neuromarketing: neurociências do consumo aplicada ao marketing

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UNIVERSIDADE POSITIVO NEUROMARKETING: NEUROCIÊNCIA DO CONSUMO APLICADA AO MARKETING Curitiba 2014 JOANA ANDRADE RAMALHO PINTO

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Marketing


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Page 1: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

UNIVERSIDADE POSITIVO

NEUROMARKETING: NEUROCIÊNCIA DO CONSUMO APLICADA AO

MARKETING

Curitiba 2014

JOANA ANDRADE RAMALHO PINTO

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JOANA ANDRADE RAMALHO PINTO

NEUROMARKETING: NEUROCIÊNCIA DO CONSUMO APLICADA AO

MARKETING

Trabalho de pós-graduação apresentado à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, do curso de Marketing Integrado da Universidade Positivo.

Orientador: Prof. Roger L. Castagno Jr., MsC

CURITIBA 2014

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família e aos amigos,

subtraídos de meu convívio por dois anos,

tempo que fiquei em Curitiba .

E aos colegas que, de alguma forma,

auxiliaram na elaboração deste trabalho.

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RESUMO

A aplicação da neurociência ao marketing vem ganhando espaço ao longo da última década, principalmente com o foco em pesquisas do comportamento do consumidor. Através deste estudo, apresentamos uma visão geral e teórica do neuromarketing, avaliando as áreas de uso, limites da aplicação, aspectos críticos e éticos. Além do mais, coletamos informações sobre por que e como as técnicas de neuromarketing estão sendo usadas por empresas e pesquisadores. Por fim, destacamos o enorme potencial deste novo método de pesquisa de mercado, que ajuda a fornecer um melhor entendimento das forças motivadoras por trás da mente do consumidor.

Palavras-chave: Neuromarketing, Neurociência do Consumo, Pesquisa de Marketing, Comportamento do Consumidor, Eye tracking, Experiência do Usuário, Inovação

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ABSTRACT

The application of neuroscience to marketing has been increasing over the last decade, especially with the focus on consumer behavior research. Through this study, we present a general and theoretical overview of neuromarketing, assessing the areas of use, application limits, critical and ethical aspects. In addition, we collect information about why and how neuromarketing techniques are being used by companies and researchers. Finally, we highlight the enormous potential of this new method of market research, which helps provide a better understanding of the driving forces behind the consumer's mind.

Key-words: Neuromarketing, Costumer Neuroscience, Marketing Research, Costumer Behavior, Eye tracking, User Experience, Innovation

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LISTA DE FIGURAS

FIGURE 1 COMPARAÇÃO ENTRE MARKETING 1.0, 2.0 E 3.0. FONTE: KOTLER, 2012, P.23 15 FIGURE 2 INOVAÇÃO DE VALOR. A PEDRA ANGULAR DA ESTRATÉGIA DO OCEANO AZUL 20

FIGURE 3 PIRÂMIDE DE MASLOW. FONTE: A. H. MASLOW, 1970 24 FIGURE 4 MODELO DE PROCESSO DECISÓRIO. FONTE: BLACKWELL, MINIARD & ENGEL (2008) 27 FIGURE 5 FLUXO DA TOMADA DE DECISÃO. FONTE: RANGEL, CAMERER & MONTAGUE (2008) 28 FIGURE 6 NEUROCIÊNCIA DO CONSUMIDOR. FONTE: RAMSOY (2014) 33 FIGURE 7 CONSCIÊNCIA X INCONSCIENTE. FONTE:L RAMSOY (2014) 35 FIGURE 8 HEMISFÉRIOS CEREBRAIS. FONTE: LENT (2002) 36 FIGURE 9 LOBOS CEREBRAIS. FONTE: WWW.AULADEANATOMIA.COM 37 FIGURE 10 CÉREBRO TRINO. FONTE: WWW.COPINGSKILLS4KIDS.NET 39 FIGURE 11 SENTIDOS. FONTE: SOUZA (2012, P.57) 40 FIGURE 12 PROCESSO DE VISÃO. FONTE: BRAIN FACTS, 2012 41 FIGURE 13 PROCESSO AUDITIVO. FONTE: BRAIN FACTS, 2012 42 FIGURE 14 PROCESSO OLFATIVO E GUSTATIVO. FONTE: BRAIN FACTS, 2012 43 FIGURE 15 ARMAZENAMENTO DA MEMÓRIA. FONTE: BRAIN FACTS, 2012 45 FIGURE 16 FMRI (FUNCTIONAL MAGNETIC RESONANCE). FONTE: WWW.ANC.ED.AC.UK 48 FIGURE 17 MÁQUINA DE RESSONÂNCIA. FONTE: FMRI.UCSD.EDU 49 FIGURE 18 IMAGEM DE PET SCAN. FONTE: PHELPS & MAZZIOTA, UCLA 49 FIGURE 19 IMAGEM NIRS. FONTE: WWW.RESEARCHIMAGING.PITT.EDU 50 FIGURE 20 NIRS CAP. FONTE: WWW.SHIMADZU.COM.BR/ANALITICA/NIRS/FOIRE.HTML 51 FIGURE 21 EEG CAP. FONTE: WWW.FORBES.COM 51 FIGURE 22 EYE TRACKING HEATMAP. FONTE: WEBINSIDER.COM.BR 53 FIGURE 23 EYE TRACKING GAZE PINT. FONTGE: WEBINSIDER.COM.BR 54 FIGURE 24 EMG (ELETROMIOGRAFIA). FONTE: WWW.FOREBRAIN.COM.BR 55 FIGURE 25 SENSORES BIOMÉTRICOS. FONTE: WWW.DISCOMBOBULANTE.ME 56 FIGURE 26 PLATAFORMA FOREBRAIN. FONTE: HTTP://BRAIN.FOREBRAIN.COM.BR 57 FIGURE 27 APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS NEUROINSIGHTS. FONTE: WWW.NEURO-INSIGHT.COM 58 FIGURE 28 SHOOPING VIRTUEL EN IMMERSION 3D DANS L'IMRF. FONTE: WWW.BRAINIMPACT.EU.FR 58 FIGURE 29 BRAINVISION ANALYSER 2. FONTE: WWW.MATHWORKS.COM 59 FIGURE 30 TOBII STUDIO. FONTE: WWW.TOBII.COM/EN 59 FIGURE 31 EEG WIRELESS HEADSET. FONTE: EMOTIV.COM 60 FIGURE 32 GOOGLE HITS & PUBLICATIONS (NEUROMARKETING COMPANIES). RAMSOY (2014) 61 FIGURE 33 PALAVRA CHAVE NEUROMARKETING. FONTE: GOOGLE TRENDS, NOV. 2014 61 FIGURE 34 QUESTÕES RELACIONADAS À NEUROÉTICA. FONTE: ADAPTADO DE BENITO E GUERRA (2011) 62

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 8

1.1. Objetivo Geral ..................................................................................................................... 9

1.1.1. Objetivos Específicos ............................................................................................................... 9

1.2. Justificativa ......................................................................................................................... 9

2. REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................................. 10

2.1. Estratégia de Marketing ..................................................................................................... 10

2.2. Evolução do Marketing ...................................................................................................... 14

2.2.1. Retorno da emoção ............................................................................................................... 16

2.3. Inovação em Marketing ..................................................................................................... 19

2.4. Comportamento do Consumidor Contemporâneo .............................................................. 22

2.4.1. Tomada de decisão ................................................................................................................ 26

3. METODOLOGIA ............................................................................................................. 31

4. NEUROMARKETING ....................................................................................................... 32

4.1. Neurociência do Consumidor ............................................................................................. 32

4.1.1. Modelos de consumo e pesquisas tradicionais ..................................................................... 33

4.2. Funções do Cerebro com Foco em Neuromarketing ............................................................ 36

4.2.1. Sentidos e percepção ............................................................................................................. 39

4.3. Ferramentas de Pesquisa em Neuromarketing .................................................................... 46

4.3.1. Ferramentas Hemodinâmicas ................................................................................................ 47

4.3.2. Ferramentas de Eletroencefalografia .................................................................................... 51

4.3.3. Ferramentas sem registro cerebral ....................................................................................... 52

4.3.4. Software e equipamentos ..................................................................................................... 56

4.4. Aplicação do Neuromarketing ............................................................................................ 60

4.4.1. Processo de um estudo em neuromarketing ........................................................................ 64

4.4.2. O cérebro primitivo................................................................................................................ 66

5. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 68

6. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 69

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1. INTRODUÇÃO

O Neuromarketing vem sendo utilizado há uma década pela inteligência de

mercado para o estudo do comportamento do consumidor. Em linhas gerais, significa o

emprego de técnicas de neurociências aplicadas ao marketing e ao branding, com o objetivo

de mensurar impressões e comportamentos dos consumidores através da atividade

cerebral. Essa técnica, aliada a outras ferramentas como o Eye tracking (registro do olhar),

sensores fisiológicos e registros faciais, proporciona uma nova perspectiva e orientação

sobre como os consumidores pensam, sentem e tomam decisões sobre o produto. Trata-se

de um conjunto de técnicas inovadoras que podem contribuir para as pesquisas de mercado

tradicionais que são oferecidas atualmente. No entanto, essas metodologias ainda estão em

aperfeiçoamento e muitos questionam a eficiência dos resultados obtidos em laboratório.

Mesmo com a sua evolução, a Neurociência do Consumidor ainda não conseguiu

penetrar por completo no limitado contexto da pesquisa publicitária e mercadológica. Duas

possíveis explicações para isso é o custo elevado e o fato dos pesquisadores de marketing

não possuírem conhecimento especializado no campo da neurociência cognitiva e

comportamental. Há também limitações referentes às questões éticas e de privacidade do

consumidor, quando, por exemplo, do uso comercial das pesquisas.

As mudanças atuais de comportamento no consumo levam à necessidade de

inovar as pesquisas publicitárias e de mercado, usando as últimas tecnologias para

entender melhor o processo de tomada de decisão do consumidor contemporâneo e seu

inconsciente. Para isso, é importante que empresas definam estratégias adequadas de

marketing que não contemple modismos ou achismos no uso destas ferramentas. É preciso

um caráter profissional, com objetivos claros e científicos, buscando realizar investimentos

que tragam retorno não só visando a empresa, mas principalmente visando o consumidor.

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1.1. Objetivo Geral

Esse trabalho se propõe a compreender os aspectos da convergência entre

neurociência do comportamento e marketing, identificando as principais implicações éticas,

conceituais, técnicas, de recursos e estrutura, que se apresentam como desafios à evolução

e prática do Neuromarketing.

1.1.1. Objetivos Específicos

a) Apresentar e discutir a neurociência do consumidor através do levantamento

do processo de evolução do conceito, refletindo sobre a importância e as

contribuições advindas das diversas áreas científicas como: a neurociência,

a psicologia, as ciências cognitivas, a economia e a pesquisa de mercado;

b) Identificar as ferramentas (eye tracking, reconhecimento facial, sensores

fisiológicos, entrevistas, etc.), softwares e equipamentos de registro

utilizados pelas empresas, suas potencialidades e limitações.

c) Conhecer as metodologias empregadas para caracterizar os estudos

realizados em Neuromarketing, bem como identificar melhores práticas, e

tendências para o futuro das pesquisas de neuromarketing no Brasil e no

mundo.

1.2. Justificativa

O emprego de técnicas e tecnologias advindas do universo das neurociências

permite o aprofundamento e melhor entendimento do processo de tomada de decisão

no cérebro. Dessa forma, o Neuromarketing propõe, a partir deste conhecimento,

entender o consumidor considerando não apenas suas declarações conscientes, mas

também passando a “ouvir” o seu inconsciente.

As decisões, bem como os hábitos de compra sempre foram processos complexos,

porém, diante da complexidade das sociedades contemporâneas, tais processos também

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foram impactados o que requer novas abordagens e métodos de estudo para acessar e

monitorar o comportamento do consumidor.

2. REVISÃO DA LITERATURA

Nesta seção será abordada a importância do Neuromarketing, a partir da evolução

de conceitos como estratégia, marketing, inovação e comportamento do consumidor,

buscando contextualizar e entender como a neurociência do consumidor aplicada ao

marketing se coloca, atualmente, em relação às ferramentas de gestão e à pesquisa

publicitária e de mercado para identificar as motivações para tomada de decisão deste

consumidor.

2.1. Estratégia de Marketing

Em linhas gerais, podemos dizer que a essência do negócio, em um ambiente

competitivo, é desenvolver estratégias mais dinâmicas e efetivas, que possam atender às

necessidades dos consumidores, antes que seus concorrentes o façam.

As empresas atendem necessidades emitindo uma proposta de valor – um conjunto de benefícios que oferecem aos clientes para satisfazer suas necessidades. A proposta de valor intangível é materializada por uma oferta, que pode ser uma combinação de produtos, serviços, informações e experiências. (KOTLER; ARMSTRONG, 1998, p. 394)

Nesse ambiente competitivo, onde os concorrentes estão desenvolvendo produtos

e serviços inovadores, os gestores não podem confiar em estratégias com base apenas na

redução de custos dos produtos para ganhar mercado. É preciso criar ações que ofereçam

valor ao consumidor com base na diferenciação entre efetividade - maximização do valor

agregado através da inovação - e eficiência - redução de custos das características que

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não agregam valor ao produto.

