o evangelho de maharishi_1939

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    O EVANGELHO DE MAHARISHI

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    Tradutor: Domingos Vieira*

    Revisor: Pedro Livio Vieira

    Sri RamanasramamTiruvannamalai

    *([email protected])

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    PUBLICADO PRIMEIRAMMENTE NA OCASIO

    DO 60 ANIVERSRIO DE

    Bhagavan Sri Ramana Maharshi 27 de dezembro de 1939

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    PREFCIO DO TRADUTOR

    Bhagavan Ramana Maharshi considerado um dos maiores sbios de todosos tempos. Profundidade, naturalidade e simplicidade so traos de suapresena, que o leitor encontra tambm nas respostas por ele dadas sperguntas feitas pelos discpulos.

    Ramana Maharshi viveu em corpo fsico do final do sculo 19 a meados dosculo vinte. Nesse perodo, ocorreram as duas grandes guerras mundiais e sedeu a libertao da ndia do jugo ingls. Os ideais iluministas de umasociedade ordeira e em constante progresso, baseada na cincia e na razo,soobravam, e a humanidade atravessava mais uma grande crise.

    A angstia existencial resultante de um dos principais objetivos damodernidade, o de banir a transcendncia do horizonte humano, j haviaencontrado, anteriormente e de diferentes formas, muitas vozes paramanifestar-se, como, por exemplo, em Dostoievsky, Schopenhauer, Van Goghe Marx, e continuava a faz-lo, como em Kafka, Freud, Cioran e inmerosoutros indivduos por todo o mundo.

    Ramana Maharshi, com a idade de dezesseis anos, aps uma experinciarelacionada ao fenmeno da morte, deixou a famlia e se dirigiu para a sagradamontanha Arunachala, onde viveu os prximos 54 anos, os vinte e cincoprimeiros morando em cavernas, e os demais em uma comunidade que se

    formou em torno dele, at abandonar o corpo, em 1950. Pessoas de toda andia e de vrias partes do mundo se dirigiram a Arunachala, para estarem emsua presena, em busca de paz e sabedoria.

    Tornou-se conhecido no Ocidente, e mais amplamente na prpria ndia, aps apublicao do livro A Search in Secret India, traduzido no Brasil como A ndiaSecreta, de Paul Brunton, um dos pseudnimos do jornalista e escritor inglsRaphael Hurst. O escritor Somerset Maugham o retratou como Sri Ganesha nolivro O Fio da Navalha, em que o personagem Larry, em contraste com abanalidade cotidiana e rejeitando a vida convencional, encontrando-setraumatizado com as experincias que viveu na primeira grande guerra, viajapara a ndia em busca do verdadeiro significado da vida.

    O sbio instrui os buscadores, fundamentalmente, a realizarem umainvestigao, por si mesmos e em si mesmos, com a finalidade de despertarempara a sua verdadeira natureza, que infinita, e que se encontra, por assimdizer, encoberta por um vu de imagens, conceitos e representaes acerca desi prprios e do mundo. Suas palavras apontam a forma de realizar essainvestigao e so admiravelmente esclarecedoras para aqueles que se

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    aventuram nessa jornada. Seus ensinamentos tm, desde as primeiraspalavras, o sabor da liberdade.

    Vivemos, na modernidade tardia, em um estado de banalizao da vida.Cincia e razo se mostraram insuficientes para dar conta dos tremendosdesafios da existncia e para lidar com as poderosas foras que regem a vida

    humana. Como diz a Vedanta, essas foras devem ser trazidas tona eexpostas no apenas mente consciente, ao ego, que limitado e no temcondies de lidar com elas, ele mesmo formado por essas foras; aspoderosas foras que regem a vida humana devem ser expostas dimensoinfinita do indivduo.

    Na modernidade tardia, as grandes narrativas, que sempre foram incompletase precrias, perderam a fora, e j no servem como sistema de orientao.No havendo mais transcendncia e tendo soobrado as promessas de criaode uma boa sociedade com base na cincia e na razo, resta apenas aos

    indivduos a banalidade cotidiana. Corre-se em busca de um nada sempreapresentado com diferentes ornamentos. O sujeito fragmentado reconfigurvel e molda-se ao sabor das aceleradas demandas mercadolgicas,e das transformaes sociais que as acompanham, no terreno em que o nicohorizonte a superfcie.

    Em relao aos precrios sistemas e estruturas que desmoronaram,desreferencializada a realidade e dessubstancializado o sujeito, o desamparodo indivduo atinge nveis gigantescos, que tm de ser dissimulados tambmcom uma gigantesca mquina de entretenimentos e de outras formas de fuga.

    Nessa situao, como disse o filsofo Nikolai Berdyaev, a montanhadesaparece do horizonte para sempre, deixando apenas uma platitude infinita.

    Com os ensinamentos de Ramana Maharshi, a montanha, alm demetaforicamente, retorna literalmente ao horizonte. Trata-se da sagradaMontanha Arunachala, de onde vem essa mensagem, que se aplica a todas aspocas e circunstncias, pois se refere ao que completo e estvel, nossaverdadeira natureza.

    Nesta traduo, mantive os termos snscritos que se encontram no textooriginal em ingls, adicionando uma breve explicao na primeira ocorrncia de

    cada um deles, mantendo, tambm, o glossrio da edio original. til, porfim, que se advirta de que palavras e expresses como Self, verdadeiranatureza do indivduo, Si Mesmo, verdadeiro eu, Deus, Corao, Atman,Brahman e Ser so sinnimos e se referem essncia de todos os seres ede todas as coisas.

    Especial agradecimento a Pedro Livio, por sua inestimvel colobarao.

    BRASIL, 2014

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    PREFCIO

    Em ateno ao desejo sincero de um grande nmero de devotos de BhagavanSri Ramana, as respostas a algumas das perguntas que lhe foram colocadasao longo do tempo esto impressas em forma de livro, sob o ttuloEVANGELHO DE MAHARSHI, para o benefcio do mundo em geral.

    Essas questes ocorrem sempre a muitos de ns, e lutamos internamente para

    resolv-las. As respostas dadas pelo Maharshi so a quintessncia daSabedoria Divina, baseadas, como so, em seus conhecimento e experinciadiretos. Suas respostas so de inestimvel valor para o buscador da Verdade.

    A profunda verdade da Advaita, de que a singular e nica realidade oabsoluto Si Mesmo, ou Brahman, em lugar algum foi mais lucidamente expostaque nestas pginas. Porque, por um lado, na base da mais alta experincia,que sua, que Bhagavan Ramana fala; e, por outro, a partir do ponto de vistado entendimento comum do leigo que o aspirante pergunta e busca conhecer aVerdade.

    A verdade a mesma para todos, e Sri Bhagavan dirige o sincero aspirante ainvestigar e analisar criticamente sua prpria experincia ntima e buscar por simesmo o mago do seu ser, o Corao, que eternamente idntico Indivisvel Realidade ltima, da qual tudo o mais visto ou conhecido apenasuma manifestao fenomenal.

    Toda palavra que sai da boca do Sbio a essncia da sabedoria dosUpanishads, da qual ele prprio a encarnao suprema.

    O leitor devoto vai encontrar nestas pginas conselhos prticos, e vai adquirir aconvico de que sua natureza essencial divina.

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    CONTEDO

    LIVRO I

    Captulo

    I Trabalho e Renncia

    II Silncio e Solido

    III Contrle da Mente

    IV Bhakti andJnana

    V Si Mesmo e Individualidade

    VI Autorrealizao

    VII O Guru sua Graa

    VIII Paz e Felicidade

    LIVRO II

    I Autoinvestigao

    II Sadhana e Graa

    III OJnani e o Mundo

    IV O Corao e Self

    V O Local do Corao

    VI Aham andAham-Vritti

    Apndice

    Glossrio

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    I - TRABALHO E RENNCIA

    Discpulo: Qual a mais alta meta da experincia espiritual para o homem?Maharshi: A autorrealizao.

    D: Pode um homem casado realizar o Ser?

    M: Certamente. Casado ou solteiro, um homem pode realizar o Si Mesmo,porque Isso est aqui e agora. Se no fosse assim, mas atingvel por algumesforo em algum tempo, e se fosse uma coisa nova e tivesse de ser adquirida,no valeria a pena persegui-la. Porque o que no natural tambm no permanente. Mas o que eu digo que o Ser est aqui e agora, e s h ele.

    D: Um boneco de sal que seja lanado ao mar no estar protegido por umrevestimento impermevel. Este mundo em que temos de labutar diariamente como o oceano.

    M: Sim, a mente a capa impermevel.

    D: Pode, ento, o indivduo estar envolvido no trabalho e, livre do desejo,manter sua solido? Mas os deveres da vida nos deixam pouco tempo parasentarmo-nos em meditao ou mesmo rezar.

    M: Sim. O trabalho realizado com apego agrilhoa, enquanto o trabalhorealizado com desprendimento no afeta o agente. Ele se encontra, mesmoenquanto trabalha, em solido. Engajar-se em seus afazeres o verdadeironamaskar (reverncia ao Ser)... e permanecer em Deus a nica verdadeiraasana (postura de prticas espirituais).

    D: Eu no devo renunciar ao lar?

    M: Se fosse esse o seu destino, a questo no surgiria.

    D: Por que ento voc deixou a sua casa na juventude?

    M: Nada acontece seno pelo ordenamento divino. A linha de conduta nesta

    vida determinada pelo prarabdha (karma maduro) do indivduo.

    D: bom dedicar todo o meu tempo busca da minha verdadeira natureza?Se isso for impossvel, devo simplesmente manter-me quieto?

    M: Se voc conseguir manter-se quieto, sem se envolver em qualquer outrabusca, isso muito bom. Se tal no puder ser feito, qual a utilidade de ficarquieto no que diz respeito realizao? Enquanto a pessoa obrigada a estarativa, que ela no desista de suas tentativas para realizar o Self.

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    D: As aes de um indivduo no o afetam em nascimentos posteriores?

    M: Voc agora se encontra nascido? Por que voc pensa sobre outrosnascimentos? O fato que no existe nem nascimento nem morte. Deixeaquele que nasce pensar na morte e em seus correspondentes paliativos!

    D: Voc pode nos mostrar os mortos?

    M: Voc sabia a respeito dos seus parentes antes do nascimento deles, de talsorte que deve procurar saber sobre eles aps morrerem?

    D: Como que um chefe de famlia se encaixa no esquema da libertao?Ele no tem necessariamente de se tornar um mendicante para alcanar aliberao?

    M: Por que voc acha que voc um chefe de famlia? Pensamentoscorrespondentes de que voc um renunciante iro obcec-lo, mesmo se voc

    renunciar. Quer voc continue na famlia ou renuncie e v para a floresta, suamente ir persegui-lo. O ego a fonte do pensamento. Ele cria o corpo e omundo, e faz voc pensar ser um chefe de famlia. Se voc renunciar, ele s irsubstituir o pensamento chefe de famlia pelo de renunciante e o ambientede casa pelo da floresta. Mas os obstculos mentais estaro sempre l comvoc. Eles at mesmo aumentam nos novos ambientes. Mudar de ambienteno ajuda. O nico obstculo a mente, que deve ser superada, seja em casaou na floresta. Se voc pode faz-lo na floresta, por que no em casa?Portanto, por que mudar de ambiente? Voc pode se empenhar agora mesmo,qualquer que seja o ambiente.

    D: possvel desfrutar de samadhi (estado de absoro no Ser) estandoocupado em atividades mundanas?

