os desafios da escola pÚblica paranaense na … · este caderno pedagógico resulta de uma...
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OS DESAFIOS DA ESCOLA PBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produes Didtico-Pedaggicas
Verso Online ISBN 978-85-8015-079-7Cadernos PDE
II
GOVERNO DO ESTADO DO PARAN SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL- PDE UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARAN - UENP
CAMPUS DE CORNLIO PROCPIO
CADERNO PEDAGGICO
NARRATIVAS CONTEMPORNEAS EM SALA
DE AULA: SEQUNCIAS DIDTICAS DE
LEITURA LITERATURA
Organizadores:
Cleide de Ftima Vitorino da Silva
Katia Cristina Cunha Ogata Gislaine Bezerra
Valdirene Ortiz de Oliveira
Ana Paula Franco Nobile Brandileone Vanderlia da Silva 0liveira
CORNLIO PROCPIO - PARAN 2014
SUMRIO
APRESENTAO Ana Paula Franco Nobile Brandilone e Vanderlia da Silva Oliveira
SEQUNCIA EXPANDIDA DE LEITURA LITERRIA: O Filho Eterno, de Cristovo Tezza UNIDADE 1 Katia Cristina Cunha Ogata
SEQUNCIA EXPANDIDA DE LEITURA LITERRIA: Galilia, de Ronaldo Correia Brito UNIDADE 2 Gislaine Bezerra
NARRATIVA CONTEMPORNEA E A FORMAO DO LEITOR: TODOS
CONTRA O BULLYING
UNIDADE 3 Valdirene Ortiz de Oliveira
LETRAMENTO LITERRIO E NARRATIVA CONTEMPORNEA: CONTEMPLANDO OS CONFLITOS DA ADOLESCNCIA UNIDADE 4 Cleide de Ftima Vitorino da Silva
APRESENTAO
Este Caderno Pedaggico resulta de uma proposta apresentada a quatro
professoras vinculadas ao PDE, turma 2014. Apresentam-se aqui as unidades
didticas por elas elaboradas e que propem abordagem do texto literrio, a fim de
indicar possibilidades de trabalho em sala de aula.
No percurso da produo deste caderno, destacamos que as autoras
fizeram abordagens tericas sobre conceito de leitura, sobre literatura e suas
funes, vinculando-as ao espao escolar, alm de investigao sobre gneros
textuais e metodologias de ensino. Do mesmo modo, foram respeitados os princpios
norteadores estabelecidos pelas Diretrizes Curriculares de Lngua Portuguesa
para a Educao Bsica (SEED-PR, 2008), tendo em vista o desejo de que este
caderno possa servir de apoio aos docentes da rede bsica que possam se
interessar por propostas reais de letramento literrio.
Para cada unidade, as autoras escolheram um autor e obra do cenrio da
literatura brasileira contempornea para elaborarem Sequncias Expandidas de
leitura, conforme prope Cosson (2012)1. O resultado, portanto, evidencia quatro
unidades que se complementam. Na primeira delas, intitulada Sequncia Expandida
de Leitura Literria: O Filho Eterno, de Cristovo Tezza, Katia Cristina Cunha
Ogata toma como objeto de anlise o gnero romance, a partir da obra publicada em
2013. Segundo ela, [...] um romance contemporneo que aborda assuntos que
podero servir de inspirao aos alunos, podendo tambm promover um novo
conhecimento de mundo e trazer mudanas de sua viso acerca dos grandes
problemas da sociedade e de seus prprios conflitos pessoais.
Na sequncia, Gislaine Bezerra, sob o ttulo Sequncia expandida de leitura
literria: Galilia, de Ronaldo Correia Brito, o foco o romance, publicado em 2009,
para discutir temas voltados ao conceito de pertencimento, vinculado ao conceito de
imigrao, vez que o romance apresenta uma narrativa [...] extremamente
arrebatadora, envolvendo trs primos que atravessam o serto para visitar seu av,
patriarca, que definha na sede da fazenda [...].
Valdirene Ortiz de Oliveira, na terceira unidade, intitulada Narrativa
1 COSSON, Rildo. Letramento literrio: teoria e prtica. 2. ed. So Paulo: Contexto, 2012.
contempornea e a formao do leitor: todos contra o bullying, elegeu a obra Todos
conta D@nte, de Lus Dill, publicada em 2008, a fim de estabelecer conexes entre
a inveno ficcional e os alunos, ressaltando os reflexos da violncia do mundo
narrado na arquitetura ficcional, bem como os resultados estticos de tal relao.
Para a professora, o trabalho busca oferecer ao jovem leitor uma abordagem crtica
do romance em questo, que atravs dos personagens, temtica e projeto grfico
inovador, gera o processo de identificao do sujeito com os elementos da realidade
representada, motivando o prazer da leitura.
Por fim, Cleide de Ftima Vitorino da Silva completa o caderno com o ttulo
Letramento literrio e narrativa contempornea: contemplando os conflitos da
adolescncia. Segundo Cleide, dever da escola e nosso promover debates em
sala de aula, abordando temas que levantem questes significativas para os alunos:
seja pela linguagem, seja pelo ambiente, pelos caracteres das personagens, pelos
problemas colocados. No por outra razo, afirma a docente, que Lis no Peito:
um livro que pede perdo, de Jorge Marinho, (2006), foi selecionada para compor
este Caderno Pedaggico, uma vez que trata e discute temas e conflitos presentes
na adolescncia, como incertezas, solido e dvidas.
As quatro unidades didticas objetivam dar a conhecer ao aluno leitor um
conjunto textos contemporneos que, por tratarem de temas prximos realidade do
leitor, operam de modo a contribuir para o crescimento pessoal e cultural dos alunos
que, por meio da leitura, prepara-os e integra-os ao mundo, de modo a serem
capazes de viver em equilbrio com a realidade. Importante destacar que o
atendimento aos interesses imediatos do leitor apenas o primeiro passo de uma
trajetria que oportunizar maiores mudanas nos leitores, isto , trazendo uma
nova perspectiva da realidade - ampliao do seu horizonte de expectativas -, seja
em termos de literatura e/ou de vivncia cultural: A misso apenas ser completa se
esse mesmo sujeito for motivado a trilhar outros caminhos, o do texto literrio, a
partir de seus diversos gneros (PINHEIRO, 2011, p.319)2.
Vanderlia da Silva Oliveira Ana Paula Franco Nobile Brandileone
Professoras orientadoras
2 PINHEIRO, Alexandra Santos. Letramento literrio: da escola para o social e do social para a escola. In: GONALVES, Adair Vieira; PINHEIRO, Alexandra Santos. Nas trilhas do letramento: entre teoria, prtica e formao docente. Campinas: Mercado das Letras, 2011. p. 299-320.
FICHA PARA IDENTIFICAO
PRODUO DIDTICO PEDAGGICA TURMA - PDE/2014
TTULO: SEQUNCIA EXPANDIDA DE LEITURA LITERRIA: O FILHO ETERNO DE CRISTVO TEZZA.
Autor: Ktia Cristina Cunha Ogata
Disciplina/rea: Lngua Portuguesa/ Literatura
Escola de Implementao do Projeto e sua localizao:
Colgio Estadual Floriano Landgraf - EFM
Municpio da escola: Santo Antnio do Paraso - Paran
Ncleo Regional de Educao: Cornlio Procpio
Professor Orientador: Prof. Dra. Vanderlia da Silva Oliveira
Instituio de Ensino Superior: UENP
Relao Interdisciplinar: Arte e Filosofia.
Resumo: Reconhecendo que o ensino de literatura nas salas de aula esta, de modo geral, pautado no estudo da historiografia literria, o presente material tem por finalidade apresentar aos alunos do 3 ano do Ensino Mdio uma obra contempornea, O filho eterno, de Cristvo Tezza, a partir da sequncia expandida de leitura, sistematizada por Rildo Cosson (2013).
A partir dessa realidade escolar, vemos uma oportunidade de mudar, ou ao menos comear a mudana, a fim de que um novo olhar permeie a abordagem da literatura nas salas de aula.
importante reconhecer que o verdadeiro saber literrio necessita da escola para concretizar sua prtica, pois a mera leitura de textos literrios no produz o efeito de humanizao que se busca, envolvendo o prazer da leitura sem esquecer o compromisso do conhecimento que o saber necessita.
Palavras-chave: Letramento literatura obra contempornea.
Formato do Material Didtico: Unidade didtica (parte do Caderno Pedaggico intitulado Narrativas contemporneas em sala de aula: sequncias didticas de leitura literatura)
Pblico Alunos do 3 ano do Ensino Mdio.
Unidade 1
SEQUNCIA
EXPANDIDA DE
LEITURA
LITERRIA: O
FILHO ETERNO, DE
CRISTVO TEZZA.
KATIA CRISTINA CUNHA OGATA
CONVERSA COM O PROFESSOR
Participamos em nosso cotidiano de diversas situaes comunicativas, nas
mais variadas esferas sociais, numa aula, numa conversa informal, na redao e
envio de uma carta, de um bilhete ou email, e tambm por meio de uma notcia que
lemos. Isto prova que somos seres sociais e fazemos parte de uma sociedade na
qual a linguagem est em toda parte. Desde crianas j estamos em contato com as
diversas formas de comunicao, a partir das quais interagimos com o mundo e com
as pessoas que nos cercam.
A partir do momento em que somos introduzidos em uma comunidade escolar
cabe escola nos tornar leitores competentes e ativos na sociedade da qual
fazemos parte. So justamente os profissionais da educao que devero dar
condies para o desenvolvimento em cada indivduo do interesse e das habilidades
de leitura. Ao professor de Lngua Portuguesa e Literatura cabe oportunizar aos
alunos o letramento literrio e o acesso aos gneros mais variados que os rodeiam
em todas as esferas comunicativas.
