse ser fragmentado...

Foi isso que Cristo ensinou. A prática do amor a Deus sobre todas as coisas é alcançada exatamente quando se diviniza tudo aquilo que nos cerca. Quando você diviniza tudo que lhe cerca, está amando a Deus acima de todas as coisas.

Participante: Nós espíritos somos partes de Deus ou cri-ação Dele como filhos, ou é a mesma coisa?

Para lhe responder preciso voltar a um ensinamento que vimos no estudo do Bhagavad Gita: o Deus ser, o Emanado e as Suas emanações. Deus, o Espírito Supremo; as individualidades e elementos materiais que são emanados por Ele; a movimentações destes deuses emanados que são emanações do Senhor. Pegando estes três deuses que Krishna ensina que existem como o próprio Senhor, vemos, então que tudo é Deus.

Respondendo-lhe agora, posso dizer que o espírito é emanado por Deus, gerado pelo Pai, mas faz parte de Deus porque faz parte daquilo que chamamos deuses emanados. Tudo o que este ser faz é criado originalmen-te pelo Senhor, por isso são emanações de Deus.

Sendo assim, o espírito faz parte de Deus como um todo, mas é uma individualidade diferente do Deus Ser. Trata-se de uma individualidade gerada pelo Senhor, mas que faz parte daquilo que chamamos de Deus, porque é um dos deuses emanados.

Aliás, Cristo ensinou: vós sois deuses... Era exatamente neste as-pecto tríplice de Deus que o mestre se baseou para dizer isso.

Por isso afirmo: sem entender perfeitamente a Realidade sobre aquilo que é chamado de Deus, não há como entender os ensinamentos de Cristo. Ele não fala de um deus preso no céu, mas de um Senhor que está diuturnamente ao seu lado. Mais: em tudo que diz, o mestre nazareno ensi-na como divinizar tudo o que está ao seu lado para poder encontrar Deus.

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Participante: Isso é fácil para o "bom" e o "belo", mas para a violência, injustiça e iniqüidade fica mais difícil...

Claro que sim... Por que isso? Porque você é regido pelos seus con-ceitos ao invés de divinizar o Universo do Senhor.

A violência é um conceito humano e não um ato violento, tanto as-sim que existem graus de violência. Tem gente que considera algumas coi-sas violentas que você não considera. Por isso ela não pode ser universal...

Tudo o que é universal é eterna e globalmente considerado de uma só forma. No Universo tudo que não é universal é individual. Portanto, a vio-lência não é um ato divino, mas uma individualização que alguns fazem de uma emanação divina.

Então veja: é preciso ir além de você mesmo. Por isso eu disse que a elevação espiritual consiste em universalizar-se Para isso é preciso que vá além de você mesmo, além do seu individualismo, que nada mais é do que uma individualização do que é universal.

Portanto, você considera bárbaro um determinado acontecimento, mas é uma barbaridade divina e por isso é divino. Isso é amar a Deus acima de todas as coisas, é viver harmonicamente com a Causa Primária de todas as coisas...

O resultado prático do ensinamento da resposta número um do Es-pírito da Verdade em O Livro dos Espíritos é a divindade de todas as coisas. Por causa disso você precisa compreender que se quer viver com Deus, não deve conviver com um ser, um espírito, mas sim com as emanações deles, divinizando tudo que existe.

Este é o primeiro mandamento ensinado por Cristo (amar a Deus sobre todas as coisas): aprender a viver com todas as coisas emanações de Deus, como divindades. A partir disso, pergunto: como se consegue colocar em prática o segundo mandamento?

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Existe uma palavra hindu que é o sinônimo do amar o próximo como a si mesmo. Esta palavra é "namaste'. Ela é um sinônimo para o manda-mento de Cristo porque quer dizer "o meu divino interior saúda o seu divino interior".

Para que se possa amar o próximo como a si mesmo é necessário conviver com cada um com o seu divino interior que está acima das idéias que o ego cria para você mesmo. É, ainda, conviver com o divino interior dele e não com as qualificações que o ego gera para aquele ser humaniza-do.

Em resumo, amar o próximo como a si mesmo é conviver com o ou-tro como divino a partir de sua própria divindade. Quando falamos em divino devemos entender sem máculas, sem qualquer idéia negativa que o ego cria para qualificar a você e ao próximo.

Foi isso que Cristo disse: você é divino e outro também; por isso você deve aprender a conviver com o próximo dentro destas características. Este é o segundo mandamento ao qual o mestre nazareno disse que cada um deve se esforçar de corpo, mente e alma para realizar.

Mas, para a perfeita compreensão deste tema, precisamos ainda re-tirar conceitos humanos, como, por exemplo, os que determinam o que é ser divino. Como disse acima, tornar-se divino e divinizar o próximo é não conviver com as idéias negativas que o ego cria para as coisas. Mas, ape-sar de dizer isso, não estamos aqui falando em ser "bonzinho", em seguir os padrões "bom" da humanidade.

Ver-se como divino não tem nada a ver com os padrões humanos de bondade. Por exemplo: quando você grita, xinga ou briga com o próximo, estes atos são emanações de Deus. Portanto, são frutos do seu divino inte-rior. Quando você tem inveja dos outros é o seu divino interior que está ten-do inveja.

É por isso que Cristo pode referir-se aos seus apóstolos como "ver-mes", pode pegar o chicote e sentar no lombo dos mercadores do templo

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sem culpar-se. Para o mestre nazareno não existia diferença entre estas ati-tudes e as de cura ou de ressurreição de mortos, pois ele sabia que tudo era emanação de Deus e, portanto, oriundos do seu divino interior.

Tudo que você faz vem do seu divino interior, porque vem de Deus e, por isso, precisa conviver com tudo o que faz como divino. Para isso é preciso não se culpar, não se criticar. Mas, o divino interior do outro também não tem nada a ver com bondade ou estar certo. Tudo o que o próximo rea-lizar também será oriundo da divindade interior dele e, portanto, também di-vino.

Sendo assim, se você briga ou o próximo briga com você saiba que são só emanações divinas e não atos "errados" ou "maldosos". Torne divino o seu mau humor e o do próximo, pois aquele estado de espírito foi gerado pelo Senhor do Universo e é, portanto, o próprio Deus.

Estes são os dois mandamentos que Cristo ensinou - e, acima de tudo, vivenciou - como caminho para que o ser humanizado entre no Reino do Céu, ou seja, liberte-se da roda de encarnações para provas e expia-ções: tornar divina todas as coisas para poder conviver com o seu divino in-terior com o divino interior dos outros.

Aí está o amor universal... Amar a Deus sobre todas as coisas é tor-nar tudo divino e amar ao próximo como a si mesmo é aprender a conviver com todos num plano de divindades que são.

A partir daqui não importa mais que palavras estejam no Novo Tes-tamento: é preciso divinizar tudo que existe e conviver com este tudo dentro da propriedade divina que eles contêm. O resto - as letras, as interpreta-ções, as leis - são só figuras criadas pelo ego. É por isso que Cristo disse que não veio derrubar a lei, mas dar a ela o real sentido.

Sabe como não matar pode ser um ato de elevação espiritual? Quando ele for praticado pelo reconhecimento da divindade de cada um. Se este ato deixar de ser executado apenas pela prisão à letra fria - "lá diz que eu não posso matar por isso não mato, mas bem que aquele merecia mor-

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rer" - ou para tirar benefício próprio - "se eu não matar vou para o Céu" - de nada adiantou não ter matado. Melhor seria se houvesse praticado este ato divinizando-o como Cristo fez ao matar a figueira...

Este é o ensinamento de Cristo, mas também de todos os mestres... Alcançar esta postura é elevação espiritual. Para isso é preciso promover a reforma íntima, ou seja, mudar a forma de tratar as coisas (pessoas, objetos e acontecimentos) do mundo: ao invés de viver aprisionado aos valores cria-dos pelo ego, conviver dentro das características divinas que tudo possui.

Participante: Qual a função do ateísmo nos dias de hoje?

Será que, frente a tudo o que falamos, existe ateísmo no mundo ter-restre? Eu acho que não... Vejamos...

O que é um avaro senão um ser que diviniza o dinheiro? Se ele vive com este elemento como divino ele não é mais ateu... Vocês dizem que são ateus aqueles que não acreditam no seu Deus, mas se Ele não é aquele ser que está lá em cima, qualquer um que divinize qualquer coisa está convi-vendo com Deus...

Olha, precisamos ser muito claro. Tem certos conceitos que os se-res humanizados não aceitam tocar. Um deles é Deus. Na verdade, Deus é um conceito que está enraizado no ego de vocês e que não aceitam que se toque nele.

Ao longo de todos estes anos de estudo muitas pessoas me disse-ram que estava muito difícil conviver com a idéia do Deus Causa Primária, com a idéia que tudo é divino quando se convive diariamente com atrocida-des e desgraças. Por que é difícil conviver com isso?

Por causa do conceito Deus bonzinho. Deus não é bonzinho: este é um conceito que os egos ocidentais possuem, ou seja, um carma que preci-sa ser vencido por um grupo de espíritos.

Deus é justo, é a própria justiça. Deus é amoroso, é o próprio amor, mas amar não é satisfazer as necessidades e desejos humanos do ego. Por

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isso afirmo: Deus não é bonzinho, mas justo e amoroso e para poder ver es-tas coisas é ação é preciso se libertar dos conceitos existentes no ego para defini-las, pois eles não são universais.

Não se vence uma ferida que está apostemando passando remédio em cima. É preciso enfiar o dedo no buraco e tirar o carnegão que está lá dentro. Não se trabalha elevação espiritual sem enfiar o dedo e retirar com-pletamente o carnegão que está atravancando-a.

Este carnegão, para os egos ocidentais. é o conceito sobre Deus que eles carregam. O conceito de um deus homem, ser, que mora no Céu e não se faz presente na Terra. O conceito de um deus que está no Céu, mas que se submete aos padrões humanos de "certo" e "errado". O conceito de um deus que só para satisfazer os desejos do ser humano.

Estas são características das doutrinas religiosas do mundo ociden-tal. O judaísmo, o cristianismo em qualquer de suas vertentes, o espiritismo e o próprio islamismo tem essa idéia de um Deus ser que vive no Céu e está lá para realizar o que o ser humano quer.

Sem enfiar o dedo na ferida e retirar estes conceitos que são funda-mentados nos desejos humanos, não se vence elevação espiritual. Para se alcançar a Deus é preciso se conviver com Ele. Mas, para isso, você não deve apenas se prender aos momentos de oração aos céus, mas conviver com as emanações do Senhor que estão ao seu redor.

A bagunça é divina, a dor e o sofrimento são divinos, a fome é divi-na e a ganância também. Conviver com Deus em tudo e tudo com Deus: sem isso não se consegue a elevação espiritual.

Não estou falando em conviver com o Deus ser, aquele espírito que pensa, que realiza as coisas de caso pensado. Exata é a visão de vocês: Deus é um ser que faz as coisas para maltratar, para machucar...

Não, esse Deus não existe. O que existe é o Universo e ele é Deus, é divino. Pouquíssimos espíritos podem alcançar este ser que vocês que querem alcançar, inclusive eu. Por isso tenho que conviver com aquilo que

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Ele me dá, aplicando a elas as suas características divinas: Justiça e Amor...

É isso que está no poema "Pegadas na Areia". Deus está sempre caminhando ao seu lado. Isso você consegue ver, como disse alguém hoje, nos momentos onde seus desejos são realizados. Mas, Ele também está lá quando isso não acontece: é você apenas que não vê as pegadas Dele.

Na verdade, o que você não vê são as suas pegadas, pois está no colo. É Ele que está deixando rastros no chão e não você...

Acho que agora podemos ver as bem-aventuranças, não?

Felizes os que sabem que são espiritualmente pobres, pois o Reino do céu é deles.

Dentro do que falei hoje, quem são os felizes? Quem são os espiri-tualmente pobres? Aqueles que sabem que tudo é Deus. Aqueles que divini-zam tudo o que acontece. Ele é pobre espiritualmente porque tem a consci-ência que tudo é muito mais potente que ele. Tudo é muito mais rico em di-vindade. Esses não reencarnarão: continuarão vivendo no Reino do Céu.

Felizes os que choram, pois Deus os consolará.

Felizes os que choram, ou seja, os que divinizam o choro. O choro é parte da vida. Ele não é algo fora da vida, mas um elemento que faz parte da vida e, portanto, é uma emanação de Deus e por isso é divino. Se eu di-vinizo o meu choro, eu me sinto consolado por Deus. Eu choro, mas por dentro estou em contato com a divindade.

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Felizes os humildes, porque receberão o que deus tem prometido.

Quem é humilde? É aquele que não possui as coisas. Por que ele vive assim? Porque sabe que tudo é de Deus. Para isso ele precisa divinizar tudo. Aquele que age assim receberá tudo o que deus tem para lhe dar, que é a felicidade incondicional.

Felizes os que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus, pois ele os deixará completamente satisfeitos.

Felizes aqueles que tornam divinos tudo aquilo que ele vivencia, pois Deus os deixará completamente satisfaz, não importando o que o ego diz que está acontecendo. Infeliz é aquele que diviniza o que o ego afirma que está acontecendo. Estes não receberão satisfação de Deus...

Sabe o que é divinizar aquilo que o ego diz que está acontecendo? É acreditar como real e verdadeiro tudo o que o ego diz que sabe, que co-nhece, que está "certo" ou "errado"...

Felizes os que têm misericórdia dos outros, pois deus terá misericórdia deles também.

Felizes os que divinizam o que os outros fazem, pois Deus o divini-zará também...

Felizes os que têm coração puro, pois eles verão a Deus.

Felizes os que só vivem um mundo de emanações de Deus, um mundo divino, pois eles verão Deus. Não lá em cima, mas aqui, ao seu lado.

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Quando você diviniza as coisas, passa a ver Deus nelas.

Felizes os que trabalham pela paz entre as pessoas, pois Deus os tratará como seus filhos.

A paz é o desarmamento. As armas que cada um usa para acabar com a paz são os conceitos humanos que determinam valores não divinos para as coisas, pois eles são fruto do egoísmo, do individualismo, que é ca-racterística primária dos egos humanos.

Portanto, felizes são os que trabalham para tornar tudo divino, supe-rando as suas próprias armas, libertando dos seus conceitos.

Felizes os que sofrem perseguição por fazerem a vonta-de de Deus, pois o Reino do Céu é deles.

Felizes aqueles que, por viverem de uma forma divina com as coi-sas, são caluniados, chamados de bobo, criticados, acusados. Isto porque estes viverão um mundo à parte onde a glória de Deus estará sempre pre-sente.

Não foi isso que aconteceu com todos aqueles nos quais vocês re-conhecem santidade? Veja o Chico - Xavier ou de Assis - e me diga se eles não viviam um mundo à parte, um mundo onde tudo era emanação divina? Se isso é verdade, porque não seguem o exemplo deles?

Pronto: está aí o estudo das bem-aventuranças que me foi pedido no início de nossa conversa de hoje. Mas, não fique por aqui...

Agora pegue qualquer outro ensinamento do Novo Testamento e veja se não é este o ensinamento de Cristo. O mestre veio trazer a boa-notí-

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cia do Reino do Céu e disse que o caminho para se retornar à pátria espiri-tual é a prática do amor.

Este ensinamento até muitos já deveriam ter alcançado, mas nunca entenderam o que é amar. Amar é isso: é divinizar tudo, todos e qualquer coisa que aconteça.

Esta é a pedra de roseta que pode lhe levar a aprender a ser cris-tão, ou seja, a seguir o caminho a luz e a vida que leva a Deus.

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Quem entra no Reino do Céu

Nem todo o que me chama ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas somente aquele que faz a vontade do meu Pai que está no céu. Quando aquele dia chegar, muitos vão me dizer: ‘Senhor, Senhor, em seu nome anunciamos a mensagem de Deus e pelo seu nome ex-pulsamos muitos demônios e fizemos muitos milagres!’ Então eu responderei: Nunca os conheci. Afastem-se de mim, vocês só fazem o mal.

Neste trecho, Cristo designa aqueles que entrarão nos Reino dos Céus, mas antes de começarmos a falar deste caminho ensinado pelo mes-tre, busquemos compreender o significado do termo “Reino do Céu”.

Para os seres humanos ocidentais daquela época, havia, espiritual-mente falando, o céu, a Terra e o inferno. Só após Kardec e os ensinamen-tos do Espírito da Verdade é que as subdivisões do mundo espiritual ficaram conhecidas entre os seres humanos.

Portanto, o céu daquela época pode ser comparado ao que hoje é conhecido como plano espiritual positivo, onde existem as chamadas “cida-des espirituais” e os espaços entre elas. Mas, não será neste sentido que entenderemos o termo “Reino dos Céus”.

Para nós do Espiritualismo Ecumênico Universal que estamos bus-cando alcançar o monismo (perfeita integração do Todo no Um), o termo Reino do Céu refere-se ao próprio Universo. Ao local de habitação de espíri-

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tos que não estão mais apegados aos Cinco Agregados que nos ensinou Buda. Portanto, a prática do ensinamento de Cristo neste trecho – assim como o de Buda, Krishna e outros mestres já foram vistos – serve como ori-entação para o ser universal agora humanizado atingir a unidade com Deus.

Voltando à palavra de Cristo, podemos afirmar que quem alcança a unidade com Deus é aquele que faz a vontade do Pai. Ou seja, aquele que tem Deus como causa primária das suas coisas.

Este é o ensinamento fundamental deste texto: só se atinge a unida-de com Deus através da prática da entrega das criações ao Criador, absten-do-se, portanto, de imaginar-se como tal ou de ver outro criando qualquer coisa.

Mas, não foi esta a primeira vez que Cristo falou do caminho para se unir a Deus. Anteriormente ele já havia dito: eu sou o caminho, a verdade e a vida – ninguém chega a Deus a não ser através de mim. Juntemos ago-ra os dois ensinamentos.

Chegar a Deus através de Cristo não é conseguido pela adoração a ele. Em diversos momentos o mestre sempre afirmou que se tratava apenas um enviado de Deus e que tinha como missão transmitir a Boa Nova e o ca-minho para alcançá-la.

Cristo, no entanto, não somente ensinou o caminho para unir-se a Deus, mas o vivenciou. A prova desta vivência é o resultado de sua encar-nação: a ressurreição, a união perfeita ao Pai.

Portanto, para se chegar a Deus não se deve idolatrar o mestre ou seus seguidores, mas viver uma vida semelhante a que ele viveu. Não digo em atos, pois os dias de hoje são diferentes neste aspecto, mas em essên-cia. O caminho para se chegar a Deus é viver os acontecimentos da vida com a mesma essência com que Cristo vivenciou os seus.

Qual a essência da vida de Cristo? Como ele vivenciou os aconteci-mentos de sua existência? Amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

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Agora nossa resposta está completa: para se unir perfeitamente a Deus é preciso amá-lo acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Aliás, o próprio mestre nazareno já tinha deixado isso muito bem claro quando ensinou os dois mais importantes mandamentos para que um ser humanizado possa aproveitar a sua encarnação e promover a reforma íntima.

Sabedor da importância da prática destes ensinamentos é que ele disse: estes são os dois maiores mandamentos, aos quais vocês devem se entregar de corpo, mente e alma.

Voltando, então ao nosso texto de hoje, pergunto: como entrar no Reino dos Céus? Fazendo a vontade de Deus com AMOR. Só isso. Foi isso que Cristo ensinou nestas e em todas as palavras que proferiu.

Mas, neste texto ele fala mais: “nem todos aqueles que me chama-rem Senhor, Senhor, eu falarei por eles no reino de Deus”. O que quis Cristo dizer com isso?

Quis dizer que não adianta o ser humanizado ir para igreja e rezar: isso não o faz integra-se ao Todo. Não adianta fingir que gosta de Cristo (se dizer cristão), não adianta praticar todos os rituais que a sua religião manda – como acender vela, fazer oração, jejuar, guardar o sábado, etc. – sem fa-zer a vontade do Pai com AMOR. Isso não levará a lugar algum...

Não adianta ser o primeiro a chegar e o último a sair em qualquer templo porque Cristo não falará por você. Não adianta marcar presença em todos os cultos: isto não lhe levará a promover a reforma íntima. De que adi-anta se freqüentar um culto um ou duas vezes por semana e depois não vi-ver o resto da semana amando a Deus acima de todas as coisas e ao próxi-mo como a si mesmo?

Ainda falando de religião, há outro detalhe para aquele que preten-de aproximar-se do Pai. Cristo não tinha religião... Portanto, o caminho que leva a Deus não passa por nenhuma religião, mas pela prática constante do AMOR.

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Para a realização do trabalho que leva à reforma íntima, não adianta freqüentar uma religião, pois a elevação espiritual não se consegue com o contato com os ensinamentos ou presença aos cultos de uma religião. Ela é fruto da vivência dos acontecimentos com a consciência de estar vivendo a vontade de Deus. Mas, mesmo esta consciência ainda não é a totalidade do trabalho, pois o conhecimento sem ação é nulo. A ela precisa ser acrescida o ‘amar’...

A compreensão de que apenas a freqüência a um determinado culto ou o apego a uma doutrina não confere por si só o resultado esperado, está bem claro neste texto de Cristo. Quando ele fala daqueles que o chamam de Senhor e afirma que não falará por eles, está se referindo àqueles que o idolatram.

Ele está falando daqueles que freqüentam ou têm igrejas, templos ou casas espíritas, onde o amor universal não é a base do lugar. Fala da-queles que se consideram “certos”, “puros” e que condenam e criticam os outros, apropriando-se do próprio Cristo como seu.

Repare que para Cristo o amor incondicional supera tudo, mesmo os chamados benefícios que um ritual religioso pode trazer. Para Cristo amar universalmente é mais importante do que expulsar demônios ou fazer milagres, ou seja, trazer benefícios para a vida do ser humanizado. Isto ele deixa bem claro quando afirma que nem os que arrolarem estes benefícios em seu currículo serão atendidos, se não houverem amado a Deus acima de todas e ao próximo como a si mesmo.

Agora, quando o ser humanizado se conscientizar da ação da Cau-sa Primária em suas vidas e vivenciá-las com AMOR, Cristo falará por eles, agirá em seu benefício. Mas, enquanto este ser não praticar isso, por mais que se dedique aos cultos ou que traga benefícios para os outros, Cristo não falará por ele.

Portanto, foi isso que Cristo ensinou: para se chegar ao Reino do Céu (atingir a unidade com o Pai) é necessário que se vivencie os aconteci-mentos da existência compreendendo que tudo é fruto da Vontade de Deus,

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que é o Amor em ação. É preciso sentir-se amado pelo Pai a cada instante, independente da compreensão que tenha sobre o acontecimento, mas ain-da é preciso amar o amor de Deus.

Ou seja, para se alcançar a unidade é preciso estabelecer uma liga-ção constante de amor entre você e Deus: amar e sentir-se amado....

Foi isso que Jesus quis dizer não só nesta passagem, mas em toda a sua pregação. Vamos falar muito mais sobre esta conclusão nos demais estudos deste livro, mas este é o ponto fundamental de tudo o que iremos dizer ainda.

Por agora, aproveitando este ensinamento, falemos de um aspecto que está bem nítido aqui: não é um religioso fervoroso que vai entrar no Rei-no do Céu.

A partir do ensinamento do mestre, podemos afirmar que o acesso ao Reino do Céu (conseguir a elevação espiritual) pode ser, inclusive, fran-queado para aquele que nem mesmo acredite em Deus: basta ter AMOR no coração. Se o ser humanizado amar os acontecimentos de sua existência carnal sem se apegar às suas paixões, desejos e posses, mesmo que não saiba que eles são frutos da Vontade de Deus, alcançará, ao acabar a en-carnação, o Reino dos Céus, a unidade com o Pai.

Entretanto, para aqueles que, mesmo freqüentando regularmente os cultos e praticando os ritos de sua doutrina, se achem muito sábios - conhe-cem “certo e o errado” – e por isso imaginam que podem julgar os outros, de nada adiantou a sua religiosidade. Para aqueles religiosos fervorosos que ainda imaginam que os seus desejos, paixões e posses são mais importan-tes do que a Vontade de Deus, o Reino dos Céus está longe...

Claro que estes ainda poderão reencarnar diversas vezes e assim conseguirem realizar um dia o caminho que leva ao Reino dos Céus. Mas, a espiritualidade como um todo vem avisando: um novo tempo está nascen-do...

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Neste novo tempo não haverá lugar no orbe terrestre para aqueles que ainda não aprenderam a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próxi-mo como a si mesmo. Por isso, estas novas encarnações não se darão mais neste planeta, mas este ser terá que reiniciar toda a sua caminha em outro orbe, em outro mundo de provações.

Baseado nisso que estamos falando, fica aqui um recado para as casas espíritas, para as igrejas e para os templos evangélicos ou orientais: de nada adianta transmitir ensinamentos (doutrinas) que se fundamentem em idolatria a mestres ou que criem o “certo e o errado”. É preciso ensinar aos seres humanizados a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo em todos os acontecimentos da existência carnal. Isso para que Cristo e os trabalhadores espirituais possam falar por vocês quan-do disserem “Senhor, Senhor”.

Os que ensinam desta forma ou participam de doutrinas que conte-nham esta propriedade, são como os “professores da lei” citados por Cristo. A estes, deixo um recado: aprendam com Paulo. Ele foi o exemplo de um professor da lei que aprendeu no mais alto céu, como ele mesmo cita, que o AMOR de suplantar todo e qualquer código normativo.

Apesar disso ter ocorrido com Paulo há mais de dois mil anos e todo o seu ensinamento está estampado na Bíblia Sagrada, ainda hoje muitas casas de oração, independente de religião, ainda discutem a “posse” de Deus. Estas casas não conseguem trazer o AMOR porque acham que o mais importante é ensinar as leis de Deus (códigos normativos que criam padrões certos de comportamento), fazer milagres, curar e expulsar “demô-nios”.

Não importa o que cada religião faz (culto): o importante é ensinar a amar...

Para isso o fundamental é levar o ser humanizado compreender, como ensinou Cristo em diversas vezes, que Deus é a Causa Primária de todas as Coisas. Sem essa compreensão o amor incondicional jamais será

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alcançado, pois as posses, paixões e desejos não deixam o ser humanizado amar universalmente.

Veja: não é necessário se ensinar a lei de Deus para quem conhece a verdade da Causa Primária. Isto porque Deus não se baseia no “certo e errado”, mas na Justiça e no AMOR. Além do mais, quem conhece o AMOR de Deus em ação, já conhece toda a lei na essência.

NOTA: Esta afirmação prende-se a um ensinamento de Cristo onde ele afirma que não veio mudar a lei, mas en-sinar o real sentido dela, que será objeto de estudo mais tarde.

Para que fazer milagres para quem já alcançou a sintonia amorosa com Deus? Aqueles que aprenderam a amar a Deus acima de todas as coi-sas e ao próximo como a si mesmo, já calaram em si a voz das paixões, posses e desejos e por isso não precisam, esperam ou querem milagre al-gum...

Como expulsar “demônios” de seres que apenas amam? Quem compreende e busca trilhar o caminho do Reino dos Céus não tem inimigo, neste ou em outro mundo, pois ama a todos indistintamente...

Assim sendo, não há necessidade de tanto misticismo nem de tan-tos ritos nas religiões. Quando elas incorporarem aos seus ensinamentos o real caminho para o Reino dos Céus, o ser humanizado que é fiel a ela vive-rá com Deus no coração e reagirá amorosamente a todos as acontecimen-tos.

Quem chega a esta consciência não precisa de mais nada. Ele não precisa de vela, de psicografia, de incorporação, de médium... Ele não preci-sa de nada porque já tem tudo: Deus...

Este ensinamento do Novo Testamento, apesar de existir a tanto tempo, nunca foi observado por este ângulo. As doutrinas religiosas sempre ensinaram a necessidade de se fazer a vontade de Deus com amor, mas a

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isso foi acrescido que esta forma de proceder só seria alcançada quando houvesse a submissão aos códigos normativos da religião.

Para estas pessoas Cristo deixou o aviso neste texto (“Não são to-dos que me chamarem Senhor, Senhor, que eu falarei por eles frente ao Pai”), mas parecem que eles não leram...

Foi esta reflexão que Cristo deixou bem gravada neste texto: aquele que entra no Reino do Céu é o que vivencia a vontade do Pai amando...

Este ensinamento não foi só para ontem, quando Cristo vivia encar-nado, mas também para a eternidade. Ontem o mestre falou diretamente com os professores da lei e ensinou Saulo, mas parece que eles não apren-deram, pois até hoje estão vivendo as mesmas hipocrisias descritas na Bí-blia.

NOTA: Refere-se ao capítulo bíblico Jesus e os Hipócri-tas, que também será estudado neste livro.

Mas, nós não nos esquecemos e, por isso, voltamos ao tema hoje. No entanto, assim como quando o mestre falou para os professores da lei de então, nós também não estamos criticando ninguém. Amamos os senho-res dos templos modernos como irmãos espirituais que são, mas precisa-mos ensinar o que Cristo disse.