Uma das principais formas de agregar valor aos produtos e serviços é focar nos

consumidores e suas necessidades, relacionando-os a todos os processos e ações da

empresa. Este é um tema central, pois os clientes são nossos chefes finais. Eles julgam tudo que você faz, e tomam suas decisões levando isso em consideração. Grandes empresas sabem que tudo começa e termina com o entendimento das necessidades do cliente e perspectiva de valor. (GOTTFREDSON; SHAUBERT, 2008).

Para Falconi, em muitas organizações há uma falta de percepção e foco na

necessidade e satisfação do cliente. Ele entende que “o verdadeiro capital de uma empresa

é a preferência de seus clientes”. Assim, empresas que possuem o foco no cliente tendem a

garantir a lealdade e a preferência dos consumidores, ”focar no cliente tornou-se, além de

uma atitude e cultura organizacional, uma prática científica.” (FALCONI, 2009, p. 5).

Buscando compreender como as empresas podem incorporar os valores, com foco

no cliente, a seus modelos de negócios, Kotler propõe uma nova estratégia de marketing

focada nos valores da organização. Nela o primeiro passo é proporcionar um significado à

proposta de valor e essa intenção deve estar presente de forma clara na missão da

empresa. Um modelo de negócio baseado em valores é o que há de mais inovador.

Como as pessoas criativas, as empresas devem refletir sobre sua autorrealização além dos objetivos materiais. Precisa entender quem são e por que estão no negócio. Precisam saber o que querem ser. Tudo isso deve estar presente na missão, na visão e nos valores corporativos. O lucro resultará da valorização, pelos consumidores, da contribuição dessas empresas para o bem-estar humano. (KOTLER, 2012, p.23)

Diante disso, a visão, missão e os valores da organização devem conduzir todas as

ações internas e externas, com a colaboração de funcionários e clientes, na sua difusão.

Assim, as estratégias de identificar as necessidades do consumidor e criar valores são bem

sucedidas quando “refletem a posição de uma empresa no mercado e se baseiam em

percepções específicas sobre quais ações podem trazer melhorias aos olhos do

consumidor.” (GOTTFREDSON; SHAUBERT, 2008, p.9).

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As estratégias de marketing precisam também ser dinâmicas, pois as necessidades

dos consumidores mudam constantemente, conforme as ofertas dos concorrentes, novas

possibilidades tecnológicas, modismos e questões culturais, nas quais produtos se tornam

obsoletos rapidamente pelas soluções inovadoras. É preciso reconhecer que nenhuma

solução será eterna. E, o aumento da concorrência implica também no aumento de

expectativa do consumidor em relação à qualidade e à inovação dos produtos oferecidos,

passando a ser fundamental ouvi-lo.

Identificar soluções inovadoras corretas, entre as muitas alternativas possíveis, é o

ponto-chave para o desenvolvimento de uma boa estratégia de marketing. É preciso não só

selecionar um mercado-alvo específico, definir ações em relação ao desenvolvimento do

produto, preço, promoção e distribuição para satisfazer às necessidades dos consumidores

desse mercado, mas ir além disso tudo. É preciso investir em tecnologia e pesquisa, que

são pontos centrais para inovação, possuindo papel decisivo no processo de

desenvolvimento do produto. Não só por estarem presentes no resultado final, ou seja, na

materialização da inovação, mas por trazer o consumidor e o processo de inovação para

dentro da empresa.

As empresas agora precisam colaborar com seus consumidores. A colaboração começa quando os gerentes de marketing ouvem a voz do consumidor para entender sua mente e captam insights do mercado. Ocorre uma colaboração mais avançada quando os consumidores desempenham o papel principal na geração de valor por meio da cocriação de produtos e serviços. (KOTLER, 2012, p.11)

Entender o porquê de se fazer pesquisa está atrelado ao entendimento do retorno

do investimento que a empresa faz em marketing. Para investir na comunicação, no

desenvolvimento, no posicionamento do produto no mercado é necessário verificar o que

está dando certo ou não, se os investimentos alocados estão alcançando os consumidores

e se eles estão satisfeitos. Assim, é possível identificar se os consumidores estão vendo

valor nos produtos, como resultados dos investimentos feitos.

É necessário não só arrancar os gestores do conforto dos escritórios, para mostrar-lhes os horrores operacionais, mas também leva-los para ouvir sem

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intermediários os clientes desgostosos. (...) Em termos simples, nada substitui o contato direto com clientes insatisfeitos. (KIM; MAUBORGNE, 2005, p.153).

As empresas investem parte desse orçamento em pesquisas tradicionais e depois

em publicidade e propaganda. No entanto, as pesquisas existem apenas para respaldar o

objetivo de influenciar o cliente, as metodologias de pesquisas não inovaram a ponto de

tentar entender melhor esse consumidor volátil, buscando desvelar seu pensamento e

comportamento. “Hoje em dia, a maior parte das estratégias de marketing tais como grupos

de focos, análise do estilo de vida e análise antropológica, derivada das observações dos

consumidores em situações montadas.” (MCKENNA, 2002, p.22).

Kim e Mouborgne (2005) também trataram das limitações das metodologias de

pesquisa e dos pesquisadores, “não admira que as pesquisas de mercado raramente

revelem novos insights sobre o que atrai os clientes. A verdade é que os setores treinam os

clientes em relação ao que podem esperar deles. Quando pesquisadores ecoam a velha

ladainha: mais do mesmo por menos.” (KIM; MAUBORGNE, 2005, p.70)

Esse posicionamento precisa ser revisto, pois a coleta de informações do mercado

é essencial para garantir a adequação do produto em desenvolvimento às necessidades

dos consumidores atuais e potenciais.

Para obter resultados melhores e com mais rapidez, gestores precisarão investir

para conhecer seus consumidores. Garantir inovação e especialização de seus

colaboradores, inovação em pesquisa e em ferramentas tecnológicas. A empresa “talvez

precise de um especialista em vendas e marketing, em gerenciamento de operações e

tecnologia da informação, finanças entre outras habilidades especializadas. Em algumas

ocasiões, precisará de ideias inovadoras e ferramentas de ponta.” (GOTTFREDSON;

SHAUBERT, 2008).

Muitas empresas entendem isso, mas ainda não investem em inovação tecnológica

e inovação em pesquisa para focar no aperfeiçoamento do processo de desenvolvimento do

produto e, consequentemente, garantir o valor para o consumidor. Para Kotler, “a nova onda

de tecnologia facilita a disseminação de informações, ideias e opinião pública, e permite aos

consumidores colaborarem para a criação de valor. A tecnologia impulsiona a globalização

à paisagem política e legal, à economia e à cultura social, gerando paradoxos culturais na

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sociedade. A tecnologia também impulsiona a ascensão do mercado criativo, que tem uma

visão de mundo mais espiritual.” (KOTLER, 2012, p.23).

Sendo assim, faz-se necessário um entendimento desse novo mercado criativo

com uma visão mais futurista, para garantir estratégias mais efetivas, pois nesse “admirável

mundo novo atual de inovações sem fim, concorrência e expansão, o marketing está

passando por uma completa redefinição e, no processo, assumindo um papel totalmente

novo nas corporações. ‘O que virá a seguir?’ é a primeira pergunta que o mundo dos

negócios deve fazer.” (MCKENNA, 2002, p.19). Seria o neuromarketing então a ferramenta

de pesquisa capaz de agregar inovação e tecnologia para entender esse mercado criativo e

seu consumidor volátil?

2.2. Evolução do Marketing

Pensar em marketing, atualmente, exige um olhar complexo e interdisciplinar, que

integra e interliga as ciências econômicas, sociais e humanas. Só é possível compreender

sua estrutura e aplicação através de uma abordagem abrangente e tornando o sujeito

(consumidor / demanda) o foco de análise. É preciso investigar tudo o que está a sua volta e

perceber como as produções estratégicas atingem o mercado. O marketing evoluiu para um

cenário global, tecnológico, social e ambiental onde as economias, as culturas e os desejos

se aproximaram, intensamente, contribuindo para o fenômeno da sociedade da informação.

A contínua adaptação do marketing à evolução humana é o que o torna

interessante. Segundo Kotler (2012), o conceito de marketing evoluiu ao longo das décadas.

Entre 1950 a 1960, o foco era na gestão de produto, nas décadas seguintes, 1970 e 1980,

muda-se o foco para a gestão de clientes e, depois, durante as décadas de 1990 a 2000,

para a gestão de marcas. Hoje, os profissionais de marketing expandiram o conceito e

passaram a focar nas emoções humanas, introduzindo novos conceitos como marketing

emocional, marketing experimental e valor de marcas.

O marketing surge inicialmente na consciência coletiva como uma exploração

comercial de produtos de produção em massa, cujo principal objetivo era

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Infiltrar na mente dos consumidores e mudar sua forma de pensar. Os profissionais de marketing tentavam influenciar os consumidores de uma forma positiva direcionada por meio de uma combinação entre identificação da marca, promoção, entretenimento e manipulação. (MCKENNA, 2002, p.22)

Chega o momento em que, pra estimular a demanda de produtos, o marketing

evolui de um nível mais tático para um nível estratégico, “os profissionais de marketing

perceberam que para gerar demanda o ‘cliente’ deveria substituir o ‘produto’ no amago de

todas as atividades de marketing”, para Kotler (2012, p.28) o desenvolvimento do marketing

passa, então, pela segmentação, definição de mercado alvo e posicionamento, introduzindo

o modelo de marketing estratégico.

Em contrapartida ao marketing de abordagem centrada no consumidor e as

campanhas orientadas para os clientes, o marketing de hoje tem por objetivo chegar ao

coração e a mente do consumidor, “hoje, estamos testemunhando o surgimento do

Marketing 3.0, ou a era voltada para os valores. Em vez de tratar as pessoas simplesmente

como consumidoras, os profissionais de marketing as tratam como seres humanos plenos:

com mente, coração e espírito.” (KOTLER, 2012, p. 4)

Ao longo de 60 anos o marketing deixou de ser centrado no produto (Marketing 1.0) e passou a ser centrado no consumidor (Marketing 2.0). Hoje vemos o marketing transformando-se mais uma vez, em resposta à nova dinâmica do meio. Vemos as empresas expandindo seu foco dos produtos para os consumidores, e para as questões humanas (Marketing 3.0). (KOTLER, 2012, p.16)

Figure 1 Comparação entre Marketing 1.0, 2.0 e 3.0. Fonte: Kotler, 2012, p.23

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Para tanto, estudar o processo cognitivo de aprendizagem do Ser Humano será

fundamental à compreensão dos processos de decisão dos consumidores. “Os profissionais

de marketing terão de tentar entender as ansiedades e os desejos dos consumidores e fazer

o que Stephen Covey chama de decifrar o código da alma para se manterem relevantes.”

(KOTLER, 2012)

O marketing experimental tem sido bastante explorado para promover a fidelidade

do cliente com a marca, suas técnicas permitem atingir a preferência do consumidor através

da interatividade, proporcionando sensações e experiências no contato com o produto antes

da compra. O diferencial está na abordagem, despertar o interesse através de uma

estratégia atrativa, ocasionando um impacto na memória do cliente através da sensação

que foi gerada.

Sendo assim, faz-se necessário entender por que hoje a emoção é tão importante

para a área de marketing, comunicação e publicidade. Nesse sentindo, autores como

Stephen Covey (2004), apontam que “as empresas precisarão abordar os consumidores

também como seres humanos plenos o que significa focar em quatro os componentes

básicos, a saber: corpo físico, mente capaz de pensamento e análise independentes,

coração capaz de sentir emoção e espírito – a alma ou centro filosófico”. E, para isso, as

empresas precisarão ressaltar o papel estratégico da pesquisa e atrelá-la ao retorno do

investimento na área de marketing.

2.2.1. Retorno da emoção

O marketing deriva da economia e por isso traz alguns conceitos econômicos

bastante sólidos, como o de que nosso comportamento é extremamente racional, que

tomamos decisões pautadas na razão. No entanto, segundo Thaler (2000) o homem atual

não é mais o “Homo Economicus”, o Homem racional, perfeitamente informado, que faz

escolhas lógicas e, na tomada de decisões, pesa os custos face aos benefícios, dominado

exclusivamente pela busca da satisfação dos seus interesses econômicos, que maximiza

lucros e minimiza perdas. O Homem atual é influenciado pelo seu estado físico, por

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sentimentos, tornou-se emocional, ou seja, influenciado por uma sociedade que

coletivamente almeja algo para além do simples lucro.

A solução é a emoção. A encenação de emoção que tocam o coração (...) todos os sentimentos que fizeram a experiência social de uma pessoa desde que nasceram. Tocando o coração, falando à alma, capturando a imaginação. As estratégias de marketing e comunicação têm um novo papel para o futuro: ajudar a trazer de volta a emoção e sentimento, as coisas que tocam o coração e construir laços sociais, tente ações relevantes para a humanidade (...) Este é o momento futuro. (STORA, 2012)

A emoção passa ser a nova alavanca para o valor corporativo e dentro da área de

marketing e comunicação, existe uma variedade de estratégias que utilizam da emoção

para conectar o consumidor à marca, através da construção de experiências. As

experiências marcantes devem ser feitas com base na emoção, pois uma experiência forte

está atrelada a uma emoção forte, criando assim, um novo paradigma de valor para o

marketing.

