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Essências em gado de leite Capitulo 1 Nutrition e alimentação Capítulo 1: Processo digestivo na vaca de leite Michel A. Wattiaux UW Madison Department of Dairy Science Tradução: Alexandre H. Souza INTRODUÇÃO Vacas e outros animais como ovelhas, búfalos, camelos, e girafas são classificados como herbívoros pois, sua dieta é composta principalmente de material vegetal. Muitos herbívoros são ruminantes. Animais ruminantes podem ser reconhecidos facilmente devido aos frequentes movimentos de mastigação mesmo quando não estão comendo. Esta atividade de mastigação é chamada de ruminação, e faz parte de um processo digestivo que permite com que estes animais consigam obter energia contida nas paredes celulares das plantas na forma de fibras. ADAPTAÇÃO PARA UTILIZAR FIBRAS E NITROGÊNIO NÃO PROTÉICO A fibra é uma estrutura que dá resistência e rigidez as plantas e é o principal constituinte do caule das plantas. Açúcares complexos (celulose, hemicelulose) estão localizados dentro da parede celular das plantas e permanecem inacessíveis para os animais que não são ruminantes. Contudo, a população de micróbios que vivem no retículo e no rúmen (Figura 1) permitem com que os

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Page 1: Nutrição Essências em gado de leite

Essências em gado de leite Capitulo 1

 

Nutrition e alimentação

 

Capítulo 1: Processo digestivo navaca de leite

Michel A. WattiauxUW Madison Department of Dairy Science

Tradução:Alexandre H. Souza

INTRODUÇÃO

Vacas e outros animais como ovelhas, búfalos, camelos, e girafas são classificados como herbívoros pois, sua dieta é composta principalmente de material vegetal. Muitos herbívoros são ruminantes. Animais ruminantes podem ser reconhecidos facilmente devido aos frequentes movimentos de mastigação mesmo quando não estão comendo. Esta atividade de mastigação é chamada de ruminação, e faz parte de um processo digestivo que permite com que estes animais consigam obter energia contida nas paredes celulares das plantas na forma de fibras.

ADAPTAÇÃO PARA UTILIZAR FIBRAS E NITROGÊNIO NÃO PROTÉICO

A fibra é uma estrutura que dá resistência e rigidez as plantas e é o principal constituinte do caule das plantas. Açúcares complexos (celulose, hemicelulose) estão localizados dentro da parede celular das plantas e permanecem inacessíveis para os animais que não são ruminantes. Contudo, a população de micróbios que vivem no retículo e no rúmen (Figura 1) permitem com que os ruminantes possam utilizar a energia contida nas fibras.O nitrogênio necessário na dietas das vacas têm origem nos aminoácidos que são encontrados em proteínas e outras fontes de nitrogênio não proteicos (NNP). Compostos com nitrogênio não proteico não podem ser utilizados por não ruminantes, mas podem ser utilizados pelas bactérias ruminais para a síntese proteica. A maioria dos aminoácidos disponíveis para os bovinos são produzidos pelas bactérias no rúmen.

OS QUATRO ESTÔMAGOS

Retículo e rúmen

O retículo e o rúmen são os dois primeiros estômagos dos ruminantes. O conteúdo alimentar no retículo se mistura com o conteúdo do rúmen quase continuamente (cerca de uma vez por minuto). Ambos estômagos, freqüentemente chamados de retículo-rúmen, contém uma densa população de microorganismos (bactérias, protozoários, e fungos).

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Figura 1: O sistema digestivo da vaca é composto de quarto estômagos. O rúmen é o maior dos estômagos e esta representado com setas que indicam o movimento do alimento no seu interior.

 

Tabela 1: Utilização de varias fontes de energia e nitrogênio em ruminantes e em não ruminantes.

Exemplo de alimento Não-ruminante Ruminante

Energia    

Açúcar Melaço + +

Amido Tubérculo + +

Celulose Fibras 0 +/-

Nitrogênio    

NNP1 Uréia 0 +

Proteína Soja + +

1 NNP = nitrogênio não proteico. + completamente disponível, ± parcialmente disponível, 0 não disponível.

O rúmen é um saco que contém cerca de 100 a 120 kg de material vegetal sob processo digestivo. As partículas fibrosas permanecem no rúmen de 20 a 48 horas pois a fermentação das fibras pelas bactérias é um processo relativamente demorado. Contudo, algumas partículas são digeridas mais rapidamente tendem a ficar no rúmen por um período mais curto de tempo.O retículo é uma “estrada de passagem” onde as partículas que entram e saem do rúmen são selecionadas. Somente partículas de menor tamanho (<1–2 mm) e com alta densidade (> 1.2 g/ml) vão para o terceiro estômago.

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Omaso

O terceiro estômago ou omaso (Figura 1) têm cerca de 10 litros de volume. O omaso é um órgão relativamente pequeno com uma alta capacidade de absorção. Ele também permite a reciclagem da água e minerais como o sódio e o fósforo que retornam ao rúmen pela saliva. O processo digestivo que acontece no retículo é diferente do processo digestivo que acontece no rúmen; e o omaso funciona como um órgão de transição entre estes dois órgãos. Contudo, o omaso não é um órgão essencial, pois camelos, lhamas e alpacas não possuem o omaso (pseudoruminantes).

Abomaso

O abomaso é o quarto estômago do ruminante. Este estômago é parecido com o estômago de não ruminantes. O abomaso secreta um ácido forte (HCL) e também outras enzimas digestivas. Em não ruminantes, os alimentos ingeridos são digeridos inicialmente no abomaso. Contudo, o material que entra no estômago de ruminantes é feito principalmente de partículas alimentares não fermentadas, subprodutos da fermentação microbiana e micróbios que crescem no rúmen.

AS BACTÉRIAS DO RÚMEN

O rúmen fornece o ambiente propício e fonte alimentar para o crescimento e reprodução dos micróbios. A ausência de ar (oxigênio) no rúmen favorece o crescimento de algumas bactérias em particular, e algumas delas conseguem degradar a parede celular das plantas (celulose) em simples açúcares (glicose). Os micróbios fermentam a glucose para obter energia para crescer e durante o processo de fermentação eles produzem ácidos graxos voláteis (AGV). Os AGV atravessam a parede ruminal os quais são a principal fonte de energia da vaca.

OS ORGÃOS DO TRATO DIGESTIVO E SUAS FUNÇÕES

1 - Ruminação (quebra de partículas) e produção de saliva (regulador de pH)

. A ruminação reduz o tamanho das fibras e expõe seus açúcares à fermentação microbiana.

. Quando a vaca rumina de 6 a 8 horas por dia ela produz cerca de 170 litros de saliva; contudo, se a ruminação não for estimulada (ex: muito concentrado na dieta) ela produz somente cerca de 40 litros de saliva.

. Os tampões da saliva (bicarbonatos e fosfatos) neutralizam os ácidos produzidos pela fermentação microbiana e mantém o pH ruminal levemente ácido o que favorece a digestão das fibras e o crescimento microbiano no rúmen.

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2 - Retículo-rúmen (fermentação)

. A retenção de partículas longas na forragem estimulam a ruminação.

. A fermentação microbiana produz: 1) ácidos graxos voláteis (AGV) como produtos finais da fermentação da celulose e outros açúcares e 2) uma massa microbiana rica em proteínas de alta qualidade.

. A absorção dos AGV ocorre através da parede ruminal. Os AGV são utilizados como fonte de energia para a vaca e também para a síntese da gordura do leite (triglicerídeos) e do açúcar do leite (lactose).

. Produção e expulsão de aproximadamente 1.000 litros de gases por dia.

3 - Omaso (recicla alguns nutrientes). Absorção de água, sódio, fósforo ácidos graxos voláteis residuais.

4 - Abomaso (digestão ácida)

. Secreção de enzimas digestivas e ácidos fortes.

. Digestão de alimentos não fermentados no rúmen (algumas proteínas e lipídeos).

. Digestão de proteína bacteriana produzida no rúmen (de 0.5 a 2.5 kg por dia).

5 - Intestino delgado (digestão e absorção)

. Secreção de enzimas digestivas produzidas pelo intestino delgado, fígado e pâncreas.

. Digestão enzimática de carboidratos, proteínas e lipídeos.

. Absorção de água, minerais e produtos da digestão: glicose, amino ácidos e ácidos graxos.

 

Page 5: Nutrição Essências em gado de leite

6 - Ceco (fermentação) e intestino grosso

. Uma pequena população microbiana fermenta os produtos da digestão que não foram absorvidos.

. Absorção de água e formação das fezes.

 

Durante o crescimento dos micróbios no rúmen, eles sintetizam aminoácidos, as unidades formadoras das proteínas. As bactérias podem utilizar amônia ou uréia como fonte de nitrogênio para a produção de aminoácidos. Se isso não ocorresse, a amônia e a uréia não poderiam ser utilizadas por ruminantes. Contudo, as proteínas bacterianas sintetizadas no rúmen são digeridas no intestino delgado e constituem a fonte principal de aminoácidos para a vaca.

ALGUMAS DEFINIÇÕES

A Absorção é a passagem de produtos de digestão e outros compostos simples do intestino delgado para o sangue.

Os Tampões são compostos secretados pela saliva ou adicionados na dieta que ajudam a manter a estabilidade ruminal, e promovem a digestão de alimentos e crescimento bacteriano.

A Digestão é o primeiro passo de uma série de processos que quebram partículas complexas (alimento e micróbios) em substâncias simples que podem ser utilizadas pelo corpo. Um ácido forte e muitas enzimas digestivas são secretadas no trato digestivo para digerir o alimento.

O Metabolismo se refere às mudanças que os produtos absorvidos na digestão sofrem durante sua utilização pelo corpo. Os nutrientes podem ser pelos tecidos do corpo para a obtenção de energia para a manutenção dos tecidos vitais, e para outras tarefas (comer, andar, ruminar, etc.). Os nutrientes também podem ser utilizados como precursores para a síntese de tecidos (músculo, gordura) e no caso das vacas de leite, para a síntese do leite.

RECADOS FINAIS Os animais ruminantes podem utilizar uma variedade maior de fontes alimentares

que os animais não ruminantes. Os micróbios do retículo-rúmen permitem com que os ruminantes transformem fibras em alimento (forragens, resíduos de plantio e sub-produtos industriais) e nitrogênio não proteico (amônia, uréia) em alimentos altamente nutritivos e palatáveis para humanos (leite, carne).

Os alimentos fibrosos são necessários para a saúde da vaca pois êles mantém a

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ruminação e a produção de saliva que são necessários para o correto funcionamento do rúmen e para a obtenção de uma população bacteriana adequada no rúmen.

Uma vaca pode comer forragens (alimentos de pouca energia) e concentrados (alimentos de alta energia). Contudo, a adição de grandes quantidades de concentrados na dieta deve ser gradual (maior que um período de 4 a 5 dias) para permitir que a população bacteriana no rúmen se adapte à nova dieta.

As fezes de ruminantes são ricas em material orgânica e inorgânica, e podem servir como excelentes fertilizantes.

Essências em gado de leite Capitulo 2

Nutrition e alimentação

Capítulo 2: Composição e análise de alimentos

Michel A. WattiauxUW Madison Department of Dairy Science

Tradução:Alexandre H. Souza

INTRODUÇÃO

Os alimentos contém nutrientes que são usados para atender os requerimentos dos animais. A maioria dos alimentos para vacas de leite consiste em caules, folhas, sementes e raízes de várias plantas. As vacas também podem ser alimentadas com sub-produtos industriais (farelos, melaço, resíduo de cervejaria, etc.) e estas dietas normalmente precisam ser suplementadas com pequenas quantidades de vitaminas e minerais. Os alimentos para bovinos leiteiros são classificados como:

Forragem Concentrado Suplemento proteico Suplemento (vitamina e mineral)

Esta classificação é um pouco discutível, mas ela se baseia no valor nutricional do alimento. Os Nutrientes são substâncias químicas necessárias para a manutenção, crescimento, produção, reprodução e saúde do animal. Existem cinco categorias de nutrientes:

Água Energia (carboidratos, proteínas, lipídeos) Proteína (compostos nitrogenados) Minerais Vitaminas

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Os alimentos também podem conter substâncias sem valor nutritivo (Figura 1). Alguns compostos têm estruturas complexas as quais não são digeríveis e podem interferir na digestão de alguns nutrientes (ex: lignina, tanino). Além disso, certas plantas contém toxinas que podem ser prejudiciais para a saúde do animal.

A COMPOSIÇÃO DOS ALIMENTOS

Água e matéria seca

Quando os alimentos são colocados em um forno com temperatura de 105°C por 24 horas, a água (H 2 0) evapora e o material restante é chamado de matéria seca . Os alimentos contém quantidades variadas de água. Em estágios imaturos do crescimento, a maioria das plantas contém cerca de 70 a 80% de água (20 a 30% de matéria seca). Contudo, as sementes contém apenas 8 a 10% de água (90 a 92% de matéria seca). A quantidade de água nos alimentos normalmente não é motivo de preocupação. Vacas lactantes bebem cerca de 4 a 5 kg de água para cada kg de matéria seca que elas comem. Os bovinos leiteiros precisam ter acesso à água limpa e fresca durante a maior parte do dia.

A matéria seca contém todos os nutrientes (exceto água) que são necessários para os bovinos. A concentração de nutrientes nos alimentos normalmente são expressos com base na quantidade de matéria seca (MS) ao invés da matéria verde (MV), pois:

A quantidade de água nos alimentos pode variar, portanto, o valor nutritivo de diferentes alimentos pode ser comparado mais facilmente quando a concentração é expressa com base na matéria seca.

Quando expressa em matéria seca, a concentração de nutrientes dos alimentos pode ser comparada diretamente com a concentração de nutrientes necessários da dieta das vacas.

A matéria orgânica e minerais

A matéria seca dos alimentos pode ser classificada em matéria orgânica e matéria inorgânica. Compostos que contém carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O) e nitrogênio (N), são classificados como orgânicos. Os compostos inorgânicos ou minerais (cálcio, fósforo etc.) representam um grupo químico diferente. Quando um alimento é colocado em um forno a 550°C por 24 horas, a matéria orgânica é queimada e o que resta são os minerais ou cinzas . Em plantas, a fração mineral varia de 1% a 12%. As forragens normalmente contém mais cinzas que sementes e grãos. Os sub-produtos animais derivados de ossos pode conter cerca de 30% de minerais (principalmente cálcio e fósforo). Os minerais são frequentemente classificados como macro- ou micro-minerais (Tabela 1). Esta distinção se baseia somente na quantidade necessária pelos animais. Alguns minerais são possivelmente essenciais (ex: bário, bromo, níquel) e outros podem ter efeitos negativos na digestibilidade dos alimentos (ex: sílica).

Nutrientes nitrogenados

Page 8: Nutrição Essências em gado de leite

O nitrogênio está presente em proteínas e outros compostos da matéria orgânica dos alimentos. As proteínas são compostas de uma ou várias cadeias de aminoácidos. Uma sequência de 20 aminoácidos encontrados nas proteínas são determinadas pelo código genético. Esta sequência determina a estrutura e a função de cada proteína no corpo. Existem aminoácidos essenciais e não essenciais. Em oposição aos aminoácidos essenciais que podem ser sintetizados pelo organismo, os aminoácidos essenciais precisam estar presentes na dieta, pois o organismo é incapaz de sintetizá-los.

Quando o nitrogênio não faz parte de da estrutura de proteínas, como no caso da uréia e da amônia, ele é chamado de nitrogênio não proteico (NNP). O nitrogênio não proteico não têm valor nutritivo para animais de estômagos simples. Contudo, em ruminantes, o NNP pode ser utilizado pela flora ruminal na síntese de aminoácidos e proteínas que serão úteis para o animal.

Tabela 1: Minerais necessários na dieta de ruminantes e seus símbolos químicos.

Macro minerais Símbolo químico

Cálcio Ca

Fósforo P

Magnésio Mg

Sódio Na

Potássio K

Cloro Cl

Enxofre S

Iodo I

Ferro Fe

Cobre Cu

Cobalto Co

Manganês Mn

Molibdênio Mo

Zinco Zn

Selênio Se

Um químico dinamarquês, J.G. Kjeldhal, desenvolveu um método para a quantificação do nitrogênio em 1893. Em média, as proteínas contém cerca de 16% de nitrogênio. Portanto, a porcentagem de proteína em um alimento é normalmente calculada como a quantidade de nitrogênio multiplicada por 6.25 (100/16 = 6.25). Esta medida é chamada de proteína bruta (PB). A palavra "bruta" se refere ao fato de que nem todo o nitrogênio de um alimento esta na forma de proteína. Frequentemente, a proteína bruta superestima a quantidade de proteína verdadeira (PV) do alimento. A porcentagem de proteína bruta nas forragens pode variar de 5% (resíduos de plantio) a 20% (leguminosas de boa

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qualidade). Os farelos de grãos podem conter de 30 a 50% de PB e sub-produtos animais podem conter mais de 60% de PB.

Nutrientes energéticos

A energia disponível nos alimentos para o animal não pode ser quantificada por uma simples análise laboratorial. A melhor maneira de medir esta energia é por meio de experimentações. No corpo, o carbono (C), o hidrogênio (H) e o oxigênio (O) dos carboidratos, lipídeos e proteínas pode ser convertido em água (H 2 O) e dióxido de carbono (CO 2 ) com a liberação de energia . A megacaloria (Mcal) é frequentemente utilizada como medida de energia, mas o Joule (J) é a unidade oficial para a medida de energia. Nos alimentos para vacas de leite, a energia é expressa em Mcal ou Energia Líquida para a Lactação (NE l ).

Figura 1: A composição dos alimentos e análises laboratoriais de rotina.

Page 10: Nutrição Essências em gado de leite

Esta unidade representa a quantidade de energia em um alimento que está disponível para a manutenção do peso corporal e pela produção de leite. Por exemplo, são necessárias 0.74 Mcal NE l para produzir 1 kg de leite; sendo que a energia nos alimentos varia de 0.9 a 2.2 Mcal de NE l /kg de matéria seca.

Os lipídeos e outras substâncias da família das gorduras são medidos por um método chamado de extração pelo éter (EE) e normalmente estes compostos produzem cêrca de 2.25 vezes mais energia que carboidratos. Contudo, a maioria da energia das forragens e de concentrados se origina dos carboidratos. Os alimentos para vacas normalmente contém menos de 5% de lipídeos, mas cerca de 50 a 80% de carboidratos. Existem três tipos principais de carboidratos nas plantas:

Açucares simples (glicose, frutose) Carboidratos de reserva (amido) ou também chamados de carboidratos não

estruturais, não fibrosos, ou carboidratos presentes fora da parede celular Carboidratos estruturais também chamados de carboidratos fibrosos ou de

parede celular (celulose e hemicelulose)

A glicose é encontrada em grandes quantidades em certos tipos de alimentos (melaço, soro de leite). O amido é o principal componente de grãos de cereais (trigo, cevada, milho, etc.). A celulose e a hemicelulose são principalmente encontradas nos caules das plantas. O amido e a celulose são feitos de longas cadeias de glicose. A ligação entre as moléculas de glucose no amido podem ser quebradas facilmente, mas na celulose estas ligações resistem às enzimas degestivas de animais superiores. Contudo, as bactérias ruminais possuem enzimas que podem extrair a glicose contida nas fibras.

A celulose e a hemicelulose estão associadas com a lignina (um composto fenólico) na parede celular. A quantidade de fibras (ex: parede celular) nos alimentos têm um papel importante no seu valor nutricional. Em geral, quanto menos fibra, maior é o valor energético de uma forragem. As fibras na forma de partículas grandes são necessárias na dieta das vacas pois:

Estimulam a ruminação, que é necessária para manter o processo digestivo e a saúde do animal

É essencial para evitar a diminuição da porcentagem de gordura do leite

Em muitos países, a fibra bruta ainda é o método oficial para medir a quantidade de fibra de um alimento, mas a fibra detergente neutra (FDN) é um método laboratorial mais recente que pode estimar de uma maneira mais acurada a quantidade de celulose, hemicelulose e lignina nos alimentos. A potencial capacidade de ingestão de um alimento pela vaca é inversamente proporcional à quantidade de FDN do alimento. Além disso, a fibra detergente ácida (FDA) que quantifica a quantidade de celulose e lignina, é um bom indicador da digestibilidade de uma forragem. Os açucares presentes na FDN e na FDA são fermentadas mais vagarosamente pelas bactérias ruminais, mas o material que se encontra fora da parede celular (compostos solúveis como açucares simples, e algumas proteínas), normalmente são rapidamente fermentadas.

A porcentagem de carboidratos não fibrosos (CNF) em um alimento é normalmente calculado levando-se em conta as cinzas, proteína bruta, extrato etéreo e o FDN:

Page 11: Nutrição Essências em gado de leite

CNF = 100 - (cinzas + PB + EE + FDN).

Vitamina

A quantidade de vitaminas nos alimentos não é calculada normalmente, mas as vitaminas em pequena quantidade são essenciais para a manutenção da saúde. As vitaminas são classificadas em vitaminas hidrosolúveis (nove vitaminas do complexo B e a vitamina C) ou vitaminas liposolúveis ( b -caroteno ou provitamina A, vitaminas D 2 , D 3 , E e K). Em vacas, a suplementação de vitaminas do complexo B é menos importante, pois as bactérias ruminais podem sintetizá-las.

Essências em gado de leite Capitulo 3

Nutrition e alimentação

Capítulo 3: O metabolismo de carboidratos

em bovinos de leite

Michel A. WattiauxUW Madison Department of Dairy Science

 

Louis E. ArmentanoUW Madison Department of Dairy Science

 

Tradução:Alexandre H. Souza

TIPOS DE CARBOIDRATOS

Os carboidratos são a fonte de energia mais importante e os principais precursores da gordura e do açúcar (lactose) presentes no leite. Os microorganismos que vivem no rumem permite que as vacas obtenham energia utilizando os carboidratos fibrosos (celulose e hemicelulose) que estão ligados à lignina que está presente na parede celular das plantas. A celulose e a hemicelulose são fermentadas vagarosamente no rúmen, pois as fibras ficam retidas no rúmen por um longo tempo. A porcentagem de lignina é maior em plantas maduras, em consequência, a digestão da celulose e hemicelulose em plantas maduras é menor. As fibras em forma de partículas grandes são essenciais para o estímulo da ruminação. A ruminação aumenta a quebra e fermentação das fibras. Além de estimular a contração ruminal, as fibras também aumentam o fluxo de saliva para o

Page 12: Nutrição Essências em gado de leite

rúmen. A saliva contém bicarbonato de sódio e sais de fosfato que ajudam a manter o pH ruminal próximo da neutralidade. As dietas com poucas fibras normalmente resultam na produção de leite com baixa porcentagem de gordura e podem desencadear distúrbios digestivos (ex: deslocamento de abomaso, acidose ruminal).

Carboidratos não fibrosos (amidos a açucares simples) são rapidamente fermentados no rúmen. Os carboidratos não fibrosos aumentam a densidade da dieta, o que aumenta o suplemento de energia e determina a quantidade de proteína bacteriana produzida no rúmen. Contudo, os carboidratos não fibrosos não estimulam a ruminação e a produção de saliva, e se em excesso, eles podem impedir a fermentação das fibras.

Portanto, o balanceamento entre carboidratos fibrosos e não fibrosos é importante na dieta de bovinos leiteiros para a ideal produção de leite. A Figura 1 mostra um esquema da transformação de carboidratos em vários órgãos. Em vacas de leite, o rúmen, o fígado e a glândula mamária são os principais órgãos envolvidos no metabolismo dos carboidratos.

A PRODUÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS VOLÁTEIS NO RÚMEN

Durante a fermentação ruminal, a população de micróbios (na sua maioria bactérias) fermentam os carboidratos para produzir energia, gases (metano—CH4 e dióxido de carbono – CO2), calor e ácidos. O ácido acético (vinagre), o ácido propiônico e o ácido butírico são ácidos graxos voláteis (AGV) e constituem a maioria ( 95%) dos ácidos produzidos no rúmen (Tabela 1). Além disso, a fermentação de aminoácidos produz alguns ácidos chamados de iso-ácidos. A energia e os iso-ácidos produzidos durante a fermentação são utilizados pelas bactérias para seu crescimento (ex: pricipalmente para a síntese de proteínas). O CO2 e o CH4 produtos finais da fermentação ruminal, são absorvidos através da parede ruminal.

Page 13: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 1: O metabolismo dos carboidratos em bovinos.

 

Tabla 1: Ácidos graxos voláteis produzidos no rúmen.

Nome Estrutura

Acético CH3-COOH

Propiônico CH3-CH2-COOH

Butírico CH3-CH2-CH2-COOH

Page 14: Nutrição Essências em gado de leite

A maioria do acetato e todo o propionato são transportados para o fígado, mas a maioria do butirato é convertido na parede ruminal em corpos cetônicos chamados de

b -hidroxibutirato. As cetonas são importantes fontes de energia para a maioria dos tecidos do corpo. As cetonas são derivadas do butirato que é produzido no rúmen, mas no início da lactação, elas também são produzidas na queima de gordura pelo animal.

A PRODUÇÃO DE GLICOSE NO FÍGADO

A maior parte do propionato é convertida em glucose no fígado. Além disso, o fígado pode utilizar aminoácidos para a síntese de glicose. Este é um processo muito importante, pois normalmente nenhuma glicose é absorvida pelo trato digestivo e todo o açúcar encontrado no leite (cerca de 900 g para cada 20 kg de leite) precisa ser produzido no fígado. Uma exceção acontece quando as vacas são alimentadas com concentrados ricos em amido ou uma fonte de amido resistente à fermentação ruminal. Deste modo, o amido escapa da fermentação ruminal e alcança o intestino delgado. A glicose formada durante a digestão intestinal é absorvida, transportada para o fígado e contribui para o suprimento de glicose para a vaca.

O lactato é outra possível fonte de glicose para o fígado. O lactato é encontrado em silagens bem preservadas, mas o lactato é produzido no rúmen quando há um excesso de amido sendo fornecido para a vaca. Isto não é desejável, pois o ambiente ruminal se torna ácido, a fermentação das fibras não acontece adequadamente e em casos extremos a vaca para de se alimentar.

A SÍNTESE DE LACTOSE E GORDURA DO LEITE

Durante a lactação, a glândula mamária têm uma grande necessidade de glicose, que é utilizada principalmente na formação da lactose (açúcar do leite). A quantidade total de lactose sintetizada no úbere esta intimamente associada com a quantidade de leite produzida por dia. A concentração de lactose no leite é relativamente constante e a água é adicionada à lactose até que sua concentração seja cerca de 4.5%. Portanto, a produção de leite de uma vaca é fortemente influenciada pela quantidade de glicose que pode ser produzida pelo propionato ruminal.

A glicose é convertida em glicerol, que será utilizado para a produção da gordura do leite. O acetato e o b -hidroxibutirato são usados para a formação de ácidos graxos que ficarão aderidos ao glicerol na formação da gordura do leite. A glândula mamária sintetiza ácidos graxos saturados que contém de 4 a 16 carbonos (ácidos graxos de cadeia curta). Cerca de metade da gordura presente no leite é produzida na glândula mamária. A outra metade vêm dos lipídeos na dieta, incluindo uma pequena porção de ácidos graxos insaturados com mais de 18 carbonos (ácidos graxos de cadeia longa).

A combustão das cetonas fornece a energia necessária para a síntese de gordura e lactose no úbere, mas o acetato e a glicose também podem ser utilizados como fonte de energia para células de vários tecidos.

Page 15: Nutrição Essências em gado de leite

O EFEITO DA DIETA NA FERMENTTAÇÃO RUMINAL E NA PRODUÇÃO DE LEITE

O tipo de fonte de carboidratos da dieta influencia a quantidade e a proporção de AGV que são produzidos no rúmen. A população microbiana do rúmen converte os carboidratos fermentados em 65% ácido acético, 20% Ácido propiônico e 15% ácido butírico quando a dieta contém uma grande proporção de forragens. Nestes casos, o suprimento de acetato é adequado para a maximização da produção de gordura, mas a quantidade de propionato produzida no rúmen pode limitar a quantidade de leite produzida devido a falta de glicose (especialmente no início da lactação).

Os carboidratos não fibrosos (presentes em muitos concentrados) propiciam a produção de ácido propiônico, mas os carboidratos fibrosos (presentes principalmente nas forragens) estimulam a produção de ácido acético no rúmen. Além disso, os carboidratos não fibrosos produzem mais AGV (ex: mais energia) pois eles são fermentados no rúmen em uma maior proporção e também mais rapidamente.

Portanto, suplementação com concentrados normalmente resulta em um aumento da produção de AGV e no aumento do propionato e diminuição do acetato (Figura 2). Quando grande quantidades de concentrados são fornecidos (ou quando o tamanho de partícula das forragens é muito pequeno), a porcentagem de ácido acético pode ser menor que 40%, enquanto que a porcentagem de ácido propiônico pode estar acima de 40%. A produção de leite pode aumentar devido ao aumento do suprimento de glicose originada do propionato, mas o ácido acético, necessário para a síntese de gordura, pode estar em concentações muito baixas. Em geral, esta diminuição em ácido acético está associada com uma redução na produção de gordura e com uma baixa porcentagem de gordura no leite. Além disso, o relativo excesso de propionato pode fazer com que a vaca utilize esta energia disponível para o acúmulo de gordura (ganho de peso corporal) e não para a produção de leite.

Portanto, o excesso de concentrado na dieta pode causar um problema de obesidade nas vacas. O uso continuado deste tipo de dieta pode ter um efeito negativo na saúde do animal, que estará mais propensa a ter problemas no parto e também ter problemas metabólicos como o fígado gordo ou cetose após o parto. Contudo, a falta de concentrado na dieta limita a ingestão de energia que pode afetar a produção de leite e a produção de proteína no leite.

Em conclusão, as mudanças na proporção de forragem e concentrado na dieta têm um profundo efeito na quantidade e na porcentagem de cada AGV que são produzidos no rúmen. Porém, os AGV podem influenciar a:

Produção de leite Porcentagem de gordura no leite A eficiência de conversão alimentar O custo benefício de uma dieta

Page 16: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 2: Efeito da composição da dieta nos AGV do rúmen e na produção de leite.

Essencias em gado de leite Capitulo 4

Nutrition e alimentação

4: O metabolismo de lipídeos em bovinos leiteiros

Michel A. WattiauxUW Madison Department of Dairy Science

Ric R. GrummerUW Madison Department of Dairy Science

Tradução:Alexandre H. Souza

Page 17: Nutrição Essências em gado de leite

TÍPOS DE LIPÍDEOS

Normalmente, a dieta das vacas contém somente cerca de 2 a 4% de lipídeos. Porém, os lipídeos são muito importantes na dieta das vacas, pois eles contribuem diretamente com 50% da gordura do leite e são a fonte de energia mais concentrada de uma dieta. As forragens e as sementes possuem pequenas quantidades de lipídeos Contudo, algumas plantas (algodão, soja) possuem sementes ricas em lipídeos, as quais contém mais de 20% de lipídeos. Normalmente, os lipídeos são extraídos de sementes ricas em lipídeos; estas sementes também podem ser utilizadas para a alimentação do gado.

Lipídeos são substâncias que são insolúveis em água, mas são solúveis em solventes orgânicos (éter, clorofórmio, hexeno, etc.). Os triglicerídeos são encontrados principalmente em grãos de cereais, determinadas sementes e na gordura animal. A estrutura básica dos lipídeos consiste em uma unidade de glicerol (um açúcar de 3 carbonos) e três unidades de ácidos graxos (Figura 1).

Os glicolípedes são uma segunda classe de lipídeos e são encontrados principalmente em forragens (gramíneas e leguminosas). Estes compostos têm uma estrutura similar aos triglicerides com excessão de que um dos três ácidos graxos estão substituídos por um açúcar (normalmente a galatose). Quando um fosfato esta substituindo um dos ácidos graxos o lipídeo é chamado de fosfolipídeo. Os fosfolipídeos não se encontram em grandes quantidades nos alimentos, mas eles são encontrados em grande quantidade nas bactérias do rúmen.

Figura 1: Estrutura básica dos triglicerides. Os radicais ( R1, R2 e R3) são compostos de cadeias carbônicas de vários tamanhos e com diferentes graus de saturação.

 

Os ácidos graxos encontrados nas plantas têm de 14 a 18 carbonos (Tabela 1). O ponto de fusão de um lipídeos determina seu estado físico (sólido ou líquido) na temperatura ambiente. O ponto de fusão é influenciado pelo grau de saturação e pelo tamanho de sua cadeia carbônica. Os lipídeos das plantas normalmente contém de 70 a 80% de ácidos graxos insaturados e eles tendem a permanecer no estado líquido em temperatura ambiente (óleos). Contudo, as gorduras de animais contém de 40 a 50% de ácidos graxos saturados e eles normalmente se encontram em estado sólido (gorduras). O grau de insaturação têm um efeito marcante na digestão desta gordura pelo animal e, no caso de ruminantes, se isso interfere na fermentação de carbonos no rúmen.

Page 18: Nutrição Essências em gado de leite

Tabela 1: Ácidos graxos mais encontrados nas dietas de vacas de leite.

Nome Estrutura Abreviação*Ponto de

fusão (°C)

Ácidos saturados

Mirístico CH3-(CH2)12-COOH (C14:0) 54

Palmítico CH3-(CH2)14-COOH (C16:0) 63

Esteárico CH3-(CH2)16-COOH (C18:0) 70

Ácidos non saturados

PalmitoleicoCH3-(CH2)5-CH=

CH-(CH2)7-COOH(C16:1) 61

OléicoCH3-(CH2)7-CH=

CH-(CH2)7-COOH(C18:1) 13

LinolêicoCH3-(CH2)4-CH=CH-CH2-CH=

CH-(CH2)7-COOH(C18:2) -5

LinolênicoCH3-CH2-CH=CH-CH2-CH=CH-

CH2-CH=CH-(CH2)7-COOH(C18:3) -11

* O primeiro número indica o número total de carbonos e o segundo número indica o número de duplas ligações na molécula.

HIDRÓLISE E SATURAÇÃO DE LIPÍDEOS NO RÚMEN

A maioria dos lipídeos são hidrolisados no rúmen. As ligações entre o glicerol e os ácidos graxos são quebradas gerando uma molécula de glicerol e três de ácidos graxos.

O glicerol é rapidamente fermentado em ácidos graxos voláteis (veja metabolismo de carboidratos). Alguns ácidos graxos são utilizados pelas bactérias para a síntese de fosfolipídios que são necessários para a construção da parede celular.

Outra ação importante dos micróbios ruminais é a hidrogenação de ácidos graxos insaturados. No processo de hidrogenação, o ácido graxo se torna saturado pois a dupla ligação é substituída por dois átomos de hidrogênio. Por exemplo, a hidrogenação converte o ácido oleico em ácido esteárico (Tabela 1).

Os ácidos graxos que estão livres no rúmen tendem se aderem aos alimentos e impedem o processo normal de fermentação, especialmente em carboidratos fibrosos. O excesso de lipídios na dieta (mais de 8%) pode ter um efeito negativo na produção de leite e na porcentagem de gordura no leite. Os ácidos graxos insaturados afetam a fermentação

Page 19: Nutrição Essências em gado de leite

ruminal de uma maneira mais intensa que os ácidos graxos saturados. Contudo, os lipídeos podem ser "protegidos" para que a sua taxa de hidrólise seja menor, tornando-os mais "inertes" dentro do rúmen. As cascas das sementes tendem a proteger os lipídeos da degradação ruminal, fazendo com eles se tornem menos acessíveis à hidrólise ruminal se comparado com óleos que estão livres no rúmen. Além disso, o tratamento industrial para a formação de sabões de gordura (sais de cálcio) torna os lipídeos insolúveis e, portanto, inertes no rúmen.

Os fosfolipídios microbianos representam cerca de 10 a 15% dos lipídeos que saem do rúmen para o intestino, o restante (85 a 90%) são ácidos graxos saturados que são encontrados na forma de ácido palmítico e esteárico e que ficam aderidos no alimento ou nas partículas bacterianas.

A ABSORÇÃO INTESTINAL DE LIPÍDEOS

Os fosfolipídios microbianos são digeridos e absorvidos no intestino delgado. A bile secretada pelo fígado e pelo pâncreas (rico em enzimas e bicarbonato) se misturam no intestino delgado. Estas secreções são muito importantes na preparação dos lipídeos para a absorção, pois neste processo ocorre a formação de partículas que são solúveis em água (micelas) as quais podem entrar nas células intestinais. Nas células do também são chamadas de quilomicrons ou lipoproteínas de baixa densidade. As LP entram nos vasos linfáticos e vão para o ducto torácico (junção do sistema linfático intestino, a maior parte dos ácidos graxos estão ligados ao glicerol (vindos da glicose sanguínea) para a formação de triglicérides. Os triglicérides, alguns ácidos graxos livres, o colesterol e outras substâncias da família dos lipídeos são recobertas por proteína para a formação de lipoproteínas (LP) que lipoproteínas de baixa densidade. As LP entram nos vasos linfáticos e vão para o ducto torácico (junção do sistema linfático com o sistema circulatório), onde eles entram na corrente sanguínea. Diferentemente da maioria dos nutrientes que são absorvidos pelo trato gastrointestinal, os lipídeos que são absorvidos entram diretamente na circulação e são utilizados pelos tecidos corporais sem uma prévia metabolização hepática.

Page 20: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 2: O metabolismo de lipídeos em bovinos leiteiros.

UTILIZAÇÃO DOS LIPÍDEOS PELO ÚBERE

A glândula mamária produz cerca de 50% da gordura do leite. Estes ácidos graxos são fabricados a partir das lipoproteínas formadas durante a absorção intestinal dos lipídeos. Um aumento na porcentagem de ácidos graxos de cadeia longa (ex: ácidos graxos com mais de 16 carbonos) pode influenciar sua secreção no leite, mas isto também pode inibir a síntese de ácidos graxos de cadeia curta ou média no úbere. Portanto, a diminuição da porcentagem de gordura no leite quando as vacas são alimentadas com dietas com pouca fibra pode ser parcialmente compensada com o aumento de gordura na dieta.

Page 21: Nutrição Essências em gado de leite

A FUNÇÃO DO FÍGADO E DA MOBILIZAÇÃO DE GORDURA

Durante um período de restrição alimentar ou no início da lactação, as vacas conseguem suprir sua demanda de energia com a mobilização de gordura do tecido adiposo. Os triglicérides de reserva nos tecidos adiposos dão origem aos ácidos graxos que são liberados na corrente sanguínea. Os ácidos graxos são capturados pelo fígado, onde eles serão utilizados como fonte de energia ou serão convertidos em cetonas que podem ser liberadas na corrente sanguínea e usadas como fonte energética por muitos tecidos. O fígado não tem uma alta capacidade para exportar LP e o excesso de mobilização de ácidos graxos faz com que os triglicérides sejam estocados nas células hepáticas. A gordura depositada no fígado contribui para o desenvolvimento de doenças metabólicas (ex: cetose e fígado gordo) no início da lactação.

ADIÇÃO DE LIPÍDEOS NAS DIETAS

Os lipídeos possuem cerca de 2.25 mais energia que os carboidratos. Além disso, os lipídeos também são conhecidos como nutrietes "frios", pois durante a sua digestão e utilização pelo corpo eles produzem menos calor que carboidratos e proteínas. Portanto, o aumento de lipídeos nas dietas das vacas de leite pode gerar alguns benefícios:

Aumento da densidade calórica (energia) da dieta, especialmente em dietas com alta proporção de forragens.

Diminui a necessidade de concentrados ricos em carboidratos os quais são necessários no início da lactação, quando a vaca esta em balanço energético negativo.

Em climas quentes, os lipídeos podem ajudar a diminuir o estresse térmico nas vacas de leite.

A ingestão de alimentos e a produção de leite podem variar bastante de acordo com o tipo de lipídeo adicionado à dieta. As vacas não devem ser suplementadas com mais de 1.5 kg/dia de lipídeos em adição aos lipídeos da dieta normal. Em outras palavras, a quantidade de lipídeos na dieta não deve ser maior de 6 a 8%, caso contrário, os efeitos negativos do excesso de lipídeos serão evidentes. A produção de leite é maximizada quando a quantidade de gordura na matéria seca é de 5%. A adição de gordura na dieta normalmente diminui a proteína do leite em 0.1%. Além disso, o excesso de lipídeos pode diminuir a ingestão, a produção de leite e a composição de gordura no leite.

Page 22: Nutrição Essências em gado de leite

Essências em gado de leite Capitulo 5

Nutrition e alimentação

5: Metabolismo de proteína em bovinos de leite

Michel A. WattiauxUW Madison Department of Dairy Science

Tradução:Alexandre H. Souza

INTRODUÇÃO

As proteínas fornecem os aminoácidos necessários para a manutenção das funções vitais, reprodução, crescimento e lactação. Animais não ruminantes precisam de aminoácidos pré-formados na sua dieta. Os animais ruminantes podem utilizar muitas outras fontes de nitrogênio pois eles possuem a habilidade de sintetizar aminoácidos e proteínas usando nitrogênio não proteico. Esta habilidade esta relacionada com a presença de microorganismos no rúmen. Além disso, os ruminantes possuem um mecanismo que possibilita a reutilização do nitrogênio. Quando uma dieta possui pouco nitrogênio, grandes quantidades de uréia (que normalmente é excretada na urina) retornam ao rúmen, onde os microorganismos podem utiliza-la. Em animais não-ruminantes a uréia é totalmente perdida na urina.

Algumas pesquisas mostraram que é possível alimentar vacas com dietas contendo somente nitrogênio não proteico e, ainda assim, é possível se obter uma produção diária de 580 g de proteína de leite de alta qualidade e de 4.000 kg de leite durante a lactação.

A TRANSFORMAÇÃO DE PROTEÍNA NO RÚMEN

As proteínas alimentares são degradadas pelos microorganismos ruminais em aminoácidos, depois em amônia e em ácidos graxos de cadeia ramificada (Figura 1). O nitrogênio não proteico presente nos alimentos e na uréia são reciclados no rúmen através da saliva e a parede ruminal também contribui na concentração final de amônia no rúmen. Se os níveis de amônia no rúmen estão muito baixos, ocorre uma restrição de nitrogênio para as bactérias e, deste modo, a digestibilidade do alimento diminui. Um excesso de amônia no rúmen leva ao desperdício, toxidez devido a amônia, e mesmo morte do animal em casos extremos.

Page 23: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 1: O metabolismo de proteína em bovinos de leite.

A população bacteriana utiliza a amônia para crescer. A quantidade de amônia usada para sintetizar proteína bacteriana depende da disponibilidade de energia fornecida pela fermentação de carboidratos. Em média, 20 gramas de proteína bacteriana é sintetizada a partir de 100 gramas de matéria orgânica fermentada no rúmen. A síntese de proteína bacteriana pode variar de 400 g/dia a 1.500 g/dia, dependendo da digestibilidade da dieta. A porcentagem de proteína na bactéria varia de 38 a 55% (Tabela 1). Contudo, quando as vacas ingerem mais alimento, as bactérias têm mais proteína e passam para o rúmen mais rapidamente.

Normalmente, uma porção da proteína da dieta resiste à degradação ruminal e chega inalterada até o intestino delgado. A resistência à degradação ruminal varia consideravelmente de acordo com a fonte proteica e isto depende de vários fatores. Normalmente, as proteínas da forragem são degradadas em uma extensão maior (60 - 80%) que as proteínas de concentrados ou de sub-produtos industriais (20 to 60%).

Uma porção das proteínas bacterianas é quebrada no rúmen, mas a maioria vai para o abomaso aderidas às particulas de alimento. Os fortes ácidos secretados pelo abomaso paralisam toda atividade microbiana e as enzimas digestivas começam a quebrar as proteínas em aminoácidos.

Page 24: Nutrição Essências em gado de leite

Aproximadamente 60% dos aminoácidos absorvidos no intestino delgado têm origem bacteriana, e os restantes 40% vem das proteínas não degradadas no rúmen.

Tabela 1:Composição (%) e digestibilidade de nitrogênio intestinal (%) da flora ruminal.¹

  Bactéria  

  Média Intervalo Protozoário

Proteína 47.5 38 - 55 -

Ácidos nucleicos2 27.6 - -

Lipídeos 7.0 4 - 25 -

Carboidratos 11.5 6 - 23 -

Peptidoglicam3 2.0 - -

Minerais 4.4 - -

Proteína bruta 62.5 31 - 78 24 - 49

Digestibilidade 71.0 44 - 86 76 - 851Adaptado de "Nutritional Ecology of the ruminant". 1982. O & B Books Inc., 1215 NW Kline Place, Oregon 97330. 2 Ácido nucleico = material genético. 3 Peptidoglicam = estrutura complexa da parede bacteriana.

A composição proteica da bacteria é relativamente constante e não depende da composição proteica que o animal esta ingerindo. Todos os aminoácidos, incluindo os aminoácidos essenciais, estão presentes nas proteínas bacterianas em uma proporção muito próxima da ideal para a produção de leite. Portanto, o processo de conversão da proteína da dieta em proteína bacteriana é normalmente benéfica para o animal. A única excessão acontece quando uma proteína de alta qualidade é fornecida para o animal, porém, devido a uma possível falta de energia fermentável, a amônia produzida no rúmen não pode ser utilizada.

PROTEÍNA NAS FEZES

Cerca de 80% das proteínas que chegam no intestino delgado são digeridas, mas o restante se transforma em fezes. Outras importantes fontes de proteína nas fezes consistem de enzimas que foram secretadas no intestino durante a digestão e também pela rápida reposição das células da parede intestinal (proteína metabólica das fezes). Em média, para cada 1 kg de matéria seca ingerida pela vaca, cerca de 33 g de proteínas corporais são perdidas pelo intestino e são secretadas pelas fezes. As fezes de ruminantes são ótimos fertilizantes pois são ricos em matéria orgânica e em partículas ricas em nitrogênio (2.2 - 2.6% de nitrogênio ou o equivalente à 14 - 16% de proteína bruta) comparado com as fezes de animais não ruminantes.

