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No. 22 - Pe 20 a 26 da março de 1972 RIO - CrS 2,00 iCv \.^a Zweig, Rw^~~^ ÍLChagas e homem que'^® irj&^° Pastor preferiu/IjL^^Erasmo na a morteiflgP*^caça ao à guerra I ^>J!E^^^^^| bode preto A-----\ \w I ^ l __\W^ í CRISE DA CULTURA NACIONAL a ^^^ iS? OT/iV^ ENSINA A LIÇÃO: 0 MUNDO NAO ÉDE DOIS

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No. 22 - Pe 20 a 26 da março de 1972 RIO - CrS 2,00

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homem que '^® irj&^ ° Pastor

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CRISEDA CULTURANACIONAL

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OT/iV^ ENSINA A

LIÇÃO: 0 MUNDO

NAO ÉDE DOIS

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POLITIKA

2kplunaaberta

As amargas, não

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A Editoria

flj

Os leitores encontrarão, neste número,um trabalho de Hélio Duque baseado em

pesquisas da FAO e um estudo de PauloMartinechen inspirado em pesquisa daRand Corporation. Não são trabalhos defácil digestão. Antes, são trabalhos quenos levam a meditar sobre conflitos.Conflitos econômicos e conflitos ideoló-

gicos. Que tenhamos de recorrer a insti-tuições internacionais para manipular da-dos de nossa realidade social é um fato

que atesta uma grave deficiência de nos-sas instituições de pesquisas, é como se,de repente, o País adotasse o slogan doescritor Álvaro Moreyra:

"As amargas,

não". Porque de estatísticas estamoscheios, mas somente de estatísticas querevelam coisas boas: o cresci «mento doProduto, as reservas cambiais etc. Asamargas, não.

Por que estaria o Departamento de Esta-do tão interessado em conhecer a realida-de profunda da Igreja na América Latina,especialmente nos países-chaves desta

parte do continente? A própria RandCorporation, encarregada da pesquisa, es-tá dando a resposta. Por toda parte, naAmérica Latina, a Igreja está deixandode ser o suporte ideológico do status-

quo: se esvazia na medida em que conti-nua meramente ritualista e deixa de serinstrumento de coesão (coerção) socialna medida em que se engaja em movi-mentos de reivindicações. Alguma coisa,

que não a simples violência, precisa subs-ti tu ir a Igreja. Os americanos estão aten-

tos para o problema. E nós?

Também não é menos dramática a situa-

ção dos que, nesta parte do continente, e

em nosso próprio país, vivem com os

níveis mais baixos de renda. E que são a

grande maioria da população.

Esta sema-

na, todos os jornais contaram a história

daquele pai que, em Brasília, deixou um

filho de 3 anos no meio de uma pista de

alta velocidade... (Mira ser atropelado.

Com a indenização pela morte desse f i-

Iho ale espera salvar-se e salvar os outros

filhos. Nós temos revelado pronta sensi-

bilidade .para as situações de flagelo. Bas-

ta que haja uma enchente ou uma seca

para que o governo e entidades partícula-res se mobilizem no sentido de ajudar as

áreas e as populações flageladas. O que

precisamos reconhecer (e agir em conse-

qüência) é que existe, independentemente de ostástrofes naturais, uma multidão

incalculável de flagelados pela miséria

crônica, pela falta de acesso a níveis

humanos de subsistência. Os dados daFAO revelam isso. E os nossos, o querevelam?

Os leitores poderão, também, perguntarpor que omitimos qualquer informaçãoou qualquer análise a respeito da visitado presidente Lanusse. Porque essa visitaé para inglês ver. Politicamente, o Brasilfaz tudo para fugir ao modelo argentinoe a Argentina se sente até ofendida quan-do a comparam conosco. Existe o comer-cio entre os dois países, com alguns itenstrancados por protecionismo de lá e decá. Mas Lanusse não veio aprofundar na-da. Tanto que a declaração conjunta dosdois oresidentes é, como disse o Jornaldo Brasil,

"o documento oficial mais oti-

mista da história das relações entre osdois países". Em outras palavras: asamargas, não.

O general Ariel Paca, que visitou o novo

prédio da Assembléia Legislativa de Mi-nas Gerais e mais uma vez reafirmou s

doutrina da "democracia

responsável", é

uma das carreiras mais brilhantes do

Exército. Um homem extraordinária-

mente inteligente. E, coisa rara na paisa-

gem brasileira de nossos dias, um homem

que não se esconde das coisas amargas.

Nem as esconde.

As três firmas que cuidam da limpeza e

conservação do prédio do Congresso mo-

bilizaram, nesta semana, um verdadeiro

exército de operários e faxineiros para

que, no dia 1o de abril, as instalações do

legislativo estejam brilhando de limpas.

Cuidem os nossos deputados e senadores

de honrar essa limpeza. Nada de sujeiras

com os seus mandatos. Nada de escon-

der, sob os tapetes, as coisas amargas. Ou

aparentemente amargas.

O governo precisa nomear, com urgência,

um grupo de trabalho para examinar a

situação das empresas jornalísticas e, es-

pecialmente, de seus empregados. O nú-

mero de jornais e revistas (para não falar

em estações de rádio e televisão) em crise

não é normal. Essa investigação se torna

necessária, urgente e total. Ainda que serevele amarga.

Hélio Beltrão

Agenda*

Ê incrível que a Arena semostre perplexa por falta de

um programa. Em 1968, em

convenção nacional, o parti-do escolheu uma comissão

para tratar da questão. Oentão ministro do Planeja-mento, Hélio Beltrão, foi

escolhido presidente dessaComissão. A Comissão reu-niu-se com técnicos, com

juristas, com estudantes,

viajou por todo o Brasil e játinha um material apreciável

quando ocorreu o A1-5. Emnosso próximo número,

contaremos a história dessa

Comissão. Quando menos,

para acordar a desmemoria-

da direção da Arena. *

Por

falar em Hélio Beltrão, hoje

totalmente voltado para os

interesses de um grupo pri-vado, vale lembrar que ele

era e continua a ser membro

do diretório nacional da

Arena. Será que a Arena se

lembra disso? *

Recado

para o deputado Marcos

Freire, onde quer que se

encontre: procure-nos com

urgência. Queremos ouvi-

lo. *

Outro recado, este

para a direção dos Cursi-lhos: continuamos interes-

sados numa entrevista com

quem estiver em condições

de falar em nome do movi-mento. Vários cursilhistas,

que nos procuraram paradefender o movimento, ai-

guns até dizendo-se dirigem

tes, não se consideram auto-rizados a falar em nome dos

Cursilhos. Continuamos

afirmando que a matéria

que nos for concedida será,antes de sua publicação,submetida à leitura da dire-

ção dos Cursilhos. Para nãohaver dúvida quanto à au-tenticidade do que for pu-bl içado.

* Marcello Leite

Barbosa estudando, com asautoridades do Banco Cen-trai, uma campanha institu-

cional da Bolsa de Valores.

Como a de 1967-68. Capazde levantar até papéis mor-

tos: *

O ministro Delfim

Neto, ao que parece, não ébom padrinho para órgãosde divulgação: o

"Diário de

Notícias", que ele tomounos braços, continua desa-cordado; o

"Correio do

Manhã", que procurou fazer

HflJP' i\ á ~^^JflV^7fl

tudo para agradá-lo, não vai

bem das pernas; o Serginho

Figueiredo, que passa as

noites acordados para ser

lido com o café da manhã,

agora só estará nas bancas

depois do meio-dia, com a

Última Hora; em São Paulo,

o grupo Paulo Machado de

Carvalho, a quem o ministro

quis dar a mão, afunda-se

cada vez mais. Deve ser porisso que o POLITIKA está

cada vez mais robus-

to. *

Por falar em Delfim:

ele esteve reunido por mais

de uma hora com o presi-dente da Petrobrás, Ernesto

Geisel. Assunto: petróleoafricano. O mínimo que se

pode dizer dessa conversa

que Delfim conseguiu um

aliado poderoso para provar

que sua estratégia em rela-

ção à África é melhor (oumais rendosa) do que a de

Gibson. *

E por falar em

Petróleo: não se espantem

se a ESSO, mais cedo do

que se pensa, resolver levan-

tar acampamento do Brasil.

A alta direção da ESSO (oravivai) considera a concor-

rência com a Petrobrás, a

médio prazo, inglória. Pois

nós achamos que é inglória

a curto prazo. *

Não tem o

menor fundamento as ver-

soes que explicam a fusão

Bradesco-União de Bancos

como uma espécie de apo-

sentadoria de Walter Morei-

ra Salles. Na verdade, o ho-

mem nunca esteve tão cheio

de planos, como agora, nem

tão feliz como com o futu-

ro. *

Notícia de Hélio Fer-

nandes: "não

convidem parao mesmo almoço um co-

nhecido jornalista e um su-

perbanqueiro desta praça".Pois nós acrescentamos:"Por

enquanto, ainda po-dem convidar; mais tarde é

que vai ser impossível".

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POL1TIKA

¦ W

Philomena

Gebran

José Celso Martinez, o maior

diretor do teatro brasileiro,

convoca os intelectuais para

uma análise da grande

crise

de toda a cultura nacional.

depoimento

José Celso Martinez denuncia

A

CUL TURA

NACINAL

I7'v.

« ¦

José Celso

Para uns, o teatro está morto.

Para outros é o cinema que está

morto. Outros já dizem que o romance

está morto, ou a poesia está morta.

Na verdade, o que assistimos é a

fande

crise da cultura brasileira,

um encadeamento que se processa

nas várias frentes culturais: arte,

ciência, política. A crise, que

começou na década de 60, é o

resultado de um dado momento histórico que

agrediu os modelos sócio-culturais

do nosso País. E a arte é o

reflexo dessa realidade que vivemos.

Toda vez que há uma crise cultural,

ela se reflete primeiro no teatro, por

ser a mais direta e a mais didática

de todas as artes. Estão aí os exemplos

históricos do teatro grego, do teatro

inglês e sobretudo, mais recentemente,

do teatro alemão, que só foi salvo

pela capacidade de resistência de

Bertold Brecht. No Brasil, se

procurarmos, hoje, um sinônimo de^

teatro, o mais evidente é o "Oficina".

E "Oficina"

é antes de tudo José Celso.

IJosé Celso Martinez Corrêa,

diretor e autor de teatro, nasceu em

Araraquara, São Paulo, em 1937. E

um dos mentores do Teatro Oficina

desde 1958. Na fase amador ística do

"Oficina",

até 1961, escreveu três

peças: "Vento

Forte Para Papagaio

Subir", "A

Encubadeira" e, em

colaboração com Augusto Boal, uma

adaptação de "A

Engrenagem", de

Sartre. Em 1961, estreou como diretor

profissional com "A

Vida Impressa em

Dólar", de Clifford Odets. Depois

dirigiu "Os

Pequenos Burgueses", de

Gorki; "Andorra"

de Max Frisch; "Os

Inimigos", de Gorki; e, mais recentemente,

"Roda Viva", de Chico Buarque;

"O Rei

da Vela", de Oswald de Andrade; "Galileu

Galilei", de Brecht, e "Na

Selva da

Cidade", de Brecht). Pois é José Celso,

sinônimo do "Oficina",

portanto do novo

teatro brasileiro, quem diz: "O

teatro

está morto. Está morto porque estamos

mortos. Estamos mortos porque a cultura

brasileira está morta por asfixia."

Para ressuscitar o teatro e a cultura

brasileira, é que José Celso, depois

de um longo processo experimental,

chama os intelectuais brasileiros para

o desafio da ressurreição da cultura

nacional: "Recriação", "revolição"

(assim com "i"

: querer de novo, tentar

de novo, fazer cultura de novo). Para

isso, o grupo

"Oficina" viajou 10

meses pelo Nordeste, passando inclusive

pelas menores cidades, apresentando suas

peças, mas principalmente pesquisando

e

criando. O primeiro resultado desse trabalho

é "Gracias,

Senor". Experiência

coletiva. Pesquisa de campo. Trabalho

verdadeiramente científico, que traduz a

realidade sócio-político-cultural do

País, transformada numa obra de arte. Numa

obra aberta. O que é a peça? É tudo. É

experiência. É participação. É

sensibilidade. Mas é sobretudo a tentativa

de explicar, na medida do possível, alguma

coisa que está acontecendo no nosso mundo

real (não no mundo da ficção), sob nossos

olhos e, por isso, em contínua mudança, em

contínua transformação. São 4 horas

ininterruptas de vivência, não de

representação teatral. É uma recusa das

definições estáveis, acadêmicas

e acomodadas. E a apresentação do

homem (no sentido antropológico do

termo) em toda a sua dimensão, em

toda a sua energia. É a substituição

do teatro discursivo pelo teatro dialético.

E enfim o encontro de nova funcionalidade

para o teatro como arte eminentemente

didática, através de uma nova linguagem.

E uma magnífica aula de política e de

conscientização. Não farei aqui uma

crítica de "Gracias,

Senõr", porque

também a crítica está morta (os críticos

já morreram há muito tempo). E não fiz uma

entrevista formal -

perguntas e respostas

— porque também este tipo de entrevista já

era. O que trago aqui é o depoimento» a

autocrítica sofrida, machucada, violentada

de um artesão da cultura: um dos raros grandes

artesãos da cultura brasileira, o maior

diretor do teatro nacional e que, embora sendo

raro e grande, ou por isso mesmo, se

apresenta humildemente diante da intelectualidade

brasileira trazendo nas mãos sua própria

asfixia que joga na arena para o debate

aberto da nossa cultura morta.

*

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POLITIKA

depoimento)

"Antes do Rei da Vela, sofria

de grande influencia externa.

Na peça, fui fiel a mim mesmo.

Eu tinha sido jntegralista,vomitei e meu integralismo."

A CRISE

DA CULTURA

NACIONAL

"Em 1968, houve a interrupção do

processo. E tudo mudou bruscamente"."Este é um depoimento em

processo. Estou pensando demaisem tudo. Vai ser um depoimentodifícil de fazer. Estou num processode repensamento de uma série decoisas. Tenho a impressão de quehouve uma mudança na atmosfera

geral das coisas. Esse processocomeçou em 1968, aliás em 67,com

"Reis da Vela" e

"Roda Viva",

quando começamos a descobrir a

possibilidade de escrever algumacoisa para o teatro comolinguagem, discutir o teatro comolinguagem, e descobri que atravésdo teatro você podia realmentecomunicar uma série de fatosimportantes que estavamocorrendo na nossa vida e na vidanacional.

Até então eu me consideravaum artesão, um sujeito eficiente,capaz mas medíocre. Via umdistanciamento muito grande entreminha atividade profissional e o

que eu vivia, o que me interessava.Inclusive, era muito interessado

por política. No teatro encontravauma coisa e outra, mas era muitotímido.

A partir do

"Rei da Vela", ou

melhor, a partir da negação dalinguagem teatral, comecei a

perceber o potencial dessalinguagem, o potencial dacomunicação no teatro. Antes do"Rei

da Vela" eu sofria uma

grande influência estrangeira. No"Rei

da Vela", fui totalmente fiela mim mesmo. Foi uma peça em

que vomitei todo o meu

provincianismo. Tinha sido atéintegralista, e na peça vomitei todoo meu integralismo. Foi a minhaverdadeira descoberta do teatro.Inclusive, a realização de umsonho antigo, de um dia pertencera uma geração (aquele mito: quemaravilha, oiha, esses caras quetêm uma geração!) E, de repente,

aconteceu. Depois do "Rei

daVela", apareceu o tropicalismo,

apereceu Glauber, apareceu

Caetano, apareceu todo aquelemovimento e me vi, mais autêntico.O mais verdadeiro meu estava ali.Não era uma coisavque eu ia

buscar fora, ia buscar em mimmesmo. E surgiu ali. Além disso,era todo um moyimento do País.Foi o ano mais intenso, mais felizda minha vida. Absorvi muita coisae passei a perceber uma coisa

fantástica: que o teatro começavaa interessar fora do teatro. Porque

eu tinha verdadeiro horror deteatro e de público de teatro,daquela platéia disciplinada deteatro. E de repente vi o potencialque existia de transcender aquelacoisa restrita de teatro. Tambémhouve uma certa coincidência como momento histórico, uma série defatores se conjugaram e eu fui

junto.Houve a inter rupação do

processo de 68. Então, toda uma

programação, todo um potencialplanejado, a partir de

"Roda Viva"

e "Rei

da Vela" sofreu umainterrupção brusca. Na época a

gente tinha pensado, paraconseguir realizar o que se

pretendia, fazer uma companhiachamada CU (CompanhiaUtópica). Uma companhia quereunisse as melhores pessoas, as

pessoas mais integradas naquele

processo todòe que pudesse levaraquilo adiante. Já naquela er3ocalutava-se» pela profissionalizaçãodo ator, para o ator poder ter amesma carteirinha da prostituta,— "é

preciso a dignificação dotrabalho do ator", — esses valorestodos. Eu não participava muitodisto. Nós lutávamos de outramaneira, nas assemblé*r_is,

politicamente. E naquela época a

profissionalização excessiva podiadeterminar toda uma castração do

próprio significado do teatro comofator político-cultural.

Com a interrupção brusca do

processo, tudo que estava para serfeito não pôde ser feito. E houve,então, um certo retrocesso."Galileu",

por exemplo, que foiuma peça muito adequada para omomento (estreou no dia 13 dedezembro de 68) foi uma peçamuito castrada.

Sofremos antes de todo mundoa ruptura do processo, com osatentados nos teatros de São Pauloe no Rio Grande do Sul.