Como já afirmamos, é preciso se viver cada acontecimento como fruto da Vontade de Deus. Portanto, se os daquela época ou os de hoje agi-ram assim, esta era a Vontade de Deus. Mas, se também estamos conse-guindo agir na forma como falamos hoje, esta também era a Vontade de Deus.

Portanto, só nos resta amar aos professores da lei e a eles nos amar, para que possamos todos entrar no Reino do Céu...

Por isso digo... Se você freqüenta uma religião, continue indo. Isso não é “ruim” nem “errado”. Agora, saiba que é necessário viver vinte e qua-

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tro horas por dia, independente de estar lá ou não, amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

É preciso que se entenda isso. É preciso que se entenda que a vida é uma só: espiritual. Que não existe a vida material e o “ser humano”: a única coisa que é Real no Universo é DEUS e Sua ação, que comanda to-dos os espíritos e que cria tudo que acontece.

Vamos mudar um pouco de assunto. Até agora nesta mensagem de Cristo falamos dos professores da lei religiosos. No entanto, este mesmo ensinamento pode ser aplicado na vida não religiosa. Senão vejamos...

Quem diz para você senhor, senhor, ou seja, lhe louva? Aqueles que vivem lhe bajulando, que dizem amém ou têm um elogio para tudo o que faz. Você acha que estes são os seus grandes amigos?

Quando Cristo ensina que não vai falar a Deus (engrandecer) pelas pessoas que lhe bajulam, também está ensinado você a abrir os olhos com relação a isso na sua vida material. Está lhe dizendo que os que lhe bajulam não são na verdade seus amigos.

Seu amigo não é aquele que vem passar a mão na sua cabeça, mas, na maioria das vezes, aquele que briga com você. É quem aponta os seus erros e defeitos, da mesma forma que você age com os outros. Aquele que grita o está avisando que um dia você gritou com outra pessoa...

A vida do ser humanizado é como se fosse uma peça de teatro: Deus escreve um “script” onde outras pessoas entrarão em “cena” para lhe apontar os erros.

NOTA: Para melhor entendimento deste texto ver o texto “Função Espelho” que está no livro “Visão Universal - Volume III – Palestras” também do Espiritualismo Ecu-mênico Universal.

As palavras que as pessoas falam, nada mais são do o enredo de uma história criada por Deus. Mas, como o Pai é incapaz de outra coisa a

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não ser amar, estas palavras não se tratam de ofensas ou acusações, mas servem apenas para lhe mostrar os momentos onde não agiu com AMOR.

Enquanto você não perceber que “grita” com os outros, vai haver sempre um que chegará à sua frente e “gritará” com você. Enquanto não notar que aponta os erros dos outros, sempre haverá um que apontará os seus erros.

Enquanto não verificar que ofende os outros, haverá alguém que o ofenderá. Enquanto não perceber que não é justo, ou seja, protege um em detrimento de outro, mesmo que este um seja você mesmo, sempre alguém lhe desprotegerá para proteger outro. Esta proteção será sempre dada para aquele que você acha que não tem o merecimento para ser protegido.

Isto é a ação de Deus. Esta é lei da ação e da reação. Isto é a Jus-tiça ocorrendo a cada segundo... É, também, a forma de Deus falar com você e ensiná-lo de que está andando em desacordo com o caminho que leva ao Reino do Céu.

Os mandamentos deixados por Cristo são muito claros: basta ape-nas amar... Entretanto, a humanidade quer inventar leis, normas, códigos de ética, de educação que regulamente a vida do outros... Isto não é cristão, amoroso...

Baseado nestas leis, a humanidade julga-se no direito de apontar erros dos outros. Só que não sabe que existem outros apontando os seus próprios enganos ao proceder fundamentado nestas leis.

Não acredite que todos que lhe chamam de senhor, Senhor, que di-zem “amém” a tudo o que você faz. Não acredite que esses são seus ami-gos, pois são os seus inimigos. Estes, na verdade, são os primeiros a serem utilizados por Deus para fazer a fofoca sobre você, se isso for preciso.

Neste trecho tão pequeno da Bíblia Cristo falou tanta coisa, não?

Mandou recado para a vida particular dos seres humanizados em geral e para os religiosos especificamente. Disse maravilhas só neste trecho

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e sobre ele poderíamos ficar falando horas, dias e nunca esgotaríamos este assunto.

Apesar disso, pouco se ouve falar destes ensinamentos. Por que isso? Porque algumas religiões acham que apenas “partes” da Bíblia estão certas, outras não... Por que não estudar o Evangelho? Por que não ver o que Deus fez? Por que não entender a lição que Cristo trouxe?

A maioria daqueles que não acreditam na Bíblia agem desta forma porque estão preocupados em “aparecer” fazendo milagres, expulsando “demônios” ou aprendendo a língua dos anjos (conhecimentos técnicos es-pirituais). No entanto, são eles que mais precisavam ouvir isso, pois foi para eles que Cristo disse: não adianta você se dizer muito religioso ou sábio, porque o que realmente adianta é ser submisso a Deus e viver a vida ape-nas amando.

É isso que todos os espíritos precisam alcançar para entrar em co-munhão com Deus. Como interpenetrar no todo quando ainda existe uma in-dividualidade ativa? Somos todos filhos do Pai e não Ele mesmo. Ninguém é deus ou rei de nada. Todos somos filhos de Deus e moramos no mundo Dele. Habitamos na casa Dele, comemos da comida que Ele nos dá...

Apesar de saber que é filho de Deus e que está vivo (encarnou) apenas para realizar um trabalho de aproximação a Ele (interpenetrar no Todo), os seres humanizados não estão preocupados com o que o Pai es-pera deles: sua única preocupação é com o que quer para si mesmo.

Um ser humanizado pode até atingir, dentro da visão humana, uma existência onde apenas vivencie atos que se digam “santos”, mas se duran-te eles não estiver em perfeita sintonia amorosa com Deus, nada terá con-seguido. Neste caso, de nada adiantará todo senhor, senhor, com o qual ele viveu, pois Cristo não falará por este ser universal...

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Amor e paixão

Mas eu digo a vocês que estão me ouvindo: amem os seus inimigos e façam o bem aos que odeiam vocês. (Evangelho de Lucas – Capítulo 6 – versículo 27)

Hoje, vamos falar sobre a questão do amar... Não um amar qual-quer, mas o amar como Cristo ensinou: o amar universalmente.

Em outras vezes já me perguntaram muitas vezes sobre a questão de amar. Por isso hoje vamos tentar deixar bem claro o que é o amor uni-versal, aquele que é absoluto, como já vimos, e que não é entendido por vo-cês.

Já neste primeiro texto do estudo de hoje encontramos um direcio-namento para este amor quando Cristo diz: ame os seus inimigos e faça o bem aos que odeiam vocês. Este é um parâmetro estabelecido pelo mestre para que o amor exista... Mas, não é assim que os seres humanizados, mesmo os religiosos, amam...

Quando o ser humanizado ama, o faz de uma forma relativa. Ou seja, para o mundo carnal, o amor é compreendido como um sentimento que se deve ter por algumas pessoas que, dentro do critério do ser humani-zado, são julgadas como merecedoras de recebê-lo.

O amor humano é relativo, porque dentro desta seleção que o ser humanizado faz, ele descobre outros que não devem ser amados... Ou seja,

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o ser humano imagina que há pessoas que são merecedoras de receber o amor e outras que não são...

Interessante isso... Interessante porque o julgamento que determina quem merece ou não ser amado é feio pelo próprio ser humano, como se ele tivesse a competência para julgar o próximo...

O amor que Cristo ensina, o amor universal, é um sentimento que extrapola julgamentos ou motivos para existir. O amor crístico, do espírito, é aquele que não vê quem está recebendo este sentimento; não se preocupa se quem está recebendo merece ou não.

O amor universal ama indiscriminadamente... O amor universal ama incondicionalmente...

Eis aí, portanto, um detalhe sobre o amar: ela é uma atividade sem interlocutor, sem receptor específico. Quem quer amar universalmente não pode amar a alguém específico e nem amar porque, como, quando ou onde.

O amor universal é aquele sentimento que o espírito dedica ao Uni-verso, ou seja, a todos os elementos existentes e o faz o tempo inteiro e não apenas em momentos onde julgue que este sentimento deva existir.

Participante: Estava falando com uns amigos e eles dis-seram que existiam diversos tipos de amor. Eu ouvi e depois fui pegando as palestras anteriores e as li. Poste-riormente lhe fiz diversas perguntas e vi que existe ape-nas um amor verdadeiro: o amor universal, o amor de Cristo. Vi também que existe o pseudo-amor, aquele que é baseado no ego, ou seja, a paixão. O que você acha deste raciocínio?

Perfeito... Só, por favor, não acredite que existem diversos amores ou diversos tipos de amor, nem que seja sobre o título de pseudo-amor.

Como já vimos, só uma coisa é Absoluta e, por isso, só ela pode ser chamada de Real. Sendo assim, só existe um Amor que merece este título:

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aquele ensinado por Cristo. O resto são paixões geradas pelo ego e que são rotuladas por esse como amor.

Amor e paixão: esta é a diferença que eu quero colocar no que você falou.

Só existe um amor: as paixões são ilusões, irreais. Como isso, po-rém, não quero dizer que ter paixões é algo “errado”, já que elas são ineren-tes ao ser humanizado, pois representam os carmas necessários para a provação do espírito.

Ter paixões, então, não é “errado”. Agora chamá-las de amor e, com isso, dizer que existem diversos tipos de amor é vivenciar o relativo como absoluto. Isto não lhe leva a lugar nenhum no sentido da elevação es-piritual.

Portanto, é exato o que você está falando. Aliás, foi por causa de suas perguntas que escolhi para hoje o tema amor e paixões. Vamos des-mistificar a questão do amor.

Hoje vamos começar a compreender que existe um único amor que não é nada do que os humanos chamam de amor. Aliás, por muitas vezes o amor crístico fere as condições de amar que são criadas pelos seres huma-nizados.

Quando Cristo diz que você deve amar o seu inimigo, por exemplo, ele está dizendo: não tenha paixão pelo seu amigo, porque se tiver, ou seja, for apaixonado por uma amizade, não conseguirá amar o inimigo... Mas, ser amigo é uma das condições para amar que os humanos impõem, não é?

Este é o aspecto que a humanidade não entende sobre o amor. Al-guns seres humanizados querem amar o inimigo como Cristo ensinou, mas querem fazê-lo mantendo separados os amigos dos inimigos, ou seja, que-rem viver de forma igual paixões positivas e negativas.

Isso é impossível. Eles acabam amando a paixão positiva e não de-sejando a paixão negativa.

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Por isso é preciso acabar com algumas hipocrisias a respeito do amor. Quem ama, ama a todos e o tempo inteiro. Quem ama apenas alguns momentos e apenas alguns elementos, tem paixões e não amor...

Desejem o bem para aqueles que os amaldiçoam e fa-çam orações em favor daqueles que maltratam vocês. Se alguém lhe der um tapa na cara, vire o outro lado para ele bater também. Se alguém tomar a sua capa, deixe que leve a túnica também. Dê sempre a qualquer um que lhe pedir alguma coisa; e, quando alguém tirar o que é seu, não peça de volta. (Idem – versículos 28 a 30).

O amor – preste bem atenção nisso – não cria propriedades indivi-duais...

O amor verdadeiro não gera propriedades para quem ama. Não o faz sentir-se proprietário daquele ou daquilo que ama.

O amor Real, o Universal, o de Cristo, não gera posse... Isto porque a posse em si já é um condicionamento da existência do amor. Com isso encerrou-se o caráter universal deste sentimento que os humanizados cha-mam de amor. O amor que contém expresso em si posses não é amor, mas paixão.

Quem ama de verdade, de Realidade, não possui o objeto desse amor. Mas, o que é possuir? É querer definir o destino e a ação do objeto ou pessoa possuído...

A posse sob o objeto material se traduz por paixões como estas: é minha casa, tem que estar arrumada do jeito que eu quero... É meu carro tem que estar sempre funcionando e não pode bater... É minha televisão, toda vez que apertar o botão tem que funcionar.

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A posse sobre os outros ocorre quando, a partir da paixão, o ser hu-manizado espera do outro atitudes que ele quer receber... Ou seja, espera que o seu amigo, marido, mulher, parentes, lhe seja fiel...

A posse leva o ser humanizado a esperar que as outras pessoas concordem sempre com ele e estejam preocupadas em fazer aquilo que ele gosta, quer ou acha “certo”. Isto não é amor e se você diz que ama essas pessoas, isso é ilusão: você não ama, mas tem paixões.

O amor universal não cobra nada de ninguém. O amor universal pe-los objetos existe quando elas funcionam ou não, quando elas estão do jeito que o ser humanizado queria que estivessem ou não. O amor universal com as pessoas não exige comportamentos ou atitudes pré-estabelecidas e es-peradas para existir.

É isso que está, vamos dizer assim, por trás deste comentário de Cristo...

Vocês estão cansados de ler o ensinamento que diz que tem que se amar o inimigo, mas ainda não entenderam que o simples fato de terem amigos prova que não amam ninguém, mas só a vocês mesmos.

Só amam a si mesmo porque condicionam o amor ao atendimento que esta pessoa ou objeto faz às suas condições pra amar... Amam quem lhes satisfaz e enquanto esta satisfação acontecer. Quando a pessoa ou ob-jeto não mais estiver realizando seus desejos positivos ou lhe ajudando a escapar dos seus desejos negativos, você não vai mais querer saber dela, não mais a amará...

Como disse, hoje queremos desmistificar esta questão de amor. Para isso vou lhes dar um conselho: parem de dizer eu lhe amo... Isto é fal-so.

Parem de achar e imaginar que são bonzinhos e amam os outros, porque isso é falso. O amor que imaginam que dão é apenas uma sensação criada pelo. É um amor racional, um amor fundamentado em paixões. Na verdade, tais sensações existem para que o espírito possa provar a si mes-

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mo que ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mes-mo...

Esqueçam... Esqueçam que amam alguém para não viverem a hipo-crisia que Cristo falou dos professores da lei. Declarem expressamente que não amam ninguém, porque, nesta hora, pode ser que comecem a amar o Universo.

Façam aos outros a mesma coisa que querem que os outros façam a vocês. (Idem – versículo 31).

Esta é a base do amor universal. Amar universalmente é dar o que você espera receber...

Você quer receber carinho dos outros? Dê carinho a todos...

Você quer receber amizade dos outros? Dê amizade a todos...

Quer receber compreensão dos outros? Compreenda a todos...

Sabe por que? Ouça o que Cristo diz...

Se vocês amam aqueles que os ama, por que esperam alguma recompensa divina? Até as pessoas de má fama amam os que têm amor por elas. E se vocês fazem o bem somente àqueles que lhes fazem o bem, por que esperam alguma recompensa divina? Até as pessoas de má fama fazem isso. E se vocês emprestam somente para aqueles que vocês acham que vão lhes pagar, por que esperam alguma recompensa divina? Até as pesso-as de má fama emprestam aos que tem má fama, para

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receberem de volta o que emprestaram. Ao contrário, amem os seus inimigos e façam o bem a eles. Empres-tem e não esperem receber de volta o que emprestaram e assim vocês terão uma grande recompensa divina e serão filhos do Altíssimo Deus. (idem – versículos 32 a 35).

Sabe, se você só quer compreender quem quer, como espera que Deus lhe compreenda? Se quer dar carinho apenas àqueles que quer, como espera que Deus lhe dê carinho?

Saiba de uma coisa: dar carinho a quem se ama é mais fácil do que fazer coco de cócoras. É simples, é um prazer. Não há nisso nenhuma doa-ção...

Por isso afirmo: o fundamento que gera a existência da universalida-de no amar é doação...

Para você entender o amor universal é preciso compreender isso. Não se pode falar em amor universal sem doação de verdades, posses, pai-xões e desejos...

Se você está apegado apenas àquele que retribui o seu apego, o que espera? O que espera de Deus, do Universo, se você é individualista? Quem escolhe a quem se apegar, o que espera do Universo, que é univer-salista e não separa elementos “bons e maus”, “certos ou errados”?

Esse é o fundamento universal que precisa ser bem compreendido. Tudo que existe na Realidade do Universo é universalista e, por isso, vive em equanimidade com tudo e com todos...

Chamar paixão de amor, ou seja, chamar egoísmo – porque a pai-xão é fundamentada no egoísmo – é hipocrisia. Saiba de uma coisa: o ego-ísmo, ou seja, tudo que se baseia numa condição individual, é a antítese do amor universal.

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Amar a tudo e a todos de uma forma indiscriminada. Amar doando-se sem esperar retribuições: isso é atividade de espírito. Já a atividade do ser humano é amar apenas aquele que ele quer. Na verdade é apenas dizer que ama, porque na realidade o que nutre pelo próximo é uma paixão...

O ser humanizado ama apenas aquele lhe puxa o saco, que primei-ro faz o carinho para depois receber, que primeiro lhe presta o serviço. Já o espírito ama antes de qualquer coisa que o outro faça. Estas são as diferen-ças básicas entre a paixão que vocês chamam de amor e o Amor Crístico, o Universal.

Participante: O que você chama fazer a vontade do pró-ximo é o que acabou de ser lido?

Sim, é servir ao próximo. Fazer a vontade do próximo é estar sem-pre à disposição do próximo.

Agora, volto a repetir uma coisa: eu não falo de atos.

Outro dia me perguntaram: e se o outro quiser que eu vá matar al-guém... Tenho que servi-lo? Eu respondi: com relação ao ato, Deus dirá o que acontecerá. Agora internamente, sentimentalmente, você tem que estar sempre à disposição do outro.

Participante: Me explique melhor a sua afirmação que diz que o ato do meu inimigo é o amor de Deus em ação. Como o meu inimigo é a presença de Deus?

Veja... Você não é um ser humano, não tem vida e, por isso, não participa de atos. Você é um espírito que tem uma existência eterna. Aquilo que você chama de atos humanos, na verdade, fazem parte desta existên-cia, mas não com os valores que representam agora para você, mas como provações da sua caminha espiritual.

Ou seja, o ato do seu inimigo desta vida carnal é o seu carma, é uma provação. Por que? Porque o ato do seu inimigo trabalha justamente esta questão da paixão.

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O que é ser seu inimigo? É ser uma pessoa que não satisfaz as suas vontades... O que é o ato que ele pratica? São atitudes que não satis-fazem os seus desejos...

Como já estudamos, o desejo, a vontade e a paixão são elementos carmaticos, ou seja, são provas. Assim, quando o seu inimigo lhe faz algu-ma coisa, está criando uma oportunidade para você vencer seus desejos, paixões, posses e com isso vencer o seu egoísmo. Como resultado disso, se alcança a elevação espiritual.

Costuma se dizer que a ação do seu inimigo é um presente de Deus, fruto do amor do Pai, porque é a oportunidade para o espírito realizar o objetivo da encarnação. Se não houvesse estas provas, não haveria en-carnação e nem elevação espiritual.

Então, o ato do inimigo é uma dádiva de Deus porque é a oportuni-dade do trabalho. Mas, o ato do amigo também, pois ele mexe com paixões, vontades e desejos igual ao ato do inimigo.

Na verdade, o que você precisa se libertar é da paixão – do amar porque, do não amar porque – e alcançar o amor que Cristo ensinou, que é incondicional e universal.

Repare que para mudar a sua compreensão do ato do seu inimigo (de “mal” para fruto do amor de Deus) só alterei uma coisa: a sua forma de ver. Não alterei em nada o acontecimento, ou seja, não mudei a ação. Ou seja, utilizei a livre opção (livre arbítrio) que o Espírito da Verdade ensina.

NOTA: Na resposta à questão 851 de O Livro dos Espíri-tos, o Espírito da Verdade afirma que os acontecimentos da vida ocorrem de acordo com a escolha feita pelo es-pírito antes de encarnar. Apesar disso, afirma ainda o mentor de Allan Kardec, o ser universal continua, no to-cante às provas morais e tentações, livre para escolher entre o bem e o mal.

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No nosso caso, o amigo espiritual não alterou a ação porque ela é uma decorrência dos gêneros de provas es-colhidos pelo espírito, mas mudou a visão, ou seja, a for-ma sentimental como encarar a situação.

Para o humano a felicidade está na satisfação material, prazer. Por isso ele precisa adequar as ações às suas vontades e paixões para ser feliz. Quando os acontecimentos não coincidem com o que o humano “acha”, o ato do inimigo transforma-se em “ruim”, “mal”.

Já para o espírito, a realização está na boa execução de suas pro-vações. Por isso o ato do inimigo passa a ser bom, ótimo e perfeito para quem quer se elevar.

Façam isso porque Ele também é bom para os ingratos e maus. Sejam bons, assim como o Pai de vocês é bom. (Idem – versículos 35 e 36).

No Evangelho de Mateus, tem um trecho interessante.

Vocês sabem o que foi dito: “Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos”. Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês para que vocês se tornem filhos do Pai que está no céu. Por-que ele faz o sol brilhar sobre os bons e os maus e dá chuva tanto aos que fazem o bem como aos que fazem o mal. Se vocês amam somente aqueles que os amam, porque esperam alguma recompensa de Deus? Até os cobradores de impostos amam aqueles que os amam. Se vocês falam somente com os seus amigos, o que é que fazem de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos em amor, assim como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu. (Evangelho de Mateus – Capítu-lo 5 – versículos 43 a 48).

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Ou seja, Cristo afirma que a dádiva de Deus necessária para a vida está à disposição daqueles que você considera bons assim como os que você considera maus... Já repararam nisso?

Com este ensinamento, Cristo está nos mostrando a característica do amor de Deus: ser igual para todos... Deus ama a todos de uma forma igual.

Juntando o que está em Mateus (“sejam perfeitos em amor, assim como é perfeito o Pai de vocês”) tudo a respeito do amar fica compreendido. Ou seja, compreende-se que não dá para amar ao próximo de uma forma não universal. Por que? Porque Deus ama a todos de uma forma universal e se o ser humanizado aspira entrar no Reino do Céu precisa praticar este amor.

Esta é a palavra importante para se entender o amor: ser perfeito no amar como Deus é perfeito em amar.

Amar não aceita imperfeições, porque quando o amor é imperfeito, ele não existe. Transforma-se numa paixão, ou seja, num elemento de pro-vação, uma ilusão do qual precisa se libertar.

Então, mais um ensinamento interessante sobre o amor ensinado por Cristo: ame como Deus ama a todos. Ame universalmente...

Encerrando esta questão, quero apenas dizer que, amar universal-mente, dentro da única compreensão que vocês podem ter, é não amar como amam hoje...

Vocês são incapazes de gerar este amor universal, porque o ego estará, como instrumento de provação que é, sempre criando condições. Apesar disso afirmo uma coisa: vocês são capazes de reconhecer a existên-cia do condicionamento... Os seres humanizados podem não saber amar universalmente, mas, são capazes de identificar as paixões, ou seja, as ra-zões para amar.

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Por isso lhes digo: libertem-se destas paixões que vocês estarão amando como Cristo disse que deve se amar...

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Pobre de espírito

Bem-aventurado os pobres de espírito, pois deles será o Reino dos céus.

Hoje vamos falar da página mais bonita do Novo Testamento que relata os ensinamentos que Cristo transmitiu de cima de um monte. Esta passagem ficou conhecida como "Sermão do Monte" e inicia-se com frases pequenas que sempre começam da mesma forma: "Bem-aventurado".

Vamos, então, hoje, falar das bem-aventuranças, que é um conjunto de ensinamentos que foram trazidos por Cristo através do "Sermão do Mon-te".

Para começar, pergunto: o que é bem-aventurança?

BEM AVENTURANÇA – Felicidade eterna que os santos gozam no céu (Mini Dicionário AURÉLIO).

Bem-aventurança é viver a vida no céu, no plano espiritual superior. Cristo, através destas frases, mostrou o caminho para se viver a vida de Deus. A prática deste ensinamento leva o ser humanizado a alcançar a bem-aventuranças e por isso, iremos tratá-las como "mapa do tesouro".

Iremos estudar estes ensinamentos com a mesma preocupação de quem se defronta um mapa que dá à direção a um tesouro imenso. Para o espírito, ser bem-aventurado é, realmente, adquirir um grande tesouro.

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Isso porque, quem tem a bem-aventurança vive feliz como viviam os santos. Não santo dentro do sentido que a humanidade usa para valorizar esta palavra, mas santificado porque vive com e em Deus.

Aquele que é de Deus é santo; o que não é de Deus é morto. O sentido da palavra vida em toda Bíblia é: "viver a glória de Deus".

Assim sendo, podemos afirmar que Cristo deixou informado através deste início do Sermão do Monte como se alcança uma vida com e na glória de Deus.

O texto que é conhecido como bem-aventuranças é aquilo que você, independe de credo e raça, tem que fazer se quiser viver com Deus. É o caminho é o mapa, que vai mostrar o maior tesouro que você pode alcan-çar na vida: viver com Deus.

Este mapa vale muito, pois não existe tesouro maior para um espíri-to do que viver na glória do Pai, viver com Deus, porque Deus é a alegria e a felicidade eterna.

Os bem-aventurados vivem felizes e alegres incondicionalmente. Em um bem-aventurado a tristeza não tem moradia, o sofrimento não en-contra abrigo e a raiva passa muito longe, porque esta forma de sentir não é coisa de Deus: é coisa do homem, do espírito humanizado. É você e todos os demais seres que vivem encarnados no orbe terrestre quem busca estas coisas: Deus não.

O caminho para libertar-se deste desligamento de Deus Cristo tra-çou no "Sermão do Monte". Através de algumas poucas frases ele mostrou qual é a reta que o ser humanizado tem de tomar para encontrar no fim de sua caminhada o ponto de chegada na glória de Deus.

Nas bem-aventuranças está a honra de ser como o filho pródigo que, mesmo depois de abandonar o lar paterno e gastar todo dinheiro do pai, este o recebe o filho perdido que retorna a casa com glórias. Seguir as bem-aventuranças é caminho de retorno à casa do Pai, aquele que conduz diretamente a Deus.

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Na íntegra são estas as bem-aventuranças:

Bem-aventurados os que sabem que são espiritualmente pobres, pois o Reino do céu é deles.

Bem-aventurados os que choram, pois Deus os consola-rá.

Bem-aventurados os humildes, pois receberão o que Deus tem prometido.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus, pois Ele os deixará completamente sa-tisfeitos.

Bem aventurados os que têm misericórdia dos outros, pois Deus terá misericórdia deles também.

Bem-aventurados os que têm coração puro, pois eles ve-rão a Deus.

Bem aventurados os que trabalham pela paz entre as pessoas, pois Deus os tratará como seus filhos.

Bem-aventurados os que sofrem perseguição por faze-rem a vontade de Deus, pois o Reino do céu é deles.

Bem-aventurados são vocês quando os insultam, perse-guem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por se-rem meus seguidores. Fiquem alegres e contentes, por-que está guardada para vocês uma grande recompensa no céu. Pois foi assim mesmo que perseguiram os profe-tas que viveram antes de vocês.

Esta é a integra dos ensinamentos de Cristo a respeito das bem-aventuranças. Infelizmente hoje só iremos ver a primeira delas: "Bem-aven-turado os pobres de espírito porque deles será o Reino dos Céus".

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Agora que sabemos que bem-aventurança é a felicidade oriunda de se viver na glória de Deus, pergunto: o que é ser pobre de espírito? Vamos entender esta afirmação do mestre, mas vamos fazer por partes.

Primeiro vamos definir o vocábulo “pobre”. Pobre é aquele que pas-sa necessidades porque tem poucas posses.

Se a frase de Cristo é "bem-aventurado os pobres de espírito", pos-so, com o conhecimento do significado do que é ser pobre, dizer que a frase do mestre tem este significado: bem-aventurado os que têm pouca posse de espírito.

Para podermos continuar buscando a compreensão, volto a pergun-tar: qual a posse de um espírito, o que o ser universal possui? Os seus sen-timentos, a energia universal: esta é a única coisa que o espírito possui, que é sua.

A única coisa que você possui, que realmente pode chamar de seu, são os sentimentos que nutre. Todo o resto que imagina possuir, na verda-de um dia lhe serão tomados, mesmo as idéias, pensamentos e verdades que nutre sobre as coisas, pois elas acabarão a partir daquilo que chamam de morte.

A partir destas conclusões que tomamos, a frase de Cristo já passa a ter outra redação: bem-aventurado os que têm pouca posse sentimental porque deles será o Reino dos Céus.

A "pouca posse" de sentimento que um espírito pode ter para viver no Reino dos Céus não é medida no volume de sentimentos que ele tenha, mas na qualidade deles. O espírito, para ser pobre, ter poucas posses espi-rituais, só deve possuir um único sentimento em toda a sua existência: o AMOR.

Este sentimento é formado pela junção de três outros: alegria, com-paixão e igualdade. Portanto, quem só tem três elementos sentimentais é "pobre". Ele tem pouca posse, pois existem muitas outras posturas senti-mentais no Universo que o espírito poderia ter.

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Você só deve ter o amor e não a raiva, a soberba, a desonestidade. Para se ser pobre, é preciso apenas possuir o amor como base de sua vi-vência dos acontecimentos da existência.