Page 25: Nutrição Essências em gado de leite

METABOLISMO HEPÁTICO E O CICLO DA URÉIA

Quando acontece uma falta de energia fermentável, ou quando a porcentagem de proteína bruta da dieta é excessiva ou altamente degradável, nem toda a amônia produzida no rúmen é convertida em proteína microbiana. Esta amônia que está em altas concentrações no rúmen atravessa a parede ruminal e é transportada para o fígado. O fígado converte a amônia em uréia, a qual vai para a corrente sanguínea. A uréia no sangue pode seguir as seguintes vias:

1. Ela pode retornar ao rúmen pela saliva ou mesmo pela parede ruminal. 2. Pode ser excretada na urina pelos rins.

Quando a uréia retorna ao rúmen, ela é convertida em amônia e serve como fonte de nitrogênio para a flora ruminal. Obviamente, a uréia que vai para a urina é perdida. Em dietas com baixos níveis de proteína bruta, a maioria da uréia é reciclada e muito pouco se perde na urina. Contudo, com o aumento progressivo de proteína na dieta, menos uréia será reciclada e uma maior quantidade de uréia será excretada na urina.

A SÍNTESE DAS PROTEÍNAS DO LEITE

Durante a lactação, a glândula mamária necessita de grande quantidade de aminoácidos para a síntese do leite. O metabolismo de aminoácidos na glândula mamária é extremamente complexo. Os aminoácidos podem ser convertidos em outros aminoácidos, ou podem ser oxidados para a síntese de energia. A maioria dos aminoácidos absorvidos pela glândula mamária são usados na síntese das proteínas do leite. Cada kg de leite contém cerca de 30 g de proteína; contudo, existe uma grande variação entre animais e também entre raças. Cerca de 90% das proteínas do leite é caseína. Existem vários tipos de caseínas (Tabela 2) e elas contribuem para o alto valor nutritivo de muitos produtos derivados do leite. As proteínas do soro também são sintetizadas a partir de aminoácidos na glândula mamária. A enzima a -Lactoalbumina é essencial na síntese de lactose e a b- lactoglobulina é importante na formação do coalho durante a produção do queijo. Algumas proteínas do leite (imunoglobulinas) têm um importante papel na resistência do bezerro recém nascido à doenças. As imunoglobulinas, que se encontram em alta concentração no colostro, são absorvidas diretamente do sangue e deste modo, elas não são sintetizadas na glândula mamária.

O leite contém muito pouco nitrogênio não proteico (ex: uréia: 0.08 g/kg).

FONTES DE NIOTROGÊNIO PROTEICO E NÃO PROTEICO NAS DIETAS DE VACAS DE LEITE

Page 26: Nutrição Essências em gado de leite

Tabela 2: Principais proteínas encontradas no leite normal das vacas

Proteína Concentração (g/kg)

Caseínas

Alpha-caseína 14.0

Beta-caseína 6.2

Kappa-caseína 3.7

Gamma-caseína 1.2

Proteínas do soro

Imunoglobulinas1 0.6

alpha-Lactalbumina 0.7

beta-Lactalbumina 0.3

1Podem aumentar dramaticamente durante a mastite

As recomendações das concentrações de proteína bruta em dietas para vacas de leite variam de 12% (para uma vaca seca) a 18% (para uma vaca em início de lactação). Uma dieta com 16% de proteína é recomendada para animais produzindo de 20 a 25 kg de leite por dia, sendo que a maioria das forragens e concentrados são boas fontes de proteína. Contudo, com o aumento da produção de leite, a síntese de proteínas pelas bactérias do rúmen se torna insuficiente, e fontes de proteína resistentes à degradação ruminal podem ser necessárias para suprir as necessidades de aminoácidos de animais de alta produção. Alguns tipos de fontes proteicas resistentes à degradação ruminal incluem resíduos de cervejaria e proteínas de origem animal (sub-produtos de matadouros, farinha de peixe e farinha de pena).

Contudo, fontes de nitrogênio não proteica podem ser utilizadas, especialmente quando a ração têm menos de 12 a 13% de proteína bruta. A uréia, provavelmente, é a fonte mais popular de nitrogênio nas dietas para gado leiteiro. Porém, ela deve ser utilizada com cuidado, pois o excesso de uréia pode levar a intoxicação do animal por amônia. Os alimentos com alta energia, baixa proteína e baixos níveis de nitrogênio não proteico em sua constituição são boas fontes alimentares a serem usadas na suplementação animal em associação com a uréia. Alguns exemplos destes alimentos são os grãos de cereais, o melaço, a polpa de beterraba, feno de gramíneas maduras e silagem de milho. A uréia não deve ser usada em associação com fontes alimentares com rápida degradação proteica. Alguns exemplos são a farinha de soja, farinha de canola, forragens de leguminosas e gramíneas jovens. Além disso, a suplementação com uréia não deve exceder 150 a 200 g/vaca/dia, e deve ser misturada com outros alimentos para aumentar sua palatabilidade. A uréia deve ser adicionada progressivamente aos animais, para que eles se adaptem ao aumento de nitrogênio não proteico na dieta.

Page 27: Nutrição Essências em gado de leite

Essências em gado de leite Capitulo 6

Nutrition e alimentação

6: Alimentos para bovinos de leite

 

Michel A. WattiauxUW Madison Department of Dairy Science

Tradução:Alexandre H. Souza

INTRODUÇÃO

Em geral, os alimentos são classificados e uma das seguintes categorias:

Forragens Concentrados (alimentos energéticos ou proteicos) Minerais e vitaminas

Esta classificação é um meio conveniênte de agrupar alimentos, contudo é um pouco arbitrária. A classificação dos alimentos não é tão importânte quanto o conhecimento da disponibilidade destes alimentos, o seu valor nutritivo, e os fatores que podem afetar sua utilização em uma ração.

FORRAGENS

Em geral, forragens são as partes vegetativas de uma planta que contém uma alta concentração de fibras (mais de 30% de fibra detergente neutra). Elas tem que ter um tamanho mínimo (pelo menos 2.5 cm) para a estimulação física do rúmen e correta função ruminal.

Normalmente, as forragens são cultivadas na própria fazenda. Ela pode ser servida em um sistema de pastejo ou em forma de silo ou feno. Dependendo do estágio de lactação das vacas, as forragens devem contribuir com cerca de 100% da matéria seca do alimeto (para vacas secas); ou com cerca de 35% da matéria seca (para vacas no início de lactação). As características das forragens são:

Volume: O tipo de volumoso pode limitar a capacidade de ingestão da vaca. A ingestão de energia e a produção de leite de uma vaca pode ser afetada pela alta quantidade de fibra em uma dieta. Contudo, alimentos com fibra são essenciais para a estimulação ruminal e para a manutenção da saúde do animal.

Page 28: Nutrição Essências em gado de leite

Alta fibra e baixa energia: As forragens podem conter de 30 a 90% de fibras (fibra detergente neutra). Em geral, a quantidade de fibra em uma forragem é inversamente proporcional à sua quantidade de energia.

Variação de proteína: Dependendo do seu estágio de maturação, os legumes podem conter de 15 a 23% de proteína bruta; gramíneas tipicamente contém de 8 a 18% de proteína bruta (dependendo da quantidade de nitrogênio na adubação), e resíduos de culturas têm somente 3 a 4% de proteína bruta (palha).

Em um ponto de vista nutricional, as forragens podem ser alimentos muito nutritivos (gramíneas novas, leguminosas no seu estágio vegetativo) ou mesmo alimentos pouco nutritivos (palhas).

Gramíneas e leguminosas

Uma forragem de alta qualidade pode fazer parte de dois terços da material seca de uma ração; e as vacas podem estar comendo de 2.5 a 3% do seu peso vivo em matéria seca vinda da forragem (por exemplo, uma vaca de 600 kg, pode comer de 15 a 18 kg de matéria seca vinda de uma boa forragem). As vacas normalmente comem mais leguminosas que gramíneas se ambas estiverem em um mesmo estágio de maturação. Contudo, forragens de boa qualidade oferecidas nas dietas balanceadas vão suprir a maioria das necessidades de proteína e energia necessárias para a produção de leite.

As condições climaticas e a qualidade do solo determinam o tipo de forragem cultivada em uma determinada região. Gramíneas e leguminosas são amplamente cultivadas em todo o mundo. As gramíneas precisam de fertilizantes nitrogenados e umidade para um desenvolvimento ideal. Contudo, as leguminosas são mais resistentes em climas mais áridos. Além disso, as leguminosas podem adicionar cerca de 200 kg de nitrogênio/ano/hectare no solo, pois estas plantas vivem em associação com bactérias que convertem nitrogênio do ar em nitrogênio para fertilização do solo.

O valor alimentar das forragens depende do estágio de crescimento da planta na ocasião da colheita ou do pastejo. As fases do crescimento de uma planta podem ser divididos da seguinte maneira:

Estágio vegetativo Estágio de Floração Estágio de formação de sementes

Normalmente, o valor alimentar de uma forragem é maior durante a fase vegetativa e menor durante o estágio de formação de sementes.

Com o aumento da maturidade da planta a concentração de proteína, energia, cálcio, fósforo, e de matéria seca degradável diminui; porém, a quantidade de fibras aumenta. A quantidade de lignina aumenta juntamente com o aumento da quantidade de fibra no alimento. A lignina não é digerível e torna indisponível os carboidratos que estão no interior das fibras. Como consequência, o valor energético das forragens diminui.

Portanto, quando as forragens são plantadas para a alimentação de bovinos, elas devem ser colhidas em estágios iniciais de desenvolvimento. O milho e o sorgo quando plantados para fins de ensilagem são excessão pois juntamente com a diminuição do

Page 29: Nutrição Essências em gado de leite

valor nutritivo das partes vegetativas da planta (caules e folhas) durante a formação das sementes, occorre um acúmulo de amido nos grãos.

A maxima produção de materia seca digestível de uma forragem é obtida:

Em estágios intermediários de maturidade para gramíneas Um pouco após o estado intermediário para leguminosas Antes da espiga estar completamente cheia de grãos para o milho e o sorgo

Depois que a planta já esta excessivamente madura não existem muitas opções de manejo para prevenir a perda do seu valor nutritivo. Cada dia de atraso depois do ótimo estágio de maturidade pode afetar a produção de leite dos animais que estão ingerindo a forragem. Contudo, várias estratégias podem ser utilizadas para manter a forragem com um bom valor nutritivo:

1. Desenvolver um esquema de pastejo que adeque o número de animais em pastejo com a taxa de crescimento das gramíneas.

2. Consócio de gramíneas e leguminosas com diferentes taxas de crescimento e maturidade.

3. Colheita das forragens em um estágio inicial de desenvolvimento e preserva-las em forma de silo ou feno.

4. Fornecimento de forragem de baixo valor nutritivo para vacas secas e vacas em final de lactação, e forragens de alto valor nutricional para vacas em início de lactação.

Resíduos de cultivo e outros alimentos de baixo valor nutricional

Os resíduos de cultivo são as partes das plantas que ficam no campo depois da colheita (ex: palhada de milho, aveia, bagaço de cana). Os resíduos de plantio podem ser utilizados para o pastejo, processados como alimento pré-secado, ou mesmo ensilados. Algumas características dos resíduos de plantio são:

Volumoso de baixo custo Alta porcentagem de fibra não digerível devido a alta concentração de lignina

nas fibras (tratamentos químicos podem ser utilizados para aumentar seu valor alimentar)

Pobre em proteína Proteínas e minerais precisam ser supplementados Precisam ser bem picados na ocasião da colheita ou alimentação Devem ser adicionados à dieta de animais com baixos requerimentos

nutricionais como por exemplo em vacas secas

CONCENTRADOS

A palavra "concentrado" é difícil de ser definida. Contudo, mas este termo pode ser descrito pelas suas características alimentares e pelos seus efeitos na função ruminal. Normalmente, os concentrados têm as seguintes características:

Eles têm baixa porcentagem de fibras e alta quantidade de energia.

Page 30: Nutrição Essências em gado de leite

Eles podem ter uma alta ou baixa quantidade de proteína. Os cereais contém <12% de proteína bruta, grãos de oleaginosas (soja, algodão, amendoim), classificados como alimentos proteicos, podem conter > 50% de proteína bruta.

Eles têm uma alta palatabilidade e normalmente são ingeridos rapidamente pelo animal. Ao contrário de volumosos, os concentrados são alimentos que normalmente têm um volume pequeno por unidade de peso (alta densidade).

Ao contrário de forragens, eles não estimulam a ruminação. Eles normalmente fermentam mais rapidamente que forragens no rúmen e,

deste modo, aumentam a acidez (redução do pH) ruminal, o que pode impedir a fermentação ruminal normal.

Se presentes em 60 to 70% do total da dieta, podem causar problemas na saúde do animal.

Vacas de leite de alto potencial genético para produção de leite também altos requerimentos de proteína e energia. Dado que vacas podem comer uma quantidade limitada de alimento por dia, uma alimentação somente baseada em forragens não consegue suprir os requerimentos de energia e proteína do animal. Normalmente, os concentrados são adicionados à dieta de vacas de leite para fornecer energia e proteína suplementar e, desta maneira, preencher os requerimentos nutricionais destes animais. Portanto, os concentrados são alimentos importantes que possibilitam a formulação de dietas que maximizam a produção de leite. Em geral, a quantidade máxima de concentrado que uma vaca deve receber por dia não deve ser maior que 12 a 14 kg.

Exemplos de concentrados

Grãos (cevada, milho, sorgo, arroz, trigo) são os típicos alimentos de alta energia para bovinos; contudo, estes grãos possuem pouca proteína. Grãos quebrados ou prensados são excelentes fontes de carboidratos rapidamente fermentáveis (amido), os quais aumentam a concentração de energia quando incluídos em uma dieta. Contudo, um excesso de grãos na dieta (mais de 10 a 12 kg/vaca/dia) reduz o tempo de mastigação, a função ruminal, e a porcentagem de gordura no leite diminui.

Os vários sub-produtos originados do processamento industrial de grãos têm valores nutritivos variados:

A Protenose é obtida pela moagem úmida do grão de milho. É uma excelente fonte de proteína (40 to 60%) e enrgia. Glúten de milho , outro sub-produto da produção de milho, contém menos proteína e mais fibra. Alguns de grãos (arroz, trigo) aumentam a fibra de uma dieta e contém 14 a 17% de proteína. O trigo é uma boa fonte de fósforo e ajuda a regular a função intestinal. A casca de alguns cereais (cevada, aveia, arroz) contém somente 3 a 4% de proteína, mas 85 a 90% de fibra não digerível.

Sub-produtos de cervejaria originados de grãos cereais são uma boa fonte de carboidratos de degradação lenta e proteínas (20 a 30%). O malte (parte germinativa da cevada) têm um gosto amargo e são normalmente misturados com outros alimentos.

Page 31: Nutrição Essências em gado de leite

Raizes e tubérculos (cenoura, beterraba, batata) são normalmente palatáveis, boa fonte de carboidratos rapidamente fermentáveis (energia), mas com pouca proteína (menos de 10%).

Sub-produtos da indústria açucareira (melaço, polpa de beterraba) normalmente possuem altas porcentagens de fibras gigestíveis (polpa de beterraba) ou açucares simples (melaço) que podem torna-los alimentos bastante palatáveis.

Algumas plantas possuem altas concentrações de gordura em suas sementes (oleaginosas) . Muitas delas crescem em regiões tropicais e sub-tropicais (soja, algodão), mas algumas crescem em regiões temperadas (linhaça, canola, e girassol). As sementes podem ser utilizadas como um alimento de alta concentração energética, mas elas normalmente contém fatores anti-nutricionais. Os farelos de grãos, produzidos depois da extração de óleo das sementes, contém de 30 a 50% de proteína e são utilizadas como fontes proteicas para bovinos leiteiros (ex: farelo de soja).

Sementes de leguminosas (ex: feijão) contém substâncias anti-nutricionais, mas depois de corretamente processadas, são boas fontes de energia e proteína.

Proteína de origem animal (farinha de carne, farinha de osso, farinha de pena, farinha de peixe) são produtos que resistem a fermentação ruminal, e podem ser boas fontes de cálcio e fósforo. Estes produtos devem ser manuseados adequadamente para se evitar riscos de infecções bacterianas. O soro de leite, um sub-produto de laticíneos, contém altas quantidades de açucar do leite (lactose) e algumas proteínas e minerais. Porém, estes nutriêntes podem estar muito diluídos se o soro não estiver desidratado.

MINERAIS E VITAMINAS

Minerais e vitaminas são muito importantes na nutrição de um animal. Por exemplo, a febre do leite que normalmente acontece no início da lactação é causado devido a um desbalânço no metabolismo de cácio. O fósforo é necessário para a alta fertilidade de um rebanho. Deficiências nutricionais podem acaretar em grandes prejuízos financeiros. Em vacas de leite em lactação, os macro minerais mais importantes são o cloreto de sódio (NaCl), o cálcio (Ca), o fósforo (P), em algumas vezes o potássio (K), o magnésio (Mg) e o enxofre (S). Além disso, a maioria dos microminerais (ex: iodo, selênio) são necessários para a maximização da produção e reprodução. As pequenas quantidades de microminerais normalmente necessárias nas rações para vacas de leite são normalmente incluídas no "pre-mix" de concentrados ou em sais fortificantes.

Todos os alimentos, com exceção da uréia e da gordura, contém quantidades limitadas de minerais. Os legumes possuem mais cálcio que as gramíneas; portanto, as dietas baseadas em leguminosas necessitam de menos cálcio suplementar. O melaço é rico em cálcio e a farinha de osso é uma boa fonte de cálcio e fósforo. O sal (cloreto de sódio) é um suplemento mineral que pode ser oferecido a vontade para as vacas. Uma mistura mineral contendo cálcio, fósforo, ou ambos (ex: fosfato dicalcico) pode ser necessário dependendo dos componentes da dieta. As forragens verdes normalmente contém baixos níveis de fósforo quando comparado com a necessidade das vacas. A silagem de milho contém baixos níveis de cálcio e fósforo e ambos minerais devem ser suplementados ao se utilizar silagem de milho na dieta. A quantidade de mistura mineral necessária nas dietas normalmente é de 0 a 150 g/vaca/dia.

Page 32: Nutrição Essências em gado de leite

As vitaminas A, D e E são muito importantes. A suplementação com vitamina A é importante em regiões com invernos longos ou em locais de seca prolongada. Os micróbios do rúmen sintetizam vitaminas do complexo B, a vitamina C, e a vitamina K. Portanto, estas vitaminas normalmente não são necessárias nas dietas.

Essências em gado de leite Capitulo 7

Nutrition e alimentação

7: Guia de alimentos concentrados

 

Michel A. WattiauxUW Madison Department of Dairy Science

Tradução:Alexandre H. Souza

A DIETA BALANCEADA

De um ponto de vista prático, para o correto balanceamento das dietas as três perguntas a seguir devem ser respondidas.

1. Quais são as quantidades de forragem e concentrado que devem ser oferecidas para que o suprimento de energia para a vaca seja adequado? As forragens são normalmente oferecidas sem restrições, e a quantidade de concentrado necessário na dieta depende de diferentes fatores (veja Tabela 1):

o Qualidade da forragem . A quantidade de energia presente em uma forragem madura é menor que a quantidade de energia presente em uma

Page 33: Nutrição Essências em gado de leite

forragem na sua fase vegetativa (imatura). Portanto, mais concentrado sera necessário em dietas que se baseiam em forragens maduras.

o Necessidade energética da vaca . A demanda energética da vaca aumenta com o aumento na produção de leite. A quantidade necessária de concentrado será maior para vacas de alta produção que para vacas de baixa produção.

Uma vaca seca deve ingerir uma dieta com 90 a 100% de forragem (0 a 10% de concentrado). Porém, uma vaca de alta produção no início da lactação vai precisar de uma dieta com 40 a 45% de forragem (55 a 60% de concentrado).

2. Qual deve ser a concentração proteica do concentrado para que esta possa fornecer a quantidade ideal de proteína na dieta? A quantidade de proteína bruta necessária no concentrado depende do tipo de forragem que esta sendo oferecida. Forragens com alta porcentagem de proteína bruta como é o caso das leguminosas, pode ser combinada com um concentrado com baixa proteína bruta. Contudo, uma gramínea com baixa proteína bruta precisa ser combinada com um concentrado com altas concentrações de proteína para que a dieta seja adequada (veja Tabela 2).

3. Que tipo de suplemento mineral deve ser usado e quanto deve ser oferecido? O sal (NaCl) e o fosfato de cálcio podem ser oferecidos ad libitum . Contudo, é mais indicado ajustar o tipo e a quantidade de mineral na dieta com as necessidades do animal. A quantidade de mineral que deve ser suplementado na dieta depende dos seguintes fatores:

o Tipo de forragem da dieta . As leguminosas são ricas em cálcio e, deste modo, dietas baseadas em leguminosas precisam de menos suplementação com cálcio se comparado com dietas baseadas em gramíneas.

o A quantidade de concentrado na dieta . Normalmente, os concentrados têm baixas concentrações de minerais. Portanto, maior será a necessidade de suplementação mineral com o aumento da quantidade de concentrado na dieta.

o As necessidades minerais da vaca . Para a manutenção, uma vaca precisa de 30 a 50 g de cálcio e de 10 a 30 g fósforo por dia. Cada kg de leite são necessários cerca de 3 g de cálcio e 2 g de fósforo.

Quando uma dieta é baseada em forragens de alta ou média qualidades, uma certa quantidade de fósforo (0 a 150 g/vaca/dia) pode ser necessária. Contudo, em dietas com forragens de baixa qualidade ou com o uso da silagem de milho, o cálcio e o fósforo serão necessários na suplementação (50 to 200 g/vaca/dia).

Dependendo da composição de minerais traços e da mistura vitamínica disponível, a quantidade de suplementação pode variar de 10 a 25 g/vaca/dia.

Page 34: Nutrição Essências em gado de leite

Tabela 1: Suplementação mineral para várias categorias de produção leiteira para vacas alimentadas com forragens de baixa, média ou alta qualidade1

Produção de leiteQualidade da forragem:

 

Vaca de 600 kg

 

Vaca de 500 kg

Gordura no leite (%)

Gordura no leite (%)

Baixa2 Média3 Alta4 3.0 3.5 4.0 4.0 4.5 5.0 5.5

-- 4 13 -- -- -- -- -- -- --

-- 6 15 -- -- -- 0.5 0.7 0.8 1.0

-- 8 17 0.2 0.5 0.7 1.3 1.6 1.8 2.0

2 10 19 1.0 1.2 1.5 2.2 2.5 2.7 3.0

4 12 21 1.7 2.0 2.4 3.0 3.4 3.7 4.0

6 14 23 2.4 2.8 3.2 3.9 4.3 4.6 5.0

8 16 25 3.2 3.6 4.0 4.7 5.1 5.6 6.0

10 18 27 3.9 4.4 4.9 5.6 6.0 6.5 7.0

12 20 29 4.6 5.2 5.7 6.4 6.9 7.5 8.0

14 22 31 5.4 6.0 6.6 7.2 7.8 8.4 9.0

16 24 33 6.1 6.8 7.4 8.1 8.7 9.4 10.1

18 26 35 6.8 7.5 8.3 8.9 9.6 10.3 11.1

20 28 37 7.6 8.3 9.1 9.8 10.5 11.3 12.15

22 30 39 8.3 9.1 9.9 10.6 11.4 12.2 13.1

24 32 41 9.0 9.9 10.8 11.4 12.3 13.2 14.1

26 34 43 9.8 10.7 11.6 12.3 13.2 14.1 15.1

28 36 45 10.5 11.5 12.5 13.1 14.1 15.1 16.1

30 38 47 11.2 12.3 13.3 14.0 15.0 16.0 17.1

32 40 49 11.9 13.0 14.1 14.8 15.9 17.0 --

1 Foi assumida uma concentração energética no concentrado de 1.75 Mcal NE l /kg de

Page 35: Nutrição Essências em gado de leite

matéria seca (MS). A quantidade de energia na mistura de concentrados pode ser de apenas 1.5 Mcal NE l /kg MS se este conter quantidades significativas de alimentos com baixa energia como por exemplo o bagaço de cana. Neste caso, a proporção de concentrado na dieta deve ser aumentada em 15%. Contudo, a quantidade de energia no concentrado pode ser alta e de 1.9 Mcal NE l /kg MS quando esta incluir apenas alimentos com alta energia como grão de cereais e milho. Neste caso, a oferta de concentrado pode ser diminuída em 8%.

2 Baixa: vacas ingerindo 1.5% do seu peso corporal (ex: 9 kg MS para uma vaca de 600 kg) de uma forragem de qualidade baixa (ex: palha) contendo 0.9 Mcal NE l /kg MS.

3 Média: Vacas ingerindo 2.0% do seu peso corporal (ex: 12 kg de MS de forragem para uma vaca de 600 kg) de uma forragem de média qualidade (ex: gramínea em estado médio de maturação) contendo 1.2 Mcal NE l /kg MS.

4 Alta: Vacas ingerindo 2.5% do seu peso corporal (ex: 15 kg de MS de forragem para uma vaca de 600 kg) de uma forragem de alta qualidade (ex: leguminosas em estágios iniciais de maturidade) contendo 1.45 Mcal NE l /kg MS.

5 Um maior cuidado deve ser tomado ao se fornecer as quantidades de concentrado na área sombreada pelos possíveis problemas de saúde como indigestão, acidose ruminal, diminuição da porcentagem de gordura no leite, etc.

QUANTIDADE DE CONCENTRADO QUE DEVE SER OFERECIDA

A Tabela 1 mostra um resumo das quantidades de concentrado que devem ser oferecidas para vacas de leite. Os concentrados são alimentos que suplementam a energia e a proteína em uma dieta baseada em pastejo, feno ou silagem. Normalmente mais de um tipo de ingrediente concentrado é necessário da dieta. Os concentrados podem ser oferecidos separadamente ou misturados com as forragens.

Como indicado acima, a quantidade de concentrado necessária para cada vaca em particular depende da produção de leite e da qualidade da forragem. A Tabela 1 indica a quantidade de alimento a ser oferecida de acordo com a produção de leite e do tipo de forragem que esta sendo oferecida. Os cálculos assumem que não há restrição na quantidade de forragem que esta sendo oferecida.

Para utilizar a Tabela 1, primeiro estime qual das três colunas com o título "produção de leite quando a forragem é" (primeiras três colunas no lado esquerdo da tabela) e identifique a qualidade da forragem oferecida. Identifique nesta coluna a quantidade de leite produzida pela vaca. Em seguida, identifique na linha horizontal dos números da tabela até que você encontre o peso corporal e a porcentagem de gordura mais adequados. O número encontrado representa a quantidade de concentrado que deve ser oferecida diariamente. Por exemplo, uma vaca com 600 kg, que se aliemta de uma forragem de alta qualidade e produz 23 kg de leite com 4% de gordura deve receber 3.2 kg de concentrado por dia. A Tabela 1 também indica se a forragem muda de alta para média qualidade e a quantidade de concentrado permanece a mesma. Neste caso, a

Page 36: Nutrição Essências em gado de leite

produção de leite diminuiria para 14 kg/dia. Contudo, uma produção de leite de 23 kg/dia, pode ser obtida com uma forragem de média qualidade se a quantidade de concentrado é aumentada de 3.2 kg para 7.0 kg por dia.

INGREDIENTES E PORCENTAGENS DE PROTEÍNA NAS MISTURAS DE CONCENTRADOS

Saber a quantidade de concentrado que deve ser fornecida é muito importante.

Contudo, determinar a porcentagem de proteína bruta na mistura de concentrado pode ser ainda mais importante. A Tabela 2 mostra as porcentagens desejadas de proteína na mistura de concentrados para vacas que são alimentadas com diferentes tipos de forragens. Na parte superior da Tabela 2 podemos encontrar exemplos de diferentes categorias de concentrado dependendo da concentração de proteína bruta1.

Tabela 2. Exemplos de misturas de concentrados com níveis adequados de proteína bruta, fornecida aos animais em combinação com diferentes forragens.

 

Quando a forragem é uma leguminosa em estágios iniciais de maturidade, ou uma gramínea bem fertilizada em estágios iniciais de maturidade, ou uma mistura dos dois, a proteína bruta na mistura de concentrados pode ser de 12 a 14%. Contudo, a taxa de proteína bruta na palnata diminui com o aumento da maturidade da planta, deste modo, a porcentagem de proteína bruta do concentrado precisa ser aumentada para 15 a 18%. Finalmente, para dietas que se baseiam em forragens de baixa qualidade, a proteína

Page 37: Nutrição Essências em gado de leite

bruta da mistura de concentrados deve ser de 18 a 23%. Na parte inferior da Tabela 2 podemos encontrar alguns exemplos das quantidades de ingredientes necessários para se obter 1.000 kg da mistura de concentrados com a concentração desejada de proteína bruta. Por exemplo, uma mistura de concentrados com 14% de proteína bruta pode ser preparada misturando-se 600, 200 e 200 kg de concentrado com baixa categoria, médio-baixa categoria, e médio-alta categoria, respectivamente (Tabela 2).

1Para mais informações sobre concentrados consulte o seguinte guia técnico do Instituto Babcock: " Nutrição e Alimentação ".

Essencias em gado de leite Capitulo 8

Reprodução e melhoramento genético

8: A função reprodutiva da vaca leiteira

 

Michel A. WattiauxUW Madison Department of Dairy Science

Tradução:Alexandre H. Souza

O TRATO REPRODUTIVO DA VACA

O trato reprodutivo da vaca está localizado acima do reto-o último segmento do intestino grosso (Figura 1). A maioria das partes do trato reprodutivo podem ser examinadas indiretamente com o braço no interioir do reto (palpação retal):

A cérvix pode ser manipulada durante a inseminação artificial Os folículos e o corpo lúteo podem ser identificado nos ovários A presença de um embrião em crescimento no útero pode ser detectada

O útero, o oviduto e os ovários estão suspendidos na cavidade corporal por um ligamento grande. A posição deste ligamento permite que o útero acomode um feto em crescimento.

Vagina

A vagina é um tubo achatado, com aproximadamente 30 cm de comprimento. É o sítio de deposição do sêmen durante a monta natural. A vagina funciona como um canal de passagem para os instrumentos usados na inseminação artificial e para a saída do bezerro.

Cérvix

Page 38: Nutrição Essências em gado de leite

A cérvix é um forte músculo de aproximadamente 10 cm de comprimento e de 2.5 a 5 cm de diâmetro. No centro da cérvix existe um estreito canal (Figura 1). Este canal geralmente se encontra fechado (e selado durante a prenhez) exceto durante o cio e na ocasião do parto. A cérvix é muito eficiênte e funciona como uma "barreira" que previne a entrada no útero de qualquer material estranho e, deste modo, isola o útero do ambiênte exterior.

Útero

O útero faz parte do trato reprodutivo onde se localiza o bezerro em crescimento. Em uma vaca vazia, o corpo do útero têm menos de 5 centímetros de comprimento, e têm dois cornos (esquerdo e direito) que se curvam como os chifres de um carneiro (Figura 1). O útero é um orgão muscular com capacidade de se expandir enormemente para acomodar o bezerro em crescimento. No final da gestação, o útero contêm um bezerro de 35 a 40 kg, 20 a 30 kg de líquidos, e 5 kg de tecido placentário. Depois do parto, o útero e outras partes adjacentes levam cerca de 40 dias para voltar ao seu tamanho normal (este processo é chamado de involução).

 

Figura 1: Trato reprodutivo da vaca.

Oviduto

Os ovidutos são dois tubos (um para cada ovário) que ligam os ovários ao útero; eles têm mais de 20 cm de comprimento e somente 0.6 cm de diâmetro. A porção final de cada oviduto se abre numa estrutura em forma de funil (infundíbulo); esta estrutura captura o óvulo que é ejetado do ovário durante a ovulação. A fertilização, ou a união do óvulo com o espermatozóide, ocorre no oviduto. O embrião fica no oviduto por 3 a 4 dias antes de cair no útero. Este período de tempo é necessário, pois o útero precisa se preparar para receber o embrião em desenvolvimento.

Ovário

Page 39: Nutrição Essências em gado de leite

I Em uma vaca vazia, os ovários são de formato oval (no formato de um ovo), com cerca de 4 a 6 cm de comprimento e 2 a 4 cm de diâmetro. As principais funções do ovário são:

Produzir um ovo maduro ou óvulo a cada 21 dias quando a vaca esta ciclando normalmente

Secretar hormônios que: o Controlam o crescimento do ovo dentro do ovárioo Mudam o comportamento da vaca durante o cioo Preparam o trato reprodutivo para uma possível prenhez

Duas estruturas predominam na superfície do ovário: o folículo que contêm o óvulo em desenvolvimento, ou o corpo lúteo (corpo amarelo) que se desenvolve a partir do que resta do folículo após a ejeção do óvulo (ovulação).

Ovo ou óvulo

Ao contrário de todas as outras células do corpo, cada ovo contêm apenas uma cópia da informação genética que existe nos cromossomos das outras células. Os ovos são encontrados nos ovários antes do nascimento, mas a maturação destes ovos começa com a maturidade sexual durante a puberdade (12 a 14 meses de idade) e o início dos ciclos estrais.

O ESTRO OU CIO

O intervalo entre dois cios têm em média 21 dias (Figura 2). O cio, ou estro, dura de 6 a 30 horas e é marcado por um período de receptividade sexual (dia 1 do ciclo estral).

Fase folicular

No final do ciclo estral, o óvulo atinge a maturidade, e está coberto por uma série de camadas celulares e nos seus arredores existem substâncias nutritivas. Esta estrutura é chamada de folículo, o qual secreta estrógeno, um hormônio que muda o comportamento de uma vaca durante o cio. Somente durante o cio a vaca permite ser montada por um touro ou por outras vacas. Durante o cio, o ovo e o folículo atingem os estágios finais de maturação.

Na ovulação (12 horas depois do fim do cio), o folículo "explode", o ovo é ejetado para o oviduto e as células remanescentes no ovário começam a formar uma nova estrutura chamada de corpo lúteo (CL). O corpo lúteo secreta um hormônio chamado progesterona que previne o completo crescimento do folículo e é necessário para a manutenção da prenhez.

Page 40: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 2: O ciclo estral.

Fase luteal ou do corpo lúteo

O desenvolvimento completo do corpo lúteo demora cerca de 3 dias (dias 2 a 5 do ciclo). Alguns folículos começam a crescer no dia 1 do ciclo, a progesterona secretada pelo corpo lúteo não permite a sua maturação e eles degeneram. No dia 16 a 18 do ciclo, se o útero não identificou a presença de um embrião, ele (o útero) vai mandar um sinal (hormônio prostaglandina) que regride do corpo lúteo. Desta maneira, o fator inibitório para as fases finais do crescimento folicular desaparece, permitindo que o folículo de mature por completo. Isto leva a um novo cio e ao início de um novo ciclo.

No caso de uma prenhez, o útero e o embrião produzem hormônios que ajudam na manutenção do corpo lúteo durante toda a prenhez.

O TRATO REPRODUTIVO DO TOURO

Os testículos do touro produzem as células sexuais masculinas ou espermatozóides que, como o óvulo, contém somente uma cópia do material genético necessário para constituir um indivíduo. Os orgãos sexuais masculinos (Figura 3) iniciam a produção de hormônios antes do parto; porém, a produção de espermatozóides se inicia somente na puberdade (7 a 12 meses de idade).

Escroto

Page 41: Nutrição Essências em gado de leite

O escroto é um saco localizado do lado exterior da cavidade abdominal que contêm os testículos. O escroto pode controlar a distância entre o testículo e o corpo e, deste modo, regular a temperatura dos testículos. Isto ocorre pois para a ideal produção espermática temperaturas de 2 a 4 ° C são necessárias. Estas temperaturas são menores que a temperatura normal do corpo.

Alguns touros possuem somente um testículo no escroto. Este testículo descendente terá uma função normal, mas o testículo que ficou dentro da cavidade abdominal não. Esta condição é hereditária e estes touros não devem ser usados e, desta maneira, a propagação deste defeito será evitada.

Testículo

Os testículos tem duas funções principais:

Produzir espermatozóides viáveis e férteis Produzir hormônios masculinos

Cada testículo esta revestido em seu compartimento, sendo cada compartimento completamente independente um do outro. Os testículos são principalmente feitos de pequenos túbulos (túbulos seminíferos) local onde a produção de espermatozóides acontece. Algumas células especializadas (chamadas de células de Leydig ou células intersticiais) estão dispersas no tecido testicular e produzem testosterona, o hormônio masculino predominante. Este hormônio é importante para:

Formação normal do espermatozóide Determina a vontade sexual do touro (libído) Manter a função normal dos órgãos sexuais secundários (prostata, vesícula

seminal e glândula de Cowper-Figura 3)

Na ocasião do acasalamento, antes do sêmen ter sido ejaculado, os espermatozóides são misturados com secreções ricas em substâncias nutritivas produzidas nos órgãos sexuais secundários.

A FORMAÇÃO DO ESPERMATOZÓIDE

A formação do espermatozóide leva cerca de 64 a 74 dias e a passagem do espermatozóide através do epidídimo (local de acúmulo e maturação final do espermatozóide) leva cerca de 14 a 18 dias. Portanto, os sintomas de infertilidade de um touro podem acontecer de 2.5 a 3 meses após o processo de má formação espermática ter ocorrido. Em geral, a formação espermática aumenta com o peso e diâmetro do testículo. Portanto touros maiores e mais velhos (que provavelmente tem maiores testículos) normalmente produzem mais esperma que touros menores e mais jovens. A secreção das glândulas acessórias contribuem, em média, em até 80% do volume total do ejaculado. Um touro jovem produz somente 1 ou 2 ml de sêmen por ejaculação, porém, um touro maduro pode produzir de 10 a 15 ml de sêmen por ejaculação. Em geral, quando um touro ejacula pela segunda, ou mesmo pela terceira vez em sequência, o volume do ejaculado não diminui, mas a concentração espermática tende a diminuir.

Page 42: Nutrição Essências em gado de leite

Ejaculações frequentes normalmente não afetam a fertilidade de um touro adulto, mas um touro jovem deve ser utilizado com mais cautela.

Figura 3: O trato reprodutivo do touro.

Essencias em gado de leite Capitulo 9

Reprodução e melhoramento genético

9: Detecção de cio, monta natural e inseminação artificial Michel A. Wattiaux

UW Madison Department of Dairy Science

Tradução:Alexandre H. Souza

INTRODUÇÂO

Eficiência reprodutiva é um dos principais aspectos na lucratividade de um rebanho. Alguns exemplos de perdas econômicas devido a um mal manejo reprodutivo são:

A produção de leite da vaca é diminuída pois durante sua vida produtiva ela terá um menor número de picos de lactação e o período seco tende a se extender.

O número de bezerros nascidos por ano diminui, o que dificulta o descarte de vacas com baixa produção de leite, diminuindo o possível ganho genético do rebanho.

O custo direto do tratamento das doenças reprodutivas, inseminações e custos com o veterinário são aumentadas.

DETECÇÃO DE CIO

Page 43: Nutrição Essências em gado de leite

Para a maximização da sua vida produtiva, toda vaca precisa ser inseminada dentro de 80 a 90 dias depois do parto. Dessa maneira a vaca poderá produzir um novo bezerro a cada 12,5 a 12,8 meses. Longos intervalos entre partos têm um efeito negativo na vida produtiva do animal.

Independentêmente do uso de inseminação artificial ou monta natural, a detecção de cio é um fator crítico de um bom manejo reprodutivo numa fazenda. Em ambos os casos, anotoções sobre datas de cio e inseminações são necessárias para predizer as futuras datas de retorno ao cio e datas do parto, para um melhor manejo dos animais.

O que é o cio?

Cio é o período no qual a vaca aceita monta (receptividade sexual) que normalmente ocorre em novilhas depois da puberdade que não estejam prenhez, e em vacas não prenhez. Este período de receptividade pode durar de 6 a 30 horas e acontece, em média, em intervalos de 21 dias. Porém, este intervalo entre dois cios pode variar normalmente de 18 a 24 dias.

Sinais do cio

A observação de cio é um trabalho difícil e necessita experiência. A maioria das vacas têm um padrão de comportamento que se modifica gradualmente desde o começo até o fim do cio. O melhor indicador de que a vaca esta no cio é ela fica parada e aceita ser montada por outras companheiras de rebanho ou pelo touro (Figura 1). Uma série de sinais indicativos de que o cio esta próximo e o animal deve ser observado mais cuidadosamente esta resumido na Tabela 1.

Variação circadiana do cio

O inicio da atividade do cio segue um padrão distinto, sendo que a maioria destas atividades ocorre durante a noite, madrugada ou começo da manhã. Algumas pesquisas mostram que mais de 70% da atividade de monta ocorre entre 19:00 e 07:00 horas (Figura 2). Para se detectar mais de 90% dos cios em um rebanho, as vacas devem ser observadas cuidadosamente durante as primeiras horas da manhã, ao entardecer, e em intervalos de 4 a 5 horas durante o dia.

Outros fatores influenciando a expressão de cio

A expressão e a detecção do cio variam dependendo de vários fatores. Por exemplo, o tipo de abrigo (baracão, free stall, pasto, espaço para caminhar ao redor das cercas, etc.) pode determinar as chances dos animais mostrarem cio e do produtor detectar as vacas em cio. Em rebanhos maiores, mais de uma vaca pode mostrar cio ao mesmo têmpo. Quando isto acontece, as chances de detectar as vacas em cio aumenta dramaticamente, pois as atividades de monta também aumentam consideravelmente. Por exemplo, duas vacas em cio ao mesmo tempo (grupo sexualmente ativo) desencadeia o triplo de atividade de monta. Todavia, fatores como alta temperatura e humidade, vento, chuva, neve, falta de espaço e condições de solo escorregadio ou problemas de casco, tendem a diminuir a expressão do cio.

Page 44: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 1: Uma vaca esta em cio quando ela fica em pé e parada quando esta sendo montada por outra vaca ou touro. A vaca que monta a outra vaca pode ou não estar em cio.

Tabela 1: Sinais de cio em vacas de leite

Cio verdadeiro

Fica parada quando montada.

Mostra sinais associados com o iniciao e fim do cio.

Começo e fim do cio

Comportamento similar do touro. Mostra sinais de nervosismo. Se aproxima subitamente; a posição cabeça-contra-cabeça pode ser vista

frequentêmente. Se encosta em outras vacas. Cheira a vagina e a urina de outras vacas; as vezes seguido do reflexo de

Fleming (entortar o nariz). Movimento de persseguição; alguns animais tentam colocar o queixo na garupa

das outras vacas; que pode ou não ser seguido por uma atividade de monta.

Vagina hiperêmica (rosada) e entumescida; descargas de muco transparente pela vulva.

Outros sinais

Diminuição de ingestão de comida e produção de leite. Animal sujo (esterco na garupa).

Queda de pêlos na altura da inserção

 

Ausência de cio

Page 45: Nutrição Essências em gado de leite

O cio pode não estar sendo detectado devido as seguintes razões:

A vaca esta prenha. A vaca esta em anestro no pós parto. A vaca esta em anestro devido a desnutrição, infecção severa do trato

reprodutivo, ou outros tipos de complicações do pós parto. A vaca têm cistos ovarianos. Simples falha na detecção de cio.

 

Figura 2: Mais frequentêmente as vacas mostram sinais de cio durante a noite.

INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

A inseminação artificial é uma técnica na qual o sêmen é introduzido artificialmente dentro do corpo uterino na ocasião do cio, visando uma futura prenhez.

As maiores vantagens da inseminação artificial são:

Viabilização do uso de touros provados de melhor valor genético para transmissão de caracteristicas desejadas em um determinado rebanho.

Elimina os custos e o perigo envolvidos na manutenção de um touro na fazenda. Diminui o risco de transmissão de doenças transmitidas sexualmente

transmissíveis e de defeitos genéticos (ex: casco de burro). Têm um benefício que se acumula ao passar dos anos.

Com a adoção da inseminação artificial, um sistêma eficaz de identificação das vacas e das datas dos cios e inseminações deve ser implantado. A manutenção acurada

Page 46: Nutrição Essências em gado de leite

dos dados têm um papel chave no desenvolvimento de um bom manejo reprodutivo na fazenda. Estes dados também podem ser utilizados por associações de produtores para a criação de uma importante base de dados.

MONTA NATURAL

O uso de touros para a monta natural ainda é muito comum, mesmo em regiões onde a inseminação artificial esta dando bons resultados. Muitos fazendeiros acreditam que as taxas de prenhez são maiores com o uso de touros comparado à inseminação artificial. Porém, quando a detecção de cio é eficaz e a inseminação artificial é feita corretamente, esta difereça não existe.

O uso continuado de monta natural pode ser visto como um paradoxo devido as vantagens genéticas do uso da inseminação artificial. Todavia, em algumas situações o uso de monta natural pode ser indicado:

Quando os empregados da fazenda não estão dispostos ou mal treinados para realizar a detecção do cio e a inseminação artificial, o que pode levar a baixas taxas de prenhez.

Quando o ganho genético de longo termo não é importante. Quando as condições locais não fornecem a infraestrutura necessária para a

implementação da inseminação artificial (acesso a sêmen, nitrogênio líquido e tanque para estoque de sêmen e nitrogênio, telefone, etc.).

Os fazendeiros com que mantém touros na propriedade nunca podem se esquecer de que existêm relatos de casos fatais após um ataque de um touro. Isto representa um risco real (especialmente quando se acredita que o touro é manso) e precisa ser manejado com firmesa (sem insegurança) , porém com extrema cautela. Além disso, os touros podem espalhar doenças sexualmente transmissíveis (campilobacteriose e tricomoníase). Vacas infectadas poder se tornar inférteis por até quatro meses; ou, se as vacas conceberem, uma morte embrionária (uma forma de aborto) pode acontecer.

TEMPO IDEAL PARA INSEMINAÇÃO

A inseminação artificial ou monta natural podem gerar uma prenhez somente se os espermatozóides estão "no local correto e na hora correta". Os oócitos é liberado dos ovários de 10 a 14 horas depois do fim do cio e podem sobreviver não fertilizados por 6 a 12 horas. Todavia, os espermatozóides podem viver até 24 horas no trato reprodutivo da vaca. Uma recomendação comum de manejo do melhor período para a inseminação é conhecida com regra da "manhã-e-tarde": vacas observadas em cio de manhã são inseminadas na mesma tarde, e vacas em cio durante a tarde são inseminadas na manhã seguinte.