    M: O sentimento eu trabalho" o obstculo. Pergunte a si mesmo "quemtrabalha?" Lembre-se de quem voc . Assim, o trabalho no ir acorrent-lo;ele seguir automaticamente. No faa esforo, seja para trabalhar, seja pararenunciar; o seu esforo o cativeiro. O que est destinado a aconteceracontecer. Se estiver destinado a no trabalhar, voc no encontrar trabalho,mesmo se o procurar; se estiver destinado a trabalhar, voc no ser capaz deevit-lo; ser forado a envolver-se nele. Dessa forma, deixe a questo para opoder superior; voc no pode renunciar ou reter sua escolha.

    D: Bhagavan disse ontem que, enquanto se est engajado na busca de Deus"dentro", o trabalho "exterior" segue automaticamente. Na vida de SriChaitanya dito que, durante suas palestras para os alunos, ele estavarealmente buscando Krishna (Self) interiormente esquecia-se de tudo sobreseu corpo e continuava a falar apenas de Krishna. Isso levanta uma dvidasobre se o trabalho pode seguramente ser deixado de lado para seguir por simesmo. Deve-se manter uma ateno parcial no trabalho fsico?

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    M: O Self tudo. Voc est fora do Si Mesmo? Ou, pode o trabalho continuarsem o Self? O Ser universal: por isso, todas as aes tero continuidade,quer voc se esforce para estar envolvido com elas ou no. O trabalho vaicontinuar por si s. Por isso, Krishna disse a Arjuna que ele no precisava sepreocupar por matar os Kauravas, pois eles j estavam mortos - j haviam sido

    imolados por Deus. No cabia a ele decidir-se a agir e preocupar se com isso,mas permitir sua prpria natureza realizar a vontade do poder superior.

    D: Mas o trabalho pode ser prejudicado se eu no prestar ateno a ele.

    M: Prestar ateno a Si Mesmo significa prestar ateno ao trabalho.

    Porque se identifica com o corpo, voc pensa que o trabalho feito por voc.Mas, o corpo e suas atividades, incluindo o trabalho, no existem fora do Self.O que importa se voc prestar ou no ateno ao trabalho? Suponha que vocande de um lugar a outro: voc no presta ateno aos passos que d. Noentanto, aps algum tempo, voc se encontra no lugar almejado. Voc perbebecomo a atividade de caminhar se processa sem que voc preste ateno a ela.Assim, tambm, com outros tipos de atividades.

    D: , ento, como andar dormindo.

    M: Como o sonambulismo? Isso mesmo. Quando uma criana adormece semhaver comido, sua me o alimenta. A criana ingere o alimento to bem comoquando est completamente desperta. Na prxima manh, porm, ela diz paraa me: "Me, eu no comi noite passada". A me e os outros sabem que elase alimentou, mas a criana diz que no; ela no estava consciente. Aindaassim, a ao ocorreu.

    Um viajante em uma charrete cai no sono. Os touros se movem, ficam paradosou so desatrelados durante a viagem. Ele no se d conta desses eventos,mas se v em um lugar diferente ao acordar. Permaneceu ditosamenteignorante das ocorrncias no caminho, mas a viagem foi concluda. O mesmoacontece com o Ser de uma pessoa. O Ser sempre desperto se compara aoviajante dormindo na charrete. O estado de viglia o movimento dos touros; osamadhi corresponde a quando os touros esto parados (porque samadhisignificajagrat-sushupti*, ou seja, a pessoa est desperta, mas no envolvidacom a ao; os touros esto jungidos, mas no se movem); o sono profundo

    corresponde ao desatrelamento dos touros, pois h completa interrupo daatividade, que corresponde a livrar os touros do jugo.

    * Situao semelhante ao sono profundo, porm no estado de viglia.

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    Ou, considere a alegoria do cinema. As cenas so projetadas na tela durante aexibio cinematogrfica. Mas, as imagens em movimento no afetam oualteram a tela. O indivduo na platia presta ateno s cenas, mas no tela.As cenas no podem existir sem a tela; contudo, a tela ignorada. Assim,tambm, O Self a tela em que as imagens, atividades, etc, so vistas

    acontecendo. O indivduo est consciente destas, mas no daquela, que essencial. De qualquer forma, o mundo de imagens no existe fora do Self.Quer se esteja consciente ou no da tela, as aes iro continuar.

    D: Mas h um operador no cinema!

    M: A exibio cinematogrfica feita de materiais insensveis. A lmpada, asimagens, a tela etc, so todos insensveis e, por isso, requerem um operador, oagente senciente. Por outro lado, o Self conscincia absoluta e, portanto,autossuficiente. No pode haver um operador fora do Self.

    D: Eu no estou confundindo o corpo com o operador; refiro-me, isso sim, spalavras de Krishna no verso 61, captulo XVIII do Gita:

    1 "O Senhor, Arjuna, habita no corao de cada ser, e Ele, por Seu poder decriar iluses, faz girarem volta todos os seres criados, como se em umamquina

    M: As funes do corpo, que envolvem a necessidade de um operador, tm osuporte da mente; uma vez que o corpo jada ou no senciente, um operador necessrio. Porque as pessoas pensam que so jivas (seres individuais),Krishna disse que Deus reside no corao como o operador dos seresindividuais. Na verdade, no hjivas nem operador, por assim dizer, fora deles.O Self engloba tudo. Ele a tela, as imagens, o espectador, os atores, ooperador, a luz, o recinto, e tudo mais.

    Confundir a sua verdadeira natureza com o corpo, e imaginar que voc queatua, o mesmo que um espectador fazer uma idia de si mesmo de que ele um ator desempenhando um papel no filme. Imagine o ator perguntando se elepode participar de uma cena no filme sem que haja a tela! Tal o caso doindivduo que pensa que suas aes podem ocorrer separadas do Self.

    D: Devemos, portanto, aprender o sonambulismo!

    M: Aes e estados esto em concordncia com seu ponto de vista. Um corvo,um elefante, uma cobra, cada um faz o uso de um membro para duasfinalidades alternativas. Com cada uma das vistas, o corvo olha para o ladocorrespondente; para o elefante, a tromba tem a finalidade tanto de moquanto de nariz, e a serpente v e ouve com os olhos. Quer voc diga que ocorvo tem uma viso ou mais de uma, ou se refira tromba do elefante como"mo" ou "nariz" ou chame os olhos da serpente de ouvidos, isso significa amesma coisa. Da mesma forma, no caso do jnani (sbio), sono desperto,

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    estado de viglia como no sono profundo, sono com sonhos, ou viglia comsonhos, so, todos, a mesma coisa.

    D: Mas ns temos de lidar com um corpo fsico em um mundo fsico desperto!Se dormirmos enquanto o trabalho estiver em andamento, ou tentarmostrabalhar durante o sono, o trabalho vai sair errado.

    M: O sono profundo no ignorncia, o estado puro do indivduo; a vigliano conhecimento, ignorncia. H plena conscincia no sono profundo etotal ignorncia na viglia. Sua verdadeira natureza abrange ambos e seestende alm. O Ser est alm do conhecimento e da ignorncia. Os estadosde sono profundo, sonho e viglia so apenas modulaes que passam diantedo Self: eles se sucedem, quer voc esteja ciente deles ou no. No estarciente o estado dojnani, em quem se passam os estados de samadhi, viglia,sonho e sono profundo, como os touros em movimento, imveis, oudesatrelados, enquanto o passageiro est dormindo. Estas respostas se

    ajustam ao ponto de vista do ajnani (ignorante), caso contrrio no iriam surgirtais questes.

    D: Claro, elas no podem surgir para o Self. Quem estaria l para perguntar?Mas, infelizmente, eu ainda no realizei o Self!

    M: Esse justamente o obstculo em seu caminho. Voc deve se livrar daidia de que voc um ajnani e que ainda tem de realizar o Self. Voc o Self.J houve um momento em que voc no esteve ciente do Self?

    D: Ento, devemos viver as experincias no sono desperto... ou sonhandoacordado?

    M: (Risos).

    D: Eu afirmo que o corpo fsico do homem imerso em samadhi, como resultadoda ininterrupta contemplao do Self, pode tornar-se imvel por esse motivo.Pode estar ativo ou inativo. A mente estabelecida em tal 'contemplao' no vaiser afetada pelos movimentos do corpo ou dos sentidos; nem a perturbaoda mente precursora de atividade fsica. Enquanto outra pessoa afirma que aatividade fsica certamente impede o samadhi ou ininterrupta contemplao.Qual a opinio de Bhagavan? Voc a prova viva de minha afirmao.

    M: Vocs dois esto certos: Voc se refere a sahaja nirvikalpasamadhi (estadonatural de absoro no Ser) e a outra refere-se a kevala nirvikalpasamadhi(estado temporrio de absoro no Ser). Neste ltimo caso, a mente ficaimersa na luz do Si (ao passo que a mente no o Ser - est na escurido daignorncia em sono profundo); e o sujeito faz uma distino entre samadhi eatividade depois de sair do samadhi. Alm disso, a atividade do corpo, daviso, das foras vitais e da mente e o conhecimento de objetos, todos essesso obstculos para quem procura realizarkevala nirvikalpa samadhi.

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    A palavra contemplao frequentemente usada livremente como se referindo a um processo mentalforado, enquanto samadhi situa-se alm do esforo. Contudo, na linguagem mstica crista,contemplao o sinnimo invariavelmente usado para samadhi, e nesse sentido que a palavra estsendo usada acima.

    No sahaja samadhi, contudo, a mente se dissolve no Self e se perde. Asdiferenas e obstrues acima mencionadas no existem, portanto, aqui. Asatividades de tal ser so iguais alimentao do sonolento menino,perceptveis para um observador de fora, mas no para o prprio sujeito. Oviajante que est dormindo profundamente na charrete no est cnscio domovimento, porque sua mente est imersa na escurido. Ao passo que osahaja jnani permanece inconsciente de suas atividades fsicas porque suamente est morta, tendo sido dissolvida no xtase de chidananda (bem-aventurana do Self).

    Nota: A distino entre os estados de sono profundo, kevala nirvikalpa samadhie sahaja nirvikalpa samadhi pode ser claramente posta em forma de umatabela feita por Sri Bhagavan:

    Sono Profundo Kevala NirvikalpaSamadhi

    Sahaja NirvikalpaSamadhi

    1) Mente viva

    2) Mergulhada noesquecimento

    1) Mente viva

    2) Mergulhada naLuz

    3) Como um baldeatado a umacorda e deixadosob a gua emum poo.

    4) A ser puxado pela

    outra extremidadeda corda.

    1) Mente morta

    2) Dissolvida no Self

    3) Como um rio quedesaguou nooceano e perdeua sua identidade.

    4) O rio no pode

    ser direcionadode volta a partirdo oceano.

    A mente do sbio que realizou o Self totalmente destruda. Est morta. Mas,para o observador externo, pode parecer que o sbio possui uma mente igual

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    do leigo. Da que o 'eu' no Sbio tem apenas uma aparente "realidadeobjetiva". Na verdade, no entanto, no tem nem existncia subjetiva nem umarealidade objetiva

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    II - SILNCIO E SOLIDO

    D: Um voto de silncio til?M: O silncio interior autoentrega. E isso viver sem o sentido do ego.

    D: A solido necessria para um sannyasin (renunciante)?

    M: A solido est na mente do homem. Um indivduo pode estar na parte maisagitada do mundo e ainda assim manter perfeita serenidade de esprito; essapessoa est sempre em solido. Outro pode estar na floresta, mas ainda assimser incapaz de controlar a sua mente. No se pode dizer que est em solido.A solido uma atitude da mente; um homem apegado s coisas da vida nopode experimentar a solido, independentemente de onde esteja. Um indivduo

    desapegado est sempre na solido.

