outsiders - estudos de sociologia do desvio - íntegra
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Outsiders
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Colecao
ANTROPOLOGIA SOCIAL
diretor: Gilberto Ve1ho
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Franz Boas
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· PesquisasUrbanas
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Antropol6gico
Roque de Barros Laraia
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Howard s . Becke r
Outs idersEstudos de socioLogia do desv io
Traducao:
M aria Luiza X . de A. B orges
Revisao tecn ica :Karin a Ku schnir
I F C S /U F R J
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T i tu lo o r ig in aL :
Outsiders
( Stu di es i n th e S od olo gy o f D e via nc e)
T ra du ca o a uto riz ad a d a e di. ;a o n orte -a me ric an a
pubL ica da em 1991 po r T he Free Press, um a divisa o
d a S im on & Sch uster, Inc ., de N ova Y ork , E UA
Copyright © 1963, T he Free Press of G Lenc oe
C o py ri gh t r en o vad o © 1991, H ow ard S . B eckerC opyrig ht do C apitu lo 10, "A tero ria da ro tu la ca o rec on side ra da " © 1973,
H ow ard S . B ec ker
C o py ri gh t d o p re fa c io © 2005, H ow ard S. B ec ker
C op yrig ht d a e dir;a o e m L in gu a p ortu gu es a © 2009:
Jo rg e Z ah ar E dito r L tda .
ru a M e xic o 3 1 so bre Lo ja
20031-144 R io de Janeiro , R J
teL .: (21) 2108-0808/ fax : (21) 2108-0800
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T o do s o s d ir eito s r es er va do s.
A repro duca o na o-au toriz ada desta publicac ao , no to do
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CIP-Brasi l . Ca t a l oqacao-na- font e
S in d ic a to N a ci o na l d o s Ed it or es d e L i vr os , R J .
B e cke r, Howa rd Sau l, 1928-
B 3560 Outsiders: estudos de soc iolog ia do desvio / Howard S . B ecker;
trad uca o M a ria L uiz a X . de B org es; revisac tec nica K arin a K u sc hnir. -
1 .ed . - R io d e Ja neiro : Jo rg e Z ah ar E d. , 2008.
(An tr opo log i a s oc ia l )
T ra du ca o d e: O ut si de rs: s tu di es i n t he s oc io lo g y o f d ev ia nc e
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As vez es nao tenho tanta certeza de quem tern
o direito de diz er quando uma pessoa esta Louca
e quando nao . As vezes penso que nenhum de nos e
to taLmente Louco e que nenhum de nos e totaLmente
sao ate que nosso equiL ibrio dig a eLe e desse jeito.
E co mo se nao im po rtasse 0 qu e 0 sujeito faz , mas a
form a como a maioria das pessoas 0 vi! quando eL e f az .
W IL LIA M F AU LK NE R, E nq ua nto e u a go nizo
(S ao P au Lo , M a n da rim , 2 00 1, tra du ca o d e WL ad ir D u po nt).
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Sumario
Pre/ado, 9
1
Out s i d e r s , 15
D efin ic oes de desvio , 17
D esvio e as reacoes dos outros, 21
R eg ras de q uem ?, 27
2T ipos d e d esvio: u rn m od elo sequendal, 31
Mo deL os sirnultaneo e seqilenciaL de desvio , 33
Carr ei ra s de sv ian te s, 36
3
To rn an d o-s e u r n usuario d e r na co nh a, 51
A pren der a tec nic a, 55
Aprender a perceber os efeitos, 57
Aprender a gostar dos efeitos, 61
4U so d e r naconha e controle social, 69
Fornecimento, 71
SigiLo, 76
MoraLidade , 82
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Mu sic o e "q ua dra do ", 94
Re arr oe s a o c on flito , 100
Iso la men to e a uto -se qre qa ca o, 105
6Ca rr e ir as n um g ru p o o cu p ac io na l d e s vi an te :
o musico d e cas a n otu rn a, 111
"Panelinh as" e sucesso , 112
P ais e e sp osa s, 123
7As regras e su a imposi~ao, 129E sta qio s d e irn po sic ao , 136
Urn caso iLustra tivo : a L ei da T ributacao da M a conh a, 141
8
Empr ee n d ed o re s mo r ai s, 153
C ria do res d e re gra s, 153
o destino das cruz adas mora is, 157
Im po sitores de regras, 160D esvio e empreendimento : urn resumo , 167
9o e stu do d o d esv io : p roble mas e s im pat ias , 169
10
A teor ia d a rotula~ao recons iderada , 179
o desvio co mo a rrao c oletiva, 183
A desrn istific ac ao do desvio , 189
P ro blema s mo ra is , 194
Conclusao, 206
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Pref6do*
Ou ts iders nao inventou 0 campo do que hoje se chama "desvio".
