o veneno do reacionário - nelson rodrigues contra os subversivos políticos (1967-1968)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Ciências e Letras de Assis Departamento de História O veneno do reacionário: Nelson Rodrigues contra os subversivos políticos (1967-1968) Edmar Lourenço da Silva Projeto de pesquisa de mestrado apresentado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP, como requisito para solicitação de bolsa de mestrado. Orientador: Profº Drº Antonio Celso Ferreira. ASSIS/SP 2012

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Page 1: O veneno do reacionário - Nelson Rodrigues contra os subversivos políticos (1967-1968)

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JULIO DE MESQUITA FILHO”

Faculdade de Ciências e Letras de Assis

Departamento de História

O veneno do reacionário: Nelson Rodrigues contra os subversivos

políticos (1967-1968)

Edmar Lourenço da Silva

Projeto de pesquisa de mestrado apresentado à Fundação

de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP,

como requisito para solicitação de bolsa de mestrado.

Orientador: Profº Drº Antonio Celso Ferreira.

ASSIS/SP

2012

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Resumo

O projeto de pesquisa de mestrado propõe analisar historiograficamente através das

crônicas de Nelson Rodrigues reunidas nos livros O óbvio ululante: primeiras confissões

(1993) e A cabra vadia: novas confissões (1995) e das reportagens, artigos e matérias contidas

nas revistas Realidade e Revista Civilização Brasileira, produzidas durante o recorte temporal

de 1967-1968, as escolhas políticas e ideológicas rodrigueanas e dos autores/colaboradores

das duas revistas quanto a assuntos da esfera político-social e de como essas mesmas posições

políticas conceberam e/ou participaram da(s) cultura(s) política(s) existente(s) no final da

década de 1960 no Brasil.

Palavras-chave: Cultura política. História e literatura. Nelson Rodrigues. Revista Realidade.

Revista Civilização Brasileira.

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Introdução

A década de 1960 no Brasil, correlacionada em grande medida com os movimentos

contestadores internacionais, conformou, conforme o historiador Daniel Aarão Reis Filho,

uma comunidade de inclinações, no sentido de que nessa década se formulou ―novos valores,

envolvendo não apenas a política e o poder, mas os costumes, as práticas cotidianas, as

relações entre as pessoas – uma revolução que apenas se iniciava, e que prosseguiria para

além, muito além, de 68‖. (REIS FILHO, 1998, p.32). Internacionalmente, mudanças sociais,

econômicas e culturais, como o crescimento rápido das metrópoles acompanhado do modo de

vida tipicamente urbano, aumento diversificado dos estratos sociais médios, aumento do

número de jovens no ensino superior; como também disseminação de movimentos com

conotação política, como as manifestações estudantis nas ruas da França e México, os

protestos dos norte-americanos contra a guerra do Vietnã, a reforma sociocultural na China,

os movimentos de grupos organizados de negros, homossexuais e mulheres, as manifestações

culturais da contracultura e dos hippies, entre outros. (RIDENTI, 2011). No Brasil, os anos

finais da década de 1960, demonstraram uma maior intensificação dos movimentos artístico-

culturais e também políticos ocorridos na década de 1950, com a diferença de que os

movimentos ocorridos nos governos autoritários de Costa e Silva e de Médici, eram em sua

maioria compostos por entusiastas e militantes da esquerda política e dos grupos de guerrilhas

rural e urbana de esquerda. Formaram-se greves de operários em várias cidades brasileiras

contra as ações arbitrárias do regime autoritário, manifestações estudantis pelas universidades

e ruas das grandes e médias cidades, manifestações socioculturais ligados ao Cinema Novo,

aos teatros Oficina e Opinião, à Tropicália, aos diversos festivais da canção, entre outros.

(REIS FILHO, 1998; NAPOLITANO, 2004). Enfim, os anos 1960 exibiram transformações

culturais e sociais jamais presenciadas antes, como, por exemplo, o abismo entre as gerações

de adultos e de jovens e o culto e a massificação cultural desse último grupo etário das

sociedades ocidentais. (HOBSBAWM, 1994). Na esfera política e em regimes autoritários

como o do Brasil, os envolvimentos direto e indireto com a oposição de esquerda, deslocavam

indivíduos para a clandestinidade social e estilhaçava as intimidades afetiva e familiar, os

estudos e o trabalho. (WEIS, ALMEIDA, 1998).

Dentro desse quadro histórico-social, Nelson Falcão Rodrigues (1912-1980), tomado

por dificuldades financeiras, iniciou na década de 1940 a produção das suas peças teatrais e

dos seus textos jornalísticos. (CASTRO, 1992). Tornou-se um importante dramaturgo,

ficcionista e cronista brasileiro, tendo várias de suas peças teatrais, romances e contos

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adaptados para o cinema e televisão 1 e, também, até hoje, peças suas de teatro são

apresentadas em muitos espetáculos teatrais pelo Brasil. Mas Nelson Rodrigues também foi

uma pessoa pública, um intelectual, adorado e odiado por diversos segmentos da sociedade de

sua época. Durante a pesquisa serão discutidas as crônicas rodrigueanas que abrangem os

efervescentes anos 1967-1968, e, em que grau os aspectos políticos e sociais do período foram

importantes, fundamentais para a produção das obras do escritor. Sem desconsiderar, no

entanto, como as ideias, a subjetividade e as escolhas políticas do autor concomitantemente

produziram o imaginário social, de como ele colaborou para a demonstração e construção de

valores ético-morais de uma sociedade brasileira urbana que passava por um processo de

modernização nos costumes e nos modos.