    D: O que o Mauna (silncio)?

    M: O estado que transcende a fala e o pensamento Mauna; meditao sematividade mental. Subjugao da mente meditao; meditao profunda odiscurso eterno. O silncio a fala ininterrupta, o fluxo perene da"linguagem". Ele interrompido pelo falar, porque as palavras obstruem essa'linguagem' muda.

    Palestras podem entreter as pessoas por horas sem torn-las melhores. O

    silncio, por outro lado, permanente e beneficia a toda a humanidade. . . porsilncio se entende eloquncia. Palestras no so to eloquentes quanto osilncio. O silncio a eloquncia incessante. . . a melhor linguagem. H umestado em que as palavras cessam e o silncio prevalece.

    D: Como ento podemos comunicar nossos pensamentos um ao outro?

    M: Isso se torna necessrio se o senso de dualidade existir...

    D: Por que Bhagavan (O Senhor) no sai e prega a Verdade ao povo em geral?

    M: Como voc sabe que eu no estou fazendo isso? Ser que a pregao

    consiste em subir em uma plataforma e discursar para pessoas ao seu redor?A pregao simples comunicao do conhecimento, que s pode realmenteser feita em silncio. O que voc acha de um homem que ouve um sermodurante uma hora e se vai sem que ele tenha lhe causado viva impresso, deforma a mudar a sua vida? Compare-o com outro, que se senta na presenasagrada e vai embora depois de algum tempo com a sua perspectiva sobre avida totalmente mudada. Qual o melhor, pregar em voz alta sem efeito ousentar-se silenciosamente, irradiando fora interior? Ou, ainda, como surge a

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    fala? H o conhecimento abstrato, de onde surge o ego, que por sua vez dorigem ao pensamento, e o pensamento palavra falada. Assim, a palavra abisneta da fonte original. Se a palavra pode produzir efeito, avalie por vocmesmo quo mais poderoso deve ser o pregar por meio do silncio! Mas aspessoas no entendem essa verdade pura e simples, a verdade de sua

    experincia diria, sempre presente, eterna. Essa verdade a de Si Mesmo.Existe algum desconhece a Si Mesmo? Mas eles no gostam sequer de ouviresta verdade, enquanto esto ansiosos para saber sobre o que est alm,sobre cu, inferno e reencarnao.

    Porque adoram o mistrio e no a verdade, as religies os atendem, paraassim, finalmente, traze-los de volta para o Self. Quaisquer que sejam os meiosadotados, voc deve finalmente retornar a Si Mesmo: ento por que nopermanecer em Si Mesmo aqui e agora? Para observar outro mundo, ou paraespecular sobre isso, o Self (Si Mesmo) necessrio; portanto, eles no sodiferentes do Self. Mesmo o homem ignorante, quando v os objetos, v

    apenas Si Mesmo.

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    III - CONTROLE DA MENTE

    D: Como posso controlar a mente?M: No h mente alguma para controlar se o Self realizado. O Self brilhaquando a mente desaparece. No homem realizado, a mente pode estar ativaou inativa s o Self existe. Pois mente, corpo e mundo no so separados doSelf, e no podem subsistir fora do Self. Podem ser diferentes do Self? Quandose est cnscio do Self, por que se deveria preocupar com essas sombras?Como elas afetam o Self?

    D: Se a mente apenas uma sombra, como, ento, se faz para conhecer oSelf?

    M: O Self o corao autoluminoso. A iluminao surge a partir do Corao eatinge o crebro, que a sede da mente. O mundo visto com a mente, demodo que voc v o mundo pela luz refletida do Self. O mundo percebido porum ato da mente. Quando a mente recebe a luz do Self, fica cnscia do mundo;quando no recebe essa luz, no tem conhecimento do mundo.

    Se se volta a mente para dentro, em direo fonte da iluminao, oconhecimento objetivo cessa e o Self sozinho brilha como o Corao.

    A lua brilha refletindo a luz do sol. Quando o sol se pe, a lua til para que osobjetos sejam vistos. Quando o sol se levanta, ningum precisa da lua, ainda

    que seu disco seja visvel no cu. Assim tambm com a mente e o Corao.A mente se torna til por sua luz refletida. Ela utilizada para que se vejam osobjetos. Quando se volta a mente para dentro, ela mergulha na fonte daIluminao, que brilha por Si Mesma, e a mente , ento, como a lua durante odia.

    Quando est escuro, uma lmpada necessria para fornecer luz. Quando osol se levanta, porm, no h necessidade da lmpada: os objetos se tornamvisveis. E para ver o sol, nenhuma lmpada necessria; suficiente quevoc volte os olhos na direo do astro autoluminoso. De forma similar, com a

    mente: para ver os objetos, a luz refletida da mente necessria; para ver oCorao, basta que a mente se volte para ele. Ento a mente irrelevante, e oCorao autorefulgente.

    D: Depois de deixar este Ashram (comunidade espiritual) em outubro, euestava ciente da Presena que prevalece na companhia de Sri Bhagavan meenvolvendo por cerca de dez dias. Durante todo o tempo, enquanto ocupado nomeu trabalho, havia uma subcorrente dessa paz na unidade; era quase como a

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    dupla conscincia que se experimenta enquanto meio adormecido durante umapalestra maante. Ento, ela desapareceu por completo, e as velhas tolicestomaram seu lugar.

    O trabalho no deixa tempo para a meditao parte. suficiente lembrar-seconstantemente "EU SOU", enquanto se trabalha?

    M: (Aps uma curta pausa). Se voc fortalecer a mente, essa paz vai continuarpor todo o tempo. Sua durao proporcional fora da mente adquirida pelaprtica repetida. E uma mente assim capaz de sustentar a corrente. Nessecaso, engajando-se ou no no trabalho, a corrente prossegue inafetada eininterrupta. No o trabalho que dificulta, mas a idia de que voc quem orealiza.

    D: Uma meditao obstinada necessria para o fortalecimento da mente?

    M: No, se voc mantiver sempre presente a idia de que no trabalho seu.

    Inicialmente, necessrio um esforo para lembrar-se disso, mas, depois,torna-se natural e contnuo. O trabalho vai continuar por conta prpria, e suapaz permanecer intacta.

    A meditao a sua verdadeira natureza. Voc a chama de meditao agora,porque h outros pensamentos a distra-lo. Quando esses pensamentos sodissipados, voc permanece s - isto , no estado de meditao, livre depensamentos; e essa a sua natureza real, que voc est tentando adquiriragora afastando outros pensamentos. Tal afastar de outros pensamentos agora chamado de meditao. Mas quando a prtica torna-se firme, a sua realnatureza mostra-se como a verdadeira meditao.

    D: Outros pensamentos surgem com mais fora quando se tenta meditar

    M: Sim, todos os tipos de pensamento surgem na meditao. assim mesmo,pois o que est escondido em voc revelado. A menos que surja, como podeser destrudo? Os pensamentos surgem espontaneamente, por assim dizer,mas apenas para ser extintos, no devido tempo, fortalecendo, dessa forma, amente.

    D: H momentos em que as pessoas e as coisas assumem uma forma vaga,quase transparente, como num sonho. O indivduo deixa de observ-los como

    se estivessem fora, mas passivamente consciente de sua existncia, emborano ativamente consciente de qualquer tipo de individualidade. Existe umaprofunda quietude na mente. nesses momentos que se est pronto paramergulhar em Si Mesmo? Ou essa uma condio doentia, resultante de auto-hipnose? Deve ser encorajada como produtora de paz temporria?

    M: H conscincia junto com quietude na mente; esse exatamente o estado aser almejado. O fato de a questo ter sido formulada neste ponto, sem

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    perceber que se trata do Self, mostra que o estado no constante, mascasual. A palavra "mergulhar" apropriada quando h tendncias para fora.Quando, portanto, a mente tem de ser trazida de volta e dirigida para dentro, hum mergulho sob a superfcie das externalidades. Mas quando a tranquilidadeprevalece, sem obstruir a Conscincia, qual a necessidade de mergulho? Se

    esse estado no foi percebido como o Self, o esforo para faz-lo pode serchamado 'mergulho'. Neste sentido, pode-se considerar tal estado comoapropriado para a realizao ou mergulho. Assim, as duas ltimas perguntasque voc colocou no surgem.

    D: A mente continua a sentir-se afeioada a crianas, possivelmente porque aforma de uma criana muitas vezes usada para personificar o Ideal. Comoessa preferncia pode ser superada?

    M: Atenha-se ao Self. Por que pensar em crianas e em suas reaes a elas?

    D: Esta terceira visita a Tiruvannamalai parece ter intensificado o sentimento deegosmo em mim e tornou a meditao menos fcil. Ser esta uma fasepassageira, sem importncia, ou um sinal de que eu devo evitar tais lugares deagora em diante?

    M: Isso imaginrio. Este lugar ou outro est dentro de voc. Tais imaginaesdevem terminar, pois lugares como esses nada tm a ver com as atividades damente. Os ambientes sua volta no so, tambm, apenas uma questo desua escolha individual, pois eles esto l, como um fato natural, e voc deveelevar-se acima deles e no ficar enredado neles.

    (Um menino de oito anos e meio sentou-se no saguo por volta das cincohoras da tarde, quando Sri Bhagavan subiu a Montanha. Enquanto Bhagavanesteve ausente, o menino falou sobre yoga e Vedanta em linguagem Tmilpura, simples e literria, citando livremente as palavras de santos e asSagradas Escrituras. Quando Sri Bhagavan entrou no saguo, depois de quasetrs quartos de hora, s o silncio prevalecia. Durante os 20 minutos em que omenino sentou-se na presena de Sri Bhagavan, ele no falou uma palavra,mas apenas o esteve contemplando fixamente. Ento lgrimas escorreram deseus olhos. Ele as enxugou com a mo esquerda e logo aps deixou o localdizendo que ainda aguarda a autorrealizao).

    D: Como devemos explicar as extraordinrias caractersticas do menino?M: As caractersticas de seu ltimo nascimento esto fortes nele. Mas, por maisfortes que sejam, elas no se manifestam a no ser em uma mente calma,quieta. Faz parte da experincia de todos que as tentativas de rememoraralguma coisa s vezes falha, enquanto a lembrana se apresenta de sbitoquando a mente est calma e tranquila.

    D: Como podemos tornar a mente rebelde calma e serena?

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    M: Percebendo a fonte da mente, para que ela possa desaparecer, ourealizando a autoentrega, para que ela possa ser abatida. A autoentrega omesmo que o autoconhecimento, e qualquer um deles implica,necessariamente, autocontrole. O ego se submete apenas quando reconhece oPoder Superior.

    D: Como posso escapar de samsara (ciclo de nascimentos e mortes, processoda vida no mundo), que parece ser a causa real da inquietude da mente? Arenncia no um meio eficaz para se obter a tranquilidade da mente?

    M: O samsara existe apenas em sua mente. O mundo no se manifestadizendo: "Aqui estou eu, o mundo". Se o fizesse, estaria sempre l, tornando asua presena percebida por voc mesmo em seu sono profundo. Uma vez,contudo, que ele no aparece no sono profundo, ele impermanente. Sendoimpermanente, falta-lhe substncia. No tendo realidade alguma parte doSelf, facilmente subjugado por esse. Apenas o Self permanente. Renncia

    a no identificao de Si-Mesmo com o no Si-Mesmo. Quando a ignornciaque identifica o Self com o no Self removida, o no Self deixa de existir, eessa a verdadeira renncia.

    D: No podemos realizar aes sem apego mesmo na ausncia de talrenncia?

    M: Apenas um atma jnani (conhecedor de si mesmo) pode ser um bom karmayogi (indivduo no apegado a suas aes).