Outros estudiosos ja haviam publicado ideias semelhantes (em
especial Edwin Lemert e Frank Tannenbaum, 1ambos mencionados
neste livro). Mas Ou ts iders diferiu de abordagens anteriores em
varios aspectos. Para comecar, foi escrito de maneira muito mais
clara que 0 texto academico usual. Nao me cabe nenhum merito
nisso. Tive bons professores, e meu mentor, Everett Hughes, que
orientou minha dissertacao e com quem depois colaborei estrei-
tamente em varies projetos de pesquisa, era fanatico pela escrita
clara. Ele considerava inteiramente desnecessario usar termos
abstratos, vazios, quando havia palavras simples que diriam a
mesma coisa. E me lembrava disso com frequencia, de modo que
meu reflexo foi sempre procurar a palavra simples, a frase curta,
o modo declarativo.
Alern de ser mais compreensivel que grande parte dos textos
sociol6gicos, metade de Ou ts iders consistia em estudos empiricos,
relatados em detalhe, de t6picos "interessantes" para a geracao de
estudantes que ingressava entao nas universidades norte-ameri-
canas, em contraste com teorizacoes mais abstratas. Escrevi sobre
rmisicos que trabalhavam em bares e outros locais modestos,
tocando uma musica que tinha uma especie de aura rornantica, e
escrevi sobre a maconha que alguns deles fumavam, a mesma ma-
conha que muitos daqueles estudantes experimentavam e de cujos
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10 Outsiders
vidas, fizeram de Outsiders uma obra que os professores, muitos
dos quais partilhavam 0interesse dos alunos por drogas e musica,
gostavam de indicar em seus cursos. 0 livro assim se tornou uma
especie de texto-padrao em cursos para estudantes jovens.
Mais uma coisa acontecia na epoca , A sociologia atravessava
uma de suas "revolucoes" peri6dicas, em que estruturas te6ricas
mais antigas eram reavaliadas e criticadas. Naquele tempo, no
inicio dos anos 1960, os sociologos estudavam tipicamente 0
crime e outras formas de transgressao perguntando 0 que levava
as pessoas a agirem daquele modo, violando normas comumente
aceitas e nao levando vidas "normals'; como diziam todas as nossas
teorias, em que haviam sido socializados, inclusive para aceita-las
como 0modo segundo 0qual se deveria viver.As teorias da epoca
variavam naquilo que consideravam as principais causas desse
tipo de comportamento anti-social, como consumo excessivo
de alcool, crime, uso de drogas, rna conduta sexual e uma longa
lista de contravencoes, Alguns atacavam as psiques das pessoas
que se comportavam mal - suas personalidades tinham falhas
que as faziam cometer essas coisas (0 que quer que fossem "essascoisas"). Outros, mais sociol6gicos, culpavam as situacoes em que
as pessoas se viam e que criavam disparidades entre 0 que lhes
haviam ensinado a almejar e sua real possibilidade de alcancar
esses premios, Iovens da classe trabalhadora - a quem haviam
ensinado a acreditar no "sonho americano" de mobilidade social
ilimitada e depois se viam refreados por empecilhos socialmente
estruturados, como a falta de acesso a educacao, que tornariam
a mobilidade possivel- poderiam entao "apelar para" metodos
desviantes de mobilidade, como 0 crime.
