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O Caminho das Tropas Desterro-Lages e o legado patrimonial: potencialidades para o desenvolvimento do seu turismo cultural The Merchants’ Road of Desterro-Lages and the heritage legacy: potenƟaliƟes for the development of its cultural tourism La Route des Marchands Desterro-Lages et l’héritage patrimonial: potenƟalités pour le développement de son tourisme culturel El Camino de los Comerciantes Desterro-Lages y el legado patrimonial: potencialidades para el desarrollo de su turismo cultural Jonei Bauer 1 Ana Paula Lisboa Sohn 1 Recebido em 01/08/2017; revisado e aprovado em 20/12/2017; aceito em 27/12/2017 DOI: hƩp://dx.doi.org/10.20435/inter.v19i3.1677 Resumo: Diante da importância do patrimônio cultural como fator para se pensar o planejamento de um desƟno turísƟco, o objeƟvo deste arƟgo é levantar potencialidades de atraƟvos turísƟcos da primeira rota mercanƟlista entre as cidades catarinenses de Florianópolis e Lages. Para o alcance do objeƟvo, foi realizada uma pesquisa exploratória e analíƟca. Fez-se uma pesquisa bibliográca e documental para o levantamento de informações especícas sobre o território, observando vesơgios históricos e patrimônios culturais. A parƟr desta pesquisa, são idenƟcadas potencialidades para o planejamento e desenvolvimento do turismo na região. Palavras-chave: turismo cultural; planejamento do turismo; desenvolvimento local; Caminho das Tropas Desterro-Lages. Abstract: The cultural heritage is an important factor in planning a tourist desƟnaƟon. The objecƟve of this research is to observe the potenƟal tourist aƩracƟons of the rst mercanƟlist route between the brazilian ciƟes of Florianópolis and Lages. To reach the objecƟve, an exploratory and analyƟcal research was carried out. A bibliographical and documentary research was done to evidence specic informaƟons about the territory, observing historical vesƟges and cultural patrimony. This research idenƟed potenƟaliƟes for the planning and development of tourism in the region. Keywords: cultural tourism; tourism planning; local development; Merchants’ Road of Desterro-Lages Résumé: Le patrimoine culturel est un facteur important dans la planicaƟon d’une desƟnaƟon tourisƟque. L’objecƟf de ceƩe recherche est d’observer les aƩracƟons tourisƟques potenƟelles de la première route mercanƟliste entre les villes brésiliennes de Florianópolis et Lages. Pour aƩeindre l’objecƟf, une recherche exploratoire et analyƟque a été réalisée. Une recherche bibliographique et documentaire a été faite pour prouver des informaƟons spéciques sur le territoire, en observant les vesƟges historiques et le patrimoine culturel. CeƩe recherche a idenƟé des potenƟalités pour la planicaƟon et le développement du tourisme dans la région. Mots-clés: tourisme culturel; planicaƟon du tourisme; développement local; La Route des Marchands Desterro-Lages. Resumen: El patrimonio cultural es un factor importante en la planicación de un desƟno turísƟco. El objeƟvo de esta invesƟgación es observar los atracƟvos turísƟcos potenciales de la primera ruta mercanƟlista entre las ciudades brasileñas de Florianópolis y Lages. Para alcanzar el objeƟvo se llevó a cabo un enfoque exploratório y analíƟco. Se realizó una invesƟgación bibliográca y documental para evidenciar informaciones especícas sobre el territorio, observando los vesƟgios históricos y el patrimonio cultural. Esta invesƟgación idenƟpotencialidades para la planicación y desarrollo del turismo en la región. Palabras clave: turismo cultural; planicación del turismo; desarrollo local; El Camino de los Comerciantes Desterro-Lages. 1 Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, Santa Catarina, Brasil. INTERAÇÕES, Campo Grande, MS, v. 19, n. 3, p. 655-677, jul./set. 2018 Este é um arƟgo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença CreaƟve Commons AƩribuƟon, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.

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O Caminho das Tropas Desterro-Lages e o legado patrimonial: potencialidades para o desenvolvimento do seu turismo cultural

The Merchants’ Road of Desterro-Lages and the heritage legacy: poten ali es for the development of its cultural tourism

La Route des Marchands Desterro-Lages et l’héritage patrimonial: poten alités pour le développement de son tourisme culturel

El Camino de los Comerciantes Desterro-Lages y el legado patrimonial: potencialidades para el desarrollo de su turismo cultural

Jonei Bauer1

Ana Paula Lisboa Sohn1

Recebido em 01/08/2017; revisado e aprovado em 20/12/2017; aceito em 27/12/2017DOI: h p://dx.doi.org/10.20435/inter.v19i3.1677

Resumo: Diante da importância do patrimônio cultural como fator para se pensar o planejamento de um des no turís co, o obje vo deste ar go é levantar potencialidades de atra vos turís cos da primeira rota mercan lista entre as cidades catarinenses de Florianópolis e Lages. Para o alcance do obje vo, foi realizada uma pesquisa exploratória e analí ca. Fez-se uma pesquisa bibliográfi ca e documental para o levantamento de informações específi cas sobre o território, observando ves gios históricos e patrimônios culturais. A par r desta pesquisa, são iden fi cadas potencialidades para o planejamento e desenvolvimento do turismo na região. Palavras-chave: turismo cultural; planejamento do turismo; desenvolvimento local; Caminho das Tropas Desterro-Lages.Abstract: The cultural heritage is an important factor in planning a tourist des na on. The objec ve of this research is to observe the poten al tourist a rac ons of the fi rst mercan list route between the brazilian ci es of Florianópolis and Lages. To reach the objec ve, an exploratory and analy cal research was carried out. A bibliographical and documentary research was done to evidence specifi c informa ons about the territory, observing historical ves ges and cultural patrimony. This research iden fi ed poten ali es for the planning and development of tourism in the region.Keywords: cultural tourism; tourism planning; local development; Merchants’ Road of Desterro-LagesRésumé: Le patrimoine culturel est un facteur important dans la planifi ca on d’une des na on touris que. L’objec f de ce e recherche est d’observer les a rac ons touris ques poten elles de la première route mercan liste entre les villes brésiliennes de Florianópolis et Lages. Pour a eindre l’objec f, une recherche exploratoire et analy que a été réalisée. Une recherche bibliographique et documentaire a été faite pour prouver des informa ons spécifi ques sur le territoire, en observant les ves ges historiques et le patrimoine culturel. Ce e recherche a iden fi é des poten alités pour la planifi ca on et le développement du tourisme dans la région.Mots-clés: tourisme culturel; planifi ca on du tourisme; développement local; La Route des Marchands Desterro-Lages.Resumen: El patrimonio cultural es un factor importante en la planifi cación de un des no turís co. El obje vo de esta inves gación es observar los atrac vos turís cos potenciales de la primera ruta mercan lista entre las ciudades brasileñas de Florianópolis y Lages. Para alcanzar el obje vo se llevó a cabo un enfoque exploratório y analí co. Se realizó una inves gación bibliográfi ca y documental para evidenciar informaciones específi cas sobre el territorio, observando los ves gios históricos y el patrimonio cultural. Esta inves gación iden fi có potencialidades para la planifi cación y desarrollo del turismo en la región.Palabras clave: turismo cultural; planifi cación del turismo; desarrollo local; El Camino de los Comerciantes Desterro-Lages.

1 Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, Santa Catarina, Brasil.