    D: O Bhagavan condena a filosofia dvaita (dualista)?

    M: A Dvaita (dualidade) pode subsistir apenas quando voc identifica o Selfcom o no-Self.Advaita (no-dualidade) no-identificao.

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    IV - BAKTHI E JNANA

    D: Sri Bhagavata (texto sagrado centrado na vida de Krishna) descreve umamaneira de encontrar Krishna no corao pelo prostrar-se a todos e vendo a

    todos como o prprio Senhor. este o caminho certo que leva autorrealizao? No mais fcil adorar assim Bhagavan, em tudo o queaparece para a "mente", do que investigar o que se acha alm por meio dainquirio mental Quem sou eu?.

    M: Sim, quando voc v Deus em tudo, voc pensa em Deus ou no? Voccertamente deve pensar em Deus para ver Deus em tudo sua volta. ManterDeus em sua mente torna-se dhyana (meditao, ateno) e dhyana a faseanterior Realizao. A Realizao s pode ser do Self e no Self. Ela nuncapode se dar parte do Self, e dhyana deve preced-la. Quer voc pratiquedhyana em Deus ou no Self, isso irrelevante, pois o objetivo o mesmo.Voc no pode, por meio algum, escapar do Self. Voc deseja ver Deus emtudo, mas no em si mesmo? Se tudo Deus, voc no est includo nessetudo? Sendo Deus voc mesmo, surpreendente que tudo seja Deus? Esse o mtodo aconselhado no Sri Bhagavata, e em outros textos. Mas, mesmo paraessa prtica, deve haver aquele que v ou pensador. Quem ele?

    D: Como ver Deus, que onipresente?

    M: Ver Deus ser Deus. No h tudo parte de Deus para que Ele possaimpregnar. S h Ele.

    D: Devemos ler o Gita (Bhagavad Gita, escritura sagrada) de vez em quando?

    M: Sempre.

    D: Qual a relao entrejnana (sabedoria) e bhakti (devoo)?

    M: O estado natural, ininterrupto e atemporal, de permanecer no Self jnana.Para permanecer no Self voc deve amar o Self. Uma vez que Deus , naverdade, o Self, o amor do Self o amor de Deus, e isso bhakti. Jnana ebhakti so, assim, uma coisa s.

    D: Ao fazer nama japa (repetio do nome de Deus) por uma hora ou mais, eucaio em um estado igual ao sono profundo. Ao acordar, lembro-me de queminha prtica foi interrompida. Ento, tento de novo.

    M: 'Igual ao sono profundo - correto. o estado natural. Porque voc estagora associado ao ego, voc considera que o estado natural algo queinterrompe a sua prtica. Ento, voc deve ter a experincia repetida at queperceba que esse o seu estado natural. Ento voc vai achar que j no hpropsito em praticar japa, mas, ainda assim, ela vai continuar

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    automaticamente. Sua dvida atual devida a essa falsa identidade, ou seja,de identificar-se com a mente que pratica japa. Japa significa aderir a umpensamento com a excluso de todos os outros. Esse o seu propsito. Issoleva a dhyana, que termina em autorrealizao oujnana.

    D: Como devo proceder em nama japa?

    M: No se deve usar o nome de Deus mecnica e superficialmente, sem osentimento de devoo.

    Para usar o nome de Deus, deve-se invoc-lo com sentimento de urgncia e,sem reservas, entregar-se a Ele. Somente aps essa entrega o nome de Deuspermanece constantemente com o homem.

    D: Qual, ento, a necessidade de inquirio ou vichara (investigao)?

    M: A entrega s pode ser efetiva quando realizada com pleno conhecimento

    sobre o que realmente significa a rendio. Tal conhecimento vem depois deinvestigao e reflexo e termina invariavelmente na autoentrega. No hdiferena entre jnana e entrega absoluta ao Senhor, isto , em pensamento,palavra e ao. Para ser completa, a renncia deve ser sem questionamentos,o devoto no pode barganhar com o Senhor ou demandar favores de Suasmos. Tal entrega completa engloba tudo, jnana e vairagya (desapego,indiferena s atraes materiais), devoo e amor.

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    V - SI MESMO E INDIVIDUALIDADE

    D: A morte no dissolve a individualidade de uma pessoa, de modo que nohaja renascimento, assim como os rios que desaguam no mar perdem suas

    individualidades?

    M: Mas quando as guas evaporam e retornam como chuva nas colinas, umavez mais elas fluem na forma de rios e desaguam no oceano; assim tambm,as individualidades, durante o sono profundo, perdem a sua separatividade e,contudo, retornam como indivduos de acordo com seus samskaras(impresses que continuam de vidas anteriores) ou tendncias latentes. Damesma forma, a individualidade da pessoa com samskaras no est perdida.

    D: Como pode ser isso?

    M: Veja como uma rvore, cujos galhos foram cortados, cresce novamente.Assim, desde que as razes da rvore permaneam intactas, a rvorecontinuar a crescer. Da mesma forma, os samskaras que foram apenasimersos no corao, na morte, mas no pereceram por essa razo, ocasionamrenascimento, no momento certo; e assim que os seres individuais renascem.

    D: Como que os inumerveis seres individuais e o vasto universo, cujaexistncia correlativa com a dosjivas, brotam a partir desses samskaras sutissoterrados no corao?

    M: Assim como as grandes rvores Banyan brotam a partir de uma pequena

    semente, assim os jivas e todo o universo com nome e forma brotam dossamskaras sutis.

    D: Como que emana individualidade do Absoluto Self, e como o seu retornose torna possvel?

    M: Como uma centelha provm do fogo, a individualidade emana do SerAbsoluto. A centelha chamada de ego. No caso doAjnani, o ego identifica-secom algum objeto, simultaneamente com o seu surgimento. Ele no podepermanecer sem essa associao com objetos. Essa associao devida aajnana, cuja destruio o objetivo do empenho do indivduo. Se esta

    tendncia de identificar-se com os objetos destruda, o ego torna-se puro e,em seguida, ele tambm se funde com a sua fonte.

    A falsa identificao de si mesmo com o corpo dehatmabuddhi, ou a idia"eu-sou-o-corpo. Isso tem de desaparecer, antes de se seguirem bonsresultados.

    D: Como fao para erradic-la?

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    M: Voc existe em sushupti (sono profundo) sem estar associado com o corpoe a mente, mas nos outros dois estados voc est associado com eles. Sevoc fosse um com o corpo, como voc poderia existir sem o corpo emsushupti? Voc pode separar-se do que externo a voc, mas no do que uno com voc. Assim, o ego no pode ser uno com o corpo. Isso deve ser

    percebido no estado de viglia. Os trs estados so estudados a fim de se obteresse conhecimento

    D: Como pode o ego, que se limita a dois estados, diligenciar para perceberisso que engloba todos os trs estados?

    M: O ego em sua pureza experimentado nos intervalos entre dois estados ouentre dois pensamentos. O ego como uma lagarta que deixa um apoioapenas depois que se agarra a outro. Sua verdadeira natureza conhecidaquando ele est fora de contato com objetos ou pensamentos. Voc deveperceber esse intervalo como a realidade atemporal, imutvel, seu verdadeiro

    Ser, por meio da convico adquirida pelo estudo dos trs estados, jagrat(viglia), svapna (sono com sonhos) e sushupti (sono profundo, sem sonhos).

    D: Eu no posso permanecer em sushupti durante o tempo que eu quiser, etambm estar nele quando quiser, assim como eu estou no estado de viglia?Qual a experincia dojnani desses trs estados?

    M: O sono profundo existe em seu estado de viglia tambm. Voc est emsushupti mesmo agora. Deve-se adentrar nele conscientemente e chegarnesse estado exatamente na viglia. No h realmente um entrar e sair dele.Estar cnscio de sushupti no estadojagrat jagratsushupti, e isso samadhi.

    OAjnani no pode permanecer muito tempo em sushupti, porque ele foradopor sua natureza a emergir dele. Seu ego no est morto e vai ressurgir vezessobre vezes. Mas o jnani esmaga o ego na sua fonte. Esse pode pareceremergir, ocasionalmente, no seu caso tambm, como se impelido peloprarabdha. Isto , tambm no caso dojnani, para todos os propsitos externos,o prarabdha parece sustentar ou manter o ego, como no caso doAjnani; mash essa diferena fundamental: o ego doAjnani quando surge (no seu caso,realmente, ele s desaparece no sono profundo) totalmente ignorante de suafonte: em outras palavras, oAjnani no tem conhecimento de seu sushupti nosestados de sonho e viglia; no caso dojnani, pelo contrrio, o surgimento ou a

    existncia do ego somente aparente, e ele goza de sua experinciaininterrupta, transcendental, a despeito de tal aparente surgimento ouexistncia do ego, mantendo a sua ateno (lakshya) sempre na Fonte. Esseego inofensivo; apenas como o esqueleto de uma corda incinerada -embora com uma forma, intil para amarrar qualquer coisa. Ao se manterconstantemente a ateno na Fonte, o ego dissolvido nessa Fonte como umboneco de sal lanado ao mar.

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    D: Qual o significado da crucificao?

    M: O corpo a cruz. Jesus, o filho do homem, o ego ou a idia "eu-sou-ocorpo. Quando o filho do homem crucificado no corpo (a cruz), o ego perece,e o que sobrevive o Ser Absoluto. a ressurreio do glorioso Si Mesmo, doCristo - o Filho de Deus.

    D: Mas como se justifica a crucificao? Matar no um crime terrvel?

    M: Todo mundo est cometendo suicdio. O estado atemporal, bem-aventurado, natural, tem sido sufocado por essa vida de ignorncia. Dessaforma, a vida atual resulta do matar o eterno, a existncia positiva. No realmente um caso de suicdio? Ento, por que se preocupar com matar, etc.?

    D: Sri Ramakrishna diz que nirvikalpa samadhi no pode durar mais do que 21dias; se persistir, a pessoa morre. Trata-se de um fato?

    M: Quando o prarabdha est esgotado, o ego completamente dissolvido, semdeixar qualquer vestgio atrs. Esta a libertao final (nirvana = sem vir-a-ser). A no ser que o prarabdha esteja esgotado, o ego vai surgir, como pareceacontecer no caso dejivanmuktas (liberados enquanto ainda no corpo).

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    VI - AUTO-REALIZAO

    D: Como posso alcanar a autorrealizao?

    M: Realizao no nada de novo a ser ganho; j est l. Tudo o que necessrio se livrar do pensamento 'eu no realizei.

    Quietude ou a paz Realizao. No existe um momento em que Si Mesmono esteja. Enquanto houver dvida ou a sensao de no realizao, atentativa deve ser feita para livrar-se desses pensamentos. Eles so devidos identificao do Si-Mesmo com o no-Si-Mesmo. Quando o no-Si-Mesmodesaparece, apenas o Si-Mesmo permanece. Para criar espao, suficienteque o atulhamento seja removido; o espao no trazido de outros lugares.

    D: Uma vez que a realizao no possvel sem vasanakshaya (destruio

    das tendncias latentes), como posso realizar o estado em que as vasanas soefetivamente destrudas?

    M: Voc est nesse estado agora!

    D: Isso significa que, atendo-me ao Self, as vasanas devem ser destrudasassim que apaream?

    M: Elas se destruiro se voc permanecer como voc .

    D: Como posso alcanar o Self?

    M: No h alcanar o Self. Se fosse para ser alcanado, isso significaria que oSelf no est aqui e agora, mas que ainda est para ser obtido. O que obtidocomo novo, tambm ser perdido. Assim, ser impermanente. No vale a penalutar pelo que no permanente. Ento, digo, no se alcana o Self. Voc oSelf; voc j Isso.