Entre os impressos periódicos analisados como fontes para a pesquisa e produzidos

na segunda metade da década de 1960, estão as revistas Realidade e Revista Civilização

Brasileira. A primeira destas revistas, publicada pela Editora Abril, circulou pelo mercado

editorial brasileiro durante os anos 1966-1976. Caracterizou-se, em pleno regime civil militar,

pelos diversos temas pouco debatidos - por conta da censura, muitas vezes - em outros meios

de comunicação: o racismo, a fome, o clero de esquerda, os problemas relacionados às

grandes cidades, as mazelas do Nordeste, sobre a educação sexual, sobre a ciência e

progresso. (MIRA, 2001; CORRÊA, 2008). Com tiragem variável entre 250 mil a 500 mil

exemplares, Realidade teve vários colaboradores, entre os principais, José Hamilton Ribeiro,

Maurício Azêdo, Múcio Borges da Fonseca, Mylton Severiano da Silva, Eurico Andrade, Luis

Edgar de Andrade, Luiz Fernando Mercadante, Roberto Freire, Rodolfo Konder, Narciso

Kalili, Woile Guimarães, Raimundo Rodrigues Pereira; e também o redator-chefe Paulo

Patarra e o editor de textos Sérgio de Souza. (MIRA, 2001; CORRÊA, 2008). A Editora

Civilização Brasileira, durante os anos 1965-1968, publicou vinte e dois volumes e três

cadernos especiais sobre teatro e política internacional da Revista Civilização Brasileira.

Entre os assuntos mais recorrentes na revista estavam a discussão sobre problemas sociais

brasileiros, a crítica aos movimentos de esquerda à época do golpe civil militar de 1964, o

papel da mulher na sociedade, a juventude, os movimentos negro e homossexual, entre outros.

(NEVES, 2011). Com mais de 500 textos publicados e com uma tiragem que variou entre 10

1 Alguns dos principais filmes realizados no Brasil a partir da obra de Nelson Rodrigues: Meu destino é pecar

(1952), de Manuel Pelufo; Boca de Ouro (1962), de Nelson Pereira dos Santos; Asfalto selvagem (1963), de J.B.

Tanko; A falecida (1965), de Leon Hirszman; Toda nudez será castigada (1972), de Arnaldo Jabor; A dama do

lotação (1978), de Neville d‘Almeida; Os sete gatinhos (1980), de Neville d‘Almeida; Perdoa-me por me traíres

(1983), de Brás Chediak; Traição (1998), de Arthur Fontes, Cláudio Torres e José Henrique Fonseca; Gêmeas

(1999) de Andrucha Waddington. Fonte: Cult. Revista Brasileira de literatura, n. 41, ano IV, dezembro de 2000.

(apud. FACINA, 2004b, p.91).

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mil a 40 mil exemplares, a Revista Civilização Brasileira, reuniu colaboradores como Alex

Viany, Álvaro Lins, Antônio Houaiss, Dias Gomes, Edison Carneiro, Ferreira Gullar, Haiti

Mossatché, Nelson Lins de Barros, Nelson Werneck Sodré, Octávio Ianni, Paulo Francis,

Oswaldo Gusmão, entre outros; e também o editor-chefe Ênio Silveira e o secretário-geral

Roland Corbisier. (NEVES, 2011). No decorrer da pesquisa, frisar-se-á em ambas as revistas

os assuntos, os aspectos políticos ligados à conjuntura sociohistórica dos anos 1967-1968,

buscando compreender como o contexto histórico influiu na produção dos textos dos

colaboradores das duas revistas e do alcance/incorporação de suas ideias na sociedade da

época. Confrontando, principalmente, a(s) cultura(s) política(s) 2 entre as duas revistas com os

textos e a(s) cultura política(s) existente(s) nos textos de Nelson Rodrigues.

Discussão Bibliográfica

As fontes literárias e periódicas começaram a ter maior destaque no trabalho de

inquirição do historiador a partir da década de 1970, tanto no Brasil como internacionalmente.

Essas fontes tornam-se propícias a múltiplas leituras para o historiador, pois com elas abre-se

a possibilidade de compreensão de significados culturais, valores sociais, experiências

subjetivas, relações entre imprensa e grupos sociopolíticos diversificados, dados de consumo

social, entre muitas outras possibilidades.

O interesse dos historiadores pela literatura como fonte para a pesquisa

historiográfica tem aumentado no decorrer dos últimos anos. Isto se deve à tomada de

consciência por parte dos historiadores acerca do questionamento das interpretações

tradicionais dos eventos históricos e da incorporação de novos objetos (como a literatura, o

cinema, a memória) incorporados ao campo da pesquisa histórica (LE GOFF, NORA, 1998.).

Constatou-se que a utilização da literatura como fonte para os historiadores, iniciou-se a partir

dos anos 1970 do século XX, em um movimento com origem na França e, posteriormente,

difundido em vários países, inclusive o Brasil. Essa nova empreitada historiográfica esteve

ligada a historiadores da revista francesa Annales d’Histoire Economique et Sociale, com

fundação em 1929, por Marc Bloch e Lucien Febvre (FERREIRA, 2009; NAXARA,

CAMILOTTI, 2009.). Essa nova geração de historiadores franceses possibilitou à História a

abordagem de novos objetos e problemas, em um movimento que ficou conhecido como

2 Maior esclarecimento sobre esse conceito será dado no tópico Metodologia, mas cabe adiantar basicamente

a(s) cultura(s) política(s) em suas linhas mais gerais como conjunto de representações formuladas por indivíduos

no plano político-social que compartilhem leituras comuns do passado, vivências conjuntas no presente e

projeções comuns no futuro. (BERSTEIN, 1998; GOMES, 1999).

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―Nova História‖. Objetos como o inconsciente, a língua, a literatura, o mito, entre outros e a

pesquisa de novos documentos como os sonoros e visuais, contrapôs essa nova historiografia

àquela político-factual da Escola Metódica (FERREIRA, 2009.).