No caso de monta natural, a vaca e o touro podem ser colocados juntos algumas horas depois que a vaca aceitou monta até quando ela não aceita mais ser montada (Figura 3).

Page 47: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 3: Tempo de inseminação ou monta natural para vacas em cio.

CAUSAS DE BAIXAS TAXAS DE CONCEPÇÃO

Mais de 90% das vacas de um rebanho deveriam receber menos de três serviços para emprenhar. Possíveis causas de baixas taxas de concepção (menos que 50%) podem ser causadas por:

1. Problemas relacionados a detecção de cio: o Falha na detecção de uma vaca em cioo Inseminar ou cobrir um animal que não esta em cioo Tempo incorreto do serviçoo Erros de identificação de um animal causando erros nos dados

2. Problemas relacionados a monta natural ou inseminação artificial: o Touro com baixa fertilidadeo Uso incorreto da técnica de inseminação artificial

3. Problemas com a vaca: o Infecção do trato reprodutivoo Desordem hormonalo Obstrução de ovidutoo Problemas anatômicos;o Morte embrionária precoce (a vaca emprenha, mas não consegue manter

a prenhez)4. Problemas relacionados a nutrição (veja: "Reprodução e nutrição").

Page 48: Nutrição Essências em gado de leite

Essencias em gado de leite Capitulo 10

Reprodução e melhoramento genético

10: Prenhez e PartoMichel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

 

Tradução:Alexandre H. Souza

PRENHEZ

Fertilização

Fertilização é a união do ovo com o espermatozóide dando origem à primeira célula do embrião. A fertilização acontece no oviduto. O embrião entra no útero 2 a 3 dias após a fertilização, mas não se adere na parede uterina (implantação) antes de 28 dias.

Implantação

A implantação consiste na formação de 80 a 100 estruturas, onde o tecido fetal (cotilédone) e o tecido materno (carúnculas) se aderem. Depois do parto, se as carúnculas e o tecido fetal falham em se separar, a placenta não pode ser expelida, causando a retenção da placenta. O processo de implantação também consiste na formação do cordão umbilical, permitindo a troca de nutrientes e escretas entre o tecido materno e fetal. A implantação geralmente se completa com 45 dias de prenhez.

Page 49: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 1: Feto de 4 meses envolvido em tecidos placentários.

 

 

Morte embrionária

Até a implantação estar completa, o risco de morte embrionária é alto. Estimativas mostram que 10% a 20% das prenhezes terminam devido à morte embrionária. Se a morte do embrião acontece dentro de 17 a 18 dias após a fertilização, a vaca retorna em cio dentro do tempo esperado e o produtor não pode perceber que aquele animal já esteve prenhe. Uma morte embrionária mais tardia resulta em um retorno tardio do cio. Neste caso, a vaca tem um ciclo "aparente" de 30 a 35 dias.

Page 50: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 2: Posição fetal antes do rompimento da bolsa d'agua pode atrasar a normal dilatação da cérvix.

Exame de prenhez

Alguns métodos para se detectar a prenhez incluem o não retorno do cio, palpação retal e níveis de progesterona no leite. Cada método têm suas vantagens e desvantagens.

Não retorno do cio

Uma vaca que não retorna em cio dentro de 21 dias após a inseminação pode estar prenhe. Porém, uma vaca pode não retornar em cio devido a cistos foliculares ou devido a simples falha na detectção do cio. Portanto, quando não se pode utilizar de outras técnicas para a detecção da prenhez, uma vaca é declarada prenhe se ela não foi detectada em cio nos últimos 60 dias (tempo de três ciclos estrais).

Palpação retal

Um veterinário pode usar o exame de palpação retal 40 a 60 dias depois da imseminação para detectar o feto no útero, outras estruturas relacionadas com a gestação, e a presença do corpo lúteo no ovário.

Progesterona no leite

Durante a prenhez, os cyclos estrais são interrompidos pela presença do corpo lúteo que continua produzindo progesterona durante toda a prenhez. A persistência da progesterona no leite 21 a 23 dias após a inseminaçã pode ser utilizada como uma ferramenta para o diagnóstico da prenhez.

Page 51: Nutrição Essências em gado de leite

Crescimento do feto

Most fetal growth occurs in the last trimester of pregnancy (Days 190 to 282), during which time the fetal weight increases from about four kg to about 45 kg. Normal fetal growth requires nutrients and this increases the cow's nutritional requirements, especially during the last two months of pregnancy.

Aborto

O aborto é a expulsão do feto não viável antes do tempo normal da prenhez. O aborto de um feto implantado ocorre em 3 a 5% das gestações. As maiores causas de aborto são:

Inseminação de uma vaca que já esta prenha Injúrias físicas (manejo incorreto do animal gestante) Ingestão de toxinas no alimento, alimento mofado, alimentos com altos níveis de

estradiol Infecções microbianas (doenças venérias e outras doenças)

Todo caso de aborto deve ser visto como uma situação potencialmente séria, sendo necessário descobrir a causa do problema. Bacterial (brucelose, leptospirose, listeriose e vibrioses, etc.), viral (BVD, IBR), protozoal (trichomoniase) ou infecções fúngicas podem causar abortos durante 4 aos 7 meses de gestação.

PARTO

O parto é definido como o nascimento do feto acompanhado pela expulsão da placenta. Na posição fetal normal, o feto se direciona na posição vertical (costas para cima) com as patas dianteiras direcionadas para a abertura uterina (a cérvix) e com a cabeça apoiada nas patas dianteiras (Figura 2). O posicionamento anormal ao nascimento ocorre em cerca de 1 a cada 20 partos (5% dos casos).

Sintomas do parto

Os sintomas do parto eminente são:

Aumento do úbre (com potencias problemas de edema); Relaxamento dos ligamentos pélvicos;

Descarga do tampão mucoso que veda a cérvix durante a prenhez.

Fases do parto

Page 52: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 3: Parto

Estágio 1: Dilatação da cérvix

Em geral, este estágio dura de 2 a 3 horas em vacas maduras e 4 a 6 horas em novilhas. Durante este estágio, a cérvix dilata devido a liberação de um hormônio (oxitocina) e pela pressão da "bolsa de água".

Estágio 2: Nascimento do bezerro

O segundo estágio é caracterizado pelo progresso do bezerro através do canal do parto seguido de sua expulsão. Neste estágio, o bezerro ainda pode estar encapsulado pela segunda bolsa (âmnio). Depois da cabeça ter passado pelo canal do parto, o resto do corpo demanda pouco esforço para ser espelido. Este estágio pode durar de 2 a 10 horas. Um erro comum é tentar puxar as patas do bezerro desnecessariamente ou muito antecipadamente.

Estágio 3: Expulsão da placenta

Durante o terceiro estágio, a placenta é espelida do útero. Após o nascimento do bezerro, as contrações uterinas continuam por algum tempo. Estas contrações ajudam a separar as duas partes do cotilédone (Figura 1). Normalmente, a placenta deve ser espelida dentro de 12 horas depois do parto.

MANEJO DO PARTO DISTÓCICO

Experiência e bom senso são necessários para decidir quando ajudar uma vaca que esta parindo. Depois de 1 ou 2 horas de intensas contrações, os pés dianteiros do bezerro devem estar aparecendo. Se a vaca se aparenta cansada, a assistência pode ser necessária. É muito importante lavar e desinfetar as mãos, braços, a vulvada vaca e todo o equipamento usado durante a assitência. A posição do bezerro deve ser checada primeiro e, caso seja necessário, devemos corrigi-la antes de tracionar o bezerro. A tração do bezerro deve ser feita quando a vaca se contrai.

Pós-parto

Um processo chamado involução uterina se inicia imediatamente depois do parto. O útero se encolhe e alguns tecidos devem ser renovados.

Page 53: Nutrição Essências em gado de leite

A primeira ovulação pós-parto pode acontecer dentro de 15 dias depois do nascimento do bezerro, porém esta ovulação geralmente não é acompanhada de comportamento de cio (cio silencioso), e os primeiros ciclos estrais podem ter uma menor duração. Porém, mais de 90% das vacas devem ter cido observadas em cio pelo menos uma vez até 60 dias pós-parto.

COMPLICAÇÕES DO PÓS-PARTO

Retenção de placenta

A retenção de placenta ocorre em cerca de 5 a 10% dos partos normais. A frequência de retenção de placenta aumenta em partos prematuros e distócicos, e também em casos de infecção bacteriana. A placenta NÃO deve ser removida manualmente devido ao risco de danificação de tecidos uterinos com possibilidades de infertilidade irreversível. Devemos objetivar evitar infecções uterinas e estimular contrações (o tratamento com estrógenos pode ser eficaz). A prevenção da retenção de placenta deve fazer parte do manejo reprodutivo da fazenda, pois ela esta sempre ligada a outros problemas do pós-parto. A prevenção inclui uma sanitização adequada durante o parto e uma nutrição adequanda durante o período seco.

Metrite

Metrite é uma inflamação do útero na maioria das vezes causada por uma invasão de microorganismos. A metrite pode frequentemente ser reconhecida por uma secreção purulenta escorrendo pela vagina. A dificuldade no parto e a retenção de placenta aumentam o risco de ocorrência da metrite. Exceto em casos de metrite severa, as vacas normalmente se recuperam sem nenhum tratamento em questão de semanas. Em casos severos, o veterinário pode tentar evacuar os fluidos uterinos por palpação retal associado com uma infusão de antibióticos intra-uterinos. No caso de uso de antibióticos, o leite deve ser descartado, por um período de 3 a 4 dias. Uma alternativa é induzir o cio com o uso de um hormônio (prostaglandina). Durante o cio, as contrações uterinas ajudam a drenar a infecção e minimizam o uso de antibióticos.

Piometra

Como no caso da metrite, este problema envolve uma infecção do útero. Porém, no caso da piometra, a cérvix esta fechada, prevenindo a drenagem do material purulento do interior do útero. O útero fica cheio de pús e a vaca não entra em cio. Os danos causados por uma piometra podem levar a esterilidade irreversível.

Guia p ara o parto

Boas práticas de manejo são muito efetivas em minimizar o estresse do parto e a mortalidade de bezerros. Manejar uma fazenda com o objetivo de minimizar dificuldades no parto da vaca é essencial e requer o controle de vários fatores:

Alimentação adequada: A alimentação adequada das novilhas é importante, mas o animal não deve ser inseminado antes de atingir o peso ideal. As vacas não devem ser super alimentadas durante a última parte da lactação e durante o

Page 54: Nutrição Essências em gado de leite

período seco devido ao risco de obesidade o que pode aumentar o risco de partos distócicos.

Uso de piquete de maternidade: Um piquete de maternidade deve ser reservado para cerca de 8 vacas do rebanho. Portanto um rebanho com 40 a 50 vacas deve ter 6 ou 7 piquetes de maternidade no qual o animal possa se movimentar livremente durante o parto. O piquete deve ser bem seco, bem ventilado e bem limpo depois de cada parto.

Seja paciênte, mas pronto para pedir ajuda veterinária caso seja necessário: Procure por sinais iniciais do parto e observe a progressão do parto. A vaca deve ter tempo para se preparar para o parto; depois de 1 a 2 horas de intensas contrações, as patas dianteiras do bezerro devem estar aparentes. Caso não sejam notados sinais de progresso e a vaca se mostre cansada, cheque a posição do bezerro. Se você não consegue determinar a posição do bezerro ou se você não tem certeza de como corrigir o problema, chame o veterinário imediatamente.

Caso a decisão de intervir no parto seja feita, use condições de sanidade adequadas: Ao examinar a vaca, use sempre medidas sanitárias para evitar o perigo de infecções.

Dê atenção ao bezerro recém parido: Limpe o muco da sua narina e verifique se o bezerro esta respirando. A limpeza interna da narina com o dedo normalmente é sufuciente para iniciar os movimentos respiratórios. Se os pulmões estão obstruídos por uma quantidade grande de muco, os fluidos podem ser limpos segurando o bezerro de cabeça para baixo por um período curto de tempo. Use um desinfetante para prevenir infecções de umbigo. Forneça colostro dentro de no máximo algumas horas depois do parto para ajudar na imunidade do bezerro contra doenças infecciosas.

Essencias em gado de leite Capitulo 11

Reprodução e melhoramento genético

11: Reprodução e nutrição Michel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

Tradução:Alexandre H. Souza

INTRODUÇÃO

Água, energia, proteína, minerais e vitaminas são necessários para uma reprodução normal. Estes nutrientes são os mesmo daqueles necessários para outros processos no corpo: mantença, crescimento e produção de leite. O impacto do estatus nutricional no desempenho reprodutivo pode afetar a habilidade de:

Conceber (iniciar uma nova prenhez) Promover a quantidade ideal de nutrientes para o crescimento normal do feto

Page 55: Nutrição Essências em gado de leite

Parir sem complicações (retenção de placenta, febre do leite, etc.)

CRESCIMENTO E NUTRIÇÃO DA NOVILHA

O peso e não a idade da novilha determinam quando a puberdade acontece e os ciclos estrais se iniciam. Os primeiros sinais de cio normalmente ocorrem quando a novilha atinge 40% do seu peso adulto. Em novilhas bem alimentadas, a maturidade sexual acontece, em média, aos 11 meses de idade. Porém, o estresse térmico e a baixa nutrição das bezerras e novilhas jovens atrasam a maturidade sexual e previnem o início dos ciclos estrais. Em regiões tropicais, a maturidade sexual de novilhas pode não occorrer antes de 14 a 15 meses.

As novilhas devem estar pesando cerca de 60% do seu peso adulto no momento da inseminação (com 14 a 15 meses de idade). Portanto se uma vaca, em média, pesa 600 Kg, as novilhas devem estar pesando cerca de 360Kg (600 x 60/100) no momento da inseminação (Tabela 1).

Tabela 1: Peso corporalde novilhas de leite em várias idades com diferentes pesos ao nascimento e taxas de crescimento diários.

 Tamanho da raça1

Ganho diário (kg/dia) 

Meses de idadeGrande(0.725)

Media(0.650)

Pequena(0.500)

Regional(0.300)

0 (birth) 42 32 25 20

1 64 52 40 29

3 107 91 70 47

6 173 149 115 74

9 238 208 160 101

12 303 266 205 128

152 368 325 250 155

18 434 383 295 182

21 499 442 340 209

243 564 500 385 236

 Peso adulto4 (KG)

620 550 424 260

1 Alguns exemplos de raças incluem:Grande = Holandesa e Pardo-Suiço; Média = Ayrshire e Guernsey; Pequena = Jersey; Regional = raças pequenas não selecionadas.2 Idade à primeira inseminação.

Page 56: Nutrição Essências em gado de leite

3 Idade de parição.4 As vacas devem continuar crescendo durante a primeira e segunda lactação. O peso maduro é atingido somente no começo da tercerira lactação.

NUTRIÇÃO DA VACA

Nutrição e prenhezUma baixa nutrição durante a prenhez pode gerar:

Partos prematuros, malformações e bezerros fracos resultantes de deficiências maternas de energia, proteína, vitamina e minerais.

Aborto, que é raramente devido à baixa nutrição, exceto em casos de extrema carência alimentar, ingestão de toxinas fúngicas na comida, ou quando a comida possui alta contaminação de estrógeno (um hormônio esteróide).

Nutrição e complicações no pós-partoMuitas complicações na ocasião do parto estão relacionadas, pelo menos em parte, a desbalanços nutricionais:

Síndrome da vaca gorda é uma condição resultante do excesso de energia no fim da lactaçãoou durante o período seco, levando à obesidade, perda de apetite e mobilização excessiva de gordura no início da próxima lactação.

Febre do leite é causada devido a mobilização de cálcio da circulação para o leite nos primeiros dias depois do parto. Esta condição é causada, em parte, pelo excesso de cálcio ou desbalanço entre cálcio e fósforo na dieta. Paralisia e morte podem ocorrer se o tratamento não é imediato.

Torção de abomaso é a condição na qual o abomaso é deslocado (torcido) para a esquerda ou direita. A causa primária deste problema pode ser um excesso de concentrado (falta de fibra) na dieta em associação com o aumento de espaço na cavidade abnominal depois do parto.

Cetose é uma desordem metabólica que ocorre com insuficiência ou excesso de reservas corporais na ocasião do parto-as vacs perdem o apetite, a produção de leite e a performance reprodutiva diminuem.

Vacas que sofrem de febre do leite e síndrome da vaca gorda também tem maiores chances de ter retenção de placenta, metrite, distocia e baixa fertilidade.

Lactação e concepção

No início da lactação, a maioria dos nutrientes são direcionados para a produção de leite. Além dos nutrientes encontrados na dieta, as vacas tendem a mobilizar as reservas corporais (principalmente energéticas) para a manutenção da produção de leite. A ingestão de materia seca não é suficiente durante o início da lactação; portanto, elas entram em balanço energético negativo (deficiência de energia), elas perdem peso e a capacidade de conceber diminui dramaticamente. Somente em estagios mais tardios da lactação, quando a energia ingerida esta em equilíbrio com a energia necessária para a produção de leite, que a probabilidade de concepção aumenta.

Page 57: Nutrição Essências em gado de leite

Balanço energético e fertilidade

Uma cusa comum da baixa fertilidade em vacas de leite é a deficiência de energia ingerida comparada com o a energia que o animal necessita, ou balançco energético negativo. Dependendo da produção de leite no início da lactação, o balanço energético negativo pode durar de 2 a 10 semanas depois do parto (dois meses e meio). O efeito da mudança de peso corporal durante o período de inseminações (dois a três meses depois do parto) esta demonstrado na Tabela 2.

Table 2: Efeito do estatus energético no início da lactaçãonas taxas de concepção.

Mudança de

peso da vaca

ServiçosNúmero de Prenhezes

Serviços por concepção

Taxa de concepção

Ganhando 1368 911 1.5 67

Perdendo 544 234 2.32 44

Taxas de concepção são menores para vacas inseminadas durante o balanço energético negativo (perdendo peso) comparadas com vacas durante o balanço energético positivo (ganhando peso). Não existe nenhuma prova de que vacas de alta produção transmitem menores habilidades reprodutivas. Todavia, é evidente que vacas com balanço energético negativo tem menor fertilidade independente da habilidade em produzir leite.

Proteína e fertilidade

O efeito da proteína da dieta na reprodução é bastante complexa. Em geral, quantidades inadequadas de proteína na dieta diminuem a produção de leite e a performance reprodutiva. O excesso de proteína também pode ter um efeito negativo na reprodução. Todavia, em alguns casos, maiores quantidades de proteína estão associados a uma maior fertilidade. Alguns dos seguintes fatores podem explicar as baixas performances reprodutivas observadas com excessivos níveis de proteína na dieta:

Altos níveis de uréia no sangue podem ocorrer, tendo um efeito tóxico nos espermatozóides, oócitos, e no embrião em desenvolvimento;

O balanço hormonal pode ser alterado -os níveis de progesterona são baixos na presença de altos níveis de uréia.

Nas vacas em início de lactação, altos níveis de proteína podem exacerbar o balanço energético negativo e atrasar o retorno da função ovariana normal.

Suplementação com proteína e uréia, fazendo com que vacas em início de lactação tenham dietas com 16% de proteína e vacas em fim de lactação tenham dietas com 12% de proteína deve otimizar a reprodução.

Minerais, vitaminas e fertilidadeMinerais e vitaminas são fatores que podem determinar o desempenho reprodutivo. Os efeitos mais severos das deficiências são bem conhecidos. Todavia, é difícil de se estabelecer possíveis efeitos de deficiências marginais ou mesmo de excessos. Além

Page 58: Nutrição Essências em gado de leite

disso, existem muitas interações entre minerais, especialmente microminerais. Em geral, quase todo o requerimento de minerais e vitaminas (exceto ferro) tem um efeito direto ou indireto na fertilidade da vaca (Tabela 3) e na capacidade da vaca parir um bezerro sadio (Tabela 4).

Tabela 3: Efeito da deficiência de micromirerais nas desordens reprodutivas.

  Micromineral1

Desordem reprodutiva Cu/Mo2 Co I Mn Se Zn Fe

Intervalo variável entre cios 4   4        

Anestro ou cio silencioso 4   4 4      

Aumento de services por concepção 4 4 4 4      

Aborto     4 4 4 4  

Retenção de placenta     4   4    

1 Cu = Cobre; Mo = Molibdênio; Co = cobalto; I = iodo; Mn = manganês; Se = selênio; Zn = zinco; Fe = Ferro.

2 Níveis excessívos de molibdênio, com níveis adequados de enxofre, desencadeiam uma deficiência de cobre.

 

A deficiência em fósforo pode atrasar a maturidade de novilhas e diminuir a fertilidade de vacas em lactação. A deficiêcia ou excesso de cálcio ou fósforo na dieta pode causar febre do leite no pós-parto. Proporções entre cálcio-fósforo de 1.5:1 a 2.5:1 são ideais. Porém, esta razão deve sempre ser balanceada para a quantidade de cálcio e fósforo necessárias, e não baseada na simples proporção de cálcio-fósforo.

Tabela 4: Efeito da deficiência nutricional durante a prenhez na saúde de bezerros recém paridos1.

Nutriente Sintomas de deficiêcia nos bezerros

EnergiaBaixo peso ao nascimento; anti-econômico, bezerros de crescimento lento.

ProteínaBaixo peso ao nascimento; Bezerros de crescimento lento, e se muito desnutridos, imunidade diminuída (baixa resistência à infecções) devido aos baixos níveis de imunoglobulina no colostro.

Cálcio e fósforo

Raramente são um problema, pois grandes quantidades de cálcio e fosforo podem ser mobilizadas dos ossos para o crescimento fetal.

Iodo Bócio em bezerros recém paridos.

Cobre Bezerros fracos, mostrando sintomas de bócio.

Page 59: Nutrição Essências em gado de leite

SelênioBezerros anti-econômicos, degenaração muscular (doença dos músculos brancos), paralisia e falha cardíaca.

Vitamina ADiminuição do período de gestação e aborto em casos mais severos; nascimento de bezerros fracos, cegos ou descoordenados; forte diarréia (branca) em bezerros fracos.

Vitamina D Nascimento de bezerros com bócio (raramente).

Vitamina ERelacionado às deficiências em selênio; membros enfraquescidos, dificuldades para ficar em pé e incapacidade para se amamentar.

1Linn, J.G.; D.E. Otterby; J.K. Reneau. 1990. Dairy management manual; Factsheet 617.00.

Seleção genética e reprodução

Entre as raças de aptidão leiteira, a intensa seleção genética durante os últimos 20 a 30 anos acentuou o problema do balanço energético no começo da lactação. Consequentemente, a medida que a produção de leite aumentou, a performance reprodutiva das vacas de leite diminuiu. Taxas de concepção de 50% podem ser consideradas taxas baixas; porém, estas taxas ainda estão acima da média da indústria americana. Alguns acreditam que a queda da performance reprodutiva é devido a seleção genética para a melhoria da produção leiteira. Todavia, as pesquisas indicam que as taxas de concepção para novilhas permanecem constantes nos últimos 25 anos, sugerindo que a seleção genética para a maior produção leiteira não é a causa desta baixa fertilidade.

A herdabilidade de características reprodutivas, como dias em aberto, é muito baixa. Portanto tentar melhorar parâmetros reprodutivos por meio da seleção genética seria muito ineficiênte. Provavelmente, vacas selecionadas para alta produção leiteira tambem foram selecionadas (seleção indireta) para uma maior habilidade em mobilizar reservas corporais e para ingerir maiores quantidades de alimento. Vacas com maior ingestão de alimentos no início da lactação tem menos problemas reprodutivos se comparadas a vacas que mobilizam grandes quantidades de reservas corporais. Portanto é possível que a seleção de animais com maior capacidade de ingerir alimentos no início da lactação pode permitir uma maior produção de leite com com mínimos efeitos negativos na reprodução.

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Essencias em gado de leite Capitulo 12

Reprodução e melhoramento genético

12: Escore de Condição corporal Michel A. Wattiaux

Page 60: Nutrição Essências em gado de leite

The Babcock Institute

 

Tradução:Alexandre H. Souza

CONDIÇÃO CORPORAL

A quantidade de reservas corporais na ocasião do parto têm uma grande influência em problemas do pós-parto imediato, na produção de leite e na eficiência reprodutiva da lactação subsequente.

Vacas muito magras têm:

Menor produção de leite devido a falta de quantidades adequadas de reservas corporais para serem usadas no início da lactação

Maiores incidências de certos problemas metabólicos (cetose, deslocamento de abomaso, etc.)

Atraso no aparecimento do cio depois do parto

Porém, vacas muito obesas têm:

 

 

Mais complicações no parto (dificuldades no parto) Diminiução de ingestão de matéria seca no início da lactação, o que pode

desencadear:

1. Maior incidência de algumas doenças metabólicas (síndrome da vaca gorda, cetose, etc.)

2. Diminuição da produção de leite

 

 

Portanto, o objetivo é ter vacas em "boa" condição corporal no parto-nem tão magra e nem tão gorda.

Page 61: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 1: Balanço energético de vacas de leite no início da lactação.

A condição corporal é uma medida subjetiva da quantidade de gordura, ou da quantidade de energia reservada, que uma vaca possui. A condição corporal muda ao longo da lactação. Vacas no início da lactação estão em balanço energético negativo e perdem condição corporal (mobilizam reservas copóreas de gordura). A vaca consegue produzir sete quilos de leite com a perda de um quilo de peso corporal. Vacas em início de lactação não devem perder mais de um quilo de peso corporal por dia. Porém, vacas no final da lactação estão em balanço energético positivo e ganham condição corporal para repor as reservas corporais perdidas no início da lactação. Portanto, em condições ideais, a condição corporal muda ao longo da lactação (Figura 1).

Page 62: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 2: Identificação de algumas partes do corpo usadas para a determinação da condição corporal.

 

Page 63: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 3: Escores de condição corporal. (Adaptado de A.J. Edmondson, I.J. Lean, C.O. Weaver, T. Farver and G. Webster. 1989. A body condition scoring chart for Holstein dairy cows . J. Dairy Sci. 72:68-78.)

ESCORE DE CONDIÇÃO CORPORAL (CC) AO LONGO DA LACTAÇÃO

Page 64: Nutrição Essências em gado de leite

O escore de condição corporal é uma ferramenta usada para ajustar a nutrição e as práticas de manejo para a maximização do potencial produtivo e minimizar as desordens reprodutivas. A condição corporal é feita observando-se a garupa da vaca-primeiramente observando-se os ossos do íleo ( tuber coxae ), do ísquio ( tuber ischii ) e da inserção da cauda. A quantidade de gordura "de cobertura" sobre as vértebras da porção trazeira do animals também é utilizada na determinação da condição corporal (Figuras 2, 3 e 4). As vacas são classificadas em uma escala de 1 a 5. Vacas muito magras recebem escore 1 e vacas muito obesas recebem escore 5 (Figura 4).

Tabela 1: Efeito da perda de condição corporal (CC) no início da lactação na taxa de concepção.

Perda de CC Taxa de concepção

Menos de 1 unidade 50%

De 1 a 2 unidades 34%

Mais de 2 unidades 21%

 

Condição corporal recomendada em vários estágios da lactação:

Parto 3.0 to 3.5

Inseminação 2.5

Fim da lactação 3.0 to 3.5

Período seco 3.0 to 3.5

 

Uma condição corporal de 1.5 um ou dois meses depois do parto não é desejável podendo indicar falta de nutrição adequada (balanço energético negativo, Figura 4a). Uma condição corporal de 3.0 (Figura 4b) deve ser tipicamente observada em uma vaca recuperando suas reservas energéticas durante a metade do período de lactação. Durante o fim da lactação e durante o período seco, uma condição corporal de 3.5 deve ser desejada.

Estas condições corporais fornecem reservas corporais suficientes para a minimização do risco de complicações no parto e maximizam a produção de leite no início da lactação. Ao decorrer da lactação a produção de leite diminui e as vacas ganham condição corporal. O excesso de oferta de concentrados é um erro comum de manejo nas fazendas. Vacas que recebem muito concentrado no final da lactação tendem a ficam obesas (Figura 4c). Estes animais têm maiores chances de ter um parto distócico (dificuldade no parto) e desenvolver outras doenças (síndrome da vaca gorda).

Page 65: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 4: Exenplo de vacas com escores de condição corporal de 1.5 (A), 3 (B) e 4.5 (C).

Essencias em gado de leite Capitulo 13

Reprodução e melhoramento genético

13: Manejo reprodutivo do rebanho Michel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

Tradução:Alexandre H. Souza

REPRODUÇÃO É UM ASSUNTO MULTIFATORIAL

Um bom manejo reprodutivo demanda bastante conhecimento do rpodutor, pois muitos fatores podem afetar as chances do animal emprenhar:

Fertilidade da vaca Fertilidade do sêmen Eficiência da detecção de cio Eficiência da inseminação

A taxa de prenhez é o produto destes quatro fatores. A consequência deste efeito multiplicativo entre estes fatrores faz com que a melhoria de um destes índices (por exemplo a fertilidade da vaca) terá um impacto pequeno nas taxas de prenhez se os outros fatores tem uma eficiência baixa. A falha em apenas um dos parâmetros de fertilidade pode diminuir drasticamente as taxas de prenhez.

Fertilidade da vacaA fertilidade da vaca depende de muitos fatores. A idade do animals tem uma forte influência na fertilidade. Novilhas e vacas na segunda lactação são normalmente mais

Page 66: Nutrição Essências em gado de leite

férteis que vacas de primeira lactação e vacas maduras. A fetrilidade é maior nos meses mais frios do ano, e quando as vacas estão:

Sem doenças reprodutivas Sem problemas relacionados ao parto Sem problemas de desbalânço nutricional-especialmente para animais magros ou

muito gordos na ocasião do parto

A fertilidade também é alta quando as vacas param de perder peso e começam a repor as reservas corporais alguns meses depois do parto.

Fertilidade do touroA circunferência testicular esta relacionada com a fertilidade dos touros maduros. A ejaculação diária durante um extenso período de tempo não diminuir a fertilidade; porém, isto varia com:

Idade e maturidade sexual Nutrição adequada Doenças sexualmente transmissíveis Libido (interesse pela fêmea)

Eficiência da detecção de cioUma baixa eficiêcia na detecção de cio é provavelmente o fator mais importante afetando as taxas de prenhez de vacas férteis. A eficiêcia da detecção de cio depende de dois fatores: O nível de detecção e a acurácia da detecção. Causas de baixa acurácia podem ser devido a:

O capataz não conhece os sinais do cio e falha em identificar vacas em cio O cio é detectado corretamente, mas um erro ocorre na identificação da vaca ou

na anotação dos dados (ex: data incorreta)

Eficiência da inseminaçãoEm geral, a eficiência da inseminação é perto de 100% quando um bom touro é usado na monta natural. No caso da inseminação artificial, porém, este fator é medido principalmente pela competência do capataz e inseminador em:

Determinar o momento correto da inseminação Manejar o sêmen congelado corretamente Depositar o sêmen no local correto (corpo do útero)

Depositar o sêmen no local correto (corpo do útero).

Os índices reprodutivos são indicadores da performance reprodutiva de um rebanho (dias vazios, intervalo entre partos, etc.). Eles podem ser calculados quando os eventos reprodutivos no rebanho estão sendo anotados corretamente. Os índices reprodutivos nos permitem identificar áreas que podem ser melhoradas, para alcançar objetivos reprodutivos realísticos, para monitorar o progresso, e para identificar problemas em estágios iniciais. Além disso, os índices reprodutivos podem ser usados na investigação do histórico de algum problema (infertilidade, entre outros). A maioria dos índices em um rebanho são calculados como uma performance média de vacas individualmente.

Page 67: Nutrição Essências em gado de leite

Portanto, em rebanhos pequenos, a avaliação da eficiência reprodutiva pode se afastar da média do rebanho por causa da performance de uma determinada vaca.

Importância da coleta e armazenamento de dados

A correta anotação dos dados é muito importante. Os dados devem ser analizados para o fornecimento de resultados úteis. Cada animal deve ser identificado corretamente e cada evento deve ser anotado corretamente para a obtenção de índices reprodutivos que refletem a real situação da eficiência reprodutiva do rebanho. A manutenção correta dos dados permite:

O cáculo de índices reprodutivos; Predição de eventos futuros (cio e parição).

Antecipação de eventos reprodutivos futuros é muito importante no correto manejo de uma fazenda de leite. Por exemplo, a detecção de cio pode ser melhorada e as vacas podem ser secas de modo que elas tem 50 a 60 dias de descanso (período seco) entre lactações.

As próximas duas páginas apresentam um exemplo de folha para anotações que podem ser utilizadas para manter os dados históricos de cada vaca do rebanho.

Tabela 1: Índices reprodutivos e valores ótimos em condições ideais.

Índices reprodutivosValores ótimos

Valores indicativos de problemas sérios

Intervalo entre partos12.5 - 13

meses> 14 meses

Média de dias até o primeiro cio < 40 dias > 60 dias

Vacas observadas em cio dentro de 60 dias após parto

> 90% < 90%

Média de dias vazios ao primeiro serviço

45 to 60 dias > 60 dias

Serviços por concepção < 1.7 > 2.5

Taxa de concepção ao primeiro serviço em novilhas

65 to 70% < 60%

Taxa de concepção ao primeiro serviço em vacas

50 to 60% < 40%

Vacas que conceberam com menos de 3 serviços

> 90% < 90%

Vacas com intervalo entre serviços de 18 a 25 dias

> 85% < 85%

Média de dias vazios85 to 110

dias> 140 dias

Page 68: Nutrição Essências em gado de leite

Vacas vazias com mais de 120 dias < 10% > 15%

Tempo do período seco 50 to 60 dias < 45 or > 70 dias

Idade média à primeira parição 24 meses < 24 or > 30 meses

Taxa de aborto < 5% > 10%

Descarte por problemas reprodutivos < 10% > 10%

<= menor; >= Maior.

 

 

Page 69: Nutrição Essências em gado de leite

Essencias em gado de leite Capitulo 14

Reprodução e melhoramento genético

14: Conceitos genéticos básicos

Michel A. WattiauxThe Babcock Institute

 

Page 70: Nutrição Essências em gado de leite

Tradução:Alexandre H. Souza

O QUE É GENÉTICA?

Genética é a ciência que estuda a variação e a transmissão de características de uma geração para a outra. Dentro desta definição, a palavra variação se refere a variação genética; que é o intervalo dos possíveis valores para uma característica e como esta característica é influenciada pela hereditariedade. Hereditariedade é a transmissão de características dos pais para sua prole via material genético. Esta transmissão ocorre no momento da fertilização dentro do processo da reprodução-quanto o sêmen do touro se unifica com o óvulo da vaca para produzir um bezerro com um material genético único. Somente gêmeos idênticos têm um material genético igual, pois eles vieram de um mesmo óocito que deu origem a dois embriões durante as fases iniciais de desenvolvimento.

O QUE É AMBIENTE?

O ambiente é normalmente imaginado como as redondesas do animal-luz, temperatura, ventilação e outros parâmetros que podem contribuir para o conforto físico do animal. Porém, em genética, a palavra ambiente têm um significado mais geral. O ambiente é a combinação de todos os fatores, exceto os genéticos, que podem afetar a expressão dos genes. Por exemplo, a produção de leite de uma vaca é afetada pela idade ao parto, época de parição, nutrição e muitos outros fatores. Portanto vacas com a mesma genética irão produzir quantidades diferentes de leite se estão em ambientes diferentes. Por exemplo, o desempenho na lactação de um par de gêmeos idênticos vai variar drasticamente se as duas bezerras são separadas na ocasião do parto e mandadas para países diferentes. Porém, pode existir uma diferença grande de produção de leite entre estes mesmos gêmeos quando estes são colocados em duas fazendas diferentes na mesma área, dependendo do manejo que cada uma recebeu.

GENÓTIPO E FENÓTIPO

O genótipo de um animal representa os genes responsáveis por uma característica em particular. Em geral, o genótico é a carga genética herdada por um animal.

Porém, o fenótipo é o valor de uma característica. Em outras palavras, é o que pode ser observado ou medido. Por exemplo, o fenótipo pode ser a produção de leite de uma vaca em particular, a porcentagem de gordura no leite ou o escore de conformação deste animal.

Existe uma importante diferença entre genótipo e fenótipo. O genótipo é essencialmente uma característica fixa de um organismo; e fica constante durante toda a vida e não é mudada por fatores do ambiente. Quando apenas um ou alguns poucos genes são responsáveis por uma característica, o fenótipo normamente não muda durante a vida (ex: cor do cabelo). Neste caso, o fenótipo fornece uma boa indicação da composição genética de um indivíduo. Porém, para algumas características, o fenótipo muda continuamente durante a vida de um indivíduo em resposta a fatores ambientais. Neste caso, o fenótipo não é um indicador confiável do genótipo. Isto normalmente ocorre

Page 71: Nutrição Essências em gado de leite

quando muitos genes estão envolvidos na expressão de uma característica como por exemplo a produção de leite. Deste modo, a produção de leite de uma vaca é normalmente expressa da seguinte maneira:

Produção de leite fenotípica = G + E, onde: G é o mérito genético da vaca para produção de leite (o efeito dos genes);E é o efeito do manejo e do ambiente do animal.

O MATERIAL GENÉTICO

Figura 1: Genes aumentados milhares de vezes.

 

O material genético esta localizado no núcleo de cada célula do corpo. Exceto pelas células reprodutivas (espermatozóide e óvulo) e algumas outras excessões (células vermelhas do sangue), as células contém duas cópias do material genético do animals. Quando as células se dividem, o material genético se organiza em forma de novelos chamados cromossomos (Figura 1). Nas células do corpo, cada cromossomo têm um outro parceiro que têm o mesmo comprimento e forma (exceto pelos dois cromossomos sexuais que determinam o sexo) e contém a informação genética para a mesma característica. Estes dois cromossomos são os dois membros de um par cromossômico, um deles veio do touro, e o outro da vaca. O número de pares de cromossomos é típico de cada espécie e normalmente é abreviado pela letra "n". Por exemplo, em humanos têm n = 23, suínos n = 19 e em bovinos n = 30. Portanto, as células do corpo de humanos, suínos e bovinos contém 2n = 46, 38 and 60 cromossomos, respectivamente. Os genes estão localizados ao longo dos cromossomos. O gene é a unidade funcional básica da hereditariedade; deste modo, os genes contém a informação genética que é responsável pela expressão de uma característica em particular. O total comprimento de uma cromossomo pode ser dividido em milhares dessas unidades funcionais, e cada uma é responsável por uma característica.

O gene é composto de um material chamado ácido desoxiribonucleico ou ADN. A função do ADN é de transportar a informação necessária para síntese de proteínas. As proteínas são sintetizadas e o ADN se replica, o número de células do corpo aumenta

Page 72: Nutrição Essências em gado de leite

(crescimento) e as células podem se especializar em funções específicas (desenvolvimento) onde alguns genes são ativados e outros desativados. Por exemplo, as células da pele (um tecido especializado) contém todo o material genético necessário para recriar um animal, mas os únicos genes especializados que estão ativos nestas células são os genes responsáveis pela formação e cor dos cabelos.

TRANSMISSÃO DO MATERIAL GENÉTICO

Macho ou fêmea

Os testículos de um touro e os ovários de uma vaca produzem células reprodutivas por uma série especial de divisões celulares que diminuem pela metade o número de cromossomos de uma célula. O espermatozóide e o óvulo contém somente um dos membros dos pares de cromossomos. Portanto, as células de bovinos contém 60 cromossomos (2n = 60), mas o espermatozóide no sêmen e o óvulo nos ovários contém somente 30 cromossomos (n = 30, Figura 2). Os dois principios básicos da transmissão de características (ex: sexo) são as seguintes (Figura 2):

1. Separação dos pares de cromossomos durante a formação das células reprodutivas;

2. União do espermatozóide com um óvulo para criar uma célula com um único material genético.

Em 29 dos pares de cromossomos, ambos membros são visualmente indênticos. Porém, em um dos pares, um dos membros é muito mais curto; este é chamado de par cromossômico XY, e o membro mais curto deste par de cromossomos é chamado de Y. Todos os óvulos contém o cromossomo X, mas o espermatozóide pode carregar tanto o X como o Y. Durante a divisão celular para a formação das células reprodutivas, cada membro do par de cromossomos vai para uma célula diferente. Deste modo, 50% dos espermatozóides vão carregar o cromossomo X e os outros 50%, vão carregar o cromossomo Y. Se um espermatozóide carregando o cromossomo Y fertiliza um óvulo, o filhote será macho. Porém, se este filhote receber 2 cromossomos X, ele será fêmea (Figura 2). É importante percebermos que é impossível predizer o sexo do filhote na ocasião do acasalamento (ou inseminação); porém, podemos predizer que, em média, 50% dos filhotes serão machos e 50% serão fêmeas.

Page 73: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 2: Os cromossomos são transmitidos pelas células reprodutivas que contém somente metade do número total de cromossomos da espécie. As combinações de cromossomos na ocasião da fertilização são responsáveis pelas características herdadas pela prole (ex: sexo).

 

Características qualitativas

As características qualitativas tendem a ser categorias discretas. Normalmente um ou alguns poucos genes têm um efeito significativo em características qualitativas. O ambiente normalmente têm um efeito pequeno em influenciar a categoria do animal. Neste caso, o fenótipo do animal reflete o seu genótipo. Alguns exemplos de características qualitativas em gado de leite são:

Cor do pêlo Defeitos hereditários (bezerro anão) Presença ou ausência de chifres Tipo sanguíneo

Quantitative traits

Características quantitativas diferem das características qualitativas pois:

1. Elas são influenciadas por vários pares de genes2. A expressão fenotípica é mais fortemente afetada pelo ambiente que

características qualitativas

Muitas das características economicamente importantes na bovinocultura de leite são quantitativas:

Produção de leite Composição do leite Conformação (ou tipo) Conversão alimentar

Page 74: Nutrição Essências em gado de leite

Resistência às doenças

A influência de vários genes e o efeito do ambiênte em características quantitativas dificulta muito a determinação do genótipo de uma maneira acurada se comparado com a maioria das características qualitativas. Algumas vezes o fenótipo do animal não nos da muita informação sobre o seu genótipo. Por exemplo, os dados de produção de leite de um animal somente nos informa sobre o mérito genético daquele animal para a produção de leite.

O que faz com que o genótipo de um animal seja único?

Quando os óvulos são formados, eles recebem um dos dois membros dos pares de cromossomos. Portanto, um cromossomo em particular em um óvulo pode ser o primeiro ou o segundo membro do par de cromossomos parentais. Assim, existem apenas dois tipos diferentes de óvulos para aquele cromossomo em particular. Se ao invés de um par de cromossomos, considerar-mos dois, qual é o número total de óvulos possíveis? Em outras palavras, qual é o número total de possíveis combinações de cromossomos? Esta situação é semelhante ao se jogar duas moedas ao mesmo tempo. O número de combinações possíveis são: dois valores possíveis para a primeira moeda vezes dois valores possíveis para a segunda moeda = 2 x 2 = 2 2 = 4 possibilidades diferentes. O número de diferentes genótipos para um óvulo é quatro e a possibilidade de cada combinação de cromossomos é de 1/4 . Isto também ocorre para o número de possíveis genótipos no macho. Portanto, quando um dentre os quatro possíveis tipos de genótipo do espermatozóide fertiliza um dentre os quatro tipos de genótipo dos óvulos, o número de filhotes com genótipo diferente é de 4 x 4 = 16 (ex: 2 2 x 2 2 ). Portanto a chance de um genótipo em particular aparecer em um filhote é de 1/16 .

Quando os 30 pares de cromossomos de uma vaca de leite se separam durante a formação das células reprodutivas e depois se reunem na fertilização, o número total de combinações possíveis de cromossomos é de 2 30 x 2 30 = 1.152.900.000.000.000.000, cada um sendo um indivíduo único. Com esse número de possibilidades em cada acasalamento, fica fácil de entender porque dois indivíduos não são semelhantes em uma população, mesmo quando eles têm os mesmo pais.

Essencias em gado de leite Capitulo 15

Reprodução e melhoramento genético

15: Princípios de seleção Michel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

Tradução:Alexandre H. Souza

Page 75: Nutrição Essências em gado de leite

As características quantitativas em bovinocultura de leite como a produção de leite, gordura e proteína, são econômicamente importantes para muitos fazendeiros em todo mundo. Estas características são diferentes das características qualitativas como a cor do pêlo, pois ao invés de estarem em categorías discretas (vermelho, branco, preto), os valores das características quantitativas variam em uma escala contínua de infinitos valores. O grande número de possibilidades para características quantitativas é devido a:

A grande quantidade de genes envolvidos na expressão de uma característica, o que possibilita vários genótipos

O efeito significante do ambiente pode adicionar alguma variabilidade nos possíveis valores de uma característica

O objetivo do melhoramento genético na bovinocultura de leite é de modificar a proporção de certos genes sendo que, dependendo do ambiente em que o animal será criado, esta(s) característica(s) de interesse serão expressadas de modo a maximizar os lucros do fazendeiro. Por exemplo, o melhoramento genético para produção de leite procura aumentar o número de genes que irão maximizar a produção de leite dentro de um ambiente (clima, alimentação, manejo, etc.) no qual a vaca vai expressar seu potencial.

FORÇAS QUE MODIFICAM A FREQUÊNCIA DE CERTOS GENES

As mudanças no material genético dos dos animais ocorrem naturalmente. Existem basicamente quatro forças que alteram a frequência de alguns genes em uma população animal. Mutação (mudança na estrutura do material genético) e modificação aleatória (ocorrem ao acaso, especialmente em populações pequenas) não podemos predize-las, portanto não são úteis. Porém, em um ponto de vista prático, seleção e migração (acasalamentos cruzados) são as ferramentas disponíveis aos inseminadores para mudar o valor genético do seu rebanho para uma característica em particular.