Podemos citar o marketing experiencial, que incentiva a vivência, a interação e a

imersão física direta na marca, passando a experienciar a marca, ao invés, de apenas ser

exposto a ela. Quando comparamos com as campanhas de mídia de massa, os eventos

experienciais tendem a se comunicar em um nível muito mais pessoal, gerando um maior

envolvimento emocional. “A interação tornou-se um dos principais catalizadores, o conceito

de interatividade forçou-nos a repensar cada comunicação, avaliando-a e projetando-a para

um consumidor sempre exigente.” (LINDSTROM, 2007 p.18). Assim, estratégias como o

marketing experiencial têm sido exploradas para promover a fidelidade do cliente, onde o

emprego de suas técnicas nos permite atingir a preferência do consumidor através da

interatividade, proporcionando sensações e experiências no contato com o produto antes da

compra. Para esse consumidor exigente, é preciso criar uma abordagem mais atrativa, que

desperte interesse e sensações, gerando impacto em sua memória, o que, em princípio,

resulta em melhores taxas de conversão.

Os artifícios usados para criar a emoção no consumidor passam também pela

estratégia de estímulo sensorial, pois quase toda a nossa compreensão de mundo acontece

através dos sentidos. Segundo Lindstrom, os sentidos “são nossos vínculos com a memória

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e podem atingir diretamente nossa emoção.” Esse direcionamento da comunicação para os

cinco sentidos do consumidor (tato, visão, olfato, paladar e audição), tem como objetivo

afetar suas percepções sobre produtos e serviços, influenciando assim as decisões e

experiências de compra. “Armazenamos nossos valores, sentimentos e emoções em

bancos de memórias (...) o ser humano tem, no mínimo, cinco bandas – imagem, som,

aroma, sabor e toque. Essas cinco bandas contêm mais dados do que possamos imaginar

porque elas estão diretamente ligadas a nossas emoções e tudo o que isso acarreta. Elas

podem avançar ou voltar à vontade, e parar no ponto exato em um segundo.” Para o autor,

é incrível como não termos consciência da maneira como nossos sentidos interagem com

nossa experiência diária, nosso “estado de humor, sentimentos e até produtos são

registrados nas cinco trilhas do nosso do nosso gravador sensorial, desde que acordamos

até a hora em que vamos dormir”. (LINDSTROM, 2007, p. 24-25).

Hoje, não basta apenas anunciar visualmente um produto ou serviço, ainda que a

maioria dos meios de comunicação de massa utilizem apenas a visão e o som para

transmitir sua mensagem. O marketing apoderou-se de novas técnicas, vive um avanço

tecnológico, criativo, está mais inteligente. Para se diferenciar, as marcas precisam ser

capazes de entregar uma profunda experiência sensorial e emocional, onde “o valor do

produto adquirido deixou de ser funcional e passou a ser totalmente sentimental. Logo, o

profissional dessa área tem que estudar e principalmente entender a mente, o coração e

sentimento do consumidor para garantir o sucesso do produto no mercado.” (KOTLER,

2012).

As pesquisas em neurociências e em ciências cognitivas começam a se fazer mais

presentes, pois são mais eficientes para ver o que acontece na mente do consumidor,

quando comparadas às metodologias tradicionais de pesquisas. Os profissionais de

marketing podem acompanhar as informações que passam pelo filtro do cérebro através do

‘neuromarketing’. Dessa forma, esta técnica passa a se apresentar como “a chave para abrir

nossas ‘lógicas de consumo’ – os pensamentos, sentimento e desejos subconscientes que

impulsionam as decisões de compra que tomamos em todos os dias de nossas vidas”

(LINDSTROM, 2008, p. 13)

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Assim, a neurociência se torna parceira do marketing sensorial, pois, com sua ajuda

podemos medir o que acontece no cérebro, quando somos atingidos pelos estímulos de

uma marca. Por exemplo, o que acontece quando sentimos o cheiro de um perfume favorito.

É possível medir a conexão emocional criada e o impacto causado em nossa memória, bem

como o grau de associação que tudo isso causa com marca.

A fusão do marketing com a neurociência permite uma análise mais profunda da

relação marca e consumidor, pois gera feedbacks importantíssimos para o planejamento

estratégico, mesmo sendo uma área bastante nova, há indícios claros de que ela permitirá

às empresas serem mais assertivas em seus negócios.

2.3. Inovação em Marketing

É comum as pessoas confundirem invenção com inovação. A invenção se

caracteriza pela criação de novos produtos, enquanto que inovação se refere a novas

soluções para oferecer produtos de mais valor aos consumidores. Segundo Pinheiro (2010),

“quando um produto ou serviço é inovador ele causa impacto na vida das pessoas e

transforma para sempre a forma dessas pessoas viverem e trabalharem”.

Assim, inovar não é apenas lançar um produto novo no mercado, mas sim permitir

que as necessidades dos consumidores sejam atendidas de forma mais efetiva. Dessa

forma, inovar passa a ser então o valor percebido no produto ou serviço. No livro ‘A

Estratégia do Oceano Azul’, Kim e Mauborgne (2005) definem inovação de valor como

sendo aquilo que ocorre quando “as empresas alinham inovação com utilidade, preço com

ganho de custo”, isto é, a “criação de oceanos azuis consiste em reduzir os custos e, ao

mesmo tempo, aumentar o valor para os compradores.” (KIM; MAUBORGNE, 2005, p.16)

Page 20: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

20

Para buscar novos espaços de mercado, as empresas precisam ir além da

competição e conquistar oportunidades de crescimento e lucro, através da criação de

oceanos azuis. “Os oceanos azuis, em contraste (com os oceanos vermelhos de

competição sangrenta), se caracterizam por espaços de mercado inexplorados, pela criação

de demanda e pelo crescimento altamente lucrativo.” (KIM; MAUBORGNE, 2005, p.4). A

oportunidade é criada, principalmente, por um ambiente de mudanças e para as empresas

acompanharem estas rápidas mudanças no ambiente mercadológico elas precisam inovar.

Kim e Mauborgne (2005) ressaltam, no entanto, a importância de se distinguir

inovação de valor e os conceitos de inovação de tecnologia e pioneirismo no mercado.

A inovação de valor atribui a mesma ênfase ao valor e à inovação. Valor sem inovação tende a concentrar-se na criação de valor em escala incremental, algo que aumenta o valor, mas não é suficiente para sobressair-se no mercado. Inovação sem valor tende a ser movida pela tecnologia, promovendo pioneirismos ou futurismos que talvez se situem além do que os compradores estejam dispostos a aceitar e a comprar. (KIM; MAUBORGNE, 2005, p. 12).

A inovação de mercado pode significar novos produtos, novos conceitos, novos

processos, novos canais e novos mercados, sem estar diretamente atrelada às novas

tecnologias, no entanto, estas podem ter um papel fundamental para o desenvolvimento e

aplicação de valor para o consumidor. O investimento em avanços tecnológicos talvez seja

o centro do sucesso de algumas inovações, inclusive, nas últimas décadas, contribuíram

Custo

Valor para o

comprador

Figure 2 Inovação de valor. A pedra angular da estratégia do oceano azul. Fonte: W. Chan Kim e Renée Mauborgne

Inovação

de valor

Page 21: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

21

para as enormes mudanças de relacionamento entre o consumidor contemporâneo e o

mercado de produtos e serviços.

Se marketing é uma ciência ou uma arte, isso já foi assunto para debates intermináveis. Eu acho que não é nem uma nem outra, o marketing está se tornando uma tecnologia. (MCKENNA, 2002, p.8)

As novas tecnologias possibilitam o desenvolvimento de novos modelos de

negócios e oportunidades, o que atinge diretamente as estratégias de marketing das

empresas. Segundo McKenna, “a tecnologia é o maior catalizador de mudança no

marketing. As inovações tecnológicas tiveram efeito avassalador, tanto que qualquer

pessoa acharia difícil exagerar sua repercussão nessa área. Isso não deveria surpreender;

a tecnologia sempre foi a alavanca de mudança em marketing”. (MCKENNA, 2002, p.26)

Assim, a forma de empregar o marketing nas empresas vem se alterando com o

advento dessas novas tecnologias. Isso porque, segundo Philip Kotler, “a tecnologia está

mudando – do mundo mecânico para o mundo digital, Internet, celulares, redes sociais – e

isso tem profundo impacto no comportamento de produtores e consumidores.” (KOTLER,

2012, p.15)

Então, inovação passa a ser o resultado de um processo complexo, que depende

da habilidade do marketing da empresa em criar valor para o consumidor, definir estratégias

objetivas visando o segmento de mercado, investir recursos em pesquisa e

desenvolvimento, garantir avanços tecnológicos e contribuir para o aprimoramento do

processo de inovação na cultura e liderança da empresa.

Ter uma liderança de mercado, em termos de inovação e tecnologia, pode abrir o

caminho para o sucesso da empresa, Kim e Mauborgne (2005) explicam que a ‘estratégia

do oceano azul’, que desafia empresas a saírem do ‘oceano vermelho’, incentiva-as a criar

estratégias inovadoras, desbravando espaços pouco explorados do mercado, em direção

aos ‘oceanos azuis’, diminuindo a relevância da concorrência. Mas, para isso, as empresas

precisam também atingir as necessidades dos consumidores de forma mais efetiva que

seus competidores.

Um produto ou serviço inovador por si só não garante o sucesso total ou a

Page 22: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

22

satisfação do cliente, caso o consumidor não perceba as vantagens da inovação, ele não

estará disposto a pagar por ela. Isso obriga as empresas que são (ou que desejam ser)

inovadoras a ir além da ciência e da tecnologia inseridas em hardware, produtos e

processos, para criar outras formas de se conectar com esse novo consumidor.

Os consumidores já não são mais indivíduos isolados; agora, estão conectados uns aos outros. Suas decisões não são mais inconscientes; ao contrário, são bem fundamentadas em informações. Não são mais passivos; são ativos, oferecendo feedback útil às empresas. Portanto, o marketing evoluiu. (KOTLER, 2012, p.12)

Apesar da compreensão de que pesquisas aprofundadas do comportamento do

consumidor são fundamentais para que as marcas realizem ações de inovação, parte da

dificuldade de efetivar essas pesquisas é devida a um entendimento equivocado de que se

deve priorizar o olhar da empresa e não o do consumidor - que é quem vai gerar o

faturamento da empresa. Assim, novos caminhos precisam ser traçados, não só para

garantir o êxito das empresas, mas também sua sobrevivência.

Para isso, é importante empresas inovadoras buscarem relevância para o processo

de criação e investirem em pesquisa com consumidor logo no início do processo de

desenvolvimento para identificar se existe um potencial competitivo e segmento no mercado

para o produto. Precisam ser multidisciplinares para, através de constante experimentação

e cocriação, ouvir e entender os consumidores, seus problemas, seus objetivos e como

agem. Os consumidores querem que as empresas ofereçam soluções, experiências, não

apenas produtos e “para inovar as empresas precisam mergulhar no universo do

consumidor e extrair valor através de barreiras de utilização, necessidades de desejo não

revelado pelas pesquisas tradicionais do marketing ou uso de focus groups.” (PINHEIRO,

2010).

2.4. Comportamento do Consumidor Contemporâneo

Compreender as variáveis que influenciam o consumidor na hora de comprar um

produto ou usufruir de um serviço, passa a ser cada dia mais complexo e dinâmico. O

Page 23: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

23

comportamento do consumidor contemporâneo valoriza o tempo e está mais suscetível às

novas mídias e tecnologias. Nesse mundo, a conveniência não está diretamente

relacionada com a proximidade geográfica, mas sim com a possibilidade de comprar com

rapidez. As lojas oferecem preço, conveniência, fatores diferenciais do produto e fácil

acesso, “numa era de consumidores em rede e tudo digital, a economia de distribuição está

mudando radicalmente, no momento em que a Internet absorve cada indústria que toca,

virando lojas, teatros, e transmissoras pelo custo de uma fração do custo tradicional.”

(ANDERSON, 2006, p. 18).

Isso cria um conceito de valor temporário do produto, de posse de bens e que

acarreta em mudança de nossos hábitos de consumo. A cada dia, fica mais claro que vivemos a era dos desejos transitórios, em que a busca dos consumidores não é pela posse do bem, mas pela efervescência e pela originalidade (...) queremos sempre o que não temos. E, quando conseguimos, não queremos por muito tempo, já que a obsolescência acontece no ato da compra. (FURTADO, 2008, p. 23)

As pessoas compram por diferentes motivos. Além das necessidades de adquirir o

item em questão, elas compram por terapia, pra paquerar, por devoção a uma loja ou a uma

marca, para passar tempo, etc. O impulso para atender uma necessidade é denominado

motivação e é necessário conhecer ao máximo o que motiva os consumidores para que,

assim, seja possível criar estratégias direcionadas para atender essas motivações.

