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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
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FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA
TURMA - PDE/2013
Título: Indícios Jornalísticos na Literatura Pré-Modernista à Contemporânea
Autor Sueli Duque da Costa
Disciplina/Área Língua Portuguesa
Escola de Implementação
do Projeto e sua localização Colégio Estadual Olavo Bilac – E.F.M.N
Município da escola Peabiru - Pr
Núcleo Regional da
Educação Campo Mourão - Pr
Professor Orientador Dr. Neil Armstrong Franco de Oliveira
Instituição de Ensino
Superior Unespar/Fecilcam
Relação Interdisciplinar -
Resumo no máximo 200
palavras
A presente Unidade Didática visa apresentar uma proposta de atividades
para incentivar os alunos do 3º ano do Ensino Médio à leitura e orientá-los
para que reconheçam as marcas/evidências do discurso jornalístico
presentes nos textos literários do período Pré-Modernista ao
Contemporâneo. O trabalho está fundamentado na teoria de Bakhtin:
dialogismo, campo; gêneros discursivos; estudos a partir da concepção
interacionista da linguagem; nas Diretrizes Curriculares da Educação
Básica de Língua Portuguesa do Estado do Paraná, nas obras literárias de
autores do Pré-Modernismo ao Contemporâneo e alguns que abordam a
linguagem jornalística na literatura. Entre outros procedimentos
metodológicos, para essa intervenção didático-pedagógica, os alunos farão
uma pesquisa no laboratório de informática sobre o contexto histórico da
literatura do Pré-Modernismo ao Contemporâneo, para preencher um
quadro comparativo com as informações mais relevantes. Na seqüência,
os alunos irão pesquisar obras literárias e autores que apresentem marcas
ou indícios de denúncias presentes em textos jornalísticos, onde deverão
preencher um quadro demonstrativo com duas obras. Finalizando as
atividades, irão analisar e identificar nos recortes das obras literárias
propostas pelo professor sobre o Pré-Modernismo ao Contemporâneo,
bem como as marcas/ evidências de denúncias do discurso jornalístico
com a finalidade de reconhecer as vozes sociais e ideológicas, como
também a intencionalidade nos diversos campos da sociedade da época.
Ao final de toda implementação, espera-se que as atividades propostas
venham a contribuir na construção do conhecimento sistematizado do
aluno e também do professor na sua prática docente, a fim de relacionar,
compreender e interpretar textos literários com mais reflexão e criticidade.
Palavras-chave Literatura; Jornalismo; Diálogo; Leitura.
Formato do Material
Didático Unidade Didática
Público Alvo Aluno do 3º ano
2
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
Fonte: Arquivo Pessoal de Sueli Duque da Costa
UNIDADE DIDÁTICA:
INDÍCIOS JORNALÍSTICOS NA LITERATURA PRÉ-MODERNISTA À
CONTEMPORÂNEA
SUELI DUQUE DA COSTA
CAMPO MOURÃO
2013
3
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIDADE DIDÁTICA:
INDÍCIOS JORNALÍSTICOS NA LITERATURA PRÉ-MODERNISTA À
CONTEMPORÂNEA
Unidade Didática apresentada à Coordenação do
Programa de Desenvolvimento Educacional PDE,
da Secretaria de Estado da Educação do Paraná,
em convênio com Universidade Estadual do Paraná
– Campus Campo Mourão como requisito para o
desenvolvimento das atividades propostas para o
período de 2013/2014, sob a orientação do Prof.
Dr. Neil Armstrong Franco de Oliveira.
CAMPO MOURÃO
2013
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 5
2 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO ............................................................................................... 6
3 PARTE – 1 .......................................................................................................................... 8
4 PARTE – 2 ........................................................................................................................ 10
5 PARTE – 3 ........................................................................................................................ 12
5.1 ATIVIDADE PROPOSTA - PRÉ – MODERNISMO ............................................ 13
5.2 ATIVIDADES PROPOSTAS - MODERNISMO - 1ª FASE .................................. 18
5.3 ATIVIDADES PROPOSTAS - MODERNISMO - 2ª FASE .................................. 24
5.4 ATIVIDADES PROPOSTAS - MODERNISMO - 3ª FASE .................................. 28
5.5 ATIVIDADE PROPOSTA - LITERATURA CONTEMPORÂNEA ..................... 34
6 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 37
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1 INTRODUÇÃO
A Produção Didático-Pedagógica a ser realizada no segundo semestre propõe
atividades desenvolvidas pelo professor, no Programa de Desenvolvimento Educacional, na
Linha de Estudo – Ensino e aprendizagem de leitura, ofertado pela Secretaria de Estado da
Educação.
A Unidade Didática contemplará o diálogo entre dois campos da linguagem: o
jornalístico e o literário, a partir de textos de diferentes escolas literárias, que pertencem ao
período que abrange o Pré-Modernismo até o Contemporâneo. Esse recorte selecionará textos
literários que abordam relatos jornalísticos, relacionados aos problemas sociais da época em
que foram produzidos. Essas atividades procuraram mostrar como alguns textos literários
possuem, na sua linguagem, marcas evidentes de outro campo da linguagem: o jornalístico. E
de que maneira esses textos estabelecem um diálogo entre a visão utilitária do jornalismo e
estética da literatura.