Seleção é um processo que permite com que certos animais se reproduzam mais que outros. Deste modo, animais com um genótipo desejado produzirão uma prole maior. Quando a seleção é feita durante várias gerações, alguns genes se tornam mais frequentes dentro de uma população. Portanto, a seleção genética se baseia em duas etapas. Primeiro, os animais com um genótipo superior precisam ser identificados e, em uma segunda etapa, estes animais devem servir como reprodutores da próxima geração.

Migração envolve o transporte de animais de uma população para outra população que têm uma frequência de genes diferente. O cruzamento de raças zebuínas locais ( Bos indicus ) com raças Européias ( Bos taurus ) é um exemplo de migração. A forma mais importante de migração de genes entre raças bovinas atualmente é o comércio internacional (importação e exportação) de sêmen.

OS CONCEITOS BÁSICOS DA SELEÇÃO

Para entender como a seleção para características quantitativas funciona, precisamos entender alguns conceitos importantes. A variação em uma característica em particular nos animais é a chave do processo de seleção. Em um rebanho com uma média anual de

Page 76: Nutrição Essências em gado de leite

produção de leite de 5.500 kg, algumas vacas podem produzir 9.000 kg, enquanto que outras podem estar produzindo somente 2.000 kg. Estes podem ser exemplos extremos, mas a produçaõ de leite de uma vaca neste rebanho pode ser de qualquer valor entre estes dois extremos. Mesmo dentro de um rebanho, onde alguns podem pensar que o ambiente é parecido para todos os animais, somente cerca de 25% da variação total na produção de leite é devido a variação genética (consulte herdabilidade na Tabela 1).

Distribuição normal

Distribuição dos dados de produção leiteira

As vacas poduzem diferentes quantidades de leite, ainda assim, seus dados podem ser agrupados em categorias. A Figura 1 mostra um exemplo de distribuição das produções de leite de 200 vacas categorizadas em 28 grupos. Neste gráfico, cada bloco representa uma vaca. Vacas produzindo 2.000 a 2.500 kg pertencem ao primeiro grupo (barra do lado esquerdo do gráfico); a direita desta barra, cada grupo é definido tendo como base o grupo anterior. O último grupo (barra do lado direito do gráfico) inclui vacas produzindo entre 8.875 e 9.000 kg de leite. Esta representação, chamada de histograma, nos da uma idéia da média e da variação da produção de leite. No nosso exemplo, 19 vacas produzem 5.250 a 5.500 kg, uma vaca produz 2.250 a 2.500 kg e nenhuma vaca produz mais que 8.750 kg. Quando uma linha é desenhada passando sobre o topo de cada barra de um lado ao outro da figura, obtemos uma linha na forma de um sino. A maioria das características quantitativas seguem este tipo de curva, que é chamada de "curva normal" ou "distribuição normal". A análise de dados (produção de leite, escore de tipo, etc.) que se distribuem seguindo uma "curva normal" é a base do nosso conhecimento sobre o mérito genético de uma vaca ou de um touro para uma determinada característica.

Em uma distribuição normal, a maioria dos animais estão espalhados aos arredores da média (a barra mais alta), e quando olhamos para produções maiores ou menores de leite, o número de animais nos grupos diminui. A maneira em que os dados se distribuem ao redor do ponto central é chamada de variância ou desvio padrão.

Por exemplo, a distribuição da produção de leite das filhas de um touro formam uma distribuição normal. Um animal na extrema direita desta distribuição, provavelmente, tem um alto mérito genético. Porém, isto pode não ser totalmente real pois uma vaca com um alto mérito genético pode ter tido sua produção de leite afetada por um baixo nível nutricional, uma dificuldade no parto, um outro problema de manejo ou ainda ter sofrido algum efeito do ambiente. Do mesmo modo, uma vaca pode ter tido sua produção de leite artificialmente aumentada se comparado com outras vacas do rebanho por tratamentos preferenciais. Portanto, é necessário fazer uma correta análise dos dados e reconhecer efeitos do ambiente no desempenho do animal. Desta maneira podemos nos certificar do mérito genético que esta sendo passado para a próxima geração.

Page 77: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 1: Distribui ção da produção de leite - curva de distribuição normal.

 

Figura 2. Média e variância são as duas principais características da distribuição normal.

 

PONTOS CHAVES PARA A MUDANÇA GENÉTICA ATRAVÉS DA SELEÇÃO GENÉTICA

Através da seleção, a mudança do valor genético dos animais em uma população pode ser afetada pela variação genética de uma população, intensidade de seleção, acurácia da seleção e pelo intervalo entre duas gerações. A mudança no valor genético pode ser resumida em uma simples equação:

Mudança genética por ano = Acurácia x Intensidade x Variação genética Intervalo de gerações

Page 78: Nutrição Essências em gado de leite

Assim a mudança genética anual será maior quando a acurácia, a intensidade de seleção e a variação genética forem tão grandes quanto possíveis e o intervalo entre geraçõs for tão pequeno quanto possível.

Acurácia na seleção de vacas e touros

O maior fator limitante para a acurácia das estimativas de mérito genético em vacas é que todos os animais estão no mesmo rebanho, ou seja, elas estão expostas a uma gama pequena de efeitos do ambiente. Porém, o teste de progênie permite obter alta precisão na determinação do mérito genético dos touros. Se um número suficiente de filhas é criado em vários rebanhos, a avaliação da capacidade de transmissão dos touros pode ser obtida quase que com perfeição.

Tabela 1:Herdabilidade e importância econômica de algumas características em gado leiteiro.

Características Herdabilidade Correlação genética*

Características de produção:

Produção deleite 0.25 1

Produção de gordura 0.25 0.75

Produção de proteína 0.25 0.82

Sólidos totais 0.25 0.92

% gordura 0.50 - 0.40

% proteína 0.50 -.22

Características de tipo:

Escore de tipo 0.30 - 0.23

Altura 0.40 -

Pernas (lateral) 0.16 -

Ângulo dos pés 0.10 -

Profundidade de úbere 0.25 -

Suporte de úbere 0.15 -

Colocação dos tetos 0.20 -

Outras características:

Velocidade de ordenha 0.11 -

Contagem de celula somatic** 0.10 -

Page 79: Nutrição Essências em gado de leite

Dificuldade de parto 0.05 -

Birth weight Peso ao nascimento 0.35 -

Dias em aberto 0.05 -

*    Correlação genética com produção de leite. ** Medida de susceptibilidade à mastite.

Herdabilidade ou h2

Define-se herdabilidade de uma característica como a proporção da variância da expressão fenotípica do animal que é de origem genética. Em geral, maior é a herdabilidade de uma característica, maior a acurácia da seleção e maior a resposta à seleção. As herdabilidades indicadas na Tabela 1 podem ser interpretadas da seguinte maneira:

Menos de 0.10-baixa herdabilidade Entre 0.10 e 0.30-herdabilidade moderada Maior que 0.30-alta herdabilidade

Intensidade de seleção

A intensidade de seleção depende exclusivamente da fração da população que é escolhida para serem os pais. Ela reflete quanto a média da fração selecionada excede a média da população antes de se praticar a seleção. Mesmo quando o desempenho reprodutivo é bom, a intensidade de seleção das vacas em um rebanho é minima se comparada à intendidade de seleção aplicada aos touros. Como resultado, a maioria do progresso genético em um rebanho provém do sêmen de touros altamente selecionados disponíveis. O ganho genético potencial devido a seleção das vacas é limitado pois a maioria das vacas precisa ser mantida no rebanho para manter o tamanho do rebanho. Assim, o número de bezerras que podem ser testadas no teste de progênie é muito mais limitada em vacas que em touros.

Variação genética (desvio padrão)

Variação genética pode ser bem ilustrada pela distribuição dos dados da curva normal (em forma de sino) em torno da média. Uma pequena variação resulta em uma estreita curva e uma grande variação em uma ampla curva. A variação genética influencia o ganho genético obtido em um programa de seleção-maior variação genética, maior será a resposta a seleção. Contudo, o desvio padrão genético é uma particularidade da população e não pode ser mudado pelo criador ou melhorista.

Nos EUA o desvio padrão para a produção de leite, gordura e proteína são 560, 22.5 e 19 libras, respectivamente. O menor desvio padrão para a produção de proteína que a de gordura indica que é mais difícil se conseguir um progresso genético em produção de proteína que em produção de gordura. Em países onde a média de produção de leite é menor que a dos EUA, os desvios padrões provavelmente são proporcionalmente menores.

Page 80: Nutrição Essências em gado de leite

Intervalo entre gerações

Define-se intervalo de gerações como a idade média dos pais quando do nascimento de sua prole. Idade à puberdade e duração da gestação são imutáveis; contudo, intervalo de gerações pode ser significtivamente aumentado quando a taxa de mortalidade é alta ou a taxa de gestação é baixa. Um intervalo de geração típico é o tempo da primeira avaliação genética de um touro usado em inseminação artificial: nove meses de prenhez para se obter um bezerro, mais dois anos para a vaca começar a produzir leite e mais outros dez meses de lactação. Portanto, o intervalo de gerações é de quarto anos.

Quanto mais curto é o intervalo de gerações, maior é o progresso genético por ano. Porém, um longo intervalo entre gerações pode aumentar a exatidão da seleção, pois um maior número de informações estarão disponíveis com o passar do tempo (produção de leite das filhas de um touro).

RESPOSTA CORRELACIONADA

Correlação entre duas características mede a tendêndia delas variarem na mesma direção (correlação positiva) ou na direção oposta (correlação negativa). A interpretação da magnitude de correlação entre duas características, como mostrado na Tabela 1, são as seguintes:

Entre 0.7 e 1.0-correlação alta Entre 0.35 e 0.7-correlação moderada Entre 0 e 0.35-correlação pequena

Por exemplo a correlação negativa entre a quantidade de leite e a porcentagem de gordura no leite (Tabela 1) torna mais difícil a seleção de vacas para ambas, alta produção de leite e alta porcentagem de gordura no leite. Em contraste, a correlação entre produção de leite e consumo de alimento é altamente positiva (+0.80). Deste modo, vacas selecionadas para produzir mais leite tendem a consumir mais alimento.

Essencias em gado de leite Capitulo 16

Reprodução e melhoramento genético

16: Habilidade predita de transmissão e confiabilidade

Michel A. WattiauxThe Babcock Institute

 

Tradução:Alexandre H. Souza

AVALIAÇÃO GENÉTICA DO REBANHO LEITEIRO NOS EUA

Page 81: Nutrição Essências em gado de leite

A avaliação genética de touros na bovinocultura leiteira teve início nos Estados Unidos em 1935. Em 1974, o índice de Comparação Contemporária Modificada (CCM) foi implementado como um método eficaz para a avaliação dos animais. A cada seis meses, em Janeiro e em Julho, o departamento de agricultura dos Estados Unidos calculava o valor genético de vacas e touros que tinham seus dados anotados no programa de Melhoramento do Rebanho Leiteiro (MRL). Desde Julho de 1989, a Capacidade Prevista de Transmissão (CPT) de vacas e touros têm sido analisada por um método estatístico chamado "Modelo Animal". No modelo animal, machos e fêmeas são avaliados ao mesmo tempo com a ajuda de um sistema computadorizado muito poderoso.

CARACTERÍSTICAS AVALIADAS

As cinco características de produção para as quais a avaliação é conduzida são:

1. Produção de leite2. Produção de gordura3. Produção de proteína4. Porcentagem de gordura5. Porcentagem de proteína

Acresente-se características de conformação (primariamente úbere, pernas e pés, conformação do corpo e capacidade leiteira) que são também avaliadas. Avaliação genética da vida produtiva dos touros (expectativa de vida das filhas no rebanho) e escore das células somáticas (uma medida de resistência à infecções por mamites) são também avaliadas nos Estados Unidos, desde janeiro de 1994.

CAPACIDADE PREVISTA DE TRANSMISSÃO OU CPT(EM INGLÊS PTA)

A habilidade de transmissão é o valor genético médio de uma característica que um animal transmite para sua prole. A habilidade de transmissão pode ser calculada com um certo grau de acurácia (chamado de confiabilidade) usando-se três fontes de informação:

1. O mérito genético dos pais2. O desempenho do próprio animal (quando aplicável)3. Informação da progênie

Page 82: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 1: Frequência de distribuição das filhas para dois touros de CPT diferentes.

O valor da habilidade de transmissão predita de um touro é um número médio; é a melhor estimativa do mérito genético de um touro. O valor genético e o desempenho de uma filha em particular ainda depende de componentes imprevisíveis, pois cada filha recebe diferentes genes de um mesmo touro. O acaso determina o mérito genético da prole na ocasião da fetrilização do oócito pelo espermatozóide. Em outras palavras, o mérito genético de um animal não pode ser previsto na hora do acasalamento. Por exemplo, quando dois animais de alto mérito genético são cruzados, o valor genético de sua prole não sera necessáriamente alto. Porém esta prole estará mais propensa a ter um mérito genético acima da média. Mas é possível que o mérito genético da mesma prole seja menor que a média.

O desempenho das filhas de um touro esta distribuída de acordo com uma curva em forma de sino (curva normal), e isto ocorre tanto para um touro com CPT para produção de leite de 1.000 kg, como para um touro com CPT de 0 kg para a mesma característica. É importante perceber que o touro A têm um CPT de 1.000 kg, porém poucas filhas do touro A terão o CPT menor que algumas filhas do touro B, o qual têm um CPT de 0 kg (Figura 1). Contudo, um ponto importante é que mais filhas do touro de alto valor genético (touro A) têm um CPT maior que as filhas do touro de baixo valor genético (Touro B).

Base genética

Base genética é o ponto de referência usado para avaliar o mérito genético de animais para uma característica. Todos os valores do CPT são expressos como um desvio da base genética. Define-se a base fixando-se a capacidade prevista de transmissão média no ponto "zero" para um grupo de animais. Por exemplo, nos Estados Unidos, até 1994, a CPT para produção de leite foi fixada em zero para todas as vacas nascidas em 1985 e que ainda estavam produzindo leite em 1990. Há uma base para cada carcterística e para cada raça.

Estritamente, não há necessidade de modificar a base genética. Entretanto, com o progresso genético as CPTs aumentam. Em geral, as bases genéticas são atualizadas para ajustar as estimativas dos valores genéticos dos animais para a população representativa da situação atual. Alguns países mudam sua base genética anualmente

Page 83: Nutrição Essências em gado de leite

(Canadá), porém alguns mudam somente a cada 10 anos. Nos Estados Unidos, a base genética é modificada a cada 5 anos.

O impacto da mudança da base genética sobre a produção de leite esta ilustrado na Figura 2. Ao se modificar a base genética nós não mudamos o valor genético de um animal ou sua classificação quando comparado a outros animais da população; somente o ponto de referência se modifica.

Confiabilidade

Confiabilidade é uma medida de precisão ou de acurácia dos valores da CPT. Confiabilidade pode ser vista também como um reflexo do volume de informações na avaliação da CPT. Maior o volume de informações disponível, maior será a confiabilidade e também será menos provável que as futuras CPTs sejam diferentes das atuais. Confiabilidade depende primariamente da:

Confiabilidade na CPT dos pais e dos outros parentes Do número de anotações (vacas) Do número de filhas de um touro e do número de rebanhos pelos quais elas estão

distribuídas

São necessárias cerca de 30 filhas colocadas em 30 rebanhos diferentes para se obter um valor da CPT para produção de leite com uma confiabilidade aproximada de 70%. Da mesma maneira, 100 filhas colocadas em 100 rebanhos aumentam aumentam a confiabilidade do CPT para 88%. Portanto, a confiabilidade aumenta com o aumento do número de informações. Espera-se que um valor da CPT com confiabilidade de 70% se modifique em avaliações futuras. A direção da mudança é desconhecida, contudo, com o aumento de informações disponíveis, a CPT desses touros pode subir ou descer ou mesmo permanecer quase intacta. Portanto, o uso de touros com baixa confiabilidade é mais arriscado, mas ao mesmo tempo, há maior oportunidade de provocar mudanças do que o uso de touros com alta confiabilidade da CPT (mais de 90%), dos quias não se espera mais mudanças.

Figura 2: Efeito da mudança da base genética sobre o valor da CPT para produção de leite.

Page 84: Nutrição Essências em gado de leite

Intervalo de confiança

Intervalo de confiança reflete o limite dentro do qual se colocam 68% das capacidades esperadas de transmissão (duas de um total de três vezes). Um intervalo de confiança é útil porque ele dá uma expectativa realista da magnitude de mudança que pode afetar o PTA de um touro.

Intervalo de confiança é fácil de ser calculado porque ele depende somente da confiabilidade e do desvio padrão da característica de interesse. O limite inferior e superior de um intervalo de confiança pode ser calculado da seguinte maneira:

Limite inferior = CPT - desvio;Limite superior = CPT + desvio;

Onde o desvio =

x desvio padrão genético .

Tabela 1: Desvio aproximado da média que pode ser usado para o cálculo do intervalo de confiança no qual o verdadeiro CPT de um animal será encontrado em duas de um total de três vezes.*

Confiabilidade (%)

Deviation = x desvio padrão genético

Leite Proteína Gordura

Kg Lbs Kg Lbs Kg Lbs

50 180 396 6 13 7 16

70 139 307 5 10 6 11

75 127 280 4 10 5 12

80 114 250 4 8 5 10

85 98 217 3 7 4 9

90 80 177 3 6 3 7

95 57 125 2 4 2 5

99 25 56 1 2 1 2

* Para o cáculo dos desvios na tabela, o desvio padrão genético foi considerado da seguinte maneira: produção de leite 254 kg (560 lbs); produção de proteína 8.6 kg (19 lbs); produção de gordura 10.3 kg (22.5 lbs).

Vamos calcular o intervalo de confiança para dois touros, ambos com CPT para leite 1.000 lb, mas com confiabilidade de 70% e 99%. Como esta indicado no rodapé da Tabela 1, o desvio padrão genético para produção de leite é de 560 lb. Então para o touro com confiabilidade de 70%, o desvio da CPT é x 560 = 307 lbs. O limite inferior do intervalo de confiança é 1000 - 307 = 693 lbs, e o limite superior é 1000 +

Page 85: Nutrição Essências em gado de leite

307 = 1307 lbs de leite. Deste modo, nós podemos dizer que em duas de um total de três vezes, a verdadeira CPT do touro situa-se entre 693 e 1307 lb de elite. Isto também significa que em uma em um total de seis a verdadeira CPT será menor que 693 lbs de elite e em uma de um total de seis ela será maior que 1.307 lb de leite.

Para o touro com confiabilidade do CPT de 99%, o intervalo de confiança é bem menor. No nosso exemplo, o touro com CPT de 1.000 lb e confiabilidade de 99% tem uma verdadeira capacidade de transmissão entre 944 lb e 1.056 lb em duas de um total de três vezes (Figura 3).

Figura 3: Intervalo de confiança (68%) e confiabilidade em CPT para produção de leite.

Essencias em gado de leite Capitulo 17

Reprodução e melhoramento genético

17: Objetivos da seleçãoMichel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

Tradução:Alexandre H. Souza

DEFINIR OS OBJETIVOS DA INSEMINAÇÃO

O objetivo de sistemas de acasalamento devem considerar cuidadosamente a situação de cada produtor de leite. Recentemente, o objetivo de sistemas de acasalamento é o de obter vacas mais desejáveis-Vacas que darão a maior lucratividade para o produtor. As características de vacas lucrativas normalmente são:

Page 86: Nutrição Essências em gado de leite

Produção de grande quantidade de leite por lactação Longevidade (muitas lactações) Maior preço de mercado do leite produzido

Caracteristicas de produção e preço do leite

Vacas que produzem grandes quantidades de leite são mais lucrativas, pois, em geral, elas requerem menos comida por unidade de leite produzida comparadas com vacas com menores produções de leite.

O preço de mercado do leite é um fator importante ao se definir os objetivos da seleção. Os primeiros dois fatores mencionados acima são biológicamente comuns em todas as vacas no mundo; porém, o preço de mercado do leite pode fazer com que os objetivos de seleção sejam diferentes entre diferentes países e mesmo dentro de regiões diferentes em um mesmo país. Dependendo da maneira em que o preço do leite é estabelecido, a estratégia mais rentável para um produtor de leite pode ser selecionar vacas que produzem:

O maior volume de leite, independentemente da composição do mesmo; O maior volume de leite e quantidade de gordura Maiores quantidades de gordura e proteína, independentemente do volume

produzido Maiores quantidades de leite e proteína dentro do menor volume de leite

possível

Na escolha de uma estratégia de seleção, lembre-se que a genética deve ser estabelecida a longo tempo. Objetivos de seleção que permanecem inalterados por muitos anos produzem melhores resultados, pois a seleção tem um pequeno efeito, porém este efeito é acumulativo sobre as gerações dos animais. Além disso, quanto mais tempo estes objetivos são mantidos, maior é o ganho genético ao longo do tempo. Por exemplo, levou-se perto de 20 anos de seleção (de 1965 a 1985) para melhorar o mérito genético para a produção de leite em 1,000 kg nos Estados Unidos. Porém, mesmo as estimativas mais conservativas indicam que nos próximos 20 anos o mérito genetico para a produção de leite deve aumentar em mais de 6.000 kg.

Longevidade (tempo de produção) e conformação

A longevidade é uma característica desejada por muitos produtores. Longevidade não significa idade avançada; vacas que vivem mais somente tem valor caso essa idade seja acompanhada por uma alta produção de leite. Selecionar somente para longevidade não é eficiente, pois muitos fatores podem influenciar esta característica, e na maioria das vezes estes fatores não tem natureza genética. A herdabilidade da vida de rebanho é de 8% (baixa herdabilidade). Além disso, são necessários de 7 a 8 anos para que as filhas de um touro completem a vida dentro de um rebanho, que é o tempo necessário para calcular de maneira confiável o PTA estimado para estes touros. Passado este período de tempo, o touro pode até já estar morto, ou o mérito genético deste touro pode ter sido ultrapassado por outros touros mais jovens. Na realidade, a longevidade de vacas em muitos rebanhos depende principalmente de três fatores-uma vaca normalmente fica mais tempo em um rebanho se:

Page 87: Nutrição Essências em gado de leite

Não têm casos sérios de mastite Não tem problemas sérios de reprodução (habilidade para reproduzir-se) Têm uma produção de leite aceitável para o fazendeiro

Tipo funcional: úbere, pernas e pés

O tipo "funcional" é um termo que foi criado recentemente e se refere a conformação corporal que esta associada com a performance durante a vida. Tempo funcional difere do termo convencional do tipo "ideal" de conformação corporal que pode ser valorizado para produtores que têm animais que conseguem altos escores em tipo leiteiro, vencedores de competições de tipo leiteiro, e podem ser vendidas com melhores preços.

Em geral , características de conformação não são bons preditores de longevidade. As pesquisas mostram que as características de produção são melhores preditores de longevidade que qualquer outra característica de conformação. Portanto, a seleção do touro deve ser feita baseada nas características de produção e, secundariamente, em características de conformação. Na verdade, a longevidade seria automaticamente selecionada por índices que eliminam o uso de touro com baixo PTA para produção, e, obviamente, para conformação e problemas reprodutivos.

Dentre todas as características de conformação, as características de úbere-em particular o posicionamento dos tetos, profundidade do úbere e inserção de úbere-são mais associados com longevidade. As pesquisas mostram que vacas com profundidade de úbere média fica no rebanho mais tempo que vacas nos dois extremos (úbere razo and úbere profundo). Isto acontece pois vacas com um úbere razo tendem a produzir menos leite e vacas com úberes muito profundos estão mais predispostas à mastite e a acidentes físicos.

Apesar da importância que alguns produtores dão para pernas e pés, estudos em desempenho durante a vida da vaca sugerem que pernas e pés têm uma importância muito menor na vida de rebanho que características de produção ou características de úbere.

Característcas de produção e o tipo funcional

Apesar do pensamento comum de que características funcionais melhoram a longevidade de vacas leiteiras, as vacas são raramente descartadas devido à problemas de conformação. Não existem dúvidas de que traumas em úberes são mais comuns em vacas com úberes pendulares, e de que vacas com com sérios problemas de pernas e pés precisam ser descartádas em certas ocasiões. Porém, se o animal esta produzindo uma quantidade boa de leite, a maioria dos fazendeiros preferem manter estes animais no rebanho. Os produtores frequentemente tem que descartar vacas com problemas de saúde, com problemas metabólicos ou com disordens reprodutivas, independentemente da conformação do animal.

Portanto, é sempre importante manter em mente que, economicamente, as características de produção são muito mais importantes que características de conformação. A maioria dos estudos econômicos nos EUA sugerem que as características de produção devem receber de três a cinco vezes mais importância que características não relacionadas a produção de leite na priorização da seleção genética.

Page 88: Nutrição Essências em gado de leite

Vacas de grande porte e vacas de pequeno porte

Nos últimos 25 anos, o tamanho das vacas leiteiras nos EUA têm aumentado. Como as outras características que foram discutidas até agora, esta mudança têm componentes genéticos e de ambiênte. Vacas maiores comem mais e, portanto, produzem mais. Porém, o tamanho não esta intimamente relacionado com maiores produções de leite. Em outras palavras, a seleção para maior produção de leite não necessáriamente aumenta o tamanho corporal. Na realidade, um projeto que foi iniciado em 1968 mostra que o ganho genético para produção de leite é tão rapido em vacas de pequeno porte como é para vacas de grande porte. Porém, vacas de grande porte têm uma maior ingestão de matéria seca para manutenção. Portanto, quando a produção de leite é igual, vacas menores são mais eficiêntes que vacas de grande porte.

Um estudo detalhado nos EUA tem mostrado que produtores de leite que criam animais para vendas em exposições e provas de julgamento preferem vacas maiores e mais fortes. Estes animais tendem a receber uma classificação final melhor em pistas de show.

Tabela 1: Ganho genético relativo esperado com o aumento do número de características selecionadas em um programa de seleção.

 

      

Número de características

  1 2 3 4 5 6 7

Ganho relativo (%) 100 71 58 50 45 41 38

Quantas características devem ser incluídas em um programa de seleção?

Quando a seleção genética é feita para mais de uma característica, o ganho genético é menor se comparado a seleção é feita para apenas uma característica sozinha. Em geral, mais de uma característica é desejavel; porém, selecionar para mais de quatro ou cinco características ao mesmo tempo reduz as taxas de ganho genético condideravelmente.

A Tabela 1 mostra a perda da pressão de seleção quando mais características são adicionadas em um programa de seleção. Por exemplo, se a decisão de seleção é feita para duas características, o progresso genético destas duas característica será de 71% do progresso feito quando apenas uma característica é selecionada sozinha.

Considere as correlações entre as caracteristicas

Page 89: Nutrição Essências em gado de leite

Ao se decidir que características devem ser selecionadas e qual a importância de cada uma dentro de um programa de seleção, devemos nos lembrar das correlações que existem entre estas características. A Tabela 2 mostra o PTA médio de 10 touros para 5 características (estes touros foram foram os 10 melhores touros de "mérito genetico" em Janeiro de 1995 nos EUA). Por exemplo, o PTA para produção de leite teve a média de 2.274 libras. Mas estes touros de alto valor genético para produção de leite tinham os seguintes PTA para outras características: tipo 1.03, porcentagem de gordura -0.06%, proteína 62.5 libras, gordura 70.4 libras, porcentagem de proteína -0.04%. A tabela 2 mostra que o maior PTA médio para uma característica é obtido ao se selecionar os 10 touros para uma característica em particular (célula cinza).

Porém, correlações também podem influenciar a seleção de outras características. No nosso exemplo, a seleção somente para produção de leite (Linha 1 na Tabela 2) esta também associada com um PTA para a produção de proteína de 62.5 libras-o ganho genético é de apenas algumas libras a menos do possível ganho ao se concentrar a seleção para a produção de proteína (Linha 4, 66.3 lbs). Outra observação interessante é que ao se colocar toda a pressão de seleção na porcentagem de gordura (Linha 3) faria que nós escolhessemos touros com o maior PTA para produção de gordura (74.9 lbs), mas com menor produção de leite (média PTA = 1,312 lbs). Porém, focar a seleção no peso da gordura (Linha 5) faz com que escolha-mos touros que têm um PTA positivo para porcentagem de gordura (0.078) e produção de leite (1.831 lbs).

Tabela 2: Média dos PTAs para os 10 touros selecionados para várias características entre os touros disponíveis nos EUA em 1995.

Linha #

Base de seleção

Média de PTA para os toruros selecionados

Leite(lbs) Tipo score

Gordura (%)

Proteína (lbs)

Gordura (lbs)

Proteína

(%)

1Produção de leite (lbs)

2272 1.03 -0.06 62.5 70.4 -0.04

2 Escore de tipo 1788 2.4 -0.03 51.4 56.7 -0.02

3 Gordura (%) 1312 0.574 0.121 50.3 74.9 0.044

4 Proteína (lbs) 2044 1.047 -0.01 66.3 72.8 0.011

5 Gordura (lbs) 1831 0.933 0.078 58.6 84.7 0.007

6 Proteína (%) 1293 0.376 0.096 54.9 68.8 0.067

 

Tabela 3: Índices comuns padronizados para o uso pela indústria de laticínios nos Estados Unidos.

  PTA leite, gordura, Tipo Production Mérito

Page 90: Nutrição Essências em gado de leite

proteína (PTAMFP$)

Production Index (TPI) *

(PTI)** genético

Produção de leite 0.0546 - - -

Produção de gordura

0.58 1 2 -

Produção de proteína

1.47 3 8 -

PTA MFP$ - - - 10

Tipo (escore final) - 1 - -

Composição de úbere***

- 1 - -

Características funcionais

- - 2 -

Vida produtiva - - 2 4

Escore de célula somatica****

- - -1 1

* Somente par vacas Holândesas.** Somente para vacas Jerseys.*** Veja texto para maiores detalhes.**** Resistência à mastite.

Como alcançar os objetivos

Escolher o touro correto para a inseminação artificial na fazenda é o método mais barato e eficaz de se fazer progresso nos objetivos genéticos. Os touros devem ser escolhidos com base na sua habilidade de transmitir a característica desejada. A confiabilidade deveria ser usada somente para determinar a intensidade do uso daquele determinado touro.

A estrutura de cotação de preços do leite (o preço da gordura, proteína e outros fatores de ajustamento usados para calcular o preço do leite) pode ser usada para calcular o índice de seleção para a judar na identificação do melhor touro para um determinado objetivo de seleção. A construção de um índice de seleção tem sido descrito nesta publicação (consulte "Escolhendo um Touro"). Muitos dos atuais índices de seleção valorizam características de tipo (ex: Total performance index-TPI-calculado pela Holstein Association). Porém, índices mais novos tentam dar mais importância para vida produtiva e à resistência à mastite (Tabela 3).

Essencias em gado de leite Capitulo 18

Page 91: Nutrição Essências em gado de leite

Reprodução e melhoramento genético

18: Escolhendo o touroMichel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

Tradução:Alexandre H. Souza

 

 

A escolha do touro a ser utilizado hoje determina o tipo de vacas que estarão em produção em 3 anos. A escolha do touro deve se basear nas seguintes considerações:

Priorize as características consideradas na seleção e coloque um valor de importância para cada característica-características de produção devem ser de 3 a 5 vezes maiores que características de conformação

. Utilize um método de seleção-um método independente de seleção ou preferencialmente um índice de seleção-para escolher um touro baseado no seu PTA

Não utilize a confiabilidade para escolher um touro-use a confiabilidade para decidir o quanto você vai utilizar este touro

USANDO O PTA PARA DECISÕES DE SELEÇÃO

O propósito básico da Habilidade de Transmissão Predita (PTA ou HTP) é para classificar touros. Se um touro têm um PTA de +1.000 kg de leite, isto não significa que suas filhas irão produzir 1.000 kg a mais que suas companheiras de rebanho. Isto significa que, as filhas deste touro terão a média de produção 1.000 kg maior que as filhas dos touros usados na base genética. A seleção deve ser baseada no PTA do touro. Um erro comum é usar a confiabilidade como critério de seleção. O uso correto da confiabilidade será explicado mais tarde. Em termos de seleção de touros, dois métodos estão a disposição: o descarte independente e o índice de seleção. Os dois métodos têm suas vantagens e desvantagens, porém o método dos índices de seleção é preferido pelos geneticistas pois este método usualmente oferece a possibilidade de um maior progresso genético.

Descarte independente

O descarte independente é um método no qual o produtor coloca um valor mínimo para cada característica desejada no programa de seleção. Os touros acima do mínimo para aquelas características são considerados para a seleção. Por exemplo, assumindo que duas características de importância são o PTA para produção de leite e o PTA para produção de proteína, alguns podem decidir escolher entre os touros diponíveis aqueles com PTA para leite maior que 2.250 libras e o PTA para proteína maior que 65 libras.

Page 92: Nutrição Essências em gado de leite

Como ilustrado na Figura 1, somente dois touros na população de touros americana em Janeiro de 1995 conseguiriam alcançar estes parâmetros de seleção.

Vantagens

É o método mais simples de identificar touros que conseguem atender aos objetivos do fazendeiro em um programa de seleção.

Desvantagens

A primeira dificuldade em usar o descarte independente é colocar o valor mínimo para a seleção. Um touro pode ser descartado por não atender a um dos requerimentos de seleção, mesmo que isto seja por apenas algumas libras, enquanto todas as outras características possam exceder os requerimentos mínimos de seleção (Figura 1). A necessidade de se atualizar os critérios de seleção periodicamente é outra desvantagem do descarte independente. Quando os touros são selecionados com este método, o progresso genético e a mudança na base genética podem afetar o touro que será o mais desejado. Se um critério de seleção tem sido utilizado por muitos anos, mais touros tendem a estarem em no grupo dos preferidos pelo progresso genético. Outro critério precisa ser encontrado para selecionar o touro desejado ou ou os padrões de seleção devem ser mudados periodicamente. Além disso, quando a base genética muda, somente poucos touros preenchem os critérios de seleção e, novamente, os padrões de seleção precisam ser revistos e ajustados corretamente.

Figura 1: Seleção de touros baseado no descatre independente.

Índice de seleção

O uso do índice de seleção permite a classificação dos touros baseado no valor de importância calculado para as características de seleção desejadas "peso relativo". O "peso" representa o valor de importância que um produtor coloca em uma determinada característica. O preço dos componentes do leite, por exemplo, pode ser utilizado como um fator de importância ou de peso. Neste caso, o índice teria o valor unitário da moeda

Page 93: Nutrição Essências em gado de leite

(dólares, reais, francos etc.). Porém, o valor absoluto de um índice têm pouca importância. Os touros devem ser classificados de acordo com o índice mais apropriado, e os touros mais altos para aquele índice devem ser usados sem levar em conta o valor real daquele índice. Em outras palavras, não existe significado em se colocar valores mínimos para os índices pelo valor absoluto dos índices.

Vantagens

Um índice permite a identificação de touros que preenchem melhor os objetivos de ganho genético sem focar em nenhuma característica em especial. Os índices forçam o produtor a avaliar as características a serem selecionadas conscientemente e formular um plano específico para a maximização destes índices no rebanho. Depois de um índice ser escolhido corretamente, a seleção dos touros é muito mais simples que no sistema de descarte independente, pois os melhores touros serão os touros classificados no topo da lista. Além disso, um índice é um método objetivo para se dar chance a um touro que pode ser rejeitado pelo sistema de descarte independente pois estes touros podem não preencher os requerimentos para uma das características que estão sendo selecionadas.

Desvantagens

Os índices são difíceis de se construir, pois é difícil de se escolher e dar valores de peso para as características a serem inseridas na seleção. Muitos índices "pré-calculados" estão a disposição. Porém, não é muito claro decidir qual destes índices reflete a prioridade de um rebanho para uma determinada característica. Alguns índices colocam muito peso para características de conformação. Outros índices, o peso econômico que é colocado em características de produção de leite se baseiam no sistema de preços do leite nos Estados Unidos. A interpretação destes índices para produtores de outros países é muito difícil, pois, claramente, o sistema de preços para o leite varia de país para país.

Como construir um índice de seleção que reflete os aumentos esperados na renda bruta

Como um exemplo, vamos assumir que estamos construindo um índice para o mercado leiteiro com as seguintes características. Vamos assumir que o preço do leite é de 12.2 (para qualquer unidade monetária) por Kg de leite contendo 3.5% de gordura e 3.2% de proteína. O laticínio paga 0.150 unidades monetárias por 0.1% de gordura (ou por grama de gordura) e 0.300 unidades monetárias por 0.1% de proteína (ou por grama de proteína). O peso relativo dado para a produção total de leite, produção de proteína e produção de gordura pode ser calculado da seguinte maneira:

Valor de uma grama de gordura = 0.150 unidades monetárias, valor de 1 kg de gordura = 150 unidades monetárias, valor de 35 g de gordura em 1 kg de leite = 0.150 x 35 = 5.25 unidades monetárias

Valor de uma grama de proteína = 0.300 unidades monetárias, valor de 1 kg de proteína = 300 unidades monetárias, valor de 32 g de proteína em 1 kg de elite = 0.300 x 32 = 9.60 unidades monetárias

Valor de 1 kg de leite sem gordura e proteína = 12.2 - 5.25 - 9.60 = -2.65 unidades monetárias

Page 94: Nutrição Essências em gado de leite

Portanto, podemos calcular um índice que vai refletir o aumento esperado na renda bruta das filhas de um touro baseado no seu PTA para produção de leite, proteína e gordura. Vamos chamar este índice de PTA-AGI (habilidade de transmissão predita da renda bruta). Nós usamos a terminologia renda bruta, pois vacas que produzem mais leite, também tem uma maior ingestão alimentar; porém, os custos extras da alimentação não estão incluídos no nosso índice.

PTA-AGI = (-2.65 x PTA kg de leite) + (300 x PTA kg de proteína) + (150 x PTA kg de gordura).

Por exemplo um touro com PTA para leite de 800 kg, PTA para proteína de 20 kg, e PTA para gordura de 38 kg, teria um PTA-AGI índex de:

PTA-AGI = (-2.65 x 800) + (300 x 20) + (150 x 38) = 9,580 unidades monetárias

QUANTOS TOUROS DEVEM SER USADOS EM UM REBANHO?

O número de touros e a estratégia para a seleção destes touros pode variar em função do:

Tamanho do rebanho Confiabilidade do touro A disposição do fazendeiro em correr alguns riscos

Quando touros jovens são selecionados, a compra de sêmen devem se limitar a apenas alguns palhetes de sêmen por touro. Quando a confiabilidade do touro aumenta, pode-se aumentar o número de palhetes de sêmen a serem comprados de um determinado touro. Não é aconselhavel inseminar mais de 15 a 20% de um rebanho com um mesmo touro, mesmo que o touro tenha o PTA com alta confiabilidade. Em outras palavras o mínimo aconselhavel é de pelo menos 3 touros para cada 50 vacas do rebanho. A diversificação é um tipo de segurança contra qualquer problema inesperado que podem aparecer decorrentes do uso de um touro no rebanho.

USA CONFIABILIDADE PARA DECIDIR QUANTO INVESTIR EM UM TOURO

A confiabilidade indica a acurácia das avaliações genéticas. Muitas vezes os produtores utilizam a confiabilidade como um critério de seleção. Na verdade, a confiabilidade nunca deve ser usada como critério de seleção de touros; porém, depois da seleção dos touros a serem utilizados, a confiabilidade deve ser utilizada para a intensidade de uso desses touros (ex: quantidade de sêmen comprado). O número de touros a disposição é muito grande e tendemos a rejeitar touros que têm uma confiabilidade de PTA baixa. Porém, usar a confiabilidade como critério de seleção pode diminuir o ganho genético.

Page 95: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 2: Exemplo das mudanças dos PTAs de 20 touros quando a confiabilidade aumenta de 70% para 99%; cada touro está identificado com um retângulo numerado de 1 a 20 e a distribuição das suas filhas esta ilustrada pelas curvas em horizontal.

O verdadeiro valor genético de touros com o PTA com alta confiabilidade esta muito próximo do seu valor real e tende a não mudar com o tempo. Para alguns produtores, esta característica pode ser importante pois isto garante que o mérito genético previsto das filhas vai estar proximo do PTA do touro. Porém, a alta confiabilidade pode ser considerada por alguns como uma falta de oportunidade. Touros jovens normamelte têm menores confiabilidades eles têm um número limitado de filhas no seu teste de progênie. Além disso, os touros com os méritos genéticos mais altos estão entre os touros sendo testados pela sua progênie; nós apenas não sabemos quem são eles. Portanto como podemos obter vantagens de uma genética superior de determinados touros jovens, sendo que não sabemos seu PTA real?

Nós sabemos que um PTA com uma baixa confiabilidade provavelmente deve mudar, mas não podemos prever se este PTA vai aumentar ou diminuir. Na verdade, quando dois touros têm o mesmo PTA, é mais arriscado comprar muito sêmen do touro com menor confiabilidade.

Ao invés de focalizar em um touro jovem, devemos focar em um grupo de touros jovens, os riscos vão mudar drasticamente. Vamos considerar o futuro de um grupo de touros jovens com altos PTAs e baixa confiabilidade (Figura 2). Em geral, quando o PTA de um touro diminui, o PTA de outro aumenta. Em um grupo, os touros que diminuem seu PTA normalmente contribuem para o aumento do PTA de outros touros. Portanto, o PTA médio final do grupo de touros jovens não muda com o tempo pois a diminuição do PTA de alguns dos touros será compensada pelo aumento do PTA de outros touros (Figura 2). Em outras palavras, a melhor estratégia para minimizar o risco da baixa confiabilidade e maximizar o ganho genético é focar em um grupo de touros com baixa confiabilidade. A estratégia deve se basear em comprar sêmen de vários touros jovens. Ao comprar poucas unidades de sêmen de vários touros jovens, de baixa confiabilidade, as chances de se produzir um grande número de filhas de um touro que tem seu PTA diminuido com o tempo são pequenas; e as chances de se produzir filhas de touros que possam ter seu PTA aumentado com o tempo são maximizadas.

Page 96: Nutrição Essências em gado de leite

Essencias em gado de leite Capitulo 19

Lactação e ordenha

19: Composição do leite e seu valor nutricional

Michel A. WattiauxThe Babcock Institute

Tradução:Fernanda Hoe

O QUE É LEITE?

O leite é um produto comum da secreção da glândula mamária. A composição média do leite de vacas e búfalas está na Tabela 1. O leite é um produto complexo e nutritivo que contém mais de 100 substâncias que estão em solução, suspensão ou emulsão em água. Por exemplo:

Caseína, a principal proteína do leite, está dispersa em grande número na forma de partículas sólidas que são tão minúsculas que não conseguem assentar e assim permanecem em suspensão. Essas partículas são chamadas micelas e a dispersão das micelas no leite é conhecida como uma suspensão coloidal

A gordura e as vitaminas lipossolúveis do leite estão na forma de uma emulsão, que é uma suspensão de pequenos glóbulos líquidos que não se misturam com a água presente no leite

Lactose (açúcar do leite), algumas proteínas (proteína do soro), sais minerais e outras substâncias são solúveis, ou seja, são totalmente dissolvidas na água do leite

 

Tabela 1: Composição do leite de diferentes espécies (quantidade por 100 g).

Nutrientes Vaca Búfala Humano

Água, g 88.0 84.0 87.5

Energia, kcal 61.0 97.0 70.0

Proteína, g 3.2 3.7 1.0

Gordura, g 3.4 6.9 4.4

Lactose, g 4.7 5.2 6.9

Minerais, g 0.72 0.79 0.20

 

As micelas de caseína e os glóbulos de gordura conferem ao leite a maioria de suas características físicas, e conferem o sabor e o gosto aos produtos lácteos como manteiga, queijo, iogurte, etc. A composição do leite varia consideravelmente com a raça da vaca, estágio de lactação, alimentação, estação do ano, e muitos outros fatores.

Page 97: Nutrição Essências em gado de leite

Entretanto, algumas relações entre os constituintes são muito estáveis e podem ser usadas para indicar se houve alguma alteração na composição do leite. Por exemplo, um leite de composição normal tem gravidade específica que varia normalmente de 1.023 a 1.040 (a 20°C) e ponto de congelamento que varia de -0.518 a -0.543°C. Qualquer alteração, por adição de água por exemplo, pode ser facilmente determinada porque essas características do leite não estarão mais no intervalo de valores normais.

O leite é um produto altamente perecível que deve ser refrigerado a 4°C o mais rápido possível após a coleta. Temperaturas extremas, acidez (pH) ou contaminação por microorganismos podem rapidamente diminuir a sua qualidade.

LEITE COMO ALIMENTO HUMANO

Água

O valor nutricional do leite como um todo é maior do que o valor dos seus ingredientes individualmente devido ao seu balanço nutricional. A quantidade de água no leite demonstra esse balanço. Em todos os animais, água é o nutriente necessário em maior quantidade, e o leite supre uma grande quantidade de água-contém aproximadamente 90% de água.

A quantidade de água no leite é regulada pela quantidade de lactose sintetizada pelas células secretoras da glândula mamária. A água destinada ao leite é entregue à glândula mamária pelo sangue. A produção de leite é rapidamente afetada pelo suprimento de água e diminue no mesmo dia em que a água destinada ao cosumo animal é limitada ou não está disponível. Esta é uma razão pela qual a vaca deve ter acesso livre à fonte de água o tempo todo.

Carboidratos

O principal carboidrato no leite é a lactose (Figura 1). Apesar da lactose ser um açúcar, não se nota que ela é doce quando provada. A concentração de lactose no leite é relativamente constante e em média é 5% (4.8-5.2%). Ao contrário da concentração de gordura no leite, a concentração de lactose é similar em todas as raças leiteiras e não pode ser alterada facilmente por práticas na dieta alimentar. As moléculas que dão origem à lactose são encontradas em concentrações bem menores no leite: glicose (14mg/100g) e galactose (12mg/100g).