O comportamento do consumidor abrange uma ampla área: é o estudo dos processos envolvidos quando indivíduos ou grupos selecionam, compram, usam ou descartam produtos, serviços, ideias ou experiências para satisfazer necessidades e desejos. (SOLOMON, 2011, p. 33)

Procurando aprofundar nas necessidades do consumidor, deparamos com a

pirâmide de Abraham Maslow (1954), que mostra que a humanidade tem níveis de

necessidades que precisam ser supridas e que vão desde as de sobrevivência

(necessidades básicas: respiração, comida, água, sono, sexo, excreção, abrigo),

necessidade de segurança e proteção (do corpo, da saúde, do emprego, de recursos, da

família, da propriedade), as necessidades sociais (amizade, família e intimidade sexual), a

Page 24: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

24

necessidade de autoestima, que está relacionada ao ego (nossas capacidades pessoais,

confiança, conquistas, respeito dos outros e aos outros) e a necessidade de autorrealização

na busca de significado (moralidade, criatividade, espontaneidade, solução de problemas,

ausência de preconceito, aceitação dos fatos). Maslow (1954) descobriu também que as

necessidades dos níveis mais altos não podem ser supridas sem que aquelas que estão

abaixo delas não tenham sido.

Figure 3 Pirâmide de Maslow. Fonte: A. H. Maslow, 1970

O último patamar da pirâmide de Maslow considera que a pessoa tem que ser

coerente com aquilo que é na realidade, de que devemos ser tudo o que somos capazes de

ser e desenvolver em relação aos nossos potenciais. Kotler então sugere que a pirâmide

invertida poderia colocar a autorrealização como necessidade primária de todos os seres

humanos, onde o consumidor deixa de comprar para satisfazer suas necessidades básicas

e passa a adquirir um produto levando em conta seu emocional e não o seu racional.

Como resultado dessa crescente tendência da sociedade, os consumidores estão não apenas buscando produtos e serviços que satisfaçam suas necessidades, mas também buscando experiências e modelos de negócios que toquem seu lado espiritual. (...) As pessoas criativas de fato acreditam piamente na pirâmide invertida de Maslow. (...) A definição de espiritualidade como a valorização dos aspectos não materiais da vida e as sugestões de uma realidade duradoura realmente encontra relevância na sociedade criativa. (KOTLER, 2012, p.21)

Page 25: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

25

Para Kotler (2000), uma vez que o marketing tem como propósito atender aos

desejos e necessidades do consumidor, entender seu comportamento de compra é

fundamental.

Mas como entender esse consumidor contemporâneo? Em seu livro, a ‘Geração

Superficial’, Nicholas Carr (2010) deixa claro o impacto das novas tecnologias em nos

nossos cérebros, o que antes chamava a atenção, hoje passa despercebido aos olhos e,

sobretudo, à memoria do indivíduo. O autor fala sobre as mudanças rasas e profundas nos

padrões de atenção, cognição e memória, que só serão percebidas ao longo de gerações, à

medida que a tecnologia é inserida em todas as esferas do cotidiano, e que afetarão seus

padrões de comportamento.

Quando começamos a usar uma nova tecnologia intelectual, não mudamos imediatamente um modo mental para o outro. O cérebro não é binário. Uma tecnologia intelectual exerce uma influencia deslocando a ênfase do nosso pensamento. (CARR, 2011, p.271)

Observa-se que o estudo do comportamento do consumidor envolve não apenas as

pessoas em si, mas também os grupos sociais dos quais fazem parte. A sociedade cultiva

as mudanças radicais em função da revolução tecnológica e os paradoxos

contemporâneos, segundo Furtado (2008), é o melhor retrato da atualidade, pois somos

cada vez “mais plurais, complexos, ambivalentes, multifacetados, confusos e divididos (...) A

vida, fugaz e violenta, nos incita a assumir nossas preferências e desejos. Não estamos

mais aprisionados a códigos de classes sociais, sexo ou idade”. Essa percepção de valores

é base para antecipar expectativas e gerar satisfação do consumidor e tentar compreender

o processo de decisão de compra deste consumidor contemporâneo, envolve muitas

variáveis, sentimentos, emoções.

Os paradoxos contemporâneos acumulam-se, deixando-nos atônitos. Nos escondemos atrás de pesquisas de comportamento para não assumir o inconfessável. É desconcertante decodificar a realidade líquida e o desejo humano fluido. Não há respostas simples e definitivas quando se trata de comportamento humano. (FURTADO, 2008, p. 142)

Page 26: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

26

Assim, é importante a compreensão do comportamento do consumidor, tendo em

vista que o mesmo não é conhecedor de seus motivos mais profundos ou daquilo que pode

influenciá-lo na opção por um produto ou serviço. Esta compreensão ocorre mais facilmente

através dos fatores motivacionais, culturais, sociais, pessoais e psicológicos.

2.4.1. Tomada de decisão

Considerada muitas vezes “irracional” e “sem fundamento”, a postura do

consumidor constitui um dos enigmas que intrigam os marqueteiros. A definição de

comportamento do consumidor, segundo Engel, Blackwell, Miniard (2000), são “as

atividades diretamente envolvidas em obter, consumir e dispor de produtos e serviços,

incluindo os processos decisórios que antecedem e sucedem essas ações”. É a ênfase na

interação entre os consumidores e o produto no momento da compra, mas não apenas no

instante que o consumidor paga com dinheiro ou cartão e recebe em troca um produto ou

serviço. Estudar o processo de aquisição de um produto representa compreender a forma

como o cliente decide e compra, analisando as fases ocorridas e as influências exercidas

sobre a pessoa para a tomada de decisões acertadas.

Na perspectiva de Engel, Blackwell, Miniard (2008), o processo de decisão de

compra se desenvolve através do:

Page 27: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

27

Figure 4 Modelo de Processo Decisório. Fonte: Blackwell, Miniard & Engel (2008)

Reconhecimento da necessidade: quando o consumidor identifica que há uma

diferença entre uma condição atual e uma desejada, para diminuir essa insatisfação ele se

sente motivado a comprar:

a) Busca: o consumidor procura informações sobre o produto ou serviço que

poderá resolver seu problema identificado anteriormente. Esta busca é baseada

nas experiências anteriores da pessoa e da confiança nas informações obtidas.

b) Avaliação das alternativas de pré-compra : o consumidor comprara as

alternativas selecionadas estreitando o campo de opções, são utilizadas novas

avaliações e também as que fazem parte de experiências anteriores.

c) Compra: o consumidor deve escolher o vendedor e dentro de uma seção da

loja o que vai consumir para resolver o problema identificado.

d) Consumo : representa o uso do produto ou serviço adquirido pelo consumidor.

e) Avaliação pós-consumo: consiste na sensação de satisfação ou

insatisfação, decorrente do atendimento das expectativas em relação ao

produto adquirido ou consumido.

Page 28: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

28

f) Descarte: a crescente conscientização ambiental influenciou a importância

desta fase, envolvendo alternativas como reciclagem, descarte completo ou

revenda.

Já a teoria da tomada de decisão em neuroeconomia está preocupada com o

comportamento direcionado ao objetivo, assim, sugere que, na presença de opções, somos

orientados por objetivos e, por isso, as nossas decisões são direcionadas para estes

objetivos. Adota-se, basicamente, a mesma abordagem da decisão de compra. Sugere

ainda que o processo de tomada de decisão é iniciado pela representação de um problema,

em seguida, avaliamos as opções, fazemos a ação de selecionar uma opção, avaliamos o

resultado e, finalmente, aprendemos com os resultados de nossa ação, sendo que este

processo de aprendizagem pode modificar todas as fases da tomada de decisão.

Figure 5 Fluxo da Tomada de Decisão. Fonte: Rangel, Camerer & Montague (2008)

O processo de tomada de decisão no nosso cérebro é esclarecido também por

Néstor Braidot.

Page 29: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

29

Ao longo de nossas vidas, por experiências, por aprendizagens, vamos acumulando o que se denomina marcadores somáticos, que são as lembranças, racionais e emocionais do resultado das decisões tomadas. Isso significa que diante de um estímulo de uma decisão, ao ter que decidir algo, o estímulo funciona ativando um marcador somático como: cor, sabor, aroma, perfume, aspectos que estão relacionados à memória e a realidade presente, lembranças do que foi vivido anteriormente, ou seja, o que estou decidindo hoje, perante o estímulo de hoje, pela aparição da memoria, pela emoção. Esses marcadores somáticos ativados pela lembrança associado ao estimulo presente vai ter preeminência como influenciador na decisão. (BRAIDOT, 2014)

Assim, aquilo que é considerado como primeiro estímulo, tem um peso e efeito

duplo na decisão dos consumidores. O fato de ser primeiro implica que a segunda

apreciação tenha que ser mais forte para poder desalojar a primeira impressão. O cérebro

humano, como uma de suas características, tende a distorcer as impressões posteriores,

em prol de convalidar uma primeira impressão, seja positiva ou negativa.

Para construir esta ligação, os produtos têm que estar na cabeça dos consumidores

antes e depois da compra. A compreensão do processo de decisão de compra é

fundamental para que os profissionais de marketing possam garantir produtos e serviços de

qualidade, para isso, é necessário avaliar o que pensa e o que realmente deseja quem

realiza a compra.

Em seu livro ‘Hábito do Consumo’, Neale Martin (2008) aponta que houve avanços

no entendimento do processo de tomada decisão do consumidor. Foi descoberto que,

quando pensamos em ser ‘humano’, pensamos em atributos da nossa mente consciente.

Esta é capaz de lembrar fatos e rostos, de resolver problemas complexos de criar arte e

ciência, memória de eventos de nossa vida e personalidade. Mas é a mente inconsciente

que controla 95% do comportamento ‘humano’, “nossa mente consciente decide ir a uma

reunião, enquanto nossa mente inconsciente dirige o carro”.

Martin (2008) também levanta que aproximadamente 80% dos novos produtos

fracassam em termos de expectativa e essa apatia do consumidor com a introdução da

maioria dos novos produtos no mercado se deve à falta de conexão com a mente

inconsciente. O importante aqui é entender que o inconsciente tem um papel fundamental

na tomada de decisão e que para um produto ou serviço ter sucesso é importante que se

Page 30: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

30

conecte com conceitos existentes e armazenados no inconsciente, “o sucesso vem ao se

tornar uma escolha inconsciente e habitual do seu consumidor”. Pensando assim, a maioria

do nosso comportamento como consumidor é resultado de nossos hábitos inconscientes.

A mente inconsciente é uma estratégia cognitiva programada em nos seres humanos como um mecanismo de sobrevivência evolutiva. O hábito é a maneira de lidar com decisões de rotina para libertar a mente consciente para outras tarefas. A mente inconsciente nos fazer cognitivamente eficientes. (MARTIN, 2008, p.10)

O estudo aprofundado e rotineiro do comportamento do consumidor tem sido a

principal ferramenta para que as empresas se posicionem de forma assertiva no mercado, e

o uso dessas informações são as principais fontes para campanhas de marketing, inovação

e desenvolvimento de novos produtos. Seria correto então pensarmos em estratégias de

pesquisa de mercado efetivas, onde a base de análise de pesquisadores sejam informações

como, “o simples ato de fazer uma pergunta faz com que o consumidor assuma uma

decisão consciente e crie uma resposta aparentemente plausível”? (MARTIN, 2008). O

neuromarketing ajudaria a esclarecer aquilo que vai além das palavras do consumidor?

Page 31: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

31

3. METODOLOGIA

A proposta deste trabalho é promover uma discussão em torno do tema do

Neuromarketing. A partir de uma revisão bibliográfica, que abarca um material produzido por

pesquisadores situados no universo acadêmico e por aqueles de maior inserção no

mercado, buscar compor a evolução do assunto, podendo esclarecer alguns conceitos,

aplicações e a utilidade desta nova ferramenta de pesquisa de mercado.

Para entender conceitos que envolvem a neurociência, bem como um pouco do

funcionamento do cérebro, ilustraremos as principais áreas que são ativadas e o caminho

(fluxo) percorrido por estímulos quando olhamos para uma paisagem, ouvimos uma música,

sentimos um perfume, tocamos um objeto, comemos uma comida. Também será importante

mostrar as principais regiões do cérebro que são ativadas quando recorremos à memória, a

atenção, a tomada de decisão, além de outros estímulos.

Buscaremos entender a tônica atual das discussões acerca do assunto, levantando

experiências e teses que surgiram no Simpósio de Neuromarketing em setembro de 2014, e

na visita ao laboratório de Neuromarketing da Fundação Getúlio Vargas em 2013. A partir

daí, avaliamos os caminhos que estão sendo tomados na aplicação de estudos dessa

natureza. Quais ferramentas e equipamentos estão sendo utilizados, os prós e contras,

além dos limites de cada um deles. Quais tipos de profissionais estão envolvidos e como

empresas estão utilizando essas ferramentas e suas avaliações de mercado. Aqui vamos

identificar referências internacionais sobre o assunto, como instituições de ensino,

empresas, e pesquisa e personalidades que se destacam neste campo.