INTERAÇÕES, Campo Grande, MS, v. 19, n. 3, p. 655-677, jul./set. 2018

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1 INTRODUÇÃO

A preservação dos ves gios históricos legados pelos antepassados tem o elo de servir como um suporte à memória de um passado já desaparecido ou despercebido nos dias atuais. A aceleração das a vidades econômicas tem ameaçado paisagens culturais e naturais, muitas das quais em processo subs tu vos, conformando espaços banalizados que perdem as referências peculiares do lugar (SANTOS, 1985). A região que abrange o traçado original do Caminho das Tropas Desterro-Lages vive sob essa tensão permanente entre o desenvolvimento das a vidades econômicas e a preservação patrimonial. O processo de industrialização e urbanização, a pro-moção turís ca de outras culturas e o aumento das casas de segunda residência têm subver do, sobremaneira, o sen do histórico da região.

Esta pesquisa tem por obje vo evidenciar possíveis atra vos turís cos do an go Caminho das Tropas Desterro-Lages. Com foco no planejamento do turismo daquela região são apresenta-dos elementos que compõem o patrimônio natural, histórico e cultural do denominado “Caminho das Tropas”, a primeira rota mercan lista entre a an ga cidade de Desterro, atual Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina localizada no litoral, e a cidade de Lages, situada no planalto serrano catarinense.

Uma das jus fi ca vas que mo vou esta pesquisa é a constatação da ausência de plane-jamento que explore as potencialidades turís cas do território que compreende o Caminho das Tropas em Santa Catarina. Constata-se que a regionalização do turismo em Santa Catarina não contemplou o fenômeno cultural do tropeirismo2 em suas regiões turís cas, perdendo oportunidades para explorar um fenômeno da cultura regional. Nesse sen do, salienta-se que o tropeirismo ainda hoje está ligado ao modus vivendi dos catarinenses, criando uma cultura diferenciada das demais.

Outra jus fi ca va para a pesquisa é a relevância dos estudos sobre patrimônio cultural e planejamento turís co, amplamente pesquisado por Pinto-Correia (2001), Camargo (2002), Antonini (2003), Coriolano (2012; 2013), Carvalho e Fernandes (2012) e Hammerl e Silveira (2013).

2 PESQUISA TEÓRICA

O levantamento bibliográfi co desta pesquisa está dividido em três eixos estruturantes, a saber: turismo cultural e patrimônio cultural, turismo e desenvolvimento local, e, planejamento do turismo no espaço rural. A escolha desses temas foi mo vada pelas peculiaridades históri-cas, geográfi cas e sociais da região que abrange esta pesquisa, cujo foco intenta em evidenciar potencialidades para o planejamento e o desenvolvimento de um roteiro turís co para o an go Caminho das Tropas Desterro-Lages.

2.1 Turismo cultural e patrimônio: pensando o desenvolvimento

O conceito de Turismo está intrinsicamente ligado à territorialidade, defi nida como o local específi co onde ocorre o deslocamento de pessoas. Sendo assim, as acepções acerca do Turismo têm evoluído ao longo dos tempos, evidenciando que, desde os seus primórdios, seu

2 Tropeirismo foi o movimento originado a par r das primeiras rotas mercan listas pelos territórios correspondentes ao Sul e Sudeste do Brasil, além de territórios da Argen na, Paraguai e Uruguai. Os homens que realizavam esses trajetos eram denominados tropeiros, cuja a vidade principal estava baseada na troca de mercadorias, principalmente, o gado (BRUM, 1999, p. 125).

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enunciado tem incluído as noções de civilização e de cultura, preponderantes enquanto elemen-tos de mo vação para que as pessoas façam o deslocamento para outros locais, havendo assim, nomeadamente, um alargamento da noção de turismo (COSTA, 2005).

A sociedade aristocrá ca europeia do século XVIII realizava viagens por prazer – o Grand Tour, mo vada pela necessidade de desenvolvimento pessoal. Os viajantes deslocavam-se pelo con nente em busca de arte, cultura e das raízes da civilização ocidental, mantendo o contato com outros povos, civilizações e culturas. Nesse sen do, o Grand Tour, enquanto fenômeno social, pode ser entendido como uma matriz remota para o conceito contemporâneo de Turismo Cultural.

Mais adiante, no século XIX, o britânico Thomas Cook organizava as primeiras viagens co-le vas de que se tem conhecimento. O empresário vendia pacotes turís cos para viagens, cujo obje vo principal era a mo vação para o alívio do stress co diano, causado pelo modo de vida do período industrial. Segundo Julião (2012, p. 20), “essas viagens propiciavam aos turistas um contato com os ambientes rurais ingleses e com as formas de vida que originaram a sociedade britânica (countryside)”.

A Organização Mundial do Turismo (OMT, 1998) iden fi ca o turismo cultural como sendo o movimento de pessoas, essencialmente por mo vos culturais, incluindo visitas de grupo, visitas culturais, viagens a fes vais, visitas a sí os históricos e monumentos, folclore e peregrinação. Trata-se de um segmento do turismo dentre outros existentes, como o ecológico, o religioso, o arqueológico, o de aventura, o de negócio, entre outros. Ainda segundo a OMT, o turismo cultural é visto como o mercado que mais cresceu ao nível global e cresce mais de 5% ao ano do que o turismo global (WORLD TOURISM ORGANIZATION [WTO], 2012).

Richards (2008) defi niu turismo cultural enquanto o movimento de pessoas para atra-ções culturais em ambientes externos aos seus, cuja intencionalidade estaria em reunir novas informações e experiências, de modo a sa sfazer certas necessidades culturais. Esse conceito coaduna com Beni (2001), que entende o turismo cultural como uma afl uência de turistas a núcleos receptores que oferecem como atra vo essencial o legado histórico do homem em dis ntas épocas, representado a par r do patrimônio e do acervo cultural.

Para Santos e Antonini (2004), o turismo cultural é um dos fenômenos mais importante dos úl mos tempos, pois tem a capacidade de proporcionar um contato e uma troca de experiências entre culturas dis ntas, o que também possibilita uma globalização da cultura. Nesse sen do, o turismo cultural passaria a oferecer condições de suporte e de acesso dos recursos herdados. Barreto (2006) aponta que o turismo cultural seria aquele que não tem como atra vo principal um recurso natural, mas sim, as coisas feitas pelo homem, com o obje vo de se conhecer os bens materiais e imateriais que ele mesmo tem produzido.

Entretanto o turismo cultural não deve levar ao entendimento generalizado de que faz uso unicamente dos bens construídos, como edi cios, sí os e monumentos históricos. O turismo cultural inclui os produtos e serviços, a gastronomia, o folclore e as manifestações populares, a arte e o artesanato, entre outros. Tal entendimento vem ao encontro das polí cas públicas nacio-nais, uma vez que o Ministério do Turismo adotou o conceito de turismo cultural compreendido como: “as a vidades turís cas relacionadas à vivência do conjunto de elementos signifi ca vos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura” (BRASIL, 2006, p. 13).

O turismo e a cultura têm relação de dependência, visto que boa parte dos turistas, ao es-colherem seus des nos, procuram e consomem manifestações culturais e patrimoniais. Mole a

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(1998) considera que o turismo cultural é também promover o acesso a um patrimônio, ou seja, à história, à cultura e ao modo de viver de uma comunidade. Sendo assim, o turismo cultural vai além da noção da viagem mo vada pelo lazer e repouso; caracteriza-se enquanto um fenôme-no social que permite ao turista conhecer lugares onde o foco central das a vidades turís cas é planejado a par r das bases históricas de um determinado povo, incluindo suas tradições e manifestações populares.

Diante do exposto, percebe-se que o patrimônio cultural exerce papel de grande importância para o consumo de des nos turís cos. Entretanto deve-se respeitar a necessidade de que a própria população local construa de maneira planejada uma relação de pertencimento com o seu legado cultural, evitando que o patrimônio seja tratado como categoria de mercadoria para o turismo.