Quanto ao papel da escola, cabe a ela a tarefa de efetivar o letramento nos
educandos, pois, conforme registram as Diretrizes Curriculares da rea de Lngua
Portuguesa,
(...) preciso que a escola seja um espao que promova, por meio de uma gama de textos com diferentes funes sociais, o letramento do aluno, para que ele se envolva nas prticas de uso da lngua- sejam de leitura, oralidade e escrita. (PARAN, 2008, p.50)
Diante da realidade em que nos encontramos, na qual formar nossos alunos
em leitores tarefa extremamente complexa, proponho aqui uma sistematizao de
leitura chamada Sequncia Expandida, opo esta que resultou da leitura do livro
Letramento Literrio: teoria e prtica, de Rildo Cosson (2014). A proposta
apresenta vrias etapas, que chama por um ensino de literatura mais eficaz e
significativo, dando ao educando a possibilidade de tornar a leitura completa e
significativa, promovendo o letramento literrio.
Para a efetivao do trabalho proponho a leitura do livro O filho eterno, de
Cristvo Tezza (2013), um romance contemporneo que aborda assuntos que
podero servir de inspirao aos alunos, podendo tambm promover um novo
conhecimento de mundo e trazer mudanas de sua viso acerca dos grandes
problemas da sociedade e de seus prprios conflitos pessoais.
A ns, professores desta gerao to moderna e conectada a um mundo
virtual, cabe a busca pelo desenvolvimento de atividades que contribuam para o
aperfeioamento e a formao de leitores e escritores que possam lidar com as
exigncias da sociedade contempornea, buscando, cada dia mais, o acesso aos
saberes necessrios para o exerccio da cidadania. Convido-os, pois, a vivenciarem
comigo esta proposta didtica.
FUNDAMENTAO TERICA
Sabemos que enfrentamos em sala de aula muitos obstculos que impedem a
efetivao da aprendizagem. Vemos nossos alunos desmotivados, sem interesse em
nossas aulas, e chegamos concluso de que nossa prtica pedaggica est
distante da realidade de suas realidades. necessrio, pois, repensar nossa prtica
diante dos problemas que esto a nossa frente, de modo a refletir, por exemplo,
sobre certos conceitos quanto leitura e literatura. Recorrendo s Diretrizes
Curriculares da rea de Lngua Portuguesa em nosso sistema estadual de ensino,
por exemplo, verificaremos que:
Toda palavra comporta duas faces. Ela determinada tanto pelo fato de que
procede de algum, como pelo fato de que se dirige a algum. Ela constitui
justamente o produto da interao do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve
de expresso a um em relao ao outro. [...] A palavra territrio comum do
locutor e do interlocutor. (BAKHTIN/ VOLOCHINOV, 1999, p. 113 apud
PARAN, 2008, p. 49).
preciso, portanto, conhecer e respeitar esse aluno que traz suas
palavras carregadas de um contedo ideolgico, porque ele traz consigo toda
cultura familiar e social de seu contexto, cabendo a ns, professores, a percepo
dessas diversas vozes sociais que se encontram no ambiente escolar e, a partir dai,
Saber avaliar as relaes entre as atividades de falar, ler e de escrever, todas elas prticas discursivas, todas elas usos da lngua, nenhuma delas secundria em relao a qualquer outra, e cada uma delas particularmente configurada em cada espao em que seja posta como objeto de reflexo [...] (NEVES, 2003, p. 89 apud PARAN, 2008, p. 50).
Por meio desta realidade vemos o quanto precisamos desenvolver em
nossos alunos o hbito da leitura. O desenvolvimento da capacidade leitora
fundamental para a aquisio de conhecimento sendo necessrio que o professor
busque novas alternativas, sobretudo com embasamento terico, para firmar sua
prtica em sala. Aguiar e Bordini, ao proporem uma prtica de leitura pautada na
obra literria, destacam, por exemplo, que:
[Ela] pode ser entendida como uma tomada de conscincia do mundo concreto que se caracteriza pelo sentido humano dado a esse mundo pelo autor. Assim, no um mero reflexo na mente, que se traduz em palavras, mas o resultado de uma interao ao mesmo tempo receptiva e criadora. Essa interao se processa atravs da mediao da linguagem verbal, escrita ou falada. O texto produzido, graas a essa natureza verbal, permite o estabelecimento de trocas comunicativas dentro dos grupos sociais, pondo em circulao esse sentido humano. (AGUIAR, BORDINI, 1988, p. 14).
Buscando esta humanizao que a literatura pode promover no ser
humano, que a leitura literria dever ter um papel prioritrio em sala de aula, com
mtodos e prticas relevantes para a concretizao desse ideal. Aqui, nesta
proposta, a partir da leitura de um romance contemporneo, pretende-se justamente
abordar certas relaes familiares e sociais, por exemplo, discutindo-se a questo
existencial e temporal da vida e dos objetivos que buscamos ao longo desse
processo. Sob este aspecto, busca-se confirmar o que Antonio Candido argumenta
em torno do papel humanizador da literatura: A literatura confirma e nega, prope e
denuncia, apoia e combate, fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente
os problemas (1995, p. 243).
Entretanto, necessrio que possamos transformar nossa prtica de
leitura literria, que no nos restrinjamos ao currculo, aos contedos bimestrais,
pois a literatura no pode ser ensinada, ela tem que ser descoberta na relao
aluno-professor a cada aula. Que possamos adquirir ou mesmo redescobrir o hbito
de estudar e ler, mesmo em meio a diversos obstculos presentes no cotidiano
escolar, pois todos devem ser, antes de tudo, leitores. Umberto Eco chama ateno
para a importncia do exerccio da leitura literria, ao afirmar o que segue.
A leitura das obras literrias nos obriga a um exerccio de fidelidade e de
respeito na liberdade de interpretao. H uma perigosa heresia crtica, tpica
dos nossos dias, para qual de uma obra literria pode-se fazer o que se
queira, nela lendo aquilo que os nossos mais incontrolveis impulsos nos
sugerirem. No verdade. As obras literrias nos convidam liberdade de
interpretao, pois propem um discurso com muitos planos de leitura e nos
colocam diante das ambiguidades da linguagem e da vida. Mas para poder
seguir neste jogo, no qual cada gerao l as obras literrias de modo
diverso, preciso ser movido por um profundo respeito para aquela que eu,
alhures, chamei de inteno do texto. (ECO, 2003, p. 12).
evidente, como consequncia, a importncia da mediao do professor para
modificar a realidade vigente no que se refere formao do leitor, com
competncia. Para isso, necessitamos de segurana para conduzir nossas aulas,
vez que educar uma forma de intervir no mundo. Para Todorov, discorrendo sobre
a importncia da leitura literria,
A literatura pode muito. Ela pode nos estender a mo quando estamos profundamente deprimidos, nos tornar ainda mais prximos dos outros seres humanos que nos cercam, nos fazer compreender melhor o mundo e nos ajudar a viver. No que ela seja, antes de tudo, uma tcnica de cuidados para com a alma; porm, revelao do mundo, ela pode tambm, em seu percurso, nos transformar a cada um de ns a partir de dentro. (TODOROV, 2009, p. 76).
Fica claro que cabe a ns educadores suscitar reflexes acerca das
situaes do cotidiano escolar, repensando a educao e buscando embasar nossa
prtica em teorias capazes de produzir frutos consistentes para reverter essa
situao, fazendo com que os textos literrios possam romper barreiras e ligar as
geraes, permitindo ao leitor perceber e agir no mundo que o cerca.
Para que possamos promover a aprendizagem em sala de aula
necessria uma metodologia de trabalho pautada numa teoria consistente e
articulada com as diretrizes estaduais da rea. Cosson (2014) defende a ideia de
que o letramento literrio diferente da leitura por fruio, apesar de estarem
interligados. Ressalta, ainda, que a literatura deve ser ensinada na escola, que
devemos compreender que o letramento literrio uma prtica social, assim,
responsabilidade dela, o que vem ao encontro do proposto pela SEED/PR:
O trabalho com a literatura potencializa uma prtica diferenciada com o Contedo Estruturante da Lngua Portuguesa (o Discurso como prtica social) e constitui forte influxo capaz de fazer aprimorar o pensamento trazendo sabor ao saber. (PARAN, 2008, p. 77).
Que possamos, ento, promover condies sociais e culturais para que
se efetive uma escolarizao real. Afinal, no basta saber ler e escrever, preciso
levar nosso aluno a organizar reflexivamente seu pensamento, tomando conscincia
da realidade que o cerca, transformando-a.
Nessa perspectiva, espera-se que a escola proporcione a todos os
alunos oportunidades de conhecimento, isto , que d acesso aos letramentos
relacionados leitura, especificamente leitura literria.
No que se refere leitura, as Diretrizes Curriculares de Lngua
Portuguesa (PARAN, 2008) afirmam que ela um ato dialgico, interlocutivo,
que envolve demandas sociais, histricas, polticas, econmicas, pedaggicas e
ideolgicas de determinado momento (p. 56). Conclumos, ento, que a leitura
muito mais que mera decodificao, pois se confronta com o prprio saber do leitor,
perpassa as esferas sociais e promove a atuao do indivduo com competncia.
Segundo Cosson (2014, p.16), no exerccio da leitura e da escrita de
textos literrios que se desvela a arbitrariedade das regras impostas pelos discursos
padronizados da sociedade letrada e se constri um modo prprio de se fazer dono
da linguagem que, sendo minha, tambm de todos ns. Neste contexto, que
devemos pensar nossas aulas de literatura. Para tanto, apresento esta proposta.
ENCAMINHAMENTO METODOLGICO
Sabemos que a leitura de obras literrias uma prtica essencial para a
formao de leitores. Nosso objetivo o de que os alunos tornem-se leitores
intelectualmente autnomos e humanizados. Assim, partindo de estudos tericos,
utilizo a proposta de Rildo Cosson em Letramento Literrio: Teoria e prtica
(2014), denominada Sequncia expandida, constituda por quatro etapas:
motivao, introduo, leitura, 1 interpretao, Contextualizao e Expanso.