No Brasil, a importância da literatura para a pesquisa na área denominada por

Ciências Humanas, foi debatida por Antonio Candido de Mello e Souza (um dos precursores

da designada Sociologia da Literatura no Brasil) e também por historiadores como Sérgio

Buarque de Holanda, Nelson Werneck Sodré e, mais para a década de 1980, por historiadores

como Nicolau Sevcenko (FERREIRA, 2009.). Procurando desvencilhar-se das ideias de

―reflexo‖, ―determinação‖, e ―autonomia‖ na produção literária, o sociólogo e crítico literário

Antonio Candido, por exemplo, propõe a interpretação da obra literária em uma investigação

que perceba tanto a influência exercida pelo meio social na criação artística quanto o modo

pelo qual ela influencia esse meio. Tem de se relacionar a expressão literária ao seu contexto,

mas tomando cuidados para não reduzi-la a essa determinação e a interpretações mecanicistas

e unívocas (SOUZA, 1976.).

Assim como o que ocorreu com as fontes literárias, os periódicos sofreram por parte

de uma historiografia mais metódica um desinteresse teórico-metodológico. Isso se deveu a

uma tradição dominante nas historiografias nacional e internacional do século XIX e início do

século XX, que, preconizava a busca da verdade e dos fatos, através de documentos oficiais.

O historiador, portador de métodos ―científicos‖ e de crítica textual apurada, analisava

documentos, textos marcados pela objetividade, neutralidade, credibilidade e

preferencialmente distante do tempo histórico do pesquisador. Tal situação histórica começou

a mudar a partir da década de 1970, quando dos debates historiográficos empreendidos pela

terceira geração da Escola das Annales3, pelos historiadores reunidos em torno da New Left

Review4, pelo movimento conhecido por Linguistic turn5, e a renovação da História política6,

houve renovações temáticas como aquelas acima mencionadas e passou a existir um

movimento de pesquisa histórica não somente através da imprensa, mas também por meio da

imprensa (DE LUCA, 2010).

3 A terceira geração da Escola das Annales era composta por historiadores como Georges Duby, Michèle Perrot,

Pierre Nora, François Furet, Jacques Le Goff, que, à época era o diretor efetivo da Revista.

4 Com propostas de reformulações do pensamento marxista ortodoxo, a New Left Review tinha entre seus

principais colaboradores os historiadores Eric Hobsbawm, Perry Anderson, Raymond Williams, Edward Palmer

Thompson, entre outros.

5 Desafio linguístico que provocou polêmica e questionamento sobre a existência ou não de referências externas

ao texto e discurso e também sobre o caráter narrativo e ficcional do texto historiográfico.

6 Empreendimento dos anos 1970-1980 e que procurou distinguir a História política da História do presente e

que demonstrava aversão ao apego do efêmero, factual, subjetivo e idealista.

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Com base nessa discussão, cabe especificar como principais fontes históricas da

pesquisa as crônicas do escritor e teatrólogo Nelson Rodrigues e as Revistas Realidade e

Revista Civilização Brasileira. E para tanto, no que se refere às fontes rodrigueanas, uma

breve exposição de duas principais referências são as análises de Henrique Buarque de

Gusmão e Adriana Facina, historiadores que recentemente produziram importantes estudos

sobre a produção de Nelson Rodrigues7. Henrique Buarque Gusmão, através, principalmente,

da produção teatral de Nelson Rodrigues da segunda metade do século XX, procura

estabelecer a posição do autor e dramaturgo frente às questões que estavam em voga na

sociedade e no teatro da época. Para tanto, o historiador percebe que o teatro rodrigueano

possui uma função purificadora e redentora. (GUSMAO, 2010.). Aliando a interpretação das

peças teatrais rodrigueanas à sociologia de Gilberto Freyre (principalmente a partir das obras

Casa grande e senzala e Sobrados e mucambos), Gusmão observa que as personagens teatrais

além de intensamente expressarem ou reprimirem o desejo sexual, no intuito de purificar o

público, possuem características sócio-morais de elementos da sociologia freyreana, como os

excessos de violência sexual, física e sensual. (GUSMAO, 2010.). Adriana Facina, em uma

obra de fôlego, pois abarca quase toda a produção de Nelson Rodrigues, desde seus primeiros

escritos nos jornais do pai, Mario Rodrigues, até a sua morte em 1980, analisa crônicas sobre

futebol, contos, peças teatrais e a crítica bibliográfica referente ao autor. Tendo como corpo

documental as entrevistas, os arquivos televisivos, jornais, revistas que possuíssem conteúdos

referentes a Nelson Rodrigues, a historiadora e antropóloga Adriana Facina adota uma

perspectiva histórico-antropológica da produção artística do escritor. A humanidade seria

―permeada de uma ambiguidade trágica‖, ―formada por aspectos demoníacos e divinos, por

instintos animalescos e sublimes, pelo mal e pelo bem‖. (FACINA, 2004b, p.261.).

No que concerne a importantes estudos recentes de História que exploraram as

Revistas Civilização Brasileira e Realidade, cabe citar os trabalhos dos historiadores Letícia

Nunes de Goés Moraes e de Ozias Paese Neves. Ao analisar esta última revista, Letícia Nunes

percebe através das cartas dos leitores enviadas à equipe da revista, a maneira pela qual a

revista era lida por seus leitores e a forma idealizada pela qual a equipe editorial da revista se

esforçava para que a revista fosse lida. Seu principal objetivo, no entanto, foi de pesquisar sob

a perspectiva da História Cultural a recepção dos meios de comunicação, através da Revista

7 Durante a pesquisa serão acrescentados relatos de outros relevantes estudos sobre a produção literária de

Nelson Rodrigues. Tomam-se como exemplos, Sábato Magaldi, Nelson Rodrigues: dramaturgia e encenações.