A par cipação da comunidade local é o primeiro passo a ser respeitado, quando se buscam ações para a salvaguarda e para o reconhecimento dos legados culturais. Camargo (2002, p. 97) aponta que “atra vos culturais devem estar voltados principalmente para o lazer das populações ou cidadãos da própria localidade, condição para uma futura e eventual apropriação pelo turis-mo”, ou seja, para que determinado bem possa ser u lizado pela a vidade turís ca, antes de tudo precisa ser reconhecido pela população local. É essencial, ao propor que um lugar se abra para o turismo, que os habitantes tenham muita clareza daquilo com que se iden fi cam e que querem mostrar, tendo-se, inclusive, o conhecimento do impacto que essa exposição poderá acarretar para as suas vidas.

Destarte, o patrimônio cultural, sendo considerado por determinado grupo social como sua própria cultura, sustenta sua iden dade e o diferencia de outros grupos. Assim, ao propor o turismo cultural para um determinado lugar, a população local deve ter clareza daquilo que deseja mostrar, visto que o desejo de se desenvolver um turismo ligado à cultura deve emanar da própria população local, à medida que essa se sinta sensibilizada e valorize seu próprio legado.

2.2 Turismo e desenvolvimento local

Sabendo que o turismo é a a vidade de maior crescimento no mundo (Beni, 2001) e que traz possibilidades de atração de inves mentos para o local, ocasionando um efeito mul plica-dor da economia (HAMMERL; SILVEIRA, 2013), propõe-se que o planejamento turís co de um determinado espaço esteja voltado ao seu desenvolvimento regional (OLIVEIRA; LIMA, 2003).

O desenvolvimento local é aquele realizado em pequenos lugares de forma par cipa va, levando a mudanças socioestruturais, com caráter endógeno. Nele, os habitantes possuem rela va autonomia, para explorar o potencial do território que benefi cie a maioria deles, e decidir como cada um pode contribuir com inovações. São os residentes os agentes principais do desenrolar de todo processo de desenvolvimento e zelam pela qualidade dos relacionamentos interpessoais, interins tucionais, aproveitam as sinergias em bene cio da cole vidade. (CORIOLANO, 2012, p. 133).

Becker (2001) aponta que o turismo seria o grande marco do século, para acelerar o de-senvolvimento local. Diante dessa observação, o planejamento do turismo tende a es mular a oferta e a demanda de serviços locais, criando empregos, renda, fomentando dessa forma a economia e o desenvolvimento.

Nessa acepção, as questões locais passam a assumir importância cada vez maior para o planejamento do turismo, entendendo que o local é um espaço vivido e sen do pelos seus habi-tantes (FRÉMONT, 1980), à medida que as regiões vêm se tornando protagonistas de seu próprio

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desenvolvimento. Assim, falar de desenvolvimento local seria determinar, nomeadamente, um território cons tuído por uma iden dade e uma consciência regional.

Segundo Gil, Oliva e Silva (2009, p. 97), o sen do de região estaria, então, vinculado ao lugar, cons tuído por indivíduos que habitam ou habitaram seus espaços e neles imprimiram a sua cultura. Nesse sen do, uma região passaria a ser uma apropriação simbólica de um determi-nado espaço pelas pessoas que nele vivem e contribuem para a cons tuição de sua iden dade.

Quando se fala de “local”, está-se referindo à escala das inter-relações pessoais da vida co dia-na, que sobre uma base territorial constroem sua iden dade. O lugar é essa base territorial, o cenário de representações e de prá cas humanas que são o cerne de sua singularidade; o “espaço de convivência humana”, onde se localizam os desafi os e as potencialidades do desenvolvimento. (MARTÍN apud MARTINS, 2002, p. 54)

Para Santos (2008, p. 46), o espaço é observado como:

[...] algo dinâmico e unitário, onde se reúnem materialidade e ação humana. O espaço seria o conjunto indissociável de sistemas de objetos, naturais ou fabricados, e de sistemas de ações, deliberadas ou não. A cada época, novos objetos e novas ações vêm juntar-se às outras, modifi cando o todo, tanto formal quanto substancialmente.

Diante do exposto, o local seria um espaço delimitado por fatores de iden fi cação dos seus agentes, e que nele se sen riam pertencidos, haja vista suas singularidades e especifi cidades. O conceito de local também inclui a região onde os seus habitantes convivem harmoniosamente e que por meio das suas relações imprimem sua cultura, cons tuindo sua iden dade. Sendo assim, o desenvolvimento de uma determinada região tem se alicerçado na premissa de que o seu território possui uma relação com a cultura e a iden dade local, transformando-se no patri-mônio do lugar. Por isso, podemos também considerar o espaço e o seu desenvolvimento numa perspec va de u lização turís ca, permeado por ações endógenas, num primeiro momento.

2.3 Planejamento do turismo no espaço rural

Para assegurar que o turismo se desenvolva parcimoniosamente de forma sustentável, deve-se pensar no seu planejamento. Desse modo, o planejamento do turismo deve prever a u lização de recursos naturais e culturais a serem explorados sem des tuí-los de sua auten cida-de, preservando-os para gerações futuras. Para Oliveira (2005), o turismo não pode se organizar e se desenvolver sem que haja planejamento e defi nição de obje vos a serem alcançados.

Também, o planejamento do turismo deve estar associado a ações que envolvam o desen-volvimento do local de forma integral. As ações isoladas acabariam por promover um desequilíbrio, acarretando em mais impactos nega vos no território do que propriamente o desenvolvimento do local. Para tanto, faz-se necessário o planejamento do turismo

Segundo Ruschmann (1997, p. 83), planejamento turís co é entendido como:

Uma a vidade que envolve a intenção de estabelecer condições favoráveis para alcançar obje vos propostos. Ele tem por obje vo o aprovisionamento de facilidades e serviços para que uma comunidade atenda seus desejos e necessidades ou, então, o “desenvolvimento de estratégias que permitam a uma organização comercial visualizar oportunidades de lucro em determinados segmentos de mercado”.

No território rural, diferentes estratégias de desenvolvimento têm sido percebidas, desde que os proprietários desses espaços não conseguiram se adequar às mudanças infl uenciadas pela

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modernização no campo. Também o êxodo rural, ocorrido a par r da década de 60, provocou um esvaziamento de população dessas cidades, a par r do movimento migratório que ocorreu. Nessa conjuntura, o turismo no espaço rural emergiu no cenário brasileiro visando a estratégias para o desenvolvimento de prá cas para uma subsistência local.

Nos úl mos anos, o êxodo rural ocasionou uma nova ar culação territorial, abrindo caminhos a diferentes opções de desenvolvimento, não mais voltado exclusivamente à agricultura e seus meios de produção. Uma alterna va para o desenvolvimento desses espaços seria o turismo e seus desdobramentos, tais como, turismo rural, agroturismo, turismo de natu-reza, ecoturismo, entre outros. Em todos os casos, é nas suas paisagens e nos do território que estão elementos chave para a valorização e o desenvolvimento turís co dos lugares. (CARVALHO; FERNANDES, 2012, p. 86)

Assim, a própria paisagem passa a ser interpretada como um atra vo turís co, entenden-do que ela pode se confi gurar numa ferramenta ú l de desenvolvimento do turismo e do local em si. Da mesma maneira, vale ressaltar que a qualidade esté ca, ou seja, a singularidade, a auten cidade e a variedade nas composições territoriais são preponderantes ao se planejar o turismo de uma região.

É essencial que os residentes da comunidade estejam envolvidos nas tomadas de decisões e na gestão do turismo, em termos de planejamento e de desenvolvimento (OLIVEIRA, 2005). Para Coriolano (2012), o turismo tem sido uma estratégia de moradores locais - agricultores em sua maioria - e órgãos públicos para o fortalecimento de propriedades e comunidades rurais, gerando, desse modo, novas dinâmicas para esses espaços, antes direcionados unicamente para a produção primária.