    O fato que voc ignorante de seu estado bem-aventurado. A ignornciasobrevm e lana um vu sobre o puro Si-Mesmo, que bem-aventurana. Astentativas so feitas to somente para remover o vu da ignorncia, que apenas conhecimento errneo. O conhecimento errneo a falsa identificaodo eu com o corpo, a mente, etc. Esta identificao falsa tem de desfazer-se, e

    ento apenas o Si-Mesmo permanece. Portanto, a realizao para todos; arealizao no faz diferena entre os aspirantes. A prpria dvida sobre suacapacidade de realizar e a noo de eu no realizei" so, elas prprias,obstculos. Livre-se desses obstculos tambm.

    D: Qual a finalidade do samadhi, e pode o pensamento subsistir ento?

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    M: Apenas o samadhi pode revelar a verdade. Os pensamentos lanam um vusobre a realidade, e, por isso, ela no percebida como tal em outros estadosdistintos do samadhi.

    Em Samadhi h apenas o sentimento "EU SOU" e no h pensamento algum.A experincia do "EU SOU" estar em quietude.

    D: Como posso repetir a experincia de samadhi ou a quietude que consigoaqui?

    M: Sua atual experincia devida influncia da atmosfera em que voc seencontra. Voc pode t-la fora dessa atmosfera? A experincia intermitente.At que se torne permanente, a prtica necessria.

    D: Tm-se, por vezes, vvidos lampejos de uma conscincia cujo centro estfora do eu normal, e que parece ser totalmente includente. Sem nosenvolvermos com conceitos filosficos, como que Bhagavan aconselha-me a

    trabalhar no sentido de obter, manter e ampliar esses raros lampejos? Serque a abhyasa (prtica espiritual) em tal experincia envolve retiro?

    M: Est fora! Para quem existe dentro ou fora? Eles s podem existir enquantohouver o sujeito e o objeto Mais uma vez, para quem existem esses dois?Investigando, voc vai descobrir que eles se resumem apenas ao sujeito. Vejaquem o sujeito, e essa investigao leva voc pura Conscincia alm dosujeito.

    O eu normal a mente. Essa mente existe com limitaes. Mas a conscinciapura est alm das limitaes, e atingida por meio da investigao como

    anteriormente descrito.

    Obteno: O Self est sempre l. Voc s tem de remover o vu que obstrui arevelao do Ser.

    Reteno: Quando voc realiza o Self, ele se torna sua experincia direta eimediata. Ele nunca perdido.

    Extenso: no h extenso alguma do Self, pois ele sempre idntico, sem secontrair ou se expandir.

    Retiro: Permanecer no Ser solido. Porque no h coisa alguma exterior aoSelf. O retiro tem de ser de um lugar ou estado a outro. No existe nem umnem o outro parte do Self. Tudo sendo o Self, o retiro impossvel einconcebvel.

    Abhyasa s a preveno do distrbio paz inerente. Voc est sempre emseu estado natural, quer faa abhyasa ou no... permanecer como voc , semdvidas ou questionamentos, o seu estado natural.

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    D: Ao realizar o samadhi, no se obtm siddhis (poderes ocultos) tambm?

    M: Para que os siddhis sejam exibidos, deve haver outros indivduos parareconhec-los. Isso significa que no existejnna em quem os exibe. Portanto,os siddhis no valem a pena. Apenasjnana deve ser almejada e obtida.

    D: A minha realizao ajuda os outros?

    M: Sim, e a melhor ajuda que voc pode prestar aos outros. Aqueles quedescobriram grandes verdades o fizeram nas profundezas tranquilas de SiMesmo. Mas realmente no h 'outros' para serem ajudados. Pois, o serrealizado v apenas o Self, assim como o ourives v apenas o ouro enquanto oavalia em vrias jias feitas desse material.

    Quando voc se identifica com o corpo, o nome e a forma esto l. Masquando voc transcende a conscincia do corpo, os "outros" tambmdesaparecem. O realizado no v o mundo como diferente de si mesmo.

    D: No seria melhor se os santos se misturassem com os outros?

    M: No h 'outros' com quem se misturar. O Self a nica realidade.

    D: Eu no deveria tentar ajudar o mundo sofredor?

    M: O Poder que o criou fez o mesmo com o mundo. Se ele pode cuidar devoc, pode igualmente cuidar do mundo... se Deus criou o mundo, trabalhodele cuidar do mundo, no seu.

    D: No nosso dever ser patriotas?

    M: Seu dever sere no ser isso ou aquilo. "EU SOU ESSE EU SOU" resumetoda a verdade; o mtodo est sintetizado em 'aquiete-se'.

    E o que a quietude significa? Significa "destruir a si mesmo"; porque todo nomee forma a causa do problema. "Eu-Eu" o Self. "Eu sou isso e aquilo" oego. Quando o "eu" mantido apenas como o "eu", ele o Self. Quando saipela tangente e diz 'eu sou isso ou aquilo, eu sou tal e tal, o ego.

    D: Quem Deus ento?

    M: O Self Deus. "EU SOU" Deus. Se Deus est parte do Self, ele tem de

    ser um Deus sem Si-Mesmo, o que absurdo. Tudo o que necessrio pararealizar o Self estar quieto. O que pode ser mais fcil do que isso? Da que oatma vidya (conhecimento de si mesmo) o mais fcil de obter.

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    VII - O GURU E SUA GRAA

    D: O que guru Kripa (a graa do guru)? Como ela conduz autorrealizao?

    M: Guru o Self. s vezes, um indivduo se torna insatisfeito com sua vida e,descontente com o que ele tem, busca a satisfao de seus desejos por meioda orao a Deus, etc. Sua mente gradualmente se purifica at que ele anseiapor conhecer a Deus, mais para obter Sua graa que para satisfazer desejosmundanos. Em seguida, a graa de Deus comea a se manifestar. Deus tomaa forma de um Guru e aparece ao devoto, ensina-lhe a verdade e, alm disso,purifica sua mente pela associao. A mente do devoto ganha fora e entocapaz de voltar-se para dentro. Atravs da meditao, torna-se ainda maispurificada e permanece sem a menor ondulao. Essa calma vastido o Self.

    O Guru tanto 'externo' quanto 'interno'. Do 'exterior', ele d um empurro para

    que a mente se volte para dentro; do interior ele puxa a mente para o Self eauxilia para que ela se aquiete. Isso guru kripa. No existe diferena entreDeus, Guru e o Self.

    D: Na Sociedade Teosfica, eles meditam a fim de buscar os mestres paraguia-los.

    M: O Mestre interno. A meditao feita para remover a idia ignorante deque s existe externamente. Se ele um estranho que voc espera, estfadado a desaparecer tambm. Qual a utilidade de um ser transitrio comoesse? Mas enquanto voc pensar que separado, ou que voc o corpo, o

    mestre 'externo' tambm ser necessrio, e ele vai aparecer como possuindoum corpo. Quando a identificao errnea de si mesmo com o corpo cessar, oMestre ser visto como nenhum outro seno si mesmo.

    D: Ser que o Guru nos auxiliar a conhecer o Self por meio da iniciao, etc.?

    M: O Guru lhe toma pela mo e sussurra em seu ouvido? Voc pode imagin-loser o que voc mesmo . Porque voc pensa que est com um corpo, imaginaque ele tambm tem um corpo para fazer alguma coisa tangvel por voc. Seutrabalho se processa internamente, no reino espiritual.

    D: Como que o Guru encontrado?M: Deus, que imanente, em Sua graa tem piedade do devoto amoroso emanifesta-se de acordo com o desenvolvimento dele. O devoto pensa que Ele uma pessoa e espera interajam como dois corpos fsicos. Mas o Guru, que Deus, ou o Self encarnado, atua a partir de dentro, ajuda-o a ver o erro emsuas atitudes e guia-o no caminho certo at que ele perceba o Self interior.

    D: O que deve fazer ento o devoto?

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    M: Ele tem apenas de agir de acordo com as palavras do Mestre e trabalharinteriormente. O Mestre est tanto "dentro" quanto 'fora'. Assim, ele criacondies para conduzi-lo ao interior e, ao mesmo tempo, prepara o "interior"para pux-lo para o Centro. Dessa forma, ele d um empurro de 'fora' eexerce uma atrao a partir de dentro, para que voc se fixe no Centro.

    Voc acha que o mundo pode ser conquistado por seus prprios esforos.Quando se frustra externamente e impelido para dentro, voc sente Oh! hum poder superior ao homem.

    O ego como um elefante muito poderoso, que no pode ser mantido sobcontrole por nada menos poderoso do que um leo, que, neste exemplo, no outro seno o Guru, cuja figura suficiente para fazer o ego, smile do elefante,tremer e morrer.

    Voc saber, no momento oportuno, que a sua glria reside ali onde vocdeixa de existir. A fim de obter esse estado, voc deve render-se. Ento oMestre v que voc est em um estado adequado para receber orientao, eele lhe guia.

    D: Como pode o silncio do Guru que no d iniciao alguma, nem realizaqualquer outro ato tangvel, ser mais poderoso que a Sua palavra, etc.? Comotal silncio pode ser melhor do que o estudo das escrituras?

    M: O silncio a forma mais potente de trabalho. A despeito de quo vastas eenfticas as escrituras possam ser, elas falham em sua influncia. O Guru silencioso e a Graa predomina. Esse silncio mais vasto e mais enftico quetodas as escrituras juntas.

    D: Mas o devoto pode obter a felicidade?

    M: O devoto se rende ao Mestre e isso significa que no h vestgio algum deindividualidade retida por ele. Se a entrega for completa, todo o senso de euse perde, e ento no pode haver sofrimento ou tristeza.

    O Ser eterno no coisa alguma, a no ser a felicidade. Isso vem como umarevelao.

    D: Como posso obter a Graa?

    M: A graa o Self. No tambm para ser adquirida; voc s precisa saberque ela existe.

    O sol luminosidade apenas. Ele no v escurido. Contudo, voc fala dastrevas fugindo aproximao do sol. Assim tambm a ignorncia do devoto,como o fantasma da escurido, desaparece com o olhar do Guru. Voc cercado pela luz solar; ainda assim, se quiser ver o sol, deve voltar-se em sua

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    direo e contempl-lo. Da mesma forma, a Graa tambm encontrada pelaforma adequada de aproximar-se, embora esteja aqui e agora.

    D: A Graa no pode acelerar a maturao no buscador?

    M: Deixe tudo para o Mestre. Renda-se a ele sem reservas. Uma das duas

    coisas deve ser feita: render-se, porque voc percebe sua insuficincia eprecisa da ajuda de uma fora maior para auxili-lo; ou investigar a causa dosofrimento, ir fonte e, assim, fundir-se no Self. De uma maneira ou da outra,voc estar livre do sofrimento. Deus ou Guru nunca abandona o devoto quese rendeu.

    D: Qual o significado de prostrao ao Guru ou Deus?

    M: A prostrao significa o desaparecimento do ego, e isso significa fundir-sena Fonte. Deus ou Guru no pode ser enganado por genuflexes, revernciase prostraes. Ele v se o ego est ali ou no.

    D: O Bhagavan no vai me dar um pouco do Prasad (alimento consagrado) desua folha como um sinal de Sua Graa?

    M: Alimente-se sem pensar no ego. Ento, o que voc come torna-se o Prasadde Bhagavan.

    D: No o homem letrado melhor qualificado para o esclarecimento, no sentidode que ele no necessita da graa do guru?