Na motivao, cabe ao professor elaborar questes desafiadoras aos alunos
a fim de que os mesmos se posicionem com relao ao tema que ser abordado na
obra lida. O que importa nesse momento despertar a curiosidade dos alunos. No
momento da introduo interessante apresentar o autor e a obra (informaes
bsicas), destacando-se a importncia da mesma naquele momento. A leitura
requer o acompanhamento do professor, auxiliando os alunos nas dificuldades que
possam surgir com a leitura, como vocabulrio, ritmo de leitura, linguagem
metafrica, etc. A interpretao acontece em dois momentos: o primeiro serve para
que o aluno apresente uma viso global da obra trabalhada, uma atividade que
ocorre dentro da sala de aula, uma resposta do aluno a tudo o que ele leu e
entendeu sobre a obra e a temtica que foi direcionada das leituras realizadas; o
segundo momento da interpretao um aprofundamento de um aspecto do texto
que seja mais pertinente segundo ao que prope o professor. Na sequncia
expandida, acrescenta-se a expanso, que oportuniza o dilogo entre duas ou mais
obras, sendo, ento, um trabalho comparativo.
Cada uma das etapas compreende um passo especifico para a construo do
letramento literrio. Na motivao o momento em que o professor comea a
despertar o interesse do aluno pela obra a ser trabalhada. Esta uma etapa de
preparao, da temtica e da forma textual da obra central a ser explorada. Em
seguida, passa-se para a introduo, na qual so apresentados dados bsicos
sobre a obra e o autor, uma entrada breve, de aproximadamente uma aula ou duas,
servindo para despertar o interesse do aluno. Na prxima etapa, da leitura, a
sugesto a de que sejam feitos acordos nesse momento para que seja feita
extraclasse e com intervalos, nos quais se aplicam diversas atividades em sala de
aula.
A primeira interpretao tem por objetivo fazer com que o aluno expresse sua
compreenso global da obra. Aqui, o professor quase no interfere, porque o
momento de deixar o aluno expressar sua liberdade e individualidade. Tambm
pode haver o primeiro registro feito pelo aluno e o professor deixar essa atividade
fluir livremente.
A contextualizao o aprofundamento da leitura a partir daquilo que a obra
apresenta ao leitor. A proposta sugere sete contextualizaes, que so: Terica,
histrica, estilstica, potica, crtica, presentificadora e temtica. O professor pode
escolher uma ou combinar aquelas que possam trazer maior coerncia e ampliao
ao gnero estudado.
A segunda interpretao est associada contextualizao, pois, diferente da
primeira interpretao, neste momento foca-se profundamente em um aspecto da
obra, que pode ser a representao de um personagem, um tema, questes
histricas, dentre outros. Torna-se imprescindvel o registro final, pois aqui se
encerram as atividades de leitura voltadas para a obra selecionada como objeto de
estudo. Neste registro cabe ao professor elaborar, de acordo com a obra, a melhor
forma de expor os resultados obtidos por meio de cartazes, seminrios, confeco
de livros, dentre outros.
E, por fim, a expanso, que o momento de ultrapassar o limite de um texto
para outros textos, podendo ser direcionada para preparar ou motivar a leitura de
outras obras literrias.
importante registrar que a sequncia realizada sob a perspectiva do
portflio, pois esta prtica permite o registro e o encadeamento das atividades em
cada fase do processo, oportunizando ao aluno repensar e revisar sua leitura, bem
como o registro que j foi feito. Para Cosson, todas as atividades devem ser
registradas de alguma forma pelos alunos, em diferentes gneros, o importante
que acontea o efetivo letramento literrio, no qual fique claro que houve
compreenso do texto lido, permitindo ao aluno ler melhor a si mesmo, aos outros e
ao mundo.
Acredito que a proposta seja relevante, pois apresenta uma metodologia que
impulsiona a leitura dos alunos e ainda nos faz ter um olhar mais atento,
direcionando a leitura quando surgem dvidas. Alm do que, permite, tambm, fazer
com que as aulas produzam um ensino significativo de literatura, que leva os alunos
a posicionarem-se diante de uma obra literria, assumindo sua identidade dentro da
sociedade a qual ele pertence.
A fim de colocar em prtica a Sequncia Expandida, indico a obra O Filho
Eterno, publicada em 2006, por Cristovo Tezza. A escolha considerou o perfil do
pblico alvo alunos do ensino mdio e a possibilidade de se discutir temas
correntes na sociedade atual, como o das relaes familiares, alm de outras, bem
como a temtica da incluso, por exemplo, tambm ressaltando escolhas
profissionais, situao que traz muitas dvidas e conflitos na juventude de modo
geral. A perspectiva a de que a narrativa suscite ampla discusso sobre estes
temas, ao mesmo tempo em que desenvolva competncia de leitura.
Cristovo Tezza um escritor reconhecido pela crtica literria. Nasceu em
Lages (Santa Catarina), em 1952, e estudou Letras pela Universidade de Coimbra,
em Portugal. Recebeu prmios importantes como os de Machado de Assis e da
Academia Brasileira de Letras. Alm de O Filho eterno, Cristvo Tezza escreveu
obras importantes como Trapo, Fantasmas da Infncia, Breve espao entre a cor
e a sombra e Ensaio da Paixo.
O romance O Filho Eterno aborda a histria do relacionamento entre pai e
filho. Este pai v seus sonhos e expectativas desmoronarem com o nascimento de
um filho com Sndrome de down, pois reconhece que ele destinado a viver para
sempre sendo dependente de outros. O pai apresenta um perfil inseguro e uma
grande insatisfao com relao criana e a sua prpria vida. Para alguns crticos
a obra considerada autobiogrfica, pois o escritor tambm pai de Felipe, portador
da sndrome de down, embora a obra seja escrita em 3 pessoa. Espera-se, com o
desenvolvimento da sequncia, alm dos aspectos apontados, abordar outros
gneros textuais nos momentos de intervalo de leitura, ampliando o repertrio
textual e discursivo dos alunos.
Sugestes de Atividades
SEQUNCIA EXPANDIDA / LETRAMENTO LITERRIO RILDO COSSON
PDE - 2014
Obra escolhida: O filho eterno, de Cristvo Tezza.
Ttulo do Projeto Sequncia expandida de leitura literria: O filho eterno, de
Cristvo Tezza.
As atividades subsequentes esto indicadas para alunos da 3 srie do
ensino mdio, com uma estimativa aproximada de 32 horas aula.
MOTIVAO
Tempo 2 aulas.
Objetivos:
- Mostrar aos alunos quantas famlias vivem a realidade que ser apresentada pelo
autor logo nos primeiros captulos do livro O filho eterno.
- Refletir sobre a incluso nos diferentes espaos sociais dos quais fazemos parte.
- Trazer um filme brasileiro que trata de pessoas com sndrome de down mostrando
a superao e o desejo de vencer independente das circunstncias.
Sugestes de filmes:
Descrio:
Documentrio sobre Famlias e Sndrome de Down.
Filme de 2004. Mostra o depoimento de diversas famlias relatando suas
experincias com seus filhos portadores de Sndrome de Down e tambm a
superao e a limitao das pessoas que so portadores da Sndrome.
Disponvel em: https://www.youtube.com/watch?v=gpNLAF5pckY
Este documentrio no ser passado na ntegra. Algumas partes sero cortadas devido ao tempo.
https://www.youtube.com/watch?v=gpNLAF5pckY
Atividade extraclasse Filme Os colegas.
Filme: Colegas Sinopse
Colegas uma divertida aventura que trata de forma potica coisas simples da vida, atravs dos
olhos de trs personagens com sndrome de Down. Eles so apaixonados por cinema e
trabalham na videoteca do instituto onde vivem. Um dia, inspirados pelo filme Thelma & Louise,
resolvem fugir no Karmann-Ghia do jardineiro (Lima Duarte) em busca de trs sonhos: Stalone
(Ariel Goldenberg) quer ver o mar, Aninha (Rita Pokk) quer casar e Mrcio (Breno Viola) precisa
voar. Nesta busca, se envolvem em inmeras aventuras como se tudo no passasse de um
maravilhoso sonho.
- O filme ser uma atividade extraclasse devido ao tempo proposto na motivao.
Ser exibido aos alunos fragmentos do filme em sala de aula.
Disponvel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Colegas_(filme)
http://www.mundofreak.com.br/2013/03/01/resenha-colegas-o-filme/
INTRODUO
Apresentao do autor e da obra.
Tempo estimado (2 aulas)
Atividade 1
Leitura da capa, dados biogrficos, contra capa, discutir sobre a recepo crtica do livro, a partir da leitura do texto
O filho eterno, de Cristvo Tezza, de Ieda Magri.
Disponvel em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/literatura/0079.html
Atividade 2 - Tecer comentrios sobre a importncia do autor na literatura
contempornea e do livro.
Em seguida apresentar uma entrevista do autor falando sobre o romance.
Disponvel em: http://www.senado.gov.br/noticias/TV/programaListaPadrao.asp?ind_click=9&txt_titulo_menu=&IND_ACESSO=S&IND_PROGRAMA=S&COD_PROGRAMA=19&COD_VIDEO=170109&ORDEM=0&QUERY=&pagina=8
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ariel_Goldenberg&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Rita_Pokk&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Breno_Viola&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Colegas_(filme)http://www.mundofreak.com.br/2013/03/01/resenha-colegas-o-filme/http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/literatura/0079.htmlhttp://www.senado.gov.br/noticias/TV/programaListaPadrao.asp?ind_click=9&txt_titulo_menu=&IND_ACESSO=S&IND_PROGRAMA=S&COD_PROGRAMA=19&COD_VIDEO=170109&ORDEM=0&QUERY=&pagina=8http://www.senado.gov.br/noticias/TV/programaListaPadrao.asp?ind_click=9&txt_titulo_menu=&IND_ACESSO=S&IND_PROGRAMA=S&COD_PROGRAMA=19&COD_VIDEO=170109&ORDEM=0&QUERY=&pagina=8http://www.senado.gov.br/noticias/TV/programaListaPadrao.asp?ind_click=9&txt_titulo_menu=&IND_ACESSO=S&IND_PROGRAMA=S&COD_PROGRAMA=19&COD_VIDEO=170109&ORDEM=0&QUERY=&pagina=8
LEITURA - o professor deve combinar com os alunos as etapas de leitura,
definindo com eles as pginas e prazos.
A leitura do livro ser realizada extraclasse e neste primeiro momento ir at a
pgina 45 que dever acontecer no prazo de duas semanas.
1. INTERVALO
Ao trmino da leitura das pginas indicadas haver o 1 intervalo.
Tempo: 02 aulas.
Objetivos:
- Apresentar obras de arte de como a deficincia aparece nas telas;
- Conhecer os pintores e as suas necessidades para a criao dos quadros.