Diante disso, espera-se que as atividades propostas, durante a implementação
pedagógica, venham contribuir para a construção do conhecimento sistematizado do aluno,
objetivando a formação do leitor competente que em face do texto literário seja capaz de ler
esses textos de forma crítica, produzindo sentido à literatura. E também para o professor na
sua prática docente, a fim de desenvolver a capacidade de relacionar, compreender e
interpretar textos literários com mais reflexão e criticidade.
As atividades propostas serão dirigidas a uma turma de alunos do 3º ano do Ensino
Médio do Colégio Estadual Olavo Bilac – EFMN, do município de Peabiru e também aos
participantes do grupo de trabalhos em Rede - GTR, que terão a possibilidade de conhecer o
material produzido e dar sugestões sobre as atividades sugeridas.
Acreditamos que a produção desse material, Unidade Didática, dará suporte teórico e
prático à implementação do projeto de Intervenção Pedagógica na escola, onde
posteriormente, mediante a coleta e análise de dados, usaremos os mesmos na produção de
um artigo.
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2 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
O Projeto de Intervenção Pedagógica será fundamentado nos conceitos
bakhtinianos, como diálogo, campo, gêneros discursivos entre outros, nas Diretrizes
Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa do Estado do Paraná, nas obras
literárias de autores do Pré-Modernismo ao Contemporâneo e alguns autores que abordam a
linguagem jornalística na literatura.
A Unidade Didática será por abordagem de textos literários sobre fatos sociais de
diferentes épocas, com marcas ou evidências do discurso jornalístico, para dar condições ao
aluno de desenvolver sua capacidade analítica e crítica. A partir disso, esperamos que o aluno
consiga refletir e contextualizar de acordo com a realidade na qual está inserido. Para isso,
será necessário fazer no primeiro momento uma retrospectiva das escolas literárias do pré-
Modernismo ao contemporâneo.
As atividades planejadas com a literatura terão como suporte de estudo dois campos da
linguagem: o jornalístico e o literário. Para tanto utilizaremos textos literários e jornalísticos a
fim de conhecer e comparar o discurso utilizado em ambos e filmes para resgatar e vivenciar
o contexto da época.
Logo após, os alunos analisarão os recortes de textos literários, selecionados pelo
professor (romances, contos, poesias, músicas e poemas), pertencentes ao período do Pré-
Modernismo ao Contemporâneo, com a finalidade de reconhecer e identificar marcas ou
indícios de denúncias (corrupção, preconceitos, discriminação, economia, entre outros), nos
diversos campos da sociedade da época.
Essas atividades poderão levar o aluno a reconhecer vozes sociais e ideologias que
estão presentes no discurso, bem como suas intencionalidades. Muitas vezes, o aluno não
percebe esses aspectos por desconhecer a linguagem, isto é, o discurso apresentado pelo autor
e, com isso, não consegue dialogar com o texto. Nesse momento, o papel do professor será
fundamental para explicar a força ilocutória presente nos textos, mostrando ao aluno o papel
da linguagem nas mais diversas manifestações textuais e discursivas e ao mesmo tempo sua
capacidade de influenciar o comportamento das pessoas. Interagindo com esses dois campos,
o aluno poderá estar apto a construir suas próprias leituras, relacionando-as com o seu
contexto social, político, cultural,lingüístico, cognitivo e econômico.
Conforme as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa do
Estado do Paraná.
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Compreende-se a leitura como um ato dialógico, interlocutivo, que envolve
demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e
ideológicas de determinado momento. Ao ler, o indivíduo busca as suas
experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar,
religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem. (PARANÁ,
2008, p.56)
Quanto à avaliação, será de forma contínua e por meio de relatos das atividades
desenvolvidas pelos alunos, bem como pela participação e interação dos mesmos nos
trabalhos pedagógicos, propostos em sala de aula. Finalizando os trabalhos, realizaremos
também uma avaliação do projeto aplicado na intervenção, para que possamos verificar os
pontos positivos, como também as atividades que não aconteceram de forma satisfatória, a
fim de melhorá-las. Essas reflexões e análises serão consideradas na elaboração de um artigo,
com o objetivo de contribuir com sugestões de atividades que venham ao encontro das reais
necessidades dos nossos alunos, como forma de ajudá-los na construção do conhecimento
sistematizado, oportunizando a compreender, interpretar, argumentar os textos com mais
criticidade e a interagir com o discurso presente na voz do autor e com o meio em que está
inserido.
Para concluirmos a nossa prática, os alunos farão uma visita a uma empresa
jornalística da cidade de Campo Mourão com o intuito de conhecer a forma como são
produzidos os jornais.
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3 PARTE – 1
1. Contexto histórico do Pré-Modernismo ao Contemporâneo
Objetivo:
Fazer uma retrospectiva das escolas literárias do Pré-Modernismo à Contemporânea.
