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O POVO BRASILEIRO A Formação e o Sentido do Brasil Darcy Ribeiro Professor: Elson Junior Santo Antônio de Pádua, agosto de 2017

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O POVO BRASILEIRO

A Formação e o Sentido do Brasil

Darcy Ribeiro

Professor: Elson Junior

Santo Antônio de Pádua, agosto de

2017

Agenda

• Darcy Ribeiro

• Introdução

• Capítulo I - O NOVO MUNDO

• Capítulo II - GESTAÇÃO ÉTNICA

• Capítulo III - PROCESSO SOCIOCULTURAL

DARCY RIBEIRO

• Nasceu em Montes Claros (MG) - 1922

• Formou-se em Antropologia em São Paulo (1946) e

dedicou seus primeiros anos de vida profissional ao

estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da

Amazônia

• Fundou o Museu do Índio e criou o Parque Indígena do

Xingu escreveu uma vasta obra etnográfica e de

defesa da causa indígena.

• Nos anos seguintes (1955) criou a Universidade de

Brasília e foi Ministro da Educação.

• Foi Ministro-Chefe da Casa Civil quando o golpe militar

de 64, que o lançou no exílio.

DARCY RIBEIRO

• Viveu em vários países da América Latina foi assessor do presidente Salvador Allende, do Chile, e Velasco Alvarado, do Peru.

• Elegeu-se senador da República defendeu uma lei dos transplantes; uma lei contra o uso vicioso da cola de sapateiro

• Combateu energicamente no Congresso para que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação fosse mais democrática e mais eficaz.

• Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.

• Mereceu títulos de Doutor Honoris Causa da Sorbonne e das Universidades de Montevidéu, Copenhague, da Venezuela Central e Universidade de Brasília.

OBRAS DARCY RIBEIRO

Romances

Etnologia

Ensaios

Antropologia

Educação

INTRODUÇÃO

• Povo novo: porque é um novo modelo de estruturação

societária, que inaugura uma forma singular de

organização socioeconômica, fundada num tipo renovado

de escravismo e numa servidão continuada ao mercado

mundial.

• Novo inclusive, pela inverossímil alegria e espantosa

vontade de felicidade, num povo tão sacrificado, que

alenta e comove a todos os brasileiros.

• A unidade étnica básica não significa nenhuma

uniformidade, pois 3 forças atuaram sobre ela:

Ecológica Econômica Imigração

INTRODUÇÃO

• Ecológica: fazendo surgir paisagens humanas distintas

onde as condições de meio ambiente obrigaram a

adaptações regionais.

• Econômica: criando formas diferenciadas de produção.

• Imigração: introduziu novos contingentes humanos,

dentre europeus, árabes, japoneses.

• Os brasileiros se sentem e se comportam como uma só

gente, pertencente a uma mesma etnia. Uma entidade

nacional distinta, que fala uma mesma língua, só

diferenciada por sotaques regionais.

INTRODUÇÃO

• Uniformidade cultural e a unidade nacional são a grande

resultante do processo de formação do povo brasileiro,

porém não deve nos cegar para as disparidades,

contradições e antagonismos que subsistem debaixo

delas.

• Há o distanciamento social entre as classes dominantes e

as subordinadas, agravando as oposições para acumular,

debaixo da uniformidade étnico-cultural e da unidade

nacional, tensões dissociativas de caráter traumático.

• Assim, as elites dirigentes, primeiro lusitanas, depois

luso-brasileiras, e afinal brasileiras, viveram e vivem sob

o pavor do alçamento das classes oprimidas.

• Subjacente à uniformidade cultural brasileira, esconde-se

uma profunda distância social, gerada pelo tipo de

estratificação que o próprio processo de formação

nacional produziu.

• O povo-massa, sofrido e perplexo, vê a ordem social

como um sistema sagrado que privilegia uma minoria

contemplada por Deus, à qual tudo é consentido e

concedido.

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

O Novo Mundo

MATRIZES ÉTNICAS

• A ILHA BRASIL:

• Costa Atlântica percorrida e ocupada por inumeráveis

povos indígenas.

• O que mudou radicalmente o destino deles: introdução de

um novo protagonista - europeu.

• Trouxe as pestes do branco; disputa por territórios, matas

e riquezas; escravização do índio.