São Paulo: Edusp/Perspectiva, 1987; Eudinyr Fraga, Nelson Rodrigues expressionista. São Paulo: Ateliê

Editorial, 1998; Victor Hugo Adler Pereira, ―Nelson Rodrigues: dramático cronista‖. In: RESENDE, Beatriz

(org.). Cronistas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: José Olympio/CCBB, 1995.p.131-49, entre outras

possibilidades.

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Realidade; e a relação entre imprensa e sociedade estabelecida entre revista e seus leitores,

―desvelando um mundo dialético em que, nem sempre, o desejo da revista vai ao encontro das

aspirações de seus leitores que reclamam, contestam, exigem‖ (MORAES, 2007, p.15).

Quanto à Revista Civilização Brasileira, Ozias Neves mediante a História intelectual e do

conceito de cultura política, abordou a Revista durante o período de 1965-1968 e procurou

identificar o papel dos intelectuais de esquerda colaboradores da Revista e como eles

interpretavam suas ações e a forma como expressavam o seu engajamento político-social. O

autor esforçou-se em mapear a Revista Civilização Brasileira, caracterizando a sua estrutura

de funcionamento, o número de seus autores/colaboradores e as estratégias pelas quais agiam

no cenário político e comportamental da época. (NEVES, 2011).

Justificativa

Considerando-se os importantes estudos dos pesquisadores mencionados acima,

todavia percebe-se nos trabalhos relacionados às fontes rodrigueanas um destaque principal às

peças teatrais de Nelson Rodrigues e um caráter com menor enfoque às crônicas e memórias

do autor. Por outro lado, os estudos relacionados às duas revistas da década de 1960,

mostram-se importantes por suas abordagens diversificadas e com diferentes temas e

propósitos, no entanto, analisar as escolhas políticas e ideológicas presentes nas duas revistas

e obras de Nelson Rodrigues proporcionará múltiplas análises de uma época marcada pelo

combate de diferentes ideias, valores e significados socioculturais.

Às vésperas do Centenário de nascimento de Nelson Rodrigues8, a revitalização de

suas crônicas e memórias em um estudo historiográfico envolvendo duas importantes revistas,

mostra-se potencializador de ressignificações e de múltiplas críticas das fontes literárias e

periódicas9 analisadas no presente estudo. Dessa forma, a justificativa se dá nos insuficientes

estudos com enfoque historiográfico mais detido nos temas político e social das crônicas de

Nelson Rodrigues e na intenção de durante a pesquisa confrontar essa produção rodrigueana

com os vários temas sociais, políticos e culturais existentes nas revistas Realidade e Revista

8 O ano de 2012 será marcado por comemorações do Centenário de nascimento do escritor Nelson Rodrigues,

porém, vários eventos, como o lançamento da revista Folhetim (Rio de Janeiro: Pão e Rosas, 2011), que reúne

um dossiê de críticas e artigos sobre a obra de Nelson Rodrigues no período de 1942-2009; e de uma provável

―fundação virtual‖, capaz de reunir informações referentes ao número de peças do escritor apresentadas no Brasil

e no exterior e ao correspondente de estudos realizados sobre sua obra, demonstram o início do calendário de

comemorações a partir deste ano. (Apud: MENEZES, Maria Eugênia de. Rumo aos 100. O Estado de São Paulo,

São Paulo, 27 de julho de 2011. Caderno2, p.D7; MELLÃO, Gabriela. Nelson em revista. Folha de São Paulo,

São Paulo, 30 de junho de 2011. Ilustrada, p.E1).

9 Explicações mais detalhadas referentes à localização e forma de organização dessas fontes serão dadas no

tópico Fontes.

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Civilização Brasileira. Um estudo historiográfico assim, provavelmente, enriquecerá os

diversos estudos com diferentes temáticas sobre as fontes literárias, em particular a obra de

Nelson Rodrigues, e também sobre as fontes periódicas, com destaque para o gênero de

impresso revista.

Objetivos

O projeto de pesquisa terá por objetivo analisar historiograficamente através do

conceito de cultura(s) política(s) 10, as seguintes obras de Nelson Rodrigues: O óbvio ululante:

primeiras confissões (1993), A cabra vadia: novas confissões (1995) e as revistas Realidade

(produzida durante os anos 1966-1976) e Revista Civilização Brasileira (produzida no

período de 1965-1968).

Nelson Rodrigues, durante os meses de fevereiro de 1967 a outubro de 1968,

produziu nos jornais O Globo e Jornal da Tarde as crônicas e memórias com forte teor de

conservadorismo ideológico reunidas nesses dois livros. Em uma dessas crônicas o autor

critica a massificação da ideologia marxista por parte da esquerda e de sua aparente

indiferença para com os assuntos da política e sociedade brasileiras:

(...) De vez em quando, um desses fumantes me diz: —‗Marx é maior do que

Cristo‘. E um outro viciado jurou-me: —‗O verdadeiro Cristo é Marx‘, Ambos

usavam a mesma ênfase alucinatória. Bem os entendo. O Brasil atual é um

pouco a Velha China. Sabemos o que foi, historicamente, para o antigo chinês, o

papel do ópio. Houve uma espantosa deliquescência de valores. O vício

maravilhoso destruía o sentimento de terra, de nação, de história, de família.