Professor:
A primeira parte da Implementação Pedagógica fará uma abordagem da literatura do
Pré-Modernismo à Contemporânea que serão desenvolvidas por meio de duas atividades
propostas.
1ª Atividade:
Os alunos irão assistir ao vídeo: Língua e Literatura de Faraco & Moura que faz uma
introdução das escolas literárias. Após isso, em grupo responderão alguns questionamentos
sobre o vídeo sugerido pelo professor, tais como:
- Das escolas retratadas, qual delas te chamou mais atenção?
- Em sua opinião, por que os períodos literários têm estilos diferentes?
- Das escolas literárias apresentadas, quais delas retratam questões sociais?
Exemplifique.
Fonte: Arquivo Pessoal de Sueli Duque da Costa
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2ª Atividade:
Nesta atividade, os alunos serão encaminhados ao laboratório de informática e sob a
orientação do professor deverão acessar alguns sites que fazem uma abordagem específica da
literatura Pré-Modernista à Contemporânea. Eles deverão pesquisar o contexto histórico, as
características, os autores e suas principais obras. Em seguida, em grupo, irão preencher um
quadro comparativo com as informações mais relevantes, pesquisadas nos sites.
Para finalizar esta unidade, cada grupo deverá expor, em sala de aula, aos demais
alunos o quadro comparativo, mostrando o que entenderam de cada período.
QUADRO COMPARATIVO - Pré-Modernismo ao Contemporâneo
Pré- Modernismo Modernismo Contemporâneo
Contexto Histórico
Característica dos
Períodos
Escritores
Principais Obras
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4 PARTE – 2
1. Obras e autores do período do Pré-Modernismo ao Contemporâneo
Objetivo:
Pesquisar as obras literárias do período Pré-Modernista ao Contemporâneo de autores
que apresentem marcas ou indícios de denúncias presentes em textos jornalísticos.
Professor:
Na segunda parte da Implementação Pedagógica, as atividades serão desenvolvidas
em três etapas:
1ª etapa: No laboratório de informática, os alunos em grupo buscarão em sites resumos de
duas obras literárias de autores do Pré-Modernismo ao Contemporâneo que apresentem
indícios de denúncias jornalísticas.
2ª etapa: Cada grupo trará os resumos das obras literárias e seus respectivos autores,
pesquisadas nos sites. Após isso, irão se reunir em sala de aula para analisarem e discutirem
os resumos quanto as suas semelhanças e diferenças, no que se refere às denúncias. Em
seguida, os grupos deverão apresentar para os colegas da classe.
3ª etapa: Os alunos irão preencher um quadro demonstrativo com as contribuições de cada
grupo, para terem uma visão das obras que apresentam indícios de denúncias.
Observação:
Neste momento, o professor poderá fazer as intervenções necessárias para esclarecer
quaisquer dúvidas que possam surgir durante o preenchimento do quadro.
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QUADRO DEMONSTRATIVO
Períodos Literários Autores Obras
Pré-Modernismo
Modernismo
Contemporâneo
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5 PARTE – 3
1. Recorte de obras literárias que apresentam indícios de denúncia.
Objetivos:
- Identificar e analisar as marcas/indícios do discurso jornalístico que aparecem nas
obras literárias.
- Construir uma leitura de reconhecimento das marcas discursivas que comporta os
vários campos da linguagem, para que o aluno desenvolva seu senso crítico e dessa forma
consiga argumentar, ver as intenções do autor e as ideologias nos textos que circulam no seu
cotidiano.
Professor:
Nas atividades da Implementação Pedagógica, o professor selecionará alguns recortes
das obras literárias do período do Pré-Modernismo, Modernismo e Contemporâneo. Em
seguida, os alunos irão ler e analisar os textos literários para responderem às questões
propostas. Também serão apresentadas letras de músicas e cenas de filmes complementando
as atividades propostas.
Fonte: Arquivo Pessoal de Sueli Duque da Costa - Adaptada
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5.1 ATIVIDADE PROPOSTA - PRÉ – MODERNISMO
Motivação para aula: Cena dos filmes “A guerra de
Canudos” e o “Jeca Tatu”.
<http://www.youtube.com/watch?v=kkHgU6IXOzM>
Acesso: 10/11/2013
<http://www.youtube.com/watch?v=wue5aoWUZM4>
Acesso: 10/11/2013
TEXTO I
Os sertões (fragmento)1
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços
neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a
plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo reflete no aspecto a fealdade
típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gigante e sinuoso, aparenta a translação
de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente acurvada, num manifestar de
displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se
invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para
trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a
espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança
celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das
trilhas sertanejas. E se na marcha estaca pelo motivo mais vulgar, para enrolar um cigarro, bater o
isqueiro, ou travar ligeira conversa com um amigo, cai logo - cai é o termo - de cócoras,
atravessando largo tempo numa posição de equilíbrio instável, em que todo o seu corpo fica suspenso
pelos dedos grandes dos pés, sentado sobre os calcanhares, com uma simplicidade a um tempo
ridícula e adorável.
É o homem permanentemente fatigado.
1 CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Rideel, 2000. p. 16
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Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra remorada, no
gesto contrafeito, no andar desaprumado, na cadência langorosa das modinhas, na tendência
constante à imobilidade e à quietude.
Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude.
Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização
combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer
incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormidas. O homem transfigura-se. Empertiga-
se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre
os ombros possantes, aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa
descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura
vulgar do tabaréu canhestro, reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e
potente, num desdobramento inesperado de força e agilidade extraordinárias.
Fonte: Arquivo Pessoal de Sueli Duque da Costa - Adaptada
TEXTO II
Urupês (fragmento)2
Quando Pedro I lança aos ecos o seu grito histórico e o país desperta estrovinhado à crise
duma mudança de dono, o caboclo ergue-se, espia e acocora-se de novo.
Pelo13 de maio, mal esvoaça o florido decreto da Princesa e o negro exausto larga num uf!
O cabo da enxada, o caboclo olha, coça a cabeça, ’magina e deixa que do velho mundo venha quem
nele pegue de novo.
2 LOBATO, Monteiro. Urupês. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 167 – 168.
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A 15 de Novembro troca-se um trono vitalício pela cadeira quadrienal. O país bestifica-se
ante o inopinado da mudança. O caboclo não dá pela coisa.
Vem Floriano; estouram as granadas de Custódio; Gumercindo bate às portas de Roma;
Incitatus derranca o país. O caboclo continua de cócoras, a modorrar...
Nada o esperta. Nenhum ferrotoada o põe de pé. Social, como individualmente, em todos os
atos da vida, Jeca, antes de agir, acocora-se.
Jeca Tatu é um piraquara do Paraíba, maravilhoso epítome de carne onde se resumem todas
as características da espécie.
Ei-lo que vem falar ao patrão. Entrou, saudou. Seu primeiro movimento após prender entre
os lábios a palha de milho, sacar o rolete de fumo e disparar a cusparada d’esguicho, é sentar-se
jeitosamente sobre os calcanhares. Só então destrava a língua e a inteligência.
- ―Não vê que...‖
De pé ou sentado as idéias se lhe entramam, a língua emperra e não há de dizer coisa com
coisa.
De noite, na choça de palha, acocora-se em frente ao fogo para ―aquentá-lo‖, imitado da
mulher e da prole.
Para comer, negociar uma barganha, ingerir um café, tostar um cabo de foice, fazê-lo noutra
posição será desastre infalível. Há de ser de cócoras.
Nos mercados, para onde leva a quitanda domingueira, é de cócoras, como um faquir do
Bramaputra, que vigia os cachinhos de brejaúva ou o feixe de três palmitos.
Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!
Fonte: Arquivo Pessoal de Sueli Duque da Costa - Adaptada
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Leia os textos e responda:
1)Qual é a temática apresentada nos textos I e II? Podemos dizer que a temática do texto II é
a mesma do texto I? Por quê?
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2) Observe a frase e responda as questões:
O caboclo não dá pela coisa.
a- Nesta frase, há indício de denúncia? Justifique.
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b- Quais são as palavras que materializam esta denúncia?
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c- Retire do texto I uma frase afirmativa que mostre uma característica positiva do sertanejo.
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3) Ao ler os textos, as denúncias têm o mesmo sentido? Justifique.
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4) Que tipo de denúncia os autores do Texto I e II fazem quando citam:
[...] de cócoras, atravessando largo tempo numa posição de equilíbrio [...]
[...] O caboclo continua de cócoras, a modorrar...
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5) No texto I, Euclides da Cunha faz uma denuncia sobre as características raciais . Retire
do fragmento o trecho que comprove esta denúncia.
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6) Leia o fragmento extraído do texto II.
“O caboclo continua de cócoras, a modorrar...”
O uso das aspas é muito comum nos textos jornalísticos. Qual é a sua função nesse fragmento
literário?
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7) Em qual texto o autor não utilizou as aspas ?
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8) O texto II dialoga com o texto I? Justifique sua opinião pautada nos textos.
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9) Qual o efeito de sentido do uso das vírgulas na frase abaixo?
“O sertanejo é, antes de tudo, um forte.”
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Fonte: Arquivo Pessoal de Sueli Duque da Costa - Adaptada
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5.2 ATIVIDADES PROPOSTAS - MODERNISMO - 1ª FASE
Fonte: Arquivo Empresa “Têxtil Rio Claro” – Peabiru – Adaptada
TEXTO I
Ode ao Burguês3
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
O burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
É sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampeões! os condes Joões! os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
E gemem sangue de alguns milréis fracos
Para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
E tocam os Printemps com as unhas!
...
3 ANDRADE, Mario de. Poesias Completas. São Paulo: Edusp, 1987.
³ Disponível em: <http://www.horizonte.unam.mx/brasil/mario4.html> Acesso: 23/11/2013.
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TEXTO II
Poema tirado de uma notícia de jornal4
João Gostoso era carregador de feira livre e morava
no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e
morreu afogado.