0 "Galileu" estreou muito

contido. Tínhamos uma versãofantástica do

"Galileu". Mas nesta

época não se podia nem olhar o

público, não se podia tocar, oespetáculo era todo preso ao

palco. Era palco - platéia. Não

tinha nada com a realidade. Tãocastrado que, dos meusespetáculos, era o que eu menos

gostava, na época. Vim a gostar de"Galileu" depois, durarvte a

excursão, quando "a

gentedeliberou Galileu da suaversão-negação. Na época, eu já viao teatro com uma funçpo muitomaior do que uma funçãomeramente didática. Via de umamaneira mais ambiciosa,

' como

possibilidade de uma modificaçãode linguagem, uma possibilidademuito mais avançaâa. No"Galileu"

não estava só em chequea história do

"Galileu" a ser

montada, estava em cheque tambémuma série de outros dados, estavaem cheque inclusive já a discussãoda razão nova. Na peça se discutea razão renascentista contra arazão tomista medieval. Então, a

própria peça tinha possibilidade dediscutir já a própria razãoErechetiana, que corresponderia àlinha do racionalismo maisacadêmico. Em

"Galileu" há

possibilidade de começar a jogarcom outra razão, a razão social.Por isso meu espetáculo jogavamuito com aquela dinâmica danarrativa Erechetiana didática eaquela narrativa do coro queculminaria no carnaval. Uma razãonova, que é uma razão que se

procura agora, uma razão que temalguma coisa da contra-cultura,mas não é bem isso também.Galileu estreou freado e foram seismeses de angústia, de ódio aoteatro, de horror. Eu me dizia-"Quero

acabar com esta profissão,não quero mais saber disso, queroir embora". Nesta época, tudo eramuito limitado, muito preso,muito contido. Muito grilo demais.Meu contacto com isto ilustrava ogrande grilo, aquela paranóia toda.

— Pensei: dá vontade de pegareste teatro, botar no rinq de boxee acabar. Então, resolvi fazer umapeça subjetivista que eu tinha na

gaveta há cinco anos. Tinha umaatração irressistível por ela, semsaber porquê, sem entender a peçasem saber o que era

"A Selva da

Cidade". Disse: "Agora

vou daruma colher de chá a mim mesmo.Como todo mundo no Brasil nestaépoca, eu fiz isso. Dei uma colherde chá a mim mesmo, porque atéentão eu era de uma discriçãoabsoluta, um sujeito totalmenteobjetivo tanto na criação quantona vida e tudo. Então peguei o

uGalileu 91

uma peça

castradatexto da

"Selva da Cidade" e já

que não podia fazer nada, partipara a experiência individual. Nostrancávamos no teatro de manhã ànoite, fazíamos caratê, (até pordefesa pessoal, porquecontinuavam nos ameaçando),

ginástica rítmica, expressãocorporal, laboratório, era umtrabalho alienador para fugirdaquela situação. Trabalhávamosdemais, ficávamos o dia inteiro no«teatro trabalhando. Fizemos umespetáculo brilhante de

"A Selva

da Cidade". Ensaios maravilhosos,lindos, duravam dez horas, trêsdias. Começava ensaiar, não sabiaquando terminava. E fui colocandotodo um aspecto não só nosso,mas talvez de muita gente noBrasil, naquele momento,colocando todo um aspecto desubjetividade, preparando assimaquele clima todo do ano 70,trabalhando inclusive uma série deatores mais tradicionais e umasérie de autores jovens muito bons,com todo um potencial deformação a ser aproveitado. Nestaépoca a Companhia era RenatoBorghi, ítala Nandi e eu. Fizemosaquele trabalho com grandeentusiasmo, mas aí o trabalhotinha de estrear. A Companhiaainda era ehnprêsa, tivemos quereduzir e bolar uma versão possíveldentro do esquema comercial,traindo muito nosso objetivo, o

que nós tínhamos conseguidocomo experiência, comorealização, porque os ensaios eramrealmente fenomenais. Era umapeça toda literária e queconseguimos fazer em silêncio, semdizer uma palevra e comunicarabsolutamente tudo. Descobrimoso potencial do silêncio, fazíamossilêncio horas e horas ecomunicávamos tudo da peça.

*--

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A CRISE

DA CULTURA

NACIONAL

POLITIKA

"Se nos outros paises foi uma

coisa lenta, no Brasil foi

brusco, ninguemestava no nível

de processo, por experiência, [depoimentopor medo, por total impotência

"Analisando politicamente a situação

morte. Ai começamos a ver a morte- "Mas

aí veio a censura,

obrigaram a cortar muito texto da

peça, ela ficou reduzida a três

horas. Aquilo esfacelou, foi um

trauma em todo o sonho

esteticista do elenco. Alienado,

muito alienado. 0 pau comendo

em volta, e nós naquela

experiência esteticista, naquele

aprofundamento humano

necessário para nós, importante,

bonito, lindo, mas de repente a

realidade de ter que comercializar

e aí foi um pau. Cisão. De um

lado o pessoal do teatro

profissional achando que aquilo

era certo, do outro lado os mais

novos, completamente perdidos,

porque não se reconheciam mais

naquela experiência. E nós com

prestígio, com dinheiro na mão,

com sucesso inclusive da peça,

fizemos um prazo de contrato de

quatro meses, sentimos haver

alguma coisa no ar: -"Esta

companhia tem de parar, agora.

Eram três facções: a facção

profissional, a nossa facção

indecisa e a facção dos que

ficaram completamente perdidos.

Sentimos que não dava mais para

continuar apesar de haver três

facções muito claras.- Até então, t ínhamos

conseguido fazer um trabalho

muito integrado, era tudo muito

conjunto. Apesar de ser empresa,

era tudo muito coletivo, muito

fácil tudo. Já aquela facção de três

grupos nos assustou. -"Tem

alguma coisa errada, não vai dar

certo". Paramos. Fomos viajar.

Viajei pela Europa, Estados

Unidos, América Latina. Eu sentia

que no ano 70 era totalmenteimpossível de, no Brasil, fazer

alguma coisa, se esforçar poralguma coisa, partir para uma

grande realizarão Sentia querealmente a dissociação j_>individualismo, a atomizaçãotinham tomado conta de tudo.

Aquela subdivisão da "Selva"

em

três grandes grupos era aindaresquício de 68. Porque já depoisveio aquela experiência deatomização cada vez maior, mais

progressiva. No ano de 70 em

Princípio não fizemos nada,

quisemos descobrir o que estava se

passando. Descobrir quais eram asconseqüências da nova realidade.Estávamos todos com o coraçãomagoado, machucado. Havia uma

grande mudança em conseqüência

da mudança da situação política e

de outras mudanças também no

mundo. Não quis assumir

responsabilidade nenhuma de

direção, porque alguma coisa em

mim estava sempre me dizendo:"Não

faça nada este ano, este ano

não há o que fazer". Alguma coisa

me intimou profundamente:- "Não

há o que fazer. Observe,

tem alguma coisa no ar".

— Aí começamos a ver a morte

em tudo. Analisando politicamentea situação, descobrimos a morte.

Este espetáculo de agora ("Gracias,

Senor") nasceu de uma

conferência que eu fiz em Rio

Preto, SP., em que eu começava

falando: - "Nós estamos aqui

mortos. O senhor está morto, este

que está ao seu lado está morto.

Eu estou morto". Isto com uma

carga mágica, que eu tinha da

época incrível, e que dava uma

verdade, ao que eu dizia, fora do

comum. Essa morte, na época a

gente sentia muito sensorialmente,

muito mais que hoje. Eu ia comer,

não comia porque sentia naquele

arranjo de prato alguma coisa

morta. Sentia em tudo que eu

tinha morrido. Depois vi que tudo

aquilo que tínhamos começado em

68 estava morto. Mais do que

nunca estávamos mais mortos do

que nunca. Não tinha mais

vontade de fazer absolutamente

nada, nada, nada. Sentia a

inutilidade de tudo. Não ia mais a

lugar nenhum, ficava o dia inteiro

no apartamento, sem fazer nada.

Uma época terrível, '

uma

experiência terrível. Mas não foi

uma experiência individual. Foi de

todo o grupo. Foi um tipo de

radicalização muito grande, de

consciência muito grande das

coisas. Fra um processo muito

profundo.- A frustração pegou boa parte

da juventude e desvalorizou todo o

resto. Por exemplo, se o hippismo

ou processo de contracultura teve

um desenvolvimento mais normal

na Europa e Estados Unidos, aqui

no Brasil foi muito mais

traumático. Não acho que tenha

sido inautêntico todo o desespero

de 70. Se nos outros países foi

uma coisa lenta, uma percepção,

no Brasil foi brusco, houve uma

mudança na maneira de pensar. O

nível de exigência política era

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¦_¦ I -____________________________LsL_________

"Gracias Senor"

muito grande e ninguém estava à

altura do processo, não só por

falta de condições objetivas, como

também, por inexperiência, por

medo e de impotência total diante

da realidade. A nossa faixa, a faixa

intelectual sofreu isto bruscamente

de uma hora para outra. O custo

social nesta camada foi muito alto.

A gente pulava de um lado pra

outro e via que acabou tudo.

Inclusive fui convidado para dirigir

peças, mas não queria nada.— Até que chegou o momento

que esse processo teve que ser

cortado: —"Não, agora tem que

ser tomada uma atitude. Não

podemos continuar confusos,

porque estamos todos caminhando

para o suicídio". Inclusive, havia

muita coisa, mas eu fiquei fraco,

impotente. O Renato, que

terminava uma filmagem, nos viu

naquele estado, e fez uma"revolição",

nos esculhambou a

todos e disse: - "Vamos ter que

reenfrentar tudo, não tem nada de

hippismo, de contracultura, tem a

nossa realidade". Por isso, não foi

nada importado, foi tudo muito

ligado a btí. Muita coisa tinha que

jogar fora, muita coisa tinha de

morrer no grupo, muita coisa tinha

de ficar pelo caminho. O que se

morreu por aí não foi brincadeira.

O Renato chega, bota tudo de pé

e diz: -"Temos que remontar o

Galileu". Eu não suportava mais

aquelas peças, e nem podia sonhar

que um dia eu viesse a remontar.

Inclusive eu era muito pretensioso,

. quando montava uma peça, era

tlixo, não queria mais saber.

Fizemos uma remontagem sem

elenco, pegando gente na rua, uma

, descobri a

em tudo."loucura, pusemos a peça de pé,

remontamos, e aí começa a chegar

aquele pessoal que tinha saído na"Selva

da Cidade". Todos

arrebentados, na base do

macrobiótico, acidentados, pedaços

de gente que foram pingando. De

repente há umas 40 pessoas. Então

chegou a solução: era pegar a

colaboração global de todos,

deixando para trás os erros de 70,

e compor uma nova coisa, que é

uma tentativa inclusive de aplicar a

experiência do grupo da

contracultura com o grupo da

política, revisar tudo, repsicanalisar

tudo e começar junto a querer.

Foi um mês de "Teatro

Oficina"

todo trancado. Eram mais ou

menos 40 pessoas que começavam

uma disciplina militar, monástica.

Começamos a impor disciplina

rígida. Só aí já caiu metade. Ficou

um pequeno grupo, e esse pequeno

grupo começou a colocar todos os

seus planos, todos seus traumas,

tudo que quis fazer, tudo que

pensou fazer, tudo que sofreu,

tudo que não consegui, tudo não

fez, enfim, toda experiência

política intelectual, e começamos a

dar forma à experiência, e acabei

descobrindo a I ição de

esquizofrenia.— Fizemos uma análise rigorosa

de qual era nossa divisão. E

descobrimos profundamente qual

era nossa energia encarcerada,

porque nenhum de nós estava

satisfeito. Nem com a careta da

economia, nem com a careta da

política convencional. A nossa

divisão era: o careta e a energia

encarcerada. E consegui analisar

em cada um de nós o que era uma

coisa, o que era outra. Então

fizemos aquilo mais ou menos que

o Mao Tse-tung* fez com os

chineses, que era se reunir

coietivamerue e cadd um chorar

suas misérias e de repente sentir

que as misérias eram conseqüentes

do mesmo fenômeno que a gente,

eram enfim vítimas do ano de 70,

era muito por culpa desse troço

todo. Então começamos a analisar

isto tudo cada vez mais

objetivamente, mais

cientificamente e acabamos

redigindo este trabalho, ("Gracias,

Senor") como um documento,

uma espécie de constituição nossa.

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9

POLITIKA

depoimento

muito difícil realizar-se

alguma coisa. A desconfiança

é o grande problema

do trauma

político, da doença

política.

Todos desconfiam de todos."

A CRISE

DA CULTURA

NACIONAL

"Com

a crise, perdeu-se

a noção do real e houve

a volta ao psicologismo"

Aí, a gente topou com a reali-

dade e começamos a viagem pelo

Brasil, começo de 71. Na viagem

adotamos o processo de apresentar

as peças e depois ir fazendo aquele

trabalho paralelamente. Através de

um grupo fechado, disciplinado,

organizar livremente uma espécie de

Universidade para criar livremente a

respeito de qualquer assunto, obje-

tivando também um processo de

comunidade. Não a comunidade

como objetivo final do grupo, mas

como meio. Estudar cientificamen-

te, em todos os sentidos: emocio-

nal, sexual, social, tudo, tudo, que

tudo estava em jogo. Construir um

grupo realmente de pensamento,

pela revalorização pessoal, além de

recoletivisar as pessoas. Já que nos

reduziram a crianças inaptas^a solu-

ção era criar um grupo para apren-

der novamente a vida coletiva e

praticar a auto-gestão. O objetivo

era criar um grupo modelo, experi-

mentàl, científico, para criar uma

linguagem que refletisse a vida coti-

diana. Criar uma nova linguagem fora

da linguagem teatral convencional.

Sabemos que a nossa língua-

gem cotidiana representa um status

quo que não interessa. Se você a

utiliza, mesmo combatendo o status

quo, você está firmandò o status,

está afirmando as coisas como elas

são, você está utilizando o repertó-

rio disponível. A primeira obrigação

de quem se propõe a mudar as

coisas é mudar a linguagem. O Ma-

rio de Andrade, quando quis mudar

em "Macunaffiia",

mudou a lingua-

gem. Tanto que a linguagem dele já

hoje começa a ser entendida. Quan-

do se muda a linguagem, muda-se o

conteúdo, . © sentido, tudo. Desde

o começo da viagem e da prepara-

ção do trabalho, a preocupação era

criar uma nova lirçjuagem, mas nós

não conseguimos inteiramente, por-

que alguns de nós ainda não se

convenceram disso. As palavras

resolvem os problemas até um certo

ponto, mas chega um momento em

que elas não resolvem mais nada.

Este tipo de comunicado de

linguagem que está aí, ninguém

mais ouve ou se interessa por ele. A

gente se pretendia um grúpo de

comunicadores não só de atores. A

gente se interessava por pessoas que

tivessem tido outras experiências e

se interessassem em passa-las adian-

te. Estabelecer contatos entre estes

grupos e criar uma obra, que não é

ainda esta que está daí, que está

longe da que pensamos. Os próprios

espetáculos antigos se modificaram

através da nossa viagem pelo inte-

rior. A partir de um certo momen-

to, saímos das salas para representar

nas quadras, caindo da classe média

e entrando em contato com outras

faixas.

Nós vivíamos o teatro. Passáva-

mos o dia em permanente laborató-

rio. Usávamos uma série de proces-

sos psicológicos de comunicação

para levar uma comunidade a fazer

coisas que ela devia e podia fazer.

Por exemplo, uma pequena cidade

do sertão cercada de rios vivia ilha-

da. Através do teatro levamos a

cidade a construir uma ponte. Cria-

mos toda uma situação de comuni-

cação para convencer o povo a fazer

coisas concretas e não permanecer

numa atitude passiva de assistência.

Tínhamos duas linhas de traba-

lho: uma na cidade, outra na zona

rural. Foi a partir daí que surgiu o

projeto nosso de, a longo prazo,

fazer um espetáculo e um filme

sobre "Os

Sertões", de Euclides da

Cunha. "Os

Sertões", na realidade,

é um livro pouquíssimo conhecido,

pouquíssimo lido. E que eu acho

uma das maiores obras da literatura

internacional, e onde estão as raízes

de qualquer repensamento brasi-

leiro. ê "O

Capital" brasileiro.

Tanto que, na peça, em determi-

nado momento, mostramos o livro.

Esta viagem ao Nordeste foi toda

uma pesquisa para

"Os Sertões".

Todo espetáculo feito em zona

rural tinha uma atitude messiânica.

Hoje em dia, no Brasil, uma

grande faixa dos intelectuais tem

muito a ver com o povo porque está

vivendo a mesma experiência de

marginalidade. Em toda nossa via-

gem, partíamos do princípio de

uma certa morte social no país, e

todo o trabalho era uma espécie de

tentativa, no plano da psicologia

social, de redespertar, de requerer,

de fazer a revo/ição, uma espécie de

massagem nas populações submeti-

das a todo um processo de lavagem

cerebral, principalmente a classe

t I >

Bj

IB

média, que precisa voltar a querer.

Particularmente eu gostaria de fazer

um trabalho muito mais objetivo,

muito menos próximo à psicologia

e à antropologia e muito mais pró-

ximo à política e à economia. Nossa

experiência mostrou que não é fácil

atingir o equilíbrio da comunica-

ção. Porque este equilíbrio não

depende de nós. Depende da pró-

pria conjuntura, é muito importan-

te este aspecto do porque da difi-

culdade de as pessoas ainda se uni-

rem. Coloca-se uma questão para o

próprio público e vemos que, hoje

em dia, o povo brasileiro se habi-

tuou a, numa assembléia, falar, mas

a manifestação sempre é neurótica,

as pessoas se atacam, se agridem,

uns acusam os outros. Todo mundo

com problema de culpa, é semprè

aquela Xingação danada, é incrível,

é uma coisa de-psicanalise.

— A verdade é que, com a crise

política toda, perderam a noção

real sobre as coisas e houve uma

volta a um psicologismo, um grande

individualismo, um retrocesso mui-

to grande. Talvez as pessaos tenham

ganho outras experiências. Mas

perderam a experiência mais con-

creta, que é do trato com a reali

dade, do trato com o outro, do

trato coletivo. Desaprenderam mes

mo. São muito pobres coletiva-

mente, politicamente, como forma

<te deformação da realidade. Hoje

em dia é muito difícil realizar algu-

ma coisa. Todo mundo desconfia de

todo mundo. Desconfiança, descon-

fiança. Aí vêm aquelas couraças, a

desconfiança em forma de defesa.

Vem a couraça psicológica, a pessoa

vem com o psicologismo para anali-

sar por que que ela desconfia da

outra, porque a outra tem comple-

xos disso e daquilo, etc. E não é

nada disso. A desconfiança é conse-

qüência de um comportamento

social e pol ítico. é o grande proble-

ma do trauma político, da doença

política. E este espetáculo (gracias

senor") é testemunha dessa época.

Quando ele sai ruim, ele é o que

pode ser, é o espelho do que está

acontecendo agora, é o termômetro

social muito grande do que se passa.