    M: Mesmo um homem culto deve curvar-se perante o sbio iletrado. A falta deinstruo ignorncia e a educao ignorncia ilustrada. Em ambos os

    casos, h ignorncia do verdadeiro objetivo. O sbio ignorante de outraforma. Ele ignorante porque no h "outro" para ele.

    D: No para obter a Graa do Guru que presentes so oferecidos a ele?Portanto, os visitantes oferecem presentes para Bhagavan.

    M: Por que trazem presentes? Eu os quero? Mesmo se eu me recusar, elesatiram os presentes em mim! Para qu? No como lanar uma isca parapegar o peixe? Est o pescador ansioso para alimentar o peixe? No, ele estansioso para alimentar-se dele!

    D: A idia teosfica de ministrar sucessivas iniciaes antes de se atingirmoksha (liberao) verdadeira?

    M: Aqueles que atingem moksha em uma vida devem ter passado por todas asiniciaes em suas vidas anteriores.

    D: A Teosofia diz que osjnanis, aps a morte, tm de escolher entre quatro oucinco linhas de trabalho, no necessariamente neste mundo. Qual a opiniode Bhagavan?

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    M: Alguns podem retomar o trabalho, mas no todos.

    D: Voc est consciente de uma irmandade de Rishis (sbios) invisveis?

    M: Se invisveis, como voc pode v-los?

    D: Na conscincia.M: No h coisa alguma externa na conscincia.

    D: Eu posso perceb-los?

    M: Se voc perceber a sua prpria realidade, ento a dos Rishis e Mestres setornar clara para voc. S h um Mestre, que o Self.

    D: A reencarnao uma verdade?

    M: A reencarnao existe apenas enquanto h ignorncia.

    No h realmente reencarnao alguma, absolutamente, seja agora, sejaantes. Nem haver no futuro. Esta a verdade.

    D: Pode um yogi conhecer suas vidas passadas?

    M: Voc conhece a vida presente de tal forma que deseja saber o passado?Encontre o presente, ento o resto se seguir. Mesmo com o nosso presenteconhecimento limitado, voc sofre tanto; por que voc deve sobrecarregar-secom mais conhecimento? para sofrer mais?

    D: O Bhagavan utiliza poderes ocultos para fazer os outros perceberem o Ser,

    ou o simples fato da realizao de Bhagavan suficiente para isso?M: A fora espiritual da autorrealizao muito mais poderosa do que o uso detodos os poderes ocultos. Na medida em que no existe ego no sbio, noexistem outros' para ele. Qual o maior benefcio que pode ser conferido avoc? a felicidade, e a felicidade nasce da paz. A paz pode reinar apenasonde no h perturbao, e a perturbao devida aos pensamentos quesurgem na mente. Quando a prpria mente est ausente, h paz perfeita. Amenos que a pessoa tenha aniquilado a mente, ela no pode ganhar a paz eser feliz. E a menos que ela prpria seja feliz, no pode conferir felicidade aos"outros". Uma vez que, no entanto, no h "outros" para o sbio que no tem

    mente, o simples fato de sua autorrealizao , em si, suficiente para fazerfelizes os 'outros'.

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    VIII - PAZ E FELICIDADE

    D: Como posso conseguir a paz? Parece que no consigo obt-la por meio devichara.

    M: A paz o seu estado natural. a mente que obstrui o estado natural. Suavichara tem sido feita apenas na mente. Investigue o que a mente , e ela vaidesaparecer. No existe tal coisa como mente parte do pensamento. Noentanto, por causa do surgimento do pensamento, voc supe algo a partir doqual ele aparece e nomeia a isso mente. Quando voc sonda para ver o queela , voc descobre que realmente no existe tal coisa como mente.Quando, dessa forma, a mente evanesce, voc percebe a paz eterna.

    D: Por meio da poesia, da msica,japa , bhajana, da viso de belas paisagens,da leitura de versos de natureza espiritual, etc., se experimenta, s vezes, um

    sentido verdadeiro de total unidade. Esse sentimento de profunda e bem-aventurada quietude (em que o eu pessoal no tem lugar) o mesmo que omergulhar no corao de que Bhagavan fala? A prtica desse estado levar aum samadhi mais profundo e, por fim, a uma viso completa do Real?

    M: H felicidade quando coisas agradveis so apresentadas mente. Essafelicidade inerente ao Ser, e no existe, de forma alguma, outra felicidade. Eno se trata de coisa estranha e longnqua. Voc est mergulhado no Selfnessas ocasies que voc considera prazerosas; esse mergulho tem comoresultado a felicidade autoexistente. Mas a associao de idias responsvelpor impingir a crena de que a felicidade se encontra em outras coisas ou

    acontecimentos, quando, na verdade, essa bem-aventurana se encontradentro de voc. Nessas ocasies voc est mergulhando no Si Mesmo,embora inconscientemente. Se voc faz isso conscientemente, com aconvico que vem da experincia de que voc idntico felicidade que , naverdade, Si Mesmo, a Realidade nica, voc o chama de Realizao. Queroque voc mergulhe conscientemente em Si Mesmo, isto , no corao.

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    EVANGELHO DE MAHARISHI

    LIVRO II

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    I - AUTO-INVESTIGAO

    Discpulo: O que fazer para realizar o Si Mesmo?Maharshi: O Si Mesmo de quem? Descubra.

    D: Meu, mas quem sou eu?

    M: Descubra voc mesmo.

    D: Eu no sei como.

    M: Basta pensar sobre a questo. Quem que diz: "Eu no sei"? Quem o"eu" em sua declarao? O que no conhecido?

    D: Algum ou alguma coisa em mim.

    M: Quem esse algum? Em quem?

    D: Talvez algum poder.

    M: Descubra.

    D: Por que eu nasci?

    M: Quem nasceu? A resposta a mesma para todas as suas perguntas.

    D: Quem sou eu, ento?M: (sorrindo.) Voc veio para me arguir? Voc deve dizer quem voc .

    D: Por mais que eu tente, no parece que eu consiga pegar o 'eu'. Ele nemsequer claramente perceptvel.

    M: Quem que diz que o "eu" no perceptvel? H dois 'eus em voc, umque no perceptvel para o outro?

    D: Em vez de perguntar "Quem sou eu?", posso perguntar a mim mesmoQuem voc?, pois assim, ento, a minha mente pode ser fixada em voc,

    que eu considero ser Deus na forma de Guru? Eu estaria mais perto doobjetivo da minha busca com essa investigao do que perguntando a mimmesmo quem sou eu?.

    M: Qualquer que seja a forma adotada sua investigao, voc deve ao finalchegar ao eu nico, o Si Mesmo.

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    Todas estas distines feitas entre "eu" e "voc", mestre e discpulo, etc., soapenas um sinal da ignorncia do indivduo. S h o Eu Supremo. Pensar deoutra maneira enganar a si mesmo.

    A histria purnica (Puranas-Escrituras Sagradas) do sbio Ribhu e de seudiscpulo Nidagha particularmente instrutiva nesse contexto.

    Embora Ribhu ensinasse a seus discpulos a suprema Verdade de que s hBrahman (o absoluto), sem que haja outro, Nidagha, a despeito de suaerudio e compreenso, no ficou suficientemente convencido para adotar eseguir o caminho dajnana, mas estabeleceu-se em sua cidade natal para levaruma vida dedicada observncia da religio cerimonial.

    O Sbio, porm, amava o seu discpulo to profundamente quanto estevenerava seu Mestre. Apesar de ser idoso, Ribhu ia ver o seu discpulo nacidade, s para acompanhar o quanto o ltimo havia superado seu ritualismo.s vezes, o Sbio ia disfarado, para que pudesse observar como Nidaghaagiria sem saber que estava sendo observado por seu Mestre.

    Em uma dessas ocasies, Ribhu, que havia se disfarado de um rsticocampons, encontrou Nidagha assistindo atentamente a um cortejo real. Nosendo reconhecido pelo morador da cidade, Nidagha, o rstico camponsperguntou-lhe que agitao toda era aquela, e lhe foi respondido que o rei saaem procisso.

    "Oh! o rei. Ele est saindo em procisso! Mas, onde est ele?", perguntou orstico.

    "L, no elefante", disse Nidagha.

    "Voc diz que o rei est no elefante. Sim, vejo os dois", disse o rstico, Mas,

    qual deles o rei e qual o elefante?"O qu?", exclamou Nidagha: "Voc v os dois, mas no sabe que o homemem cima o rei e o animal em baixo o elefante? Qual a utilidade de seconversar com algum como voc?".

    Por favor, suplico-lhe, no seja impaciente com um homem ignorante comoeu", disse o rstico. "Mas, voc disse 'em cima ' e 'em baixo': o que essaspalavras significam?"

    Nidagha no aguentou mais. "Voc v o rei e o elefante, um em cima e o outroem baixo. No entanto, voc quer saber o que se entende por "em cima" e 'embaixo'?", explodiu Nidagha. "Se as coisas vistas e as palavras proferidaspodem transmitir to pouco a voc, apenas a ao pode lhe ensinar. Curve ocorpo, e voc vai saber muito bem.

    O rstico fez o que lhe foi dito. Nidagha subiu em seus ombros e disse: "Saibaagora! Eu estou em cima, como o rei, e voc est embaixo, como o elefante.Isso est suficientemente claro?".

    "No, ainda no", foi a calma resposta do rstico. "Voc diz que voc est emcima, como o rei, e eu estou em baixo, como o elefante. O 'rei', o 'elefante', 'em

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    cima' e em baixo, at aqui est claro. Mas, rogo-lhe, diga-me o que voc querdizer com 'eu' e 'voc'?"

    Quando Nidagha foi assim confrontado, repentinamente, com o extraordinriodesafio de definir o 'voc' parte do eu, a luz despontou em sua mente.Imediatamente ele saltou dos ombros e caiu aos ps do seu mestre, dizendo:

    "Quem mais, seno o meu Venervel Mestre Ribhu, poderia ter trazido assim aminha mente das superficialidades da existncia fsica para o verdadeiro ser doSi Mesmo? Oh, Mestre benigno, eu imploro as suas benos".

    Portanto, quando o seu objetivo transcender aqui e agora essassuperficialidades da existncia fsica por meio de atma vichara, que espao hpara fazer as distines entre 'voc' e 'eu', que dizem respeito apenas aocorpo? Quando voc volta a mente para dentro, buscando a fonte dopensamento, onde est o 'voc' e onde est o "eu"?

    Voc deve investigar e ser o Si Mesmo, que inclui a todos.

    D: Mas no engraado que o "eu" deva sair em busca do "eu"? Ainvestigao "Quem sou eu? no se transforma, ao final, em uma frmulavazia? Ou devo colocar a questo para mim incessantemente, repetindo-acomo um mantra?

    M: A autoinvestigao no , certamente, uma frmula vazia; mais do que arepetio de qualquer mantra. Se a investigao, "Quem sou eu?" fosse ummero questionamento mental, no seria de muito valor. O propsito deautoinvestigao concentrar toda a mente na sua fonte. No , assim, umcaso de um 'eu' em busca de outro "eu".

    Muito menos a autoinvestigao uma frmula vazia, pois envolve umaintensa atividade de toda a mente para mant-la constantemente estabelecidaem pura autoconscincia.

    A autoinvestigao o nico meio infalvel, o nico direto, para perceber o Serincondicionado, absoluto, que voc realmente .

    D: Por que s a autoinvestigao deve ser considerada o meio direto parajnana?