Fonte: Arquivo Pessoal de Sueli Duque da Costa - Adaptada
TEXTO III
Geração Coca-Cola5 – Renato Russo
Quando nascemos fomos programados
A receber o que vocês nos empurraram
Com os enlatados dos USA, de 9 às 6
Desde pequenos nós comemos lixo
4 BANDEIRA, Manoel. "Libertinagem". Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966. p. 117.
5 Fonte: <http://www.vagalume.com.brme.com.br/legião-urbana/geração-coca-cola.html> Acesso: 08/11/2013
20
Comercial e industrial
Mas agora chegou nossa vez
Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês.
...
Leia os textos e responda:
1) Por que o poema do texto I se intitula Ode ao Burguês e não Ódio ao Burguês ?
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2) O poema “Ode ao Burguês”, de Mário de Andrade, vai de encontro com os textos
poéticos tradicionais que ressaltavam um lirismo mais comedido? Comente.
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3) O texto I “Ode ao Burguês“,de Mário de Andrade é o nono poema da obra Paulicéia
desvairada, o qual foi lido na semana de Arte Moderna de 1922. Esse poema tem o mesmo
efeito de sentido do texto II “Poema tirado de uma notícia de jornal“ de Manuel
Bandeira?Justifique.
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4) O texto I mostra o ódio e insulto ao burguês.Comprove com versos do poema.
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5) O texto II “Poema tirado de uma notícia de jornal” tem o mesmo sentido quanto à
denúncia do texto III?
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6) Ode ao Burguês, do texto I tem o mesmo efeito de sentido de ódio ao burguês.Você
concorda com essa afirmação? Justifique sua opinião.
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7) No texto I, na 1ª estrofe, há uma agressão verbal ridicularizando o burguês.Retire o verso
que comprova essa agressão.
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8) Leia atentamente o texto I, um clássico do Modernismo brasileiro. Este texto denuncia um
tom de revolta? Como aparece esta denúncia? Comprove, pautando-se no texto.
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9) Qual é a função dos pontos de exclamações no final dos versos do texto I e a função dos
verbos no texto II?
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10) A palavra “Ode” representa no poema exaltação. Leia o poema e procure ver as marcas
ideológicas por meio de figuras de linguagem.
( ) ironia ( ) metonímia ( ) antítese ( ) pleonasmo
11) O texto III, “Geração Coca-Cola” do compositor Renato Russo procurou mostrar na letra
da música, a angústia e a revolta contra nossa sociedade que se deixava influenciar pelos
norte-americanos. Já o texto I, “Ode ao Burguês”, de Mário de Andrade, fala com sarcasmo e
revolta sobre o burguês explorador do seu tempo. Nesses dois textos há o mesmo efeito de
sentido? Justifique sua opinião com base nos textos.
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12) No texto II há uma questão social. Analise e justifique com base no texto.
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13) O texto III “Geração Coca-Cola” tem um caráter social quando denuncia a valorização
de produtos que não são nossos. Você concorda com esta afirmação? Justifique.
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14) O texto I, na 6ª estrofe, e no texto III, na 3ª estrofe faz referencia a religião. Elas têm o
mesmo efeito de sentido? Copie os versos de cada estrofe e justifique sua resposta.
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15) Na letra da música “Geração Coca-Cola”, podemos constatar a presença do capitalismo
e do consumo. Retire da 1ª estrofe essa comprovação.
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16) O texto III faz denúncia em relação ao consumismo? Em que estrofe consta esta
denúncia? Você concorda? Justifique.
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17) Pesquise na internet sobre a Geração Coca-Cola.
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18) No texto III , Renato Russo faz uso de ironia quando se refere às crianças. Copie a
estrofe que comprove esta ironia.
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19) Dos três textos I,II e III, qual deles te chamou mais atenção? Por quê?
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20) O texto II “Poema tirado de uma notícia de jornal”, tem o mesmo tom impessoal das
matérias jornalísticas. Você concorda? Por quê?
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21) O texto II nos apresenta uma pessoa com um nome comum e, além disso, tem um
subemprego (na feira). O que este texto pretende denunciar?
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22) Em quais versos mostra a ocupação e moradia de João, mostrando a sua questão
econômica ?
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23) O Texto II propõe uma reflexão sobre as dificuldades da vida e sobre a trajetória
humana. Dê sua opinião pelo conhecimento que você tem de mundo.
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24) Observe o texto II. Que outro gênero textual ele apresenta?
( ) lenda ( ) crônica ( ) notícia
5.3 ATIVIDADES PROPOSTAS - MODERNISMO - 2ª FASE
PROFESSOR:
Nesta atividade os alunos deverão assistir a cena de um filme que fala sobre o menor
infrator e um clipe do compositor Tijolo com a música “Hino da Cidadania”, antes de
trabalhar o fragmento da obra “Capitães da Areia de Jorge Amado”.