A ideia é estimular profissionais e empresas, que tenham interesse nessa nova

área de pesquisa de mercado, e permitir um acesso mais crítico através da disponibilização

de informações e recurso já existentes para o conhecimento público. Assim, será possível

identificar algumas as empresas, produtos e serviços oferecidos e relacionados diretamente

ao Neuromarketing.

Page 32: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

32

4. NEUROMARKETING

Nosso estudo não pretende realizar um juízo de valor ou mesmo proceder a uma

defesa de determinadas técnicas e metodologias, mas sim iniciar uma discussão, que

busque identificar a real contribuição dessas novas tecnologias para o marketing e, assim,

gerar insights para um melhor entendimento do consumidor contemporâneo. Por ser um

assunto controverso, é importante identificar com mais clareza as limitações técnicas e

éticas que este tipo de estudo traz. O Neuromarketing está em desenvolvimento e ainda não

há um consenso de como deve ser conduzido, qual a melhor aplicação para pesquisa e

como interpretar adequadamente os dados extraídos. Assim esbarramos em nosso primeiro

conflito, como definir o neuromarketing?

4.1. Neurociência do Consumidor

A Neurociência é o estudo do sistema nervoso, que abrange o cérebro, a sua

anatomia, funções e todo o caminho até o comportamento humano. Assim, para entender

como o cérebro dos consumidores faz suas escolhas, vamos usar o contexto de

neurociência cognitiva e afetiva relacionada ao corpo humano e ao comportamento do

cérebro.

Segundo a Society for Neuroscience, hoje neurocientistas estão usando novas

ferramentas e tecnologias para aprender como o cérebro controla e responde ao corpo, o

que impulsiona o comportamento e qual a base que constitui nossa mente. Para estudarmos

o consumidor, trabalharemos a partir de dois focos: a Neurociência do Consumidor, voltada

ao uso acadêmico, para entender melhor os efeitos do marketing sobre o comportamento do

consumidor e o neuromarketing, que se refere à aplicação comercial das tecnologias e

insights da Neurociência para impulsionar os negócios.

Definimos neuromarketing como qualquer atividade de pesquisa de mercado ou de marketing que utiliza os métodos e técnicas de ciência do cérebro, ou seja, que contemplem resultados ou insights da ciência do cérebro. (GENCO; POHLMANN, STEIDL, 2013)

Page 33: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

33

É importante, no entanto, entender que a Neurociência do Consumidor e o

neuromarketing são esforços multidisciplinares que abrangem, além da neurociência,

campos da economia e da psicologia. Segundo Genco, Pohlmann, Steidl (2013), há

influência da neuroeconomia e da economia comportamental, através do estudo para

entender como pessoas tomam decisões econômicas no mundo real e a importância disso

para a compreensão de influências sobre escolha e comportamento do consumidor.

Também da psicologia cognitiva e psicologia social, através do estudo de como as pessoas

pensam e agem na presença do real ou imaginário, ou de outras pessoas, compreendendo

como os processos cerebrais conscientes e inconscientes trabalham juntos na escolha e no

comportamento do consumidor.

Figure 6 Neurociência do Consumidor. Fonte: Ramsoy (2014)

4.1.1. Modelos de consumo e pesquisas tradicionais

No capítulo 2.4, identificamos a influência do inconsciente em alguns modelos de

tomada de decisão do consumidor e vimos que os estudos que utilizam métodos

tradicionais, em grande parte, não conseguem medir o inconsciente do consumidor. Isso

ocorre pois estes estudos têm uma estrutura que se baseia no modelo racional de consumo,

que são reflexos das estratégias de marketing aplicadas há décadas. O modelo racional de

Page 34: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

34

consumo considera, em primeiro lugar, a atenção, que é fazer o consumidor ter consciência

do produto. Em seguida, gera o interesse, mostrando as vantagens e benefícios do produto;

em terceiro, cria o desejo, isto é, convence o cliente que ele precisa do produto para

satisfazer as necessidades e, por último, a ação de comprar o produto. Assim, nas

metodologias de pesquisas tradicionais as pessoas são questionadas abertamente e

respondem de forma consciente sobre as suas experiências e pensamentos, refletindo cada

etapa desse modelo.

São três as principais metodologias que formam a base das pesquisas de mercado

tradicionais, estas buscam coletar informações sobre as necessidades dos consumidores.

Elas reúnem informações sobre o que os consumidores pensam sobre as mensagens, os

produtos e as marcas, são elas:

As entrevistas : técnicas que incluem uma ampla variedade de métodos de

entrevistas, desde interceptações rápidas em shopping, entrevistas etnográficas com visitas

a campo, que envolvem o dia-a-dia e ambientes reais dos consumidores. Até "entrevistas

em profundidade", que buscam apreender as fontes profundas de desejos e necessidades

dos consumidores. Todas são caracterizadas por uma interação face-a-face entre um

sujeito e a pessoa que faz as perguntas, dando um caráter qualitativo para a pesquisa.

Os grupos de foco : um grupo de consumidores, sob a direção de um moderador,

que orienta o grupo em uma discussão sobre um tema em consideração como: anúncios,

uma nova ideia de produto ou uma comparação de marcas de produtos de uma categoria. A

interação entre os participantes, durante a discussão, gera insights adicionais e diferentes

de entrevistas individuais. Também são consideradas como pesquisas qualitativas.

As pesquisas de opinião ou surveys : são questionários estruturados, que

apresentam alternativas de respostas para as perguntas de uma forma controlada e

generalizada. São consideradas pesquisas quantitativas pois, se aplicadas corretamente,

podem estimar com certa precisão as opiniões de milhões de pessoas, a partir de uma

amostra de centenas de pessoas. Podem ser pesquisas por telefone, on-line, ou

pessoalmente, esta técnica tem sido das mais utilizadas na pesquisa de mercado desde a

década de 1940.

Page 35: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

35

Todas essas metodologias são equivalentes, pois consideram o autorrelato das

pessoas, isto é, o que elas dizem para identificar as suas emoções, atitudes, preferências e

comportamentos. Além disso, há a dependência da memória das pessoas para recordar

com precisão o que fizeram, pensaram ou sentiram no passado. “Expressões verbais são de

fato reflexões muito pobres de estados mentais internos reais. Isso é difícil de aceitar se

você abraçar o modelo racional de consumo, mas é completamente compreensível se você

levar em conta recentes descobertas sobre o processo inconsciente.” (GENCO;

POHLMANN; STEIDL, 2013).

Figure 7 Consciência X Inconsciente. Fonte:l Ramsoy (2014)

Para Genco, Pohlmann e Steidl (2013), com o que aprendemos sobre a

neurociência, a psicologia social e a economia comportamental é possível desconsiderar o

modelo racional de consumo e substituí-lo pelo modelo intuitivo de consumo, pois, na visão

desses autores, esse seria muito mais realista.

É possível concluir também que os modelos que fundamentam as ferramentas de

pesquisa de mercado tradicionais não são mais suficientes para entender o consumidor e

compreender suas escolhas, memórias e sentimentos. O modelo intuitivo de consumo cria

assim, novos desafios para a pesquisa, mas também fornece um guia muito mais realista

para o marketing e os profissionais de pesquisa de mercado. É importante usar o

neuromarketing para explorar e desenvolver melhor as teorias e medições, para entender

como este modelo intuitivo funciona e como os consumidores reais tomam decisões reais no

mercado atual.

Page 36: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

36

4.2 FUNÇÕES DO CÉREBRO COM FOCO EM NEUROMARKETING

Para ajudar a contextualizar nosso objeto de estudo, vamos descrever e ilustrar, de

forma simplista, o cérebro humano e suas principais estruturas, que são envolvidas quando

ativadas em resposta a um estímulo.

Anatomicamente o cérebro humano pesa em média 1,5 kg, o que representa 2% do

peso total do corpo. Sua massa é de um tecido acinzento, como a de um cogumelo. E

recebe 25% do sangue que é bombeado e pelo coração, podendo chegar a consumir 20%

da energia do corpo.

O cérebro é dividido ao meio, sendo composto pelo hemisfério esquerdo,

responsável pelo pensamento linear como a linguagem, a lógica e cálculos matemáticos,

pelo comando da escrita e pela compreensão dela através da leitura. E o hemisfério direito é

melhor na percepção de sons musicais e no reconhecimento de face, detecção de relações

espaciais, responsável pelo pensamento conceitual como as artes, música, criatividade e

inspirações.

Figure 8 Hemisférios Cerebrais. Fonte: Lent (2002)

O cérebro também pode ser dividido grosseiramente em quatro partes que são

caracterizadas pelo Lobo Occiptal, Lobo Frontal, Lobo Perietal e o Lobo temporal:

Hemisfério Cerebral Direito Hemisfério Cerebral Esquerdo

Page 37: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

37

Figure 9 Lobos Cerebrais. Fonte: www.auladeanatomia.com

Como o nome diz, o lobo frontal está localizado na parte superior frontal do cérebro.

É responsável por iniciar e coordenar os movimentos motores, as habilidades cognitivas

superiores, como resolução de problemas, pensamento, planejamento e organização,

também a memória de trabalho, de preferências, tomada de decisão e, para muitos

aspectos, a personalidade e estrutura emocional.

O lobo parietal está localizado na parte superior traseira do cérebro, responsável pela

autoconsciência, que envolve o processamento de informações, atenção, movimento e

orientação espacial, a fala e a linguagem; a percepção visual, o reconhecimento e cognição,

processos sensoriais, como a percepção de estímulos, dor e sensação de toque.

Os lobos temporais estão situados em ambos os lados do cérebro, logo acima das

orelhas. Eles controlam diversos processos envolvendo a compreensão e a memória verbal,

pois ajudam a processar a informação auditiva e integrar as informações dos demais

sentidos. No lobo temporal encontra-se também o hipocampo, responsável pela retenção da

memória de longo e curto prazo e componentes essenciais de memória, aqueles que

podemos recordar conscientemente e descrever como, fatos, eventos, pessoas e lugares. O

hipocampo atua em interação com a amígdala, esta registra e decifra os padrões

Page 38: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

38

perceptuais, isto é, o processamento de memória, a tomada de decisão e as reações

emocionais.

Por fim, o lobo occipital, localizado na parte de trás do cérebro, tem como função

primária controlar a visão e processar a informação visual, incluindo o reconhecimento de

formas e cores.

O cérebro também pode ser categorizado em três níveis distintos: o cérebro

reptiliano, o cérebro emocional e o cérebro racional. Esse conceito foi resultado da Teoria

do Cérebro Trino, definida pelo neurocientista Paul MacLea (1970), com base no

desenvolvimento do cérebro ao longo do tempo, conforme a evolução dos seres humanos.

O Cérebro Reptiliano ou cérebro primitivo , que é o primeiro nível de organização

cerebral capaz apenas de promover reflexos simples, sendo responsável pela nossa

sobrevivência e decisão. O segundo nível é o cérebro dos mamíferos Inferiores ou cérebro

emocional , é composto pelo sistema límbico e é responsável por controlar o

comportamento emocional dos indivíduos, esse nível de organização corresponde ao

cérebro da maioria dos mamíferos. O terceiro nível é o neocortex ou o cérebro racional é

o que diferencia o homem/primata dos demais animais. É apenas pela presença do

neocórtex que o homem consegue desenvolver o pensamento abstrato e tem capacidade

de gerar invenções.

De forma resumida, temos o cérebro racional onde são processados os dados

racionais do ser humano, pensamentos. O cérebro emocional, ligado aos processos

emocionais e de pressentimentos. E, por fim, o cérebro primitivo, que considera os inputs

dos demais cérebros, mas ele é o gatilho da decisão. Assim, pesquisas recentes mostram

que, para falarmos efetivamente ao responsável da decisão no cérebro humano, temos que

nos reportar ao cérebro reptiliano.

Page 39: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

39

Figure 10 Cérebro Trino. Fonte: www.copingskills4kids.net

Segundo Renvoisé e Morin (2007), no intuito de deflagrar o processo de tomada de

decisão do consumidor, é necessário comunicar-se com o cérebro reptiliano, para isso ele

deve responder a seis estímulos específicos, são eles: foco no ‘Eu’ (Self-centered),

contraste, input tangível, princípio e fim, estímulo visual e emoção. Mais adiante

detalharemos como trabalhar esses estímulos no contexto do marketing.

4.1.2. Sentidos e percepção

Em termos de comportamento do consumidor, quando analisamos as funções que

o cérebro executa, enquanto ele está calculando valores ou prestando atenção a alguma

coisa, podemos ver que diferentes regiões são ativadas. Assim, também, qualquer estímulo

recebido ativará uma parte do cérebro, a partir de uma conexão entre os neurônios e as

respectivas áreas relacionadas aos sentidos. Percebe-se que no cérebro existem distintas

Pensamento (neocórtex)

Emoção (mamífero)

Sobrevivência (reptiliano)

Page 40: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

40

regiões responsáveis pela ativação de diferentes sentidos, no entanto, a percepção de um

sentido não exclui a percepção por meio de outro sentido, o que garante a possibilidade de

dois ou mais sentidos serem ativados simultaneamente. Vemos a seguir uma imagem do

córtex cerebral e sua relação com os sentidos:

Figure 11 Sentidos. Fonte: Souza (2012, p. 57)

A visão é um dos nossos sentidos mais delicados e complexos. Muitos processos

devem ocorrer simultaneamente para enxergarmos o que está acontecendo ao nosso redor.