• Dificuldade do autor: só existem testemunhos daquela

época por parte dos invasores; ele quem relata o que

sucedeu aos índios e negros, sem dar oportunidade de

registrar suas próprias falas.

MATRIZES ÉTNICAS

• MATRIZ TUPI:

• Na escala da evolução cultural, os povos Tupi davam os

primeiros passos da revolução agrícola

• Agricultura rudimentar e extrativismo.

• A escravidão de índios prevaleceu no século XVI e os

jesuítas passaram a usá-los como soldados de um

exército a lutar contra os invasores protestantes aqui no

Brasil.

• Quando muito dizimados e já incapazes de agredir ou de

defender-se, os sobreviventes fugiam para além das

fronteiras da civilização.

MATRIZES ÉTNICAS

• A LUSITANIDADE:

• O enxame de invasores era a presença local avançada

de uma vasta civilização urbana e classista.

• Corte x Igreja Católica = ativa competição.

• Depois da reforma protestante a Igreja católica perdeu

muitos fiéis, por isso ela autorizou o processo

colonizatório a partir de missões evangelizadoras.

• A Igreja (O tribunal do Sto. Ofício) regulamentava as

normas básica da ação colonizadora.

O ENFRENTAMENTO DOS MUNDOS

• AS OPOSTAS VISÕES:

Os índios aos olhos dos europeus

Vadios, vivendo vida

sem prestança

Não produzem

Os europeus sob a visão do

índio

Trabalham muito sem explicação

Acumulam tanto para

deixar para os outros

O ENFRENTAMENTO DOS MUNDOS

• RAZÕES DESENCONTRADAS:

• Cada tribo, lutando por si, foi vencida por um inimigo pouco numeroso, mas superior em organização, tecnologia e armas.

• Plano dos jesuítas: violência, intolerância, prepotência e ganância -> compor programa de Nóbrega, aplicado a ferro e fogo por Mem de Sá -> destruição + 300 aldeias.

• Conflitos entre jesuítas e colonos: redução missionária ou escravidão.

• Triunfo dos colonos: guias, remadores, lenhadores, pescadores, etc.

• Próprios jesuítas foram um dos principais fatores de extermínio dos índios.

O PROCESSO CIVILIZATÓRIO

• Os iberos expulsaram os árabes e os judeus ao atravessar os oceanos Atlântico, no entanto conquistaram, saquearam e evangelizaram os povos da África, Ásia e Américas.

• Organização da vida social econômica • Estratificação das classes (patronato)

• Introdução da escravatura

• O colono enriquecia e os trabalhadores se salvavam para a vida eterna • Aplicação de complexos procedimentos agrícolas, químicos,

mecânicos para a produção de açúcar, mineração do ouro e do diamante;

• Introdução do gado e outros animais como a galinha e o porco;

• Produção de tijolos, telhas

• Bases sobre as quais se edificou a sociedade e cultura brasileira como uma implantação colonial européia.

CAPÍTULO II

Gestação Étnica

GESTAÇÃO ÉTNICA

• Cunhadismo: incorporar estranhos à sua comunidade.

• Função: surgir a numerosa camada de gente mestiça que

ocupou o Brasil.

• Defeito: acessível a qualquer europeu --> aumento do

movimento dos navios e incorporação da indiada ao

sistema mercantil de produção.

• Por fim, se teve que passar do cunhadismo às guerras de

captura de escravos, quando a necessidade de mão-de-

obra índigena se tornou grande demais.

GESTAÇÃO ÉTNICA

• Uma nova forma de administrar tantas terras e tantos

invasores: capitanias hereditárias.

• Embora tenha vigorado por pouco tempo, o sistema das

Capitanias Hereditárias deixou marcas profundas na

divisão de terra do Brasil.

• A distribuição desigual das terras gerou posteriormente

os latifúndios, causando uma desigualdade no campo.

• Na concepção de Darcy o Brasil tem sido, ao longo dos

séculos, um terrível moinho de gastar gentes. O fato é

que se gastaram milhões de índios, milhões de africanos

e milhões de europeus.