Assim sendo, o planejamento do turismo se cons tui como o conjunto de todas as ações, decisões e obje vos que se pretende alcançar para desenvolver e/ou incrementar o turismo numa determinada localidade, através de métodos e instrumentos adequados e específi cos para a ngir tal fi m, tendo por base o conceito de sustentabilidade, envolvendo setor público, privado e comunidade.

O planejamento do turismo vem sendo aderido como uma estratégia de novas dinâmicas para o espaço rural, ancorada na perspec va do desenvolvimento local. Dessa forma, o turismo no espaço rural deve estar alicerçado no planejamento da a vidade a par r de ações endógenas, que contribuam para o fortalecimento de comunidades rurais e valorizem os aspectos locais, sejam esses culturais, ambientais e sociais, devendo, ainda, contribuir economicamente para o incremento das referidas ações.

Destarte, a a vidade turís ca relacionada ao desenvolvimento local deverá ter o envolvimen-to da comunidade, em ações que promovam o retorno para o próprio local, possibilitando condições de que o morador não necessite migrar para outra região e assegurando-lhe melhores condições de vida; além de favorecer o es mulo à valorização de insumos locais, artes e artesanatos e demais a vidades associadas ao turismo. (CORIOLANO, 2012, p. 71).

Sob essa perspec va, uma das tendências para o turismo no espaço rural tem sido o pla-nejamento do turismo, onde os atra vos culturais passam a ser os principais recursos para o seu desenvolvimento. Valorizam-se, assim, o modo produ vo e o modus vivendi local. O turismo cultural seria, portanto, um mecanismo de exploração das potencialidades culturais que um determinado local possui, onde seus agentes têm se iden fi cado cole vamente.

Portanto o turismo cultural contribui para o desenvolvimento de a vidades que corroboram com a permanência da população num determinado território. No espaço rural, tem-se obser-

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vado que esse modelo de planejamento e desenvolvimento turís co benefi cia a todos, gerando renda com a venda de insumos o que também acarreta em um novo ordenamento dos espaços rurais, propondo, inclusive, novas ruralidades (CARVALHO; FERNANDES, 2012).

No turismo rural, as paisagens exprimem a unicidade e a iden dade de cada lugar (genius locci), refl e ndo tanto a história natural como cultural de um território, num determinado mo-mento. O seu caráter é dinâmico e está con nuadamente em mudança, mas é único em cada lugar (PINTO-CORREIA; CANCELA; OLIVEIRA, 2001).

Ao se planejar o turismo, Oliveira (2005) aponta que este pode ser classifi cado em três níveis, que são: primeiro nível – que busca a u lização de dos recursos naturais ou não naturais já existentes; segundo nível – busca ações de intervenção mais técnicas, transformando-se em um núcleo turís co; terceiro nível: busca estabelecer polí cas públicas para o des no turís co.

Tabela 1 - Classifi cação dos níveis de planejamento do turismo

Níveis de Planejamento do Turismo

PRIMEIRO NÍVEL

Busca a preocupação com a u lização dos recursos naturais ou não naturais já existentes. Oferece aos visitantes a paisagem, as praias e outras atrações com pouca organização para recepcioná-los. Emprega pouca mão de obra e possui uma infraestrutura básica precária. Os setores público e privado não par cipam do processo. Nesse caso, é preciso agir com cautela e determinação fazendo com que a população do local se mo ve, compreenda e se interesse pelo turismo. Se o local possui um patrimônio turís co capaz de ser razão do seu desenvolvimento, é extremamente importante que a população esteja consciente de que a sua vida poderá mudar. Se esta mudança ocorrer de forma grada va, trazendo bene cios para a população, não haverá dúvida de que o turismo será implantado corretamente.

SEGUNDO NÍVEL

Busca ações de intervenções mais complexas e técnicas. É o momento em que a localidade se transforma num núcleo turís co interessante. Os recursos preexistentes devem ser a vados, recuperados ou implantados. Múl plas ações e decisões precisam ser tomadas. Leis, regulamentos e projetos apresentam maior grau de complexidade, envolvendo mais tempo e mais recursos, tendo, também, resultados duradouros.

TERCEIRO NÍVEL

Busca estabelecer a polí ca nacional para incen var a a vidade turís ca no país e organizá-la, abrangendo inclusive os outros dois níveis.

Fonte: Adaptado de Oliveira (2005).

Ao observar a classifi cação proposta por Oliveira (2005), pode-se perceber que o pla-nejamento do turismo de uma região parte do primeiro nível, a par r da preocupação com a salvaguarda dos patrimônios legados, naturais e culturais. O importante é a iden fi cação e a promoção das paisagens que contam com a oferta de pouca infraestrutura turís ca, incipiente e isolada. É a par r da iden fi cação do sujeito com o local que se desencadeará toda uma pro-gramação para o planejamento do turismo, alçado nos interesses da própria população local, a mais benefi ciada por isto. O planejamento do turismo tem por premissa o desenvolvimento sustentável racional do turismo sem deteriorar o meio ambiente, pelo contrário, ele surge como uma alterna va preservacionista.

No segundo nível do planejamento do turismo, é o momento em que ele começa a se orga-nizar e se promover, de forma profi ssional. Para tanto, surgem ações mais técnicas e complexas, o que o transforma em núcleo turís co. Cabe observar o poder público presente, sustentando

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o planejamento do turismo por meio das polí cas públicas que começam a ser ins tuídas. Tais medidas assumem o papel de grande importância, visto que, a par r desse momento, as ações de planejamento do turismo obtêm resultados mais duradouros.

Por úl mo, o terceiro nível abrange os outros dois níveis de planejamento do turismo, buscando estabelecer a polí ca nacional para incen var o fomento do turismo na região. Este seria, portanto, o nível em que o des no turís co ou a região turís ca já estaria efe vamente consolidado.

De acordo com Lage e Milone (2000), o planejamento turís co está dividido em algumas etapas, a saber:

• Inventário de todos os recursos turís cos naturais e culturais;• Análise e síntese da situação encontrada;• Formulação da polí ca e do plano de turismo e também de recomendações de viabilidade• Controle da gestão do processo total (LAGE; MILONE, 2000, p. 165).Diante do exposto, esta pesquisa buscou evidenciar os atra vos turís cos das cidades que

atualmente compõem o an go território do Caminho das Tropas. A par r disso, a pesquisa listou os principais atra vos encontrados, já explorados turis camente ou não, observou a situação atual deles e, também, apontou algumas sugestões para a sua exploração turís ca, cujo intento é ins tuir um roteiro regional com foco no turismo cultural do an go caminho traçado entre o litoral e o planalto catarinense.

3 METODOLOGIA

O presente ar go aborda dois importantes temas na literatura sobre o setor do turismo, a saber, patrimônio cultural e planejamento turís co. A par r do estudo de caso sobre o Caminho das Tropas, faz-se a correlação dessas duas temá cas cuja fi nalidade foi a de se pensar o planeja-mento turís co de um determinado território. Trata-se, portanto, de uma pesquisa exploratória e analí ca, realizada a par r de dados bibliográfi cos e documentais. Em um primeiro momento, foram levantados dados historiográfi cos da região, recorrendo-se à literatura clássica e a textos de pesquisadores que tenham tratado de aspectos históricos, sociais e culturais da região e das cidades que integram o Caminho das Tropas, em Santa Catarina. A par r dessa leitura inicial, foi realizado um levantamento dos primeiros indica vos patrimoniais do an go percurso do Caminho das Tropas Desterro-Lages, conforme o quadro-síntese a seguir:

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Tabela 2 - Pesquisa bibliográfi ca Pesquisas e Publicações sobre o Caminho das Tropas Desterro-Lages

Autor e ano Assunto Tipo publicaçãoLuz (1952) História e formação do território catarinense LivroPiazza (1971) História e formação do território catarinense Livro

Jochem (1992; 1997)Formação do território das colônias alemãs de São Pedro de Alcântara (1829) e Santa Isabel (1847), aspectos históricos e culturais.