Não só do que nós fazemos, mas do

que o público faz também, é difícil

a comunicação do público. As pes-

soas não se olham, não integram. É

toda uma coisa louca, bruta, solitá-

ria. E individualmente elas estão

com tudo, estão fazendo psicaná-

lise, énfim tudo. Mas quando estão

em grupo, em multidão, elas viram

cavalos.

— O comportamento grupai foi

desaprendido totalmente. E nosso

esforço no espetáculo é recuperar

isto. Porque, se não recuperar isto,

realmente acabou. Se você tem uma

mulher, um amigo, uma mãe, um

filho, politize essa relação,

que tudo

tem que ser politizado, discutido. A

sociedade está sofrendo do mal de a

comissão técnica resolver tudo,

enquanto o resto é um bando de

órfãos débeis mentais, impotentes,

incapazes, gente sem contato ne-

nhum com a real. Neste ano de 72

esse dado de retomada de posições

é muito importante: de voltar a

querer coisas concretas, querer

o

seu lugar. As pessoas se procuram

com uma vontade muito grande de

acertar, até que vão se formar deter-

minadas constelações de pessoas

que vão se èntender, que vão come-

çar produzir a ideologia. Tenho

uma fé profunda nisso'e espero que

aconteça alguma coisa que facilite

esse processo, mas é uma coisa a

longo prazo, de muito, muito tempo.

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Roosevelt e Stalin no encontro de Yalta

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C/71/ En-Lai

POLITIKA

Artnur

Loureiro

: "'• " *¦ . «fe -

De Gaulle e Chu-En-Lai foram

os primeiros

a entender que

a ameaça à segurança interna

vinha daqueles que prometiam

ajudá-los: os EUA e a URSS.

China acabo

com o

mundo só

para

dois

repartição do mundo pelo

Tratado de Yalta e coisas

semelhantes. A realidade,

entretanto, como a carne, estava

muito mais por baixo desse

angu. Conversando com o

iuguslavo Milovan Djillas,

Stalin tinha posto os pingos

nos /$, com brutal clareza:

"Cada um impõe o seu sistema nas

áreas que os seus próprios

exércitos dominam." Exatamente

nos pontos da periferia

onde não

ficara bem clara, ao final da

Segunda Guerra, a posição desses

exércitos, foi que durante mais

de um quarto de século se

localizaram os focos de atrito

e as guerras limitadas: Berlim,

Oriente Médio, Coréia e Vietnã.

4

0 sistema vinha funcionando com

perfeição matemática há mais de

um quarto de século. Havia os

dois Grandes, cada qual com os

respectivos satélites. Toda vez

que qualquer satélite tentava

colocar os seus próprios

interesses acima dos interesses

do astro principal, o rolo

_

compressor entrava em ação.

No primeiro tempo, era lançada

A ACUSAÇÃO - equivalente

moderno de pecha, hoje

folclórica, que mouros e

cristãos atribuíam-se mutuamente

na idade média. Daí em diante

tudo ficava justificado:

desrespeito aos tratados,

desprezo às soberanias, agressão

militar aberta ou disfarçada,

etc. Foi assim na Hungria, na

Tchecoslováquia, na Guatemala

e na República Dominicana.

Os ingênuos falavam muito em

I

?

Page 8: No. 22 - Pe 20 a 26 da março de 1972 RIO - CrS 2,00memoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00022.pdf · No. 22 - Pe 20 a 26 da março de 1972 RIO - CrS 2,00 iCv \.^a Zweig, Rw^~~^

POLITIKA

¦contexto

Na década de 50, os Estados

Unidos apoiaram o Paquistão

com uma finalidade que

hoje

provocaria gargalhadas: não

deixar a China se expandir.

China acaba com o

mundo só para

O astro

ameaça

o satélite

0 exame imparcial e objetivo

desses fatos leva obrigatoriamente à

seguinte conclusão, contra a qual

não se consegue apontar nem mes-

mo a sombra de um exemplo: A

VERDADEIRA AMEAÇA AS SE-

GU RANÇAS NACIONAIS PAR-

TIU SEMPRE DO ASTRO PRINCI-

PAL DO SATÉLITE E NUNCA DE

QUALQUER PONTO DO OUTRO

SISTEMA. Veja-se o caso das nossas

200 milhas de mar territorial e per-

gunte-se se vem de Cuba, da URSS

ou da China a ameaça.

Os que primeiro perceberam

essas verdades elementares, foram

Tito, De Gaulle e os chineses. Tito

escapou logo, porque não estava

dentro da área dominada pelos

exércitos soviéticos, dos quais não

dependeu para libertar o país dos

nazistas. Já os casos de De Gaulle e

dos chineses foram diferentes do

iuguslavo, mas bem semelhantes en-

tre si. França e China, embora alia-

das dependentes, representavam tra-

dições culturais, diplomáticas e mi-

litares muito mais antigas e respeitá-

veis do que as das respectivas potên-

cias principais. França em Suez

(1956) e China na crise das ilhas

Quemói e Matsu (1958) viram-se

abandonadas, quando os seus inte-

resses não constituíam também in-

teresses dos seus líderes. Ambas

foram frustradas no desejo de obter

ajuda para desenvolver forças nu-

cleares independentes, pelos mes-

mos motivos que o Brasil também

não obteve auxílio nem mesmo pa-

ra incrementar uma tecnologia nu-

clear pacífica. Por outro lado, tanto

a França quanto a China viram suas

respectivas potências principais, tão

cautelosas em Suez e em Quemói e

Matsu, correrem, sem titubear, ris-

cos imensos em Cuba e em Berlim,

quando estavam em jogo suas pró-

prias conveniências e não as dos

satélites.

De Gaulle e Chu-En-lai tiraram as

conclusões lógicas de todos esses fa-

tos. De Gaulle declarou, em novem-

bro de 1959: "Quem

pode dizer

que, se a ocasião se apresentar, os

dois poderes ao decidirem não lan-

çar mísseis contra o inimigo princi-

pai, para se colocarem a si próprios

a salvo, não esmagarão os outros?

É bem possível imagina^ que num

dia aziago Moscou varresse a Euro-

pa Ocidental do mapa e Washington

V:jt* '

W

fu

Fidel Castro

O mundo

sempre foi

dividido

a Europa Central. E quem pode

afirmar que os dois rivais, depois de

não sabermos que cataclismo social

e político, não se unirão? "

E come-

çou a falar numa Europa do Atlân-

tico aos Urais. Chu En-lai, por sua

vez, logo após a Conferência de

Bandung (1955), começou a propor

a reaproximação com os Estados

Unidos. Mas ainda era cedo. Os ho-

mens teriam que esperar até a déca-

da dos 70 para que o degelo come-

çasse a corroer a estupidez monolí-

tica da guerra fria.

A confrontação entre ocidente e

oriente, entre mundo livre e mundo

comunista nada mais foi do que

uma luta entre os interesses da

Rússia e os dos Estados Unidos, cu-

jos apetites encontravam-se poder o-

samente acirrados pelo vazio decor-

rente do afundamento dp todas as

demais potências na segunda guerra

mundial, derrotadas umas e total-

mente esgotadas outras. A rival ida-

de entre Ocidente e Oriente fora

criada há mais de 10 séculos, por-

que os ocidentais estavam obsoluta-

mente certos de que o Espírito San-

to procedia do Pai e do Filho, en-

quanto os orientais também esta-

vam obsolutamente certos de que o

Espírito Santo procedia somente do

Pai. A rivalidade posterior à segun-

da guerra não se baseava em razões

melhores do que essas, até porque

mais de metade das nações que

compõem o chamado mundo livre

está composta por ditaduras decla-

radas.

Mais importante, porém, do que

tudo isto era a falta de lógica dos

quadros em que se petrificara a

guerra fria e a impossibilidade de

qualquer espécie de solução. Esse

conflito potencial opunha dois blo-

cos de nações industrializadas e

ricas (embora desigualmente) que

lutavam por dois grupos de objeti-

vos na realidade secundários: 1) al~

guns pontos geográficos periféricos;

2) o regime econômico e político

do resto do mundo, constituído

essencialmente de nações subdesen-

volvidas. O absurdo de uma guerra

quente entre os dois blocos fica

visível se considerarmos que ela le-

varia esses blocos ricos da humani-

dade a se destruírem mutuamente,

com o único objetivo de determinar

qual dos dois teria o privilégio de

fornecer o modelo que o resto da

humanidade iria adotar para li-

vrar-se da fome e da pobreza.

Mas foi preciso que todo um con-

junto de fatos ocorresse para que os

homens começassem a ver tudo

com nitidez. Em primeiro lugar,

veio o conflito sino-soviético, insus-

cetível de solução militar em virtu-

de da extensão territorial e da for-

midável massa demográfica do saté-

lite rebelde. Em seguida, o impasse

dos Estados Unidos no Vietnã, com

a conseqüente revolta de opinião

pública americana, já abalada

pela

crise econômica, pelo recrudesci-

mento do problema racial e pela

chamada crise de civilização. Por

cima de tudo isto, acicatando o

bom-senso e espaventando as bru-

xas cada dia menos úteis, chegou a

campanha eleitoral. E foi aí quenós,

que já tínhamos visto Stalin

com Hitler, Churchill com Stalin,

Roosevelt com Stalin, Eisenwoher

com Krushchev, etc. etc. - foi ai'

que nós vimos Nixon com Mao e

estamos nos preparando para vpr

Nixon com Brejnev e Nixon com

Fidel Castro.

A reaproximação sino-americana

já tinha produzido conseqüências

importantíssimas muito antes de

Nixon embarcar para Pequim. Em

25 de outubro do ano passado, a

China Popular foi admitida na ONU

em substituição ao Governo de For-

mosa, embora Washington defen-

desse a tese da dupla representação

do ex-Império do Centro, rejeitada

com obstinação tanto por Taipé

quanto por Pequim. Ao que tudo

Paquistão

uno na ONU

EUA-China

indica, americanos e chineses esta-

vam de acordo em adiar a decisão

até este ano, de forma a preparar

Chang Kai-Chek e a opinião pública

nos Estados Unidos. Em 3 de de-

zembro de 1971, aconteceu o que

ninguém seria capaz de prever três

meses antes: a China Popular

apoiou uma resolução americana à

qual a Rússia opusera o seu veto.

Em conseqüência, dia seguinte (4

de dezembro) eclodiu a guerra do

Paquistão, pondo a nu os interesses

estratégicos dos três Grandes.

O Paquistão, uma loucura consti-

, tu ida por dois disparates separados

por 1.700 quilômetros de território

hindu, era na verdade não um, mas

dois países: o Paquistão Ocidental,

árido, atravessado pelo Indus; e o

Paquistão Oriental, úmido, superpo-

voado, pertencente já ao sudeste da

Ásia. Essa loucura era o resultado

da descolonização no sub-continen-,

te indiano, ao fim da segunda guer-

ra.*Gandhi, o mais irredutível adver-

sário da colonização inglesa, lançou

o seu famoso: "Ingleses,

saiam da

índia." Ao que retrucou o líder mu-

çulmano Muhammad AI^.Jinnah:"Ingleses,

dividam a partam."

Jinnah, que não era religioso e não

falava o árabe, foi quem criou o

Paquistão, estado cuja única justifi-

cativa seria a unidade religiosa.

Gandhi previra tudo: "Se

o Indos-

tão deve ser um país reservado ape-

nas aos hindus e o Paquistão um

país reservado apenas aos muçulma-

nos, então o Paquistão e o Indostão

serão países transbordantes de vene-

no". E na verdade assim foi.

Na década de 50, os Estados Uni

dos aliaram-se ao Paquistão com

uma finalidade que hoje provoca

gargalhadas: queriam conter a

China. Nehru denunciou a mano-

bra, declarando que o auxílio ame-

ricano apenas modificava a relação

de forças na querela do Cachemir,

mas não a capacidade de resistência

ao comunismo. Em 1966, a interfe-

rência de americanos e russos juntos

conseguiu deter o conflito entre

índia e Paquistão, com aplausos do

mundo inteiro.

*

a

D

El

ai

Page 9: No. 22 - Pe 20 a 26 da março de 1972 RIO - CrS 2,00memoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00022.pdf · No. 22 - Pe 20 a 26 da março de 1972 RIO - CrS 2,00 iCv \.^a Zweig, Rw^~~^

China acaba com o

mundo só para dois

Os russos conseguiram provar

que o que é bom para eles, o

é para o comunismo. Aqui, uma

alteração: o que é bom paraos EUA é bom para o Brasil.

I ^*J ^ 111 kT/1

i

I kontexto—

As eleições no Paquistão apenas constataram a

realidade geográfica: o pais era duas nações. .~ r _¦ -_.__ mmsmmmMtammm I ___¦___» _-»r_mr_ HpiyaraiTI 3 Ri

Yahya Khan, colocado no

poder em lugar de Ayoub Khan por

um golpe de estado, resolvera con-

vocar eleições no intuito de superar

o descontentamento existente nas

duas partes do país, em virtude de

uma gestão econômica ineficiente e

dos privilégios de algumas famílias.

As eleições, realizadas em fins de

1970, produziram a confusão geral.A oeste, o partido de oposição de

Bhutto alcançou expressiva vitória.

Mas a leste, houve uma verdadeira

avalancha em favor do partido auto-

nomista liderado por Sheikh Muji-

bur Rahman, coisa que não chegava

a ser surpreendente, tendo em vista

que a província oriental há^anos

vinha sendo tratada como autêntica

colônia.

A situação poderia ser contor-

nada se Bhutto aceitasse um acordo

baseado na concessão de larga auto-

nomia ao Bangla-Desh. Na impossi-

bilidade de tal acordo, Sheikh Muji-

bur proclamou a secessão de Benga-

la Oriental. O Governo de Bhutto

enviou tropas para Leste, prendeu

Sheikh Mujibur e iniciou uma re-

pressão extraordinariamente violen-

ta contra os separatistas. Essa re-

pressão provocou o êxodo de 10

milhões de refugiados, que foram

buscar abrigo nos campos da região

de Calcutá, na fndia. Indira Gandhi,

cujos partidários acabavam de con-

quistar uma grande vitória eleitoral

em março, começou a lançar drama-

ticos apelos à comunidade interna-

eional no sentido de obter auxílio

para a solução do problema com

que se via a braços. Inútil dizer quenão veio auxílio nenhum.

Em agosto, Gromyko foi a Nova

Deli para assinar um tratado de ami-

zade com a índia, no qual a Rússia

se comprometia a assegurar apoio

soviético caso a índia fosse atacada.

A manobra russa, resposta brilhante

à aproximação sino-americana, che-

gava exatamente na hora justa. A

China, a braços com uma grande ri-

validade interna entre o partido e as

forças armadas, estava imobilizada

por completo. De agora em diante,via-se obrigada a se defender, ao

norte, em face das quarenta e nove

divisões soviéticas ali estacionadas e

via-se também obrigada a vigiar oflanco sul. Era o cerco, em face das

quarenta e nove divisões soviéticasali estacionadas e via-se tambémobrigada a vigiar o flanco sul. Era ocerco.

^K^B^ ^11

Maotse-tung

____________________________

mSAmm BE ^^ ^^K

_____H_L_____________________k _______i________________í

Indira Gahndi

A China

apenas se

defendiaAssinado o tratado entre russos

e hindus, uma ponte aérea encami-

nhou a Nova Deli em fluxo gigan-

tesco de material militar. Os mei-

dentes começaram a se multiplicar e

em breve as tropas da índia intervie-

ram no conflito, apoiando os com-

batentes do Bangla-Desh. Sentindo

já U CJUblU ua üciiuiu, • "• • i .

tentou um golpe desesperado: quis

repetir o feito dos israelenses, des-

vencilhando-se, de um golpe, do

grosso da aviação hindu e ordenou

o bombardeamento dos aeróoYomos

inimigos. A iniciativa foi um fracas-

so Algumas horas mais tarde (4 de

dezembro de 1971) a índia lançava

a ofensiva contra o Paquistão. Treze

dias depois ocorria a queda de Daca

e a instalação de um governo do

Bangla-Desh independente. Em is-

lamabad, Yahya Khan era substitui-

do por Bhutto.

Já se disse que a guerra do Pa-

quistão foi um dos raros conflitos

modernos sem conotação ideoló-

gica. Isto seria o de menos. O im-

portante é que a guerra do Paquis-

tão foi um conflito onde as posi-

ções ideológicas se encontraram

exatamente invertidas. Em primeiro

lugar, a fndia - a mais populosa na-

ção do mundo democrático cujas

tendências pró-ocidente ninguém

discute-alinhou-se ao lado da

Rússia, de quem recebeu apoio e ar-

mamento. Quando os Estados Uni-

dos enviaram um porta-aviões para

golfo de Bengala, numa última

tentativa desesperada de pressionar

Nova Deli, os russos responderam

despachando várias fragatas lança-

mísseis para a região. Na ONU, o

apoio soviético não foi menos deci-

sivo. O veto da Rússia à resolução

americana que determinava a recon-

ducão das tropas às linhas de parti-

da (resolução apoiada pelps

chinês!!!) foi o que permitiu a In-

dia a sua vitória relâmpago.

Em segundo lugar, além da ines-

perada aliança sino-americana da

ONU, havia o surpreendente apoio

do governo de Mao a um dos regi-

mes mais reacionários do mundo

atual, em detrimento de um povo

que lutava pela autodeterminação e,

de certa forma, lutava até para se

libertar de uma situação colonial.

Tornando o quadro mais irônico .

ainda, havia também a coincidência

do apoio de americanos e chineses

ao governo de Islamabad, um gover-

no que, como vimos, estabeleceu o

primeiro tratado com os Estados.

Unidos com o fim de impedir a ex-

pansão da China.

Para finalizar com chave de

ouro, a manobra russa de cercar a

China pelo sul, através do tratado

com a fndia e da influência que

com certeza terão os russos em Ban-

nla-Desh. nada mais é do que uma

versão soviética do "China

contain-

ment policy" de John Foster

Dulles. Com esse tratado, com essa

influência, com a exploração do

descontentamento japonês em face

da orientação americana da China, a

Rússia está fazendo com a China

exatamente aquela pol ítica de cor-

dão sanitário que os europeus utili-

zaram contra Moscou.