Figura 1: Lactose é sintetizada no úbere a partir de glicose e galactose

Em uma porção significativa da população humana, a deficiência da enzima lactase no trato digestivo resulta na inabilidade de digerir lactose. A maioria dos indivíduos com baixa atividade de lactase desenvolve sintomas de intolerância a altas doses de lactose,

Page 98: Nutrição Essências em gado de leite

mas a maioria pode consumir quantidades moderadas de leite sem desconforto. Nem todos os produtos lácteos contém quantidades similares de lactose. A fermentação de lactose durante o processamento reduz sua concentração em vários produtos lácteos, especialmente em iogurtes e queijos. Além disso, leite pré-tratado com lactase, que minimiza o problema associado com lactose, está disponível no mercado.

Proteínas

A maioria do nitrogênio do leite é encontrada na forma de proteína (Figura 2). Os blocos construtores da proteína são os aminoácidos. Existem 20 aminoácidos que são geralmente encontrados nas proteínas. A ordem dos aminoácidos na proteína confere a esta uma função específica.

Figura 2: Estrutura das proteínas (R1, R2, etc., são radicais específicos para cada aminoácido. O número de aminoácidos nas caseínas do leite varia de 199 a 209).

Figura 3: Estrutura dos triglicerídeos. (R1, R2, R3 representam as cadeias de carbono do ácido graxo que dão aos triglicerídeos suas características individuais.)

A concentração da proteína no leite varia de 3.0 a 4.0% (30-40 gramas por litro). A porcentagem varia com a raça da vaca e com a proporção da quantidade de gordura no leite. Há uma forte relação entre a quantidade de gordura e a quantidade de proteína no leite-quanto mais alta a gordura, mais alta a proteína.

A proteína faz parte de 2 grupos principais: caseínas (80%) e proteínas do soro (20%). Historicamente, essa classificação seguiu o processo de fabricação de queijo, que consiste na separação dos cubos de caseína do soro após a coagulação do leite sob a ação da renina (enzima digestiva coletada do estômago de bezerros).

O comportamento dos diferentes tipos de caseína ( a , b e k ) no leite quando tratados com calor, pH diferente (acidez) e concentração de sal diferente resulta nas características dos queijos, produtos lácteos fermentados e diferentes formas de leite (condensado, seco, etc.).

Page 99: Nutrição Essências em gado de leite

Ocasionalmente, crianças pequenas são alérgicas a leite porque seus organismos desenvolvem uma reação às proteínas do leite. A alergia causa vermelhidão, asma, e/ou desordens gastrointestinais (cólica, diarréia, etc.). Em casos de alergia, leite de cabra é geralmente utilizado como um substituo, entretanto às vezes leite com caseína hidrolizada tem que ser utilizado.

Gordura

Normalmente, gordura (ou lipídio) constitue cerca de 3.5 a 6.0% do leite, variando entre raças de gado e práticas de alimentação. Uma ração muito rica em concentrado, não estimula ruminação na vaca, podendo resultar em leite com reduzido teor de gordura (2.0 a 2.5%).

A gordura está presente no leite em glóbulos pequenos suspensos em água. Cada glóbulo é revestido por uma camada de fosfolipídios que previne os glóbulos de se agregarem, por repulsão dos outros glóbulos de gordura e atração de água. Enquanto essa estrutura estiver intacta, a gordura do leite permanece como uma emulsão.

A maioria da gordura do leite está na forma de triglicerídeos formados pela ligação de glicerol e ácidos graxos (Figura 3). As proporções de ácidos graxos de diferentes comprimentos determina o ponto de fusão da gordura e portanto a consistência da manteiga derivada da mesma. A gordura do leite contém predominantemente ácidos graxos de cadeia curta (cadeia de menos de 8 átomos de carbono) provenientes de unidades de ácido acético derivadas da fermentação no rúmen. Esta é uma característica única da gordura do leite comparada com outras gorduras animais e vegetais. Os ácidos graxos de cadeia longa no leite são principalmente ácidos insaturados (deficiente em hidrogênio), sendo predominante o oleico (cadeia de 18 carbonos), e linoleicos poliinsaturados e ácidos linolênicos.

Minerais e vitaminas

Tabela 2: Concentração de mineral e vitamina no leite (mg/100 ml).

Minerais mg/100 ml Vitaminas mg/100 ml1

Potássio 138 Vit. A 30.0

Cálcio 125 Vit. D 0.06

Cloro 103 Vit. E 88.0

Fósforo 96 Vit. K 17.0

Sódio 58 Vit. B1 37.0

Sulfato 30 Vit. B2 180.0

Magnésio 12 Vit. B6 46.0

Microminerais2 <0.1 Vit. B12 0.42

Page 100: Nutrição Essências em gado de leite

  Vit. C 1.7

1µg = 0.001 gram. 2Inclue cobalto, cobre, ferro, manganês, molibdênio, zinco, selênio, iodo e outros.

Leite é uma excelente fonte da maioria dos minerais necessários para o crescimento. A digestibilidade do cálcio e do fósforo são altas, em parte porque são encontrados em associação com a caseína do leite. Como resultado, leite é a melhor fonte de cálcio para o crescimento do esqueleto nos indivíduos mais novos e manutenção da integridade do osso nos adultos. Um outro mineral de interesse no leite é o ferro. A baixa concentração de ferro no leite não consegue suprir as necessidades dos indivíduos mais novos, mas esse nível baixo acaba tendo um efeito benéfico porque ele limita o crescimento bacteriano no leite-ferro é essencial para o crescimento de muitas bactérias.

LEITE COMO ALIMENTO PARA O BEZERRO

Componentes imunes

O leite contém proteínas chamadas imunoglobulinas que são uma das principais defesas contra organismos infecciosos (vírus, bactéria, etc.). Concentrações de imunoglobulinas são especialmente altas no colostro, o leite produzido imediatamente no início da lactação.

Imunoglobulinas não são produzidas no tecido mamário mas são transferidas diretamente do soro sanguíneo para o leite. O bezerro pode adsorver de uma melhor forma as imunoglobulinas imediatamente após o nascimento, sendo a abilidade de adsorver diminuída para cerca de zero em 36 horas após o nascimento. Isto porque nas primeiras 12 horas de vida, o bezerro não produz adequadas quantidades de ácido hidroclorídrico no estômago, o que evita que as imunoglobulinas sejam danificadas.

O colostro deve ser fornecido ao bezerro assim que possível após o nascimento. Isto irá pelo menos dobrar as chances do bezerro sobreviver. As imunoglobulinas do colostro são estáveis na corrente sanguínea do bezerro por 60 dias, conferindo-lhe proteção até que o seu sistema imune esteja funcional.

O colostro não é somente vital para o bezerro recém-nascido mas também não tem nenhum valor comercial, já que não é aceito para venda para consumo humano. Portanto, o leite de uma vaca recém-parida não deve ser incluído com o leite que será enviado ao laticínio por 3 a 4 dias. O colostro pode ser congelado e armazenado para administração a outros bezerros caso necessário.

COMPONENTES INFLUENCIANDO A QUALIDADE DO LEITE

Células no leite

Page 101: Nutrição Essências em gado de leite

Células somáticas no leite não afetam o valor nutricional. Elas são apenas significativas como indicadores de outros processos que podem estar ocorrendo no tecido mamário, incluindo inflamação. Quando as células somáticas estão presentes em números maiores que meio milhão por mililitro, há motivo para se suspeitar de mastite.

Componentes indesejáveis no leite

O leite e os produtos lácteos são alimentos perecíveis. Altos padrões de qualidade por toda indústria processadora de leite são necessários para aumentar e/ou manter a confiança do consumidor e fazer com que este decida a comprar produtos lácteos. O leite que sai da fazenda tem que ser de mais alto valor nutricional: sem alteração e contaminação. Segue uma lista parcial das substâncias indesejáveis mais comuns encontradas no leite:

Adição de água Detergentes e desinfetantes Antibióticos Pesticidas ou inseticidas Bactérias

A vigilância de produtores quanto ao cumprimento das instruções no uso de químicos, assim como boa ordenha, procedimentos de limpeza e armazenamento é essencial, não somente para o sucesso deles, mas também para o sucesso da indústria leiteira como um todo.

Essencias em gado de leite Capitulo 20

Lactação e ordenha

20: Secreção do leite no úbere da vaca de leite

Michel A. WattiauxThe Babcock Institute

Tradução:Fernanda Hoe

ESTRUTURA DA GLÂNDULA MAMÁRIA

O úbere de uma vaca é um órgão designado à produção de leite e oferecimento ao bezerro recém-nascido de um fácil acesso ao leite de sua mãe. Ele está suspenso externamente à parede posterior do abdômen e portanto não está restrito, apoiado ou protegido por nenhuma estrutura óssea.

O úbere de uma vaca é composto por quatro glândulas mamárias ou quartos. Cada quarto é uma entidade funcional própria que opera independentemente e secreta o leite por seu próprio teto. Geralmente, os quartos traseiros são levemente mais desenvolvidos e produzem mais leite (60%) do que os quartos dianteiros (40%). Os principais

Page 102: Nutrição Essências em gado de leite

componentes do úbere estão listados aqui com uma curta explicação de sua importância e função.

Sistema de suporte. Um conjunto de ligamentos e tecido conjuntivo mantém o úbere próximo à parede do corpo. Ligamentos fortes são desejados porque eles ajudam a prevenir a ocorrência de úbere penduloso, minimizando o risco de ferimentos, e evitando dificuldades no uso de equipamentos de ordenha.

Sistema secretor e de ductos. O úbere é conhecido como uma glândula exócrina porque leite é sintetizado em células especiais agrupadas em alvéolos e então excretado para fora do corpo por um sistema de ductos que funciona como os afluentes de um rio.

Suprimento sanguíneo e estruturas capilares. A produção de leite demanda muitos nutrientes que são trazidos ao úbere pelo sangue. Para produzir 1 Kg de leite, 400 a 500 Kg de sangue devem passar pelo úbere. Além disso, o sangue carrega hormônios que controlam o desenvolvimento do úbere, síntese de leite, e regeneração de células secretórias entre as lactações (durante o período seco).

Sistema linfático. A linfa é um fluído claro que vem dos tecidos altamente irrigados por sangue. A linfa ajuda a balancear o fluído que se movimenta para dentro e fora do úbere, e ajuda a combater infecções. Em alguns casos, o aumento do fluxo de sangue no início da lactação leva ao acúmulo de fluído dentro do úbere até que o sistema linfático seja capaz de remover o fluído extra. Esta condição, conhecida como edema de úbere, é mais comum em novilhas na primeira parição e vacas mais velhas com úbere penduloso.

Inervação do úbere. Receptores nervosos na superfície do úbere são sensíveis ao toque e à temperatura. Durante o preparo do úbere para ordenha, esses nervos são estimulados e iniciam o reflexo da descida do leite que permite a liberação do leite. Os hormônios e o sistema nervoso também estão envolvidos na regulação do fluxo de sangue para o úbere. Por exemplo, quando uma vaca se assusta ou sente dor física, a ação da adrenalina e do sistema nervoso diminuem o fluxo sanguíneo para o úbere, inibindo o reflexo da descida do leite e diminuindo a produção de leite.

Figura 1: Sistema de suporte do úbere da vaca.

 

Page 103: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 2: Alvéolos e ductos formam o sistema secretor de leite.

 

Sistema de suporte

Em vacas leiteiras modernas, o úbere pode pesar mais de 50 Kg devido a grande quantidade de tecido secretor e leite que se acumula entre as ordenhas. As estruturas principais que suportam o úbere são o ligamento suspensor medial e o ligamento suspensor lateral (Figura 1). A pele também desempenha um papel menor no suporte e estabilização do úbere.

O ligamento suspensor medial é um tecido elástico que adere o úbere à parede abdominal. De vista posterior, o espaço inter mamário, uma linha média distinta no úbere, marca a posição do ligamento suspensor medial. Como esse tecido é elástico, ele funciona como um amortecedor de choques e acomoda mudanças no tamanho e peso do úbere que ocorrem de acordo com a produção de leite e idade da vaca. Lesões ou fraqueza desse ligamento causa o estiramento do úbere para baixo fazendo com que seja mais difícil para ordenhar, aumentado a probabilidade de ferimentos, especialmente nos tetos. Seleção genética para um forte ligamento suspensor é eficaz em reduzir esse tipo de problema no rebanho.

Ao contrário do ligamento suspensor medial, o ligamento suspensor lateral é tecido fibroso não flexível. Ele cobre as laterais do úbere, com origem no tendão ao redor do osso púbico, para formar uma rede suspensora.

Ductos e sistemas de secreção do leite

O alvéolo é uma unidade funcional de produção onde uma única camada de células secretoras de leite estão agrupadas numa esfera com um centro oco (Figura 2). Tecidos de capilares sanguíneos e células mioepiteliais (como células musculares) circundam o alvéolo, e o leite secretado é encontrado na cavidade interna (lúmen). As funções dos alvéolos são:

Page 104: Nutrição Essências em gado de leite

Remover nutrientes do sangue Transformar esses nutrientes em leite Descarregar o leite dentro do lúmen

O leite sai do úbere por um ducto coletor. Um lóbulo é um grupo de 10 a 100 alvéolos drenados por um ducto comum. Lóbulos são organizados em unidades maiores chamadas lobos. Os lobos liberam o leite em ductos coletores maiores que levam à cisterna da glândula que fica diretamente acima do teto da glândula (Figura 2).

O úbere é portanto composto por bilhões de alvéolos onde o leite é secretado. Os ductos formam canais de drenagem onde leite se acumula entre as ordenhas. Entretanto, isto ocorre somente quando as células mioepiteliais que recobrem os alvéolos e os ductos menores contraem em resposta ao hormônio ocitocina (reflexo da descida do leite) para que o leite flua dentro dos galactóforos e da cisterna da glândula.

O teto forma uma passagem por onde o leite pode ser descartado da glândula. Ele é coberto por uma pele lisa e um rico suprimento de sangue e nervos. A extremidade inferior do teto mantém-se fechada por um anel de musculatura lisa ou esfíncter, denominado canal do teto. Na sua parte superior, o teto é separado da cisterna da glândula por uma série de dobras de células sensitivas particularmente vulneráveis à danificação. Essas dobras de tecido também são encontradas na outra extremidade do teto diretamente acima do canal do teto (roseta de Furstenburg). O teto é portanto projetado como uma barreira efetiva às bactérias invasoras. A preservação da estrutura normal do teto é essencial para manutenção do mecanismo natural de defesa contra bactérias causadoras de mastite. Diferenças na estrutura do teto, particularmente de diâmetro e comprimento, estão relacionadas à susceptibilidade à infecção.

 

SECREÇÃO DO LEITE NAS CÉLULAS SECRETÓRIAS

 

A secreção do leite pelas células secretórias é um processo contínuo que envolve muitas reações bioquímicas intrínsicas. Durante a ordenha, a taxa de secreção de leite é de certa forma diminuída mas nunca cessa completamente. Entre ordenhas, o acúmulo de leite aumenta a pressão no alvéolo e diminue a taxa de síntese do leite. Por isso, é recomendado que vacas de alta produção sejam ordenhadas o mais próximo de intervalos de 12 horas (as mais produtoras devem ser ordenhadas primeiro de manhã e por último a noite). A ejeção do leite mais frequente reduz a pressão acumulativa dentro do úbere e por esta razão, ordenhar três vezes ao dia pode aumentar a produção de leite em 10 a 15%.

Page 105: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 3: Secreção do leite nas células secretórias (os círculos com um X são passos regulatórios essenciais).

 

A célula secretória é um fator complexo. A Figura 3 mostra um resumo dos mecanismos e origem de nutrientes necessários para síntese do leite.

O uso de glicose por uma célula secretória. Apesar de a glicose na dieta ser totalmente fermentada no rúmen em ácidos voláteis (ácido acético, propiônico e butírico), ela é necessária em grandes quantidades para o úbere lactente. O fígado transforma ácido propiônico novamente em glicose que é transportada pelo sangue para o úbere, onde é usada pelas células secretórias. A glicose pode ser usada como uma fonte de energia para as células, como o bloco construtor de galactose e subsequentemente lactose, ou como fonte de glicerol necessária para síntese de gordura.

Síntese de lactose. A síntese de lactose é controlada por duas unidades de enzimas chamadas lactose sintetaze. A sub-unidade a -Lactoalbumina é encontrada no leite como uma proteína do soro.

Regulação do volume de leite. A quantidade de leite produzido é controlada principalmente pela quantidade de lactose sintetizada pelo úbere. A secreção de lactose na cavidade alveolar aumenta a concentração de substâncias dissolvidas (pressão osmótica) relativa ao outro lado das células secretórias onde o sangue flue. Assim, a concentração de substâncias dissolvidas em cada lado das células secretórias é balanceada pela liberação de água do sangue e pela mistura com outros componentes do leite encontrados na cavidade alveolar. Para o leite normal, um balanço é atingido quando há 4.5 a 5% de lactose no leite. Portanto, a produção de lactose atua como uma válvula que regula a quantidade de água liberada no alvéolo e portanto, o volume de leite produzido (ciclos Figura 3).

O efeito da dieta na produção de leite pode ser facilmente observado:

Page 106: Nutrição Essências em gado de leite

A quantidade de energia (por ex. concentrado) na dieta influencia a produção de propionato no rúmen

O propionato disponível influencia a quantidade de glicose sintetizada pelo fígado

A glicose disponível influencia a quantidade de lactose sintetizada na glândula mamária

A lactose disponível influencia a quantidade de leite produzido por dia.

Síntese de proteína. As caseínas encontradas no leite são sintetizadas a partir de aminoácidos provenientes do sangue sob controle de material genético (DNA). Essas proteínas são organizadas em micelas antes de serem liberadas no lúmen alveolar. O controle genético da síntese do leite no alvéolo vem da quantidade de a -Lactoalbumina sintetizada pelas células secretórias. Como descrito acima, essa enzima é um regulador importante da quantidade de lactose e leite produzidos por dia.

As imunoglobulinas são sintetizadas pelo sistema imune e essas proteínas geralmente grandes vêm do sangue para o leite. A permeabilidade das células secretórias às imunoglobulinas é alta durante a síntese de colostro, mas diminue drasticamente com o início da lactação.

Síntese de gordura. Acetato e butirato produzidos no rúmen são usados em parte como blocos construtores de cadeia curta de ácidos graxos encontrados no leite. O glicerol necessário para unir 3 ácidos graxos em um triglicerídeo vem da glicose. Cerca de 17-45% da gordura do leite é construída de acetato e 8-25% de butirato. A composição da dieta tem uma forte influência na concentração da gordura do leite. A falta de fibra deprime a formação de acetato no rúmen que resulta na produção de leite com baixa concentração de gordura (2-2.5%).

Lipídios mobilizados das reservas do organismo no início da lactação são outro bloco construtor para síntese de gordura no leite. Entretanto, em geral, somente metade da quantidade de ácidos graxos na gordura do leite é sintetizada no úbere, a outra metade vem predominantemente de ácidos graxos longos encontrados na dieta. Portanto, a composição da gordura do leite pode ser alterada por manipulação do tipo de gordura na dieta da vaca.

Essencias em gado de leite Capitulo 21

Lactação e ordenha

21: Princípios da ordenhaMichel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

Tradução:Fernanda Hoe

Page 107: Nutrição Essências em gado de leite

ORDENHA É UM TRABALHO DE EQUIPE ENTRE A VACA, A MÁQUINA E O OPERADOR (OU O BEZERRO)

Ordenha é o ato de coletar leite após um estímulo adequado na vaca para liberação de leite do úbere. Coletar leite de uma vaca envolve muito mais do que uma extração mecânica. Basicamente, a ordenha é um esforço de equipe no qual a vaca, a máquina e o operador (ou o bezerro) possuem papéis fundamentais. Para que a ordenha seja rápida e completa, a vaca deve receber os sinais adequados do seu ambiente. Uma vez que a ejeção do leite é desencadeada, o leite é expulso para fora do alvéolo pelas células mioepiteliais (musculares) e forçado para dentro do sistema de ductos. Então, a ação da boca de um bezerro, da mão de um operador ou do conjunto de uma máquina pode coletar o leite que é drenado para a glândula e para o canal do teto.

REFLEXO DE EJEÇÃO DO LEITE

Iniciação da descida do leite

A maior parte do leite se acumula dentro do alvéolo entre as ordenhas. O reflexo de ejeção do leite começa com a ativação dos nervos cujos estímulos são interpretados pelo cérebro (hipotálamo) para sinalizar à vaca que a ordenha está começando. Um estímulo ou a combinação dos seguintes estímulos externos pode inciar o reflexo da ejeção do leite (Figura 1):

O toque físico de um bezerro mamando ou de um operador limpando os tetos (que são sensíveis ao toque e temperatura)

A visão de um bezerro (especialmente em Bos indicus -vaca tipo zebu) O som do equipamento de ordenha

Figura 1: Reflexo de ejeção do leite-quando a vaca é estimulada pelo toque na pele do úbere, pelo som do equipamento de ordenha ou pela visão de um bezerro, impulsos nervosos passam para o hipotálamo no cérebro. O hipotálamo estimula a glândula pituitária posterior a liberar ocitocina. O sangue carrega esse hormônio às células

Page 108: Nutrição Essências em gado de leite

mioepiteliais que circundam o alvéolo. A contração das células mioepiteliais força o leite para dentro do sistema de ductos e da cisterna da glândula. Excitação ou dor inibem o reflexo de ejeção do leite.

Após esses estímulos, o cérebro envia um sinal para a pituitária posterior, uma glândula na base do cérebro, que libera o hormônio ocitocina na corrente sanguínea. O sangue transporta a ocitocina para o úbere onde ela estimula a contração dos minúsculos músculos (células mioepiteliais) ao redor do alvéolo cheio de leite. As contrações ocorrem 20 a 60 segundos após o estímulo. A ação de apertar aumenta a pressão intramamária e força o leite pelos ductos para a glândula e cisterna do teto.

A ação da ocitocina dura somente seis a oito minutos porque a concentração no leite diminue rapidamente. Portanto, é importantíssimo colocar o conjunto de teteiras (ou iniciar a ordenha manual) ao redor de um minuto após início da preparação do úbere. Um atraso na colocação das teteiras reduz a quantidade de leite ordenhada. É possível que ocorra uma segunda liberação de ocitocina porém, esta é geralmente menos eficaz que a primeira.

Inibição da descida do leite

Em algumas situações, o reflexo de ejeção do leite pode ser inibido. Quando isso ocorre, o leite não é liberado dos alvéolos e somente uma fração pequena pode ser coletada. Impulsos nervosos são enviados à glândula adrenal quando eventos incômodos ocorrem durante a ordenha (dor, excitação ou medo). O hormônio adrenalina, liberado pela glândula adrenal, pode induzir a constrição dos tecidos sanguíneos e capilares no úbere. O fluxo sanguíneo reduzido diminue a quantidade de ocitocina enviada ao úbere. Além disso, a adrenalina parece inibir diretamente a contração das células mioepiteliais no úbere. Portanto, a vaca pode não ser ordenhada rapidamente e completamente nas seguintes situações:

Preparo inadequado do úbere Atraso na colocação de teteiras (ou início da ordenha manual) minutos após

preparo do úbere Situações diferentes que levam à dor (apanhar) ou medo (gritar, latir) Falha no funcionamento do equipamento de ordenha

Após a primeira parição, as vacas devem ser treinadas à rotina de ordenha. A situação emocional que ocorre nessas vacas pode ser o suficiente para inibir o reflexo de ejeção do leite. Uma injeção de ocitocina em várias ordenhas pode ajudar. Entretanto, essa prática não deve ser feita rotineiramente porque algumas vacas podem rapidamente se tornar dependentes da injeção para o reflexo de ejeção do leite.

COLETANDO LEITE DO ÚBERE

O orifício na ponta do teto é mantido fechado por um grupo de músculos circulares (esfíncter). Normalmente, o leite na glândula e na cisterna do teto não sai do teto sem uma força externa para superar a força dos músculos do esfíncter. Entretanto, o leite de

Page 109: Nutrição Essências em gado de leite

algumas vacas com forte reflexo de ejeção do leite e/ou esfíncters fracos pode escorrer do teto, devido ao aumento de pressão no úbere no momento da ordenha superar a força do esfíncter. A diferença em pressão entre o interior e exterior do teto é geralmente necessária para abrir o esfíncter e deixar o leite fluir. O leite é geralmente removido do úbere por (1) um bezerro mamando; (2) ordenha manual; ou (3) equipamento de ordenha.

Ordenha manual usa pressão

Na ordenha manual, a mão segura toda extensão do teto. O dedão e o dedo mais próximo da extremidade superior do teto, assim como os outros dedos, apertam para dentro e para baixo (Figura 2). O aumento da pressão interna no teto (relativamente à atmosférica fora do teto) força o leite pelo esfíncter.

Um bezerro mamando usa o vácuo

Um bezerro mamando ou um equipamento de ordenha usa o vácuo, ao contrário da pressão para extrair leite da glândula e do canal do teto. Quando uma sucção forte e suficiente (vácuo) é aplicada na ponta do teto, a pressão fora do teto é menor que a de dentro e o leite é expulso para fora.

Figura 2: Durante a ordenha manual, a pressão interna no teto se torna superior à externa ao teto.

Um bezerro mamando enrrola a sua língua e o céu da boca ao redor do teto. Vácuo é criado na ponta do teto quando a mandíbula abre e a língua retrai em direção à garganta. Como resultado, o leite se acumula na boca. Quando o bezerro engole o leite, o fluxo de leite do teto cessa porque a pressão dentro da boca volta ao normal. Entre 80 e 120 ciclos alternados de mamadas e goles ocorrem por minuto.

A máquina de ordenha usa vácuo

A máquina de ordenha também usa vácuo para extrair leite do úbere. Os parágrafos seguintes descrevem a ação da teteira da máquina de ordenha. Para uma descrição mais genérica das partes de uma máquina de ordenha (veja o Dairy Essential chamado "A máquina de ordenha", número 4 na série "Lactação e Ordenha").

Page 110: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 3: Ação da teteira do equipamento de ordenha.

Se o vácuo aplicado à ponta do teto é muito alto ou dura muito tempo, sangue e fluido corpóreo se acumularão, causando congestão que fará com que o fluxo de leite cesse. No caso de um bezerro mamando, esse problema não ocorre porque enquanto o leite acumulado em sua boca é engolido, não há diferença de pressão ao redor do teto e a circulação normal do sangue no teto é possível. Esse processo é conhecido como massagem do teto.

Quando a máquina de ordenha é utilizada, a dupla câmara no copo da teteira e o pulsador permitem que os tetos sejão submetidos alternadamente ao vácuo (fase de ordenha) e à pressão atmosférica (fase de massagem) (Figura 3). Quando o ar é removido da câmara (área entre o copo e a borracha da teteira), as teteiras se abrem porque a pressão dentro da câmara e dentro da linha de vácuo é a mesma. O vácuo na ponta do teto força o leite de fora da cisterna do teto para dentro da linha. Entretanto, quando o ar é admitido dentro da câmara de pulsação, as teteiras colapsam no teto (porque a pressão dentro da teteira é menor do que a de dentro da câmara de pulsação). Durante esse período de descanso, o canal do teto se fecha (mas não a cisterna do teto), o fluxo de leite cessa, e fluidos corpóreos que foram aspirados no tecido do teto podem sair. Essa ação de massagem da teteira durante o ciclo de pulsação previne a congestão de fluidos e o edema de teto.

Geralmente, a teteira de uma máquina de ordenha abre e fecha 45 a 65 vezes por minuto (taxa de pulsação). Num ciclo de pulsação, a fase de ordenha é geralmente igual ou mais longa que a fase de massagem. A porcentagem de tempo de um ciclo de pulsação

Page 111: Nutrição Essências em gado de leite

gasto em cada fase é chamado de relação de pulsação . Por exemplo, a relação de pulsação de 60:40 significa que o vácuo está aumentando ou no máximo vácuo em 60% do ciclo e diminuindo e/ou à pressão atmosférica em 40%. Por exemplo, assumindo uma taxa de pulsação de 60 (um ciclo de pulsação por segundo), a relação de pulsação de 60:40 indica que a fase de ordenha dura 0.6 segundos e a fase de massagem dura 0.4 segundos.

Essencias em gado de leite Capitulo 22

Lactação e ordenha

22: A máquina de ordenhaMichel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

Tradução:Fernanda Hoe

O esquema básico das máquinas de ordenha inclue:

Coleta do leite em um balde ou latão colocado próximo à vaca (balde ao pé) Sistemas canalizados onde as vacas são ordenhadas num barracão e o leite flue

para um tanque central Sistemas de sala de ordenha onde todo equipamento é centralizado e as vacas

vêm à sala para ordenha. Todos esses componentes requerem um alto grau de coordenação para que a máquina de ordenha funcione devidamente

Apesar da grande diversidade de instalação de máquinas, máquinas de ordenha funcionam no mesmo princípio básico: leite é coletado da vaca por vácuo (sucção). A Figura 1 ilustra os componentes básicos de todas as máquinas de ordenha, que incluem:

Um sistema de vácuo: bomba de vácuo e tanque de reserva, regulador de vácuo, tubulações (linhas) e mangueira(s) longa de pulsação formando um espaço fechado

Pulsadores que alteram o nível de vácuo ao redor do teto fazendo com que a ordenha ocorra sem congestão de fluído e edema dos tecidos do teto

Unidades de ordenha ou conjuntos: a combinação de quatro teteiras conectadas ao copo coletor e montadas com uma válvula que admite e fecha o vácuo na unidade

Um sistema de remoção de leite que transporta o leite da unidadde de ordenha para uma unidade de armazenamento: a mangueira do leite e o tanque coletor (balde, balão volumétrico, linha do leite, bomba de leite, etc.). Todos esses componentes requerem um alto grau de coordenação para que a máquina de ordenha funcione devidamente

SISTEMA DE VÁCUO

Page 112: Nutrição Essências em gado de leite

Bomba de vácuo

bomba de vácuo evacua ar das linhas e das unidades de ordenha para criar o vácuo necessário para ordenhar as vacas. A maioria das máquinas atuais também usa o vácuo para transportar leite para um tanque coletor (ou diretamente para o tanque de expansão que está sob vácuo), e para lavar o equipamento de ordenha.

Para previnir que material sólido e líquido caiam na bomba, um interceptador deve ser ajustado na linha de vácuo principal próximo à bomba.

Criando e medindo vácuo

Vácuo significa pressão abaixo da pressão atmosférica normal. Quando a bomba de vácuo é ligada, o ar é liberado causando uma queda na pressão de ar dentro das linhas e das unidades de ordenha (um espaço fechado). A diferença entre a pressão do ar interna na tubulação e externa (negativa) à tubulação é denominada nível de vácuo.

Um manômetro de mercúrio pode ser utilizado para medir o nível de vácuo (Figura 2). Este instrumento é um tubo em "Forma de U" parcialmente preenchido por mercúrio (Hg). Uma extremidade do tubo é conectada à tubulação e a outra permanence aberta à pressão atmosférica. Quando a bomba de vácuo é "desligada", a pressão atmosférica atua internamente e externamente às tubulações e o nível de mercúrio é o mesmo em ambos os braços do manômetro. Entretanto, quando a bomba de vácuo é ligada, a pressão do ar dentro da tubulação torna-se menor do que a pressão externa. Alguém poderia pensar que a pressão atmosférica externa estaria empurrando o mercúrio para baixo e o vácuo de dentro estaria puxando o mercúrio para cima. A diferença do nível de mercúrio em cada braço é o nível de vácuo. Apesar de "mm de mercúrio" ainda ser usado, o "Kilo Pascal (Kpa)" é agora o padrão internacional oficial para medir o nível de vácuo do equipamento de ordenha (1 mm Hg = 0.1333 Kpa).

Page 113: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 1: Componentes básicos das máquinas de ordenha.

Regulador de vácuo (controlador) e vacuômetro

A função do regulador é admitir ar dentro do sistema para manter o vácuo no nível recomendado. Normalmente, a bomba de vácuo cria um nível de vácuo maior do que o necessário na unidade de ordenha. O regulador percebe as mudanças no vácuo (devido a vazamentos, colocação e retirada dos conjuntos, deslizamentos, etc.) e controla a quantidade de ar admitida no sistema de vácuo para manter o nível de vácuo desejado num intervalo pequeno. O controlador pode ser um diafrágma com peso ou uma "spring-operated" peça (Figura 2). Para operar propriamente, ele deve ser colocado no local correto de acordo com o sistema de ordenha (balde ao pé, sistema canalizado ou sala de ordenha). O vacuômetro deve ser utilizado para detectar níveis anormais e flutuações no vácuo provenientes de vazamento de ar, regulador sujo, bomba de vácuo com as correias soltas, etc.

Page 114: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 2: O nível de vácuo é medido como a altura da coluna de mercúrio (ou Kilo Pascal) quando o ar é aspirado para fora de um espaço fechado.

PULSADOR

O pulsador é uma válvula simples que admite ar e vácuo alternadamente na câmara de pulsação da teteira. A ação das teteiras de uma unidade de ordenha torna-se possível pelo pulsador.

Pulsadores podem ser ativados por vácuo ou um sinal elétrico de um controle de pulsador para gerar uma frequência de 45 a 65 ciclos por minuto (taxa de pulsação). Pulsadores podem ter ações alternadas ou simultâneas. A pulsação é simultânea quando as quatro câmaras de pulsação da unidade de ordenha estão na mesma posição ao mesmo tempo (as quatro na fase de ordenha ao mesmo tempo, e as quatro na fase de massagem ao mesmo tempo). Na ação alternada, duas teteiras estão ordenhando enquanto as outras duas estão massageando. O leite flue de forma mais regular e as flutuações de vácuo são menores com a pulsação alternada; entretanto, o número total de flutuações de vácuo é o dobro comparado ao sistema de pulsação simultânea.

CONJUNTO (UNIDADE DE ORDENHA)

As partes da unidade de ordenha estão ilustradas na Figura 1 e uma descrição detalhada da ação das teteiras encontra-se no Essenciais em Gado de Leite chamado "Princípios da Ordenha" (pg. 83). A borracha (insuflador) dentro do copo da teteira da unidade de ordenha é a única parte da máquina que está em contato com o úbere da vaca. Portanto, o peso da unidade é geralmente ajustado ao nível de vácuo para fornecer a tensão desejada no teto, permitindo posicionamento correto e ação de ordenha adequada. Se o nível de vácuo dentro da unidade é muito alto ou a unidade é muito leve, o seguinte pode ocorrer:

Page 115: Nutrição Essências em gado de leite

A unidade sobe e tende a pressionar a área onde o teto encontra-se com o úbere. O fluxo de leite cessa e o operador deve empurrar a unidade para baixo para ordenhar completamente a vaca

Lesões de teto são mais comuns, levando à vaca a uma maior susceptibilidade à mastite

Congestão de teto aumenta, o que tende a diminuir o tamanho do canal do teto e a velocidade de ordenha

Quando o vácuo é muito baixo ou a unidade de ordenha é muito pesada o seguinte pode ocorrer:

A unidade de ordenha cai facilmente Um atrito fraco entre o teto e o insuflador leva a deslizamentos de teteira mais

frequentes e admissão de ar na unidade, criando flutuações de vácuo não desejadas e maior risco de espalhar mastite

A velocidade de ordenha é reduzida

Durante a ordenha, a taxa de fluxo pode variar entre 2 e 5 kg de leite/minuto por um período de dois a oito minutos dependendo da produção de leite. Portanto, o formato da unidade é importante para assegurar que o leite não seja restringido. Além disso, boa visibilidade do fluxo de leite é importante porque isso permite que o operador tenha certeza de que a unidade está devidamente ajustada no início da ordenha e que o final da ordenha seja facilmente identificado.

Insufladores usados além do limite recomendado diminuem a velocidade de ordenha e aumentam o risco de espalhar mastite. Portanto, eles devem ser trocados periodicamente. A vida útil do insuflador depende de muitos fatores e é muito importante seguir as recomendações do fabricante para frequência de troca.

SISTEMA DE REMOÇÃO DE LEITE

Uma vez que o leite foi coletado na unidade de ordenha, ele tem que ser transportado. O sistema de transporte tem que ser projetado corretamente de forma que o leite flua rapidamente sem encher a linha ou retornar pela unidade de ordenha.

Um orifício pequeno de admissão de ar no conjunto ajuda a estabilizar o vácuo nas teteiras durante a ordenha e a levar o leite desta. Leite e ar fluem juntos na linha do leite (que está sob vácuo) até que sejam separados no tanque coletor (Figura 2). Sem a devida admissão de ar, o nível de vácuo pode flutuar consideravelmente na unidade de ordenha, em parte devido ao peso do leite na mangueira longa do leite. A razão entre o ar e o leite torna-se especialmente importante quando o leite tem que ser elevado do conjunto a uma linha alta (sistema de linha alta). Quando uma coluna de leite é elevada numa mangueira de vácuo de um metro de comprimento, o nível de vácuo na unidade de ordenha é reduzido em cerca de 10 Kpa (75 mm de Hg). A introdução de ar na linha do leite "quebra" a coluna de leite facilitando o movimento da mistura de ar e leite na mangueira longa. Um sistema de ordenha no qual o leite flue para baixo, do conjunto para a linha do leite (sistema linha baixa) é uma opção melhor do que quando o leite tem que fluir para cima, para uma linha elevada (sistema linha alta).

Dairy Essentials Chapter 23

Page 116: Nutrição Essências em gado de leite

Lactação e ordenha

23: Mastite: a doença e sua transmissão Michel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

Tradução:Fernanda Hoe

O QUE É MASTITE?

Mastite, ou inflamação da glândula mamária, é a doença mais comum e mais cara do gado leiteiro na maior parte do mundo todo. Apesar de estresse e ferimentos físicos também causarem inflamação da glândula, infecção por bactérias invasivas e outros microorganismos (fungo, levedura e possivelmente vírus) é a principal causa de mastite.

Mastite clínica e subclínica

Na mastite clínica, o quarto infectado geralmente torna-se inchado, em alguns casos dolorido ao toque, e o leite está visualmente alterado pela presença de grumos, coágulos, ou alteração da cor do soro e às vezes sangue. Em casos severos (mastite aguda), a vaca mostra sinais de reação generalizada: febre, pulso rápido, perda de apetite e brusco declínio na produção de leite.

Ao contrário da mastite clínica, a mastite subclínica é branda e mais difícil de ser detectada. A vaca se apresenta sadia, o úbere não mostra nenhum sinal de inflamação e o leite parece normal. Entretanto, microorganismos e células brancas do sangue (células somáticas) que são defesas para infecção, são encontradas em número elevado no leite.

As perdas de leite e financeira devido à mastite clínica são facilmente observadas -produção de leite cai drasticamente e leite de vacas tratadas com antibióticos tem que ser descartado por três ou quatro dias. Apesar disso, muito mais leite é perdido devido à mastite subclínica porque:

A grande maioria de casos de mastite são subclínicos (em média, para cada caso clínico, existem 20 a 40 casos subclínicos)

A redução na produção de leite devido à mastite subclínica tende a persistir por períodos longos e portanto subestima a produção de vacas infectadas

O controle da mastite subclínica é mais importante do que simplismente o tratamento de casos clínicos porque:

As vacas que têm mastite subclínica são reservatórios de organismos que levam à infecção de outras vacas

A maioria dos casos clínicos começam como subclínicos; portanto, controlando a mastite subclínica é a melhor forma de reduzir casos clínicos

Page 117: Nutrição Essências em gado de leite

O impacto da mastite vai com o leite além dos portões da fazenda. Mudanças na composição do leite (redução em cálcio, fósforo, proteína e gordura, e aumento em sódio e cloro) reduzem sua qualidade. Além disso, o antibiótico usado para tratar mastite é uma preocupação importante para a indústria e para a saúde pública. A presença de resíduo de antibiótico no leite interfere com o processo de manufaturação de muitos produtos lácteos (queijo e outros produtos fermentáveis). Sabores indesejáveis reduzem o valor dos produtos lácteos e a presença de níveis baixos de antibióticos pode causar problemas de saúde nos consumidores.

DESENVOLVIMENTO DA DOENÇA

Infecções começam quando microorganismos penetram no canal do teto e multiplicam-se na glândula mamária.

Invasão do teto

O teto é a primeira linha de defesa contra a penetração de bactéria no úbere. Normalmente, o músculo do esfíncter fecha de forma apertada o canal do teto quando a vaca não está sendo ordenhada.

A invasão do teto geralmente ocorre durante a ordenha. Organismos presentes no leite ou na ponta do teto são introduzidos no canal do teto e na cisterna quando ocorre admissão indesejada de ar na unidade de ordenha (deslizamento ou remoção das teteiras antes de fechar o vácuo). Depois da ordenha, o canal do teto permanece dilatado por uma a duas horas; entretanto, o canal de um teto machucado permanence parcialmente aberto para sempre. Organismos do ambiente (fezes, material da cama, etc.) ou aqueles encontrados na pele machucada da ponta do teto podem facilmente invadir um canal aberto ou parcialmente aberto.

Estabelecimento de infecção e inflamação da área afetada

Algumas bactérias podem entrar no úbere fixando-se e colonizando novos tecidos; outras podem mover-se pela corrente do leite produzida pelo movimento da vaca. A bactéria primeiramente danifica o tecido que envolve os ductos coletores maiores de leite. A bactéria pode encontrar leucócitos (células brancas do sangue) presentes naturalmente em pequeno número no leite. Essas células são a segunda linha de defesa porque elas podem englobar e destruir bactérias. Entretanto, durante esse processo, os leucócitos liberam substâncias que causam o movimento de leucócitos adicionais do sangue para o leite.

Se as bactérias não são totalmente destruídas, elas continuam a se multiplicar e começam a invadir os ductos menores e as áreas alveolares (Figura 1A). Células secretoras de leite danificadas pelas toxinas e outras substâncias irritantes liberam substâncias que levam ao aumento da permeabilidade dos tecidos sanguíneos (Figura 1B). Leucócitos adicionais movem para o lugar da infecção. Eles entram no tecido alveolar em grandes números, se infiltrando pelas células secretoras de leite danificadas (Figura 1C). Fluídos, minerais e fatores de coagulação também penetram na área afetada. Coágulos de leite podem fechar os ductos e isolar as regiões infectadas.

Page 118: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 1: Desenvolvimento de mastite e a defesa da vaca contra infecção.

Destruição do tecido alveolar

Às vezes os microorganismos são eliminados rapidamente e a infecção é resolvida. Nesse caso, os ductos obstruídos são abertos e a composição e produção retornam ao normal em alguns dias. Entretanto, a medida que a infecção persiste e os ductos permanecem obstruídos, o leite preso faz com que as células secretórias revertam para um estado de descanso (não produção) e o alvéolo começa a encolher (Figura 1D). Substâncias liberadas pelos leucócitos levam à completa destruição das estruturas alveolares, que são substituídas por tecido conjuntivo e cicatricial (Figura 1E e F). A destruição do tecido secretório de leite é, de fato, a terceira linha de defesa para trazer a infecção sob controle.

Portanto, a medida que a doença progride, o número de células somáticas no leite torna-se elevado e associado com uma (permanente) redução da produção de leite.

TRANSMISSÃO DE VÁRIOS TIPOS DE ORGANISMOS DE MASTITE

Na tentativa de controlar tipos diferentes de infecção, é importante considerar a fonte e os métodos de transmissão da doença. Organismos que causam mastite vivem em ambientes diferentes (fezes, material da cama, pele, etc.). Em geral, a limpeza da vaca e das instalações, assim como boas práticas de manejo-especialmente na ordenha-são métodos eficazes de controlar a transmissão de mastite.

Streptococcus agalactiae

Streptococcus agalactiae é a causa mais comum de infeções subclínicas mas raramente causa doença severa (mastite aguda). Esse organismo vive no úbere da vaca e sobrevive somente por um período curto de tempo fora da glândula mamária. Ele é transmitido principalmente durante a ordenha através da máquina de ordenha, contaminando as

Page 119: Nutrição Essências em gado de leite

mãos dos ordenhadores, e o material (toalha) usada para lavar o úbere (Figura 2). Este organismo também pode infectar o úbere de uma novilha se uma bezerra que foi alimentada com leite contaminado mamar nela. A infecção pode permanecer indefinidamente na glândula mamária da novilha. Streptococcus agalactiae pode ser erradicado de um rebanho através de tratamento apropriado combinado com boas práticas de ordenha. Entretanto, pode ser facilmente espalhado novamente no rebanho após compra de um animal infectado.

Staphylococcus aureus

Staphylococcus aureus vive dentro ou fora do úbere, na pele do teto, e causa muitos casos de mastite clínica e subclínica. Ele geralmente é transmitido da mesma forma que o Streptococcus agalactiae (Figura 2). A infecção geralmente induz a formação de tecido cicatricial, que resulta em focos de infecção isolados (abcessos) no úbere que são muito difíceis de serem alcançados pelos antibióticos. Alguns abcessos podem se romper e depois disseminar a infecção para outras partes da glândula.

Figura 2: As principais rotas de transmissão bacteriana.

Streptococcus uberis e streptococcus dysgalactiae

Esses organismos são encontrados na cama (especialmente cama com material orgânico: serragem, palha, etc.), em água parada e no solo. Eles também podem ser encontrados na pele da vaca (teto e barriga) e nos órgãos reprodutivos. Esses dois organismos são geralmente transferidos do ambiente para o teto entre as ordenhas, mas algumas transferências também podem ocorrer durante a ordenha. Esses organis- mos não podem ser eliminados de um rebanho porque eles fazem parte do ambiente normal. A taxa de infecção dessas bactérias tende a aumentar quando as condições são favoráveis ao seu cresci- mento-por exemplo, durante os meses úmidos e chuvosos do ano. Streptococcus uberis e Streptococcus dysgalactiae também são responsáveis pela maioria da mastite que ocorre tanto no início como no final do período seco. Além dessas duas espécies de bactéria, existem muitos outros streptococci (Strep. bovis, Strep fecalis) que podem causar mastite.

Tabela 1: Fontes (do mais prevalente para o menos) e métodos de transmissão das

Page 120: Nutrição Essências em gado de leite

bactérias mais comuns causadoras de mastite.