Livro

Werner (2004) Levantamento histórico do Caminho das Tropas e história de sua pavimentação, construção da BR 282 Livro

Brüggemann (2008; 2011; 2013)

História e formação do território da Colônia Militar de Santa Tereza (1853)

Livro e dissertação de mestrado

Bauer (2011; 2012; 2015a; 2015b)

Aspectos históricos e culturais de Angelina (SC) e Rancho Queimado (SC); pesquisas sobre tropeirismo, patrimônio imaterial

Ar gos na internet

Fonte: Elaborada pelos autores.

Orientando-se pelos autores supracitados, pode-se apresentar dados para a descrição do Caminho das Tropas Catarinense e para o diagnós co das potencialidades turís cas da região.

4 RESULTADOS

Durante o século XVII, as vilas litorâneas catarinenses estabeleciam contatos e trocas co-merciais entre si por meio da navegação marí ma, no entanto não havia comunicação com o planalto serrano paulista, onde se localizava a vila de Lages. O espaço entre o litoral e planalto, então desconhecido, era denominado por “sertão”, ou seja, “lugar de risco e perigo, terra de inimigos e bichos indomáveis” (BRÜGGEMANN, 2008, p. 51). O interior precisava ser explorado, e havia a necessidade de povoá-lo, além de se descobrir suas riquezas.

Nesse sen do, foi traçado um projeto de ocupação para a região, surgindo a formação dos primeiros povoados. A primeira incursão mata adentro, sen do litoral-planalto, data de 1787, denominada de “Picada do Alferes”, e seguia de São José da Terra Firme (atual São José), pelas margens do Rio Maruim, passando pelas colônias de São Pedro de Alcântara (primeira colônia alemã de Santa Catarina) e Vila Mundéus (atual Angelina), de onde par a para a localidade do Alto Garcia, alcançando Taquaras, úl ma linha colonial da Colônia Santa Isabel e segunda colônia alemã do Estado; dali seguia pela Serra do Trombudo e Morro da Boa Vista (ambos em Bom Re ro), até chegar ao Rio Canoas, nas proximidades da Vila de Lages (BAUER, 2012; BRÜGGEMANN, 2008; JOCHEM, 1992).

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Figura 1 - Mapa Caminhos de Tropas

Fonte: Piazza (1971).

Bauer (2015a) aponta que a abertura de uma ligação terrestre entre o litoral e o planalto serrano paulista criou uma importante rota comercial, denominada por “Caminho das Tropas”, por onde se observou uma intensa transformação sociocultural, desde a sua implantação. Para que houvesse a manutenção e a segurança desse caminho, o governo da província de Santa Catarina promoveu a instalação de colônias pelo seu traçado, a saber, as colônias alemãs de São Pedro de Alcântara (1829) e de Santa Isabel (1847), a militar de Santa Tereza (1853) e a de açorianos, advindos do litoral, Colônia Nacional de Angelina (1860).

Atualmente, integram o traçado original do Caminho das Tropas, iniciado em 1797, os municípios de São José, São Pedro de Alcântara, Águas Mornas, Angelina, Rancho Queimado, Alfredo Wagner, Bom Re ro, Bocaina do Sul e Lages. O modus vivendi dos tropeiros – o tropei-rismo, ainda hoje pode ser fortemente iden fi cado nas culturas locais dessas cidades, por meio das culturas miscigenadas que ali foram se cons tuindo ao longo da história. A cidade de Rancho Queimado, por exemplo, foi fundada por imigrantes alemães, mas tem a origem do seu nome herdada dos tropeiros: segundo relatos, era naquela região que eles pernoitavam e, por um incêndio fortuito, o rancho de pouso acabou se incendiando.

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Figura 2 - Traçado da primeira rota dos Caminho das Tropas e municípios atuais

Fonte: Elaborada pelos autores.

5 O CAMINHO DAS TROPAS DESTERRO LAGES: PATRIMÔNIOS, ATRATIVOS TURÍSTICOS E TURISMO CULTURAL

É comum observar estudos sobre a relação entre o patrimônio e a a vidade turís ca, denominado por Turismo Cultural. A Organização Mundial do Turismo (1998) sugere a defi ni-ção dos chamados patrimônios turís cos, ao defi nir que “património turís co es el conjunto de bienes materiales e inmateriales que cons tuyen la materia prima que hace posible el desarollo del turismo” (SCHLÜTER; NORRILD, 2002, p. 37).

É importante considerar que o desenvolvimento do turismo cultural se inicia pela valori-zação e promoção da própria cultura local, preservando os seus patrimônios e gerando oportu-nidades de renda no setor. Nessa perspec va, o patrimônio não é um simples atra vo turís co, mas sim, um fator capaz de destacar, preservar e oferecer subsídios para compreender a própria iden dade cultural de uma comunidade, por experiências vividas entre grupos dis ntos. As di-versas combinações da cultura e do turismo confi guram o segmento de Turismo Cultural, que é marcado pela mo vação do turista de se deslocar especialmente com a fi nalidade de vivenciar os aspectos e situações que são peculiares da nossa cultura” (BRASIL, 2006, p. 11).

Diante do exposto, fez-se per nente o levantamento de potencialidades para a proposição de um roteiro turís co cultural sobre o Caminho das Tropas, visto que, apesar da sua importân-cia na historiografi a catarinense, esse caminho esteve sempre em segundo plano, sobreposto a outras culturas, em especial a alemã. Nesse sen do, a par r de um levantamento histórico sobre o Caminho das Tropas, poderemos evidenciar alguns atra vos que corroborariam com o desenvolvimento de um turismo cultural sobre os tropeiros que abriram a primeira rota mer-can lista entre Desterro e Lages.

Assim sendo, a preservação do patrimônio cultural nas cidades que integram essa rota dos tropeiros, iniciada em 1787, sob a perspec va de um desenvolvimento turís co, poderia,

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de certa maneira, desenvolver economicamente essa região, visto que o turismo é a a vidade de maior crescimento no mundo (BENI, 2001) e traz possibilidades de atração de inves mentos para o local, acarretando um efeito mul plicador da economia (HAMMERL; SILVEIRA, 2013).

Segundo Becker (2001), o turismo é marco do século para acelerar o desenvolvimento regional, es mulando a oferta e a demanda de serviços locais criando empregos, renda e fo-mentando a economia regional e o seu desenvolvimento. Nesse sen do, esta pesquisa pretende apresentar alguns atra vos turís cos que possuem ligação histórica com a abertura do Caminho das Tropas Desterro-Lages, a saber, bens de referência patrimoniais, tais como, construções históricas, paisagens naturais e culturais.

Um mapeamento de atra vos turís cos das cidades que integram a primeira rota mercan- lista entre a capital da província da Capitania de Santa Catarina e a vila de Lages, se apresenta

como uma possibilidade concreta de a vidade a ser trabalhada nas comunidades locais. Trata-se, portanto, de uma estratégia de preservação do patrimônio, conduzindo a melhoria da qualidade de vida da população envolvida e uma garan a para o fortalecimento de sua iden dade cultural e de suas memórias (VIANNA; HOFFMANN, 2012), entendendo que a força do lugar reside no território compar lhado e iden fi cado por uma consciência social e comunitária de entorno, cuja essência é a própria história vivida em comum (SANTOS, 1996; LE BOURLEGAT, 2000).