O Bangla-Desh nasceu e a ideo-

logia morreu do parto. Se houvesse

hoje uma nova Conferência de

Bandung, os povos do terceiro mun-

do deixariam a China de fora dessa

vez, como deixaram a Rússia da ou-

tra. O caráter puramente verbal do

apoio chinês às revoluções externas

já ficara mais ou menos visível com

o largo crédito aberto à Etiópia, a

despeito da brutalidade da repres-

são da guerrilha na Eritréia, e com a

sustentação que o governo de Mao,

juntamente com os Estados Unidos,

a Rússia, a Grã-Bretanha, a índia e

o Paquistão, havia dado ao governo

do Ceilão, também envolvido com

problemas de guerrilha. Agora, fica-

ra escandalosamente claro que a

China Popular, como todos os ou-

tros povos, dedicava-se apenas à de-

fesa dos interesses próprios e nada

mais.Em resumo: a China quer se in-

dustrializar; a Rússia quer passar

para a etapa pós-industrial; e os Es-

tados Unidos querem diminuir as

despesas militares, sanear a econo-

mia, atenuar o conflito racial, gastar

mais em saúde, em educação, em

problemas urbanos, etc. Guerrilha

camponesa, internacionalismo pro-

letário,, defesa do mundo livre e

contenção do comunismo são ape-

nas fórmulas verbais úteis na luta

pela conquista daqueles objetivos.

A ideologia foi sempre uma cor-

tesa de raro impudor. Para Hegel, a

suprema manifestação da Idéia se

concretizava no Estado Prussiano.

Os russos lograram convencer os ou-

tros de que o que era bom para a

URSS era bom para o comunismo

e, entre nós, já se disse que o que é

bom para os Estados Unidos é bom

para o Brasil.

Houve época em que era admis-

sível acreditar-se nessas racionaliza-

ções. O conhecimento dos fatos ver-

dadeiros exigia tempo, pesquisa e

competência especializada. Hoje as

coisas estão meridianamente claras,

ao alcance do simples homem da

rua e só aqueles cujos interesses se.£.-..-_-_ ~stsnr\r,rsnr\r\<l ninrli niiorpm lf".-

VtStílli di i ícayavj^o, autua 4**» -i 11

sistir na conservação dos fossiliza-

dos quadros ideológicos.

A Argentina já reconheceu a

China popular. É preciso que nós

tomemos a dianteira pelo menos na

iniciativa de organizar uma missão

comercial que consiga abrir para os

produtos brasileiros aquele fabuloso

mercado de quase um bilhão de

consumidores. O que o Brasil preci-

sa mesmo de verdade é de negócios

da china, seja lá com quem for. Até

com a China.

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POLITIKA

I . •

rRp ___¦g= j^k^:^J^b**V s^^IK,

Hélio

Duque

e 18 minutos, hoje ele tem de

trabalhar 2 horas e 29 minutos.

Dessa maneira, o pobre do

trabalhador Antonio Bispo já

não sabe o que fazer. Não

podemos esquecer que ele tem

de pagar, também, condução

de ida e volta para a fábrica,

aluguel de casa, luz, gâs,

além de outras despesas mínimas,

indispensáveis para a sua

sobrevivência. Ou subvivência?

Essa-a situação de milhões de

Antonios anônimos por esse

Brasil afora. No

entender do professor Pompeu

Accioly Borges, o trabalho

da FAO serviu para mostrar

números alarmantes sobre

uma situação de fato:

Os estudos feitos, na capital

paulista, realmente me

impressionaram bastante.

É claro que o problema

existente não é apenas pela

falta relativa dos alimentos

mas, principalmente, devido

à política de contenção

salarial que reduziu o salário

real do trabalhador paulista

em 40 por cento no último

quadriênio e forçou o número

de pessoas de sua família a

trabalhar fora de casa.

Embora não tenha havido

pesquisa semelhante na Guanabara

e em outros Estados, a FAO

supõe que, pelo menos nas

favelas, onde está concentrada

a camada mais pobre da

população, haja carências

alimentares provocadas pela

alta exagerada de preços,

em confronto com os aumentos

irrisórios de salários".

r

O Censo de 1970 provou que da

população economicamente ativa

brasileira, cerca de 29

milhões, apenas 9 por cento

recebem salário superior a

500 cruzeiros mensais. Agora

é a FAO, organismo da ONU que

trata em todo o mundo do

problema da fome, que traça um

quadro dos mais chocantes sobre

o poder aquisitivo do brasileiro,

mais particularmente do

trabalhador de salário-mínimo,

a grande e imensa maioria.

Segundo o professor Pompeu

Accioly Borges, consultor da

FAO no Brasil, em recente

pescjuisa realizada no Qrande

São Paulo, chegou-se a uma

conclusão alarmante. Nessa

pesquisa, realizada na área

mais desenvolvida do nosso país'

e que tem o mais avançado

sistema industrial da América

èo Sul, não dá para se entender

como ó que vive o brasileiro

de salário-mínimo.

Eis os dados: Antonio Bispo,

43 anos, salário-mínimo, uma

mulher, cinco filhos já não sabe

a opção que lhe resta. Em 1965,

para comprar um quilo de feijão

trabalhava 1 hora e 35 minutos

por dia. Hoje, ele precisa

de pelo menos 3 horas e 19

minutos para poder comprar

a mesma quantidade. Um quilo

de carne custava 4 horas e

24 minutos. Hoje custa 6

horas e 2 minutos de trabalho

duro. Há cjnco anos, por um

litro de leite, Antonio Bispo

trabalhava 34 minutos, hoje

para beber a mesma quantidade

ele tem de trabalhar 52

minutos. Para adquirir um

quilo de pão trabalhava 1 hora

realidade

É a FAO que

diz: 1939,

um brasileiro consumia 136

gramas de carne

por dia. Hoje,

aquêle que

consegue comprar,

consome, apenas, 74 gramas.

*313

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POLITIKA

SALÁRIO

MÍNIMO

É JEJUM

Somente graças

a verdadeiras

reformas agrárias e mutações

de estrutura, podem

os povos

subdesenvolvidos absover a

nova revolução tecnológica.

realidade

A dura vida dos trabalhadores nega os slogans

Indiscutivelmente, o brasileiro

está comendo pior de ano para ano.

E o próprio organismo da ONU,

através o seu consultor brasileiro

atesta:"Antes

da guerra, o brasileiro

consumia 136 gramas por dia de

carne. Atualmente, aqueles que

conseguem comprar carne conso-

mem apenas; 74 gramas. A mesma

coisa acontece com o leite: das 250

gramas de leite que consumia diaria-

mente, o brasileiro bebe agora

apenas 1.54 gramas".

Há alguns meses, o jornalista

Luiz Carlos Sarmento, escrevendo

sobre o assunto, dizia que, diaria-

mente, bombardeado pelos veículos

de comunicação de que a renda per

capita do brasileiro aumentou em

não sei quantos por cento em pro-

porção ao ano passado, os Antonios

e Joões ficam admirados desse cres-

cimento que em instante algum

chega a servir para mudar suas

subvidas.

Dessa maneira, o dia a dia, que

não tem nada de colorido na dura

vida do trabalhador brasileiro, nega

o que a propaganda excessiva tenta

institucionalizar.

É o professor Pompeu Accioly

Borges quem afirma:"É

fácil verificar que o produto

nacional bruto tem aumentado a

partir de 1949 ao ritmo de quase 5

por cento ao ano, ou seja 2 por cen-

to per capita, índice que, se bem

não de todo satisfatório, resulta

expressivo nos contextos do mundo

subdesenvolvido. Mas trata-se, é

bom notar, de uma taxa média em

torno da qual variação é enorme.

Algumas áreas do país acusam um

crescimento que não alcança a

metade do indicado. O produto

agrícola, por exemplo, se expandiu

4 por cento ao ano, superando

amplamente o coeficiente de

aumento da população rural, que

foi de 1,6 por cento ao ano, duram

te o período 1950/60. Mas eu per-

gunto: como conciliar o aumento

verificado de 2,4 por cento ao ano

do produto agrícola per capita com

a lastimável situação da estrutura

agrária do Brasil? Que fatores dinâ-

micos foram capazes de elevar, na

proporção assinalada, a produtivida-

de^ média do agricultor brasileiro?

Não é fácil de se responder, princi-

palmente porque não merecem

muita fé as estatísticas agrícolas

brasileiras. Uma análise superficial

talvez poderia cingir-se à comprova-

Çao de uma melhora aüment na

população, como um todo, mas

convém atentar para as distorções

da realidade brasileira que podem

jer motivadas pela mera utilização

das médias globais".

Demonstrando ser um grande co-

nhecedor da realidade nacional, o

consultor da FAO assim se refere ao

quadro das estatísticas oficiais:

"Os números nem sempre são

corretos. Todos nós sabemos que

existem ainda no país regiões alta-

mente subdesenvolvidas, cujos redu-

zidos níveis de renda obrigam suas

populações a um severo regime de

subconsumo alimentar. No Norte-

Nordeste, por exemplo, algumas

pesquisas revelaram na dieta alimen-

tar diária um déficit da ordem de

30 por cento do valor calórico (em

relação ao normal) e de 50 por cen-

to no total de proteínas, com a

particularidade de que a ingestão de

proteínas animais não atinge sequer

a metade da quota recomendada

pela FAO".

Observem que essa pesquisa

foi

realizada dentro de um centro

urbano. Obviamente, os resultados

de uma pesquisa na área rural seria

bem mais chocante, já que as dife-

renças de rendas entre as popula-

ções urbana e rural a cada momento

mais se acentuam. Ainda há pouco

fiz uma visita às vastas áreas da re-

gião nordestina e fiquei espantado

com o quadro que me foi dado

observar. É a fome crônica diziman-

do populações.

Sobre esse aspecto, a posição do

professor Pompeu Accioly Borges é

esta:

"A visão microscópica da catás-

trofe da fome assume contornos pa-

téticos, quando se atenta para

as

disparidades-enormes, chocantes, e

o que é pior,

crescentes entre o que

ocorre no meio rural de certas

regiões privilegiadas, o chamado

mundo desenvolvido, e o que se

passa nas regiões subdesenvolvidas,

onde se concentram 2/3 da popula-

ção mundial. Esta última só dispõe

de 1/3 da produção mundial de ali-

mentos e sua exígua renda per capi-

ta que raramente excede 100 dóla-

res anuais, não lhes permite adqui-

ri-los nos países ricos que se vêem

muitas vezes a braços com a crise de

superprodução agrícola, chegando

ao absurdo de destruir alimentos.

Sim, é estarrecedor: destruir alimen-

tos. Por três vezes em 25 anos de

existência, a FAO trajou de investi-

gar como a população

mundial se

alimenta. A última pesquisa foi rea-

lizada em 1963 e a situação não

mudou nada nesses últimos anos.

Ficou provado ser de todo insufi-

ciente não apenas a quantidade mas

também a qualidade do que come a

maior parte da população de países

subdesenvolvidos".

Pelo resultado dessa pesquisa,

que já remonta há nove anos, pode-

mos constatar facilmente que meta-

de da população do mundo vive

num processo de fome crônica ou

no de subnutrição, sofrendo muitos

de ambos os processos. Segundo o

consultor da FAO no Brasil, na

época da pesquisa, dessa metade,

1,5 bilhão de seres humanos, cerca

de 500 milhões podiam ser classifi-

cados como famintos.

E o quadro nesses nove anos evo-

luiu para pior, já que é sabido que

as situações àlimentares se refletem,

sobretudo, nos níveis de renda.

Presentemente, estima-se que 70

por cento da população mundial

vive nas regiões consideradas subde-

senvolvidas, auferindo não mais do

que 20 por cento do total da renda

mundial.

Numa projeção já feita para o

ano 2.000, pode-se desde já avaliar

que a população do mundo desen-

volvido crescerá em números redon-

dos em 150 por cento, necessitan-

do-se, por conseguinte, que a pro-

dução de alimentos triplique ou

quadruplique.

Serão isso possível? Qual o cami-

nho que resta para os povos

subde-

senvolvidos? O cientista Pompeu

Accioly Borges enxerga assim esse

problema:

"Só há uma saída: a espetacular

revolução tecnológica que teve

início no mundo agrícola há cinco

anos, batizada com o nome sugesti-

vo de Revolução Verde. Pouco ou

quase nada se tem feito no Brasil

dessa revolução, capaz de alterar

profundamente o panorama

alimen-

tar dos países subdesenvolvidos,

inclusive o nosso. A Revolução

Verde deflagrou-se com a descober-

ta no México, de sementes híbridas

de trigo de alto rendimento. Tais se-

mentes podem ser plantadas

em

qualquer estação do ano e produ-

zem três boas colheitas. A abundân-

cia de alimentos provocada pela

Revolução Verde provocará uma

situação nada fácil de se resolver:

como alimentar aqueles que têm

fome, mas não comem porque care-

cem de terra, trabalho e dinheiro?

Como tornar acessível aos pequenos

agricultores o uso de novas técnicas

que exigem, além de conhecimentos

agrônomos, pesados investimentos

de irrigação e fertilizantes?

Nessa inquirição do professor

Accioly Borges está todo um

quadro de relação injusta, que sem

a posse da terra torna-se-ia inviável.

Pensar-se nos postulados sadios de

uma autêntica revolução agrária. E

o seu ponto de vista a respeito desse

ângulo do problema é claro:

-*• "Somente

através de verdadei-

ras reformas agrárias e de substan-

ciais mudanças de estruturas, pode-

rão os povos subdesenvolvidos

absorver a nova e revolucionária

tecnologia agrícola. Caso contrário,

estarão em situação humilhante de

simples freqüentadores do mercado

mundial, sem dinheiro para com-

prar os maravilhosos produtos que

se oferecem nas suas prateleiras ou

sem o mínimo de condições para

utilizá-los. E mais: terão que con-

formar-se em produzir alimentos

com técnicas primitivas e por isso

mesmo caros e não competitivos

nos mercados mundiais".

Aí está uma radiografia nada oti-

mista de um problema que vivemos

em nosso país, assim como vivem as

demais nações subdesenvolvidas, e

que só tende a agravar-se se nada

for feito com profundidade para

combatê-lo. A fome crônica, provo-

cada por uma série interminável de

fatos. E que num país como o

nosso, o grande latifúndio improdu-

tivo serve para dar-lhe uma dimen-

são ainda maior.

Fica evidenciado que sem uma

firme determinação de se alterar o

quadro de relações injustas no

nosso mundo rural, as intenções de

modernização da nossa agricultura

não passarão jamais de simples

intenções . . .

De concreto, nada resultará. Ou

melhor, resultará para os milhões de

Antonios Bispos anônimos desse

país a necessidade, para sobrevi-

verem nesse ano de 72, de trabalhar

mais do que o dobro de 1965.

¦

e

¦

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POLITIKA

12baciadas almas

Uilherliana

Gilberto Freyre declarou que nâo participará de nenhuma comissão

da Arena para elaborar o programa do partido, porque não deseja ser, no

fim da vida (que desejamos longa), o que nunca foi: um homem de

partidos. E fez o elogio da disponibilidade intelectual.

Os amigos de Gilberto, entretanto,

acham que a razão é outra. Gilberto entende que os nossos políticos

precisam é do Mobral e não de um cientista social.

Sá eles

om nós

om %M*ral x^1 Vira

Lanusse esteve entre nós,

por três dias. Veio tentar

uma melhoria nas relações

brasi lei ro-argenti nas. Antes

dele chegaram seus assesso-res econômicos para conver-

sar com Delfim Neto e seus

assessores. Os -argentinos

querem mais vantagens, não

se contentaram com o mi-

Jhão de toneladas de trigo

que compramos a 17 dóia-

res a tonelada, quando era

oferecido no mercado inter-

nacional a 14. As promessas

que eles fizeram de levantar

os embargos alfandegários à

importação de aço brasilei-

ro, principalmente tubos de

aço sem costura, não foram

cumpridas. A sobretaxa

continua a vigorar. Os ar-

gentinos, querem agora quenós levantemos nossa sobre-

taxa às suas maçãs. Ano pas-sado importamos 25 mi-

Ihões de dólares de maçãs.

Não se sabe se conseguiram,

mas a verdade é que estão

tentando.

Este comércio Brasil-

Argentina faz lembrar aque-

le coronel do interior que

gritou num comício "só

eles

em nós. E nós não vamos

neles? "

A grande

imprensa

A visita de Nixon à China deu mar-

gem a que nossa imprensa mostrasse

do quanto é capaz. Jornais do Rio e

de SSo Paulo (com exceção do Esta-

dio) Jisseram as maiores sandices, al-

guns, inclusive, censurando aberta-

mente o tresloucado gesto do presi»

dente americano. "Mundo censura

Nixon", disse uma manchete de "O

Globo", baseada em telegrama de

Formosa. Isto nos faz lembrar man-

chete de "A voz de Guaratinguetá"

noticiando acidente de uma nave es-

pae ial russa, não tripulada: "Engenho

soviético espatijp-se contra solo lu-

nar. Ainda bem.

Definirão

No Clube dos Reporte-res Políticos, procurava-seuma definição para os

membros da ARENA. Um

jornalista, decano da crôni-ca política, entendido das

coisas de Deus e dos ho-

mens, encerrou a conversa:- "O

arenista é aquele

que teve a nobre coragemde se submeter às hierar-

quias, alienando pecamino-sas convicções pessoais".

O luso e a

III («XILAP

Antônio Inácio, português

bem sucedido no ramo dos secos

e molhados, possuindo uma ca-

deia de supermercados na Gua-

nabara, compareceu semana pas-

sada à reunião da Federação do

Comércio Varejista, para ouvir as

explicações do presidente Mo-

zart Amaral sobre a participação

da entidade na III Conferência

Nacional das Classes Produtoras- CONCLAP.

Mozart falou, falou explican-

do que não poderia dar os 30 mil

cruzeiros pedidos para o conda-

ve. Apenas seriam dados 5 mil.- Mas que pô de CONCLAP é

esta? O governo só inventa epi-

sas para f. . . a gente. É

CONCLAP, COFAP, SUNAB.

Eü não dou nada para a criação

dessa pô que só serve para atra-

palhar.Mozart Amaral teve que ex-

plicar tudo novamente.

1'elrobrás

Para os que se surpreen-

dem com a vertiginosa as-

cenção da Petrobrás, que-remos apenas lembrar o

que Inácio Rangel dizia, al-

guns anos atrás: "Vocês

precisam saber que a Pe-

trobrás não é uma empresa

de economia mista, mas

uma empresa de economia

mística". Não deu outra

coisa.