    M: Porque todo tipo de sadhana, exceto Atma Vichara, pressupe a reteno

    da mente como o instrumento para o exerccio da sadhana, e sem a mente elano pode ser praticada. O ego pode tomar formas diferentes e mais sutis nasdiferentes fases da prtica do indivduo, porm ele mesmo jamais destrudo.Quando Janaka (rei sbio) exclamou: "Agora descobri o ladro que esteve mearruinando durante todo o tempo - lidarei com ele sumariamente", o rei estavarealmente referindo-se ao ego ou mente.

    D: Mas o ladro pode igualmente ser capturado por outras formas de sadhana.

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    M: A tentativa de destruir o ego ou a mente atravs de sadhanas distintas deatma vichara o mesmo que um ladro assumir o papel de um policial paraprender o ladro, que ele prprio. Somente Atma vichara pode revelar averdade que nem o ego nem a mente realmente existe, e capacitar o indivduoa realizar o puro, indiferenciado Ser do Si-mesmo ou o Absoluto.

    Tendo realizado o Self, nada sobra para se conhecer, porque ele perfeitaBem-aventurana, o Todo.

    D: Nesta vida cercada de limitaes, posso alguma vez perceber a bem-aventurana do Self?

    M: Essa bem-aventurana do Self est sempre com voc, e voc vai encontr-la por si mesmo, se a procurar sinceramente.

    A causa do seu sofrimento no est na vida exterior; est em voc como ego.Voc impe limitaes a si mesmo e, em seguida, realiza uma luta v para

    transcend-las. Toda infelicidade devida ao ego; com ele vem todo o seuproblema. O que que adianta atribuir aos acontecimentos da vida a causa dosofrimento, que est realmente dentro de voc? Que felicidade voc pode obterde coisas exteriores a si mesmo? Quando voc a conseguir, quanto tempo issovai durar?

    Se voc negar o ego e inciner-lo, ignorando-o, voc estar livre. Se aceit-lo,ele vai lhe impor limitaes e ir lan-lo em uma luta v para transcend-las.Era assim que o ladro procurava 'arruinar' o Rei Janaka.

    Ser o Si Mesmo, que voc realmente , eis o nico meio de realizar a bem-aventurana que sempre sua.

    D: No tendo percebido a verdade de que apenas o Self existe, eu no deveriaadotar os caminhos espirituais (margas) bhakti e yoga como sendo maisadequadas do que vichara para fins de sadhana? No a realizao doAbsoluto Ser do indivduo, isto , Brahma jnana, algo praticamente inatingvelpara um leigo como eu?

    M: Brahma jnana no um conhecimento a ser adquirido, de modo que, aoadquiri-lo, se possa obter a felicidade. Essa o ponto de vista da ignorncia,do qual se deve desistir. O Self que voc busca conhecer , na verdade, vocmesmo. Sua suposta ignorncia lhe causa uma aflio desnecessria, como a

    dos dez homens tolos que se afligiram com a "perda" do dcimo homem, quenunca foi perdido.

    Os dez homens tolos da parbola atravessaram um rio e, ao alcanar a outramargem, quiseram ter a certeza de que todos tinham, de fato, cruzado emsegurana a correnteza. Um dos dez comeou a contar, mas, ao efetuar acontagem, deixou a si mesmo de fora. "Eu vejo apenas nove - com toda acerteza, perdemos um. Quem pode ter sido?", perguntou. "Voc contoucorretamente?", questionou outro, e efetuou, ele mesmo, nova contagem. Mas

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    tambm contou apenas nove. Um aps o outro, cada um dos dez contouapenas nove, deixando de considerar a si mesmo. "Somos apenas nove",todos eles concordaram, mas, quem est faltando?, perguntaram-se uns aosoutros. Toda tentativa que fizeram para descobrir o companheiro perdidofalhou. "Quem quer que seja que tenha se afogado", disse o mais sentimentaldos dez tolos, "ns o perdemos". Assim dizendo, comeou a chorar, e o resto

    dos nove seguiu o exemplo.

    Ao v-los chorando na margem do rio, um bondoso viandante perguntou sobrea causa. Eles relataram o que havia acontecido e disseram que, mesmo apscontarem-se vrias vezes, no conseguiam encontrar mais do que nove. Aoouvir a histria, mas vendo todos os dez diante dele, o viajante adivinhou o quetinha acontecido. A fim de faz-los saber por si mesmos que eles eramrealmente dez, que todos eles tinham chegado a salvo da travessia, lhes disse:"Cada um de vocs vai contar a si mesmo, mas um aps o outro, emsequncia, um, dois, trs, e assim por diante, enquanto eu darei uma pancadaem cada um, para que todos vocs possam ter a certeza de terem sidoincludos na contagem, e includos apenas uma vez. O dcimo homem 'perdido'

    ser, ento, encontrado. Ouvindo isso, eles se alegraram com a perspectivade encontrar seu companheiro "perdido" e aceitaram o mtodo sugerido peloviajante.

    Ao passo em que o amvel andarilho dava um golpe a cada um dos dez, o queera golpeado contavase em voz alta. "Dez", disse o ltimo homem, assim que,na sua vez, recebeu a ltima pancada. Desnorteados, olharam-se uns aosoutros. "Somos dez", disseram a uma s voz, e agradeceram ao viajante porter dissipado a sua aflio.

    Essa a parbola. Onde se foi buscar o dcimo homem? Alguma vez eleesteve perdido? Ao saber que ele estava l o tempo todo, eles aprenderamalguma coisa nova? A causa de sua dor no era a perda real de qualquer umdos dez, era a sua prpria ignorncia, melhor, a sua mera suposio de queum deles estava perdido (embora no pudessem identificar qual), pois haviamcontado apenas nove.

    Tal tambm o caso com voc. No h, realmente, razo para voc se sentirdesconsolado e infeliz. Voc mesmo impe limitaes sua verdadeiranatureza de Ser Infinito, e ento se lamenta por no passar de uma criaturafinita. Dessa forma, voc se vale desta ou daquela prtica espiritual (sadhana)para transcender as limitaes inexistentes. Mas se a sua sadhana pressupe,ela mesma, a existncia de limitaes, como pode ajud-lo a transcend-las?

    Assim, eu digo, saiba que voc realmente o puro Ser Infinito, o Si MesmoAbsoluto. Voc sempre esse Self e nada mais que o Self. Portanto, vocjamais pode ser realmente ignorante de Si Mesmo; sua ignorncia apenasuma ignorncia formal, como a ignorncia dos dez tolos acerca do dcimohomem 'perdido. Foi essa ignorncia que lhes causou infortnio.

    Saiba, ento, que o verdadeiro conhecimento no cria um novo Ser para voc;ele s remove a 'ignorncia ignorante. A Bem-Aventurana no adicionada

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    sua natureza - ela simplesmente revela-se como o seu estado verdadeiro enatural, eterno e imperecvel. A nica maneira de se livrar de sua aflio conhecer e ser Si Mesmo. Como pode isso ser inatingvel?

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    II - SADHANA E GRAA

    D: A pesquisa sobre Deus vem acontecendo desde tempos imemoriais. J foidada a palavra final?

    M: (Mantm silncio por algum tempo).

    D: (Intrigado) Devo considerar o silncio do Sri Bhagavan como a resposta minha pergunta?

    M: Sim. Mauna Iswara svarupa (a natureza de Deus). Da, o texto:

    A Verdade do Supremo Brahman proclamada por meio da eloquenciasilenciosa

    D: Diz-se que Buda ignorou tais investigaes sobre Deus.

    M: E, por causa disso, ele foi chamado de Vadin sunya (niilista). Na verdade,Buda se preocupou mais em orientar o aspirante a perceber a bem-aventurana aqui e agora do que com discusses acadmicas a respeito deDeus, etc.

    D: Deus descrito como manifesto e no manifesto. Como o primeiro, diz-seque inclui o mundo como parte de seu ser. Se assim, ns, como parte destemundo, deveramos facilmente conhece-lo na forma manifesta.

    M: Conhea a si mesmo antes de buscar decidir sobre a natureza de Deus e do

    mundo.D: Conhecer a mim mesmo implica conhecer a Deus?

    M: Sim, Deus est dentro de voc.

    D: Ento, qual o obstculo no caminho de meu conhecimento de mim mesmoou de Deus?

    M: Sua mente errante e as suas incorretas formas de se conduzir.

    D: Eu sou uma criatura fraca. Mas, por que o poder superior de Deus dentro de

    mim no remove os obstculos?

    M: Sim, ele remover, se voc tiver a aspirao.

    D: Por que Ele no cria a aspirao em mim?

    M: Ento, renda-se.

    D: Se eu me entregar, nenhuma orao a Deus necessria?

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    M: Entregar a si mesmo uma poderosa orao.

    D: Mas no necessrio compreender a Sua natureza antes de algumentregar-se?

    M: Se voc acredita que Deus far por voc todas as coisas que voc quer que

    ele faa, entregue-se ento a Ele. Caso contrrio, deixe Deus de lado econhea a si mesmo.

    D: Deus ou o Guru tem algum desvelo por mim?

    M: Se voc procurar um ou o outro - eles realmente no so dois, mas um s eidnticos tenha a certeza de que eles o esto buscando com uma solicitudemaior do que voc jamais pode imaginar.

    D: Jesus contou a parbola da moeda perdida, em que a mulher a procura atque seja encontrada.

    M: Sim, isso representa adequadamente a verdade de que Deus ou o Guruest sempre procura do buscador srio. Fosse a moeda uma pea sem valor,a mulher no teria realizado essa longa busca. Voc percebe o que issosignifica? O buscador deve qualificar-se atravs da devoo, etc.

    D: Mas o indivduo pode no estar seguro da Graa de Deus.

    M: Se a mente imatura no sente a Sua Graa, isso no significa que a graade Deus esteja ausente, pois tal situao implicaria que Deus, s vezes, no benevolente, ou seja, deixa de ser Deus.

    D: Isso o mesmo que o dito de Cristo De acordo com a tua f seja feito a ti".M: Isso mesmo.

    D: Os Upanishads, segundo soube, dizem que s conhece o Atman (SerSupremo) aquele que o Atman escolhe. Por que razo deveria o Atmanescolher? Se ele o faz, por que determinada pessoa?

    M: Quando o sol nasce, apenas alguns botes florescem, no todos. Vocculpa o sol por isso? O boto tambm no pode florescer por si mesmo, elenecessita da luz do sol para faz-lo.

    D: No podemos dizer que necessria a ajuda doAtman porque foi oAtmanque lanou sobre si mesmo o vu de maya?

    M: Voc pode dizer isso.

    D: Se oAtman lanou o vu sobre si mesmo, no deve, ele mesmo, remover ovu?

    M: Ele o far. Veja para quem o vu.

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    D: Por que deveria eu? Que o prprioAtman remova o vu!

    M: Se oAtman fala sobre o vu, ento o prprioAtman ir remov-lo.

    D: Deus pessoal?

    M: Sim, Ele sempre a primeira pessoa, o eu, ininterruptamente diante devoc. Porque voc d prioridade a coisas mundanas, Deus parece ter recuadoa um plano secundrio. Se voc desistir de tudo e buscar apenas Ele, s Elevai permanecer como o eu, o Si Mesmo.

    D: O estado final de Realizao, de acordo com o Advaita, diz-se ser aabsoluta unio com o Divino; e de acordo com Visishtadvaita, uma unioparcial, enquanto Dvaita sustenta que no h unio alguma. Qual destas deveser considerada a correta viso?

    M: Por que especular sobre o que vai acontecer em algum momento futuro?Todos concordam que o "eu" existe. A qualquer escola de pensamento que ele

    possa pertencer, deixe o srio buscador primeiro descobrir o que o "eu"Ento, haver tempo suficiente para saber o que ser o estado final, se o "eu"vai imergir no Supremo Ser ou permanecer fora dele. No vamos antecipar aconcluso, mas manter a mente aberta.