As informações sobre o tamanho e forma da imagem, cor, movimento e localização no

espaço, tudo deve estar reunido, codificado, integrado e processado para que consigamos

ver.

Braidot (2005) destaca que a visão representa um importante sentido para o homem

onde quase um quarto do cérebro integra o processamento de informações visuais. O

Page 41: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

41

processo de visão começa com a luz que passa através da córnea e da lente, que se

combina para produzir uma imagem visual sobre uma folha fotorreceptora chamada retina.

Como em uma câmera, a imagem sobre a retina é invertida. A informação da retina - sob a

forma de sinais eléctricos - é enviada através do nervo óptico para mais de trinta áreas no

córtex visual, o que acaba por processar a imagem e nos permitir ver. Cada metade do

cérebro é responsável pelo processamento de informações recebidas a partir da metade

oposta do corpo através do olho.

Figure 12 Processo de Visão. Fonte: Brain Facts, 2012

A importância do olhar também é destacada por Pradeep (2010), principalmente,

para captar a atenção visual.

Cerca de 70% dos receptores sensoriais do corpo estão em nossos olhos. Entendemos grande parte do nosso mundo principalmente através do olhar. A maneira mais fácil e mais bem sucedida para captar a atenção do cérebro na hora da compra é passando pelo visual. Curiosamente, a visão não acontece nos olhos, mas no cérebro. (PRADEEP, 2010, p.42)

Page 42: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

42

Segundo Ramsoy (2014), a atenção visual ocorre quando as pessoas são

motivadas a procurar por alguma coisa, a parte de traz do cérebro é ativada (lobo occipital).

Mas, quando as pessoas reconhecem objetos e produtos e até mesmo marcas, é possível

ver uma ativação mais forte do lado inferior do lobo temporal. Já a percepção das cores está

fortemente relacionada a aspectos emocionais.

A percepção auditiva, tal como a visão, constitui importante sentido para os

humanos, pois permite identificações complexas como: tom, volume, ritmo e inflexão da voz.

O som é processado de maneira distinta em ambos os hemisférios cerebrais e se diferencia

conforme o ouvido pelo qual o som ingressa. O cérebro armazena características de

determinados sons o que permite fazer associações futuras.

As ondas sonoras são coletadas e canalizadas para a o tímpano, fazendo-o vibrar,

deflagrando os sinais auditivos dentro do ouvido até as fibras nervosas, que enviam

informação para o córtex auditivo, a parte do cérebro envolvidas na percepção do som. Para

a maioria das pessoas, o lado esquerdo é especializado para perceber e produzir a fala.

Figure 13 Processo Auditivo. Fonte: Brain Facts, 2012

Page 43: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

43

O gosto e o cheiro são sentidos separados e cada um possui os próprios órgãos

receptores, no entanto, estão intimamente entrelaçados. Por isso, o olfato contribui de forma

importante para a percepção do gosto. Conhecer esses processos especificamente faz-se

relevante em testes de produtos como alimentos e perfumaria.

Figure 14 Processo Olfativo e Gustativo. Fonte: Brain Facts, 2012

No processo gustativo, a química dos produtos é detectada por papilas gustativas

que, quando estimuladas por sabores, em áreas específicas da língua, como doces e

salgados (parte da frente), ácidos (laterais), amargos (parte posterior) e umami (toda língua)

enviam sinais para áreas específicas do cérebro. Os sinais seguem para o tálamo, córtex

gustativo primário e para a região integrativa (córtex parietal), que é responsável pela

integração de todas as sensações que nos fazem conscientes da percepção de gosto.

No processo do olfato, os neurônios sensoriais localizados no nariz recolhem

moléculas de odor no ar que são transmitidas para os dois bulbos olfatórios no lado inferior

do lóbulo frontal. O hipocampo é responsável pela classificação dos odores. Ele compara os

estímulos recebidos com os adquiridos previamente. Em geral, os odores agradáveis

estimulam as áreas olfativas dos lobos frontais (lado direito) e os odores desagradáveis

Page 44: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

44

estimulam a amídala e o lobo temporal (BRAIDOT, 2005). Assim, o olfato tem grande

potencial para evocar memórias emocionais, sendo um dos sentidos mais fortes

relacionados a essa característica.

O tato é o sentido pelo qual determinamos as características dos objetos: tamanho,

forma e textura. Fazemos isso através de receptores sensíveis ao toque na pele e que

podem ser acionados pelo menor movimento dos cabelos.

Os sinais dos receptores tácteis passam pela medula espinal, que, através de

sinapses, enviam as informações para tálamo e córtex sensorial. As áreas maiores do

córtex são dedicadas a sensações das mãos e lábios. Diferentes partes do corpo podem

variar na sua sensibilidade a tácteis e estímulos dolorosos. Cada hemisfério do cérebro é

responsável pelo processamento de informações recebidas a partir da metade oposta do

corpo. Já os estímulos ambientais são codificados em informações e conduzidos ao tálamo

e projetadas no córtex cerebral.

Muitos estudos da memória humana e animal levaram os cientistas a concluir que

não há um centro único de armazenamento da memória no cérebro. Muitas partes do

cérebro contribuem para o armazenamento de memória permanente, por exemplo, o

hipocampo e as áreas do córtex cerebral compõem um sistema que suporta memória

cognitiva e declarativa, Já diferentes formas de memória comportamental, tal como saber

como jogar uma bola são suportados pelas: amígdala, estriado e cerebelo. (PRADEEP,

2010 p. 39)

Page 45: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

45

Figure 15 Armazenamento da Memória. Fonte: Brain Facts, 2012

A região temporal medial é importante para formar, organizar, consolidar e recuperar

a memória, enquanto as áreas do córtex são importantes para o armazenamento de longo

prazo de detalhes sobre fatos e acontecimentos e como esse conhecimento é utilizado em

situações cotidianas (memória declarativa). Em estudos utilizando ressonância magnética

funcional é possível identificar que uma grande área no córtex cerebral trabalha em conjunto

com o hipocampo para apoiar a memória declarativa. Estas áreas corticais desempenham

um papel específico em relação a percepção, o movimento, a emoção e a cognição, cada

um dos quais contribui para as experiências globais capturadas nas memórias declarativas.

Se pensarmos na capacidade de reter uma informação por apenas alguns segundos,

essa função envolve em particular córtex dorsolateral pré-frontal. É o que chamamos de

memória de trabalho. Outras ativações, que encontramos no córtex dorsolateral pré-frontal

(lobo frontal), estão relacionadas com uma medida de carga cognitiva, assim, quanto mais

você trabalha na resolução de um quebra-cabeça e mantém a informação em sua mente,

mais essa região é ativada. A parte do cérebro que está envolvida na memória e na emoção

é o hipocampo.

Page 46: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

46

4.3. Ferramentas de Pesquisa em Neuromarketing

Não há aqui a intenção de descartar a importância de diferentes métodos tradicionais

de pesquisa com o consumidor como, grupos focais, entrevistas estruturadas, surveys

online, etnográfico, usabilidade, etc. e outras técnicas de pesquisas qualitativas e

quantitativas. No entanto, como vimos anteriormente, algumas metodologias utilizadas no

estudo do comportamento do consumidor apresentam limitações, prejudicando o

entendimento de ideias, práticas e hábitos relacionados à decisão de compra do

consumidor, pois estas se baseiam em um processo lógico e racional. Afirmar, também, que

o processo decisório do consumidor é resumido a componentes somente inconscientes

seria simplista. Assim, as escolhas estariam relacionadas à razão e à emoção.

Hoje estão sendo aplicadas, em diversas áreas das ciências sociais e humanas,

métodos e tecnologias que, normalmente, foram desenvolvidas para a área de saúde.

Essas novas técnicas procuram identificar hábitos e comportamentos que não podem ser

expressos por meio de palavras, pois fazem parte do inconsciente do consumidor e que,

portanto, não cabe em um autorrelato.

A neurociência aplicada ao marketing passa então a ser fundamental para trazer ao

mundo da pesquisa de mercado um conhecimento mais preciso, confiável e acessível do

comportamento do consumidor. Através de técnicas inovadoras de escaneamento cerebral

(neuroimagem), podemos identificar a intensidade de excitação nas áreas do cérebro que

são ativadas, no momento de um estímulo, seja auditivo, visual, olfativo e que o individuo

deve empreender um processo de decisão. A neurociência aplicada, principalmente, em

situações em que é preciso medir o comportamento no tempo real, quando está

acontecendo e não depois que aconteceu, revelando, assim, os sistemas cerebrais de

atenção, memória e emoções de forma mensurável e visualmente acessível, criando

desenhos, experimentos e modelos. Usando de instrumentos neuropsicofisiológicos a neurociência tem nos oferecido a possibilidade de avaliar a resposta comportamental no momento em que o evento está ocorrendo, e não depois que a experiência foi vivida. Desta forma, oferece a real possibilidade de medir as reações emocionais antes que sejam racionalizadas

Page 47: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

47

(antes de sofrer interferências dos mecanismos de defesas conscientes!). Para que isto possa ser avaliado, faz-se necessário apreender como utilizar as ferramentas para captar as reações fisiológicas diante de estímulos expostos. (LAURENTINO, 2014)

Estas ferramentas têm possibilitado analisar mais detalhadamente as reações

emocionais, de atenção, de memorização, bem como o direcionamento do olhar, as áreas

corticais ativadas, as expressões faciais relacionadas a diferentes afetos. Desta forma, é

possível avaliar e detectar sinais que ajudam os profissionais de Neuromarketing a testar

comunicação de marca, impacto de preços, novos produtos, substituição de marcas,

estímulos sensoriais, endosso das celebridades, entre outros.

Vamos então apresentar algumas ferramentas, que são usadas no campo da para

neurociência e que estão sendo aplicadas ao marketing, buscando apreender seus

benefícios e limitações. Segundo a Dra Silvia Laurentino (Neurolab, 2014), existem hoje

basicamente três formas para se avaliar a questão do comportamento aplicado ao

marketing, que seriam:

• Hemodinâmica , que é o registro das atividades metabólica ou do volume

sanguíneo através de Ressonância Magnética Funcional (fMRI), Tomografia por

Emissão de Pósitrons (PET scan) e Espectrometria de infravermelho próximo

(NIRS).

• Eletroencefalografia , registro da atividade elétrica cerebral através do Eletro

Encefalograma (EEG) e da Magneto Encefalografia (MEG).

• Sem atividade cerebral , com reconhecimento de face, Eyetracking,

Eletromiografia, Biometria, Pupilometria etc

4.3.1. Ferramentas Hemodinâmicas

FMRI (Funcional Magnetic Resonance): quando se coloca uma pessoa dentro de

uma máquina de ressonância, com placas magnéticas de altos magnetismos, os prótons se

alinham paralelamente e giram em círculos formando um campo magnético, onde é possível

captar e gerar a imagem cerebral.

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48

Figure 16 FMRI (Functional Magnetic Resonance). Fonte: www.anc.ed.ac.uk

Numa ressonância simples, é possível identificar apenas as estruturas, o cérebro, o

corpo caloso, o tronco, o cerebelo, medula, mas não é suficiente para estudo do

comportamento, pois não vemos as áreas ativadas. É necessário o uso de um software para

estudar o fluxo sanguíneo, pois é esse que possibilita a identificação das áreas que são

ativadas.

As vantagens da ressonância funcional são que ela possui uma resolução espacial

fantástica, conseguindo identificar áreas profundas, córtex, subcórtex. É o método mais

usado, com mais publicações científicas.

No entanto, possui diversas limitações, quando consideramos um estudo com o

consumidor, pois, além de invasiva é desconfortável para o participante, pois não se pode

movimentar de forma alguma, o que foge da maneira natural do consumidor lidar com os

produtos.

Page 49: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

49

Figure 17 Máquina de Ressonância. Fonte: fmri.ucsd.edu

Outro ponto é o custo do equipamento - em torno de 2 milhões de dólares - e da infra

estrutura que é cara, pois são necessários um laboratório e profissionais treinados

envolvidos na pesquisa. Outra questão importante é o tempo de captação do sinal entre os

dois eventos, este leva atualmente em torno de 4 a 6 segundos, sendo um tempo muito

grande pra quando queremos captar variações mais precisas. Embora tenha um alto

potencial com o desenvolvimento da tecnologia, sua efetividade para a pesquisa de

marketing é muito baixa e inviável para o contexto atual.

PET Scan (Positron Emission Tomography), aparentemente essa técnica tem

oferecido resultados mais precisos do que as técnicas de ressonância magnética funcional,

utiliza-se glicose ligada a um elemento radioativo (normalmente flúor radioativo) e injeta-se

no paciente.