Ileaeionários

se enennlram

A Mediei o

que é dele

Nelson Rodrigues desço-

briu Oliveira Bastos jantan-do no restaurante

"O bigo-

de dç meu tio", que leva a

assinatura de seu filho Jo-

fre Rodrigues/ Ergueu os

braços, efusivo:—"Eu

pensei que você fosse de

família" e abraçaram-se.

Bastos aproveitou a dica:"Escuta,

Nelson, eu querouma entrevista tua expli-

cando por que tu és reacio-

há rio". Sem pestanejar,Nelson Rodrigues respon-

deu: "Pra

você eu dou a

entrevista; mas só pra vo-

cê, porque eu sei que você

também é reacionário".

Os dois "reacionários"

estão preparando o texto.

Aguardemos.

O pastor

generoso

0 cardeal Eugênio Sales, ilus-

tre e abençoado coleguinha se-

manai, em seu artigo no "Jornal

do Brasil", escreveu:— Quando vejo,, em certos lo-

cais e até em calçadas da cidade,

a noite se iluminar com velas,

penso na fome de tantos que se-

riam atendidos se, em vez de

queimar a oferenda com tanta

profusão, fosse seu valor encami-

nhado ao atendimento de nossos

irmãos".

Nós também, generoso pastor.Quando vemos, ali na Avenida

Chile, a catedral bilionária levan-

tar-se faraônica sobre a fome dos

que passam para o trabalho onde

vão disputar o minguado salário

mínimo pensamos em quantasfamílias não seriam desagregadas

e degradadas pela miséria se, em

vez de mais uma basílica para ali-

mentar a vaidade das pompaseclesiásticas, fosse seu valor en-

caminhado ao atendimeto dos ir-

mãos em Cristo de todos nós: do

cardeal e dos redatores de POLI-

TIKA.

Quando POLITIKA apareceu,

o jornal francês "Combat",

que

já foi de combate mesmo, regis-

trou o fato como um sintoma de

abertura do regime brasileiro.

Nós estávamos tão ocupados em

lançar o jornal que nem observa-

mos o fato.

Com cinco meses nas bancas,

somos entretanto obrigados a re-

conhecer que já houve momen-

tos, depois de 1964, em que a

edição deste jornal teria sido, se-

não impossível, extremamente

difícil. Com esta confissão que-remos fazer justiça ao presidenteMediei. O Brasil de hoje melho-

rou muito de clima. E Mediei

tem sido, em cada mudança para

melhor, a fonte primeira de ins-

Má notíeia

dá euforia

Não aceitar essa evidência é

Uma burrice que só pode atrapa-

lhar o processo. E não procla-má-la é dar provas de sectarismo

ou miopia.

Informações

memórias "Do

sindicato.-presidente Cofé Ff-me ero imprescindi-

Em suooo Catete1; o ex-àlho conto comovel o leitura diária dos jornais. Evitoumuitas loucura, apenas brando emconta o que os jornais lhe diziam."Ocorreu-me,

de uma feita, estranhar

que o Ministro da Fazenda, Prof. Eu-gênio Gudin, apusesse a sua concor-dáncia a um pedido de reintegraçãode dois fiscais do Imposto de Consu-mo, demitidos a bem do serviço pú-blico como petjmimitVH**. Haviam"achacado"

a praça do Recife, semreservas e sem temor das provas daconcussão revoltante. Gudin, homemíntegro, vexou-se com a revelação

que lhe fiz. E agradeceu-me a adver-tencia, pois na verdade fora ele envol-vido pelas informações favoráveis doprocesso em causa, e, assim, atraídopara uma decisão que os critérios dasua formação moral repudiavam. -"Presidente,

i inacreditável: todas asinformações eram favoráveis — una-nimente favoráveis*. - à pretensãodesses dois canalhas..."

O episódio revela duas coisas. A li-berdade de imprensa é um bem poli-tico, insubstituível. Terá sido esta aúnica vez em que o professorGudin -

que é uma pessoa honra-da - baseado em laudos técnicos, co-locou-se contra o interesse público?Terá recuado a tempo, nas outras ve-zes?

Uma agência de notícias na-

cional, não muito acreditada nos

meios jornalísticos, distribuiu

noticiário, piocedante de Brasi-

lia, dando conte de que o PDR

estava fadado ao insucesso. Um

procer do partido em organiza-

ção, ao ler o

de que o partido sairá". Ao ser

do porquê dessa sua

esta agência afirma

é porquevte o contrário'

ao

tango

Um dos dogmas da nova

teoria política difundidano país diz que a democra-

cia é função do desenvolvi-mento econômico. Embo-

ra haja quem pregue (nodeserto) que um dos pon-tos de estrangulamento donosso desenvolvimento po-dera ter origem justamentena falta de institucionaliza-

ção política, o certo é queas aberturas continuamfechadas aguardando me-lhores índices econômicos.

Digamos que, daqui há

dez anos, a nossa renda percapita seja de 900 dólares;

que tenhamos um telefone

para cada grupo de 15 pes-soas (e não de 65 pessoascomo agora); um quilôme-tro de estrada de ferro

para cada 66 quilômetros

quadrados do território na-

cional; menos de 15% de

analfabetos (em vtn dos

39% de agora); e um alto

padrão de vida do povo.Digamos que, daqui há 10

anos, estejamos exibindo

esses números. Estaremos

em plena democracia?

Os dados que citamossão da Argentina. Pela teo-ria exposta, ainda vamoslevar 10 anos para chegar à"democr.acia"

argentina.Já se vê que essa teoria de-ve mudar de rumo, imedia-t a me nte. Para evitar obeco. E o tango político.

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POLI TI K A

IMIIJTIKA nota dez

Carmen Rodrigues Caó nunca tinha ligado para o POLITIKA. O pai, nosso compa-nheiro fcpitácio Caó, é quem lê, recorta e guarda. Mas logo que as auias reiniciaram, a

professora de português, no Colégio estadual, pediu um trabalho de casa versandosobre a visita de Nixon è China. Carmen pediu ajuda ao pai e o pai limitou-se aaconselhar que ela lesse os três últimos números de POLITIKA. Resultado: três diasdepois o trabalho de Carmen recebia nota 10 e era escolhido para leitura em voz alta,na classe.

Agora, a Carmen é leitora cativa do POLITIKA. Não aumentamos a nossa tiragem,mas diminuímos consideravelmente a média de idade de nossos leitores.

bacia

das almas

Editorial-I

"O Brasil não aceita

nem o imperialismo econô-

mico dos Estados Unidos,

nem a ditadura ideológica

do comunismo; mas pro-

cura um modelo democrá-

tico brasileiro, uma demo-

cracia suada, construída

com o nosso próprio esfor-

ço

(General Ariel Pacca,

comandante da IV Região

Militar).

Delfins

à mesa

Contam as colunas sociais que"em

seu bonito apartamento da

Av. Atlântica, o sr. e a sra. José

Pedroso receberam para um jan-

tar balck-tie, com as jnesas ten-

do como centro orquídeas bran-

cas e delfins azuis".

0 empresariado brasileiro está

ficando mesmo refinado. Já quenão pode sentar-se à mesa do mi-

nistro Delfim Neto para jantarinteresses, contenta-se

jantandoem mesas decoradas com delfins.

Moral da história: quem não

tem ministro, caça com flores.

Jornal

da família

Exatamente às 15,30 de

segunda-feira passada, o sr.

Raimundo de Azeredo

Santos, pai do Teófilo de

Azeredo Santos, passava

tranqüilamente na Avenida

Rio Branco lendo POLI TI-

KA. Fernando Aguinaga

comentou: — "ê

o jornal

da família".

Editorial-2

Nossa democracia há

de ser responsável, com li-

perdade, integração e par-

Jtcipação de todos os brasi-

•eiros. 0 País não aceita a

reeleição do presidente da

Hepública, dos

governado-res

ou dos prefeitos, por-

9ue isso, sem uma estrutu-

? democrática

consolida-aa' significa

ditadura".

(General Ariel Pacca, co-

mandante da IV Região

Os consumidos

Estão pichando o show de

Caetano e Gil, no Municipal di-

zendo que os preços dos ingres-

sos foram muito altos. Não vejo

razão para a queimação, mesmo

porque a lotação foi esgotada al-

guns dias antes do espetáculo.

Depois, o negócio é o seguinte:

nenhum dos dois jamais foi enga-

jado, muito menos pretendeu

ser; ambos são integrantes efeti-

vos da sociedade de consumo,

sendo consumidos por ela, o que

lhes trás um grande lucro, em

termos capitalistas; qualquer

objeto — figurativamente, ami-

gos, figurativamente! - nesta so-

ciedade tem seu preço, que varia,

proporcionalmente, em razão da

procura.

Ora, tal engajamento, que

pretenderam criar, existiu, ape-

nas, até certo período, do que se

utilizou a máquina para transfor-

mar a imagem de contestadores

numa imagem de participantes, o

que jamais ocorreu, em verdade.

Logo, Caetano e Gil estão cer-

tíssimos em cobrar ingressos,

considerados caros, mesmo por-

que eles não pretenderam fazer

um concerto popular, embora o

denominassem assim, pois se tal

quisessem, teriam procurado o

Maracanãzinho ou uma praça pú-

blica e nunca o Teatro Munici-

pai.

O que é óbvio.

Mosca branca

"O governador

Ernani Sátiro,

da Paraíba, vai doar um busto de

Camões para o Jardim dos Poe-

tas da Academia Brasileira de Le-

tras".

A notícia dos jornais diz ape-

nas isto. Falta esclarecer se Ca-

mões é paraibano ou se a Paraíba

está tão rica que pode dar-se ao

luxo de andar busteando jardins

acadêmicos.

O rosto, está na cara: nos jar-

dins do tesouro paraibano já bro-

tou a candidatura do romancista

Ernani Sátiro à Academia Ah,

esta nossa cultura chapa branca!

Cristo

espetacular

'—

| |

i

O drama da paixão de

Cristo, encenado no inte-

rior de Pernambuco (Fa-

zenda Nova), está se atas-

tando cada vez mais da

paixão e se aproximando,

como diria o falecido Sér-

gio Porto, do perigoso ter-

reno da galhofa. Como

atores convidados, partici-

parão do espetáculo, este

ano, Denner, Carlos Impe-

rial, Toni Tornado, Aríete

Salles, Erasmo Carlos, etc.,

etc. Com este acompanha-

mento, Cristo teria morri-

do de rir, antes de chegar à

cruz. No rumo em que vai,

ninguém se espantará se o

"drama da paixão", de

Pernambuco, incluir, nos

próximos espetáculos, qua-

dros com o desfile de fan-

tasias do Municipal e a ba-

teria da Mocidade Inde-

pendente. Isto, se não con-

vocarem, antes, a Banda de

Ipanema.

A diferença

O senador José Sarney levantou

uma tese interessante. A de que ne-

nhum país permite que o seu redime

político seja contestado. A tese e ver-

dadeira. Só um regime suicida permi-

tiria que forças políticas internas pie-

gassem, abertamente, a sua

queda.

Em se tratando de regimes políticos,

ao lado de cá ou de lá da cortina,

toda contestação será sempre subver-

siva. Concordamos.

O problema que se coloca, para

nós, não é este. Toda atividade sub-

versiva deve ser reprimida. Acontece

Jue

alguns países não consideram o

ebate de idéias e de opções políticas

um crime de subversão. A diferença

entre uma democracia e uma ditadura

não é tão sutil quanto se pensa, lima

democracia não pode permitir que

seu regime seja contestado. Mas uma

didatura não permite sequer que as

posições conquistadas dentro do regi-

mé sejam discutidas, t por isso que as

ditaduras se transformam, mais cedo

ou mais tarde, no paraíso das oligai-

quias.

Bradeseo

violento

O Sindicato dos Bancários da

Guanabara não brinca em servi-

ço. Edita um jornalzinho

"Ban-

cário" que fala grosso, em defesa

da classe. E como é bem escrito!

Do último número, comentando

estranho episódio ocorrido no

Bradeseo, diz o "Bancário":

"Não paira a menor dúvida de'

que hoje os Argos estão em pie-

na decadência: a inteligência que

elucida fez forfait, e a verdade

dos fatos é apurada na base do

safanão e do confessa! Isto vem

a propósito de um companheiro

deste Banco (Bradeseo), que se-

guiu algemado da filial da Pri-

meiro de Março até a agência

Vise. de Inhaúma, por mera sus-

peita de ter participado de um

desfalque de Cr$ 500.000,00,

ocorrido naquela filial. Protes-

tamos contra esta violação dos

direitos humanos, inconcebível

num país que se diz em pleno

desenvolvimento, mas que nesses

momentos bem pode ser compa-

rado a uma senzala. O compa-

nheiro que sofreu o vexame já

está trabalhando, tão sem funda-

mento foi a suspeita com que o

olharam. Todavia, banqueiros

transgridem no duro decisões na

Justiça sem serem incomodados.

Nunca levaram porrada, como

diria Fernando Pessoa".

Coineideneia

Em Mariana, Minas, os

comerciantes criaram "O

Dia dos Devedores": 1o.

de abril.

Mas logo primeiro de

Abril?

Um gênio

Esse Delfim é um gênio. Du-

rante a sua viagem, que abran-

geu inúmeros países, toda vez

que ele se encontrava com um

funcionário do Itamarati per-

guntava sobre o custo de vida,

no local. E ouvia, comoespe-

rava, terríveis lamentações. É

que a queda do dólar (diplo-

mata, é claro, recebe em dóla-

res) afetou profundamente o

orçamento do pessoal da"carrière".

Em Tóquio, por

exemplo, um primeiro secre-

tário está tendo dificuldades

para pagar um apartamento

de sala, dois quartos. Pois a

todos, o Delfim prometia que

tão logo chegasse ao Brasil

iria estudar o problema e re-

colocar a renda do pessoal no

mesmo nível em que estava

antes da queda do dólar. Uma

espécie de Piano Marshall pa-

ra o Itamarati . A notícia já se

espalhou por todos os conti-

nentes, mercê das facilidades

diplomáticas de comunicação.

Mas, ao que se diz, não che-

gou ainda aos ouvidos do mi-

nistro Mário Gibson.

Excesso e

escassez

O doutor Eugene Scheimann,

especialista em sexologia, disse à

revista "Fórum"

(Estados Uni-

dos) que "o

melhor tratamento

contra os ataques cardiácos e

contra a tensão nervosa é o ato

sexual". E mais:

a) "Muitos dos ataques car-

diácos que milhões de homens

sofreram nestes últimos anos te-

riam podido ser evitados por um

procedimento tão barato quanto

agradável: mais sexo".

b) "0 coito ativa o funciona-

mento da glândula tiróide, con-

some colestérol e calorias, asse-

gura a disponibilidade de cada

músculo e fortalece o coração ao

fazê-lo bombear maior quantida-

de de sangue durante um curto

período e assegurando-lhe depois

o devido repouso. Uma noite de

grande atividade sexual é o me-

lhor tranqüilizante".

E a gente ficava pensando que

os políticos brasileiros morriam

do coração por excesso de traba-

lho, quando é exatamente por

falta.

Boletim

Gaspar Regueira Costa,

secretário de finanças da

Prefeitura do Recife, já

não engana ninguém a res-

peito da situação do erário

municipal. Quando a recei-

ta melhora, ele fica horas

mordendo o dedo polegar.

Quando o dinheiro é ne-

nhum e os fornecedores

apertam, ele morde furio-

samente a caixa de fósfo-

ros. Diz um cronista social

do "Diário

de Pernam-

buco" que o prefeito Au-

gusto Lucena, toda as ma-

nhãs, telefona para seu se-

cretário e pergunta:

"Co-

mo é, você hoje está mor-

dendo o dedo ou a caixa

de fósforo"? Se o secretá-

rio de finanças morde o

dedo, o prefeito sai de ter-

no claro e circula a pé pelo

centro da cidade; se o se-

cretário morde a caixa de

fósforo, o prefeito veste

um terno escuro, e se es-

conde no seu gabinete.

Eis uma dupla sutil co-

mo uma Fenemê.

¦¦

Page 14: No. 22 - Pe 20 a 26 da março de 1972 RIO - CrS 2,00memoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00022.pdf · No. 22 - Pe 20 a 26 da março de 1972 RIO - CrS 2,00 iCv \.^a Zweig, Rw^~~^

I promoção/

O Brasil saiu da posição de

perplexidade e agora comanda

a fixação da imagem que mais

lhe convém, no exterior. Lá.

Imagem quer dizer Cadastro.

Santana

Junior

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A GUERRILHA

BOA IMAGEMDA_á I

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WêflF

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Para um país que se desenvolve,

imagem é cadastro. Por isso as

autoridades financeiras foram

as primeiras a alertar o

governo para o desprestígio

(e o prejuízo) que as notícias

divulgadas no exterior sobre

o nosso regime estavam

acarretando. O governo, como é

sabido, teve uma reação inicial

inadequada: sob o pretexto de

que essas notícias eram

espalhadas por políticos

cassados, interessados em

deformar a imagem do regime,

procurou localizar,

aqui dentro, supostos cúmplices

dessa manobra. Talvez tenha

encontrado.

O certo ô que espalhadas por

inimigos do regime ou não, as

notícias e os comentários da

imprensa européia e americana

estavam prejudicando o país,

mesmo no plano das relações

puramente comerciais. Como o

mais aceso da campanha

coincidiu com a expulsão de

prisioneiros políticos trocados

por diplomatas seqüestrados,

não é de admirar que esses

prisioneiros, chegando ao

exterior, tenham contado coisas

verdadeiras e coisas falsas

a respeito do tratamento

recebido em nossas prisões.

As próprias notícias de

conflitos entre índios e colonos

repercutia, na Europa e nos

Estados Unidos, como um atestado

da "desumanidade do regime".

Aos poucos o governo foi

compreendendo que era preciso

agir com mais inteligência,

cuidando de "exportar" uma

imagem melhor do país e do

regime. Publicações européias e

americanas (sobretudo francesas,

inglesas) começaram a programar"suplementos"

sobre a nossa

realidade econômica e como

eram, evidentemente, pagos por

nós, a dourar essa realidade.

Foi assim que surgiu, lá fora,

o "milagre

brasileiro".