Tudo apodrecia no êxtase supremo. (Mas a China não pode viver sem ópio. Hoje

o ópio, o sonho, o delírio é Mao Tsé-tung.) Julgo perceber uma certa semelhança

entre o aviltamento da China do ópio e a atitude de certas áreas ideológicas do

Brasil. Procurem me entender. Fumamos o ópio marxista. Muito bem. E, na

fumaça leve e encantada que sopramos, não aparece a silhueta do Brasil. É cada

vez mais cruel a distância entre as esquerdas e o Brasil. De vez em quando, vejo

muros pichados com vivas a Cuba. Eis o que me pergunto, gelado de pavor: —

‗Vivas a Cuba e não ao Brasil? ‘. Nunca, até hoje, se sujou um muro brasileiro

com um honesto e desesperado viva ao Brasil. (RODRIGUES, 1993, p.195).

A revista Realidade, produzida comercialmente pelo período de dez anos,

apresentava em suas páginas temas diversificados como racismo, política, sexo, entre outros.

10 Conforme escrito acima, maiores explicações sobre o conceito de cultura(s) política(s) será dado no tópico

Metodologia.

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Na edição de abril de 1967, por exemplo, a matéria principal intitulada ―Afinal, o que o povo

pensa do Tio Sam?‖, a revista elaborou para o público leitor de várias cidades brasileiras um

questionário em que a principal pergunta era o que o ele pensava sobre os norte-americanos:

(...) - 600 homens e 600 mulheres, maiores de 18 anos, com duas perguntas

fundamentais: 1– O que acha dos americanos? 2 – O que os Estados Unidos têm

feito pelo Brasil? O campo da pesquisa foi: Porto Alegre, Caxias (RS), Rio de

Janeiro, São Paulo, Jundiaí, Bragança Paulista (SP), Belo Horizonte, Juiz de

Fora e Recife. (Apud: SPAGNOLO, 2011, p.80).

Produzida pelo período de 1965-1968, a Revista Civilização Brasileira posicionou-

se ideologicamente como um dos bastiões da imprensa contrários ao regime civil militar e ela

apresentava temas como políticas nacional e internacional, questões científicas, artísticas,

filosóficas. Na edição de julho de 1968, por exemplo, o teatrólogo e secretário-geral da revista

à época Dias Gomes, em texto intitulado ―O engajamento: uma prática da liberdade‖, avalia

como necessário o engajamento político do artista, pois

(...) o homem engajado permanece um homem livre, isto é, que se liberta

permanentemente pela humanização. O artista, ao engajar-se, não abdica da

menor parcela de sua liberdade, ao contrário, ele a ganha, permanentemente.

Pois a liberdade não é um estado, é um ato. O artista engajado exerce a liberdade

sob a forma de libertação contínua. (Apud: NEVES, 2006, p.95).

Embora as revistas mencionadas tenham um período histórico abrangente,

correspondentes aos anos 1965-1976, o enfoque do estudo se dará nos anos finais da década

de 1960 no Brasil, com particularidade maior para a conjuntura política de 1967-1968. Esse

recorte temporal se explica pela tentativa de analisar os diversos movimentos de mudanças

nos comportamentos e crenças da sociedade brasileira à época e de como ocorreram alguns

dos mais variados movimentos de inconformismo nas esferas política, social e cultural dos

instantes anteriores aos ditos ―anos de chumbo‖ 11 do regime autoritário. Através da análise

historiográfica das obras rodrigueanas e das duas revistas, examinar-se-á, principalmente, a(s)

cultura(s) política(s) existente(s) entre ideologias diferentes, o engajamento político em

discussões sobre valores e comportamentos, a formação de grupos intelectuais e os

11 Após a promulgação do Ato Institucional nº5 de dezembro de 1968, o regime civil militar iniciou uma série

de medidas repressivas contra a imprensa, aos movimentos culturais contrários ao regime autoritário, prisões e

perseguições políticas, combate aos grupos contestatórios de luta armada, entre outras.

Page 11: O veneno do reacionário - Nelson Rodrigues contra os subversivos políticos (1967-1968)

questionamentos que eles faziam aos paradigmas e estruturas sociais da segunda metade do

século XX.

Metodologia

Procurando-se distanciar dos acirramentos, das disputas e dicotomias entre História

Cultural e História Política; entre História Social e História Cultural existentes no campo

historiográfico, o presente trabalho de pesquisa dará ênfase aos possíveis elementos de

mediação teórico-metodológica desses diferentes, porém, inter-relacionados campos do saber

historiográfico. Evitando-se pensar que a História se mostraria somente como natureza, como

matéria em si, como objetividade; ou por outro lado, que a História só seria cultura,

representação ou subjetividade, buscar-se-á pensá-la e reconstruir seus fatos sobre a

perspectiva da ―terceira margem‖, que segundo o historiador Durval Muniz de Albuquerque

Junior,

(...) Significa primeiro pensar que a História não se passa apenas no lugar da

natureza, da coisa em si, do evento, da matéria ou da realidade, nem se passa

apenas do lado da representação, da cultura, da subjetividade, do sujeito, da

ideia ou da narrativa, mas se passa entre elas, no ponto de encontro e na

mediação entre elas, no lugar onde estas divisões ainda são indiscerníveis, onde

estes elementos e variáveis se misturam. (ALBUQUERQUE JUNIOR, 2007,

p.28).