Figure 18 Imagem de PET Scan. Fonte: Phelps & Mazziota, UCLA

Page 50: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

50

As regiões que estão metabolizando essa glicose em excesso, tais como tumores ou

regiões do cérebro em intensa atividade aparecerão em vermelho na imagem criada pelo

computador. É uma técnica muito usada na área de saúde e pesquisa científica. O

aperfeiçoamento da tecnologia tende a migrar em direção a menor custo e maior

disponibilidade, o que significa que o uso em estudos de neuromarketing é difícil neste

momento. Há que se questionar também o fato de ser uma metodologia invasiva para

simples pesquisa com consumidor, onde há a necessidade de aplicar um elemento

radioativo no paciente o que pode se tornar inviável do ponto de vista ético.

Não é usado para neuromarketing, de forma alguma, é uma tomografia por emissão de pósitrons, é invasiva, tem que aplicar um rádio traçador radioativo à base de glicose marcada 18F-FDG (Fluordesoxiglicose marcada com flúor 18). Método complicado se ser feito, não fale em PET scan para neuromarketing, pois nem no comitê de ética irá passar. (LAURENTINO, 2014)

NIRS (Near-infrared spectroscopy), mede o volume sanguíneo cerebral através da

emissão de uma luz infravermelha e outro eletrodo do lado capta o reflexo dessa luz.

Quando uma área específica do cérebro é ativada, o volume de sangue localizado na área

muda rapidamente.

Figure 19 Imagem NIRS. Fonte: www.researchimaging.pitt.edu

Nos ramos da psicologia cognitiva pode ser um substituto das técnicas de

ressonância magnética funcional, pois vemos o fluxo sanguíneo, só que feito de uma forma

não invasiva através do uso de uma touca. Futuramente, pode ser considerado um

Page 51: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

51

excelente candidato para as pesquisas com consumidor, pois é mais portátil, pode ser

usado sem fio, o que permite investigações em indivíduos movendo-se livremente. A

dificuldade ainda é a falta de precisão para que tenha mais robustez nos resultados, por isso

certa dificuldade.

Figure 20 NIRS Cap. Fonte: www.shimadzu.com.br/analitica/nirs/foire.html

4.3.2. Ferramentas de Eletroencefalografia

EEG (Electroencephalography), O EEG capta a atividade elétrica cerebral através

de eletrodos aplicados no couro cabeludo ou eletrodos profundos (mais usados em

pesquisas na área de saúde). O principio básico é a eletricidade, capta-se o movimento de

cargas e partículas, como numa bateria, isto é, o fluxo de energia passa entre esses dois

pontos, o cérebro gera alta interconectividade, podendo chegar a 200.000 milhões de

conexões. É a principal tecnologia utilizada pelo neuromarketing para medir as atividades

das ondas cerebrais, é não invasivo e confortável, pois se usa um cap.

Figure 21 EEG Cap. Fonte: www.forbes.com

Page 52: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

52

Para Dr. A. K. Pradeep (NeuroFocus, 2010), é crítico monitorar integralmente o

cérebro com sensores para se obter o escopo completo da atividade cerebral e assim

entender como se está respondendo aos estímulos, o que torna os resultados dos

dispositivos atuais inadequados. Outro aspecto levantado pelo Dr. A. K. Pradeep (2010) é o

posicionamento dos sensores, pois, pela sua sensibilidade, pode captar milhares de ruídos

além da atividade cerebral, um exemplo clássico que citam é o piscar dos olhos e a posição

frontal, que capta ruídos da atividade muscular desta área. Por conseguinte, é fundamental

um pesquisador neurocientista para identificar, filtrar e eliminar essas ‘contaminações’ e

‘ruídos’ nos dados.

Uma das principais questões trazidas pela neurociência quando aplicada ao

marketing ou na neurociência comportamental de uma forma geral é a questão tempo X

espaço, segundo a Dra, Silvia Laurentino (2014), “a ressonância tem uma resolução

espacial maravilhosa e uma resolução temporal não tão boa, já o eletroencefalograma tem

uma resolução temporal muito boa e uma resolução espacial muito fraca, o que se precisa

é, algo que tenha tempo e espaço e junte as duas coisas”.

Há muitos trabalhos novos falando do uso da eletrofisiologia na neurociência do

comportamento, nesse contexto, o EEG é visto sim como uma ferramenta riquíssima para

se estudar neurociência comportamental, mas são poucas pessoas que dominam.

Retomamos o alerta da Dra Silvia Lorentino (Neurolab, 2014) sobre o mau uso dessa

metodologia por profissionais do mercado: O EEG é uma coisa muito complexa e preocupa quando vemos algumas situações por ai onde estão colocando caps na cabeça das pessoas e dizem que leem coisas ou empresas vendendo equipamentos dizendo que é simples de colocar. É importante se aprofundar, pois esse tipo de pesquisa requer uma dedicação e seriedade. (LAURENTINO, 2014)

4.3.3. Ferramentas sem registro cerebral

Em geral os estudos de imagem cerebral devem ser complementados com outras

ferramentas para medições neurofisiológicas, mas que não possuem registro cerebral.

Estas vêm se mostrado úteis na monitoração e identificação de intenções não declaradas.

Page 53: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

53

Levantamos aqui os mais usados.

O que considero o mínimo para um laboratório funcionar adequadamente, é que exista pelo menos o domínio de um desses dois métodos, associado a um dos métodos sem registro de atividade cerebral. (LAURENTINO, 2014)

O Eye traking monitora e grava movimentos oculares inconscientes e conscientes

dos usuários enquanto submetidos a um estímulo visual. É bastante difundido em pesquisas

de mercado para estudos de usabilidades em interfaces digitais e para comerciais. Através

desse equipamento é possível gerar heatmaps, que são imagens de grafismos térmicos que

ilustram tendências visuais de vários usuários.

Figure 22 Eye Tracking Heatmap. Fonte: webinsider.com.br

Segundo o Dr, Philip Rhodes (Fhios, 2009), “a maior parte das informações do olhar

é obtida durante as fixações, e não durante as movimentações. Os locais de fixação em um

“caminho de escaneamento” demonstram quais informações foram processadas durante

uma sessão de eye tracking”.

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54

Figure 23 Eye Tracking Gaze Pint. Fontge: webinsider.com.br

O eyetracker pode ser um monitor com infravermelho, que registra o olhar do

participante sobre a imagem exibida ou uns óculos wireless, que mapeia o olhar em uma

situação de mobilidade do consumidor. O estudo de EEG é complementado com Eye traking

por permitir estabelecer correlações precisas, em milissegundos, entre o que a pessoa está

olhando (captado por Eye tracking) e a experiência do estímulo (captada pela EEG), em

relação a atenção, engajamento emocional e retenção da memória.

Eye tracking é um meio efetivo de analisar o comportamento do usuário. É particularmente útil quando utilizado em colaboração com outros métodos de pesquisa qualitativa, onde usuários podem revisar o “comportamento” de seu olhar e discutir porque ele foi atraído ou não em certas partes da página. (RHODES, 2009)

A EMG (Eletromiografia) consiste em detectar a atividade muscular através de

sensores colocados em determinados locais da superfície da pele, acima dos músculos

faciais. O tecido muscular possui a capacidade de se contrair em resposta a determinados

estímulos e de responder a sinais elétricos enviados pelos neurônios controladores do

movimento.

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55

Figure 24 EMG (Eletromiografia). Fonte: www.forebrain.com.br

Segundo Billy Nascimento (Forebrain, 2012),

para decodificar as emoções através das expressões faciais, podemos utilizar a técnica de eletromiografia para monitorar músculos que estão envolvidos nas expressões faciais. Geralmente três grupamentos de músculos da face são utilizados: o corrugador do supercílio, que está associado com o franzir da testa; o zigomático maior, que é contraído quando a pessoa sorri e o orbicular do olho, que está envolvido na expressão do sorriso verdadeiro (embora outros grupamentos musculares também possam ser investigados).

Sensores biométricos são colocados nos dedos e cintura para medir alterações

fisiológicas no corpo como pressão arterial e respiratória. Há imprecisões geradas na

captação de dados biométricos (respiração e circulação), pode se obter alto grau de

variação entre indivíduos e em um mesmo indivíduo, dependendo da alimentação, cansaço,

estado emocional, influências ambientais (frio, calor, umidade, ruídos etc), saúde etc. Por

conseguinte, esse método pode gerar excesso de ruídos e de variações que necessitariam

ser avaliados por especialistas. Há também um retardo entre as reações fisiológicas e o que

está ocorrendo no cérebro.

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56

Figure 25 Sensores Biométricos. Fonte: www.discombobulante.me

Segundo Marcos Antunes (FGV, 2013)

os dados biométricos são usados apenas para confirmar o que o cérebro já registrou ou respondeu vários segundos antes, mas não podem ser utilizados de forma alguma como dados primários de atividade neurológica, pois não correspondem à resposta cognitiva, seja esta consciente ou inconsciente.

4.3.4. Software e equipamentos

Um único estudo de neuromarketing pode envolver tecnologias que vão desde

softwares complexos a equipamentos de última geração. Uma das limitações para esse tipo

de estudo hoje é que a maioria destas ferramentas é desenvolvida para gerar dados para

área de saúde. Sendo assim, não são de fácil acesso e interpretação por parte de

pesquisadores em marketing. No entanto, existem hoje empresas focadas no

desenvolvimento de plataformas que integram, através de softwares próprios, os dados

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57

gerados pelos equipamentos e ferramentas de pesquisa (EEG, Eyetracking, sensores

biométricos etc.). O objetivo é facilitar a análise e foco dos pesquisadores para os achados

exclusivos ao comportamento do consumidor. Esse tipo de pesquisa é fundamental para

crescimento e evolução do neuromarketing. A seguir algumas, empresas envolvidas no

desenvolvimento destas tecnologias em neuromarketing no mundo.

A empresa brasileira Forebrain (brain.forebrain.com.br), coordenada por Billy

Nascimento, vem desenvolvendo uma plataforma própria para aplicação do neuromarketing,

o produto Brain que permite uma análise aprofundada de um comercial, observando

simultaneamente todos os indicadores. Possibilita a aplicação de filtros por gênero, faixa

etária e classe social e também a análise de atenção e memória do participante no exato

momento da cena exibida no comercial.

Figure 26 Plataforma forebrain. Fonte: http://brain.forebrain.com.br

A empresa australiana Neuroinsights (www.neuro-insight.com/) através do professor

Richard Silberstein, desenvolveu o Steady-State Topografia (SST), um sistema próprio que

aplica a tecnologia de pesquisa de mercado para avaliar a especificamente a eficácia da

comunicação de marca e mídia. Essa tecnologia mede simultaneamente as funções

cognitivas relacionadas com a atenção, emoção, memória e engajamento.

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58

Figure 27 Apresentação de resultados Neuroinsights. Fonte: www.neuro-insight.com

A empresa belga Bain Impact (www.brainimpact.eu/fr/), através de Arnaud Petre,

desenvolveu uma ferramenta FMRI de Imersão 3D que possibilita criar um ambiente virtual

de um mercado para medir o impacto de uma marca numa estante e avaliar a reação do

consumidor no momento de decisão da compra.

Figure 28 Shooping Virtuel en Immersion 3D dans l'IMRF. Fonte: www.brainimpact.eu.fr

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) possui hoje um dos laboratórios mais bem

equipados do Brasil, projetado especificamente para estudos em neuromarketing, tanto para

intuitos acadêmicos, quanto projetos comerciais. Utilizam softwares que trabalham

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59

associados entre si, que são encontrados no mercado ou de uso acadêmico. Como

exemplo, o Biotrace, para registro de dados psicométricos e o Matlab, para modelagem de

dados.

Figure 29 BrainVision Analyser 2. Fonte: www.mathworks.com

A Tobii é uma das empresas mais conceituadas e pioneiras em pesquisas de Eye

traking. Já desenvolveu inúmeras soluções que podem ser aplicadas tanto em usabilidade,

quanto em estudos de neurociência. A solução para neuromarketing integra, em tempo real,

o rastreamento ocular e a EEG. É uma análise simultânea das atividades cerebrais e dos

movimentos dos olhos quando as pessoas se envolvem em tarefas cognitivas ou quando

olham imagens emocionalmente carregadas.

Figure 30 Tobii Studio. Fonte: www.tobii.com/en

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60

A Emotiv é uma empresa de bioinformática que possui aparelhos de

eletroencefalografia humano (EEG) com tecnologia wireless. Essa ferramenta permite

avaliar interações com sistemas em situações normais do dia a dia, pois podem ser feitas

em diversos ambientes, não precisando de um laboratório especifico. Pesquisas vão desde

jogos para televisão, computador, arte, design acessibilidade, pesquisa de mercado, até

psicologia, aprendizagem, medicina, robótica, automóvel, defesa e segurança.

Figure 31 EEG Wireless headset. Fonte: emotiv.com

4.4. Aplicação do Neuromarketing

O neuromarketing é uma abordagem que se difere das práticas tradicionais das

pesquisas de mercado por basear-se em novos conhecimentos e descobertas da

neurociência. Tem como foco a compreensão dos estados cerebrais e reações fisiológicas

dos consumidores quando expostos a marcas, produtos e materiais de marketing. Por

buscar entender o papel da emoção, dos sentidos, da memória, da atenção e o impacto que

a comunicação traz para o marketing, passa a ser uma abordagem importante, indo além

das pesquisas tradicionais.

O termo Neuromarketing disparou em interesse durante os últimos dez anos.