5.1 Levantamento de atra vos turís cos do Caminho das Tropas Desterro-Lages

O turismo passa a ser compreendido como um importante fator do desenvolvimento regional (GIL; OLIVA; SILVA, 2009), uma vez que permite estabelecer relações entre a iden da-de e a memória, sustentando um turismo comprome do com valores históricos e culturais. O patrimônio tem uma relação memorial com o lugar (CHOAY, 2001) e os recursos culturais são tradutores de uma forte iden dade construída ao longo da sua história; desempenhando funções na formação da imagem e da iden dade da localidade (HENRIQUES, 2003).

A freguesia de São José da Terra Firme, atual município de São José, foi uma das primeiras freguesias criadas em Santa Catarina, em 1751. Como a capital da província se localizava numa ilha, São José se benefi ciou economicamente do Caminho das Tropas. Por ordem do Governador da Capitania, em 11 de janeiro de 1787, o Alferes Antônio José da Costa fi cou encarregado de abrir um caminho entre a freguesia de São José de Terra Firme até as cercanias da vila de Lages, no então planalto serrano paulista. A empreitada do alferes teve início em 11 de janeiro de 1787, quando par u de São José com “12 homens armados, 12 escravos e 7 bestas cargueiras”, seguindo pela picada sul em direção a oeste, margeando o Rio Maruim (COELHO, 1856).

O centro histórico de São José possui um conjunto de casario do período colonial açoriano, tombado como patrimônio histórico e cultural do município, pelo Decreto n. 18.699/2005 (SÃO JOSÉ, 2005a). Trata-se de seis casas geminadas que pertenceram a líderes polí cos e comer-ciantes daquela época. Algumas delas fi caram marcadas pelo vínculo com fatos históricos de grandes vultos, como a do General Xavier Neves, que abrigou o casal imperial no ano de 1845. Outra casa desse conjunto arquitetônico, o Solar Ferreira de Mello, foi um dos primeiros bens tombados pelo estado (P.T. n. 007/86) e abriga o atual Museu Histórico de São José. Ainda no Centro Histórico de São José, mantêm-se preservadas outras construções históricas signifi ca -vas, tais como a Igreja Matriz (1750), o Theatro Adolfo Mello (1856) e o Beco da Carioca (1750), primeira fonte de água encontrada pelos fundadores, que, do mar, aportaram em terra fi rme.

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Outra edifi cação histórica que se destaca no município de São José é a Ponte do Rio Maruim, construída em 1857, como parte do projeto para uma segunda rota para o Caminho das Tropas. Denominado de “estrada nova”, esse caminho promoveu um desvio do trajeto inicialmente tra-çado, o que acabou isolando a Colônia de São Pedro de Alcântara e de Angelina, desagradando os moradores daquela região. Em 1995, a ponte foi destruída por enchente, restando apenas parte de sua cabeceira – atual Píer do Rio Maruim, tombado pelo Decreto n. 18.703/2005 (SÃO JOSÉ, 2005b) como patrimônio histórico e cultural de São José.

Figura 3 - Atra vos turís cos do município de São José: Theatro Adolfo Mello, Centro Histórico, Igreja Matriz, Píer do Rio Maruim, Beco da Carioca e vista noturna da cidade

Fonte: Elaborada pelos autores.

Mo vado pela necessidade de se povoar a rota comercial recém-aberta, o governo dá início ao processo de colonização da região. Em 1829, funda a primeira colônia alemã do estado de Santa Catarina, São Pedro de Alcântara. A cidade, com 4704 habitantes (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICAS [IBGE], 2015), preserva as caracterís cas de origem germânica e tem se promovido turis camente sob essa perspec va, junto com as cidades de Águas Mornas e Rancho Queimado, que integram a Rota Caminhos da Imigração Alemã.

São Pedro de Alcântara mantém preservada uma parcela signifi ca va do Caminho das Tropas, conhecido por Caminho do Salto e tombado pelo município, por meio da Lei Ordinária n. 297/2004 (SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA, 2004). O trajeto, construído pelos escravos, possui aproximadamente 1000 metros pavimentados com pedras em es lo ‘pé-de-moleque’. Outro importante marco histórico do an go Caminho das Tropas localizado em São Pedro de Alcântara trata-se da Pedra das Letras, um petróglifo indica vo da passagem dos tropeiros pelo local. Datado de 12 de maio de 1789, possui as inscrições de uma cruz de malta junto com as iniciais VRDP, que, segundo historiadores, signifi caria Viva o Rei de Portugal.

Ao longo do Caminho das Tropas pela colônia alemã de São Pedro de Alcântara, o comércio foi se estabelecendo entre os imigrantes e os tropeiros. Algumas casas comerciais con nuam ainda preservadas, como o conjunto arquitetônico Vila Kretzer, tombado como patrimônio

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histórico cultural, em nível estadual, pelo Decreto n. 5.979/2002 (FUNDAÇÃO CATARINENSE DE CULTURA, 2002). Outro exemplo é um an go armazém, também tombado pela municipalidade, pela Lei Ordinária n. 011/1999 (SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA, 1999) e que atualmente abriga um museu histórico regional, a Casa Cultural São Pedro.

Figura 4 - Atra vos turís cos do município de São Pedro de Alcântara: Portal Turís co, Casa Cultural São Pedro, Caminho do Salto, Vila Kretzer e Igreja Matriz

Fonte: Elaborada pelos autores.

A fundação da Colônia Nacional de Angelina, em 1860, se iniciou com açorianos e seus descendentes, que trocaram o litoral catarinense pelo interior do sertão. Já nos primeiros anos da sua instalação, a colônia sofreu com problemas fi nanceiros, mo vada pela falta de inves -mentos do governo e pelo abandono geográfi co sofrido, quando o Caminho das Tropas mudou seu trajeto inicial (WERNER, 2004; JOCHEM, 1992).

A religiosidade sempre esteve presente na colônia, e, em 1863, foi construída sua primeira igreja. Angelina fi cou reconhecida como um des no de turismo religioso, integrando o roteiro turís co Caminhos da Fé. A cidade possui locais de peregrinação, como o Santuário Nossa Senhora de Angelina, composto pela Gruta Nossa Senhora de Lourdes, inaugurada em 1907. Logo após conclusão da gruta, foram encomendados na Alemanha os quadros da Via Sacra para a gruta, que chegaram em Desterro em quatro grandes caixotes de madeira. Para facilitar o transporte até Angelina, as caixas são abertas e os catorze blocos de gesso, medindo 85cm de altura por 60cm de largura, são levados em carroças, pelo Caminho das Tropas, com a ajuda dos colonos da região (BAUER, 2011).

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Figura 5 - Atra vos turís cos do município de Angelina: Museu da Congregação das Irmãs Fran-ciscanas, Gruta Nossa Senhora de Lourdes, Via Sacra (XII Estação: Jesus morre na cruz), Convento Irmãs Franciscanas e Igreja Matriz

Fonte: Elaborada pelos autores.

Par ndo de Angelina, o Caminho das Tropas chegava a Rancho Queimado, alcançando a comunidade de Taquaras, úl ma linha colonial da Colônia de Santa Isabel. Luz (1952) descreve que, até 1901, a estrada das tropas só chegava até Taquaras; daí para adiante, só se podia viajar a cavalo, gastando mais quatro dias para se chegar a Lages. A primeira estrada só foi completada cinco anos depois, em 1906. Taquaras ocupou papel de destaque na historiografi a do Caminho das Tropas, visto que, apesar das mudanças de trajeto que ocorreram ao longo dos tempos, o lugar sempre foi um ponto de intersecção (BAUER, 2012; BRÜGGEMANN, 2008; JOCHEM, 1992).