Tipo de bactériaPorcentagem de

infecçõesFonte principal

Principais métodos de transmissão

Streptococcus agalactiae

> 40% Úbere infectadoQuarto para quarto; vaca à vaca durante ordenha *

Staphylococcus aureus

30 - 40%Úbere infectado, maciez do teto

Quarto para quarto, vaca à vaca durante ordenha*

Streptococci ambientais**

5 - 10% Cama, esterco Ambiente para vaca

Coliformes*** <1% Esterco Ambiente para vaca

* Veja Figura 2 para mais detalhes.**Streptococcus uberis and streptococcus dysgalactiae *** Escherichia coli , Enterobacteri aerogenes , Klebsillia pneumoniae.

Coliformes

Os coliformes são bactérias que normalmente habitam o solo e os intestinos das vacas. Elas se acumulam e se multiplicam no esterco e na cama. Coliformes podem causar mastite apenas se partículas contaminadas do ambiente entrarem em contato com o úbere. Ao contrário das bactérias descritas anteriormente, o coliforme não se adere aos ductos e alvéolo no úbere, ao invés disso, eles se multiplicam rapidamente no leite e produzem toxinas que são absorvidas na corrente sanguínea. Como resultado, infecções por coliformes levam à mastite aguda. A temperatura corpórea da vaca pode aumentar acima de 40 o C e o quarto infectado ficará inchado e sensível ao toque. Os mecanismos de defesa da vaca podem eliminar a bactéria do úbere mas as toxinas permanecem e a vaca pode morrer. Vacas livres de outras bactérias causadoras de mastite (Streptococcus agalactiae e Staphylococcus aureus) parecem ser mais susceptíveis à bactéria coliforme.

Essencias em gado de leite Capitulo 24

Lactação e ordenha

24: Mastite: prevenção e detecção Michel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

Tradução:Fernanda Hoe

INTRODUÇÃO

Page 121: Nutrição Essências em gado de leite

Para controlar os problemas de mastite em um rebanho, a prevenção de novas infecções tem maior valor do que a tentativa de curar casos clínicos. Mesmo que a taxa de novas infecções seja reduzida, as infecções existentes que são tratadas podem ser curadas com sucesso limitado. A luta contra mastite é um esforço de longo prazo que tem que ser persistente porque é impossível prevenir completamente a transmissão de bactéria ou outros organismos que causam a doença (Figura 1).

DETECÇÃO

Mastite, contagem de células somáticas e perdas de produção no rebanho

Mais de 98% das células somáticas encontradas no leite vêm das células sanguíneas brancas que entram no leite em resposta à invasão bacteriana no úbere (ver Dairy Essential "Mastite: A Doença e sua Transmissão"). Uma alta contagem de células somáticas está associada a perdas na produção de leite. Quando o leite de todas as vacas num rebanho é misturado, como no tanque de expansão, a contagem de células somáticas numa amostra composta é um bom indicador da prevalência de mastite no rebanho (Tabela 1). Uma contagem de células somáticas maior que 200.000 cels/ml indica a presença de mastite subclínica. Contagens de célula somática menores que 400.000 cels/ml são típicas de rebanhos que têm boas práticas de manejo, mas sem ênfase particular no controle de mastite. Rebanhos com um controle de mastite eficaz tem constantemente contagens abaixo de 100.000 cells/ml. Ao contrário, contagens de célula somática maiores que 500.000 cels/ml indica que um terço das glândulas mamárias estão infectadas e a perda de leite devido à mastite subclínica é de pelo menos 10%.

Figura 1: A melhoria das práticas de hygiene e manejo são formas eficazes de reduzir a taxa de novas infecções (de A para B), mas infecções existents são difíceis de curar e vacas infectadas permanecem no rebanho por um longo tempo após a redução da taxa de novas infecções (B). Somente após um esforço continuo por um longo tempo (anos) que o número de vacas infectadas no rebanho diminue (de B para C).

A contagem de células somáticas de uma amostra composta não revela o tipo de infecção, nem a identidade das vacas infectadas. Entretanto, é uma boa ferramenta para monitorar a prevalência de mastite no rebanho com o tempo (mês a mês, ano a ano).

Tabela 1: Relação entre contagem de células somáticas (CCS) medidas em amostra composta de tanque, perda de produção e prevalência de mastite subclínica no rebanho.

CCS Quarto infectado Perda de produção (%)Mastite

subclínica

Page 122: Nutrição Essências em gado de leite

< 200,000 6% 0-5 Próxima a zero

200,000 - 500,000 16% 6-9 Alguns casos

500,000 - 1,000,000

32% 10-18 Muitos casos

> 1,000,000 48% 19-29 Epidêmica

Bactéria no leite

Culturas de bactéria no leite podem ser úteis para quantificar as bactérias e identificar os organismos causadores de mastite, e alta contagem de células somáticas. Na maioria das vezes, a mistura de diferentes tipos de bactéria é encontrada, mas algumas vezes, uma espécie bacteriana pode predominar (e.x., Strep. agalactiae ). Se as contagens de bactérias forem elevadas (>50.000 bacteria/ml), a cultura pode providenciar pistas para a(s) fonte(s) de contaminação. A presença (ou ausência) de organismos específicos ajuda a formular recomendações para prevenir que os organismos encontrados no rebanho se espalhem. Rebanhos bem manejados têm contagens bacterianas menores que 1.000 por ml.

Detecção de mastite em vacas individuais

Exame físico do úbereSinais de mastite aguda inclue quartos inchados, quentes e doloridos ao toque. Mudanças no tamanho e presença de tecido cicatricial podem ser detectadas mais facilmente após a ordenha, quando o úbere está vazio.

Aparência do leite Observação dos primeiros jatos de leite permite a detecção de leite anormal que deve ser descartado. Leite anormal pode apresentar alteração na coloração (aguado), grumos, ou coágulos. Cuidado deve ser tomado durante a remoção dos primeiros jatos de leite para não espirrar o leite, contaminando o corpo da vaca, rabo ou úbere. Além disso, o ordenhador não deve coletar os primeiros jatos na palma da mão porque há risco de transferir bactéria de um quarto para outro, e de uma vaca para outra. Em sistemas onde as vacas são ordenhadas no seu próprio alojamento (stanchion barn), os primeiros jatos são tipicamente desprezados em uma caneca. Em uma sala de ordenha, entretanto, pode ser desprezado diretamente no chão e enxaguado imediatamente após observação.

California mastite teste Para esse teste, o leite de cada quarto é misturado com uma solução de detergente. O leite de quartos infectados forma um gel; a consistência do gel é avaliada visualmente. Essa reação é relacionada ao número de células somáticas no leite, e uma reação positiva indica mastite.

Cultura bacterianaGeralmente, esse teste é feito em vacas selecionadas a partir da contagem de células somáticas de amostras compostas caso ela revele um problema sério e persistente. Cultura de leite individual de vaca identifica as espécies bacterianas, sendo assim a

Page 123: Nutrição Essências em gado de leite

maneira mais confiável para se decidir quanto ao melhor tratamento com antibiótico para uma determinada vaca.

PREVENÇÃO

A prevenção de mastite pode ser alcançada por simples passos que têm o objetivo de reduzir a taxa e duração da infecção (Tabela 2).

Correta higiene na ordenha: Os tetos devem ser limpos e secos antes da ordenha. Se o leite é filtrado, a presença de partículas (material sólido) no filtro indica limpeza insuficiente do teto durante a preparação do úbere ou falta de higiene durante a colocação e retirada da unidade de ordenha.

A máquina de ordenha deve funcionar e ser operada corretamente: O nível de vácuo na unidade de ordenha deve ser entre 275 e 300 mm de mercúrio e deve variar o mínimo possível. Flutuações podem ser reduzidas consideravelmente, evitando deslizamentos ou entrada de ar na unidade durante a ordenha, e fechando o vácuo do conjunto antes de remover as teteiras. O regulador de vácuo deve ser mantido limpo e checado regularmente.

Imersão dos tetos após ordenha: Pesquisa demonstra que a taxa de novas infecões pode ser reduzida em mais de 50% quando um desinfetante adequado é usado para imersão completa dos tetos ou spray. A imersão dos tetos após ordenha é mais efetiva contra Staphylococcus aureus e Strep. agalactiae, as duas bactérias mais contagiosas causadoras de mastite. A imersão dos tetos não afeta infecções existentes. Isso explica o porque, no curto prazo, muitos fazendeiros não percebem os efeitos positivos do uso dessa técnica. Para se obter um rápido declínio no nível de infecção, seria necessário eliminar as vacas infectadas do rebanho (Figura 1).

Tratamento de todos os quartos de todas as vacas na secagem: O uso efetivo de um antibiótico de longa duração, infundido em cada quarto do úbere na última ordenha da lactação, reduz a incidência de novas infecções durante o período seco. Além disso, a terapia da vaca seca é o melhor método para curar mastite crônica e subclínica que raramente pode ser tratada com sucesso durante a lactação.

Tratamento adequado e em tempo certo de todos os casos clínicos: A terapia adequada tem que ser decidida por um veterinário e a vaca deve ser manejada de forma que se evite o risco de transmissão da doença.

Descarte de vacas cronicamente infectadas: Geralmente, este método é efetivo porque na maioria dos rebanhos, somente 6 a 8% de todas as vacas são responsáveis por 40 a 50% de toda mastite clínica.

Boa nutrição para manter a abilidade da vaca de lutar contra as infecções: Deficiências em selênio e vitamina E na dieta têm sido associadas com um aumento na taxa de novas infecções.

Outras práticas de manejo fáceis: Algumas práticas simples ajudam a reduzir a disseminação de mastite.

Page 124: Nutrição Essências em gado de leite

Alimentar as vacas imediatamente após ordenha para que elas fiquem de pé por pelo menos uma hora antes de deitar

Ordenhar as vacas infectadas por último

TRATAMENTO DE MASTITE

Mastite aguda

A mastite aguda como a causada por coliforme ameaça a vida da vaca. Um veterinário deve ser chamado imediatamente quando a vaca mostra sinais generalizados em resposta `a infecção no úbere (inabilidade de ficar de pé, pulso rápido, febre, etc.). Ordenhar o quarto afetado a cada duas a três horas ajuda a eliminar as toxinas.

Mastite clínica

Tratamento imediato de mastite clínica limita a duração e possível transmissão da doença. Um veterinário familiarizado com a estória da doença no rebanho deve preescrever o melhor tratamento terapêutico. Quando o tratamento com antibiótico é recomendado, é crítico seguir as instruções, especialmente em relação a duração do tratamento. Muitas vezes os tratamentos são interrompidos muito cedo, não permitindo que os antibióticos alcancem e destruam os organimos em partes do úbere que são difíceis de serem atingidas (as infecções mais invasivas).

Somente mastite causada por Streptococcus agalactiae pode ser tratada com sucesso com antibióticos durante a lactação (mais de 90% de cura). Entretanto, quando a mastite é causada por Staphylococcus aureus , coliforme e muitos outros organismos, a taxa de sucesso de tratamento com antibiótico raramente excede 40 a 50% e às vezes é tão baixa quanto 10%.

Mastite subclínica

Alta contagem de células somáticas no leite indica mastite subclínica mas isso não deveria ser usado como um critério para tratamento de vacas com antibióticos porque como mencionado nos parágrafos anteriores, a taxa de cura é geralmente muito baixa. Casos de mastite subclínica são tratados de uma melhor forma no momento da secagem.

Tabela 2: Questionário para auxiliar na identificação da fonte de transmissão e na avaliação das práticas de prevenção em um rebanho leiteiro (quando possível , a melhor resposta está indicada pelo quadrado: o ).

AS VACAS Sim Não

Quais vacas tem mais mastite clínica? Vacas secas ; recém-paridas ; novilhas primeira cria ; vacas de alta produção ; sempre as mesmas vacas ; combinação.

  -

O AMBIENTE (INSTALAÇÕES)  

Qual é o tipo de local/cama onde as vacas deitam? concreto; areia; solo;   -

Page 125: Nutrição Essências em gado de leite

palha; serragem; raspas; outro .

A cama/local é limpa(o) (sem esterco) e seca(o)?   -

A comida é fornecida após ordenha para estimular as vacas a ficarem de pé por pelo menos uma hora?

  -

Antibióticos de longa duração são usados em todos os quartos de todas as vacas na secagem?

  -

A MÁQUINA DE ORDENHA  

O equipamento de ordenha foi instalado corretamente?   -

A bomba de vácuo, o tanque de distribuição de vácuo, e as tubulações são de tamanho adequado para o número de unidades de ordenha?

  -

Os pulsadores e reguladores* de vácuo estão limpos e funcionam corretamente?

  -

O equipamento de ordenha é limpo de forma adequada?   -

As borrachas das teteiras e outras partes de borracha não possuem rachaduras e buracos e são trocadas regularmente?

  -

O PROCEDIMENTO DE ORDENHA  

Os tetos são lavados com o mínimo de água e bem secos com toalha de papel individual ou toalhas de pano limpas?

  -

Os primeiros jatos de leite são examinados regularmente para detectar anormalidades?

  -

Na imersão de tetos, o tempo de contato é adequado e todo produto removido ao secar?

  -

A água se acumula na boca do insuflador durante a ordenha? -  

O deslizamento e entrada de ar nas teteiras são prevenidos?   -

A ordenha manual após a ordenha mecânica é evitada?   -

A maioria das vacas são ordenhadas e os conjuntos são removidos em 3 a 6 minutos?

  -

Os tetos são desinfetados após ordenha?   -

Pelo menos os 2/3 inferiores do comprimento do teto são desinfetados?   -

* Para testar o regulador de vácuo e a reserva de vácuo, fazer o seguinte teste: Após ligar a máquina de ordenha, deixe entrar ar em uma unidade por 5 segundos. Checar o vacuômetro. Coloque o seu dedão na borracha e conte quantos segundos leva para sentir a pulsação normal. Se a agulha passou o ponto marcado e leva mais de segundos para a pulsação retornar ao normal, o regulador está funcionando mal ou a

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reserva de vácuo é insuficiente. Ambos problemas podem causar grandes flutuações de vácuo na ordenha.

Terapia com antibiótico na secagem

A infusão intramamária de antibiótico de longa duração no momento da secagem (terapia da vaca seca) é um componente essencial de um programa de controle de mastite na fazenda. A terapia da vaca seca ajuda a curar 50% da mastite causada por S taphylococcus aureus e 80% dos strepto- cocci ambientais ( Strep uberis and Strep. dysgalactiae , etc.). Um quarto infectado tra- tado e curado no período seco vai produzir cerca de 90% do seu potencial na próxima lactação. Entretanto, se um quarto permanence infectado ou torna-se infectado no período seco, este quarto vai produzir somente 60 a 70% do seu potencial.

Essencias em gado de leite Capitulo 25

Lactação e ordenha

25: Procedimento de ordenhaMichel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

Tradução:Fernanda Hoe

INTERVALO E FREQUÊNCIA DE ORDENHA

Durante a lactação, o leite é secretado de forma contínua. A medida que o leite se acumula nos alvéolos e nos ductos, há um aumento da pressão interna e diminuição da taxa de secreção do leite. Portanto, quando a ordenha é feita duas vezes ao dia, intervalos iguais de 12 horas permitem maiores produções na lactação. Para a maioria das vacas, a redução na produção de leite permanence pequena, mesmo quando os intervalos de ordenha são de 16 e 8 horas. Entretanto, o efeito de intervalos de ordenha desiguais é mais importante para novilhas de primeira cria (devido ao tamanho limitado do úbere) e para vacas de alta produção (devido às altas taxas de secreção de leite). Ordenhando essas vacas primeiro de manhã e por último à tarde ajuda na manutenção da máxima produção de leite.

A remoção frequente do leite evita o acúmulo da pressão. Como resultado, três ordenhas por dia pode aumentar a produção em 10 a 20% sem alteração da composição do leite. Entretanto, essa prática demanda mais mão de obra.

DEZ PASSOS PARA MAXIMIZAR PRODUÇÃO E MINIMIZAR RISCOS DE TRANSMISSÃO DE MASTITE

Page 127: Nutrição Essências em gado de leite

Máquinas de ordenha modernas são projetadas para remover 80 a 90% do leite do úbere da vaca em apenas alguns minutos, e sem recorrer a algum peso adicional no conjunto ou assistência manual. Uma ordenha eficiente pode ser obtida pela seguinte rotina descrita abaixo. Cada passo no procedimento de ordenha deve ser feito gentilmente e sem causar trauma à vaca. O reflexo de descida do leite é mais pronunciado quando as vacas estão relaxadas. Ao contrário, a produção pode ser reduzida em mais de 20% quando as vacas estão com medo ou sentem dor durante a ordenha.

O ordenhador, o ambiente (barracão ou sala de ordenha) e as vacas devem estar limpos. A higiene geral auxilia a reduzir a disseminação de mastite e preserva a qualidade do leite. Por exemplo, o úbere da vaca deveria ser tosqueado para remoção dos pêlos longos e redução da sujeira, esterco e material da cama que podem aderir ao pêlo e à pele.

1. Deixe a vaca saber que ela será ordenhada.Com um simples toque na traseira, no flanco ou no úbere da vaca, ou com algumas palavras gentis, sinalize a sua presença e prepare para iniciar a ordenha. Um movimento brusco ou inesperado pode assustar a vaca e inibir o reflexo de descida do leite.

2. Checar o úbere e os primeiros jatos para mastite. o Observar e sentir o úbere para sinais de mastite (calor, dureza, ou quartos

aumentados).o Desprezar os primeiros jatos e observar sinais de dor na vaca, e a

presença de grumos no leite, ou aspecto de leite aguado ou talhado. Para reduzir a taxa de transmissão de mastite, os primeiros jatos nunca devem ser desprezados diretamente na mão. Num barracão, uma caneca de fundo escuro deve ser usada e bem enxaguada entre cada vaca. Numa sala de ordenha, os primeiros jatos podem ser desprezados no chão e enxaguados imediatamente com água após observação. Caneca de fundo escuro é uma caneca equipada com um filtro que permite que grumos e coágulos do leite sejam observados.

o Leite de vacas com sinais clínicos de mastite tem que ser descartado.3. Lavar os tetos com uma solução sanitizante morna.

o Lave e massageie todos os tetos com água morna contendo um desinfetante leve.

o Use pouca água e evite molhar muito o úbere já que água escorrendo para baixo, em direção aos tetos, aumenta o risco de mastite e o número de bactérias no leite.

o Use uma toalha única de pano ou papel para cada vaca. O uso da mesma toalha para mais de uma vaca aumenta o risco de contaminção e transmissão de bactérias causadoras de mastite de uma vaca para outra.

4. Imersão dos tetos com um desinfetante seguro e eficaz (opcional).

Predipping", se permitido pela lei, é uma prática eficaz que reduz o número de novas infecções por microorganismos ambientais. Somente produtos testados para predipping devem ser usados. Predipping consiste na imersão dos tetos em um desinfetante. Para ser eficaz, a maioria dos desinfetantes de predip tem que permanecer em contato com os tetos por 20 a 30 segundos.

5. Secar os tetos por completo.

Page 128: Nutrição Essências em gado de leite

o Secar os tetos por completo. Toalha de papel descartável de uso único é a melhor maneira de secar os tetos é cara. Toalhas de pano são aceitas quando usadas somente em uma vaca e lavadas entre as ordenhas. Umidade residual no teto e água no úbere estão contaminadas por bactérias e podem eventualmente contaminar os insufladores e o leite, criando risco para mastite e reduzindo a qualidade do leite. Além disso, secar os tetos minimiza a ocorrência de deslizamentos da unidade durante a ordenha.

o O reflexo de descida do leite da vaca é iniciado assim que os tetos estejam limpos, massageados e secos.

6. Colocar o conjunto dentro de um minuto. Colocar a unidade de ordenha em um minuto após início do preparo. Cada teteira deve ser colocada no teto com mínima entrada de ar na unidade de ordenha.

7. Checar o fluxo de leite e ajustar a unidade de ordenha se necessário. o Checar se o leite flue de cada teto.o Ajustar a posição da unidade de ordenha. A ordenha rápida e completa é

possível somente quando a unidade de ordenha está alinhada corretamente. Em geral, as teteiras da frente precisam ser posicionadas um pouco mais altas que as teteiras traseiras. Algumas empresas de equipamento de ordenha recomendam um braço de suporte onde a mangueira longa do leite e a mangueira do vácuo se apoiam e a unidadde de ordenha é ajustada na melhor posição. Teteiras posicionadas de forma inadequada escorregam com frequência e o fluxo de leite pode ser restringido, ambos contribuem para o desenvolvimento de mastite.

o Não deixar a unidade de ordenha fazer barulho de entrada de ar.o Reajustar o conjunto se necessário durante a ordenha. A entrada de ar na

teteira pode fazer com que minúsculas gotas de leite voltem para o canal do teto em alta velocidade. Se contaminadas, essas gotas permitem que bactérias entrem no úbere e causem mastite. Esse processo ocorre mais frequentemente próximo ao final da ordenha quando o fluxo de leite está diminuindo.

8. Ao final da ordenha, feche o vácuo antes de retirar o conjunto. o Não ordenhe mais do que o necessário. A maioria das vacas são

ordenhadas em 4 a 5 minutos. Os quartos dianteiros são geralmente ordenhados primeiro que os traseiros que produzem mais leite. Portanto, os quartos dianteiros tendem a ser sobreordenhados. Geralmente, este não é um problema; um ou dois minutos de sobreordenha com um equipamento funcionando adequadamente não predispoe o úbere à mastite.

o Evite ordenhar manualmente. No passado, era comum massagear o úbere ainda com a unidade de ordenha acoplada para coletar os últimos jatos de leite. Esta prática deve ser completamente descartada porque ela aumenta o estresse no tecido do teto e o risco de admissão de ar na unidade, assim aumentado o risco de mastite.

o Fechar o vácuo do conjunto antes de retirá-lo dos tetos. Tirando o teto das teteiras sob a influência do vácuo aumenta o risco de lesão do teto e infecção porque cria um deslizamento de teteira "massivo".

Page 129: Nutrição Essências em gado de leite

9. Imersão ou uso de spray nos tetos com um desinfetante seguro e efetivo (produto de dip).Faça imersão ou use o spray nos dois terços inferiores de cada teto com um desinfetante leve. Soluções que não vão rachar ou irritar os tetos incluem vários produtos comerciais, clorexidina (0.5%), iodo (0.5-1%) baixo em ácido fosfórico, e hipoclorito (4%) baixo em hidróxido de sódio.

10. Desinfetar as unidades de ordenha (opcional).Para previnir que a infecção se espalhe de uma vaca para outra, está se tornando comum a desinfecção das teteiras antes de usá-las na próxima vaca. O procedimento mais recomendado é colocar as teteiras em um balde com água limpa para enxaguar o resíduo de leite. Depois as teteiras são mergulhadas num balde com água e um desinfetante leve (15 a 25 miligramas de iodo por kg de água, que é, a 15 a 25 ppm solução de iodo) por 2.5 minutos. Finalmente, as teteiras devem ser secas antes de colocadas na próxima vaca. Se esse passo não for feito de forma apropriada, ele pode aumentar ao invés de controlar a disseminação de mastite. Muitas máquinas de ordenha são equipadas com um sistema automático de desinfetante para teteiras que é rápido e eficiente ("backflushing").

MANUSEIO DO LEITE COLETADO

O leite coletado deve ser filtrado, resfriado e armazenado numa sala separada e limpa. O leite pode ser filtrado utilizando um filtro interno na tubulação a medida que o leite é bombeado para fora da máquina ou um filtro manual, passando o leite coletado para um outro balde por um filtro. Se o filtro é descartável, deve ser usado somente uma vez. De outra forma, um filtro de pano pode ser usado, lavado e desinfetado após cada ordenha. O filtro retém coágulos de leite e outras partículas grandes, e após o uso, a sua inspeção auxilia a avaliar a higiene geral da ordenha-em particular, dos passos 2 e 3 acima.

A refrigeração rápida do leite após a coleta é vital para previnir a multiplicação de bactéria e perda de qualidade. Se não houver instalações para refrigeração, o leite deve ser resfriado a uma temperatura na faixa de 2 o C da temperatura da fonte de água local. O leite refrigerado deve ser idealmente armazenado a 4 o C até que seja transportado para a indústria. Perceba que mesmo um leite de boa qualidade contendo menos de 10.000 bactérias/ml não pode ser armazenado mais de 2 dias a 4 o C sem o risco de deterioração da qualidade. O leite não armazenado a 4 o C deve ser transportado a empresa captadora de leite assim que possível.

LIMPANDO O EQUIPAMENTO

Uma máquina de ordenha funciona adequadamente somente quando completamente limpa após cada uso. Uma máquina de ordenha extremamente limpa é necessária para se obter um leite de alta qualidade que seja seguro e com sabor adequado para consumo humano, e que permaneça estável por um longo tempo (longo tempo de prateleira).

Quando a máquina de ordenha é projetada, a facilidade de limpeza deve ser levada em conta:

Page 130: Nutrição Essências em gado de leite

O material utilizado para construir as tubulações deve ser liso (alumínio, aço sem manchas, etc.), durável e resistente à corrosão de soluções ácidas e alcalinas

A máquina tem que ser construída com um mínimo de ângulos retos (junções) para reduzir o turbilhonamento do fluxo e formação de depósito;

Todas as tubulações devem ter uma inclinação correta para prover uma drenagem após ordenha e limpeza

Limpando o exterior das unidades de ordenha

Quando a ordenha termina, toda sujeira visível e depósito de leite têm que ser removidos da parte externa das unidades de ordenha e mangueiras flexíveis esfregando e enxaguando com água limpa.

Lavando as tubulações e o interior das unidades de ordenha

O fluxo de leite forte e em turbilhão que passa por um ângulo reto, e o calor podem causar a precipitação de componentes (proteína) e formação de pedras de leite "milkstones".

Os passos básicos para limpar uma máquina de ordenha manualmente de forma adequada ou com um sistema de limpeza no lugar "cleaning-in-place" estão resumidos na Tabela 1. Não é possível combinar todas as propriedades de um produto para limpeza em uma preparação porque a eliminação do filtro de gordura e proteína normalmente requer detergente alcalino, enquanto que a solução ácida é necessária para depósitos de minerais. Portanto, o uso alternado de detergentes alcalinos e ácidos é recomendado. Além disso, para assegurar a ação correta de limpeza de vários detergentes, também deve ser parte do processo de limpeza, o seguinte:

1. Uma ação mecânica (esfregando manualmente) ou um fluxo em alta velocidade (sistema de limpeza no lugar "clean-in-place" ) é necessário para um tempo suficiente de contato (tempo de contato) para remover e levar as partículas

2. O volume total de água usado tem que ser suficiente para assegurar contato entre a solução de detergente e o equipamento

3. A concentração de detergente tem que ser adequada para se obter a ação de limpeza desejada

4. A temperatura da água não pode ser muito baixa ou alta, a temperatura determina a eficácia de muitos detergentes

Tabela 1: Passos básicos na limpeza de equipamento de ordenha.

PassosTemp água

Duração (min.)

Ação e comentários

1- Lavagem inicial

35° to 45°C

  Remover o acúmulo de leite residual na máquina de ordenha; "Pré-aquecimento" do equipamento para melhor ação das soluções de limpeza.

2- Lavagem min. 50°C 10 Um produto a base de cloro ajuda a remover

Page 131: Nutrição Essências em gado de leite

(detergente alcalino*)

max. 75°C proteína; a alcalinidade remove a gordura, e um agente complexo (EDTA) previne a formação de depósitos de sal dependendo da dureza da água.

3- Lavagem com água

    (opcional)

4- Enxague com ácido**

35° to 45°C

5 Neutraliza os resíduos de cloro e alcalino (prolonga a vida das partes de borracha) previne depósito mineral e ajuda a previnir pedras do leite, mata bactéria.

5- Enxague com água

    Água morna ajuda o equipamento a secar mais rápido.

6- Sanitização     Antes de usar o equipamento novamente, solução sanitizante de cloro (200 mg por kg de água, ou 200 ppm) reduz o número de bactéria no equipamento.

* Exemplos de agentes ativos em detergentes alcalinos: hidróxido de sódio, carbonato de sódio, monofosfato trisódico e polifosfatos. A taxa de diluição tem que ser indicada pelo fabricante no rótulo.

** Exemplos de ácidos: ácido fosfórico ou ácidos orgânicos (ácido acético, ácido cítrico, etc). Produtos ácidos

contém inibidores de corrosão. A taxa de diluição deve ser indicada pelo fabricante no rótulo.

Essencias em gado de leite Capitulo 26

Criação de novilhas

26: Fatores que afetam o tamanho e a produtividade do rebanho leiteirro de

reposição Michel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

Tradução:Carla de Azevedo Piccinato

A criação de novilhas deve ser encarado como um investimento financeiro. O número total de novilhas de primeira cria produzido por ano, no rebanho de reposição, tem grande influência na rentabilidade da fazenda de leite.

Este artigo apresenta uma discussão breve dos fatores que influenciam o balanço entre suprimento e descarte de novilhas do rebanho de reposição em uma base anual (Figura 1). O número de novilhas que nascem no rebanho dependem de:

Page 132: Nutrição Essências em gado de leite

Taxa de parição (número de vacas e intervalo entre partos); Proporção entre sexo dos bezerros nascidos.

Figura 1: Estrutura do rebanho leiteiro-os círculos cruzados indicam importantes fatores de manejo que controlam o número de animais em cada grupo.

O número de novilhas que saem do rebanho depende da:

Taxa de mortalidade dos bezerros Taxa de descarte (voluntário e involuntário) Idade à primeira parição

Deve-se destacar que o número de novilhas de primeira cria disponíveis no rebanho e o número de novilhas de primeira cria necessárias ao rebanho são dois conceitos diferentes. Os seguintes fatores influenciam a necessidade-e não a entrada espontânea de animais-de novilhas de primeira cria no rebanho:

Taxa de descarte de vacas Venda voluntária de novilhas para para reprodução Taxa de expansão do rebanho

Em um rebanho fechado (sem compra de vacas ou novilhas), o número de novilhas de primeira cria por ano determina a taxa máxima de descarte por ano, se a intenção for manter o rebanho do mesmo tamanho. Quando o número de novilhas produzidas exceder o número de vacas que se deseja descartar, as novilhas em excesso podem ser utilizadas tanto para aumentar o tamanho do rebanho como para a venda voluntária de animais.

A Tabela 1 mostra como estimar o número de novilhas que farão parte do rebanho de reposição (Tabela 1A) e o número de novilhas de primeira cria produzidas por ano (Tabela 1B).

Tabela 1: Cálculo do número de novilhas disponíveis em um rebanho de 100 vacas leiteiras.

Fatores Exemplo Fórmula Cálculo

Page 133: Nutrição Essências em gado de leite

A) Número total de novilhas de reposição no rebanho leiteiro

Período*   2 anos 2 2

Tamanho do rebanho

100 X No de vacas X 100 X 100

Intervalo entre partos

13 meses X 12/intervalo entre partos** X 12/13 X 0.923

Proporção entre sexos

50%X No de vacas /N o de bez. nascidos

X 0.5 X 0.5

Mortalidade de bezerros

10%X (1- (% de mortalidade de bezerros/100))

X (1-0.10)

X 0.90

Idade ao primeiro parto

25 meses X Idade ao 1 o parto**/24 X 25/24X 1.042 = 87

B) Número de novilhas de primeira lactação disponíveis para reposição, por ano.

Período*   1 ano 1 1

Tamanho do rebanho

100 X No de vacas X 100 X 100

Intervalo entre partos

13 12/intervalo entre partos** X 12/13 X 0.923

Proporção entre sexos

50%X No de novilhas /No de novilhas

X 0.5 X 0.5

Calf mortality 10%X (1- (% de mortalidade de bezerros/100))

X (1-0.10)

X 0.90

Idade ao primeiro parto

25 meses X 24/Idade ao primeiro parto X 24/25X 0.96 = 40

* Intervalo de tempo necessário para calcular número total de novilhas no rebanho em qualquer época do ano é 2 anos (24 meses) , por outro lado utiliza-se o intervalo de apenas 1 ano para o cálculo do número de novilhas de primeira lactação.

** Deve ser expressado em meses.

Taxa de parição

O suprimento de novilhas no rebanho depende em primeiro lugar na taxa de parição, que é calculada pela fórmula:

Page 134: Nutrição Essências em gado de leite

A taxa de parição mede as mudanças no número esperado de bezerros, quando o intervalo entre partos é de 12 meses.

Com o aumento do intervalo entre partos, o número esperado de bezerras nascidas por ano diminui. De acordo com a Figura 2, o aumento do intervalo entre partos de 12 para 18 meses diminui o número de novilhas de primeira lactação disponíveis por ano. Em um rebanho de 100 vacas, este número cairia de 43 para 29 novilhas.

Os valores apresentados na parte gráfica da Figura 2 pode ser também interpretada como percentagem. Por exemplo, se um rebanho de 100 vacas com 18 meses de intervalo entre parto produz 29 novilhas de primeira lactação por ano, então este rebanho com o mesmo intervalo entre partos, mas com apenas 75 vacas, irá produzir :

  = 22 novilhas de 1ª lactação.

Proporção entre sexo dos bezerros recém-nascidos

Este índice influencia o número de novilhas do rebanho e deve ser calculado por esta fórmula:

Vários rebanhos experienciam uma maior tendência ao nascimento de mais fêmeas ou machos mas, com o passar dos anos, pode-se perceber uma proporção de 51% de fêmeas e 49% de machos. Estudos recentes têm indicado fatores nutricionais (como o balanço catiônico na dieta) podem afetar a proporção entre sexos dos bezerros mas, este efeito ainda é considerado mínimo. No futuro próximo, novas tecnologias permitirão que produtores escolham o sexo dos bezerros (por sexagem de sêmem por exemplo) mas, atualmente, a proporção observada entre sexo dos bezerros recém-nascidos tem permanecido uma barreira biológica rígida e ainda intransponível.

Mortalidade de bezerros e descarte involuntário

A mortalidade de bezerros e descarte involuntário de novilhas representam o número total de animais que nasceram no rebanho mas "desapareceram" antes do primeiro parto devido a doenças ou injúria física. A taxa de mortalidade inclui, ainda, bezerros que morreram e também aqueles que foram descartados por razões imprevistas. A distinção entre taxa de descarte involuntário e e taxa de descarte voluntário (venda de novilhas sobressalentes como animais para reprodução), se faz importante pelo contraste que apresentar na melhora do rebanho e lucratividade do mesmo.

Normalmente, bezerros recém-nascidos encontram-se no estágio de maior risco de contágio de doenças e de morte que bezerros mais velhos. Com o crescimento das novilhas, observa-se gradualmente menor número de casos de morte. Porém, o descarte involuntário pode também ocorrer entre novilhas devido principalmente à:

Severa infestação de parasitas (pastagens)

Page 135: Nutrição Essências em gado de leite

Severa dificuldade de parto (ao primeiro parto)

Todo bezerro que morrer ou for descartado involuntariamente representa uma perda de oportunidade, especialmente quando for utilizada inseminação artificial para melhora do potencial genético do rebanho. De acordo com a Figura 2B, um aumento na mortalidade de 0 para 24 % leva à redução de 44 para 34 novilhas de primeira cria disponíveis por ano em um rebanho de 100 vacas.

Idade à primeira cria

Quando a novilha apresenta idade à primeira cria acima de 24 meses, o custo de sua cria ção aumenta devido as seguintes razões:

Haverá excesso de novilhas no rebanho Custo adicional em alimentação será computado Menor número de novilhas de primeira cria estará presente no rebanho por ano

Grande intervalo entre partos e alta taxa de mortalidade reduzem o número total de novilhas no rebanho (Figura 2A e 2B); porém, um atraso na idade à primeira cria apresenta efeito oposto (Figura 2C), já que significará que novilhas permanecerão no rebanho de reposição por um maior período. Por exemplo, uma novilha que pariu pela primeira vez aos 36 meses levou 12 meses a mais, ou em outras palavras, 50% a mais de tempo, do que uma novilha que pariu aos 24 meses de idade, para sair do rebanho de reposição. Como consequência, o número total de novilhas em um rebanho de 100 vacas pode variar de 83 para mais de 120 animais, porém o número de novilhas de primeira cria produzidas por ano diminuirá de 42 para 28 animais (Figura 2C).

Sumário

A Tabela 2 mostra o aumento esperado no número de novilhas de primeira cria disponíveis por ano em resposta à mudança no intervalo entre partos, mortalidade de bezerros, taxa de descarte involuntário e idade à primeira cria. Tabela 3 apresenta o número de novilhas no rebanho e o número de novilhas de primeira cria disponíveis por ano em um rebanho de 100 vacas, em função do intervalo entre partos e idade à primeira cria.

Page 136: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 2: Principais fatores que afetam o número de novilhas de primeira cria disponíveis por ano.

 

Tabela 2: Effeito médio de intervalo entre partos, mortalidade de bezerros + período involuntário de descarte e idade à primeira cria, no número adicional de novilhas de primeira cria disponíveis por ano em um rebanho de 100 vacas.

Fator Variação Unidade de mudança

Novilhas de primeira cria em

excesso

Page 137: Nutrição Essências em gado de leite

Intervalo entre partos12 - 18 meses

menos 1 mês + 2 to 3

Mortalidade de bezerros + período involuntário de descarte

0 - 24 % menos 10% + 3 to 5

Idade à primeira cria24 - 36 meses

menos 1 mês + 1 to 2

 

Tabela 3: Número de novilhas no rebanho de reposição em um rebanho de 100 vacas leiteriras, assumindo que a proporção entre sexos seja 50%, com 10% de mortabidade de bezerros.*

Idade à primeira cria (meses)

IP** 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36

Número de novilhas de reposição

12.0 90 94 98 101 105 109 113 116 120 124 128 131 135

13.0 83 87 90 93 97 100 104 107 111 114 118 121 125

14.0 77 80 84 87 90 93 96 100 103 106 109 113 116

15.0 72 75 78 81 84 87 90 93 96 99 102 105 108

16.0 68 70 73 76 79 82 84 87 90 93 96 98 101

17.0 64 66 69 71 74 77 79 82 85 87 90 93 95

18.0 60 63 65 68 70 73 75 78 80 83 85 88 90

Número de novilhas de reposição por ano( taxa de descarte máxima para manter o tamanho do rebanho)

12.0 45 43 42 40 39 37 36 35 34 33 32 31 30

13.0 42 40 38 37 33 34 33 32 31 30 29 28 28

14.0 39 37 36 34 31 32 31 30 29 28 27 26 26

15.0 36 35 33 32 29 30 29 28 27 26 25 25 24

16.0 34 32 31 30 27 28 27 26 25 25 24 23 23

17.0 32 30 29 28 25 26 25 25 24 23 22 22 21

18.0 30 29 28 27 24 25 24 23 23 22 21 21 20

* Para checar número de novilhas disponíveis em caso de taxa de mortalidade diferente de 10%, multiplique o vlor encontrado na tabela por 1.111 e então multiplique novamente por (1-fração da mortalidade). Por exemplo, o número de

Page 138: Nutrição Essências em gado de leite

novilhas de primeira cria disponíveis quando o intervalo entre partos for de 14 meses, a idade à primeira cria for de 28 meses e a taxa de mortalidade for the 5%: 32 x 1.111 x (1 - 0.05) = 33.8 ou 34 novilhas.

** IP = Intervalo entre partos (meses).

Essencias em gado de leite Capitulo 27

Do nascimento à desmama

27: Observações gerais sobre algumas práticas de manejo

Michel A. WattiauxThe Babcock Institute

Tradução:Carla de Azevedo Piccinato

Boas práticas de criação de novilhas incluem nutrição adequada, alonjamento (incluindo ventilação) e saneamento adequados, além de prevenção de doenças e constante cuidado diário. Este capítulo reúne algumas práticas de manejo que contribuem para a criação de novilhas saudáveis desde o dia do nascimento até o momento da desmama.

NAS PRIMEIRAS HORAS DO NASCIMENTO. . .

Verifique se o bezerro está respirando

Problemas de respiração estão normalmente associados com partos demorados (distócicos). Se o bezerro não respira imediatamente após o parto, deve-se primeiramente retirar o muco das narinas e boca do bezerro. O bezerro deve ser deitado com sua cabeça abaixada em relação ao resto do corpo ou ainda pode ser pendurado de cabeça para baixo por alguns segundos para que todo muco seja drenado. Evite, porém, segurar o bezerro por muito tempo nesta mesma posição, já que o peso das vísceras contra o diafragma pode dificultar a respiração. Assim que as vias respiratórias estiverem limpas, pode-se aplicar técnicas de respiração artificial massageando-se o peito do bezerro com movimentos de compressão e relaxamento.

Outras forma de estimular a respiração incluem utilizar um palha ou graveto para fazer cócegas na narina ou despejar água fria na cabeça do bezerro.

Desinfecção de umbigo

Assim que seja verificado que o bezerro está respirando normalmente, deve-se voltar a atenção ao umbigo. Algumas vezes, ocorre sangramento de umbigo e neste caso, a utilização de um pedaço de algodão limpo é suficiente pra cessar a hemorragia. Na maioria dos casos, apenas poucos centímetros do cordão umbilical continua ligado ao bezerro. Qualquer acúmulo de sangue dentro do cordão deve ser retirado apertando-se o mesmo até que todo sangue retido saia, para que assim, em seguida, possa se aplicar uma solução de iodo (7%) ou outro antiséptico (Figura 1).

Page 139: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 1: Três importantes práticas de manejo para bezerros recém-nascidos- administração do colostro, identificação do animal, e desinfecção de umbico.

 

Quando o bezerro tiver 2 dias de vida, o cordão umbilical deve ser examinado para verificar se existe qualquer evidência de infecção. A região umbilical deve estar macia e flexível neste ponto. Bezerros com infecção de umbigo apresentam sinais de depressão. A região umbilical geralmente apresenta-se inchada e sensível ao toque. Infecção de umbigo pode rapidamente progredir a uma septicemia (presença de bactéria da circulação sanguínea), o que frequentemente resulta na morte do bezerro. Este problema potencialmente fatal, pode ser facilmente evitado se a vaca parir em um ambiente limpo e o umbigo for desinfetado logo após o nascimento.

Seque o bezerro (opcional)

Um bezerro molhado em um ambiente com muita ventania tem maior chance de sentir frio e ficar doente rapidamente. Porém, um bezerro que é mantido seco e em local protegido de vento, pode enfrentar temperaturas abaixo de zero sem ter problemas de saúde. Palha seca e limpa ou mesmo saco de estopa pode ser usado para esfregar no bezerro logo depois do nascimento.

Identificação do bezerro

Cada fazenda tem seu próprio método de indentificação. Em alguns países, a identificação de animais deve seguir algumas regras para controle oficial dos animais do rebanho. Recém-nascidos devem ser identificados continuamente e o dia do nascimento deve ser registrado individualmente sempre. Métodos de identificação incluem:

Corrente ou faixa de pescoço com número Brinco de metal ou plástico Tatuagem de tinta Marca a frio

Identifição pode ser facilitada ao se incluir uma fotografia ou resenha do bezerro com marcas de pelagem, no caso da raça ter mais de uma cor.

Fornecimento do colostro

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A importância da administração do colostro deve ser enfatizada. Um estudo recente nos EUA mostrou que apesar do conhecimento passado aos produtores de leite, mais de 22% de mortalidade pode ser atribuída a ausência de resistência imune. Existem quatro aspectos de manejo de colostro que devem ser ressaltados (veja texto em cinza).

1. O colostro é de boa qualidade ?Se o colostro for de qualidade questionável, deve-se descongelar colostro de melhor qualidade previamente congelado e oferecê-lo ao bezerro.

2. Quanto colostro deve ser fornecido?A quantidade de colostro necessária para a maioria dos bezerros varia de 1,25 a 2,5 Kg por refeição. A quantidade consumida por refeição não deve exceder a capacidade do estômago (5% do peso corporal ou por exemplo 2 Kg de colostro para um bezerro de 40 Kg). Colostro deve ser administrado de três a quatro vezes nas 24 primeiras horas do nascimento.

3. Quando o colostro deve ser administrado? O primeiro momento de fornecimento de colostro deve acontecer assim que o bezerro esteja respirando normalmente após o parto, preferencialmente na primeira hora pós-parto. A segunda refeição deve ocorrer entre seis e nove horas do nascimento. Quando ocorrer atraso no primeiro fornecimento, deve-se aumentar a frequência nas primeiras 24 horas de vida do bezerro para que haja o suprimento necessário de anticorpos. Não se deve fornecer outro tipo de alimento antes que se garanta a ingestão de colostro.

4. Como o colostro deve ser administrado?O colostro deve ser aquecido à temperatura corporal (39°C) em banho-maria e fornecido em um balde ou mamadeira (com bico devidamente limpo). Equipamento (mamadeira, bico de mamadeira, caneco de medida, etc.) deve ser lavado após o uso.

Não deixe o bezerro com a vaca

Bezerros devem ser removidos do piquete (área) de parto rapidamante após o nascimento. Muitos estudam indicam que a sobrevivência de bezerros aumenta muito quando os bezerros são colocados em uma área limpa e seca, além de receberem o colostro imediatamente após o parto. Em contraste, bezerros deixados com suas mães ingerem não apenas menor quantidade de colostro, como tambem mais tardiamente.

Quando o bezerro e a vaca ficam juntos após o nascimento, mesmo por algumas poucas horas, é fundamental supervisionar as mamadas. O úbere da vaca deve ser limpo antes de se permitir que o bezerro dê a primeira mamada. Quando ocorre ligação (vínculo) entre bezerro e vaca, a absorção de anticorpos ingeridos com o colostro aumenta, porém, no momento da separação, haverá uma situação ainda mais estressante para a vaca.

Em alguns casos, as vacas rejeitam e possivelmente machucam seus bezerros imediatamente antes do parto. Outro fator a se considerar quando o bezerro e a vaca são mantidos juntos é a saúde do bezerro; o risco de doenças infecciosas aumenta quando os bezerros são mantidos juntos com suas mães.

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Figura 2: Instalações individuais (bezerreiras ou casinhas) ajudam a manter o bezerro em boa saúde.

Aloje o bezerro em baias (casinhas) individuais

Bezerros não apresentam resistência nenhuma a doenças ao nascimento. O risco de contrair e transmitir doenças estará diminuído quando os recém nascidos forem colocados em casinhas individuais secas, protegidas do vento e que evitem contato direto entre animais. Além disso, com o crescimento dos bezerros, casinhas individuais permitem que o tratador monitore o consumo de ração, que por sua vez representa um importante critério na decisão de quando o bezerro está pronto para ser desmamado.