Aumentando consideravelmente o número de buscas no Google e o número de empresas

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61

sob o título de Neuromarketing. Também o número de trabalhos acadêmicos tem tido uma

ascensão constante, principalmente a partir de 2003.

Figure 32 Google Hits & Publications (Neuromarketing companies). Ramsoy (2014)

Figure 33 Palavra Chave Neuromarketing. Fonte: Google trends, nov. 2014

No entanto, há implicações científicas, éticas, sociais e comerciais acerca da

crescente aplicação do neuromarketing para a pesquisa e planejamento de ações de

marketing. E, por isso, uma discussão em profundidade de suas implicações se faz

pertinente.

Uma das principais barreiras enfrentadas são questões éticas que dizem respeito a

Page 62: Neuromarketing: Neurociências do Consumo Aplicada ao Marketing

62

aplicações práticas destas pesquisas, onde “algumas pessoas acreditam que

neuromarketing é um campo dedicado a influenciar as pessoas a comprar coisas - muitas

vezes coisas que realmente não precisam - e que é, portanto, uma coisa ruim e perigosa.”

(GENCO; POHLMANN; STEIDL, 2013, p. 20)

Benito e Guerra (2011) em artigo que discute as implicações do neuromarketing para

o marketing e, especificamente, para a publicidade, apresentam várias questões éticas

importantes que foram resumidas na figura a seguir:

Figure 34 Questões relacionadas à neuroética. Fonte: adaptado de Benito e Guerra (2011)

Outra questão importante é identificar os profissionais envolvidos, uma vez que ainda

são poucos aqueles que dominam as ferramentas utilizadas em um estudo de

neuromarketing. Nesse sentido é importante que o grupo de pesquisa em Neuromarketing

contenha profissionais de diversas áreas, como:

• Pesquisadores neurocientistas com background acadêmico, que podem ter

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63

uma base em psicologia, medicina, fisiologia ou fisioterapia. Esse profissional

faz o controle e modelagem da pesquisa, utiliza ferramentas e análises

estatísticas mais sofisticadas, define e orienta o uso de equipamentos (EEG)

por profissionais auxiliares (enfermeiras), realiza o tratamento dos dados, de

forma a identificar e eliminar os milhares de ruídos resultantes do estudo,

decorrentes do estado físico do participante, do tipo de equipamento utilizado,

dentre outros.

• Pesquisadores de mercado com boa formação em pesquisa qualitativa e

quantitativa (tratamento e análise de dados estatísticos), visão de mercado e

de negócios.

• Profissionais de enfermagem para colocar os equipamentos e acompanhar

as variações biométricas nos participantes conforme orientações do

neurocientista.

• Pesquisador em semiótica e linguística (desejável).

Conforme pode ser observado, a demanda é por profissionais de áreas de saberes e

práticas bastante específicas, porém, complementares.

Numa análise inicial do contexto brasileiro, podemos identificar assim três tipos de

empresas: (a) empresas e profissionais sérios, com perfil de cientistas interdisciplinares

(maioria PhD, neurocientistas e pesquisadores de mercado), (b) empresas e profissionais

de área única (marketeiros / vendedores), estes últimos sem formação sólida, que baseiam

o seu conhecimento de neurociência em livros sem envolver neurocientistas em suas

pesquisas, (c) empresas no caminho do meio, que buscaram supervisão de empresas com

atuação internacional, e que incluem consultoria por projetos de pesquisadores

neurocientistas e de mercado.

É importante destacar o surgimento de vários profissionais, cuja prática pouco

consolidada ou mesmo bastante duvidosa, contribui para gerar descrédito na área, com

divulgação de pesquisas inconsistentes, sem base. Podemos dizer que, no Brasil, não há

empresas do nível A. Como Alex Born coloca em sua palestra ‘Neuromarketing: Mitos e

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verdades’ no Simpósio de Neuromarketing (2014), “9 em cada 10 profissionais da área

nunca tiveram acesso a pesquisas laboratoriais, somente através de livro. E 72% das

campanhas em neuromarketing foram mal avaliadas, deram laudos errôneos, pois a leitura

foi errada.”

4.4.1. Processo de um estudo em neuromarketing

Assim, a aplicação do neuromarketing em pesquisa de mercado, principalmente no

Brasil, ainda é muito restrita. O alto custo final dos estudos, em torno de 1000 dólares por

participante, fora o preço de equipamentos, que pode variar de 120.000 dólares a mais de

um milhão. Ao envolver desde profissionais especializados, a equipamentos sofisticados e

ambientes exclusivos, o neuromarketing acaba tornando-se um estudo pouco acessível

para a maioria das empresas de marketing e publicidade.

Em uma entrevista realizada pela pesquisa Marcos Leite Antunes, o Coordenador

técnico do laboratório NeuroMarketing da FGV (2013), alerta para a imensa variação na

qualidade dos estudos realizados em neuromarketing que vai desde “cientistas sérios a

profissionais picaretas, o que contribui para disseminação negativa desta nova área de

aplicação de conhecimento e a validade das pesquisas”. Ele recomenda que as pesquisas

tenham o mínimo de 20 participantes, sendo importante “associar o neuromarketing com

pesquisas tradicionais, como grupos focais e entrevistas, para obter resultados mais

consistentes”.

Antunes também descreve sucintamente um processo de pesquisa em

neuromarketing e os cuidados essenciais para garantir que os dados gerados tenham o

mínimo de ruído.

Ao serem recepcionados, participantes são convidados a assinarem um termo de

consentimento garantindo que fizeram a preparação inicial, isto é, tiveram uma boa noite de

sono e alimentaram-se antes do teste. Não é recomendado tomar café/cafeína algumas

horas antes do teste. Esses cuidados são tomados para diminuir o grau de interferência nos

testes. É importante identificar o conjunto de restrições ou requisitos para a preparação,

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conforme o tipo de equipamento e sua sensibilidade.

Os participantes são encaminhados para a sala de preparação, onde serão

colocados os equipamentos para registro das ondas cerebrais (touca com sensores) e

sensores de respiração (cintura) e circulação (nos dedos). É importante ressaltar que nesse

momento os participantes tendem a estar muito tensos por causa da “parafernália”

envolvida. Recomenda-se um especialista (enfermeiro) sem usar jaleco, que tenha tato para

tocar nas pessoas evitando causar estranhamento/constrangimento, o artifício de um

ambiente como um salão de beleza é utilizado no laboratório da FGV. Procedimentos

distintos e mais formais são utilizados em laboratórios europeus, mas, segundo Antunes,

não foram bem recebidos quando aplicados pela FGV no Brasil nos estudos pilotos iniciais.

Os participantes são conduzidos para as salas de teste onde cada um ficará sozinho

durante o estudo. Estas salas são menores e revestidas com placas acústicas não

inflamáveis. Cada sala é envolta por uma camada metálica, que funciona como uma gaiola

de Faraday, evitando-se interferências de ondas eletromagnéticas externas. No estudo são

exibidos imagens, vídeos e sites e o teste poderá durar até uma hora. Inicialmente é

necessária a calibração do olhar pelo eyetracker e, em seguida, o registro do cérebro, sem

nenhum estimulo, durante 3 minutos.

Após o teste, participantes são encaminhados para uma sala onde o estudo será

complementado através de metodologias de pesquisas tradicionais, como entrevistas

individuais (10 a 30 min) ou mini grupos focais com até 4 pessoas. O tempo destas

atividades complementares é curto para se evitar que as pessoas fiquem esperando por

longo tempo.

O Espaço para acompanhamento dos testes pelo Neurocientista e pesquisador de

mercado com os softwares para análise dos dados de teste. A sala de testes e de

observação tem a mesmo acabamento de uma sala de espelho, para permitir a visualização

dos observadores, a exemplo das salas tradicionais de observação. Computador com dois

monitores, um acompanha a trajetória do eye traking, enquanto no outro é possível

visualizar os registros eletromagnéticos das funções cerebrais. Nesta área evita-se a

entrada de clientes, para que não se prejudique o acompanhamento dos testes.

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4.4.2. O cérebro primitivo

Vemos que o neuromarketing esta em seu estágio inicial de evolução, mas é possível

crer que, num futuro próximo, estaremos nos deparando com mais pesquisas de qualidade

no mercado. Por isso, é importante que profissionais comecem a entender o funcionamento

do cérebro, órgão responsável por nossas decisões, memória, sentimentos, emoções e o

inconsciente.

Pesquisadores ao redor do mundo como Patrick Renvoisé e Christophe Morin (2007)

e A.K. Pradeep (2010), entre outros, vêm discutindo esses fundamentos e a necessidade de

dirigir a comunicação de marketing, principalmente para o cérebro reptiliano (Cérebro

Primitivo - Teoria do Cérebro Trino), aplicando vários conceitos e boas práticas em

estratégias de marketing para marcas, produtos, propagandas, lojas, online e

entretenimento.

Para motivar e inspirar o cérebro primitivo, temos que aprender novas linguagens. (RENVOISÉ; MORIN,2007, p. 8)

Segundo Pradeep (2010), é importante envolver o cérebro primitivo, respeitando sua

capacidade de processamento limitada, sua atenção restrita e focada. Coloca a importância

de usar o humor e artifícios que instigue o raciocínio, como um quebra-cabeça. Limpar o

excesso das mensagens, ordenando e criando espaços em branco, deixando a mensagem

mais clara e objetiva, “especialmente se o seu produto faz parte de uma categoria

competitiva”. Use a emoção par chegar aos consumidores, em especial as mulheres. “Faça

a interação rápida, clara e interessante”.

A ‘“facilidade de processamento” da mensagem é muito importante para o cérebro. Um anúncio complicado que requer um maior processamento cognitivo, provavelmente será ignorado pelo cérebro. (PRADEEP, 2010, p. 18)

Já Renvoisé e Morin (2007) colocam que, para ativar esse “botão” (o cérebro

primitivo) é preciso entender e focar em seis estímulos, que se aplicados de maneira correta

na comunicação com o consumidor podem ter um resultado bastante efetivo para as

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empresas. Como vimos anteriormente, são eles: o ‘Eu’ (Self-centered) - é preciso focar no

consumidor, tratá-lo como único e como centro de atenção usando a palavra ‘você’;

Contraste – para acelerar o mecanismo de decisão é preciso quebrar o padrão de

pensamento do cérebro; Input tangível - o cérebro reptiliano sempre escolhe a melhor forma

de economizar energia, é preciso, tornar as coisas simples, fáceis e palpáveis para ele;

Princípio e Fim - eventos ou experiências alteram nossa percepção sobre a experiência

toda, nossa impressão inicial torna-se o filtro para a forma como iremos perceber o que vem

a seguir; Estímulo visual - o nervo ótico é fisicamente ligado ao cérebro reptiliano, por isso

ele processa mais rápido o que se refere a á visão; Emoção – O cérebro reptiliano é o

gatilho da emoção e isso tem um impacto em nossa capacidade de memorizar informação,

assim lembramos de eventos em que tivemos uma forte emoção.

O cérebro humano é emocional em sua própria essência. Enquanto as mulheres processam as mensagens com mais emoção do que os homens, ambos os sexos devem ser envolvidos emocionalmente para que a mensagem possa ser lembrada e posta em prática. Os anunciantes devem descobrir o gatilho emocional que inspira seus produtos e destaca-los em suas mensagens. (...) Profissionais de marketing devem tornar a experiência de fazer compras emocionalmente envolventes, para garantir o retorno do cliente. (PRADEEP, 2010, p. 20)

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5. CONCLUSÃO

Em um ambiente competitivo, as empresas precisam estar em constante inovação

para conseguir acompanhar as mudanças sociais e tecnológicas e garantir competitividade.

É importante criar estratégias de marketing que agreguem valor aos produtos e serviços,

voltando o foco para os consumidores e suas necessidades. Tal atitude, dentre outras

coisas, permite aproximar a empresa e o consumidor através da fixação marca.

Não basta apenas oferecer produtos novos, pois nesse ambiente carregado de

informação, as novas tecnologias ditam o ritmo e tem profunda influência sobre o

comportamento do consumidor e sua tomada de decisão de compra. Atrair esse consumidor

passa a ser um desafio, é preciso que a marca consiga despertar a emoção, a memória e o

inconsciente desse consumidor para se fixar.

As pesquisas de mercado tradicionais tornam-se limitadas como uma opção de

inovação, uma vez que extraem basicamente as questões conscientes desse consumidor

contemporâneo. Já a fusão de neurociência e marketing permite uma análise mais profunda

dessa nova relação marca e consumidor, através da metodologia do neuromaketing, essa

tecnologia permite acessar o inconsciente e gerar insights diferenciados.

O neuromarketing possui hoje limitações que restringem seu uso e acesso para

maioria das empresas, principalmente para fins comerciais, pois se encontra ainda em um

processo exploratório. É importante ressaltar, entretanto, a necessidade de envolvimento e

conhecimento dessa nova ferramenta por parte de profissionais de marketing e

pesquisadores, para garantir uma evolução mais rápida e efetiva. Estamos diante de uma

nova metodologia de pesquisa com um enorme potencial para ajudar a entender as forças

motivadoras por trás da mente do consumidor.

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