O mesmo historiador sugere pensar a produção historiográfica como ―invenção‖, no

sentido de que a História ―enfatiza e descontinuidade, a ruptura, a diferença, a singularidade,

além de que afirma o caráter subjetivo da produção histórica‖. (ALBUQUERQUE JUNIOR,

2007, p.20). Com isso, a partir da década de 1970, começaram a serem questionados os

valores universais do homem, o caráter objetivo do historiador na construção do saber

histórico; reapareceram preocupações referentes à dimensão ficcional do texto historiográfico

e de seus discursos e sentidos. (ALBUQUERQUE JUNIOR, 2007). No entanto, o que essa

pesquisa procurará destacar - sem a intenção de relativizar ao extremo a escrita

historiográfica, mas de apenas sugerir propostas mais férteis e abertas - é o caráter da História

como uma ―invenção controlada‖ ou ―ficção controlada‖, conforme apreciações da

historiadora Sandra Jatahy Pesavento, primeiro porque a História, através dos indícios

arrolados nos diversos documentos (impressos, audiovisuais, por exemplo), apareceria como

representação sobre o acontecimento, cuja comprovação e reprodução exatas não seriam

Page 12: O veneno do reacionário - Nelson Rodrigues contra os subversivos políticos (1967-1968)

possíveis atestar. Segundo, porque a História, através das metodologias e da estética, retórica

e estratégias de linguagem próprias do historiador, permite-se ao leitor refazer o caminho dos

arquivos e acompanhar o arrolamento das fontes selecionadas e as deduções feitas durante o

trabalho historiográfico. Por fim, porque a História, através da acumulação de conhecimentos

do historiador, exige o recurso ao extratexto que torna capaz e eficiente o trabalho

historiográfico no sentido de propor analogias, contrastes, nexos e superposições.

(PESAVENTO, 2005). A produção historiográfica, portanto, seria invenção controlada ou

ficção controlada quando se pensa no seu caráter linguístico, retórico e nas argumentações

para persuadir o leitor e na representação sobre os fatos e acontecimentos históricos, mas

buscaria aproximar-se de maneira interpretativa e criticamente desses mesmos fatos e relatos

históricos, através das inquirições documentais e dos procedimentos teórico-metodológicos

dos historiadores.

Dessa maneira, tornar-se-á necessário estabelecer indicações metodológicas que não

tem a pretensão de serem modelos prontos ou única forma aceitável para lidar com fontes

literárias e fontes impressas na pesquisa historiográfica.

Procurar-se-á analisar as revistas Realidade e Revista Civilização Brasileira –

observando-se as particularidades e diferenciações entre as análises das notícias, os projetos

editoriais e os formatos gráficos das duas revistas -, sob as seguintes indicações

metodológicas. Inicialmente, localizar as duas revistas na história da imprensa, associando-as

ao seu lugar de produção e estabelecendo semelhanças e diferenças com outros periódicos à

época. Depois, avaliar a materialidade das revistas, visualizando, através de suas páginas,

partes da história da indústria gráfica, e qual a ―variedade de formatos, tipos de papel,

qualidade da impressão, cores, imagens‖. (DE LUCA, 2010, p.131). Em seguida, o aspecto a

ser considerado é a função social dessas revistas, com o intuito de identificar possíveis

inclinações doutrinárias, defesas exacerbadas de ideologias e se elas participaram ativamente

em intervenções no espaço público e quais eram as suas relações com a publicidade e o

público. Procurar a identificação do grupo responsável pela linha editorial de ambas as

revistas, visando elencar os colaboradores mais assíduos e quais eram as suas maiores

intenções e expectativas. Fazer, por fim, leituras internas e externas às revistas, observando o

ambiente em que foram produzidas, a qual tipos de sociedades estavam vinculadas e qual era

a conjuntura sócio histórica do período.

Page 13: O veneno do reacionário - Nelson Rodrigues contra os subversivos políticos (1967-1968)

Quanto às fontes literárias rodrigueanas12, abordar-se-á como o autor de O óbvio

ululante se consagrou como um dos maiores teatrólogos e ficcionistas brasileiros do século

XX, e de como era a sua relação com os demais escritores e segmentos sociais da época.

Como eram vistas a arte e a literatura nessa época? Qual era a realidade socioeconômica em

que Nelson Rodrigues e seus familiares viviam à época? De como o escritor e o porquê se

lançou à produção de peças teatrais, de crônicas e contos? Questões de como a escrita do

―anjo pornográfico‖ deu novas significações à literatura, ao teatro e de como, principalmente,

os significados históricos da época são apreendidos em sua obra, serão relevantes ao estudo.

O horizonte intelectual e cultural do pesquisador deverá também estar sob

investigação e reflexão. Portanto, tendo a consciência de viver em um contexto histórico

diferente ao do objeto pesquisado, o pesquisador deverá zelar por uma das práticas mais

caras ao historiador: a historicidade. Questões que remetem ao por que estudar

historiograficamente fontes literárias mostram-se importantes para o desenvolvimento de

qualquer pesquisa histórica. Quais as percepções da dinâmica social e histórica em uma obra

literária? E outra questão importante é de como a literatura é concebida e de que maneira ela

é vista pela sociedade cuja qual o pesquisador faz parte. (FERREIRA, 2009.).

Para o historiador, diferentemente de alguns outros pesquisadores da área de

Ciências Humanas, tem de haver a preocupação de quando for estudar um texto literário

procurar compreendê-lo dentro de um contexto histórico e social. Portanto, o foco se dá a

algo externo ao texto 13. Com isso, torna-se fundamental tomar conhecimento sobre as

recepções críticas às obras de Nelson Rodrigues, neste caso, e aquela sobre a história do

período que é proposto neste projeto de pesquisa.

Como o projeto de pesquisa lida com gêneros literários em prosa, o conhecimento

através da Teoria Literária sobre como se percebe o foco narrativo do texto, de como

identificar noções de tempo e de espaço, de como identificar a linguagem metafórica, de

notar a composição e ação das personagens na história, serão importantes à pesquisa 14.

12 Sendo as crônicas de Nelson Rodrigues fontes literárias para presente pesquisa, e baseando-se nos estudos

específicos sobre gêneros literários de Massaud Moisés (1978) e Nádia B. Gotlib (2006), elas serão

compreendidas neste estudo como derivada do folhetim francês do século XIX e que possui como principais

características a subjetividade do autor em contar histórias com linguagem descompromissada e leve, e que

representa, com alguma veia poética, os fatos do cotidiano.