<http://www.youtube.com/watch?v=OZHS_I0YvEA> Acesso: 10/11/2013
<http://www.youtube.com/watch?v=vA2z2S907TU> Acesso: 10/11/2013
Fonte: Arquivo Pessoal de Sueli Duque da Costa
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TEXTO I
CRIANÇAS LADRONAS6
AS AVENTURAS SINISTRAS DOS ―CAPITÃES DA AREIA‖ --- A CIDADE INFESTADA
POR CRIANÇAS QUE VIVEM DO FURTO --- URGE UMA PROVIDÊNCIA DO JUIZ DE
MENORES E DO CHEFE DE POLÍCIA --- ONTEM HOUVE MAIS UM ASSALTO
Já por várias vezes o nosso jornal, que é sem dúvida o órgão das mais legítimas aspirações da
população baiana, tem trazido notícias sobre a atividade criminosa dos ―Capitães da Areia‖, nome
pelo qual é conhecido o grupo de meninos assaltantes e ladrões que infestam a nossa urbe. Essas
crianças que tão cedo se dedicaram à tenebrosa carreira do crime não têm moradia certa ou pelo
menos a sua moradia ainda não foi localizada. Como também ainda não foi localizado o local onde
escondem o produto dos seus assaltos, que se tornam diários, fazendo jus a uma imediata providência
do Juiz de Menores e do dr. Chefe de Polícia.
Esse bando que vive da rapina se compõe, pelo que se sabe, de um número superior a 100
crianças das mais diversas idades, indo desde os 8 aos 16 anos. Crianças que, naturalmente devido
ao desprezo dado à sua educação por pais pouco servidos de sentimentos cristãos, se entregaram no
verdor dos anos a uma vida criminosa. São chamados de ―Capitães da Areia‖ porque o cais é o seu
quartel-general. E têm por comandante um molecote dos seus 14 anos, que é o mais terrível de todos,
não só ladrão, como já autor de um crime de ferimentos graves, praticado na tarde de ontem.
Infelizmente a identidade deste chefe é desconhecida.
O que se faz necessário é uma urgente providência da polícia e do juizado de menores no
sentido da extinção desse bando e para que recolham esses precoces criminosos, que já não deixam a
cidade dormir em paz o seu sono tão merecido, aos institutos de reforma de crianças ou às prisões.
Leia o texto e responda:
1) No fragmento proposto da obra “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, há indícios do
texto jornalístico. Encontre-o e copie.
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2) Observe o título que abre o capítulo da obra “Capitães da Areia”: Crianças Ladronas.
Esse título seria pertinente numa manchete no texto de jornal? Por quê?
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6 AMADO, Jorge. Capitães de Areia. Rio de Janeiro: Record. 1995. p. 3-4
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3) Qual a posição do narrador no texto ? Ele é impessoal? Justifique.
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4) Em sua opinião como deve ser a postura de um redator ao produzir uma matéria para um
jornal?
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5) Observe o enunciado: “ Esse bando que vive da rapina”. Que efeito de sentido teria, caso
essa fala fosse substituída por: “Esses meninos que vivem de pequenos furtos”. Comente.
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6)Segundo o narrador de quem é a culpa dos meninos terem tornado-se marginais?
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7) A palavra bando faz referência a quem no texto? O uso insistente desse vocábulo serve
para marcar algo? Comente.
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8) O apelido “Capitães da Areia” que os meninos receberam é usado para expressar sua
condição de marginais, ou tem outra leitura possível ? Dê a sua opinião.
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9) Você concorda com o narrador quando pede uma providência do juiz de menores e do
chefe de polícia ? Em sua opinião a solução desse problema social está nas mãos das
autoridades mencionadas anteriormente? Expresse o que você pensa a esse respeito.
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10) A cena do filme Policial e o clipe da música” Hino da cidadania “ dialogam com a
obra “Capitães da Areia” de Jorge Amado? Elas também marcam indícios de denúncia?
Comente.
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11) Quais foram os gêneros trabalhados nesta atividade?
( ) conto ( ) canção ( ) filme ( ) romance ( ) reportagem
12) No seu ponto de vista, a cena do filme faz uma denúncia do menor infrator? Comente.
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13) A música “Hino da cidadania “de Tijolo, aborda uma questão social . Na sua opinião, o
que deveria ser feito para que não houvessem esses problemas em nossa sociedade?
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5.4 ATIVIDADES PROPOSTAS - MODERNISMO - 3ª FASE
Motivação:
Clipe da Música “Funeral de um Lavrador” de Chico Buarque de Holanda, disponível
no site: <http://www.youtube.com/watch?v=BnVbz6dtgg0>.
Fonte: Arquivo Pessoal de Sueli Duque da Costa - Adaptada
TEXTO I
Morte e vida Severina (fragmento da peça)7
[O RETIRANTE]
ASSISTE AO ENTERRO DE UM TRABALHADOR DE EITO E OUVE O QUE DIZEM
DO MORTO OS AMIGOS QUE O LEVARAM AO CEMITÉRIO
- Essa cova em que estás,
com palmos medida,
7 NETO, João Cabral de Melo. Serial e antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p.159-161.
7 Disponível <http://www.releituras.com/joaocabral_morte.asp> Acesso em 23/11/2013.
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é a conta menor
que tiraste em vida.
- É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
deste latifúndio.
- Não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
- É uma cova grande
para teu pouco defunto,
mas estarás mais ancho
que estavas no mundo.
- É uma cova grande
para teu defunto parco,
porém mais que no mundo
te sentirás largo.