O ABRAO AMOROSO ENTRE O UNIVERSO, A TERRA Magdalena Carmem Frida Kahlo e Caldern (Mxico, 1907-1954),
Uma das mais importantes pintoras modernas. Suas obras, de cunho expressionista, expem,
de forma perturbadora, toda a riqueza de emoes que marcaram sua vida, alm de revelar detalhes da cultura mexicana. A partir dessa imagem apresentar algumas obras da pintora que retratam sua inconstncia e deficincia fsicas ao longo da vida.
Disponvel em: http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=138&evento=1Acesso em 24/11/2014.
https://br.images.search.yahoo.com/yhs/search;_ylt=A0LEVjq1hnNUfLoA0MUf7At.;_ylu=X3oDMTBsa3ZzMnBvBHNlYwNzYwRjb2xvA2JmMQR2dGlkAw--?_adv_prop=image&fr=yhs-dollario-dollario_br&va=obras+de+frida+kahlo&hspart=dollario&hsimp=yhs-dollario_br Acesso em 24/11/2014
"PARBOLA DOS CEGOS"
Bruegel (1530-1569) Este quadro de Peter Bruegel retrata-nos o modo de caminhar em grupo dos cegos, com seus
agasalhos e bengalas. Ao procurar ilustrar a famosa parbola, o pintor mostra-nos vrios cegos que vo caindo numa valeta
. http://www.artefatocultural.com.br/ed1/bruegel.htm Acesso em 08/11/2014.
LAS MENINAS
Diego Rodrguez de Silva Velzquez
(Sevilha, 6 de Junho de 1599 Madrid, 6 de Agosto de 1660) foi um pintor espanhol e principal artista da corte do Rei Filipe IV de Espanha. Era um artista individualista do perodo barroco contemporneo. Alm de inmeras interpretaes de cenas de significado histrico e cultural, pintou inmeros retratos da famlia real espanhola, outras notveis figuras europeias e plebeus, culminando na produo de sua obra-prima, Las meninas (1656). (Wikipdia)
http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=346&evento=1 Acesso em 24/11/2014
https://br.images.search.yahoo.com/yhs/search;_ylt=A0LEVjq1hnNUfLoA0MUf7At.;_ylu=X3oDMTBsa3ZzMnBvBHNlYwNzYwRjb2xvA2JmMQR2dGlkAw--?_adv_prop=image&fr=yhs-dollario-dollario_br&va=obras+de+frida+kahlo&hspart=dollario&hsimp=yhs-dollario_brhttps://br.images.search.yahoo.com/yhs/search;_ylt=A0LEVjq1hnNUfLoA0MUf7At.;_ylu=X3oDMTBsa3ZzMnBvBHNlYwNzYwRjb2xvA2JmMQR2dGlkAw--?_adv_prop=image&fr=yhs-dollario-dollario_br&va=obras+de+frida+kahlo&hspart=dollario&hsimp=yhs-dollario_brhttps://br.images.search.yahoo.com/yhs/search;_ylt=A0LEVjq1hnNUfLoA0MUf7At.;_ylu=X3oDMTBsa3ZzMnBvBHNlYwNzYwRjb2xvA2JmMQR2dGlkAw--?_adv_prop=image&fr=yhs-dollario-dollario_br&va=obras+de+frida+kahlo&hspart=dollario&hsimp=yhs-dollario_brhttp://www.artefatocultural.com.br/ed1/bruegel.htmhttp://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=346&evento=1
Descrio: No 1 intervalo apresenta-se aos alunos telas de diversos
pintores, vez que nesta primeira etapa o tema do livro em estudo ressalta fortemente
a Sndrome de Down e o impacto que a notcia trouxe para o personagem principal
do livro o pai.
ATIVIDADE 01: Apresentao de pinturas de pessoas que apresentam
deficincias.
ATIVIDADE 02: Neste momento faremos a leitura do texto informativo sobre a
Sndrome de Down e as leis que regem para a incluso desses alunos no ensino
regular. Os textos foram encontrados nos links que seguem:
Disponvel em:
http://www.ebah.com.br/content/ABAAABP6kAE/artigo-cientifico-sindrome-down Acesso em 12/11/2014
Disponvel em:
http://www.movimentodown.org.br/2013/01/pesquisas-sobre-sindrome-de-down-no-mundo/ Acesso em 12/11/2014.
Aps a leitura e discusso dos textos os alunos faro uma pesquisa em
grupos e produziro um painel com o material encontrado sobre os avanos nas
pesquisas e dos prprios portadores da sndrome na sociedade atual. Este painel
poder ser fixado no ptio da escola e tambm ser apresentado pelos alunos para
outras turmas do Ensino mdio.
2. INTERVALO
As pginas de leitura para este intervalo sero da pgina 45 a 112 e ela dever
acontecer no prazo de duas semanas.
Tempo: 3 aulas
Objetivo:
- Apresentar o gnero conto aos alunos;
- Desenvolver a sensibilidade esttica, a imaginao, a criatividade e o senso
crtico;
- Discutir as relaes familiares apresentadas no romance e os personagens
apresentados no conto Amor, de Clarice Lispector.
http://www.ebah.com.br/content/ABAAABP6kAE/artigo-cientifico-sindrome-downhttp://www.movimentodown.org.br/2013/01/pesquisas-sobre-sindrome-de-down-no-mundo/http://www.movimentodown.org.br/2013/01/pesquisas-sobre-sindrome-de-down-no-mundo/
Descrio: Leitura do conto Amor, de Clarice Lispector, que relata a histria de Ana,
uma mulher casada e me de dois filhos. Neste momento, pode-se comear a
discusso sobre relaes familiares destacando o papel da mulher dentro da famlia,
partindo das mulheres do livro e do conto e aprofundando a discusso sobre o papel
da mulher na sociedade atual.
Aps a discusso e levantamento de dados os alunos produziro um texto
argumentativo sobre a importncia das relaes familiares na sociedade.
Conto: Amor
Clarice Lispector Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tric, Ana subiu no bonde.
Depositou o volume no colo e o bonde comeou a andar. Recostou-se ento no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfao.
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam
banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim
espaosa, o fogo enguiado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe
que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um
lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mo, no outras, mas essas apenas. E
cresciam rvores. Crescia sua rpida conversa com o cobrador de luz, crescia a gua
enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando
com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifcio. Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mo pequena e forte, sua corrente de vida [...]
Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os irmos viriam jantar o corao
batia-lhe violento, espaado. Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o que no nos v. Ele mascava goma na escurido. Sem sofrimento, com os olhos abertos. O
movimento da mastigao fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar
de sorrir como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impresso
de uma mulher com dio. Mas continuava a olh-lo, cada vez mais inclinada o bonde deu
uma arrancada sbita jogando-a desprevenida para trs, o pesado saco de tric despencou-
se do colo, ruiu no cho Ana deu um grito, o condutor deu ordem de parada antes de saber do que se tratava o bonde estacou, os passageiros olharam
assustados.
Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se
aprumava plida. Uma expresso de rosto, h muito no
usada, ressurgia-lhe com dificuldade, ainda incerta, incompreensvel. O moleque dos jornais ria entregando-lhe o
volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho de
jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre os fios da
rede. O cego interrompera a mastigao e avanava as mos
inseguras, tentando inutilmente pegar o que acontecia. O
embrulho dos ovos foi jogado fora da rede e, entre os sorrisos dos passageiros e o sinal do condutor, o bonde deu a nova arrancada de partida [...]
A vastido parecia acalm-la, o silncio regulava sua respirao. Ela adormecia dentro de
si.
De longe via a alia onde a tarde era clara e redonda. Mas a penumbra dos ramos cobria o atalho.
Ao seu redor havia rudos serenos, cheiro de rvores, pequenas surpresas entre os cips.
Todo o Jardim triturado pelos instantes j mais apressados da tarde. De onde vinha o meio
sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo era
estranho, suave demais, grande demais.
Um movimento leve e ntimo a sobressaltou voltou-se rpida. Nada parecia se ter
movido. Mas na alia central estava imvel um poderoso gato. Seus plos eram macios. Em
novo andar silencioso, desapareceu.
Inquieta, olhou em torno. Os ramos se balanavam, as sombras vacilavam no cho. Um
pardal ciscava na terra. E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter cado numa emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho secreto do qual ela comeava a se aperceber
[...]
J no sabia se estava do lado do cego ou das espessas plantas. O homem pouco a pouco se distanciara e em tortura ela parecia ter passado para o lados que lhe haviam ferido os
olhos. O Jardim Botnico, tranqilo e alto, lhe revelava. Com horror descobria que pertencia
parte forte do mundo e que nome se deveria dar a sua misericrdia violenta? Seria
obrigada a beijar um leproso, pois nunca seria apenas sua irm. Um cego me levou ao pior
de mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida porque nenhum pobre beberia gua
nas suas mos ardentes. Ah! era mais fcil ser um santo que uma pessoa! Por Deus, pois no fora verdadeira a piedade que sondara no seu corao as guas mais profundas? Mas
era uma piedade de leo [...]
Fragmentos do texto extrado no livro Laos de Famlia, Editora Rocco Rio de Janeiro, 1998, pg. 19, includo entre Os cem melhores contos brasileiros do sculo, Editora Objetiva
Rio de Janeiro, 2000, seleo de talo Moriconi.
http://www.releituras.com/clispector_amor.asp Acesso em 14/11/2014.
http://www.releituras.com/clispector_amor.asp%20Acesso%20em%2014/11/2014
3. INTERVALO
As pginas de leitura para este intervalo sero da 113 a 169 e ela dever acontecer
no prazo de duas semanas.
Tempo: 3 aulas. Objetivo:
- Retomar o gnero poesia e suas principais caractersticas.
- Refletir sobre o ser humano, sua condio social e individual e o papel da arte;
Descrio: Apresentao e leitura do poema de Ferreira Gullar, Traduzir-se.
Neste momento, apresenta-se ao aluno o gnero poesia fazendo a leitura do
poema em voz alta.