Um outro dado importante dessa

reversão de espectativas foi o

convite formulado (e aceito) a

cientistas sociais e jornalistas

para que viessem

testemunhar o tratamento

dispensado aos índios. Hoje,

ninguém fala mais em massacre

de índios e a simples informação

de que o ator Marion Brando

pretende liderar uma campanha

para impedir que os nossos

silvícolas sejam impiedosamente

assassinados foi recebida, pelo

governo, com um riso irônico.

E praticamente desapareceram as

denúncias de torturas em presos

políticos. A imagem do país,

portanto, melhorou, lá fora.

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Vitorino FreireEdmundo de Macedo Soares, Haroldo Costa, Luiz Fernando Freire e Vilar de Queirós

3^

Page 15: No. 22 - Pe 20 a 26 da março de 1972 RIO - CrS 2,00memoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00022.pdf · No. 22 - Pe 20 a 26 da março de 1972 RIO - CrS 2,00 iCv \.^a Zweig, Rw^~~^

•<

POLITIKA

A GUERRILHA

DA BOA IMAGEM

A Editora Crown está dando de

graça, no exter ior, o retratomais

atualizado das oportunidades

de se ganhar dinheiro, aqui.

15promoção

/

Suplementos especiais custam caro e inserem

desconfiança no interior da mensagem dirigida0 QUE FAZER

A imagem de um país e de um

regime não pode, evidentemente,

ser mantida por suplementos"especiais".

Isto custa muito caro

e, no fim das contas, insere sempre

um elemento de desconfiança no

interior da mensagem programada.A partir de determinado

momento é necessário que a nossa

boa imagem seja projetada apenas

pelo clima de distensão política(que é evidente) e pela

performance de nossa economia.

Mesmo assim, é indispensável queo comportamento da economiachegue ao exterior por canaisadequados, que inspirem confiançae não por editais ou matéria pagaoficial.

Uma editora, no Brasil, pareceter achado o caminho para ajudaro governo a manter em bom nívela imagem do país, lá fora. Trata-seda Crown — EditoresInternacionais. Apesar do nome, éuma firma só de brasileiros,liderada por Haroldo Costa, LuizFernando Freire e HenriqueBrando (com um ConselhoConsultivo composto por VitorinoFreire, Heitor Lopes de Sousa,Herculano Borges da Fonseca eCarlos Alfredo Bemardes)especializada, em vender, noexterior, a boa imagem do Brasil eem atrair, para o nosso país, novosinvestimentos. 0 fato de ser umafirma comercial, com finslucrativos, não a impede derealizar, implicitamente, umtrabalho cujo significadoconsideramos eminentementepolítico. Vejamos como.

**0 PLANO EDITORIAL

A Crown é uma editora docontexto. Ou, se preferirem, umaeditora a serviço do grandecapitalismo, no Brasil. NãoProcurem no seu plano editorialuma obra de cultura humanista,"teraria

por exemplo. Aliás, nãoProcurem os livros da Crown em"vrana nenhuma. Eu mesmo mePergunto se a CROWN edita livros.

^ formato diz que sim. Eles

mesmos dizem que são livros. Osautores dizem que são livros. Mas,

^ra mim a Crown é uma•ransportadora

de mensagens. Ela™w uma linha de montagem demalas diretas. E o novo

capitalismo brasileiro está usandoessas malas diretas.

Como? Vejam como. A Crownapanha uma grande autoridadeintelectual e lhe encomenda umtrabalho de profundidade (umesgotar de assunto) sobredeterminado aspecto da vidaeconômica ou financeira do país.Paga-lhe regiamente. A seguir,

procura os empresáriosinteressados na atividade que otrabalho aborda e lhes oferece umescaninho da mala direta.Ninguém, obviamente, viaja de

graça. Mas, em compensação,ninguém faz essa viageminutilmente. É, na verdade, umaviagem de negócios. O dinheiro

pago pelos empresários é quefinancia o livro (a mala direta) e

garante uma ampla distribuição

gratuita, sobretudo no exterior, deseus exemplares. Para ser maisobjetivo: 10 mil exemplares sãodistribuídos de graça àsembaixadas e consulados, aosescritórios e representações doBrasil, no exterior, aos grandescapitães da indústria estrangeira,

aos organismos internacionais de

crédito, aos escritórios de

planejamento, aos principaistécnicos em investimentos, aos

grandes jornalistas econômicos, e

assim por diante. Os livros,

impressos em off set, contêm de

500 a 800 páginas e são

simplesmente luxuosos. Do

formato à impressão e paginação,esses livros já constituem uma

propaganda do nível a que chegou

a indústria gráfica em nosso

país- Embora não seja disso queos |jVros tratam.

OS LIVROS

O primeiro desses livros, editado

em 1971, foi o de Herculano

Borges da Fonseca: "AS

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

DO BRASIL". Um perfil dos

organismos governamentais ou

particulares que comandam as

finanças no Brasil. Como chegar

até eles, a destinação de cada um,

sua legislação, sua regulamentação,

seu funcionamento. E um amplo

painel histórico das nossas

instituições financeiras. Para dar

maior autenticidade à mensagem,

veio com prefácio de Emane

Galveas, presidente do Banco

Central. O livro, não é preciso

dizer, tornou-se presençaobrigatória em todos os grandesescritórios de negócios do mundo.

Agora, a Crown acaba de lançar,com o mesmo luxo, com a mesmaespetaculosidade (coquetel para500 personalidades, no lateClube), o livro do GeneralEdmundo Macedo Soares:"INSTITUIÇÕES

DE INDÚSTRIAE COMÉRCIO DO BRASIL". Umtrabalho de oito meses de

pesquisas. Uma história e umlevantamento completos não só do

que já temos, em matéria deindústria e comércio, como e

principalmente, do que poderemoster. Um catálago de oportunidades.A visão de uma nova terra da

promissão

' para o capitalismo

internacional. E dando as garantiasdo governo, um prefácio doministro da Indústria e Comércio,Marcos Pratini de Moraes.

O RECADO DE VILAR

No momento a Crown preparaum novo volume. Sobre comércioexterior. A chave do milagrebrasileiro. Em 1964, um grupo detrabalho do Ministério doPlanejamento, chefiado porBenedito Moreira (hoje dirigindo aCacex), apurou que o Brasilcomandava o seu comércioexterior fazendo uso de 200 leisconflitivas sobre a matéria. Trintaórgãos federais carimbavam papéise cobravam emolumentos paraliberar exportações. Na verdade,era proibido exportar. As duzentasleis foram reduzidas a uma só e sóum órgão libera, hoje, asexportações. Com a taxa decâmbio flexível e com asimplificação burocrática, o Brasil

uiuoyuiu UMI CÁ L íaUl ÜII IOI IU

sucesso em matéria deexportações. Mas ainda considera

pouco. Novos mercados e novasmercadorias estão em exame.Novas facilidades. Novas garantias.Quem receber o livro da Crownterá uma visão completa do que é

preciso fazer para exportar e para

importar. E não terá nenhumadúvida sobre o caráter oficial dotexto quando descobrir que o livroterá sido escrito pelo ministroVilar de Queirós e prefaciado peloministro Delfim Neto.

AS LÍNGUAS

Era pensamento da CROWNcontinuar editando os seus livrosem Português e Inglês. Quando o

ministro da Fazenda soube disso,

deu um conselho: "Incluam

também o texto em francês". Seria

uma despesa a mais. Delfim tinha

um objetivo, logo explicado porum de seus assessores:

"É que o

ministro precisa que o livro de

vocês seja lido pelo Mercado

Comum Europeu". É por isso queos livros (as malas diretas) da

Crown são trilingües. Como o

capitalismo internacional.

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POLITIKA

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POLITIKA

Sebastião

Nery

17Erasmo, o pastor, na caçada ao bode preto.

Quando a Câmara Fede-

ral reabriu, em março de

1970, senadores e depu-

tados foram ao Alvorada

para uma visita de cortesia

ao presidente Mediei. Cha-

gas Freitas, então depu-

tado, foi apresentado pela

primeira vez ao Presidente,

que lhe disse:

Deputado, preciso

conversar com o senhor.

Depois o chamarei.

Chagas ficou pálido co-

mo uma vela de óculos.

Puxou pelo braço o depu-

tado Rubem Medina (MDB

da Guanabara) e um depu-

tado da ARENA de São

Paulo, que tinham ouvido

a conversa, e lhes pergun-

tou, todo perturbado:

-Vocês imaginam o queseja?

A sucessão carioca,

evidentemente - disse Me-

dina.

Mas o deputado paulistaresolveu fazer uma brinca-

deira com Chagas:

Não é nada disso e euestou bem informado. Suasituação não está boa. Não

quer dizer que você vai sercassado. A ARENA do Rio

já foi avisada de que em hi-

pótese alguma o governa-dor será você. Problemasde organização do direto-rio, excessivo controle do

partido. O presidente não

quer uma solução tipo PSP

para a Guanabara.

Chagas saiu do Alvoradaem pânico. No dia seguin-te, voltou para o Rio echamou seu staff para umareunião em casa: ErasmoMartins Pedro, WaldomiroTeixeira, Rossini Lopes,presidente da Assembléiada Guanabara, e outros.Contou a história e suspi-rou, olhando para o teto,Por cima do aro dos ócu-los:

-Preciso tomar provi-

oência urgente. Já tinhamme avisado que, se eu não

GUANABARA¦«¦** a^->^. - ¦/^^NJMkpjfe*.

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Chagas, da magia negra ao Palácio Guanabara.

fizer trabalhos seguros, o

azar superará as possibili-dades. Só uma força supe-

rior para enfrentar os "ser-

viços" que estão fazendo

contra mim.

Erasmo, evangélico, sor-riu mole e não disse nada.

Rossini resolveu o pro-blema:

Sou "cambono"

(acólito, coroinha, ajudan-

te de sessões de Umbanda)

de "Seu

7 da Lira". Dona

Cacilda sabe de tudo e tem

força para desmanchar

qualquer situação ruim.

Saíram, Chagas entrou

no Gálaxie no. 2 da As-

sembléia Legislativa (chapa

oficial azul e branco, do

presidente Rossini) e toca-

ram para o terreiro de"Seu

7", em Santíssimo. A

cuiuiüvd tinha.oito carros,

os demais particulares.

Chegaram exatamente à

meia noite e trinta, no

meio da sessão. Chagas fi-

cou no carro, Rossini en-

trou sozinho, falou com

Dona Cacilda. Ela inter-

rompeu a sessão, recebeu

Chagas reservadamente,

para ele não ser visto pela

gente toda que estava lá."Seu

7" fez uma cara de

horror:»

A situação é negra.

Há muita gente convocan-

do espíritos maus contra o

senhor. Preciso fazer, e fa-

zer logo, um trabalho pesa-do com 3 bodes pretos.Cabra nem carneiro não

servem. Só bode.

Onde encontrar, naque-

Ia hora, 3 bodes pretos?

Os 9 carros saíram em di-

reção a Campo Grande. Pa-

raram à beira da estrada,

cabra tinha muita, mas bo-

de nenhum. Chagas ficou

com Erasmo dentro do Ga-

laxie oficial e Rossini saiu

comandando o pelotão dos

caçadores de bode preto,todos agachados dentro do

mato. De repente, dentro

da noite, vinda lá do mata-

gal, ouviu-se a voz de co-

mando de Rossini, gritan-do como um possesso:

- Vamos berrar que eles

aparecem! Todo mundo

berrando!

E começaram

berrar:

todos a

— B é é é é, Bé é é é, bé

ééé.

Pelo berro ou pela sorte,

às 4 da manhã três bodes

pretos tinham sido captu-

rados entre Santíssimo e

Campo Grande. Chagas,

aflito, suava como um cão

de caça. E Erasmo, todo

encabulado, pensava certa-

mente na palavra de Deus,

sagrada na Bíblia, quedes-

de o Antigo Testamento

proibiu adorar bodes e be-

zerros, mesmo quando de

ouro.

Voltaram. "Seu

7"

abriu os três bodes a facão,

pegou as vísceras e passou,

ensagüentadas, no corpo

inteiro de Chagas, da cabe-

ça aos pés. A roupa branca

de Chagas parecia véu de

verônica. Foi um banho de

sangue.

Um ano depois, Chagas

tomava posse no governo

da Guanabara. Nunca mais

sobrou um bode entre San-

tíssimo e Campo Grande.

O embaixador Vianna

Moog, fiecionista de mão

cheia, conversava há pouco

com Negrão de Lima:

Governador, o senhor

precisa ficar atento. Em 73

vamos ter eleições presi-

denciais e pode convir ao

País a solução civil. Não

esqueça que o senhor tem

uma estrela de primeira

grandeza.

Eu sei, embaixador,

que tenho tido uma grandeestrela. Só que a minha é

uma só e preciso quatro.

O presidente Castelo

Branco ia passando, de ma-

nhã bem cedo, pelo Túnel

Novo, com Luís Viana Fi-

Iho. De repente, um cami-

folklore

polítiko

nhão que vinha em frente

se desgoverna, passa para o

outro lado da pista, amea-

ça o carro do Presidente e

se arrebenta na parede do

túnel.

O susto foi terrível. Cas-telo, depois de elogiar a

perícia de seu motorista,

que os havia salvo com es-

petacular golpe de direção,

perguntou a Luís Viana:

Em que o senhor pen-

sou?No Alkmim.

Que não poderia assu-

mir. Fechou a cara e cor-

tou o papo.

O vereador índio do

Brasil era um desastrado

verbal. Quis que a antiga

Prefeitura do Distrito Fe-

deral comprasse um casal

de gôndolas para encher a

Lagoa Rodrigo de Freitas

de dezenas de gondolinhas.

Mas isso não foi nada.

Estava inflamado na tribu-

na, quando alguém o des-

mentiu. Ficou indignado:

Se não estou falando

a verdade, quero que a

cópula desta casa caia so-

bre a minha cabeça.

E no Dia da Enfermeira,

com as galerias superlota-

das de cândidas meninas

de avental branco:

As enfermeiras, essas

espetaculares abnegadas,

que fazem maravilhas em-

baixo dos lençóis...

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Seu 7 da Lira, o fazedor de governadores místicos.

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POLITIKA

18religião

v«_

Não se nega a necessidade de

o homem viver ritos e sinais

para a realidade inatingível.

Mas, quando o sinal nada é a

não ser sinal, fica alienante.

PauloMartinechenNeto

I RUMOS

*¦•

1111 IÉMéL^: '

tJSfàDA

WmNO

IGREJA

BRASIL•-..Vv';"..

Evidentemente, movimentos como

os Cursilhos, inovações

litúrgicas, adaptações externas

ao mundo moderno (principalmente

a figura externa do padre

com batina identificado na

mentalidade popular com a

Igreja), grupos de jovens e

decadência das antigas

associações e irmandades

religiosas são elementos

bastante secundários na

renovação da Igreja.

A insistência destes movimentos

como dados de uma Igreja Nova

está a demonstrar a distância

muito grande de uma verdadeira

encarnação no mundo e

superficial idade de reflexão

sobre a verdadeira missão que

lhe cabe no momento brasileiro.

O fato de padres e militantes

leigos entusiasmarem-se com

meios e métodos de mentalização

e prenderem-se a movimentos

estáticos, fechados em si, diz

bem alto ser pequena a reflexão

sobre a realidade e

fundamentação teológica

de sua ação.

Uma radiografia rápida da ação

da Igreja em alguns setores

dentro de grande euforia,

em outros sob grande angústia,

dará uma visão da importância

que teria a Igreja ao presente

brasileiro e mostrará

descaminhos empreendidos com

heroísmo e sinceridade. Talvez

novas perspectivas possam surgir.

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1

POLITIKA

RUMOS

VA IGREJA

NO BRASIL

A defasagem que existe entrea reflexão teológica e a ação

pastoral demonstra que poucassão as possibilidades de umaigreja atuante e orientadora.

19religião

Não existe abertura para o mundo: o homem é

pisado e nõo possui condições de vida dignaUM RETRATO

Tome-se uma paróquia importan-

te e renovada do Grande Rio. Po-

dia-se analisar qualquer uma de

qualquer parte do Brasil e as con-

clusões não divergiriam, a não ser

em número.Cinco

ou seis padres jovens, en-

tusiastas, trabalhando 15 horas por

dia;Dezenas

de militantes leigos in-

sendos ativamente na ação eclesial;Igreja moderna, funcional, com

sistema de som perfeito, reunindo

semanalmente milhares de fiéis.

Onde são absorvidas essas forças

e horas de trabalho? Que objetivos

possuem?*Ação

ritual:missas

batismos

casamentos

confissões*Ação

evangelizadora:cursos de batismocursos de noivos

-cursilhos

grupos de jovense outros encontros e cursos

*Ação social:

ambulatórios

distribuição de alimentos.

Analisando esses dados, sentimosestar tudo centralizado na execuçãode ritos, pois os cursos realizadosvisam levar as pessoas a vivenciaremos ritos. Deseja-se levar todos paradentro do edifício-igreja para amissa, para a comunhão, para umaliturgia bonita com cânticos e parti-cipação de todos nesta festa sacrade cunho mágico. Junto com o ritoinsiste-se numa vivência pessoal boadentro de uma moral estática, per-sonalista.

Não existe abertura para o mun-^o, para a piobiemática aiuai em

que o homem, mesmo o que estáali rezando, é pisado e não possuicondições de vida em toda sua dig-nidade. Quanto muito abre-se paraum assistencialismo supletório einsignificante.

Ninguém nega a necessidade de onomem viver ritos e sinais para umarealidade inatingível, sensivelmen-

Je. Porém,

quando o sinal é realiza-ao pelo sinal, torna-se alienante.

A INSERÇÃO NO MUN-ONDE

DO?

Texto conciliar (Gaudim etSpes, no. 30):

"A transforma-

ção profunda e rápida das coi-

sas pede com mais urgência

que ninguém, desatento ao

curso dos acontecimentos ou

entorpecido pela inércia, se

contente com uma ética pura-mente individualista. Cum-

prem-se cada vez melhor os de-

veres de justiça e caridade, se

cada um, contribuindo para o

bem comum segundo suas ca-

pae idades e as necessidades

dos outros promover e ajudar

também as instituições públi-cas e particulares que estão a

serviço de um aprimoramento

das condições de vida dos ho-

mens. Alguns há que, procla-mando opiniões largas e «gene-

rosas, na prática vivem sempre

sem cuidado algum com as ne-

cessidades da sociedade."