    D: Mas, alguma compreenso do estado final no ser um guia til mesmopara o aspirante?

    M: No serve a propsito algum a tentativa de decidir agora o que ser oestado final de Realizao. No h nisso valor intrnseco algum.

    D: Por qu?M: Porque voc parte de um princpio equivocado. Sua verificao tem dedepender do intelecto, que brilha apenas pela luz que obtm do Self. No uma presuno da parte do intelecto se por a fazer julgamento sobre aquilo deque ele apenas uma manifestao limitada, e do qual deriva a sua tnue luz?

    Como pode o intelecto, que jamais pode chegar ao Self, ser competente paraaveriguar, e muito menos decidir, sobre a natureza do estado final deRealizao? como tentar medir a luz do sol em sua origem pelo critrio da luzemitida por uma vela. A cera derreter antes de a vela chegar a qualquer lugarperto do sol.

    Em vez de entregar-se mera especulao, empenhe-se, aqui e agora, nabusca da Verdade, que est sempre dentro de voc.

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    III - O JNANI E O MUNDO

    D: O mundo percebido pelojnani?

    M: De quem a pergunta? De um oujnani ou de um ajnani?

    D: De um ajnani, admito.

    M: o mundo que busca decidir a questo sobre a sua realidade? A dvidasurge em voc. Conhea, em primeira instncia, quem esse que duvida, eento voc pode considerar se o mundo real ou no.

    D: O ajnani v e conhece o mundo e seus objetos, que afetam seus sentidosde tato, paladar, etc. Ojnani experimenta o mundo da mesma maneira?

    M: Voc fala acerca de ver e conhecer o mundo. Mas, sem conhecer a si

    mesmo, o sujeito cognoscente (sem o qual no h conhecimento do objeto),como voc pode conhecer a verdadeira natureza do mundo, o objetoconhecido? Os objetos, no h dvida alguma, afetam o corpo e os rgos dossentidos; mas para o seu corpo que surge a pergunta? O corpo diz "perceboo objeto, ele real? Ou, o mundo que lhe diz: "Eu, o mundo, sou real"?

    D: Eu s estou tentando compreender o ponto de vista dojnani sobre o mundo.O mundo percebido pelojnani aps a autorrealizao?

    M: Por que se preocupar sobre o mundo e o que acontece com ele depois daautorrealizao? Primeiro perceba a Si Mesmo. Que importa se o mundo

    percebido ou no? Voc ganha algo para ajud-lo em sua busca pela nopercepo do mundo durante o sono profundo? De modo contrrio, o que vocperderia agora pela percepo do mundo? totalmente indiferente ao jnani ouao ajnani se eles percebem o mundo ou no. Ele visto por ambos, mas seuspontos de vista so diferentes.

    D: Se o jnani e o ajnani percebem o mundo de igual maneira, onde est adiferena entre eles?

    M: Ao ver o mundo, ojnani v o Self, que o substrato de tudo o que visto; oajnani, vendo o mundo ou no, ignorante do seu verdadeiro Ser, o Self.

    Considere o caso das imagens em movimento na tela do cinema. O que est l sua frente antes de a exibio comear? Apenas a tela. Nessa tela voc vtodo o filme, e, aparentemente, as imagens so reais. Mas v e tente peg-las.No que voc toca? Apenas na tela, em que as imagens pareciam to reais.Aps o filme, quando as imagens desaparecem, o que resta? A tela de novo!

    Da mesma forma, com o Self. S ele sempre existe; as imagens vm e se vo.Se voc se ativer a Si Mesmo, no ser enganado pela aparncia das

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    imagens. Tampouco tem importncia se as imagens aparecem oudesaparecem.

    Ignorando o Self, o ajnani acha que o mundo real, assim como, ignorando atela, ele v apenas as imagens, como se estas existissem parte daquela.Quando se sabe que sem o vidente no h coisa alguma a ser vista, assim

    como no h imagens sem a tela, no se iludido. Ojnani sabe que a tela, asimagens e os olhos que as veem so to somente o Self. Com as imagens, oSelf est em sua forma manifesta; sem as imagens, ele permanece na formano-manifesta. Para o jnani, bastante irrelevante se o Self est em umaforma ou outra. Ele sempre o Self. Mas o ajnani, vendo o jnani ativo, ficaconfuso.

    D: exatamente esse o ponto que me levou a colocar minha primeirapergunta, ou seja, se a pessoa que realizou o Self percebe o mundo como ns,e, se o faz, eu gostaria de saber como Sri Bhagavan se sentiu quanto aomisterioso desaparecimento da foto ontem...

    M: (Sorrindo) Voc est se referindo foto do Templo de Madurai. Poucosminutos antes, ela estava passando pelas mos dos visitantes, que acontemplavam. Evidentemente, perdeu-se entre as pginas de um livro ououtro que eles estavam consultando.

    D: Sim, foi esse o incidente. Como Bhagavan o encarou? Houve uma buscaansiosa pela foto, que, ao final, no pde ser encontrada. Como Bhagavanconsiderou o misterioso desaparecimento da foto, exatamente no momento emque estava sendo procurada?

    M: Suponha que voc sonhe que est me levando para o seu distante pas, aPolnia. Voc acorda e pergunta-me: "Eu sonhei assim e assim; voc tambmteve esse sonho, ou sabe, de alguma outra forma, que eu o estava levandopara a Polnia?" Que significado voc atribuir a uma tal questo?

    D: Mas, no que diz respeito foto perdida, o incidente todo ocorreu na frentede Sri Bhagavan.

    M: A viso da foto e seu desaparecimento, bem como a sua presente pergunta,so, todos, meras operaes mentais.

    H uma histria purnica que ilustra o ponto. Quando Sita desapareceu doeremitrio na floresta, Rama saiu sua procura, pranteando Oh Sita, Sita!"

    Diz-se que Parvati (esposa de Shiva) e Parameswara (Senhor Supremo, Shiva)viram de cima o que estava acontecendo na floresta. Parvati expressou suasurpresa a Shiva e disse: "Voc elogiou Rama como o Ser Perfeito. Veja comoele se comporta e se entristece diante da perda de Sita!" Shiva respondeu: "Sevoc ctica quanto perfeio de Rama, ento submeta-o a um teste vocmesma. Por meio da sua yoga maya (poder de criar iluses), transforme-se eaparea como Sita diante dele". Parvati fez o que lhe foi sugerido. Ela apareceuna forma de Sita diante de Rama, mas, para seu espanto, Rama ignorou sua

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    presena e seguiu como antes, gritando Oh Sita, oh Sita!, como se fossecego.

    D: No compreendi a moral da histria

    M: Se Rama estivesse realmente procurando a presena corprea de Sita, ele

    teria reconhecido a pessoa que estava de p na frente dele como a Sita queele havia perdido. Mas no, a Sita desaparecida era to irreal quanto a Sita queapareceu diante de seus olhos. Rama no estava realmente cego; mas, paraele, umjnani, Sita no eremitrio, seu desaparecimento, sua subsequente buscapor ela, bem como a real presena de Parvati sob o disfarce de Sita, eram,todos, igualmente irreais. Entendeu agora como a falta da foto foi percebida?

    D: No posso dizer que est claro para mim. O mundo que visto, sentido epercebido por ns, de muitas formas, algo como um sonho, uma iluso?

    M: No h alternativa, a no ser aceitar o mundo como irreal, se voc estprocurando a Verdade e somente a Verdade.

    D: Por que isso?

    M: Pela simples razo de que, a menos que voc desista da idia de que omundo real, sua mente vai sempre estar em busca do mundo. Se voc tomara aparncia como real, voc nunca conhecer o prprio real, embora apenas oreal exista. Este ponto ilustrado pela analogia da "serpente na corda.Enquanto voc v a serpente, no pode ver a corda como tal. A inexistenteserpente torna-se real para voc, enquanto a corda real parece totalmenteinexistente como tal.

    D: fcil de aceitar, provisoriamente, que o mundo no , em ltima anlise,real, mas difcil ter a convico de que realmente irreal.

    M: Da mesma forma, o seu mundo de sonho real enquanto voc estsonhando. Enquanto o sonho perdura, tudo o que voc v, sente, etc., nele real.

    D: Ento, o mundo no coisa alguma alm de um sonho?

    M: O que h de errado com o senso de realidade que voc tem enquanto estsonhando? Voc pode estar sonhando com algo completamente impossvel,como, por exemplo, estar tendo um alegre bate-papo com uma pessoa que j

    morreu. Por um momento, apenas, voc pode ter uma dvida no sonho equestionar-se: 'ele no estava morto?'; mas, de alguma forma, sua mente sereconcilia viso do sonho, e como se a pessoa estivesse viva, para ospropsitos do sonho. Em outras palavras, o sonho, enquanto sonho, nopermite a voc duvidar de sua realidade. Da mesma forma, voc incapaz deduvidar da realidade do mundo de sua experincia na viglia. Como pode amente, que criou o mundo, aceit-lo como irreal? Esse o significado dacomparao feita entre o mundo da experincia na viglia e o mundo dossonhos. Ambos so apenas criaes da mente; e enquanto a mente se

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    encontra envolvida em qualquer um deles, acha-se incapaz de negar arealidade do sonho, enquanto est sonhando, e do mundo da viglia, enquantoacordada. Se, pelo contrrio, voc retira sua mente completamente do mundo ea volta para dentro e permanece assim, ou seja, se voc permanece sempredesperto para o Self, que o substrato de toda a experincia, voc vai ver omundo, o nico de que agora voc est cnscio, to irreal quanto o mundo em

    que voc viveu em seu sonho.

    D: Como eu disse antes, ns vemos, sentimos e percebemos o mundo de tovariadas maneiras. Essas sensaes so as reaes aos objetos vistos,sentidos etc., e no so criaes mentais como nos sonhos, que diferem nos de pessoa para pessoa, mas tambm no que diz respeito mesma pessoa.Isso no suficiente para provar a realidade objetiva do mundo?

    M: Toda essa conversa sobre inconsistncias e sua atribuio ao mundo dossonhos surge s agora, quando voc est acordado. Enquanto voc estavasonhando, o sonho era um todo perfeitamente integrado. Quer dizer, se vocsentiu sede em um sonho, a ilusria ingesto de gua ilusria saciou a sua

    ilusria sede. Mas tudo isso era real e no ilusrio para voc, enquanto vocno sabia que o prprio sonho era ilusrio. Da mesma forma com o mundo daviglia; e as sensaes que voc tem agora se coordenam para dar-lhe aimpresso de que o mundo real.

    Se, pelo contrrio, o mundo uma realidade autoexistente (isso o que vocquer dizer, evidentemente, quando fala da objetividade dele), o que impede omundo de se revelar a voc no sono profundo? Voc no diz que voc, em seusono profundo, deixou de existir.

    D: Nem nego a existncia do mundo, enquanto estou dormindo. Ele existiudurante todo o tempo. Se durante meu sono eu no o vi, outros que noestavam dormindo viram-no.

    M: Para voc afirmar que continua existente durante o sono profundo, necessrio apelar para o testemunho de outros, de modo a que lhe forneam aprova? Por que buscar agora o seu testemunho quanto existncia do mundo?Esses 'outros' podem lhe dizer ter visto o mundo (durante o seu sono profundo)apenas quando voc est acordado. Com relao sua prpria existncia, diferente. Ao acordar, voc diz que teve um sono profundo, de modo que, comrelao a esse ponto, voc est consciente de si mesmo no mais profundosono, enquanto que no tem, ento, a menor noo da existncia do mundo.Mesmo agora, enquant