Fazer uma breve apresentao sobre o poeta Ferreira Gullar e discutir
algumas questes do poema, tais como o ato de existir e suas razes, contrapondo-
o com a situao do personagem principal do livro que, em muitos momentos, sente-
se frustrado diante dos rumos que sua vida tomou. possvel assim iniciar uma
discusso sobre o tempo como fator de amadurecimento e de mudanas levando
essa discusso para a vida dos prprios alunos que, em breve, devero iniciar uma
vida profissional ou acadmica.
Como atividade extraclasse pedir aos alunos que realizem uma pesquisa
sobre o futuro profissional dos jovens que concluem o ensino mdio. Essa pesquisa
deve responder algumas perguntas como:
- H continuidade nos estudos?
- Qual a porcentagem de jovens que
ingressam nas universidades?
- Quantos conseguem trabalho e param de
estudar?
A pesquisa pode ser ampla e trazer muitas
curiosidades que sero apresentadas em
forma de seminrio em um grande crculo na
sala de aula.
TRADUZIR-SE Uma parte de mim todo mundo: outra parte ningum: fundo sem fundo. uma parte de mim multido: outra parte estranheza e solido. [...]
Traduzir-se uma parte na outra parte - que uma questo de vida ou morte - [...]
Ferreira Gullar
Disponvel em: http://pensador.uol.com.br/frase/MzI5MTc/ Acesso em 11/11/2014
4 INTERVALO
Este intervalo inicia-se na pgina 171 e vai at a pgina 222, concluindo,
assim, a leitura da obra. Os alunos tero duas semanas para realiz-la.
Tempo: 3 aulas
Objetivo:
- Permitir que os alunos reflitam sobre as mudanas ocorridas em suas vidas ao
longo dos anos.
- Analisar a pintura de quadros/ imagens que promovem reflexo.
Descrio: Este ltimo intervalo ser composto por duas atividades:
Apreciao e leitura da obra
1- Apreciao e leitura da obra Criana geopoltica observando o nascimento do
homem novo, do pintor espanhol Salvador Dal, datado de1943.
http://pt.scribd.com/doc/44473543/Analise-critica-da-obra-de-salvador-dali Acesso
em 24/11/2014.
2- Ouvir a msica Eu no vou me adaptar (Arnaldo Antunes e e
Nando Reis)
Disponvel em:
https://www.youtube.com/watch?v=3f_ZRXGPq14
Acesso em: 17/11/2014
http://pensador.uol.com.br/frase/MzI5MTc/http://pt.wikipedia.org/wiki/Pinturahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Espanhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Salvador_Dal%C3%ADhttp://pt.wikipedia.org/wiki/1943http://pt.scribd.com/doc/44473543/Analise-critica-da-obra-de-salvador-dali%20Acesso%20em%2024/11/2014http://pt.scribd.com/doc/44473543/Analise-critica-da-obra-de-salvador-dali%20Acesso%20em%2024/11/2014https://www.youtube.com/watch?v=3f_ZRXGPq14
As duas atividades tm a inteno de promover uma discusso acerca das
mudanas que o tempo promove na vida do ser humano, partindo do momento em
que os alunos se encontram na leitura do livro fase final onde o personagem
principal comea a se adaptar com sua vida, seu filho, com algumas implicaes
prprias do ser humano.
1. INTERPRETAO
Tempo: 2 aulas
Objetivo:
- Ouvir o aluno sobre o que entendeu da obra;
- Registrar impresses de forma livre e individual;
Descrio: Partindo de uma frase sobre a crtica do livro, ser lanado ao
aluno o desafio de opinar e registrar suas impresses da leitura. Aps essa atividade
ser o momento no qual os alunos faro o registro, em um texto dissertativo
subjetivo, sobre o modo como vivem a vida e como podem fazer para que possa
valer a pena a existncia humana. Essa atividade individual e
poder ser apresentada aos colegas como atividade final dessa
etapa.
Atividade:
1- Leitura e anlise da frase:
Muita gente anda no mundo sem saber para qu: vivem, porque veem os outros viverem. Alguns aprendem sua custa, quase sempre j tarde pra um proveito melhor. Eu sou desses.
(J. SIMES LOPES NETO, Artigos de f do gacho.)
Contextualizao Estilstica
Atividade 01- Fazer a explanao sobre questes do livro como nmero de
captulos que coincidem com a idade do personagem, a forte marcao do azul
presente no livro e a influncia de grandes autores na vida do autor. Para servir de
apoio neste trabalho sero utilizadas partes do texto do link que segue.
http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/literatura/0079.html Acesso dia 10/11/2014.
Contextualizao Potica
Dentro desta contextualizao discutir com os alunos as questes do livro que
geram discusso sobra a autobiografia, ponto-chave do romance. Podemos
destacar, ento, a carreira como professor universitrio, a inteno de ser escritor e
o filho Felipe, que portador de sndrome de down, e tambm suas experincias de
adolescente e jovem.
Alguns fragmentos do livro podem ser destacados neste momento com o
intuito de gerar discusses sobre a obra, retomando questes do livro que no foram
percebidas durante a leitura e, naturalmente, explorando o discurso narrativo.
O nascimento de um filho
[...]somos delicados demais para o nascimento e preciso disfarar todos os perigos desta vida
[...] (p. 11)
Um filho a ideia de um filho; uma mulher a ideia de uma mulher. s vezes as coisas
coincidem com a ideia que fazemos dela; s vezes no. (p. 14)
O nascimento uma brutalidade natural, a expulso obscena da criana, o desmantelamento
fsico da me at o ltimo limite da resistncia, o peso e a fragilidade da carne viva. (p. 24)
Assim, em um timo de segundo, em meio maior vertigem de sua existncia, a rigor a nica
que ele no teve tempo (e durante a vida inteira no ter) de domesticar numa representao
literria, apreendeu a intensidade da expresso para sempre a ideia de que algumas coisas
so de fato irremediveis, e o sentimento absoluto, mas bvio, de que o tempo no tem retorno,
algo que ele sempre se recusava a aceitar. (p. 30)
http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/literatura/0079.html
Ningum est preparado para um primeiro filho, ele tenta pensar, defensivo, ainda mais um filho
assim, algo que ele simplesmente no consegue transformar em filho. (p. 32)
Foi preciso que nascesse o seu filho para que, de um golpe s, ele percebesse a fissura
medonha daquele otimismo csmico que ele havia tomado de emprstimo de algum lugar como
moldura esttica da prpria vida to lindo, tudo est em tudo, o tempo presente contido no
tempo passado, a harmonia do espetculo do universo como convidados de honra. (p. 64)
A primeira criana de um casamento uma aporrinhao monumental o intruso exige espao
e ateno, chora demais, no tem horrio nem limites, praticamente nenhuma linguagem
comum, no controla nada em seu corpo, que vive a borbulhar por conta prpria, depende de
uma quantidade de objetos (do bero mamadeira, do funil de plstico s fraldas, milhares
delas) at ento desconhecidos pelos pais, drena as economias, o tempo, a pacincia, instaura
em torno de si o terror da fragilidade e da ignorncia, e afasta, quase que aos pontaps, o pai da
me. (p. 73-74)
Ser escritor
Ele no mais um poeta. Perdeu para sempre o sentimento do sublime, que, embora soe envelhecido, o combustvel necessrio para escrever poesia. (p. 16)
() e finalmente sorri, voltando a escrever to rpido, em linhas seguras e perfeitamente horizontais na folha amarela, sinal de que o texto, na sua cabala pessoal, est muito bom. (p. 106)
Seguindo o conselho de Hemingway em Paris uma festa, que ele leu em Paris mesmo, percorrendo, caipira, os lugares especiais citados no livro, um por um, e gastando com parcimnia os marcos que ganhou na Alemanha (teriam de durar muito, ele sabia), ele sempre tenta interromper o texto que escreve num bom momento, com vontade de continuar imediatamente. (p. 107)
E acontece tambm no menino a atitude do artista, algum que por conta prpria se define como tal, o que sempre um gesto potencialmente petulante; no mundo adulto, o pai sabe, definir-se artista quase que um bater de p social, um forar a porta de entrada para um den libertrio, onde no se prestam contas de nada enfim, uma sombra do paraso perdido. (p. 212)
() ao mesmo tempo por muitos anos teve vergonha de se afirmar, intransitivo, um escritor, e a angstia maior vinha do fato de, durante dcada e meia, no ter nada para colocar no lugar quando lhe perguntavam o que fazia na vida; dizer eu escrevo seria confessar uma intimidade absurda, equivalente da vida sexual ou dos problemas de famlia, entregar o que se sonha no escuro, a massa disforme dos desejos () (p. 213)
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/externo/index.asp?id_link=6263&destino=/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=106980&
O problema o pai
Ele divaga, criando ele mesmo uma sndrome que cada vez ser mais intensa em sua vida a
crescente incapacidade de concentrao para ouvir algum mais demoradamente: as pessoas
deveriam falar por escrito, ele sonha. (p. 90)
Reflexo condicionado o do pai a todo instante que se lembra, estende o dedo para que o
filho ali se agarre, sem pensar. (p. 95)
Autista, debrua-se sobre o novo romance que escreve j h alguns meses, Trapo, indiferente
ao mundo, enquanto no consegue publicar o anterior. (p. 115)
Pensa tambm em como pode ser tentador o impulso de ele, o pai, se apoiar no filho para ali se
destruir. Fazer do filho a sua desculpa, o altar da piedade alheia. Sim, um bom rapaz. Tinha
muito futuro. Pena o filho acabou com ele. Dizer no intuitivamente, dizer no. (p. 118)
Contextualizao Crtica
Neste momento faremos a leitura e anlise de algumas crticas encontradas
em pginas da Internet de diferentes crticos falando sobre sua obra O filho eterno.
Abaixo esto elencados alguns links, mas nem todos precisam ser utilizados
devido ao tempo.
http://asmelhorespartes.blogspot.com.br/2012/08/o-filho-eterno-cristovao-tezza.html
Acesso no dia 12/11/2014.
http://www.cristovaotezza.com.br/entrevistas/p_08_papangu.htm Acesso no dia
12/11/2014.
http://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br/2007_08_01_archive.html Acesso no dia
12/11/2014.
http://www.cristovaotezza.com.br/p_entrevistajornaisrevistas.htm Acesso no dia
12/11/2014.
http://www.cristovaotezza.com.br/entrevistas/p_960428.htm Acesso no dia
12/11/2014.