Essas teorias, porem, nao soavam verdadeiras para sociologos
de uma nova geracao, menos conformistas e mais criticos com refe-
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Prefacio 11
em abordagens marxistas para a analise dos efeitos patol6gicos do
capitalismo. Alguns - e fui urn deles - encontraram uma base fir-
me em teorias sociol6gicas fora demoda, que de certa forma ficaram
esquecidas quando os pesquisadores abordaram 0campo do crime
e do que era entao chamado de "desorgan i zacao social':
Em poucas palavras, a pesquisa nessas areas da vida social
fora dominada por pessoas cuja profissao e cujo trabalho diario
consistiam em resolver "problemas socials" atividades que criavam
dificuldade para alguern em condicoes de fazer alguma coisa a
respeito. Assim, 0 crime se tornava por vezes urn problema para
alguem resolver. (Nem sempre, porque muitos crimes eram, como
sempre foram, tolerados, visto que era muito dificil dete-los ou
que muitos lucravam com eles.) Esse "alguern" era em geral uma
organizacao cujos membros cuidavam daquele problema em tem-
po integral. Assim, 0 que veio a se chamar de sistema de justica
criminal- a policia, os tribunais, as prisoes - recebeu conven-
cionalmente a tarefa de extirpar 0 crime ou pelo menos conte-lo,
Eles montaram 0aparato de comb ate e contencao do crime.
Como em todos os grupos profissionais, as pessoas nessasorganizacoes de justica criminal tinham seus pr6prios interesses e
perspectivas a proteger. Parecia-lhes 6bvio que a responsabilidade
pelo crime pertencia aos criminosos, e nao havia duvida quanta a
quem eram eles:as pessoas que suas organizacoes haviam apanhado
e prendido. E sabiam que 0problema de pesquisa importante era:
"Por que as pessoas que identificamos como criminosos fazem as
coisasque identificamos como crimes?" Essaabordagem levou -as-
e aos muitos sociologos que aceitavam esta como a questao de pes-
quisa importante - a confiar enormemente, para a compreensao
do crime, nas estatisticas que essas organizacoes geravam: a taxa
de criminalidade era calculada com base nos crimes denunciados
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12 Outsiders
Havia na tradicao sociol6gica uma abordagem alternativa
cujas raizes remontavam ao famoso dito de W.1. Thomas: "Se os
hom ens definem situacoes como reais, elas sao reais em suas con-
sequencias,"? Isto e,aspessoas agem com base em sua compreensao
do mundo e do que ha nele. Formular os problemas da ciencia
social dessa maneira torna problematica a questao de como as
coisas sao definidas, dirige a pesquisa para a descoberta de quem
esta definindo que tipos de atividade e de que maneira. Nesse caso,
quem esta definindo que tipos de atividades como criminosas e
com quais consequenciasi Pesquisadores que trabalhavam nessa
tradicao nao aceitavam que tudo que a policia dizia ser crime
"realmente" 0 fosse. Pensavam, e sua pesquisa confirm ava, que
ser chamado de criminoso e tratado como tal nao tinha conexao
necessaria com qualquer coisa que a pessoa pudesse realmente ter
feito. Era possivel haver uma conexao, mas ela nao era automatica
ou garantida. Isso significava que a pesquisa que usava as estatisticas
oficiais estava cheia de erros, e a correcao desses erros podia levar
a conclusoes muito diferentes.
Outro aspecto dessa tradicao insistia em que todos os envol-vidos numa situacao contribuiam para 0 que acontecia nela. A
atividade de todos devia fazer parte da investigacao sociol6gica.
Assim, as atividades das pessoas cujo trabalho era definir 0crime e
lidar com ele integravam 0"problema do crime': e urn pesquisador
nao podia simplesmente aceitar 0que diziam por seu significado
manifesto, ou usar isso como base para trabalho posterior. Embora
contrariando 0senso comum, isso produzia resultados interessan-
tes e originais.