- É uma cova grande
para tua carne pouca,
mas a terra dada
não se abre a boca.
...
TEXTO II
Fonte: Arquivo Pessoal de Sueli Duque da Costa - Adaptada
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A Hora da Estrela8
Fragmento -1
Nascera inteiramente raquítica, herança do sertão — os maus antecedentes de que falei. Com
dois anos de idade lhe haviam morrido os pais de febres ruins no sertão de Alagoas, lá onde o diabo
perdera as botas. Muito depois fora para Maceió com a tia beata, única parenta sua no mundo. Uma
outra vez se lembrava de coisa esquecida. Por exemplo a tia lhe dando cascudos no alto da cabeça
porque o cocuruto de uma cabeça devia ser, imaginava a tia, um ponto vital. Dava-lhe sempre com os
nós dos dedos na cabeça de ossos fracos por falta de cálcio. Batia mas não era somente porque ao
bater gozava de grande prazer sensual — tia que não se casara por nojo – é que também considerava
de dever seu evitar que a menina viesse um dia a ser uma dessas moças que em Maceió ficavam nas
ruas de cigarro aceso esperando homem. Embora a menina não tivesse dado mostras de no futuro vir
a ser vagabunda de rua. Pois até mesmo o fato de vir a ser mulher não parecia pertencer à sua
vocação. A mulherice só lhe nasceria tarde porque até no capim vagabundo há desejo de sol. As
pancadas ela esquecia, pois esperando-se um pouco a dor termina por passar. Mas o que doía mais
era ser privada da sobremesa de todos os dias: goiabada com queijo, a única paixão na vida. Pois
não era que esse castigo se tornara o predileto da tia sabida? A menina não perguntava por que era
sempre castigada, mas nem tudo se precisa saber e não saber fazia parte importante de sua vida.
Esse não-saber pode parecer ruim mas não é tanto porque ela sabia muita coisa assim como
ninguém ensina cachorro a abanar o rabo e nem a pessoa a sentir fome; nasce-se e fica-se logo
sabendo. Assim como ninguém lhe ensinaria um dia a morrer: na certa morreria um dia como se
antes tivesse estudado de cor a representação do papel de estrela. Pois na hora da morte a pessoa se
torna brilhante estrela de cinema, é o instante de glória de cada um e é quando como no canto coral
se ouvem agudos sibilantes.
Fragmento - 2
Ele...
Ele se aproximou e com voz cantante de nordestino que a emocionou, perguntou-lhe:
--- E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear?
--- Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa antes que ele mudasse de idéia.
--- E, se me permite, qual é mesmo a sua graça?
--- Macabéa.
--- Maca --- o quê?
--- Bea, foi ela obrigada a completar.
--- Me desculpe, mas até parece doença, doença de pele.
8 LISPECTOR, Clarice. A hora da Estrela. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1990.
Fragmento 1 p. 43-44 e Fragmento 2 p. 59-60
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--- Eu também acho esquisito, mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte
se eu vingasse, até um ano de idade eu não era chamada porque não tinha nome, eu preferia
continuar a nunca ser chamada em vez de ter um nome que ninguém tem mas parece que deu certo ---
parou um instante retomando o fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor --- pois como o
senhor vê eu vinguei...pois é...
--- Também no sertão da Paraíba promessa é questão de grande dívida de honra.
Leia com atenção os textos e responda:
Observe o enunciado do texto I e responda:
1) Quem faz os comentários sobre o morto a caminho do cemitério?
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2) Quem assiste ao enterro de um trabalhador sendo levado ao cemitério por seus amigos,
na peça”Morte e Vida Severina”?
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3) O poeta aborda na peça “Morte e Vida Severina” um conflito social. Qual? Comente,
pautando-se nos comentários dos amigos.
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3) Nesse contexto, como está sendo retratado o sertanejo que luta pela terra?
Em sua opinião, atualmente, temos casos parecidos? Comente.
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4) Releia o trecho da peça:
é a parte que te cabe
deste latifúndio
...
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é a terra que queria
ver dividida
O que o poeta procura denunciar com esses versos?
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5) A palavra ancho e eito tem o mesmo efeito de sentido no texto? Justifique.
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4) De acordo com o texto, você percebe o sofrimento do sertanejo?Comente.
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5) Nessa peça há denúncia dos amigos ao fazerem comentários sobre a maneira como os
patrões tratam seus empregados. Retire um trecho que comprove esta afirmação. No seu ponto
de vista, como você vê esta questão social?
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6) A peça “Morte e Vida Severina“ de João Cabral Melo Neto, denuncia a vida sofrida do
sertanejo ,retratando sua condição de vida. Verifique se no texto II, um fragmento da obra “
A Hora da Estrela” de Clarice Lispector também faz esta abordagem? Comente.
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7) Transcreva uma passagem do texto II que justifique sua resposta à questão anterior.
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8) O texto II e III dialogam com o texto I? Explique.
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9) Sabemos que o nome, de certo modo, pode indicar nossas origens e até posição social.
Indique no texto uma comparação feita ao nome de Macabéa.
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10) Diante da representação da personagem Macabéa, podemos ter uma visão do seu atraso ,
pela maneira como foi criada?Comente.