GESTAÇÃO ÉTNICA

• Comenta:

• Foi desindianizando o índio, desafricanizando o negro,

deseuropeizando o europeu e fundindo suas heranças culturais que

nos fizemos. Somos, em consequência, um povo síntese, mestiço na

carne e na alma, orgulhoso de si mesmo, porque entre nós a

mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Um povo sem peias que nos

atenham a qualquer servidão, desafiado a florescer, finalmente, como

uma civilização nova, autônoma e melhor.

GESTAÇÃO ÉTNICA

• A condição de vida do negro: espantosa.

• Relata a violência permanente pela qual foram obrigados

a viver.

• Pergunta-se: como conseguiram permanecer humanos?

• Como sobreviver sobre tanta pressão, trabalhando

dezoito horas por dia todos os dias do ano?

• A triste conclusão é de que seu destino era morrer de

estafa que era sua morte natural.

• Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles

pretos e índios supliciados.

GESTAÇÃO ÉTNICA

• Somos a doçura mais terna e a crueldade mais atroz que

aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e

sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que

também somos.

• Descendentes de escravos e de senhores de escravos

seremos sempre servos da marginalidade destilada e

instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor

intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo

exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres,

sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria.

GESTAÇÃO ÉTNICA

Ano Brancos Escravos Indios

“integrados” Indios

isolados Total

1500 0 0 0 5.000.000 5.000.000

1600 50.000 30.000 120.000 4.000.000 4.200.000

1700 150.000 150.000 200.000 2.000.000 2.500.000

1800 2.000.000 1.500.000 500.000 1.000.000 5.000.000

Crescimento da populacao integrada no empreendimento colonial e diminuicaodos contingentes

CAPÍTULO III

Processo

Sociocultural

PROCESSO SOCIOCULTURAL

• O processo de formação do povo brasileiro foi marcado constantemente por situações de conflitos.

• Caracteriza o entendido entrechoque dos contingentes índios, negros e brancos dentro do quadro de conflitos não puros -->sempre ocorreu uma mescla entre uns e outros.

• As lutas são inevitavelmente sangrentas, porque só à força se pode impor e manter a condição de escravos. Desde a chegada do primeiro negro, até hoje, eles estão na luta para fugir da inferioridade que lhes foi imposta originalmente, e que é mantida através de toda a sorte de opressões, dificultando extremamente sua integração na condição de trabalhadores comuns, iguais aos outros, ou de cidadãos com os mesmos direitos.

PROCESSO SOCIOCULTURAL

• No processo de formação sociocultural do Brasil, Darcy vê a organização = empresas.

• A empresa escravista, como a principal, latifundiária e monocultora que foi sempre altamente especializada e essencialmente mercantil.

• Outra, já como forma alternativa de colonização, foi a empresa jesuítica. Esta estava fundada na mão-de-obra servil dos índios.

• Uma terceira, que tinha um alcance social bastante considerável, foram as múltiplas microempresas de produção de gêneros de subsistência e de criação de gado, baseada em diferentes formas de aliciamento de mão-de-obra.

PROCESSO SOCIOCULTURAL

• Elabora uma visão de conjunto do processo de urbanização brasileira. Segundo ele, o Brasil nasceu já como uma civilização urbana, separada em conteúdos rurais e citadinos. Comenta:

• Essas cidades e vilas, grandes e pequenas, constituíam agências de uma civilização agrário-mercantil, cujo papel fundamental era gerir a ordenação colonial da sociedade brasileira, integrando-a no corpo de tradições religiosas e civis da Europa pré-indústrial e fazendo-a render proventos à Coroa portuguesa.

• Como tal, eram centros de imposição das idéias e das crenças oficiais e de defesa do velho corpo de tradições ocidentais, muito mais que núcleos criadores de uma tradição própria.

PROCESSO SOCIOCULTURAL

• Relaciona o temível êxodo rural com o inchaço das

cidades em consequência causando a miserabilização da

população urbana. Para Darcy formou-se um modelo

político-econômico que estratifica a população brasileira;

• Esse caráter intencional do empreendimento faz do

Brasil, ainda hoje, menos uma sociedade do que uma

feitoria, porque não estrutura a população para o

prenchimento de suas condições de sobrevivência e de

progresso, mas para enriquecer uma camada senhorial

voltada para atender às solicitações exógenas.