Diante deste texto, outros e re-

flexões teológicas de Metz,

Moltmann sobre uma teologia poli-tica e diante de uma pastoral exces-

sivamente ritualista que anotamos

acima, nos perguntamos:*Onde

a preocupação real e con-

creta da Igreja pelos problemas de

justiça social, exigência de um cris-

tianismo autêntico?Onde

a ação da igreja frente a

uma distribuição de renda per capi-

ta com extremos impressionante-

mente distantes?*Onde

sentimos não um assisten-

ciai ismo exterior e superficial, mas

na verdadeira promoção humana?Onde

uma igreja inserida no

mundo com a autenticidade da

mensagem de Cristo?

Por outro lado, um grupo bem

pequeno vivendo angustiado, sem

possuir soluções a propor, e angus-

tiado por sentir ser pequeno o nú-

mero a procurar por elas e perden-

do se em questiúncu!3s superficiais.

São alguns centros de catequese, ai-

gum bispo, padre, leigos.

Todos viram o documento do

bispo de São Félix, Mato Grosso,

Dom Pedro Casaldáliga:

UMA IGREJA DA AMAZÔNIA

EM CONFLITO COM O LATIFÚN-

DIO E A MARGINALIZAÇÃO SO-

CIAL! . m

Quem se interessou por ele.

Quem o assumiu?

Comprovando esse retrato que

apresentamos está o relatório da

Rand Corporation para o Departa-

mento de Estado norte-americano

(JB 4/3/72, pág. 9) que diz:

/ '_ ___B___flB_K-• w4| fllj.

_____ ^S^abU HPV^* * ''

"V*: "^ ____________fl

___________] _w_i -t-^A

Tristão de Atayde.

É a horaila revisão

na Igreja"A

maioria dos dirigentes ca-

tólicos considera cada vez mais

fatual que o papel básico da

Igreja é tentar orientar os valo-

res da nova sociedade, ao invés

de dirigir o proressn de mu-

dança social e política.,..

Dentro desse contexto, deve-se

dar ênfase à atividade pastoral.

A ação da Igreja se concentra-

rá na criação de consciência

social, política e econômica,

compatível com a doutrina

cristã. 0 simples fato de que a

Igreja é uma instituição reli-

giosa debilita o potencial de

efetividade política dos religio-

sos radicais. Debates sobre a

organização interna da Igreja e

os problemas da liturgia absor-

vem energias que poderiam ser

dedicadas à ação política dire-

ta. O debate interno também

debilita a já incerta unidade de

organização. As relações com

o Estado, particularmente

quando estão envolvidos as-

pectos de financiamentos e

apoio estatal para instituições

eclesiásticas, constituem uma

limitação prática da autono-

mia dos dirigentes eclesiásti-

cos. Essa limitação é mais

importante que a tradição do

patronato e mais complicada

de que se pode mencionar na

maioria dos conceitos de sepa-

ração Igreja-Estado. Econô- ****.

mica e culturalmente e, por-

tanto, politicamente, os inte-

resses da Igreja e do Estado

são intrinsecamente relaciona-

dos, embora possam separar-se

situações específicas . . .

PERSPECTIVAS

Há alguns anos Tristão de Atay-

de, no Jornal do Brasil, dizia que

três obras eram fundamentais para a

Igreja no Brasil:

O Desafio da Secularização, de

Michel Schooyans;

O Cristo do Povo, de Márcio Mo-

reira Alves;

Memento dos Vivos, de Cândido

Mendes.

Na verdade, a reflexão feita nes-

tas obras, a análise e ações propôs-tas precisam ser revistas para a hora

atual; no entanto, possuem uma li-

nha de abertura que serviria muito

bem para uma análise e mesmo exa-

me de consciência.

Além dessas obras muito mais

fundamentais são as reflexões teoló-

gicas vindas do exterior e as criadas

aqui dentro do país por teólogos

novos e de visão ampla.

Porém a defasagem existente

entre a reflexão teológica e a ação

pastoral, essa última constituindo a

imagem da Igreja perante o mundo,

demonstra pequenas possibilidades

de uma Igreja atuante e inserida no

mundo. Por isso a insistência na

crítica ao Cursilho, a inovações li-

túrgicas de ordem superficial, a gru-

pos de jovens. São movimentos que

a fecham em si mesma dando-lhe

características de ghetto. ^E nunca foi, nunca poderá ser

essa a missão da Igreja.

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¦ Zweig ficou quase

sufocado I

pelo cheiro e

pela cor das

frutas tropicais, no mercado iu|urilo

eu vi d°

Recife, onde confessou o

Marroqu|m

^ temor pelo futuro do mundo.

*>»

| peregrinapao por

I igrejas, do portico e

I antigo e

I tem

I dado tantas aos

I pintores

I a caminhada no Mercado, onde o

I escritor se considerou quase

;' >, mmm I sufocado pelo cheiro e pela cor

I des frutas tropicais.

' :' :flHi

I ^we'9 deu-me uma esplendida

'

¦^fc-W'^^E I

entrevista sobre o Recife e a

marcha dos negbcios politicos

I mundiais. ("Temo por tudo o que

I estd para vir" —

observou-me a

I respeito da Europa) e prometeu

I vo'tar 80 Brasil, com

' '^A I

vagar.

real mente, e para sempre.

'**%£*+„. J&

I Esta reportagem, com as suas cartas,

^ recordar

I da associacao do

I brasileira, urn

^

^^^^1

6poca europftia que

¦¦lHHBS^MHHHHHHHHHHIHHHIIIHHHHHHIHIHIHHB[[HMiMP'$Mp| desaparecendo. Visa, ainda, a mostrar

Stefan Zweig e a mulher mortos na cama.l que o seu livro encantador sobre o

I Brasil —

encantador pela simpatia

I que ele derramou em todas as

I pftginas, encantador pela honestidade

B i^Hl COm que 0 ^®Z' enCantador aP®sar

H ^k B H I da tantos

flBJH B| V H I naquela explosao de

^1 MMbvI K Wl I amor apenaserros cronologicossem

H K Hflm Jp ^HV

I importfincia - visa a demonstrar,

I enfim, que Zweig nao procurara

I lucro f£cil com o seu "Brasil,

m mm I pais do futuro". Mas pos nele

I precisamente aquilo que externava em

mm m I cartas intimas sobre o mundo

SIVI ^k m^m I que o distraiu alguns meses de suas

K mam I inauietacoes mdrbidas, mas aue nao

™ ~

I pode salv£-lo da trag6dia final.

I Sou be que, em Londres, viviam

JB J|B m^pT I

parentes de Stefen Zweig e, de fato,

^pH I em uma rua

AH aUp' - Uj^m #¦ I de Hampstead, descobri o dr.Manfred

I Altemann, cunhado do escritor. Em

V I m 4f^B ¦ ^ni^H I seu poder e no de sua esposa

I encontrej as cartas fntimas que

I ambos cederam com primazia de

I publicapao, para todo mundo.

I Esses cartas a outras referentes a

# . - ... I assuntos generalizados, datadas de

"Assim,

julgo melhor terminar fntimos e fncinantes, para pela primeira vez, e veio a se I

y^jas partes do mundo, comporao

tempo uma vida que dediquei explicer os 6ltimos anos de sue torner depots um apaixonado dela,

futuramente um volume especial da

exdusivamenH ao trabalho vida e tamMm os motivos que o das coisas e dos homens, com um corresponddncia do escritor. 0 dr.

espiritual, comtderando empurraram inapelavelmente para a amor tao especial e tao doce Altemann 6 irmao da segunda

liberdade Humana e a minha pr6pria morte. Recordo-me com muita e romantico que era quase esposa de Zweig, que o acompanhou

como o maipr bem da terra. Deixo um exetideo de Zweig. Iniciava infantil. 0 escritor judeu na sua trag6dia de Petr6polis.

adeus afetuoso a todos os meus jomalismo no Recife, com seguia para aquele rumoroso Estas cartas de Zweig no seu

amigosT^r funpaodeentrevistar todas Congrassodos PenClubede ^a^nasuapJngente

Esta 6 o treeho final do as personelidades que chegavam Buenos Aires, em 1935, onde melancolia, explicam o seu gesto

testamento 4e Stefan Zweig, que em ao Brasil, principelmente por sinal empenhou-se em fatal

- i seguida matOu-se, juntamente com da Europa. Recife era o primeiro violenta altercapao com

sua mulher, em Ptetr6polis. porto de escala a oferecia Marinetti a outros valentes

As cartas que traduzo explica sugestoes especiais para um campefies do fascismo

morte de Stefan Zweig. Sao primeiro contato com a vida internacional. Zweig desceu a

cartas que ele escreveu do brasileira. terra comigo e outro repdrter, ^

r> i Brasil para Londres. Documentos Zweig desceu em terra do Brasil, e iniciamos uma larga r

Zweig ficou quase

sufocado

pelo cheiro e

pela cor das

frutas tropicais, no mercado

do Recife, onde confessou o

temor pelo futuro do mundo.

Murilo

Marroquim

| peregrinação por velhas

I igrejas, atravá do poético e

I antigo bairro de São José, e

I até chegamos

I à beira do Capibaribe, tem

1 dado tantas sugestões aos

I pintores do Recife. E

I a caminhada no Mercado, onde o

I escritor se considerou quase

^BflKb' >, 11 sufocado pelo cheiro e pela cor

I das frutas tropicais.

¦ I Zweig deu*me uma esplêndida

> «|Pt[

*-^w7%íi I entrevista sobre o Recife e a

.. marcha dos negócios políticos

lhi6KaML-^L. 'V-*? jjff

I mundiais. ("Temo por tudo o que

I está para vir" —

observou-me a

I respeito da Europa) e prometeu

I vo,tar 30 Brasil, com mais

^^%íp»

I vagar.

^0^0 I Voltou, realmente, e para sempre.

_.. I Esta reportagem, com as suas cartas,

^| visa exatamente a recordar um pouco

I da associação do homem com a terra

brasileira, um expoente de uma

^II época européia que está

HHHBHHBMK''^'"yí'Vt| desaparecendo. Visa, ainda, a mostrar

Stefan Zweig e a mulher mortos na camaX que o seu livro encantador sobre o

I Brasil —

encantador pela simpatia

Ique ele derramou em todas as

páginas, encantador pela honestidade

que o encantador apesar

tantos

naquela

apenas erros cronólogicos sem

importância -

a

enfim, que Zweig não procurara

lucro com o seu

país do Mas pos

precisamente aquilo

cartas íntimas sobre o mundo

que alguns meses

inquietações mórbidas, mas aue não

pode salvá-lo da tragédia final.

Soube em

parentes de Stefan a, de fato,

de Hempstead, descobri o

Altemann, cunhado do escritor,

seu poder e no de sua

encontrei as cartas íntimas

ambos cederam com

publicação, para todo mundo.

Essas cartas outras

assuntos generalizados, datadas

várias partes do mundo, comporão

futuramente volume especial

correspondência do escritor.

Altemann da segunda

esposa de o

ne sua tragédia de Petrópolis.

Estas cartas de Zweig, no seu

desalento e na sua pungente

melancolia, explicam o seu gesto

fatal.

O HOMEM

MORREU F

AMOR A P

íntimos a fascinantes, para

explicar os últimos anos de sue

vide e também os motivos que o

empurraram inapelavei mente para a

morte. Recordo-me com muita

exetidão de Zweig. Iniciava o

jornalismo no Recife, com a

função de entrevistar todas

as personalidades que chegavam

ao Brasil, principalmente

da Europa. Recife era o primeiro

porto de escala e oferecia

sugestões especiais para um

primeiro contato com a vida

brasileira.

Zweig desceu em terra do Brasil,

pele primeira vez, e veio a se

tornar depois um apaixonado dela,

das coisas e dos homens, com um

amor tão especial e tão doce

e romântico que era quase

infantil. O escritor judeu

seguie para aquele rumoroso

Congresso dos Pen Clube de

Buenos Aires, em 1935, onde

por sinal empenhou-se em

violenta altercação com

Marinetti e outros valentes

campeões do fascismo

internacional. Zweig desceu à

terra comigo e outro repórter,

e iniciamos uma larga

"Assim,

julgo melhor terminar a

tempo uma vida que dediquei

exclusivamente ao trabalho

espiritual, considerando a

liberdade humana e a minha própria

como o maior bem da terra. Deixo um

adeus afetupo a todos os meus

amigos". M

Este é o trilho final do

testamenlÉpe Stefan Zweig, que em

seguida mflÉMi-ee, juntamente com

sua mulher, em Petrópolis.

As cartas que traduzo explica a

morte de Stefan Zweig. São

cartas que ele escreveu do

Brasil para Londres. Documentos

r \

POLITIKA

Page 21: No. 22 - Pe 20 a 26 da março de 1972 RIO - CrS 2,00memoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00022.pdf · No. 22 - Pe 20 a 26 da março de 1972 RIO - CrS 2,00 iCv \.^a Zweig, Rw^~~^

o HOMEM QUE

MORREU POR

AMOR A PAZ

Não devemos esquecer que

vivemos a maior catástrofe da

história e que

é um milagre que

a vida continue em meio disto:

uma miserável vida individual"

POLITIKA

eu vi

Guerra é

apenas um

intervalo

(Sem data) -

"Você não pode

imaginar como eu me tornei indi-

ferente a todas as coisas materiais e

quão longe a minha antiga casa está

dos meus pensamentos e como eu

me resignei a nunca mais ver os

meus livros.

Concluindo, minha autobiogra-

fia disse adeus a todo o passado.

Para mim, uma coisa é importante:

concentrar-me, depois de muitos

meses de trabalho e de depressão de

guerra. Perdi todo o prazer pelas di-

versões e há meses que não vou a

um cinema; levo uma espécie de vi-

da de monge.

Mas não me importaria de viver

para sempre uma vida assim tão re-

tirada, esquecendo o mundo^ e es-

quecido por ele. Para você, esta

guerra é o que outra guerra foi para

mim - um intervalo

— e justamente

os seus temores e dificuldades lhe

farão amar a sua vida ainda mais,

depois.

De mim mesmo, já não posso

viver uma vida provisória, devo sa-

ber que não necessito mudar de

vida e, na verdade, não me queixa-

ria, se nossa forma imitada de vida,

aqui, continuasse por muitos meses.

Não preciso ter aborrecimentos e

estou satisfeito de ter deixado New

York. Aqui posso trabalhar melhor,

a vida é mais fácil, mais primitiva e

possui o seu grande encanto

(Sem data) — "Posso

realmente

confirmar que nós temos aqui, em

nosso pequno bangalô, absoluta-

mente a fôrma de vida que desejei

depois daqueles tempos cansativos

de New York. Tenho, como sala de

trabalho, um grande terraço cober-

to, em frente de belas montanhas.

A vizinhança é muito primitiva e

portanto pitoresca. A gente pobre^

daqui é mais simpática do que você

imagina.' Nossa criada negra é silen-

ciosa, diligente, limpa e agradável

para todos nós, á medida que apren-

de coisas que nunca vira antes em

sua vida.

Para eles, batatas são quase um

luxo e o peixe um animal desço-

nhecido. Leva as nossas latas vasias

de peixe para sua casa e as usa

como copos. Não obstante, ela é

'mPa e é a civilização imatura e a

humanidade o que eu tanto admiro

neste país.

Ouanto lamento

que não tenha

eit0 muito mais

pelo Brasil, quan-

* ~-rfc . ...... +-Zt"~~ -it ¦**"*' '5"

\ .- ¦¦¦VliSL

Para êles, as batatas são um luxo

e peixe

é um animal desconhecido.

do aqui estive, há cinco anos. Você

não tem idéia da fantástica prospe-

ridade deste país. Quando aqui esti-

ve, antes, uma casa que custava 100

libras está, agora, valendo 500 e

mesmo 1.000 libras."

(Dezembro de 1941) —

"Em

nossa monótona e tranqüila existên-

cia houve hoje um pequeno excita-

mento: a esposa do nosso jardineiro

(ele está fora durante todo o dia, na

fábrica) que vive numa pequena

casa por trás do nosso bangalô, deu

à luz hoje um filho, e Manfred teria

muito que aprender: como as coisas

primitivas acontecem aqui, coisas

que são tão complicadas, em nosso

mundo...

Em uma pequena sala

— a meta-

de do meu estúdio em Bath — havia

durante o grande momento: o mari-

do, a irmã, a filha desta, a parteira,

e um cachorro, de modo que afinal

de contas nem havia sala. E tudo,

até o menor conforto, como água

corrente, faltava naquele pequeno

espaço.

E, não obstante, um rapaz more-

no veio ao mundo, uma criança

muito •tranqüila, que até agora inda

não fez barulho. Lotte estava muito

excitada, o que não acontecia com

o marido da jardineira: este, imedia

tamente depois escorregou sorratei-

ro para o café da esquina...

Em face da pobreza, aqui, pode-

mos aprender, com espanto, como

tantas coisas da nossa vida são su-

pérfluas. Seria muito singular retor-

narmos às nossas idéias da Europa e

da América do Norte depois de to-

da esta experiência —

cuja grande

vantagem reside em que ninguém

mais temerá ficar pobre. Num tal

país, pode-se viver com muito pou-

co, desde que se esqueça o antigo

nível."

(31-12-1941) - . .e agora

como alguém pode saber o que

acontecerá nos próximos seis

meses? Sou, como você sabe,

muito cético sobre se depois desta

guerra alguém ainda terá alguma

coisa pela qual viver, pois o tempo

dos nossos pais e avós foi-se para

sempre, e ninguém pode estar certo

de possuir alguma segurança, para

quando ficar velho.

Eu não tenho visto os meus pró-

prios livros e não sei quando eles

serão publicados em Portugal e na

Suécia. Tudo se torna mais e mais

complicado; agora tenho que enviar

meus manuscritos por via aérea e

temo que a taxa postal valha mais

do que aquilo que ela envia*

Não devemos esquecer que vive-

mos a maior catástofre da história e

que é um milagre que a vida conti-

nue em meio disto —

uma pobre,

miserável e insignificante vida indi-

vidual. * •

Mas, nós vivemos, nós espera-

mos, e aqui neste pequeno lugar, te-

mos pelo menos o favor de uma es-

plêndida natureza. Teremos, todos

nós, ainda grandes aborrecimentos e

dificuldades, antes que possamos

calmamente e com felicidade, olhar

mais uma vez para dentro dos nos-

sos próprios olhos.