PRIMEIRAS SEMANAS APÓS NASCIMENTO

Crie bons hábitos de higiene

A disseminação de doenças pode ser reduzida pela utilização de práticas de boa higiene. Utensílios de alimentação como bicos de mamadeiras devem ser desinfetados após uso. Quando o mesmo bico de mamadeira for utilizado para alimentar bezerros de diferentes idades, alimente primeiramente os animais mais novos e depois os mais velhos. Casinhas de bezerros (ou mesmo baias individuais) devem ser limpas e desinfetadas ao se remover os bezerros para um outro local. A area da casinha (ou a baias) deve ficar vaga por pelo menos 3 a 4 semanas até a próxima ocupação.

Observe sinais inicias de doenças

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Lembre-se que um bezerro saudável é um bezerro com fome; perda de apetite é um dos primeiros sinais de problemas de saúde. Verifique a temperatura e isole imediatamente bezerros com sinais de doença (perda de apetite, fraqueza, olho fundo, etc.).

Remova tetos adicionais (opcional)

Tetos adicionais podem se tornar infectados e causar problemas à máquina de ordenha mais tarde. Porém, estes problemas são relativamente raros e a necessidade de remoção dos tetos adicionais é questionável na maioria dos casos. A remoção deve ser feita com aproximamente 2 a 3 semanas de vida, quando o bezerro é ainda pequeno e fácil de manejar. Utilize tesoura curva com ponta fina ou bisturi para cortar o teto fora. Acesse pela linha de junção do teto com a base do úbere. Normalmente não ocorre qualquer sangramento. Mesmo assim, deve-se tomar todos os cuidados necessários para garantir perfeitas condições sanitárias, como desinfetar a área antes e depois da operação, além de esterelizar os equipamentos ciúrgicos.

Em alguns casos, os tetos adicionais não são facilmente identificados e existe o risco de se cortar o teto verdadeiro. Apenas um veterinário ou pessoa habituada ao manejo de bezerros deve retirar tetos adicionais de animais mais erados como vacas ou mesmo novilhas.

Descorna de bezerros

A descorna é recomendada na maioria dos rebanhos. Vacas chifrudas podem causar injúria a outras vacas e também a pessoas. Em algumas partes do mundo, porém, utiliza-se uma corda ao redor do chifre para a contensão e manejo de animais. A descorna pode ser feita quando o botão cornuário está emergindo e pode ser bem identificado (10 a 6 semanas de idade). A descorna fica mais estressante quando os animais vão ficando mais velhos. Ela deve ser feita antes da desmana para evitar estresse adicional.

A descorna pode ser feita com a descornador elétrico ou cáustico. Antes de se fazer descorna pela primeira vez, a pessoa responsável por esta remoção deve pedir orientação sobre como proceder adequadamente. Técnicas inadequadas podem aumentar as condições de estresse do bezerro e o risco de injúria do bezerro e mesmo da pessoa.

Delineie um programa de vacinação com um veterinário

Existem vacinas disponíveis para numerosas doenças. Por exemplo, a incidência de diarréia devido a corona vírus, rotavírus e E. coli podem ser reduzidas por imunização. Outros problemas de bezerros podem ser significativamente reduzido quando bezerros são imunizados contra os patógenos prevalentes na região. A disponibilidade de vacinas para doenças específicas varia de país pra país. O veterinário do rebanho será a melhor fonte de informação sobre as vacinas que devem ser administradas para combater doenças específicas da região.

NO MOMENTO DA DESMAMA

Desmama de bezerros individuais é geralmente feita de acordo com:

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Idade Peso Ingestão de concentrado por dia

Porém, decisões sobre desmama devem-se basear na quantidade de matéria seca que os bezerros ingerem por dia, não na sua idade ou peso. Concentrados para bezerros devem estar disponíveis a partir de 5-10 dias após o nascimento. Um bezerro consumindo 0.7 kg ou mais de matéria seca em 3 dias consecutivos está pronto pra desmama. Quando bezerros são alimentados com níveis baixos de leite para estimular o consumo de alimento sólido, a desmama pode ser feita de maneira abrupta. Em contraste, se o leite é fornecido em grandes quantidades, o processo de desmama deve durar de 2 ou 3 semanas de transição lenta para evitar retardamento de crescimento ou mesmo perda de peso.

Bezerros que não se alimentam com quantidades suficientes de concentrados à desmama, perdem peso por alguns dias após desmama. Esta perda de peso ocorre independente da idade à desmama. Desta forma, deve-se resitir à tentação de atrasar a desmama na esperança de uma "melhor condição de transição"-a ênfase deve ser dada ao estímulo ao consumo precoce de concentrado.

Em condições de práticas de manejo rígidas, a maioria dos bezerros estão prontos para a desmama com 5 semanas de idade. Porém, a recomendação atual é desmamar com aproximadamente 8 semanas de idade.

Bezerros devem ficar em casinhas (baias) ou bezerreiras individuais por aproximadamente 10 dias após semama, até que não tenham mais o hábito de mamar uns nos outros.

Essencias em gado de leite Capitulo 28

Do nascimento à desmama

28: A importância do fornecimento de colostro

Michel A. WattiauxThe Babcock Institute

Tradução:Carla de Azevedo Piccinato

O QUE É COLOSTRO?

Entende-se por colostro como a secreção grossa, amarelada e cremosa que é coletada do úbere após o parto. Por definição, apenas a secreção da primeira ordenha após o parto deve ser considerada colostro. Secreções coletadas da segunda à oitava ordenha (quinto dia de lactação) são denominadas leite de transição devido ao fato de sua composição se assemelhar gradualmente à do leite integral (Tabela 1).

Page 144: Nutrição Essências em gado de leite

Além de seu alto valor nutritivo, o colostro fornece anticorpos necessários para a proteção de bezerros recém-nascidos de várias doenças infecciosas que podem provocar diarréia e morte. A concentração de anticorpos no colostro é em média 6% (6 g/100 g de colostro), mas, varia de 2 para 23%. Por outro lado, a concentração de anticorpos no leite corresponde a apenas 0.1%.

Figura 1: Ao nascimento, um bezerro não apresenta nenhuma defesa contra agentes infecciosos ; o fornecimento de colostro aumenta a chance de sobrevivência.

Tabela 1: Composição de leite e colostro

Componentes

Número da ordenha

1 2 3 4 5 11

Colostro Leite de transiçãoLeite

integral

Sólidos totais , % 23.9 17.9 14.1 13.9 13.6 12.5

Gordura, % 6.7 5.4 3.9 3.7 3.5 3.2

Proteína*, % 14.0 8.4 5.1 4.2 4.1 3.2

Anticorpos, % 6.0 4.2 2.4 0.2 0.1 0.09

Lactose, % 2.7 3.9 4.4 4.6 4.7 4.9

Minerais, % 1.11 0.95 0.87 0.82 0.81 0.74

Vitamina A, ug/dl 295.0 - 113.0 - 74.0 34.0

* Inclui percentagem de anticorpos indicada na próxima linha.

O QUE SÃO ANTICORPOS?

Anticorpos ou imunoglobulinas são proteínas normalmente encontradas na circulação sanguínea. Estas proteínas são componentes vitais do sistema imune. Anticorpos identificam e destroem bactérias e outros corpos estranhos (antígenos) que invadem o corpo. Eles não estão presentes na circulação saguínea de bezerros recém-nascidos

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porque não podem atravessar a placenta durante a gestação. Porém , quando os recém-nascidos são alimentados com colostro de boa qualidade, os anticorpos são absorvidos nos intestinos. Vários estudos mostram que sem uma quantidade adequada de anticorpos no sangue, a mortalidade de bezerros recém-nascidos aumenta drasticamente nos primeiros dias e semanas de vida.

COMO ANTICORPOS COMBATEM INFECÇÕES?

Colostro contem vários tipos de anticorpos (Ig). IgG e IgM destroem antígenos ou microorganismos que entram na circulação (infecções sistêmicas). IgA, um terceiro tipo de anticorpo, protege as membranas que envolvem vários órgãos contra infecção, especialmente o intestino e assim protegem contra a entrada de antígenos na circulaçãoe sanguínea.

COMO A QUALIDADE DE COLOSTRO É AVALIADA?

No intuito de avaliar a qualidade do colostro, deve-se considerar ambos, o tipo e a quantidade de imunoglobulinas.

Quantidade de anticorpos

Observações visuais dão uma boa indicação da qualidade do colostro (quantidade de anticorpos). Um colostro grosso e cremoso é rico em anticorpos. Em contraste, um colostro com aspecto mais aguado e de consistência fluida provavelmente contem menor concentração de anticorpos. A concentração de anticorpos no colostro é influenciada por numerosos fatores, como:

Período seco inadequadamente curto (com menos de 4 semanas), partos prematuros, ordenha ou vazamento de leite antes do parto reduzem a concentração de anticorpos no colostro

Idade da vaca : Em média, concentrações de anticorpos é maior em vacas mais velhas (>8%) do que em novilhas de primeira cria (5-6%). Além disso, vacas mais velhas produzem colostro com uma população mais diversa de anticorpos do que vacas mais jovens, já que as primeiras têm mais tempo de criar resistência às doenças exitentes no rebanho

A raça da vaca: vacas Holandesas apresentam menor concentração de anticorpos no seu colostro (6%) quando comparadas a concentrações de colostro de outras vacas de leite de raças como Ayrshire, Pardo Suíço, Guernsey e Jersey (8 a 9%)

Tipos de anticorpo

Colostro de boa qualidade é rico em anticorpos que fornecem imunidade contra uma grande variedade de doenças específicas de um ambiente. A variedade de organismos que provocam doenças e vacinações a que a vaca foi exposta, determina a variedade de anticorpos encontrados no colostro. Vacas maduras, nascidas e criadas em uma determinada fazenda apresentam composição de colostro ideal para proteger os bezerros nascidos naquela mesma fazenda. Em contrapartida, o valor imunológico do colostro de

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uma vaca comprada pela fazenda pouco tempo antes do parto é limitado. Da mesma forma, um bezerro adquirido nas primeiras 6-8 semanas de vida apresentam um alto risco de não resistir a doenças infecciosas, já que o mesmo não recebeu os anticorpos específicos do seu novo meio ambiente.

IMPORTÂNCIA DA QUANTIDADE E MOMENTO CORRETO DE ADMINISTRAÇÃO DE COLOSTRO

Colostro apresenta um efeito laxativo e estimula as funções normais do trato digestivo. Ainda mais importante é a quantidade de colostro fornecido e o momento que este foi fornecido em relação ao nascimento, já que tais fatores podem influenciar consideravelmente a sobre- vivência do bezerro (Tabela 2, Figura 2).

Imediatamente após o parto, a absorção de anticorpos encontra-se em média em 20% mas, isto pode variar de 6 a 45%. Observa-se um rápido declínio na eficiência de absorção de anticorpos, em poucas horas após o nascimento. A digestão de anticorpos aumenta e as células intestinais rapidamente se tornam impermeáveis a anticorpos. Com 24 horas após o nascimento, bezerros perdem a capacidade de absorver anticorpos intactos (devido ao fechamento da goteira esofágica). Bezerros que não recebem colostro nas primeiras 12 horas de vida, raramente absorvem anticorpos suficientes para garantir imunidade adequada. Cinquenta por cento dos bezerros em que a primeira mamada (ou fornecimento de colstro) atrasa até 24 horas de vida, são incapazes de absorver anticorpos, o que acarreta em baixa proteção contra doenças e muitas vezes morte.

Tabela 2: Relação entre mortalidade e quantidade de colostro fornecido aos bezerros Holandeses recém-nascidos durante as 12 primeiras horas de vida

Quantidade fornecida (kg) Mortalidade (%)*

2 to 4 15.3

5 to 8 9.9

8 to 10 6.5

* Mortalidade média de 1 semana a 6 meses de vida.

A concentrção de imunoglobulinas G (IgG) necessárias na circulação sanguínea para a proteção do bezerro é de 10 mg/ml de soro. Bezerros de vacas Holandesas absorvem apenas IgG suficiente quando são alimentados com 2 litros de colostro, sendo um litro logo após o nascimento e o segundo litro 12 horas após o nascimento (Figura 1a). Quando menos de 2 litros de colostro for fornecido ou quando a primeira mamada (ou fornecimento) atrasar (Figura 1b), a quantidade de IgG encontrada na circulação sanguínea será insuficiente para prevenir doenças (menos que 10 mg/ml).

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Figura 2: Efeitos de quantidades diferentes de colostro administradas e tempo de alimentação relativo ao nascimento, nas transferência de imunoglobulinas G (IgG) do colostro para o sangue do bezerro.

A concentrção de imunoglobulinas G (IgG) necessárias na circulação sanguínea para a proteção do bezerro é de 10 mg/ml de soro. Bezerros de vacas Holandesas absorvem apenas IgG suficiente quando são alimentados com 2 litros de colostro, sendo um litro logo após o nascimento e o segundo litro 12 horas após o nascimento (Figura 1a). Quando menos de 2 litros de colostro for fornecido ou quando a primeira mamada (ou fornecimento) atrasar (Figura 1b), a quantidade de IgG encontrada na circulação sanguínea será insuficiente para prevenir doenças (menos que 10 mg/ml).

Tabela 3: Quantidade de colostro de boa qualidade necessária por forneciemnto em função da raça e peso corporal do bezerro.

Raça: Pequena* Média* Grande*

Peso corporal, kg 25 30 35 40 45 50

Colostro **, kg 1.25 1.50 1.75 2.0 2.25 2.50

*Raça pequena = Jersey; Raça média= Ayrshire and Guernsey; Raça grande = Hosltein and Brown Swiss.

**Quantidade de colostro fornecida a cada fornecimento ou refeição (4 a 5% do peso corporal).

A maioria dos anticorpos encontrados na circulação sanguínea, vêm da primeira mamada. Proporcionalmente, menos IgG é absorvido da mamada às 12 horas de vida e muito poucos anticorpos são absorvidos de um fornecimento de colostro às 24 horas. Além disso, a Figura 2B indica como um atraso no fornecimento compromete a quantidade absorvida de anticorpos, independentementa da quantidade de colostro fornecida.

COLOSTRO E TRANSMISSÃO DE DOENÇAS

Em poucos casos, o colostro pode ser um veículo para transmissão de doenças entre a vaca e seu bezerro. Por exemplo, o vírus da leucose bovina pode ser encontrado no colostro de vacas infectadas. Desta forma, o bezerro de uma vaca positiva para leucose

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bovina deve ser removido da área de parto imediatamente após o nascimento e então, alimentado com colostro de uma vaca saudável. Existe, portanto, uma vantagem em manter uma reserva congelada de colostro. O mesmo cuidado deve ser tomado com bezerros filhos de vacas positivas para doença de Johnes (paratuberculose).

MÉTODO DE FORNECIMENTO

A quantidade de colostro ingerida por um bezerro é facilmente controlada quando o colostro é fornecido por mamadeira ou a pail equipada com um bico. O equipamento deve ser bem limpo após cada uso para minimizar crescimento bacteriano e o risco de transferência de patógenos.

Inserir a cabeça do bezerro em um balde com colostro não é uma prática recomendável, porque este método pode levar a disordens digestivas. Pela mesma razão, o colostro deve ser fornecido a temperatura corporal (39°C). Colostro frio deve ser aquecido em banho-maria anteriormente ao fornecimento. Entre cada fornecimento, o colostro que sobrou deve ser mantido em um recipiente limpo e coberto, além de colocado em geladeira ou câmara fria.

Um tubo esofágico pode ser utilizado para forçar a ingestão em situações em que o bezerro está fraco e ou é incapaz de mamar adequadamente. Apesar desta técnica poder salvar a vida de um bezerro, injúrias ou até mesmo morte podem resultar da utilização imprópria do tubo esofágico. A técnica de fornecimento deve ser primeiramente demonstrada por um veterinário e todo equipamento deve ser adequadamente sanitizado entre usos.

CONGELAMENTO E DESCONGELAMENTO DE COLOSTRO

Colostro pode ser preservado congelado sem qualquer perda de valor imunológico (destruição de anticorpos). Esta prática representa um meio conveniente de assegurar que colostro de boa qualidade esteja sempre disponível. Colostro de vacas que foram nascidas e criadas na própria fazenda deve ser congelado em pacotes de 1.5 a 2 kg, o que representa a quantidade necessária para para um único fornecimento.

Congelamento e descongelamento não destroem os anticorpos. O colostro congelado pode ser descongelado, aquecido e dado ao recém-nascido, quando existir dúvida quanto à efetividade do colostro de sua mãe em garantir imunidade. Este é o caso quando o colostro:

É muito fluido e ralo Contem sangue Vem de um quarto infectado com mastite Vem de uma vaca recém adquirida no rebanho ou uma vaca de primeira cria Vem de uma vaca que foi ordenhada anteriormente ao parto ou que teve um

considerável vazamento de leite

Um banho-maria deve ser utilizado para descongelar o colostro (45-50°C) e também para aquecê-lo a temperatura corporal antes do fornecimento ao bezerro. O recipiente

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impermeável de colostro congelado deve ser colocado em um recipiente maior com água morna. A temperatura de colostro deve ser cuidadosamente monitorada para evitar a destruição de anticorpos e o risco de queimar o bezerro.

Essencias em gado de leite Capitulo 29

Do nascimento à desmama

29: Fornecimento de leite e suscedâneos de leite

Michel A. WattiauxThe Babcock Institute

 

Tradução:Carla de Azevedo Piccinato

O ESTÔMAGO DO RECÉM-NASCIDO

O sistema digestivo de um bezerro não está completamente desenvolvido ao nascimento, mas, sofre desenvolvimento drástico durante os primeiros meses de vida. Ao nascimento, o sistema digestivo de um bezerro funciona como um estômago de animais monogástricos. O abomaso é o único estômago completamente desenvolvido e funcional (Figura 1). Como resultado, apenas alimento líquido pode ser utilizado efetivamente por bezerros pré-ruminantes com poucos dias de idade.

Digestão de leite em bezerros

Leite é primariamente digerido por ácidos e enzimas gátricas (do abomaso). Quando o leite chega ao abomaso, formam-se grumos de coalho. A formação deste coalho resulta da coagulação da principal proteína do leite, a caseína, sob a ação de duas enzimas, denominadas renina e pepsina e também pela ação de um ácido forte (ácido clorídrico). Alguns componentes do leite como a gordura, água e minerais ficam retidos nestes grumos de coalhos que por sua vez, ficam no abomaso até que a digestão seja completa.

Outros componentes do leite, principalmente proteínas do soro, lactose e a maioria dos minerais se separam dos grumos e passam rapidamente para o intestino delgado (na taxa de 200 ml por hora). A lactose é digerida rapidamente, garantindo energia imediata ao bezerro. Por outro lado, a caseína e gordura levam mais tempo para serem digeridas.

Poucos anos atrás, pesquisadores acreditaram que a formação do coalho ocorria no abomaso, para proporcionar boa digestão de proteínas. As proteínas dos sucedâneos de leite que não formam grumos firmes são consideradas insatisfatórias. Porém, estudos recentes indicaram que certas proteínas de sucedâneos, apesar da inabilidade em coagular e formar coalhos, podem produzir taxa de crescimento satisfatório para o bezerro.

Page 150: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 1: Estômago do bezerro recém-nascido.

RAZÕES PARA FORNECER ALIMENTO ANTES DA DESMAMA

Na criação de bezerras, as principais razões para fornecer alimentos sólidos antes da desmama são:

Criar bezerras saudáveis Obter crescimento ósseo adequado Evitar desenvolvimento retardado do rúmen por fornecer apenas grandes

quantidades de leite por muito tempo

Boa condição de saúde é mais importante que crescimento em bezerros alimentados com leite e sucedâneos. Na verdade, rápidas taxas de crescimento não podem ser atingidas com dietas líquidas (ganho de peso de 250-400 g/dia). Após a desmama, o crescimento de músculos e tecido adiposo ocorre mais rapidamente (ganho de peso de 700-900 g/dia).

FORNECIMENTO DE LEITE A BEZERROS

Após dado colostro e leite de transição, deve-se fornecer leite com alto valor nutricional para permitir crescimento satisfatório a custos baixos. Os seguintes fatores são importantes quando alimenta-se bezerras jovens com leite:

Tipo de leite fornecido Tamanho da refeição Frequência de alimentação Métodos de alimentação Temperatura do leite

Em adição, a saúde do bezerro fica mais protegida quando se segue algumas regras básicas de higiene, como as seguintes:

Vestimento (incluindo calçados) e mãos das pessoas que preparam e fornecem o leite devem ser limpos

Page 151: Nutrição Essências em gado de leite

Equipamentos usados para estocar, preparar e fornecer o leite devem ser muito bem lavados e depois secados a cada uso

Qual a quantidade de leite que deve ser fornecida por dia?

Uma regra prática seria alimentar 1 kg de leite por dia para cada 10 a 12 kg de peso vivo ao nascimento. Em outras palavras, um bezerro deveria receber de 8 a 10% de seu peso vivo ao nascimento em leite todos os dias (2.5 kg de leite para um bezerro de 25 kg, 3.5 kg de leite para um bezerro de 35 kg, etc.). Bezerros devem ser alimentados com a mesma quantidade de leite até que sejam desmamados. Com o crescimento, os bezerros podem utilizar grandes quantidades de leite. Porém, ao se limitar o consumo de leite, os bezerros são encorajados a consumir alimentos sólidos desde cedo.

Figura 2: Programa de alimentação líquida para bezerros de leite.

Frequência de alimentação

Preferencialmente, o leite deve ser oferecido 2 vezes por dia, sendo cada alimentação 4 a 5% do peso vivo em leite. Quando a quantidade de leite necessária por dia é fornecida de uma única vez, a capacidade de digestão do abomaso é excedida e o leite em excesso volta ao rúmem rudimentar do bezerro, causando problemas digestivos (por exemplo, timpanismo). Uma única alimentação por dia somente tem sucesso sob condições rígidas e controladas de manejo. Em geral, um único fornecimento de leite por dia leva ao aumento de casos de diarréia e outros problemas de saúde do animal.

Métodos de fornecimento de leite: Mamadeira ou balde

A utilização de mamadeiras força o bezerro a beber devagar e portanto, reduz o risco de diarréia ou outros distúrbios digestivos. Porém, os benefícios do fornecimento de leite com mamadeiras podem ser perdidos se limpeza rígida dos equipamentos não for mantida.

Page 152: Nutrição Essências em gado de leite

Um bezerro pode ser ensinado a beber leite por um balde em poucos dias após o nascimento. Esta técnica é simples, rápida e requer pouco trabalho de limpeza.

Temperatura do leite

É particularmente importante controlar a temperatura do leite durante as primeiras semanas após o nascimento. Leite frio produz maiores problemas digestivos que o leite morno. Durante a primeira semana, o leite deve ser fornecido à tempetaura corporal (que é 39°C, em bezerros) mas, temperaturas um pouco mais baixas podem ser também usadas para fornecimento de leite para bezerros mais velhos (25-30°C).

Figura 3: Aspectos importantes para boa alimentação de bezerros: medir a quantidade de leite, alimentar com mamadeira ou balde e ajustar a temperatura do leite.

Tipo de leite que pode ser fornecido

Apesar de todo leite produzido na fazenda não poder ser vendido, bezerros podem utilizar a maioria do leite que não for aceito comercialmente. Os vários tipos de leite disponíveis na fazenda para alimentar bezerros jovens, incluem:

Colostro em excesso Leite de transição em excesso Leite que não foi vendido (leite mastítico ou com antibióticos) Leite desnatado ou outros subprodutos do processamento do leite Leite integral

Leite fermentado

Page 153: Nutrição Essências em gado de leite

Colostro, leite de transição ou leite integral conservados à temperatura ambiente (abaixo de 21°C) irão fermentar. Durante a estocagem, lactose é transformada a ácido lático por fermentação, acidificando e assim, preservando o leite por várias semanas.

Comparado ao leite integral, a média de ganho de peso é ligeiramente menor quando leite fermentado é fornecido. Porém, leite fermentado mal preparado pode ser menos palatável que leite fresco e pode levar à redução da média de ganho de peso.

Leite integral

Leite integral pode ser fornecido até a desmama, após a fase do colostro e do leite de transição. Quantidade limitada de leite integral suplementada com um bom concentrado para bezerros é uma excelente combinação de dieta para bezerros de leite. A performance de cresciemnto obtida com leite integral e um bom concentrado é geralmente considerada o padrão para avaliar outros produtos ou manejos de alimentação de bezerros.

Leite mastítico

Leite mastítico ou leite de vacas tratadas para mastite podem ser fornecidos a bezerros contanto que não exista contato entre os bezerros por pelo menos 30 minutos após alimentação. Esta recomendação deve ser feita para prevenir a transmissão de bactérias que causam diarréia ( Escherichia coli ), pneumonia ( Pasteurella ) ou outros agentes infecciosos. O leite de vacas tratadas para mastite pode conter um grande número de bactérias patogênicas que podem aumentar o riso de doenças. Além disso, o uso de leite contendo resíduos de antibióticos pode levar a resistência bacteriana. Assim, o tratamento de antibióticos pode se tornar menos eficiente ao longo do tempo.

Leite desnatado

O leite desnatado é relativamente alto em proteínas mas, contém menos energia (50%) e vitaminas solúveis em gordura (vitamina A e vitamina D) quando comparado ao leite integral, simplesmente porque houve remoção da gordura.

Leite desnatado deve ser usado apenas quando bezerros já estão se alimentando com uma quantidade significante de concentrado, o que ocorre normalmente com 3 semanas de vida. O consumo de concentrado é importante para garantir energia e vitaminas que não estão presentes no leite desnatado. Deve-se evitar o fornecimento de leite desnatado a bezerros em alojamentos frios, principalmente durante o inverno, já que nesta fase do ano o bezerro precisa de energia adicional para se proteger contra baixas temperaturas.

Sucedâneos de leite

Bezerros podem receber sucedâneos de leite a partir de 4-6 dias de idade. Sucedâneos geralmente contém menos godura, e portanto energia (75% to 86%), que o leite integral em base de matéria seca. Bezerros alimentados com sucedâneos geralmente ganham menos peso por dia do que bezerros alimentados com leite inegral.

A reputação do fabricante, a análise química e a lista dos ingredientes utilizados no sucedâneo são parâmetros importantes para acessar sua qualidade antes de comprá-lo. A

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composição recomendada para um bom sucedâneo de leite para bezerros pode ser encontrada na Tabela 1. O teor protéico deve ser de pelo menos 22%. Teor de gordura (extrato etéreo) maior que o mínimo mostrado na Tabela 1 pode ter efeitos benéficos já que:

Reduz a severidade da diarréia quando esta ocorrer Fornece energia adicional quando bezerros são criados em ambientes muito frios

(em regiões temperadas e de altitude elevada)

Os ingredientes preferenciais de sucedâneos de leite são derivados de leite integral. Proteínas do soro, proteína de concentrado de peixe e proteína da soja podem são aceitáveis, mas, produtos como farinha de peixe, farinha de soja, proteínas celulares ou subprodutos solúveis de destilaria (subprodutos de cereais fermentados em destilarias) não são bem aceitos ou mesmo utilizados pelo sistema digestivo dos bezerros.

Tabela 1: Concentração de nutrientes recomendada para sucedâneos de leite (NRC, 1989).

Nutrient Amount

Energia metabolizável, Mcal/kg 3.78

Proteína Bruta, % 22.0

Extrato etéreo (lipídios),min % 10.0*

Macrominerais

Cálcio-Ca, % 0.70

Fósforo-P, % 0.60

Magnésio - Mg, % 0.67

Potássio - K, % 0.65

Sódio - Na, % 0.10

Cloro - Cl, % 0.20

Enxofre - S, % 0.29

Microminerais

Ferro-Fe, ppm (or mg/kg) 100.0

Cobalto - Co, ppm 0.10

Cobre - Cu, ppm 10.0

Manganês - Mn, ppm 40.0

Zinco - Zn, ppm 40.0

Page 155: Nutrição Essências em gado de leite

Iodo - I, ppm 0.25

Selênio - Se, ppm 0.30

Vitaminas

Vitamina A, IU**/kg 3800.0

Vitamina D, IU/kg 600.0

Vitamina E, IU/kg 40.0***

* Em climas quentes, deve ser pelo menos 15%; em climas frios, 20%.

** IU = Unidades Internacionais.

*** Preferencialmente 200 IU/kg para estimular o funcionamento do sistema imune.

Quando sucedâneos de leite são utilizados, a taxa de diluição sugerida pelo fabricante deve ser seguida com cuidado. A maioria dos sucedâneos deve ser misturada usando 1 parte de leite e 7 partes de água para obter um produto final com conteúdo sólido semelhante ao leite integral (12.5%).

Essencias em gado de leite Capitulo 30

Do nascimento à desmama

30: Fornecimento de feno, concentrado e água

Michel A. WattiauxThe Babcock Institute

 

Tradução:Carla de Azevedo Piccinato

INTRODUÇÃO DE ALIMENTOS SÓLIDOS NA DIETA

Bezerros jovens e recém-nascidos alimentados primariamente com dietas líquidas não têm as mesma funções digestivas que ruminantes, devido ao fato de apresentarem apenas um estômago funcional, o abomaso. Quando um bezerro é alimentado com leite ou sucedâneo, o fechamento da goteira esofágica faz com que o leite passe diretamente do esôfago para o abomaso. Porém, quando alimentos sólidos são ingeridos, a goteira esofágica vai gradualmente parando de funcionar, a população bacteriana vai se estabelecendo no rúmem e o inicia-se o desenvolvimento da parede ruminal. Eventualmente, os bezerros se tornam capazes de utilizar alimento fibroso, devido a presença e crescimento de microorganismos no rúmem. Pode-se notar o início do funcionamento ruminal quando um bezerro começa a ruminar aos 2 a 3 meses de idade.

Page 156: Nutrição Essências em gado de leite

Assim, a disponibilidade e ingestão de alimentos sólidos desde cedo, permite rápido desenvolvimento ruminal e desmama precoce (com 5 a 8 semanas de idade).

Figura 1: Estágios do desenvolvimento do rúmem.

Desenvolvimento ruminal

Um bezerro não deve ser desmamado até que seu rúmem seja funcional e capaz de garantir as necessidades nutricionais do bezerro. Produtos finais da fermentação ruminal (ácidos graxos voláteis) promovem o estímulo necessário para o desenvolvimento ruminal. O rúmem de bezerros que não tiveram acesso a alimentos sólidos permanecerá rudimentar, não-desenvolvido. Esta técnica de manejo é utilizada para produzir vitelo. Assim, o consumo de alimentos secos é essencial para o desenvolvimento do rúmem. Bactérias, protozoários e fungos que habitam normalmente o rúmem são fixados naturalmente quando o bezerro ingere alimento sólido. Centenas de espécies de microorganismos entram no rúmem grudados a partículas de alimentos. Entretanto, a população microbiana do rúmem é dominada por apenas um grupo pequeno de espécies de microorganismos. Bactérias que se proliferam no rúmem são aquelas capazes de fermentar carboidratos na ausência de oxigênio (bactérias anaeróbicas). Os produtos da fermentação bacteriana (principalmente acetato e butirato) são importantes promotores de crescimento e desenvolvimento ruminal. Assim, o desenvolvimento e crescimento do rúmem dependem mais da ingestão de grãos do que de forrageiras. O consumo precoce de concentrado altamente paltável (mistura de grãos) é importante para garantir o rápido desenvolvimento ruminal, além de uma transição menos drástica no momento da desmama.

Tabela 1: Exemplo de mistura e composição de concentrado para bezerros novos.

IngredientsConcentrado em grãos   Concentrado completo

1 2 3 4   1 2 3 4

  Quantidade (kg)

Alfafa peletizada - - - -   18.9 17.0 18.8 16.0

Page 157: Nutrição Essências em gado de leite

Milho (grão 35.0 30.0 50.0 50.0   24.0 22.0 - 15.0

Milho (grão + sabugo) - - - -   - 22.0 35.0 10.0

Aveia 35.0 13.0 - -   35.0 - 22.0 10.0

Farelo de Trigo - 10.0 10.0 -   - - - -

Polpa de beterraba - - - -   - 15.0 - 10.0

Glúten de milho - - - 20.0   - - - 10.0

Resíduos de destilaria - - 10.0 -   - - - 10.0

Farelo de Linhaça   10.0 10.0 10.0   15.0 17.0 17.0 12.0

44% CP Supplement 22.7 10.0 12.8 12.9   15.0 17.0 17.0 12.0

Soro de leite em pó - 10.0 - -   - - - -

Melaço 5.0 5.0 5.0 5.0   5.0 5.0 5.0 5.0

Minerais, 23% Ca e 18% P 0.6 - - -   1.1 1.2 1.2 1.0

Calcário ou CaC0 3 134 4.7 1.9 1.8   0.7 0.5 0.7 0.7

Premix de microminerais 0.25 0.25 0.25 0.25   0.3 0.3 0.3 0.3

Total 100.0 100.0 100.0 100.0   100.0 100.0 100.0 100.0

Nutrientes Composição (em base de matéria seca)

Energia

NDT ***, % 80.3 79.5 81.8 82.7   75.6 76.1 75.1 77.4

Energia Líquida de Mantença, Mcal/kg

1.96 1.94 2.00 2.02   1.80 1.83 1.80 1.87

Energia Líquida de Crescimento, Mcal/kg

1.32 1.30 1.36 1.39   1.19 1.21 1.19 1.26

Proteína Bruta, % 19.9 19.6 20.7 20.7   18.4 18.5 18.5 19.4

Fibra Detergente Ácido, % 8.6 8.3 7.6 6.7   14.2 16.6 15.4 16.1

Fibra Detergente Neutro, % 18.0 20.4 18.6 17.6   24.3 27.6 26.2 30.1

Cálcio , % 0.89 0.98 0.94 0.95   0.82 0.84 0.85 0.85

Fósforo , % 0.51 0.59 0.52 0.51   0.51 0.51 0.52 0.52

Microminerais, % 0.28 0.28 0.28 0.28   0.34 0.34 0.34 0.34

Page 158: Nutrição Essências em gado de leite

* Concentrado em grãos pode ser fornecido com uma forrageira como um feno de boa qualidade.

**Concentrado completo pode ser fornecido sem suplemetação de forrageira, porque ja contem alta concentração de fibra.

*** NDT = N utrientes digestíveis totais = % proteína bruta digestível + % fibra bruta digestível + % extrato livre de nitrogênio digerível + (2.25 x % extrato etéreo digestível).

Quando o concentrado deve ser oferecido pela primeira vez?

O concentrado deve ser oferecido logo cedo, em torno do 4 dias de vida e deve continuar a ser fornecido até os 4 meses de idade (6 a 8 semanas após desmana). O bezerro comerá muito pouco alimento sólido nas primeiras 2 semanas de vida. Porém, eles devem ser encorajados a come-lo. Por exemplo:

O concentrado deve conter melaço ou qualquer outro alimento palatável O concentrado deve ser oferecido frequentemente, porém sempre em pequenas

quantidades para que se mantenha fresco A ingestão de leite deve ser limitada até no máximo a 10% do peso corporal ao

nascimento por dia Água limpa e fresca deve estar sempre disponível a partir do momento que se

inicia o fornecimento de concentrado. O consumo de matéria seca é estimulado pelo aumento do consumo de água

Uma pequena medida (mão cheia) de concentrado deve ser colocado no comedouro do bezerro ou no fundo do balde imediatamente após que o bezerro terminar de beber leite

Concentrado tambem pode ser fornecido com uma mamadeira para estimular o consumo

Feno e concentrado devem realmente ser fornecidos?

 

Estudos indicavam que a mistura de concentrado e feno de boa qualidade é necessária para desenvolvimento ruminal normal. Sugeriu-se que alimentos fibrosos ou mais grosseiros desempenhavam um importante papel no aumento da capacidade ruminal e manutenção da estrutura das papilas ruminais. Porém, estudos recentes têm mostrado que não existe vantagem em fornecer feno quando o concentrado é formulado para conter a quantidade necessária de fibras. Em contraste, carboidratos no concentrado são essenciais devido ao fato de fornecerem ácido butírico e ácido acético fundamentais para o desenvolvimento da parede ruminal. Se o concentrado não contem pelo menos 25% de fibra detergente neutro (FDN), feno deve ser fornecido. Além disso, concentrado deve conter em torno de 18% de proteína bruta, 75 a 80% de NTD e deve ser suplementado com vitaminas A, D, e E.

Existem dois tipos de concentrados para o bezerro novo: concentrado em grãos e concentrado completo (Tabela 1). Concentrado completo contem altos níveis de fibras (em outras palavras, menos energia) do que concentrado em grãos mas, ambos podem ser formulados com ingredientes usados para alimentar animais adultos (com exceção

Page 159: Nutrição Essências em gado de leite

de uréia). Concentrado completo aparenta ser menos palatável e ingerido em menores quantidades que concentrado em grãos. Quando concentrados são fornecidos, não há necessidade de forrageiras até após o momento da demama.

Geralmente, os grãos de concentrados são triturados ou amassados para obter textura de mais grosseira. Não recomenda-se moer muito fino, já que partículas finas de alimento não estimulam a ruminação. Palatabilidade é muitas vezes aumentada pela inclusão de 5% de melaço no concentrado. Quando bezerros comem mais que 1.5 a 2 kg de concentrado por dia (aso 3 meses de idade), eles podem ser alimentados com uma mistura de concentrado mais barata. A Figura 2 mostra o consumo esperado de concentrado em grãos quando as forrageiras são alimentadas a vontade a partir de 2 semanas de idade.

DESMAMA

A desmama deve ocorrer quando um bezerro apresenta bom crescimento e está consumindo pelo menos 1% do seu peso vivo em concentrado em grãos (500-600g a 700-800g de concentrado para raças pequenas e grandes, respectivamente). O leite deve ser fornecido de maneira contínua para bezerros pequenos ou fracos. Este deve ser então oferecido apenas 1 vez ao dia, na semana anterior à desmama. A maioria dos bezerros deve ser desmamado entre 5 e 8 semanas de idade. Bezerros alimentados com um concentrado em grãos podem estar prontos para a desmama algumas semanas antes que aqueles alimentados com um concentrado completo. Desmamar antes de 4 semanas de idade pode representar maior risco e geralmente, leva a uma maior taxa de mortalidade. Em contraste, a desmama tardia (com mais de 8 semanas de idade) pode aumentar o custo da criação do bezerro, devido:

A ração de bezerro desmamado (forrageira e concentrado) é geralmente mais barata que leite ou sucedâneos de leite

A taxa de crescimento se mantem limitada se o bezerro se alimenta com dietas líquidas. O ganho em peso vivo aumenta consideravelmente após a desmama, o que demonstra que o bezerro está bem adaptado a uma dieta de alimentos sólidos (concentrado e forragerias)

Page 160: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 2: Consumo de concentrado em grãos e ganho de peso de bezerros novos alimentados com quantidade constante de leite e com forrageira à vontade.

 

Figura 3: Alimentar com concentrado em grãos palatável e água, permite rápido desenvolvimento do rúmem e desmama precoce.

 

Como mencionado anteriormente, as necessidades nutricionais e o desenvolvimento ruminal do bezerro serão beneficiados quando com um concentrado for fornecido com forrageira, especialmente antes da desmama. Entretanto, uma silagem ou feno de boa qualidade devem ser fornecidos após a desmama. A composição da ração deve ser

Page 161: Nutrição Essências em gado de leite

cuidadosamente monitorada, especialmente quando a silagem de milho estiver incluída na dieta. Como ocorre aumento da ingestão de matéria seca após a desmama, espera-se que haja também aumento de peso vivo ao longo do tempo.

Essencias em gado de leite Capitulo 31

Do nascimento à desmama

31: Diarréia neonatal Michel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

Tradução:Carla de Azevedo Piccinato

INTRODUÇÃO

Diarréia é uma doença que pode ser evitada ao se adotar boas práticas de manejo, apesar de ser a causa mais comum de morte de bezerros novos. A maioria dos casos de diarréias fatais ocorre nas primeiras 2 semanas de vida. Com o crecimento dos bezerros, diminui-se a susceptibilidade dos bezerros a doenças infecciosas, porém esta ainda persiste até 3 a 4 meses de idade.

Tipos de diarréia

Diarréias muitas vezes podem ser classificadas como nutricionais (por excesso de fornecimento de leite, sucedâneos de leite ou por mudança brusca na composição de leite) or infecciosa (Tabela 1). Porém, esta distinção pode ser um pouco arbitrária, já que um desbalanço nutricional pode predispor o bezerro a infecções. E. coli é o principal organismo envolvido na diarréia que ocorre durante os primeiros dias após o nascimento (diarréia neonatal).

Tabela 1: Principais microorganismos que causam diarréia.

Bactéria Vírus Parasitas

Escherichia coliSalmonellaClostridium perfringens

Rotavírus Coronavírus

Cryptosporídium Coccídio

 

Sinais clínicos

Diarréia é a excreção de fezes que contém quantidades excessivas de água. As fezes de bezerros com diarréia podem conter de 5 a 10 vezes mais água que o normal. Além de líquida, vários tipos de diarréia podem resultar na produção de fezes com odor fétido,

Page 162: Nutrição Essências em gado de leite

sem cor normal de fezes (amarelada ou esbranquiçada) ou que contém muco e sangue. Com a progressão da doença, outros sinais vão se tornando mais evidente como os ilustrados na Figura 1. Os sinais clínicos seguintes estão listados em ordem de severidade. O bezerro:

Apresenta perda de interesse por alimento (baixo apetite) Produz fezes líquidas Apresenta sinais de desidratação (olhos fundos, pelo eriçado, turgor cutâneo

retardado, etc.) Extremidades frias (hipotermia) Se levanta lentamente e com dificuldade É incapaz de se levantar (prostração)

Fatores predisponentes

A ocorrência de diarréia nas primeiras semanas de vida aumenta quando um ou mais das seguintes situações acontecem:

Status imunológico debilitado do bezerro:

- pouco colostro fornecido tardiamente- colostro de baixa qualidade

Acúmulo de agentes infecciosos no ambiente: — pouca ventilação— ausência de período de quarentena— baixa higiene do ambiente em geral

Fatores Nutricionais:

- sobrealimentação de leite ou sucedâneo de leite de baixa qualidade- mudanças abruptas na composição do leite

Estresse: - dificuldades no parto- transporte de longa distância

Diagnóstico precoce

Chamar a atenção para fatores de risco ajuda na detecção precoce da diarréia. A chance de desenvolvimento de doença clínica e morte diminuem muito quando o diagnóstico vem acompanhado por medidas adequadas para minimizar o impacto da diarréia.

Normalmente, animais jovens e em particular bezerros novos apresentam bom apetite. O primeiro sinal de que o bezerro está adoecendo pode ser percebido no momento do fornecimento do alimento. Um bezerro que não está com fome, possivelmente tem algo de errado acontecendo com ele. Observação criteriosa de certos sinais permite que o produtor perceba o aparecimento da diarréia um dia antes que ela realmente ocorra. Os seguintes sinais indicam um possível aparecimento de diarréia:

Page 163: Nutrição Essências em gado de leite

Focinho seco Muco grosso excretado pelas narinas Fezes muito secas Falta de apetite (recusa beber leite) Prostração e temperatura retal alta (>39.3°C)

Quando um bezerro mostra algum desses sinais, parte de seu leite pode ser retirado como medida preventiva. A diarréia pode não ser totalmente evitada mas, o bezerro pode se recuperar mais rapidamente.

PREVENÇÃO

Práticas de manejo

Assim como a maioria das doenças de bezerros, imunidade passiva adequada e remoção de fatores predisponentes são as duas medidas principais para se evitar a diarréia. Verificar se as práticas recomendadas de manejo estão entrando em vigor, além de dar atenção aos detalhes da criação, são atitudes que eliminam os fatores de risco e reduzem consideravelmente a incidência de diarréia e morte de bezerros (veja quadrante cinza).

Práticas de manejo adequadas eliminam os fatores de risco e ajudam a reduzir a incidência de diarréias:

Nutrição

1. Fornecimento da quantidade adequada de colostro de alta qualidade.2. Colostro e leite devem ser fornecidos à temperatura corporal (36-38°C).3. Alimentação deve ocorrer duas vezes ao dia em horários regulares e com

utensílios, limpos, sanitizados e secos após cada uso.4. Sucedâneos de leite devem ter alta qualidade nutricional. Um sucedâneo rico em

gordura (15-20%) provavelmente apresentará melhores resultados do que um sucedâneo com baixo teor de gordura (10-15%), já da gordura é altamente digerível.

5. Sobrealimentação e mudanças bruscas na composição do leite (tipo de leite) devem ser evitados.

Alojamento e manejo

6. Bezerros devem ser mantidos em bezerreiros individuais, protegidos contra correntes de ar. O agrupamento de bezerros deve ser feito apenas após a desmama.

7. Bezerreiros devem ser desinfectados regularmente e devem permanecer vazios por 3 semanas. O sistema "todos dentro, todos fora" deve ser recomendado em fazendas com histórico de diarréia.

8. Bezerros saudáveis não devem ser introduzidos em um alojamento onde outros bezerros estão passando pelo problema de diarréia.

9. Bezerros abaixo de 3 semanas de vida não devem ser trazidos de outras propriedades.

Vacinas

Page 164: Nutrição Essências em gado de leite

Vacinas para linhagens específicas de E. coli estão disponivies no mercado. A maneira mais efetiva de usar estas vacinas é pela inoculação de vacas prenhes, para que a resistência à bactéria possa ser transferida através de imunoglobulinas pelo colostro. O sistema imune de um bezerro, não responde bem a vacinação até 6 a 8 semanas de idade. A vacinação de vacas em lactação tem sido amplamente adotada em rebanhos leiteiros. Existem numerosas linhagens de E. coli que causam diarréia, assim, a introdução de uma linhagem nova ou diferente de E. coli (por exemplo, com a compra de um bezerro infectado) pode resultar em novos episódios da doença.