13 Como salienta Antonio Celso Ferreira, o historiador, conforme for o objeto e a questão central de sua

pesquisa, poderá, sim, eleger estudar as estruturas internas das fontes, contanto, que não desconsidere os dados

contextuais a essas obras literárias. (FERREIRA, 2009).

14 Como alguns exemplos de alguns críticos de literatura com estudos deste tipo, e que terão suas obras

consultadas, têm-se: A linguagem literária, São Paulo, Ática, 1987, de Benedito Nunes; O tempo na narrativa,

São Paulo, Ática, 1988, de Domício Proença Filho; Cultura letrada: literatura e leitura, São Paulo, UNESP,

2006, de Márcia Abreu.

Page 14: O veneno do reacionário - Nelson Rodrigues contra os subversivos políticos (1967-1968)

Lembrando que em uma pesquisa historiográfica o principal para a análise literária é o

contexto, a dinâmica histórico-social em que se dão as obras. Dessa maneira, a consulta a

outros textos que podem dar o panorama histórico da época é imprescindível para o ofício do

historiador.

Portanto, para lidar com diferentes interpretações acerca do período histórico da

pesquisa, valer-se-á de obras de importantes nomes da historiografia, da sociologia, da

crítica literária e de outros especialistas que trataram do período com diversos temas. No

entanto, é importante destacar que diferentes assuntos desta pesquisa, como, por exemplo, os

movimentos sindicais, a reforma agrária, não terão número equitativo de livros, artigos,

como em outros temas que se consideram vitais para o objetivo da pesquisa. Pois, entende-

se que a ênfase deve-se dar em assuntos como a política, a cultura, o comportamento social e

em outros que de maneira constante apareceram, ou pelo menos foram aludidos, nas

referidas crônicas e memórias de Nelson Rodrigues e nos diversos conteúdos das revistas

Realidade e Revista Civilização Brasileira. Dessa forma, as obras que compõem a

bibliografia do projeto de pesquisa formam-se sobre esse intuito, sobre essa escolha

metodológica.

Durante a pesquisa, três noções serão utilizadas para buscar compreender as

trajetórias de vida dos autores/colaboradores das revistas Realidade e Revista Civilização

Brasileira e do teatrólogo Nelson Rodrigues; também a função social e a repercussão de suas

ideias na sociedade e a correlação das mesmas ideias com outros valores e ideologias à

época estudada.

Primeiramente, pensar os colaboradores das duas revistas sob a noção de

intelectual, que embora de contornos imprecisos, baseia-se fundamentalmente em duas

acepções: ―uma ampla e sociocultural, englobando os criadores e os ‗mediadores‘ culturais, a

outra mais estreita, baseada na noção de engajamento‖. (SIRINELLI, 2003, p.242). O

intelectual seria, portanto, especialista reconhecido pela sociedade na qual se insere, seria

produtor e transmissor de bens simbólicos e culturais e que se engaja de maneira direta ou

indiretamente nos debates do círculo do poder político e na interpretação da realidade social.

(GOMES, 1999; SIRINELLI, 2003). A segunda noção importante a ser destacada é a de

ilusão biográfica. O sociólogo Pierre Bourdieu a denominou como um relato de vida que

envolve seleção de eventos e memórias pessoais razoavelmente conscientes que procuram

transmitir uma unidade, coerência e sentido final e objetivo ao relato. Nas palavras do

sociólogo,

Page 15: O veneno do reacionário - Nelson Rodrigues contra os subversivos políticos (1967-1968)

Essa vida organizada como uma história transcorre, segundo uma ordem

cronológica que também é uma ordem lógica, desde um começo, uma origem,

no duplo sentido de ponto de partida, de início, mas também de princípio, de

razão de ser, de causa primeira, até seu término, que também é um objetivo.

(BOURDIEU, 1996, p.184).

Pierre Bourdieu ressalta também a correlação das histórias de vida, do indivíduo

coerente com a unidade do todo social e da valorização dos indivíduos nas sociedades

ocidentais. Porém, o que norteará o presente estudo é a percepção de que os relatos

biográficos e autobiográficos são construções discursivas relacionadas ao contexto histórico

do indivíduo. Assim, o que será relevante para a pesquisa é buscar compreender essas

construções de maneira histórico-social e ausentes de perspectivas psicologizantes,

reducionistas e condizentes com uma coerência e sentidos pessoal e social. A última noção a

ser designada é a de cultura política, apresentando formas fluidas, mas conforme Serge

Berstein, contem duas características fundamentais:

(...) por um lado, a importância do papel das representações na definição de

uma cultura política, que faz dela outra coisa que não uma ideologia ou

conjunto de tradições; e, por outro lado, o caráter plural das culturas políticas

num dado momento da história e num dado país. (BERSTEIN, 1998, p.350).

Historicamente o conceito de cultura política sofreu diversas reinterpretações e

ressignificações15; sendo geralmente associado ao conjunto de valores, normas, crenças

referentes aos fenômenos políticos e razoavelmente partilhados pelos indivíduos, grupos

sociais e comunidades nacionais. (AGGIO, 2008; BERSTEIN, 1998; SANI, 1998). O

historiador Gabriel Almond, na década de 1990, a definiu da seguinte maneira:

(...) em primeiro lugar, consiste em um feixe de orientações políticas de uma

comunidade nacional ou subnacional; em segundo lugar, tem componentes

cognitivos, afetivos e valorativos que incluem tanto os conhecimentos e

crenças sobre a realidade política quanto aos sentimentos políticos e os

compromissos com valores políticos; em terceiro lugar, o conteúdo da cultura

15 Desde a primeira interpretação dos cientistas políticos Gabriel Almond e Sidney Verba na década de

1960(contida no livro The Civic Culture: political atitudes and democracy in five nations), o termo cultura

política teve várias reinterpretações que partiam desde uma matriz comportamental-funcionalista (associado ao

período da década de 1960), a um período de ostracismo e de severas críticas a um certo conservadorismo

liberal-democrático anglo saxão que o termo apresentava (décadas de 1970-1980) e a um ―renascimento‖ do

termo vinculado ao pensamento de ―culturas políticas‖ e de dimensões ampliadas do universo político, de novos

temas e questões apresentadas pelo conceito (a partir da década de 1980). (AGGIO, 2008).