Eu estou preparado para tudo e

você também, mas a questão para

mim está em saber se, depois da

guerra, eu terei força e senso bas-

tante para gozar a vida. Você, com

sua filha, os terá, e esta idéia me

torna feliz."

(Sem data) —

"Estamos encanta-

dos com nossa estada aqui —

é a

vida dos nossos pais e dos nossos

avós, com um povo tão extrema-

mente simpático e limpo, mesmo na

sua grande pobreza.

A alimentação ainda não é artifi

ciai e o padeiro faz o seu pão e os

seus (excelentes) bolos, ele próprio.

Nossos gastos de vida são um

terço' do que despendíamos nos

Estados Unidos. Outros podem

achar Petrópolis fora de estação,

um lugar temerosamente morto,

mas para

mim que não quero outra

coisa senão trabalhar e ler quieta-

mente, gozar os passeios nas suas

belas cercanias, esta é a vida perfei-

ta.

— Você não pode imaginar a va-

riedade de tipos e as características

da vida brasileira: eu absorvo isto

enormemente, depois da monotonia

das ruas norte-americanas. Querida

Hannah, você compreenderá que

nos tornaremos mais e mais céticos

contra a "civilização",

vendo os glo-

riosos resultados dela; e esta vida

pacífica, mais primitiva

e mais natu-

ral possui uma atração tranqüila e

nova.

0 único ponto fraco são os

livros, mas eu trouxe Shakespeare,

Goethe e Homero, e com estes e

alguns outros que posso tomar em-

prestado, qualquer pessoa pode

viver por muito tempo.

... Esta guerra assume propor-

ções que todas as provisões e todos

os temores são fúteis. Cada pensa-

mento sobre os tempos de pós-guer-

ra e em torno das conseqüências

dos antigos enganos, é perdido."

(10-12-1941) -

".. . Sob a im-

pressão da declaração de guerra do

Japão, que talvez nos isole ainda

mais de vocês. Ainda não está certo

se o Brasil declarará guerra ao

Japão, também, mas de qualquer

maneira, a vida aqui não está tão

influenciada pela guerra, pois o país

é auto-suficiente."

•OI

U

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POUTlKAl

koluna do

Paskoal ¦

Paschoal

Carlos

Magno

Carlos Lacerda

EU, LACERDA E GETÚLI0

Em 26 de junho de 1950, re-

cebo em Atenas um telegrama de

Carlos Lacerda: — "Estamos

to-

dos à sua espera

Durante algum tempo fui uma

espécie de seu irmão mais velho.

Lutei por sua candidatura a ve-

reador. Durante meses, de pés

descalços, saltávamos, ele e eu,

de meu carro, para noites intei•

ras colar cartazes seus em muros,

andaimes. Era eu quem ia pedir

auxílio a Peixoto de Castro, aos

irmãos Mendes de Campos, Pau•

Io Bittencourt, para todas as des-

pesas. Sempre tive por ele, em-

bora algumas diferenças, a mais

alta admiração. Poucas vezes

convivi com homem tão inteli-

gente, possuindo tamanha densi-

dade intelectual, memória sur-

preendente e manejando um

idioma imprevisto, rico, flexível,

arcoirisado, conciso, contunden-

te.

Em 1944, chamaram-me ao

Rio como Correio Diplomático.

Aproveito minha curta têmpora-

da para realizar no Teatro Fenix

o "Curso

de Férias de Teatro

Durante semanas, à noite, e em

manhãs de domingo, toda uma

ronda de figuras ilustres do tea-

tro, literatura, arte, discutem

teatro sob todos os seus aspec-

tos. A platéia intervém. E a pri-

meira vez no Brasil que, depois

de uma palestra, o público, cada

vez mais numeroso, podia inter-

vir, dar sua palavra, participar do

debate, criando um clima polf

mico e sadio.

Quando Raimundo Magalhães

Júnior falou sobre "Teatro

Censura", a discussão incendiou

a platéia. Era uma acusação dire-

ta, frontal, às autoridades, ao Mi-

nistério da Justiça policialesco,

que não permitia ninguém pen-

sar alto, respirar. Sou chamado

ao gabinete do prefeito Henrique

Dodsworth: -

"0 Fenix não

poderá ser mais cedido ao Curso,

porque se torna dia a dia um

foco de agitação oposicionista. O

teatro é o pretexto".

Havia a última reunião do

Curso: o julgamento do

"Hamlet". Barbara Heliodora

leria um estudo sobre o príncipe

dinamarquês. Em seguida,

Ziembinsky, Carlos Lacerda,

Sadi Cabral, Luíza Barreto Leite

o discutiriam. Fiz ver ao prefeito

que na noite inaugural do curso

eu falara da injustiça do nosso

negro não ter direito a represen-

tar qualquer peça, de qualquer

época, permitindo-se-lhe somen-

te a participação como moleque

de recados, naqueles textos que

exigiam um ator negro. Os bran-

cos besuntavam o rosto de car-

vão e os viviam. Uma grande ova-

ção da platéia sublinhou minhas

palavras. Um negro, Agnaldo Ca-

margo, se levanta: —

"Eu sou um

desses atores exilados num país

que diz não ter preconceitos de

cor". Outro, Abdias Nascimento^

da sua poltrona, ratifica essa afir-

mação. Ê um instante de beleza,

que empresta ao Fenix o fulgor

do Santa Isabel, de Recife, com

Castro Alves, Joaquim Nabuco,

Tobias Barreto, agora defenden-

do, com um atraso de mais de

cem anos, um direito ainda rou-

bado aos negros.

O prefeito autoriza finalmente

a última reunião do Curso. Car-

los Lacerda subjuga o auditório.

Fascina. Sua voz clara conduz as

palavras a uma platéia heterogê-

nea, onde há muita gente que o

classifica de maneira aviltante,

considerando-se sua inimiga. ^

E

ganha uma das maiores ovações

dessa manhã.

Trabalhávamos juntos no

"Correio da Manhã" em 1949.

Ele agredia o prefeito Mendes de

Morais com aquela violência que

é só dele, feita de lava, tempesta-

de, represa partida. Inauguro a

temporada do Teatro Experi-

mental de Ópera no República.

Verdadeira multidão acorre ao

teatro. Orlanda, que toma conta

da bilheteria, me manda um re-

cado: - "O

prefeito está na sala,

entrou democraticamente na fila

e adquiriu um dos últimos bilhe-

tes. Estava na letra Z." A notícia

me surpreendeu. Num dos inter-

valos, Barreto Pinto pede a pala-

vra e me saúda. Vão me buscar

atrás das cortinas, e me trazem

de cara inchada, para receber os

aplausos de centenas de especta-

dores que ficam de pé, batendo

palmas, palmas.

Houve, por um instante, um

movimento de cabeças que se

voltavam. Quem seria? Em tan-

tos anos de luta não me lembra-

va de nenhum homem público

participar de uma manifestação

artística espontaneamente. Esse

homem era o prefeito Mendes de

Morais, que não era meu amigo,

nem do Teatro Experimental de

Ópera, nem do Teatro do Estu-

dante do Brasil, pois nos negara

o parque da cidade para nossa

concentração e que nesse instan-

te podia verificar o equivoco

praticado contra um movimento

sadio, belo. Para ele, pois, os

aplausos da noite.

Os jornais veiculam a noticia

com estardalhaço. Carlos Lacer-

da dois dias após me censura se-

riamente pelas colunas do nosso

"Correio". Paulo Bittencourt me

telefona de Poços de Caldas,

onde se encontra, para lamentar

o ataque. Afastei-me de Carlos

Lacerda sem uma palavra de

queixa. Nunca mais o vi a não

ser no enterro e na missa de

minha mãe, cinco meses depois,

quando Letícia e ele me abraça-

ram comovidos.

Um anos depois, esse Savana-

rola tocado de gênio me escreve

o bilhete rápido: - "Estamos

to-

dos à sua espera". Era minha

candidatura a vereador.

Dias após a estréia do Teatro

do Estudante do Brasil, Getúlio

me recebia no Catete. Cumpri-

mentou-me pelo êxito que fora o

espetáculo "shakespeariano".

Agora, era continuar. Confessei-

lhe que precisava de sua ajuda

para solucionar compromissos

assumidos com a encenação de

"Romeu e Julieta".

Quanto precisas?

25 contos, presidente.

Vai até o Vergara. Pede-lhe

que te dê um papel de memoran-

dum. E faz teu pedido. Mas não

vás pedir 25, pede logo 50 con-

tos.

Como eu o ouvisse surpreso,

explicou:

Tu não sabes que esse pa-

pel, até chegar às minhas mãos,

vai rolar por ai e os técnicos vão

cortar-te a verba de todo jeito?

Acabarás recebendo o que pedis-

te. Faz teu pedido pelo dobro,

para que recebas o que precisas.

Eu tenho experiência.

Cumpri a ordem recebida.

Aproximadamente dois meses

depois recebia num dos guichês

do Tesouro, na antiga Caixa de

Amortização, 25 contos de réis.

¦

DUQUE DE CAXIAS

INAimim OBRAS

Dentro do programa administrativo da Prefeitura de

Ou que de Caxias, caracterizado por realizações sempre

voltadas para o desenvolvimento do Município e o bem

•estar social do povo, o prefeito-general Carlos Marciano

de Medeiros deu prosseguimento, sábado último, ao inten-

ao programa de inaugurações de diversos empreendi men-

tos marcantes e indispensáveis ao progresso de cidade flu-

minense.

As inaugurações fazem parte de um programa prepara-

do a longo prazo e marcam as' comemorações do 8o. ani-

versário da Revolução de 31 de março de 1964. O general

Carlos Marciano de Medeiros iniciou a sua jornada de sé-

bado último com a inauguração dos ^melhoramentos

que

permitiram uma significativa ampliação do Ginásio Expe-

dicionário Aquino de Araújo, hoje um dos principais esta-

belecimentos de ensino de Duque de Caxias.

O Ginásio Expedicionário Aquino de Araújo fora fecha-

do em 1957 pelo Ministério da Educação e agora, com os

melhoramentos da administração Carlos Marciano de Me-

deiros, ganhou capacidade para 2.400 alunos, com funcio-

namento em três turnos, bibliotecas, sala de ciências, audi-

tôrio, completando uma área coberta de 540 metros qua-

drados. Em agradecimento à mensagem da menine Matil-

de, de 12 anos, aluna do 2o. ano ginasiat, o prefeito Carlos

Marciano de Medeiros, salientou que a recuperação do

Ginásio Expedicionário Aquino Araújo, representava o

cumprimento do dever de sua administração para com os

seus mun fcipes.

Após as solenidades no Ginásio, o general Carlos Mar-

ciano de Medeiros e sua comitiva de auxiliares dirigiram-se

às ruas São João Batista e da Pedra, no centro da cidade,

onde foi cortada a fita de inauguração da pavimentação

asfáltica daqueles importantes logradouros de Duque de

Caxias e que irão permitir um fácil acesso entre as zonas

Norte e Sul da cidade. A seguir foi inaugurada a pavimen-

tação asfáltica das ruas Presidente Duarte e Jorge Peçanha,

no bairro de Lafaiete. Completando a maratona, a comiti-

va do general Carlos de Medeiros inaugurou, já no final da

tarde, a iluminação a vapor de mercúrio da Avenida Presi-

dente Kennedy, no trecho entre o viaduto Francisco Cor-

rêa e o rio Sarapuí, em Gramacho. Outras obras serão

entregues à população ainda no correr do mês de março,

dentro do programa comemorativo de Duque de Caxias

pelo 8o. aniversário da Revolução.

^,, ; :

wL H

O general Carlos Marciano de Medeiros, ladeado do Se

cretário de Obras, Edgard Prado Lopes, quando inaugurav

a iluminação a vapor de mercúrio na avenida Presioen

Kennedy.

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A Editoria ^f

POLITIKA

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*^^^—

23korreio

Dilson Ribeiro

"Encontro POLITIKA em todo lugar99

GRIMALDI RIBEIRO

(deputado do Rio Grande

do Norte, vice-líder da

ARENA) :-"POLITIKA,

surpreendentemente paramim, é lido em todo lugar

no Brasil. Por onde viajo

sempre encontro o jornal.Há pouco, estava eu na

convenção da ARENA do

Rio Grande do Norte,

quando chegou um amigo

meu, José Braz, grande fa-

zendeiro e líder políticodo município de Acari,

que fica lá no Seridó, bem

no interior do Estado, e

| me disse: - "Deputado, li

uma história muito boa so-

bre o senhor". -"Onde"?

,-"EM POLITIKA,

com K". - "E chega lá em

Acari? - "Toda semana".

Isto está acontecendo no

meu Estado e por toda

parte onde passo. Confesso

que não acreditava. Paramim, a penetração nacio-nal do jornal é uma surpre-sa completa".

rio POLITIKA (com K

mesmo), que tem chegado

com regularidade a Natal,

é uma novidade no jorna-lismo brasileiro pelo des-

compromisso das análises e

reavaliação da história po-lítica nacional. Um de seus

editores, o jornalista Se-

bastião Nery, mantém uma

coluna que ele chama de"Folklore

Politiko". Da

sua coluna são estas histó-

rias de Vargas, que trans-

crevo".*Em

duas palavras, San-

derson, você sintetizou,

muito competentemente,

os objetivos fundamentais

de POLITIKA : -o des-

compromisso das análises e

a reavaliação da história

política nacional. O jornalnasceu exatamente paraisso: para analisar sem pre-conceito, descompromissa-

damente e para reestudar,

reavaliando o processo po-litico brasileiro. Você pôso dedo no fundo do olho

da gente. E continue trans-

crevendo o que quiser.

CINTIA MARIA FIO-

RAVANTI (Marília, SãoPaulo) :-"Por incrível

que pareça, eu lhes escrevo

esta com respeito, apesar

de não concordar nem um

pouco com suas idéias a

respeito do Cursilho. Es-

crevo com respeito porque

foi justamente lá dentro

que apredi a respeitar a.

opinião dos outros, mesmo

que ela vá contra a verdade

e contra a minha opinião.

é uma pena, verdadeira-

mente, que o senhor Se-

bastião Nery tenha se pro-

posto a escrever semelhan-

te artigo sem estar abaliza-

do para tal. Nota-se de Ion-

ge que ele não fez o Cursi-

lho. E, sem rancor, eu

acho que o Cursilho lhe fa-

ria muito bem".

*De fato, dona Cintia, o

Nery não fez o Cursilho e

isto ele disse na matéria. O

que ele publicou (e foi

também dito) era o depoi-

mento de um professoruniversitário que fez o

Cursilho. Por isso mesmofizemos questão de publi-car, no último número, o

21, com o mesmo desta-

que, o depoimento do Pa-

dre Paulo Martinecheu,

que fez do Cursilho. Curió-

so, não é, dona Cintia? OPadre (que, como a senho-ra, fez o Cursilho) não sóconcordou com tudo queo Nery escreveu, como foi

ainda mais severo nas cr iti-

cas, provando que o Cursi-lho é um movimento me-

dieval dentro da Igreja, em

pleno século XX. E agora,

dona Cintia? Acreditar naopinião da senhora, comseus ingênuos e leigos 20

anos, ou na do Padre, for-

mado em teologia por umdos mais importantes cen-tros de estudos eclesiásti-

cos do País, que é o Semi-nário dos Franciscanos dePetrópolis? A senhora es-creveu em nome da Verda-de. Muito bem. Entre a suaverdade de leiga e tão jo-

vem ("Tenho 20 anos") e

a Verdade eclesiática, pro-fissional e experimentada

do Padre, ficamos com o

Padre. Até porque, dona

Cintia, quem inventou os

padres não foi POLITIKA.

Foi o Cristo, quando dis-

se: - "Tu és Pedro e sobre

esta pedra edificarei a mi-nha Igreja e as portas doinferno não prevalecerãocontra ela". Quem sabe,dona Cintia, se o Cursilhonão é uma nova porta doinferno em escultura espa-nhola?

JOSÉ ALBERTO

DIETRICH FILHO (jorna-lista, Curitiba) : -

"Enbo-

ra não seja puxa-saco de-

clarado, devo dizer-lhes

que POLITIKA tem sido

meu livro de cabeceira".

* Pode ficar certo, José

Alberto, que vamos cuidar,

sempre mais, para você

dormir em paz.

Ivsfailo ulo Kio dt* Janeiro

PREFEITURA MUNICIPAL

DE DUQUE DE CAXIAS

«UnhiiH-lt' do l*r«-í<»ho-IH visão «h- lt<-ln<ò<'» Pública»

NOTA OFICIAL

Em aditamento à Nota Oficial de 4 de março, a Divisão de Relações Públicas, torna público que as obras

a serem entregues no próximo sábado, 18 do corrente, obedecerão à ordem e ao horário abaixo indicados:

1o. — Arborização da Avenida Brigadeiro Lima e Silva, às 16:00 horas;

2o. — Pavimentação a paralelepípedos da Rua Wenceslau Brás, em Imbariê, às 17:00 horas;

3o. - Arborização e iluminação pública da Rua Primeiro de Maio, às 18:30 horas;

4o. — Construção, Urbanização e iluminação da Praça Marcílio Dias, no Parque Felicidade, às 19:00

horas.

O Governo Municipal sentir-se-à honrado com o prestígio do comparecimento das autoridades militares e

civis, das classes sociais, políticas e empresariais, e do povo em geral às inaugurações programadas.

DR. JOSÉ CARNEIRO

Diretor de Relações Públicas

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ct Fritz

^BNÃOME7^prrAMMA!s/[ WlÈ

ES^VOm^GEaM: VAMOS \ \? XTç9^M^&j5o anos mA^

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EDI-TORA LTDA. POUTIKA r"sr SEBESTANTÔNIO CALEGARI R. Clarisse índio do Brasil, 30Humor Guanabara

"«' Diretora Direção: E52£nnPHILOMENA GEBRAN OLIVEIRA BASTOS COENTRO

Endereço: SEBASTIÃO NERY Fotos POLITIKAé composto em máquinasAv. Rio Branco, 133 - grupo 1601 Editor TRIBUNA DA IMPRENSA, eletrônicas IBM e impresso naGUANABARA JORGE FRANÇA O JORNAL e O CRUZEIRO. Gráfica Editora "Jornal

do Commercio"