PROCESSO SOCIOCULTURAL

• A distância social entre ricos e pobres;

• Grande parte desses negros dirigiu-se às cidades, onde

encontra um ambiente de convivência social menos

hostil.

• Constituíram, originalmente, os chamados bairros

africanos, que deram lugar às favelas.

• Desde então, elas vêm se multiplicando, como a soluçào

que o pobre encontra para morar e conviver. Sempre

debaixo da permanente ameaça de serem erradicados e

expulsos.

PROCESSO SOCIOCULTURAL

• Para Darcy a característica distintiva do racismo brasileiro

é que ele não incide sobre a origem racial das pessoas,

mas sobre a cor de sua pele.

• Para ele, a possibilidade de existência de uma

democracia racial está vinculada com a prática de uma

democracia social, onde negros e brancos partilhem das

mesmas oportunidades sem qualquer forma de

desigualdade.

• Composta como uma constelação de áreas culturais, a

configuração histórico-cultural brasileira conforma uma

cultura nacional com alto grau de homogeneidade;

PROCESSO SOCIOCULTURAL

• Milhões de brasileiros, através de gerações, nascem e vivem toda a sua vida encontrando soluções para seus problemas vitais, motivações e explicações que se lhes afiguram como o modo natural e necessário de exprimir sua humanidade e sua brasilidade.

• Constituem partes integrantes de uma sociedade maior, dentro da qual interagem como subculturas, atuando entre si de modo diverso do que o fariam em relação a estrangeiros.

• Sua unidade fundamental decorre de serem todas elas produto do mesmo processo civilizatório que as atingiu quase ao mesmo tempo; de terem se formado pela multiplicação de uma mesma protocélula étnica e de haverem estado sempre debaixo do domínio de um mesmo centro reitor, o que não enseja definições étnicas conflitivas.

PROCESSO SOCIOCULTURAL

• Para Darcy, os brasileiros são hoje, um dos povos mais

homogêneos linguística e culturalmente. Fala-se, como

diz, uma mesma língua, sem dialetos.

• Como mestiços "na carne e no espírito" temos o desafio

de firmar nosso potencial, nossos modos distintos entre

todos os povos. Devemos forjar um verdadeiro conceito

de povo que englobe a todos sem distinção, em todos os

direitos que devem assistir a cada cidadão brasileiro.

• Nesse país mestiço, o povo brasileiro segundo Darcy,

veio formando-se como uma nova Roma. A maior

presença neo-latina no mundo, ainda em ser, forja-se

como a grande presença do futuro.

CONCLUSÕES

• Sua obra surge como um espelho em que nós brasileiros

podemos nos identificar, nos reconhecer;

• De onde afinal vem esse povo tão sofridamente descrito no

livro de Darcy Ribeiro, de onde procede sua identidade?

• O autor propõe uma teoria baseada na condição de

“ninguendade”, com perdão do neologismo esquisito, do fruto

da miscigenação processada inicialmente entre o colonizador

português e a índia, mais tarde entre aquele e a escrava

negra.

• Darcy afirma que os filhos brotados desses acasalamentos,

origem da miscigenação generalizada que passou a

caracterizar a etnia brasileira, eram ninguém, já que nem eram

brancos, nem índios, nem negros.

CONCLUSÕES

• Eram produto de uma mistura rejeitada por qualquer das

etnias individuais das quais eram formados.

• Foi portanto dessa condição de zé ninguém que se forjou

a nossa identidade cultural.

• Darcy Ribeiro ressalta o fato de que o Brasil se formou

economicamente como um apêndice da Europa, como

colônia produtora de bens primários subordinada à

demanda do mercado europeu.

CONCLUSÕES

• Esse dado primário está na raiz da violência exercida pela classe dominante ao longo da nossa história.

• Está também inscrito na condição de proletariado externo vivida pelo povo brasileiro.

• Darcy Ribeiro usa repetidas vezes expressões cruas, mas infelizmente verdadeiras, para denunciar os processos brutais que ao longo da nossa formação histórica oprimiram nosso povo.

• Quando usa expressões como moinhos de gastar gente, ou gente usada como carvão, denuncia a opressão imposta pela classe dominante ao povo, particularmente o povo escravizado, o povo castigado por um regime de trabalho incompatível com o ideário humanista e cristão nunca de fato estendido à maioria da população.

OBRIGADOOOO!