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11) Leia esse relato que Clarice Lispector menciona:
“A menina não perguntava por que era sempre castigada, mas nem tudo se precisa
saber, não saber fazia parte importante de sua vida.”
Pautando-se nesse relato podemos dizer que isso acontece em nossa sociedade, onde há vários
Severinos que não questionam e aceitam sua condição de vida? Comente.
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12) Para você , o saber é importante? Por quê?
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13) O texto III tem um trecho que diz:
Também no sertão da Paraíba promessa é questão de grande dívida de honra.
Com o conhecimento de mundo que você tem isso acontece em nossa sociedade? Comente.
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5.5 ATIVIDADE PROPOSTA - LITERATURA CONTEMPORÂNEA
Fonte: Arquivo Pessoal de Sueli Duque da Costa
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Motivação: Vídeo sobre o poema “Não há vagas” e Vídeo “Milho aos pombos” de Zé Geraldo
ressaltando a Desigualdade Social, disponível nos links abaixo:
<http://www.youtube.com/watch?v=4ST14B8IoV0> Acesso: 10/11/2013
<http://www.youtube.com/watch?v=HzasUyYX3-k> Acesso: 10/11/2013
<http://barbaramor.wordpress.com/> Acesso: 10/11/2013
TEXTO I
Não há vagas9
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
...
Leia o poema e responda as questões:
1) Observe o início do poema: “O preço do
feijão”. Neste verso há indícios de denúncia?
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2) A quem se refere o eu lírico no poema?
Comprove com um verso da 6ª estrofe.
9 GULLAR, Ferreira. Toda Poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. p. 224.
9 Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/035/35cult_poesia.htm> Acesso em: 23/11/2013
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3) Na 5ª estrofe, o que o poeta quer denunciar ? Comente.
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4) O poeta Ferreira Gullar pertenceu a geração de 1945. Diante desse fato, e analisando o
poema, o que ele quis dizer com: “Não fede e nem cheira”. Comente.
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5) O poema de Ferreira Gullar marca um tipo de discurso. Identifique-o usando a
materialidade discursiva do poema.
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6) Diante da leitura do poema de Ferreira Gullar, é pertinente dizer que o assunto do texto
é comum em nossa sociedade? Comente.
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7) Qual é o efeito de sentido das aspas no verso “não cabe no poema”?
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8) Que possibilidades de leitura é possível ao considerarmos as condições de sobrevivência
do trabalhador em nossa sociedade atual?
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Fonte: Arquivo Pessoal de Sueli Duque da Costa
6 REFERÊNCIAS
AMADO, Jorge. Capitães de Areia. Rio de Janeiro: Record. 1995. p. 3-4
ANDRADE, Mario de. Poesias Completas. São Paulo: Edusp, 1987.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal: introdução e tradução do russo Paulo Bezerra;
prefácio à edição francesa Tzvetan Todorov.- 4ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BANDEIRA, Manoel. "Libertinagem". Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1966. p. 117.
BULHÕES, M. M. Jornalismo e literatura em convergência. São Paulo: Ática, 2007.
216p.: Il.
CABRAL, M. Linguagem Literária e Não Literária. Disponível em:
<www.brasilescola.com/literatura/linguagem-literaria-nãoliteraria.htm>. Acesso em: 09 junho
de 2013.
CASTRO, G.; GALENO, A. Jornalismo e literatura: a sedução da palavra. São Paulo:
Escrituras, 2002.
COSSON, R. Romance-reportagem: o império contaminado. In CASTRO, G.; GALENO,
A. Jornalismo e literatura: a sedução da palavra. São Paulo: Escrituras, 2002. p. 57-70.
CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Rideel, 2000. p. 16
FARACO, C. A. Linguagem & Diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São
Paulo: Parábola, 2009.
Fragmento 1 p. 43-44 e Fragmento 2 p. 59-60
38
GERAÇÃO COCA COLA. Disponível em: <http://www.vagalume.com.brme.com.br/legião-
urbana/geração-coca-cola.html> Acesso: 08/11/2013
GULLAR, Ferreira. Toda Poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. p. 224.
LAGE, N. Linguagem Jornalística. 7ª ed. – São Paulo: Ática, 2001.
LISPECTOR, Clarice. A hora da Estrela. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1990.
LOBATO, Monteiro. Urupês. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 167 – 168.
NETO, João Cabral de Melo. Serial e antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p.159-
161.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação básica
do Paraná. Curitiba: SEED, 2008.
PENA, F. Jornalismo literário. – 2ªed.- São Paulo: Contexto, 2011.
PROENÇA FILHO, D. A Linguagem Literária. 4ª Ed. – São Paulo: Ática, 1992.
SILVA, E. T. da. Elementos de pedagogia da leitura. -3ª ed.- São Paulo: Martins Fontes,
1998. (Texto e Linguagem)
SILVA, J. M. O que escrever quer calar? Literatura e jornalismo. In CASTRO, G.;
GALENO, A. Jornalismo e literatura: a sedução da palavra. São Paulo: Escrituras, 2002. p.
47-52.
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.