Apesar de Rancho Queimado e suas localidades terem sido linhas coloniais alemãs, pode--se notar infl uências do tropeirismo, enquanto legado histórico e cultural do an go Caminho das Tropas. Em 1993, a cidade construiu o Monumento ao Tropeiro e ins tuiu a Festa do Tropeiro em seu calendário de eventos. Pela cidade há trechos ainda pavimentados do an go Caminho das Tropas, contudo nenhum possui registro de tombamento nem se confi gura como atra vo turís co. O único bem tombado em nível estadual (P.T. n.: 006/84), diz respeito à An ga Casa de Campo do Governador Hercílio Luz e abriga um Museu Histórico, administrado pela Fundação Catarinense de Cultura.

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Figura 6 - Atra vos turís cos do município de Rancho Queimado: Mirante da Boa Vista (1.200m), Portal Turís co, Monumento ao Tropeiro, Tropeada (Festa do Tropeiro) e Museu Casa de Campo Governador Hercílio Luz

Fonte: Elaborada pelos autores.

Em Taquaras, o Caminho das tropas seguia pelos morros da Boa Vista, até alcançar onde hoje se situa o município de Alfredo Wagner, a Colônia Militar de Santa Tereza, fundada em 1853. Segundo Brüggemann (2011), o estabelecimento dessa colônia se devia, principalmente, a dois mo vos. Primeiro, proteger os viajantes e os tropeiros que u lizavam o caminho; segundo, cobrar impostos sobre todos os animais e mercadorias que por ali passavam. Sua localização foi considerada estratégica, no Morro do Trombudo, com 1306 metros de al tude, local onde o alferes Antônio José da Costa demarcara ainda em sua primeira expedição, em 1787, o limite entre as capitanias de Santa Catarina e São Paulo (WERNER, 2004; BRÜGGEMANN, 2013).

De Alfredo Wagner, o Caminho das Tropas alcançava os campos da Boa Vista, já em terras da Capitania de São Paulo. O território foi posteriormente requerido pela capitania de Santa Catarina e, em 1820, o território entre os campos da Boa Vista até a vila de Lages a ela foram incorporados (LUZ, 1952). O Morro da Boa Vista é o ponto mais alto de Santa Catarina, com 1.827 metros, e se localiza no limite entre os municípios de Bom Re ro e Urubici. Ainda em Bom Re ro, outro atra vo turís co pode ser iden fi cado, a saber, a Calçada do morro Costão do Frade, um trecho pavimentado do an go Caminho das Tropas, semelhante aos já iden fi cados em São Pedro de Alcântara e Rancho Queimado. Outro atra vo turís co da cidade de Bom Re ro é o Monumento ao Capitão Antônio Marques Arzão, fundador da cidade e membro do grupo que, junto com o alferes Antônio José da Costa, abriu o Caminho das Tropas.

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Figura 7 - Atra vos turís cos do município de Bom Re ro: Morro da Boa Vista (1.827m), Calçada, Monumento Antônio Marques Arzão, Morro do Trobudo (1.306m), Portal de acesso ao Morro da Boa Vista e Costão do Frade

Fonte: Elaborada pelos autores.

Os campos da Boa Vista e de Bom Re ro se estendiam pelo planalto num território que foi denominado por “Paraiso do Sertão” (BRÜGGEMANN, 2008; WERNER, 2004), atuais municípios de Alfredo Wagner, Bom Re ro e Bocaina do Sul. Ali encontravam afl uentes do Rio Uruguai e Rio Canoas, chegando à Vila de Lages, atual município de Lages.

Paraíso do Sertão, foi a expressão que ocorreu ao Alferes, depois vencer com muito esforço e sacri cios os trechos fortemente erodidos e recobertos de vegetação das encostas da Serra Geral. A par r daí, chegou, fi nalmente aos campos que, a par r do Morro do Trombudo, se estendem para oeste. (COELHO, 1856, p. 27).

A Vila de Lages foi fundada em 1766, sendo um local estratégico para as rotas mercan listas do planalto paulista, no caminho São Paulo-Viamão, aberto em 1727. Todavia o sertão separava Lages do então litoral da Capitania de Santa Catarina, onde freguesias foram se formando desde 1500, a saber, São Francisco do Sul, Desterro, Laguna, entre outras. Nesse sen do, a abertura do Caminho das Tropas Desterro-Lages se confi gurou num novo período mercan l e adminis-tra vo, haja vista que a vila de Lages posteriormente foi incorporada ao território catarinense (BRÜGGEMANN, 2013).

Igualmente a São José, Lages também se benefi ciou do Caminho das Tropas, transformando--se em importante polo comercial, industrial e turís co de Santa Catarina, e o legado deixado pelos tropeiros é bem presente na cidade. Um exemplo é a Fazenda Cajuru, tombada como patrimônio cultural estadual (P.T. n. 294/2005), construída junto ao an go trajeto, em 1865. Outro exemplo é a Coxilha Rica, que concentra o maior e mais importante acervo de bens culturais relacionado ao ciclo do tropeirismo (SANTOS, 2015). Composto por casarões, corredores e mangueirões de taipas de pedras, cemitérios, entre outros, trata-se do único bem patrimonial do Caminho das Tropas que o Ins tuto do Patrimônio Histórico e Ar s co Nacional (IPHAN) tem mapeado, por meio do Inventário Nacional de Registro Cultural (INRC), auxiliando na iden fi cação e proteção do

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patrimônio cultural relacionado aos Caminhos das Tropas. O Monumento Os Tropeiros também é um importante atra vo turís co, em se tratando de referências históricas e culturais sobre a abertura do caminho Desterro-Lages.

Lages também é reconhecida como a “Capital Nacional do Turismo Rural”, haja vista o pioneirismo nessa segmentação de turismo, iniciado na década de 1980, quando fazendas cen-tenárias da região começaram a adaptar-se para receber visitantes.

O Turismo Rural, além do comprome mento com as a vidades agropecuárias, caracteriza--se pela valorização do patrimônio cultural e natural como elementos da oferta turís ca no meio rural. Assim, os empreendedores, na defi nição de seus produtos de Turismo Rural, devem contemplar com a maior auten cidade possível os fatores culturais, por meio do resgate das manifestações e prá cas regionais (como o folclore, os trabalhos manuais, os “causos”, a gastronomia), e primar pela conservação do ambiente natural. (BRASIL, 2006, p. 19, grifos do autor).

Figura 8 - Atra vos turís cos do município de Lages: Coxilha Rica, Fazenda Cajuru. Monumento os Tropeiros, Taipa de Pedra e vista da cidade.

Fonte: Elaborada pelos autores.

Toda viagem turís ca é uma experiência cultural, mas nem todo turista é um turista cul-tural. O que defi ne o Turismo Cultural é a mo vação da viagem em torno de temas da cultura (BRASIL, 2010). Nesse sen do, pensar num turismo cultural para o Caminho das Tropas poderá, de certa maneira, contribuir para a própria memória do lugar, visto que todos nós nos torna-mos ligados a edifi cações e locais que criam beleza, marcam eventos de signifi cado histórico e cultural e servem como um locus para encontro da comunidade e iden dade de uma cidade, onde o meio ambiente natural e construído se ar cula em ricas camadas de história, memória e narra vas (BAUER, 2015b).

Assim, o Caminho das Tropas Desterro-Lages torna-se uma marca, um elo, entre o presente e o passado das cidades por onde ele passou, formando comunidades dis ntas, mas que carre-gam caracterís cas culturais que se assemelham, servindo como um espelho a todos; ou seja,

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o Caminho das Tropas passa a ser um fator de iden dade e pertencimento comum, par lhado por todos.