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/externo/index.asp?id_link=6263&destino=/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=2178137&http://asmelhorespartes.blogspot.com.br/2012/08/o-filho-eterno-cristovao-tezza.htmlhttp://www.cristovaotezza.com.br/entrevistas/p_08_papangu.htmhttp://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br/2007_08_01_archive.htmlhttp://www.cristovaotezza.com.br/p_entrevistajornaisrevistas.htmhttp://www.cristovaotezza.com.br/entrevistas/p_960428.htm
2 INTERPRETAO
Aprofundamento da leitura de forma consistente por meio de contextos
que a obra traz consigo.
Tempo: 04 aulas
Objetivo:
- Destacar o papel do personagem principal do livro, seu modo honesto de falar
sobre assuntos marcados por desinformaes, sentimentalismos e preconceitos;
- Abordar questes existncias que giram em torno do personagem e todo o
sentimento de frustrao que o mesmo demonstra no decorrer do livro.
Descrio: Neste momento poder ser realizado um jri simulado, escolhendo
o personagem principal da obra O filho eterno o pai de Felipe. Submetendo-o a
julgamento por suas aes. A turma ser dividida em vrias equipes, para que sejam
explorados vrios aspectos do livro, tais como o tratamento do pai com o filho
portador de sndrome de down e a dificuldade de acerto da vida do personagem em
questo, principalmente a profissional. Aps o julgamento utilizando dados do livro,
os alunos devero registrar suas impresses em relatrios.
EXPANSO
Trata-se do compartilhamento da leitura, relao com outras obras,
aprofundamento e expanso do conhecimento, num mesmo horizonte,
ocorrendo o letramento literrio.
Descrio:
Neste momento a proposta voltar a alguns pontos do livro retomando os temas de
maior destaque, como o da incluso de deficientes na sociedade e principalmente na
prpria famlia, as frustraes que giram em torno da vida do personagem principal,
as dvidas profissionais e os anseios pelo sucesso e a realizao pessoal. Desse
modo importante discutir com os alunos sobre seus anseios para um futuro
profissional permitindo, assim, que haja uma discusso sobre profisses.
Aps a discusso, lanar a proposta de expanso a partir de A morte e a
morte de Quincas Berro D gua de Jorge Amado, tendo em vista que esta obra
tambm apresenta interessante abordagem sobre as frustraes humanas, onde o
personagem principal Quincas abre mo da ordem instituda pela liberdade da
boemia, o que causa na sua famlia grande indignao a ponto de exclui-lo por
terem vergonha.
Ao trabalhar essa obra no 3 ano do ensino mdio importante lembrar que a
obra de grande valor literrio e utilizada em muitos vestibulares e tambm ressaltar
que a obra faz uma ponte com o livro em estudo O filho eterno quando mostra a
frustrao do personagem principal com relao ao seu modo de vida em todos os
sentidos, profissional, familiar e pessoal.
A proposta de encerrar essa etapa, que pode ocorrer no incio do 2
semestre, com uma Feira literria abrangendo toda a comunidade escolar. Nesta
feira, pode ser feita a exposio de todos os trabalhos realizados com a obra corpus
do trabalho, incluindo depoimentos de alunos sobre o livro, apresentaes, podendo
utilizar os quadros utilizados nesse material para uma projeo e explicao dos
mesmos pelos alunos para a comunidade presente na feira.
REFERNCIAS
AGUIAR, Vera Teixeira; BORDINI, Maria da Glria. Literatura: a formao do leitor: alternativas metodolgicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988. ANTUNES, Arnaldo; REIS, Nando. Msica Eu no vou me adaptar - Disponvel em: https://www.youtube.com/watch?v=3f_ZRXGPq14 Acesso em: 17/11/2014 BRUEGEL. Parbola dos cegos. Disponvel em http://www.artefatocultural.com.br/ed1/bruegel.htm Acesso em 08/11/2014. CANDIDO, Antonio. A literatura e a formao do homem. In: Cincia e Cultura, vol. 24, n. 9, p. 803-809, set/1972. COSSON, Rildo. Letramento literrio: teoria e prtica. So Paulo: Contexto, 2006. DALI, Salvador. Criana geopoltica observando o nascimento do homem novo. Disponvel em http://pt.scribd.com/doc/44473543/Analise-critica-da-obra-de-salvador-dali Acesso em 24/11/2014. Documentrio sobre Famlias e Sndrome de Down. Disponvel em: https://www.youtube.com/watch?v=gpNLAF5pckY ECO, Umberto. Sobre algumas funes da literatura. In: Sobre a literatura: ensaios. RJ: Record, 2003. GULLAR, Ferreira. Poema Traduzir-se. Disponvel em: http://pensador.uol.com.br/frase/MzI5MTc/ Acesso em 11/11/2014. Imagens. http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=515 KAHLO, Frida, obras de. O abrao amoroso entre o universo, a terra. Disponvel em: https://br.images.search.yahoo.com/yhs/search;_ylt=A0LEVjq1hnNUfLoA0MUf7At.;_ylu=X3oDMTBsa3ZzMnBvBHNlYwNzYwRjb2xvA2JmMQR2dGlkAw--?_adv_prop=image&fr=yhs-dollario-dollario_br&va=obras+de+frida+kahlo&hspart=dollario&hsimp=yhs-dollario_br Acesso em 24/11/2014 Leitura crtica disponvel em http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/literatura/0079.html Acesso dia 10/11/2014. http://asmelhorespartes.blogspot.com.br/2012/08/o-filho-eterno-cristovao-tezza.html Acesso no dia 12/11/2014. http://www.cristovaotezza.com.br/entrevistas/p_08_papangu.htm Acesso no dia 12/11/2014.
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FICHA PARA IDENTIFICAO PRODUO DIDTICO PEDAGGICA
TURMA - PDE/2014
Ttulo: SEQUENCIA EXPANDIDA DE LEITURA LITERRIA: GALILIA, DE RONALDO CORREIA DE BRITO
Autor: Gislaine Bezerra
Disciplina/rea: Lngua Portuguesa
Escola de Implementao do Projeto e sua localizao:
Colgio Estadual do Campo de So Joo- Ensino fundamental e Mdio.
Avenida: Manduri, s/n
Municpio da escola: So Jernimo da serra
Ncleo Regional de Educao: Cornlio Procpio
Professor Orientador: Profa. Dra. Vanderlia da Silva Oliveira
Instituio de Ensino Superior: Universidade Estadual do Norte do Paran UENP
Relao Interdisciplinar:
Resumo Esta unidade compe o caderno pedaggico Narrativas contemporneas em sala de aula: sequncia didtica de leitura literria. Esta proposta tem como objetivo a leitura literria e a formao de alunos crticos. A fim de sugerir o letramento literrio como alternativa metodolgica, pois, o processo de construo dos saberes literrios acontece plenamente e necessrio acessos aos mais variados textos. Para que haja o interesse pela leitura literria preciso o comprometimento da escola, dos professores e dos alunos. Visando o processo de formao Rildo Cosson sugere a sequncia expandida com o enfoque no gnero romance a partir da obra Galilia, narrativa arrebatadora cheia de segredos e traies de Ronaldo Correia de Brito, publicada em 2008. O projeto ser implementado com a turma do 2 ano do ensino mdio do Colgio Estadual do Campo de So Joo do Pinhal.
Palavras-chave Leitura Literria; Sequncia Expandida; Narrativas Contemporneas.
Formato do Material Didtico: Unidade didtica (parte do caderno pedaggico intitulado Narrativas contemporneas em sala de aula, sequncias didticas de leitura literria)
Pblico: Pblico alvo alunos do 2 ano do Ensino Mdio
Unidade 2
Sequncia Expandida
de Leitura Literria:
Galilia, de Ronaldo
Correia de Brito.
Gislaine Bezerra
1. CONVERSA COM O PROFESSOR
Proponho nesta unidade didtica o trabalho com leitura literria em sala de
aula no ensino mdio por meio do gnero romance. Percebo que o enfoque da
leitura literria em sala de aula um desafio a ser vencido por ns, professores de
lngua portuguesa e literatura.
Devemos ser mediadores entre o texto e nossos alunos mostrando a eles
esse universo mgico das leituras literrias. Muito se fala da necessidade se ter
hbito de leitura, mas nenhum hbito se constri sem a oferta de obras que
estimulem o interesse dos alunos no universo da leitura literria. Observe-se que
no difcil lev-la ao aluno, mas sim nos comprometermos com ela como
professores-leitores.
Esse comprometimento deve ser em princpio, um dever do professor, pois se
ele no um leitor habitual dificilmente conseguir despertar nesse aluno o interesse
pela leitura. Esta a grande preocupao de muitos de ns, pois reproduzimos um
modelo formalista e estruturalista de ensino em nossas escolas.
Infelizmente, o texto literrio , com raras excees, trabalhado em sala de
aula como pretexto de atividades que valorizam a histria da literatura, as
caractersticas estticas e estilsticas e os perodos literrios, desvalorizando-se a
plurissignificao do texto literrio. Chego a essa concluso pelos relatos de muitos
colegas que se veem nessa situao de no terem um embasamento terico e
metodolgico, que lhes d um respaldo para o trabalho com a literatura numa
perspectiva de letramento literrio. Tantas so as reflexes que fazemos
diariamente, tais como: Qual deve ser o propsito de ensinar leitura literria em sala
de aula? Qual a postura que deve ter um professor de literatura? Quais devem ser
as estratgias adotadas para se trabalhar com a leitura literria em sala de aula?
Diante destes aspectos, esta unidade didtica sugere aos professores uma
prtica metodolgica voltada para o ensino da leitura literria, a partir do romance
Galilia, de Ronaldo Correia de Brito, tendo como suporte as propostas de Cosson
(2014). Em Letramento Literrio: teoria e prtica. Nele, o autor aborda o letramento
como uma proposta de fortalecer, reformar e ampliar a educao literria.
2. FUNDAMENTAO TERICA
2.1 Leitura
Os referenciais sobre a prtica de leitura presente nas diretrizes curriculares
da rea no estado do Paran sinalizam um direcionamento metodolgico,
entendendo-a como um ato dialgico, interlocutivo, que compreende as diversas
vozes sociais e ideolgicas: A leitura se efetiva no ato da recepo, configurando o
carter individual que ela possui (PARAN, 2008).