Page 16: O veneno do reacionário - Nelson Rodrigues contra os subversivos políticos (1967-1968)

política é o resultado da socialização primária, da educação, da exposição aos

media e das experiências adultas em relação às ações governamentais, sociais e

econômicas; e, em quarto lugar, a cultura política afeta a atuação

governamental e a estrutura política, condicionando-as, ainda que não as

determinando, porque sua relação causal flui em ambas direções. (Apud:

AGGIO, 2008, p. 50).

No decorrer da pesquisa, não se adotará a noção de cultura(s) política(s) como algo

homogêneo e difusor de um significado unívoco para todos os indivíduos sociais, buscar-se-

á a diversidade dos espaços político-sociais e de como o cronista Nelson Rodrigues e os

colaboradores das duas revistas elaboravam o universo político, qual era o lugar ocupado por

eles nesse universo e quais as ações e debates político-ideológicos que promoviam na

sociedade da época.

Cronograma16

02º

semestre

de 2012.

semestre

de 2013.

02°

semestre

de 2013.

01°

semestre

de 2014.

02°

semestre

de 2014.

01°

semestre

de 2015.

Cursar

disciplinas

obrigatórias

X X

Elaboração

de leituras

para a

pesquisa

X X X X X X

Pesquisa

em

arquivos

X X

Elaboração

de relatório

X X X X

16 Um aspecto não poderá ser anunciado passo a passo, mês a mês: participação e apresentação do trabalho em

eventos, simpósios, congressos, colóquios, como por exemplo, as tradicionais Semanas de História que

costumam acontecer anualmente no Campus da UNESP-Assis/SP. Participar-se-á de quaisquer eventos relativos

ao tema da pesquisa, ou próximos a ele.

Page 17: O veneno do reacionário - Nelson Rodrigues contra os subversivos políticos (1967-1968)

Colóquio

com o

orientador

X X X X X X

Elaboração

de texto

para exame

de

qualificação

e defesa

X X

Redação da

dissertação

e defesa

X X X

Fontes

Periódicos impressos

REALIDADE. São Paulo: Editora Abril, 1967-1968.

REVISTA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA. Rio de Janeiro/São Paulo: Civilização Brasileira,

1967-1968.

Todos os números e volumes da revista Realidade correspondentes aos anos de

1967-1968, encontram-se no acervo do CEDAP (Centro de Documentação e Apoio à

Pesquisa da UNESP-Assis/SP) e também no acervo do CEDEM (Centro de Documentação e

Memória da UNESP). Os periódicos são originais impressos, sem serem microfilmados e/ou

digitalizados. As bibliotecas da Faculdade de Ciências e Letras de Assis – UNESP –

Assis/SP e da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – UNESP – Franca/SP possuem

todos os volumes e números (incluindo o Caderno Especial sobre teatro, engajamento,

censura), entre os anos 1967-1968, da Revista Civilização Brasileira. Os volumes deste

periódico também são originais impressos e são encadernados.

Obras literárias17

17 Embora dois livros de Nelson Rodrigues, A menina sem estrelas (1993) e O remador de Bem-Hur (1996),

contenham crônicas e memórias do autor produzidas durante o recorte temporal escolhido pela pesquisa, eles não

serão tidos como fontes históricas para o estudo, já que por questões metodológicas e técnicas, os textos dessas

duas obras possibilitam menor amplitude para se pensar a noção de cultura(s) política(s). Porém, durante o

estudo, essas mesmas obras serão complementares e necessárias para a compreensão da subjetividade, dos

critérios e valores artísticos concebidos por Nelson Rodrigues.

Page 18: O veneno do reacionário - Nelson Rodrigues contra os subversivos políticos (1967-1968)

RODRIGUES, Nelson. O óbvio ululante: primeiras confissões. São Paulo: Companhia das

Letras, 1993.

______. A cabra vadia: novas confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

O livro O óbvio ululante contem 81 crônicas, produzidas por Nelson Rodrigues nas

colunas do jornal O Globo durante os meses de novembro de 1967 (das 81 crônicas, 18

foram escritas neste ano) a agosto de 1968 (62 crônicas escritas neste ano). A obra foi

organizada por Ruy Castro18 e contém apresentação de José Lino Grünewald. A obra A cabra

vadia contem 80 crônicas, produzidas por Nelson Rodrigues durante os meses de janeiro a

outubro de 1968 no Jornal da Tarde. Contem organização e seleção das crônicas por Ruy

Castro e apresentação de Roberto Campos.

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BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994.

18 Opta-se pelas seleções e organizações de Ruy Castro, pois desde a década de 1990, o jornalista e escritor Ruy

Castro tem se dedicado à recuperação e compilação das crônicas e romances de Nelson Rodrigues, efetuando

seleções desses textos no sentido de estabelecer uma linearidade dos mesmos e eliminando as repetições e

redundâncias desses escritos presentes nas edições originais da década de 1960. (CASTRO, 1992;

RODRIGUES, 1993).

19 Enumeram-se as obras (livros, artigos) que de maneira direta e indiretamente foram fundamentais para a

redação do projeto de pesquisa.

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