O patrimônio cultural passa a ser a própria cultura do local, sustentando sua história, causan-do um fator de iden fi cação de todos com o local. Não obstante, ao propor um turismo cultural para um determinado lugar, todos devem ter clareza daquilo que desejam mostrar, pois, como dito, o desejo de se desenvolver um turismo ligado à cultura deve emanar da própria população local, à medida em que essa se sinta sensibilizada e valorize seu próprio legado.

Em se tratando de polí cas públicas para o desenvolvimento de um turismo cultural para o Caminho das Tropas, podemos notar algumas ações pontuais nos municípios que integram a rota original. O município de São José possui bens culturais tombados em nível municipal e estadual, contudo estes têm mais iden fi cação com a fundação da freguesia de São José da Terra Firme e com os seus colonizadores açorianos. Uma exceção seria o Píer do Rio Maruim (tombado pelo Decreto n. 18.703/2005), visto que, originalmente se tratava de uma benfeitoria do governo para o an go Caminho das Tropas.

São Pedro de Alcântara, primeira colônia alemã de Santa Catarina, tem se planejado turis- camente enquanto cidade de cultura germânica. Entretanto o município, emancipado de São

José em 1994, possui dois atra vos turís cos iden fi cados para um potencial turismo cultural sobre a presença dos tropeiros na região. Trata-se da Pedra das Letras e do Caminho do Salto, este já tombado pela municipalidade como patrimônio histórico e cultural (Lei n. 297/2004).

Angelina foi a cidade que mais sofreu com o isolamento geográfi co após novas rotas para o Caminho das Tropas terem sido abertas. Também, esta pesquisa não conseguiu levantar indícios de atra vos turís cos na cidade para o desenvolvimento de um turismo cultural sobre esta temá- ca. Apenas a literatura historiográfi ca catarinense registra algumas descrições sobre a inclusão

da cidade na rota originalmente traçada, nos relatos do próprio alferes Antônio José da Costa. Observa-se que a própria história local se encontra desfocada, uma vez que poucos conhecem a origem e a fundação da cidade, ocorrida por meio da implantação da Colônia Nacional, em 1860.

Igualmente a São Pedro de Alcântara e Angelina, o município de Rancho Queimado também tem divulgado a cultura germânica com maior ênfase, apesar do próprio nome da cidade estar ligado ao universo dos tropeiros. Suas atuais localidades foram criadas a par r das linhas de colonização da segunda colônia alemã de Santa Catarina, Santa Isabel, em 1847. Destaque para Taquaras, que foi a úl ma linha colonial e está fortemente ligada ao an go Caminho das Tropas, sendo citada em vasta literatura histórica, além de constar como local estratégico, de intersecção entre todas as rotas e onde os tropeiros pernoitavam. Rancho Queimado possui alguns trechos do caminho original, mas nenhuma inicia va para o seu tombamento foi evidenciada até o momento. Em 1993, a cidade construiu o Monumento ao Tropeiro, transformando-se em um atra vo turís co local.

As cidades de Alfredo Wagner, Bom Re ro e Bocaina do Sul também foram diagnos cadas com subsídios para o desenvolvimento de um turismo cultural sobre o Caminho das Tropas, to-davia esta pesquisa iden fi cou a existência de uma sobreposição de outras culturas. Também a falta de (re)conhecimento com a história do an go caminho entre o litoral e o planalto paulista permanece distante do dia a dia desses municípios. Alfredo Wagner integra o Vale Europeu, polí ca de regionalização do turismo proposta pelo estado de Santa Catarina; Bom Re ro, consi-derada a cidade ‘portal da serra catarinense’, tem promovido o turismo ecológico e de aventura; e Bocaina do Sul permanece isolada, haja vista que se confi gurava como o “sertão desconhecido” dos campos de Lages.

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Por úl mo, Lages é a cidade que cresceu economicamente no planalto catarinense, uma vez que, dada a importância comercial dos caminhos das tropas, a cidade era um ponto estra-tégico entre os trajetos Desterro-Lages, São Paulo-Viamão e Lages-Laguna. Nesse sen do, o município possui caracterís cas culturais que a dis ngue das demais, iden fi cando-se com a cultura dos tropeiros, dos paulistas e, também, com os gaúchos, todas diretamente ligadas aos an gos caminhos de tropas. Lages possui o maior e mais importante acervo de bens culturais relacionado ao ciclo do tropeirismo, a Coxilha Rica e que poderá ser u lizada como importante atra vo turís co para o desenvolvimento de um turismo cultural, junto com a Fazenda Cajuru, esta já tombada em nível estadual (P.T. n. 294/2005).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A par r dessa iden fi cação e do mapeamento desses atra vos turís cos patrimoniais, tem-se uma dimensão para se pensar e planejar o desenvolvimento do seu turismo cultural.

O obje vo geral desta pesquisa foi alcançado por meio de etapas específi cas, primeira-mente fez-se o referencial teórico que suportou os aspectos conceituais e metodológicos da pesquisa, em seguida contextualizou-se histórica e geografi camente aquela região; também são evidenciados os potenciais elementos que poderiam compor um roteiro turís co, abrangendo seus principais atra vos patrimoniais e culturais, além de suas paisagens, destacando a origi-nalidade e sua iden dade com a região. Por úl mo, apontam-se algumas considerações para o desenvolvimento turís co do Caminho das Tropas Desterro-Lages, mo vadas pela inexistência do seu planejamento turís co até o momento.

Pensar no desenvolvimento de um turismo sobre o Caminho das Tropas Desterro-Lages seria, antes de tudo, passar a entender esse território de cidades com culturas dis ntas, enquanto uma região com caracterís cas similares. Ou seja, um espaço vivido e sen do pelos seus habitan-tes (FRÉMONT, 1980). Diante do exposto, as questões regionais assumem importância cada vez maior para o turismo e es mulariam o desenvolvimento de uma infraestrutura turís ca, além de outras a vidades econômicas para o Caminho das Tropas, a saber, o desenvolvimento do comércio, dos transportes, dos meios de hospedagem, das agências de viagem e do artesanato regional.

A presente pesquisa evidenciou alguns patrimônios culturais da primeira rota mercan lista entre o litoral catarinense e o planalto, num território compreendido por nove municípios. Os ves gios históricos e manifestações culturais aqui apresentados podem ser considerados como atra vos turís cos para o desenvolvimento de um turismo cultural sob a perspec va da presença dos tropeiros nessa região. Alguns desses atra vos já são ofertados turis camente e poderiam ser mais bem planejados, em se tratando de uma promoção estratégica, com foco no desenvol-vimento local. As polí cas públicas existentes dizem respeito ao processo de tombamento de patrimônios de referência cultural tropeira, devido a sua relevância histórica e cultural. Finalmente, o turismo cultural para o Caminho das Tropas seria uma forma de manter a dinâmica da vida da região, compreendendo e reinterpretando essas paisagens culturais.

Por fi m, acredita-se que esta pesquisa possa contribuir com o planejamento do turismo de regiões que têm como foco o turismo cultural. Por meio de um diagnós co histórico e de um levantamento de potencialidades de atra vos turís cos, tem-se a possibilidade de planejar, estrategicamente, ações para o desenvolvimento turís co, social e econômico de um lugar.

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Sobre os autores:

Jonei Bauer: Mestrando do Programa de Pós-graduação Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria (UNIVALI). Licenciado em Letras (UNISUL) e bacharel em Museologia (UFSC). E-mail: [email protected]

Ana Paula Lisboa Sohn: Mestre em Relações Internacionais (UNISUL). Doutora em Engenharia de Produção (UFSC). Bacharel em Administração (UFSC) e Pedagogia (UDESC). Docente do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). E-mail: [email protected]

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