Cosson tambm apresenta uma definio bem interessante sobre o papel
funcional da leitura: Ler implica troca de sentidos no s entre o escritor e o leitor,
mas tambm com a sociedade onde ambos esto localizados (2014, p.27).
Sabe-se que a valorizao do leitor fundamental para o processo de
compreenso do texto, pois as leituras realizadas pelos alunos devem ter um
parmetro plurissignificativo inseridos nos textos de leitura. Para Cosson, [...] ler e
ser leitor so prticas sociais que medeiam e transformam as relaes humanas
(2014, p.40). O autor faz vrias interpretaes sobre essa prtica discursiva entendo
que a leitura um ato solidrio, significativa, interpretativa e amplia o horizonte de
um texto literrio.
Ernani Terra comunga do mesmo pensamento de Cosson entendendo que a
leitura uma atividade de construo de sentidos; um ato complexo que no pode
ser confundido com a simples decodificao de informaes bsicas. Percebe-se,
ento, um conjunto de conhecimentos embasadores para a leitura. Como forma para
busc-los o autor revela:
[...] o leitor sai do texto e vai buscar, por meio de inferncias, os conhecimentos necessrios (lingusticos, textuais, enciclopdicos, interacionais) para a construo do sentido numa atitude colaborativa. Vale dizer que compreender um texto no extrair dele um sentido que l est pronto, acabado; mas, mediante ativao de processos cognitivos, construir um sentido a partir de pistas presentes na superfcie do texto. (TERRA, 2014, p.54)
Diante destas observaes, fica claro que a leitura pauta-se na necessidade de
acesso aos mais variados textos, para que o processo de construo dos saberes
literrios acontea plenamente. Tambm podemos destacar que no possvel
indagarmos que uma simples atividade de leitura seja considerada leitura literria.
Na verdade apenas ler a face mais visvel da resistncia ao processo de
letramento literrio, explica Cosson, que reafirma que: [...] a necessidade de ir alm
da simples leitura do texto literrio quando se deseja promover o letramento literrio
(2014, p.26).
2.2- Leitura Literria: formao do aluno leitor
Para que haja um interesse em leitura literria pressupe-se o interesse da
escola, do professor e do aluno. O ponto de partida se daria em primeiro plano na
escola, por ela ter um objetivo claro que o de formar leitores crticos. No entanto,
esta uma tarefa difcil diante da viso que ela tem do processo da leitura literria,
vez que prioriza o texto apenas como uma leitura espontnea. Rita Jover-Faleiros
faz uma observao bem interessante sobre a real formao escolar.
Se a formao escolar uma das importantes mediadoras da relao livro/leitor [...] alm de compreender qual a natureza da distncia que separa o leitor compulsrio do leitor ldico, preciso aproxim-los ou talvez, despertar no leitor compulsrio, que l porque deve, o leitor ldico, que l porque quer; chegando-se, talvez, a uma espcie de sntese em que a fruio advm da compreenso do processo de construo do(s) sentido(s) no ato da leitura. (2013, p.129)
Na escola, esse deve ser o papel da leitura literria, o de transformar o leitor,
levando-o a perceber as mudanas que ocorrem no decorrer da leitura de uma obra
de fico. A contribuio da instituio escolar importantssima para que esse
aluno construa o seu universo de leitor perene. Outro ponto a ser discutido o da
postura do professor diante do texto literrio, visto que ele deve ser um leitor
assduo, mediador e ter o cuidado em selecionar livros para suas aulas afinal, a
garantia do acesso no quer dizer uma qualidade adequada s prticas de leitura
literria. Por outro lado, como e quando garantir que uma obra realmente literria?
A essa pergunta pode-se recorrer s posies de Mrcia Abreu:
Uma obra far parte do seleto grupo da Literatura quando for declarada literria por uma (ou, de preferncia, vrias) dessas instncias de legitimao. Assim, o que torna um texto literrio no so suas caractersticas internas, e sim o espao que lhe destinado pela crtica e, sobretudo, pela escola no conjunto dos bens simblicos (2006, p.40).
interessante ressaltar que pela intermediao do professor que a obra
literria chega s mos dos alunos e na escola que esse ato se concretiza.
Cadermatori faz um esclarecimento sobre a intermediao professor/aluno no
processo da leitura, afirmando:
No estou dizendo que todo jovem pode ser transformado em leitor por obra e graa de um professor. [...] Capacitar estudantes leitura, desenvolvendo suas competncias lingusticas e textual uma coisa. Transformar alunos em leitores de literatura outra (CADERMATORI, 2009, p.90).
Cosson idealiza um professor como aquele que desafia o aluno a ler obras
complexas, ampliando nele o seu horizonte de leitura. E, por ltimo, o aluno que o
protagonista desse processo de formao de um leitor competente, crtico e perene.
Para desafiar esse aluno necessria uma metodologia que atenda s suas
necessidades, sobre o que Aguiar e Bordini chamam a ateno: [...] a necessidade
de uma metodologia que sirva de suporte para a prtica escolar. Essa proporcionar
resultados positivos para o aluno na medida em que delimite para si mesma, uma
finalidade para o ato de aprender (1988, p.41).
Cosson observa algo muito pertinente ao leitor, em relao leitura literria: a
busca do pleno sentido ao texto literrio faz com que o mesmo se transforme em
uma fora humanizadora, capaz de ampliar e consolidar o repertrio cultural desse
aluno.
2.3- O direito Literatura no Ambiente Escolar
A literatura entendida nas Diretrizes Curriculares da rea de Lngua
Portuguesa no Paran (PARANA, 2008) muito alm das produes humanas e
relaes dialgicas, pois vista como um processo humanizador do homem, de
modo que ela perpassa funes psicolgicas, formadoras e sociais, permitindo ao
leitor uma independncia de interpretao da obra:
O texto literrio permite mltiplas interpretaes, uma vez que na recepo que ele significa. No entanto, no est aberto a qualquer interpretao. O texto carregado de pistas/ estruturas de apelo, as quais direcionam o leitor, orientando-o para uma leitura coerente. (PARAN, 2008, p.59)
Partindo dessa concepo de que os leitores, inseridos no ambiente escolar,
muitas vezes so desmotivados por atividades estticas que em nada contribuem
para a leitura de obras literrias, devemos pensar que o nosso aluno tem esse
direito. Aguiar e Bordini mencionam as estratgias a partir das quais o professor
deve levar esse aluno a se interessar pela Literatura:
Para oferecer ao aluno condies de ampliar seu universo cultural o professor de literatura conta com meios eficientes: a natureza do material de leitura e a complexidade das formas de abord-lo. Partindo das preferncias do leitor, o trabalho deve orientar-se de maneira dinmica, do prximo para o distante no tempo e espao. Isso significa optar principalmente por textos conhecidos de autores atuais, familiares pela temtica apresentada pelos personagens delineados, pelos problemas levantados, pelas solues propostas, pela forma como se estruturam, pela linguagem de que se valem (AGUIAR, BORDINI, 1988, p.25)
Para complementar, Antnio Cndido defende: No h povo e no h homem
que possa viver sem ela, isto , sem a possibilidade de entrar em contato com
alguma espcie de fabulao (1988, p.242). Este posicionamento nos remete s
vrias influncias que a literatura exerce no indivduo, sendo ela um instrumento de
instruo e educao. O autor reafirma: A literatura confirma e nega, prope e
denuncia, apoia e combate. [...] Isto significa que ela tem o seu papel formador da
personalidade (1988, p.243). Desenvolvendo em ns, segundo ele, uma
compreenso da natureza da sociedade e do semelhante.
Enfatizando-se as falas do autor em relao fruio do texto literrio,
podemos destacar outro trecho: Vista deste modo a literatura aparece claramente
como manifestao universal de todos os homens em todos os tempos (1988, 242).
Por esse ponto de vista que a experincia literria se torna passaporte primordial
para o letramento literrio.
2.4 Letramento Literrio
Letramento literrio pode ser entendido como uma viso metodolgica do
processo de formao de leitores literrios em relao s suas compreenses
textuais. Nas Diretrizes Curriculares estaduais para a rea de Lngua Portuguesa
fica evidente esta perspectiva metodolgica:
[...] busca formar um leitor capaz de sentir e de expressar o que sentiu, com condies de reconhecer, nas aulas de literatura, um envolvimento de subjetividades que se expressam pela trade obra/autor/leitor, por meio de uma interao que est presente na prtica de leitura (PARAN, 2008, p.58)
Se vivemos em uma sociedade letrada por que to difcil tornar os nossos
alunos leitores? Essa pergunta pode ser facilmente respondida: faltam
embasamentos tericos e metodolgicos ao professor para que ele consolide o seu
conhecimento a fim de tomar posio diante das dificuldades nas suas aulas de
literatura. O prprio autor relata as dificuldades que os professores tm em trabalhar
com a leitura do texto literrio em sala de aula, o que um problema da grande
maioria das escolas brasileiras. Portanto, a perspectiva do letramento literrio
prope um caminho de ensino que tenha como centro a experincia do literrio.
Todo o processo de letramento literrio comea em sala de aula e, sendo a literatura
uma prtica e um discurso, deve ser compreendida criticamente pelo aluno e
fortalecida pelo consumo de textos literrios, no ficando somente em obras
cannicas. Esta viso mais ampla da literatura, pois, deve guiar o professor na
seleo das obras.
Para Cosson, o letramento literrio se constri a partir de uma comunidade de
leitores, na qual a literatura a moldura cultural desse leitor. A partir do momento em
que a leitura de literatura se torna um movimento contnuo, pode-se compreender
que a educao literria est presente em sala de aula. Para ele: [...] necessrio
que o ensino de Literatura efetive, [...] partindo do conhecido para o desconhecido,
do simples para o complexo, do semelhante para o diferente, com o objetivo de
ampliar e consolidar o repertrio do aluno (2014 p.47-48).
Diante desse processo, Cosson sistematiza as atividades das aulas de
Literatura em duas sequncias: uma bsica e outra expandida, com objetivo de
apresentar duas possibilidades concretas de organizao das estratgias a serem
usadas nas aulas de Literatura da educao bsica.