Reidratação é a medida-chave para salvar a vida de um bezerro com diarréia severa.

Figura 1: Desidratação é a principal causa de morte nas diarréias.* SRO = Solução de Reidratação Oral; quantidade necessária para restabelecer o balanço de fluidos a uma bezerra que de 45 Kg, em acréscimo à parcela de leite diária.

TRATAMENTO DA DIARRÉIA

Solução oral de reidratação

Assim que diarréia for detectada (o quanto mais cedo melhor), o bezerro deve ser alojado em um ambiente seco, não exposto ao frio, para então receber soro terapia de reidratação (Figura 1). O principio geral da reidratação oral segue a seguinte afirmativa: se sal e água passarem devagar o bastante pelos intestinos, então a absorção será completa. As várias soluções salinas presentes na Tabela 2 podem ser preparadas e fornecidas à temperatura corporal.

A presença de glicose na solução eletrolítica é opcional. A glicose pode aumentar a fermentação intestinal mas, por outro lado, pode ajudar na absorção de eletrólitos e, seguida da absorção, pode fornecer energia ao bezerro. Soluções orais também estão disponívies comercialmente. Estes produtos contém uma mistura de eletrólitos, glicose e outros sais (como apontado na Tabela 2) assim como microminerais, vitaminas e agentes gelatinosos (guar goma, xanthum ágar, pectina, etc.). Pectina e gumas não são essenciais em uma solução de reidratação oral; porém, esses ingredientes podem ajudar a reduzir a taxa de passagem de leite pelos intestinos e assim, melhorar a digestão.

Page 165: Nutrição Essências em gado de leite

Podem ainda, fornecer proteção e alívio à mucosa intestinal que está inflamada e danificada pelo quadro de diarréia.

Deve-se continuar fornecendo leite?

Bezerros com diarréia perdem parcialmente a capacidade de digerir leite. Diarréias podem ter seu quadro clínico piorado pela passagem de leite não digerido pelos intestinos, porque isto pode estimular o crescimento de bactérias. Assim, uma recomendação prática seria substituir o leite parcialmente ou completamente por uma solução de reidratação oral (SRO). Porém, pesquisas recentes indicam que bezerros recebendo SRO por apenas 2 dias, continuam desidratados e podem perder peso rapidamente. Em contraste, bezerros recebendo sua cota diária de leite (10% de peso corporal) suplementada com uma SRO acídica não apresentam sinais de piora e geralmente ganham peso durante o período de reidratação (7 dias).

Métodos de tratamento

No início da diarréia, um bezerro deve ser alimentado com sua parcela diária de leite; neste momento então, a SRO deve ser fornecida. A acidez ou alcalinidade do SRO pode influenciar sua efetividade. Soluções alcalinas podem interferir com a digestão normal do leite no abomaso e portanto, não deve ser fornecida até 3 a 4 horas após alimentação. Em contrapartida, soluções acídicas podem ajudar na digestão protéica e podem ser fornecidas imediatamente (15-20 min.) após alimentação completa com leite.

Limitar a quantidade de leite oferecido ao bezerro nestes casos, mantém o bezerro ainda com um pouco de fome e portanto, mais propenso a aceitar a SRO. O leite pode se limitar a quantidade necessária para mantença: 1.8 kg/d para um bezerro de 25 kg, 2.7 kg para um bezerros de 35 kg e 3.4 kg/d para um bezerro de 45 kg. Além disso, o número de alimentações pode ser aumentado para 3 ou 4 por dia (e a quantidade oferecida deve ser diminuída proporcionalmente) para encorajar o bezerro a beber mais líquidos. Quando o bezerro recusa tomar SRO, apesar da redução de leite e do aumento da frequência de alimentações, deve-se lançar mão de uma sonda esofágica para força a ingestão de SRO pelo animal. Apenas uma pessoa bem treinada deve tentar alimentar um bezerro com uma sonda esofágica.

Antibióticos e reidratação intravenosa

Se a diarréia persistir e os sinais de desidratação piorarem, um veterinário deve ser chamado. Quando um bezerro apresenta sinais severos de desidratação (Figura 1-perda de água corporal >8%), um veterinário pode administrar eletrólitos e antibióticos intravenosos. Bezerros desidratados, mesmo aqueles parecendo que estão morrendo, geralmente respondem muito bem a infusão endovenosa de eletrólitos.

Tabela 2: Soluções eletrolíticas usadas para reidratação oral de bezerros com diarréia.

Ingredientes químicos Fórmula

Solução

1 2 3 4 5 EGG1

gramas / litro de água

Page 166: Nutrição Essências em gado de leite

Cloreto de sódio (sal de cozinha) NaCl 9.0 - 4.0 2.5 4.8 143.4

Bicarbonato de sódio NaHCO3 - 12.0 - 7.5 4.8 -

Cloreto de potássio KCl - - 2.7 1.0 - -

Fosfato de Potássio KH2PO4 - - - - - 68.0

Lactato de sódio   - - 5.8 - - -

Citrato de sódio   - - - - - 2.1

Glicina   - - - - 10.1 103.0

Glicose   - - - 12.5 20.2 675.3

Àcido cítrico   - - - - - 8.1

pH da solução2   Ac Al Ac Ac Ac  

1 EGG: Solução eletrolítica de Glicose-Glicina; 64 gramas desta msitura deve ser dissolvida em dois litros de água morna e fornecida de uma só vez

2 Ac = ácido; Al = alcalino.

Essencias em gado de leite Capitulo 32

Do nascimento à desmama

32: PneumoniaMichel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

Tradução:Carla de Azevedo Piccinato

INTRODUÇÃO

Pneumonia é o segundo problema de saúde mais comum de bezerros jovens, sendo a diarréia o número um.

Infecções respiratórias incluem todas as doenças que afetam o trato respiratório como um todo. Por outro lado, pneumonia se refere apenas a inflamação dos pulmões. Pneumonia é uma doença que pode variar de subclínica a aguda, podendo inclusive ser fatal. Dependendo da severidade da infecção, pode ocorrer problemas temporários ou mesmo permanentes no pulmão. Bezerros com pneumonia crônica raramente se

Page 167: Nutrição Essências em gado de leite

recuperam completamente e não devem ser contados como futuras novilhas de reposição.

A maioria dos problemas repiratórios ocorrem quando um bezerro encontra-se entre 6 e 8 semanas de idade. Estes problemas são causados por interações de um ou mais microorganismos com estresse (isto é, transporte), alojamento (ventilação) e nutrição dos bezerros. A taxa de morbidade (incidência da doença) é normalmente alta, mas a taxa de mortalidade é variável. Os principais organismos implicado nos surtos de pneumonia dos bezerros podem ser observados pela Tabela 1.

Tabela 1: Microorganismos envolvidos no quadro de pneumonia.

Bacteria Virus Mycoplasma

Pasteurella multocida* Parainfluenza tipo 3 (PI3)* Mycoplasma dispar*

Pasteurella hemolytica* Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR)** Mycoplasma spp

Corynebacterium pyogenes Bovine respiratory syncytial virus (RSV) M. bovirhinis

Neisseria spp Diarréia Bovina a Vírus (BVD) M. bovis

Chlamydia spp Adenovírus Bovino Ureaplasma spp

Haemophilus somnus Reovírus  

* Microorganismos mais comumente isolados de pulmões de bezerros que morreram com pneumonia.

** Também chamado Herpes Vírus Bovino- tipo 1.

ORGANISMOS

Pneumonia frequentemente acompanha outras doenças infecciosas. Os organismos associados a esta doença normalmente não causariam sintomas clínicos sem a presença dos fatores predisponentes. Em outras palavras, um bezerro saudável muitas vezes não fica doente quando é exposto a um microorganismo em particular. Porém, microorganismos de espécies diferentes podem reforçar o efeito um do outro (efeito sinérgico). Por exemplo, bezerros se tornam severamente doentes quando infectados ao mesmo tempo com micoplasma (por exemplo, M. bovis) e bactéria (por exemplo, P. hemolytica ) do que quando infectados com qualquer dos agentes separadamente. Algumas vezes, infecções com um agente pode enfraquecer a resistência do bezerro. Por exemplo, infecção pelo vírus respiratório sincicial (VRS) parece predispor os pulmões a infecções secundárias. VRS destroem o epitélio ciliado que normalmente está envolvido na limpeza dos pulmões a invasores externos.

Bezerros com pneumonia raramente se recuperam completamente e não devem ser usados como animais de reposição para o rebanho.

Infecção por agentes virais é muitas vezes seguido por infecção secundária bacteriana, especialmente por P. haemolytica e C. pyogenes ). VRS virus e adenovírus afetam

Page 168: Nutrição Essências em gado de leite

primariamente o trato respiratório inferior (lobos dos pulmões). Entretanto, muitos microorganismos também colonizam o trato respiratório superior (nariz, laringe, traquéia e brônquios).

SINAIS CLÍNICOS

Considerando-se o fato dos bezerros não apresentarem sinais agudos de pneumonia até quando atinjem 1 mês de vida, eles podem hospedar ou ser infectados com microorganismos nestas primeiras semanas de vida. Sinais clínicos são muito variáveis e geralmente são observados em combinação:

Discarga Nasal (serosa e transparente ou mucosa e purulenta) Tosse seca, especialmente percebida após exercício (a tosse pode persistir

mesmo depois que o bezerro se recupere da doença) Temperatura retal acima de 41°C (normal = 38.6°C) Lesões nos pulmões Dificuldades respiratórias (dificuldade de respirar ou dispnéia) Diarréia

FATORES PREDISPONENTES

Fornecimento de colostro (isto é, de imunidade passiva) parece proteger bezerros pelo primeiro mês após o nascimento, já que poucos casos de pneumonia são observados até esta idade. O pico de incidência ocorre entre 40 e 50 dias após o nascimento, o que corresponde ao pico de redução de antibióticos no sangue (Figura 1). Em bezerros saudáveis, imunoglobulina A (IgA) é a imunoglobulina de maior concentração no trato respiratório superior e nos pulmões (mucosa respiratória). Entretanto, a imuno- globulina G (IgG) predomina no pulmão de animais infectados. Concentração de IgG no soro sanguíneo maior que 15 g/l parece adequada para proteger bezerros contra pneumonia. Bezerros com baixa resitência imune ou em constante contato com grande número de microorganismos estão mais propensos a desenvolver pneumonia. A resitência do bezerro a pneumonia pode ser comprometida por inadequadas condições nutricionais, de alojamento e de manejo.

Figura 1: Bezerros são mais susceptíveis à pneumonia entre as semamas 4 e 6 de idade.

Page 169: Nutrição Essências em gado de leite

Alojamento (ventilação da área para bezerros)

Pouca ventilação e alta humidade relativa são muitas vezes associados com surtos de pneumonia. Entretanto, outros fatores ambientais também apresentam ações predisponentes. Por exemplo, alta concetração de amônia e outros gazes vindos das fezes e da cama em decomposição podem irritar os pulmões. O volume e a velocidade do ar na área dos bezerros afetam a concentração de microorganismos no ambiente. Bezerros são mais predispostos a adoecer com pneumonia quando estão nas seguintes condições ambientais:

Espaços pouco ventilados onde gases e microorganismos se acumulam Umidade relativa do ar alta combinada com um ambiente com baixa temperatura

(frio, ar úmido) e também, apesar de não tão grave quanto o primeiro, a uma umidade relativa do ar baixa com altas temperaturas ambientes (quente, ar seco)

Grandes variações de temperatura durante o dia

Manejo

As situações seguintes aumentam a susceptibilidade de pneumonia:

Bezerros agrupados precocemente e expostos a microorganismos vindos de bezerros doentes com pneumonia crônica ou subclínica

Bezerros desmamados quando ainda não estavam se alimentando adequadamente com a devida quantidade de alimentos sólidos (desmama precoce)

Calves purchased from different sources and placed in pens together and/or transported long distances (stress)

Alimentação

Bezerros alimentados com extremas quantidades de leite ou com sucedâneos que tenham alta concentração de matéria seca podem apresentar rápida taxa de crescimento, mas por outro lado parecem ficar mais predispostos a pneumonia. Esta observação pode ser devida ao aumento de aumento de urina no ambiente, o que torna difícil manter o bezerro seco, ou ainda deve-se a uma diminuição da resposta imune já que o bezerro encontra-se em estresse por estar crescendo muito rapidamente.

Deficiência de selênio pode também ser relacionada à alta susceptibilidade a pneumonia, porém, dados experimentais ainda são contaditórios hoje em dia.

Adequada ingestão de colostro, ausência de estresse nutricional, alojamento adequado, e boa ventilação natural são maneiras efetivas de

reduzir a incidência de pneumonia.

PREVENÇÃO DE PNEUMONIA

Page 170: Nutrição Essências em gado de leite

A redução parcial ou eliminação de fatores predisponentes e a melhora de alguns procedimentos de manejo inadequados reduzirão a ocorrência de pneumonia significativamente. Ingestão adequada de colostro, alojamento seco e individual, boa ventilação natural e ausência de estresses nutricionais são maneiras efetivas de reduzir a incidência de pneumonia. Vacinas contra vários microorganismos envolvidos com pneumonia estão disponíveis comercialmente, mas estas devem ser consideradas apenas quando agentes específicos são detectados e identificados. Um programa de vacinação relevante que leve em consideração os agentes prevalentes na propriedade devem ser feito com a ajuda de um veterinário.

TRATAMENTO DE PNEUMONIA

Quando um bezerro se torna doente, a detecção precoce da doença é importante para sua chance de sobrevivência. O bezerro deve ser colocado em um ambiente agradável e protegido do frio (com sol), seco, bem ventilado (com ar fresco). Diarréia e desidratação podem ser tratadas pela administração de fluidos. Geralmente, tratamentos com antibióticos são desejados para que se reduza o efeito de invasões bacterianas secundárias

Essencias em gado de leite Capitulo 33

Da desmama ao primeiro parto

33: Alimentação e alojamento Michel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

Tradução:Carla de Azevedo Piccinato

ALIEMNTAÇÃO

A desmama marca o fim da maioria dos problemas de saúde do bezerro. Faz-se então necessário decidir sobre o ganho de peso que se pretende atingir e fornecer alimento com as fontes mais econômicas de energia, proteína, minerais e vitaminas para satisfazer os requerimentos nutricionais para o desenvolvimento do animal.

Requerimentos nutricionais e capacidade de ingestão mudam ao longo do tempo. Novilhas com menos de 1 ano de idade apresentam requerimento nutricional alto, apesar de pouca capacidade ruminal. Como resultado, taxas de crescimento ainda serão considereradas subótimas se esses animais receberem forragem pura. Grãos ou concentrados devem ser incluídos na dieta de novilhas jovens, mas não necessariamente em dietas de novilhas mais velhas (Tabela 1).

Tabela 1: Concentrados e forragens para novilhas de raças grandes.

Page 171: Nutrição Essências em gado de leite

 Idade (meses)

3 - 6 7 - 12 13 - 18 19 - 22

Peso médio, kg 150 270 400 500

Ingestão estimada, kg/d 3.2 - 4.0 5.4 - 7.3 7.7 - 9.5 10 - 11.8

Forragem de excelente qualidade*, kg 1.8 to 2.2 5.0 to 6.0 8.0 to 9.0 10 to 11

Concentrado, kg 1.4 to 1.8 0 to 1.0 0 to 1.0 0 to 1.0

Forrageira de boa qualidade **, kg 1.4 to 1.8 4.5 to 5.0 6.4 to 7.3 9.0 to 10

Concentrados, kg 1.8 to 2.2 1.4 to 1.8 1.4 to 1.8 1.0 to 1.4

Forrageira de má qualidade***, kg 0.9 to 1.4 3.2 to 4.0 5.4 to 6.4 7.3 to 8.2

Concentrados, kg 2.3 to 2.7 2.3 to 2.7 2.7 to 3.6 2.7 to 3.6

  Composição da dieta, % de matéria seca

Forragens 40 to 80 50 to 90 60 to 100 60 to 100

Fibra-FDN 34 42 48 48

Proteína Bruta 16 15 14 12

Cálcio 0.5 0. 4 0.3 0.3

Fósforo 0.3 0.3 0.2 0.2

* com mais de de 60% de Nutrientes Digestíveis Totais (silagem de milho, capim novo);

** com 54% a 56% de Nutrientes Digestíveis Totais (alfafa florescendo ou da metade até a floração completa);

*** com 48 a 50% de Nutrientes Digestíveis Totais (palhada, feno de baixa qualidade, etc.).

Em algumas fazendas, novilhas são alimentadas com ração que não foi consumida por vacas de leite. Uma dieta baseada em resto de ração, provavelmente concentra muitas fibras e pouca proteínas. Geralmente, restos de ração podem ser fornecidos a novilhas com mais de 6 meses de vida, desde que a ração seja devidamente balanceada e tenha palatabilidade aceitável.

Alimentação da desmama à inseminação

Tipicamente, de 3 a 6 meses de idade, a ração de novilhas deve conter entre 40% a 80% de forragem. Para novilhas de 7 a 12 meses de idade, a porcentagem de forragem na dieta pode variar de 50 a 90 %. Com o crescimento das novilhas, a concentração de proteína na dieta pode diminuir e a concentração de fibra (FDN) pode ser aumentada. Forrageiras de baixa qualidade devem ser evitadas na ração de novilhas de 3 a 6 meses

Page 172: Nutrição Essências em gado de leite

de idade. Forrageiras de baixa qualidade são fornecidas a novilhas mais velhas, devem ser devidamente suplementadas com concentrados e minerais (Tabela 2). A porcentagem de proteína bruta, necessária no concentrado depende primariamente da proteína bruta contida na forragem da dieta. Normalmente, uma mistura de concentrado com 16 % de proteína bruta (que muitas vezes é formulada para vacas em lactação) pode ser tranquilamente usada para novilhas em crescimento.

Alimentação da inseminação ao parto

Novilhas com mais de 13 meses de idade apresentam suficiente capacidade ruminal para crescimento adequado quando alimentadas apenas com forragem de boa qualidade. Realmente, forrageiras com energia alta como a silagem de milho deveriam ser fornecidas em quantidades limitadas devido ao fato de que novilhas mais velhas comerão mais, se tornando obesas. Uma combinação de silagem de milho e uma leguminosa ou um capim bem fertilizado garante suprimento adequado de energia e proteína. Concentrados devem ser usados, a princípio, quando a forrageira da ração for de baixa qualidade. Rações baseadas em alimentos variados estão apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2: Exemplos de rações para novilhas de gado leiteiro.

Ingredientes3 a 6 meses de idade   7 a 12 meses de idade

 1  2  3  4    1  2  3  4

  

Quantidade (em base de matéria seca)

Alfalfa meio de floração, kg  -  -  -  -    18.9  17.0  18.8  16.0

Alfalfa-gramínea, kg  35.0  30.0  50.0  50.0    24.0  22.0  -  15.0

Feno de capim, kg  -  -  -  -    -  22.0  35.0  10.0

Palhada de milho, kg  35.0  13.0  -  -    35.0  -  22.0  10.0

Silagem de milho, kg  -  10.0  10.0  -    -  -  -  -

Milho grão*, kg  -  -  -  -    -  15.0 -  10.0

Concentrado com 44% de Proteína Bruta, kg

 -  -  - 20.0    -  -  -  10.0

Minerais, 23% Ca-18% P, g  -  -  10.0  -    -  -  -  10.0

Linseed Meal    10.0  10.0  10.0    15.0  17.0  17.0  12.0

44% CP Supplement  22.7  10.0  12.8  12.9    15.0  17.0  17.0  12.0

Dried Whey  -  10.0  -  -    -  -  -  -

Molasses  5.0  5.0  5.0  5.0    5.0  5.0  5.0  5.0

Page 173: Nutrição Essências em gado de leite

Mineral, 23% Ca and 18% P  0.6 -  -  -    1.1  1.2  1.2  1.0

Limestone Feed or CaC03  134  4.7  1.9  1.8    0.7  0.5  0.7  0.7

Trace Mineral Premix  0.25  0.25  0.25  0.25    0.3  0.3  0.3  0.3

Total  100.0  100.0  100.0  100.0    100.0  100.0  100.0  100.0

Nutrients Composition (Dry Matter basis)

Energy

TDN***, % 80.3 79.5 81.8 82.7   75.6 76.1 75.1 77.4

Net Energy-Maint., Mcal/kg

1.96 1.94 2.00 2.02   1.80 1.83 1.80 1.87

Net Energy-Growth, Mcal/kg

1.32 1.30  1.36  1.39    1.19  1.21  1.19  1.26

Crude Protein, % 19.9 19.6 20.7 20.7   18.4 18.5 18.5 19.4

Acid Detergent Fiber, %  8.6  8.3  7.6  6.7    14.2  16.6  15.4  16.1

Neutral Detergent Fiber, %  18.0  20.4  18.6  17.6    24.3  27.6  26.2  30.1

Calcium, %  0.89  0.98  0.94  0.95    0.82  0.84  0.85  0.85

Phosphorus, %  0.51  0.59  0.52  0.51    0.51  0.51  0.52  0.52

Trace Minerals, %  0.28  0.28  0.28  0.28    0.34  0.34  0.34  0.34

* Grain starter may be fed with a forage such as a good quality hay.

** Complete starter can be fed alone as it already includes high levels of fiber.

*** TDN = Total Digestible Nutrients = % digestible crude protein + % digestible crude fiber + % digestible nitrogen-free extract + (2.25 x % digestible ether extract).

Um ou dois meses antes do parto, o programa de alimentação deve ser ajustado para preparar a novilha para este evento e também para a primeira lactação. As novilhas, então, devem receber forragem e progressivamente mais concentrado para que a transição não seja muito sentida, assegurando-se assim que haja alta ingestão de matéria seca o mais cedo possível após o parto.

É importante evitar que a novilha chegue ao momento do parto com condição corporal inapropriada, seja esta com baixo ou alto score de condição corporal. Novilha muito magras ou obesas estão mais susceptíveis a ter problemas de parto ou mesmo problemas pós-parto. Entretando, deve-se ressaltar que o final da getação é um período de preparo da novilha para o estresse do início da lactação e não um período de ajuste de condição corporal.

ALOJAMENTO

Page 174: Nutrição Essências em gado de leite

Ao crescerem, as novilha mudam sua necessidade de áreas de descanço e de alimentação. Além disso, várias práticas de manejo requerem a contenção do animal para vacinação, vermifugação, inseminação artificial, avaliação de altura e peso, etc. Instalações para novilhas devem ser planejadas para suprir as necessidades do animal, tendo em mente facilidade de manejo. As instalações devem facilitar:

Alimentação Distribuição de cama (quando houver) e limpeza da área Movimentação e contenção dos animais

Tabela 3: Cobertura de solo para novilhas em vários sistemas de alojamento1

Idade(meses)

Peso Vivo (kg)

Cobertura do solo para área de descanso (m2)

Inclinação (autolimpante)2

Área com cama

(palha, etc.)3

Confinamento em solo

descoberto

Lote de fora com piso de

pavimentação

0 - 2 45 - 90 Não requer

Casinhas (baias) ou bezerreiros

individuais 4

Não requer Não requer

3 - 5 90 - 160 Não requer 2.6 Não requer Não requer

6 - 8 160 -225 0.9 2.3 1.1 3.3

9 - 12 225 - 300 1.1 2.6 1.2 3.7

13 - 15 300 - 360 1.4 3.0 1.6 4.2

16 - 24 360 - 544 1.7 5 3.7 2.3 4.7

Vaca seca

> 600 1.9 5 4.6 3.3 5.1

1 Adaptado de Dairy Freestall Housing and Equipment. Quinta edição, 1995. MidWest Plan Service, Ames Iowa.

2 8% de inclinação (8 cm por metro).

3 Assumindo confinamento total e acesso a corredor de limpeza com 3 metros de largura.

4 Dimenção da casinha (baia): 1.2m x 2.4m e dimenção do piso: 1.2m x 2.1 m.

5 Novilhas e vacas secas em gestação avançada podem ter dificuldade respiratória quando deitadas em pisos inclinados com a cabeça voltada para a inclinação (baixo).

Após a desmama, os bezerros podem ser agrupados, inicialmente em grupos pequenos de animais que se encontram com os mesmos requerimentos nutricionais. O tamanho e números de grupos vai depender do tamanho do rebanho e disponibilidade de

Page 175: Nutrição Essências em gado de leite

alojamento. Condição corporal similar e idade são importantes considerações a serem feitas ao se agrupar animais.

Bezerras desmamadas: de 2-5 meses de idade

Bezerros desmamados de tamanhos semelhantes devem ser colocadas em grupos pequenos (4 a 6 bezerros) em alojamentos de transição onde as características da instalação individual puderam ser mantidas, isto é, cobertura de solo (ou cama) limpa e seca, boa ventilação, fácil acesso a água e alimento, etc. Deve haver área de comedouro suficiente para que todos os bezerros possam se alimentar ao mesmo tempo (Tabela 4), principalmente quando um concentrado é oferecido em quantidades restritas. Isto porque, deve-se procurar evitar competição entre bezerros jovens.

Tabela 4: Espaço necessário para alimentação (cm por animal).*

Idade (meses) Altura (kg) Alimento sempre disponível Restrição

de alimentos ou de tempo

3 - 5 90 - 160 30 30

6 - 8 160 - 225 30 46

9 - 12 225 - 300 38 56

13 - 15 300 - 360 46 66

16 - 24 360 - 544 46 66

Vaca seca > 600 46 66 - 76

* Adaptado do Dairy Freestall Housing and Equipment.

Novilhas pré-púberes: de 6-11 meses de idade

Grupos de novilhas pré-puberes devem consistir de 10 a 20 animais. A variação máxima de peso dentro de um grupo não deve exceder 70-90 kg. Alimentação e taxa de cresciemnto devem ser cuidadosamente monitoradas, já que ganho de peso excessivo durante este período pode interferir na capacidade futura de produção de leite. Por outro lado, ganho de peso insuficiente gera atrasos na idade à puberdade, inseminação e consequentemente, ao primeiro parto. O monitoramento da altura, peso e condição corporal da novilha é muito importante nesta fase para a avaliação das práticas de alimentação.

Novilhas em idade de inseminação: de 12-15 meses de idade

Estas novilhas devem ser agrupadas primariamente para facilidade de observação de cio e manejo reprodutivo (para inseminações). A variação máxima do peso corporal não deve ultrapassar 130 kg.

Novinhas prenhes: de 16-22 meses de idade

Page 176: Nutrição Essências em gado de leite

Durante este período, alimentação e peso corporal devem ser monitorados para que as novilha cheguem ao primeiro parto com altura, peso e condição corporal adequadas. Não há necessidade de gastos com instalações, nem mesmo programas de alimentação.

Novilhas em final de gestação: de 22-24 meses de idade

Poucos dias antes do parto, recomenda-se passar com as novilhas pela sala de ordenha junto das vacas em lactação para que seja mais fácil depois a adaptação à rotina de ordenha. Se possível, novilhas de primeira cria devem ser mantidas em seu mesmo grupo de animais após o parto, para evitar o estresse de entrar em um grupo de vacas mais velhas.

Figura 1: Free stall ou baias coletivas com camas são instalações adequadas para bezerras desmamadas, de raças leiteiras

 

Figura 2: Área de cama em comum e pasto são instalações adequadas para novilhas prenhes

Essencias em gado de leite Capitulo 34

Da desmama ao primeiro parto

34: Taxa de crescimentoMichel A. Wattiaux

The Babcock Institute

Page 177: Nutrição Essências em gado de leite

 

Tradução:Carla de Azevedo Piccinato

IMPORTÂNCIA DA TAXA DE CRESCIMENTO

A taxa de crescimento das novilhas é uma indicador do nível de manejo do rebanho. Alimentação, alojamento e manejo em geral estão em constantes mudanças entre o nascimento e o primeiro parto. O crescimento das novilhas deve ser monitorado por múltiplas razões, como:

Evitar atrasos na maturidade sexual e na idade ao primeiro parto devido a crescimento lento

Determinar quando as novilhas estiverem super ou subalimentadas Alcançar o peso ideal ao primeiro parto, para assim, reduzir problemas de parto

TAXA DE CRESCIMENTO DESEJÁVEL E IDADE AO PRIMEIRO PARTO

Figura 1 apresenta a média de ganho de peso diário e idade ao primeiro parto sob manejo intensivo em países temperados.

Figura 1: Efeitos de raças leiteiras em relação a peso corporla em vários estágios de desenvolvimento e taxa de crescimento de novilhas.

Períodos curtos de criação são normalmente mais desejáveis sob o ponto de vista econômico e genético. As vantagens de aumentar a taxa de crescimento, permitindo que a idade ao primeiro parto seja de 24 meses (ao invés de 36 meses), incluem:

Retorno rápido do capital investido Redução dos custos variáveis (trabalho)

Page 178: Nutrição Essências em gado de leite

Redução no número de novilhas necessárias para manter o tamanho do rebanho Aumento de vida produtiva Ganho genético do rebanho mais rápido Redução da quantidade total de alimentos necessários do nascimento ao primeiro

parto

Dificuldades ou desvantagens associadas com a taxa de crescimento rápida que leva à redução do número de meses até o primeiro parto, de 24 meses para 20 meses, por exemplo, incluem:

Necessidade de forrageira e concentrado de alta qualidade Necessidade de melhora nas práticas gerais de manejo Grande risco de dificuldade de parto se a taxa de crescimento não for

devidamente monitorada Maior risco de fornecer uma dieta que possa afetar adversamente a produção de

leite

Quando alimentos de alta qualidade são difíceis de serem produzidos, criar novilhas com alimentos mais abundantes só que de baixa qualidade pode resultar em taxa de crescimento lento e atraso no primeiro parto. Apesar disso, muitas vezes esta prática pode ser a estratégia de criação mais econômica e que, portanto, pode ser empregada.

Taxa de crescimento e maturidade sexual

A maturidade sexual de novilhas depende mais do peso corporal do que da idade propriamente dita. Assim, taxa de crescimento influencia consideravelmente a idade à puberdade e portanto, a idade ao primeiro parto. Novilhas não atingem a puberdade antes dos 18-20 meses de idade quando crescem lentamente (<0.35 kg/d). Porém, puberdade pode ocorrer antes de 9 meses de idade quando o crescimento das novilhas for muito rápido (>0.9 kg/d). Como apontado na Figura 2, puberdade ocorre quando o peso das novilhas estiver entre 40 e 50% do peso corporal adulto, independentemente da idade. A primeira inseminação (ou cobrição) deve ocorrer quando as novilhas atingirem de 50-60% do peso corporal adulto (14-16 meses de idade). A taxa de crescimento deve ser mantida durante a lactação, para que as novilhas atinjam 80-85% do peso corporal adulto ao primeiro parto.

Page 179: Nutrição Essências em gado de leite

Figura 2: Taxa de crescimento de novilhas e performance reprodutiva.

Peso corporal e problemas de parto

Problemas de parto são mais comuns no primeiro do que em qualquer outro parto. Novilhas de primeira cria podem apresentar dificuldade de parto por razões que vão desde o desenvolvimento do bezerro até seu próprio desenvolvimento. Em geral, dificuldades de parto devem-se a uma ou mais causas relacionadas abaixo:

O bezerro recém-nascido é grande:

-Devido à genética do bezerro

-Por haver atraso no nascimento (gestação longa)

A novilha está subdesenvolvida e a área pélvica é muito estreita em relação ao tamanho do bezerro

A novilha está acima do peso e excesso de tecido adiposo interfere com o parto normal

No intuito de minimizar dificuldades de parto para novilhas de primeira cria, recomenda-se que o produtor:

Escolha sêmem de touros com baixa porcentagem de dificuldade de parto (<8%) Ajuste a taxa de crescimento da novilha para atingir de 80 a 85% do peso

corporal adulto ao primeiro parto Evite problemas de obesidade (novilhas gordas) ou emaciação (novilhas magras)

ao primeiro parto

Peso corporal e produção à primeira lactação

Page 180: Nutrição Essências em gado de leite

Existe uma relação forte e positiva entre peso ao primeiro parto e produção à primeira lactação. Esta relação nao significa necessariamente que novilhas de tamanho grande geneticamante sejam mais desejáveis-o que é desejável é que as novilhas estejam suficientemente desenvolvidas no momento do parto.

Nos Estados Unidos, novilhas Holandesas devem pesar, em média, 620 kg (peso no primeiro mês pós-parto) para maximizar a produção de leite na primeira lactação. Estas novilhas de primeira cria continuarão a crescer e chegarão ao peso corporal adulto (>700 kg) durante a quarta ou quinta lactação.

TAXA DE CRESCIMENTO CONSTANTE E VARIÁVEL

A taxa de crescimento das novilhas não precisa ser constante. Na realidade, muitas vezes o crescimento das novilhas é caraterizado por taxas períodos de crescimento lento e períodos de crescimento mais rápido. Novilhas apresentam grande habilidade em compensar períodos de baixo crescimento com outros de crescimento mais rápido. A variabilidade na taxa de crescimento das novilhas pode refletir:

Sazonalidade das forrgens (quantidade e qualidade) Decisões de manejo para ajustar o crecimento das novilhas para uma taxa de

ganho desejada

Taxa de crescimento antes e depois da puberdade

Estudos recentes indicam que uma taxa de crescimento moderada antes da puberdade, seguida de uma taxa de crescimento mais rápida para atingir o peso ideal ao primeiro parto parece ser a melhor estratégia de criação apar maximizar a futura produção de leite da novilha. Este conceito poder ser aplicado a quaisquer raças de leite, apesar da taxa de crescimento variar de uma raça para outra (Figura 1).

Effeito da sobrealimentação e rápido ganho de peso antes da puberdade

Alguns resultados de pesquisa têm demonstrado que fornecer ração altamente energética para acelerar o ganho de peso antes da puberdade podem afetar o desenvolvimento da glândula mamária e limitar a futura produção de leite. Porém, estes resultados são ainda contraditórios. Estudos em rebanhos bovinos de alta produção leiteira nos Estados Unidos, indicam que a taxa de crescimento das novilhas variam entre 0.8 and 0.95 kg/dia. Estas taxas de crescimento rápidas não são compatíveis com grande produção de leite em novilhas de primeira cria.

Efeitos da subalimentação e baixa taxa de crescimento antes da puberdade

Idade à puberdade pode variar de 9 a 20 meses de idade, dependendo da taxa de crescimento. Para que o parto ocorra com 24 meses de idade, a puberdade deve ocorrer quando as novilhas tenham 12 a 13 meses de idade. Quando a taxa de crescimento antes da puberdade for lenta, o peso ideal ao primeiro parto não poderá ser atingido sem:

Page 181: Nutrição Essências em gado de leite

Crescimento acelerado durante a gestação (linha aa| na Figura 3) Atraso à cobrição (inseminação) e parto(linha aa || na Figura 3) Combinação das opções acima descritas

Por exemplo, quando a média de ganho de peso for 0.55 kg/dia, espera-se que a puberdade ocorra com 12-13 meses de idade. Considerando que a gestação começa aos 15 meses de idade, a taxa de crescimento deve ser então ajustada para 0.9 kg/dia, para garantir ganho de peso adequado ao primeiro parto (linha aa | Figura 3). Se a taxa de crescimento não ajustada, novilhas podem parir com 24 meses de idade, porém ainda não totalmente desenvolvidas. Haverá então, risco de dificuldade de parto e a performance da primeira lactação deixará a desejar.

Quando espera-se que o crescimento permaneça lento durante a gestação, deve-se adiar a cobrição (inseminação) para evitar que a novilha ainda esteja pouco desenvolvida no momento do parto. Por exemplo, quando a taxa de crescimento de uma novilha Holandesa grande for de 0.55 kg/dia durante todo o período de recria, recomenda-se atrasar a primeira cobrição até 19-20 meses de idade. Neste caso, a idade ao primeiro parto também será atrasada, mas é mais importante que novilhas consigam chegar ao parto com o peso corporal ideal desejado.

Figura 3: Taxa de crescimento de novilhas antes e depois da puberdade pode ser ajustada-até certo ponto-para se alcançar peso corporal "ideal" aos 24 meses de idade, ao primeiro parto (peso corporal no eixo y se refere a novilhas de raças leiteiras grandes).

Efeitos da superalimentaçãoapós a puberdade

O fornecimento de uma dieta altamente energética que promova crescimento rápido durante a gestação é desejável porque assegura:

Boa nutrição para o feto Desenvolvimento adequado da novilha ao primeiro parto

P orém, engordar a novilha demasiadamente é indesejável. Novilhas obesas apresentam alto risco de dificuldade de parto e problemas metabólicos pós-parto. Fornecer uma dieta balanceada é uma boa maneira de evitar obesidade. Avaliação de score corporal

Page 182: Nutrição Essências em gado de leite

pode ser também uma boa ferramenta para promover o ajuste de dietas de vacas prenhes.

Efeitos de subalimentação após a puberdade

A taxa de concepção pode estar reduzida quando novilhas não estão ganhando peso no momento da cobrição. Taxa de crescimento lenta após puberdade não causa nenhum malefício se a novilha não estiver prenhe (a não ser o atraso no primeiro parto). Porém, uma vez que a novilha está prenhe, crescimento insuficiente pode gerar alguns efeitos adversos, como:

Nutrição animal insatisfatória Dificuldade de parto devido ao crescimento esquelético subótimo Baixa produção de leite na primeira lactação

Se a disponibilidade de alimento (ou outros recursos) não permitir que haja grande crescimento após a concepção, pode ser melhor atrasar a concepção até que a novilha tenha um maior peso corporal. A primeira lactação poderá ater ser satisfatória, mas, em contradição a vida produtiva do animal será reduzida e o custo da recria aumentará.

Essencias em gado de leite Capitulo 35

Da desmama ao primeiro parto

35: Avaliação da taxa de crescimento Michel A. Wattiaux

The Babcock Institute

 

Tradução:Carla de Azevedo Piccinato

 

POR QUE USAR GRÁFICOS DE CRESCIMENTO?

O gráfico de crescimento representa uma ferramenta que pode ser usada para comparar a altura e o peso de novilhas a uma curva padrão e assim, determinar se a alimentação e outras práticas de manejo estão adequadas ou se estas devem ser ajustadas durante algumas fases do período de recria.

Em qualquer sistema de manejo (pastejo, confinamento), é sempre um desafio acessar a performance das novilhas. A utilização de um gráfico de crescimento permite que o produtor monitore a taxa de crescimento das novilhas.

PESO CORPORAL, ALTURA NA CERNELHA E SCORE DE CONDIÇÃO CORPORAL

Page 183: Nutrição Essências em gado de leite

Peso corporal até certa idade é o critério mais comumente usado para avaliar o crescimento das novilhas. Porém, este não deve ser o único critério. Peso corporal sozinho não reflete o status nutricional da novilha. O desenvolvimento da novilha é melhor quando a avaliação de peso é acompanha por medidas de crescimento ósseo, como a altura na cernelha ou comprimento corpóreo. A altura da novilha reflete crescimento em estrutura (crescimento ósseo), enquanto que o peso corporal reflete o crescimento de órgãos, músculos e tecido adiposo (gordura).

Score de condição corporal pode também ser usado para avaliar programas de alimentação para novilhas. Esta medida avalia a quantidade de reserva corporal estocada em tecido adiposo. Assim, quando for usada em conjunto com peso corporal e altura de cernelha, o score de condição corporal ajuda a caracterizar o crescimento corporal como um todo, associando crescimento esquelético (ósseo e muscular) e adiposo. A Tabela 1 indica score de condição corporal desejada em diferentes idades em uma escala de 1 (muito magra) a 5 (obesa).

Tabela 1: Score de condição corporal (SCC) de novilhas em várias idades.*

Idade (m.) 3 6 9 12 15 18 21 24

SCC 2.2 2.3 2.4 2.8 2.9 3.2 3.4 3.5

*Patrick Hoffman. 1995. Optimum growth rate for Holstein replacement heifers. Em Calves, heifers, and dairy profitability. NRAES-74 152 Riley-Robb Hall, Ithaca, New York 14853-5701.

AVALIAÇÃO DE PESO

O método mais acurado para se determinar o peso corporal é a utilização de uma balança calibrada. Porém, o tempo e trabalho envolvidos na movimentação de novilhas torna este método pouco prático para empregar na rotina da fazenda.

A avaliação do perímetro torácico pode ser utilizada para predizer com acurácia o peso corporal. Uma fita métrica não metálica deve ser colocada logo atrás dos membros anteriores e atrás da paleta da novilha. A fita deve ser esticada sobre o corpo do animal e a medida, então anotada (Figura 2). A Tabela 2 fornece o peso corporal para vários perímetros torácicos de raças leiteiras pequenas, médias e grandes encontradas nos Estados Unidos da América. A construção de gráficos específicos a outras raças e/ou localidades ao redor do mundo deve ser parte de qualquer projeto de melhoria em uma fazenda de leite.

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Figura 1: Avaliação de altura de cernelha e perímetro torárico (peso corporal) em novilhas.

Tabela 2: Perímetro torácico e peso corporal de novilhas de raças leiteiras européias, populares nos EUA.

Torácico (cm)

  

Peso corporal (kg) Torácico (cm)

  

Peso corporal (kg)

Raças grandes*

Raças médias*

Raças pequenas*

Raças grandes*

Raças médias*

Raças pequenas*

68.6 37.2 31.3 25.9 137.2 220.9 214.1 205.0

71.1 37.4 32.4 28.1 139.7 230.4 223.2 216.4

73.7 38.6 34.9 31.3 142.2 242.7 233.1 228.6

76.2 40.6 37.6 34.9 144.8 254.9 248.1 240.9

78.7 43.5 41.3 39.5 147.3 266.3 259.5 252.2

81.3 46.7 44.9 43.5 149.9 279.0 272.2 267.2

83.8 51.7 50.8 49.9 152.4 289.8 283.0 278.1

86.4 56.2 55.8 55.3 154.9 305.3 298.0 291.7

88.9 61.2 61.7 61.7 157.5 316.2 309.8 303.9

91.4 67.1 67.1 67.1 160.0 331.6 325.7 320.2

94.0 73.9 73.9 73.9 162.6 343.8 337.9 332.5

96.5 80.3 80.3 80.3 165.1 360.2 354.7 349.7

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99.1 87.1 87.1 87.1 167.6 374.7 369.7 364.2

101.6 94.3 94.3 93.9 170.2 390.5 385.1 379.7

104.1 101.6 100.7 100.2 172.7 403.2 397.8 392.4

106.7 110.7 109.3 108.4 175.3 421.8 415.9 410.5

109.2 117.5 116.1 114.8 177.8 435.9 428.6 422.7

111.8 126.6 124.3 122.5 180.3 455.0 448.6 438.2

114.3 134.3 131.5 129.3 182.9 474.0 459.5 450.0

116.8 143.3 140.2 137.0 185.4 489.4 476.7 464.5

119.4 151.5 147.9 144.2 188.0 507.1 490.3 475.8

121.9 161.9 157.4 152.9 190.5 525.3 506.2 487.2

124.5 169.6 164.7 160.1 193.0 539.8 517.1 494.9

127.0 179.6 173.3 169.2 195.6 563.8 534.3 504.8

129.5 189.1 183.3 177.8 198.1 584.2 547.0 510.3

132.1 200.0 193.7 187.8 200.7 600.6 556.6 543.5

134.6 210.0 202.8 197.3 - - - -

*Raças grandes= Holandesa e Pardo Suiço; Raças médias = Guernsey e Ayrshire; Raças pequenas = Jersey.

AVALIAÇÃO DE ALTURA NA CERNELHA

Figura 1 ilustra uma régua simples ajustável que pode ser usada para avaliar altura na cernelha. A cernelha é considerada o ponto mais alto na linha dorsal na base do pescoço, bem entre as paletas. A régua deve ser colocada próxima aos membros anteriores da novilha (logo a frente de onde se coloca a fita métrica para medir perímetro torácico). Um nível pode ser usado para assegurar que a parte ajustável da régua, a qual é colocada sobre a cernelha, fique sempre paralela ao piso no momento da avaliação.

Outra opção seria fixar a régua em uma parede. A escala de altura deve ser desenhada (pintada) diretamente sobre a parede. Avaliações de altura devem ser feitas com cautela e frequência. Comparação de dados ao longo dos anos pode ser uma boa ferramenta de manejo.

COM QUE FREQUÊNCIA DEVE-SE AVALIAR A ALTURA E O PESO?

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O acesso à taxa de crescimento pode ser feita:

Durante todo o período de recria (do nascimento ao primeiro parto) Durante fases específicas do período de recria (período de fornecimento de leite,

período da desmama, período de alimentação em local coberto, período de pastejo, etc.)

No intuito de monitorar o crescimento da novilha, avaliação ao nascimento e ao primeiro parto são suficientes. No entanto, avaliações múltiplas da altura, peso e score de condição corporal em vários momentos durante a recria, permite ao produtor monitorar fases específicas (fase inicial de crescimento pós-parto, período da desmama, crescimento pré-puberal, etc.). Uma mudança de estação normalmente leva a mudanças em tipo de alojamento e práticas de alimentação que podem gerar grande impacto no desenvolvimento da novilha.

Infelizmente, a maioria dos fazendeiros ainda não tem instalações para avaliar altura e peso de uma maneira prática e fácil. O monitoramento das novilhas terá maior chance de sucesso se for simples e necessitar pouco trabalho. Existem dois métodos práticos de avaliar altura e peso de novilhas. O primeiro é fazer estas avaliações quando as novilhas estiverem contidas, o que acontece normalmente:

Ao nascimento Quando as bezerras forem mudadas das casinhas individuais para as bezerreiras

(alojamento em grupo) na desmama e (ou ) quando forem descornadas Quando estiverem sendo inseminadas Ao serem colocadas em baias individuais para o primeiro parto

O segundo método é o quando se avalia a novilha apenas uma vez durante o crescimento. Por este método, as medidas não são avaliadas ao longo do do tempo para a mesma novilha, mas, são avaliadas de uma só vez em todas novilhas presentes no rebanho. Neste caso, quanto maior o número de novilhas em cada grupo, mais acurada será estimativa de crescimento.

Em ambos os casos, a avaliação de ganho diário pode ser calculada ou os dados podem ser transformados em gráfico e comparados ao gráfico de crescimento (veja abaixo).

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