Ou ts iders seguiu esse caminho. Nunca pensei que fosse uma
abordagem nova. Tratava-se antes do que faria urn born soci6logo,
seguindo as tradicoes do oficio. E comum hoje dizer que toda nova
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Prefacio 13
Comec ei fa la nd o s ob re c rim e . M a s a g ora , n o p ara g ra fo a nte rio r,
m e nc io ne i e sta a re a d e tra ba lh o c om o fo ca liz ad a n o "d esv io " E ssa e
um a mu da nc a sig nific ativ a. E la re dire cio na a a te nc ao p ara u rn p ro -
blem a m ais gera l do que a questao de quem co mete c rim e. E m vez
d is so , le va -n o s a o lh a r p ara to do s o s tip os d e a tiv id ad e, o b se rv an do
qu e em tod a p a rt e p es so a s e n vo lv id a s em a c ao c o le ti va d ef in em c e rta s
c o isa s c omo " er ra da s" q ue n ao d ev em s er fe ita s, e g er alm e nte tom am
m edid as pa ra im ped ir q ue se fa ca 0 q ue fo i a ssim d efin id o. D e fo r-
m a a lg um a essa s a tiv ida des sera o to da s c rim ino sa s - em q ua lq uer
s en tid o d a p a la v ra . A lguma s r eg r as s ao r es tr ita s a g r up o s e sp ec if ic o s:
ju de us q ue o bse rv am o s p rin cip io s d e s ua re lig ia o n ao d ev em c om e r
a lim en to s q ue n ao se ja m kosher , ma s o s d em a is sa o liv re s p a ra fa z e-
10 .As re gra s d os e sp orte s e d os jo g os sa o sem elh a nte s: n ao im p orta
c om o v oc e m o va um a p e< yad o x ad re z, c on ta nto q ue e ste ja jo ga nd o
x ad re z c om a lg uem q ue le va a s r eg ra s a se rio , e q ua lq ue r sa nc ao p ela
v io la ca o d as r eg ra s v ig o ra a pe na s n a c omun id ad e d o x ad re z . D e ntro
d essa s c om u nid ad es, p orem, o pe ram o s m e sm o s tip o s d e p ro ce sso
de fa bric ac ao d e reg ra s e d e dete cc ao do s q ue a s v io la m.
N uma o u tr a d ire ca o , c er to s c ompo rtam en to s s er ao c o ns id era -do s in co rreto s, m as nenh um a lei se a plic a a eles e nem h a q ua lq uer
s is tem a o rg a niz a do p ara d ete cta r o s q ue in fr in g em a r eg ra in fo rm a l.
A lg un s d esse s c om p orta m en to s, em a pa re nc ia triv ia is, p od eria m
ser visto s c om o infra co es d e reg ra s de etiq ueta (a rro ta r o nde na o
dev eria mo s, p or ex em plo ). F ala r so zin ho na rua (a m en os q ue v oc e
esteja seg ura ndo urn telefo ne c elula r) sera visto c om o inc om um
e lev ara a s pesso as a a ch a-lo u rn p ouc o esq uisito , m as, n a m aio ria
d as v ez e s, n ad a s er a fe ito c om re la ca o a is so . O c as io n alm e nte , e ss as
acoes fo ra do com um inc itam de fa to os ou tro s a conduir que
voce pode ser urn "do ente m enta l': e nao apenas "g ro sseiro " ou
" es qu is ito ". N e ss e c as o, sa nc o es p o dem e ntr ar em jo g o , e le i v a i v o c e
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14 Outsiders
urn metodo comparativo de descobrir urn processo basico que
assumia muitas formas em diversas situacoes, sendo que apenas
uma delas e criminosa. As varias formulacoes que propusemos
atrairam muita atencao e varias criticas, algumas das quais foram
respondidas no ultimo capitulo desta versao revista de Ou ts iders .
Ao longo dos anos, porem, produziu-se ampla bibliografia em
torno dos problemas de "rotulacao" e "desvio" e nao reexaminei
o livro para leva-la em consideracao,
Se fizesse essa revisao, daria grande peso a uma ideia que Gil-
berto Velho,0eminente antropologo urbano brasileiro, acrescentou
a mistura," a qual, a meu ver, elucida certas ambiguidades que
criaram dificuldade para alguns leitores. Sua sugestao foi reorientar
ligeiramente a abordagem, transformando-a num estudo do pro-
cesso de acusacao, de modo que suscitasse essas perguntas: quem
acusa quem? Acusam-no de fazer 0 que? Em quais circunstancias
essas acusacoes sao bem-sucedidas, no sentido de serem aceitas
por outros (pelo menos por alguns outros)?
Nao continuei a trabalhar na area do desvio. Mas encontrei
uma versao ainda mais geral do mesmo tipo de pensamento que
e util no trabalho que venho realizando ha muitos anos na socio-
logia da arte. Problemas semelhantes surgem ali, porque nunca
esta claro 0que e ou nao "arte" e os mesmos tipos de argumento
e processo podem ser observados. No caso da arte, claro, ninguem
se incomoda se 0que faz e chamado de arte, de modo que temos 0
mesmo processo visto no espelho. 0 r6tulo nao prejudica a pessoa
ou a obra a que e aplicado, como acontece em geral com r6tulos
de desvio. Em vez disso, acrescenta valor.
Com isso quero dizer apenas que 0 terreno que eu e outros
mapeamos no campo do desvio ainda esta vivo e e capaz de gerar
ideias interessantes a serem pesquisadas.