É do amor que nascem as posturas sentimentais consideradas posi-tivas: a honestidade, a humildade, o carinho, etc. Estes elementos, na ver-dade, não são sentimentos, mas posturas sentimentais com relação a deter-minados elementos do Universo que o espírito que só possui o amor tem.

Não se tratam de sentimentos, mas de posturas sentimentais que o ser humanizado toma com relação à outras pessoas, a objetos e aconteci-mentos. No entanto, para que estas posturas sejam alcançadas, é necessá-rio que o ser universal seja pobre de espírito, ou seja, tenha apenas o amor como posse.

A felicidade universal, por exemplo, é um sentimento, mas ela só é alcançada por aquele que possui unicamente amor dentro de si. Portanto, a sensação de ser feliz só existe para aquele que é pobre de espírito.

Depois de ver tudo isso, podemos, então, ouvir o que Cristo real-mente falou naquele dia sobre o monte:

"bem-aventurado aqueles que só têm o amor, porque de-les será o Reino dos Céus".

Agora o ensinamento está perfeito... Só o amor deve ser a posse do espírito, se ele quiser entrar no Reino dos Céus, se quiser aproveitar a en-carnação e promover o trabalho de reforma íntima que o leva a alcançar a elevação espiritual.

Apenas aqueles que têm exclusivamente o amor dentro de si podem viver o Reino de Deus porque, se existir qualquer outro sentimento, vão vi-ver posturas sentimentais fundamentadas no egoísmo e com isso não pode-rão viver onde Deus mora.

NOTA: Muitos dos conceitos aqui proferidos estão dentro de uma linguagem diferente daquela que existem em ou-

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tros livros do ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVER-SAL. Isso porque, esta foi uma palestra realizada em 2001 e algumas das visões universais que estão presen-tes em outros estudos, ainda não tinham sido divulgadas até aqui. Mas esta questão não deve invalidar o ensina-mento.

No caso acima, quando o amigo espiritual cita que “não poderão viver onde Deus mora”m aprendemos posterior-mente que existe apenas um Universo onde tudo existe. Sendo assim, o espírito não pode morar em outro lugar.

Na verdade são figuras de linguagem, formas de falar que não devem ser levadas ao pé da letra, mas que pre-cisam se contextualizadas.

Vamos ver se esta conclusão está certa? Para isto vamos compará-la às Leis de Deus transmitidas por Cristo.

É ensinado que não devemos ter raiva dos outros. Como alguém pode deixar de ter raiva de uma pessoa que lhe machuca, que lhe ataca com um tapa?

Como se pode deixar de ter raiva de alguém? Só com o amor, so-mente a amando.

Mas, como encontrar em si esse amor? O que fazer para não ter rai-va do agressor? "Sentindo" o que está sendo feito realmente e não "vendo" o que se imagina estar acontecendo no momento.

Quando uma pessoa está agredindo outra no campo perceptível, o ser humanizado não deve ver a agressão física, mas buscar "sentir" o que está motivando a agressão. Se for fixar-se na visão (ver o tapa físico) como realidade, não vai "sentir" o sentimento que gerou o ato.

Todo ato físico só acontece porque é "nutrido" por uma postura sen-timental. Atrás de qualquer ato de agressão existe uma sensação dita como

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negativa; atrás de qualquer carinho existe um a sensação considerada posi-tiva.

NOTA: Sensação é o mesmo que anteriormente foi cha-mado neste texto de postura sentimental.

Desta forma, se procurarmos "ver" o tapa não vamos sentir a sensa-ção que o motivou. Não entenderemos que há um sentimento sendo emitido pelo agressor contra nós.

Sem ver isto, nós vibraremos dentro desta postura sentimental que está sendo vivenciada pelo “agressor”. Com isso, ficaremos mais "ricos" (com mais) de sentimentos, ou seja, espiritualmente.

Mas, como sentir o real sentimento que está motivando aquele acontecimento? Como ”ver” a que sentimento nós, os espíritos, estamos re-almente expostos naquele momento?

NOTA: Em palestras posteriores o amigo espiritual expli-cou a diferença entre sensação e sentimento.

Sentimento é a energia universal, aquilo que de real existe no Universo. Este tipo de elemento não pode ser percebido pela razão.

Sensações são os sentimentos racionais, aqueles que tem compreensão racional do que está se sentindo. Sempre que houver uma compreensão lógica racional que crie motivações para o que se está “sentindo”, não se trata na verdade do elemento básico universal (senti-mento), mas de uma postura sentimental.

Como é que um ser humanizado pode ter condições de compreen-der o que está se passando no mundo invisível quando uma pessoa chega perto dele e consegue lhe dar um tapa? Compreendendo que o outro só pode chegar perto e lhe dar um tapa se ele merecer...

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Ninguém pode praticar o ato de dar um tapa em outro por livre e es-pontânea vontade, pois com isso poderia cometer uma “injustiça”, que é algo que não existe no mundo onde Deus, a Justiça Perfeita, é a Causa Pri-mária. Portanto, se uma pessoa agir desta forma, pode ter a certeza que foi o Senhor quem mandou ela agir assim.

O outro só conseguirá lhe dar este tapa (praticar esta ação) porque houve de sua parte um merecimento para tanto, ou seja, você, em algum momento de sua existência eterna vivenciou um acontecimento aprisionado a uma sensação como elemento real. Com isso se tornou rico de espírito.

Mas, para que exatamente aquele outro ser fosse o agente desta ação, é sinal de que ele também mereceu tal participação no “teatro da vida” pelo mesmo motivo. Ou seja, você e o outro estão participando de uma ação como agente e receptor porque, um dia, abandonaram a simplicidade, deixaram de ser pobre de espírito.

Para ser pobre de espírito o ser humanizado precisa entender que todas as coisas que acontecem com ele é fruto de, em momentos anterio-res, ter vivenciado outro sentimento que não o amor. Tudo o que acontece a um ser humanizado está programado desde o primeiro momento, porque Deus, Senhor Onisciente conhece de antemão cada sentimento que o seu filho usará para vivenciar um acontecimento.

Na hora que houver o merecimento, Ele faz outra pessoa usar con-tra você a mesma energia que você usou contra outro. Mas, para que Deus faz isso acontecer?

Para que você sinta o efeito daquele sentimento que usou contra outro. Para que você sinta a dor que causou a outras pessoas.

É por isso que as pessoas chegam perto de você e fazem coisas, para as quais você diz: está errado. As pessoas conseguem criar situações onde você se sente ferido justamente para lhe mostrar que você já feriu mui-tas pessoas.

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Se desta vez não receber a ofensa com amor (alegria, igualdade e compaixão), vai novamente vivenciar o acontecimento de uma forma não simples (universal) e com isso precisará que outra pessoa venha feri-lo no-vamente. Esta é a Justiça de Deus em ação.

Esta é a única explicação Real para todas as coisas que aconte-cem. A motivação de qualquer acontecimento, por mais que o ser imagine diferente é esta e, dentro da Realidade, não existe outro motivo que deter-mine acontecer tal ou qual coisa.

Todas as "histórias" que o ser humanizado monta para explicar os acontecimentos são "ilusões". Por isso, pergunto: para que um ser humani-zado quer saber ou entender o que acontece, se o Pai é que faz tudo se de-senrolar de tal forma e age assim como reação a uma ação sua anterior? Porque você "quer ser" Deus.

O ser humanizado precisa compreender a Realidade como aqui descrita. Depois de compreender que está apenas vivendo uma decorrência de algum momento anterior de sua existência eterna, não adianta nem que-rer saber onde “errou”, onde não agiu amorosamente, pois Deus não deixa o espírito encarnado conhecer a Realidade.

Para todos os espíritos humanizados aconselho: querendo “acertar” daqui para frente, não se percam em elucubrações buscando compreender o erro; ajam amorosamente a partir de agora em todas as situações de sua existência. As "histórias" das suas vidas, mesmo aquelas que lhes dizem onde acertou ou errou, são ilusões que Deus cria para ver se o ser universal humanizado interpreta bem o seu "papel": agir com amor ou não.

Bem-aventurados são os "pobres" de espírito: aqueles que só amam.

Se você está no passado procurando saber motivos para entender o enredo da vida, está buscando justiça. Isso porque, todos aqueles que que-rem compreender a vida, saber o que está acontecendo, querem conhecer a

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justiça do momento. Mas, a função de promover a justiça é exclusiva de Deus e, por isso, só Ele conhece os reais motivos do que está se passando.

Na verdade, o ser humanizado que quer é entender o que Deus está "fazendo". Ele quer adivinhar os desígnios de Deus. Para estes tenho um recado: leia o livro bíblico "Jó" e veja o quanto ele sofreu procurando en-tender porque Deus fez tudo aquilo acontecer na sua vida a que conclusão chegou.

Pobre de espírito é aquele que ama sem buscar entender o porque está amando. Para isso ele desiste de querer entender o que está aconte-cendo.

Sem esta postura, o ser humanizado continuará chorando a "bala perdida", xingando e maldizendo aquele que machuca ou fere a ele mesmo ou ao eu filho. Age assim porque quer entender o porque de tudo aquilo ter acontecido, mas não consegue, pois apenas Deus conhece a motivação pri-mária de tudo.

Na verdade, o que o ser humanizado precisava realmente com-preender é o que é viver: amar a tudo e a todos, aconteça o que acontecer. Viver é passar cada segundo participando dos acontecimentos com alegria, compaixão e igualdade.

Amar é o caminho, mas porque o ser humanizado não ama a tudo? Porque quer entender a vida. Se não compreender perfeitamente os motivos que levaram a acontecer o que está se passando – mesmo que estes moti-vos sejam espirituais (carma) – ele perde o "domínio" da situação e por isso sofre ao invés de amar.

"Como isso aconteceu?" "Para que isso aconteceu?" "Porque isso aconteceu?".

O que interessam estas respostas se os acontecimentos são coisas que Deus faz e não você? As respostas a estas perguntas formam o seu "destino", que é de autoria exclusiva de Deus. O que você poderia fazer já

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fez (escolher os gêneros de provas) agora é competência apenas do Senhor do Carma fazer a roda da vida girar.

O ser humanizado afirma que busca responder as perguntas sobre os acontecimentos para construir o seu futuro, mas ele é de responsabilida-de exclusiva de Deus pertence. O ser humanizado não tem qualquer contro-le sobre as coisas que irão acontecer, mas briga para poder ter. Com isso, se esquece de que Deus é o único responsável por todas as coisas que vão acontecer na sua vida.

Será que com isso estamos dizendo que o ser humanizado deve ser omisso, estático? Não. O que estamos afirmando é que o espírito que está ligado a um ego humano precisa agir, mas esta ação reside-se em apenas uma coisa: receber tudo o que Deus lhe dá com amor.

O mundo espiritual é como uma grande família, cujo chefe (Pai) é Deus.

Quem tem filho ou subordinado sabe que muitas vezes uma ordem, quando questionada, precisa ser respondida com um simples "eu quero as-sim". Isso porque você sabe que mesmo que tente explicar o porque é ne-cessária tal atividade, o outro não aceita seus argumentos.

O filho ou subordinado muitas vezes não compreende as razões do seu superior porque desconhece alguns aspectos ou não concorda com ou-tros. Com isso ele não alcança o que precisa ser feito, mas você, o superior, sabe que é necessário que determinada coisa aconteça para que o êxito em determinada missão seja alcançado.

No mundo espiritual é a mesma coisa: se Deus tentasse explicar porque os acontecimentos de sua existência carnal devem ser daquela for-ma, dificilmente você aceitaria. Isso porque você não conhece completa-mente a Realidade: não se lembra de seu passado espiritual, não com-preende a interação universal...

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Aliás, nem tem consciência do que existe além daquilo que perce-be... Mas, Deus sabe (onisciência) e reconhece perfeitamente (Inteligência Suprema) a Realidade.

Portanto, a coletividade espiritual, encarnada ou não, deve aceitar todas as coisas que o Pai dá com amor. Isso porque os espíritos sabem que, além de soberanamente justo, Ele é amoroso. Como pode um ser amo-roso deixar de amar? Por causa da consciência de que Deus só ama é que a coletividade espiritual esforça-se para retribuir este amor.

Os espíritos, libertos da ilusão de ser e estar têm consciência que não vêem o que o Pai vê, que não conseguem compreender perfeitamente a Realidade como Ele consegue. Mas os humanizados, aqueles que estão iludidos por um ego que ilusoriamente cria a idéia de ser e estar, não conse-guem penetrar nesta consciência.

Na verdade, estes seres universais vivenciam a existência carnal querendo ser "homo sapiens", ser humano. O espírito encarnado quer ser o homem que raciocina, o ser dominador, aquele que se acha rei do Universo, que sabe mais do que os outros, que coloca todas as outras coisas abaixo de si e imagina que por isso pode controlá-las, dominá-las.

Não foi isso que Eva e Adão fizeram? Eles fizeram o que queriam, sem se preocuparem com as recomendações que o Pai havia dado a eles. Mas, o que a motivou a agir contrário à orientação de Deus?

A "cobra" disse que Deus não queria que eles comessem o fruto da árvore proibida porque assim se transformariam em deuses. Adão e Eva de-sobedeceram ao Senhor porque queriam ter o mesmo poder que ele tinha. Mais: aceitaram o fruto oferecido porque raciocinaram e chegaram a con-clusão que seria bom ter "todo este conhecimento".

Na verdade, o que eles fizeram foi querer ser Deus, ou seja, ter o poder de criar as coisas do Universo, ter o comando do destino de sua vida, dominar as situações.

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O puro, o simples, o pobre de espírito é aquele que vê as coisas acontecendo e não pergunta para que, como, onde e porque: só retribui com amor. Ele não quer nem pretende dominar nada, nem saber de coisa alguma...

Quando um ser humanizado procura respostas que expliquem os acontecimentos da vida, usa de sentimentos diversos como a curiosidade, a cobiça, etc. Tudo isso não é amor, não é amar.

Este ser é rico, pois tem muitas posses. O pobre de espírito "ganha salário mínimo” em matéria de sentimentos: ele só sente que recebe amor e por isso não precisa de explicações.

O pobre de espírito não pode ser considerado sábio, pois ao não procura respostas para as perguntas do mundo, deixa de saber.

Abraão procurou resposta para a intuição divina que o mandava imolar seu filho único em louvor ao Senhor? Não. Ele levou o menino para o altar do sacrifício, obedecendo a Deus. Quando a faca ia descer sobre o ventre do garoto o Senhor disse que ele podia parar porque já tinha provado o que devia provar: o amor pelo Pai acima de todas as coisas.

O que ele ganhou com isso? Tornou-se pai espiritual de uma pátria, ou seja, aproximou-se de Deus através da elevação espiritual.

Se Abraão pode dar seu filho único, porque você não pode dar seu filho único a Deus? Não, não estamos aqui propondo infanticídios... O filho ao qual nos referimos é a personalidade humana que você, o espírito, está vivenciando nesta encarnação e que, ilusoriamente, imagina ser.

Porque você não se doa a Deus? Porque não se desliga deste sen-timento que o leva a sentir-se superior aos outros e admite que existe um Ser superior no Universo? Porque continua procurando outros sentimentos que não o amor para viver?

Porque quer dominar; quer ser "homem grande", adulto; quer ser ca-paz de manda...

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Mesmo o mais humilde dos seres acha que manda na sua própria vida. Mesmo sendo materialmente pobre o ser humanizado ainda imagina que tenha o poder de viver na casa de Deus (Universo) de uma forma autô-noma.

Por isso dizem que são pobres, porém livres. Na verdade apenas imaginam-se livres porque são prisioneiros da vida, da pobreza que vive. Onde se constata esta prisão? No desejo de entender o porque a sua vida é assim e porque não conseguem serem iguais a quem tem.

Ser humilde é diferente de ser humilhado. Que adianta se dizer pob-re e livre se você ainda se sente humilhado por não ter? Viver sentindo-se mal por ter carências e buscar entender porque isso acontece, não é amar.

O humilhado sente-se incomodado com o que está acontecendo com ele e, por isso, busca entender a situação. Já o verdadeiro humilde, "humilha" os outros com amor.

O humilde retribui com amor uma ofensa que recebe e quando age assim, a pessoa que o está ofendendo fica "sem jeito". Isto acontece porque reagir com amor humilha quem está ofendendo.

Não existe arma mais poderosa do que o amor. A resposta amorosa a uma agressão, amar o acontecimento sem buscar compreendê-los mexe com os outros, pois se trata de uma forma não convencional de ação.

O ser humanizado está acostumado às múltiplas sensações do pla-neta. Aquele que se diz capaz de conhecer e entender a vida sabe disso e, portanto, espera esse tipo de reação. Por isso, quando recebe uma resposta amorosa perturba-se.

Quando o ser humanizado está perturbado perde momentaneamen-te o controle da situação. Com isso, o amor que utilizado para vivenciar tal situação encontra morada no seu coração.

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Portanto, até para se praticar a verdadeira caridade ao próximo é preciso amar. Não há como se ajudar o próximo a não ser mando-o incondi-cionalmente.

Mas, como viver todos os acontecimentos da vida com amor sem compreender que eles são causados por Deus? Só entendendo que os acontecimentos da vida são obras de Deus o ser humanizado pode sentir amor por elas. Isto porque, por causa de Sua grandeza, pelo Seu sentido de justiça e bondade, só Ele é capaz de realmente amar o próximo acima de si mesmo.

Apenas quando o ser humanizado, mesmo sem entender o porque, vivencia os acontecimentos como Perfeitos (frutos da Perfeição), pode amar a cada momento, a cada situação.

Não há como se compreender as histórias que compõem uma vida para alguém que não seja a Inteligência Suprema do Universo, a Justiça Perfeita ou o Amor Sublime e que, por isso, tenha a Compreensão Perfeita das coisas. O ser humanizado se quiser ser bem aventurado, não deve ten-tar entender a vida, pois lhe faltam atributos para tanto. Por isso aconselho: apenas reaja com amor a qualquer coisa.

Você deve estar dizendo: é fácil colocar isto em prática quando os efeitos dos acontecimentos são pequenos e passageiros. Mas, e se eles trouxerem reflexos profundos e permanentes? Para tornar-se bem-aventura-do é preciso colocar em prática o amar sempre, quer sejam nos aconteci-mentos coisas grandes ou pequenos, passageiros ou permanentes.

Se um filho seu ou você mesmo ficar cego, perder uma perna, o amar a Causa Primária deve ser o mesmo que se daria a uma ofensa pe-quena. Cristo estabeleceu: "Se o seu olho faz você pecar, arranque-o e jo-gue fora! Pois é melhor entrar na vida eterna com um olho só do que ficar com os dois e ser jogado no fogo do inferno".

O mestre nazareno quando ensinou isso o fez de acordo com os en-sinamentos divinos. Podemos, então, afirmar que se um ser está pecador e

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se a causa deste elemento que o afasta do Pai é o olho físico, Ele o arran-cará.

Deus está errado? Está sendo injusto? Não...

Repare: quantos ficaram cegos – nasceram “vendo” e só depois perderam a visão da carne – e apenas a partir deste momento alcançaram realmente a felicidade? Quantos homens que, enquanto possuíam suas per-nas, não descobriram a verdadeira felicidade que só encontram quando as perderam?

Sei que você não acredita no que estou dizendo, mesmo que co-nheça ou já tenha tido informações a esse respeito. Imagina, por possuir pernas e gostar de utilizá-las, que ninguém possa ser realmente feliz sem elas. Ledo engano...

Na verdade, quem não vivencia o problema sente pena de quem está vivenciando-o. Por causa desse não amor sofre e imagina que o outro está sofrendo...

Se você apenas amasse todos aqueles que possuem deficiências, não veria sofrimento em tais acontecimentos. Se compreendesse a Causa Primária como justa a amorosa pensaria "que maravilha que eles possuem estas deficiências, pois Deus está lhes dando uma grande oportunidade de ser feliz (amar) acima das condições materiais".

Não estou aqui dizendo que todos os que possuem deficiência são felizes. Longe de mim afirmar isso... O que estou dizendo é que muitos con-seguem alcançar a felicidade somente após a “tragédia”, mas sei que mui-tos – aqueles que buscam saber o porque das coisas – sofrem com os acontecimentos de sua vida.

Mas, será que ter pena de qualquer um resolve? Claro que não...

A pena é uma sensação não amorosa, pois está vinculada ao sofri-mento. Sentir pena de alguém não ajuda nunca, pois quando isso acontece

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se emite esta sensação contra os outros e, com isso, se fortalece o sofri-mento em quem sofre e se abala a felicidade em quem é feliz.

Na verdade, quando o ser humanizado sente pena e racionalmente afirma que o outro é um coitadinho, prejudica o próximo, quer tenha ele al-cançado a felicidade ou não depois do acontecimento.

O puro, o simples, o pobre de espírito é aquele que reage a todas as coisas que acontecem no mundo com amor. Mesmo sem entender por-que, para que, como, ele sabe que os acontecimentos são justos e amoro-sos por causa da sua Fonte.

Por isso o puro simplesmente vivencia amor em qualquer aconteci-mento que ocorra. Com isso ele aproxima-se de Deus e, assim, alcança o Reino do Céu, como Cristo prometeu neste texto.

O pobre de espírito, na verdade é rico, pois não existe outra riqueza no Universo a não ser o amor. Qualquer outra riqueza fica aqui na Terra, pois não é do espírito. Assim sendo, tudo mais que um ser possuir – mesmo que seja as sensações – um dia perderá. Só o amor que sentir o acompa-nhará quando do retorno ao mundo espiritual.

Toda pena, carinho, raiva ou nervosismo, por quem quer que seja, se dissolverão quando o ser retornar ao mundo além das percepções. Ape-nas o amor que sentiu durante os acontecimentos da vida o acompanhará.

Foi isso que Cristo quis dizer quando mandou procurar a riqueza do céu e não a riqueza da Terra. A única riqueza que existe no céu é o amor e, por isso, apenas ele deve ser procurado.

Por isso volto a afirmar: o pobre de espírito é aquele que tem só amor. Mas, ele não é pobre por causa disso, mas rico.

Ele é rico em felicidade, em paz, em harmonia com a vida. Ele não é individualista porque não vivencia o "eu", mas o "todo".

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Se você vive a partir do "eu" é porque acha que está certo. Quem age assim julga e, se pratica esta postura, utiliza-se da soberba, porque só quem tem este sentimento julga.

O pobre de espírito não consegue achar “certo” ou “errado” em nada. Para ele tudo é motivo de alegria, de felicidade. "Que bom, eu morri", "Que bom, o meu filho morreu".

Mas, para isso, antes de qualquer coisa é preciso entender-se como espírito, como um ser do Universo (todo) e não humano (eu). Enquanto achar que você e o seu filho são carnes, não conseguirá ser feliz, não con-seguirá amar incondicionalmente.

Quando você entender que todos os seres que agora estão humani-zados são seres universais, poderá, então, vivenciar a morte com esta cons-ciência: "que bom, a carne morreu".

Sei que você se preocupa com a carne que está usando, mas lhe dou um conselho: deixe escrito no seu testamento que, quando a deixar, que ela seja servida aos pobres em um churrasco. Assim, poderá ajudar a matar a fome do mundo...

Por que não fazer isso? Ela é igual à carne do boi, da vaca e do por-co. Possui tantos elementos nutritivos quanto a carne de qualquer outro ani-mal.. Fazendo um churrasco dela, ao invés de alimentar os elementos que estão sob o solo, pelo menos matará a fome de um outro ser humano...

Compreender o que Cristo ensinou é simples: só o amor pode trans-formá-lo em pobre de espírito. Só vivenciando os acontecimentos da vida com este sentimento você poderá ser bem-aventurado.

Só o amor pode garantir a sua entrada no Reino dos Céus. A vivên-cia da vida com qualquer outro sentimento o levará, após o desencarne, a qualquer outro lugar, menos o Reino de Deus.

Não estou falando de umbral ou inferno, nem estou aqui condenan-do ninguém... A vivência dos acontecimentos com amor leva ao Reino dos

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Céus, mas quando não é esta a realidade do ser humanizado, após o de-sencarne ele se dirigirá a lugares no mundo espiritual onde a presença de Deus não é sentida.

É isto que Cristo ensinou neste trecho do Sermão do Monte. É isso que é ser pobre de espírito. Só não compreendeu isso quem não tem olhos de ver e ouvidos de ouvir.

Isto porque Cristo resumiu todo trabalho da elevação espiritual a apenas dois mandamentos: amar a Deus acima de todas as coisas e amar ao próximo como você gostaria de ser amado. Estes dois mandamentos re-sumem toda a lei da evolução espiritual.

Se juntarmos as duas informações pode-se dizer que pobre de espí-rito (aquele que alcançou a elevação espiritual) é quem pratica a lei da evo-lução, ou seja: o amor a Deus, ao próximo e a si mesmo. Sem esta prática você será rico de bens espirituais e, por isso, não será bem-aventurado e nem poderá entrar no Reino do Céu.

A riqueza, quer seja formada por elementos materiais como os espi-rituais (sensações), como disse o sábio, é ilusão, pois ela só existe para tes-tar a sua capacidade de amar. Por isso, ela precisa ser trocada pela simpli-cidade. Apesar de afirmar isso, não estamos aqui pregando a pobreza mate-rial.

Você pode ter muitas posses materiais, ser rico e ao mesmo tempo ser pobre de espírito. Tendo, pode até praticar pouca caridade material ou não: isso não importa. O que realmente está em jogo durante a encarnação é o teste da sua capacidade de amar incondicionalmente.

É preciso se amar o que se tem incondicionalmente e não com po-ses ou soberba. Se você compra elementos materiais com alegria, compai-xão e com igualdade, acabou o seu pecado.

A riqueza material seja o que for, é ilusão. O que vale é o sentimen-to com o qual vivencia o relacionamento com o que tem.

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Pobre de espírito é aquele que só tem um sentimento: o amor. Por isso ama tudo o que tem e não deseja nada mais. No entanto, se mesmo sem desejar um dia possui, passa amar este elemento sem, no entanto, prendê-lo ou possuí-lo.

Aquele que ama não tem mais nenhuma pergunta na cabeça por-que o amor responde a todas elas. Por isso Kardec disse que o pobre de espírito é o "simples": aquele que vivencia os acontecimentos que aparecem na sua vida sem ficar se perguntando para quê, porque, como, onde ou sem ficar desejando que nada aconteça.

Esse é o simples, o bem aventurado, mas você, o ser humano orgu-lhoso de si mesmo, o chama de bobo. Isso porque imagina que esse ser não tem sabedoria, pois vive tudo superficialmente. Este, no entanto, dentro do ponto de vista espiritual, é o esperto, o sábio.

Os bobos são aqueles que se consideram reis, sábios... Aqueles que imaginam que podem decifrar os enigmas da vida, que podem coman-dar os acontecimentos de sua vida, de um grupo ou de toda uma coletivida-de.

Esqueça os problemas da sua vida. Não queira saber como reagir a qualquer acontecimento, não queira descobrir porque o destino está lhe dando exatamente aquilo agora.

Ao que aparecer, não importa o que seja, reaja com amor. Ame o que outro e lhe fizer e o que você fizer para ele. Se você fizer o mal para al-guém não sofra, mas peça desculpas a Deus e continue a sua caminhada: doe amor para o que você faz.

Para se viver assim é necessário encontrar Deus. Esqueça a visão que tem de que Deus só aparece na sua vida quando a situação é muito complexa.

Respirar é a coisa mais complexa e importante que se pode fazer porque se você parar de respirar, morre. Se isso é tão importante, Deus tem que estar presente na sua vida a cada respirada que der.

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Reagir sempre com amor porque todas as coisas são geradas por Deus. Se alguém foi lavar a mão e molhou o chão, foi Deus quem fez isso; se alguém colocou um pé de meia de uma cor e o outro de cor diferente, foi Deus quem fez ele fazer isso.

Mas, por que Deus faz você ver isso acontecer? Para ver como você reage: com amor ou sem amor. Se você criticar dizendo que aquele sujou o chão todo ou que está parecendo um palhaço, age com qualquer outro sentimento, menos com amor. Assim procedendo, perdeu um ponto junto com Deus, que será utilizado amanhã em um ato que você vai vivenci-ar.

É isto que é a vida, só isto. Em tudo o que aconteça esteja alegre, esteja consciente de que o que você vai fazer pode levar outra pessoa a so-frer e se ela sofrer, amanhã você vai sofrer também.

É isso que é o amor e é assim que age um pobre de espírito. Ne-nhum chefe ou comandante de qualquer coisa terrena dá uma ordem sem que o Chefe Maior (Deus) dê a ordem para ele agir assim. Quando seu che-fe falar com você lembre-se que foi Deus quem fez ele agir daquela forma, para ver com qual sentimento você vai reagir.

Enquanto você falar que uma pessoa é de tal modo, reparando no jeito dela agir, sabe quem está sendo ofendido? Deus, que fez ela agir da-quela forma.

Se todos os atos de todo mundo é Deus quem faz ser feito, quando dizemos que alguém está agindo errado, estamos dizendo que Deus está agindo errado. Quando dizemos que alguém é prepotente, é burro, etc., es-tamos dizendo que Deus também o é, porque o ato que está sendo feito, só ocorreu daquela forma porque Deus mandou fazer assim.

Se você se acha capaz de julgar os atos de Deus, desculpe, este velho retira todas as palavras que já disse. Mas, se você sabe que diante de Deus não tem poder, a única forma de agir é com amor, é entender tudo como Deus tendo feito acontecer daquele jeito. Sem isto, você ofende a

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Deus. Isto é ser pobre de espírito; agir assim transforma você em pobre de espírito e o leva ao Reino dos Céus.

A dificuldade para alcançar esta visão está na forma como você se vê. Se um braço do seu corpo físico se mexe, você diz que fez isso aconte-cer porque é o seu corpo; se uma pessoa deixa de fazer uma coisa, você a acusa dizendo que ela deixou de fazer aquilo. Aprenda, filho: todos os atos que pratica, a começar pela respiração é Deus quem faz você fazer e a ou-tra pessoa só age de uma determinada forma porque Deus manda ela fazer assim também.

Esta forma de ver, no entanto, não acaba com o seu livre arbítrio como muitos querem insinuar... Ele está presente na decisão que você toma quanto ao sentimento que vai usar para o ato.

Os acontecimentos da sua vida são regidos por um arbítrio que você ainda não conhece, mas isso não quer dizer que você não tenha o po-der de fazer alguma coisa neste momento. Tem sim: o poder de escolher o sentimento com o qual irá vivenciar aquele acontecimento.

Com este conhecimento, que está em O Livro dos Espíritos, posso dizer que o seu "destino" está todo traçado desde o seu nascimento, pois como disse Cristo, até os fios de cabelos da sua cabeça estão contados. No entanto, o seu destino está traçado em dois sentidos: o positivo ou negativo.

Se você vivenciar um acontecimento com outro sentimento que não o amor, sofrerá; se vivenciá-lo com amor, será feliz. Os atos vividos por cada ser humanizado podem ser diferentes entre si, mas sempre existem duas opções para vivê-los: feliz ou sofrendo...

Seu dia de hoje ou um determinado assunto, já estão totalmente previstos: o enredo e a conclusão. Se você os vivenciar com amor, terá rea-lizado à contento o seu trabalho espiritual, mas sem for sem ele...

Você falar ou deixar de falar com alguém, não é decisão sua, é Deus quem faz você fazer. A resposta da pessoa também não é decisão

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dela, pois dirá o que Deus mandar ele dizer, que será sempre o que você merece e precisa escutar.

Se você falou e ouviu a resposta com amor, recebe um crédito que poderá levá-lo, amanhã para um destino melhor. Se não, receberá um débi-to que certamente o encaminhará para outro destino.

Apesar de saber que o seu amor de hoje pode lhe dar um crédito, não espere recebê-lo logo. Por exemplo: se você conversar com alguém o amando, este fato não pode mudar a resposta que ele irá lhe dar, pois o que ele dirá já estava previamente traçado

Portanto, se vivenciar uma situação com amor e receber uma res-posta que não lhe agrade (sem amor), não se sinta injustiçado. A visão de que as coisas têm que ser recebidas de uma forma imediata leva o espírito a pensar que houve injustiça.

O crédito e o débito das suas atitudes só repercutirão posteriormen-te e nunca instantaneamente. Se uma pessoa hoje consegue lhe magoar, ferir, desacatar, ofender, isto é resultado de um ato negativo (sem amor) dela e também de um ato negativo seu de ontem e não necessariamente do momento. O crédito de agora só será recompensado futuramente.

A vivência de um ato considerado negativo (que você não gosta) re-cebido é sempre justa e merecida. Mesmo que tenha amado neste momen-to você ficou devendo no passado, em outras escolhas de sentimentos para os atos que Deus gerou.

Qualquer outra visão da vida, que não seja esta, é dizer que Deus é injusto. Se pensarmos que Ele deixa cada um praticar o ato que deseja, dando o direito de fazer o “certo e o errado”, Deus estará sendo injusto sem-pre, já que a justiça humana depende da interpretação de cada um.

Por exemplo, o ato de matar, que você entende como fruto de um “livre arbítrio". Dentro da visão atual do planeta as pessoas acham que quem mata outro é porque utiliza o seu livre arbítrio, ou seja, toma ele pró-prio a decisão de matar outra pessoa.

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Este velho pergunta: onde fica o livre arbítrio de quem morreu? Po-dem me explicar isto?

Este ângulo da questão não é levado em consideração: só se vê um lado da moeda. Aquele que morre é chamado de "vítima", que não merecia aquilo; o outro é chamado de assassino e diz-se que agiu assim porque op-tou nesta vida fazer isso.

Se assim fosse, o espírito assassinado poderia clamar aos céus e dizer: "Deus! Você é injusto, eu não merecia morrer, eu não queria morrer e Você deixou que ele me matasse". Seria um espírito que poderia cobrar de Deus reparações...

Aqueles que morrem assim, sem conhecer que foi Deus que fez ele morrer e não uma pessoa que utilizou mal o livre arbítrio que possui, trans-formam-se nos "obsessores" citados nas literaturas espíritas. São aqueles que acham que não mereciam ter morrido, pois se imaginam “bons” e, por-tanto, que Deus foi injusto com eles. Por este motivo eles voltam para cob-rar do encarnado.

Que Deus é este que só fica “lá de cima” assistindo as "batalhas" da vida? Que Deus é este que fica lá em cima "à toa", "torcendo” para o ser en-carnado errar e aí então, acusá-lo?

É este Deus que quer para você? Este Deus não existe! Deus ama e não dá penas; Deus dá a justiça e não o castigo. Este Deus é Verdadeiro.

Deus pré age. A justiça de Deus não é feita por penas, mas por não deixar que uma injustiça aconteça.

Não existe inocente, não existe vítima. Se você olhar o mundo com os olhos do livre arbítrio do ato, estará criando um mundo de vítimas, sem justiça, um verdadeiro "faroeste", onde a lei do mais forte imperará e não a justiça de Deus. Estará criando um mundo onde poderá haver crianças que recebem uma "bala perdida".

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Onde entra neste seu mundo um Deus que deixa uma bala, uma coisa material, sem inteligência, escolher onde ela vai entrar? Que Deus é esse que é comandado por um pedaço de ferro? Não é esse o Deus do Uni-verso, não é esse o Deus da Bíblia, não é esse o Deus de Kardec: o Deus de todas coisas só conhece a justiça!

Desta forma, tudo o que acontece tem que ser justo e por isso afir-mo: tem que acontecer daquela forma. O livre arbítrio não pode interferir nos acontecimentos.

O problema é que a humanidade tem como visão de justiça àquela praticada pelos tribunais e pelos códigos da Terra. Esta justiça só entra em ação para punir. A justiça do homem é reparadora e não justa.

Se Deus entrasse em ação depois que as coisas acontecessem, es-taria punindo, mas seria o responsável por existir uma vítima, um injustiça-do. Este Deus não seria justo porque Ele deixou que acontecesse uma coi-sa errada para uma "vítima".

Tudo o que acontece na sua vida é merecido. Não pelo que você fez agora, mas porque acumulou débitos anteriores não amando durante a execução de atos ordenados por Deus. Viver a vida com esta consciência acaba com o conceito "tragédia", que na verdade é uma visão humana e não espiritual.

Na bíblia está escrito: "Eu, o Deus Todo-Poderoso, vou fazer os exércitos estrangeiros entrarem em Jerusalém e matar todos os habitantes". Olha a "tragédia" sendo feita por Deus...

Quando o ser humanizado se depara com o resultado de uma guer-ra, de uma tragédia ou de uma catástrofe, não pode fixar-se apenas no que acontece está acontecendo com a carne, pois, com essa visão, encontra "ví-timas". Num mundo onde Deus seja a Justiça, é impossível haver vítimas...

Muitos morreram nas câmaras de gás da segunda guerra mundial, mas milhares sofreram muitos anos nos campos de concentração e não

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morreram. Quem escolheu quem devia passar pelo sofrimento e depois morrer ou não? Deus.

Se achar que aqueles que morreram foram "vítimas" do preconceito racial do nazismo, você estará chamando Deus de injusto para com eles. Só passou pelo sofrimento e pela morte aqueles que mereceram uma coisa ou as duas.

Quem aparentemente serviu como instrumento desta injustiça, tam-bém foi escolhido por Deus com base nos seus merecimentos. Todas as "escolhas" de Deus para o que cada um tem que passar durante a encarna-ção baseia-se na utilização do amor ou não quando da vivência de atos que Deus determinou anteriormente. .

Não existe para que, porque, como e onde: tudo deve ser trabalha-do com alegria. "Que felicidade! Aquele homem sofreu e morreu porque me-recia passar por isso para que a justiça de Deus acontecesse. O que espero é que ele tenha recebido a sua pena com amor". Este é o pensamento do pobre de espírito.

No oriente o povo faz festa quando há uma morte e eles estão cer-tos: a morte é uma festa. Coitado daquele que morre no ocidente, pois fica preso às coisas da matéria porque os "vivos" ficam chorando ao invés de festejar.

Na verdade, as pessoas queriam o "morto" na carne para poder sa-tisfazer as suas "vontades". Isto é falta de amor, é falta de compaixão. Quem "morreu" está indo para um lugar melhor do que este que vocês co-nhecem. Quando querem que ele fique aqui, não estão agindo com a cons-ciência do sofrimento que ele teria que passar se continuasse na carne. Mas isto também não é novo: a Bíblia fala isso o tempo inteiro.

Desta forma, amor, amor e amor: é só isso que você tem que fazer para viver.

Não se trata de entender por que houve uma catástrofe e aquela pessoa morreu. Não precisa saber que crimes ela cometeu para merecer

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que este ato acontecesse na sua existência: sua posição é dar alegria, igualdade e compaixão para ela.

Mas isto tem que acontecer não só na morte, mas em todos os atos da vida. Você tem que reagir com amor à pessoa que lhe dá uma "fechada" no trânsito, ao seu filho que não o respeita, ao seu amigo que faz uma coisa que você não compreende e se ofende ou fica ferido.

Deve ser esta a forma como se vive quando o seu chefe grita com você, com aqueles que ofendem a natureza sujando a rua: o amor é para to-dos e a toda hora.

Vou falar uma coisa, se quiser acreditar, acredite: você pode ir a qualquer doutor que, se Deus não quiser curá-lo, não vai ser a medicina quem irá curá-lo. Isto porque a doença só acontece porque Deus a colocou: você acha que um homem vai tirá-la?

Normalmente, quando você fica doente, a primeira reação é a do medo da morte. Quando esse medo chega você busca alterar os seus senti-mentos para poder "morrer” em paz com Deus. Este mecanismo, então, faz parte da consciência do ser humanizado para que ele busque a Deus e, por isso, a saúde não pode ser alterada pela medicina.

Aquele que está doente deve, portanto, buscar alterar sua forma de viver. Não os atos que pratica, porque isso é impossível, mas mudar a sua postura sentimental com relação aos acontecimentos da vida. Mudar a for-ma de ver o mundo é se despojar das coisas materiais, ou seja, abandonar todos os sentimentos que não sejam o amor.

Todos os sentimentos que não o amor são coisas da Terra, não de Deus, e por isso são conhecidos como materiais. Cristo não disse que para entrar no Reino dos Céus o ser humanizado tem que se despojar das coisas materiais?

Na verdade Cristo não falou que você tem que despojar de um abri-go, mas sim da casa; não do meio do transporte, mas sim do carro; não de um trabalho, mas sim de uma obrigação. Quando você entender que as coi-

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sas são todas ilusões, que a matéria não existe, mas sim o que ela vale, vai encontrar o amor para viver os atos que Deus manda você fazer.

Se você é uma pessoa inteligente, dominadora, que se acha capaz de decidir e praticar qualquer ato que queira, por que não consegue parar de fumar, se sabe que este hábito só lhe traz prejuízos financeiros e físicos? Você não quer morrer, mas fuma e se expõe a ter câncer? Sendo tão capaz, por que não consegue afastar-se deste vício?

Apesar de ter usado este exemplo acima, não pense que estou con-denando o cigarro. Além do mais, como já disse, a doença não nasce de elementos materiais, mas do destino de cada um dado por Deus. Desta for-ma, posso dizer que o câncer não é efeito do uso do cigarro, mas causado pela ausência do amor no passado.

Fumar é efeito de quem tem como opção de encarnação desencar-nar através da doença chamada câncer, mas não é por isso que você pode julgar todos os fumantes como grandes pecadores. Muitas vezes um ato é praticado como missão e não como resultado de débitos.

Assim, muitos fumantes utilizam o amor nos atos que Deus os man-da praticar, mas não podem afastar-se do vício. Não compete a ninguém jul-gar o porquê de outra pessoa praticar atos: se não agir assim, não estará tendo amor.

É isso que é ser "pobre de espírito": é compreender que você não consegue dar um passo sem que Deus faça o passo ser dado. É entender que o pensamento que se forma dentro de você através do raciocínio, é co-locado por Deus e não a conclusão a que você chegou.

Se pudesse formar uma conclusão, esta não seria verdadeira, pois você não tem a capacidade de enxergar todas as coisas que existem e acontecem no Universo. Só Deus, que a tudo vê e entende pode chegar a conclusões. Por tanto, reaja com amor, sem usar pensamentos de poder como "eu acho", "eu sei", "eu entendo".

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Entenda que você não ouve uma palavra que não tenha sido dita por Deus. Sua função nesta vida é receber esta palavra com um sentimento escolhido livremente entre o amor e o desamor.

Para você ser um "pobre de espírito" e ganhar a glória de viver no Reino dos Céus, sua escolha deve ser sempre ouvir tudo com amor. Quem agir assim irá viver no mundo de Deus, pertinho de Cristo, que age assim.

Muitos espíritos estão aprisionados ao orbe terrestre há pelo menos sete mil anos e ainda não conseguiram entender isso, apesar de todos os avisos. Compreender que você não tem a capacidade de praticar nenhum ato, de chegar a uma conclusão, é a chave para a elevação espiritual e do fim do processo encarnatório para "provar e expiar".

Por que, depois de tanto tempo, apesar de todos os profetas, Cristo e os apóstolos, além de outros iluminados terem avisado, você não conse-gue enxergar isso ainda? Por que ainda não abdicou de você, ainda quer ser alguma coisa, quer ser "gente"...

É a visão de si mesmo gerada pelo conceito "homo sapiens" (ser in-teligente, dominador, poderoso) que faz com que você cada mais se envere-de pelo caminho dos sentimentos negativos e precise estar constantemente passando pelas provas e expiações na carne. Vai chegar à hora em que en-tenderá que tudo o que pode ser já é: filho de Deus.

A única coisa que um espírito pode ser na sua existência é ser filho de Deus e para isso ele não precisa fazer nada mais... Você não tem mais nada para fazer durante a sua existência do que ser filho de Deus.

Na hora que esquecer que tem que ser bonito, que tem que ser ma-gro, que tem que andar vestido, que tem que se arrumar e saber que já é isso tudo porque você é filho de Deus, neste momento conseguirá vivenciar os acontecimentos com amor. Enquanto estiver preocupado se alguma coi-sa é bonita ou feia, magra ou gorda, etc., está vestida ou não, haverá senti-mentos opostos se debatendo e você terá que escolher um deles.

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Enquanto você achar que o verde e o amarelo junto não combinam, estará escolhendo uma das duas cores em detrimento da outra. Tanto o ver-de quanto o amarelo são cores criadas por Deus, que as ama igualmente e por isso podem conviver pacificamente. Se você diz que é feia a união des-tas cores, está criticando Deus.

É esta preocupação com o seu "eu", com o que você é, com o que você faz, que o está prendendo no sistema encarnatório. Na hora que abdi-car de si mesmo, na hora que entender que já é tudo o que pode ser sendo filho de Deus e que tudo mais que está no planeta é obra do Pai e, portanto, perfeita, encerrará o seu período de provas e poderá partir para o período de regeneração. Neste momento todos vão ficar felizes.

O que acontece é que você briga com tudo o que acontece – com os atos que pratica e que são praticados por outros, com as coisas que ocorrem com você ou com os outros – porque não entende o que está acon-tecendo. Não entende o porque, para que, como e onde das coisas.

Quando briga contra estas coisas, está brigando com quem fez: Deus. Neste momento está ofendendo não o agente do acontecimento, mas sim ao Pai. Como você quer ser recebido por este Pai que ofende a toda hora, em todos os momentos?

Quando o seu filho quer fazer uma coisa da forma que ele quer e diz que o pai dele não sabe nada, você não fica triste? O seu Pai também se sente assim.

Quando você diz que o outro não sabe nada, não sabe fazer as coi-sas, está dizendo que Deus não sabe nada porque foi Ele que fez o outro agir assim. Aquela pessoa não fez nada contra você, mas foi o seu Pai que falou por intermédio dele. Não para ofendê-lo, mas para lhe dar uma oportu-nidade para amar acima do “eu”.

Este é o conhecimento que transforma um ser humanizado em pob-re de espírito: não ter nada. Não ter vontade, não ter senso crítico, não ter certo e nem errado. O pobre de espírito não tem nada disso porque em tudo

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ele encontra alegria; em tudo que ele vê encontra igualdade e não um mais baixo e um mais alto, um mais certo ou um mais errado.

Este velho não conhece outra forma de se viver. Tantas e tantas coisas passei na vida e só depois fui entender os motivos pelo qual passei por aquilo.

Uma vez fui escravo, tomei chibatadas de dia e de noite gritava: "Pai, por que o meu lombo dói tanto? Por que fui eu o escolhido para estar aqui, passar por este sofrimento?" Quantas e quantas vezes blasfemei con-tra essa "injustiça", até que um dia um amigo me mostrou os motivos.

Quantas chibatadas eu já havia dado nos outros, quantos lombos havia deixado doendo... Não com o chicote, mas com a minha língua.

Em existência anterior fui um crítico mordaz. Era aquele que aponta-va os erros de todos: era um "juiz". Sabia e conhecia tudo, mas com o meu conhecimento, com as minhas conclusões. Nunca procurei o conhecimento do Pai dentro dos outros. Eu achava que era o dono da verdade.

Voltei para o plano espiritual e apanhei muito, sofri muito. Muitos passavam e cuspiam em mim até que descobri Deus. Mesmo assim tinha que voltar e resgatar os meus erros.

Nesta vida que fui escravo levei chicotada e fui marcado como gado, mas isso que a minha carne passou de nada adiantou porque toda noite eu berrava e uivava contra Deus. Só então entendi que aqueles que passavam por mim, que cuspiam em mim, estavam agora dando as chicota-das. Não porque eles as quisessem dar, mas porque Deus mandou que eles assim agissem, porque eu merecia.

Nesse momento aprendi que não tenho o menor direito de dizer que alguém está “certo” ou está “errado”, porque eles só fazem o que o Pai quer.

Durante o tempo que tenho trabalhado junto a vocês nunca me vi-ram dizer que alguém estava certo ou errado. Nunca me viram acusar al-guém pelo que fazem. Não faço isso porque não tenho este direito.

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Se alguém está agindo de determinada forma é porque Deus está fazendo-o agir assim e quem sou eu para dizer a Deus como Ele deve fazer alguém agir? Que sabedoria tenho eu do Universo para poder dizer a al-guém "não faça isso"?

Como dizer "você está errado", "você agiu errado", "você é burro"? Eu seria muito mais burro do que você porque estaria gritando, brigando e apontando uma falha de Deus.

Vocês só me viram orientar para que procurasse o amor, a união, para que entendesse que o planeta só existe por causa do amor. Por isso, aqui só existe lugar no mundo para o amor e para mais nada.

Já se foram muitas encarnações deste velho e nestas conversas va-mos falar muito sobre as coisas que eu passei. No entanto, como já disse, não quero falar de lei, não quero explicar a lei porque não sou doutor da lei. O que quero trazer para você são as experiências deste velho que um dia, com as graças de Deus, ouviu estas palavras que nós estamos conversan-do agora e começou a mudar.

Depois que entendi essas palavras, vivi uma vida na carne onde to-dos diziam que eu era bobo, onde todos faziam de mim o que queriam, mas esta foi a vida que mais aprendi na minha existência espiritual. Foi nessa vida que eu mais avancei. Quando todos pisavam em mim, não sentia, por-que sabia que Deus estava amortecendo o "pisão" que estava levando.

Perder? Perder dinheiro, compostura, respeito, o quê? Posso perder tudo que isso não tem problema...

Posso ficar, como se diz, com "uma mão na frente e outra atrás", mas enquanto eu tiver Deus do meu lado estarei alegre e feliz. A única pos-se, a única bagagem que este velho tem quando arruma as malas é o amor. O amor por Deus, o amor por ele mesmo e o amor pelos seus filhos que, na verdade, são filhos de Deus.

Esta é a grande descoberta do mundo. É isto que vai mudar a figura deste planeta porque, quando alguém começar a agir assim, os outros vão

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começar a se sentir, como eu falei antes, desnorteados, constrangidos, por-que não vão conseguir feri-los ou magoá-los.

Este é o segredo do Universo. Isto é ser puro, ser simples, ser pob-re de espírito. Isto é entender que Deus e só Ele é a Causa Primária: é quem faz acontecer tudo, quem dá o efeito de tudo. É preciso entender que Deus e só Ele tem o direito de julgar alguém porque consegue ver todas as repercussões das coisas que são feitas.

Deus e só Ele merece o amor sublime. Merece que eu aja a cada ato com amor, com alegria e felicidade de viver. Merece que eu viva com a consciência do sofrimento que possa estar causando aos outros e a mim mesmo, mas que não sofra por isso.

Este é o segredo do Universo e foi isso que Cristo disse naquele dia: "Glorifiquem-se, Eu vim trazer a Boa Nova".

Para que exista uma boa nova é necessário que aja uma boa velha. Qual é ela? A boa velha já era conhecida dos judeus de então: a submissão às vontades de Deus.

Já a boa nova, a notícia que Cristo veio trazer, está acima disso. Trata-se de vivenciar os atos que Deus faz acontecer com amor. Esta é a mensagem que Cristo trouxe ao planeta...

Desta forma, posso dizer que viver a vida carnal de uma forma espi-ritual é aceitar Deus como Pai, como Guia, como o Ser maior do Universo e, a partir desta consciência, reagir a tudo que Ele determinar com amor.

Esta é a prova que o espírito vem fazer na carne e que já foi comen-tado pelo mundo espiritual para Kardec: testar a utilização de sentimentos, testar a subordinação do espírito aos desígnios de Deus com a utilização do amor. A prova que os espíritos vêm fazer na carne, neste planeta, há muitos anos e que tem reprovado a maioria, é aceitar submisso à vontade Deus, re-agindo com amor a tudo que acontece.

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O homem não existe: a carne e o espírito se fundem para formar o homem. A carne é ilusão e o espírito é o filho de Deus que vem a Terra para dizer: "Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso reino e seja feita aqui a Vossa vontade".

É isso que você veio fazer na Terra. É isso que é a sua prova: viver em um mundo de Deus dentro da vontade Dele e não da sua.

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Hipocrisia

Para falar sobre o tema de hoje estudaremos o Evangelho de Ma-teus, Capítulo 23.

Então Jesus falou aos discípulos e a multidão. Ele Dis-se:

- Os professores da Lei e os fariseus tem autoridade para explicar a lei de Moisés. Por isso vocês devem obedecer e seguir tudo o que eles dizem.

Vamos entender este pequeno trecho, pois ele é fundamental para todo o trabalho que faremos hoje, pois “professor da lei” e “fariseu” serão termos citados constantemente.

“Professor da lei” é aquele que conhece a lei profundamente e a en-sina aos outros. Não importa de que lei se fala. Pode ser a religiosa, a dos homens, de uma sociedade, da cultura, da ética, qualquer uma: o “professor da lei” será sempre aquele que a ensina ao próximo.

Dentro do nosso estudo de hoje a partir da mensagem do Cristo, não nos apegaremos apenas ao “professor da lei” religiosa, mas também aplicaremos este termo ao “ser humano” em geral. O espírito quando huma-nizado possui verdades que se transformam em “leis”, pois para ele existe a obrigatoriedade delas ocorrerem, uma vez que necessita que a sua seja sempre a “verdadeira”.

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O conhecimento do ser humanizado são padrões, são normas, são leis que ele segue. Cada ser humano, portanto, é um “professor da lei” que pode ser atingido pelo ensinamento do Cristo: alguém que quer ensinar ao outro o que é “certo” ou “errado” de ser feito.

O segundo termo que o mestre utilizou (fariseu) era dado aos membros de um “partido” dos judeus. Naquele tempo, não havia política: a religião era a política. O partido dos fariseus é, então, uma corrente filosófi-ca dentro da religião judaica.

Esse partido ou corrente tinha como característica o apego profundo à letra fria da lei. Para os seguidores desse partido só valia o que estava es-crito na lei.

Se Moisés falou que tinha que apedrejar sob determinadas circuns-tâncias, isso tinha que ser feito, sem desculpas. Se Moisés falou que não podia tocar na mulher quando ela estava menstruada, não podia: era lei.

Desta forma, “professor da lei” e fariseu são termos quase sinôni-mos. São determinações dadas por Cristo a espíritos que acreditam em uma lei cegamente e a querem impor aos outros.

Apesar de vê-los sob este prisma, Cristo afirma: os “professores da lei” e os fariseus têm autoridade para ensinar a lei. Conhecendo a verdade de que estas leis eram apenas interpretações individuais dos textos sagra-dos, por que o mestre nos diria que devemos escutá-los?

Porque eles “conhecem” a lei. Eles conhecem o texto que compõe a lei e por isso podem citá-las.

Podemos, pois, entender o ensinamento de Cristo neste trecho quando nos fala sobre os “professores da lei” e nos fariseus como: “ouçam o que o professor da lei cita, ouça o que o fariseu cita”.

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Porém não imitem as suas ações, pois eles não fazem o que ensinam.

Como já comentamos anteriormente, neste estudo aplicaremos as máximas de Cristo para o “professor da lei” religioso, aquele que se apega à sua interpretação religiosa e afirma que ela é a “certa”, como também ao ser humanizado, aquele que se apega a sua lei individual (suas verdades) e quer ensiná-la aos outros. Portanto, para todos os ensinamentos transmiti-dos pelo mestre falaremos do religioso e do ser humano.

Citaremos muitos religiosos considerados líderes (padres, bispos, “donos” de centro espírita, pastores protestante), porque estes são os “pro-fessores da lei”: eles “conhecem” e ensinam a lei da sua religião. No entan-to, não estaremos citando-os com acusações, mas com constatações da di-ferença entre o que fazem e o que ensinam, o que é completamente diferen-te de acusar.

A existência desta discrepância está explícita neste primeiro ensina-mento de Cristo: todo professor da lei tem autoridade, pelo conhecimento, para ensinar a lei, mas perde esta autoridade no momento em que não pra-tica a lei que ensina. Uma pessoa que tem a responsabilidade de auxiliar o próximo na sua busca espiritual deve estar sempre atenta em ensinar às pessoas a ter compaixão, por exemplo, mas não vivenciar a transmissão deste ensinamento brigando, gritando, xingando, acusando.

Os “professores da lei” da religião falam e ensinam o amor, mas para isso acusam o próximo de ser pecador, por exemplo. Diminuem aque-les que pretendem ajudar afirmando que são espíritos muito pequenos, atra-sados ou sem evolução.

Ensinam que todos somos filhos de Deus, mas se isso é verdade porque qualquer um seria pequeno frente a qualquer outro ser? Sendo to-dos filhos de Deus, somos todos iguais, pois o Pai não privilegia ninguém.

Estes são exemplos da divergência entre o que ensina o “professor da lei” e como ele se comporta que é a tônica do ensinamento de Cristo. O

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“professor da lei” precisa adaptar a sua realidade (modo de agir) ao seu dis-curso, à sua lei. Ele gosta de falar, gosta de ensinar, mas não pratica.

Nesta primeira visão encontramos a forma como faremos o trabalho de hoje: conversar sobre a ação do “professor da lei” mostrando que ela não tem nada a ver com a lei que ele mesmo ensina.

Portanto, trataremos hoje do individualismo que o “professor da lei” não abre mão para poder vivenciar a lei que ensina.

Amarram fardos pesados e põem nas costas dos ou-tros, mas eles mesmos não os ajudam, nem ao menos com um dedo, a carregar esses fardos.

Todo “professor da lei” amarra fardos pesados nas costas dos ou-tros: o que Cristo quis dizer com isso? Colocam obrigações e responsabili-dades imensas sobre os outros.

O “professor da lei” está sempre gerando obrigações para os outros, criando deveres para o próximo, os quais não ajudam na realização nem com um dedo. Isso é o que Cristo ensina.

Todo professor da lei tem o direito de ensinar a lei, mas não tem o direito de colocar obrigações nos outros. Por que? Por que cada um tem o livre arbítrio que Deus lhe deu de fazer o que quiser.

O professor da lei que quer pôr obrigação nos outros, está querendo roubar algo que Deus deu a cada um dos seus filhos.

Quando o professor da lei diz que para estar “certo” você tem que fazer isso ou aquilo outro, é o momento de lhe perguntar: “por que eu tenho que fazer o que você diz?”. Se Deus deu aos espíritos o livre arbítrio até de “ficar parado” o tempo inteiro (omissão), como muitos ficam, de onde vem à obrigação de agir que o “professor da lei” quer impor?

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Quando a obrigação imposta não é cumprida pelo ser humanizado, o “professor da lei” o critica, acusa: “você não presta, não vale nada, não faz nada nessa vida”. Mas, por que a acusação se isso é um direito garantido por Deus, que deu a liberdade de opção ao ser?

É sobre a ação do “professor da lei” (gerar obrigações, exigir o cum-primento delas e acusar os “faltosos”) que Cristo fala quando afirma que o “professor da lei” amarra obrigações nos outros. Analisemos agora este en-sinamento.

A humanidade acredita que existe a obrigação do espírito elevar-se, mas o que é buscar a Deus? Você freqüenta um centro espírita e lá ouve muitas obrigações que tem que cumprir para se elevar. Na igreja católica ouve outras obrigações (ir à missa, comungar). Na igreja evangélica são cobradas posturas como o tamanho da saia ou do cabelo para que se alcan-ce a Deus, mas através de que ensinamentos Cristo condicionou a elevação a estas coisas?

Tudo isso são apenas posturas materiais e não sentimentais. Cristo nos ensinou que os dois únicos mandamentos são amar: a Deus e ao próxi-mo. Acrescentar ao amor ensinado por Cristo posturas materiais é criar leis individuais. O “professor da lei” religioso obriga fazer, mas que mestre criou esta obrigação?

Além do mais, quem disse que você tem que se elevar, buscar a Deus? Que mestre criou a obrigação do espírito elevar-se?

Eles mostraram a necessidade de se executar esta obra, mas não obrigaram ninguém a realizá-la. Até esta busca é livre arbítrio: opção do ser. Nem isso o “professor da lei” religioso pode obrigá-lo.

E o “professor da lei” ser humano, como se aplicaria este ensina-mento àqueles que vivem querendo ensinar as coisas ao próximo?

Neste aspecto fica mais fácil ainda compreender o ensinamento de Cristo. Cada vez que você diz para alguém “tem que fazer isso”, que o obri-

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ga a realizar uma determinada tarefa na forma e no momento que deseja, transforma-se em um “professor da lei”.

O pior é que o “professor da lei” ainda afirma que impõe obrigações aos outros por amor. Amor a quem? A ele mesmo. Amor a ele que depende de que sua verdade seja contemplada para se sentir feliz. Isso não é indivi-dualismo?

Até aqui analisamos a primeira parte do ensinamento do mestre (amarram fardos pesados nas costas dos outros), mas o que Cristo teria nos ensinado quando completou: “não ajuda a carregar nem com um dedo”?

O “professor da lei” ensina a lei, cria a obrigação e depois se trans-forma em um juiz que julgará a ação do próximo verificando se a lei foi cum-prida. Em nenhum momento o “professor da lei” depois de criá-la (gerar a obrigação) abraça o próximo e diz: “eu vou fazer com você, eu vou lhe aju-dar a executar”.

Ele cria a lei, gera a obrigação, e deixa o outro sozinho para fazer. Só depois de algum tempo se aproxima para saber se está tudo “certo”, ou seja, da forma que ele queria, no tempo que achava que deveria ser execu-tada a tarefa.

É esta a forma de agir do ser humanizado, daquele que possui leis (verdades): obrigar a pessoa a fazer dentro dos seus padrões, mas para isto não ajuda de forma alguma.

Não estou falando de ajudar fisicamente a realizar a tarefa, mas sentimentalmente. “Olha você precisa fazer isso, mas, vamos lá nós dois, juntos conseguimos”. Isto é não ser “professor da lei”.

Com esta predisposição sentimental o ser humanizado pode até ter uma lei e ensiná-la, mas auxiliará as pessoas a quem pretende impor sua lei individualista a cumprirem aquela lei e, assim, realiza o que ensina.

Este você deve ouvir e seguir, mas aquele que simplesmente lhe diz o que você tem que fazer e fica na posição de juiz para lhe cobrar resulta-

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dos, saia de perto. Se você sair, pode ter a certeza que ele arranjará outra “cobaia” para o prazer dele, pois ele não está preocupado que a tarefa seja feita ou não, mas que se cumpra o que determinou, a sua lei.

Na verdade o “professor da lei” seja religioso ou humano é um se-nhor de escravo. Ele escraviza os outros dentro do seu individualismo ge-rando obrigações para que os outros cumpram obrigatoriamente. Só quando isto ocorre se sente feliz. “Viu como eu sou importante: eu disse para fazer e está pronto”. É este o ensinamento de Cristo.

Tenho a certeza que neste momento você está lembrando de muita gente que conhece e age desta forma. Lembre mesmo, mas não acuse, por-que senão você também se tornará “professor da lei”.

Compreenda que aquela pessoa é assim, age desta forma, mas veja também que ele não precisa da sua crítica, mas do seu amor. É preciso amá-lo para que se mude.

Não adianta criticar ninguém, mesmo os “professores da lei”, senão nos transformamos em igual a eles. Ao lembrar-se agora de outros que agem assim, não julgue estas pessoas. Constate que são “professores da lei”, mas os ame do jeito que eles são.

Pergunta: Às vezes eu acho que não sabemos amar. Será que ao tentarmos colocar em prática estes ensina-mentos não estamos apenas aceitando as pessoas do jeito que são?

A aceitação é apenas o começo para que você aprender a amar. A aceitação ainda não é o objetivo final, mas é o caminho para o amor.

Sim, vocês ainda não conseguem amar, ainda estão presos na acei-tação. Alguns, porque outros nem isso.

Pergunta: Acredito que nós fomos educados desde cri-ança a ser um “professor da lei”: dentro de casa, da es-

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cola e do trabalho. É só julgamento de tudo o que ocor-re. Agora temos que mudar tudo?

Mas isto é o objetivo da vida. Você foi criado com todas estas leis para poder promover a sua reforma íntima, ou seja, quebrar todas as leis que lhe impuseram.

Fazem tudo para serem vistos. Vejam como são gran-des os trechos das Escrituras Sagradas que eles copi-am e amarram na testa e nos braços!

Os sacerdotes (“professores da Lei”) no tempo do Cristo, tinham por hábito copiar pedaços dos textos sagrados em pergaminhos e prender nas roupas. Com este gesto afirmavam que possuíam o conhecimento daquele trecho. Isso é tradição até hoje: os judeus ainda enterram na porta da casa um pedaço da Tora com a mesma finalidade.

Hoje não existe mais esse hábito entre os “professores da lei” das diversas religiões, mas o ensinamento do Cristo tem que ser universal: valer para todos os tempos. Portanto, vamos buscar a compreensão dele para os tempos atuais.

Os “professores da lei” de hoje não mais amarram nas suas vestes os textos bíblicos ou textos das leis, mas ainda mostram o quanto sabem ci-tando-os constantemente. Portanto, o ensinamento de Cristo ainda está vivo, porque o “professor da lei” de hoje ainda quer mostrar o quanto sabe citando a lei. O “professor da lei” de hoje é aquele que gosta de discursar para mostrar o quanto ele sabe.

Ele age desta forma não para auxiliar o outro, mas para ser visto, para ser reparado. O “professor da lei” cita os textos sagrados não para transmitir ensinamentos, para conversar, para trocar idéias: esta não é a sua postura. Age dessa forma para mostrar que ele sabe aquilo (é sábio) e, por isto, os outros têm que ouvi-lo e aceitar a tudo o que ele diz como “ver-dade”.

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É a questão da cultura: o professor da lei se imagina o culto, sabe tudo. Ele é, em sentido figurado, uma estante: cheia de livros (ensinamen-tos) na cabeça.

Cita todos eles de ponta a ponta, mas age desta forma para ganhar a fama. Não faz isto com a intenção de ajudar, mas sim para demonstrar o quanto ele é sábio, o quanto sabe.

Com este modo de proceder cria para si uma falsa ascensão moral que tem como objetivo dar legitimidade nas obrigações que coloca nos ou-tros. Neste modo de proceder está o ensinamento de Cristo quando fala que coloca tabuletas na sua roupa com os textos das Escrituras Sagradas, seja de que religião for.

O “professor da lei” não cita o texto sagrado apenas para mostrar o quanto é sábio, culto, mas serve-se desse expediente principalmente para ter a legitimidade para mostrar o “erro” dos outros a respeito da lei que ele é sábio. É alguém que deve ser ouvido, pois o texto das Escrituras Sagradas é universal, mas não seguido no destino que dá ao seu conhecimento (não praticá-lo).

É alguém que têm coisas que você precisa aprender, mas não se transformar em discípulo, ou seja, aceitar a sua falsa ascensão. Se isso acontecer, lhe amarrará um fardo pesado e não ajudará a carregá-lo nem com um dedo.

E no caso do ser humanizado, quem podemos afirmar que é aquele que amarra na sua roupa pedaços da lei? É todo aquele que diz: “eu sei a verdade, você não sabe nada”.

Aquele que diz que sabe, por exemplo, o lugar do copo ou o que é uma casa arrumada e que diz para o outro que ele não conhece as coisas, é o “professor da lei” ser humano. Ao agir dentro desse padrão de realidade automaticamente cria obrigações nos outros porque quer mostrar o quanto sabe, o quanto é importante. Se não for ele jamais a casa estará arrumada, o copo não estará no lugar, ninguém estará “bem vestido”.

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É isto que Cristo está nos ensinando e a partir da compreensão do ensinamento, podemos verificar o que devemos fazer para chegar a Deus: parar de dizer que sabemos o lugar “certo” das coisas, o que tem que ser feito, como se guardam as coisas, etc.

Agindo assim o ser humanizado não se transformará em um “pro-fessor da lei” e não gerará obrigações.

Pergunta: Quando o senhor manda, por exemplo, amar, não está fazendo uma lei?

Eu não “mando” amar ou qualquer outra coisa. Nunca mandei nin-guém fazer nada.

O que eu ensino é o seguinte: se você quer alcançar a elevação es-piritual tem que amar. Agora, se você não quiser alcançar, eu não vou obri-gá-lo a atingi-la.

Aí está a diferença. Se você não quiser evoluir eu lhe dou o direito, se você não quiser amar, também. Agora eu lhe amo independente de você me amar.

Mas, poderiam me perguntar, como viver sem receber de volta por aquilo que fazemos? Com a oração do São Francisco: “Pai, que eu console mais do que seja consolado”.

Eu não obrigo. Nossa conversa nunca foi em tom de imposição, mas sim de orientação.

Pergunta: Não é esta a colocação. A questão de que de-vemos amar, de um modo geral, não é uma lei?

Não, é caminho. Lei é obrigação. Você não é obrigado a amar, mas o caminho da evolução passa necessariamente pelo amor. Você pode ir por qualquer caminho, mas apenas este leva a Deus.

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Não é uma obrigação, mas um caminho que precisa ser trilhado por aqueles que almejam aproximar-se de Deus.

E olhem os pingentes grandes nas suas capas.

O “professor da lei” adora se enfeitar, estar bonito. Sabe para quê? Para causar boa impressão. Para que? Para mostrar o quanto é superior. Para que? Para poder amarrar fardos nas costas dos outros. Este é o ensi-namento do Cristo.

Quando você vê uma pessoa excessivamente arrumada, “engoma-da”, é um “professor da lei” querendo aparecer, mostrar o quanto ele é im-portante. Age assim porque a humanidade acredita na aparência estética.

Afinal de contas, ninguém “importante” anda de sandálias de pesca-dor e de bata, anda? Esqueci de Cristo ... ele andava assim... e era o maior professor de qualquer lei, ou seja, aquele que mais conhecia as verdades dentre todos que já viveram na carne. Mas, ele tinha uma ascensão moral verdadeira porque praticava aquilo que ensinava e, por isso, não se preocu-pava com honras e glórias.

Agora aquele que gosta de ditar lei para benefício próprio (ter pra-zer), se arruma. Quer estar sempre impecável para poder aparecer e com isto desfrutar de uma posição que não lhe aproxima de Deus, mas que faz com que os outros o idolatre.

Vou repetir aqui um ensinamento que as pessoas que já ouviram, mas para muitos pode ser novidade. Trilhar a evolução espiritual é como se fosse o caminho de um barco navegando do porto da ignorância com desti-no ao da sabedoria. Cada ensinamento é um barco que poderá fazer este transporte.

Só que nesse caminhar do porto da ignorância até o da sabedoria o ser humano está preso por quatro âncoras, ou seja, quatro atitudes que, por

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mais que se aprenda os “segredos” do universo, não deixam o espírito evo-luir.

Essas quatro âncoras são: a vontade de ter prazer e o medo do desprazer; a vontade de estar “certo” e o medo de estar “errado”; a busca da fama e o medo da infâmia, ou seja, de ser considerado “errado”; e a bus-ca do elogio e o medo da crítica.

Essas quatro atitudes não deixam o espírito alcançar o porto da sa-bedoria, por mais que conheça os ensinamentos dos mestres.

Enquanto o ser humanizado lutar para ter prazer terá medo do des-prazer. Com isso não deixará jamais de lutar pelo prazer, pois tem o medo do desprazer. Continuando neste ciclo vicioso ficará preso no meio do “mar”, ou seja, jamais transformará a sua caminhada de “ignorância” em sa-bedoria.

Enquanto quiser estar “certo”, terá medo de ser apontado como “er-rado”; enquanto quiser ser famoso, terá medo da infâmia e vai fazer de tudo para ser famoso, inclusive ostentando exteriormente o que não é por dento.

Buscará sempre o elogio fácil e terá medo da crítica. Muitos dizem que a crítica auxilia, mas quem afirma isto não quer ser criticado. Quando age desta forma perde uma grande oportunidade de promover a sua refor-ma acusando o outro.

Enquanto o ser em busca de Deus não se libertar destas quatro ân-coras, não as quebrar abandonado-as no mar (o caminho da evolução), não chegará ao porto da sabedoria. O “professor da lei” citado por Cristo neste ensinamento é ancorado nessas quatro âncoras.

Preferem os melhores lugares nas festas ...

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O “professor da lei” não aceita passar incógnito. Ele quer a posição de destaque onde quer que esteja. Não aceita ser mais um, mas quer ser sempre o “principal”. Este é o “professor da lei”.

É aquele que se vangloria de ser o responsável por tudo, ser o dono de todas as coisas, aquele que sempre “sabe”. Este é o “professor da lei”. Ele faz questão de sempre falar tudo o que sabe e quer estar sempre rodea-do de outros que lhe adorem.

Para ele a bajulação é o alimento, é o ar que respira: não consegue viver sem. Imagina que terá isto por toda eternidade, mas mal sabe o que lhe reserva o “destino” depois da saída da carne: o abandono completo. Não como uma penalidade, mas para aprender a ser humilde.

Este é o “professor da lei” que o Cristo nos ensina.

Aquele que gosta de falar, que gosta de ensinar, que gosta de dizer o quanto sabe. Aquele que gosta de estar aparentemente muito bem para mostrar a todos o quanto é bom e que corre para sentar nos melhores luga-res, conseguir posição de destaque para que todos o observem.

Verifique se este modo de proceder não está ligado às quatro ânco-ras que falamos? Em todas: no prazer, no estar certo, na fama e no elogio.

Para os “professores da lei” Cristo deu mais um ensinamento. Ele disse assim: se você for convidado a ir a uma festa, sente no fundo, pois se alguém lhe chamar para frente será uma honra, você foi convidado para a glória. Agora, se você quiser se sentar logo na frente, pode ser que alguém lhe mande ir para trás e você será, então, desonrado.

Este é um grande ensinamento que precisamos aprender. Precisa-mos parar de dizer que somos donos da verdade. Parar de imaginar que po-demos mandar nos outros, achar que temos dinheiro e poder para “comprar” o que quiser. Deixar de imaginar que somos grandes, os maiorais e não pre-cisamos de ninguém para nos mandar.

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“Eu sei o que tem que ser feito e por isso eu digo o que deve acon-tecer e não você”: este é o padrão que o “professor da lei” aplica às coisas do mundo.

Precisamos deixar de ser “professores da lei” porque esta função na vida não nos garante um destino muito bom depois do desencarne. Cristo avisou: o menor no reino da Terra será o maior no “céu”; o maior no reino da Terra será o menor no “céu”.

Pergunta: Qual o destino dos “professores da lei”?

O destino do “professor da lei” é o umbral onde será tratado como mínimo para aprender o quanto ele fez com os outros durante a encarna-ção.

e os lugares de honra nas casas de oração.

É o mesmo que comentamos acima. Tanto faz na vida mundana quanto na vida religiosa, os “professores da lei” sempre querem o lugar de destaque. Buscam sempre “aparecer”, se mostrar, estar sendo visto por to-dos para poder ter o prazer.

Gostam de ser cumprimentados com respeito nas pra-ças e de ser chamados de “mestre”.

Por que o “professor da lei” gosta de ser cumprimentado com res-peito? Para ele, o respeito é a prova da fama. Os “professores da lei” gos-tam que os outros digam o quanto ele sabe. Gostam que os outros estejam sempre afirmando: “é um prazer e uma honra lhe cumprimentar”.

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Por que alguém deveria ter essa deferência especial pelo “professor da lei” já que ele é um ser humano igual a todos? Se ele vive a vida da mes-ma forma que eu (baseado no individualismo), então porque é preciso baju-lá-lo? Na verdade, o professor da lei não quer ser respeitado, mas bajulado. O que ele exige é o respeito pela sua superioridade.

Esta é uma característica do ser individualista, do “professor da lei”. Sempre está querendo que os outros demonstrem o quanto ele é importan-te. Necessita que os outros demonstrem o servilismo, porque isto é alimento para o “professor da lei”: precisa disto para viver.

Quando alguém passa e não o reconhece, não lhe trata com respei-to, o “professor da lei” sofre: “Como, você não está olhando para mim, você não está falando comigo, está conversando com outro? Mas eu sou o “pro-fessor da lei”, sou eu que sei as coisas”. Este sofrimento é “morte” para ele.

Esta característica Cristo não teve. Ele deixou os “professores da lei” jantando e foi comer com as prostitutas. Este tipo de comportamento foi um dos motivos alegados pelo Sinédio, os “professores da lei” hebreus, para crucificar o Cristo. “Como ele não vem aqui no templo para ensinar e vai para a casa de uma prostituta”?

Aquele que diz que o Cristo cumpriu as leis, nunca entendeu a Bí-blia. O mestre não cumpriu nenhuma lei: descumpriu todas que existiam.

Ele descumpriu todas as leis do Sinédio, a dos “professores da lei”, e cumpriu as leis de Deus: amou a todos e a Deus acima de todas as coi-sas. Esta é a única lei que existe, mas que também não é uma lei, como já vimos, mas um caminho que cada um pode escolher.

Então, precisamos mudarmo-nos. Parar de cobrar dos outros a ado-ração a si. Parar de cobrar dos outros que devem nos servir, que devem nos respeitar porque sabemos a “verdade”, o “certo”. Não é este o caminho que leva a Deus.

Libertar-se desta forma de agir deve ser a busca de todos nós, mes-mo que ainda imaginemos que façamos isto por amor ao próximo. Você faz

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por amor a si mesmo e não ao próximo. Não busca ajudar, mas a criar o servilismo.

Pergunta: Então seria interessante eu colocar minhas palavras incógnito?

Necessariamente não, até porque você jamais conseguiria colocar palavras sem ser percebido, pois quando um som sair alguém ouvirá. Não estará mais incógnito.

Fale, mas não busque a fama. Acabou de falar o que tinha que di-zer, não permaneça esperando para receber os elogios. Não fique esperan-do todo mundo correr em volta de você para lhe elogiar, afirmar quanto foi boa a sua palavra.

Pergunta: Como agirmos para colocar nossas palavras?

Ame e deixe as palavras saírem da sua boca. Liberte-se das quatro âncoras e deixe a palavra sair da sua boca.

A palavra como coisa material não é criada por você, mas Deus Causa Primária é que fará as palavras saírem de sua boca. Portanto, não procure palavras: ligue-se a Deus e deixe sair. O que sair era para sair.

Vocês não devem ser chamados de “mestre”, pois to-dos vocês são irmãos uns dos outros e têm somente um Mestre.

Que maravilha de ensinamento: todos somos irmãos, ou seja, so-mos iguais. Você não pode ser um mestre, ou seja, “saber” das coisas mais do que os outros, pois se assim fosse seria melhor que os outros.

Somos todos iguais, irmãos entre si. Se você tem o direito de achar que “sabe” é preciso que dê ao outro o direito de achar que ele também “sabe”. Se ele não faz como você fala, ensina, é porque fez do jeito que

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achava que deveria fazer. Se ele não fez é porque achava que não tinha que fazer.

E por que você não dá a ele o direito de não fazer ou de fazer na forma que quiser? Porque você quer ser mestre. Mas, o Cristo ensinou: te-mos somente um mestre. Todos nós temos um só mestre, aquele que sabe perfeitamente as coisas e por isso pode ensiná-las.

Quem seria ele? Deus. Ele é o único que sabe a Verdade, é o único em condições de ser um professor que ensina a lei, Aquele que pode ensi-nar algo. Ele conhece a Verdade das coisas, é o dono da Verdade Absoluta.

Quando você diz “eu sei como se faz isso”, está querendo ser Deus. Está roubando do Senhor do Universo o Seu Poder.

Ilusoriamente, é claro, mas é isto que faz uma pessoa que garante que sabe alguma coisa, seja em que termo for: até nos mínimos detalhes. Você sabe a cor da peça de roupa que está usando agora? Você é um “pro-fessor da lei”, um mestre, quer ser Deus. Se você “sabe”, quer ser mestre, neste caso, o mestre das cores.

Não importa o que seja, declare a sua incompetência de saber. Abra mão da sua maestria para poder entregar o comando a quem realmente sabe: Deus.

E aqui na Terra não chamem ninguém de pai, porque vocês têm somente um Pai, que está no céu.

Nós todos temos um só Pai: Deus. Mas, o que é ser “pai”? Qual a função do pai para a humanidade? O pai é o amparo. Neste ensinamento, portanto, Cristo diz: não se ampare em ninguém, pois você tem um só Pai, um só amparo.

Quem tem filho para garantir a sua velhice normalmente acaba em asilo. Quem obriga um filho formar-se para obter uma posição de destaque

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no mundo material com a intenção de que no futuro tome conta dele, nor-malmente acabará sozinho.

Nós temos que procurar amparo em Deus e em mais ninguém. Quero passar um ensinamento agora muito importante, mas busque me compreender com toda clareza, pois poderá parecer algo “errado”: não con-fie em ninguém. Nenhum outro espírito é digno da confiança absoluta e ir-restrita a não ser Deus.

Isto é o que o Cristo nos ensina o tempo inteiro. Não adianta rezar para “santo”, não adianta nem pedir a intervenção de Cristo para que acon-teça aquilo que você espera, pois poderá se desiludir. Não adianta confiar em um médium ou em espíritos desencarnados: você pode se desiludir. A entrega (confiança) é a Deus e a mais ninguém.

Quem confia em um “santo”, sabe o que faz? Idolatria. Transforma-se em idólatra. Idolatra o “santo” ao invés do próprio Deus. Quem se entre-ga a um médium, a um centro espírito, ao padre ou ao papa, é idólatra por-que não idolatra a Deus, mas outro espírito.

Salomão nos “Provérbios” ensina: aos responsáveis pelo trabalho de Deus devemos respeito, mas amor só a Deus, só ao Pai. Respeitem to-dos os espíritos tratando-os de igual para igual e idolatrem (amor absoluto, entrega absoluta) só a Deus, a mais ninguém.

“Você precisa vir para nossa igreja e se entregar ao padre (ao papa, ao pastor)”. Por que? É um espírito em evolução igual a mim. É um espírito que está buscando elevação espiritual igual a mim. Como ele pode me sus-tentar se ainda está querendo aprender a se sustentar?

É este o ensinamento do Cristo: só há um Pai, só há um aconchego, só há um repouso para o espírito. É por isso que o mestre ensina assim: as raposas e as aves têm o seu ninho para descansar, mas o ser humano não tem onde encostar a sua cabeça.

Você confia no amigo, ele lhe trai; confia no “santo”, ele não faz o que você quer; confia em um médium, descobre que ele é “professor da lei”,

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quer fama para si. Deus, do Pai e no Pai é que devemos procurar o repou-so.

Por isso o Cristo jamais pediu idolatria a ele, mas ensinou a idolatria a Deus, o repouso em Deus. E é por isso que o Krishna diz: repousa em Mim (Deus) e assista sua vida.

Pergunta: A nossa ação não deve ser com intenção de receber algo em troca. Devemos agir porque acredita-mos no que fazemos e assim, não esperar nada e não terá desilusão.

Se você agir porque sabe que tem que agir de determinada forma já demonstrou uma intenção e se transformou em um “professor da lei”. Agir sem intenção não é apenas não esperar nada em troca, mas não saber por-que está agindo. Krishna ensina que a Yoga é a vida sem intenção.

Então, não é só isso que você falou, mas ainda mais. Temos que vi-ver sim, sem intenções (“Porque você falou isso? Não sei. Para que falou? Não sei. O que vai resultar disso? Não sei”) além de nada esperar como re-compensa.

Enquanto você tiver verdades tem intenções: “eu falei isso porque acho certo”.

Pergunta: Hoje o “médico” não está com pena de “san-grar a ferida”: está pondo todo o “pus” para fora.

Na hora que vocês entenderem que enquanto não se extrair o abs-cesso que está purgando não haverá cura. Continuarão “alisando a cabeça” dos outros e a sua e não evoluirão.

É por isso que falo profundamente e não superficialmente.

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Nem devem chamar ninguém de líder porque vocês têm um líder, o Messias.

Só existe uma liderança: Cristo. Ele é o líder de toda espiritualidade que vive no planeta Terra. Então, o papa, o dono do centro espírita, o pastor evangélico, não são líderes, mas subordinados a Cristo. Agora, como pode-mos compreender a subordinação do espírito a Cristo? Segui-lo incondicio-nalmente.

“Eu sou o caminho, a verdade e a luz. Ninguém chega a Deus a não ser através de mim”. Nesta máxima está retratada a liderança que o Cristo exerce.

Mas, o que será ser o Cristo? O que será esse caminho “ser Cristo”? É viver a vida Cristo, como ele viveu. Ser Cristo, seguir a liderança do Cristo é viver como o mestre viveu.

É seguir as intenções com as quais o Cristo viveu; praticar os ensi-namentos como ele praticou. Que me desculpe o papa, mas ele não pode ser subordinado de Cristo morando em um castelo.

O mestre ensinou “abandone todas as suas posses e me siga”. En-quanto ele ou sua religião tiverem posses não estarão seguindo Cristo, quaisquer que sejam os motivos alegados para elas existirem.

Que me desculpem os religiosos, mas enquanto eles não saírem dos seus “castelos enfeitados”, sejam centros, templos e igrejas e irem para rua, de esquina em esquina, não seguirão a liderança do Cristo. Como o mestre ensinou, o templo de Deus está dentro de cada um e não em recin-tos fechados.

É isto que o Cristo nos ensina neste trecho. Se quiser deixar de ser “professor da lei” você tem que aceitar a liderança do Cristo, ou seja, tem que colocar em prática, como ele colocou, todos os ensinamentos. Não é colocar em prática apenas o que quer e gosta ou aquilo que acha que está certo, arranjando justificativas para não fazer o que não quer.

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Seguir a liderança do Cristo: este é o caminho que leva a Deus. Mas, seguir a liderança do Cristo é agir desta forma e não apenas ficar re-zando para ele. É viver como ele viveu nos mínimos detalhes.

Para poder colocar este ensinamento na prática aconselho aos se-res humanizados a perguntar a si mesmo a cada segundo, a cada aconteci-mento, o que será que Cristo faria nesse momento?

O que será que Cristo faria agora? Como reagiria neste momento? Qual ensinamento pode ser aplicado agora na minha vida? Isso é seguir a liderança do Cristo.

Entre vocês o mais importante é aquele que serve. Quem se engrandece será humilhado e quem se humi-lha será engrandecido.

Aqui mais uma vez espelha-se o grande ensinamento de Cristo. Este é o grande caminho que precisa ser seguido por aquele que busca se-guir a liderança do Cristo: servir ao próximo, não importa onde, quando ou como.

Para se seguir a liderança de Cristo é preciso “rasgar o peito” e tirar de dentro de si todas as verdades, todos os desejos, todo individualismo. Só assim o ser humanizado poderá estar pronto para servir o outro. Enquanto houver algum resquício de individualismo, de vontade, de desejo, não con-seguirá servir o próximo.

Quando não servimos ao próximo só nos resta um caminho a se-guir: se servir do próximo, ou seja, se transformar em um “professor da lei”. Não existem outras opções neste mundo: ou eu sirvo ao próximo ou, sim-plesmente, me sirvo do próximo para ser feliz.

Servir ao próximo ir muito além do “eu”, ou seja, o que se quer. Se-guir a liderança de Cristo é fazer pelo próximo independente do que você quer fazer, independente de querer servir, independente de se alcançar sa-

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tisfação por ter servido. É fazer o que se está fazendo apenas por fazer: sem tirar nenhum lucro individual da situação.

“Você quer me bater, me bata; quer me xingar, me xingue; quer dei-xar de fazer o que eu acho que é certo, deixe”. Eu estarei lhe servindo e é para isso que nasci. Servir ao próximo é o objetivo máximo de uma existên-cia para aquele que busca a elevação espiritual.

Quem serve nesta vida será servido no “outro mundo”, que não é depois da morte, mas agora mesmo, depois da transformação, da elevação espiritual durante esta mesma vida carnal.

No entanto, não mais servido em paixão, em desejos, em fama ou em glória, mas servido amorosamente. Aquele que aprender a servir terá suas “feridas lambidas”, ou seja, terá suas dores (sofrimentos) apagadas.

Isto é servir ao próximo; este é o motivo de estarmos na carne. Por isso aquele que serve a liderança de Cristo, que tem Deus como Mestre e como Pai não abusa de ninguém.

Vocês falam muito em estupro, têm medo deste acontecimento, mas quer ato de mais violência contra a individualidade do próximo do que a ação de que qualquer “professor da lei” como a entendemos a partir desta conversa? Ele estupra a vontade e a felicidade dos outros.

Esta forma de agir é um ato violento: “eu sei o que está certo, cala a boca você”. Os religiosos se preocupam muito em não matar, mas o que o “professor da lei” faz? Mata o outro. Mata a individualidade do próximo quando quer transformá-lo em cópia de si mesmo.

Não aceite outra liderança senão Cristo, pois qualquer outra irá que-rer lhe transformar conforme o seu próprio desejo e para isso lhe dará res-ponsabilidades que não ajudará a carregar.

Ai de vocês, “professores da lei” e fariseus, hipócritas!

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Já estudamos os termos “professor da lei” e “fariseus”, mas agora Cristo coloca um novo elemento em nosso estudo: a hipocrisia. Vamos ten-tar entendê-lo antes de continuar a ver os ensinamentos do mestre.

O que é hipocrisia? É mentir para si mesmo. O hipócrita vive men-tindo para sai mesmo, mas a maior mentira que conta para si mesmo é que é autônomo do universo, que consegue praticar atos independentes de uma coordenação universal que dá a cada um segundo as suas obras. Isto é hi-pocrisia.

Hipócrita é o ser humano, que acha que é independente de Deus, que acha que o Senhor Supremo do universo criou tudo e não pode agir previamente em momento algum. Para os “professores da lei” Deus tem que se submeter aos seus caprichos, às suas vontades. É isso mesmo: para a humanidade Deus tem que se submeter aos caprichos dos seres humanos.

“Ah, eu tenho ganância, vou assaltar, vou matar quem quiser”. Hipó-crita.

Você acha que o filho de Deus não estará protegido pelo Pai que é o Senhor Supremo de tudo? Você acha que Deus vai gerar um filho e de-pois vai entregá-lo a você para fazer dele o que quiser?

“Qualquer um pode agir como quiser contra os meus filhos que Eu não estou nem aí”. Esta seria a posição do Deus que imaginamos: Fonte Sublime do Amor?

Hipócrita é você que quando não compreende que o seu desejo não foi atendido, que a sua lei não foi cumprida por outro ser humano, mas por Deus diretamente. E quando você briga e grita com o filho de Deus, acusan-do-o de ter lhe ferido, magoado ou de não ter feito “certo”, está acusando o próprio Deus, que afirma amar.

“Professores da lei”: Deus é tudo e tudo é Deus, não existem exce-ções.

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Sabe a minhoca que mora em baixo da Terra? É Deus: ela não pode ser usada para o seu prazer de matar os peixes. Sabe o rio que corre? É Deus, não pode ser usado simplesmente porque você quer morar em uma cidade e precisa de um lugar para jogar o esgoto. Sabe o ar que você respi-ra quando está brigando com os outros? É Deus. Você está usando Deus para brigar, difamar, matar, estuprar o filho de Deus.

Senhores “professores da lei”, a única coisa que o espírito deve fa-zer é amar. Amar a todos, não a quem ele acha que está certo, aquele que cumpre o que vocês querem. Amar a todos indistintamente: aqueles que se-guem a sua lei, ou aqueles que não seguem a sua lei.

Como disse Cristo, abraçar o amigo é fácil eu quero ver cumprimen-tar o inimigo. Aquele que vivencia a situação que lhe contraria, que não se-gue a sua lei, senhor “professor da lei”, é um instrumento de Deus para lhe colocar em prova. Deus quer saber se o senhor vai colocar em prática aqui-lo tudo que ensina e exige dos outros.

Aqueles que o senhor chama de pecadores, que não cumprem os mandamentos da “vossa” lei, não são o diabo não, “professores da lei”. Eles são os anjos do Senhor que estão na sua vida para lhe conduzir ao Pai, pois lhes auxiliam a viver a vida Cristo.

Se Cristo não tivesse os inimigos que teve não teria vencido nada. Foi justamente ao não acusar e não criticar aqueles que não o compreende-ram que o Cristo exemplificou o caminho a Deus.

Pergunta: “Mais vale um ateu do que um crente hipócri-ta”. Frase do apóstolo Paulo.

Se você amar a todos, não precisa nem acreditar em Deus. Quando Cristo nos ensina a amar a Deus acima de todas as coisas não ensina baju-lação, mas ensina um caminho.

O amor a Deus acima de todas as coisas não é a bajulação a Deus, mas o caminho para se alcançar a evolução espiritual.

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Agora já compreendemos em profundidade o ensinamento de Cris-to nesse capítulo do Evangelho de Mateus. Vamos, então, conhecer com apenas alguns comentários o restante do texto.

Ai de vocês, professores da lei, fariseus hipócritas! Pois fecham a porta do reino do céu aos outros, mas vocês mesmos não entram nem deixam entrar os que estão querendo.

Ai de vocês, professores da lei, fariseus hipócritas! Pois atravessam os mares e viajam por todas as terras para procurarem converter uma pessoa à sua religião. E, quando conseguem, tornam essa pessoa duas vezes mais merecedora do inferno do que vocês mesmos.

Ai de vocês, guias cegos! Pois ensinam assim: Se al-guém jurar pelo Templo, não é obrigado a cumprir o ju-ramento. Mas, se alguém jurar pelo ouro do Templo, en-tão é obrigado a cumprir o que jurou!

Expliquemos o significado de alguns trechos do ensinamento para alcançar a compreensão correta dele. Jurar pelo Templo é jurar por Deus, pelo ouro do Templo é pela materialidade.

Tolos e cegos! Qual é mais importante: o ouro ou o Templo que santifica o ouro?

O que é mais importante para você: a vida material ou Deus, que santifica a vida material? Tudo que acontece é “santo”, pois Deus “santifica” a vida material através da Causa Primária.

Utilizando-se de tudo o que já vimos neste estudo, podemos com-preender que Cristo está perguntando aos “professores da lei” se eles se

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apegarão mais ao que acreditam estar acontecendo (“erro”) ou na santidade dada por Deus a todas as coisas?

Vocês também ensinam isto: se alguém jurar pelo altar, não é obrigado a cumprir o juramento. Mas, se jurar pela oferta que está no altar, então fica obrigado a cum-prir o que jurou.

Novamente a mesma figura: o altar simbolizando Deus e a oferta a vida material.

Cegos!,Qual é mais importante: a oferta ou o altar que santifica a oferta?

O que é mais importante: a sua oração (ato material) ou o Deus que santifica a sua oração? Tem muita gente que reza, medita ou pratica qual-quer outro ato material sem buscar a Deus sentimentalmente, pois acredita que apenas o ato de rezar o levará à evolução espiritual.

O trabalho material de qualquer forma seja ele “certo” ou “errado”, não é santo, mas sim o Deus que santifica o ato causando-o, seja ele de que natureza for.

Por isso, quando alguém jura pelo altar, está jurando por ele e por todas as ofertas que estão em cima dele. Quando alguém jura pelo Templo, está jurando pelo Templo e por Deus, que está ali. E, quando alguém jura pelo céu está jurando pelo trono de Deus e pelo próprio Deus, que está sentado nele.

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Tudo o que você faz na vida vem de cima para baixo, pois Deus é a Causa Primária de todas as coisas. Por isso tudo que alguém faça durante a sua existência é santo, é santificado, até o que você considera como “banal” ou “errado”.

A caridade é um ato santificado? Sim, mas roubar o outro também é santo, pois é Deus que faz o ladrão roubar daquele que precisa vivenciar este carma.

Quem vive com esta verdade (jurando pelo altar, pelo Templo ou pelo céu) alcança a elevação espiritual, alcança Deus.

Ai de vocês, professores da lei e fariseus, hipócritas! Pois, dão a Deus a décima parte até mesmo da hortelã, da erva-doce e do cominho, mas deixam de obedecer aos ensinamentos mais importantes da lei, como a justi-ça, a bondade e a obediência a Deus.

A justiça com Deus: dar a Ele o Seu devido lugar. A bondade com Deus: amar a todos acima de todas as coisas.

É isso que os seres humanizados deixam de fazer. Compram cestas básicas para dar aos outros; vão aos templos fazer orações, mas não amam a Deus como Causa Primária de todas as coisas e vivem julgando os acon-tecimentos.

É isso que o nosso líder nos ensina.

Vocês deviam fazer estas coisas, sem desprezar aque-las. Guias cegos! Coam um mosquito, mas engolem um camelo.

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Esta frase é bonita e profunda: coam um mosquito, mas engolem um camelo.

Tudo o que os outros fazem é coado por você nos mínimos deta-lhes, mas tudo o que faz é engolido, qualquer que seja o tamanho. Nunca está errado, nunca se critica, a não ser que saiba que fez errado, mas aí também está seguindo uma verdade, não?

Para o que os outros fazem, por menor que seja, há o ataque, a crí-tica, mas para o que você faz há sempre a exigência do respeito, da com-paixão, da bondade para com você.

Ai de vocês, professores da lei e fariseus hipócritas! Pois, lavam o copo e o prato por fora, mas por dentro estes estão cheios de coisas que vocês conseguiram pela violência e pela ganância. Fariseu cego! Lave pri-meiro o copo por dentro e então a parte de fora ficará limpa também!

Você não esquece de tomar banho todo dia, não é mesmo? Mas, você se limpa do “mal” que fez ao próximo criticando-o. Você se limpa da adulação que recebe quando impõe obrigações aos outros?

Escovar o dente não é tão importante assim. O que temos que es-covar mesmo é o nosso interior; temos que ensaboar e lavar a cada mo-mento nosso interior e não o nosso exterior.

Se você está sujo por fora, mas limpo por dentro, pode ter certeza que está brilhando no céu. Agora, se está limpo por fora e sujo por dentro, você é um “Lázaro” no céu, um “mendigo” que “emporcalha” tudo que toca.

Esta frase, apesar de “pesada” é importante: “emporcalha tudo que toca”. Só ouvindo-a você poderá compreender que não adianta apenas la-var a mão depois das suas necessidades, pois como o Cristo ensinou, o problema não é o que entra pela boca, mas o que sai pelo coração. Enquan-

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to você não lavar o seu coração estará cheio de vermes e micróbios espiri-tuais.

Amar é a única saída, a única ação higienizadora possível. Amar in-condicionalmente, ser feliz com tudo do jeito que acontece. Essa é a única forma de chegar a Deus.

Ai de vocês, professores da lei e fariseus, hipócritas! Pois são como túmulos caiados de branco, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de podridão.

Que belo ensinamento, não? Aquele que tem verdades, que é o “professor da lei” e que se orgulha justamente dessa lei que está dentro dele, não vê que ela é a “podridão”.

Toda sua sabedoria, sua cultura é a “podridão” que você carrega. Tudo que você utiliza para julgar o outro é a “podridão” que carrega dentro de você.

Viver a vida sem verdades, sem julgamentos, sem motivos para acusar ninguém de nada. Somente assim você estará por dentro com vida, com Deus, não com “morte”, não com “podridão”.

Por fora vocês parecem boas pessoas, mas por dentro estão cheios de mentiras e pecados.

Porque vivem para se servir e não para servir ao próximo. Os “pro-fessores da lei”, aqueles que possuem verdades (leis) individuais, precisam aplicá-las e têm a necessidade de que elas sejam cumpridas para ser feliz. Túmulo podre!

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Pergunta: Se as pessoas não estivessem tentando me-lhorar não se transformariam em espíritos de luz. Nem tudo está perdido, estamos evoluindo e crescendo.

Realmente. Eu não estou dizendo ao contrário. À vezes vocês ima-ginam que eu estou “brigando”, mas isso não é realidade. Estou apenas alertando para os perigos dessa vida, para as tentações dessa vida.

Pergunta: Temos, então que soltar o leme e deixar a vida nos levar?

Vou fazer uma comparação melhor. Somos uma gota d’água que vem pelo rio e que precisa se incorporar ao oceano. Mas, o nosso individua-lismo é tão grande que temos medo sumir no oceano.

Como não podemos deixar de nos juntar ao oceano, nos transfor-mamos em uma gota d’água que bóia no oceano dentro de um saco plásti-co, para não misturar com o resto. Acaba evaporando.

Pergunta: Temos que aceitar todas as imposições impostas pelos doutos da lei?

Não, temos que amar. Não só aceitar, mas amar. Ter a consciência de que eles são “professores da lei”, mas que não é por isso que são “ruins” ou “maus”. Se você está na frente dele, precisa amá-lo do jeito que ele está, ou seja, querendo obrigar-lhe a fazer o que ele quer.

Não estou dizendo que você deve fazer o que ele manda, pois o que fizer (ato) não é você que vai decidir, é Deus. O que eu quero dizer é que não deve criticá-lo por quer mandar em você, não deve condená-lo por-que ele está condenando.

Pergunta: Mesmo os que nos fazem pequenos?

Graças a Deus eu sou pequeno e só assim serei grande no “reino do céu”. Quanto mais lhe apequenarem, mais os ame, pois mais eles estão lhe ajudando a conquistar seu lugar no céu.

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Se você quer ser grande, reconhecido, na Terra, não será reconhe-cido no céu.

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Cegueira espiritual

Jesus soube que tinham expulsado o homem da casa de oração. Quando o encontrou perguntou: - Você crê no Filho do Homem?

Senhor, quem é o Filho do Homem para que eu creia nele? - respondeu.

Você o está vendo! Sou eu, eu que estou falando com você! - disse Jesus.

Senhor, eu creio! - disse o homem e se ajoelhou diante dele.

Jesus então afirmou: - Eu vim a este mundo a fim de jul-gar, para que os cegos vejam e para que os que vêem se tornem cegos.

Alguns fariseus que estavam com ele ouviram isso e perguntaram: - Isso quer dizer que nós também somos cegos?

Se vocês fossem cegos, não seriam culpados! - respon-deu Jesus. Mas como dizem que podem ver, então ain-da são culpados.

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O que quis dizer Cristo quando afirma que “quem é cego vê e quem vê é cego”? Este é o tema de hoje.

Como é que um ser humanizado vê? Com os olhos da carne. O que ele vê? As coisas materiais. Então, como disse Cristo para os fariseus, o ser humanizado é culpado, pois é cego e acha que pode ver.

Tudo o que os seres humanizados dizem ver, não existe. O ato ma-terial, a carne, os elementos do mundo material não existem da maneira como vocês as vêem.

Os atos que acontecem na sua vida (nascimento, casamento, pas-seios, tristezas) não existem. As coisas materiais que o cerca, daqui a pou-co serão destruídas, acabarão. Por isso não são reais... Para existir de ver-dade, qualquer elemento precisa ser eterno.

Por isso, como disse Cristo, você é cego, pois acredita nas coisas que vê, nas coisas que não são reais, que deixarão de existir um dia.

Quem enxerga mesmo é aquele que não vê as coisas da matéria. Não estamos aqui falando em perfurar os olhos para deixar de ver. Aquele que alcança a visão espiritual e com isso deixa de ser cego, é aquele que deixa de vivenciar as coisas (objetos, pessoas e acontecimentos) materiais pelos valores humanos que são aplicados a elas.

Aquele que possui a visão espiritual é quem vivencia a essência das coisas e não os valores materiais dela. A essência, no entanto, é carac-terizada não por elementos materiais, mas por um sentimento.

É ele que dá a visão (compreensão) das coisas para quem possui a capacidade espiritual de enxergar. Portanto, esta capacidade é conferida a quem, apesar de receber via olhos uma visão, não se apega a esta imagem, mas vivencia a essência daquele acontecimento.

A essência é aquilo do que cada ato ou elemento é composto. É o que gera tal ou qual acontecimento ou o que faz determinado objeto ou pes-soa ser de tal forma. Quem não vê o acontecimento material, mas sim a sua

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essência, não pode ser considerado como cego pelos irmãos universais, pois enxerga apenas as coisas espirituais.

É isso que Cristo quis dizer: todos aqueles que são cegos, afirmam enxergar, ou seja, afirmam que estão vendo um acontecimento. Já aqueles que se libertam da visão do mundo de formas e penetram na essência do acontecimento, estes podem ser considerados como aqueles que sabem ver...

Por que Cristo afirma isso? Qual a forma que um cego material (aquele que não possui a percepção da visão) enxerga? Pelo sentimento: ele sente as coisas. Quando um cego material percebe as coisas, ele sente o sentimento que está por trás das palavras que ouve, enquanto quem tem a visão prende-se exclusivamente na forma e não consegue interpenetrar na essência.

Aquele que enxerga observa apenas as coisas materiais envolvidas no acontecimento. Acha que por estar percebendo as formas pode saber o que está acontecendo, mas na verdade é cego, porque não vê a essência, que é a Realidade do momento.

Aquele que se prende as percepções visuais não enxerga o que re-almente está acontecendo ali porque a verdade não tem nada a ver com a movimentação das formas, mas sim com os sentimentos com os quais são vivenciados os atos.

Nos sentimentos com que se convive durante as ações encontra-se a realidade do mundo de vocês. Não importa se a mão se levante, mas sim se isto está sendo vivenciado com amor ou não. A mão levantar-se por si só não diz nada, mas sim o sentimento que é sentido durante a execução des-ta ação.

Quer um exemplo? Existem muitas mãos que se levantam e até pro-movem ações que parecem carinhosas, mas, quantas destas ações são vi-vidas com falsidades? Quantos destes carinhos querem realmente trair?

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Lembram-se do beijo de Judas? O ato de beijar é o símbolo máximo do amor para os humanos, mas naquele caso, esta ação nada teve de amo-rosa, ou pelo menos é isso que os humanos pensam deste acontecimento.

NOTA: A respeito do ato de Judas, o amigo espiritual já tinha ensinado que tudo aquilo foi amor sim, pois foi atra-vés daquela ação que o destino de Jesus Cristo aconte-ceu. Na verdade tudo já estava pré-programado e fazia parte de um grande ensinamento.

É isso que você tem que olhar: o sentimento com que vivencia os acontecimentos que você ou outra pessoa pratica e não as formas do mun-do externo. Ou melhor: não olhar nada. A tudo que acontecer reaja apenas com amor, entenda a partir do amor a Deus e a todos.

Para Cristo o cego é culpado: por que? Porque ao prender-se ao mundo das formas, vivencia (enxerga) os acontecimentos com outro senti-mento que não o amor.

Para se alcançar a Perfeita visão dos acontecimentos, não basta apenas libertar-se do mundo de formas. É preciso compreender que a es-sência dos acontecimentos é dada por cada um através de sua escolha sen-timental.

Além de cego, o ser humanizado que acredita na percepção visual é culpado, pois deixou de cumprir os dois mandamentos que o mestre ensi-nou: amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Quer um exemplo? Aquele que vê maldade em tudo. Aquele que afirma que “tem certeza” de tudo o que está acontecendo (conhece os moti-vos pelos quais o ato foi praticado) e participa destes acontecimentos apli-cando a eles uma essência maldosa.

Este é um cego espiritual, pois se prende à percepção visual, mas também é culpado, porque não amou. Ele acha que enxerga muito bem,, mas acaba vendo coisas que não existem.

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A maldade do outro jamais está nele, mas na essência com que cada um cria a percepção do acontecimento. Mesmo que o outro vivencie aquele acontecimento escolhendo a maldade, se quem o recebe alterar esta essência e amar, a maldade se extinguirá.

São os seres humanizados que vivenciam os acontecimentos sem amar que criam uma essência negativa para um acontecimento. Nada do que ocorre no Universo pode ser considerado negativo, pois tudo é emana-ção de Deus, que apenas ama.

Quem não vigia suas próprias percepções e a essência que é apli-cada a cada uma delas, além de cego é culpado. Isto porque não está vi-venciando a Realidade: está imaginando uma situação que não está ocor-rendo.

Esta imaginação, no entanto, não é errada. Trata-se de uma intui-ção que o plano espiritual, obedecendo a Causa Primária, dá ao ser huma-nizado como provação, ou seja, como instrumento da reforma íntima.

Quando um ser humanizado percebe determinada essência em um acontecimento que não seja o amor universal e incondicional, trata-se de algo que ele, antes da encarnação, alcançou a compreensão que não deve-ria sentir. A partir desta compreensão, pediu, então, este gênero de provas para provar que aprendeu a lição quando ainda na erraticidade.

A partir deste pedido de gênero de provas, Deus emana, durante a encarnação deste ser, um acontecimento e determinado pensamento (com-preensão) naquele momento. Estes pensamentos, que se transformam na-quilo que é visto (compreendido) geram, então, a oportunidade da reforma, ou seja, da mudança da essência.

Aquilo que o ser humanizado vê, portanto, é o que deve deixar de existir, ou melhor, deve ser substituído pelo amor. Por isso Cristo diz que o ser humanizado que não faz isso é culpado.

O ser humanizado não é culpado pela ação que protagoniza ou pela essência que aplica na compreensão da situação, mas sim por não ter apro-

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veitado a oportunidade para reformar-se, não ter aproveitado a situação para deixar de ver maldade e amar incondicionalmente a tudo e a todos...

Justamente por não aproveitar esta oportunidade é que Deus preci-sa novamente emanar esta compreensão, ou seja, conceder uma nova compreensão. Isto acontecerá porque Deus é Justo, ou seja, dá sempre a cada um o que ele precisa para a evolução espiritual.

Sendo assim, este ser continuará recebendo percepções (aconteci-mentos e essência) dentro dos mesmos padrões, até que um dia consiga promover a reforma íntima e ponha em prática o amor incondicional. Se não conseguir, viverá a existência carnal inteira “vendo” maldade nos outros e terá, futuramente, que reencarnar novamente para fazer esta mesma prova-ção.

O ser humanizado que é considerado um cego espiritual acredita que tem o direito de julgar os outros e de apontar seus erros. Por este moti-vo ele é intuído para cada vez mais apontar erros, afundando-se cada vez mais em um mundo negativo, amargo, até chegar uma grande dor que o fará buscar o amor para poder ser feliz.

Quando, pela dor, ele entender que apenas o amor a todos e a tudo pode levar à felicidade, a sua “visão” sobre os elementos do mundo (aconte-cimentos, objetos, pessoas) começará a mudar. Muitos passam por momen-tos assim, mas, infelizmente, quando a dor vai embora, novamente se es-quecem dos momentos ruins e começam outra vez a julgar e a acusar tudo e a todos.

Este é o cego que Cristo diz que é culpado: aquele que quer ver os atos dos outros para julgá-los.

Não existe ato certo ou errado: todos estão certos e estão errados ao mesmo tempo. Todos estão certos porque para quem os faz estão certos e todos estão errados porque para os outros sempre estarão errados.

Para se alcançar à visão espiritual, então, é necessário não ver o ato isto é, não julgá-lo. Ë preciso concordar com tudo que todos fazem, pois

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para quem está fazendo está certo e para quem está vendo, não deve exis-tir certo ou errado.

Esta é a primeira coisa que cristo que nos fala neste trecho, mas ele também afirmou: “Eu vim para dar a luz para aqueles que não enxergam as coisas”. Vamos compreender isso agora...

Cristo é a luz, é o caminho para se alcançar as coisas do Pai e é o amor. Desta forma só quando o ser humanizado “enxergar” amor em tudo, sem prender-se às formas ou essências geradas por sua mente e que são criadas por Deus de acordo com a provação de cada ser, alcançará a verda-deira visão, a visão espiritual.

Mas, o ser humanizado acha que quem vive desta forma é “bobo” e que será “pisado”, pois não terá o direito de apontar os erros dos outros. Para esta observação eu pergunto: já tentou fazer? Não? Então como é que sabe que vai acontecer desta forma? Lembre-se, o mundo não é o que você compreende, mas a essência que aplica às coisas...

Se você viver com amor, Deus só colocará na sua frente pessoas que irão agir amorosamente. No entanto, se Ele colocar outras que não es-tejam amando, isso não será percebido por você, já que estará amando...

Os acontecimentos são aquilo que você percebe. Aplicando uma es-sência amorosa a eles, o que os outros chamam de bobeira ou de ser pisa-do, será compreendido por você como amor, será vivenciado como um ato amoroso...

Aqueles que não amam podem sentir-se ofendidos ou prejudicados, mas você não. Por isso, para você, estes acontecimentos não estarão ocor-rendo.

Mesmo que aconteça de você “perder” algum elemento material (ob-jeto ou posição), lembre-se do que Cristo disse: os últimos serão os primei-ros. Se você acha que quem é feito de “bobo” fica para último, então, serão os bobos os primeiros a entrar no Reino do Céu. Já aqueles que são esper-

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tos, que ganham, serão os últimos, pois se imaginam os primeiros na Terra...

Os que não se sentem “pisados” não reagem porque tem boa visão espiritual. Mas, a humanidade pensa ao contrário destes...

Quando alguém aparentemente está perdendo, está sendo “passa-do para trás”, é acusado de “estar cego”, de “não enxergar nada que está acontecendo à sua volta”. Mas o cego não é ele e sim quem está enxergan-do demais. Enxergar demais é cegueira.

Então, Cristo deixa bem claro neste texto as seguintes lições: não podemos ficar olhando os atos, apontando erros dos outros, porque quanto mais agirmos desta forma, mais Deus vai apontar nossos erros também. Ali-ás, ele disse isso em outro ensinamento: pelo mesmo valor que julgar, serás julgado...

O ser humanizado precisa compreender que se alguém fala mal dele, é porque ele fala mal dos outros. Na hora em que deixar de falar mal dos outros, a compreensão que se tem do que os outros falam mudará e com isso, a visão perfeita será alcançada.

Na verdade, a pessoa que Cristo aponta neste texto como cego é aquela que possui visão muito apurada das coisas. É aquela que gosta de apontar o defeito em tudo que os outros fazem.

Se você acha que vai conseguir fazer uma coisa perfeita, que seja considerada como certa por todos, esqueça, porque isso não existe. Sem-pre existirão pessoas que apontarão defeitos no que você faz.

Isto acontece não por maldade ou por imperfeição dos outros, mas para testar se você é cego ou se tem boa visão. Por isso o cego, ou seja, o que enxerga espiritualmente, não vê nada errado em lugar algum.

O cego, o que tem a visão espiritual, não vê sujeira, não vê coisa velha, quebrada, não vê amarrotado ou passado, sujo ou limpo. Ele ama tudo que lhe aparece na frente e por isso não se deixa contaminar pela per-

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cepção visual e seus próprios conceitos de certo. Quem tem a visão espiri-tual ama tudo conforme Deus coloca em sua frente e agradece ao Pai por assim ter feito.

Quem tem apenas a visão material, enxerga tudo de todos, mas não enxerga nada de si mesmo, pois nunca se considera errado. Não importa o que faça, terá sempre desculpas e os outros é que sempre “estarão agindo com sentimentos negativos (maldade, preguiça, etc.)”.

É preciso que o ser humanizado que os outros vão continuar agindo assim até a hora em que cada um fizer a sua própria mudança e deixar de esperar a mudança deles.

Aos que imaginam que são capazes de compreender o mundo, per-gunto: quando você vai mudar? Ou você é o único certo, o perfeito? Pergun-to isso porque cada um “nasceu” para realizar a sua reforma íntima e não para reformar os outros ou o mundo. Por isso, não espere que os outros fa-çam as coisas iguais a você.

É preciso aprender a abrir mão das “verdades” (conceitos) que cada um possui: esta é a reforma íntima que aproxima o ser do Senhor. Aquele que enxerga só consegue ver (ter compreensão) porque possui verdades. Estas verdades lhe fazem achar que sabe e que o que sabe está sempre certo. Cego!

Cristo ensinou: os olhos são a luz do espírito. Ensinou mais: se o seu olho lhe faz pecar, arranque-o, pois é preferível entrar no Reino do Céu com um olho do que ir para o inferno com os dois. Estes mesmos ensina-mentos estão presentes neste texto onde Cristo falou do cego espiritual.

O que tem a visão espiritual, então, é aquele que não vê nada, não sabe de nada. Este só enxerga Deus agindo na sua frente, só vivencia a emanação do Pai. Por isso, só ama...

Tendo esta compreensão o ser universal sabe que a essência de tudo o que lhe acontece é o Amor de Deus em ação. É o seu Pai lhe dando

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uma oportunidade de reformar-se (mudar de visão das coisas) e assim, aproximar-se Dele.

Isso é o que Cristo, aquele que amou Deus porque amou todos os acontecimentos de sua encarnação, mesmo os que são considerados como sofrimentos pela humanidade, ensinou nesta história.

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Jesus e os três empregados

Este texto é muito importante porque traduz o real sentido da prova que o espírito faz quando encarna nesta matéria densa no planeta Terra.

Os espíritos que estão no processo de encarnação no orbe do pla-neta Terra encontram-se realizando esta prova há muito tempo, mas não conhecem o seu real sentido. Agora que a prova final aproxima-se, é impor-tante deixar bem claro que provação é esta que o espírito tem que realizar.

Há sete mil anos os espíritos encarnam para provar alguma coisa. Este texto é sobre esta prova. Ele explica o que o espírito vem fazer na car-ne.

Jesus continuou:

O Reino do céu será como um homem que ia fazer uma viagem. Chamou os seus empregados e os pôs para to-marem conta da sua propriedade. E lhes deu dinheiro de acordo com a capacidade de cada um: ao primeiro deu cinco mil moedas de prata, ao outro duas mil; e, ao terceiro, mil. Então foi viajar. O empregado que tinha re-cebido cinco mil moedas saiu logo, fez negócios com o seu dinheiro e conseguiu outras cinco mil. Do mesmo modo, o que havia recebido duas mil moedas conse-guiu outras duas mil. Mas o que tinha recebido mil, saiu, fez um buraco na terra e escondeu o dinheiro.

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Depois de muito tempo, o patrão voltou e acertou as contas com eles. O empregado que tinha recebido cinco mil moedas chegou e entregou mais cinco mil, dizendo: “O senhor me deu cinco mil moedas. Olhe, aqui estão outras cinco mil que consegui ganhar”.

“Muito bem, empregado bom e fiel”, disse o patrão. “Você foi fiel e negociante com pouco dinheiro, por isso vou por você para negociar com muito. Venha festejar comigo!”

Então o empregado que havia recebido duas mil moe-das chegou e disse: “O senhor me deu duas mil moe-das. Olhe, aqui estão mais duas mil que consegui ga-nhar”.

“Muito bem, empregado bom e fiel”, disse o patrão. Você foi fiel negociando com pouco dinheiro, por isso vou por você para negociar com muito. Venha festejar comigo!”

Aí o empregado que havia recebido mil moedas chegou e disse: “Eu sei que o senhor é um homem duro: colhe onde não plantou e junta onde não semeou. Fiquei com medo e por isso escondi o seu dinheiro na terra. Veja, aqui está o seu dinheiro”.

“Empregado mau e preguiçoso!”, disse o patrão. “Você sabia que colho onde não plantei e junto onde não se-meei. Por isso você devia ter depositado o meu dinheiro no banco e, quando eu voltasse, o receberia com juros”.

Depois virou-se para os outros empregados e disse: “Tirem o dinheiro dele e dêem ao que tem dez mil moe-das. Porque aquele que tem muito receberá mais e as-

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sim terá ainda mais; mas quem não tem, até o pouco que tem tirarão dele. E joguem fora, na escuridão, o em-pregado inútil. Ali ele vai chorar e ranger os dentes”.

Esta história é muito conhecida como a “parábola dos talentos”. Fi-cou conhecida assim porque em algumas traduções da Bíblia a moeda é ci-tada pelo seu nome da época: talento.

Cristo conta na história que um senhor foi viajar e deu a três empre-gados algumas posses. Na sua ausência, dois deles multiplicaram estas posses, enquanto que o terceiro escondeu o que recebeu, com medo do pa-trão e assim não conseguiu ter mais do que tinha antes.

A interpretação conhecida deste texto é a de que devemos valorizar as coisas que Deus nos deu, para voltarmos ao mundo espiritual com mais posse do que viemos. Isto está correto, mas o que Deus nos deu antes da encarnação? O que precisamos devolver multiplicado? Vamos buscar en-tender este aspecto...

Tudo que Cristo ensinou quando encarnado faz parte da “Boa Nova” que ele veio trazer ao planeta. Mas, o que é esta “Boa Nova”? O AMOR!

No fundo de tudo o que Cristo fala está o amor. Portanto, o tesouro que o mestre cita nesta história não poderia ser outro a não ser o amor.

Deus deu a cada um de nós, seus filhos (espíritos), um pouco de Seu amor, para que tomemos conta deste bem espiritual, enquanto Ele está “viajando”. Ele espera que coloquemos este amor para “render juros” e não que o guardemos enterrado para entregá-lo na mesma proporção que rece-bemos...

É isto que Cristo explica nesta parábola e esta é a prova que os es-píritos fazem quando vem à matéria carnal no planeta Terra: colocar o amor para render. Mas, como é que um sentimento pode gerar “lucros”?

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Quando um espírito sente (“gasta”) um sentimento, recebe mais do Universo dele mesmo. Portanto, quando o espírito coloca o amor em práti-ca, ele o faz render, o multiplica.

Quando você “gasta” o amor que Deus lhe deu, aumenta a quanti-dade de amor que tem dentro de você. Esta é a prova que o espírito veio fa-zer na carne: “gastar” o amor (amar) para poder ter mais amor dentro de si na hora de voltar ao Pai.

Mas, o que acontece diariamente com os espíritos na carne? Gas-tam este amor que Deus lhes deu ou economizam para não ficar sem ele?

Na verdade, os seres humanizados pegam o amor que receberam do Pai antes da encarnação e o enterra, gastando o sentimento do julga-mento, da ofensa, da briga, da crítica aos outros... Agindo desta maneira, não gastam o amor e, por isso, não obtém lucros para o patrão.

Aliás, amar verdadeiramente é a última coisa que os espíritos huma-nizados pensam em fazer, porque acham que serão considerados “bobos”, que só irão sai perdendo se amarem a tudo e a todos.

Estes quando chegam no mundo espiritual menos denso – que nes-ta parábola é configurada pela volta do “senhor” – afirmam: “Olha, eu fui bom. Todo amor que o Senhor me deu está aqui de volta: não gastei nada”. Acontece que Deus não quer o amor que colocou sob sua guarda de volta no justo valor, mas o quer aumentado.

Para aquele que não gastar o amor que recebe do Senhor, aconte-cerá como descrito na história: será “atirado no escuro, onde existe o ranger de dentes”. O que será que Cristo quis dizer? O que é “ranger de dentes”?

O ser universal range os dentes quando está em sofrimento. Neste texto, então, através de uma de suas comparações, Cristo afirmou: aquele que não aumentar pela utilização o amor que Deus colocou sob sua guarda será enviado para um lugar onde existe sofrimento.

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Em que lugar, densidade, existe no Universo o sofrimento? Por cau-sa da característica negativa do sofrer, posso afirmar que ele só existe na densidade da matéria carnal, ou seja, só existe para o espírito enquanto ele se imaginar como a identidade humana que vive.

Não estamos falando de dimensões de habitação de espírito, mas sim de auto visão. O sofrimento existe não no planeta Terra ou em qualquer plano espiritual específico, mas somente para aqueles que se vêm separa-dos de Deus.

Os espíritos que saem da carne e vão para a densidade conhecida como “umbral” – lugar que para os seres humanizados é o de sofrimentos – ainda se imaginam como “vivos”, ou seja, dentro das personalidades que vi-veram quando na carne. É por isso continuam a sofrer e não por estarem no umbral.

O sofrimento, portanto, é decorrência de uma visão humana que o espírito tem de si mesmo e não determinado por um lugar específico onde vive.

A partir desta compreensão, podemos começar a entender as pala-vras de Cristo: aquele que não multiplicar o amor que Deus coloca sob a sua guarda vai viver na carne, ou seja, continuará no processo de encarna-ção, no processo de vivenciar personalidades humanas.

Sei que não é esta a compreensão que muitos têm deste texto, mas sempre foi esta a lição que Cristo. As demais interpretações que foram fei-tas dele não atingiram esta verdade porque não levaram em conta o funda-mento da “Boa Nova”: o amor.

Já falaram que o talento era a doação e muitos saíram correndo e compraram as coisas para dar aos outros com o sentimento de auto prote-ção, ou seja, reservar seu espaço no coração de Deus... Entretanto, esque-ceram-se do amor na hora de doar!

Já traduziram o talento como os trabalhos mediúnicos e muitos es-píritos colocaram-se à disposição da espiritualidade para realizar este traba-

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lho, não por amor, mas para que o Senhor ficasse satisfeito com eles... Mas Deus não quer as coisas feitas por interesse, mas em tudo quer o amor.

Chegaram a estas conclusões porque não compreenderam que Cristo ensinou que o único talento que um espírito deve possuir é o amor, pois só ele fará com que todas as vivências da encarnação sejam realizadas dentro da “Boa Nova”.

Deus quer que os espíritos gastem o talento que Ele lhes entrega ajudando o seu semelhante, porque somente o amor pode ajudar o outro a obter a alegria de viver. Não adianta dar um cobertor sem o amor, porque o cobertor pode aquecer o corpo, mas o “frio” da alma continuará. Não será o cobertor que irá acabar com a tristeza (frio) que está no coração de quem o recebe.

É isto que Cristo quis dizer e é isto que precisa ser colocado em mo-vimento no planeta: o amor. Entretanto, este amor deve ser o universal, de Deus e não o que a humanidade classifica como amor.

O amor de Deus é fundamentado na felicidade. Portanto, o primeiro trabalho de um espírito na carne é levar a alegria para todos aqueles que sofrem, pois quando fizer isso, estará multiplicando o amor.

Este, quando voltar ao Pai, poderá dizer: “O Senhor me deu cinco mil, mas eu negociei e trouxe dez mil”. Aí Deus responderá: “Empregado bom, você trabalhou bem com pouco amor e trouxe lucro. Por isso vou colo-cá-lo agora para trabalhar com muito, com muito amor”.

Vocês falam muito que para ter amor é preciso ter paz, mas Cristo não disse que trouxe a espada e não a paz? Podemos então concluir que Cristo não trouxe o amor? Claro que sim...

Portanto, para amar não é indispensável à presença da paz. Aliás, a expressão máxima do amar é alcançada justamente quando não há paz. Por isso Cristo ensinou: se você só ama o seu amigo, que vantagem acha que tem? Até os pagãos fazem isso...

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Amar não é só “passar a mão na cabeça de todos”, relevar. Amar é mostrar o sentimento negativo que a pessoa está usando, sem gritos, sem brigas, sem ofensas, aceitando se o outro não concordar.

Isto é amar: manter a alegria sempre. Para se viver neste estado fe-liz a primeira coisa a se fazer é jogar fora a tristeza. Aquele que cultivar a tristeza será levado para o “lugar escuro onde há ranger de dentes”, pois ele gosta disso e não porque o Pai o condenou a isso.

Não será Deus que irá castigá-lo: o Senhor apenas fará o que o es-pírito gosta. Você não gosta de tristeza? Então será colocado onde e com quem gosta: com os tristes.

Outro elemento do amor divino: a compaixão, ou seja, a consciên-cia do sofrimento que pode se causar ao outro. Não o sofrimento que pode ser causado pelo que se fala, mas, na maioria das vezes, quando se cala.

Ter compaixão pelos outros não é calar-se e fingir que tudo está certo, mas falar. Falar mostrando o não amar que o irmão está utilizando para vivenciar os atos e não apontando os atos errados.

Mas, o que é não amar? São todos aqueles sentimentos que ma-chucam alguém, que fazem os outros se sentirem melhores ou piores. Sen-do assim, apontar erros não é amar, mas omitir-se e não falar também não é. Trabalhar demais não é ter amor, mas ficar parado no ócio também não é.

A compaixão exige o equilíbrio entre os sentimentos, exige a equa-nimidade. Exige que você trabalhe, mas que guarde o sétimo dia para Deus, que você tenha um dia para Ele.

Não... Não estou falando do rito de algumas igrejas evangélicas, mas sim do que Cristo ensinou.

NOTA: Para ver este ensinamento de Cristo, leia o texto Jesus e o sábado que está neste livro.

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O que o mestre ensinou é que o sétimo dia não deve ser um dia para viver dentro da igreja ou em casa em frente à televisão. Deve ser um dia para Deus, ou seja, um dia para o amor. Melhor ainda: um dia para a fe-licidade.

Quem tem compaixão de si e dos outros vive pelo menos um dia na semana onde luta para não criticar ou julgar os outros, para não elogiar ou rebaixar alguém. Com isso está guardando o sétimo dia ao Senhor, pois está vivendo-o dentro da essência espiritual.

É esta a compaixão que será necessária alcançar: a consciência de fazer todas as coisas dentro de sua exata medida, gerando felicidade e não criando obrigações, seja para si ou para os outros.

Quanto ao não amor dos outros, o ser humanizado deve apontar a sua utilização (“neste momento você não amou”), mas não criar desentendi-mentos: “viu como você não presta, como não faz nada certo...”

Para que a verdadeira compaixão exista é preciso que o ser huma-nizado mostre o não amor com amor, ou seja, não aponte erros. Para isso é necessário não julgar, ou seja, não utilizar leis que criem o certo e o errado...

Não se deve mostrar aos outros as suas infrações às leis de Deus, mas, sim praticá-las! Quando você briga com alguém (vivencia o aconteci-mento com o sentimento de raiva) porque ele não cumpriu a lei de Deus, também está quebrando essa mesma lei, pois não amou o outro.

Como cobrar o que não é praticado? Que exemplo nós podemos dar com este tipo de sentir para os outros se espelharem?

O amar passa necessariamente pela doação da razão a quem não está amando...

Doar a razão é aceitar que o outro tenha uma verdade diferente da sua. É ter a consciência de que ele está certo, pois vivencia os aconteci-mentos com base em seus próprios parâmetros de verdades.

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Por isso afirmo que ter compaixão não é acabar com o sofrimento da pessoa, mas ter a consciência de que ela está sofrendo. Não é corrigir o outro, mas compreender que ele não está amando universalmente, ou seja, dando a cada um o direito de ser e pensar diferente...

Até hoje, quando se fala em “ter compaixão”, a idéia é de que devi-am ser adotadas duas posturas: a primeira de omissão – “calo-me sobre o fato para não aumentar a dor dele” – ou ainda – “calo-me porque esta pes-soa me é querida e não quero feri-la”. As pessoas que agem desta forma tornam-se cúmplices no erro dos outros, pois passam a aceitar o que está sendo feito como “certo”.

Isto não é amor, mas desamor. Nesta forma de proceder leva-se em conta apenas o sofrimento que se poderia causar neste momento com a “chamada de atenção”, mas esquece-se do sofrimento maior que este ser terá futuramente.

Saiba de uma coisa: você foi colocado na frente dela para alertá-la e proporcionar-lhe uma chance de ter sentimentos mais adequados à lei de Deus. Se você coloca este alerta com amor, sem críticas ou brigas e a pes-soa não aceita, posteriormente Deus colocará no caminho dela outra pes-soa que não a avisará com amor, mas com o mesmo sentimento negativo no qual ela está se banhando...

“Quem com ferro fere, com ferro será ferido...” Isto é verdade, mas antes que aconteça, Deus sempre dá uma primeira chance.

Sei que estou falando bastante sobre o tema, mas o que deve ficar bem claro é o seguinte: deve-se alertar sobre o sentimento e não sobre o ato.

Não adianta você dizer que o outro é agressivo, pois ele se defen-derá dizendo que está apenas “reagindo ao mundo”, à agressão que imagi-na ter sofrido. O que pode ajudar não é alertá-lo que ele é um agressor, mas mostrar que a raiva que está sendo vivenciada no momento da agressão é um não amor, pois não possui em si a compaixão e a felicidade.

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A segunda postura que o termo “compaixão” desperta é que deve-mos sofrer o sofrimento dos outros junto com eles. Muitas pessoas acham que para demonstrar compaixão é necessário ser solidário na dor: isto é uma mentira.

Se o sentimento é uma coisa que se transmite aos outros, quando uma pessoa está sofrendo não se pode levar para ela mais sofrimento e sim alegria. Transmitir sofrimento para quem está sofrendo não é compaixão, mas aumentar este sofrimento.

Portanto, para amar e assim colocar o bem que Deus depositou em sua confiança para render juros, o espírito deve viver com felicidade e compaixão. Mas, para que estas posturas sejam alcançadas, é necessário haver a igualdade, ou seja, o espírito não deve sentir-se pequeno ou agi-gantado perto de outro.

O espírito deve tratar a todos como seus iguais, não importando onde esteja ou quem seja. Para isso ele deve ser humilhar sem se humilhar.

Para os seres humanizados existe muita confusão entre humilhação e humildade. Por isso muitos se humilham dizendo que com isso estão sen-do humildes.

Mas, Deus não quer que o espírito se humilhe a nenhum outro e nem a Ele mesmo. O Pai quer que o filho tenha a humildade de não se achar melhor que os outros, ou seja, a humildade de doar a razão.

Aliás, depois de tantos ensinamentos trazidos pela coletividade es-piritual, acho que já está na hora dos seres humanizados não mais se acha-rem melhores do que qualquer um, não?

Saiba: não existe nada que você possa comprar com dinheiro que salve o seu futuro espiritual. Se comprar um foguete e for viver fora da Terra para ver se escapa do desencarne, Deus o achará e o destino inexorável acontecerá... Se construir um buraco profundo no chão para se esconder, ali também chegarão os efeitos do que tem que acontecer...

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Nada que seja comprado com dinheiro pode evitar o encontro do empregado mau e preguiçoso (aquele que não põe o amor para render ju-ros) como seu Senhor. Este encontro sempre acontecerá e este empregado sempre encontrará os efeitos do ato de não ter colocado o bem deixado pelo Senhor com ele...

Estes efeitos só não vão encontrar aqueles que tiverem o AMOR, aqueles que estiverem ALEGRES, que souberem usar a COMPAIXÃO e que viverem a IGUALDADE, ou seja, não se humilharem nem se ufanarem.

Este é um alerta importante nos dias de hoje, porque a volta do Se-nhor está próxima. O orbe terrestre vive hoje dias de espera do retorno do Senhor, como está profetizado no Novo Testamento bíblico. Ou seja, está próximo a hora de prestarmos contas daquilo que nos foi confiado...

Sei que muitos não acreditam nestas profecias, mas não foi só Cris-to que falou das coisas que acontecerão na transformação deste planeta, mas todos os enviados de Deus falaram na mudança dos tempos. A trans-formação do planeta está descrita na bíblia, tanto pelos profetas como pelos apóstolos, mas também faz parte dos ensinamentos de Buda, Kardec e Krishna. Portanto, é uma informação universal.

Para poder continuar existindo nesta nova era que nascerá, é preci-so que o espírito aprenda a viver. Para isso é preciso que compreenda que viver não é estar habitando uma carne, mas sim existir no reino de Deus.

Para que um espírito se considere vivo é preciso que ele entenda que, estando aprisionado em uma massa mais densa (corpo humano) ou menos densa (perispírito), deve existir no Reino do céu. Para isso é preciso que ele apenas ame...

Por isso afirmo: existem muitos “mortos” que estão vivos e muitos “vivos” que estão mortos.

Para se viver no reino de Deus é necessário que se aprenda a viver o AMOR UNIVERSAL em toda a sua amplitude: felicidade, compaixão e

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igualdade. Para isso é fundamental que se entenda todas as lições de Cristo à partir da essência da “Boa Nova”.

Voltando ao texto, podemos então entendê-lo melhor, com o código certo para decifrá-lo. Nesta parábola está se falando do retorno do espírito à frente do Senhor, ou seja, do tão comentado “julgamento” que se processa quando o ser universal desliga-se da personalidade humana que vivenciou durante certo tempo. Esse julgamento é que irá determinar se o espírito irá “viver” (continuar no Reino do céu) ou “morrer” (voltar ao ciclo de encarna-ções, para o lugar escuro onde existe ranger de dentes).

Quando sair da carne Deus irá perguntar a cada um: “Dei a você amor. Quanto você tem de amor? A mesma quantia? Então irá para o lugar de ranger de dentes”.

Para se fugir deste destino é necessário que se multiplique o “capi-tal” dado por Deus e isto só acontecerá quando você usar muito, muito mes-mo, o AMOR.

Foi isto que Cristo ensinou nesta história.

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A ovelha perdida

A ovelha perdida

Certa ocasião, muitos cobradores de impostos e outras pessoas de má fama chegaram perto de Jesus para o ouvirem. Os fariseus e os professores da Lei o critica-vam, dizendo:

- Este homem se mistura com gente de má fama e come com eles.

Então Jesus fez esta comparação:

- Se algum de vocês tem cem ovelhas e perde uma, por acaso não vai procurá-la? Assim deixa no campo as ou-tras noventa e nove e vai procurar a ovelha perdida até achá-la. Quando a encontra, fica muito contente e volta com ela nos ombros. Chegando à sua casa, chama os amigos e vizinhos e diz: “Alegrem-se comigo porque achei a minha ovelha perdida”.

- Pois digo que, do mesmo jeito, vai haver mais alegria no céu por uma pessoa de má fama que se arrepende do que por noventa e nove de boa fama que não preci-sam se arrepender. (Evangelho de Lucas – capítulo 15 – versículos de 01 a 07).

Vocês costumam – e isso é um processo do ego – classificar as pessoas de acordo com suas próprias convicções. Mas mais egoísta do que

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isso, a partir do momento que as classifica como “ruim” ou “má”, as abando-nam.

Cristo, no entanto, fala exatamente o contrário. Ele diz: se você tem uma ovelha perdida no seu rebanho, largue as demais e vá buscar a perdi-da. E se Cristo diz assim, o verdadeiro cristão deve viver assim...

O que Cristo ensina e que o verdadeiro cristão deveria seguir, é que não se deve classificar as pessoas e, de acordo com esta classificação, ex-pulsar do seu rebanho, do seu nível de convivência aquelas que recebem o adjetivo de “más”. Aliás, em Mateus, nesta mesma história, Cristo fala mais: ele diz que quando se acha a ovelha perdida deve-se amá-la mais do que as outras.

É preciso procurar as ovelhas perdidas (aquelas que são classifica-das individualmente pelos seres humanizados como “ruins”, “más”), achá-las e amá-las mais do que as outras: este é o ensinamento de Cristo.

Sem seguir este ensinamento não há elevação espiritual, pois é mais fácil um camelo passar por um buraco da agulha do que um rico entrar no reino do céu. Ou seja, é mais fácil alguém que você considera perdido al-cançar a elevação espiritual do que você, que vai a todos os lugares religio-sos e vive rezando.

Por quê? Porque aquele que se arrepende de verdade, ainda hoje estará no Reino do Céu com Cristo, como o mestre prometeu ao bandido que lhe era vizinho de cruz. Este arrependimento que Cristo fala é a convic-ção do que está “errado” na sua vida, ou seja, do caminho que não leva a Deus.

Por isso, não importa se uma pessoa foi a vida inteira egoísta, com-preendendo sinceramente, nem que seja no último minuto de vida, a ação do egoísmo e se conscientizando de que o caminho para Deus é outro, che-gará na frente, por que venceu a si mesmo.

Pensem nisso...

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O eco do Universo

Não julguem os outros e Deus não julgará vocês. Não condenem os outros e Deus não condenará vocês. Per-doem os outros e Deus perdoará vocês. Dêem aos ou-tros e Deus dará a vocês. E assim vocês receberão mui-to, muito mesmo. Tudo o que puderem carregar ele vai pôr nas mãos de vocês. A mesma medida que usarem para os outros Deus usará com vocês. (Evangelho de Lucas – Capítulo 6 – Versículos 37 e 38).

Já falamos neste livro que existe o amor e a paixão, que os huma-nos chama de amor. Que o amor é universal e eterno enquanto a paixão é condicionada. Mas, de onde surge esta condição? Del um julgamento, ou seja, de algo que você avalia para poder amar materialmente.

Agora vem Cristo e diz: não julguem para não serem julgados por Deus. Ou seja, não amem condicionalmente, para não serem amados con-dicionalmente por Deus.

Sabe, o Universo é uma grande montanha que faz eco. Já disseram que tudo que pedir ao universo receberá. O problema é que vocês não sa-bem como pedir, pois o pedido que fazem está sempre fundamentado em uma intenção individualista, egoísta...

Se você ama condicionalmente, o Universo ecoará este amor condi-cional a você. Se você ama universalmente, ele ecoará o amor universal para você.

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Pedir não é dizer eu quero ganhar, mas expor uma intenção indivi-dualista, egoísta. Se você ao pedir, se preocupa com você, o Universo se preocupará com ele mesmo e lhe devolverá esta preocupação, ou seja, não vai ligar para a sua preocupação com você.

É isso que Cristo está nos ensinando. Devemos aprender que toda a intencionalidade com a qual participamos das ações serão revertidas “con-tra” – e utilizo esta palavra por falta de outra, porque o Universo e Deus não agem contra ninguém – nós mesmos.

Mas, este ensinamento não está só na Bíblia. Ele existe, por exem-plo, na doutrina espírita, sobre o nome de “gerar carmas”,vicissitudes. Ou seja, ter a necessidade uma provação.

Trocando em miúdos é isso o eco do Universo.

Não um eco por maldade, por soberba, por estar querendo defen-der-se, mas gerado e causado pela lei da causa e efeito. Gerado e causado pela necessidade da expurgação do individualismo.

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A humanidade odeia Cristo

Durante o transcorrer da nossa conversa de hoje, gostaria que vo-cês tivessem a máxima atenção, para que não houvesse mal-entendidos. Digo isso porque, aparentemente, pode parecer que com o que vou falar es-tarei acusando ou brigando com alguém. Mas isso é ilusão.

Aqueles que me conhecem sabem que não brigo com ninguém. Apesar disso, o que não posso deixar de fazer é mostrar a hipocrisia que é a vida humana vivida de modo humano, principalmente para aqueles que se dizem religiosos ou que estão buscando a Deus.

Sim, a vida humana daqueles que se dizem religiosos, se vivencia-da pelos valores humanos, é uma hipocrisia. Isso porque quem diz que bus-ca a Deus deveria ter uma postura completamente diferente face aos acon-tecimentos da vida daquele que não busca, mas não tem. Estes seres hu-manos deveriam ouvir Cristo: se você só faz o que os pagãos fazem, que vantagem leva...

Cristo, portanto, ensinou: aqueles que estão buscando a Deus preci-sam fazer mais do que o normal, mais do que fazem os simples pagãos. Mas, não fazem, apesar de dizerem-se cristãos, seguidores do mestre naza-reno.

Portanto, o que vou fazer hoje é mostrar que a maioria da humani-dade afirma que está caminhando numa direção, mas em verdade caminha em outra.

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Jesus continuou:

Se o mundo odeia vocês, lembrem-se que me odiou pri-meiro. (Evangelho de João, capítulo 15, versículo 18).

Alguém já ouviu esta frase – se o mundo odeia vocês, lembrem-se que me odiou primeiro – como ensinamento de Cristo. Acho que não, pois ela muitas vezes é esquecida por aqueles que ensinam o que o mestre dis-se. Mas, nem por isso deixa de ser verdade.

Atentado-nos aos acontecimentos da encarnação Jesus Cristo, no entanto, veremos que ela é uma verdade líquida e cristalina. Ele foi odiado pelos romanos, pelos senhores do Cinéreo e pelo próprio povo judeu, que o preferiu a Barrabás.

Mas, isso foi no passado. Será que no presente a humanidade odeia Cristo? Respondendo, eu diria que ela afirma que ama o mestre, mas odeia os “Jesus Cristo”, ou seja, aqueles que vivenciam os ensinamentos do mestre.

É neste sentido que estou falarei a respeito da hipocrisia que vive os religiosos que se comportam frente aos acontecimentos do mundo como se-res humanos comuns. Esta hipocrisia se reflete exatamente na frase que disse acima: a humanidade diz que ama Cristo, mas odeia os “Jesus Cris-tos”.

Sabe por que isso? Porque a humanidade afirma que ama Cristo, mas odeia aqueles que quebram as leis. A humanidade diz que ama Cristo, mas são os primeiros a acusarem, julgarem e condenarem aqueles que são pegos em flagrantes delitos. Mas, Cristo não fez isso...

Quando a mulher adultera lhe foi apresentada, Cristo disse: quem não tem pecado que atire a primeira pedra. Quando ninguém mais ficou ele disse: se ninguém lhe condena, não sou eu que vou lhe condenar...

Portanto, para se portar como Cristo, os seres humanos deveriam eximir-se de julgar qualquer um, mesmo aqueles que forem pegos em fla-

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grante delito. Mas, o mundo detesta os “Jesus Cristos” e por isso chama de fraco, inconseqüente e outros adjetivos pejorativos aqueles que não cum-prem a “obrigação” de julgar, acusar e condenar os outros.

A humanidade diz que ama Cristo, mas odeia aqueles que, como o mestre, não seguem rigorosamente a lei humana. Acontece que aqueles que se eximem de culpar os outros (os “Jesus Cristo” ou aqueles que bus-cam o caminho que leva a Deus) praticam o perdão, o que, aliás, foi ensina-mento do mestre e serve como caminho para Deus: Pai perdoa, eles não sabem o que fazem...

Apesar do mestre ter ensinado assim e a humanidade dizer que quer seguí-lo, ela não quer perdoar. Diz que ama Cristo, que o aceita como legítimo guia e pastor, mas não quer praticar o perdão que ele ensinou. Pre-fere julgar, condenar e acusar a todos... Pior... Quem não segue estas pre-missas é chamado de bobo, de otário.

Mas, se a humanidade diz que busca a Cristo, deveria, não digo nem aclamar aqueles que buscam viver como Cristo, mas pelo menos não odiá-los. Deveria, pelo menos, não taxá-los com palavras que demonstrem menosprezo.

A humanidade diz que ama Cristo, mas o ser humano, mesmo os que se dizem cristãos, estão preocupados com o que vão comer e vestir hoje. Cristo nunca teve esta preocupação...

Cristo dizia: se Deus dá o alimento aos bichos e dá roupa às flores, porque eu vou me preocupar com isso. Apesar deste ensinamento, a huma-nidade ainda se preocupa e, para aqueles que vivem do jeito que deveria ser o ideal de todos os que dizem que buscam seguir a Cristo, existe a acu-sação de serem alienados. São menosprezados, considerados bobos.

A humanidade diz que ama Cristo, mas se preocupa não só com o que vestir, mas como se vestir. A humanidade preza muito mais a aparência física do que o interior. Preza ver se está arrumado, limpo ou cheiroso.

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Esquecem-se do que Cristo afirmou: ai de vocês que lavam o copo e o prato por fora, mas por dentro estão cheios de coisas que vocês conse-guiram pela violência e pela ganância. Para descrever aqueles que se preo-cupam com o exterior Cristo fez a seguinte comparação: são como túmulos caiados de branco, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos mortos e de podridão...

Se estes chegassem perto de Cristo não iam se sentir confortáveis, pois o mestre não era de se preocupar muito com estas coisas... Sabe, aquela imagem do manto sempre branco é apenas uma figura. Isso porque Cristo andava no meio do deserto. Sendo assim, no mínimo o seu manto era coberto de pó...

A humanidade diz que ama Cristo, mas aqueles que não cumprem os rituais religiosos, são colocados na cruz. São acusados de hereges, de pagãos... Mas, Cristo nunca cumpriu um ritual religioso de sua época... Pior, quebrou todos...

Cristo se alimentou e fez cura nos sábados... Expulsou os vendedo-res do templo, o que era aceito pela doutrina religiosa de então... Foi contra as bases doutrinárias dos professores da lei, falando em amor e perdão...

Sabe, hoje é muito fácil para vocês não cumprirem as leis religiosas, pois elas foram adaptadas para servir à humanidade. Mas, naquele tempo não... Era tão complicado não se seguir a religião oficial dentro de todos os parâmetros que ela continha, que Cristo foi crucificado justamente por isso...

A humanidade diz que ama Cristo, mas tem como objetivo principal na sua vida realizar-se materialmente. Está preocupado em estudar, em se formar numa boa faculdade para poder arrumar um emprego melhor para ganhar mais dinheiro e ter mais ascensão.

Cristo nunca teve esta preocupação... E se ele é o caminho a ver-dade e a vida e só através dele se chega a Deus, aquele que ama o mestre não deveria ter estas preocupações, não deveria ter estes objetivos como primários na sua vida...

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É isso que Cristo afirma quando diz que a humanidade o odiou. Só que ela não o odiou apenas naquele tempo, mas continua odiando-o até hoje através daqueles que seguem os seus ensinamentos.

Continuam criticando, acusando, chamando os seguidores de Cristo de não evoluídos. Isso porque a humanidade continua presa a um padrão de evolução que não foi a que o Cristo ensinou. Eles ainda continuam que-rendo exercer o poder de ser, estar e fazer, enquanto Cristo dizia: Senhor honra seu nome através de mim...

Aí está o problema: a humanidade diz que ama Cristo, mas não quer mudar a forma humana de viver... A humanidade, para poder se dizer seguidora de Cristo, precisa alterar os valores da sua vida. Aliás, o próprio mestre deixou isso bem claro: eu não vim trazer a paz, mas a espada. En-quanto você não abandonar suas paixões humanas, pegar a sua cruz e me seguir, não serve para mim...

Não adianta se dizer seguidor de Cristo e querer levar uma vida hu-mana igual a dos outros, porque não se chega, espiritualmente falando, a lu-gar algum. Só se chega à elevação espiritual através do exemplo deixado por ele, pois “eu sou o caminho a verdade e a luz; ninguém chega a Deus a não ser através de mim”.

Esta sentença proferida pelo mestre quer dizer que ninguém chega a Deus a não ser vivendo a vida como ele viveu. Por isso a vida daqueles que querem se dizer seguidor de Cristo tem que ter como objetivo primário a mesma intenção que o mestre teve: vivenciar a cada momento a glória do Pai sem se preocupar com os acontecimentos materiais...

Mas, a humanidade odeia Cristo, odeia os “Jesus Cristos”: odeia aqueles que não se preocupam com os elementos materiais de sua vida. Aliás, a vida “Jesus Cristo”, ou seja, aquilo que deveria ser o objetivo primá-rio de ser vivido por um espírito encarnado, é a antítese de tudo o que a hu-manidade sonha para si. Isso porque o fundamento da vida humana é al-cançar a glória material (estar “certo” dentro dos padrões humanos), a fama

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(ser reconhecido como um ser humano adaptado às realidades humanas) e a felicidade material.

Participante: Porque a sociedade hoje é tão individualista se a Terra está mudando para o Mundo de Regenera-ção. Não era para ter uma evolução com relação ao uni-versalismo?

Não... Era para piorar mesmo, porque a quem muito foi dado, muito será cobrado...

Repare: se a prova de um espírito é vencer o individualismo, quanto mais ele se aproxima da prova final, mais individualismo tem que vivenciar... O individualismo precisa hoje lhe chamar mais fortemente, precisa lhe tentar mais fortemente, para que você esteja sempre fazendo provas dentro do seu nível de elevação...

Se vocês pertencessem ao mundo, o mundo os amaria por vocês serem dele. (idem, versículo 19).

Um rápido comentário...

Quando você segue os padrões da humanidade, o mundo lhe ama. Ele age assim porque você é humano, porque vive humanamente a vida: porque você se preocupa em arrumar-se, em trabalhar; porque sonha em crescer materialmente; porque sonha com a submissão dos outros aos seus padrões de “certo”; porque quer ter o poder ao seu lado.

Agora, quando para você nada disso tem valor, o mundo lhe odeia. Tem este sentimento porque você não é mais humano, porque não se preo-cupa com a humanidade, mas sim em pertencer a Cristo, a quem nada dis-so faz sentido. É como Paulo diz: para mim o mundo está morto porque eu pertenço a Cristo...

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Esta é uma coisa que precisávamos entender para continuar ouvin-do o que Cristo falou...

Mas, eu os escolhi entre a gente do mundo e vocês não pertencem mais a ele. Por isso o mundo os odeia. (idem, versículo 19).

Por estarem ligados a Cristo, ou seja, por tudo que é humano não fazer mais sentido para vocês, o mundo lhes odeia. O mundo não vê em você alguém que pode ser seguido, que mereça ser ouvido. Isso porque o mundo ama apenas quem fala o que ele quer ouvir...

A humanidade ama aqueles que servem ao humanismo do ser e não aqueles que servem a Cristo. Mas, este tipo de proceder não leva o es-pírito a se aproximar do Pai. Para entender bem isso, temos que nos lemb-rar de outra frase de Paulo: o ser humano é inimigo de Deus...

Sim, o ser humano é inimigo de Deus porque ele só é amigo dele mesmo. O ser humano não é amigo de mais ninguém...

Mesmo quando considera alguém como amigo, a consideração está subordinada ao “bem” que este amigo lhe traz. Se este “bem” deixar de existir, o amigo se transforma logo em inimigo... Sendo assim eu afirmo: ele só está preocupado consigo mesmo e não com o outro.

Você acha que estou exagerando? Ouça este ensinamento que o Espírito da Verdade fala em O Livro dos Espíritos.

Pergunta 913: Dentre os vícios, qual o que se pode con-siderar radical? Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhes deis com-bate, não chegareis a extirpá-los, enquanto não atacar-des o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruí-do a causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse

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efeito. Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatí-vel com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza to-das as outras qualidades.

Aí está a base da humanização a qual o espírito se expõe: todo ser humano é egoísta, já que este sentimento é a base dos egos formados no planeta Terra.

Quem é egoísta ama a si acima de Deus e dos outros. Por isso Pau-lo nos diz que o ser humano é o inimigo de Deus, já que ele quer para si, enquanto que o Pai quer para todos...

Esta é uma conclusão que precisa ser tirada por aqueles que que-rem seguir Cristo, pois no mestre não residia o egoísmo: ele vivia para servir os outros. Já o ser humano vive para se servir e para isso serve-se dos ou-tros.

Afirmo isso porque o ser humano é incapaz de ser, por exemplo, ca-ridoso de uma forma universal. Mesmo quando ele quer ajudar o próximo, estipula condições que são aceitas por ele mesmo para auxiliar.

Esta é a base que todos aqueles que dizem que estão buscando a elevação espiritual precisam compreender: a humanidade, os valores ditos humanos são forjados no egoísmo. Por isso, enquanto o ser for humano não conseguirá amar a Cristo de verdade. Por conseguinte, odiará Cristo, pois ele não foi humano.

A existência de “Jesus Cristo”, que iniciou-se depois do batismo foi uma existência espiritualizada e universalista. No momento em que João Batista batiza Jesus, acaba-se a humanidade desta personalidade. Ela pas-sa a funcionar como um espírito na carne e não mais como humano.

O espírito na carne é aquele que não é egoísta, que vive no univer-salismo e no espiritualismo pleno. Ou seja, aquela personalidade onde o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo está

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presente. É por isso que esta personalidade afirma: a humanidade me odeia.

Sabe quem são os humanos cristãos de hoje? Os mesmos profes-sores da lei do tempo de Cristo.

Não estou falando em reencarnação, afirmando que são os mesmos espíritos. O que estou dizendo é que os elementos humanos de hoje, como os de então, ainda se avocam em ter a verdade e usá-la para julgar o próxi-mo. São os mesmos para os quais Jesus Cristo falou: ai de vocês, profes-sores da lei, que põem fardo nas costas dos outros e não ajudam a carregar nem com nenhum um dedo. Por isso continuam julgando e criticando os “Jesus Cristos”, como fizeram com o mestre...

A partir desta constatação, deve surgir para vocês que estão que-rendo seguir o exemplo de Cristo, uma verdade: não esperem que a huma-nidade vá aplaudir os seus esforços de elevação espiritual. Todo mundo acha que se entrar nesta revolução espiritual será considerado bonzinho ou santinho. Isso é ilusão.

A humanidade vai lutar contra vocês... Vai querer lhes ridicularizar, vai querer, como instrumento do carma, lhes colocar a todas as provas para lhes testarem no sentido de ver se vocês permanecem no amor em Cristo...

É preciso atentar para este detalhe. É preciso estar atento a este detalhe: ninguém chega a Deus através de Cristo, ou seja, ninguém chega a Deus a não ser sendo um “Jesus Cristo”.

Depois de compreender isso, é preciso, ainda, compreender outra coisa: quem quiser chegar a Deus sendo um “Jesus Cristo” não pode querer ser humano e nem esperar que a humanidade lhe apóie neste intento.

Participante: O mundo gosta de quem faz o que ele quer. Concordo com isso. Agora, se formos seguir Cristo, va-mos nos tornar individualistas e egoístas também, pois não poderemos contar com ninguém, já que o mundo não apoiará quem seguir Cristo.

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Concordo com você. Só que seguindo Cristo, você não será indivi-dualista, mas individual.

Falo assim, porque individualista é aquele que quer para isso en-quanto que o individual é aquele que se reconhece como individualidade, mas que não quer para si prioritariamente.

Sim, para seguir Cristo você precisa ser uma individualidade sem in-dividualismo, sem egoísmo. Mas, isso é impossível para quem segue os pa-drões humanos de vida, porque a humanidade lhe cobra que seja egoísta, ou seja, que se imponha individualmente a cada momento.

Vamos continuar...

Vocês poderiam dizer: você está sendo radical. Eu diria: estou... E complementaria: sem radicalismo não há elevação espiritual. Sem você ra-dicalizar espiritualmente a vida, não há elevação espiritual. Querem ver um exemplo...

Há entre os espíritas uma frase muito interessante. Quando se fala nas influências dos espíritos sobre a vida nos meios espíritas eles dizem: ah, nem tudo que acontece em nossa vida são os espíritos que fazem...

Os que respondem desta forma são humanos, ou seja, vivem ape-nas a partir das suas percepções. Mais, são professores da lei porque citam O Livro dos Espíritos, mas não vivem o que ele diz...

Segundo esta obra do Pentateuco Espírita, a influência dos espíritos na vida humana é muito maior do que o ser humano possa imaginar. Por-tanto, para ser espírita verdadeiro, os seguidores desta religião deveriam ra-dicalizar (ter isto como Verdade Absoluta).

Mas, para não serem egoístas, deveriam radicalizar não porque se acham certos, mas porque esse é o ensinamento do mestre que seguem. Se não radicalizam e atacam os que dizem isso, posso afirmar que os espí-ritas odeiam os “Espíritos das Verdades” também...

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Participante: Por favor, fale deste ensinamento...

Ele começa na pergunta 459:

Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nos-sos atos? Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto que, de ordinário, são eles que vos dirigem.

Esta é a lei da doutrina espírita. Tanto isso é verdade que o seu pró-prio fundador, comentando a influência dos espíritos nos acontecimentos da vida diz:

Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de duas pessoas, que suporão encontrar-se por acaso; ins-pirando a alguém a idéia de passar por determinado lu-gar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resulta o que tenham em vista, eles obraram de tal ma-neira que o homem crente de que obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu livre arbítrio.(Comentári-os de Kardec à pergunta 525).

Isso, por si só já diria tudo. Mas tem mais... À frente (pergunta 527) o Espírito da Verdade diz que se alguém tem que morrer por causa da ação de um raio que caia do céu (determinismo de destino) nenhum ser desen-carnado alterará a rota do elemento da natureza, mas fará com que o ho-mem se dirija para o lugar onde ele sabe que o raio cairá...

Ou seja, a vida é completamente dominada pelos espíritos. Todas as suas ações são comandadas de fora para dentro e você, como diz Kar-dec, achando que mantém o livre arbítrio, faz o que precisa ser feito.

Portanto, para se dizer seguidor do Espírito da Verdade é preciso que os espíritas radicalizem e vivam com esta realidade: tudo na vida é in-tervenção dos espíritos.

Mas os espíritos não agem à toa. A pergunta 525a traz uma infor-mação importante:

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Exercem essa influência por outra forma que não apenas pelos pensamentos que sugerem, isto é, têm ação direta sobre o cumprimento das coisas? Sim, mas nunca atu-am fora das leis da Natureza.

Reparem que a letra “n” está escrita de forma maiúscula. Isso quer dizer que o Espírito da Verdade se refere a Deus. Ou seja, os espíritos agem sobre o cumprimento das coisas, mas esta ação segue a ordenação do Senhor.

Agora o radicalismo está completo: o espírita, para poder se dizer seguidor do Espírito da Verdade tem que aceitar que tudo que acontece du-rante a sua existência tem a direção do mundo espiritual menos denso, mas que eles agem sobre o comando de Deus. Para eles nada mais pode ser real...

Quem não radicalizar nesta questão não pode dizer-se espírita. Ali-ás, será como os cristãos que estamos comentando: dirão que amam o es-piritismo, mas que odeiam os “Espíritos da Verdade”.

Mas, este conhecimento não deveria pertencer apenas aos espíri-tas. Os próprios cristãos não espíritas, que dizem não acreditar na existên-cia do mundo espiritual ativo, para poderem demonstrar o seu amor por Cristo, deveriam acreditar nisso.

Falo assim porque o mestre conhecia esta Verdade. Cristo sabia que tudo o que vai acontecer está predeterminado (até os fios de vossas cabeças estão contados) e participava dos acontecimentos com esta consci-ência. Isto ele deixou bem claro quando respondeu aos apóstolos que lhe avisaram sobre a morte do seu amigo Lázaro: vamos lá, pois ele não mor-reu. Só está daquele jeito para que a glória de Deus seja alcançada...

Sei que muitos cristãos não espíritas acreditam nesta verdade (que suas existências são dirigidas pelos espíritos), mas há uma diferença na for-ma como Cristo acreditava e na que os humanos cristãos acreditam. En-quanto que humanos estão eternamente querendo investigar o porque e o

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para que das coisas, Cristo deixava Deus fluir através dele, ou seja, tinha consciência de que era Deus agindo sempre e por isso não precisava se preocupar com os porquês e os para quês...

Essa é mais uma razão pela qual eu afirmo a humanidade não ama Cristo: aqueles que se entregam a Deus deixando o Senhor fluir por eles sem seguirem normas e padrões humanos, são considerados doidos. Isso no mínimo, para não dizer idiota...

Anti Cristo não é aquele que se contrapõe aos ensinamentos das doutrinas cristãs não espíritas, mas sim aqueles que não levam em conside-ração esta informação do Espírito da Verdade por não estar de acordo com suas próprias crenças, apesar de declaradamente estar presente na consci-ência “Jesus Cristo”...

Mas, existem outros aspectos que me levam a afirmar que a huma-nidade odeia Cristo... Um deles é a aceitação do destino.

A humanidade luta para criar um destino melhor para ela mesma. É raro o humano que aceita que os acontecimentos de sua existência estão perfeitos da forma que estão.

Para Cristo, tudo era fruto do amor de seu Pai, mesmo aquilo que a humanidade chama de “errado” ou “ruim”... O mestre, por exemplo, sabia volitar, era capaz de proezas como andar em cima das águas, mas não fu-giu do seu destino...

Ele poderia muito bem ter volitado e desaparecido da cena da cruci-ficação e continuado a sua vida. Por que não fez isso? Para entender é pre-ciso ouvir a resposta que ele deu a Pilatos quando este lhe perguntou por que não se salvava: se o Pai quisesse que eu não passasse por isso, man-daria pelo menos vinte legiões de anjos para me salvar...

Aí está uma grande verdade que a humanidade odeia ouvir: Cristo não foi crucificado pelos romanos, nem pelos judeus. Ele foi crucificado por determinação de Deus...

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É a humanidade odeia ouvir isso, porque ela quer preservar a vida material. O ser humano quer continuar vivo, materialmente falando, porque quer continuar humanizado, quer continuar ganhando migalhas (as poucas vezes em que o desejo é realizado) aqui e ali...

Cristo morreu na cruz sem aflição, sem medo, sem acusações. En-tregou-se a este momento porque sabia que aquilo era apenas uma história pré-montada para lhe dar aos seus seguidores o seguinte ensinamento: se você estiver sendo levado ao cadafalso, vá em paz, amando e perdoando seus algozes. Não queira fugir do seu destino...

Mas, os humanos cristãos não querem ouvir este ensinamento que já tem dois mil anos e continuam lutando para ganhar sempre...

Sabe, é até compreensível que ao ir para o seu cadafalso você fique perturbado e reja como Cristo, que se perturbou com a aproximação de sua hora segundo relato de João: Sinto agora uma grande aflição... Mas, para poder se dizer cristão, continue a frase como ele continuou, ainda segundo relato de João: mas, o que vou dizer agora? Pai afasta de mim este cálice... Mas eu nasci para isso... Pai glorifica o seu nome em mim.

Quanto aqueles que vivem que não reagem aos acontecimentos do mundo, que se entregam passivamente às suas cruzes mantendo intacta a sua relação amorosa com Deus, estes são criticados pela humanidade. Cri-ticam porque os humanos egoístas não querem ser crucificados, ou seja, não querem ver os seus supostos direitos serem afetados.

Esta é a realidade... Por favor, não digam que estou radicalizando... Estou simplesmente pegando ensinamentos que existem em O livro dos Es-píritos e na Bíblia para mostrar que o ensinamento é um e a prática é outra...

Agora, quanto à afirmação de Cristo que o mundo o odeia, também não a inventei: está há quase dois mil anos no Evangelho de João... Cabe a

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nós não discuti-la, mas entendê-a, compreendê-la, que é isso que estamos falando neste trabalho.

Como disse, ao estudar os ensinamentos do Novo Testamento gos-taria de falar da prática da vida e é exatamente isso que estou fazendo hoje: mostrando que a prática da vida daqueles que se dizem seguidores de Cris-to é hipócrita, porque amam a Cristo, mas não querem viver como o mestre viveu.

Não querem doar-se como o mestre doou-se. Preferem manter a sua humanidade intacta a se entregar ao espiritualismo, mesmo sabendo que com isso não alcançam a evolução espiritual, ou seja, não caminham o caminho que leva a Deus...

Lembrem-se do que eu disse: o empregado não é mais importante do que o patrão. Se me perseguiram, tam-bém perseguirão vocês; se obedeceram aos meus ensi-namentos, também obedeceram aos ensinamentos de vocês.

Por causa de mim, vão lhes fazer tudo isso porque não conhecem aquele que me enviou. Eles não teriam ne-nhum pecado se eu não tivesse vindo e falado a eles. Mas agora não têm desculpa para o seu pecado. (Idem, versículos 20 a 22).

Neste ensinamento a fonte da célebre frase: a quem muito foi dado, muito será cobrado.

O pecado – pecado como transgressão ao espiritual – não nasce do ato que se pratica durante a vida, mas sim da transgressão ao conhecimen-to que cada um possui.

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Veja... O católico tem um ensinamento, o protestante outro e o espí-rita outro ainda. Mas, todos estes conjuntos doutrinários contêm ensinamen-tos fundamentados no que Cristo ensinou...

Acontece que apesar disso, o humano considera os ensinamentos de sua seita mais importantes do que realmente está descrito como ensina-mento do mestre. Mas, isso não é verdade... Toda doutrina que se diga cris-tã precisa ensinar o que Cristo ensinou...

Para isso é preciso se deixar de lado as diferenças... Que importa se só há esta vida ou outras (reencarnação)? O importante é fazer o que Cristo ensinou: amar a tudo e a todos... Por isso, quando o ser humanizado recebe os ensinamentos de quaisquer de uma destas seitas, ele se torna responsável por colocar em prática o que o mestre nazareno ensinou...

Se Cristo diz que você deve amar o inimigo, não importa o que o pa-dre diz: você tem que amar o inimigo. Se ele afirma que não deve julgar, não importa o que o médium diga na palestra do centro: você precisa abrir mão disso.

Se Cristo diz que deve perdoar a todos, deixe o pastor condenar aqueles que participam de outras doutrinas, mas você perdoe todo mundo. Se Cristo diz ao bandido que ainda hoje ele estará no reino do céu por arre-pender-se, não importa o que o código moral de sua religião fale a respeito do crime: você precisa compreender que o bandido que se arrepender de seus pecados irá para o reino do céu.

Aí está a hipocrisia que eu tenho falado: não adianta se dizer católi-co, espírita ou evangélico e não seguir Cristo, mas sim ao que ouve na sua religião... O problema é que todos querem ser religiosos, mas não abrem mão do seu humanismo que se caracteriza em ser e acreditar no que qui-ser.

Na verdade, este é o tema da palestra de hoje: ser cristão...

Para ser cristão de verdade é preciso lembrar-se do que Cristo dis-se: em verdade vos digo: quem não nascer de novo não verá o reino do

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céu. Por causa desta afirmação, saiba que enquanto não renascer do espíri-to e da água não conseguirá a elevação espiritual, por mais que decore os ensinamentos, por mais que se diga cristão. E, para renascer do espírito e da água é preciso ser como Cristo foi...

Mas, para ser igual a ele, é preciso que você se lembre de algo im-portante que ele disse: não se serve a dois senhores ao mesmo tempo. Não se serve à materialidade, à humanidade e a Deus ao mesmo tempo...

Não há se manter humano e ser ao mesmo tempo cristão. Isto por-que a humanidade lhe cobra o seu humanismo enquanto que Cristo lhe cob-ra a sua espiritualização, a sua ligação com Deus: o seu viver em Deus, com Deus e para Deus...

Se nós não compreendermos isso, ficaremos batendo cabeça con-tra parede. Ficaremos querendo ser humano sem conseguir e querendo ser espírito e não conseguindo também...

Este é o assunto que precisa ser rapidamente conscientizado por to-dos os que se dizem buscadores. A compreensão deste tema precisa servir como instrumento para espiritualizar verdades. Sem isso, o espírito encar-nado ficará empacado no tocante a elevação espiritual, como está há milha-res de encarnações lutando entre servir ao mundo ou a Deus.

Isso é o que precisamos pensar... Mas, esta é uma decisão difícil, pois a partir do momento que você decidir seguir a Cristo, tem que passar a ser um “Jesus Cristo” e amar os “Jesus Cristos”.

Mas, se por outro lado não decidir por isso, você tem todo direito de viver a sua humanidade. No entanto, compreenda que este caminho não lhe leva a Deus. Além disso, para não ser hipócrita, é preciso você pare de ba-ter nos peitos e dizer que é cristão.

Esta é a bifurcação, a encruzilhada, onde estão todos os espíritos encarnados hoje: de um lado o chamamento de Deus, da espiritualidade; do outro o da humanidade para viver uma vida de forma humana. Isto precisa ficar bem claro para os que se dizem buscadores de Deus...

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Além do mais, é preciso ficar bem claro que a partir do momento que você opte por Deus não deve esperar da humanidade respeito, amor e atenção porque ela lhe cobrará mudanças, pois deixou de ser um humano.

Participante: Você já falou por diversas vezes que é pre-ciso amar a todos, mas acho que eu não sei bem o que é o amar universal. Poderia nos dizer o que é este amar e citar alguns exemplos na vida prática?

Posso, é fácil fazer isso...

O que é amar universalmente? É não amar egoisticamente.

Como na prática se sabe que está mando universalmente? Quando você não distinguir “certo” nem “errado”, “limpo” ou “sujo”, “arrumado” e “de-sarrumado”, “bonito” e “feio”...

Quando você, por exemplo, vê na atitude de outro uma arrumação e gosta, você elogia, mas isso não se traduz em amar universalmente. Isso porque você só elogia o que lhe convém elogiar... Quando vê um “errado” na atitude de outro é porque você não acha aquilo certo. Em qualquer dos dois casos não amou universalmente porque seu estado de espírito amoro-so existiu a partir de seus próprios conceitos. Ou seja, amou egoisticamen-te...

Amar é viver a vida sem aplicar adjetivos a nada e a ninguém. Amar é simplesmente amar e quem ama não vê “feio” ou “bonito”, “certo ou erra-do”. Quem ama, só ama...

Então, amar universalmente é isso: participar da vida sem colocar adjetivos nela. Isto porque qualquer adjetivo que se coloque é fundamenta-do no egoísmo, ou seja, é fundamentado no que você acha daquilo...

Participante: Mas, como eu vou amar uma pessoa que pratica o “mal”? Eu não ia estar apoiando esta pessoa...

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Mas eu acabei de dizer que não se dá adjetivos. O “mal” é um adje-tivo que você coloca a algo que é perfeito que vem de Deus...

Quanto ao apoiar, eu não falei que deve apoiar qualquer pessoa, mas que deve amar a todos. O ato de apoiar só ocorre quando há um “cer-to” presumido, mas eu não estou falando em “certo”, mas em perfeito. Eu, como Cristo, estou afirmando que o “bem” e o “mal” são frutos do amor de Deus que são adjetivados a partir dos conceitos humanos e pela ação ego-ísta como tal...

Para poder viver isso, eu não julgo ou acuso, mas também não elo-gio. Vivencio tudo na neutralidade, ou equanimidade como Krishna chama este estado de espírito.

Foi assim Que Cristo viveu ou você acha que ele morreu com raiva de quem enfiou a lança nele ou dos doutores do Cinéreo que o acusou? Claro que não...

Mas ao não ter raiva deles, o mestre não compactuou com as ações por eles praticadas. Ele compactou com Deus que estava fazendo aquilo acontecer...

Participante: Isso é difícil demais...

Sim, para o ser humano é difícil demais amar, mas para o espírito ou para aqueles que, como Cristo, se abstém de ganhar e levar vantagem nos acontecimentos da vida, não.

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Índice

Amem-se uns aos outros ............................................................................................ 3

Pedra de Roseta ......................................................................................................... 20

Quem entra no Reino do Céu ................................................................................... 44

Amor e paixão ............................................................................................................ 55

Pobre de espírito ........................................................................................................ 67

Hipocrisia .................................................................................................................. 101

Cegueira espiritual ................................................................................................... 132

Jesus e os três empregados .................................................................................. 142

A ovelha perdida ...................................................................................................... 154

O eco do Universo ................................................................................................... 156

A humanidade odeia Cristo .................................................................................... 158