[...] justamente para ir alm da simples leitura que o letramento literrio fundamental no processo educativo. Na escola, a leitura literria tem a funo de nos ajudar a ler melhor, no apenas porque possibilita a criao do hbito de leitura ou porque seja prazerosa, mas sim, e, sobretudo, porque nos fornece, como nenhum outro tipo de leitura faz, os instrumentos necessrios para conhecer e articular com proficincia o mundo feito linguagem. (COSSON, 2014, p.30)
2.5 O Texto Contemporneo em sala de aula
O texto contemporneo est cada vez mais presente no ambiente escolar, o
importante saber selecionar aqueles que so adequados a faixa etria dos
estudantes. Para que haja uma compreenso crtica importante que o professor
tenha uma experincia de leitura e um senso crtico perante a obra estudada.
A partir da dcada de 1930, os romances passaram a priorizar a histria do
cotidiano urbano e regionalista do pas, visando os gneros mais apreciados pelos
alunos tais como: o humor, o policial, a fico cientfica, a fico psicolgica e a
aventura.
Aguiar e Bordini definem a parceria que h entre o Cnone e contemporneo:
O ideal seria o cotejo de obras de diferentes pocas, para acompanhar a evoluo e
mudanas de perspectiva que, de certo modo, tambm integram o significado do
texto atual (1988 p.37). Diante da mesma perspectiva, Cosson diferencia o
contemporneo do atual: Obras contemporneas so aquelas escritas e publicadas
em meu tempo e obras atuais so aquelas que tm significado para mim em meu
tempo (2014, p.34).
Outra observao relevante a de Anne Rouxel: importante tambm propor
obras das quais eles extrairo um ganho simultaneamente tico e esttico, obras
cujo contedo existencial deixe marcas (2013 p.24).
o que est proposto no romance Galilia, pois a narrativa extremamente
arrebatadora, envolvendo trs primos que atravessam o serto para visitar seu av,
patriarca, que definha na sede da fazenda Galilia. Mas, o que os espera um local
de segredos e traies. Por mais que os primos tenham se distanciado da violncia
que ronda a famlia, eles voltaram a senti-la de perto, descobrindo que nunca
escaparam o destino que os cerca.
Ronaldo Correia de Brito nasceu no Cear e mora em Recife. mdico
formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Desenvolveu pesquisas e
escreveu diversos textos sobre literatura oral e brinquedos de tradio popular, alm
de ter sido escritor residente da Universidade da Califrnia, em Berkeley, no ano de
2007. Escreveu os livros de contos As noites e os dias (1997), Faca (2003), Livros
dos homens (2005), O pavo misterioso (2004), e o romance Galilia (2009).
Dramaturgo autor das peas Baile do menino deus, Bandeira de So Joo e
Arlequim.
2.6- O gnero Romance
A origem deste gnero narrativo remonta Idade Mdia, mas a forma atual
desenvolveu-se desde o sculo XVIII. , no entanto, no sculo XIX que ele teve sua
propagao enquanto gnero literrio. No sculo XX, o romance moderno
definitivamente alcana sua consolidao permanecendo at os dias de hoje e
revelando-se como um dos gneros mais lido da literatura.
Todo romance se origina de acontecimentos que so organizados em uma
sequncia temporal. Trata-se de uma narrativa longa, geralmente estruturada em
captulos, compondo-se por vrios personagens, em torno dos quais acontecem as
aes espaciais e temporais que constituem o enredo.
Alguns dos tipos de romances mais conhecidos na Literatura Brasileira so:
Romance Urbano: retrata a vida social das grandes cidades, tem como
enfoque intrigas amorosas, traies e vrios problemas sociais comuns a
esse ambiente.
Romance Regionalista: aborda questes sociais a respeito de determinadas
regies do Brasil, suas caractersticas, personagens com seus linguajares
tpicos.
Romance Histrico: destaca a vida e costumes de certa poca e lugar da
histria. Faz uma mescla entre fatos realmente ocorridos e fatos fictcios.
As narrativas estruturam-se sobre cinco elementos principais: enredo,
personagens, tempo, espao e narrador. As aes so segmentos narrativos com
princpio, meio e fim e podem ser divididos em:
Situao inicial: o momento do texto em que o narrador apresenta as
personagens, o cenrio, o tempo e situa o leitor nos fatos.
Desenvolvimento: o momento que a situao inicial quebrada atravs do
conflito para que a ao se desenvolva.
Clmax: momento de maior intensidade dramtica da narrativa. o momento
que o conflito fica insustentvel, algo tem de ser feito para solucion-lo.
Desfecho: como a situao se resolve no final da narrativa.
Aqui, a fim de instrumentalizar o professor para uma anlise bsica dos
elementos que constituem, portanto, o texto narrativo, indica-se breve conceituao
de cada um deles:
Personagem:
Protagonista: personagem principal que desempenha um papel central a sua
atuao fundamental para o desenvolvimento da ao.
Antagonista: que atua em sentido oposto; adversrio ou oponente.
Personagem que contra algum ou algo.
Personagem secundria: assume um papel de menor relevo que o
protagonista, sendo importante para o desenrolar da ao.
Figurante: tem um papel irrelevante no desenrolar da ao tem o papel de
ilustrar o ambiente ou o espao social de que representante.
Tempo
Tempo cronolgico: o tempo em que a ao acontece.
Tempo histrico: refere-se poca ou momento histrico em que a ao se
desenrola.
Tempo psicolgico: um tempo subjetivo, vivido ou sentido pela personagem
com seus estados de esprito.
Tempo do discurso: resulta da elaborao do tempo da histria pelo narrador.
Espao
Espao fsico: o espao real, que serve de cenrio ao, onde as
personagens se movem.
Espao social: constitudo pelo ambiente social, representado, pelas
personagens figurantes.
Espao psicolgico: espao interior da personagem, abarcando as suas
vivncias, os seus pensamentos e sentimentos.
Foco Narrativo
Narrador em primeira pessoa:
Narrador personagem: alm de contar a histria em primeira pessoa, faz
parte dela, sendo por isso chamado de personagem. marcado por
caractersticas subjetivas, opinies em relao aos fatos ocorridos.
Narrador-protagonista: o narrador a personagem principal da histria.
Todos os acontecimentos giram em torno de si mesmo, e por isso a narrativa
mais impregnada de subjetividade.
Narrador-testemunha: uma das personagens que vivem a histria contada,
mas no a personagem principal. Tambm registra os acontecimentos sob
uma tica individual e sem sobre carga emocional.
Narrador em terceira pessoa:
Narrador onisciente: aquele que sabe de tudo, conhece os aspectos da
histria e de seus personagens descrevendo seus pensamentos e
sentimentos, assim como pode tambm descrever os acontecimentos em
locais diferentes ao mesmo tempo.
Narrador-observador: o que presencia a histria, mas ao contrrio do
onisciente no tem a viso de tudo. No participa das aes nem tem
conhecimento a respeito da vida, pensamentos, sentimentos ou
personalidade das personagens.
3- ENCAMINHAMENTOS METODOLGICOS
Nessa unidade didtica prope-se a execuo de uma sequncia didtica de
leitura denominada por Cosson de Sequncia Expandida, a ser aplicada no ensino
mdio, com uma turma do 2 ano, a partir da leitura do romance Galilia, de
Ronaldo Correia de Brito.
A sequncia se estrutura em etapas: a motivao, que introduz o aluno no
universo do livro; a introduo, que a apresentao da obra, do autor e do prazo
estipulados da leitura; a leitura a etapa na qual acontecem os intervalos e so
acrescentados outros gneros textuais para compreender a obra; a primeira
interpretao a apreenso global da obra, momento em que o aluno expressa o
seu depoimento da leitura realizada; as contextualizaes, que podem ser a terica,
a histrica, a estilstica, a potica, a crtica, a presentificadora ou a temtica; a
segunda interpretao, que a leitura aprofundada da obra; e a expanso, que
busca dialogar entre a obra e outros textos contemporneos ou cnones a serem
indicados pelo professor.
3.1 Sugestes de Atividades
SEQUNCIA EXPANDIDA/ LETRAMENTO LITERRIO
(RILDO COSSON)
Leitura Escolhida GALILIA Ronaldo Correia de Brito
As atividades subsequentes sero realizadas para os alunos do 2 ano do ensino mdio, com uma estimativa aproximada de 32 aulas.
1 ETAPA: MOTIVAO
Tempo: 02 (aulas)
http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=70&evento=2
Objetivo: Introduzir os alunos no universo do romance Galilia, a partir da temtica
da migrao.
Atividade 01:
Problematizar junto aos alunos a origem da comunidade pelos nordestinos.
Propor a eles que respondam algumas perguntas oralmente:
a) Vocs conhecem pessoas que vieram de outras regies do pas?
http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=70&evento=2
b) H em suas famlias pessoas que so naturais do nordeste?
c) Quais foram os motivos possveis que levaram essas pessoas a deixarem seu
lugar e virem para c?
Atividade 02:
O professor, logo aps as respostas dos alunos, ir apresentar um convidado de origem nordestina para relatar a sua origem e como este chegou comunidade, fazendo com que os alunos se sintam motivados para a prxima atividade, que dever ser uma entrevista com a comunidade de famlias nordestinas. Que ser realizada extraclasse.
2 ETAPA: INTRODUO
Tempo: 3 (aulas)
Atividade 01:
O professor realizar uma sondagem para verificar se os alunos conhecem o gnero entrevista, se eles conhecerem ir apenas fazer uma reviso sobre o assunto, mas, se os alunos no conhecerem, ele ir trabalhar com o assunto atravs de textos, e vdeos de entrevista. Logo aps os alunos sero divididos em grupos e formularo um questionrio com dez perguntas para a realizao da entrevista com a comunidade. A apresentao ser realizada oralmente.
Atividade 02:
Neste momento, o professor questiona os alunos sobre as suas possveis
leituras, oportunizando uma exposio oral.
a) Qual sua experincia pessoal de leitura?
b) O que voc gosta de ler?
c) Onde voc gosta de ler?
d) Como voc acha que deveria ser o espao ideal para a leitura?
Atividade 03: